Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Abstract: Through the study of this epistolography, understand, detailed manner, the complex
relationships that existed in the historiography of modernism in the context of the modernization
from the Northeast region, analyzing the attitudes of the actors involved in the process as well
as the contradictions involved. It knows that ideas do not circulate, they embodied the same
streets, but being carried by intellectuals who are part of organized social groups perceive as
circulation, reception and appropriation of the ideas of the Modernist Movement occurred in
Pernambuco by Joaquim Inojosa and José Américo de Almeida. The text will be developed per
two concepts: a) The concept of intellectual sociability networks, referring to the production
local of intellectuals and changes occurring in them b) The epistolary genre is conceived as "file
creation". Fixed space where the genesis and the various stages of preparation of an artistic
work, from the embryo of the project to the debate on the critical reception favoring to its
eventual reworking.
1. Introdução
1
Agradeço a Humberto Hermenegildo de Araújo e a Marcos Silva pela leitura crítica do texto. Ao
Deputado Estadual da Paraíba Adriano Galdino e ao amigo Valmir Guimarães, pela interlocução com a
Fundação Casa de José Américo de Almeida, e a Ana Lúcia Gomes (funcionária desta instituição), por
auxiliar na busca da documentação aqui analisada.
Imburana – revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses/UFRN. n. 6,
jul./dez. 2012
72
OLIVEIRA, G. R. P. L. O movimento modernista em Pernambuco: a correspondência...
país desde a segunda metade dos anos 10, assumindo características cada vez mais
diferenciadas com o passar das décadas de 20 e 30 (GOMES, 1993, p.63).
O modernismo chegou ao Nordeste crivado de tensões, uma vez que
representado em registros distintos, todos eles combinados a uma tradição que se
formara ao longo do processo colonizador e do período formativo da nação. Essa
tradição sedimentada nas instituições da sociedade e também em formas de transmissão
populares era capaz de se impor no confronto com o processo de modernização do
século XX. Sem esse diálogo de dominantes, onde se construíram consensos
representados em obras literárias daí resultantes, não seria possível a consolidação do
movimento modernista na região. A nova forma literária chegava inicialmente por meio
de um modernismo “universal”, a partir do contato com paulistas e cariocas, mas
também a partir da ação de Gilberto Freyre, que não deixava de ser igualmente um
divulgador dessa nova forma, haja vista a sua apreensão da estética modernista dos
norte-americanos. Do ponto de vista que examina especificamente a “divulgação” do
modernismo, não há dúvidas quanto à adesão irrestrita de Joaquim Inojosa ao
movimento (ARAÚJO, 2012, p. 70-71).
Ao se falar da efervescência cultural ocorrida em Recife em meados da década
de 1920, não podemos esquecer-nos de Joaquim Inojosa, jornalista e também estudante
de Direito na Faculdade do Recife, que escreveu, em 1924, a plaquete A Arte Moderna,
carta /panfleto que repercutiu em todo o Nordeste. A carta dava um destaque especial a
Graça Aranha (em virtude do discurso de rompimento deste com a Academia Brasileira
de Letras), historiava a semana de 1922, informava sobre o movimento em Pernambuco,
falava das primeiras repercussões no Pará e no Rio Grande do Norte e apelava para que
a Paraíba (especialmente o grupo da revista Era Nova, a quem a carta era dirigida)
aderisse o modernismo (AZEVEDO, 1996, p. 61-62). 3 O registro histórico da
correspondência entre Joaquim Inojosa e José Américo de Almeida aparece pela
primeira vez em O Movimento Modernista em Pernambuco (1968-1969) (2 cartas,
décadas de 20), o segundo registro foi em José Américo de Almeida – Algumas Cartas
(1980) (3 cartas da década de 20 – sendo duas já publicadas e uma inédita – e 18
escritas entre a década de 60 e 70), livros organizados pelo próprio Inojosa com o
objetivo de documentar a história do modernismo na região Nordeste do Brasil. O
escritor José Américo de Almeida ocupa lugar sui generis neste estudo; por ser um dos
primeiros entusiastas que escreveram para Inojosa, falando das impressões e impactos
causados pela carta manifesto Arte Moderna (INOJOSA, 1984, p. 42-44):
Imburana – revista do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses/UFRN. n. 6,
jul./dez. 2012
73
OLIVEIRA, G. R. P. L. O movimento modernista em Pernambuco: a correspondência...
dos pesquisadores que hoje sobre elas se debruçam. Dessa forma, a correspondência,
como parte da obra de um autor, assegura uma aproximação das formas de estruturação
do campo intelectual em dado momento e lugar, permitindo que se investigue de que
maneira funciona esse “pequeno mundo” e de como se deve entender a própria noção de
intelectual (GOMES, 2005, p. 13).
2
Joaquim Inojosa equivocou-se sobre os títulos das obras de José Américo de Almeida a que faz menção
nesta passagem da carta citada. Trata-se, na verdade, de Reflexões de um Cabra (1922) e de A Paraíba e
seus Problemas (1923).
3
Ao receber de José Américo um exemplar da conferência Poetas da Abolição, Joaquim Inojosa,
dedicou-lhe em vinte de setembro de 1921, através das colunas do jornal A União, dirigido à época por
Carlos Dias Fernandes, a respectiva carta, falando de sua admiração, mas também estabelecendo crítica à
conferência do escritor paraibano (Cf. INOJOSA, 1980).
4
Ivan Bichara Sobreira (1918-1998), político paraibano, crítico literário e romancista, sua obra mais
expressiva foi o romance Carcará (1984), que fora dedicado a José Américo de Almeida.
5
Série de cem artigos escritos por Gilberto Freyre, iniciados quando o mesmo ainda residia nos E.U.A,
publicados no Diário de Pernambuco, entre 22 de abril de 1923 e 15 de abril de 1925, e republicados no
livro Tempo de Aprendiz (FREYRE, 1979).
Nas cartas escritas para José Américo de Almeida, Inojosa inicia a crítica a
Freyre, contando que de 1923 por diante, Gilberto Freyre faria pregação sobre o
regionalismo e tradicionalismo, limitada a Pernambuco, mas que depois se denominaria
de nordestina. Era uma pregação hostil ao modernismo paulista, muito embora com este
viesse a “reconciliar-se”, pela maior influência do nacionalismo ou brasilidade dos
modernistas, cuja bandeira Guilherme de Almeida implantaria no Teatro Santa Isabel,
de Recife, ao ler, em novembro de 1925, sua conferência “Revelação do Brasil pela
Poesia Moderna”, seguida da leitura de “Raça”, poema que ainda hoje consideram obra-
prima (JI, 3-I-1966).
Na opinião de Inojosa, o pior:
(...) é que desde anos se vem convencendo que (o) modernismo não
chegou a atingir o Nordeste, cuja renovação literária se teria inspirado,
tôda ela, tôdinha mesmo, em Gilberto Freyre. Ficou portanto, a nossa
geração, ausente do grande movimento de 22. „Ficou‟ até agora, pois
ainda ontem o historiador Mário da Silva Brito me asseverava que o
meu livro, pelo seu documentário, modificava este sentido histórico....
(JI, 25-III-1968)
O que realmente desejava era desfazer a trama que levou o Itamarati a editar
um livro – Quem é quem nas artes e nas letras do Brasil (1966) -, edição de alto bordo,
em que se lia “tamanha barbaridade”:
4. Considerações Finais:
5. Referências Bibliográficas