Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Flavia Trocoli1
2. “DIABÓLICA INOCÊNCIA”
4. A CRIANÇA E A POESIA
[..] Nada veio porém. Nada. Difícil aspirar as pessoas como as-
pirador de pó. - Papai, inventei uma poesia. - Como é o nome?
- Eu e o sol. - Sem esperar muito recitou: - “As galinhas que
estão no quintal já comeram duas minhocas mas eu não vi”.
- Sim? Que é que você e o sol tem a ver com a poesia? Ela
olhou-o um segundo. Ele não compreendera... (LISPECTOR,
1980, p.14)
Até que uma vez feita a sua defesa, a narradora vai con-
tar sobre seu crime: “Bem, agora chegou a hora de falar sobre o
meu crime: matei dois peixinhos. Juro que não foi de propósito.
Juro que não foi culpa minha. Se fosse, eu dizia.” (Lispector 1993,
p.61) Então, a mulher-narradora vai aos fatos: o filho vai viajar e
a deixa encarregada e alimentar os dois peixinhos. Ocupada com
seus escritos, ela esquece de alimentar os peixinhos e trocar a
água do aquário e, como peixe não late nem mia, quando lembra
de sua tarefa, os peixes já tinham morrido de fome. E o relato
termina com uma pergunta: “Vocês me perdoam?”
Abstract: This text assumes that reading a text is always relative to an-
other, either implicitly or explicitly, and it is aimed to indicate ways to
think about the childhood arrangements of representation in some texts of
Clarice Lispector. From this proposal it is possible to apprehend that the
childhood in Lispector’s texts always deviates from the established ideal-
ization and morals and, following this remote part of the whole simplifi-
cation I will also show that when writing for children, the author puts into
play sophisticated narrative techniques.
REFERÊNCIAS