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O Império contra-ataca ou ataca a si mesmo?


Debates, Autores e Bibliografia sobre o Imperialismo

ZAMPIER, Maika B.1

Resumo

Este trabalho tem por objeto tratar a transformação que o conceito do imperialismo
sofreu nas últimas quatro décadas, pois houve falta de precisão e confusão sobre o tema nos
círculos acadêmicos de esquerda, contraditoriamente no momento que nos termos de Borón
(2007) as condições objetivas do capitalismo latino-americano no neoliberalismo exibiam um
agravamento de dependência externa, a impressionante erosão da soberania nacional dos
estados e uma submissão aos ditames do imperialismo.
O ponto de início da reflexão surge do obscurecimento da temática do imperialismo
na disputa entre os setores neomarxistas e conservadores da teoria da dependência na década
de 1960 que responde a teoria do desenvolvimento, o resultado desta disputa interna foi a
instalação do discurso único dos setores conservadores Weberianos da teoria da dependência
apoiados pela ditadura militar provocando um esquecimento do conceito e a obstrução da
mesma na corrente neomarxista, pois segundo seus representantes mais conotados como
Gunder Frank e Mauro Marini a expansão do imperialismo estava condicionado na expansão
da dependência, tema que foram tratados sem medir esforços. Assim, o tema central deste
trabalho é entender este processo como uma sequência histórica entre o silenciamento do
conceito no período 1960-1980 e uma amplitude do termo imperialismo difícil de manejar no
período posterior a 2000. Uma sequência de quatro décadas de interpretações difusas de
difícil classificação do termo teórico do imperialimo e como se afirma neste artigo se torna
complexo aplicar-lo na prática política latinoameticana.

Palavras chaves: Teoria Clássica do Imperialismo, Imperialismo Contemporâneo

Introdução

O objetivo desse artigo é listar alguns das principais obras, autores e debates sobre o
imperialismo desenvolvidas ao longo do século XX e início do século XXI. O levantamento
bibliográfico de primeira e segunda fonte realizado procurou listar os principais autores

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Artigo entregue em abril de 2012 à Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora como
trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Estudos Latinoamericanos, Turma Bartolina Sisa, com
orientação do Profº Ms. Jose Mario Riquelme Hernández.
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indicando alguns dos debates que envolvem o tema desde as teorias clássicas do imperialismo
até o debate do imperialismo contemporâneo.
Esse trabalho se justificativa, pois durante as últimas décadas do século XX houve
um silenciamento sobre o tema nos círculos acadêmicos de esquerda, contraditoriamente no
momento que as “condições objetivas do capitalismo latino-americano exibiam um
agravamento sem precedentes de dependência externa, a impressionante erosão da soberania
nacional dos estados e uma submissão sem precedentes aos ditames do imperialismo”
(BORÓN, 2007, p.459). Esse silenciamento na esquerda foi destacado no artigo do indiano-
marxista Prabhat Patnaik para o Monthly Review intitulado What Happened to Imperialism
[O que ocorreu com o Imperialismo?] publicado em novembro de 1990, onde apresentou o
problema do desaparecimento do termo nas análises de esquerda dos EUA e Europa.
(FOSTER, 2007, p. 439; PANITCH e GINDIN, 2006, p.21 e BORÓN, 2007)
Além disso, durante a maior parte do século XX nos discurso aprovados pelos grupos
de poder do mundo capitalista o conceito de “imperialismo” foi também excluído sendo
identificado sempre que aparecia como uma indicação que o autor estava próximo da
esquerda sendo caracterizado como puramente ideológico. Concomitante, na ciência social
convencional isolou-se o termo como “imperialismo econômico” para analisá-lo como
imperialismo cultural e imperialismo político sem relação com a exploração. No livro de
Pierre Anime e Harry Magdoff, Imperialism in the seventies [Imperialismo nos anos setenta]
publicado em 1971, no prefácio, os autores já indicavam o caráter acientífico com que a
convenção acadêmica tratava o termo do imperialismo inclusive estereotipando-o “de mau
gosto” (apud FOSTER, 2007, p.431).
Diferentemente desse passado, nos tempos atuais intelectuais e membros da elite
estão exaltando não somente o conceito, mas também estão tratando-o como categoria
analítica seja de “imperialista’ ou “neo-imperialista” que é constantemente repetido nos meios
escritos como o New York Times e Foreign Affairs. Esse contexto se insere na guerra contra o
terrorismo iniciada na administração Bush depois da destruição do World Trad Center
materializada na invasão do Afegnistão e Iraque e suas “guerras emancipatórias.”
Porém se pode mencionar, como outro fator de incentivo ao ressurgimento da
discussão, a presença no final da década de 1990 e início de 2000 de movimentos de
resistência principalmente na América Latina que se moveram contra a hegemonia política e
ideológica do neoliberalismo trazendo a tona o debate de temas e propostas que estavam
adormecidas por serem consideradas saudosismo intelectual ou ideológico do socialismo já
enterrado com a queda do muro de Berlim. Citamos como exemplos dessa resistência o
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surgimento do Zapatismo em 1994, a manifestação de Seatle em 1999 e o I Forum Social em


Porto Alegre em 2001 entre outros.
Aos olhos dos otimistas da esquerda convencional como Boaventura de Santo Souza
essas intervenções populares são analizadas como vozes latino-americanas de denuncia
efetiva a todas as formas as barbáries cometidas pelo sistema internacional e o papel dos
Estados Unidos nesse processo dominante, como as “Conferências pela Humanidade e contra
o neoliberalismo” chamadas pelos Zapatistas na selva Lacandona e os encontros de
organizações de diferentes países nos fóruns sociais mundiais. Entretanto elas não
conseguiram a superação de serem pressões isoladas que resistiram com audácia sempre
contra a corrente do consenso social dominante, mas não atingindo o completo objetivo de
instalar o debate do seu tempo, pois estavam na periferia do sistema. Se bem que, essas ações
sociais também apontaram a necessidade de entendermos e examinarmos com cuidado o
caráter do imperialismo na sua fase atual, suas fortalezas e debilidades e de como a esquerda
vai se apresentar e se articular frente a esse cenário.
Foi somente a partir do momento que o tema, imperialismo, se instalou no mundo
desenvolvido é que sim estava autorizado pelo império a ser abordado não somente nos
redutos da esquerda intelectual e política e também nos grandes meios de comunicação.
Entretando, não podemos esquecer que existem regras impostas para o tema ser abordado no
discurso aceito no mundo desenvolvido e na utilização dos conceitos de “império” e
“imperialismo”. Os que se movem para escrutinar o tema do imperialismo contemporâneo “só
podem fazê-lo” se enquadrados no militar e político não se atrevendo ao debate do
econômico, principalmente se estiver conectado ao capital e a exploração. (FOSTER, 2007).
O desafio da esquerda na construção do bem estar e da emancipação humana no
contexto do problema contemporâneo da desigualdade global, que está intimamente ligado à
história mundial do imperialismo capitalista, relaciona-se também ao desenvolvimento de
uma teoria melhor do imperialismo e de sua relação com o capitalismo mundializado.

Teoria Clássica do Imperialismo

A teoria sobe imperialismo e capital, segundo Albo (2006, p.134), passa pela disputa
teórica sobre a internacionalização do capital desde o século XIX até os dias de hoje. O debate
clássico esteve marcado por duas linhas de interpretação aqueles que entendiam o processo de
expansão imperialista como uma prática de disputa inter-imperial e inter-estatal pelo controle
de capitais e aqueles que estavam mais ocupados pelos equilíbrios e estabilidade nessa relação
de cooperação inter-imperial.
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Na primeira linha se encontra o bloco marxista uma vez que entendiam que a
expansão do capital e da teoria do imperialismo teve diversas matizes. Para Marx a
apropriação do valor por meio da exploração e apropriação do trabalho ocorre em lugares
determinados ainda que o fluxo de circulação esteja em criação, por tanto, no préfacio dos
grundisse Marx interpreta que o capital é expansionista em sua essência em dois aspectos a) o
aumento da competitividade leva a busca de novos mercados e b) os locais de produção
particulares estão implicados em relações sociais amplas em relações inter-classes e inter-
estados (apud ALBO, 2006, p.130). É no mercado mundial onde o dinheiro funciona em toda
sua plenitude como a mercadoria que possui uma forma natural e ao mesmo tempo tem uma
forma diretamente social de realização do trabalho humano em abstrato, isto porque aos olhos
de Marx no comercio mundial as mercadorias estendem seus valores com caráter universal e
sua forma independe de valor, se enfrenta na forma de dinheiro universal, (MARX, 1946. p
99).
É nesse espírito que se deve compreender a observação de Marx sobre o caráter
expansionista do capital, pois existe uma relação dependente entre mercado e valor e a
transformação da primeira em mercado mundial e segunda em dinheiro mundial, lugar que se
cristaliza com toda sua força. Contudo, o campo internacional de fluxos de capitais está
marcado para Marx pela competição para extração de valor levando uma disputa entre muitos
capitais ao mesmo tempo ao mesmo tempo a distribuição de valor nesses campos de disputa
leva a uma mudança nas forças de produção e circulação de capital. Ou seja, o que determina
a tendêcia do capital depende da capacidade de criar novos mercados e ao mesmo tempo de se
internacionalizar. (ALBO, 2006, p.131). Para Marx o dinheiro mundial funciona como
medida geral de pagamento, compra e materialização da riqueza e permite o equilíbrio
tradicional de intercambio entre países diferentes, com tudo, o destacado é a que se apresenta
como materialização da riqueza como disse o autor:
“Alli donde no se trata de compras ni de pagos, sino de trasladar riqueza de um país a
otro, sin que ello pueda hacerse bajo la forma de mercancia”...así tratase de subsídios ,
empréstimos ... o aprotación de valores bajo la foma de dinero. Todo pais necesita
contar com um fondo de reserva tanto para la circulación de mercado mundial como
para su circulación interior” (MARX, 1946. p.101).

O impasse dessa equação que parece tão resolvida é justamente sua própria natureza
de desequilíbrio permanente, pois o dinheiro mundial como função de pagamento para
nivelar saldos internacionais pela conversão de ouro na balança comercial, choca com a
distância de atesouramento dos países centrais que possuem capitais diferenciados, dai a
necessidade de manter valor em ouro convertível em dinheiro o que obriga ao capital central
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ter que manejar um volume de valores de reserva advindos de outros polos econômicos neste
caso países periféricos. Marx já indicava nos Grundisse em 1857 que cada país precisa de um
fundo de reserva, tanto para a circulação interna de dinheiro quanto para a circulação no
mercado mundial, significa disputa cambial, e disputa pelo controle desse volume de fundos
atessourados a escala global. (Marx, 1975. p 275-279)
Portanto, para Marx a disputa passa também pela esfera política uma vez que precisa
de Estados fortalecidos para mediar a relação de acumulação diferenciada e de disputa pelo
mercado mundial. Esta tese indica que o Estado é um instrumento de reprodução do capital e
estabelece as bases da relação da propriedade privada e competição para valorização e
internacionalização do capital nas nações e internações. Dessa maneira Marx entende o papel
do Estado nação como estruturas organizadas hierarquicamente com o imperativo da
internacionalização da acumulação de valor por meio da competição. (ALBO, 2006).

“Marx não formulou diretamente o conceito de imperialismo, embora tenha


apontado, com nitidez, ao menos desde 1848, que “a necessidade de mercados
sempre crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo
terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares”
(MARX, 1998, p. 11 apud FONTES, 2010, p.22).

A noção de imperialismo econômico, surgiu nos Estados Unidos, como algo oposto
ao imperialismo em geral. Charles A. Conant no ensaio The Economic basis of Imperialism
[As bases econômicas do Imperialismo], publicado em 1898 no North American Review, na
época da guerra Hispano-Norte-Americana, concluiu que “o imperialismo era necessário para
absorver capital excedente frente a escassez de oportunidades de investimentos rentáveis; em
outras palavras, para aliviar o que ele denominava problema de “capital congestionado””
(FOSTER, 2007, p.434).
Os conflitos entre potências pela partilha da África, a guerra sino-japonesa, a
hispano-norte-americana, a sul-africana (Guerra Boer) e a russo-japonesa ocorridas no fim do
século XIX e início do século XX apontaram para o início de um tipo de imperialismo
associado ao capitalismo monopolista diferente do colonialismo que o tinha precedido. Esses
fatos levaram a construção de uma teoria econômica do imperialismo entre as nações de
capitalismo avançado que deram origem a uma análise mais profunda que foi iniciada pelo
clássico de A. Hobson, Imperialism: A study [Imperialismo: um estudo] publicado em 1902.
O autor era um crítico britânico da Guerra de Boxer e dessa perspectiva desenvolveu a sua
crítica ao imperialismo. “Acreditava que o imperialismo originava-se na posição dominante
de certos interesses econômicos e financeiros concentrados, e que as reformas radicais que
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abordassem a má distribuição de renda e as necessidades da economia doméstica podiam frear


o impulso imperialista.” (FOSTER, 2007, p.435) Seu trabalho não era socialista e adquiriu
destaque pela influência nas análises marxistas do imperialismo que surgiram nessa época.
O mais importante texto influenciado por Hobson é Imperialismo: fase superior do
capitalismo, publicado em 1916, por Lênin, que dando continuidade a teoria de Marx analisa
a relação mundial de acumulação e competição pelo valor como um processo equilibrado e ao
mesmo tempo de rivalidade e disputa inter-imperial, tese defendida na segunda internacional
onde se aborda a rivalidade entre capitais como uma ação congênita da própria competição
inter-imperial. Ele argumenta que a competição leva inevitavelmente aos monopólios e a
internacionalização do capital e a rivalidade inter-estatal o que levaria ao conflito de poder
inter-imperial. (ALBO, 2006). Isto porque, segundo Lenin, a disputa travada se localiza na
hegemonia inter-monopólica uma vez que a luta pela concorrência entre pequenas e grandes
empresas, entre estabelecimentos tecnicamente atrasados e estabelecimentos de técnica
avançados leva, como disse o autor, a um estrangulamento, pelos monopolistas, “de todos
aqueles que não se submetem ao monopólio, ao seu jugo, à sua arbitrariedade”. (LENIN,
1985, p.35 )
Aos olhos do autor isto significa que a produção e distribuição da economia
mercantil do século XVII-XVIII chegou a seu limite, pois os lucros se concentram nas
máquinas financeiras. Ou seja, não dependem da habilidade individual do comerciante de
outrora para traçar rentavelmente negócios futuros, dessa maneira Lenin indica que a
proposição ontologia da economia capitalista clássica perde conteúdo, fundado nas bases
morais da economia no argumento dos fisiocratas como Smith que sonhava com à
concorrência “livre”, “pacífica” e “honesta”. Ao invés disso, o resto do processo foi a
consolidação de cartéis monopólicos que instalam um crescimento desigual intercapital como
a vantagem comparativa de lucros pelas indústrias de transformação de matérias primas sobre
a baixa rentabilidade das indústrias dedicadas a transformação de produtos semi-
manufaturados criando uma relação de dominação existente sob a livre concorrência.
(LENIN, 1985, p.24 ).
O desenvolvimento dessa ordem capitalista seria insuficiente para Lenin no caso de
não ser considerado o papel dos bancos e dos estados, pois os cartéis monopólicos precisam
de territórios e blocos constituídos, tornando, o que seria segundo o autor, aos monopólios
como a “fase mais recente de desenvolvimento do capitalismo”, (idem, p.38) e atuando de
maneira heterogênea, desequilibrada e em disputa permanente. O que evidencia porque o
principal propósito de Lênin, em estes termos, era explicar a rivalidade interimperialista entre
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as grandes potências, as quais haviam conduzido à Primeira Guerra Mundial (FOSTER, 2007,
p.435).
Se para Lênin, o processo de internacionalização do capital estava fundado nos
movimentos elípticos dos monopólios que restringem a base de produção de valor, para Rosa
Luxemburgo as contrações de fluxos e refluxos de acumulação adquiriam uma ênfase na
dimensão sociopolítica da expansão territorial, tema abordado no clássico texto A acumulação
do capital: estudo sobre a interpretação econômica do imperialismo, publicado em 1912.
Nele a autora não mede esforço para se ocupar mais do que o processo de produção de valor
ela se preocupa pelo processo da reprodução da acumulação materializado na busca
permanente de mercados externos no terceiro mundo, o que indica que a ação colonial não era
um fenômeno conjuntural é sim uma ação estrutural e estruturante do capitalismo em países
de economias avançadas.
“a teoria do Imperialismo de Rosa tinha o mérito singular de estar fundada sobre
uma teoria mais ampla do modo de produção capitalista e, portanto, concentrava-se
na relação entre produção industrial e agrícola que havia sido um aspecto muito
importante da teoria marxista do modo de produção capitalista. Uma de suas
proposições centrais postulava que o colonialismo não era um aspecto conjuntural,
mas necessário, para a globalização da lei de valor, já que zonas capitalistas
necessitam daquelas não capitalistas para a realização plena da mais-valia. Contudo,
também argumentava que uma vez que o capitalismo alcançasse os limites mais
longíquos do globo, necessariamente sobreviria uma crise devido ao crescente
desaparecimento de zonas não capitalistas.” (AHMAD, 2006, p. 73)

O tema da expansão imperialista na periferia da economia não capitalizada como os


países coloniais é analido pela autora em duas linhas: a primeira pela limitação da noção de
reprodução ampliada do marxismo clássico e os efeitos de empréstimos externos países de
capitalismo metropolitano.
Sobre o alargamento limitado da noção de reprodução ampliada do capital no
marxismo clássico, a autora reflete que na própria produção capitalista realizada na totalidade
de sua mais-valia e dedica a suas próprias necessidades a mais-valia capitalizada, excluindo
do processo a produção de mais valia em suas fases de capitalização intermedia. A autora
explica esta premissa mostrando um esquema marxista bastante didático sobre como funciona
a reprodução ampliada:

“A acumulação verifica-se sem que se tenha a mínima percepção, para quem e para
que novos consumidores se amplia cada vez mais a produção... O esquema
pressupõe esse caminho: a indústria carbonífera é incrementada para ampliar a
produção de ferro. Esta se amplia para aumentar a produção de maquinaria. Esta se
amplia para aumentar a produção de meios de consumo. Esta por sua vez se amplia
para sustentar o crescente exército de operários do carvão, do ferro e da maquinaria.
E, assim, em círculo ad infinitum conforme a teoria de Tugan Baranowski....O
esquema de Marx, considerado em si mesmo, permite de fato tal interpretação. A
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prova disso é que, segundo suas próprias e repetidas afirmações, Marx trata de expor
o processo de acumulação do capital total numa sociedade composta unicamente de
capitalistas e operários. As passagens que se referem a isso se encontram em todos
os volumes de O Capital” (LUXEMBURGO, 1970, p.282).

O seja, a mais-valia só é transformável em capital, porque o sobreproduto já contém


os elementos materiais de um novo capital, então, só podem ser transformadas em capital as
coisas aproveitáveis no processo de trabalho, isto é, os meios de produção, e as que podem
sustentar o operário (LUXEMBURGO, 1970, p.281). O que a autora se propõe ilustrar com
esse esquema é que segundo o próprio Marx, o progresso da técnica vai-se expressar no
crescimento relativo do capital constante em comparação como variável. Disso resulta a
necessidade de uma modificação constante na distribuição da mais-valia capitalizada entre c e
v.
Segundo Marx, como toda a ampliação da produção se verifica exclusivamente com
os próprios meios de produção e consumo elaborados de forma capitalista - não existem
outros centros nem formas de produção - nem existem tampouco consumidores além dos
capitalistas e operários de ambos os setores e, como, por outro lado, se supõe que o produto
total dos dois setores seja inteiramente absorvido na circulação para se atingir a acumulação,
conclui-se: a conformação técnica da reprodução ampliada aparece prévia e rigorosamente
indicada aos capitalistas na forma real do sobreproduto, ou, em outras palavras: a ampliação
da produção, segundo o esquema marxista, só se pode realizar, em cada caso, numa base
técnica de produção (LUXEMBURGO, 1970, p.291). Em uma palavra, a relação de meios de
produção determina a distribuição de mais valia capitalizada entre o capital constante e o
variável predeterminado pela relações reais de valor, e esta a sua vez determina de antemão, a
técnica dos períodos seguintes da reprodução ampliada.
Contudo, os efeitos de empréstimos externos dos países de capitalismo metropolitano
em países coloniais ilustram criticamente o esquema de acumulação marxista, pois a
reprodução ampliada não apena se expande nas relações de produção técnica esta se configura
na esfera de circulação entre os fluxos dos grandes capitais mundiais a periféricos ampliando
a configuração da expansão imperialista.
Segundo a autora a reprodução ampliada do capital é uma capitalização da mais-valia
anteriormente realizada enquanto os empréstimos ou as ações estrangeiras não são cobertos
pelas economias pequeno-burguesas ou semiproletárias. Em palavras mais simples significa
que as formas de acumulação de capital baseadas na exclusividade dos mecanismos de valor
pelo controle do meio de produção não são exclusivas, a elas se somam a circulação de
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capitais mudando a forma de acumulação atual, uma vez que as bases da transformação de
valores em capital dos países metropolitanos não tem similar algum com o atual campo de
acumulação na periferia.
O capital inglês que chegou à Argentina para a construção de estradas de ferro pode
ser do ópio índiano introduzido na China. Por outro lado, o capital inglês que constrói
estradas de ferro na Argentina não só tem origem na Inglaterra em sua pura forma de valor,
como capital monetário, mas também em sua forma material: ferro, carvão, máquinas etc. A
força de trabalho, a que propriamente consome o capital variável, é, na maioria dos casos,
estrangeira: são trabalhadores nativos submetidos aos novos países pelo capital do antigo, e
transformados em novos objetos de exploração. (LUXEMBURGO, 1970, p.375).
Mesmo entendido que por traz desta reflexão exista uma origem comum na relação
capital- trabalho e operários, a autora é aguda em alertar que no processo entre a primeira e
segunda revolução industrial do século XIX acontece uma ampliação na forma de acumular
valor. Uma vez que a fase imperialista da acumulação do capital, entendido como a fase da
concorrência mundial do capitalismo, “abrange a industrialização e emancipação capitalista
dos países atrasados a expensas dos quais o capital obteve sua mais-valia” (LUXEMBURGO,
1970, p.365). Assim, os métodos específicos dessa fase são “empréstimos exteriores,
concessão de estradas de ferro, revoluções e guerra” (LUXEMBURGO, 1970, p. 366).
Transformar as bases produtivas de maneira radical dos países dependentes é a
condição necessária para emancipação capitalista dos países economicamente dependentes
para destruir as formas de estado procedentes das épocas anteriores da economia simples de
mercado, e criar um aparelho estatal apropriado aos fins da produção capitalista. Esquema que
reúne contradições como fatores pré-capitalistas antiquados, batendo com a dinâmica
industrial capitalista. Isso determina sua força, mas ao mesmo tempo torna mais lento seu
curso vitorioso (LUXEMBURGO, 1970, p. 366).
Para tanto a contradição que leva os empréstimos exteriores para emancipação de
Estados que aspiram ser capitalistas parece ser condição obrigatória para expansão
imperialista dos Estados antigos e garantir o exercício de sua tutela sobre os modernos, para
controlarem sua economia e fazerem pressão sobre sua política exterior e sobre sua política
alfandegária e comercial. “São o meio principal para abrir ao capital acumulado dos países
antigos novos campos de investimento e, ao mesmo tempo, criar naqueles países novos
competidores; aumentar, em geral, o espaço de que dispõe a acumulação do capital e ao
mesmo tempo estreitá-lo”. (idem, p 367).
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Essas contradições do sistema de empréstimos internacionais são uma demonstração


clássica de até que ponto as condições de realização e capitalização da mais-valia se acham
separadas no tempo e no espaço. A realização da mais-valia só exige a difusão geral da
produção de mercadorias, enquanto sua capitalização exige, pelo contrário, o deslocamento
progressivo da produção simples de mercadorias pela produção capitalista. Situação um tanto
diferente do esquema de Marx sobre a acumulação sob reprodução ampliada na esfera técnica
de meios produtivos.
A autora ilustra este deslocamento em dois casos do emprego do capital internacional
na construção da rede de estradas de ferro mundial e a circulação de mercadorias na venda de
algodão de países centrais a periféricos. O primeiro em ascenso desde o ano 30 até 60 do
século XIX serviu para a difusão da economia de mercado como as estradas de ferro norte-
americanas e russas construídas com capital europeu, a diferença dos investimentos nestes
ramos na Ásia e África que serviram para aos fins da política imperialista, à monopolização
económica e à submissão política dos países atrasados ao capitalismo. Já no caso de artigos de
algodão sob o impulso da grande demanda ampliou-se a produção algodoeira inglesa que em
cinco anos de 1821 a 1825 ampliou-se em 40 milhões de libras esterlinas, o que levou a um
aumento de produção e levou aos Estados Unidos a comprar nesse período o dobro da
quantidade de mercadorias importadas em 1821.
Em um primeiro olhar parece contraditório comprar o dobro de produção em pouco
tempo, mas ao observar com atenção a resposta, segundo a autora, esta em que os próprios
capitais ingleses forneceram empréstimos para capitais norte-americanos para pagar as
mercadorias importadas pelos ingleses (LUXEMBURGO, 1970, p.368). Equação singela, os
próprios países periféricos compravam empréstimos para pagar as mercadorias adquiridas. A
expansão dos mercados, neste caso norteamericano, colaborou com a restauração da
manufatura inglesa em momentos de crise de distribuição econômica do país de 1818. Assim
foi como a administração Britanica despegou seus recursos para levar ocomércio inglês às
áreas mais longínquas do México, Colômbia, Brasil, Rio da Prata, Chile e Peru
(LUXEMBURGO, 1970, p. 369).
A forma de acumulação atual dos países que se incorporam as órbitas de capital
mudou em relação aos antigos países em seus processos de transformação em dinheiro do
capital. Para a autora, significa observar que o debate se deslocou em uma direção onde o
palco de disputa interna opera entre estados e capitais centrais com os periféricos no contexto
de expansão imperialista. A partir deste antecedente inédito a autora deixa preestabelecido a
relação imperialista pela expansão do capital na sua fase distributiva e não apenas técnica-
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produtiva de reprodução ampliada, com ela igualmente fica definida a distinção entre
Luxemburgo dos pensadores conservadores como Kautsky na abordagem sociopolítica do
imperialismo contemporâneo.
Com este recorte marca-se a segunda linha de interpretação sobre o desenvolvimento
do imperialismo clássico citado no início. Os defensores desta linha de pensamento se
distinguem de Luxemburgo ao igual que de Lenin que estavam ocupados pelas assimetrias e
desequilibro inter-impérios. Ao invés disso, Kautsky esta centrado mais na continuidade e o
equilíbrio destes campos que caracterizam as economias imperialistas como relações
simétricas entre os capitais dos países avançados e periféricos. Como se observa na obra O
Imperialismo e a Guerra, publicado em 1914, por Kautsky, o autor defende a cooperação
inter-estado para acumulação do capital. A o mesmo tempo que assinala a cooperação inter-
imperial sem desconhecer suas fraturas internas no cenário de dissensos e consensos.
“Não existe necessidade econômica para a continuidade da corrida armamentista
depois da Guerra Mundial, inclusive desde o ponto de vista da própria classe
capitalista, com a possível exceção de certos interesses armamentistas. Pelo
contrário, a economia capitalista está seriamente ameaçada precisamente por essas
disputas. Todo capitalista perspicaz deve hoje alardear seus companheiros:
capitalistas de todo o mundo uni-vos!” (KAUTSKY in CALLINCOS, 2001, p.5)

Ainda segundo Kautsky (apud FONTES, 2010, p. 109):

“é pela democracia pacífica, e não pelos métodos violentos do imperialismo, que as


tendências do capital para a expansão podem ser mais bem favorecidas”
(KAUTSKY, 1915, p. 70, apud LENIN, 1975, p.167), o que confortava a
possibilidade de um superimperialismo, um ultraimperialismo, no qual predominaria
a união e não a luta dos imperialismos do mundo inteiro, uma fase de cessação das
guerras em regime capitalista, uma fase de “exploração em comum do universo pelo
capital financeiro unido em escala internacional (KAUTSKY, 1914, p. 921, apud
LENIN, 1975, p.138)”.

O Intelectual russo, Nicolai Bukharin, publicou em 1915, a obra A economia mundial


e o imperialismo, quue responde a Kaustky ampliando a linha de pensamento ao sugerir outra
estratégia que marcaria a tendência do imperialismo em curso. É o único autor que
vislumbrou uma economia mundial como sistema de relações de produção, distribuição e
troca em escala global determinado pela internacionalização do capital o que sugere
compreender a relação capital imperialismo num permanente encruzamentos nacional de
capital, portanto aponta a nacionalização do capital em escala mundo. Segundo o autor o
imperialismo nasce das:
“...tendências do desenvolvimento capitalista-financeiro. O problema organizativo,
que envolve mais e mais ramos da “economia nacional” através da criação de
conglomerados e através do papel organizativo que cumprem os bancos, levou a
conversão de cada “sistema nacional” capitalista desenvolvido em um “trust
capitalista-estatal”. Por outra parte, o processo de desenvolvimento das forças
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produtivas leva estes sistemas “nacionais” a conflitos mais agudos em sua luta
competitiva pelo mercado mundial” (BUKHARIN apud CALLINCOS, 2001, p.5)

De maneira mais precisa Bukharin consegui mediar as novas tendências em curso no


inicio do século XX sobre a expansão do capital em escala imperial amplificando as teorias
clássicas marxistas que indicam que a competição por meio da exportação de capital é que
incentiva a rivalidade inter-imperial pela própria dinâmica da sobreacumulação do valor, a
essa condição inicial da teoria imperialista se soma a interdependência entre o capital
financeiro- estatal no contexto de disputa competitiva pelo controle de fluxos de mercadorias,
portanto, apontam a uma relação entre a esfera econômica e política uma vez que a primeira
está condicionada pela segunda na reprodução de valor e esta a sua vez esta condicionada pelo
manejo da hegemonia do Estado, onde certamente os aparelhos governamentais respondem a
apropriação dos interesses da classe dominante. (ALBO, 2006, p.34).
Dessa maneira estas caraterísticas marcam o rumo dos acontecimentos no contexto
imperialista que viria no período seguinte chamado pós-colonial .

Imperialismo na Guerra Fria, período pós-colonial (1945 -1990).

Esta fase começa com o processo de descolonização no contexto de pós-segunda


guerra mundial com a derrota da Alemanhã e Japão onde os estados europeus deixaram de ser
o eixo da política mundial, e marca o início de um processo de reconfiguração de poder na
orbita da acumulação internacional do sobrevalor. A Guerra fria surgiu do confronto entre os
vencedores de 1945 e originou uma nova modalidade de conflito interimperialista onde as
rivalidades territoriais e militares entre os estados foram enquadrados de forma bipolar
fazendo com que a política internacional perdesse a sua fluidez, pois os Estados europeus
foram enclausurados dentro de dois blocos de superpotências deixando para trás a competição
que ocorria entre uma pluralidade de grandes potencias que faziam alianças temporárias e
passíveis de se reconfigurarem de outras maneiras de acordo com os interesses das relações
exteriores de cada país. (CALLINICOS, 2010, p.13-14)
Outra particularidade do período de guerra fria foi que a competição interimperialista
não levou a nenhuma guerra geral entre as grandes potencias o que aumentou a rigidez da
política mundial privando o capital do principal mecanismo através do qual o sistema dos
Estados tinha se ordenado com a distribuição permanente do poder global.
A Politóloga Alemã-americana Hannah ARENDT, publicou em 1968, a obra
Imperialism. Nela a autora temporiza o processo do Imperialismo em duas etapas: primeiro o
processo imperial da expansão européia enquanto expansão do capital entre 1884 a 1945
13

caracterizado por autarquias altamente competitivas e fechadas direcionado a seus territórios


coloniais, exportações de matérias primas da periferia, em contradição com o fluxo livre de
capital e o livre fluxo de mercadoria o que levará ao segundo momento imperial, entre 1945 a
1970, onde acontece a substituição do imperialismo europeu pelo imperialismo norte
americano caracterizado por uma aliança global entre os países de capitalismo avançado. Nos
termos de Harvey esta aliança evitaria a sobreacumulação de capitais da década de 1930 e ao
mesmo tempo de se expandir internacionalmente pelo globo (HARVEY, 2006, p.111). Nesse
contexto é que surge a política de descolonização marcando o início da política pós-colonial.
As relações sócio-políticas mudaram marcando o limite da primeira fase do
imperialismo e a recente relação pós-colonial, realocando a posição entre colônia e centros
metropolitanos modificando as estruturas econômicas e redefinindo os baixos custos de
importação de capital capazes de reorganizar as forma de produção local, pois na esfera
política são instaladas nos países pos-coloniais administrações locais e burguesias
dependentes porem similares aos países centrais, “surge uma burguesia nativa que começa a
liderar a promoção de um espírito de nacionalismo idêntico ao que caracterizou o
desenvolvimento inicial do capitalismo nas nações hoje industrialmente adiantadas”
(SWEEZY, 1984, p.247). Portanto as relações criadas entre centro e periferia estiveram
caraterizadas pelo desgaste dos impérios na divisão territorial, pela sua fraqueza interna, sua
limitada re-acumulação de capital e sua baixa capacidade de competência na disputa de
mercados mundiais. Essa visão foi aprofundada pelos teóricos do intercambio desigual como
Andre Gunder Frank, Samir Amin e Hamza Alavi.
Em 1964, Hamza Alavi publicou o texto Imperialism Old and New, no Socialist
Register, com um titulo sugestivo o autor aponta uma tese que sintetiza aquele período de
economia pós-colonial ligada a novas formas de expansão imperialista. Segundo o autor,
desde 1960, o atual cenário leva a se ocupar pela transmutação do bloco hegemônico num
inédito tipo de expansão de capital, com tudo ligado a uma prática antiga de dominação como
continuidade, no sentido ontológico do termo, da prática de centralismo hegemônico desta vez
reatualizada com formas sutis e eficazes de subordinação, ponto que o autor alerta desde as
primeiras páginas do artigo. Ou seja, a dinâmica central da economia mundial não poderia ser
explicada pela teoria clássica do imperialismo caracterizada em seu momento colonial pela
expansão territorial e busca de novos mercados, pois a exportação de capitais como meio de
exploração de trabalho não é o foco do imperialismo pós-segunda guerra mundial, agora
representando meios para concentrar e aumentar investimentos internos para o país
14

metropolitano e buscando domínios de mercados mundiais regidos pela sua influência,


(ALAVI, 1964, p. 123-124).
Este princípio foi confirmado pelo autor no estudo do modo de produção colonial
indiano onde argumenta a tese que o fim do colonialismo não precipitou o fim do capital
monopolista, ao contrário disso, após a queda do colonialismo continuou existindo capitais
centrais e monopolizados, provocando trocas de desenvolvimento desigual intra-Estados de
capitalismo avançado, assim como nos países da periferia econômica o que torna superado o
momento colonial. (ALAVI, 1983, p.247). E como é de consenso entre os especialistas da
época esta relação sociopolítica navegou nas águas da assimetria onde num extremo estavam
os países subdesenvolvidos e na outro os países metropolitanos, iniciando um profundo
debate entre a teoria do desenvolvimento promovida pela Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe (CEPAL) e a teoria da dependência (DUARTE; GRACIOLLI,
p.6).
Com um olhar crítico a teoria do desenvolvimento apontava os efeitos da
dependência política economica da periferia no sistema mundial, uma correlação de força
desequilibrada, uma vez que a prosperidade do capital dos países de economia avançada
depende da pobreza do terceiro mundo pelos fluxos de capital, de circulação de mercadorias e
exportação de matérias primas passam destes últimos para os primeiros.
Desta maneira existia uma correlação entre subdesenvolvimento, dependência e
imperialimo uma vez que, o jogo estava centrado na manutenção da reprodução, apropriação
de capital e hegemonia de um poder central por outro marginal (FURTADO, 1995). O
destacado é que esta mesma relação esta vinculado ao silenciamento do tema do imperialismo
no mapa conceitual academico e na arena política da esquerda brasileira nas últimas quatro
décadas pelo efeito do próprio obscurecimento do debate de umas das linhas marxistas da
escola da dependência.
Palma , investigador do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de
Susse-inglaterra, publicou em 1979 os esboços de seu livro “La teoría de la dependencia: una
revaluación crítica”. Nele classifica os estudos da dependência, através da tradição clássica
marxista, dividindo-a em três fases a primeira seria do próprio Marx e Engels; a segunda dos
chamados clássicos do imperialismo, relacionada com o desenvolvimento do capitalismo em
áreas atrasadas do mundo e a terceira fase teria surgido nos anos cinqüenta, a partir dos
estudos de Paul Baran e Paul Sweezy, nas análises da escola da dependência.
Nessa linha Theotônio dos Santos (2000) classifica que na escola da dependência se
podem diferenciar três correntes: a primeira da crítica ou autocrítica estruturalista dos
15

cientistas sociais ligados à CEPAL que descobrem os limites de um projeto de


desenvolvimento nacional autônomo. Neste grupo se localizam inquestionavelmente Oswaldo
Sunkel e uma grande parte dos trabalhos maduros de Celso Furtado e inclusive a obra final de
Raul Prebisch reunida no seu livro O Capitalismo Periférico. A segunda a corrente neo-
marxista que se baseia fundamentalmente nos trabalhos de Theotônio dos Santos, Rui Mauro
Marini, Vânia Bambirra, Warren Baran, Anibal Quijano, Hinkelammert, Braun, Emmanuel,
Samir Amin e Warren Baran, assim como os demais pesquisadores do Centro de Estudos
Sócio-Econômicos da Universidade do Chile (CESO) A terceira a corrente de corte reformista
funcional Weberia representada por Fernando Henrique Cardoso e Faletto. E em posições
mais autônomas se localizavam pensadores do porte de Florestan Fernandes com uma postura
científico latino-americana que revela uma forte perspectiva transdisciplinar histórico-
sociologico ao se esforçar metodologicamente a integrar o funcionalismo de origem
durkheimniano, o tipo-ideal weberiano e a dialética materialista marxista talvez não tenha tido
os resultados esperados, mas impulsionou um projeto filosófico-metodológico que vai se
desdobrar na evolução de pensamento latino-americano.
Segundo Prado (2010) esta disputa de correntes levou justamente a construção de um
pensamento único sobre o tema da dependência baseado na perspectiva pelo ex-presidente e
sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Esta observação perspicaz do autor nos permite inferir
que ao se firmar um relativo desconhecimento das contribuições inscritas na tradição marxista
na teoria do desenvolvimento econômico do capital, na área da teoria imperialista se firmou
uma camada mais cinzenta ainda, restando apenas o proselitismo político acientífico e
ahistórico. O que ficou nessa conjuntura foi a existência de um não debate da teoria
desenvolvimento e imperialismo de corte marxista crítico, pois nas décadas de 1970 e 1980,
enquanto alguns livros de Andre Gunder Frank(1991) e todos os escritos de Vânia Bambirra,
Theotônio dos Santos e, sobretudo, Ruy Mauro eram proibidos pela censura da ditadura
militar, as idéias de Cardoso circulavam livremente pelo Brasil.
Como afirma o autor, esse amplo debate existiu e foi riquíssimo, repercutiu em
diversos intelectuais no mundo todo, gerou uma base teórica e histórica firme para construir
uma interpretação crítica do papel da América Latina dentro do sistema mundial capitalista e
do imperialismo, e claro, contribuiu para pensar caminhos políticos adequados de superação
das contradições características da condição periférica e dependente. Isso ocorreu na maioria
dos países da América Latina, pelo menos até o fim da década de 1970, mas no Brasil foi
diferente. Assim concordamos com Prado quando afirma que “Aqui, na verdade, houve um
não-debate, e em seu lugar existiu um boicote em relação às contribuições vinculadas ao
16

marxismo e à luta revolucionária latino-americana. Claro que para isso contribuiu a censura e
a perseguição política, mas também foi fruto de um sistemático trabalho de deturpação
intelectual” (PRADO, 2010, p.3-4) Se o autor coloca um peso maior no papel de Cardoso,
para nós é mais pertinente falar que a corrente reformista Weberia representada por Cardoso e
Faletto teve um lugar destacado. Importante destacar este ponto, pois para a maioria dos
autores da época as diferenças conceituais representavam a heterogeneidade entre estas
correntes, para Vânia Bambirra (2012) a desigualdade de trabalhos tem um foco
metodológico, para Celso Furtado (1995) o é foco econômico, para Theotonio do Santos
(2000) é sociológico.
A meta foi envolver aos países periféricos no circuito de acumulação internacional
levando a implantação nos anos 30 e 40 da indústria nos países dependentes e coloniais este
serviu de base para o novo desenvolvimento industrial do pós-guerra, cujo núcleo eram as
empresas multinacionais criadas nas décadas de 40 a 60. Esta nova realidade contestava a
noção de que o subdesenvolvimento significava a falta de desenvolvimento (QUIJANO,
1971) Assim, se a teoria do desenvolvimento e do subdesenvolvimento eram o resultado da
superação do domínio colonial e do aparecimento de burguesias locais desejosas de encontrar
o seu caminho de participação na expansão do capitalismo mundial; a teoria da dependência,
surgida na segunda metade da década de 1960-70, representou um esforço crítico para
compreender a limitação de um desenvolvimento iniciado num período histórico em que a
economia mundial estava já constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e
poderosas forças imperialistas (IANI, 1971).
A primeira tentativa de apresentar a teoria da dependência como uma escola de
pensamento veio talvez do artigo de Suzzane Bodenheimer, “Dependency and Imperialism”,
Politics and Society, n. 5, maio 1970, a autora propus um paradigma científico alternativo ao
“mainstream” que teve sua sequencia na África, onde Samir Amim, convocou uma reunião
em Dakar, em 1970, para produzir um encontro entre o pensamento social latino americano e
africano. Assim a teoria da dependência encontrou uma elaboração teórica em curso sobre o
desenvolvimento e produziu-se uma fusão bastante profícua (KAY, 1989)
Na América latina se avaliava que ao contrário das especativas formuladas pelos
teóricos de economia dominantes a divisão internacional do trabalho e a lei das vantagens
comparativas não permitiam que os frutos do progresso técnico fossem distribuídos de
maneira equitativa para todas as nações, o aumento de produtividade deveria necessariamente
ser acompanhado de diminuição dos preços (MAURO, 2007, p.166), ao invés disso, com o
aumento de tecnologia nos países industrializados os preços aumentaram desde 1870,
17

verificação que Prebisch utilizou para demonstrar a existência de um intercâmbio desigual


com tendência à deterioração dos termos de troca.
A agenda cepalina instrumentalisada a partir da teoria estruturalista do
subdesenvolvimento periférico, compunha-se do diagnóstico da profunda transição que se
observava nas economias subdesenvolvidas latino-americanas: tratava-se da passagem de um
modelo de crescimento primário-exportador ao modelo de desenvolvimento para dentro pelo
estimulo da restruturação industrial capaz de reorganizar a dinâmica dos mercados internos e
relocar os setores produtivos (IANI, 1971).
Após esta passagem, o esquema se desafia superar a tendência permanente à
deterioração dos termos de troca, que desfavorece os países exportadores de bens primários ao
transferir renda da periferia em direção ao centro a partir da implementação do Processo de
Substituição de Importações, e cujo resultado seria a superação da condição de
subdesenvolvimento relativo desses países, assim como a alteração estrutural das suas
inserções na divisão internacional do trabalho (DUARTE; GRACIOLLI)
Apesar do esforço conjunto do bloco hegemônico ao injetar um considerável volume
de recursos os resultados foram a incapacidade de reproduzir experiências bem sucedidas de
desenvolvimento em suas ex-colônias, ou no países latino-americanos, que apresentavam
taxas de crescimento bastante elevadas e estavam limitados pela sua dependência econômica e
política à economia internacional.
Carcanholo (2004, p.09) identifica três condicionantes histórico-estruturais da
situação de dependência. O primeiro seria a redução dos preços dos produtos exportados pelas
economias dependentes (produtos primários e com baixo valor agregado) em relação ao preço
dos produtos industriais ou com maior valor agregado importados dos países centrais, num
processo de transferência de valor (ou num processo de perda nos termos de troca). O
segundo seria a remesa de excedentes dos países dependentes para os avançados, sob forma
de juros, lucros, amortizações, dividendos e royalites, pela razão dos primeiros importarem
capital dos últimos. Por fim, o terceiro seria a instabilidade dos mercados financeiros
internacionais, geralmente implicando em altas taxas de juros para o fornecimento de credito
aos países dependentes periféricos, colocando os mesmos a mercê do ciclo de liquidez
internacional. O anelado crescimento econômico parecia fadado a acumular apenas
dependência a economia central, desequilibro inflacionário, taxas de cambio irregulares, taxas
decrentes em asenso e mercado interno desestimulado.
Suas propostas, além de pressupor a preservação das estruturas de poder existentes,
se mantinham fiel à idéia de desenvolvimento enquanto um continum, já que não considerava
18

desenvolvimento e subdesenvolvimento como aspectos qualitativamente distintos, mas apenas


como representações diferenciadas em termos quantitativos do processo histórico de
acumulação capitalista. Assim, os ideólogos cepalinos não estavam preocupados em resolver
os problemas resultantes do desenvolvimento capitalista que como já informou Sunkel (1967)
não tinha como ser de outra forma, pois esta baseada no pacto de poder, entre a nascente
burguesia industrial e a burguesia primário-exportadora movilizados especialmente nos temas
de política cambial e de créditos (SUNKEL, 1967, p25).
Os fatores de descapitalização, o incremento de déficits nas balanças de pagamentos,
e o circuito vicioso de empréstimos do capital extrangeiro, aumentaram a divida com os
países centrais, eles permitem exlicar o complexo quadro da crise que cruzou América Latina
e permitiu a Vania Bambirra em 1973 formular sua tese central sobre a impossibilidade de um
desenvolvimento autônomo dos países periféricos, como defendia CEPAL e que foram
absorvidos pelos partidos comunistas da época. (BAMBIRRA, 2012). As consequências na
esfera política são claras, as burguesias locais não tem condições de um desenvolvimento
autônomo nem menos ainda de enfrentar ao imperialismo. E pela diversidade de pensamentos
e escolas foram elaboradas diversas teorias na linha da dependência com focos metodológicos
dispares e na maioria das vezes antagônicos.
Contudo, estas disputas extrapolaram a diferença de confrontação acadêmica
metodológica nos corredores das universidades e centros de pesquisa elas operaram na esfera
política levando a inviziblizar as teorias neomarxistas de corte anti-imperialista da teoria da
dependência cujas implicações foram a obstrução das reflexões e contribuíram a manter o
debate fora da opinião publica (QUIJANO, 1971) cujos expoentes mais cristalizados foram
Rui Mauro Marini e Gunder Frank.
A fratura na forma de produzir, de acumular e distribuir entre a burguesia industrial e
a burguesia primário-exportadora levam a uma fratura na forma de acumular valor, ponto
chave na obra de Marini a Dialética da Dependência em que a grande contribuição da
América Latina ao capitalismo, está relacionada ao deslocamento do eixo de acumulação nas
economias industriais, da produção da mais-valia absoluta para a mais-valia relativa,
deixando esta de depender simplesmente do prolongamento da jornada de trabalho ou do
aumento da intensidade do mesmo, que constantemente levam a revolta dos trabalhadores.
Essa mudança qualitativa ocorre devido ao barateamento dos meios de subsistência que
chegam aos países industriais, o qual leva, necessariamente, à diminuição do valor da força de
trabalho. Significa, portanto, a diminuição do tempo de trabalho necessário para o operário
produzir seu salário, e reproduzir assim, suas condições de vida (MARINI, 2000). Em uma
19

palavra, a acumulação externa de capiais pelas sociedades dependentes levao leis que são
especificas, levão inevitavelmente a superexploração do trabalho. Cuevas responderá a Marini
que este movimento seria comum a todo o capitalismo, contudo concordamos com Banbirra
ao tratar este argumento do autor improcedente, pois a ideia de Marini não exclui a
superexploração do trabalho a países desenvolvidos mas nos países subdesenvolvidos este
fenômeno é mais permanente e sistemático Marini (2005).
O efeito dessa atual divisão do trabalho dará as bases para instalação de uma
burguesia industrial insipiente em alguns países e desafiará a tarefa de desenvolver apenas
etapas inferiores do processo de produção, convertidos apenas em produtores primários de
mercadorias e em mero mercado consumidor para os produtos de seus vizinhos
industrializados, uma vez que, as etapas superiores, dos produtos de maior valor agregado
como informática, alta tecnologia entre outros, são reservadas aos centros imperialistas.
Ao analisar este aspecto, Marini vai falar do surgimento de verdadeiros centros
subimperialistas na América Latina, que se associam à metrópole para explorar o controle
territorial e mercardos vizinhos, no contexto de internacionalização de capitais que “dotados
de relativa autonomia, ainda que permaneçam subordinados a dinâmica global imposta pelos
grandes centros. Como Brasil, Argentina, Israel, Irã, Iraque e África do Sul assumem, ou tem
assumido, em certo momento de sua evolução recente, caráter subimperialista (MARINI,
2000). Contextualizados no avanço tecnológico industrial do capitalismo avançado que apesar
dos ganhos, não abriram mão da superexploração do trabalho.
Tendencia que foi abordada por Mauro (2007, p. 169) uma vez que em 1964, quando
a ditadura militar se instalou no Brasil, o saldo anual das exportações era da ordem de 1,4
bilhões de dólares. A pauta era composta por 85,4% de produtos primários; 8,0% de produtos
semi-elaborados; e apenas 6,2% de manufaturados. Em 1984, quando os militares deixam o
governo, o país já exportava 27 bilhões de dólares por ano, com uma pauta profundamente
alterada: os produtos primários representavam 32%; os semi-elaborados 10,6%; e os
manufaturados 56%.
Para Cardoso (1981, p. 75-76) estes princípios de Marini são ingênuos na medida em
que as oportunidades de industrialização se dariam através da conjugação entre capital
nacional privado, capital internacional e Estado, sendo que a conjugação desses daria à
economia latino-americana uma margem de internacionalização que a colocaria nos rumos
certos do desenvolvimento com um caráter industrializante associado. Cardoso não nega o
papel subordinado da burguesia nacional ao transferir para o capital externo os setores
estratégicos da economia, ficando sob seu controle os setores mais subordinados, como bens
20

primários e de consumo não-duráveis, contudo para o autor tal fato é próprio do


desenvolvimento capitalista, no sentido mesmo em que este tem em sua evolução a condição
de concentração de renda e riqueza.
Ou seja, a distribuição de renda não seria um obstáculo ao desenvolvimento, porque
esta idéia teria como pressuposto a abertura ao capital externo, para suprir as necessidades de
divisas, quanto no de garantir os investimentos diretos, necessários à modernização da
estrutura produtiva, com foco na desregulamentação e flexibilização dos mercados, “o que, na
verdade, abriria as portas para a expansão da valorização de capitais na esfera financeira, em
detrimento do investimento produtivo” QUIJANO (1971), e perpetuaria a apropriação da mais
valia relativa nas sociedades periféricas, de forma cristalizada.
Cardoso (1981) analisa essa teoria de Marini desde uma ótica apenas como
intercambio desigual, pois para ele o problema de Marini esta localizado mais na distribuição
de mercadorias e valores. Contudo, como indica Prado (2010), Marini não apenas reflete
nesse campo pois o assunto de fundo é a transferência de valores das economias satélites as
metropolitanas que leva aos desequilibros de mudança na divisão social de trabalho mundial.
A interpretação de Cardoso pode surgir na idéia de Marini de que não é a super exploração do
capital variável de trabalho nos países satélites o que facilitou o incremento da mais-valia
relativa nas metrópoles, seria ao final a transferência de valor, ela oferece ferramentas de
compensação dos capitalistas nas economias periféricas, que se valeram da superexploração
do trabalho (CARCANHOLO, 2004).
Nessa linha de acontecimentos Prado (2010) continua ilustrando uma série de
interpretações confusas de Cardoso sobre as teorias dos neomarxistas, o autor questiona duas
afirmações, a primeira ― polêmica e a segunda discutível: a nova forma de dependência está
baseada na mais-valia relativa e no aumento de produtividade, e caracterização da atual etapa
da dependência mostra que existe a possibilidade de acelerar-se a industrialização nas
economias periféricas, redefinindo-se as bases da dependência. Ou seja, na primeira se opõe a
Marini sobre a forma de reprodução a exploração da mais valia absoluta requerem uma
delimitação, e a segunda a Gunder Frank sobre o desenvolvimento do subdesenvolvimento.
(PRADO, 2010, p 12).
Conforme Iani (1971) as constatações dos teóricos neomarxistas da crise da
dependência são evidentes, no caso de Frank (1991) na tese do desenvolvimento do
subdesenvolvimento não visa a impossibilidade do desenvolvimento do capital apenas se
desafia a entender o funcionamento da estrutura e desenvolvimento do capital em América
Latina, mas que por tras dele existe um profundo subdesenvolvimento dependente, não vamos
21

insistir nesse ponto porque já foi citado nas páginas acima. Apenas mencionaremos que a
análise se baseava nas contradições de exploração e apropriação desigual do excedente
econômico dos países centrais na periferia, o que marca o conteúdo de Frank a existência do
desenvolvimento capitalista em curso na região estava marcado pela dependência e a
subordinação (FIORI, 1993, p. 33)
Concorcadamos com Bambirra (2012) quando assume que estas confusões
conceituais provem da falta de compreensão analítica sobre a o termo do desenvolvimento
nacional autônomo, propor a posibilidade de alcançar esta via é supor que o capitalismo
central pode mover as potencialidadesnas sociedades da periferia determinadas pelo
subdesenvolvimento, exclusão, explorador e concetrador de riquezas. Por estas contradições o
esforço crítico da teoria da dependência nestes termo são frágeis, isso no contexto que a teoria
de Marini não passa apenas pela dialética da dependência, a teoria de Santos não se limita a
obra do novo caráter da dependência, e as críticas a este respeito despertou um campo de
disputa que acabou por obscurecer as publicações de estes autores censurados na época da
ditadura miliar no Brasil enquanto isso as teses de Cadoso e Falleto circulavam sem restricção
criando um discurso único sobre a teoria do desenvolvimento eliminando a teoria do
imperialismo como marco analítico.

Imperialismo Contemporaneo

Após o debate da teoria da dependência ficou em evidência a falta de uma estrutura


analítica clara e precisa sobre o imperialismo, e que se expressou numa prolongada ausência
entre as décadas de 1980 e 1990 nas discussões de forças políticas e intelectuais, uma vez que
nesse período até a linguagem cotidiana utilizada pelos meios de comunicação deslocou a
idéia para um eufemismo que foi empregado para indicar o processo do Imperialismo sem ter
que citá-lo: a chamada globalização. (BORON, 2007).
A falta de concretude desta categoria entre outros fatores levou a Giovanni Arrighi,
Andre Gunder Frank e Immanuel Wallerstein, a declarar em 1982 no texto Dynamics of
Global Crisis, organizado por Samir Amin a declarar a limitação da expansão imperialista, e
nessa obra conjunta os autores declaravam prematuramente o declínio do imperialismo norte-
americano como potencia hegemônica. Tal visão contradizia diretamente as relações
internacionais de poder geradas no mundo capitalista do pós-guerra tanto na capacidade dos
Impérios para manter seu domínio frente aos EUA em termo de hegemonia e como também a
capacidade de controlar suas rivalidades entre os países imperialistas. Assim, como também
22

existe consenso entre os especialistas no tema em analisar a supremacia norte-americana por


sobe o bloco europeu que se mantém até a atualidade (MÉSZÁROS, 2002, p.1088). A partir
dessa realidade se inicia a atual fase contemporânea do Imperialismo dos países de
capitalismo avançado.
O retorno do tema “reprimido”, usando o termo de Bóron (2007, p.460), se dá pelo
ressurgimento da discussão sobre o Imperialismo não somente na periferia do sistema
capitalista, mas principalmente nos Estados Unidos. As insistentes lutas de resistência
antiimperialista da periferia não conseguiram abrir o debate que somente foi retomado com a
dinâmica social desencadeada pelas políticas neoliberais e as contradições que a
preponderância imperialista impôs no cenário mundial.
Após a queda do muro de Berlim e da unipolaridade do poder político, os ideólogos
do império que pregavam, antes, ser de mal gosto utilizar a expressão imperialismo e
celebravam os valores republicanos e democráticos, agora exaltam sua condição de
imperialistas, deixando de ser uma censura pura ideológica para transforma-se numa Grande
missão civilizadora. (BORON, 2007; FOSTER, 2007). Várias figuras políticas e intelectuais
do mainstream deram suporte a essa exaltação com declarações de apoio ao novo
imperialismo. Exemplos podemos identificar numa publicação do conselho de Relações
Exteriores, em 2002, onde o professor de Geopolítica e Justiça Global na Universidade de
Georgetow, General John Ikenberry, diz:
“Sob a sombra do Guerra contra o terrorismo lançada pela administração Bush,
estão circulando com força nova idéias em relação a grande estratégia dos Estados
Unidos e da reestruturação do mundo unipolar de hoje. Tais idéias demandam um
uso unilateral, e inclusive preventivo, da força norte-americana, facilitando no
possível por coalizões voluntárias, mas em última instância não constrangidas pelas
regras e normas da comunidade internacional. Levadas a extremo, estas noções
formam uma visão neo-imperial no qual os Estados Unidos se atribuem o papel de
fixar os parâmetros, determinar as ameaças, usar a força, e administrar a justiça em
escala globa. ( IKEBERRY apud FOSTER 2007)

Nesse contexto de emergência do termo imperialismo resignificado pelos ideólogos


do sistema dominante e dos vinte anos de quase silêncio sobre o tema pelos críticos do
império e setores reformistas Weberianos pos- teoria da dependencia é que surge nos Estados
Unidos, o termo imperialismo como a síntese da complexidade da nova realidade, a tese de
Michael Hardt e Antonio Negri no Livro Empire, publicado em 2000 pela Harvard University
Press. (FOSTER, 2007, p.447; ALBO, p.156; BORÓN, 2007, p.462), que marcará os rumos
do debate instalando numa nova fase do discurso único. Segundo os autores da polêmica
interpretação do Império mundial, o imperialimo norte-americano culminou com a Guerra do
Vietnã (1967); e, a Guerra do Golfo (1991) foi realizada “não como uma função de suas
23

próprias motivações nacionais [dos Estados Unidos], mas sim em nome do direito global...”
significando para os autores que a força militar mundial dos EUA opera não como um
interesse imperialista, mas sim como um interesse imperial em função dos interesses de um
país central sem centro e sem fronteiras. Utilizando conceitos flexíveis e acreditando na
estrutura de poder diluída os autores se esforçaram em afirmam que “o imperialismo acabou”
(HARDT; NEGRI, 2001, p. 14).
A transição para o Império surge do crepúsculo da soberania moderna. Em contraste
com o imperialismo, o Império não estabelece um centro territorial de poder, nem se
baseia em fronteiras ou barreiras fixas. É um aparelho de descentralização e
desterritorialização do geral que incorpora gradualmente o mundo inteiro dentro de
suas fronteiras abertas e em expansão. O Império administra entidades híbridas,
hierarquias flexíveis e permutas plurais por meio de estruturas de comando
reguladoras. As distintas cores nacionais do mapa imperialista do mundo se uniram
e mesclaram, num arco-íris imperial global. (HARDT; NEGRI, 2001, p. 12-13)

Nessa linha de pensamento o imperialismo desaparece junto com o Estado-nação e


no capitalismo contemporâneo surge uma nova lógica de poder: o Império. A tese que se
desprende da citação acima indica que atualmente, as grandes corporações “estruturam e
articulam territórios e populações. Tendem a fazer dos Estados-nação meramente
instrumentos de registro de fluxos de mercadorias, dinheiro e populações que põem em
movimento” (HARDT; NEGRI, 2001, p. 50). O Império, ao suprimir o imperialismo, não
acabou com as relações de exploração. Diferentemente: “hoje quase toda a humanidade é, em
certa medida, absorvida pelas redes da exploração capitalista e a elas subordinada. (HARDT;
NEGRI, 2001, p. 62).
Com isso se inicia um intenso e longo debate contemporâneo entre os pensadores da
reconfiguração de poder em curso num contexto denominado “novo imperialismo”. Contudo
nesta estapa a dissolução de centros hegemônicos, nem o poder do estado desapareceu. Não
aconteceu nenhuma nem outra coisa, o poder do Estado, a hegemonia norte-americana não se
descaracterizou como império e nem as extensões dos blocos imperialistas emergentes
aconteceram. A internacionalização do capital durante o neoliberalismo fez surgir novos
padrões e contradições no mercado mundial e provocou mudanças na institucionalização do
poder estatal, na organização dos aparatos estatais e nas relações entre os Estados. (ALBO,
2007, p.128)
O imperialismo depois da guerra fria permitiu o regresso a um mundo política e
economicamente multipolar. O rompimento do estalinismo foi importante na história mundial
precisamente porque rescindiu a rígida divisão bipolar do mundo característica do pós-guerra,
onde, a partir desse fato, voltamos a um tempo de concorrência inter-imperialista mais fluída
24

com mais de duas grandes potencias dominando a cena econômica e política, diferentemente
do período da guerra fria onde eram somente duas superpotências bipolarizando o mundo.
Também destacamos que a expansão do aparato militar dos EUA durante esse período deu a
classe dominante da sociedade capitalista de outros países a oportunidade de desenvolver-se
economicamente nos espaços onde os norte-americanos deixaram abertos com o seu vísivel
descenso econômico fortalecendo o caráter multimendisional da esfera econômica mundial e
em contrapartida uma unipolaridade bélica global resultante da liderança tecnológica militar
dos EUA para suprir a perda de capacidade de controle da sobrevalorização do capital e o
aumento da interdependência desigual entre os capitais mundiais. (CALLINICOS, 2001)
A característica do período de neoliberalismo obrigou a estreitar laços políticos e
econômicos dentro do bloco de capitalismo avançado, intensificando as relações de
dominação em termos de subordinação geopolítica criando três zonas geopolítico-economicas
pela marginalização com grande variedade de arranjos organizacionais como a integração da
EUA nos acordos de comércio dos vínculos comerciais de subcontratos no leste da Ásia
organizados pela preferência econômica da América do Norte. (ALBO, 2007, p.128)
A internacionalização econômica durante o neoliberalismo esteve marcada pela
competição entre os principais poderes capitalistas pela presente interpenetração das empresas
capitalistas e pela interdependência política dos estados capitalistas. O imperialismo
contemporâneo acabou marcando a tendência para a expansão do capital sendo uma condição
para sua internacionalização e valorização interna. Portanto a acumulação de capital depende
estritamente da centralização e da expansão do estado e subsequentemente levando consigo o
desenvolvimento desigual entre os estados hegemônicos e ao mesmo tempo a relação de
dominação do estado e o mercado mundial. Este debate toma outro curso instalado pelo
processo da chamada globalização que analisa a expansão do capital sem tratar a oposição
entre as trajetória de poder dos EUA e a justaposição entre rivalidade e unidade entre impérios
e inter-impérios. (ALBO, 2007, p.130)
Para Harvey (2006) o processo de neoliberaismo é a expressão da crise interna do
capital de sobre acumulação pela queda da taxa de lucro. Estas crises de expansão como
excedente de capital e força de trabalho pareciam co-existir sem haver rentabilidade na taxa
de valor, portanto, para o autor os ajustes relocalizados pelo capital pareciam ser
deslocamentos territoriais temporárais em permanente contradição o que permite entender a
visão do autor como uma posição geográfica de ajustes espaço-temporal do capital
imperialista mundial. Essa idéia de ajuste do capital no espaço temporal vai tratar o tema da
25

sobreacumulação no território através de seus instrumentos como aumento de excedente de


trabalho aumento de desemprego e aumento de capitais (HARVEY, 2006, p.96).
Por tanto aumenta o volume de mercadorias de estoques o que obrigaria a vender
com perdas, assim os excedentes seram absorvidos em mercados futuros ou em mercados
internos, seguidamente este investimento desequilibrado gera excedentes e trabalho
acumulado que pelo seu próprio movimento interno precisam de mediação institucional capaz
de aumentar o volumem de créditos. Resultado dessa assimetria produção-distribuição é o
capital fictício que, segundo MOSELEY (2008) é maior que o consumo atual para ser
distribuídos em gastos internos do estado como infraestrutura, educação. Assim temos um
resultado inato desta lei de valor com capitais intangíveis, se estes gastos públicos resultam
ser improdutivos com baixa taxa de lucro, então temos um aumento de sobreacumulação de
capitais destes setores e seu aumento de sobrevalorização de ativos, o que levaria uma
dificultade para pagar a dívida adquirida. (DUMÉNIL, 2003).
A contradição surge porque os novos espaços dinâmicos de acumulação de capital
geram excedentes que devem ser aborvidos na expansão geográfica criando assim pólos
geográficos de desenvolvimento diferenciados dentro dos países de economia avançada.
Todos os países que aderiram ao desenvolvimento do capitalismo atual inclusive os que
tiveram sucesso recentemente, tiveram a demanda de encontrar um ajuste estrutural espaço
temporal para seu capital sobre acumulado. Isso explica a rapidez com que China, Cingapura,
Taiwan passaram de receptores líquidos a exportadores líquidos. (HARVEY, 2006, p.101).
Assim, esses territórios numa rápida corrida devem se adaptar a pressões internas de
seus próprios ajustes espaço temporal para o aumento de seu capital sobre acumulado.
Situação que se extende para América Latina e Europa oriental, que é explicável em boa
medida pelo dólar como moeda de reserva local istalados nos diferentes países e que permite
ao imperialismo norteamericano aceder a volumens de recursos poupados a grande escala e
igualemente absorve o capital excedente do leste e sudeste asiático, um duplo conferido aos
EUA com o aumento da divida do dólar. (HARVEY, 2006, p.107)
Esta interpretação geográfica da teoria imperialista levou ao autor a redefinir a noção
de acumulação originária da teoria clássica de Marx entendida como o lugar de acumulação
de mais valia em uma dimensão estritamente econômica cuja fase se expressa entre capital e
trabalho, seja na fase de mais valia relativa a absoluta ou em mercados e circulação. A
novidade do Autor é considerar este processo de acumulação de valor como de
sobreacumulação, já vista por Marx no século XIX, contudo, para Harvey, Marx como
Luxemburgo analizavam este processo de acumulação originaria como um processo anterior
26

ao capital por tanto estagnado, ao invés disso o autor o analisa como um processo continuo e
permante dai a noção de espoliação ampliados nos termos geográficos (HARVEY, 2006) mas
os princípios de acumulação por espoliação entendido como apropriação foi já descrito por
Lênin ao graficar a depreciação de capitais e destruídos por meio de inflações nos países
centrais aumentando o fraude e o roubo-espoliação de ativos.
Esta visão leva a uma naturalização do processo de sobreacumulação e marca o
elemento central na conformação de um inédito corpo imperial. Capitais dominadas
territorialemtente por um centro hegemônico se incluem em práticas imperialistas na bsca de
soluções para problemas de sobreacumulação por meio do ajuste espaço- temporal. Em
termos de Peter Gowan os EUA não eram dependentes de exportações, afrontavam abertura
para outros mercados, incentivando re-aranjos espaço temporal extra-território como
intraterritórios aliados a sistemas interestatais. Aumentando a aceitação à subordinação aos
EUA desordenada e assimétrica no interior dos países de capitalismo avançado, neste caso
Japao, Inglaterra, China entre outros (WENT, 2001).
Cammarck (2006) analisa que a atual característica de dominação imperialista estaria
condicionada pela reorganização do Estado já que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco mundial (BM) determina que a competitividade fortace aos Estados locais e a sua vez
estimule a acumulação dos países periféricos. Tornando a competicição internacional uma
característica inédita do atual processo de dominação neoimperialista baseada na distribuição
de poderes entre os países de capitalismo avançado e ao mesmo tempo subordinada a
hegemonia da administração Washington. A determinação das grandes corporações torna
problemática esta atualizada foma de dominação interimperialista pela promoção da
competitividade internacional, com tudo é a única saída viável dos EUA para preservação e
controle da mesma.
Este pressuposto é importante por dois aspectos o primeiro indica desde uma ótica
política econômica a relocação da linha marxista clássica da luta interimperial entre os estados
e o capital central pelo contole hegemônico imperialista, pois ao invés disso a estratégia atual
é a redistribuição de poder entre o capital central. O segundo, assinala a estratégia da
competividade como instrumento para controlar a crise interna da perda de capacidade dos
governos de gerenciar as políticas de economia interna e restituir a hegemonia perdida pelas
burguesias nacionais. Podemos descatacar três aspectos no reordenamento estatal, a
internacionacionalização da competividade para media a produção do valor e a circulação
interna.
27

A austeridade competitiva e a internacionalização do Estado marcado pela


reorganização liberal, gera na realidade uma ilusão de competividade uma vez que esta
estruturada na armadilha do baixo valor agregado que não permite a odernização industrial,
como é o caso dos Investimentos externos diretos IED, eles provocam um derramento da
economia e desequilibros no serviço na competitividade distribuídos na economia mundial na
plataforma de exportação a baixo custo como no caso de artigos de consumo automobilístico
ou imobiliário assim américa latina se abrea novo mercados num cenário de diminuição de
vantagem comparativa. Então o ciclo vicioso da formula intercificar a competividade
aumentando o compromisso da orgazniação dominada pelo capital avançado, irradiando uma
cultura competitiva a conjunto do sistema global dos Estados (CAMMARCK, 2006, p.294).
Esta situação reflete na baixa de competividade na América Latina nas últimas duas décadas,
das vinte economias da região apenas duas estão no padrão macroeconômicos acima da media
Costa Rica e Chile e que tiveram seu pico nos anos 2003, em razão da prioridade de estava
focada em investimentos internacionais a diferença do Leste Asiatico em que os
investimentos estavam localizados em ativos locais criando uma política estável de
competividade.
O assunto indica que o papel de liderança dos EUA esta em xeque no atual cenário,
uma vez que, não pode eliminar a contradição do pocesso de acumulaçao, pois o discurso de
competição choca com a supremacia imperial do mesmo, marcado pelo próprio protecionismo
dos EUA pelo FMI, levando tensões entre os blocos hegemônicos hoje pelo manejo do
controle especialemte entre União Européia e o governo norteamericano (BURSTYN, 2006 ,p
46). Isto porque a reforma da legislação bancária para disciplinar mercados estava
condicionada pelo IDE cuja base permitia garantias para adquisição de empresas protegiadas
do controle extrangero ocorreu sob forma de fusões e adquisições e não investimentos novos
dando o controle sob novas áreas de produção mas não necessariamente expandindo-as,
remodelando o regime de governo e Estado pelo novo constitucionalismo neoliberal, situação
que criaria mais conflitos com capitais mais flexíveis.
Para tanto a política de competitividade do FMI tem direções mais complexas rumo
ao fortalecimento do Estado e o apoio a criação de capital competitivo pela ação da burguesia
no mundo capazes de exercer hegemonia em vez de manter o poder das elites centrais, isso
não significa perder exclusividade apenas relocar o poder administração para a reprodução
nacional da lógica de acumulação valor local e regional, para aumentar as relações de capital
ao longo de todo o mercado mundial e conter os antagonismos internos (CAMMARCK, 2006,
p.295).
28

Especialmente quando o sistema de liquides do mercado de capitais dos EUA em


termos de dívida externa é insustentável, como indica que os IDE passaram de 2003-2005 e 8
trilhoes dólares de ativos financeiros fruto do déficits na balanaça de pagamento que atingiu
cerca de 5% de PNB a diferença de 1960-1970 onde o superávits da Balança de pagamento
era de 60 bilhões de dólares. O assunto é como manter a confiança dos investidors externos
quanto a dívida fiscal piora no governo norteamericano num contexto geopolicamente
militarista com exuberante gastos militares para controlar o denominado arco da instabilidade,
que vão desde país em conflito na America latina, Oriente meio, Leste asiático, Sul da Ásia,
Filipinas e indonésia.
De igual maneira para Burstyn (2006, p.57) outro limite da capacidade imperialista
dos EUA é a emergência dos países em desenvolvimento como China, Brasil e Índia na
medida em que criam um bloco de cooperação para reduzir as vantagens dos EUA e UE na
liberação de comércio e produção agrícola a escala protegiada pelo centro, fatores que
relocam a discussão onde a dominação imperialista contemporânea não pode ser reduzida
apenas a um país hegemônico, contudo os países de capitalismo cedem sua liderança a atual
administração norteamerica. Que por sua vez estes fatores tencionam as estratégias de
competividade a escala na medida em que, desequilibrariam as fortas centrípetas de
redistribuição de poder desse atual ordem imperial e coloca numa situação imolizada a
administração norteamericana para enfrentar os antagonismos internos de dominação criada
por ele mesmo e pelo atual modelo neoliberal processo que esta em curso.

Considerações finais

A transição do conceito do imperialismo como um campo próprio do marxismo


clássico desde final do século XIX e posteriormente aproriado pelos setores que incentivam o
atual processo de acumulação de capital nas mudanças das sociedades contemporâneas no
início do século XXI, provocou mutações e espaços cinzentos na aplicação do termo,
obstruindo a compreensão das diferentes visões em disputas dentro e fora do âmbito político e
acadêmico, onde o resultado mais imediato do processo foi a perda de conteúdo científico
ficando apenas sua expressão instrumental quanto suporte partidário doutrinário. Este trabalho
teve o intuito mais prático que acadêmico voltado a contribuir na reflexão que hoje é trabada
na disputa de classe. Por essa razão, se considera indispensável aprofundar as análises sobre o
tema, sem escamotear as contradições que se multiplicam. Assim, é preciso enfrentar óbices e
contra argumentos, para além das resistências que inéditas e complexas situações envolvem.
29

Cabe dizer que este trabalho forma parte de um crescente esforço de recuperação e difusão do
pensamento crítico latino-americano onde as teorias imperialistas foram um dos pontos mais
altos.
O tema é relevante, pois parte do argumento que sujaz permanecer ao imperialismo
imutável ao longo de quase um século. As lutas pela descolonização teriam produzido efeitos
para além das subcolonizações, igualmente a multinacionalização e os conflitos interimperiais
de outrora que conduziram a duas guerras mundiais envolvendo países com base de
dependência econômica, dando transição a uma outra possibilidade a atuação imperialista
mediado pelo exercício e a cooperação entre os países de capitalismo avançado no contexto
de aliança trilateral Asia, América do Norte e Europa. Este fenômeno que se extende nas
últimas três décadas teve seu ponto alto nos primeiros anos deste presente milênio onde as
tendências teóricas levaram a supor a dissolução de um poder central uma vez que o poder se
encontrava distribuído nos espaços do capital metropolitano instalando uma fase do
denominado novo imperialismo, e como é de supor, este princípio superado por Albo (2006) e
Panitch e Gindim (2006), apenas por mecionar alguns, analizam que pelo contrário o poder
central se reorganizou tanto na sua esfera economia como política estatal.
O que se pretendeu em parte neste trabalho é que abordar o fenômeno do
denominado neoliberalismo a partir das reflexões acima colocadas permite compreende-lo
como forma de poder social e de relações atuais de classe incorporados ao mercado mundial,
o fenômeno não deve ser reduzido aos capitais nacionais ou abordado apenas desde uma ótica
natural da lei de mercado mundial ou como uma imposição do modelo norteamericano sobre
os modelos europeus ou do leste asiático, mais bem deve ser assumido como parte do
denominado imperialismo contemporâneo daí a justificativa deste artigo porque nos termos de
Albo (2006) este quadro opera pelo consentimento e subordinação dos própios blocos
hegemônicos asiáticos europeus.
Mas como foi indicado por Harvey (2006) esta nova articulação entre capitais
hegemônicos opera pelo controle territorial obrigados a relocar um ajustes espaço-temporal
interno em cada país para assim se localizar numa nova posição na arena do capital
imperialista mundial. O que não significa evitar o aprofundamento da característica desigual
entre estas nações e ao mesmo tempo com outras nações periféricas, porém nesta nova relação
é intensamente combinada da expansão do capital-imperialismo contemporâneo e das
modalidades históricas de incorporação subalterna de retardatários, sobretudo ao final da
virada de século XX. A relação entre países periféricos e capital-imperialismo
comtemporaneo, à luz do panorama histórico atual, exige uma análise profunda das formas de
30

conexão intercapital-imperialistas atualmente em curso, assim como as novas modalidades de


contradição que implicam, tanto no âmbito das possibilidades políticas internas, nacionais,
quanto no âmbito do papel dos setores subordinados a nível regional, nacional e internacional.
Isso porque a articulação com que o imperialismo contemporâneo opera esta se
desenvolvendo em areias movediças dos desequilíbros dos IEDs e da doutrina da
competitividade, ambas sintetizam esse deslocamento de poder o que torna o
desenvolvimento deste imperialismo contemporâneo mais inestável como indica o desgaste de
liderança dos EUA deste bloco hegemônico e a própria disputa interna, porém controlada,
entre os países de economia avançada pela quota de responsabilidade na administração desse
bloco imperialista inclusive o incentivo ao fortalecimento das burguesias locais de cada país o
que torna o quadro competitivo mais acirrado e torna mais frágil a manutenção da mesma dos
países hegemônicos especialmente os EUA. Elementos que já foram colocados no item
anterior contudo vale a pena lembrar como ilustração deste cenário que segundo no ano de
2006, a exportação de capitais como investimento estrangeiro direto (IED) saindo do Brasil
aproximou-se da cifra de US$30 bilhões e superou o montante de entrada de IED proveniente
do exterior no mesmo ano. “Em 2006, pela primeira vez, os fluxos externos de IED
ultrapassaram os influxos de IED, sinal de que as empresas brasileiras estão aprofundando seu
compromisso para se tornar empresas globais.” (RAMSEY e ALMEIDA, 2009, p.15)
Os efeitos deste processo foi espandir e limitar os alcances da categoria do
imperialismo que pode servir como instrumento para enfrentar conceitualmente as teorias do
início do século XXI que pregrava a morte do império norteamericano, e, que tem uma
sequencia histórica-societária como aconteceu na época da superação do termo no contexto
pós-colonial no cerne do debate dos teóricos da dependência.
Se bem aconteceu uma superação ao debate de disputa interimperial advindos dos
clássicos marxistas o termo do imperialismo foi obscurecido pela disputa acadêmica poltica
entre um bloco conservador Weberiano encabeçado por Cardoso e o setor neomarxista que
apontava que nas trocas desiguais entre o capital e periferia como fórmula da teoria do
desenvolvimento estava mediado em realidade a ação combinada da expansão do capital e do
imperialismo que marcava a incorporação retardatária das burguesias locais na rota da
dependência subalterna, ou seja, a importante contribuição de Gunder Frank e Mauro Marini
no processo foi que o que existia de dependência era na verdade a relação dependência do
capital local ao imperialismo em asenso. Porém construções teórica no Brasil no contexto de
ditadura e a emergência do discurso único da teoria da dependência autorizada pela ditadura
militar provocou o esquecimento do conceito e a obstrução desta. Então veio uma sequencia
31

histórica entre o silenciamento do conceito no período 1960-1980 e uma amplitude do termo


imperialismo difícil de manejar no período posterior a 2000. Uma sequência de quatro
décadas de interpretações difusas de difícil classificação do termo teórico do imperialimo e
como se afirma neste artigo como tal se torna complexo aplicar-lo na prática política.
Enquanto isso, como afirma Albo (2006) tanto o velho imperialismo da época
desenvolvimentista quanto o imperialismo comteporâneo da era neoliberal continuam
reduzindo o consumo interno, sem ajustar os déficits comerciais, continua acumulando pela
mais valia relativa e se reduz o consumo dos pobres e os trabalhadores para melhorar a
competitividade internacional por enquanto as poupanças e ativos mundiais fluem para
financiar a eficiência dos consumos internos do bloco imperialista em sua totalidade.

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