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Condenação do grupo Riachuelo


revela o adoecimento das
trabalhadoras da moda

Por André Campos e Ana Aranha | 27/01/16

Costureira relata abusos físicos e psicológicos


para cumprir metas. Caso revela problemas do
sistema “Fast Fashion”, que piora as condições de
trabalho no setor.

O grupo Riachuelo foi condenado a pagar pensão vitalícia a uma de


suas ex-funcionárias em mais uma ação que revela as precárias
condições de trabalho impostas às costureiras que produzem para as
grandes marcas da moda. A condenação descreve um ambiente de
trabalho em que a exigência de metas de produção ocorria mediante
abusos físicos e psicológicos. Segundo seu relato, a costureira era
pressionada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada. A
meta, por hora, era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300
bolsos. Na ação, a funcionária diz que muitas vezes evitava beber água
para diminuir suas idas ao banheiro. Idas que, segundo ela, seriam
controladas pelo encarregado mediante o uso de �chas.

A ação foi contra a Guararapes Confecções, indústria de roupas do


grupo Riachuelo, condenada a pagar uma pensão vitalícia à costureira
lesionada devido às atividades exercidas na empresa. A ex-funcionária
desenvolveu Síndrome do Túnel do Carpo, que provoca dores e
inchaços nos braços. A ação aponta que a trabalhadora teve a sua
capacidade laboral diminuída devido ao ritmo de trabalho exaustivo
demandado pela fábrica potiguar, onde são confeccionadas peças de
roupa vendidas pelas lojas da Riachuelo.
Funcionárias da Guararapes, grupo Riachuelo, entram para a jornada de trabalho na
fábrica em Natal, Rio Grande do Norte (Foto: Lilo Clareto)

O Tribunal Superior do Trabalho de�niu, em dezembro de 2015, que a


Guararapes deve pagar o equivalente a 40% da última remuneração da
costureira enquanto durar a incapacidade, além de 10 mil reais a título
de indenização. A pensão vitalícia pode se prolongar até que ela
complete 70 anos.

Segundo a funcionária, as idas ao banheiro eram


controladas pelo encarregado

Outro abuso relatado no processo, que teve início em 2011, foi o


atendimento médico dentro da fábrica. Ao se dirigir à enfermaria da
empresa com sintomas de Síndrome de Túnel do Carpo, a trabalhadora
conta que era medicada com analgésico e recebia a determinação de
retornar ao trabalho.

Em resposta à reportagem, a Guararapes a�rmou que cumpre a


aplicação da jornada de trabalho prevista na lei. “Além disso, a
companhia conta com auditoria interna em todas as suas operações,
com o objetivo de monitorar o cumprimento do Código de Ética e os
horários de trabalho de acordo com a legislação”.

Sobre o controle às idas ao banheiro mediante �chas, a empresa diz


que “não adota essa política e não compactua com a prática” (leia aqui
as respostas da empresa na íntegra).

Leia mais: Aplicativo monitora a ocorrência e prevenção do trabalho


escravo nas marcas da moda
Migração às inversas
A condenação reforça uma série de constatações sobre violações
trabalhistas dentro da fábrica do grupo Riachuelo pelo Ministério
Público do Trabalho (MPT). Em 2012, o órgão ajuizou uma ação contra a
Guararapes cobrando multa de R$ 27 milhões por descumprimento de
normas de saúde e segurança na fábrica. Anos antes dessa ação,
devido ao grande número de lesões por esforço repetitivo, um acordo
fora �rmado entre a empresa e o MPT. Nele, a empresa se
comprometia a fazer adequações nas instalações, máquinas e
mobiliário.

No entanto, uma �scalização conjunta do MPT e do Ministério do


Trabalho e Emprego (MTE) constatou o descumprimento do acordo,
incluindo máquinas inadequadas, banheiros fechados, calor excessivo,
baixa iluminação do ambiente de trabalho.

Ao se dirigir à enfermaria, a trabalhadora conta que era


medicada com analgésico e era orientada a voltar ao
trabalho

Os depoimentos colhidos pelos �scais do trabalho corroboram a


denúncia feita pela costureira que ganhou a ação individual contra a
empresa: os relatos descrevem as limitações de idas ao banheiro, não
recebimento de atestados médicos válidos e falta de realização de
exames médicos periódicos.

Ainda em 2012, foi �rmado um acordo de conciliação entre o MPT e a


Guararapes no qual a empresa se comprometeu a pagar multa de R$ 3
milhões para encerrar a ação. Nesse novo acordo a indústria assumiu
novas obrigações. Entre elas, aceitar os atestados de funcionários
emitidos por médicos do SUS ou particulares, mesmo que eles não
integrem o plano de saúde da empresa. O pagamento da grati�cação
de produtividade e a cesta básica também foram estendidos aos
trabalhadores afastados ou que faltem por problemas de saúde.
Linha de produção em pequena o�cina tercerizada no sertão atende à demanda da
Guararapes, do grupo Riachuelo (Foto: Lilo Clareto)

De acordo com o CEO da Riachuelo, Paulo Rocha, a decisão de


terceirizar a atividade de costura, a partir de 2013, deve-se em parte à
�scalização trabalhista. “Tivemos que assinar um acordo com 40
cláusulas absolutamente leoninas. Isso feriu de morte a
competitividade (da fábrica)”, diz o CEO da Riachuelo, Paulo Rocha, em
entrevista concedida à Repórter Brasil em dezembro. “Foi quando o
meu pai [Nevaldo Rocha, fundador do grupo] nos disse: ‘vocês estão
liberados, produzam onde quiserem.’”

Para alguns, é preciso ter cuidado com o argumento de que a


terceirização é uma consequência da �scalização. “Acredito ser mais
uma “boa desculpa” que o real motivo pelo qual a empresa tomou essa
medida”, a�rma Renato Bignami, auditor do trabalho e doutor em
direito do trabalho pela Universidade Complutense de Madrid.

“A maioria das costureiras que trabalham há algum


tempo na pro�ssão estão adoecendo”, juiz do trabalho
Alexandre Érico da Silva

As consequências da tercerização foram investigadas pela Repórter


Brasil em matérias publicadas em dezembro de 2015, quando a
reportagem visitou as o�cinas no sertão do Rio Grande do Norte e
encontrou costureiras fazendo longas jornadas, ganhando salários
menores e recebendo menos benefícios do que os funcionários da
indústria na capital.

Enquanto as costureiras terceirizadas no sertão recebem R$ 793 por


mês, as costureiras da capital não ganham menos do que mil reais,
revela Maria dos Navegantes, presidente do sindicato das costureiras.
Além disso, na capital elas recebem benefícios como cesta básica e
plano de saúde.
O crescimento da terceirização na indústria de roupas pode aumentar
o número de doenças ocupacionais e acidentes, a�rma o juiz Alexandre
Érico Alves da Silva. “No Rio Grande do Norte, a maioria das costureiras
que trabalham já há algum tempo na pro�ssão estão adoecendo”, diz
ele. “Tendo em vista que a estrutura dessas facções [pequenas o�cinas
terceirizadas] é muito mais carente do que a das grandes empresas, a
perspectiva é a de que isso permaneça e até se eleve”.

Maria dos Navegantes, presidente do sindicato das costureiras, diz que os salários e os
benefícios são menores para as costureiras do sertão (Foto: Lilo Clareto)

De acordo com o juiz, que coordena o Programa Trabalho Seguro do


Tribunal Regional do Trabalho no Rio Grande do Norte, doenças
laborais representam entre 30% e 40% das ações recebidas pela Justiça
do Trabalho local. A maioria, segundo ele, está relacionada à indústria
têxtil.

Leia mais: “As marcas da moda �agradas com trabalho escravo“

Os efeitos da “Fast
Fashion”
A estratégia da Riachuelo no sertão brasileiro segue a lógica de grandes
marcas do mundo todo: a “Fast Fashion”. Segundo esse modelo, as
peças devem ser produzidas com agilidade, de modo a responder por
demandas instantâneas da moda, e devem resultar em grandes
quantidades de peças acessíveis para a classe média.
Por que exige picos de produção acelerada, esse modelo
frequentemente demanda muitas horas extras e pode elevar os
problemas de saúde das costureiras. Invertendo as prioridades da
legislação trabalhista, ele impõe um sistema mais “�exível” em que os
trabalhadores são obrigados a se adaptar ao ritmo do mercado.

Costureiras trabalham para cumprir metas da lousa, modelos das peças são de�nidos
pela Guararapes, do grupo Riachuelo (Foto: Lilo Clareto)

Para Renato Bignami, o maior impasse na tentativa de regular este


sistema é justamente o fundamento sobre o qual ele opera, o da
�exibilidade. “Primeiro, o modelo é baseado na lógica de que se deve
trabalhar mais horas extras em ocasiões de pico e menos horas
durante a letargia produtiva. Segundo, os salários devem ser
diretamente relacionados com a produtividade: se produzir, ganha, se
não produzir, não ganha. E, por �m, rejeita-se qualquer tipo de
responsabilidade jurídica [das empresas que terceirizam] nesse
rearranjo, como falta de pagamento, horas extras, licenças por
gravidez, por doença pro�ssional, etc”.

Garantir os direitos trabalhistas dentro do Fast Fashion é um desa�o


para a indústria da moda do mundo todo. Para Bignami, a solução
passa pelo �m da terceirização da atividade principal da indústria, que
é justamente o corte e a costura das peças.

“O segredo estaria em uma fórmula que garanta segurança do contrato


de trabalho com fórmulas que facilitem a rápida resposta de
produção”, a�rma. “Não é fácil. Ainda assim há experiências sendo
levadas adiante, em que se busca uma maior previsibilidade de
compras, maiores prazos para produzir as peças e melhor preço,
relacionado com a qualidade da produção”.

Esta reportagem foi realizada com o apoio da DGB Bildungswerk


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