Curso preparatório para ingresso em Pós-graduação em Artes Visuais
Ministrante: Maria Helena Bernardes
Resumo do livro As novas mídias na arte1 (parte II)
Imagem e Performance: “Um contingente internacional de artistas representado por Yves
Klein, Joseph Beuys, Jean Tinguely, Robert Rauschenberg, Piero Manzoni entre outros, dá continuidade à arte gestual de Pollock através da proposição de performances, happennings e outros eventos concretos [temporais]. (...) Descontentes com a canonização do Expressionismo Abstrato promovida por Greenberg, esses artistas buscam a ampliação da liberdade de expressão, resumida por Allan Kaprow, em Art News, em 1958: ‘A quase- destruição dessa tradição [pintura] poderia constituir um retorno ao momento em que a arte esteve mais ativamente implicada no ritual, na magia e na vida’. ” [Rush, 36]. A partir daí, veremos um desenvolvimento conseqüente da performance através da participação do cinema e do vídeo no âmbito da produção contemporânea. Marco fundamental é a revista Avalanche, criada pelo curador e crítico Willoughby Sharp e consagrada a performance e ao vídeo. Performances públicas: próximo a Cage e Cunningham, Rauschenberg realiza, em 1966, “Open score: Bong, um jogo de tênis disputado entre o pintor Frank Stella e a jogadora profissional Mimi Karanek, cujas raquetes estavam ligadas a um sistema de sonorização; o jogo era acompanhado da projeção em vídeo de imagens infravermelhas, apresentando imagens de 150 voluntários amadores jogando tênis no escuro, em uma quadra esportiva mergulhada na escuridão total. O evento é considerado um marco fundador para o universo das performances e novas mídias na arte recente (...) pelo êxito da exploração de novas tecnologias.” [Rush, 37-38]. Performances de atelier: nos anos ’60 e ’70, “o vídeo se torna um verdadeiro parceiro para artistas que realizaram performances íntimas, freqüentemente ritualizadas. É o caso da artista Ana Mendieta, Vito Acconci, Marina Abramovic e Bruce Naumann, nomes fundamentais da história da vídeo performance. As performances em vídeo de Naumann e Acconci fazem referência à experiência solitária do artista no atelier. Acconci avaliava que o quadro do filme e do vídeo o separava do mundo exterior, colocando-o num mundo de isolamento, onde se encontrava intimamente ligado a seu material primeiro, ou seja, seu corpo : “Se o minimalismo foi tão formidável, o que mais eu poderia fazer? O que faltava era a fonte. Eu deveria revelar a fonte’. (...) ‘Os artistas faziam performances para não pintar e nem esculpir. A pintura e a escultura representavam o Verdadeiro Deus da Arte; a performance era uma forma de impor, nesse sistema de crenças de um Deus absoluto, a pluralidade [politeísta] de deuses múltiplos”. [Rush, 47-48]. Em seu primeiro vídeo, intitulado Correções (1970), Acconci, reflete seu interesse pela instantaneidade dae transmissão do fato real possibilitada pelo vídeo. Na performance, ele aparece aparando o cabelo de sua nuca com uma tesoura, tendo seus gestos guiados pela imagem do monitor. Para Bruce Naumann, “suas ‘representações’, como ele designava explorava as relações existentes entre as esculturas do artista e suas atividades pessoais realizadas em atelier. (...) Também músico, Naumann foi profundamente influenciado pela possibilidade de distensão do tempo da música [minimalista] e serial de Philipp Glass e Steve Reich. (... ) Absorve a idéia da coreógrafa Meredith Monk, afirmando que os movimentos mais banais e cotidianos podem ser vistos como arte” (...). Nas performances dos anos ‘60/70, como por 1 RUSH, Michael. Les Nouveaux Médias dans l’Art. Paris: Thames & Hudson, 2000. exemplo em Slow Angle Walk, e Wall/floor position, ambas de 1968, “Naumann movimenta-se enquanto uma câmera fixa registra os gestos fundamentais que ele considera como sendo arte em si mesmos”. [RUSH P. 51-52]. Nam June Paik trabalhava nessa mesma época com performance e experimentações tecnológicas; “em seu período Fluxus, trabalha com a violoncelista Moorman, envolvendo- se no episódio histórico em que ambos foram presos graças à apresentação pública da performance Sextronique, na qual Moorman aparece de seios nus, abraçada a Paik e fazendo correr o arco do violoncelo pelas costas nuas do artista transformado, ele próprio, em violoncelo. Na célebre Concerto para TV, Cello e Video (1971), Moorman conduz seu arco e extrai som de uma pilha de monitores de TV que difundem, repetidamente, a imagem da artista realizando essa mesma ação (...) Para Paik, seu interesse maior era a visualização do tempo: ‘Meu trabalho não é pintura, tampouco escultura, mas, antes de mais nada, é uma arte temporal: não sou aficionado a nenhum gênero particular’. Ainda que Paik tenha abandonado a performance ao vivo nos anos ’80 para realizar imponentes vídeo-instalações multi-écran, suas ligações com a performance permanecem vivas, e, de fato, ele já vinha criando, a partir dos anos ’60, seus ‘robôs vídeo’, entre eles Família Robô: tia e Família Robô: tio (...) nos quais o destaque é voltado para a ação dos corpos eletrônicos formados por monitores do que para as imagens que estes difundem. Suas obras atuais podem ser descritas como instalações performáticas”. [RUSH P. 52-53]. [Nesse sentido, aproximam-se da artista alemã Rebecca Horn.] “O vídeo surge na arte a partir dos ‘60 como possibilidade de compartilhar um sentido de intimidade que o cinema parece incapaz de comunicar, tornando-se um prolongamento do gesto artístico o qual estava justamente associado à pintura e, sobretudo, aos expressionistas abstratos que enfatizaram o gesto físico de pintar”. [RUSH P. 85]. “Os videastas dos anos 80-90 estão muito mais interessados em traduzir problemas ligados à identidade (cultural e sexual, sobretudo) e liberdade política. Esse tipo de manifestação reflete realidades econômicas distintas: na Europa do Oeste, nos EUA e no Japão, países que conheceram um período de paz e prosperidade econômicas relativas e do qual outras culturas se viram excluídas, nessa mesma época, o vídeo foi utilizado para comunicar um profundo desejo de igualdade social (especialmente por parte das mulheres, minorias sexuais e raciais)”.[RUSH P. 106]. Trajetórias introspectivas: Bill Viola seria o grande nome dessa vertente na arte das últimas três décadas, ao “considerar o vídeo como um meio profundamente pessoal que condensa uma gama completa de possibilidades expressivas. ” .[RUSH P. 109]. “O eu e o não-eu, conceitos fundamentais do misticismo oriental que interessam Viola Há muito tempo, desempenham um papel fundamental em toda a sua obra, desde os anos ’70 até o final dos anos ’90.” Anos ’90: entre os artistas da nova geração da vídeo arte surgida nos ’90, percebe-se especialmente entre as mulheres artistas, um retorno às modalidades mais rudimentares de performance dos anos ’70. Quer se tratem de narrativas, experimentações formais ou mesmo de breves esquetes humorísticos ou profundas metidações, a vídeo arte adquiriu no mundo da arte uma legitimidade ou mesmo uma estatura que parecia improvável até os anos ’80.