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Circuitos do desejo, circuito infantil

Samyra Assad

“Le silence n’existe pas; cela peut se dire inconscient, cela peut se dire verité, cela peut se dire
structure, cela peut se dire langage”.
Jean Claude Milner1

DO PRIMITIVO AO INFANTIL
Sabe-se que a linguagem preexiste ao sujeito - há um certo cenário que antecede à sua
chegada, à sua encarnação no ser falante. Um mundo de sons, imagens, gestos, signos, natureza,
se é que podemos simplificá-lo assim. É mais ou menos isso que nos é passado pelos lingüistas
dos séculos XVIII e XIX, sobre a história de nossos antecedentes, os primitivos que entre si se
comunicavam a partir de sons que distinguissem um momento em seu conjunto. Essa origem nos
é colocada para se explicar, portanto, o mecanismo da holófrase pelos lingüistas: sua função se
resumiria em integrar a natureza à cultura. Trata-se de uma trajetória que retrataria o percurso
equivalente do animal para o humano. A holófrase, como uma unidade da frase, seria entendida
como intermediária entre os modos de expressão do animal e da linguagem humana2.
Porém, o uso do termo holófrase sofreu algumas transformações no ensino de Lacan, tais
como aquelas que se referem ao nível de “situação-limite” numa relação especular; no nível da
demanda e no da alienação e separação. Estas referências se encontram nos Seminários I, VI e XI,
respectivamente, às quais não vou me deter aqui.
Retomaremos apenas de início que, foi a partir do lingüista G. Guillaume, por exemplo,
que Lacan abordou o termo de holófrase com a indicação de uma anterioridade lógica. A noção
de holófrase como um termo de estrutura da linguagem 3, pode vir a ser a base sobre a qual se
sustentará o caminho de onde partiremos, para desenvolvermos a questão que nos interessa, a
saber, o que vem a ser o infantil, articulado aqui ao inconsciente.

1
Revue de la Cause Freudienne, n. 42, de la linguistique à linguisterie, publicação da ECF-ACF, p. 94. “ O silêncio
não existe. Isto pode significar o inconsciente; isto pode significar verdade, isto pode significar estrutura, isto pode
significar linguagem”. (Tradução livre).
2
Ver STEVENS, A., em seu texto L’holophrase, entre psychose et psychosomatique, na revista Ornicar? n.
3
ASSAD, S. - texto inédito, Holófrase: uma estrutura de linguagem?, apresentado no Núcleo de Pesquisas em
Psicanálise com Crianças, do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais, junho/99. Encontra-se na
Biblioteca Ailson Braz Sena, da EBP-MG.
2

A holófrase, como unidade mínima da linguagem, estaria sob a égide da construção de


uma criação, o mínimo necessário para que uma estrutura de linguagem se estabeleça,
precisamente, a partir do nada.
S1

S

Isso demonstraria, de certa maneira, como um primeiro significante, um primeiro traço,


encarna a linguagem, a partir da relação entre o sujeito e o Outro, este que, a partir de sua
presença ou ausência, introduz a questão sobre o seu desejo.

S1

S

Lacan fez uma escolha para transmitir seu ensino: ela se baseava na articulação entre a
linguagem e o inconsciente através de duas vias: a da lógica e a da lingüística4.
Para o nosso trabalho, partiremos da inclusão que Lacan faz do sujeito na hipótese
dessubstancializante estruturalista. Tentaremos extrair a função desnaturalizante da linguagem a
partir da inscrição de um primeiro significante (S1), que representará o sujeito para outro
significante (S2), fazendo com que, a partir dessa primeira oposição estruturante, esse sujeito,
antes de ter um pai e uma mãe, pudesse ser considerado como um filho da linguagem.
Certamente, dependerá do desejo dos pais para que ele venha ao mundo, às vezes nem
tanto, mas, é, por exemplo, de um outro pai que se trataria no momento de sua própria inserção
enquanto significante no campo da linguagem. Um traço que assegura ao sujeito uma
identificação a um Ideal, fruto da potência do Outro, lugar a partir do qual se extrai o sinal de
uma escolha amorosa, por exemplo, os movimentos de massa... tal como Freud concebeu a
identificação primária ao pai. Esse pai, no entanto, inscrição da linguagem, opera logicamente a
castração na medida em que torna o sujeito, falante, quando o gozo se separa do significante. S1
então, esse primeiro significante, é um nome não só da linguagem encarnada, mas,
4
MILNER, J.-C. - op. cit., p. 91.
3

fundamentalmente, do Pai. É um Nome do Pai. Um pai lingüístico, se pudermos dizer assim,


simbólico, que orientará a cadeia significante do sujeito.
Isso nos permite perceber que há, portanto, uma passagem do primitivo ao infantil, tal
como se concebe a passagem da origem da linguagem no início da humanidade à aquisição da
linguagem pelo pequeno homem. Ou, se quisermos ainda, a passagem de uma primeira
identificação, narcísica, para uma segunda identificação, simbólica, onde o campo do Outro
determinaria a função do traço unário.
i(a)  I(A)

Certamente, isso nos faz crer que o infantil não é o primitivo; podemos pensar que o
infantil ganha esse nome a partir do momento em que o primitivo (S1), desencadeia a linguagem
no ser falante. Em outras palavras, é o mesmo que dizer que não há o real sem a inscrição do
simbólico. Aqui, então, caberia esclarecer se o infantil está na estrutura ou se se trata de uma
posição, para retomar uma conversa com Célio Garcia, numa das discussões em seminário
preparatório dentro do 2º eixo de nossas Jornadas atuais sobre a criança, a saber, “Só há
psicanálise do filho”, onde, inclusive, Maria Rita Guimarães traz o caso de uma mãe, cujo destino
traçou-lhe viver em torno da adoção, enquanto filha e enquanto mãe.

DE UM DESTINO
Introduziremos agora uma pequena equação:

Circuitos do desejo → Circuito infantil

Colocar entre os dois circuitos um símbolo que designa uma implicação ( → ), já nos traz, desde
agora, após lançarmos uma base, o eixo sobre o qual esse trabalho se inspirou. Lançaríamos então
que, os circuitos do desejo implicam o circuito infantil. Trataremos de ver, portanto, qual a
medida que sustenta essa equação, desde já observando o lugar do plural e do singular nessa
implicação trazida para uma verificação, que, por sua vez, prenuncia o infantil na constituição do
desejo.
Certamente, o traçado de um circuito, dependerá dos traços que marcaram a vida do
sujeito, principalmente aquele traço do qual o pai se fez como uma potência de criação, tal como
4

o fizemos notar na aquisição da linguagem pelo ser falante: o sujeito está submetido ao
significante, circuito situado entre o Outro e o significado do Outro ( A e s(A) ). As marcas das
respostas desse Outro, suas insígnias, potência, o seu significado - s(A),formarão o Ideal do eu -
I(A), esse traço unário que recobre uma primeira marca invisível, surgida quando o significante
ou o grito ainda não era endereçado, ou seja, quando ainda a dimensão do desejo do Outro não
havia sido introduzida. É nesse momento que visualizaríamos, de certo modo, como algo do real
permaneceria enigmático, impossível de ser simbolizado. De outro modo dizendo, como é
necessário que algo não se inscreva, no caminho da identificação à desidentificação, do
Simbólico ao Real, para que a ascensão do desejo se coloque enquanto tal.
A propósito, vejamos o que Lacan introduz pelo discurso do Mestre, que, por sua vez,
inaugura o inconsciente.
Discurso do Mestre

S1 → S2
 
S a

Nesse discurso se estabelece um laço entre o sujeito e o Outro - não mais o Outro da
linguagem, mas o Outro simbólico, lugar do código e do saber (S2). O sujeito (S) estará subposto
ao primeiro significante (S1), este que nele introduz a falta, ao se fazer impor uma representação
como medida estrutural e estruturante, o binarismo originário inerente a uma estrutura verbal, ou,
entre o sujeito, alienado a esse primero significante, e a insígnia do Outro. Nessa operação, uma
perda se produz como resto (a), perda que é precursora das buscas do sujeito, levando ao enigma
do desejo do Outro, ou seja, o que não passa pela significantização.
Desse modo, podemos retomar que a partir da instauração da linguagem no ser falante
dois campos se configuram: o campo do gozo e o campo do significante. Porém ali, aonde um
traço se fez, uma causa teria sido estabelecida; e, é o que, de certa forma, nos demonstra o avesso
desse discurso, ou seja, o discurso analítico:

a →S
5

 
S2 S1

No entanto, para se chegar retroativamente nesse ponto, não só um circuito, mas alguns
curtos-circuitos já teriam estremecido a identificação primeira ao pai, apesar da existência de algo
irredutível aí.
Isso nos permite considerar, nessa conjuntura, que o infantil estaria conectado a essa
anterioridade lógica, ilustrada pelo discurso do Mestre, que inaugura o inconsciente? Se
forçarmos um pouco ainda, podemos acompanhar esse raciocínio no Projeto para uma
Psicologia Científica, onde Freud, a partir do seu desejo de fazer da psicanálise uma ciência,
começa a projetar os traços que determinarão o caminho da libido do sujeito, a partir dos sulcos
cravados pelas experiências de satisfação e dor no psiquismo. Daqui inclusive, poderíamos
aclopar à nossa investigação, o aspecto da economia psíquica exigida a partir de uma marca, a
partir de um traço de representação da linguagem. Gozo e economia se colocam em justaposição:
a economia depende da marca do gozo e da repetição que esta, por sua vez, introduz, a partir da
busca do objeto perdido.
Essa sugestão que aponta para o infantil como uma anterioridade lógica, também pode
trazer-nos um outro aspecto, que ainda, por sua vez, faz conservar o convite para pensarmos o
infantil como um termo esvaziado de um romantismo imaginário, caracterizando-se assim, o pano
de fundo sobre o qual a base e o eixo desse trabalho, enfim, se colocam. Portanto, pensar o
infantil conectado a uma anterioridade lógica, trouxe como consequência uma atenção especial
sobre uma parte de um texto de Miller, intitulado Os Seis Paradigmas do Gozo. Trata-se do
momento em que se lê a circularidade primitiva entre o significante e o gozo. Ou seja, ele diz que
Lacan se dedica a desmentir tudo o que poderia restar da não-relação entre gozo e significante,
e mostra, ao contrário, a que ponto a introdução mesma do significante depende do gozo e que o
gozo é impensável sem o significante5.
Seguindo o avanço no ensino de Lacan, Miller nos traz, no sexto e último paradigma do
gozo, intitulado como a não-relação, que, a linguagem e a estrutura, que antes eram tratadas
como um dado primário, tornam-se agora como secundárias e derivadas. O acento é colocado na
invenção lacaniana de lalíngua, que é a fala antes do seu ordenamento gramatical e lexicográfico.

5
MILLER, J.- A. - Os Seis Paradigmas do Gozo, Revista Opção Lacaniana, n. 26/27, abril/2000, p. 100.
6

Mas, para onde isso nos leva? Sobretudo, a uma disjunção da palavra com a estrutura de
linguagem, o gozo do blábláblá, conduzindo-nos, por conseguinte, a pensar no que seria a função
de grampo e por quais elementos ela se realizaria, elementos fundamentalmente disjuntos. Após
este pequeno resumo dessa parte do texto, cito a frase sobre a qual a atenção se voltou: Todos os
termos que asseguravam a conjunção em Lacan - o Outro, o Nome do Pai, o falo -, que
apareciam como termos primordiais, como termos que podiam até ser chamados de
transcendentais, posto que condicionavam toda a experiência, ficam reduzidos a conectores6. E,
nessa conexão, há uma intersecção vazia, susceptível de ser preenchida por suplências: os
exemplos da rotina como tradição e a invenção são citados por Miller nesse sentido. Aqui, então,
esbarramos com um mais além do estruturalismo, consequentemente com a não-relação, aspectos
de rotina e invenção.
Logo, antes de tocarmos na invenção do discurso analítico, acrescentaremos, a partir dessa
incrementação, a questão de saber, portanto, se o infantil estaria ligado ao momento lógico e
inerente ao ser falante, da não-relação, ou seja, ligado ao que implica a sua relação com o gozo.
Da questão inicial que faz supor a articulação do infantil à anterioridade lógica do
discurso do Mestre, por sua marca que inaugura o inconsciente, talvez só mesmo poderíamos
aproveitá-la a propósito de um circuito e sua articulação com o gozo, pois, o infantil, está cada
vez mais se complexificando aqui, à medida em que uma temporalidade imaginária ou cronologia
ligada a esse termo parece cair por terra. Se um circuito se coloca retroativamente na
subjetividade, ainda diríamos então, que, um circuito infantil implicaria a simbolização da
castração...
Sendo assim, para ajudar o raciocínio, poderíamos recortar do discurso do Mestre a
preparação de algo que decidirá sobre o destino da cadeia significante na vida do sujeito.
Tocaríamos, inegavelmente, em algo que, por assim dizer, “já estaria escrito”, ou seja, uma letra
de gozo. Vejo Lacan ilustrá-lo, quando diz, por exemplo, que ...é preciso ter o Nome do Pai, mas
é também preciso que saibamos servir-nos dele. É disso que o destino e o resultado de toda a
história podem depender muito7. Benvinda invenção.

6
Idem, p. 101.
7
LACAN, J. - Seminário V, As Formações do Inconsciente, J.Z.E., 1999, ed. bras., p. 163.
7

É também notável que Miller enfatize o destino como um dos nomes do inconsciente,
num texto intitulado Le Travail de Lacan sur le Mithe. O estar escrito, define o inconsciente, a
ser lido, já que, inesquecivelmente, o sujeito não é um poeta, mas um poema, que se lê.
Até aqui teríamos esboçado basicamente o seguinte:

Inconsciente (destino/infantil)

anterioridade lógica

S1

Dado o que se considerou, recolheríamos então, quatro vertentes ou hipóteses para se


pensar o infantil, antes mesmo de concluirmos o que isso vem a dizer, em termos de estrutura ou
posição na estrutura. São elas:
- algo mais além do primitivo, dando seqüência ao termo de estrutura da linguagem;
- como marca do inconsciente, inscrita a partir da produção de uma primeira perda, na
constituição do desejo;
- como articulador da linguagem com o gozo;
- como um circuito que implica a simbolização da castração.
O fato de Lacan articular a linguagem e o inconsciente através da lógica e da lingüística,
diria portanto, de um início que está articulado ao fim e vice-versa (tal como Miller propõe em
seu seminário A Lógica na Direção da Cura), a partir da inclusão do sujeito na estrutura. Nesse
sentido, oportuno seria se introduzíssemos o traço e a causa, e, até mesmo, se articulássemos o
fato de que toda neurose, ainda que demonstrada muitas vezes num adulto, é infantil.
8


Início Fim
Traço Causa
Infantil Neurose

DO INFANTIL À FUNÇÃO SIGNIFICANTE

Retomando um pouco o eixo de nossa primeira equação, trago agora uma curiosa frase de
Lacan: Você próprio é traído, uma vez que seu desejo deitou-se com o significante8. O lugar do
código, definido como o lugar do Outro, lugar onde se articula a lei, está submetido, ele mesmo,
à articulação significante, e, mais do que submetido à articulação significante, é marcado por
ela, com o efeito desnaturalizante que a presença do significante comporta9. Significa que esse
lugar, o do Outro, faz surgir um ponto de cruzamento quando há uma transposição do desejo para
o significante, tal como Lacan diz. Falar do desejo sempre terá como suporte a pergunta do que
isto quer dizer.
No Seminário IV, especialmente no capítulo intitulado como Circuitos, Lacan nos traz o
mais profundo dos desejos, a saber, o desejo de outra coisa. É assim que ele introduz a função
significante, como algo que encobre o significado, remanejando-o. Vemos que as famosas teorias
sexuais infantis comportam um elemento dinâmico, que tem como instrumento o significante e
como objetivo, a reorientação do significado. Essa função do significante é ilustrada então, com o
caso Hans.
Ainda que não nos detenhamos suficientemente sobre os preciosos detalhes que esse caso
encerra, principalmente sua produção fantasmática, dele apenas extrairemos o concernente à
articulação que propusemos neste trabalho. Sabemos que o caso Hans é um caso de fobia, cujo
elemento central, o cavalo, demonstra o que poderia ser essa função significante. A angústia de
Hans, num primeiro momento, não tinha nada a ver com o cavalo, mas foi, secundariamente,

8
LACAN, J. - op. cit., p. 155.
9
Idem, p. 475.
9

transportada para o complexo que envolvia o cavalo, segundo a sua viabilidade para algumas
transferências. O certo é que num dado momento crítico, um determinado significante é trazido,
desempenhando um papel polarizador, de recristalização. Ainda que seja patológico, não é menos
constituinte. Trata-se de um significante que acompanha e modula sua angústia e tem sua força
própria de construção. O interessante é que essa fobia foi construída para Hans a partir das
interpretações que seu pai lhe fazia, segundo as orientações de Freud; fato é que a fobia dessa
criança, na verdade, parece ter sido um apelo ao pai, a uma orientação, a um sentido.
A função significante, aqui, implica em permutações possíveis de um número limitado de
significantes: cavalo, mordida, carroça, etc. - há uma gravitação do significante em torno do
cavalo. O cavalo, no entanto, não caracteriza, assim, o objeto da fobia - há algo que se situa num
mais além, exatamente no complexo significante que ele traz. Trata-se de um suporte para as
derivações que se configuram nesse quadro. Mas, porquê o cavalo? Diz Lacan: Foi ali que ele
encontrou a metonímia original trazida pelo cavalo, primeiro termo em torno do qual se irá
reconstituir todo o seu sistema10. Essa afirmação não acompanharia o que vimos desenvolvendo
até então, em termos de primeiro termo que reconstitui todo um sistema a partir de uma
articulação lógica inerente ao infantil?

IMPLICAÇÕES

CAVALO
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓

SIGNIFICANTES

DA FUNÇÃO SIGNIFICANTE AO REAL


O significante cavalo, pois, recobre o componente principal (o próprio Hans, o pai, a mãe,
a irmã, as filhas fantasísticas, etc.). Sua função, diz Lacan, é ser um termo novo, que tem a
propriedade de ser um significante obscuro. E aqui uma homofonia genial que Lacan extrai na
língua francesa: un signifiant (um significante) e insignifiant (insignificante). Nada mais oportuno

10
LACAN,J. - in Seminário IV, A Relação de Objeto, J.Z.E., ed. bras., RJ.,1995, p.325.
10

para dizer da produção de um significante no discurso analítico, que nomeie o gozo, ainda que
diferentemente de um contexto fóbico, porém mantendo uma dimensão similar à estrutura que lhe
concerne, qual seja, desempenhando um papel de relha, cuja função é tornar a fundir o real, de
maneira nova11.
Através da produção desse significante, podemos deduzir uma pluralização que ele abarca,
circuitos do desejo, em relação àquilo que cerca ao sujeito. Essa pluralização é suficiente para que
sua força se perca, sendo o sujeito portanto, conduzido a inventar um novo modo de gozo,
diferente daquele que o identificava enquanto ser, por ter se submetido, ferozmente, “sem sabê-
lo”, na força do espelho, a esse significante, Ideal do eu, demonstrado pela seguinte parte do
discurso do Mestre:

S1

S

Abre-se, por conseguinte, o campo da falta-a ser para esse sujeito, condição para que ele
se coloque no lugar de causa, se é que no seu destino estiver escrito, por exemplo, que ele terá
como saída, ser analista - uma das maneiras de se servir do Pai que preconizou o seu ser, ou, dos
circuitos do desejo que implicavam os circuitos infantis, sabendo-se aí fazer com o nome dado ao
gozo.

Discurso do analista

a → S

 
S2 S1

11
Idem, p. 314.
11

Certamente, essa produção teria sido um modo de tratar o real, uma ficção. Digamos que o
circuito infantil inicia-se no trauma correspondente a um furo no real, chegando-se por fim, ao
início, ou seja, ao irredutível de uma identificação simbólica. No lugar da articulação significante,
portanto, a causa do desejo. De toda maneira, mais além da simbolização da castração, há o real
do gozo. Um consentimento se impõe, sem se pedir muita licença. Portanto, só há psicanálise
para o filho da linguagem. O infantil pode ser uma invenção, presente mais além do pai.

Belo Horizonte, maio/junho de 2000.

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