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Revista Graça, nº8, março de 2000
Título: Livre dos espinhos
Subtítulo: Jonia Matos dedicou 25 anos de sua vida à seita rosacruz e
à parapsicologia, mas largou tudo ao encontrar Jesus Cristo
Repórteres: Cleber Nadalutti (*colaborou Luiz Paulo de Lira)
Editor: Cleber Nadalutti
Foto / Crédito: Cleber Nadalutti
A aposentada Jonia Spyer de Mourão Matos, 51 anos, está, como se diz no
jargão evangélico, “na bênção”. Alegre, confiante e em paz, esta carioca,
formada em Biblioteconomia e pesquisadora aposentada do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), aprendeu a depender só de Deus. Membro de
uma Assembléia de Deus em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro,
onde mora com os dois filhos, Jonia olha para o alto, celebrando o encontro que
teve com Jesus, e faz planos para o futuro: a edição de um livro e uma recente
chamada missionária.
Entretanto, na vida de Jonia, nem sempre foi assim. Até três anos atrás, ela
vivia “em outra dimensão”. Adepta da Ordem Rosacruz e da parapsicologia,
passou 25 anos aprendendo conceitos metafísicos e filosóficos que a levavam a
crer, por exemplo, em seres de outros planetas. “Estudei a metafísica da
evolução, buscando a verdade sobre a evolução da humanidade. A Rosacruz me
levou a crer em seres extraterrestres. Para a Ordem, alguns humanos são
daqui, da Terra, mas a maioria tem origem em outros planetas e estrelas”,
explica.
Sede pela verdade Até os 22 anos, Jonia era uma mulher normal. No
entanto, em seu interior, sua inquietação era tão grande que ela resolveu
procurar respostas para sua existência. “Comecei a sentir uma sede muito
grande pela verdade e passei a buscar respostas em sociedades esotéricas”,
lembra. Foi movida por essa procura que ela ingressou na Ordem iniciática
rosacrucianista. “Naquele momento, eu caí no laço do passarinheiro”, lembra,
referindose ao texto do Salmo 91.
Passou a freqüentar os cultos na sede da Ordem na Tijuca, bairro da zona norte
do Rio. Como as outras mulheres da seita, Jonia usava túnica e cobria a cabeça
como os sacerdotes do Egito Antigo. “Nas reuniões, cantávamos e, de mãos
dadas, invocávamos o ‘deus todopoderoso’. Diziam que nós fazíamos parte do
corpo da inteligência que comandaria a espiritualidade mundial. Eles chamam
esse grupo de fraternidade branca”, conta. Jonia acreditava estar no caminho
certo. “Na Rosacruz existem dogmas os quais fazem as pessoas crerem que
estão melhorando de vida e purificandose”, explica.
“Evoluindo” De aluna aplicada, Jonia ganhou o título de mestre. “Torneime
Ísis (uma deusa egípcia) de um templo Rosacruz. Essa é a graduação máxima
na seita. Lá, os líderes são chamados de sacerdotes ou Ísis. Fui uma delas.
Diziam que eu havia alcançado o conhecimento espiritual mais alto dentro da
Ordem”, recorda.
No entanto, a “evolução” de Jonia parecia não satisfazêla totalmente; por isso,
ela foi buscar novas verdades na parapsicologia. O interesse pelo estudo de
fatos extrasensoriais começou depois que ela assistiu a uma palestra em uma
loja Rosacruz sobre parapsicologia e regressão a vidas passadas. Durante três
anos, fez vários cursos no Instituto Brasileiro de Pesquisas Parapsicológicas, no
Rio. Depois, tornouse professora da instituição, onde lecionou por duas
décadas. Foi lá que conheceu Augusto Gomes de Matos, diretor do Instituto, de
quem é viúva há oito anos. Augusto foi advogado, médico, psicólogo e
parapsicólogo, e pessoa muito conceituada entre os esotéricos.
‘Superhomens’ À medida que se aprofundava em suas buscas, decaía cada
vez mais. Na Rosacruz, ela aprendeu que Jesus era apenas um grande mestre,
que, encarnandose no mundo, veio ajudar a humanidade a evoluir um pouco
mais. Para os adeptos da Ordem, não existe a figura do Anticristo. O bem e o
mal são apenas princípios metafísicos. “Eles ensinam que nada faz mal, que
tudo acontece para a nossa evolução. Além disso, existe a teoria do super
homem, segundo a qual o ser humano pode controlar as coisas com a mente. O
homem não precisa de Deus porque ele é ou será um deus através de sua
evolução. Há muitos seguidores da Rosacruz tentando se tornar deuses”,
explica Jonia.
Ao mesmo tempo em que atribuem poderes limitados a Jesus Cristo, os rosa
cruzes têm seu profeta “prometido” – o mestre Saint Germain (ver quadro).
Quando fazia parte da ordem iniciática, Jonia também acreditava que Saint
Germain era seu mestre. Tanto que, ao mudarse do Flamengo, zona sul do Rio,
para Campo Grande, onde vive hoje, escolheu uma rua com o nome de Saint
Germain. “Quando consegui comprar a casa nessa rua, dei pulos de alegria,
pois estava servindo a Saint Germain. Escolhi o imóvel situado no número 115,
pois, somandose os três algarismos, chegase a sete, um número considerado
místico pela Cabala judaica”, explica. Tanto cuidado na escolha da moradia
refletia o desejo de proteção de Jonia, que vivia amedrontada e doente.
Tudo no lugar Depois de 25 anos de busca em vão, Jonia percebeu que tudo
ia mal. “Minha vida espiritual e material estava arrasada. Descobri que não
tinha parâmetros positivos, não havia coisa alguma em minha vida que valesse
a pena”, diz, ao recordarse do tempo em que as coisas começaram a mudar. A
mãe de Jonia, que era membro de uma igreja Metodista, orou durante dez anos
pela conversão da filha. Há três, Jonia aceitou o convite de um vizinho para ir a
uma igreja pentecostal (Igreja Jesus A Plenitude). Lá, ouviu a Palavra de Deus
e começou a ser liberta. Os dois filhos também se converteram. O mais velho,
Ângelo, 21 anos, casouse com uma moça cristã e deu um neto a Jonia. Com18
anos, Paulo, o filho mais novo, lidera um grupo de jovens assembleianos.
Hoje, Jonia está firme na igreja e testemunha sobre a transformação que Deus
fez em sua vida. “A humanidade deve se sentir como eu me sentia: à beira do
abismo. Satanás é o grande usurpador. Ele está enganando muitas pessoas,
como fez comigo”, afirma. Para ela, a proliferação de filmes e séries de TV sobre
temas esotéricos é uma forma de desviar a humanidade dos caminhos do
Senhor. “Quem não tem Deus vive insatisfeito. O diabo atua na insatisfação da
humanidade. Por isso, séries como Millenium e ArquivoX, e filmes como Ghost
– do outro lado da vida massificam o mistério”.
Para alertar o maior número possível de pessoas, Jonia está escrevendo um
livro sobre a globalização, a nova Era e a nova ordem mundial. “O mundo sem
fronteiras é o mundo sem Deus. E o Anticristo vai usar a globalização para
ganhar espaço”, acredita. “Se houver mais informação sobre Deus, o
Verdadeiro, mais pessoas serão salvas. Creio nisso, pois, se não fosse Jesus, eu
teria perdido a minha alma”, conclui.
Box
Título: Em que acreditam os rosacruzes e os parapsicólogos
Rosacruz: A seita Rosacruz teve origem com Christian Rozenkreuz, que
viveu no século 13 e ingressou em um mosteiro para aprender grego e latim.
Ainda adolescente, ele teria viajado à Terra Santa, Arábia e Egito,
incorporando ensinamentos místicos das culturas orientais por onde passou.
Alguns adeptos da seita dizem que Rosenkreuz, na verdade, não era uma
pessoa, mas um título simbólico, e que a Ordem Rosacruz existia muito antes
dele, desde o Egito Antigo. Em 1614, foi publicado o livro Reforma geral do
mundo, contando a história de Rosenkreuz e divulgando seus ensinos. O
americano Max Heindel, já falecido, é considerado o papa da seita atualmente.
Ele escreveu os livros A concepção cósmica do rosacrucianismo moderno, A
filosofia rosacruz em perguntas e respostas e leituras cristãs rosacruzes. Em
uma de suas obras, escreveu: “Há progresso infinito, pois somos divinos como
nosso Pai celestial, e não pode haver limitações”. A seita conta com mais de 100
mil adeptos em várias partes do mundo. Há dois grupos principais que se
intitulam herdeiros da filosofia rosacruz: a Sociedade dos RosaCruzes e a
Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis (AMORC). (Fontes: Os profetas das
grandes religiões, de R. R. Soares, e O caos das seitas, de J. K. Van Baalen)
Parapsicologia: Ciência alternativa que estuda os chamados fenômenos
extrasensoriais, extracorpóreos, psíquicos, cósmicos (extraterrestres) ou
paranormais (o que está além do sensoriamento normal e conhecido pelo
homem). Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Hollanda, é a “ciência que
estuda experimentalmente os fenômenos ditos ocultos (comunicação com o
espírito dos mortos, dissociação da personalidade, comunicação telepática etc.)”.
Jonia Matos explica que “a paranormalidade é estudada para despertar a sede
por esse universo criado por mentes satânicas, a fim de distrair e afastar a
humanidade do verdadeiro Caminho que é Jesus Cristo”, explica Jonia Matos.
(*Colaborou Luiz Paulo de Lira)