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Quem tem medo de yōkai?

A transformação dos monstros japoneses em ícones


da cultura pop

Aline Majuri Wanderley

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo introduzir o conceito de yōkai e


traçar um breve histórico dos monstros japoneses.

PALAVRAS- CHAVES: yōkai, bakemono, mangá, Konjaku Monogatarishū,


Toriyama Sekien, Yōkaigaku, Mizuki Shigeru

Desde crianças, os japoneses crescem ouvindo histórias de seres fantásticos,


ou com poderes sobrenaturais, como oni (ogro), tengu1, kitsune (raposa) e tanuki
(texugo), e mesmo adultos, essas criaturas permanecem em seu imaginário. A essas
presenças desconhecidas, mas que sempre despertaram interesse, damos o nome de
yōkai.

Bakemono, obake, mononoke, ayakashi; muitas são as denominações para


nomear não só tais entidades estranhas e misteriosas, mas como também para se
referir a fenômenos e experiências inexplicáveis. Hoje, estudiosos do tema preferem
utilizar o termo yōkai, para indicar essas criaturas sobrenaturais que os japoneses
atualmente – e agora, os estrangeiros – consomem em mangá (quadrinhos japoneses),
anime (desenhos animados) e diversos outros tipos de produtos que integram a cultura
popular japonesa.

Definir o yōkai é tarefa árdua, já que as imagens que vem à mente são
moldadas pelo contexto em que vivemos. Portanto, podemos afirmar que o yōkai não
possui forma fixa, absoluta, na medida em que reflete o tempo no qual está inserido, e
muda acompanhando as épocas. Komatsu Kazuhiko, maior referência sobre o tema,
afirma que “os yōkai (re) nascem ao tomar a aparência apropriada a cada época”.
(KOMATSU, 2007 [1994], p. 585).

Mas por que nascem os yōkai?

                                                                                                                       
1
 Uma das criaturas mais conhecidas, é geralmente retratada como um ser de rosto vermelho e um
longo nariz. Possui asas, e veste-se como um monge itinerante.
Antes de tudo, os yōkai são uma criação humana, gerados pela necessidade
dos homens de apontar uma causa para acontecimentos além de sua compreensão,
como doenças, tempestades, a experiência da morte. Explica Komatsu que yōkai “é o
termo utilizado para se referir a coisas e fenômenos que não podem ser explicados
pelo sistema de uma sociedade étnica”. (KOMATSU, 1983, p.345). Ao atribuir nomes,
os homens tentavam ordenar e sistematizar o mundo ao mesmo tempo em que
enfraqueciam aquilo que os ameaçavam.

Antigamente, os japoneses utilizavam o termo mono para se referirem a


acontecimentos de difícil compreensão; o mono da Época Heian (794-1192) era algo
não especificado e sem forma, e portanto, extraordinário e temido. (BARGEN, In:
FOSTER, 2009, p. 6). A manifestação do mono - esta presença espiritual
desconhecida - recebia o nome de mononoke, que se acreditava ser capaz de causar
doenças e desastres. Exemplos da ação do mononoke podem ser encontrados em
trabalhos clássicos da Literatura Japonesa, como em Genji Monogatari, que tem no
tomo Aoi, a referência mais conhecida. Nele, o espírito (ikiryō) de Rokujō no
Miyasudokoro, amante de Genji e que ainda vivia, atormenta a esposa deste, Aoi, sua
“rival amorosa”, e a leva à morte. Antes de ser descoberta a causa da condição de Aoi,
é revelado que ela estava acometida por um mononoke.2

Ao final da Época Heian, presenças antes intangíveis começaram a tomar


forma, e registros de seres sobrenaturais, como tengu e oni tornaram-se numerosos, o
que fez Iwai Hiromi definir o Período como “o primeiro momento da História
Japonesa que os yōkai dominaram”. 3 Foi uma época de intensas transformações
políticas e sociais, em que se via a decadência da nobreza face a ascensão da nova
classe guerreira. É neste período turbulento que se acredita ter sido compilada a
narrativa de coletâneas setsuwa Konjaku Monogatarishū, que tem o sobrenatural
como um dos temas predominantes, e dedica o tomo XXVII a essas criaturas. Destas,
o oni parecia ser antigamente, a presença predominante, e influenciava diretamente no
cotidiano das pessoas, que ao sair, deliberadamente escolhiam o dia e caminho para

                                                                                                                       
2
    “Ôidono ni wa, on mononoke mekite itô wazurai tamaeba, tare mo tare mo oboshinageku ni”. (“Em
Sua Excelência parecia que um espírito [mononoke], estava causando muito mal à senhora, e sua
família estava alarmada”).  
3
 Disponível em: < http://www.tezukayama-u.ac.jp/yokai/japanese/tanbou04.html>
evitar encontros fatais com os demônios que se dizia, rondavam em grupos as ruas da
capital à noite. Os demônios dessa época eram tidos como entidades reais e temidos.

Na Época Edo (1603-1867), criaturas sobrenaturais, anômalas, ou que podiam


mudar de forma ficaram conhecidas pelo termo bakemono, “aquilo que se transforma”.
Em Edo, os bakemono deixaram a escuridão e decadência da outrora próspera
Heiankyō, para encontrar um espaço no contexto cultural, florescendo, principalmente
no final do Período Tokugawa. O yōkai perde sua imagem assustadora e, de entidade
real, transforma-se em personagem que passa a habitar o mundo da ficção por meio de
gravuras, livros e brinquedos, sendo criado e vendido como uma commodity.
(KABAT, In: REIDER, 2010, p. 95). Mas a Época Edo marca também a cristalização
do yōkai, por meio das obras de Toriyama Sekien como Gazu Hyakkiyagō e Konjaku
Hyakki Shūi, catálogos de todo tipo de criatura. Como explica Foster, “suas criações
[de Sekien] alteraram o modo que as pessoas entendiam e visualizavam os fantasmas
e monstros de seu próprio folclore, Literatura, e sistemas de crenças locais.”
(FOSTER, 2009, p. 75).

Na Época Meiji (1868-1912), os yōkai passaram a ser considerados produtos


da imaginação humana na nova ciência Yōkaigaku – estudos sobre yōkai – criada por
Inoue Enryō, que pretendia explicar os fenômenos inexplicáveis sob a luz da
racionalidade, tema que marcou o período de um Japão recém-aberto para o mundo e
ávido por importar conhecimentos e tecnologias do Ocidente. Foi a partir do seu uso
consciente por Enryō que yōkai desenvolveu-se como um termo técnico.

O novo projeto de Japão, moldado sob a intelectualidade ocidental, já não era


mais compatível com os monstros do passado, obstáculos para uma nação
desenvolvida e educada, e assim, os yōkai do período moderno tornaram-se objetos de
discussão nacional. Apesar das tentativas de Inoue de reduzir o yōkai a um estado
biológico humano, costumes e crenças, o interesse pelo estranho e misterioso
continuou vivo no período. Como cita Noriko Reider, “enquanto leis e regulamentos
podem mudar relativamente rápido, maneiras e costumes são alterados mais
lentamente.” (REIDER, 2010, p. 106).

O resgate do yōkai e sua cultura se dá no Japão do pós-guerra, e o período dos


anos de 1970 e 1980, marcam um interesse renovado pelo folclore, “por um desejo de
se conectar novamente ao passado, e encontrar (ou construir) o seu local de origem
perdido.” (FOSTER, 2009, p. 163). Após o rápido crescimento econômico, o país
enfrentava agora as consequências do desenvolvimento industrial, como
superpopulação e poluição. Essa situação levou à busca, novamente, de um Japão
rural e bucólico, pré-industrial, e a um modo de vida que havia sido abandonado em
prol do crescimento econômico. É neste período que o yōkai renasce como
personagem no contexto cultural, por meio da mídia para massas, com os trabalhos de
Mizuki Shigeru, autor do célebre mangá Ge Ge Ge no Kitarō. Ao mesmo tempo em
que resgata criaturas tradicionais, como as de Toriyama Sekien, Mizuki cria as suas, e
com isso, une o presente e o passado, e faz com que o yōkai não desapareça no
contexto moderno. Desde então, a imagem que o japonês possui do yōkai é uma
mistura das criaturas tradicionais com as da ficção, especialmente as de Mizuki, e
assim, os yōkai tornaram-se populares não só em filmes e animações, mas até como
meio de revitalização de uma área (machiokoshi).

Hoje, o yōkai rompeu as barreiras nacionais por meio dos produtos culturais
talvez mais conhecidos atualmente que o Japão faz questão de produzir e exportar: os
mangá e os anime, como Inu Yasha, Nurarihyon no Mago, Natsume Yūjinchō, A
viagem de Chihiro. Kagawa Masanobu comenta que “no Japão contemporâneo,
especialmente nas áreas urbanas, o yōkai não existe na vida diária. O yōkai vive no
mundo da ficção. Não devemos nos esquecer que o presente yōkai boom é um
fenômeno neste ambiente.” (KAGAWA, In: REIDER, 2010, p. 162).

Embora tenha perdido o status de entidade real, o fato do yōkai continuar


“vivendo” no meio do entretenimento, destaca não só a sua mutabilidade, adaptando-
se conforme a época como já mencionado, mas como também a sua função de elo
entre o passado e o presente, o Japão e o mundo.

BIBLIOGRAFIA

KOMATSU, Kazuhiko. Ma to yôkai.(“O ‘demoníaco’ e o yôkai”) In: Kami to


Hotoke: Minzoku shûkyô no shisô (Deuses e Buda: pensamento sobre a religião
popular”) , v. 4, Tôkyô: Shôgakukan, 1983, p. 339- 414.
______. (Org.). Yôkai Bunka no Dentô to Sôzô: Emaki・Zôshi kara Manga・
Ranobe made. (“A criação e tradição da cultura yôkai: dos Emaki e Zôshi até os
Mangá e Light novel”). Yôkai bunka sôsho. Tôkyô: Serika shobô, 2010.

REIDER, Noriko T. Japanese Demon Lore: Oni from Ancient Times to the
Present. Logan: Utah State University Press, 2010.

FOSTER, Michael Dylan. Pandemonium and Parade: Japanese Monsters and the
Culture of Yôkai. California: University of California Press, 2009.

Referências eletrônicas

YŌKAI WONDERLAND. Disponível em:


<http://www.tezukayamu.ac.jp/yokai/index.html>
 

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