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Boletim da

Sociedade Brasileira
de Meteorologia ISSN 1676-014X
vol.29, no.3, nov. 2005

A Meteorologia
e a Aeronáutica
O Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia (BSBMET) é uma publicação quadrimestral da SBMET
(www.sbmet.org.br), com tiragem de 1.000 exemplares. O BSBMET aceita colaborações, na forma de artigos
originais de divulgação de assuntos técnicos, científicos ou profissionais e reproduções de matérias de interesse
do Corpo Social, desde que não protegidos por direitos autorais, ou mediante autorização expressa do detentor
destes direitos.

DIRETORIA EXECUTIVA PARA O BIÊNIO 2005/2006

Presidente: Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva Vice-Diretora Financeira: Anne Moraes
Vice-Presidente: Augusto José Pereira Filho Diretora Científica: Teresinha de M. B.S. Xavier
Diretora Administrativa: Marley C. de Lima Moscati Vice-Diretor Científico: Manoel Alonso Gan
Vice-Diretor Administrativo: Nelson Jesus Ferreira Diretor Profissional: Alfredo Silveira da Silva
Diretor Financeiro: Isimar de Azevedo Santos Vice-Diretora Profissional: Ana Lúcia F. Macedo

CONSELHO DELIBERATIVO

Efetivos
Romísio Geraldo Bouhid André – Presidente Halley Soares Pinheiro Junior
Elza Correia Sucharov José Antonio Marengo Orsini
Francisca Maria Alves Pinheiro Luiz Augusto Toledo Machado
Francisco de Assis Diniz Maria Luiza Poci Pinto
Valdo da Silva Marques
Suplentes
Gerhard Held José Carlos Figueiredo José Marques

Conselho Fiscal
Heloisa Moreira Torres Nunes – Presidente Vera Aldreida Malfa Pereira

Editor Responsável Editores Associados


Marley Cavalcante de Lima Moscati Augusto José Pereira Filho –IAG/USP (apereira@model.iag.usp.br)
INPE - Prédio da Meteorologia, Sala 26 Luiz Augusto T. Machado - CPTEC/INPE (machado@cptec.inpe.br)
Av. dos Astronautas, 1758, Jd. da Granja Manoel Alonso Gan (alonso@cptec.inpe.br)
12.201-970 – São José dos Campos, SP Nelson de Jesus Ferreira (nelson@cptec.inpe.br)
marley@cptec.inpe.br Teresinha de Maria B.S. Xavier – UFC (txavier@secrel.com.br)

Grupos de Trabalho:
Setor de Normas e Legislação: Alfredo Silveira da Silva (alfredo@meteoro.ufrj.br)
Setor de Divulgação e Marketing: Marley Cavalcante de Lima Moscati (marley@cptec.inpe.br)
Colaboradores desse número: Rubens Junqueira Villela (rvillela@usp.br), Gerhard Held (gerhard@ipmet.unesp.br)
e Paulo A. S. Escada (escada@cptec.inpe.br).

Boletim da
Sociedade Brasileira Fotografias:
de Meteorologia EXPEDIENTE
1. Marcelo Cavedon Presti
1 Coordenação: Marley Cavalcante de Lima Moscati
A Meteorologia 2. Carlos Costa, cedida pela
2 e a Aeronáutica
Revista Aeromagazine Projeto Gráfico e Prod. Gráfica: Graftipo Ltda e DigitalPress
3 3. Carlos Costa, cedida pela Capa: DigitalPress
8 Revista Aeromagazine Impressão: Graftipo Ltda
4
4. Cedida pelo COMAER
5. Divulgação DASSOULT
Revisão Editorial: Marley Cavalcante de Lima Moscati.
5
6. Cedida pelo COMAER ISSN 1676-014X.
Distribuição dirigida e gratuita
6
7. Marcelo Cavedon Presti
7 8. Bc. de Imagens (photos.com) Distribuição dirigida e gratuita
EDITORIAL

É com grande satisfação que lançamos este terceiro e último número do Boletim da SBMET publicado nesse ano.
O tema “A Meteorologia e a Aeronáutica” nos remete a uma ciência fascinante, como bem destaca a matéria do
Dr. Ozires Silva, um expertise em ciência aeronáutica e grande usuário da informação meteorológica. Entretanto,
apesar dos avanços tecnológicos e investimentos, a área é carente de trabalhos científicos, como destaca em sua
matéria Cristina Foggaccia, meteorologista da INFRAERO, onde abre o leque de tópicos de pesquisa de interesse
para a área operacional.

No Brasil, a atividade de Meteorologia Aeronáutica é de competência do Sistema de Controle do Espaço


Aéreo (SISCEAB), sob a responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). A matéria
de Carlos R. Henriques e Martim R. Matschinske descreve a estrutura, atribuições e competência dos órgãos
mencionados, destacando suas importâncias no contexto nacional e internacional, enquanto Mauro Lehn detalha
o trabalho dos meteorologistas que atuam no CMA-1, órgão operacional do SISCEAB. A matéria de Rosa F. C.
Marques e Gilberto F. Fisch descreve e destaca a importância da pesquisa meteorológica para apoio das atividades
da Divisão de Ciências Atmosféricas (ACA) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), Centro responsável pelo
projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes brasileiros. As contribuições do Sistema de Vigilância da
Amazônia (SIVAM) e do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) para a navegação aérea na Amazônia legal
brasileira são temas da matéria de Ricardo L. G. Dallarosa, Renato C. Senna e Jaci B. Saraiva.

Vários sistemas e fenômenos meteorológicos têm sido apontados como os responsáveis pelos acidentes e
incidentes aeronáuticos ocorridos no mundo. Essas questões são apresentadas numa matéria que traz estatísticas
de acidentes aéreos associados com condições atmosféricas adversas e como o projeto dos sistemas das aeronaves
evoluíram de forma a garantir a segurança dos vôos. Esse número também inclue artigos analisando casos de
acidentes aéreos causados por condições meteorológicas adversas, tais como windshear, Cumulunimbus (Cbs)
embutidos e ondas de montanhas. Há, ainda, informações sobre o novo produto de satélite de caráter operacional
desenvolvido pelo INPE/DSA relacionado ao monitoramento de descargas elétricas atmosféricas e sua associação
com a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala, notícias sobre algumas atividades da SBMET realizadas
nesse ano e sobre outras em andamento, a agenda de eventos, e muito mais. Confiram!

Aproveitando, informo-os que as atividades realizadas nesse primeiro ano de gestão da DE serão discriminadas
no Relatório Anual de Atividades (RAA), a ser apresentado no próximo mês durante a Assembléia Geral Ordinária
da SBMET e, posteriormente, divulgado no Portal da SBMET (www.sbmet.org.br), para conhecimento. Cientes
de que todas essas realizações são frutos do trabalho conjunto da Diretoria Executiva da SBMET, do Conselho
Deliberativo, do Conselho Fiscal e da parceria com vários colaboradores institucionais e de empresas públicas
e privadas, encerramos o ano agradecendo a colaboração de todos e desejando um 2006 repleto de realizações e
muito sucesso. Boa Leitura!

Marley Cavalcante de Lima Moscati


Editora Responsável
SUMÁRIO

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia


A METEOROLOGIA E A AERONÁUTICA
vol. 29, nº 3, novembro 2005

Editorial ................................................................................................................ 1
Marley Cavalcante de Lima Moscati

Mensagem da Presidente da SBMET .............................................................................. 4


Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva

Um aviador e sua Meteorologia .............................................................................................................. 7


Ozires Silva

Meteorologia Aeronáutica do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro ...................... 13


Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske

CMA-1: importante braço operacional da Meteorologia Aeronáutica .................................... 19


Mauro Neutzling Lehn

As atividades de Meteorologia Aeroespacial no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) ..................... 21


Rosa de Fátima Cruz Marques, Gilberto Fernando Fisch

O Projeto SIVAM, o SIPAM e a sua contribuição para a segurança da navegação aérea na


Amazônia Legal ..................................................................................................... 27
Ricardo Luiz Godinho Dallarosa, Renato Cruz Senna, Jaci Bilhalva Saraiva

Acidentes aéreos associados à condições meteorológicas adversas e melhoria contínua dos


sistemas das aeronaves .......................................................................................... 31
Ney Ricardo Moscati

Os perigos do vento para a aviação ...................................................................................................... 45


Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins, Anderson Monteiro

Análise de dois acidentes aeronáuticos associados à atividade convectiva:


Kano (1956) e Congonhas (2000) ......................................................................................................52
Rubens Junqueira Villela

Ondas de montanha e a segurança nas operações aéreas na Antártica .................................. 59


Marcelo Romão, Alberto Setzer, Francisco Eliseu Aquino

Meteorologia Aeronáutica: serviço apaixonante e ciência com vasto campo para a pesquisa .... 64
Cristina Fogaccia

Monitoramento e evolução de descargas elétricas atmosféricas associadas


a sistemas convectivos de mesoescala ........................................................................... 67
Suzana Rodrigues Macedo, Wagner Flauber Araújo Lima, Luiz Augusto Toledo Machado, Osmar Pinto Junior
Boletim SBMET novembro/05

Monitoramento de queimadas recebe prêmio internacional no Japão ................................... 72

Relatório de Atividades do Workshop sobre o fenômeno Catarina......................................... 73


Manoel Alonso Gan

Participação da SBMET na 57ª Reunião Anual da SBPC ...................................................... 74

Participação da SBMET na Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas


“Diálogo Sobre Mudanças Climáticas” .................................................................................................... 75

Andamento dos preparativos para o XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XIV CBMET) .... 75

Grade da Programação Científica do Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):


a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas ............................... 76

Avisos Gerais da SBMET ............................................................................................... 79

Em discussão a nova Resolução que trata das atribuições profissionais da


Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia ................................................. 80
Alfredo Silveira da Silva

A participação feminina na área Tecnológica ...................................................................... 81

Convenção mundial de Engenheiros e demais profissionais do Sistema CONFEA/CREA ................. 82

Marcos Túlio de Melo é eleito Presidente do CONFEA ........................................................... 82

Agenda de Eventos ....................................................................................................... 84

Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na Previsão Numérica de Tempo................... 89

Lista de Anunciantes ..................................................................................................... 90

Política Editorial do Boletim da SBMET ............................................................................. 91

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Boletim SBMET novembro/05
MENSAGEM

Prezados sócios e amigos da SBMET,

É com grande satisfação que estamos distribuindo mais esse número do Boletim da Sociedade Brasileira
de Meteorologia.

O trabalho sério da atual Diretoria Executiva (DE) permite que contabilizemos neste final de 2005 os
principais sucessos nesta administração, os quais são relacionados a seguir:

• Comemoração do Dia Meteorológico Mundial, com eventos significativos ocorrendo em vários estados
brasileiros, sendo amplamente divulgados pela SBMET;

• O Portal da SBMET (www.sbmet.org.br) tem sido uma ferramenta dinâmica de contato com os sócios e
tem-se mostrado útil na obtenção de informações de interesse da comunidade de Meteorologia, tanto na
área acadêmica como profissional. O cadastro da SBMET está on-line, o que facilita e incentiva os sócios
na atualização de seus dados. Foi também introduzida uma nova sistemática no Informativo que aparece
no Portal da SBMET, enriquecendo substancialmente a quantidade e a qualidade da informação através de
links com conteúdos adicionais;

• Além das formas tradicionais de comunicação, foram implementados ao longo de 2005 os Informes da
SBMET, distribuídos por e-mail, com a disseminação de notícias de forma rápida e eficiente;

• O número de sócios novos e de sócios que atualizaram suas anuidades este ano é expressivo.

• Realização de dois eventos significativos, o Workshop do Fenômeno Catarina e o I Simpósio Internacional


de Climatologia (SIC): a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas. Durante
a realização da 57ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Fortaleza, CE, a SBMET esteve presente
oferecendo um mini-curso, e promovendo palestra e simpósio.

• A Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET) e o Boletim da SBMET, que tiveram três números
elaborados e distribuídos neste ano de 2005, mantendo assim sua regularidade.

• Durante o ano de 2005, a DE procurou estimular a criação e, em alguns casos, a reativação de várias
Diretorias Regionais de Meteorologia. Terminamos este ano com as Diretorias do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina em funcionamento.

• A SBMET está participando efetivamente das atividades promovidas pelo Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas. Também, foi convidada a participar de eventos interdisciplinares como o Seminário sobre
Protocolo de Kyoto, promovido pela comunidade de Engenharia no CREA-MG, a II Conferência Regional
sobre Mudanças Globais: América do Sul, realizada em São Paulo e o IV Workshop de Micrometeorologia,
realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

• A DE da SBMET tem procurado manter a interação com outras entidades científicas, participando esse ano
do Congresso da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, do Congresso Argentino de Meteorologia,
do Congresso Mexicano de Meteorologia e da Federação Latino e Íbero-americana de Meteorologia.

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Boletim SBMET novembro/05

• Tem sido também preocupação da atual DE a participação em discussões políticas relevantes, como os
debates sobre a Reforma Universitária e sobre as atribuições profissionais do Sistema CONFEA/CREAs,
além do encaminhamento de soluções para o PMTCRH, através de projetos regionais do Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT). De grande importância também foram as sugestões levadas pela SBMET
ao MCT e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), muitas das quais foram
incorporadas à proposta de regulamentação da CONAME.

Nossas perspectivas para 2006 incluem a continuação das iniciativas deste ano, com destaque para a
participação da SBMET na 8ª. Conferência Internacional de Meteorologia e Oceanografia do Hemisfério
Sul, juntamente com a American Meteorological Society, e a realização do XIV Congresso Brasileiro de
Meteorologia (XIV CBMET), cujas atividades já estão em andamento.

Assim, em vista dessas e de outras conquistas, consideramos que a SBMET inicia o ano de 2006 como uma
entidade mais respeitada e valorizada.

Na oportunidade, desejamos à todos os sócios e colaboradores um 2006 cheio de realizações.

Presidente da SBMET

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METEOROLÓGICA
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(NÃO BI-DIRECIONAIS)
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RÁDIO ( UHF + SPREAD SPECTRUM )
POSTO Sensores de qualidade de água
CÉLULAS REPETIDORAS
HIDROLÓGICO Relógio ajustado pelo GPS
LINHA FÍSICA
Banco de dados
PSTN - LINHA DISCADA
TCP-IP (LAN)
Compromisso com a solução e confiabilidade
LINHA PONTO A PONTO Assistência técnica no País

SONDAS ATMOSFÉRICAS
Para aplicação em sinótica, mesoescala, camada limite,
pesquisa, usos militares, previsão de tempestades

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Boletim SBMET novembro/05

UM AVIADOR E SUA METEOROLOGIA


Ozires Silva
E-mail: ozires@uol.com.br

Recebi com curiosidade e atenção o convite para conseguir longos vôos, numa aeronave sem motor.
participar desta edição do Boletim da SBMET. Confesso Como, perguntava a mim mesmo? Progressivamente fui
que o convite veio como surpresa. A razão, imagino, aprendendo sobre as formações na atmosfera, ganhando
tem origem na minha ligação com a aviação desde a algumas noções de como as nuvens se formavam e como
juventude, inicialmente como piloto de planador, mais poderíamos aproveitar o fenômeno do seu nascimento e
tarde piloto militar da Força Aérea Brasileira (FAB) e desenvolvimento para nos mantermos mais tempo no ar
finalmente como Engenheiro Aeronáutico trabalhando com os planadores. Em geral, os pilotos dos aviões, com
para a fabricação de aviões no Brasil, como Presidente seu contínuo espírito crítico, dizem que o planador já
da EMBRAER por mais de duas décadas. Ao longo decola em pane (sem motor)!
dessas experiências a meteorologia esteve presente na
minha vida, sempre marcando momentos importantes, Aprendi sobre as térmicas, as gigantescas massas de
tanto no ar como em terra. ar quente que resultam do aquecimento do solo por ação
direta dos raios solares. Entendi como e porque elas
Acredito e gosto de catalogar a ciência do tempo sobem, conseqüência direta da redução da densidade
como fascinante. Os milagres da natureza, criando o ar do ar na medida do aumento da temperatura. Fenômeno
que respiramos dentro de condições físico-químicas que simples, bonito e bem concebido. Mergulhados nessas
asseguram a vida no planeta, determinando as estações térmicas o piloto de planador sobe com elas, conseguindo
do ano, formatando cada fenômeno meteorológico que resultados expressivos. Era estimulante olhar para o céu
nos atinge no dia-a-dia, tudo isto nos faz pequenos diante e ver os urubus circulando dentro das térmicas e, sem
da grandeza do meio que nos circunda. Sem dúvida, bater asas, ganhar rapidamente altitude. O problema
desde os primeiros tempos aprendi, por experiência para nós era não confundir um depósito de lixo, que
própria, que, compreendendo a atmosfera seria possível também atraem os urubus, com as térmicas e de repente
conduzir com mais segurança meus vôos. E, como ser se ver em dificuldades, podendo ter de pousar fora das
humano, desfrutar melhor a maravilhosa natureza que pistas.
nos circunda.
É bem verdade que nosso instrutor Kurt ajudava muito
Meus contatos com a meteorologia começaram cedo. graças aos seus sólidos conhecimentos aeronáuticos.
Em Bauru, minha terra natal do interior do Estado de São Ele era nossa fonte contínua de aprendizado. Dirigindo
Paulo, meu instrutor de planador, um simpático suíço, a Escola de Planadores, que oferecia o ensino e o
Heinrich Kurt, que falava o português com um pesado treinamento para formar pilotos, Kurt era um misto de
sotaque do seu alemão, sempre me dizia que era possível mestre e de pai para todos nós. Kurt comandava tudo.

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Boletim SBMET novembro/05

Organizava aulas teóricas que eram proporcionadas em vinha basicamente do grau de suficiência que cada um
ocasiões variadas e o vôo, possível através do uso de um conquistava na escala crescente de habilidade como
guincho que puxava os planadores para lançá-los ao ar. pilotos de planadores. Eram os ambicionados “brevês”.
Era uma real operação, com um ritual mais ou menos O primeiro grau era o brevê A, após o B e em seguida o
igual, mas sempre muito trabalhoso. Todas as tardes, C. No nível C, crescendo na direção da distinção havia
o esquema era o de retirar dos hangares os planadores, o “C de Prata” seguido pelo de Ouro e, finalmente,
alinhá-los na pista e enganchar o cabo do guincho. Diamante. Estes últimos, poucos os conquistavam.
Este era na realidade uma camioneta Ford, do famoso
Modelo T de Henry Ford, conhecido como Fordinho. Como todos, comecei com o brevê A. Para aqueles
O guincho, conectado com a caixa de transmissão e que iniciavam o curso, o brevê A requeria que, utilizando-
acionado pelo tradicional motor de quatro cilindros se dos guinchos, o aluno deveria demonstrar habilidade
que fez do velho automóvel um grande sucesso, girava de equilibrar o planador numa corrida no solo e chegar
uma bobina enrolada com um cabo de aço. Acelerando a efetuar um vôo controlado, em linha reta, sobre a
o motor, o cabo era puxado rapidamente, permitindo pista. O brevê B precisava da execução de manobras
ao planador atingir as velocidades convenientes para que caracterizassem um “oito” sobre a pista. Consegui
assegurar o vôo. conquistá-lo após meses de treinamento, já que a escala
de vôo era apertada e nem sempre se conseguia voar
Naquele ambiente, como sempre, existiam “pessoas” todos os dias ou semanas.
importantes. E uma delas era a mascote do Kurt, um
cachorro pequeno, autêntico vira-lata, nós o chamávamos Todavia, a minha conquista do brevê C, que previa
Gasolina! Um cão pequeno que, um dia atropelado, um vôo com ganho de altitude e sustentado por um certo
exibia uma das patas dianteiras mal recuperada. Quando período, não foi tão tranqüila. Ocorreu após o Aeroclube
a pressão atmosférica caía ou começava a soprar de Bauru ter recebido, como doação do Departamento
um vento mais frio, provavelmente alguma dor ele de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica um
sentia na articulação e simplesmente recolhia a pata, rebocador, um avião biplano Stinson – equipado com
evitando pousá-la no solo. Kurt via aquilo e gritava gancho de reboque de planadores. O Stinson era antigo
no seu conhecido sotaque forte: “Famos recolherr os e fabricado nos Estados Unidos. Dotado de um motor
planadorres! Fai choverr!”. Não havia ninguém que o a pistão radial e hélice metálica de passo fixo era
dissuadisse. O remédio era parar tudo e esperar a chuva basicamente aprovado para acrobacias e foi um produto
ou a ventania que poderiam não vir. de muito sucesso no mundo, devido suas características
seguras de vôo, além da facilidade de pilotagem. Sua
Daí veio minha primeira aventura que poderíamos margem de potência não era alta e as razões de subida
chamar de “meteorológica”. Nos meus 17 anos, permitida bastante modesta.
iniciando meu treinamento, precisava de um vôo
mais longo para conseguir meu brevê. No curso de Com a chegada do novo avião, o gancho de reboque
piloto, como regra, sempre existe a hierarquia das foi instalado e, a partir de então era possível fazer vôos
qualificações e a competição entre os participantes. Ela com altitudes de partida para os planadores muito

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Boletim SBMET novembro/05

maiores do que aquelas permitidas pelo velho guincho, dor nas costas, comprimido que estava ao incômodo
instalado no Fordinho. O problema era o custo – a hora pára-quedas. Era tempo de descer, mesmo porque a
de vôo era cara e o dinheiro, curto. Toda a gasolina atividade das térmicas já estava bem mais reduzida,
queimada pelos aviões, especialmente fabricada para a em função da queda do sol no horizonte; já não era tão
aviação, era importada, naquele início daquela década fácil manter altura. A descida lenta foi agradável. À
dos 1940. medida que descia, era possível ouvir o som das buzinas
dos automóveis e o latido dos cães. O dia continuava
No dia previsto para disputar o brevê C, decolei lindo e os raios do sol tornavam-se alaranjados, com
puxado pelo Stinson numa tarde particularmente a aproximação do final do dia. A visibilidade ia de
favorável. Carregada de nuvens “cumulus” de horizonte a horizonte. A sensação de tranqüilidade não
desenvolvimento vertical (o famoso CB), e prometedoras me abandonava. Valia a pena voar, quase com o mesmo
de muitas térmicas. Muitos urubus circulando. Rebocado silêncio dos pássaros. Sensacional a natureza, pensava!
pelo Stinson pude subir até 600 metros que era a altura
prevista para largar o avião-rebocador e prosseguir no No entanto, exagerei o otimismo; com tantas
vôo livre. Realmente as nuvens estavam cumprindo térmicas favoráveis não cuidei corretamente do tempo,
o prometido, a sustentação era boa e consegui ganhar da altitude e, sobretudo, da distância que estava da pista.
altura, subindo a mais de 3.000 metros sobre o campo. Olhei para o sol, já bem baixo no horizonte; as nuvens
A marca do ganho de altitude estava superada – por tinham perdido os seus contornos vivos e começavam a
aquele requisito já tinha o brevê C no bolso; estava feliz se achatar. A sustentação caía com rapidez e subitamente
mesmo. Faltava voar pelo menos mais uma hora. me surpreendi, quando constatei que estava longe
demais e certamente sem altura suficiente para chegar
O dia estava realmente magnífico. As nuvens, ao aeródromo. Procurei à minha volta uma nuvem que
formando seus contornos variados, apresentavam pudesse me ajudar, sem resultados. Com crescente
diferentes tonalidades refletindo a luz forte do sol. preocupação voava para o campo de pouso, numa real
Meu planador, um Grunau Baby, era relativamente torcida para conseguir atingi-lo. No entanto, ele parecia
lento, e o silêncio envolvia-me, somente quebrado pelo ficar mais e mais inacessível. A sensação era invertida;
chiado suave do ar no parabrisas. Embaixo via a terra, ao invés de o planador descer, parecia que a pista subia.
ora vermelha, ora verde – com a vegetação já escura Cedo percebi que não chegaria. A expressão que me
do final do outono. Sentia a tranqüilidade como uma veio à cabeça foi a mais simples: “Que merda”!
dádiva e olhava tudo a minha volta, sentindo-me como
pertencente àquele meio. O ar era meu e ali eu deveria Circulei os olhos em volta, buscando uma alternativa.
viver. Estava sobre a cidade e tinha o vento vindo do sul, frio e
contra o meu sentido de vôo, complicava mais a situação.
Após quase três horas no ar, eufórico por ter Não vi outra saída. Teria de procurar e achar uma área
conquistado o desejado brevê C, tinha atingido uma livre que encontrei no meu desesperado caminho para
marca muito maior do que o tempo requerido – estava a pista, agora absolutamente fora do meu alcance. Um
realmente cansado. Começava a sentir uma acentuada local de pouso possível estava na frente e limitado

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Boletim SBMET novembro/05

pelas instalações de uma engarrafadora da Coca-Cola, rebocador, mas esta é outra história.
ao sul da cidade. Suas dimensões eram visivelmente
insuficientes para uma aterrissagem segura, mas não Mais tarde, em 1948, percorrendo os caminhos para
tinha jeito, o tempo se escoava e uma decisão teria que crescer na aviação, acabei por optar e prestar o concurso
ser tomada. Em poucos minutos o planador estaria no de admissão para ingressar na FAB. Aprovado, passei a
solo. A ironia era que eu estava a apenas um quilômetro, fazer parte de uma turma de cem Cadetes. Visualizando
em linha reta, da pista. Enfim, para reclamar não era a carreira de piloto militar no futuro os nossos contatos
mais a hora. com a meteorologia se acentuaram. Como uma das
matérias, entre as obrigatórias, fomos aprendendo
Procurei circular e aproximar-me o mais baixo como funcionavam os mecanismos que a atmosfera usa
possível por sobre a copa das árvores e alguns segundos para manter, movimentar e reciclar a contínua capa de
depois a roda central do Grunau, sob a fuselagem, ar que envolve o planeta. Foi um grande e importante
sobressaindo alguns centímetros do esqui, tocou no solo aprendizado. Falávamos de pressões, temperatura,
duro. Comecei a frear com cuidado e, meu Deus, um densidade, umidade, deslocamentos do ar e formações
susto! Havia vacas pastando exatamente na direção que decorrentes de tudo isto. Pudemos sentir o esforço
desejava seguir e reduzindo o espaço que necessitava dos instrutores para nos passar informações que nos
para amortecer a velocidade. Fui me aproximando delas ajudassem a vencer no espaço e preparar pessoas
com rapidez. Os tranqüilos animais nada sabiam do que que jamais tinham voado antes e que não tinham a
estava acontecendo e continuavam quietos e ruminando. mesma “cultura” inata dos pássaros. Paralelamente, as
No último instante não tive outra coisa a fazer se não experiências vividas durante os períodos de instrução
comandar um cavalo-de-pau, isto é, uma guinada brusca em vôo mostravam que as conversas nas aulas eram
para a esquerda, fazendo com que o planador parasse sérias. Muitos colegas foram vivendo episódios, alguns
abruptamente, no meio da poeira, quebrando algo na dramáticos, enfrentando formações pesadas, chuvas
parte posterior da fuselagem. intensas, obstruções à visibilidade e mesmo formação
de gelo. Este, realmente era um grande problema nos
Passou tempo antes que as pernas retornassem à velhos aviões pouco equipados que voávamos. Alguns
condição de sustentar meu corpo. O pessoal do aeroclube, dos que usávamos na instrução proporcionavam
meus companheiros, em breve chegaram no Fordinho, vazamentos para dentro das cabines, com falhas na
dirigido pelo próprio Kurt, visivelmente agastado. fixação dos parabrisas, gratificando-nos com pingos de
“Sua burra”, disse-me ele, no seu consistente sotaque água gelada no colo. Nada agradáveis!
alemão, no qual não valia a concordância gramatical.
“Agorra focê tem que carregar este p... de folta”, e foi- Hoje, isto é mais raro, para não dizer inexistente,
se, deixando-nos com o problema de arrastar o planador nos modernos aviões pressurizados que voam em
pela estrada até o Aeroclube. De algum modo o Kurt me altitudes elevadas aonde menos freqüentemente se
perdoou, pois ganhei o sonhado brevê C. Agora poderia encontra turbulências pesadas ou formações que
voar livre e procurar ampliar minha experiência. A reduzam significativamente a visibilidade horizontal.
limitação era arranjar dinheiro para o custo do avião- Mas, no início da década dos 1950, era bem diferente.

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Boletim SBMET novembro/05

Terminando o Curso de Oficial da Aeronáutica coube- parâmetros, construindo regulamentos e fixando


me servir na Amazônia, aonde operavam os velhos critérios básicos para dimensionar as estruturas bem
hidro-aviões CATALINA (fabricados pela antiga mais resistentes das aeronaves modernas. Conhecendo
Consolidated Vultee dos Estados Unidos), aparelho não com maior precisão as cargas de vôo, novos e melhores
pressurizado e equipado com margens de potência dos métodos de cálculo foram implementados, resultando
motores pouco suficientes, apresentando características que os aviões de hoje melhorem, a cada ano, seus mais
operacionais bastante distantes das modernas máquinas expressivos índices de segurança de vôo. Por outro lado,
de hoje. é mesmo extraordinário o aumento conseguido do lado
da confiança dos operadores e dos passageiros. Esta foi
Sobre os rios imensos da nossa floresta tropical, uma contribuição de todos os setores envolvidos nas
com alto teor de umidade e sob elevadas temperaturas complexas tarefas que levaram o transporte aéreo entrar
do ar, os cúmulus se formam rapidamente, alterando as para a história como grande resistente capaz de enfrentar
condições de vôo com rapidez. Os CATALINA voando a maioria das pancadas advindas de instabilidades
em altitudes inferiores a três mil metros entravam atmosféricas e das difíceis condições operacionais que
seguidamente nas nuvens pesadas que, parecendo ainda prevalecem nos dias de hoje.
coincidência, insistiam em se colocar justamente nas
rotas que escolhíamos. Na atualidade, grandes progressos foram
conseguidos. Redes de informação foram ampliadas.
Como resultado, o jeito era voar nelas, sempre Os dados fluem com maior rapidez, podendo os
procurando se esquivar das mais pesadas e escolhendo pilotos melhor conhecer as rotas nas quais deverão
aquelas que possivelmente não nos tratassem mal. voar. O próprio comportamento da atmosfera foi mais
Mas, isso raramente acontecia. Tínhamos de submeter amplamente compreendido. Velozes computadores,
nossos passageiros a turbulências que, não raramente, dotados de expressiva memória e capacidade de
provocava gritos. E não eram de satisfação, tínhamos processamento, antecipam a evolução das condições
certeza. meteorológica permitindo previsões de períodos maiores
e com significativa antecipação.
Quando no solo e antes de qualquer vôo
conversávamos e discutíamos intensamente com os As redes de satélites observadoras da Terra executam
especialistas em meteorologia. Tentávamos arrancar um trabalho pouco percebido pelos passageiros e
deles informações além daquelas oferecidas pelos operadores na aviação. Todos eles vivem dos resultados
boletins normalmente divulgados pela rede do Serviço de esforços dos meteorologistas de todo o mundo que, de
de Meteorologia e coletar dados que nos dessem um lado, pesquisam e procuram saber mais e construir
mais segurança. Infelizmente, embora tudo fosse de metodologias para que análises e resultados possam ser
ajuda, quando em vôo, achávamos que não tinham melhores, mais confiáveis e de previsão mais longas. De
sido suficientes. O jeito era agradecer aos projetistas outro ângulo, os observadores e analistas que trabalham
dos aviões que, aprendendo a partir dos acidentes no dia-a-dia, os quais utilizando as últimas técnicas
do passado, conseguiram coletar dados e padronizar disponíveis, procuram oferecer mais para que o tráfego

11
Boletim SBMET novembro/05

aéreo opere com segurança. Mas, acima de tudo, este mesmo homem, consciente
de suas vitórias, precisa manter a humildade para
De qualquer modo, quando se vê um avião, por maior compreender que ainda muito tem a aprender, mantendo-
que seja, sacudido como cascas de nozes a mercê da se atento aos fenômenos tão habilmente concebidos neste
gigantesca capacidade energética da natureza, podemos mundo equilibrado que foi construído para sustentar a
construir a imagem de um combate. O homem, na sua vida no planeta. E, finalmente, ainda compreender que
pequenez de um simples animal na Terra, tem o mérito faz parte do mecanismo de manutenção deste equilíbrio,
de ter conseguido voar mais alto e mais velozmente do cuja subsistência e continuidade são fundamentais para
que os pássaros, em máquinas que obedecem ao seu que a vida continue pelos séculos que temos em frente.
comando. E isto foi possível por força do seu intelecto,
do seu empenho e sua tenacidade.

Ozires Silva
CurriculumVitae resumido

Nasceu em Bauru - SP, em 1931. Começou suas atividades aeronáuticas como aeromodelista
e piloto de planador. Em 1951, formou-se Piloto Militar e Oficial Aviador da FAB. Voou por
quatro anos na Amazônia, com sede em Belem do Pará, pilotando o hidro-avião PBY-5
CATALINA, acumulando cerca de três mil horas de vôo na área. Voou por três anos no Correio
Aéreo Nacional (CAN), pilotando o DOUGLAS DC-3 por todo o Brasil, acumulando cerca
de duas mil horas de vôo. Formou-se em Engenharia Aeronáutica no Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA) em 1962. Após a formatura passou a servir no Departamento de Aeronaves do
Instituto de P&D (IPD) do Centro Técnico Aerospacial (CTA). Nesta fase voou diferentes tipos
de aeronaves de fabricação nacional. Deu início ao projeto e desenvolvimento do protótipo do
BANDEIRANTE hoje considerado o primeiro avião construído para a Aviação de Transporte
Aéreo Regional do mundo. Liderou a equipe que criou a EMBRAER, tornando-se seu primeiro
Diretor Superintendente, cargo que exerceu de 1970 a 1986. Retornou à empresa em 1991 e
comandou o processo de privatização da EMBRAER tendo durante este período dado partida
no desenvolvimento do primeiro jato da empresa, o ERJ 145, cujo sucesso garantiu o êxito do
empreendimento na área privada. Publicou em 1998 o livro “ A decolagem de um sonho - A
história da aviação da Embraer” ( Lemos Editora, 606 p. ISBN 85-85561-91-0 ).

12
Boletim SBMET novembro/05

METEOROLOGIA AERONÁUTICA DO SISTEMA


DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO

Carlos Roberto Henriques e Martim Roberto Matschinske


Departamento de Controle do Espaço Aéreo
Divisão de Meteorologia Aeronáutica
Av General Justo, 160 – 2º Andar
CEP 20021-130 - RIO DE JANEIRO, RJ
E-mail: dmet@decea.gov.br - Tel: (21) 2101-6283

O planeta Terra é, provavelmente, o único no qual trovoadas associadas a nuvens cumulunimbus (cb), que
a atmosfera sustenta a vida como nós a conhecemos. possam acarretar desvios de rota e por conseqüência
O tempo, como um estado da atmosfera, em qualquer maior consumo de combustível.
hora e lugar, exerce muita influência sobre as nossas
atividades. Evidentemente, as condições do tempo As condições meteorológicas não afetam somente o
têm muito a ver com o dia-a-dia de todos, mas poucas piloto e a tripulação, mas também o Serviço de Tráfego
atividades humanas são tão dependentes das condições Aéreo, responsável pelo controle das aeronaves no espaço
da atmosfera quanto a navegação aérea. aéreo, e que depende das condições meteorológicas
específicas para o eficiente atendimento à navegação
Desde os primórdios da aviação, a informação aérea. Este Serviço está estruturado em três órgãos
meteorológica tem sido vital para a segurança das operacionais de atuação distintas, que são:
operações aéreas, contribuindo para o conforto dos
passageiros, o estabelecimento de rotas mais rápidas, a) A Torre de Controle (TWR), responsável pelo
econômicas e de vôos regulares. No Brasil, a atividade controle na área terminal do aeródromo, que
de Meteorologia Aeronáutica é de competência do além de todas as variáveis citadas anteriormente,
Comando da Aeronáutica e desenvolvida pelo Sistema necessita saber se a variação do vento interferirá
de Controle do Espaço Aéreo (SISCEAB), sob a na cabeceira em uso e a que horas ocorrerá,
responsabilidade do Departamento de Controle do bem como se as condições de teto e visibilidade
Espaço Aéreo (DECEA). comprometerão as operações de pouso e
decolagem;
Para o Piloto, o conhecimento das condições
meteorológicas reinantes nos aeródromos de partida,
destino e alternativas são imprescindíveis para a
realização, ou não, do vôo. Além disso, é necessário
saber se essas condições sofrerão variações significativas
quanto ao teto, a visibilidade, ao tempo presente, ao
vento, bem como, o horário previsto para início dessas
variações e o período previsto para sua duração.

Para um vôo seguro, econômico e confortável,


não bastam somente estas informações, é necessário
também conhecer as condições em rota. Dentre elas
destacam-se a direção e velocidade do vento ao longo
da rota, condições de formação de gelo, turbulência, Figura 1: Torre de Controle do Aeroporto do Galeão –RJ.
Fonte: COMAER.

13
Boletim SBMET novembro/05

b) O Controle de Aproximação de Aeródromo (APP), 1. ESTRUTURA E ATRIBUIÇÕES


responsável pelo controle radar das aeronaves até
100 km do aeródromo, necessita, por exemplo, A redução dos mínimos meteorológicos para
de informações relativas à formação de trovoadas utilização de aeródromos tem acentuado a necessidade
associadas às nuvens CB dentro de sua área de se obter informações precisas e atualizadas sobre
operacional, previsão da hora de início, duração as condições meteorológicas locais nos aeródromos
e sua extensão para que possa ser avaliado o e ao longo das rotas aéreas, utilizando-se para isto
comprometimento operacional, ou seja, se o de instrumentos e equipamentos de observações
número de aeronaves deverá ser limitado em meteorológicas modernos, bem como, de prognósticos
função da segurança das operações aéreas e da meteorológicos cada vez mais confiáveis. Neste
operacionalidade dos aeródromos; contexto, a atividade de Meteorologia Aeronáutica está
alicerçada na seguinte estrutura:
c) O Centro de Controle de Área (ACC), responsável
pelo controle radar de todas as aeronaves
• Rede de Estações Meteorológicas;
que voam em rotas aéreas, fora da área de
• Rede de Centros Meteorológicos;
responsabilidade dos APP, depende também das
• Bancos de Dados - Operacional (OPMET) e
informações meteorológicas. Para esses Centros,
Climatológico (BCA); e
é imprescindível saber quais as rotas aéreas estão
• Sistema de divulgação de informações
sob a influência de condições meteorológicas
meteorológicas.
adversas, bem como, a hora que novas rotas serão
afetadas operacionalmente, qual o volume do
a) Rede de Estações Meteorológicas (REM)
espaço aéreo será comprometido e qual o desvio
mais seguro nestas condições.
Os Sistemas de observação meteorológica
aeronáutica, objetivam tanto o fornecimento de dados
Para o emprego militar, a Meteorologia, destaca-se de superfície aos aeronavegantes, quanto a coleta de
pelo apoio específico a diversos tipos de operações. Para dados de altitude e sinóticos para a utilização dinâmica
a aviação de caça, por exemplo, é também importante da matriz mundial de dados meteorológicos. Esta
saber o nível em que ocorre a trilha de condensação; rede é constituída pelos elementos de coleta de dados
nas operações de lançamento de carga e pára-quedistas é meteorológicos a serem processados e difundidos aos
importante conhecer o vento nas camadas da atmosfera órgãos operacionais e climatológicos, onde se destaca o
sobre a Zona de Lançamento, bem como, o ponto ideal monitoramento contínuo do meio atmosférico.
para lançamento em grande altitude de pára-quedistas
que, planando com velame aberto, visa alcançar um As estações meteorológicas que integram a rede
determinado alvo. são classificadas conforme suas características, em
Estações Meteorológicas de Superfície (EMS) Classe I,
Embora os avanços da tecnologia aeronáutica tenham II e III, em Estações Meteorológicas de Altitude (EMA)
vindo a tornar as viagens menos sensíveis a determinados e Estações de Radar Meteorológico (ERM). As EMS
aspectos do estado do tempo, a meteorologia continuará (Figura 2a) são implantadas nos aeródromos e coletam
a ser essencial para a eficiência das operações de vôo. dados meteorológicos representativos das condições
na(s) pista(s) de pouso. São equipadas com sensores
Como sabemos, o crescente aumento no número de automáticos para obtenção de medidas de direção e
aeronaves em operação exige um melhor aproveitamento velocidade do vento, altura da base das nuvens, Alcance
do espaço aéreo, e assim, com a devida segurança, Visual na Pista (RVR), pressão ao nível do mar para ajuste
diminuindo o espaçamento entre elas. Nesse contexto, do altímetro, pressão ao nível da pista, temperatura do ar
as informações meteorológicas passam a ser cada vez e do ponto de orvalho. Em aeródromos que não operam
mais decisivas. com aproximação de precisão, e com movimentos aéreo
reduzidos, as EMS diferem entre si pela ausência do

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Boletim SBMET novembro/05

RVR. Os dados colhidos são codificados na mensagem Meteorológica Mundial da Organização Meteorológica
METAR/SPECI e SYNOP e transmitidos aos bancos Mundial (OMM). A Figura 3 apresenta a distribuição
de dados, para uso do serviço de Meteorologia, da das estações que compõe a Rede da EMS e EMA.
navegação aérea e demais usuários.
As estações de radar meteorológico visam
As Estações Meteorológicas de Altitude (EMA) são complementar a vigilância meteorológica em áreas
equipadas com sistemas destinados a observar e traçar o de grande densidade de tráfego aéreo e onde ocorram
perfil vertical de temperatura, pressão, umidade, direção, condições meteorológicas adversas às operações aéreas.
e velocidade do vento nas diversas camadas da atmosfera São de fundamental importância para detecção, análise
(Figura 2b). As sondagens são executadas mediante o e exposição dos fenômenos meteorológicos, geo-
lançamento de um balão contendo gás hidrogênio ao referenciados, facilitando, desta forma, seu emprego
qual é presa a sonda dotada dos sensores, bem como, como apoio às operações aéreas. As estações são
de sistema GPS para precisar os dados de vento em operadas pelos Centros Meteorológicos de Vigilância
altitude. As informações colhidas por uma EMA são (CMV) e seus produtos disseminados à Rede de Centros
codificadas na mensagem TEMP, e transmitidas para Meteorológicos. Por representarem as condições
emprego da Meteorologia Aeronáutica e como dado meteorológicas em tempo real, são extremamente úteis
básico ao Banco de Dados do Sistema de Vigilância para a previsão meteorológica de curto prazo.

(a) (b)
Figura 2: a) EMS, b) EMA.
Fonte: COMAER.

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Boletim SBMET novembro/05

Rede de Estação Meteorológicas Superfície e Altitude b) Rede de Centros Meteorológicos

Esta rede opera incorporando todos os dados


observacionais e prognosticados. É responsável
pela divulgação das informações meteorológicas à
navegação aérea. A prestação deste
serviço está associada aos subsistemas
de visualização, tratamento e difusão
dos dados meteorológicos. Compõem
esta rede o Centro Nacional de
MeteorologiaAeronáutica (CNMA), os
Centros Meteorológicos de Vigilância
(CMV), os Centros Meteorológicos
de Aeródromos (CMA) e os Centros
Meteorológicos Militares (CMM).

O CNMA (Figura 5), localizado


no CINDACTA I em Brasília-DF,
tem suas atribuições prioritariamente
Figura 3: Rede de EMS e EMA. direcionadas a fenômenos meteorológicos em escala
sinótica. Órgão central da Meteorologia Aeronáutica
no SISCEAB é o elo integrante do Sistema Mundial
de Previsão de Área (WAFS). É responsável pela
divulgação dos dados globais de tempo significativo
e os prognósticos de vento e temperatura em altitude.
Estação de Radar Meteorológico DECEA/SIV AM
Também proporciona prognósticos específicos de
tempo significativo, da superfície ao FL250, para a
área que corresponde às coordenadas 12°N/80°W,
12°N/10°W, 40°S/80°W, 40°S/10°W. É de sua
competência a manutenção e
operação do Banco OPMET e da
Rede de Meteorologia do Comando
da Aeronáutica (REDEMET).

DECEA

EM OPERAÇÃO = 06

EM PLANEJAMENTO = 04

SIV AM

EM OPERAÇÃO = 10

EM PLANEJAMENTO = 01

Figura 4: Rede de Radares Figura 5: Centro Nacional de Meteorologia Aeronáutica – BR.


Meteorológicos. Fonte: COMAER.

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Boletim SBMET novembro/05

Os Centro Meteorológico de Vigilância (CMV), Móveis. A Figura 7 ilustra o atendimento ao piloto em


no total de quatro, operam associados aos Centros de um CMM.
Controle de Área e são responsáveis pela vigilância
das condições meteorológicas que afetam as operações
aéreas em Vôo. Os CMV mantêm a vigilância
meteorológica, confeccionam e divulgam mensagens
de tempo significativo em rota (SIGMET e AIRMET),
operam remotamente os radares meteorológicos e
prestam o Serviço VOLMET. A Figura 6 apresenta as
áreas de responsabilidade de cada CMV.

Figura 7: Atendimento ao Piloto em um CMM.


Fonte: COMAER.

c) Banco de Dados Operacional (OPMET) e


Climatológico (BCA)
Figura 6: Área de responsabilidade de cada CMV.
O Serviço de Meteorologia Aeronáutica opera
Os Centro Meteorológico de Aeródromo(CMA), duas bases de dados. O Banco Internacional de Dados
classificados em CMA-1, CMA-2 e CMA-3, conforme Operacionais de Meteorologia (Banco OPMET) visa
o tipo de serviço prestado, têm a finalidade de apoiar atender às necessidades imediatas da navegação aérea
as operações aéreas e os serviços de tráfego aéreo nos através do fornecimento de boletins meteorológicos
aeródromos e difundir as informações meteorológicas rotineiros (METAR, TAF, SPECI, SIGMET), nacionais
e as previsões dos CNMA e CMV. Os CMA-1 estão e internacionais. O Banco de Climatologia Aeronáutica
localizados nos principais aeroportos internacionais, (BCA), destina-se à prover os sumários climatológico
elaborando prognósticos de aeródromos (TAF), dos diversos aeródromos do País e a manter uma base
previsões para pouso e decolagem, previsões de área estatística de dados climatológicos aplicáveis à aviação
(GAMET), avisos de CORTANTE DO VENTO, e ao planejamento estratégico, técnico e operacional.
avisos de aeródromo, mantendo contínua vigilância
meteorológica em seus aeródromos de responsabilidade. d) Sistema de Divulgação de Informações
Os CMAs fornecem documentação de vôo às tripulações Meteorológicas
e aos despachantes operacionais de vôo, proporcionam
exposições orais e fornecem aos órgãos locais de tráfego As informações Meteorológicas são divulgadas pela
aéreo, informações meteorológicas, observadas ou Rede de Telecomunicações Fixas Aeronáuticas (AFTN)
prognosticadas, que possam contribuir para a segurança e pelo site da REDEMET (http://www.redemet.aer.mil.
do aeródromo e das aeronaves estacionadas. br) (Figura 8). A REDEMET visa integrar os produtos
meteorológicos voltados à aviação civil e militar. É o
Os Centros Meteorológicos Militares (CMM), meio oficial do Comando da Aeronáutica para divulgá-
localizados nas Bases Aéreas, prestam apoio específico las, interligando os órgãos de meteorologia do SISCEAB,
à Aviação Militar. Para atender operações militares em por meio da INTRAER e INTERNET (http://www.
locais restritos, o Comando da Aeronáutica ativa CMM redemet.aer.mil.br). Além disso, possibilita a consulta

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Boletim SBMET novembro/05

de informações meteorológicas no Banco OPMET e prestação do Serviço que estão continuamente sendo
disponibiliza produtos gerados pela rede de Centros, implementadas são destacáveis, dentre elas podemos
radares e Satélites meteorológicos. citar as associadas à disponibilização das informações
meteorológicas através da REDEMET, modernização
do Banco OPMET, desenvolvimento de sistema
automatizado para verificação do acerto das Previsões
de Aeródromo, controle operacional via web e como não
poderia deixar de ser, a capacitação de recursos humanos
com especializações afetas a Meteorologia Aeronáutica
e pós-graduação na área de Meteorologia.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,


DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO
Figura 8: Tela principal da REDEMET.
AÉREO. Manual de Centros Meteorológicos (MCA
105-12). Rio de Janeiro, 2001.

BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,


2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO
AÉREO. Classificação dos Órgãos Operacionais de
As informações meteorológicas sempre foram Meteorologia Aeronáutica (ICA 105-2). Rio de Janeiro,
fundamentais para a segurança nas operações aéreas. 2003.
Nos dias atuais, estas também são decisivas para
o planejamento dos vôos visando à economia de BRASIL. COMANDO DA AERONÁUTICA,
combustível e conforto dos passageiros. DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO
AÉREO. Manual de Estações Meteorológicas de
O incremento na eficiência do Serviço de Superfície (MCA 105-2). Rio de Janeiro, 2004.
Meteorologia Aeronáutica, obrigatoriamente, está
atrelado ao contínuo avanço tecnológico nos processos OACI. Normas Internacionais e Práticas
de coleta de dados, na velocidade de tratamento e Recomendadas, Serviço Meteorológico para a
disseminação destes dados e desenvolvimento contínuo Navegação Aérea Internacional - Anexo 3. Montreal,
dos produtos prognosticados. 2004.

Neste contexto, o DECEA vem atuando e OMM. Guia do Sistema Global de Observação.
consolidando uma rede de Estações Meteorológicas Publicação WMO nº488, Genebra, 1989.
de Superfície, de Altitude e de Radar Meteorológico,
objetivando o processo de coleta de dados meteorológicos OMM. Guia de Instrumentos Meteorológicos
para aplicação nas atividades aéreas, confecção das e Métodos de Observação. Publicação WMO nº8,
Genebra, 1996.
previsões meteorológicas pelos diversos Centros
Meteorológicos do SISCEAB, e participação da malha
OMM. Regulamento Técnico, Serviço
global de observações da OMM, destinada à Vigilância
Meteorológico para a Navegação Aérea Internacional.
Meteorológica Mundial.
Publicação WMO, nº49, Volume 2, Genebra, 2004.
A qualidade do serviço prestado pelo SISCEAB
é reconhecida internacionalmente. As melhorias na

18
Boletim SBMET novembro/05

CMA-1: IMPORTANTE BRAÇO OPERACIONAL


DA METEOROLOGIA AERONÁUTICA

Mauro Neutzling Lehn


Empresa Brasileira de Infra-Estrutura – INFRAERO
Rodovia Hélio Smidt, s/n – Cxp 3051 – Cumbica
CEP 07143-970 – Guarulhos – SP
E-mail: mlehn.cnsp@infraero.gov.br

Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, de nível superior, responsáveis pelas previsões de


final de madrugada. A tripulação de um vôo cargueiro aeródromo (TAF) e de área (GAMET), auxiliados
rumo ao sul do país busca informações sobre as por pessoal de nível técnico, cujas atribuições são
condições de seu destino, pois a época do ano favorece as observações de aeródromo, vigilância da área de
a formação de nevoeiros e há a preocupação de se responsabilidade e também parte do atendimento aos
encontrar uma situação que não permita o pouso. Início aeronavegantes. O serviço prestado por esses Centros é
da manhã: o entra e sai de Despachantes Operacionais de grande importância para a segurança das operações
de Vôo das companhias aéreas é intenso para a retirada aéreas. Além da segurança, o acesso às informações
de informações meteorológicas previamente definidas meteorológicas proporciona economia e conforto ao vôo,
para cada vôo. Do início da tarde até a noite os telefones uma vez que, sabendo de condições adversas previstas
não param de tocar, pois a influência de uma frente fria ou observadas em rota e no destino, a tripulação pode
na região é esperada para os próximos dias. Essa é a fazer um melhor planejamento. O apoio prestado pelo
rotina dos profissionais que trabalham em um Centro CMA-1 aos órgãos de Tráfego Aéreo e Operações de
Meteorológico de Aeródromo Classe I (CMA-1), órgão Aeroportos também é igualmente de suma importância
do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro para a tomada de decisões em face às situações de risco
(SISCEAB), existente nos principais aeródromos do e na prevenção de incidentes e acidentes. Por exemplo:
país, que tem por finalidade apoiar as operações aéreas, ventos fortes à superfície podem comprometer a
por meio de elaboração de previsões e da vigilância segurança de aeronaves em procedimento de pouso
meteorológica contínua dos aeródromos sob sua e decolagem, como também ameaçar a integridade
responsabilidade. física de pessoas que trabalham nas áreas externas do
aeroporto.
Atualmente existem seis CMA-1 em operação no
Brasil: Manaus, Recife, Brasília, Porto Alegre, Guarulhos Outra atribuição dos CMA-1 é de dar suporte aos
e Rio de Janeiro, sendo os dois últimos operados pela demais Centros Meteorológicos de Aeródromo de sua
INFRAERO, os únicos órgãos civis. Todos funcionam área (CMA-2 e CMA-3, operados por Técnicos em
vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano e Meteorologia e Operadores de Estações Aeronáuticas,
contam com equipes compostas por Meteorologistas e respectivamente), cuja responsabilidade é de disseminar
Técnicos em Meteorologia, formados por instituições as informações oriundas das Estações Meteorológicas de
civis e militares. Superfície (EMS) e divulgar as previsões confeccionadas.
Os CMA-1 também operam em conjunto com os Centros
Os CMA-1 são os órgãos operacionais dentro da Meteorológicos de Vigilância (CMV) no monitoramento
estrutura do SISCEAB onde atuam Meteorologistas e previsão de condições de tempo potencialmente

19
Boletim SBMET novembro/05

perigosas para a aviação. Constituem-se assim em AGRADECIMENTOS


células centralizadoras subordinadas ao Centro Nacional
de Meteorologia Aeronáutica (CNMA), principal órgão À Cristina Voltas Carrera Fogaccia, Lúcia Setiuko
de Meteorologia Aeronáutica do Brasil, que representa Tengan e Raquel Silva Lima pelo incentivo, sugestões,
a especialidade junto à Organização da Aviação Civil críticas e revisão do texto. Aos colegas de operação de
Internacional (OACI). CMA, por terem compartilhado comigo as experiências
da rotina em Meteorologia Aeronáutica em um grande
Embora o CMA-1 atue nos bastidores dos grandes aeroporto. À SBMET, pela oportunidade de divulgar
aeroportos do país, conta com um elenco de profissionais o nosso trabalho para a comunidade meteorológica
altamente qualificados e abnegados, e é um dos principais brasileira.
personagens na missão do SISCEAB que é proteger
vidas. Missão essa que é cumprida todos os dias quando
o atendimento ao aeronavegante é finalizado com a frase
que resume o seu objetivo: “Tenha um bom vôo!”.

1. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Publicação de


Informação Aeronáutica Brasil – AIP BRASIL. Rio
de Janeiro, jul. 2005.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Manual de


Centros Meteorológicos – MCA 105-12. Rio de
Janeiro, nov. 2001.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Classificação


dos Órgãos Operacionais de Meteorologia
Aeronáutica – ICA 105-2. Rio de Janeiro, abr. 2003.

20
Boletim SBMET novembro/05

AS ATIVIDADES DE METEOROLOGIA AEROESPACIAL


NO CENTRO TÉCNICO AEROESPACIAL (CTA)

Rosa de Fátima Cruz Marques


Gilberto Fernando Fisch
Divisão de Ciências Atmosféricas - ACA
Instituto de Aeronáutica e Espaço/Centro Técnico Aeroespacial - IAE/CTA
São José dos Campos, SP - Brasil
E-mails: marques@iae.cta.br e gfisch@iae.cta.br

Os fenômenos meteorológicos influenciam de precisam ser protegidos, para garantir a integridade


forma significativa nos vôos dos foguetes e/ou dos sistemas aeroespaciais (subsistemas de estruturas,
veículos espaciais. Estes veículos, normalmente não controle, trajetória, etc).
são projetados para suportar condições meteorológicas
adversas, tais como tempestades severas, relâmpagos
e descargas elétricas, ventos e cisalhamentos intensos 1. OS CENTROS DE LANÇAMENTO
e etc. Assim, a Divisão de Ciências Atmosféricas
(ACA) desenvolve pesquisas científicas e de inovação O CLBI localiza-se na cidade de Natal/RN e
tecnológicas em Meteorologia Aeroespacial para apoiar possui um Setor de Meteorologia, composto de uma
o projeto, desenvolvimento e lançamento de foguetes. estação automática de superfície, uma estação de
Os foguetes de sondagem e veículos lançadores de radiossondagem e uma torre anemométrica (42 metros).
satélite são desenvolvidos no CTA/IAE e lançados no Em 2005 esse Centro completa 40 anos de atividades
Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) aeroespaciais e devido à proximidade da área urbana,
em Natal (RN) e no Centro de Lançamento de Alcântara a sua utilização hoje é somente para o lançamento
(CLA), em Alcântara/MA. de foguetes de sondagens de pequeno porte. O CLA
localiza-se na costa litorânea do Maranhão, a 20 km de
Pelo fato dos centros de lançamentos nacionais São Luiz do Maranhão (Figura 1), de onde são lançados
estarem situados na região norte do Nordeste do Brasil, os foguetes brasileiros, tais como o Veículo Lançador de
os fenômenos estudados são aqueles característicos das Satélite (VLS) e os de Sondagens (SONDA II, SONDA
regiões tropicais e equatoriais. Desta forma, são realizadas III, VS30 e VS40) (Figura 2).
pesquisas sobre Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN),
Linhas de Instabilidade, Ondas de Leste e, devido à
sua posição geografia, sobre circulação de brisa, além
de turbulência atmosférica. Estes sistemas produzem
variações bruscas nos parâmetros meteorológicos, tais
como, ventos de superfície e de altitude, intensidade
de precipitação, tipo de nebulosidade, descarga
atmosférica local e na vizinhança. Sendo assim, é
necessário um conhecimento climatológico da região e
um acompanhamento e vigilância do tempo durante as
campanhas de lançamento. Outro fator importante a ser
monitorado é o campo elétrico da atmosfera, associado, Figura 1: Vista panorâmica do Centro de Lançamento de Alcântara.
ou não, a descargas atmosféricas. Portanto, os foguetes Localização geográfica: 02°33’S; 44°42’W; 49 m.

21
Boletim SBMET novembro/05

Figura 2: Família de foguetes do IAE.

A seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA)


Figura 4: Ajardinado Meteorológico do SMTCLA.
(Figura 3), responsável pela coleta e armazenamento
de dados meteorológicos é constituída por estação
A Torre Anemométrica (TA) é uma estrutura
meteorológica de superfície, uma torre anemométrica,
metálica de 70 m de altura (Figura 5), constituída de
um detector de campo elétrico (Electric Field Mill II) e
sensores de direção (do tipo aerovane) e velocidade (do
de descarga atmosférica (TSS-928-Global Atmospherics
tipo propeller) de vento dispostos em seis níveis (6,
Inc.), estação meteorológica de ar superior e uma equipe
10, 16.3, 28.5, 43 e 70 m). Estes dados são coletados
de operadores meteorologistas e por um técnico de
por um sistema de aquisição importado (data-logger
eletrônica. A coleta de dados funciona em regime de H24
Campbell CR-7) e transmitidos ao SMTCLA via
com armazenamento de dados a taxas de amostragem de
fibra ótica. Na Meteorologia são apresentados em
máxima resolução dos equipamentos e observações de
tela de microcomputador, com transmissão direta
superfície horárias. Os equipamentos de medição dos
para a Segurança de Vôo (SVO). Informações
parâmetros meteorológicos de superfície são do tipo
estatísticas (valores médios, desvio-padrão, velocidade
estações automáticas e estão instaladas no ajardinado
média escalar, valor máximo, etc) destes dados são
meteorológico (Figura 4) situado ao lado do prédio da
armazenados em intervalos de 10 minutos para cada
SMTCLA. A estação é composta pelos equipamentos de
nível da TA, para posterior análise. Além da trajetória de
coleta de dados Milos500/Vaisala, Plataforma de Coleta
vôo, a SVO também monitora os parâmetros ambientais
de Dados (PCD) Squitter e pela Weather Monitor/Davis.
(principalmente os de vento), para assegurar-se de
No interior do prédio estão instalados os barômetros
que não excedem os valores críticos utilizados no
aneróides MK-2 e PA21-Vaisala.
projeto e desenvolvimento dos veículos. Fisch (1999)
apresentou algumas das principais
características do perfil de vento
no CLA com informações da TA,
tais como: o perfil do vento segue
o comportamento logaritmo, sendo
que os ventos são mais intensos
na época seca (valores típicos
entre 5,0 a 9,0 ms-1) e as rajadas
não apresentam variações entre os
períodos chuvoso e seco.

Figura 3: Seção de Meteorologia do CLA (SMTCLA).

22
Boletim SBMET novembro/05

2. APOIO METEOROLÓGICO ÀS CAMPANHAS DE


LANÇAMENTO

A atividade de apoio meteorológico nas campanhas


de lançamento de foguete consiste na elaboração de
um boletim diário das condições meteorológicas e
o acompanhamento do tempo presente, com alerta a
possíveis situações adversas ao veiculo, tais como a
ocorrência de precipitação, ventos intensos de superfície
e de altitude, descargas atmosféricas etc. O boletim diário
é composto por informações referentes às condições de
tempo reinantes na região e pela previsão do tempo para
24 horas e tendência para 48 horas. Nas condições de
tempo reinantes são comentados à presença de sistemas
meteorológicos, nebulosidade, ventos de superfície e
altitude, ocorrência de chuva e etc.

No caso do VLS (Figura 6), em que sua montagem


é realizada no CLA, são realizadas várias operações
Figura 5: Vista panorâmica da TA. que precisam ser monitoradas pelo meteorologista. Tais
como, transporte de estágios, coifa, satélites, transporte
A estação de ar superior, composta pelo sistema de propelentes, etc entre o prédio do Setor de Preparação e
Digicora/Vaisala, é responsável pela coleta de dados, a Torre Móvel de Integração (TMI). Este trajeto, de cerca
através de radiossondas. Realiza uma sondagem diária de 800 m, leva em torno de 1 a 2 horas. Portanto, nestas
as 1200 UTC. Estas sondagens diárias formam o banco situações são necessárias previsões meteorológicas
de dados do CLA e podem ser utilizados posterioremente com alto grau de confiabilidade e vigilância do tempo
para estudos climatológicos de fenômenos de interesse presente para garantir a não ocorrência de chuva e ou
(Coutinho e Fisch, 2004). A SVO, antes da campanha de descargas atmosféricas durante estes procedimentos.
lançamento, calcula a trajetória nominal de vôo baseado
nos dados históricos de vento (torre anemométrica
e radiossondagem) do CLA. Ressalta-se que as
condições meteorológicas gerais podem ser diferentes
daquelas previstas pela climatologia. Assim sendo,
durante a campanha de lançamento são realizadas
várias radiossondagens nos horários que precedem o
lançamento, que são utilizadas para ajustar ou mesmo
realizar pequenas correções na trajetória de vôo.

O SMTCLA conta ainda com o Laboratório Sinótico,


que compreende o Sistema de Recepção de Imagens
de Satélites Meteorológico, análise dos resultados dos
principais modelos numéricos de previsão disponíveis,
via internet, e os softwares de análise de dados de
radiossondagens e ventos de superfície, em tempo real.

Figura 6: Veiculo lançador de Satélite (VLS).

23
Boletim SBMET novembro/05

Para uma tomada de decisão do lançamento


de foguete (GO/NO GO), pela SVO, é necessário
informações contínuas dos parâmetros meteorológicos,
principalmente os de ventos. O conhecimento da
estrutura vertical do vento (perfis médios e rajadas
de vento) é de suma importância, pois os foguetes
são projetados e construídos para suportarem uma
determinada carga pela ação do vento. No caso do VLS,
que é um veículo com quatro estágios, sofre desvio
lateral em sua trajetória a ser compensado mais tarde
pelo sistema de guiagem. Nos foguetes de sondagem
(Figura 7), por serem veículos menores, estes são
mais afetados ainda em sua dispersão pelos ventos de
superfície, porque a sua velocidade de decolagem ainda é
relativamente baixa, mudando o azimute de lançamento
pela componente lateral do vento, ou a elevação pela
componente frontal. Resumindo, cada veículo possui
Figura 7: O foguete de sondagem VS30 Orion no lançador.
restrições de lançamento quanto à velocidade do vento
Novembro de 2002.
à superfície, ventos de altitude e cisalhamento.
2.1. Equipe Envolvida
Durante a cronologia de lançamento, o momento
crítico é quando as sondagens são lançadas em espaço
O efetivo do SMTCLA é acrescido de um grupo
de tempo muito curto e os dados transferidos para a
qualificado da ACA (Meteorologistas, Técnicos em
Segurança de Vôo para visualização de intensidade,
Meteorologia e um Engenheiro Eletrônico). A função
direção e cisalhamento do vento, através dos softwares
do Técnico de Meteorologia é preparar e realizar as
(Sismove e Guará). A SVO também calcula o vento
radiossondagens meteorológicas nos horários pré-
balístico, com dados da TA e radiossondagem, para a
estabelecidos, coletar os dados meteorológicos de apoio
tomada de decisão, quando da ocorrência ou não de
à previsão do tempo e calibrar e instalar equipamentos
lançamento. Isto ocorre 2 horas e 30 minutos antes da
meteorológicos necessários. A função do Meteorologista/
Hora de lançamento (H0), sendo que o foguete já está na
Previsor é realizar a previsão meteorológica, usando
posição vertical pronto para ser lançado. Em suma, há a
todos os recursos disponíveis.
necessidade de se conhecer com precisão as condições
de ocorrência de chuva em um raio de 80-100 km do
lançador, que daria um tempo de deslocamento do
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
sistema meteorológico em torno de 2 horas (considerando
um deslocamento típico de 40 kmh-1). Outro ponto
As atividades de apoio meteorológico ao projeto,
importante, nesta situação, é o monitoramento do
desenvolvimento e lançamento de foguete são bem
desenvolvimento de nuvens que estão ocorrendo num
específicas e particulares, pois tem como único
raio inferior a 100 km, a fim de que os responsáveis pelas
objetivo o sucesso de lançamento. Neste sentido, não se
operações sejam avisados com antecedência suficiente
encontram muitas informações disponíveis na literatura
para serem tomadas as providencias necessárias visando
mundial sobre os procedimentos operacionais nos
à segurança das operações.
principais Centros de lançamento mundial, tais como
no Guiana Space Center (GSC), e no Kennedy Space
Center (KSC). O aprendizado destas atividades ocorre,
muitas vezes, através de contatos com instituições
estrangeiras e treinamento sobre o assunto. As atividades

24
Boletim SBMET novembro/05

desenvolvidas no SMTCLA foram, ao longo dos anos, ser realizada previsão de tempo de curto prazo com alto
estabelecidas em função somente de interações locais, grau de confiabilidade para uma tomada de decisão, pela
entre grupos do IAE e/ou CLA. SVO, com maior segurança. O radar meteorológico é
um equipamento importante para esta previsão, pois,
Está sendo adquirido um radar meteorológico para apresenta os campos de nebulosidade, principalmente
o CLA, o que vai contribuir significativamente para relativa à ocorrência ou não de nuvens com precipitação,
melhorar a performance da previsão meteorológica a direção e velocidade de vento, deslocamento e
curto prazo (inferior a 3 horas). Sendo assim, poderá características de sistemas meteorológicos.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Atlas Climatológico do Centro de Lançamento FISCH, G.F. Curso de Reciclagem em Tecnologia


de Alcântara (CLA). Divisão de Ciências Atmosférica Espacial. CTA/IAE/ACA, Dez 1998, 15 p.
(ACA)/IAE/CTA. São José dos Campos, outubro,
2002. MARQUES, R.F.C. Influência de Sistema
Meteorológicos no Regime de Vento no Centro de
COUTINHO, E; G.FISCH. Distúrbios Ondulatórios Lançamento de Alcântara (CLA). XIII Congresso
de Leste (DOLs) na região do centro de Lançamento Brasileiro de Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras.
de Foguetes de Alcântara. XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. 2004.
Meteorologia, Fortaleza/CE, Soc. Bras. Meteorologia.
Anais. 2004. PALMÉRIO, A. F. Introdução à Engenharia de
Foguetes. CTA/IAE/ASE, agosto, 2002, 132 p.
FISCH, G. Características do perfil vertical do vento
no Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara
(CLA). Revista Brasileira de Meteorologia, 14(01):11-
21, 1999.

25
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Boletim SBMET novembro/05

O PROJETO SIVAM, O SIPAM E A SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA A SEGURANÇA DA
NAVEGAÇÃO AÉREA NA AMAZÔNIA LEGAL

Ricardo Luiz Godinho Dallarosa;


Renato Cruz Senna; Jaci Bilhalva Saraiva
Divisão de Meteorologia – DMET
Centro Técnico e Operacional de Manaus – CTO-MN
Sistema de Proteção da Amazônia – SIPAM
E-mails: ricardo@mn.sivam.gov.br, renato@mn.sivam.gov.br,
jsaraiva@mn.sivam.gov.br

A grande preocupação com a integridade territorial e (Sistema de Proteção da Amazônia), contemplando


com a proteção dos inestimáveis - e ainda pouquíssimo segmentos estratégicos importantes para o planejamento
explorados - recursos hídricos, minerais e genéticos do uso sustentável desse frágil ambiente, como é o caso
da Região Amazônica, em associação com a grande da Meteorologia. Nesse contexto, foram instaladas
vulnerabilidade regional ditada pela sua baixa densidade ao longo da região setenta (70) novas estações
demográfica, fizeram surgir na esfera do Poder Executivo meteorológicas automáticas de superfície, onze (11)
brasileiro, na década de 90, um ambicioso projeto estações de radiossondagem, além de dez (10) radares
de vigilância e proteção dessa imensa região e suas meteorológicos, proporcionando uma cobertura de
extraordinárias riquezas. Alicerçado por um fabuloso coleta de dados meteorológicos bastante significativa e
aparato tecnológico, de sensores e de comunicações, e promissora. A Figura 1 mostra a distribuição dos sensores
com o objetivo de gerar, reunir e fornecer informações de meteorologia do SIPAM na Amazônia Legal.
que permitissem integrar as diversas
instituições regionais e nacionais atuantes
nas áreas de pesquisa, proteção ambiental
e vigilância territorial na região, no sentido
de otimizar o planejamento de suas distintas
atividades, surgiu o Projeto SIVAM (Sistema
de Vigilância da Amazônia). Foi apresentado
publicamente pela primeira vez durante a II
Conferência Mundial para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (ECO-92), realizada no
Rio de Janeiro em junho de 1992.

A princípio polêmico por seu gigantismo


e sistematicamente contestado pelo seu
elevado custo econômico, desde a sua
instalação o Projeto vem consolidando a cada
dia a sua importância na consecução do objetivo que Figura 1: Distribuição espacial das estações radares meteorológicos
o originou. Um grande esforço foi despendido na área (ERM), estações de superfície (EMS) e estações de altitude (EMA)
de proteção ambiental com a concepção do SIPAM do SIPAM.

27
Boletim SBMET novembro/05

Dividido em três (03) Centros Técnicos Operacionais demais usuários. Todo esse esforço teve como reflexo
(CTO - MN / BE / PV), distribuídos nas capitais a ampliação da capacidade de atendimento a demandas
Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO), com até então mantidas reprimidas, resultando numa maior
suas Divisões de Meteorologia (DMETs), as quais têm visibilidade do órgão junto à sociedade e suas forças
a função, entre outras, de armazenar, tratar e disseminar representativas. Como resposta, emergiu um ambiente
esses dados na forma de produtos de Meteorologia, o propício à consagração de projetos de cooperação
SIPAM constituiu-se, no curto espaço de tempo de com importantes parceiros que permitiram a exigida
sua existência, numa instituição de referência para a atualização do seu parque de informática.
meteorologia regional.
Historicamente, desde a inauguração do CTO-MN,
O povoamento dos segmentos operacionais nos ocorrida em meados de 2002, o principal parceiro
CTOs, que previa a requisição à órgãos federais de ser- da Meteorologia do SIPAM tem sido a Aeronáutica,
vidores públicos com as correspondentes competências, não apenas pela sua patente proximidade física, mas
esbarrou nas dificuldades desses órgãos em ceder ser- principalmente pela existência de objetivos comuns
vidores em virtude do longo período a que estiveram e até mesmo complementares. O CINDACTA IV,
submetidos sem a possibilidade de realizar concursos, recentemente inaugurado, comunga espaço com o CTO
constituindo-se num ponto nevrálgico na implantação formando um grande complexo arquitetônico próximo
do sistema. Isso estimulou a utilização de contratações ao aeroporto de Manaus. Dessa forma, todos os produtos
terceirizadas como forma de se buscar uma solução al- de meteorologia definidos no projeto original têm sido
ternativa que permitisse prosseguir com o planejamento sistematicamente disponibilizados em tempo real para
da inadiável busca da condição operacional. os segmentos de meteorologia dos Serviços Regionais
de Proteção ao Vôo (SRPVs), além de produtos
A formação de uma equipe de meteorologistas especiais gerados na DMet-MN, conforme é destacado
experientes e qualificados na DMet-MN teve a mais adiante.
indispensável colaboração da Direção Geral do SIPAM
e da Gerência Regional de Manaus, cuja sensibilidade
permitiu reunir meteorologistas com reconhecida 1. A ATUAÇÃO NA SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO
experiência em distintas áreas (sistemas, comunicação, AÉREA
meteorologia dinâmica, climatologia, modelagem, etc)
contemplando a estratégia proposta de uma desejável Dentre os diversos produtos de meteorologia
multidisciplinaridade na formação desses profissionais, disponíveis aos vários segmentos da sociedade, os
que reúne atualmente sete (07) meteorologistas - dentre alertas meteorológicos ganharam um destaque especial.
os quais três (03) doutores - e cinco (05) técnicos São produtos de previsão de curto e curtíssimo prazo,
cursando terceiro grau e com boa experiência na área destinados à Defesa Civil e ao Controle de Tráfego
de informática. Paralelamente, teve início um processo Aéreo (ATC) do Serviço Regional de Proteção ao Vôo
de atualização e desenvolvimento de produtos de (SRPV). À Defesa Civil os principais recursos utilizados
meteorologia ainda inexistentes quando da elaboração têm suporte essencial no monitoramento do tempo por
do projeto, mas imprescindíveis para a necessária imagens de radar meteorológico, enquanto para o ATC
equiparação dos serviços com aqueles dos demais os alertas se valem das imagens de satélite (GOES-
centros de meteorologia operacional do país. 12 e NOAA-12-15-16-17) como suporte ao envio de
cartas de risco diretamente ao console do controlador de
Na esteira destas ações foi instaurada a operação tráfego (Figura 2), produzidas sobre imagens de satélite
expandida com uma nova formatação de trabalho, (no caso, da plataforma GOES-12, canal infravermelho),
onde as atividades passaram a ser desenvolvidas onde as áreas em azul indicam temperaturas mais baixas
durante o período entre as 07 e as 23 horas ao longo (verificadas em nuvens com topo mais elevado) e maior
dos sete dias da semana, o que conferiu maior fôlego concentração de vapor d’água.
à atuação do segmento junto aos principais parceiros e

28
Boletim SBMET novembro/05

Figura 3: Número total mensal de cartas de risco enviadas ao ATC


(SRPV-MN), em 2005.

Figura 2: Carta de risco meteorológico produzida sobre imagem Outro sensor do SIPAM bastante utilizado pela
de satélite. meteorologia da Aeronáutica é o radar meteorológico.
Para este parceiro, os principais produtos do sensor radar
Após identificar as áreas de possíveis riscos à são as imagens CAPPI (Constant Altitude Plan Polar
navegação aérea, os técnicos da DMet, através da Indicator) e PPI (Plan Polar Indicator), que constituem
utilização de recursos específicos do software de importantes ferramentas na identificação e localização
meteorologia disponível (ESYMET), cercam essas áreas de fenômenos presentes na área de cobertura das antenas
com polígonos irregulares e identificam brevemente dos radares meteorológicos (Manual do Operador
esses riscos, geram o correspondente arquivo de envio FROG VIS). São produtos constituintes das receitas
e encaminham ao controlador de tráfego. Este dispõe operacionais dos radares do SIPAM, gerados a cada
de um monitor onde aparecem as rotas e as posições intervalo de 10 minutos e que mostram a presença de
das aeronaves em trânsito no momento, sobre o alvos meteorológicos (nuvens) no raio de alcance (400
qual recebe apenas os polígonos acompanhados do km) da antena em diferentes alturas pré-determinadas
código do tipo fenômeno associado, o que permite (no caso, PPI com elevação de 0° e CAPPI a 2 km de
definir conjuntamente com o piloto da aeronave os altura).
correspondentes procedimentos de segurança a serem
adotados em cada caso. A Figura 4 apresenta ambos os produtos com
visualização através do software de visualização Colibri
A Figura 3 apresenta o total mensal de intervenções (FROG VIS), instalado nas máquinas do Centro de
(envios) destinadas ao ATC efetuadas no ano de 2005, Controle e Operação dos Radares Meteorológicos do
até o mês de outubro, evidenciando a importância do SIPAM, na DMet/MN e em fase de aquisição pelo
serviço prestado. Foram realizadas ao todo cerca de SRPV-MN. A régua de cores, posicionada verticalmente
611 intervenções, 74% das quais ocorreram nos meses na extremidade direita do quadro das imagens, apresenta
da estação chuvosa, entre janeiro e maio (451). Esses uma variação de cores desde o azul (baixa concentração
números são bastante significativos, principalmente de vapor) até o vermelho (alta concentração).
levando-se em conta que a região apresentou neste Relativamente às medidas dos ecos, estas cores indicam
período (2005) uma das maiores estiagens da sua história registros que vão desde 0 a 90 dbz ou mais, sendo que
tendo, como conseqüência óbvia, uma correspondente acima de 35/40 dbz (faixa do laranja) já identificam
sensível redução no número de ocorrências. ocorrência de precipitação no local.

29
Boletim SBMET novembro/05

Figura 4: Produtos PPI (400 km) e CAPPI (250 km), do radar de Porto Velho, conforme visualizados pelo Colibri.

Relativamente ao sensor radar meteorológico está 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


em estudo uma proposta de integração entre as unidades
do SIPAM e da Aeronáutica, contemplando uma FROG VIS Operator’s Manual. Edition 1, Revision
receita operacional mínima comum e a correspondente 1, by GAMIC, Aachen, Germany, 2002, 90 p.
uniformização dos seus horários de operação. Os radares
meteorológicos constituem a área de desenvolvimento TERASCAN Software Trainig Guide,. Revision
mais promissora do segmento de meteorologia do E., by SeaSpace Corporation, Poway/CA, USA, 2000,
sistema e devem, brevemente, receber uma atenção 230 p.
especial atendendo proposta de criação de um Núcleo
de Radares Meteorológicos, com a formação de um Weather Information Processing Operator’s
grupo exclusivamente dedicado. Course. Ed by Raytheon Company, Dallas/TX, USA,
2001, 122 p.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A original apreensão inicial quanto ao sucesso desse


ousado e complexo projeto, conduzida pela inexistência
de um paradigma que oferecesse a ansiada segurança de
obtenção de êxito, foi-se desvanecendo com a produção
e evolução natural dos seus segmentos operacionais
onde coube à meteorologia desempenhar o seu papel.
O sentimento de que o SIPAM ocupa um importante
espaço no cenário amazônico e a expectativa de contínua
expansão dos seus recursos e produtos originalmente
previstos, faz do mesmo um substantivo e natural
ambiente de convergência dos anseios por soluções a
questionamentos regionais até então dispersos, o que
confere ao sistema uma responsabilidade e um desafio à
altura da sua pretendida abrangência, a Amazônia Legal
Brasileira.

30
Boletim SBMET novembro/05

ACIDENTES AÉREOS ASSOCIADOS À CONDIÇÕES


METEOROLÓGICAS ADVERSAS E MELHORIA
CONTÍNUA DOS SISTEMAS DAS AERONAVES

Ney Ricardo Moscati (*)


Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. – EMBRAER
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2170 – São José dos Campos – SP CEP: 12227-901
E-mail: ney.moscati@embraer.com.br

O desenvolvimento dos sistemas das aeronaves para na alteração dos regulamentos de certificação. Este
operação civil (propulsão, comunicação, navegação, processo propiciou ao transporte aéreo a posição de
elétrico, hidráulico, pressurização, comandos de vôo, ser um dos meios de transporte mais seguro. No Brasil,
trem de pouso, piloto automático, proteção de gelo, como referência, no ano de 2004 houve uma média de
entre outros) está diretamente relacionado ao processo 3,74 acidentes por milhão de decolagens de aeronaves
de certificação da aeronave. No Brasil, a autoridade de massa acima de 27.200 kg (CENIPA/DAC, 2005).
certificadora é o Centro Técnico Aeroespacial (CTA),
representado pelo Instituto de Fomento e Coordenação Identificar a causa de um acidente aéreo é atividade
Industrial (IFI), com sua respectiva regulamentação complexa, uma vez que diversos fatores, ou mesmo uma
definida através do Regulamento Brasileiro de combinação destes, podem provocar um acidente. Pode-
Homologação Aeronáutica (RBHA). Nos Estados se citar como os fatores causadores de acidentes aqueles
Unidos da América (EUA) a autoridade certificadora relacionados ao controle de trafego aéreo, controle em
é o Federal Aviation Administration (FAA) e respectivo solo, operação da tripulação, manutenção, qualidade
Federal Aviation Regulations (FAR), enquanto na da manufatura, projeto da aeronave e condições
Europa é a European Aviation Safety Agency (EASA)/ atmosféricas. As condições atmosféricas consideradas
Joint Aviation Authorities (JAA) e respectivo Joint neste trabalho são: condições que resultam no acúmulo
Aviation Regulations (JAR). de gelo sobre as superfícies externas da aeronave,
descargas elétricas, windshear (tesoura de vento),
Um dos importantes instrumentos utilizados para condições de baixa visibilidade provocada por neblina,
aumentar a segurança do transporte aéreo é a análise turbulência e tempestade. Nas investigações das causas
e entendimento de seus acidentes e incidentes. No dos acidentes podem ser utilizadas informações da
Brasil, as investigações são coordenadas pelo Centro “caixa preta” (contendo dados de voz e de vôo) e de
de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos radar em solo (trajetória), resultados de simulações,
(CENIPA), órgão central do Sistema de Investigação da análise de destroços, da análise de procedimentos
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER), operacionais e de manutenção, entre outros. No site
subordinado diretamente ao Estado-Maior deAeronáutica do CENIPA (http://www.cenipa.aer.mil.br) são
(EMAER). O CENIPA é responsável por promover a encontradas estatísticas de acidentes da aviação civil,
segurança da atividade aérea do país, por intermédio do envolvendo aeronaves de matrícula brasileira, ocorridos
gerenciamento das tarefas de investigação e prevenção em território nacional e no exterior. Também, no site
de acidentes, incidentes aeronáuticos e ocorrências de do DAC (www.dac.gov.br/estatisticas) é disponível
solo. Muitas vezes o resultado dessas análises resulta estatísticas de acidentes aeronáuticos por tipo de

(*) As informações contidas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não da EMBRAER.

31
Boletim SBMET novembro/05

operação (regular, agrícola, instrução, taxi aéreo, a) 21,3 % dos acidentes têm como causa ou
privados, públicos), entre outros assuntos relacionados. contribuição as condições meteorológicas (vento,
Nos EUA, as investigações são conduzidas pelo visibilidade/altura da camada de nuvens, turbulência,
National Transport Safety Board (NTSB), uma agência gelo, altitude barométrica, precipitação, tempestade,
federal independente, encarregada pelo Congresso de windshear);
investigar todos os acidentes da aviação civil ocorridos
nos EUA, emitindo recomendações de segurança com b) O número de acidentes e a correlação com
o objetivo de prevenir futuros acidentes. Também, a condição atmosférica dependem fortemente da
com o objetivo de promover análises e uma troca de categoria de operação da aeronave. A Tabela 1 apresenta
informações relativas à segurança de aeronaves visando os acidentes aeronáuticos relacionados com condições
uma melhoria contínua da segurança na aviação, o FAA meteorológicas por categoria de operação. As Tabelas
criou o National Aviation Safety Data Analysis Center 2 e 3 apresentam o número de eventos por categoria de
(NASDAC). condição meteorológica para aviação geral (categoria de
operação FAR Parte 91) e para aviação doméstica, de
O objetivo deste trabalho é apresentar algumas bandeira e suplementar (categoria de operação FAR Parte
estatísticas que correlacionam acidentes aéreos com 121), respectivamente. Vale ressaltar que um acidente
condições meteorológicas adversas e como o projeto pode envolver múltiplas condições atmosféricas;
dos sistemas das aeronaves evoluíram de forma a evitá-
los. Por fim, apresenta-se um glossário de alguns termos c) 41,2% de todos os acidentes relacionados às
técnicos utilizados na indústria aeronáutica (grafados ao condições meteorológicas não mostram registro
longo do texto em caixas em tom de cinza). de conhecimento prévio do piloto das condições
meteorológicas presentes;
1. ACIDENTES AÉREOS RELACIONADOS COM
CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS d) Embora o total anual de acidentes tenha diminuído
no período estudado, a porcentagem dos acidentes
Um estudo realizado pelo NASDAC utilizando relacionados com condições atmosféricas adversas
a base de dados de acidentes do NTSB no período de em relação ao total anual de acidentes permaneceu
1994 a 2003 constatou que: praticamente constante.

Tabela 1: Acidentes relacionados com condições meteorológicas, por categoria de operação.

CATEGORIA DE OPERAÇÃO TOTAL DE EVENTOS


Aviação Geral (FAR Parte 91) 3.617
Operações Complementares e por Demanda (FAR Parte 135) 257
Operação de Aviação Agrícola (FAR Parte 137) 141
Operações Domésticas, de Bandeira e Suplementares (FAR Parte 121) 116
Uso Público 19
Operação de Aeronaves de Asas Rotativas com Cargas Externas (FAR Parte 133) 7
Operação de Empresas Estrangeiras (FAR Parte 129) 7
Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103)) 3
Total 4.167
FONTE: http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.

32
Boletim SBMET novembro/05

Tabela 2: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operação de aviação geral (FAR Parte 91).

CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA TOTAL DE EVENTOS


Vento 2.514
Visibilidade/Altura da camada de nuvens 977
Turbulência 371
Gelo 350
Altitude barométrica 347
Precipitação 208
Tempestade 94
Windshear 59
Outros (não nos EUA, Comercial e Veículos Ultraleve (FAR Parte 103) 7
Total 4.927
FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.

Tabela 3: Eventos por categoria de condição meteorológica para categoria de operações doméstica, de bandeira e suplementares
(FAR Parte 121).

CATEGORIA DE CONDIÇÃO METEOROLÓGICA TOTAL DE EVENTOS


Turbulência 92
Vento 11
Precipitação 8
Tempestade 3
Visibilidade/Altura da camada de nuvens 3
Altitude barométrica 2
Windshear 2
Outros 2
Gelo 1
Total 124
FONTE:http://www.nasdac.faa.gov/aviation_studies/weather_study/studyindex.html.

Especificamente relativo a acidentes em que uma das c) O NTSB cita as correntes de ar descendentes como
causas pode ser atribuída a ocorrência de turbulência, a causa ou o fator mais freqüente em acidentes da
um estudo da NASDAC realizado no período 1992 a aviação geral;
2001 constatou que (NASDAC, 2004): d) A Turbulência de Ar Claro (do inglês, Clear
Air Turbulence) freqüentemente foi citada nos
a) 23% dos acidentes resultaram em mortes de acidentes de operação doméstica, de bandeira e
ocupantes da aeronave; suplementares (FAR Parte 121).
b) Os acidentes da Aviação Geral (FAR Parte 91)
relacionados com turbulência, reduziram em
cerca de 60% no período estudado;

33
Boletim SBMET novembro/05

1.1. Acidentes Associados ao Acúmulo de Gelo em ocorridos nos últimos 20 anos, onde o acúmulo de gelo
Superfícies Externas de Aeronaves e Sistemas de foi considerado como um dos fatores responsáveis pelo
Proteção de Gelo acidente. Nessa tabela destaca-se a fase do vôo em que
ocorreu o acidente e o número de mortes.
A operação da aeronave pode ser afetada através do
acúmulo de gelo: a) nas asas e superfícies, degradando Baseado na análise desses acidentes, o NTSB tem
a sustentação, controlabilidade e aumentando o arrasto; alertado sobre os perigos do acúmulo de gelo na superfície
b) em sensores para medir velocidade, altitude e ângulo superior das asas, e considerou necessária a revisão
de ataque, resultando em erros nas medidas; c) no da maneira pelas quais as aeronaves são projetadas e
parabrisa, degradando a visibilidade; d) na entrada de certificadas para operar em condições de gelo. Também
ar dos motores, uma vez que a ingestão de gelo pelo recomendou modificações nos regulamentos relativos
motor pode causar danos no compressor ou nas pás aos requisitos de aeronavegabilidade de aviões da
do primeiro estágio do motor e pode causar alterações categoria normal, utilidade, acrobático e transporte
no escoamento de ar, resultando em degradação de regional (FAR Parte 23) e de aviões da categoria
desempenho; entre outros. A Tabela 4 apresenta a transportes (FAR Parte 25).
relação de alguns acidentes catalogados pelo NTSB,

Tabela 4: Acidentes relacionados ao acúmulo de gelo.

Data do Companhia Modelo de Local do acidente Referência (*) Fase de vôo


acidente Aérea/vôo aeronave (nº de mortes)

28/11/2004 Air Castle Bombardier Montrose, Colorado, DEN05MA028 Decolagem


Challenger 604 EUA (3)
04/01/2002 Epps Air Service Bombardier Birmingham, Inglaterra AAIB 5/2004 Decolagem
Inc. Challenger 604 (EW/C2002/1/2) (5)

09/01/1997 Commair - 3272 EMB-120RT Monroe, Michigan, NTSB/ Cruzeiro


EUA AAR-98-04 (29)
31/10/1994 American Eagle ATR 72-212 Roselawn, Indiana, NTSB/ Cruzeiro
– 4184 EUA AAR-96-01 (68)

22/03/1992 US Air – 405 Fokker F-28 Aeroporto de NTSB/ Decolagem


Laguardia, Flushing, AAR-93-02 (27)
New York, EUA

17/02/1991 Ryan International DC-9-15 Cleveland-Aeroporto NTSB/ Decolagem


Airlines Internacional Hopkins, AAR-91-09 (2)
Cleveland, Ohio, EUA

1987 a 26 acidentes Cessna 208 Diversos locais NTSB/ 26 acidentes


2003 envolvendo A04-64-67 (36)
Cessna 208 DCA02MA003
(*) O significado das siglas são: AAR (Aircraft Accident Report), A (Safety Recommendation) e DCA/DEN (identificação do acidente).
FONTE: NTSB (2004, 2005a, b).

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Boletim SBMET novembro/05

Para proteger a aeronave dos efeitos do acúmulo de e altitude.


gelo, deve-se identificar quais superfícies e sensores
devem ser protegidos e através de qual sistema. Cebeci e Kafyeke (2003) apresentam os métodos
de cálculo para: a) predição de crescimento de gelo; b)
Os sistemas de proteção de gelo são classificados auxiliar no projeto de sistemas de anti-gelo e de-gelo; c)
como: a) sistemas anti-gelo, que evitam o acúmulo de determinar os efeitos no desempenho da aeronave. Estes
gelo através de uma operação contínua; b) sistemas métodos, associados à ensaios em túnel de vento, túnel
de degelo, que quando acionados removem o gelo de gelo e ensaios em vôo, permitem reduzir o tempo e
acumulado. É importante ressaltar que a energia os custos de certificação. Parte da campanha de ensaio
disponível para acionar esses sistemas é limitada, o em vôo pode ser realizada através da fixação de gelo
que pode ditar, em um projeto, qual o mecanismo de artificial, feitos de isopor, resina e/ou lixa. Esta última,
proteção que será utilizado. Para o desenvolvimento usada para simular os efeitos da formação de gelo em
do projeto do sistema de proteção de gelo, devem-se suas fases iniciais, quando este altera a rugosidade
considerar as características operacionais da aeronave da superfície aerodinâmica, nos bordos de ataque das
e as condições meteorológicas, definidas no Apêndice C superfícies de sustentação, conforme as formas preditas
do FAR Parte 25. em simulação ou verificadas em túnel de gelo. Nestes
ensaios é possível determinar o efeito do acúmulo de
A física básica do fenômeno de formação e acúmulo gelo no coeficiente de sustentação e controlabilidade da
de gelo nas superfícies externas de aeronaves é baseada aeronave. Na Figura 1, a título de exemplo, apresenta-
no fenômeno de metaestabilidade (onde um estado de se alguns resultados de simulação computacional e
não-equilíbrio pode permanecer por algum tempo), tal experimental em túnel de vento/gelo obtidos por Cebeci
que dentro de uma nuvem podem-se encontrar gotas e Kafyeke (2003).
de água líquida super resfriada, onde as temperaturas
estejam abaixo do ponto de congelamento. A passagem
da superfície aerodinâmica pode criar condições para
que gotas de água se congelem nas superfícies da
aeronave.

O acúmulo de gelo, basicamente, é função dos


seguintes fatores: quantidade de água líquida (Liquid
Water Content – LWC, expressa em gm-3) presente
na atmosfera local, velocidade e ângulo de ataque da
aeronave, geometria da asa, diâmetro das gotas de
água líquida, temperatura local e tempo de exposição
da aeronave à uma determinada condição atmosférica.
Estatísticas mostram que para determinados tipos Figura 1: Simulação de crescimento de gelo no bordo de ataque
de nuvens existe uma relação definida entre LWC, da asa.
temperatura, altitude barométrica e diâmetro de gotas. FONTE: Adaptada de Cebeci e Kafyeke (2003).
O Apêndice C do FAR Parte 25 apresenta, para as
condições de “nuvem stratus/exposição contínua” e Entretanto, conforme Cebeci e Kafyeke (2003),
“nuvem cúmulus/exposição intermitente”, as seguintes ainda existem muitos desafios na simulação de
relações: a) LWC em função do diâmetro médio das formação de gelo em aeronaves. Pela própria
gotas e temperatura; b) temperatura versus altitude natureza física do fenômeno, este tende a ser caótico,
barométrica; c) Fator LWC versus extensão horizontal pois repetições dos experimentos não resultam em
da nuvem. A condição operacional da aeronave formações idênticas. Segundo os autores, as principais
também é fundamental nesta análise, pois, caracteriza razões para este comportamento são: a) os caminhos da
a configuração (flap/slat), velocidade, ângulo de ataque água sobre a superfície são altamente imprevisíveis e

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Boletim SBMET novembro/05

afeta fortemente a formação do gelo; b) A rugosidade muitas aplicações devido a grande quantidade de
da superfície tem um papel relevante na formação de fluido necessária e a possibilidade de entupimento
gelo e varia significativamente quando o gelo começa do sistema de controle de fluido. Vale lembrar
a se acumular; c) A densidade do gelo é função do ar que é mandatório em condições de acúmulo de
capturado na formação de gelo, podendo variar muito gelo ou neve, antes da decolagem, o degelo das
de um caso para outro. superfícies através do spray manual de fluidos
anti-gelo pela equipe de solo;
Vale ressaltar que parte da campanha de ensaios de
certificação deve ser realizada com gelo natural. Devido d) Sistemas mecânicos: através de um sistema
aos custos elevados das campanhas de ensaio em vôo e pneumático ou elétrico, consistem em expandir
da dificuldade de se encontrar condições específicas de um material flexível que quebra e remove
gelo, muitas vezes utiliza-se os serviços de especialistas mecanicamente o gelo acumulado. Este tipo
para prever o momento e a localização da ocorrência das de sistema foi amplamente utilizado no bordo
condições de gelo. Estes especialistas são conhecidos de ataque das asas e empenagem em aeronaves
como caçadores de gelo (do inglês, ice hunter). com motor a pistão e turbo-hélices. Note-se que
estes sistemas geralmente não são aplicáveis para
Conforme a Advisory Circular (AC) 20-73, material as hélices, onde o desbalanceamento pode ser
complementar interpretativo dos requisitos do FAA, crítico.
existem basicamente quatro tipos de sistemas anti-gelo
e degelo usados para proteger as superfícies expostas Para a detecção de gelo, utiliza-se frequentemente um
das aeronaves:: sensor eletromecânico, onde uma pequena haste, com
alto coeficiente de coleta de gelo, instalada na aeronave,
a) Sistemas baseados em ar quente: usado na maior oscila na sua freqüência natural. Ao se acumular gelo
parte dos grandes jatos de transporte, devido à na haste, a freqüência natural de oscilação é reduzida e
maior disponibilidade de ar quente proveniente através da mudança da freqüência, pode-se determinar a
dos motores, de sua eficiência e confiabilidade. massa de gelo acumulada na haste. Geralmente o detector
Tipicamente o ar quente é usado para prevenir ou de gelo apresenta uma saída discreta (condição de gelo
remover o acúmulo de gelo nas bordas das asas / condição de NÃO gelo). Desta forma, definindo-se um
e dispositivos hipersustentadores (slats da asa), limiar para a freqüência, pode-se definir a condição de
superfícies dos estabilizadores e entrada de ar dos gelo da aeronave.
motores;

b) Sistemas baseados em resistências elétricas: 1.2. Acidentes associados a descargas atmosféricas


usado em vários tipos de aeronaves. Podem ser e sua proteção
sistemas de degelo ou anti-gelo, dependendo
do consumo durante a operação. Desta forma, As descargas atmosféricas são descargas elétricas de
limitam-se a pequenas áreas da aeronave ou grande intensidade que podem ocorrer internamente a
sensores como parabrisa, portas estáticas, tubo uma nuvem, entre nuvens, e entre nuvem e solo. A corrente
de pitot, e sensores situados na área externa do elétrica (centenas de amperes) resulta na geração de altas
avião, sensíveis ao acúmulo de gelo; temperaturas (algumas dezenas de milhares de graus),
altas pressões (dezenas de atmosferas) ao longo de sua
c) Sistemas líquidos: sistemas que utilizam glycol trajetória, além da criação de campos eletromagnéticos.
(um álcool anti-congelante) e outras substâncias As descargas podem variar em termos da corrente,
químicas foram desenvolvidos para sistemas energia, características no tempo, tais como tempo
anti-gelo e degelo para painéis das asas, radomes de subida e repetição de pulsos. Maiores informações
e parabrisa. Sistemas de pressão associados a sobre descargas atmosféricas estão disponíveis no site
materiais porosos e de spray foram também da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas
desenvolvidos. Estes sistemas não encontraram Atmosféricas (RINDAT)(http://www.rindat.com.br).
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Boletim SBMET novembro/05

Os principais riscos envolvidos quando uma Exemplos de sistemas digitais utilizados em


aeronave é atingida por raios são: ignição do vapor aeronaves modernas são: a) controle dos motores através
de combustível dos motores, falhas e danos em do Full Authority Digital Engine Control (FADEC), b)
equipamentos eletro/eletrônicos incluindo sistemas de controle de superfícies de comando primário através da
comunicação, navegação, elétrico, controle e atuadores, tecnologia conhecida por Fly By Wire (FBW), c) sistemas
dano mecânico, entre outros. Considera-se como efeito de comunicação e navegação, d) sistema elétrico, entre
direto aqueles associados aos danos ocorridos no ponto outros. Os níveis de potência reduzidos utilizados nestes
de contato da descarga elétrica e efeitos indiretos àqueles sistemas vêm tornando seus circuitos potencialmente
associados à tensões elétricas transitórias induzidas na mais susceptíveis a tensões e correntes induzidas,
aeronave devido a mudanças no campo eletromagnético podendo resultar em mau funcionamento, falha ou até
e a passagem da corrente elétrica pela aeronave, que dano permanente em componentes eletrônicos.
possui certa resistência elétrica. As estatísticas mostram
que se pode considerar que cada aeronave é atingida A Divisão de Segurança de Aeronaves e Aeroportos
por uma descarga atmosférica uma vez por ano (Serra, (Airport and Aircraft Safety R&D Division) do
2003). Embora o número de acidentes relacionados com FAA (AAR 400) tem realizado pesquisas relativas à
descargas elétricas tenha reduzido consideravelmente descargas atmosféricas. A Tabela 5 apresenta alguns
nas últimas décadas, este assunto torna-se relevante acidentes aéreos onde as descargas atmosféricas foram
nas aeronaves mais modernas devido ao uso crescente consideradas como um dos fatores responsáveis pelo
de materiais compostos, geralmente mais leves, e de acidente. Após a análise de dois acidentes aéreos em
sistemas digitais em funções críticas. Devido à sua particular, mudanças significativas ocorreram nos
menor condutividade elétrica os materiais compostos requisitos de certificação. O primeiro deles ocorreu em
reduzem a proteção geralmente obtida com alumínio, 1963, quando um Boeing 707 caiu após ter sido atingido
material usado anteriormente. por um raio, com conseqüente ignição do combustível
da asa esquerda, e o segundo, em 1976, de um Boeing
747 que também caiu devido à mesma causa.

Tabela 5: Acidentes relacionados às descargas atmosféricas.

Data do Companhia Modelo de Local do Referência (Relatórios de Fase de vôo


acidente Aérea - vôo aeronave acidente várias fontes) (nº de mortes)
04/12/2003 Kato Air – 603 Dornier Bodoe, Avisa Nordland Pouso
228-202 Noruega (0)
08/02/1988 Nurnberger Swearing Mulheim, ICAO Adrep Summary Aproximação
Flugdienst – NFD SA.227AC Alemanha 2/90 (#32) (21)
Metro III
09/05/1976 Iran Air Force Boeing Madrid, NTSB Aproximação
747-131F Espanha AAR-78-12 (17)
24/12/1971 Líneas Aéreas Lockheed Puerto Inca, N/A Cruzeiro
Nacionales – 508 L-188ª Electra Peru (91)
08/12/1963 Pan American Boeing Elkton, NTSB - DCA64A003 Holding
World Airlines 707-121 Maryland, EUA (81)
12/08/1963 Air Inter Vickers Lyon, França ICAO Accident Digest Aproximação
Viscount No.15 - Volume II, Circu- (20)
lar 78-AN/66 (179-185)
FONTE: http://www.airdisaster.com e http://aviation-safety.net.

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Boletim SBMET novembro/05

Para proteger a aeronave de descargas elétricas, correntes descendentes de ar, geralmente associados
devem-se seguir as seguintes etapas (AC 20-136): a condições de tempestade e precipitações leves com
nuvens convectivas. Entretanto, também podem
a) Determinar as regiões da aeronave mais propensas ocorrer em condições relativamente secas de chuvas
para entrada e saída das descargas elétricas. leves ou virga (precipitação que evapora antes de
Essas regiões variam de aeronave para aeronave atingir a superfície da terra). Observações sugerem
e dependem essencialmente de sua geometria, que aproximadamente 5% das tempestades produzem
material utilizados e fatores operacionais; microburst.

b) Estabelecer as características da descarga elétrica, Na Figura 2, apresentam-se de maneira simplificada


no que se refere à intensidade da corrente e e genérica o movimento da massa de ar e os vórtices
forma de onda (tempo de subida e decaimento). gerados quando o microburst ocorre próximo ao solo.
A regulamentação aeronáutica define algumas Quando a aeronave encontra-se na posição A, ocorre um
formas de ondas consideradas representativas das aumento da velocidade em relação ao ar e conseqüente
condições normais de operação; ganho de sustentação. Na posição B, podem-se encontrar
massas de ar descendentes com velocidades de até
c) Determinar os caminhos prováveis da corrente 3000 pés.min-1. Variações rápidas nestas velocidades
elétrica e conseqüentes tensões elétricas e campo podem aumentar significativamente a carga de trabalho
eletromagnético na aeronave; do piloto, devido a eventuais disparos do shaker. Na
posição C, ocorre uma perda de velocidade em relação
d) Identificar todos os sistemas e equipamentos
ao ar e conseqüente perda de sustentação. É importante
críticos/essenciais e suas respectivas localizações
mencionar que alguns sensores/instrumentos são
de instalação na aeronave;
susceptíveis a estes vórtices, tais como portas estáticas
e) Estabelecer os níveis aceitáveis quanto a (altitude barométrica), tubo de pitot (velocidade) e
transientes dos equipamentos e sistemas. sensor de ângulo de ataque, apresentando algumas vezes
indicações incorretas. A Tabela 6 relaciona os acidentes
f) Projetar a proteção reduzindo os transientes em associados a condições de windshear.
tensão elétrica através da análise do roteamento,
blindagem e aterramento da cablagem e
equipamentos, diminuindo a susceptibilidade
dos equipamentos aos transientes e instalação de
dispositivos como diodos de avalanche, varistores
e filtros;

g) Verificar a eficiência da proteção através de testes


em laboratório e com a aeronave em solo.

1.3. Acidentes associados a windshear e sistemas


associados

Entende-se por windshear as variações rápidas


na velocidade ou direção do vento (AC 00-54). Este Figura 2: Microburst de baixa altitude.
fenômeno está frequentemente associado a microburst, FONTE: Adaptado da AC 00-54.
um fenômeno caracterizado por fortes e concentradas

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Boletim SBMET novembro/05

Tabela 6: Acidentes relacionados à windshear.

Data do Companhia Modelo de Local do acidente Referência Fase de vôo


acidente Aérea - vôo aeronave (Relatórios do (nº de mortes)
NTSB)
02/07/1994 USAir McDonnell Charlotte- Douglas AAR-95/03 Aproximação
Douglas DC-9-30 Airport, NC (37)

02/08/1985 Delta Air Lines Lockheed L-1011 Dallas-Fort Worth, AAR-86/05 Aproximação
TriStar Texas, EUA (134)
09/07/1982 Pan American Boeing-727 Kenner, Lousiana, AAR-83/02 Decolagem/
World Airways EUA subida (145)

12/06/1980 Air Winsconsin Swearingen 226 Nebraska, EUA DCA80AA019 Aproximação


Metroliner(SW-4) (13)

04/04/1977 Southern DC-9 New Hope, Geórgia, DCA77AA015 Aproximação


Airways EUA (62)

23/06/1976 Allegheny McDonnell Philadelphia, Penn- AAR-78-02 Aproximação


Airlines Douglas DC-9-30 sylvania, EUA (0)

17/12/1973 Iberia McDonnell Boston, Massachu- AAR-74-14 Pouso


Douglas DC-10 setts, EUA. 0)
23/07/1973 Ozark Airlines Fairchild FH-227 St. Lousi, Missouri, AAR-74-05 Aproximação
EUA (38)
FONTE: Safety Recomendation do NTSB de 18 de junho de 1990.

Baseado nos acidentes listados na Tabela 6, de sensores inerciais e sensores anemométricos,


identificou-se as seguintes áreas como relevantes identificam a entrada (aumento de vento de
na prevenção de acidentes associados a windshear: proa) e saída (aumento de vento de cauda) do
1) melhoria da capacidade de detecção, através de windshear, bem como vento descendente (vide
radares especiais em solo, previsão e comunicação aos Figura 2). Estes algoritmos têm como saída
pilotos de condições de windshear de baixa altitude indicações aurais e visuais na cabine. Estes
nas proximidades dos aeroportos, 2) treinamento dos sistemas permitem a identificação da condição
pilotos em condições de windshear, incluindo sessões de windshear em intervalos de tempo reduzidos
de simulador, 3) Equipar a aeronave de forma a auxiliar permitindo ações corretivas por parte do piloto;
o piloto na detecção e manobra de recuperação da
condição de windshear. b) Sistema de prevenção de windshear, através do
radar da aeronave. Alguns tipos de windshear
Baseado nestas recomendações foram desenvolvidos apresentam padrões característicos, que permitem
os seguintes sistemas nas aeronaves: identificá-los com antecedência;

a) Sistema de detecção de windshear que, através c) Sistema de guiagem em condições de windshear


de algoritmos implementados em software e que, através de algoritmos que gerenciam a
hardware que utilizam informações em tempo real energia da aeronave, otimizam a manobra
de recuperação. O índice de desempenho

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Boletim SBMET novembro/05

utilizado envolve a minimização da perda de durante a aproximação/pouso de precisão,


altitude durante o windshear. Basicamente estes na qual se deve iniciar um procedimento de
algoritmos privilegiam a trajetória, permitindo arremetida caso não se tenha estabelecido a
excursões de velocidade e garantem que em caso referência visual necessária para continuar a
de choque com o solo, a energia cinética seja aproximação.
minimizada. A manobra de recuperação pode
ser realizada tanto através do piloto automático 2. Runway Visual Range (RVR) ou alcance
quanto através do piloto seguindo manualmente visual de pista, que indica a distância em
uma guiagem disponibilizada pelo algoritmo. metros ou pés, na qual o piloto de uma
aeronave no centro da pista consegue ver as
marcações da pista, ou as luzes que delineiam
A AC 00-54 trata em detalhe dos casos de encontro a pista, ou ainda a linha de centro de pista
da aeronave com uma condição de windshear durante em condições de baixa visibilidade. O RVR
as fases de pouso ou decolagem e faz basicamente as ao longo da pista é determinado através de
seguintes recomendações: medições obtidas utilizando instrumentos
posicionados próximos à pista (zona de
a) A melhor prevenção é evitar o encontro da toque da aeronave, meio e fim da pista) que,
aeronave com a condição de windshear, pois se através da comparação de um sinal ótico
pode chegar a uma condição além da capacidade emitido e recebido, permite a determinação
de desempenho da aeronave (tração dos motores da opacidade da atmosfera no momento.
e sustentação), tornando-se impossível evitar o
choque da aeronave com o solo; Definem-se três Categorias de operação (CAT) em
condições de baixa visibilidade (AC 120-28D, Anexo 6
b) Deve-se reduzir ao máximo o tempo de do ICAO – IS&RP):
reconhecimento da condição de windshear, pois,
durante o pouso ou a decolagem um atraso de CAT I: Aproximação e pouso de precisão através de
poucos segundos neste reconhecimento pode instrumentos com altura de decisão não menor que 60 m
resultar no choque da aeronave com o solo; e visibilidade não menor que 800 m, ou RVR não menor
que 550 m;
c) A manobra de recuperação deve privilegiar
a manutenção da trajetória da aeronave à CAT II: Aproximação e pouso de precisão através de
manutenção da velocidade. instrumentos com altura de decisão menor que 60 m e
não menor que 30 m, e RVR não menor que 350 m;

1.4. Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade CAT III A: Aproximação e pouso de precisão através
de instrumentos com altura de decisão menor que 30 m,
Para que uma companhia aérea possa manter os vôos ou sem altura de decisão e RVR não menor que 200 m;
nos horários pré-determinados durante todo o ano e,
portanto, possa se manter num mercado cada vez mais CAT III B: Aproximação e pouso de precisão através
competitivo, faz-se necessário ser capaz de operar as de instrumentos com altura de decisão menor que 15 m,
aeronaves em condições de baixa visibilidade, condição ou sem altura de decisão e RVR entre 200 m e 50 m;
esta provocada pela ocorrência de neblina. Consideram-
se, nestes casos, as fases de decolagem e pouso. CAT III C: Aproximação e pouso de precisão através
de instrumentos sem altura de decisão e sem limitações
Duas definições são importantes na operação de de RVR.
aeronaves em condições de baixa visibilidade:
A principal diferença entre as operações CAT I, CAT
1. Altura de decisão, definida como a altura,

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Boletim SBMET novembro/05

II e CAT III, é que nas operações CAT I e CAT II existem conforme Figura 3a. Os markers beacons, num
condições visuais que permitem um pouso manual na total de três, localizados em distâncias padrões
altura de decisão, enquanto que na operação CAT III, (interno, médio e externo) a 1000 pés, 3500 pés e
não existem tais condições, fazendo-se necessário um 6 milhas da cabeceira da pista, respectivamente,
sistema automático de pouso ou um sistema de guiagem. fornecem ao piloto informações quanto à distância
No caso de pouso automático, embora o sistema realize à pista. A aeronave ao passar pelos feixes, gera
o pouso totalmente automático sem intervenção do indicações aurais e visuais na cabine;
piloto, o piloto deve monitorar continuamente o pouso
para, em caso de necessidade, intervir imediatamente. d) sistema de luzes de aproximação para a pista para
O primeiro pouso comercial em condições CAT III A, fornecer orientação visual ao piloto (Figura 3b).
através de um sistema automático de pouso ocorreu em
janeiro de 1969 com uma aeronave Caravelle, em um
vôo de Lyon/Paris. Em seguida, as seguintes aeronaves 2) A aeronave esteja equipada e certificada. Para o
foram certificadas para operação CAT III A: Trident e caso de sistema ILS, a aeronave deve estar equipada
Boeing 747 em 1971, Concorde em 1975 e AirBus A com uma antena e um receptor de rádio de navegação
300 em 1974. Em 1983 o Airbus A310 e em 1984 o de forma que o sistema da aeronave determina o desvio
A300-600, foram certificados para operação CAT III B. lateral da linha de centro da pista através do sinal de
No Brasil, o Embraer 170, fabricado pela EMBRAER, LOC e o desvio na vertical através do sinal de GS,
foi certificado para operação CAT III A em dezembro conforme Figuras 3a e 3c.
de 2005.
3) A tripulação esteja treinada, através de treinamento
Para que a linha aérea possa operar nas categorias de periódico em vôo ou simulador de vôo.
operação citadas anteriormente, é necessário que:
4) O operador esteja homologado, mantendo os
1) O aeroporto esteja equipado e certificado. Os procedimentos de vôo, tripulação treinada e a aeronave
principais sistemas disponíveis são: sistema para pouso sob programas de manutenção específicos.
por instrumento (Instrument Landing System – ILS),
sistema para pouso por microondas (Microwave
Landing System – MLS) e sistema para pouso por
Global Positioning System (GPS) / Global Navigation
Satellite System (GNSS) (GPS/GNSS Landing System
– GLS). Vale lembrar que os sistemas ILS e MLS
podem fornecer informações para sistemas de guiagem
de decolagem em baixa visibilidade. O sistema ILS,
mais comum, é composto basicamente por:

a) sinal de Localizer (LOC), de freqüência entre


108.1 MHz e 111.95 MHz e abertura angular
de 3º a 6º, que se estende até cerca de 18 milhas
(Figura 3a);
(a) (b)
b) sinal de Glide Slope (GS), de freqüência entre
329.15 MHz até 335 MHz, com inclinação em
torno de 3º (Figura 3c);
(c)
c) VHF markers beacons, feixes cônicos de rádio, Figura 3: Sistema ILS: a) Sinal de LOC; b) Sistema de luzes; c)
com freqüência de 75 MHz, orientados para cima, Sinal de GS.

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Boletim SBMET novembro/05

De forma análoga, para o caso de decolagem em identificar alguns tipos de turbulências e windshear.
baixa visibilidade (em inglês Low Visibility Takeoff
(LVTO)) com RVR abaixo de 400 m, é necessário que Na operação de aeronaves de transporte em
o aeroporto esteja equipado com sistema que permita a condições de precipitação destacam-se os requisitos
determinação do desvio da aeronave do centro da pista relativos ao desempenho: das turbinas em caso de
(sinal de LOC (ILS), ou MLS, ou GLS/GNSS) e sistema ingestão de grandes quantidades de água, dos sistema
de luzes na pista para orientação visual do piloto. de freios em condições de pista molhada (sistemas que
Também, que a aeronave esteja equipada e certificada, a evitam o travamento das rodas (conhecidos em inglês
tripulação esteja treinada e o operador homologado para como sistema antiskid) e do limpador de parabrisa para
este tipo de operação. garantir a visibilidade do piloto.

O sistema de decolagem em baixa visibilidade Quanto à operação de aeronaves em condições


deve prover informações de guiagem lateral que, se extremas de temperatura, destacam-se os testes de
seguidas pelo piloto, manterá a aeronave no centro partida dos sistemas eletro-eletrônicos e motores
da pista durante a corrida na pista na aceleração até a em baixas temperaturas (dezenas de graus Celsius
decolagem ou desaceleração até a parada em caso de negativos), onde aspectos como viscosidade de fluídos
uma decolagem interrompida. hidráulicos de atuadores, lubrificantes e combustível se
tornam relevantes. Estes testes podem ser realizados em
Destaca-se o sistema de guiagem conhecido por locais como Alasca ou em câmaras específicas, onde a
Head Up Display (HUD) que, através de um sistema de aeronave é colocada para a realização dos ensaios. Em
projeção, permite ao piloto ter a visão externa através da relação à operação em altas temperaturas, destacam-
janela dianteira simultaneamente à guiagem. se os aspectos relativos aos sistemas de refrigeração
da aeronave, dos equipamentos e dos componentes
eletroeletrônicos.
1.5. Radares Meteorológicos e Operação de
Aeronaves em Condições de Precipitação e Extremos
de Temperatura
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A melhor estratégia na aviação em relação às
tempestades é evitá-las (AC 00-24B). Desta forma, as
aeronaves de transporte são equipadas com sistema Neste trabalho apresentou-se uma visão geral de
de radar meteorológico, que consiste de um painel de como os sistemas das aeronaves evoluíram de forma
controle, um transmissor, um receptor, uma antena a permitirem a operação de aeronaves em condições
e um monitor. O painel de controle é utilizado para atmosféricas adversas mantendo elevados níveis de
se selecionar os modos de operação do radar. O sinal segurança. Isso se deve, em parte, a estreita interação
de radar é emitido pela antena e o sinal de retorno do entre as autoridades certificadoras como CTA, FAA
radar é função do tamanho e do número de gotículas e EASA, os requisitos de certificação, as agências de
da precipitação, tal que, quanto maior as partículas investigação como CENIPA e NTSB e a indústria
e o número delas, maior o sinal de retorno. A antena aeronáutica. O assunto é bastante extenso, com
instalada no nariz da aeronave e protegida pelo radome informações de qualidade sendo disponíveis na internet
permite tipicamente uma varredura lateral de cerca de ± em sites especializados, alguns deles listados no item 5.
60º e uma inclinação vertical, selecionada pelo piloto, de
± 15º e alcance selecionável de 10 a 300 milhas náuticas.
Em função da intensidade do sinal de retorno, o monitor
apresenta uma graduação de cores permitindo ao piloto
identificar a posição e a intensidade da precipitação/
formação de nuvem. Estes radares permitem também

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Boletim SBMET novembro/05

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4. GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS USADOS NA


INDÚSTRIA AERONÁUTICA
AC 00-54: Pilot Windshear Guide.
Ângulo de ataque: É o ângulo formado entre a corda
AC 20-73: Aircraft Ice Protection. do perfil da asa e a direção de escoamento do ar (Figura
4). A sustentação que a asa fornece é função direta do
AC 20-136: Protection of Aircraft electrical ângulo de ataque, tal que, ângulos de ataque maiores,
systems against the indirect effects of lightning. fornecem maior sustentação, até o limite onde ocorre
o stall da asa, caracterizado pelo descolamento do
AC 120-28D: Criteria for approval of Category III escoamento da asa e conseqüente perda de sustentação.
weather minima for takeoff, landing, and rollout.
Flap e slat: São superfícies hipersustentadoras
AC 20-124: Water ingestion testing for turbine articuladas na asa que aumentam a sustentação e o
powered airplanes. arrasto da asa quando estendidas. O flap é articulado no
bordo de fuga da asa e o slat no bordo de ataque da asa
AC 00-24B: Thunderstorms. (Figura 4). São geralmente estendidos na fase de pouso
e decolagem, para permitir a sustentação da aeronave
CENIPA. Estatísticas apresentadas no Site do em velocidades mais baixas.
CENIPA. 2005. Atualizado em 06/12/2005.
(http://www.cenipa.aer.mil.br)

Cebeci, T.; Kafyeke, F. Aircraft Icing. Annu. Rev.


Fluid Mech, 35:11-21, 2003.

NTSB. Advisory. Dec. 29, 2004.

NTSB. Most Wanted Transportation Safety


Improvements 2005-2006 a.

NTSB. Safety Alert - Aircraft Icing (SA –06). Mar.


2005 b. Figura 4: Perfil da asa, Ângulo de Ataque, Flap e Slat.

NASDAC, FAA Office of System Safety. Review of Portas estáticas: São sensores geralmente instalados
Aviation Accidents Involving Weather Turbulence in na lateral da aeronave, onde o escoamento de ar é mais
the Unites States 1992 –2001. Aug. 2004, [Reference uniforme, utilizados para medir a pressão estática e
Number: 04-551], (www.nasdac.faa.gov). conseqüentemente a altitude barométrica.

Notas do Curso Safety Assesment of Aircraft Tubo de pitot: São sensores, utilizados para medir a
Systems. V-6, ministrado pelo Prof. Paulo R. Serra, jul. velocidade da aeronave em relação ao ar.
2003.
Shaker: É o dispositivo instalado nas aeronaves,
onde a aproximação da aeronave do stall não é evidente,
que através de um atuador vibra o manche para alertar o
piloto da proximidade do stall. Geralmente a atuação do
shaker é função do ângulo de ataque.

43
Boletim SBMET novembro/05

Radome – No nariz das aeronaves de grande porte, AGRADECIMENTOS


é comum a instalação de diversas antenas como: antena
de GS, LOC e radar meteorológico. A estrutura que O autor agradece a revisão e os comentários de
protege estas antenas, geralmente de material composto, Eduardo Borges (item sobre Sistemas de Proteção
e que na prática da forma ao nariz da aeronave, é de Gelo), Marcos Antonio Viana Tavares (item sobre
conhecida por radome. O radome deve ter basicamente Operação de Aeronaves em Baixa Visibilidade),
as seguintes características: não atenuar os sinais, Maurício de Paula Velloso (item sobre Proteção à
resistência mecânica quanto à impacto, protegida quanto Descargas Elétricas) e dos revisores anônimos.
a descargas elétricas e forma aerodinâmica.

5. SITES PARA CONSULTA

Airdisaster: http://www.airdisaster.com/
Aviation Safety Network: http://aviation-safety.net
CENIPA: http://www.cenipa.aer.mil.br
CTA: http://www.cta.br/
DAC: http://www.dac.gov.br
EASA: http://www.easa.eu.int/home/index.html
FAA: http://www.faa.gov/
ICAO: http://www.icao.int/index.html
JAA: http://www.jaa.nl
NASDAC: http://www.nasdac.faa.gov
NTSB: http://www.ntsb.gov/
RINDAT/INPE: http://www.rindat.com.br ou
http://www.inpe.br

44
Boletim SBMET novembro/05

OS PERIGOS DO VENTO PARA A AVIAÇÃO

Maurici A. Monteiro, Daniel S. Calearo, Marcelo Martins e Anderson Monteiro


Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. - EPAGRI
Centro de Informações de Recursos Hídricos e de Hidrometeorologia de Santa Catarina - CIRAM
Rod. Admar Gonzaga 1347, Itacorubi, Florianópolis, SC, CEP 88034-901
E-mails: monteiro@epagri.rct-sc.br, calearo@epagri.rct-sc.br,
marcelomartins@epagri.rct-sc.br, andersoncanona@ig.com.br

RESUMO

As condições atmosféricas no sul do Brasil são influenciadas por uma grande diversidade de fenômenos
atmosféricos, os quais ocasionam muitas variações nas condições de tempo. Nas operações aéreas, as maiores
influências ocorrem através da passagem de sistemas frontais, os quais além de causar condições de tempo
severas, com trovoada e chuva forte, na maioria das vezes, também estão relacionados à ocorrência do fenômeno
windshear (cisalhamento do vento). O windshear está associado a uma mudança de direção e intensidade do
vento em vários níveis da atmosfera. Neste trabalho, analisa-se dois eventos significativos de windshear no
Aeroporto Internacional Hercílio Luz (AIHL), em Florianópolis, nos dias 23 de março de 2005 e 25 de abril de
2005.
Palavras-chave: Windshear, METAR, operações aéreas.

ABSTRACT

The atmospheric conditions over South of Brazil are influenced by a great diversity of phenomena that cause
many variations in the weather conditions. In the airborne operations the biggest influences occur through the
penetration of frontal systems, which cause severe weather conditions, with both thunderstorm and intense
precipitations. In the majority of the times, they are associated with the occurrence of the phenomenon windshear.
Windshear is associated with direction and intensity changes of the wind in some levels of the atmosphere. In
this work we analyze two significant windshear events one in the International Airport Hercílio Luz (AIHL) of
Florianópolis, on March 23, 2005 and other on April 25, 2005.
Key words: Windshear, METAR, airborne operations.

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS (Lourenço et al., 1996), ciclones extratropicias (Gan e


Rao, 1991), entre outros, modificam constantemente a
A dinâmica atmosférica do Sul do Brasil é bastante direção e a intensidade dos ventos na região.
intensa no decorrer do ano. Em condições normais, ou
seja, sem influências de fenômenos como o El-Niño, La Quando uma frente fria está em deslocamento pelo
Niña e de bloqueios atmosféricos, é comum a passagem sul do Brasil, predominam inicialmente ventos do
de 3 a 4 frentes frias durante o mês, em média, por quadrante norte, oriundos do Anticiclone Subtropical
Santa Catarina (Rodrigues, 2003). Além das passagens do Atlântico Sul (ASAS). Assim que a frente fria passa
das frentes frias, outros sistemas atmosféricos, como sobre uma determinada localidade, os ventos viram
Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (Duquia para o quadrante sul, sob influência do anticiclone
e Silva Dias, 1994), Vórtices Ciclônicos em altos níveis extratropical, geralmente sobre a Argentina. Essa

45
Boletim SBMET novembro/05

mudança de um quadrante para outro, não ocorre ao Na superfície, essas variações de vento são
mesmo tempo em todos os níveis da atmosfera, ou seja, caracterizadas como rajadas e, por vezes, quando muito
variações de direção e intensidade já são observadas intensas causam alguns prejuízos materiais. No caso
em poucos metros de altitude. Essa variação que ocorre de uma aeronave, esta pode ter complicações em vôo,
tanto na vertical como na horizontal é conhecida na especialmente quando estiver em procedimento para
aviação como windshear. pouso ou decolagem.

A intensidade desse fenômeno depende Em termos de antecedentes, o windshear


principalmente da velocidade de escoamento do ar e sempre trouxe problemas para a aviação, porém foi,
da interferência do relevo. A velocidade do vento vai provavelmente, a partir do exame detalhado do Flight
depender do gradiente de pressão formado entre a frente Recorder (caixa preta) de uma aeronave da Eastern
fria (área alongada de baixa pressão) e os dois sistemas Airlines que caiu em junho de 1975, a poucos metros
de alta pressão envolvidos. Quanto maior for a diferença da cabeceira 22L do Aeroporto John F. Kennedy, em
de pressão, mais intensos tornam-se os ventos e mais Nova Iorque, que se verificou de maneira mais concreta
severa a intensidade do windshear, também conhecido tanto sua presença quanto sua importância como causa
como tesoura de vento, cortante de vento e gradiente de principal ou contribuinte de inúmeros acidentes. Após
vento. A interferência do relevo é muito importante na esse fato houve novas investigações de acidentes
intensificação do fenômeno, pois reforça o cisalhamento aeronáuticos antigos, inicialmente atribuídos a erros
que já existe na passagem da frente fria. dos pilotos, que na realidade tinham esse importante
fenômeno meteorológico por trás dos episódios. A
Essa conjugação entre o escoamento formado pelo conclusão dessas investigações foi que no período de
gradiente de pressão e o efeito orográfico tem sido 1964 a 1986 houve 32 acidentes e incidentes aeronáuticos
observada em alguns aeroportos do Brasil. No Aeroporto em âmbito mundial, que tiveram como causa principal
Internacional de São Paulo/Guarulhos, um dos mais ou fator contribuinte o windshear, resultando na morte
movimentados do Brasil, quando ocorre uma situação de mais de 600 pessoas e 250 feridos (Cabral, 2005).
pré-frontal, gerando ventos do quadrante norte, surge
um efeito típico de onda de montanha, originado pela Em aviação, o fenômeno pode ocorrer em todas as
presença de elevações montanhosas a aproximadamente fases de vôo, entretanto, é particularmente perigoso em
4,5 km ao norte do aeroporto. Isto resulta em um baixos níveis, nas fases de aproximação, pouso e subida
turbilhonamento do vento, o qual vai de encontro às inicial, em face da limitação de altitude e de tempo para
aeronaves que estão na aproximação e subida inicial do manobra das aeronaves (Figura 1).
aeródromo (Cabral e Farias, 1992; Santos et al., 1996).

No Aeroporto Internacional Hercílio Luz


(AIHL) em Florianópolis, Santa Catarina,
ocorre também interferência do relevo no fluxo
dos ventos. Segundo Ditteberner (2001), “... o
morro do Ribeirão, a S do aeroporto, e o morro
do Cambirela, situado a SW, contribuem na
modificação do fluxo de ar em baixos níveis. Essa
modificação resulta em movimentos turbulentos
de ar, ocasionando dificuldades para pouso e
decolagem no aeroporto. Essa turbulência é
resultante, na maioria das vezes, por ventos do
quadrante S, após a passagem de uma frente
fria” (p. 5). Figura 1: Interferência na rota de pouso provocada por windshear.
Fonte:http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/ventonw/windshear2.html.

46
Boletim SBMET novembro/05

O fenômeno leva a um significativo ganho ou No Brasil, as estatísticas apontam dois acidentes


perda de sustentação das aeronaves, com pouquíssimo que tiveram como possível causa o fenômeno do
tempo (da ordem de alguns poucos segundos) para sua cisalhamento do vento: um ocorrido em Capão Grosso
recuperação. O cisalhamento do vento pode causar em 16/06/1958 com uma aeronave Convair da Empresa
diferentes efeitos nas aeronaves, como turbulência, Cruzeiro do Sul, que vitimou 21 ocupantes e, outro
que provoca mal estar aos passageiros. Dependendo da verificado em 25/05/1982, em Brasília, com um Boeing
intensidade da turbulência, a aeronave pode arremeter 737 da Vasp, que resultou em duas vítimas fatais.
e isso é uma operação que leva os motores (turbinas)
a um esforço extraordinário com risco de pane. Além Pela experiência de um dos autores (Maurici
do risco de acidente, ao arremeter, a aeronave segue Monteiro), junto ao Serviço de Meteorologia do
para a alternativa (outro local escolhido para pouso) DESTACAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO
e obviamente ocorrem transtornos para a tripulação e AÉREO DE FLORIANÓPOLIS, DTCEA-FL, no
todos os passageiros. AIHL, o fenômeno de windshear ocorre com freqüência
associado à passagem de frentes frias. Em situação pré-
As causas do windshear podem ter várias origens: frontal, com ventos do quadrante norte, ocorre windshear
cumulonimbus com presença de trovoadas, sistemas na aproximação da pista 32, porém a intensidade varia
frontais, pancadas de chuva, correntes de jato de baixos de fraca a moderada. Vale ressaltar que esse fenômeno
níveis, ventos fortes em superfície, brisas marítima e não ocorre em todas as passagens de sistemas frontais.
terrestre, ondas de montanha, linhas de instabilidade e Por outro lado, quando a frente fria está passando sobre
fortes inversões de temperatura, entre outras (Cabral e o aeródromo, com a entrada de vento do quadrante sul,
Romão, 2005). é comum o fenômeno manifestar-se, especialmente
quando a velocidade do vento supera 15 nós e as
arremetidas são freqüentes (Ditteberner, 2001).
2. OS ACIDENTES AERONÁUTICOS E O
WINDSHEAR De acordo com Ditteberner (2001), entre agosto de
1995 a julho de 2001 foi reportado pelas aeronaves para
Um dos mais notáveis acidentes aeronáuticos a equipe de Controladores de vôo do AIHL um total
relacionados com windshear ocorreu em 02 de agosto de 404 casos (Tabela 1). Destes, 315 casos ocorreram
de 1985 no Aeroporto de Dallas-Fort Worth, no Texas, abaixo de 2000 pés; 93 casos entre 500 e 1000 pés, 124
Estados Unidos, que resultou em 135 pessoas mortas casos entre 400 e 500 pés, 71 casos entre 100 e 200 pés,
(Cabral e Romão, 2005). e 27 casos de 100 pés até o solo (Ditteberner, 2001). De
acordo com a Tabela 1, o maior número de ocorrência
Esse vôo era o de número 191, da empresa Delta é verificado no inverno e na primavera. No período
Air Lines e a aeronave envolvida um Lockheed L-1011 de junho, julho e agosto é comum os sistemas de alta
(TriStar). Enquanto se aproximava da pista 17L daquele pressão serem mais intensos sobre a Argentina, Uruguai
aeroporto, debaixo de chuva e muitos relâmpagos, o e Sul do Brasil. Nesse caso, se uma frente fria está em
TriStar encontrou um microburst (intensas correntes deslocamento pelo litoral catarinense, os ventos passam
de ar descendentes concentradas, provenientes de a soprar do quadrante sul. Surgem, então, as primeiras
nuvens convectivas, que ao atingirem o solo, espalham- rajadas fortes de vento no AIHL, devido ao gradiente
se horizontalmente, formando vórtices que podem de pressão formado entre a alta pressão ao sul e a frente
ocasionar windshear), caiu sobre um carro que estava fria em Santa Catarina (Monteiro, 2001). Esse tipo de
em uma rodovia próxima, colidiu com dois grandes evento é comum nesse período do ano, pois, segundo
tanques de água e foi destruído pelas chamas. Rodrigues (2003), passam de 3 a 4 frentes frias em
Santa Catarina.

47
Boletim SBMET novembro/05

Tabela 1: Ocorrência de windshear no AIHL, no período de 8/1995 a 7/2001.

MESES DEZ/JAN/FEV MAR/ABR/MAI JUN/JUL/AGO SET/OUT/NOV

OCORRÊNCIA 84 88 112 130


PORCENTAGEM 20% 21% 27% 32%
Fonte: Ditteberner (2001).

O elevado número de windshear que ocorre na No AIHL, a nebulosidade predominante foi


primavera (Tabela 1), pode estar associado aos CCM’s, stratocumulus com base das camadas mais significativas
que surgem durante a madrugada no norte da Argentina (BKN) variando de 1200 a 3500 pés e sem registro de
e atingem o Oeste de Santa Catarina ainda durante a grandes cumulus (TCU) ou cumulonimbus (CB). Houve
noite (Monteiro, 2001). Pela dinâmica do sistema, os apenas registro de chuva fraca, iniciando minutos após
ventos no AIHL ocorrem geralmente de nordeste a leste as 1800 UTC e terminando as 0000 UTC. De acordo
e o windshear pode ser observado especialmente na com a carta sinótica (Figura 3), na passagem da frente
pista 32. fria no AIHL, a pressão atmosférica era de 1015hPa, e
o centro da massa de ar frio (anticiclone extratropical),
que deslocava a frente fria, estava sobre a Bacia do Rio
3. CASOS DE WINDSHEAR NO AIHL: 23/03/2005 e da Prata, sudeste do Uruguai, com 1023hPa. A diferença
25/04/2005 de pressão atmosférica (gradiente) entre o anticiclone
e a frente fria resultou em ventos com rajadas fortes
Entre os inúmeros casos reportados de windshear no AIHL. O boletim especial emitido pela estação
pelas aeronaves em procedimento de pouso e decolagem meteorológica do DTCEA-FL, as 15:36 h local (SPECI
no AIHL, destacam-se os ocorridos nos dias 23 de março SBFL 1836), reportou vento de 220º com velocidade
e 25 de abril de 2005 por apresentar várias horas com média de 17 nós e rajadas de 27 nós (22017G27KT). Nas
atuação do fenômeno. Na ocorrência do dia 23 de março horas seguintes, embora não fosse reportado rajadas, a
de 2005, uma frente fria de intensidade fraca a moderada velocidade continuou significativa com registro de 17,
(Figura 2) estava em deslocamento pelo litoral de Santa 18 e 15 nós nas 1900 UTC , 2000 UTC e 2100 UTC,
Catarina e passou por Florianópolis entre a tarde e a respectivamente. Entretanto, somente foi informado
noite (entre 1800 UTC e 0000 UTC) desse dia. windshear no boletim das 18:00 h local (METAR DAS
21UTC) em todas as pistas do aeroporto (WS ALL
RWY, código que vem no METAR). Isso porque, quando
ocorrem as rajadas mais intensas, nem sempre coincidem
com o pouso de alguma aeronave e, quando coincide
e as aeronaves sofrem os efeitos do fenômeno, muitas
vezes o comandante não reporta a torre de controle.
Como o windshear não pode ser visualizado e nem
existe equipamento de terra para identificá-lo, é preciso
que o controlador de vôo questione se o comandante
da aeronave identificou a ocorrência do fenômeno na
aproximação final, caso não tenha sido reportado.

Figura 2: Imagem de satélite GOES-12, visualizando a passagem


da frente fria.
Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br.

48
Boletim SBMET novembro/05

Na medida em que o tempo passava, a intensidade


dos ventos aumentava, e no METAR das 1400 UTC
foi relatada a primeira rajada com 27 nós. Neste
boletim foi inserida a informação de windshear em
todas as pistas (WS ALL RWY). Os boletins seguintes
reportavam ventos de sul a sudoeste (1700 a 220º)
com intensidade moderada a forte, mas sem rajadas. À
noite, no METAR das 2300 UTC e 0000 UTC, voltou
a ocorrer rajadas de vento com intensidade de 25 nós
a 27 nós, respectivamente. O windshear que começou
a ser informado no METAR das 1400 UTC, continuou
durante toda a tarde e seguiu até as 0000 UTC. Portanto,
Figura 3: Carta sinótica das 1800 UTC em 23/03/05. Análise feita
foram 11 horas com reporte do fenômeno, caso não
por Maurici Monteiro.
muito comum para o AIHL. Durante esse período,
segundo informações do Controle de Tráfego Aéreo do
Na ocorrência do dia 25 de abril, uma frente fria
DTCA-FL, embora as operações fossem efetuadas com
estava em deslocamento pelo litoral de Santa Catarina,
cautela, não houve cancelamento de pouso (arremetidas)
em direção ao sudeste do Brasil (Figura 4). O tempo
e de decolagem.
mais instável associado ao sistema atmosférico ocorreu
durante a madrugada com registro de chuva leve a
A carta sinótica das 1400 UTC mostra um forte
moderada. De acordo com a decodificação do METAR
gradiente de pressão entre o sistema de alta pressão com
de SBFL (Boletim meteorológico que relata as condições
1035 hPa no seu centro e a pressão de 1014 hPa em
de tempo à superfície do Aeroporto de Florianópolis)
Florianópolis. Enquanto essa diferença de pressão era
(www.redemet.aer.mil.br), o céu esteve encoberto
mantida, os ventos continuavam intensos e mantinham o
(OVC) até as 1000 UTC, com teto variando de 900 a
cisalhamento do vento reforçado pelo efeito do relevo.
5000 pés. Após este horário, o céu se manteve nublado
(BKN) por várias horas, porém com a nebulosidade
subindo, ou seja, de 3.000 para 8.000 pés e depois para
30.000 pés. Quando a frente fria estava passando por
Florianópolis, a pressão atmosférica era de 1010hPa,
registrada na estação meteorológica em SBFL, e sobre a
Argentina havia um sistema de alta pressão (anticiclone)
com centro de 1035hPa. A primeira manifestação do
referido anticiclone ocorreu as 09UTC, com vento de
sudoeste de 8 nós.

Figura 5: Carta sinótica das 14UTC do dia 25/04/05. Análise feita


por Maurici Monteiro.

Figura 4: Imagem-12, Visualizando a passagem da frente fria.


Fonte: http://www.redemet.aer.mil.br

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Boletim SBMET novembro/05

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS pressão muito forte, resultando em 11 horas contínuas


de atuação do fenômeno windshear. Portanto, um
Os anticiclones extratropicais, ao cruzarem os período enorme em que aeronaves, em operação de
Andes, começam a se manifestar sobre o sul do Brasil. pouso e decolagem, sofrem esforços enormes em suas
Inicialmente forçam o recuo ou o levantamento da estruturas, o que pode levar, a acidentes desastrosos.
massa de ar quente pré-frontal e, nesse contato, surge
uma convergência no campo de ventos, formação de Entre as diversas manifestações de tipos de tempo
nuvens e chuva. À medida que os anticiclones avançam como visibilidade reduzida por chuva forte, céu nublado
em direção ao equador, levam em sua dianteira a por nuvens do tipo stratus que formam “teto baixo”, e
convergência e a nebulosidade associada à frente fria. nevoeiros densos que reduzem a visibilidade horizontal
Assim que a frente fria desloca-se sobre um determinado a poucos metros, as operações aéreas são, em muitos
local, os ventos passam a soprar do quadrante sul. Esses casos, prejudicadas pelos ventos fortes que podem levar
ventos são originados no anticiclone (alta pressão) e a uma aeronave a colidir com o solo.
intensidade será de acordo com a diferença de pressão
(gradiente) existente entre o centro da alta pressão e a
frente fria. Quanto maior o gradiente de pressão, maior 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
será a intensidade dos ventos, o que pode resultar
em cisalhamento severo, dificultando ou até mesmo CABRAL, E.; FARIAS, S. J. S. Análise das
impossibilitando pouso de aeronaves no AIHL. Como Ocorrências de “Windshear” na área do Aeroporto
os anticiclones são mais intensos no inverno (JJA), Internacional de São Paulo/Guarulhos (1988/90). VII
devido a menor quantidade de radiação solar que o Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1. São
Hemisfério Sul recebe nessa época do ano, a tendência é Paulo, p. 248-252, 1992.
que após cada passagem frontal, os ventos do quadrante
sul apresentem rajadas fortes resultando em ocorrência CABRAL, E; ROMÃO, M. As Fatais Tesouras
de windshear no AIHL. de Vento. http://paginas.terra.com.br/servicos/vnw/
ventonw/windshear2.html (Acessado em 29/11/2005).
Por outro lado, no verão, com o continente aquecido
praticamente por igual, os anticiclones são menos CABRAL, E. Fenômenos Meteorológicos Adversos
intensos, e comumente não avançam para norte sobre o em Aeroportos da Região de São Paulo e Mato
continente. Nesta época do ano, geralmente apresentam Grosso do Sul. http://paginas.terra.com.br/servicos/
deslocamento para alto mar a partir do Uruguai vnw/ventonw/artigo04_conaero.htm (Acessado em
(Monteiro e Furtado, 1995). Com isso, o contraste 29/11/2005).
térmico vai ocorrer sobre o oceano, ficando o litoral com
pouca variação de pressão, quando ocorre a incursão de DITTEBERNER, M. R. Causas e Efeitos das
frente fria sobre o sul do Brasil. Portanto, a ocorrência Turbulências nas Operações Aéreas do Aeroporto
do fenômeno tende a diminuir. Internacional Hercílio Luz. TCC do Curso de
Geografia. UDESC, 2001.
Os resultados obtidos por Ditteberner (2001) destaca
um aumento dos casos em 7%, do verão para o inverno. DUQUIA, C. G.; SILVA DIAS, M. A. F. Complexo
Porém, na primavera ocorre um aumento significativo, convectivo de mesoescala: um estudo de caso para o
totalizando 12% a mais em relação ao verão. Este oeste do Rio Grande do Sul. VIII Congresso Brasileiro
processo pode estar associado à formação de CCM, de Meteorologia, SBMET, Anais. Vol. 2, p. 610-612,
conforme descrição anterior. 1994.

Os casos aqui analisados, dos dias 23/03/2005 e GAN, M. A.; RAO, V. B. Surface Cyclogenesis
25/04/2005, foram bastante significativos, sendo em over South America. Mon. Wea. Rev., 119:1293-1302,
especial o do dia 25/04, que apresentou um gradiente de 1991.

50
Boletim SBMET novembro/05

LOURENÇO, M.C.M.; FERREIRA, N.J.; GAN, RODRIGUES, M. L. G. Uma Climatologia de


M.A. Vórtices ciclônicos em altos níveis de origem Frentes Frias no Litoral de Catarinense com Dados
subtropical. Climanálise Especial 10 anos, p. 163-167, de Reanálise do NCEP. Dissertação de Mestrado.
1996. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.
UFSC, 2003. 75p.
MONTEIRO, M. A. Caracterização climática
do Estado de Santa Catarina: uma abordagem dos SANTOS A. P.; ARAÚJO, M. A. A.; ALOISE, E. D.;
principais sistemas atmosféricos que atuam durante REGA, R. N. S. Episódios de wind-Shear no Aeródromo
o ano. GEOSUL, n. 31, Florianópolis, p. 69-78, 2001. Internacional de São Paulo – Guarulhos – 1989 a 1995.
IX Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. V. 1.
MONTEIRO, M. A.; FURTADO S. M. A. O clima do São Paulo, p. 396 –398, 1996.
trecho Florianópolis – Porto Alegre: uma abordagem
dinâmica. GEOSUL, n. 19/20. Florianópolis, p. 117-
132, 1995.

51
Boletim SBMET novembro/05

ANÁLISE DE DOIS ACIDENTES AERONÁUTICOS


ASSOCIADOS À ATIVIDADE CONVECTIVA:
KANO (1956) E CONGONHAS (2000)

Rubens Junqueira Villela


Consultor Meteorologista
E-mail: rvillela@usp.br

RESUMO

Neste trabalho, com base nos dados das investigações promovidas pelas autoridades aeronáuticas, são analisados
dois acidentes fatais (totalizando 39 vidas perdidas), tendo em comum como causa principal ou fator contribuinte
a ocorrência de formações de Cumulonimbos (Cbs) surgidas inesperadamente na trajetória de vôo durante a fase
de decolagem. O primeiro acidente ocorreu em Kano, na Nigéria, e o segundo em Congonhas/SP. Das análises
desses acidentes, apresentam-se lições práticas, tanto para pilotos como para meteorologistas, sobre os perigos
da operação aeronáutica nas proximidades de Cbs.
Palavras-chave: acidentes aéreos, cumulonimbos, windshear.

ABSTRACT

In this article, based on investigations carried out by the aeronautical authorities, two accidents (claiming a
total of 39 lives) and having in common as the main cause or contributing factor the occurrence of unexpected
cumulonimbus development during the take-off path, are analysed. The first accident occurred in Kano, Nigeria,
while the second in Congonhas/SP. In the conclusion we try to extract practical lessons useful to pilots and
meteorologists alike, concerning the risks involved in aeronautical operations in the vicinities of Cbs.
Key words: aircraft accidents, cumulonimbus, windshear.

1. INTRODUÇÃO Neste estudo, baseado na investigação de dois


acidentes aeronáuticos - um ocorrido em Kano, na
As formações de nuvens Cumulonimbos (Cbs) e seu Nigéria, e outro em Congonhas, em São Paulo, mostra-
produto, as trovoadas, constituem uma das condições se como formações imprevistas de Cbs na área dos
mais adversas para a aviação, e por isso o vôo em Cbs aeroportos conspiraram, em ambos casos, para derrubar
ou mesmo nas suas proximidades costuma ser evitado as aeronaves durante uma fase crítica de vôo – a
pelos pilotos, sempre que possível. A ação combinada decolagem. O desastre de Kano serve como ilustração
de fenômenos próprios dos Cbs (como precipitações exemplar de um caso de windshear, enquanto o evento
intensas, granizo, raios, rajadas, cortantes ou “tesouras de Congonhas, de um caso de Cbs embutidos. Da análise
de vento” (windshear), fortes correntes ascendentes desses dois casos, tira-se lições práticas, tanto para
e descendentes, turbulência, etc) afeta seriamente a pilotos como para meteorologistas, quanto à operação
controlabilidade do vôo e pode causar danos e mesmo em ambiente de atividade convectiva.
falha estrutural da aeronave, com conseqüências fatais.

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Boletim SBMET novembro/05

2. O ACIDENTE DE KANO de fenômenos meteorológicos associados a nuvens


convectivas e perigosos para a aviação, como causa de
Investigação Precursora sobre os Efeitos de windshear severo: os downburst, microburst e outburst
windshear (Fujita, 1985). O efeito do windshear, entendido na
aviação como uma mudança brusca das componentes
O conhecimento moderno do fenômeno windshear horizontal e vertical dos deslocamentos de ar ao longo
como causa de acidentes nas fases críticas de pouso e da trajetória de vôo, e conseqüentes perdas de altitude
decolagem praticamente teve início em 1975, com a e de sustentação aerodinâmica, está ilustrado na Figura
análise do Prof. T. Theodore Fujita (Fujita e Carracena, 1 para a fase de decolagem. Essa figura foi elaborada
1977), da Universidade de Chicago, sobre o célebre com base na investigação de desastre com Boeing 727
acidente com o Boeing 727 do vôo 66 da Eastern no Aeroporto Stapleton em Denver (EUA), ocorrido
Airlines, no Aeroporto John F. Kennedy em Nova York, em 07/08/75. Nesse acidente, o impacto com o solo se
no dia 27 de junho daquele ano. Os estudos de Fujita deu 20 s após a decolagem e a componente de cauda
e associados levaram à descoberta de uma nova classe alcançou 50 nós (Fujita e Carracena, 1977).

Figura 1: Situação ilustrativa do efeito de windshear causada por downburst.


Fonte: Fujita e Carracena (1977).

Entretanto, analisando um antigo relatório da Argonaut, tipo DC-4, da British Overseas Airways
Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) Corporation (BOAC). Embora o relatório falhe a não
(ICAO, 1958), Villela (2002) descobriu que há quase perceber o alcance de suas constatações, pois apenas cita
20 anos atrás essa condição atmosférica já havia sido de passagem o termo windshear (sic) em um adendo,
identificada e apontada como causa de um acidente não resta dúvida de que representa uma investigação
ocorrido no dia 24 de junho de 1956, em Kano, no norte pioneira do fenômeno. É pelo seu interesse e pelas
da Nigéria (número-índice da OMM 65046, posição 12º lições que encerra, aplicáveis à situações freqüentes no
03’ N e 08º 32’ W, altitude 476 m; mapa de localização na Brasil (Silva Dias, 1999; Cabral e Romão, 1999), que
Figura 2, que mostra também as isoietas anuais) (Motha cabe aqui uma revisão.
et al., 1980), durante a decolagem de um quadrimotor

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Boletim SBMET novembro/05

Figura 2: Isoietas de precipitação média anual (expressa em mm) e curvas características da marcha mensal
de precipitação em 4 faixas climáticas. Destaca-se no mapa a localização de Kano, no norte da Nigéria.
Fonte: Motha et al. (1980).

Descrição do Acidente

O avião da BOAC, matrícula G-ALHE, cumpria puramente local, se moveria lentamente de leste
a rota Lagos-Kano-Trípoli-Londres. Trinta minutos para oeste. De volta ao avião, o comandante avisou o
após o pouso em Kano, o Argonaut estava abastecido navegador que iria desviar um pouco para oeste após
e pronto para decolar. O comandante havia checado a a decolagem, para evitar a área de trovoadas que iria
previsão do tempo, que indicava trovoadas esparsas nas passar de oito a dez milhas ao norte do aeroporto.
vizinhanças. Via-se uma delas à distância, no setor leste-
nordeste, embora não se ouvissem os trovões; a maior Os motores foram acionados as 17:15 (hora local),
parte do céu se encontrava claro. Mas pouco depois o e a torre autorizou o táxi para a pista 25, informando
piloto notou que a cabeça do Cb começava a cobrir o ajuste de altímetro de 1012 milibares e vento de 3000
aeroporto, embora a nuvem houvesse se deslocado para com intensidade de 15 nós. Nesse momento a chuva
nordeste. Ele foi então novamente consultar o previsor, começou e foi engrossando durante o táxi, embora sem
que lhe disse haver uma linha de trovoadas a 400 milhas reduzir muito a visibilidade. O comandante procurou
ao leste, mas que as trovoadas na área de Kano eram observar particularmente sinais de rajadas de vento ou
puramente locais, sem ligação, com nenhuma Linha de de nuvem-rolo, comumente associados à tempestade do
Instabilidade (LI). Como é conhecido, as trovoadas de tipo LI (exatamente como acontece no Brasil também),
LI – seja na Nigéria ou no Brasil – são mais intensas mas não havia qualquer indicação desse tipo, embora
e perigosas, deslocam-se rápido e estão freqüentemente a parte mais escura da nuvem agora estivesse bem
associadas a fortes rajadas (Ray, 1986). Entretanto, próxima a nordeste.
o previsor assegurou que a tempestade à vista, sendo

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Boletim SBMET novembro/05

A decolagem foi iniciada imediatamente, nas Análise meteorológica


seguintes condições de tempo: três oitavos de
nebulosidade com base a 2500 pés, vento 270º com Uma detalhada análise meteorológica feita pelas
20 nós, visibilidade 1500 jardas e chuva moderada. A autoridades aeronáuticas da Nigéria e do Reino Unido
decolagem foi perfeitamente normal, depois de uma permitiu reconstituir as condições na área imediata.
corrida de 2000 jardas. Mas a chuva que aumentava, Concluiu-se que o centro principal da tempestade de
reduzindo a visibilidade, obrigou o piloto a voar por fato passou pouco ao norte do aeroporto, mas uma nova
instrumentos. A cabeceira da pista foi ultrapassada à célula convectiva desenvolveu-se sob a cabeça do Cb
velocidade de 125 nós e a 100 pés de altura (a altitude da primário e produziu chuva pesada com rajadas sobre a
pista é de 1.575 pés), notando-se ligeira ascendente. Foi metade oeste do aeroporto, exatamente enquanto o G-
feita a primeira redução de potência, para 2850 rotação ALHE decolava. As Figuras 3 e 4 mostram com clareza
por minuto (rpm). A subida foi normal, e pouco acima o acontecido, e poderiam servir para ilustrar uma típica
de 240 pés foi comandado o recolhimento dos flapes, situação de windshear num texto moderno (ilustrado na
com razão de subida de 300 pés por minuto e velocidade Figura 1). Ressalta-se que essas figuras foram geradas
flutuando entre 125 nós e 130 nós. Do solo foi possível com base nas observações oficiais do Terminal e da Torre
ver o avião desaparecer em chuva pesada a 250 pés. O Temporária, segundo evidências de informações leigas
piloto declarou que podia ver uma abertura a W/NW. em outras áreas. Primeiro o avião encontrou um vento
A 260-270 pés de altitude, a aeronave estava nivelada de proa aumentando, seguido abruptamente por vento de
e estável com velocidade de 123 nós. O piloto pensava cauda e provavelmente uma descendente, de tal maneira
que daí em diante ela aumentaria, mas em segundos que a trajetória descendente da aeronave ocorreu em
viu horrorizado a velocidade indicada cair rápida e um período muito curto de tempo (entre cinco e quinze
progressivamente. Ele comandou potência total e picou segundos), até o impacto. O estudo meteorológico
ligeiramente, mas a esta altura a velocidade baixara aos acrescenta que nem o piloto nem o previsor poderiam
103 nós (a velocidade de estol calculada para a ocasião perceber que uma nova célula de trovoada estava se
era de 97 nós indicada). O co-piloto abriu as manetes formando junto ao lado oeste do aeroporto, pois o radar
mas com a rpm ainda a 2.850, sem tempo para aumentar em Kano era incapaz de detectar um eco tão próximo,
para 3.000, devido ao fato de que o sistema master e nuvens baixas obstruíam a visibilidade na direção em
estava fora de serviço. O comandante afirmou que não que se elevavam as novas torres de cúmulos.
encontrou turbulência nem sentiu o
afundamento, apenas preocupando-
se com a baixa velocidade, que se
mantinha. Nesse momento, com o
avião perdendo altura rapidamente,
voando numa atitude quase nivelada,
viu-se uma árvore à frente. Com
cuidado para não tocar a asa direita
no solo, o piloto iniciou uma curva
para aquele lado e cabrou para ganhar
altura mas, durante a manobra, a asa
esquerda bateu na árvore. Seguiram-
se outros choques e o incêndio do
tanque na asa esquerda. A aeronave
foi praticamente desintegrada.
Morreram três dos sete tripulantes e
29 dos 38 passageiros a bordo; piloto
e co-piloto sobreviveram. Figura 3: Condições prováveis de vento e chuva no Aeroporto de Kano e imediações.
Fonte: ICAO (1958).

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Boletim SBMET novembro/05

a erros de interpretação, e ainda


mais perigoso: o Cb pode surgir
num determinado ponto ou área
onde o radar antes nada indicava,
significando que novas células
em formação não são percebidas.
Uma combinação de fatores, como
noite escura, com chuva e com
Cbs embutidos, aumenta os riscos
potenciais, contribuindo para um tipo
de acidente que tem sido atribuído
à desorientação espacial em vôo.
A desorientação leva o piloto a
executar manobras que agravam a
falta de controle do vôo e, por fim,
Figura 4: Provável corte vertical mostrando vento e correntes verticais ao longo da trajetória
provoca perda de altitude, colisão
de decolagem.
com o solo ou ruptura estrutural no
Fonte: ICAO (1958).
ar, quando excedida a velocidade
limite. Condições deste tipo estiveram presentes no
Na conclusão do relatório da investigação (ICAO, acidente ocorrido com a aeronave Turbo Commander
1958), cita-se como a causa provável: “O acidente foi prefixo PT-IEE, logo após a decolagem de Congonhas,
resultado da perda de altitude e velocidade no ar, causada em São Paulo. Esse acidente causou a morte do piloto
pelo encontro da aeronave a aproximadamente 250 pés e de seis passageiros que se destinavam a Maringá, no
depois da decolagem, com uma célula imprevisível de Paraná. A título de colaboração solicitada pelo Seção de
trovoada, que ocasionou uma repentina reversão da Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
direção do vento, chuva pesada, e possíveis condições (SIPAA) do SERAC 4, responsável pela investigação
de descendente”. Mas, numa nota acrescentada pelas oficial, Villela (2001) examinou os dados relativos a
autoridades aeronáuticas britânicas, pede-se a emissão de este acidente, cuja descrição é apresentada a seguir.
uma circular de informação sobre os efeitos de “ventos
cruzados, rajadas e windshear (sic) na decolagem e Descrição do acidente
pouso”. Infelizmente, parece que a lição de Kano não foi
devidamente apreciada na época e somente vinte anos O PT-IEE decolou da pista 17 de Congonhas as
depois o problema do windshear, de âmbito mundial, 21h23, hora de verão brasileira (2323 UTC), uma noite
foi devidamente reconhecido em toda sua importância. de sábado escura e chuvosa em 16 de dezembro de
2000. O piloto recebeu instruções para subir a 5.500
pés e executar curva à direita até interceptar a radial
3. ACIDENTE DE CONGONHAS 270 (rumo oeste). Depois de iniciar a curva à direita,
o piloto acusa problemas com o horizonte artificial. Os
O perigo dos Cbs embutidos radares de Congonhas mostram a trajetória, a altitude
e a velocidade sobre o solo, em intervalos de 4 a 8
Quando os Cbs estão obscurecidos por outras nuvens segundos. A velocidade pula de 130 nós para 170 nós
(diz-se embutidos ou embedded em inglês), o perigo em 4 s, a uma altitude de 3.700 pés (lembrando que
aumenta, pois o piloto corre o risco de ser apanhado de a altitude de Congonhas é de 2.631 pés). O Turbo
surpresa, em determinadas circunstâncias. Por exemplo, Commander continua subindo nos próximos 17 s a uma
o METAR (mensagem meteorológica de observação razão de 4.500 fpm (pés por minuto), como se estivesse
de superfície aeronáutica de rotina) pode não indicar numa forte ascendente, enquanto a velocidade sobre o
o fenômeno, o radar de bordo ou de terra está sujeito solo se mantém a 170-175 nós. Depois de um giro para

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Boletim SBMET novembro/05

a esquerda, a velocidade começa a cair rapidamente temperatura.


para 100-105 nós. Vinte segundos depois a velocidade
sobe para 120 nós e até 140 nós, na altitude de 5.300 Tais alterações refletiram a entrada de uma frente fria,
pés, quando a aeronave mergulha 600 pés em 7 s (razão associada à um centro de baixa pressão (1008 hPa em
de 5.140 fpm). O radar perde contato com o avião na São Paulo), e que causou temporal na zona costeira. Esse
altitude de 4.700 pés. O impacto com o solo se deu sistema frontal foi responsável pelo naufrágio, no início
2 minutos após a decolagem, sobre casas do bairro daquela mesma noite de sábado, de um veleiro no litoral
de Vila Anhanguera, cerca de 5 km da cabeceira sul paranaense, com perda de duas vidas. As evidências são
do Aeroporto de Congonhas. Testemunhas no local de que as más condições meteorológicas certamente
da queda declararam que chovia forte e havia muitos contribuíram para o acidente do PT-IEE, além da pane
relâmpagos. de horizonte artificial. Entretanto, a conclusão depende
da investigação realizada pelo SIPAA-4.
Condições meteorológicas

O radar de São Roque estava inoperante, mas o 4. CONCLUSÕES


do Pico do Couto (RJ) detectara células a 380 km de
distância, deslocando-se para sudeste, na área de São Da análise desses dois acidentes (Kano, na Nigéria e
Paulo. Um comandante da Companhia aérea VARIG Congonhas, em São Paulo), complementada pelo exame
que aterrissou em Congonhas pouco depois do acidente, de outros acidentes em circunstâncias semelhantes
fez um relatório sobre as condições encontradas na (Villela, 2001), pode-se extrair as seguintes lições, de
aproximação. Abaixo do FL150 (nível de vôo de 15.000 interesse tanto para pilotos como meteorologistas:
pés), as formações de Cbs se uniam através de uma
camada estratificada espessa. Um desenho da tela do 1 - A periferia das formações de Cbs e trovoadas (e
radar de bordo do VARIG 490 mostrava células um não apenas o seu interior) é uma área potencialmente
pouco a sudeste e sul, mas não na trajetória exata do perigosa para o vôo. Esta área está sujeita a rajadas,
PT-IEE, o que foi confirmado por imagens do radar da windshear e súbito surgimento de novas formações de
USP/DAEE em Ponte Nova, obtidas posteriormente. Cbs;
No pouso, o VARIG 490 informou ventos fortes e
turbulência leve para moderada e forte intensificação da 2 - Cbs “embutidos” ou obscurecidos por espessas
chuva, fatores que obrigaram as próximas aeronaves a camadas de nuvens constituem verdadeiras ciladas para
arremeter. o piloto desprevenido;

Os METAR de Congonhas (SBSP) entre 2000 3 - Em caso de condições meteorológicas complicadas,


UTC e 2400 UTC em nenhum momento acusaram a não basta uma simples consulta ao METAR local para
presença de Cbs ou relâmpagos. Os dados da estação um planejamento seguro do vôo. É necessário inteirar-
meteorológica do IAG/USP, localizada na Água Funda, se de todos os avisos da Meteorologia. No caso do
a 3 km a sudeste de Congonhas, também não acusaram PT-IEE analisado, havia vários avisos de tempestades
trovoadas ou Cb, mas sim chuva muito forte (75 mm) convectivas na área, como GAMET e SIGMET,
entre 19 e 22 horas local, e rajadas de vento de 9 a 11 expedidos pelo CMA-1 de Guarulhos;
ms-1. Em Guarulhos (SBGR), Cbs e trovoadas só foram
observados uma hora depois do acidente do PT-IEE. O 4 - Uma pane de instrumento de atitude (horizonte
registro automático de outra estação meteorológica do artificial) em condições Instrument Flight Rules (IFR),
IAG/USP, localizada no campus da Cidade Universitária, torna-se muito mais difícil de ser administrada pelo
mostrou que o horário do acidente coincidiu com uma piloto na presença de turbulência criada pela atividade
fase de rápida alteração das condições do tempo na de Cbs e trovoadas na área;
região: aumento da velocidade do vento (rajada de 13
ms-1, com direção SSE), elevação da pressão e queda da 5 - Os procedimentos de observação meteorológica,

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Boletim SBMET novembro/05

visuais e instrumentais, exigem por vezes atenções e Hazards and Disaster Series, Routledge, Londres e N.
cuidados especiais para não comprometerem a segurança York. 1999.
do vôo. É grande a responsabilidade dos observadores e
do meteorologista, que devem estar atentos a detalhes VILLELA, R.J. O perigo do wind shear. Aeromagazine,
como trovões e relâmpagos em qualquer setor, e a sinais ano 3, n. 26, p. 25. 1996.
de novas formações na área;
VILLELA, R.J. Fique longe dos Cbs. Aeromagazine,
6 - Radares são fontes de informações vitais a ano 8, n. 87, p. 32-34. 2001.
respeito de formações perigosas, e os de bordo são
convenientemente suplementados pelos detetores de VILLELA, R.J. Fator surpresa – O acidente de
raios (stormscope). Entretanto, a interpretação das Kano, na Nigéria, foi o precursor da investigação sobre
imagens de radar depende de conhecimentos técnicos os efeitos do wind shear nas fases de aproximação e
sobre as limitações do aparelho, e de conhecimentos decolagem. Aeromagazine, ano 9, n. 99, p. 26-27.
básicos relativamente aos fenômenos meteorológicos 2002.
que estão ocorrendo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRADECIMENTOS

CABRAL, E.; ROMÃO, M. Armadilha de ar. O autor agradece ao Maj.-Av. Carlos H. Kühl
Aeromagazine, ano 6, n. 63, p.32-33. 1999. Nogueira pelo acesso aos dados da investigação do
SIPAA-4, sobre o acidente com a aeronave PT-IEE;
FUJITA, T.T.; CARRACENA, F. An analysis of three ao Prof. Dr. Augusto José Pereira Filho, do IAG/USP,
weather-related aircraft accidents. Bull. Am. Meteor. pelos dados do radar de Ponte Nova; e a Dra. Marley
Soc., v. 58, p. 1164-1181. 1977. Cavalcante de Lima Moscati, Diretora Administrativa
da SBMET, pelo convite e estímulo para a elaboração
FUJITA, T.T. The downburst. University of deste artigo.
Chicago. 1985.

ICAO. No. 21 – British Overseas Airways


Corporation, Canadair C.4 (Argonaut), G-ALHE,
crashed at Kano Airport, Nigeria, on 24 June 1956.
Report by Ministry of Communications and Aviation,
Federation of Nigeria. (Also released as C.A P. 141 by
Ministry of Transport and Civil Aviation – U.K.). In:
ICAO Circular 54-AN Aircraft Accident Digest No.
8, p.89-94. Montreal, Canadá, 1958.

MOTHA, R.P. et al. Precipitation patterns in West


Africa. Mon. Wea. Rev., v. 108, n. 10, p. 1567-1578.
1980.

RAY, P. S. Mesoscale Meteorology and Forecasting.


AMS, 2a. ed., Boston, 1986, 793 p.

SILVA DIAS, M.A F. Storms in Brazil. In: Storms.


v. II, editado por R. Pielke Jr. e R. Pielke Sr.. Routledge

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Boletim SBMET novembro/05

ONDAS DE MONTANHA E A SEGURANÇA


NAS OPERAÇÕES AÉREAS NA ANTÁRTICA

Marcelo Romão, Alberto Setzer


Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE
E-mails: mromao@cptec.inpe.br, asetzer@cptec.inpe.br

Francisco Eliseu Aquino


NOTOS – Laboratório de Climatologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Instituto de Geociências – Departamento de Geografia
E-mail: francisco.aquino@ufrgs.br

RESUMO

Este artigo apresenta considerações básicas sobre a importância das ondas de montanha, windshear e turbulência
em baixos níveis, registradas na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), localizada na Baía do Almirantado,
Ilha Rei George, no norte da Península Antártica. Analisando características da velocidade, direção e rajada
máxima do vento na EACF, entre 1994 e 2002, conjuntamente com a prática operacional e observacional do
Projeto de Meteorologia na EACF do PROANTAR/CNPq, nesta região, obtiveram-se resultados empíricos que
podem servir de referência a pilotos e meteorologistas que atuam na região.
Palavras-chave: Ondas de Montanha, windshear, Estação Antártica Comandante Ferraz.

ABSTRACT

This paper presents basic considerations on the importance of mountain waves, windshear and turbulence at
low levels that were registered at the Ferraz Brazilian Antarctic Station (EACF), located at Admiralty Bay, King
George Island, northern Antarctic Peninsula. At analyzing characteristics of wind velocity, direction and gust
maxima observed at EACF between 1994 and 2002, together with operational and observational practices of
the Brazilian Antarctic meteorology project (“Projeto Meteorologia na EACF’, PROANTAR/CNPq), empirical
results were obtained, which may already serve as reference for pilots and meteorologists operating in the
region.
Key words: Mountain waves, windshear, Ferraz Antarctic Station.

1. INTRODUÇÃO UH-13 Esquilo biturbina, a bordo do Navio de Apoio


Oceanográfico H-44 Ary Rongel, em águas antárticas.
Ondas de Montanha (OM), windshear (ou “tesoura As OM são um dos mais belos e perigosos fenômenos
de vento”, WS) e turbulência em baixos níveis, são meteorológicos. Belos devido às nuvens lenticulares
fenômenos meteorológicos muito conhecidos pelos resultantes, que parecem ter sido delicadamente moldadas
aviadores da Divisão Aeroembarcada da Marinha do ou pintadas à mão, e perigosos devido à turbulência e ao
Brasil (DAE-MB), que operam com os helicópteros WS característicos das traiçoeiras nuvens rotoras.

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Boletim SBMET novembro/05

A preocupação com a segurança de vôo dos O fenômeno da OM pode ser detectado visualmente
helicópteros na Antártica, provavelmente começou em através das nuvens lenticulares. Tais nuvens são
1934, quando o Almirante Richard Byrd (EUA) utilizou formadas a barlavento das elevações montanhosas e têm
em suas operações aéreas o auto-giro Kellett; considerado posição estacionária, assim como as chamadas nuvens
o melhor protótipo dos atuais helicópteros. Infelizmente, capuz (nuvens em forma de capuz que ocorrem sobre
esta aeronave acidentou-se ao final da expedição. Em a parte superior das serras) e que, além de encobrir os
1946, o Almirante Byrd voltou à Antártica com 4.000 picos das montanhas, têm turbulência associada. Este
homens, 13 navios e um submarino. Essa operação, fenômeno pode ser observado em imagens de satélite na
denominada High Jump, utilizou extensivamente os região norte da Península Antártica. Na Figura 1, as OMs
helicópteros em suas expedições antárticas. podem ser identificadas pela sua forma de “costeletas”,
e sua extensão é proporcional à do Arquipélago das
Na região onde os helicópteros da DAE-MB operam Ilhas Shetland do Sul. Logo abaixo do fluxo das ondas,
com mais freqüência, o Arquipélago das Ilhas Shetland podem se formar as nuvens rotoras. É junto a estas
do Sul, e mais especificamente nas Ilhas Rei George formações que se encontra a turbulência mais severa,
e Elefante, é comum que essas aeronaves sofram os principalmente dentro e abaixo dessas nuvens. O WS
efeitos da turbulência – “sacudir nas lombadas aéreas”, também ocorre associado a nuvens rotoras, pois seus
além de estarem sujeitas a outros efeitos como deriva, ventos seguem uma elipse com ventos ascendentes junto
aumento no tempo de vôo, e maior consumo de à montanha e descendentes um pouco mais à frente.
combustível, afetando consideravelmente o desempenho Tanto as nuvens rotoras quanto as lenticulares só irão se
da aeronave. formar se houver condições de temperatura e umidade
para isso e, sem elas, as OM ficarão praticamente
As OM são formadas quando ventos de 20 nós ou invisíveis e, portanto, mais perigosas para os pilotos
mais atingem perpendicularmente (com desvio máximo que terão dificuldades adicionais em dimensionar as
de 50° de ângulo) uma montanha com 30° ou mais perturbações existentes.
de inclinação. A barlavento, o ar é forçado a subir a
montanha, descendo a sotavento. O seu efeito é estendido
sobre o vale na forma de ondas, que podem se propagar
por vários quilômetros. As ondas mais próximas à
montanha são as de maior turbulência. A turbulência
nesse caso é de origem mecânica e sua extensão e
intensidade dependem diretamente da velocidade do
vento, da rugosidade do terreno, altura do obstáculo e
da estabilidade do ar (Tabela 1).

Tabela 1: Intensidade e extensão horizontal da


turbulência.

vento normal intensidade da extensão


à montanha turbulência horizontal da Figura 1: Imagem do satélite NOAA 12 recebida na EACF em 16
(nós) turbulência (km) de Dezembro de 2001, onde se identificam as OM originadas pela
25 Leve 8 a 12 passagem do vento pela Península Antártica, Ilhas Rei George e
Elefante e um iceberg.
50 Moderada 12 a 20
80 Forte 20 a 40
Fonte: Instituto de Proteção ao Vôo (IPV).

60
Boletim SBMET novembro/05

Um indício visual de quanto à turbulência está os mais afetados em uma situação de WS.
se estendendo verticalmente pode ser obtido pela
observação do nível em que as nuvens lenticulares estão; Na região da Estação Antártica Comandante Ferraz
por exemplo, a existência de uma nuvem lenticular alta (EACF), tem-se elevações de mais de 600 m de altitude
do gênero Cirrocumulus dá a idéia de que a turbulência (Figura 2), com alinhamento de NE para SW, e ventos
está se estendendo por muitos milhares de pés acima máximos que podem atingir facilmente 70 nós (Figuras
das montanhas. Outro fenômeno importante é a corrente 3a e 3b). Os pilotos devem dar a devida atenção quando
de jato (jet stream), pois mesmo ocorrendo em grandes voarem em situação onde há presença de ventos
altitudes estes fluxos de ar podem gerar OMs e rajadas superiores a 20 nós ou nuvens lenticulares na área.
de ventos em níveis mais baixos.

Lester (1997) lista as seguintes recomendações para


um vôo seguro quando o assunto é OM:

• Se não for possível evitar as OM, deve-se voar


a uma altitude que ultrapasse pelo menos 50% a
altura das elevações;
• Alcance a altitude de 3.000 a 5.000 pés acima das
elevações antes de cruzá-las;
• O melhor procedimento para cruzar as montanhas Figura 2: Helicóptero Esquilo biturbina da DAE-MB, em manobra de
é com um ângulo de 45°, para possibilitar aproximação do heliponto da EACF. Ao fundo encontra-se a geleira
uma rápida retirada no caso da turbulência ser Stenhouse, com elevações que ultrapassam 600 m de altitude.
encontrada;
• Evite nuvens lenticulares, principalmente
se os seus bordos estiverem esfarrapados e
irregulares;
• Evite as nuvens rotoras, pois elas se encontram
nas áreas de turbulência mais intensas das OM;
• Não confie excessivamente nas leituras do (a)
altímetro próximo a picos montanhosos, pois
podem indicar altitudes superiores a 1.000 pés
em relação à altitude real.

A “tesoura de vento” gerada por uma OM (vale


lembrar que, ondas lee, WS, cisalhamento do vento,
e tesoura de vento, são todos sinônimos), também
pode ser definida como uma variação na direção e/ou
na velocidade do vento em uma curta distância (na
vertical ou horizontal). Esta variação brusca leva a
um significativo ganho ou perda de sustentação das
aeronaves. O WS pode causar diferentes efeitos nas
(b)
aeronaves, como turbulência, aumento ou diminuição
da velocidade indicada, bruscas e perigosas variações Figura 3: a) Freqüência das rajadas máximas na EACF entre 1994
no Indicador de Velocidade Vertical (VSI), altímetro e e 2002; b) Rajadas máximas observadas na EACF entre 1994 e
indicador de ângulo de ataque, sendo estes instrumentos 2002.

61
Boletim SBMET novembro/05

Em 19 de janeiro de 2002 um helicóptero da Força


Aérea Uruguaia, um Bell UH-1H, enfrentou forte
cisalhamento do vento em sua aproximação ao heliponto
da EACF. Pelo menos três componentes de vento agiam
na área: uma vinda das geleiras, outra do mar e outra
de uma elevação de 216 m, atrás da EACF – a da
estação meteorológica do Morro da Cuz. A aeronave
balançou perigosamente a baixa altura, abortando o
pouso e retornando à estação uruguaia de Artigas.
Essa grande variabilidade das condições atmosféricas,
principalmente do vento, no interior do fiorde da Baía
do Almirantado, testa a habilidade e capacidade não só
dos pilotos, mas também dos meteorologistas que se
encontram nessas situações limítrofes.

Em dezembro de 2004, um helicóptero Bell 407


com equipe inglesa, voando sobre o Platô Antártico
(79ºS; 79ºW), nas proximidades dos montes Patriot
e das montanhas Ellsworth, colidiu com o solo em
condições de vôo controlado (Figura 4). Este acidente Figura 4: Integrante do Projeto, Francisco E. Aquino, observa em
ocorreu em situação de piora do tempo, vento entre 25 Patriot Hills os destroços do helicóptero Bell 407, utilizado na
e 30 nós e whiteout (branco-total, quando o contraste expedição Polarfirst no verão de 2004/2005.
desaparece e o observador não consegue distinguir o
horizonte ou qualquer feição na superfície da neve).
Este sinistro aconteceu no momento que o piloto
Na tentativa de se aprimorar a previsão do tempo
iniciou o procedimento de pouso, batendo contra o
para condições adversas de vôo, o Projeto tem realizado
solo com o altímetro ainda marcando 140 pés de altura.
análises dos ventos locais e suas relações com o WS.
Provavelmente as OMs estavam atuando na região no
Para tanto, foram utilizados dados meteorológicos de
momento do acidente, o que teria provocado a diferença
duas estações meteorológicas, uma em altitude (Morro
de altura no radio-altímetro, e que foi agravado pela
da Cruz) e outra em superfície (EACF).
presença do whiteout.
Foi constatado que, se a diferença na direção do vento
O Projeto “Meteorologia na Estação Antártica
for superior a 60º entre essas duas estações, os pilotos já
Comandante Ferraz” do PROANTAR/CNPq, dá
podem encontrar cisalhamento no vento. Diferenças nas
especial atenção aos ventos locais quando existe
velocidades dos ventos superiores a 30 nós também são
atividade aérea na região. Constantemente são feitos
um bom indicativo de WS.
contatos via rádio com o NApOc Ary Rongel e outras
aeronaves que venham a utilizar-se do heliponto da
Esses são resultados preliminares e empíricos,
EACF. As forças aéreas peruana, uruguaia e chilena
mas que já servem como referência a pilotos e
constantemente solicitam briefings da EACF, fazendo
meteorologistas. Pesquisas que visem à segurança dos
com que o módulo de Meteorologia da EACF às vezes
aeronautas é um importante fator de progresso para a
funcione como uma estação de serviço de informação
aviação moderna, principalmente em regiões inóspitas
de vôo do aeródromo (Aerodrome Flight Information
e de bruscas mudanças do tempo meteorológico, como
Service – AFIS), reportando as condições gerais do
a região Antártica. Iniciado por Byrd em 1946, hoje as
tempo, previsões de tempo locais, previsões de ondas
operações com helicópteros são fundamentais para toda
de montanhas e até mesmo fazendo a coordenação de
a logística das atividades humanas na Antártica.
seus vôos.

62
Boletim SBMET novembro/05

2. BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA AGRADECIMENTOS

CABRAL, E.; ROMÃO, M. 1999. Atenção ao Ao PROANTAR, pelo apoio contínuo junto à
Relevo. Revista Aero Magazine. Nova Cultural, Vol. Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar
6 n 65, 30-31. (SECIRM) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq); ao Ministério do
LEDESMA, M.; BALERIOLA, G. 1984. Meio Ambiente (MMA); CPTEC e ao INPE, pelo apoio
Meteorologia Aplicada a la Aviacion. Paraninfo. 389 institucional, ao Ministério da Ciência e Tecnologia
– 406. (MCT); à bolsa MCT DTI-381179/03-6; às equipes
“Meteoro – H24”, ao Geógrafo Ricardo Burgo Braga
LESTER, P. F. 1997. Mountain Lee Waves in: (NOTOS/UFRGS) e à Marilene A. da Silva, pela atuação
Aviation weather. Englewood: Jeppesen Sanderson. incansável nestes 20 anos.
10-9 a 10-17.

MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Instituto de


proteção ao Vôo – IPV. Ondas de Montanha, Uma força
sobrepujada apenas pelos tornados. Apostila do Curso
OP-178 (Especialização em meteorologia Aeronáutica,
S/D).

MURRAY, J.; BODILL, C. Página da expedição


Polar First – flying to extremes, disponível em: http://
www. Polarfirst.com/html/diary.php. (consultado em
dezembro de 2005).

PROJETO DE METEOROLOGIA ANTÁRTICA.


Página do projeto disponível em: http://www.cptec.
inpe.br/antartica. (consultado em dezembro de 2005).

SIMÕES, J.C. 2004. Glossário da língua portuguesa


da neve, do gelo e termos correlatos. In: Pesquisa
Brasileira Antártica. Academia Brasileira de Ciências,
Vol. 4: 119-154.

63
Boletim SBMET novembro/05

METEOROLOGIA AERONÁUTICA:
SERVIÇO APAIXONANTE E CIÊNCIA COM VASTO
CAMPO PARA A PESQUISA

Cristina Voltas Carrera Fogaccia


Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO
Rodovia Hélio Smitdt, s/n – Caixa Postal 3051 – Cumbica
CEP 07143-970 – Guarulhos – SP
E-mail: cfogacci.cnsp@infraero.gov.br

D esde o surgimento das primeiras aeronaves,


as autoridades começaram a preocupar-se em
disciplinar o tráfego aéreo com o objetivo de promover
da OACI, adota sua legislação internacional.

O Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro


a segurança da navegação aérea. (SISCEAB) tem como função impor a presença do Estado
Em 1949, com a 1ª Guerra Mundial, surgiram as no espaço aéreo sob sua jurisdição e responsabilidade,
seguintes questões: provendo condições para que o fluxo de tráfego aéreo,
civil e militar, seja realizado com segurança, eficiência
• Seria o espaço aéreo livre ao uso de todos? e regularidade, sempre com o conhecimento e de
acordo com as condições estabelecidas pelo Comando
• Teria o proprietário do solo o domínio absoluto da Aeronáutica. Uma das atividades do SISCEAB é
da coluna do espaço aéreo correspondente ao o Serviço de Meteorologia Aeronáutica, estruturado
seu imóvel? dentro do Sistema de Proteção ao Vôo, visando
• O Estado teria o direito de soberania no espaço prover aos usuários as informações meteorológicas
aéreo sobrejacente ao respectivo território? necessárias ao planejamento, execução e controle dos
vôos. Meteorologia Aeronáutica é definida como o
ramo da ciência meteorológica que estuda os fenômenos
Diante dessas dúvidas, formaram-se convenções atmosféricos que possam influenciar a navegação aérea,
internacionais para tratar desses assuntos relativos à a segurança da infra-estrutura aeronáutica e a interação
navegação aérea. A mais importante foi a Convenção dos equipamentos de vôo com o ar atmosférico. As
de Chicago de 1944, com a finalidade de direcionar normas relativas à Meteorologia foram adotadas pelo
certos princípios, para que a aviação internacional se Conselho de 1948, em conformidade com o estabelecido
desenvolvesse de maneira segura e sistemática. De pela Convenção de Chicago, sendo descritas no “Anexo
forma resumida, as principais finalidades da Convenção 3 da Convenção de Aviação Civil Internacional”.
de Chicago foram promover acordos internacionais
para que a aviação civil internacional se desenvolvesse Graças à necessidade de se fornecer informações
com segurança e de forma ordenada e que o Serviço meteorológicas para os aviadores foi criada uma rede de
de Transporte Aéreo Internacional se estabelecesse estações meteorológicas extensa, em cada aeródromo,
qualitativa e economicamente, além da criação da com informações atualizadas a cada hora, com
Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), divulgação mundial. Com isso a área de Meteorologia
concretizada em 1947. O Brasil, como país signatário

64
Boletim SBMET novembro/05

Aeronáutica foi a alavanca das várias áreas de atuação da de métodos de avaliação dessas mensagens previstas,
Meteorologia que dependem de receber continuamente dando ao previsor uma análise de sua previsão logo após
as informações meteorológicas (Defesa Civil, marítima, o término da validade e fornecendo, além do seu índice
mídia, etc). global de acerto, uma informação detalhada de quais
Quantos previsores dispunham apenas dos aeroportos parâmetros meteorológicos tiveram mais acerto. Assim
para obter as informações dessa rede de estações para o previsor poderá guiar-se diariamente para melhorar a
fazer suas previsões, antes de existir a divulgação das sua previsão para o dia seguinte. Também, as pesquisas
mensagens e imagens de satélites meteorológicos pela poderão ser direcionadas conforme a necessidade. Por
internet! Hoje, as informações meteorológicas são exemplo, se a previsão de nebulosidade for o fator que
facilmente obtidas e o avanço contínuo da tecnologia estiver diminuindo esse índice de acerto, então o foco
está permitindo melhorar a qualidade dos serviços de pesquisa passará a ser o estudo da previsibilidade
prestados. desse parâmetro. O próximo passo será a implantação
de modelos regionais em tempo real, de resolução
A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura adequada para a previsão dos parâmetros de interesse
Aeroportuária (INFRAERO) tem investido na para a aviação, com foco em cada aeródromo.
informatização dos processos dos Centros e Estações
Meteorológicos. A busca pela automatização das Todo o SISCEAB está estruturado para ser flexível,
tarefas manuais, como a “plotagem” de cartas, tem de forma a atender a demanda dos movimentos aéreos
como objetivo melhor aproveitar o potencial humano, e aumentar a segurança, conforme o desenvolvimento
focando sua atenção na análise meteorológica e no da tecnologia. Com isso, as normas também mudam, e
atendimento aos usuários da navegação aérea. A todo o pessoal envolvido tem que ser constantemente
INFRAERO adquiriu o sistema VISMET para plotagem treinado para aplicar as novas normas e tecnologias. O
de cartas meteorológicas (carta auxiliar, SKEWT-Log Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA)
P e “Tabuleiro”) para os Centros Meteorológicos de e a INFRAERO investem em instrução, por meio de
Aeródromo Classe 1 (CMA-1), facilitando e agilizando cursos de formação e atualização. A operação 24 horas
as tarefas dos CMA-1 dos Aeroportos Internacional dos Centros e Estações Meteorológicas é o diferencial
de São Paulo/Guarulhos e do Rio de Janeiro/Galeão. desse serviço, e seria melhor ainda se houvesse um
Nas Estações Meteorológicas foi implantado um espaço dentro da atual estrutura para a existência de uma
sistema para registro das observações meteorológicas, equipe voltada para a pesquisa na área. Existem poucos
o INFOMET, desenvolvido inicialmente por um trabalhos científicos nessa área, apesar de intenções
operador da rede e agora em processo de melhoria por isoladas para estabelecer vínculos para conduzir a
profissionais de informática da própria empresa. Esse pesquisa para aplicação na área de Meteorologia
sistema permitiu a diminuição do preenchimento de Aeronáutica.
formulários e facilitou a consulta a dados passados.
A tendência é que o investimento em informatização Concluindo: Trabalhar com Meteorologia
na INFRAERO continue avançando para englobar Aeronáutica é extremamente envolvente, apaixonante
todos os procedimentos de elaboração das previsões e gratificante. Envolvente, porque essa área tem uma
meteorológicas. missão nobre: “Proteger Vidas”. Apaixonante, porque
diariamente, durante 24 horas, o profissional tem um
Visando verificar a qualidade dessas previsões, grande desafio de cumprir sua missão e conquistar a
existe um índice de acerto para as previsões elaboradas credibilidade para o seu serviço. Gratificante, porque o
para cada aeródromo. Apesar de se ter uma média de contato com o usuário é muito próximo, com interação
acerto bom (entre 80% e 95%), essa média é feita por constante e palavras de elogio freqüentes. E, esta área
amostragem, de forma manual e, devido à demora na sua apaixonante tem um vasto campo inexplorado repleto
divulgação (em torno de um mês), e falta na definição de desafios para a comunidade meteorológica.
dos parâmetros que levou à falha na previsão, a melhoria
é muito incipiente. A tendência é investir na implantação

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Boletim SBMET novembro/05

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AGRADECIMENTOS

BRASIL. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Agradeço ao Cel. Av. José Maria Ribeiro Mendes,
INSTITUTO DE PROTEÇÃO AO VÔO. pelo incentivo para escrever este texto e por apoiar as
Gerenciamento de Atividades do SISCEAB (CG112), inovações no Centro Meteorológico de Aeródromo de
São José dos Campos: IPV, 1999. Guarulhos (CMA-1 GR) e a Marcelo da Silva Fogaccia
e Lúcia Setiuko Tengan, pela revisão e sugestões.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION
ORGANIZATION. Meteorological Service for
International Air Navigation: Annex 3 to the
Convection on International Civil Aviation. 5th . ed.
[S.L.]: ICAO, 2004.

66
Boletim SBMET novembro/05

MONITORAMENTO E EVOLUÇÃO DE DESCARGAS


ELÉTRICAS ATMOSFÉRICAS ASSOCIADAS A SISTEMAS
CONVECTIVOS DE MESOESCALA

Suzana Rodrigues Macedo1, Wagner Flauber Araújo Lima1,


Luiz Augusto Toledo Machado1, Osmar Pinto Junior2
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE
1
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais –
INPE/CPTEC/DSA
2
Divisão de Geofísica Espacial/Grupo de Eletricidade Atmosférica – INPE/DGE/ ELAT
E-mails:{suzana, wagner, machado}@cptec.inpe.br, osmar@dge.inpe.br

RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar um produto recentemente disponibilizado pelo CPTEC/INPE, em
parceria com o grupo de Eletricidade Atmosférica do DGE/INPE. Trata-se da detecção de descargas atmosféricas
distribuídas na imagem do canal infravermelho do GOES, em uma área de 10 x 10 km2 e também da quantidade
de descargas elétricas associadas a sistemas convectivos de mesoescala detectados pelo ForTraCC (Forecast and
Tracking the evolution of Cloud Clusters).
Palavras-chave: descargas atmosféricas, sistemas convectivos, ForTraCC, GOES.

ABSTRACT

The main goal of this article is to present a product recently developed by CPTEC/INPE in partnership with the
Atmospheric Electricity Group of DGE/INPE. The product shows the spatial distribution of lightning flashes
on a GOES infrared image within an area of 10 x 10 km2, and the number of lightning occurrence associated to
mesoscale convective systems detected by the ForTraCC (Forecast and Tracking the evolution of Cloud Clusters)
software.
Key words: lightning flashes, cloud clusters, ForTraCC, GOES.

1. INTRODUÇÃO Mesoescala (SCM) são responsáveis pela maior parte da


precipitação nos trópicos e em várias regiões de latitudes
O monitoramento em tempo real de tempestades médias durante a estação quente (Maddox, 1980; Mathon
vem despertando o interesse tanto da comunidade e Laurent, 2001; Machado et al., 2004). O ForTraCC é
meteorológica, como da sociedade em geral, visto a sua um método que faz o acompanhamento das trajetórias
reconhecida utilidade nas tomadas de decisão por parte e ciclo de vida dos SCM, utilizando imagens no canal
da defesa civil, redes de distribuição de energia elétrica infravermelho termal de satélite geoestacionário, com
e possibilidades de estudos sobre suas características base nas similaridades das características morfológicas
em diferentes regiões. Os Sistemas Convectivos de e da área de superposição entre os SCM em imagens

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Boletim SBMET novembro/05

sucessivas (Machado et al., 1998). ocorridos a cada meia hora (15 minutos antes a 15
minutos depois do horário da varredura do satélite GOES
Um aspecto da precipitação intensa é a quantidade em 20ºS), são distribuídas sobre a grade da imagem do
de relâmpagos, muitas vezes associada à sua ocorrência. canal infravermelho (4 x 4 km2) gerando uma matriz M1.
Descargas atmosféricas são descargas elétricas de grande Desta forma o conteúdo da matriz M1 corresponde ao
extensão (na ordem de quilômetros) e intensidade que número de raios encontrados em cada pixel da imagem
ocorrem devido ao acúmulo de cargas elétricas, em geral GOES (canal infravermelho), no período de meia hora.
em regiões localizadas dentro de tempestades (Pinto Esta informação é disponibilizada para usuários a cada
Jr, 2005). A Rede Integrada Nacional de Detecção de meia hora, após a matriz M1 ser interpolada para uma
Descargas Elétricas (RINDAT) é uma rede de sensores grade de 10 x 10 km2 (referência em 20ºS).
e centrais que permitem a detecção, em tempo real, da
maior parte de descargas que atingem o solo brasileiro Para o acompanhamento da evolução do número
(maiores informações no sítio http://www.rindat.com. de descargas elétricas em SCM, fez-se uma integração
br). Através desta rede são obtidos os dados de descargas das informações provenientes das matrizes M1 com
elétricas nuvem-solo em tempo real. as detecções de sistemas convectivos ocorridas nos
mesmos horários. As informações de detecção de
Com o objetivo de complementar o acompanhamento SCM são disponibilizadas a cada meia hora pela DSA,
das tempestades atmosféricas através do ForTraCC, adotando a metodologia empregada no ForTraCC.
a Divisão de Satélites Ambientais (DSA) do Centro
de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/ No ForTraCC, o processo de detecção de sistemas
INPE), em parceria com o grupo de Eletricidade é aplicado para dois limiares de temperatura de brilho,
Atmosférica do INPE (ELAT) da Divisão de Geofísica sendo 235 K para SCM e 215 K para células convectivas.
Espacial (DGE/INPE) e a RINDAT, recentemente O método de identificação de um mesmo SC no tempo
desenvolveu um novo produto em caráter operacional: “t” e nas imagens sucessivas em “t+∆t”, é baseado no
o monitoramento de descargas elétricas atmosféricas critério de mínima superposição da área dos SCM em
acumuladas por pixel e a associação destas descargas imagens sucessivas. A área de superposição deve ter um
com a ocorrência de SCM. valor mínimo n = 150 pixels (aproximadamente 2.400
km2), para considerar a continuidade do SCM em um
Este trabalho tem como objetivo apresentar o novo ∆t= 30 minutos. Se a área de superposição é menor que
sistema de monitoramento, que permite acompanhar n, o sistema não é considerado como sendo o mesmo
em tempo real a evolução da quantidade de descargas sistema no tempo anterior (Machado et al., 1998).
elétricas associadas à ocorrência de SCM. Os dados
operacionais estão sendo disponibilizados para usuários O ForTraCC adota a variação da área do sistema
no sítio http://satelite.cptec.inpe.br/htmldocs/raio/ em relação ao tempo como parâmetro P, indicativo do
desc_elet_nova.htm. crescimento (ou decrescimento) relativo do sistema com
respeito a sua área média, em um intervalo de tempo δt
(tipicamente meia hora) (Machado et al., 2004; Macedo
2. DADOS E METODOLOGIA et al., 2004) Se P > 0 o sistema está em processo de
expansão e se P < 0 seu estado é de dissipação.
O monitoramento de descargas elétricas em SCM
envolve a utilização de arquivos de dados de relâmpagos A cada meia hora, o ForTraCC disponibiliza um
terra-solo fornecidos pela rede RINDAT, a cada 15 conjunto de informações a respeito dos SCM detectados
minutos, e também de imagens GOES, recebidas a na imagem GOES do horário correspondente,
cada meia hora pela DSA/CPTEC e processadas pelo acompanhado do histórico destas informações durante a
ForTraCC. evolução do ciclo do sistema e também uma matriz M2,
cujos pixels são identificados com o número do SCM
As informações de quantidade total de relâmpagos, a que pertencem ou como não pertencente a nenhum

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Boletim SBMET novembro/05

sistema. Para identificar, dentro da área ocupada círculo. A cor vermelha indica que o sistema está em
por cada SCM, a quantidade de descargas elétricas fase de intensificação no horário da imagem. A Figura
atmosféricas é feita uma superposição entre as matrizes 2b apresenta as quantidades de descargas atmosféricas
M1 e M2, atribuindo a cada sistema convectivo a soma associadas aos SCM, distribuídas em intervalos.
das descargas elétricas ocorridas dentro de sua área. Nesta figura, sobre a região do SCM analisado, foram
detectadas entre 50 e 100 descargas elétricas durante um
período de meia hora.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A Figura 3 ilustra a evolução SCM analisado,
Neste item são apresentados alguns exemplos de segundo as características de temperatura mínima,
resultados que são obtidos com o método descrito expansão e quantidade de relâmpagos. É importante
no item anterior, como exemplos da contribuição salientar que os conceitos de temperatura mínima e
da meteorologia por satélites no monitoramento de expansão adotados pelo ForTraCC, durante este estudo,
tempestades. correspondem, respectivamente, à média dos cinco pixels
de menor temperatura de brilho encontrados no sistema
A Figura 1 ilustra, como exemplo, uma imagem de e à variação do tamanho da área em relação ao tempo.
satélite GOES no canal infravermelho em cujos pixels Portanto, a temperatura mínima do sistema encontrando-
foram detectadas descargas elétricas no período de meia se abaixo do limiar de 215K, representa a temperatura
hora. A tecnologia empregada nos sensores permite a média dos topos mais frios (células convectivas) do SCM.
detecção de descargas atmosféricas com até 90% de A queda na temperatura dos topos mais frios, observada
eficiência, dependendo da distribuição dos sensores. As na Figura 3a, associada ao aumento da expansão da área
curvas de eficiência de detecção são representadas pelas do sistema no mesmo período (Figura 3b), representa
linhas na figura. intensificação da atividade convectiva (Machado et al.,
2004). A Figura 3c ilustra um aumento no número de
Uma vez que as regiões onde atuam os SCM são descargas elétricas associadas ao sistema durante sua
afetadas por precipitação intensa e que existe uma intensificação e queda deste número quando o sistema
relação entre a ocorrência de descargas atmosféricas começa a desintensificar. Observando-se as três curvas
e a existência de tempestades, tornou-se conveniente da Figura 3 como um todo, nota-se que a curva de
uma interação dos dados de quantidades de descargas valores de temperatura mínima, segue o comportamento
atmosféricas exemplificados na Figura 1 com a presença da curva de quantidades de relâmpagos. Neste caso, o
de sistemas convectivos, a fim de se estudar a evolução pico da curva de expansão da área antecede o pico de
das descargas elétricas nestes sistemas. As Figuras 2 e evolução da ocorrência de relâmpagos.
3 apresentam exemplos de como estas informações são
disponibilizadas para os usuários, através do estudo Casos como este, em que o comportamento da
de um SCM ocorrido em 28 de setembro de 2005, as expansão do SCM parece predizer a evolução da
22:30 UTC. Na Figura 2, o sistema analisado encontra- ocorrência de descargas atmosféricas, vêm sendo
se destacado através de círculos. Na Figura 2a observa- observados com relativa freqüência, o que tem motivado
se os SCM detectados pelo ForTraCC. Na página de estudos sobre a previsão de descargas atmosféricas,
apresentação do produto, diferentes cores indicam as como uma ferramenta para o nowcasting.
fases do ciclo de vida em que cada sistema se encontra:
intensificação (vermelho), estabilidade (amarelo) ou
desintensificação (verde) e os tempos de vida previstos
para os SCM são indicados pelas cores das setas, que
apontam para a direção prevista para suas trajetórias. O
período de duração dos SCM divide-se em até 2 horas,
entre 2 horas e 6 horas e, de no mínimo 6 horas. O sistema
escolhido para este estudo encontra-se destacado pelo

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Boletim SBMET novembro/05

Figura 1: – Número de raios detectados em uma área de 10 x 10 km2. As áreas delineadas em preto
correspondem a área de eficiência de detecção (20, 60 e 90%) fornecida pelo fabricante dos detectores.

(a) (b)
Figura 2: – Sistemas convectivos detectados pelo ForTraCC: a) fase do ciclo de vida, direção e previsão de duração;
b) número de descargas atmosféricas por sistema convectivo

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Boletim SBMET novembro/05

(a) (b) (c)


Figura 3: – Evolução histórica das características do SCM: a) temperatura mínima; b) expansão; c) descargas elétricas no SCM.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Neste trabalho foi apresentada uma contribuição MACHADO, L. A. T; LAURENT, H. The


da Meteorologia por Satélites no monitoramento Convective System Area Expansion over Amazonia and
de tempestades: o acompanhamento da evolução its Relationships with Convective System Life Duration
de descargas elétricas atmosféricas em SCM. O and High-Level Wind Divergence. Mon. Wea. Rev.,
método intera dois tipos de informações, tal como o v.132, n 4, p. 714-725, 2004.
acompanhamento de SCM em imagens de satélite GOES
através do ForTraCC e a detecção de descargas elétricas MACHADO, L.A.T; ROSSOW, W. B; GUEDES R.
na atmosfera, através de sensores da rede RINDAT. L; WALKER, A. Life cycle variations of convective
systems over the Americas. Mon. Wea. Rev., v.126, p.
Os dados de quantidade de relâmpagos são 1630-1654, 1998.
interpolados para a grade das imagens GOES (4 x 4
km2) e superpostos com dados de detecção de sistemas MACEDO, S.R; MACHADO, L.A.T; VILA,
convectivos. O resultado é o desenvolvimento de um D; MORALES, C.A. Monitoramento de sistemas
novo produto, que é a detecção de descargas elétricas convectivos de mesoescala atuantes no Brasil utilizando
associadas a sistemas convectivos. Este produto é o FORTRACC (Forecast and Tracking of Active and
destinado a aplicações pela defesa civil, redes de Convective Cells). In: XIII Congresso Brasileiro de
distribuição e transmissão de energia elétrica e previsão Meteorologia, Fortaleza-CE. Anais. 2004. (CD-ROM)
de tempo entre outras, e está sendo disponibilizado
MADDOX, R.A. Mesoscale convective complexes.
operacionalmente na DSA/CPTEC a cada meia hora.
Bull. Amer. Meteor. Soc., v.61, p.1374-1387, 1980.
Também são disponibilizados os dados de número de
relâmpagos detectados em uma grade de 10 x 10 km2, MATHON, V.; LAURENT, H. Life cycle of the
distribuídos sobre imagens do canal infravermelho do Sahelian Mesoscale Convective Cloud Systems. Quart.
GOES. J. Roy. Meteo. Soc., v. 127, p.377-406, 2001.

As análises apresentadas neste trabalho fazem parte PINTO JR, O. A arte da guerra contra os raios.
de um estudo que visa um futuro sistema de previsão Editora Oficina do Texto, 2005.
de descargas elétricas, a partir de uma única base
de dados que reúne informações sobre evolução das PINTO JR., O; SABA, M.M.F; PINTO, I.R.C.A;
características de sistemas convectivos e quantidade de TAVARES, F.S.S; SOLORZANO, N.N; NACCARATO,
descargas elétricas atmosféricas. K.P; TAYLOR, M; PAUTET, P.D; HOLZWORTH,
R.H. Thunderstorm and lightning characteristics
associated with sprites in Brazil. Geophys. Rech. Lett.,
31(13):13103-13106, 2004.

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Boletim SBMET novembro/05
NOTÍCIA

MONITORAMENTO DE QUEIMADAS RECEBE


PRÊMIO INTERNACIONAL NO JAPÃO

O pesquisador Alberto Setzer, do Centro de Previsão para a criação do futuro sustentável. Para a seleção, um
de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Comitê escolheu os 100 melhores trabalhos entre 236
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do indicados, limitando em 23 os prêmios a instituições
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), recebeu, no não-japonesas. O processo de escolha dos trabalhos
início do mês de setembro, em cerimônia realizada no contou com um Comitê Técnico de busca que identificou
Castelo de Nagoya, no Japão, o prêmio Global 100 Eco- e indicou trabalhos de destaque. Não houve, portanto,
Tech Awards. O prêmio foi concedido ao monitoramento inscrições para concorrer ao prêmio.
de queimadas e incêndios florestais por satélites, operado
pelo INPE e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos A Feira Mundial, realizada pela primeira vez
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O trabalho foi em 1851, é considerada um evento internacional de
o único brasileiro contemplado nesta edição do evento e primeira magnitude pelos países-sedes do evento e pelos
um dos poucos desde que o prêmio foi instituído. expositores. Na edição deste ano, realizada entre março
e setembro, circularam cerca de 100 mil visitantes por
O Global 100 Eco-Tech Awards foi criado pela dia. Mais detalhes sobre o assunto na página internet
Associação Japonesa para a EXPO-2005 com o intuito ACONTECE, de notícias do INPE/MCT (http://www.
de reconhecer as 100 tecnologias de cunho ambiental inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=425).
que mais contribuíram na solução de problemas globais

Foto: Cerimônia de entrega do Prêmio Global 100 Eco-Tech Awards ao Dr. Alberto Setzer, do INPE.

72
EXPEDIENTE
Boletim SBMET novembro/05

da SBMET

RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO
WORKSHOP SOBRE O FENÔMENO CATARINA
Manoel Alonso Gan
Vice-Diretor Científico da SBMET/Coordenador do Evento
manoel@cptec.inpe.br

O Workshop sobre o Fenômeno Catarina, organizado das incertezas na previsão numérica do Catarina
pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET), (Dr. Pedro Dias – USP/IAG e Dr. José Paulo Bonatti
com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE/CPTEC), o efeito das mudanças climáticas
(INPE) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos na freqüência de ocorrência de fenômenos extremos
Climáticos (CPTEC/INPE), foi realizado no Auditório (Dr. José Marengo - INPE/CPTEC), a importância do
do Laboratório de Integração e Testes (LIT/INPE) em fenômeno Catarina para a Meteorologia e a Sociedade
São José dos Campos - SP, nos dias 28 e 29 de junho de (Dra. Maria Assunção F. Silva Dias – INPE/CPTEC) e
2005. O objetivo principal deste evento foi o de reunir a experiência de estar no olho do ciclone Catarina (Dr.
pesquisadores e meteorologistas, do Brasil e do exterior, Reinaldo Hass - UFSC).
para discutir as características dinâmicas e sinóticas do
ciclone Catarina e de outros tipos de ciclones existentes Após o ciclo de palestras, houve uma reunião do
em outras partes do globo, com a finalidade de definir grupo de trabalho que contou com a participação
o tipo de ciclone que o Catarina pertence. Além de dos palestrantes, pesquisadores, meteorologistas e
promover um intercâmbio de experiências na previsão estudantes, quando se debateu se o Catarina poderia
de ciclones intensos entre os profissionais que atuam se classificado como um furacão independente de
na previsão do tempo e na pesquisa. Fez parte também sua origem, ou se seria inicialmente poderia ser um
dos objetivos discutir as deficiências dos modelos de ciclone subtropical, que durante o seu desenvolvimento
Previsão Numérica de Tempo (PNT) nas previsões de adquiriu características de um furacão. Apesar de não
ciclones intensos no Brasil. ter havido um consenso nessas duas linhas de idéias,
nem por parte dos pesquisadores estrangeiros, chegou-
O primeiro dia do evento foi marcado por se a uma definição para divulgar para a imprensa e ao
apresentação de palestras que trataram de analisar as público de que o Catarina se formou como um ciclone
condições sinóticas associadas ao desenvolvimento sobre o Oceano Atlântico e, ao se deslocar em direção
do Catarina, através de análise numérica (Dr. Wallace ao continente, adquiriu características de furacão. No
Menezes – UFRJ) e de dados de satélites meteorológicos futuro, outros ciclones que adquirirem intensidades da
(Dr. Augusto Pereira –USP/IAG). Foi apresentada ordem do Catarina, serão chamados de furacão em seu
também comparação do Catarina com os ciclones estágio de máxima intensidade.
tropicais (Dr. Jack Beven - pesquisador americano do
Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos com No segundo dia houve duas mesas redondas para se
base na Flórida – Miami), com os ciclones híbridos que discutir os sistemas de previsão de ciclones intensos no
se formam na costa leste da Austrália (Dr. Greg Holland exterior (Jack Beven e Greg Holland) e a experiência
- Diretor da Divisão de Meso e Microescala do Centro brasileira na previsão do tempo do evento Catarina
Nacional de Pesquisas Atmosféricas, também ex- (Giovanni Dolif - INPE/CPTEC, Hugo José Braga
Diretor Geral do Serviço Meteorológico Australiano), –EPAGRI/CIRAM, César Duquia - SIMEPAR, Alberto
com baixas polares e ciclones do Mediterrâneo (Dr. Pedrassani Costa Neves – SMM, Márcio Custódio
Manoel Gan – INPE/CPTEC). Outras palestras trataram - SOMAR e Expedito Rebello - INMET). Na reunião

73
Boletim SBMET novembro/05

do grupo de trabalho referente a essas duas mesas • A SBMET deve investir em organizar cursos
redondas, foram propostas várias considerações, sendo de treinamento, aproveitando os recursos da
as seguintes as principais: internet.
• Solicitar ao representante do Brasil apoio para a
• Criar um Centro de Alerta de tempestades
SBMET na OMM, em suas iniciativas.
severas;
• Investir em capacitação em tempo severo,
A SBMET fica incumbida de levar essas atribuições
formando meteorologistas preparados
ao governo e instituições brasileiras que atuam na área
tecnicamente e também para lidar com a mídia.
de Meteorologia.
Nesse sentido, poderia ser criado um “South
American Desk” no Brasil para treinamento de
Várias matérias sobre esse evento foram veiculas
meteorologistas brasileiros;
na mídia impressa, podendo-se citar: Bom Dia São
• Incentivar intercâmbio com instituições nacionais Paulo (em 28/06/05), Bom Dia Vanguarda (28/06/05)-
e internacionais através de cooperações e Globo - Vale do Paraíba, TV Vanguarda 1ª e 2ª edições
colaborações; (28/06/05), TV Globo - Jornal Nacional (29/06/05),
TV Vanguarda - 1ª e 2ª edições (29/06/05), TV Band
• Melhorar o sistema de Observações tanto no oceano
(28/06/05) - Nacional e regional (Vale do Paraíba),
(aumentar o número de bóias) como o terrestre
TV Band – regional (29/06/05), TV Canção Nova
(instalar mais radares meteorológicos e melhorar
(28/06/05), TV Canção Nova (29/06/05), Rádio Band
a rede de superfície e de radiossondagem);
(28/06/05), Band News FM (30/06/05), Tribuna de
• Investir em sistema de disseminação dos dados, Santos (28/06/05), vários entrevistados para matérias
em laboratórios para manter a rede de observação foram publicadas, tais como no Caderno de Ciência,
em perfeito funcionamento e em treinamento em O ECO (site de ONG ambiental), Notícias do MCT/
Sensoriamento Remoto; BR, Portal Biotecnologia/DF, Zero Hora/RS, Jornal
• Atuar junto aos órgãos governamentais para Nacional Online, Correio do Litoral/SP, A Notícia/SC,
incentivar a construção e lançamento de satélites Diário Catarinense/SC, Jornal da Ciência/BR, Jornal
meteorológicos brasileiros; da Manhã, Criciúma/SC, O Estado do Paraná/PR, entre
outros.

PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA 57ª Reunião Anual da SBPC

Esse evento foi realizado no período de 17 a 22 de Professora da UFRJ, ministrou a conferência intitulada
julho de 2005, em Fortaleza, CE, e durante o evento “PREVISÕES METEOROLÓGICAS NO BRASIL:
a SBMET promoveu a realização de um mini-curso COMO SE FAZ? POR QUE MELHORARAM
para professores de 10 e 20 graus, uma Conferência TANTO?”.
e um Simpósio. O mini-curso METEOROLOGIA
– APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS NO ESTUDO Sob a Coordenação da Presidente da SBMET, o
AMBIENTAL contou com a participação de 25 docentes tema debatido durante o Simpósio foi “POR QUE
atuando na Região Nordeste, em especial em Fortaleza. LANÇAR SATÉLITES PARA OBSERVAÇÕES
A SBMET participou ministrando quatro aulas através METEOROLÓGICAS?”, e contou com as
das professoras Maria Gertrudes A. Justi da Silva (UFRJ) apresentações do Dr. Marcelo de Paula Correa do DAS/
e Meiry Sayuri Sakamoto (FUNCEME). CPTEC/INPE e do Dr. Nelson Arai, do IAE/CTA. Esteve
presente participando das discussões o Coordenador
A Presidente da Sociedade Brasileira de do Projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro, Dr.
Meteorologia, Dra. Maria Gertrudes A. Justi da Silva, Osvaldo Catsumi.

74
EXPEDIENTE
Boletim SBMET novembro/05

da SBMET

PARTICIPAÇÃO DA SBMET NA REUNIÃO DO FÓRUM BRASILEIRO DE


MUDANÇAS CLIMÁTICAS “Diálogo Sobre Mudanças Climáticas”

O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia Sergio


(FBMC) em atividade conjunta com o Ministério do Resende, representante do Ministro de Estado de Minas
Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Ciência e e Energia Silas Rondeau. A SBMET foi convidada a
Tecnologia (MCT) realizou Reunião Ordinária nos dia 09 participar deste evento, sendo representada por sua
e 10 de novembro de 2005 e que contou com a presença Presidente, Maria Gertrudes A. Justi da Silva.
do Ministra de Estado do Meio Ambiente Marina Silva,

ANDAMENTO DOS PREPARATIVOS PARA O


XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA (XIV CBMET)

Em Reunião Ordinária da Diretoria Executiva da Os trabalhos científicos, em sua forma completa,


SBMET, datada de 22 de setembro do ano corrente, começarão a ser recebidos a partir de março de 2006;
foi definido que o XIV CBMET será realizado no a data limite para o envio dos trabalhos é 30 de junho
período de 27 de novembro e 1 de dezembro de 2006, de 2006 e as respostas de aceitação serão encaminhadas
no Centro de Convenções da Universidade Federal aos autores até 31 de agosto de 2006.
de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, SC. O
tema será A Meteorologia a Serviço da Sociedade. A SBMET, em parceria com a CLIMATEMPO, e sob
Foi aprovado como estrutura para o XIV CBMET a a Coordenação da Vice-Diretora Profissional, Sra. Ana
Presidência do Congresso, e abaixo desta, os Comitês Lúcia Frony de Macedo, lançou um Concurso de Marcas
Organizador, Científico, de Infra-estrutura, de Finanças para definir o layout do XIV CBMET. As inscrições
e de Divulgação. A Presidente do Congresso e do Comitê tiveram início as 00 horas do dia 01 de novembro
Organizador será a Presidente da SBMET. de 2005 e se estenderão até o dia 10 de dezembro de
2005. O vencedor será anunciado entre os dias 05 e
Haverá seis sessões temáticas de aplicações, 10 de janeiro de 2006, pelos sites www.sbmet.org.br e
distribuídas da seguinte forma: 1) Agricultura, 2) Energia, www.climatempo.com.br. As regras para inscrição no
3) Transporte, Defesa Civil e Militar e comunicações, concurso supramencionado foram divulgadas via mala
4) Indústria, comércio, pesca e economia, 5) Saúde e direta da SBMET, no Portal da SBMET (www.sbmet.
ambiente, 6) Esporte, turismo, lazer e cultura. As Áreas org.br) e no site da CLIMATEMPO (www.climatempo.
Temáticas para submissão de trabalhos são: Climatologia com.br). O vencedor receberá uma câmera fotográfica
Geral, Variabilidade do Clima, Hidrometeorologia, digital e, em hipótese alguma, haverá a conversão em
Poluição, Interação Oceano-Atmosfera e Química dinheiro dos prêmios ou substituição dos equipamentos
da Atmosfera, Processos de Troca entre solo-planta- concedidos.
atmosfera, Sensoriamento da Atmosfera, Sistemas
Meteorológicos e Previsão de Tempo.

75
EXPEDIENTE
Boletim SBMET novembro/05

da SBMET
Simpósio Internacional de Climatologia (SIC):
a Hidrometeorologia e os impactos ambientais em regiões semi-áridas

Grade da Programação Científica

Horário 23 de outubro de 2005 – Domingo

10:00-16:00 Entrega de material – Secretaria do evento

18:00 SOLENIDADE DE ABERTURA – SALÃO IRACEMA


20:30 Abertura da Feira Técnica no Hall do Marina Park Hotel e Coquetel de Abertura no Bosque

Horário 24 de outubro de 2005 – Segunda-feira


Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã
MINI-CURSO 1 MINI-CURSO 2
Fixação de
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos PARA REUNiÕES
08:00-10:00 Painéis da
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de ESPECÍFICAS
Sessão Poster
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos.
MESA REDONDA 1 MESA REDONDA 1
Sub-Tema 3: QURSA Sub-Tema 5: ASEGRSA
PARA REUNiÕES
10:00-12:00 A Ilha de Calor Urbana e Políticas Públicas para Gestão Sessão Poster
ESPECÍFICAS
Aspectos Ligados à Hidrologia da Água no Semi-Árido
e Urbanismo
12:00-14:00 Almoço Livre
MESA REDONDA 1 MESA REDONDA 2
Sub-Tema 1: ACMRH Sub-Tema 5: ASEGRSA
Análise do Ciclo Hidrológico Saúde Pública e Epidemiologia Reunião do Projeto
14:00-16:00 Sessão Poster
em Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas EXIMIA – Ne
e o Uso de Sensoriamento
Remoto
16:00-16:30 Coffee Break
Continuação da
16:30-18:00 - - Sessão Poster Reunião doProjeto
EXIMIA - Ne
PLENÁRIA
Sub-Tema 1 – ACMRH
18:00-20:00 - -
Revitalização e Transposição de Bacias nas Regiões Semi-
Áridas
Jantar Livre – Sugestão: Bar PIRATA

76
Boletim SBMET novembro/05

Horário 25 de outubro de 2005 – Terça-feira


Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã
MINI-CURSO 1 MINI-CURSO 2
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos PARA REUNIÕES
08:00-10:00 Sessão Poster
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliação de ESPECÍFICAS
Fundamental e Médio Extremos Hidro - Climáticos
MESA REDONDA 2 MESA REDONDA 3
Sub-Tema 1: ACMRH Sub-Tema 5:ASEGRSA
Recursos Hídricos e A Comunicação entre Quem
PARA REUNIÕES
10:00-12:00 Disponibilização de Energia Produz a Informação de Sessão Poster
ESPECÍFICAS
(convencional e não Tempo e Clima e o Usuário
convencional) para Regiões Final
Semi-Áridas
12:00-14:00 Almoço Livre
MESA REDONDA 3Sub-Tema MESA REDONDA 2Sub-Tema
1: ACMRHInteração Oceano- 3: QURSAA Defesa Civil em PARA REUNIÕES
14:00-16:00 Sessão Poster
Atmosfera e suas Aplicações Áreas Urbanas e Não-Urbanas ESPECÍFICAS
para Regiões Semi-Áridas em Regiões Semi-Áridas
16:00-16:30 Coffee Break
16:30-18:00 - - Sessão Poster -
PLENÁRIA
Sub-Tema 5 – ASEGRSA
18:00-20:00 - -
A Seca sob o Ponto de Vista dos Seus Diversos Atores
-
Jantar Livre

Horário 26 de outubro de 2005 – Quarta-feira


Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã
MINI-CURSO 1 MINI-CURSO 2
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos PARA REUNIÕES
08:00-10:00 Sessão Poster
Professores do Ensino “QUANTIS” para Avaliaçãode ESPECÍFICAS
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos
Conferência: THOPEX 2º Workshop doProjeto PARA REUNIÕES
10:00-12:00 Sessão Poster
(Dr. Mitchell W. Moncrieff) CAMISA ESPECÍFICAS
12:00-14:00 Almoço Livre
MESA REDONDA 1 MESA REDONDA 1
Sub-Tema 4: EOCPCRSA Sub-Tema 2: DAD
Variabilidade Espacial e Métodos de Diagnóstico
PARA REUNIÕES
14:00-16:00 Temporal da Chuva nas e Caracterização de Áreas Sessão Poster
ESPECÍFICAS
Regiões Semi-Áridas: da Degradadas Susceptíveisaos
Escala Sinótica à Variabilidade Processos de Desertificação
Interdecadal
16:00-16:30 Coffee Break

77
Boletim SBMET novembro/05

Salão Iracema
Conferência: Agressões Encerramento
16:30-18:00 Ambientais Cometidas por - da Sessão -
Agrotóxicos Poster
(DR. J. JULIO DA PONTE)

Salão Iracema - -
PLENÁRIA 1
Sub-Tema 4 – EOCPCRSA
18:00-20:00 Desempenho de Modelos Matemáticos (Dinâmicos - -
Estocásticos) para a Previsão Climática em Regiões Semi-
Áridas
Jantar Livre

Horário 27 de outubro de 2005 – Quinta-feira


Salão Iracema 1 Salão Iracema 2 Salão Escuna Salão Catamarã
MINI-CURSO 1 MINI-CURSO 2
Meteorologia Básica para Aplicações da Técnica dos
08:00-10:00 - -
Professores do Ensimo “QUANTIS” para Avaliação de
Fundamental e Médio Extremos Hidro-Climáticos
2º Workshop doProjeto MESA REDONDA 2
CAMISA Sub-Tema 2: DAD
Dinâmica Ambiental e
10:00-12:00 - -
Medidas de Recuperação de
Áreas Degradadas no Semi-
Árido
12:00-14:00 Almoço Livre
MESA REDONDA 2 MESA REDONDA 3
Sub-Tema 4: EOCPCRSA Sub-Tema 2: DAD
Modelagem Estocástica Estratégias de Manejo na
14:00-16:00 e Técnicas Estatísticas Utilização das Terras do - -
Multivariadas de Ponta Semi-Árido
na Previsão e Análise de
Mudanças Climáticas
16:00-16:30 Coffee Break
Salão Iracema
PLENÁRIA 2
16:30-18:30 Sub-Tema 4 – EOCPCRSA - -
Mudanças Climáticas nas Regiões Semi-Áridas
SOLENIDADE DE ENCERRAMENTO DO SIC/SBMET- 2005,
19:00 - -
com entrega de PRÊMIOS

78
EXPEDIENTE
Boletim SBMET novembro/05

da SBMET

AVISOS GERAIS DA SBMET

INFORMES DA SBMET PORTAL DA SBMET (www.sbmet.org.br )

A divulgação de notícias através de mala direta O Portal da SBMET disponibiliza espaço para
é um serviço da SBMET que visa manter nossos divulgação de produtos, eventos e empresas que tenham
associados sempre bem informados e com tempo hábil interesse em levar sua mensagem a nossa comunidade.
para estes participarem dos eventos aqui informados. As opções de espaço para colocação de anúncios são
Recentemente introduzimos nos INFORMES, FULL BANNER e BANNER FLUTUANTE. Para
informações sobre os artigos de autores brasileiros informações adicionais, favor entrar em contato com
publicados internacionalmente. Isso trará uma maior Anne Moraes (anne_moraes@click21.com.br ou
disseminação dessas informações, muitas vezes pouco sbmet@sbmet.org.br).
divulgadas internamente no país.

Assim, por favor nos encaminhem informações ANUIDADES


sobre eventos, notícias, oportunidades de emprego ou
bolsa de estudo/pesquisa, artigos publicado em revistas Quem não pagou a anuidade de 2005 via boleto
internacionais, etc, para que possamos manter esse bancário ou por depósito bancário e quiser regularizar
serviço. Encaminhar para sbmet@sbmet.org.br. sua situação junto à SBMET, pode entrar em contato
com a Secretaria da SBMET pelo e-mail sbmet@sbmet.
Até outubro de 2005 foram enviados 83 INFORMES org.br. Mesmo procedimento para quitar anuidades
(Tabela 1). atrasados.

CADASTRO
Tabela 1 - Freqüência Mensal da distribuição dos Informes da
SBMET. Para que as correspondências e publicações da
MESES INFORMES ENVIADOS SBMET cheguem ao seu destino, pedimos a atenção de
todos para atualizar seu endereço/dados. Isso pode ser
Janeiro 2
feito diretamente no portal da SBMET (www.sbmet.
Fevereiro 5 org.br) ou, se preferir, por e-mail (sbmet@sbmet.org.
Março 20 br), ou por correio (A/c Marley C. L. Moscati, Instituto
Abril 14 Nacional de Pesquisas Espaciais, Dept de Meteorologia,
Maio 14 DMA/CPTEC (SBMET), sala 26, São José dos Campos,
SP, 12.201-970).
Junho 10
Julho 5
Agosto 5 INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Setembro 7
Outubro 1 Para dúvidas, acesse o site www.sbmet.org.br e
mande sua solicitação para o setor do seu interesse
TOTAL 83
(Geral, Presidência, Diretoria Executiva, Diretoria
Científico, Diretor profissional, Diretora Administrativa,
Presidente do Conselho Deliberativo, Conselho
Deliberativo, Conselho Fiscal).

79
NORMAS e
Boletim SBMET novembro/05

LEGISLAÇÃO

EM DISCUSSÃO A NOVA RESOLUÇÃO QUE TRATA


DAS ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA,
ARQUITETURA, AGRONOMIA, GEOLOGIA, GEOGRAFIA
E METEOROLOGIA

Alfredo Silveira da Silva


Diretor Profissional da SBMET
Conselheiro do CREA-RJ

A Resolução 1.010, aprovada pelo Plenário do Artigo 10 da Lei 5194, de 24 de dezembro de 1966,
CONFEA em 22 de agosto de 2005 em substituição à bem como a extensão das atribuições inicialmente
Resolução 218, datada de 1973, objetiva estabelecer concedidas por meio de cursos de pós-graduação lato
normas estruturadas dentro de uma concepção matricial sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stritu sensu
para a atribuição de títulos profissionais, atividades e (mestrado e doutorado).
competências no âmbito da atuação profissional, para
efeito de fiscalização do exercício profissional das O novo normativo permite a extensão das
profissões inseridas no Sistema CONFEA/CREA. Mas atribuições iniciais dentro de cada categoria profissional
o que seria isto? (Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Geografia,
Geologia e Meteorologia). A flexibilização apresentada
A Resolução 218, de 1973, discriminava as no normativo permite que dentro da categoria Engenharia
atividades das diferentes modalidades profissionais da a extensão das atribuições iniciais concedidas possa ser
Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia, bem como estendidas no âmbito das suas várias modalidades.
as competências dos profissionais de acordo com a
sua área de formação, e disciplinava no Art. 25 que as
competências decorrem da graduação do profissional e CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL DA
ensejam a extensão das atribuições desde que sejam na METEOROLOGIA
mesma modalidade, tudo em consonância as disposições
da Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966. 1. Tarefas Científicas e Operacionais

A Resolução 1.010, datada de 2005, adota o princípio Análise e Interpretação de Observações,


da flexibilização que caracteriza as atuais diretrizes Codificação, Disseminação e Divulgação Técnica da
curriculares nacionais, no sentido de conceder título, Informação Meteorológica nos Meios de Comunicação
atribuição e competência profissional. Teremos, então, Social, Técnica e Científica obtida através de Estações
a concessão das atribuições em função da competência Meteorológicas Convencionais e Automáticas.
adquirida, por meio de um currículo integralizado
em consonância com o projeto pedagógico do curso 2. Métodos, Técnicas e Instrumental
que permitirá a definição do perfil profissional do
diplomado a ser indicado pela Instituição de Ensino Métodos de Observação e de Análise da Física,
ao Sistema CONFEA/CREAs, conforme disposto no da Química, da Dinâmica e da Eletricidade da

80
NORMAS e
Boletim SBMET novembro/05

LEGISLAÇÃO
Atmosfera. Sistemas e Métodos Computacionais de
Recepção, Armazenamento, Processamento, Avaliação, A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA
Modelagem,Transmissão e Disseminação de Informações ÁREA TECNOLÓGICA
Meteorológicas. Análise, Processamento e Interpretação
de Imagens de Satélites e Radares Meteorológicos, Entendendo que uma parcela importante do futuro
Analógicas e Digitais. Análise de Informações sobre da área tecnológica do País está nas mãos de mulheres,
Precipitação, Nuvens, Ventos, Temperatura, Estado da o CONFEA vem incentivando a participação feminina
Superfície e Fluxos Radiativos. Técnicas de Aferição em seus debates, eventos e projetos. Tal política de
valorização da atuação da mulher no setor culminou com
e Calibração de Instrumentos Meteorológicos.
a realização, em 2004, do Primeiro Fórum da Mulher
Radiossondas, Perfiladores, Radiômetros, Bóias, Balões,
na Área Tecnológica, como atividade integrante da 61ª
Sistemas de Descargas Atmosféricas. Semana Oficial de Engenharia Arquitetura e Agronomia
(SOEAA), realizada em São Luis, MA.
3. Modelagem Atmosférica e Climatologia
No período de 28 a 30 de novembro de 2005
Interpretação Crítica de Produtos de Modelos aconteceu a segunda edição do Fórum da Mulher,
Numéricos do Tempo. Análise de Séries Temporais e realizada durante a 62ª SOEAA, em Vitória, ES. Mais
Previsibilidade Climática. Previsões Meteorológicas uma vez, as mulheres se reuniram para mostrar a força
nas diversas Escalas de Tempo. Análise, Diagnóstico de seu trabalho, reciclar conhecimentos, aprender com
e Prognóstico da Atmosfera e das suas Interrelações exemplos de sucesso e debater sobre os desafios de
mútuas com a Hidrosfera, a Biosfera, a Litosfera e a sua atuação na área tecnológica brasileira. O evento
Criosfera. Oceanologia Aplicada. Sistemas e Métodos de consolidou e repetiu o sucesso da primeira edição. A
Prognóstico, Diagnóstico, Monitoramento, Mitigação e participação é crescente e, certamente, em cerca de 10
Avaliação de Impactos Ambientais. Hidrometeorologia, ou 15 anos, as mulheres dominarão o mercado.
Agrometeorologia, Biometeorologia, Meteorologia
Na fase I da Abertura da 62ª SOEAA houve:
Aeronáutica e Marinha, e Microclimatologia.
PASSEIO CICLÍSTICO: ocorrido em 27 de novembro,
Desenvolvimento de Modelos Conceituais e Numéricos
visando sensibilizar a população e os participantes da
dos Sistemas de Tempo, de Latitudes Médias e Tropicais.
62ª SOEAA para a alternativa de mobilidade urbana
Previsão de Impactos da Variabilidade Climática. através de bicicletas e, portanto, a necessidade dos
Modificação Artificial do Tempo. planos diretores traçarem soluções para o transporte
cicloviário. Este evento, totalmente aderente ao tema
4. Micrometeorologia e Meio Ambiente da semana Exercício Profissional e Responsabilidade
Social.
Interrelação entre Atmosfera e Ambiente.
MeteorologiaAmbiental. Efeitos Climáticos nos Recursos Na fase II - Durante a 62ª SOEAA houve:
Naturais. Efeito de Processos Micrometeorológicos e do TALK SHOW: “Venda seu peixe, torne-se a opção
Ciclo Hidrológico no âmbito das Operações e Processos óbvia”. Considerado o evento âncora, apresentou dois
da Engenharia e das Ciências Agrárias. Sistemas e cases, um nacional e outro internacional, no formato
Métodos de Proteção, Manejo, Gestão e Preservação de talk show, garantindo forte participação da platéia
Ambiental. Características Climatológicas e Diagnóstico e trazendo um tema forte: Posicionamento assertivo de
de Dispersão de Poluentes Atmosféricos. quem é competente e responsável.

OFICINA INTERNACIONAL: Durante a 62ª


A caracterização do Campo de Atuação Profissional
SOEAA, em Vitória, ES, houve uma oficina, reunindo
do Meteorologista abrange e não invalida as atribuições
mulheres do Brasil e do Exterior, no primeiro encontro
a ele concedidas pela Lei nº 6.835, de 14 de outubro de presencial, para a formação da comunidade tecnológica
1980. virtual internacional, com vistas ao Fórum da Mulher,
na WEC 2008.

81
NORMAS e
Boletim SBMET novembro/05

LEGISLAÇÃO

CONVENÇÃO MUNDIAL DE ENGENHEIROS Marcos Túlio de Melo É ELEITO


E DEMAIS PROFISSIONAIS DO SISTEMA PRESIDENTE DO CONFEA
CONFEA/CREA
Foi eleito como Presidente do CONFEA, para o
Depois de passar pela Alemanha e China em 2004, mandato de 2006-2008, o Engenheiro Civil de Minas
onde a SBMET esteve presente, a Convenção Mundial Gerais Marcos Túlio de Melo.
de Engenheiros (WEC2004), da sigla em inglês World
Engineers Convention, ocorrerá pela primeira vez na
América e, em especial, no Brasil, em 2008.

O tema da Convenção de 2004 foi “Engenheiros


dão Forma ao Futuro Sustentável”, tendo como sessões
paralelas Engenharia de Redes e a Sociedade da
Informação, Engenharia Biológica e Cuidado de Saúde,
Transportes e Mega-Cidades Sustentáveis, Proteção ao
Meio Ambiente e Mitigação de Desastres, Engenharia
Agrícola e a Segurança de Alimentos, Recursos e Energia,
Engenharia de Redes e a Sociedade da Informação bem
como o Fórum dos Jovens Engenheiros e da Mulher.

Como ações desenvolvidas pelo CONFEA com


o intuito de pleitear a realização da Convenção em
2008, o Plenário do CONFEA, por meio da Decisão
PL -0667/2003, aprovou a intenção de juntamente com
a FEBRAE organizar a III Convenção, em 2008, no
Brasil. Esta será a terceira edição e o evento reunirá Perfil: Marcos Túlio de Melo
milhares de engenheiros de todas as partes do mundo.
Os problemas sociais enfrentados pela humanidade O Eng. Civil Marcos Túlio de Melo, 54 anos, é
deverão estar no centro dos debates. O enfoque será o graduado pela Faculdade de Engenharia da Universidade
de que a tecnologia pode ser um instrumento capaz de Federal de Minas Gerais e pós-graduado em Engenharia
viabilizar a diminuição da pobreza, fome, proliferação Econômica pela Fundação Dom Cabral.
de doenças, analfabetismo e conflitos civis, que afetam e
prejudicam o desenvolvimento do mundo. Como causa Durante dois mandatos seguidos ocupou a Presidência
destas mazelas, a falta de emprego, energia, alimentos, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
saúde e saneamento, abrigo e água, entre outros, serão Agronomia de Minas Gerais. O primeiro, de 2000 a
amplamente discutidos por milhares de engenheiros e 2002 e o segundo, de 2003 a 2005.
profissionais de áreas afins.
De 1995 a 1998 participou do Conselho Municipal
Como a Engenharia e demais profissões relacionadas de Habitação da Prefeitura de Belo Horizonte. Em 1999
ao desenvolvimento tecnológico podem exercer foi membro da Junta de Recursos Fiscais da Prefeitura
um papel preponderante para minimizar o impacto de Minas Gerais. De 1998 a 1999 Marcos Túlio foi
provocado pela desigualdade? Essa é a questão que os primeiro vice-presidente do CREA-MG e Conselheiro
milhares de participantes da próxima Convenção estão Federal representante das Entidades de Classe de Minas
desafiados a responder e propor soluções e melhorias na Gerais, junto ao CONFEA, de 1995 a 1997. Em 1997
qualidade de vida da população mundial. também exerceu a vice-presidência e, interinamente, a
presidência da instituição.

82
NORMAS e
Boletim SBMET novembro/05

LEGISLAÇÃO
Conheça as propostas de Marco Túlio: • Apoiar a organização dos profissionais em
entidades e sindicatos e propor o debate sobre
• Incentivar programas, inclusive o de Engenharia, certificação de especialidades, buscando
Arquitetura e Agronomia Públicas, e implementar potencializá-las dentro do novo cenário;
ações de fiscalização para ampliar o mercado
profissional, e combater o exercício ilegal das • Reivindicar das instituições de ensino e
profissões; órgãos educacionais a participação do Sistema
profissional na definição de abertura de novos
• Defender o salário mínimo profissional e a cursos, na avaliação da qualidade da graduação
remuneração justa para serviços e obras; e definir procedimentos para o registro
profissional;
• Elaborar com o Plenário do CONFEA, Colégio
de Presidentes, Colégio de Entidades Nacionais, • Instituir o orçamento participativo do CONFEA e
Coordenadorias Nacionais de Câmaras ampliar a transparência na sua aplicação;
Especializadas e Mútua, planejamento de
sustentabilidade financeira de todo o Sistema • Propor e apoiar políticas públicas que ampliem
e promover um choque de gestão, capaz de os investimentos em saneamento, habitação,
reestruturar o Sistema, seu gerenciamento técnico transportes e gestão de recursos hídricos;
e administrativo e padronizar procedimentos para • Apoiar o processo de descentralização e
a eficiência, a eficácia e a efetividade de suas democratização da Mútua, aprovado nos CEP’s;
ações;
• Consolidar a Comunicação Integrada no Sistema
• Incentivar e apoiar a criação de mecanismos de para democratizar a informação.
participação de estudantes e jovens profissionais
e mulheres, visando formar novas lideranças
e incorporá-las ao Sistema profissional e às
entidades de classe;

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Boletim SBMET novembro/05
AGENDA

NOVEMBRO 2005

• I Conferência Regional sobre Mudanças Globais: • 10th Workshop on Meteorological Operational


América do Sul System
Período: 6 a 10 de novembro de 2005 Período: 14 a 18 de novembro de 2005
Local: Blue Tree Convention Ibirapuera, Moema, São Local: Reading, Inglaterra
Paulo Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/cal-
Informações: http://www.acquaviva.com.br/ endar
mudglobais/
• E3rd International Workshop on Complex
• ECMWF/NWP-SAF Workshop on bias estimation Systems/ 2nd International Conference on Water
and correction in data assimilation Dynamics
Período: 8 a 11 de novembro de 2005 Período: 16 a 18 de novembro de 2005
Local: Reading, Inglaterra Local: Sendai, Japão
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/cal- Maiores informações: www.ifs.tohoku.ac.jp/
endar tokuyama-lab/IWCS2005/

DEZEMBRO 2005

• III Congreso Cubano de Meteorología • IV Workshop de Micrometeorologia


Período: 5 a 9 de dezembro de 2005 Período: 14 a 16 de dezembro de 2005
Local: Havana, Cuba Local: Campus da Universidade Federal de Santa
Recebimento de abstract: 31 de agosto de 2005 Maria
Informações: (537) 867 0714/ 830 8996/ 867 0721 Informações: http://coralx.ufsm.br/meteorologia/
http://www.met.inf.cu/sometcuba/default.htm ou workshop
e-mail: flismet@met.inf.cu

• I Simpósio sobre Biomas Costeiros e Marinhos


Período: 12 a 16 de dezembro de 2005
Local: em Salvador, BA
Informações: http://www.biomasbrasileiros.com.br
ou E-mail: mariana@rdeventos.com.br

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Boletim SBMET novembro/05

JANEIRO 2006

• Workshop on Air Quality Forecasting in Latin • 1st Integrated Land Ecosystem – Atmosphere
American Cities Processes Study (iLEAPS) Science Conference
Período: 9 a 13 de janeiro de 2006 Período: 21 a 26 de janeiro de 2006
Local: IAG/USP, São Paulo, SP Local: Boulder, Colorado, EUA
Inscrições: 09 de novembro de 2005 a 06 de janeiro Submissão de trabalho: maio de 2005
de 2006 Informações: http://www.atm.helsinki.fi/ILEAPS/boul-
Informações: http://www.master.iag.usp.br/workshop der
Edmilson D. Freitas (efreitas@model.iag.usp.br) ou ou E-mail: michael.boy@helsinki.fi
Maria F. Andrade (mftandra@model.iag.usp.br)
• 86th AMS Annual Meeting
• I Seminário do Café de Minas Gerais Período: 29 de Janeiro a 2 Fevereiro de 2006
Período: 19 a 20 de janeiro de 2006 Local: Georgia World Congress Center, Georgia,
Local: Teatro Mestrinho Marista, Varginha, MG Atlanta, EUA
Informações por e-mail: seminario.cafe@uol.com.br Informações: http://www.ametsoc.org/meet/annual/in-
Fone: (21) 2518-8761 dex.html
Fax: (21) 2518-8762 ou 2518-9372

FEVEREIRO 2006

• International Conference on “Mesoscale


processes in Atmosphere, ocean and
environmental systems
Período: 14 a 17 de fevereiro de 2006
Local: Indian Institute of Technology, Delhi (India)
Informações: Prof. Maithili Sharan
(impa2006@cas.iitd.ernet.in ou mathilis@cas.iitd.ernet.in)
Tel: 91-11-26591301 / 26591312 / 26591946
Fax: 91-11-26591386

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Boletim SBMET novembro/05

MARÇO 2006

• SCOSTEP 11th Quadrennial Solar Terrestrial • 1ª Conferência Lusófona sobre o Sistema Terra
Physics Symposium, “Sun, Space Physics and Período: 22 a 24 de março de 2006
Climate” Local: Lisboa, Portugal
Período: 6 a 10 de março de 2006 Submissão de resumos: até 06 de janeiro de 2006
Local: Rio de Janeiro, RJ Informações: http://igbp-portugal.org
Informações: http://www.grahnoperator.com.br/
events/scostep

ABRIL 2006

• 3rd EGU General Assembly (European • 4º Congresso de Biometeorologia


Geosciences Union), Session “NH11.02” Periodo: 9 a 11 de abril de 2006
Período: 2 a 7 abril de 2006 Local: Ribeirão Preto, SP
Local: Vienna, Áustria Informações: Maria da Graça Pinheiro
Submissão de abstract: 13 de janeiro de 2006 (4cbb@iz.sp.gov.br)
Informações: http://meetings.copernicus.org/ ou http://www.iz.sp.gov.br/4cbb/
egu2006/index.html
• 8th International Conference on Southern
• EGU general Assembly 2006 - sessão “LAndslide Hemisphere Meteorology and Oceanography
risk” NH9.03 Período: 23 a 28 de abril de 2006
Período: 2-7 de abril de 2006 Local: Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, PR
Local: Vienna, Áustria Informações: Dr. Carlos Nobre (nobre@cptec.inpe.br)
Data limite para submissão de abstract: 13 de janeiro
de 2006. • International Lightning Detection Conference
Envio de abstracts: (ILDC) / 1st International Lightning Meteorology
(http://meetings.copernicus.org/egu2006/how_to_ Conference (ILMC)
submit_an_abstract.html) Período: 24 e 25 / 26 e 27 de abril de 2006
Informações adicionais sobre Assembléia: Local: Tucson, Arizona – EUA
http://www.cosis.net/members/frame. Informações: http://www.vaisala.com
php?url=meetings.copernicus.org/egu2006/

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Boletim SBMET novembro/05

MAIO 2006

• U.S. CLIVAR Salinity Workshop • 4th International Conference on Experiences with


Período: 8 a 10 de maio de 2006 Automatic Weather
Local: Auditório do Woods Hole Oceanographic Stations - 4th ICEAWS

Institution Redfield Período: 24 a 26 de maio de 2006


Submissões de abstracts: até 17 de janeiro de 2006 Local: Lisboa, Portugal
Informações: http://www.usclivar.org/Organization/ Inscrições: ate 15 de outubro de 2005
Salinity_WG/Salinity2006.html Informações: http://www.meteo.pt/4ICEAWS/
4ICEAWS.htm ou
• III Encontro da ANPPAS - Associação Nacional E-mail: 4ICEAWS.Lisboa2006@meteo.pt
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e
Sociedade • Séminaire internacional ONU/Algérie/ESA sur
Período: 23 a 26 de maio de 2006 l´utilisation des techniques spatiales pour la
gestion des catastrophes: prévention et gestion
Local : Brasília, DF
des catastrophes naturelles
Informações: http://www.nepam.unicamp.br/anppas/
Período: 22 a 26 de maio de 2006
SISGEENCO/
Local: Algérie
Informações: M. Abouberkr-Seddik Kedjar
(akedjar@mail.asal.dz) ou
Raechelle Newman
(raechelle.Newman@unvienna.org)

JUNHO 2006

• Conference about “20 Years of Nonlinear • The 2006 World Congress in Computer Science,
Dynamics in Geosciences” Computer Engineering, and Applied Computing -
Período: 11 a 16 de junho de 2006 WORLDCOMP’06 (composto por 28 Conferências)
Local: Rhodes, Grécia Período: 26 a 29 de junho de 2006
Informações e submissão de abstract: Local: Monte Carlo Resort Hotel, Las Vegas, Nevada,
http://www.aegeanconferences.org USA
Informações: http://www.world-academy-of-science.
org

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Boletim SBMET novembro/05

JULHO 2006

• 20 Workshop Global em Modelagem e • 58a Reunião Anual da SBPC


Mapeamento Digital de Solos - Cartografia Digital Período: 16 a 21 de julho de 2006
de Solos para Regiões e Países com escassa Local: Universidade Federal de Santa Catarina
infra-estrutura de Banco de Dados Espaciais (UFSC), Florianópolis
Período: 4 a 7 de julho de 2006 Tema: SBPC semeando interdisciplinaridade
Local: Rio de Janeiro, RJ Informações sobre normas, prazos, inscrições e taxas:
Informações: http://www.digitalsoilmapping.org/ http://www.sbpcnet.org.br/eventos/58ra/
DSM_2006_Brazil.html
• International conference entitled “Living with
• Sessions on “Modeling and Simulation of Climate Variability and Change: Understanding
Dangerous Phenomena for Hazard Mitigation” the Uncertainties and Managing the Risks
to take place during three different oncoming Período: 17 a 21 de julho de 2006
Meetings
Local: Espoo, Finlândia
Informações: http://www.livingwithclimate.fi ou
• Session “S15”, 3rd Biennial iEMSs Meeting
(International Environmental Modelling and
http://www.livingwithclimate.fi/linked/en/Flyer.pdf
Software Society), Summit on Environmental
• Envisat Summer School 2006 on “Earth System
Modelling and Software
Monitoring & Modelling”
Período: 9 a 12 de julho de 2006
Período: 31 julho a 11 agosto de 2006
Local: Burlington, Vermont, USA
Local: ESA/ESRIN, Frascati (Roma), Itália
Submissão de abstract: 15 de dezembro de 2005
Data para inscrição: 1 de março de 2006
Informações: http://www.iemss.org/iemss2006/
Informações: http://envisat.esa.int/envschool/ ou
• Session “IWG01”, 3rd AOGS Annual Meeting E-mail: envschool@esa.int
(Asia Oceania Geosciences Society)
Data: 10 a 14 de julho de 2006
Local: Singapura
Submissão de abstract: 15 de janeiro de 2006
Informações:
http://asiaoceania-conference.org/test/viewSession-
Details.asp?sessionID=IWG0

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NOVEMBRO 2006 ANO DE 2007

• XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia • 14th IUAPPA World Congress


Período: 27 de novembro a 01 de dezembro de 2006 Período: 9 a 13 de setembro de 2007
Local: Florianópolis, SC Local: Brisbane, Austrália
Tema: A Meteorologia a serviço da Sociedade Chamada para abstracts: abril 2006
Informações: http://www.sbmet.org.br Deadline para submissão de abstracts: agosto 2006
Informações: http://www.icms.

OBITUÁRIO

Morre o Prof. Dr. Joseph Smagorinsky, um pioneiro na


Previsão Numérica de Tempo

Em 21 de setembro de 2005 faleceu o Prof. Joe Dr. Phillips foram agraciados com a Medalha Benjamin
Samagorinski, aos 81 anos, um dos maiores cientistas a Franklin em Ciência da Terra, dada pelo Franklin
área das ciências geofísicas (Meteorologia, Oceanografia, Institute, na Filadélfia. Visitou o INPE e o INMET nos
...., clima) do Século XX. De 1955 até 1983, foi anos 80, e foi grande defensor da idéia de um LACCAS
Diretor Fundador do Geophysical Fluid Dynamics de cooperação entre os países da América do Sul com
Laboratory (GFDL/NOAA), dentro do Campus de um Centro de Previsão Numérica de mesoescala para
Princeton, em New York, e participou ativamente dos previsões sobre a América do Sul e Caribe.
primeiros experimentos de previsão numérica do tempo
realizados nos anos 50 no Institute for Advanced Study, Fonte: Informações extraídas da nota públicada em jornal escrita
em Princeton. Em 1986 foi Presidente da American pelo Dr. Jeremy Pearce, divulgada no jornal em 30 de setembro
Meteorological Society. Em 2003, o Dr. Smagorinski e o de 2005.

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Boletim SBMET novembro/05
ANUNCIANTES

www.hobeco.net
Pág. 6 E-mail: info@hobeco.net
w w w . h o b e c o . n e t

www.ams-gematronik.com
Pág. 26 E-mail: info@geomatronik.com

www.simtech.com.br
Contra-capa
E-mail: simtech@simtech.com.br

ATENDIMENTO DA SBMET

Secretaria da SBMET Sobre Boletim da SBMET


E-mail Geral: sbmet@sbmet.org.br Informações Gerais:
Fone: (0xx12) 3945-6653 sbmet@sbmet.org.br
Fax: (0xx12) 3945-6666 Envio de artigos e matérias:
marley@cptec.inpe.br
Diretora Administrativa: Marley C. L. Moscati
sbmet@sbmet.org.br Sobre Revista Brasileira de Meteorologia
(RBMET)
Assistente de Secretaria: Gleice Soares da Silva InformaçõesGerais:
gleice@cptec.inpe.br rbmet@model.iag.usp.br

Home-page: Envio de artigos e matérias:


www.sbmet.org.br Tércio Ambrizzi – rbmet@model.iag.usp.br
Fone: (+ 55 - 11) 3091-4731
Fax: (+55 - 11) 3091-4714

90
Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia

Instruções aos Autores:


1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas correlatas,
não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões sobre pontos
de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de matérias técnicas e
profissionais de interesse.

2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.

3) Os trabalhos devem ser organizados com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores, as
Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/palavras chaves, ABSTRACT/Key words, 1.
INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (ou CONSIDERAÇÕES FINAIS),
4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As figuras e tabelas deverão estar
posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências bibliográficas, as equações e as
unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de Meteorologia.

4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (297 x 210 mm), usando-se
o Editor Word 6.0 ou posterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm e
espaçamento duplo entre parágrafos.

Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:

1. Especificação de formatos:
1.1 Anúncio ¼ de página, 8x12 cm sem sangria.
1.2 Anúncio 1/2 página, 20 x13,25 cm sem sangria.
1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 4 mm de sangria.

2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:


2.1 CorelDraw 10 ou inferior, nas plataformas PC.
2.2 PDF 5.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.

3. Mídias para envio:


3.1 CDR ou CDRW
3.2 E-mail para arquivos menores que 5MB

Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando que
a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É imprescindível o
acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de reprodução de arquivo. (2)
Todas as imagens (figuras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos à parte, em JPG ou PDF, em alta
resolução.

Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Prédio da Meteorologia, Sala 26, Av. dos
Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12201-970
E-mail: raster.marcus@terra.com.br com cópia para marley@cptec.inpe.br.

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