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Camilo Salgado: revisitando o mito

Aristoteles Guilliod de Miranda1


José Maria de Castro Abreu Jr2

Resumo: O artigo se propõe a compreender melhor o fenômeno Camilo


Salgado (1874-1938), médico de destaque nas primeiras décadas do
século XX, hoje cultuado como “santo popular” na cidade de
Belém (Pará) revisitando pontos de sua biografia, rediscutindo e
redimensionando alguns fatos que contribuíram para a construção
de seu mito e sua “santidade”. Apresentando aspectos de sua vida
importantes para esta compreensão, ainda que hoje tenham
desaparecido das narrativas biográficas sobre esse médico em
detrimento a outros fatos que acabaram sendo mais valorizados, o
texto expõe os constantes confrontos entre história, memória e
esquecimento.

Palavras-chave: História da Medicina, Instituições Médicas, Estado do Pará.

Abstract: The article aims to better understand the phenomenon Camilo


Salgado (1874-1938), a prominent doctor in the first decades of the
twentieth century, now revered as “popular saint” in the city of
Belém (Pará) revisiting points of his biography and resizing some
facts that contributed to the construction of his myth and his
“holiness.” Featuring important aspects of his life to this
understanding, although today have disappeared from the
biographical narratives about the doctor over to other facts that

Revista Estudos Amazônicos • vol. XI, nº 2 (2015), pp. 128-156


ended up being more valued the text exposes the constant clashes
between history, memory and oblivion.

Keywords: History of Medicine, Medical Education, State of Pará

Cada homem só vive e é grande quando mostrado


integralmente. Nos seus acertos e erros. Nos acertos
e erros dos outros sobre sua pessoa (Pedro Nava)

Introdução

Abordar um personagem como Camilo Salgado, em Belém do Pará,


costuma seguir sempre em uma direção única: a de exaltá-lo como grande
médico, criador e fundador da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará e da
então Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, atual Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Pará, dentre outros feitos, e que,
acima de tudo, é reverenciado como um “santo popular”, talvez o mais
importante desse panteão. Quase tudo o que fugir desse roteiro estará
sujeito a críticas severas e à denegação da argumentação proposta, pois
que para os perpetuadores dessa construção mítica de Camilo tal posição
não deve permitir questionamentos.
É nessa conflituosa encruzilhada envolvendo história, memória, mito
e tradição que se pretende discutir o papel de Camilo Salgado em alguns
eventos da história da medicina do Pará – ou mais especificamente de
Belém -, numa proposta de entender determinados elementos importantes
na construção da sua “santidade” e que hoje foram apagados da memória
coletiva, considerando que “o trabalho — e também o dever — do
historiador é fazer da memória um objeto da história para expor o seu

Revista Estudos Amazônicos • 129


caráter construído, revelando as suas fraquezas e a sua
instrumentalização” 3.

Dados Biográficos, trajetória profissional e construção do


mito

Camillo Henriques Salgado Junior nasceu em Belém do Pará em 22 de


maio de 1873, filho de Camillo Henriques Salgado e Angelica de Almeida
Tanellas Salgado. Seu pai era professor e foi agraciado pelo governo
provincial do Pará para aperfeiçoar-se em “um curso de Escola Normal
para o ensino primário”, em Paris, onde conquistou o diploma de
professor pela Sorbonne. Depois de cinco anos na Europa, retornou a
Belém passando a lecionar Pedagogia na Escola Normal, além de ministrar
aulas de História do Brasil e História Universal no Liceu Paraense 4,
também, tendo atuado no magistério de Belém por 34 anos, até ser
aposentado5.
Camilo, o filho, iniciou seus estudos em casa, com apoio de seu pai
professor, prosseguindo sua formação no Liceu Paraense, atual Colégio
Paes de Carvalho, em Belém6. Concluída essa etapa, seguiu para Bahia a
fim de estudar medicina. Na Faculdade de Medicina da Bahia cursou os
três primeiros anos, transferindo-se para o Rio de Janeiro, cuja Faculdade
de Medicina funcionava em melhores condições que sua congênere
baiana, principalmente considerando o fato de estar na capital federal,
próxima, assim, das ações e recursos governamentais7.
O curso na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro foi concluído em
5 de fevereiro de 1897. Sua tese de doutoramento, defendida em 20 de
outubro de 1896, versou sobre “Influencia da metrite sobre a gestação” 8,

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recebendo da banca o conceito de “aprovada plenamente”, o que queria
dizer que não fora “aprovada com distinção”, grau máximo que podia ser
obtido. Após a formatura regressou a Belém, onde começou sua vida
profissional, mas logo em seguida partiu para Paris, para estudos de
aperfeiçoamento.
Dentre os locais citados onde Camilo procurou aperfeiçoamento na
França, frequentando renomados serviços, destaca-se a Clínica do Prof.
Charcot, nome de reconhecida importância para a Medicina por sua
contribuição à Psiquiatria e à Neurologia. De acordo com Pantoja, Camilo
teria inclusive viajado de trem com Charcot de Paris até Versalhes 9. Esta
associação de Camilo com Charcot é ressaltada por outros biógrafos, que
destacam este momento como importante durante sua capacitação
profissional. Ocorre que Jean-Martin Charcot, considerado um dos
maiores nomes da medicina francesa, faleceu em 1893, quando Camilo
Salgado era apenas um acadêmico de medicina. Provavelmente o
companheiro de viagem de Camilo foi Jean-Baptist Charcot, também
médico e filho do outro Charcot, porém mais conhecido como explorador
da Antártica10.
De volta definitivamente a Belém após os estudos na Europa, Camilo
Salgado iniciou uma trajetória vitoriosa na profissão, fazendo parte do
corpo clínico dos principais hospitais de Belém, tendo participado do
conselho administrativo da Santa Casa chegando a ser seu provedor11. Foi
chefe de clínica na Ordem 3ª de São Francisco12, atuando, também, no
Hospital dos Marítimos13. No Hospital Dom Luiz I, da Imperial Sociedade
Beneficente Portuguesa do Pará ingressou em 1897, logo depois de
formado; quatro anos depois foi nomeado diretor do corpo clínico; em
1904 recebeu o título de sócio benfeitor; em 1916, sócio honorário, e
finalmente em 1924, sócio benemérito. Seu prestígio entre a colônia
portuguesa era tão grande que em 1931 o novo regimento interno daquele

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hospital previa que o mandato dos diretores clínicos fosse de três anos,
exceto para Camilo que exerceu o cargo até sua morte 14.
Embora considerado um médico bastante importante, com suas
realizações e participações na vida médica paraense sendo sempre
destacadas, Camilo Salgado ainda carece de estudos, que visem “descobrir
o homem sob o santo”15. Em 2004, Costa defendeu dissertação de
mestrado em Antropologia abordando a santidade e o culto a Camilo
Salgado, enquadrado, assim, na categoria de “santo popular” em Belém16.
Os presentes autores elaboraram um esboço biográfico, em capítulo sob
o título “O berço do mito”, procurando seguir uma abordagem de menor
teor laudatório17. Mais recentemente publicamos um artigo reconstituindo
a vida acadêmica de Camilo Salgado, na Bahia e no Rio de Janeiro18. As
demais produções são em geral textos memorialísticos, de grande
exaltação ao personagem, principalmente os de autoria de médicos como
Clóvis Meira, Armando Morelli e Abelardo Santos e/ou reproduções
destes com algumas modificações, o que reforça a tese de Figueirôa, de
que “em seu ofício, o biógrafo seleciona, esconde ou evidencia, colocando
sua subjetividade, e, portanto, sempre ‘deforma’: jamais chegará à
‘verdade’ de uma vida”19.
Destaca-se em contraste nesta escassa bibliografia o discurso do prof.
Porto de Oliveira, paraninfo à turma de médicos de 1947, ou seja, nove
anos após a morte de Camilo Salgado, em que o autor descreve um Camilo
um tanto “diferente” do que usualmente era apresentado, e talvez
ajudando a situar a construção do mito em formação:

sem ser propriamente uma grande cultura médica,


Camilo, pela simpatia que dele irradiava, pelo
instinto de cirurgião, pela confiança que inspirava

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seu canivete privilegiado, tornou-se um dos maiores
nomes da cirurgia no Pará, exercendo sobre os
doentes uma ação psicoterápica indiscutível,
aumentada em muito pela habilidade de seu trato20.

Vale registrar que Antônio Porto de Oliveira era professor de


Psiquiatria na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará ao tempo em que
Camilo foi seu diretor. Amigo particular de Camilo, tendo inclusive sido
chamado para atendê-lo por ocasião de sua morte, constatando assim o
óbito21, decerto, seus conhecimentos mais profundos da psique humana
contribuíram para a elaboração desse pequeno perfil do cidadão Camilo
Salgado, mas sua visão nunca é citada em textos posteriores sobre o
afamado médico.
A construção do mito Camilo Salgado não teve que esperar até à sua
morte. Havendo toda uma memória bastante consolidada, edificada seja
pela imprensa da época, seja por seus biógrafos posteriores22, segundo os
quais esta trajetória bem-sucedida começou logo após seu retorno
definitivo a Belém e início efetivo de sua vida profissional. Seus biógrafos
constantemente reforçam seu caráter tido como magnânimo referindo,
por exemplo, que Camilo teria se tornado sócio de uma farmácia onde
também realizava consultas médicas. Como não cobrava o aviamento dos
medicamentos receitados, não tardaram os prejuízos, tendo o mesmo que
vender sua parte, antes que o negócio falisse. Segundo os jornais, por
ocasião de seu falecimento, “... as suas pharmacias foram as únicas no
mundo que fecharam as portas por falta de lucros, nunca por falta de
receituários” 23. O memorialista Clóvis Meira, um de seus biógrafos mais
citados, endossa estes aspectos de sua personalidade, tornando-se um
elemento de reforço importante na perpetuação de uma memória muito
positiva ao afirmar que “Tudo o quanto fazia, ou quase tudo, era de graça.

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Não cobrava porque o doente era pobre e não cobrava porque era rico,
compadre e amigo” 24.
Os jornais noticiavam seus feitos, revistas semanais, como A Semana,
onde trabalhava Bianor Penalber25, que fez parte dos primeiros médicos
formados pela Faculdade, comemoravam efusivamente seu aniversário e
de membros de sua família, sempre enaltecendo suas ações, seus feitos em
benefício dos mais pobres. Mesmo colunas jornalísticas mais satíricas
como “Tucháuas de minha taba” ressaltavam as habilidades, a inteligência,
o seu lado humanitário consolidando a imagem de benemérito cidadão26.
Um exemplo dessa relação de proximidade entre Camilo e a imprensa
foi a compra da sede da Faculdade de Medicina, que ainda funcionava
precariamente em duas salas do Colégio Paes de Carvalho e utilizando,
também, as dependências do necrotério municipal, no Ver-o-Peso, e o
Laboratório do Estado, no Palácio do Governo27.
Em campanha deflagrada pelos jornais em nome de Camilo Salgado,
iniciou-se um movimento visando angariar recursos para a aquisição de
um prédio adequado para o funcionamento da Faculdade. Listas foram
distribuídas pelas pessoas, que ficaram encarregadas de recolher as
doações. A revista A Semana28, com Bianor Penalber na redação, destacava
a atuação de Camilo Salgado e a importância do assunto. Detalhe: a
imprensa publicava o resultado das listas e noticiava, também, que Camilo
e outros professores haviam doado dois meses de seus salários para a
causa. Em uma realidade em que a Faculdade vivia de mensalidades e
contava com poucos alunos, não é difícil imaginar o valor dos salários e a
regularidade com que eram recebidos, daí a doação ter um caráter mais
simbólico do que verdadeiramente filantrópico ou financeiro.
Em seis meses foi obtida a quantia suficiente para a compra de um
palacete no largo de Santa Luzia, comemorada pelos jornais. Camilo, em

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seu primeiro relatório de atividades como diretor da Escola relata que
“amparado por um banco da praça, fechei negócio com o proprietário (...)
por menos de cem contos de reis, quando o seu valor é de mais de
duzentos, [pois] em Belém as casas ficaram desvalorizadas, [como]
resultado da crise que atravessamos...”29. E um novo capítulo se somou ao
acervo de feitos “camilianos”.

Reavaliando as realizações mais emblemáticas

Um aspecto fundamental na biografia de Camilo Salgado é a sua


participação na criação de duas instituições representativas para a ciência
médica na Amazônia brasileira. São elas a Sociedade Médico-Cirúrgica do
Pará e a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. E ainda que seja menos
lembrada é importante citar também sua presença na criação da Escola
Livre de Odontologia do Pará, em 1914, juntamente com seu irmão
odontólogo Carmelino Salgado30.
Em 1914 iniciou-se um movimento para a fundação de uma nova
associação médica em Belém. Era a Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará,
que viria suceder a Sociedade Médico-Farmacêutica, fundada em 1897, e
a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Pará, de 1900, ambas de duração
efêmera, tendo Camilo feito parte da Médico-Farmacêutica31. Vivia-se a
fase de afirmação da medicina cientifica, com o ideal associativo sendo um
dos tópicos do processo. Camilo, que não estava presente na reunião de
fundação, na terceira reunião da nova entidade chegou à presidência em
razão do presidente eleito – o Barão de Anajás32 – ter renunciado ao cargo
para o qual fora escolhido, circunstância que se repetiria mais tarde, em
1922, na Faculdade de Medicina, quando Camilo assumiu a direção com a
renúncia do velho Barão33. Curiosamente, as circunstâncias reais da
chegada de Camilo à presidência, registradas pela imprensa, qual seja a

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renúncia do presidente, foram apagadas dos anais da agremiação, no que
Joutard classifica como “esquecimento de ocultação”, aquele do qual não
se quer ter lembranças, pois perturba a imagem que se quer ter34.
Na Sociedade Médico-Cirúrgica, Camilo exerceu o cargo de presidente,
de 1914 a 1915, retornando à presidência de 1923 a 192535, o suficiente
para passar para os anais da instituição como o seu grande timoneiro-
fundador, sendo lembrado no centenário da agremiação, em 2014, cujo
congresso comemorativo teve o sugestivo título de “A evolução na saúde
da Amazônia: 100 anos de história de Camilo Salgado a Camilo Vianna”,
este último, também médico e professor aposentado da Faculdade de
Medicina, ex-presidente da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará, hoje mais
conhecido por suas atividades como ecologista. Sua ligação a Camilo
Salgado deve-se ao fato deste ser seu padrinho emprestando-lhe o
primeiro nome.
O Congresso promovido pela Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará
serviu para reforçar ainda mais a mística em torno de Camilo Salgado.
Naquele ano de centenário a comissão organizadora propôs cem
atividades comemorativas para marcar a efeméride, dentre estas a
colocação de cem velas no túmulo do médico, evento que foi prejudicado
pela chuva, afastando os devotos que não conseguiram levar a contento a
proposta36.
Em relação à “gênese” das Faculdades de Medicina brasileiras dos
primeiros tempos, nota-se com frequência a necessidade da intervenção
de um indivíduo que assume o papel de mito-fundador, sendo
responsabilizado pela ideia de criação: em São Paulo, Arnaldo Vieira de
Carvalho; em Minas, Alfredo Balena; em Pernambuco, Octavio de Freitas,
Nilo Cairo e Vitor Ferreira do Amaral no Paraná. Em Belém, embora não
tenha sido sua ideia, Camilo Salgado é tido como o grande organizador e

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responsável pelo desenvolvimento da escola médica. É o retorno do
fenômeno do “esquecimento de ocultação”, definido por Joutard37.
De acordo com o texto, publicado no número especial da Revista Pará
Médico, comemorativo ao bicentenário da Independência e que contou
com a colaboração de vários médicos professores da nova escola,

foi nos derradeiros annos de 1918 que alguns


membros da Associação Scientifica do Pará,
mantenedora de uma Escola de Odontologia,
procuraram o ilustre medico paraense Dr. Camilo
Salgado e appelaram ao seu elevado espirito elevado
e ao seu legitimo prestigio na classe medica para que
pudesse ser realidade a criação de uma Faculdade de
Medicina, cuja direção lhe foi oferecida38.

Ainda, segundo o texto, Camilo “amparou francamente a ideia,


tomando-lhe a dianteira”, apenas declinando do convite apontando o
Barão de Anajás para o cargo, ficando como vice-diretor. Tal depoimento,
publicado apenas três anos depois da criação da Faculdade e até hoje
repetido, coloca Camilo Salgado como o grande condutor do processo,
ainda que pesquisas históricas indiquem o odontólogo Antônio Magno e
Silva como o idealizador da faculdade39. No final de 1922, Camilo assumiu
definitivamente a direção da Faculdade, em substituição ao Barão de
Anajás, que se demitiu por discordâncias com as diretrizes da escola40.
As duas instituições que hoje exaltam Camilo Salgado como pilar entre
os seus mitos de fundação não contam com o médico como seu
idealizador, e este não figura nem entre os presentes nas suas primeiras
reuniões associativas, pelo menos no que se refere à Sociedade Médico-
Cirúrgica do Pará41. O fato reforça a tese que o cirurgião já tinha bastante

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notoriedade em vida, pois as agremiações é que o buscam como um
elemento agregador de prestígio, não o contrário.
Se Camilo Salgado não foi presidente por longos períodos da
Sociedade Médico Cirúrgica, seu papel na direção da Faculdade de
Medicina durou mais, ocupando este cargo desde a saída do Barão de
Anajás em 1922 até sua morte em 193842.
No entanto, quando analisamos este fato com maior profundidade e
escavamos a memória da faculdade a partir de depoimentos ou textos
escritos por ex-alunos, não obtemos nenhuma memória edificada a
respeito de Camilo Salgado e sua atuação como professor, ainda que pelo
menos no início da década de 1920 ele tenha ministrado aulas43. Sua figura
é associada à faculdade como um mito fundador desta, mas sua
participação efetiva nas questões de ensino é silenciada, e nas raras vezes
em que é abordada, surge de forma tangencial. Mesmo seu papel na
direção parece ter sido reduzido:

Como Diretor estava dispensado das aulas de


Clínica Cirúrgica, 2ª Cadeira, da qual era catedrático.
Operava diariamente no Hospital D. Luiz I, da
Sociedade Beneficiente Portuguesa e a tarde, não
muito frequentemente, comparecia à Faculdade 44.

Portanto se a Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, na época de


sua criação uma instituição privada, conseguiu se firmar em um cenário de
dificuldades, num Estado que vivia uma recessão econômica em razão da
crise na economia da borracha, este fato se deveu em menor escala à
atuação de Camilo Salgado, que exerceu um papel muito mais simbólico

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na direção, mas principalmente à atuação de Olímpio da Silveira, médico
sergipano formado na Bahia e que chegou ao Pará em 190645.
Olímpio da Silveira assumiu a secretaria da Faculdade em 1924, dela só
se afastando por motivo de sua aposentadoria na década de 1950.
Enquanto Camilo exercia a direção e sua função como “principal
animador, fundador da Faculdade”46, Olímpio era o responsável pelo
gerenciamento das finanças da Faculdade, permitindo seu crescimento, o
que lhe rendeu muitos inimigos, principalmente entre os alunos,
constantemente cobrados dos pagamentos. Nas palavras de José da
Silveira Neto, filho de Olímpio, “A Salgado se deve, sem favor, a fundação
e a Silveira a consolidação, o desenvolvimento e a expansão da nossa
Escola de Medicina”47.
Como filho do secretário da faculdade, o depoimento de José da
Silveira Neto não pode ser considerado isento, mas há muitas outras falas
menos comprometidas que reforçam essa tese como a do médico paraense
Rubem David Azulay, que iniciou seus estudos em Belém, mas que se
transferiu para o Rio de Janeiro, ao afirmar que o “(...) Secretário [Olímpio
da Silveira] era a pessoa que dirigia a Faculdade, em que pese a direção ser
do iminente cirurgião paraense Prof. Camilo Salgado”48.
Aqui se afirma mais uma das dimensões da mitificação: o apagamento
dos personagens em seu “entorno”. O prestígio social e carisma atribuídos
a Camilo relacionam-se também com sua atuação na política local. O
cirurgião fez parte do Partido Republicano Federal, acompanhando seu
grande amigo Lauro Sodré, sem deixar que sua orientação política
interferisse em seu lado médico, como percebe-se em 1912, período em
que os ânimos políticos do Pará estavam muito acirrados e a população se
dividia entre partidários de Lauro Sodré e defensores de Antônio Lemos,
Camilo Salgado, “laurista” convicto, impediu, juntamente com o Dr.
Antônio Marçal, o linchamento de Antônio Lemos pela furiosa multidão
“laurista” em 30 de agosto49.

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Eleito em 1918 para o antigo Senado Estadual foi reeleito em 1927,
sendo indicado como vice e depois como presidente do Congresso
Estadual50. Nesta condição, chegou a exercer interinamente o cargo de
Governador do Estado, dias antes do governador Eurico Valle assumir o
mandato51. Sendo que após o governo Souza Castro (1921-1925) chegou
a ser indicado pelo chefe do partido, Lauro Sodré como um dos pré-
candidatos a governador do Estado. A mesma notícia considerou Camilo
um político conceituado de valor intelectual e moral reconhecido, mas que
“não sabe fazer curvaturas, como o Dr. Dionysio Bentes, cujo mérito
consiste em esboçar sorrisos e se fazer solicito junto aos poderosos” 52.
Dionysio Bentes acabou sendo o candidato, governando o Pará entre 1925
e 1929.
Camilo de fato era um nome popular, tanto que seu já citado amigo, o
professor de psiquiatria da Faculdade, Porto de Oliveira chegou a fundar
uma agremiação de apoio ao Partido Republicano Federal com o nome de
“Clube Político Camilo Salgado”, posteriormente designado “União
Cívico-Politica Camilo Salgado”53.
Após a Revolução de 1930 afastou-se da política, retornando somente
como vereador à Câmara Municipal de Belém em 1935, tendo sido o
candidato mais votado, ali permanecendo até 10 de novembro de 1937
data da extinção desta pelo Estado Novo. Recusou diversos convites para
se candidatar a Deputado Federal, pois não desejava afastar-se de da
cidade54·.

De cirurgião audacioso a “Voronoff paraense”

Político renomado, fundador da Sociedade Médico Cirúrgica do Pará


e da primeira faculdade de medicina do norte e nordeste (excetuando-se a

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da Bahia), são dados da biografia de Camilo Salgado que os observadores
situados no tempo presente ao olharem para o passado os interpretam de
uma forma hiperbólica, como sendo essenciais para a fabricação do mito.
Sem dúvida são fatos importantes, mas como já observado, foram mais
uma consequência de convites pela sua reputação e admiração junto a seus
pares do que propriamente frutos de sua iniciativa pessoal.
Parte do prestigio de Camilo Salgado advém de sua suposta capacidade
no exercício da medicina, notadamente como um cirurgião muito audaz
como lembra Abelardo Santos

Avançado no tempo, retirou esquírulas parietais na


dura-mater, removeu cálculos ureterais,
laparotomizou para intervir sobre o estômago, os
intestinos e os anexos, invadiu a seara cirúrgica de
ginecologia e da obstetrícia, penetrou os meandros
da pneumologia, realizou engênios de ortopedia e
traumatologia, enfim poucos foram os sítios do
corpo humano que seu exímio bisturi não
perscrutou55.

Camilo destacava-se por fazer procedimentos que os demais cirurgiões


não realizavam. Por exemplo, em 1924 é publicado em Belém o Livro do
Centenário, em alusão as comemorações do centenário da adesão do Pará a
independência do Brasil. No item concernente à Faculdade de Medicina é
mencionada a equiparação da escola às oficiais, fruto de negociações
políticas entre o governo estadual e os órgãos federais de ensino, sendo
creditado o mérito “por esforço e perseverança de seu dedicado director,
dr. Camillo Salgado, egrégio operador paraense, de firmada reputação em
sua classe”56.

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No mesmo texto, para exaltar as qualidades do “egrégio operador” é
descrita uma cirurgia realizada por ele, em que foram transplantados os
ovários de uma cabrita de seis meses em uma mulher de cerca de 80 anos,
segundo as teorias de Serge Voronoff, fisiologista e cirurgião russo,
naturalizado francês (1866-1951) famoso nos anos de 1920 por suas
técnicas de xenotransplantes, principalmente de glândulas sexuais de
outros animais em pessoas idosas como modo de recuperar ou garantir a
vitalidade e a plena atividade física e mental57. Embora tenha declarado a
imprensa suas dúvidas acerca da eficácia do método, Camilo disse ter
realizado a operação “exclusivamente para demonstrar aos meus alumnos
da Faculdade de Medicina que assim ficam conhecendo a téchnica e do
futuro poderão formular juízo de acordo com as suas observações
individuais”58
Camilo também fizera outras experiências seguindo os postulados de
Voronoff, o qual, entre outros experimentos, havia transplantado osso de
chimpanzé em um soldado ferido59. O Estado do Pará destaca em primeira
página uma cirurgia realizada por Camilo que consistiu em transplantar a
uretra de um cão em um homem que apresentava um “cancro
phagedenico de urethra”. Segundo a notícia, esta foi a terceira cirurgia do
gênero praticada no mundo, “e porque os dois únicos cirurgiões que a
praticaram, silenciassem sobre as technicas seguidas, teve o dr. Camillo de
seguir um processo próprio”60. De outra feita, um paciente ferido a bala
no braço direito teve seu membro salvo da amputação, pois Camilo lhe
enxertou um osso de cão com “brilhante êxito”61.
Devemos ressaltar que estes feitos cirúrgicos não se sustentariam
sozinhos, como elementos da “glorificação” de nosso personagem, nada
disso teria a repercussão que teve na época se não existisse toda uma
imprensa interessada em publicar estes fatos, em um período que os

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jornais noticiavam em suas páginas descrições cirúrgicas para um público
avido “por novidades e triunfos da ciência” que eram expostos em uma
forma narrativa carregada de suspense e melodrama, recursos típicos
daquele anos para capturar a atenção do leitor.
Esta tendência de vulgarização da ciência na imprensa comum havia
iniciado ainda na segunda metade do século XIX e no Brasil das primeiras
décadas do século XX existia toda uma discussão intelectual da
importância de difundir as descobertas científicas nos meios leigos como
forma de estimular a inteligência dos brasileiros criando uma nova
mentalidade62.
Neste contexto notícias sobre “As operações do Dr. Camillo Salgado”
eram tópicos muito frequentes nos dois principais jornais de Belém,
durante os anos em que o médico atuou, tanto na Folha do Norte como no
Estado do Pará. Transcrevemos a seguir alguns trechos para captarmos o
romance com que a narrativa era elaborada, criando e reforçando toda
uma imagem na mente dos leitores. A notícia assim inicia: “Teve alta,
hontem, do hospital D. Luiz, completamente curada, uma senhora que se
submeteu, em péssimas condições, a importante operação cirúrgica,
praticada com muita felicidade pelo Dr. Camillo Salgado”63. A construção
do texto deixa claro que a paciente estava em mal estado geral, mas obteve
cura total pelas mãos do cirurgião. A notícia segue exaltando o cirurgião
“impellido por audaciosa curiosidade”, e descreve uma laparotomia para
drenagem de um abscesso intra-abdominal quase como uma parábola de
bem contra o mal, cheia de suspense.
Algumas vezes, em uma época que o uso de fotografias impressas era
ainda escasso, os jornais lançavam mão de destes recursos estampando em
primeira página fotos do paciente antes e depois da cirurgia, como no caso
de uma cirurgia ortopédica em que o paciente tinha deformidades nos
membros inferiores, sempre acompanhada de um texto exaltando as
qualidades do cirurgião64.

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Franciane Gama Lacerda avalia a força da imprensa em Belém neste
tempo em que os jornais eram o grande meio de comunicação de massa
sem perder de vista que uma parcela da população de Belém era analfabeta,
o que permite afirmar que muito do que era divulgado nos jornais chegava
também ao conhecimento do público por meio das conversas sobre
aquelas notícias em uma constante interação entre linguagem escrita e
oral65.
As conexões de Camilo com a imprensa (Figura 1), em dado momento
ultrapassam os jornais locais, e o diário carioca O Paiz destaca a algumas
de suas intervenções cirúrgicas mais arrojadas com títulos como “A alta
cirurgia no Pará”66 e “Os milagres da cirurgia”67 citando suas intervenções
como “sempre felizes” e que aplicava métodos de enxertia como poucos
no Brasil realizando operações “verdadeiramente sensacionaes”68.
Embora que o jornal tenha sido o seu principal elemento de
propaganda, Camilo Salgado teve seus atos médicos “espetacularizados”
até no cinema. O programa de filmes do Palace Theatre” de 16 de junho
de 1914 divulga o item cinco de suas atrações como um “... film aqui tirado
de importante operação cirúrgica feita pelo dr. Camillo Salgado, no
Hospital da Beneficiente Portuguesa”69.
Sem este apoio da mídia existente naquelas décadas iniciais do século
XX Camilo Salgado poderia até ser reconhecido hoje pelos seus pares, mas
não teria se institucionalizado como “santo popular” como é visto hoje;
alguém, que em vida realizava cirurgias “impraticáveis” e que continua
sendo capaz de promover curas “impossíveis”, mesmo depois de morto.

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Fig.1: Camilo Salgado,
conforme era
apresentado pela
imprensa paraense, um
elemento decisivo na
estruturação de uma
memória que
ultrapassou seu meio
profissional.
Fonte: Os progressos
na cirurgia em Belém.
Estado do Pará, Belém,
27/7/1913. p.1

É claro que um julgamento intempestivo, feito pelo olhar do tempo


presente, colocaria o “bom doutor” facilmente no papel caricato de um
“cientista maluco” que em dado momento de sua vida, usou os pacientes
quase como cobaias, misturando-os com partes de animais, quase uma
versão amazônica do Dr. Moreau70. Ou se julgado pelos conceitos éticos
atuais, seria facilmente enquadrado como alguém que fazia propaganda
médica ilegal. Daí o apagamento desta memória, que se foi importante em
vida para a edificação de sua mitologia, hoje poderia ter um efeito reverso
e, portanto, esta faceta desaparece do personagem ainda que seja uma peça
essencial para sua compreensão.

A Hagiografia e o Mito

O diferencial entre Camilo Salgado e outros tantos médicos


mitificados, como Oswaldo Cruz, por exemplo, é que Camilo após sua
morte virou um “santo popular” em Belém, pois que em vida já era
considerado uma pessoa especial – um mito. E a importância desse

Revista Estudos Amazônicos • 145


processo de santificação é representada pela mudança da denominação do
largo de Santa Luzia, em frente à Faculdade de Medicina, pelo seu nome,
passando assim a se chamar praça Camilo Salgado, sendo a placa alusiva
aposta poucos meses após o falecimento do homenageado71. O nome de
uma santa dava lugar ao de um médico “recém canonizado”.
O enterro apoteótico de Camilo é outro fato a ressaltar como um
elemento que pelo caráter de espetáculo serve para consolidar seu
processo de beatificação. Com a saúde piorando, conforme se depreende
de, pelo menos dois documentos: em ofício datado de 23 de fevereiro de
1938 e endereçado ao Interventor federal, Camilo pede que a reunião fosse
realizada na residência deste, “pois me fatiga muito subir as escadas do
palácio”72·. Em carta enviada a um amigo, em 25 de fevereiro, Camilo
escreve: “Não vou passando bem, muitos affazeres e mal das minhas
artérias. A semana passada fui atacado de angina do peito. Vou melhor,
mas resignado”73. O necrológio da Folha do Norte reforça a precariedade da
saúde de Camilo ao relatar que este “estivera enfermo em dias do mez
ultimo e restabelecido voltara a sua clínica”74
Segundo os jornais, logo que se espalhou a notícia da morte de Camilo
Salgado uma verdadeira romaria de pessoas de todas as classes sociais
dirigiu-se a sua residência. O expediente nas repartições públicas foi
suspenso e o governo do Estado decretou luto oficial por três dias e a
prefeitura de Belém decretou ponto facultativo para o dia do funeral. A
Faculdade pretendia que o velório fosse realizado nas suas dependências,
mas a família preferiu que o corpo permanecesse na residência75.
No dia seguinte, o enterro se deu sob clima de forte comoção popular.
O cortejo fúnebre, escoltado por um piquete da cavalaria da Polícia, seguiu
da travessa São Mateus, atual Padre Eutíquio, até o cemitério de Santa
Izabel, com o caixão transportado em uma carreta dos Bombeiros puxada

146 • Revista Estudos Amazônicos


por um grupo de acadêmicos de medicina. Durante o trajeto, homenagens
com carga de tiros pela Policia Militar e toque musical pela banda dos
Bombeiros, ao passar pelo cemitério da Soledade. Às 12:13h, sob chuva
torrencial e ao som de clarins da polícia militar, Camilo Salgado baixou à
sepultura, sem que a multidão abandonasse o cemitério. À beira do túmulo
alguns oradores se fizeram ouvir, entre acadêmicos e médicos e até “o
condutor de bondes número 27 da Pará-Eletric”, cujo nome a história não
guardou registro76.
Dada a grandiosidade e a pompa do funeral, verdadeira consagração
pública, a comparação com últimas homenagens ao maestro Carlos
Gomes era inevitável. O Estado do Pará77 também comparou com outros
enterros ilustres do período como o do herói Veiga Cabral (Cabralzinho) 78.
É provável que na Belém do século XX apenas o funeral do Governador
Magalhães Barata tenha superado as proporções. Participaram do cortejo
216 automóveis e 10 bondes79 o que fornece uma ideia da dimensão que
o evento tomou, considerando que a cidade contava com uma pequena
frota automóveis naqueles tempos.
A origem do culto, como na maioria dos casos semelhantes, é difícil de
apontar. Costa80 afirma que a santidade de Camilo Salgado foi bastante
evidenciada a quando do centenário de seu nascimento, configurando o
que Hobsbawn definiu como “tradição inventada”81.
Nos jornais, pesquisando-se reportagens sobre o Dia de Finados até
1971, não há referência ao nome de Camilo Salgado como santo popular
e motivo de romaria na data. Em 1972, o jornal A Folha do Norte em
matéria alusiva ao dia dos mortos, se reporta a Camilo como “o mais
recente milagroso”82, ou seja, é primeiro registro sobre a sua “santidade”,
embora tal fato não seja relevante para os cultuadores dos eventos
maravilhosos relacionados a Camilo Salgado83. Vale registrar que as
comemorações pelo primeiro centenário de nascimento do famoso
médico aconteceriam dois anos à frente.

Revista Estudos Amazônicos • 147


Atualmente existe o culto institucionalizado, com “rituais” específicos,
inclusive novena e oração, e cuja resposta aos apelos pode ser confirmada
pelo grande número de placas de agradecimento existente no túmulo de
Camilo Salgado, um dos mais visitados no cemitério de Santa Izabel,
mesmo em outros dias que não o de Finados84. O fim da vida carnal dando
lugar à vida de glória85, com a História legitimando uma tradição
construída ao longo dos anos, conforme postula Hobsbawn, quando diz
que “Toda tradição inventada, na medida do possível, utiliza a história
como legitimadora das ações e como cimento da coesão grupal” 86.
Além de “santo popular”, Camilo Salgado é cultuado também nos
meios espíritas, onde é considerado um “espírito de luz”, responsável por
inúmeras curas, tendo essa modalidade de culto ultrapassado as fronteiras
do estado, existindo hoje centros espíritas em outras cidades onde a figura
do cirurgião também é reverenciada, embora não haja registro nos relatos
biográficos que ele fosse adepto da doutrina espírita ou frequentasse locais
de culto. Mas aí já é outra história, “a qualidade da linguagem mítica reside
nisto: embaralhar o real e a fantasia a fim de produzir o efeito desejado,
isto é, a sacralização do indivíduo”87.
Até mesmo o ano de nascimento de Camilo Salgado também pode ser
arrolado entre as demandas pela mitificação por ser motivo de
controvérsias. Em seu diploma de médico, em sua carteira de identidade e
em sua certidão de casamento consta o ano de 1873; a destacada notícia
de seu falecimento, à primeira página de Folha do Norte dá como 187488,
mesma data gravada no túmulo ofertado pela colônia portuguesa, todo em
mármore negro da Tijuca, projetado pelo artista paraense Oscar Azevedo
e confeccionado pela Marmoraria Lusitana89. Por tudo isso, as
comemorações do primeiro centenário de seu nascimento ocorreram em
1974. Um item a mais para essa atmosfera mística e mítica que circunda

148 • Revista Estudos Amazônicos


Camilo Salgado? Uma pitada de mistério sobre a data efetiva ou confusão
dos pósteros pela notícia dos jornais por julgá-la um fato de menor
importância? Talvez essa questão seja mesmo irrelevante para seus
seguidores. Afinal, para seus devotos não interessam os caminhos que
levaram a construção do mito, o que importa é saber que ele “existe” e
está consolidado.

Conclusão

A ideia de discutir uma “hagiografia camiliana”, fazendo analogia à tese


de Nara Britto em relação a Oswaldo Cruz90 é assunto bastante
interessante, ainda que desagrade sobremodo a muita gente, médicos ou
não, em virtude dos rumos que inevitavelmente se pode chegar, com
resultados inesperados e até divergentes, dependendo do pesquisador e
das ferramentas utilizadas para sustentar a tese das verdadeiras razões da
criação do mito, uma vez que existem vários Camilos a serem dissecados,
interpretados e muitas peças a serem conectadas na busca de um sentido.
Para tal “o historiador deve combater o esquecimento e não pode se
permitir negligenciar fatos importantes, mesmo se ele os hierarquiza e os
classifica”91.
O assunto “Camilo Salgado”, assim como qualquer tema que seja
objeto da História, não se esgota. Sempre surgirão abordagens ainda não
tentadas anteriormente, num eterno caminhar da/pela historiografia, sem
que isso signifique ir adiante – talvez andar em círculos, simplesmente
continuar a caminhada. Pelas palavras de Joutard,

O historiador deve admitir também que ele jamais


esgota a realidade, porque a visão de cada um de nós
permanece parcial: um outro historiador, tão
honesto e competente quanto o primeiro, com os

Revista Estudos Amazônicos • 149


mesmos testemunhos, pode chegar a conclusões
sensivelmente diferentes, com mais razão ainda se
ele pertencer à geração seguinte ou a uma outra
cultura, mesmo próxima92

Tentar alcançar a origem do mito Camilo e de sua de santidade é tarefa


inglória, considerando que muitos aspectos peculiares de qualquer
indivíduo desaparecem com ele para sempre com sua morte. Como avaliar
seu carisma, sua bondade, por exemplo, mesmo partindo de relatos de
seus contemporâneos?
Camilo Salgado foi um médico competente e que contou desde sempre
com uma estrutura social que lhe permitiu galgar altos patamares na
profissão e na vida pública. Tendo um pai que era figura de projeção na
sociedade paraense, que além de professor reconhecido, era articulista de
vários jornais93, Camilo contou com apoio, boa vontade e interesses
bilaterais na divulgação de seus feitos e na organização de sua memória,
culminando com a sua “santidade”, numa época em que a utilização dos
recursos da imprensa não era interpretada como um meio inadequado de
publicidade médica.
Assim, se muitos “Camilos” estão para sempre enterrados, muitos
outros afloram em novas descobertas sempre que alguém se dispõe a
perscrutar as fontes, mesmo as que já haviam sido exaustivamente
esquadrinhadas, pois estas não falam por si; há que se buscar sempre uma
visão crítica e interpretativa dos documentos tentando-se esgotar todas as
suas leituras possíveis.

Artigo recebido em agosto de 2016


Aprovado em novembro de 2016

150 • Revista Estudos Amazônicos


NOTAS
1 Universidade Federal do Pará-Hospital Universitário João de Barros Barretto.
Doutor em Biologia e Epidemiologia de Agentes Infecciosos e Parasitários-
UFPA. Contato: guilliod@ufpa.br
2 Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará. Doutorando em

História-Universidade Federal do Pará. Contato: josemcajr@yahoo.com.br.


3 JOUTARD, Philippe. Reconciliar História e Memória? Escritos. Revista da Casa de Rui
Barbosa: Edições Casa de Rui Barbosa, ano 1, n.1. p.321. 2007
4 Registro fúnebre. Prof. Camillo Henrique Salgado. Folha do Norte, Belém, 25/8/1921
p.3
5 Além disso Camilo Salgado, o pai (1844-1921) foi também, político de destaque no
império, sendo eleito deputado da Assembleia Provincial pelo Partido Liberal,
articulista de diversos jornais, participando ativamente do movimento abolicionista.
Para mais informações sobre este personagem ver: MATTOS, Nilo. Às Portas do
Templo- Biographia do Prof. Camillo Henrique Salgado. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico do Pará. Belém. Inst. Dom Macêdo Costa. Vol. VII, p.337-343, 1932. Vol.
VIII, p.208-226, 1933
6 MORELLI, Armando. Camillo Salgado. Anais da Academia Paraense de Medicina.
Belém, v.2, p.22-34, 1991.
7 ABREU JR., José Maria de Castro; MIRANDA, Aristoteles Guilliod de. Camilo
Salgado e suas três Faculdades de Medicina. Rev Pan-Amaz Saude 2014; 5(4):13-22
8SALGADO, Camilo Henriques. Influencia da metrite sobre a gestação. These

apresentada à Faculdade de Medicina e de Pharmacia do Rio de Janeiro. Rio de


Janeiro, Typ. Moraes, 1896
9 PANTOJA, Sergio de Oliveira. O desapparecimento do Dr. Camillo Salgado.

Folha do Norte, Belém. 28/4/1938 p.6.


10 MUNHOZ, Renato P.; TEIVE, Hélio A.G.; LIMA, Plínio G; GERMINIANI,

Francisco M.B. Jean-Baptiste Charcot in Rio de Janeiro: glamorous trip and


celebrity in 1908. Arq Neuropsiquiatr 2015;73(9):809-811
11 MEIRA, Clóvis. Médicos de Outrora no Pará. Ed. Grafisa. Belém-Pará, 1986. P.480.
12 Estado do Pará, Belém, 03.03.1938, p. 4
13 PANTOJA, Sergio de Oliveira. O desapparecimento do dr. Camillo Salgado.

Folha do Norte, Belém, 28/4/1938. p. 9


14 MEIRA, Clóvis. Médicos de Outrora no Pará. Ed. Grafisa. Belém-Pará, 1986. 480 p.
15 Para traçar um paralelo sobre outro mito da medicina brasileira, este de proporções
nacionais conferir o trabalho de: BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz. A construção do mito na
ciência brasileira. Rio de Janeiro, Fiocruz, 1995. p.75
16 COSTA, Éden Moraes da. Médico de ontem e de hoje: ciência, fé e santidade no culto a

Camilo Salgado (1874-1938) em Belém do Pará Dissertação (Mestrado) – Universidade


Federal do Pará, Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Belém: [s. n.], 2003.
17 MIRANDA, Aristoteles Guilliod; ABREU JR., José Maria de Castro. Memória

histórica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. 1919-1950. Da fundação à


federalização. Belém, ed. aut. 2009, 510 p.

Revista Estudos Amazônicos • 151


18 ABREU JR., José Maria de Castro; MIRANDA, Aristoteles Guilliod de. Camilo
Salgado e suas três faculdades de medicina. Rev Pan-Amaz Saude 2014; 5(4):13-22
19 FIGUERÔA, Sílvia Fernanda de M. A propósito dos estudos biográficos na História

das Ciências e das Tecnologias. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Julho/
Agosto/ Setembro de 2007 Vol. 4 Ano IV nº 3 Disponível
em:www.revistafenix.pro.br Acesso em 10/4/2016
20 OLIVEIRA, Antônio Porto de. Discurso do professor Porto de Oliveira. In:

Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Relatório de atividades do ano de


1947, apresentado à Congregação pelo Diretor, Dr. Lauro de Magalhães em
sessão de 30 de janeiro de 1948. Belém, Revista de Veterinária, 90p.1948.
21 Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, Belém, 03/3/38.
22 Cf MEIRA, Clovis Olinto de Bastos. Medicina de outrora no Pará. Belém: Grafisa,

1986a.; Médicos de outrora no Pará. Belém: Grafisa, 1986b. MORELLI, Armando.


Camillo Salgado. Anais da Academia Paraense de Medicina. Belém, v. 2, p. 22-34,
1991.SANTOS, Abelardo. Camilo Salgado, o mago da cirurgia – discurso. Revista
de Cultura do Pará, Belém, ano 4, n. 14/15. jan./jun. 1974.
23 Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, 03.03.1938, p. 1
24 MEIRA, Clovis Olinto de Bastos. Médicos de outrora no Pará. Belém: Grafisa, 1986b,
p71
25 Penalber já atuava como jornalista antes de estudar medicina e assim continuou
após colar grau em 1924. Atuou em diversas revistas e jornais de Belém, como A
Semana, o Estado do Pará colaborando também com o Correio da Manhã no Rio de
Janeiro. Chegou a exercer clínica em Belém e ocupar cargos públicos como deputado
estadual. Posteriormente transferiu domicílio para o Rio de Janeiro. MIRANDA,
Aristoteles Guilliod de; ABREU JR., José Maria de Castro. Razões do esquecimento:
em busca dos vestígios do Syndicato Medico Paraense. Rev Pan-Amaz Saude 2015;
6(2):11-21.
26 Encimada por uma caricatura feita por Andrelino Cotta há o seguinte poema

de Jacques Flores: Com este, “tanglomanglo” corta jaca, / digo que corta volta.
Dá o fora.../ O enfermo fica são, e sem demora/ se, com o saber, elle a doença
ataca. / A enjôo manda dar chá de alfavaca / Emtanto, se o doente não melhora
/fuma um cigarro e pensa a sós: -Agora/ não mais receito. Vou agir a faca.../Na
operação de enxertos é de facto:/ tira o bofe de um typo empaludado, e põe outro
de boi, de cão ou gato.../Vive sempre glorioso e abençoado, pois rico em sciencia,
aos pobres é barato / prova que só no nome elle é salgado. Estado do Pará, Belém,
15.08. 1926, p. 1
27 MIRANDA, Aristoteles Guilliod; ABREU JR., José Maria de Castro. Memória
histórica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. 1919-1950. Da fundação à federalização.
Belém, ed. aut. 2009, 510 p.
28 Prof. Camillo Salgado. A Semana, anno VI nº 265 19/5/1923
29 Faculdade de Medicina do Pará. Trechos de Relatórios apresentados à Congregação.

Belém, Typ. da Livraria Gillet, 1923.

152 • Revista Estudos Amazônicos


30 RIBEIRO, Paulo Roberto de Campos. A Faculdade de Odontologia como
unidade predecessora da UFPA. In: BECKMANN, Clodoaldo; CORRÊA,
Rogério Campos (Org.). Odontologia: 90 anos. Belém: Edufpa; Conselho Estadual
de Cultura; Academia Paraense de Odontologia, 2005.
31 MIRANDA, Aristoteles Guilliod de; ABREU JR, José Maria de Castro. As

primeiras sociedades médicas do Estado do Pará, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude 2013;
4(2):11-17
32 Antonino Emiliano de Sousa Castro (1847-1929) médico paraense formado no Rio
em 1872 especializado em “olhos, ouvidos, nariz e garganta” destacou-se no Império
militando nas fileiras do Partido Conservador fez parte de uma liga abolicionista
emancipando seus escravos antes da Lei Aurea. Não deve ser confundido com seu
filho homônimo, também médico, governador do Pará na década de 1920.
MIRANDA, Aristoteles Guilliod; ABREU JR., José Maria de Castro. Memória histórica
da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. 1919-1950. Da fundação à federalização. Belém,
ed. aut. 2009, p.373-385.
33 MIRANDA, Aristoteles Guilliod de; ABREU JR, José Maria de Castro Abreu. As
primeiras sociedades médicas do Estado do Pará, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude 2013; 4(2):11-
17
34 JOUTARD, Philippe. Reconciliar História e Memória? Escritos. Revista da Casa de Rui
Barbosa: Edições Casa de Rui Barbosa, ano 1, n.1, 2007, p. 223.
35 DIAS, Leônidas Braga. As Diretorias da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará. In.
BORDALO, Alipio Augusto Barbosa; BICHARA, Carlos David Araújo;
PANDOFO, Sergio Martins. A Sociedade Médico-Cirúrgica e a Medicina no Pará. Belém,
Sociedade Medico-Cirúrgica do Pará, p.35
36 Cem velas para iluminar túmulo de Camillo Salgado. Informativo SMCP. Ano XIX,
edição 72. Jan/fev/mar/abril 2014 p.8
37 JOUTARD, Philippe. Reconciliar História e Memória? Escritos. Revista da Casa de Rui
Barbosa: Edições Casa de Rui Barbosa, ano 1, n.1, 2007, p. 223.
38 Faculdade de Medicina do Pará. In Pará-médico vol II, anno VIII, nº 10. Belém-

Pará, setembro 1922.


39 Antônio Magno e Silva era paraense, odontólogo formado no Rio de Janeiro,

tendo sido um dos fundadores da Escola Livre de Odontologia e membro a


Associação Científica do Pará, que mantinha aquele curso e inicialmente manteve
o curso de medicina também. Na ocasião da criação da Faculdade de Medicina do
Pará, Magno e Silva era professor catedrático e Diretor do curso de Odontologia,
cargo que ocupou até sua morte em 1939. Além de ter a iniciativa da fundação da
escola médica, Magno e Silva fez parte da primeira turma desta. Para mais
informações ver: RIBEIRO, Paulo Roberto de Campos. A Faculdade de
Odontologia como unidade predecessora da UFPA. In: BECKMANN,
Clodoaldo; CORRÊA, Rogério Campos (Org.). Odontologia: 90 anos. Belém:
Edufpa; Conselho Estadual de Cultura; Academia Paraense de Odontologia,
2005. E também: Homenagem posthumas ao dr. Magno e Silva- Commovente
aphoteose por ocasião de seus funeraes, Folha do Norte, Belém, 28/01/1939.
40 Faculdade de Medicina – Uma Scena Desagradável. Estado do Pará, Belém,
22/3/1922.

Revista Estudos Amazônicos • 153


41 MIRANDA, Aristoteles Guilliod de; ABREU JR., José Maria de Castro. A fundação
da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará. Rev Pan-Amaz Saude 2014; 5(1):11-18
42 ABREU JUNIOR, José Maria de Castro. A Faculdade de Medicina do Pará da
fundação a federalização 1919-1950. Rev Pan-Amaz Saude 2010; 1(4):11-16
43 Faculdade de Medicina do Pará. Trechos de Relatórios apresentados à Congregação. Belém,
Typ. da Livraria Gillet, 1923.
44 SILVEIRA NETO, José Rodrigues da. A Faculdade de Medicina do meu tempo.
A Província do Pará, Belém, 11/12/1988.
45 SILVEIRA NETO, José Rodrigues da. Olympio da Silveira (um sergipano na
Amazônia). Revista Hiléia Médica, Belém, v. 1, n. 2, 1980.
46 OLIVEIRA, Antônio Porto de. Discurso do professor Porto de Oliveira. In Faculdade

de Medicina e Cirurgia do Pará. Relatório de atividades do ano de 1947,


apresentado à Congregação pelo Diretor, Dr. Lauro de Magalhães em sessão de
30 de janeiro de 1948. Belém, Revista de Veterinária, 90p.1948.
47 SILVEIRA NETTO, José Rodrigues da. A Faculdade de medicina do meu

tempo. Província do Pará, Belém 11/12/1988


48 AZULAY, Rubem David. Traços de minha vida. Rio de janeiro: Razão Cultural,
1999.p.61.
49 MORELLI, Armando. Camillo Salgado. Anais da Academia Paraense de Medicina.
Belém, v.2, p.29, 1991.
50 Dr. Camilo Salgado. Folha do Norte, Belém, 06/03/1938. p.1
51 Falleceu, hontem, subitamente o Dr. Camillo Salgado. Estado do Pará, Belém,
03/03/1938. p.1
52 A sucessão paraense encarada pelo Sr. Lauro Sodré. A Actualidade, Rio de Janeiro,
24/11/1923. Anno VI, n. 132.
53 Ineditoriaes. Folha do Norte, Belém, 16/12/1924 p.5
54 Falleceu, hontem, subitamente o Dr. Camillo Salgado. Estado do Pará,
Belém,03/03/1938. p.1.
55 SANTOS, Abelardo. Camilo Salgado, o mago da cirurgia – discurso. Revista de
Cultura do Pará, Belém,ano 4, n. 14/15, jan./jun. 1974.
56 COSTA, Candido. O livro do centenário. Belém, Typ. Guajarina, 1924. p.472
57 CUPERSCHIMID, Ethel Mizaray; CAMPOS, Tarcísio Passos Ribeiro de. Os
curiosos xenoimplantes glandulares do doutor Voronoff. Rev História, Ciências,
Saúde- Manguinhos: Rio de Janeiro. V.14, n.3, p.737-760, jul-set.2007.
58 COSTA, Candido. O livro do centenário. Belém, Typ. Guajarina, 1924. p.473.
59 CUPERSCHIMID, Ethel Mizaray; CAMPOS, Tarcísio Passos Ribeiro de. Os
curiosos xenoimplantes glandulares do doutor Voronoff. Rev História, Ciências,
Saúde- Manguinhos: Rio de Janeiro. V.14, n.3, p.737-760, jul-set.2007.
60 A cirurgia no Brazil. Uma operação importante feita pela primeira vez no
Brazil. Estado do Pará, Belém, 08/8/1912, p.1
61 A cirurgia em Belém. Estado do Pará, Belém, 16/7/1914, p.4.

154 • Revista Estudos Amazônicos


62 SÁ, Dominichi Miranda de. A Ciência como Profissão. Médicos, bacharéis e cientistas no
Brasil (1895-1935). Rio de Janeiro: Ed. Fio-Cruz, 2006. p.91 e p. 175.
63 As operações do Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, Belém, 7/6/1929, p.2.
64 Os progressos da cirurgia em Belém. Estado do Pará, Belém, 27/7/1913. P.1
65 LACERDA, Franciane Gama. Cidade Viva: Belém do Pará na virada do século XIX
para o XX. In: SARGES, Maria de Nazaré; LACERDA, Franciane Gama. Belém do
Pará- História, Cultura e Cidade. Para além dos 400 anos. Belém: Ed. Açaí, 2016.
66 A alta cirurgia no Pará. O Paiz, Rio de Janeiro, 11/10/ 1921. P.4.
67 Os milagres da cirurgia. O Paiz, Rio de Janeiro, 16/4/1923. P.5.
68 Idem.
69 Theatros e Cinemas. Palace Theatre. Estado do Pará, Belém, 16/7/14. P.4
70 Personagem do romance de H.G Wells, “A Ilha do Dr.Moreau” (1896), que mora
em uma ilha e desenvolve experimentos criando seres meio homens, meio animais
(Nota dos autores).
71 Foi inaugurada domingo último a Praça Camillo Salgado. Estado do Pará, Belém,

24/5/1938. P.1
72 Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Livro de Ofícios Expedidos, 1938.
73 PANTOJA, Sérgio de Oliveira. O desapparecimento do Dr. Camillo Salgado. Folha
do Norte, Belém, 28/4/1938, p. 6
74 Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, Belém, 03/3/1938 p1.
75 Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, Belém, 03/3/1938 p1.
76 dr. Camillo Salgado. Folha Vespertina, Belém, 03/3/1938 p.3
77 Falleceu, hontem, subitamente o dr. Camillo Salgado. Estado do Pará, Belém,

03/03/1938, p. 4
78 Francisco Xavier da Veiga Cabral (1861- 1905) era paraense, de Cametá. Foi
comerciante e chegou ao Amapá, depois de se envolver em uma revolta armada, para
restaurar a monarquia, depor o governador na época Duarte Huet Bacellar e impedir
a posse do novo Governador da Província do Grão-Pará Lauro Sodré. No Amapá
defendeu o Brasil contra a invasão francesa às terras amapaenses, sendo considerado
herói nacional. SILVA, Raimundo Nonato da. De vilão a herói republicano: Veiga
Cabral e a política no Pará. Anais do XV Encontro Regional de História da ANPUH-RIO.
2012. 21/12/2014. Disponível em <
http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338422667_ARQUI
VO_textoparaanpuhfinal.pdf> . Acesso em 14/04/2016.
79 dr. Camillo Salgado. Folha Vespertina, Belém 3/3/1938 p.3
80 COSTA, Eden Moraes da. op. cit 2003
81 “Por ‘tradição inventada’ entende-se um conjunto de práticas, normalmente
reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou
simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da
repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado”.
Hobsbawn, Eric.A invenção das tradições. Introdução. In HOBSBAWN, Eric;
RANGER, Terence. A invenção das tradições. São Paulo, Paz e Terra, 2006 4ª ed. p9
82 Cemitério de Santa Isabel. Folha do Norte, Belém, 2/11/1972 p. 8.

Revista Estudos Amazônicos • 155


83 “Maravilhoso” com o sentido de ‘extraordinário’, ‘insólito’, o que escapa do curso
ordinário das coisas e do humano”. Cf. CHIAMPI, Irlemar. O mágico e o
maravilhoso. In O realismo maravilhoso. São Paulo, Perspectiva, 1980. p. 48
84 COSTA, Eden Moraes da. op. cit 2003
85 PESET, José Luis. Ciencia y vida: uma imposible conjunción? In Dossier: biografias
médicas, uma reflexión historiografica. Asclepio. vol. LVII-1-2005. p.10
86 HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence. Introdução. In: A invenção das tradições.

São Paulo, Paz e Terra, 2006 4ª ed. p.21


87 BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz. A construção do mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro,
Fiocruz, 1995. p.75
88 Dr. Camillo Salgado. Folha do Norte, Belém, 3/3/1938 p1
89 MORELLI, Armando. Camillo Salgado. Anais da Academia Paraense de Medicina.

Belém, v.2, p.22-34, 1991.


90 BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz. A construção do mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro,
Fiocruz, 1995. 144p.
91 JOUTARD, Philippe. Reconciliar História e memória? Escritos. Revista da Casa de
Rui Barbosa: Edições Casa de Rui Barbosa, ano 1, n.1, p.224. 2007
92 JOUTARD, Philippe. Op. cit. p.233.
93 Registro Fúnebre. Professor Camilo Henrique Salgado. Folha do Norte, Belém,
25/08/1921, p.3.

156 • Revista Estudos Amazônicos

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