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ISSN 1806-3713
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ISSN 1806-3713
APOIO:
ISSN 1806-3713
EDITORIAL
162 - Análise de subgrupos e testes de interação: por que são importantes e como
evitar erros comuns
Juliana Carvalho Ferreira, Cecilia Maria Patino
ARTIGO ORIGINAL
Sumário
Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira, Anete Trajman, Anamaria Mello Miranda Paniago,
Ana Rita Coimbra Motta-Castro, Antonio Ruffino-Netto, Ethel Leonor Noia Maciel,
Julio Croda, Maria da Gloria Bonecini-Almeida
ARTIGO ESPECIAL
IMAGENS EM PNEUMOLOGIA
246 - Granizo nos pulmões: uma sequela incomum de pneumonia por varicela
Gaetano Rea, Adriano Costigliola, Cecilia Calabrese
J Bras Pneumol. 2017;43(3):157-158
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562017000300001 EDITORIAL
De acordo com seu estatuto, a SBPT tem entre suas Para contribuir com a diminuição das diferenças no
finalidades congregar médicos e outros profissionais treinamento dos especialistas em Pneumologia, a SBPT
que trabalhem ou se integrem na pesquisa, no ensino anuncia a criação do primeiro programa de educação
e na assistência no campo da Pneumologia e conceder a distância, denominado “EAD-SBPT para formação de
títulos de especialista em Pneumologia e em áreas de especialistas em Pneumologia”. Para 2017, serão 15
atuação, segundo normas próprias e da Associação aulas gravadas e disponibilizadas na plataforma EAD.
Médica Brasileira. A diretoria da SBPT tem várias O curso estará disponível no site da SBPT, EAD-SBPT,
atribuições; entre elas, criar departamentos, seções e a partir de 01 de julho de 2017, e serão abordados os
comissões permanentes ou provisórias, com a finalidade seguintes temas:
de desenvolver a pesquisa, o ensino, a assistência, a • Quais as aplicações e como interpretar testes
atualização e a normatização nas áreas de especialidades de função pulmonar com avaliação dos volumes
e áreas afins, aprovando a publicação de normas e pulmonares e teste de difusão pulmonar?
recomendações delas emanadas. • Quais as aplicações e como interpretar laudos de
As atribuições do diretor de ensino incluem: coordenar, ergoespirometria?
junto ao Diretor Científico, os cursos da SBPT; coordenar • Entendendo o laudo da polissonografia
a elaboração da prova de título de especialista em • Oxigenoterapia domiciliar prolongada: estado atual
Pneumologia e a sua revalidação; atuar na promoção, e uso em condições especiais
controle de qualidade e aprimoramento permanente da • Como investigar um paciente cujo laudo do
formação do pneumologista; e representar a SBPT junto ecocardiograma sugeriu a presença de hipertensão
pulmonar?
aos órgãos regulamentadores de ensino.
• Como interpretar os resultados do cateterismo
A SBPT tem o compromisso de estabelecer padrões cardíaco direito?
de excelência no cuidado das doenças do aparelho • Como avaliar o controle da asma na prática clínica?
respiratório por meio de atividades de educação e • Marcadores inflamatórios da asma na prática clínica
desenvolvimento profissional. Atualmente, oferta um
• Quais as consequências para a saúde do uso de
leque de atividades por meio dos programas de educação produtos fumígenos derivados ou não do tabaco
continuada, presenciais e a distância, ambiente virtual (cigarro eletrônico, narguilé e maconha)?
de aprendizagem e eventos nacionais da especialidade • Como abordar e acompanhar nódulo pulmonar?
em diversas áreas. • Biomarcadores em câncer de pulmão
Parte fundamental das atividades de ensino da SBPT é o • Ventilação domiciliar não invasiva (indicações,
treinamento de futuros especialistas em Pneumologia. De manejo e custos)
acordo com os dados disponíveis, existem hoje, no Brasil, • Abordagem diagnóstica e manejo do paciente adulto
66 programas de residência médica em Pneumologia, com fibrose cística
com 124 vagas para residentes de primeiro ano. A • Indicações e interpretação dos resultados do teste
última atualização do programa de Pneumologia junto Gene Xpert no diagnóstico da tuberculose
a Comissão Nacional de Residência Médica ocorreu em • Manejo diagnóstico e terapêutico das diversas
2006. Uma nova proposta foi enviada em 2011 e não foi formas de aspergilose aguda e crônica
aprovada até o presente. Existem também programas de Os professores convidados, que se disponibilizaram a
pós-graduação em Pneumologia credenciados pela SBPT. realizar a atividade gratuitamente, têm conhecimento
reconhecido na área e responderão às questões inscritas
Muitos conteúdos fundamentais para a formação do pelos participantes por meio do site em até 15 dias após
especialista em pneumologia não estão disponíveis em a liberação do conteúdo no EAD. Os alunos deverão
todas as instituições e, infelizmente, o treinamento nessas responder as questões de autoavaliação ao final da aula.
áreas não é facilmente disponível, exigindo demanda Orientações para participação no curso:
financeira elevada para médicos em início de carreira
1. Para participar do curso, os médicos residentes e
para sua obtenção. Além disso, devido às dimensões alunos de cursos de Pós-Graduação em Pneumologia,
do país, a distribuição de centros de referência em certificados pela SBPT, e sócios da SBPT, deverão se
áreas específicas é heterogênea, o que exige grandes inscrever no curso (informações na plataforma EAD)
deslocamentos para seu acesso. Portanto, é clara a 2. Durante 15 dias a partir da disponibilização das aulas
necessidade de harmonizar e melhorar o treinamento no site, os professores responsáveis responderão
em pneumologia no Brasil. as dúvidas registradas na plataforma
1. Disciplina de Pneumologia, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu (SP) Brasil.
2. Hospital Geral Otávio de Freitas – HGOF – Recife (PE) Brasil.
O uso corrente do inglês na literatura científica consolida Nem tudo são reclamações e lamúrias. O Sistema Único
palavras que estabelecem conceitos carregados de de Saúde (SUS), estabelecido pela Constituição de 1988
simbologias e desafios, e, muitas vezes, paradoxalmente, (dita cidadã), rompeu com a lógica histórica da dicotomia
abrem caminhos para soluções e inovações. A asma, prevenção vs. cura da nossa saúde pública. Sem me
doença pulmonar crônica mais prevalente é, per se, uma alongar nas conquistas e reveses do SUS durante esse
morbidade paradoxal: sabidamente passível de controle tempo, acredito que uma de suas maiores conquistas
clinico, boa qualidade de vida relacionada à saúde e risco foi o Departamento de Informática do SUS (DATASUS).
mínimo, se não nulo, de morte. Entretanto, em inúmeros Ainda pouco explorado pelos nossos pesquisadores, o
artigos nacionais e internacionais que relatam a realidade DATASUS é o exemplo clássico de big data, cuja definição
em diversas partes do mundo onde se observa falta simplificada pelo popular sítio eletrônico Wikipédia(6) é
de controle da doença e de adesão ao tratamento, as “Big Data refere-se a um grande e complexo conjunto de
palavras-conceito “negligenciada” (neglected) e “fardo” dados armazenados. Diz-se que o Big Data se baseia em
(burden) adjetivam a asma. 5 V’s: velocidade, volume, variedade, veracidade e valor.”
Estes grandes conjuntos de dados permitem encontrar
Em um editorial do JBP em 2014, Perez-Padilla et al.(1)
novas correlações, como por exemplo: tendências de
chamavam a atenção para o fardo negligenciado das
negócios no local, prevenção de doenças, combate à
doenças respiratórias advindo do diagnóstico tardio, da
criminalidade e assim por diante.(6)
notificação fragmentada de sua morbidade e mortalidade
e das ações divergentes para seu controle, propondo Na edição anterior e na presente do nosso JBP, dois
uma unidade de ação centrada na atenção primária nos artigos exploram o uso do DATASUS, em particular do
países de média e baixa renda. A prevalência de asma (ou seu programa TabWin, para demonstrar a tendência de
sintomas) em países com esse perfil socioeconômico é custos e morbidade hospitalar, bem como mortalidade
relatada como baixa; porém, há evidências que mostram por asma no Brasil, desde o final do século passado até
que esses dados subestimam fenótipos específicos, talvez alguns anos atrás. Graudenz et al.(7) mostraram queda
relacionados a condições de higiene, poluição ou falta acentuada de 65% da taxa de mortalidade por asma na
de insumos/infraestrutura de saúde.(2) Já não há mais faixa etária de 0 a 34 anos; porém houve sua manutenção
em torno de 9-10% na faixa etária de 5 a 35 anos,
dúvidas sobre a influência desses fatores na gravidade e
explicitando que, em menores de 5 anos, a queda da
prognóstico de crianças portadoras de doenças pulmonares
taxa foi impressionante (de 3,5 para 0,5 mortes por 100
obstrutivas na tenra infância.(1,2)
mil habitantes). Por outro lado, o número absoluto de
Até hoje, costumamos afirmar que a incidência de asma mortes (na faixa de 0-35 anos) manteve-se entre 2.000 e
é de aproximadamente 10% na população brasileira, valor 2.500 por ano, com o incômodo cálculo médio de mais de
inferido por relatos pontuais, dada a carência de dados 6 mortes/dia por asma durante o período do estudo. No
epidemiológicos em escala nacional. A prevalência, pelo presente número do JBP, podem-se apreciar dados oficiais
contrário, passou a ser conhecida pelas enquetes sucessivas longitudinais sobre o impacto da asma no Brasil em um
em amostras populacionais do projeto International Study estudo descritivo(8) a partir de dados obtidos no DATASUS,
of Asthma and Allergies in Childhood.(2) Situação parecida analisando as hospitalizações, número de mortes por asma
ocorreu com a avaliação do controle da asma: Marchioro (entre 2008 e 2013) e custo de admissões, além de uma
et al.(3) mostraram, em uma enquete populacional, a subanálise geográfica lastreada em outra base de dados
persistência de pacientes não controlados em nível nacional, do Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística. O artigo
que também evidenciou o uso preferencial de corticosteroide explicita parâmetros do TabWin utilizados para proceder
oral e broncodilatador de alivio como tratamento de escolha a pesquisa e mostra resumidamente o seguinte: 2.047
da asma. A despeito de todos os esforços de centros e pessoas morreram de asma no Brasil (5 mortes/dia), com
programas de asma estabelecidos no país, defensores do mais de 120.000 hospitalizações/ano; o número absoluto
tratamento preventivo de manutenção com corticosteroides de mortes e de internações diminuiu em 10% e 36%,
inalados há 20 anos.( 4) Outro paradoxo: aparentemente respectivamente, mas a taxa de mortalidade hospitalar
somos a única grande economia do mundo que fornece aumentou aproximadamente 25% naquele período;
medicação gratuita para asma, com impacto duvidoso as regiões norte/nordeste e sudeste apresentaram as
sobre a adesão e o controle da asma, considerando outra maiores taxas de hospitalizações e mortes de pacientes
enquete nacional que mostra que quase 50% de jovens hospitalizados, respectivamente; no período estudado,
que têm sintomas de asma não têm diagnóstico.(5) as internações custaram US$ 170 milhões para o SUS.(8)
1. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.
2. Coordenador do Núcleo de Excelência em Asma, Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA) Brasil.
Os resultados dos dois artigos(7,8) confirmam e atenção primária. O fardo da asma é similar aos da
reiteram em volume, veracidade e valor o “big data” diabete e das doenças cardiovasculares entre adultos,
DATASUS nas enquetes epidemiológicas que explicitam mas é ainda maior entre crianças e adolescentes.
a negligência e o fardo da asma no Brasil, passados Entretanto, enquanto essas últimas condições têm
e atuais. Sim, os números são favoráveis no que participação consolidada nas políticas de atenção aos
tange à diminuição em quase 70% das internações e cuidados primários à saúde no Brasil, a asma e outras
mortes por asma nas faixas etárias menores de 5 anos, doenças respiratórias crônicas não a têm.
talvez influenciada pela redução global da mortalidade Não há dúvidas que o uso do DATASUS e de outros
infantil nacional. Mas as mortes de 3-5 pacientes/dia bancos de dados públicos brasileiros são recursos
(dependendo da faixa etária), e as 100 mil internações imprescindíveis para gerar conhecimento e embasar
por ano são motivos suficientes para preocupação e políticas públicas de saúde, como demonstrado nos
manutenção, como exemplo de iniciativa para aumentar artigos citados.(7,8) A análise de dados disponíveis
o reconhecimento do problema, de campanha digital no DATASUS deve ser estimulada em programas de
nas mídias sociais levadas a cabo pela Iniciativa Global pós-graduação, tendo a vantagem de acesso público
Contra a Asma no Brasil.(9) e gratuito, o que reduz os custos de pesquisa se
Programas brasileiros localizados que identificam comparados às enquetes. Fica como exemplo um
pacientes asmáticos não controlados e os incluem em estudo ecológico recente de tendências temporais em
seguimento e tratamento medicamentoso têm sucesso todos os municípios brasileiros, a partir de informações
confirmado na redução de internações e diminuição obtidas no DATASUS, que mostrou associação da
de custos diretos e indiretos para pacientes e para o morbidade e mortalidade por asma com a proporção de
SUS. (10) Porém, para um país de tamanha e diferenciada habitantes vivendo em áreas urbanas,(11) possibilitando
geografia, com uma população estimada de 20 milhões o planejamento de ações intra e extradomiciliares para
de asmáticos, faltam ações nacionais baseadas na o combate à asma.
REFERÊNCIAS
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respiratory diseases: divided efforts lead to weakness. J Bras Wikimedia Foundation [updated 2017 May 1; cited 2017 May 21].
Pneumol. 2014;40(3):207-10. https://doi.org/10.1590/S1806- Big data. Available from: https://pt.wikipedia.org/wiki/Big_data
37132014000300001 7. Graudenz GS, Carneiro DP, Vieira RP. Trends in asthma mortality
2. Cruz ÁA, Stelmach R, Ponte EV. Asthma prevalence and severity in the 0- to 4-year and 5- to 34-year age groups in Brazil. J Bras
in low-resource communities. Curr Opin Allergy Clin Immunol. Pneumol. 2017;43(1):24-31. https://doi.org/10.1590/s1806-
2017;17(3):188-93. https://doi.org/10.1097/ACI.0000000000000360 37562015000000253
3. Marchioro J, Gazzotti MR, Nascimento OA, Montealegre F, Fish J, 8. Cardoso TA, Roncada C, Silva ER, Pinto LA, Jones MH, Stein RT,
Jardim JR. Level of asthma control and its relationship with medication et al. The impact of asthma in Brazil: a longitudinal analysis of
use in asthma patients in Brazil. J Bras Pneumol. 2014;40(5):487-94. data from a Brazilian national database system. J Bras Pneumol.
https://doi.org/10.1590/S1806-37132014000500004 2017;43(3):163-168.
4. Stelmach R, Cerci Neto A, Fonseca AC, Ponte EV, Alves G, Araujo- 9. GINAnoBrasil [homepage on the Internet]. Iniciativa Global Contra a
Costa IN, et al. A workshop on asthma management programs Asma [cited 2017 May 1]. Available from: www.ginanobrasil.org.br
and centers in Brazil: reviewing and explaining concepts. J 10. Souza-Machado C, Souza-Machado A, Franco R, Ponte EV, Barreto
Bras Pneumol. 2015;41(1):3-15. https://doi.org/10.1590/S1806- ML, Rodrigues LC, et al. Rapid reduction in hospitalisations after an
37132015000100002 intervention to manage severe asthma. Eur Respir J. 2010;35(3):515-
5. Barreto ML, Ribeiro-Silva Rde C, Malta DC, Oliveira-Campos M, 21. https://doi.org/10.1183/09031936.00101009
Andreazzi MA, Cruz AA. Prevalence of asthma symptoms among 11. Ponte EV, Cruz AA, Athanazio R, Carvalho-Pinto R, Fernandes FL,
adolescents in Brazil: National Adolescent School-based Health Barreto ML, et al. Urbanization is associated with increased asthma
Survey (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol. 2014;17 Suppl 1:106-15. morbidity and mortality in Brazil. Clin Respir J. 2016 Jul 12. [Epub
https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050009 ahead of print]. https://doi.org/10.1111/crj.12530
Hemitórax opaco
Edson Marchiori1, Bruno Hochhegger2, Gláucia Zanetti1
Figura 1. Radiografia de tórax em posição anteroposterior mostrando velamento difuso do hemitórax esquerdo (hemitórax
opaco). Notar que as estruturas do mediastino, particularmente a traqueia, estão desviadas para o lado opaco, e que o coração
não está sendo identificado superposto à imagem dos corpos vertebrais (coluna desnuda). Estes achados caracterizam o
hemitórax opaco com redução do seu volume.
LEITURA RECOMENDADA
1. Fraser RS, Müller NL, Colman NC, Pare PD, editors. Diagnosis of Diseases of the Chest. 4th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1999.
Um ensaio clínico randomizado foi conduzido para cálculos, precisamos dividir o valor de p por 2 e usar p <
comparar o efeito da vitamina C vs. placebo na melhora 0,025 como o nível de significância.(2) Assim, nós iríamos
da função pulmonar em recém-nascidos de fumantes superestimar as diferenças de subgrupos se mantivéssemos
grávidas; e para testar se esse efeito diferiu pelo genótipo o nível de significância em 0,05. Outro desafio com a
materno.(1) A vitamina C melhorou a função pulmonar em análise de subgrupos é que os resultados podem sugerir
recém-nascidos em comparação com o placebo (relação que existem diferenças entre subgrupos, mas o valor de p
TPTEF:TE 0,383 vs. 0,345; p = 0,006); e este efeito foi não é estatisticamente significativo porque o tamanho da
mais forte em recém-nascidos com mães com um genótipo amostra em cada subgrupo é muito pequeno (Figura 1).
específico (p-interação < 0,001).(1)
DICAS DE ANÁLISE DE SUBGRUPOS
CONTEXTO 1. Identifique alguns subgrupos que pareçam altamente
Ao realizar ensaios clínicos, os investigadores examinam relevantes para a sua pergunta do estudo a priori e
o efeito das intervenções sobre os desfechos na população justifique suas escolhas.
estudada e muitas vezes em subgrupos de pacientes definidos 2. Não compare os efeitos do tratamento vs. controle
pelas características basais (por ex., dados demográficos, em cada subgrupo. Existem testes estatísticos
específicos para determinar se existe uma interação
fatores prognósticos). O objetivo é entender se a magnitude do
entre o efeito do tratamento e as variáveis que
efeito da intervenção difere nas categorias de um subgrupo; definem os subgrupos, que são melhor realizados
em nosso exemplo, os subgrupos de genótipos. Se o efeito com o auxílio de um estatístico.
for diferente nos subgrupos, chamamos isso de efeito 3. Antes de fazer mudanças na prática clínica, os
modificador da intervenção no desfecho, devido à presença resultados em subgrupos devem ser replicados em
adicional da variável do subgrupo. Geralmente realizamos outros estudos.
um teste de interação, usando modelos multivariados, para
avaliar diferenças de subgrupo estatisticamente significantes. Tratamento Controle
Se o valor de p for significativo, concluímos que o efeito da
intervenção no desfecho difere nos subgrupos, em nosso
exemplo, o genótipo materno.
Compreender os efeitos do tratamento em subgrupos de
pacientes é importante porque ajuda a identificar grupos
de pacientes que respondem melhor ou pior à intervenção.
No entanto, as análises de subgrupos devem ser feitas
com cautela para evitar erros comuns que resultam em
achados falso-negativos ou positivos, especialmente quando
não são pré-especificados no plano de análise antes de
iniciar o estudo. Um erro comum é comparar o efeito do
tratamento no desfecho separadamente em cada subgrupo.
Por exemplo, comparar o efeito da vitamina C vs. placebo
na função pulmonar em recém-nascidos entre mães com Figura 1. Considere um estudo randomizado hipotético com
um genótipo e, em seguida, separadamente entre as mães 30 participantes, 15 no grupo de tratamento (9 homens e 6
com outro genótipo. Esta abordagem é incorreta porque mulheres) e 15 no grupo controle (7 homens e 8 mulheres).
leva a testes múltiplos, o que significa que, em vez de usar Para testar se o efeito do tratamento difere entre homens e
apenas um cálculo para testar as diferenças de efeito entre mulheres, a abordagem correta é usar um modelo multivariado
subgrupos (p para interação em grupos de genótipos em incluindo um termo de interação (tratamento vs. sexo), mas com
30 participantes, esse modelo provavelmente não teria poder
nosso exemplo), usamos dois ou mais cálculos diferentes
suficiente para detectar diferenças clinicamente significativas.
para cada análise de subgrupos. Toda vez que adicionamos Comparar o efeito do tratamento vs. controle somente em
um cálculo, já não podemos usar o nível de significância mulheres (6 vs. 8 participantes) e, depois, apenas em homens
padrão de p < 0,05. Neste caso, uma vez que existem dois (7 vs. 8 participantes) também teria poder insuficiente.
REFERÊNCIAS
1. McEvoy CT, Schilling D, Clay N, Jackson K, Go MD, Spitale P, et 2. Wang R, Lagakos SW, Ware JH, Hunter DJ, Drazen JM. Statistics in
al. Vitamin C supplementation for pregnant smoking women and medicine--reporting of subgroup analyses in clinical trials. N Engl J Med.
pulmonary function in their newborn infants: a randomized clinical trial. 2007;357(21):2189-94. https://doi.org/10.1056/NEJMsr077003
JAMA. 2014;311(20):2074-82. https://doi.org/10.1001/jama.2014.5217
1. Methods in Epidemiologic, Clinical, and Operations Research – MECOR – program, American Thoracic Society/Asociación Latinoamericana del Tórax,
Montevideo, Uruguay.
2. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração – InCor – Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
3. Department of Preventive Medicine, Keck School of Medicine, University of Southern California, Los Angeles, CA, USA.
foram relatados entre 2008 e 2013. Para a análise os termos “óbitos” e “asma” (código J45 na CID-10).
geográfica, as variáveis foram corrigidas pelo número Os critérios para as análises de regiões e estados
populacional em 2010, de acordo com regiões e estados, seguiram os padrões da análise geral, com regiões e
por meio de outro banco de dados: o banco de dados estados selecionados apenas em relação ao ano de
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010. As variáveis foram corrigidas pelas populações
que fornece dados sobre a população brasileira por meio em 2010, de acordo com o censo do IBGE daquele ano.
de censos periódicos.(17) Os gráficos foram preparados Os resultados relativos à mortalidade por asma de
com o programa estatístico GraphPad Prism, versão 6 pacientes hospitalizados referem-se ao total de óbitos
(GraphPad Inc., San Diego, CA, EUA). Como o banco
por asma de pacientes hospitalizados, dividido pelo
de dados do DATASUS é de domínio público, não foi
total de hospitalizações por asma e multiplicado por
necessário obter a aprovação de nosso comitê de
100. No tocante às regiões e estados, para calcular
ética em pesquisa.
o número de internações hospitalares por asma e
Os dados extraídos do banco de dados do DATASUS de óbitos por asma em pacientes hospitalizados por
foram subdivididos em três grupos para análise: Brasil, 100.000 habitantes, as duas variáveis foram divididas
regiões e estados. Foram analisadas as seguintes pela população total do respectivo local e multiplicadas
variáveis: número de óbitos, número de hospitalizações, por 100.000, sendo usados apenas os dados de 2010.
tempo de hospitalização e custos financeiros da Todos os custos das hospitalizações por asma em reais
hospitalização. (R$) foram convertidos em dólares norte-americanos
Para a análise geral, nossa pesquisa foi realizada (USD) com base na taxa de câmbio em 29/06/2016
de 2008 a 2013, por meio da ferramenta Sistema de (1,00 USD = R$ 3,237).
Informação de Saúde. Para as variáveis analisadas,
foram usadas as tabelas de Epidemiologia e Morbidade
RESULTADOS
do grupo “Morbidade Hospitalar” e, em seguida, o
subitem “Geral, por localização hospitalar”. Nas opções O total de óbitos e hospitalizações por asma
de filtro, os itens “anos”, “conteúdo das hospitalizações”, diminuiu de 2008 para 2013, não obstante os elevados
“média de tempo de hospitalização”, “custo total”, números absolutos observados. Em 2013, último
“média de custo da hospitalização” e “óbitos” foram ano analisado, 2.047 pessoas morreram de asma no
selecionados e correlacionados com “asma” (código Brasil, isto é, aproximadamente 5 óbitos/dia e mais
J45 na CID-10). Os dados referentes ao total de de 120.000 hospitalizações por ano. Em seis anos,
óbitos, com o objetivo de cobrir todos os casos de houve redução de 10% e 36% do número absoluto de
óbitos relacionados com a asma e não apenas aqueles óbitos e hospitalizações por asma, respectivamente.
relacionados com as hospitalizações, foram extraídos No entanto, a taxa de mortalidade da asma em
do Sistema de Informação sobre Mortalidade por meio pacientes hospitalizados aumentou aproximadamente
do item “Estatísticas Vitais” (Grupo de Mortalidade, 25% durante esse período. A média de tempo de
1996 a 2014) e do subitem “Mortalidade Geral”. Nas hospitalização por asma manteve-se em torno de 3
opções de filtro, foram então selecionados, por ano, dias. Esses resultados são apresentados na Figura 1.
4 300
Hospitalizações, n × 1.000
250
3
Óbitos, n × 1.000
200
2 150
100
1
50
0 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Taxa de mortalidade hospitalar, %
0,6
5
Tempo de hospitalização, dias
0,5
4
0,4
3
0,3
2
0,2
0,1 1
0,0 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Figura 1. Mortalidade global da asma, número de hospitalizações por asma, taxa de mortalidade hospitalar por asma
e média de tempo de hospitalização por asma no Brasil (2008-2013).
200 0,8
150 0,6
0,46
110,9
100 0,4
50 0,2
0 0,0
e
te
ia
te
te
ia
Su
Su
rt
st
st
rt
st
éd
éd
es
es
es
No
No
de
Oe
de
rd
rd
-O
M
M
Su
Su
o-
No
No
ro
r
nt
nt
Ce
Ce
Figura 2. Hospitalizações e taxas de mortalidade hospitalar por asma nas regiões do Brasil (ano-base: 2010).
Hospitalizações/100.000 habitantes
0,8
Taxa de mortalidade hospitalar, %
300
0,6
200 0,48
142,3 0,4
100
0,2
0 0,0
SP
SP
PA
BA
RS
GO
PA
BA
ia
RS
GO
ia
éd
éd
M
Figura 3. Hospitalizações e taxas de mortalidade hospitalar por asma nos estados brasileiros selecionados para a
análise regional (ano-base: 2010).
Tabela 2. Total de hospitalizações por asma e seus custos por região e estados representativos no Brasil (2010).
Local População, n Hospitalização, n Custo total, USD Média de custo, USD
Regiões
Norte 15.864.454 21.602 3.375.973,22 156,28
Nordeste 53.081.950 88.090 13.509.808,13 153,36
Sudeste 80.364.410 40.979 7.221.726,37 176,23
Sul 27.386.891 28.827 4.910.306,62 170,34
Centro-Oeste 14.058.094 13.519 2.147.617,49 158,86
Total 190.755.799 193.017 31.165.431,83 161,46
Estados
Pará 7.581.051 15.647 2.413.448,59 154,24
Bahia 14.016.906 35.528 5.453.139,31 153,49
São Paulo 41.262.199 16.594 2.940.473,82 177,20
Rio Grande do Sul 10.693.929 10.265 1.734.000,03 168,92
Goiás 6.003.788 6.935 1.109.985,82 160,06
Total 79.557.873 84.969 13.651.047,57 162,78
USD: dólares norte-americanos. Média de custo = custo total das hospitalizações/total de hospitalizações.
hospitalares por asma no maior país da América Latina, país, deveriam buscar continuamente a redução da
o que pode ajudar a melhorar o tratamento da asma mortalidade da asma.
em todo o país, a qualidade de vida dos pacientes e As internações hospitalares em virtude de doenças
o controle dos custos da doença. respiratórias são um desfecho negativo na qualidade
A mortalidade da asma no Brasil ainda é alta. Embora de vida dos pacientes e no sistema público de saúde.
tenha havido uma pequena redução (de 10%) do total O DATASUS mostrou que o Brasil tem mais de 120.000
de óbitos de 2008 para 2013, aproximadamente 5 hospitalizações por asma por ano. No entanto, houve
pacientes morrem de asma diariamente no Brasil. A uma redução de 36% das internações hospitalares por
mortalidade da asma infantil no Brasil também diminuiu asma durante o período analisado. Trata-se de um
de 1980 para 2000,(19) o que sugere uma tendência achado positivo para o sistema público de saúde do
nacional de melhora lenta e gradual das taxas de óbito ponto de vista epidemiológico, e é difícil explicá-lo no
por asma no país. Em 2000, a maioria dos óbitos por contexto da análise do presente estudo. Uma possível
asma ocorreu em hospitais, e os óbitos domiciliares explicação seria a implantação de uma política nacional
foram mais comuns em pacientes idosos.(20) Além disso, de saúde pública pelo Ministério da Saúde em 2009,
uma análise prévia da mortalidade da asma no Brasil pela qual medicamentos para asma (beclometasona e
de 1998 a 2009 mostrou aumento da mortalidade salbutamol) passaram a ser fornecidos de maneira fácil
em regiões menos desenvolvidas em comparação e gratuita em todo o território do país.(23) É possível
com regiões mais desenvolvidas. (21) Nos EUA, um dos que essa política de saúde pública tenha facilitado o
países mais desenvolvidos do mundo, com mais de 300 acesso a medicamentos de controle e resgate para
milhões de habitantes, foram relatados 3.630 óbitos por pacientes com asma em todo o país. Nos EUA, as
asma em 2013 (aproximadamente 9,9 óbitos/dia). (22) hospitalizações por asma permaneceram estáveis entre
Se considerarmos a população dos EUA e do Brasil 2001 e 2009, com altos custos econômicos,(24,25) o que
nesse mesmo ano, as taxas de mortalidade da asma na reforça a importância de uma revisão permanente dos
população geral foram semelhantes em ambos os países, programas de controle da asma pelos sistemas de
com aproximadamente 1 óbito/10.000 habitantes. Como saúde. No presente estudo, a mortalidade da asma em
a asma é uma doença tratável, óbitos por asma, muitas pacientes hospitalizados foi de aproximadamente 0,5%,
vezes prematuramente, deveriam ser uma fatalidade com aumento de 25% durante o período de estudo.
muito rara nesse contexto. As autoridades públicas, Assim, menos de 1% dos pacientes hospitalizados
independentemente do grau de desenvolvimento do morrem de asma no Brasil. Esse achado sugere que
o tratamento da asma grave em pacientes internados uma análise minuciosa dos programas de controle da
é aparentemente eficaz, o que indica que é imperativo asma, levando-se em conta as diferenças regionais
realizar estudos abrangentes sobre os motivos pelos que são geralmente encontradas principalmente em
quais as taxas de óbito domiciliar por asma são tão países grandes.
altas no Brasil. Outro achado positivo foi o tempo de A assistência hospitalar é o maior componente
hospitalização por asma no Brasil. A média de tempo individual de custos diretos da asma na saúde
de hospitalização foi de 3 dias, independentemente pública. (30) Os custos das hospitalizações por asma em
de fatores geográficos, semelhante à de países nossa análise acompanharam a redução do número
desenvolvidos, tais como o Reino Unido.(26) Acreditamos de internações hospitalares, sem diferenças regionais,
que pouco possa ser modificado quanto às terapias especialmente considerando a inflação econômica anual
convencionais disponíveis para pacientes internados em do período, que variou de 4,4% a 6,5%.(31) No entanto,
virtude dessa situação clínica grave, a fim de reduzir mesmo com a redução das internações hospitalares
o número de dias de hospitalização. por asma, o custo total das hospitalizações ainda foi
A análise das regiões do Brasil mostrou que as alto. Quase 170 milhões de USD foram gastos com
regiões Norte/Nordeste (populações menos abastadas) internações hospitalares por asma entre 2008 e 2013.
e Sudeste (população mais abastada) apresentaram A média de custo de uma hospitalização no Brasil é
as maiores taxas de hospitalizações por asma e de aproximadamente 160,00 USD. Pode-se considerar
de óbitos por asma em pacientes hospitalizados, que o custo de uma hospitalização no Brasil é baixo,
respectivamente. Os estados do Pará (região Norte) e mas é importante notar que se trata de um valor
Bahia (região Nordeste) apresentaram o maior número calculado pelo governo, pago aos serviços públicos
de hospitalizações por asma por 100.000 habitantes. de saúde (hospitais), e que, na verdade, não reflete
Os estados de São Paulo (região Sudeste), Goiás o montante real gasto pelos próprios hospitais. A
(região Centro-Oeste) e Rio Grande do Sul (região questão do custo da doença estipulado pelo governo
Sul) apresentaram taxa acima da média de óbitos por brasileiro (informado pelo DATASUS) e o custo “real”
asma em pacientes hospitalizados. Essas informações para o serviço de saúde é outro aspecto que merece
são importantes para as autoridades brasileiras de ampla análise e discussão pública, além de uma revisão
saúde pública e demandam análises mais minuciosas administrativa e financeira. Uma revisão sistemática
para melhorar o tratamento de pacientes com asma recente dos custos da asma grave no Brasil mostrou
e os custos da doença. Nesse contexto, duas cidades que as principais despesas diretas estavam relacionadas
brasileiras implantaram programas distintos de saúde com hospitalizações e medicamentos e que foram gastos
pública para a asma (com a criação de centros de 733,00 USD por paciente por ano, o que ressalta os
referência, facilidade de fornecimento de medicamentos, elevados custos econômicos da asma.(32)
protocolos rigorosos de saúde pública e treinamento Nosso estudo tem limitações. Trata-se de uma análise
profissional) e conseguiram alcançar uma importante retrospectiva de dados secundários, que estão sujeitos
redução do número de hospitalizações por asma.(27,28) à incompletude dos prontuários médicos, inclusive
Além disso, em uma dessas cidades (Salvador, BA), o diagnóstico errôneo da doença. O subdiagnóstico
programa de controle da asma implantado mostrou e a subnotificação são problemas em qualquer
que, quando pacientes com asma grave controlaram sistema de saúde, particularmente em países em
a doença, houve grande redução dos custos diretos desenvolvimento. (33) No entanto, é preciso considerar
da asma nas famílias (−89%) e aumento da renda que os dados coletados representam os números
familiar geral.(29) Essas iniciativas locais demonstram a oficiais do governo brasileiro, e limitações podem
importância da implantação de mais programas eficazes ser encontradas em qualquer país que implante esse
de controle da asma nos sistemas públicos de saúde. tipo de banco de dados. Não obstante, acreditamos
Um achado interessante foi a discrepância entre o que o DATASUS, com todas as suas limitações, ajuda
número de internações hospitalares por asma e as taxas substancialmente a apresentar informações relevantes
de mortalidade da asma em pacientes hospitalizados sobre o impacto da asma no Brasil.
nas diferentes regiões geográficas. As regiões Norte/ Em suma, a mortalidade da asma no Brasil ainda
Nordeste apresentaram hospitalizações por asma acima é muito alta se levarmos em conta que a asma é
da média e mortalidade da asma abaixo da média. uma doença tratável. Apesar da diminuição das
Por outro lado, a região Sudeste apresentou menos hospitalizações por asma nos últimos anos, os números
hospitalizações por asma e óbitos por asma em pacientes absolutos ainda são notáveis e resultam em relevantes
hospitalizados acima da média global. A mesma custos diretos e indiretos à sociedade. Finalmente, esses
relação foi encontrada nos estados representativos resultados mostram que a asma deveria receber mais
selecionados no presente estudo (isto é, Pará/Bahia atenção das autoridades de saúde pública do Brasil
e São Paulo). Novamente, esses dados merecem e da maioria dos outros países da América Latina.
REFERÊNCIAS
1. Eder W, Ege MJ, von Mutius E. The asthma epidemic. N Engl J Med. Global Initiative for Asthma [cited 2016 Jun 07]. Global Strategy
2006;355(21):2226-35. https://doi.org/10.1056/NEJMra054308 for Asthma Management and Prevention 2016. [Adobe Acrobat
2. Global Initiative for Asthma [homepage on the Internet]. Bethesda: document, 151p.]. Available from: http://ginasthma.org/wp-content/
como a intensidade da fadiga e os fatores associados, domínio “atividades diárias”, as âncoras são “Nunca”
em pacientes com CP. Até onde sabemos, este é o (pontuação = 0); e “Só ocasionalmente”, “Às vezes,
primeiro estudo a avaliar a fadiga utilizando a EICF em porém menos que o habitual”, “Quase tão frequente
pacientes com CP. Como a EICF é um questionário de como de costume” e “Como de costume” (pontuação =
fadiga genérico, ela permite fazer comparações entre 4). Para dois itens da subescala “impactos na energia”
diferentes populações de pacientes. (“Eu consegui muito pouco no dia a dia.” e “Eu não
tive energia para fazer as coisas que normalmente eu
faço.”), as pontuações são classificadas da seguinte
MÉTODOS
forma: 0 = “Concordo plenamente”; 1 = “Concordo”;
Trata-se de um estudo transversal com 50 pacientes 2 = “Neutro”; 3 = “Discordo”; e 4 = “Discordo ple-
consecutivos anteriormente diagnosticados com CP namente”. As pontuações são expressas como uma
de células não pequenas (grupo CP) encaminhados porcentagem da máxima pontuação possível disponível
ao ambulatório de um hospital-escola na cidade de para cada participante. Neste estudo, utilizamos a
Fortaleza (CE) para estadiamento e potencial trata- versão brasileira da EICF.
mento cirúrgico. Foram excluídos os pacientes que
não conseguiram compreender a escala, bem como Processo de tradução
aqueles com doenças neurológicas, vasculares ou Primeiro, a versão em inglês da EICF foi traduzida
musculoesqueléticas que limitassem sua capacidade de para o português do Brasil, de forma independente,
realizar o teste de caminhada de seis minutos (TC6). por dois dos investigadores. As duas traduções foram
Além disso, dois outros grupos, pareados por idade e comparadas até se chegar a uma versão de consenso.
sexo, foram estudados para comparação: 50 pacientes Essa versão foi aplicada a uma pequena amostra de
com DCC recrutados do ambulatório de cardiologia do cinco pacientes com CP para avaliação da clareza e
mesmo hospital-escola (grupo DCC); e 50 voluntários para garantir que nenhum dos termos ou situações
saudáveis de um centro comunitário local para idosos do questionário fosse considerado obscuro ou de
(grupo controle). difícil compreensão. Essa versão brasileira foi então
retrotraduzida para o inglês por um tradutor que não
Todos os participantes com CP foram inicialmente
tinha conhecimento sobre a escala original. O autor
avaliados para a determinação de parâmetros demo-
da escala original avaliou a retrotradução, que foi
gráficos e clínicos relevantes. O estadiamento do CP foi discutida com os investigadores, e obteve-se então a
obtido dos prontuários médicos dos pacientes. Todos versão final. A versão final (Anexo) foi aplicada aos
os pacientes com CP foram submetidos a espirometria, participantes do presente estudo. O anexo encontra-se
realizaram o TC6, preencheram questionários/escalas disponível no site do JBP (http://jornaldepneumologia.
(ansiedade e depressão, fadiga, sonolência diurna com.br/detalhe_anexo.asp?id=50).
e qualidade de vida relacionada à saúde) e foram
submetidos a dosagem sérica de proteína C reativa Medidas
(PCR). Questionários específicos foram preenchidos Para testar a confiabilidade interobservador da
em entrevista presencial por dois investigadores versão brasileira da EICF, o instrumento foi aplicado
médicos. Estabeleceu-se um equivalente metabólico aos pacientes com CP duas vezes por dois avaliadores,
da PCR para a determinação da validade da EICF, com intervalo de 30 minutos, durante a primeira visita
pois levantamos a hipótese de que a fadiga estava (V1). A segunda visita (V2) ocorreu 7 dias após a V1, e a
associada a inflamação. Os participantes dos grupos EICF foi novamente aplicada aos mesmos pacientes por
DCC e controle preencheram a EICF apenas uma vez. apenas um dos avaliadores para testar a confiabilidade
intraobservador. Optamos por um intervalo de 7 dias
Ferramenta de pesquisa porque era mais prático para os participantes que
A EICF é uma ferramenta de autorrelato com 31 moravam fora da cidade de Fortaleza e para aqueles
itens que avalia cinco domínios de fadiga (sensação de que tinham iniciado a quimioterapia. Um intervalo de
fadiga, sensação de vigor, impactos na concentração, 7 dias entre as visitas também foi utilizado em outros
impactos na energia e impactos nas atividades diárias) estudos de confiabilidade intraobservador.(21) Todas as
e fornece duas pontuações resumidas: experiências outras avaliações foram realizadas na V1.
de fadiga e impactos da fadiga.(19) A Fatigue Severity Scale (FSS)(22) é uma escala Likert
A pontuação de “experiências de fadiga” é a média de 7 pontos na qual 1 significa “Discordo plenamente”
das pontuações nas subescalas “sensação de fadiga”, e 7 significa “Concordo plenamente”. Pontuações mais
“sensação de vigor” e “impactos na concentração”. altas indicam fadiga mais grave. No presente estudo,
A pontuação de “impactos da fadiga” é a média das utilizamos a versão da FSS validada para uso no Brasil.(23)
pontuações nas subescalas “impactos na energia” e Sintomas de depressão e estados de ansiedade
“impactos nas atividades diárias”. Para os itens dos foram avaliados utilizando-se a Hospital Anxiety and
domínios “sensação de fadiga”, “sensação de vigor”, Depression Scale (HADS). Essa escala é composta por
“impactos na energia” e “impactos na concentração”, 14 itens, dos quais 7 são voltados para a avaliação da
as âncoras são “Nunca” (pontuação = 0); e “Quase ansiedade (subescala HADS-A) e 7, para a depressão
nunca”, “Algumas vezes”, “Várias vezes”, “Muitas (subescala HADS-D). Cada item pode ser pontuado
vezes” e “Sempre” (pontuação = 5). Para os itens do de 0 a 3, sendo que a pontuação máxima em cada
subescala é de 21 pontos. Essa escala foi selecionada correlação de Spearman para avaliar a força das
por ter sido especificamente desenvolvida para avaliar correlações entre as pontuações na mesma e as
ansiedade e depressão em pacientes clinicamente obtidas na FSS, HADS, SF-36 e ESS, e também a DTC6,
enfermos; por isso, ela exclui itens relacionados a valores espirométricos e níveis de PCR. A correção de
sintomas somáticos.(24) Utilizamos a versão da HADS Bonferroni foi utilizada para comparações múltiplas para
validada para uso no Brasil.(25) alterar o valor de p para um valor mais rigoroso a fim
O Medical Outcomes Study 36-item Short-Form de reduzir a probabilidade de erro tipo I. O nível de
Health Survey (SF-36) é um questionário de estado de significância adotado foi de 5%. O tamanho da amostra
saúde autorrelatado. Ele consiste em oito pontuações (50 indivíduos) foi calculado com base na hipótese de
escalares que são as somas ponderadas das questões correlação moderada (r = 0,5) entre o grau de fadiga
em cada seção. Cada escala é diretamente transformada medido pela EICF e o medido por outros instrumentos.
em um escala de 0-100 sob o pressuposto de que Esse nível foi fixado em α bilateral = 0,05 e β = 0,20.
cada questão tem igual peso. Pontuações mais baixas
indicam maior incapacidade. O SF-36 foi traduzido e Aspectos éticos
adaptado para uso no Brasil.(26) Este estudo foi realizado de acordo com a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que estabe-
A Epworth Sleepiness Scale (ESS) é um instrumento
leceu os princípios éticos para as pesquisas em seres
simples e confiável que tem sido amplamente utilizado
humanos, e foi aprovado pelo comitê de ética em
para medir a sonolência diurna; utilizamos a versão
pesquisa da instituição. Todos os pacientes assinaram
da ESS traduzida para o português e adaptada para
um termo de consentimento livre e esclarecido antes
uso no Brasil.(27) Os indivíduos são solicitados a
de sua inclusão no estudo.
classificar a probabilidade de adormecerem em uma
escala crescente de probabilidade (de 0 a 3) para 8
situações diferentes nas quais a maioria das pessoas RESULTADOS
se encontra durante as atividades de vida diária. As A amostra do estudo foi composta por 150 pacientes,
pontuações para as oito questões são somadas para 50 em cada grupo (CP, DCC e controle). As principais
se obter um único número.(28) características dos pacientes do grupo CP estão
A espirometria foi realizada de acordo com Miller et resumidas na Tabela 1. O teste H de Kruskal-Wallis
al.(29) As medidas incluíram VEF1, CVF e relação VEF1/ mostrou que houve diferença estatisticamente
CVF. Os resultados foram comparados com valores de significativa nas pontuações de “experiências da
referência estabelecidos por Pereira et al.(30) fadiga” entre os três grupos — χ2(2) = 23,63; p =
O TC6 é um teste padronizado simples e prático para 0,001— com média da pontuação por categoria de
a avaliação da capacidade de exercício. A distância 80,2 no grupo CP, 92,2 no grupo DCC e 51,6 no grupo
percorrida no TC6 (DTC6) é definida como a distância controle (Tabela 2). O teste post hoc mostrou que não
que o pacientes consegue percorrer rapidamente houve diferença entre os grupos CP e DCC quanto à
em uma superfície plana e rígida no período de seis variável resumida “experiências de fadiga” da EICF;
minutos. (31) O teste foi realizado em ambiente interno, ambos os grupos apresentaram maior nível de fadiga
em um corredor 30 m, reto e plano. Os participantes quando comparados ao grupo controle. Houve aumento
foram instruídos a caminhar o mais rápido possível progressivo na média por categoria das pontuações na
de uma extremidade à outra do corredor tantas vezes variável resumida “impactos da fadiga” da EICF (χ2(2)
quanto possível. A DTC6 foi então medida. = 41,74; p = 0,001). O teste post hoc mostrou que
houve diferença significativa quando o grupo controle
Estatística foi comparado aos grupos CP e DCC (p < 0,001 para
Os dados foram analisados estatisticamente com o ambos), e quando o grupo CP foi comparado ao grupo
programa Statistical Package for the Social Sciences, DCC (p < 0,001). Não foram observadas diferenças
versão 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Utilizamos nas variáveis resumidas “experiências de fadiga” e
análise descritiva e frequências para a avaliação das “impactos da fadiga” da EICF quanto a sexo, idade (≤
características da amostra. O teste H de Kruskal-Wallis 65 anos vs. > 65 anos), estadiamento do CP (estágios
foi utilizado para comparar as pontuações da fadiga I/II vs. III/IV) ou quimioterapia.
nos três grupos. Utilizamos o coeficiente de correlação Não houve diferenças significativas entre as
intraclasse (CCI) para a análise de reprodutibilidade pontuações nas variáveis resumidas “experiências de
da aplicação e reaplicação da EICF (V1 vs. V2). O fadiga” e “impactos da fadiga” da EICF obtidas pelo
teste de Wilcoxon foi utilizado para comparar as mesmo avaliador nas diferentes visitas (V1 = 30,9
pontuações obtidas a partir da aplicação da EICF pelo ± 18,4; V2 = 31,8 ± 17,1; p = 0,8; e V1 = 28,1 ±
mesmo avaliador em V1 e V2. As distribuições gráficas 15,0; V2 = 25,3 ± 12,9; p = 0,3; respectivamente).
de Bland-Altman foram utilizadas para melhorar a Os CCI para a confiabilidade intraobservador (V1 vs.
visualização da confiabilidade teste-reteste obtida a V2) para as mesmas variáveis resumidas foram de
partir das diversas aplicações da EICF. A consistência 0,94 (IC95%: 0,90-0,97) e 0,76 (IC95%: 0,57-0,86),
interna da EICF foi avaliada pelo coeficiente alfa de respectivamente. Também não houve diferenças
Cronbach. Para validar a EICF, utilizamos o teste de significativas entre os dois avaliadores do estudo
para as pontuações das mesmas variáveis resumidas vs. 28,2 ± 10,0; p = 1,0; respectivamente). Os CCI
(30,9 ± 18,4 vs. 32,5 ± 19,8; p = 0,6; e 28,1 ± 15,0 para a confiabilidade interobservador para as variáveis
resumidas “experiências de fadiga” e “impactos da
Tabela 1. Características dos pacientes com câncer de
pulmão no estudo (N = 50).a fadiga” da EICF foram de 0,94 (IC95%: 0,90-0,96) e
Variáveis Resultados 0,79 (IC95%: 0,64-0,88), respectivamente. Também
Idade, anosb 60 ± 12,2 foi identificada excelente confiabilidade inter e intra-
observador nas disposições gráficas de Bland-Altman
Sexo
(Figuras 1 e 2). O coeficiente alfa de Cronbach para
Masculino 27 (54)
a EICF foi de 0,88 (IC95%: 0,82-0,92), indicando
Feminino 23 (46)
excelente consistência interna.
Estágio do câncerb
Houve correlações significativas das pontuações
I ou II 24 (48)
na FSS com as pontuações nas variáveis resumidas
III ou IV 26 (52)
“experiências de fadiga” e “impactos da fadiga” da
Quimioterapiac
EICF (r = 0,60 e r = 0,52, respectivamente). As
Sim 6 (12) escalas de ansiedade e depressão correlacionaram‑se
Não 44 (88) significativamente com as variáveis resumidas
VEF1, % do previstob 86,3 ± 19,8 “experiências de fadiga” (r = 0,43; p = < 0,01; e r =
CVF, % do previstob 86,9 ± 17,8 0,60; p = < 0,01; respectivamente) e “impactos da
DTC6, mb 478,4 ± 104,6 fadiga” (r = 0,62; p = < 0,01; e r = 0,63; p = < 0,01;
IMC, kg/m2b 25,9 ± 3,5 respectivamente). As mesmas variáveis resumidas
EICFd correlacionaram-se negativamente com o resumo do
Sensação de fadiga 32 (12-44) componente mental do SF-36 (r = −0,55; p < 0,01;
Sensação de vigor 45 (5-60) e r = −0,48; p = < 0,01; respectivamente). Após a
correção de Bonferroni para comparações múltiplas, os
Impactos na energia 35,7 (28,5-50,0)
níveis séricos de PCR apresentaram correlação positiva
Impactos na concentração 22 (8-40)
com a variável resumida “impactos da fadiga”. Porém,
Impactos nas atividades diárias 14,3 (1,0-27,0)
não foram encontradas correlações significativas com
Variáveis resumidas da EICF
a pontuação na ESS (Tabela 3).
Impactos da fadigad 24,3 (17,6-38,0)
Experiências de fadigab 31,9 ± 18,6
DISCUSSÃO
Epworth Sleepiness Scaleb 7,1 ± 3,8
MCS do SF-36b 47,7 ± 13,3 O presente estudo mostra que a versão brasileira da
PCS do SF-36b 45,6 ± 8,4 EICF apresenta excelente confiabilidade interobservador/
Fatigue Severity Scaled 23 (12-33) intraobservador, alta consistência interna e boas
correlações com parâmetros clínicos e psicológicos. A
HADS-Ad 5 (3-8)
EICF distinguiu claramente as diferentes populações
HADS-Dd 4,5 (2,0-7,0)
de pacientes.
PCR, mg/ld 2,9 (1,1-6,1)
DTC6: distância percorrida no teste de caminhada de seis
Um problema para clínicos e pesquisadores é a escolha
minutos; EICF: Escala de Identificação e Consequências da escala de fadiga a ser utilizada. Certamente ainda
da Fadiga; MCS: mental component summary (resumo há trabalho a ser feito no sentido da compreensão do
do componente mental); SF-36: Medical Outcomes fenômeno da fatiga e de como ele deve ser medido.
Study 36-item Short-Form Health Survey; PCS: physical
component summary (resumo do componente físico); A EICF foi escolhida pelos avaliadores porque é um
HADS-A: subescala de ansiedade da Hospital Anxiety instrumento multidimensional que captura múltiplas
and Depression Scale; HADS-D: subescala depressão da características e manifestações da fadiga.
Hospital Anxiety and Depression Scale; e PCR: proteína
C reativa. aValores expressos em n (%), exceto onde No presente estudo, a EICF correlacionou-se com
indicado. bValores expressos em média ± dp. cNo dia uma ampla gama de variáveis. A forte correlação
da avaliação, esses pacientes estavam sendo avaliados entre a FSS e a EICF é notável, considerando-se que
para um potencial tratamento quimioterápico. dValores
expressos em mediana (intervalo interquartil). as mesmas foram desenvolvidas utilizando diferentes
A A
60 20
LS
40 10
20 0
LS Média
0 Média 20 40 60 80
-10
20 40 60 80
-20 LI LI
-20
B
60 B
40
40
LS
20
LS
20
Média 0
0 Média
20 40 60 80 20 40 60
LI
-20 -20 LI
-40
-40 Médias individuais dos valores de impactos da
Médias individuais dos valores de impactos da fadiga fadiga obtidos pelos avaliadores 1 e 2 na visita 1
obtidos pelo avaliador 1 nas visitas 1 e 2
amostras de pacientes, e também que apresentam pessoas com ansiedade são propensas a pânico, medo e
estruturas, layouts e formatos de resposta diferentes. outra respostas de estresse elevado que causam fadiga,
O resumo do componente mental do SF-36 aumentando os níveis de hormônios do estresse.(34)
correlacionou-se negativamente com ambas as Anteriormente, foram notadas correlações entre
variáveis resumidas da EICF. O motivo é que o resumo fadiga e distúrbios do sono em pacientes submetidos
do componente mental do SF-36 inclui a subescala a radioterapia e cirurgia, bem como nos com diversos
vitalidade, que aborda o nível de energia e a fadiga. tipos de câncer, incluindo o CP.(35) Em nosso estudo,
Tang et al.(32) mostraram uma associação entre o SF-36 sob o critério da correção de Bonferroni para compa-
e a fadiga medida pela FSS. A magnitude da correlação rações múltiplas, a fadiga não se correlacionou com
foi maior para o domínio vitalidade. sonolência diurna excessiva. Uma possível explicação
Ambas as variáveis resumidas da EICF correla- pode ser o fato de que apenas alguns pacientes (10%)
cionaram-se com ansiedade e depressão. Nossos apresentaram sonolência diurna excessiva.
resultados são compatíveis com os de relatos anteriores Constatamos que a presença de resposta inflama-
que mostraram forte correlação entre depressão e tória sistemática (evidenciada por elevados níveis
fadiga. (14,33) Uma característica marcante da depressão é circulantes de PCR) associou-se a aumento da fadiga.
a diminuição da motivação para fazer coisas que antes Foi demonstrado que algumas células cancerígenas
o paciente apreciava. Isso é abordado pelos itens da secretam IL-6 e IL-8, que, por sua vez, induzem a
EICF (e.g., “Foi difícil para mim encontrar motivação produção de PCR.(36) Anteriormente, de Raaf et al.(37)
para realizar as minhas atividades diárias.”). observaram que dimensões da fadiga associaram-se
Foi encontrada uma correlação notável entre fadiga a marcadores inflamatórios em diferentes grupos de
e ansiedade. Isso pode ser explicado pelo fato de que pacientes com câncer. Decidimos realizar a dosagem
Tabela 3. Correlações da fadiga, medida pelas pontuações nas variáveis resumidas (experiências de fadiga e impactos
da fadiga) da Escala de Identificação e Consequências da Fadiga, com outras variáveis estudadas.
Variáveis Experiências de fadiga Impactos da fadiga
r p pa r p p*
Fatigue Severity Scale 0,60 < 0,001 0,007 0,52 < 0,001 0,007
VEF1, % do previsto 0,14 0,313 2,171 0,12 0,376 2,591
DTC6 −0,16 0,261 1,827 −0,09 0,950 6,651
HADS-A 0,43 0,002 0,014 0,62 < 0,001 0,007
HADS-D 0,60 < 0,001 0,007 0,63 < 0,001 0,007
MCS do SF-36 −0,55 < 0,001 0,007 −0,48 < 0,001 0,007
PCS do SF-36 0,29 0,239 0,16 0,102 0,714
Epworth Sleepiness Scale 0,19 0,181 1,267 0,32 0,021 0,147
PCR, mg/l 0,28 0,048 0,336 0,50 < 0,001 0,007
DTC6: distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos; HADS-A: subescala de ansiedade da Hospital
Anxiety and Depression Scale; HADS-D: subescala de depressão da Hospital Anxiety and Depression Scale; MCS:
mental component summary (resumo do componente mental); SF-36: Medical Outcomes Study 36-item Short-
Form Health Survey; PCS: physical component summary (resumo do componente físico); e PCR: proteína C reativa.
*Após correção de Bonferroni: α crítico = 0,048.
de PCR porque a PCR é um biomarcador para o qual nas atividades de vida diária (conforme medido pela
dosagens de rotina estão disponíveis na prática clínica. variável resumida “impactos da fadiga”); uma explicação
No presente estudo, medimos a fadiga de forma para isso pode ser a de que pacientes com doenças
multidimensional e encontramos correlação entre cardíacas apresentam comprometimento da perfusão
níveis de PCR e impactos da fadiga. Estudos anteriores circulatória periférica e, consequentemente, redução
mediram a fadiga de forma unidimensional e não do fornecimento de oxigênio e comprometimento da
conseguiram encontrar correlações significativas força muscular.
com marcadores inflamatórios.(38,39) Esses estudos Uma das limitações de nosso estudo é o seu deline-
são controversos, e mais pesquisas são necessárias amento transversal; por isso, o mesmo não fornece
para investigar a relação entre concentrações séricas nenhuma indicação da responsividade da EICF ao longo
elevadas de marcadores inflamatórios e queixas do tempo. Outra limitação é que os indivíduos foram
subjetivas de fadiga. recrutados em um único centro e podem diferir de
Em contraste com os nossos resultados, foi relatado pacientes com CP em tratamento em outros lugares.
anteriormente que a fadiga correlaciona-se com o De maneira geral, mais pesquisas são necessárias
estágio do CP e o uso de quimioterapia.(6,12) Como apenas para a compreensão da significância clínica atribuível
12% dos nossos pacientes estavam em quimioterapia aos relatos de fadiga dos pacientes.
no dia da avaliação, possivelmente nosso estudo não A força do estudo é o uso de uma medida mais
teve poder estatístico para detectar essa associação. abrangente de fadiga. A EICF fornece uma avaliação
Um efeito semelhante pode estar presente no que geral para uso em diversas situações médicas em
tange ao estadiamento do câncer. que se deseje uma avaliação completa da fadiga.
Nossa amostra de pacientes com CP relatou maior É importante medir a fadiga em pacientes com CP
intensidade de fadiga do que os pacientes do grupo para o desenvolvimento de estratégias eficazes de
controle. Ao compararmos o grupo CP com o de manejo centradas no paciente, e também a melhora
pacientes com outra doença crônica (grupo DCC), do funcionamento físico, qualidade de vida e saúde
constatamos que as pontuações para “experiências de emocional/psicológica desses pacientes.
fadiga” foram semelhantes, embora as para “impactos Em conclusão, o presente estudo apresenta evidências
da fadiga” tenham sido menores no primeiro grupo. de que a versão brasileira da EICF é uma ferramenta
Pacientes com doenças cardíacas apresentam restrições confiável para medir a fadiga em pacientes com CP.
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especializada no atendimento de doenças pulmonares, e relação VEF1/CVF < 70 após o uso de broncodilatador
localizada na cidade de Goiânia (GO). na espirometria).(2)
Pacientes com diagnóstico prévio de DPOC, que não Hipoxemia noturna foi definida como a presença,
estavam em oxigenoterapia domiciliar, que estavam na polissonografia, de saturação de oxigênio < 90%
clinicamente estáveis e que tinham idade ≥ 40 anos, durante pelo menos 5 min, apresentando um nadir
admitidos entre 1º de abril e 31 de setembro de 2013 (ponto mais baixo) ≤ 85%.(14) Considerou-se o indivíduo
no Centro de Pesquisa Clínica do estabelecimento, foram como portador de hipoxemia noturna isolada quando
considerados elegíveis e convidados a participar do havia hipoxemia noturna na ausência de AOS.(11)
estudo. Após assinarem o termo de consentimento livre A dessaturação no TC6 foi definida como uma queda
e esclarecido, os pacientes realizaram espirometria e ≥ 4% do valor saturação de oxigênio em repouso
oximetria. Foram incluídos no estudo os indivíduos com durante, pelo menos, os últimos 3 min do teste.(26)
relação VEF1/CVF < 70 após o uso de broncodilatador,
A polissonografia foi realizada com o equipamento
oximetria mostrando hipoxemia diurna leve (saturação
Alice 5 Diagnostic Sleep System (Philips Respironics,
de oxigênio de 90% a 94%), sem gravidez conhecida
Murrysville, PA, EUA) em um laboratório do sono. Apneia
ou que tivessem menstruado nos últimos 28 dias
foi definida como a cessação de fluxo de ar ≥ 10 s e
(nos casos de participantes do sexo feminino), sem
hipopneia foi considerada presente quando ocorria pelo
história de infarto do miocárdio recente (menos de
menos uma de três condições: redução do fluxo de
três meses), sem antecedentes médicos de asma ou
ar > 50%, redução de fluxo de ar < 50% com queda
de qualquer outra doença pulmonar concomitante,
na saturação > 3% ou redução de fluxo de ar < 50%
sem história de diagnóstico de câncer, sem história
com evidência de despertar pelo eletroencefalograma.
de insuficiência renal ou de diálise, sem história de
A AOS foi considerada presente quando o índice de
diabetes insulinodependente e sem queixas relacionadas
apneia-hipopneia (IAH) era ≥ 15 eventos/h (definição
a roncos, apneias testemunhadas e sonolência excessiva
utilizada como critério de diagnóstico mais rígido e para
diurna. Os sujeitos de pesquisa subsequentemente
reduzir a possibilidade de superestimar a presença de
realizaram avaliação clínica e responderam instrumentos
AOS devido à possível presença de sonolência diurna
validados — escala de percepção de dispneia do Medical
excessiva em pacientes com DPOC). As gravações
Research Council,(20) teste de comprometimento
foram interpretadas e os estágios do sono foram
da saúde por DPOC (COPD Assessment Test)(21) e determinados de acordo com as recomendações da
classificação de nível socioeconômico.(22) Realizaram, em Academia Americana de Medicina do Sono.(27)
seguida, o teste de caminhada de seis minutos (TC6),
responderam a escala de sonolência de Epworth(23) e Cálculo do tamanho da amostra
realizaram polissonografia, ecocardiograma, gasometria
O tamanho da amostra para o estudo de prevalência
arterial e telerradiografia de tórax em incidências
foi calculado estimando-se uma proporção da população
posteroanterior e em perfil. Foram excluídos do
com precisão absoluta especificada através da fórmula
estudo sujeitos com PaO2 < 60 mmHg na gasometria
n= z21-α/2P(1-P)/d2.(28) Como a prevalência de distúrbios
arterial em repouso e/ou com evidência radiográfica
respiratórios do sono incluía uma ampla gama de
de qualquer anormalidade significativa não atribuível
valores (de 8% a 84%),(6-14) no cálculo do tamanho
à DPOC. Também foram excluídos os indivíduos que
da amostra para o estudo transversal assumiu-se uma
não foram capazes de entender ou completar todos
prevalência de distúrbios respiratórios do sono em 50%
os instrumentos e entrevistas. O presente estudo foi como a escolha mais segura, uma vez que esse valor
conduzido de acordo com as boas práticas clínicas e produziria o maior tamanho da amostra. Para estimar
foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Geral a prevalência de distúrbios respiratórios do sono com
de Goiânia sob o número 198.344/2013. precisão absoluta de 13%, com 95% de confiança, foi
calculado um tamanho de amostra de 57 indivíduos.
Procedimentos e definições Assumindo possíveis perdas em 10%, optou-se por
Estabilidade clínica foi definida como a ausência de incluir pelo menos 64 indivíduos na amostra.
exacerbação nas últimas quatro semanas.(24) Todos
os indivíduos foram categorizados em relação ao Análise estatística
tabagismo como tabagistas (indivíduos atualmente Os resultados foram analisados com o programa
fumando diariamente ou menos que diariamente); Stata versão 13.1 (StataCorp LP, College Station,
ex-tabagistas (indivíduos que no passado fumaram TX, EUA), utilizando-se um nível de significância de
pelo menos 100 cigarros ou 5 maços e que não são 5% (p < 0,05). O teste de Shapiro-Wilk foi utilizado
tabagistas); e não tabagistas (indivíduos que nunca para avaliar a normalidade dos dados. As variáveis
fumaram ou que fumaram menos de 100 cigarros ou quantitativas com distribuição normal foram descritas
5 maços no passado).(25) em média e desvio-padrão, as quantitativas que não
Os indivíduos com DPOC foram classificados segundo apresentavam distribuição normal foram descritas
os critérios da Global Initiative for Chronic Obstructive utilizando-se mediana e intervalo interquartil (IIQ),
Lung Disease de 2014 (sintomas respiratórios crônicos, e as variáveis qualitativas foram descritas por meio
história de exposição a fatores de risco para a doença de proporções.
Utilizou-se ANOVA para a comparação das médias, diurna leve, segundo os critérios de seleção do
com o teste post hoc de Tukey para identificar estudo. Considerando as características basais, o
diferenças significativas, assim como o teste post grupo de pacientes com distúrbio respiratório (AOS
hoc de Kruskal-Wallis no caso de comparações de ou hipoxemia noturna isolada) não era diferente do
medianas. Para variáveis dicotômicas foi utilizado grupo sem distúrbio respiratório do sono, exceto em
o teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher, relação à PaO2 aferida através da gasometria arterial,
quando apropriado. Regressão logística foi utilizada que foi significativamente mais baixa tanto no grupo
para o cálculo de odds ratios da associação entre a com AOS (p = 0,04) como no grupo com hipoxemia
variável independente ou preditora e a variável de noturna isolada (p = 0,04) em relação ao grupo sem
desfecho (um dos dois distúrbios respiratórios do doença do sono. No entanto, não houve uma diferença
sono) com IC95%. O valor do ponto de corte para a estatisticamente significativa na PaO2 entre os grupos
PaO2 foi calculado através da análise da curva ROC. AOS e hipoxemia noturna isolada (p = 1,00).
A análise de correlação foi conduzida para avaliar a A mediana da saturação de oxigênio média medida
força de relação linear entre as variáveis numéricas, por oximetria durante a polissonografia no período de
com o teste de Bonferroni para ajustar os níveis de vigília foi significativamente mais baixa no grupo AOS
significância, e foi realizada regressão linear múltipla (p = 0,001) e no grupo hipoxemia noturna isolada
para estudar a relação entre causa e efeito. (p < 0,0001) em comparação ao grupo sem doença
respiratória do sono. No entanto, entre os grupos AOS
RESULTADOS e hipoxemia noturna isolada, essas medianas não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas.
A Figura 1 mostra o fluxograma das etapas do Os mesmos resultados foram encontrados em relação
estudo. Dos 64 indivíduos incluídos no estudo, 14 à saturação de oxigênio média do sono no tempo total
indivíduos (21,8%) apresentavam AOS, 25 indivíduos de sono, durante o sono rapid eye movement (REM)
(39,1%) apresentavam hipoxemia noturna isolada, e durante o sono não-REM, assim como em relação à
e 25 indivíduos (39,1%) não apresentavam nenhum saturação mínima do sono, tempo em minutos com
dos dois distúrbios do sono. saturação de oxigênio < 90% e índice de dessaturação
A Tabela 1 apresenta as características da amostra no tempo total de sono, durante o sono REM e durante
estudada. Todos os pacientes apresentavam hipoxemia o sono não-REM (Figura 2).
Incluídos
(n = 164)
Oximetria
Excluídos (n = 93; 56,7%)
71 pacientes com
DPOC e hipoxemia
leve pela oximetria
Excluídos (n = 7; 9,9%)
Avaliações clínicas, radiográficas, Pacientes com anormalidade radiológica
funcionais e laboratoriais significativa não atribuída a DPOC (n = 4)
PaO2 de repouso < 60 mmHg (n = 3)
p = 0,001
Índice de dessaturação, episódios/h
(NS)
sono: mediana =70,6 e IIQ: 57,1-82,9 (p = 0,89).
Não houve diferenças estatisticamente significativas
nos escores da escala de sonolência de Epworth entre
40
correlação entre o IAH e o número de roncos com que o ponto de corte de ≤ 70 mmHg pode ser útil em
despertar (r = 0,53; p = 0,001). Foi realizada regressão cenários epidemiológicos cuja prevalência de distúrbios
linear múltipla entre o IAH como variável contínua respiratórios do sono seja alta, o que já foi demonstrado
dependente para AOS e os preditores clínicos (número ser o achado habitual. (8-14) Um estudo prévio mostrou
de roncos, escore da escala de sonolência de Epworth, que indivíduos com saturação de oxigênio ≥ 95% em
idade, índice de massa corpórea, distância percorrida repouso raramente têm hipoxemia noturna isolada, o
no TC6, circunferência cervical, saturação de oxigênio, que sugere não ser necessária essa investigação nesse
PaO2, PaCO2, escore do COPD Assessment Test, VEF1, subgrupo de pacientes.(11) De acordo com as atuais
relação VEF1/CVF e pressão arterial média), não indicações para o uso de oxigenoterapia domiciliar
sendo observado nenhum coeficiente estatisticamente em DPOC, pacientes com saturação < 90% (PaO2 <
significativo. Os mesmos resultados foram observados 60 mmHg) devem ser avaliados e frequentemente
utilizando as seguintes variáveis como variável necessitam de oxigenoterapia domiciliar.(29) Na amostra
dependente (tempo de saturação < 90% e tempo de estudada, o subgrupo de pacientes com DPOC e
saturação < 85%, respectivamente, no tempo total de saturação diurna de oxigênio entre 90% e 94%
sono, durante o sono REM e durante o sono não-REM) (hipoxemia diurna leve) teve elevada prevalência de
em relação aos mesmos preditores clínicos. distúrbios do sono e se beneficiou da realização da
polissonografia, embora essa não seja formalmente
Considerando-se as características basais, os grupos
recomendada pela literatura nesse contexto. Vários
eram diferentes somente em relação a PaO2; desse
autores tentaram predizer a hipoxemia noturna com
modo, a análise de regressão logística foi realizada para
base nas características dos pacientes ou em medidas
verificar se a PaO2 poderia, de forma independente,
fisiológicas diurnas. (6,7,10-14) Entretanto, este ainda
predizer a presença de distúrbios respiratórios do
é um ponto polêmico, pois embora alguns autores
sono (OR = 0,93; IC95%: 0,87-0,99; p = 0,02).
tenham concluído que a dessaturação noturna não
Após a identificação do melhor ponto de corte para
pode ser prevista por nenhuma medida funcional
identificar distúrbio respiratório do sono (PaO2 ≤ 70
diurna ou antropométrica, outros demonstraram que
mmHg), o modelo (OR = 4,59; IC95%: 1,54-13,67;
a saturação de oxigênio de repouso e/ou a PaO2 de
p = 0,01) mostrou uma especificidade de 73,9%
repouso podem predizer dessaturação noturna, embora
(IC95%: 51,6-89,8), uma sensibilidade de 63,4%
de forma não acurada (coeficientes de correlação
(IC95%: 46,9-77,9), valor preditivo positivo de 81,3%
de 0,51-0,78). (6,7,10‑13) Essa modesta correlação e a
(IC95%: 67,7-90,0) e valor preditivo negativo de
imperfeita capacidade de predição encontrada no
53,1% (IC95%: 41,4-64,4). A área sob a curva ROC
presente estudo foram confirmadas por outros autores,
foi de 0,69 (IC95%: 0,57-0,80), e a proporção de sugerindo que outros fatores possam influenciar a
observações corretamente classificadas foi de 67,2%. oxigenação durante o sono.(6,7,11,13) Chaouat et al.(9)
verificaram que um índice de massa corpórea (IMC)
DISCUSSÃO alto estava associado com dessaturação noturna, e
vários autores demonstraram que uma PaCO2 elevada
Na amostra estudada, 60% dos pacientes com DPOC
poderia predizer dessaturação noturna.(7,11,14) O presente
e sem indicação formal de polissonografia apresentaram
estudo não encontrou associação entre a PaCO2 e a
algum distúrbio do sono. A prevalência de hipoxemia
hipoxemia noturna. Isso pode ser devido a um viés
noturna encontrada na presente amostra (39%) pode
de seleção, visto que os pacientes incluídos eram
ser considerada elevada.(6-14) Isto porque a ampla
portadores de DPOC menos grave do que aqueles
variação relatada pela literatura (de 27% a 84%)
incluídos em outros estudos que avaliaram pacientes
pode ser explicada pelo uso de diferentes definições
com PaO2 < 60 mmHg.(7,9,11,14) O mesmo pode ter
e critérios de inclusão. Por exemplo, Chaouat et al.(9)
ocorrido em relação ao IMC. Já foi demonstrado que
utilizaram como critério de inclusão a hipoxemia
o sobrepeso e a obesidade podem reduzir a CVF e
diurna grave (PaO2 < 60 mmHg) e encontraram uma
o volume de reserva expiratório devido à perda de
prevalência de 70%, enquanto Vos et al.(8) incluíram
volume pulmonar basal.(28) Entretanto, os indivíduos
pacientes com AOS e pacientes com hipoventilação
da presente amostra apresentaram uma média de
central no grupo com dessaturação noturna e não
IMC de 25,1 kg/m2, considerada normal. Scott et
utilizaram PaO2 como critério de inclusão ou exclusão,
al.(30) mostraram que dessaturação no TC6 estava
encontrando uma prevalência de 84%. Outros estudos
associada com hipoxemia noturna (OR = 3,77, IC95%:
utilizaram oximetria de pulso e não a polissonografia 1,87-7,62). Embora seja possível sugerir que uma
para o diagnóstico de hipoxemia noturna em pequenas saturação de oxigênio basal mais baixa possa deixar o
amostras e encontraram prevalências que variaram de indivíduo propenso a apresentar dessaturação à noite
47% a 52%.(10,11,13) Por outro lado, autores utilizando e no exercício, os fatores fisiológicos relacionados às
metodologias semelhantes à do presente estudo duas condições são diferentes. Enquanto no exercício o
encontraram prevalências semelhantes.(7,12) aumento da taxa de extração periférica de oxigênio, a
No presente estudo, a PaO2 foi a variável independente piora da relação ventilação/perfusão e a hiperinsuflação
capaz de predizer distúrbios respiratórios do sono entre dinâmica são as causas da hipoxemia,(31) durante o
os portadores de DPOC e hipoxemia diurna leve. O alto sono, a redução da ventilação devido à diminuição da
valor preditivo positivo encontrado (81,3%) demonstra responsividade do centro respiratório, a redução da
contribuição da musculatura acessória, a queda da Embora seja considerada o padrão ouro para o
capacidade residual funcional e o aumento do volume diagnóstico da síndrome de AOS, a polissonografia
de fechamento, principalmente no sono REM, são os é cara e é um exame tecnicamente complexo; em
fatores que produzem a hipoxemia.(32) O presente estudo virtude disso, há poucos laboratórios especializados
e outros dois estudos também não demonstraram que em polissonografia. Para superar esse obstáculo,
a dessaturação no exercício tenha a capacidade de questionários clínicos de rastreio devem ser utilizados
predizer hipoxemia noturna.(10,13) para identificar pacientes com um elevado risco de
Embora a prevalência de AOS encontrada no AOS, os quais se beneficiariam ao receber diagnóstico
presente estudo (21,8%) esteja dentro do relatado e tratamento tão rapidamente quanto possível. Estudos
na literatura, o nível mais alto em relação a alguns demonstram que os aparelhos portáteis têm-se revelado
estudos deve-se provavelmente à predominância do capazes de fornecer um diagnóstico equivalente ao
gênero masculino e à idade avançada dos indivíduos da polissonografia em laboratório, pelo menos em
estudados, pois a prevalência de AOS é mais alta em pacientes com uma elevada probabilidade de AOS.(37,38)
homens e aumenta com a idade.(32) A relativamente O presente estudo apresenta várias limitações.
alta prevalência de AOS encontrada nos pacientes com As polissonografias foram realizadas em somente
DPOC e hipoxemia leve (22%) e a reduzida prevalência uma noite. Alterações do sono associadas com a
de características clínicas classicamente associadas experiência inicial dos pacientes no laboratório do
à AOS — hipertensão arterial sistêmica (HAS), IMC sono são bem conhecidas; portanto, em alguns
elevado, circunferência cervical elevada e sonolência estudos, a primeira noite é somente utilizada para
diurna — nesse subgrupo são dignas de nota. O grupo a aclimatização desses. Se o sono do paciente com
com AOS não apresentou maior prevalência de HAS e DPOC for perturbado, despertares podem evitar que
não teve um nível de pressão arterial sistêmica mais ocorram o aprofundamento do sono e a dessaturação.
elevado, assim como não apresentou resultados de Como resultado, poderíamos ter subestimado a
IMC, circunferência cervical ou escore de sonolência oxigenação noturna ao avaliar somente uma noite de
de Epworth estatisticamente diferentes dos outros sono. No entanto, a maioria dos estudos que utilizaram
grupos. Venkateswaran e Tee,(33) ao compararem polissonografia para diagnosticar hipoxemia noturna em
pacientes portadores de DPOC com e sem AOS também pacientes com DPOC realizou a avaliação em somente
encontraram resultados semelhantes. Pacientes uma noite,(6,7,9,10,13,14) e alguns autores mostraram que
portadores de DPOC devido à inflamação sistêmica não há diferenças significativas na saturação média de
podem apresentar redução de IMC, predisposição oxigênio entre noites consecutivas e não consecutivas
para HAS(34) e, devido à doença respiratória, eficiência no laboratório de sono.(35) Desse modo, talvez isso possa
de sono reduzida.(11) Desse modo, a alta prevalência não ter interferido com nossos resultados. O estudo
de HAS, o IMC mais baixo, com consequente menor foi desenhado para avaliar a prevalência de doenças
circunferência cervical e a baixa eficiência de sono respiratórias do sono em um subgrupo de pacientes
observados em todos os grupos podem justificar com DPOC com um comprometimento funcional
a ausência de um quadro clínico típico de AOS no menor (portadores de hipoxemia leve). A exclusão
portador de DPOC. de pacientes portadores de DPOC com hipoxemia
A medida da saturação de oxigênio é utilizada moderada e grave pode ter introduzido um viés de
rotineiramente para a avaliação do paciente com seleção, pois pacientes, segundo a prática clínica diária,
DPOC devido a suas inúmeras vantagens em relação apresentam níveis diferentes de hipoxemia, variando
à gasometria (não invasiva, indolor, de baixo custo, de normoxemia a hipoxemia grave. Além disso, para
de resultado imediato e amplamente disponível). (35) uma melhor adequação da análise realizada quanto
Considerando os achados do presente estudo, além às prevalências, havia a necessidade de um grupo
do seu valor já estabelecido para a indicação de controle externo.
suplementação de oxigênio e de hospitalização no Em conclusão, foi encontrada uma elevada prevalência
caso de exacerbações agudas,(36) a oximetria poderia de distúrbios respiratórios do sono nessa amostra
ser utilizada como triagem na avaliação do paciente de portadores de DPOC com hipoxemia leve (61%),
com DPOC estável também para os distúrbios do e o resultado de PaO2 ≤ 70 mmHg na gasometria
sono. Quando os resultados da oximetria estiverem arterial foi significativamente associado com distúrbios
entre 90% e 94%, a gasometria poderia ser solicitada. respiratórios do sono (OR = 4,59; IC95%: 1,54-13,67;
Um achado de PaO2 ≤ 70 mmHg está associado à p = 0,01). Esses resultados indicam que esse subgrupo
presença de distúrbios do sono e indicaria a solicitação de pacientes com DPOC e hipoxemia leve pode se
de polissonografia. beneficiar da realização de estudos do sono.
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(APACHE II); tempo de internação na UTI (em dias); do qui-quadrado foi seguido de análise de resíduos
tempo de ventilação mecânica (em dias); variáveis ajustados. O desfecho primário foi o fracasso ou
cardiorrespiratórias após 30 ou 120 min de respiração sucesso da extubação. O risco relativo foi calculado
espontânea e incidência de pneumonia associada à como medida da força de associação entre as variáveis
ventilação mecânica. preditivas e os desfechos binários de interesse. Também
A extubação foi considerada malsucedida quando foram calculadas a sensibilidade, a especificidade e
houve necessidade de reintubação até 48 h após a as razões de verossimilhança para predizer o fracasso
extubação. Todos os pacientes que foram extubados com da extubação. Variáveis com valor de p < 0,2 foram
sucesso foram monitorados ao longo de sua permanência incluídas em um modelo de regressão de Poisson para
no hospital (até a alta) quanto a complicações que comparar as taxas de sucesso e fracasso da extubação.
exigissem reintubação ou traqueostomia, bem como Os dados foram analisados com o Statistical Package
a pneumonia e morte. O diagnóstico de pneumonia for the Social Sciences, versão 18.0 (SPSS Inc.,
foi feito por um médico da equipe e foi baseado nos Chicago, IL, EUA). O nível de significância adotado
foi de p < 0,05.
critérios estabelecidos pelo departamento de controle
de infecção da instituição, em conformidade com os
critérios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e RESULTADOS
as diretrizes de tratamento de adultos com pneumonia Foram incluídos na análise 132 pacientes. As carac-
associada à ventilação mecânica da American Thoracic terísticas demográficas, os parâmetros ventilatórios
Society.(15,16) e os parâmetros clínicos estão descritos na Tabela 1.
As variáveis contínuas foram expressas em forma A média de idade dos pacientes foi de 47,8 ± 17,1
de média e desvio-padrão ou mediana e intervalo anos, e 71,2% eram do sexo masculino. A média da
interquartil, ao passo que as variáveis categóricas pontuação obtida no APACHE II foi de 18,8 ± 5,41.
foram expressas em forma de números absolutos e A mediana do tempo de ventilação mecânica foi de
proporções. As comparações basais entre os grupos 8 dias (intervalo interquartil: 3-11,7 dias). Como se
foram realizadas com o teste t de Student ou o teste pode observar na Tabela 1, os motivos mais comuns
U de Mann-Whitney para variáveis contínuas e o de internação na UTI e intubação orotraqueal foram
teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher para traumatismo cranioencefálico (n = 62), hemorragia
variáveis categóricas. Quando necessário, o teste subaracnóidea (n = 15), complicações pós-operatórias
Tabela 1. Características demográficas, parâmetros ventilatórios e parâmetros clínicos em uma amostra de 132 pacientes
submetidos a ventilação mecânica na UTI.a
Variável Total Extubação Extubação p
bem-sucedida malsucedida
(n = 132) (n = 90) (n = 42)
Idade, anos 47,8 ± 17,01 47,7 ± 17,2 48,2 ± 16,7 0,875*
Sexo masculino, n (%) 61 (72,6) 66 (73,3) 28 (66,7) 0,561†
Pontuação no APACHE II 18,87 ± 5,41 18,2 ± 5,7 20,4 ± 4,4 0,024*
Pontuação na ECG no momento da internação 7,77 ± 2,14 7,94 ± 2,13 7,40 ± 2,16 0,79*
Pontuação na ECG no momento da extubação 9,66 ± 1,29 10,1 ± 0,95 8,81 ± 0,52 < 0,001*
Motivos da internação na UTI, n (%) 0,073†
HSA 15 (11,4) 7 (7,8) 8 (19)
HIC 43 (35,6) 32 (35,6) 15 (35,7)
CPO de cirurgia de tumor 8 (6,1) 8 (8,9) 0 (0,0)
TCE 62 (47) 43 (47,8) 19 (45,2)
PEEP, cmH2O 5,27 ± 0,46 5,25 ± 0,45 5,31 ± 0,47 0,516
FiO2, % 34 ± 0,49 34 ± 0,41 34 ± 0,63 0,921*
VT, ml 522 ± 134 533 ± 139 499 ± 122 0,180*
VM, diasb 8,0 (3-11,75) 6 (3-10) 11 (6-14) < 0,001‡
VSP 3,57 ± 3,17 2,81 ± 2,32 5,21 ± 4,06 < 0,001*
VCP 4,80 ± 3,62 4,38 ± 3,64 5,69 ± 3,46 0,055
PImáx, cmH2Ob 65,5 (46-83) 70 (52-87) 48 (37-67) < 0,001‡
PEmáx, cmH2Ob 59 (44-75) 63 (48-83) 50 (41-65) 0,006‡
f/VT, ciclos/min/lb 45 (34-56) 43 (31-53) 52,5 (38,8-58) 0,038‡
APACHE II: Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II; ECG: Escala de Coma de Glasgow; HSA:
hemorragia subaracnóidea; HIC: hemorragia intracerebral; CPO: complicação pós-operatória; TCE: traumatismo
cranioencefálico; PEEP: positive end-expiratory pressure (pressão expiratória final positiva); VT: volume corrente;
VM: ventilação mecânica; VSP: ventilação com suporte de pressão; VCP: ventilação controlada pela pressão; e
f/VT: relação frequência/volume corrente. aValores expressos em forma de média ± dp, exceto onde indicado.
b
Valores expressos em forma de mediana (intervalo interquartil). *Teste t de Student. †Teste do qui-quadrado de
Pearson. ‡Teste U de Mann-Whitney.
de cirurgia de tumor (n = 8) e acidente vascular que não foram capazes de apertar a mão do examinador
cerebral hemorrágico (n = 43). em resposta ao comando do que naqueles que foram
Dentre os 132 pacientes incluídos na análise, a capazes de fazê-lo (risco relativo = 3,38; IC95%:
extubação falhou em 42 (31,8%), os quais foram 2,07-5,53; p < 0,001).
reintubados até 48 h depois da tentativa de extubação. As razões de verossimilhança para predizer a falha
Quando os pacientes foram agrupados de acordo com da extubação foram 2,06 para uma pontuação motora
a pontuação obtida na ECG, as taxas de falha da < 6 e 7,35 para a incapacidade de pôr a língua para
extubação foram de 57,8% no grupo 8-9 e 15,7% no fora (Tabela 4). Uma razão de verossimilhança > 1
grupo 10-11 (p < 0,001). As tentativas de extubação indicou uma probabilidade progressivamente maior de
falharam em virtude de alteração do nível de consciência falha da extubação, uma pontuação motora < 6 indicou
(em 7%), acúmulo de secreções brônquicas (em uma probabilidade menor de falha da extubação, e a
31%) e incapacidade de manter a permeabilidade incapacidade de pôr a língua para fora em resposta
das vias aéreas (em 62%). Uma segunda tentativa de ao comando indicou uma probabilidade moderada de
extubação foi feita em 10 (23,8%) dos 42 pacientes falha da extubação, sendo uma variável mais específica
nos quais a extubação foi malsucedida, dos quais para a previsão de risco. Após a análise multivariada de
30 (71,43%) foram submetidos a traqueostomia e 2 regressão de Poisson, apenas a pontuação motora < 6
(4,76%) morreram. (risco relativo = 1,57; IC95%: 1,01-2,44; p = 0,045)
Não foram encontradas diferenças significativas entre e a incapacidade de pôr a língua para fora em resposta
os pacientes nos quais a extubação foi bem-sucedida ao comando (risco relativo = 6,84; IC95%: 2,49-18,8;
e aqueles nos quais a extubação foi malsucedida p < 0,001) mantiveram relações significativas com a
quanto a variáveis hemodinâmicas e gasometria falha da extubação.
arterial no momento da extubação. Houve diferenças
significativas entre os dois grupos de pacientes no
DISCUSSÃO
tocante ao tempo de internação na UTI, tempo de
internação hospitalar, desfechos da internação na Em pacientes da UTI submetidos a ventilação mecâ-
UTI e incidência de pneumonia associada à ventilação nica, a avaliação de preditores do desfecho da extubação
mecânica (Tabela 2). é um passo importante no processo de desmame.(3) No
entanto, em pacientes neurológicos em estado crítico,
Como se pode observar na Tabela 3, houve diferenças
os parâmetros de desmame e extubação mais usados
estatisticamente significativas entre os dois grupos de
não são suficientemente precisos para predizer o risco
pacientes no tocante à capacidade de responder aos
de falha da extubação.(6,7,11,17) Diretrizes baseadas em
comandos, avaliada pela pontuação obtida na ECG
e pelo teste de protrusão da língua (p < 0,001). A evidências recomendam que a extubação seja conside-
probabilidade de falha da extubação foi nove vezes rada após a reversão da causa básica da insuficiência
maior nos pacientes que não foram capazes de pôr respiratória.(13) No entanto, em pacientes com lesões
a língua para fora em resposta ao comando do que neurológicas, as sequelas motoras e cognitivas podem
naqueles que foram capazes de fazê-lo (risco relativo afetar consideravelmente sua capacidade de proteger
= 9,5; IC95%: 3,59-25,1; p < 0,001). A resposta as vias aéreas, independentemente de sua capacidade
motora avaliada pela pontuação obtida na ECG também de manter a ventilação espontânea.(18)
apresentou elevado risco relativo, e a probabilidade de Na maioria dos estudos em que foram investigadas
falha da extubação foi três vezes maior nos pacientes populações clínicas ou mistas, foram relatadas médias de
taxas de extubação malsucedida de 15% a 25%. (4,19,20) II, PImáx, PEmáx, e índice de respiração rápida e
A taxa de extubação malsucedida em nosso estudo foi superficial, o qual foi usado para avaliar a f/VT. No
de 31,2%, semelhante às relatadas por Vallverdú et al. entanto, quando a f/VT e as variáveis supracitadas
(35%)(9) e Namen et al. (38%),(21) porém maior que foram incluídas no modelo de regressão logística,
as encontradas em populações com perfil semelhante elas se revelaram imprecisas para predizer o risco
(isto é, de aproximadamente 17%). (6,11,22) As taxas de extubação malsucedida em nossa população de
de extubação malsucedida variam em estudos que pacientes neurológicos.
examinaram o desmame e a extubação em pacientes Nossos achados mostram que, em uma população
neurológicos críticos nos quais a principal causa de de pacientes com doença neurológica aguda, a
insuficiência respiratória foi lesão neurológica e se incapacidade de responder a comandos relaciona-se
considerou a possibilidade de desmame com base significativamente com a probabilidade de falha da
em preditores estabelecidos para a população geral. extubação. Além disso, a incapacidade de pôr a
Essa variabilidade reforça a necessidade de critérios de língua para fora, independentemente de o paciente
avaliação para definir os parâmetros que se relacionam ter sido ou não ter sido capaz de apertar a mão do
com o risco de extubação malsucedida. Em nosso examinador em resposta ao comando (resposta motora
estudo, a extubação malsucedida relacionou-se com dos membros), relacionou-se com um alto risco de
maior tempo de internação na UTI, maior tempo de falha da extubação, sendo um preditor independente
internação hospitalar, maior incidência de pneumonia de extubação malsucedida.
associada à ventilação mecânica e maior taxa de Embora uma pontuação de corte = 8 na ECG tenha
mortalidade, resultados coerentes com os de estudos sido usada para a avaliação de risco, a resposta verbal
anteriores.(1,19,22-25) não pode ser avaliada de maneira confiável quando
No presente estudo, houve diferenças significa- há uma via aérea artificial.(26,27) Nesse sentido, nossos
tivas entre os pacientes nos quais a extubação foi achados dão respaldo à preocupação de que uma
bem-sucedida e aqueles nos quais a extubação foi pontuação de corte ≥ 8 possa não ser um parâmetro
malsucedida no tocante à pontuação obtida no APACHE confiável, já que combinações matemáticas podem
resultar em uma pontuação = 8 mesmo quando o dão respaldo às preocupações sobre a avaliação do
paciente é incapaz de responder a comandos.(4-6) estado mental dos pacientes por meio da ECG, já
Em um estudo de coorte observacional prospectivo que todos os pacientes incluídos no estudo obtiveram
com 122 pacientes, Mokhlesi et al.(28) constataram pontuação ≥ 8 na ECG.(4-6)
que uma pontuação < 10 na ECG foi um preditor de De acordo com Stocchetti et al.,(18) pacientes
extubação malsucedida. Vidotto et al.(7) avaliaram pros- neurológicos comumente apresentam déficits dos
pectivamente 92 pacientes que haviam sido submetidos nervos cranianos e não são capazes de proteger as
a craniotomia eletiva e constataram que a reintubação vias aéreas. Em casos de traumatismo cranioencefálico,
foi necessária em 12% daqueles com pontuação = hemorragia subaracnóidea, hemorragia intracerebral e
10-11 na ECG e em 56% daqueles com pontuação cirurgia da fossa posterior, bem como em muitos outros
= 8-9 na ECG. Essas taxas são muito semelhantes distúrbios neurológicos, a incapacidade de engolir e de
às taxas de extubação malsucedida encontradas no depurar as vias aéreas das secreções tem um impacto
presente estudo para as pontuações de 8-9 e 10-11 considerável na capacidade dos pacientes de respirar
na ECG (isto é, 15,7% e 57,8%, respectivamente). Por sem assistência, e uma simples inspeção da língua,
outro lado, Coplin et al.(22) avaliaram as implicações do tanto em repouso como em protrusão, pode auxiliar na
atraso na extubação em uma coorte de 136 pacientes identificação de casos de perda de reflexos protetores
com lesão cerebral e observaram uma taxa de sucesso das vias aéreas. No entanto, a avaliação da protrusão
de 80% para pacientes com pontuação ≤ 8 na ECG e da língua à beira do leito pode não ser suficiente para
uma taxa de sucesso de 91% (10 de 11 pacientes) para determinar o risco de disfagia ou aspiração, que só
pacientes com pontuação ≤ 4 na ECG, com aumento pode ser avaliado por meio de videofluoroscopia. Não
significativo da incidência de pneumonia, do tempo de obstante, não é possível realizar videofluoroscopia
internação na UTI e do tempo de internação hospitalar em pacientes submetidos a intubação orotraqueal,
em pacientes cuja extubação foi atrasada com base
e os achados do presente estudo mostram que a
na avaliação da função neurológica. Concordamos que
incapacidade de pôr a língua para fora em resposta
a extubação tardia em pacientes capazes de respirar
a um comando relaciona-se com um risco moderado
espontaneamente e proteger as vias aéreas aumenta
de extubação malsucedida.
o risco de infecções e os custos do tratamento. No
entanto, nossos achados mostram que há um aumento Anderson et al.(6) avaliaram variáveis de avaliação
do risco de extubação malsucedida em pacientes que neurológica e os desfechos da extubação em pacientes
não são capazes de executar tarefas motoras simples neurológicos críticos internados em uma unidade
ao receber uma ordem para fazê-lo. especializada e constataram que a presença de tubo
endotraqueal, fita de fixação e edema orolingual
Salam et al.(4) avaliaram a capacidade de 88
pode impedir que os pacientes ponham a língua para
pacientes clínicos que haviam passado em um TRE
fora em resposta ao comando e, portanto, excluíram
de completar quatro tarefas simples (abrir os olhos,
esse parâmetro de sua análise de 378 processos de
seguir com os olhos, apertar a mão, pôr a língua para
desmame e extubação. Na presença de edema — ou se
fora) antes da extubação e constataram que aqueles
a presença do tubo endotraqueal for um grande fator
que não conseguiam completar todas as quatro tarefas
limitante da protrusão da língua — a permeabilidade
foram quatro vezes mais propensos a necessitar de
reintubação do que aqueles que completaram as das vias aéreas e a capacidade de protegê-las podem
quatro tarefas. Frutos-Vivar et al.,(20) em um estudo estar prejudicadas, e esse prejuízo tem um impacto
prospectivo no qual se avaliou o estado mental de 900 nos desfechos da extubação. Em nosso estudo, a
pacientes imediatamente antes da extubação, definido análise de regressão multivariada mostrou que a
subjetivamente (pela capacidade dos pacientes de incapacidade de proteger as vias aéreas relacionou-se
cooperar) como sendo ruim, moderado ou excelente, significativamente com a falha da extubação.
não encontraram diferença estatisticamente significativa De acordo com Anderson et al.,(6) o tipo de comando
entre os pacientes que foram reintubados e aqueles usado é um componente essencial do processo de
que não o foram quanto à cooperação ruim (39% vs. avaliação; abrir os olhos em resposta a um comando
32%). No entanto, como a capacidade de cooperação verbal e seguir o examinador com os olhos podem
dos pacientes foi avaliada subjetivamente, os métodos ser respostas excitatórias a estímulos, e não eventos
não podem ser reproduzidos de maneira confiável. volitivos, ao passo que apertar a mão do examinador
No presente estudo, a capacidade dos pacientes de pode ser um reflexo primitivo, sendo portanto impreciso
responder aos comandos foi determinada com base em para avaliar a capacidade dos pacientes de responder
sua pontuação relativa à resposta motora na ECG (isto a comandos. A capacidade dos pacientes de realizar
é, sua capacidade de apertar a mão do examinador) uma tarefa motora simples (preensão de mão) é
e sua capacidade de protrusão da língua ao receber rotineiramente avaliada na UTI e foi usada em nosso
uma ordem para fazê-lo. Em pacientes cuja pontuação estudo para diferenciar a resposta reflexa da habilidade
motora foi < 6, a taxa de extubação malsucedida foi de responder a comandos, sendo o teste considerado
de 59,6%; naqueles que não foram capazes de pôr a positivo quando os pacientes foram capazes de apertar
língua para fora em resposta ao comando, a taxa de e soltar duas vezes consecutivas a mão do examinador
extubação malsucedida foi de 90.5%. Esses achados em resposta ao comando.
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A B
C D
A posição da ponta do cateter foi subpulmonar em 35 significativa entre o talco e o nitrato de prata quanto a
pacientes (41%), anterior em 23 (27%), posterolateral sua eficácia clínica (82,7% vs. 91,4%; p = 0,247). A
em 17 (20%) e fissural em 10 (12%). Os dois avaliadores mediana da diferença entre os volumes pleurais na TC30
iniciais concordaram em 79 casos (92,9%). Desacordos e na TCi foi de 58 ml (II: −124 a 278 ml) com o talco e
envolveram os grupos subpulmonar e anterior (3 81 ml (II: −402 a 245 ml) com o nitrato de prata (p =
pacientes cada). Todos esses casos foram resolvidos 0,08). Comparamos também os pacientes com DPMR
pelo terceiro investigador, e o consenso foi obtido. confirmado e aqueles com grande suspeita de DPMR
A mediana do volume pleural na TCi foi de 377 ml quanto à eficácia clínica da pleurodese com talco e
[intervalo interquartil (II): 171-722 ml]. Não houve com nitrato de prata. Novamente, não houve diferença
diferenças significativas entre os grupos (p = 0,645). significativa (88,8% e 78,4%, respectivamente; p = 0,22).
Como se pode observar na Figura 2, as medianas dos
DISCUSSÃO
volumes pleurais nos grupos posterolateral, anterior,
fissural e subpulmonar foram de 470 ml (II: 185-644 Os resultados do presente estudo sugerem que a
ml), 340 ml (II: 157-1.048 ml), 296 ml (II: 92-679 ml) posição da ponta do cateter pleural não influencia nem
e 367 ml (II: 177-714 ml), respectivamente. o escoamento do derrame pleural nem o sucesso da
A mediana da diferença entre os volumes pleurais pleurodese, radiológica ou clinicamente, em pacientes
na TC30 e na TCi foi de 33 ml (II: −225 a 257 ml). com DPMR. O volume de líquido pleural medido por
Não houve diferenças significativas entre os grupos meio de TC após a drenagem foi semelhante entre os
(p = 0,923). Como se pode observar na Figura 3, as grupos representativos de todas as diferentes posições
medianas da diferença entre esses volumes nos grupos intrapleurais da ponta do cateter. Da mesma forma,
posterolateral, anterior, fissural e subpulmonar foram não observamos diferenças entre os grupos quanto
de 73 ml (II: −217 a 219 ml), 93 ml (II: −446 a 268 ao acúmulo de derrame 30 dias após a pleurodese.
ml), −15 ml (II: −322,2 a 334,2) e −27 ml (II: −225 Várias abordagens têm sido usadas no tratamento de
a 259 ml), respectivamente. DPMR. A expectativa de vida desses pacientes é baixa;
A pleurodese teve êxito em 73 pacientes (85,8%), portanto, um método menos invasivo, que possa ser
com distribuição semelhante nos grupos posterolateral, realizado em regime ambulatorial, é provavelmente a
anterior, fissural e subpulmonar (88,2%, 78,3%, 90,0% melhor opção.(11) Nesse cenário, a pleurodese à beira
e 88,7%, respectivamente; p = 0,676; Figura 4). do leito com um dreno torácico de pequeno calibre é
uma boa abordagem. O uso da ultrassonografia para
Como mencionado anteriormente, usamos dois agentes
orientação ajuda a diminuir a taxa de complicações
para induzir a pleurodese. Não encontramos diferença
decorrentes da inserção do cateter.(1) A taxa de sucesso
3000 da pleurodese à beira do leito varia de 81% a 96%, e
* complicações maiores ocorrem em 7,5% dos casos.(12-15)
2500 p = 0,645 * No presente estudo, obtivemos resultados semelhantes,
já que a pleurodese teve êxito em 73 pacientes (85,8%) e
2000 complicações maiores ocorreram em 5 pacientes (5,8%).
(ml)
Frequência (%)
80
60
-1000 50
40
30 21,7
-2000 20 11,8 10 11,4
10
* 0
-3000 Posterolateral Anterior Fissural Subpulmonar
Posterolateral Anterior Fissural Subpulmonar Sucesso Fracasso
Figura 3. Diferença entre os volumes pleurais (baseada Figura 4. Sucesso da pleurodese de acordo com a posição
na TC final e inicial). da ponta do cateter.
em posição posterobasal (15 pacientes, 75%), posição à generalização do presente estudo é o fato de que
posterior e superior do espaço pleural (4 pacientes, 20%) mais de 50% dos pacientes tinham câncer de mama.
e espaço pleural que não as duas posições anteriores (1 Além disso, no tocante à expansão pulmonar inicial,
paciente, 5%). Uma eficácia de drenagem de mais de como só incluímos pacientes com DPMR, não podemos
90% na radiografia foi alcançada em 86,7% dos pacientes afirmar que nossos resultados podem ser generalizados
do grupo paravertebral; no entanto, apenas 25% dos a outros tipos de derrame pleural.
pacientes do grupo posterior-superior apresentaram a A principal limitação de nosso estudo é o fato de que
mesma eficácia (p = 0,024). A pleurodese à beira do se trata de uma análise secundária de dados coletados
leito teve êxito em todos esses casos; no entanto, os para um propósito diferente. Além disso, o número de
pacientes que não estavam no grupo paravertebral não casos com fracasso clínico da pleurodese foi pequeno
alcançaram resolução radiográfica completa ao longo de (9 pacientes), o que dificulta uma análise estatística
quatro semanas de acompanhamento. Infelizmente, não poderosa desse desfecho. Observamos também uma
encontramos nenhum outro estudo que examinasse esse distribuição muito ampla de valores de volumes pleurais
novo dispositivo ou a relevância da posição intrapleural medidos na TC, o que reflete a heterogeneidade da
do dreno torácico. população estudada (vários tipos de câncer primário
Com base nos achados de Ishikawa et al.,(16) buscamos em diferentes estágios de tratamento) e critérios de
posicionar a ponta do dreno torácico superiormente inclusão abrangentes. No entanto, a maior força do
e posteriormente. No entanto, como os cateteres de estudo é o método muito preciso que usamos para
pequeno calibre são muito mais flexíveis, é difícil prever medir a expansão pulmonar após a drenagem e estimar
a posição que finalmente assumirão no espaço pleural. o novo acúmulo de líquido pleural. A TC permitiu que
O fato de que o cateter ficou em posição posterolateral medíssemos os volumes pleurais com certeza, o que
em apenas 20% de nossos pacientes não obstante nosso torna nossas conclusões mais contundentes.
esforço para empurrá-lo nessa direção confirma isso. Em suma, o presente estudo demonstrou que,
Provavelmente, após a drenagem do derrame pleural independentemente do posicionamento, guiado por
e a expansão pulmonar, a ponta assume diferentes ultrassonografia, do cateter pleural de pequeno calibre,
posições aleatórias. No entanto, essa discussão agora a drenagem pleural e a pleurodese foram eficientes
parece menos relevante, pois constatamos, no presente em nossa amostra de pacientes. Portanto, a posição
estudo, que a posição da ponta não influenciou os da ponta do cateter pleural parece não ter grande
desfechos clínicos e radiológicos. relevância e não deve impedir a instilação de um agente
Os abrangentes critérios de inclusão e exclusão usados esclerosante ou a pleurodese.
no presente estudo permitiram boa generalização
AGRADECIMENTOS
dos resultados obtidos, os quais podem se aplicar a
pacientes com DPMR tratados em outras instituições Gostaríamos de agradecer ao Programa de Pós-
terciárias. Além disso, o cateter pleural que usamos é Graduação em Cirurgia Torácica e Cardiovascular da
um dos mais populares em todo o mundo. Uma ameaça Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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podem causar nefrotoxicidade e ototoxicidade.(6) avaliações e o significado das mesmas foram explicados
O comprometimento auditivo neurossensorial foi aos pacientes, e apenas os que consentiram tiveram
observado como a forma mais comum de manifestação seus dados incluídos no estudo. Os pacientes foram
de ototoxicidade.(7) Isso é detectado pela monitoração questionados sobre doenças do ouvido — descargas do
dos parâmetros dos limiares auditivos em pacientes em ouvido atuais, anteriores ou recorrentes — sintomas
uso de tuberculostáticos como parte do protocolo de — PA, ruído nos ouvidos (zumbido), ecos e história
manejo da TB-R. O comprometimento auditivo resultante de vertigem — e autoestimativa da audição — boa
da ototoxicidade é detectado pela comparação das ou ruim — para a detecção de comprometimentos
medidas dos limiares auditivos durante o tratamento auditivos e dificuldade de audição. Os dois ouvidos
com a avaliação auditiva inicial obtida do paciente na foram então examinados com o uso de um otoscópio
admissão, antes do começo da terapia (audiometria (HEINE Optotechnik, Herrsching, Alemanha) para a
basal). No entanto, a tuberculose pode afetar os ouvidos detecção de patologias, como membrana timpânica
de outras formas como parte de suas manifestações perfurada, descarga do ouvido, impactação de cera e
extrapulmonares, causando infecções, como otite média presença de corpo estranho. Os pacientes com lesões
tuberculosa, paralisia dos nervos faciais e diversos do ouvido, como impactação de cera, foram tratados
tipos e graus de perda auditiva (PA). (8) Os efeitos antes da realização da avaliação auditiva.
que as micobactérias têm na audição, diferentemente Os critérios de inclusão foram ter ouvidos anato-
dos efeitos dos medicamentos, podem ser avaliados micamente normais ou apresentar anormalidades
subjetivamente a partir da audiometria basal obtida estruturais resultantes da infecção tuberculosa, bem
antes do início do tratamento. como ter realizado audiometria em até duas semanas
O objetivo do presente estudo foi utilizar parâmetros após o início do tratamento (audiometria basal). Os
do audiograma basal para verificar se a TB-R tem dados dos pacientes com sequela de perfuração de
efeitos na audição, descrever as configurações dos membrana timpânica suspeita de estar relacionada com
audiogramas e determinar se há parâmetros clínicos otite média supurativa e não resultante de infecção
que possam ser associados a essas configurações. tuberculosa foram excluídos do estudo.
Acreditamos que isso irá auxiliar na caracterização Cada paciente foi posicionado sentado em uma sala
inicial dos limiares auditivos e irá esclarecer os efeitos silenciosa com nível de ruído ambiente de 27 dB (nível
audiológicos da tuberculose. de pressão sonora), foi instruído sobre como realizar o
teste e foi informado sobre o tipo de respostas esperado.
MÉTODOS Um audiômetro diagnóstico calibrado (Amplivox 240;
Amplivox Ltd., Eynsham, Reino Unido), uma faixa de
Trata-se de um estudo prospectivo envolvendo
cabeça e um estimulador ósseo foram utilizados para
pacientes acompanhados no Centro de Tuberculose
produzir sons de tons puros, variando de 0,25-8,00 kHz
Resistente do Estado de Ogun no Sacred Heart Hospital e de 0,25-4,0 kHz, para a determinação dos limiares de
(Special), localizado em Lantoro, Abeokuta, Nigéria, condução aérea e de condução óssea, respectivamente.
entre novembro de 2014 e outubro de 2015. O centro Os limiares auditivos foram medidos como intensidade
recebe pacientes com TB-R de seu estado de origem sonora em decibéis com base nas respostas consistentes
(Ogun) e de estados vizinhos (Lagos, Oyo, Ondo, Ekiti, do paciente em cada frequência testada. As respostas
Kwara, Kogi, Edo e Delta). foram representadas em forma de gráfico para a
Os pacientes que foram diagnosticados com produção do audiograma para cada ouvido. Os tipos de
TB-R — por meio do GeneXpert MTB/RIF® (Cepheid, audiogramas e a lateralidade também foram registrados.
Sunnyvale, CA, EUA) e cultura de escarro positiva Os tipos de audiogramas foram classificados em normal,
para M. tuberculosis — foram admitidos e tratados no PA condutiva, PA neurossensorial ou PA mista. A PA
centro. Os casos foram manejados por uma equipe neurossensorial foi subclassificada em descendente,
de especialistas, que incluía um pneumologista, um plana ou ascendente, com base na forma dos traçados
otorrinolaringologista, clínicos (treinados no manejo da movendo-se das frequências mais baixas para as mais
tuberculose), um psiquiatra, enfermeiros e um assistente altas nos audiogramas. A lateralidade foi baseada no lado
social. O pneumologista realizou as avaliações iniciais dos do audiograma anormal, e um audiograma discordante
pacientes e confirmou o diagnóstico de TB-R auxiliado representou diferentes tipos de anormalidades nos dois
pelos investigadores. Outros especialistas também ouvidos. Também foi observado o grau de PA no melhor
desempenharam diferentes papéis no manejo dos ouvido em cada paciente. Adotamos a classificação de
casos. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê PA da Organização Mundial da Saúde, utilizando a média
de Ética em Pesquisa do Sacred Heart Hospital, e todos de tons puros, da seguinte forma: 0-25 dB, audição
os pacientes que participaram do estudo assinaram um normal; 26-40 dB, PA leve; 41-60 dB, PA moderada;
termo de consentimento livre e esclarecido. 61-80 dB, PA grave; e ≥ 81 dB, PA profunda.
Como parte do protocolo de manejo da TB-R, o Os parâmetros demográficos, como local habitual de
otorrinolaringologista avaliou a audiometria inicial domicílio, e os parâmetros clínicos, incluindo história
(basal) dos pacientes na admissão ou em até duas de tratamento da tuberculose (cura ou falha) e status
semanas após a admissão e do início do tratamento para retroviral, foram obtidos dos prontuários médicos dos
avaliar os limiares auditivos. O raciocínio por trás dessas pacientes. Esses dados e os dados audiométricos foram
inseridos em uma planilha e analisados com o programa pacientes (33,3%) não negativaram o escarro, enquanto
IBM SPSS Statistics, versão 20.0 (IBM Corporation, após três meses de tratamento de primeira linha, 75
Armonk, NY, EUA). As características descritivas dos pacientes (56,8%) não negativaram o escarro e nem
pacientes foram resumidas em tabelas e apresentadas em apresentaram melhora clínica apesar da boa adesão
números absolutos e proporções (variáveis categóricas) ao tratamento, conforme mostrado na Tabela 1.
ou em médias e desvios padrão (variáveis contínuas). A Tabela 2 apresenta as características audiométricas
As variáveis (idade, gênero, status retroviral, falha de dos pacientes, mostrando que < 10% dos pacientes
tratamento anterior e peso corporal) foram comparadas apresentaram audiogramas normais. Identificou-se
com as configurações audiométricas dos pacientes. PA neurossensorial em 104 pacientes (78,8%), entre
O teste do qui-quadrado foi utilizado para detectar os quais as configurações mais comuns foram do tipo
diferenças significativas entre as variáveis (p < 0,05). ascendente (em 40,9%) e descendente (em 19,7%).
As médias de tons puros (média aritmética dos limiares
RESULTADOS de condução aérea) em frequências baixas (0,25-1,0
kHz) e altas (2,0-8,0 kHz) foram de 33,0 dB e 40,0
Durante um período de um ano, 142 pacientes
dB, respectivamente.
foram acompanhados. No entanto, 10 pacientes foram
excluídos do estudo (5 não conseguiram realizar a A análise do grau de PA nos pacientes revelou que
audiometria basal por estarem demasiadamente fracos 27,3% apresentavam audição normal no melhor
para suportar o estresse da avaliação audiométrica; ouvido, metade (50, 8%) apresentava PA moderada
2 apresentaram respostas inconsistentes e não con- (26-40 dB) e os demais apresentavam graus mais
fiáveis durante a audiometria; e 3 foram submetidos elevados de PA.
à audiometria após duas semanas de tratamento). Na Tabela 3, foram explorados os fatores que poderiam
Portanto, a amostra foi composta por 132 pacientes. A estar associados às configurações audiométricas
média de idade dos pacientes foi de 34,5 ± 12,6 anos ascendente e descendente. Entre todos os fatores
(variação, 8-82 anos). A razão homem:mulher foi de estudados, apenas o gênero masculino foi associado
2:1. Dos 132 pacientes, 103 (78,0%) não residiam no a ambas as configurações audiométricas, enquanto
estado de Ogun e 18 (13,6%) apresentavam status idade, status retroviral positivo, falha de tratamento
retroviral positivo. O status auditivo autorrelatado foi anterior e peso corporal < 50,0 kg na admissão não
o seguinte: 111 pacientes (84,1%) descreveram sua foram associados às configurações audiométricas.
audição como boa; 13 (9,8%) ficaram indecisos, e 8
(6,1%) a descreveram como ruim. Falha de tratamento
DISCUSSÃO
anterior de tuberculose (com diferentes combinações de
drogas, incluindo rifampicina, isoniazida, pirazinamida O presente estudo revelou que apenas 12 (9,1%)
e etambutol) foi relatada por 125 pacientes (94,7%). dos nossos pacientes com TB-R apresentavam audição
Após dois meses de tratamento de primeira linha, 44 normal em ambos os ouvidos, 36 (27,3%) apresentavam
audição normal em um ouvido, e a maioria apresentava altos,(10,11) e isso pode ter relação com os limiares
comprometimento auditivo em ambos os ouvidos. auditivos médios nessa população.
O principal tipo de comprometimento auditivo foi a A grande maioria (94,7%) dos nossos pacientes tinha
PA neurossensorial — especialmente apresentando história de falha de tratamento medicamentoso. Os
configurações audiométricas ascendentes ou descen- esquemas de tratamento utilizados anteriormente, que
dentes, de magnitude leve — que foi associada ao variaram em conteúdo e tempo de uso, incluíram os
gênero masculino. Assim, as prevalências de limiares tuberculostáticos padrão de primeira linha utilizados
auditivos aumentados, isto é, audição reduzida em na Nigéria (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e
nível basal em um ouvido e em ambos os ouvidos, etambutol). Esses medicamentos foram utilizados em
um esquema de seis meses, compreendendo uma fase
foram, respectivamente, de 90,9% e 72,7%. Essas
intensiva de dois meses e uma fase de continuação
prevalências certamente são muito altas, levantando
de quatro meses. A possibilidade de que problemas
a suspeita de um efeito direto das micobactérias nos
auditivos anteriores poderiam ser agravados pelo uso
ouvidos de pacientes com TB-R. No entanto, isso deve
de aminoglicosídeos é uma questão a ser explorada.
ser interpretado com certa cautela, uma vez que esses Pesquisadores haviam relatado uma incidência de
resultados podem ser um reflexo da tendência geral ototoxicidade de até 1.7% entre pacientes com
de audição nessa comunidade, especialmente porque tuberculose em uso de terapia combinada padrão com
não houve controles para comparação. Além do mais, tuberculostáticos.(12) Portanto, os limiares auditivos
os níveis de poluição sonora nessa comunidade são aumentados encontrados no presente estudo podem
estar parcialmente relacionados com os efeitos pois os sintomas são sutis, e, portanto, os audiologistas
ototóxicos de um tratamento anterior com rifampicina frequentemente o descrevem como assintomático. Os
ou isoniazida. sons de baixa frequência são mais intensos e supos-
A prevalência de ototoxicidade entre pacientes tamente carregam menos informação do que os sons
com TB-R em tratamento na Europa e na Ásia foi de alta frequência.(17) Uma pessoa com grau moderado
de 28,0%(13) e 70,1%,(14) respectivamente. Vale de PABF pode não exibir nenhum sinal externo de PA,
observar que esses números citados não são valores como não ouvir sons da fala ou ter padrões anormais
audiométricos basais, e a ototoxicidade se baseia em de produção da fala. Assim, esses pacientes mantém
critérios rigorosos, incluindo alterações audiométricas uma inteligibilidade relativamente intacta. Além do
permanentes nos limiares auditivos, em frequências mais, as informações de baixa frequência podem ser
específicas. Pode ser suficiente afirmar que o nível de carregadas por fibras de alta frequência através da
audição da maioria dos pacientes com TB-R em nossa codificação temporal, limitando as pistas sugestivas de
coorte era subótimo. No entanto, uma preocupação PABF a sintomas sutis, como dificuldades de audição
mais séria em relação a essas altas prevalências de em contexto grupal ou em local barulhento. Causas
audição subótima são os efeitos e repercussões em e fatores associados significativos para PABF incluem
longo prazo que elas poderiam ter na audição de uma mutação do gene 1 da síndrome de Wolfram
pacientes que ainda vão estar em tratamento com (uma doença autossômica recessiva denominada
aminoglicosídeos durante meses. Há uma tendência síndrome de Wolfram 1),(18) displasia de Mondini,(19)
de agravamento da PA, com consequentes aumentos PA súbita,(20) doença de Ménière e infecções virais. (21)
da proporção de pacientes com comprometimento Pode ser precipitado supor que as micobactérias afetam
auditivo. É conveniente considerar outras medicações as células ciliadas da mesma forma que as infecções
além de aminoglicosídeos no tratamento da tuberculose, virais, e, portanto, esse fenômeno necessita de maior
e pesquisas a esse respeito estão em andamento. esclarecimento.
A maioria dos audiologistas define audiograma “basal” A configuração audiométrica descendente, que
como aquele obtido em até duas semanas após o início representa a PA em altas frequências (PAAF), tem
do tratamento.(15) Isso é baseado na suposição de que sido associada ao comprometimento auditivo induzido
alterações significativas nos limiares não teriam ocorrido por ruído e à PA relacionada à idade (presbiacusia).
em até duas semanas, mesmo se os pacientes tivessem Embora alguns dos pacientes de nossa amostra
iniciado a terapia. Além disso, a realização desse teste fossem idosos (≥ 60 anos de idade), nem todos os
imediatamente após a admissão pode não ser possível pacientes dessa faixa etária apresentavam PAAF. No
por motivos de logística, e é melhor não atrasar o início entanto, as alterações auditivas relacionadas à idade
da terapia em nosso cenário local. Apesar da exclusão tendem a começar a se manifestar por volta da quinta
dos dados dos pacientes com doenças do ouvido médio década de vida em nigerianos.(22) O avançar da idade
evidentes, como descarga do ouvido recorrente e e o alto nível de ruído em nossa comunidade podem
membranas timpânicas perfuradas em decorrência de ter causado PAAF em alguns dos pacientes de nossa
infecções supurativas no ouvido, 4,5% dos pacientes amostra. A maior parte dos pacientes apresentou
apresentaram evidências audiométricas de PA condutiva. o mesmo padrão em ambos os ouvidos, sugerindo
É possível que isso se deva a deficiência subclínica do patologias semelhantes. Embora a tuberculose afete
mecanismo de condução do ouvido médio. O tipo mais principalmente o parênquima pulmonar, seus efeitos
comum de padrão audiométrico encontrado em nossa em outros órgãos do corpo geralmente são sistêmicos.
amostra foi a PA neurossensorial, o que denotou o Os efeitos sistêmicos poderiam ser devidos à citopatia
comprometimento das células ciliadas ou dos nervos imunomediada ou à citopatia relacionada à vasculite,(16)
cocleares. Há relatos de que a tuberculose afeta os e não à invasão direta de micobactérias nos ouvidos.
nervos periféricos, causando neuropatias, especialmente A maioria dos audiologistas está familiarizada com
durante os estágios tardios da infecção, embora a a classificação do grau de PA segundo a Organização
patogênese desse aspecto da doença permaneça Mundial da Saúde.(9) No presente estudo, a maioria
controverso.(16) No entanto, diversos relatos sobre dos pacientes apresentava grau leve de PA, que pode
o comprometimento diferencial das células ciliadas não ser perceptível no início. A exposição continua aos
cocleares se relacionam com patologias causadas por mesmos estímulos leva à progressão e piora da condição
ototoxicidade induzida por medicamentos, bem como clínica dos pacientes, enquanto a administração de
com PA relacionada à idade e PA induzida por ruído. aminoglicosídeos injetáveis levará ao agravamento
Ao se considerar audiogramas, três configurações dos sintomas. Começando como uma alteração
de PA neurossensorial são descritas, a saber, configu- inicial temporária dos limiares, a ototoxicidade acaba
rações ascendente, plana e descendente. Em nosso levando a uma alteração permanente dos limiares,
estudo, a configuração mais comum foi a configuração que é irreversível. Sugere-se, assim, que pacientes
ascendente, com PA em baixas frequências (PABF), com qualquer forma de PA não devem tomar os
também chamada de audiograma em “U” invertido. A aminoglicosídeos altamente ototóxicos desde o início,
PABF denota comprometimento de células ciliadas na ou, alternativamente, esses pacientes devem passar por
volta apical da cóclea. Esse tipo de PA não é facilmente monitoração audiométrica com maior frequência para
identificado por meio de sintomas em um cenário clínico, que se detectem alterações dos limiares rapidamente
e se façam os adequados ajustes antes que haja ou anti-inflamatórios não esteroidais, que ocorrem
alteração permanente dos limiares. No entanto, a mais comumente em homens.(27)
praticabilidade dessas sugestões em ambientes com Nenhum dos outros fatores estudados se mostrou
poucos recursos é duvidosa. Mesmo assim, o presente associado às configurações ascendente ou descendente.
estudo reforça a necessidade de medições audiométricas Teoricamente, seria de se esperar que pacientes mais
iniciais dos limiares auditivos. Defendemos medições velhos, aqueles com história de falha de esquema
audiométricas seriadas para todos os pacientes em medicamentoso, aqueles com menor peso corporal
terapia para qualquer forma de infecção tuberculosa. na admissão e aqueles coinfectados pelo HIV apre-
Enquanto o processo judicial contra o prestador de sentassem piores limiares auditivos. Relatou-se, no
assistência médica pode não ser particularmente comum entanto, que os riscos absolutos e os fatores de risco
no momento, a possibilidade não pode ser descartada. para eventos adversos (possivelmente incluindo PA)
Existem alguns pacientes com PA que necessitarão de foram semelhantes entre pacientes infectados e não
amplificação sonora, aparelhos de auxílio auditivo ou infectados pelo HIV tratados para TB-R em uma
reabilitação auditiva. Esses pacientes devem iniciar coorte de 57 pacientes na Namíbia.(28) Foi relatado que
tratamento com um medicamento como a capreo- déficits auditivos em indivíduos infectados pelo HIV
micina, que parece apresentar menor toxicidade(13) poderiam ser uma alteração auditiva central (e não
do que outros aminoglicosídeos, como a canamicina. periférica) que o audiograma de tons puros detecta. (29)
No entanto, esses pacientes precisam ser educados De forma semelhante, pacientes infectados pelo HIV
sobre seus problemas auditivos, a preexistência de e virgens de tratamento antirretroviral não são mais
PA antes do início da terapia deve ser enfatizada, susceptíveis a apresentar aumento de reações adversas
e as ações necessárias precisarão ser tomadas. A graves aos medicamentos quando em uso de esquema
assistência prontamente disponível que prestamos a antituberculose de segunda linha.(30) Isso reforça
esses pacientes incluiu aparelhos auditivos gratuitos. a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto,
A descoberta de fatores associados a uma doença especialmente quanto à ligação que resulta da TB-R
pode auxiliar o clínico no manejo da doença. Entre e da infecção pelo HIV.
os fatores que foram explorados sobre as duas Os fatores associados ao comprometimento auditivo
configurações audiométricas mais comuns no presente e às configurações audiométricas em pacientes com
estudo, apenas o sexo masculino se mostrou associado TB-R podem ser mais bem esclarecidos por meio de
tanto à configuração audiométrica ascendente quanto estudos controlados e aleatorizados. Esses estudos
à descendente. Embora isso possa sinalizar alguma devem realizar análises comparativas entre indivíduos
influência hormonal, é possível que essa seja um normais, pacientes com tuberculose e aqueles com
supersimplificação da situação. Alguns estudos TB-R. A falta desse tipo de análise continua sendo a
observaram limiares auditivos comparativamente principal limitação do presente estudo. Vale também
aumentados nos homens (em comparação com as observar que a avaliação do índice de massa corporal
mulheres), especialmente naqueles entre 20 e 69 anos dos pacientes na admissão teria representado melhor
de idade.(23-25) Park et al. relataram que os limiares o estado nutricional do que o peso corporal.(31) Além
auditivos nas frequências de 3 kHz, 4 kHz e 6 kHz disso, a avaliação audiométrica basal deve idealmente
apresentaram diferença estatisticamente significativa ser realizada antes do começo da terapia. Mesmo
entre os dois gêneros para pessoas com mais de 30 considerando essas limitações, o presente estudo
anos de idade, sendo que a frequência de 4 kHz foi sugere que, na apresentação, a maioria dos pacientes
responsável pela maior diferença significativa nessa com TB-R na Nigéria apresentava PA neurossensorial
amostra da população da Coreia do Sul.(26) Os fatores leve bilateralmente e configurações audiométricas
que foram atribuídos a isso incluem exposição a ruído ascendentes ou descendentes, sendo o gênero masculino
ocupacional e de lazer, bem como o uso de analgésicos o único fator associado a essas configurações.
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Tabela 1. Concordância com as medidas MPOWERa em estudantes de medicina fumantes e não fumantes.b
Medida Grupoc p* Total
Fumante Não fumante
n/N (%) n/N (%) n/N (%)
Monitoring (Monitorar): registro em prontuário médico 28/28 (100,00) 499/507 (98,42) NS 527/535 (98,50)
Protecting (Proteger): proibição do tabagismo em todos os 27/27 (100,00) 477/502 (95,02) NS 504/529 (95,27)
locais públicos fechados
Offering (Oferecer): receberam treinamento a respeito 9/28 (32,14) 111/505 (21,98) NS 120/533 (22,51)
de cessação do tabagismo
Warning (Alertar): foram instruídos sobre os riscos à saúde 27/28 (96,43) 493/507 (97,24) NS 520/535 (97,20)
relacionados com o tabagismo
Enforcing (Fazer cumprir): proibição total de propaganda, 22/28 (78,57) 411/500 (82,20) NS 433/528 (82,01)
promoção e patrocínio
Raising (Aumentar): aumentar os impostos é uma medida 11/28 (39,29) 169/506 (33,40) NS 180/534 (33,71)
eficaz para reduzir a prevalência do tabagismo
NS: não significante. aOrganização Mundial da Saúde.(3) bAlguns denominadores variam em virtude de dados
incompletos. cFumantes/não fumantes de cigarros. *Teste do qui-quadrado.
90% dos participantes concordaram que os médicos significativas entre homens e mulheres no tocante às
deveriam rotineiramente aconselhar seus pacientes a atitudes e ao conhecimento a respeito do tabagismo.
parar de fumar e de usar outros produtos do tabaco, A prevalência de tabagismo atual foi baixa (5,23%); no
além de acreditarem que a atitude de dar esse tipo entanto, a prevalência de experimentação de charutos,
de conselho aumenta as chances de parar de fumar. cachimbos, cigarrilhas e outros produtos do tabaco
Os alunos não fumantes relataram que acreditam (21,23%) e a prevalência de experimentação de narguilé
que os profissionais de saúde que fumam são menos (43,82%) foram maiores (Tabela 3). Essas prevalências
propensos a aconselhar seus pacientes a parar de foram significativamente maiores nos homens.
fumar (p < 0,05). Metade dos fumantes e menos da
A Tabela 4 mostra que menos de 20% dos participantes
metade dos não fumantes relataram ter discutido os
foram passivamente expostos à fumaça do tabaco
motivos pelos quais alguém começa a fumar. Menos
em seus domicílios. Embora a diferença não tenha
de 40% dos participantes relataram que lhes fora
sido significativa, a análise revelou que os homens
ensinada a importância de oferecer a seus pacientes
foram menos expostos ao tabagismo passivo que as
material educacional sobre a cessação do tabagismo.
mulheres: nenhum dia de exposição passiva à fumaça
No tocante às questões relacionadas com o tratamento, do tabaco (79,83% vs. 82,97%) e cinco ou mais dias
tanto os fumantes como os não fumantes mostraram de exposição passiva (9,44% vs. 7,57%).
maior conhecimento das terapias de substituição da
nicotina que de outros tipos de terapias de cessação
do tabagismo. Apenas um terço dos participantes DISCUSSÃO
relatou que acredita na importância de incentivar Futuros médicos devem ser capacitados para assumir
os fumantes, durante as consultas médicas, a parar seu papel no controle do tabaco. Para que isso aconteça,
de fumar. Não houve diferenças estatisticamente eles precisam aprender as seis mais eficazes medidas
Tabela 2. Atitudes, conhecimento e crenças a respeito do tabagismo em estudantes de medicina fumantes e não fumantes.a
Questões relativas ao tabagismo no currículo de Grupob p* Total
medicina Fumante Não fumante
n/N (%) n/N (%) n/N (%)
1. As vendas a menores de idade deveriam ser proibidas? 26/28 (92,86) 479/502 (95,42) NS 505/530 (95,28)
2. Os profissionais de saúde deveriam receber 26/28 (92,86) 482/503 (95,83) NS 508/531 (95,67)
treinamento específico a respeito de técnicas de cessação
do tabagismo?
3. Os profissionais de saúde servem de modelo de 22/28 (78,57) 423/500 (84,60) NS 445/528 (84,28)
comportamento para seus pacientes e o público?
4. Os profissionais de saúde deveriam rotineiramente 28/28 (100,00) 481/503 (95,63) NS 509/531 (95,86)
aconselhar seus pacientes fumantes a parar de fumar?
5. Os profissionais de saúde deveriam aconselhar 28/28 (100,00) 471/503 (93,64) NS 499/531 (93,97)
rotineiramente seus pacientes que usam outros produtos do
tabaco que não os cigarros a parar de usar esses produtos?
6. Os profissionais de saúde deveriam dar aos pacientes 28/28 (100,00) 501/503 (99,60) NS 529/531 (99,62)
informações sobre a cessação do tabagismo?
7. As possibilidades de cessação do tabagismo aumentam 26/28 (92,86) 454/495 (91,72) NS 480/523 (91,78)
se um profissional de saúde fornece aconselhamento?
8. Os profissionais de saúde fumantes tendem a 12/27 (44,44) 321/502 (63,94) < 333/529 (62,95)
aconselhar menos frequentemente seus pacientes quanto 0,05
à cessação do tabagismo?
9. Você discutiu sobre os motivos pelos quais as pessoas 14/28 (50) 248/507 (48,92) NS 262/535 (48,97)
fumam durante suas aulas de medicina?
10. Durante suas aulas de medicina, você foi ensinado 9/28 (32,14) 190/505 (37,62) NS 199/533 (37,34)
sobre a importância de fornecer materiais educacionais
para estimular a cessação do tabagismo?
11. Ouviu falar sobre o tratamento para cessação do 26/28 (92,86) 473/507 (93,29) NS 499/535 (93,27)
tabagismo com reposição de nicotina (adesivos e goma de
mascar)?
12. Ouviu falar sobre o tratamento para cessação do 17/28 (60,71) 266/505 (52,67) NS 283/533 (53,10)
tabagismo com bupropiona ou nortriptilina?
13. Você acredita que, durante as consultas médicas, 9/28 (32,14) 159/507 (31,36) NS 168/535 (31,40)
encorajar os fumantes a pensar sobre tentar parar
de fumar seja um método eficaz para a cessação do
tabagismo?
NS: não significante. aAlguns denominadores variam em virtude de dados incompletos. bFumantes/não fumantes
de cigarros. *Teste do qui-quadrado.
Tabela 4. Prevalência de exposição passiva à fumaça do tabaco em casa nos últimos sete dias em estudantes de
medicina fumantes e não fumantes.a
Exposição passiva ao fumo, dias Grupob p* Total
Fumante Não fumante
n/N (%) n/N (%) n/N (%)
0 20/28 (71,43) 413/502 (82,27) NS 433/530 (81,70)
1-2 1/28 (3,57) 11/502 (2,19) NS 12/530 (2,26)
3-4 2/28 (7,14) 39/502 (7,77) NS 41/530 (7,74)
≥5 5/28 (17,86) 39/502 (7,77) NS 44/530 (8,30)
NS: não significante. aAlguns denominadores variam em virtude de dados incompletos. bFumantes/não fumantes
de cigarros. *Teste do qui-quadrado.
de políticas públicas para controlar a epidemia do de cessação do tabagismo. Nosso resultado ruim foi
tabaco e receber treinamento a respeito de cessação semelhante ao de um estudo realizado na Itália.(11)
do tabagismo durante o curso de medicina. Talvez esses achados possam ser explicados pelo fato
O presente estudo revelou um alto grau de de que os participantes ainda estavam no início de seu
concordância com a maioria das medidas MPOWER. curso de medicina e, portanto, ainda não haviam sido
No terceiro ano da faculdade de medicina, os alunos instruídos sobre o tratamento para parar de fumar.
já haviam sido devidamente informados sobre a No tocante à importância de aumentar os impostos
importância de monitorar o tabagismo dos pacientes e do tabaco, os resultados mostraram que poucos
registrá-lo no prontuário médico a fim de investigar e estudantes de medicina concordam com essa importante
medir a prevalência do tabagismo na população; houve recomendação, o que mostra que seu conhecimento
um desfecho semelhante em um estudo realizado na do tema é pequeno. Aumentar os impostos e os
Universidade de Malta.(6) preços dos produtos do tabaco é uma das medidas
mais eficazes para reduzir o início do tabagismo entre
Os estudantes que compuseram nossa amostra
os jovens, além de ser significativamente eficaz em
estavam mais cientes da importância de proteger
reduzir o consumo.(4) O Sistema Brasileiro de Vigilância
as pessoas do tabagismo passivo (95,2%) do que
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
estudantes de medicina na Alemanha (80%), Polônia
por Inquérito Telefônico realizou duas pesquisas (em
(74,5%) e Espanha (73,9%).(7) Além disso, mostraram
2006 e 2013) com fumantes de 18 anos de idade
ter conhecimento suficiente dos danos causados pelo
ou mais, as quais mostraram que a prevalência do
tabagismo; relataram que, na faculdade de medicina,
tabagismo diminuiu de 15,72% para 11,30%.(12) De
foram instruídos sobre os riscos à saúde relacionados
acordo com o Projeto Internacional de Avaliação da
com o tabagismo. É possível que esse conhecimento
Política de Controle do Tabaco/Brasil, os impostos
advenha também das políticas de saúde pública; desde
aumentaram os preços dos produtos do tabaco em
1988, todas as embalagens de produtos do tabaco
30% em 2007 e os impostos sobre os preços de varejo
no Brasil trazem advertências de saúde. Em 2001,
aumentaram para 65% em 2009. Isso pode ter tido um
iniciou-se o primeiro ciclo de imagens de advertência
impacto na diminuição da prevalência do tabagismo. (8)
cobrindo 100% de um lado dos maços de cigarros e
Os jovens são duas ou três vezes mais afetados por
também em pontos de venda. Estamos atualmente no
aumentos de impostos e preços que os fumantes mais
terceiro ciclo de imagens de advertência.(8-10) velhos. (13) Essas medidas reduzem suas chances de
A aplicação da proibição total da promoção e patrocínio passar da experimentação do tabaco à dependência.
de produtos do tabaco foi consensual. Essa geração Os estudantes de medicina são os profissionais de
não foi vítima da publicidade da indústria do tabaco, saúde do futuro e precisam saber que essa é a medida
pois o patrocínio de qualquer propaganda do tabaco, de saúde pública mais importante para o controle do
exceto nos pontos de venda, está proibido no Brasil tabaco. (4,10) Esse tema deve ser ensinado nas faculdades
desde 2000.(8-10) Por outro lado, nossa amostra de de medicina, e mais discussões sobre o tema devem
estudantes mostrou saber pouco sobre alguns dos ser incentivadas a fim de reforçar a compreensão dos
tópicos relacionados com o treinamento a respeito futuros médicos a respeito do impacto positivo dessas
medidas. Podemos observar no presente estudo e resultados foram muito mais significativos que os do
em outro realizado em quatro países europeus(7) que estudo europeu.(7)
há uma tendência à conscientização e aprovação da No presente estudo, a prevalência do tabagismo entre
proibição da venda de tabaco para menores. Nossa os participantes foi menor em comparação com os
pesquisa levantou outro ponto interessante, pois quase resultados de um estudo realizado na Índia (5,23% vs.
todos os participantes reconheceram que a formação 13,4%)(14); além disso, em nosso estudo, a proporção
específica em técnicas de cessação do tabagismo é de estudantes de medicina que experimentaram outros
relevante para sua educação. O mesmo resultado foi produtos do tabaco que não os cigarros foi quase metade
obtido em um estudo realizado na Índia.(14) da relatada naquele estudo (21,23% vs. 40,5%). No
Os resultados mostraram uma tendência quando os entanto, a frequência de experimentação de narguilé
estudantes de medicina reconheceram que servem de foi significativamente maior entre nossos estudantes
modelo de comportamento para a população geral. de medicina (43,82%) do que entre estudantes de
Os participantes relataram que deveriam oferecer medicina na Turquia e no Líbano (28,6% e 29,5%,
rotineiramente a seus pacientes que fumam cigarros respectivamente).(18)
e usam outros produtos do tabaco conselhos ou Embora a grande maioria de nossos estudantes
informações sobre parar de fumar e que as possibilidades de medicina tenha reconhecido a importância do
de cessação do tabagismo aumentam com a intervenção aconselhamento sobre cessação do tabagismo (e do
motivacional. Portanto, para melhorar a eficácia dos uso de qualquer produto do tabaco), mais de 40%
alunos de medicina como modelos de comportamento, já haviam fumado narguilé com tabaco. Entre os
as faculdades de medicina precisam ter um currículo jovens, há uma crença comum de que o narguilé é
de graduação abrangente que ensine a prevenção menos prejudicial à saúde que os cigarros tradicionais.
e cessação do tabagismo. Esses resultados foram Campanhas educativas e de advertência sobre os danos
também obtidos em outros estudos.(7,14,15) causados pelo uso e experimentação desses tipos de
Os médicos dedicam suas vidas a cuidar do maior produtos são urgentes.
patrimônio humano; por isso, infelizmente têm pouco Em 2009, o estado de São Paulo promulgou a Lei
tempo para cuidar de sua própria saúde. Os achados Antifumo, criando ambientes sem fumaça e proibindo
mostraram significância estatística no tocante à opinião o uso de qualquer produto fumígeno, derivado ou não
dos participantes a respeito da importância do hábito do tabaco, em todos os locais fechados públicos e
de fumar dos profissionais de saúde. Em comparação privados. Nosso estudo foi realizado entre 2008 e 2012,
com os fumantes, os estudantes que não fumavam isto é, a maior parte da pesquisa foi realizada após a
relataram mais frequentemente que profissionais de lei ter entrado em vigor no estado, onde se localiza
saúde que fumam têm menos chances de aconselhar nossa faculdade de medicina. Durante esse período,
seus pacientes fumantes a parar de fumar. Como a várias campanhas educacionais foram realizadas para
nicotina é uma substância que causa dependência, é alertar a população sobre os danos causados pela
importante ressaltar que as faculdades de medicina exposição passiva à fumaça do tabaco. É possível que
desempenham um papel ético ao oferecer a seus isso tenha tido um efeito positivo nos resultados do
alunos motivados tratamento para que deixem de presente estudo.(9,19)
fumar.(12,16,17)
A principal limitação do presente estudo foi que ele
Menos da metade dos participantes disseram que, envolveu alunos do terceiro ano de medicina, que
durante as aulas, discutiram os motivos pelos quais as talvez não tenham recebido todas as informações e
pessoas fumam; isso corrobora os achados de outro treinamento a respeito de programas de cessação
estudo, o qual apresentou resultados ligeiramente do tabagismo. Espera-se que esses tópicos sejam
superiores aos nossos.(6) Enfatizamos que instruir os cobertos até o fim dos cursos de graduação em
alunos sobre os desencadeadores do uso do tabaco é medicina. Estudos nos quais se comparem o currículo
essencial para uma abordagem correta e abrangente do terceiro ano de medicina com o do último ano ainda
do tabagismo. não foram realizados.
Apenas um pouco mais de um terço dos participantes As políticas públicas de controle do tabaco exigem que
relatou que lhes fora ensinado que material educacional os futuros médicos estejam preparados para assumir
constitui um apoio eficaz para a cessação do tabagismo. seu papel-chave na prevenção do início do tabagismo e
Isso mostra que essa questão não foi abordada tão na promoção da cessação do tabagismo. Os resultados
eficazmente como o foi na Universidade de Malta.(6) do presente estudo são encorajadores; entretanto,
As questões a respeito do tratamento farmacológico precisamos deixar claro para nossos alunos o quão
para ajudar na cessação do tabagismo revelaram que importante é aumentar os preços e impostos dos produtos
a maioria dos participantes conhecia bem as terapias do tabaco. Precisamos também conscientizar os alunos
de reposição da nicotina, resultado semelhante aos dos perigos de experimentar outros produtos do tabaco
obtidos na Alemanha e inferior aos obtidos na Espanha. (7) que não os cigarros, particularmente o narguilé. Outro
Além disso, mais da metade dos participantes de nossa ponto que merece mais atenção e deveria ser abordado
pesquisa já tinha ouvido falar a respeito de terapias mesmo no terceiro ano de medicina diz respeito aos
não nicotínicas para a cessação do tabagismo; nossos motivos pelos quais as pessoas fumam e a importância
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TC_en.pdf Estado de São Paulo. (7 May, 2009).
Os animais foram divididos em quatro grupos: grupo áreas contendo cartilagem hialina, lâmina própria
controle (GC), com 4 animais, que ficou sob condições e epitélio ciliado. No parênquima pulmonar, foram
padrão de laboratório por 24 h, e três grupos exposição, avaliados bronquíolos, alvéolos e vasos sanguíneos.
com 8 animais cada, correspondendo aos grupos de A quantificação da área de massa nuclear, em pixels,
animais que foram submetidos à inalação de fumaça para a avaliação do processo inflamatório foi realizada
da queima da palha da cana-de-açúcar por períodos utilizando-se o programa Adobe Photoshop CS5 (Adobe
consecutivos de 1, 7 e 21 dias, respectivamente, Systems Inc.; San Jose, CA, EUA). Os depósitos de
denominados GE1, GE7 e GE21. Para esse fim, colágeno foram quantificados pela tonalidade vermelha
confeccionou-se uma câmara de combustão com um atribuída à coloração picrosírius, que corresponde à
dispositivo portátil com exaustor de ar, onde foram presença de colágeno do tipo I. A angiogênese foi
queimadas 200 g de palha da cana-de-açúcar, gerando analisada por técnica de contagem do número de vasos
um fluxo contínuo de fumaça que foi canalizada através por quadrante em uma fotomicrografia panorâmica
de uma tubulação para as gaiolas dos ratos dos grupos pelo programa BioEstat 5.3.
experimentais por um período de 2 h, diariamente e Uma análise estatística foi realizada pelo teste de
no mesmo horário (Figura 1). normalidade de Shapiro-Wilk. Após a confirmação da
Os animais foram eutanasiados com a administração normalidade, utilizou-se ANOVA com teste post hoc
i.p de ketamina/xilazina 5% diluídas em 2 ml de de Tukey. Nos demais casos, utilizaram-se o teste de
solução salina fisiológica. Após esse procedimento, Kruskal-Wallis e o teste post hoc de Dunn. Os resultados
a traqueia foi exposta e canulada e procederam-se foram expressos como médias e desvios-padrão dos
uma laparotomia para o afastamento dos órgãos e grupos e em disposições gráficas do tipo box plot. O
a secção da artéria aorta abdominal e da veia cava nível de significância adotado foi de 5%.
inferior. A traqueia foi então ocluída por fio de sutura, O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
a fim de se manter os pulmões em capacidade residual no Uso de Animais de Laboratório da Faculdade
funcional. Realizou-se uma toracotomia transesternal, Adventista da Bahia, sob o no. 013/2014.
por meio do diafragma, para a retirada das traqueias e
dos pulmões. Os órgãos coletados foram lavados com
RESULTADOS
solução salina fisiológica para o exame macroscópico
e fixados em formol tamponado a 10%. A análise macroscópica da traqueia não revelou
alterações na coloração e na integridade tecidual em
Fragmentos teciduais obtidos do material foram
nenhum dos grupos. Os pulmões dos ratos submetidos
processados de forma convencional e incluídos em
à fumaça de GE7 e GE21 apresentaram alterações
parafina para a confecção de lâminas em secções
macroscópicas focais e difusas nos diferentes lóbulos,
de 5 μm. Os cortes foram corados pelas técnicas de
relacionadas à coloração e à textura tecidual.
H&E e picrosírius para a análise em um microscópio
de luz (BX51; Olympus Optical, Tóquio, Japão) com As avaliações histológicas de cada grupo revelaram
aumento 100×. Para a obtenção de fotomicrografias, o seguinte:
utilizou-se uma câmera digital (C-7070; Olympus. No GC, não foram reveladas a presença de infiltrados
Com o intuito de se realizar uma análise microscópica inflamatórios ou alterações estruturais teciduais nas
semiquantitativa, adotaram-se critérios representativos traqueias dos animais (Figura 2). O parênquima
para as alterações histológicas encontradas: leve, pulmonar não apresentou alterações alveolares, septais
moderada e intensa. e bronquiolares, estando compatível com o padrão de
Para a análise morfométrica foram obtidas três normalidade (Figura 3).
fotomicrografias de campos não coincidentes dos tecidos No GE1, ocorreu um infiltrado inflamatório de
estudados. Nos cortes de traqueia, selecionaram-se leve intensidade na traqueia em 87,5% dos casos.
A B
C D
E F
Figura 2. Fotomicrografias de secções de traqueia de animais dos diferentes grupos estudados (H&E e picrosírius;
aumento, 100×). Em A, grupo controle, apresentando cartilagem hialina compatível com o padrão de normalidade, com
preservação do epitélio ciliado e ausência de infiltrados inflamatórios na lâmina própria (seta). Em B, grupo de exposição
à fumaça da queima de palha de cana-de-açúcar por 1 dia, mostrando infiltrado inflamatório focal intenso na lâmina
própria (seta). Em C, grupo de exposição por 7 dias, mostrando infiltrado inflamatório agudo difuso, com intensidade
moderada, na lâmina própria da mucosa (seta) e na região da submucosa, junto às glândulas seromucosas (triângulo),
com preservação ciliar. Em D, grupo de exposição por 21 dias, mostrando infiltrado inflamatório difuso com intensidade
variando de leve a moderada, na lâmina própria da mucosa (seta). Em E, grupo de exposição por 7 dias, mostrando
discreta marcação para colágeno. Em F, grupo de exposição por 21 dias, mostrando presença de intensa acidofilia no
tecido conjuntivo, indicando depósitos de colágeno (seta).
No entanto, em 12,5% das amostras analisadas, a o início da formação de depósitos de colágeno pelo
resposta foi intensa e com predomínio focal (Figura aumento da reação acidófila na traqueia através da
2). No parênquima pulmonar, 75% dos animais coloração picrosírius (Figura 2). Na análise microscópica
apresentaram processo inflamatório, sendo 50% de do parênquima pulmonar, o processo inflamatório
células polimorfonucleares, com predomínio da forma ocorreu em 87,5% dos animais, e houve infiltrado
difusa sobre a focal. Os infiltrados foram encontrados de células polimorfonucleares em 62,5% dos casos.
em áreas perivasculares, que variaram de leve a Em 75% dos animais, ocorreu processo inflamatório
moderada, em regiões peribronquiolares. Foram difuso, com intensidade variando de leve a intensa.
evidenciados, também, edema intersticial leve e Ocorreu um padrão de infiltrados perivasculares em
ausência de depósitos de colágeno (Figura 3). 62,5% dos espécimes. Depósitos de colágeno nas
No GE7, os animais apresentaram infiltrados regiões perivasculares e peribronquiolares também
inflamatórios variando a intensidade de leve (em foram constatados (Figura 3).
62,5%) moderada (em 50,0%) e intensa (em 25,0%) No GE21, foi evidenciado infiltrado inflamatório
no tecido traqueal (Figura 2). Foi possível visualizar difuso em 75% dos casos, com intensidade de grau
A B
C D
E F
Figura 3. Fotomicrografias de secções de tecido pulmonar de animais dos diferentes grupos estudados (H&E e picrosírius;
aumento, 100×). Em A, grupo controle, mostrando bronquíolos terminais (triângulo), bronquíolos respiratórios (seta),
ductos alveolares e tecido linfoide associado ao brônquio (estrela) sem alterações teciduais. Em B, grupo de exposição
à fumaça da queima de palha de cana-de-açúcar por 1 dia, mostrando infiltrados inflamatórios focais perivasculares
(setas) e peribronquiolares (triângulo) e infiltrado difuso no parênquima pulmonar (círculo). Em C, grupo de exposição
por 7 dias, mostrando alterações na arquitetura alveolar (círculo), presença de infiltrados inflamatórios difusos intensos
peribronquiolares e perivasculares (setas). Em D, grupo de exposição por 21 dias, mostrando infiltrado inflamatório
alveolar difuso moderado com presença de edema alveolar e perdas septais. Em E, grupo de exposição por 7 dias,
mostrando depósitos de colágeno nas regiões perivasculares (setas) e peribronquiolares (triângulo). Em F, grupo de
exposição por 21 dias, mostrando depósitos de colágeno perivasculares e peribronquiolares e em região alveolar (círculo).
leve (25%) a moderado (50%). Não houve casos de A análise morfométrica e estatística (Figura 4)
infiltrado inflamatório intenso (Figura 2). Na coloração demonstrou presença de processo inflamatório no tecido
com picrosírius, observou-se intensa acidofilia, indicando traqueal nos grupos expostos. As médias da área de massa
presença de colágeno (Figura 2). Pela análise histológica nuclear, em pixels, foram de 379,78 ± 105,65, no GC;
do parênquima pulmonar, foi possível observar infiltrados 650,36 ± 147,74, no GE1; 899,18 ± 183,65, no GE7; e
inflamatórios difusos, com predomínio de células 751,96 ± 143,64, no GE21. A resposta inflamatória intensa
mononucleares, com intensidade variando de leve aconteceu no GE7 na comparação com o GC (p < 0,05).
a intensa em 100% dos animais. Houve inflamação
Os dados da análise morfométrica são complementares
perivascular e peribronquiolar, de leve intensidade, em
aos achados da análise semiquantitativa.
50% e 25% dos casos, respectivamente. Observaram-se
necrose em 37,5% e angiogênese em 100% dos casos A morfometria pela coloração de picrosírius revelou
(p < 0,001) quando o grupo foi comparado com o GC ausência de depósitos de colágeno no GC e um leve
e GE1, além de se visualizar áreas de depósitos de aumento progressivo na acidofilia em GE1 e GE7; porém,
colágeno perivasculares e peribronquiolares, também sem significância estatística. Contudo, foi detectada
em região alveolar (Figura 3). uma maior quantificação de depósitos de colágeno no
tecido de traqueia no GE21, quando comparado a GC foi detectada a presença de angiogênese em 100%
e GE1 (p < 0,01 para ambos; Figura 4). dos casos (Figura 5).
A morfometria do parênquima pulmonar foi avaliada
pela média da área de massa nuclear, em pixels. No DISCUSSÃO
GC, essa foi de 893,13 ± 51,89, compatível com Evidenciou-se que a exposição à fumaça da queima da
a normalidade. Em GE1 iniciou-se um aumento da cana-de-açúcar por diversos períodos de exposição em
celularidade de polimorfonucleares e mononucleares, ratos Wistar esteve associada ao aumento do processo
com área de massa nuclear de 1.373,66 ± 155,43, inflamatório no tecido traqueal e pulmonar. Observou-se
e atingindo 2.280,98 ± 744,80 no GE7 (p < 0,01 na a presença de infiltrados inflamatórios focais e difusos
comparação intergrupo). Porém, houve uma diminuição na fase aguda, com células polimorfonucleares na
da área de massa nuclear para 1.251,31 ± 231,75 no traqueia dos grupos expostos, principalmente no GE7.
GE21, sugestivo de reparo tecidual (Figura 5). Não houve perda de epitélio ciliado em nenhum dos
A morfometria da angiogênese mostrou que a grupos experimentais, quando comparados com o
mesma não ocorreu em GC, GE1 e GE7. Já no GE21 GC. A fibrose tecidual na traqueia foi confirmada no
A B
1500 1500
1000 1000
500 500
0 0
GC GE1 GE7 GE21 GC GE1 GE7 GE21
GC GE1 GC GE1
A B
4000 25
20
3000
Área nuclear, pixels
Número de vasos
15
2000
10
1000
5
0 0
GC GE1 GE7 GE21 GC GE1 GE7 GE21
GC GE1 GC GE1
GE21, que correspondeu aos estágios iniciais da fase principalmente de macrófagos, nos pulmões.(27) A
crônica. No parênquima pulmonar, observaram-se exposição à fumaça da cana-de-açúcar gerou infiltrados
alterações alveolares, vasculares e bronquiolares nos inflamatórios de intensidades variadas nos animais
grupos expostos à fumaça, quando comparados com do presente estudo, sendo que, no GE7, houve um
o GC. Os critérios temporais adotados para designar infiltrado inflamatório mais significativo tanto em tecido
as fases da resposta inflamatória foram baseados em traqueal como em parênquima pulmonar, pois houve
um estudo com ratos Wistar submetidos a sulfato áreas de inflamação com maior gravidade.
de bleomicina, no qual se caracterizou a resposta
Os danos no parênquima pulmonar exposto
inflamatória em aguda, subaguda e de resolução, nos
cronicamente à fumaça de biomassa (esterco) com
períodos pós-lesão compreendidos entre o 1º e o 7º
a fumaça de cigarro incluem inflamação intersticial
dia, do 7º ao 14º dia e a partir do 15º até o 30º dia,
de moderada a intensa, inflamação perivascular e
respectivamente.(17)
brônquica, congestão vascular, destruição alveolar,
Estudos experimentais observaram inflamação aumento do número de macrófagos e aumento da
pulmonar caracterizada por infiltrados de macrófagos e
espessura da parede vascular.(3) No presente estudo,
neutrófilos, após instilarem MP fino por via intratraqueal
apesar de a exposição ocorrer apenas na forma
em ratos, demonstrando que as citocinas (IL-12
aguda, foi possível notar uma crescente alteração da
e IFN-γ) têm um papel fundamental na gravidade
estrutura alveolar (perdas septais) na comparação
das lesões,(18) assim como, em coelhos, verificou-se
com o GC, sendo o MP fagocitado principalmente no
um maior recrutamento de macrófagos e de células
GE1. Áreas sugestivas de necrose foram identificadas
polimorfonucleares no parênquima pulmonar.(19) No
principalmente em GE7 e GE21, e a angiogênese foi
presente estudo, verificaram-se alterações inflamatórias,
confirmada no GE21.
constituídas de células polimorfonucleares e macrófagos
alveolares no tecido pulmonar dos ratos a partir do GE1. Coelhos expostos cronicamente à queima de biomassa
Pequenas doses de MP da queima da cana-de-açúcar e de cigarro apresentam inflamação perivascular,
instilados na traqueia geraram alterações no aparelho peribronquiolar, infiltrado no parênquima e fibrose,
respiratório, com redução do espessamento do tecido com proliferação do epitélio respiratório e alterações
conjuntivo e aumento da produção de citocinas e enfisematosas.(28) Demonstramos, pela técnica de
quimiocinas pró-inflamatórias.(8) No presente estudo, foi picrosírius, que, no GE7 e GE21, houve áreas de
confirmado pela morfometria que a fumaça da queima da depósitos de colágeno no tecido traqueal, nas regiões
cana-de-açúcar é capaz de induzir processos necrótico- peribronquiolar e vascular, assim como em áreas difusas
inflamatórios significantes e progressivos, mesmo em do parênquima pulmonar, que sugerem que a exposição
curtos períodos de exposição. Macrófagos alveolares continuada pode levar ao processo fibrótico tecidual.
após a fagocitose, assim como células epiteliais do Em relação a alterações na estrutura alveolar no
pulmão, demonstram atividade responsiva à exposição GE7 e a ruptura de septos interalveolares no GE21,
de MP com amplificação na produção dos mediadores constatamos por critérios morfológicos alterações
inflamatórios, podendo levar a certos mecanismos, tais condizentes com um estudo realizado em ratos que
como proliferação e ativação leucocitária, apoptose e revelou um aumento dos espaços alveolares no grupo
reparo endotelial.(20) Essas alterações são justificadas que foi exposto à fumaça do cigarro em 24,6% dos
devido aos elementos presentes na fumaça, dados que
animais quando comparados com o GC, que não foi
confirmam nossos achados, principalmente no GE7.
exposto.(29)
É sabido que o tamanho das partículas presentes na
Portanto, com base nos dados obtidos, podemos
fumaça da queima da biomassa tem influência negativa
afirmar que a exposição aguda à fumaça da queima
sobre vias aéreas.(21,22) O tamanho do MP inalado
da cana-de-açúcar é capaz de induzir graves danos
determina as manifestações clínicas no organismo
ao sistema respiratório. Os componentes presentes na
quanto à granularidade variável das partículas. O MP
fumaça da cana-de-açúcar desencadeiam processos
grosso (< 10 µm) fica retido na via área superior e
inflamatórios na traqueia com a presença de células
pode ser removido pela atividade ciliar; os MPs finos
(< 2,5 µm) e ultrafinos/nanopartículas (< 0,1 µm) polimorfonucleares e induzem também infiltrado
são geralmente resultantes da oxidação incompleta inflamatório no parênquima pulmonar de ratos Wistar,
de materiais de carbono.(22-24) Os MPs finos/ultrafinos com a presença de edemas intersticiais e alveolares.
possuem a capacidade de chegar aos alvéolos e ser Alterações da arquitetura alveolar e angiogênese foram
submetidos à fagocitose pelos macrófagos alveolares, também evidenciadas.
apresentando maiores efeitos deletérios, como Pesquisas adicionais tendo como alvo a exposição
alterações na mecânica pulmonar, colapso alveolar e prolongada e a dosagem de marcadores pró-
estresse oxidativo, em ratos.(23-26) Exposições crônicas inflamatórios necessitam ser realizadas a fim de
às partículas finas estão altamente associadas a maiores demonstrar os possíveis danos causados pela exposição
índices de doenças respiratórias crônicas.(3) crônica dos componentes presentes na fumaça da
Na exposição direta da fumaça de biomassa (esterco) cana-de-açúcar, uma vez que os trabalhadores dos
em camundongos durante 7 dias consecutivos, canaviais e a população circunvizinha ficam expostos
observou-se um aumento significativo da celularidade, a essa por longos períodos da vida.
resultados indeterminados do ensaio QFT-GIT e os entre o ensaio QFT-GIT e o TT foi avaliada por meio
fatores relacionados com esses resultados em uma do coeficiente kappa. A concordância era considerada
amostra de PVHA. excelente se o coeficiente kappa fosse > 0,75, razoável
se fosse = 0,4-0,75 e ruim se fosse < 0,4. Para o
MÉTODOS cálculo da concordância, foram incluídos apenas os
resultados positivos e negativos. As proporções foram
De janeiro a dezembro de 2011, foi realizado um comparadas por meio de OR ajustada (ORa) e seu
estudo transversal na Clínica de Doenças Infecciosas intervalo de confiança de 95% em um modelo de
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mato regressão multivariada. As análises foram realizadas
Grosso do Sul é um estado com incidência moderada de por meio do programa SPSS Statistics, versão 20.0
tuberculose (38,8/100.000 habitantes), localizado na (IBM Corporation, Armonk, NY, EUA).
região Centro-Oeste do Brasil. As Diretrizes Nacionais
de Tuberculose recomendam que todas as PVHA sejam
submetidas ao TT no mínimo a cada seis meses.(7) RESULTADOS
Neste estudo, foram incluídos indivíduos infectados pelo Oitenta e uma PVHA foram incluídas no estudo. A
HIV com idade ≥ 18 anos, todos os quais assinaram mediana de idade foi de 41 anos (variação: 34-48
um termo de consentimento livre e esclarecido para anos); a mediana da contagem de células T CD4+
a realização de testes adicionais com o QFT-GIT. Os foi de 422 células/mm3 [intervalo interquartil (II):
pacientes com tuberculose ativa foram excluídos, 221-646 células/mm3]. Os resultados do TT e do ensaio
assim como o foram aqueles que estavam recebendo QFT-GIT foram positivos em 18 (22,2%) e 10 (12,3%),
tratamento para ITBL. O estudo foi aprovado pelo respectivamente, dos 81 participantes. O resultado do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal ensaio QFT-GIT foi indeterminado em 22 (27,1%) dos
de Mato Grosso do Sul (Protocolo n. 1060/2008). participantes (IC95%: 17,8-38,1%). A concordância
As informações foram obtidas por meio de um entre os dois testes (entre os resultados válidos) foi
questionário e de prontuários médicos. Cada TT foi classificada em razoável (κ = 0,62; IC95%: 0,37-0,87),
realizado com duas unidades de PPD RT23 (Statens principalmente em virtude de um maior número de
Serum Institut) na face anterior do antebraço esquerdo. resultados negativos do TT (Tabela 1).
Após 48-72 h, uma enfermeira treinada mediu a Nos participantes cujos resultados foram indeter-
enduração. Uma enduração ≥ 5 mm de diâmetro foi minados, a mediana da contagem de células T CD4+
considerada indicativa de reação positiva.(7) O ensaio foi de 329 células/mm3 (II: 156-575 células/mm3),
QFT-GIT foi realizado em conformidade com o protocolo em comparação com 494 células/mm3 (II: 235-696
do fabricante. Em resumo, amostras de sangue total células/mm3) naqueles cujos resultados foram válidos
foram colhidas diretamente em tubos heparinizados (p = 0,237). A chance de resultado indeterminado
de 1 ml contendo antígenos de Mycobacterium foi 6,0 vezes maior em fumantes, 14,2 vezes maior
tuberculosis (alvo antigênico secretório precoce 6, em casos em que o tempo de armazenamento das
proteína de filtrado de cultura 10 e TB7.7); dextrose amostras foi < 35 dias e 4,7 vezes em participantes
e PHA (controle positivo); ou sem antígenos (controle com imunossupressão avançada (contagem de células
negativo). Os tubos foram incubados durante 24 h T CD4+ < 200 células/mm3), embora esta última não
a 37°C e centrifugados a 2.000 g durante 10 min. tenha sido estatisticamente significativa, mesmo após
Em seguida, o sobrenadante do soro foi colhido. A ajuste para tempo de armazenamento e tabagismo
mediana de tempo decorrido da coleta do sangue até (Tabela 1).
a incubação foi de 144 min (variação: 10-294 min).
Todos os sobrenadantes foram armazenados a −70°C
DISCUSSÃO
por até 8 semanas, até que se realizasse ELISA para
determinar a quantidade de IFN-γ secretado. O ensaio Relatou-se que a frequência de resultados indeter-
foi realizado em lotes de 24-44 amostras do mesmo minados do ensaio QFT-GIT varia de 0% a 19,8%. (8-12)
lote. O software fornecido pelo fabricante foi usado Muitas variáveis relacionam-se com resultados
para analisar os resultados. O resultado do ensaio indeterminados: infecção pelo HIV,(9) imunossupressão
QFT-GIT era considerado positivo se o nível de IFN-γ avançada,(9) vacinação prévia com BCG,(10) terapia
após a estimulação com antígenos de M. tuberculosis imunossupressora,(11) doenças subjacentes,(11) estar
menos o controle negativo fosse ≥ 0,35 UI/ml e 25% acamado, (8) hipoalbuminemia (8) e tuberculose
maior do que a concentração de IFN-γ na amostra não ativa. (13) Aspectos técnicos também resultam em um
estimulada de controle; o resultado era considerado aumento significativo da proporção de resultados
negativo se o nível de IFN-γ fosse < 0,35 UI/ml. O indeterminados(6,9,11): defeitos de fabricação; erros
resultado era considerado indeterminado se a produção analíticos; demora na incubação ou no processamento;
de IFN-γ na amostra não estimulada fosse ≥ 8,0 técnica incorreta de agitação dos tubos e volume
UI/ml ou a PHA menos a concentração de IFN-γ na sanguíneo inadequado. Em nosso estudo, a proporção
amostra não estimulada fosse < 0,5 UI/ml. Em casos de resultados indeterminados do ensaio QFT-GIT foi
em que o resultado do primeiro ensaio QFT-GIT foi maior que a relatada na literatura. Diferentemente de
indeterminado, não se realizou um segundo ensaio; relatos anteriores, essa proporção não se relacionou
a decisão clínica baseou-se no TT.(7) A concordância significativamente nem com a contagem de células
Tabela 1. Fatores relacionados com resultados indeterminados do ensaio QuantiFERON-TB Gold In-Tube em 81 pacientes
infectados pelo HIV.
Característica Resultado do ensaio QFT-GIT OR (IC95%) ORa (IC95%)
Positivo Negativo Indeterminado
n (%) n (%) n (%)
Global 10 (12) 49 (60) 22 (27) -- --
Sexo
Feminino (n = 41) 5 (12) 23 (56) 13 (31) 1,6 (0,50-4,3) --
Masculino (n = 40) 5 (12) 26 (65) 9 (22) 1,0 (referência)
Faixa etária
42-84 anos (n = 40) 7 (17) 23 (57) 10 (25) 0,81 (0,30-2,2) --
18-41 anos (n = 41) 3 (7) 26 (63) 12 (27) 1,0 (referência)
Uso de HAART
Não (n = 10) 1 (10) 6 (60) 3 (30) 1,2 (0,28-5,1) --
Sim (n = 64) 8 (13) 39 (61) 17 (27) 1,0 (referência)
Não se sabe (n = 7) 1 (14) 4 (57) 2 (28)
Tabagismo
Sim (n = 51) 8 (15) 24 (47) 19 (37) 5,3 (1,4-20,0) 6,0 (1,4-26,7)
Não (n = 30) 2 (16) 25 (83) 3 (10) 1,0 (referência)
Abuso de álcool (CAGE)
Sim (n = 3) 1 (33) 1 (33) 1 (33) 1,4 (0,12-15,9) --
Não (n = 76) 9 (12) 46 (62) 21 (27) 1,0 (referência)
Cicatriz de BCG
Não (n = 22) 3 (14) 14 (64) 5 (23) 1,2 (0,40-3,9)
Sim (n = 53) 6 (11) 33 (62) 14 (26) 1,0 (referência) --
Não se sabe (n = 6) 1 (16) 2 (33) 3 (50)
TT
≥ 5 mm (n = 18) 8 (44) 5 (28) 5 (28) 1,04 (0,32-3,4) --
< 5 mm (n = 63) 2 (3) 44 (70) 17 (27) 1,0 (referência)
Contagem de células T CD4+
< 200/mm3 (n = 13) 1 (8) 5 (39) 7 (54) 4,0 (1,2-13,9) 4,7 (0,91-24,0)
≥ 200/mm3 (n = 62) 9 (15) 39 (63) 14 (23) 1,0 (referência)
Desconhecida (n = 6) -- 5 (84) 1 (16)
Carga viral do HIV
Indetectável (n = 44) 10 (23) 29 (66) 10 (23) 1,8 (0,65-4,9)
≥ 50 cópias/mm3 (n = 62) 11 (34) 16 (50) 11 (34) 1,0 (referência) --
Desconhecida (n = 5) -- 4 (80) 1 (20)
Tempo de armazenamento das
amostras
≤ 35 dias (n = 41) 2 (5) 19 (48) 19 (48) 11,5 (3,0-43,3) 14,2 (3,1-64,2)
> 35 dias (n = 40) 8 (20) 30 (73) 3 (7) 1,0 (referência)
Demora na incubação
> 144 min (n = 40) 6 (15) 29 (73) 5 (13) 5,0 (1,6-15,3) --
≤ 144 min (n = 41) 4 (10) 20 (49) 17 (42) 1,0 (referência)
Anos desde o diagnóstico de -
HIV/AIDS
≥ 7 (n = 39) 6 (15) 23 (59) 10 (26) 0,91 (0,34-2,5) --
< 7 (n = 40) 4 (10) 25 (63) 11 (28) 1,0 (referência)
Não se sabe (n = 2) -- 2 (67) 1 (33)
QFT-GIT: QuantiFERON-TB Gold In-Tube; ORa: OR ajustada (para contagem de células T CD4+, tabagismo e tempo
de armazenamento das amostras); HAART: highly active antiretroviral therapy (terapia antirretroviral altamente
ativa); CAGE: questionário Cut down, Annoyed, Guilty, Eye-opener (Reduzir, Aborrecido, Culpado e Bebeu de
manhã); e TT: teste tuberculínico.
T CD4+ nem com a vacinação com BCG, embora tabagismo e o tempo menor de armazenamento do
poucos participantes tenham apresentado contagem soro antes do processamento para ELISA aumentaram
de células T CD4+ inferior a 200 células/mm3, o que sobremaneira a chance de resultados indeterminados.
reduziu o poder de nossa análise. Por outro lado, o O tabagismo pode induzir imunossupressão por meio
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fibrose cística tanto pelo maior número de diagnósticos A complexidade da fibrose cística e as peculiaridades
de formas atípicas de expressão fenotípica mais leve, do seu tratamento resultam na necessidade de
assim como pelo aumento da expectativa de vida com centros de tratamento especializados.(5) Existem
os novos tratamentos.(2-4) Entretanto, ainda se observa evidências de que o tratamento em centros de
uma grande heterogeneidade no acesso aos métodos referência especializados, que dispõem de uma equipe
diagnósticos e terapêuticos para pacientes com fibrose multidisciplinar, resulta em melhores resultados clínicos,
cística entre as diferentes regiões brasileiras. O objetivo com impacto no prognóstico.(6,7)
da presente publicação foi reunir as principais evidências
científicas que norteiam o manejo de pacientes com O que são serviço de referência e centro de
fibrose cística, compiladas pelos principais profissionais referência?
de saúde envolvidos na atenção a essa doença no Brasil. Considera-se centro de referência aquele que atende
a pelo menos 50 pacientes regularmente. Deve ter
MÉTODOS estrutura para atender às necessidades referentes a
diagnóstico, seguimento e tratamento.
Um grupo de 18 especialistas em fibrose cística
Serviço de referência é aquele que assiste menos
(coordenadores) elaborou 82 perguntas clínicas
de 50 pacientes, podendo ter estrutura de menor
relevantes, que foram divididas em cinco categorias:
complexidade. Os serviços devem estar vinculados a
características de um centro de referência; diagnóstico;
um centro de referência para educação continuada e
tratamento da doença respiratória; tratamento
eventuais complementações de suas necessidades.(5)
gastrointestinal e nutricional; e outros aspectos.
Diversos profissionais brasileiros atuantes na área
Qual é a importância de uma equipe
da fibrose cística foram convidados a responder
multidisciplinar? Como seria sua composição?
às perguntas formuladas pelos coordenadores das
diretrizes. A literatura disponível foi pesquisada na A fibrose cística, por suas peculiaridades de
base de dados PubMed através de palavras-chave, acometimento multissistêmico e crônico, exige
buscando-se as melhores respostas às perguntas dos um modelo de atendimento multidisciplinar.(5) O
autores. Também se buscou referências manualmente, atendimento realizado por uma equipe multidisciplinar
em livros ou artigos. possibilita tratamentos mais abrangentes e eficazes,
resultando em aumento da expectativa de vida dos
Foram utilizadas as orientações do Oxford Centre for
pacientes. (5,8,9) Uma equipe multidisciplinar mínima para
Evidence-Based Medicine para classificar o melhor nível
o atendimento a pacientes com fibrose cística deve
de evidência para as perguntas referentes aos capítulos
conter os seguintes profissionais: pediatras (quando
de tratamento. As orientações compreendem uma
houver atendimento a crianças e adolescentes),
classificação dos estudos em níveis de evidência, que
pneumologistas, gastroenterologistas, fisioterapeutas,
podem variar de “1” a “5”, sendo que “1” equivale ao
nutricionistas, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos
maior nível de evidência e “5”, ao menor. A classificação
e assistentes sociais.
foi simplificada em 2011 para facilitar sua aplicação
clínica. O Quadro 1A (apêndice on-line no JBP — http:// Há diferenças entre centros para crianças e
jornaldepneumologia.com.br/detalhe_anexo.asp?id=51) para adultos? Há vantagens no planejamento
fornece maiores detalhes sobre a classificação atual para essa transição?
de Oxford.
Serviços pediátricos e de adultos de fibrose cística são
No total, 2.352 publicações foram rastreadas através bastante diferentes. Adultos têm o comando e as decisões
da estratégia de busca por palavras-chave, pesquisas dos seus cuidados. Centros pediátricos necessitam
manuais e sugestões de referências dos autores. Um atender a demandas próprias da infância, tanto na
total de 243 artigos foi selecionado para o presente estrutura como nos profissionais de saúde. Centros de
documento. adultos necessitam recursos para atender casos de maior
A primeira versão do texto foi redigida entre março complexidade (comorbidades e complicações distintas
e agosto de 2016. Os coordenadores de cada área e mais frequentes, além de gravidez).(10)
ficaram responsáveis pela validação da classificação A passagem do adolescente para um centro de adultos
das evidências. Nos casos controversos, as perguntas é desafiante, e há evidências de que programas de
foram levadas para uma reunião presencial de consenso transição otimizam o processo da transferência para
dos coordenadores, no dia 24 de setembro de 2016. A o centro de adultos.(11-15)
versão final foi revisada pelos coordenadores nacionais
(os dois primeiros autores) e encaminhada ao editor Como deve ser a infraestrutura dos
do JBP em fevereiro de 2017. centros de referência? Quais são os exames
complementares básicos?
CARACTERÍSTICAS DE UM CENTRO DE
Os centros de referência devem ter equipes
REFERÊNCIA
multidisciplinares e recursos para oferecer diagnósticos
Qual é a importância do centro de precisos e cuidado integral ao paciente com
referência no cuidado de pacientes com fibrose cística. Devem ser capazes de tratar ou dar
fibrose cística? encaminhamento para tratar todas as complicações da
fibrose cística e atuar em articulação a outras unidades Europa, algumas delas têm ainda um importante papel
mais próximas da residência dos pacientes.(5,16) Os no fomento e financiamento de pesquisas científicas
pacientes devem ter acesso ao centro ou a serviços e no registro de pacientes.
de emergência vinculados ao mesmo 24 h/dia.(16) No Brasil, uma aproximação entre as associações de
Cada centro de referência deve dispor de ou garantir pais e pacientes e os profissionais de saúde atuantes na
acesso a: fibrose cística (hoje representados pelo Grupo Brasileiro
• Laboratório para a realização de exames confir- em Estudos de Fibrose Cística) traria grandes vantagens
matórios do diagnóstico de fibrose cística: teste para o panorama atual, como o auxílio à inclusão de
de suor e/ou análise de mutações do gene CFTR todos os pacientes brasileiros no registro nacional
• Laboratório de avaliação funcional pulmonar (Registro Brasileiro de Fibrose Cística) e monitoramento
• Laboratório de microbiologia, com experiência da disponibilidade de medicamentos nos diversos
e recursos para a identificação de patógenos Estados, além da soma de forças na submissão de
típicos na fibrose cística uma nova portaria (mais abrangente) de atenção ao
• Serviço de radiologia com recurso de TC indivíduo com fibrose cística junto ao Governo Federal.
• Laboratório de patologia clínica, com capacidade
de realização dos exames de rotina, incluindo
exames hematológicos, exames de função DIAGNÓSTICO
hepática e renal, sorologias e dosagens de
proteínas, vitaminas e imunoglobulinas. Como confirmar o diagnóstico de fibrose
cística após triagem neonatal positiva?
Qual é a importância da segregação
O algoritmo de triagem neonatal para fibrose cística
microbiológica? Como ela deve ser feita?
usado no Brasil baseia-se na quantificação dos níveis
Existem diversas evidências de que a transmissão de de tripsinogênio imunorreativo em duas dosagens,
patógenos pode ocorrer entre indivíduos com fibrose sendo a segunda feita em até 30 dias de vida. Frente a
cística, especialmente por meio de gotículas e contato. duas dosagens positivas, faz-se o teste do suor para a
Pode envolver cepas virulentas, piorando a evolução
confirmação ou a exclusão da fibrose cística. A dosagem
da doença. Medidas de prevenção e controle de
de cloreto por métodos quantitativos no suor ≥ 60
infecção têm sido efetivas para diminuir a transmissão
mmol/l, em duas amostras, confirma o diagnóstico.
de patógenos. A segregação dos pacientes deve ser
Alternativas para o diagnóstico são a identificação de
realizada dentro e fora do ambiente hospitalar, a fim
duas mutações relacionadas à fibrose cística e os testes
de prevenir a infecção cruzada. Os centros de fibrose
de função da proteína CFTR. A Figura 1 apresenta o
cística devem oferecer estrutura adequada e ter uma
fluxograma que resume como deve ser a condução
política clara de prevenção e controle de infecções,
dos casos com triagem neonatal positiva.(20,21)
como a separação de dias de atendimento para os
pacientes ou uso de diferentes espaços de atendimento
A triagem neonatal positiva ou negativa
de acordo com a colonização desses.(5,17-19)
confirma ou exclui o diagnóstico de fibrose
cística?
Qual é a importância do compromisso com a
assistência, pesquisa e ensino? Não. A triagem neonatal para fibrose cística identifica
os recém-nascidos com risco de ter a doença, mas não
O centro de fibrose cística deve estar comprometido
confirma o diagnóstico. O índice de testes falso-positivos
com a participação ativa em pesquisa clínica e
pelo algoritmo baseado na quantificação de tripsinogênio
translacional, propiciando a participação dos pacientes
em ensaios clínicos. Educação, pesquisa e contribuição imunorreativo é bastante alto. Por outro lado, a triagem
para o registro de fibrose cística devem ser realizadas neonatal negativa não exclui o diagnóstico.(22,23)
preferencialmente por todos os centros. Os diversos
membros da equipe multidisciplinar devem ter um
Após a confirmação do diagnóstico de
papel ativo nas atividades de pesquisa e educação. fibrose cística em pacientes com triagem
Essa atuação contribui para aumentar e disseminar o neonatal positiva, quando o paciente deve
conhecimento especializado, que tem papel relevante ser encaminhado ao centro de referência de
para a qualificação da assistência.(5) fibrose cística?
Imediatamente após o diagnóstico, pois a fibrose
Quais são as vantagens da cooperação com cística exige manejo multidisciplinar precoce, visando
associações de pais e pacientes com fibrose manter o estado nutricional normal e tratar as infecções
cística e com o Grupo Brasileiro de Estudos respiratórias em tempo oportuno.(20,23)
em Fibrose Cística?
As associações de pais e pacientes com fibrose cística Quais são as etapas envolvidas no teste do
têm por objetivo a defesa dos interesses desse grupo suor? Como assegurar a qualidade do teste do
de indivíduos, o que inclui a divulgação da doença e suor?
melhorias no diagnóstico e tratamento, visando maior O Quadro 2A (apêndice on-line no JBP) sintetiza as
sobrevida, melhor qualidade de vida e inserção dos etapas que devem ser seguidas na realização do teste
pacientes na sociedade.(5) Na América do Norte e na do suor. A Tabela 1 indica os valores de referência.
2 mutações FC
0-1 mutação OU
sem estudo genético
FC improvável
Diagnóstico de FC FC possível
Figura 1. Condução dos casos com triagem neonatal positiva para fibrose cística. FC: fibrose cística; e TIR: tripsinogênio
imunorreativo. Adaptado de Farrel et al.(21)
Tabela 1. Valores de referência do teste do suor. ele ainda é considerado como um teste de triagem. (26)
Cloreto, mmol/l Condutividade, Recomenda-se que pacientes com resultado de
mmol/l condutividade igual ou acima de 50 mmol/l realizem
Normal < 30 < 60 um teste quantitativo. Esse teste tem como vantagens
Intermediário 30-59 60-90 sua fácil execução e resultado imediato.(24,27,28)
Positivoa ≥ 60 > 90
a
Deve ser repetido com dosagem quantitativa de Quais são os critérios mínimos para um
cloretos no suor para confirmação em um dia diferente. laboratório realizar o estudo de mutações do
gene CFTR?
Recomenda-se que laboratórios qualificados para • Certificação pela Agência Nacional de Vigilância
a realização do teste do suor tenham controle de Sanitária
qualidade interno e externo e que realizem no mínimo • Capacidade para realizar a extração do DNA por
100 testes/ano (mínimo de 10 testes/ano por técnico). diferentes métodos e de diferentes amostras
A quantidade de amostras com suor insuficiente não • Aptidão para identificar a mutação F508del e
deve ultrapassar 5% do total coletado.(24-26) outras com maior prevalência
• Disponibilidade de realizar a análise de painéis
Quais são os principais métodos de mutações e/ou sequenciamento completo
quantitativos aprovados para a dosagem de do gene CFTR, seja em sua unidade, seja com
cloreto no suor? encaminhamento para outros laboratórios
O Quadro 1 descreve os principais métodos para a • Capacidade de interpretar e reportar variantes
dosagem de cloreto, que precisam ser validados no patogênicas
próprio laboratório antes do uso.(24,25)
Todos os pacientes com fibrose cística
Qual o papel do teste da condutividade do devem ser submetidos ao exame genético?
suor? Qual a importância de realizá-lo?
Apesar de o teste da condutividade do suor ter alta Sim, a identificação das mutações no gene CFTR tem
concordância com a concentração do cloreto no suor, implicações prognósticas e de planejamento familiar,
glicose, como P. aeruginosa, S. maltophilia e A espirometria deve ser realizada a partir dos 5 anos
Achromobacter spp., mas não são adequados de idade em toda visita clínica ou no mínimo duas vezes
para complexo B. cepacia, Burkholderia gladioli, ao ano. Testes com e sem uso de broncodilatadores
Pandoraea spp. e Ralstonia spp. são recomendados. As técnicas de washout, com
• Métodos automatizados: não recomendados determinação do lung clearance index, têm uso crescente
para a maioria dos bacilos gram-negativos não
e promissor na identificação de doença pulmonar precoce.
fermentadores de glicose
• Testes moleculares são recomendados para a Estudos têm mostrado que o VEF1 é fundamental para
caracterização de Achromobacter spp., complexo avaliar a evolução e o prognóstico na fibrose cística,
B. cepacia e os gêneros Ralstonia, Cupriavidus assim como para a detecção precoce de exacerbações
e Pandoraea pulmonares agudas, correlacionando-se com a qualidade
• Identificação por espectrometria de massa de vida. O FEF25-75% também deve ser valorizado,
(matrix-assisted laser desorption/ionization, já que pode estar alterado mais precocemente. A
time-of-flight mass spectrometry, MALDI-TOF pletismografia corporal total e a oscilometria podem
MS) representa uma alternativa rápida, mas complementar a avaliação funcional.(9,47-50)
apresenta limitações, especialmente para
bacilos gram-negativos não fermentadores de (Nível de evidência: 5)
glicose(42,43,46)
(Nível de evidência: 5 para todos os métodos, exceto Quais exames de imagem devem ser feitos
MALDI-TOF MS para bacilos gram-negativos não no paciente com fibrose cística? Com que
fermentadores de glicose—nível de evidência: 2) frequência?
A radiografia de tórax é o método mais difundido
Qual é o papel dos testes de função para pacientes com fibrose cística e correlaciona-se
pulmonar no manejo dos pacientes com com os testes de função pulmonar na detecção da
fibrose cística? progressão da doença.(51,52)
A TCAR de tórax apresenta melhor acurácia no e desinfecção desses dispositivos têm impacto nesse
diagnóstico e no seguimento de lesões pulmonares cenário. Recomenda-se a limpeza após cada uso e a
em todas as idades, incluindo crianças com função desinfecção diária por fervura, uso de álcool 70-90%,
pulmonar normal.(53-55) Tal benefício é questionável em álcool isopropílico ou peróxido de hidrogênio 3%.(17,66-69)
lactentes, e há obstáculos técnicos inerentes à faixa (Nível de evidência: 3)
etária.(56) A ressonância magnética de tórax avançou
nos últimos anos e pode se tornar uma opção futura Quais são as técnicas de fisioterapia
por ser um método isento de radiação.(57) respiratória indicadas no tratamento da
Apesar de não existir consenso sobre a frequência da doença pulmonar?
realização dos exames de imagem, recomenda-se uma Técnicas de fisioterapia respiratória devem ser
radiografia de tórax anual. Sugere-se ainda realizar realizadas em todos os pacientes com fibrose cística
TCAR de tórax na presença de deterioração clínica, a partir do diagnóstico, com frequência diária.(70) A
funcional ou radiológica. O seguimento periódico com fisioterapia respiratória apresenta benefícios clínicos
TCAR de tórax pode ser indicado, com intervalos de comprovados quando comparada à ausência dessa
2 a 4 anos, de forma individualizada. Nos quadros de intervenção; porém, sem evidência de superioridade
exacerbação pulmonar na fibrose cística, a radiografia e de uma técnica sobre a outra. A preferência do
a TCAR de tórax podem ser utilizadas, sempre tendo em paciente é um fator imprescindível para a adesão ao
mente o uso da menor dose de radiação possível.(58,59) tratamento, mas o uso de dispositivos, como máscara
(Nível de evidência: 2 para TCAR de tórax em todas de pressão expiratória positiva e máscara de pressão
as idades, exceto lactentes) (Nível de evidência: 5 oscilatória positiva do tipo flutter®, shaker® e acapella®,
para radiografia de tórax e ressonância magnética) é de grande utilidade e confere independência ao
paciente.(71) O uso do dispositivo de oscilação de alta
Qual é a importância dos nebulizadores no frequência de parede torácica, apesar de também
tratamento da doença pulmonar na fibrose conferir independência ao paciente, foi inferior ao uso
cística? da máscara de pressão expiratória positiva em um
O tratamento diário da doença pulmonar na fibrose estudo recente.(72) A ventilação não invasiva pode ser
cística inclui nebulizações de diversos medicamentos utilizada como coadjuvante da terapia de desobstrução
fundamentais na manutenção da saúde pulmonar, brônquica e em pacientes com doença avançada e
sendo essencial um sistema de inalação para todo insuficiência respiratória hipercápnica.(73-76)
paciente com fibrose cística.(60-62) (Nível de evidência: 2 para fisioterapia respiratória)
(Nível de evidência: 5) (Nível de evidência: 2 para a superioridade da máscara
de pressão expiratória positiva vs. dispositivo de
Qual sistema de inalação deve ser usado oscilação de parede torácica de alta frequência)
para cada tipo de tratamento inalatório na (Nível de evidência: 2 para ventilação não invasiva
fibrose cística? vs. sem ventilação não invasiva como adjuvante na
A combinação da substância a ser inalada com o doença avançada com hipercapnia)
sistema de inalação é fundamental para garantir a
eficácia do tratamento. Devido à grande variabilidade de Qual é o papel do exercício na fibrose
dispositivos, é recomendada a utilização dos inaladores cística?
testados nos estudos clínicos das medicações.(63,64) O exercício (aeróbico e anaeróbico) pode auxiliar
Os seguintes tipos são frequentemente utilizados em desfechos funcionais e posturais, assim como
para cada tratamento(64,65): na autoestima para esses pacientes. Recomenda-se
• Ultrassônicos: salina hipertônica frequência de 3-5 vezes por semana e duração de 20-30
• A jato de ar: tobramicina, colistimetato, dornase min, com benefícios observados a partir de 6 semanas.
alfa e salina hipertônica Sua prática deve fazer parte das recomendações para
• Membrana vibratória ativa: tobramicina, colis- os pacientes com fibrose cística, inclusive durante as
timetato, dornase alfa e aztreonam internações. A atividade física não substitui a fisioterapia
• Membrana vibratória passiva com adaptação do respiratória.(77-82)
padrão respiratório: tobramicina e colistimetato (Nível de evidência: 2)
(Nível de evidência: 2)
Quais são as indicações do uso de dornase
Quais são os cuidados com os dispositivos alfa e qual é a sua posologia?
inalatórios e de fisioterapia? A dornase alfa inalatória tem eficácia comprovada na
Os dispositivos para o tratamento da doença pulmonar fibrose cística através de melhora da função pulmonar
na fibrose cística incluem os nebulizadores e os e da qualidade de vida, assim como da redução de
equipamentos utilizados na fisioterapia respiratória para exacerbações respiratórias.(83-89) É recomendada a
a remoção das secreções. A contaminação bacteriana partir de 6 anos de idade em pacientes com doença
dos nebulizadores dos pacientes com fibrose cística já pulmonar desde seus estágios iniciais.(83,87,90) A
foi descrita, e programas de educação para a limpeza dose recomendada é de 2,5 mg, uma vez ao dia,
com nebulizador apropriado. A administração em tratamento de erradicação, além dos benefícios clínicos
dias alternados pode ser considerada nos pacientes significativos, pode ser custo-efetivo.(103-107)
estáveis(91,92) e duas vezes ao dia em pacientes (Nível de evidência: 1)
graves. (102) Pode ser utilizada em qualquer horário, pelo
menos 30 min antes da fisioterapia respiratória.(93,94) Como deve ser o tratamento de erradicação
(Nível de evidência: 1) para cepas do complexo B. cepacia?
O complexo B. cepacia corresponde a um grupo de
Quando usar dornase alfa em menores de mais de 80 espécies estreitamente relacionadas,(108,109)
6 anos? sendo B. multivorans e B. cenocepacia as mais
O uso de dornase alfa deve ser considerado nos frequentes na fibrose cística.(110)
pacientes mais jovens com sintomas respiratórios As manifestações clínicas na fibrose cística variam
persistentes ou com evidências de doença pulmonar desde a ausência de sintomas a quadros graves com
precoce (bronquiectasias, por exemplo).(40,95-97) deterioração clínica rápida e evolução fulminante para
(Nível de evidência: 2) pneumonia necrosante, insuficiência respiratória e sepse
(síndrome cepacia).(110) O tratamento do complexo
Qual é o papel da salina hipertônica e B. cepacia é difícil devido à resistência intrínseca
do manitol? Quais são suas concentrações para a maioria dos antimicrobianos disponíveis,
recomendadas? recomendando-se, sempre que possível, usar uma
A solução salina hipertônica e o manitol são combinação de drogas guiada por antibiograma. Não
substâncias mucocinéticas. Atuam como hidratantes há evidências disponíveis que avaliem a eficácia de
da superfície das vias aéreas, como agentes osmóticos, sua erradicação, nem recomendações para tratamento
alterando as propriedades reológicas do muco. inalatório para infecção crônica.(110,111)
A solução salina hipertônica administrada duas vezes (Nível de evidência: 4)
ao dia e na concentração de 7% reduz exacerbações
respiratórias e promove melhoras na função pulmonar Como deve ser o tratamento de erradicação
e na qualidade de vida. Estudos de longo prazo de S. aureus resistente à meticilina?
são necessários para a constatação de melhora A infecção crônica por S. aureus resistente à
sustentada. (87,98-100) meticilina está associada a piores desfechos clínicos
O manitol tem apresentação em pó seco para em pacientes com fibrose cística.(112) Há relatos de
inalação, na dose de 400 mg, duas vezes ao dia. Seu tratamentos para erradicação do patógeno, utilizando
uso está associado à redução do tempo de tratamento combinações de drogas orais, tópicas e inalatórias,
com nebulizações, melhora clínica e melhora da como sulfametoxazol/trimetoprima, rifampicina, ácido
função pulmonar.(101-103) Sua utilização é segura e bem fusídico e clorexidina, além de vancomicina. A linezolida
tolerada, mas deve ser precedida pela inalação de pode ser considerada, porém com menor evidência.(113)
broncodilatadores, já que podem atuar como substâncias Protocolos de tratamento mais curtos (< 3 semanas)
irritantes. Ambas são abordagens complementares ao parecem ser tão eficazes quanto os mais longos, com
tratamento com dornase alfa. menor chance de intolerância e efeitos adversos. A
terapia combinada parece ter mais chance de sucesso
(Nível de evidência: 1 para salina hipertônica e para
do que a monoterapia.(114,115)
manitol)
Ainda não existem evidências claras dos benefícios
Como deve ser o tratamento de erradicação da erradicação de S. aureus resistente à meticilina
da P. aeruginosa? em pacientes com fibrose cística.(113,114,116) Também
O tratamento de erradicação na infecção respiratória não há evidências para recomendar antibioticoterapia
inicial (primeira ou precoce) por P. aeruginosa visa inalatória para a infecção crônica por esse patógeno.
erradicar a bactéria e postergar a infecção crônica. (Nível de evidência: 4)
Existem diversas estratégias terapêuticas, não havendo
superioridade de uma em relação à outra. A estratégia Quais são as recomendações para o uso
mais recomendada é o uso da tobramicina inalatória, crônico de antibióticos inalatórios na fibrose
300 mg, duas vezes ao dia, por 28 dias.(104-107) O cística?
colistimetato de sódio (1.000.000 a 2.000.000 UI, A Tabela 2 mostra os antibióticos inalatórios que
duas vezes ao dia) é uma alternativa com resultados são utilizados para supressão da infecção crônica por
consistentes, devendo ser associado a ciprofloxacina P. aeruginosa.(23,117,118) O uso regular dos antibióticos
oral por 2-3 semanas. inalatórios retarda a deterioração da função pulmonar
O tratamento inalatório pode ser estendido por 2-3 em pacientes cronicamente infectados por P. aeruginosa.
meses. A antibioticoterapia endovenosa por 2 semanas (23,87,117-119)
O Quadro 4 apresenta os critérios de Leeds,
pode ser a opção em casos selecionados, sempre seguida que classifica a infecção respiratória pela bactéria
da antibioticoterapia inalatória. Sucesso na erradicação em pacientes com fibrose cística de acordo com os
é definido como a ausência da bactéria por 1 ano nas resultados de culturas de secreção respiratória obtidas
culturas subsequentes ao término do tratamento. O nos últimos 12 meses.(120)
Quadro 4. Critérios de Leeds para a classificação da infecção respiratória por Pseudomonas aeruginosa em pacientes
com fibrose cística.
Classificação Definição
Infecção crônica Pacientes com > 50% das culturas positivas para Pa nos últimos 12 meses
Infecção intermitente Pacientes com ≤ 50% das culturas positivas para Pa nos últimos 12 meses
Livre de infecção por Pa Pacientes com cultura positiva no passado para Pa, mas que todas culturas foram
negativas nos últimos 12 meses
Nunca infectado Paciente que nunca apresentou cultura positiva para Pa
Pa: Pseudomonas aeruginosa. Adaptado de Lee et al.(120)
A tobramicina inalatória é o antibiótico mais estu- de 50% nas exacerbações, porém, sem benefício na
dado,(119,121,122) e recomenda-se seu uso acima dos 6 função pulmonar.(134)
anos de idade em pacientes com infecção crônica por (Nível de evidência: 1)
P. aeruginosa, independentemente da gravidade da
O uso contínuo do medicamento é recomendado,
doença, em ciclos alternados de 28 dias. O colistimetato
apesar da escassez de estudos de avaliação em longo
de sódio e o aztreonam são outras opções.(23,87,123,124)
prazo. Sugere-se uso inicial por pelo menos 6 meses
A tobramicina em pó seco para inalação tem sido
para a avaliação da resposta.(135,136) Efeitos colaterais,
utilizada e mostrou eficácia equivalente à solução, como epigastralgia, alterações eletrocardiográficas,
com redução do tempo gasto com o tratamento e ototoxicidade e infecção por micobactérias não
dispensando o uso de um nebulizador.(125) tuberculosas, devem ser monitorizados.
A recomendação de uso da terapia de supressão (Nível de evidência: 1)
em meses alternados tem por objetivo evitar o
Recomenda-se o uso da azitromicina (250 mg para
desenvolvimento de resistência bacteriana. Em casos
peso < 40 kg e 500 mg para peso > 40 kg; três vezes
mais graves, entretanto, pode-se recomendar o uso
por semana) para pacientes colonizados cronicamente
contínuo ou alternar antimicrobianos.(124)
por P. aeruginosa e idade > 5 anos, assim como para
É recomendável que as primeiras inalações sejam aqueles não colonizados que apresentem exacerbações
realizadas sob supervisão para avaliar a ocorrência pulmonares frequentes. Recomenda-se a coleta de
de broncoconstrição induzida por drogas (sibilância, amostra de escarro para investigar a presença de
dispneia e opressão torácica). Recomenda-se o uso de micobactérias não tuberculosas antes de iniciar o
broncodilatador, seguido de higiene brônquica através tratamento com a azitromicina.(132,134)
da fisioterapia e, por fim, o uso dos antibióticos a fim de (Nível de evidência: 2)
garantir uma maior deposição da medicação. (87,119,126,127)
Devido à possibilidade de interação medicamentosa
(Nível de evidência:1) entre azitromicina e aminoglicosídeos, o uso combinado
com tobramicina inalatória deve ser reavaliado
Quais são as indicações para o uso de principalmente nos pacientes com exacerbações
azitromicina em pacientes com fibrose cística frequentes a despeito do tratamento otimizado.(137)
e como utilizá-la?
(Nível de evidência: 3)
O uso de azitromicina oral três vezes por semana
em indivíduos com fibrose cística, idade > 5 anos e Como reconhecer uma exacerbação
cronicamente colonizados por P. aeruginosa resulta pulmonar aguda?
em melhora da função pulmonar e redução de Caracteriza-se pelos achados clínicos de aumento
exacerbações.(119,127-133) da tosse, alteração no aspecto das secreções, febre,
(Nível de evidência: 1) alterações na ausculta pulmonar, queda do VEF1, queda
Em pacientes não colonizados por P. aeruginosa e da saturação, alterações radiológicas e perda ponderal.(23)
VEF1 > 50% do previsto, demonstrou-se uma redução (Nível de evidência: 5)
Para exacerbações leves (sem hipoxemia ou descon- Além da antibioticoterapia, o tratamento das
forto respiratório significativo), utilizar antimicrobianos exacerbações requer a participação da equipe
por via oral, de acordo com o resultado da última multidisciplinar, pois frequentemente é necessária
cultura de secreção respiratória. Para exacerbações a suplementação de oxigênio, o uso de dispositivos
intravenosos de longa duração, a intensificação
graves ou com intolerância por medicamentos por
da fisioterapia e uma abordagem nutricional
via oral, o tratamento intravenoso é recomendado
distinta. (138,143,144)
(habitualmente intra-hospitalar),(139) mas a escolha
das drogas depende das culturas prévias de secreção (Nível de evidência: 5)
respiratória e do histórico do paciente.(23)
Como avaliar a resposta ao tratamento?
A farmacocinética dos antibióticos é alterada nos
Devem-se observar parâmetros clínicos, como
indivíduos com fibrose cística e as dosagens devem
sintomas respiratórios, febre e ganho de peso, assim
ser ajustadas(139) (Tabela 3). Para P. aeruginosa,
como a melhora da função pulmonar, visando seu
recomenda-se a combinação de dois ou mais antibióticos
retorno aos valores basais. Apesar do tratamento
(geralmente um beta-lactâmico e um aminoglicosídeo). intensivo, aproximadamente 25% dos pacientes que
O tempo de tratamento de uma exacerbação apresentam uma exacerbação pulmonar aguda com
pulmonar aguda depende da resposta clínica, sendo necessidade de tratamento intravenoso não recuperam
recomendados de 8 a 14 dias. Pacientes mais graves totalmente os valores de função pulmonar,(23,138-142)
Tabela 3. Antimicrobianos mais usados no tratamento das exacerbações pulmonares agudas na fibrose cística.a
Bactéria Antimicrobiano Dose, mg/kg/dia Intervalos e via
Cefalexina 50-100 (máx, 4 g/dia) 6/6 h v.o.
Cefadroxil 30 (máx, 4 g/dia) 12/12 h v.o.
Cefuroxima 20-30 (máx, 1,5 g/dia) 12/12 h v.o.
Claritromicina 15 (máx, 1 g/dia) 12/12 h v.o.
Clindamicina 30-40 (máx, 2,4 g/dia) 6/6 h ou 8/8 h i.v.
Amoxicilina + ácido clavulânico 50b (máx. 1,5 g/dia) 8/8 h ou 12/12 h v.o.
Staphylococcus aureus
Sulfametoxazol/trimetoprima 40c (máx, 1,6 g/dia) 12/12 h v.o.
Oxacilina 200 (máx, 8 g/dia) 6/6 h i.v.
Vancomicinad 40-60 (máx, 8 g/dia) 6/6 h i.v.
Teicoplaninad 10 (máx, 400 mg/dia) 24/24 h i.v. ou i.m.
Linezolidad 20 (máx, 1,2 g/dia) 12/12 h v.o. ou i.v.
Tigeciclinad 2 (máx, 100 mg/dia) 12/12 h i.v.
Amoxicilina + ácido clavulânico 50b (máx, 1,5 g/dia) 8/8 h ou 12/12 h v.o.
Haemophilus influenzae Cefuroxima 20-30 (máx, 1,5 g/dia) 12/12 h v.o.
Cefaclor 40 (máx, 1 g/dia) 8/8 h v.o.
Ciprofloxacina 30-50 (máx, 1,5 g/dia) 12/12 h v.o.
30 (máx, 1,2 g/dia) 8/8 h i.v.
Amicacina 20-30 (máx, 1,5 g/dia) 24/24 h i.v.
Tobramicina 10 (máx, 660 mg/dia) 24/24 h i.v.
Pseudomonas aeruginosa Ceftazidima 150 (máx, 9 g/dia) 8/8 h i.v.
Cefepimae 150 (máx, 6 g/dia) 8/8 h i.v.
Piperacilina + tazobactame 300 (máx, 18 g/dia) 6/6 h ou 8/8 h i.v.
Meropeneme 120 (máx, 6 g/dia) 8/8 h i.v.
Aztreonam 50 (máx, 6 g/dia) 8/8 h i.v.
Sulfametoxazol/trimetoprima 40c (máx, 1,6g/dia) 12/12 h v.o.
Cloranfenicol 60 a 80 (máx, 4 g/dia) 6/6 h v.o. ou i.v.
Stenotrophomonas maltophiliaf
Levofloxacina 10 (máx, 750 mg/dia) < 5 anos: 12/12 h
> 5 anos: 24/24 h
Sulfametoxazol/trimetoprima 40c (máx, 1,6 g/dia) 12/12 h v.o.
100c (máx, 2,4 g/dia) 6/6 h i.v. (casos graves)
Complexo Burkholderia cepaciaf.g Meropenem 120 (máx, 6 g/dia) 8/8 h i.v.
Cloranfenicol 60 a 80 (máx, 4 g/dia) 6/6 h v.o. ou i.v.
Doxiciclina 1-2 (máx, 200 mg/dia) 12/12 h v.o.
Máx: máximo. aRecomenda-se realizar o controle de nível sérico para drogas que possuem testes laboratoriais
disponíveis (por ex.: aminoglicosídeos e vancomicina). bDose da amoxicilina. cDose do sulfametoxazol. dReservados
para Staphylococcus aureus resistente a meticilina. eApresentam ação também contra S. aureus sensível a meticilina.
f
Não há padronização dos antimicrobianos mais eficazes. gFrequentemente resistente a vários antimicrobianos.
enfatizando a necessidade de terapias de manutenção ocasionada por um fator precipitante agudo e corrigível
para prevenir as exacerbações pulmonares agudas. (hemoptise massiva, pneumotórax e no pós-operatório).
(Nível de evidência: 5) A ventilação não invasiva pode ser usada como
adjuvante no tratamento de exacerbações e pode
Quando e como empregar a oxigenoterapia ser indicada em pacientes com hipercapnia diurna e
em pacientes com fibrose cística? distúrbios do sono. Há relatos de que seu uso está
Em pacientes hipoxêmicos, a suplementação contínua associado a maior tolerância ao exercício, melhora
de oxigênio relaciona-se a aumento da tolerância ao na qualidade de vida e de sobrevida e menor declínio
exercício e melhora discreta no sono e na frequência da função pulmonar. Seu uso como recurso na
a escola/trabalho, porém, sem aumento da sobrevida. fisioterapia traz benefícios na dispneia, fadiga muscular
e oxigenação.(73-75)
A indicação da oxigenoterapia deve ser avaliada
individualmente quando a SpO2 estiver abaixo de (Nível de evidência: 2 para ventilação não invasiva)
90% para aliviar a dispneia, retardar o cor pulmonale (Nível de evidência: 5 para ventilação invasiva)
e melhorar os desfechos referidos. Pacientes com
PaO2 < 55 mmHg ou SpO2 < 88% já apresentam Como diagnosticar e tratar a aspergilose
indicação de oxigenoterapia, independentemente da broncopulmonar alérgica?
sintomatologia. A via preferencial é a cânula nasal com A aspergilose broncopulmonar alérgica é uma
o menor fluxo possível para manter a SpO2 acima de complicação frequente na fibrose cística. Recomenda-se
90%. O uso intermitente pode ser necessário durante a quantificação anual da IgE total como rastreamento.
as exacerbações pulmonares agudas.(145,146) Os critérios para o diagnóstico de aspergilose
broncopulmonar alérgica estão apresentados no Quadro
(Nível de evidência: 5)
5.(124,148) O tratamento é realizado com prednisona oral
com ou sem antifúngico (Quadro 6).(118,149-155)
Como diagnosticar e tratar o pneumotórax
em pacientes com fibrose cística? (Nível de evidência: 5 para diagnóstico e tratamento)
O pneumotórax manifesta-se com dispneia e/ou dor
Qual é a conduta frente ao paciente com
torácica de início súbito. O pneumotórax extenso exige
identificação de Aspergillus spp. no escarro?
internação e drenagem do tórax, com indicação de
pleurodese apenas se recorrente. O uso de ventilação A presença de Aspergillus spp. no escarro geralmente
não invasiva e a fisioterapia respiratória devem não significa doença.(156) Caso haja piora clínica ou
ser realizados somente em pacientes drenados. O falta de resposta ao tratamento com antimicrobianos,
deve-se investigar aspergilose broncopulmonar alérgica
pneumotórax pequeno deve ser drenado apenas se
e considerar bronquite fúngica.(157)
há instabilidade clínica.(23,147)
(Nível de evidência: 5)
(Nível de evidência: 5 para a não recomendação de
antibióticos)
Quais são os tratamentos moduladores
(Nível de evidência: 5 para a não interrupção de da CFTR que existem, para quais tipos de
medicamentos inalatórios) mutação têm sido empregados e quais os
efeitos observados?
Como classificar e tratar a hemoptise em Os potencializadores aumentam a função da proteína
pacientes com fibrose cística? CFTR que é expressa na membrana plasmática (classes
O manejo da hemoptise depende do seu volume. III, IV e V), e os corretores corrigem defeitos da
Sangramentos ≥ 5 ml exigem considerar tratamento proteína que não é expressa na membrana da célula
com antibióticos para exacerbação pulmonar.(23,147) (classes I e II).(158-161)
Sangramentos ≥ 240 ml/dia ou > 100 ml/dia por vários
O ivacaftor é um potencializador que foi estudado
dias requerem atendimento especializado e, quando
inicialmente em pacientes portadores da mutação
evidenciada instabilidade clínica, indica-se tratamento G551D (classe III). Seu uso teve efeitos relevantes
broncoscópico ou através de embolização de artérias na redução dos níveis de cloreto no suor, melhora do
brônquicas.(23,147) A intervenção cirúrgica pode ser feita VEF1 e ganho ponderal, assim como na redução do
na fase aguda somente em casos refratários. número de exacerbações e na melhora da qualidade
(Nível de evidência: 2) de vida. Seu uso foi posteriormente aprovado para
(Nível de evidência: 5 para intervenção cirúrgica) outras mutações classe III e R117H.(162-164)
Entre as drogas corretoras, uma droga para classe
Quando indicar ventilação invasiva e não I (ataluren) demonstrou efeitos discretos na função
invasiva na fibrose cística? pulmonar e no número de exacerbações em um estudo
A indicação de ventilação invasiva no paciente grave de fase III, apenas para pacientes que não utilizavam
é controversa e está associada à baixa sobrevida, tobramicina inalatória.(165)
especialmente quando indicada por infecção respiratória. Para a mutação de classe II de maior prevalência
Deve ser considerada na insuficiência respiratória em todo o mundo, a F508del, o uso da associação
sem perdas aparentes. Sinais como apatia ou pancreática exócrina, com uma sensibilidade de
irritabilidade, taquipneia e prostração podem indicar 86-100%.(185) A determinação quantitativa da gordura
desidratação, hiponatremia, hipocalemia e hipocloremia, fecal pelo método de Van de Kamer é considerado o
com potencial risco de vida. Neonatos e lactentes em padrão ouro para o diagnóstico da esteatorreia, mas
uso de leite materno ou de fórmulas infantis devem seu uso é limitado por dificuldades técnicas.(185)
receber suplementação de cloreto de sódio, na dose
(Nível de evidência: 4)
de 2,5-3,0 mEq/kg/dia.(23,182,183)
(Nível de evidência: 5) Como acompanhar a suficiência
pancreática?
Quando suspeitamos clinicamente da
O exame de elastase fecal é simples e confiável a
insuficiência pancreática exócrina?
partir de duas semanas de idade, na ausência de fezes
Devemos suspeitá-la na presença de esteatorreia,
líquidas. Pacientes com suficiência pancreática devem
diarreia crônica, baixo ganho de peso e sinais de
hipovitaminose. O lactente pode ainda apresentar ser monitorados anualmente durante a infância e
edema, hipoalbuminemia e anemia. Sinais indiretos durante os períodos de déficit de crescimento, perda de
são observados através das características das fezes, peso ou diarreia crônica. A avaliação semiquantitativa
como oleosidade, odor fétido e diarreia.(184) de gordura nas fezes (esteatócrito) tem valor relativo
no seguimento, e a avaliação qualitativa de gorduras
(Nível de evidência: 5)
nas fezes (Sudam III) tem apenas valor de triagem
Como confirmamos o diagnóstico da para perda fecal de gorduras.(23)
insuficiência pancreática exócrina? (Nível de evidência: 5)
Na prática clínica, o melhor método para confirmação
é a dosagem da elastase fecal, sendo valores menores Como realizar a terapia de reposição
de 200 µg/g de fezes confirmatórios de insuficiência enzimática?
O requerimento de reposição de enzimas pancreáticas pancreática (10%), e o prolapso retal ocorre em cerca
varia muito e deve ser avaliado individualmente, de 20% dos pacientes, principalmente com idade de
relacionando sintomas clínicos e a dieta de cada 1-2 anos. Pacientes com prolapso retal e pancreatites
paciente. As doses iniciais (Tabela 4) e seu eventual agudas recorrentes devem ser investigados quanto à
aumento subsequente devem ser guiados pela melhora/ fibrose cística. A abordagem e o tratamento de todas
resolução dos sintomas de má absorção. essas patologias não diferem dos em pacientes sem
As cápsulas de enzimas devem ser engolidas fibrose cística.(23)
inteiras e tomadas no início ou durante as refeições. (Nível de evidência: 4)
Lactentes podem ingerir os grânulos misturados com
leite ou papa de frutas. Doses superiores a 10.000 Como monitorar e manejar o acometimento
UI lipase/kg/dia devem ser evitadas, mas podem ser hepático e das vias biliares?
necessárias na infância, especialmente durante as A frequência de manifestações hepáticas e de
fases de crescimento acelerado.(186) vias biliares está apresentada na Tabela 5. A cirrose
(Nível de evidência: 1) multilobar com insuficiência hepática é rara,(189) mas
“barro biliar” e litíase nas vias biliares são frequentes
Como avaliar a resposta à terapia de e geralmente assintomáticos.(190,191) O monitoramento
reposição enzimática? dos pacientes inclui avaliação clínica em todas as
A adequação da terapia é determinada clinicamente consultas, exames bioquímicos (enzimas hepáticas e
observando-se o estado nutricional, sinais e sintomas de tempo de protrombina) e ultrassonografia abdominal
má absorção e o gráfico do ganho de peso do paciente. anualmente. A endoscopia digestiva pode ser solicitada
Doses inapropriadas de enzimas pancreáticas podem para investigar casos de hemorragia digestiva e/
resultar em dor abdominal, constipação ou diarreia. ou suspeita de varizes esofágicas e gástricas. A
O padrão de evacuações e as características das fezes biópsia hepática é raramente indicada. Pacientes com
(oleosas, odor fétido, flutuantes, diarreicas, acinzentadas acometimento hepático devem realizar a quantificação
ou amareladas) podem indicar inadequação da terapia de alfa-fetoproteina anualmente, devido ao risco de
de reposição enzimática.(23,24) carcinoma hepatocelular.(189)
Quais dados referenciais devem-se utilizar? Quais são as principais estratégias para
As curvas de crescimento utilizadas no Brasil são as a prevenção e o tratamento dos distúrbios
da Organização Mundial da Saúde (2006-2007),(195,196) nutricionais na fibrose cística?
e os dados antropométricos devem ser obtidos e A prevenção dos distúrbios nutricionais pressupõe a
registrados em todas as consultas (Quadro 8). ingestão de uma dieta hipercalórica e hiperproteica,
(Nível de evidência: 5) suplementação vitamínica, terapia de reposição
enzimática e controle das infecções/exacerbações/
Como definir as deficiências nutricionais? outras comorbidades da fibrose cística. O tratamento
Nas crianças e adolescentes, os escores Z de estatura/ envolve terapia comportamental, uso de suplementos
idade, peso/idade, peso/estatura e índice de massa nutricionais, uso de dieta enteral via sonda nasoenteral
corpórea (IMC)/idade com resultados < −2 revelam numa fase aguda e via gastrostomia para uso
deficiências antropométricas. É sugerido associar a prolongado.(198-201)
avaliação antropométrica à velocidade de crescimento (Nível de evidência: 5)
e à estatura alvo. Para adultos, a recomendação é de
IMC ≥ 22 kg/m2 para mulheres e ≥ 23 kg/m2 para Quais fatores devem ser avaliados na falha
homens. Avaliações adicionais da composição corporal de crescimento?
através das pregas cutâneas, circunferência do braço Recomenda-se avaliar a ingestão de macro e
e bioimpedância auxiliam na determinação da ótima micronutrientes, assim como o controle da má-absorção
condição nutricional.(197) e das infecções/exacerbações. Além disso, devem-se
(Nível de evidência: 5) avaliar comorbidades, como distúrbios eletrolíticos,
doença do refluxo gastroesofágico, sobrecrescimento
Tabela 5. Frequência das manifestações hepáticas e de bacteriano, diabetes ou distúrbios comportamentais do
vias biliares em pacientes com fibrose cística. apetite. Causas menos frequentes incluem intolerância
Órgão Proporção à lactose, doença celíaca, alergia alimentar e doença
aproximada, inflamatória intestinal.(193,202)
% (Nível de evidência: 5)
Fígado
Aumento das enzimas hepáticas 10-35 Quais são as opções para a terapia
Esteatose hepática 20-60 nutricional?
Cirrose biliar focal 11-70
Cirrose biliar multilobular 5-15 Todos os pacientes devem receber aconselhamento
Colestase neonatal <2 dietético. A terapia comportamental pode ser útil
Estenose do ducto biliar <2 para crianças de 3-12 anos de idade. Recomenda-se
Colangite esclerosante <1 a ingestão energética de 110-200% do recomendado
Colangiocarcinoma rara para a idade e sexo, com 35-40% da energia fornecida
Vesícula biliar por lipídios, além de suplementação de vitaminas de
Colelitíase e colecistite 10-30 acordo com a necessidade. O uso de suplementos
Microvesícula 24-50 alimentares e/ou o aumento da densidade calórica da
Adaptado de Debray et al.(189) dieta são indicados para pacientes com perda ponderal
Quadro 7. Parâmetros nutricionais e frequência sugerida para monitorização em pacientes com fibrose cística.
Parâmetros Frequência da avaliação
Antropometria Cada 3 meses
Perímetro cefálico Cada 3 meses
Peso, estatura (comprimento) Cada 3 meses
Circunferência do braço e prega tricipital Anualmente
Ingestão alimentar A cada visita
Recordatório alimentar A cada visita
Estratégias para aumentar as calorias ingeridas A cada visita
Uso de suplementos orais A cada visita
Terapia nutricional enteral A cada visita
Comportamento prejudicial a alimentação (p ex.; pular refeições, refeições longas, A cada visita
recusa alimentar, neofobia)
Bioquímica Anualmente
Hemograma completo Anualmente
Ferro Anualmente
Vitamina A (retinol) Anualmente
Vitamina D (25-hidroxivitamina D) Anualmente
Vitamina E (alfa-tocoferol) Anualmente
Vitamina K (tempo de protrombina e RNI) Anualmente
RNI: recommended nutrient intake. Adaptado de Stallings et al.(194)
ou falha de ganho ponderal durante 2-6 meses de acordo (Nível de evidência: 5 para vitamina A)
com a faixa etária. O suporte nutricional enteral por (Nível de evidência: 3 para vitamina D)
meio de sondas é reservado para casos mais graves
(Nível de evidência: 2 para vitamina K)
e por curtos períodos de tempo. A gastrostomia é
indicada para a terapia nutricional de longo prazo.
A nutrição parenteral é medida de exceção, indicada OUTROS ASPECTOS
para pacientes cuja via digestiva não pode ser utilizada
Quando e como deve ser feita a
(no pós-operatório ou na enfermidade crítica) ou em
casos de síndrome do intestino curto.(193,202) A Figura
investigação para diabetes em pacientes com
2 apresenta o algoritmo para o manejo dos pacientes fibrose cística?
com baixo peso ou com ganho de peso inadequado. Aproximadamente 20% dos adolescentes e 40% dos
adultos desenvolvem diabetes relacionado à fibrose
(Nível de evidência: 5)
cística, com piora da nutrição e da função pulmonar
Quais são os requerimentos para a e aumento das taxas de morbidade e mortalidade,
suplementação de vitaminas na fibrose mesmo em sua fase assintomática.(208) Todo paciente
cística? com fibrose cística acima de 10 anos de idade deve
Pacientes com fibrose cística têm alto risco de realizar anualmente o teste de tolerância oral à glicose,
desenvolver deficiência de vitaminas lipossolúveis com coleta da glicemia em jejum de 8 h e em 2 h após
por conta da insuficiência pancreática exócrina. a ingestão de 1,75 g/kg de peso de dextrosol (máximo,
As doses recomendadas têm uma ampla variação, 75 g).(209-213) O teste de tolerância oral à glicose deve
conforme as Tabelas 6 e 1A (apêndice on-line).(193,202) ser realizado preferencialmente em momento de
As vitaminas lipossolúveis são mais bem absorvidas estabilidade clínica.
quando administradas em conjunto com uma refeição Recomenda-se também sua realização em pacientes
e enzimas pancreáticas.(203-207) com piora clínica inexplicável, antes de transplante,
(Nível de evidência: 2 para vitamina E) em uso de corticosteroides sistêmicos, antes e durante
Quadro 8. Índices antropométricos recomendados pela Organização Mundial da Saúde e adotados pelo Ministério da
Saúde na avaliação do estado nutricional de crianças e adolescentes.
Faixa etária Crianças até 5 anos Crianças entre 5 e 10 Adolescentes de 10 até
incompletos anos incompletos 19 anos
Índices antropométricos Peso para idade Peso para idade -
Peso para estatura - -
IMC para idade IMC para idade IMC para idade
Estatura para idade Estatura para idade Estatura para idade
IMC: índice de massa corpórea.
Figura 2. Algoritmo para pacientes com baixo peso ou ganho de peso insuficiente. FC: Fibrose cística; IBP: inibidor de
bomba de próton; GI: gastrointestinal; TNE: terapia nutricional enteral; DRFC: diabetes relacionado à fibrose cística;
e DRGE: doença de refluxo gastroesofágico. Adaptado de Sinaasappel et al.(202)
a gestação e em pacientes em uso de alimentação óssea é o exame padrão ouro para sua investigação,
enteral como suporte nutricional. devendo ser realizada a partir de 8-10 anos de idade.
Os valores para o diagnóstico de diabetes relacionado Em menores de 20 anos, os locais para a avaliação são
à fibrose cística são semelhantes aos de diabetes não corpo total e coluna lombar e, para os maiores de 20
relacionados à fibrose cística (Tabela 7). anos, quadril e coluna lombar. Os resultados devem
ser ajustados para sexo, idade e etnia e expressos em
(Nível de evidência: 2) escore Z para pacientes < 50 anos e em escore T para
Qual é o tratamento atual recomendado pacientes > 50 anos e mulheres em menopausa. A
para diabetes relacionado à fibrose cística? densitometria óssea deve ser repetida a cada 1-5 anos,
O tratamento do diabetes relacionado à fibrose cística dependendo da classificação clínica dos achados.(23,215)
é o uso de insulina.(208-210) As doses médias de insulina (Nível de evidência: 4 para locais de avaliação da
variam entre 0,38 e 0,58 UI/kg/dia,(214) distribuídas entre densitometria óssea)
insulina basal lenta e insulina rápida ou ultrarrápida (Nível de evidência: 5 para confirmar a indicação da
nas refeições. Calorias e carboidratos não devem densitometria óssea)
ser restringidos, mas deve-se optar por carboidratos
complexos e de baixo índice glicêmico e distribuí-los em Qual é o tratamento recomendado para
porções e intervalos menores (2-3 h). Pacientes com osteoporose/osteopenia na fibrose cística?
alterações glicêmicas durante as exacerbações podem se Para a prevenção da perda de massa óssea,
beneficiar de insulinização intermitente. Não há consenso recomenda-se manter o estado nutricional adequado,
definido quanto ao tratamento da intolerância à glicose. praticar exercícios físicos de baixo impacto e evitar uso
(Nível de evidência: 2 para tratamento com insulina) de corticosteroide inalatório ou oral.(23,215)
(Nível de evidência: 3 para a recomendação quanto (Nível de evidência: 5)
a calorias e carboidratos) Se a presença de osteopenia for confirmada (escore
Quando e como deve ser feita a Z entre −1,0 e −2,5), realizar suplementação de
investigação de osteopenia/osteoporose na vitamina D, vitamina K e cálcio.(216)
fibrose cística? (Nível de evidência: 2)
A baixa densidade mineral óssea é comum na fibrose Se a presença de osteoporose for confirmada (escore
cística, podendo ocorrer desde a infância. A densitometria Z < −2,5), acrescentar bifosfonatos: alendronato v.o.
Tabela 6. Doses para suplementação de vitaminas lipossolúveis em pacientes com fibrose cística.
Idade Suplementação diária individual
Vitamina A, UI (μg) Vitamina E, mg Vitamina K, mg Vitamina D, UI
0-12 meses 1.500 (510) 40-50 0,3-0,5 400-500
1-3 anos 5.000 (1.700) 80-150 0,3-0,5 800-1.000
4-8 anos 5.000-10.000 (1.700-3.400) 100-200 0,3-0,5 800-1.000
> 8 anos 10.000 (3.400) 200-400 0,3-1,0 800-2.000
Adultos 10.000 (3.400) 200-400 2,5-5,0a 800-2.000
a
mg/semana.
Tabela 7. Critérios diagnósticos e triagem para diabetes relacionado à fibrose cística e interpretação da glicemia
plasmática durante o teste de tolerância oral à glicose.
Realização de TTOG, mg/dl Interpretação GP em jejum GP-2 h GP-1 h
• Pacientes saudáveis > 10 anos Tolerância normal a glicose < 126 < 140
• Antes de transplante Intolerância à glicose < 126 140-199
• Programação de gestação DRFC ≥ 126 ≥ 200
• Durante gestação Indeterminado < 126 < 140 ≥ 200
Monitorização de glicemia de jejum e GPP de 2 h
• Durante hospitalizações DRFC GP de jejum ≥ 126 mg/dl
• Ambulatorial
1. Exacerbação pulmonar, em
antibioticoterapia endovenosa ou GPP ≥ 200 mg/dl (persistente por 48 h)
glicocorticoide sistêmico
2. Mensalmente, durante e após ≥ 200 mg/dl durante ou após a dieta
alimentação enteral noturna
Hemoglobina glicada DRFC ≥ 6,5% (< 6,5% não exclui)
Glicemia ao acaso DRFC Glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dl + poliúria e polidipsia
TTOG: teste de tolerância oral à glicose; GP: glicemia plasmática; GP-2h: glicemia 2 horas após ingesta de glicose
no TTOG, GP-1h: glicemia 1 hora após ingesta de glicose no TTOG; DRFC: diabetes relacionado à fibrose cística; e
GGP: glicemia pós-pandrial. Adaptado de Sermet-Gaudelus et al.(213)
(70 mg/semana ou 10 mg/dia); risedronato v.o. (35 nasal e rinossinusite crônica. A extensão da doença
mg/semana ou 5 mg/dia); pamidronato i.v. (0,5-1,0 nasossinusal pode não se correlacionar com os sintomas.
mg/kg/dia por 3 dias a cada 3 meses); ou ácido O paciente deve ter avaliação otorrinolaringológica
zoledrônico i.v. (0,025-0,05 mg/kg/dia em dose única de rotina, já que a sinusopatia pode estar relacionada
a cada 6 meses).(213,217) às exacerbações do quadro pulmonar. Exames de
(Nível de evidência: 1 para bifosfonatos) imagem estão indicados somente para planejamento
cirúrgico ou investigação de quadros complicados.(219)
Quando considerar o uso e quais são O tratamento da doença nasossinusal na fibrose cística
as opções para o acesso venoso de longa consiste em drogas anti-inflamatórias, antibióticos,
permanência? medicações tópicas e cirurgia.(219,220)
A avaliação da necessidade do uso de dispositivo
Um estudo com alfa dornase nasal em pacientes em
intravenoso de longa permanência baseia-se no tempo pós-cirurgia endoscópica nasal mostrou benefícios.
de terapia previsto, nas características das drogas, Entretanto, a efetividade depende do alargamento
tais como pH (< 5 ou > 9), osmolaridade (> 600 cirúrgico dos óstios paranasais para permitir a chegada
mOsmol/l) e capacidade irritante das drogas, assim do medicamento à mucosa sinusal.(219,221-223)
como na durabilidade do dispositivo intravenoso, nas
condições clínicas do paciente e na possibilidade de Em relação aos corticosteroides tópicos nasais,
estudos têm demonstrado efeitos positivos desses
complicações associadas (Figura 3).(218)
tanto na melhora de sintomas nasais como na redução
Entre as opções de dispositivos para acesso de longa de pólipos.(224,225)
permanência incluem-se o cateter central de inserção
O tratamento cirúrgico deve ser considerado na
periférica, o cateter venoso central (Intracath®; Becton
persistência da obstrução nasal mesmo após o
Dickinson, Sandy, UT, EUA), os tunelizáveis (por
tratamento clínico, nos casos de obstrução anatômica,
exemplo, do tipo Hickman) e os totalmente implantáveis
quando há relação com exacerbações pulmonares,
(PORT-A-CATH®; Smiths Medical, Minneapolis, MN,
nos casos de transplante pulmonar ou naqueles cujos
EUA). Na rede venosa preservada, a primeira opção
sintomas afetam a qualidade de vida.(219)
é o cateter central de inserção periférica valvulado, o
qual permite utilização intermitente.(218) Não existem estudos quanto ao uso de mucocinéticos,
e as recomendações são extrapoladas a partir de
(Nível de evidência: 4 para acesso venoso)
pacientes sem fibrose cística. É advogado que a
Quando e como deve ser realizada a solução salina a 7% seria mais adequada na fibrose
abordagem da sinusopatia na fibrose cística? cística devido ao seu efeito mucocinético, mas o uso
Manifestações nasossinusais da fibrose cística são de soluções salinas a 3% é mais difundido.
comuns, principalmente a obstrução nasal por polipose (Nível de evidência: 2 para alfa dornase)
Não Sim
Figura 3. Seleção do dispositivo endovenoso de longa permanência. PICC: peripherally inserted central catheter (cateter
central de inserção periférica). Adaptado de Santolim et al.(218)
(Nível de evidência: 3 para tratamento cirúrgico) lumacaftor).(231) Pacientes do sexo masculino, apesar
(Nível de evidência: 5 para demais recomendações) do fato de que quase todos são inférteis, devem ser
orientados sobre os riscos de doenças sexualmente
Quando indicar e referenciar o paciente transmissíveis. Apesar de haver evidências de maior
para o transplante pulmonar? gravidade no uso de anticoncepcionais orais no sexo
feminino, supostamente relacionada a questões
O transplante pulmonar deve ser considerado nos
hormonais, seu uso não parece influenciar a evolução
pacientes com fibrose cística e expectativa de vida
da fibrose cística.(232) O aconselhamento genético deve
prevista menor do que 50% em 2 anos e que tenham
ser oferecido a todos os pacientes e seus familiares,
limitações funcionais classe III ou IV segundo a New
facilitando a prevenção da fibrose cística nas famílias
York Heart Association. Embora não haja um indicador
afetadas.
claro de sobrevida em 2 anos, a queda do VEF1 abaixo
de 30% é relacionada a uma mortalidade em 2 anos (Nível de evidência: 5 para indicação de anticoncepcionais)
em torno de 40% no sexo masculino e de 55% no (Nível de evidência: 5 para aconselhamento genético)
sexo feminino. Como o tempo médio de espera em
lista para transplante pulmonar é de aproximadamente Como abordar a gravidez na fibrose cística?
2 anos, pacientes adultos com fibrose cística devem A gestante com fibrose cística deve ser acompanhada
ser referenciados com as seguintes condições: VEF1 assiduamente pela equipe multidisciplinar e por um
< 30%; distância percorrida no teste de caminhada obstetra com experiência em gestação de alto risco.
de seis minutos < 400 m; piora clínica ou funcional O teste de tolerância oral à glicose e ultrassonografias
acelerada, principalmente no sexo feminino; hipoxemia devem ser realizados trimestralmente, assim como
e/ou hipercapnia (PaO2 < 60 mmHg e PaCO2 > 50 o monitoramento nutricional e da função pulmonar.
mmHg); e pressão sistólica de artéria pulmonar > 35 As exacerbações respiratórias devem ser tratadas
mmHg. Pacientes com episódios de pneumotórax ou agressivamente. A maioria das drogas usadas no
hemoptise devem ser encaminhados precocemente. tratamento da fibrose cística não compromete o feto.
Em relação à faixa pediátrica, os resultados de longo Sempre que possível, o parto deve ser via vaginal com
prazo são menos consistentes e, apesar de os critérios anestesia peridural.(233-236)
de encaminhamento serem semelhantes aos citados,
(Nível de evidência: 5 para parto vaginal)
a indicação deve ser individualizada, levando-se em
conta a disponibilidade e a expertise da equipe de
Qual é a melhor maneira de abordar a
transplante responsável.(23,226-228)
infertilidade na fibrose cística?
(Nível de evidência: 5) A infertilidade ou a subfertilidade em ambos os
sexos costuma acompanhar a fibrose cística. Enquanto
Como devem ser os cuidados paliativos a infertilidade feminina parece estar relacionada ao
em pacientes com fibrose cística e doença espessamento do muco cervical, nos homens, essa se
pulmonar avançada? relaciona à ausência congênita e bilateral dos ductos
O diálogo franco e aberto sobre a evolução da doença deferentes.(237) O espermograma deve ser oferecido
deve ser promovido desde cedo, e os cuidados paliativos a todo paciente interessado em conhecer seu nível
devem ser oferecidos pela equipe que trata o paciente. de fertilidade.(10) Os centros de referência devem
A equipe deve ser treinada e capacitada nos princípios proporcionar acesso a vários especialistas, incluindo
básicos de analgesia e sedação e ser capaz de tratar ginecologistas, urologistas, geneticistas e especialistas
sintomas, como dor, náusea, ansiedade e dispneia. em reprodução humana, para orientar casais e pacientes
Muitas vezes, os cuidados paliativos são instituídos sobre as estratégias de investigação e de tratamento
com o restante do tratamento ativo. O desejo do da infertilidade.(238)
paciente e de seus familiares, não só em termos (Nível de evidência: 5)
gerais, mas também quanto ao investimento em
situações de emergência e de final de vida, deve ser Qual é a importância da adesão ao
de conhecimento de toda equipe.(229) tratamento na fibrose cística?
(Nível de evidência: 5) As terapias recomendadas para o tratamento da
fibrose cística, apesar de sua comprovada eficácia
Quais são as recomendações em relação na sobrevida, causam uma sobrecarga ao paciente,
ao uso de métodos contraceptivos para interferem na sua qualidade de vida e tornam sua
pacientes com fibrose cística? adesão problemática devido à complexidade dos
As pacientes com fibrose cística devem ser orientadas regimes terapêuticos.
em relação aos métodos contraceptivos disponíveis Estratégias para vencer barreiras e intervenções
(métodos hormonais, dispositivos intrauterinos, métodos psicossociais apropriadas para melhorar a adesão
de barreira e esterilização).(230) A eficácia desses devem ser implementadas pelos profissionais dos
métodos é semelhante àquela para população geral, centros especializados. A comunicação e a discussão
exceto pela menor atividade dos anticoncepcionais abertas poderão identificar as barreiras-chave, com
hormonais com o uso das novas drogas (ivacaftor e resolução dos problemas inerentes a cada núcleo
familiar. Essas ações são essenciais, uma vez que a CONFLITO DE INTERESSE
adequada adesão às ações inerentes à doença está
Todos os autores declararam os conflitos de interesse,
relacionada a benefícios clínicos expressivos.(239-242)
descritos no apêndice on-line (Quadro 3A).
(Nível de evidência: 5)
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238. Kerem E, Conway S, Elborn S, Heijerman H; Consensus Committee. org/10.1136/thoraxjnl-2015-207488
Uma restauradora de 29 anos de idade, que jamais e distribuídos aleatoriamente em ambos os pulmões,
fumara, apresentou ligeiro mal-estar e gripe durante alguns sem espessamento intersticial ou qualquer outro achado
dias. A radiografia de tórax mostrou diversos nódulos de patológico (Figuras 1C e 1D). Os resultados dos testes
tamanhos variados, com alta densidade e distribuídos de função da paratireoide e de autoanticorpos foram
aleatoriamente em ambos os pulmões, semelhantes negativos, assim como o foram os resultados do ensaio
a calcificações (Figura 1A). Os resultados dos exames quantiFERON-TB (Cellestis, Ltd., Carnegie, Austrália); além
laboratoriais foram normais. Os testes de função pulmonar disso, os níveis de cálcio no sangue estavam normais. A
e a gasometria arterial foram normais: VEF1 = 3,23 l (97% paciente confirmou uma infecção grave por varicela na
do previsto); CVF = 3,81 l (98% do previsto); DLCO = infância (aos 4 anos de idade), e o teste de anticorpos
98%; pressão parcial de oxigênio = 97 mmHg; pressão para o vírus varicela-zóster apresentou resultados positivos
parcial de dióxido de carbono = 39 mmHg. A TCAR de (IgG = 348 mUI/ml e IgM = 0,34 mUI/ml). A varicela
tórax realizada para esclarecer os achados da radiografia (catapora) é uma doença viral contagiosa transmitida
de tórax mostrou que, embora todos os nódulos estivessem por gotículas respiratórias. O surgimento de múltiplas
calcificados, não foram encontrados linfonodos calcificados calcificações nodulares pequenas e difusas em ambos os
na TCAR axial (janela mediastinal, Figura 1B), e que havia pulmões, com linfonodos não calcificados, é uma sequela
numerosos nódulos bilaterais pequenos, bem definidos incomum de pneumonia por varicela.
A B
C D
Figura 1. Radiografia de tórax em incidência anteroposterior mostrando inúmeros micronódulos grosseiros e puntiformes com
alta densidade, semelhantes a calcificações, em ambos os pulmões; em B, TCAR axial (janela mediastinal) sem linfonodos
mediastinais calcificados. TCAR axial (em C) e coronal (em D) de tórax (espessura da projeção de intensidade máxima: 14
mm e 30 mm, respectivamente) mostrando nódulos calcificados esparsos distribuídos aleatoriamente em ambos os pulmões,
sem linfonodos mediastinais calcificados, indícios de cura de pneumonia por varicela no contexto clínico apropriado.
LEITURA RECOMENDADA
1. Zanetti G, Hochhegger B, Marchiori E. Calcified multinodular lung high-resolution CT. AJR Am J Roentgenol. 2005;184(1):273-82. https://
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pulmonary abnormalities: a pattern-oriented diagnostic approach on Radiol. 2015;44(3):267-76. https://doi.org/10.1067/j.cpradiol.2014.12.005
1. Dipartimento di Radiologia, A.O. dei Colli, Ospedale Monaldi di Napoli, Napoli, Italia.
2. Dipartimento di Scienze Cardio-Toraciche e Respiratorie, Seconda Università degli Studi di Napoli, Napoli, Italia.
Foi aprovada uma alteração no Regulamento do Jornal Brasileiro de Pneumologia para a criação do cargo de
Vice-Editor. O Vice-Editor será eleito sempre na metade do mandato do Editor-Chefe para auxiliá-lo na condução
editorial do jornal. Ao final de dois anos, o Vice-Editor assume a posição de Editor-Chefe, com mandato pleno, de
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No período entre 15 de maio e 30 de julho de 2017 estarão abertas as inscrições para candidatos a posição de
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Editor-Chefe em 2019. Os interessados ao posto deverão ter experiência prévia na editoração de periódicos de
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vitae na plataforma Lattes. As propostas dos candidatos deverão abranger o campo administrativo, científico e
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para a duração do futuro mandato como Editor-Chefe. Os candidatos deverão conhecer as normas relativas à
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qual poderá ser obtido por meio de contato com a secretaria do JBP em Brasília.
O Jornal Brasileiro de Pneumologia (J Bras Pneumol) . . .” No caso de produtos provenientes dos EUA e Canadá,
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termos consagrados. Estes termos estão definidos na Lista de Discussão, Agradecimentos e Referências. A seção Métodos
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proteína C reativa (PCR) . Com exceção das abreviaturas onde o projeto foi desenvolvido. Ainda que a inclusão de
aceitas sem definição, elas não devem ser utilizadas nos subtítulos no manuscrito seja aceitável, o seu uso não deve
títulos e evitadas no resumo dos manuscritos. Ao longo do ser excessivo e deve ficar limitado às sessões Métodos e
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preferência às citações numéricas apenas. Quando os autores Revisões e Atualizações: Serão realizadas a convite do
mencionarem qualquer substância ou equipamento incomum, Conselho Editorial que, excepcionalmente, também poderá
deverão incluir o modelo/número do catálogo, o nome do aceitar trabalhos que considerar de interesse. O texto não
fabricante, a cidade e o país, por exemplo: “. . . esteira deve ultrapassar 5000 palavras, excluindo referências e
ergométrica (modelo ESD-01; FUNBEC, São Paulo, Brasil) tabelas. O número total de ilustrações e tabelas não deve
ser superior a 8. O número de referências bibliográficas Journal Indexed in Index Medicus, da National Library of
deve se limitar a 60. Medicine disponibilizada no endereço: http://www.ncbi.
Ensaios pictóricos: Serão igualmente realizados a nlm.nih.gov/entrez/journals/loftext.noprov.html Para
convite, ou após consulta dos autores ao Conselho Editorial. todas as referências, cite todos os autores até seis. Acima
O texto não deve ultrapassar 3000 palavras, excluídas desse número, cite os seis primeiros autores seguidos da
referências e tabelas. O número total de ilustrações expressão et al.
e tabelas não deve ser superior a 12 e as referências Exemplos:
bibliográficas não devem exceder 30. Artigos regulares
Relatos de Casos: O texto não deve ultrapassar 1. Neder JA, Nery LE, Castelo A, Andreoni S, Lerario MC,
1500 palavras, excluídas as referências e figuras. Deve Sachs AC et al. Prediction of metabolic and cardiopul-
ser composto por Introdução, Relato do Caso, Discussão monary responses to maximum cyclo ergometry: a
e Referências. Recomenda-se não citar as iniciais do randomized study. Eur Respir J. 1999;14(6) :304-13.
paciente e datas, sendo mostrados apenas os exames
2. Capelozzi VL, Parras ER, Ab’Saber AM. Apresentação
laboratoriais relevantes para o diagnóstico e discussão.
anatomopatológica das vasculites pulmonares. J Bras
O número total de ilustrações e/ou tabelas não deve ser
Pneumol. 2005;31 Supl 1:S9-15.
superior a 3 e o limite de referências bibliográficas é 20.
Quando o número de casos exceder 3, o manuscrito será Resumos
classificado como Série de Casos, e serão aplicadas as 3. Rubin AS, Hertzel JL, Souza FJFB, Moreira JS.
regras de um artigo original. Eficácia imediata do formoterol em DPOC com pobre
Comunicações Breves: O texto não deve ultrapassar reversibilidade [resumo]. J Bras Pneumol. 2006;32
1500 palavras, excluindo as referências e tabelas. O Supl 5:S219.
número total de tabelas e/ou figuras não deve exceder 2 Capítulos de livros
e o de referências bibliográficas 20. O texto deverá ser
4. Queluz T, Andres G. Goodpasture’s syndrome. In: Roitt
confeccionado de forma corrida.
IM, Delves PJ, editors. Encyclopedia of immunology.
Carta ao Editor: Serão consideradas para publicação London: Academic Press; 1992. p. 621-3.
contribuições originais, comentários e sugestões relacio-
Teses
nadas à matéria anteriormente publicada, ou a algum
tema médico relevante. Serão avaliados também o relato 5. Martinez TY. Impacto da dispnéia e parâmetros
de casos incomuns. Deve ser redigida de forma sucinta, funcionais respiratórios em medidas de qualidade de
corrida e sem o item introdução. Não deve apresentar vida relacionada a saúde de pacientes com fibrose
resumo/abstract e nem palavras-chave/keywords. Não pulmonar idiopática [tese]. São Paulo: Universidade
deve ultrapassar 1000 palavras e ter no máximo duas Federal de São Paulo;1998.
figuras e/ou tabelas. Admitimos que as figuras sejam Artigos publicados na internet
subdividas em A, B, C e D, mas que se limitem apenas 6. Abood S. Quality improvement initiative in nursing
duas. As referências bibliográficas devem se limitar a dez. homes: the ANA acts in an advisory role. Am J
Correspondência: Serão consideradas para publicação Nurs [serial on the Internet]. 2002 [cited 2002 Aug
comentários e sugestões relacionadas a matéria anterior- 12];102(6) :[about 3 p.]. Available from: http://www.
mente publicada, não ultrapassando 500 palavras no total. nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm
Imagens em Pneumologia: o texto deve ser limitado Homepages/endereços eletrônicos
ao máximo de 200 palavras, incluindo título, texto e até 3 7. Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New
referências. É possível incluir até o máximo de 3 figuras, York: Association of Cancer Online Resources, Inc.,
considerando-se que o conteúdo total será publicado em c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002 Jul 9].
apenas uma página. Available from: http://www.cancer-pain.org/
Tabelas e Figuras: Tabelas e gráficos devem ser Outras situações
apresentados em preto e branco, com legendas e res-
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Tiff ou JPG.
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CEP: 88.032 - 005 - Florianópolis – SC
CEP: 79010-210 - Campo Grande - MS
Telefone: (48) 32310314
Telefone: (67) 33252955 / (67) 99853782
E-mail: acapti@acapti.org.br | site: www.acapti.org.br
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ASSOCIAÇÃO DE PNEUMOLOGIA E CIRUGIA TORÁCICA DO ESTADO SOCIEDADE DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA DO ESTADO DO
DO RIO GRANDE DO NORTE RIO DE JANEIRO
Presidente: Paulo Roberto de Albuquerque Presidente: Gilmar Alves Zonzin
Secretária: Suzianne Ruth Hosannah de Lima Pinto Secretária: Mônica Flores Rick
Endereço: Av. Campos Sales, 762 - Tirol Endereço: Rua da Lapa, 120 - 3° andar -
CEP: 59.020-300 - Natal – RN salas 301/302 - Centro
Telefone: (84) 32010367 – (84) 99822853 CEP: 20.021-180 - Rio de Janeiro – RJ
E-mail: paulo213@uol.com.br Tel/fax: (21) 3852-3677
E-mail: sopterj@sopterj.com.br | site: www.sopterj.com.br
ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE PNEUMOLOGIA E CIRURGIA TORÁCICA
Presidente: Maria do Rosario da Silva Ramos Costa SOCIEDADE DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL
Secretária: Denise Maria Costa Haidar Presidente: Paulo Roberto Goldenfum
Endereço: Travessa do Pimenta, 46 - Olho D‘Água Vice: Adalberto Sperb Rubin
CEP: 65.065-340 - São Luís – MA Endereço: Av. Ipiranga, 5.311, sala 403
Telefone: (98) 3226-4074 | Fax: (98) 3231-1161 CEP: 90.610-001 - Porto Alegre – RS
E-mail: rrcosta2904@gmail.com Telefone: (51) 3384-2889 Fax: (51) 3339-2998
E-mail: sptrs.secretaria@gmail.com | www.sptrs.org.br
ASSOCIAÇÃO PARAENSE DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA
Presidente: José Tadeu Colares Monteiro SOCIEDADE GOIANA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA
Secretária: Nos dias 02 a 05 de agosto de
Lilian França dos Santos Monteiro Pereira 2017, a cidade
Presidente: Karlade Fortaleza
Cristina de Moraesreceberá
Arantes Curado
Endereço: os maiores congressos sobreSecretária:
Passagem Bolonha, 134, Bairro Nazaré
Endereço:
Roseliane de Souza Araújo
doenças respiratórias e pulmonares da
Galeria Pátio 22 - Rua 22, nº 69, Sala 17 –
CEP: 66053-060 - Belém – PA
Tel: (91)989346998 atualidade, com renomados palestrantes
da área médica, informações,
Setor Oeste
E-mail: spapnt@gmail.com | tadeucolares@hotmail.com CEP: 74.120-130 - Goiânia – GO
estudos e pesquisas
Telefone: internacionais.
(62) 3251-1202 / (62) 3214-1010
ASSOCIAÇÃO PIAUIENSE DE PNEUMOLOGIA E CIRURGIA TORÁCICA E-mail: sgpt2007@gmail.com | karlacurado1@hotmail.com
Presidente: Braúlio Dyego Martins Vieira
SOCIEDADE MINEIRA DE PNEUMOLOGIA E CIRURGIA TORÁCICA
Secretária: E O MELHOR:TUDO ISSO EM
Tatiana Santos Malheiros Nunes UMA DAS CIDADES
Presidente: MAIS BONITAS
David Vogel Koza
Endereço: Avenida Jose dos Santos e Silva, 1903
Núcleo de Cirurgia Torácica DO BRASIL.
Secretária:
Endereço:
Ana Cristina De Carvalho Fernandez Fonseca
Av. João Pinheiro, 161 - sala 203 - Centro
CEP: 64001-300- Teresina – PI
CEP: 30.130-180 - Belo Horizonte – MG
Telefone: (86) 32215068 Tel/fax: (31) 3213-3197
E-mail: brauliodyego@gmail.com E-mail: smpct@smpct.org.br
SOCIEDADE AMAZONENSE DE PNEUMOLOGIA E CIRURGIA TORÁCICA Site: www.smpct.org.br
Presidente: José Correa Lima Netto SOCIEDADE PARAIBANA DE PNEUMOLOGIA E CIRURGIA TORÁCICA
Secretário: Evandro de Azevedo Martins Presidente: Ronaldo Rangel Travassos Júnior
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1359, Centro – Secretária: Gerlânia Simplício Sousa
Hospital Beneficente Portuguesa – Endereço: Rua José Florentino Jr. 333– Tambauzinho
Setor Cirurgia Torácica CEP: 58042-040 – João Pessoa – PB
CEP: 69020030 - Manaus – AM Telefone: (83)991219129
Telefone: (92) 3234-6334 E-mail: rangelr@uol.com.br
E-mail: aapctmanaus@gmail.com
SOCIEDADE PARANAENSE DE TISIOLOGIA E DOENÇAS TORÁCICAS
SOCIEDADE BRASILIENSE DE DOENÇAS TORÁCICAS Presidente: Lêda Maria Rabelo
Presidente: Bianca Rodrigues Silva Secretária Geral: Daniella Porfírio Nunes
Secretário: Edgar Santos Maestro Endereço: Av. Sete de Setembro, 5402 - Conj. 105,
Endereço: Setor de Clubes Sul, Trecho 3, Conj. 6 10ª andar Batel
CEP: 70.200-003 - Brasília – DF CEP: 80240-000 - Curitiba – PR
Tel/fax: (61) 3245-8001 Tel/fax: (41) 3342-8889 - (41)91794203
E-mail: sbdt@ambr.org.br E-mail: contato@pneumopr.org.br
Site: www.pneumopr.org.br
SOCIEDADE CEARENSE DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA
Presidente: Mara Rúbia Fernandes de Figueiredo SOCIEDADE PAULISTA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA
Secretário: Thiago de Oliveira Mendonça Presidente: Regina Maria de Carvalho Pinto
Endereço: Av. Dom Luis, 300, sala 1122, Aldeota Secretária: Silvia Carla Sousa Rodrigues
CEP: 60160-230 - Fortaleza – CE Endereço: Rua Machado Bittencourt, 205, 8° andar, conj.
Telefone: (85) 3087-6261 - 3092-0401 83 - Vila Clementino
E-mail: assessoria@scpt.org.br | site: www.scpt.org.br CEP: 04.044-000 São Paulo – SP
Telefone: 0800 17 1618
SOCIEDADE DE PNEUMOLOGIA DA BAHIA E-mail: sppt@sppt.org.br | www.sppt.org.br
Presidente: Guilherme Sóstenes Costa Montal
SOCIEDADE PERNAMBUCANA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA
Secretária: Dalva Virginia Oliveira Batista Neves
Presidente: Adriana Velozo Gonçalves
Endereço: ABM - Rua Baependi,162. Sala 03 - Terreo -
Realização:
Ondina
Secretária: Ana Lúcia Pereira Lima Alves Dias
Endereço: Rua João Eugênio de Lima , 235 - Boa Viagem
CEP: 40170-070 - Salvador – BA CEP: 51030-360 - Recife – PE
Tel/fax: (71) 33326844 Tel/fax: (81) 3326-7098
E-mail:
Renovar seu c
pneumoba@gmail.com | spba@outlook.com.br E-mail: pneumopernambuco@gmail.com
onhecSERGIPANA
Ainda maim entoDEéPNEUMOLOGIA
SOCIEDADE DE PNEUMOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO SOCIEDADE E TISIOLOGIA
fun
is em um ludgaamental.
Presidente: Cilea Aparecida Victória Martins Presidente: Anaelze Siqueira Tavares Tojal
Secretária: Karina Tavares Oliveira Secretário: Ostílio Fonseca do Vale
Endereço:
Rua Eurico de Aguiar, 130, Sala 514 –Ed. Blue
Chip. Praia do Campo
Endereço:
r desses.
Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 211, Sala 11
Bairro São José
CEP: 29.055-280 - Vitória – ES CEP: 49050-370- Aracaju - SE
Telefone: (27) 3345-0564 Fax: (27) 3345-1948 Telefone: (79) 21071412
E-mail: cilea38@hotmail.com E-mail: anaelze.tojal@gmail.com
EVENTOS 2017
EVENTOS 2017
NACIONAIS INTERNACIONAIS
XX Congresso da Sociedade Brasileira ATS 2017
de Cirurgia Torácica Data: 19-24 de Maio de 2017
Data: 03 a 06 de maio de 2017 Local: Washington, D.C/USA
Local: Windsor Barra – Rio de Janeiro/RJ Informações: www.thoracic.org
Organização: Método Eventos
Informações: Beatriz Lemgruber
(21) 25485141 SEPAR 2017
Data: 2-5 de junho de 2017
Local: Madrid Marriott Auditorium Hotel &
ATS/ALAT & SBPT Critical Care Meeting
Conference Center, Madrid/Espanha
Special Topics in Multidisciplinary
Informações: www.separ.es
Critical Care: Acute Respiratory Failure
and Mechanical Ventilation
Data: 13 a 15 de julho de 2017 ERS 2017
Local: Centro de Convenções Rebouças, Data: 09-13 de Setembro de 2017
São Paulo/SP Local: Milão, Itália
Informações: 0800616218 ou Informações: www.ersnet.org
eventos@sbpt.org.br
REGIONAIS
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