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CAMPUS COMÉRCIO
LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS
Salvador
2017
ANDRÊSSA SILVA DE JESUS
Salvador
2017
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 3
2 TEMA 3
3 PROBLEMA 3
4 OBJETIVOS 4
4.1 OBJETIVO GERAL 4
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 4
5 REFERENCIAL TEÓRICO 4
6 JUSTIFICATIVA 8
7 METODOLOGIA 8
8 CRONOGRAMA 9
REFERÊNCIAS 9
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1 INTRODUÇÃO
Este projeto objetiva elaborar uma análise dos romances A Paixão Segundo G.H e Um
Sopro de Vida, da escritora Clarice Lispector, a fim de investigar como a experimentação se
apresenta nas narrativas, por meio das personagens, suas experiências e momentos de
introspecção, de modo a produzir uma saúde, possibilitando que estes sejam espaço clínicos.
Durante uma aula de literatura brasileira e contemporaneidade, me identifiquei com o
termo experimentação, que foi apresentado através de fragmentos de um texto chamado O
mundo de Lygia Clark. Nesse momento, claramente associei aos escritos de Clarice Lispector
e, como já havia tido contato com os teóricos por indicação do professor de
contemporaneidade, estava com a seguinte questão: Como Clarice produz saúde através da
sua literatura? E então surgiu um grande interesse pelo meu tema.
Platão dizia que a linguagem é um phármakon, que significa farmácia (tradução
minha), ou seja, pode ser tanto um remédio como um veneno. Deleuze traz a linguagem
literária como possibilidade de criação de uma saúde. A clínica, não se limita a um espaço,
como por exemplo os consultórios de psicologia. A clínica se expande a espaços outros e não
se separa da arte, do corpo, do pensamento, pois nenhum destes existe isoladamente. Daí a
literatura como um espaço clínico também, no qual os indivíduos podem deparar-se com seus
fantasmas e criar estruturas fortificantes, reestruturando-se, com a obra, e dando mais
significação ao texto literário.
Como a literatura de Clarice Lispector, mais especificamente os romances em questão,
podem ser espaços clínicos e como a experimentação se apresenta nesses textos literários
como possibilidade de criação de saúde são os objetivos desta pesquisa, buscando valorizar a
literatura de Clarice como um corpo que afirma a vida.
2 TEMA
3 PROBLEMA
Quando um corpo é afetado por outro (s) corpo (s), sua potência de agir é aumentada
ou diminuída. O corpo, muitas vezes, não funciona quando sua potência está diminuída,
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produzindo doença. A doença interrompe a ação, que faz com que o corpo paralise. Diante
disso, a literatura surge como produção de saúde, libertando o corpo do aprisionamento
submetido, possibilitando, assim, afirmação da vida. A experimentação pode ser possibilidade
de criação de saúde, ativando e potencializando as forças dos corpos?
4 OBJETIVOS
5 REFERENCIAL TEÓRICO
No aforismo 318, Nietzsche (2001, p. 212) afirma que “Na dor há tanta sabedoria
como no prazer: como este, ela está entre as forças de primeira ordem”. A dor também faz
parte de um mecanismo de fortalecimento dos corpos. É necessária para ter mais força, modo
de reelaborar os acontecimentos.
A experiência da alegria de viver não exclui a dor, que, antes, é um fator
imprescindível. A doença, como consequência dessa dor, não é a figura negativa da saúde. A
doença nos permite deixar à espreita, ela nos dá outras perspectivas. De sua doença se produz,
se cria e se extrai saberes que o homem saudável jamais seria capaz.
A doença só é doença quando se torna ressentimento, na visão de Nietzsche, quando
consome as forças do organismo e o debilita. O doente se vê incapaz de esquecer, processar,
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digerir os acontecimentos de sua vida, lhe falta força para agir. É preciso força para viver a
doença sem cair neste abismo.
Desta forma, Nietzsche no prólogo 3 (2001, s.p.) comenta:
A doença é o que permite ao filósofo retornar com mais força e ir além. A doença é o
casulo de onde algo de mais forte emerge ao fim do período de sofrimento, reelaborando os
acontecimentos com múltiplas perspectivas para além das conceituações de bem e mal,
qualificações aprisionantes.
“Viver – isto significa, para nós, transformar continuamente em luz e flama tudo o que
somos, e também tudo o que nos atinge; não podemos agir de outro modo” (Nietzsche, 2001,
s.p., grifo do autor). Tanto a dor como a alegria servem para afirmar a vida. São forças
igualmente potentes que compõem as experiências de vida e constituem todos os indivíduos.
Apenas a grande dor, afirma Nietzsche, é o extremo liberador do espírito. Dessa dor
retornamos uma outra pessoa e conhecemos uma nova felicidade, agora mais maduro e com
uma visão mais ampla e suscetível ao devir, à mudança.E o corpo doente sempre empurra
inconscientemente para sua necessidade: o remédio.
Para Deleuze (1997, p. 12), “Não há linha reta, nem nas coisas, nem na linguagem. A
sintaxe é o conjunto dos desvios necessários a cada vez para revelar a vida das coisas”. O
delírio da linguagem é considerado um empreendimento de saúde. O fim último da literatura é
distinguir no delírio essa criação de saúde, afirma Deleuze, a literatura como tarefa de saúde.
O estilo de um delírio da língua pode revelar o devir, o fora do texto que é o próprio
texto, o delírio que elucida a saúde:
A escrita deve ser livre e libertar o delírio, como uma língua estrangeira sem ser
estrangeira que possibilita seu devir-realidade.
De acordo com Deleuze, o fator de saúde gerado pela literatura consiste em inventar
um povo que falta. Assim sendo, agenciar um povo menor, sempre em devir. O delírio é
medida de saúde quando essa raça oprimida é invocada, segundo Deleuze. E decifrar o outro é
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[...] torna-se obra aquele que se põe em trabalho (dele faz parte a sabedoria das
pausas): cheirar, provar – afirmar os sentidos, obtendo-se uma disposição feliz
diante do mundo: coisas convocam a tornar-se soberano, eis a própria condição de
ser a obra; construindo-se como obra, obras constroem – constroem-se. (2015, 97)
Um corpo não funciona quando algo entope; paralisa-se o corpo: o cano corporal
entupido – Deleuze: vazar os canos, propõe. Gerar muitas saídas para que rios se
espalhem, sem prender-se a um mesmo sentido (para o pensamento, a existência, a
cultura). (SANTOS, 2015, p. 99)
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Pensar fora do mundo do núcleo, diz Roberto, o corpo em sua forma feliz de produzir
possibilidades de manifestações.Grafar sua vida em obra, o que pede espaços e cruzamentos,
pede experimentos. Marcar e permitir marcar-se. Quanto mais se apaga de um centro único,
mais potência emerge o corpo.
A clínica se localiza onde os sujeitos criam presença e experimentam vivenciar os
instantes para além das qualificações, adjetivações. Com isso, abre-se a possibilidade de
indivíduos saudáveis, que não estão presos a estruturas mentais fechadas, como a ideia de
centro e reconhece a multiplicidade de histórias que podem ser criadas, a partir deles, como
uma obra de arte, em vida.
Roland Barthes (2004, p. 29) afirma que “[...] ao ler, nós também imprimimos certa
postura ao texto, e é por isso que ele é vivo”. O texto literário não se distancia do pensamento,
nem do corpo, pois as significações que damos no ato da leitura torna-os vivos, numa relação
de ação, em que um age sobre o outro e daí a coautoria.
A clínica como texto literário abre possiblidades de realidades que podem afetar cada
um de modo diferente, podendo ser tanto um remédio como um veneno para aquele que se
entrega ao ato da leitura, que é a ideia de phármakon defendida por Platão.
A saúde será produzida então quando esse corpo literário que está agindo invocar as
memórias do povo reprimido, convidando-lhes a resistir a tudo que esmaga e aprisiona.
Segundo Roberto Corrêa dos Santos (2015, p. 99):
O delírio da literatura será a medida de saúde quando, em vez de erigir, como diz
Deleuze, uma raça pura e dominante, esboçar enquanto fundo a literatura como processo,
inventando um povo, esse povo que falta, uma possibilidade de vida.
A partir do conceito nietzschiano de afirmação da vida, este presente trabalho
analisará como as personagens dos livros A Paixão Segundo G.H e Um Sopro de Vida, de
Clarice Lispector, lidam e reelaboram as experiências de vida, experimentando, dizendo sim a
cada instante, seja este de dor ou de alegria, como modos de afirmar a própria vida.
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6 JUSTIFICATIVA
7 METODOLOGIA
A pesquisa a ser realizada terá como base o levantamento e revisão bibliográfica, a fim
de recolher e analisar informações sobre os conceitos de afirmação da vida, literatura como
produção de saúde e experimentação, a partir de materiais publicados em livros, artigos,
dissertações e teses.
O método que guiará esse projeto de pesquisa será o dedutivo. O método dedutivo
parte de premissas gerais e verdadeiras para explicar um fato particular. As teorias
consagradas no meio científico serão aplicadas ao estudo das narrativas A Paixão Segundo
G.H e Um Sopro de Vida, da escritora Clarice Lispector, buscando interpretações que
entrecruzem os dados coletados e resultem na resposta ao problema que esta pesquisa propõe.
Para isso, será realizada uma leitura sistemática da bibliografia, ou seja, fichamentos
da literatura especializada sobre o tema em questão, sintetizando criteriosamente o material
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8 CRONOGRAMA
2017 2018
ATIVIDADE
DEZ JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL
Revisão bibliográfica X X
Releitura e fichamento dos
X
romances
Análise e interpretação dos
X X
dados coletados
Redação do trabalho X X X
Revisão e redação final X
Entrega do TCC X
Defesa X
REFERÊNCIAS:
BARTHES, Roland. Escrever a Leitura. In: ______ O rumor da língua. Tradução de Mario
Laranjeira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica(tradução de Peter PálPelbart). São Paulo: Ed. 34, 1997.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência (tradução de Paulo César de Souza). São
Paulo:Companhia das Letras, 2001.
SANTOS, Roberto Correa dos. Cérebro-Ocidente/Cérebro Brasil:
arte/escrita/vida/pensamento/clínica/tratos contemporâneos. Rio de Janeiro: Circuito, 2015.
SANTOS, Roberto Corrêa dos. Modos de saber, modos de adoecer: o corpo, a arte, o estilo, a
história, a vida, o exterior. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.