Como se dá a questão da loucura na sociedade brasileira?
Essa é uma questão que
pode ter passado pela cabeça quando se está estudando sobre a história da loucura e da psiquiatria. A princípio para tentar entender essa questão é preciso analisar as principais características da psiquiatria e como ela tentou se estabelecer como um saber cientifico sobre a loucura. Além disso, como esse saber passou a atuar não só em um espaço fechado, como os asilos, mas também no contexto social, influenciando de forma direta e indireta sobre como se estabeleciam as relações dentro da sociedade. Assim, pode-se compreender como a loucura é vista e produzida dentro do cenário brasileiro. A forma como a loucura é vista hoje não é da mesma forma como na idade média. A loucura foi transformando no decorrer dos séculos. Em meados da idade média a loucura era tida uma desrazão, e vivida de forma livre, os loucos andavam na rua como os ditos normais. Já no momento do renascimento, a loucura começa a ser aprisionada, uma representação desse aprisionamento está na obra de Bosch denominada de “Nau dos loucos”, ao mesmo tempo que ela é celebrada por diversas áreas, como a arte, filosofia, a literatura, via se ali como uma “experiência trágica”, mas também como uma “consciência crítica” e é essa que vai ganhar força no próximo século. (FRAYZE- PEREIRA, 1989) Durante o século XVII os loucos são colocados dentro dos hospitais, que nesse momento tinham a função de hospedaria, de acolher, tira-los da rua. Mas aqui é importante ressaltar que esses hospitais surgiram em uma sociedade burguesa e que a maioria das pessoas que ali eram colocados eram pobres. É apenas no século XVIII que a medicina aliada as ideias moralistas daquele tempo, passa a ver a loucura como uma doença, contudo, sem abandonar seu conteúdo moral. E é aqui que a loucura passa a ser palco dos estudos dos psiquiatras, a princípio com Pinel que busca classificar e tratar se baseando em princípios morais, mas como uma forma humanizada. (FRAYZE- PEREIRA, 1989) Um aspecto importante a ser observado é que a loucura é situada dentro de um contexto sócio-historico, assim as questões relacionadas a religião, as instituições, os pensamentos daquele período são determinantes para a constituição da loucura. É pensando nesse contexto que podemos ver surgir os primeiros asilos no Brasil, muito baseado nas ideias de Pinel, embora aqui a criação dos asilos tenha si dado um pouco mais demorada, até metade do século XIX os loucos ainda podiam andar pelas ruas, o primeiro hospital psiquiátrico Dom Pedro II foi inaugurado em 1852. (FREIRE COSTA, 1976). Segundo FREIRE COSTA (1976), a história da psiquiatria brasileira criou uma atmosfera psiquiátrica saturada de conotações ideológicas, ou seja, a maioria das ideias trazidas pela psiquiatria eram basicamente fundadas em preconceitos daquela época e durante muito tempo respaldou as suas teorias. Nesse contexto surge a liga brasileira de saúde mental, que tinha objetivos iniciais de melhorar a assistência aos doentes, porém, o que pareceu ocorrer foi um distanciamento dessas ideias e um enfoque relacionado à praticas eugênicas. O contexto social aqui é muito importante para entender de certa forma, as ideias dos alienistas. Os anos de 1920-1930 foram cheios de muitas transformações sociais e econômicas no Brasil, alguns temas culturais advindos dessas transformações, anti-liberalismo, racismo, moralismo e xenofobia foram usados pelos psiquiatras e procuraram na ciência forma de dar legitimidade a essas práticas.
- a psiquiatria como um saber cientifico legitimo
- as influencias socioeconômicas na criação dos asilos e nas relações sociais - quem era o louco? ( tentando sempre relacionar com o alienista e Estamira)