A composição das ligas de metais nobres e básicas usadas em restaurações
metalocerâmicas foi discutida nas aulas anteriores. O aluno deve recorrer à descrição de restaurações metalocerâmicas e aos efeitos e propósitos dos constituintes metálicos. A composição da cerâmica geralmente corresponde àqueles vidros da Tabela 21-1, com exceção de um aumento do conteúdo alcalino. A adição de grandes quantidades de soda, potássio e/ou leucita é necessária para aumentar a expansão térmica a um nível compatível com o casquete metálico (coping). As porcelanas opacas contêm também quantidades relativamente grandes de óxidos metálicos opacificadores para esconder o metal subjacente e minimizar a espessura da camada opaca. As porcelanas de alta contração têm maior tendência à desvitrificação por causa do seu conteúdo alcalino. Elas não devem ser submetidas a repetidas queimas, porque isso pode aumentar o risco de ofuscamento dentro da porcelana, como também mudanças no comportamento de contração térmica. Portanto, é óbvio que uma combinação adequada da liga e da porcelana seja essencial para o sucesso. Foram sugeridos critérios e métodos de avaliação para determinar a compatibilidade do metal e da porcelana. Os métodos de avaliação são focalizados na mensuração dos coeficientes de expansão e contração térmica, resistência ao choque térmico e na resistência de união, que serão discutidos mais adiante. A porcelana odontológica convencional é uma cerâmica vítrea baseada em uma rede de sílica (SiO2) e feldspato de potássio (K2O»A12O3 »6SiO2) ou soda-feldspato (Na2O«Al2O3»6SiO2), ou ambos. Pigmentos, opacificadores e vidros são adicionados para controlar a temperatura de fusão, temperatura de sinterização, coeficiente de contração térmica e solubilidade Os feldspatos usados para porcelanas odontológicas são relativamente puros e sem cor. Portanto, pigmentos devem ser adicionados para produzir os matizes dos dentes naturais ou a aparência dos materiais restauradores estéticos que possam estar presentes nos dentes adjacentes.
Potencial Estético das Próteses Unitárias Metalocerâmicas
versus Próteses Unitárias de Cerâmica Pura
Embora as próteses metalocerâmicas representem cerca de 70% de todas as
restaurações fixas, uma prótese unitária metalocerâmica (MC) não é a escolha mais estética para se restaurar um único dente superior anterior. As próteses unitárias cerâmicas oferecem um grande percentual de sucesso em se assemelhar à aparência do dente natural adjacente, porém são mais suscetíveis às fraturas, especialmente na região posterior. Uma linha escura na margem vestibular de uma prótese unitária MC ocasionalmente está associada a um colar metálico ou margem metálica, e é de grande preocupação quando ocorre uma recessão gengival. Este efeito pode ser minimizado pelo uso de uma margem cerâmica ou de uma fina margem metálica em bisel coberta com uma porcelana para ombro opaca. Os técnicos devem polir e glazear essa margem para evitar que a superfície fique áspera. O uso das próteses unitárias MC com término de ombro (junta de topo) ou uma fina margem metálica em bisel na face vestibular são procedimentos que têm bastante êxito em melhorar a estética.
Condensação da Porcelana
A porcelana para próteses cerâmicas e metalocerâmicas, bem como para
outras aplicações, é fornecida como um fino pó que deve ser misturado com água ou outro veículo e condensado na forma desejada (Fig. 21-2). As partículas de pó têm uma distribuição específica de tamanhos para se produzir uma porcelana bem-compactada quando são adequadamente condensadas. Se as partículas fossem do mesmo tamanho, a densidade ou compactação do material não seria tão alta. Uma condensação adequada e criteriosa é também crucial para a obtenção de uma compactação densa das partículas de pó. Uma compactação densa das partículas gera dois benefícios: menor contração de queima e menor porosidade na porcelana sinterizada. A compactação ou condensação pode ser obtida por vários métodos, incluindo as técnicas de vibração, espatulação e pincelamento. O primeiro método utiliza uma leve vibração para compactar o pó úmido de modo denso na infra-estrutura subjacente. O excesso de água é removido com um papel absorvente limpo ou pincel fino, e a condensação ocorre em direção à área seca. No segundo método, uma pequena espátula é utilizada para a aplicação e alisamento da porcelana úmida. A ação de alisamento traz o excesso de água para a superfície, de onde ele é removido. O terceiro método emprega a adição de pó de porcelana seco na superfície, para que absorva a água. O pó seco de porcelana é colocado por um pincel no lado oposto de um incremento de porcelana úmida. À medida que a água é drenada em direção ao pó seco, as partículas úmidas se aproximam. Qualquer que seja o método utilizado, é importante lembrar que a tensão superficial da água é a força motriz na condensação e que a porcelana nunca deve ser desidratada até que a condensação esteja completa.
Sintetização da Porcelana
As reações termoquímicas entre os componentes do pó de porcelana são
praticamente completadas durante o processo de manufatura original. Portanto, a finalidade da queima é simplesmente sinterizar as partículas do pó de maneira adequada para formar a prótese Algumas reações químicas ocorrem durante tempos de queima prolongados ou durante múltiplas queimas. A massa de porcelana condensada é colocada na frente ou abaixo da mufla de uma estufa de um fomo pré-aquecido a aproximadamente 650 °C (1.200 °F) para porcelana de baixa fusão. Esta manobra de pré-aquecimento permite que o vapor de água remanescente se dissipe. A colocação de uma massa condensada diretamente dentro de um forno, mesmo que razoavelmente morno, resulta na formação rápida de vapor, introduzindo porosidades ou fratura de grandes seções da faceta cerâmica. Após o pré-aquecimento por aproximadamente 5 min, a porcelana é levada ao forno e o ciclo de queima (cocção) é iniciado. O tamanho das partículas de pó influencia não somente o grau de condensação da porcelana, mas também a solidez ou densidade aparente do produto final. Na temperatura de queima inicial, as porosidades são ocupadas pela atmosfera do forno. Quando se inicia a sinterização das partículas, estas se unem em seus pontos de contato. À medida que a temperatura sobe, o vidro sinterizado gradualmente escoa para preencher os espaços de ar. Entretanto, o ar torna-se aprisionado na forma de porosidades, porque a massa fundida é muito viscosa para permitir que todo ele escape. Um modo de reduzir as porosidades na porcelana odontológica é a queima a vácuo. A queima a vácuo reduz a porosidade da seguinte maneira: quando a porcelana é colocada no forno, as partículas de pó são compactadas juntas com canais de ar ao seu redor. À medida que a pressão atmosférica dentro do forno é reduzida para cerca de um décimo da pressão atmosférica pela bomba de vácuo, o ar ao redor das partículas é também reduzido a esta pressão. Enquanto a temperatura aumenta, as partículas sofrem sinterização, e porosidades fechadas são formadas na massa da porcelana. O ar dentro dessas porosidades é isolado da atmosfera do forno. A uma temperatura de aproximadamente 55 °C (99 °F), abaixo da temperatura máxima de queima, o vácuo é liberado, e a pressão no interior do fomo aumenta cerca de 10 vezes, de O, l para l atm. Como a pressão é aumentada em pelo menos 10 vezes, as porosidades são comprimidas para que tenham um décimo de seu tamanho original, e o volume total da porosidade é, então, reduzido. Nem todo o ar pode ser evacuado do forno. Portanto, algumas bolhas estão presentes nas porcelanas sinterizadas a vácuo, mas elas são marcadamente menores do que aquelas obtidas no método usual de queima exposto ao ar.
Adesão da Porcelana ao Metal
O requisito primário para o sucesso de uma restauração metalocerâmica é o
desenvolvimento de uma adesão duradoura entre a porcelana e a liga metálica. Uma vez que essa união é obtida, há a possibilidade de se introduzirem tensões nestas próteses durante o processo de queima da porcelana. Uma distribuição de tensões desfavoráveis durante o processo de resfriamento pode causar a fratura da porcelana; fratura tardia também pode ocorrer. Dessa forma, para uma prótese metalocerâmica ser realizada com sucesso, é necessário uma forte adesão interfacial e compatibilidade térmica. As teorias de adesão metal-cerâmica têm-se dividido historicamente em dois grupos: (1) embricamento mecânico entre porcelana e metal, e (2) adesão química ao longo da interface porcelana- metal. Embora a união química seja geralmente vista como responsável pela aderência metal-porcelana, existem evidências de que, para poucos sistemas, o imbricamento mecânico possa fornecer a adesão principal. O comportamento de oxidação dessas ligas determina amplamente seu potencial para adesão com a porcelana. Pesquisas sobre a natureza da adesão porcelana- metais têm indicado que as ligas metálicas que formam óxidos aderentes durante o ciclo de desgaseificação formam também uma boa adesão com a porcelana, enquanto que as ligas pobres em óxidos aderentes formam pior adesão. Algumas ligas de prata-paládio não formam óxidos externos, porém se oxidam internamente. É para estas ligas que a adesão mecânica se faz necessária. Uma variedade de testes tem sido indicada para mensurações da resistência de união. Nenhum deles pode ser visto como uma medida exata da aderência da porcelana ao metal, exceto nos casos em que o par porcelana-metal tenha coeficientes de contração combinados de modo que a porcelana adjacente à interface esteja essencialmente livre de tensões. Esta é uma situação praticamente impossível de se obter, porque o metal exibe um comportamento de contração linear em função da temperatura, e a porcelana exibe um comportamento não-linear de contração. As fraturas das restaurações metalocerâmicas, embora raras, ainda ocorrem, especialmente quando uma nova liga metálica ou porcelana está sendo utilizada ou quando uma nova tecnologia de coping é adotada. De um modo geral, para todos os materiais dentários, existe uma curva de aprendizado associada ao uso inicial de novos produtos. Toda informação sobre próteses fixas unitárias e demais elementos deveria ser registrada, inclusive a aparência visual do local de fratura. Embora exista um número infinito de trajetórias de fraturas passíveis de ocorrer, três são de particular importância no diagnóstico da causa da fratura. Mostradas na Fig. 21-5 estão trajetórias de fratura que ocorreram principalmente em três pontos: (1) entre o opaco e o metal; (2) entre cerâmica opaca e a cerâmica de corpo; (3) apenas na camada de cerâmica de corpo. De acordo com a localização da fratura pode-se dizer onde foi o problema, se por um fraca adesão meta/cerâmica; fraca adesão opaca/cerâmica de corpo ou falha intrínseca na cerâmica de corpo.
Referências:
• 1 - ANUSAVICE KJ. Phillips, materiais dentários. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.