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5.1. Introdução
(a)
(b)
Figura 5.1. Exemplos de escoamentos cisalhantes: (a) camada de mistura – cisalhamento livre
e (b) camada limite – cisalhamento parietal.
A maioria dos escoamentos são cizalhantes, os quais são anisotrópicos e não
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 61
Apesar dos exemplos precedentes, faz-se necessário maior rigor na definição desses dois
conceitos, o que será apresentado com conceitos de estatística.
Homogeneidade: é a invariância estatística das propriedades dos escoamentos quando se
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 62
f x r f x , (5.1)
Supor um experimento no qual se interessa por uma propriedade genérica f x , t , , onde
, é uma amostra no espaço amostral . A propriedade f x , t , se refere a um
escoamento. A Figura 5.7 ilustra um conjunto n de amostras temporais.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 64
N
f x , t f x , t , wi .
1
(5.2)
N
i 1
Observa-se que a varredura sobre as amostras é feita para um tempo fixo, mas se a média for
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 65
feita novamente para outro tempo o valor obtido pode ser diferente. Assim, a média de
conjunto, feita sobre amostras temporais pode ser uma função do tempo.
Média temporal
A média temporal é calculada utilizando-se cada amostra individualmente, integrando-se a
variável f x, t , w no tempo, conforme a Equação 5.3:
f x , wi
1 M
f x , t j , wi t j ,
T j 1 (5.3)
wi.
Hipótese de ergodicidade
Diz-se que um conjunto de amostras satisfaz a hipótese de ergodicidade quando a média
de conjunto pode ser obtida pela média temporal:
f x f x , (5.4)
f a1 x , t , w velocidade
a
f 2 x, t, w pressão
a3
f x, t, w temperatura (5.5)
.
.
.
an
f x, t, w concentrações, etc
x, t Nlim
N
f a x , t, wi f a x, t, wi ... f a x , t , wi .
1
f a1
f a2
... f an
N
i 1
1 2 n
(5.6)
(a)
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 67
(b)
(c)
Figura 5.8. Distribuição temporal de uma componente de velocidade e sua média (a); sua
flutuação (b) e sua variância (momento de segunda ordem) (c).
Observa-se que este tensor é simétrico e pode ser reescrito, em notação indicial, como segue:
ij u iu j . (4.9)
O seu traço fornece a energia cinética turbulenta, em conformidade com sua definição:
f a1 f a2 ... f an x ,t f a1 f a2 ... f an x r ,t ,
(5.11)
onde r representa uma rotação ou translação do vetor x . Cabe observar que uma operação de
translação pode ser obtida por duas operações de rotação.
Seja uma função f x , t qualquer. Define-se a transformada espacial de Fourier como
segue:
3
1
f̂ k , t e ik .x f x , t dx , (5.12)
2
V
onde k 2 / , é o número de onda e é o vetor comprimento de onda, conforme ilustrado
na Figura 4.10. A grandeza i 1 é o número imaginário. O vetor número de onda tem três
componentes correspondente às três direções coordenadas: k k 1 , k 2 , k 3 . A transformada
inversa se define como:
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 69
f x , t e
ik .x
f̂ k , t dk .
(5.13)
V̂
f x ,t ik .x
(5.14)
g x ,t e f̂ k ,t dk e ik .x
ik f̂ k ,t dk ik f x ,t .
x
x V̂
V̂
Logo,
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 70
f 1 f
3 3
gˆ k , t
x 2 e
ik . x
x
1
dx ik e
2
ik . x
f x , t dx ik fˆ k , t . (5.15)
V V
Transformada do gradiente de f
f f f
f , , i k x , k y , k z fˆ k , t ik fˆ k , t .
x y z (5.16)
ˆ ui
V ik V ou iki ui . (5.17)
xi
2ui
k 2 ui . (5.18)
x j x j
f x , t g x , t fˆ gˆ k , t fˆ p, t gˆ q , t dpdq
fˆ q , t gˆ q k , t dq , (5.19)
k pq k pq
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 71
onde fˆ * gˆ k , t denota o produto de convolução das duas funções transformadas. Os
parâmetros de transformação de f x , t e g x , t são p e q , onde k p q . Esta integral
u
i 0
xi (5.20)
u 1 p 2ui
i
ui j
u
xi
f
i .
x j x j
t x j
T
u jT T
2
t x j x j x j C p
ui
iki ui 0 . (4.21)
xi
uˆi k , t é hortogonal ao vetor número de onda, ki . Essa propriedade está ilustrada na
Figura 5.11.
ui ui
. (5.22)
t t
Observa-se que, sendo
ki ui 0 , (5.23)
tem-se:
t
u
ki ui ki i 0 .
t
(5.24)
ui
A Equação (5.24) leva à conclusão que também pertence ao plano .
t
Com base na Equação (4.18) e considerando-se que k 2 é uma grandeza escalar, conclui-se
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 73
2ui
que a transformada do termo difusivo das Equações de Navier-Stokes, , também
x j x j
2ui
k 2uˆi . (5.25)
x j x j
Gradiente da pressão
Utilizando-se a Equação (4.16), tem-se a transformada do gradiente do campo de pressão:
p (5.26)
iki pˆ .
xi
Nota-se que a transformada do campo de pressão é colinear ao vetor número de onda, sendo,
portanto, perpendicular ao plano .
ui p ˆ
2ui
ui u j fi 0 .
(5.27)
t
x j xi
Na Equação (5.27) tem-se uma soma de dois parênteses. Os termos que se encontram no
interior do primeiro parênteses pertencem ao plano , pelos resultados já apresentados. Os
termos que se encontram no interior dos segundos parênteses devem também pertencer ao
plano , uma vez que a soma é nula. Para se transformar o termo advectivo, em conjunto com
ki k j
ij k ij , (5.28)
k2
onde
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 74
1 se i j
ij , (5.29)
0 se i j
é o delta de Kronecker. Qual a função deste tensor ij ? Para verificar, toma-se um vetor a
qualquer, e faz-se a projeção de a , utilizando-se o ij , obtendo-se o seguinte:
ki k j ki
ij a j a j ij a j 2
ai a j k j a pi , (5.30)
k k2
onde a pi representa a projeção do vetor a j pela ação do tensor projeção ij . Fazendo-se o
produto escalar da projeção a pi pelo vetor número de onda k , tem-se que:
ki ki
a pi k i ai k i a j k j 0. (4.31)
k2
Assim, fica verificado que o tensor ij , definido na Equação (5.28) projeta um vetor a j
qualquer no plano .
Retornando à transformada do termo advectivo, tem-se que
x j
uiu j ik j uˆi q uˆ j k q dq . (5.32)
k pq
Rˆi iki pˆ ik j
uˆi q uˆ j k q dq fˆi .
(5.33)
k pq
Esquematizando esta soma sobre o plano , conclui-se, da Figura 5.12, que a projeção da
soma dos vetores gradiente da pressão, do termo não linear e do termo fˆi transformados,
sobre o plano , ou seja o vetor Rˆi , é igual à projeção, sobre o plano , da transformada da
Rˆi ki pˆ k j uˆi q uˆ j k q dq fˆi k ji k km uˆ j q uˆm k q dq fˆj
k pq
k p q
(5.34)
fˆj
t
k 2
i
u
k , t ij k
k m
ˆ
u m q , t ˆ
uj k q ,t dq
. (5.35)
k p q
ˆ k , t
t
k 2 ˆ
T
k , t k j T j
ˆ q uˆ k q dq
C
, (5.36)
k pq p
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 76
onde
ˆ k , t k 2 uˆ 2 k , t ˆ 2 k , t wˆ 2 k , t k xuˆ k , t k yˆ k , t k z wˆ k , t
2
(5.37)
Cada termo destas equações pode ser interpretado fisicamente, sendo esta
interpretação mais rica no espaço de Fourier, quando comparado às interpretações que se pode
fazer no espaço físico. Essas interpretações são estabelecidas abaixo.
A velocidade: no espaço físico, a velocidade u x,t está associada a uma partícula de fluido,
no sentido da hipótese do contínuo. Essa partícula está ilustrada na Figura 5.13 (a) sobre a
qual se coloca um vetor velocidade que depende de sua posição e do tempo. Por outro lado, a
velocidade transformada uˆ k , t representa um valor médio realtivo a um dado um número
2
de onda k , onde 1 , 2 , 3 é o vetor comprimento de onda que representa o
comprimento característico da estrutura turbilhonar nas três direções coordenadas. Essa média
é realizada pela transformada que atua em todo o volume e busca cada estrutura presente para
realizar o cálculo do valor médio. Na Figura 5.13 (b) observa-se a coexistência de várias
estruturas turbilhonares de diferentes tamanhos característicos. Percebe-se também que uma
estrutura de um dado tamanho pode aparecer em diferentes sítios do volume considerado. É
importante frizar que encontramo-nos em um espaço onde as informações são expressas por
meio de funções complexas. Assim, as interpretações que lançamos aqui são de cunho
intuitivo.
A tempeatura: a temperatura no espaço físico, T x , t , representa o estado termodinâmico
(a) (b)
Figura 5.13. Ilustração de uma partícula de fluido, (a), e de estruturas turbilhonares de
diferentes tamanhos caracterísiticos, (b).
O termo
: esse termo representa a taxa de variação da quantidade de movimento
uˆ k , t
t
linear contida em uma estrutura turbilhonar caracterizada, estatisticamente, por um número de
u x , t
onda k . No espaço físico, o termo correspondente, ou seja, , representa a taxa da
t
variação da quantidade de movimento linear contida em uma partícula de fluido, localizada
em uma posição espacial x . Ressalta-se que o conceito de partícula de fluido está associado à
hipótese do contínuo. As Figuras (5.14) (a) e (b) ilustram os dois conceitos, partícula de fluido
no espaço físico e estrutura turbilhonar, no espaço de Fourier. Na Figura 5.14 (a) ilustra-se a
partícula de fluido trocando quantidade de movimento linear com sua vizinhança física, o que
promove, em parte, a taxa de variação da quantidade de movimento linear dessa mesma
partícula. Na Figura 5.14 (b) ilustram-se a troca de quandidade de movimento linear entre
uma estrutura turbilhonar de comprimento de onda k e todas as outras estruturas que com ela
interagem não linearmente.
O termo
:
Tˆ k , t
representa a taxa de variação da energia térmica contida em uma
t
estrutura turbilhonar de número de onda k . No espaço físico, o termo correspondente, ou
T x , t
seja, , representa a taxa de variação da energia térmica contida em uma partícula de
t
fluido, localizada em uma posição espacial x .
Os termos k 2uˆ k , t , k 2Tˆ k , t
e ˆ k , t : os dois primeiros termos representam,
difusivo de energia térmica entre uma estrutura turbilhonar de número de onda k e todos os
demais comprimentos de onda. É importante não confundir esses termos com o efeito de
dissipação viscosa que aparece apenas na equação da energia térmica. Nas equações de
Navier-Stokes não se contabiliza dissipação, mas apenas a difusão de informações. Na
equação da energia térmica a potência específica de dissipação viscosa é representada pelo
termo . Sua transformada é dada pela Equação (5.37). Nota-se que os processos de difusão
dependem do quadrado da norma do número de onda, k 2 , o que nos informa que quanto
maior for o módulo do número de onda de uma estrutura turbilhonar, maiores serão os efeitos
difusivos sofridos ou promovidos por essa estrutura. Em outras palavras, quanto menor for a
estrutura turbilhonar, maior será o número de onda correspondente, e mais intensos se tornam
os processos de difusão de quantidade de movimento linear e de energia térmica. Essa mesma
interpretação pode ser dada à função potência específica de dissipação viscosa. Quanto
menores foram as estruturas turbilhonares, mais elas promovem a dissição viscosa de energia
cinética em energia térmica.
(a) (b)
Figura 5.14. Ilustração do transporte advectivo de quantidade de movimento linear entre uma
partícula de fluido e sua vizinhança, no espaço físico (a), e entre uma estrutura turbilhonar de
comprimento de onda k e todas as outras estruturas que com ela interagem.
2u x , t 2T x , t
Esses dois primeiros termos no espaço físico, e representam
x j x j x j x j
O termo ij k km uˆm q , t uˆ j k q , t dq : esse termo é a projeção, no plano , da
k pq
p
transformada para o espaço de Fourier da soma
x j
um u j
xm
. O termo
km k
uˆm q uˆ j k q dq é a transformada do termo não linear das Equações de Navier-
k pq
Stokes,
x j
umu j . Ambos representam o fluxo líquido advectivo de quantidade de
movimento linear. No espaço físico, trata-se do fluxo líquido advectivo entre uma partícula de
fluido e sua vizinhança, como ilustrado na Figura 5.14(a). Observa-se que, apesar de ser uma
grandeza diferencial, ela representa um fluxo líquido. O produto umu j representa o fluxo de
quantidade de movimento linear. O divergente desse fluxo,
x j
umu j , representa a soma do
que sai com o que entra na partícula de fluido, ou seja, representa o fluxo líquido da
quantidade de movimento linear pela superfície de controle que delimita a partícula de fluido.
No espaço de Fourier, tem-se a troca de quantidade de movimento entre uma estrutura
2
turbilhonar de número de onda ki e todas as outras estruturas turbilhonares
ki
2 2
representadas por pi e qi , onde ki , pi e qi são os comprimentos de onda
pi qi
caracterizam as estruturas turbilhonares que interagam não linearmente para promover a troca
de informações entre elas. Esses comprimentos de onda são ilustrados na Figura 5.15 (a) e os
respectivos números de onda são ilustrados na Figura 5.15 (b). A integral de convolução,
resultante da transformação desse termo não linear, representa a soma de todas as possíveis
interações, quando pi e qi variam infinitesimalmente, com a restrição ki pi qi . Essa soma
vetorial, ilustrada na Figura 5.15 (b). Nota-se que essa integral é realizada em um tempo fixo,
ou seja, todas as interações não lineares acontecem simultaneamente e não progressivamente
como é apresentado em parte da literatura e por parte dos pesquisadores. A transferência não
linear e simultânea entre todas as estruturas turbilhonares que coexistem no espaço está
ilustrada também na Figura 5.15 (b). Essas interações entre todos os números de onda que
compõem o espectro são conhecidas como interações triádicas. Cabe observar que a integral
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 80
(a)
(b)
Figura 5.15. Representação esquemática da existência de múltiplas escalas ou de múltiplas
estruturas turbilhonares, p , q e k e do processo não linear de troca de informações entre
elas. Ilustração do transporte advectivo de quantidade de movimento linear entre uma
estrutura turbilhonar de comprimento de onda k e todas as outras estruturas, p e q , que com
ela interagem.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 81
Assim, no espaço de Fourier, a integral de convolução, relativa ao termo não linear das
equações de Navier-Stokes, representa a troca líquida de quantidade de movimento linear
entre todas as estruturas turbilhonares existentes no volume de análise e a estrutura
turbilhonar escolhida. Como ilustra a Figura 5.15 (a) cada estrutura se alimenta de quantidade
de movimento linear proveniente de sua vizinhança, que também é palco de outras estruturas.
Se uma dada estrutura ganha quantidade de movimento linear, pelo processo de transferência
advectiva, outras devem perder, pelo mesmo processo. Esse processo é altamente não linear e
representa a troca simultânea entre todas as estruturas turbilhonares existentes no domínio em
análise.
A idéia de transferência progressiva é expressa pela paródia de Richardson (1922), que
diz: “as maiores estruturas turbilhonares alimentam as menores, que por sua vez alimentam
aquelas ainda menores e assim sucessivamente, até as escalas de Kolmogorov”. Muitos
autores apresentam essa interpretação através de figuras semelhantes à Figura 5.16. Essa
interpretação contradiz a integral de convolução que mostra claramente que a transferência de
informações entre as múltiplas escalas da turbulência não pode ser algo sequencial e sim
simultânea, envolvendo todas as estruturas turbilhonares em um mesmo tempo. O leitor deve
comparar e identificar a diferença nas formas físicas de transferência de informações
expressas por essas duas figuras.
O termo k j
Tˆ q uˆ j k q dq : analogamente ao termo precedente, esse termo representa
k pq
o fluxo líquido de energia térmica entre uma estrutura turbilhonar de número de onda k e as
demais estruturas p e q . Novamente, esse um processo é um processo não linear e que pode
ser representado pelo desenho da Figura 4.15.
1
Uˆ ij k , t
2
e
ik .r
U ij r , t dr , (5.38)
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 83
onde
U ij r , t u i r , t u j r x , t , (5.39)
1
Uˆ ii k , t
2
e
ik .r
U ii r , t dr . (4.37)
U ii r 0 , t E k , t dk .
1
2 (5.38)
0
J / kg
E k, t , sobre a banda 0 k . No denominador desse último termo aparece a
1/ m
unidade 1/ m referente ao fato que E k , t , no espaço de Fourier, representa energia
palavra “densidade” se refere ao fato que a energia específica aparece por unidade de
comprimento de onda.
Na Equação (5.38) utiliza-se a regra da soma de Einstein para índices repetidos. Na
figura 5.17 visualiza-se a distribuição espectral de energia cinética turbulenta, o que é uma
forma poderosa de se entender como a atividade tubulenta de um escoamento se dá em função
dos tamanhos das diferentes estruturas turbilhonares que o caracterizam. Evidenciam-se nessa
figura um espectro contínuo de energia, o qual é caracterizado por uma banda de
comprimentos de conda sobre o qual acontece a injeção de energia cinética turbulenta. Essa
energia é transferida para as maiores estruturas, menores números de onda, assim como para
as menores estruturas, maiores comprimentos de onda. O processo de transferência é não
linear e não deve ser representado de forma sequencial, o que daria a impressão de
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 84
Figura 5.17. Densidade espectral de energia cinética turbulenta; banda de número de onda de
injeção de energia; banda inercial; banda de transformação viscosa; transferência direta e
inversa de energia.
^
U ij k , t ^ ^
^ ^
2k 2 U ij k , t ijm I u i k , t u j p , t u m
q , t dpdq . (5.39)
t
Pijm k mij k , t k jim k , t . (5.41)
necessário que toda a energia injetada sobre a banda de números de onda de injeção seja
dissipada pelos efeitos viscosos. Esta é a hipótese do equilíbrio. A curva relativa ao tempo t4,
da Figura 5.16 ilustra um escoamento turbulento que se encontra em regime estatisticamente
estacionário. Na teoria de Kolmogorov, assume-se que o espectro de energia, para números de
onda maiores que k I , depende apenas de e de k. Fazendo-se uma análise dimensional
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 88
E k k . (5.42)
E k C K 2 / 3 k 5 / 3 , (5.43)
injeção de energia, assim como para a região dissipativa viscosa, altos números de onda, que
suscede a zona inercial do espectro. Essa equação é reproduzida no presente texto, como
segue:
r r
Rer .
(5.45)
Re r r 4
1/ 3
. Se se considera que para esta escala r os efeitos viscosos sejam pequenos,
pode-se então afirmar que Rer será maior que 1. Se r diminui Rer diminui também e se r d ,
então Rer torna-se menor que 1 e os efeitos viscosos passam a dominar sobre os efeitos de
inércia. Esta escala ld é, por definição, a escala dissipativa de Kolmogorov. Logo as
estruturas turbilhonares de tamanhos menores que ld são dissipados por efeitos viscosos e não
podem se desenvolver. Esta análise permite entender porque o espectro de energia cinética cai
tão rapidamente quando se aproxima do número de onda dissipativo de Kolmogorov, 2 l d .
A título de exemplo, a escala de Kolmogorov no interior da camada limite atmosférica é da
ordem de 1 mm, enquanto que no caso de uma turbulência de grelha é da ordem de 0,1 mm.
Fazendo-se uma análise dimensional e expressando-se o tempo característico em
função de e , chega-se à seguinte expressão para este parâmetro, relativo às estruturas
dissipativas de Kolmogorov,
1/ 2
. (5.47)
vr (5.48)
1/ 4
,
1/ 2
, (5.49)
e (5.50)
1/ 2
.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 92
(a) (b)
Figura 5.22. Escoamentos sobre corpos imersos: (a) placa parcialmente imersa em um fluido
em movimento e (b) cilindro circular imerso.
t I
, (5.51)
U
U (5.52)
W ,
I
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 93
E U2. (5.53)
Essas escalas são relativas às estruturas turbilhonares ditas as mais energizadas. Essas
estruturas são também aquelas nas quais se injeta energia no espectro. Elas não são
forçosamente as maiores estruturas presentes no escoamento. Esse fato está ilustrado na
Figura (5.18) onde se pode visualizar que as maiores estruturas turbilhonares estão no interior
da cavidade, mas as receptoras de energia são as estruturas de Kelvin-Helmoholtz que
recebem energia do escoamento médio e que a transporta para o interior da cavidade. Assim,
nesse caso, a escala integral I não é a escala das maiores estruturas turbilhonares e sim das
estruturas receptoras de energia.
igual à potencia específica de injeção de energia cinética nas grandes escalas U 2 / t [W/kg].
É interessante perceber que a potência específica de dissipação viscosa pode ser expressa em
função de grandezas independentes da viscosidade, como ilustrado esquematicamente na
Figura 5.23.
Desta forma pode-se expressar a taxa de dissipação como segue:
U2 U3
. (5.54)
t I
Com esta equação modela-se a taxa de dissipação a partir de parâmetros relativos às grandes
escalas, sem a participação da viscosidade.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 94
I
Re L 3/4 . (5.56)
ld
Analogamente,
T
Re 1/2
,
I (5.57)
U
Re 1/4
,
r I (5.58)
Re 1/2
, (5.59)
W I
E
Re 1/2
. (5.60)
e I
menores que as escalas das estruturas integrais, exceto a vorticidade. A Equação (5.56) mostra
que, considerando que a escala integral de comprimento está fixa pela geometria do problema,
quanto maior for o valor do número de Reynolds, menores se tornam as estruturas dissipativas
de Kolmogorov. As leis de variação com o número de Reynolds são diferentes, como se
ilustra na Figura 5.24. Vê-se que as escalas de comprimento ( I e d ) se distanciam mais
rapidamente que as escalas de tempo, de vorticidade e de energia. As escalas de velocidade
são as que se distanciam entre si mais lentamente.
Pela relação para as escalas de vorticidade, Equação (5.59), vê-se que as escalas de
Kolmogorov têm mais vorticidade que as escalas integrais, e, de forma contrária, pela relação
para as escalas de energia, Equação (5.60), as escalas integrais são portadoras de uma maior
quantidade de energia, quando compradas com as esclas de Kolmogorov.
. (5.61)
c
Já tinha sido visto que:
3/4
U
ld 1/4
. (5.62)
I
M
, (5.63)
ld Re I 1/4
onde M U / c é o número de Mach. Numa primeira análise desta equação pode-se dizer
que a escala característica molecular, , é sempre muito menor que a escala dissipativa ld uma
vez que mesmo para altíssimos números de Mach o número de Reynolds deve ser ainda muito
superior a ele de forma que esta relação seria sempre muito menor que a unidade. No entanto
um cuidado especial deve ser tomado, pois à medida que Reynolds aumenta a escala
dissipativa ld tende às escalas moleculares. Segundo Lesieur (1994), para Mach acima de 15
estas duas escalas começam a se confundir. Esta informação é extremamente importante pois
isto implicaria em dizer que as equações de Navier-Stokes não são mais representativas dos
escoamentos com M>15. Ter-se-ia, neste caso, que utilizar modelos alternativos que não
passam pela hipótese do contínuo. Para quase a totalidade dos problemas práticos da
atualidade Mach não supera esta marca, mesmo para os escoamentos com fortes efeitos de
aquecimento.
O resultado das relações entre escalas, integrais e de Kolmogorov, permite assegurar
que a turbulência nos fluidos é um problema que pode ser modelado e anlisado considerando
que os fluidos são meios contínuos. Assim, para fluidos newtonianos, as equações de Navier-
Stokes, a equação de balanço de energia e a equação da continuidade são adequadas para a
modelagem da turbulência. Para fluidos não newtonianos, as equações de Cauchy podem ser
fechadas com modelos contínuos apropriados para diferentes grupos de fluidos.
energia cinética turbulenta pode ser obtida pela soma dos elementos da diagonal principal do
tensor Rij x , r , dividida por 2, quando se faz r igual a zero:
Rii x , r
f r . (5.66)
Rii x , 0
Com essa função correlação normalizada pode-se definir a escala de comprimento integral
como sendo:
I x f r dr , (5.67)
0
R11 u x, t u x r , t . (5.68)
R11 x , r
g x, r . (5.69)
u 2 x , 0
Determina-se a parábola osculatória relativa a essa função, ver Figura (5.25), a qual tem duas
propriedades: uma que os pontos de máximo da função g x , r e da parábola p r sejam
coincidentes, e a outra que essa parábola cruze o eixo dos x numa cota , a qual é definida
como a micro escala de Taylor. Com essas duas condições, será apresentada a determinação
da parábola p r :
p r ar 2 br c
p 0 1 c 1
a 1/
p 0 e p 0 . (5.70)
b 0
2
r
p r 1
r 0
2
g 2 g
g x, r g x, 0 r 0 r 0 r 0 ...
r r 2 2 (5.71)
r 2 2 g
1 r 0 ...
2 r 2
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 100
Mas a segunda derivada da função g x , r em r=0 pode ser aproximada pela segunda
r 2 2 g r2 2 2
1 r 0 .... 1 . (5.72)
2 r 2 2 2 g x2
2
x 0
O sinal de definição acima se deve ao fato que a parábola foi determinada de forma a definir
essa escla de comprimento. Mais detalhes podem ser obtidos em Hinze (1975).
U . (5.73)
t x
U T , (5.74)
dk 10 k
2 . (5.75)
dt
Para ver como as escalas de Taylor e de Kolmogorov se interrelacionam, observa-se que:
dk 10 k
2 , (5.76)
dt
onde é a potencia específica de dissipação da energia cinética turbulenta. Para altos valores
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 101
k 3/2
. (5.77)
I
2/3
k 3/2
0, 09 k I . (5.78)
I 0, 09
1/3
7 I . (5.79)
Mas, pela teoria de Kolmogorov, I / Re L3/2 , de onde:
I
Re L1/2 . (5.80)
Sabe-se que, para ter uma banda inercial bem definida, é necessário que I / 1000 . Então
a micro escala de Taylor deve ser pelo menos 70 vezes a escala de Kolmogorov. Assim, a
micro escala de Taylor estará sempre no interior da banda inercial, acima da escala de
Kolmogorov e abaixo da escala integral. Essas escalas estão ilustradas na Figura (5.26). A
título de exemplo quantitativo, pra uma turbulência de grelha, a escala integral, que é da
ordem do tamanho da malha da grelha, assume o valor aproximado de I 40 mm , a escala
de Kolmogorv assume o valor 0,1mm e a microescala de Taylor assume o valor
2 mm .
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 102
Observa-se que a microescala de Taylor tem uma natureza híbrida, dependendo de grandezas
integrais e de Kolmogorov. De fato, como visto,
10 k 10 k
. (5.81)
2
Assim, essa escala de comprimento depende da energia cinética turbulenta, k, que uma
grandeza típica das estruturas turbilhonares integrais, bem como de quantidades dissipativas
de Kolmogorov, ou seja, a viscosidade cinemática, , e a potência específica de dissipação
viscosa da energia cinética turbulenta, . As micro escalas de Taylor, de comprimento e de
tempo, são muito pequenas para representar as estruturas integrais e são muito grandes para
representar as estruturas turbilhonares de Kolmogorov. Devido a isso, essas micro escalas de
Taylor têm sido ignoradas quando dos desenvolvimentos de modelos de fechamento da
turbulência.
Referências bibliográficas
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large Reynolds numbers, Dokl. Akad. Nauk SSSR, 30, pp. 301-305.
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Dokl. Akad. Nauk SSSR, 32a, pp. 22-24.
Oboukhov, A. M., 1941b, Spectral energy distribution of turbulent flow, Izv. Akad. Nauk
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Saddoughi, S. G. and Veeravalli, S. V., 1994, Local isotropy in turbulent boundary layers at
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