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TEORIA DO CRIME
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Direito Penal – Parte Geral
SUMÁRIO: Tentativa. Desistência Voluntária, Arrependimento Eficaz e
Arrependimento Posterior. Crime impossível. Introdução sobre teoria do
crime. Tipicidade. Nexo de Causalidade. Ilicitude. Culpabilidade.
TENTATIVA – ART. 14 CP
A tentativa (ou conatus) constitui a realização imperfeita do tipo penal e
ocorre quando o agente dá início à execução, mas não chega à
consumação por motivos alheios a sua vontade (dolo de consumar),
gerando, assim, um crime incompleto e por isso impondo aplicação da pena
do crime consumado de forma incompleta, ou seja, reduzida de 1 a 2/3. O
dolo, no crime tentado, é idêntico ao do consumado. O que justifica a
punição menos severa no conatus é a ausência de lesão ao bem jurídico
protegido.
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consumada e tentada. Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é cabível
a punição de determinados delitos na forma tentada, pois nesse sentido
orientou-se a previsão legislativa quando da elaboração do tipo penal.
Exemplos disso encontram-se nos arts. 9.º e 11 da Lei 7.170/1983 – Crimes
contra a Segurança Nacional: Art. 9.º Tentar submeter o território nacional, ou
parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país. Art. 11. Tentar
desmembrar parte do território nacional para constituir país independente.
- ESPÉCIES DE TENTATIVA:
1. Tentativa Imperfeita ou Inacabada Ocorre quando o agente não
consegue consumar o crime por circunstâncias alheias a sua vontade, sem
que ele tenha praticado todos os atos que estavam ao seu alcance a fim de
obter o êxito na pratica delituosa. (ex.: o sujeito entra na residência da vítima
e, quando começa a se apoderar dos bens, ouve um barulho que o assusta,
fazendo-o fugir)
2. Tentativa Perfeita ou Crime-Falho O agente percorre todo o iter criminis
que estava à sua disposição, mas, ainda assim, por circunstâncias alheias à
sua vontade, não consuma o crime (ex.: o sujeito descarrega a arma na
vítima, que sobrevive e é socorrida a tempo por terceiros). Apesar de ter
esgotado a fase executória, não alcança o resultado por circunstâncias
alheias à sua vontade. O crime falho é incompatível com crimes formais e de
mera conduta, somente podendo ocorrer em crimes materiais. (Quase-crime
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nenhum momento chega, sequer, a correr perigo de lesão. Reflete o crime
impossível ou delito putativo. Exemplo: quando o agente pretende matar o
inimigo praticando macumba. É forma de tentativa impunível, uma vez que
o Direito penal não pune o pensamento ou a intenção. Ademais, por mais
que o agente acredite, não é possível matar alguém apenas com crendices.
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condutas são indivisíveis e unissubsistentes por escolha do legislador (a
mera conduta ou ocorre por inteiro, havendo a consumação ou o
crime de merda conduta não será punido). Exceção: A legislação
extravagante traz modalidades de crimes de mera conduta que são
plurissubsistentes e, como tal, admitem tentativa. Trata-se de uma
questão bastante controvertida na doutrina.
5. CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – Ex. Omissão de Socorro. A
impossibilidade da tentativa decorre do fato de que tais delitos são
crimes de mera conduta e, como tal, unissubsistentes.
6. CRIMES HABITUAIS – É aquele que se exige pela própria forma uma
prática reiterada de atos. No entanto, há certa divergência quanto à
possibilidade da modalidade tentada em sede de crime habitual. Ex.
Exercício ilegal da medicina e curandeirismo. A doutrina majoritária
menciona que o crime habitual é incompatível com a tentativa, visto
que exige uma seqüência de atos para fins de consumação, hipótese
em que um único ato não é capaz de induzir a imputação,
justificando-se pela corrente adotada no Brasil, finalista. Para esta
corrente, a habitualidade deve ser demonstrada de forma objetiva e
sob a égide da teoria finalista, como poderíamos punir um único ato se
apenas ele não é crime? Como garantir que o agente continuará
praticando reiteradamente o ato? É nessa vertente que se baliza a
corrente majoritária para defender a impossibilidade da tentativa nos
crimes habituais. (Posição da CESPE) Outrossim, tanto Roxin quanto
Zafaroni, defendem que a habitualidade é um conceito subjetivo, ou
seja, não é necessário demonstrar objetivamente a habitualidade, se a
situação fática demonstrar que havia finalidade de habitualidade
poderá restar caracterizado o crime habitual. Se a pessoa estiver
atendendo o primeiro paciente e for interrompido pela autoridade
policial estará caracterizado o crime habitual consumado, pois, estaria
praticando a primeira conduta de um delito de tendência (corrente
minoritária).
7. CRIMES DE ATENTADO OU CRIME DE EMPREENDIMENTO – Modalidade
típica em que o legislador equipara a tentativa ao crime consumado,
ou seja, a tentativa engloba o verbo núcleo do tipo, punindo-os de
forma simétrica. Ex. Art. 352 – Evadir-se ou tentar evadir-se o preso
usando violência ou grave ameaça contra pessoa. Atentar contra o
Sistema Democrático de Direito previsto na Lei Segurança Nacional.
(Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena do
crime consumado reduzida de 1 a 2/3). 4133228081
8. CONTRAVENÇÕES OU CRIME “ANÃO” OU CRIME LILIPUDIANO São
sinônimos da contravenção penal, infração esta que não admite a
tentativa por expressa previsão legal - Art. 3 da LCP. A não punição da
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9. CRIMES CONDICIONADOS AO RESULTADO: são aqueles cuja
punibilidade está sujeita à produção de um resultado legalmente
exigido, tal qual a participação em suicídio (CP, art. 122), em que só
há punição se resultar morte ou lesão corporal de natureza grave.
10. CRIMES-OBSTÁCULO: são os que retratam atos preparatórios do delito,
tipificados de forma autônoma pelo legislador. Ex. associação
criminosa e porte de arma.
consumação.
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ART. 15 – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (Excludente de Tipicidade):
O agente delituoso começou a praticar os atos executórios, porém,
voluntariamente, antes do término dos atos executórios, decide não dar
continuidade (interrompe) a pratica delitiva e, consectariamente, evita a
consumação do delito. Ex.: A quer matar B, para tanto o algema e o leva
para local ermo e no momento da execução ocorre dor na consciência e A
acaba por não dar o tiro e libertar B. Nesse caso, o agente não responderá
pela tentativa de homicídio, mas sim pelo constrangimento ilegal, por ter
obrigado a vítima a acompanhá-lo até o local ermo mediante grave
ameaça.
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Observação: Em ambos os casos, a voluntariedade é fundamental, caso
contrário estaríamos diante de hipótese de crime tentado. Frise-se que, para
configurar a desistência voluntária ou arrependimento eficaz, eu preciso
ter voluntariedade, mas não preciso de espontaneidade.
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unânime, a posição mais adequada é vincular o entendimento de que a
natureza jurídica é de exclusão da tipicidade.
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1ª Corrente – o arrependimento é circunstância objetiva comunicável,
beneficiando os demais concorrentes do crime (LFG e Masson)
MAJORITÁRIA!
2ª Corrente – exigindo voluntariedade do agente, o arrependimento
posterior é personalíssimo, não se comunicando aos demais concorrentes do
crime (Régis Prado) MINORITÁRIA!
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responderá o agente por tentativa independentemente de haver a
possibilidade de consumação do delito.
TEORIA DO CRIME
- CONCEITO DE CRIME:
A) LEGAL - Art. 1º LICP. Crime é uma infração penal que se comina pena de
detenção ou reclusão, com ou sem multa.
B) FORMAL – É a mera violação da norma penal, ou seja, violação do que
está formalmente descrito como crime.
C) MATERIAL - Comportamento humano que ofende ou expõe a perigo
determinado bem jurídico tutelado pela norma penal.
D) ANALÍTICO, CIENTÍFICO, DOGMÁTICO OU DOUTRINÁRIO – O conceito de
crime analítico depende essencialmente da Teoria adotada. Prevalece,
hoje, que, sob o enfoque analítico, crime é composto de três substratos: fato
típico, ilicitude (ou antijuridicidade) e culpabilidade. Vale salientar, que
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CRIME, DELITO E CONTRAVÊNCIA PENAL
No Brasil adotamos a Teoria Dicotômica ou dualista, tendo como gênero a
infração penal da qual são espécies o crime e a contravenção penal. Em
nosso país, crime é sinônimo de delito. A diferença entre crime e
contravenção penal está estabelecida na Lei de Introdução ao Código
Penal. Outrossim, importante destacar que não há diferença ontológica
entre crime e contravenção penal, o que há é questão de política criminal,
gerando, por conseguinte, consequências diversas entre os dois institutos,
levando-se em consideração a gravidade da infração (valor). A escola
germânica cria uma hierarquia entre crime, delito e contravenção, de
acordo com a gravidade da infração.
ESTUDO DA TIPICIDADE
Trata-se do Juízo de adequação entre a conduta e as elementares do tipo penal;
(juízo de subsunção entre o fato e a norma; entre a conduta e as
elementares do tipo); saber se uma conduta é típica; é basicamente saber
se ela está prevista no tipo legal de crime.
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Doutrina moderna: fato típico é conduta + nexo causal + resultado +
tipicidade formal + tipicidade material (relevância da lesão ou perigo de
lesão ao bem jurídico tutelado). O princípio da insignificância exclui a
tipicidade material, assim, apesar de haver tipicidade formal, não haverá
tipicidade penal: é causa excludente da tipicidade, portanto.
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execução (“mediante grave ameaça ou violência a pessoa” — no art. 157
do CP) e ao objeto material do delito (“alguém” — no art. 121 do CP).
3. Normativos: esses dados da figura típica não são aferíveis nem no mundo
concreto nem na psique do autor. Abrangem todas as expressões contidas
no tipo penal que requerem um juízo de valor, o qual pode ter caráter
jurídico, como nas expressões “documento” (CP, art. 297) ou “funcionário
público” (CP, art. 327), ou extrajurídico (moral, político, religioso, ético etc.),
como nas expressões “decoro” e “dignidade” (CP, art. 140), “ato obsceno”
(CP, art. 233) etc.
adepto dessa teoria Mezger (1930). Excluída a ilicitude, exclui-se o fato típico
(tipo total do injusto). Ex: Fulano mata Beltrano, comprovada a legítima
defesa, o fato deixa de ser ilícito e típico, pois a ilicitude é a essência da
tipicidade.
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1. conduta;
Não há crime sem conduta (“nullum crimen sine conducta”). A quantidade
de elementos da conduta é variável e depende fundamentalmente da
teoria que se adote. Assim, o finalismo irá inserir a “finalidade” como um de
seus elementos fulcrais. A teoria social da ação, de sua parte, não deixará
de incluir a relevância social do comportamento. Há, todavia, três elementos
que se mostram presentes em praticamente todos os sistemas penais, desde
o clássico até o funcionalista. São eles:
1. consciência;
2. voluntariedade.
3. exteriorização do pensamento; (o direito penal não pune o pensamento,
por mais imoral que seja)
Críticas:
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- Ao fazer a análise do dolo e da culpa somente no momento da culpabilidade,
não há como distinguir, apenas pelos sentidos, a lesão corporal da tentativa de
homicídio, por exemplo.
- É inadmissível imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade.
TEORIA NEOKANTIANA:
Teoria neokantista (causal valorativa): de Mezger. Tem base causalista,
fundamentando-se numa visão neoclássica, marcada pela superação do
positivismo, através da introdução da racionalização do método.
Reconhece que o Direito é ciência do ‘dever ser’.
Críticas:
- Permanece considerando o dolo e a culpa como elementos da
culpabilidade.
- Analisando dolo e culpa somente na culpabilidade, ficou contraditória ao
reconhecer como normal elementos normativos e subjetivos do tipo.
TEORIA FINALISTA
Hans Welzel percebe que o dolo e a culpa estavam inseridos no substrato
errado, afirmando que eles não devem integrar a culpabilidade, e sim o fato
típico. Assim o fato típico passou a ter duas dimensões: uma dimensão
objetiva (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade penal) e outra
dimensão subjetiva (dolo e culpa). O Código Penal, com a reforma de 1984,
adotou, segundo a maioria, o finalismo. O código penal militar é causalista
(analisa dolo e culpa na culpabilidade – art. 33, CPM).
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conduta). Ademais, suprimiu-se o adjetivo “ilícito” do fim, pois, caso a
expressão permanecesse, não seria possível explicar o crime culposo.
Críticas:
- Concentrou sua teoria no desvalor da conduta ignorando o desvalor do
resultado.
Crítica a esta teoria: Ela acaba por admitir haver hipótese de crime (fato
típico + ilicitude) sem censura (culpabilidade).
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b. Involuntariedade: ausência da capacidade de dirigir a conduta de
acordo com uma finalidade.
- Estado de inconsciência completa: não existe comportamento voluntário
(ex. sonambulismo, hipnose).
- Movimento reflexo: sintoma de reação automática do organismo a um
estímulo externo. Ato desprovido de vontade. Difere de ação em curto
circuito. Enquanto movimento reflexo é impulso completamente fisiológico e
desprovido de vontade (ex. susto); ação em curto circuito é o movimento
relâmpago provocado pela excitação, é acompanhado de vontade (ex.
excitação de torcida organizada).
c. Coação física irresistível: não abrange a coação moral irresistível (esta é
excludente de culpabilidade).
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Ex: Pais em relação aos filhos (mãe que não amamenta o filho – responde homicídio
doloso ou culposo, depende apenas do animus do agente);
Ex: Bombeiro que omite socorro, morrendo a vítima em perigo (responde homicídio
doloso ou culposo, depende apenas do animus do agente).
b) à quem assumiu responsabilidade de impedir o resultado;
Ex. pessoa assume a responsabilidade de levar um bêbado para a casa(responde
homicídio doloso ou culposo, depende apenas do animus do agente).
c) à quem com seu comportamento anterior criou o risco da ocorrência do
resultado.
Ex. pessoa que empurra outra que não sabe nadar na piscina (responde homicídio
doloso ou culposo, depende apenas do animus do agente).
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3. nexo causal;
Emprega-se comumente a expressão “nexo causal” para referir-se à ligação
entre a conduta e o resultado. O art. 13 do CP tem a ratio de determinar
quem deu causa ao evento danoso, vislumbrado sob o nexo de
causalidade. O tipo tem um plano subjetivo e um plano objetivo, sendo que
o nexo causal está no plano objetivo do tipo.
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cabeça da vítima e esta vem a falecer por esta causa, o agente deve
responder também pela tentativa de homicídio (causa concomitante). Assim
como na hipótese de envenenamento da vítima e posterior assassinato dela
a tiros por outrem, devendo o agente que envenenou responder por
tentativa de homicídio. Em suma, diante das causas absolutamente
independentes rompe-se o nexo de causalidade, respondendo o agente
pelo crime na modalidade tentada.
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Trata-se de causas que já existem ou ocorrem ao mesmo tempo da ação do
agente. A Jurisprudência dos Tribunais é, em sua ampla maioria, no sentido
de que, tendo-se o § 1 do art. 13 referido, exclusivamente, às concausas
relativamente independentes supervenientes, é porque as preexistentes e
concomitantes NÃO têm o poder de romper o nexo causal. Dessa forma, se
a concausa relativamente independente preexistir à conduta do agente, ou
for simultânea a ela, responderá o agente pelo delito na modalidade
consumada.
Nesse sentido, Cleber Masson afirma que o caput do art. 13, caput, adotou
Teoria da Equivalência das Causas. Por isso, expõe que, se não houvesse o
ferimento ao hemofílico e o susto àquele que teve ataque cardíaco em
decorrência da ameaça, ele não teria morrido daquela forma e naquele
momento, fato este que deve ser imputado ao agente. Outrossim, Masson e
Capez afirmam que o art. 13,1º adotou a Teoria da Causalidade Adequada,
pois, havendo conduta superveniente que por si só caracterizaria a morte,
ocorrerá rompimento do nexo de causalidade e ao agente não será
imputado o resultado naturalístico advindo da concausa superveniente,
somente sendo possível atribuir-lhe o resultado que diretamente produziu. Por
certo que o indivíduo baleado e que, no momento do socorro, cai da
ribanceira, não teria morrido se não tivesse sido baleado e socorrido. No
entanto, como se está diante da Teoria da Causalidade Adequada, não se
adota o mesmo raciocínio utilizado para aferir as hipóteses de causalidade
preexistente e concomitante, visto que não há previsão legal dessas
concausas no art. 13,1º e, como tal, deve-se seguir a Teoria da Equivalência
dos Antecedentes.
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o art. 13,2º adotou a Teoria Normativa, situação em que somente se pune o
agente se houver DEVER DE AGIR.
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ou culpa na sua conduta.
Causalidade na Causalidade na
Teoria da Equivalência Teoria da Imputação Objetiva
A causalidade objetiva tem Na causalidade objetiva além do
como único requisito o nexo nexo físico/causal, trabalhamos
causal/físico, ou seja, esta mera também com a figura do nexo
relação de causa e efeito, normativo, ou seja, para esta
provocando o regresso ao teoria, causalidade objetiva é
infinito. formada por nexo físico/causal +
nexo normativo.
O nexo normativo tem como
requisitos:
a criação ou incremento de
um risco proibido (não
tolerado pela sociedade);
realização do risco no
resultado (resultado na linha
de desdobramento causal
normal do risco);
resultado dentro do alcance
do tipo.
culpa.
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das Antecedentes Causais, temos a situação absurda de considerar a mãe
do homicida como CAUSA do homicídio praticado, sendo que esta só não
é penalmente responsabilizada pelo crime porque não há causalidade
psíquica, ou seja, dolo ou culpa.
Observe que, com a Teoria da Imputação Objetiva a análise do nexo
normativo antecede à análise do dolo ou culpa, impedindo o rótulo de
CAUSA para comportamentos que não criaram (ou incrementaram) riscos
proibidos, para riscos não realizados no resultado ou resultados não
alcançados pelo tipo.
Importante ressaltar que a Teoria da Imputação Objetiva não substitui a
Teoria da Equivalência das Antecedentes Causais, sendo que esta apenas a
complementa acrescentando o NEXO NORMATIVO.
Para que alguém seja penalmente responsabilizado por seu ato, o resultado
deve ser proveniente de um risco proibido criado ou incrementado pelo
autor. Comportamentos de risco permitido são comuns e devem ser aceitos
e tolerados pela sociedade, conforme bem expressa GÜNTHER JAKOBS em
sua doutrina:
“Qualquer contato social implica um risco, inclusive quando todos os
intervenientes atuam de boa-fé: por meio de um aperto de mãos
pode transmitir-se, apesar de todas as precauções, uma infecção; no
tráfego viário pode produzir-se um acidente que, ao menos enquanto
exista tráfego, seja inevitável; (...) Posto que uma sociedade sem riscos
não é possível e que ninguém se propõe seriamente a renunciar à
sociedade, uma garantia normativa que implique a total ausência de
riscos não é factível; pelo contrário, o risco inerente à configuração
social deve ser irremediavelmente tolerado como risco permitido.”
Diminuição do risco – para a Teoria da Imputação Objetiva, não podemos
imputar o resultado a um autor que modifica um curso causal de modo que
o perigo já existente para a vítima seja diminuído, melhorando a situação
objeto da ação. Ex.: Ao perceber que seu amigo será atropelado, Caio o
empurra ao solo, vindo a quebrar o braço.
Para a Teoria Clássica, Caio praticaria o fato típico expresso no crime de
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Lesão Corporal, sendo que o empurrão é causa e este agiu com dolo.
Somente em uma análise posterior, Caio terá sua responsabilidade penal
excluída, pois vai alegar estado de necessidade, excluindo a ilicitude.
Para a Teoria da Imputação Objetiva, como Caio não criou ou incrementou
o risco, mas apenas o diminuiu, não há possibilidade de imputação do
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resultado ao autor, pois não há nexo normativo, portanto, não é causa,
sendo sua conduta considerada FATO ATÍPICO.
Observe-se que para a Teoria Clássica, Caio pratica um FATO TÍPICO, mas
não ANTIJURÍDICO.
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pelo tipo. Portanto, neste caso o resultado morte não poderá ser imputado
a Caio, que responderá apenas por tentativa de homicídio, pois os
resultados que não pertencem ao domínio direto ou indireto do autor do
disparo não podem ser-lhe imputados.
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Portanto, no caso concreto o STJ entendeu que a conduta dos agentes não
gerou um risco proibido, não havendo nexo normativo, não havendo,
portanto, Nexo de Causalidade, o que torna a conduta do agente fato
atípico.
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ASSENTIMENTO) No dolo eventual, o agente não pratica a conduta
objetivando o resultado, mas ele pratica a conduta sabendo que este
poderá gerar dano ao bem jurídico tutelado, aceitando eventual prejuízo ao
bem protegido pela norma.
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que, acidentalmente, atropela uma pessoa e, após, quando sai de seu
veículo, percebe que se tratava de seu desafeto e sente-se realizado. Na
verdade, no momento do atropelamento, ele não sabia que se tratava de
seu desafeto e agira com culpa.
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Em regra, o crime culposo apresenta-se como tipo penal aberto. Contudo,
nada impede que se preveja um crime culposo como tipo penal fechado,
como ocorre no crime de receptação culposa – art. 180, 3º ou omissão de
cautela (prevista no Estatuto de Desarmamento), na qual o legislador
aponta expressamente como a conduta culposa deve se manifestar.
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culpa consciente mais grave que a inconsciente. A distinção entre culpa
consciente e inconsciente tem relevo na dosimetria da pena. André Estefam.
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necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas. Aqui o crime se consuma com a
entrega da receita).
PARTE 2.
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O estado de necessidade caracteriza-se pela colisão de interesses
juridicamente protegidos, devendo um deles ser sacrificado em prol do
interesse social. Assim, se há dois bens em perigo, permite-se que seja
sacrificado um deles, pois a tutela penal não consegue proteger ambos. O
fundamento jurídico reside no conflito de interesses diante de situação
adversa. O agente atua pelo espírito de preservação, conservação,
proteção, do bem jurídico em risco.
necessidade.
Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal (não é
contratual) de enfrentar o perigo –art. 24, p.1 -, comportando-se exceções
sob a égide da razoabilidade.
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NATUREZA JURÍDICA: No que diz respeito à natureza jurídica do estado de
necessidade, a doutrina é divergente, surgindo, assim, a teoria unitária e a
teoria diferenciadora. A TEORIA UNITÁRIA entende que o estado de
necessidade é hipótese de exclusão da ilicitude quando o bem jurídico
protegido é de valor maior ou igual ao bem jurídico sacrificado. Na hipótese
de bem de menor valor há redução de pena (Teoria adotada pelo Código
Penal). Por outro lado, para a TEORIA DIFERENCIADORA, na hipótese de o
bem jurídico protegido for de valor igual ou menor que o sacrificado, o
estado de necessidade excluirá a culpabilidade. Somente excluirá a ilicitude
quando o bem jurídico protegido for de valor maior que o bem sacrificado
(Teoria adotada pelo CPM).
Um bombeiro num incêndio tem que salvar duas pessoas, mas ele só pode
salvar uma delas – uma criança e um idoso. Qual delas o bombeiro deve
salvar? Qualquer uma delas, pois ambas são vidas.
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- ESTADO DE NECESSIDADE DEFENSIVO E AGRESSIVO:
1. No Estado de Necessidade Defensivo a conduta ou ação do agente é
direcionada à fonte do perigo. Ex.: cachorro ataca uma pessoa e é
morto por aquele que sofre a agressão.
2. Já o Estado de Necessidade Agressivo ocorre quando é atingido
terceiro que não é a fonte do perigo. Ex.: Mévio dirigindo dentro da
legalidade se depara com um caminhão desgovernado em sua
direção, sendo que institivamente joga o seu veículo para a outra
pista, atingindo o veículo que estava ao seu lado e matando uma
pessoa (que não era fonte do perigo).
Atenção: a injusta agressão não precisa ser típica, mas deverá ser no mínimo
um ato ilícito em sentido amplo, por inexistir legítima defesa contra atos
lícitos.” Ex.: legítima defesa contra furto de uso. (atípico – porém, agressão
injusta).
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ELEMENTO SUBJETIVO: Para que se possa falar em legítima defesa ou mesmo
estado de necessidade, não basta a presença de seus elementos de
natureza objetiva, elencados no art.24 e 25 do CP. É preciso que, além deles,
saiba o agente que atua nessa condição, ou, pelo menos, acredita agir
assim, pois, caso contrário, não se poderá cogitar de exclusão da ilicitude de
sua conduta, permanecendo esta, ainda, contrária ao ordenamento
jurídico. Assim, necessário se faz à caracterização da legítima defesa o
chamado animus defendendi, traduzindo-se na finalidade de defender a si
ou a terceira pessoa. Contudo, vale ressaltar que não há essa exigência na
literalidade da norma, partindo de uma interpretação doutrinária e
jurisprudencial acerca dos requisitos das excludentes de ilicitude.
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causado ao terceiro que não tenha provocado a conduta defensiva por
parte do agente. Contudo, Aníbal Bruno afirma que, não havendo reação
contra o injusto agressor, atingindo um inocente, deve-se alegar estado de
necessidade e não legítima defesa (minoritário).
“In persona” – legitima defesa para proteger o seu próprio bem jurídico que
estaria em risco.
“ex persona” – legitima defesa para proteger bem jurídico de outrem.
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A utilização moderada em legitima defesa está vinculada à utilização dos
meios necessários para fazer cessar a injusta agressão. Trata-se do meio que
o agente pode se utilizar, naquela circunstância, para fazer deter a
agressão, independente se estou com uma arma e o agressor com uma
faca e independente da quantidade de tiros. O agente deve atuar
moderadamente, ou seja, deve atuar até o limite para fazer cessar a
violência injusta. Quando o agente atua além do limite para fazer deter a
agressão responde por excesso punível doloso ou culposo. (Ex. se eu tenho
que dar três tiros porque o agente se levantava até o terceiro tiro e
continuava vindo em minha direção para matar caracteriza-se como
legítima defesa.)
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO:
O consentimento do ofendido atua como causa supralegal de exclusão da
ilicitude quando diante de bem jurídico disponível, próprio, em
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consentimento anterior ou concomitante à execução do fato, devendo o
suposto ofendido ser agente capaz. Ex. piercing e tatuagem com anuência
da parte. Ademais, se o consentimento é elementar do tipo, o
consentimento do ofendido exclui a própria Tipicidade, como ocorre no
caso do crime de estupro (art. 213), que exige a prática libidinosa contra a
vontade da vítima. MAS, CUIDADO! O consentimento deve ser prévio ou
concomitante. Se o consentimento for posterior a consumação do delito,
poderemos estar diante de renúncia ou retratação, excludentes de
punibilidade. Por fim, destaque-se que o agente deve ter ciência da situação
de fato que autoriza a justificante (requisito subjetivo).
A CULPABILIDADE:
A culpabilidade é o juízo de reprovação que recai sobre o autor culpado
por um fato típico e antijurídico. Trata-se de requisito que possui os seguintes
elementos:
1. Imputabilidade;
2. Potencial Consciência da Ilicitude;
3. Exigibilidade de Conduta Diversa.
Culpabilidade está dividida em Culpabilidade não tem Obs.1: Dolo e culpa migram
espécies: espécies, embora para o fato típico.
a) dolo fundamentada na T. Obs.2: Dolo Natural
b) culpa Causalista. constituído de consciência e
O Dolo é normativo e compreende a vontade.
DIREITO PENAL |
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Pressuposto da culpabilidade é Elementos da culpabilidade: Elementos da culpabilidade:
unicamente a imputabilidade. a) imputabilidade; a) imputabilidade;
O Dolo aqui ainda é normativo, b) exigibilidade de conduta b) potencial consciência da
somado a atual consciência da diversa; ilicitude.
ilicitude do fato. c) culpa; c) exigibilidade de conduta
d) dolo (consciência, vontade diversa;
e consciência atual da ilicitude A culpabilidade aqui possui apenas
elementos normativos. A
– dolo normativo).
consciência da ilicitude cinde-se do
Adição de elementos normativos
dolo e passa a ser potencial.
à culpabilidade.
Teoria Psicológica da Culpabilidade
Tem como precursor Von Liszt e Beling, e refletia a situação dogmática na
Alemanha por volta de 1900. Segundo ela, a culpabilidade é um liame
psicológico que se estabelece entre a conduta e o resultado, por meio do
dolo ou da culpa.
Pode-se assim dizer que, para essa teoria, o único pressuposto exigido para a
responsabilização do agente é a imputabilidade aliada ao dolo ou à culpa,
conforme ensina Capez..
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Teoria Normativa pura da culpabilidade
A teoria normativa da culpabilidade nasceu com a teoria finalista da ação
(década de 1930), que teve como precursores Hartmann e Graf Zu Dohna,
Nesse momento, percebeu-se que o dolo não pode permanecer dentro do
juízo de culpabilidade, deixando a ação humana sem o seu elemento
característico, fundamental, que é a intencionalidade, o finalismo.
O dolo, que foi transferido para o fato típico, não é, no entanto, o normativo,
mas o natural, composto apenas de consciência e vontade. A consciência
da ilicitude se destacou do dolo e passou a constituir elemento autônomo,
integrante da culpabilidade. Não mais, porém, como consciência atual, mas
como possibilidade de conhecimento do injusto. Exemplo: a culpabilidade
não será excluída se o agente, a despeito de não saber que sua conduta
era errada, injusta, inadequada, tinha totais condições de sabê-lo”
Para a teoria limitada da culpabilidade, o erro que recai sobre uma situação
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QUAL A TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO? Teoria limitada
da culpabilidade. As descriminantes putativas fáticas são tratadas como erro
de tipo (art. 20, § 1o), enquanto as descriminantes putativas por erro de
proibição ou erro de proibição indireto são tratadas como erro de proibição
(art. 21).
IMPUTABILIDADE
A imputabilidade é a capacidade de imputação. Trata-se da capacidade
mental de compreender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de
acordo com esse entendimento, conforme se extrai do art. 26, caput, do CP,
interpretado a contrario sensu. O código penal adota o critério
biopsicológico, considerando não apenas o desenvolvimento mental do
agente, mas também a capacidade de entendimento e de
autodeterminação no momento da conduta. No que tange às questões
etárias, o CP adota o critério puramente biológico.
caráter ilícito do ato praticado terá sua pena reduzida. A doutrina também
conceitua essa causa de diminuição como IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA OU
RESTRITA. Sendo assim, após a condenação o juiz irá analisar duas
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possibilidades: 1. pena com diminuição; ou 2. substituir a pena por medida
de segurança.
** Importante destacar que não basta apenas a doença mental, deve haver
nexo de causalidade entre a doença e o fato praticado pelo agente, visto
que o CP adota o critério biopsicológico. Assim, não basta a doença, é
preciso a doença (+) a ausência de capacidade para entender o caráter
ilícito ou determinar-se consoante esse entendimento.
MODALIDADES DE EMBRIAGUEZ:
A) Embriaguez quanto à sua origem:
Voluntária ou culposa: É a modalidade de embriaguez onde o individuo
ingere a substância entorpecente por sua própria vontade, sem qualquer
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delito. A embriaguez preordenada, além de não excluir a culpabilidade,
é agravante genérica de pena. Art. 61, II,l, CP.
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carecer por completo da noção de que seu agir se mostrava ilícito,
desconhecendo a existência de uma proibição reguladora de sua conduta,
não deverá ser apenado, devendo ser excluída a sua culpabilidade.
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uma pessoa foi ser ouvida como testemunha e viu na sala do juiz um crucifixo na
parede. Essa testemunha se recusou a depor naquela sala, mesmo tendo o juiz dito
que a pessoa deveria depor, e não calar a verdade. A testemunha saiu da sala de
audiência e o MP a denunciou, ainda, pelos crimes de falso testemunho e
desacato. O tribunal trancou a ação penal porque entendeu que a pessoa agiu
por motivo de crença.
Ex.2: Desobediência Civil: É um fato que objetiva, em última instância, mudar o
ordenamento, sendo, no final das contas, mais inovador que destruidor. Tem como
requisitos:
(a) proteção de direitos fundamentais;
(b) que o dano causado não seja relevante.
Ex. Invasões do MST. Tem-se entendido que são atos destinados a mudar o
ordenamento, buscando a proteção de direitos fundamentais, tendo mais caráter
inovador do que destruidor. Mas, para isso, a invasão do MST não pode causar
dano relevante. Se, por exemplo, a invasão do MST for armada, com depredação
de propriedade, não caberá alegar a inexigibilidade de conduta diversa.
Ex.3: Caso de uma mãe que deixa seu filho pequeno sozinho em casa porque
precisa ir trabalhar. É evidente que ela age com imprudência, porém não se
poderia exigir dela que adotasse outra conduta, já que não poderia abandonar o
seu emprego, única fonte de renda da família.
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ATENÇÃO: A coação que exclui a culpabilidade é a moral. Tratando-se de
coação física, o problema não é de culpabilidade, mas sim do próprio fato
típico, que não existe em relação ao coagido por ausência de conduta
voluntária.
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