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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO

GRUPO DE ESTUDOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

BRUNA LINHARES FERRAZZO

TRABALHO FINAL

Análise do documentário “RIP: A Remix Manifesto” e debate sobre o impasse entre a


proteção dos direitos dos titulares e a democratização do conteúdo à sociedade

SÃO PAULO
2018
I. Considerações iniciais
A partir do documentário RIP: A Remix Manifesto, é possível perceber um impasse
existente há décadas ao redor do mundo, que envolve a luta entre o direito de uma minoria
que deseja criar novos conteúdos – ainda que inspirados em conteúdos pré-existentes – e o
alegado direito das grandes corporações e empresas, que detêm os direitos autorais. Esses dois
polos da luta podem ser divididos basicamente em dois grupos: os Copyleft (que lutam pela
possibilidade de criação) e os Copyright (que lutam pelo controle de todo conteúdo).
Visando o reconhecimento dos direitos dos Copyleft, o documentário apresenta quatro
premissas pilares do manifesto: (i) a cultura sempre se baseia no passado; (ii) o passado
sempre tenta controlar o futuro; (iii) nosso futuro está se tornando menos livre; e (iv) para
construir sociedades livres, você deve limitar o controle do passado. A partir de tais
premissas, criam-se argumentos que permitem pensar em uma remodelação dos direitos
autorais, considerando principalmente a nova era em que estamos: a era da cultura digital.

II. Da luta pela democratização do conteúdo


O documentário RIP: A Remix Manifesto, como já apresentado, é uma declaração de uma
mensagem bastante clara: a lei de direitos autorais (no caso específico, dos Estados Unidos)
permite uma privatização dos conteúdos, em detrimento de seu uso pela sociedade. Neste
sentido, defende que a permissão da troca mútua de informações e de conteúdo criativo é de
extrema importância para que o próprio conteúdo criativo continue a crescer e existir.
Partindo de uma das premissas do manifesto, o que temos é que a cultura sempre se baseia
no passado. Diversas músicas de bandas e artistas renomados, como Led Zeppelin e Rolling
Stones, são apresentadas no documentário e equiparadas a músicas já existentes
anteriormente. A similaridade entre as novas e as antigas é evidente, mas isso – segundo a
visão defendida – não impede que a nova música seja considerada também uma criação.
Inúmeras invenções de extrema relevância para a sociedade foram baseadas em invenções
anteriores, mas a grande diferença é que anteriormente quase tudo era considerado domínio
público, ou seja, eram conteúdos sobre os quais não incidiam os direitos autorais, podendo ser
usados livremente.
Atualmente, analisando a legislação brasileira como exemplo, o que temos é uma restrição
das obras que estão em domínio público. Conforme disposto na Lei nº 9.610/98 (Lei de
Direitos Autorais, “LDA”):
Art. 44. O prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais e
fotográficas será de setenta anos, a contar de 1° de janeiro do ano subsequente ao de
sua divulgação.

Art. 45. Além das obras em relação às quais decorreu o prazo de proteção aos direitos
patrimoniais, pertencem ao domínio público:
I - as de autores falecidos que não tenham deixado sucessores;
II - as de autor desconhecido, ressalvada a proteção legal aos conhecimentos étnicos e
tradicionais.

Sendo assim, só é possível dispor livremente sobre as obras após o prazo de setenta anos,
ou nas outras duas hipóteses previstas. Uma vez que isso ocorra, a lei brasileira garante a
titularidade de direitos de autor a quem adaptar, traduzir, arranjar ou orquestrar obra caída no
domínio público (art. 14 da LDA). Contudo, a problemática principal é a restrição ao uso das
obras que ainda não estão contidas nesse grupo.

A. Das obras não pertencentes ao domínio público


Um dos ramos mais prejudicados por tal restrição é o da remixagem. Para a criação de
um remix, tem-se o corte e rearranjo de trechos e notas de diversas músicas já existentes
para a criação de um conteúdo, e aqui se encontra o foco da discussão: esse conteúdo seria
um novo conteúdo e, portanto, não infringiria nenhum direito autoral, ou ele deve
necessariamente ser vinculado aos direitos autorais das músicas originais? O que o
documentário defende é justamente a sua desvinculação, uma vez que, na era digital, o
processo criativo tornou-se mais importante do que o próprio produto em si.
Ainda analisando a LDA, o capítulo IV dispõe sobre as limitações aos direitos
autorais, dos artigos 46 a 48. Nele está contido um rol taxativo de possibilidades de se
utilizar de um conteúdo original para outros fins, sem constituir uma ofensa aos direitos
autorais do autor. Todavia, esse rol não inclui novos conteúdos que surgiram com a
digitalização, como os famosos “memes”, e o avanço de plataformas como o YouTube,
bem como de redes sociais como o Instagram e o extinto Vine.
A falta de atenção da lei aos novos conteúdos e formas de criação de conteúdo
acarreta em uma insegurança para os criadores de conteúdo, que podem a qualquer
momento ser processados por uma obra que, na verdade, deveria ser reconhecida como
nova e única. Não está sendo defendido aqui que os titulares de direitos originais não
devem ter seu direito reconhecido, mas sim que esse direito não deve ser absoluto e
atemporal. Ademais, embora após o prazo de setenta anos esse direito caduque, há de se
falar em um prazo mais razoável. Apesar de o autor original ter o direito de colher os
frutos de seu trabalho, isso não justifica a restrição excessiva da utilização da obra pelo
público geral.
Neste sentido, a proteção dos direitos autorais deveria durar apenas o tempo
necessário para recompensar o autor original, sem que isso restrinja excessivamente a
possibilidade de divulgação e utilização da cultura e conhecimento pelo público. Aqui
entra inclusive o termo “Fair Use” mencionado no documentário, que trata de um conceito
da legislação norte-americana que limita os direitos autorais em alguns casos.
O próprio Lawrence Lessig, que escreveu o manifesto, define que o Fair Use é uma
parte da lei que permite a liberdade de expressão, e ele defende um conceito amplo de Fair
Use, que deve ser utilizado a favor dos novos criadores de conteúdo. Sendo assim, por
mais que deva haver uma proteção, essa proteção não deve ser irrestrita, de modo a
impossibilitar o público de criar novos conteúdos.

III. Considerações finais


Diante do exposto, chega-se em uma conclusão que é inclusive a quarta e última premissa
do manifesto: para construir sociedades livres, é preciso limitar o controle do passado. Sendo
assim, há de se falar em diversas alterações nas legislações de direitos autorais pelo mundo.
Algumas delas são a redução do prazo para uma obra cair em domínio público, bem como a
preocupação com as novas formas de criação e de conteúdo em si que estão surgindo em um
processo cada vez mais acelerado.
O conteúdo produzido originalmente não deve ser desprendido de todo e qualquer direito
autoral, mas este não deve ser excessivo, a impedir a criação de novos conteúdos. Desse
modo, o que se pretende é conseguir, enfim, chegar a um equilíbrio entre a proteção e
reconhecimento da autoria original, e a possibilidade de utilização dos conteúdos para novos
criadores.

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