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Textos sobre literatura

Na biblioteca do Tempo 397-8

O Tempo é um velho leitor, eterno leitor, atento e incansável. Nem um instante


larga o livro. Parece que da vida só existe para ele aquilo que ficou escrito. O resto
desaparece, o Tempo não o lê.
Não parece dar muita atenção aos acontecimentos. São matéria de pouca monta,
digna só de relatórios de historiadores. Podem ferir-se as mais tremendas batalhas,
acontecer cataclismos. Ele olha sem curiosidade. Um herói só lhe interessa se um gênio
o toma para personagem de seu poema.
É um velho de longas barbas, sentado sempre, um livro na mão. Escolhe
cuidadosamente as obras que lê, e só dá valor à própria opinião.
Se refletíssemos em que é para esse estranho personagem que se escrevem as
obras-primas da literatura; para esse antiquário que são feitas as Vênus de mármore de
cor mais bela do que a própria carne, seríamos por certo menos apressados em nossas
obras e em publicá-las, menos ansiosos da opinião pública e da admiração alheia.
Para vermos como somos iludidos em nossa pretensão de modernidade, basta
notarmos que o que se fazia há alguns anos, todo o intenso movimento revolucionário
que se processou na arte e na literatura dos últimos anos, e podemos mesmo recuar até o
Simbolismo ou mesmo até o Romantismo, tudo isso nos parece muito mais velho do
que aquilo que há muitos séculos faziam os gregos, tão modernos sempre em qualquer
época, ou os egípcios, tão profundos na sua atitude esfíngica, significativa do mistério
universal que nos rodeia.
Tudo para nós envelhece mais depressa em anos do que em séculos. Aquela que
vimos outrora apontada como exemplo de beleza e que vemos agora de óculos, cercada
de netos, é muito mais velha que uma igreja secular, na sua perene frescura de pedra.

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