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considerações sobre as etapas iniciais de planejamento
Design Process on Capital Projects: the preplanning phase
Fernando ROMERO
Engenheiro, Mestrando do Programa de Pós‐graduação em Construção Civil da UFMG – correio eletrônico:
fernando.romero2@globo.com
Paulo ANDERY
Professor, M.Sc., Dr, Programa de Pós‐graduação em Construção Civil da UFMG – correio eletrônico:
pandery@ufmg.br
RESUMO
Proposta: O presente trabalho apresenta uma discussão conceitual sobre as etapas preliminares de
projetos de capital (mega empreendimentos). Especial atenção é dada à metodologia do Front End
Loading, e sua possível interação com princípios e ferramentas do pensamento enxuto (Lean Thinking).
Método de pesquisa/Abordagens: Apresenta‐se uma revisão da literatura e uma análise das práticas de
planejamento de projetos de capital em grandes empresas. Aponta‐se para algumas diretrizes que
potencializam a introdução de ferramentas do pensamento enxuto nas etapas iniciais de concepção.
Contribuições/Originalidade: Verifica‐se que o método do Front End Loading guarda importantes
semelhanças com o Lean Delivery Production System, de forma a ser possível estabelecer uma sinergia
entre os métodos.
Palavras‐chave: Projetos de capital. Front End Loadin. Pensamento enxuto.
ABSTRACT
Proposal: The present work aims discussing the preplanning phase on capital projects, focusing the
Front End Loading methodology and the adoption of lean thinking concepts on such methodology.
Methods: A literature review is briefly presented, and main findings are supported by analysis of some
companies preplanning practices. Some guidelines highlighting the use of lean thinking concepts on
Front End Loading framework are pointed out. Findings: The paper point out that there are a possible
synergy between preplanning practices used in FEL and the conceptual structure of the Lean Delivery
Production System.
Key‐words: capital projects. Front End Loading. Lean thinking.
VIII Workshop Brasileiro
Gestão do Processo de Projetos na Construção de Edifícios
São Paulo, 3 e 4 de novembro 2008
1 INTRODUÇÃO
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São Paulo, 3 e 4 de novembro 2008
2 A ESTRUTURA CONCEITUAL DO FRONT END LOADING E DO “LEAN
DELIVERY PRODUCTION SYSTEM
A Metodologia Front End Loading (FEL) é normalmente desenvolvida em três fases, entre as
quais há etapas formais de análise e aprovação dos conceitos gerados (gates), de forma similar
á apresentada nos modelos referenciais de desenvolvimento de produtos (Romano et al.,
2006), e algumas referências fazem uma descrição detalhada do método (veja‐se, por
exemplo, Clerecuzio e Lambers (2008), Mustang (2008).
A etapa inicial (FEL 1) implica na definição dos objetivos do negócio / projeto, alinhando os
seus objetivos com as estratégias empresariais. A etapa intermediária (FEL 2) implica na
seleção da melhor alternativa conceitual apresentada na etapa anterior, chegando‐se a uma
melhor definição do escopo e dos critérios e restrições para o desenvolvimento do projeto
(design). A fase final da etapa de pré‐planejamento (FEL 3) refina os parâmetros de design e
alternativas de engenharia definidas nas etapas anteriores, preparando o projeto para sua
aprovação com relação ao escopo, custos, prazos e parâmetros associados à rentabilidade.
Uma representação esquemática do método é apresentada na figura 1 (CVRD, 2007).
No portão inicial denominado de FEL1, tem‐se o objetivo de desenvolver e avaliar a
oportunidade de investimento e atratividade do negócio, ou seja criar valor, analisando e
identificando as oportunidades através da análise negócio. É realizada e checada a aderência
do projeto à estratégia de empresa, a análise de mercado e cenários, bem como uma análise
preliminar dos riscos. São gerados indicadores de desempenho potencial, em parte baseados
no desempenho de empreendimentos anteriores, tais como VPL (Valor Presente Líquido), TIR
(Taxa Interna de Retorno), VPI (Valor Presente do Investimento) entre outros.
Na fase de FEL2, após as oportunidades terem sido selecionadas no portão FEL1, tem‐se como
objetivo o estudo do conjunto das alternativas e seleção da alternativa a ser desenvolvida na
etapa seguinte (FEL 3). É nessa segunda etapa que inicia‐se, na prática, o desenvolvimento
(preplanning) dos projetos selecionados. São estudados e observados os seguintes aspectos
para a escolha da alternativa a ser detalhada na próxima fase (FEL 3): estruturação da equipe,
estudo completo das alternativas, inclusive avaliação econômica, projeto conceitual de
engenharia, estrutura analítica de projeto (EAP), cronograma “master”, e o detalhamento e
impactos da alternativa selecionada. Também são selecionadas técnicas específicas para
desenvolvimento dos projetos, tais como simulação de riscos, análise de construtibilidade,
análise de valor, modelagem da confiabilidade de processos, etc.
Na fase de FEL 3 tem‐se como objetivo o desenvolvimento do projeto básico e o planejamento
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da fase de execução, onde as atenções são voltadas para os estudos mais detalhados
relacionados á definição completa do escopo do empreendimento, a conclusão dos
levantamentos de engenharia (topografia, geotecnia, etc), bem como o desenvolvimento da
atividade projetual básica.
Figura 1 ‐ Representação esquemática da metodologia Front End Loading. Adaptado da CVRD,
2007.
Do ponto de vista conceitual, as fases de FEL 2 e FEL 3 adicionam valor ao projeto, com o
objetivo de manter‐se este valor durante a fase de desenvolvimento da engenharia detalhada
e construção, para que durante a fase de operação e manutenção o projeto selecionado e
aprovado pelos portões produza o valor planejado (esperado) atendendo as expectativas dos
seus stakeholders.
O modelo de produção enxuta, e sua aplicação direta na indústria da construção têm sido
objeto de amplos estudos no meio acadêmico, e seus princípios foram bem explorados na
literatura recente. Para uma análise mais global desses princípios, veja‐se, por exemplo,
Ballard e Howell (1999), Koskela et al (2007), Barros Neto e Alves (2007).
Os princípios da construção enxuta balizaram a proposição de um modelo para gerenciamento
de projetos denominado “Lean Delivery Production System” (LDPS). Por razões de brevidade, o
modelo não será detalhadamente apresentado, e suas características podem ser vistas nas
referências (BALLARD, 2006 a,b; 2007, 2008).
Em princípio, o LPDS está orientado a gestão de empreendimentos (englobando análise
conceitual, desenvolvimento dos projetos, construção, start up e operação) de maneira a
reduzir desperdícios, otimizar as atividades de fluxo e agregar valor aos clientes, dentro das
propostas do lean thinking. Uma representação esquemática das etapas do LPDS é
apresentada na figura 2.
Figura 2 ‐ Representação esquemática do LPDS (Ballard e Kim, 2007).
No âmbito desse trabalho, interessam‐nos particularmente a etapa inicial (Definição de
Projeto) e sua interface com a etapa de design, que apresentam uma estrutura conceitual
semelhante ao Front End Loading.
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O LDPS acentua a montagem de uma equipe multidisciplinar e o estabelecimento de relações
contratuais não convencionais, priorizando uma visão que permita o “foco no
empreendimento”, ao invés da visão tradicionalmente segmentada (cada agente voltado a
interesses particulares em fases específicas), que caracteriza grande parte das práticas de
gerenciamento de projetos.
Em especial, busca‐se alinhar as metas (escopo do projeto) e o processo de desenvolvimento
de forma a se estabelecer, a priori, restrições que impliquem em um custo alvo (target cost).
Por outro lado, ressalta a necessidade de um plano informacional que permita a aprendizagem
contínua e retroalimentação para projetos futuros. Entre as diretrizes básicas, destacam‐se:
a) orientar a gestão do empreendimento por meio de um fluxo de trabalho a condução de
controles dinâmicos;
b) priorizar conceitos de engenharia simultânea, integrando projeto de produto e dos
processos de fabricação, a partir de condições de construtibilidade pré‐definidas e parâmetros
de definição do projeto orientados a minimização de desperdícios (sustentabilidade), aumento
da segurança e simplificação dos processos de montagem;
c) definição, na passagem da etapa de concepção para a de detalhamento dos projetos (lean
design), de cadernos de especificações e encargos, instruções de fabricação, etc.
d) utilização de uma base de dados integrada.
Ambos os métodos apresentados guardam semelhanças, tanto do ponto de vista de princípios
conceituais quanto na seqüência de trabalho (work flow). A metodologia FEL (Front end
Loading) é uma metodologia de gerenciamento de desenvolvimento de projetos em três fases,
com os respectivos gates. O LPDS é também constituído por etapas e, embora não haja gates
claramente explicitados, as interfaces entre as fases supõem uma a aprovação da passagem de
uma etapa para a outra. A etapa de Definição de Projeto (Projetc Definition) guarda
semelhança com a etapa de FEL 1. Nesse momento são levantadas as possíveis opções para o
desenvolvimento dos projetos (cria‐se valor), com a seleção das alternativas que passarão para
a etapa seguinte.
A etapa de FEL 2 termina com a seleção da alternativa mais viável para o empreendimento, e o
gate do FEL 2 equivale à passagem, no LPDS, de “Project Definition” para a etapa de
detalhamento dos projetos (Lean Design). O foco principal desta fase é desenvolver a
engenharia conceitual, além de se fazer uma estimativa do CAPEX (Capital Expenditure) e se
elaborar os cronogramas preliminares, ou seja, adiciona‐se valor.
A terceira da etapa de desenvolvimento de projeto, corresponde pela Metodologia FEL ao
portão FEL3, corresponde no LPDS à interface entre o Lean Design o Lean Supply, e nesta
fase o foco principal é o planejamento para construção e a preparação do projeto para futura
implantação, uma vez que a probabilidade de mudanças de escopo é muito menor. Portanto, à
semelhança da etapa anterior, adiciona‐se valor. Uma representação esquemática é
apresentada na Figura 3 (Romero, 2008).
Do ponto de vista conceitual observa‐se um grande paralelismo entre os sistemas. Tanto o FEL
como o LPDS, na sua fase inicial, focam o alinhamento do empreendimento com a estratégia
da empresa, priorizando a seleção de alternativas e dando grande atenção à etapa de pré‐
planejamento. Em ambos os casos são dados especial atenção à análise de custos e a
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integração entre a fase de projeto e de implementação dos empreendimentos. As estruturas
conceituais sugerem a possibilidade de inserção de princípios e ferramentas do pensamento
enxuto do âmbito do Front End Loading.
Fundamentalmente, o LPDS pode agregar ao Front End Loading um dos seus princípios mais
importantes, a idéia de agregar valor minimizando as atividades de fluxo, que representam
desperdício. Por outro lado, o LPDS acentua o uso de conceitos e ferramentas que, a priori,
não estão inclusos no FEL. Entre os principais conceitos destacam‐se: a) a utilização dos
princípios da Engenharia Simultânea; b) em função disso, a formação de uma equipe
multidisciplinar, compreendendo agentes que atuam ao longo de todo o ciclo de vida do
empreendiento; c) a utilização de princípios de benchmark e melhoria contínua; d) a
introdução de técnicas de target costing.
Figura 3‐ Comparação entre o Front End Loading e o LPDS (Romero, 2008)
Esse último aspecto parece ser particularmente importante, já que a introdução do conceito
do custo como restrição de projeto ao longo do ciclo de planejamento potencializa a utilização
da metodologia FEL.
4 CONCLUSÃO
A etapa de definição conceitual de mega empreendimentos (projetos de capital) tem sido
ainda pouco estudada no âmbito acadêmico, e mais especificamente na área de gestão do
processo de projeto. É um tema que pode merecer posteriores estudos, inclusive pelo fato de
que vários de seus conceitos fundamentais são adaptáveis para utilização no processo de
projeto de edifícios.
No presente trabalho delineou‐se brevemente, omitindo detalhes por falta de espaço, duas
metodologias empregadas na etapa de definição conceitual (preplanning) desses
empreendimentos, mostrando‐se a viabilidade de se inserir conceitos do pensamento enxuto
(Lean Thinking) em uma metodologia já consagrada na indústria (o Front End Loading). A
condução de experiência que possibilitem a integração entre os métodos implicará em uma
maximização do valor dos empreendimentos, com uma expectativa de variação de custos
menos, fator de especial importância na análise da atratividade desse tipo de
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empreendimentos. Nesse sentido, pode ser um desafio para a Academia acompanhar as
experiências que vêm sendo propostas no mercado.
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São Paulo, 3 e 4 de novembro 2008