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Protesto em Sociedades em Desenvolvimento: Uma análise multinível sobre os efeitos

dos valores e agravo.

Estudos sobre protesto político identificam três conjuntos de variáveis que


incidem sobre esta modalidade de participação: os recursos, os valores e o sentimento de
agravo. Este último, no entanto, têm demonstrado efeitos inconsistentes em diversos
trabalhos. Isto ocorre porque em sociedades desenvolvidas, onde boa parte dos estudos
sobre protesto foram conduzidos, os problemas distributivos são menores e a natureza do
conflito político tem se deslocado para questões relacionadas a valores e bem estar. Por
outro lado, em países muito pobres, a escassez de recursos inibiria a participação em
protestos.
Já em sociedades em desenvolvimento, nas quais os recursos não seriam tão
escassos a ponto de inibir a participação e nem tão abundantes a ponto de promover
mudanças valorativas na maioria de sua população, o descontentamento seria responsável
por desencadear ações contestatórias? O presente paper tem como objetivo tentar
responder esta questão, confrontando duas hipóteses concorrentes. A primeira é a de que
o sentimento de agravo motivaria ações de protesto, uma vez que seria capaz de mobilizar
os recursos necessários para vocalizar o descontentamento. Já a segunda hipótese afirma
que, mesmo em países em desenvolvimento, a natureza do conflito político mostra
indícios de mudança e os valores passam a ser um dos temas centrais da agenda política
de seus cidadãos.
Para testar ambas as hipóteses foram selecionados todos os países classificados
pelo PNUD com desenvolvimento humano entre médio e alto presentes na quinta e sexta
onda do World Values Survey (N=40). A análise dos dados se deu a partir de modelos
hierárquicos. No nível macro foram inseridas medidas de qualidade da democracia (Polity
IV) e desenvolvimento econômico de cada país (PIB per capita). Já no nível individual,
estão presentes no modelo medidas de recursos (educação e associativismo), valores
emancipatórios, descontentamento (confiança institucional e sentimento de agravo) e
variáveis de controle demográficas (sexo e idade). Como variável independente foi
inserida uma escala de protesto potencial, construída a partir da agregação da participação
em abaixo-assinado, passeatas, boicotes e outras ações.
O ICC indica que 10% da variância da escala de protesto potencial se deve a
características dos países. Neste nível, tanto a qualidade da democracia quanto o PIB per
capita se mostraram significativos. Democracias mais abertas e mais ricas tendem a
incentivar mais ações de protesto. Os três conjuntos de variáveis individuais também
apresentaram efeitos significativos, com destaque para os recursos e valores. Os mais
escolarizados e que estão envolvidos em um tecido associativo mais amplo são aqueles
que mais protestam. Os valores emancipatórios também impulsionam a participação,
confirmando a segunda hipótese. Por fim, a medida de agravo produziu efeitos
significativos sobre a medida de protesto potencial. Os mais felizes e satisfeitos com a
vida e com sua situação econômica tendem a protestar menos, quando comparados aos
insatisfeitos.
Os resultados encontrados demonstram que o protesto político em países em
desenvolvimento é uma função entre recursos, descontentamento e valores, indicando que
mesmo nestas sociedades, a natureza do conflito político começa a apresentar sinais de
mudanças. Os recursos apresentaram os coeficientes mais robustos porque são uma
condição para que a participação seja efetivada. A sua mobilização e transformação em
ação depende de incentivos externos, como o descontentamento e a demanda por mais
liberdades.

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