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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO – UNIJORGE

CAMPUS COMÉRCIO
LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

ANDRÊSSA SILVA DE JESUS


A EXPERIMENTAÇÃO COMO SAÚDE EM CLARICE LISPECTOR

Salvador
2017
ANDRÊSSA SILVA DE JESUS

A EXPERIMENTAÇÃO COMO SAÚDE EM CLARICE LISPECTOR

Projeto de pesquisa apresentado ao Prof.


Dr. Antonio Carlos Sobrinho como
requisito parcial para obtenção de nota
na disciplina Tópicos Especiais,
componente curricular do 6º semestre do
curso de Letras – Língua Portuguesa e
Literatura – do Centro Universitário
Jorge Amado – Unijorge.

Salvador
2017
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 3
2 TEMA 3
3 PROBLEMA 3
4 OBJETIVOS 4
4.1 OBJETIVO GERAL 4
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 4
5 REFERENCIAL TEÓRICO 4
6 JUSTIFICATIVA 8
7 METODOLOGIA 8
8 CRONOGRAMA 9
REFERÊNCIAS 9
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1 INTRODUÇÃO

Este projeto objetiva elaborar uma análise dos romances A Paixão Segundo G.H e Um
Sopro de Vida, da escritora Clarice Lispector, a fim de investigar como a experimentação se
apresenta nas narrativas, por meio das personagens, suas experiências e momentos de
introspecção, de modo a produzir uma saúde, possibilitando que estes sejam espaço clínicos.
Durante uma aula de literatura brasileira e contemporaneidade, me identifiquei com o
termo experimentação, que foi apresentado através de fragmentos de um texto chamado O
mundo de Lygia Clark. Nesse momento, claramente associei aos escritos de Clarice Lispector
e, como já havia tido contato com os teóricos por indicação do professor de
contemporaneidade, estava com a seguinte questão: Como Clarice produz saúde através da
sua literatura? E então surgiu um grande interesse pelo meu tema.
Platão dizia que a linguagem é um phármakon, que significa farmácia (tradução
minha), ou seja, pode ser tanto um remédio como um veneno. Deleuze traz a linguagem
literária como possibilidade de criação de uma saúde. A clínica, não se limita a um espaço,
como por exemplo os consultórios de psicologia. A clínica se expande a espaços outros e não
se separa da arte, do corpo, do pensamento, pois nenhum destes existe isoladamente. Daí a
literatura como um espaço clínico também, no qual os indivíduos podem deparar-se com seus
fantasmas e criar estruturas fortificantes, reestruturando-se, com a obra, e dando mais
significação ao texto literário.
Como a literatura de Clarice Lispector, mais especificamente os romances em questão,
podem ser espaços clínicos e como a experimentação se apresenta nesses textos literários
como possibilidade de criação de saúde são os objetivos desta pesquisa, buscando valorizar a
literatura de Clarice como um corpo que afirma a vida.

2 TEMA

A experimentação como produção de saúde em A Paixão segundo G.H e Um Sopro de


Vida, de Clarice Lispector.

3 PROBLEMA

Quando um corpo é afetado por outro (s) corpo (s), sua potência de agir é aumentada
ou diminuída. O corpo, muitas vezes, não funciona quando sua potência está diminuída,
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produzindo doença. A doença interrompe a ação, que faz com que o corpo paralise. Diante
disso, a literatura surge como produção de saúde, libertando o corpo do aprisionamento
submetido, possibilitando, assim, afirmação da vida. A experimentação pode ser possibilidade
de criação de saúde, ativando e potencializando as forças dos corpos?

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Elaborar uma análise do conceito de experimentação nos romances A Paixão Segundo


G.H e Um Sopro de Vida, de Clarice Lispector, como produção de saúde.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Investigar como a experimentação se apresenta nos romances, de modo a afirmar a


vida, possibilitando a criação de saúde;
• Relacionar os dados coletados dos romances com as teorias sobre afirmação da vida,
literatura como produção de saúde e experimentação;
• Discutir a importância da escritura de Clarice Lispector como um corpo afirmativo,
que se ergue e produz saúde, podendo ser um espaço clínico.

5 REFERENCIAL TEÓRICO

No aforismo 318, Nietzsche (2001, p. 212) afirma que “Na dor há tanta sabedoria
como no prazer: como este, ela está entre as forças de primeira ordem”. A dor também faz
parte de um mecanismo de fortalecimento dos corpos. É necessária para ter mais força, modo
de reelaborar os acontecimentos.
A experiência da alegria de viver não exclui a dor, que, antes, é um fator
imprescindível. A doença, como consequência dessa dor, não é a figura negativa da saúde. A
doença nos permite deixar à espreita, ela nos dá outras perspectivas. De sua doença se produz,
se cria e se extrai saberes que o homem saudável jamais seria capaz.
A doença só é doença quando se torna ressentimento, na visão de Nietzsche, quando
consome as forças do organismo e o debilita. O doente se vê incapaz de esquecer, processar,
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digerir os acontecimentos de sua vida, lhe falta força para agir. É preciso força para viver a
doença sem cair neste abismo.
Desta forma, Nietzsche no prólogo 3 (2001, s.p.) comenta:

Vê-se que eu não gostaria de despedir-me ingratamente daquele tempo de severa


enfermidade, cujo benefício ainda hoje não se esgotou para mim: assim como estou
plenamente cônscio das vantagens que a minha instável saúde me dá, em relação a
todos os robustos do espírito.

A doença é o que permite ao filósofo retornar com mais força e ir além. A doença é o
casulo de onde algo de mais forte emerge ao fim do período de sofrimento, reelaborando os
acontecimentos com múltiplas perspectivas para além das conceituações de bem e mal,
qualificações aprisionantes.
“Viver – isto significa, para nós, transformar continuamente em luz e flama tudo o que
somos, e também tudo o que nos atinge; não podemos agir de outro modo” (Nietzsche, 2001,
s.p., grifo do autor). Tanto a dor como a alegria servem para afirmar a vida. São forças
igualmente potentes que compõem as experiências de vida e constituem todos os indivíduos.
Apenas a grande dor, afirma Nietzsche, é o extremo liberador do espírito. Dessa dor
retornamos uma outra pessoa e conhecemos uma nova felicidade, agora mais maduro e com
uma visão mais ampla e suscetível ao devir, à mudança.E o corpo doente sempre empurra
inconscientemente para sua necessidade: o remédio.
Para Deleuze (1997, p. 12), “Não há linha reta, nem nas coisas, nem na linguagem. A
sintaxe é o conjunto dos desvios necessários a cada vez para revelar a vida das coisas”. O
delírio da linguagem é considerado um empreendimento de saúde. O fim último da literatura é
distinguir no delírio essa criação de saúde, afirma Deleuze, a literatura como tarefa de saúde.
O estilo de um delírio da língua pode revelar o devir, o fora do texto que é o próprio
texto, o delírio que elucida a saúde:

Porém, quando o delírio recai no estado clínico, as palavras em nada mais


desembocam, já não se ouve nem se vê coisa alguma através delas, exceto uma noite
que perdeu sua história, suas cores e seus cantos. A literatura é uma saúde.
(DELEUZE, 1997, p. 9, grifo do autor)

A escrita deve ser livre e libertar o delírio, como uma língua estrangeira sem ser
estrangeira que possibilita seu devir-realidade.
De acordo com Deleuze, o fator de saúde gerado pela literatura consiste em inventar
um povo que falta. Assim sendo, agenciar um povo menor, sempre em devir. O delírio é
medida de saúde quando essa raça oprimida é invocada, segundo Deleuze. E decifrar o outro é
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de algum modo correr o risco de decifração de si mesmo, produzindo um afeto a partir do


texto em contato que se pretende decifrar.
“A doença não é processo, mas paragem do processo, como no “caso Nietzsche”. E
também o escritor como tal não é doente, mas médico, médico de si e do mundo”
(DELEUZE, 1997, p. 13). O escritor ele usufrui de uma pequena saúde que vem daquilo que
viu e escutou, do que é importante e forte para ele, que o esgota, e é isso mesmo o que lhe dá
devires que a grande saúde nunca daria, conforme o pensamento deleuziano.
“Tratar assim a arte, o discurso, a literatura, a existência, a história como corpos-que-
agem” (SANTOS, 1999, p. 59). Obras, nos diz Roberto Corrêa, que nos dão enfim a
possibilidade de ter o pensamento em ação, tornando as forças e os valores mais ativos,
visíveis, relacionáveis, pensando o tornar-se.
Segundo Roberto Corrêa dos Santos (2015, p. 99; 108), “Não há a obra, se não se
deixar o corpo atravessar-se por fluxos; entre eles fluxos de os outros: beleza, vigor; cruezas:
permitir à coisa seu modo de oferecer a coisa crua”. Experimentar, pois, criando uma relação
com o presente, com os espaços, viver os acontecimentos sem rotulações, pois eles são o que
são.
“Dar à vida seu direito ao drama. E mais – seu direito à contingência. Ao trágico e à
sua ardente beleza” (SANTOS, 2015, p. 108), pois as experiências são variadas e nos cabe
ceder um pouco mais, estar mais flexível, mais móvel e se entregar, criar presença. Em tudo
há força concentrada, e experimentar construir e vivenciar os momentos que a vida
proporciona são modos saudáveis de viver e de ser obra. A vida como uma obra de arte.
De acordo com Roberto Corrêa dos Santos:

[...] torna-se obra aquele que se põe em trabalho (dele faz parte a sabedoria das
pausas): cheirar, provar – afirmar os sentidos, obtendo-se uma disposição feliz
diante do mundo: coisas convocam a tornar-se soberano, eis a própria condição de
ser a obra; construindo-se como obra, obras constroem – constroem-se. (2015, 97)

A experiência como tentativa, como prova, permitindo que o corpo atravesse os


fluxos, façam os fluxos, experimente, pois só o instante do ato é vida. O importante está no
ato de fazer, no presente. Não ficar preso ao sentimento de totalidade, de unidade, pois estas
estruturas absolutas, fechadas, homogêneas adoecem, paralisam o corpo.

Um corpo não funciona quando algo entope; paralisa-se o corpo: o cano corporal
entupido – Deleuze: vazar os canos, propõe. Gerar muitas saídas para que rios se
espalhem, sem prender-se a um mesmo sentido (para o pensamento, a existência, a
cultura). (SANTOS, 2015, p. 99)
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Pensar fora do mundo do núcleo, diz Roberto, o corpo em sua forma feliz de produzir
possibilidades de manifestações.Grafar sua vida em obra, o que pede espaços e cruzamentos,
pede experimentos. Marcar e permitir marcar-se. Quanto mais se apaga de um centro único,
mais potência emerge o corpo.
A clínica se localiza onde os sujeitos criam presença e experimentam vivenciar os
instantes para além das qualificações, adjetivações. Com isso, abre-se a possibilidade de
indivíduos saudáveis, que não estão presos a estruturas mentais fechadas, como a ideia de
centro e reconhece a multiplicidade de histórias que podem ser criadas, a partir deles, como
uma obra de arte, em vida.
Roland Barthes (2004, p. 29) afirma que “[...] ao ler, nós também imprimimos certa
postura ao texto, e é por isso que ele é vivo”. O texto literário não se distancia do pensamento,
nem do corpo, pois as significações que damos no ato da leitura torna-os vivos, numa relação
de ação, em que um age sobre o outro e daí a coautoria.
A clínica como texto literário abre possiblidades de realidades que podem afetar cada
um de modo diferente, podendo ser tanto um remédio como um veneno para aquele que se
entrega ao ato da leitura, que é a ideia de phármakon defendida por Platão.
A saúde será produzida então quando esse corpo literário que está agindo invocar as
memórias do povo reprimido, convidando-lhes a resistir a tudo que esmaga e aprisiona.
Segundo Roberto Corrêa dos Santos (2015, p. 99):

Trata-se, na Clínica, de política e história a um só tempo: história e política dão-se e


alteram-se exatamente quando forças são capazes de submeter outras; forças
robustecem-se e dominam outras forças; e aquelas outras sucumbem, obedecem,
passam a pensar relativamente conforme as forças dominantes com seus símbolos;
mas forças revertem-se!

O delírio da literatura será a medida de saúde quando, em vez de erigir, como diz
Deleuze, uma raça pura e dominante, esboçar enquanto fundo a literatura como processo,
inventando um povo, esse povo que falta, uma possibilidade de vida.
A partir do conceito nietzschiano de afirmação da vida, este presente trabalho
analisará como as personagens dos livros A Paixão Segundo G.H e Um Sopro de Vida, de
Clarice Lispector, lidam e reelaboram as experiências de vida, experimentando, dizendo sim a
cada instante, seja este de dor ou de alegria, como modos de afirmar a própria vida.
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Discutirá também a importância de reconhecer a literatura clariciana como um corpo


que possibilita a criação de uma saúde, com base nas afirmações de Deleuze, investigando
como a experimentação apresenta uma possibilidade de saúde nos romances escolhidos,
demonstrando que a literatura de Clarice pode ser também um espaço clínico.

6 JUSTIFICATIVA

A importância do presente projeto se justifica pelo intuito de contribuir para a


literatura de Clarice Lispector por evidenciar sua obra como um corpo que produz saúde,
aspecto, até o momento, pouco investigado em sua escritura. E ao falar de saúde, fala-se de
clínica e em seu caráter expandido, atribuindo na literatura também essa tarefa de saúde,
como pensou Deleuze, a qual os textos literários tornam-se espaços clínicos.
Essa característica clínica da literatura é de fundamental importância para a política e a
sociedade do século XXI, pois se ampliam os espaços em que as doenças podem ser
identificadas e reelaboradas (diagnóstico e tratamento), a partir da relação com o texto e seu
processo de decifração.
Os estudos literários têm o potencial de discutir questões sociais fundamentais,
induzindo a uma reflexão sobre a realidade social. Sendo interdisciplinar, permite-se ir além
de seus limites e discutir política, psicologia e filosofia, como pretende a pesquisa idealizada
neste projeto.

7 METODOLOGIA

A pesquisa a ser realizada terá como base o levantamento e revisão bibliográfica, a fim
de recolher e analisar informações sobre os conceitos de afirmação da vida, literatura como
produção de saúde e experimentação, a partir de materiais publicados em livros, artigos,
dissertações e teses.
O método que guiará esse projeto de pesquisa será o dedutivo. O método dedutivo
parte de premissas gerais e verdadeiras para explicar um fato particular. As teorias
consagradas no meio científico serão aplicadas ao estudo das narrativas A Paixão Segundo
G.H e Um Sopro de Vida, da escritora Clarice Lispector, buscando interpretações que
entrecruzem os dados coletados e resultem na resposta ao problema que esta pesquisa propõe.
Para isso, será realizada uma leitura sistemática da bibliografia, ou seja, fichamentos
da literatura especializada sobre o tema em questão, sintetizando criteriosamente o material
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selecionado e identificando conceitos importantes. Em seguida, será realizada a releitura e


fichamentos das narrativas escolhidas para serem analisadas neste projeto de pesquisa.
Por fim, o suporte teórico servirá de base para fundamentar a hipótese da
experimentação como produção de saúde e seus conceitos serão utilizados para analisar os
modos como as personagens vivenciam e lidam com suas experiências de vida nas narrativas
Lispectorianas.

8 CRONOGRAMA

2017 2018
ATIVIDADE
DEZ JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL
Revisão bibliográfica X X
Releitura e fichamento dos
X
romances
Análise e interpretação dos
X X
dados coletados
Redação do trabalho X X X
Revisão e redação final X
Entrega do TCC X
Defesa X

REFERÊNCIAS:

BARTHES, Roland. Escrever a Leitura. In: ______ O rumor da língua. Tradução de Mario
Laranjeira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica(tradução de Peter PálPelbart). São Paulo: Ed. 34, 1997.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência (tradução de Paulo César de Souza). São
Paulo:Companhia das Letras, 2001.
SANTOS, Roberto Correa dos. Cérebro-Ocidente/Cérebro Brasil:
arte/escrita/vida/pensamento/clínica/tratos contemporâneos. Rio de Janeiro: Circuito, 2015.
SANTOS, Roberto Corrêa dos. Modos de saber, modos de adoecer: o corpo, a arte, o estilo, a
história, a vida, o exterior. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

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