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BOLOGNINI, S. (1994) TRANSFERENCE: EROTISED, EROTIC, LOVING, AFFECTIONATE. INT. J. PSYCHO-ANAL.

, 75:73
(IJP)

STEFANO BOLOGNINI

RESUMO
Dentre uma série de fenômenos tradicionalmente problemáticos para a psicanálise, quatro tipos de transferência erótica serão
resumidas com uma descrição da gênese dinâmica e relatado casos clínicos (desenvolvimento da transferência e contratransferência,
procedimentos fundamentais do tratamento): erotizada, erótica, amor e afeição transferenciais. O primeiro tipo está embasado mais
em modalidades psicóticas, o segundo em modalidades neuróticas. Tanto amor e afeição transferenciais, por outro lado, estão ligados
a formas clínicas correspondentes, substancialmente, ao desenvolvimento normal e sadio, diferentemente dos outros dois em virtude
do diverso nível de maturação do complexo de Édipo que, geralmente na análise, provoca um reforço defensivo que é prejudicial e,
sob o ponto de vista teórico, não censurado. O trabalho está particularmente focado na evolução do tratamento analítico de uma
paciente que desenvolveu uma transferência amorosa na qual os aspectos defensivos mostraram-se menos importante que o potencial
evolutivo. O tratamento esteve particularmente embasado na utilização analítica desta transferência. A última parte desta contribuição
é dedicada aos fatores garantidores da análise, o que permite trabalhar em psicanálise com as “forças altamente explosivas” destas
configurações da transferência, mantendo um referencial útil, rigoroso, sensível e suficientemente criativo.

O psicanalista sabe que está trabalhando com forças altamente explosivas e que necessita proceder com muita cautela e
escrúpulo como um alquimista.
Mas, o que ocorre quando tivermos alquimistas esquecidos, sem levar em conta o perigo de lidar com substâncias explosivas,
com seus indispensáveis efeitos? (Freud, 1914)
É evidente, através da história do movimento psicanalítico e em muitos casos através do testemunho direto de alguns de seus
protagonistas, que as vicissitudes da transferência erótica e seu correlato contratransferencial constitui um poderoso instrumento, uma
constelação específica de defesas e, mais geralmente, uma área de experiência de alto risco para a experiência analítica, que tem um
potencial enorme para desenvolvimentos de transformação e maturação, mas igualmente sujeita a se tornar um fracasso desastroso e
inesperado.
Estou ciente da natureza complexa e delicada do assunto que não foi terminado não somente por Freud (1914) (1926) mas
também por competentes estudantes. Minha contribuição compreenderá reflexões adicionais inspiradas precisamente pela minha
leitura dos trabalhos destes autores. Vou me empenhar em ir mais além do que a ênfase nos aspectos defensivos da erotização da
experiência analítica (uma ênfase que é perfeitamente justificável por muitas razões e deve, em minha visão, ser mantida),
combinando-a com observações do uso analítico das experiências de amor e com as diferenças qualitativas que podem ser detectadas
em diferentes classes destas experiências.
Gostaria de, preliminarmente, colocar um ponto no qual o cenário que descrevo, exceto pelo cenário relacionado a mais
arcaica transferência erotizada, localizada predominantemente na área do Édipo, porque é, em minha visão, lá que eles decisivamente
condensam e assumem sua estrutura mais característica. Entretanto, esta escolha não significa que sua base genética não pode ser
discernida dos níveis precedentes da organização mental e das relações de objeto, um conhecimento no qual, algumas vezes, de fato,
nos permitir predizer o futuro desenvolvimento de uma pessoa ao cruzar o Édipo.
Nesta conecção um interesse considerável une os estudos como os de Loewald (1979). Ogden (1989) e Kavaler-Adler (1992),
nas relações entre a forma depressiva (como oposta à esquizo-pranóide) básica do funcionamento mental e a capacidade de trabalhar
através do declínio do complexo de Édipo com a reparação em subseqüentes relações de valiosos elementos da experiência subjetiva
com o objeto primário. Desejo lidar especificamente com este aspecto na segunda parte deste artigo.
Descrevendo os diferentes tipos de transferência, gostaria também de atentar às reações contratransferenciais específicas
induzidas no analista com particular ênfase ao risco de actings in.
Desejo terminar esta introdução com palavras finais, talvez obvias, de cautela: como qualquer tentativa de organizar o
material através de definições, esquemas ou categorias, esta sistematização e classificação dos acontecimentos humanos são
deliberadamente rígidas e reducionistas e tenta somente consolidar aspectos clínicos e teóricos para serem discutidos. Tais
configurações pré-determinadas raramente são encontradas na realidade em estado puro.

TRANSFERÊNCIA EROTIZADA

Alguns autores (Etchegoyen, 1986; Gitelson, 1952; Rappaport,1956) usam este termo para distinguir e denotar a forma de
transferência próxima da psicose. Pode ser completamente caracterizada, em concordância com a descrição de Freud (1914) como
uma incapacidade ego-sintônica refratária, não usual, irredutível de aceitar substitutos e de inesperado começo prematuro.
Por último podemos relembras o comentário de Blitzsten referido por Rappaport (1956) que, na situação neurótica comum , o
analista é visto como se fosse o pai ou a mãe, enquanto na erotização da transferência (aspecto psicótico) ele “é “o pai ou a mãe. A
capacidade do paciente de simbolização é, então, determinante para o diagnóstico.
No caso do começo prematuro, Bliktzten propõe que, se o analista surge no primeiro sonho como pessoa ou de maneira
rapidamente identificável, o paciente dá uma conotação violentamente erótica na transferência e sua análise poderá ser difícil ou
impossível.
Nestas circunstâncias a situação necessitará ser trabalhada imediatamente e muitas vezes poderá ser necessário encaminhá-
lo a outro analista. Gitelson (1952) toma o “primeiro sonho” desta espécie e o atribui a três possibilidades:
a) pobre capacidade de simbolização por parte do paciente;
b) um sério erro técnico do analista;
c) uma genuína semelhança entre o analista e um dos pais do paciente

Etchegoyen (1986) diz que no primeiro caso a analizabilidade do paciente deverá ser reconsiderada; no segundo a mudança
de analista deve ser indicada; enquanto no terceiro lhe parece ser relativamente insignificante e não demanda troca.
Para caracterizar esta forma de transferência, desejo fazer uso de conceitos psicanalíticos de diferentes contextos teóricos,
justapondo-os sobre minha responsabilidade porque considero que sua combinação facilitará a descrição desta configuração tão
complexa.
A característica fundamental da transferência erotizada é a natureza arcaica de relevantes níveis de funcionamento mental.
Neste tipo de transferência o objeto é altamente idealizado e a atmosfera sempre está carregada com elementos persecutórios e
saturada de sensações de envolvimento, ou do tipo: “Não há outro Deus além de mim”.
A fantasia subjacente dá origem à erotização defensiva que tem uma função adesiva qual seja de separação e abandono. É
uma tentativa de retorno a um estado psicótico de fusão narcisista com o objeto pré-edípico, com negação da separação do objeto
(pelo qual as próprias experiências do sujeito são atribuídas a ponto delirante) num clima, às vezes dramático e às vezes de júbilo e
grandiosidade. A intolerância à abstinência e inabilidade de controlar o objeto é claramente evidente (Saraval,1988).
Nos termos do self, o aspecto saliente é a abolição do sujeito que regride a este nível de transferência; estes casos de
erotização psicótica fornecem uma confirmação à asserção de Platô no Simpósio que amor é a criança da miséria, isto é, um estado de
privação e pobreza, o estado de recém nascido, incapaz de prover por si, uma primária não existência em si, que desenvolve um total
apego à única fonte de vida, a mãe.
Esta forma de transferência é, em minha visão,(improvável para dar origem a respostas ao analista na forma de acting in
sexual) unicamente para dar origem a respostas sob a forma de acting in a problemas do analista. Quando trocando idéias com
colegas, sempre ouvi comentários tais como: “É uma ode: esta paciente é fisicamente muito bonita, mas não me atrai sexualmente”
Como De Mais (1988) aponta, a experiência de contratransferência é predominantemente de aborrecimento ( contrariedade);
novamente a função defensiva desta transferência, como inesperada e usualmente grosseira tentativa de ação interpessoal, é obvia
( como uma tentativa desesperada e geralmente desajeitada de ação interpessoal, é óbvia). Em minha opinião, se é sempre sedutora,
deverá ser sempre devido a uma ilusão narcisista de gratificação criada no analista que deve ter tido uma séria perda, ou em termos
gerais, um trauma narcisista – um analista que está sofrendo e “não assimétrico”. Considero que, se a função materna primária é
evocada no analista, isto não é um efeito perverso da sedução, mas mais frequentemente uma resposta contratransferencial
complementar, apropriada às profundas necessidades do paciente (a “contratransferência apropriada mencionada por Sandler,
1976”.).
Em qualquer caso, do ponto de vista da contratransferência do analista, o objeto é mais atormentador; isto pode muita vezes
dar origem a dificuldades técnicas substanciais porque a intolerância do analista pode levar a prematuros apelos ao ego do paciente no
nível do “teste de realidade”, se não a tentativas atuais inconscientes de expulsão com a finalidade de perturbar o analista.
Tendo em vista estas considerações, segue-se naturalmente, em minha visão, que a técnica para o tratamento destes estados
transferenciais que devem ser correlacionados com o nível e qualidade da relação que é caracteristicamente primitiva e deve incluir
certos pontos focais:
1. restrição maturacional
2. aliança com as partes sadias do ego
3. abordagem do objeto (que em muitos casos tem sido remetidas a uma área remota e expelidas)
4. progressivo alimento ao self
Ao contrário, a consciência da idealização e perseguição não pode ser promovida no paciente imediatamente porque ele
sentirá isto como uma atribuição de uma anomalia funcional que é para ele, em qualquer caso, inevitável e sobre o que ele sente não
poder fazer nada exceto envergonhar-se.

TRANSFERÊNCIA ERÓTICA

Esta pode ser entendida como uma repetição neurótica do processo de catexia e fixação em relação a um objeto que
incorpora características “impossíveis” (isto é, aquelas negativas para propostas a uma relação real) do objeto do amor edípico. Este
objeto é geralmente proibido e/ou não acessível na prática; alguns deles, ou de uma ou outra maneira, pertencentes a uma categoria
social alta.
Em seguida, consequentemente, são erotizadas como se fossem por deliberada intensão: proibição, impossibilidade, diferença
entre gerações; algumas vezes a distância do objeto - E por isso todos os aspectos capazes, de alguma forma, evocar o
relacionamento na situação edípica com um vácuo adulto-criança reproduzido em todas suas formas equivalentes.
Por isso o analista presta-se para representar o cônjuge (pai/mãe) edípico – mas para o paciente neurótico, como sua
contrapartida psicótica, pode representar e mesmo constituir este objeto. A repetição é um aspecto fundamental desta transferência
da mesma forma que na vida do paciente fora da análise.
Incidentalmente, Rycroft (em uma comunicação pessoal a Schafer,1983) expressou a visão de por que razão Freud enfatizou
o aspecto da repetição na transferência era o que mais o preocupava sobre as possíveis cargas que fariam os detratores da psicanálise
no que diz respeito às transferências eróticas das pacientes mulheres aos analistas homens.
Em qualquer medida, o elemento de repetição naturalmente periodicamente aparecendo, predispõem os pacientes a ilusões e
subseqüentes desapontamentos, à desilusão, presumivelmente fonte em razão da repetição neurótica, pela perda da ilusão
acompanhada de luto, gera insights e mudanças internas.
Silenciosamente (ainda) no tema da repetição, a frase comum “ter um caso com...” (em italiano ter uma “história” com...)
parece conter uma consciência sombria da compulsão à repetição, algumas vezes até expressando uma tentativa futura perversa
(““...não me importaria ter um affair....!).
Esta formulação sempre leva ao fim do relacionamento e não a seu desenvolvimento por causa de não desistir dos pontos de
fixação ideais, relações de curta duração são antecipadas. Mas, porque são precisamente aspectos negativos do objeto e do
relacionamento (como impossibilidade) que são catexisados?
Poe quê esta aparência constitui os pontos de fixação atuais?
Sugiro que os seguintes fatores potenciais que podem estar envolvidos:
1. A defesa perversa: isto é a libidinização de uma fonte (passada) de enorme sofrimento, especificamente um malogro
(derrota) excessivamente traumático edípico incapaz de ser elaborado na fase de declínio (mecanismo de defesa similar,
mesmo não estritamente ligados ao complexo de Édipo tem sido descrito, por exemplo, por Gillespie,1956).

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2. Específica agressão inconsciente dirigida ao genitor do mesmo sexo: isto é, um irredutível ataque que não pode ser
levado a cabo, tomando a forma de um prazer específico no furto e destronização no qual o objeto conquistado se torna
um troféu menor ou um meio; por fim, de uma fusão de três vias. (tomando a forma de uma prazer específico no furto e
destronamento, no qual o objeto conquistado se torna um pouco mais do que um troféu ou um significado para um fim,
numa atmosfera de três vias de fusão). Na situação analítica o cônjuge analista/pai pode mesmo estar simbolizado em
certas fases pelo próprio analista que é atacado como se fosse o rival edípico da mãe (Mantovani,1991).
3. O cônjuge do complexo de Édipo: a transferência erótica pode também, algumas vezes, seguir o caminho do
comportamento sedutor e colusivo de um ou ambos os pais, se foram cultivadas, subjacentemente, a ilusão edípica mais
além do tempo fisiologicamente apropriado ( Nobili, 1990).
4. O desespero do Édipo interno infantil: os sete anões, antiga vida pré-genital das crianças, como oposição a branca de
neve e o príncipe (eternamente genitalmente jovem), mostra que a criança sempre permanece criança; nunca será capaz
de crescer. Esta é uma perspectiva estática sem perspectiva de evolução

Isto leva a tentativas compulsivas, maníacas e sedutoras para negar a inferioridade, exclusão e injúria narcisista, alimentando
a experiência reativa de maravilha na sedução erótica transferencial. Nesta transferência o objeto, de fato, é experienciado
primariamente como “excitante”: “Amando-se, um e outro, será excitante e maravilhoso”!
A mesma sensação é induzida no analista que é impelido a compartilhar esta ilusão; a situação lembra Ulysses e as sereias, e
esta situação clínica certamente representa o maior risco para a atitude analítica. Devo lidar mais tarde com sugestões que podem ajudar
o analista – como Ulysses permaneceu imóvel quando confrontado pela atração ilusória e fascinante do canto da sereia.
Langs (1974), Arwood et a. (1989) e Eber (1990), concordam que a persistência de transferência erótica por muito tempo
somente ocorre por conluio inconsciente do analista. Maroda (1991) compartilha desta visão, exceto quando do tratamento de pacientes
psicóticos. Nota também que, na transferência erótica, há sempre razões para não se tornar plenamente envolvido em certos tipos de
relacionamentos que são particularmente reprimidos.
Geralmente outras instâncias primitivas permanecem inconscientes: exclusão, inferioridade, inveja e ataque ao casal parental;
este último componente agressivo contribui para o excitamento que sempre caracteriza a atmosfera deste tipo de transferência. Descrevi
a psicodinâmica desta forma de transferência em termos sincrônicos, isto é, enfatizando a resolução edípica – predominantemente
neurótica – como o processo formativo, cuja profunda raiz genética distorce, na atualidade (realmente), as vicissitudes do
relacionamento com os primitivos (arcaicos) objetos.
Depois da complexa transformação e divisão, os objetos edípicos herdam certas funções e características deste objeto. Muitas
vezes, em minha experiência clínica, detectei, subjacente à transferência erótica, um padrão de relacionamento com os objetos primitivos
que defino qualitativamente como “polêmicos”, muito perturbados e conflitados, mesmo se não como lápides ausentes nas primitivas
relações que subsequentemente dá origem à transferências eróticas.
Estas relações “polêmicas” com os objetos primitivos sempre contém, em embrião, alguns aspectos característicos da
transferência erótica, isto é, no nível instintivo, os elementos de voracidade oral que, através de derivados de impaciência, fazem a
espera de crescimento edípico intolerável ou “queimam” etapas do envolvimento com o analista, voltando a uma agressão uretral não
aceita e não trabalhada no tempo apropriado nas primitivas relações (uma agressão que pode ser refletida no tratamento em um
“ataque erótico” no funcionamento do casal analítico). Similarmente, no nível da relação de objeto, o paciente frequentemente pode
olhar para (procurar por) um objeto alternativo (um que é “proibido” ou “impossível” no estágio edípico) ao objeto real da relação
primária, seguindo as seguintes linhas: nenhum marido pode ser tão bom quanto amante, e nenhum analista que respeita o setting pode
ser o terapeuta sensacional que quebre as regras tal qual uma mãe real (capaz de presença e ausência) foi no passado capaz de
suportar a comparação com a mãe ideal fantasiada, sempre boa e sempre presente enquanto, no nível narcisista, os pacientes podem
oscilar entre auto-imagem grandiosa (“sou irresistivelmente sedutor”) e uma imagem empobrecida, falida por repetidas contestações. É
função da análise melhorar a polêmica, a qualidade amarga desta atmosfera profunda de relação.

AMOR TRANSFERENCIAL

Defino amor transferencial como uma forma de transferência altamente conflituada em que os sentimentos e fantasias amorosas do
paciente:
a) predominantemente falha em significado defensivo comparado com outros aspectos negativos no relacionamento;
b) naturalmente encorajado e não sedusivamente aceito e válida na análise;
c) caracterizada por uma identidade sexual genuína, específica embasada em um desenvolvimento integrado nas fases pré-
genitais - conflitos de uma série de sentimentos complementares de fantasias destrutivas de perigo que se opõem à sua aparência
experenciadas como uma comunicabilidade simbólica no tratamento psicanalítico.
Desejo tentar descrever esta configuração em profundidade através de material clínico.
Um ponto central de muitas análises compreende a descoberta do verdadeiro amor objetal em pacientes que desenvolveram
defesas específicas contra este evento (usualmente pacientes que se afastaram do complexo de Édipo).
Prévias escolhas de objetos defensives – marido/irmãos mais jóvens/filhos, ou outros; marido/mãe, etc. – entram sempre em
questão. Da mesma forma para homens: viúvos/ menino como o próprio paciente, vipuva/ mãe oral; viúva/pai, etc.
Também não fecha a questão: os novos objetos reais, herdeiros de primitivas catexias congeladas, servem precisamente para
restaurar a viabilidade de quotas de libido; entretanto, muito frequentemente subsequentemente provam serem inadequadas, no nível
real, e dá passagem a escolha de objetos mais desenvolvidos, uma vez que sua re-evocação transferencial “mágica” é exaurida.
Durante o tratamento, estes objetos são a mais das vezes movidos concretamente pelo analista que nos dias presentes se
torna a “encarnação” do objeto sonhado. Em muitos casos não há deslocamentos transferenciais: a situação inteira é esclarecida pela
dupla analítica.
O amor transferencial consiste de dois componentes, um dos quais é a parte neurótica, consistindo na repetição defensiva
antirelacional de atitudes internas e externas, dirigida à manutenção da repressão de aspectos positivos da relação com o objeto
amado. Esta parte neurótica é um envelope de defesas e resistências enraizadas em medos e culpas de várias espécies. Esforça-se
para manter cativos os outros componentes do amor transferencial: a capacidade sadia para amar esforça-se para existir e se
manifestar.
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Como esta segunda parte é progressivamente experenciada, elementos de compreensão, confiança, intimidade, contato, bem
como uma complementaridade sexual específica, gradualmente se torna conhecida e apreciada, ainda que conflituadamente.
Abertura, calor e confiança é o resultado final da compreensão encorajada por estes fatores.
O resultado final de um longo período de árduo trabalho é uma espécie de contato não diferente em sua sensibilidade e
delicadeza que pode surgir entre dois apaixonados (Carloni, 1984), conduzindo a um bom e genuíno cuidado parental: gratidão pela
análise (Schafer,1983) não é irreal, como o cuidado com que o paciente é tratado é genuíno e mesmo se o contexto e forma sejam
limitados, sua natureza é rigorosamente simbólica. Amarem-se uns aos outros é algo possível e muito bom – é preferível que
pretender ser.
A consciência e garantia oferecida pelo analista permitirá o contato com (e a comunicação) intensas experiências.

Etchegoyen (1986) escreve que em muitas análises haverá momentos de amor, de estar apaixonado como reproduções no
tratamento de relações de objeto da tríade edípica, inevitável (e salutar) que deverão surgir. Refere-se a uma contribuição não
publicada de Juan Carlos Suarez (1977) sobre um caso no qual a contratransferência erótica poderosa e persistente surgidas na fase
final do tratamento prova não ser somente proveitoso, mas também necessário para completar o processo de desenvolvimento da
feminilidade da paciente.

MATERIAL CLÍNICO

Trata-se do caso Marinella, uma mulher histérica de 30 anos que tinha sintomas de conversão e dificuldades no
relacionamento com os homens.
O primeiro sonho em sua análise condensa e representa muitos dos desenvolvimentos de nosso empreendimento analítico.
“Eu estava na casa do Dr. X (médico muito conhecido); ele não estava lá”. Talvez eu estivesse falando com ele ao telefone. A
porta abre bruscamente e uma moça corre com um cabelo com rabo de cavalo e urina no carpete. Não era muita urina mas o desejo
era muito poderoso. A menina estava muito contente e posteriormente sorria, mas tive que limpar o carpete!... Então deve haver um
engano porque não era um hotel como eu pensava, mas era a casa do Dr. X.
Então Marinella estava em minha casa – isto é, começou a análise – mas eu não estava lá e, talvez, ela estava falando comigo
ao telefone: contato à distância com um objeto ainda não realmente representável.
Mas, quão intensamente Mrinella – como a menina nececitou urinar dentro do espaco analítico - eliminou sua mais urgente
secreções/ segredos!
A urgência era muito poderosa – e quando, anos mais tarde, Marinella aprendeu como lidar intimamente com um homem, foi
capaz de trazer um sonho e ligar, não somente a agressão com a qual lidou durante a análise, mas também à excitação sexual que
nunca tinha aceito e compreendido que era vista como um objeto e situação que poderia ser experimentada como alegria (alegre e
sorridente como a menina no sonho).
Entretanto, a Marinella do sonho “deve limpar”: “não é um hotel, mas a casa do Dr. X” – prevendo o fato que a experiência
analítica poderia ser entre duas pessoas que se tornaria intensamente genuína e conjunta, e que as regras, papéis e o setting,
estritamente respeitados, não provariam um impedimento de um contato próximo e profundo como de fato foi o caso.
Levou algum tempo antes que Marinella fosse capaz de renunciar à necessidade de “limpar”. Isto é, ser capaz de pensar e
fantasiar, por mais que pudesse ser, fluir e receber na análise (permitir pensamentos e fantasias, quaisquer que eles pudessem ser,
fluir e receber na análise).
Depois de dois anos de análise, durante o qual me usou como transferência de sua mãe que se tornou, tanto como possível,
mais próxima a ela, e como um pai que poderia garantir proteção da qual sempre sentiu falta. Marinella arriscou-se a um
deslocamento do amor de transferência com um médico da mesma idade que ela (eu) – “risco no sentido de que ela evitou um
homem por muitos anos; disse-me, em palavras, suas razões conscientes para tal, mas por este relacionamento proveu-me com uma
pintura muito mais viva e comunicável de seus profundos medos.
A escolha do objeto foi patognomônica: O Dr. G era uma pessoa culta, refinada e muito estimada, porém tendendo à rigidez e
severidade quando intimamente interessado. Após semanas ele mostrou-se completamente insatisfatório no relacionamento sexual
seguindo-se por uma agressão histérica sentida por ela como terror, somente confirmando sua convicção que os homens devem ser
deixados de lado.
Quando este affair começou, optei não dar muita atenção prematuramente aos aspectos de deslocamento com o objetivo de
permitir a situação desabrochar numa forma que poderia expor suas implicações profundas. Eventualmente, eu simplesmente lhe dizia
que o relacionamento com o Dr. G era indicativo de uma forma de contato dramático e impraticável com os homens, mas que
poderíamos esperar coisas melhores entre nos dois.
Marinella encorajou-se por esta abertura e fez um novo início, envolvendo-se mais diretamente na transferência. Começou vir
às sessões com os olhos inchados; evidenciando as pálpebras intumescidas (especialmente pela manhã) que tive sempre medo que ela
pudesse estar com nefrite. Submeteu-se a um exame médico porém nada foi encontrado.
Os estados da mente mais comumente associados a este estranho sintoma eram uma desesperada tristeza e um sentimento
de um descontentamento sombrio. A tristeza vinha acompanhada por uma necessidade poderosa de chorar, que, entretanto, era
suprimida e resistida,
(“ ninguém cuida de mim, mas o que há de bom em pensar sobre isto?”)
A alternância entre inchaço e redução do inchaço dos olhos foi também associada com a alternância de reter-se e capitular-se
(render-se) ao orgasmo – e este conflito estava próximo de saltar ao descontentamento sombrio. Agora nos cedemos vagamente às
conjecturas Reichianas; o fato é que o sintoma desaparecia depois de Marinella ter me relatado na sessão: “Eu me masturbava
enquanto pensava em você”.
Isto me parecia ser um desenvolvimento positivo na análise. Tive muitos sentimentos contratransferenciais arraigados de
diferentes fantasias: sentia-me próximo dela. Dando sentido às suas experiências físicas e psíquicas, como uma mãe, como um pai,
protegendo-a dos perseguidores (cuja natureza projetiva era algumas vezes interpretada) e garantindo que os impulsos não seriam
aceitos na análise. E ao mesmo tempo eu estava compartilhando as fantasias de intimidade e amor como um amante.
Precisamente esta boa situação que cresceu entre nós mobilizando novas ansiedades nela. Marinella tinha medo de perder o
controle, sentia-se muito bem comigo e, então, introduziu uma nova característica (um novo personagem) ao cenário, não agora como
uma figura temida do superego como o Dr. G, mas a completa antítese dele.
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Aldo era um jovem de 25 anos de alguma maneira perturbado, extremamente introvertido quase ao ponto de autismo; não
tinha amigos e era fraco, indolente e assustado, mas era muito bonito.
Durante algumas semanas, Marinella o seduziu, arrastou-se a seus pés até sentir-se ternamente apaixonada por ele. Desta
forma surgiu um relacionamento no qual um causou ao outro a “perda da cabeça”, isto envolvia pequeno risco porque o outro perdeu
menos recursos de sua personalidade (tinha menos personalidade e poucos recursos). Isto permitiu a ela levar-se pela disparidade das
forças envolvidas. Por outro lado, foi uma experiência útil para Marinella porque, além de não levar em conta atingir orgasmo por sua
relativa impotência, foi, pela primeira vez, capaz de sentir grande prazer no contato sem a condenação do superego do objeto e sem a
renuncia das ansiedades. Por outro lado, o relacionamento manifesto teve uma função defensiva com respeito à transferência, este
aspecto reprimido veio a ser impressionantemente ilustrado por um sonho:
Uma mãe estava junto com seu inocente filho de 14 anos (talvez Jesus). Ela o seduziu de uma maneira horrível, vergonhosa e
vulgar. A mãe estava deitada e ele foi forçado a ter uma relação sexual com ela. Suas pernas estavam afastadas enquanto a posição
da cabeça tinha outro orifício com um outro homem tendo relação sexual com ela através deste orifício e ela tinha prazer nisto. (Neste
momento a paciente acordou em estado de ansiedade).
O sonho representava a fantasia incestuosa projetada (isto é, atribuída à mãe/analista sedutora que causou ao
paciente/inocente Jesus perder a cabeça), também representando o desejo de perder a cabeça, tendo prazer não somente genital mas
também em interpretação mental.
O relacionamento com o fraco Aldo, que não lhe despertava medo (não tendo muito em sua mente), também re-enfraqueceu
(redespertou) a memória de sua relação com seu irmão caçula de 18 anos, que se tornou seu companheiro em jogos sexuais,
subseqüentemente esquecido durante a infância: tornou-se uma figura desvalorizada e negativa que, entretanto, tinha duas virtudes
importantes: não despertava medo (cumplicidade) e era viável, A configuração foi similar, o relacionamento com Aldo não durou muito
uma vez a função contato tenha sido exaustiva, começou a fazê-la sentir-se constrangida e eventualmente fadada ao afastamento
ainda que não sem dor.
Neste ponto o problema de Marinella foi integrar sua nova capacidade integrada de contato com um relacionamento com uma
pessoa viável e ilustre, permitindo-se indulgir no prazer da passividade e perda de controle sem sentir-se menosprezada ou
condenada. Durante este período Marinella usou-me com grande consideração nas sessões e diretamente como um objeto de
desejo e ao mesmo tempo como origem de possível humilhação e menosprezo (ao invés de censura moral).
Apreciei sua sinceridade exposta que a fez sentir que de fato se tornaria capaz de me falar destes sentimentos valorizados
para a análise. Eu reformularia periodicamente em minhas próprias palavras para mostra-lhe mais claramente que compreendia o que
ela estava experenciando e isto aliviava seus temores de se fazer ridícula. Uma grande intimidade e ternura advieram entre nós em
que seus desejos e fantasias femininas eram tratadas com respeito e calor. Teve um sonho significativo:
“Estava me masturbando e tinha alguém lá; eu quis não ter sentimentos de vergonha. Tentei, mas não consegui. Fui em
frente e “tomei o pequeno Aldo” e usei-o para atingir o orgasmo: um poderoso orgasmo! O pequeno Aldo ficou suspenso sobre mim,
não em contato. A forma pelo qual o usei foi:”Apesar de você estar lá, olhando como eu estava, apesar de você não querer”, isto me
fez sentir muito satisfeita”
Em uma atmosfera relaxada, eu lhe disse que no sonho ela fez o mesmo como o Gato-de-Botas com o bicho papão: porque
ela encontrou-o muito grande e assustador, retraiu-se! Marinella riu sinceramente, de onde agora encontramo-nos sem dificuldade.
Poucas semanas mais tarde ela encontrou Giovanni, seu marido atual e quando se relacionou sexualmente com ele deixou-se ir
perfeitamente plenamente natural.
O terceiro ano da análise delineou-se próximo e comecei a pensar que muito do trabalho estava feito. Entretanto, o quarto
ano da análise provou ser extremamente resistente.
Apesar de que Marinella tenha se tornado capaz de ter prazer sexual com um homem, agora surgiu uma série grande de
fantasias de dificuldades inesperadas, que desejo sumarizar sob o tópico geral de “dificuldades em aceitar a realidade”. Estive mais
diretamente consciente que, enquanto Marinella tinha sentido solidão durante os anos de isolamento, ela também encontrou formas de
evitar muitos aspectos da realidade que deslocou com fantasias substitutivas.
O quarto ano pode ser dito como ter sido devotado à análise de dois pontos fundamentais:
1. aceitação dos limites entre seus direitos em relação aos do outro;
2. aceitação da presença simultânea de bons e maus objetos internos.

No primeiro ponto, surpreendi-me em descobrir que Marinella não tinha muitas expectativas como demandas; isto foi um
salto ao complexo de édipo e resultou no que pode ser descrito como tormentas entre nós, tão logo como – tão logo previsível –
característica surgida na cena analítica: minha mulher e filhos, outros pacientes e meus colegas. O problema surgido foi a elaboração
do declínio do complexo de édipo.
Em uma sessão ela me falou de um sonho no qual uma figura de pai lhe dava biscoitos, presumivelmente bons, mas de fato
“melhor adaptado para drogaditos”. Então exclamou com desapontamento: “mas eram biscoitos velhos!”
Numa cena posterior, Marinella explicou a seu pai que por causa de seu trabalho ela não poderia ir visitar um irmão que
estava doente em outra cidade. O pai ofendeu-se e desgostou-se, dizendo bravamente: “ você me fez sentir não melhor que um
verme”
Depois de relatar-me o sonho, Marinella encontrou uma maneira de me acusar na sessão, apontando que eu não me recordei
de alguns (insignificantes) detalhes de sua biografia. Ela ficou raivosa e magoada comigo, permanecendo em silêncio, cheirando
desapontamento e rejeição que repetiu e comunicou um sabor amargo escondendo uma raiva malévola de desapontamento edípico.
Interpretei que o analista/pai manifestamente tomou o “bom biscoito” para sua mulher/mãe e escondendo em seu bolso
adaptado mais para paciente/analista adito. Abduzi que durante este período ela talvez se sentiu ofendida e amarga e ficou relutante
para submeter-se à análise colaborativamente (ir visitar seu irmão doente) e isto a fez sentir que o relacionamento comigo foi
deteriorando (fingimento, irritabilidade, fez-me sentir não melhor que um verme).
Esta última experiência foi projetada na sessão: Marinella fez-me sentir um verme de analista que não pode lembrar coisas
das quais não foram faladas. Além disso, ela deu a isto poder extremamente forte para pressionar a reagir, justificar minhas próprias
ações, ou expressar desprezo ficando em silêncio.
Sem dúvida, não foi a primeira vez que a paciente demonstrou sua agressão à análise e que com a qual tínhamos que lidar,
compreender quando aparecia indiretamente no trabalho em várias formas quando diretas (por exemplo, encorajando o contato com
seus temores e fantasias que pode ser precipitados).
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Marinella talvez tinha sempre estado um pouco mais livre – ainda que não muito mais – em termos de sua agressão do que
de sua sensualidade no amor. Nesta ocasião, entretanto, e em situações posteriores similares, a agressão, decisivamente, pesou mais
que o outro aspecto.
A origem (alvo) desta agressão era um pai que a frustrou, desapontou, a limitou e ao mesmo tempo não protetor trazido à
vida em mim. Esses sentimentos eram manifestados revivendo na transferência o desapontamento edípico. Entretanto, muito do
reservatório instintivo foi estabelecido em uma data muito primitiva, ao tempo do doloroso processo de desmame que foi muito
resistido, durante o qual a menininha, por muito tempo, recusou os substitutos do leite materno que lhe era oferecido.
Quando o clima do relacionamento novamente tornou-se predominantemente afetivo após um período de intenso trabalho
analítico, ocorreu um episódio curioso e significativo.
Um dia, quando abri a porta do consultório para ela entrar, defrontei-me com um filhote de cão pastor. Marinella disse-me
que era seu cachorro e que ela queria me apresentar. Ela o trazia em seus braços, com algum esforço, mas com manifesto prazer. Seu
olhar encontrou o meu : e então o pequeno e bonito animal e eu nos olhamos e nos encaramos por alguns segundos, mas ambos
igualmente surpresos. E eu, particularmente, notei seus poderosos dentes. Ela então o levou para o carro e veio para a sessão.
Não foi difícil entender o significado deste episódio: Marinella trouxe para análise uma parte importante dela, potencialmente
afetiva e fidedigna, mas também dotada de uma capacidade manifesta de agressão que a fez sentir-se mais inteira e segura. Ela
também me fez sentir a necessidade de fazer contato com aquela parte que por muito tempo esteve excluída e agora reintegrada e
acessível.
Toda a análise é uma história em si: todos os pacientes trazem, durante sua análise, problemas específicos e necessitam re-
criar cenários e situações peculiares para eles. Devemos aceitar todas estas variáveis sem prejuízo e lidar com elas tão favoravelmente
quanto possível para a pessoa que confia no tratamento. Toda escolha técnica que fazemos deve estar governada pela resposta a uma
questão fundamental que me parece ter sido bem formulada particularmente por Cremerius (1988): estou fazendo o que estou
fazendo porque necessito fazê-lo, ou porque é benéfico ao paciente (e para a análise, grifo meu)?
Ao aceitar o desenvolvimento de uma atmosfera de amor na relação analítica e lidar com isto psicanaliticamente, devemos,
por esta razão, levar em conta o interesse do desenvolvimento do paciente de dois aspectos opostos. Primeiramente devemos admitir
o aspecto de erotização defensiva, interpretando na proporção de seu surgimento; e, em segundo lugar, devemos admitir o genuíno
aspecto amoroso, que deve ser recebido com respeito, acolhendo com alegria (é um sinal de profunda vitalidade afetiva) e utilizá-lo
como o efeito maior possível para encorajar o desenvolvimento da capacidade de amar. Se o amor transferencial é recebido como
transferência erótica, poderá simplesmente mortificar seu potencial que é, de fato, positivo e enriquecedor para a pessoa.
Não é fácil lidar com o amor de transferência. Os pacientes geralmente têm vergonha dele, é narcisisticamente inaceitável
para eles estarem envolvidos em uma situação de mão única da qual o temor é somente de quem sente alguma coisa pelo outro. Em
uma única palavra, eles experimentam uma gama de temores e recusas internas sobre a idéia de deixá-los completamente soltos em
sentimentos amorosos, quase sempre por causa de uma experiência prematura e abrupta de desapontamento edípico da criança. Tal
desapontamento em seu sonho ingênuo de ter como parceiro o pai adorado, é relutante em tomar maiores riscos e deixa claro todas
as várias fantasias, sentimentos e pensamentos que estão ligados ao passado nesta área da experiência.
Acredito que algumas vezes uma paciente/irmã (filha) que é fóbica ou narcisisticamente frígida na transferência, teme o
incesto, mas mais frequentemente tem medo de reabrir uma insuportável exposição narcisística. Quando a paciente/irmã realmente
necessita isto, o analista/pai deve ser capaz de ver nela a potencial princesa e capaz de merecer estimulante charme.
Admitidamente não podemos decidir e programar nossos sentimentos contratransferenciais, mas podemos analisar os
obstáculos internos (no primeiro momento aqueles induzidos pelo outro) para o cultivo em nossos naturais sentimentos, como
reconhecimento e admiração do completo processo de desenvolvimento da especificidade sexual em outro ser humano e a atribuição
infantil (mesmo natural ou analítica) ou prerrogativas e qualidades por meio das qual ele ou ela se torna meritório ou apreciado no que
diz respeito ao desejo.
“Feliz é o homem que quer casar com você” – tal frase condensa em si o valor e a renúncia, admiração, desligamento e bons
desejos para o futuro. É como dar à irmã a impressão narcisística providencial sem carregá-la em seu desenvolvimento - algo que,
tragicamente, o Édipo foi incapaz de fazer com Antígona e na qual, como sabemos, Freud falhou com sua filha Anna.
Tenho minha própria idéia que gostaria de expressar por uma imagem: todo bom pai deve, pelo menos, dançar a valsa com
sua filha e mostrar a ela (ele) como, desta forma, mover-se e honrar. Toda menina deve ter tido a possibilidade da dançar esta valsa
com seu pai ou com um verdadeiro equivalente afetivo. Só assim ela pode sentir-se apreciada, valorizada e admirada, capacitada para
estar serenamente no topo quando, eventualmente, confrontada com a inevitável dor da desilusão edípica. Da mesma maneira, todo
pai deve ser capaz de ficar a parte no tempo apropriado, não impedindo o processo gradual de separação durante a juventude após
ter protegido e encorajado o crescimento – até que ele simbolicamente a acompanha ao altar para seu real companheiro adulto.
O analista deve reconhecer a mesma fase e representar a mesma função até a diminuição natural do amor transferencial –
quando, após uma longa jornada psicológica que pode incluir a realização de uma união amorosa em nível simbólico ou fantasiado
(algumas vezes com episódios de masturbação nos quais estão integrados ternura e sensualidade após um longo conflito), a paciente
por fim prospera à renúncia e, por isso encontrando um novo objeto com o qual a relação real seja possível.
Kavaler-Adler (1992) deu uma excelente descrição de algumas fases do processo que pode tomar lugar em substancial nível
consciente na análise envolvendo também a metabolização parcial da catexia agressiva inerente do complexo de Édipo. Entretanto,
isso somente será possível após a aquisição da capacidade de amar, pelo aumento consciente da comparação entre o objeto do desejo
edípico, revivido na relação com o analista, no diálogo com confiança, intimidade e valorização da sensualidade e afetos que venham
se tornar possível através da recuperação das configurações de fantasias reprimidas e as quotas de libido ligadas a ele.
Em minha opinião, a desilusão edípica é uma das maiores crises que determina o destino e vida das pessoas – como o
nascimento, desmame e mesmo a fase aguda do complexo de Édipo. Mais tarde, a criança pode aprumar abruptamente como Ícaro,
mas na análise poderemos ajudá-la a ficar serenamente no alto. A qualidade do declínio do complexo de Édipo dependerá desta
manobra.

Transferência afetiva

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Desejo devotar umas poucas linhas a esta configuração que é a última desta seqüência. Aqui a impetuosa corrente estende-
se e é serena, tornando-se um rio amplo cuja profundidade e barragem nutre uma ampla variedade de formas de vida e que por si
só é caminho através da diversidade de paisagens em um regime natural agora proporcionado pacificamente.
A transferência afetiva – que considero ser raramente observada – pode ser definida como a transposição, na análise, de um
objeto interno aperfeiçoado envolvendo especificidade sexual, gratidão e totalmente livre de apreciação do objeto e de próprio
potencial de relacionamento do sujeito, embora, ao mesmo tempo, respeita a realidade e os limites relevantes. A matriz desta atitude
interna é, em minha visão, sempre uma resolução adequada da posição depressiva, pelo qual o sujeito foi capaz de trabalhar através
da experiência do processo de separação.
A transferência afetiva é, de fato, o fruto adequado da renúncia, sublimação e conversão do crescimento das demandas
onipotentes narcisísticas – e não do processo mais comum de repressão que dá razão ao rio soterrado (rio que pode irromper
bruscamente à superfície, que pode ser entendido como: te amava e te amo ainda, mas soterradamente).
A transferência afetiva perdeu muito da excitação das manifestações das fases precedentes, mas, para se tornar uma forma
morta, se caracteriza pela fertilidade emocional e pelo estágio incipiente de paternidade psicológica fundamental e genuína.
É a fase de crescimento antes da latência e sempre encontrada em certas crianças que, admitidamente por complexas razões,
introjetaram e cultivaram um casal parental admirado afetivamente que sobreviveu ao conflito edípico – e, na análise, em pacientes
que usualmente no fim de seu tratamento, trabalharam profundamente o processo de melhora (Speziale-Bagliacca, 1988) das relações
de objeto, sempre após experiência dramática de ebulição.
Na transferência afetiva, o sujeito supre a si mesmo com a capacidade de amar que é viável e não necessariamente imediata
e que pode ser deslocada mesmo à pequenas coisas.
Nos estágios finais da análise, isto induz no analista o prazer do reconhecimento do encontro, o orgulho do sucesso da
fraternidade (paternidade), a dor da separação inevitável que virá e admiração pela melhora da pessoa.

Fatores de Garantia no Analista

Se o analista atua uma situação erótica com uma paciente, o dano pode tomar várias formas, mas imagino que a
conseqüência mais séria para a paciente pode ser a perda da confiança na análise como um todo. Um analista (sem dúvida outro!)
pode ser procurado depois de tal incidente, mas somente se a esperança e respeito pelo instrumento da análise tenham sobrevivido
desta experiência – e quando isto ocorre, sem dúvida é um sinal de bom prognóstico.
Ficamos surpresos ao ouvir casos nos quais uma análise continuou com o mesmo analista (isto é, após uma sedução no
divã). A sessão na qual o acting ocorreu é carregada! Isto é verdadeiramente uma questão de esquizoidismo e repúdio, ou, melhor,
sempre um comportamento não respeitável – mas, algumas vezes, talvez, também obscurece ansiedade ao vago sentimento de que é
a causa da perda do paciente para sempre.
Para o possível fator de garantia que previne o analista sucumbir à tentação erótica com as pacientes, o mais tradicional
exemplo é a presumível consciência, por parte do analista, da natureza ilusória da transferência (o paciente não te ama como pessoa,
mas ama a fantasia). Esta consciência complementa outra, a mais importante barreira no nível da moralidade, da técnica e da ética
profissional.
Os analistas sabem que esta consideração é correta: Freud (1914) mostrou, com sua incomparável mistura de perspicácia e
honestidade intelectual que qualquer apaixonar-se na realidade - e não somente na análise- envolve um elemento de transferência,
isto obviamente não significa que amor pela análise é o mesmo que o experimentado por outra pessoa real a qual a paciente conhece
e com a qual interage fora do setting analítico
Entretanto, o analista não deve tratar a transferência amorosa defensivamente, como algo inteiramente espúrio ou impróprio,
não deve evitar o possível desprazer da renúncia e a necessidade de uma atitude parental estável anestesiando-se internamente: se
for necessário deve estar depressivamente consciente desta forma de começo. Realmente, esta consideração pode se tornar um
verdadeiro fator de garantia somente se sustentado por esta consciência depressiva.
Penso ser honesto dizer que não devemos obter vantagem da situação que é, por fim, parcialmente ilusória porque pode
prejudicar o par analítico e o paciente – totalmente aparte dos casos de confusão de línguas (Ferenczi,1923), no qual o equívoco é
completo, a necessidade de ternura e contato é um equívoco concreto, diferenciando a pretensão sexual.
Desejo enumerar alguns fatores que acredito sejam verdadeiramente importantes para prover a análise com uma atitude
correta (ricamente suficiente e rigorosa), assim podermos lidar com as “forças altamente explosivas” da transferência erótica.

1 – A Constituição de um bom superego psicanalítico (o trabalho de Schafer sobre superego,1983): Schafer menciona a
internalização da proibição de intimidades inconsistentes com a técnica, isto mediado através das identificações com os próprios
analistas e supervisores.
2. A vida privada do analista (Greenson,1966); (Lopez,1976), desde que suas necessidades pessoais o faça sentir-se vivo e
suficientemente preenchido em sua própria relação amorosa, ou, em termos mais gerais, desde que sua receita libidinal e narcisista
seja suficientemente positiva.
3. O grupo de pacientes do analista e o compartilhamento dos recursos contratransferenciais viáveis (Costa,1990)
4. Um interesse genuíno na literatura psicanalítica encorajadora do desenvolvimento da pessoa.
5. O fator decisivo e por ultimo intelectualizado que vejo como o mais importante de todos: a aquisição substancial através da
análise e experiências maturacionais da existência, o que Erikson (1963) chama o estado de produtividade: a produtividade do adulto
consiste no interesse em estabelecer e guiar a próxima geração assumindo responsabilidade parental para esta formação
maturacional. Esta produtividade, sem dúvida, corresponde a um estado avançado de desenvolvimento pessoal, e carrega em si uma
espécie de prazer natural em dar. Quando este nível é atingido, Ulysses pode ficar livre de sua escravatura: ele verá a promissora
sereia, mas criatura imatura, aspirando a auto-perfeição. Seu reinado, sua cama de oliveira, entretanto está alhures.
Tais situações normalmente distinguem verdadeiros psicanalistas que têm maturidade em sua tarefa e a carreira de
terapeutas principiantes em treinamento.

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TRADUÇÃO LIVRE

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