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Maria Deolinda Zandamela

História de recenseamento e registo civil em Moçambique..

(Licenciatura em Ciências Alimentares e Segurança Alimentar)

Universidade Pedagógica

Maputo

2019
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Maria Deolinda Zandamela

História de recenseamento e registo civil em Moçambique.

Trabalho de pesquisa da cadeira de Estudos


Demográficos de Moçambique a ser apresentado ao
Departamento de Química, da Ciências Naturais e
Matemática, para fins avaliativos.
4º Ano
Docente: Inocência Felicidade Bata

Universidade Pedagógica

Maputo

2019
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Índice

1. Introdução ..................................................................................................................... 1

1.1. Objetivos.................................................................................................................... 2

2. Recenseamento e registo civil em Moçambique .......................................................... 3

2.1. Resumo Histórico geral ............................................................................................. 3

2.2. O recenseamento........................................................................................................ 4

2.2.1. Enquadramento legal .............................................................................................. 4

2.2.2. O recenseamento e o processo eleitoral .................................................................. 5

2.2.3. Dados resumidos sobre os recenseamentos ............................................................ 7

2.3 O registo Civil ............................................................................................................ 8

2.3.1. Visão histórica do registo civil em Moçambique ................................................... 8

2.3.2. Registo civil na actualidade .................................................................................... 9

3. Constatações ............................................................................................................... 12

4. Bibliografia ................................................................................................................. 13
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1. Introdução

Desde as eleições fundadoras da democracia em 1994, o país já realizou cinco


recenseamentos e eleições gerais, sendo a mais recente em 2009.

O direito de todas as crianças a uma identidade é um direito humano fundamental. O


registo civil consiste no reconhecimento oficial, por parte do Estado, da existência de uma
criança, conferindo-lhe o direito a um nome, a uma nacionalidade e a laços familiares. É
um passaporte para a cidadania e participação na sociedade e o fundamento para a
realização de muitos outros direitos humanos que são determinantes para o crescimento,
desenvolvimento e bem-estar de uma criança. O registo de nascimento é um primeiro
passo crucial para a construção de uma cultura de protecção.

Sem registo de nascimento, o acesso da criança a serviços sociais tais como a educação e
os cuidados de saúde poderá estar comprometido. A sua importância mantém-se ao longo
da vida, com relevância para o acesso a um emprego, o casamento, a obtenção de um
passaporte, capacidade eleitoral ou a abertura de uma conta bancária. Por outro lado, o
registo constitui uma medida eficaz de protecção contra a violência, abuso, abandono,
exploração e discriminação.

Além de registar o nascimento, é fundamental que seja igualmente emitida uma certidão
de nascimento a qual constituirá prova do reconhecimento legal da existência de uma
criança por parte de um governo. Se o nascimento de uma criança não for documentado,
não existe qualquer forma de verificação da sua idade que garanta a matrícula de crianças
em idade escolar, que ajude a prevenir o recrutamento de crianças, a mão-de-obra infantil
ou que permita lutar contra o tráfico e a venda de crianças.
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1.1. Objetivos

Geral

 Estudar a história de recenseamento e registo civil em Moçambique.

Específicos

 Identificar as principais fases (forma) de recenseamento e registo civil em


Moçambique;
 Descrever o processo de recenseamento desde as primeiras às ultimas eleições;
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2. Recenseamento e registo civil em Moçambique

2.1. Resumo Histórico geral

A experiência de recenseamento e eleições democráticas em Moçambique tem sido


marcada pelo duplo desafio que é estabelecer a paz depois de décadas de conflito e criar
políticas de desenvolvimento económico que satisfaçam as necessidades mínimas da
população.

Ao passo que outras nações deram independência aos seus territórios coloniais
nos anos que se seguiram à 1ª Grande Guerra Mundial, Portugal continuou a governar
Moçambique durante quase mais três décadas. Em 1962, vários grupos políticos
anticoloniais criaram a Frente de Libertação de Moçambique ou Frelimo. Dois anos
depois, surgiu um movimento armado contra o domínio português e, após uma década de
luta intermitente, Portugal cedeu o controlo e concedeu a independência a Moçambique,
a 25 de Junho de 1975.

No período que se seguiu à independência, a Frelimo beneficiou de vasto apoio popular


enquanto partido libertador. Os líderes da campanha militar da Frelimo
fundaram um estado unipartidário e, em 1977, o partido declarou-se marxista-lelinista. A
Frelimo possuiu controle absoluto do estado durante duas décadas, ao longo das quais
expandiu a sua estrutura organizativa e desenvolveu-se tanto ao nível nacional, como local.

A guerra civil teve o seu início na década a seguir à independência, não conseguindo o
governo controlar grande parte das áreas rurais. Nessas áreas esquecidas do centro de
Moçambique, os governos da Rodésia e do apartheid sul-africano apoiaram a criação de
um movimento de resistência armada, a Resistência Nacional Moçambicana ou
Renamo. Após a independência do Zimbabué em 1980, a África do Sul tornou-se o grande
apoiante da Renamo, e o conflito intensificou-se quando a Renamo se tornou o principal
adversário da autoridade da Frelimo.

A Constituição que daí resultou em 1990 prupunha mudanças fundamentais quanto ao


carácter do estado de Moçambique e da sua economia, estabelecendo um sistema
multipartidário, uma economia de mercado e as condições que iriam permitir a realização
de eleições livres. Os Acordos Gerais de Paz de Roma puseram formalmente fim à guerra
civil, em 1992. O conflito tinha ceifado a vida de mais de um milhão de moçambicanos,
forçado um milhão e setecentos mil a refugiarem-se nos países vizinhos e tinha
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deixado vários milhões de pessoas deslocadas dentro do seu próprio país. As


infraestruturas sociais e económicas ficaram em ruinas, e os mecanismos políticos que
permitiriam encetar o diálogo e gerir o futuro do país simplesmente não existiam.

Moçambique realizou as suas primeiras eleições em 1994. A recém-formada


Comissão Nacional de Eleições (CNE), composta por membros nomeados de acordo
com a representação partidária, supervisionou a realização das eleições, que foram
administradas pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Embora
não isentas de controvérsia, as eleições foram consideradas livres, justas e bem-sucedidas.
Joaquim Chissano foi eleito presidente com 53% dos votos. O seu partido ganhou a
maioria dos duzentos e cinquenta lugares na Assembleia Nacional, enquanto que o
Renamo conseguiu cento e doze lugares.

Este partido retirou-se das eleições quando sentiu que as suas reclamações sobre as falhas
no processo de recenseamento não estavam a ser ouvidas. A afluência às urnas foi de
menos de 15%, e a Frelimo ganhou em todos os municípios. A lei eleitoral foi revista a
tempo para as eleições nacionais de 1999, e um novo recenseamento forneceu cartões de
eleitor a 85% do eleitorado potencial (mais de sete milhões de eleitores).

A actualização do recenseamento eleitoral, a primeira desde 1999, teve lugar


entre 26 de Junho e 26 de Julho de 2003. Registaram-se alguns problemas logísticos,
embora desta vez, ao contrário do que aconteceu em 1998, o registo dos eleitores nos
cadernos não tenha sido contestada, e a Renamo-UE tenha participado nas eleições.

2.2. O recenseamento
2.2.1. Enquadramento legal

Falar do recenseamento eleitoral em qualquer canto do mundo, não esta dissociado d


processo eleitoral, pois sabe-se que as para que haja eleições, antecipadamente
precisamos de fazer o recenseamento.

Constituição da República de Moçambique enuncia que o país é um Estado democrático


e de justiça social, e por força disto estabelece a realização de eleições Presidenciais,
Legislativas e das Assembleias Provinciais de forma regular, em cada cinco anos. É neste
contexto que as eleições em alusão foram marcadas por meio do Decreto n˚ 3/2013 de 02
de Agosto, que fixou o dia 15 de Outubro de 2014, para a realização das quintas eleições
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Gerais (Presidenciais e Legislativas) e as segundas eleições das Assembleias Provinciais.


Tais eleições foram reguladas pelos seguintes dispositivos legais:

 Lei № 8/2014 de 12 de Março que altera a Lei № 5/2013 de 22 de Fevereiro que


estabelece o quadro jurídico do recenseamento eleitoral sistemático para a
realização das eleições;
 Lei № 9/2014 de 12 de Março que altera a Lei № 6/2013 de 22 de Fevereiro que
estabelece as funções, composição, organização, competência e funcionamento da
Comissão Nacional de Eleições;
 Lei № 11/2014 de 23 de Abril que altera a Lei № 4/2013 de 22 de Fevereiro que
estabelece o quadro jurídico para eleição dos membros da Assembleia Provincial;
 Lei № 12/2014 de 23 de Abril que altera a Lei № 8/2013 de 27 de Fevereiro que
estabelece a eleição do Presidente da República e para eleição dos Deputados da
Assembleia da República. E nesta lei que está o estatuído no título VIII a
observação do processo eleitoral.

2.2.2. O recenseamento e o processo eleitoral

Quando a guerra civil terminou, parte do território estava nas mãos da Renamo e outra
era inacessível por causa de minas terrestres. Enquanto a Renamo tentava impor uma
forçada dupla administração do território, o governo da Frelimo empenhava-se na
recuperação dos territórios sob controlo da Renamo.

Dentro deste contexto e decorrendo da Constituição multipartidária de 1990, a


Assembleia monopartidária de então aprovou, ainda no período de transição democrática,
uma das mais progressistas Leis do país, designadamente a Lei 3/94 que previa a
transformação dos 128 distritos, até então (2009) existentes no país, em autarquias locais,
com governos democraticamente eleitos.4 Mas o desempenho eleitoral da Renamo nas
eleições fundadoras da democracia, em 1994, particularmente nas zonas rurais, despertou
a atenção da Frelimo para o facto de que a implementação da Lei 3/94 podia resultar numa
substancial perda de poder por parte da Frelimo, portanto, tratava-se de um erro político
(BRITO, 2008).

É que, conforme os resultados eleitorais de 1994, a Frelimo ia perder as eleições em


muitos distritos e a transformação destes em autarquias locais com governos
democraticamente eleitos podia resultar na perda de controlo de muitos distritos a favor
da oposição, a Renamo.
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Neste contexto, aproveitando um debate sobre a constitucionalidade de alguns aspectos


relativos ao modelo de descentralização que estava previsto, a Frelimo fez um recuo e
conseguiu fazer aprovar, pela Assembleia da República, alterações aos títulos III e IV da
Constituição, introduzindo a ideia de ‘Poder Local’, estabelecendo, dessa maneira, um
dos princípios estruturantes da organização e funcionamento da Administração Pública
moçambicana: a combinação da “descentralização”, que preconiza a existência de
autarquias locais, com a “desconcentração”, que preconiza a existência de Órgãos Locais
do Estado. Enquanto a descentralização política cria as autarquias locais, dotadas de
autonomia administrativa, financeira e patrimonial, a desconcentração cria os Órgãos
Locais do Estado (Províncias, Distritos, Postos Administrativos, Localidades e
Povoações) que se subordinam ao governo central, numa estrutura vertical, fortemente
hierarquizada, em termos estruturais e concentrada em termos de relações de poder
político e administrativo.

Apesar da política por detrás de ambos os processos, tratava-se de reerguer e/ou


estabelecer um Estado que, em muitas partes do território, era inexistente, por causa da
devastadora guerra civil (FORQUILHA, 2010). Destes dois processos, a Frelimo preferiu
a desconcentração que reforçava o seu poder, por permitir a fácil mistura entre os órgãos
do partido e do Estado, sem escrutínio popular, por um lado, e por não ter qualquer tipo
de incerteza sobre o controlo e a manutenção do poder, por outro. Neste contexto, em
todos os 128 distritos do país, a desconcentração, ao invés de descentralizar um Estado
centralizado, reestabeleceu bases institucionais de um Estado que era quase inexistente
em grande parte do território. Somente a partir desta fase, o Estado conseguiu ter controlo
efectivo do território, depois da guerra civil.

A Frelimo usou este processo para, em paralelo com o alargamento do Estado, expandir
e fortificar o partido e, sobretudo, exacerbar a ideia de se tratar de um ‘Estado’ libertado,
criado pela Frelimo e da Frelimo.

O partido Frelimo passou a ter escritórios e organização funcional em todas as sedes de


Postos Administrativos e Localidades, num processo similar ao verificado logo após a
independência nacional, em 1975, onde a construção do Estado – das cinzas do Estado
colonial português – se fez acompanhar do desenvolvimento institucional do partido
Frelimo (por exemplo, criação de Grupos Dinamizadores e, posteriormente, células do
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partido nos locais de residência e de trabalho). É que há sempre uma sede da Frelimo a
escassos metros das secretarias de Postos Administrativos e/ou de Localidade.

O preenchimento de pessoal e dotação de orçamento para os Postos Administrativos e a


inclusão de chefes de Localidade nos orçamentos dos Postos Administrativos permitiu o
apetrechamento das estruturas locais de base do Estado (Postos Administrativos,
Localidades e Povoações) com pessoal que, segundo os entrevistados5 e observações,
também tem a responsabilidade política de prestar apoio ao ‘partido do
governo’, a Frelimo.

As entrevistas e observações permitiram a identificação de várias arenas de interligação


entre o Estado e o partido Frelimo nos sistemas políticos locais que, para os presentes
objectivos, são os Órgãos Locais do Estado (OLE).

2.2.3. Dados resumidos sobre os recenseamentos

De cordo com o boletim de paz (Boletim no 23)1, em 1999 (no segundo recenseamento
eleitoral), Mais de 85% dos eleitores com direito a voto recensearam-se numa campanha
que granjeou elogios tanto por parte dos observadores internos como dos internacionais.
Isto ira dar um ímpeto renovado as segundas eleições gerais multipartidárias, marcadas
para 3-4 de Dezembro de 1999.

o nível de recenseamento foi mais elevado do que em 1994, tanto em número como em
percentagem. Isto veio contrariar os vaticínios de que este recenseamento iria descer em
virtude de as eleições de 1994 terem marcado o fim da guerra, partindo-se assim do
principio de terem atraído a máxima participação possível.

Calcula-se em cerca de 8,3 milhões a população com idade de votar. Registaram-se ao


todo 7.099.105 pessoas, o que representa 85,5% dos cidadãos com direito a voto Isto em
corporação com 6,1 milh6es e 78% em 1994.

Em 2004, o recenseamento e a afluência as urnas aumentou em 25%.

As eleições de 2014 marcaram 20 anos de celebração do processo democrático eleitoral


multipartidário em Moçambique, tornado estas eleições muito importantes e simbólicas.
Algumas das razões que fazem destas eleições peculiares prendem-se com questões

1
Boletim sobre o processo de paz em Moçambique. Boletim numero 23. Publicado pela AWEPA,
Parlamentares Europeus para a Africa. 1999
8

políticas, económicas e sociais que o país atravessa. Por outro lado a dinâmica durante as
eleições autárquicas elevaram os anseios e expectativas tanto dos eleitores como dos
partidos políticos concorrentes, deixando antever uma grande imprevisibilidade dos
resultados. Se por um lado os três partidos com assentos parlamentares, a Frelimo, a
Renamo e MDM, mostraram alguns níveis de confiança, para os seus candidatos
presidenciais houve medidas de avaliação diferentes para cada um deles, conforme se
relata mais a seguir.

2.3 O registo Civil

2.3.1. Visão histórica do registo civil em Moçambique

Em Moçambique, o sistema de registo de nascimento herdado do governo colonial


português era associado à tributação e à exigência de pagamento de uma taxa para
proceder ao registo, o que desincentivou o registo de crianças por parte das suas famílias.

A conquista da independência nacional e consequente adopção duma nova ordem


constitucional, impôs a alteração do Código do Registo Civil (CRC), por via do Decreto-
Lei no. 21/76, de 22 de Maio. No entanto, e porque as linhas orientadoras da lei
substantiva, maxime do Código Civil, manteve-se em vigor, a opção seguida não foi a
realização duma reforma profunda, mas tão somente a modificação das normas, institutos
e designações que não se identificavam com a realidade do país.

Em Moçambique, na fase subsequente ao conflito, os fracos níveis de registo de crianças


têm sido atribuídos principalmente à perda de documentos de identidade, por parte dos
pais, durante a guerra civil.

Por exemplo, em Moçambique, os esforços desenvolvidos após o conflito no sentido de


recuperar documentos de identidade e arquivos de registos de nascimento perdidos
durante a guerra, sofreram um revés quando as conservatórias de registo civil foram
destruídas pelas inundações ocorridas em 2000

As comunidades desempenham um papel-chave na identificação dos problemas


suscitados pela ausência de registo. Após o conflito em Moçambique, a ONG local Wona
Sanana levou a cabo uma investigação na região Sul do país. Os resultados revelaram que
o registo de nascimento foi geralmente fraco devido a dificuldades de deslocação até aos
centros de registo, à cobrança de uma taxa de registo e a complicações burocráticas no
processamento de registos. As comunidades que participaram na pesquisa também
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indicaram que os fracos níveis de registo são um obstáculo à inscrição das crianças na
escola e ao acesso aos serviços de saúde.

Com base nessas conclusões, a Wona Sanana desenvolveu uma iniciativa para promover
o registo de nascimento. A sensibilização política foi uma componente importante da
iniciativa, tendo-se realizado discussões a todos os níveis no seio do governo, no

sentido de defender uma reforma legislativa e a adopção de novos procedimentos, a fim


de dinamizar o processo de registo. Entre os melhoramentos processuais incluiam-se a
isenção de taxas, a descentralização, a participação comunitária, a criação de serviços de
proximidade e a emissão rápida de certidões de nascimento. Como resultado, o número
de registos aumentou, em média, para 90 por cento nos locais onde estava a ser realizado
o projecto, e os dirigentes e voluntários comunitários começaram a participar como
pontos focais e como conservadores de registo. Alguns dos voluntários foram contratados
mais tarde, como conservadores oficiais.

2.3.2. Registo civil na actualidade

Volvidos muitos anos, hoje, o Código Civil foi em parte alterado, expurgando do seu
conteúdo o Livro IV com a aprovação da nova Lei da Família.

O registo civil em Moçambique conta com uma reforma nova na actualidade.

Esse novo instrumento, que altera as normas reguladoras das relações familiares e do
Direito de Família, respondeu à filosofia da Constituição da República, aos demais
instrumentos de Direito Internacional a que o país aderiu e a realidade sóciocultural
moçambicana.

Tal alteração implicou logicamente o desfasamento do CRC, pois as matérias que este
regulamentava foram substancialmente alteradas.

Como instrumento que regulamenta parte das matérias constantes da (nova) LEI DA
FAMÍLIA, procurou-se adequar o CRC a esses novos dispositivos e também tornar a sua
essência, mesmo no que diz respeito a outras matérias, mais coincidente com a realidade
actual.

Os processos que eram da exclusiva competência dos órgãos judiciais, mas que agora são
tratados nas conservatórias do registo civil, devem poder ser decididos, a final, pelo
conservador: divórcio por mútuo consentimento, afastamentoda presunção da paternidade
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e sobre a declaração de inexistência de posse de estado por parte do filho de mulher casada
relativamente a ambos cônjuges; A regulamentação do casamento religioso e do
casamento tradicional e a intervenção dos dignatários religiosos e as autoridades
comunitárias, para a sua efectivação e respectiva transcrição junto da entidade que os
torna juridicamente válidos – a conservatória, são igualmente objecto de tratamento neste
Código.

A regulamentação do registo dos actos ocorridos no estrangeiro ou a prova de certos actos


ocorridos no país, para fazerem prova no estrangeiro, era matéria constante de um
diploma autónomo – a Portaria 143/75, de 27 de Dezembro. Em nome da
coerência e uniformização legislativas, foram recuperadas, ajustadas e introduzidas no
presente diploma legal.

Como aquelas, várias outras matérias, constantes em diplomas dispersos, foram


recuperadas e adequadas à realidade e exigência actuais.

Dado o advento de modernas tecnologias, a presente reforma pautou-se pelo seu


acolhimento e aplicação no registo civil, possibilitando uma maior eficácia e celeridade
nos actos praticados nas conservatórias. Os documentos transmitidos por
telecópia – telefax – entre conservatórias ou instituições públicas afins passaram a ter
validade e a fazer prova plena – sendo desse modo mais rapidamente disponibilizados a
quem deles necessite.

Na perspectiva de tornar o serviço do registo civil mais profissional, responsável e


credível, chegou-se à conclusão de que todos actos devem, regra geral, ser praticados nas
conservatórias. Também para evitar a dispersão de competências, pretende-se que as
delegações do registo civil deixem de existir transformando-se em conservatórias – o que
trará a vantagem de poderem praticar todos os actos relativos ao registo civil solicitados
pelos utentes.

No entanto, para que se possa prosseguir na missão de aproximar o serviço do registo


civil ao cidadão e vice-versa, verificou-se que os postos de registo civil devem continuar
a existir, com competências muito próprias.

Tal opção permitirá registar, em locais recônditos, os nascimentos e óbitos com maior
facilidade e que o cidadão possa usar um serviço público – o do Posto – para solicitar
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outros documentos de que necessita e que se encontrem em conservatórias distantes do


local onde se encontra.

A reforma introduzida, crê-se que, permitirá facilitar a vida dos utentes, simplificar e
desburocratizar procedimentos, na medida adequada à imprescindível garantia de
segurança jurídica das pessoas singulares, objectivo de interesse e ordem públicos que o
registo civil prossegue.
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3. Constatações

Pela realização do presente trabalho, como já se sabe, em muitos países, os cidadãos


devem registar-se para poderem exercer o seu direito de voto. Esse registo, conhecido
como recenseamento eleitoral, é fundamental para o decurso de todo o processo eleitoral.

Constata-se aqui que, ao circunscrever o universo de eleitores, o recenseamento eleitoral


é a base para a distribuição de assembleias de voto, para além de que, em sistemas de
representação proporcional, determina o número de mandatos por cada círculo eleitoral.

Os governantes, os partidos políticos, os investigadores, entre outros actores, também


usam a informação recolhida durante o recenseamento. Os investigadores, por exemplo,
produzem estudos, fazem simulações e sondagens. Os partidos políticos servem-se dessa
informação para prepararem as suas actividades políticas, incluindo as campanhas
eleitorais, enquanto, em determinados contextos, como os que conciliam
dados do registo civil com os do registo eleitoral, os governantes planificam a alocação e
a distribuição de bens e serviços públicos.

Por estas razões, um bom recenseamento eleitoral contribui para a integridade do sufrágio
e, com ela, para a legitimidade da democracia e a estabilidade política de um país. Pelo
contrário, um recenseamento defeituoso não só descredibiliza os órgãos de gestão
eleitoral, mas todo o processo eleitoral, criando condições para eventuais focos de tensão
político-eleitoral, tal como sucede em Moçambique.

Constata-se ainda que, em Moçambique, é precisamente na fase do recenseamento que


começam os problemas do processo eleitoral, muitos dos quais têm sido sistematicamente
reportados em relatórios de organizações da sociedade civil nacionais e internacionais e
nos acórdãos do Conselho Constitucional. Nas notas que se seguem retomamos parte
desses problemas, destacando os que foram recorrentemente abordados aquando da
realização do trabalho de campo no âmbito da pesquisa sobre a abstenção em
Moçambique.
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4. Bibliografia

BRITO, L. “Uma Nota Sobre Voto, Abstenção e Fraude em Moçambique”. Discussion


paper n.º 4. Maputo, IESE. 2008

CHAIMITE, Egídio. Recenseamento eleitoral em Moçambique: um processo sinuoso.


IESE, Maputo. 2016

Decreto 15/2000. Boletim da Repú blica, I Série, n.º 24, de 20 de Junho de 2000.

FORQUILHA, S. “Des ‘autoridades gentílicas’ aux ‘autoridades comunitárias’: le


processus de mobilisation de la chefferie comme ressource politique”. Thèse de doctorat.
Bordeaux, Université Montesquieu-Bordeaux IV. 2006

Governo de Moçambique (1996), Relatório Inicial de Estados Partes cuja apresentação


era devida em 1996: Moçambique, CRC/C/41

NUVUNGA, A. “Multiparty democracy in Mozambique: strengths, weaknesses and


challenges”. EISA Research Report n.º 14. Johannesburg, EISA. 2005

UNICEF. Registo de nascimento e conflitos armados. Insight Innocenti. Siena, Itália 2005

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