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CAPÍTULO V

TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA

5.1. Introdução

Os escoamentos que ocorrem na natureza, nas aplicações e em laboratórios são


anisotrópicos. Escoamentos isotrópicos não podem ser encontrados, na forma absoluta dessa
palavra, mas podem ser encontrados aqueles que atendem aproximadamente essa hipótese. Os
cientistas se interessam por estudar, do ponto de vista teórico, essa classe de escoamentos, por
possibilitar desenvolvimentos teóricos, cujas aplicações podem ser extendidas a situações
reais. Parte dos modelos de fechamento da turbulência requer a hipótese de isotropia. Por
exemplo, a propriedade viscosidade turbulenta, sendo um escalar, é uma grandeza com a qual
se torna muito difícil modelar o comportamento anisotrópico da turbulência. Essa é uma
fragilidade dessa grandeza, utilizada para a modelagem da turbulência nos fluidos.

(a)

(b)
Figura 5.1. Exemplos de escoamentos cisalhantes: (a) camada de mistura – cisalhamento livre
e (b) camada limite – cisalhamento parietal.
A maioria dos escoamentos são cizalhantes, os quais são anisotrópicos e não
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 61

homogêneos, como pode ser visualizado, esquematicamente, na Figura 5.1(a) e (b). O


cizalhamento é um requisito para formação de instabilidades, como ilustra o esquema da
Figura 5.2. Isto implica em anisotropia e não homogeneidade. Estruturas coerentes são
anisotrópicas e, quanto menores as estruturas turbulentas, maior a tendência ou o grau de
isotropia e homogeneidade.
Em nível das grandes estruturas, os escoamentos turbulentos ou em transição são
anisotrópicos e não homogêneos. No entanto, mesmo nestes escoamentos, em nível das
pequenas escalas, pode-se considerar, aproximadamente, a existência de isotropia e de
homogeneidade. Além disto, pode-se encontrar também, escoamentos isotrópicos que podem
ser experimentados em laboratórios. O escoamento gerado à jusante de uma grelha fina é um
exemplo. Esse escoamento está representado, esquematicamente, na Figura 5.3.

Figura 5.2. Esquema do processo de formação de instabilidades em escoamentos cizalhantes.

Figura 5.3. Esquema ilustrativo de uma turbulência de grelha: presença de estruturas


coerentes à montante e de isotropia à jusante.

Apesar dos exemplos precedentes, faz-se necessário maior rigor na definição desses dois
conceitos, o que será apresentado com conceitos de estatística.
Homogeneidade: é a invariância estatística das propriedades dos escoamentos quando se
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promove uma translação do sistema de eixo.

Figura 5.4. Esquema ilustrativo do processo de translação de eixos.

Caso não se observe variações em qualquer propriedade estatística, ou seja,

  
f x  r   f x  , (5.1)

diz-se que o escoamento apresenta homogeneidade em relação à direção na qual se promoveu


a translação. Sendo assim, a homogeneidade é uma propriedade direcional.
Abaixo se mostra na Figura 5.5, um exemplo de um escoamento em desenvolvimento
e completamente desenvolvido no interior de um canal. Neste caso têm-se duas regiões
distintas: a região de entrada, onde não se tem nenhuma direção de homogeneidade e a região
de escoamento completamente desenvolvido, onde se tem homogeneidade na direção axial do
conduto.

Figura 5.5. Esquema ilustrativo de um escoamento em conduto, com região de não


homogeneidade e com região de homogeneidade direcional.
Isotropia: é a invariância estatística das propriedades de um escoamento em relação a uma
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rotação no sistema de eixos. Compreende-se, então, que isotropia implica em homogeneidade.


A recíproca não é verdadeira. A Figura 5.6 ilustra o processo de rotação de um sistema de
eixos.

Figura 5.6. Esquema ilustrativo do processo de rotação de eixos.

5.2. Cinemática da turbulência homogênea e isotrópica

O estudo da turbulência isotrópica requer conceitos estatísticos, os quais serão resumidamente


a presentados nos itens que seguem.

5.2.1. Formalismo estatístico


Supor um experimento no qual se interessa por uma propriedade genérica f x , t ,  , onde

   , é uma amostra no espaço amostral  . A propriedade f x , t ,  se refere a um
escoamento. A Figura 5.7 ilustra um conjunto n de amostras temporais.
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Figura 5.7. Exemplos de n amostras w .

Dadas as n amostras, pode-se proceder a definições estatísticas, como seguem:


 Média de conjunto
A média de conjunto é calculada utilizando-se todas as N amostras w, conforme a Equação
4.2:

N
 
f x , t    f x , t , wi  .
1
(5.2)
N
i 1
Observa-se que a varredura sobre as amostras é feita para um tempo fixo, mas se a média for
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feita novamente para outro tempo o valor obtido pode ser diferente. Assim, a média de
conjunto, feita sobre amostras temporais pode ser uma função do tempo.

 Média temporal
A média temporal é calculada utilizando-se cada amostra individualmente, integrando-se a
variável f  x, t , w no tempo, conforme a Equação 5.3:


f x , wi  
1 M 
 
 f x , t j , wi  t j ,
T j 1 (5.3)

onde M é o número de intervalos de tempo,  t j , utilizados para dividir a amostra temporal

wi.

 Hipótese de ergodicidade
Diz-se que um conjunto de amostras satisfaz a hipótese de ergodicidade quando a média
de conjunto pode ser obtida pela média temporal:

 
f x   f x  , (5.4)

 Momentos estatísticos de ordem n


Seja um conjunto de variáveis, listadas abaixo, ligadas a um dado escoamento:

 f a1  x , t , w   velocidade
 a
 f 2  x, t, w  pressão
 a3
 f  x, t, w  temperatura (5.5)

.
.

.
 an
 f  x, t, w  concentrações, etc

Define-se um momento estatístico de ordem n como sendo a média de conjunto do


produto das n variáveis envolvidas:
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x, t   Nlim   
N
f a x , t, wi  f a x, t, wi ... f a x , t , wi  .
1
f a1
f a2
... f an
 N

i 1
1 2 n
(5.6)

Por exemplo, pode-se fazer n=2 e f a1  f a2  u  , ou seja, a flutuação de uma das


componentes da velocidade, obtendo-se a intensidade turbulenta relativa a uma das direções
do escoamento:
(5.7)
u u   u  2 .

Neste caso, utilizou-se da hipótese de ergodicidade, ao estabeler a igualdade entre a média de


conjunto e a média temporal. Obtém-se, assim, um momento de segunda ordem, a qual
representa a variância da flutuação de velocidade, como se ilustra na Figura 5.8.

(a)
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(b)

(c)
Figura 5.8. Distribuição temporal de uma componente de velocidade e sua média (a); sua
flutuação (b) e sua variância (momento de segunda ordem) (c).

Estendendo este exemplo às três componentes de velocidade, pode-se obter o tensor de


Reynolds, composto de nove momentos de segunda ordem, como definido abaixo.

 u2 u  uw


  
 x    u  2  w . (4.8)
 2
 wu w  w 

Observa-se que este tensor é simétrico e pode ser reescrito, em notação indicial, como segue:

 ij  u iu j . (4.9)

O seu traço fornece a energia cinética turbulenta, em conformidade com sua definição:

uiui   u2   2  w2  .


1 1
k (4.10)
2 2 

Foi utilizada a regra da soma de Einstein para índices repetidos.

5.2.2. Classificação da turbulência


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A turbulência pode ser classificada, quanto à homogeneidade e à isotropia: turbulência


não homogênea e não isotrópica; turbulência homogênea e não isotrópica e turbulência
homogênea e isotrópica. Neste último caso, tem-se:

  
f a1 f a2 ... f an x ,t   f a1 f a2 ... f an x  r ,t  ,
(5.11)

 
onde r representa uma rotação ou translação do vetor x . Cabe observar que uma operação de
translação pode ser obtida por duas operações de rotação.

5.3. Transformação das equações de Navier-Stokes do espaço físico para o espaço de


Fourier

Os escoamentos isotrópicos são também periódicos. Um exemplo de escoamento


periódico, camada de mistura temporal, é ilustrado na Figura 5.9. A hipótese de periodicidade
não é necessária para o formalismo da transformação de uma função para o espaço de Fourier.
Apenas a transformada discreta de Fourier requer a propriedade de periodicidade. O uso da
Transformada Discreta de Fourier (DFT) é frequente quando se resolve equações diferenciais
parciais usando as facilidades desse operador.

5.3.1. Transformada de Fourier


Seja uma função f x , t  qualquer. Define-se a transformada espacial de Fourier como
segue:
 
 
3  
 1  
f̂ k , t     e ik .x f x , t dx , (5.12)
 2 
V

  
onde k  2  /  , é o número de onda e  é o vetor comprimento de onda, conforme ilustrado
na Figura 4.10. A grandeza i  1 é o número imaginário. O vetor número de onda tem três

componentes correspondente às três direções coordenadas: k  k 1 , k 2 , k 3  . A transformada
inversa se define como:
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  

f x , t   e

ik .x
 
f̂ k , t dk .
(5.13)

Figura 5.9. Escoamento periódico na direção horizontal.

Figura 5.10. Sinal periódico, comprimento de onda  .

5.3.2. Operadores de interesse para transformação das equações de transporte

Objetiva-se transformar as equações da continuidade, de Navier-Stokes e da energia


para o espaço de Fourier. Para tanto, necessita-se conhecer os operadores fundamentais
transformados.

 Transformada da derivada de uma função

Seja uma função f  x , t  . Propõe-se obter a transformada de sua derivada:


f x ,t    ik .x    
   
 
 (5.14)
g x ,t     e f̂ k ,t dk    e ik .x
ik f̂ k ,t dk  ik  f x ,t  .
x 
x  V̂  
 V̂

Logo,
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 70

f  1  f
3 3

 
gˆ k , t   
x  2  e
 ik . x

x
 1 
dx    ik  e
 2 
 ik . x
f  x , t  dx  ik fˆ k , t .   (5.15)
V V

O símbolo   e   serão utilizados, no presente texto, para representar, respectivamente, a


1

transformada direta e inversa de Fourier.

 Transformada do gradiente de f

Utilizando-se a Equação (4.15), a transformada do gradiente de uma função é dada


por f  x , t  :

 f f f 
f   , ,   i  k x , k y , k z  fˆ k , t  ik fˆ k , t .
 x y z      (5.16)
 

 Transformada do divergente de um vetor

ˆ ui
 V  ik V ou  iki ui . (5.17)
xi

 Transformada do laplaciano de um vetor

Utilizando a Equação (5.15), chega-se à transformada do operador laplaciano.

 2ui
 k 2 ui . (5.18)
x j x j

 A transformada do produto de duas funções

A transformada do produto de duas funções f  x , t  e g  x , t  resulta em uma integral

de convolução, envolvendo suas transformadas individualmente:

   
f  x , t  g  x , t    fˆ  gˆ  k , t  fˆ  p, t  gˆ  q , t  dpdq    
fˆ  q , t  gˆ q  k , t dq , (5.19)
k  pq k  pq
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 71

   
onde  fˆ * gˆ  k , t denota o produto de convolução das duas funções transformadas. Os
    
parâmetros de transformação de f  x , t  e g  x , t  são p e q , onde k  p  q . Esta integral

de convolução representa as interações triádicas entre os três números de onda relativos às


transformadas das duas funções separadamente e à transformada do produto das duas funções.

5.3.3. Escoamentos Incompressíveis

Considerem-se as equações que modelam os escoamentos incompressíveis, de fluidos


newtonianos, com efeitos térmicos, no espaço físico: equação da continuidade ou de balanço
de massa, equações de Navier-Stokes ou balanço de quantidade de movimento linear e
equação de balanço da energia térmica:

 u
 i 0
 xi (5.20)
 u  1 p  2ui
 i
   ui j
u  
 xi
 
f
 i .
x j x j 
 t x j
 T
    u jT     T  
2

 t x j x j x j  C p

As propriedades físicas foram considerads unitárias. Para o processo de transformação dessas


equações, as propriedades físicas serão consideradas unitárias.

5.3.3.1. Transformada da equação da continuidde

Utilizando-se a Equação (4.17), tem-se a seguinte equação, no espaço de Fourier:

ui
 iki ui  0 . (4.21)
xi

Define-se, no espaço de Fourier, um plano  , perpendicular ao vetor número de onda ki ,


também conhecido como o plano de divergência nula, em alusão ao fato que, com base na
Equação (5.21), para escoamentos incompressíveis, o campo de velocidade transformado,
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 
uˆi k , t é hortogonal ao vetor número de onda, ki . Essa propriedade está ilustrada na

Figura 5.11.

Figura 5.11. Plano de ortogonalidade no espaço de Fourier.

5.3.3.2. Transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes

Tomam-se as equações de Navier-Stokes e busca-se transformar cada termo


individualmente.

 Termo da taxa de variação da quantidade de movimento linear

ui ui
 . (5.22)
t t
Observa-se que, sendo

ki ui  0 , (5.23)
tem-se:


t
  u
ki ui  ki i  0 .
t
(5.24)

 ui
A Equação (5.24) leva à conclusão que também pertence ao plano  .
t

 Termo da difusão da quantidade de movimento

Com base na Equação (4.18) e considerando-se que k 2 é uma grandeza escalar, conclui-se
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 73

 2ui
que a transformada do termo difusivo das Equações de Navier-Stokes, , também
x j x j

pertence ao plano  , como ilustrado na Figura 5.11.

 2ui
 k 2uˆi . (5.25)
x j x j

 Gradiente da pressão
Utilizando-se a Equação (4.16), tem-se a transformada do gradiente do campo de pressão:

p (5.26)
 iki pˆ .
xi

Nota-se que a transformada do campo de pressão é colinear ao vetor número de onda, sendo,
portanto, perpendicular ao plano  .

 Termo não linear

Com os resultados acima, tem-se que:

 ui    p ˆ 
   2ui 

   ui u j    fi   0 .
 (5.27)
 t  
 x j xi 
 

Na Equação (5.27) tem-se uma soma de dois parênteses. Os termos que se encontram no
interior do primeiro parênteses pertencem ao plano , pelos resultados já apresentados. Os
termos que se encontram no interior dos segundos parênteses devem também pertencer ao
plano , uma vez que a soma é nula. Para se transformar o termo advectivo, em conjunto com

o gradiente da pressão, será definido um tensor projeção  como segue:

 
ki k j
ij k   ij  , (5.28)
k2
onde
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 74

1 se i j
 ij   , (5.29)
0 se i j


é o delta de Kronecker. Qual a função deste tensor ij ? Para verificar, toma-se um vetor a

qualquer, e faz-se a projeção de a , utilizando-se o ij , obtendo-se o seguinte:

ki k j ki
ij a j  a j ij  a j 2
 ai  a j k j  a pi , (5.30)
k k2

onde a pi representa a projeção do vetor a j pela ação do tensor projeção ij . Fazendo-se o

produto escalar da projeção a pi pelo vetor número de onda k , tem-se que:

ki ki
a pi k i  ai k i  a j k j  0. (4.31)
k2

Assim, fica verificado que o tensor ij , definido na Equação (5.28) projeta um vetor a j

qualquer no plano  .
Retornando à transformada do termo advectivo, tem-se que


x j
uiu j   ik j  uˆi  q  uˆ j k  q dq .   (5.32)
k  pq

Como já comentado, o segundo parênteses da Equação (5.27) deve pertencer ao plano  , ou


seja,

Rˆi  iki pˆ  ik j   
uˆi  q  uˆ j k  q dq  fˆi   .
(5.33)
k  pq

Esquematizando esta soma sobre o plano  , conclui-se, da Figura 5.12, que a projeção da

soma dos vetores gradiente da pressão, do termo não linear e do termo fˆi transformados,

sobre o plano  , ou seja o vetor Rˆi , é igual à projeção, sobre o plano  , da transformada da

soma do termo não linear e do termo fˆi :


CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 75


 
 
  
       
Rˆi   ki pˆ   k j  uˆi  q  uˆ j k  q dq  fˆi k  ji k  km  uˆ j  q  uˆm k  q dq  fˆj  

 k  pq 
   k  p  q
  

(5.34)

Figura 5.12. Esquema de prejeções das transformadas no espaço de Fourier.

Assim, substituindo-se esses resultados na Equação (5.27) tem-se as equações de Navier-


Stokes transformadas para o espaço de Fourier:

 
 fˆj 


 t
  k 2
 i

u  
k , t  ij k  
 k m 
ˆ
u m  q , t  ˆ
uj k  q ,t dq 

. (5.35)

 k  p  q 

Observa-se que as equações de Navier-Stokes no espaço de Fourier não dependem do


conceito de pressão, ao contrário do que acontece no espaço fisico.

5.3.3.3. Transformação da equação de balanço da energia térmica

A transformação da equação do balanço da energia térmica, Equação (5.20), se faz utilizando


o processo precedente, o que resulta em:

  
ˆ k , t

 t
  k 2 ˆ


T  
k , t   k j  T  j 
ˆ  q  uˆ k  q dq 
 C
, (5.36)
k  pq p
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 76

onde

               
ˆ k , t   k 2 uˆ 2 k , t  ˆ 2 k , t  wˆ 2 k , t   k xuˆ k , t  k yˆ k , t  k z wˆ k , t 
 
2
(5.37)

5.3.4. Interpretação dos termos das equações transformadas

Cada termo destas equações pode ser interpretado fisicamente, sendo esta
interpretação mais rica no espaço de Fourier, quando comparado às interpretações que se pode
fazer no espaço físico. Essas interpretações são estabelecidas abaixo.

A velocidade: no espaço físico, a velocidade u  x,t  está associada a uma partícula de fluido,

no sentido da hipótese do contínuo. Essa partícula está ilustrada na Figura 5.13 (a) sobre a
qual se coloca um vetor velocidade que depende de sua posição e do tempo. Por outro lado, a

 
velocidade transformada uˆ k , t representa um valor médio realtivo a um dado um número

2
de onda k  , onde    1 , 2 , 3  é o vetor comprimento de onda que representa o

comprimento característico da estrutura turbilhonar nas três direções coordenadas. Essa média
é realizada pela transformada que atua em todo o volume e busca cada estrutura presente para
realizar o cálculo do valor médio. Na Figura 5.13 (b) observa-se a coexistência de várias
estruturas turbilhonares de diferentes tamanhos característicos. Percebe-se também que uma
estrutura de um dado tamanho pode aparecer em diferentes sítios do volume considerado. É
importante frizar que encontramo-nos em um espaço onde as informações são expressas por
meio de funções complexas. Assim, as interpretações que lançamos aqui são de cunho
intuitivo.
A tempeatura: a temperatura no espaço físico, T  x , t  , representa o estado termodinâmico

de uma partícula de fluido, Figura 5.13 (a). No espaço de Fourier, Tˆ k , t   representa a

temperatura de uma estrutura turbilhonar de número de onda k , a qual é opbtida fazendo-se a


média sobre todas as estruturas turilhonares contidas no volume material em análise,
caracterizadas por esse número de onda, conforme ilustrado na Figura 5.13 (b).
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 77

(a) (b)
Figura 5.13. Ilustração de uma partícula de fluido, (a), e de estruturas turbilhonares de
diferentes tamanhos caracterísiticos, (b).

O termo
  : esse termo representa a taxa de variação da quantidade de movimento
uˆ k , t
t
linear contida em uma estrutura turbilhonar caracterizada, estatisticamente, por um número de
u  x , t 
onda k . No espaço físico, o termo correspondente, ou seja, , representa a taxa da
t
variação da quantidade de movimento linear contida em uma partícula de fluido, localizada
em uma posição espacial x . Ressalta-se que o conceito de partícula de fluido está associado à
hipótese do contínuo. As Figuras (5.14) (a) e (b) ilustram os dois conceitos, partícula de fluido
no espaço físico e estrutura turbilhonar, no espaço de Fourier. Na Figura 5.14 (a) ilustra-se a
partícula de fluido trocando quantidade de movimento linear com sua vizinhança física, o que
promove, em parte, a taxa de variação da quantidade de movimento linear dessa mesma
partícula. Na Figura 5.14 (b) ilustram-se a troca de quandidade de movimento linear entre
uma estrutura turbilhonar de comprimento de onda k e todas as outras estruturas que com ela
interagem não linearmente.

O termo
 :
Tˆ k , t
representa a taxa de variação da energia térmica contida em uma
t
estrutura turbilhonar de número de onda k . No espaço físico, o termo correspondente, ou
T  x , t 
seja, , representa a taxa de variação da energia térmica contida em uma partícula de
t
fluido, localizada em uma posição espacial x .

 
Os termos  k 2uˆ k , t ,  k 2Tˆ k , t    
e ˆ k , t : os dois primeiros termos representam,

respectivamente, o fluxo líquido difusivo de quantidade de movimento linear e o fluxo líquido


CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 78

difusivo de energia térmica entre uma estrutura turbilhonar de número de onda k e todos os
demais comprimentos de onda. É importante não confundir esses termos com o efeito de
dissipação viscosa que aparece apenas na equação da energia térmica. Nas equações de
Navier-Stokes não se contabiliza dissipação, mas apenas a difusão de informações. Na
equação da energia térmica a potência específica de dissipação viscosa é representada pelo
termo  . Sua transformada é dada pela Equação (5.37). Nota-se que os processos de difusão

dependem do quadrado da norma do número de onda, k 2 , o que nos informa que quanto
maior for o módulo do número de onda de uma estrutura turbilhonar, maiores serão os efeitos
difusivos sofridos ou promovidos por essa estrutura. Em outras palavras, quanto menor for a
estrutura turbilhonar, maior será o número de onda correspondente, e mais intensos se tornam
os processos de difusão de quantidade de movimento linear e de energia térmica. Essa mesma
interpretação pode ser dada à função potência específica de dissipação viscosa. Quanto
menores foram as estruturas turbilhonares, mais elas promovem a dissição viscosa de energia
cinética em energia térmica.

(a) (b)
Figura 5.14. Ilustração do transporte advectivo de quantidade de movimento linear entre uma
partícula de fluido e sua vizinhança, no espaço físico (a), e entre uma estrutura turbilhonar de
comprimento de onda k e todas as outras estruturas que com ela interagem.

 2u  x , t   2T  x , t 
Esses dois primeiros termos no espaço físico,  e  representam
x j x j x j x j

também os fluxos líquidos difusivos de quantidade de movimento linear e de energia térmica


entre uma partícula de fluido e sua vizinhança. A função potência específica de dissipação
viscosa ˆ  x , t  representa a dissipação de energia cinética em energia térmica em cada
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 79

partícula de fluido, devido à ação das partículas vizinhas sobre ela.


 

   
O termo ij k  km  uˆm  q , t  uˆ j k  q , t dq  : esse termo é a projeção, no plano  , da
 k  pq
 

 p
transformada para o espaço de Fourier da soma
x j
 um u j  
xm
. O termo

  
 km k  
uˆm  q  uˆ j k  q dq é a transformada do termo não linear das Equações de Navier-
k  pq


Stokes,
x j
 umu j  . Ambos representam o fluxo líquido advectivo de quantidade de
movimento linear. No espaço físico, trata-se do fluxo líquido advectivo entre uma partícula de
fluido e sua vizinhança, como ilustrado na Figura 5.14(a). Observa-se que, apesar de ser uma
grandeza diferencial, ela representa um fluxo líquido. O produto umu j representa o fluxo de


quantidade de movimento linear. O divergente desse fluxo,
x j
 umu j  , representa a soma do
que sai com o que entra na partícula de fluido, ou seja, representa o fluxo líquido da
quantidade de movimento linear pela superfície de controle que delimita a partícula de fluido.
No espaço de Fourier, tem-se a troca de quantidade de movimento entre uma estrutura
2
turbilhonar de número de onda ki  e todas as outras estruturas turbilhonares
ki
2 2
representadas por pi  e qi  , onde ki ,  pi e qi são os comprimentos de onda
 pi qi
caracterizam as estruturas turbilhonares que interagam não linearmente para promover a troca
de informações entre elas. Esses comprimentos de onda são ilustrados na Figura 5.15 (a) e os
respectivos números de onda são ilustrados na Figura 5.15 (b). A integral de convolução,
resultante da transformação desse termo não linear, representa a soma de todas as possíveis
interações, quando pi e qi variam infinitesimalmente, com a restrição ki  pi  qi . Essa soma
vetorial, ilustrada na Figura 5.15 (b). Nota-se que essa integral é realizada em um tempo fixo,
ou seja, todas as interações não lineares acontecem simultaneamente e não progressivamente
como é apresentado em parte da literatura e por parte dos pesquisadores. A transferência não
linear e simultânea entre todas as estruturas turbilhonares que coexistem no espaço está
ilustrada também na Figura 5.15 (b). Essas interações entre todos os números de onda que
compõem o espectro são conhecidas como interações triádicas. Cabe observar que a integral
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 80

de convolução é a soma, em um mesmo tempo, de todas as possíveis interações triádicas. É


importante perceber que as interações triádicas requerem a restrição de que o número de onda
ki permaneça fixo enquanto a integral está sendo realizada. Enfatiza-se o fato que essa
integral está computando a troca líquida de informações entre um número de onda
selecionado ki , o qual permanece fixo, e todos os outros possíveis números de onda que são

varidos pela variação contínua de pi e qi .

(a)

(b)
Figura 5.15. Representação esquemática da existência de múltiplas escalas ou de múltiplas
estruturas turbilhonares,  p , q e k e do processo não linear de troca de informações entre
elas. Ilustração do transporte advectivo de quantidade de movimento linear entre uma
estrutura turbilhonar de comprimento de onda k e todas as outras estruturas, p e q , que com
ela interagem.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 81

Assim, no espaço de Fourier, a integral de convolução, relativa ao termo não linear das
equações de Navier-Stokes, representa a troca líquida de quantidade de movimento linear
entre todas as estruturas turbilhonares existentes no volume de análise e a estrutura
turbilhonar escolhida. Como ilustra a Figura 5.15 (a) cada estrutura se alimenta de quantidade
de movimento linear proveniente de sua vizinhança, que também é palco de outras estruturas.
Se uma dada estrutura ganha quantidade de movimento linear, pelo processo de transferência
advectiva, outras devem perder, pelo mesmo processo. Esse processo é altamente não linear e
representa a troca simultânea entre todas as estruturas turbilhonares existentes no domínio em
análise.
A idéia de transferência progressiva é expressa pela paródia de Richardson (1922), que
diz: “as maiores estruturas turbilhonares alimentam as menores, que por sua vez alimentam
aquelas ainda menores e assim sucessivamente, até as escalas de Kolmogorov”. Muitos
autores apresentam essa interpretação através de figuras semelhantes à Figura 5.16. Essa
interpretação contradiz a integral de convolução que mostra claramente que a transferência de
informações entre as múltiplas escalas da turbulência não pode ser algo sequencial e sim
simultânea, envolvendo todas as estruturas turbilhonares em um mesmo tempo. O leitor deve
comparar e identificar a diferença nas formas físicas de transferência de informações
expressas por essas duas figuras.

O termo  k j   
Tˆ  q  uˆ j k  q dq : analogamente ao termo precedente, esse termo representa
k  pq

o fluxo líquido de energia térmica entre uma estrutura turbilhonar de número de onda k e as
demais estruturas p e q . Novamente, esse um processo é um processo não linear e que pode
ser representado pelo desenho da Figura 4.15.

O gradiente de pressão: o gradiente do campo de pressão que aparece na Equação (5.20)


representa uma força externa a uma partícula de fluido, gerada pelas partículas vizinhas
atuando sobre ela. É interessante perceber que, no espaço de Fourier esse termo foi eliminado
pelo processo de projeção do termo não linear sobre o plano  .
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 82

Figura 5.16. Representação esquemática da existência de múltiplas escalas ou de múltiplas


estruturas turbilhonares, e do processo linear de troca de informações entre elas (fisicamente
inconsistente).

A solução do sistema de equações (5.35) e (5.36) requer a solução das integrais de


convolução não linear. Este processo é caro computacionalmente. Uma alternativa utilizada
são os chamados métodos pseudo-espectrais. Resolve-se o produto das velocidades no espaço
físico, transforma-se o produto para o espaço de Fourier. Obtém-se o campo de velocidade
transformado. Efetua-se a transformada inversa e determina-se o campo de velocidade no
espaço físico e reinicia o processo. A maior limitação desta metodologia é o fato de se aplicar
apenas a escoamentos periódicos. Como alternativa tem-se utilizado esquemas mistos do tipo
diferenças finitas para as direções não periódicas e TF para as direções periódicas dos
escoamentos. Outra alternativa é a utilização de outros tipos de transformadas, como aquela
de Chebyshev, que não exigem periodicidade.

5.4. Tensor espectral e espectro de energia cinética turbulenta

Define-se o tensor espectral como sendo a transformada de Fourier do momento de


segunda ordem obtido da correlação em dois pontos, entre as flutuações de velocidade
relativas a duas direções coordenadas:

   1 
Uˆ ij k , t   
 2 
e
 ik .r
U ij  r , t  dr , (5.38)

CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 83

onde
   
U ij r , t   u i r , t u j r  x , t  , (5.39)

é um momento de Segunda ordem. Observa-se que foi feita a hipótese de homogeneidade e


isotropia. Fazendo-se i=j obtem-se o traço do tensor:

   1 
Uˆ ii k , t   
 2 
e
 ik .r
U ii  r , t  dr . (4.37)

Define-se, a partir do traço do tensor espectral, a densidade espectral de energia cinética


turbulenta, tal que:



U ii r  0 , t   E k , t dk .
1
2  (5.38)
0

E k , t  é a densidade espectral de energia cinética turbulenta específica. Essa

nomenclatura se deve ao fato que U ii  t   J / kg  deve ser obtido pela inegração de

 J / kg 
E k, t   , sobre a banda 0  k   . No denominador desse último termo aparece a
 1/ m 
unidade 1/ m referente ao fato que E  k , t  , no espaço de Fourier, representa energia

específica  J / kg  por unidade de comprimento de onda 1/ m . Explicando de outra forma, a

palavra “densidade” se refere ao fato que a energia específica aparece por unidade de
comprimento de onda.
Na Equação (5.38) utiliza-se a regra da soma de Einstein para índices repetidos. Na
figura 5.17 visualiza-se a distribuição espectral de energia cinética turbulenta, o que é uma
forma poderosa de se entender como a atividade tubulenta de um escoamento se dá em função
dos tamanhos das diferentes estruturas turbilhonares que o caracterizam. Evidenciam-se nessa
figura um espectro contínuo de energia, o qual é caracterizado por uma banda de
comprimentos de conda sobre o qual acontece a injeção de energia cinética turbulenta. Essa
energia é transferida para as maiores estruturas, menores números de onda, assim como para
as menores estruturas, maiores comprimentos de onda. O processo de transferência é não
linear e não deve ser representado de forma sequencial, o que daria a impressão de
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 84

transferência linear. A figura mostra uma composição de estruturas turbilhonares de tamanhos


diferentes. Foram desenhados apenas três comprimentos para não carregar em demasia a
figura. No entanto, quando se trata de um regime de turbulência, essa figura deverá conter
todo o escpectro cheio e contínuo de estruturas turbilhonares. Trata-se de uma enorme riqueza
de estruturas coexistindo e trocando informação de forma simultânea. A transferência
representada nessa figura ocorre em um tempo fixo, sendo essa estatística, aqui representada,
realizada no espaço. Essa representação também pode ser feita no domínio das frequências,
quando se faz a estatística utilizando-se de amostragens temporais.
Neste espectro tem-se a distribuição de energia sobre as estrutruas
turbilhonares de diferentes escalas. Como é intuitivo, as maiores estruturas (menores números
de onda) são as portadoras de maior quantidade de energia. Quanto maior o número de onda,
menor é a estrutura turbilhonar e menor a quantidade de energia transportada por ela.
Observa-se ainda nesta Figura a existência de diferentes zonas características do
espectro. A primeira delas é a zona inercial, onde o processo de transferência não linear de
energia, entre as diferentes escalas predomina. À medida que o número de onda aumenta, ou
seja, o tamanho das estruturas turbulentas diminui, o número de Reynolds local diminui
também e o processo de dissipação viscosa começa a predominar sobre os efeitos não
lineares.
Observa-se também que cada escoamento tem uma banda de números de onda
característicos de injeção de energia. Essa banda de comprimentos de onda pode também ser
representada por um único comprimento, também conhecido como comprimento
característico integral do escoamento. Em função do processo físico de injeção de energia no
escoamento, ela se divide seguindo dois cursos, ou seja, o curso da transferência direta de
energia, das maiores para as menores escalas, e o curso da transferência inversa de energia, ou
seja, das menores para as maiores escalas.
Na Figura 5.18 ilustram-se o desenvolvimento espacial do escoamento no interior de
uma cavidade retangular. Este exemplo permite entender como a energia é injetada nas
estruturas turbilhonares e como ela é repartida sobre o espectro de energia.
O escoamento recirculante no interior da cavidade é alimentado pelo escoamento
médio no interior do conduto principal. Verifica-se que o processo de transferência de energia
se dá através da camada cisalhante que faz interface entre os dois escoamentos. De fato, os
turbilhões de Kelvin-Helmholtz capturam energia do conduto principal e bombeia-a para o
interior da cavidade, gerando recirculações de grandes escalas e de baixos números de onda.
Esse processo está representado sob o espectro na Figura 5.17.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 85

Figura 5.17. Densidade espectral de energia cinética turbulenta; banda de número de onda de
injeção de energia; banda inercial; banda de transformação viscosa; transferência direta e
inversa de energia.

Figura 5.18. Escoamento sobre uma cavidade, ilustrando o processo de transferência de


energia do escoamento médio para os turbilhões da camada cizalhante e para o interior da
cavidade.

Observando as estruturas turbilhonares de Kelvin-Helmholtz, sobre a camada


cisalhante, percebe-se que elas são compostas de outras estruturas ainda menores
(harmônicos) mas de natureza semelhante às maiores. A energia para formação e manutenção
dessas estruturas menores deve ser fornecida pelas estruturs turbilhonares receptoras de
energia, como ilustrado na Figura 5.18. Desta feita explica-se o processo físico da chamada
cascata direta de energia, ou seja, o transporte não linear que ocorre das grandes para as
menores estruturas.
Uma equação de balanço da energia cinética turbulenta no espaço de Fourier pode ser
útil para se entender o processo de transferência de energia ao longo do espectro.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 86

5.5. Equação de balanço da energia cinética turbulenta

Partindo-se das equações de Navier-Stokes, as quais são também válidas para as

flutuações de velocidade, multiplicando-as por u i k , t  , fazendo-se a média < >, manipulando-


^

se algebricamente, obtém-se a equação de transporte para o tensor espectral e


consequentemente para o seu traço:

^
 U ij k , t  ^  ^ 
 
^ ^    
 2k 2 U ij k , t   ijm I u i k , t u j  p , t  u m
  q , t  dpdq . (5.39)
t  

A função I depende de momentos de terceira ordem. Ela está definida em Lesieur


(1995). Fazendo-se a soma sobre as três componentes do traço do tensor espectral ( U ii ) e
utilizando-se a definição da densidade espectral de energia cinética turbulenta, obtém-se a sua
equação de transporte:
E k , t 
 2k 2 E k , t   T k , t  .
t (5.40)

O primeiro termo desta equação representa a taxa de variação da densidade espectral


de energia cinética turbulenta; o segundo representa a troca líquida de energia pelo processode
difusão molecular, entre a estrutura turbilhonar de número de onda k e toda a banda de
números de onda que compõem o espectro. O termo T(k,t) depende da função I(k,t) e do
tensor de terceira ordem

 
 
Pijm  k mij k , t  k jim k , t .   (5.41)

Na Figura 5.17 ilustra-se o espectro de energia e o processo não linear de transferência


de entre as diferentes estruturas turbilhonares do escoamento. A Equação (5.40) pressupõe a
variação temporal da quantidade de energia contida em uma estrutura turbilhonar de número
E  k , t 
de onda k, ou seja, pressupõe-se que  0 . Isso requer que o espectro da densidade de
t
energia cinética turbulenta não é estacionário, ou seja, que a turbulência seja estatisticamente
transiente. Por exemplo, a turbulência pode estar se desenvolvendo ou em regime de
decaimento temporal. A Figura 5.19 ilustra o processo transiente de estabelecimento de um
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 87

espectro de energia cinética turbulenta. Parte-se de uma distribuição inicial de energia,


concentrada sobre uma faixa espectral estreita, concentrada sobre o número de onda de
injeção de energia. À medida que o tempo passa, a energia injetada se distribui, através dos
mecanismos físicos modelados na equação precedente, e estabelece-se o espectro
correspondente à uma turbulência tridimensional completamente desenvolvida. Será visto que
esse estado estacionário de turbulência plenamente desenvolvida segue a lei de Kolmogorov,
5
traduzida por uma inclinação, em  , da distrituição de energia cinética turbulenta,
3
representada em um gráfico log  E  k , t   log  k  .

Figura 5.19. Distribuição de energia cinética turbulenta, ilustrando o processo de formação de


um espectro.

5.6. Teoria de Kolmogorov

Esta é a teoria mais famosa sobre a turbulência isotrópica, estabelecida por


Kolmogorov (1941a) e (1941b). Sua base é a análise dimensional. Supõe-se a existência de
uma potência específica de dissipação viscosa  W / kg  . Para se ter regime permanente, é

necessário que toda a energia injetada sobre a banda de números de onda de injeção seja
dissipada pelos efeitos viscosos. Esta é a hipótese do equilíbrio. A curva relativa ao tempo t4,
da Figura 5.16 ilustra um escoamento turbulento que se encontra em regime estatisticamente
estacionário. Na teoria de Kolmogorov, assume-se que o espectro de energia, para números de
onda maiores que k I , depende apenas de  e de k. Fazendo-se uma análise dimensional
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 88

baseada no teorema dos  ' s de Vaschy-Buckingham, Kolmogorov chegou à seguinte


expressão

E k     k  . (5.42)

Determinando-se os valores de  e  e definindo-se uma constante de proporcionalidade,


CK, tem-se que:

E k   C K  2 / 3 k 5 / 3 , (5.43)

onde CK=1,4 é a constante universal de Kolmogorov, determinada analiticamente. Esta


equação, quando linearizada através de logarítmo, permite obter a distribuição ilustrada na
Figura 5.19, sendo que a zona inercial tem inclinação –5/3, Oboukhov (1941). Para mais
detalhes sobre o desenvolvimento dessa teoria, o leitor pode recorrer ao artigo de revisão de
Frisch (1995).
Uma variedade de experimentos em laboratórios materiais e em laboratórios
computacionais sido realizada objetivando-se a comprovação desta lei, para diversos valores
do número de Reynolds. Todos eles têm resultado na comprovação da lei de Kolmogorov,
expressa pela Equação (5.43).
Tendo vista a demonstração desse fato, apresentam-se na Figura 5.20 os resultados de
um grande elenco de experimentos, realizados para diferentes problemas, tais como esteiras,
turbulência de grelha, canais, entre outros. Para que todos eles pudessem ser apresentados em
uma única figura, os dados da densidade espectral de energia cinética turbulenta foram

escalonados, usando a teoria de Kolmogorov. Assim E11  k1  /  5 


1/4
é uma grandeza

adminesional que coloca todos os experimentos em uma mesma escala. Analogamente,


utiliza-se o número de onda escalonado com a esala de dissipação viscosa de Kolmogorov,  ,
a qual ainda será definida, em uma seção posterior, k1 . Os diferentes símbolos representam
os diferentes experimentos. O número que aparece à frente da descrição de cada trabalho
representa o valor do número de Reynolds, Reλ , baseado na microescala de Taylor,  . Uma

gama de resultados relativos a vários valores do número de Reynolds, 23  Reλ  3.180 , é


apresentada nessa figura. As linhas cheias foram obtidas a partir de um modelo proposto e
apresentado por Pope (2000), o qual expressa a Lei de Kolmogorov, extendida para as regiões
das grandes estruturas turbilhonares, baixos números de onda, que antecedem a região de
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 89

injeção de energia, assim como para a região dissipativa viscosa, altos números de onda, que
suscede a zona inercial do espectro. Essa equação é reproduzida no presente texto, como
segue:

E  k   C 2/3k 5/3 f L  kL  f  k  , (5.44)

onde f L  kL  e f  k  são funções propostas para modelar, respectivamente, a região das

chamadas “estruturas portadoras de energia”, grandes estruturas, e a região de dissipação de


energia cinética turbulenta. Ambas as funções devem se encontrar na região inercial do
espectro de energia e reproduzem a Lei de Kolmogorov, apresentando uma inclinação em -
5/3. Para maiores detalhes sobre essas funções, convidamos o leitor a uma consulta à
referencia Pope (2000). O objetivo da apresentação dessa figura é mostrar que muitos
experimentos têm sido realizados com o intuito de comprovar a lei de Kolmogorov. Na Figura
(5.20) percebe-se que, para todos esses experimentos, essa lei é recuperada. Percebe-se ainda
a dependência da largura do espectro quanto ao número de Reynolds. Quanto maior o valor
do número de Reynolds, maior a largura do espectro.

5.7. Escalas da turbulência

Antes de aprofundar qualquer tipo de estudo sobre os escoamentos turbulentos é


interessante poder ter uma idéia das ordens de grandezas das variáveis envolvidas nos
fenômenos, através das escalas características da turbulência. Estas escalas são relacionadas
com tempo, comprimento, velocidades, energia e vorticidade.

5.7.1. Escalas dissipativas de Kolmogorov

Para lançar o conceito de escala de dissipação viscosa de Kolmogorov, toma-se um


turbilhão de tamanho característico r com uma velocidade característica r  V , originário

em um fluido de viscosidade , como ilustra a Figura 5.21.


Define-se um número de Reynolds local, com base nessas características da estrutura
turbilhonar:
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 90

r r
Rer  .
 (5.45)

Figura 5.20. Densidade espectral de energia cinética turbulenta, realtiva à componente da


velocidade na direção do escoamento. Figura construída com dados experimentais de
retirados de Saddoughi e Veeravalli (1994). Nesse trabalho, faz-se referencia aos vários
experimentos que constam dessa figura.

Figura 5.21. Ilustração de uma estrutura turbilhonar de tamanho característico r, velocidade


característica r , formada em um fluidode viscosidade  .

O quadrado deste parâmetro representa a importância relativa entre as forças de inércia e as


forças viscosas. Admita-se que a escala r esteja numa zona do espectro onde, pela teoria de

Kolmogorov, r    r  , ver Lesieur (1994). Substituindo vr na equação acima tem-se


1/3
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 91

 
Re r   r 4
1/ 3
 . Se se considera que para esta escala r os efeitos viscosos sejam pequenos,
pode-se então afirmar que Rer será maior que 1. Se r diminui Rer diminui também e se r  d ,

onde d é definido abaixo, em função da viscosidade cinemática e da potência específica de


dissipação:
(5.46)
,

então Rer torna-se menor que 1 e os efeitos viscosos passam a dominar sobre os efeitos de
inércia. Esta escala ld é, por definição, a escala dissipativa de Kolmogorov. Logo as
estruturas turbilhonares de tamanhos menores que ld são dissipados por efeitos viscosos e não
podem se desenvolver. Esta análise permite entender porque o espectro de energia cinética cai
tão rapidamente quando se aproxima do número de onda dissipativo de Kolmogorov, 2 l d .
A título de exemplo, a escala de Kolmogorov no interior da camada limite atmosférica é da
ordem de 1 mm, enquanto que no caso de uma turbulência de grelha é da ordem de 0,1 mm.
Fazendo-se uma análise dimensional e expressando-se o tempo característico em
função de  e , chega-se à seguinte expressão para este parâmetro, relativo às estruturas
dissipativas de Kolmogorov,

1/ 2

   . (5.47)


De forma semelhante, deduz-se as escalas de velocidade, de vorticidade (da ordem do


inverso da escala de tempo de Kolmogorov) e de energia cinética turbulenta de Kolmogorov
(da ordem do quadrado da escala de velocidade de kolmogorov):

vr    (5.48)
1/ 4
,

1/ 2

   , (5.49)


e    (5.50)
1/ 2
.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 92

Essas escalas se referem às menores estruturas turbilhonares possíveis que compõem o


espectro de estruturas relativo a um escoamento turbulento.

5.7.2. Grandes escalas

As maiores estruturas de um escoamento são determinadas pela geometria que lhes dá


origem. Seja L a escala de comprimento típica da geometria sobre a qual acontece o
escoamento. As estruturas ditas “portadoras de energia”, no sentido que são aquelas que
recebem energia de alguma fonte externa ao problema de interesse, têm dimensões
caracterizadas pela chamada escala integral de comprimento, I . Na Figura 5.22 (a) mostra-se
o escoamento a jusante de uma placa parcialmente imersa. A escala de comprimento da
geometria é L, que caracteriza a pate imersa da placa. A escala integral das estruturas
turbilhonares as mais energizadas, I , também é apresentada. Na figura 5.22 (b) apresenta-se
o escoamento sobre um cilindro circular, de diâmetro D o qual representa a dimensão
característica do problema. A estrutura integral também está assinalada no desenho. Em
ambos os casos percebe-se que as escalas integrais dos dois problemas são da ordem de
gradeza das escalas das geometrias, ou seja, L e D.

(a) (b)
Figura 5.22. Escoamentos sobre corpos imersos: (a) placa parcialmente imersa em um fluido
em movimento e (b) cilindro circular imerso.

Seja U a escala de velocidade de transporte das estruturas integrais do escoamento.


Com estas duas grandezas características definem-se as demais, na seguinte ordem: tempo,
vorticidade e energia, as quais são dadas pelas equações seguintes:

t I
, (5.51)
U

U (5.52)
W ,
I
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 93

E U2. (5.53)

Essas escalas são relativas às estruturas turbilhonares ditas as mais energizadas. Essas
estruturas são também aquelas nas quais se injeta energia no espectro. Elas não são
forçosamente as maiores estruturas presentes no escoamento. Esse fato está ilustrado na
Figura (5.18) onde se pode visualizar que as maiores estruturas turbilhonares estão no interior
da cavidade, mas as receptoras de energia são as estruturas de Kelvin-Helmoholtz que
recebem energia do escoamento médio e que a transporta para o interior da cavidade. Assim,
nesse caso, a escala integral I não é a escala das maiores estruturas turbilhonares e sim das
estruturas receptoras de energia.

5.7.3. Potência específica de dissipação viscosa

Para os escoamentos turbulentos completamente desenvolvidos pode-se fazer a


hipótese do equilíbrio, para os quais a potência específica de dissipação viscosa,  W / kg  , é

 
igual à potencia específica de injeção de energia cinética nas grandes escalas U 2 / t [W/kg].

É interessante perceber que a potência específica de dissipação viscosa pode ser expressa em
função de grandezas independentes da viscosidade, como ilustrado esquematicamente na
Figura 5.23.
Desta forma pode-se expressar a taxa de dissipação como segue:

U2 U3
  . (5.54)
t I

Com esta equação modela-se a taxa de dissipação a partir de parâmetros relativos às grandes
escalas, sem a participação da viscosidade.
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 94

Figura 5.23. Esquema ilustrativo da hipótese do equilíbrio.

5.7.4. Relações Entre as Escalas da turbulência

Pode-se, agora, deduzir relações interessantes envolvendo as escalas estabelecidas


acima:
1/4
 U 3 
ld   3 /    , (5.55)
  I 
de onde

I
 Re L 3/4 . (5.56)
ld

Analogamente,
T
 Re 1/2
,
 I (5.57)

U
 Re 1/4
,
r I (5.58)


 Re 1/2
, (5.59)
W I

E
 Re 1/2
. (5.60)
e I

Observam-se alguns fatos interessantes ao analisar estas expressões que relacionam as


escalas com o número de Reynolds. Todas elas mostram que as escalas dissipativas são muito
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 95

menores que as escalas das estruturas integrais, exceto a vorticidade. A Equação (5.56) mostra
que, considerando que a escala integral de comprimento está fixa pela geometria do problema,
quanto maior for o valor do número de Reynolds, menores se tornam as estruturas dissipativas
de Kolmogorov. As leis de variação com o número de Reynolds são diferentes, como se
ilustra na Figura 5.24. Vê-se que as escalas de comprimento ( I e d ) se distanciam mais
rapidamente que as escalas de tempo, de vorticidade e de energia. As escalas de velocidade
são as que se distanciam entre si mais lentamente.
Pela relação para as escalas de vorticidade, Equação (5.59), vê-se que as escalas de
Kolmogorov têm mais vorticidade que as escalas integrais, e, de forma contrária, pela relação
para as escalas de energia, Equação (5.60), as escalas integrais são portadoras de uma maior
quantidade de energia, quando compradas com as esclas de Kolmogorov.

Figura 5.24. Comportamento qualitativo das relações de escalas.

5.7.5. Escalas moleculares versus escalas de Kolmogorov

As escalas dissipativas de Kolmogorov são as menores que podem ocorrer em um


escoamento turbulento. É importante verificar se estas escalas podem sofrer influências das
escalas moleculares. Seja  o livre caminho médio molecular. Para os gases a escala
molecular de velocidade pode ser associada à velocidade do som c. Da teoria cinética dos
gases mostra-se que a viscosidade cinemática pode ser expressa em função destas duas
grandezas características ( e c) pela relação   c , d’onde:
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 96


 . (5.61)
c
Já tinha sido visto que:

3/4
U 
ld    1/4
. (5.62)
 
I

Dividindo uma equação pela outra tem-se:

 M
 , (5.63)
ld Re I 1/4

onde M  U / c é o número de Mach. Numa primeira análise desta equação pode-se dizer
que a escala característica molecular, , é sempre muito menor que a escala dissipativa ld uma
vez que mesmo para altíssimos números de Mach o número de Reynolds deve ser ainda muito
superior a ele de forma que esta relação seria sempre muito menor que a unidade. No entanto
um cuidado especial deve ser tomado, pois à medida que Reynolds aumenta a escala
dissipativa ld tende às escalas moleculares. Segundo Lesieur (1994), para Mach acima de 15
estas duas escalas começam a se confundir. Esta informação é extremamente importante pois
isto implicaria em dizer que as equações de Navier-Stokes não são mais representativas dos
escoamentos com M>15. Ter-se-ia, neste caso, que utilizar modelos alternativos que não
passam pela hipótese do contínuo. Para quase a totalidade dos problemas práticos da
atualidade Mach não supera esta marca, mesmo para os escoamentos com fortes efeitos de
aquecimento.
O resultado das relações entre escalas, integrais e de Kolmogorov, permite assegurar
que a turbulência nos fluidos é um problema que pode ser modelado e anlisado considerando
que os fluidos são meios contínuos. Assim, para fluidos newtonianos, as equações de Navier-
Stokes, a equação de balanço de energia e a equação da continuidade são adequadas para a
modelagem da turbulência. Para fluidos não newtonianos, as equações de Cauchy podem ser
fechadas com modelos contínuos apropriados para diferentes grupos de fluidos.

5.7.6. Escala integral da turbulência

Até o momento foram utilizadas correlações a um ponto, como a intensidade da


CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 97

turbulência, calculada utilizando-se de correlações a um ponto, fazendo-se médias temporais:

u  x  u  x  ou as componentes do tensor de Reynolds, como u  x    x  . Essas grandezas

são calculadas fazendo-se o produto entre as distribuições temporais de duas ou mais


variáveis e posteriormente fazendo-se a média temporal. Para o desenvolvimento dessa
unidade será necessário utilizar correlações a dois pontos. Isso significa que, dessa forma,
tratamos apenas com correlações de uma variável consigo mesma ou de uma variável com
outra variável em um mesmo ponto dentro do escoamento. Entretanto, a turbulência é
dominada por estruturas turbilhonares grandes e coerentes, com vida longa o bastante para
afetar diferentes regiões do escoamento, fazendo com que não possamos descrever a
turbulência com informações locais apenas. Faz-se necessário, descrever o que se passa em
um ponto, estabelecer correlações com o que se passa na sua vizinhança. Townsend (1976)
coloca o seguinte: “de forma diferente do que ocorre com o movimento molecular, o
movimento que um fluido experimenta em regime turbulento afeta toda a vizinhança de um
ponto e não apenas o ponto em si. Logo, uma descrição adequada não pode ser estabelecida
apenas com informações médias associadas a um ponto isoladamente. Isso pode ser colocado
dizendo que um escoamento turbulento é menos randômico e mais organizado que o
movimento molecular. Para descrever um escoamento turbulento fazem-se necessárias
correlações a dois ou mais pontos no interior do escoamento.”
Vamos falar de correlações a dois pontos e das escalas de tempo e de comprimento
que podem ser deduzidas com essas correlações. São utilizados dois tipos de correlações a
dois pontos: uma envolvendo dois pontos no espaço x e x  r e a outra envolvendo dois
momentos no tempo, t e t   . Para tanto se assume uma separação no espaço e uma
separação no tempo. O tensor correlação espacial a dois pontos para a velocidade, é dado pela
média temporal da correlação das componentes da velocidade envolvendo dois pontos
simultaneamente:

Rij  x, r   ui  x , t  uj  x  r , t  (5.64)

Tij  x, r   ui  x, t  uj  x , t    (5.65)

Onde os operadores e   representa a média espacial e a média temporal

repectivamente. O vetor r fornece a distância entre os dois pontos correlacionados, no interior


do escoamento e o intervalo de tempo entre os dois instantes é dado por  . Em particular, a
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 98

energia cinética turbulenta pode ser obtida pela soma dos elementos da diagonal principal do
tensor Rij  x , r  , dividida por 2, quando se faz r igual a zero:

Rii  x , r 
f r   . (5.66)
Rii  x , 0 

Com essa função correlação normalizada pode-se definir a escala de comprimento integral
como sendo:

I  x    f  r dr , (5.67)
0

A variável de integração é r  r . A interpretação gráfica da definição dessa escala de

comprimento da turbulência pode ser visualizada na Figura (5.25).

Figura 5.24. Ilustração da função correlação f  r  . Inerpretação gráfica escala integral


I x .

5.7.7. Micro escala de Taylor

Com base nos trabalhos experimentais, para “turbulência estacionária,” isto é,


turbulência para a qual todos os momentos estatísticos são independentes do tempo,
comumente define-se a microescala de Taylor, baseando-se apenas na componente dita na
direção do escoamento:
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 99

R11  u  x, t  u  x  r , t  . (5.68)

Normalizando-se com a intensidade da turbulência na direção do escoamento, define-se a


seguinte função:

R11  x , r 
g  x, r   . (5.69)
u 2  x , 0 

Determina-se a parábola osculatória relativa a essa função, ver Figura (5.25), a qual tem duas
propriedades: uma que os pontos de máximo da função g  x , r  e da parábola p  r  sejam

coincidentes, e a outra que essa parábola cruze o eixo dos x numa cota  , a qual é definida
como a micro escala de Taylor. Com essas duas condições, será apresentada a determinação
da parábola p  r  :

p  r   ar 2  br  c
p  0  1  c  1
a  1/ 
p     0 e p     0   . (5.70)
b  0
2
r
p r      1


Figura 5.25. Ilustração da função correlação g  r  e da parábola osculatória.

Fazendo-se uma expansão em série de Taylor da função g  x , r  , tem-se:

 r  0
2
g 2 g
g  x, r   g  x, 0   r 0  r  0   r 0  ...
r r 2 2 (5.71)
r 2 2 g
 1 r  0  ...
2 r 2
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 100

Mas a segunda derivada da função g  x , r  em r=0 pode ser aproximada pela segunda

derivada da parábola osculatória, avaliada também em r=0. Logo:

r 2 2 g r2  2  2
1 r  0  ....  1       . (5.72)
2 r 2 2  2    g x2 
2
x 0

O sinal de definição acima se deve ao fato que a parábola foi determinada de forma a definir
essa escla de comprimento. Mais detalhes podem ser obtidos em Hinze (1975).

5.7.8. Correlação a dois pontos e escalas correlatas

A hipótese de Taylor dos deslocamentos no tempo e no espaço estabelece que:

 
U . (5.73)
t x

Dssa hipótese, estabelece-se que a relação entre as micro-escalas de tempo de comprimento


de Taylor é dada por:

  U T , (5.74)

onde  é a microescala de comprimento de Taylor, U é a velocidade característica do


escoamento turbulento e  T é a microescala de tempo de Taylor.
Para turbulência homogênea e isotrópica, a análise de Taylor estabelece que a taxa de
decaimento da energia cinética turbulenta é dada por:

dk 10 k
 2 . (5.75)
dt 
Para ver como as escalas de Taylor e de Kolmogorov se interrelacionam, observa-se que:

dk 10 k
     2 , (5.76)
dt 

onde  é a potencia específica de dissipação da energia cinética turbulenta. Para altos valores
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 101

do número de Reynolds, tem-se que:

k 3/2
 . (5.77)
I

Considerando-se ainda dados empíricos:

 
2/3
k 3/2
  0, 09 k  I  . (5.78)
I  0, 09 

A escala de comprimento de Kolmogorov é dada por    3 /  


1/4
. Combinando essas

equações, tem-se que:

1/3
  
 7 I  . (5.79)
  
Mas, pela teoria de Kolmogorov,  I /    Re L3/2 , de onde:

I
 Re L1/2 . (5.80)

Sabe-se que, para ter uma banda inercial bem definida, é necessário que I /   1000 . Então
a micro escala de Taylor deve ser pelo menos 70 vezes a escala de Kolmogorov. Assim, a
micro escala de Taylor estará sempre no interior da banda inercial, acima da escala de
Kolmogorov e abaixo da escala integral. Essas escalas estão ilustradas na Figura (5.26). A
título de exemplo quantitativo, pra uma turbulência de grelha, a escala integral, que é da
ordem do tamanho da malha da grelha, assume o valor aproximado de I  40 mm , a escala
de Kolmogorv assume o valor   0,1mm e a microescala de Taylor assume o valor
  2 mm .
CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 102

Figura 5.26. Ilustração das escalas de comprimento da turbulência: escala integral - I ;

microescala Taylor -  e escala de Kolmogorov -  .

Observa-se que a microescala de Taylor tem uma natureza híbrida, dependendo de grandezas
integrais e de Kolmogorov. De fato, como visto,

10 k 10 k
   . (5.81)
 2

Assim, essa escala de comprimento depende da energia cinética turbulenta, k, que uma
grandeza típica das estruturas turbilhonares integrais, bem como de quantidades dissipativas
de Kolmogorov, ou seja, a viscosidade cinemática,  , e a potência específica de dissipação
viscosa da energia cinética turbulenta,  . As micro escalas de Taylor, de comprimento e de
tempo, são muito pequenas para representar as estruturas integrais e são muito grandes para
representar as estruturas turbilhonares de Kolmogorov. Devido a isso, essas micro escalas de
Taylor têm sido ignoradas quando dos desenvolvimentos de modelos de fechamento da
turbulência.

Referências bibliográficas

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Hinze, J. O., 1975, Turbulence, Mc Graw Hill.


CINEMÁTICA DA TURBULÊNCIA HOMOGÊNEA E ISOTRÓPICA 103

Kolmogorov, 1941 a, The local structure of turbulence in incompressible viscous fluid for
large Reynolds numbers, Dokl. Akad. Nauk SSSR, 30, pp. 301-305.

Kolmogorov, 1941 b, On degeneration of isotropic turbulence in an incompressible viscous


liquid, Dokl. Akad. Nauk SSSR, 31, pp. 538-541.

Lesieur, M., 1995, Turulence in Fluids, Kluwer Academic Publishers, Netherlands.

Oboukhov, A. M., 1941a, On the distribution of energy in the spectrum of turbulent flow,
Dokl. Akad. Nauk SSSR, 32a, pp. 22-24.

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Richardson, L. F., 1922, Weather prediction by numerical process, Cambridge University


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Saddoughi, S. G. and Veeravalli, S. V., 1994, Local isotropy in turbulent boundary layers at
high Reynolds number, J. Fluid Mech. 268, pp. 333-372.

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