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APRESENTACAO Mal-Estar e a Negatividade: Uma Introdugio ao Pensamento de Marcuse JOEL BIRMAN Marcuse faz Cem Anos Este ntimero de Physis € dedicado a figura de Herbert Marcuse, que faria agora cem anos, caso ainda estivesse vivo. O centendrio de nasci- mento de Marcuse é a razio de ser desta publicagao, dada a importancia desse autor ndo apenas para os campos da filosofia e das ciéncias sociais, mas também para o da psicandlise. E no entroncamento criativo entre essas diferentes séries discursivas que se pode melhor surpreender as suas contribuigées para a reflexao critica e a renovago conceitual das ditas ciéncias humanas. Foi em fungao desta diregdo de pesquisa e de sua inguictagdo em com- preender a sua atualidade marcada por implosdes do idedrio humanista, reveladas pelo totalitarismo nazista ¢ pela burocratizagao da revolugao socia- lista na Unido Soviética, que Marcuse teve um encontro decisivo com Adomo, Horkbeimer e Benjamin. Desse encontro, forjado no Instituto de Investigagao Social, constituiu-se a Escola de Frankfurt, que elaborou o que se convencionou denominar “teoria critica”. Nao obstante as diferencas desses autores para a produgdo da teoria cri- tica, nao resta qualquer diivida, no entanto, que o cendrio polémico da ins tituigdo que os reunia oferecia as condigées de possibilidade para que cada um deles pudesse, de mancira singular, desenvolver a sua propria concepgao da teoria critica e forjar o seu préprio destino intelectual. Para todos, contudo, o que estava sempre em causa era 0 didlogo da filosofia com 0 campo das ciéncias humanas, para que se pudesse compreender devidamente as novas formas de alienagao social forjadas na sociedade capitalista avangada. As diferentes escolhas teéricas assumidas posteriormente por esses autores, enfim, nao apagaram jamais a chama critica que se acendeu no ini PHYSIS: Rev. Saide Coletiva, Rio de Janeizo, 811): 7-14, 1998 7 Joel Birman anos trinta, e que manteve incélume a espinha dorsal do dito projeto critico entio estabelecido. Com isso, define-se a identidade intelectual de Marcuse ¢ 0 seu oculto objeto de desejo, isto é, aquilo que impulsiona seu trabalho teérico e os embates em que se inseriu na cena contemporanea. Assim, ndo obstante a sua insergao no discurso filosdfico, Marcuse circula num campo de reflexdo e de polémica interdisciplinar, que € uma das marcas de seu estilo de pensamento. Isso porque apenas assim seria possivel um trabalho critico sobre as formas modernas de alienagZo, para que se pudesse acender nova- mente o sonho da liberdade enquanto contraponto aos conformismos insti- tuidos na sociedade industrial avangada. Uma tensio interna perpassa permanentemente 0 pensamento de Marcuse, na medida em que este oscila entre uma tendéncia para o abstrato ¢ uma outra que 0 impele fortemente para a andlise das situagdes concretas. Atragdo fatal, sem davida, que tempera com os sabores acre-doces 0 que existiria de insosso nas abstragées do discurso filos6fico. B este contraponto 0 que regula internamente o seu discurso tedrico em seus menores detalhes, reve- lando, pois, as imantagées que constituem o seu pensamento. Para nos apro- ximar da estrutura de scu pensamento, de sua forma de ser, nada mais elogiiente do que evocar sumariamente o seu percurso intelectual ¢ académico. Esbogo de um Pereurso Nascido em Berlim em 1898, Herbert Marcuse realizou seus estudos em Berlim e em Freiburg, onde se doutorou em 1925. Na Universidade de Freiburg, foi aluno de Husserl ¢ de Heidegger; dois expoentes da filosofia alema neste século. Como muitos de seus contemporaneos, Marcuse sofreu © impacto da publicagao de Ser ¢ tempo', de Heidegger, em 1927. Como conseqiiéncia, realizou sua tese de docéncia sob a orientagao deste, na qual trabalhou sobre Hegel’. Empreendeu, entZo, a leitura dos fundamentos da teoria da historicidade em Hegel, tendo como base um estudo critico sobre a ontologia deste. Scu interesse pelas questes concretas colocadas pelo Heidegger, M. Eire et temps. Paris: Gallimard, 1986 {1927}. Marcuse, H. Hegel’s ontology and the theory of historicity. Cambridge, London: The MIT Press. 1987 [1932]. 8 PHYSIS: Rev. Sade Coletiva, Rio de Janeiro, 8(1); 7-14, 1998 Apresentagio socialismo em construgdo, assim como sua pesquisa sobre Hegel, condu- ziram Marcuse, inevitavelmente, para 0 estudo de Karl Marx. Nao obstante as irrefutdveis marcas heideggerianas de seu pensamento, as posigées politicas de Heidegger distanciaram provavelmente Marcuse deste’. O engajamento de Heidegger com 0 nacional-socialismo tornou a ruptura inevitavel. Contudo, Marcuse leu Heidegger & sua maneira, incorpo- rando as teses deste na diregio de sua pesquisa, de forma inventiva. Assim, ao assinalar a leitura do sujeito como um ser-no-mundo (Dasein), de acordo com a proposigao de Heidegger, Marcuse pontuou esse enunciado filoséfico numa diregao oposta & da voz do ser, j que como ser-no-mundo a subjeti- vidade deveria ser inscrita na realidade social enquanto tal. Com isso, infletiu © filosofema de Heidegger numa direcZo inédita, de maneira a articulé-lo com as suas leituras anteriores de Hegel e Marx. Foi em fungio dessa escolha tedrica que Marcuse foi para Frankfurt, pela indicag&o de Husserl, para trabalhar no Instituto de Pesquisa Social. Contudo, com a ascensio do nazismo Marcuse emigrou para os Estados Unidos, em 1934. Inicialmente, trabalhou no citado centro de pesquisa, asso- ciado entio com a Universidade de Cohimbia. Em seguida, se inseriu no Departamento de Estudos Estratégicos e no Departamento de Estado, entre 1941 e 1950, trabalhando no campo da politica. Porém, de 1951 a 1953 foi professor do Instituto Russo, nas Universidades de Colimbia e de Harvard. Entre 1954 e 1965, foi professor da Universidade de Brandies, em Boston. Finalmente, foi professor da Universidade da Califérnia, a partir de 1965. Em 1967, seu pensamento foi um referencial crucial na Alemanha, na qual circulava entre os grupos de esquerda e os estudantes revoluciondrios que promoviam as revoltas que subverteram toda a Europa. Os movimentos estudantis de 1967 e 1968, que balangaram a Europa, os Estados Unidos e a América Latina, colocaram 0 pensamento de Marcuse no primeiro plano da cena revolucionéria. Foi entGo transformado em heréi dos novos tempos de tormenta com as barricadas parisienses de maio de 1968. Trabalho do Negative, Mobilidade e Vir-a-Ser Procurando inscrever agora este percurso formal no campo substantive de sua produgao tedrica, pode-se depreender que foi na inflexio para a realidade social que Herbert Marcuse interpretou a condicao humana de 3 Ferrater Mora, 3, Diccionario de Filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1982, p. 2105, v. 3. PHYSIS: Rev. Sade Colotiva, Ri de Janeiro, B(1): 7-14, 1998 9

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