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10 - nº 2 ( 2015)
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Engenheira Civil, Doutora em Engenharia Civil, Professora Titular da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
3 e-mail: eduardo.candido@ufv.br ( E. S. Cândido )
1. INTRODUÇÃO 2. OBJETIVO
características mecânicas, uma vez que as que resultaram na conclusão de que os agregados
características físicas dos resíduos de argamassa e reciclados mostram-se muito similares à brita
concreto se assemelham às dos pedregulhos. Souza graduada simples, aconselhando-se seu uso em
et al. (2007), avaliaram a possibilidade de camadas de subleito ou como sub-base (BERNUCCI,
aproveitamento dos resíduos de concreto na et al., 2009).
confecção de tijolos prensados de solo-cimento. Nesse contexto, novos estudos de
Foram realizados ensaios de caracterização do solo reciclagem do RCD, além de reduzir a destinação
utilizado, das composições desse solo com resíduos irregular desses resíduos, evitando a poluição do
de concreto e das misturas de solo-cimento meio natural, também poderão trazer razoável
produzidas com essa composição, em diferentes economia para as obras de engenharia.
porcentagens. Verificou-se que a adição dos
resíduos proporcionou melhoria nas propriedades
4. MATERIAL E MÉTODO
mecânicas do solo-cimento, favorecendo a redução
do consumo de cimento e a obtenção de tijolos de 4.1. MATERIAIS
melhor qualidade.
4.1.1. Agregados de RCD
Estudos desenvolvidos por Carneiro
(2005) comprovam a viabilidade da utilização de Os resíduos de construção e demolição
agregados reciclados de RCD na produção de blocos foram coletados aleatoriamente de caçambas
para alvenaria sem função estrutural. Nos testes espalhadas na região de Muriaé, MG, que
realizados, tanto os blocos produzidos com 30% de apresentavam em sua composição parcelas de
substituição do agregado natural pelo agregado material cinza (argamassas e concretos) e vermelho
reciclado de RCD, quanto aqueles com 60% de (cerâmicas, telhas e tijolos), além de restos de tinta,
substituição, apresentaram resistência à solventes, pregos e outros, que foram descartados.
compressão simples superior ao estabelecido por Desses resíduos, foram separadas amostras para
norma (2,5 MPa) caracterização física e o restante foi encaminhado a
Paula (2010) analisou a viabilidade de uma empresa de pré-moldados, localizada no
confecção de blocos com uso de agregados miúdos mesmo município de coleta dos resíduos, onde
reciclados para uso em alvenaria de vedação, para foram transformados em agregados (Figura 1) por
um traço padrão cimento:agregado miúdo de 1:6. meio de seu processamento em britador de
Os resultados indicaram que a substituição de 25, mandíbula.
50, 75 e 100 % da areia natural por agregados
miúdos reciclados não afetou significativamente as
propriedades mecânicas dos blocos cujos valores
de resistência à compressão foram de 3,67 MPa,
2,63 MPa, 2,44 MPa e 2,03 MPa, respectivamente.
Em obras de pavimentação, um bom
exemplo é o trabalho realizado nas vias internas do
campus da USP na Zona Leste de São Paulo. Todo o
sistema viário, com mais de 2 km de extensão, foi
pavimentado com camadas de agregado reciclado
de entulho de obra e revestido com asfalto FIGURA 1. Agregado produzido por meio de
borracha, tendo sido denominado “pavimento britagem de RCD. Fonte: Os autores.
ecológico”. Nessa obra, para maior controle de 4.1.2. Agregados naturais
várias propriedades que permitissem melhor
entendimento desse material, foram realizados Na confecção dos blocos, foram utilizados
ensaios de medida de deformabilidade no campo como agregados naturais o pó de pedra da pedreira
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São Geraldo de Muriaé, MG, e a areia grossa do utilizadas na caracterização dos agregados de RCD.
Areal Titonelli de Laranjal, MG.
4.2.1. Dosagem do concreto
4.1.3. Aglomerante
A partir de um traço padrão, utilizado
O aglomerante utilizado foi o Cimento pela empresa de pré-moldados parceira, foram
Portland Maxx Concreto CPV-ARI–RS, fabricado produzidos cinco novos traços em que se variou a
pela Indústria Lafarge do Brasil S/A, localizada na relação entre os agregados naturais (areia artificial
cidade de Cantagalo, RJ, cujas características e areia lavada) e os agregados de RCD.
químicas e físicas estão em conformidade com a Os traços foram dosados em massa e a
NBR 11.578 (ABNT, 2004). água de amassamento foi acrescentada
empiricamente, de forma a se obter uma
4.2. MÉTODO
consistência adequada para o processo de
Na Tabela 1 listam-se as normas da prensagem. Na Tabela 2, apresentam-se os seis
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) traços de concreto ensaiados.
X
NBR NM 52/2003
Determinação da massa específica
NBR NM 53/2003
x
X
x
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80
acumulada
60
40
20
0
9,5 mm 6,3 mm 4,8 mm 2,4 mm 1,2 mm 0,6 mm 0,3 mm 0,15 mm
Peneiras
Figura 4. Curva granulométrica (azul) do agregado miúdo de RCD entre os limites
propostos pela normatização. Fonte: Os autores.
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5.2. CARACTERIZAÇÃO DO AGREGADO DE RCD teor encontrado, não tendo influenciado no
procedimento de confecção dos blocos.
Na Tabela 4 estão apresentados os
resultados obtidos da caracterização do agregado 5.2.3 Determinação da massa específica e
de RCD. absorção do agregado de RCD
5.2.1. Dimensão máxima característica e módulo Com base nos resultados apresentados na
de finura do agregado de RCD Tabela 4, verifica-se que os valores de massa
específica nas condições saturada superfície seca
O valor encontrado para a dimensão
(SSS) e aparente divergiram entre as frações miúda
máxima característica do agregado de RCD
e graúda. Como se trata do mesmo material, os
utilizado na confecção dos blocos foi de 12,5 mm.
valores deveriam ser aproximadamente os
Para o módulo de finura obteve-se o valor de 3,99
mesmos. A diferença pode ser atribuída à perda de
que, segundo Petrucci (1981), corresponde à classe
pequena parte de material mais fino do agregado
de areia grossa/pedrisco.
graúdo ao longo do processo de caracterização,
5.2.2. Teor de material pulverulento no agregado pela facilidade que tem o material de se
de RCD transformar em pó. Como as massas específicas na
condição SSS e aparente para a fração graúda do
O valor encontrado para o teor de
agregado são menores do que para a fração miúda,
material pulverulento nos agregados de RCD foi
a absorção é consequentemente maior.
determinado a partir de duas amostras, sendo
maior do que aquele estabelecido pela norma 5.2.4 Teor de impurezas orgânicas dos agregados
técnica NBR 7221 (ABNT, 2005), que define em 5% de RCD
o valor máximo para agregado oriundo de pedra Na Figura 5, apresentam-se os frascos
britada ou seixo, para uso em concretos com com a solução de hidróxido de sódio a 3% colocada
acabamento superficial, e em 3% para concretos em contato com o agregado de RCD (à direita), e
submetidos a desgaste superficial. com a solução referência de ácido tânico a 2% (à
De acordo com a NBR NM 46 (ABNT, esquerda). A comparação colorimétrica entre as
2003), os resultados de duas determinações não duas soluções mostra que a solução com agregado
devem divergir mais do que 0,5% para o agregado de RCD apresentou tonalidade mais clara,
graúdo e 1,0% para o agregado miúdo. Entretanto, indicando que o teor de material orgânico presente
por se tratar de material frágil e que se desintegra no agregado de RCD está dentro da faixa permitida
com relativa facilidade, pode-se considerar baixo o em norma.
X
Massa
Massa Massa Teor de Diâmetro
Específica Módulo
Específica Específica material Absorção Máximo
Material Saturada de
Aparente Seca pulverulento (%) característico
Superfície Finura
(g/cm3) (g/cm3) (%) (mm)
Seca (g/cm3)
Agregado
- - - 5,6 3,99 12,5
de RCD
Fração
Miúda de 2,11 2,57 2,30 - - 8,50 -
RCD
Fração
Graúda de 1,99 2,57 2,22 - - 10,72 -
RCD
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lotes ensaiados, os valores de resistência
característica dos blocos (fbk) encontram-se na
Tabela 6 e na Figura 7.
Os valores de resistência característica
se mostraram superiores ao mínimo definido na
NBR 6.136 (ABNT, 2006), para a classe D (≥ 2,0
MPa). Valores menores de resistência à
compressão eram esperados para os blocos
produzidos com maiores percentuais de agregados
de RCD. Entretanto, devido a sua menor relação
água/cimento, verificou-se maior resistência
FIGURA 5. Comparação colorimétrica entre as característica para estes blocos. Diferentemente, os
soluções. Fonte: Os autores. ensaios conduzidos por Paula (2010) mostraram
que ao se adicionar ao concreto um percentual de
5.3. RESULTADOS DE ANÁLISE DIMENSIONAL DOS
agregados reciclados maior do que 50%, a
BLOCOS PRODUZIDOS
resistência diminui significativamente, o que
Na Tabela 5, encontram-se os resultados poderia ser justificado pelo fato de que 35,5% da
das dimensões médias dos blocos produzidos para fração pétrea do entulho eram formadas por
os traços de concreto analisados. De acordo com a material cerâmico e, por seu maior teor de material
norma NBR 6136 (ABNT, 2006), que estabelece as pulverulento.
dimensões reais dos blocos vazados de concreto Salienta-se a dificuldade em estabelecer
simples para alvenaria e sua designação, os blocos um valor limite para a relação água/cimento que
produzidos são classificados como da família M-15. leve à máxima resistência, e para qual a
consistência seja adequada para o processo de
TABELA 5: Dimensões médias dos blocos produzidos. prensagem dos blocos. De acordo com Paula
Média Desvio Padrão (2010), misturas de concretos com agregados
Largura (mm) 385 0,7 reciclados necessitam de mais água que os
Altura (mm) 186 2,3 concretos convencionais em virtude da alta taxa de
Comprimento (mm) 142 0,4 absorção apresentada pelo material reciclado.
Parede longitudinal (mm) 26 0,3 6
Parede transversal (mm) 22 0,5
5
Res. a Compressão
3
5.4. RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO INDIVIDUAL E
2
RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA À COMPRESSÃO
DOS LOTES PRODUZIDOS 1
0
Na Figura 6 são apresentados os Traço 1 Traço 2 Traço 3 Traço 4 Traço 5 Traço 6
resultados médios dos ensaios de resistência à Figura 6. Resultados médios dos ensaios de resistência
compressão, para cada traço de concreto. Para os à compressão. Fonte: Os autores.
6 Classe A
5
3 Classe C
2 Classe D
0
Traço 1 Traço 2 Traço 3 Traço 4 Traço 5 Traço 6
FIGURA 7. Resultados de resistência característica dos blocos produzidos e valores
mínimos definidos em norma para cada classe. Fonte: Os autores.
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L. C. MESQUITA, I. C. A. D. AZEVEDO, E. S. CÂNDIDO, G. A. CATHOUD - REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil Vol.10 - nº 2 ( 2015)
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