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Resumo
Este trabalho tem por objeto tratar a transformação que o conceito do imperialismo
sofreu nas últimas quatro décadas, pois houve falta de precisão e confusão sobre o tema nos
círculos acadêmicos de esquerda, contraditoriamente no momento que nos termos de Borón
(2007) as condições objetivas do capitalismo latino-americano no neoliberalismo exibiam um
agravamento de dependência externa, a impressionante erosão da soberania nacional dos
estados e uma submissão aos ditames do imperialismo.
O ponto de início da reflexão surge do obscurecimento da temática do imperialismo
na disputa entre os setores neomarxistas e conservadores da teoria da dependência na década
de 1960 que responde a teoria do desenvolvimento, o resultado desta disputa interna foi a
instalação do discurso único dos setores conservadores Weberianos da teoria da dependência
apoiados pela ditadura militar provocando um esquecimento do conceito e a obstrução da
mesma na corrente neomarxista, pois segundo seus representantes mais conotados como
Gunder Frank e Mauro Marini a expansão do imperialismo estava condicionado na expansão
da dependência, tema que foram tratados sem medir esforços. Assim, o tema central deste
trabalho é entender este processo como uma sequência histórica entre o silenciamento do
conceito no período 1960-1980 e uma amplitude do termo imperialismo difícil de manejar no
período posterior a 2000. Uma sequência de quatro décadas de interpretações difusas de
difícil classificação do termo teórico do imperialimo e como se afirma neste artigo se torna
complexo aplicar-lo na prática política latinoameticana.
Introdução
O objetivo desse artigo é listar alguns das principais obras, autores e debates sobre o
imperialismo desenvolvidas ao longo do século XX e início do século XXI. O levantamento
bibliográfico de primeira e segunda fonte realizado procurou listar os principais autores
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Artigo entregue em abril de 2012 à Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora como
trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Estudos Latinoamericanos, Turma Bartolina Sisa, com
orientação do Profº Ms. Jose Mario Riquelme Hernández.
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indicando alguns dos debates que envolvem o tema desde as teorias clássicas do imperialismo
até o debate do imperialismo contemporâneo.
Esse trabalho se justificativa, pois durante as últimas décadas do século XX houve
um silenciamento sobre o tema nos círculos acadêmicos de esquerda, contraditoriamente no
momento que as “condições objetivas do capitalismo latino-americano exibiam um
agravamento sem precedentes de dependência externa, a impressionante erosão da soberania
nacional dos estados e uma submissão sem precedentes aos ditames do imperialismo”
(BORÓN, 2007, p.459). Esse silenciamento na esquerda foi destacado no artigo do indiano-
marxista Prabhat Patnaik para o Monthly Review intitulado What Happened to Imperialism
[O que ocorreu com o Imperialismo?] publicado em novembro de 1990, onde apresentou o
problema do desaparecimento do termo nas análises de esquerda dos EUA e Europa.
(FOSTER, 2007, p. 439; PANITCH e GINDIN, 2006, p.21 e BORÓN, 2007)
Além disso, durante a maior parte do século XX nos discurso aprovados pelos grupos
de poder do mundo capitalista o conceito de “imperialismo” foi também excluído sendo
identificado sempre que aparecia como uma indicação que o autor estava próximo da
esquerda sendo caracterizado como puramente ideológico. Concomitante, na ciência social
convencional isolou-se o termo como “imperialismo econômico” para analisá-lo como
imperialismo cultural e imperialismo político sem relação com a exploração. No livro de
Pierre Anime e Harry Magdoff, Imperialism in the seventies [Imperialismo nos anos setenta]
publicado em 1971, no prefácio, os autores já indicavam o caráter acientífico com que a
convenção acadêmica tratava o termo do imperialismo inclusive estereotipando-o “de mau
gosto” (apud FOSTER, 2007, p.431).
Diferentemente desse passado, nos tempos atuais intelectuais e membros da elite
estão exaltando não somente o conceito, mas também estão tratando-o como categoria
analítica seja de “imperialista’ ou “neo-imperialista” que é constantemente repetido nos meios
escritos como o New York Times e Foreign Affairs. Esse contexto se insere na guerra contra o
terrorismo iniciada na administração Bush depois da destruição do World Trad Center
materializada na invasão do Afegnistão e Iraque e suas “guerras emancipatórias.”
Porém se pode mencionar, como outro fator de incentivo ao ressurgimento da
discussão, a presença no final da década de 1990 e início de 2000 de movimentos de
resistência principalmente na América Latina que se moveram contra a hegemonia política e
ideológica do neoliberalismo trazendo a tona o debate de temas e propostas que estavam
adormecidas por serem consideradas saudosismo intelectual ou ideológico do socialismo já
enterrado com a queda do muro de Berlim. Citamos como exemplos dessa resistência o
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A teoria sobe imperialismo e capital, segundo Albo (2006, p.134), passa pela disputa
teórica sobre a internacionalização do capital desde o século XIX até os dias de hoje. O debate
clássico esteve marcado por duas linhas de interpretação aqueles que entendiam o processo de
expansão imperialista como uma prática de disputa inter-imperial e inter-estatal pelo controle
de capitais e aqueles que estavam mais ocupados pelos equilíbrios e estabilidade nessa relação
de cooperação inter-imperial.
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Na primeira linha se encontra o bloco marxista uma vez que entendiam que a
expansão do capital e da teoria do imperialismo teve diversas matizes. Para Marx a
apropriação do valor por meio da exploração e apropriação do trabalho ocorre em lugares
determinados ainda que o fluxo de circulação esteja em criação, por tanto, no préfacio dos
grundisse Marx interpreta que o capital é expansionista em sua essência em dois aspectos a) o
aumento da competitividade leva a busca de novos mercados e b) os locais de produção
particulares estão implicados em relações sociais amplas em relações inter-classes e inter-
estados (apud ALBO, 2006, p.130). É no mercado mundial onde o dinheiro funciona em toda
sua plenitude como a mercadoria que possui uma forma natural e ao mesmo tempo tem uma
forma diretamente social de realização do trabalho humano em abstrato, isto porque aos olhos
de Marx no comercio mundial as mercadorias estendem seus valores com caráter universal e
sua forma independe de valor, se enfrenta na forma de dinheiro universal, (MARX, 1946. p
99).
É nesse espírito que se deve compreender a observação de Marx sobre o caráter
expansionista do capital, pois existe uma relação dependente entre mercado e valor e a
transformação da primeira em mercado mundial e segunda em dinheiro mundial, lugar que se
cristaliza com toda sua força. Contudo, o campo internacional de fluxos de capitais está
marcado para Marx pela competição para extração de valor levando uma disputa entre muitos
capitais ao mesmo tempo ao mesmo tempo a distribuição de valor nesses campos de disputa
leva a uma mudança nas forças de produção e circulação de capital. Ou seja, o que determina
a tendêcia do capital depende da capacidade de criar novos mercados e ao mesmo tempo de se
internacionalizar. (ALBO, 2006, p.131). Para Marx o dinheiro mundial funciona como
medida geral de pagamento, compra e materialização da riqueza e permite o equilíbrio
tradicional de intercambio entre países diferentes, com tudo, o destacado é a que se apresenta
como materialização da riqueza como disse o autor:
“Alli donde no se trata de compras ni de pagos, sino de trasladar riqueza de um país a
otro, sin que ello pueda hacerse bajo la forma de mercancia”...así tratase de subsídios ,
empréstimos ... o aprotación de valores bajo la foma de dinero. Todo pais necesita
contar com um fondo de reserva tanto para la circulación de mercado mundial como
para su circulación interior” (MARX, 1946. p.101).
O impasse dessa equação que parece tão resolvida é justamente sua própria natureza
de desequilíbrio permanente, pois o dinheiro mundial como função de pagamento para
nivelar saldos internacionais pela conversão de ouro na balança comercial, choca com a
distância de atesouramento dos países centrais que possuem capitais diferenciados, dai a
necessidade de manter valor em ouro convertível em dinheiro o que obriga ao capital central
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ter que manejar um volume de valores de reserva advindos de outros polos econômicos neste
caso países periféricos. Marx já indicava nos Grundisse em 1857 que cada país precisa de um
fundo de reserva, tanto para a circulação interna de dinheiro quanto para a circulação no
mercado mundial, significa disputa cambial, e disputa pelo controle desse volume de fundos
atessourados a escala global. (Marx, 1975. p 275-279)
Portanto, para Marx a disputa passa também pela esfera política uma vez que precisa
de Estados fortalecidos para mediar a relação de acumulação diferenciada e de disputa pelo
mercado mundial. Esta tese indica que o Estado é um instrumento de reprodução do capital e
estabelece as bases da relação da propriedade privada e competição para valorização e
internacionalização do capital nas nações e internações. Dessa maneira Marx entende o papel
do Estado nação como estruturas organizadas hierarquicamente com o imperativo da
internacionalização da acumulação de valor por meio da competição. (ALBO, 2006).
A noção de imperialismo econômico, surgiu nos Estados Unidos, como algo oposto
ao imperialismo em geral. Charles A. Conant no ensaio The Economic basis of Imperialism
[As bases econômicas do Imperialismo], publicado em 1898 no North American Review, na
época da guerra Hispano-Norte-Americana, concluiu que “o imperialismo era necessário para
absorver capital excedente frente a escassez de oportunidades de investimentos rentáveis; em
outras palavras, para aliviar o que ele denominava problema de “capital congestionado””
(FOSTER, 2007, p.434).
Os conflitos entre potências pela partilha da África, a guerra sino-japonesa, a
hispano-norte-americana, a sul-africana (Guerra Boer) e a russo-japonesa ocorridas no fim do
século XIX e início do século XX apontaram para o início de um tipo de imperialismo
associado ao capitalismo monopolista diferente do colonialismo que o tinha precedido. Esses
fatos levaram a construção de uma teoria econômica do imperialismo entre as nações de
capitalismo avançado que deram origem a uma análise mais profunda que foi iniciada pelo
clássico de A. Hobson, Imperialism: A study [Imperialismo: um estudo] publicado em 1902.
O autor era um crítico britânico da Guerra de Boxer e dessa perspectiva desenvolveu a sua
crítica ao imperialismo. “Acreditava que o imperialismo originava-se na posição dominante
de certos interesses econômicos e financeiros concentrados, e que as reformas radicais que
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as grandes potências, as quais haviam conduzido à Primeira Guerra Mundial (FOSTER, 2007,
p.435).
Se para Lênin, o processo de internacionalização do capital estava fundado nos
movimentos elípticos dos monopólios que restringem a base de produção de valor, para Rosa
Luxemburgo as contrações de fluxos e refluxos de acumulação adquiriam uma ênfase na
dimensão sociopolítica da expansão territorial, tema abordado no clássico texto A acumulação
do capital: estudo sobre a interpretação econômica do imperialismo, publicado em 1912.
Nele a autora não mede esforço para se ocupar mais do que o processo de produção de valor
ela se preocupa pelo processo da reprodução da acumulação materializado na busca
permanente de mercados externos no terceiro mundo, o que indica que a ação colonial não era
um fenômeno conjuntural é sim uma ação estrutural e estruturante do capitalismo em países
de economias avançadas.
“a teoria do Imperialismo de Rosa tinha o mérito singular de estar fundada sobre
uma teoria mais ampla do modo de produção capitalista e, portanto, concentrava-se
na relação entre produção industrial e agrícola que havia sido um aspecto muito
importante da teoria marxista do modo de produção capitalista. Uma de suas
proposições centrais postulava que o colonialismo não era um aspecto conjuntural,
mas necessário, para a globalização da lei de valor, já que zonas capitalistas
necessitam daquelas não capitalistas para a realização plena da mais-valia. Contudo,
também argumentava que uma vez que o capitalismo alcançasse os limites mais
longíquos do globo, necessariamente sobreviria uma crise devido ao crescente
desaparecimento de zonas não capitalistas.” (AHMAD, 2006, p. 73)
“A acumulação verifica-se sem que se tenha a mínima percepção, para quem e para
que novos consumidores se amplia cada vez mais a produção... O esquema
pressupõe esse caminho: a indústria carbonífera é incrementada para ampliar a
produção de ferro. Esta se amplia para aumentar a produção de maquinaria. Esta se
amplia para aumentar a produção de meios de consumo. Esta por sua vez se amplia
para sustentar o crescente exército de operários do carvão, do ferro e da maquinaria.
E, assim, em círculo ad infinitum conforme a teoria de Tugan Baranowski....O
esquema de Marx, considerado em si mesmo, permite de fato tal interpretação. A
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prova disso é que, segundo suas próprias e repetidas afirmações, Marx trata de expor
o processo de acumulação do capital total numa sociedade composta unicamente de
capitalistas e operários. As passagens que se referem a isso se encontram em todos
os volumes de O Capital” (LUXEMBURGO, 1970, p.282).
capitais mudando a forma de acumulação atual, uma vez que as bases da transformação de
valores em capital dos países metropolitanos não tem similar algum com o atual campo de
acumulação na periferia.
O capital inglês que chegou à Argentina para a construção de estradas de ferro pode
ser do ópio índiano introduzido na China. Por outro lado, o capital inglês que constrói
estradas de ferro na Argentina não só tem origem na Inglaterra em sua pura forma de valor,
como capital monetário, mas também em sua forma material: ferro, carvão, máquinas etc. A
força de trabalho, a que propriamente consome o capital variável, é, na maioria dos casos,
estrangeira: são trabalhadores nativos submetidos aos novos países pelo capital do antigo, e
transformados em novos objetos de exploração. (LUXEMBURGO, 1970, p.375).
Mesmo entendido que por traz desta reflexão exista uma origem comum na relação
capital- trabalho e operários, a autora é aguda em alertar que no processo entre a primeira e
segunda revolução industrial do século XIX acontece uma ampliação na forma de acumular
valor. Uma vez que a fase imperialista da acumulação do capital, entendido como a fase da
concorrência mundial do capitalismo, “abrange a industrialização e emancipação capitalista
dos países atrasados a expensas dos quais o capital obteve sua mais-valia” (LUXEMBURGO,
1970, p.365). Assim, os métodos específicos dessa fase são “empréstimos exteriores,
concessão de estradas de ferro, revoluções e guerra” (LUXEMBURGO, 1970, p. 366).
Transformar as bases produtivas de maneira radical dos países dependentes é a
condição necessária para emancipação capitalista dos países economicamente dependentes
para destruir as formas de estado procedentes das épocas anteriores da economia simples de
mercado, e criar um aparelho estatal apropriado aos fins da produção capitalista. Esquema que
reúne contradições como fatores pré-capitalistas antiquados, batendo com a dinâmica
industrial capitalista. Isso determina sua força, mas ao mesmo tempo torna mais lento seu
curso vitorioso (LUXEMBURGO, 1970, p. 366).
Para tanto a contradição que leva os empréstimos exteriores para emancipação de
Estados que aspiram ser capitalistas parece ser condição obrigatória para expansão
imperialista dos Estados antigos e garantir o exercício de sua tutela sobre os modernos, para
controlarem sua economia e fazerem pressão sobre sua política exterior e sobre sua política
alfandegária e comercial. “São o meio principal para abrir ao capital acumulado dos países
antigos novos campos de investimento e, ao mesmo tempo, criar naqueles países novos
competidores; aumentar, em geral, o espaço de que dispõe a acumulação do capital e ao
mesmo tempo estreitá-lo”. (idem, p 367).
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produtiva de reprodução ampliada, com ela igualmente fica definida a distinção entre
Luxemburgo dos pensadores conservadores como Kautsky na abordagem sociopolítica do
imperialismo contemporâneo.
Com este recorte marca-se a segunda linha de interpretação sobre o desenvolvimento
do imperialismo clássico citado no início. Os defensores desta linha de pensamento se
distinguem de Luxemburgo ao igual que de Lenin que estavam ocupados pelas assimetrias e
desequilibro inter-impérios. Ao invés disso, Kautsky esta centrado mais na continuidade e o
equilíbrio destes campos que caracterizam as economias imperialistas como relações
simétricas entre os capitais dos países avançados e periféricos. Como se observa na obra O
Imperialismo e a Guerra, publicado em 1914, por Kautsky, o autor defende a cooperação
inter-estado para acumulação do capital. A o mesmo tempo que assinala a cooperação inter-
imperial sem desconhecer suas fraturas internas no cenário de dissensos e consensos.
“Não existe necessidade econômica para a continuidade da corrida armamentista
depois da Guerra Mundial, inclusive desde o ponto de vista da própria classe
capitalista, com a possível exceção de certos interesses armamentistas. Pelo
contrário, a economia capitalista está seriamente ameaçada precisamente por essas
disputas. Todo capitalista perspicaz deve hoje alardear seus companheiros:
capitalistas de todo o mundo uni-vos!” (KAUTSKY in CALLINCOS, 2001, p.5)
produtivas leva estes sistemas “nacionais” a conflitos mais agudos em sua luta
competitiva pelo mercado mundial” (BUKHARIN apud CALLINCOS, 2001, p.5)
marxismo e à luta revolucionária latino-americana. Claro que para isso contribuiu a censura e
a perseguição política, mas também foi fruto de um sistemático trabalho de deturpação
intelectual” (PRADO, 2010, p.3-4) Se o autor coloca um peso maior no papel de Cardoso,
para nós é mais pertinente falar que a corrente reformista Weberia representada por Cardoso e
Faletto teve um lugar destacado. Importante destacar este ponto, pois para a maioria dos
autores da época as diferenças conceituais representavam a heterogeneidade entre estas
correntes, para Vânia Bambirra (2012) a desigualdade de trabalhos tem um foco
metodológico, para Celso Furtado (1995) o é foco econômico, para Theotonio do Santos
(2000) é sociológico.
A meta foi envolver aos países periféricos no circuito de acumulação internacional
levando a implantação nos anos 30 e 40 da indústria nos países dependentes e coloniais este
serviu de base para o novo desenvolvimento industrial do pós-guerra, cujo núcleo eram as
empresas multinacionais criadas nas décadas de 40 a 60. Esta nova realidade contestava a
noção de que o subdesenvolvimento significava a falta de desenvolvimento (QUIJANO,
1971) Assim, se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o resultado da
superação do domínio colonial e do aparecimento de burguesias locais desejosas de encontrar
o seu caminho de participação na expansão do capitalismo mundial; a teoria da dependência,
surgida na segunda metade da década de 1960-70, representou um esforço crítico para
compreender a limitação de um desenvolvimento iniciado num período histórico em que a
economia mundial estava já constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e
poderosas forças imperialistas (IANI, 1971).
A primeira tentativa de apresentar a teoria da dependência como uma escola de
pensamento veio talvez do artigo de Suzzane Bodenheimer, “Dependency and Imperialism”,
Politics and Society, n. 5, maio 1970, a autora propus um paradigma científico alternativo ao
“mainstream” que teve sua sequencia na África, onde Samir Amim, convocou uma reunião
em Dakar, em 1970, para produzir um encontro entre o pensamento social latino americano e
africano. Assim a teoria da dependência encontrou uma elaboração teórica em curso sobre o
desenvolvimento e produziu-se uma fusão bastante profícua (KAY, 1989)
Na América latina se avaliava que ao contrário das especativas formuladas pelos
teóricos de economia dominantes a divisão internacional do trabalho e a lei das vantagens
comparativas não permitiam que os frutos do progresso técnico fossem distribuídos de
maneira equitativa para todas as nações, o aumento de produtividade deveria necessariamente
ser acompanhado de diminuição dos preços (MAURO, 2007, p.166), ao invés disso, com o
aumento de tecnologia nos países industrializados os preços aumentaram desde 1870,
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palavra, a acumulação externa de capiais pelas sociedades dependentes levao leis que são
especificas, levão inevitavelmente a superexploração do trabalho. Cuevas responderá a Marini
que este movimento seria comum a todo o capitalismo, contudo concordamos com Banbirra
ao tratar este argumento do autor improcedente, pois a ideia de Marini não exclui a
superexploração do trabalho a países desenvolvidos mas nos países subdesenvolvidos este
fenômeno é mais permanente e sistemático Marini (2005).
O efeito dessa atual divisão do trabalho dará as bases para instalação de uma
burguesia industrial insipiente em alguns países e desafiará a tarefa de desenvolver apenas
etapas inferiores do processo de produção, convertidos apenas em produtores primários de
mercadorias e em mero mercado consumidor para os produtos de seus vizinhos
industrializados, uma vez que, as etapas superiores, dos produtos de maior valor agregado
como informática, alta tecnologia entre outros, são reservadas aos centros imperialistas.
Ao analisar este aspecto, Marini vai falar do surgimento de verdadeiros centros
subimperialistas na América Latina, que se associam à metrópole para explorar o controle
territorial e mercardos vizinhos, no contexto de internacionalização de capitais que “dotados
de relativa autonomia, ainda que permaneçam subordinados a dinâmica global imposta pelos
grandes centros. Como Brasil, Argentina, Israel, Irã, Iraque e África do Sul assumem, ou tem
assumido, em certo momento de sua evolução recente, caráter subimperialista (MARINI,
2000). Contextualizados no avanço tecnológico industrial do capitalismo avançado que apesar
dos ganhos, não abriram mão da superexploração do trabalho.
Tendencia que foi abordada por Mauro (2007, p. 169) uma vez que em 1964, quando
a ditadura militar se instalou no Brasil, o saldo anual das exportações era da ordem de 1,4
bilhões de dólares. A pauta era composta por 85,4% de produtos primários; 8,0% de produtos
semi-elaborados; e apenas 6,2% de manufaturados. Em 1984, quando os militares deixam o
governo, o país já exportava 27 bilhões de dólares por ano, com uma pauta profundamente
alterada: os produtos primários representavam 32%; os semi-elaborados 10,6%; e os
manufaturados 56%.
Para Cardoso (1981, p. 75-76) estes princípios de Marini são ingênuos na medida em
que as oportunidades de industrialização se dariam através da conjugação entre capital
nacional privado, capital internacional e Estado, sendo que a conjugação desses daria à
economia latino-americana uma margem de internacionalização que a colocaria nos rumos
certos do desenvolvimento com um caráter industrializante associado. Cardoso não nega o
papel subordinado da burguesia nacional ao transferir para o capital externo os setores
estratégicos da economia, ficando sob seu controle os setores mais subordinados, como bens
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insistir nesse ponto porque já foi citado nas páginas acima. Apenas mencionaremos que a
análise se baseava nas contradições de exploração e apropriação desigual do excedente
econômico dos países centrais na periferia, o que marca o conteúdo de Frank a existência do
desenvolvimento capitalista em curso na região estava marcado pela dependência e a
subordinação (FIORI, 1993, p. 33)
Concorcadamos com Bambirra (2012) quando assume que estas confusões
conceituais provem da falta de compreensão analítica sobre a o termo do desenvolvimento
nacional autônomo, propor a posibilidade de alcançar esta via é supor que o capitalismo
central pode mover as potencialidadesnas sociedades da periferia determinadas pelo
subdesenvolvimento, exclusão, explorador e concetrador de riquezas. Por estas contradições o
esforço crítico da teoria da dependência nestes termo são frágeis, isso no contexto que a teoria
de Marini não passa apenas pela dialética da dependência, a teoria de Santos não se limita a
obra do novo caráter da dependência, e as críticas a este respeito despertou um campo de
disputa que acabou por obscurecer as publicações de estes autores censurados na época da
ditadura miliar no Brasil enquanto isso as teses de Cadoso e Falleto circulavam sem restricção
criando um discurso único sobre a teoria do desenvolvimento eliminando a teoria do
imperialismo como marco analítico.
Imperialismo Contemporaneo
próprias motivações nacionais [dos Estados Unidos], mas sim em nome do direito global...”
significando para os autores que a força militar mundial dos EUA opera não como um
interesse imperialista, mas sim como um interesse imperial em função dos interesses de um
país central sem centro e sem fronteiras. Utilizando conceitos flexíveis e acreditando na
estrutura de poder diluída os autores se esforçaram em afirmam que “o imperialismo acabou”
(HARDT; NEGRI, 2001, p. 14).
A transição para o Império surge do crepúsculo da soberania moderna. Em contraste
com o imperialismo, o Império não estabelece um centro territorial de poder, nem se
baseia em fronteiras ou barreiras fixas. É um aparelho de descentralização e
desterritorialização do geral que incorpora gradualmente o mundo inteiro dentro de
suas fronteiras abertas e em expansão. O Império administra entidades híbridas,
hierarquias flexíveis e permutas plurais por meio de estruturas de comando
reguladoras. As distintas cores nacionais do mapa imperialista do mundo se uniram
e mesclaram, num arco-íris imperial global. (HARDT; NEGRI, 2001, p. 12-13)
com mais de duas grandes potencias dominando a cena econômica e política, diferentemente
do período da guerra fria onde eram somente duas superpotências bipolarizando o mundo.
Também destacamos que a expansão do aparato militar dos EUA durante esse período deu a
classe dominante da sociedade capitalista de outros países a oportunidade de desenvolver-se
economicamente nos espaços onde os norte-americanos deixaram abertos com o seu vísivel
descenso econômico fortalecendo o caráter multimendisional da esfera econômica mundial e
em contrapartida uma unipolaridade bélica global resultante da liderança tecnológica militar
dos EUA para suprir a perda de capacidade de controle da sobrevalorização do capital e o
aumento da interdependência desigual entre os capitais mundiais. (CALLINICOS, 2001)
A característica do período de neoliberalismo obrigou a estreitar laços políticos e
econômicos dentro do bloco de capitalismo avançado, intensificando as relações de
dominação em termos de subordinação geopolítica criando três zonas geopolítico-economicas
pela marginalização com grande variedade de arranjos organizacionais como a integração da
EUA nos acordos de comércio dos vínculos comerciais de subcontratos no leste da Ásia
organizados pela preferência econômica da América do Norte. (ALBO, 2007, p.128)
A internacionalização econômica durante o neoliberalismo esteve marcada pela
competição entre os principais poderes capitalistas pela presente interpenetração das empresas
capitalistas e pela interdependência política dos estados capitalistas. O imperialismo
contemporâneo acabou marcando a tendência para a expansão do capital sendo uma condição
para sua internacionalização e valorização interna. Portanto a acumulação de capital depende
estritamente da centralização e da expansão do estado e subsequentemente levando consigo o
desenvolvimento desigual entre os estados hegemônicos e ao mesmo tempo a relação de
dominação do estado e o mercado mundial. Este debate toma outro curso instalado pelo
processo da chamada globalização que analisa a expansão do capital sem tratar a oposição
entre as trajetória de poder dos EUA e a justaposição entre rivalidade e unidade entre impérios
e inter-impérios. (ALBO, 2007, p.130)
Para Harvey (2006) o processo de neoliberaismo é a expressão da crise interna do
capital de sobre acumulação pela queda da taxa de lucro. Estas crises de expansão como
excedente de capital e força de trabalho pareciam co-existir sem haver rentabilidade na taxa
de valor, portanto, para o autor os ajustes relocalizados pelo capital pareciam ser
deslocamentos territoriais temporárais em permanente contradição o que permite entender a
visão do autor como uma posição geográfica de ajustes espaço-temporal do capital
imperialista mundial. Essa idéia de ajuste do capital no espaço temporal vai tratar o tema da
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ao capital por tanto estagnado, ao invés disso o autor o analisa como um processo continuo e
permante dai a noção de espoliação ampliados nos termos geográficos (HARVEY, 2006) mas
os princípios de acumulação por espoliação entendido como apropriação foi já descrito por
Lênin ao graficar a depreciação de capitais e destruídos por meio de inflações nos países
centrais aumentando o fraude e o roubo-espoliação de ativos.
Esta visão leva a uma naturalização do processo de sobreacumulação e marca o
elemento central na conformação de um inédito corpo imperial. Capitais dominadas
territorialemtente por um centro hegemônico se incluem em práticas imperialistas na bsca de
soluções para problemas de sobreacumulação por meio do ajuste espaço- temporal. Em
termos de Peter Gowan os EUA não eram dependentes de exportações, afrontavam abertura
para outros mercados, incentivando re-aranjos espaço temporal extra-território como
intraterritórios aliados a sistemas interestatais. Aumentando a aceitação à subordinação aos
EUA desordenada e assimétrica no interior dos países de capitalismo avançado, neste caso
Japao, Inglaterra, China entre outros (WENT, 2001).
Cammarck (2006) analisa que a atual característica de dominação imperialista estaria
condicionada pela reorganização do Estado já que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco mundial (BM) determina que a competitividade fortace aos Estados locais e a sua vez
estimule a acumulação dos países periféricos. Tornando a competicição internacional uma
característica inédita do atual processo de dominação neoimperialista baseada na distribuição
de poderes entre os países de capitalismo avançado e ao mesmo tempo subordinada a
hegemonia da administração Washington. A determinação das grandes corporações torna
problemática esta atualizada foma de dominação interimperialista pela promoção da
competitividade internacional, com tudo é a única saída viável dos EUA para preservação e
controle da mesma.
Este pressuposto é importante por dois aspectos o primeiro indica desde uma ótica
política econômica a relocação da linha marxista clássica da luta interimperial entre os estados
e o capital central pelo contole hegemônico imperialista, pois ao invés disso a estratégia atual
é a redistribuição de poder entre o capital central. O segundo, assinala a estratégia da
competividade como instrumento para controlar a crise interna da perda de capacidade dos
governos de gerenciar as políticas de economia interna e restituir a hegemonia perdida pelas
burguesias nacionais. Podemos descatacar três aspectos no reordenamento estatal, a
internacionacionalização da competividade para media a produção do valor e a circulação
interna.
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Considerações finais
Cabe dizer que este trabalho forma parte de um crescente esforço de recuperação e difusão do
pensamento crítico latino-americano onde as teorias imperialistas foram um dos pontos mais
altos.
O tema é relevante, pois parte do argumento que sujaz permanecer ao imperialismo
imutável ao longo de quase um século. As lutas pela descolonização teriam produzido efeitos
para além das subcolonizações, igualmente a multinacionalização e os conflitos interimperiais
de outrora que conduziram a duas guerras mundiais envolvendo países com base de
dependência econômica, dando transição a uma outra possibilidade a atuação imperialista
mediado pelo exercício e a cooperação entre os países de capitalismo avançado no contexto
de aliança trilateral Asia, América do Norte e Europa. Este fenômeno que se extende nas
últimas três décadas teve seu ponto alto nos primeiros anos deste presente milênio onde as
tendências teóricas levaram a supor a dissolução de um poder central uma vez que o poder se
encontrava distribuído nos espaços do capital metropolitano instalando uma fase do
denominado novo imperialismo, e como é de supor, este princípio superado por Albo (2006) e
Panitch e Gindim (2006), apenas por mecionar alguns, analizam que pelo contrário o poder
central se reorganizou tanto na sua esfera economia como política estatal.
O que se pretendeu em parte neste trabalho é que abordar o fenômeno do
denominado neoliberalismo a partir das reflexões acima colocadas permite compreende-lo
como forma de poder social e de relações atuais de classe incorporados ao mercado mundial,
o fenômeno não deve ser reduzido aos capitais nacionais ou abordado apenas desde uma ótica
natural da lei de mercado mundial ou como uma imposição do modelo norteamericano sobre
os modelos europeus ou do leste asiático, mais bem deve ser assumido como parte do
denominado imperialismo contemporâneo daí a justificativa deste artigo porque nos termos de
Albo (2006) este quadro opera pelo consentimento e subordinação dos própios blocos
hegemônicos asiáticos europeus.
Mas como foi indicado por Harvey (2006) esta nova articulação entre capitais
hegemônicos opera pelo controle territorial obrigados a relocar um ajustes espaço-temporal
interno em cada país para assim se localizar numa nova posição na arena do capital
imperialista mundial. O que não significa evitar o aprofundamento da característica desigual
entre estas nações e ao mesmo tempo com outras nações periféricas, porém nesta nova relação
é intensamente combinada da expansão do capital-imperialismo contemporâneo e das
modalidades históricas de incorporação subalterna de retardatários, sobretudo ao final da
virada de século XX. A relação entre países periféricos e capital-imperialismo
comtemporaneo, à luz do panorama histórico atual, exige uma análise profunda das formas de
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