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A Verdadeira Revolução Permanente

Um terror estratégico, não tático – um terror sustentável, pensado a longo prazo –, eis
o que diferenciou a 2ª Revolução Francesa de 1789. Em linhas gerais, e principalmente
no que se refere aos estágios iniciais, tudo se deu de modo similar à primeira revolução:
queda da Bastilha, massacre nas ruas, invasão e destruição de propriedades rurais, rei e
rainha decapitados etc. A inovação da segunda foi compreender que era preciso dispor
uma sazonalidade revolucionária, uma reincidência – metódica – da revolta.

Os engenheiros responsáveis pelo processo de remodelamento desse evento histórico


tinham o conhecimento acumulado nesses nove séculos desde a primeira revolução, e,
com base tanto em análises sociológicas, econômicas e filosóficas quanto em previsões
baseadas em variados cenários hipotéticos desenvolvido por computação quântica, eles
foram capazes de definir um pequeno conjunto de intervenções temporal-cirúrgicas. O
resultado foi elogiado pelos públicos especializado e não-especializado.

Dito de forma simples, o projeto Liberté Revisée de Reengenharia da Revolução Francesa


de 1789 percebeu que o extenso holocausto de aristocratas representou o maior fator
de renovação social relacionado a essa crise histórica. Por outro lado, a brusca corrosão
dos privilégios conduziu a um contra-ataques de séculos por parte das classes superiores
e ao estabelecimento de variados mecanismos de controle do poder popular. Equilibrar
essas duas tendências pareceu aos técnicos e cientistas envolvidos o ideal.

Por meio do assassinato e substituição de alguns líderes revolucionários e pela inserção


de grupos de teatro documental propositivo entre as massas revoltosas, foram alteradas
algumas demandas basilares dos protestos, de maneira que quando se confrontassem
as primeiríssimas direita e esquerda o escopo do seu debate estivesse determinado por
um quadro mais positivo. Dessa forma, os girondinos teriam a satisfação de salvar alguns
da casta alta; e os jacobinos seriam convencidos da necessidade de reproduzir-se.

A solução é elegante em sua simplicidade: nem tantos ricos seriam mortos, nem todos
os privilégios classistas seriam extirpados, porém a sociedade se estruturaria de maneira
a se purgar das cúpulas do poder dentro de períodos pré-definidos. Desde modo, a cada
229 anos as “guilhotinas” (por assim dizer, pois a tecnologia de expurgo se alterou, claro,
com o tempo) foram destinadas a voltar a operar. Aplicada em escala mundial, a medida
significa uma desestabilização fundamental das estruturas que controlam a sociedade.

Donos do dinheiro, burocratas da política, senhores da guerra assim destruídos segundo


o assegurado pelas constituições de todos os países-membro da Governança das Nações
Unidas (GNU) e pela Constituição Global – assim eliminados de maneira a abrir espaço
para a criatividade da história. Enquanto, atabalhoado, se rearranjam aqueles no topo,
os pertencentes às classes baixas têm chances de ocupar postos e implementar políticas
que poderiam levar gerações sem fim para terem a chance de ser aplicadas.

Apesar das polêmicas em torno das políticas públicas de cronologia, o Liberté Revisée é
considerado um sucesso. A consistência dos seus resultados tem levado à proposição de
outros projetos de reengenharia, por exemplo da Revolução Russa de 1917 (sobre o qual
há inúmeras dúvidas: que desdobramentos mudar? Devemos ampliar o remodelamento
a quais procedimentos da União Soviética?). Dentro dessa polêmica, a reforma de 1789
recebeu o título “a verdadeira revolução permanente”.

O apelido é interessante. Faz referência, claro, a um conceito criado no “século XIX” (o


que designa o período entre 1801-1900, de acordo com a terminologia antiga) por dois
filósofos alemães e levado adiante por um revolucionário russo. A acepção atual muda,
contudo, o sentido em um ponto importante: se antes se tratava de uma revolução que
devia se manter, eterna, a todo custo, agora a proposta é a de uma relação respiração e
aspiração: a revolução age, se estabiliza, se retrai até, e volta a dar o bote.

Mas isso é tema para um próximo artigo desta série.

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