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Os fabliaux, espécie de folhetim discorrido em fábulas, típicos da época, vêm então dar
a tônica desse exercício de sobrevivência clandestina do erótico no Medievo. De um modo
geral, a sexualidade virtuosa dos povos cristãos se alcançava através da sadia execução do
sacramento matrimonial, com respeito mútuo entre os cônjuges. No entanto, no imaginário
ocidental, a subjugação e/ou a fetichização da mulher nunca deixou de povoar a mentalidade
masculina dominante, herança das culturas clássicas para a cultura medieval e as seguintes.
Nessa espécie de folheto, com fórmulas alegóricas, eventualmente escrachadas, de
linguagem predominantemente poética, apesar de pornográfica e até mesmo vulgar, que
circulava entre as mais diversas camadas, mas principalmente entre a elite letrada das cortes,
sobrevivia o divertimento dos nobres e o erótico. A mulher nesse âmbito transitava
basicamente entre dois extremos, ambos com viés cômico: a ingênua, fácil de manipular,
inexperiente, curiosa, casta, pronta para ser dominada pela conversa ágil de rapazes mordazes
e espertos; e a insaciável, oposto da imagem pura que as mulheres deveriam se empenhar em
manter, experiente, perspicaz, lasciva e incapaz de ser satisfeita, sempre pronta para atacar e
tentar os homens que estivessem ao redor. Tal construção sexista e misógina era bastante
popular na mentalidade social da época. Mesmo entre a plebe, à qual não sobrava muito além
da vigília constante das classes dominantes, embora de maneira mais atenuada.
A existência dos fabliaux denota que, doravante a Idade Média tenha sido um período
de conhecida repressão e moralismo, o erótico pôde sobreviver, dentro do escopo da vida
privada, em meio à arte, ao fantástico e à fantasia.