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, é a doença mais
importante para a cultura do caquizeiro no Paraná. Diversos
pomares na Região Metropolitana de Curitiba e no Norte do Paraná
foram erradicados devido à gravidade das lesões causadas pela
Antracnose do
doença em folhas, ramos e frutos. Apesar da sua importância, há
poucos estudos sobre a biologia do patógeno e técnicas de manejo Caquizeiro no
Valdir Lourenço Jr.
Paraná
e controle que permitam reduzir danos e otimizar a exploração
Rui Pereira Leite Jr.
econômica da cultura. Esta publicação, dirigida a produtores, Louise Larissa May De Mio
técnicos e pesquisadores, reúne as informações disponíveis sobre
a doença, indica métodos para seu controle e aponta necessidades
de pesquisa.
Antracnose do Caquizeiro
no Paraná
Valdir Lourenço Jr.
Rui Pereira Leite Jr.
Louise Larissa May De Mio
Inclui bibliografia.
ISSN: 0100-9508
CDU 634.45(816.2)
INTRODUÇÃO ................................................................. 5
SINTOMAS..................................................................... 6
REFERÊNCIAS.................................................................18
INTRODUÇÃO
Colletotrichum spp., agente causal da antracnose ou mancha
necrótica, é o patógeno mais importante do caquizeiro e está
amplamente disperso nas regiões produtoras da Ásia, Oceania
(WEIR; JOHNSTON, 2010), Europa e América (BASSANEZI;
AMORIM, 1997). No Brasil, causa danos elevados à produção de
frutos em diversas regiões produtoras.
No Estado do Paraná, diversos produtores da Região Norte,
principalmente dos municípios de Apucarana, Rolândia e Mauá da
Serra, e da Região Metropolitana de Curitiba, incluindo os municí-
pios de Campina Grande do Sul e Bocaiúva do Sul, abandonaram o
cultivo do caquizeiro devido à alta severidade da doença (Figura 1).
O problema se agravou na referida região metropolitana depois
das geadas ocorridas em 2006, que provocaram danos nos galhos
e ramos, aumentando a incidência de infecções. Após esse período,
SINTOMAS
A antracnose ocorre nas folhas, ramos e frutos do caquizeiro
(BASSANEZI; AMORIM, 1997). O patógeno causa lesões arredonda-
das no limbo e oblongas nas nervuras das folhas (Figura 2). Essas
lesões em desenvolvimento podem coalescer, causar a seca das
folhas a partir do ápice e provocar uma queda prematura, que ocor-
re quando próximas do pecíolo. O tecido foliar se torna quebradiço
e pode ocorrer a queda prematura das folhas.
Nos ramos do ano, Colletotrichum spp. causa cancros caracte-
rizados por manchas necróticas escuras e deprimidas (Figura 3).
Sob ataque severo do patógeno, ocorre a murcha e seca dos ramos
(Figura 4), que culmina com a sua morte. Todavia, essa doença
causa maior dano nos frutos do caquizeiro, nos quais inicialmen-
te ocorrem manchas deprimidas de cor parda à negra com aproxi-
madamente 1 mm de diâmetro (Figura 5). Essas lesões se desen-
volvem até atingir 1 cm e coalescem com outras manchas, sendo
circundadas por um halo claro (Figura 6). As lesões podem atingir
a polpa e as sementes, causando a podridão total do fruto. Em con-
dições de alta umidade, formam-se massas gelatinosas e concêntri-
cas, de coloração rósea, nas manchas velhas dos frutos constituídas
por conídios do fungo (Figura 7).
Na Região Metropolitana de Curitiba, o dano nos frutos é mui-
to severo durante a floração, principalmente em anos mais chuvo-
sos. O que mais tem preocupado os produtores é o número cres-
cente de cancros nos ramos e a queda acentuada de frutos ainda
verdes. No entanto, não se conhece ainda a causa dessa queda e sua
CARACTERÍSTICAS DO PATÓGENO
O fungo Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc.
(=Colletotrichum kaki Maffei) produz corpos de frutificação deno-
minados acérvulos, com a presença de setas (Figura 8). Nos acér-
vulos, são produzidos conídios hialinos (esporos assexuais) com
formato cilíndrico (9-24 x 3-4,5 µm) e envoltos em uma massa gela-
tinosa (Figura 9) (SUTTON, 1980).
Além de C. gloeosporioides, outras espécies de Colletotrichum
estão associadas à antracnose do caquizeiro. Na Coréia do Sul, foi
relatado C. acutatum associado à doença (KIM et al., 2009). Em
outro estudo, isolados provenientes da Nova Zelândia, China, Japão
e Coréia do Sul foram identificados como C. horii nom. nov. (WEIR;
JOHNSTON, 2010). Esse fungo causa morte dos ramos, cancros e
manchas em frutos imaturos (WEIR; JOHNSTON, 2010).
Como há um complexo de espécies de Colletotrichum associadas
à antracnose do caquizeiro, torna-se importante identificar e caracte-
rizar cuidadosamente os isolados obtidos dessa frutífera no Brasil.
Esses estudos estão sendo conduzidos pelo Instituto Agronômico
do Paraná (IAPAR) e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Em um trabalho preliminar, realizado no IAPAR, foram obser-
vadas diferenças morfológicas e culturais entre os isolados obtidos
de folhas de caquizeiro das regiões produtoras paranaenses (Tabe-
la 1). Além disso, também tem sido observado que os isolados dife-
rem na cor do micélio e dos corpos de frutificação e na presença
e ausência de setas e micélios concêntricos e aéreos (MARQUES-
-MARÇAL et al., 2008; RAMPAZO et al., 2007). Em estudos recentes,
conduzidos no IAPAR e na UFPR, detectou-se a presença de C. horii
em algumas regiões paranaenses produtoras de caqui.
1
acinzentado pardo arredondadas
Atributos morfológicos: CM: cor do micélio; MC: micélio concêntrico; MA: micélio aéreo; CF: corpos de frutificação; CCF: cor dos corpos de frutificação;
2
“+”: presença; “–”: ausência.
24/04/2014 09:30:53
Antracnose do Caquizeiro no Estado do Paraná 13
CICLO DA DOENÇA
Como não foram realizados estudos detalhados sobre a antrac-
nose no caquizeiro, pode-se utilizar como exemplo o ciclo geral de
Colletotrichum spp. (Figura 10). O fungo sobrevive em folhas, ramos,
frutos e sementes, como micélio dormente ou conídios (AGRIOS,
2005), sendo estes esporos assexuais, produzidos a partir do micé-
lio dormente, causadores de infecções primárias. Em condições de
temperatura elevada, alta umidade e longos períodos de chuva, os
conídios causam infecções secundárias durante todo o ciclo da cul-
tura. Cabe salientar que para a cultura do caqui não foi estudada, até
o momento, a importância e a ocorrência da reprodução sexuada.
A germinação dos esporos e a emissão de tubos germinativos
ocorrem na superfície da planta hospedeira, na presença de água
livre. Na extremidade do tubo germinativo, ocorre a formação do
apressório, estrutura responsável pela penetração do fungo no
tecido da planta hospedeira. O micélio do fungo cresce intercelu-
Fruto Germinação do
Folha conídio e penetração Infecção inicial e
Ramo
no tecido invasão do tecido
Setas negras
Acérvulo de
Colletotrichum sp. Tecidos infectados morrem e
entram em colapso, formando
áreas deprimidas
Micélio
Acérvulos com massas de
conídios rosadas em
áreas infectadas
O fungo sobrevive como micélio,
ou conídio em frutos podres,
restos culturais e cancros
Acérvulos em áreas
infectadas deprimidas
MEDIDAS DE CONTROLE
Há carência de estudos sobre o controle da antracnose do
caquizeiro no Brasil, notadamente informações sobre a biologia
do patógeno e fatores que afetam a sua ocorrência. Preliminar-
mente, e tomando por base as medidas de controle da antracno-
se recomendadas para outras culturas, aponta-se o uso concomi-
tante dos seguintes métodos, que devem ser adotados no manejo
integrado da doença:
Fungicidas1
Fungicidas à base de oxicloreto de cobre e sulfato de cobre,
únicos produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuá-
ria e Abastecimento – MAPA2 (BRASIL, 2003) para antracnose do
caquizeiro, devem ser aplicados preventivamente a cada 10-15
dias, ou a cada 4-5 dias em condições favoráveis à doença, e nunca
sob temperatura ambiente superior a 25°C. No período da frutifica-
ção, observar atentamente a ocorrência de fitotoxidez, cujos sinto-
mas podem ser confundidos com a antracnose (Figura 11).
A calda bordalesa (0,2%) também é recomendada, sendo a pri-
meira aplicação feita após a queda das flores e a segunda depois de
30 dias. No tratamento de inverno, ou seja, após a poda das plantas,
a calda pode reduzir o inóculo de Colletotrichum spp.
1
Toda aplicação de agrotóxico deve ser feita mediante receituário agronômico.
Consultar os produtos comerciais autorizados para uso no Paraná em:
2
www.agricultura.pr.gov.br
Práticas Culturais
Na implantação do pomar, é importante selecionar áreas de
plantio sem histórico da doença e utilizar mudas sadias, produzi-
das em locais distantes de lavouras com antracnose. Além disso, as
áreas para a produção de mudas e implantação definitiva da cultura
devem ser bem arejadas, para promover a redução da umidade, que
favorece o desenvolvimento da doença. Dessa forma, não é reco-
mendado fazer o plantio em áreas de baixada, sujeitas ao acúmu-
lo de água. O controle de plantas daninhas na área de projeção da
copa do caquizeiro é importante para promover a ventilação.
O monitoramento constante do pomar é fundamental para
detectar, eliminar e queimar os ramos e frutos doentes. Podas de
condução são essenciais para manter a copa aberta, o arejamento e
a entrada da radiação solar. Entretanto, a poda não deve ser reali-
zada sob orvalho ou com a copa molhada e as ferramentas e outros
tratos culturais devem ser desinfestados – com solução de hipoclo-
rito de sódio ou água sanitária (uma parte de hipoclorito de sódio
para três partes de água) ou produtos a base de amônia quaternária
– quando utilizados em plantas doentes.
É importante evitar o excesso de adubação nitrogenada –
alguns produtores utilizam adubos verdes para reduzir a aplicação
de adubos nitrogenados e também melhorar as propriedades físi-
cas, químicas e biológicas do solo – e evitar ferimentos nos frutos
durante a colheita e a seleção, impedindo o favorecimento da infec-
ção por Colletotrichum spp. e outros patógenos que causam podri-
dões nos frutos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A antracnose é uma séria ameaça ao cultivo do caquizeiro no
Paraná e em outras regiões produtoras do Brasil.
Trabalhos de pesquisa devem ser conduzidos para identificar
e caracterizar quais espécies de Colletotrichum estão associadas à
doença. Apesar de diversas espécies de Colletotrichum possuírem
especificidade por hospedeiros, C. gloeosporioides e C. acutatum
possuem uma ampla gama de plantas hospedeiras. Na Coreia do
Sul, essas duas espécies foram capazes de infectar plantas de caqui
e pimentão (KIM et al., 2009). No Brasil, é necessário verificar se
a mesma espécie de Colletotrichum que causa doença em caqui é
capaz de infectar outras plantas cultivadas. A identificação da espé-
cie de Colletotrichum em caqui é importante para a diagnose cor-
reta da doença e o estabelecimento de medidas adequadas para o
controle do patógeno.
Além disso, estudos da biologia do patógeno (ciclo de vida) e de
epidemiologia (estudo da interação entre populações de patógenos
e plantas hospedeiras sob a influência do ambiente no tempo e espa-
ço) são fundamentais para otimizar o manejo integrado da doença.
Programas de melhoramento devem ser realizados para desenvol-
ver cultivares resistentes e com boas características agronômicas.
Outros métodos de manejo da doença também são necessá-
rios como: avaliação da eficiência, época de aplicação e registro de
outros fungicidas protetores, sistêmicos e mesostêmicos no manejo
da antracnose; seleção e avaliação em campo de potenciais agentes
de biocontrole à Colletotrichum spp.; efeito da adubação e demais
tratos culturais na intensidade da antracnose em caquizeiro; e, ava-
liação do manejo integrado da antracnose nas diversas regiões pro-
dutoras de caqui.
REFERÊNCIAS
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Paraná
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a doença, indica métodos para seu controle e aponta necessidades
de pesquisa.