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Giovanni Seabra

(Organizador)

Ituiutaba, MG

2017
© Giovanni Seabra (Org.), 2017.
Arte Gráfica e editoração: Alex David Silva de Assis, Claudia Neu, Gabriel de Paiva Cavalcante,
Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva, Loester Figueirôa de França Filho e Maria
Imaculada de Andrade Morais.
Editor: Anderson Pereira Portuguez
Arte da capa: Gabriel de Paiva Cavalcante

Contatos:
www.cnea.com
ambiental.gs@gmail.com

Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos

Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas / Giovanni Seabra


(Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2017. 1.516p.

ISBN: 978-85-68066-52-2

1. Educação Ambiental; 2. Ensino; 3. Pesquisa


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de


responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à Editora


Barlavento e aos organizadores da obra.
Educação Ambiental - ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Água, Terra, Fogo e Ar são os pilares de sustentação do V Congresso Nacional de Educação


Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia, realizados, simultaneamente, no período de 9 a
12 de outubro de 2017, na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.
Apoiados no tema geral Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas
brasileiros, os eventos reuniram 800 congressistas, cujos trabalhos apresentados foram publicados em
cinco livros, com distintos temas versando sobre a sociedade e o meio ambiente.
Os quatro elementos fazem parte e sustentam a vida no Planeta desde a sua origem. A água
mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e perpetuação
das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as terras
continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares. O fogo é a fonte de energia criadora da
Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que existe no Universo; é responsável pela germinação das
plantas e o suprimento alimentar do mundo animal. O ar oxigena o espaço vital renovando os lugares e
perpetuando a biodiversidade.
Distintas civilizações e grupos sociais cultuam os quatro elementos como base de equilíbrio do
ser. O elemento Água está associado à bioquímica, ás emoções e os sentimentos; o elemento Terra
oferece ao corpo a matéria composta de substâncias minerais; o elemento Fogo governa a energia, a
intuição e o poder; o elemento Ar é condutor das energias sutis que elevam o ser humano à esfera
espiritual.
Tratamento de Resíduos, Saneamento e Reciclagem, Ecopedagogia, Ensino e Pesquisa e
Conceitos e Práticas em Educação Ambiental nas Escolas são os eixos temáticos que reúnem os artigos
publicados neste livro, cujos resultados alcançados resultam exaustivos estudos teóricos,
acompanhados de práticas aplicadas em diferentes regiões geográficas do país e, por conseguinte,
distintas realidades socioeconômicas. Ao servir de base à elaboração de programas socioambientais, os
referidos trabalhos aqui presentes abrem e pavimentam os caminhos para execução de programas e
mobilização de ações para o benefício da biodivesidade e da sociedade.

Giovanni Seabra
Sumário
Tratamento de Resíduos, Saneamento e Reciclagem ..........................................................13
EFEITO DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ARTIFICIAL NA INATIVAÇÃO DE
COLIFORMES TOTAIS E E.COLI DA ÁGUA CINZA TRATADA ............................. 14
DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM GÓIAS: UMA AMEAÇA A
SAÚDE AMBIENTAL E HUMANA ......................................................................... 25
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE GRANITO PARA INCORPORAÇÃO EM
ARGAMASSA ........................................................................................................ 38
A CONTABILIDADE AMBIENTAL: INSTRUMENTO DE AUXÍLIO NA GESTÃO DE UM
RESTAURANTE NA CIDADE DE AREIAL ............................................................. 47
DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA CIDADE DE
POÇO DANTAS - PB ............................................................................................... 58
ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL DE RESTAURANTES DE ARACAJU/SE ....... 69
MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE DURABILIDADE DE MATERIAIS
SOLIDIFICADOS CONTENDO RESÍDUOS SÓLIDOS DE LABORATÓRIO ............. 76
DIAGNOSTICO DOS DESTINOS DAS ÁGUAS DE REJEITOS NA
CIDADE DE PACAJUS-CE ..................................................................................... 87
EXPANSÃO URBANA E CLIMA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS BAIRROS
DE PORTO SEGURO E VERTENTES, MUNICÍPIO DE ASSÚ-RN, BRASIL .............. 96
OCORRÊNCIA DE MICROCONTAMINANTES EMERGENTES EM ÁGUAS
RESIDUÁRIAS ..................................................................................................... 107
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: CRIAÇÃO DE UM PONTO DE ENTREGA VOLUNTÁRIA
DE ÓLEO DE COZINHA EM UMA ESCOLA ESTADUAL DO MUNICÍPIO DE
CAMARAGIBE/PE1 .............................................................................................. 117
TRATAMENTO DE EFLUENTES PARA CAMPUS UNIVERSITÁRIO .................... 129
DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA VERSUS SAN: UMA
PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................... 142
FATORES DE NÃO ADESÃO DOS EDIFÍCIOS À COLETA SELETIVA NO BAIRRO PONTA
VERDE: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO. RESULTADOS PARCIAIS ....... 153
REFLEXÕES ACERCA DO POTENCIAL DE REDES SOCIAIS COMO PLATAFORMAS DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NÃO FORMAL NA PROBLEMÁTICA DO ÓLEO RESIDUAL DE
FRITURA ............................................................................................................. 162
COLETA SELETIVA EM REGISTRO, SP: ANÁLISE INICIAL. ............................... 169
―NATAL SUSTENTÁVEL NAS ESCOLAS‖ E ―NATAL DOS CATADORES‖ EM UNIÃO
DOS PALMARES, ALAGOAS: PROJETOS INSTITUCIONAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES
PARA A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ....................................................... 180
TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO DA UFCG POR PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO
UTILIZANDO SULFATO DE ALUMÍNIO.............................................................. 191
REUTILIZAÇÃO DE ÓLEO COMESTÍVEL: QUÍMICA DO SABÃO E DETERGENTE COMO
INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................... 202
EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS RESÍDUOS SÓLIDOS: REFLEXÕES SOBRE
OS SEMINÁRIOS TEMÁTICOS REALIZADOS PELO INSTITUTO LAGOA VIVA EM
ALAGOAS ........................................................................................................... 214
TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO APLICADAS À RESTAURAÇÃO DE UMA ÁREA
DEGRADADA EM MUNICÍPIO DO ALTO JEQUITINHONHA, MG ....................... 227
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEVOLUÇÃO DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS
............................................................................................................................ 239
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA
CONSTRUÇÃO CIVIL E FABRICAÇÃO MECÂNICA............................................ 250
CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E VULNERABILIDADES
SOCIOAMBIENTAIS: CENÁRIO DE UM LIXÃO NO SERTÃO PARAIBANO ........ 263
COLETARES: UMA PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE COLETA SELEVIVA NO IFRN–
CAMPUS PAU DOS FERROS. ............................................................................... 278
ANÁLISE DA EFICIÊNCIA TÉCNICA DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE COLETA DE
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NOS MUNICÍPIOS PARAIBANOS .................... 289
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SEQUÊNCIA DE VÍDEOS E QUIZ DIGITAL NA ABORDAGEM
DO CONTEÚDO RESÍDUO SÓLIDO ..................................................................... 304
RESÍDUOS SÓLIDOS: DO CRESCIMENTO URBANO À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL
NO MUNICÍPIO DE IBIASSUCÊ-BA ..................................................................... 317
ALIMENTAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: HÁBITOS ALIMENTARES DE
ESCOLARES DA CIDADE DE SERRINHA E A RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL ................................................................................................... 328
GESTÃO AMBIENTAL E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO DE
CASO EM UMA PRODUTORA DE CACHAÇA NA CIDADE DE AREIA - PB ......... 340
GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA .................................................................................... 351
PROCESSO DE TRATAMENTO BIOLÓGICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................ 363
EFEITO DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NA PRODUÇÃO DA CULTURA DO ALGODOEIRO
............................................................................................................................ 377
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE CARNAÚBA DOS
DANTAS/RN ........................................................................................................ 386
CARACTERIZAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS DE
UM CONDOMÍNIO RESIDENCIAL LOCALIZADO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PB
............................................................................................................................ 396
DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO SENADOR ELÓI DE
SOUZA – RN ........................................................................................................ 407
ANÁLISE DA VIABILIDADE DA PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DO RESÍDUO
AVIÁRIO DA REGIÃO DE GLÓRIA - BA .............................................................. 419
UTILIZAÇÃO DO LODO FECAL DE LATRINAS NA PRODUÇÃO DE FERTILIZANTE:
EXPERIÊNCIA EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO ........................................ 429
TRATAMENTO DO LODO DE CURTUME E AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE A
CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DE ÁGUA E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO .... 441
GERAÇÃO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM OBRAS NO
CAMPUS DA UFCG CAMPINA GRANDE ............................................................. 451
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO NAS EMPRESAS DO SETOR
DE MANUTENÇÃO E REPARAÇÃO AUTOMOTIVA ........................................... 462
DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS: A PERCEPÇÃO DOS
CATADORES SOBRE OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DO LIXÃO DO MUNICÍPIO
DE ARACATI/CE ................................................................................................. 474
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PARA VIABILIDADE DO REÚSO DE ÁGUA COMO
ELEMENTO MITIGADOR DAS IMPLICAÇÕES DA SECA EM REGIÕES SEMIÁRIDAS 485
PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE
JANEIRO-CAMPUS SERÓPEDICA SOBRE A GERAÇÃO E O TRATAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL ........................................................................ 498
REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA PARA PREPARAÇÃO DE PEÇAS ESQUELÉTICAS
DIDÁTICO-CIENTÍFICAS .................................................................................... 510
LOGÍSTICA REVERSA DO ÓLEO DE COZINHA SATURADO EM ESCOLA PÚBLICA519
COLETA SELETIVA COM APLICAÇÃO DO MÉTODO MULTICRITÉRIO M-MACBETH
............................................................................................................................ 532
RESÍDUOS SÓLIDOS: INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO DA INDÚSTRIA DE
BENEFICIAMENTO DE GRANITO EM CONCRETO SIMPLES ............................. 544
RESÍDUOS SÓLIDOS: PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE
GUARABIRA-PB.................................................................................................. 554
USO DE MICROEMULSÃO NA REMOÇÃO DE HIDROCARBONETOS
POLIAROMÁTICOS EM ÁGUA PRODUZIDA DO PETRÓLEO .............................. 565
ESTUDO DA INFLUÊNCIA DE TENSOATIVOS NA REMOÇÃO SIMULTÂNEA DE EM
EQUILÍBRIO DE WINSOR II ÂNIONS EM ÁGUA PRODUZIDA UTILIZANDO SISTEMAS
MICROEMULSIONDOS ....................................................................................... 575
APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA PARA PRODUÇÃO
DO CONCRETO ................................................................................................... 585

Ecopedagogia, Ensinoe Pesquisa .......................................................................................596


PROCESO DE SENSIBILIZACIÓN Y CONCIENCIA AMBIENTAL GRUPO HORMIGA597
BARCO ESCOLA CHAMA-MARÉ E O ESTUDO DO MEIO EM GEOGRAFIA ........ 607
CARTILHA EXPERIMENTAL: UMA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O
ENSINO DA PEDOLOGIA .................................................................................... 617
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA A PARTIR DA ELABORAÇÃO DE HISTÓRIAS
EM QUADRINHOS ............................................................................................... 626
ENTRELAÇANDO CONCEITOS: A COMPLEXIDADE NA EVOLUÇÃO DO
CONHECIMENTO DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS ................................................ 637
INTERDISCIPLINARIDADE: GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE ......... 649
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ENSINO DE CIÊNCIAS NA REDE SOCIAL FACEBOOK:
ANÁLISE DE INFOGRÁFICOS COMO ESTRATÉGIA DE MOBILIZAÇÃO............ 659
MEIO AMBIENTE NA CONCEPÇÃO DE PROFESSORES DO AGRESTE
PERNAMBUCANO .............................................................................................. 671
PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: EXPOSIÇÃO DE BIOLOGIA - (EXPOBIO)
............................................................................................................................ 680
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A INCLUSÃO E O DESENVOLVIMENTO DA
CIDADANIA: UM RELATO DE CASO SOBRE FEIRA DE PROFISSÕES ................ 686
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO EM UMA
INSTITUIÇÃO FILANTRÓPICA, BARBALHA-CE, BRASIL .................................. 699
CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E DE TRABALHO DOS CATADORES DE RESÍDUOS
SÓLIDOS RECICLÁVEIS DO LIXÃO DE PAU DOS FERROS/RN. ......................... 707
PRATICANDO A SOLIDARIEDADE ATRAVÉS DE UMA HORTA ESCOLAR: O CASO DO
IFCE CAMPUS JUAZEIRO DO NORTE - CEARÁ ................................................... 717
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GEOGRAFIA: CAMINHOS HOLÍSTICOS E CRÍTICOS PARA
A DISCUSSÃO ACERCA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................ 727
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FOMENTADA A PARTIR DO
CONCEITO DE PERTENCIMENTO AMBIENTAL: UMA ANÁLISE CONSTRUTIVISTA 740
O AUDIOVISUAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL 751
A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ÀS DISCIPLINAS DOS CURSOS DE
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL: DIAGNÓSTICO E PERSPECTIVAS DA
TRANSVERSALIDADE DISCIPLINAR NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO BRASIL
............................................................................................................................ 764
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL FOMENTADA ATRAVÉS DA PEDAGOGIA DE PROJETOS. ..... 776
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA SOCIAL E AMBIENTAL ATRAVÉS DA ARTE-
EDUCAÇÃO E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................... 786
CONTEXTUALIZAÇÃO DAS AÇÕES RELACIONADAS AO MEIO AMBIENTE NO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA DO CÂMPUS DE PONTA GROSSA DA
UTFPR ................................................................................................................. 797
UMA TRILHA ECOPEDAGOGIA COMO MEDIADORA DE NOVA VIVÊNCIA ESCOLAR
CONSCIENTIZADORA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................ 802
CONTRIBUIÇÕES DA DISCIPLINA SEMINÁRIO DE PESQUISA I À UMA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ANTICOLONIAL ............................................................................ 812
O RIO POTENGI E O TEMPO: MÚLTIPLOS OLHARES DO RIO E DA CIDADE ATRAVÉS
DA AULA PASSEIO NO BARCO ESCOLA CHAMA-MARÉ EM NATAL-RN ......... 820
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DE BACHARELADOS
TECNOLÓGICOS INTERDISCIPLINARES ........................................................... 833
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRILHA ECOLÓGICA DA UTFPR, DOIS VIZINHOS,
PARANÁ .............................................................................................................. 844
MONTAGEM DE PEÇAS ANATÔMICAS A PARTIR DE CARCAÇAS DE ANIMAIS
ATROPELADOS DAS FAMÍLIAS CANIDAE E FELIDAE PARA A COMPOSIÇÃO DO
ACERVO DE UM MESEU DA FAUNA DO CERRADO .......................................... 857
ABORDAGEM DO BIOMA CERRADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: PARA ALÉM DO
ENSINO DISCIPLINAR ........................................................................................ 868
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS FUNDAMENTAIS
À EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................... 881
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM SISTEMA ESPECIALISTA: ATIVIDADE DE CAMPO
COMO FERRAMENTA NO ENSINO SUPERIOR ................................................... 893
PROJETO HORTA ESCOLAR - ESCOLA MUN. CRISTO REDENTOR NO MUNICÍPIO DE
COELHO NETO/MA: AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E AMBIENTAL ....... 907
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA GRANDES TURMAS DO ENSINO SUPERIOR E
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS COM O APOIO DE MONITORES .................. 912
O CONCEITO DE NATUREZA NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................... 923
PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS SOB A FORMA DE AÇÃO EXTENSIONISTA .... 930
O USO DA COMPOSTAGEM COMO PRÁTICA EDUCATIVA NUMA ESCOLA DO CAMPO
NO MUNICÍPIO DE JAGUARETAMA (CE) ........................................................... 935
TRABALHO DE CAMPO: UMA FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
ENSINO SUPERIOR ............................................................................................. 940
UMA ABORDAGEM RELACIONAL PARA O DESAFIO DA TRANSFORMAÇÃO DE
HÁBITOS: REFLEXÕES SOBRE O PROJETO ESCOLA LIXO ZERO ...................... 952

Conceitos e Práticas em Educação Ambiental nas Escolas..............................................964


ESCOLA DO NOVO TEMPO EM RONDÔNIA: MODELO EDUCACIONAL QUE
POSSIBILITOU INSERIR O DIÁLOGO POLAR COMO DISCIPLINA ELETIVA ..... 965
A ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM BASE NOS
ESTUDOS DA PERCEPÇÃO DO MEIO ................................................................. 978
O USO DE MAPA CONCEITUAL PARA O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL990
PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: UM OLHAR INTERDISCIPLINAR
SOBRE O CERRADO .......................................................................................... 1002
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURRÍCULO FORMAL DAS ESCOLAS FAMÍLIA
AGRÍCOLA ........................................................................................................ 1013
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DE UM CURSO TÉCNICO EM MEIO
AMBIENTE ........................................................................................................ 1024
PROGRAMA FLORESTAR: EDUCAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
.......................................................................................................................... 1037
INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL ............................................................................................... 1044
ANÁLISE DO CÁLCULO DA PEGADA ECOLÓGICA EM DUAS ESCOLAS NO MUNICÍPIO
DE JACARAÚ – PB ............................................................................................. 1055
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA INCLUSÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM SÍNDROME
DE DOWNN ....................................................................................................... 1065
PERCEPÇÃO AMBIENTAL: UM DIAGNÓSTICO DAS CONCEPÇÕES PRÉVIAS DOS
ALUNOS ACERCA DO ECOSSISTEMA MANGUEZAL ...................................... 1074
PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA DE ENSINO
FUNDAMENTAL ANITA DE MELO BARBOSA LIMA, BELÉM – PB .................. 1085
COLETA DE RECICLÁVEIS COMO ATIVIDADE DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM
ESCOLA PÚBLICA ............................................................................................ 1094
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: BUSCANDO AS ASSOCIAÇÕES
NO CHÃO DA ESCOLA ...................................................................................... 1106
PRÁTICA EDUCATIVA AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL APLICADA AO USO
DA ÁGUA NA AGRICULTURA .......................................................................... 1117
DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA ATRAVÉS
DE ATIVIDADES LÚDICAS ............................................................................... 1124
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA SALA
DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL_AEE ......................................................... 1135
ESCOLA SUSTENTÁVEL NO AMBIENTE SEMIÁRIDO ..................................... 1145
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CRÍTICA DE ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL ............................................................................................... 1157
EDUCAÇÃO AMBIENTAL MARINHA: PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL II DE UMA ESCOLA PERNAMBUCANA SOBRE A CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE MARINHA .......................................................................... 1164
O USO DA TEMÁTICA ―RELEVO‖ COMO ALTERNATIVA PARA O ENSINO DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL ................................. 1172
EDUCAÇÃO VERDE: UMA EXPERIMENTAÇÃO TEÓRICA METODOLÓGICA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL ..................................................................................... 1180
CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICIPIO DE
POMBAL, PB...................................................................................................... 1191
MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ............................ 1201
FOSSAS ECOLÓGICAS NAS ESCOLAS DE CAMPO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
TRANSVERSALIDADE ...................................................................................... 1213
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NORTEADORA DA PRÁTICA DE VIVÊNCIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL II NA ESCOLA MUNICIPAL CORONEL CASTOR DO REGO .. 1222
PESQUISA E GEOGRAFIA ESCOLAR: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO
INSTRUMENTO PARA PRÁTICA CIDADÃ ........................................................ 1233
PROJETO ―CAMPUS VERDE‖: NÍVEIS DE CONHECIMENTO E PARTICIPAÇÃO DOS
DISCENTES DOS CURSOS SUPERIORES DO IFRN/MOSSORÓ.......................... 1244
REVISTA ECOPEDAGÓGICA: UM RECURSO NO ENSINO DA ECOEDUCAÇÃO1255
RESULTADOS ................................................................................................... 1259
PROPOSTA DA REVISA ECOPEDAGÓGICA.................................................................. 1259
O RIO ESPINHARAS COMO TEMA PARA A ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
EM UMA ESCOLA DE PATOS – PB .................................................................... 1263
O BIOMA CAATINGA E SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL ...... 1273
PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS NUMA ESCOLA DO CAMPO NO MUNICIPIO
DE JAGUARETAMA - CEARÁ ........................................................................... 1284
ATIVIDADES LÚDICAS NA ESCOLA AMBIENTAL: UMA ADAPTAÇÃO
METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................. 1292
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM UMA ESCOLA
PÚBLICA NA CIDADE DE FEIRA NOVA, PERNAMBUCO ................................. 1304
A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE LAGOA DE
DENTRO-PB ...................................................................................................... 1314
FÓRUM DE MEIO AMBIENTE E COMUNIDADE ESCOLAR: PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL SENADOR DUARTE FILHO – MOSSORÓ/RN
.......................................................................................................................... 1322
O LÚDICO DO LIXO: TRABALHANDO OS 3RS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...... 1334
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS PELO OLHAR DOS
ALUNOS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO. ........................................................ 1341
CONHECENDO OS HÁBITOS ALIMENTARES DE PRIMATAS URBANOS COMO
INSTRUMENTO PARA SUA CONSERVAÇÃO ................................................... 1349
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DO CAMPO1363
ESTUDO SÓCIO-ECONÔMICO-AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DA ZONA SUL DE
ILHÉUS .............................................................................................................. 1374
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL I: MÚLTIPLAS VIVÊNCIAS EM
UMA ESCOLA DE JOÃO PESSOA, PB ................................................................ 1379
INTERCEPTAÇÃO DE CHUVAS PELA VEGETAÇÃO: UM EXPERIMENTO COM ALUNOS
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM CAMPO GRANDE - MS ................................. 1391
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS: UMA PROPOSTA DE
INTERVENÇÃO A SER TRABALHADA NAS ESCOLAS .................................... 1399
O USO DO CELULAR E DA FOTOGRAFIA COMO RECURSO DIDÁTICO NAS AULAS DE
GEOGRAFIA EM UMA ESCOLA PÚBLICA – SÃO LUÍS, MA. ............................. 1410
AS DIFICULDADES DAS ESCOLAS PARA TRABALHAR COM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL. O ESTUDO DE CASO DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DO DISTRITO
FEDERAL .......................................................................................................... 1419
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDAS PELO PROJETO SOLO NA
ESCOLA UEA - PARINTINS/AM ........................................................................ 1431
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EREM JOÃO FERNANDES DA SILVA EM
SÃO JOÃO-PE, NUMA ÓTICA GEOGRÁFICA E SISTÊMICA .............................. 1441
CRIATIVIDADE E REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS 1449
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: DIÁLOGOS AMBIENTAIS COMO
INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO DE SABERES.............................................. 1459
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DE ENSINO MÉDIO E PROFESSORES DE
BIOLOGIA: MATA CILIAR COMO EIXO INVESTIGATIVO ............................... 1467
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E BIOMAS: UMA EXPERIÊNCIA NA SALA DE AULA1479
O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS DE JUAZEIRO DO
NORTE– CEARÁ, BRASIL.................................................................................. 1485
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUSEU DE CIÊNCIAS DURANTE UMA VISITA AO
MANGUEZAL CHICO SCIENCE ........................................................................ 1495
AQUAPONIA: PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ............. 1507
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tratamento de Resíduos,
Saneamento e Reciclagem

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 13


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EFEITO DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ARTIFICIAL NA INATIVAÇÃO DE


COLIFORMES TOTAIS E E.COLI DA ÁGUA CINZA TRATADA

Alex Pinheiro FEITOSA


Professor Assistente Doutor em Manejo de Solo e Água pela UFERSA
alex.feitosa@ufersa.edu.br
Rafael Oliveira BATISTA
Professor Adjunto Doutor em Engenharia Agrícola pela UFV
rafaelbatista@ufersa.edu.br
Luís César de Aquino LEMOS FILHO
Professor Adjunto Doutor em Engenharia Agrícola pela UFLA
lcalfilho@ufersa.edu.br
Jeronimo ANDRADE FILHO
Prof. Ensino Básico Técnico Tecnológico Doutor em Manejo de Solo e Água pela UFERSA
jeronimoandrade@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho objetivou avaliar a potencialidade do uso da radiação ultravioleta artificial como
agente desinfetante de água cinza proveniente de um filtro orgânico contendo concentrações de
sólidos suspensos totais que variaram de 13,6 a 21 mgL-1. As amostras de água cinza tradada foram
provenientes de uma estação de tratamento localizada no Projeto de Assentamento Monte Alegre I,
no município de Upanema-RN, microrregião médio oeste potiguar. Os ensaios de desinfecção
foram realizados em um reator ultravioleta construído no Parque Zoobotânico (PZO) da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) em Mossoró-RN. Este dispositivo foi
construído em alvenaria de tijolos nas dimensões de 1,08 m de largura por 1,18 m de comprimento
e 0,40 m de profundidade e foram instaladas duas lâmpadas germicidas de 30 W e 254 nm cada. As
amostras coletadas foram encaminhadas para laboratório, para posterior determinação analítica. Os
tratamentos utilizados na análise do efeito da radiação ultravioleta artificial consistiram de três
lâminas de água cinza tratada (0,10 m, 0,20 m e 0,30 m) e cinco tempos de exposição de (0, 1, 2, 3 e
4 h), posteriormente foi realizada uma regressão linear, para a determinação das equações de
decaimento da quantidade de microrganismos de cada lâmina estudada. Os melhores resultados
foram observados para a lâmina de 0,10 m com o tempo de exposição de 4 horas, visto que atendeu
aos padrões exigidos para irrigação de hortaliças.
Palavras-chave: Desinfecção artificial, Lâmpadas UV, Reúso, Semiárido.
ABSTRACT
This study evaluated the potential of the use of artificial ultraviolet radiation as a disinfectant agent
for gray water from an organic filter containing concentrations of total suspended solids, ranging
from 13.6 to 21 mgL-1. Samples of treated gray water were taken at a treatment plant located in the
Monte Alegre I Settlement Project, in the municipality of Upanema, midwestern region of the state
of Rio Grande do Norte. Disinfection tests were performed in an ultraviolet reactor built in the
Zoobotanical Park (PZO) of the Federal Rural University of the SemiArid Region (UFERSA), in
Mossoró, state of Rio Grande do Norte. This reactor was built in brick masonry in the dimensions
of 1.08 m width, 1.18 m length and 0.40 m depth, containing two germicidal lamps (30 W, 254 nm).
The collected samples were sent to the laboratory for further analytical determination. The
treatments used for analysis of the effect of the artificial ultraviolet radiation consisted of three

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slides of treated gray water (0.10 m, 0.20 m and 0.30 m) and five exposure times of (0, 1, 2, 3 and 4
h). Data were subjected to linear regression to determine the decay equations of the number of
microorganisms from each slide studied. The best results were found for the 0.10 m slide at the
exposure time of 4 hours, since it met the standards required for irrigation of vegetables.
Key words: Artificial disinfection, UV lamps, Reuse, Semiarid.

INTRODUÇÃO

O lançamento realizado de forma inadequada de águas residuárias domésticas sem


tratamento ou apenas parcialmente tratados nos corpos hídricos, proporciona poluição ambiental e
riscos diversos à saúde humana, principalmente no que se refere à possibilidade de transmissão de
doenças. Os problemas de saúde podem ganhar maiores proporções nas áreas rurais, uma vez que os
serviços públicos de abastecimento de água com qualidade assegurada, a destinação adequada dos
resíduos sólidos e a coleta e transporte dos esgotos para estações de tratamento são praticamente
inexistentes (BRASIL, 2009).
Esse quadro proporciona que a população das áreas rurais, esteja mais susceptível a sofrer
com os efeitos da falta de tratamento adequado das águas residuárias domésticas. Estes locais, por
não possuírem em sua grande maioria uma infraestrutura de esgotamento sanitário eficiente,
despejam seus esgotos diretamente nos rios, lagos, mares ou mesmo no solo localizado nas
proximidades de suas moradias (Batista et al., 2013).
Assim, mesmo com custos iniciais consideráveis de implantação, reutilizar o efluente é uma
forma de reciclar a água, trabalhando de maneira sustentável, contribuindo para a redução dos
impactos ambientais que as atividades industriais geram (Felizatto, 2011).
De acordo com Oliveira (2003), o interesse na desinfecção dos esgotos é cada vez maior,
tendo em vista a crescente deterioração das fontes de abastecimento de água para consumo humano.
O principal objetivo da desinfecção de esgotos é destruir os patogênicos entéricos, que podem estar
presentes no efluente tratado, para tornar a água receptora segura para o uso posterior.
Segundo Souza et al. (2012), o cloro é o desinfetante mais utilizado no Brasil e no mundo,
tanto para desinfecção de água de abastecimento quanto de águas residuárias domésticas , sendo sua
ampla utilização relacionada aos aspectos técnicos como a facilidade de implementação, tecnologia
mundialmente difundida, eficiência de inativação, principalmente bacteriana, assim como quanto ao
aspecto econômico, por ser um desinfetante de baixo custo.
Entretanto, além da toxicidade provocada pelo lançamento de efluentes clorados às
comunidades aquáticas dos corpos hídricos, a partir da década de 1970 o uso do cloro começou a
ser questionado pela descoberta da formação dos trihalometanos (THMs) e outros subprodutos
potencialmente cancerígenos à saúde humana e indesejáveis ao ambiente (Souza et al., 2012). Neste

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sentido, a utilização da radiação ultravioleta artificial de 254 nm surge como alternativa eficiente na
inativação de microrganismos patogênicos e sem risco de surgimento de substâncias carcinogênicas
que comprometam a saúde dos seres humanos e a qualidade ambiental (Guo et al., 2009).
A radiação ultravioleta artificial, emitida por lâmpadas especiais, é um mecanismo físico no
qual a inativação microbiana ocorre pela absorção da luz que promove uma reação fotoquímica
capaz de alterar componentes moleculares essenciais para as funções celulares, causando danos nos
ácidos nucléicos (DNA e RNA) dos microrganismos inativando-os. A efetividade dos sistemas de
desinfecção com radiação ultravioleta artificial depende de fatores como: intensidade de radiação,
tempo de exposição dos microrganismos, configuração do reator, além das características do líquido
a ser desinfetado (USEPA, 1999).
Em relação à qualidade da água ou efluente a ser desinfetado, Daniel (2001) comenta que as
partículas em suspensão podem servir de proteção aos microrganismos contra a radiação incidente,
prejudicando ou mesmo impedindo a penetração da radiação ultravioleta artificial no meio líquido,
assim, a qualidade do efluente em termos de turbidez, concentração de sólidos e matéria orgânica
em suspensão ou coloidal, interferem na eficiência do processo.
Neste estudo experimental investigou-se o efeito do uso da radiação ultravioleta artificial
para a desinfecção de água cinza tratada, com vistas para reúso na agricultura, proveniente de uma
Estação de Tratamento de Água Cinza (ETAC), empregando como indicadores para avaliar a
efetividade do processo os microrganismos Escherichia coli e coliformes totais (CT), visando o
reuso agrícola.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no Parque Zoobotânico da Universidade Federal Rural do Semi-
Árido (UFERSA) (Figura 1), onde foi construído um reator em alvenaria de tijolos nas dimensões de 1,08 m
de largura por 1,18 m de comprimento e 0,40 m de profundidade, recebendo impermeabilização interna,
conforme as recomendações de Sanches-Roman et al. (2007).

Figura 1: Localização do parque zoobotânico.

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No seu interior existe uma régua graduada de 0,40 m, que auxiliou a manter a altura da lâmina de
água cinza tratada variando de 0,10 m a 0,30 m para exposição à radiação ultravioleta artificial (Figura 2). A
água cinza tratada foi proveniente de uma estação de tratamento, localizada no Projeto de Assentamento
Monte Alegre I, no município de Upanema-RN, microrregião médio Oeste potiguar, foi transportada até o
reator onde encontravam-se instaladas as lâmpadas de radiação ultravioleta artificial. O clima predominante
na região é quente e seco – tipo BSwh‘, segundo a classificação climática de Köppen (Alvarez et al., 2014).

Figura 2: Esquema do reator utilizado na desinfecção por radiação ultravioleta

Para a aplicação da radiação ultravioleta artificial, duas lâmpadas de radiação ultravioleta


(UVC) de 30 W, cada, foram instaladas em um aparato de madeira para proporcionar a desinfecção
do efluente (Figura 3).

Figura 3: Instalação das lâmpadas ultravioleta artificial

As lâmpadas instaladas no reator possuíam vida útil prevista para 8.000 h, sendo as mesmas
do modelo G30WT8 da HALOTECH; essas trabalham com vapor de mercúrio de baixa pressão,
emitindo comprimentos de onda curtas com pico de radiação de 254 nm (UVC) para ação
germicida.
O monitoramento do sistema foi realizado no período de outubro a dezembro de 2015. Para
tal, o reator foi preparado com distintas lâminas de água cinza tratada, com a seguinte disposição de
acordo com a Tabela 1:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 1: Configuração dos ensaios de monitoramento


Fonte: Pesquisador, (2017).

Tempo de exposição (h) Horário de coleta (h)


0 8:00
Ensaio 1- 1 9:00
Lâmina de 2 10:00
0,10 m 3 11:00
4 12:00
0 8:00
Ensaio 2- 1 9:00
Lâmina de 2 10:00
0,20 m 3 11:00
4 12:00
0 8:00
Ensaio 3- 1 9:00
Lâmina de 2 10:00
0,30 m 3 11:00
4 12:00

No preparo do reator foi realizada a renovação da água cinza tratada cada lâmina ensaiada.
Todas as amostras coletadas foram encaminhadas para o Laboratório de Saneamento (UFERSA),
visando à identificação e quantificação de coliformes totais, e E. Coli, e para a determinação da
turbidez, condutividade elétrica, pH, oxigênio dissolvido e sólidos suspensos totais.
Nas análises de coliformes totais e E. Coli, utilizou-se o sistema Colilert (sistema patenteado
por IDEXX Laboratories) que é utilizado para detecções simultâneas, identificações específicas e
confirmativas de coliformes totais e E. coli, metodologia, também, preconizada no Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater (Rice et al., 2012).
O Colilert utiliza nutrientes (açúcares ligados a radicais orgânicos cromogênicos) que fazem
com que os microrganismos de interesse presentes na amostra produzam uma mudança de cor (ou
fluorescência) no sistema inoculado.
As amostras foram misturadas ao meio de cultura (Colilert) e após homogeneização, foram
transferidas para uma cartela com poços isolados (Quanti-tray) e selada em seladora específica. Em
seguida, as cartelas foram incubadas a 35ºC por 24h. Os resultados foram quantificados por tabela
estatística do Número Mais Provável - NMP do sistema Quanti-Tray 2000. No sistema Colilert
Quanti-Tray 2000, a presença de coliformes totais é indicada por uma reação, modifica a coloração
do reagente para amarelo. Poços com coloração amarela indicam presença de coliformes totais. Em
caso de haver a presença de E. coli, esta pode ser confirmada expondo-se as amostras positivas para
coliformes totais à luz ultravioleta (365 nm), que reagirá emitindo fluorescência azul.
A determinação de sólidos suspensos totais (SST) foi realizada método gravimétrico
utilizando papel filtro e membrana Millipore de 0,45 µm conforme descrido no Standard Methods,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

o qual prevê secagem a 103-105 ºC da amostra até peso constante: foi utilizado 2h para a secagem
de papel filtro e membrana Millipore de 0,45 µm em estufa, com amostras de 100 mL de água cinza
tratada. Após serem secas, foram armazenadas em dessecador por 15 minutos para esfriarem, para
depois serem pesadas.
Deve-se ressaltar que as amostras coletadas foram acondicionadas em caixa isotérmica com
gelo, à temperatura de 4ºC, para preservação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 2 estão apresentados os valores médios e desvio-padrão das características físico-químicas


da água cinza tratada antes da exposição à radiação ultravioleta germicida.

Tabela 2: Valores médios e desvio-padrão das características físico-químicas da água cinza tratada e
sua correspondente lâmina.
Média e DP Média e DP (20 Média e DP
Característica
(10 cm) cm) (30 cm)
Temp. (ºC) 28,92 ± 0,48 29,84 ± 0,78 31,26 ± 0,22
pH 7,758 ± 0,04 7,794 ± 0,01 7,898 ± 0,03
OD (mg L-1) 2,87 ± 1,24 3,228 ± 0,95 1,13 ± 0,77
CE (dS m-1) 1,34 ± 0,009 1,24 ± 0,008 1,17 ± 0,007
TB (UNT) 35,16 ± 2,34 30,8 ± 8,49 39,02 ± 4,30
S.S.T. (mg L-1) 13,6 ± 5,13 13 ± 8,63 21 ± 8,19

Nota: Temp. = Temperatura da água cinza tratada; O.D. = Oxigênio dissolvido; C.E. = Condutividade
elétrica; TB = Turbidez; S.S.T. = sólidos suspensos totais.

A temperatura média da água cinza tratada (Temp) encontra-se dentro da faixa de 20 a 30


ºC, estabelecida por Cabello (1990) como ótima para o desenvolvimento de bactérias, dessa forma,
esta característica não é fator limitante para a multiplicação dos microrganismos patogênicos.
Verificou-se, ainda, que os valores de temperatura são inferiores ao limite de 40 ºC estabelecido
pela Resolução nº 430 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2011) que dispõe sobre
a classificação dos corpos hídricos receptores e diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Segundo a Resolução CONAMA n° 430/2011 (BRASIL, 2011), o valor médio de pH
encontra-se dentro da faixa de 5 a 9 estabelecida para lançamento de esgoto doméstico tratado, já o
valor do oxigênio dissolvido está abaixo do limite estabelecido pela mesma resolução de 5 mgL-1,
esse resultado pode ser explicado devido a quantidade de matéria orgânica presente na água cinza
tratada, fazendo com que haja consumo de oxigênio dissolvido pelos microrganismos existentes.
A condutividade elétrica (CE) média da água cinza tratada encontra-se dentro da faixa de 0,5
a 1,5 dS m-1 recomendada de por Trani (2001), para irrigação de hortaliças. Os valores obtidos
estão abaixo do apresentado por Batista et al. (2013) com esgoto doméstico tratado por tanque
séptico e filtro inorgânico.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O valor médio da turbidez (TB) do esgoto doméstico primário foi maior que 14,6 UNT
medido em esgoto doméstico de sistema de lodo ativado por Hallmich & Gehr (2010). Entretanto,
este valor médio é menor que 57,07 UNT obtido por Moura et al. (2011) em estudo com esgoto
doméstico primário.
Observa-se que o valor médio dos sólidos suspensos totais foi menor que 55 mgL-1 obtido
por Souza et al. (2012), medido em esgoto doméstico de sistema composto por reator anaeróbio
seguido de lagoa de polimento.
Na Figura 4 constam a relação entre a redução dos níveis de coliformes totais (CT) e E. Coli
(EC) respectivamente, em função do tempo de aplicação da radiação ultravioleta artificial, para as
lâminas de 0,10, 0,20 e 0,30 m.

A) B)

6,0 6,0

Log (EC)
Log (CT)

4,0 4,0
2,0
2,0
0,0
0,0 0 2 4
0 1 2 3 4
Tempo (h)
Tempo (h)

C) D)

6,0 6,0
Log (EC)

5,0
Log (CT)

4,0 4,0
3,0
2,0
2,0 1,0
0,0
0,0 0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4
Tempo (h)
Tempo (h)

E) F)

6,0 6,0
Log (CT)

Log (EC)

4,0 4,0
2,0 2,0
0,0 0,0
0 1 2 3 4 0 1 2 3 4
Tempo (h) Tempo (h)

Figura 4: Decaimento do nível populacional de coliformes totais (CT) e E. Coli (EC), em função
do tempo de exposição à radiação ultravioleta para as lâminas de água cinza de 0,10 m (A, B),
0,20 m (C,D) e 0,30 m (E,F).

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O mecanismo de desinfecção por radiação ultravioleta artificial ocorre devido à absorção da


radiação pelas proteínas e pelos ácidos nucléicos RNA e DNA. A absorção de altas doses de
radiação ultravioleta artificial pelas proteínas presentes nas membranas celulares leva ao
rompimento das mesmas e, consequentemente, a morte da célula (Daniel, 2001).
Verificou-se pela Figura 2 que houve efeito exponencial na redução do nível de coliformes
totais (CT) e E. Coli (EC), para a lâmina de 0,10 m, enquanto que para a de 0,20 e 0,30 m o efeito
constatado foi linear, resultados semelhantes foram encontrados por (Batista et al., 2013; Naddeo et
al., 2009). Entretanto, os resultados foram inferiores aos obtidos pelos mesmos autores, que
conseguiram uma redução em tempos menores.
Após a aplicação da radiação ultravioleta, o valor obtido de redução do nível de coliformes
totais para lâmina de 10 cm de 72 NMP por 100 mL-1 no tempo de 4 h encontra-se abaixo do limite
de 200 NMP por 100 mL-1 proposto pela Resolução CONAMA nº 357/2005 (BRASIL, 2005), dessa
forma a água cinza tratada pode ser empregada para a irrigação de hortaliças consumidas cruas.
Entretanto, todos os demais resultados ficaram acima dos limites preconizados pela referida
Resolução.
Ainda, da mesma figura, pode-se observar que para a lâmina de 0,10 m (Figura 2A e 2B), foi
onde ocorreu o efeito mais significativo para a redução do nível de coliformes totais e E. Coli após
a aplicação da radiação ultravioleta artificial, visto que nas outras lâminas analisadas não observou-
se a mesma redução, isso pode ter ocorrido por conta de dois fatores; primeiramente como salienta
Daniel (2001), a dose de radiação ultravioleta artificial é uma variável que interfere no resultado,
diante disso a dose aplicada pode ter sido inferior a necessária, segundo ponto a ser analisado diz
respeito a radiação não ter atingido efetivamente os microrganismos, onde os mesmo utilizaram de
partículas para se proteger da radiação emitida.
A Tabela 3 apresenta as equações de regressão bem como o coeficiente de determinação
(R2) da redução do nível de coliformes totais e E. Coli, nas lâminas de 0,10, 0,20, 0,30 m
respectivamente.

Lâmina (m) Coliformes Totais Escherichia Coli


2
Equação R Equação R2
0,10 CT=5,67e-0,28*T 0,99 EC=5,51e0,8*T 0,96
0,20 CT= -0,22*T+5,4 0,92 EC=-0,98*T+5,3 0,95
0,30 CT=-0,53*T+6,2 0,96 EC= -0,76*T+4,7 0,97
Tabela 3: Equações de regressão e coeficiente de determinação para as lâminas de 0,10, 0,20 e 0,30 m.
Nota: 1 - CT - Coliformes Totais (NMP/100 mL), EC - Escherichia Coli (NMP/100 mL) e T – Tempo (hora)

Verifica-se pela Tabela 2 que as equações de regressão ajustadas para coliformes totais e E.
Coli apresentaram coeficientes de determinação semelhantes aos encontrados por Batista et al.
(2013). Os referidos autores obtiveram equações lineares relacionando a eficiência de desinfecção

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de coliformes fecais com o tempo de exposição à radiação ultravioleta artificial com R2 variando de
0,99 e 0,96.

CONCLUSÕES

Houve redução da população de coliformes totais e E. Coli, após a aplicação de radiação


ultravioleta artificial para as três lâminas testadas.
Com a lâmina de 0,10 m e o tempo de exposição à radiação ultravioleta de 4 h foi alcançado
um nível de desinfecção de E. Coli recomendado para irrigação de hortaliças com água cinza
tratada.
Observa-se a necessidade do cálculo da dose de radiação ultravioleta artificial, com vistas a
otimização do processo, bem como evitar a recuperação de microrganismos inativados.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM GÓIAS: UMA


AMEAÇA A SAÚDE AMBIENTAL E HUMANA

Andréa dos Santos VIEIRA


Doutoranda do curso de Geografia UFU
andrea.vieira@yahoo.com.br
Paulo Cezar MENDES
Professor Titular Doutor Geografia - UFU
pcmendes1@yahoo.com.br

RESUMO
A destinação final dos resíduos a céu aberto (lixões) constituem o destino final dos resíduos sólidos
em 50,8% dos municípios brasileiros. A Região Centro-oeste produz aproximadamente 15 mil
toneladas de lixo urbano diariamente, destes, em torno de 8 mil toneladas são produzidas em Goiás.
Neste contexto, este trabalho objetiva proporcionar uma visão holística da situação dos lixões no
estado de Goiás e suas possíveis consequências para o meio ambiente e a saúde humana. Utilizou-se
a normativa 005/2014 do Conselho Estadual de Meio Ambiente, para as análises ambientais. Como
resultado foram identificados 42 municípios que possuíam suas áreas a menos de 300 metros de
algum corpo hídrico, 07 municípios que possuíam a área de disposição final de resíduos sólidos a
montante e a menos de 2500 metros de algum do ponto de captação de água para abastecimento
público e ainda 50% dos municípios com lixão a menos de 3.000 metros do perímetro urbano. Dos
248 municípios goianos apenas 15 municípios possuem licenciamento para operação como aterro
sanitário.
Palavras chave: Resíduos sólidos. Goiás, Saúde.
ABSTRACT
The final destination of the waste, the open air dumps were the final destination of solid waste in
50.8% of Brazilian municipalities. The Central-West region produces approximately 15 thousand
tons of urban waste daily, of which about 8 thousand tons are produced in Goiás. This type of
launch, this work aims to provide a holistic view of the situation of the dumps in the state of Goiás
and its possible consequences, to which soil, water, air and human health are subject. The
Environmental State Council's regulation 005/2014 was used for environmental analysis. As a
result, 42 municipalities that had their areas within 300 meters of some water body, 07
municipalities that had the final disposal area of solid waste upstream and less than 2500 meters
from some of the catchment point for water supply Public and even - municipalities with a dump
less than 3,000 meters from the urban perimeter. Of the 248 municipalities in Goiás, only 15
municipalities have permits for landfill operation.
Key words: Dumps. Ground. Solid waste. Water Resource.

INTRODUÇÃO

A maior parte dos municípios brasileiros que possuem coleta de lixo dispõe seus resíduos
sólidos na forma de lixões (IBGE, 2008). Nos lixões, os resíduos são descartados em terrenos
(dentro e/ou fora das cidades) sem separação prévia, com acondicionamento precário, a céu aberto,
poluindo e contaminando o ambiente. Nessas áreas, é comum a ausência de controle, quer quanto ao

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tipo de resíduos recebidos, quer em relação às medidas de segurança necessárias para minimizar ou
evitar efeitos deletérios. As consequências ambientais desta prática são inúmeras, tornando, em
vários municípios brasileiros um caso de saúde pública.
Na maioria dos municípios, o circuito dos resíduos sólidos apresenta características muito
semelhantes, da geração à disposição final, envolvendo apenas as atividades de coleta regular,
transporte e descarga final, em locais quase sempre selecionados pela disponibilidade de áreas e
pela distância em relação ao centro urbano e às vias de acesso, ocorrendo a céu aberto (Schalch, et
al.; 2002).
Os benefícios da limpeza urbana para a sociedade já estão bem estabelecidos, no entanto,
questões relativas ao gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil não oferecem uma melhora
qualitativa do sistema como um todo (FERREIRA, ANJOS, 2001). Há uma forte relação entre a
geração de resíduos sólidos e a saúde, seja de forma direta ou indireta, além das agressões
ambientais (SANTOS, SILVA, 2009).
A destinação final dos resíduos, os vazadouros a céu aberto (lixões) constituíram o destino
final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros, conforme revelou a PNSB 2008
(IBGE, 2008).
Na segunda metade do século XX, a inter-relação da saúde com o ambiente se volta a
inserir-se nas preocupações da saúde pública, cuja definição dada pelo Ministério da Saúde (1999)
ressalta que:

Saúde ambiental é o campo de atuação da saúde pública que se ocupa das formas de vida,
das substâncias e das condições em torno do ser humano, que podem exercer alguma
influência sobre a sua saúde e o seu bem-estar.

O conceito de saúde mostra-se claramente como resultante das condições de vida e do


ambiente. Ao mesmo tempo em que degradam o homem, sua qualidade de vida e seu estado de
saúde, os padrões de desenvolvimento adotados vêm favorecendo a degradação ambiental por meio
da exploração predatória de recursos naturais e poluição, às quais, por sua vez, têm gerado grandes
impactos nas condições de saúde e qualidade de vida da população (AUGUSTO, et al, 2003).
No Brasil houve melhoria na forma de disposição de lixo urbano nas últimas décadas. Os
estudos (Quadro 1) apresentados pelo Instituto de Geografia e Estatística (2008) demonstram que:

Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destino,


Brasil – 1989/2008
Destino Final
Ano Vazadouro a Aterro Aterro
céu aberto controlado sanitário
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7
Quadro 1: Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destino, Brasil – 1989/2008.
Fonte dos dados: IBGE, 2008.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Porém é importante salientar que ao longo dos anos a também o aumento quantitativo na
produção de lixo urbano devido ao desenvolvimento econômico. A região Sudeste tem a maior
produção de lixo urbano no Brasil, seguida pela região Sul. A Região Centro-oeste produz
aproximadamente 15 mil toneladas de lixo urbano diariamente destes em torno de 8 mil toneladas
são produzidas em Goiás. A produção diária do estado goiano que tem como destinação final os
lixões são de aproximadamente 1526 toneladas/dia enquanto que em torno 1385 são destinados a
aterros controlados e por volta de 4759 toneladas para aterros sanitários (IBGE, 2008). As regiões
Nordeste e Norte produzem menor volume, respectivamente.
Dada a proporção dos lançamentos de resíduos sólidos em locais inapropriados e as
consequências à saúde e ao meio ambiente provocadas por este tipo de lançamento, justifica-se este
trabalho, cujo objetivo o é proporcionar uma visão holística da situação dos lixões no estado de
Goiás e suas possíveis consequências para o meio ambiente a para saúde humana.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),


constitui-se em instrumento essencial na busca de soluções para um grave e recorrente problema
ambiental do Brasil: o destino dado aos resíduos sólidos de forma incorreta. Esta problemática traz
à tona a necessidade de implementação de aterros sanitários em substituição dos lixões como
medida de proteção ambiental.
Considerando o art. 30º, inciso V, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que estabelece
a competência dos municípios para organizar e prestar, diretamente ou sob forma de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, o que inclui a destinação final dos resíduos
sólidos urbanos e os limites temporais estabelecidos pela política nacional de resíduos sólidos há
muito o que fazer tornando a problemática ambiental dos resíduos sólidos, uma realidade
desafiadora.
Em Goiás o Conselho Estadual do Meio Ambiente com a resolução nº 005/2014 (SECIMA,
2014) que dispõe sobre os procedimentos de Licenciamento Ambiental dos projetos de disposição
final dos resíduos sólidos urbanos, na modalidade Aterro Sanitário, nos municípios do Estado de
Goiás, sobre esses processos foi configurado o universo analítico deste trabalho.
A resolução nº 005/2014, supracitada, estabelece que para à sede do município, ou para as
sedes dos municípios que optarem por soluções consorciadas cuja somatória das populações urbana
seja de até 100.000 (cem mil) habitantes, de acordo com a estimativa populacional do IBGE do ano
vigente, deverá ser utilizado o Licenciamento Ambiental com Procedimento Simplificado – LAPS.
Portanto, como 94% dos municípios goianos possuem população inferior a este número de
habitantes, utilizou-se os seguintes critérios desta normativa para as análises ambientais:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

1) 3.000 metros do perímetro urbano;


2) 300 metros de corpo hídrico (a partir do perímetro da área a ser utilizada);
3) 500 metros do corpo hídrico de abastecimento público e 2.500 metros do ponto de
captação, se à montante (a partir do perímetro da área a ser utilizada);
Já para as questões de saúde é importante salientar que os principais contextos de
contaminação estão no contato direto (catadores) e através de vetores (insetos). Os insetos ocorrem
principalmente nos lixões devido ao lançamento dos resíduos à céu aberto. E ainda na possível
contaminação dos mananciais, que serão analisados à luz da normativa do Conselho Estadual do
Meio Ambiental nº 005/2014 (SECIMA, 2014).
As técnicas de geoprocessamento empregadas visaram estabelecer conexões no âmbito da
contaminação hídrica, por meio da localização dos lixões correlacionando medidas estabelecidas em
lei com o que ocorre no ambiente e, ainda, estabelecer as distâncias do empreendimento em relação
ao perímetro urbano. De acordo com Miranda (2005), um SIG tem a capacidade funcional para
entrada de dados, manuseio, transformação, visualização, combinação, consultas, análises,
modelagem e saída. A palavra Informação pressupõe que os dados do SIG estejam organizados para
produzir conhecimento útil, na forma de imagens e mapas, estatísticas e gráficos, etc. A palavra
geográfica implica conhecimento da localização dos itens de dados, ou que eles possam ser
calculados, em termos de coordenadas geográficas (latitude, longitude), (BONHAM-CARTER,
1997).
Os SIG tem muito a contribuir com o planejamento da saúde e do ambiente, pois facilita o
gerenciamento do território, através da perspectiva de visualização que apresenta aos gestores.

A SITUAÇÃO DAS ÁREAS DE DEPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM GOIÁS

A norma NBR 10004 de 2004 (ABNT, 2004), define resíduo sólido como resíduos nos
estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes
de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de
poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento
na rede pública de esgotos ou corpos d`água, ou exijam para isso soluções, técnica e
economicamente, inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.
O lançamento in natura dos resíduos sólidos nos lixões em Goiás ocorrem na maioria dos
municípios. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Cidades, Infraestrutura e
Assuntos Metropolitanos - SECIMA e o Ministério Público de Goiás realizou um documento
informativo sobre a situação da disposição final de resíduos sólidos no estado. Sendo que o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

documento informa que 233 municípios possuem como local de destinação final de resíduos os
lixões e apenas 15 municípios o aterro sanitário.
Ainda segundo a SECIMA (2015), havia 15 municípios com aterros sanitários licenciados
para operação, a saber: Alto Horizonte, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Bela Vista de Goiás,
Bonfinópolis, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Chapadão do Céu, Cidade Ocidental, Goianésia,
Palmeiras de Goiás, Hidrolândia, Turvelândia, Rio Quente e Senador Canedo, salientando que o
núcleo de licenciamentos ambientais, afirma que o quadro dos lixões no ano 2017 permanece
inalterado. Ressalta-se que o município de Valparaiso de Goiás dispõe seus resíduos no aterro do
município Cidade Ocidental.
Os municípios de menor porte até 30 mil habitantes são os principais responsáveis pelo
número de deposição inadequada de resíduos sólidos. Para Arcila (2008) os municípios de pequeno
porte são onde a problemática do lixo se apresenta com maior evidência, tendo esse perfil a maioria
dos municípios brasileiros, o que corrobora para interpretação do quadro apresentado sobre Goiás.
Porém, vale salientar que a capital goiana e algumas cidades pertencentes ao centro goiano
correspondentes a região metropolitana, também não possuem aterro sanitário.

OS LIXÕES E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

A falta de critérios ambientais na instalação de áreas de resíduos sólidos provoca, ao longo


do tempo, inúmeros problemas de contaminação do solo e dos recursos hídricos (Abu-Rukah & Al-
Kofahi, 2001). Segundo Tucci (1997) lixões contaminam as águas subterrâneas pelo processo
natural de precipitação e infiltração. Deve-se evitar que sejam construídos lixões em áreas de
recarga e deve-se procurar escolher essas áreas com baixa permeabilidade.
Os impactos provocados pelos resíduos sólidos municipais podem atingir a população em
geral, por meio da poluição e contaminação dos corpos d‘água e dos lençóis subterrâneos, direta ou
indiretamente, dependendo do uso da água e da absorção de material tóxico ou contaminado.
(Machado e Prata Filho, 1999). Os ambientes aquáticos são utilizados em todo o mundo com
distintas finalidades, entre as quais se destacam o abastecimento de água, a geração de energia, a
irrigação, a navegação, a aquicultura e a harmonia paisagística (SPERLING, 1993).
A presença dos lixões a céu aberto pode acarretar em poluição e contaminação dos corpos
d‘água e dos lençóis subterrâneos. Tal contaminação deve-se essencialmente à decomposição de
matéria orgânica presente no lixo, que resulta na formação do chorume. Se o solo sob o lixão for
permeável, o chorume poderá atingir o lençol freático (Possamai, et al; 2007). Lixiviados de aterros
sanitários geralmente contem altas concentrações de compostos orgânicos, nitrogênio amoniacal, o
mesmo acontecendo em relação a metais pesados e sais inorgânicos (GARCIA et al., 1997).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A matéria orgânica ali presente tem importância na complexação, transporte de metais


pesados e na retenção de alguns contaminantes orgânicos. Ressalta-se que a percolação do chorume
ocorre tanto no lixão em funcionamento, quanto no lixão desativado, uma vez que os produtos
orgânicos continuam a se degradar.
Dentre os resíduos sólidos pode ser encontrada uma variedade muito grande de resíduos
químicos, os quais merecem destaque: pilhas e baterias; óleos e graxas; pesticidas/herbicidas;
solventes; tintas; produtos de limpeza; cosméticos; medicamentos. Uma significativa parcela destes
resíduos é classificada como perigosa e pode ter efeitos deletérios à saúde humana e ao meio
ambiente. Metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, incorporam-se à cadeia biológica, têm
efeito cumulativo e podem provocar diversas doenças, como distúrbios no sistema nervoso.
Pesticidas e herbicidas têm elevada solubilidade em gorduras. Esta, combinada com a
solubilidade química em meio aquoso, pode levar à magnificação biológica e provocar intoxicações
agudas no ser humano (pois são neurotóxicos), bem como efeitos crônicos, segundo Kupchella e
Hyland (1993). Quando a disposição do material no solo é realizada de maneira inadequada, sem a
devida proteção, como mantas de PEAD (polietileno de alta densidade), ocorrerá contaminação, de
acordo com França e Ruaro (2009). A decomposição dos resíduos dispostos diretamente no solo, a
céu aberto, e a formação de lixiviados podem levar à contaminação do solo e das águas subterrâneas
com substâncias orgânicas, microrganismos patogênicos e contaminantes químicos ali presentes
(POSSAMAI, 2007).
No intuito de identificar os locais dos lixões em Goiás e sua distância entre os cursos
hídricos foram realizadas análises dos dados fornecidos pelo Sistema Estadual de Geoinformação -
SIEG, em relação a localização dos lixões correlacionando com a distância dos corpos hídricos e
local de captação da Companhia Saneamento de Goiás - SANEAGO.
Foi realizado uma técnica de geoprocessamento denominada buffer para dimensionar as
distâncias descritas na normativa 05/2014, quanto correlação perímetro urbano distanciando em
3.000 metros, quanto aos 300 metros de algum corpo hídrico e ainda quanto aos 500 metros do
corpo hídrico de abastecimento público e 2.500 metros do ponto de captação, se à montante.
Segundo MORALES (2002) a poluição das águas pela disposição inadequada de resíduos
sólidos pode ser física, química e biológica, sendo as principais alterações físicas relacionadas ao
aumento da turbidez e variações de gradientes de temperatura. A poluição biológica caracteriza-se
pelo aumento de coliformes totais e fecais, já a poluição química reduz drasticamente o nível de
oxigênio e aumenta a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). Outras propriedades químicas da
água como a dureza, a condutividade e o PH podem ser alteradas e tornar o sistema aquático
impróprio para o uso humano.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentre os municípios goianos que apresentam o lixão como local de disposição final de
resíduos sólidos foram identificados 42 municípios que possuíam suas áreas a menos de 300 metros
de algum corpo hídrico, correspondendo a 16% dos municípios goianos que não atendem esta
normativa legal. Com relação ao perímetro da área de disposição final de resíduos sólidos foram
identificados 07 municípios com a área de disposição final de resíduos sólidos a montante e a
menos de 2500 metros de algum do ponto de captação da SANEAGO.

Mapa 1: Distância entre o lixão e o curso hídrico mais próximo. Fonte dos dados: SIEG, 2016.
Elaboração: Andréa Vieira, 2016.

Estabelecendo infração da norma legal e impossibilitando que o aterro sanitário possa ser
construído no mesmo local do lixão atual. Criando a necessidade de no mesmo município ter um
lixão desativado que necessita de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD. E ainda
uma nova área para a criação de um aterro sanitário. Tornando o processo ainda mais oneroso,
salientando que a responsabilidade da disposição final de resíduos sólidos é municipal.
A degradação de um curso hídrico atinge não apenas o município onde se estabeleceu a
poluição mas todos os demais a jusante. Portanto passa ser uma responsabilidade de monitoramento
em cadeia. A disposição dos vários tipos de resíduos sólidos, além do monitoramento ambiental das
atividades relacionadas com a disposição dos resíduos, é importante conhecer a localização exata

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

das bacias de captação. É importante salientar que bacias de captação podem abranger mais de um
município, portanto no futuro essa disposição inadequada de resíduos sólidos em bacias de captação
poderá resultar em graves conflitos políticos e administrativos.

Mapa 2: Distância entre o lixão e a captação da SANEAGO mais próxima. Fonte dos dados: SIEG, 2016.
Elaboração: Andréa Vieira, 2016.

Estima-se que 80% de todas as moléstias e mais de um terço dos óbitos dos países em
desenvolvimento sejam causados pelo consumo de água contaminada, e, em média, até um décimo
do tempo produtivo de cada pessoa se perde devido a doenças relacionadas à água (Wrege, 2000).
Além da poluição hídrica, o solo e o ar também estão expostos a poluição provocada pelos lixões, e
acabam por impactar na saúde da população.
Segundo Lima (2004) a poluição do ar se dá principalmente pela queima irregular dos
resíduos e pela alta produção do biogás no processo de decomposição anaeróbica. A queima de
resíduos é uma prática contumaz na maioria dos lixões brasileiros na tentativa de reduzir o volume
de resíduos depositados. Enquanto a poluição do solo ocorre pela alteração de suas propriedades
físicas e químicas devido ao alto teor energético de algumas substâncias presentes nos resíduos
sólidos. Também pode ocorrer a formação de gases tóxicos, asfixiantes e explosivos, que se
acumulam no subsolo ou são lançados na atmosfera.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Entre as principais consequências da contaminação dos solos está a desfertilização, tornando


o solo pode ficar infértil para o plantio; saturação do solo; alterações na tipografia; portanto o solo,
um recurso natural com uma multiplicidade de funções, é necessário protegê-lo de todas as fontes
de contaminação, já que se constitui como um substrato essencial para a biosfera terrestre e
contribui, num sistema complexo e interativo, para regularizar o ciclo hidrológico e condicionar a
quantidade e qualidade da água, nomeadamente através da sua capacidade de transformação, filtro e
tampão.

A SAÚDE HUMANA E DEGRADAÇÃO PROVOCADA PELOS LIXÕES

A principal dificuldade na definição das populações expostas aos efeitos diretos ou indiretos
do gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos municipais está no fato de os sistemas de
informação e monitoramento sobre saúde e não contemplarem, em geral, o aspecto coletivo das
populações, não dispondo de dados epidemiológicos suficientes e confiáveis (Garcia e Zanetti-
Ramos; 2001). As principais rotas de exposição humana aos contaminantes presentes em aterros são
sua dispersão através do solo e ar contaminados e a percolação e lixiviação do chorume.
Os diretamente atingidos são uma parcela da população, chamados catadores, que existem
em praticamente todos os vazadouros de resíduos. Ao remexerem os resíduos vazados, à procura de
materiais que possam ser comercializados ou servir-se de alimentos, os catadores estão expostos a
todos os tipos de riscos de contaminação presentes nos resíduos, além dos riscos à sua integridade
física por acidentes causados pelo manuseio dos mesmos e pela própria operação do vazadouro
(Garcia e Zanetti-Ramos, 2001).
Um outro tipo de exposição da saúde aos contaminantes dos lixões ocorre devido a estes
locais tornarem-se propícios para a atração de animais que acabam por se constituírem em vetores
de diversas doenças. O acondicionamento inadequado do lixo serve como atração para diversos
organismos capazes de transmitir doenças, proposto que os vetores utilizam o ambiente do lixo
como abrigo, alimento e local ideal para sua reprodução.
Para Rodrigues e Cavinatto (1997) a quantidade de alimentos existente no lixo atrai
numerosas diversidades de insetos e animais que estão à procura de comida, podem-se dividir em
micro e macro vetores. Dentre os micro vetores destacam os insetos e os roedores. Os macro vetores
são cães, gatos, aves, e o homem. Logo, a resolução 005/2014 preconiza o distanciamento dos
lixões em 3.000 metros do perímetro urbano. Porém, isto não ocorre em 124 municípios, ou seja,
50% dos municípios goianos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Mapa 3: Perímetro Urbano e demais elementos em relação a Resolução 005/2014. Fonte dos dados: SIEG,
2016. Elaboração: Andréa Vieira, 2016.

A saúde humana passa pelo meio ambiente. A exposição aos gases produzidos na queima de
resíduos nos lixões podem provocar diversas doenças relacionadas a poluição atmosférica. A
poluição atmosférica produz enfermidades diversas tais como doenças pulmonares obstrutivas
crônicas, asma, graves infecções respiratórias, doenças cardiovasculares e câncer de pulmão;
enquanto a asma normalmente é relacionada à alergia, a exposição ao ar poluído pode desencadear
ataques agudos; infecções respiratórias do trato inferior, como pneumonia e bronquite, tem provado
estar associados ao aumento dos níveis de poluição do ar (Ministério da Saúde, 2008).
A água contaminada provoca graves doenças nos seres humanos. A contaminação pode se
dar pela ingestão de alimentos infectados pela água durante o seu preparo ou pelo consumo na
dessedentação.
Sendo o solo, um recurso natural com uma multiplicidade de funções, torna-se urgente e
necessário protegê-lo de todas as fontes de contaminação, incluindo a de destinação final de
resíduos sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O descarte inadequado do lixo em grande parte dos municípios goianos ainda causa sérios
prejuízos para o meio ambiente e a saúde pública. A instituição da Política Nacional de Resíduos
Sólidos em 2010, apesar de trazer no seu escopo normativas e encaminhamentos claros sobre o trato

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

do lixo, salvo poucas exceções, não conseguiu mudar a realidade dos lixões e das pessoas que dele
extraem sua fonte de renda.
Milhares são os trabalhadores que retiram de montanhas de lixo, produzido nas cidades
goianas, o seu sustento. Fonte de renda e de muita contaminação, os mais afetados por doenças
relacionadas ao lixo são os catadores de alimento e materiais recicláveis, os trabalhadores de
limpeza urbana e as pessoas que moram na área de influência dos lixões.
Além do impacto na saúde, a contaminação oriunda dos lixões no estado de Goiás está
comprometendo a qualidade de suas águas. Foram identificados 42 municípios com suas áreas a
menos de 300 metros de algum corpo hídrico, 07 municípios com a área de disposição final de
resíduos sólidos a montante e a menos de 2500 metros de algum do ponto de captação de água para
abastecimento público e ainda 50% dos municípios com lixão a menos de 3.000 metros do
perímetro urbano. Dos 248 municípios goianos apenas 15 municípios possuem licenciamento para
operação de aterro sanitário, portanto apenas 6% dos municípios goianos estão regulamentados.
Esse cenário demostra que para os municípios goianos a gestão de resíduos é um fator de
preocupação cada vez maior. Armazenar as toneladas de lixo produzidas por uma população em
crescimento está sendo uma tarefa cada vez mais onerosa, sobretudo, quando são considerados os
passivos ambientais e os custos com a saúde.
Nesse sentido, fomentar a educação ambiental, instituir um sistema de coleta adequada,
separar, tratar, reciclar materiais, dispor os resíduos não aproveitáveis de forma adequada, implantar
cooperativas de reciclagem, valorizar o trabalho dos catadores somado a uma gestão eficiente do
lixo, são metas que necessitam urgentemente serem alcançadas pelos municípios goianos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à agência concessão da bolsa de estudo Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - CAPES (bolsa de doutorado). Agradeço ao PPGEO (Programa de Pós
Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia).

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 37


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE GRANITO PARA


INCORPORAÇÃO EM ARGAMASSA

Camila Gonçalves Luz NUNES


Mestranda em Civil e Ambiental UFPB
camilanunes.engcivil@hotmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharias de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com
Priscila Maria Sousa Gonçalves LUZ
Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental – UFCG
priscilaluz55@gmail.com
Thamires Dantas GUERRA
Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental – UFCG
thamires_guerra@hotmail.com

RESUMO
O Brasil apresenta-se no cenário mundial como um forte produtor de rochas ornamentais, tais como
granito, mármore, gnaisse, ardósia, entre outras. Apesar da expressividade econômica que
proporcionam, as atividades da indústria de rochas ornamentais geram enormes quantidades de
resíduos sólidos, que podem causar danos ao meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas. A
produção de resíduos durante o beneficiamento das rochas ornamentais é gerada em enormes
quantidades, em forma de lama constituída por pó de pedra, cal, água e granalha metálica e pó de
pedra com retalhos de rochas. Apesar dos prejuízos que podem causar, esses resíduos são muitas
vezes dispostos de forma inadequada, sendo comum o seu descarte em rios, lagos, lagoas e
córregos. Dado o grande potencial para adição em matrizes cimentícias, o uso do resíduo de granito
na construção civil foi proposto neste estudo como meio alternativo para o seu descarte. Para isso
primeiramente foram feitos ensaios laboratoriais para caracterização do resíduo, do agregado
graúdo e do agregado miúdo, em seguida foram realizados estudos para dosagem e moldagem dos
corpos de prova. Por último, submeteu-se os corpos de prova moldados com diferentes teores de
resíduo (0%, 10% e 15%) ao ensaio de resistência à compressão simples, para que fossem
determinadas as resistências dos corpos de prova. Com os resultados obtidos pode-se perceber que
o resíduo de granito apresenta sua composição basicamente a base de sílica (62%) e que os
agregados apresentam propriedades satisfatórias para uso em concreto. Também se percebeu que
quanto maior o maior o teor de substituição do cimento por resíduo de granito mais baixos são os
valores encontrados para a resistência a compressão simples.
Palavras Chave: Rochas Ornamentais, Resíduo de Granito, Construção Civil
RESUMÉN
Brasil se presenta en el escenario mundial como un fuerte productor de rocas ornamentales, tales
como granito, mármol, gnaisse, pizarra, entre otras. A pesar de la expresividad económica que
proporcionan, las actividades de la industria de rocas ornamentales generan enormes cantidades de
residuos sólidos, que pueden causar daños al medio ambiente y la calidad de vida de las personas.
La producción de residuos durante el beneficiamiento de las rocas ornamentales se genera en
enormes cantidades, en forma de lodo constituido por polvo de piedra, cal, agua y granalla metálica
y polvo de piedra con retazos de rocas. A pesar de los perjuicios que pueden causar, estos residuos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

son a menudo dispuestos de forma inadecuada, siendo común su descarte en ríos, lagos, charcas y
arroyos. Dado el gran potencial para la adición en matrices cementadas, el uso del residuo de
granito en la construcción civil fue propuesto en este estudio como medio alternativo para su
descarte. Para ello se realizaron ensayos de laboratorio para caracterizar el residuo, el agregado
gracioso y el agregado, a continuación, se realizaron estudios para dosificación y moldeado de los
cuerpos de prueba. Por último, se sometieron los cuerpos de prueba moldeados con diferentes
contenidos de residuo (0%, 10% y 15%) al ensayo de resistencia a la compresión simple, para que
se determinar las resistencias de los cuerpos de prueba. Con los resultados obtenidos se puede
percibir que el residuo de granito presenta su composición básicamente a base de sílice (62%) y que
los agregados presentan propiedades satisfactorias para uso en concreto. También se percibió que
cuanto mayor el mayor el contenido de sustitución del cemento por residuo de granito más bajos
son los valores encontrados para la resistencia a la compresión simple.
Palabras Clave: Rocas Ornamentales, Residuo de Granito, Construcción

INTRODUÇÃO

A gestão de resíduos sólidos tornou-se uma das principais preocupações ambientais


mundiais, devido à grande quantidade de resíduos e subprodutos industriais gerados a cada dia. A
partir disto, o reuso destes produtos vem se tornado uma alternativa atraente para seu controle e
eliminação (RODRIGUES et al, 2008).
A reutilização consiste no reaproveitamento de um material já beneficiado para formação de
novos produtos com características e propriedades físico-químicas diferentes do material original,
uma vez que ocorre a degradação destas a cada processo (MANSOR et al, 2010).
Em relação à reciclagem de resíduos industriais minerais, a indústria cerâmica tem grande
destaque por possuir um alto volume de produção, beneficiando o grande consumo de resíduos
(COLLATTO E BERGMANN, 2009). Esses resíduos são incorporados especialmente em produtos
cerâmicos como tijolos, blocos e pisos, substituindo parte da matéria prima tirada diretamente da
natureza e utilizada no processo de confecção desses materiais, por resíduos que contém
propriedades químicas e mineralógicas, que, adicionados em quantidades apropriadas, beneficiam a
produção desses produtos cerâmicos (MANHÃES E HOLANDA, 2008).
No Estado do Espírito Santo, onde se concentra a maior parte das indústrias de extração e de
beneficiamento de rochas ornamentais e de revestimentos e são produzidas enormes quantidades de
resíduos. Várias providências foram tomadas pela Associação Ambiental Monte Líbano (AAMOL),
representada por aproximadamente 80 empresas da região de Cachoeiro de Itapemirim. Nesta
associação participam também órgãos governamentais, tendo por objetivo pesquisar e dar finalidade
aos resíduos produzidos no que se refere à sustentabilidade da Indústria da Pedra. Dados de Silva
(2011) e Freire, Castro e Vidal (2013) indicam que a AAMOL recebe mensalmente cerca de 15.000
toneladas desses resíduos no aterro. Dentre outras iniciativas, destaca-se a construção de fábrica de
argamassa e de artefatos de cimento para bloquetes de pavimentação, meio fio e tijolos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O uso desses materiais como matéria-prima em outros processos produtivos pode


transformar resíduos em subprodutos úteis diminuindo as grandes quantidades que são depositadas
em aterros e contribuindo com a minimização dos impactos ambientais (MANHÃES &
HOLANDA, 2008).
Segundo Uliana, J. G. et. al (2013), buscar alternativas para mitigar os impactos ambientais
e os elevados custos com aterros se faz necessário, uma vez que a indústria da construção civil
consome grandes quantidades de matérias-primas e absorve resíduos de outros setores industriais.
Existem várias aplicações para a destinação final dos resíduos de rochas ornamentais,
principalmente nas indústrias cerâmicas e na construção civil. Na atualidade, existe um grande
número de pesquisas sendo realizadas (AGUIAR, 2012).
Exemplo disso são os diversos estudos do potencial de utilização da lama do
beneficiamento de rochas ornamentais (LBRO), não apenas em concretos convencionais, mas em
misturas betuminosas (AKBULUT et al., 2012), massas cerâmicas (HOJAMBERDIEV et al.,
2011), concretos coloridos (MÁRMOL et al., 2010), entre outros.
Trabalhos como os de Barros (2008); Queiroz e Frascá (2008); Moura, Gonçalves e Leite
(2009) têm estudado a incorporação de resíduos da indústria como material de construção, na
produção de novos compósitos ou ainda, na substituição de determinados materiais, buscando
principalmente uma diminuição dos impactos ambientes produzidos e do consumo de recursos
naturais.
Com base na literatura apresentada, este estudo tem como objetivo estudar a incorporação
do resíduo de granito em argamassas para uso na construção civil. Para isso foi feita inicialmente a
caracterização química, física e mineralógica desse material. Após os estudos de caracterização foi
feita a dosagem e moldagem dos corpos de prova com diferentes teores de adição do resíduo (0%,
10% e 15%). Depois de moldados e submetidos ao processo de cura os corpos de prova foram
submetidos ao ensaio de resistência a compressão simples, para que se pudesse analisar o efeito da
adição do resíduo sobre as propriedades mecânicas da argamassa.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados nesta pesquisa foram:


 Resíduo da serragem do granito: o resíduo de granito utilizado no desenvolvimento deste
projeto foi proveniente da indústria GRANFUJI situada no distrito industrial de Campina
Grande-PB, apresentando maior percentagem da fração argila (D<2μm), e menor diâmetro
médio de partículas, sendo esses valores de 9,94% e 20,53μm respectivamente, constituído
basicamente de sílica (62%), Al2O3 (16%), CaO (5%) e Fe2O3 (5%), elevados teores de K2O,
Na2O e MgO; mineralogicamente as fases presentes na resíduo são: mica, feldspatos,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

quartzo, caulinita, fases típicas de rochas graníticas, quanto ao comportamento térmico, o


resíduo apresenta a seguintes transformações: pico exotérmico com máximo em 175,51ºC
correspondente à presença de água livre e adsorvida no material; pico endotérmico por volta
de 578,04°C referente à transformação do quartzo α em quartzo β e pico exotérmico em
709,76°C relacionado à presença de hidroxilas da mica (Figura 1).

Figura 1: Resíduo de granito. Fonte: Autoria Própria

 Agregado graúdo: Brita de origem granítica, apresentando diâmetro máximo padronizado


para brita 0, apresentando massa específica seca de 2,63g/cm3 , massa específica na
condição sss de 2,64 g/cm3, massa específica aparente igual a 2,67g/cm3, finura de 6,19 e
diâmetro máximo 6,3mm.

 Agregado miúdo: O agregado miúdo, utilizado na pesquisa, foi do tipo natural proveniente
de jazida do leito do Rio Paraíba, apresentando diâmetro máximo de 2,36mm, finura igual a
2,42%, massa específica de 2,618g/cm3, massa unitária solta igual a 1,429g/cm3, e teor de
materiais pulverulentos de 0,07%.

 Cimento Portland CPII F32: O cimento Portland foi obtido no comercio local do município
de Santa Rita-PB, apresentando massa específica igual a 2,91 g/cm3 e finura igual 2,84%.

 Água: água utilizada para consumo humano, fornecida pela Companhia de Águas e Esgotos
da Paraíba – CAGEPA.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A Figura 2 apresenta o fluxograma das etapas realizadas na pesquisa.

Fonte: Autoria Própria.

Na primeira etapa da pesquisa foram realizados os ensaios de caracterização para os


agregados, para o resíduo de granito e para o cimento. Na segunda etapa, após a caracterização dos
materiais, foi realizada a dosagem com os traços: 1:2,54:2,64:0,55, com substituição do cimento por
resíduo de granito nos teores de 10% e 15%. Foram moldados corpos de prova cilíndricos, de
diâmetro de 15 cm e altura de 30 cm, Em seguida, na terceira etapa, a determinação da resistência à
compressão simples do concreto (fcc) foi realizada de acordo com o procedimento do método de
ensaio da ABNT NBR 5739:2007, rompendo-se os corpos de prova nas idades de 7, 14, 21 e 28
dias.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Determinação da resistência do concreto


A Figura 7 ilustra a evolução da resistência à compressão simples do concreto de referência
(0%) e do concreto com teores de 10% e 15% de resíduo de granito.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

30
28 Cref

26 CRG10
24,533
CRG15 23,233
24 22,094 24,375
22 22,689
20 21,393 21,982
17,508
18 19,894
16,563 19,14
16
14
15,519
12
10
7 dias 14 dias 21 dias 28 dias

Figura 7: Evolução da resistência do concreto de referência e do concreto com teores de 10% e 15%
de resíduo de granito

De acordo com os resultados apresentados, verifica-se a substituição do cimento por resíduo


de granito proporcionou a redução da resistência do concreto quando comparado aos resultados
obtidos para o concreto de referência. Observou-se que os maiores percentuais de redução da
resistência foram verificados para o teor de 15% de resíduo de granito em substituição ao cimento,
evidenciando que quanto maior o teor de substituição menor será a resistência do concreto. Assim,
pode-se inferir que houve falta de interação química entre o resíduo de granito e a pasta de cimento,
ocasionando a redução da resistência mecânica do concreto. Para o teor de substituição de 10%
verificou-se uma pequena redução da resistência, obtendo-se resultado de resistência muito próximo
aos obtidos para o concreto de referência. No entanto, os valores obtidos satisfazem os parâmetros
estabelecidos pela norma da ABNT NBR 5739 (ABNT 2007).
Nascimento et al., 2015, estudou a resistência a compressão simples do concreto com
substituição parcial do cimento por Politereftalato de etileno micronizado e obteve resultados
semelhantes. Verificando que, quanto maior o teor de substituição do cimento por Politereftalato de
etileno menores os valores de resistência à compressão simples.
Desta forma, observa-se que a utilização do resíduo de granito como material alternativo
para produção de concreto permite obter propriedades que atem as parâmetros normativos, desta
forma é possível utilizar os teores de 10% e 15% de resíduo de granito para produção de concreto,
reduzindo o impacto ambiental, o volume de descarte no meio ambiente, e a extração de matéria-
prima convencional, além de agregar valor a um material indesejável.
O resíduo quando disposto no solo causa sérios danos a paisagem local, além de provocar
graves problemas de saúde, contribuindo para a destruição da fauna , da flora , bem como para o
surgimento de problemas respiratórios em seres humanos.

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CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos, pôde concluir que:


 O resíduo o resíduo de granito apresenta em sua composição basicamente de sílica (62%),
Al2O3 (16%), CaO (5%) e Fe2O3 (5%), elevados teores de K2O, Na2O e MgO.
 Os agregados apresentam propriedades satisfatórias para uso em concreto;
 Para o cimento verificou-se que apresenta massa específica de 2,91g/cm3 e finura de 2,84%;
 A substituição do cimento por resíduo de granito provocou redução da resistência à
compressão simples quando comparado os resultados obtidos para o concreto de referência,
verificando-se que o teor de substituição de 15% apresentou os menores resultados de
resistência, evidenciando que quanto maior o teor de substituição menor será a resistência à
compressão simples, no entanto, os valores obtidos satisfazem os parâmetros estabelecidos
pela norma da ABNT NBR 5739 (ABNT 2007).

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5739 – Concreto – ensaio de


compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.

______. NBR 9776: Determinação da massa especifica de agregados miúdos por meio do frasco de
Chapman. Rio de Janeiro, 1987.

______. NBR 7219: Determinação do teor de materiais pulverulentos nos agregados. Rio de
Janeiro, 1982.

______.NBR 7251: Agregados no estado solto – Determinação da massa unitária. Rio de Janeiro,
1982.

______. NBR 11579: Cimento Portland Comum – Determinação do modulo de finura. Rio de
Janeiro, 2012.

______. NBR 5739 – Concreto – ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de
Janeiro, 2007.

AGUIAR, M. C. Utilização de resíduo de serragem de rocha ornamental com tecnologia de fio


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Fluminense, Campos dos Goytacazes, 2012.

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AKBULUT, H.; GÜRER, C.; CETIN, S.; ELMACI, A. Investigation of using granite sludge as
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BARROS, P.G.S. Avaliação das propriedades de durabilidade do concreto auto adensável obtido
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de Alagoas, Maceió, 2008.

Freire, L.C., Castro, N.F. e Vidal, F.W.H. (2013). Aproveitamento dos resíduos de lavra e
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MANHÃES, J. P. V. T.; HOLANDA, J. N. F. (2008) Caracterização e classificação de resíduo


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 46


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A CONTABILIDADE AMBIENTAL: INSTRUMENTO DE AUXÍLIO NA


GESTÃO DE UM RESTAURANTE NA CIDADE DE AREIAL

Cicleide da SILVA
Graduada em Ciências Contábeis da FAC-CG
cicleidedasilva@yahoo.com.br
Magna Sueli Clemente BARROS
Professora Orientadora Mestre em Ciências Contábeis da FAC-CG
magna.sueli.br@hotmail.com
Danilo de Oliveira ALEIXO
Professor Doutor em Recursos Naturais da FAC-CG
daaleixo@uol.com.br

RESUMO
Esta pesquisa tem por finalidade alertar em proprietários de restaurantes a importância que tem um
bom gerenciamento ambiental, pois os resíduos de suas atividades resultam em uma parcela
significativa de poluentes para o meio ambiente. Os dados foram coletados em restaurante,
localizado na cidade de Areial/Paraíba, por meio de entrevista, utilizando questionário aplicado
junto ao proprietário ou gestor do estabelecimento, destaca-se as vantagens e os meios estratégicos
de gerir os custos desses estabelecimentos. Sua fundamentação teórica foi construída com base na
contabilidade ambiental, ativo ambiental, passivo ambiental, receita e despesas ambientais, custo
ambiental, gestão ambiental, sustentabilidade. A metodologia que foi usada para a realização deste
trabalho é caracterizada como sendo descritiva e de natureza qualitativa, composta por um
questionário com 16 (dezesseis) perguntas, sendo questões abertas e de múltiplas escolhas, como:
tipos de embalagens utilizadas, o que é feito com as sobras e o resto das refeições, como é
descartado o óleo de fritura. Percebe-se que a maior limitação para que a contabilidade ambiental
seja aplicada no restaurante é a falta do conhecimento do gestor na busca de soluções viáveis e de
baixo custo, o qual poderá ajuda-lo em sua contabilidade. E observou-se que a pós-produção é a
maior origem do descarte da matéria-prima. O proprietário mostra-se insatisfeito por não haver
coleta seletiva do lixo, a maneira correta de descartar o óleo de fritura. Foram sugeridas algumas
propostas como: utilização de talos, folhas de vegetais em novas receitas, instalação de placas para
captação de energia solar, reaproveitamento da água, criação de horta suspensa.
Palavras Chave: Contabilidade Ambiental, Ativos e Passivos Ambientais, Resíduos Orgânicos.
ABSTRACT
The purpose of this research is to alert restaurant owners to the importance of good environmental
management, since waste from their activities results in a significant portion of pollutants to the
environment. The data were collected in a restaurant, located in the city of Areial/Paraíba, using an
interview questionnaire applied to the owner or manager of the establishment, highlighting the
advantages and strategic means of managing the costs of these establishments. Its theoretical basis
was built based on environmental accounting, environmental assets, environmental liabilities,
environmental revenues and expenses, environmental cost, environmental management,
sustainability. The methodology that was used to carry out this work is characterized as being
descriptive and of a qualitative nature, composed of a questionnaire with 16 questions, being open
questions and multiple choices, such as: types of packaging used, what is done With the leftovers
and the rest of the meals, as the frying oil is discarded. It is noticed that the biggest limitation for
environmental accounting to be applied in the restaurant is the manager's lack of knowledge in the
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

search for viable and low cost solutions, which can help him in his accounting. And it was observed
that the post-production is the major origin of the discard of the raw material. The owner is
dissatisfied that there is no selective garbage collection, the correct way to discard the frying oil.
Some proposals were suggested: use of stalks, leaves of vegetables in new recipes, installation of
plates to capture solar energy, reuse of water, creation of suspended garden.
Keywords: Environmental Accounting, Environmental Assets and Liabilities, Organic Waste.

INTRODUÇÃO

A contabilidade tem como objetivo o patrimônio da empresa que é representado pelo


conjunto de bens, direitos e obrigações da mesma. Percebe-se que as instituições estão cada vez
mais buscando informações a respeito das questões ambientais, o que faz com que a contabilidade
ambiental cresça levado pelo interesse por parte da população.
A questão da preservação do meio ambiente tornou-se uma necessidade não apenas por uma
opção levada pela escassez dos recursos naturais, mas principalmente por uma necessidade da
preservação humana. Baseado nestas questões surgiu a Contabilidade Ambiental que tem como
intuito colaborar para a proteção dos recursos naturais e também a necessidade de conhecer a área
contábil ambiental conscientizando-se da importância do meio ambiente.
Embora muitas empresas ainda não utilizem a contabilidade ambiental para descrever suas
informações ambientais, é preciso que tais empresas entendam que a informação faz o diferencial e
que as mesmas adaptem-se aos padrões de responsabilidade ambiental, pois os usuários e
investidores estão cada vez mais procurando informações a respeito das empresas, principalmente
daquelas que dizem ter algum tipo de responsabilidade ambiental.
Através de um sistema de contabilidade ambiental é possível detectar áreas que precisam de
análises em aspectos ambientais, pois pode ajudar as instituições a entender melhor e pôr em prática
a legislação ambiental vigente.
Este estudo tem como justificativa entender o que é feito com os resíduos em restaurantes,
bem como mostrar que pequenas ações poderão ajudar as instituições a entender melhor e cumprir a
legislação ambiental vigente.
Baseado nessa problemática surge o problema a ser abordado, saber como a contabilidade
ambiental pode servir de instrumento de auxilio na gestão de um restaurante na cidade de Areial?
E apresenta como objetivos:
- Mostrar que contribuições a contabilidade ambiental poderá trazer para a empresa;
- Evidenciar como pequenas atitudes poderão ajudar a gerir melhor a organização;
- Analisar a utilização de como os meios de reciclagem pode ajudar a diminuir custos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Contabilidade

Entende-se por contabilidade o meio pelo quais pode-se através de suas técnicas fornecer
informações aos usuários que possibilite a tomada de decisão, seja econômica ou financeira e tais
informações deverão ser encontradas no balanço patrimonial, na apresentação do resultado do
exercício, entre outros. A contabilidade apresenta-se como uma ciência, que das condições de
registrar e administrar todo o patrimônio da empresa. A contabilidade não tem simplesmente o
objetivo de auxiliar investidores ou administradores, mas poderá através de suas ramificações
auxiliarem diversas áreas para atingir inúmeras finalidades.
Para Ribeiro (2006) contabilidade é uma ciência que tem como missão reconhecer, calcular
e comunicar os recursos destinados pela instituição, além de acontecimentos econômicos que
influência ou poderá influenciar a organização com a finalidade de atender as obrigações e ajudar
na tomada de decisão.
Aos usuários da contabilidade sejam eles diretores de empresas, investidores, gerentes de
bancos ou o governo, as demonstrações contábeis deverão ter clareza e ser úteis. Além de fornecer
informações outra finalidade que tem a contabilidade e ter o controle do patrimônio da empresa.
Como cita Tinoco e Kraemer (2008) a contabilidade tem como objetivo um sistema de estimação,
observação e publicação direcionado em usuários da informação, destina-se ao fornecimento com
demonstrações contábeis entre outros meios de transparência e permite a análise de natureza física,
ambiental, social, financeira, econômica e de produtividade da empresa.

Contabilidade Ambiental

Percebe-se um interesse cada vez maior por parte da sociedade por questões ambientais, o
que faz com que as organizações sintam-se na obrigação de buscar informações a respeito de tais
questões.
De acordo com Costa (2012) a contabilidade ambiental é estabelecida como a verificação do
patrimônio ambiental, bens, direitos e obrigações ambientais e tem como propósito oferecer aos
usuários informações de acontecimentos ambientais que podem causar alterações em sua conjuntura
patrimonial e como realizar seu reconhecimento, verificação e divulgação com clareza.
Com isso, nota-se que a contabilidade ambiental não é uma mudança para a contabilidade e
sim uma especialização da contabilidade já conhecida, porém com inúmeras dificuldades a ser
enfrentada principalmente no tocante a divulgar e calcular ativos e passivos ambientais. O que faz
que a contabilidade ambiental seja pouca utilizada nas empresas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A contabilidade ambiental pretende relacionar as ações das empresas com conexão ao meio
ambiente e se essas ações afetam positivamente ou negativamente a empresa.
O profissional de contabilidade deverá auxiliar os gestores na tomada de decisão, porém
através da contabilidade ambiental o contador poderá identificar riscos como também orientar a
futuros investimentos.
A contabilidade ambiental é de grande importância, porém pouco conhecida por se tratar do
meio ambiente. A empresa em sua maioria usufrui de recursos naturais, porém é preciso um
equilíbrio da atividade econômica e utilização do recurso natural. Para isso surgiu a contabilidade
ambiental a qual pode ajudar na preservação ambiental e sobrevivência. Através dos pontos de
desempenho da contabilidade ambiental é autorizado demonstrar e mensurar os componentes
ambientais.
A contabilidade ambiental tem por finalidade guiar aos seus usuários como registrar seus
gastos e investimentos em relação ao meio ambiente. Levando em conta que os recursos naturais
têm um final e que não podem ser desperdiçados, percebe-se que é crescente a apreensão com o
meio ambiente. Tendo em vista uma maior cobrança dos usuários para com as empresas no que se
declara ter compromisso ambiental e através da contabilidade ambiental investidores e usuários
podem ter o conhecimento necessário para ajuda-los no processo de tomada de decisão.

Ativo Ambiental

Ativo ambiental são bens obtidos pela empresa que tenha como utilidade a preservação, o
controle e a melhoria do meio ambiente. Para Iudicibus (2008) o ativo ambiental, é compreendido
como todos os bens e direitos de propriedade e controle da empresa, que são avaliáveis em dinheiro
e que representam benefícios presentes ou futuros.
Os ativos ambientais podem estar no capital circulante ou capital fixo, com características
diferentes de uma empresa para outra, mas em se tratar de uma prestação de serviços ambientais
será classificada como crédito, como por exemplo pode-se citar: reflorestamento, reciclagem, etc.
Segundo Costa (2012) os ativos ambientais que decorem de investimentos em área
ambiental, deverão estar classificados em títulos específicos de forma adequada para identificar os
estoques ambientais.
Ativos ambientais são bens empregados na produção, é composto por tudo que a
organização tem para a preservação, proteção ou recuperação ambiental, suas características não são
iguais entre as organizações e tem como finalidade conservar o meio ambiente.

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Passivo Ambiental

Passivo seriam todas as obrigações da empresa, sejam elas de curto ou longo prazo. Já o
passivo ambiental seria os gastos que a organização teria em relação à agressão ao meio ambiente,
justamente esse valor a ser pago para a recuperação desses danos causados a natureza. De acordo
com o IBRACON (1996) o passivo ambiental pode ser definido como toda agressão praticada ao
meio ambiente e consiste no valor de investimento necessário para reabilita-lo bem como multas e
indenizações em potencial.
Os passivos ambientais são formados de investimentos que visam amenizar danos causados
à natureza, seja em multas ou indenizações que a empresa venha a pagar, causados por degradação
ambiental.
Assim como o passivo. O passivo ambiental é dividido em capital particular e capital de
terceiros e constituem as origens dos recursos da organização, é importante que o passivo ambiental
seja estimado com segurança.
Ribeiro (2010) define passivo ambiental como: benefícios econômicos que serão
sacrificados para conservar, defender e resgatar o meio ambiente, levados por questões de conduta
inadequada em conexão ao meio ambiente.
O passivo ambiental atingi os direitos econômicos ou os efeitos que serão investidos na
obrigação de conservar, defender e resgatar o meio ambiente. O objetivo do passivo ambiental é
fazer com que as empresas demonstrem seus gastos que serão efetuados para o cumprimento com as
obrigações ambientais.

Receita Ambiental

Muitas organizações aumentam seus lucros por se mostrarem preocupados com o meio
ambiente, pois muitos consumidores preferem adquirir produtos de empresas que adotam políticas
ambientais.
Para Tinoco e Kraemer (2004) as empresas que investirem no meio ambiente em seu
processo produtivo, causando uma redução no impacto ambiental, a tendência será melhorar seu
desempenho financeiro e social.
Segundo Tinoco e Kraemer (2008) as receitas ambientais são decorrentes de:
 Prestação de atividades exclusivas em gestão ambiental;
 Venda de produtos fabricados de restos de matéria-prima do processamento
produtivo;
 Venda de produtos reciclados;
 Receita do proveito de gazes e calor;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Redução do consumo de matérias-primas;


 Redução do consumo de energia;
 Redução do consumo de água;
 Atuação na receita total da empresa que se identifica como sendo justa a sua pratica
consciente para com o meio ambiente.
Para gerar receitas ambientais as empresas deverão levar em consideração a introdução de
receitas de maneira correta em desenvolvimento com uma prática administrativa consciente. Como
por exemplo, vender produtos que foram produzidos baseados em restos de insumos de
procedimentos produtivos.
As receitas ambientais podem ser estabelecidas como sendo valores retornados ou
recuperação de investimentos que a empresa fez voltados ao meio ambiente. Essas receitas provem
de ações sociais prudentes, como exemplo: venda ou reaproveitar os restos de insumos que não irão
ser mais utilizados.

Despesas Ambientais

Despesas ambientais são os gastos indiretos aplicados à produção ou em atividades


ecológicas.
Junior (2008) Despesas ambientais tem como objetivo, verificar se atende as normas de
acordo com os padrões e legislação ambiental, com o uso de instrumentos como auditoria
ambiental, restauração de áreas contaminadas.
Costa (2012) classifica como despesas ambientais:
• Todos os gastos confrontados com as políticas internas de proteção ambiental, como
cartilhas, cartazes, folders e outros;
• Remuneração e obrigação do pessoal empregado na área de políticas internas de proteção
ambiental;
• Todos os desembolsos ligados com capacitação na área ambiental como: horas-aula do
instrutor e compra do material para o uso de expediente;
• Aquisição de equipamentos de proteção ambiental;
• Gasto com desvalorização do material efetivo utilizado pela administração na área
ambiental;
• Gasto com recompensa ambiental; gasto com restauração ambiental; qualquer tipo de
prejuízo ambiental;
• Despesas com auditoria ambiental; e
• Despesas com penalidades e compensações ambientais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As despesas ambientais decorrem dos recursos consumidos de maneira que bens ou serviços,
sejam produzidos durante determinado período com a finalidade de gerar receitas.
Custos Ambientais
Custos ambientais são gastos diretos ou indiretos com a proteção, preservação e prevenção
do meio ambiente e serão estimulados em atribuição de sua vida útil.
Distribuição de custos diretos ou indiretos de acordo com Ferreira (2006):
• Diretos: são aqueles cujos acontecimentos causadores abalam o meio ambiente e cujo
embate pode ser inteiramente apontado a uma prática poluidora ou renovadora acontecida
em área física sob o dever da organização da entidade contábil. Exemplo: custos referentes à
produção ou armazenagem;
• Indiretos: são os acontecimentos causados que abalam o meio ambiente cujo embate não
pode ser exatamente apontado a uma ação poluidora ou renovadora acontecida em área
física sob o dever da empresa. Exemplo: custos relativos ao consumo, como aerossóis, uso
de bateria de telefones celulares.
Os custos ambientais são gastos investidos diretamente na produção ou em atividades que a
empresa desenvolva para preservar o meio ambiente.

Gestão Ambiental

Com o aumento da preocupação com o meio ambiental as empresas começaram a


administrar suas atividades econômicas com o intuito de minimizar os efeitos negativos provocados
ao meio ambiente. Para isso a gestão ambiental pode colaborar com as organizações preocupadas
com o meio ambiente, pois promoverá ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.
Para atingir tal finalidade foi criado um certificado definido de acordo com padrões
internacionais, com o intuito de elaborar normas que determine diretrizes a serem seguidos pelas
empresas para a preservação do meio ambiente, chamada de ISO 14000 (International Organization
for Standardization). Embora mesmo com a criação da ISO poucas empresas utilizem-se da
contabilidade como suporte à gestão ambiental.
A gestão ambiental é um componente do método que busca ativar a absorção pessoal ou
global para questões ambientais e colabore com o crescimento da compreensão e o julgamento de
atitudes competentes com questões ambientais e garanta a informação acessível. A gestão ambiental
deverá dar suporte ao gestor para restringir, suprimir a degradação ambiental que gera percas
econômicas com garantia do acesso a informação na busca da preservação ambiental.
Sistema de Gestão Ambiental (SGA)
A gestão ambiental tem como base a introdução de um sistema de gestão ambiental (SGA).
Por meio deste sistema pode-se obter informações da relação da empresa para com o meio

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiente, assegurando acatar as exigências de leis ambientais com responsabilidade, o qual


demonstra seu compromisso com o meio ambiente.
Para ser eficiente o SGA é necessário analisar, registrar, coletar informações, através de
documentos que irão ajudar na tomada de decisão.
De acordo com Donaire (1999) apud Braga (2007) atualmente o modo mais apropriado de
determinar um sistema de gestão ambiental é observar às Normas 14001 e 14004 da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). A ISO 14004, comunicar as instruções e os elementos
de um Sistema de Gestão Ambiental e cita como exemplo:
- Comprometimento e política;
- Planejamento;
- Implementação;
- Análise crítica e melhoria.

Sustentabilidade

A sustentabilidade tem origem na biologia no que se refere a recuperação e reprodução dos


seres vivos. E na economia refere-se ao aumento da produção e do consumo.
Lenzi (2006) cita que o desenvolvimento sustentável é o crescimento que atende as
obrigações atuais sem prejudicar a qualidade de gerações no futuro, em ser suficiente para sua
necessidade própria.
Para Veiga (2008) é possível viver melhor produzindo e consumindo menos. Segundo
Latouche (1986) o jeito é a introdução de novos princípios, hábitos, fuga da moda, do momentâneo,
para trocar por uma elaboração que dure, ou seja, novos padrões de consumo.
Entende-se por sustentabilidade ações e atividades desenvolvidas por seres humanos que
tem como finalidade suprir as necessidades dos mesmos, mas sem comprometer as gerações futuras,
não agredindo ao meio ambiente e utilizar de forma inteligente o patrimônio natural. Como cita
Ribeiro (2005) desenvolvimento sustentável corresponde à satisfação das necessidades sociais, sem
o comprometer as gerações futuras.
O social refere-se à redução da pobreza, da fome, a consumir bens que não sejam
prejudiciais, de maneira geral buscar a justiça social. O econômico trata-se de diminuir ou sair do
ciclo de fontes fosseis como: carvão, petróleo e gás. O ambiental defini-se como produzir e
consumir de maneira que garanta a capacidade de recuperar o ecossistema.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada junto a um restaurante da cidade de Areial/Paraíba, realizada


durante o mês de outubro de 2016. Contendo questões como: saber qual é o maior principio de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desfazer-se de matéria-prima, se os funcionários reaproveitam ao máximo a matéria-prima como


talos e folhas de vegetais. Como são planejadas as quantidades das refeições para evitar o
desperdício, o que é feito com as sobras das refeições, se há o reaproveitamento dessas sobras e
como é realizado. Como também sobre o que é feito com os que permaneceram no prato do cliente
e quais os alimentos que mais restam nos pratos dos clientes. Se é praticável a doação do que não se
reaproveita. Qual o volume de descarte dos resíduos orgânicos diário, que tipo de embalagem é
utilizado e qual a quantidade utilizada por mês, qual a quantidade de óleo é usado por semana. E se
há alguma preocupação por parte do gestor ou proprietário com o meio ambiente.
O estudo também se classifica como sendo um estudo de caso por ter sido aplicado em
apenas um restaurante. E teve como intuito mostrar que a contabilidade ambiental pode ajudar ao
restaurante buscando meios de gerar receitas ambientais por meios de reciclagem, utilização de
resíduos e diminuir despesas através da reutilização da água como também preservar o meio
ambiente.

RESULTADOS

No estudo, observou-se que o maior descarte de matéria-prima é pós-produção, o que leva a


um maior desperdício e, assim gerando um grande volume de resíduos orgânicos.
Durante a entrevista, o proprietário relatou que o restante da comida, referente às sobras das
refeições é doada para criação de animais juntamente com o óleo usado na fritura, que é misturado
ao restante desses alimentos, e para tanto, poderia ser filtrado e armazenado para que pudesse ser
doado ou vendido para reutilização, principalmente no processo de fabricação de sabão, levando
assim a práticas mais sustentáveis, no que se refere ao descarte do resíduo.
Quando indagado se há uma preocupação com a degradação ambiental e algum tipo de ação,
o gestor relatou que há sim uma preocupação com relação ao meio ambiente, porém não se tem
nenhuma ação concreta por parte do proprietário e seus funcionários com a degradação do meio
ambiente, e o mesmo se mostrou preocupado e relatou que no seu município ainda não há política
de coleta seletiva do lixo e a população carece de maiores informações acerca de práticas
adequadas.
Pode-se observar, que o restaurante não possui de uma equipe com maior grau de
qualificação para o preparo das refeições de forma mais saudável, inclusive utilizando melhor os
alimentos, utilizando-se de talos, folha de vegetais e sementes na criação de novas receitas,
ajudando assim, a minimizar o desperdício de alimentos, e não destinando diretamente para que seja
transformado em adubo orgânico. Uma maneira de aproveitar todo alimento no processo seria a na
manipulação correta dos mesmos, bem como, adquirindo maior grau de consciência acerca dos
valores nutricionais dos alimentos a serem utilizados, haja vista que o investimento financeiro,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

proporcionará além de minimizar os custos para elaboração dos pratos, também oferecer aos
clientes pratos mais saudáveis e nutritivos.
Para tanto, observou-se também que o restaurante estudado não possui um sistema de gestão
ambiental e que a instalação de um SGA adaptado ao porte e aos padrões financeiros do
estabelecimento, poderiam ajudar ao gestor a ter mais controle da gestão ambiental e um retorno
financeiro, proporcionando, como conseguinte, práticas sócio-ambientais mais sustentáveis que
poderão agregar valor à marca do empreendimento, em tempos de rápidas e bruscas mudanças
globais e ambiente altamente competitivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da contabilidade ambiental pode-se ter a avaliação e a demonstração do patrimônio


ambiental da empresa e assim oferecer informações aos seus usuários que os ajudaria na tomada de
decisão, como também preservar o meio ambiente.
Constata-se que, atualmente a responsabilidade com o meio ambiente alcança todos os
segmentos da sociedade, porém através do segmento de restaurantes pode-se buscar práticas mais
sustentáveis para ajudar o meio ambiente.
O estudo foi baseado em saber como a Contabilidade Ambiental pode servir de instrumento
de auxilio na gestão de restaurante na cidade de Areial/Paraíba que nele mostrou que o gestor do
restaurante estudado não conhece meios de como a contabilidade ambiental poderá ajuda-lo e que
por falta do conhecimento há um desperdício de insumos que poderia tornar as receitas mais
nutritivas e saudáveis para os seus clientes, levando assim o estabelecimento a agregar valor à
marca.
Considera-se também, o fato da cidade por ser de pequeno porte e que de acordo com os
dados coletados, não serem tão expressivos em comparação a restaurantes de maior porte em
cidades de médio e grande porte do estado da Paraíba. O estudo não se considera concluído por ter
sido aplicado em apenas um restaurante foco, ficando a sugestão para ser aplicado em outros
restaurantes em cidades de médio e grande porte na Paraíba, e assim, se obter novos dados para
serem estudados e mostrar que a contabilidade ambiental pode sim ser uma ferramenta eficaz
ajudando a gestores e proprietários de restaurantes a práticas sócio-ambientais mais sustentáveis,
inclusive instalando placas para captação de energia solar, reaproveitamento da água e criação de
horta suspensa.
Sugere-se fazer um trabalho de conscientização para toda equipe que faz parte do restaurante
no tocante a destinação correta dos resíduos orgânicos, pois a equipe carece também de maior
conscientização acerca das responsabilidades sócio-ambientais dos empreendimentos e práticas
mais sustentáveis.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS
BRAGA, Célia (Organizadora). Vários autores. Contabilidade ambiental: ferramenta para gestão
da sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2007.

COSTA, C. A. G. Contabilidade ambiental: Contabilidade da gestão ambiental. São Paulo. Atlas,


2012.

FERREIRA, A. C. S. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento


sustentável – inclui certificados de carbono. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2006.

IBRACON. Normas e procedimentos de auditoria. NPA 11. Balanço e Ecologia. 1996. Disponível
em: HTTPS://www.ibracon.com.br Acesso em: 10/05/2016.

IUDICIBUS, S. Análise de balanços: a análise da liquidez e do endividamento, a análise do giro, a


análise da rentabilidade, a análise da alavancagem financeira. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

JUNIOR, Orlando V. de Castro. Custos e Despesas ambientais na atividade industrial: Uma


proposta de classificação para fins gerenciais. Universidade Federal do Ceará, 2008.

LATOUCHE, S. Faut-il refuser le développement, Paris: PUF, 1986.

LENZI, C. L. Sociologia ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. São Paulo:


Anpocs/Edusc, 2006.

RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade ambiental. São Paulo: Saraiva, 2005.

RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006.

RIBEIRO, M. S. Contabilidade ambiental. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

TINOCO, J, E. P. & KRAEMER, M. E. P. (2004). Contabilidade e Gestão Ambiental. São Paulo:


Atlas.

TINOCO, João. E. P. KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e Gestão Ambiental. 2.


ed. São Paulo: Atlas, 2008.

VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3.ed. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS


NA CIDADE DE POÇO DANTAS - PB

Claudineide Baltazar da SILVA


Mestranda em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
cbs.claudineide@yahoo.com.br
Jamilton Costa PEREIRA
Mestrando em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
jcp_jamiltoncosta@hotmail.com
Maria do Socorro Duarte PINTO
Mestranda em Sistemas Agroindústrias – CCTA/UFCG
socorropd@hotmail.com
Jardel de Freitas SOARES
Doutor em Recursos Naturais – CTRN/UFCG. Professor – CCJS/UFCG

RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo, diagnosticar a gestão dos resíduos sólidos urbanos na cidade
de Poço Dantas- PB. Os resultados preliminares demonstram que a área utilizada para disposição
dos resíduos vem passando por um acentuado processo de degradação ambiental. Percebeu-se que a
zona urbana do município encontra-se suscetível a impactos socioambientais com a destinação
inadequada dos Resíduos Sólidos Urbanos. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa básica
caracterizada quanto aos objetivos como descritiva, com uma abordagem qualitativa e um estudo de
campo Para tanto foi utilizado coleta de dados junto aos documentos oficiais da prefeitura
municipal. Considera-se de grande relevância colocar em discussão essa temática que mesmo sendo
recorrente, é ainda abordada de maneira fragmentada Dessa forma. Espera-se que o
desenvolvimento desta proposta venha fornecer subsídios para a ampliação de projetos e nos
processos de tomada de decisões relativos às políticas públicas para esse campo no município de
Poço Dantas-PB.
Palavras chave: Resíduos sólidos, Gestão pública, Impactos socioambientais.
ABSTRACT
The objective of this work is to evaluate the management of solid urban waste and its potential
social and environmental impacts in the city of Poço Dantas - PB. Preliminary results show that the
area used for waste disposal has undergone a marked process of environmental degradation. It was
noticed that the urban area of the municipality is susceptible to socio-environmental impacts with
the inadequate destination of Urban Solid Waste. As for the methodology, this is a basic research
characterized by the objectives as descriptive, with a qualitative approach and a field study. For this
purpose, data collection was used along with the official documents of the city hall. It is considered
of great relevance to put in discussion this theme that even being recurrent, is still approached in a
fragmented way. It is hoped that the development of this proposal will provide subsidies for the
expansion of projects and in the decision-making processes related to public policies for this field in
the municipality of Poço Dantas-PB.
Keywords: Solid waste, Public administration, Social and environmental impacts.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A geração de resíduos é proveniente das múltiplas atividades do ser humano e faz parte da
própria história da humanidade, sua destinação inadequada é um dos grandes desafios da atualidade
e os impactos ocasionados afetam os aspectos sociais, econômicos, ecológicos entre outros. Sendo
assim determinados fatores influenciam diretamente na origem e no aumento desses resíduos,
destacam-se em eles: O nível de renda familiar, a industrialização, o crescimento populacional e os
hábitos da população além do estímulo ao consumo.
Durante muito tempo a palavra lixo foi empregada como sinônimo de resíduos sólidos.
Entretanto há uma concepção distinta, os resíduos sólidos são reconhecidos como materiais que
podem ser reutilizados ou reciclados e, portanto, constituem um bem dotado de valor econômico
que pode motivar trabalho e geração de renda. O lixo, por sua vez, representa os materiais que são
avaliados como inúteis e sem condições de aproveitamento denominado de rejeito.
Trata-se de uma temática que apenas recentemente passou a ser a discutida com uma maior
atenção, destacando-se a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecida
pela lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, que apresenta os princípios, objetivos e instrumentos
referentes à gestão e ao gerenciamento de resíduos sólidos, distribuindo às responsabilidades para
os causadores, poder público e aos demais órgãos e entidades, lançando a proibição do descarte de
resíduos a céu aberto. Pois os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) podem ser denominados como os
vários materiais originários das atividades antrópicas e naturais, envolvem também os resíduos
domiciliares e de limpeza urbana, podendo ser parcialmente ou totalmente aproveitados e cuja
destinação e disposição final demanda procedimentos adequados. No entanto algumas medidas são
capazes de minimizar os impactos socioambientais sejam elas de modo preventivo ou de correção.
Trata-se de uma temática que apenas recentemente passou a ser a discutida com uma maior
atenção, destacando-se a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecida
pela lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, que apresenta os princípios, objetivos e instrumentos
referentes à gestão e ao gerenciamento de resíduos sólidos, distribuindo às responsabilidades para
os causadores, poder público e aos demais órgãos e entidades, lançando a proibição do descarte de
resíduos a céu aberto.
Um dos problemas mais inquietantes da contemporaneidade está relacionado aos impactos
negativos ocasionados pela disposição final dos RSU diretamente no solo, denominado de lixão e
que ocorre na grande maioria das cidades. Sendo considerado um problema de saúde pública tendo
em vista, as consequências das doenças adquiridas por meio de vetores, bem como o derramamento
do chorume altamente nocivo a saúde e meio ambiente e ainda por acarretar a contaminação dos
corpos d‘água entre outros.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A zona urbana do município de Poço Dantas-PB encontra-se suscetível a prováveis


impactos, tendo em vista que os seus resíduos são dispostos a céu aberto. Sendo assim, procurar-se-
á responder ao seguinte questionamento: Qual o diagnóstico da gestão dos resíduos sólidos Urbanos
da cidade de Poço Dantas-PB? Ante essa problemática, este trabalho apresenta uma abordagem
sobre a gestão dos resíduos sólidos urbanos e a análise dos potenciais impactos socioambientais
resultantes da sua disposição inadequada desses resíduos, além de indicar medidas para uma
adequada gestão e de mitigação dos impactos negativos.
As discussões que envolvem a gestão dos RSU necessariamente são decisões que demandam
a vinculação entre políticas sociais e ambientais. Espera-se que o desenvolvimento desta proposta
venha fornecer subsídios para a ampliação de projetos e nos processos de tomada de decisões
relativos às políticas públicas para esse campo no município de Poço Dantas-PB.
Algumas soluções para a problemática transcorrem pela educação ambiental, de uma
adequada gestão, estímulo à redução de resíduos e da sensibilização da população. Ao final dessa
pesquisa espera-se que contribuir com recomendações de medidas para uma adequada gestão dos
RSU, possibilidade de mudar um quadro crítico de agressão ao meio social e ambiental no
município de Poço Dantas- PB. Dessa forma, objetivou-se com esse estudo, diagnosticar a gestão
dos resíduos sólidos urbanos na cidade de Poço Dantas- PB.
Quanto à metodologia adotada, trata-se de uma pesquisa básica caracterizada quanto aos
objetivos como descritiva, com uma abordagem qualitativa e de procedimento, um estudo de
campo. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados entrevistas direcionadas aos
gestores municipais e as famílias residentes nas proximidades da área de localização do lixão.

A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS)

O desenvolvimento urbano aliado ao progresso tecnológico tem contribuído com um


aumento de quantidade e de novas composições dos resíduos, neste sentido, Iamamoto (2014, p.50)
cita que, ―[...] a natureza dá lugar ao espaço produzido [...]‖ demandando a obrigação de preocupar-
se com a gestão e gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) de modo adequado, tendo
em vista os problemas ocasionados ao meio ambiente e social.
É imprescindível que se entenda que os recursos naturais são finitos. Para tanto o
desenvolvimento sustentável deve ser economicamente viável, que se tenha lucro, mas que inclua
socialmente e que respeite, sobretudo, o meio ambiente. Incontestavelmente, o discurso do
desenvolvimento sustentável se ajusta em um intenso convite ético (SILVA, 2010).
A Constituição Federal de 1988 no caput do artigo 225 assegura que todos têm o direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado e que ao Estado e à coletividade compete a defesa do
mesmo e de preservação para os presentes e futuras gerações. E que assim sendo é dever de cada

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cidadão, e do Estado zelar pela proteção do meio ambiente, evitando que ele seja violentado
(BRASIL, 1998).
De igual modo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela lei de n.º
12.305/2010, regulamentada pelo Decreto de nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010, complementa
um vazio na legislação, resultado de anos de discussão com os diversos setores e instituições, a
PNRS simboliza um extraordinário progresso quanto às diretrizes para o manejo dos resíduos
sólidos.
A PNRS estabelece responsabilidades em varias dimensões, tanto para o poder público, para
entidades e a sociedade, com o intento de adaptação e contribuição com um desenvolvimento de
forma equilibrada. Mais a frente das questões ambientais, a lei igualmente progrediu no aspecto
social, incluindo os catadores nas ações de responsabilidade pelo ciclo vida dos produtos.
Ao mesmo tempo estão contidos na Politica diversos conceitos e definições como, por
exemplo, o de gerenciamento de resíduos sólidos, coleta seletiva, reciclagem, disposição final e
destinação final ambientalmente adequada, e em seu artigo 4º podemos encontrar o sentido da Lei:

Art. 4º A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos,


instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em
regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com
vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos
sólidos. (BRASIL, 2010).

Além disso, faz uma alusão em seu art. 9º, quanto à gestão e gerenciamento dos resíduos,
enfatizando em ordem de prioridade: a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento
dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Com o objetivo de reduzir os impactos ao meio ambiente proveniente de uma sociedade
consumista, onde vários materiais são jogados fora sem a preocupação da reutilização. A Lei
também em seu artigo 47 proíbe a destinação desses resíduos diretamente no solo a exemplo da
criação de lixões dentre outros.
Como principais bases legais sobre a temática dos resíduos sólidos no Brasil, temos a
Constituição Federal, PNRS, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Política Nacional de Saneamento Básico
(PNSB). A PNRS une-se ainda a Política Nacional do Meio Ambiente, Política de Saneamento
Básico e a Política Nacional de Educação Ambiental.
Em tempo que se estende aos municípios as responsabilidades de gestão dos seus resíduos.
Para tanto, é exigido à instituição dos sistemas municipais de informações, elaboração dos planos de
gestão integrada dos resíduos sólidos além do encerramento dos lixões. A institucionalização da
mesma assinala aberturas para o enfrentamento dessa questão, destacando a inclusão social e o
esboço de políticas de articulação com os aspectos social, econômico ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ficando acordado que a gestão local dos resíduos sólidos é de competência do município. E
que a estes caberão implantar os instrumentos definidos na PNRS. De modo especial a elaboração
dos Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Que deverá contemplar os conteúdos mínimos
postos pela política além de considerar o disposto no Plano Nacional e nos Planos Estadual, sem
esquecer-se de considerar as particularidades de cada município. Bem como a Implantação dos
Sistemas Municipais de Informações (SMI) de gestão dos resíduos. Destaca-se ainda que o acesso
aos recursos para os projetos, em especial de saneamento básico passa a ser condicionada a
apresentação dos planos municipais de resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
Apesar da existência de um marco legal, com a sanção da PNRS no ano de 2010, com todas
as metas e propósitos para o planejamento e gestão dos resíduos sólidos no Brasil estendendo-se aos
municípios, ainda fica evidente, que a citada Política não tem sido implementada e efetivada nas
três esferas, muito embora seja de responsabilidade do poder público e um direito da sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diagnóstico da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Poço Dantas - PB

O Planejamento é um instrumento de trabalho muito importante na gestão pública. Trata-se


de um processo continuo e dinâmico. O mesmo possibilita a tomada de decisões e o
desenvolvimento de atividades com maior efeito. Sendo assim é possível entender que a gestão dos
resíduos expõe muitos desafios e que são merecedores de atenção exclusiva dos gestores públicos.
Deste modo para o manejo dos resíduos sólidos de uma cidade se fazem necessários o planejamento
e o envolvimento de diversos atores, como: órgãos do poder público municipal, estadual e federal,
agentes privados e a população em geral.
As ações de gestão e planejamento para o manejo dos resíduos deve ter como finalidade a
implementação da PNRS. Contudo, a nova perspectiva pautada pela PNRS traz consigo inúmera
novas responsabilidades para todos os atores envolvidos com a gestão dos resíduos sólidos nos
municípios, inclusive para o município de Poço Dantas. Já segundo diagnóstico do Plano
Municipal, atualmente a equipe gerencial responsável pela gestão dos resíduos sólidos na cidade de
Poço Dantas- PB é a Secretaria de Obras e Serviços Municipais.
A perspectiva no município, assim como os demais municípios brasileiros, é de acréscimo
na geração de resíduos, decorrente do aumento de anormalidades e dificuldade de destinação de
resíduos em aterros. São problemas que terão que ser resolvidos com brevidade, apesar de sua
complexidade, são exigências estabelecidas na legislação federal.
Conforme dados colocados através do Plano de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos do
Estado da Paraíba, 91% dos municípios paraibanos dispõem seus resíduos de modo inadequado em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

terreno a céu aberto (PARAIBA, 2015. p.61). Ainda de acordo com as informações postas pelo
Plano Municipal de Resíduos Sólidos, o município de Poço Dantas gera mais 0,8t/dia de RSD
Secos, em todo território, não é possível cumprir o dever público com a universalização do manejo
adequado destes resíduos por meio de catadores, visto que não existem catadores no município
(POÇO DANTAS, 2012).
A coleta dos resíduos sólidos urbanos é administrada e executada pela Prefeitura Municipal,
por meio de uma caçamba. Sendo realizada em dias alternados (2ª, 4ª e 6ª feira) na sede da cidade e
duas vezes por semana nos distritos e em seguida é conduzido para o lixão. A maior geração de
resíduos úmidos se dá nos domicílios. Em Poço Dantas são cerca de 1.248 domicílios, segundo
dados do IBGE no Censo 2010. Um fator a ser considerado em Poço Dantas e em demais cidades
da região é o reaproveitamento dos resíduos úmidos na alimentação de animais.
Ainda de acordo com as informações postas pelo PMGIRS, o município de Poço Dantas
gera mais 0,8t/dia de RSD Secos, em todo território, não é possível cumprir o dever público com a
universalização do manejo adequado destes resíduos por meio de catadores, visto que não existem
catadores no município (POÇO DANTAS, 2012). Sendo assim, a figura abaixo apresenta o perfil
dos resíduos sólidos do município de Poço Dantas- PB, extraída do PMGIRS.

Figura 01. Perfil dos resíduos sólidos – Poço Dantas - PB


FONTE: PMGIRS de Poço Dantas/PB, (2012)

Os Resíduos sólidos domiciliares secos são parte muito significativa na geração de resíduos
domiciliares em Poço Dantas, diagnosticados como 35,42% do total coletado. Além do grande
percentual de geração eles representam um segmento de resíduos muito valorizado e que atualmente
movimenta toda uma cadeia produtiva baseada na reciclagem. Ainda conforme os dados das
planilhas de sondagens do estudo gravimétrico postos no PMGIRS, os resíduos sólidos que são
depositados no lixão são compostos em média de 58,18% de matéria inerte e apenas 41,82% são
compostos de resíduos sólidos residenciais (POÇO DANTAS, 2012).
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 63
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Pode-se observar que de 100 % dos resíduos coletados, apenas uma pequena parcela de 3% é
considerado rejeito e deve ir para o aterro. O restante dos resíduos têm a reciclagem ou a
reutilização como procedimentos ambientalmente adequados para sua destinação. Por outro lado,
dados levantados em diversas localidades e confirmados no Diagnóstico em Poço Dantas mostram
que resíduos da construção civil têm uma participação importante no conjunto dos resíduos
produzidos (POÇO DANTAS, 2012).
A Resolução CONAMA, 2002, apresenta a definição: de resíduos da construção civil como
os ―provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os
resultantes da preparação e da escavação de terrenos‖. (CONAMA, 2002). Tais dados mostram,
também, que a ausência de gerenciamento adequado para tais resíduos está na origem de graves
problemas ambientais, sobretudo em cidades com processo mais dinâmico de expansão ou
renovação urbana, como Poço Dantas, o que demonstra a necessidade de consolidar a implantação
de políticas públicas especificamente voltadas para estes resíduos.
A área utilizada para disposição final dos resíduos é de propriedade do município fica
localizado nas proximidades da rodovia federal 434 e ocupa uma área de aproximadamente 0,3738
hectares. Apresenta as seguintes coordenadas geográficas: 6º 24`30.63´´ S, 38º 29º`46.42``O.

Figura 02- Localização do lixão da cidade de Poço Dantas– PB


FONTE: Adaptado de Google Earth (2017)

Os lixões exibem particularidades que dependem especialmente do tamanho do município e


das caraterísticas dos resíduos dispostos. Logo, a reabilitação ou recuperação dessas áreas são
processos com vários níveis de complexidade.
Da análise dos resultados da pesquisa pode-se inferir que os moradores de Poço Dantas
discordam que os resíduos sólidos do município têm uma disposição inadequada, concordam que a
reciclagem e coleta seletiva poderia ser o início para uma adequada destinação. Acreditam que a
comunidade poderia solucionar a problemática da gestão inadequada dos RSU e que sua má
destinação causa danos à saúde da população.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A realização da pesquisa oportunizou maior aproximação entre o problema em questão: a


disposição final dos resíduos sólidos e a população e ainda observando o local onde são depositados
os resíduos. Conforme figura abaixo que mostra o cenário atual.

B
Figura 03- Cenário do lixão Poço Dantas - PB
FONTE: Dados do Autor (2017)

Na visita realizada foi possível verificar diversos impactos ambientais e bem como impactos
sociais, incidido no solo, no ar, na água, na fauna e flora, direta ou indiretamente relacionadas ao
lixão. Dessa forma, na análise realizada foi possível verificar e destacar diversos impactos

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ambientais e bem como impactos sociais, sendo destacados pelos entrevistados: Liberação de gases
e odores, desprendimento de fumaça e emanação de gases, poluição das águas superficiais e
subterrâneas, degradação superficial do solo, desvalorização de áreas do entorno e do próprio local
de disposição e surgimento e proliferação de animais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atual conjuntura do país, no que se refere aos resíduos sólidos, apresenta-se como um
grande desafio. Isso não só nos grandes centros urbanos, mas nos municípios pequenos, como é o
caso de Poço Dantas- PB, onde o problema também existe.
O estudo aqui exposto diagnosticou a gestão dos resíduos sólidos urbanos na cidade de poço
Dantas - PB. A partir disso, confirma-se que a área utilizada para disposição dos resíduos vem
passando por um acentuado processo de degradação ambiental. Percebeu-se que esse município,
apresenta dificuldades quanto à gestão de resíduos sólidos, uma vez que os resultados encontrados
indicam que os RSU, estão sendo abordados com morosidade pelo poder público, com falta de
planejamento incentivo à reciclagem e coleta seletiva e descumprimento da legislação.
Para tanto faz-se necessário medidas mitigadoras para que os impactos negativos ao solo,
recursos hídricos, ar atmosférico, flora, fauna e antrópico entre outros sejam minimizados ou
sanados. Todavia sugere-se também a elaboração de um Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRAD).
O mencionado plano deve ser elaborado por uma equipe de profissionais multidisciplinar,
compreendendo os custos e cronograma para prática das medidas de recuperação ou reabilitação do
espaço. Sendo fundamental a sensibilização dos gestores municipais e da sociedade quanto à
importância da construção e especialmente da implementação do PRAD.
Não se teve aqui a pretensão de exaurir a discussão acerca da temática, contudo desejou-se
contribuir para a compreensão e inspiração de outras análises alusivas ao tema. O mesmo merece
algumas observações e apresentou algumas limitações. Tendo em vista que a pesquisa apresenta as
características dentro de uma realidade local, pois se pesquisou apenas a zona urbana, não sendo
possível fazer uma análise mais ampla da gestão como um todo e de sua implementação em nível de
município.
Nas entrelinhas desse trabalho, foi possível observar que a política de resíduos sólidos não
conseguiu atingir sua plenitude e o grande desafio ainda é a destinação ambientalmente adequada.
Percebe-se que há ainda muito a ser feito. Não foi alçando de fato uma política pública de resíduos
sólidos eficaz, tendo em vista que os projetos, programas e ações relacionados à temática têm sido
desenvolvidos de forma minimalista e focalizados.

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REFERÊNCIAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-8419- Apresentação de projetos de


aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/61140879/NBR-8419-NB-843-Apresentacao-de-Projetos-de-Aterros-
Sanitarios-de-Residuos-Solidos-Urbanos>. Acesso em: 30 jul.2017.

NBR 10.004-Resíduos Sólidos – Classificação. Disponível em: <


http://www.abetre.org.br/biblioteca/publicacoes/publicacoes-abetre/classificacao-de-residuos>.
Acesso em: 30 jul.2017.

NBR 129.80-Coleta, varrição e acondicionamento de resíduos sólidos urbanos. Disponível em:


<.http://licenciadorambiental.com.br/wp-content/uploads/2015/01/NBR-12.980-Coleta-
varri%C3%A7%C3%A3o-e-acondicionamento-de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos-
urbanos.pdf>.Acesso em: 30 set.2017.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1998). 32 ed. Brasília: Senado Federal,
2010.

Lei 12.305 de 12 de agosto de 2010: Que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.
Aceso em: 01 jun. 2017.

Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins
e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil/L6938.htm>. Acesso em: 12 jul. 2017.
Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de
2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da
Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas
de Logística Reversa. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7404.htm>. Acesso em: 12 jul.2017.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Indicadores, população e resultados do censo


2010. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br /xtras/perfil.php?
lang=&codmun=251203&search= paraiba|poco-dantas>. Acesso em 01 jul. 2017.

IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e


questão social. – 8. Ed. – São Paulo: Cortez, 2014.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 67


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESOLUÇÃO CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e


diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Publicada no DOU, de 17 de fevereiro
de 1986. Disponível em:<
http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_1986_001.pdf>.
Acesso em: 13 jul. 2017.

Nº 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos
resíduos da construção civil. Publicada DOU 17 de 07de 2002. Disponível em:<
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>. Acesso em: 30 jul. 2017.

PARAÍBA. Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado da Paraíba; União, 2015.

POÇO DANTAS: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos: RealmiX -


Gerenciamento de Resíduos. Brasil. 2012.

SILVA, Maria das Graças. Questão Ambiental e de desenvolvimento sustentável: um desafio ético-
politico ao serviço social. São Paulo: Cortez, 2010.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 68


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL DE RESTAURANTES DE ARACAJU/SE

Fernanda de Souza STINGELIN


Engenheira Sanitarista e Ambiental / UFS
f.stingelin@hotmail.com.br
Glauber Vinícius Pinto de BARROS
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/UFS
glauber.barros@hotmail.com
Jocimar Coutinho RODRIGUES JUNIOR
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/UFS
jocimar_junior@hotmail.com
Elen Naiara Fernandes MACHADO
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/UFS
nai-fernandes@hotmail.com

RESUMO
Os resíduos sólidos gerados pela atividade humana é uma das grandes preocupações ambientais na
atualidade. Estes resíduos quando descartados de forma inadequada em aterros ficam em contato
direto com o solo e totalmente expostos, prejudicando diretamente o meio ambiente e a própria
população, pois produz em sua decomposição um líquido tóxico (chorume) que contamina o solo,
podendo atingir os lençóis freáticos. Os restaurantes geram diversos tipos de resíduos e a sua correta
separação é relevante para diminuir a quantidade de resíduos recicláveis nos aterros. Outro fator
importante é a economia de água e energia nesse tipo de estabelecimento, tanto para contribuir com
uma diminuição de efluentes gerados e todos os impactos ambientais dessas atividades quanto para
a economia financeira relevante a estes itens. Diante disto a gestão ambiental nestes
empreendimentos é de fundamental importância, visando reduzir custos e riscos associados à
geração de resíduos sólidos, utilização de recursos naturais e impactos ao meio ambiente. Neste
trabalho foi analisada a gestão ambiental em restaurantes na cidade de Aracaju e percebeu-se a
grande necessidade por trás da implementação desta gestão nesses estabelecimentos, que é a
educação ambiental em todos os níveis hierárquicos dos empreendimentos.
Palavras chaves: Gestão Ambiental, Restaurantes, Educação Ambiental, Resíduos.
ABSTRACT
Solid waste generated by human activity is one of the major environmental concerns today. These
residues when improperly discarded in landfills are in direct contact with the soil and are totally
exposed, directly damaging the environment and the population itself, as it produces a toxic liquid
(slurry) that contaminates the soil and can reach the sheets Groundwater. Restaurants generate
various types of waste and their correct separation is relevant to reducing the amount of recyclable
waste in landfills. Another important factor is the saving of water and energy in this type of
establishment, both to contribute to a decrease of generated effluents and all environmental impacts
of these activities as well as to the financial savings relevant to these items. In view of this,
environmental management in these projects is of fundamental importance, aiming to reduce costs
and risks associated with the generation of solid waste, use of natural resources and impacts on the
environment. In this work the environmental management in restaurants in the city of Aracaju was
analyzed and the great need behind the implementation of this management in these establishments,
that is the environmental education in all the hierarchical levels of the enterprises was perceived.
Keywords: Environmental Management, Restaurants, Environmental Education, Waste.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 69


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos gerados pela atividade humana é uma das grandes preocupações
ambientais na atualidade. Estes resíduos quando descartados de forma inadequada em aterros ficam
em contato direto com o solo e totalmente expostos, prejudicando diretamente o meio ambiente e a
própria população, pois produz em sua decomposição um líquido tóxico (chorume) que contamina o
solo, podendo atingir os lençóis freáticos. Há também, a produção de gás inflamável (metano), que
polui o ar e contribui diretamente para o aumento do efeito estufa no planeta (FARIA, 2015).
Apesar desses fatos, ainda não existe efetivamente um compromisso com o equilíbrio entre
o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente. Este assunto tornou-se foco de
discussões em todo o mundo a partir do momento que a sociedade (governos e organizações)
começou a pensar cada vez mais na busca pelo desenvolvimento sustentável, preocupando-se mais
com a saúde e segurança de seus trabalhadores, bem como sua responsabilidade social e ética
perante a comunidade em que se inserem. Sobretudo ao grau de importância em que o
gerenciamento dos patrimônios naturais passou a ser diretamente relacionado à conservação da
qualidade de vida. (STRINGHINI, 2010)
Existe um grande vínculo entre o setor alimentício e o desenvolvimento sustentável, tanto no
ponto de vista econômico quanto nos fatores ambientais. A relação entre um restaurante e os
impactos ambientais exercidos por sua atividade, está além de ocorrer somente na fase de
manipulação do alimento, mas sim desde sua produção, até o consumo, estocagem e desperdício,
assim como nas diversas formas de energias necessárias em uma cozinha. O desperdício de água e
energia além de impactar o meio ambiente, eleva os custos do estabelecimento de forma
considerável (STRINGHINI, 2010).
Por conseguinte, esses fatores têm proporcionado uma produção de grandes quantidades de
resíduos sólidos (desperdícios) e utilização de recursos naturais, muitas vezes sem políticas efetivas
que contemplem um gerenciamento adequado do estabelecimento no que tange a sustentabilidade.
Isto posto, as técnicas de gestão da qualidade devem visar a empresa como um todo. Assim,
com uma visão global da empresa, ela tende a conquistar melhores resultados, gerando reflexos
positivos para toda a organização, em termos de ganhos de produtividade ou minimização de perdas
e desperdícios. Estas técnicas devem empregar melhor os recursos da empresa, tanto tangíveis
(mão-de-obra, materiais e equipamentos) como intangíveis (energia, tempo, espaço, métodos de
trabalho ou influência ambiental) (STRINGHINI, 2010).
Uma forma de acompanhar a gestão da qualidade é a utilização da Produção Mais Limpa
(PML), que é uma estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos e produtos, a
fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração,
minimização ou reciclagem dos resíduos e emissões geradas, com benefícios ambientais, de saúde
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 70
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ocupacional e econômicos (CNTL, 2003).


As Tecnologias Limpas servem de ferramenta importante na alavancagem das empresas
como: acesso a novos mercados (uma vez que há aumento de produtividade), conservação de
energia e recursos naturais, redução de perdas e desperdícios. Ao contrário do que as empresas
sinalizavam antigamente, a rentabilidade de um empreendimento e a gestão ambiental não são ações
excludentes, uma vez que as empresas que apresentam controles mais efetivos têm seus custos
reduzidos pelo consumo racional de matérias-primas, energia, redução da geração de resíduos, o
que leva diretamente a um ganho na produtividade (PORTO, 2009).
Assim, o gerenciamento dos resíduos sólidos de restaurantes é de fundamental importância
para a qualidade de vida de uma comunidade, bem como para o desenvolvimento sustentável da
sociedade, pois, gerenciados de maneira adequada os resíduos sólidos podem proporcionar
benefícios sociais, econômicos e ambientais, bem como evitar consequências negativas originadas
pela falta do mesmo. E a utilização de métodos que visam diminuir o uso de água e energia no
estabelecimento, além de ser uma economia financeira para empreendimento, reduz a quantidade de
efluentes gerados (SOARES, 2006).
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo realizar uma análise da gestão ambiental
em restaurantes da capital de Sergipe, Aracaju, que possui um grande potencial econômico voltado
à área de turismo, em virtude de seu belo litoral e belezas naturais, apresentando um grande
destaque na gastronomia, rica em frutos do mar, e consequentemente na variedade de restaurantes
na cidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a coleta de dados foi realizado um levantamento quantitativo e qualitativo nos


restaurantes da cidade de Aracaju. Para isso foi aplicado um questionário nesses estabelecimentos
envolvendo questões sobre resíduos, água e energia. Foi realizada uma busca em buscas de sites de
entretenimento, onde foi feita uma seleção de 50 restaurantes para aplicação do questionário, mas
apenas 32 foram respondidos por motivos diversos. A Figura 1 ilustra a localização dos restaurantes
na cidade, sendo possível notar a diversidade de locais e proximidade com locais turísticos, como a
orla da cidade.
O questionário aplicado buscou averiguar questões envolvendo a gestão de resíduos e
administração dos estabelecimentos, no tocante a preocupação de desperdício de água e energia.
Assim, a partir desse levantamento foram elaborados gráficos para melhor ilustração dos resultados
obtidos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1. Restaurantes selecionados para a aplicação do questionário

Fonte: Google Earth, 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a aplicação do questionário em restaurantes de Aracaju, foram obtidos diversos dados


referentes à gestão e funcionamentos dos mesmos. Com isso, foram gerados gráficos revelando
informações acerca do gerenciamento dos estabelecimentos e sobre questões ligadas à separação de
resíduos e ocorrência de procedimentos para reduzir o desperdício de água e energia.
A Figura 2 apresenta a quantidade de restaurantes amostrados que fazem a separação dos
resíduos. Percebe-se que 41% deles não realizam a separação de resíduos.
Os estabelecimentos gastronômicos produzem grande variedade de alimentos, gerando
assim, muito resíduo orgânico. Com a realização da separação de resíduos possivelmente se teria
melhor conhecimento acerca da quantidade de alimentos que são desperdiçados e,
consequentemente, poderiam ser tomadas medidas para reduzir este fato.
A Figura 3 revela a quantidade de restaurantes que geram óleo de fritura, onde é possível
perceber que 50% deles possuem este resíduo oleoso. Destes 50% todos fazem a destinação final
correta, sendo o resíduo encaminhado para empresas que o utilizam para fabricação de sabão.

Figura 2: Porcentagem de restaurantes amostrados que fazem a separação de resíduos.

41%
59%
Sim
Não

Fonte: Os autores.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3: Porcentagem de restaurantes que geram óleo de frituras.

50%
50%
Sim

Não

Fonte: Os autores.

Com relação ao desperdício de água nos restaurantes, foi analisado se há algum


procedimento para reduzir esta questão e de acordo com a Figura 4 constata-se que apenas 34% dos
empreendimentos realizam tais procedimentos. Destes 34%, somente em 18% foi constatada uma
redução perceptível, a grande maioria (82%) não soube informar se houve uma redução na conta
após a implantação de procedimentos para reduzir o desperdício de água, apresentado na Figura 5, o
que demonstra uma falta de gestão nos restaurantes e interesse na economia deste recurso, diante
dos benefícios proporcionados por tal ato.
Com relação à economia de energia, foi constatado, como mostra a Figura 6, que metade dos
restaurantes amostrados fazem procedimentos que visam à redução do desperdício deste recurso, e
81% deles constataram uma diminuição na conta de energia, após a implantação do procedimento,
como é ilustrado na Figura 7.
Mas é perceptível que muitos dos estabelecimentos não possui um acompanhamentos dos
parâmetros analisados nos questionários comprovando falta de gestão ambiental.

Figura 4: Porcentagem de restaurantes que utilizam procedimentos para evitar o desperdício de água.

34%
Sim
66%
Não

Fonte: Os autores.

Figura 5: Porcentagem de restaurantes com percepção de economia na conta de água.

0% Sim
18%
Não
82%
Não Sabe

Fonte: Os autores.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Fonte 6: Porcentagem de restaurantes que utilizam procedimentos para evitar o desperdício de


energia.

50% 50% Sim

Não

Fonte: Os autores.

Figura 7: Porcentagem de restaurantes com percepção de economia na conta de energia.

13%
6%
Sim

81% Não

Não Sabe

Fonte: Os autores.

CONCLUSÕES

A partir do exposto, foi possível averiguar que a gestão ambiental de restaurantes na cidade
de Aracaju ainda é precária ou inexistente. Assim é necessário um maior comprometimento da
sociedade, ao cobrar resultados, e do empreendedor, visando tanto economia financeira quanto o
aumento da quantidade de resíduos recicláveis e consequente diminuição de resíduos nos aterros
sanitários.
Um dos principais obstáculos percebidos nos ambientes analisados é o fator cultural. A
grande maioria dos funcionários não possuem conhecimentos mais aprofundados sobre preservação
ambiental e qualidade de vida no trabalho, apresentando uma aversão ao novo e uma grande falta de
comprometimento.
É de extrema importância idealizar que as mudanças são essenciais para a permanência do
empreendimento no mercado e essas mudanças devem ser acompanhadas de palestras de educação
ambiental, que é essencial para que haja a mudança de maus hábitos dos funcionários em relação ao
desperdício de água, energia, a não separação dos resíduos e a correta separação dos mesmos. Os
empreendedores também necessitam se aprofundar mais nas questões ambientais e nas soluções que
as técnicas como a Produção Mais Limpa pode ajudar no empreendimento, visando essa mudança
comportamental dos envolvidos direta ou indiretamente nos processos dos restaurantes.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

CNTL (Centro Nacional de Tecnologias Limpas). Implementação de Programas de Produção mais


Limpa. SENAI Rio Grande do Sul, 2003.

FARIA, A. B.; FERNANDES, J. G. Proposta de gerenciamento de resíduos sólidos para o


restaurante Dom Gourmet, com base na identificação da composição gravimétrica. Simpósio de
Excelência em Gestão e Tecnologia, 2015.

GOOGLE EARTH. Google Earth Maps. Disponível em < http://earth.google.com/>, 2017.


PORTO, L. R.; QUEIROGA, A. F. F.; NÓBREGA, E. M. M. A.; ALMEIDA, P.; SILVA, T. C. B.
P.; Costa, I. A Produção Mais Limpa Aplicada ao Setor de Alimentação Fora do Lar da
Paraíba. 2nd International Workshop - Advances in Cleaner Production, 2009.

SOARES, J. P.; NETO SOARES, J. L. Caracterização e gerenciamento de resíduos orgânicos em


restaurantes: Estudo de caso em três restaurantes de Palmas-TO. 2005.

STRINGHINI, F. R. Adequação à produção mais limpa: Estudo de caso no restaurante O


Guardião do Embaú. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia de
Controle de Poluição Ambiental). Universidade do Sul de Santa Catarina, 2010.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE DURABILIDADE DE


MATERIAIS SOLIDIFICADOS CONTENDO RESÍDUOS SÓLIDOS DE
LABORATÓRIO

Fernanda Siqueira LIMA


Mestranda do Curso de Engenharia Química UFCG
fsl_nanda@hotmail.com
Sabrina Maia SOUSA
Graduanda em Engenharia Química UFCG
maia.sabrina17@gmail.com
André Luiz Fiquene de BRITO
Professor da UFCG
andre.fiquene@cnpq.pq.com.br
Ana Cristina S. MUNIZ
Professora da UFCG
anamuniz@deq.ufcg.edu.br

RESUMO
O presente trabalho realiza a modelagem e otimização com as melhores condições de durabilidade
dos materiais contendo resíduos sólidos de laboratório considerados perigosos (Classe I)
confeccionados pela tecnologia de estabilização por solidificação. Os fatores analisados para a
avaliação das melhores condições dos materiais foi a percentagem de resíduos presentes nos corpos
de prova e o tempo de cura, com o planejamento experimental realizado com ponto central
composto. Foram realizados os ensaios nas matrizes de cimento umidificação/secagem e capacidade
de absorção de água. Identificou-se que os materiais confeccionados com 20,42% de resíduos de
laboratório em sua composição mássica, com o tempo de cura de 24,25 dias são as condições
otimizadas dos materiais para as condições de durabilidade, visto que a análise de capacidade de
absorção de água foi o único ensaio em que seus resultados apresentaram diferença significativa.
Apesar de não haver diferença significativa, as análises umidificação/secagem apresentaram
resultados que assegura as boas condições de durabilidade, de acordo com a tecnologia de
estabilização por solidificação, para o descarte apropriado do material.
Palavras-chave: Estabilização. Solidificação. Absorção de Água.
ABSTRACT
The present work accomplishes the modeling and optimization with the best conditions of durability
of the materials containing laboratory solid waste considered hazardous (Class I) made by
solidification stabilization technology. The factors analyzed for the evaluation of the best conditions
of the materials were the residues percentage present in the specimens and the curing time, with the
experimental design performed with composite center point. The tests were carried out on the
humidification/drying cement matrices and the water absorption capacity. It was identified that the
materials made with 20.42% of laboratory residues in its mass composition, with the curing time of
24.25 days are the optimized materials conditions for the durability conditions, since the analysis of
the capacity was the only test in which its results showed a significant difference. Although there
was no significant difference, the humidification / drying analyzes presented results that ensure the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

good durability conditions, according to the solidification stabilization technology, for the
appropriate disposal of the material.
Keywords: Stabilization. Solidification. Water Absorption.

INTRODUÇÃO

Os resíduos químicos de laboratório gerados em quantidades consideráveis por atividades de


pesquisa e/ou ensino nas universidades, locais de excelência em formação de novos recursos
humanos, passaram a ser uma preocupação no Brasil a partir da década de 1990, face a falta de uma
gestão adequada para os mesmos que eram descartados sem critério algum. (MARINHO, 2011)
A partir da necessidade da aplicação de procedimentos eficazes que pudessem minimizar os
impactos ambientais gerados pela disposição incorreta desses materiais, iniciou-se a busca por
estratégias de tratamento com vistas a eliminaras características que classificam o resíduo como
perigoso (corrosividade, metais pesados em solução, reagentes orgânicos de elevada toxicidade e
etc.) ou então definir uma destinação final adequada a custos acessíveis. (MARINHO, 2011)
A técnica de tratamento de resíduos industriais por Estabilização por Solidificação (E/S)
antes de seu descarte é impulsionada pela necessidade de melhorar o manuseio do resíduo, prover
um material com alta resistência e durabilidade, bem como reduzir a mobilidade de poluentes no
solo por lixiviação e solubilização (BRITO et al. 2002) e gerar reflexos econômicos e sociais
positivos para a indústria geradora de resíduos.
O bom desempenho da tecnologia de estabilização por solidificação de resíduos sólidos
perigosos depende da análise dos parâmetros selecionados do processo. Os parâmetros considerados
como cruciais no processo é o percentual mássico de resíduos em matriz cimentícia e o tempo de
cura, que a partir da modelagem pode ser determinada as melhores condições de funcionamento e
alcançar a resposta otimizada.
A simulação e a otimização são ferramentas quantitativas para a tomada de decisões. Podem
gerar benefícios máximos nas operações, como maior rendimento de produtos valiosos ou a redução
de componentes indesejados, além da minimização de custos e um menor consumo de energia.
O presente trabalho apresenta a modelagem e a otimização das análises de durabilidade dos
materiais solidificados contendo resíduos químicos de laboratórios de Ensino da Universidade, que
retém metais pesados e contaminantes classificados como Classe I (perigosos). Os resíduos sólidos
de laboratório foram incorporados numa matriz de cimento, sendo avaliada as suas condições de
durabilidade dos materiais a partir das análises de umidificação/secagem e capacidade de absorção
de água a partir dos experimentos realizados pelo planeamento experimental com ponto central
composto.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 77


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Gestão Ambiental e Tratamento de Resíduos


(LABGER) pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia Química (UAEQ) situada no Centro
de Ciências e Tecnologia (CCT) na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) na cidade de
Campina Grande, Paraíba, Brasil.
Foi adotado o planejamento fatorial bk com adição de quatro repetições no ponto central
(PtCt), onde o ponto central é a média aritmética dos níveis nos fatores, k representa o número de
fatores e b representa o número de níveis. Os fatores adotados foram: Percentagem mássica em
matriz cimentícia dos corpos de prova e o tempo de cura.
Para o fator de porcentagem da massa do resíduo em relação à massa do cimento, foram
usados os níveis 10% e 30% de resíduo sólido químico em matriz cimentícea, codificados com (-1)
e (+1), para níveis baixos e altos, respectivamente. Para o fator tempo de cura, foram usados os
níveis 7 e 28 dias, codificados nos níveis baixo (-1) e alto (+1), respectivamente.
Como o planejamento foi composto por 2 fatores e 4 pontos centrais, foram realizados 8
experimentos sem repetições, exceto no PtCt.
Para que fosse possível a realização de todas as análises que verificassem a durabilidade dos
materiais, foi necessários confeccionar 1 corpo de prova para cada experimento. Logo, foram
confeccionados 16 corpos de provas. Na

Tabela 1 é apresentada a matriz de planejamento:

Tabela 1 - Matriz de planejamento fatorial com adição de três pontos centrais


Fator 1 Fator 2 Fator 1 Fator 2 Resposta
Exp.
(Percentagem) (Tempo de Cura) (Real) (Real)
Exp1 -1 -1 10% 7 dias Y1
Exp2 +1 -1 30% 7 dias Y2
Exp3 -1 +1 10% 28 dias Y3
Exp4 +1 +1 30% 28 dias Y4
Exp5 0 0 20% 17,5 dias Y5
Exp6 0 0 20% 17,5 dias Y6
Exp7 0 0 20% 17,5 dias Y7
Exp8 0 0 20% 17,5 dias Y7
LEGENDA - VR: Variável resposta; y: Resposta do experimento. Fonte: Elaborada pelo autor, 2017.

Após a preparação dos corpos de prova foram realizados os ensaios de capacidade de


absorção de água (ABNT NBR 9.778) e umidificação e secagem (WTC, 1991), para avaliação dos
corpos de prova. Em seguida, realizou-se a analise estatística que visa verificar a validação do
modelo, obter as respostas e verificar se existem efeitos significativos entre as respostas médias dos
tratamentos, foi realizada a Análise de Variância (Analisys of Variance – ANOVA).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 78


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A regressão testa se os termos do modelo têm algum efeito na resposta, testa o linear, o
quadrático e a interação.
Para verificar a significância dos fatores em estudo foi aplicado o teste F com 5% de
significância, que separa a variabilidade dos dados devido aos tratamentos, da variabilidade dos
resíduos (erro ou variável ao acaso), sendo um teste para comparação das médias feito através da
ANOVA. É necessário comparar o valor de Fo calculado com o valor de F de Snedocodor tabelado.
Logo, podemos determinar os valores de Fo calculado a partir da Equação (1) e encontrar o
valor tabelado de F de Snedocodor a partir da equação (2):

QM Trat
FCalc  (1)
QM R

k  1(Grau.de.liberdade.do.numerador)
FTab 
n  k (Grau.de.liberdade.do.denomin ador) (2)

Se o valor de Fo calculado ≥ valor de F Tabelado (F de Snedocodor), as médias dos fatores


ou interação são diferentes, ou seja, houve efeito do fator e/ou interação e as variáveis controláveis
influenciaram na variável resposta. Caso contrário, implica dizer que não ocorreu efeito do fator
e/ou interação e as variáveis controláveis não influenciaram na variável resposta.

Modelagem: Planejamento Fatorial com Adição de Ponto Central

Quando a resposta foi modelada por uma função linear das variáveis independentes, a
função de aproximação foi de 1a ordem, de acordo com a Equação (3):
^

y 0  1x1   2 x2  ...   k xk   (3)

Nas regiões de experimentação próximas de pontos ótimos, o modelo de segunda ordem


também é tipicamente usado, como dado pela Equação(4):
(4)

Em que:
y: Variável resposta; ß0: Média geral modelo; ßi: Coeficiente do modelo ε:Erro experimental. ii:
representa o efeito quadrático.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 2 dispõe os resultados do ensaio de Umidificação e Secagem.


Tabela 2 - Resultados do ensaio de U/S
Exp. Tempo de Cura (dias) Resíduo (%) Perda da Massa (%)
1 7 10 1,71

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 79


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7 28 10 1,06
2 7 30 1,00
8 28 30 1,33
3 17,5 20 0,99
4 17,5 20 0,95
5 17,5 20 0,96
6 17,5 20 0,17
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

Para a análise de umidificação e secagem, quanto menor o valor do resultado, melhor será o
desempenho do material. Todos os experimentos obtiveram respostas que demonstram uma boa
durabilidade do material, havendo pouca perda de massa nos corpos de prova. Destaca-se os
resultados referentes aos pontos centrais, que tiveram menos de 1% de perda de massa, obtendo o
melhor desempenho quando comparado com os experimentos nos pontos fatoriais.
A Tabela 3 apresenta os resultados de capacidade de absorção de água.

Tabela 3 - Resultados do ensaio de CAA


Exp. Tempo de Cura (dias) Resíduo(%) Absorção (%)
1 7 10 9,96
2 28 10 7,02
3 7 30 11,21
4 28 30 6,81
5 17,5 20 7,15
6 17,5 20 7,53
7 17,5 20 7,34
8 17,5 20 7,15
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017

Os resultados de capacidade de absorção de água que obtiveram os menores valores foram


os materiais que apresentaram melhor desempenho e possuem melhor durabilidade. Logo, a partir
da Tabela 5, observa-se que os melhores valores foram aos corpos de provas com maior tempo de
cura de 28 dias, e aquele que possui maior percentagem mássica de resíduo em sua composição,
30%. Nota-se também que os resultados referentes às replicas dos pontos centrais se mantiveram
com pouca variação entre seus experimentos, todos na faixa de 7% de absorção de água.
Na Figura 2, determina-se a partir do gráfico de PARETO a magnitude de importância dos
efeitos das análisesde umidificação e secagem (I) e capacidade de absorção de água (II) dos
materiais estabilizados por solidificação. Observa-se o valor absoluto dos efeitos é uma linha de
referência t no gráfico que é o quartil (1 - α/2) de uma distribuição t com graus de liberdade iguais
aos graus de liberdade do termo de erro. O Minitab usa α = 0,05 por padrão.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 80


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Qualquer efeito que se estende para além desta linha de referência é potencialmente
importante (ou significante).

Figura 2- Gráfico de PARETO dos efeitos da análise de U/S e CAA

Legenda: α: Nível do teste; ST: Sólidos totais; RC: Resistência à compressão; U/S: Umidificação E secagem;
CAA: Capacidade de absorção de água.
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

Nota-se que os efeitos do gráfico da análise de umidificação e secagem (I) não se


estenderam além da linha de referência, mostrando que as variáveis não foram significantes ao nível
de 95% de confiança.
Para o gráfico de PARETO da análise de capacidade de absorção de água (II) houve
comportamento diferente, onde os efeitos individuais de tempo de cura e para a interação entre os
fatores se estenderam além da linha de referencia, em ordem de importância e magnitude ao nível
de significância de 95% de confiança, sendo considerados influentes na durabilidade dos materiais.
O modelo que melhor representa a variável resposta da capacidade de absorção de água é o
modelo representado pela Equação (5).
CAA (%) = 10,072 - 0,1052 Tempo - 0,0868(%)(5)
A Tabela 4 apresenta a ANOVA para as respostas do ensaio de capacidade de absorção das
matrizes cimentícias baseado nos resultados apresentados na Tabela 4

Tabela 4- Análise de Variância (ANOVA): Capacidade de Absorção de Água


Fonte de G.L % de Explicação das Soma Quadrado Valor de Valor de
Variação fontes Quadrática Médio F P
Modelo 4 99,47 % 18,5208 4,6302 139,92 0,001
Linear 2 73,79 % 13,7393 6,8697 207,59 0,001
Tempo de
Cura 1 72,33 % 13,4686 13,4689 407,02 0,000
Percentual de
8,17
Resíduo 1 1,45 % 0,2704 0,2704 0,065

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Interação dos
1 2,86% 0,5329 0,5329 16,10 0,028
fatores
Curvatura 1 22,82% 4,2486 4,2486 128,39 0,001

Erro 3 0,53% 0,0993 0,0331

Total 7 100% 18,6201


2
R = 98,76% R2max=99,47%
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

Na Tabela 4, 98,76% dos dados obtidos, experimentalmente, se ajustam ao modelo obtido.


O máximo que o modelo (Equação 5) pode explicar é 99,47%.
O efeito da curvatura foi significativo, ou seja, o modelo que melhor representa a absorção
de água, garantindo a boa durabilidade do material e que ele possua preferivelmente o modelo
Quadrático. Logo, é necessário expandir os pontos fatoriais, encontrando os pontos axiais e montar
o Planejamento Central Composto.
Sabendo que o F tabelado de Snedecor possui o valor de 10,126, percebemos que os valores
de F calculado pela ANOVA dos fatores de Tempo de Cura e a Interação entre os fatores são
maiores, havendo diferença significativa.
No PCC, supõe-se que as etapas que antecederam o planejamento foram:
 Fatorial (-1 e +1, com bk);
 PtCt (0, 0, 0 e 0 , com 04 pontos Centrais, m).
No Planejamento Composto Central, serão adicionados pontos axiais representados por: 2k.
Neste caso, o número de experimentos será igual à 2K + 2k + m ( também chamado de Planejamento
Estrela ou rotacionável). Sabendo que o número de fatores (k) é 2, e a adição de mais 4
experimentos na Matriz de Planejamento, totalizando 12 experimentos. Assim, na equação 6:
Y = f (x1,x2) + e (6)
Y: Variável Resposta; e: Erro ou resíduo; X1: Fator 1; X2: Fator 2; f: Função que define a superfície
de resposta.

Sabendo que α = ± 1,414, pode-se calcular os pontos axiais e obter a Tabela 5 com o Planejamento
Central Composto:

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 82


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Tabela 5 - Matriz de planejamento central composto


Experimento Fator 1 Fator 2 Fator 1 Fator 2 Resposta
(Tempo de Cura) (%) (Real) (Real)
Exp1 -1 -1 7 10% y1
Exp2 +1 -1 28 10% y2
Exp3 -1 +1 7 30% y3
Exp4 +1 +1 28 30% y4
Exp5 - 1,414 0 2,65 20% y5
Exp6 + 1,414 0 32,35 20% y6
Exp7 0 - 1,414 17,5 5,86% y7
Exp8 0 +1,414 17,5 34,15% y8
Exp9 0 0 17,5 20% y9
Exp10 0 0 17,5 20% y10
Exp11 0 0 17,5 20% y11
Exp12 0 0 17,5 20% y12
LEGENDA - VR: Variável resposta; y: Resposta do experimento.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2017.

Foram confeccionados novos corpos de prova com composições e tempo de cura


determinadas pelos pontos axiais. Em seguida foi realizada a análise de Capacidade de Absorção de
Água (CAA), obtendo os resultados conforme mostrado na Tabela 6:

Tabela 6 - Resultados do ensaio de CAA para os pontos Axiais


Exp. Tempo de Cura (dias) Resíduo(%) Absorção (%)
Exp5 2,65 20% 9,74%
Exp6 32,35 20% 8,50%
Exp7 17,5 5,86% 8,57%
Exp8 17,5 34,15% 8,74%
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017

A partir da análise estatística para as respostas das análises de capacidade de absorção de


água mostradas na Tabela 6, foi realizada a ANOVA obtendo os resultados conforme mostrado na
Tabela 7.

Tabela 7 - Análise de Variância (ANOVA): Capacidade de Absorção de Água


Fonte de Variação G.L % de Soma Quadrado Valor Valor de
Explicação das Quadrática Médio de F P
fontes
Modelo 5 80,87% 17,5477 3,5095 5,09 0,036
Linear 2 48,79% 10,5809 5,2904 7,679 0,022

Tempo 1 47,87% 10,3823 10,3823 15,05


0,008

Percentual 0,92% 0,1986 0,1986 0,29


1 0,611

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 83


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Tempo2 1 29,73% 4,9632 4,9632 7,19 0,036

Percentual2 1 22,89% 2,6884 2,6884 22,9 0,096

Interação dos 2,39%


1 0,5184 0,5184 0,75 0,419
fatores
Erro 6 19,09% 4,1393 0,6899
Falta de Ajuste 3 18,63% 0,0993 1,3467 40,70 0,006
Total 11 100% 21,6870
R2 = 80,87% R2max= 65,01%
Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017

Sabendo que o modelo foi significativo pelo fato do valor de P < 0,05, observamos também
que a falta de ajuste do modelo < 0,05, logo é necessário observar que a equação necessita de ajuste,
pode-se então realizar a modelagem da equação quadrática de acordo com os fatores de magnitude
ao nível de significância de 95%.
Assim, apenas os fatores tempo de cura e Tempo de Cura versus Tempo de Cura possui
significância na equação. A interação entre os fatores não apresentaram significância sob a variável
resposta. Sendo assim, o modelo que melhor representa a variável resposta da capacidade de
absorção de água é o modelo representado pela Equação 7.
(7)
CAA(%) = 7,293 -1,139 Tempo de Curta + 0,881 Tempo de Cura*Tempo de Cura
Observa-se na Tabela 7 que 80,87% dos dados obtidos, experimentalmente, se ajustam ao
modelo obtido para a análise de capacidade de absorção de água dos corpos de provas resultante do
processo de estabilização por solidificação pelo modelo quadrático. O máximo que o modelo da
Equação (7) pode explicar é 65,01%.
A Figura 3 mostra os efeitos significativos para a análise de capacidade de absorção de água
dos corpos de prova, mostrando os melhores resultados a partir da Equação (7).
Figura 3 - Gráfico de contorno para CAA

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 84


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Na Figura 3, a partir da modelagem, pode-se encontrar as curvas de contorno com as


respostas da análise de capacidade de absorção de água para os corpos de prova com resíduo sólido
químico que mostram que o melhor resultado encontra-se na região central do gráfico de contorno,
especificamente na região mais escura em que a absorção de água resulta em valores menores do
que 7%. O valor é obtido quando a composição mássica do resíduo varia entre 17% e 24% com o
tempo de cura entre 19 à 28 dias.
De acordo com os resultados da região de contorno do Gráfico 4que ilustra as extensão que
podemos encontrar os melhores resultados, foi estabelecido uma predição de novos valores dos
níveis dos fatores em torno do ponto ótimo, a fim de minimizar o valor da percentagem da absorção
de água, encontrando seu ponto ótimo, e com isso obter as melhores condições para a produção de
um material de boa durabilidade.
Portanto, encontramos um gráfico que nos disponibiliza a análise da Função de
Desejabilidade, conforme mostrado na Figura 4:

Figura 4 - Função de Desejabilidade

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017

A partir da análise da Figura 6, o valor desta função pode ser interpretado como excelente
pelo fato do valor da desejabilidade estar entre 1 < d < 0,8. O nível que podemos assegurar como o
valor ótimo para o tempo de cura é de 24,25 dias, enquanto que para o fator percentagem de
resíduos é de 20,42%, obtendo então a resposta ótima de 6,92% da capacidade de absorção de água
dos corpos de prova contendo resíduos sólidos de laboratório em sua composição mássica.

CONCLUSÃO

Todas as análises apresentaram resultados que indicam que as matrizes de cimento


apresentam boas condições de durabilidade de acordo com a tecnologia de estabilização por
solidificação, mas a única análise que apresentou diferença significativa entre os resultados foi a de
capacidade de absorção de água.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 85


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os valores ótimos obtidos para uma boa condição de durabilidade, dada a partir da análise
de capacidade de absorção de água, obtida a menor absorção de 6,92%, foi para as condições de
tempo de cura de 24,25 dias e percentagem de resíduos de 20,42%,

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 10.004: Resíduos Sólidos -


Classificação. CENWin, Versão Digital, ABNT NBR 10.004, 71p, 2004a.

BRITO, A.L.F de; MUNIZ, A. C. S.; LOPES, W. L; LEITE, V. D. PRASSAD. S. Processo de


Codisposição de Resíduos Sólidos de Curtume. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental.
Vol. 7 – n. 3 e 4, p.144-150, 2002.

MARINHO C. C., et. all.,Gerenciamento de Resíduos Químicos em um Laboratório de

Ensino e Pesquisa: A Experiência do Laboratório de Limnologia da UFRJ. Laboratório de


Limnologia, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, UniversidadeFederal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

MINITAB INC. STATISTICAL SOFTWARE–Data Analysis Software. Version 17,


2014.SPENCE, R. D.; SHI, C. Stabilization and solidification of hazardous, radioactive and
mixed wastes.Boca Raton, Florida. Ed. CRC Press. 378p. 2005.

MONTGOMERY, Douglas C. e RUNGER, George C., Estatística Aplicada e Probabilidade para


Engenheiros. 4°Edição, LTC Editora.São Paulo, 2009.

WASTEWATER TECHNOLOGY CENTER – WTC-EC-EPS-3/HÁ/9.Proposed evaluatiion


protocol for comentbased stabilization/solidification wastes.Cadadá: Eviromonment Canada,
1991.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 86


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DIAGNOSTICO DOS DESTINOS DAS ÁGUAS DE REJEITOS


NA CIDADE DE PACAJUS-CE

Fabrício Nogueira de MENESES


Bacharel em Ciência e tecnologia -UFERSA
fabricio13lilian@hotmail.com
Marcelo Tavares GURGEL
Profº Doutor pela UFERSA
marcelo.tavares@ufersa.edu.br
Kaline Dantas TRAVASSOS
Doutora em Irrigação e Drenagem pela UFCG/ Pesquisadora PNPD/CAPES
kalinedantas@yahoo.com.br
Flávio de Oliveira BASÍLIO
Doutorando em Manejo de Solo é Água pela UFERSA
flapanema@yahoo.com.br

RESUMO
No Brasil ainda existem muitas cidades que não possuem um destino adequado para as suas águas
residuais, estás águas não são tratadas, sendo despejado nos rios e açudes, prejudicando o meio
ambiente. O presente trabalho teve como objetivo identificar os principais destinos das águas de
rejeitos geradas no município de Pacajus-CE. O estudo consistiu na aplicação de um questionário na
empresa de saneamento da cidade de Pacajus-CE. Conclui-se que o esgoto tem como destino a rede
de esgoto, fossas sépticas, negras e ao ar livre, apenas 4,60% possui rede de esgoto em seus
domicílios, esse esgoto é tratado e despejado sem causar danos à população. Para solucionar o
problema a solução encontrada seria implantar a rede de esgoto no restante do município, através de
políticas públicas para aumentar os investimentos em saneamento.
Palavras-chave: Saneamento básico, esgoto sanitário, águas residuais.
ABSTRACT
In Brazil there are still many cities that do not have a proper destination for their waste water, these
waters are not treated, being dumped into rivers and dams, damaging the environment. The
objective of this work was to identify the main wastewater destinations generated in the
municipality of Pacajus-CE, in order to identify possible solutions to solve or minimize the
sanitation problem. The study consisted of the application of a questionnaire to the sanitation
company of the city of Pacajus-CE. According to the results of the research, it can be seen that the
sanitary sewage of the municipality under study has as destination the sewage network, septic tanks,
black and outdoor cesspits, and only 4.60% have a sewage network in their Households, where this
sewage is treated and dumped without causing damage to the population. To solve the problem the
solution found would be to implement the sewage network in the rest of the municipality, through
public policies to increase investments in sanitation. There is a need for future studies to evaluate
the degree of contamination that the waste has generated in the environment in the municipality of
Pacajus - CE.
Key-words: Basic sanitation, sanitary sewage, wastewater.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 87


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A urbanização brasileira ocorreu praticamente no século XX, em que houve o grande


deslocamento da população rural para as cidades, pois as cidades eram vistas como a possibilidade
de avanço e modernidade (VAZ, 2009). Isso trouxe, grandes problemas de infraestrutura para essas
cidades, como a falta de saneamento básico.
O saneamento básico é de extrema importância, pois interfere diretamente na saúde e no
bem-estar da população. O Brasil tem investido nesse setor, porém ainda há muitas cidades que não
possuem saneamento. Além disso, mesmo com o crescente investimento em saneamento, em muitas
cidades não há o devido tratamento da água de rejeitos, sendo esta despejada em rios e açudes,
prejudicando o meio ambiente, e, muitas vezes, afetando o próprio fornecimento de água potável
para a cidade.
A região Nordeste é umas das que mais sofre com a falta de destino das águas de rejeitos,
em que apenas 35,70% da população nordestina possui coleta de esgoto, sendo que deste 35,70%
apenas 78,49% do esgoto recebe o devido tratamento (SNIS, 2014).
O destino correto das águas residuais é de grande importância, mas ver-se cada vez mais a
necessidade do tratamento dessas águas residuais visando o reaproveitamento dessas águas para fins
específicos, diminuindo a poluição do meio ambiente e diminuir o consumo de água potável em
situações em que se pode usar a água tratada dos esgotos sanitários, como usar a água para irrigar
plantações.
Diante desse cenário e da escassez de informações a respeito do destino das águas residuais
há necessidade de mais estudos com o intuito de levantar dados acerca do esgoto sanitário, para que
as autoridades competentes possam utiliza essas informações em futuros projetos e para servir como
base para estudos acadêmicos que possam ser feitos posteriormente.
O presente trabalho tem como objetivo identificar os principais destinos das águas de
rejeitos geradas no município de Pacajus-CE.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado na cidade de Pacajus no Estado do Ceará, localizado a uma distância de
51,1 km da capital Fortaleza, tendo uma área territorial de 254,636 km² (IBGE, 2015), com
coordenadas geográficas de 4º 10‘ 21‘‘ S e 38º 27‘ 28‘‘ W com uma altitude de 60 metros. A cidade
em estudo possui cerca de 69.877 habitantes (IBGE, 2016).
Na cidade de Pacajus verifica-se relevo plano com fraco entalhe da drenagem, em que
também são vistos as formas onduladas da Depressão Sertaneja e a planície dos sedimentos aluviais

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 88


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

do rio Choró (CPRM, 2016). O clima predominante é o clima tropical quente semiárido brando e o
clima tropical quente subúmido (FUNCEME, 2007).
O estudo foi realizado entre os meses de agosto e outubro de 2016, com base em pesquisas em
sites, revistas cientificas, artigos científicos, livros e teses, com o intuito de coletar informações
acerca do saneamento básico e o destino das águas residuais
O levantamento de dados também foi feito a partir da aplicação de um questionário (Apêndice
1) que foi aplicado ao técnico em meio ambiente da companhia de água e esgoto do Ceará
(CAGECE), com o intuito de obter informações sobre a situação dos destinos das águas residuais do
município em estudo. Foram utilizadas ainda imagens de algumas localidades, como nos bairros
Planalto Dedé Gama, Conjunto Coab e Alto do Bode, com o objetivo de detalhar e comprovar as
informações passadas pelo responsável pela rede de esgoto do município.
Os resultados foram analisados com base nas informações fornecidas pela empresa de
saneamento da cidade, como também pelas fotos obtidas, sempre se baseando na literatura para
encontrar possíveis soluções para os problemas encontrados na cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De um modo geral, observa-se que as águas residuarias do município de Pacajus-CE, na


maioria dos casos os esgotos são despejados ao ar livre, havendo também rede coletora de esgoto,
fossas sépticas e negras, havendo casos que o esgoto é despejado ao ar livre (Figura 1).

Figura 1. Esgoto ao ar livre, no bairro Planalto Dedé Gama

No município de Pacajus tem apenas 4,60% de sua população com acesso a rede coletora de
esgoto, sendo que essa rede de esgoto está localizada em conjuntos habitacionais, construídos pelo
governo, onde a rede de esgoto foi instalada antes das chegadas dos moradores.
Observou-se que o restante da população utiliza fossas sépticas ou negras para despejar seu
esgoto, sendo que quando as fossas ficam cheias, todo esgoto é retirado e despejado no lixão, ao ser

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

jogado ao ar livre causa impacto ambiental com odores muito forte e contaminando o solo bem
como o lençol freático. Além disso, o descarte desses dejetos ao ar livre pode contaminar o Eixão
das Águas, o canal que abastece a região ficando a uma distância de 1200 metros do lixão (Figura
2).

Figura 2. Lixão próximo ao Eixão das Águas

O uso de fossas negras pode contaminar o lençol freático, pois não há a devida proteção para
que o esgoto não contamine o solo, em algumas casas possuem poços próximos às fossas o que
aumenta as chances de contaminação do desses poços.
Em alguns bairros mais pobres da cidade, como o Planalto Dedé Gama, observa-se o
despejo do esgoto sanitário ao ar livre, causando mau cheiro e poluição ambiental e visual, além
disso, há moradores que lançam seus dejetos diretamente em riachos e açudes próximos a sua
residencias, contaminando esses recursos hídricos (Figura 3).

Figura 3. Esgoto sendo desaguado no riacho do bairro Planalto Dedé Gama

Como pode-se ver na Figura 3, a água está sendo despejada no riacho, onde a população que
mora próximo dele constrói caminhos para que essa água residuária seja despejada dentro do riacho
(Figura 4).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4. Caminhos feitos pela população para que o esgoto vá para dentro do rio

Na cidade de Pacajus - CE há duas estações de tratamento de esgoto (ETE), onde no


conjunto habitacional Geraldo Magela é utilizado um decanto de gestor de placas e no conjunto
habitacional Buriti I, II, III, IV é utilizado um reator Uasb e biofiltro submerso aerado.
O esgoto sanitário desses conjuntos habitacionais tem como destino as estações de
tratamento instaladas nos seus respectivos conjuntos. O esgoto ao receber o tratamento necessário
para que se possa ser jogado na natureza, sem que tenha risco ao meio ambiente, é lançado em um
córrego que tem como destino final o açude cacimbão, como é o caso do conjunto habitacional
Buriti I, II, III, IV (Figura 5).

Figura 5. Açude Cacimbão

No conjunto habitacional Geraldo Magela o esgoto vai para a estação de tratamento e ao


receber o devido tratamento é lançado em um córrego que desagua no açude Luís Carlos (Figura 6).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 6. Açude Luís Carlo

Com as informações aqui obtidas foi possível constatar que os investimentos em saneamento
básico no município estudado estão estagnados e mesmo que tenha um projeto do Governo do
Estado do Ceará, liberando verba para que os municípios invistam em saneamento, ainda há a
dependência da prefeitura para buscar essas verbas e investi-las em obras de saneamento.
A falta de saneamento traz grandes consequências para a população da cidade de Pacaus -
CE, como as doenças intestinais, que podem ser causadas por ingestão de água e alimentos
contaminados pelo esgoto que não tem o destino correto e nem é tratado antes de ser despejado.
Além disso, o mau cheiro causado por esse esgoto é intenso, incomodando a população que mora
próximo ao local que o esgoto é despejado.
O destino incorreto do esgoto doméstico, acarreta em impactos ambientais, como a poluição
dos lençóis freáticos, que geralmente acontece quando se tem uma fossa negra próximo a um poço
profundo, aumentando as chances de contaminação e posteriormente causando doenças intestinais,
como foi dito anteriormente.
Com a chegada da empresa de saneamento básico na cidade, ouve algumas melhorias, como
é o caso dos conjuntos habitacionais que tem rede coletora de esgoto, além de ter o tratamento
necessário desse esgoto para que seja despejado na natureza sem causar danos ambientais. Essas
melhorias atingem apenas uma pequena parte da população, a única melhoria apresentada em
relação ao destino das águas residuais foi à construção da rede de esgoto nos conjuntos
habitacionais. Dessa forma, a maioria da população não se beneficiou de nenhuma melhoria em
relação ao destino da rede de esgoto com a chegada da empresa de saneamento.
Antes da chegada da empresa de saneamento básico na cidade, não havia rede coletora de
esgoto, nem estações de tratamento de água nem de esgoto, a situação ainda era pior do que atual,
pois não havia o tratamento de água potável para a população.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conforme as informações aqui obtidas a população do município não tem conscientização


da importância da rede coletora de esgoto, pois continua a jogar seu esgoto ao ar livre, em riachos e
açudes, trazendo malefícios para a própria população e para o meio ambiente. Um exemplo da falta
de conscientização da população seria a resistência dos moradores dos conjuntos habitacionais de
pagar a taxa de R$ 7,30 para que possam ter acesso à rede coletora de esgoto e este seja tratado e
desaguado sem trazer consequências maléficas.
Também foi observado que as águas residuais tratadas nas estações de tratamento de esgoto
não têm nenhum reaproveitamento outros fins, pois o tratamento dado ao esgoto é apenas para ser
desaguado em açudes sem que haja impacto ambiental, no município em estudo não há
reaproveitamento da água de esgoto. O reaproveitamento do esgoto é de extrema importância, pois
com a escassez de água em alguns locais, é cada vez mais necessário a utilização do esgoto tratado
para fins específicos, como irrigação de plantações, e, em alguns casos essa água pode ser usada até
para consumo humano.
Para que o problema causado pela falta de rede de esgoto seja solucionado ou minimizado, é
preciso que a o município faça uma boa administração dos recursos destinados a esse fim,
colocando rede de esgoto na grande maioria dos domicílios para que estes não joguem seus esgotos
em locais inadequados, diminuindo, assim, a disseminação de doenças, e melhorando o bem-estar
da população do município.
Para que o problema seja resolvido completamente, é necessário que haja a conscientização
da população do município, através de campanhas informativas, para que assim a população tenha
conhecimento dos malefícios de lançar esgoto ao céu aberto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esgoto tem como destino a rede de esgoto, fossas sépticas, negras e ao ar livre, apenas
4,60% possui rede de esgoto em seus domicílios, esse esgoto é tratado e despejado sem causar
danos à população.
Para solucionar o problema a solução encontrada seria implantar a rede de esgoto no restante
do município, através de políticas públicas para aumentar os investimentos em saneamento.

REFERÊNCIAS

CAGECE-Companhia de Água e Esgoto do Ceará. Saneamento Básico: Um compromisso de todos


por mais qualidade de vida, 2016. Governo do Estado do Ceará.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. 2016. Disponível em: <


http://www.cprm.gov.br/publique/Hidrologia/Mapas-e-Publicacoes/Ceara---Atlas-Digital-dos-
Recursos-Hidricos-Subterraneos-588.html>. Acesso em: 10 out. 2016.

FUNCEME- Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. 2007. Disponível em: <
http://www.funceme.br/#todospelaagua>. Acesso em: 10 out. 2016.

GOOGLE. Google Earth. Version 7. 2016. Lixão próximo ao Eixão das Águas. Disponível em:
<https://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>. Acesso em: 18 out. 2016.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2015. Disponível em: <wwwIBGE.com.br>.


Acesso em 04 out. 2016.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2016. Disponível em: <wwwIBGE.com.br>.


Acesso em 04 out. 2016.

SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos Serviços de Água e
Esgotos. 2014. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-
ae-2014>. Acesso em: 15 set. 2016.

VAZ, A. J. A Importância da Rede Coletora de Esgoto na Promoção da Qualidade Sócio-


Ambiental. In: 12º Encontro de Geógrafos da América Latina, 2009, Montevideo. EGAL, 2009.

APÊNDICE A: Questionário aplicado para obtenção de informações

1. Qual o nome da empresa responsável pelo saneamento da cidade?

2. Qual a função do entrevistado na empresa?

3. Quais áreas da cidade possuem saneamento e quais não? Isso representa quanto em termos
percentuais?

4. Há o tratamento do esgoto sanitário? Se sim, quais são estes tratamentos?

5. Qual o destino dado às águas residuais dos domicílios com acesso a rede de esgoto?

6. Existe algum tipo de investimento em saneamento básico em andamento na cidade? Se sim,


quais são? E para o futuro, quais as perspectivas de investimento?

7. Quais os problemas enfrentados pela população nas áreas sem acesso ao saneamento básico?

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

8. Quais os principais impactos ambientais gerados pela falta de saneamento básico na cidade?

9. Quais as melhorias apresentadas depois da implementação da empresa de saneamento na


cidade?

10. Qual era a situação do saneamento da cidade antes da chegada da empresa?

11. A população da cidade tem consciência da importância do saneamento básico? Se sim ou


não, por quê?

12. Você conhece ou já ouviu falar se na cidade há alguma pessoa física e/ou jurídica
aproveitando água de esgoto? Se sim, qual a finalidade?

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EXPANSÃO URBANA E CLIMA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS


BAIRROS DE PORTO SEGURO E VERTENTES, MUNICÍPIO DE ASSÚ-RN, BRASIL

Gilciane Kariny da Costa FRUTUOSO


Graduada em Geografia pela UERN
gilciane_cf@hotmail.com
Ana Luiza Bezerra da Costa SARAIVA
Profª. Drª no Departamento de Geografia da UERN
ageopesquisadora@hotmail.com
Francicélio Mendonça da SILVA
Mestre em Geografia pelo PPGE da UFRN
francis_georisco2017@hotmail.com

RESUMO
As áreas verdes assumem um papel muito importante nas cidades no que se refere à qualidade do
ambiente, pois servem de equilíbrio entre a vida urbana e o meio ambiente, quando esses espaços
são utilizados e preservados para este fim. O semiárido já é caracterizado por possuir elevadas
temperaturas naturalmente, porém as temperaturas podem aumentar ainda mais devido às
características do uso e ocupação da terra e ausência de arborização. Na cidade de Assú-RN, o
bairro Porto Seguro apresenta-se como uma nova área de ocupação populacional e será investigado
aqui como um exemplo de bairro que possui uma incipiente arborização. Assim, o objetivo desse
trabalho foi identificar a diferença do comportamento dos elementos climáticos: temperatura do ar e
umidade relativa do ar, bem como os valores do índice de calor, no bairro Vertentes – Ponto 1 e no
bairro Porto Seguro – Ponto 2, considerando a influência da arborização. O bairro Vertentes foi
selecionada para a pesquisa após uma análise das imagens de satélite do ano de 2014 da cidade de
Assú, onde foi observado um número significativo de árvores de grande porte e copas frondosas. A
pesquisa foi realizada no dia 09/08/2015 entre as 07 e às 17h na área urbana do município de Assú,
caracterizando assim como um estudo do clima local. Os máximos valores de temperatura do ar
foram coletados às 13h onde Ponto 1 apresentou 32,7°C e o Ponto 2 apresentou 34,7°C,
apresentando assim uma amplitude térmica de 2,0°C. A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h,
com o valor de 3,2°C, fruto da diferença entre a temperatura no P1 e P2 que foi, respectivamente,
25,9°C e 29,1°C. O P1 apresenta significativo número de árvores o que gera uma área bem
sombreada influenciando diretamente nos valores de temperatura do ar.
Palavras-chave: Temperatura do ar. Vegetação Urbana. Clima Urbano.
ABSTRACT
The green spaces takes a very significant role in the cities with regard to environmental quality, as
they as a balance between the urban life and the environment, when these spaces are preserved and
utilized for this purpose. The semiarid region is already characterized by having naturally elevated
temperatures, but temperatures may increase even more because of the characteristics of the use and
occupation of the land and the lack of trees. In the city of Assu-RN, in the Porto Seguro district
appears as a new area of population and occupation will be investigated here as an example of a
district that has an emerging afforestation. Thus, the aim of this work was to identify the difference
between the behavior of climatic elements: air temperature and air humidity, as well as the values of
the heat index, the Vertentes district - Point 1 and Porto Seguro district - Point 2, considering the
influence of afforestation. The Vertentes district was selected for the research after an analysis of
satellite the year 2014 the city of Assu images, where it was noticed significant numbers of large
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

trees and leafy tops. The study was conducted on 08/09/2015 between 07am and 5pm in the urban
area of Assu city, characterizing as a study of the local climate. The maximum air temperature
amounts were collected at 12pm where point 1 showed 32.7°C and Point 2 showed 34.7°C, thus
presenting a thermal amplitude of 2°C. The maximum thermal amplitude occurred at 8 am, with the
value of 3.2° C, resulting from the differences between the temperature in P1 and P2, which was,
respectively, 25.9 ° C and 29.1 ° C. The P1 presents a significant number of trees, which creates a
well-shadowed area directly influencing the temperature values of the air.
Keywords: Air temperature. Urban Forestry. Urban Climate.

INTRODUÇÃO
A conceitualização do ambiente urbano na Geografia é constituída pela interação entre os
componentes físico-naturais e as ações antrópicas, proporcionando a formação de sistema ambiental
urbano, no entendimento com a qualidade de vida e o cotidiano da população. O ambiente urbano é
representado por organização social e as ações humanas sobre o meio ambiente, criando assim a
modificação do clima urbano.
De acordo com Monteiro (1976, p.10), enfatiza a perspectiva sistêmica do clima urbano,
configura-se que ― o clima urbano como um sistema complexo, aberto, adaptativo que, ao receber
energia do ambiente maior, no qual se insere, a transforma substancialmente a ponto de gerar uma
produção exportada ao ambiente‖. A conceitualização do clima urbano é constituída em uma
proposta teórica, conceitual e metodológica denominada de Sistema Clima Urbano - SCU, é
apresentada por uma manifestação de fenômenos ou acontecimentos ambientais como inundações,
poluição do ar, ilha de calor, estando associado as influências dos sistemas atmosféricos como base
a morfologia do sítio urbano (MENDONÇA, 2009).
Neste sentido, com o crescimento urbano e populacional, crescem as demandas por
equipamentos urbanos e serviços básicos prestados a população tais como saúde, educação,
infraestrutura, segurança e moradia. A expansão dos espaços urbanizados, influenciada pelos
surgimentos de novos loteamentos, condomínios e conjuntos habitacionais, faz parte da realidade
das cidades que apresentaram um aumento populacional, tem como objetivo principal a integração
entre a política pública de habitação e o crescimento do desenvolvimento urbano. Portanto, essas
novas áreas habitacionais apresentam diversos problemática sociais e ambientais, por isso, essas
ações de planejamento e gestão pública não acontecem de forma adequada.
Desta forma, o artigo tem como objetivo analisar e verificar o ambiente urbano do Bairro
Porto Seguro, em análise comparativa ao Bairro Vertentes (Figura 01), tem como base os aspectos
climáticos (temperatura, umidade do ar e movimento do ar), e os valores do índice de calor,
considerando a cobertura vegetal ou sistema de arborização, identificando os diferentes ambientes
climáticos no espaço intra-urbano, integrando o ambiente natural, a ocupação do solo e as variações
térmicas no ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 01: Localização Geográfica do Município de Assú/RN.


Fonte: Francicélio Mendonça da Silva, 2017.

Portanto, a aplicação da análise do sistema clima urbano tornou-se uma importante


ferramenta na complementação para a identificação e avaliação dos elementos climáticos,
atribuindo assim a transformação ou mudança espacial no meio ambiente local, tendo como ponto
principal de abordagem o processo de urbanização, ocupação do solo e os impactos ambientais, de
fundamental importância para a ordenamento e gestão do territorial, bem como na conservação e
preservação do meio ambiente e nas aplicações de políticas públicas no território.

METODOLOGIA

Referencial Teórico-Metodológico

Na concretização deste artigo foram empregados para a realização uma reflexão acerca do
referencial teórico, conceitual e metodológico, tem como embasamento a utilização da
conceitualização do clima urbano, de acordo com a metodologia proposta por Monteiro (1976,
p.95), ―O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua
urbanização‖. Para Mascaró (1996), a denominação do clima urbano é um entendimento de uma
relação entre o sistema que compreender o clima de um espaço da superfície terrestre e a sua
dinâmica de urbanização. Com base em Garcia (1999), a definição da caracterização do clima

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

urbano é atribuída a própria cidade e aos espaços urbanos, como o clima regional e as modificações
pela ação humana.
Desta forma, Barbirato, Souza e Torres (2007, p.19), enfatizar que ―o ambiente urbano,
portanto, configura-se como o resultado da interação humana sobre o espaço natural, e por
definição, está inserido na categoria de espaço adaptado‖. Já na descrição de Santos (1991), criar
um meio artificial, sendo assim, o ambiente urbano é caracterizado como um palco de interação
entre o homem e a natureza, de forma direta, tem como objetivo a relação entre a sociedade e a
natureza. Em relação ao seu entendimento do conceito de clima urbano, tem-se como suporte
teórico e conceitual a definição de conforto térmico, que consiste em um conjunto de condições
ambientais, em que os mecanismos de auto-regulação são mínimos, ou ainda na zona delimitada por
características térmicas, em que o maior número de pessoas manifeste-se se sentir bem (GOMES e
AMORIM, 2003). Do ponto de vista humana, a definição do conforto térmico está associada à
condição psicológica que expresse satisfação com o ambiente térmico (NÓBREGA e LEMOS,
2011).
Portanto, é de fundamental importância como fator de qualidade ambiental, os ambientes de
áreas verdes, que conforme Martins Jr (1996), são constituídos com espaços de cobertura vegetal,
áreas públicas e privadas, proporcionando áreas sombreadas, que diminuam as temperaturas locais,
tornando assim a área residencial mais agradável e melhorando ao longo do dia o conforto térmico
local. Logo, Saraiva (2010), ressaltar que as áreas verdes assumem um papel importante nas cidades
em relação a qualidade do ambiente, servindo de equilíbrio entre a vida urbana e o meio ambiente,
sendo preservados e utilizados para esse fim.

Procedimentos Técnico-Operacionais e Instrumento de Apoio

Para uma melhor concretização, utilizou-se os procedimentos técnicos-operacionais e os


instrumentos de apoio, foram subdivididos em três etapas de forma necessária para a sua
finalização, destacando-se as seguintes etapas: pré-campo: trabalhos de gabinete; etapa de visitação
de campo: aquisição dos dados e a integração, análise e correlação dos dados tabulados; que serão
descritas a seguir:

Etapa Pré-Campo: Trabalhos de Gabinete

Na etapa pré-campo foi adotado para a elaboração deste artigo a realização da pesquisa do
levantamento do acervo bibliográfico acerca da temática proposta, que envolve o clima urbano, com
isto pretendia-se obter subsídios para a discussão teórica, conceitual e metodológica, tendo como
base o método sistêmico na perspectiva integrada, permitindo o entendimento dos fatores naturais
climáticos e antrópicos em detrimento da ocupação do solo urbano, utilizando-se diversos tipos de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

leituras, tais como livros, teses, dissertações e artigos científicos acerca da área em estudo, a fim de
obter a análise do clima urbano, a problemática ambiental da devastação da vegetação típica e a
arborização do ambiente. Posteriormente foi feito um levantamento de imagens de satélite orbitais,
sendo aplicado as técnicas de geoprocessamento que servissem na efetuação do mapeamento da
análise do uso e ocupação do solo.

Etapa Campo: Aquisição dos Dados

A elaboração dos pontos de coleta de dados climáticos no ambiente urbano foi embasada na
proposta metodológica de Saraiva (2012), onde resultou na escolha do Ponto 01 – Bairro Vertentes
e o Ponto 02 – Bairro Porto Seguro, na obtenção do entendimento do clima urbano, tem como base
a urbanização, cobertura vegetacional e arborização, com o uso e ocupação do solo (áreas
residências e a expansão urbana), a fim de identificar e avaliar espaços com poucas cobertura de
árvores nos equipamentos urbanos, correspondendo inicialmente a verificação e a avaliação do
clima urbano, evidenciando as interações entre a sociedade e a natureza, nas análises das
perturbações e ameaças constantes ao meio ambiente urbano.
Nessa etapa de visitação de campo foi realizado com base na visualização in loco, uma
melhor análise do clima urbano, no intuito de obter informações ambientais das áreas urbanizadas
em relação ao uso e ocupação do solo e as suas implicações socioespaciais, com registros de
imagens fotográficas do ambiente. Em seguida, foi a efetuada a escolha dos setores de instalação
dos abrigos meteorológicos, delimitando espacialmente os pontos de coletas climáticos nos
diferentes ambientes geográficos, permitindo com isso a coleta de dados, com periodicidade entre
7h do dia 09 de agosto de 2015 e o término da atividade de 17h, com dados climático como
temperatura e a umidade relativa do ar onde foram levantados no intervalo em hora em hora, sendo
utilizado o equipamento coletor denominado de Termohigrômetros Digitais com datalogger
(IMPAC) acomodados em abrigos meteorológicos de madeira de 1,50 metros de altura com 1,5m de
altura, pintados de branco, seguindo as normas internacionais para coleta de dados climáticos no
meio ambiente.

Etapa Pós-Campo: Integração, Análise e Correlação dos Dados Tabulados

Portanto, os dados climáticos apresentados no instante da coleta de campo eram anotados e,


posteriormente, organizados em forma de tabelas. Esses dados primários foram coletados pelo
Grupo de Estudo em Climatologia Geográfica e Questões Socioambientais (GECLIMA) da
Universidade Estadual do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Após as coletas os dados foram
organizados, tabulados e analisados os ambientes urbanos do Bairro Vertentes e Porto Seguro. Em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

seguida foram calculadas as amplitudes térmicas e higrométricas para cada intervalo de horário e a
aplicação do Índice de Calor para um cada ponto delimitado em campo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Bairro Vertentes (P1) está localizado próximo ao centro da cidade e se caracteriza como
um bairro pavimentado com ruas arborizadas. Esse é o bairro que apresenta maior fluxo de pessoas
na cidade e destaca-se entre os bairros em termos de arborização, que proporciona o sombreamento
e ameniza a temperatura do ar local. O bairro Porto Seguro (P2), localizado a 2 km do bairro
Vertentes, possuindo empreendimentos com a implantação de lotes residenciais vazios e incipiente
sistema de arborização do ambiente (Figura 02 A e B).

A B
|
Figura 02 A e B: (A) Visualização da instalação do equipamento denominado de Abrigo Meteorológico no
P1 – Bairro Vertentes. (B) Descrição do Bairro Porto Seguro – P2, situado no município de Assú - RN.
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

As temperaturas do ar coletadas no dia 09/08/2015 ficaram entre 34,7°C, coletada no P2 às


13h e 24,8° C coletada no P1 às 7h. O que explica a temperatura mais baixa no P1 é o fato de
possuir residências e árvores nas proximidades, o que causa, no início da manhã, uma área
sombreada. A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h, com o valor de 3,2° C, fruto da
diferença entre a temperatura máxima e a mínima, que foi 25,9° C coletado no P1 e 29,1° C
coletado no P2. Já a menor amplitude térmica horária aconteceu às 17h, com uma diferença de
apenas 0,2°C entre o P1 e o P2. Os dados de temperatura do ar bem com as amplitudes térmicas
horárias podem ser verificados na Tabela 1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 1 – Temperaturas do ar coletados nos P1 e 2 e as amplitudes térmicas horárias coletados.


Horário da Temperatura do Temperatura do Temperatura Temperatura Amplitude
coleta ar do P1 ar do P2 máxima horária mínima horária térmica em °C
07:00 24,8 25,7 25,7 24,8 0,9
08:00 25,9 29,1 29,1 25,9 3,2
09:00 28,3 30,0 30,0 28,3 1,7
10:00 30,2 31,9 31,9 30,2 1,7
11:00 31,7 33,9 33,9 31,7 2,2
12:00 31,7 34,5 34,5 31,7 2,8
13:00 32,7 34,7 34,7 32,7 2,0
14:00 33,1 34,4 34,4 33,1 1,3
15:00 33,4 34,6 34,6 33,4 1,2
16:00 33,3 34,0 34,0 33,3 0,7
17:00 32,1 32,3 32,3 32,1 0,2
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

A umidade relativa do ar no início da manhã apresentou valores mais elevados. Com o


passar das horas, os valores foram diminuindo e voltaram a aumentar no final da tarde. Com
agravamento a partir das 10h, teve seu ponto mais crítico entre às 10h e 15h, nos dois pontos
coletados. Os teores de umidade relativa do ar ficaram entre 58,9%, coletado na P2 às 7h, e 38,5%,
coletado na P2 às 15h. A maior amplitude horária aconteceu às 7h, com o valor de 6,9%. Os dados
de umidade relativa do ar bem com as amplitudes higrométricas horárias podem ser analisados na
Tabela 2.

Tabela 2 – Umidade Relativo do ar coletados nos P1 e 2 e as amplitudes higrométrica nos horários coletados.
Horário da coleta Umidade relativa Umidade Umidade Umidade relativa Amplitude
do ar do P1 relativa do ar relativa mínima horária higrométrica em
do P2 máxima °C
horária
07:00 52,0 58,9 58,9 52,0 6,9
08:00 54,3 52,8 54,3 52,8 1,5
09:00 48,6 49,7 49,7 48,6 1,1
10:00 46,3 45,7 46,3 45,7 0,6
11:00 41,7 42,6 42,6 41,7 0,9
12:00 41,7 40,6 41,7 40,6 1,1
13:00 38,3 39,5 39,5 38,3 1,2
14:00 36,0 39,5 39,5 36,0 3,5
15:00 34,9 38,5 38,5 34,9 3,6
16:00 34,9 38,5 38,5 34,9 3,6
17:00 36,0 43,6 43,6 36,0 7,6
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

Com a aquisição dos dados de temperatura e umidade relativa do ar, foram calculados os
índices de calor, que é a temperatura sentida devido à combinação entre a temperatura aparente do
ar e a umidade relativa do ar. Os índices de calor ficaram entre 36,5° C às 12h no P2 e 25,8° C às
7h, na P1. Os índices de calor calculados para os P1 e P2 bem com as amplitudes horárias podem
ser observados na Tabela 3.

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Tabela 3 – Índice de calor calculado para os Pontos 1 e 2 e as amplitudes horárias.


Horário da coleta Índice de Índice do ar Índice de Índice de calor Amplitude do índice de
calor do P1 do P2 calor máximo mínimo horária calor em °C
horária
07:00 25,8 26,6 26,6 25,8 0,8
08:00 26,6 30,1 30,1 26,6 3,5
09:00 28,6 31 31 28,6 2,4
10:00 30,8 33,3 33,3 30,8 2,5
11:00 32,2 35,8 35,8 32,2 3,6
12:00 32,2 36,5 36,5 32,2 4,3
13:00 32,9 36,2 36,2 32,9 3,3
14:00 33,1 36 36 33,1 2,9
15:00 33,3 36,1 36,1 33,3 2,8
16:00 33,1 35 35 33,1 1,9
17:00 31,8 33,4 33,4 31,8 1,6
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

O ambiente do clima Semiárido já é caracterizado por possuir elevadas temperaturas do ar


naturalmente, porém as temperaturas podem aumentar ainda mais devido às características do uso e
ocupação do solo e ausência de um sistema de arborização no meio ambiente. Em relação ao Bairro
Porto Seguro é um dos mais novos bairros, destinado a construções de edificações, ou seja,
representa um mecanismo de fundamental importância na expansão urbana, criando novas ruas,
avenidas e núcleos residências (Figura 3 A e B). Observando as imagens de satélite orbitais e em
registros fotográficos da área em questão, considerando os recortes temporais e especiais diferentes,
uma antes da construção e outra posterior da construção da infraestrutura do bairro é possível
perceber e avaliar os impactos ambientais causados pela retirada da cobertura vegetal que existia no
local.

A B
|
Figura 03 A e B: Visualização da Estrutura Urbana no Bairro Porto Seguro, município de Assú - RN.
Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

Depois da construção de algumas casas não foram plantadas um número significativo de árvores nas
vias públicas, nem nas calçadas das residências. Por esta razão, diante das pesquisas feitas e dos
dados coletados, fica evidente que o Bairro Porto Seguro apresenta índices de calor mais elevados
que o Bairro Vertentes. A arborização urbana, do ponto de vista do conforto térmico humano, é um
dos grandes diferenciais entres esses bairros estudados. Em relação a isso, a importância da

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cobertura vegetal constitui uma variação de temperatura no ambiente urbano, resultante em uma
maior incidência de radiação solar, devido a expansão do ambiente urbano na construção de
estruturas residências. Todavia, a cobertura da vegetação no espaço urbano do Bairro Vertentes
(Figura 04 A e B), tem como ponto principal a importância da minimização do índice de
temperatura no local, associado a cobertura da vegetação/arborização, atribuindo um ambiente com
maior ou menor temperatura no espaço urbano do Bairro Vertentes, evidenciando o ambiente
urbano com baixa temperatura, em detrimento ao uso e ocupação do solo no ambiente urbano.

A B

Figura 04 A e B: Visualização da Estrutura Urbana com a Arborização no Bairro Vertentes, município de


Assú - RN. Fonte: Gilciane Kariny da Costa Frutuoso, 2015.

CONCLUSÃO

Neste trabalho foram observados os benefícios térmicos e higrométricos da arborização


urbana, comparando uma área arborizada e outra não arborizada de uma cidade do semiárido
Nordestino denominado de Assú. Sendo assim, as temperaturas máximas do ar coletadas no dia
09/08/2015 foram 34,7° C às 13h no P2 (Bairro Porto Seguro - Área não arborizada) e 32,7° C
coletada no P1 (Bairro Vertentes - Área arborizada). No horário mais crítico do dia do ponto de
vista térmico a áreas sombreada gerada pela copa das árvores do P1 – Bairro Vertentes foi
fundamental para reduzir da temperatura do ar e tornar a área mais ambientalmente confortável.
A amplitude térmica máxima aconteceu às 8h com o valor de 3,2° C, fruto da diferença entre
a temperatura do ar do P1 (25,9° C) e do P2 (29,1° C). O P1 apresenta significativo número de
árvores no ambiente urbano e uma significativa área construída o que gera uma área sombreada.
Mesmo sendo um bairro mais central do ambiente urbano de Assú, com adensamento habitacionais,
equipamentos urbanos e uma intensa dinâmica populacional, a cobertura da vegetação existente no
local foi capaz de gerar uma redução de 3,2° C no ambiente, quando comparada com a temperatura
do ar do P2.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com isso, no ambiente urbanizado do P2, foi possível identificar e analisar que a ausência
do sistema de arborização no Bairro Porto Seguro afeta negativamente o conforto térmico de quem
reside no meio ambiente local. É importante destacar que as crianças e os idosos são os que mais
sofrem impactos ambientais com os problemas relativos ao calor e a baixa umidade relativa do ar.
Procurou-se demonstrar que a tradicional visão de antagonismo entre cidade e natureza causa
impactos negativos e deve ser superada. É necessária a expansão do sistema de arborização em
ambientes públicos e privados da cidade, criando assim áreas ambientalmente mais agradável,
melhorando a qualidade de vida nos espaços urbanos e o conforto térmico dos moradores do bairro
em questão.
Portanto, a falta de um Plano Diretor no município ainda preocupa a cidade, pois não há
nenhuma lei municipal que imponha a realização de um projeto do sistema de arborização e de
criação de espaços arborizados destinados a recreação/lazer. Uma vez que este trabalho apresentou
dados significativos sobre a diminuição da temperatura do ar em horários críticos do ponto de vista
térmicos no bairro não arborizado, faz-se necessária a continuação de trabalhos desta natureza.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

OCORRÊNCIA DE MICROCONTAMINANTES EMERGENTES


EM ÁGUAS RESIDUÁRIAS

Gabriela Valones Rodrigues de ARAÚJO1


Doutoranda em Engenharia Civil da UFPE
gabivalones@gmail.com
Aline Valones Rodrigues de ARAÚJO
Discente do Curso de Engenharia Química da UFPE
alinevalones@gmail.com

RESUMO
Os esgotos domésticos apresentam grande variedade de compostos orgânicos, entre eles o princípio
ativo de produtos farmacêuticos, hormônios e de cuidados pessoais. Estes compostos são
absorvidos pelo organismo após ingestão e estão sujeitos a reações metabólicas. No entanto, uma
significativa fração destas substâncias deixa o organismo humano via urina ou fezes alcançando
corpos receptores ou sistemas de tratamento de efluentes. O perigo iminente se configura na
capacidade, que parte dessas substâncias tem, de acarretar disfunções no sistema endócrino dos
seres vivos, causando patologias, especialmente relacionadas com a fertilidade. Atualmente,
algumas tecnologias têm sido testadas para a retirada desses microcontaminantes das águas
residuárias. No entanto, os reatores de membranas (com processos associados) são considerados os
sistemas de depuração mais eficazes até o momento. Diante do exposto, a presente proposta busca
apresentar a importância da investigação dos micropoluentes nas águas residuárias, como também
propor técnica para remoção dos disruptores endócrinos.
Palavras-chave: Micropoluentes, Efluente, Disruptores Endócrinos, Hormônios, Fármacos.
ABSTRACT
Domestic sewage and the wide variety of organic compounds, among them in the active principle
of pharmaceuticals, hormones and health care. These compounds are absorbed by the body after the
analysis and are subject to metabolic reactions. However, since mankind is administered via urine
or feces, you are looking for containers or effluent treatment systems. The imminent danger lies in
the capacity, which starts from the will, to cause dysfunctions in the endocrine system of living
beings, causing pathologies, especially related to a fertility. Currently, some technologies have been
tested for microcontaminant withdrawal from wastewater. However, membrane reactors are
compatible with most effective debugging systems to date. In view of the above, this research seeks
to investigate the importance of micropollutants in the wastewater, as well as a technical measure
for the removal of the final disturbances.
Keywords: Micropollutants, Effluent, Endocrine Disruptors, Hormones, Drugs.

INTRODUÇÃO

Atualmente, no segmento de tecnologias para tratamento de água e esgoto, uma preocupação


mundial é a presença de microcontaminantes (poluentes que estão presentes no meio ambiente em

1
Docente do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

concentrações na ordem de µg.L-1 e ng.L-1) que podem causar efeitos adversos à saúde humana e
animal (BILA e DEZOTTI, 2007; TAMBOSI, 2008; KASPRZYK-HORDERN et al., 2009;
HERNÁNDEZ-LEAL et al., 2010; REUNGOAT et al., 2011; FERNÁNDEZ et al., 2014; LUO et
al., 2015).
Diferentes fontes podem ser indicadas para explicar o aparecimento desses compostos em
ambientes aquáticos. A principal fonte é representada pelos efluentes de Estações de Tratamento de
Esgoto (TAMBOSI, 2008; RANA et al., 2012).
No amplo grupo dos micropoluentes se inserem os fármacos e os hormônios, e esses
compostos constituem uma gama vasta de substâncias diversas. São, geralmente, eliminados do
corpo com as fezes e a urina, tendo parte dos compostos desses elementos como destino último a
água (SPINA et al, 2015).
Esses microcontaminantes são substâncias muito ativas no metabolismo dos seres vivos;
difíceis de individualizar porque se encontram diluídas milhares de vezes mais que os poluidores
tradicionais; não podem ser filtradas pela maior parte dos depuradores atuais, projetados para
bloquear poluidores mais grosseiros e espessos (CANO-ODENA et al., 2011). Como também,
caracterizam-se por uma fração orgânica rapidamente biodegradável e compostos refratários, que
não são removidos por tratamentos biológicos convencionais (ROJAS et al., 2013; FERNÁNDEZ
et al., 2014). Com isso, este artigo buscou apresentar a importância da ocorrência dos
micropoluentes nas águas residuárias, como também propor técnica para remoção dos disruptores
endócrinos.

Ocorrência dos Micropoluentes Emergentes

Os microcontaminantes emergentes são uma classe de compostos que passavam


despercebidos por estações de tratamento, devido à sua baixa concentração (na ordem de parte por
bilhão - ppb e parte por trilhão - ppt). Apesar da pequena concentração, estes compostos podem
causar danos à saúde humana, animal e ao meio ambiente, como por exemplo os disruptores
endócrinos que podem alterar as funções fisiológicas (BILA e DEZOTTI, 2007; LUO et al., 2015).
Os disruptores endócrinos são substâncias que podem causar efeitos deletérios na saúde, no
crescimento e na capacidade reprodutiva dos organismos, e colocam em risco a continuidade de
variadas espécies. Suas fontes são as mais variadas possíveis, sendo possível detectar em alguns
alimentos, produtos farmacêuticos, produtos químicos e seus respectivos subprodutos de
degradação (SILVA, 2009).
Os efeitos dos disruptores endócrinos na saúde humana não são recentes. Em 1938, o
medicamento dietilestilbestrol foi criado para evitar o aborto espontâneo na mulher e estimular o
crescimento dos bovinos. Nas décadas de 70 e 80 foi constatado que este medicamento causava

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

problemas graves no sistema reprodutor masculino e feminino, incluindo anomalias congênitas e


câncer (MCLACHLAN et al., 2006). Outros problemas destacados foram: câncer de testículos,
mama e próstata, queda na taxa de produção de espermatozóides, deformidades dos órgãos
reprodutivos, disfunção da tireóide, comprometimento do sistema neurológico.
Alguns dos efeitos adversos causados por fármacos e hormônios incluem toxicidade
aquática, desenvolvimento de resistência em bactérias patogênicas, genotoxicidade, desregulação
endócrina, persistência no ambiente, e potencial de bioacumulação (THORPE et al., 2009;
TOURAUD et al., 2011; SANCHES et al., 2012; AQUINO et al., 2013). A partir da dose e do
tempo de exposição, é provável que esses micropoluentes estejam relacionados com patologias
como câncer de próstata, testicular e de mama, ovários policísticos, endometriose e redução da
fertilidade masculina (POMATI et al., 2006; BILA e DEZOTTI, 2007; CHANG et al., 2011).

Reator de Mebranas: Tecnologia para Remoção de Micropoluentes

A preocupação quanto à preservação dos ecossistemas aquáticos e ao risco potencial de


contaminação da água de abastecimento público tem incentivado estudos com o objetivo de
identificar e quantificar os microcontaminantes para que se possa minimizar o descarte e
desenvolver processos eficientes para sua remoção (FROEHNER et al., 2010; SERRANO et al.,
2011; DOLAR et al., 2012).
Uma avaliação da eficiência de remoção dos micropoluentes pelos atuais mecanismos de
tratamento empregados nas plantas das ETEs é necessária. Estudos mostram que esses
micropoluentes não são removidos parcial e/ou completamente pelos processos convencionais de
tratamento utilizados nessas estações (CIRJA et al., 2008; ZORITA et al., 2009). Assim, há a
necessidade de aprofundar a investigação das atuais tecnologias aplicadas nos processos de
tratamento. (BILA e DEZOTTI, 2007; SANCHES et al., 2013).
A frequência de pesquisas sobre remoção de fármacos e hormônios por MBRs em outros
sistemas de tratamento que não os lodos ativados é muito menor, tal situação pode ser justificada
pelo fato de serem menos aplicados nos EUA, Canadá, Coréia do Sul, China, Japão e países
europeus, lugares em que são desenvolvidas a maior parte dos estudos nesse tema (PENG etal.,
2008; LI e ZHANG, 2010; SIPMA et al., 2010; FERNANDEZ-FONTAINA et al., 2012). De
acordo com Aquino et al. (2013) verifica-se que há, na literatura, pouquíssimos dados de remoção
de fármacos e hormônios em ETEs cujas plantas de tratamentos são compostas por filtros
biológicos percoladores (FBP) e reatores anaeróbios (UASB e EGSB).
A remoção dos fármacos e hormônios presentes no esgoto sanitário representa uma barreira
relevante no controle do aporte de micropoluentes aos ecossistemas aquáticos. Considerando que a
maior parte das ETEs não aplica tais tecnologias, torna-se essencial verificar a remoção de fármacos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

e hormônios em sistemas de tratamento de esgoto convencionais, que fazem uso de reatores


biológicos (VIENO et al., 2007; KUMAR e XAGORARAKI, 2010).
Novos processos de tratamento de efluentes devem ser desenvolvidos, visando um baixo
nível de descarte de poluentes (FATTA-KASSINOS et al., 2011). Neste sentido, o uso de
tecnologias para remoção de fármacos e hormônios, como, filtração em carvão ativado, biorreatores
com membranas de nanofiltração (NF) e osmose reversa (OR), cloração, entre outros, aumentou
significativamente e têm se destacado no tratamento de efluentes industriais e domésticos.
(MOLINARI et al., 2006; COMERTON et al., 2008; CANO-ODENA et al., 2011; AQUINO et al.,
2013). Processos de NF e OR são particularmente efetivos na remoção de micropoluentes
inorgânicos (tais como, nitrato, arsênico e flúor) e orgânicos (tais como, pesticidas, estrogênios
entre outros) (CANO-ODENA et al., 2011).
O biorreator com membranas (MBR) é conhecido como um sistema de módulos de
membrana (membrane bioreator) e são reatores biológicos onde a separação de sólidos se dá por
microfiltração através de membranas com tamanho de poro variando de 0,1 a 0,4 μm (METCALF
et al., 2003). Além disso, o MBR é geralmente identificado como um processo híbrido em que há
combinação de um processo biológico, aeróbio ou anaeróbio, a um processo físico de filtração por
membranas (GIACOBBO et al., 2011). Embora a maior parte das pesquisas utilize o MBR
combinado a processo biológico aeróbio, o sistema MBR pode ser aplicado em reatores anaeróbios
de fluxo ascendente também com sucesso. É o que se chama de retrofit (TOMAZ, 2010).
O MBR oferece inúmeras vantagens em relação às tecnologias atuais, de tal forma que o
efluente tratado, ou seja, o permeado, possui qualidade elevada, pois apresenta ausência de
contaminação fecal e de sólidos suspensos. Suas características são superiores, na maioria dos
casos, àquelas obtidas por uma estação convencional de tratamento de efluentes (VIANA, 2004;
RÖHRICHT et al., 2010).
O sistema de MBR atingiu nos últimos 15 anos uma importante inclusão no mercado de
tratamento de efluentes, em 2004, já havia mais de 2200 exemplares instalados pelo mundo (YANG
et al., 2006; HAI et al., 2011). Atualmente, com processos associados, os MBRs são considerados
os sistemas de depuração mais eficazes contra os resíduos de fármacos e hormônios (SANTOS et
al., 2011). As vias de tratamento e remoção desses poluentes por MBR têm sido amplamente
investigadas (MELINA et al., 2006; CIRJA et al, 2008; TADKAEW et al., 2011; LUO et al.;
PESSOA et al., 2014)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos pesquisadores tem apontado que os microcontaminantes com poder de disrupção


endócrina podem afetar negativamente os organismos expostos, alterando a saúde e até a sua

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sobrevivência com extinção de espécies ou a redução do número de populações. Mesmo diante


desse cenário estabelecido, ainda não está completamente definido qual a real amplitude dos riscos
conexos à presença desses micropoluentes no meio ambiente, pois os efeitos individuais de um
contaminante emergente podem ser significativamente subestimados. As patologias ocasionadas por
exposição a esses poluentes podem não ser causadas apenas por uma substância, mas por uma
mistura delas que pode ter decorrência sinérgica.
O controle sobre a detecção e remoção dos microcontaminantes em grande parcela das ETEs
praticamente inexiste. Embora a maior parte dessa realidade se deva ao fato de não haver lei no
Brasil e em vários países do mundo para monitoramento dessas substâncias, outro agravante é a
ausência de tecnologias economicamente acessíveis que sejam passíveis de aplicação e eficientes
para remoção dos microcpoluentes emergentes. Tecnologias à base de membranas já evidenciaram
resultados satisfatórios, contudo ainda são técnicas onerosas e que requer mão-de-obra específica e
qualificada para sua operação, o que impede a replicabilidade de sistemas de tratamento com MBRs
em vários locais.
No que se refere à elaboração de requisitos legais para o monitoramento é relevante
considerar as diversas fontes de exposição para efetuar os cálculos, se instituída posteriormente
legislação que estabeleça os valores máximos permitidos (VMP) de cada microcontaminante.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: CRIAÇÃO DE UM PONTO DE ENTREGA


VOLUNTÁRIA DE ÓLEO DE COZINHA EM UMA ESCOLA ESTADUAL DO
MUNICÍPIO DE CAMARAGIBE/PE1

Gemima Manço de MELO


Doutora em Botânica, Professora na Escola Estadual Timbi
gemimamelo@hotmail.com
Milenna Camille Santana da SILVA
Discente do 9º ano do Ensino Fundamental II na Escola Estadual Timbi
milenna.camille.456@gmail.com
Adriely Karla da Silva BARBOSA
Discente do 9º ano do Ensino Fundamental II na Escola Estadual Timbi
adriely.karla00@gmail.com
Regina da Silva SANTOS
Discente do 9º ano do Ensino Fundamental II na Escola Estadual Timbi
regynnasantos2015@gmail.com

RESUMO
A produção de lixo é um problema cotidiano e que tem contribuído para a degradação ambiental. O
Brasil é considerado o terceiro país em produção de resíduos e dentre os agentes poluidores o óleo
de cozinha destaca-se por sua alta capacidade de contaminar o solo e a água. O objetivo do trabalho
foi transformar uma Escola Estadual do Município de Camaragibe/Pe em um ponto de entrega
voluntária de óleo de cozinha e sensibilizar a comunidade escolar quanto aos problemas ambientais
provocados pelo seu descarte inadequado. Inicialmente foi firmada uma parceria com a indústria
ASA, que realiza um programa socioambiental de coleta de óleo de cozinha. Foram confeccionados
panfletos para auxiliar na divulgação do trabalho e na conscientização da comunidade escolar. Foi
aplicado um questionário socioambiental contendo 6 perguntas para 510 discentes. Os resultados
demonstraram que o óleo é utilizado com frequência, na residência de 90% dos entrevistados. A
maioria dos discentes (54%) não conhecem nenhuma maneira de reciclar o óleo de cozinha, por
outro lado, 46% citaram que o mesmo pode ser utilizado na fabricação de sabão. Também foi
possível observar que 58% dos discentes sabem que o óleo pode contaminar a água, porém, por não
conhecerem instituições que recolham o óleo, continuam descartando o mesmo de forma
inadequada. Com a campanha de conscientização foi possível arrecadar 70 litros de óleo de cozinha
e através da parceria com a ASA, a escola se tornou um ponto de entrega voluntária de óleo de
cozinha.
Palavras Chave: coleta de óleo, logística reversa, meio ambiente, educação ambiental, reciclagem.
ABSTRACT:
The production of waste is a daily problem and has contributed to environmental degradation.
Brazil is considered the third country in production of waste and among polluting agents cooking
oil stands out because of its high capacity to contaminate soil and water. The objective of the work
was to transform a State School of Camaragibe /Pe Municipality into a point of voluntary delivery
of cooking oil and to sensitize the school community about the environmental problems caused by
their inappropriate disposal. Initially a partnership was signed with the ASA industry, which carries
out a socio-environmental program for the collection of cooking oil. Pamphlets were made to help

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

publicize the work and raise awareness in the school community. A socio-environmental
questionnaire containing 6 questions was applied to 510 students. The results showed that oil is
frequently used in the residence of 90% of respondents. Most students (54%) do not know any way
to recycle cooking oil, on the other hand, 46% cited that it can be used in the manufacture of soap.
It was also possible to observe that 58% of the students know that the oil can contaminate the water,
but they d'not know institutions that collect oil and they continue to discard the oil in an inadequate
way. With the awareness campaign it was possible to collect 65 liters of cooking oil and through the
partnership with ASA, the school became a voluntary delivery point for cooking oil.
Keywords: Oil collection, reverse logistic, environment, environmental education, recycling.

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental é um problema que tem evoluído devido ao crescimento urbano


desordenado e a alta produção de lixo (COSSICH et al., 2014). Em relação a produção anual de
lixo, o Brasil encontra-se como o quarto país em geração de resíduos (cerca de 78 milhões de
toneladas), ficando atrás de países como China, Estados Unidos e Índia (SILVA et al., 2017).
Dentre os vários contaminantes existentes no lixo doméstico, o óleo de cozinha se destaca. Este
quando descartado de maneira inadequada é extremamente agressivo ao meio ambiente (VIEIRA et
al., 2015).
O óleo é uma substância insolúvel em água (hidrofóbica), constituído por triglicerídeos
resultantes da combinação de uma unidade de glicerol e três unidades de ácidos graxos (STRAYER
et al., 2016). A maioria dos óleos vegetais são obtidos a partir de grãos ou sementes de plantas
oleaginosas como: soja, milho, girassol, oliveira, coco, sementes de palma, canola, amendoim,
linhaça e algodão, que além de fornecerem o óleo fornecem também uma refeição rica em proteínas
(GUNSTONE, 2002).
Segundo a empresa alemã, Oil Word, o Brasil produz nove bilhões de litros de óleos
vegetais por ano, 1/3 desse montante é composto pelos óleos comestíveis. Porém, apenas 1% do
total de óleo produzido é devidamente coletado e o restante é descartado de forma incorreta
(ECÓLEO). O descarte de restos de óleo em locais como a pia da cozinha, o solo do quintal ou o
lixo doméstico pode parecer algo inofensivo, mas na verdade pode provocar sérios danos ao
ambiente. De acordo com Weyer & Nora (2015) um litro de óleo é capaz de esgotar o oxigênio de
até 20 mil litros de água, formando, em poucos dias, uma fina camada sobre uma superfície de 100
m², o que bloqueia a passagem de ar e luz, impedindo reações químicas vitais, como a respiração e a
fotossíntese.
Quando descartado diretamente no ralo da pia, o óleo pode causar incrustações nas paredes
das tubulações, obstruindo as redes de esgoto (COSSICH et al., 2014), como também pode provocar
mau cheiro, proliferação de insetos e animais roedores (LIMA et al., 2014). De acordo com Serrão
et al. (2016) o descarte do óleo e gorduras em pias ou até mesmo em vasos sanitários encarece os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

processos de tratamento do esgoto em até 45%. Da mesma forma, quando descartado no ambiente,
o óleo pode provocar a impermeabilidade dos leitos dos rios e também de terrenos próximos, o que
pode ocasionar enchentes (BRANCO et al., 2013).
Por parte da União, ainda não existe uma legislação específica quanto ao descarte do óleo de
cozinha, porém existem algumas legislações estaduais, como a do estado de Pernambuco, Lei nº
14.378 de 2 de setembro de 2011, que em seu Art. 2º estabelece que:

―Art. 2º Ficam os bares, restaurantes, padarias, condomínios residenciais, sejam eles


horizontais ou verticais, além de indústrias que utilizem do óleo vegetal comestível e
demais estabelecimentos similares obrigados a instalarem, em local visível e de acesso
regular a clientes, funcionários ou moradores, um compartimento específico destinado a
receber o descarte do óleo vegetal comestível a fim de propiciar seu recolhimento e
destinação para reciclagem (PERNAMBUCO, 2011). ‖

Para evitar a degradação do ambiente, a população precisa deixar de descartar o óleo de


fritura de forma inadequada. Reutilizar o óleo vegetal é uma atitude simples e o mesmo pode ser
utilizado para produção de massa de vidraceiro, ração animal (BRANCO et al., 2013), na fabricação
de tintas, vernizes, lubrificantes, óleos para engrenagens, biodiesel, sabão, detergentes, glicerina e
até produtos de beleza (WEYNER & NORA, 2015).
Atualmente alguns municípios do Brasil apresentam empresas que fazem a logística reversa
do óleo de cozinha. Em Recife/PE a ASA Indústria e comércio LTDA, promove um programa
socioambiental denominado ―Mundo Limpo Vida Melhor‖, que realiza coleta seletiva de óleo de
fritura. Além do importante papel ambiental, todo o óleo de fritura coletado é reutilizado no
processo de fabricação do sabão em barra bem-te-vi® e com a venda do produto a ASA contribui
para à Fundação Alice Figueira de apoio ao Instituto Medicina Integral Professor Fernando Figueira
(IMIP).
A parceria com empresas que realizam a logística reversa do óleo de cozinha é importante
para evitar a degradação ambiental por esse tipo de resíduo. De acordo com Costa et al. (2015) a
contextualização da Educação Ambiental nas escolas pode inserir no cotidiano das pessoas a
consciência necessária para contribuir com a preservação do meio ambiente. Nesse contexto, a
escola torna-se um ambiente propício para despertar a consciência da comunidade escolar para esse
tipo de problema, que faz parte do cotidiano da população.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo transformar uma Escola Estadual
do Município de Camaragibe/Pe em um ponto de entrega voluntária de óleo de cozinha usado e
sensibilizar a comunidade escolar quanto aos problemas ambientais causados pelo seu descarte
inadequado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MATERIAL E MÉTODOS

Local de desenvolvimento do trabalho:

O trabalho foi desenvolvido na Escola Timbi, no período de março a julho de 2017. É uma
escola estadual de nível Fundamental II, localizada no bairro Timbi, município de
Camaragibe/Pernambuco. A escola possui 16 salas de aula, um quadro funcional composto por 55
docentes, 2 analistas educacionais, 1 educadora de apoio, 1 secretária, 1 vice-diretora e 1 diretora.
Apresenta 1263 discentes com faixa etária de 11 a 16 anos, matriculados nos turnos da manhã e
tarde.

Estabelecimento de parceria com a ASA Indústria e comércio LTDA

Inicialmente foi feito um contato por meio de telefone e e-mail com a ASA Indústria e
comércio LTDA. Esta desenvolve um programa socioambiental, denominado ―mundo limpo vida
melhor‖, que realiza coleta seletiva de óleo por meio de doações. Após as formalidades do primeiro
contato a escola recebeu uma pasta contendo: um documento com a apresentação do programa, a
legislação estadual vigente, que trata da reciclagem do óleo vegetal comestível e um termo de
adesão ao programa. Posteriormente foi realizado um contato com a gestão da escola para solicitar a
autorização para realização da pesquisa e adesão ao programa socioambiental. A parceria foi
firmada por meio do preenchimento e envio do termo de adesão, termo este que tornou a escola
colaboradora do programa.

Divulgação do trabalho e coleta seletiva do óleo

Foram confeccionados panfletos (Figura 1A) para auxiliar na divulgação do trabalho. A


campanha de conscientização e arrecadação do óleo de cozinha teve início com a fixação dos
panfletos em todas as salas de aula da escola e em áreas de grande circulação dos discentes. O
projeto foi divulgado através de explanação direta para toda a comunidade escolar (Figura 1B), com
pessoas que trabalham com a venda de frituras (batata frita, pastel e acarajé) e nas redes sociais.
Para auxiliar na coleta, a ASA disponibilizou um recipiente plástico (bombona) com
capacidade para 50 litros (Figura 1C), o qual foi utilizado para armazenar o óleo coletado. Todo o
óleo coletado foi acondicionado em garrafas do tipo Pet e as mesmas foram acondicionadas dentro
da bombona. A partir do momento que a bombona estava cheia a ASA era comunicada e a mesma
fazia o transporte do óleo até a fábrica, localizada no munícipio de Recife/PE.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1. Coleta seletiva do óleo: (A) modelo do panfleto fixado na Escola Timbi; (B) divulgação do projeto
para os estudantes da Escola Timbi (C) recipiente com capacidade para 50 litros, utilizado para
armazenamento do óleo.

Aplicação de Questionário Socioambiental e Análise Estatística

Foi elaborado um questionário socioambiental (Figura 2) com variáveis qualitativas,


composto por cinco variáveis dicotômicas (que apresentavam duas respostas possíveis) e uma
variável categórica (que apresentava mais de duas respostas possíveis), totalizando seis perguntas.
O questionário foi aplicado de forma aleatória e teve como público alvo os discentes do 6º ao 9º ano
do Ensino Fundamental II, dos turnos da manhã e da tarde, o que totalizou 510 entrevistados.

Figura 2. Questionário aplicados aos discentes do 6º ao 9º ano do ensino Fundamental II da Escola Timbi.

Os dados coletados foram processados, analisados e posteriormente organizados em gráficos


utilizando-se o programa Microsoft Excel (2010). A unidade amostral foi composta por 510
discentes, de um total de 1263 distribuídos nos turnos da manhã e tarde, o que representou um total
de 40% da unidade amostral.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A avaliação da frequência do uso do óleo de cozinha mostrou que na residência dos


entrevistados o óleo de cozinha apresenta uma frequência de uso de 90% (Figura 3A). Esse
resultado está diretamente ligado aos hábitos alimentares da população, que na presente pesquisa
parece demonstrar ser rica em frituras. Resultados semelhantes foram obtidos em um município do
Rio Grande do Sul, no qual ficou evidente que alimentos preparados por fritura faziam parte das
preferências alimentares de 89% dos entrevistados (TOMASI et al., 2014). De acordo com Weyer
& Nora (2015) a produção e o consumo de alimentos fritos têm aumentado nos últimos anos, o que
contribui para o aumento da produção de óleo e gordura residual. Esse comportamento muitas vezes
tem sido influenciado por razões sociais e econômicas, pois muitas vezes a população dispõe de
menos tempo para o preparo dos seus alimentos (ALBUQUERQUE et al., 2014).

Figura 3. Resultados do questionário socioambiental aplicado aos discentes do 6º ao 9º ano do ensino


Fundamental II da Escola Timbi: (A) primeira pergunta; (B) segunda pergunta; (C) terceira pergunta.

Quando indagados a respeito de como o óleo utilizado é descartado, 42% dos discentes
responderam que o mesmo é descartado na pia e 20% no solo. Apenas 38% dos entrevistados
relatam que o óleo é armazenado (Figura 3B). Esses resultados demonstram que dos 510
entrevistados, um total de 317 (62%) discentes mostram que suas residências contribuem para a
poluição do solo e da água. Esses resultados demonstram que hábitos que parecem ser inofensivos
acabam por ajudar na degradação ambiental. Pois, uma vez disposto no solo, o óleo entra em
contato diretamente com a água, que dependendo das características físico-químicas do solo, do
relevo e do regime climático, percola ou escoa superficialmente, podendo migrar ou até mesmo
atingir mananciais hídricos e eventualmente o lençol freático (TOMASI et al., 2014). Atentar-se
para a questão do descarte do óleo de cozinha é essencial para a preservação dos recursos naturais,
em especial, a água, bem natural imprescindível ao ser humano e a grande prejudicada quando há
descarte incorreto do óleo (SERRÃO et al., 2016).
O problema do descarte inadequado do óleo é uma realidade no Brasil. Pesquisas com
discentes em uma escola no Mato Grosso do Sul constatou que 39,4% das famílias dos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

entrevistados descartam esse resíduo de maneira incorreta (GODOY et al., 2010). O mesmo
acontece no município de Ijuí, no Rio Grande do Sul, onde 34% dos entrevistados possuem os
mesmos hábitos (TOMASI et al., 2014). Alguns estados, como exemplo o de Pernambuco,
apresentam legislações que estabelecem como deve ser realizado o recolhimento do óleo e a sua
destinação para reciclagem. Porém, para que ocorresse a redução da degradação do ambiente por
esse agente poluente seria fundamental a criação de uma legislação nacional, que pudesse promover
fiscalização e a conscientização da população.
Em relação a reutilização do óleo de cozinha, 53% afirmaram que o mesmo não é utilizado
apenas uma vez (Figura 3C). A reutilização do óleo de cozinha após a fritura de alimentos não é um
hábito muito saudável. De acordo com Paiter et al. (2015) alimentos quando submetidos à fritura
em óleos reutilizados, podem apresentar excesso de gordura e ranço, formado a partir da quebra da
ligação éster, o que gera um lipídio hidrolisado, que provoca alterações no paladar e na textura do
alimento.
Durante o processo de fritura a exposição do óleo às altas temperaturas, à umidade
proveniente do alimento e ao ar resultam em alterações químicas que prejudicam a sua qualidade
(WITSCHINSKI et al., 2012). As temperaturas elevadas (aproximadamente 180ºC) aceleram os
processos oxidativos e a degradação dos lipídios, formando substâncias como a acroleína e os
peróxidos, que podem ser tóxicos ou até mesmo cancerígenos (MARQUES et al., 2009).
Um total de 54% dos discentes respondeu que não conhece nenhuma maneira de reciclar o
óleo de cozinha (Figura 4A). Em contrapartida dos 233 discentes que responderam que conhecem
alguma maneira de reciclar o óleo de cozinha, apenas 68 citaram que o mesmo poderia ser utilizado
para a fabricação de sabão caseiro. Frequentemente, o óleo utilizado em frituras, nos lares e
estabelecimentos comerciais é lançado em locais inadequados, devido à falta de informação da
população, a respeito da importância da reciclagem e dos efeitos negativos que esse tipo de material
pode trazer ao meio ambiente (LUCENA et al., 2014). Para reduzir essa prática é imprescindível a
construção de um processo contínuo de Educação Ambiental como forma estratégica de inclusão da
comunidade na conservação e na construção de um ambiente saudável e equilibrado (KLAUCK &
BRODBECK, 2010). É necessário criar ações que possam conscientizar a população de que esse
tipo de resíduo pode ser utilizado como matéria prima para a fabricação de produtos de limpeza. De
acordo com Cossich et al. (2014) a produção de produtos de limpeza e higiene a partir de óleo
comestível usado, além de ser uma possível fonte de renda é uma alternativa ambientalmente
correta, pois pode criar uma conscientização ecológica incentivando o descarte correto dos óleos
comestíveis usados. Nesse contexto, a escola torna-se uma ponte, que pode contar com os discentes
na multiplicação de hábitos corretos e, além disso, auxiliar a comunidade no processo de
desenvolvimento de práticas de reciclagem.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4. Resultados do questionário socioambiental aplicado aos discentes do 6º ao 9º ano do ensino


Fundamental II da Escola Timbi: (A) primeira pergunta; (B) segunda pergunta.

Quando questionados a respeito da informação de que o despejo inadequado do óleo pode


contaminar o lençol freático, os rios e a vida aquática, 58% dos discentes responderam que sim, que
sabiam desse risco (Figura 4B). Esse resultado pode demonstrar que muitas pessoas sabem dos
riscos que esse tipo de resíduo pode provocar, porém continuam descartando o óleo
inadequadamente. Segundo Weyer & Nora (2015) a falta de informação e de conscientização da
população sobre as consequências desta atitude é maior que o descarte propriamente dito. Apesar
das propagandas em meios de comunicação em massa, campanhas e ações educativas em escolas,
ONGs, entre outros, atitudes simples como jogar o lixo no lixeiro ainda são difíceis de serem vistas
em prática (MONTE et al., 2015). Tudo isso aumenta o problema do lixo no país, o qual não dispõe
de programas de coleta suficientes para alcançar todas as comunidades. A geração diária de
resíduos sólidos urbanos no Brasil é de aproximadamente 160 mil toneladas, das quais 30% a 40%
são passíveis de reaproveitamento e reciclagem, porém no país esse setor ainda é pouco explorado e
apenas 13% desses resíduos são encaminhados para a reciclagem (IPEA, 2017).
Quando foram questionados a respeito do conhecimento de alguma instituição que recolhe o
óleo usado, 72% dos discentes responderam que não conhecem. Quando esta pergunta é relacionada
com o questionamento anterior é possível notar que a maioria dos discentes sabem que o óleo pode
provocar contaminações, mas ao mesmo tempo não existem locais próximos aos seus bairros que
realizem a coleta desse material. Tomasi et al. (2014) em pesquisa semelhante afirmam que muitas
pessoas se preocupam com a poluição ambiental e buscam um destino mais adequado ao óleo
usado, porém, a maioria delas desconhece a existência de postos de coleta.
Diante dos resultados do questionário é possível evidenciar que enquanto não existir uma
forma de descartar o óleo de forma adequada, o mesmo irá continuar sendo descartado no meio
ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 5. Resultados da última pergunta do questionário socioambiental aplicado estudantes do 6º ao 9º ano


do ensino Fundamental II da Escola Timbi.

A parceria realizada com a ASA Indústria e comércio LTDA, conferiu a Escola Timbi um
selo verde em cumprimento a Lei nº 14.378 de 2 de setembro de 2011 (PERNAMBUCO, 2011).
Com a adesão ao programa socioambiental ―mundo limpo vida melhor‖ da ASA, a escola tornou-se
um ponto de entrega voluntária de óleo de fritura, o único conhecido no bairro do Timbi, onde a
escola está situada. Além da escola dar início a uma campanha de educação ambiental, através da
coleta do óleo, o programa reverte o volume do óleo arrecadado, em recursos financeiros à
Fundação Alice Figueira de Apoio ao IMIP.
A divulgação do trabalho feito com os discentes, os pais, os funcionários da escola, bem
como com aqueles que trabalham na cozinha foi bem recebida. O que resultou em uma arrecadação
de 70 litros de óleo.
A importância socioambiental do trabalho teve êxito em sensibilizar a comunidade escolar, a
respeito da poluição provocada pelo descarte impróprio do óleo, o que gerou a sua colaboração
efetiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

As atividades vivenciadas permitiram despertar o interesse e a curiosidade dos discentes


sobre o tema abordado. Bem como sensibilizar a comunidade escolar do quanto é importante a
contribuição de todos, na busca de meios que reduzam a poluição do ambiente.
A criação do ponto de entrega voluntária de óleo de cozinha na escola apresenta relevância
para a comunidade, a qual não dispõe de um ponto de coleta mais próximo. Contudo espera-se que
essa iniciativa continue a ser trabalhada na Escola Timbi, o que será fundamental para a
disseminação de uma maior consciência ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

AGRADECIMENTOS

As discentes do 9º ano do Ensino Fundamental II, Ana Clara Virginio Ferreira das Graças,
Geovanna Keyse Ferreira do Nascimento e Niedja Conceição Lopes da Silva, pela essencial
colaboração dada para o desenvolvimento deste trabalho. A ASA Indústria e comércio LTDA pelo
apoio na logística de coleta do óleo de fritura usado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TRATAMENTO DE EFLUENTES PARA CAMPUS UNIVERSITÁRIO

Graziela Pinto de FREITAS


Mestranda em Energias Renováveis pela UFPB
graziellapf@hotmail.com
Kardelan Arteiro da SILVA
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
kardelanok0@gmail.com
WallyssonKlebson de Medeiros SILVA
Mestrando em Energias Renováveis da UFPB e Graduado de Administração da IFPB
wallyssonk@gmail.com
HabilaYusuf THOMAS
Graduado do curso de Engenharia Química da UFRN
habilayusufthomas@yahoo.com

RESUMO
Com a crescente demanda populacional da cidade universitária, aumentam-se os despejos de
efluentes líquidos nos corpos hídricos, fazendo-se necessário um tratamento eficaz, a fim de
remover a carga orgânica poluidora antes de serem lançados em corpos receptores, evitando assim a
ocorrência da contaminação de recursos naturais. Desta forma, este estudo apresentou uma proposta
de sistema de tratamento de efluentes do Campus do CCTA/UFCG localizado no estado da Paraíba.
No desenvolvimento do estudo foram realizadas as seguintes etapas: caracterização detalhada do
Campus e o levantamento do seu atual sistema de esgotamento sanitário, diagnóstico dos possíveis
impactos ambientais decorrentes do atual sistema de tratamento de esgoto, medidas mitigadoras e
por fim foi apresentado um sistema de tratamento que melhor se adeque as condições do local em
estudo. Na metodologia fizeram-se necessárias visitas in loco, entrevistas informais a estudantes e
funcionários, foto documentação do local de estudo e pesquisas bibliográficas. A partir dos
resultados observou-se que o sistema de tratamento de esgoto do campus apresentou falhas, sendo
necessária a substituição de tal processo de tratamento. O sistema aqui proposto é composto de
processo anaeróbio via reator UASB, seguido de processo aeróbio por Lodo Ativado Convencional.
Concluiu-se que esse sistema pode ser uma alternativa viável em Campus universitário, sobretudo
localizado em região semiárida visto que é compacto, não necessitando de grandes áreas para
implantação, tem baixo custo operacional e apresenta baixo tempo de detenção hidráulica, além de
ser eficiente em regiões com elevadas temperaturas.
Palavras Chave: Impacto Ambiental; Degradação; Reator UASB
ABSTRACT
With the growing population demand of the university city, the effluents from liquid bodies are
increased in the water bodies, and an efficient treatment is necessary in order to remove the
polluting organic load before being sent to receiving bodies, thus avoiding the occurrence of
Contamination of natural resources. Thus, this study presented a proposal for an effluent treatment
system of the CCTA / UFCG Campus located in the state of Paraíba. In the development of the
study the following steps were carried out: detailed characterization of the Campus and the survey
of its current sewage system, diagnosis of possible environmental impacts resulting from the current
sewage treatment system, mitigating measures and finally a treatment system was presented That
better suit the conditions of the place under study. The methodology required on-site visits, informal
interviews with students and staff, photodocumentation of the study site and bibliographic research.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

From the results it was observed that the sewage treatment system of the campus presented flaws,
being necessary the substitution of such treatment process. The system proposed here is composed
of anaerobic process via UASB reactor, followed by aerobic process by conventional activated
sludge. It was concluded that this system can be a viable alternative in Campus universitário,
mainly located in semi-arid region since it is compact, does not need large areas for implantation,
has low operational cost and has low hydraulic holding time, besides being efficient in Regions with
high temperatures
Keywords: Environmental Impact; Degradation; UASB Reactor

INTRODUÇÃO

As ações antrópicas promovem alterações nos recursos naturais e causam impactos


ambientais significativos como, por exemplo, a poluição de corpos hídricos e, de forma indireta
podem levar a escassez da água. Assim a gravidade dessa situação alerta para a necessidade de
mudanças de comportamento que possa compatibilizar as alterações provocadas com a capacidade
de recuperação da natureza (BRAGA et al., 2005).
A escassez hídrica é um problema que assusta a sociedade do século XXI, pois a água que
antes era considerada como uma fonte inesgotável está se tornando um bem finito devido ao seu uso
indiscriminado, ao lançamento de cargas poluidoras nos mananciais, entre outras medidas adversas.
Ademais, o acelerado processo de deterioração do ambiente possui uma série de implicações
na disponibilidade de recursos naturais. O lançamento de esgoto sanitário sem tratamento prévio
pode provocar a proliferação deorganismos patogênicos e favorecer o surgimento de doenças,
devido à poluição do solo e dos corpos de água. O excesso de substância como o fósforo (P) e o
nitrogênio (N) pode provocar o processo de eutrofização dos recursos hídricos ao impactar, de
maneira direta, nos parâmetros físicos, químicos e biológicos das águas, impossibilitando seu uso
para consumo e lazer (PHILIPPI JR., 2005).
Dados sobre o acesso da população brasileira ao saneamento básico mostram que em 2008
apenas 28,5% dos municípios brasileiros tratavam seus efluentes (IBGE, 2010). Essas informações
mostram a vulnerabilidade da população brasileira assim como a qualidade do meio ambiente e
consequentemente do modo de vida das pessoas.
A disposição adequada de efluentes deve atender aos objetivos sanitários, estéticos e
socioeconômicos, e se converter em melhoria da saúde da população e em redução nos recursos
financeiros aplicados no tratamento de doenças, assim como a diminuição dos custos no tratamento
da água para abastecimento, eliminação da poluição estética e melhoria no desenvolvimento e
conservação ambiental.
Contudo, deve-se ressaltar que a coleta e tratamento de esgoto, é uma importante atividade
no que se diz respeito à preservação do meio ambiente e a saúde da população. À medida que os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

indícios de poluição começam a surgir e causar impacto ambiental negativo, a necessidade de tratar
efluentes torna-se imperativo. Atualmente é bastante visível a degradação de corpos hídricos devido
ao lançamento de efluentes sem o devido tratamento.
Diante do exposto, necessário se faz o diagnóstico quanto à geração, tratamento e disposição
final de efluentes gerados na Universidade Federal de Campina Grande, Campus CCTA, localizado
no município de Pombal – PB com a finalidade de adequá-los aos padrões estabelecidos pela
legislação ambiental brasileira, uma vez que a região em que se encontra inserido o Campus, não é
atendida por sistema coletivo de tratamento de esgoto. Com o objetivo de promover melhorias na
qualidade do sistema de tratamento de esgoto, assim também como atender às futuras populações
universitárias com uma infraestrutura eficaz, foi proposto um sistema de tratamento que melhor se
adeque às condições do local em estudo, para que o Campus da universidade passe a tratar seu
próprio esgoto.
Sendo assim, esse trabalho visa o dimensionamento de um sistema de tratamento de esgoto
que utiliza Processo Anaeróbio com Reatores UASB seguido pelo processo de Lodo Ativado, para a
população universitária do CCTA,

METODOLOGIA

Caracterização da Área de Estudo

Este estudo foi desenvolvido no Campus Pombal da Universidade Federal de Campina


Grande – UFCG, localizado na cidade de Pombal Figura 1, que se situa na região oeste do estado da
Paraíba e na Mesorregião do Sertão Paraibano. O referido Campus tem 15,55 hectares de área e
compreende um ambiente típico do bioma caatinga (ISMAEL, 2014).

Figura 1 – Localização da Área de Estudo

Fonte: Autoria própria, 2015.

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Situação Atual do Esgotamento Sanitário Dentro do Campus Pombal

O levantamento da situação atual do esgotamento sanitário do Campus do CCTA foi


realizado por meio de visitas in loco, fotografias, documentação, produções bibliográficas já
realizadas sobre o tema e questionários informais aos alunos e funcionários do referido Campus,
também foram elencadas informações da subprefeitura do referido Campus.

Possíveis Impactos Ambientais Decorrentes do Atual Sistema de Tratamento de Esgoto

Feito o levantamento da situação atual do Campus, foram diagnosticados os possíveis


impactos ambientais decorrentes do atual sistema de esgotamento sanitário do CCTA. Esse
diagnóstico foi realizado por meio de visitas em toda a área de estudos e referências bibliográficas
já realizadas na área.

Medidas Mitigadoras que Promovam a Melhoria na Qualidade do Serviço

Medidas mitigadoras são aquelas que visam diminuir os efeitos dos impactos negativos
FOGLIATTI et al. (2004). Tais medidas foram propostas com o objetivo de melhorar as condições
estéticas e sanitárias do Campus. As medidas mitigadoras do presente trabalho foram indicadas com
o auxílio de consultas a trabalhos técnicos e científicos realizados na área.

Alternativa de Sistema de Tratamento de Efluentes para o Campus do CCTA

O sistema aqui proposto segue o estabelecido na Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT) - NBR 12.209/2011, que versa sobre a ELABORAÇÃO DE PROJETOS HIDRÁULICOS
– SANITÁRIOS de estações de tratamento de esgotos sanitários e é composto das unidades de
tratamento preliminar: grades e desarenadores, reator anaeróbio UASB, lodo ativado e decantador
secundário Figura 2.

Figura 2 – Configuração do sistema adotado

Fonte: Sperling, 2002

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Dimensionamento do Sistema de Tratamento de Efluentes

No que tange ao método utilizado para dimensionamento do sistema de tratamento proposto


no presente trabalho, em primeiro lugar se obteve os dados necessários para realização do sistema,
como: dados da população universitária adquiridos na coordenação de cada curso, assim como
também na subprefeitura do referido Campus. Também foram realizadas pesquisas referentes ao
assunto e técnicas de dimensionamento propostas pela ABNT, ambos para obter os demais dados
em estudo.

População Total Universitária

A população universitária (estudantes, professores servidores, técnicos e terceirizados) atual


é de 1232 habitantes, conforme disposto na Tabela 1.

Tabela 1 – População acadêmica da UFCG- Campus Pombal.


Eng. Eng. de
Ambiental Alimentos Agronomia Eng. Civil Residentes Mestrado Terceirizados
Alunos 253 219 237 98
Professores 30 22 19 13
Técnicos 6 5 9 1 91 165 63
Fonte: Autoria própria, 2016

Segundo informações obtidas junto ao setor administrativo do centro, existe a possibilidade


da criação dos cursos de graduação em Engenharia Química e Arquitetura. Assim, tendo em vista a
garantia do sistema em longo prazo, foi considerado para efeito de projeto o dobro da população
atual, sendo esta de 2464 habitantes. Divididos entre permanentes (residentes) e temporários
(professores, funcionários e estudantes que não residem na residência universitária),
respectivamente 182 e 2282. Para o dimensionamento das partes constituintes do sistema de
tratamento de esgoto, faz-se necessário determinar os valores de vazões média e instantânea.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da Área de Estudo

Atualmente na UFCG- Campus Pombal, estão sendo desenvolvidas atividades referentes aos
cursos de graduação em Agronomia, Engenharia Ambiental, Engenharia de Alimentos e Engenharia
Civil e, dois cursos de pós-graduação em Sistemas Agroindustriais (profissional e acadêmico) e
Horticultura Tropical, totalizando 4 cursos de graduação e 3 de pós- graduação stricto sensu. Todos
os prédios e demais partes do Campus são abastecidos pelo sistema de distribuição de água da
Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (CAGEPA), que é utilizada para limpeza predial,
descargas sanitárias, pias, bebedouros, laboratórios, dentre outros.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo informações obtidas na administração do Campus, as atuais instalações contam


com 15 edificações. As duas centrais de aulas são compostas por 28 amplas salas, nesses espaços
funcionam as aulas teóricas. Já as centrais de laboratórios possuem 38 salaslaboratoriais. As duas
residências Universitárias dividem-se em 14 quartos em cada prédio e 14 banheiros. A central de
professores é composta por 44 salas e 4 banheiros, além de uma copa. A administração e os demais
prédios são divididos em ambientes com várias salas dentre eles um auditório e um mini auditório.
Ao todo existem 62 banheiros distribuídos por todo o Campus. O centro de vivência conta com duas
cantinas, espaços para serviços de fotocópia e banheiros.

Atual Sistema de Tratamento de Efluentes do CCTA

Tal sistema é formado por unidades de fossas sépticas instaladas nas diversas edificações do
CCTA. Vale ressaltar que em locais desprovidos de sistema coletivo de esgotamento sanitário, as
soluções individuais são alternativas viáveis para atender aos objetivos propostos na legislação,
porém devido às características locais, o atual sistema apresenta falhas no funcionamento. Outro
ponto que deve ser considerado é que o CCTA passa por processo de expansão, há menos de três
anos foi contemplado com a residência universitária, bloco para a pós-graduação, centro de
convivência, bloco de central de aulas III e restaurante universitário. Assim, o atendimento via
sistema individual perde a sua razão de existir, uma vez que o campus passou a ter várias
edificações.
Atualmente todos os esgotos sanitários da UFCG- Campus Pombal, são tratados por
sistemas individuais de tratamento de efluentes, através de fossas sépticas, levando-se em
consideração que o bairro onde o Campus está inserido não dispõe de sistema de esgotamento
coletivo. Segundo informações obtidas na Secretaria de Infraestrutura da cidade de Pombal – PB,
este serviço encontra-se em implantação no município há aproximadamente 4 (quatro) anos e a
primeira etapa contemplou apenas o centro da referida cidade, fazendo-se necessário a adoção de
alternativas individuais de tratamento de esgotos como a adotada no campus do CCTA.
Vale ressaltar que o Campus completou 10 anos de existência, isto é, ele antecedeu a
primeira etapa de implantação do sistema de esgotamento sanitário no município, o que corrobora a
adoção da medida. Com relação às instalações das fossas sépticas para o tratamento de águas
negras, o CCTA conta com 13 instalações dispostas nas proximidades das edificações, como pode
ser observado na FIG. 3, cada uma apresenta um volume de 8 m3. Tais sistemas não apresentam
vala de infiltração devido às características do solo, por ser um solo rochoso, segundo informações
obtidas no local, assim sendo, o Campus conta apenas com tratamento a nível primário.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 – Localização das fossas sépticas.

Fonte: Autoria própria, 2016

Além do Campus do CCTA ser servido por sistema de tratamento primário, há registro de
falhas no sistema, pois segundo relatos da população universitária (alunos e funcionários), é comum
problemas envolvendo o excesso de vazão dos sistemas individuais das edificações, o que afeta a
população acadêmica, ocasiona a proliferação de mosquitos e que pode causar outros problemas
ambientais.
A Figura. 4.a e 4.b, ilustram a fossa séptica localizada em frente à biblioteca, de acordo com
relatos de funcionários e alunos, a mesma apresenta vazamento em horário de pico (entre 12:00 e
13:00 horas), devido a alta demanda de efluentes. Situação também registrada nas fossas sépticas
que atendem aos laboratórios I e II Figura 4c, isto se deve provavelmente ao sub dimensionamento
dos sistemas.
Figura 4 – Fossas sépticas localizadas ao lado da biblioteca

a)

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b)

c)
Fonte: Autoria própria, 2016

Levantamento dos Principais Impactos Ambientais Decorrentes do Atual Sistema de Tratamento De


Esgoto

A partir de observações feitas no local em estudo, foram elencadas as ações de despejos de


esgotos em locais inadequados, com ênfase para os que apresentam um potencial de causar danos
ambientais, como, por exemplo, contaminação do solo, proliferação de vetores e consequentemente
o comprometimento da saúde da população acadêmica, poluição das águas onde tais esgotos são
lançados, etc.
O principal aspecto ambiental identificado foi o acúmulo de esgoto parado e sem o devido
tratamento, podendo causar impactos ambientais negativos, consequentemente comprometendo a
fauna e a flora local, assim como a saúde da população que ali vive, proporciona odor desagradável
prejudicando o trabalho dos funcionários e alunos, aumenta a proliferação de mosquitos perto dos
locais de estudo, como, por exemplo, biblioteca e residência universitária, entre outros efeitos
negativos Figura 5. Tais impactos são causadores de prejuízos tanto ao meio físico como ao meio
biótico e antrópico.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 5 – Acúmulo de água parada próximo às dependências do Campus

Fonte: Autoria própria, 2016

Propostas de Medidas Mitigadoras

Após a avalição prévia das condições de esgotamento sanitário dentro do Campus do CCTA
foram formuladas medidas de controle ambiental, como: melhoria no sistema de tratamento através
de uma expansão das fossas sépticas, apresentando um pós tratamento para as águas negras. Outra
medida a ser levada em consideração é a recuperação e recomposição paisagística das áreas já
afetadas por tais impactos, medidas de controle decorrentes do armazenamento, transporte e
disposição final do lodo, entre outras.
Com o objetivo de reduzir tais impactos negativos podem ser adotadas medidas de
reutilização de águas cinza, isto é, o uso desta água de qualidade inferior, para fins menos nobres,
tais como lavagens de piso, rega de jardim, uso nas descargas, entre outros. Tal alternativa poderá
reduzir a vazão afluente dos sistemas e consequentemente, minimizar os problemas relativos aos
transbordamentos dos sistemas, bem como os danos relativos à vazão excedente, assim como
também proporcionar a comunidade acadêmica alternativas de uma melhor educação ambiental.

Dimensionamento do Sistema de Tratamento de Esgoto

Para facilitar a discussão, optou-se pela análise individual de cada componente do sistema
de tratamento. Conhecida a atual população universitária e estimada uma população futura, pode-se
calcular as vazões do efluente encaminhado a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), como
mostrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Parâmetros iniciais de projeto.
Dados de Projeto Resultados
População total 2464
Vazão média total 137.760 l/hab.dia
Vazão instantânea 247.968 l/hab.dia
Fonte: Autoria própria, 2016

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Abaixo são mostrados os valores para o dimensionamento do tratamento preliminar. O


gradeamento é composto por grades grossas e finas Tabela 3.

Tabela 3 – Dimensões do gradeamento


Gradeamento grosso Dimensões
Largura do canal 0,20 m
Altura do canal 0,80 m
Comprimento do canal 2,50 m
Eficiência 84%
Gradeamento fino Dimensões
Largura do canal 0,20 m
Altura do canal 0,8 m
Comprimento do canal 2,50 m
Eficiência 71%
Fonte: Autoria própria, 2016

Os valores obtidos para a caixa de areia mostram que a mesma está dentro dos padrões
estabelecidos pela NBR 12.209/2011 que rege as normas para projetos de tratamento de esgoto
sanitário. Também foi observado que a caixa de areia não ocupará espaços muito extensos Tabela 4,
tendo em vista que o sistema de tratamento é um sistema compacto, podendo ser dimensionado para
locais onde o espaçamento seja um fator que deva ser levado em consideração.

Tabela 4 – Valores estabelecidos para a caixa de areia.


Parâmetros Resultados
Altura 1,0 m
Largura 0,5 m
Comprimento mínimo 1,5 m
Velocidade máxima 0,20 m/s.
real
Profundidade da 0,20 m
câmara de
sedimentação
Fonte: Autoria própria, 2016

Apresentam-se na Tabela 5, os valores obtidos para o dimensionamento do sistema de


tratamento com reator UASB. Como se pode observar os valores do DBO e DQO ambos
apresentaram uma alta concentração de carga orgânica e inorgânica no momento de entrada do
esgoto bruto no reator. Operando-se com uma eficiência de 63% na remoção de DBO e 66% na
remoção de DQO, pode-se notar um decaimento significativo nos dois valores (DBO e DQO), após
passar pelo tratamento primário.
Um dos principais fatores que influenciam na redução de DBO e DQO é o tempo de
detenção hidráulico (TDH) em que o mesmo opera, atuando de acordo com as condições climáticas
de cada região. O tipo de sistema proposto nesse trabalho é bastante utilizado em regiões de clima
quente, como o sistema foi dimensionado para o campus do CCTA, localizado no município de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Pombal, pode- se levar em consideração altas temperaturas, tornando-se um fator favorável para o
tratamento, pois a temperatura propicia um ambiente adequado para que os microrganismos se
desenvolvam. Foram consideradas temperaturas acima de 26oC, com temperatura elevada, logo o
TDH para essas condições é de aproximadamente 6 horas, como recomendado pela NBR
12.209/2011.
O sistema de tratamento através do reator UASB, apresentou uma boa eficiência, como se
pode observar na Tabela 5, operando de forma satisfatória. Contudo, faz-se necessário o pós-
tratamento, para que o efluente final atenda aos padrões de lançamento estabelecidos pela legislação
e ainda que este efluente apresente qualidade compatível com o reuso para fins menos nobres, para
tanto, fez-se uso do sistema de Lodo Ativado como unidade de pós-tratamento do efluente do
UASB.
Tabela 5 – Parâmetros calculados para o reator UASB
Parâmetros do Reator UASB Resultados
DBOefluente (Demanda 207,5 mg/L.
Bioquímica de Oxigênio)
DQOefluente (Demanda 415 mg/L
química de Oxigênio)
TDH (Tempo de Detenção 6 horas
Hidráulico)
Temperatura > 26 0C
Volume 36 m3
Altura útil 4m
Área adotada 9 m2
Largura 3m
Comprimento 3m
Eficiência na remoção de DBO 63%
Eficiência na remoção de 66%
DQO
DBO após o pré-tratamento 77 mg/L
DQO após o pré-tratamento 141,1 mg/L
Fonte: Autoria própria, 2016

A eficiência do tratamento proposto atende ao estabelecido na Resolução CONAMA


357/2005. Os parâmetros do sistema de Lodo Ativado encontram-se dispostos na Tabela 6

Tabela 6 – Parâmetros encontrados para o Lodo Ativado


Parâmetros Resultados
avaliados
Eficiência esperada 90%
Idade do lodo 10 dias
Vasão de 1,59 L/s
recirculação
DBO final 7,75 mg/L
DQO final 14 mg/L
Fonte: autoria própria, 2016

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONCLUSÃO

O Campus CCTA, faz parte da estrutura multicampi da Universidade Federal de Campina


Grande e tendo em vista que este faz uso de sistema de tratamento de esgoto através de fossas
sépticas que são distribuídas nas proximidades das edificações da cidade universitária, porém que
apresentou falhas, que muitas vezes se traduzem em reações adversas tanto ao meio ambiente como
a população acadêmica, é que buscou-se alternativa que vise melhores condições sanitárias no local.
Diante do exposto pode-se destacar que o processo biológico por reator UASB apresenta-se
como alternativa viável de acordo com as características do local a ser implantado, apresentando
uma significativa remoção de DBO/DQO, apresentando baixos requisitos de área e baixo tempo de
detenção hidráulica. Seu desempenho justifica-se pelo fato de que parte da matéria orgânica é
mineralizada para gás e água e, outra parte ser convertida em biomassa bacteriana, que pode ser
reutilizada no próprio sistema, o que representa uma grande economia.
Como o reator UASB não apresenta uma eficiência satisfatória quando se leva em
consideração os valores estabelecidos pela legislação ambiental, necessário se faz o uso de um
sistema de pós-tratamento, como forma de complemento para que o efluente final esteja dentro dos
padrões estabelecidos. O sistema de Lodo Ativado aqui proposto como pós-tratamento, também se
mostra um sistema bastante eficiente e de baixo custo, além de ser um sistema que é utilizado em
larga escala como tratamento de efluentes sanitários.
Por fim, foi possível constatar que o sistema de tratamento de esgoto com Reator UASB
seguido por Lodo Ativado é um sistema compacto, eficiente e de baixo custo, podendo também ser
implantado em pequenas comunidades.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA versus SAN:


UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Herika Bastos de MEDEIROS


Mestre em Ensino da Saúde e da Ciência
herikabastos2016@gmail.com
Antonio Carlos de MIRANDA
Doutor (UNICAMP)
mirantam@ig.com.br

RESUMO
Inicialmente, vale destacar a necessidade de maiores investimentos em saneamento básico, em
nosso país e, ainda, em educação ambiental, associado a este tema. Por exemplo, programas
educativos com intuito de conscientizar moradores, no espaço formal ou não formal, acerca da
importância da higiene, dos riscos à saúde relativas ao uso da água, do esgoto sanitário e sua atitude
com o meio ambiente. Nesse contexto, a Educação Ambiental envolvendo o tema Saneamento
constitui-se em uma importante ação que busca oportunizar a emancipação dos moradores e o
entendimento dos riscos à saúde e os agravos ao meio ambiente. Neste sentido, o objetivo deste
estudo é trazer à tona os dados que comprovam a proliferação de doenças hídricas, sua relação com
o precário saneamento básico, a morosidade de ações governamentais. E fomentar a importância da
Educação Ambiental crítica na conscientização dos moradores na busca de cidadania plena, através
de uma proposta de um ‗Esquema de Resolução de Problemas Ambientais‘.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Esquema de Resolução de Problemas Ambientais. Doenças
de Veiculação Hídrica. Saneamento Básico.
ABSTRACT
Initially, it is worth highlighting the need for greater investments in basic sanitation in our country
and also in environmental education associated with this theme. For example, educational programs
aimed at raising awareness among residents in formal or non-formal space about the importance of
hygiene and health risks related to water use, sanitary sewage and attitudes to the environment. In
this context the Environmental Education involving the theme ‗sanitation‘ constitutes an important
action that seeks to provide the emancipation of the residents and the understanding of the risks to
health and the degradation of the environment. In this sense, the objective of this study is to bring to
the fore the data that proves the proliferation of water diseases and its relationship with the
precariousness of basic sanitation and the problem of delays in governmental action. Also to
promote the importance of critical Environmental Education for the awareness of the inhabitants in
the search for full citizenship, through a proposal of an 'Environmental Problems Resolution
Scheme.'
Key-words: Environmental Education. Scheme of Resolution of Environmental Problems.
Waterborne Diseases. Basic sanitation.

INTRODUÇÃO

No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, ainda apresenta altos índices
de incidência de doenças associadas à água, principalmente alcançando crianças, resultando em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

taxas de morbidade e mortalidade elevadas. ―Esta situação é consequência do gerenciamento dos


recursos hídricos, especialmente ao que diz respeito à oferta de água tratada e à coleta e tratamento
de esgoto (BRANCO, et all, 2015, p. 234).
Com efeito, é necessário que se discuta a segurança hídrica, acessibilidade, qualidade,
vulnerabilidade e acesso à água, sendo inadmissível pensar em quantidade e ignorar a qualidade.
Segundo Tundisi (2015), temos como situação atual: o uso insuficiente da água, a degradação da
qualidade da água, problemas de acessibilidade, aumento de enchentes, secas e aumento da
vulnerabilidade.
Diante desse quadro, o objetivo desse estudo é trazer a tona os dados que comprovem a
gravidade da contaminação, a escassez do saneamento básico, e as doenças hídricas que são
conseqüências dessa contaminação.

DESENVOLVIMENTO

Segundo Miranda et all. (2006, p.51), a saúde do ser humano, o funcionamento dos diversos
ecossistemas, os animais, os vegetais podem ser drasticamente afetados pela poluição, já que as
águas podem estar contaminadas por agentes patogênicos, substancias tóxicas e metais pesados.

Tabela 1: Exemplos de origem e consequências da poluição


Tipo de poluição Origem Consequências
Agentes patogênicos Esgoto bruto e excremento de Transmissão de doenças
animais
Matéria orgânica Efluentes domésticos, industriais, Mortandade de peixes e outras
áreas agrícolas, pecuária espécies aquáticas.
Metais pesados Resíduos químicos Redução de espécies presentes no
-descargas industriais, aterro local, problemas de saúde.
sanitário
Substâncias tóxicas Escoamento superficial, infiltração, Câncer e outras doenças humanas.
descargas domésticas e industriais.
Fonte: MIRANDA, A. C; GOMES, H. P., SILVA, M.(2006)

Neste contexto o saneamento básico2 assume um caráter emergencial, pois este é um fator
que atinge diretamente a população em relação à saúde pública, associado a outros fatores básicos,
tais como, o esgotamento básico, a coleta e disposição de resíduos sólidos e líquidos, o controle de
vetores.
É importante destacar que no Brasil, 40% dos esgotos urbanos são tratados. A média das 100
maiores cidades brasileiras em tratamento de esgotos foi de 40,93%.

Gráfico 1: Regiões do Brasil com Esgoto Tratado

2
Saneamento é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade
de prevenir doenças e promover a saúde, melhorar a qualidade de vida da população e à produtividade do indivíduo e
facilitar a atividade econômica (TRATA BRASIL, 2016).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Fonte: Instituto Trata Brasil “Ranking do Saneamento – 2015”

Alguns dados apontam para valores díspares em relação ao tratamento de esgoto no país.
Por exemplo, na região norte, que tem o pior índice, apenas 14,36% do esgoto é tratado. Já o
Nordeste, 28,8%. O Sudeste, 43,9%, com o índice de atendimento total de esgoto de 78,33%. A
região Sul, 43,9% e o Centro-Oeste, 46,37%. É importante destacar, como aponta os dados do
Trata Brasil (2016) que mesmo na região com melhor desempenho, não alcança a metade da
população.
Cabe trazer à tona alguns dados e ainda estimativas de custo para universalizar o acesso aos
quatro serviços fundamentais do saneamento: água, esgotos, resíduos e drenagem.

O que representaria um total de R$ 508 bilhões, no período de 2014 a 2033. ―Para


universalização da água e dos esgotos esse custo será de R$ 303 bilhões em 20 anos. O
Governo Federal, através do PAC, já destinou recursos da ordem de R$ 70 bilhões em
obras ligadas ao saneamento básico. Houve um investimento de R$ 1.69 bilhões a mais em
2014 comparado a 2013‖ (TRATA BRASIL, 2016).

Gráfico 2- Percentual de domicílios sem saneamento básico

Fonte: IBGE, 2010.

Dados de diversos pesquisadores e de órgãos governamentais apontam que o esgoto não


tratado gera doenças, portanto, a prioridade para evitar e reduzir esses males e a morbidade da
população, que, como vimos, atinge principalmente as crianças seria ampliar o acesso ao
saneamento básico em várias regiões do país. Vale assinalar que, contrariamente, a essa urgente

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

necessidade o governo federal publicou um decreto, em 2010, adiando em dois anos a entrega dos
planos municipais de saneamento.

Art. 1º O Decreto nº 7.217, de 21 de junho de 2010, passa a vigorar com as seguintes


alterações: ―Art. 26. § 2º Após 31 de dezembro de 2017, a existência de plano de
saneamento básico, elaborado pelo titular dos serviços, será condição para o acesso a
recursos orçamentários da União ou a recursos de financiamentos geridos ou administrados
por órgão ou entidade da Administração Pública federal, quando destinados a serviços de
saneamento básico‖ (Decreto Nº 7. 217 de 21/06/2010).

Portanto, as regiões urbanas e municípios poderão ficar até 2017 sem apresentar propostas
de planejamento para enfrentar essa questão e não sofrerão sanções por isso. Estudos da
Confederação Nacional das Indústrias (CNI), diz que meta de universalização do saneamento básico
não será cumprida antes de 2054.

Diante do contexto de aumento de casos de dengue, febre Chikungunya e vírus Zika, o


gerente de Infraestrutura da CNI avalia que ―custa muito caro não ter saneamento no pais,
principalmente nas internações hospitalares‖. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), cada dólar gasto com saneamento básico economiza US$ 4,3 em gastos com saúde
(AGENCIA BRASIL, 2016).

O Brasil, apresenta altos índices de doenças associadas à água e que tem como
conseqüências a taxa de morbidade e mortalidade em crianças. Essas doenças atribuídas ao
gerenciamento inadequado dos recursos hídricos estão abaixo relacionadas.
Tabela 2: Doenças Hídricas
Doenças Causa Exemplos
Doenças de transmissão hídrica Causada pela ingestão de água na Cólera e febre tifóide
qual o patógeno de transmissão
fecaloral está presente.
Doenças de privação hídrica Causadas pela escassez da água, Escabiose e tracoma
gerando condições insatisfatória
de higiene pessoal.
Doenças de base hídrica Causada por micro-organismos Esquitossomose 3
cuja parte do ciclo de vida ocorre
num organismo que se prolifera
na água.
Doenças causadas por insetos que Essas conseqüências são Dengue 4 e malária 5
se proliferam na água produzidas pela água
contaminada e de baixa qualidade
Fonte: Branco et al, apud Cairncross et all, 2015.

Assim, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% das doenças
no mundo poderiam ser totalmente eliminadas por melhorias na oferta de água tratada em
qualidade e quantidade, coleta e tratamento de esgotos e higiene.

3
A esquitossomose é provocada por um helminto denominado Schistosoma mansoni, cujo vetor é representado por
caramujos (BRANCO et all, 2015, p.243).
4
Dengue, infecção aguda, provocada por um vírus, o qual é transmitido também pelo Aedes aegypti. (Hespanhol, 2015,
p.269).
5
Malaria é uma infecção intermitente aguda e crônica provocada por um protozoário do gênero Plasmodium que
contém aproximadamente cinqüenta espécies (Hespanhol, 2015, p.269).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Aproximadamente 80% dos casos de diarréia, principalmente em crianças, e que ocasionam


anualmente 1,5 milhões de óbitos, são atribuídos as deficiências do saneamento. A
incidência de outras doenças como a cólera, a febre tifóide, o tracoma, a esquitossomose e a
malária seria reduzida na presença de sistemas de saneamento amplos e eficientes. No
Brasil, o índice de 2,3% do total de óbitos é relacionado a doenças de veiculação hídrica
(BRANCO, AZEVEDO, HACHICH, et all, 2015, p. 234).

A malária e dengue são, igualmente, doenças endêmicas muito significativas no Brasil e


transmitidas por vetores cujas larvas habitam ambientes aquáticos.

A proliferação e a distribuição desses vetores estão portanto, relacionadas a presença de


água represada em varais formas. O contágio é, assim, executado diretamente pelo
mosquito, inoculando o protozoário(no caso da malária) ou o vírus (no caso da dengue) na
circulação sanguínea (BRANCO, AZEVEDO, HACHICH, et all, 2015, p. 243).

Segundo Teixeira, Barreto e Guerra (2009), os elos epidemiológicos envolvidos na


transmissão da doença resumindo na cadeia são:
Mosquito infectado → Homem susceptível → Homem infectado → Mosquito infectado
O modo de vida de suas populações gera, em escala exponencial, os habitats para a
oviposição e conseqüente proliferação do Ae. Aegypti, tanto em

locais onde as condições sanitárias são deficientes, quanto em outros, onde se considera que
existe adequada infra-estrutura de saneamento ambiental. Nas áreas mais pobres, que
correspondem àquelas deficientes em estrutura urbana, os criadouros potenciais mais
encontrados são vasilhames destinados ao armazenamento de água para consumo, devido à
freqüente intermitência ou mesmo inexistência dos sistemas de abastecimento, e recipientes
que são descartados mas permanecem expostos ao ar livre no peridomicílio, por não se
dispor de coleta de lixo adequada (TEIXEIRA, 1999, p. 9).

O Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa)6 foi idealizado para
monitorar a população (e dispersão) do vetor da dengue. Contudo, com a introdução da febre de
chikungunya7 e, mais recentemente, da febre zika8 em nosso país, a metodologia passou a ser
adotada também para o monitoramento do Aedes albopictus, que também é capaz de transmitir as
doenças.

Em 2016, foram registrados 495.266 casos prováveis de dengue no país até a Semana
Epidemiológica (SE) 9 de (3/1/2016 a 5/3/2016). Nesse período, a região Sudeste registrou
o maior número de casos prováveis (280.118 casos; 56,6%) em relação ao total do país,
seguida das regiões Nordeste (92.149 casos; 18,6%), Centro-Oeste (62.815 casos; 12,7%),

6
O LIRAa, realizado periodicamente pelos municípios do Estado do Rio de Janeiro, fornece o Índice de Infestação
Predial (IIP) e o Índice de Infestação em Depósitos (Índice de Breteau – IB) do Aedes aegypti e do Aedes albopictus,
isso o torna um importante instrumento de orientação, pois identifica as áreas prioritárias para medidas e ações
estratégicas de controle e combate ao mosquito, visando à redução dos índices de infestação municipais e,
consequentemente, o controle da Dengue e da Febre de Chikungunya.
7
A febre de chikungunya é uma doença parecida com a dengue, causada pelo vírus CHIKV, da família Togaviridae,
que tem seu modo de transmissão também pela picada do mosquito Aedes aegypti infectado e, menos comumente, pelo
mosquito Aedes albopictus, justificando a importância deste monitoramento, visto que, ambas as espécies têm todas as
condições de espalhar esses vírus durante o verão.
8
A febre zika é uma doença viral aguda, causada pelo vírus da Zika ou ZikaV da família Flaviviridae, do gênero
Flavivirus, também transmitida por mosquitos, principalmente Aedes aegypti, caracterizada por exantema
maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia e
dor de cabeça. Apresenta evolução benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após 3-7 dias.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Sul (36.932 casos; 7,5%) e Norte (23.252 casos; 4,7%). Foram descartados 75.807 casos
suspeitos de dengue no período (LIRAa, 2016).

A dengue continua sendo a doença que causa a maior preocupação no momento atual. Mas
não se pode negligenciar

a Chikungunya e a Zika, que já estão presentes e podem se tornar novas epidemias,


trazendo consequências graves para a população. É inquestionável que a dengue é a doença
que mais causa óbitos, no entanto a incapacidade que Chikungunya pode trazer aos
pacientes, as consequências neurológicas advindas de complicações da Zika, são bem como
fatores preocupantes. Ações mais eficazes de combate ao vetor, identificação precoce pelos
agentes de controle epidemiológico de novas áreas afetadas, buscas de tratamentos mais
eficientes com maior especificidade e pesquisas para o desenvolvimento de vacinas se
mostram necessários e urgentes (CHAVES, BERNARDO, BERNARDO, et all, 2015, p.10
e 11).

Tanto a febre amarela como a dengue podem ser efetivamente controladas, principalmente
nas áreas urbanas, evitando-se a retenção de água em vasos, pneus, vasilhames;

que proporcionam locais apropriados para ao desenvolvimento do Aedes aegypti. Nas áreas
rurais, a provisão de água potável também reduz significativamente os casos de dengue e
febre amarela, pelo fato de evitar contatos diretos com áreas de proliferação de mosquitos.
A provisão de água segura e de sistemas, mesmo simplificados, de saneamento básico,
reduzem drasticamente a incidência das doenças infecciosas (HESPANHOL, 2015, p. 269).

Com base nos resultados apresentados podemos afirmar que a poluição das águas além de
ter alto custo ao Brasil também contribuem para a proliferação de doenças. Torna-se de suma
importância a necessidade de maiores investimentos em saneamento básico e, ainda, em educação.
Tais como, programas educativos com intuito de conscientizar o educando sobre a importância da
higiene pessoal e sua atitude com o meio ambiente.
Nesse contexto, a Educação Ambiental associada às graves questões relativas ao
Saneamento constitui-se em uma importante forma de atuação que busca, por meio de ações
articuladas, oportunizar a emancipação dos atores sociais envolvidos;

com isso, despertar o protagonismo popular na condução das transformações esperadas. O


processo de educação ambiental em sua vertente transformadora acontece no momento em
que a população, ao olhar de forma crítica para os aspectos que influenciam sua qualidade
de vida, reflete sobre os fatores sociais, políticos e econômicos que originaram o atual
panorama e busca atuar no seu enfrentamento (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009, p.7).

Cabe assinalar que, segundo Loureiro (2004), a educação ambiental significa,


fundamentalmente, conhecer, agir e se perceber no ambiente, deixando assim de ser um ato teórico
para tornar-se complexo e concreto na práxis. Atento a essas questões apresentamos, a seguir, o
‗Esquema de Resolução de Problemas Ambientais‘ de Malafaia, Miranda e Pereira (2012). Com
efeito, essa proposta tem como pressuposto, defendido pelos autores, que os procedimentos
educacionais, visando alcançar os conteúdos escolares, devem ser explorados e organizados, como
‗problemáticas ambientais‘, no lugar de simples ‗fatos‘. Ao mesmo tempo, está atenta em
contextualizar as temáticas ambientais com a realidade cotidiana dos alunos/moradores, em sintonia
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

com as pesquisa na área da ‗aprendizagem significativa‘, defendida, entre outros, por Moreira
(2000).
Tabela 3–Esquema de Resolução de Problemas Ambientais
Fase de resolução Etapa Ações

Planejamento do Enunciado do Como desenvolver uma atividade em Educação Ambiental,


problema problema visando trazer à tona a contaminação hídrica, os riscos e os danos
ao meio ambiente? De que forma esta atividade pode ser
elaborada, visando envolver os estudantes em uma aprendizagem
significativa?
Tratamento e Perguntas Quais os principais mecanismos de contaminação? Quais os
reformulação dos antecipatórias principais contaminantes? Quais os danos aos seres vivos. E a
problemas saúde dos seres humanos?
Hipóteses Os rejeitos industriais, os esgotos domésticos e os defensivos
explicativas agrícolas, através da lixiviação e infiltração, possuem um grande
potencial de risco na contaminação dos recursos hídricos.

Análise Escolher um local do rio ou canal para o cenário da pesquisa.


prévia detalhada Selecionar a principal fonte de contaminação, tais como, esgoto
doméstico ou industrial, deste local. Identificar, no caso da
indústria, sua linha de produção e principais rejeitos. Selecionar
os pontos de coleta. Procedimento e a realização de coletas.
Montagem de um minilaboratório didático. Tratamento dos dados
e análise.
Planejamento da Identificação de processos de análise da água. Os riscos
resolução ambientais e a saúde. Principais tipos de poluentes e as doenças.
Montagem de um minilaboratório didático. Tratamento dos dados
e análise.
Obtenção da Biblioteca; internet; visita a laboratório. Legislação e normas.
informação Ações obrigatórias de investimentos e fiscalização de órgãos
governamentais
Síntese Explorar os dados; representar em tabelas; gráficos; análise
quantitativa e qualitativa.
Generalização, Generalização Os procedimentos desta atividade educacional podem ser
recapitulação desenvolvidos em outros contextos.
e intervenção Recapitulação Permite identificar a compreensão pelos alunos dos conteúdos
envolvidos.
Intervenção Representa uma atividade em defesa do meio ambiente e da saúde
dos seres humanos.
Os informes Discutir com os alunos as informações e os dados obtidos;
finais e de informar aos participantes e à comunidade a legislação e normas
exposição. pertinentes. Trazer à tona os direitos a uma cidadania plena
através de acesso à informação e de exigir ações obrigatórias de
fiscalização e de investimentos governamentais; publicar e
divulgar os resultados à comunidade e em evento científico.
Fonte: Malafaia, Miranda e Pereira (2012).

Por sua vez, é fundamental responsabilizar quem promove a degradação socioambiental em


suas múltiplas dimensões. Nesse sentido, medidas punitivas e compensatórias são necessárias,

destacando-se o importante papel que as instituições e grupos que atuam na condução de


ações de educação ambiental e mobilização social em saneamento podem ter nesse

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

processo. O desafio é articular em parceria com o Ministério Público e outros órgãos


competentes, ações que busquem promover tal responsabilização (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2009, p.29).

O quadro a seguir traz algumas possibilidades de atuação no levantamento das informações


necessárias durante a realização do diagnóstico participativo.

Tabela 4: O que é necessário conhecer


O que é necessário conhecer
Em relação ao abastecimento de água: Qual a origem de água distribuída no município?
È proveniente de rios, represas, poços ou outras
Qualidade da água distribuída; fontes? Quais?

Volume disponível em reservatórios; A quantidade de água disponível nos reservatórios é


suficiente para atender as necessidades básicas dos
Frequência de abastecimentos; domicílios?

Eficiência no atendimento aos serviços prestados; Existe algum estudo ou previsão sobre a
disponibilidade futura do volume de água existente em
Manutenção preventiva da infraestrutura existentes; relação à média do crescimento populacional
registrado?
Os valores cobrados pelo serviço de abastecimento;
Como é a aparência da água que chega aos
Os índices de perda do sistema. domicílios? Apresenta alguma coloração, cheiro ou
sabor desagradável? Há presença de substâncias
estranhas ?

A análise da qualidade da água é feita


periodicamente? Para as áreas rurais são feitos exames
específicos para a observação da presença de
agrotóxicos?

Há informações sobre a qualidade da água nos


boletos de cobranças?

O fornecimento de água é constante? Ou há períodos


de interrupção?

A companhia responsável pelo abastecimento


conhece os índices de perda?

Quando há algum problema no abastecimento de água,


você sabe a quem solicitar? O atendimento é rápido?

A companhia responsável pelo abastecimento realiza


avaliação periódica da qualidade do serviço?

Há serviços de manutenção da infra-estrutura de


abastecimento de água? De quanto em quanto tempo o
serviço é realizado?

Como é calculado o consumo de água das


residências? A população considera justos os valores
cobrados?

Fonte: Ministério das Cidades, 2008, p. 44

Por fim, vale assinalar que os problemas ambientais são problemas eminentemente sociais,
gerados e atravessados por um conjunto de processos sociais (Freitas apud Leff, 2003). Acrescenta,
ainda, que o quadro atual impõe a necessidade de se avançar quantitativamente e qualitativamente

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

na pesquisa e produção científica da saúde coletiva, sendo urgente no que se refere às ciências
sociais e, particularmente, nas ciências sociais em saúde.

CONCLUSÕES

O Brasil apresenta, como foi já destacado, altos índices de incidência de doenças associadas
à água, alcançando principalmente crianças, com altas taxas de morbidade e mortalidade. Nesse
grave cenário, faz-se necessário uma profunda discussão em relação à segurança hídrica,
acessibilidade, qualidade, vulnerabilidade e acesso à água. Desse modo, a implantação e
implementação do sistema de abastecimento de água e esgoto sanitário é de extrema importância
para impedir a proliferação de doenças de veiculação hídrica. Por sua vez, é necessária também a
conscientização da população no controle e combate às doenças de veiculação hídrica. Sendo assim,
a educação ambiental passa a ter um importante papel. Acreditamos que a proposta ―Esquema de
Resolução de Problemas Ambientais‖ possa ampliar essa conscientização através de uma
aprendizagem significativa, em que o cotidiano e a realidade desses moradores possam ser
explorados através de ações educativas, trazendo à tona seus direitos, riscos, legislação e também
ações obrigatórias de investimentos e fiscalização de órgãos governamentais, visando alcançar uma
cidadania plena.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

FATORES DE NÃO ADESÃO DOS EDIFÍCIOS À COLETA SELETIVA NO


BAIRRO PONTA VERDE: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO.
RESULTADOS PARCIAIS

Jacqueline Praxedes de ALMEIDA


Professora Adjunta do Curso de Geografia Licenciatura da UFAL
jacquepdealmeida@yahoo.com.br
Deise Sâmara da SILVA
Graduanda do Curso de Geografia Licenciatura da UFAL
deisess16@hotmail.com
Rayanne Santos de Almeida MENDONÇA
Graduanda do Curso de Geografia Licenciatura da UFAL
rayannemendonca@hotmail.com

RESUMO
Nos centros urbanos, a geração de resíduos sólidos e sua destinação inadequada se tornaram um
problema que envolve vários aspectos da sociedade. A geração de resíduos apresenta uma estreita
relação entre poder aquisitivo e quantidade gerada, sendo a parcela da população mais aquinhoada a
que mais produz resíduos sólidos. Em Maceió, capital do estado de Alagoas, não existe um
programa oficial permanente de educação ambiental que promova a redução da geração de resíduos
sólidos. A coleta seletiva realizada na capital alagoana é feita por 3 cooperativas de catadores de
material reciclado. Nesse sentido, a ampliação da coleta seletiva se faz urgente e necessária em
Maceió. Uma das cooperativas responsáveis pela coleta seletiva é a COOPVILA. A COOPVILA é
hoje responsável pela coleta seletiva em alguns bairros de Maceió, incluindo o de Ponta Verde. Esse
bairro se destaca na cidade por apresentar a maior Renda Familiar (R$ 9.026,87) dentre os bairros
da orla marítima da cidade e possuir a segunda maior Renda Familiar de Maceió. O bairro Ponta
Verde é o que apresenta, entre os bairros atendidos pela COOPVILA, o segundo maior número
absoluto de habitantes (24.402) e o maior adensamento de edificações do tipo multifamiliares,
sendo esse tipo de moradia o foco da coleta seletiva da referida cooperativa. A metodologia
utilizada é a pesquisa-ação, utilizando como instrumento de aquisição de informações o
questionário, englobando ainda a divulgação do trabalho de coleta seletiva feito pela COOPVILA, a
sensibilização dos envolvidos em relação à ação participativa na conservação ambiental. Os
primeiros resultados demonstraram que a maioria dos pesquisados não sabem qual o destino final
dos resíduos por eles produzidos, bem como nunca participou de nenhuma ação voltada para a
realização de uma coleta seletiva.
Palavras Chave: Educação ambiental. Cooperativismo. Coleta seletiva.
ABSTRACT

In urban centers, the generation of solid waste and its inappropriate disposal have become a
problem that involves several aspects of society. The generation of waste is closely related to
purchasing power and quantity generated, being the wealthiest population the one who produces
more solid waste. In Maceió, capital of the state of Alagoas, there is no official permanent
environmental education program that aids in the reduction of solid waste generation. The selective
collection carried out in the capital of Alagoas is done by 3 cooperatives of recyclers. In this sense,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

the expansion of the selective collection becomes urgent and necessary in Maceió. One of the
cooperatives responsible for selective collection is COOPVILA. COOPVILA is today responsible
for the selective collection in some of the neighborhoods of Maceió, including Ponta Verde. This
neighborhood stands out in the city for presenting the highest family income (R $ 9,026.87) among
the neighborhoods of the seafront of the city and owning the second largest family income in
Maceió. The Ponta Verde neighborhood presents the second largest absolute number of inhabitants
(24,402) and the greater density of multi-family dwellings, among the neighborhoods serviced by
COOPVILA, being this type of dwelling the focus of the selective collection of this cooperative.
The methodology used is the action research, using as an information acquisition tool the
questionnaire, also including the dissemination of the work of selective collection made by
COOPVILA, the awareness of those involved in relation to participatory action on environmental
conservation. The first results showed that the majority of respondents do not know the final
destination of the waste produced by them, nor has they ever participated in any action aimed at
conducting a selective collection.
Keywords: Environmental education. Cooperativism. Selective collect.

INTRODUÇÃO

Fatores como o desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, a urbanização, a


revolução tecnológica, as alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo da
população têm como consequência direta, principalmente nos grandes centros urbanos, o aumento
na produção de resíduos sólidos (lixo), tanto em quantidade como em diversidade.
A maior parte do lixo coletado no país (50,8%) tem como destino os vazadouros a céu
aberto, conhecidos popularmente como lixões. Nesse aspecto, a Região Nordeste registra a maior
proporção de destinação desses resíduos (89,3%) aos lixões (IBGE, 2010).
A adoção dessa prática é reconhecidamente inadequada como destino final dos resíduos
sólidos, pois

sabe-se que nos lixões os resíduos em estado bruto são depositados sobre o terreno, sem
nenhum preparo do mesmo, e também sem nenhum tratamento dos efluentes líquidos
derivados da decomposição do lixo, como o chorume, que percola o solo, contaminando o
lençol freático, e, por conseguinte, toda a população que se utiliza desse recurso hídrico
(VILANOVA NETA, 2011, p. 186).

Os procedimentos que envolvem as etapas de coleta e destinação final dos resíduos sólidos
são, segundo Vilanova Neta (2011), considerados os mais importantes do processo de recolhimento
do lixo urbano, uma vez que o peso do material coletado e o destino que lhe é dado interferem
direta e indiretamente no cotidiano da sociedade e também sobre o meio ambiente. Portanto, a
destinação inadequada dos resíduos gera impactos sociais, ambientais e econômicos negativos, com
prejuízos para a população e para o meio ambiente.
Para Kronemberger (2011), o descarte inadequado dos resíduos sólidos constitui um grande
desafio a ser enfrentado, já que a disposição inadequada do lixo pode provocar a poluição das águas
e do solo, bem como problemas de saúde, especialmente para os catadores de materiais recicláveis.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Além disso, segundo Vilanova Neta (2011, p. 186), ―os lixões guardam um aspecto social negativo,
visto que são fonte de renda e alimento para uma parcela da população que busca nele alimento e
materiais recicláveis para venda. Essa população é a que mais sofre os efeitos da presença dos
vetores de doenças e das substâncias tóxicas presentes no lixão‖.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008 realizada pelo IBGE, o
volume total de resíduos sólidos coletado por dia no Brasil era de 183.488 toneladas, aparecendo o
Nordeste como a segunda Região com a maior quantidade de lixo coletada por dia, apresentando
um total diário de 47.206 toneladas, perdendo apenas para o Sudeste, com a coleta de 68.181
toneladas dia (IBGE, 2010).
Segundo Kronemberger (2011, p. 45),

uma das soluções mais viáveis para reduzir o volume de lixo produzido [...] é a coleta
seletiva do lixo. Esta vem se expandindo no País, tendo passado de 8,2% dos municípios,
em 2000, para 17,9%, em 2008, sobretudo nos estados das Regiões Sul e Sudeste. O
percentual ainda é baixo, sendo que entre os que realizam a coleta seletiva, apenas 38% a
fazem em todo o município.

Considerando os problemas ambientais em destaque e as irregularidades com o destino final


do lixo, há necessidade da ampliação da coleta seletiva como forma ―[...] de diminuir parte do
destino final dos resíduos no meio ambiente, [...] gerar novos postos de trabalho para mão de obra
com baixa qualificação e gerar lucro‖ (LEITE; CORTEZ, 2002, p. 189). Essas ações promovem
impactos sociais e econômicos positivos, já que a reciclagem movimenta entre R$ 1,4 bilhão e
R$ 3,3 bilhões anuais (IPEA, 2010), ―por isso mesmo, é cada vez maior o número de empresas
interessadas em trabalhar com diversos materiais recicláveis‖ (LEITE; CORTEZ, 2002, p. 189).
Além disso, em estados como Alagoas (96,1%) e Maranhão (95,4%) que se destacam
nacionalmente pelo elevado percentual de municípios nas duas faixas (Alta e Muito alta) de maior
índice de vulnerabilidade social (IPEA, 2015), ações que visem à melhoria de vida de grupos que
apresentam baixa condição de vida, como os catadores de lixo, se fazem urgentes.
Vale ressaltar que uma das formas de promover a ampliação da coleta seletiva e da
reciclagem é conhecer a percepção das pessoas sobre o descarte irregular de resíduos sólidos,
associada a ações voltadas para a Educação Ambiental que envolvam trabalhos de conscientização
da população para os problemas gerados pelo descarte inadequado do lixo. Nesse processo, destaca-
se como um dos principais obstáculos para a implantação de atitudes ambientalmente corretas a
falta de conhecimento e vivência das pessoas em relação a essas práticas, havendo a necessidade,
durante o processo de implantação de um trabalho de educação ambiental, de superação desses
obstáculos como forma de possibilitar o estabelecimento de uma postura ambientalmente
sustentável.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assim, através da compreensão das percepções do público alvo, é possível, com base no
conhecimento gerado, pensar em soluções e tomar atitudes que influenciem positivamente os
grupos pesquisados, ajudando na promoção, mais especificamente nesse caso, da ampliação da
coleta seletiva entre os participantes da investigação.
Maceió, assim como as demais capitais do país, também apresenta como um dos problemas
urbanos o aumento na produção de lixo, tanto no que se refere à quantidade como à diversidade.
A coleta de lixo na capital Alagoana é diária (IBGE, 2011), sendo os resíduos sólidos,
gerados pela população maceioense, depositados em um aterro sanitário, inaugurado no ano de
2010, localizado no bairro Benedito Bentes, na parte alta da cidade. Atualmente, segundo Muttis e
Pimentel (2014), apenas 0,2% do lixo recolhido em Maceió é destinado à reciclagem. O reflexo
dessa situação é que o lixo que poderia ser reciclado acaba indo para o aterro sanitário de Maceió,
diminuindo sua vida útil. Assim, torna-se urgente conhecer os entraves que dificultam a ampliação
da coleta seletiva em Maceió, bem como a tomada de ações que ajudem a ampliar essa recolha de
materiais recicláveis na capital alagoana.
Antes do efetivo funcionamento do aterro sanitário de Maceió, o lixo gerado na capital
alagoana era despejado em um lixão localizado no bairro de Cruz das Almas. O antigo lixão de
Maceió, como os demais do país, gerava alto índice de ―[...] deterioração ambiental com a total
descaracterização da vegetação nativa e alto índice de contaminação do solo, subsolo e lençol
freático [...] pelo lançamento do chorume‖ (STROH, LIMA FILHO, FERREIRA, 2009, p. 58). Esse
local também contribuía com a poluição atmosférica, já que os constantes incêndios, ocasionados
pelo acúmulo de gases, lançavam na atmosfera, através da ação dos ventos, quantidade significativa
de poluentes (STROH, LIMA FILHO, FERREIRA, 2009, p. 58).
No entorno do antigo lixão de Maceió, formou-se um núcleo habitacional de moradores em
situações precárias de instalações habitacionais, denominado Vila Emater, conhecido popularmente
como ―a favela do lixão‖, que dava guarida a uma população que vivia da coleta e venda dos
resíduos retirados desse local. Essa população que vivia, e ainda vive, na mais extrema pobreza,
estava submetida a um ambiente insalubre de trabalho, no qual estavam sujeitos a riscos à sua
integridade física e a condições de marginalização. Com a perspectiva de construção do Aterro
Sanitário na capital alagoana e da desativação do lixão, essa população ficaria sem seu principal
meio de sustento, que era a retirada de material reciclável para a venda. Diante da possibilidade de
ficar sem sustento, alguns catadores da Vila Emater se organizaram para criar uma cooperativa
voltada para coleta e venda de materiais recicláveis, a Cooperativa dos Moradores da Vila Emater
(COOPVILA), fundada em dezembro de 2008.
A coleta seletiva em Maceió é realizada pela COOPVILA e por mais duas cooperativas de
catadores, sendo elas: a Cooperativa dos Recicladores de Lixo Urbano de Maceió (COOPLUM),

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

criada em 2001 e a Cooperativa de Catadores do Estado de Alagoas (COOPREL), criada em 2003,


totalizando três cooperativas de catadores. Dessas três, até o mês de maio de 2017, apenas a
COOPLUM e a COOPREL contam com o apoio da Prefeitura por meio da Superintendência de
Limpeza Urbana de Maceió (SLUM).
Essas cooperativas atuam em áreas determinadas: a COOPLUM e a COOPREL centralizam
suas ações nos bairros Benedito Bentes, Antares, Cidade Universitária, Santa Lúcia, Tabuleiro e
Serraria, todos na parte alta da cidade, enquanto a COOPVILA tem como área de atuação os bairros
Ponta Verde, Pajuçara e Jatiúca, localizados na parte baixa da cidade, e o bairro Farol localizado na
parte alta.
Atualmente a COOPVILA é composta por 32 catadores de materiais recicláveis, na sua
maioria mulheres, todos moradores da Vila Emater, e que antes trabalhavam coletando lixo nas ruas
ou no antigo lixão de Maceió, desativado em abril de 2010. A referida instituição é integrante do
Movimento Nacional dos Catadores e do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.
Dentre as várias ações desenvolvidas pela COOPVILA está a implantação da coleta seletiva
em condomínios, residências, instituições de ensino, estabelecimentos comerciais e órgãos públicos
que aceitam participar do programa de coleta seletiva solidária. Para os que aceitam aderir ao
referido programa, a cooperativa faz a apresentação da proposta da coleta seletiva, oferta apoio
técnico para a implementação da separação dos resíduos sólidos gerados, distribui material
explicativo, placas de sinalização para as lixeiras gerais, faz a coleta seletiva duas vezes por
semana, através do caminhão da COOPVILA, além de visitas de sensibilização dos moradores e de
acompanhamento constante da separação do lixo.
Dentre os bairros atendidos pela COOPVILA destaca-se Ponta Verde, por apresentar a
maior Renda Familiar (R$ 9.026,87) dentre os bairros da orla marítima da cidade, é também a
segunda maior Renda Familiar de Maceió, ficando atrás apenas do bairro Jardim Petrópolis, que
apresenta uma Renda Familiar de R$ 10.645,88. Além do destaque para a Renda Familiar, ele é o
que apresenta, entre os bairros atendidos pela COOPVILA, o segundo maior número absoluto de
habitantes (24.402), atrás apenas do bairro Jatiúca, com 38.027 habitantes (MACEIÓ, 2014).
Nesse contexto, este trabalho, oriundo de projeto de pesquisa apoiado pelo Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), buscou conhecer os atuais fatores de não
adesão dos edifícios do bairro Ponta Verde à coleta seletiva, bem como promover a conscientização
ambiental e a ampliação dos parceiros da COOPVILA, gerando impactos positivos de ordem
ambiental, social, econômica e contribuir para a diminuição da geração de resíduos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

METODOLOGIA

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica preliminar, essa fundamentação teórica
norteia a atuação empírica e a análise das informações coletadas em campo através da aplicação de
questionário, sendo o processo de construção e efetivação da investigação orientado pela pesquisa-
ação. Segundo Oquist (1978), citado por Mello (2012, p. 2)

[...] na pesquisa-ação, o termo pesquisa se refere à produção do conhecimento e o termo


ação, à uma modificação intencional de uma dada realidade. A pesquisa-ação é a produção
de conhecimento guiada pela prática, com a modificação de uma dada realidade ocorrendo
como parte do processo de pesquisa. Neste método de pesquisa, o conhecimento é
produzido e a realidade é modificada simultaneamente, cada um ocorrendo devido ao outro.

Nesse sentido, para, Thiollent (2007), citado por Mello (2012, p. 2), ―na pesquisa-ação os
pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no
acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos problemas‖.
Portanto, para que uma pesquisa seja qualificada como pesquisa-ação, é vital a implantação
de uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Logo, ―na
pesquisa-ação os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas
encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos
problemas‖ (THIOLLENT, 2007 apud MELLO, 2012, p. 2).
Assim sendo, esse método foi escolhido pelo fato de o problema colocado, a não adesão dos
edifícios (condomínios verticais) do bairro Ponta Verde à Coleta Seletiva de lixo, ter um caráter
coletivo de resolução e a implantação de uma ação educativa na perspectiva ambiental, que tem a
participação dos pesquisadores do referido projeto de investigação. Nesse sentido, a metodologia
engloba a divulgação do trabalho de coleta seletiva feito pela COOPVILA, a sensibilização dos
envolvidos e o estímulo a adesão à coleta seletiva das edificações com mais de 2 pavimentos
localizadas no bairro Ponta Verde.
Diante do exposto, vem se realizando uma consulta aos responsáveis (síndicos) pela
administração dos condomínios residenciais verticais com mais de 2 pavimentos localizados no
bairro Ponta Verde. A escolha do referido bairro se deu por dois fatores, sendo o primeiro o fato de
apresentar o maior adensamento de condomínios com as características citadas entre os bairros de
atuação da COOPVILA, possuindo, segundo Cavalcante (2004), 77% das edificações do tipo
multifamiliares (prédios de apartamentos), proporcionalmente maior que as de residências
unifamiliares (casas) (23%). O segundo está relacionado ao alto Rendimento Familiar de seus
habitantes, pois, segundo Demajorovic, Bensen e Rathsam (2004), há uma relação direta entre renda
e poluição, já que pessoas com maior poder aquisitivo tendem a consumir mais, gerando mais
poluição. Nesse sentido, ―talvez não seja exagerado afirmar que o cidadão é hoje, antes de tudo, um
consumidor [...]. E quanto maior a renda, mais consumidor será o cidadão – e mais lixo vai gerar‖

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(COZZETI, 2001 apud FIRMINO; RIVERO, 2005, p. 5253). Assim, existe uma relação direta entre
o poder aquisitivo e hábitos de consumo de um indivíduo e o volume de resíduos por ele gerado.

FATORES DE NÃO ADESÃO DOS EDIFÍCIOS À COLETA SELETIVA: RESULTADOS


PARCIAIS

O bairro Ponta verde é composto por 36 ruas e 488 edifícios com mais de 2 pavimentos,
desse universo já foram entrevistados 61 edifícios, sendo que a maioria (36%) dos edifícios
visitados possuem entre 26 e 36 unidades habitacionais.
Como resultados parciais da pesquisa foi possível detectar que apenas 59% dos inquiridos
afirmaram conhecer a destinação final dos resíduos sólidos gerados na cidade de Maceió, mas
quando foi pedido para que dissessem qual era esse destino final, apenas 37% citou o Aterro
Sanitário, os demais deram respostas variadas, entre elas: 16% afirmou que o carro do lixo leva,
18% respondeu que a prefeitura recolhe e 13% não soube responder. As respostas demostram que
ainda há um desconhecimento significativo dos pesquisados em relação ao destino dos resíduos
sólidos por eles produzidos.
Quando inquiridos sobre o que era Coleta Seletiva, todos afirmaram saber do que se tratava,
sendo que a maioria (72%) a definiu como sendo ―a separação de resíduos reciclados‖. Ainda sobre
a Coleta Seletiva, também foi perguntado quais eram as vantagens da adoção dessa ação, a maioria
(64%) citou a contribuição para meio ambiente e apenas 19% visualizou vantagens na área social e
econômica e 7% no âmbito cultural.
A maioria dos pesquisados (67%) afirmou saber da existência da coleta seletiva na cidade de
Maceió e 51% respondeu saber da existência de cooperativas que fazem a coleta seletiva no bairro
Ponta Verde. A maior parte dos condomínios (89%) nunca participou de nenhuma ação voltada para
a realização de uma coleta seletiva.
Nesse primeiro momento as visitas aos edifícios foram importantes para promover uma ação
informativa no que se refere a Coleta Seletiva e a existência de cooperativas atuando no bairro
Ponta Verde, também como resultado dessa ação, dos 61 edifícios visitados, 48 se predispuseram a
aderir a coleta seletiva promovida pela COOPVILA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desconhecimento dos entrevistados em relação ao destino final dos resíduos por eles
produzidos, bem como o desconhecimento de boa parte dos entrevistados sobre a existência de
cooperativas voltadas para coleta seletiva em Maceió, reforçam a necessidade de se criar campanhas
educativas governamentais para ampliar o alcance dos princípios defendidos pela Educação
Ambiental, bem como ampliar a participação da população do bairro Ponta Verde no processo de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

coleta seletiva. Já que em Maceió não existe um programa oficial permanente de educação
ambiental que promova a redução da geração de resíduos sólidos.
A falta de engajamento das pessoas, já que a maioria dos entrevistados nunca participou de
nenhuma ação voltada para a realização de coleta seletiva, mostra que mesmo os edifícios que
participam da coleta seletiva não conseguiram sensibilizar a maioria dos seus moradores para que
despertem para a importância da coleta seletiva e incorpore esse hábito em sua vida. Apesar de as
pessoas perceberem a importância da coleta seletiva, essa percepção não foi capaz de gerar
mudança de atitude.
Um fato preocupante levantado por este trabalho se refere a percepção que as pessoas têm
sobre o processo de coleta seletiva e sobre as pessoas que estão ligadas, no bairro Ponta Verde, a
essa ação, pois uma minoria associou a coleta seletiva a vantagens ou melhoria sociais, econômicas
ou culturais dos envolvidos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFLEXÕES ACERCA DO POTENCIAL DE REDES SOCIAIS COMO


PLATAFORMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NÃO FORMAL NA
PROBLEMÁTICA DO ÓLEO RESIDUAL DE FRITURA

Jailton FERRARI
Professor Adjunto de Química Orgânica da UFPB
jferrari@quimica.ufpb.br
Rafaela Bernardo Provazi PESCI
Professora Adjunta de Química Inorgânica da UFPB
rafa_ppesci@yahoo.com.br
Alyne Siqueira BENTO
Graduanda em Engenharia Ambiental na UFPB
alyne.999@hotmail.com

RESUMO
As redes sociais têm assumido uma posição de destaque nas interações sociais atuais que
transcorrem via o uso da internet. A capacidade de propagação de informações e o alcance a
públicos de diferentes classes sociais fazem delas instrumentos importantes na construção de novas
estratégias de ensino-aprendizagem de Educação Ambiental não formal. Neste sentido, este trabalho
investiga preliminarmente e qualitativamente o quão as redes sociaisFacebook, Instagram e
Youtube têm sido utilizadas como plataformas de Educação Ambiental não formal para a
problemática socioambiental vinculada ao óleo residual de fritura. A partir desta avaliação prévia e
qualitativa é então sugerido a transposição para redes sociais de projetos e programas relacionadas à
questão do óleo residual dando enfoques de caráter mais formativo e não apenas comercial.
Palavras-chave: Redes sociais; Reuso; Óleo residual de fritura; Educação ambiental.
ABSTRACT
Social networks have assumed a prominent position in the current social interactions that take place
through the Internet use. The ability to propagate informations and reach the public of different
social classes, make themimportant tools in the construction of new teaching-learning strategies of
non-formal environmental education. In this regard, this work investigates, preliminarily and
qualitatively, how the social networks Facebook, Instagram and Youtube have been used as non-
formal environmental education platforms for the socioenvironmental problem related to residual
frying oil. From this prior qualitative assessment, the transpositionfor social network of projects and
programs related to the residual oil question was suggested, providing a more formative approach
and not just commercial one.
Keywords: Social networks; Reuse; Residual frying oil;Environmental education.

INTRODUÇÃO

Com o surgimento da internet como uma esfera pública globalgeradora e propagadora de


conhecimentocom forte capacidade de interconexão dos mais diversos ramos da atividade humana,
muitas mudanças, sem precedentes, ocorreram nos tipos e formatos de comunicação no cotidiano

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

das pessoas. Desde então, a comunicação no modo presencial nas relações interpessoais tem cada
vez mais competido com a comunicaçãoatravés de dispositivos tecnológicos de acesso à internet.
Tais mudançastêm acarretado em constantes transformações no compartilhamento de informações e
nos processos de trabalho.As redes sociais, por exemplo, no âmbito das mídias de comunicação
vinculadas à internet, têm assumido, nos dias de hoje, um papel central tanto nas formas de
comunicação virtualcomo na propagação do conhecimento/conteúdo[1]. Fato este que habilita o uso
destas plataformas de comunicação virtual e de interrelação social moderna como ferramentas
poderosas de educação não formalsobre conhecimentos que possam ser de interesse comum aos
atores sociais (indivíduos, instituições e grupos) que fazem uso delas.
O uso da expressão rede nos sites de interconexão virtual dos atores sociais– as ditas redes
sociais – pode ser considerado uma metáfora que subsidia o entendimento das relações construídas
nestas plataformas digitais e à sua repercussão nos processos sociais da sociedade [2]. Dentre as
muitas possibilidades de interações interpessoais pertinentes as redes sociais, pode-se destacar, em
particular, o enorme potencial à educação não formal que estas plataformas podem se prestar, e isto
pode ser consubstanciado a partir de um crescente número de estudos vinculados ao uso das
mesmas em educação não formal[1],[2] e[3].
No que diz respeito ao entendimento de educação não formal, vale a pena lembrar, antes de
tudo, que ao longo de gerações o próprio conceito de educação formal, quase sempre, foi imbricado
ao da própria escola, ao ponto de, em boa medida, serem usados até mesmo como termos
sinônimos. No contexto atual, de outra forma, fruto da evolução temporal da compreensão do
processo de ensino e aprendizagem, os conceitos de educação têm se ressignificado através da
busca de novas práticas pedagógicas e de novos espaços educativos [4]. Nesta perspectiva, muito
frequentemente se observa a partir das (re)discussões do processo de ensino e aprendizagem uma
amplificação clara do conceito de educação que, inclusive, a transpõe dos limites da própria escola
e a adere a novas dimensões e espaços sociais, inclusive os virtuais, classificando-a como educação
não formal[2].
Nesse contexto, a construção da democratização e da conscientização ambiental através da
educação não formal pode ser elaborada utilizando-se diferentes metodologias a partir de diferentes
espaços sociais, visto que não há uma metodologia única, nem um modelo rigoroso para tal. Podem-
se utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de atividades pedagógicas visando não
apenas a reprodução/divulgação de conhecimentos, mas sim a construção de uma consciência e de
uma ética ambiental, coletiva e individual, por meio da socialização e, até mesmo, geração de
conhecimentos.
Dentre essas possibilidades de novos espaços educativos para a prática da educação não
formal, as redes sociais têm conseguido um destaque especial. Entre as redes sociais e os programas

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de trocas de mensagens instantâneas mais usadas no Brasil, estão o Facebook (83%), o Whatsapp
(58%), o Youtube (17%), o Instagram (12%) e o Google+ (8%)[5]. Para compreender o alcance das
principais redes sociais, apesquisa Digital in 2016, da We Are Social, realizada ao longo do último
trimestre de 2015, nos mostra que temos hoje no Brasil uma média de 49% da população
participando de redes sociais de todos os tipos[6].
Em números, o Facebook possui 1,94 bilhões de usuários ativos diariamente. No Brasil, 102
milhões de brasileiros se conectam nessa plataforma[7]. O Instagram possui 300 milhões de
usuários ativos diariamente. A rede social registra 4,2 bilhões de ―curtidas‖ em todo o mundo por
dia. OYoutube, em seu turno, possui mais de 1 bilhão de usuários. As cem principais marcas globais
usaram a plataforma de anúncios em vídeo ―TrueView‖ em 2015.
A resolução de problemas ambientais no século XXI combinado com um amplo processo de
educação ambiental para mover ideias e ações, demanda capacidade crítica, ações subversivas à
degradação dos recursos naturais,como também, mecanismos educacionais formais e não formais
que desagreguem a lógica imperante da cultura de maximização do consumo[8]. Neste sentido, o
uso de ciberespaços de interconexão pessoal, como as redes sociais, para o processo de educação
ambiental não formal pode se configurar como uma alternativa frutífera nas discussões,
informações e propostas de soluções para problemas ambientais.
Em uma perspectiva de educação ambiental sob enfoque não formal já há, ao longo das
últimas décadas, o desenvolvimento de projetos sociais emanados, sobretudo a partir de ONG´s, que
promovemações de sensibilizaçãoda população frente a problemática ambiental que é o descarte
direto e inadequado do óleo residual de fritura no meio ambiente [9]. O olhar crítico sobre a gestão
desse resíduo surge principalmente em decorrência do elevadoconsumo de óleo vegetal para
cozinha no Brasil. Três bilhões de litros de óleo de fritura são anualmente consumidos. Em algumas
regiões o consumo é bastante acentuado, como é o caso do Espírito Santo, onde o consumo chega a
aproximadamente 150 milhões de litros de óleo vegetal por ano, devido a cultura culinária da
região[10].No entanto, a despeito destas ações pontuais, o reusodo óleo residual de fritura,
infelizmente, ainda não possuí uma logística simples e de largo alcance socioeconômico no
Brasil.Muito embora, para fins de maior preservação do meio ambiente local,poderia se constituir,
pelo volume que é produzido e consumido,como umadas principais vertentes de política
públicaambiental para o país.
O reusodo óleo residual de fritura como matéria primapotencializa a elaboração de tintas,
óleos para engrenagens, sabões, vernizes, ração animal, dentre outras alternativas industriais e/ou
artesanais[11] que poderiam promover fortemente a visibilidade da necessidade do reuso do óleo
residual de fritura se fossem amplamente divulgadas.Apesar disso, os projetos sociais de
preservação ambiental, já supracitados,que versamsobreo reusodo óleo residual de fritura, têm

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

divulgação, na maior parte das vezes, bastantelimitada às próprias comunidades que eles atendem.
Neste sentido, o uso de redes sociais como mecanismo de comunicação/divulgaçãode projetos desta
natureza poderia, em boa medida, servirem-se como plataformas de educação não formal e
amplificar, em muito, o alcance da formação de um ideário de consciência ambiental desejadapela a
maioria destes projetos. Além disso,potencializaria a capilarizaçãodas informações da logística
reversa de coleta e reuso do óleo a um público de grande pluralidade social e econômica o que,
certamente, traria maior visibilidade e inspiração para estas ações no cenário nacional. Em linha
com esta perspectiva, este trabalho visa averiguar a utilização de redes sociais no Brasil como
plataformas de educação ambiental não formal sobre as necessidades e vantagens do reuso do óleo
residual de fritura.

METODOLOGIA

Afim de compreender a atual utilização das redes sociais para a divulgação da importância
do reuso do óleo residual de fritura, um levantamento foi realizado utilizando como base os
indexadores Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Periódicos Capes e adicionalmente,
uma consulta nas redes sociais Facebook, Youtube e Instagram.
A investigação da contribuição das redes sociais na divulgação e na solução da problemática
do reuso do óleo residual de fritura pretendeu avaliar o uso das redes sociais pela ótica dos usuários.
Neste sentido, de início definiu-se os termos utilizados para busca, tais como: ―reciclagem de óleo
de fritura‖,―reuso de óleo residual de fritura‖ e/ou ―eco óleo‖. Nas buscas, realizou-se o
mapeamento das interações,além da popularidade e audiência das páginas. As buscas foram
realizadas entre os dias 27 e 29 de julho de 2017.
Na plataforma do Facebook, no campo da busca, foram inicialmente inseridosum dos termos
―óleo residual de fritura‖, ―reciclagem de óleo de fritura‖ e ―eco óleo‖. O conjunto de buscas foram
limitadas para a modalidade de Páginas. No total, trinta e três páginas foram encontradas sendo as
mesmas analisadas sobre o conteúdo disponível, finalidade e popularidade (número de usuários que
curtiram a página).
Na plataforma Instagram a busca foi realizada por meio da utilização de hashtag. A hashtag
é umas das principais ferramentas de interação e busca no Instagram e funciona como palavra-
chave ou termo associado a uma informação ou determinado assunto. A seguinte lista de hashtags,
bem como, seu respectivo número de publicações associadas com o termo, foram inseridas no
campo de busca: #oleodefritura (238 publicações), #oleodefriturausado (3 publicações),
#reciclagemoleovegetal (5 publicações) e #reciclagemdeoleodefritura (0 publiçações).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A busca de vídeos e canais na plataforma Youtube pela inserção dos termos ―reciclagem de
óleo de fritura‖ ou ―reuso do óleo residual de fritura‖ no campo destinado à pesquisa/busca
forneceram um total 715 e 278 vídeos, respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Averiguação nas bases dos indexadores Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e
Periódicos Capes não indicaram, até o momento, nenhum estudo versando sobre o uso de redes
sociais como plataformas de educação não formal sobre o reuso de óleo residual de fritura. Fato este
que suscita, em princípio, uma carência significativa de investigação sobre as potencialidades destes
canais de interconexão pessoal como ferramenta de educação ambiental não formal para a
problemática ambiental vinculada à questão do descarte e reuso do óleo residual de fritura.
A apuração das páginas verificadas a partir do Facebook – trinta e três páginas – indicaram
um número reduzido de ações de reciclagem e/ou reuso do óleo residual de fritura divulgadas nesta
rede social. Além disso, o mapeamento das interações do tipo like (curtir) destas páginas sugere
também que este tema, infelizmente, tem pouca imersão entre os usuários tendo em vista,
sobretudo, que estas interações frequentemente oscilam de poucas dezenas a poucas centenas de
―likes‖ nas páginas visitadas. Outro aspecto digno de nota é o objetivo principal vinculado às
páginas, das trinta e três páginas encontradas e acessadas no período da pesquisaapenas cinco delas
tinha,como principal correlação, fins educativos vinculados à causa socioambiental do descarte e
reuso do óleo. As demais páginas são fortemente dedicadas aorecolhimento do óleo para fins
comercias, constituindo-se de empresas que se prestam a coleta para revenda a produtores de
biodiesel. Em outras palavras,não há, em linha geral, uma dedicação à Educação Ambiental não
formal de modo direto pela grande maioria das páginas apuradas. Exceção, digna de nota ainda, é o
ProgramaEcóleo que mantém uma página intitulada Ecóleo.A página dispõe de conteúdo atualizado
aos problemas ecológicos, discussões socioambientais e às questões a respeito do reuso do óleo
residual de fritura o que se presta, sob nossa ótica, como uma boa proposta de Educação Ambiental
não formal em um espaço não formal e virtual. No entanto, é ainda um exemplo isolado frente ao
grande potencial que plataformas como redes sociais podem oferecer ao processo não formal de
Educação Ambiental.
A avaliação das postagens visualizadas a partir do Instagram está em linha com a percepção
geral já supracitada para o Facebook. Majoritariamente as publicações são vinculadas a empresas de
coleta e/ou reciclagem de óleo e usam a rede social como plataforma de divulgação do seu trabalho
de reciclagem, sobretudo enfatizando o serviço de coleta. Mas sem uma abordagem educacional
mais ampla. O maior número de postagens está vinculado aos perfis na rede das empresas
GraxsalORG, Ambiental, Katu Oil e Óleo Verde.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O Youtube, por seu turno, frente a busca pelos termos ―reciclagem de óleo de fritura‖ ou
―reuso do óleo residual de fritura‖ apresentou o maior volume de publicações dentre todas a redes
sociais verificadas. Encontrou-se um total de 993 vídeos somando-se as buscas pelos dois termos
supracitados. Estes vídeos abordam temas como a coleta, reciclagem de óleo de fritura, técnicas de
reciclagem e algumas possibilidades de reuso do óleo residual de fritura. São vídeos na sua maioria
curtos, mas informativos. Ademais, estes vídeos em sua maioria não estão vinculados a canais
sistematizados de Educação Ambiental o que torna a informação desta temática bastante
pulverizada digitalmente. Apesar disso, é digno de nota um canal intitulado “Grande Rio
Reciclagem Ambiental” que é focadoem uma abordagem de Educação Ambiental sobre coleta e a
destinação adequada ao óleo residual de fritura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As redes sociais no alvorecer do século XXI se constituíram como uma das principais
estratégias de interconexão dos atores sociais no mundo moderno. A capacidade de transmissão,
alcance e replicação de informações de quase toda natureza, experimenta através delas condições
dificilmente antes observadas por outros mecanismos de mídia impressa ou eletrônica. Esta
capacidade quando canalizada para o processo ensino-aprendizagem de Educação Ambiental pode
representar uma melhoria significativa na formação dos partícipes destas redes interessados por
temáticas a ela associadas. Neste sentido, vislumbramos aqui, principalmente através de busca
direta de informações em três redes sociais (Facebook, Instagram e Youtube), que estas redes como
plataformas de Educação Ambiental não formal são utilizadas aquém de sua capacidade formativa.
Por conta disso, nossos esforços neste momento configuram-se na extrapolação do projeto de
extensão ―Óleo bom é óleo usado...‖ que é uma ação de extensão aprovada pela UFPB, e do qual
fazemos parte, para espaços não formais como as redes sociais. Acreditamos que a transposição
deste e de outros projetos desta natureza para as redes sociais possa dar maior alcance ao processo
educativo vinculado à problemática ambiental e a logística de reuso do óleo residual de fritura,
multiplicando os públicos alvo e capilarizando socialmente ainda mais as informações chaves
relacionadas a esta questão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] TIRYAKIOGLU, F.; ERZURUM, F. Use of social networks as an education tool.


Contemporary Education Technology, 2011. p.135-150.

[2] SANTOS, R. A. d.; CAMPOS, T. C. d. S. Redes sociais na educação: uso do facebook no


estudo de trigonometria do triângulo retângulo. Campos dos Goytacazes: IFF, 2013.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 167


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

[3] FERNANDES, L. L.; SOUZA, J. B. d.; BARRETO, M. S. As redes sociais: contrubuições e


implicações para uma perspectiva educacional no ensino superior. In: ENCONTRO DE
PESQUISA EDUCACIONAL EM PERNAMBUCO, 4.,2012, Caruaru. Anais... Caruaru: CGEE,
2012. Eixo Temático 6.

[4] TOLEDO,V. D. Inclusão social e arte na educação não-formal: a experiência do Instituto Arte
no Dique.Santos: Universidade Católica de Santos, 2007.

[5] BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de


mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília: Secom, 2014. p.
153. ISBN: 978-85-85142-60-5.

[6] SIMON, K. Special reports digital in 2016 .We Are Social.London, jan. 2016.Disponível em:<
https://wearesocial.com/uk/special-reports/digital-in-2016>. Acesso em: 10 ago. 2017.

[7] FACEBOOK. 102 milhões de brasileiros compartilham seus momentos no Facebook todos os
meses. Facebook para empresas. [S.l.], abr. 2016. Disponível em:<
https://www.facebook.com/business/news/102-milhes-de-brasileiros-compartilham-seus-
momentos-no-facebook-todos-os-meses >. Acesso em: 14 jul. 2017.

[8] RUSCHEINSKY, A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. 2. ed. Penso, 2012. p. 311.

[9] LAGO, S. M. S.; SCHMIDT, C. M.; CAMPOS, L. F. de Ações coletivas na produção de


biodiesel: O óleo residual de fritura como matéria-prima.Ciências Sociais em Perspectiva, v. 14,
p. 216-238. 2015.

[10] COSTA, D. A. d.; LOPES, G. R.; LOPES, J. R. Reutilização do óleo de fritura como uma
alternativa de amenizar a poluição do solo.REMOA, v. 14, p. 243-253. 2015.

[11] VELOSO, Y. M. d. S.; FREITAS, L. F. d. L.; AMARAL FILHO, J. H. B.; SANTOS, Í. T. d.;
LEITE, M. S.; ARAUJO, P. J. L. Rotas para reutilização de óleos residuais de fritura.Cadenos
de Graduação. Ciências Exatas e Tecnológicas,.v. 1, p. 11-18. 2012.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 168


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

COLETA SELETIVA EM REGISTRO, SP: ANÁLISE INICIAL.

João Vicente COFFANI-NUNES


Docente do Câmpus Experimental de Registro da UNESP
jvcoffani@registro.unesp.br
Danilo Pereira CACERES
Ex-aluno do Câmpus Experimental de Registro da UNESP
Marina Molina G. da SILVA
Ex-aluno do Câmpus Experimental de Registro da UNESP
Patrícia Gleydes MORGANTE
Docente do Câmpus Experimental de Registro da UNESP

RESUMO
No Brasil, os programas municipais de coleta seletiva integram o sistema de gerenciamento de
resíduos sólidos domiciliares e, vêm incorporando gradativamente um perfil de inclusão social e
geração de renda para os setores mais carentes e excluídos do acesso aos mercados formais de
trabalho. O dia 16 de maio de 2012 é a data que traz para Registro - SP, o marco de ter sido a
primeira cidade do Vale do Ribeira em lançar e dar a início à implantação do Programa de Coleta
Seletiva com o slogan ―Plante esta ideia‖. Com objetivo de levantar subsídios para o aprimoramento
da Coleta Seletiva em Registro, SP, foram realizadas entrevistas com moradores de quatro bairros e
com o Secretário de Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente da cidade de Registro. Constatou-
se que metade dos entrevistados não participavam e não conheciam o Programa de Coleta Seletiva
do Município. Mas, parte disso poderia ser resultado de falhas no planejamento da Educação
Ambiental ou pelo programa ser muito novo na ocasião do estudo. Um novo estudo se faz
necessário para verificar a participação popular e o planejamento da educação ambiental na Coleta
Seletiva Municipal.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos, Educação ambiental, Vale do Ribeira, SP.
ABSTRACT
In Brazil, municipal selective waste collection programs are part of the household solid waste
management system. Gradually, they have incorporated a profile of social inclusion and income
generation for the most deprived sectors. May 16, 2012, is a landmark date for Registro - SP, the
first city of the Vale do Ribeira to implement the Selective Collection Program. The slogan is "Plant
this idea". With goal to improve the Selective Collection in Registro, we made interviews with
residents of four neighborhoods and with the Secretary of Agrarian Development and Environment.
Half the respondents did not participate and did not know the municipal Selective Collection
Program. Probably, these results reveal failures in Environmental Education planning or they reflect
the short period of existence of the program at the time of the present study. A new study is
necessary to verify the population participation and planning of environmental education in
Municipal Selective Collection.
Key words: Solid waste, Environmental Education, Vale do Ribeira, SP.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 169


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

1.1 Resíduos sólidos

Estudos propõem que para ter sistemas eficientes de gerenciamento de resíduos sólidos é
necessário conhecer as etapas que compreendem o gerenciamento de resíduos sólidos dos
municípios e adotar ferramentas de gestão que possibilitem identificar problemas de
dimensionamento e fornecer subsídios para o planejamento e tomadas de decisões (BRAGA et al.,
2000; CUNHA; CAIXETA FILHO, 2002; CUNHA; CARNEIRO, 2007).
A partir da década de 70, no Brasil, o aumento da quantidade de lixo produzido nos centros
urbanos tornou-se um problema cada vez mais presente. De uma forma geral, o lixo começou a se
apresentar, então, como algo ameaçador da ordem social (MIZIARA, 2001).
A geração de lixo é inevitável e sua quantidade depende do tamanho da população, renda,
modo de vida, atividade da população, presença de turistas, dentre outros fatores (D‘ALMEIDA et
al., 2000 apud ORSATI, 2006).

1.2. Coleta seletiva

Segundo o IBGE (2000), coleta seletiva consiste na separação e acondicionamento de


materiais recicláveis, em sacos ou recipientes segregados, nos locais onde o lixo é produzido.
A primeira experiência de coleta seletiva no Brasil, da qual se tem registro, ocorreu em
1985, no Estado do Rio de Janeiro, em Niterói, no Bairro São Francisco - bairro residencial de
classe média (EIGENHEER, 1993).
No Brasil, os programas municipais de coleta seletiva integram o sistema de gerenciamento
de resíduos sólidos domiciliares, e vêm incorporando gradativamente um perfil de inclusão social e
geração de renda para os setores mais carentes e excluídos do acesso aos mercados formais de
trabalho (SINGER; SOUZA, 2000).
A retirada de catadores dos lixões e sua inserção em programas de coleta seletiva de lixo
possibilitam a melhoria de qualidade de vida desta população. O sistema de coleta seletiva aumenta
a vida útil das áreas de disposição final, promove significativos ganhos ambientais e de saúde.
Ainda, a coleta seletiva de resíduos recicláveis urbanos cumpre um papel importante no resgate da
cidadania e da autoestima destas pessoas (BURSZTYN, 2000).

1.3. A Coleta Seletiva em Registro

O dia 16 de maio de 2012 é a data que traz para Registro o marco de ter sido a primeira
cidade do Vale do Ribeira em lançar e dar a início à implantação do Programa de Coleta Seletiva
com o slogan ―Plante esta ideia‖ (REGISTRO, 2012).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 170


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A logomarca do programa foi escolhida a partir de um concurso com escolas municipais


(REGISTRO, 2012). Desta forma a equipe de planejamento já começou o trabalho de envolvimento
da população, aspecto importante para o bom andamento da Coleta Seletiva.
Segundo Bockor (2012), percebe-se que a eficiência da coleta em Registro terá bom
desempenho quando, por meio da informação, venha ter boa adesão da população. A coleta será de
material reciclável (seco e úmido) semanal e o do CATA TRECO quinzenal. Cada bairro terá um
dia diferente de passar os caminhões.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O presente estudo teve como objetivo levantar subsídios para o aprimoramento da Coleta
Seletiva em Registro, SP.

2.2 Objetivos específicos

Conhecer o pensamento do poder público sobre o projeto de Coleta Seletiva; e


Verificar o conhecimento e o interesse da população em relação a Coleta Seletiva municipal.

3. METODOLOGIA

Segundo dados do IBGE (2010), o município de Registro - SP possui aproximadamente 54


mil habitantes e está localizado no Sul do Estado de São Paulo, região conhecida como o Vale do
Ribeira. A cidade está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul.
Visando verificar o entendimento e o envolvimento da população com a coleta seletiva
municipal, foram realizadas entrevistas em quatro bairros: Vila Tupi, Centro, Jardim Planalto e Vila
Fátima (Figura 1).
A escolha das residências se deu pelo sorteio de três ruas por bairro. Definiu-se previamente
que seriam entrevistadas quatro casas por rua, e somente a segunda casa de cada quadra seria
contemplada pelo nosso estudo. Desta forma, a amostra incluiu 12 residências por bairro,
totalizando 48 moradias visitadas.
Com intuito de conhecer a proposta de Coleta Seletiva municipal foi realizada uma
entrevista com o Secretário de Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente e com o Assessor
Técnico de Resíduos Sólidos.
As entrevistas com os moradores e com o Secretário de Desenvolvimento Agrário e Meio
Ambiente ocorreram entre setembro e novembro de 2012.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As análises e gráficos foram realizadas com a utilização do programa EXECEL da


Microsoft.

Figura 1. Mapa com destaque para a localização dos quatro bairros da cidade de Registro onde o estudo se
desenvolveu.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Entrevista com os moradores

Com intuito de buscar verificar o nível de entendimento dos entrevistados sobre a


Reciclagem, perguntamos: ―Reciclar é?‖ Sendo que o entrevistado poderia marcar mais de uma
alternativa se achasse necessário.
Apesar de 52% dos entrevistados terem respondido adequadamente, observamos que o nível
de entendimento variou entre os bairros. No centro da cidade houve maior porcentagem de acerto
(75%), enquanto que nos demais bairros ficou próximo de 50% de acerto. Esses dados indicam a
necessidade de intensificar o trabalho de educação ambiental sobre Resíduos Sólidos nesses bairros
(Figura 2).

Figura 2: O que é Reciclagem: A) porcentagem geral de respostas corretas (sim) e incorretas (não); B)
distribuição de respostas corretas (sim) e incorretas (não) por bairro.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Aparentemente o nível de entendimento sobre Reciclagem está refletindo na adesão ao


programa municipal de Coleta Seletiva, pois cerca de 52% dos entrevistados dizem contribuir com a
Coleta Seletiva municipal, no entanto, quando perguntamos se conhece algum projeto de Coleta
Seletiva, apesar de 50% confirmar que sim, nem todos citaram o programa municipal como
exemplo. E ao se observar a resposta por bairro, o Jardim Planalto destacou com 75% dos
entrevistados afirmando que não conheciam nenhum projeto de Coleta Seletiva. As respostas
obtidas indicam que o trabalho de divulgação do programa municipal dever ser intensificado em
todos os bairros, mas com especial atenção no Jardim Planalto (Figura 3).

Figura 3: Você conhece algum projeto de Coleta Seletiva: A) porcentagem geral de respostas afirmativas
(sim) e negativas (não); B) distribuição de respostas afirmativas (sim) e negativas (não) por bairro.

As entrevistas apontam para a necessidade de se aprimorar o trabalho de divulgação do


programa de Coleta Seletiva Municipal, de Educação Ambiental sobre Resíduos Sólidos e a Coleta
Seletiva. Esse aspecto ficou muito evidente ao se perguntar em que dia da semana o caminhão da
Coleta Seletiva Municipal passava na rua do entrevistado. A grande maioria dos moradores (79%)
não sabia em dia da semana passava o caminhão. Em todos os bairros essa porcentagem foi acima
de 65%, mas na Vila Tupi chegou a aproximadamente 92% (Figura 4). Como o cidadão poderá
contribuir de forma efetiva com a Coleta Seletiva, se nem o dia correto de recolhimento sabe?

Figura 4: Em que dia passa o caminhão da Coleta Seletiva em sua rua: A) porcentagem total de respostas
afirmativas (sim) e negativas (não); B) respostas afirmativas (sim) e negativas (não) obtidas por bairro.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No entanto, apesar da falta de conhecimento sobre o programa municipal de Coleta Seletiva,


os moradores entrevistados dos quatro bairros demonstraram grande interesse, disposição e
motivação para querer colaborar, como fica claro abaixo.
Ao se verificar se é viável fazer coleta seletiva na casa do entrevistado, houve uma alta
porcentagem de respostas afirmativas (81%), com menor convicção no Jd. Planalto (67%).
Contudo, ao serem questionados se teriam motivação para praticar a coleta seletiva em sua casa, as
respostas afirmativas caíram para 67% de adesão, e nesse caso, o Centro da Cidade apresentou o
índice mais baixo (50%) (Figura 5).

Figura 5: A) É viável fazer coleta seletiva em sua casa? ; B) Você tem motivação para praticar a coleta
seletiva em sua casa?

Fica evidente com as entrevistas realizadas o interesse da população para que haja um
programa de coleta seletiva e, também fica clara a necessidade do poder público intensificar seu
programa de educação ambiental em relação aos Resíduos Sólidos e Coleta Seletiva junto à
população para aumentar o êxito da proposta.

4.2 Entrevista com Secretário de Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente Municipal

A entrevista foi realizada em 25 de outubro de 2012 nas dependências da Secretaria de


Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente Municipal e também teve a participação do Sr.
Tininho, responsável pela Coleta Seletiva Municipal.
O período em que ocorreu a entrevista também foi muito importante, pois estava ao final da
gestão, em ano de eleições municipais e a prefeita municipal não conseguiu se reeleger. Portanto, a
equipe sabia que estaria em seus últimos meses de gestão.
É importante salientar que na cidade de Registro, muito antes da implantação do Programa
de Coleta Seletiva, já existia outro projeto semelhante, desenvolvido em gestões municipais
anteriores que resultou na formação de uma Cooperativa de Catadores chamada ―Cidadão Catador‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com a entrevista ficou claro que a implantação do programa era muito recente, poucos
meses.
Esse é um contexto muito importante para se ter uma visão mais clara do programa como
um todo, inclusive no que diz respeito à percepção, aderência da população à proposta da Coleta
Seletiva.

Segue a entrevista.

Entrevista:
Pergunta: Antes da implantação da coleta onde eram dispostos os resíduos?
Sr. Marcos: o Programa Cidadão Catador atendia os bairros: Pedreira, Vila Ponce, Vila Cabral.
Também eram feitos trabalhos isolados em alguns pontos da cidade por famílias que guardavam em
casa. Existiam 2 empresas: uma de ferro e outra de papelão (sucateiro), esta que comprava do
cidadão catador e de pessoas isoladas. O restante era destinado ao aterro sanitário. O único auxílio
da prefeitura era pagar o aluguel do cidadão catador, pagar alguns instrumentos e equipamentos,
sem vínculos com a prefeitura. Era um programa instalado de gestões antigas, aproximadamente 10
anos. Essas 2 empresas também eram responsáveis pela coleta de resíduos industriais/comerciais.

Pergunta: Como surgiu a ideia do programa de coleta seletiva? E quando e como irá
começar/quando e como começou o programa?
Sr. Marcos: O cidadão catador virou uma empresa, fugindo da proposta de ser uma cooperativa.
Fica refém das empresas compradoras. Mesmo a prefeitura ajudando, eles não conseguiram chegar
ao ponto de equilíbrio, que nós nessa gestão até então também não conseguimos. Como fazer a
divisão de quem tá trabalhando na rua, com quem faz a triagem e quem faz a administração da
associação. Então ficou uma associação sem documentação. Perdeu o cunho social. Não tinha mais
a cooperativa nem uma divisão justa. E por isso a dificuldade de trabalhar com eles, além da
divisão: quem trabalhava o dia inteiro na rua, quem fazia a triagem e o comprador que pelos
cálculos era aquele que ficava com o maior lucro. Outro ponto: seria suficiente carrinheiros em
todos os bairros? Após reuniões e levantamentos, foi visto que não tinham o potencial de atingir a
cidade ao mesmo tempo. A partir da rede cata-vidas (Sorocaba) foi que Registro passou a ter um
modelo para o programa de coleta. Já era um programa de coleta com caminhão que abrangia a
cidade toda. Houve um novo contrato da coleta, por uma empresa terceirizada, e colocaram o
caminhão de coleta no programa. Surgiu a ideia de formar uma cooperativa com pessoas que
trabalhavam nesse segmento e pessoas que trabalhavam numa triagem ilegal no aterro sanitário. A
empresa prestadora de serviços de coleta seletiva induziu a formação da cooperativa (que se formou
sozinha com trabalho social). A empresa faz a coleta e destina ao barracão da cooperativa. O

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cidadão catador se tornou um problema de gestão porque eles já vinham com as conquistas de outro
governo, não queriam mudar o modelo que nós não víamos como justo porque fugia do setor de
cooperativismo.

Pergunta: Qual o número de famílias beneficiados pela cooperativa?


Sr. Marcos: 23

Pergunta: O Programa tem atividades permanentes de educação ambiental para a comunidade em


relação aos resíduos sólidos?
Sr. Tininho: É feita atuação junto às escolas em ensino fundamental e médio. Com palestras
ambientais chamando atenção sobre resíduos sólidos para provocar a atenção dos alunos, como por
exemplo, de quem é a responsabilidade sobre o lixo de casa.

Pergunta: Sobre o programa de coleta seletiva foi feito algum trabalho de educação ambiental nos
bairros/residências?
Sr. Marcos: Não conseguiu atingir o município 100%, mas foram feitas visitas porta-a-porta,
somadas a alunos, programas sociais, cooperativas, várias frentes para fazer a divulgação. E deve
ter continuidade. O primeiro passo dado foi chegar nas associações de bairros e marcar uma reunião
para construção participativa, mas não tiveram adesão. Compareceram pessoas ligadas à nossa
gestão ou que já participam da coleta, mas o bairro em si não teve participação. Vimos que não
teríamos sucesso dessa forma e optamos pelo porta-a-porta.

Pergunta: E dentro da prefeitura, tem uma equipe permanente para continuar esse tipo de trabalho
de divulgação? Os cooperados têm como meta continuar o trabalho de porta em porta?
Sr. Marcos: Seguindo o modelo sorocabano, o caminhão deles só passa com o motorista. Quem faz
a coleta em si é o próprio cooperado. Então além da coleta, existe um trabalho contínuo. Eles
trabalham com um adesivo que nós adotamos também ‗eu separo‘. As casas que tem o adesivo, eles
batem na porta e coletam. Nós temos dia e horário para passar no bairro. Então quem trabalha com
isso, se passar antes que nós, obtém um excelente resultado em cima de uma estrutura nossa e deixa
deficitário a cooperativa. Já entramos sabendo do problema e sabendo que a solução seria os
cooperados fazerem isso. A continuidade está ligada a cargos e papéis que podem ser rompidos,
então na transição de gestões deve-se verificar se vai continuar ocorrendo.

Pergunta: Em relação à implementação, a população tem que fazer um cadastro ou é só colocar o


adesivo? Tem o procedimento para a separação do lixo?
Sr. Marcos: ―É usado um folder informativo bem primário, sobre separação de resíduos secos e
úmidos.‖

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Pergunta: Você acha que o município está bem informado sobre o programa de coleta porta-a-
porta? Como é o monitoramento desse programa?
Sr. Marcos: O primeiro vai ser esse trabalho de vocês. Já tem a somar a instituição de ensino para
esse monitoramento. Algumas ações nos agradaram muito. A cooperativa fez um porta-a-porta no
Jardim Brasil. ―Estourou‖ de material depois disso, boa repercussão do trabalho com bons
resultados.

Pergunta: Há quanto tempo existe esse programa e qual a percepção da população na perspectiva da
prefeitura?
Sr. Marcos: Foi bem vista pela população, porém ainda apresenta algumas dificuldades pela parte
dos moradores, principalmente pela questão de horário da coleta, que é às 18h, horário comercial.
Então as pessoas deixam o lixo pra fora torcendo para que catadores autônomos não recolham. Está
previsto no projeto 35 PEV‘s (postos de entrega voluntários), porém ainda não foi possível
concretizá-los. A população cobra muito do poder público mas demora a se adequar. ‗Cobrar é mais
rápido do que se adequar quando tem a oferta do serviço‘. Quanto à implantação, foi iniciada a 4
anos.

Pergunta: Qual a porcentagem da área urbana que está sendo atendida?


Sr. Marcos: 20% é atendida 2 vezes por semana. A área urbana não é atendida em 100% porque
excluímos as 3 ruas centrais e o bairro da Pedreira onde tem os carrinheiros. Quando fizemos o
levantamento, essas pessoas não quiseram participar, pois já tinham um ganho em cima dessas
áreas. Optamos por não interferir na economia.

Pergunta: Qual foi a data de início da implantação da coleta seletiva em Registro?


Sr. Marcos: O contrato foi em fevereiro de 2012 e em junho/julho foi iniciado o trabalho na prática.

Pergunta: Como será a gestão nos próximos anos? Tem alguma previsão?
Sr. Marcos: Não estaremos mais na gestão mais tem perspectivas. Foi um trabalho muito bem feito,
o contrato permanece na nova gestão. Por um ano ele não pode ser rompido. Ela deve durar 3 anos,
porém a partir de um ano pode ser feita nova licitação.

Pergunta: Gostaria de tecer mais algum comentário para finalizarmos?


Sr. Marcos: É uma criança ainda, um estado gestacional. Mas acredito que participando diretamente
foi dado um pontapé inicial muito importante. Sempre falta uma estrutura, sempre surgem
demandas. Estamos muito aquém do que programou-se, mas vemos com muito orgulho.

CONCLUSÃO

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No período do desenvolvimento desse estudo o Programa de Coleta Seletiva do Município


de Registro, SP, estava numa fase muito inicial, com cerca de seis meses de atividade de coleta nos
bairros e, não tinha passado por nenhum processo de avaliação de resultados.
O fato de estar em fase inicial pode ter colaborado para que mais da metade dos
entrevistados não conhecessem o Programa de Coleta Seletiva ou não o tinham como uma
referência.
Parte dessa falta de conhecimento e adesão pode ser resultado da ausência de um projeto de
Educação Ambiental mais sólido, criando uma equipe de divulgação e orientação da própria
prefeitura, além dos catadores e parceiros do programa.
Apesar das falhas em relação à Educação Ambiental do programa, esse apresenta um grande
mérito e avanço para o município e região, visto que foi o primeiro a ser implantado.
Acreditamos que seu impacto foi muito positivo, visto que a gestão municipal que assumiu
em janeiro de 2013 deu continuidade ao Programa de Coleta Seletiva Municipal. E, após esses anos,
é o momento de se fazer um novo estudo.

AGRADECIMENTOS

Ao Sr. Marcos Diniz e Sr. Tininho por nos receber e possibilitar a entrevista.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 178


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SINGER, P.; SOUZA, A. A economia solidária no Brasil. São Paulo: Contexto; 2000.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

―NATAL SUSTENTÁVEL NAS ESCOLAS‖ E ―NATAL DOS CATADORES‖ EM


UNIÃO DOS PALMARES, ALAGOAS: PROJETOS INSTITUCIONAIS E SUAS
CONTRIBUIÇÕES PARA A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

José Lidemberg de Sousa LOPES


Professor Assistente Doutor em Geografia da UNEAL
jlidemberg@yahoo.com.br
Maria Aparecida Lopes da SILVA9
Coordenadora da Sala Verde Serrana dos Quilombos/SEMED
cidinhalopes2008@yahoo.com.br
Maria Goretti Lopes GALVÃO10
Técnica em EA da Sala Verde Serrana dos Quilombos/SEMED
Maria Madalena Soares da SILVA11
Técnica em EA da Sala Verde Serrana dos Quilombos/SEMED
madalenasoaresbio@gmail.com

RESUMO
Este trabalho objetiva apresentar um estudo metodológico sobre a realização dos projetos ―Natal
Sustentável nas Escolas‖ e ―Natal dos Catadores‖ entre os anos 2015 e 2016, em União dos
Palmares, município situado na Microrregião Serrana dos Quilombos, Estado de Alagoas.
Idealizados e promovidos pela Secretaria Municipal de Educação por meio da Sala Verde Serrana
dos Quilombos, Centro de Informação e Formação Socioambiental, institucionalizado pelo referido
órgão público municipal e vinculado ao projeto federal Salas Verdes do Departamento de Educação
Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, os projetos de Educação Ambiental proporcionaram a
participação e mobilização social em torno de um dos maiores desafios socioambientais do planeta,
o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos. Em se tratando de projetos de forte abrangência
social, destacaram-se alunos e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental de 15
escolas da Rede Municipal de Ensino na decoração natalina dos espaços escolares, na cidade e no
campo, por meio de peças ornamentais produzidas em oficinas pedagógicas a partir de resíduos
recicláveis coletados nas comunidades escolares. Como também, a valorização dos catadores que
atuam diretamente no Lixão Municipal por meio de sua inclusão nos projetos escolares e da
realização de um evento natalino voltado ao prestígio dessa classe social essencial à cadeia
produtiva da reciclagem e o gerenciamento sustentável e seguro dos resíduos sólidos com ênfase na
coleta seletiva. Assim, a pesquisa evidencia a importância da realização de projetos institucionais de
cunho pedagógico e social com forte mobilização comunitária para a efetivação das políticas
públicas de gestão dos resíduos sólidos com ênfase em práticas de Educação Ambiental.
Palavras-chave: Catadores, Educação Ambiental, Resíduos Sólidos, Natal, Sala Verde Serrana dos
Quilombos.
ABSTRACT
This paper aims to present a methodological study about the implementation of the projects
"Sustainable Christmas in Schools" and "Natal dos Catadores" between 2015 and 2016, in União

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Especialista em Gestão Ambiental
10
Especialista em Gestão Ambiental
11
Especialista em Educação Ambiental e Gestão Ambiental

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos Palmares, a municipality located in the Serrana dos Quilombos Microregion, State of Alagoas.
Conceived and promoted by the Municipal Department of Education through the Green Room
Serum dos Quilombos, Center for Information and Socio-environmental Training, institutionalized
by the aforementioned municipal public agency and linked to the Federal Green Chambers project
of the Department of Environmental Education of the Ministry of Environment, the projects of
Environmental Education provided the participation and social mobilization around one of the
biggest socio-environmental challenges of the planet, the proper management of solid waste. In the
case of projects with a strong social reach, students and teachers of Early Childhood Education and
Elementary School of 15 schools of the Municipal Education Network were featured in the
Christmas decoration of school spaces, in the city and in the countryside, through ornamental pieces
produced in pedagogical workshops from recyclable waste collected in school communities. As
well as the valuation of waste pickers who work directly in the Municipal Lession through their
inclusion in the school projects and the realization of a Christmas event focused on the prestige of
this essential social class to the productive chain of recycling and the sustainable and safe
management of solid waste with emphasis on selective collection. Thus, the research highlights the
importance of carrying out institutional projects of a pedagogical and social nature with strong
community mobilization for the implementation of public policies for solid waste management with
emphasis on Environmental Education practices.
Key words: Waste pickers, Environmental Education, Solid Waste, Christmas, Green Room of the
Quilombos.

INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios da atualidade gira em torno da preocupação socioambiental com a


geração e tratamento de resíduos sólidos. Nesse intuito, buscando solucionar o problema da gestão
dos resíduos sólidos no Brasil, foi promulgada a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, intitulada de
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estimulando tratamento e a disposição adequada de
resíduos, bem como a sua reutilização e reciclagem (BRASIL, 2010).
A referida lei impõe algumas obrigações que são de responsabilidade direta do município,
entre elas: implantação da coleta seletiva e definição de metas de redução, reutilização, coleta
seletiva e reciclagem a partir da inclusão dos catadores.
O artigo 16 da lei supracitada aborda que um dos instrumentos para a construção das
Políticas Estadual e Municipal de Resíduos Sólidos é a elaboração dos Planos Estadual, Municipal
ou Intermunicipal de Resíduos Sólidos, sendo condição essencial para que os Estados e Municípios
tenham acesso a recursos da União, a serem utilizados na gestão dos resíduos sólidos (BRASIL,
2010).
O lançamento do Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS/AL), desenvolvido no período
2014/15, ocorreu em outubro de 2015, o qual apresenta um panorama da situação dos resíduos no
Estado de Alagoas. Após a sua finalização, o PERS/AL ganhou força para sua implementação em
todo o território alagoano com a publicação da Política Estadual de Resíduos Sólidos de Alagoas e
Inclusão Produtiva, Lei Estadual nº 7.749, de 13 de outubro de 2015, configurando-se num marco

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

legal que estabelece a elaboração de Planos Intermunicipais de Gestão Integrada de Resíduos


Sólidos (PIGIRS) com um dos instrumentos da Política Estadual de Resíduos Sólidos (FLORAM,
2016).
Atualmente, o Estado de Alagoas conta com sete consórcios públicos, os quais instituem os
PIGIRS nas seguintes regiões (ALAGOAS, 2015): 1) Agreste; 2) Bacia Leiteira, 3) Litoral Norte;
4) Metropolitana; 5) Sertão; 6) Sul; e 7) Zona da Mata. O Consórcio Regional de Resíduos Sólidos
da Zona da Mata Alagoana (CORSZAM), criado em 07 de fevereiro de 2011, integrado por 13
municípios consorciados: Branquinha, Murici, Atalaia, São José da Laje, Chã Preta, Cajueiro, Mar
Vermelho, Capela, União dos Palmares, Santana do Mundaú, Ibateguara, Paulo Jacinto e Pindoba
(FLORAM, 2017).
Os Planos Intermunicipais são entendidos como um documento de suplementação do Plano
Estadual de Resíduos Sólidos, uma vez que o mesmo dispõe de diretrizes que irão nortear a gestão
dos resíduos sólidos considerando as especificidades de cada região alagoana determinada pelos
Consórcios Públicos.
Em União dos Palmares, município situado na Mesorregião do Leste Alagoano e
Microrregião Serrana dos Quilombos, o qual faz parte do Consórcio Público da Zona da Mata
Alagoana, com sede no Município de Murici.
A presente pesquisa objetivou apresentar como os projetos ―Natal Sustentável‖ e ―Natal dos
Catadores‖, idealizados pela Secretaria Municipal de Educação por meio da Sala Verde Serrana dos
Quilombos, têm contribuído significativamente com a gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU)
no município que atualmente se destaca como o maior gerador de RSU na Zona da Mata Alagoana
(FLORAM, 2017).

Estudo Metodológico: Natal sustentável nas escolas x natal dos catadores

Segundo o Portal da Educação, a reciclagem tem um papel importantíssimo para o


desenvolvimento sustentável do planeta. No Brasil, a reciclagem ainda caminha a passos lentos, em
grande parte devido ao modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro, sem contar que
a reciclagem no Brasil ainda é vista com muita discriminação.
Entre os impactos ambientais negativos que podem ser originados a partir dos resíduos
sólidos urbanos (RSU) produzido estão os efeitos decorrentes da prática de disposição inadequada
de resíduos sólidos em fundos de vale, às margens de ruas ou cursos d‘água. Essas práticas
habituais podem provocar, entre outras coisas, contaminação de corpos d‘água, assoreamento,
enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas,
moscas, vermes, entre outros. Some-se a isso a poluição visual, mau cheiro e contaminação do
ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo o Portal da Educação, a reciclagem tem um papel importantíssimo para o


desenvolvimento sustentável do planeta. No Brasil, a reciclagem ainda caminha a passos lentos, em
grande parte devido ao modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro, sem contar que
a reciclagem no Brasil ainda é vista com muita discriminação.
O projeto de Educação Ambiental denominado de ―Natal Sustentável nas Escolas‖ voltado à
data comemorativa ―Natal‖ e à temática ―Resíduos Sólidos‖ com ênfase nos ―Resíduos Sólidos
Urbanos‖, envolveu a adesão de 15 das 24 unidades da Rede de Escolas, sendo 12 escolas urbanas e
03 escolas do campo.
Quando falamos em Natal, nos remontam a Papai Noel, árvore de natal, guirlanda, presépio,
presentes, família, além de estarmos perto de Cristo, cuja data se comemora seu nascimento. Assim,
um momento do ano em que a solidariedade está aflorada na pele de cada cidadão e cidadã do
mundo. Foi nesse intuito, que a Sala Verde Serrana dos Quilombos de União dos Palmares pensou
no projeto denominado de Natal Sustentável.
O projeto foi estruturado em quatro etapas: 1) lançamento e adesão; 2) gincana para a coleta
de resíduos sólidos urbanos; 3) oficina de produção dos enfeites natalinos escolares; 4)
ornamentação natalina das escolas com os enfeites produzidos; 5) composição da comissão
avaliadora; 6) avaliação da decoração natalina; 7) entrega dos materiais produzidos aos catadores;
8) premiação das três melhores escolas.
A primeira edição do projeto ―Natal Sustentável – Biênio 2015/2016‖, foi lançada na Rede
de Escolas em 19 de agosto de 2015 com a apresentação do Termo de Adesão e Regulamento para
as 24 unidades da Rede de Escolas do Sistema Municipal de Ensino no II Encontro Pedagógico em
Educação Ambiental, realizado pela Sala Verde Serrana dos Quilombos (SVSQ), no Auditório da
Secretaria Municipal de Educação de União dos Palmares (SEMED).
Após o encontro (figuras 1 e 1a), 15 das 24 escolas municipais aderiram ao projeto,
consolidando a primeira etapa. Na segunda etapa, as 12 escolas urbanas e 03 escolas do campo
mobilizaram suas respectivas comunidades em uma gincana para a coleta de resíduos possíveis de
ser reaproveitados na produção dos enfeites natalinos escolares, ou seja, os resíduos inorgânicos
(secos) como papel, plástico, metal e vidro, o que ocorreu de agosto a outubro de 2015.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 – Seminário Formativo ―Resíduos Sólidos‖ ministrado pela técnica do Instituto Lagoa Viva com os
Coordenadores Pedagógicos das Escolas Municipais; Figura 1a – Apresentação para a Adesão do Projeto Natal
Sustentável nas Escolas pela equipe técnica da Sala Verde Serrana dos Quilombos. Fonte: SVSQ, 2015.

Na etapa seguinte, as comunidades escolares de Educação Infantil e Ensino Fundamental


participaram da Oficina de Confecção, em outubro de 2015, para a produção coletiva dos possíveis
enfeites natalinos de acordo com os materiais recicláveis adquiridos durante a gincana, produzindo
assim, diferentes composições decorativas em consonância com os critérios e pontuação
estabelecidos no regulamento: criatividade (50 pontos), diversidade de materiais recicláveis (30
pontos) e composição estética (20 pontos).
Na quarta etapa (figuras 2, 2a e 2b), cada escola ornamentou os espaços escolares com as
peças decorativas que foram produzidas na oficina. Tais enfeites foram os mais variados possíveis,
desde guirlandas produzidas com latinhas de alumínio amassadas e rolinhos de papel higiênico,
bonecos de neves feitos com copos descartáveis e árvore de natal com pneus de diferentes tamanhos
e espessuras.

Figuras 2, 2a e 2b – Enfeites natalinos dispostos nos espaços escolares. Fonte: SVSQ, 2015.

A quinta etapa se deu numa reunião com a equipe técnico-pedagógica em Educação


Ambiental da Sala Verde Serrana dos Quilombos para a escolha dos membros que compuseram a
Comissão de Avaliação do Natal Sustentável na Escola. Os quais foram selecionados pelos
representantes legais das entidades parceiras do referido órgão público municipal: Instituto Lagoa
Viva (ILV) e Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), sendo 03 avaliadores da primeira
instituição e 01 avaliador da segunda entidade (figura 3).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 – Comissão Avaliadora em uma das escolas participantes. Fonte: SVSQ, 2015.

Em 16 de novembro de 2015, a Comissão Avaliadora percorreu as 15 escolas participantes


do projeto Natal Sustentável (figuras 4, 4a e 4b), acompanhado da equipe técnica da Sala Verde
Serrana dos Quilombos, a qual faz parte do Sistema Municipal de Ensino, dessa forma
concretizando a 6ª etapa.

Figuras 4, 4a e 4b – Comissão Avaliadora nas escolas participantes. Fonte: SVSQ, 2015.

Na sétima etapa, todos os enfeites natalinos produzidos pelas escolas participantes foram
doados à pequena comunidade de catadores do Lixão Municipal para que as decorações fossem
devidamente comercializadas.
A última etapa se deu pela premiação das escolas participantes ocorreu no dia 22 de
novembro de 2016 (figuras 5, 5a e 5b), com a participação de todas as equipes gestoras das
unidades escolares da Rede Municipal de Ensino, equipe técnica da Secretaria Municipal de
Educação, entidades avaliadoras, equipe técnica da Sala Verde Serrana dos Quilombos, gestores
públicos e sociedade em geral.

Figuras 5, 5a e 5b – Premiação das três escolas vencedoras do Projeto Natal Sustentável. Fonte: SVSQ, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Paralelo à referida iniciativa, foi realizado o V Natal dos Catadores do Lixão de União dos
Palmares, que consiste na valorização de 30 famílias de catadores que atuam diretamente na área de
disposição final dos resíduos sólidos do município – Lixão.
O Natal dos Catadores é um projeto que objetiva valorizar os prestadores de serviços
ambientais que trabalham na separação, coleta e comercialização dos resíduos sólidos no Lixão de
União dos Palmares, sempre no mês de dezembro, desde 2010, com exceção dos anos 2012 e 2016,
conforme os dados apresentados na tabela 1.

Edição 1 2010
Edição 2 2011
Edição 3 2013
Edição 4 2014
Edição 5 2015
Tabela 1 – Edições do Natal dos Catadores. Fonte: SVSQ, 2017.

O Natal dos Catadores é realizado basicamente em três etapas básicas.

 Reunião de planejamento do evento: em que a equipe técnica da Sala Verde Serrana dos
Quilombos pensa nos possíveis parceiros: instituições públicas, privadas ou Organizações
Não Governamentais (ONGs) e pessoas que expressam sua solidariedade aos catadores
pelos serviços prestados no gerenciamento dos resíduos sólidos.
 Mobilização de instituições parceiras e ―amigos do catador‖: as instituições e pessoas
mobilizadas pela equipe da Sala Verde doam recursos financeiros e/ou cestas básicas,
materiais como brinquedos e roupas (presentes) e até mesmo seu engajamento no dia do
evento.
 Promoção do evento (figuras 6, 6a e 6b): o Natal dos Catadores propõe a oferta de um dia de
entretenimento aos catadores e suas famílias, que sobrevivem da coleta diária dos resíduos
recicláveis, dispostos no Lixão, que chegam ao local do evento num ônibus doado por uma
das instituições parceiras. Além da mobilidade, as instituições e pessoas – ―Amigo (a) do
Catador‖ – oferecem ainda a atração cultural para as famílias como palhaço, Papai Noel e
Cantor (a), além de brinquedos com pula-pula, piscina de bolinhas, cama elástica, carrinhos
de pipoca, de churros e algodão doce, sendo finalizando com a entrega de presentes pelo
Papai Noel e cestas básicas paras as famílias.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figuras 6, 6a e 6b – Natal dos Catadores. Fonte: SVSQ, 2015.

Ambos os projetos, realizados em 2015 e 2016, tiveram suas etapas divulgadas nas redes
sociais, em particular no Facebook da Sala Verde Serrana dos Quilombos
(facebook.com/salaverdeuniao), Centro de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de
Educação de União dos Palmares, vinculado ao Departamento de Educação Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA). Assim, cumpriu-se a promoção da Educação
Ambiental em todas as suas tipologias (CÓRDULA, 2014): formal (escolas), não formal
(comunidade) e informal (meios de comunicação).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resultado foi o mais significativo possível, onde as escolas que aderiram a proposta abordada
no projeto confeccionaram os mais variados objetos natalinos para as ornamentações do espaço
escolar. Com isso, o presente projeto teve a ideia de se fazer algo sobre essa temática que está em
debates em seminários, congressos, workshop, palestras e discussões nas mais diversas esferas da
sociedade, daí a preocupação em contribuir com a gestão dos resíduos sólidos no Município de
União dos Palmares por meio de uma solução simples, educativa, econômica e totalmente viável
para os fins dos lixões existentes, ao mesmo, para o processo de educação ambiental frente aos
desafios deste século.

Criatividade Diversidade Estética


Escolas Soma Média
(50 Pontos) (30 Pontos) (20 Pontos)
Municipais Geral Geral
Soma Média Soma Média Soma Média
Escola A 174 43,5 108 27 72 18 354 29,5
Escola B 170 42,5 105 26,25 75 18,75 350 29,17
Escola C 167 41,75 113 28,25 69 17,25 349 29,09
Escola D 147 36,75 113 28,25 76 19 336 28
Escola E 162 40,5 98 24,5 62 15,5 322 26,84
Escola F 157 39,25 92 23 61 15,25 310 25,84
Escola G 137 34,25 94 23,5 72 18 303 25,25
Escola H 148 37 88 22 55 13,75 291 24,25

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 187


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Escola I 146 36,5 83 20,75 57 14,25 286 23,84


Escola J 136 34 82 20,5 61 15,25 279 23,25
Escola K 141 35,25 78 19,5 56 14 275 22,92
Escola L 128 32 79 19,75 57 14,25 264 22
Escola M 125 31,25 70 17,5 53 13,25 248 20,67
Escola N 114 28,5 72 18 55 13,75 241 20,09
Escola O 0 0 0 0 0 0 0 0
Tabela 2 – Resultados da Avaliação do Projeto Natal Sustentável nas Escolas. Fonte: SVSQ, 2015.

As notas dos quatro componentes da Comissão de Avaliação do Natal Sustentável foram


somadas para obtenção da Soma por Critério de Pontuação e Soma Geral, bem como foi realizada
média aritmética das notas resultando na Média por Critério e Média Geral.
De acordo com os resultados apresentados na tabela 2, o que se pe
rcebe é que a ―Escola O‖ foi avaliada pela Comissão, porém não atendeu aos requisitos
avaliativos de pontuação.
A escola campeã obteve média geral de 29,5, seguida da escola B com a pontuação de 29,
17 e a escola C com a média total de 29,09. Os resultados revelam que essas escolas obtiveram
pontuação próxima à soma e média total em diferentes critérios de avaliação de acordo com a
pontuação das variáveis:
 A escola A obteve um ótimo desempenho no critério criatividade (43,5) em
relação às escolas B (42,5) e C (41,75).
 Já a escola B (18,75) atingiu a melhor pontuação no critério Estética, quando
comparada as escolas A (18) e C (17,25).
 No critério diversidade, o destaque foi para a escola C (28,25) com pontuação
superior as médias das escolas A (27) e B (26,25).
Observou-se durante o processo avaliativo nas escolas participantes, que os materiais
recicláveis retirados do meio ambiente foram (re) aproveitados e transformados em algo criativo,
bonito e ecologicamente corretos.
O projeto propôs o desenvolvimento de atividades em Educação Ambiental abordando os
princípios de solidariedade, economia e sustentabilidade socioambiental por meio da coleta de
resíduos sólidos reutilizáveis e/ou recicláveis e da confecção de enfeites natalinos com esses
materiais em torno das temáticas Natal e Resíduos Sólidos Urbanos.
Também foi percebido o empenho das comunidades escolares e dos segmentos (professores,
alunos, gestores da escola, funcionários, pais) e sociedade em geral, para que os critérios de
pontuação na atividade fossem atingidos por meio da mobilização e participação social.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 188


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O Natal Sustentável nas Escolas e o Natal dos Catadores, somados configuram-se num
importante incentivo à implantação e implementação da coletiva seletiva nas escolas e nos demais
espaços públicos do município, contribuindo para gerenciamento adequado dos resíduos sólidos,
uma vez que a mesma promove a retirada de resíduos recicláveis dos lixões e outras destinações
finais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que tanto o Natal Sustentável na Escola quanto o Natal dos Catadores são suas
importantes ferramentas para a implantação e implementação da coleta seletiva nas escolas e em
outros espaços de convivência, servindo de referência metodológica para que municípios e estados
promovam a inserção e sustentabilidade da coleta seletiva, mecanismo importante para a gestão
adequada dos resíduos sólidos.
Esperamos que os projetos ganhem força, sendo adotados como partes estruturantes das
políticas públicas municipais, em particular no que se refere à gestão dos resíduos urbanos, a
inclusão dos catadores e a promoção da Educação Ambiental.
Por fim, a execução dos projetos evidencia a importância dos processos educativos para
população frente ao desafio do gerenciamento integrado e sustentável dos resíduos sólidos, o que
traz um olhar reflexivo e mais atencioso para as políticas públicas nacionais de democratização da
informação e formação socioambiental, em particular o Projeto Salas Verdes, que no Município de
União dos Palmares tem muito a contribuir para gestão ambiental local, regional e estadual, contudo
carece de forma urgente ser valorizada por parte da municipalidade, numa perspectiva de
intersetorialidade.

REFERÊNCIAS

ALAGOAS. Política Estadual de Resíduos Sólidos de Alagoas. Lei n. 7.749, de 13 de outubro de


2015. Disponível em:
<http://www.residuossolidos.al.gov.br/vgmidia/arquivos/184_ext_arquivo.pdf >. Acesso em: 24
ago. 2017.

BRASIL. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Lei n. 12. 305, de 2 de agosto de 2010. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 28
ago. 2017.

CÓRDULA, E. B. L. Educação Ambiental: tipologias, concepções e práxis. Revista Educação


Pública, Rio de Janeiro, 08 jul. 2014. Disponível em:

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 189


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

<http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/meioambiente/0049.html>. Acesso em: 26


ago. 2017.

FLORAM Engenharia e Meio Ambiente Ltda. Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de


Resíduos Sólidos. Planejamento das Ações - Região da Zona da Mata. Eunápolis: 2017. 501p.
Disponível em: <http://www.residuossolidos.al.gov.br/vgmidia/arquivos/289_ext_arquivo.pdf>.
Acesso em: 22 ago. 2017.

Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de Alagoas. Vol. 1. Eunápolis: 2016. 294p.
Disponível em: <http://www.residuossolidos.al.gov.br/vgmidia/arquivos/205_ext_arquivo.pdf>.
Acesso em: 22 ago. 2017.

PORTAL EDUCAÇÃO. A importância da reciclagem para o desenvolvimento sustentável. 2013.


Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/a-importancia-
da-reciclagem-para-o-desenvolvimento-sustentavel/50882#ixzz3s8dv1fPV>. Acesso em: 23 ago.
2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 190


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO DA UFCG POR PROCESSO


FÍSICO-QUÍMICO UTILIZANDO SULFATO DE ALUMÍNIO

Josevânia Rodrigues JOVELINO


Mestranda em Engenharia Química UFCG
vannya.req@gmail.com
Letycia Walléria Gigante GARCIA
Graduanda em Engenharia Química UFCG
letyciawaleria@gmail.com
André Luiz Fiquene de BRITO12
Professor Titular em Engenharia Química UFCG
andre.fiquene@cnpq.pq.com.br
Ana Cristina S. MUNIZ13
Professora Titular Doutora em Engenharia Química UFCG
anamuniz@deq.ufcg.edu.br

RESUMO
Nos lagos, rios e mananciais quando são despejados esgotos sem tratamento aumentam a
concentração de poluentes e nutrientes elevando a demanda química de oxigênio, a cor e a turbidez.
Devido às características mencionadas a pesquisa tem por objetivo realizar o tratamento de esgoto
despejado no lago situado no Campus da UFCG usando o tratamento físico-químico por
coagulação-floculação. O estudo foi realizado em 03 etapas principais. Inicialmente foi realizada a
coleta de esgoto do Campus da UFCG. Em seguida, após estabelecer as concentrações de sulfato de
alumínio deu-se inicio ao processo de coagulação/floculação com diversos percentuais do agente
coagulante. Por último foram realizadas análises físicas e químicas do esgoto doméstico, como pH,
condutividade, sólidos totais e DQO. Com a realização da pesquisa foi avaliada a melhor dosagem
de coagulante. Os experimentos realizados mostram uma diminuição da matéria orgânica com a
adição de sulfato de alumínio, além da redução da condutividade e sólidos totais. Pode-se concluir
que a melhor dosagem de coagulante foi a de 500 mg.L-1 reduzindo em até 64,42% a demanda
química de oxigênio que representa quantidade de matéria orgânica do esgoto da UFCG.
Palavras Chave: Efluente; Coagulação; Floculação e Meio Ambiente.
ABSTRACT
In lakes, rivers and springs, when untreated sewage is discharged, it increases the concentration of
pollutants and nutrients, increasing chemical oxygen demand, color and turbidity. Due to the
aforementioned characteristics, the research aims to carry out the treatment of sewage dumped in
the lake located in the UFCG Campus using the physical-chemical treatment by coagulation-
flocculation. The study was conducted in 03 main stages. Initially the collection of sewage from the
UFCG Campus was carried out. Then, after establishing the concentrations of aluminum sulphate,
the coagulation / flocculation process was started with several percentages of the coagulating agent.
Finally, physical and chemical analyzes of domestic sewage were performed, such as pH,
conductivity, total solids and COD. With the accomplishment of the research the best dosage of
coagulant was evaluated. The experiments carried out showed a reduction of the organic matter

12
Doutor em Engenharia Ambiental
13
Doutora em Engenharia Química

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

with the addition of aluminum sulphate, besides the reduction of the conductivity and total solids. It
can be concluded that the best coagulant dosage was 500 mg.L-1 reducing the chemical oxygen
demand representing up to 64.42% of the organic matter of the UFCG sewage.
Keyword: Effluent; Coagulation; Flocculation, Environment.

INTRODUÇÃO

A água é o recurso natural mais abundante do planeta, ela está presente no dia a dia de todos
os seres vivos. As diversas utilizações da água resultam em esgoto e o lançamento inadequado do
mesmo sem antes passar por um pré-tratamento contamina rios, lagos e lagoas provocando a
poluição desses biomas aquáticos, gerando grande quantidade de materiais dissolvidos e suspensos,
ocasionando altos índices de cor e turbidez. Segundo Vaz, 2009 a água que possui turbidez faz com
que as partículas em suspensão reflitam a luz, fazendo com que esta não chegue aos organismos
aquáticos. E já a cor nas águas acaba por suprimir os processos fotossintéticos nos cursos d‘água
(DA SILVA et al., 2004).
A legislação federal brasileira Resolução nº 357, de 13 de maio de 2011 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a qual dispõe sobre a classificação e diretrizes
ambientais para o enquadramento dos corpos de água superficiais, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, no artigo 16 diz que os efluentes de qualquer fonte
poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido
tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e
em outras normas aplicáveis.
Neste trabalho foi realizado o tratamento do esgoto doméstico por coagulação-floculação,
onde após o tratamento o esgoto foi caracterizado para determinar a melhor dosagem de coagulante.

Esgoto doméstico

O esgoto doméstico é composto por toda a água e resíduos que ela carrega pelos
encanamentos de casas, escritórios, instituições e edifícios comerciais. A água da chuva que corre
pelas calçadas e sarjetas também se misturam nas redes de esgoto. Essa água contém matéria
orgânica, sólidos em suspensão e organismos, os quais podem ser prejudiciais à saúde. Por isso
conhecer as características químicas e físicas do efluente é importante para poder tratá-lo da melhor
maneira, uma vez que o tratamento do esgoto doméstico é um processo o qual transforma a água
poluída em limpa e baseia-se na remoção dessas impurezas presentes no esgoto, para
posteriormente poder ser lançada a natureza sem prejudicá-la e reutilizá-la.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 192


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Coagulação – Floculação

A coagulação e a floculação é o processo físico-químico utilizado no tratamento de esgoto


doméstico, é responsável pela clarificação da água e tem por finalidade a remoção de substâncias
coloidais, ou seja, material sólido em suspensão e/ou dissolvido. Essa operação normalmente é
considerada como um pré-tratamento que objetiva o condicionamento do despejo para o tratamento
subsequente (VAZ, 2009).
A coagulação consiste em desestabilizar as partículas que se encontram em suspensão,
proporcionando a colisão entre elas. Essa desestabilidade ocorre através da adição de produtos
químicos denominados coagulantes (BARBOSA, 2011). Ela anula as forças de repulsão entre as
partículas coloidais, por meio de mecanismos de ligação e adsorção na superfície da partícula
coloidal (CPRH, 2001).
Esse processo envolve dois fenômenos distintos e complementares: o químico, no qual
ocorre a reação do coagulante com a água; e o físico, quando ocorre o transporte das espécies
resultantes para contato com as impurezas presentes na água (FAGUNDES, 2006). E segundo Di
Bernado e Dantas para que o processo de coagulação seja eficiente, este deve ser realizado por meio
de agitação intensa, que é a etapa de mistura rápida, para que ocorram interações entre o coagulante
e o efluente.
Na floculação as partículas que foram desestabilizadas na coagulação sofrem choques entre
elas, ocasionando na formação de flocos. É um processo no qual as partículas coloidais são
colocadas em contato umas com as outras, de modo a permitir o aumento do seu tamanho físico,
alterando, desta forma, a sua distribuição granulométrica. Na floculação, procura-se o maior número
possível de encontros e a formação de agregados maiores e mais densos, que sejam eficientemente
removidos por sedimentação ou filtração, ocorrendo em condições de agitação lenta (FURLAN,
2008).

Coagulante: Sulfato de Alumínio

Como partículas coloidais e microrganismos em geral apresentam-se com carga negativa na


água, a força iônica do meio é alterada através da adição de sais, como o sulfato de alumínio. O
processo de coagulação depende da valência do íon carregado de carga elétrica contrária à carga das
partículas coloidais, ou seja, quanto maior a valência do íon maior será a sua capacidade de
coagulação, o que justifica o uso de íons de alta valência (Fe+3 e Al+3) como agentes de Coagulação
dos sistemas coloidais, nos quais a água é a fase contínua (CPRH, 2001). A coagulação com este
coagulante é geralmente efetiva na faixa de pH entre 5,0 a 8,0. Vaz (2009) realizou ensaios
utilizando o sulfato de alumínio como coagulante em efluentes das indústrias de galvanoplastia no

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Paraná. O autor verificou a remoção de cor 98,13% e turbidez 98,78% empregando a concentração
de 40ppm de sulfato de alumínio.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Gestão Ambiental e Tratamento de Resíduos


(LABGER) localizado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), situada na cidade de
Campina Grande – PB. Neste capítulo, serão descritos a metodologia utilizada para o tratamento do
esgoto doméstico da UFCG.

Caracterização do esgoto doméstico da UFCG

O esgoto foi coletado Universidade Federal de Campina Grande, em vários locais diferentes
do lago, como comumente é chamado pelas pessoas que frequentam a universidade, para obter-se
uma amostra representativa. Após a coleta iniciou-se o processo de caracterização do efluente, o
qual se baseou em caracterizar quanto a demanda química de oxigênio (DQO), sólidos totais,
condutividade e pH.

Demanda química de oxigênio (DQO)

Utiliza-se essa análise para obter a quantidade de matéria orgânica presente na amostra
através da concentração de oxigênio em mgO2.L-1. O procedimento foi realizado seguindo a
metodologia de Standard Methods for The Examination of Water and Waste adaptada por Silva e
Oliveira (2001).
A DQO é calculada através da Equação (1)

( ) 1000 (1)

Onde:
VA - Volume da solução titulante gasta na titulação da prova que contém a amostra, em ml;
VPB - Volume da solução titulante gasta na titulação da prova em branco, em ml;
VPA - Volume da solução titulante gasta na titulação da prova padrão, em ml.

PH e Condutividade

A leitura de pH e condutividade é uma medida direta, uma vez que faz se o uso dos
respectivos equipamentos pHmetro e condutivímetro. Ambos devem ser calibrados antes de aferir.
O pHmetro utilizado é o Digimed DM-22 e deve-se calibra-lo com as soluções tampões com pH
4,01 e pH 6,86, o condutivímetro usado é o PHTEK CD203 e o mesmo deve ser calibrado com uma

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 194


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

solução de calibração padrão 1413µS. Depois de calibrados, deve-se homogeneizar a amostra do


esgoto e fazer a leitura imediatamente, já que a leitura modifica-se com o tempo.

Sólidos Totais

Esta característica diz à matéria que permanece como resíduo após a evaporação e secagem
da amostra a uma temperatura de 103 e 105 °C. Através dessa analise obtêm-se a matéria orgânica,
que são os sólidos voláteis, e a matéria inorgânica, não voláteis, presentes na amostra. A
metodologia utilizada para execução dessa análise foi a de Silva e Oliveira (2001). Para o calculo de
sólidos totais, que se subdivide em sólidos totais voláteis e sólidos totais fixos, utiliza-se as
equações de 2 a 3.

Sólidos Totais: ( ) 1000 (2)

Sólidos Totais Voláteis: ( ) 1000 (3) (3)

Sólidos Totais Fixos: ( ) 1000 (4)

Onde: ST - Sólidos totais, em mg/L; STV - Sólidos totais voláteis, em mg/L; STF - Sólidos
totais fixos, em mg/L; A - Peso da cápsula, em g; B - Peso da cápsula com resíduo após secagem,
em g;
C - Peso da cápsula com resíduo após ignição, em g; VA - Volume da amostra, em ml.

Figura 5: Esgoto da UFCG.

Fonte: Autora, 2017.

Concentração de Sulfato de Alumínio

O coagulante utilizado foi o sulfato de alumínio (Al2(SO4)3.18H2O). Foi dissolvido 100g de


coagulante em 1000 ml de água destilada (C = 100mg/ml ou 10%). De acordo com a metodologia
de Hassemer (2000), as concentrações utilizadas para o tratamento do esgoto doméstico da UFCG
foram 250mg. L-1, 500mg. L-1, 1000mg. L-1, 10g. L-1, 25g. L-1, 50g. L-1 e 100g. L-1.

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Tratamento e Análise do Esgoto Bruto

Nesta etapa é realizado o tratamento do esgoto utilizando o processo de


Coagulação/Floculação. Foram dosados em cada erlenmeyer 250 ml do esgoto bruto, depois
quantidades crescentes de coagulante foram adiciados, variando a quantidade de 250 em 250mg. L-
1
. Iniciando com 250mg. L-1até o último que se adicionou 1000mg. L-1 ao esgoto bruto já presente
no erlenmeyer.
Na adição de 250mg. L-1 de sulfato de alumínio no esgoto bruto durante a mistura rápida
usou-se o agitador magnético 78HW-1. Após a mistura rápida, os agitadores foram levados à
velocidade mínima durante 20 minutos, que corresponde ao período da mistura lenta. No final deste
período os agitadores foram desligados, passando-se á fase de sedimentação. Após decantação dos
flocos, filtraram-se as amostras lentamente para as mesmas não se misturarem com os flocos já
formados. O mesmo procedimento foi realizado adicionando ao esgoto concentrações maiores de
sulfato de alumínio.
Para análises de DQO, pH, condutividade, alcalinidade e sólidos totais escolheu-se os
melhores resultados desse procedimento, os quais foram as concentrações de250mg.L-1, 500mg.L-1
e 1000mg.L-1.

Figura 6: Amostras de esgotos com o coagulante após a coagulação-floculação.

Fonte: Autora, 2016

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Aqui estão apresentados e discutidos os resultados obtidos na caracterização do esgoto bruto


e tratado com as diferentes concentrações de coagulante.
Demanda Química de Oxigênio (DQO)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 8: Volumes gastos na titulação e DQO calculada do esgoto bruto.


Esgoto bruto
V (ml) 9,5 9,3
DQO mgO2/L 192,31 207,69
DQOmediamgO2/L 200

Na Tabela 1 estão apresentados os dados dos volumes gastos na titulação do esgoto bruto,
que correspondem ao volume VA na Equação (1), e os valores de DQO do esgoto bruto os quais
foram comparados com os valores de DQO após a adição de sulfato de alumínio nas concentrações
de 250mg. L-1, 500mg. L-1 e 1000mg. L-1, que constam nas tabelas de 3 a 5.

Tabela 9: Volumes gastos na titulação e DQO calculada do esgoto tratado com 250mg.L-1 de
coagulante.
Esgoto com 250mg. L-1de Al2SO4
V (ml) 10,3 10,4 10,5 10,9

DQO mgO2/L 130,77 123,08 115,38 84,62

DQOmediamgO2/L 113,46

Tabela 10: Volumes gastos na titulação e DQO calculada do esgoto tratado com 500mg. L-1 de
coagulante.

Esgoto com 500mg. L-1de Al2SO4

V (ml) 11 11 11,3 11
DQO mgO2/L 76,92 76,92 53,85 76,92

DQOmediamgO2/L 71,15

Tabela 11: Volumes gastos na titulação e DQO calculada do esgoto tratado com 1000mg. L-1de
coagulante.
Esgoto com 1000mg. L-1de Al2SO4

V (ml) 11,1 11 11,1 11,3


DQO mgO2/L 69,23 76,92 69,23 53,85
DQOmediamgO2/L 67,31

Pode-se observar através da Tabela 2 a 4 que há um decréscimo considerável da demanda


química de oxigênio do esgoto tratado em diferentes concentrações comparado ao esgoto bruto. Isso
se deve ao fato que ao adicionar sulfato de alumínio e filtrar o sobrenadante as partículas que

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 197


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estavam suspensas são retiradas ocasionando a redução da matéria orgânica. Os experimentos para
obter a DQO do esgoto tratado com o coagulante em diferentes concentrações foram realizados em
quadruplicata, para que se tenha uma exatidão do valor.
Na Tabela 2 estão os dados dos volumes gastos na titulação do efluente tratado com 250mg.
L-1do coagulante, e a DQO calculada a partir desse volume, onde obteve uma redução de 43,27% da
demanda química de oxigênio comparado ao esgoto bruto. Já na Tabela 3 estão os dados referentes
ao esgoto tratado com 500mg. L-1de coagulante, nota-se que a matéria orgânica reduziu 64,42% e
na Tabela 4 ao adicionar 1000mg.L-1de sulfato de alumínio no esgoto bruto, observou-se que houve
um decréscimo de 66,34% da DQO comparado ao esgoto bruto.

pH.

Tabela 12: pH do esgoto bruto e do esgoto tratado com as respectivas concentrações de AlSO4.
Esgoto Bruto Esgoto Tratado Esgoto Tratado Esgoto Tratado
250mg. L-1 500mg. L-1 1000mg. L-1
7,39 6,68 5,77 4,79

Pode-se observar que com a adição do coagulante no esgoto bruto houve um decaimento do
pH, o que antes tinha caráter básico com o tratamento tornou-se ácido, isso pode ter ocorrido devido
à quantidade de sulfato presente, que dissociado em a água se transforma em ácido sulfúrico. De
acordo com a Resolução de 2011 do CONAMA efluentes devem ser lançados ao corpor receptor
com ph entre 5 e 9, com isso o esgoto tratado com 1000mg.L-1 não obedece essas condições de
lançamento, portanto não é adequado tratar o esgoto com essa quantidade de coagulante.

Condutividade

Tabela 13: Condutividade do esgoto bruto e do esgoto tratado com diferentes concentrações de
AlSO4.
Esgoto Bruto Esgoto Tratado Esgoto Tratado Esgoto Tratado
250mg. L-1 500mg. L-1 1000mg. L-1
1.592 μS 2,44 mS 1.080 μS 1.172 μS

Pela Tabela 6 percebe-se que quanto maior a quantidade de sulfato de alumínio presente no
esgoto menor será sua condutividade, isso se deve ao fato de que condutividade é uma resposta à
quantidade de matéria dissolvida na agua e quanto menor é essa condutividade mais pura é a água.
O esgoto tratado com 250mg. L-1teve uma maior condutividade, pois a quantidade de coagulante
utilizado no esgoto bruto não foi suficiente para remover matérias presentes no esgoto, o que
comprava pela DQO que houve uma redução de 43,27% da matéria orgânica, além disso deve-se ao
fato de também ter alumínio presente na água, pois ele é um bom condutor.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 198


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O esgoto tratado com 1000mg. L-1 teve uma menor condutividade comparada ao esgoto
bruto, mesmo tendo maior concentração de alumínio, então a quantidade de substâncias removidas
influenciou mais do que a quantidade de alumínio presente. Já o esgoto tratado com 500mg. L-1 teve
uma boa redução dacondutividade o que indica que essa quantidade de coagulante foi a melhor em
reduzir a quantidade de compostos dissolvidos no esgoto.

Sólidos Totais

A análise de sólidos totais foi feita em triplicata e duplicata, onde o resultado é uma média
dos valores obtidos. Após os cálculos de sólidos totais (ST), fez-se também os cálculos para sólidos
totais fixos (STF) e sólidos totais voláteis (STV).

Tabela 14: Sólidos totais, fixos e voláteis do esgoto bruto e esgoto tratado com as respectivas
concentrações de AlSO4.
Esgoto Bruto Esgoto Tratado Esgoto Tratado Esgoto Tratado
250mg. L-1 500mg. L-1 1000mg. L-1
ST (mg.L-1) 2386,667 2440 1786,667 1656,667
-1
STV (mg.L ) 642,2222 726,6667 900 1156,667
-1
STF (mg.L ) 1744,444 1713,333 886,6667 500

Observa-se pela tabela acima que a quantidade de sólidos totais (ST) presentes em
suspensão ou em solução presente no esgoto tratado, nas diferentes concentrações de coagulante,
diminuiu comparado ao esgoto bruto, o que demonstra que quanto maior a quantidade de sulfato de
alumínio menor a quantidade de sólidos no efluente; assim como os sólidos totais fixos (STF), que
também reduziu com o aumento da concentração de coagulante, o que faz do sulfato de alumínio
um bom coagulante, pois reduz a quantidade de partículas fixas presentes do esgoto. Entretanto os
resultados de sólidos totais voláteis (STV) aumentaram com o aumento da concentração de sulfato
de alumínio porque o mesmo é um sal, e quanto maior sua concentração maior será a quantidade de
STV.
Portanto o esgoto tratado com 500mg. L-1e 1000mg.L-1são os que obetiveram os melhores
resultados, uma vez que reduziu a quantidade de sólidos totais e fixos.

CONCLUSÕES FINAIS

 O processo físico-químico usando a coagulação-floculação para tratar esgotos é eficaz;


 Foi verificado que o sulfato de alumínio é um bom coagulante, uma vez que ao tratar o
esgoto bruto com 500mg/L de coagulante obteve uma redução de 64,42% de demanda
química de oxigênio, o qual significa dizer que houve uma redução da matéria orgânica
presente no esgoto;

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 199


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Reduziu também a quantidade de sólidos totais presentes no esgoto o que ocasionou na


diminuição da condutividade, além disso o pH está dentro das normas do CONAMA.
 Pode-se sugerir uma dosagem de 500 mg/L, pois, é a melhor dosagem de coagulante a ser
utilizada e funciona como um pré-tratamento do esgoto doméstico. Porém para um
tratamento mais aprofundado é necessário que outras etapas sejam realizadas para eliminar
todos os poluentes, como o tratamento biológico.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 201


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REUTILIZAÇÃO DE ÓLEO COMESTÍVEL: QUÍMICA DO SABÃO E DETERGENTE


COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Kely Dayane Silva DO Ó


Doutoranda do Curso de Engenharia Ambiental UEPB/Campina Grande
kely.dayane@hotmail.com
Valneli da Silva MELO
Doutoranda do Curso de Engenharia Ambiental UEPB/Campina Grande
valnelismelo@hotmail.com
Francinalba Silva DO Ó
Graduanda do curso de Química da UFCG/Cajazeiras
nalba2010@hotmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental vem sendo inserida no contexto escolar de maneira significativa, através da
contextualização aliada a prática principalmente, com alternativas conscientes surge a necessidade
de reutilização do óleo de cozinha, visto que seu descarte traz danos irreversíveis ao meio ambiente
.Diante do exposto este trabalho tem como objetivo desenvolver o conhecimento da química e
fabricação do sabão e detergente artesanais para alunos do ensino médio da escola estadual Frei
Bruno, buscando melhoria e qualidade de vida como alternativas sustentável através da educação
ambiental. O presente trabalho, estruturou-se em dois momentos. Aplicou-se um questionário,
posteriormente foi ministrada uma palestra sobre poluição e contaminação do meio ambiente
provocada pelo descarte inadequado do óleo usado, e química do sabão e detergente onde abordou
todas as reações, do sabão e detergente, posteriormente foi feita visitas com os alunos na fábrica
artesanal de sabão e detergente da cidade, em seguida foi desenvolvida oficina de fabricação de
sabão e detergente a partir do óleo comestível usado pela comunidade .Os resultados mostraram que
a maioria dos alunos tem pouco conhecimento sobre a química do sabão e detergente 50%
,reconhecendo a importância do conhecimento da química aliado as questões ambientais 43, 57%
respectivamente dos alunos mostraram-se interessados, e conscientes em usar o óleo na fabricação
do sabão evitando seu descarte no meio ambiente. E possivelmente conscientizar a população para
doação do óleo de cozinha para fabricas artesanais da cidade. Em relação a importância econômica
81% dos alunos mostra a importância da reutilização como fonte renda. Contudo, com esse estudo
foi possível mostrar que houve conscientização dos alunos na reutilização do óleo de cozinha sendo
prejudicial ao meio ambiente e a importância do conhecimento da química do sabão e detergente e
da reutilização do óleo trazendo renda para comunidade.
Palavras-chave: Óleo de cozinha usado. Educação Ambiental. Fabricação de sabão e detergente.
ABSTRACT
The Environmental Education has been inserted in the school context in a significant way, through
the allied contextualization the practice mainly, with conscious alternatives arises the need for reuse
of cooking oil, since its disposal brings irreversible damages to the environment. In light of the
exposed this work Aims to develop the knowledge of the chemistry and manufacture of soap and
detergent craft for high school students of Bruno Frei state school, seeking the improvement and
quality of life as sustainable alternatives through environmental education. The present work was
structured in two moments. A questionnaire was applied, later a lecture was given on pollution and
contamination of the environment caused by the inadequate disposal of the used oil, and soap and
detergent chemistry where all the reactions of the soap and detergent were approached, after which
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 202
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

visits were made with the students In the artisan soap and detergent factory in the city, the soap and
detergent manufacturing workshop was then developed from the edible oil used by the community.
The results showed that most students have little knowledge about the chemistry of soap and
detergent 50 %, Recognizing the importance of the knowledge of allied chemistry the
environmental issues 43, 57% respectively of the students were interested, and conscious in using
the oil in the manufacture of the soap avoiding its disposal in the environment. And possibly raising
awareness for the donation of cooking oil to artisanal factories in the city. Regarding economic
importance 81% of students shows the importance of reuse as source income. However, with this
study it was possible to show that students were aware of the reuse of cooking oil being harmful to
the environment and importance of the knowledge of soap and detergent chemistry and of reusing
the oil, bringing income to the community.
Key words: Used cooking oil. Environmental education. Manufacture of soap and detergent.

INTRODUÇÂO

KLAUCK (2010), diz que, o processo de Educação Ambiental deve ocorrer por meio da
construção de valores sociais como: conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, e devem
ser voltadas para a conservação do meio ambiente, que é um bem de uso comum.
Através da contextualização aliada a prática da Educação Ambiental principalmente, nas
escolas, pode-se inserir no cotidiano das pessoas a consciência necessária para contribuir com a
preservação do meio ambiente (COSTA et al., 2015).
Segundo os autores supracitados, alternativas conscientes vêm sendo desenvolvidas ao longo
dos anos, com isso, surge a necessidade de divulgar iniciativas para sensibilizar a população a
respeito de medidas simples como a reutilização do óleo de cozinha de modo que se possa reverter
esse resíduo, que seria descartado muitas vezes de maneira inadequada.
Segundo a Legislação Ambiental, o tema "óleo de cozinha" foi abordado pelo projeto de Lei
nº 2.074 de 19 de setembro de 2007 em tramitação no Congresso Federal Brasileiro, em diversas
discussões para tratar do destino deste resíduo que vem causando grandes danos ambientais, quando
descartado de forma inadequada pelos lares e industrias , grande quantidade de restos de óleo
vegetal usado em frituras seriam despejados nas pias de cozinha, nas águas de riachos e rios,
gerando a contaminação da fauna aquática, do solo e a impermeabilidade do mesmo, além de
provocar a danificação das tubulações domésticas e das redes de tratamento de esgoto (COSTA et
al., 2015).
O descarte inadequado desse óleo, traz danos irreversíveis ao meio ambiente. Por ser menos
denso que a água, o óleo de cozinha forma uma película sobre a mesma, o que provoca a retenção
de sólidos, entupimentos e problemas de drenagem quando colocados nas redes coletoras de esgoto.
Nos arroios e rios, a película formada pelo óleo de cozinha dificulta a troca de gases entre a água e a
atmosfera, causando a morte de peixes e outros seres vivos que necessitam de oxigênio. Se o óleo
for para as redes de esgoto encarece o tratamento dos resíduos em até 45% e o que permanece nos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

rios provoca a impermeabilização dos leitos e terrenos, o que contribui para que ocorram as
enchentes (LOPES; BALDIN,2009).
O resíduo de óleo é tão impactante que um litro deste resíduo descartado indevidamente na
natureza tem a capacidade de contaminar cerca de 1.000.000 litros de água, contribuindo assim para
uma maior degradação ambiental e mais desperdícios financeiros, além disso, torna-se evidente o
baixo nível de conscientização e de educação da população (SOUZA; MORAIS, 2014). Estima-se
que no Brasil são descartados 900.000.0000 litros de resíduo de óleo por ano, utilizado em frituras,
onde apenas 25% é reciclado (SOUZA, 2013).
De acordo com Sampaio (2003) os óleos são substâncias insolúveis em água (hidrofóbicas),
pois são formados predominantemente por ésteres de triacilgliceróis (produtos resultantes da
esterificação entre o glicerol e ácidos graxos), porém são solúveis em solventes orgânicos. Em
função desta imiscibilidade e por possuir densidade menor que a água (ser mais leve), quando
lançados em mananciais, emerge para a superfície, Na superfície formam películas oleosas que
além de diminuir e, ou acabar com a tensão superficial da água, dificultam a entrada de luz e
oxigenação da água, comprometendo a base da cadeia alimentar aquática, os fitoplânctons resultam
consequentemente na mortandade de peixes e de todas as formas de vida no local afetado
(WILDNER e HILLIG,2012).
Diante desses fatores o conhecimento da química aliada a educação ambiental é de
fundamental importância ,pois a contextualização dos conteúdos químicos como recurso para
promover uma interrelação entre conhecimentos escolares e fatos/situações presentes no cotidiano
dos alunos , faz com que os mesmos aprendam de forma significativa (OLIVEIRA, 2005).Na escola
estadual Frei Bruno na cidade de Lagoa Paraíba, percebeu-se que a comunidade escolar necessita de
maior conhecimento de química do resíduo óleo e de conscientização do seu reuso, sendo a química
uma das disciplinas responsável em conduzir o aluno a compreender os fenômenos ocorridos no
mundo natural tais como impactos causados pelo o óleo de cozinha ao meio ambiente.
Dessa forma , surgiu a motivação de desenvolver este trabalho que trata da reutilização de
óleo vegetal utilizado nos domicílios, aliando o conhecimento da química do sabão e detergente, a
princípios de educação ambiental, induzindo a sensibilização para a preservação do meio ambiente,
mostrando as desvantagens que o resíduo pode trazer a natureza , tais como problemas da
contaminação das aguas, entupimentos de rede de esgotos e vantagens da reutilização do óleo de
cozinha sugerindo a fabricação de sabão e detergente como uma alternativa de trazer renda para
comunidade em que residem .
A grande crise em todo o mundo acerca da poluição ambiental vem se agravando a cada dia
e se caracteriza como uma das situações mais delicadas atualmente (CUNHA et al., 2014).A
fabricação de sabão e detergente são métodos que vem se destacando e ganhando espaço cada vez

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

maior sendo um processo simplificado e economicamente viável, contribui no sentido de mitigar o


impacto do descarte inadequado desse tipo de resíduo no meio ambiente (OLIVEIRA et al., 2014).
Diante do exposto este trabalho tem como objetivo desenvolver o conhecimento da química
e fabricação do sabão e detergente artesanais para alunos do ensino médio da escola estadual Frei
Bruno, buscando a melhoria e qualidade de vida como alternativas sustentável através da educação
ambiental.

MATERIAL E MÉTODO

Localização e caracterização da área

O estudo foi realizado no município de Lagoa, estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, em


maio de 2017, situado na mesorregião do Sertão e microrregião de Catolé do Rocha, distante 394km
da capital do Estado. Sua população de 4.681 habitantes, encontra-se distribuída numa área de
177,901km² que tem como municípios limítrofes de Bom-Sucesso, Jericó e Mato Grosso (ao norte),
Pombal (ao sul), Paulista (ao leste) e Santa Cruz (ao oeste), A Bacia Hidrográfica do médio
Piranhas é o principal curso de água de Lagoa, o qual auxilia na criação do gado e na manutenção
das lavouras. O clima é semiárido quente, com temperatura média de 27ºC, com um período de
estiagem que pode atingir até 11 meses (IBGE, 2010).

Figura 1. Mapa da localização do município de Lagoa Paraíba

Para o presente estudo, a metodologia utilizada buscou responder às seguintes questões


norteadoras aplicadas aos alunos do ensino médio da Escola Frei Bruno na cidade de Lagoa
Paraiba: 1 .Sobre o conhecimento da química do sabão e detergente;2.Conheci a fábrica artesanal de
sabão e detergente na cidade de estudo?; 3.Do ponto de vista dos alunos seria viável a fabricação
de sabão e detergente na cidade ?; 4.Nível de conhecimento da química e fabricação do sabão e
detergente: Pouco, muito ,não conhece;5. Importância das aulas práticas da química do sabão e
detergente; 6.O que mais chamou atenção da química do sabão e detergente?; 7.Qual a Importância

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiental no aproveitamento do óleo de cozinha; 8.Opinião dos alunos sobre a diferença de


detergente biodegradável para não biodegradável.9.Qual a importância econômica do sabão e
detergente artesanal ?;Concepção dos alunos no que poderia ser feito para amenizar os riscos
sofridos pelo o meio ambiente no descarte do óleo de cozinha?
O presente trabalho foi realizado em maio de 2017, No que se refere ao método utilizado,
pode-se dizer que a pesquisa utilizou-se do método quanti-qualitativo que pressupõe uma
abordagem descritiva do problema em questão. Este procedimento explora particularmente a
observação, análise documental, entrevistas semiestruturadas e diálogos informais com o grupo
funcional da Escola (Frei Bruno alvo da pesquisa) para chegar aos resultados esperados.
O presente trabalho, estruturou-se em dois momentos. Inicialmente foi apresentada a
intenção da pesquisa e aplicado questionário. De posse destas informações foi agendada uma
palestra sobre poluição e contaminação do meio ambiente provocada pelo descarte inadequado do
óleo usado, e química do sabão e detergente onde abordou todas as reações, processo de formação
de micelas, a reação de saponificação, grupos hidrofóbicos e hidrofílicos , tensoativos aniônicos
tensoativos catiônicos, e a questão biodegradável do sabão e detergente, posteriormente foi feita
visitas com os alunos na fábrica artesanal de sabão e detergente da cidade ,para se ter aportes de
como fabrica esses produtos. Em seguida foi desenvolvida a oficina de fabricação de sabão e
detergente a partir do óleo comestível usado pela comunidade de Lagoa Paraíba.

Figura 2. Esquema simplificado de produção de sabão e detergente

Para finalizar, buscou-se analisar todo o material disponível para a pesquisa, bem como
divulgar a ideia de que a reciclagem por si só não pode ser considerada a solução, mas que a
mudança de hábitos e atitudes pode levar a sociedade, tais como os alunos que participaram da
pesquisa a tomar medidas mais abrangentes, com ações que minimizem a quantidade de resíduos na
própria fonte geradora, reciclando e reutilizando o óleo, esperando contribuir pela melhoria no
manejo e destino com menor grau poluente deste resíduo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUÇÃO

No Figura 1 Pode-se observar que os alunos do ensino médio a maioria conhece a química
do sabão e detergente, indicando resultado positivo na aprendizagem em sala de aula.

14%
50%
I
36% II
III

Grafico1-Percentagem do conhecimento da química do sabão e detergente

I-Conhece a química tais como grupos hidrofóbicos que interagem com gorduras, e hidrofílicos com
a água e as reações e formulas.

II-Conhece a química do sabão e detergente e relaciona com meio ambiente e importância


econômica.

III-Conhece a pratica e pouco a teoria.

No Gráfico 2 pode observa-se que a maioria 70% conhece a fabricas de sabão artesanal na cidade
de Lagoa-Pb.

30%

70% SIM
NÃO

Grafico2-Percentagem do conhecimento sobre fabrica artesanal de sabão e detergente na cidade.

No Gráfico 3 foi observada que 95% dos alunos acha viável fábrica de sabão e detergente na
cidade que residem, mostrando seu conhecimento sobre a economia da cidade.

4%

96% SIM
NÃO

Gráfico 3-Percentagem de opiniões dos alunos se seria viável a fabricação de sabão e detergente na cidade

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No Gráfico 4 pode-se observar que a maioria dos alunos tem pouco conhecimento sobre a
química do sabão e detergente dessa forma sendo fundamental o propósito do trabalho de motiva-
los a aprender tanto para conhecimento da química, suas reações e sua fabricação. E 5% conhece
muito esse conhecimento é limitado deve-se ao pouco número de fabricas de sabão e detergente
artesanais na cidade e pouco interesse nas questões relevantes sobre a química.

7% 5%

MUITO
88% POUCO
NÃO CONHECE

Gráfico 4 - Percentagem sobre o Conhecimento da química e fabricação do sabão e detergente.

O Gráfico 5 mostra que os alunos deixam claro a importância no aprendizado nas aulas
práticas mencionando um maior desempenho e interesse na química e fabricação do sabão e
detergente as demais percentagens.

22% 23%
I
II
III
30%
IV
25%

Gráfico 5- Percentagem da importância das aulas práticas da química do sabão e detergente

I- Muito importante para adquirir conhecimento através do experimento

II- Importante no aproveitamento dos resíduos tais como óleo de cozinha e preservação do
meio ambiente

III-Prática aprende mais que a teoria

IV- IV-Importância do conhecimento da química, como alternativa para fabricação de sabão


e detergente.

No Gráfico 6 observa-se que a maior percentagem foi sobre a curiosidade da fabricação do


sabão e detergente, visto que a maioria conhece pouco sobre como fazer sabão e detergente
artesanal.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

7% 19%
17%
I
II
III
57%
IV

Gráfico 6- Percentagem do que mais chamou atenção da química do sabão e detergente

I-As reações químicas do sabão e detergente.

II-Como é feita a fabricação artesanal do sabão e detergente, processo de saponificação;

III-Fórmulas do sabão e detergente.

IV-A questão biodegradável do sabão e detergente.

No Gráfico 7 pode-se observar a importância e conhecimento que os alunos tem no


reaproveitamento do óleo de cozinha e o sobre as questões ambientais envolvidas, no trabalho
realizado por Costa et al., 2015, apresentou-se satisfatório a importância da reutilização do óleo de
cozinha frente as questões ambientais com percentagem de 41% de reutilização. No trabalho de
Rosato e Neto (2014), sobre educação ambiental e importância da reciclagem para preservação do
meio ambiente 70% dos entrevistados reconhecem a importância de se preservar o meio ambiente.

40% 60%

I
II

Gráfico 7-percentagem da importância ambiental no aproveitamento do óleo de cozinha

Importante para preservação do meio ambiente, diminuindo a poluição das aguas, e o


desequilíbrio ambiental.

II-Importância da reutilização em termos econômicos

No Gráfico 8 observa-se que a maioria dos alunos tem uma noção sobre o detergente
biodegradável e não biodegradável, sendo importante tal conhecimento para o incentivo da
fabricação do detergente artesanal e conservação do meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

18%

I
II

82%

Gráfico 8-Percentagem da opinião dos alunos sobre a diferença de detergente biodegradável para não
biodegradável.

I-O detergente biodegradável o meio ambiente consegue recupera-se ,ao contrário do


detergente não biodegradável.
II-Biodegradável é uma substancia destruidora pelos microrganismos e não
biodegradáveis l são quando os microrganismos não destroem.
No gráfico 9 mostra o conhecimento dos alunos sobre a importância econômica para cidade
sendo uma alternativa o incentivo para fabricação do sabão e detergente melhorando sua renda
diminuindo os gastos usando para seu próprio consumo e para venda. Santana e Santos (2012)
concorda com as considerações feitas acerca da importância óleo em relação a ganhos econômicos,
trazendo possível geração de emprego se a quantidade de sabão a ser produzido for alta e a possível
redução de gastos com a compra de sabão e detergente necessários para a higienização do
estabelecimento ou até mesmo comercializá-lo afim de se obter uma fonte de renda

19%

I
II

81%

Gráfico 9- Percentagem sobre a importância econômica do sabão e detergente artesanal

I-Ajuda na renda familiar da comunidade.

II-Incentiva sua produção e reutilização diminuindo os gastos na compra de sabão e detergente.

No gráfico 10 pode observar que o aluno tem a consciência do descarte do óleo de cozinha
onde prejudica o meio ambiente e que seu incentivo de doar para fabricas ou utilizar para seu
próprio uso é uma alternativa viável diminuindo os impactos causados pelos seus descartes na
natureza. No trabalho de Lucena et al (2014) sobre alternativas ambientais: reciclagem do óleo de
cozinha na fabricação de sabão A grande maioria (85,7%) dos entrevistados afirmou que nunca

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

descartou óleo na pia, enquanto que apenas (14,3%) afirmou ter descartado apenas uma vez.
Provavelmente isto pode ser explicado devido aos entrevistados serem conscientes em relação aos
problemas que podem provocar até mesmo a obstrução nas tubulações. Ainda segunda as mesmas
autoras em relação aos prejuízos do descarte incorreto do óleo (71,4%) dos entrevistados
responderam conhecer os prejuízos que o descarte incorreto do óleo de cozinha causa ao meio
ambiente.

Já no trabalho de Costa et al (2015), os entrevistados foram questionados a respeito das


formas como reutilizam o óleo vegetal em seus domicílios, 47% relatou que já reutilizavam este
resíduo para a fabricação do sabão artesanal e este é utilizado para consumo próprio, mostrando-se
consciente tanto na questão econômica como ambiental.

57%

I
II

43%

Gráfico 10-Percentagemda concepção dos alunos no que poderia ser feito para amenizar os riscos sofridos
pelo o meio ambiente no descarte do óleo de cozinha.

I-Usar o óleo na fabricação do sabão evitando seu descarte no meio ambiente.

II-Conscientizar a população para doação do óleo de cozinha para fabricas artesanais da cidade.

CONCLUSÃO

Contudo, com esse estudo foi possível mostrar que houve conscientização dos alunos na
reutilização do óleo de cozinha sendo prejudicial ao meio ambiente, mas que o mesmo possui um
grande potencial de reaproveitamento e que somado à os conhecimentos da química, impulsiona a
necessidade de reutilizá-lo de forma eficaz.
Através da aprendizagem foi possível avaliar o nível de conhecimento adquirido através da
palestra, e da fabricação de sabão e detergente artesanal e as questões sobre meio ambiente e fator
econômico, em sala de aula onde os alunos interligaram o conhecimento de da teoria à prática.
O estudo também se mostrou relevante diante da importância de promover a educação
ambiental e conscientização dos alunos no ambiente escolar, envolvendo a realidade do mesmo
dentro da comunidade em que residem.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 211
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 212


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 213


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS RESÍDUOS SÓLIDOS: REFLEXÕES


SOBRE OS SEMINÁRIOS TEMÁTICOS REALIZADOS PELO
INSTITUTO LAGOA VIVA EM ALAGOAS

Rennisy Rodrigues CRUZ14


Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – UFPE
rrcambiental@gmail.com
Lenice Santos de MORAES15
Diretora Executiva do Instituto Lagoa Viva
lenicemoraes@yahoo.com.br
Fabio Santos Almeida WEBER16
Professor da Rede Pública de Ensino de Maceió – AL
fabiologia.weber@gmail.com

RESUMO
Com a intensificação do consumo, promovido pelo atual modo de produção, percebe – se um
aumento significativo na geração de resíduos sólidos, na utilização de matérias primas, na
exploração da classe laboriosa e consequentemente na destruição dos ecossistemas do planeta. Esse
estudo tem como objetivo apresentar para a sociedade os trabalhos realizados em educação
ambiental para o gerenciamento dos resíduos sólidos nas escolas e comunidades vinculadas ao
Instituto Lagoa Viva, por meio do Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva, que é
desenvolvido em municípios de Alagoas, durante as formações continuadas para professoras e
professores da rede pública de ensino. A proposta para 2017/18 dos seminários temáticos tem como
propósito contribuir na efetivação das Políticas Ambientais nas escalas Federal, Estadual e
Municipal no tocante aos resíduos sólidos e educação ambiental e suscitar a consciência crítica da
população sobre a necessidade da mudança paradigmática de desenvolvimento.
Palavras – Chaves: Educação Ambiental. Resíduos Sólidos. Instituto Lagoa Viva

ABSTRACT
With the intensification of consumption, promoted by the current mode of production, there is a
significant increase in the generation of solid waste, in the use of raw materials, in the exploitation
of the working class and consequently in the destruction of the ecosystems of the planet. This study
aims to present to society the work carried out in environmental education for the management of
solid waste in schools and partner communities of the Lagoa Viva Institute, through the Lagoa Viva
Environmental Education Program, which is developed in Alagoas municipalities, for of continuing
education for teachers and teachers in the public school system. The purpose of the 2017/18
Thematic Seminar proposal is to contribute to the implementation of Environmental Policies at
Federal, State and Municipal Scales regarding solid waste and environmental education and to raise
the critical awareness of the population about the need for paradigmatic change in development.
Keywords: Environmental education. Solid Waste. Living Lagoon Institute

14
Graduada em Gestão Ambiental – IFAL; Especialista em Educação e Meio Ambiente – IFAL; Esp. Gestão de
Projetos - CEAP; Esp. Docência – SENAC;
15
Graduada em Letras pelo CESMAC; Especialista em Gestão e Educação Ambiental – UFAL;
16
Graduado em Biologia – CESMAC; Especialista em Gestão de Projetos – CEAP; Esp. Ensino Religioso – UFAL;
Esp. Ciências da Educação.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 214


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Em 2001, surge o Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva em Maceió – Alagoas,


mediante a necessidade de desenvolvimento e envolvimento das comunidades do entorno do
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba - CELMM, no processo de Educação Ambiental,
contrapondo-se as ameaças aos ecossistemas daquela localidade: redução das formas de vida das
espécies da fauna e flora em áreas de restingas e manguezais; assoreamento; eutrofização e
diminuição de atividades pesqueiras e turísticas da região.
Ao longo de dezesseis anos o Programa de Educação Ambiental do Instituto Lagoa Viva –
ILV em Alagoas, vem atuando com formações continuadas para professores da rede pública de
ensino em 39 municípios do Estado. Além das formações mensais, baseadas nos PCN e seminários
temáticos, a partir da realidade local, são realizadas oficinas de práticas agroecológicas, de
reutilização de resíduos sólidos e de COM - VIDA; disseminação dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável – ODS; criação de grupos de jovens ambientalistas; cursos de
artesanato e incentivo ao desenvolvimento de projetos, por meio de um modelo criado pelo ILV, o
Projeto de Intervenção e Integração Escola/Comunidade – PIIC. Os projetos são criados pelos
professores participantes da formação continuada e aplicados nas escolas onde atuam, os
municípios parceiros assinam um termo de adesão e indicam os docentes de várias áreas do
conhecimento e coordenadores municipais para atuarem no Programa.
O Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva desenvolve suas atividades ancorado na
Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, Lei Federal 9.795 de 1999, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN, cadernos transversais de meio ambiente e na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional- 9.394 de 1996, além de outras políticas públicas ambientais
apresentadas anteriormente.
Compreendendo a urgência na efetivação do gerenciamento de resíduos sólidos,
principalmente a implementação da coleta seletiva nas instituições públicas de ensino, o ILV
participou das reuniões públicas para criação do Plano Estadual de Resíduos Sólidos e dos Planos
Intermunicipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PIGIRS nas sete regiões de Alagoas.
Com isso desenvolveu materiais didáticos e jogos educativos, além de incentivar educadores em
formação continuada a participarem da construção desses documentos.
Neste sentido, no ano corrente, 2017, a equipe pedagógica do Programa de Educação
Ambiental Lagoa Viva, atendendo as solicitações dos municípios parceiros, planejou seminários
temáticos com conteúdos teóricos e práticos sobre os resíduos sólidos. Partindo desse pressuposto
esse trabalho tem como objetivo socializar as experiências obtidas na formação continuada em
educação ambiental para professores da rede pública de ensino de Alagoas com foco no
gerenciamento adequado de resíduos sólidos.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 215
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Antecedentes Históricos da Questão Ambiental

A partir da década de setenta a questão ambiental ganha destaque nas pautas mundiais em
grupos de diversas áreas do conhecimento, alguns encontros aconteceram e tiveram como
resultados reflexões sobre a situação dos recursos naturais e as ações antrópicas no meio ambiente.
Desses momentos saíram relatórios, cartas, tratados e surgiram conceitos, como o do
desenvolvimento sustentável. Pode – se destacar o Clube de Roma - (1968); Conferência
Intergovernamental sobre o Meio Ambiente Humano de Estocolmo – (1972); Encontro de Belgrado
– (1975); Conferência Intergovernamental de TBILISI– (1977), considerada um dos principais
eventos sobre educação ambiental; Criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento– (1983) e publicação do seu relatório ―Nosso Futuro Comum‖ – (1987); Rio 92/
Eco 92/ Cúpula dos Povos – (1992); Fóruns Nacionais e Internacionais de Educação Ambiental; Rio
+ 5, Rio + 10, Rio + 15, Rio + 20 e outros eventos que possibilitaram discussões ambientais entre
chefes de Estado, instituições privadas e sociedade civil.
No Brasil os debates, ampliação da legislação ambiental, surgimento de órgãos públicos e
organizações não governamentais atreladas a área ambiental também ganham força, inicialmente de
cunho conservacionista, mas com preocupações, mesmo tímidas com o aumento da degradação
ambiental. Em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, em seguida com a
fusão da SEMA e outras secretarias foi criado pela lei 7.775 de 1989 o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Renováveis – IBAMA. Em 1992 o Ministério do Meio Ambiente – MMA é
criado e em seguida, através de portaria do IBAMA, os Núcleos de Educação Ambiental são
formados em todos os Estados. Ao longo do tempo temos realizações de fóruns, conferências,
congressos, encontros e seminários de educação ambiental, criação de cursos de graduação em
instituições públicas e privadas de gestão ambiental, engenharia ambiental, agroecologia, energias
renováveis e outros, além de pós – graduações em educação ambiental. No tocante as leis, pode –
se destacar a Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA, Lei Federal 6.938 de 1981; A Política
Nacional de Educação Ambiental – PNEA, instituída pela Lei Federal 9.795 de 1999; Os
Parâmetros Nacionais Curriculares - PCN, com o caderno transversal de meio ambiente; o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, Lei Federal 9.985 de 2000; As Diretrizes
Curriculares da Educação Ambiental, intensificando a criação e o fortalecimento das Comissões de
Meio Ambiente e Qualidade de Vida – COM - VIDA como resultado das conferências Infanto -
Juvenis pelo Meio Ambiente; A Política Nacional de Saneamento Básico - PNSB, Lei Federal
11.445 de 2007 e mais recente tivemos, após duas décadas de espera, a aprovação, da Política
Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, Lei Federal 12.305 de 2010.
Como resultado da institucionalização da educação ambiental percebe – se um aumento
significativo de organizações de vertente ambientalista, que iniciaram suas histórias a partir de
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 216
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

preocupações locais com a biodiversidade, fauna, rios, lagos, lagunas e alterações na qualidade
ambiental, algumas já inserindo o homem como parte o meio ambiente e outros com viés
preservacionista.

Educação Ambiental

Para muitos a educação ambiental é compreendida como desenvolvimento de ações que


visam apenas uma mudança comportamental dos indivíduos ou a culpabilização do homem pelos
problemas socioambientais existentes sem refletir sobre a existência de classes sociais inerentes ao
modo de produção capitalista ocasionando concentração de riquezas e desequilíbrios no acesso aos
recursos naturais. Essa concepção simplista não objetiva despertar a sensibilidade e analisar
criticamente a realidade. É possível perceber em trabalhos pontuais realizados apenas para mitigar
os impactos ambientais ou em datas comemorativas. Essas ações transformam propostas
pedagógicas e transformadoras em descredito e faz de conta. Dessa forma, Loureiro et al (2007),
nos mostra que:

Em nosso entender, a concepção reducionista do meio ambiente – além de estar associada à


culpabilização dos seres humanos em geral pelos problemas ambientais, de reproduzir
correlação de forças desfavorável à reversão do quadro de degradação socioambiental e
contribuir para a formação da ―falsa consciência ambiental‖ (alienação) – levou a que a
temática ambiental fosse considerada pela população em geral como um assunto de
especialistas da natureza, o que também não estimula a participação individual e coletiva
na resolução dos problemas socioambientais (LOUREIRO, et al, 2007, p. 151).

A educação ambiental precisa ser contínua e permanente, não apenas na educação formal,
mas em todos os espaços, nas comunidades, organizações não governamentais, unidades de
conservação, empresas a partir da realidade local. Nesse sentido no artigo 1º da Política Nacional de
Educação Ambiental – PNEA, lei Federal 9.795 de 1999, a educação ambiental possibilita a
sociedade a construção de ―(...) valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.‖ Tendo como objetivos fundamentais:

I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas


e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,
sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das
informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre
a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva,
permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a
defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o
estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais,
com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos
princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social,
responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a
ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e
solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (PNEA, 1999, art. 5 º)

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 217


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Esses objetivos possibilitam uma visão integrada e estimulam o desenvolvimento de


programas e projetos socioambientais que inserem os indivíduos nos processos de tomada de
decisão e construção de políticas públicas destinadas ao alcance da qualidade de vida.
Em relação ao desenvolvimento de propostas de sensibilização ambiental visando a criação
de escolas sustentáveis numa perspectiva crítica e conectada com os aspectos sociais, culturais,
ecológicos e econômicos, surgiu em 2013 o Programa Dinheiro Direto Escola - PDDE Escolas
Sustentáveis como incentivo a transição para a sustentabilidade nas escolas, são apresentadas três
dimensões: espaço físico, gestão e currículo, assim:

Espaço físico: utilização de materiais construtivos mais adaptados às condições locais e de


um desenho arquitetônico que permita a criação de edificações dotadas de conforto térmico
e acústico, que garantam acessibilidade, gestão eficiente da água e da energia, saneamento e
destinação adequada de resíduos. Esses locais possuem áreas propícias à convivência da
comunidade escolar, estimulam a segurança alimentar e nutricional, favorecem a
mobilidade sustentável e respeitam o patrimônio cultural e os ecossistemas locais. Gestão:
compartilhamento do planejamento e das decisões que dizem respeito ao destino e à rotina
da escola, buscando aprofundar o contato entre a comunidade escolar e o seu entorno,
respeitando os direitos humanos e valorizando a diversidade cultural, étnico-racial e de
gênero existente. Currículo: inclusão de conhecimentos, saberes e práticas sustentáveis no
Projeto Político-Pedagógico das instituições de ensino e em seu cotidiano a partir de uma
abordagem que seja contextualizada na realidade local e estabeleça nexos e vínculos com a
sociedade global (BRASIL, 2013, p. 02).

Uma importante parceira para a construção de espaços educadores sustentáveis é a Comissão


de Meio Ambiente e Qualidade de Vida – COM – VIDA, que é formada por docentes, servidores
em geral, pais e discentes que são os atores principais, segundo (BRASIL, 2012, p. 13), a COM –
VIDA ―é uma nova forma de organização na escola, que junta a ideia dos jovens da I Conferência
de criar ―conselhos de meio ambiente nas escolas‖, com os Círculos de Aprendizagem e Cultura‖.
Os principais objetivos da comissão são: Contribuir para que a escola se torne um espaço educador
sustentável, acessível, aconchegante, agradável, democrático e saudável, motivador, que estimule a
inovação, a aprendizagem e reflita o cuidado com o ambiente e com as pessoas; Desenvolver e
acompanhar a Educação Ambiental na escola de forma permanente; Participar da construção do
Projeto Político-Pedagógico da escola e Fazer a Agenda 21 na Escola.

Breve discussão sobre os Resíduos Sólidos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, lei Federal 12.305 de 02 de agosto de


2010, regulamentada pelo decreto 7.404 de dezembro do mesmo ano, foi um avanço em relação a
institucionalização de medidas que minimizam a problemática dos resíduos sólidos no Brasil.
Apesar de sua importância no cenário nacional, a PNRS passou cerca de duas décadas a espera de
aprovação, entretanto, mesmo com sua validação, atualmente, percebe – se poucos resultados na
efetivação dos Planos Nacional e Estaduais de Resíduos Sólidos, bem como na criação de novos

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 218


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

instrumentos legais que contribuam na implementação dos objetivos e prioridades previstas na lei.
A PNRS, classifica os resíduos sólidos da seguinte forma:

Quadro 1 – classificação dos resíduos sólidos de acordo com a PNRS


Tipo Descrição
1. Resíduos Aqueles que têm origem em atividades domésticas,
domiciliares realizadas em residências urbanas, não importando as
características intrínsecas a tais materiais
descartados. Exemplo: De acordo com a lei, são
resíduos gerados nas áreas urbanas, aqueles da área
rural não se enquadram.
2. Resíduos de limpeza Os resíduos gerados nas cidades não têm origem
urbana domiciliar, ou seja, não advêm de atividades
domésticas realizadas no âmbito residencial.
Exemplo: varrição, limpezas de vias e logradouros.
3. Resíduos sólidos Para fins de unificação de denominação e
urbanos harmonização do conceito, os resíduos domiciliares e
os de limpeza urbana formam o que se designou
como ―resíduos sólidos urbanos‖.
4. Resíduos de Resíduos gerados em estabelecimentos comerciais e
estabelecimentos prestadores de serviços, podem ser orgânico ou
comerciais e inorgânicos, com características diversas.
prestadores de
serviços
5. Resíduos de serviços Os resíduos gerados nas atividades de saneamento
públicos de básico, assim entendidas aquelas destinadas ao
saneamento básico abastecimento de água e ao tratamento de esgotos,
são classificados como resíduos dos serviços
públicos de saneamento básico.
6. Resíduos industriais Gerados no processos produtivos e em instalações
industriais são classificados como resíduos
industriais, independentes de suas características.
7. Resíduos de serviços Os órgãos do SISNAMA e do SNVS têm a
da saúde competência, que acordo com a PNRS, de definir
termos que permitirão a sua classificação objetiva.
8. Resíduos da São aqueles provenientes das obras de engenharia
construção civil civil, incluindo as construções propriamente ditas,
reformas, reparos, demolições, além da preparação e
escavação de terrenos destinados ás atividades, já
mencionadas antes.
9. Resíduos Englobam uma grande parcela de resíduos gerados
agrossilvopastoris nas áreas rurais, porém restringem – se àquelas,
especificamente, decorrentes de atividades
agropecuárias e silviculturais, assim entendidas como
a aquelas que se ocupam nas atividades ligadas a
implantação e a regeneração de florestas, inclui os
insumos utilizados no âmbito delas.
10. Resíduos de serviços Classe especial de resíduos de estabelecimentos
de transporte comerciais e de prestação de serviço, uma vez que os
terminais de transporte (portos, aeroportos, terminais
alfandegários, rodoviários, ferroviários e passagens
de fronteira), são foco de geração de grande

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 219


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

variedades de resíduos, alguns, eventualmente de


origem desconhecida, por advirem do exterior.
11. Resíduos de Aqueles gerados em processos de pesquisas, extração
mineração ou beneficiamento de minérios. Nos termos da lei,
são as seguintes características dos resíduos
perigosos, no âmbito da directiva 2008/98/ CE, da
união Europeia.
Inflamabilidade17, corrosividade, reatividade,
toxidade, patogenicidade, carcinogenicidade,
teratogenicidade e multagenicidade.
Quadro elaborado pela autora, adaptada de SILVA FILHO e SOLER, 2013.

Em Alagoas, o Estado foi dividido em sete regiões para facilitar a elaboração dos Planos
Intermunicipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PIGIRS, a mesma estratégia está sendo
adotada para implantação da coleta seletiva pela Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos
Hídricos do Estado. Este trabalho vem sendo desenvolvido por meio de oficinas de coleta seletiva
em municípios ligados, principalmente aos consórcios públicos das regiões, Alagoas, (2017).

Figura 01 – Mapa de Localização das Regiões para Elaboração dos PIGIRS.

Fonte: Plano Estadual de Resíduos Sólidos de Alagoas – PERS, 2015.

17
Para aprofundamento e entendimentos das características dos resíduos perigosos, ler o livro: Gestão de Resíduos
Sólidos: o que diz a lei. 2013.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 220


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para detalhar os municípios presentes nessa regionalização, abaixo será mostrado o quadro
02, com as regiões e municípios dos consórcios públicos e coleta seletiva. Quadro II – Divisão das
regiões em conformidade com consórcios como estratégia para implantação da coleta seletiva nos
municípios

Região Consórcio Municípios


Região da Bacia Consórcio Municípios de Batalha,
Leiteira Intermunicipal Belo Monte,
para Gestão de Cacimbinhas, Carneiros,
Resíduos Sólidos Jacaré dos Homens,
– CIGRES Jaramataia, Major
Isidoro, Maravilha,
Monteirópolis, Olho
d'Água das Flores,
Olivença, Palestina, Pão
de Açúcar, Santana do
Ipanema, São José da
Tapera, Senador Rui
Palmeira.
Região Sertão Consórcio Municípios de Água
Regional de Branca, Canapi, Delmiro
Resíduos Sólidos Gouveia (em fase de
do Sertão de adesão), Inhapi, Mata
Alagoas – Grande, Pariconha,
CRERSSAL Piranhas e Olho d'Água
do Casado
Região do Agreste Consórcio Municípios
Regional de consorciados: Arapiraca,
Resíduos Sólidos Belém, Campo Grande,
do Agreste Craíbas, Coité do Nóia,
Alagoano – Minador do Negrão,
CONAGRESTE. Estrela de Alagoas, Feira
Grande, Palmeira do
Índios, Igaci, Girau do
Ponciano, Lagoa da
Canoa, Limoeiro de
Anadia, Maribondo, Olho
d`água Grande,
Quebrangulo, São
Sebastião, Taquarana,
Tanque d‘Arca e Traipu.
Região da Zona da Consórcio Municípios
Mata Regional de consorciados: Atalaia,
Resíduos Sólidos Branquinha, Cajueiro,
da Zona da Mata Capela, Chã Preta,
Alagoana – Ibateguara, Mar
CORSZAM. Vermelho, Murici,
Pindoba, Santana do
Mundaú, São José da
Laje, União dos
Palmares.
Região do Litoral Consórcio Municípios
Norte Intermunicipal de consorciados: Campestre,

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 221


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Desenvolvimento Colônia
da Região do Leopoldina, Flexeiras,
Litoral Norte de Jacuípe, Japaratinga,
Alagoas – Jundiá, Maragogi, Matriz
CONORTE. de Camaragibe, Novo
Lino, Porto Calvo, Porto
de Pedras, São Miguel
dos Milagres.
Região Metropolitana Consórcio Municípios
Regional consorciados: Barra de
Metropolitano de Santo Antônio, Coqueiro
Resíduos Sólidos Seco, Marechal Deodoro,
de Alagoas. Messias, Paripueira,
Pilar, Rio Largo, Santa
Luzia do Norte, Satuba.
Região Sul Consórcio Municípios
Intermunicipal do consorciados: Boca da
Sul do Estado de Mata, Campo Alegre,
Alagoas – Coruripe, Feliz Deserto,
CONISUL Igreja Nova, Jequiá da
Praia, Junqueiro, Penedo,
Piaçabuçu, Porto Real do
Colégio, São Brás, São
Miguel dos Campos,
Teotônio Vilela.
Fonte: SEMARH, tabela desenvolvida pelas autoras.

Com intuito de contribuir na efetivação dessas propostas, o Instituto Lagoa Viva, produziu
materiais, jogos e dinâmicas sobre a educação ambiental e coleta seletiva e vem aplicando nas
escolas vinculadas ao Programa de educação Ambiental Lagoa Viva.

Educação Ambiental aplicada aos Resíduos Sólidos: uma experiência do Instituto Lagoa Viva em
Alagoas

O Programa de EA Lagoa Viva, há dezesseis anos, atua nas questões socioambientais de


Alagoas construindo um modelo de Educação Ambiental no Estado. O programa tem como Eixo
Político-Pedagógico o diálogo contínuo e permanente, entre os conhecimentos acadêmicos e os
conhecimentos práticos e propõe uma reforma, não só do fazer educativo cotidiano nas escolas,
como também, na incorporação de uma cultura socioeducativa de atividades transversais, projetos e
ações concretas interdisciplinares e coletivas superando assim, o agrupamento de pessoas e
caminhando na perspectiva de trabalhos em grupo, estimulados pela troca e a construção de saberes
pertinentes e necessários.
Ao longo desses anos, contamos com a cooperação direta do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento/PNUD, por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável/ODS, da
empresa BRASKEM em Alagoas, no desenvolvimento de nossos objetivos; articulando e

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 222


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

fortalecendo as parcerias entre prefeituras e secretarias estaduais e municipais para a realização de


nossas práticas socioeducativas: Formação Continuada para Educadores da Educação Básica,
Congressos Estaduais, Encontros Regionais, e Mostras de Trabalhos em Educação Ambiental dos
municípios. Para tanto, também, se faz necessário o desenvolvimento de Atividades Integradoras
que agregam um número maior de educadores, educandos e comunidade: Oficinas para Aquisição
de Técnicas de Manejo Sustentável: Plástico Pós-Consumo e Horta Agroecológica e Artesanato
com a renda filé para comunidades.
Desta forma, o Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva tece o caminho e formata sua
proposta socioeducativa em Alagoas: com uma proposta político-pedagógica de formação
continuada para cultivar educadores ambientais e sugere iniciativas sustentáveis e práticas
alternativas de Gestão e Educação Ambiental que minimizem os impactos socioambientais nas
áreas onde atua.

Área de Cobertura do Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva: 39 Municípios Parceiros.

Fonte: Instituto Lagoa Viva, 2017.

Neste sentido, no ano corrente, 2017, a equipe pedagógica do Programa de Educação


Ambiental Lagoa Viva, atendendo as solicitações dos municípios parceiros, planejou seminários
temáticos com conteúdos teóricos e práticos sobre os resíduos sólidos. Partindo desse pressuposto
esse trabalho tem como objetivo socializar as experiências obtidas na formação continuada em
educação ambiental para professores da rede pública de ensino de Alagoas com foco no
gerenciamento adequado de resíduos sólidos.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 223


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

METODOLOGIA

A proposta de trabalho se deu no planejamento anual do Instituto Lagoa Viva, atendendo as


solicitações dos municípios vinculados ao Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva para
aprofundar as discussões e práticas na temática dos Resíduos Sólidos, desta forma foi pensado em
sete seminários de formação de Mobilizadores Sociais, que estão sendo realizados em todos os
municípios em formação continuada, divididas da seguinte forma:

Quadro III – organização dos seminários temáticos.


Seminários de Resíduos Sólidos
Momentos Temática
1. Encontro de Gestores e Instituições Mobilização, parcerias e efetivação
afins - Apresentação da Proposta 2017: das políticas públicas de meio
Parceiros do Programa de Educação ambiente nos municípios vinculados
Ambiental Lagoa Viva ao Programa de Educação Ambiental
Lagoa Viva.
2. Capacitação para os educadores de Temática – Panorama dos Resíduos
escolas, representantes de entidades Sólidos: Aspectos Técnicos e Legais
das comunidades e gestores públicos.
Diagnóstico – Composição
Gravimétrica de Resíduos Sólidos na
escola. Como fazer o levantamento dos
resíduos gerados?
3. Capacitação para os educadores de Temática – Como gerenciar os
escolas, representantes de entidades resíduos sólidos produzidos na escola e
das comunidades. comunidades? Organização do Plano
de trabalho e Ação.
4. Capacitação para os educadores de Temática – apresentação do plano de
escolas, representantes de entidades gerenciamento dos resíduos sólidos.
das comunidades e gestores públicos.
5. Capacitação para os educadores de Temática – Gerenciando os Resíduos
escolas, representantes de entidades Produzidos: O que fazer com os
das comunidades e gestores públicos. resíduos sólidos gerados na escola.
6. Encontros Regionais de Educação Políticas Públicas e Práticas
Ambiental: Socialização das Práticas Sustentáveis em escolas e
Sustentáveis desenvolvidas nos Comunidades vinculadas ao Programa
municípios parceiros e avaliação dos de Educação Ambiental Lagoa Viva.
projetos do PIIC, versão 2016/2017;
7. Seminário de Avaliação de Avaliação anual do Programa de
Desempenho do Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva.
Educação Ambiental Lagoa Viva –
Municípios e instituições parceiras
Fonte: Instituto Lagoa Viva, 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 224


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Imagens de seminários e oficinas realizadas.

Fonte: Instituto Lagoa Viva, 2017.

No momento, os seminários temáticos estão sendo desenvolvidos nos municípios vinculados


ao programa com resultados que serão apresentados durante os Encontros Regionais de Educação
Ambiental, vale ressaltar que foi criada uma ferramenta de projetos, denominado PIIC – Projetos de
Intervenção e Integração Escola e Comunidade18, que os professores em formação continuada
aplicam em suas respectivas unidades de ensino, esses trabalhos são divulgados e caminham para
contribuir e atender as políticas públicas e acordos internacionais.

CONCLUSÃO

O Programa de Educação Ambiental Lagoa Viva com atuação em 39 municípios do Estado


de Alagoas, Atalaia, Arapiraca, Barra de São Miguel, Branquinha, Cacimbinhas, Capela, Cajueiro,
Coruripe, Coité do Nóia, Craíbas, Feliz Deserto, Flexeiras, Ibateguara, Jequiá da Praia, Junqueiro,
Limoeiro de Anadia, Maceió, Maravilha, Mar Vermelho, Marechal Deodoro, Major Izidoro, Murici,
Paripueira, Paulo Jacinto, Penedo, Piaçabuçu, Pilar, Poço das Trincheiras, Rio Largo, Santana do
Ipanema, Santa Luzia do Norte, Satuba, São Miguel dos Campos, Teotônio Vilela, Taquarana,
União dos Palmares, Limoeiro, Coité do Nóia E Belém, se propõe a desenvolver Formação
Continuada para Professores da Educação Básica e promover práticas socioeducativas e culturais
em comunidades de pescadores, artesãos e agricultores, valorizando iniciativas sustentáveis que

18
Para maiores informações sobre a metodologia de projetos do Instituto Lagoa Viva, acessar a Plataforma da
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – REVBEA -
http://www.sbecotur.org.br/revbea/index.php/revbea/issue/view/449

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 225


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

resgatem os valores humanos em sua integralidade: articulação, mobilização e cooperação de


conhecimentos pertinentes estimulando comunidades e escolas a desenvolverem suas
potencialidades respeitando a diversidade ambiental, social e cultural da cada região.
Fomentar discussões envolvendo políticas públicas voltadas para temáticas socioambientais
e protagonismo juvenil: formação de comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-
VIDA), Objetivos do Desenvolvimento Sustentável- ODS e Agenda 21 são os eixos basilares desta
proposta.
No decorrer do trabalho foi possível apresentar as ações continuas do Programa de Educação
Ambiental Lagoa Viva e seu planejamento para 2017, os municípios continuam desenvolvendo suas
atividades e como resultados algumas escolas estão efetivando a coleta seletiva e participando das
discussões políticas nos conselhos, comissões, comitês e na escola.

REFERÊNCIAS

Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida – COM – VIDA. Disponível em


http://conferenciainfanto.mec.gov.br/images/pdf/com_vida_isbn_final.pdf. Acesso em 28 de
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que diz a lei. 2. Ed. – São Paulo: Trevisan Editora, 2013.

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<http://pdeinterativo.mec.gov.br/escolasustentavel/manuais/Manual_Escolas_Sustentaveis_v%2
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agosto de 2017.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm. Acesso em 29 de agosto de 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 226


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO APLICADAS À RESTAURAÇÃO DE UMA


ÁREA DEGRADADA EM MUNICÍPIO DO ALTO JEQUITINHONHA, MG

Leonardo Palhares da SILVEIRA


Doutorando em Ciência Florestal 19
leopalhares.cc@hotmail.com
Danielle PIUZANA
Geóloga, Professora Associada da UFVJM
dpiuzana@yahoo.com.br
Israel Marinho PEREIRA
Eng. Florestal, Professor Associado da UFVJM
imarinhopereira@yahoo.com.br

RESUMO
Depósitos de resíduos sólidos a céu aberto são considerados um dos principais problemas
ambientais no Brasil. Durante a deposição de lixo, o solo sofre profundas modificações e passa a ser
designado por substrato devido às alterações química, biológica e estrutural, que prejudicam
diretamente sua funcionalidade. Técnicas de nucleação, tais como enleiramento de galharia e
poleiros artificias tem se mostrado promissora na recuperação de áreas degradadas. O presente
estudo verificou a potencialidade de técnicas nucleadoras em área degradada no município de
Diamantina, Minas Gerais, por meio de registros fotográficos de aves e seus hábitos, de forma a
considerar possível melhoria na qualidade ambiental de tal área, que foi desativado em 2002,
encontrando-se, atualmente, em processo de recuperação. Quatro áreas foram demarcadas dentro
dos limites do antigo aterro controlado, onde foram distribuídas, aleatoriamente, duas técnicas de
nucleação: 8 poleiros e 8 enleiramentos de galharias. O experimento foi instalado em Setembro de
2015 e monitorado até Março de 2016. Houve presença significativa de aves nos poleiros e nas
galharias compreendendo um total de total de 12 espécies pertencentes a 8 famílias. Observações
referentes a presença de fezes na base dos poleiros e nas ganharias comprovam a utilização das
estruturas pelas aves. Entretanto, o estabelecimento da fauna e recrutamento de novas espécies
vegetais não são garantidos, uma vez que a área possui alto índice de gramíneas invasoras, o que
implica complementaridade com técnicas de capina para a omitização da germinação e
desenvolvimento de plântulas.
Palvaras chave: Aterro controlado, Cerrado, dispersão de sementes.
ABSTRACT
Solid waste open dumpsites are considered one of the main environmental problems in Brazil.
During the deposition of waste, the soil undergoes profound modifications and is designated as
substrate due to chemical, biological and structural changes that affect directly its functionality.
Nucleation techniques, such as brushwood bunching and artificial perches have been shown to be
promising in the recovery of degraded areas. The present study verified the potential of nucleating
techniques in a degraded area in the municipality of Diamantina, Minas Gerais, through
photographic records of birds and their habits, in order to consider possible improvement in the
environmental quality of such area, which was deactivated in 2002, and is currently undergoing a
recovery process. Four areas were demarcated within the limits of the former controlled landfill,
where two nucleation techniques were randomly distributed: 8 brushwood bunching and 8 artificial

19
Da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

perches. The experiment was installed in September 2015 and monitored until March 2016. There
were significant presence of birds in the perches and in the galleries comprising a total of 12 species
belonging to 8 families. Observations regarding to the presence of feces at the base of the perches
and in the gains comprove the use of the structures by the birds. However, the establishment of
fauna and recruitment of new plant species are not guaranteed, since the area has a high index of
invasive grasses, which implies complementarity with weeding techniques for omitting germination
and seedling development.
Key words: Controlled landfill, Cerrado, seed dispersal.

INTRODUÇÃO

O crescimento das áreas urbanas tem sido responsável pela modificação de grandes
extensões de paisagens do território nacional e uma de suas formas de degradação ambiental, os
depósitos de resíduos sólidos a céu aberto, são considerados, atualmente, em um dos principais
problemas ambientais no Brasil. Entre 2003 e 2009, o estado de Minas Gerais registrou um
crescimento de mais de 200% no número de habitantes atendidos por sistemas adequados de
disposição final de resíduos. Apesar dos dados apresentarem-se positivos, áreas já degradadas para
esse fim necessitam ser recuperadas devido à sua falta de resiliência. Este indicador sinaliza a
mudança de paradigma do poder público e de comportamento da população (FEAM, 2010).
No Brasil há avanços nos estudos de ecologia florestal em diferentes ecossistemas
impactados e a temática tem-se tornado cada vez mais prioritária no atual quadro de intervenção
antrópica nos ecossistemas brasileiros. Contudo, metodologias aplicadas a este tipo de recuperação
se fundamentam em ideias muito divergentes e, em geral, refletem objetivos com forte enfoque nas
áreas de engenharia (RODRIGUES & GANDOLFI, 1998).
Durante a deposição de lixo, o solo sofre profundas modificações e passa a ser designado
por substrato devido às alterações química, biológica e estrutural, que prejudicam diretamente sua
funcionalidade (DARIO, 2004). Essa perda, principalmente de matéria orgânica, pode ser uma das
principais consequências degradantes, comprometendo toda dinâmica de ecossistemas (REIS et al.,
2003).
Uma das alternativas antrópicas que tem se mostrado promissora na recuperação de áreas
degradadas é a nucleação. Segundo Yarranton & Morrison (1974) esta técnica proporciona diversas
melhorias na qualidade ambiental, permitindo transformações capazes de favorecer condições
adequadas para flora e fauna. Tal benefício, por exemplo eleva a capacidade de certas espécies,
denominadas pioneiras, em ocupar e propiciar a chegada de outras. Os efeitos funcionais,
particularidades e conjunto produzidos contribuem para o resgate das condições dos sistemas
naturais (ESPINDOLA et al., 2005).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Técnicas de nucleação nunca são instaladas em área total, mas sempre em núcleos
conjugados, ocupando cerca de 10 a 30% da área em estudo (REIS et al., 2014). Dentre as diversas
técnicas pode-se citar: formação de abrigos artificiais por meio do enleiramento da galharia e
instalação de poleiros artificias (BECHARA, 2006). Dados indicam que essas tem potencializado a
auto-regeneração de diferentes formas de vida e nichos ecológicos por meio da formação de
microhabitats nas nucleações e seu entorno (REIS et al., 2003).
Alguns autores recomendam o uso de poleiros artificiais pelo baixo custo e facilidade de
instalação (REGENSBUGER et al., 2008; TRES, 2006). As aves ao defecar depositam sementes de
fragmentos florestais da região (BECHARA, 2006), esse processo atua como método de facilitação
da sucessão, devido a essa interligação entre os fragmentos, permitindo uma composição florística
semelhante à das áreas adjacentes (MCCLANAHAN & WOLFE, 1993).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo verificar o potencial de uso de
técnicas nucleadoras em área degradada no município de Diamantina, Minas Gerais, por meio de
registros fotográficos e levantamento de aves e seus hábitos, de forma a considerar ou não, uma
possível melhoria na qualidade ambiental de tal área.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em uma área pertencente ao Campus Universitário Juscelino


Kubitscheck, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (18°12'18.85"S
43°34'9.12"O), mesorregião do Alto Jequitinhonha, porção Sudeste do município de Diamantina,
Minas Gerais, Brasil (Figura 1).

Figura 1. a) Localização de Diamantina no estado de Minas Gerais. b) mapa do município de


Diamantina com identificação da área de estudo c) Fotografia aérea do Campus JK da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Fonte: UFVJM.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A altitude média é de 1.296 m e o clima é do tipo mesotérmico, com verões chuvosos e


invernos secos, temperatura média entre 17,4oC e 19,8°C (GALVÃO & NIMER, 1965) e
precipitação anual em torno de 1400 mm, distribuída em estações distintas: chuvosa (novembro a
janeiro); seca (maio a setembro); e os demais meses, de transição.
A classe de solo predominante da área de estudo é o Neossolo Quartzarênico Órtico típico,
cujas características principais são textura arenosa e estrutura em grãos simples, o que lhe confere
elevada macro porosidade acarretando em baixa capacidade de saturação e de retenção de água
disponível para as plantas.
A cobertura vegetal típica desse pedoambiente é o cerrado rupestre e o campo rupestre,
ecotipos adaptados a déficit hídrico sazonal, uma vez que suas espécies possuem sistema radicular
adaptado a absorver água em grandes profundidades (STCP, 2004).
A área teve uso para destinação dos resíduos sólidos da área urbana de Diamantina e foi
desativado em 2002, encontrando-se, atualmente, em processo de recuperação. Após a desativação,
houve uma preocupação na recomposição da vegetação e por meio de experimentos acadêmicos
foram introduzidas mudas de espécies arbustivas e arbóreas ao acaso, assim como espécies de
gramíneas exóticas na tentativa de formar núcleos de vegetação e não deixar o substrato exposto,
respectivamente.
Quatro áreas foram demarcadas neste estudo, totalizando 2.560m2, dentro dos limites do
antigo aterro controlado. Encontram-se, grosso modo, apenas com espécies herbáceas. Cada área
possui as dimensões de 16 x 40 (640m2) e em cada uma foram distribuídas, aleatoriamente, duas
técnicas de restauração nucleadoras, sendo 8 poleiros e 8 enleiramentos de galharias. Os poleiros
foram confeccionados com troncos de eucalipto de 6 m de altura. Na extremidade dos poleiros
foram encaixados vergalhões de 1,5m para pouso das aves (Figura 2a). A técnica de enleiramentos
de galharias consistiu em leiras com cerca de 1m3 oriundos de cascas e material residual lenhoso
(Figura 2b). Não foi utilizado nenhum tipo de atrativo para a fauna.

Figura 2. a) transposição de galharia e b) poleiros artificiais instalado em uma das áreas de estudo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O experimento foi instalado em Setembro de 2015 e monitorado até mês de Março de 2016.
Foram realizadas observações em cada área durante todo período de segunda a sextas feiras,
perfazendo 20 dias por mês e a observação ocorria das 07:00 às 10:00 e das 16:00 as 18:00 hs com a
finalidade de registrar a fauna que visitava as estruturas implantadas e os possíveis benefícios, seja
pelo surgimento de plântulas no local ou fixação de animais. A escolha dos horários ocorreu por
serem a hora que a temperatura encontra-se mais amena. Durante as sessões de observação foram
registradas as espécies de aves visitantes. O número de visitas e o tempo de permanência sobre o
poleiro e galharias não foram contabilizados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve presença significativa de aves nos poleiros e nas galharias compreendendo um total
de total de 12 espécies pertencentes a 8 famílias (Tabela 1). Observações referente a presença de
fezes na base dos poleiros e nas ganharias comprovam a utilização das estruturas pelas aves (Figura
3 a e b).

NOME DO TÁXON NOME POPULAR HÁBITO


ALIMENTAR
Columbidae
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Avoante Granívora
Columbina squammata (Lesson, 1831) Fogo-apagou Granívora

Falconidae
Falco sparverius (Linnaeus, 1758) Quiriquiri Carnívora

Furnariidae
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) João-de-barro Onívora

Tyrannidae
T
Knipolegus lophotes (Boie, 1828) Maria-preta-de-penacho Insetívora
a Satrapa icterophrys (Vieillot, 1818) Suiriri-pequeno Onívora
b Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) Siriri Onívora
e Xolmis velatus (Lichtenstein, 1823) Noivinha-branca Onívora
l
a Turdidae
Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850) Sabiá-poca Onívora
T
a Mimidae
b
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Sabiá-do-campo Onívora
e
l
a Passerellidae
Zonotrichia capensis (Statius Muller, Tico-tico Onívora
1 1776)
. Icteridae
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Chupim Onívora
A
ves registradas entre Setembro de 2015 e Março de 2016 nas estrturas de nucleação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3. Presença das aves nas estruturas de nucleação: (a) poleiro e (b) nas galharias.

A maioria das aves observadas Furnarius rufus, Mimus saturninus, Molothrus bonariensis,
Satrapa icterophrys, Turdus amaurochalinus, Tyrannus melancholicus, Xolmis velatus, Zonotrichia
capensis (figura 4) possuem dieta onívora, ou seja, a base de sementes e de artrópodes. Outras, tais
como Columbina squammata e Zenaida auriculata (Figura 4) são granívoras, ou seja, possuem
alimentação constituídas de sementes e grãos. Importante ressaltar a ingestão de pequenas sementes
pelas espécies citadas não é afetada em seus processos digestivos e chegam intactas ao solo. Todas
as aves são, portanto, importantes nos processos de dispersão e podem garantir a perpetuação de
espécies cujas sementes foram consumidas. Os dados ornitocóricos evidenciam uma tendência
positiva no aumento da quantidade de sementes que chega a esses locais.

Figura 4. Aves observadas no período estudado: (a) Columbina squammata; (b) Zenaida auriculata;
(c) Knipolegus lophotes; (d) Furnarius rufus; (e) Mimus saturninus; (f) Molothrus bonariensis; (g) Satrapa
icterophrys; (h) Turdus amaurochalinos; (i) Tyrannus melancholicus; (j) Xolmis velatus; (k) Zonotrichia
capensis; (l) Falco sparverius.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Outra espécie observada possui hábito alimentar insetívoro (Knipolegus lophotes),


caracterizada pela dieta constituída por insetos. As ganharias podem proporcionar fonte de alimento
para essas aves já que a presença de insetos é comum nessa estrutura.
As espécies de aves mais observadas visitando os poleiros e galharias foram Molothrus
bonariensis, Knipolegus lophotes e Zenaida auriculata. Essa elevada presença pode estar
relacionada aos seus hábitos reprodutivos. As três espécies têm como característica depositar seus
ovos em ninhos de outras espécies de aves adotam os filhotes. Esse hábito parasitário é registrado
pela presença de ovos das espécies citadas em ninhos de sabiá-do-campo (Mimus saturninus), joão-
de-barro (Furnarius rufus) e tico-tico (Zonotrichia capensis) (Figura 4) sendo este o mais comum.
Importante considerar que as últimas três espécies também foram observadas nas áreas em estudo
(TUERO, 2007).
A presença de aves foi também registrada em espécies arbóreas que compõem os núcleos de
vegetação. Esses indivíduos atuam como poleiros vivos e sua interação com os poleiros secos
(técnica utilizada neste estudo) servem como intercalações de vôo. Porém, não foi feito nenhuma
avaliação para determinar a eficiência desse tipo de poleiro.
Geralmente é comum a presença de Knipolegus lophotes, Falco sparverius, Mimus
saturninus, Tyrannus melancholicus e Xolmis velatus (Figura 4) em poleiros fixos, naturais ou
artificiais. Essas aves têm como hábito utilizar das estruturas para a observação, uma vez que
normalmente são altos, assim como para encontrar alimento (CLEMENTS, 2005).
Efeitos positivos na utilização de poleiros são relatados quando utilizados em áreas abertas,
com pouca vegetação ao entorno (GUEVARA et al., 1986; MELO, 1997; HOLL, 1998;
BECHARA, 2006). Entretanto, Miriti (1998) afirma que muitos animais relutam em frequentar
áreas amplas devido a exposição a predadores. Neste sentido, a presença das galharias tem sido
fundamental nas áreas estudadas servindo como esconderijo e abrigo para proteção natural contra
predadores.
Na maioria dos registros, a Columbina squammata encontra-se em bandos ou foi observada
em pousos coletivos (Figura 5a) portanto, a presença de Falco sparverius (espécie carnívora)
contribuiu para o controle das populações ali presente. A presença de plântulas observadas foi
maior no entorno dos poleiros artificiais em conformidade com estudo realizado Melo (1997),
também em área do Bioma Cerrado.
A chegada de sementes a esses locais não garante a germinação e estabelecimento das
espécies no campo, principalmente devido à alta competição com gramíneas agressivas, condições
desfavoráveis para seu desenvolvimento, assim como a predação de sementes por insetos, aves e
mamíferos (NEPSTAD et al., 1991; MOUTINHO, 1998).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Apesar de algumas aves que frequentaram a área não serem frugívoras (cujo hábito
alimentar baseia-se em frutos sem danificar a semente), Mcclanahan & Wolfe (1993) constataram
que a colocação de poleiros artificiais atraiu determinadas espécies que os utilizam para
emboscarem suas presas e forrageamento. Isso garante a manutenção da cadeia alimentar e
equilíbrio da fauna presente.
Os efeitos dessas duas técnicas encontram-se misturados e no caso da área estudada seria
interessante utilizar atrativos para as aves como frutos e alpiste (Phalaris canariensis) fixado nos
poleiros para possíveis testes. Esta alternativa poderia aumentar a frequência de visitas nas
estruturas que, com instalação de coletores abaixo dos poleiros, poderia ser uma alternativa para
determinar o real aporte de sementes na área via dispersão pelas aves, como utilizado por Silveira et
al. (2015).

Figura 5. a) Presença de grupo de Columbina squammata; fezes das aves na


estrutura de galharia (b) e poleiro nas áreas em estudo.

Bechara (2006) em seu trabalho utilizando-se dos mesmos materiais das galharias do
presente estudo concluiu que, o mesmo, apresentou elevada decomposição em um ano de
observação, portanto, com o passar do tempo as leiras presentes na área irão se decompor, atraindo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

uma série de animais de diferentes níveis tróficos (REIS, 2003). Essas condições favoráveis, assim
como a incorporação de fezes (Figuras 5b, 5c) no solo proveniente da avifauna e outros animais,
afetará diretamente as características biológicas do solo, disponibilizando nutrientes, matéria
orgânica, e fonte de carbono para as plantas que possam colonizar o local (BAYER &
MIELNICZUK, 1999).
Um dos motivos que não contribuiu para uma melhor eficiência das técnicas pode estar
relacionada com a forma de avaliação. A observação de indivíduos ingressantes, assim como
registros da presença das aves como critério de avaliação, pode não ser o melhor para comprovar
todos os seus benefícios.
Os poleiros e galharias foram de grande utilidade, com essas duas técnicas foi possível
aumentar a frequência de visitação pela fauna, assim como maiores interações entre fauna-flora dos
fragmentos vizinhos com a área em estudo. Porém, é preciso melhores observações sobre a resposta
destas duas técnicas (poleiros e galharias), assim como estudos mais aprofundados sobre os hábitos
das aves que frequentam a região, sua influência real no estabelecimento de espécies e seu papel na
manutenção da diversidade.
As técnicas de nucleação têm como características principal utilizar o mínimo de insumos
externos possível, aproveitando os recursos existentes na área ou próxima a ela. Isso garante uma
diminuição dos custos finais de restauração. As práticas convencionais adotadas utilizam uma única
espécie, proporcionando uma baixa diversidade e um estrato regenerativo dominado por gramíneas
exóticas invasoras (SOUZA & BATISTA, 2004), além disso possui um alto custo de implantação
que em muitos casos inviabiliza todo processo.
Os procedimentos que exploram de maneira sustentável as interações fauna-flora promove
com facilidade os processos de recuperação. A fauna tem um papel ecológico importante no
aumento da biodiversidade local, atuando na dispersão de sementes de diferentes locais e
adicionando pequenas quantidades de matéria orgânica, isso proporciona o recobrimento do solo,
estabilidade dos processos ecológicos e auto sustentabilidade das atividades de recuperação em
áreas fragilizadas (VALCARCEL, 2000).

CONCLUSÃO

Técnicas de nucleação são de grande importância na recuperação de áreas perturbadas e


degradadas, uma vez que permitem a colonização e o abrigo destes ambientes pelo incremento de
novas espécies de animais e plantas, fomentando a biodiversidade e ativando cadeias biológicas,
que de certa forma, aceleram o processo de regeneração natural.
Os poleiros possibilitaram consideravelmente a presença de aves na área em estudo, assim
como as galharias. Entretanto, o estabelecimento da fauna e recrutamento de novas espécies

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vegetais não são garantidos, uma vez que a área possui alto índice de gramíneas invasoras, o que
implica complementaridade com técnicas de capina para a omitização da germinação e
desenvolvimento de plântulas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Keila Nunes Purificação (UNEMAT) pelo apoio na identificação


das aves.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEVOLUÇÃO


DAS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS

Maurício Dias MARQUES


Mestre em Agronegócio e Desenvolvimento-UNESP-Tupã/SP
mdmarques1985@gmail.com
Leonice Seolin DIAS
Doutora em Geografia-UNESP-Presidente Prudente/SP
nseolin@gmail.com
Angélica Gois MORALES
Professora Assistente Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento-UNESP-Tupã/SP
angelicagoismorales@gmail.com
Sérgio Silva BRAGA JUNIOR
Professor Assistente Doutor em Administração-UNESP-Tupã/SP
Sergio.bragajunior@gmail.com

RESUMO
O artigo trata da abordagem do procedimento da logística reversa das embalagens vazias de
agrotóxicos, por parte de pequenos produtores rurais, que necessitam de educação ambiental para
sua conscientização. O descarte incorreto ou uso inadequado dessas embalagens acarretam
problemas ao meio ambiente e à saúde pública. Há uma legislação grandemente abrangente devido
à preocupação do poder público com os agrotóxicos. Porém, por deficiência de uma educação
ambiental voltada à conscientização e por falta de apoio ou incentivo público para facilitar a
devolução das embalagens, apurou-se que pequenos produtores rurais da região de Tupã/SP, não
cumprem a legislação. Pesquisa bibliográfica buscou ressaltar as responsabilidades compartilhadas
na cadeia da logística reversa para que as embalagens retornem ao fabricante para reciclagem ou
incineração e a pesquisa realizada a campo, abrangendo 48 produtores rurais demonstrou a falta de
cumprimento adequado da legislação. O descarte ou utilização das embalagens vazias distante do
cumprimento da lei, por falta de conscientização desses pequenos produtores rurais gera problemas
ambientais e de saúde pública.
Palavras-Chave: Embalagens vazias de agrotóxicos; Logística reversa, Educação ambiental.
ABSTRACT
The article focus the approach of the reverse logistics procedure of empty containers of pesticides,
by small farmers, who need environmental education for their awareness. Incorrect disposal or
improper use of these packages cause problems to the environment and public health. There is a
wide-ranging legislation due to public concern over pesticides. However, due to the lack of
environmental education aimed at raising awareness and lack of public support or incentive to
facilitate the return of packaging, it was found that small farmers in the Tupã / SP region do not
comply with the legislation. Bibliographical research sought to highlight shared responsibilities in
the reverse logistics chain for packaging to return to the manufacturer for recycling or incineration,
and field research covering 48 rural producers demonstrated the lack of adequate compliance with
the legislation. Disposal or use of empty packaging far from compliance with the law, due to the
lack of awareness of these small rural producers generates environmental and public health
problems.
Keywords: Empty containers of pesticides; Reverse logistics, Environmental education.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 239


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

As embalagens vazias de agrotóxicos devem ter a destinação correta, pois, assim como os
próprios agrotóxicos, elas causam problemas ao meio ambiente e à saúde pública. Os agrotóxicos
vieram para impulsionar a agricultura, fazem parte da chamada ―revolução verde‖, e desde vem
sendo aplicados na agricultura.
Diante da importância em seu manuseio e no tratamento das embalagens vazias, houve
preocupação das autoridades públicas brasileiras desde 1934, vindo merecer disciplina categorizada
por meio da Lei 7.802/1989 alterada pela Lei 9.974/2000, além de fazer parte da preocupação
ambiental com os resíduos sólidos trazida pela Lei 12.305/2010 – Política Nacional dos Resíduos
Sólidos (MARQUES; BRAGA JUNIOR; CATANEO, 2015).
Este trabalho propõe refletir sobre a prática da Logística Reversa aclamada nas citadas leis,
em consonância com a conscientização do produtor rural, que é o usuário final dos agrotóxicos e a
quem cabe a responsabilidade de iniciar o procedimento de devolução de suas embalagens vazias.
A despeito de todo aparato legal e de estruturação funcional, os pequenos produtores rurais
têm dificuldade em cumprir a legislação, como é o caso da pesquisa realizada no município de
Tupã/SP e adjacências, que foi objeto de estudo de mestrado do primeiro autor e aqui veiculado o
resultado final.
Traz-se neste presente artigo, os depoimentos de vários dos entrevistados, para firmar o
posicionamento de que não há conscientização ambiental, a educação ambiental é falha e os
pequenos produtores rurais não dispõem de meios suficientes e respaldo das autoridades públicas
para poderem cumprir a legislação.

A legislação e a estrutura

A lei 7.802/1989, conhecida como ―Lei dos Agrotóxicos‖, posteriormente alterada pela Lei
9.974/2000 e regulamentada pelo Decreto 4.074/2002, aliada à Política Nacional de Resíduos
Sólidos – PNRS (Lei 12.305/2010), estabelece que as embalagens vazias de agrotóxicos devem
retornar ao fabricante para a destinação adequada (reciclagem ou incineração).
Segundo Melo et al. (2012), essa legislação distribui competências e responsabilidades entre
consumidores, comerciantes, fabricantes e Poder Público. Mas, a ação de retorno (devolução das
embalagens), por meio da logística reversa, deve partir do produtor rural que é o consumidor final
do agrotóxico, conforme determina a legislação. Assim estabelecem os parágrafos 2º e 3º do artigo
6 da Lei 7.802/1989:

§ 2o Os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das


embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos,
de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contado da data de compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante,


podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que
autorizados e fiscalizados pelo órgão competente.
§ 5o As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins,
são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e
comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela
ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua
reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos
registrantes e sanitário-ambientais competentes.

Para auxiliar o procedimento da logística reversa, como estabelecido em lei, foi criado em
201, o INPEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, uma iniciativa da
indústria como forma de atender às responsabilidades sociais e ambientais no que se refere à
destinação final das embalagens dos agrotóxicos comercializados (GOMES & PASQUALETTO,
2006, p. 3). De lá para cá, o INPEV instituiu o que hoje é chamado de ―Sistema Campo Limpo‖,
tendo sido instaladas Centrais e Postos de Recebimento de embalagens descartadas. As Centrais de
Recebimento são unidades mais completas, com equipamentos para prensar e reduzir o volume das
embalagens e juntá-las em fardos para posterior encaminhamento para reciclagem, como se pode
ver nas figuras 2 e 3. Os Postos de Recebimento apenas armazenam as embalagens recebidas,
encaminhando-as às Centrais, sem nenhum tratamento.
As responsabilidades impostas pela legislação estão distribuídas a cada agente de toda a
cadeia de produção e circulação dos agrotóxicos. Segundo comentários de Cometti (2009), Melo et
al. (2012), Cantos, Miranda e Licco (2008), Grutzmacher et al. (2006), Leite (2009) e Faria e Pereira
(2012), estas seriam as responsabilidades:
Aos usuários dos agrotóxicos – agricultores (consumidores):
• preparar as embalagens vazias para devolvê-las (embalagens rígidas laváveis: efetuar
a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão; inutilizar, perfurando, para evitar o reaproveitamento);
• para as embalagens rígidas não laváveis: mantê-las intactas, adequadamente
tampadas e sem vazamento; embalagens flexíveis contaminadas: acondicioná-las em sacos
plásticos padronizados;
• armazenar, temporariamente, as embalagens vazias em local adequado na
propriedade;
• transportar e devolver as embalagens vazias, com suas respectivas tampas, no
estabelecimento onde foi adquirido o produto ou na unidade de recebimento indicada na nota
fiscal, no prazo de até um ano contado da data de sua compra;
• manter em seu poder os comprovantes de entrega das embalagens e a nota fiscal de
compra do produto por um ano.
Aos canais de distribuição, ou revendedores de agrotóxicos (comerciantes):

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

• dispor de local adequado para o recebimento e armazenamento temporário das embalagens


vazias dos agricultores ou ser credenciado a uma unidade de recebimento;
• no ato da venda do produto, informar aos agricultores sobre os procedimentos de lavagem,
acondicionamento, armazenamento, transporte e devolução das embalagens vazias;
• informar o endereço da unidade de recebimento de embalagens vazias para o usuário,
desde que as condições de acesso não prejudiquem a devolução pelo agricultor;
• fazer constar, nos receituários que emitirem, as informações sobre destino final das
embalagens;
• implementar, em colaboração com o poder público, programas educativos e mecanismos
de controle e estímulo à lavagem das embalagens vazias de agrotóxicos e à devolução das mesmas;
• estabelecer parcerias entre si, ou com outras entidades, para a implantação e o
gerenciamento das unidades de recebimento das embalagens vazias.
Aos fabricantes de agrotóxicos:
• providenciar o recolhimento, transporte e destinação final ambientalmente adequada das
embalagens vazias, devolvidas pelos usuários aos estabelecimentos comerciais ou unidades de
recebimento, no prazo de um ano a contar da data de devolução pelos agricultores;
• implementar, em colaboração com o poder público, programas educativos e mecanismos
de controle e estímulo à lavagem e à devolução das embalagens vazias por parte dos usuários;
• alterar os modelos de rótulos e bulas para que neles constem informações sobre os
procedimentos de lavagem, armazenamento, transporte, devolução e destinação final das
embalagens vazias.
Ao poder público:
• fiscalizar o funcionamento do sistema de destinação final;
• emitir as licenças de funcionamento para as revendas e unidades de recebimento de acordo
com os órgãos competentes de cada estado;
• apoiar os esforços de educação ambiental e conscientização do agricultor quanto às suas
responsabilidades dentro do processo.
Às unidades de recebimento:
• inspecionar as embalagens devolvidas;
• verificar e classificar entre lavadas e não lavadas;
• separar por tipo de material.
• encaminhar ao destino final, para reciclagem ou incineração.
O produtor rural, usuário do agrotóxico, é quem deve dar início ao procedimento da logística
reversa, contando com o auxílio do INPEV para receber suas embalagens vazias. Procurando saber

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sobre o cumprimento da legislação, foi realizada pesquisa junto a pequenos produtores rurais do
município de Tupã e adjacências.

Localização da área de estudo e metodologia

A região de estudo abrange o município de Tupã-SP e cidades adjacentes, onde se


desenvolveu a temática de dissertação de mestrado do primeiro autor, buscando pequenos
produtores rurais que estiveram dispostos a responder ao questionário (MARQUES, 2016).
O município de Tupã possui uma população estimada de 65.705 habitantes, um território de
627.986 km2, densidade demográfica de 100,99 habitantes/km2 (em 2010). Localiza-se entre os rios
Aguapei e Peixe. Limita-se ao norte com Arco-Iris, à leste com Herculândia, à sudeste com
Quintana, ao sul com Quatá, à sudoeste com Rancharia e à oeste com Bastos e Iacri. (IBGE, 2017;
CITYBRASIL, 2017). A localização no Brasil e no estado de São Paulo pode ser vista na figura 1.

Figura 1 – Mapa de localização do município de Tupã - Fonte: IBGE

Foi realizada pesquisa bibliográfica para entender o que está contido na legislação a
respeito da devolução das embalagens de agrotóxicos e as responsabilidades dos envolvidos na
cadeia da logística reversa. Também foi realizada pesquisa de campo, em que coletou-se
informações junto a 48 (quarento e oito) produtores rurais de Tupã e circunvizinhança, no interior
do estado de São Paulo, no período entre abril a maio de 2015 e janeiro de 2016, quando da
aplicação de formulário para o trabalho de dissertação de mestrado. Na análise procurou-se trazer à
tona as dificuldades enfrentadas e o problema gerado pela destinação incorreta das embalagens
vazias de agrotóxicos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A educação ambiental e os problemas dos produtores rurais

Como descrito acima, dentre as responsabilidades dos canais de distribuição (sistema de


revenda dos agrotóxicos), está a de informar aos agricultores como preparar-se para a devolução,
como devolver as embalagens e quais os locais (endereços e condições de acesso), além de
implementar programas educativos em parceria com o poder público.
Por sua vez, os fabricantes têm a responsabilidade, dentre outras, de implementar programas
educativos e mecanismos de controle e estímulo educacional. E, ao poder público, cabe apoiar os
esforços em educação ambiental e conscientização do produtor rural.
Cometti (2009), registra que a partir de 2003, o INPEV junto com o Governo Federal passou
a veicular campanhas educativas para orientação ao agricultor sobre suas responsabilidades no
destino das embalagens de agrotóxicos, mas a partir de 2009 já não se tem notícias da continuidade
dessas campanhas.
A falta de conscientização do produtor rural, principalmente dos pequenos, é notória
quando, entrevistados, muitos até dizem desconhecer sua responsabilidade. Na pesquisa realizada
na região de Tupã, Estado de São Paulo, as consultas levadas a efeito junto aos produtores rurais
por meio de questionário formulado e respondido em torno da escala de Likert de cinco pontos, traz
o resultado de que cerca de 54% deles não devolvem e 27% são indiferentes (MARQUES; VIEIRA;
BRAGA JUNIOR, 2016).
Por outro lado, tratamento estatístico das respostas coletadas revela que entre 75% a 83%
tendem a não cumprir a legislação (MARQUES, 2016), não estando inclinados a devolver as
embalagens.
Além das respostas dadas em função da escala de Likert, alguns desses produtores
trouxeram informações adicionais, como pode ser visto no Quadro1, que envolvem deficiência de
comunicação, informação e educação ambiental.

P-2 A mãe colocou fogo nas embalagens vazias.


P-3 Nunca reparou se na nota fiscal tem endereço para devolução das embalagens.
P-6/P- Não vem endereço na nota de compra.
8/P-9
P-12 Não sabia onde devolver quando o agrotóxico está vencido. Quando o Posto de Coleta era na CAMAP,
os agricultores devolviam. Agora ficou difícil. O local correto é na cidade de Bilac. Fica caro. Deveria ter
posto de coleta e uma data específica para devolução.
P-13 Estou guardando mas não sei quando vou devolver. Sabe que outros agricultores queimam, enterram,
jogam no lixo. O tema já foi pauta de reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Tupã,
quando os agricultores pediram um local para entrega, mas não virou nada.
P-16 Não tem conhecimento se agrotóxico é a mesma coisa que defensivo, sabe que é bem parecido, que eles
contém veneno.
p-17 Não tem onde devolver as embalagens. Os produtores que possuem assistência agronômica particular têm
postura mais correta sobre a devolução.
P-18 Não consta endereço na nota fiscal. Não pode devolver onde compra.
P-20 Não pode devolver na loja. Não sabe onde é o local correto para entregar as embalagens. Sugere que haja
mais informações para os produtores rurais e que em Tupã tenha um ecoponto para devolução.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

P-23 Não devolve, queima as embalagens.


P-24 Fez um local para guardar embalagens mas não tem onde devolver.
P-27 Não vem indicado na nota fiscal onde devolver.
P-28 Usa as embalagens para colocar combustível. Ninguém as pega aqui. Não tem onde devolver.
P-29 Só devolve quando o caminhão da revendedora passa recolhendo.
P-31 Normalmente o revendedor não recebe as embalagens.
P-35 O revendedor (Agrotec) vem pegar as embalagens.
P-37 Faz tempo que não devolve. Devolvia quando tinha posto de devolução na CAMAP.
P-38 Não devolve. Devia ter um depósito aqui.
P-39 Não devolve atualmente. Devolvia quando as lojas pegavam. O secretário da agricultura passou nas
propriedades dizendo que ia multar; dai os produtores começaram a queimar.
P-40 Não devolve, queima tudo.
P-41 Não faz devolução, guarda em saco plástico e armazena.
P-42/P- Não devolvem. P-44 diz que vendedores não avisam nada.
44
P-46 Não devolve. Coloca fogo.
P-48 Os revendedores não querem pegar. Já devolveu quando tinha posto de coleta na CAMAP, agora está
difícil.
Quadro 1- Informações adicionais dos produtores entrevistados. Fonte: os autores.

A constatação do resultado final da pesquisa de mestrado, bem como as expressões de


alguns dos produtores rurais entrevistados, leva a refletir que a problemática que influencia a falta
da adequada educação ambiental, envolve várias razões.
Em primeira instância, por não contarem com uma estrutura pública adequada para facilitar
essa devolução, já que as Centrais de Recebimento do Instituto Nacional de Processamento de
Embalagens Vazias (INPEV), para onde deveriam levar as embalagens, ficam distantes da sede do
município 70 km, no caso de Paraguaçu Paulista e 112 km, no caso de Bilac, além do trajeto da
propriedade rural até à cidade de Tupã, por exemplo (MARQUES; VIEIRA;BERNARDES;
BRAGA JUNIOR, 2016; INPEV, 2014).
Em segunda instância, porque não obtiveram informação suficiente por parte dos
revendedores sobre sua responsabilidade em iniciar a cadeia logística reversa.
Em terceira instância, porque há falta de fiscalização dos órgãos competentes para
acompanhar se o retorno das embalagens se efetiva.
O descumprimento da legislação traz prejuízo ao meio ambiente e à saúde pública, uma vez
que ditas embalagens ou são queimadas exalando gases tóxicos, ou são jogadas/deixadas no local
do plantio, ou são indevidamente aproveitadas como recipientes para líquidos ou sólidos de uso do
produtor rural e de sua família.
Notou-se na pesquisa que os produtores rurais não estão conscientizados da importância do
retorno das embalagens vazias para evitar contaminação; não há neles preocupação com o meio
ambiente quando relacionada às embalagens de agrotóxicos. Embora nas bulas dos agrotóxicos ou
em informações veiculadas nos meios de comunicação seja referida a periculosidade contaminante
dos agrotóxicos, não há um trabalho específico de educação ambiental capaz de promover a
conscientização do produtor rural sobre o seu papel na região.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A pesquisa revelou, ademais, uma deficiência do sistema de comunicação das instruções


para a operação da logística reversa, pois grande parte dos pesquisados afirmaram não receber a
devida sensibilização e assim, sua conscientização depende de sua própria vontade, estando
inabilitado o estímulo externo (MARQUES; VIEIRA; BERNARDES; BRAGA JUNIOR, 2016).
Por seu turno, já em 2015, com os primeiros 20 produtores consultados, notou-se uma
fragilidade no sistema de comunicação das determinações legais por parte dos envolvidos no
processo, uma vez que as informações não chegam ao produtor rural com o peso que deveriam, pois
quem vende agrotóxicos não cogita em cobrar intensivamente do produtor o retorno das embalagens
vazias (BERNARDO; BRAGA JUNIOR; MARQUES; GOMES; QUEIRÓZ, 2015).
Ficou evidenciado que, a par da melhoria da estrutura para devolução, a educação ambiental
é necessária como base principal ou fundamento que encaminhe os produtores a que, voluntaria e
conscientemente, se mobilizem e se interessem por cumprir o seu papel previsto na legislação, indo
suas ações no sentido de despertar o interesse público pelo assunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o tratamento que deve ser dispensado às embalagens vazias de agrotóxicos esteja
muito bem definido na legislação e sua operacionalização conta com o auxílio do INPEV (Instituto
Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), para que o procedimento da Logística Reversa
se realize é preciso, em primeiro momento a ação do produtor rural, o usuário final dos agrotóxicos
e que deve dar partida ao procedimento reverso de suas embalagens.
É fato significativo que a educação ambiental tem papel fundamental nesse procedimento,
uma vez que a conscientização do produtor rural advém de boas informações, boas comunicações e
chamada à reflexão de sua responsabilidade.
O estudo trouxe à tona que pequenos produtores rurais da região de Tupã/SP não estão
totalmente conscientizados de sua responsabilidade, faltando-lhes o apoio dos revendedores, das
cooperativas ou associações e do poder público. Além do mais, queixam que não devolvem por
falta de informação ou por falta de estrutura adequada que lhes proporcione condições adequadas e
não dispendiosas para tal.
Vê-se que a educação ambiental, no caso em estudo, não é levada muito a efeito tanto pelas
revendas quanto pelo poder público, que, sabendo de suas responsabilidades, não estimulam nem
criam condições para que esses mesmos produtores rurais tenham essa consciência e condições para
cumprir com sua responsabilidade primeira, de devolver essas embalagens.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 246


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 248


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 249


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UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA


CONSTRUÇÃO CIVIL E FABRICAÇÃO MECÂNICA

Savanna Cristina Medeiros D‘AGUIAR


Estudante do Mestrado em Engenharia Civil da UFC
savanna_cristina@hotmail.com
Cristiane do Nascimento FERNANDES
Estudante do Mestrado em Engenharia Civil da UFC
cristiane_nascimento_fernandes@outlook.com
Liliane Ferreira ARAÚJO
Estudante de Engenharia Mecânica da UFERSA
tecnicaliliane@gmail.com
Lívia Laiane Barbosa ALVES
Estudante do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da UFERSA
liviabarbosa17@yahoo.com.br

RESUMO
A produção de materiais acarreta a geração de resíduos, que em maior ou menor grau, acabam
sendo depositados inadequadamente ou tendo um uso que não seja ecologicamente correto. Nesse
contexto, o presente trabalho traz como abordagem um levantamento bibliográfico com ênfase na
utilização de resíduos sólidos para incorporação à cadeia produtiva da construção civil e de
fabricação mecânica, tendo em vista a produção de materiais alternativos que ocasionem a
minimização dos impactos negativos ao meio. Para tanto, foram apresentados cinco resíduos
distintos que vêm sendo incorporados a materiais de construção para atribuir-lhes finalidades
específicas e promover a disseminação da cultura de se produzir materiais que não afetem
negativamente o ambiente construído. E, com a pesquisa, observou-se que tais resíduos já aparecem
com forte potencial de adição à componentes construtivos, necessitando-se, assim, que cada vez
mais sejam realizados estudos no sentido de viabilizá-los às demais aplicações que a indústria da
construção requer.
Palavras-chave: materiais alternativos, reciclagem, construção, sustentabilidade, inovações.
ABSTRACT
The production of materials results in the generation of waste, which to a greater or lesser degree,
end up being inadequately deposited or having a use that is not ecologically correct. In this context,
the present work brings like approach a bibliographical survey with emphasis on the use of solid
waste for incorporation into the productive chain of civil construction and mechanical
manufacturing, with a view to the production of alternative materials that minimize the negative
impacts on the environment. For this, five different residues were presented that have been
incorporated into building materials to assign them specific purposes and promote the dissemination
of the culture of producing materials that do not adversely affect the built environment. And, with
the research, it was observed that such residues already appear with a strong potential of addition to
the constructive components, being necessary, therefore, that more and more studies are carried out
in order to make them possible to the other applications that the construction industry requires.
Keywords: alternative materials, recycling, construction, sustainability, innovations.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 250


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

1 INTRODUÇÃO

Devido as fontes naturais limitadas à capacidade de reserva e ao aumento do consumo, surge


a necessidade de maior aproveitamento dos materiais. O reciclado é definido como a transformação
de resíduos sólidos em um novo material utilizado como matéria-prima. Essa recuperação é definida
como reutilização de resíduos para determinada finalidade através do processamento em processos
físicos ou químicos (ALTUNCU; KASAPSEÇKIN, 2011). O reaproveitamento de resíduos é uma
alternativa econômica e ecologicamente viável que proporciona um destino final para os resíduos
oriundos de diversas atividades como por exemplo, da construção civil e indústrias de mineração
(SANTOS; LIRA; RIBEIRO, 2012).
A forte razão para que a utilização de resíduos seja uma prática frequente está no alto custo
de extração das matérias-primas, nos danos ambientais associados, esgotamento de reservas
confiáveis e da conservação de fontes não renováveis (GUERINO et al., 2010).
No Brasil, e na grande maioria dos países em desenvolvimento, ainda não há um avançado
programa de gerenciamento de resíduos sólidos industriais e, segundo Antonis (2011), a principal
razão desse problema da Gestão dos Resíduos Sólidos em países como o Brasil é a falta de recursos
financeiros, além da ausência de desenvolvimento institucional e de uma abordagem estratégica e
sistemática do problema. Neste sentido, Santos, Lira e Ribeiro (2012) apontam para a necessidade
de estudos que apontem uma solução, podendo ser em forma de reutilização, reciclagem,
processamento ou mesmo a disposição final correta dos resíduos.
Dessa forma, o presente trabalho abordará um levantamento acerca da utilização de resíduos
sólidos para a produção de materiais, com o intuito de instigar cada vez mais pesquisas direcionadas
à reciclagem e reutilização de resíduos, para sanar os diversos problemas ambientais decorrentes do
descarte no meio ambiente dos rejeitos gerados na construção e fabricação de componentes
industriais. Para tanto, a metodologia empregada neste estudo consistiu em uma pesquisa
bibliográfica em artigos, livros, periódicos e outras fontes literárias, englobando alguns dos
principais resíduos que possuem grande potencial de utilização nos setores da construção civil e
mecânica.

2 PRODUÇÃO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS UTILIZANDO RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1 Definições e classificação dos resíduos

De acordo com a NBR 10004 (ABNT, 2004), resíduos sólidos são aqueles resíduos nos
estados sólido e semissólido que resultam de atividades da comunidade de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Assim, ficam incluídos nesta
definição, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, bem como gerados em

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equipamentos e instalações de controle de poluição, e ainda determinados líquidos cujas


particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou
mesmo exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face a melhor tecnologia
disponível (MACHADO et al., 2006).
Neste contexto, existe ainda a Resolução do CONAMA Nº 307, de 5 de julho de 2002, que
estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil e foi
alterada pelas Resoluções nº 348/2004, 431/2011, 448/2012 e 469/2015. Esta, que em seu artigo 3º,
inciso I que classifica os resíduos de Classe A como sendo os resíduos reutilizáveis ou recicláveis
como agregados, e, como exemplo, tem-se os resíduos de construção, demolição, reformas, bem
como de outras obras de infraestrutura, resultantes de componentes cerâmicos, argamassa e
concreto, e de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
produzidas nos canteiros de obras.
A Tabela 1 apresenta a classificação dos resíduos sólidos, sendo esta de acordo com a NBR 10004
(ABNT, 2004), que se baseia nas características dos resíduos e nos riscos potenciais ao meio ambiente e à
saúde pública.

Resíduos Classe I Perigosos


Resíduos Classe II Não perigosos
Resíduos Classe IIA Não inertes
Resíduos Classe IIB Inertes
Tabela 1 – Classificação dos resíduos.
Fonte: NBR 10004 (2004).

Desde o princípio, havia a produção de resíduos sólidos, no entanto, devido à pequena quantidade
de pessoas, a grande área disponível e ao constante deslocamento da população, esses resíduos gerados
não representavam grandes problemas (RUSSO, 2003). Assim, de acordo com Lima et al. (2007), o
aumento significativo no volume dos resíduos gerados está ligado ao aumento da população mundial e,
consequente, urbanização e aprimoramento de técnicas de industrialização.
Os resíduos sólidos podem ser considerados responsáveis por diferentes formas de poluição ao
meio ambiente, desde a poluição das águas, devido ao lançamento indiscriminado nos cursos d‘água, até a
poluição do solo, em decorrência do depósito de resíduos sólidos a céu aberto (BRITO, 1999 apud
GIANNINI, 2010). Diante disso, Menezes et al. (2007) afirma que as indústrias de processamento e
beneficiamento mineral são as que se destacam dentre o imenso universo de fontes poluidoras e geradoras
de resíduos existentes atualmente.

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2.2 A importância da reciclagem de resíduos para a cadeia produtiva

A gestão de resíduos sólidos envolve caracterização, separação e destinação segura, sendo


incentivadas e muitas vezes exigidas práticas de eliminação, redução e reaproveitamento, de modo a
buscar a diminuição de seu impacto sobre o meio ambiente (RIBEIRO, 2010).
Os conceitos de redução, reutilização e reciclagem não são apenas termos criados pelos
ambientalistas. A aplicação desses conceitos pode resultar em economia real de dinheiro para qualquer
organização. À medida que a coleta e destinação de resíduos tornam-se mais caros, quanto menos as
empresas estiverem a remover, menores serão os custos envolvidos (PEREIRA, 1997 apud SILVA,
2004).
A reciclagem de resíduos, trata-se de um conjunto de técnicas cuja finalidade é aproveitar detritos
e rejeitos e reintroduzi-los no ciclo de produção. Esta, independentemente do seu tipo, apresenta várias
vantagens em relação à utilização de recursos naturais virgens, dentre as quais se tem: redução do volume
de extração de matérias-primas, redução do consumo de energia, menores emissões de poluentes e
melhoria da saúde e segurança da população. Sua vantagem mais visível remete à preservação dos
recursos naturais, prolongando sua vida útil e reduzindo a destruição da paisagem, fauna e flora
(MENEZES et al., 2002).
Ainda conforme Menezes et al. (2002), o esgotamento das reservas de matérias-primas confiáveis,
o crescente volume de resíduos sólidos e a necessidade de compensar o desequilíbrio provocado pelas
altas do petróleo são as três principais razões que têm motivado os países a reciclarem seus rejeitos
industriais, apesar desta prática ainda não fazer parte da cultura dos empresários e cidadãos brasileiros.
De acordo com Canut (2006), as indústrias da construção civil e da siderurgia ocupam um papel
de destaque quanto ao desenvolvimento de possíveis tecnologias e processos que viabilizem o uso de um
determinado resíduo.
No Brasil, segundo Ângulo et al. (2001), a maior experiência na área de reciclagem de produtos
gerados por outras indústrias na produção de materiais de construção é a conduzida pela indústria
cimenteira, que recicla, principalmente, escórias de alto forno e cinzas volantes. Entretanto, os autores
afirmam ainda que é importante destacar que a reciclagem, como qualquer outra atividade, também pode
gerar resíduos, cuja quantidade e características irão depender do tipo de reciclagem escolhida, logo, é
preciso considerar os resíduos gerados pelos materiais reciclados e analisar a possibilidade de serem
novamente reintroduzidos ao ciclo.

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3 TIPOS DE RESÍDUOS COM POTENCIALIDADE PARA INCORPORAÇÃO


EM MATERIAIS

Inúmeros são os resíduos utilizados na confecção de materiais alternativos, especialmente para uso
na construção civil, mas que também podem ser direcionados para área mecânica, e alguns dos principais
destes serão brevemente abordados a seguir.

3.1 Resíduo de scheelita

A scheelita é uma substância que constitui uma importante fonte de Tungstênio (W), um mineral
metálico não ferroso que apresenta alta densidade e o mais alto ponto de fusão, superior a 4.500 °C e de
boa condutividade elétrica. No Brasil, a ela é explorada principalmente no Nordeste, tendo como destaque
os estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, constituindo a Província scheelitífera do Seridó, e em
menor proporção, no Ceará (GODEIRO et al., 2010).
Uma das formas de amenizar os impactos ambientais gerados é a sua utilização em rodovias, e
diante disso, Gerab (2014) realizou pesquisas no âmbito de dar uma destinação adequada ao resíduo
grosso oriundo do beneficiamento da scheelita, decorrente da atividade mineradora do grupo de mineração
Tomaz Salustino, na mina Brejuí, localizada no município de Currais Novos, no estado do Rio Grande do
Norte. Com o estudo, o autor verificou a viabilidade técnica da utilização do resíduo grosso compactado
na energia modificada em camadas de sub-base e nas energias intermediária e normal a viável a sua
utilização como camadas menos nobres, como o subleito, comprovando que a incorporação dos resíduos
em camadas de pavimentos rodoviários constitui uma alternativa ao uso de agregados convencionalmente
utilizados na pavimentação, possibilitando uma destinação adequada dos resíduos da scheelita, como
também a preservação do meio.
Os resíduos da scheelita ainda podem ser reutilizados para remoção do Tungstênio, sendo este
aproveitado também para aplicações em ferramentas de corte para usinagem, materiais abrasivos, aços
rápidos, usados como cortadores de vidros, ferramentas de tornos, pastilhas, na produção de filamentos de
lâmpadas incandescentes, válvulas eletrônicas, eletrodos, entre outros. (ANDRADE, 2017).

3.2 Metacaulim

Segundo Rocha (2005), o Metacaulim é um material predominantemente amorfo, ou seja,


apresenta pouca ou nenhuma organização cristalina. Considerado um material pozolânico, seu uso tornou-
se bastante frequente na indústria cimenteira. A matéria-prima básica para a fabricação do Metacaulim de
Alta Reatividade é o caulim de alta qualidade, com baixos teores de impurezas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O Caulim é obtido através do beneficiamento de argilas cauliníticas, cujos teores de caulim, em


geral, situam-se acima de 50 % (ROCHA, 2005). A composição química da argila caulinítica e do caulim
estão apresentadas na Tabela 2.

Composto Argila Caulinítica Típica (%) Caulim Teórico (%)


SiO2 > 40,0 e < 60,0 46,54
Al2O3 > 25,0 e < 45,0 39,50
Fe2O3 < 0,8 0,0
Na2O < 0,1 0,0
K2O < 3,0 0,0
TiO2 < 1,0 0,0
CaO < 1,0 0,0
H2O(PF) > 8,0 e < 18,0 13,96
Outros < 1,0 0,0
Relação Al2O3/SiO2 0,0 0,0
Tabela 2 – Composição química da argila caulinítica e do caulim.
Fonte: Adaptado de Netto (2006).

O caulim é uma rocha que possui granulometria fina, geralmente de cor branca e com boa inércia
química. Sua aplicação se dá principalmente na indústria do papel, porém é utilizado também como
matéria-prima para produção de metacaulim, tintas, cerâmicas, borracha, plásticos, remédios, fibra de
vidro, dentre outros (ARAÚJO et al., 2006).
O metacaulim pode ser obtido a partir da calcinação de argilas ricas em caulinitas, da calcinação
do caulim utilizado no branqueamento do papel ou através da moagem de tijolos cerâmicos (CORDEIRO,
2001 apud NETTO, 2006). O metacaulim obtido a partir da calcinação do caulim é produzido por meio do
tratamento térmico do caulim em temperaturas de 600 e 850 °C. O processo visa remover apenas os
grupos estruturais de hidroxila e criar instabilidade química pela mudança do número de coordenação do
alumínio de seis para quatro (SANTOS, 1989 apud BIGNO, 2008).
Santos et al. (2012) avaliou a influência da adição do metacaulim, produzido a partir da calcinação
do resíduo de beneficiamento do caulim gerado no Rio Grande do Norte, na obtenção de argamassas de
assentamento e revestimento na construção civil. A partir dos resultados obtidos em seu estudo concluiu
que o metacaulim produzido possui uma elevada reatividade com o cimento Portland utilizado, tendo em
vista o incremento de resistência à compressão axial proporcionado pela presença deste no traço de
argamassa.

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3.3 Casca de ovo

A casca de ovo, composta principalmente por calcita (CaCO3), é considerada como resíduo classe
IIB, não perigoso e inerte. Atualmente, o método mais comum de deposição deste tipo de resíduo é a
disposição em aterros sanitários. A viabilidade desse resíduo para a formação de novos materiais tem sido
estudada por diversas áreas. Recentemente, algumas pesquisas mostraram seu potencial como adição
inerte na confecção de argamassas e como material precursor na produção de cerâmicas (BIGNO, 2008).
Assim, além de diminuir a poluição causada pelo descarte direto da casca de ovo no meio
ambiente, o uso desse material como fonte alternativa de CaCO3 (carbonato de cálcio) pode diminuir o
impacto sobre as reservas naturais de rocha calcária, uma fonte natural não-renovável (NEVES, 1998;
BORON, 2004 apud OLIVEIRA, 2009).
Bigno (2008) buscou substituir, parcial e totalmente, a escória granulada de alto forno que tinha
sido utilizada como fonte de cálcio em sínteses de geopoliméricos, pela cinza da casca de arroz e casca do
ovo calcinada. As pastas formadas apresentaram resistência mecânica maior quando comparadas ao
cimento Portland. Já Temuujin et al. (2009) estudaram a influência do cálcio na geopolimerização e
concluíram que compostos desse elemento químico (CaO e Ca(OH)2) melhoram as propriedades
mecânicas dos geopolímeros quando curados à temperatura ambiente.
Sampaio e Almeida (2008) afirmam que este constituinte na forma de partículas nanométricas
estão sendo estudados no desenvolvimento de novos produtos para a indústria automotiva.

3.4 Vidro

―O vidro começou a ser fabricado de forma rudimentar pelos egípcios desde a mais remota
antiguidade (século 27 a.C.) e acompanha a história do homem, estando cada vez mais presente na vida
moderna‖ (CRISIGIOVANNI, 2010, p. 15). Para Alves et al. (2001), o vidro é um sólido não cristalino
(ausência de simetria e periodicidade translacional) que exibe o fenômeno de transição vítrea, podendo ser
obtido a partir de qualquer material orgânico, inorgânico ou metálico. Em sua forma pura, é um óxido
metálico, transparente, de elevada dureza, essencialmente inerte e biologicamente inativo
(CRISIGIOVANNI, 2010).
Segundo Bardini et al. (2007, p.19), o vidro é composto por areia, calcário, barrilha, alumina,
corantes ou descorantes e sua composição química segue apresentada na Tabela 3. Pinto (2004) ressalta o
vidro pode ser um ótimo recurso para a correção do teor de sílica dos materiais precursores
geopoliméricos, uma vez que quando a razão molar SiO2/Al2O3 é menor que a prevista, o teor de sílica
terá então de fazer-se, ou por adição direta de sílica amorfa, ou à custa da adição de um material com uma
razão superior à que existe nos metacaulins.

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Óxido % nos vidros comuns


SiO2 (sílica) 74,0
Al2O3 (alumina) 2,0
Fe2O3 (óxido de ferro) 0,1
CaO (cálcio) 9,0
MgO (magnésio) 2,0
Na2O (sódio) 12,0
K2O (potássio) 1,0
Tabela 3 – Composição do vidro.
Fonte: Adividro (2000 apud BARDINI et al., 2007).

O Brasil produz em média 800 mil toneladas de vidro por ano, sendo que desse total 220.000 t/ano
são recicladas, o que corresponde a 27,6 % do total gerado (LOPES et al., 2005). Segundo Crisigiovanni
(2010), essa reciclagem é vista como uma atividade marginal, de subsistência, e como tal, necessita de
maior conscientização de todos os segmentos da sociedade.
A fibra do vidro, também é forte produtor de resíduos, este por sua vez, é utilizado na construção
de componentes mecânicos e na construção civil, em especial na indústria automotiva. A Tropical
Cabines, há 25 anos no setor automobilístico, reaproveita resíduos provenientes da transformação dos
carros. A partir das rebarbas de peças e peças prontas defeituosas, faz-se a moagem em uma espécie de
triturador sob quatro etapas resultando em um pó de fibra de vidro para ser usada novamente (PICELI,
2010).

3.5 Lâmpadas fluorescentes

D‘Aguiar (2014) utilizou em seu trabalho pó de vidro, obtido a partir da moagem de lâmpadas
fluorescentes, resultantes da administração de resíduos da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA), como fonte extra de sílicio, na síntese de pastas geopoliméricas formuladas a partir de
resíduos sólidos.
No Brasil, são consumidas, por ano, aproximadamente, 100 milhões de lâmpadas fluorescentes.
Porém, a grande maioria (94%) não passam por um processo de reciclagem. A reciclagem de lâmpadas
fluorescentes ocupa um lugar importante no gerenciamento sustentável de resíduos. Esse processo consiste
na separação física dos componentes (partes metálicas, pó fluorescente, vidro limpo e mercúrio), sendo
geralmente realizado com base nas seguintes etapas: trituração e separação de materiais, e recuperação
térmica ou química do mercúrio (POLANCO, 2007).
Na primeira etapa do processo de reciclagem, as lâmpadas são implodidas e/ou quebradas em
pequenos fragmentos utilizando um processador (britador e/ou moinho) para separar a poeira e fósforo
contendo mercúrio. As partículas restantes são conduzidas a um ciclone, por um sistema de exaustão, onde

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

as partículas maiores, tais como vidro quebrado, terminais de alumínio e pinos de latão são separadas e
ejetadas do ciclone, por diferença gravimétrica e por processos eletrostáticos. Já a poeira fosforosa e
demais particulados são coletados em um filtro, no interior do ciclone (CRISIGIOVANNI, 2010). A
segunda etapa, conforme o autor consiste na recuperação do mercúrio contido na poeira coletada no filtro,
que é realizada por meio do processo de reportagem, onde o material é aquecido até a vaporização do
mercúrio (temperaturas acima do ponto de ebulição), sendo o material vaporizado condensado e coletado,
para que, assim, o mercúrio obtido venha a passar por nova destilação para a remoção de impurezas.
Todos esses componentes podem ser reutilizados na indústria civil, mecânica e também química.
Na construção civil e mecânica, como já visto, o vidro limpo pode ser reaproveitado em forma de fibra
para serem utilizados tanto na indústria automotiva, quanto como reforços de vigas de madeira. Já na
indústria química, o resíduo de mercúrio pode ser utilizado especialmente na produção de catalizadores
para acelerar reações.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, percebe-se que algumas indústrias já realizam a prática da
reciclagem de resíduos em seus próprios estabelecimentos, e através do incentivo a pesquisas, nesse
âmbito, alcançaram o resultado almejado incorporando, em seus processos produtivos, a sustentabilidade,
reduzindo, assim, os custos. Além disso, foi possível visualizar que já existem resíduos inovadores sendo
estudados que garantem aos materiais e componentes de construção o alcance dos requisitos mínimos para
sua utilização na indústria da Construção Civil e Mecânica, sendo primordial o incentivo a esta prática, no
intuito de se incorporar cada vez mais processos que minimizem os impactos ambientais decorrentes da
construção e fabricação de material a ser utilizado na cadeia produtiva.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E VULNERABILIDADES


SOCIOAMBIENTAIS: CENÁRIO DE UM LIXÃO NO SERTÃO PARAIBANO

Lívia Poliana Santana CAVALCANTE


Bióloga. Mestre e Doutoranda em Recursos Naturais-UFCG
livia_poliana@hotmail.com
Monica Maria Pereira da SILVA
Doutora em Recursos Naturais20-UFCG
monicaea@terra.com.br
Kléber Napoleão Nunes de Oliveira BARROS
Doutor em Biometria e Estatística Aplicada21-UFRPE
kleberbarros@cct.uepb.edu.br
Vera Lúcia Antunes de LIMA
Doutora em Engenharia Agrícola22-UFV
antuneslima@gmail.com

RESUMO
A presente pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa, objetivou avaliar as
vulnerabilidades socioambientais que estão submetidos os catadores de materiais recicláveis que
atuam no lixão do município de Cajazeiras, estado da Paraíba. A coleta de dados ocorreu através da
observação direta e aplicação de entrevistas semiestruturadas. Dentre as vulnerabilidades
socioambientais observadas in loco, pode-se citar: 1) aquisição de diferentes tipos de doenças,
devido às condições precárias de higiene pessoal e contato direto/indireto com agentes biológicos
patogênicos presentes nos resíduos sólidos; 2) acidentes e ferimentos, ocasionados pela disposição
inadequada de resíduos perfurocortantes e ausência de equipamentos de proteção individual (EPIs),
que a depender da gravidade pode acarretar em invalidez ou morte; 3) desigualdade social, que
corrobora para a exclusão e fragilidades socioeconômicas, fome, violência urbana, invisibilidade e
abandono social. Portanto, é notória a falta de preocupação e de compromisso dos poderes públicos
locais, bem como da sociedade em geral, em mitigar e/ou eliminar as vulnerabilidades
socioambientais que põem risco um grupo de profissionais que luta dia e noite para obter a sua
sobrevivência, ao mesmo tempo em que resgata do lixão materiais que servem de matéria prima
para produção de novos objetos que irão circular no mercado.
Palavras-chaves: Catadores de materiais recicláveis, Lixão, Resíduos sólidos urbanos,
Vulnerabilidades socioambientais.

ABSTRACT
This exploratory research, with a qualitative and quantitative approach, aimed to evaluate as social
and environmental vulnerabilities that are submitted to the recyclable material collectors that work
in the municipal dumping ground in Cajazeiras, state Paraíba. Data collection through direct
observation and application of semi-structured interviews. Among the socio-environmental
vulnerabilities observed in loco, we can mention: 1) acquisition of different types of diseases, due to
the precarious conditions of personal hygiene and direct/indirect contact with pathogenic biological

20
Profa. Doutora Nível/GGEA/DB/UEPB
21
Prof. Adjunto do Departamento de Estatística-UEPB
22
Profa. Titular do Depart. de Engenharia Agrícola-UFCG

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

agents present in the solid residues; 2) accidents and injuries, occasions due to improper disposition
of punctures and absence of personal protective equipment (PPEs), which one dependent on gravity
can result in disability or death; 3) social inequality, which corroborates exclusion and
socioeconomic fragility, hunger, urban violence, invisibility and social abandonment. Therefore, it
is not a matter of concern and commitment of the local public authorities, as well as of society in
general, to mitigate and/or eliminate as socio-environmental vulnerabilities that put a group of
professionals at risk that deals with their survival. At the same time in which it rescues from the
dump materials that serve as raw material for the production of new objects that will circulate in the
market.
Keywords: Recyclable material collectors, Dumping ground, Urban solid waste,
Socioenvironmental vulnerabilities.

INTRODUÇÃO

A produção demasiada de resíduos sólidos urbanos emerge no cenário de crise ambiental, na


qual a produção e o consumo exacerbados propiciam impactos socioambientais negativos sobre o
meio ambiente e sociedade humana, comprometendo, a capacidade de suporte dos diferentes
sistemas e a qualidade de vida das atuais e futuras gerações.
Segundo Boff (2009), toda essa problemática tem sua gênese na forma egocêntrica e egoísta
do ser humano lidar com os recursos naturais da biosfera, não se preocupando com o esgotamento e
deterioração ambiental.
No Brasil, a gestão de resíduos sólidos está pautada na integralidade e atribuição da
responsabilidade compartilhada dos resíduos sólidos gerados, com o incentivo a inclusão de
catadores de materiais recicláveis e a sua organização. Mesmo após a publicação da Lei
12.305/2010 e a obrigatoriedade dos municípios encerrarem as atividades nos Lixões até o ano de
2014, lamentavelmente essa prática ainda é comum no Brasil, e consiste em simplesmente depositar
os resíduos sob o solo, sem qualquer tipo de tratamento (PEREIRA, 2014).
A prática da disposição final inadequada de resíduos sólidos urbanos ainda ocorre em todas
as regiões e estados brasileiros. Do total de municípios brasileiros, 3.326 (41,3%) ainda fazem uso
desses locais impróprios. Segundo a ABRELPE (2016), contabilizam-se que 29.973.482 t/ano de
resíduos sólidos urbanos estão sendo dispostos em aterros controlados (24,1%) e lixões (17,2%).
Ainda segundo dados expostos pelo relatório da ABRELPE (2016), no Estado da Paraíba,
foram geradas 3.551 t/dia de resíduos sólidos, desse total foram coletadas, 3.042 t/dia de resíduos
sólidos urbanos. O que equivale a 0,766 kg/hab/dia. A disposição final ainda ocorre de forma
imprópria em 69,0% dos seus municípios. Desse total, 32,4% dos resíduos são encaminhados para
lixões e 36,6% para aterros controlados.
Após sete anos de publicação da Lei Federal 12.305/2010, a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, a maioria dos catadores de materiais recicláveis permanece trabalhando em lixões, visando
a sua sobrevivência através da catação de recicláveis. Nessas circunstâncias, as condições
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 264
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

insalubres e precárias de trabalho evidenciam as vulnerabilidades socioambientais que estes


profissionais estão submetidos, as quais são invisíveis aos olhos da sociedade moderna e dos
gestores públicos.
Estudo realizado por Bastos (2015) foi possível observar diferentes situações de
vulnerabilidades socioambientais existentes no lixão de Gramacho, no município do Rio de Janeiro-
RJ. Segundo o autor, quando em operação carregava todo estigma do rejeito e/ou refugo humano,
tendo em vista que o trabalho realizado pelos catadores de materiais recicláveis está centrado na
perspectiva do capitalismo que superexplora a mão-de-obra daquele que, por diversas razões,
encontra-se excluído do mercado de trabalho e, por meio da informalidade, vem realizando a
atividade de separação de materiais potencialmente recicláveis em locais insalubres, perigosos e
penosos.
Entende-se a vulnerabilidade enquanto a suscetibilidade, por parte do ser humano, a um
perigo ou dano (BRAGA; OLIVEIRA; GIVISIEZ, 2006). A identificação de vulnerabilidades
permite entender as carências que apresenta uma comunidade ou grupo de indivíduos, pois a
abordagem da vulnerabilidade pode acontecer em diferentes escalas (individual x social/coletiva)
e/ou a partir de diferentes temas (DAGNINO; CARPI JÚNIOR, 2007). Em vista disso, a
suscetibilidade aos riscos dentro de um lixão, juntamente com diversos fatores sociais, econômicos,
culturais e políticos colaboram para o aumento da vulnerabilidade que atingem e ameaçam os
catadores de materiais recicláveis.
Diante o exposto este artigo objetivou avaliar as vulnerabilidades socioambientais que estão
submetidos os catadores de materiais recicláveis que atuam no lixão situado no município de
Cajazeiras, no Estado da Paraíba.

METODOLOGIA

O presente estudo adotou os princípios da pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa


e quantitativa. Para Marconi e Lakatos (2010) a pesquisa exploratória trata-se de uma investigação,
cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver
hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a
realização de uma pesquisa futura mais precisa a fim de modificar e clarificar conceitos.
O município de Cajazeiras está inserido na porção oeste do Estado da Paraíba, situado na
Longitude 38º32‘ Oeste, latitude 6º47‘ Sul, e pertence à Mesorregião do Sertão Paraibano (Figura
1). Possui em torno de 61.816 habitantes e uma unidade territorial de 566 km². A agropecuária, a
indústria e a prestação de serviços configuram-se as mais importantes atividades econômicas
(BRASIL, 2013). Em termos fisiográficos, a paisagem desse município está vinculada às condições
atuais de semiaridez, como consequência, caracteriza-se por apresentar solos incipientes decorrentes

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

das alterações mecânicas em rochas do embasamento cristalino recobertos por uma cobertura
vegetal de baixa densidade – caatinga, que expõem os solos aos processos erosivos (BARBOSA;
LUSTOSA, 2012).

Figura 7. Localização do município de Cajazeiras-PB.

Fonte: BRASIL (2010a). Elaborado por: Gama, C.M. e Cavalcante, L.P.S.

O município de Cajazeiras-PB foi selecionado para o desenvolvimento dessa pesquisa


considerando-se os seguintes critérios: importância socioeconômica, aprovação do Plano municipal
de gestão de resíduos sólidos, existência de catadores de materiais recicláveis organizados e
informais, e o não encerramento das atividades do lixão, constituindo uma afronta ao Plano
municipal de resíduos sólidos do município e a Lei Federal n° 12.305/2010 (Figura 2).

Figura 8. Registro Panorâmico do lixão de Cajazeiras-PB. (Agosto de 2017). Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de julho e agosto de 2017 através da observação
direta, registro fotográfico e aplicação de entrevistas semiestruturadas com os catadores de
materiais recicláveis.
Em conformidade com as normas e diretrizes da resolução 466\12 do Conselho Nacional de
Saúde, o estudo em questão foi submetido no Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Humanos (CEP) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) sob o número


70863917.8.0000.5182.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desde meados de 2009, o antigo aterro sanitário de Cajazeiras vem sofrendo com a ausência
de gestão, consequentemente, transformou-se em um lixão (Figura 3). De acordo com o Plano
Municipal de Resíduos Sólidos do município de Cajazeiras-PB a operacionalização do aterro
sanitário ocorria em condições precárias, possuindo apenas uma célula principal que voltou a
funcionar depois de quase quatro anos sem atividade (Figura 3A). Mesmo assim, ainda não
funcionava como deveria o sistema de drenagem do chorume, bem como as lagoas de captação
estavam totalmente destruídas (Figura 3B, 3D), a balança danificada (Figura 3C), o sistema de
tubulação dos gases estava obstruído (Figura 3D) e o isolamento da área e a iluminação eram
precários (CAJAZEIRAS-PB, 2013).

Figura 9. Estado situacional da desativação do aterro sanitário de Cajazeiras-PB. (Agosto de 2017). Fonte:
Lívia P.S. Cavalcante.

Ressalta-se que, a existência de lixões somada à presença de catadores de materiais


recicláveis nesses espaços é uma afronta a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual afirma
que deve haver eliminação dos lixões e posterior recuperação da área degradada, associada à
inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais recicláveis (BRASIL, 2010).
No Artigo 47 e 48 da Lei 12.305/2010, está explícita a proibição quando afirma:

Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos
sólidos ou rejeitos:
II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;
Art. 48. São proibidas, nas áreas de disposição final de resíduos ou rejeitos, as seguintes
atividades:
I - utilização dos rejeitos dispostos como alimentação;
II - catação;
III - criação de animais domésticos;
IV - fixação de habitações temporárias ou permanentes (BRASIL, 2010).

Destaca-se ainda que, o lixão esta inserido em área do Bioma Caatinga, este que vem
sofrendo inúmeras pressões e impactos ambientais negativos que tem corroborado para sua

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

degradação e desertificação (BARBOSA; LUSTOSA, 2012; SOUZA; MENEZES; ARTIGAS,


2015).
Segundo os estudos do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca no Estado da Paraíba – PAE-PB, 98,7% do Sertão Paraibano está em processo de
desertificação, desse total 57,43% correspondem às áreas classificadas em alto nível de
desertificação. Considerando a microrregião de Cajazeiras (mesorregião do Sertão Paraibano), onde
estão inseridos 15 municípios, entre eles, o município de Cajazeiras-PB, o processo de
desertificação atinge 99,09% da região, sendo 63,46% em alto nível de desertificação (PAE-PB,
2011).
É importante salientar que, o artigo 54 da Lei Federal de Crimes Ambiental n° 9.605/1998
considera crime ambiental com pena de reclusão (um a cinco anos), a pessoa física ou jurídica que
causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora,
especificamente se ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos,
óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos (BRASIL 1998).
Em tentativa de mudança desse panorama degradante, em 2013, os gestores públicos e os
órgãos competentes firmaram compromisso através do Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos do Município de Cajazeiras-PB - PMGIRS, que foi posteriormente aprovado
através do Decreto nº 084/2013, assegurando que:

O lixão será eliminado até o ano de 2014, a área degradada recuperada, como também se
estabelecerá um programa de disposição ambientalmente adequada de rejeitos, conforme
preconiza a Lei Federal n° 12.305/2010. Através de formação de consórcio com os
municípios do entorno será possível implementar as ações estruturantes necessárias para o
tratamento adequado (CAJAZEIRAS-PB, 2013).

Em relação aos catadores de materiais recicláveis, o PMGIRS Cajazeiras-PB prenuncia a


inclusão e fortalecimento dessa classe social através da organização e ações de resgate a cidadania,
como também instalação de infraestrutura necessária para o desempenho laboral (galpão, balança,
prensas, equipamentos de movimentação interna, entre outros), por fim, anuncia uma futura
contratação dos catadores de materiais recicláveis organizados pelos serviços prestados ao
município (CAJAZEIRAS-PB, 2013).
O PMGIRS de Cajazeiras-PB até o presente momento não foi posto em prática. O lixão está
em pleno funcionamento, à coleta seletiva não existe, e o cenário que envolve os catadores de
materiais recicláveis é de total abandono e desprezo por parte dos poderes públicos.
No que tange ao cenário que envolve os profissionais da catação, a situação é degradante.
No espaço do lixão, trabalham em torno de 50 catadores de materiais recicláveis, número que é

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

bastante variável, devido à alta rotativa da profissão. Além dos catadores de materiais recicláveis
que atuam na informalidade na localidade, existem os associados.
A única Associação presente no município de Cajazeiras-PB não possui infraestrutura para
comportar todos os resíduos sólidos coletados pelos membros associados, além de outros conflitos
socioeconômicos existentes.
Dessa forma, 60,0% dos membros associados realizam a coleta dentro do lixão, desse total,
45,0% também desempenham a triagem e o armazenamento dos materiais recicláveis dentro das
―barraquinhas‖, também localizadas dentro do lixão, configurando uma situação de vulnerabilidade
socioambiental (Fluxograma 1 e 2).

Histograma 1. Membros associados que atuam Histograma 2. Membros associados que realizam
dentro do Lixão de Cajazeiras-PB. Agosto/2017. a triagem e armazenamento em “barraquinhas”
dentro do Lixão de Cajazeiras-PB. Agosto/2017.

Dos 50 catadores de materiais recicláveis que atuam dentro do lixão, aproximadamente


cinco catadores de materiais recicláveis, do gênero masculino, residem na localidade. As
residências são construídas com os resíduos encontrados dentro do lixão e não dispõem de
condições sanitárias mínimas, não possuem água encanada, sanitário e rede de esgoto (Figura 4A,
4C).
Ainda, em um espaço que era uma balança, na época que o lixão operava enquanto aterro
sanitário, os catadores de materiais recicláveis também fazem uso desse espaço para moradia
(Figura 4B). Outros residem nas árvores presentes no local, armam uma rede e ali dormem e
descasam no período que não estão trabalhando (Figura 4D).
As refeições são realizadas com alimentos e recipientes encontrados dentro do próprio lixão
(Figura 4E). É importante ressaltar que, pela ausência das condições sanitárias, os catadores de
materiais recicláveis realizam as necessidades fisiológicas a céu aberto. A higiene corporal, segundo
relato dos próprios catadores de materiais recicláveis é realizada em um açude próximo ao lixão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 10. Moradia e alimentação dos catadores de materiais recicláveis do lixão de Cajazeiras-PB, (Agosto
de 2017). Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

Os próprios catadores de materiais recicláveis identificam essa situação de vulnerabilidade,


constituindo um risco a vida humana ficando entoado na fala:

“A gente dorme aqui, mas quando começa a pegar fogo, a gente fica agoniado com a
fumaça, fica com falta de ar.”
“De tudo, o que eu sinto mais falta é de assistir televisão, aqui a gente só escuta o barulho
do lixo.”
“Você tem seu destino, assiste televisão, mas eu? Eu moro aqui dentro do lixo.”
“Nós come o que encontra no lixo às vezes é bom porque vem embalado.”
“Nós toma banho no açude ali embaixo.”

Esse cenário reflete a negligência que as autoridades competentes do município de


Cajazeiras-PB lidam com a problemática, inclusive infringindo o artigo 48 da Lei Federal
12.305/2010 que proíbe a catação, moradia e utilização de rejeitos como alimentação em áreas de
disposição final de resíduos sólidos (BRASIL, 2010). Como também não está sendo garantido o que
preconiza a Constituição Federal quando, no seu Art. 6 e também no Art. 23 no inciso IX,
apresentam:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico (BRASIL, 1988).

Outro grave problema encontrado na localidade é à disposição de resíduos de serviço de


saúde (Figura 5), um tipo de resíduo considerado perigoso, segundo a classificação da NBR 10004
esse tipo de material acarreta riscos à saúde pública provocando mortalidade e incidência de
doenças, além de ocasionar danos ao meio ambiente (ABNT, 2004).
De acordo com a Resolução RDC nº 306/2004 e CONAMA n° 358/2005 os resíduos de
serviço de saúde devem ser selecionados, acondicionados em recipientes especiais de acordo com a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sua tipologia e destinados e dispostos adequadamente. O lixão não é local para dispor este tipo de
resíduos. São infringidas todas as normas, leis e resoluções vigentes, a exemplo da Resolução RDC
nº 306/2004, CONAMA n° 358/2005 e Lei Federal n° 12.305/2010.
Todos os catadores de materiais recicláveis que trabalham dentro do lixão de Cajazeiras-PB
relataram sofrer acidentes com agulhas, seringas e demais materiais de origem hospitalar
rotineiramente (Figura 5A e 5C). Ficando estabelecido nas falas dos catadores de materiais
recicláveis:
―Eu já levei furada de injeção de insulina, vem demais!‖
―Aqui no lixo da noite, a gente encontra muito lixo de hospital, de tudo tem e a gente não
pode fazer nada, vem injeção com força!‖
A coisa mais perigosa aqui dentro do lixo é as carrada de lixo hospitalar que vem e que não
era pra vir.‖
―Nas sacolas de lixo do hospital já levei furada de injeção, porque a gente rasga sem saber.
Meu irmão já achou uma bolsa de parto de uma mulher.‖

Agravando a situação, os resíduos de serviço de saúde são acondicionados em sacolas pretas


misturados aos resíduos comuns (Figura 5B), o que confunde os catadores de materiais recicláveis,
fazendo com que eles rasguem as sacolas e se acidentem. Essa situação está em desacordo com a
Resolução RDC nº 306/2004 que exige que esse tipo de resíduo perigoso, deve ser identificado e
armazenado em recipientes especiais, se agentes biológicos infectantes em sacos branco leitosos; se
agentes químicos em recipientes resistentes constituídos de PEAD; se perfurocortantes em coletores
Descarpack.

Figura 11. Acondicionamento e disposição inadequada de resíduos de serviço de saúde no lixão de


Cajazeiras-PB. (Agosto de 2017). Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

Além do risco à saúde humana proporcionado pela ausência de gestão dos resíduos de
serviço de saúde no município de Cajazeiras-PB, outro grave problema relatado pelos catadores de
materiais recicláveis e ocasionador de diversos acidentes no lixão são os resíduos sólidos mal
acondicionados que podem ocasionar cortes e perfurações nesses profissionais, a exemplo de latas
abertas, vidros e lâmpadas quebrados, objetos pontiagudos, entre outros (Figura 6).

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Figura 12. Exposição a riscos de acidentes com resíduos sólidos no lixão de Cajazeiras-PB. (Agosto de
2017).
Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

Os próprios catadores de materiais recicláveis do lixão de Cajazeiras-PB relatam e


reconhecem a rotina laboral arriscada:

―O prego entrou no meu pé, passei dez dias sem trabalhar.‖


―O cara trabalha aqui dentro desse lixo, ai rola a mão em caco de vidro e agulha.‖
―A gente trabalha as vezes descalço, ai tem caco de vidro, tesoura e tem perigo de pisar
nessas coisas e levar furada contaminada.‖

Os autores Cavalcante, Silva e Lima (2016) verificaram que os riscos são intensificados
entre os catadores de materiais recicláveis informais. Dentre outros fatores, devido à falta de
formação, por não receberem os resíduos selecionados e higienizados na fonte geradora, mantendo
contato direto com os demais tipos de resíduos, os orgânicos, sanitários e de serviço de saúde,
agravando-se pela ausência do uso de Equipamentos Proteção Individual – EPI durante as
atividades laborais.
Os resíduos sanitários são bastante comuns no lixão de Cajazeiras-PB, a exemplo de fraldas
descartáveis, absorventes, papéis higiênicos, preservativos, entre outros (Figura 7). Por se tratar de
um tipo de rejeito, por não haver nenhum tipo de tratamento e tecnologia disponibilizados
atualmente, estes devem ter como destinação e disposição os aterros sanitários. Os catadores de
materiais recicláveis ou qualquer outro profissional não devem manusear esse tipo de rejeito, devido
principalmente à presença significativa de agentes biológicos contaminantes.

Figura 13. Resíduos sanitários dispostos no lixão de Cajazeiras-PB. (Agosto de 2017). Fonte: Lívia P.S.
Cavalcante.

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Cavalcante, Silva e Lima (2016) realizaram procedimento com raspagem do conteúdo das
mãos dos catadores de materiais recicláveis e encaminharam para análise microbiológica, nas
amostras resultantes das culturas bacteriológicas foi possível identificar a presença de dois gêneros
da família Enterobacteriaceae: Enterobacter spp. (50,0%) e Citrobacter spp. (25,0%); para as
culturas fúngicas foi encontrado apenas um gênero, pertencente à família Cryptococcaceae:
Candida spp (75,0%). De acordo com os autores, esse resultado reflete além do risco biológico, a
exacerbação de problemas socioambientais representados, sobretudo pelas condições insalubres que
estão expostos esses profissionais, atingindo ainda mais aqueles que atuam na informalidade.
A exposição aos agentes biológicos não provem apenas dos resíduos sanitários, também é
comum encontrar resíduos sólidos orgânicos misturados aos demais tipos de resíduos no lixão de
Cajazeiras-PB, por conseguinte, a origem é bastante diversificada (Figura 8).
De acordo com o PMGIRS Cajazeiras-PB, 54,0% dos resíduos sólidos urbanos gerados no
município correspondem a parcela orgânica (CAJAZEIRAS-PB, 2013), destinados e dispostos
diariamente no lixão, sem nenhum tratamento prévio.
Em busca dos materiais passíveis de comercialização, os catadores de materiais recicláveis
rasgam as sacolas, encontrando os resíduos todos misturados ao material orgânico e inorgânico
(Figura 8C). É importante ressaltar que, muitas vezes a parcela orgânica se encontra em estado de
decomposição (Figura 8D). A situação é agravada mediante o hábito dos catadores de materiais
recicláveis que atuam no lixão de coletarem o resíduo sólido orgânico (―lavagem‖) para vender aos
criadores de suínos (Figura 8E).
Outro problema identificado é a destinação e disposição inadequada de carcaças de animais
abatidos, realizado pelos frigoríficos do município (Figura 8B).
Somam-se aos problemas gerados pelo mau acondicionamento e disposição dos resíduos
sólidos orgânicos, o abandono de animais extremamente doentes, em fase terminal, no lixão (Figura
8A), abandonados ao relento e a própria sorte para morrer dentro do ―lixo‖, o que constitui um
crime, previsto no artigo 32 da Lei Federal n° 9.605/1998, Lei de Crimes Ambientais (BRASIL,
1998). Como também configura um problema de saúde pública, pois muitos desses animais doentes
são veículos de diferentes zoonoses para os catadores de materiais recicláveis que trabalham e/ou
residem dentro do lixão.

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Figura 14. Destinação e Disposição dos resíduos sólidos orgânicos no lixão de Cajazeiras-PB. (Agosto de
2017). Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

Segundo Lange e Cussiol (2006) os resíduos sólidos orgânicos, independentemente da


origem, apresentam densidades elevadas de organismos indicadores de contaminação fecal de
interesse em clínica médica, na ordem e 102 a 107 NMP/g de resíduos, entre os microorganismos
patogênicos encontrados no estudo cita-se: Clostridium perfringens, Enterococcussp., Coliformes
termotolerantes, Pseudomonasaeruginosa e Staphilococcus.
Batista (2014) identificou a partir de avaliação colimétrica a presença de gram-negativas,
presentes em 15 tipos de resíduos sólidos recicláveis coletados por uma Associação de catadores de
materiais recicláveis no município de Campina Grande-PB, evidenciando que os materiais estavam
contaminados e que os associados permaneciam em contato direto e indireto com microorganismos
patogênicos. Essa contaminação dos materiais recicláveis se deve, principalmente, pela falta de
segregação desses materiais na fonte geradora.
Todos os riscos ocupacionais que estão submetidos os catadores de materiais recicláveis do
lixão de Cajazeiras-PB são agravados pelo não uso de Equipamentos de Proteção Individual-EPI
(Figura 9). Nesse caso, a não utilização de EPIs é justificada, pois esses profissionais na maioria das
vezes não obtêm a renda necessária para suprir suas necessidades básicas, a exemplo de nutrição.
Quiçá comprar vestimentas e equipamentos adequados para o desempenho do trabalho. A renda
mensal do grupo estudado varia entre 100,00 e 150,00 reais. Renda inferior ao salário mínimo
estabelecido para 2017, R$ 937,00.

Figura 15. Ausência de Equipamentos de Proteção Individual no desempenho do trabalho dentro do lixão de
Cajazeiras-PB. (Agosto de 2017). Fonte: Lívia P.S. Cavalcante.

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Segundo Cavalcante, Silva e Lima (2016), a falta de proteção durante a coleta e triagem dos
resíduos sólidos pelos catadores de materiais recicláveis contribui para a incidência de impactos
negativos sobre a saúde desses profissionais, pois a ausência dos EPIs facilita o contato com objetos
contaminados, deixando-os expostos a vários riscos, como a aquisição de doenças
infectocontagiosas e contato com animais peçonhentos.

CONCLUSÕES
As vulnerabilidades socioambientais tornam os catadores de materiais recicláveis que atuam
no lixão de Cajazeiras-PB susceptíveis ao aumento de riscos no ambiente laboral,
consequentemente, reduzem a saúde física e mental desses profissionais, afetando sua qualidade de
vida. Dentre as vulnerabilidades socioambientais observadas in loco, pode-se citar: 1) aquisição de
diferentes tipos de doenças, devido às condições precárias de higiene pessoal e contato
direto/indireto com agentes biológicos patogênicos presentes nos resíduos sólidos; 2) acidentes e
ferimentos, ocasionados pela disposição inadequada de resíduos perfurocortantes e ausência de
equipamentos de proteção individual (EPIs), que a depender da gravidade pode acarretar em
invalidez ou morte; 3) desigualdade social, que corrobora para a exclusão e fragilidades
socioeconômicas, fome, violência urbana, invisibilidade e abandono social.
Portanto, é notória a falta de preocupação e de compromisso dos poderes públicos locais,
bem como da sociedade em geral, em mitigar e/ou eliminar as vulnerabilidades socioambientais que
põem risco um grupo de profissionais que luta dia e noite para obter a sua sobrevivência, ao mesmo
tempo em que resgata do lixão materiais que servem de matéria prima para produção de novos
objetos que irão circular no mercado.

REFERÊNCIAS

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10004. Rio de Janeiro, 2004.

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Cajazeiras-PB. Anais. IX Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de Campina
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 277


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

COLETARES: UMA PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE COLETA SELEVIVA NO


IFRN– CAMPUS PAU DOS FERROS.

Louise Duarte Matias de AMORIM


Mestre em Ciências Naturais IFRN
louise.duarte@ifrn.edu.br
Leonardo Emmanuel Fernandes de CARVALHO
Especialista em Análise Ambiental IFRN
leonardo.emmanuel@ifrn.edu.br
Bruno Martins Vale de Lucena AMARANT
Mestre em Engenharia Sanitária IFRN
bruno.amaran t@ifrn.edu.br
Francisco Leonardo FEITOSA
Graduando do Curso de Química IFRN
feitosaleonardo5@gmail.com

RESUMO
A lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) aponta a coleta seletiva como um dos
principais instrumentos para a gestão adequada dos resíduos sólidos. Devido à inexistência de uma
política ambiental de separação de resíduos sólidos no município de Pau dos Ferros, o IFRN
campus Pau dos Ferros promoveu ações de sensibilização e ações práticas através do projeto
Coletars. Este projeto é composto por uma equipe multidisciplinar de técnicos, alunos e servidores
do campus, onde foram desenvolvidas atividades que contemplaram tanto a comunidade escolar
(palestras, oficinas, gincanas, visitas técnicas), quanto à comunidade externa (oficinas de
capacitação para os catadores). Apesar dos resultados de participação nas atividades promovidas
terem sido ainda incipientes, percebeu-se pela avaliação dos estudantes e servidores que o mesmo
causou impacto positivo na comunidade escolar, o que contribui para a sua disseminação em outros
espaços públicos, colaborando para o exercício de uma ética ambiental cidadã.
Palavras chave: Coleta seletiva, sustentabilidade, IFRN, Pau dos Ferros
ABSTRACT
The law 12.305 / 2010 (National Policy on Solid Waste) points to selective collection as one of the
main instruments for the proper management of solid waste. Due to the lack of an environmental
policy for the separation of solid waste in the city of Pau dos Ferros, IFRN campus Pau dos Ferros
promoted awareness and practical actions through the COLETARES project. This project is
composed of a multidisciplinary team of technicians, students and teachers of the campus, where
activities were developed that contemplated both the school community (lectures, workshops,
environmental games, technical visits) and the external community (training workshops for the
garbage collectors). Although the results of participation in the promoted activities were still
incipient, it was noticed by the evaluation of students and public servants that it has had a positive
impact on the school community, which contributes to its dissemination in other public spaces,
collaborating to the exercise of a citizen environmental ethics.
Keywords: Selective colletion, sustainability, IFRN, Pau dos Ferros.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 278


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A educação ambiental pode ser definida como um processo cujo objetivo é propiciar às
pessoas uma compreensão crítica do ambiente na sua totalidade, a fim de promover o
desenvolvimento de atitudes e posturas conscientes frente a questões como conservação e utilização
racional dos recursos naturais (MEDINA, 2001). Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, uma vez
que educar para a sustentabilidade ambiental implica mudança de hábitos culturais e sociais
enraizados e cada vez mais estimulados pela economia de consumo.
Um dos maiores problemas ambientais na atualidade é a produção e o descarte de resíduos
no meio. Acredita-se que os primeiros acúmulos de resíduos provenientes das atividades humanas
surgiram quando os povos deixaram de ser nômades e passaram a se fixar em determinados locais
(SANTAELLA et al., 2014). Hoje, a produção mundial de resíduos sólidos gira em torno de 1,3
bilhões de toneladas por ano e estima-se que em 2050 esse valor deva atingir a marca de 4 bilhões
de toneladas, cerca de 400kg de lixo por habitante/ano (ASSUNÇÃO, 2016). A busca desenfreada
por posses materiais conduziu as sociedades modernas nesse caminho perigoso, equivocado e talvez
irreversível se as estimativas para produção e descarte de resíduos para os próximos anos se
confirmarem.
No Brasil, são produzidos em média 78 milhões de toneladas de resíduos, quantidade
superior ao de países como Coréia, Japão e México. Em 2010 esse valor era de 60,8 milhões.
Segundo dados da Associação brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE), a produção de resíduos subiu cinco vezes mais acima da taxa de crescimento
populacional, ou seja, não estamos produzindo mais porque a população avançou, mas porque
estamos consumindo mais e reaproveitando menos. (ABRELPE, 2014).
Especialistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirmam
que a gestão e o descarte corretos dos resíduos se torna cada vez mais imprescindível e urgente para
que o mundo caminhe na direção correta rumo ao desenvolvimento sustentável. Eles ainda afirmam
que necessidades básicas dos seres humanos como disponibilidade de água potável e segurança
alimentar estão fortemente ameaçados em decorrência de práticas impróprias de gestão de resíduos,
uma vez que estas são absurdamente nocivas ao ambiente.
A Lei da Política Nacional de Resíduos sólidos 12.305/2010 aponta a ―Coleta Seletiva‖
como um dos principais instrumentos para a gestão adequada dos resíduos sólidos (BRASIL, 2017).
Esse processo pode ser definido como um sistema de recolhimento de resíduos recicláveis inertes
(papéis, plásticos, vidros e metais) e orgânicos (sobras de alimentos, frutas e verduras), previamente
separados nas próprias fontes geradoras, com a finalidade de reaproveitamento e reintrodução
destes no ciclo produtivo‖ (FUNASA, 2007). A responsabilidade pós consumo tem a virtude de
introduzir o valor dos materiais (posteriores ao consumo) no cerne das preocupações tanto do

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

fabricante quanto dos demais protagonistas de sua gestão, em especial o consumidor final, o qual,
de posse do material, tem a opção de desprezá-lo ou encaminhá-lo a uma forma de descarte
adequada ou ao reaproveitamento.
A cidade de Pau dos Ferros, localizada no Alto Oeste Potiguar, Estado do Rio Grande do
Norte, é uma das tantas cidades brasileiras que ainda utiliza os chamados lixões clandestinos ou
lixões a céu aberto, como principal destino dos resíduos coletados no município. Isso se torna
particularmente importante se atentarmos para o fato de que se trata de uma cidade polo onde
circulam diariamente centenas de pessoas provenientes de municípios vizinhos em busca do
comércio e serviços disponibilizados pela mesma. O aumento do número de pessoas que circula
pelo município afeta diretamente a quantidade de resíduos produzidos agravando ainda mais o
problema e aumentando a demanda por serviços de logística e infraestrutura para gerir
adequadamente os resíduos gerados. A cidade não dispõe de um sistema de coleta seletiva de
resíduos sólidos, contrariando o que foi estabelecido como meta até agosto de 2014 pela Lei
12.305/2010.
Diante desse cenário e de tudo que já se sabe a respeito do desenvolvimento de uma cultura
sustentável e compatível com a vida das futuras gerações, surge a necessidade de se implantar a
coleta seletiva no município de Pau dos Ferros. Desta forma, nasce a proposta do presente projeto
que consiste na implantação da coleta seletiva no Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN- campus pau dos Ferros, com vistas a estender tal
proposta às demais escolas do município e áreas ocupadas pela sociedade pauferrense. Como
promotor do saber, o Instituto precisa extrapolar os muros da instituição a fim de oportunizar a
relação escola x sociedade despertando para a necessidade de gestão dos resíduos sólidos e a
redução da poluição ambiental a partir da implantação de uma cultura sustentável na escola. Sabe-se
que programas de coleta seletiva só são bem-sucedidos quando atrelados a programas de educação
ambiental. Assim sendo, o IFRN - campus Pau dos Ferros em parceria com a Secretaria Municipal
de Meio Ambiente da cidade se propõem a ser um ente de fortalecimento dessa política através do
referido Projeto (COLETARES), com ações de educação ambiental, disseminando a cultura da
coleta seletiva e reciclagem.

METODOLOGIA

O projeto Coletares foi desenvolvido inicialmente no Instituto Federal de Educação Ciência


e Tecnologia do Rio Grande do Norte, campus Pau dos Ferros (IFRN/PDF), com o intuito de
implantar uma prática de coleta seletiva no referido espaço. O projeto em questão é composto de
professores e servidores das mais variadas áreas (Biologia, Química, Segurança do Trabalho,

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Geografia, Engenharia e Comunicação Social), bem como alunos bolsistas. O público alvo
envolveu todo corpo docente e discente do campus, assim como a comunidade externa.
Inicialmente houve o planejamento das ações com a equipe envolvida e foram delegadas a
cada membro atividades específicas que consistiram em ações de sensibilização, ações práticas,
bem como na avaliação do projeto.

Ações de sensibilização

As ações de sensibilização consistiram em ofertar à comunidade do IFRN palestras sobre as


intenções do projeto e sensibilizar alunos, professores e demais servidores frente às questões
ambientais, principalmente as que se referem à necessidade de oferecer aos resíduos sólidos uma
destinação adequada. Para isso foram pensadas palestras em todos os turnos de funcionamento da
instituição (manhã, tarde e noite), assim como um momento de sensibilização específico os
servidores em geral.

Ações práticas

As ações práticas foram divididas em uma série de atividades que mobilizavam


principalmente o corpo discente à participação ativa no projeto. No entanto, foram pensadas ações
para serem executadas com os catadores que fazem parte da associação de catadores da cidade,
como oficinas de capacitação e distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs). As
atividades realizadas foram:

 Disponibilização de coletores sinalizados para coleta seletiva no campus do IFRN.

 Elaboração de cronograma para entrega dos resíduos coletados à associação de catadores do


município.

 Visita ao lixão da cidade de Pau dos Ferros e à Associação de Catadores do Município, bem
como reconhecimento da infraestrutura que eles disponibilizam;

 Oferta de oficinas interativas com materiais reutilizáveis e confecção de recipientes da


coleta seletiva;

 Oficinas de capacitação e segurança do trabalho para catadores;

 Promoção de gincana ecológica;

 Implantação da compostagem no IFRN – Pau dos Ferros.

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Avaliação do projeto

A avaliação do projeto foi realizada utilizando-se questionários para receber dos


beneficiários (alunos e servidores do campus) uma resposta do impacto do projeto e os benefícios
sentidos por eles. A partir das respostas dos questionários pôde-se traçar um diagnóstico
quantitativo da participação e sensibilização dos entes envolvidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ações de sensibilização

As primeiras atividades realizadas pelo Coletares foram as de sensibilização, através da


apresentação do projeto no IFRN, a qual continha as principais informações e objetivos para serem
repassados aos alunos. Foi apresentada a importância e a necessidade da coleta seletiva, além das
ações que seriam desenvolvidas ao longo do projeto Coletares. As exposições foram abertas a todos
os alunos do campus (cerca de mil alunos ), divididas em turno matutino, vespertino e noturno.
Após cada apresentação abriu-se espaço para discussões sobre tais temas. Percebeu-se que os alunos
estavam atentos a explicação e foram participativos ao debaterem o tema da coleta seletiva.

Também foi realizada uma apresentação para os servidores do campus IFRN Pau dos Ferros
(terceirizados, técnicos e docentes), discutido novamente sobre a coleta seletiva, cuidados que
devemos ter em separar o lixo e os objetivos propostos pelo projeto, junto com o cronograma de
atividades, uma vez que a participação destes seria de fundamental importância para a realização
das atividades do projeto. Também registrou-se grande participação de todos os envolvidos.

Ações práticas

Em seguida foram realizadas ações práticas, iniciando pela distribuição de coletores pelo
campus, da seguinte forma: em cada setor da instituição foram distribuídos kits contendo quatro
coletores com capacidade para 100 litros cada. Esta distribuição foi de grande relevância para que
os alunos começassem a separar os resíduos. Cada coletor está representado pela sua cor e material,
além de possuir instruções sobre os materiais que devem ou não serem inseridos em cada coletor
(Figura 1). Após a distribuição dos coletores com suas respectivas identificações por todo o campus,
observou-se que alguns alunos começaram a fazer uso dos mesmos descartando de forma adequada
os resíduos de acordo com cada tipo.
Apesar disso, grande parte dos estudantes não lê as instruções e acabam colocando os
resíduos em coletores errados, já que muitas vezes encontramos resíduos que não correspondem ao
respectivo material. A separação dos resíduos através dos alunos é fundamental, pois os alunos são

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maioria neste processo e todos os envolvidos tendem a ser propagadores dessas ações para a
comunidade externa, reduzindo a poluição no local para onde o lixo seria destinado.

Figura 1 – Disposição de coletores

Também foi realizada uma visita ao lixão de Pau Dos Ferros e percebeu que os catadores
que alí presentes estavam trabalhando sem nenhum equipamento de segurança, estando submetidos
a muitos riscos, tanto risco de ferimento quanto de contaminação. Dessa forma, o projeto
desenvolveu no IFRN campus Pau dos Ferros uma palestra de capacitação para os catadores da
região, na qual foram demonstrados os riscos que eles estão correndo ao trabalhar sem a devida
segurança. Após a palestra foram entregues aos catadores os EPIs (Equipamentos de Proteção
Individual) que incluem óculos, máscaras, luvas e botas.
A visita ao lixão de Pau dos ferros com os alunos do IFRN teve como propósito apresentar a
área onde o lixo é depositado, como é a situação do local e os perigos que os catadores enfrentam
diariamente. A visita também serviu como apoio para os alunos observarem como é importante a
separação dos resíduos, não somente na escola, mas também na comunidade externa, já que na
visita os alunos perceberam que os resíduos chegavam ao local do depósito todos misturados, do
reciclável ao não reciclável, do seco ao orgânico. Além de dificultar o trabalho de catadores esse
lixo acaba poluindo o ambiente, pois esses resíduos não passam por nenhum tipo de tratamento
prévio.
Outra ação realizada pelo projeto foi a compostagem, realizada no próprio campus do IFRN
(Figura 2). Esta atividade transforma os resíduos orgânicos gerados no próprio campus em húmus,
posteriormente utilizado como adubo para plantas cultivadas na instituição.

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Figura 2 – Compostagem

Essa atividade é uma das que possuem maior resultado dentre todas do projeto, pois os
resíduos orgânicos gerados na copa e no refeitório são facilmente separados e conduzidos à área de
compostagem. Em média, mensalmente, 100kg de resíduos orgânicos são gerados e encaminhados
para compostagem, processo que é responsável pela produção de húmus com peso de
aproximadamente 25% da quantidade inicial de matéria utilizada. A maior parte dos resíduos
destinados à compostagem é separada pelos próprios funcionários que produzem a alimentação
fornecida aos alunos.
Assim como a compostagem, a oficina de reaproveitamento de materiais recicláveis foi
ofertada a todos os alunos do campus. Artesãs foram convidadas a ministrar tais oficinas e
orientaram a transformação de diversos tipos de materiais como garrafas PET, recipientes de vidro,
caixas de papelão, CDs entre outros em novos produtos (Figura 3).
Entretanto, a procura por esta atividade do Coletars foi aquém do esperado. Apesar disso, os
resultados foram de grande relevância, uma vez que a participação dos alunos presentes foi intensa
e estimulante, além de que foram produzidos objetos bastante interessantes, mostrando aos alunos o
valor por trás daqueles resíduos anteriormente considerados ―lixo‖. A realização da oficina acabou
estimulando também a procura por outros alunos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 – Oficina de materiais reutilizáveis

A gincana ecológica foi a atividade que teve a maior participação dos alunos. Na realização
da atividade registrou-se a presença de alunos dos três turnos: matutino, vespertino e noturno, de
todos os cursos do IFRN – Pau dos Ferros. A gincana ecológica foi dividida em 3 etapas; a primeira
etapa consistiu na realização de um quiz que continha perguntas sobre a coleta seletiva
especificamente (tema debatido nas palestras de apresentação do projeto) e sustentabilidade. Todas
as perguntas estavam contextualizadas com as disciplinas cursadas pelos alunos no campus. Na
segunda etapa tivemos a apresentação de um desfile de roupas produzidas com materiais
reaproveitados feitas pelos alunos (Figura 4). A última etapa foi a contabilização de resíduos
recicláveis que os alunos coletaram nas áreas externas do campus.
Essa atividade foi considerada um sucesso, tanto pela participação como pela integração das
equipes envolvidas. Várias turmas se uniram em cada equipe para arrecadar resíduos de vidro,
papel, plástico e metal, contribuindo para difundir as informações do projeto e promover uma
consciência quanto à importância da separação doméstica de resíduos, já que os resíduos trazidos
foram provenientes das casas e vizinhança dos próprios alunos. Os resíduos coletados, foram
posteriormente entregues à associação de catadores do Pau dos Ferros, com a qual o projeto
estabeleceu parceria.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4: Aluna trajando roupa feita com material reaproveitado e ao fundo equipe comemorando vitória.

Avaliação do projeto

Após todas as atividades e ações realizadas, foram lançados questionários de avaliação, os


quais foram entregues a todos os envolvidos, alunos e servidores campus. Responderam ao
questionário um total de 128 pessoas, o qual continha 18 questões que versavam sobre conceitos de
sustentabilidade, coleta seletiva, bem como questões que investigavam sobre a relevância do projeto
e a eficácia do mesmo no ambiente escolar.
Com relação às questões que dizem respeito à percepção dos envolvidos quanto à eficácia do
projeto, segue abaixo os gráficos gerados pelas respostas dos beneficiários (Gráficos 1 e 2):

Questão 01: De alguma forma a participação nas ações do COLETARES fez com que você
mudasse a sua concepção sobre a importância de separar os resíduos sólidos?

Gráfico 1– Influência do Coletars na mudança de percepção sobre a importancia da coleta seletiva. Cor
laranja (sim), cor azul (Não)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com esse questionamento fica claro o quanto o projeto influenciou positivamente a


conscientização dos envolvidos sobre a importância que é dada a separação de resíduos sólidos no
ambiente acadêmico que é a instituição. Este projeto é um instrumento contribuidor na formação de
uma consciência ambiental e de valores que conduzem a preservação ambiental.
Questão 02: Qual nota você daria para o projeto Coletares?

Gráfico 2 – Avaliação do projeto (nota: 0,0 a 10,0)

O projeto consegue atingir uma avaliação excelente (nota 10,0 ou 9,0) para mais de metade
dos entrevistados, o que garante a necessidade de continuidade do projeto e que ele seja ampliado e
aperfeiçoado para outras instituições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste estudo, conclui-se que o projeto Coletares seguiu um cronograma de
atividades teórico e prático envolvendo toda a comunidade acadêmica da instituição de ensino
compreendida, convidando todos a participar ativamente da construção de uma cultura que se
preocupa com o destino final dos resíduos sólidos.

A boa avaliação garante a possibilidade de ampliação do projeto, estendendo essas


atividades de sensibilização e integração à outras escolas e outros setores da sociedade pauferrense
com a finalidade de trazer conhecimento à população e formar multiplicadores de uma cultura
sustentável onde a preocupação com o ambiente e com as gerações futuras sejam prioridade.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 287


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DAS EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS


ESPECIAIS -ABRELPE. ― Panorama dos resíduos sólidos no Brasil: 2014‖. 2014. Disponível
em: <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.pdf/>. Acesso em: 19 ago. 2017.

ASSUNÇÃO, Alice. ―Mundo deve gerar 400 kg de resíduos sólidos urbanos por habitante em
2050‖. 2017. Disponível em: <http://www.fiesp.com.br/noticias/mundo-deve-gerar-400-kg-de-
residuos-solidos-urbanos-por-habitante-em-2050/>. Acesso em: 19 ago. 2017.

BRASIL. Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Poder Legislativo, Brasília, DF, 03 ago. 2010, p. 2. Disponível
em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007/2010/lei/112305.htm>. Acesso em: 19
ago.2017

FUNASA – FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de Saneamento. 3° ver. Brasília:


Fundação Nacional de saúde, 2007.

MEDINA, N. M. A formação dos professores em Educação Ambiental. In: Panorama da educação


ambiental no ensino fundamental / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília : MEC ; SEF,
2001.

SANTANELLA, S. T. et al. Resíduos sólidos e a atual política ambiental brasileira. Coleção


Habitat, v.7. Fortaleza: UFC/ LABOMAR/ NAVE, 2014.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 288


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA TÉCNICA DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE


COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NOS MUNICÍPIOS PARAIBANOS

Lúcia Patrício de Souza ARAÚJO23


Auditora de Contas Pública (TCE-PB)
luciapatricio@hotmail.com
Adriano Nascimento da PAIXÃO24
Professor Associado do Depto de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
anpaixao@gmail.com
Márcia Cristina Silva PAIXÃO25
Professora Adjunta do Depto de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
marciapaixao@terra.com.br

RESUMO
Com o advento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010, o Poder Público tem na
gestão integrada de resíduos sólidos um dos seus maiores conflitos. No estado da Paraíba, a
repercussão da política ainda não tem gerado efeitos na sua esfera e nos respectivos municípios. O
presente trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência técnica dos serviços de coleta de resíduos
sólidos urbanos nos municípios paraibanos, referente ao ano de 2014, através da metodologia não
paramétrica Análise Envoltória de Dados - DEA, com base nos modelos DEA-C e DEA-V. Para
tanto, foi realizada uma breve fundamentação teórica em análise da eficiência de unidades
produtivas, bem como foram utilizadas, como referencial literário, pesquisas acadêmicas voltadas
para avaliações de setores de serviços que envolveram recursos públicos. Para aplicação da
metodologia, os dados utilizados da amostra paraibana foram retirados do portal SNIS e envolveram
variáveis relacionadas a três insumos e um produto. Na etapa final, é apresentada uma análise dos
escores de eficiência oriundos da aplicação dos dois modelos. Obtém-se como resultado a indicação
dos municípios São Francisco e Itapororoca como a pior e melhor situação, respectivamente, na
prestação dos serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos. Conclui-se que a metodologia DEA é
uma excelente ferramenta de benchmarking para as instituições, tanto públicas como privadas, no
que concerne à avaliação de práticas de gestão.
Palavras-chave: Análise Envoltória de Dados. Gestão pública municipal de resíduos. Paraíba
ABSTRACT
With the advent of the National Solid Waste Policy, the Public Power has one of its greatest
conflicts in the integrated management of solid waste. In the state of Paraíba, the repercussion of the
policy has not yet generated effects in its sphere and in the respective municipalities. The objective
of this work is to evaluate the technical efficiency of the services of solid urban waste collection in
the municipalities of Paraíba, for the year 2014, through the non-parametric methodology Data
Envelopment Analysis - DEA, based on the DEA-C and DEA- V. To this end, a brief theoretical
foundation in analysis of the efficiency of production units, as well as used as literary reference,
academic research focused on evaluations of sectors of services involving public funds. For
application of the methodology, the data used from the Paraiba sample were taken from the SNIS

23
Engenheira Civil. Mestre em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
24
Economista. Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professor do Programa
de Pós-graduação Desenv. Regional da Univ. Federal do Tocantins (UFT)
25
Economista. Doutora em Economia pela Universidade de Brasília (UnB)

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 289


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

portal and involved variables related to three inputs and one product. In the final step, is presented
an analysis of the efficiency scores from the application of two models. As a result, the
municipalities of São Francisco and Itapororoca are indicated as the worst and best situation,
respectively, in the provision of urban solid waste collection services. It is concluded that the DEA
methodology is an excellent benchmarking tool for institutions, both public and private, regarding
the evaluation of management practices.
Keywords: Data Envelopment Analysis. Municipal Solid Waste Management. Paraíba

INTRODUÇÃO

A necessidade atual de se avaliar a gestão de recursos públicos, com vistas à promoção da


melhoria da governança26 pública, vem sendo um tema constantemente abordado em meio
acadêmico, em organismos de controle e nas demais instituições públicas em todas as esferas de
governo. Dentre as diversas áreas de atuação da gestão pública (saúde, finanças, educação, etc.) que
têm demandado um controle mais efetivo por parte do próprio governo, tem-se o setor de
saneamento, que envolve os serviços de limpeza urbana. O setor de resíduos sólidos tem sido um
grande desafio para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, tendo em vista envolver
questões sanitárias, financeiras, econômicas e sociais.
A prestação dos serviços de limpeza urbana no tocante à coleta de RSU tem representado
um grande peso dentro do orçamento da prefeitura. Segundo os dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS) e do Tesouro Nacional, 5% do orçamento municipal é
destinado em gastos com limpeza urbana. Apesar dessa grande relevância nas finanças, a limpeza
urbana é avaliada pela sociedade somente em casos de gestão inadequada, ou seja, em momentos de
mudanças políticas, segundo o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana para os municípios
brasileiros (SELUR, 2016). Assim, torna-se essencial a preocupação abordada neste trabalho, tendo
em vista a população não compreender a magnitude de tal serviço frente aos cofres públicos.
Nesse contexto, é oportuno levantar a seguinte problemática: em que medida o desempenho
da prestação dos serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos em municípios paraibanos tem se
mostrado eficiente? Para tanto, fez-se a avaliação da eficiência técnica da prestação dos serviços de
coleta de resíduos sólidos urbanos em municípios paraibanos, com base na metodologia Análise
Envoltória de Dados – DEA, referente ao ano de 2014, com base em dados disponibilizados pelas
prefeituras paraibanas com relação a indicadores que envolvam serviços de limpeza urbana.
O artigo está dividido, além desta Introdução, em mais sete seções. A segunda apresenta
aspectos relacionados à PNRSU. A terceira explana sobre a avaliação da eficiência. A quarta seção
traz um apanhado dos estudos empíricos localizados na literatura nacional sobre serviços públicos

26 De acordo com GISSELQUIST (2012, p. 5), ―o termo é amplamente utilizado em relação a uma variedade de contextos e abordagens específicas: por exemplo, governança
corporativa, governança participativa, governança global, governança de tecnologia da informação (TI), governança ambiental, governança local, governança de ONGs e governança
sustentável‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sendo avaliados por meio da metodologia DEA. A quinta apresenta a metodologia DEA na
averiguação da eficiência produtiva. A seção posterior indica a fonte dos dados utilizados na
aplicação do referido método. Em seguida, tem-se o resultado da metodologia aplicada através de
software, expondo unidades produtivas que chamaram a atenção. As considerações finais
evidenciam o potencial de uso deste trabalho como importante ferramenta de avaliação de práticas
de gestão.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Novo marco legal brasileiro

A Lei Federal nº 12.305 foi sancionada em agosto de 2010 e instituiu Política Nacional de
Resíduos Sólidos, estabelecendo prazo até o ano de 2014 para a extinção dos lixões. Esta norma,
para o setor de resíduos sólidos, em conjunto com a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº
6.938/1981), a Lei Federal de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), a Política de Saneamento
Básico (Lei nº 11.445/2007), o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) e a Política Nacional de
Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999), faz parte de uma estrutura regulatória necessária para
nortear ações de gestão relacionadas ao meio ambiente, englobando a minimização dos impactos
oriundos dos resíduos sólidos. Ressalte-se ainda a inclusão da Lei Federal de Consórcio (Lei nº
11.107/2005), que entra nesse arcabouço regulatório como uma ferramenta de gestão para
minimizar os dilemas da gestão ambiental, considerando os aspectos da sustentabilidade
econômico-financeira.
Além de salientar em seu conteúdo o desenvolvimento sustentável, de acordo com o exposto
entre os seus princípios (art. 6º, IV, Lei nº 12.305/2010), também especifica instrumentos que
devem ser articulados entre os gestores públicos dos entes federados e os segmentos sociais
envolvidos em todo o processo do descarte até a destinação final dos resíduos. Desse modo,
destacam-se como instrumentos: os planos de resíduos sólidos; a coleta seletiva, ferramentas
relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; o
incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; a educação ambiental; os acordos setoriais.
Os planos de resíduos sólidos trazidos pela PNRS são os seguintes: plano nacional; planos
estaduais; planos microrregionais e os planos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas;
planos intermunicipais; planos municipais de gestão integrada; e os planos de gerenciamento.

Impacto sobre o estado paraibano

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos - PGIRS é


condição necessária para o Distrito Federal e os municípios acessarem recursos da União destinados
à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos. O art. 19 da Lei nº 12.305/2010 prevê seu
conteúdo mínimo.
No âmbito dos municípios paraibanos, de acordo com levantamento do Sistema Nacional de
Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos – SINIR, que expõe pesquisa do Ministério do
Meio Ambiente - MMA realizada em 2015 com as Unidades da Federação, apenas 49 municípios
paraibanos de um total de 223 possuem o PGIRS nos termos estabelecidos na Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Tal fato demonstra que as questões de resíduos sólidos ainda não são prioridades
para a gestão dos municípios do estado da Paraíba.
Na esfera estadual, baseado nos instrumentos da PNRS, o governo elaborou o Plano de
Regionalização da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do estado da Paraíba – PGIRS/PB,
propondo para o Estado e os Municípios intervenções do setor de resíduos sólidos, visando
subsidiar o planejamento e a definição das melhores soluções integradas e consorciadas.
O PGIRS/PB menciona que o objetivo da regionalização reflete-se na configuração que
resulte na maximização da eficiência e eficácia dos agrupamentos dos municípios que apresentem
potencial para a gestão compartilhada dos seus resíduos sólidos, segundo modelos apropriados para
o contexto regional. Destaca que os modelos básicos para agrupamentos municipais da gestão de
RSU foram configurados para as 14 (quatorze) Regiões Geoadministrativas, sendo que, dentro das
perspectivas de sugestões de soluções tecnológicas, a serem implantadas nos municípios, fez-se
necessária a realização de um levantamento de dados acerca do contingente populacional, bem
como a estimativa da produção total diária de resíduos sólidos em cada município ou do arranjo
territorial proposto, considerando um espaço temporal de 20 (vinte) anos (2030). É relevante ser
que o referido plano ainda não foi validado em forma de lei. A ausência da formalidade legal dá
menos força ao plano frente aos gestores municipais, no sentido de tomar como parâmetro a solução
ali descrita.
Outro instrumento que apresenta a preocupação com o setor de resíduo sólidos no estado da
Paraíba é o Plano Estadual de Educação - PEE (Lei nº 10.488/2015), que veio após a edição da Lei
nº 12.305/2010 e do Plano Nacional de Educação - PNE (Lei nº 13.005/2014). O PEE apresenta a
META 18, que destaca a educação ambiental, contemplando a área de resíduos sólidos na Estratégia
18.1.
De uma forma geral, no estado da Paraíba, normas foram implementadas no corpo
legislativo baseadas nos princípios da Lei nº 12.305/2010, com o intuito de tentar diminuir os
problemas oriundos de má gestão dos resíduos sólidos. Contudo, de acordo com Maia et al. (2015),
que aborda os reflexos da PNRS nos dispositivos legais paraibanos, o avanço na legislação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiental não foi o suficiente para amenizar os problemas causados pela falta de gestão dos
resíduos sólidos no Estado. Tal ocorrência é em virtude da ausência de prioridade e sensibilização,
bem como da falta de aparato técnico.

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA

A avaliação da eficiência das unidades produtivas pode ser realizada através do grau de
proximidade das fronteiras em que elas estejam operando. Sendo as fronteiras determinadas, o
distanciamento entre os planos de produção observados e a fronteira pode servir como medida da
eficiência (ou ineficiência) das empresas (GASPARINI, 2003).
Em suas explanações, Gasparini (2003) considera uma firma que usa apenas um fator de
produção x para obter um único produto y, conforme ilustração do Gráfico 1. A curva f(x)
representa uma função de produção, ou seja, a quantidade máxima de produto (y) que uma unidade
perfeitamente eficiente poderia obter a partir da utilização dos insumos (x). Portanto, essa curva
representa a fronteira tecnológica ou eficiente.

Gráfico 1 - Medidas de eficiência

Fonte: Gasparini (2003).

O centro da análise poderia estar delineado para a proporção em que a geração do produto
poderia ser aumentada sem alterar a utilização de insumos. Nessa perspectiva, a medida de
eficiência estaria voltada para o produto. Na orientação para produtos, procura-se alcançar a maior
quantidade possível de bens e serviços com base em uma dada utilização de recursos. ―Uma firma
seria dita ineficiente, então, se fosse tecnicamente possível aumentar algum produto sem aumentar
os insumos utilizados e sem diminuir qualquer outro produto‖, segundo Gasparini (2003, p. 24).
Uma medida de eficiência poderia ser, conforme o Gráfico 1, definida a partir da razão CP/CD.
Os principais métodos utilizados na definição das fronteiras de produção, conforme Lima
(2006), são os métodos paramétricos e não-paramétricos. O presente trabalho toma como base
a abordagem não-paramétrica (especificamente as versões DEA-C e DEA-V), tendo em vista o
método estar mais voltado para a estimação de fronteiras, conforme se pode observar no

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Gráfico 2.

Gráfico 2 - Confronto entre DEA (método não paramétrico) e regressão (abordagem paramétrica)

Fonte: Mello et al. (2005)

Usualmente, a estimação é alcançada por meio de técnicas de programação linear (LIMA,


2006). Conforme Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000), tais modelos são uma classe especial de
modelos de otimização com restrições. Para que um determinado sistema possa ser representado por
meio de um modelo PL, todas as relações entre variáveis são expressas com funções lineares e
todos os modelos de PL possuem a seguinte forma algébrica:

Maximize (ou Minimize): c1 x1  c2 x2  ...  cnxn


(3.1)


Sujeito a: a11x1  a12 x 2  ...  a1nxn   b1




a 21x1  a 22 x 2  ...  a 2 nxn  b 2



. .
. .
. .


am1 x1  am 2 x 2  ...  a mnxn bn



Assim, o modelo de Programação Linear reduz um sistema real a um conjunto de equações


ou inequações onde pretendemos otimizar uma função objetivo.

ESTUDOS EMPÍRICOS

A literatura nacional apresenta uma quantidade razoável de pesquisas envolvendo


fronteiras de produção e eficiência produtiva em setores de serviços que envolvem recursos
públicos, não tendo sido encontrado trabalhos relacionados à eficiência dos serviços de coleta de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

resíduos sólidos urbanos.


Como contribuição, a análise de Carmo (2003) discorre sobre a avaliação da eficiência
técnica das empresas de saneamento brasileiras utilizando a citada metodologia. Traz o resultado da
eficiência dessas unidades em forma de escores, baseando-se na Política Nacional de Saneamento
Básico.
Ademais, com base no método Análise Envoltória de Dados, encontra-se o trabalho de
Scaratti, Michelon e Scaratti (2013), que avalia a eficiência da gestão dos serviços municipais de
abastecimento de água e esgotamento sanitário utilizando; bem como se tem o diagnóstico de
Araújo et al. (2010), que aborda a avaliação da eficiência dos serviços de saneamento básico nos
municípios do estado do Tocantins, associando a falta ou precariedade desses serviços às endemias
de veiculação hídrica.
É relevante ser destacado que a análise de desempenho de produtividade também é
aplicada para o caso do setor de energia elétrica. Nesses moldes, as experiências de Vidal e Távora
Júnior (2003) e Pires (2008) fizeram uso da ferramenta DEA para retornos constantes e variáveis de
escala, envolvendo modelo simples, com dois insumos e dois produtos. Colaborando também com a
avaliação de desempenho do setor energético, manuseando o DEA, observa-se a tese de Xavier
(2015), que contempla a análise de eficiência técnica nas concessionárias de distribuição de energia
elétrica utilizando DEA (Data Envelopment Analysis) e Redes Unificadas.
Em um segmento mais divergente, porém utilizando a mesma metodologia, Bayma (2011)
investiga a eficiência de pecuária leiteira no estado do Acre. As 39 propriedades que serviram de
amostra recebem tecnologias preconizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMPRAPA através do Projeto de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira do estado do Acre.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E DADOS UTILIZADOS

Na metodologia DEA, seguindo a literatura referencial para este estudo, as firmas são
consideradas unidades autônomas ou produtivas, ou seja, tomam decisões de forma individual
e, neste sentido, passam a ser denominadas de Decision Making Unit – DMU, isto é, Unidades
Tomadoras de Decisão. As unidades realizam as mesmas tarefas e se distinguem pelas
quantidades dos inputs que consomem e do output que resulta desse consumo. Analisa-se
individualmente cada unidade produtiva27, medindo sua eficiência em relação a todo o conjunto que
está sendo avaliado.
Em síntese, como ressalta Carmo (2003), a metodologia DEA é composta de três etapas:
seleção das DMUs, sendo os mesmos inputs e output para as unidades produtivas; determinação dos
inputs e output, considerando que as variáveis que apresentam grande correlação com outras

27 No caso deste estudo, as unidades produtivas (DMU‘s) são os municípios.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

poderão ser excluídas, pois sua contribuição não tem grande influência; e aplicação do Modelo e
Análise dos Resultados, momento em que se define, conforme o Gráfico 3, o tipo de retorno de
escala (DEA-C, com retorno constante de escala; ou DEA-V, com retorno variável de escala) e o
tipo de abordagem (orientada a input ou output).

Gráfico 3 - Fronteiras de eficiência nos modelos DEA-C e DEA-V

Fonte: Adaptado de Araújo et al. (2010).

Conforme já mencionado em capítulo anterior, existem duas formas básicas de uma unidade
não eficiente tornar-se eficiente. A primeira é reduzindo os recursos, mantendo constantes os
produtos (orientação a inputs); a segunda é fazendo o inverso (orientação a outputs). Assim, uma
DMU eficiente apresentará eficiência padrão igual a 1 e uma DMU ineficiente apresentará
menor que 1. Nesse contexto, considerando que a coleta de resíduos sólidos urbanos é um serviço
público, a orientação a inputs se mostra a mais adequada, tendo em vista que o poder público
precisa fornecer um determinado nível de output utilizando uma menor quantidade de input
(minimizando os recursos).
Contudo, segundo Araujo et al. (2010), é possível uma DMU apresentar uma falsa
eficiência, quando algumas das variáveis utilizadas beneficiam alguma das unidades
produtoras. Tal ocorrência é chamada de baixa discriminação. No Gráfico 4, percebe-se que a
DMU 5, mesmo pertencendo à fronteira de eficiência, não se afigura, de fato, a uma produção
eficiente, haja vista que essa unidade pode permanecer com sua produção diminuindo o nível de
utilização de insumos, caminhando em direção à DMU 4. Assim, diz-se que a DMU apresenta
uma folga em sua utilização de insumos, equivalente a sua distância em relação à DMU 428. De
acordo com Mello et al. (2005), esse problema resulta de empates que ocorrem entre DMUs com
100% de eficiência.

Gráfico 4 - Baixa discriminação das DMUs no modelo DEA- V: falsa eficiência

28 Em um modelo DEA com orientação produto, a definição de folga é aplicada da mesma forma, considerando que uma DMU eficiente pode aumentar a sua produção mantendo
constante o seu nível de utilização de insumos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Fonte: Adaptado de Araújo et al. (2010).

A baixa discriminação pode ser resolvida a partir do uso do conceito de fronteira de


eficiência inversa ou invertida. Mello et al. (2005) e Leta et al. (2005) entendem que a fronteira
de eficiência inversa consiste em uma avaliação pessimista da eficiência das DMUs, sendo
composta pelas mais ineficientes, ou seja, com as piores práticas gerenciais. Na prática, faz-se
a inversão dos inputs para outputs. O Gráfico 5 mostra as fronteiras clássica e invertida para o
caso DEA - V.

Gráfico 5 - Fronteira clássica e invertida no modelo DEA- V

Fonte: Mello et al. (2005).

Como forma de contornar o problema da baixa discriminação, Leta et al. (2005) se baseia no
conceito da eficiência composta, que consiste na média aritmética da eficiência segundo as óticas
clássica e invertida, otimista e pessimista, respectivamente, conforme equação (5.1). Tais
eficiências são oriundas das fronteiras DEA construídas.

Ef composta  ( Ef otimista  Ef pessimista  1) 1


2
(5.1)

Como forma de definir um índice de eficiência normalizada, segundo Araújo et al.


(2010), tem-se a seguinte expressão:
Ef composta
Ef normalizada 
Ef máxima

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(5.2)

A Efmáxima refere-se ao valor calculado do maior índice de eficiência composta.


Os dados correspondentes às variáveis consideradas neste trabalho são de origem do SNIS.
O referido sistema coleta dados sobre a prestação de serviços de Água e Esgotos desde o ano de
referência 1995 e sobre os serviços de manejo de Resíduos Sólidos Urbanos desde o ano de
referência 2002.
O portal expõe, no tocante ao período de 2014, dados relacionados a 160 municípios
paraibanos dos 223 existentes na ordem jurídica. No que tange aos indicadores escolhidos para
efeito de input e output (localizados no SNIS-RS), dos 160 apresentados, apenas 41 unidades
disponibilizaram as informações, ficando, dessa forma, definida a amostra de municípios paraibanos
aqui utilizada.
Para efeito de aplicabilidade da metodologia DEA, os inputs escolhidos, dentre as variáveis
existentes no portal, são os seguintes: IN006 - Despesa per capita com manejo de RSU em relação à
população urbana (R$/hab); IN019 - Taxa de empregados (coletadores + motoristas) na coleta
(RDO + RPU) em relação à população urbana (empreg/1000 hab); e IN023 - Custo unitário médio
do serviço de coleta (RDO + RPU) (R$/t). Já o output escolhido foi a variável IN021 - Massa
coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (Kg/hab/dia).

RESULTADOS DE EFICIÊNCIA

Foram aplicados os modelos DEA-C e o DEA-V, utilizando-se para os cálculos o uso do


software SIAD na versão 3.0 (MEZA et al.,2005).
Os resultados elencam os índices dos dez municípios mais eficientes seguidos pelos 10
municípios menos eficientes, conforme Tabelas 1 e 2 (DEA-C e DEA-V, respectivamente),
apresentando a eficiência padrão (clássica), a eficiência normalizada e as folgas das variáveis
envolvidas. A ordenação das unidades deu-se a partir da eficiência clássica, seguida da eficiência
normalizada. Verifica-se que, em relação ao modelo DEA-C, apenas dois municípios se
apresentaram eficientes; quanto ao DEA-V, nove foram considerados eficientes. Como previsto, o
número de unidades eficientes foi menor no DEA-C, em virtude deste ser um modelo que apresenta
hipóteses mais restritivas que o modelo DEA-V.
Como se pode observar, os municípios de Itapororoca e Salgado de São Félix se mostraram
eficientes nos dois modelos. Chama a atenção Itapororoca, que foi o único município a apresentar a
eficiência normalizada igual a 1. Todos os demais municípios apresentaram valores de eficiência
normalizada inferiores a 1.

Tabela 1 - Relação das eficiências dos municípios paraibanos em ordem decrescente de Eficiência

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 298


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Clássica no modelo DEA-C


Insumo 1 Insumo 2 Insumo 3 Produto 1
Custo Massa
Despesa per capita Taxa de empreg.
Eficiência Eficiência unitário coletada per
DMU com manejo de na coleta
clássica normalizada médio da capita
RSU (R$/hab) (empreg/1000hab)
coleta (R$/t) (Kg/hab/dia)
Folga para Folga para Folga para Folga para
diminuir diminuir diminuir aumentar
Itapororoca 1,000000 1,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
Salgado de São Félix 1,000000 0,990214 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
Uiraúna 0,999676 0,998945 4,473358 0,000000 12,406940 0,000000
Cabedelo 0,971371 0,927058 79,706745 0,000000 76,160495 0,000000
Fagundes 0,933029 0,950197 19,847141 0,266695 0,000000 0,000000
Campina Grande 0,812995 0,841208 35,004278 0,000000 106,913054 0,000000
Patos 0,791878 0,859651 31,378934 0,000000 62,277411 0,000000
Sapé 0,677113 0,817685 19,450598 0,000000 49,396191 0,000000
Pirpirituba 0,579008 0,757978 28,695844 0,000000 5,846864 0,000000
Riachão do Poço 0,440595 0,683222 0,000000 0,000000 17,843630 0,000000
Boqueirão 0,079188 0,106543 1,086701 0,000000 15,994721 0,000000
Santa Helena 0,072884 0,244767 2,864437 0,000000 6,083233 0,000000
Aguiar 0,068646 0,214721 0,000000 0,000000 3,479692 0,000000
Mogeiro 0,057725 0,185030 0,000000 0,000000 7,923734 0,000000
Lucena 0,056996 0,192676 0,000000 0,000000 4,184741 0,000000
Nova Palmeira 0,056875 0,185605 0,873374 0,000000 8,983169 0,000000
Areia 0,055144 0,097138 0,000000 0,000000 8,583902 0,000000
São Francisco 0,053908 0,158592 0,000000 0,000000 15,118528 0,000000
Princesa Isabel 0,053593 0,032602 0,000000 0,000000 14,101087 0,000000
Araruna 0,051757 0,026378 6,047407 0,000000 14,110988 0,000000

Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados do SIAD.

Identificou-se que os municípios que apresentam os piores escores de eficiência no DEA-C


melhoraram suas classificações ordenadas no DEA-V. Contudo, apesar do aumento absoluto sobre
o índice, São Francisco caiu duas casas na classificação no DEA-V, confirmando-se, assim, como
uma referência de município ineficiente, por ter apresentado resultado negativo nos dois modelos
DEA. Ressalte-se que o município, para que se torne eficiente, precisa diminuir e aumentar valores
relacionados a insumos e produto, respectivamente, de acordo com as folgas expostas nas Tabelas 1
e 2. No caso de São Francisco, em relação ao modelo DEA-C, a intervenção seria na diminuição do
custo unitário da coleta em R$ 15,12/t, conforme Tabela 1; já no modelo DEA-V, seria na redução
do mesmo insumo em R$ 33,51, de acordo com a Tabela 2.

Tabela 2 - Relação das eficiências dos municípios paraibanos em ordem decrescente de Eficiência
Clássica no modelo DEA-V

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 299


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Insumo 1 Insumo 2 Insumo 3 Produto 1


Custo Massa
Despesa per capita Taxa de empreg.
Eficiência Eficiência unitário coletada per
DMU com manejo de na coleta
clássica normalizada médio da capita
RSU (R$/hab) (empreg/1000hab)
coleta (R$/t) (Kg/hab/dia)
Folga para Folga para Folga para Folga para
diminuir diminuir diminuir aumentar
Itapororoca 1,000000 1,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,591975
Uiraúna 1,000000 0,999941 0,000000 0,000000 0,000000 0,925579
Salgado de São Félix 1,000000 0,980688 0,000000 0,000000 0,000000 0,857106
Fagundes 1,000000 0,966121 0,000000 0,000000 0,000000 1,483978
Patos 1,000000 0,942895 0,000000 0,000000 0,000000 0,965385
Campina Grande 1,000000 0,899878 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
Cabedelo 1,000000 0,884109 0,000000 0,000000 0,000000 1,445071
Bom Jesus 1,000000 0,537428 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
Pombal 1,000000 0,537428 0,000000 0,000000 0,000000 1,102767
Riachão do Poço 0,808774 0,869124 0,000000 0,000000 26,874101 0,499120
Pedra Branca 0,201728 0,262498 0,000000 0,000000 16,665998 1,242084
São Mamede 0,200095 0,165637 0,000000 0,000000 0,000000 1,194799
Sobrado 0,193697 0,167662 0,000000 0,000000 21,192228 1,175561
Condado 0,184564 0,201242 0,000000 0,000000 10,682472 0,953450
Riacho de Santo Antônio 0,180890 0,212759 0,000000 0,000000 0,000000 1,038768
Lucena 0,177851 0,156772 0,000000 0,000000 4,174043 0,844154
Cajazeirinhas 0,176208 0,189961 2,582887 0,000000 0,000000 0,930372
Mãe D Água 0,172807 0,109084 0,000000 0,000000 0,000000 0,075927
Aguiar 0,164439 0,091862 0,000000 0,000000 2,649048 0,879953
São Francisco 0,148339 0,079722 0,000000 0,000000 33,507043 0,000000
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados do SIAD.

Percebe-se que o modelo DEA-V apresenta resultados mais otimistas, ou seja, menos folgas
para serem reduzidas nos recursos, bem como valores para maximizar a produção. Tal efeito se dá
por conta deste modelo apresentar hipóteses menos restritivas que o DEA-C, conforme já
mencionado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo avaliou a eficiência dos serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos nos
municípios paraibanos através da metodologia DEA. Tal objetivo é oriundo de uma necessidade de
se avaliar a gestão de recursos públicos em um setor de grande importância nos dias atuais.
Para aplicação da metodologia, foram utilizados os métodos DEA-C e DEA-V, através do
software SIAD. Chamou atenção o resultado do município de São Francisco. Considerando os
piores índices de eficiência, a unidade foi a única da amostra paraibana a apresentar harmonia em
seus escores, caracterizando-se como a pior situação encontrada na prestação dos serviços de coleta
de RSU. Quanto à eficiência máxima, o destaque foi para Itapororoca, por também ter apresentado
coerência nos seus resultados de eficiência, indicando ser o município com a melhor prática nos

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 300


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos, considerando os critérios elencados neste trabalho.
Como recomendação para futuros trabalhos, sugere-se a atualização contínua do presente
estudo, observando referências mais recentes (dados de 2015 em diante), Também se propõe ainda
um estudo de caso para os municípios de São Francisco e Itapororoca, associando variáveis
explicativas aos resultados de escores encontrados (variáveis dependentes), com o fim de encontrar
os fatores que influenciam nos índices de eficiência relacionados aos serviços de limpeza urbana.
Percebe-se que a contribuição deste estudo não se limitou à obtenção de uma lista de escores
de eficiência com as respectivas análises, mas também se compreendeu que a metodologia DEA é
uma excelente ferramenta de benchmarking para as instituições, tanto públicas como privadas, no
que concerne à avaliação de práticas de gestão.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 302


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 303


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SEQUÊNCIA DE VÍDEOS E QUIZ DIGITAL NA


ABORDAGEM DO CONTEÚDO RESÍDUO SÓLIDO

Luislândia Vieira de FIGUEIREDO


Licenciada em Química pela UFCG/CFP
luislandia.figueredo@gmail.com
Edilson Leite da SILVA
Mestrando em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG29
souedilsonleite@gmail.com
Egle Katarinne Souza da SILVA
Mestranda em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG30
eglehma@gmail.com
João Paulo Ferreira LIMA
Graduando no curso de Licenciatura em Química pela UFCG/CFP
joaopfl67@gmail.com

RESUMO
O acelerado crescimento urbano, associado ao consumismo exacerbado da população brasileira
representa em grande escala as principais causas do grande aumento da geração dos Resíduos
Sólidos. Diante desta realidade, a Educação Ambiental pode ser utilizada para manter os discentes
informados sobre as leis brasileiras que regem as questões relacionadas aos Resíduos Sólidos,
formando assim cidadãos conscientes quanto ao gerenciamento ambientalmente adequado destes
resíduos e conhecedores das catástrofes ambientais que a destinação incorreta desses pode
ocasionar. Desenvolveu-se a presente pesquisa com o objetivo de proporcionar uma aprendizagem
significativa a 07 discentes matriculados na disciplina Tópicos em Química Ambiental da
Universidade Federal de Campina Grande do Centro de Formação de Professores localizado em
Cajazeiras-PB sobre a temática Resíduos Sólidos. Como ferramentas metodológicas utilizou-se 03
vídeos retirados do Portal dos Resíduos Sólidos e um Quiz digital desenvolvido no Hot Potatoes.
Classifica-se como uma pesquisa bibliográfica, descritiva, pesquisa- ação, sendo os dados
analisados de maneira quantitativa. Para coleta de dados aplicou-se um questionário prévio para
identificar o embasamento teórico referente à temática abordada e após assistirem os vídeos para
analisar a aprendizagem adquirida os discentes responderam o Quiz. Pelo questionário inicial pode-
se afirmar que 85,7% discentes não conhecem nenhum documento oficial sobre os Resíduos
Sólidos. Após explanação dos vídeos a maioria dos discentes conseguiu responder o Quis
corretamente, demonstrando assim que os vídeos contribuíram para o aprendizado desta temática.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Vídeos; Quiz.
ABSTRACT
The accelerated urban growth, coupled with the exacerbated consumerism of the Brazilian
population, represents in large scale the main causes of the great increase in the generation of Solid
Waste. Faced with this reality, Environmental Education can be used to keep students informed
about the Brazilian laws that govern Solid Waste issues, thus forming conscious citizens about the
environmentally management of these wastes and aware of the environmental disasters that their

29
Prof. UACEN/CFP/UFCG.
30
Licenciada em Química pela UFCG/CFP.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

incorrect destination can cause. The present research was developed aiming to provide a meaningful
learning about the Solid Waste theme for 07 students enrolled in the discipline Topics in
Environmental Chemistry of the Federal University of Campina Grande of the Teacher Training
Center located in Cajazeiras-PB. As methodological tools were used 03 videos taken from the Solid
Waste Portal and a digital Quiz developed in Hot Potatoes. It is classified as a bibliographical,
descriptive, research-action research, in which the data analyzed in a quantitative way. To collect
data, a previous questionnaire was applied to identify the theoretical basis of the topic approached,
and the students answered the Quiz after watching the videos to analyze the acquired learning. From
the initial questionnaire, it can be stated that 85.7% of the students do not know any official
document regarding Solid Waste. After the explanation about the videos, most of the students were
able to answer the Quiz correctly, thus demonstrating that the videos contributed to the learning of
this theme.
Keywords: Environmental Education; Solid Waste; Videos; Quiz

INTRODUÇÃO
O meio ambiente tem sido modificado e transformado pela ação do homem, trazendo como
consequências desordem e desequilíbrio para o planeta Terra. Com os avanços e invenções
tecnológicas o crescimento de um perfil consumista dos seres humanos aumentou de forma absurda
tornando-os os principais responsáveis por essa transformação na natureza.
A Educação Ambiental (EA) é uma questão tratada com muita ênfase por professores nos
vários níveis de ensino. Por tratar de um novo paradigma de reflexões e comportamentos, também
busca-se a transformação cultural e social de um povo, pois é através da educação que se distingue a
identidade e características seja de uma comunidade ou até mesmo de um continente inteiro.
O interesse em preservar e conservar o meio ambiente torna-se preocupação dos órgãos
governamentais. Neste contexto, em 1999 criou-se a Lei Nº 9.795 que instituiu a Politica Nacional
de Educação Ambiental (PNEA) que possui como objetivo estabelecer no âmbito escolar a
importância da inserção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, bem como tornar os
estudantes cidadãos críticos e ativos na defesa do meio ambiente.
No Art. 1º Politica Nacional de Educação Ambiental entende-se por Educação Ambiental:
―[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖. (BRASIL,
1999).
O artigo 2º da PNEA ressalta no que ―a educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.‖ (BRASIL, 1999, p. 1). Nesta
perspectiva, torna-se essencial a inserção da EA nas escolas, pois a mesma propicia a formação de

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 305


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

jovens conscientes e aptos para atuarem frente a uma realidade socioambiental de um modo
comprometido visando praticar ações voltadas à preservação do meio ambiente.
Várias temáticas podem ser abordadas na EA, no que concerne aos Resíduos Sólidos
existem inúmeras definições nos documentos oficiais brasileiros. A lei nº 12.305 de 02 de agosto de
2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), no segundo capítulo, artigo 3 0
define:

[...] resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou
se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviável em face da melhor tecnologia disponível. (BRASIL, 2010).

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 10.004:2004, resíduos


sólidos são aqueles que:

[...] resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola,


de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de
poluição, bem como determinados líquidos cuja particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções,
técnica e economicamente, inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT, NBR
10.004:2004)

Os resíduos sólidos apresentam características físicas, como: geração per capita; composição
gravimétrica, peso específico; odor; etc. Características químicas como poder calorífico; potencial
hidrogeniônico (pH); composição química; relação Carbono/Nitrogênio; etc. Características
biológicas, como: população microbiana (fungos, bactérias e actinomicetos); população de
microrganismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoários e vermes); etc. Essas características
variam de acordo com a fonte ou atividade geradora. (RUSSO, 2003).
A resolução nº 005 de 05 de agosto de 1993 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) que dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, nos
aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários no Art. 01, parágrafos III aborda: ―Sistema de
Tratamento de Resíduos Sólidos: conjunto de unidades, processos e procedimentos que alteram as
características físicas, químicas ou biológicas dos resíduos e conduzem à minimização do risco à
saúde pública e à qualidade do meio ambiente‖. (BRASIL, 1993).
Quanto à ordem de priorização o capítulo I da PNRS aborda sobre as diretrizes aplicáveis aos
resíduos sólidos o Art. 9o destaca: ―Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser
observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos‖.
(BRASIL, 2010).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 306


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quanto à geração dos resíduos sólidos, uma problemática bastante discutida está relacionada
à destinação final, pois segundo a PNRS esta destinação deve ser ambientalmente adequada em
aterros sanitários. Na realidade o que ocorre na maioria dos municípios brasileiros é a
inadimplência perante a esta exigência. Segundo a ABRELPE (2015) no ano de 2015 a quantidade
de municípios brasileiros que ainda utilizavam locais impróprios para destinação dos resíduos
sólidos é 3.326, comparando os anos 2014 e 2015 apenas 08 municípios aderiram à destinação
ambientalmente adequada determinada pela PNRS que são os aterros sanitários.
Sendo a EA um dos instrumentos da PNRS, entende-se que o ensino voltado para a
formação de cidadãos mais consciente coloca como desafio aos professores a busca por novas
ferramentas pedagógicas para atrair e ao mesmo tempo propiciar suporte no processo
ensino/aprendizagem do alunado. Na era dita tecnológica tudo está correlacionado à tecnologia,
inclusive a educação, neste contexto, existe inúmeras ferramentas digitais que podem auxiliar os
docentes na abordagem de temáticas relacionadas à EA, uma que merece destaque são os recursos
audiovisuais.
Resende (2008) destaca que a utilização de recursos audiovisuais é tema bastante discutido
há muito tempo sendo introduzido no ensino, como mostra diversas publicações sobre a temática
assim como produções de filmes e vídeos que abordam temas científicos.
A utilização dos recursos audiovisuais no ensino entre outras vantagens, desperta o
interesse; atrai a atenção; facilita a aprendizagem; diminui o distanciamento entre teoria e prática;
acelera a fixação e o entendimento. Santos e Santos (2005) destacam que a linguagem audiovisual é
mais acessível e compreensível para os alunos do que a científica, tendo o audiovisual a capacidade
de mediar à formação de novos conceitos, permitindo que os alunos se interessem e assimilem
conceitos abstratos.
A presente pesquisa objetiva proporcionar uma aprendizagem significativa a 07 discentes
matriculados na disciplina Tópicos em Química Ambiental da Universidade Federal de Campina
Grande do Centro de Formação de Professores localizado em Cajazeiras-PB, sobre a temática
Resíduos Sólidos. Como ferramenta metodológica utilizou-se 03 vídeos retirados do Portal dos
Resíduos Sólidos e um Quiz digital desenvolvido no Hot Potatoes.

METODOLOGIA

Desenvolveu-se esta pesquisa partindo do entendimento de que a Educação Ambiental deve


ser inserida em todos os níveis de ensino. Participaram da pesquisa 07 discentes matriculados na
disciplina de Tópicos em Química Ambiental do curso de Licenciatura em Química da
Universidade Federal de Campina Grande, Campus Cajazeiras.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Inicialmente como forma de identificar qual o embasamento teórico destes alunos sobre a
temática Resíduos Sólidos aplicou-se um questionário prévio formulado com 10 questões.
Posteriormente com o objetivo de proporcionar uma aprendizagem significativa sobre esta temática,
escolheu-se como ferramenta metodológica três vídeos retirados do Portal dos Resíduos Sólidos,
podendo ser acessado pelo link http://www.portalresiduossolidos.com/.
O vídeo introdutório: A Lei 12.305/2010 e os Planos de Resíduos Sólidos, com duração de
12:09 minutos aborda as vertentes relacionadas à Política Nacional dos Resíduos Sólidos,
enfatizando o Plano Estadual de Resíduos Sólidos e ao Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos.
O segundo vídeo: Disposição Ambientalmente Adequada de Rejeitos, com duração de 02:59
minutos utiliza mais uma vez a PNRS com o objetivo de explicar que esta disposição deve ser feita
somente para os resíduos que comprovadamente não são mais passíveis de alguma forma de
tratamento, seja qual for à forma, ou seja, somente para os rejeitos (PORTAL DOS RESIDUOS
SÓLIDOS, 2017).
O terceiro e último vídeo: Aterro Sanitário – O que é e como funciona, com duração de
04:26 minutos, explica o funcionamento dos aterros sanitários, bem como os parâmetros a serem
adotados para construção destes aterros.
Após assistirem aos vídeos os discentes responderam a um Quiz digital desenvolvido no Hot
Potatoes. Elaborou-se o quiz com 07 indagações, sendo cada questão com quatro alternativas
(multiplica escolha) com apenas uma alternativa correta, ao ler a pergunta e fazer a escolha da
resposta, aparece automaticamente uma caixa informando se o discente respondeu correto ou
errado, sendo que para cada resposta seja ela certa ou errada aparece dicas informativas sobre o
porquê da resposta está certa ou errada. À medida que o aluno responde errado ele terá chances de
responder novamente, até acertar as resposta, no entanto seu percentual de acerto diminui a cada
resposta errada.
Ao final das respostas retirou-se prints das telas dos computadores utilizados pelos discentes
para posterior analise dos resultados, como forma de identificar se houve de fato uma aprendizagem
significativa sobre os Resíduos Sólidos, sua disposição ambientalmente adequada e aterro sanitário.
Classifica-se como uma pesquisa bibliográfica, descritiva, uma pesquisa - ação, sendo os
dados analisados de maneira quantitativa. Para o referencial bibliográfico utilizou-se artigos, livros
e documentos oficiais que regem sobre a Politica Nacional dos Resíduos Sólidos. Para Mattar
(1993) as pesquisas bibliográficas é uma forma prática e econômica de aprofundar um problema de
pesquisa embasado por textos, documentos, livros e etc. publicados anteriormente.
As pesquisas descritivas procuram descrever as características intrínsecas ao objeto de
estudo, delimitando tanto os fenômenos como as propriedades deste. Ao propor e aplicar uma ação

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 308


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

coletiva com o objetivo de resolver alguma problemática já identificada o pesquisador caracteriza


sua pesquisa como uma pesquisa- ação. Fonseca (2002, p. 34) destaca:

A pesquisa-ação pressupõe uma participação planejada do pesquisador na situação


problemática a ser investigada. O processo de pesquisa recorre a uma metodologia
sistemática, no sentido de transformar as realidades observadas, a partir da sua
compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos na
pesquisa.

Para análise dos dados utilizou-se da estatística e fez-se comparações entre os percentuais de
acertos e erros. Doxsey & De Riz (2007) relatam que o enfoque quantitativo para analise dos
resultados pesquisados e aferidos utiliza a quantificação e demanda um maior tempo no tratamento
destes dados, evitando que utilize seus valores pessoais na interpretação dos resultados obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa iniciou-se fazendo um levantamento prévio com o objetivo de identificar o
embasamento dos discentes sobre os Resíduos Sólidos. Na Figura I, quando indagados se os
mesmos tinham conhecimento sobre a temática, 62,5% dos estudantes responderam sim,
justificando que tomaram conhecimento por meio da televisão, discursões em sala de aula, assim
como no ambiente familiar. Embora a maioria tenha algum conhecimento, percebe-se que o
percentual de discentes que responderam não é consideravelmente significativo levando-se em
consideração à importância dessa temática no geral.

Figura I: Conhecimento sobre a temática.


Fonte: Próprios Autores, 2017.

No Quadro I, encontra-se a fala dos discentes referente à definição de Meio Ambiente. A


maioria destes estudantes relatou que Meio Ambiente é o local no qual, vive os seres vivos.
Entretanto, essa definição encontra-se incompleta, pois segundo a Politica Nacional do Meio
Ambiente no seu Art. 3º paragrafo I define meio ambiente como ―o conjunto de condições, leis,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas‖ (BRASIL 1981, p. 1).

Questão 3: Defina Meio Ambiente.


Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
01. Aluno 02. Aluno 03.
―É o espaço no qual todos ―Meio ambiente é o local ―É a relação com a
os seres vivos abitam‖ onde vivem os seres natureza ou a própria,
vivos‖ porém, nem sempre
uniforme e em
constantes mudanças‖.
Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
04. Aluno 05. Aluno 06.
―É a relação que envolve a ―Meio ambiente é o ―Meio ambiente é o
flora, juntamente com a espaço onde habitam os espaço onde vive os
fauna.‖ seres vivos.‖ seres vivos, podendo
ser de qualquer reino,
seja ele vegetal ou
animal entre outros.‖
Fala Representativa, ―É algo que envolve os seres vivos e não vivos que existe
Aluno 07. na terra.‖
Quadro I: Definição de Meio Ambiente.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

O Quadro II representa a concepção dos discentes sobre o conceito de Resíduos Sólidos. A


maioria destes respondeu de forma adequada, no entanto, mostram não possuir um embasamento
teórico aprofundado sobre a temática, apenas o sétimo aluno não respondeu a este quesito. De
acordo com a Norma Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-Nº10.004/2004) de define Resíduos
Sólidos como sendo ―Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da
comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição‖.

Questão 4: No seu entendimento o que é Resíduo Sólido?


Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
01. Aluno 02. Aluno 03.
―São resíduos gerados pelo ―Resíduos sólidos são ―É qualquer material
homem, que contribuem proveniente tanto da não aproveitável que é
para os problemas indústria como das resultado de uma
ambientais.‖ residências, e são reação química ou
materiais sólidos no qual procedimentos
não se tem mais utilidade, industriais.‖
como por exemplo, o
lixo.‖
Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
04. Aluno 05. Aluno 06.
―São resíduos que ―Resíduo sólido é a ―Resíduos sólidos é
posteriormente serão destinação final do um tipo de substância

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

reaproveitados, e sólido‖ que seu estado físico é


descartados de forma sólido e não é mais
adequada.‖ utilizado atuando
como poluente‖
Fala Representativa, Não quis ou não soube responder.
Aluno 07.
Quadro II: Definição de Meio Ambiente.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

O quadro III ressalta a concepção dos discentes sobre a diferença entre Resíduos Sólidos e
Lixo, 03 discentes, correspondente a 42,8% afirmaram que não existe diferenciação entre lixo e
resíduo sólido, justificando que o lixo é um tipo de resíduo sendo ambos utilizados para os mesmos
fins. Dois alunos, equivalente a 28,6% explicaram que ao contrario do lixo os resíduo sólido
podeser reaproveitado para produção de outras matérias primas. O aluno três defendeu sua fala
comentando: ―existem resíduos não utilizáveis que podemos chamar de lixo, como também existem
resíduos aproveitáveis‖. Mais uma vez o sétimo aluno não soube ou não quis responder. Para Russo
(2003) os resíduos sólidos são definidos como todos os materiais gerados da atividade humana e
animal que não fazendo falta ao seu gerador e este queria se desfazer por não possuir mais utilidade,
mas que apresentam uma valorização, sendo utilizados para fabricar outros tipos de matérias, já a
palavra lixo é entendida como algo impossível de ser reaproveitado tido como ―coisas inúteis‖ que
perde seu valor e sua utilidade sendo descartado.

Questão 5: Resíduo Sólido e Lixo são a mesma coisa? Por quê?


Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
01. Aluno 02. Aluno 03.
―Não. Resíduos sólidos ―Não, lixo é algo que não ―Depende do pondo de
pode ser reaproveitado para serve mais e é jogado vista, porque existem
produzir outros materiais, fora, e resíduo é a resíduos não
já o lixo é encaminhado destinação final desse utilizáveis que
para o aterro sanitário, pois lixo.‖ podemos chamar de
não possui mas lixo, como também
finalidades.‖ existem resíduos
aproveitáveis.‖
Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
04. Aluno 05. Aluno 06.
―Sim, pois são utilizados ―Sim, pois o lixo é um ―Sim, pois resíduo
para os mesmos fins.‖ resíduo sólido.‖ sólido é um tipo de
lixo.‖
Fala Representativa, Não quis ou não soube responder.
Aluno 07.
Quadro III: Diferença entre Resíduo Sólido e Lixo.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

Na pergunta 6, questionou-se sobre o conhecimento a respeito de alguma Lei que aborde o


gerenciamento dos Resíduos Sólidos, a maioria, 85,7% respondeu não ter conhecimento a respeito

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de nenhum documento oficial que aborde essa temática, e um percentual de 14,2% correspondente a
um aluno não quis ou não soube responder. Esse dado evidencia a falta de informação por parte dos
discentes sobre a temática. De acordo com Brollo e Silva (2000) o Gerenciamento Ambiental
refere-se à prática da Politica ambiental através atividades como: gerência, execução,
monitoramento e controle de atividades relacionadas com o meio ambiente. Os autores enfatizam
ainda, que essas ações são executadas através de medidas econômicas assim como, normas,
regulamentos e legislações, como objetivo de propiciar o controle e a gerência referente ao uso de
recursos naturais bem como, a ocupação dos espaços naturais.
No quadro IV, mostra os problemas ocasionados pelo descarte inadequado do lixo sob o
olha dos discentes. Todos, inclusive o aluno 07 que não respondeu as questões 04 e 05, citaram de
forma correta os problemas que podem ser formado pelo descarte inadequado do lixo, como por
exemplo, a poluição dos solos bem como, dos lenções freáticos, formação de gases tóxicos que são
altamente prejudiciais à saúde humana. De acordo Lima et al. (2017) o descarte inadequado dos
resíduos lançados diretamente no solo de forma errônea e sem nenhum controle, causa problemas
ambientais como a contaminação do ar através dos gases lançados, contaminação do solo e águas
subterrâneas devido à decomposição da matéria orgânica (formação do chorume que é altamente
prejudicial ao meio ambiente).

Questão 7: Na sua opinião, quais são os problemas ambientais ocasionados pelo descarte inadequado do
lixo?
Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
01. Aluno 02. Aluno 03.
―Contaminação do solo e ―Poluição dos solos, ―Os principais
dos lenções freáticos.‖ poluição dos rios, problemas são
formação de gases relacionados à saúde
tóxicos, entre outras.‖ humana e os impactos
ambientais.‖
Fala Representativa, Aluno Fala Representativa, Fala Representativa,
04. Aluno 05. Aluno 06.
―Poluição das nascentes ―Poluição dos rios e do ―Poluição do meio
efeito estufa, poluição do ar.‖ ambiente, rios, lagos,
solo, e poluição do ar.‖ ocasionando efeitos na
natureza, além de
doenças para a própria
humanidade.‖
Fala Representativa, Aluno ―Mau odor, problemas ambientais, malefícios a saúde
07. humana.‖
Quadro IV: Problemas causados pelo descarte inadequado do lixo.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

O quadro V, representa práticas simples e efetiva para a diminuição dos problemas


ocasionados pelo descarte inadequado dos Resíduos Sólidos na visão dos discentes. Todos os

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 312


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

participantes da pesquisa relataram maneiras simples que efetuada de maneira correta colabora para
a diminuição dos impactos ambientais na natureza. Sacramento (2014, p. 07) enfatiza alguns
procedimentos como: ―Redução, detritos e reciclagem são algumas das opções mais recomendadas
para a gestão ambiental dos resíduos‖. Tais procedimentos ajudam na diminuição da disposição dos
resíduos sólidos, bem como na conservação da natureza.

Questão 8: Cite maneiras efetivas para diminuir os problemas ambientais ocasionados pela disposição
final inadequada dos Resíduos Sólidos.
Fala Representativa, Fala Representativa, Fala Representativa, Aluno
Aluno 01. Aluno 02. 03.
―Coleta seletiva, ―Descarte correto do lixo, ―Aplicar procedimentos
reciclagem, reciclagem do lixo, existentes para
reutilização, aterros descarte correto de determinados resíduos,
sanitários.‖ resíduo sólido pela como também, desenvolver
indústria.‖ técnicas para poder melhor
esses procedimentos.‖
Fala Representativa, Fala Representativa, Fala Representativa, Aluno
Aluno 04. Aluno 05. 06.
― Descarte adequado ―Depositar os resíduos ―Na minha opinião seria
para cada um tipo de sólidos em locais mais viável reaproveitar o
resíduo sólido apropriados.‖ máximo possível desses
específicos.‖ resíduos.‖
Fala Representativa, ―Se a disposição final fosse adequada, como aterro sanitário
Aluno 07. diminui os problemas causados pela disposição inadequada.‖
Quadro V: Disposição final inadequada dos Resíduos Sólidos.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

Após assistirem aos três vídeos os discentes responderam o Quiz digital. Analisou-se as
respostas do Quis digital para identificar o conhecimento adquirido pelos discentes depois da
exposição dos vídeos. Questionados sobre o número da lei que rege a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos 85,7% dos alunos clicaram na alternativa correta: - Lei de nº 12.305 DE 2 DE
AGOSTO DE 2010, Já 14,2% não souberam responder.
Na segunda questão do Quiz perguntou-se qual das alternativas apresentadas não estavam de
acordo com os objetivos da PNRS. Todos os discentes responderam certo ao clicar na alternativa:
Não incentiva à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias - primas e
insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados. Pois pelo contrario do que afirma essa
alternativa a PNRS incentiva a indústria de reciclagem, bem como entende que a reciclagem
representa geração de renda e diminui a quantidade de resíduo a ser destinada para os aterros.
Questionados sobre as competências ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos no artigo 36 da PNRS, 57,1% dos alunos souberam responder
corretamente, expondo como objetivos a disposição ambientalmente adequada aos resíduos sólidos
provenientes dos serviços da rede publica. No entanto, 42,9% dos estudantes responderam errado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Questionados sobre a ordem de prioridade referente ao gerenciamento de resíduo sólidos de


acordo com o artigo 9 da PNRS, 71,4% dos discentes responderam certo ao clicar na alternativa: -
Não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos - Já 28,6% (dois alunos) responderam de forma errônea.
Na questão 5, quando indagados sobre qual era a destinação final ambientalmente correta
para os resíduos sólidos, 85,7% dos discentes responderam certo, afirmando que a descarte
ambientalmente adequado são nos aterros sanitários, já 14,3% responderam de forma incorreta.
Indagados sobre qual procedimento técnico torna o aterro sanitário mais vantajoso que o
lixão 100% dos responderam de forma correta, clicando na alternativa: - O lixo orgânico e
inorgânico é encoberto, e o chorume canalizado para ser tratado e neutralizado. De fato, no aterro
sanitário os materiais orgânicos e inorgânicos são tratados de forma correta no qual, o chorume
formado pela decomposição desses materiais são canalizados e tratados de forma adequada.
Na questão 7 do Quiz digital, quando perguntados sobre as formas de minimizar os danos
causados pela incineração do lixo, 85,7% responderam certo ao clicar na alternativa: - Fomentar o
uso de filtros nas chaminés dos incineradores para diminuir a poluição do ar.
Diante dos resultados obtidos no Quiz digital pode-se afirmar que de fato os vídeos foram
eficientes para construção do conhecimento sobre Resíduo Sólido dos discentes envolvidos nesta
pesquisa. Comparando os dados do questionário prévio, onde a maioria de 85,7% destes afirmou
não conhecer nenhuma lei que detalhe as premissas desta temática, percebe-se que no Quiz a grande
maioria conseguiu responder de maneira correta e coerente aos questionamentos formulados sobre a
Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao aplicar o questionário prévio e analisar os dados, pode-se afirmar que a maioria dos
discentes não apresentava conhecimento aprofundado sobre os Resíduos Sólidos, fato que justifica a
importância e relevância desta pesquisa, tendo em vista a grande importância do conhecimento
desta temática, pois enquanto licenciandos estes assumirão o papel de professores e necessitam ter
embasamento teórico não somente sobre Química mais sobre diversas áreas, sendo a Educação
Ambiental uma boa opção para o ensino interdisciplinar.
Quanto aos recursos audiovisuais utilizados de caráter informativo, estando de acordo com a
Lei 12.305/2010 que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos contribuíram de forma
significativa para o processo de ensino/aprendizagem destes discentes que inicialmente afirmaram
não conhecer nenhum documento oficial brasileiro que regesse sobre esta temática.
Para analisar se houve de fato aprendizagem significativa, optou-se mais uma vez em
utilizar um recurso audiovisual, o Quiz digital, até então desconhecido para os mesmos. Após

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

análise dos resultados aferidos no Quiz , conclui-se que em todas as questões o percentual de acerto
foi consideravelmente maior que o de erros. Destaca-se o questionamento 02 e 06 onde 100% dos
discentes responderam de maneira correta aos dois. Seguidos das questões 01, 05 e 07 com 85,7%
de acertos respectivamente e a questão 03 com 57,1%.
Diante do exposto conclui-se que os discentes tiveram uma aprendizagem significativa após
assistirem aos vídeos, reafirmando os estudos que comprovavam a inserção de metodologias
digitais no ensino como forma de colaborar de maneira significativa para processo de ensino
aprendizagem. Espera-se que esta pesquisa sirva de incentivo para outras relacionadas à
interdisciplinaridade do ensino de Química e a Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf>. Acesso em: 10 de jul. 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESÍDUOS SÓLIDOS: DO CRESCIMENTO URBANO À PROBLEMÁTICA


AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE IBIASSUCÊ-BA

Luzia Barbosa de OLIVEIRA


Mestranda em Geografia e Bolsista UESB
luh.barbosa@hotmail.com
Lucas Barbosa de OLIVEIRA
Graduando em Engenharia Agronômica pelo IFBaiano em Guanambi
lukas.ibce@hotmail.com

RESUMO
O crescimento das cidades e o aumento populacional, aliado a uma sociedade extremamente
consumista, traz vários problemas ambientais, o lixo urbano é um desses problemas. A problemática
envolvendo o acumulo dos resíduos sólidos em Ibiassucê-BA é complexa e requer um profundo
estudo. O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre processo de expansão urbana e os
problemas ambientais dela decorrentes; enfatizando a geração diária dos resíduos sólidos urbanos e
os impactos ambientais. Com base na Pesquisa Nacional sobre Saneamento Básico-PNSB feita em
2000 pelo IBGE e em autores como Andrade (1994), Camargo (2008), Costa & Freitas (2012),
Figueiredo (1995), Lefebvre (2006), Rodrigues (2009), Santos (2006), Sposito (1994). Afim da
melhor visualização dos impactos foram feitas visitas de campo e o registro visual das instalações
do ―lixão‖ municipal. A ação devastadora do ser humano na natureza, é responsável por diversas
modificações no espaço notórias in lócus de pesquisa, a fauna e a flora são completamente
prejudicadas. Muitas espécies de animais que entram em contato com os resíduos adquirem várias
doenças, traz também outras problemáticas à saúde humana. Repensar o espaço e hábitos culturais
devem ser premissas para a construção de projetos ou medidas que possam amenizar o impacto do
lixo.
Palavras-Chave: Resíduos sólidos, Crescimento urbano, Consumismo, Impacto ambiental.
ABSTRACT
The growth of cities and the population increase, together with an extremely consumerist society,
brings several environmental problems, urban waste is one of these problems. The problem
involving solid waste accumulation in Ibiassucê-BA is complex and requires a thorough study. The
present work presents a reflection on the process of urban expansion and the environmental
problems resulting from it; emphasizing the daily generation of municipal solid waste and
environmental impacts. Based on the Pesquisa Nacional sobre Saneamento Básico-PNSB made in
2000 by IBGE and in authors such as Andrade (1994), Camargo (2008), Costa & Freitas (2012),
Figueiredo (1995), Lefebvre (2006), Rodrigues , Santos (2006), Sposito (1994). In order to better
visualize the impacts, field visits and visual inspection of the municipal "dump" facilities were
carried out. The devastating action of the human being in nature, is responsible for various
modifications in space notorious in locus of research, the fauna and flora are completely impaired.
Many species of animals that come into contact with the waste acquire various diseases, and it also
brings other problems to human health. Rethinking the space and cultural habits should be premises
for the construction of projects or measures that can mitigate the impact of garbage.
Keywords: Solid waste, Urban growth, Consumerism, Environmental impact.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 317


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Os problemas socioambientais urbanos cresceram nos últimos anos, resultado do


crescimento das atividades, econômicas que se reúnem nas cidades reflexos de uma sociedade
consumista e extremamente capitalista. Da extração e produção até a venda, consumo e descarte,
todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe
de nossos olhos.
O crescimento das cidades e o aumento populacional, aliado a uma sociedade extremamente
consumista, faz gerar vários problemas ambientais. O lixo urbano é um desses problemas, ele pode
ser de origem domiciliar, industrial, o hospitalar e/ou o lixo desse século: aparelhos eletrônicos em
geral. Diante desse cenário, o trabalho tem como intuito fazer uma reflexão sobre o processo de
expansão urbana e os problemas ambientais dela decorrentes; enfatizando a geração diária dos
resíduos sólidos urbanos e os impactos ambientais. É uma análise superficial sobre o tema,
abordando questões como poluição do ar, do solo, da água e além de questões sociais, reflexos de
uma sociedade consumista e extremamente capitalista.
Para o êxito dessa pesquisa foi imprescindível um aprofundamento teórico e uma revisão
bibliográfica e documental, baseada na Pesquisa Nacional Sobre Saneamento Básico-PNSB feita
em 2000 pelo IBGE e na leitura de autores como Andrade (1994), Camargo (2008), Costa &Freitas
(2012), Figueiredo (1995), Lefebvre (2006), Rodrigues (2009), Santos (2006), Sposito (1994) para
entender o processo de crescimento urbano de cidades pequenas associado ao modo de vida
contemporânea que gera resíduos sólidos cujo rejeite acabam não sendo feito corretamente e
contaminando o meio ambiente. Foram feitas visitas de campo e o registro visual das instalações do
―lixão‖ municipal.
Foi feita uma análise teórica sobre apropriação do espaço pelo homem, desde o crescimento
das cidades ao impacto no ambiente. Diante das leituras e através da observação do ―lixão de
Ibiassucê‖, conclui-se a necessidade do incentivo de políticas públicas voltas para gestão
sustentável dos recursos naturais e na educação ambiental para conscientização da população, visto
que os recursos naturais do planeta são finitos.

PERCURSO TEÓRICO SOBRE A QUESTÃO SOCIOESPACIAL E AMBIENTAL

A Geografia tem o espaço geográfico como objeto de estudo científico, espaço este que é
marcado pela interação socioespacial da sociedade com a natureza que, nem sempre, é uma relação
harmoniosa, haja vista que as realizações humanas sempre modificam o espaço em busca da
sobrevivência. Como Santos (2006) afirma no começo da história do homem, a configuração
territorial é simplesmente o conjunto dos complexos naturais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada pelas obras dos
homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades etc; verdadeiras
próteses. Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma
produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma
natureza inteiramente humanizada. (SANTOS, 2006, p. 39)

De modo geral a ação humana modifica o ambiente, o meio deixa de ser natural e passa a ser
humanizada. Sobre a essência de estudar a relação sociedade e a natureza Andrade (1994, p.21)
enfatiza o compromisso do geografo com a sociedade ―[...] Isto porque a sociedade atua sobre a
natureza, transformando-a e possibilitando a formação de uma nova natureza que não é idêntica à
primitiva, mas que guarda algumas de suas características, aglutinadas a novas qualidades‖.
Segundo Figueiredo (1995) a relação sociedade-natureza permeia pela ideologia do
consumo. Característica forte da sociedade capitalista ocidental. Produzir, consumir e descartar sem
uma reflexão mais profunda sob viés crítico desse processo, ações automáticas que são induzidas
pelo bombardeio de propagandas sedutoras moldada por um discurso de praticidade.
Com a Revolução Técnico-Científica-Informacional, que propiciou avanços suficientes para
integrar as diferentes partes do planeta e alterar os sistemas de produção no campo e na cidade, a
produção atual está voltada para a rapidez e a informação (comunicação e transporte). O marco do
século XXI é globalização que traz consigo a flexibilidade de informações, além de um acelerado
dinamismo no fluxo de capitais e mercadorias, ainda nessa lógica capitalista é possível salientar que
todo esse avenço gera impactos tanto sociais quanto ambientais. Nessa vertente, Rodrigues (2009)
assevera que,

O avanço da tecnologia coloca em destaque novas formas de conhecimento e apropriação


do território, riquezas naturais, espaço, e deixa-se de enfatizar a importância do território,
das riquezas naturais, do trabalho, lançando sobre eles espessa cortina de fumaça, em
especial com as novas matrizes discursivas. Nos últimos 50 anos, mudam radicalmente a
grafia da terra, as formas de produção do espaço, a apropriação do território e das riquezas
naturais. As riquezas naturais são caracterizadas como importantes apenas quando
relacionadas ao mercado e às contas. (RODRIGUES, 2009, p. 190)

Por onde passa o ser humano apropria-se do espaço e o reconstrói para fins próprios e
consequentemente modifica a paisagem e deixa as marcas de exploração da natureza. Como
Rodrigues (2009, p.199) destaca o desenvolvimento como progresso ―[...] produz sempre novas
mercadorias, consome força de trabalho, matérias-primas, energia, compromete o ambiente,
dilapida os elementos da natureza, provoca poluição, altera o uso do solo, insere o mundo no fetiche
das contas, com a tentativa de ocultar o espaço e diminuir a importância dos que analisam o
espaço‖.
De acordo com Lefebvre (2006), a cidade se torna palco das relações que o capital
estabelece com o espaço, transforma-o em mercadoria para consumo, pois a medida que a
construção de novas estruturas no espaço, altera aspectos da vida cotidiana, atribuindo novas

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funções à cidade. Essas mudanças no espaço, implicam em mudanças na estrutura física e a criação
desse novo espaço viabiliza a comercialização e influência da cidade.
Quando se pensa nos resíduos sólidos, pode-se destacar o crescimento das cidades como
causa do aumento do consumo e consequentemente o descarta. Segundo Lopes & Henrique 2010)
não se pode caracterizar uma cidade pequena como rural, visto que é uma cidade com todas as
características que se espera de um espaço urbano, e se revelaram como espaços socialmente
produzidos com elementos da cultura urbana e onde, de modo adensado, vivia certo número de
pessoas, das quais uma proporção se ocupava de atividades não agrícolas. Assim, a existência
dessas características evidenciou que mesmo cidades muito pequenas constituíam, sim, claramente,
espaços urbanos.
A partir do momento que as cidades crescem devido a adjunto do capitalismo, com o
surgimento de novas indústrias que geram empregos, consequentemente aumenta a demanda
populacional e o desequilíbrio ambiental, uma vez que ―a expressão indústria traduz, no seu sentido
mais amplo, o conjunto de atividades humanas que têm por objeto a produção de mercadorias,
através dos produtos da natureza [...]‖ (SPOSITO, 1994 p. 42).
Annie Leonard apresenta o documentário ―The story of stuff‖31, identificando e criticando o
modo de vida contemporâneo. Para tanto, satiriza o fetichismo do consumo exagerado, mostra como
as propagandas midiáticas ajudam a difundir a cobiça pelas mercadorias e consequentemente
incentivando ao consumo. Dito de outra forma, é uma clara preocupação em mostrar como funciona
o mecanismo de publicidade e toda a ideologia de consumo existente por trás dessa ―necessidade de
ter‖. Sobre a questão ambiental Carvalho& Mauro& Costa (1997) colocam como sendo,

―[...]antes de tudo, uma questão social. Em toda a história da humanidade, modos de


organização social e modos de transformação da natureza são instâncias interativas de uma
mesma entidade, a entidade sociedade-natureza, que o movimento capitalista colocou em
uma escala planetária: o sistema capitalista mundial.‖ (CARVALHO; MAURO; COSTA,
1997, p. 114)

Tendo como base a Pesquisa Nacional Sobre Saneamento Básico PNSB, realizada em 2000,
pelo IBGE é possível refletir sobre a questão de limpeza urbana e coleta de lixo.

A quase totalidade das avaliações feitas sobre a situação da limpeza urbana no Brasil com
base nos resultados da PNSB - 2000 refere-se a três parâmetros principais: a população
urbana afetada pelos serviços de limpeza urbana, o número de municípios, sempre se
considerando sua região geográfica, e o peso dos resíduos coletados ou recebidos nos locais
de destinação final. Neste contexto, os primeiros resultados da análise dizem respeito à
geração per capita de lixo urbano nos municípios, segundo os respectivos tamanhos e
regiões do Brasil. As fontes das informações coletadas pelos pesquisadores do IBGE são os
órgãos responsáveis pela execução dos serviços de limpeza urbana, na grande maioria a
própria prefeitura da cidade (88% dos municípios). No entanto, alguns informantes podem
ter sido demasiadamente otimistas de modo a evitar a exposição de deficiências do sistema.

31 A História das Coisas (versão brasileira) <iframe title=‖youtube video player‖ class=‖youtube-player‖ width=‖480″
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A especificação das Unidades de Destino do Lixo indicou uma situação de destinação final
do lixo coletado no País, em peso, bastante favorável: 47,1% em aterros sanitários, 22,3%
Oferta dos serviços de saneamento básico no Brasil em aterros controlados e apenas 30,5%
em lixões, ou seja, mais de 69% de todo o lixo coletado no Brasil estaria tendo um destino
final adequado em aterros sanitários e/ou controlados. Todavia, em número de municípios,
o resultado não é tão favorável: 63,6% utilizam lixões e 32,2%, aterros adequados (13,8%
sanitários, 18,4% aterros controlados), sendo que 5% não informaram para onde vão seus
resíduos. (IBGE, 2002, p. 49-50)

Estes dados mostram um com contraste com a PNSB-1989 cujo percentual de municípios
que vazavam seus resíduos de forma adequada era de apenas 10,7%. Contudo, apesar da média
nacional de destino do lixo serem aterros sanitários muitos municípios brasileiros não
condescendem na mesma situação.
Além disso a PNSB faz uma ressalva destacando sua volubilidade institucional e a
operacional do setor visto que apenas fornece dados que permitem conhecimento detalhado sobre a
questão da limpeza urbana em todos os municípios brasileiros em dado momento, mas não
asseguram a qualidade, se boa ou má, dos serviços, esteja consolidada, mesmo em curto prazo. Isto
gera uma certa fragilidade do setor, especialmente em épocas de mudanças de administração e
renovações contratuais. Um aterro sanitário pode se transformar em um lixão em questão de dias,
bastando que os equipamentos ali alocados não estejam mais disponíveis.
A respeito da dificuldade de lidar com os problemas ambientais acarretados pelos novos
padrões sociais de consumo e rejeite Costa & Freitas (2012) concluem que,

Os graves problemas socioambientais oriundos do processo de geração de resíduos sólidos


no ambiente urbano expõem as dificuldades enfrentadas pelo poder público e pela
sociedade em tratar corretamente e destinar corretamente os seus refugos e dejetos. As
recomendações técnicas e científicas encontram um vilão de difícil combate surgido e
inserido na lógica capitalista de produção e consumo do/no espaço em forma de abertura de
crédito e facilidade de consumo, reduzindo a máxima de Lavoisier em uma mera “Compro,
logo existo”, ou seja, a impossibilidade de não geração de resíduos é uma realidade posta
dada a necessidade do ser humano de suprir suas necessidades básicas de sobrevivência, no
entanto é notório o excessivo consumo de bens supérfluos estimulado pela mídia
publicitária rompendo a lógica natural de manutenção da espécie. (COSTA & FREITAS,
2012, p.8)

Nesse cenário de constante degradação da natureza existe um débito em estudos e


metodologias mitigadoras no que tange a questão ambiental, para Figueiredo (1995, p.36) ―nas
sociedades contemporâneas, particularmente nas consideradas tecnológicas, a questão dos resíduos
carece de uma análise detalhada de suas implicações com relação à sustentabilidade do planeta‖.
Nessa perspectiva da separação entre sociedade e natureza, Cidade (2001, p. 116) afirmar
ser ―freqüentemente considerada característica essencial do capitalismo, com reflexos nos sistemas
de pensamento que o acompanharam, mostrou-se mais antiga, aparecendo desde os povos
primitivos.‖ Ficando claro, que

[...] o desenvolvimento social e econômico acompanhou-se de uma transformação


progressiva da natureza. Em moldes capitalistas, caracterizou-se fortemente pela utilização

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de recursos naturais vistos como um objeto de exploração para a obtenção de lucros


progressivamente maiores. Os sistemas de pensamento que acompanharam esse
desenvolvimento das forças produtivas não se furtaram à tentação de legitimar esse
crescimento e o progresso que o acompanharia. Em síntese, torna-se cada vez mais claro
que, enquanto a separação entre sociedade e natureza é bastante antiga, o capitalismo,
juntamente com os sistemas de conhecimento associados à sua emergência, tornou mais
aguda essa separação, estabelecendo tendências a uma ruptura. (Cidade 2001, p. 116-117)

Significa dizer que as contradições imbuídas no processo tornaram-se visíveis também na


geografia. E o reconhecimento dessa ruptura, não indica uma perspectiva de que uma visão
totalizadora ou holística pudesse superar os obstáculos teóricos e metodológicos envolvidos. A
questão parece permanecer em aberto. Dada a complexidade, a análise ambiental da pesquisa
constitui-se de um exame particularizado de um sistema ambiental, no caso o ―lixão‖, por meio do
estudo da qualidade de seus fatores, componentes ou elementos, assim como dos processos e
interações que nele possam ocorrer, com a finalidade de entender sua natureza e determinar suas
características essenciais.

OBSERVAÇÕES A CERCA DOS IMPACTOS DOS RESÍDUOS EM IBIASSUCÊ-BA

Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema


natural, e incluem toda a vegetação, animais, micro-organismos, solo, rochas, atmosfera e
fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente também compreende
recursos e elementos físicos como ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica
e etc.
O ambiente em que vivemos tem muita influência sobre a saúde. Como podemos ter
qualidade para a promoção da saúde pública e para o controle da devastação e poluição ambiental,
com o lixo a céu aberto? A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como: ―Saúde não
é apenas a ausência de doença, ela corresponde ao bem-estar humano nas vertentes físicas,
psíquicas e sociais.‖ Este órgão ainda faz referência à saúde ambiental como sendo vinculada ―às
conseqüências na saúde da interação entre população humana e o meio ambiente físico – natural e
transformado pelo homem – e o social‖ sendo esse conceito o mais difundido por todo o mundo.
(GOUVEIA ,1999).
Todavia, o enfoque deste trabalho é fazer uma reflexão sobre as consequências do acúmulo
de resíduos no lixão e possíveis medidas que poderiam, se não solucionar, amenizar tais situações.
Entende-se, segundo a NBR – Normas Brasileiras 10.004/2004, que resíduos sólidos descartados
são os ―[...] resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição‖. (ABNT NBR
10.004, 2004, p. 71). Conforme dados do Censo Demográfico 2010, o município de Ibiassucê conta
atualmente com 10062 habitantes, dos quais 47% residem em áreas urbanas, ou seja, tomando por

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base os dados apresentados na PNSB do IBGE que aponta que a quantidade gerada de resíduos por
habitante no país é de 1kg/pessoa, conclui-se que a na área urbana de Ibiassucê são gerados
diariamente cerca de 5 toneladas de lixo (resíduo sólido urbano domiciliar).
A cidade conta com o recolhimento de lixo diário na sede e uma vez por semana em alguns
povoados. A população separa o material orgânico e não orgânico e evita colocar materiais
cortantes. A prefeitura custeia um caminhão para recolher o lixo domiciliar e o encaminhar para o
―lixão da cidade‖, localizado a cerca de 4 km da sede, depositando os materiais e incinerando na
sequência. No que se refere a coleta diária, a PNSB 2000 ressalta que apesar de não ser a mais
econômica nem necessariamente a mais eficiente, do ponto de vista operacional, é a mais usual. A
localização afastada do lixão não impede a frequência de catadores.
Recentemente existe uma preocupação pública com o local que começam a analisar a
instalação de um aterro sanitário, pois evitaria a exposto ao sol. Portella & Ribeiro (2014) explicam
que para instalação e utilização de um aterro sanitário é necessário o espalhamento, a compactação,
a cobertura e a drenagem dos resíduos, o monitoramento do sistema de tratamento de afluentes, o
monitoramento topográfico e das águas, e a manutenção dos acessos e das instalações de apoio.
Logo após a coleta, os resíduos sólidos são descarregados no aterro sanitário. O lixo é compactado
por um trator, formando uma célula, que será recoberta com argila. No final, o lixo ficará protegido
de espalhamento pelo vento e da ação de insetos e animais.
Na imagem 1, encontram-se quatro fotografias que mostram a realidade do ―lixão‖ de
Ibiassucê. Como foram registradas no fim da tarde foi possível ver a incineração do lixo, a
fotografia 1A mostra a fumaça e o vento direcionando seu caminho. Portella & Ribeiro (2014, p.
119) adverte que ―não é concebível a queima de lixo e a recuperação de energia como forma de
reciclagem. A queima de lixo, mesmo com recuperação de energia não é bem-vista, porque está se
transferindo um problema de resíduo sólido que polui o solo para outro resíduo gasoso que polui o
ar, emitido pelas chaminés‖.
Na fotografia 1B ilustra uma visão superficial da paisagem e o acumulo dos resíduos se
entrelaça e modifica a dinâmica local. O vento, os animais e catadores espalham os materiais, as
plantas ficam entrelaçadas com sacolas plásticas. A imagem 1C retrata que os resíduos sólidos
coletados na zona urbana são rejeitados sem separação para reciclagem ou proteção, sobras de
alimentos, papéis, plásticos, vidros, papelão e o lixo desse século: o tecnológico (pilhas e aparelhos
eletrônicos em geral) são todos misturados. Existe muitos objetos que podem reter água podendo
ser o estopim de um surto de doenças. A imagem 1D ilustra um cachorro transitando pelo monte de
entulhos, do qual muitos se alimentam. Encontrou-se a presença de muitas larvas e moscas, atraídas
pelo mau odor liberado.

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Figura 1: Fotografias do local de rejeito dos resíduos em Ibiassucê


Fonte: OLIVEIRA, L. B. Pesquisa de campo, julho de 2017.

Na área onde localiza-se o lixão, a fauna e a flora são completamente prejudicadas. Muitas
espécies de animais que entram em contato com os resíduos adquirem várias doenças, podendo até
acarretar a morte ou a extinção da espécie. Traz também outras problemáticas à saúde humana,
como a transmissão de várias doenças (malária, dengue, etc.). A vida vegetal acaba, em meio a este
problema. Muitas espécies morrem ou sofrem mutações para se adaptar ao meio no qual está
inserida.
A incineração dos materiais do lixão, acarreta poluição do ar, pois libera vários gases na
atmosfera, como o metano. Estes gases, oriundos da queima dos resíduos, são liberados na
atmosfera, e posteriormente geram condições propícias ao efeito estufa, às chuvas ácidas e ao
aquecimento global. Após incinerados, estes materiais são aterrados, causando o empobrecimento
dos solos. Outro problema é o aparecimento do ―chorume‖, um líquido preto causado pelo acúmulo
de resíduos, que contamina o solo e a água, através do lençol freático existente na região. O solo
fica infértil e quando produz alguma coisa, como um alimento, este é contaminado, assim como a
água, não podendo ser utilizada para consumo humano ou animal.
A promoção da saúde passa a ser vista segundo Albuquerque & Stotz (2004) como uma
tarefa dos governos, das instituições e grupos comunitários, dos serviços e profissionais de saúde. A
reorganização dos serviços é colocada como uma das estratégias para viabilizar ações de promoção

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da saúde, assim como as mudanças na formação e nas atitudes dos profissionais são requisitos para
que as necessidades do indivíduo sejam vistas de uma forma integral. Diante disso, Pedrosa &
Nishiwaki (2014, p. 18) ―é necessário, desta forma, maiores investimentos na Educação Ambiental,
em todas as classes sociais para obter-se bons resultados, tanto na redução da produção como na
reciclagem e reutilização dos Resíduos Sólidos. Sem dúvida, esta ação trará uma melhoria da
qualidade de vida de todos os seres vivos, como também, a sustentabilidade do Planeta Terra‖.
Portella & Ribeiro (2014, p. 133) destacam que ―[...] a Lei da Política Nacional dos Resíduos
Sólidos, apesar de conter avanços consideráveis em nossa legislação ambiental, concomitantemente
aliada a outras legislações pertinentes, não basta para que possam emergir, na sociedade, como um
todo, a percepção da responsabilidade dos indivíduos sobre o consumo ambientalmente
sustentável‖. Existem muitas lacunas e descaso nos assuntos referentes ao descarte dos resíduos
produzidos que continuam degradando o meio ambiente, mas até aonde os aterros sanitários ou os
―lixões‖ irão aquentar tamanha produção de lixo.
1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação antrópica é, em muitas vezes desastrosa na natureza e de certa forma impactante na
biodiversidade local deste modo a pesquisa tentar aventura-se e apresenta sucintamente a ideologia
do desenvolvimento sustentável que prega o uso desses recursos naturais mediando o crescimento
econômico-social e a preservação ambiental.
Numa sociedade altamente consumista, urge a conscientização e a Educação Ambiental
sobre os recursos naturais e a reutilização dos compostos utilizados para a fabricação de produtos e
bens de consumo, objetivando, gradativamente, a diminuição da geração de resíduos sólidos e,
posteriormente, a menor saturação dos aterros sanitários existentes.
Repensar o espaço e hábitos culturais devem ser premissas para a construção de projetos ou
meditas que possam amenizar o impacto do lixo. Para tanto, a sociedade deve despertar da fantasia
que o consumo é a salvação, é necessário começar a reduzir o uso de materiais não recicláveis;
substituir materiais descartáveis por materiais mais duráveis ou reutilizáveis; reduzir embalagens;
minimizar a geração de lixo de jardins. Não somente a população mas o governo poderia
implementar medidas drásticas que faram as pessoas repensar como a implementação de taxas para
a cobrança de lixo por volume ou por peso; e por conta das empresas as maiores geradoras de
resíduos, poderiam aumentar a eficiência no uso de materiais; a criação de mercados locais ou
regionais para os principais produtos, lixo, por exemplo, papel, vidro e metal. Soluções referente ao
envio para aterros sanitários, bem como a incineração são temporárias e não garantem total
eficiência. As chamadas melhores soluções envolvem a redução da geração de resíduos,
conscientizando as pessoas, para a reciclagem e compostagem.

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Lidar com os problemas ambientais causados pela sociedade consumista é uma missão
árdua. Por isso é necessário aperfeiçoar as políticas de gestão dos recursos naturais, conscientiza a
população para diminuir o consumo desenfreado e na reutilização materiais, através do estimulo a
reciclagem. O poder público deveria fiscalizar e cobrar das empresas minimizar os impactos com
meio ambiente e o estimulo de uma educação ambiental eficaz em todos os meios sociais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ALIMENTAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: HÁBITOS ALIMENTARES DE


ESCOLARES DA CIDADE DE SERRINHA E A RELAÇÃO COM O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Marcelo Diogo da Silva BARROS


Especialista em Educação Ambiental e Patrimonial – IFESP
mar_inline@yahoo.com.br
Nednaldo Dantas dos SANTOS
Doutor em Educação – UFRN
nednaldod@hotmail.com
Érika Geicianny de Carvalho MATIAS
Mestranda em Ciências Biológicas – UFRN
erikageicianny@hotmail.com
Michelle Cristina Varela dos SANTOS
Mestre em Ciências Biológicas – UFRN
michellle_biologia@hotmail.com

RESUMO
Uma alimentação equilibrada pode ser vista como uma etapa do desenvolvimento sustentável, de
maneira que corretos hábitos alimentares contribuem para amenizar alguns problemas que
prejudicam o meio ambiente. Esse trabalho buscou identificar alguns hábitos alimentares de
adolescentes da rede estadual de ensino da Escola Estadual Domitila Noronha na cidade de
Serrinha/RN, procurando relacionar esses hábitos com a sustentabilidade e orientando-os a seguir
padrões saudáveis de alimentação. Um questionário foi utilizado para mensurar os hábitos
alimentares dos alunos e observou-se que o tipo de alimentação desses escolares está próximo do
adequado para essa faixa etária, com a maior parte dos alunos dentro da faixa de peso normal e que
não consomem produtos industrializados demasiadamente.
Palavras-chave: Alimentação equilibrada, Desenvolvimento sustentável, Hábitos alimentares.
ABSTRACT
A balanced diet can be seen as a stage of sustainable development, so that correct eating habits
contribute to soften some problems that harm the environment. This study aimed to identify some
eating habits of adolescents in the state school network of Domitila Noronha State School in the city
of Serrinha/RN, seeking to relate these habits to sustainability and guide them to follow healthy
eating patterns. A questionnaire was used to measure the eating habits of the students and it was
observed that the type of food of these students is close to the adequate for this age group, with
most students within the normal weight range and who do not consume too industrialized products.
Key-words: Balanced nutrition, Sustainable development, Eating habits

INTRODUÇÃO

No Brasil, várias instituições de ensino têm se empenhado em promover estudos e ações que
coloquem em prática o desenvolvimento sustentável e encontrem possíveis soluções para problemas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambientais. Acredita-se que as mais variadas pesquisas em educação ambiental se devem ao fato
das instituições de ensino superior oferecerem cursos ligados a essa área, possibilitando não
somente estudos sobre desenvolvimento sustentável como também a elaboração de ações de
sustentabilidade que são aplicadas de imediato por esses pesquisadores, (MAYOR, 1998).
A educação ambiental e o desenvolvimento sustentável devem estar diretamente associados
à preservação e a conservação ambiental. Porém, é necessário agir e refletir nas práticas sociais que
estão marcadas pela intensa degradação do meio ambiente. O agir no contexto ambiental deve
envolver uma série de questões educativas que tomem como base a sustentabilidade socioambiental.
A necessidade da educação das pessoas é tão grande quanto à necessidade da conservação e
preservação ambiental. Os problemas ambientais não serão resolvidos facilmente se não houver
uma mudança radical nos conhecimentos que temos e nos valores sobre o desenvolvimento
econômico na qual nossa sociedade está baseada (LEFF, 2001).
Existe uma inquietante necessidade de não somente elaborar ações que favoreçam o tema
meio ambiente, mas de abordar esse complexo tema de forma que possa ser articulado com as mais
diferentes áreas do saber, mostrando assim que todos têm um papel importante e necessário para
com os problemas ambientais que nos cercam. É necessária uma mudança nas práticas cotidianas
diante de uma realidade na qual estamos constantemente ameaçados pelos problemas ambientais
que foram causados pelo nosso modo de vida (BECK, 1992).
Uma sociedade sustentável deve estimular e incentivar as responsabilidades individuais,
dando importância a ética, a justiça social, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental (JACOBI,
1998). A educação ambiental além de se preocupar com a preservação e conservação ambiental
deve buscar também a equidade social dos indivíduos com solidariedade e respeito, estimulando
valores que possam fazer diferença no contexto dos valores distorcidos da nossa sociedade
(JACOBI, 1999). Esse processo deve começar na escola, com a reflexão de conceitos sobre
equilíbrio entre fatores bióticos e abióticos e suas relações (TAMAIO, 2000). A escola deve
propiciar um ambiente na qual os indivíduos possam vincular práticas sociais com natureza, ou seja,
a educação ambiental é uma ação educativa interdisciplinar, uma vez que trata ao mesmo tempo
questões de caráter ecológico como também a ética, a ciência, a tecnologia, a política e o
sociocultural (DIAS, 2000).
Apropriando-se do fato de que existem diversas formas de se trabalhar a educação
ambiental, com suas várias dimensões, isso possibilita uma gama de alternativas para a comunidade
escolar. Uma das alternativas que é possível de se trabalhar é associar a postura de sustentabilidade
com o consumo nutricional equilibrado, nessa frente é possível fazer uma reflexão sobre o
consumismo e o uso inadequado de alimentos e seu impacto no meio ambiente e na qualidade de
vida. Não obstante, saber que uma alimentação correta é o essencial para todas as pessoas muitas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

delas não se preocupam com o fato e muito menos sabem que se alimentar erroneamente além de
prejudicar a saúde de forma direta e indireta provoca a degradação do meio ambiente (REGO 2002).
De acordo com a pesquisa de (FRANZ et al., 2004), 95% do material que vai para a reciclagem vem
de embalagens alimentícias.
O perfil nutricional adequado está associado diretamente a uma alimentação saudável e esta,
por sua vez, encontra-se ligada as diferentes crenças e culturas que permeiam na vida social de cada
povo, sendo que ela pode expressar até mesmo a identidade de uma determinada região
(GARNELO & WELCH, 2009). Uma alimentação desequilibrada nutricionalmente pode trazer
diversos prejuízos para a saúde, como a diabetes, hipertensão, obesidade, entre outras patologias
(COIMBRA, 2010).
Ações de caráter educativo que possam incentivar uma transformação na educação alimentar
de indivíduos, valorizando e respeitando os limites das crenças e das culturas de cada povo, a
história e a regionalidade são importantes não somente para obtenção de uma vida mais saudável,
mas uma forma de promover um compromisso com a sustentabilidade ambiental. As ações
educativas visam tornar os indivíduos autônomos e conhecedores de que suas práticas corretas de
alimentação interferem não somente na sua saúde em si, mas em uma conjuntura complexa de
fatores que levam tudo a uma conexão com o meio ambiente, não comprometendo assim os
recursos naturais das gerações futuras (CAPRA, 2004).
As formas como são produzidos hoje em dia os alimentos não contribuem em nada para
diminuir os impactos causados ao meio ambiente, os resíduos produzidos nos processos de
fabricação causam muita poluição e degradação da biosfera de modo que o lixo é lançado em maior
quantidade do que o sistema pode processar e recompor. Segundo (LAYARGUES, 2002) esses
resíduos constituem um dos problemas mais graves que os ambientes urbanos enfrentam no
momento presente.
Conhecer os processos de fabricação dos alimentos que fazem parte do cardápio dos
indivíduos permite elaborar propostas de intervenção no comportamento alimentar das comunidades
escolares (TURANO, 1990). O conhecimento do processo de produção de alimentos
industrializados pode estimular o interesse em manter uma postura mais saudável e biosustentável.
A era da alimentação do tipo fast-food vai na contramão das inúmeras opções saudáveis que
podemos implementar em uma dieta saudável. Uma ação educativa é o uso de hortas em diferentes
espaços que visem o consumo de frutas, hortaliças e feijões, e que esses alimentos possam servir
para melhorar a alimentação da comunidade escolar (MAGALHÃES, 2003).
Essa pesquisa objetiva analisar alguns hábitos e práticas alimentares de indivíduos de uma
escola situada na região do agreste potiguar. Os dados dessa pesquisa servirão para traçar um perfil
de como os alunos do ensino médio daquela escola se alimentam e como os seus hábitos colaboram

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para manter uma rotina de vida saudável. Analisando todos esses dados também será possível nessa
pesquisa correlacionar a alimentação e hábitos saudáveis com padrões de sustentabilidade, que
servirão para examinar o quanto esses hábitos contribuem de maneira positiva ou negativa na
manutenção da saúde da natureza.

METODOLOGIA

A pesquisa do presente trabalho foi realizada na Escola Estadual Domitila Noronha


localizada no município de Serrinha/RN, com alunos do ensino médio em uma faixa etária entre 14
a 19 anos. Esta escola situada na região do agreste potiguar, uma região que apresenta
características naturais como clima seco, paisagem semiárida e baixo índice pluviométrico, merece
atenção no que se refere a um trabalho de conscientização voltado para a adoção de práticas
sustentáveis, inclusive quanto à alimentação.
O trabalho foi organizado em etapas para melhor observação e coleta de dados. Em uma
primeira etapa do projeto foi realizado uma analise do nível de conhecimento que os alunos
possuem acerca de desenvolvimento sustentável e alimentação saudável, por meio de aulas e
atividades que pudessem mensurar os conhecimentos prévios e ao mesmo tempo incorporar novas
ideias. Na segunda etapa foi realizada uma ação de intervenção com oficinas na qual foram
apresentados todos os conteúdos e informações necessários para o entendimento de questões como
desenvolvimento sustentável, horta orgânica e alimentação saudável.
Dentro do tema principal, alimentação saudável, foram abordadas as questões pertinentes de
uma boa nutrição como: as quantidades adequadas de carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e
sais minerais e o por que essas substâncias têm papel tão importante para nossa saúde, os danos ao
organismo causados pela falta ou excesso desses nutrientes, a composição nutricional dos
alimentos, e o perigo dos alimentos industrializados. Na etapa seguinte, os alunos responderam a
um questionário (objeto da pesquisa) sobre os seus hábitos alimentares, relacionando tudo que
aprenderam com o seu real estilo de alimentação. O questionário respondido após as outras etapas
do curso tem como intenção criar um senso crítico nos alunos, uma vez que compararam o que
aprenderam com o que realmente fazem na sua alimentação. Esses dados serviram para mensurar o
padrão de alimentação dos alunos na escola pesquisada.
Na pesquisa, com o questionário, foi consultado em forma de sorteio um universo
representativo dos alunos do ensino médio com um total de 50 alunos, uma média de 30% do total
de discentes no turno matutino da escola. O percentual consultado atende aos desvios estatísticos
que indicam um nível seguro de indivíduos extraídos de uma população, ou seja, a amostragem do
processo de escolha da amostra [LEVIN, 1987].

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foi utilizado um questionário de frequência do consumo alimentar (QFCA), para medir a


periodicidade com que são consumidos determinados alimentos e nutrientes, e quais deles estão
mais presentes na dieta dos alunos. Com esses dados é possível fazer as análises e comparações
com os padrões propostos pela literatura. A antropometria para a análise do estado nutricional foi
medida com a relação peso x altura, essa relação foi escolhida, pois é a mais utilizada em avaliações
nutricionais, dada a fácil disponibilidade de equipamentos para a realização das medições. A altura
foi obtida com os participantes estando de pé, com a cabeça e calcanhares encostados na parede. O
peso foi medido com o menor número de peças de roupa possível e no período da manhã. O Índice
de Massa Corporal (IMC) é expresso em quilogramas para a massa corporal e em metros para a
estatura. O cálculo realizado para a medição foi o seguinte:

peso(kg)
IMC=
Estatura 2

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No universo pesquisado é observado que a maior parte dos alunos é do sexo masculino
(54%), ante (46%) do sexo feminino, ressaltando que esses resultados foram obtidos por meio de
sorteio dos participantes. Sendo que (37%) do sexo masculino estão em uma faixa etária entre 17 e
18 anos, comparando com os alunos do sexo feminino (46%), temos apenas (21,7%) na mesma
faixa etária. Esses dados levantam uma hipótese de que os alunos do sexo masculino estão
percentualmente mais fora de faixa do que os alunos do sexo feminino.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 11.274 de 6 de
fevereiro de 2006, o estudante deve ingressar no ensino médio aos 15 anos de idade e concluir aos
17 anos de idade. Os dados do trabalho mostram que os alunos do ensino médio do sexo feminino
da Escola Estadual Domitila Noronha estão dentro da faixa etária ideal proposta pela LDB.
Nas tabelas a seguir é mostrada a frequência de consumo de grupos alimentares e a fonte dos
alimentos onde são encontrados. Esses alimentos são os mais comuns na dieta básica dos
brasileiros.

Arroz, pães e massas Consumo semanal


Arroz branco cozido 226
Batata doce cozida 87
Biscoito tipo ―Cream Cracker‖ 116
Biscoito tipo ―Maria‖ 83
Biscoito recheado 116
Bolo 87
Macarrão cozido 130
Pão francês 174
Purê de batata 40
Tabela 15. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de carboidratos por alunos do ensino médio da
Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os adolescentes nessa faixa etária pesquisada representam um grupo muito susceptível a


influências externas que podem levá-los a se nutrirem de maneira inadequada, tais como fatores
socioculturais, as suas convivências, influência da mídia, entre outros (DIETZ, 1998). A
disponibilidade, oferta e praticidade dos alimentos industrializados é muito grande, alimentos com
valor nutricional inadequado, como gorduras saturadas, colesterol, sal e açúcar estão na preferência
dos adolescentes (DIETZ, 1998).
Dentro do grupo de ―arroz, pães e massas‖, nota-se que há um consumo maior de arroz,
macarrão e pães, sendo esses alimentos os preferidos na ingestão de carboidratos. De acordo com
(DÂMASO, 2001), esse nutriente é necessário como fonte primária de energia no nosso organismo,
bem como o desenvolvimento e manutenção das funções celulares.

Verduras e legumes Consumo semanal


Jerimum cozido 41
Alface 101
Beterraba 32
Cenoura 144
Chuchu 21
Pepino 22
Pimentão 107
Repolho branco cru 11
Tomate comum 191
Tabela 16. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de verduras e legumes por alunos do ensino
médio da Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

No grupo de ―verduras e legumes‖ o consumo se mostra de baixo a moderado, alimentos


que são extremamente necessários para suprir às necessidades diárias de vitaminas e sais minerais.
Segundo estudos de (GARCIA et al, 1998), a deficiência desses elementos pode acarretar
problemas como a diminuição da absorção de ferro não heme. O ferro não heme é aquele que
apresenta menor biodisponibilidade nos alimentos, sendo ele mais encontrado em vegetais de cor
verde escuro.

Feijões e sementes Consumo semanal


Feijão cozido 290
Soja cozida 23
Ervilha 32
Tabela 17. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de leguminosas por alunos do ensino médio da
Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor

De acordo com recomendado pela pirâmide alimentar da Sociedade Brasileira de Pediatria


(SBP), a frequência de consumo de ―feijões e sementes‖ está dentro do esperado, sendo o feijão
ingerido por 100% dos alunos com uma periodicidade média de 2 a 7 vezes por semana.

Proteínas (carnes e ovos) Consumo semanal


Bife de fígado frito 46
Carne assada 138
Carne cozida 179

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Carne moída 72
Atum em lata 23
Frango assado inteiro 150
Mortadela 97
Ovo cozido 100
Ovo frito 122
Salsicha 115
Sardinha em conserva 63
Tabela 18. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de proteínas por alunos do ensino médio da
Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

Seguindo os mesmos padrões de referência da (SBP), analisando a tabela 4, nota-se que o


consumo de proteínas de origem animal também se mostra de baixo a moderado uma vez que o
consumo de carnes e ovos deve atingir uma média de duas vezes ao dia. As proteínas constituem
um grupo alimentar que servem como construtores e reparadores, renovando nossas células e
construindo novos tecidos, por isso as proteínas apresentam maior importância para crianças e
adolescentes (FREITAS, 2002, p.43).

Leite e derivados Consumo semanal


Coalhada 30
Iogurte 102
Leite em pó 137
Leite integral longa-vida 49
Queijo 109
Tabela 19. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de leite e derivados por alunos do ensino médio
da Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

Ainda de acordo com a (SBP) A ingestão de ―leite e derivados‖ também se mostra


relativamente pobre. O consumo de leite e derivados deve atingir uma média de três porções ao dia
de um desses alimentos. As proteínas presentes no soro de leite são bastante apropriadas na
alimentação humana por possuir aminoácidos essenciais e possuir alta digestibilidade (TOSI et AL.,
1997).

Doces e Açúcares Consumo semanal


Açúcar cristal 178
Bananada 58
Doce de leite 71
Goiabada 52
Mel 58
Tabela 20. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de doces e açúcares por alunos do ensino médio
da Escola Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

Novamente seguindo os padrões da (SBP), que diz que o consumo de açúcar e doces deve
seguir uma média de 1 a 2 porções diárias, é notado na tabela 6 que o consumo de doces e
açúcares também obteve uma média baixa, não significando que uma maior ingestão desse grupo
alimentar seja benéfico para a saúde. De acordo com (Monteiro et al., 1995), uma alimentação
com consumo excessivo de açúcares e gorduras, juntamente com o sedentarismo pode ocasionar
problemas de saúde como o diabetes e obesidade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Frutas Consumo semanal


Abacate 51
Abacaxi 70
Acerola 84
Banana-prata 116
Cajú 32
Goiaba 97
Jaca 40
Laranja-pêra 100
Limão 55
Maçã 140
Mamão formosa 51
Manga 59
Maracujá (suco puro) 128
Melancia 42
Melão 60
Pêra 29
Salada de frutas 69
Uva comum 99
Suco de abacaxi 75
Suco de laranja 92
Tabela 21. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de frutas por alunos do ensino médio da Escola
Estadual Domitila Noronha Serrinha/RN. Elaborado pelo autor.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a ingestão de 4 a 5 porções diárias de


frutas para essa faixa etária. Na tabela 7 é possível observar que algumas frutas são bem mais
consumidas que outras sugerindo que isso se deve ao fato da acessibilidade a tais frutas ou até
mesmo pelo gosto individual desses jovens. Seguindo os resultados da tabela, observa-se que o
consumo de frutas segue o recomendado pela (SBP), com uma média de 4 porções diárias. Segundo
(MARCHINI et al., 1994), a disponibilidade de alimentos influencia no modo como determinadas
populações ingerem os alimentos. Ainda na tabela 7 percebe-se que banana, maçã, laranja e
maracujá são mais consumidos do que jaca, pêra e abacate por exemplo.

Bebidas Consumo semanal


Sucos 250
Achocolatados 82
Laticínios 84
Refrigerantes 121
Leite (puro) 75
Bebidas à base de soja 24
Café 228
Chá 38
Tabela 22. Frequência de consumo em ―vezes por semana‖ de bebidas por alunos do ensino médio da Escola
Estadual Domitila Noronha Serrinha-RN. Elaborado pelo autor.

Na análise da tabela 8, referente à frequência de consumo de ―bebidas‖, o consumo semanal


moderado de sucos pode substituir em parte a baixa frequência na ingestão de algumas frutas. De
acordo com (SETTE, 2000), em sua pesquisa, concluiu que os jovens adolescentes são mais
resistentes a ingestão de café, observando a tabela percebe-se que os jovens da Escola Estadual
Domitila Noronha consomem mais café do que outras bebidas relacionadas na tabela 8. A ingestão

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de refrigerantes aumenta o risco de ganho de peso, aumento de cáries dentárias e diabetes


(CARVALHO, 2006). Com essas análises pode-se chegar a conclusão que o consumo de
refrigerantes deve ser o mais próximo possível de zero, para não prejudicar a saúde pelos fatos já
mencionados anteriormente. A ingestão das outras bebidas incluídas na tabela não representa
grandes influências nas necessidades nutricionais necessárias para a faixa etária estudada. As
bebidas como ―sucos‖, ―laticínios‖ e ―leite (puro)‖ estão relacionadas em outras tabelas descritas
anteriormente, servindo aqui apenas como comparação com as demais bebidas.
De acordo com os resultados do presente trabalho, observa que o estado nutricional dos
alunos pesquisados não se mostra tão ideal como esperado, uma vez que há indivíduos tanto abaixo
do peso (32%), como indivíduos acima do peso (10%), e apenas (58%) apresentam peso normal. O
padrão de referência nesse caso seria o maior número de indivíduos com peso normal próximo a
100%. Ainda de acordo com a Organização Mundial de saúde (OMS), o índice de massa corpórea
(IMC) não mede o percentual de gordura corporal, uma vez que um alto IMC pode, por exemplo,
indicar uma elevada porcentagem de massa muscular magra, servindo apenas para analisar
juntamente com outros métodos, identificar problemas como obesidade e outras doenças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa mostrou que o hábito alimentar dos alunos da Escola Estadual Domitila
Noronha segue próximo do padrão esperado para essa faixa etária, apresentando consumo ideal de
frutas e um pouco baixo em verduras, com um maior consumo de doces e massas, como é esperado
para essa faixa etária. A baixa ingestão de frutas pode ser compensada em parte pelo consumo de
sucos de frutas, apesar dessa substituição não suprir nutricionalmente a ausência no consumo das
frutas. Observa-se também um consumo bem próximo ao ideal de feijão e arroz, alimento básico
das famílias brasileiras, suprindo assim parte das necessidades diárias de proteínas quando
consumidos juntamente.
Com esse trabalho foi possível verificar também que os alunos da Escola Estadual Domitila
Noronha não possuem um hábito alimentar danoso para os padrões da sustentabilidade, sem
consumo excessivo de industrializados e de alimentos de origem animal, como a carne
principalmente. O custo com uma alimentação saudável, ―in natura‖, é na maioria das vezes bem
menor que uma alimentação baseada em alimentos industrializados. De acordo com (GOUVEIA,
2006), alimentos industrializados passam por diversos processos para durarem por mais tempo e
serem práticos, que incluem a adição de aditivos químicos como corantes, conservantes,
aromatizantes entre outros, que não fazem bem a saúde e podem ocasionar o aparecimento de
câncer, alergias e outras enfermidades.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Apesar dos alunos da Escola Estadual Domitila Noronha não apresentarem hábitos
alimentares tão próximos das pirâmides alimentares propostas pela (SBP) o consumo é pequeno de
alimentos que afetam diretamente e indiretamente o meio ambiente, seja pelo seu descarte e
reciclagem ou simplesmente pelo que é necessário nas suas etapas de produção para esses produtos
chegarem a nossas casas. Esse trabalho, porém não aborda todas as características alimentares dos
alunos, entretanto a relação entre o perfil nutricional dos indivíduos desta escola com as ―práticas
sustentáveis‖ serão fundamentais para a melhoria da qualidade de vida. Faz-se necessário em
trabalhos posteriores análises mais criteriosas, incluir mais tipos de alimentos nos questionários
bem como aumentar o universo amostral para se obter um nível maior de confiança, porém esses
novos elementos poderiam ganhar novos objetivos que requeriam novos estudos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GESTÃO AMBIENTAL E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UM


ESTUDO DE CASO EM UMA PRODUTORA DE CACHAÇA
NA CIDADE DE AREIA - PB

Maria Dalva Borges da SILVA


Graduada em Ciências Contábeis da FAC-CG
dalvareia@hotmail.com
Ádria Tayllo Alves OLIVEIRA
Professora Orientadora Mestre em Ciências Contábeis da FAC-CG
adriatayllo@gmail.com
Danilo de Oliveira ALEIXO
Professor Doutor em Recursos Naturais da FAC-CG
daaleixo@uol.com.br

RESUMO
Gestão Ambiental é um sistema de administração empresarial que junto com a contabilidade
ambiental, permite um desenvolvimento sustentável por parte das empresas. Desta maneira,
à gestão ambiental visa o uso prático e técnicas administrativas que possa diminuir ao
máximo o impacto ambiental. Neste sentido, o gerenciamento dos Resíduos Sólidos é uma
pratica da gestão ambiental, que tem como princípio reutilizar ―lixo‖, como os elementos que
sobra da produção para lhe agregar valor econômico. Assim, esta pesquisa tem por objetivo
analisar como a gestão ambiental contribui para o gerenciamento dos resíduos sólidos em
uma produtora de cachaça na cidade de Areia-PB. A metodologia aplicada descritiva, com
abordagem qualitativa, sendo feito um estudo com aplicação de um questionário, realizado
com a gestora financeira, no período de 2017. Os resultados encontrados demonstraram que
não existe um Sistema de Gestão Ambiental, mas existe um sistema de Controle ambiental
muito organizado baseado nas experiências dos gestores. Os resíduos que são produzidos na
produção são aproveitados, como por exemplo, o bagaço que é utilizado para alimentar a
caldeira, assim não causa o desmatamento, o que sobra é vendido para fazer cama de galinha, e o
vinhoto é aproveitado como adubo orgânico na própria produção.
Palavras chave: Gestão Ambiental; Resíduos sólidos; Produtora de cachaça.
ABSTRACT
Environmental Management is a system of business administration that together with environmental
accounting, allows a sustainable development by companies. In this way, the environmental
management aims at the practical use and administrative techniques that can minimize the
environmental impact. In this sense, the management of Solid Waste is a practice of environmental
management, whose principle is to reuse "garbage", as the elements that are left over from
production to add economic value. Thus, this research aims to analyze how environmental
management contributes to the management of solid waste in a cachaça producer in the city of
Areia-PB. The descriptive applied methodology, with a qualitative approach was carried out with a
questionnaire, carried out with the financial manager, in the period of 2017.The results found
demonstrated that there is no Environmental Management System, but thereis an Environmental
Control system Very organized based on the experiences of the managers.The waste that is
produced in the production is used, for example, the bagasse that is used to feed the boiler, so it

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

does not cause deforestation, what remains is sold to make chicken bed, and the vinhoto is used as
organic fertilizer in the Own production
Keywords: Environmental Management; Solid wastes; Producer of cachaça

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais na maioria das vezes provocam grandes danos ao meio ambiente.
A educação ambiental deveria fazer parte da grade curricular, pois é na escola que se começa a dar
importância a preservação da natureza, sendo que não basta só falar no assunto tem que se viver na
prática.
Existe problemas que certamente ameaça a vida do meio ambiente, como por exemplo do
rejeito da produção, que se não forem usados de volta na própria produção pode poluir o meio
ambiente, causando um impacto ambiental. O impacto ambiental é alteração no meio ambiente
podendo ser causado pela ação do homem ou da própria natureza. Da natureza quando ocorre uma
explosão de um vulcão, o choque de um meteoro, um raio etc. Do homem quando ele polui o meio
ambiente com lixos, quando desmate ou quando causa um acidente como aquele da Samarco, o
desastre de Mariano.
O conceito de Impacto Ambiental é definido no Brasil pelo CONAMA (Conselho Nacional
do Meio Ambiente). O órgão federal fala em interferências biológicas, químicas e físicas no meio
ambiente levada como resultado do sistema produtivo humano, que tem consequência na saúde,
segurança, bem-estar da população, seja entre os seres humanos como também nos biomas.
Quando se trata de discutir questões ambientais um dos problemas é associar crescimento
econômico com a preservação ambiental. A participação da contabilidade pode ser importante, pois
pode despertar o interesse para as questões ambientais. Pereira e Kraemer (2002) nos traz uma
definição bastante esclarecedora do que seria um sistema de gestão ambiental como um conjunto de
procedimentos para gerir ou administrar uma organização de forma a obter o melhor
relacionamento com o meio ambiente. Contabilidade ambiental, um passaporte para a
competitividade.
A empresa que pretende ser competitiva na era ambiental deve possuir uma relação muito
boa com o meio ambiente, procurando aproveitar a utilização dos recursos disponíveis, e reduzir os
custos de manuseio e descarte de resíduos. Podendo analisar os procedimentos adotados no que se
diz respeito ao sistema de gestão ambiental bem aplicado.
Uma ferramenta proposta pela gestão ambiental é a produção mais limpa, a qual proporciona
a organização não apenas a redução de seus custos, como também fazer uso de seus recursos
naturais. Para melhor aplicação desta ferramenta a empresa deve verificar como o processo
produtivo é desenvolvido, pois a geração de resíduos pode ser um dos pilares que sustenta essa

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ferramenta, visto que o seu objetivo estar em tentar evitar ao máximo a geração de resíduos, e se
isso não seja possível buscar meios adequados para o seu descarte através da reciclagem interna ou
externa na própria produção.
Assim, o estudo tem por problemática: Como a gestão ambiental contribui para o
gerenciamento dos resíduos sólidos em uma produtora de cachaça na cidade de Areia – PB?
Para tanto, tem-se como objetivos: Geral - Analisar como a gestão ambiental contribui para
o gerenciamento dos resíduos sólidos em uma produtora de cachaça na cidade de Areia –PB e
Específicos: Verificar na literatura existente práticas de gestão ambiental, aplicável a setor
supracitado; Observar se os mecanismos de gerenciamento de resíduos aplicado na empresa; e
Averiguar a utilização da gestão ambiental no aprimoramento do gerenciamento dos resíduos
sólidos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Gestão Ambiental

Há muito tempo as empresas vêm se preocupando com a preservação da natureza. Pois vem
se percebendo que com a modificação do meio ambiente, percebe-se que várias mudanças na saúde
humana também vêm aparecendo, daí a necessidade de proteger o meio ambiente para que, de
quebra proteger a saúde da humanidade.
Esta mudança na questão ambiental obrigou a classe industrial a desenvolver um sistema de
gestão ambiental (SGA). Com este sistema, os empresários começaram a observar que trabalhando
corretamente, respeitando uma postura ambiental correta refletia diretamente na sua produtividade.
De acordo com Alcântara et al (2012) a gestão ambiental vem ganhando um espaço
crescente no meio empresarial. O aumento da consciência ecológica se faz visível em diferentes
níveis e setores da sociedade. Assim pode-se considerar que, a aplicação da Gestão Ambiental tem
como objetivo criar técnicas, planejar, organizar e administrar atividades econômicas e sociais de
forma a utilizar de maneira racional os recursos naturais, bem como realizar o cumprimento da
legislação ambiental.
Neste sentido, Theodoro (2000) afirma que a gestão ambiental pode ser definida de diversas
maneiras, dependendo do objetivo que se busca qualificar. De um modo geral, pode-se dizer que ela
tem a função de planejar controlar, coordenar e formular ações para que se atinjam os objetivos
previamente estabelecidos para um dado local, região ou país.
A Gestão Ambiental é de grande importância para o desenvolvimento sustentável, pois
apresenta diferentes técnicas em benefício ao meio ambiente, mas deve-se observar que, não basta
apenas contar com sistemas de gestão eficientes e sim, abordarmos práticas de Educação Ambiental

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

como ponto de partida, expondo conhecimentos e alternativas para minimizar os problemas


ambientais e, para depois aplicarmos técnicas e soluções que cabem aos Sistemas de Gestão
Ambiental.

Sistema de Gestão Ambiental

Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) são definidos segundo a NBR ISO 14001 (ABNT,
2009) ccomo a parte do sistema de gestão que compreende a estrutura organizacional, as
responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e recursos para aplicar, elaborar,
revisar e manter a política ambiental da empresa. Desta forma, têm-se várias certificações para que
as empresas apliquem o pensamento ambiental e sustentável, por meio de técnicas e soluções.
Por isso, as organizações têm sofrido pressão para administrar melhor a questão ambiental, e
por este motivo ver-se um movimento de implantação de Sistemas de gestão ambiental para que o
futuro tenhamos uma sociedade mais organizada e saudável.
De acordo com Perotto et al (2008), o propósito dos sistemas de gestão ambiental pode ser
sintetizado como uma possibilidade de desenvolver, implementar, organizar, coordenar e monitorar
as atividades organizacionais relacionadas ao meio ambiente visando conformidade e redução de
resíduos.
Para Melnyk, Sroufe e Catalone (2002) os sistemas de gestão ambiental podem ser definidos
como ferramentas de identificação de problemas e soluções ambientais baseadas no conceito de
melhoria contínua.
Enfatiza-se que além de contribuir com a responsabilidade social e com o cumprimento da
legislação, estes sistemas possibilitam identificar oportunidades de redução do uso de materiais e
energia e melhorar a eficiência dos processos. Já para Roland-Jones, Pryde e Cresser (2005) um
sistema de gestão ambiental (SGA) apoia as organizações no controle e a redução contínua de seus
impactos ambientais. Matthews (2003) ressaltar que, um sistema de gestão ambiental, consiste
basicamente de políticas, processos e protocolos de auditoria para operações que geram desperdício
de materiais ou emissões de poluentes.
Ele objetiva dotar as empresas de instrumentos que permitam reduzir os danos ao meio
ambiente, mas de modo que seus benefícios excedam aos custos de sua implantação.

Gerenciamento dos Resíduos Sólidos

Após a preocupação com a conservação do meio ambiente, veio a preocupação com os


resíduos sólidos, pois com o desenvolvimento a necessidade de aumento da produção, com aumento
da produção vem o aumento dos resíduos sólidos, onde colocar, o que fazer?. Nesse momento surgi

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a necessidade de reaproveitar o que desse para aproveitar e em uma produção de cachaça os


resíduos podem ser 100% aproveitados.
Segundo a normativa da ABNT NBR 10004/2004, os resíduos sólidos são definidos como:

Os resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de


origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnicas e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

A Norma Brasileira (NBR) 10004/2004 define resíduo sólido e semissólido como sendo o
resultado de ―atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola de serviço e
de varrição‖. Para ABNT (2004) o lixo, pode-se dizer que é tudo aquilo que se entende por
imprestável, sujo ou inútil é considerado como resíduo, sendo sólido ou semissólido de acordo com
seu estado físico.
A poluição ambiental, relacionado ao uso inadequado da terra o plantio, colheita e
aproveitamento de resíduos naturais, além da poluição resultante do derramamento de resíduos
industriais e urbanos, causa mudanças na estrutura e na função dos sistemas, contaminando a
biodiversidade nos negócios, dos ecossistemas, relativo ao controle de qualidade do ar, da água.
Essas modificações afetam diretamente população humana, podendo causar riscos à saúde.
Os primeiros procedimentos, denominadas de ―controle corretivo‖ cuidava de controlar ou diminuir
os danos causados ao meio ambiente por resíduos sólidos já produzidos.
Para Brasil (2010) o gerenciamento certo dos resíduos produzidos nas empresas destaca a
responsabilidade de socioambiental da mesma, com o meio ambiente. Sendo assim, foi criada uma
lei 12.305/2010 que elabora a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, ou PNRS.
Segundo o MMA (Ministério do Meio Ambiente) (2013) a Lei nº 12.305/10, que institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e contém instrumentos importantes
para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais,
sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.
Além disso, o MMA (2013) prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo
como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para
propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor
econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos
rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
Desta forma o reaproveitamento dos resíduos sólidos é de grande importância para a vida
útil de qualquer empresa, que invés de poluir melhora a produtividade, podendo assim aumentar o
seu lucro, com a possibilidade que uma empresa tem de fornecer uma quantidade de produto com a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

menor quantidade de trabalho e impacto ambiental, causando a capacidade da região perceber esse
valor ―mínimo‖ de desgaste ambiental.

METODOLOGIA

A tipologia da pesquisa classifica-se em descritiva e exploratória, segundo Gil (2008) a


pesquisa com caráter exploratório proporciona maior familiaridade com o problema. Podendo
envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado e
geralmente, apresentam-se na forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso.
Enquanto, a pesquisa descritiva, afirma que Gil (2008), descrever as características de
determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas
padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.
Quanto a abordagem do problema empregado nesse estudo é qualitativa. Para Richardson
(1999) as pesquisas qualitativas podem descrever a complexidade de determinado problema,
analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por
grupos sociais.
Para tanto utilizou-se de um estudo de caso em uma produtora de cachaça na cidade de
Areia – PB, no período de 2017. Ressalta-se que estudo de caso é um método qualitativo que
consiste, geralmente, em uma forma de aprofundar uma unidade individual. Para Oliveira (2016) ele
serve para responder questionamentos que o pesquisador não tem muito controle sobre o fenômeno
estudado.
O estudo deu-se por acessibilidade aos dados, bem como, para ampliação das discutições
sobre o tema visto uma preocupação ambiental crescente, assim havendo harmonia, coerência e
clareza sobre o estudo proposto, este conhecimento foi adquirido em artigos científicos, trabalhos
de conclusão de curso.
A coleta de dado ocorreu pelo meio de um questionário com perguntas, entre abertas e
fechada, sendo respondido pela proprietária da empresa, de produção de cachaça, no período de
2017, conforme apêndice A, sendo desta maneira o questionário foi divido em 4 (quatro) blocos:
Bloco 1: Características do respondente, contendo 3 perguntas; Bloco 2: Caracterização da empresa,
composto com 7 perguntas; Bloco 3: Sistema de Gestão ambiental, com 6 perguntas; e Bloco 4:
Resíduos sólidos, caracterizado por 5 perguntas.
Os dados analisados nesse estudo foi o resultado de um questionário elaborado e aplicado a
proprietária, e gerente financeira do estabelecimento, tendo por analisar como a gestão ambiental
contribui para o gerenciamento dos resíduos sólidos em uma produtora de cachaça na cidade de
Areia -PB.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Características do respondente

A respondente da produtora de cachaça, situada na cidade de Areia-PB, é do sexo feminino,


casada, atua como Gerente Financeira da empresa, tendo graduação em Ciências biológica, na
UFPB. (Universidade Federal da Paraíba Campus II). Está na empresa a mais de oito (8) anos
exercendo a função supracitada, gerente financeira.
Gerente Financeira, é a profissional que realiza o planejamento financeiro, e é encarregado
pelo controle de tributos, formação do preço de venda, controle das contas a pagar, controle dos
soldos bancários, administração do fluxo de caixa e análise das demonstrações financeiras.
Sendo assim, o gerente financeiro é quem, deve saber a hora, que deve fazer as transações
que possa trazer uma boa economia para a empresa.

Caracterização da empresa

O Engenho está localizado na bela e rica região do brejo paraibano, no município de Areia,
famoso pela tradição cultural, com monumentos históricos aliados a belas paisagens. A região é
tradicional produtora de rapadura de alta qualidade, desde os anos 1950, o engenho produz 42
hectares de cana de açúcar, tendo no total 400 hectares com reserva florestal nos seus domínios. O
Engenho possui também solos férteis e úmidos, clima propício para o cultivo da cana-de-açúcar e
ideal para a produção da cachaça. A produção do Engenho segue o modelo tradicional, com
fermentação natural, e transporte de cana de açúcar feito em lombo de burro. Lá, existe uma
moenda escocesa com mais 135 anos. O processo de produção da cachaça é custoso e cheio de
detalhes, uma verdadeira obra de arte. Fazer cachaça é, ao mesmo tempo, ciência, arte, paixão e
sabedoria. Tudo é feito com muita calma, cuidado, esmero. Por isto, o termo ―artesanal‖. Apesar de
feita exclusivamente do caldo de cana, sem a adição de produtos químicos, cada cachaça carrega
características da sua região e de seu produtor.
Como a Cachaça produzida nesse estabelecimento não permite o uso de aditivos, portanto é
100% natural, preservando assim sua qualidade. A elaboração da mesma inicia-se com o corte e a
moagem da cana crua. O caldo da cana é filtrado, preparado, decantado, fermentado e destilado em
alambiques de cobre, engarrafando apenas a parte nobre da cachaça o coração.
Tem como atividade econômica a Produção de Cachaça, e está classificada pelo porte
empresarial como (ME), Microempresa, o setor de atuação é no ramo de bebidas, em setembro de
2007 iniciou suas atividades empresariais, com uma produção de 250 mil litros de cachaça por
safra, produzidos em 7 meses no ano.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O alambique no qual a cachaça é destilada, ressalta-se que o produto é produzido desde o


ano de 1956, além disso o produtor faz questão de ter uma produção limitada, mas com alta
qualidade. Em 2010, a Cachaça produzida nesse Engenho passou a ser engarrafada. Atualmente, o
engenho produz a cachaça tradicional (cristal), a cachaça descansada em barris de umburana e se
prepara para lançar a cachaça envelhecida em barris de carvalho francês, o mercado de distribuição
é o Nordeste. Em 2013, ganhou prêmio da Associação dos Químicos da Paraíba em parceria com o
Sebrae, ficando entre as três melhores cachaças do Estado.

Sistema de gestão ambiental aplicação

Indagada sobre Gestão Ambiental, a respondente afirma que não existe um sistema de
gestão ambiental propriamente dito, existe um controle por parte dos gestores, existe um
planejamento para diminuir o máximo de impacto ambiental que a empresa venha praticar. Como
não existe um sistema de gestão ambiental na empresa, a respondente não pode falar em eficiência
do (SGA), e sim do controle, que é feito com os resíduos, monitorando toda e qualquer ação que
possa prejudicar o meio ambiente, propondo correções de ações para que as metas da empresa
sejam atingidas.
A respondente afirma ser importante um (SGA), pois toda empresa tem que ter uma política
ambiental, para que seu comportamento seja avaliado e controlado a fim de que possa diminuir os
impactos ambientais, referente a essa empresa. A respondente afirma que, o sistema de gestão
ambiental atua mais na fabricação da cachaça.
Os resíduos que sobram na parte da moagem, é o Bagaço, e na parte da destilação sobra o
vinhoto. Foi afirmado que os resíduos são usados diretamente na produção. O bagaço é usado
diretamente na fornalha como combustível para a fabricação do produto, diminuindo assim em
100% a queima de lenha, sendo assim deixando de desmatar. O vinhoto é utilizado como adubo na
plantação da cana de açúcar, tornado um excelente fertilizante.

Resíduos Sólidos

Aprofundando-se nas questões sobre resíduos sólidos, a respondente foi indagada sobre o
que é feito com bagaço, a mesma afirmou que bagaço é armazenado no campo, (na bagaceira), e o
vinhoto é colocado em tanques.
A respondente afirma na possibilidade de usar os resíduos para outros fins, como por,
exemplo o que sobra do bagaço, é usado na produção de volume na alimentação Bovina, é utilizado
como forma de combustível na caldeira e nos alambiques, é reaproveitado com adubo orgânico na
plantação da cana de açúcar, tem como produção mensal em torno de 80 Toneladas (Durante
Apenas os Sete Meses de Moagem), é vendido para fazer um adubo natural, chamado (Cama de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Galinha), também, estar em estudo a possibilidade de fazer briquetes para a venda em padarias, pois
com essa ideia diminuiria o desmatamento e a queima de madeira, com isso contribuiria mais ainda
com o meio ambiente.
Como a empresa faz parte do PAS (Programa Alimentar Seguro), o SENAI, implanta cursos
de boas práticas de cachaça aos funcionários, nesse curso eles abordam da higiene pessoal dos
funcionários bem como a utilização dos resíduos de produção que possam causar algum tipo de
impacto ambiental. A empresa também tem parceria com SESI (Serviço Social da Indústria), onde é
implantado o programa do PAS (Programa Alimentar Seguro), parceria com o MAPA (Ministério
da Agricultura Abastecimento), e SUDEMA (Superintendência de Administração do Meio
Ambiente).
O reaproveitamento dos resíduos diminui com aquisição de outros insumos, a empresa não
compra lenha para aquecer a caldeira e os alambiques, sendo que o excesso de bagaço também
ajuda nas despesas de produção sendo vendido para alimentação de animais e para cama de galinha,
A respondente afirma que as diminuições dos custos em reais ainda não foram calculadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa foi feita em uma empresa de fabricação de cachaça na cidade de Areia, tendo
como objetivo analisar como a gestão ambiental contribui para o gerenciamento dos resíduos
sólidos em uma produtora de cachaça na cidade de Areia - PB.
A metodologia utilizada foi, uma pesquisa qualitativa, com aplicação de um questionário
aplicado na empresa analisada, sendo respondido pela gerente financeira.
Os resultados encontrados demonstraram que não existe um Sistema de Gestão Ambiental,
mas existe um sistema de Controle ambiental muito organizado baseado nas experiências dos
gestores, eles também têm várias parcerias, com SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial), PAS (Programa Alimentar Seguro), SUDEMA (Superintendência de Administração do
Meio Ambiente) e MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
Os resíduos que são produzidos na produção são aproveitados, como por exemplo, o bagaço
que é utilizado para alimentar a caldeira, o que sobra é vendido para fazer cama de galinha, o
material utilizado para forrar o piso de uma instalação avícola e que recebe excrementos, restos de
ração e penas durante o crescimento das aves, podendo apresentar concentrações variáveis desses
resíduos.
Sendo assim, a Cama de galinha é um adubo orgânico que pode ser usado para a
preparação do solo nos sistemas de adaptação entre a lavoura e a pecuária. O vinhoto, também é
utilizado para adubação da cana de açúcar da propriedade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O vinhoto é um resíduo líquido, obtido, na destilação do caldo da cana de açúcar fermentado


durante o processo de produção da cachaça. O vinhoto é um resíduo muito poluente se for jogado
nos rios, causando uma série de problemas, mas como o vinhoto pode ser usado como fertilizante a
empresa também usa o vinhoto como adubo orgânico.
Essa empresa também estar aberta para projetos que venham a melhorar e viabilizar o
funcionamento dela para que possa aumentar o faturamento. E a sugestão de um projeto de Sistema
de Gestão Ambiental deixou os administradores animados, pois esse controle é feito baseado na
experiência própria dos gestores, e na vivência de nascer e ser criado nesse ambiente.
A dificuldade encontrada nessa pesquisa foi que essa empresa analisada já é muito
experiente no ramo e não se faz tão necessário um sistema de gestão ambiental. Tive dificuldade em
receber as respostas porque a proprietária viajou no período de responder as perguntas.
Essa empresa é muito organizada, mas com a implantação de um sistema de gestão
ambiental pode melhorar muito o funcionamento, e aumentar o faturamento da empresa, assim a
pesquisa tem por sugestão aplicar, o questionário em outros segmentos, afim de verifica com dar-se
a relação empresa e meio ambiente.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 350


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA

Jeová Alves de SOUZA


Mestrando em Recursos Naturais na UFCG
E-mail: jeovaas@gmail.com
Maria de Fátima Nóbrega BARBOSA
Doutora em Recursos Naturais pela UFCG
E-mail: mfnbarbosa@hotmail.com
Erivaldo Moreira BARBOSA
Doutor em Recursos Naturais pela UFCG
E-mail: erifat@terra.com.br

RESUMO
A preocupação mundial em relação aos resíduos, em especial os Resíduos dos Serviços de Saúde
(RSS), tem aumentado ante o crescimento da produção, do gerenciamento inadequado e da falta de
áreas de disposição final. Conforme a percepção dos RSS enquanto problema de Saúde Pública,
buscou-se traçar um panorama da produção científica a respeito da gestão e do gerenciamento dos
resíduos dos serviços de saúde por meio da realização de uma revisão integrativa da produção
científica sobre essa temática. Para a consolidação do estudo, foi realizada a coleta de dados a partir
de fontes secundárias por meio das bases de dados Lilacs e, Scielo, no período entre janeiro de 2010
a dezembro de 2015, nos idiomas português, inglês e espanhol, disponíveis nas bases de dados
escolhidas de forma gratuita e dispostos na íntegra para acesso. Os resultados da pesquisa
evidenciam três eixos temáticos, no tocante à utilização, à gestão e ao gerenciamento dos RSS,
sendo eles: a qualificação para não geração, redução, reutilização e reciclagem; a conscientização
adotada pelos profissionais para tratamento dos resíduos sólidos e disposição final, ambientalmente
adequada e o monitoramento das ações para o controle e avaliação da gestão e gerenciamento dos
RSS.
Palavras-Chave: Gestores de Estabelecimentos de Saúde. Gerenciamento de Resíduos; Resíduos
Sólidos de Serviços de Saúde.
ABSTRACT
Global concern about waste, especially Health Care Waste (SSR), has increased as production
increases, inadequate management and lack of final disposal areas. According to the perception of
the RSS as a Public Health problem, we sought to outline the scientific production regarding the
management and management of health services residues through an integrative review of the
scientific production on this subject. In order to consolidate the study, data were collected from
secondary sources through the Lilacs and Scielo databases, in the period between January 2010 and
December 2015, in the Portuguese, English and Spanish languages available in the databases of data
chosen for free and arranged in full for access. The research results show three thematic axes
regarding the use, management and management of RSS, being: the qualification for non-
generation, reduction, re-use and recycling; The awareness adopted by the professionals for the
treatment of solid waste and final disposition, environmentally adequate and the monitoring of the
actions for the control and evaluation of the management and management of the RSS.
Keywords: Managers of Health Establishments. Waste Management; Solid Waste of Health
Services.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 351


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios com que se defronta a sociedade moderna é o equacionamento da


geração excessiva e da disposição final ambientalmente segura dos Resíduos Sólidos. Há
preocupação mundial em relação aos resíduos sólidos. Em especial, os Resíduos dos Serviços de
Saúde (RSS) têm aumentado ante o crescimento da produção de insumos, do aumento da demanda
populacional para assistência, de problemas de gerenciamento e da falta de áreas adequadas para a
disposição final desses resíduos que são danosos aos seres vivos e ao meio ambiente.
Os RSS são resíduos sólidos e semissólidos resultantes de atividades hospitalares e demais
estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. São fonte de risco à saúde humana e ao meio
ambiente devido ao aparecimento de vetores de disseminação de doenças, bem como são perigosos
tanto para a equipe de trabalhadores dos estabelecimentos de saúde quanto para os pacientes e
demais pessoas ou animais que tenham contato com esse tipo de resíduo (ALMEIDA et al, 2011).
A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos causam impactos socioambientais,
tais como degradação do solo, comprometimento dos corpos d‘água e mananciais, intensificação de
enchentes, contribuição para a poluição do ar e proliferação de vetores de importância sanitária nos
centros urbanos e catação em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final (BESEN
et al, 2010).
Nesse âmbito, em 2010, foi publicada a Lei nº. 12.305 que dispõe sobre a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), definindo a gestão integrada de resíduos sólidos como um conjunto de
ações voltadas para a busca de soluções para tais resíduos, de forma a considerar as dimensões
política, econômica, ambiental, cultural e com controle social, sob a premissa do desenvolvimento
sustentável. Para tanto, a gestão dos Resíduos Sólidos tem como princípio a visão sistêmica, que
considera as variáveis: ambiental; social; cultural; econômica; tecnológica e de saúde pública
(BRASIL, 2010).
Segundo a lei supracitada, a variável tecnológica é apontada como um dos instrumentos da
PNRS, portanto em consonância com o Art. 9º que trata das diretrizes aplicáveis na gestão e
gerenciamento dos resíduos sólidos, poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação
energética dos mesmos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e
com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo
órgão ambiental (BRASIL, 2010).
Reichert (2014) enfatiza como novas tecnologias para o destino dos resíduos sólidos a
digestão anaeróbia, autolavagem, incineração, combustível derivado de resíduos (CDR),
gaseificação, pirólise e utilização de plasma. Nessa perspectiva, faz-se menção também da
utilização de usinas de reciclagem, usinas de compostagem e de aproveitamento energético dos
resíduos, as quais vêm se configurando como medidas viáveis para a sustentabilidade.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conforme a percepção dos RSS enquanto problema de Saúde Pública, neste trabalho,
pretendeu-se enfocar o processo de gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos dos serviços de
saúde por meio da avaliação de evidências disponíveis na literatura, tomando como base o seguinte
objetivo: traçar um panorama da produção científica a respeito da gestão e do gerenciamento dos
resíduos dos serviços de saúde por meio da realização de uma revisão integrativa da produção
científica sobre essa temática.

METODOLOGIA

Tratou-se de uma revisão integrativa da literatura, por permitir reunir e sintetizar os


conhecimentos relevantes sobre o tema proposto e incorporá-los às práticas de atenção à saúde por
meio da utilização de estudos experimentais e não experimentais para um entendimento completo
do fenômeno investigado, sendo esta a mais extensa explanação metodológica referente às revisões,
combinando também dados da literatura teórica e empírica (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
O estudo seguiu o rigor metodológico que transcorre pelas seis fases da revisão integrativa:
elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise
crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa.
Assim, elegeram-se as seguintes questões norteadoras para guiar este estudo: O que tem sido
produzido, em termos científicos, a respeito da gestão e gerenciamento dos RSS nos últimos 05
anos? Quais são as conquistas e desafios na gestão e no gerenciamento dos RSS?

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os quadros 1, 2 e 3 apresenta os resultados da revisão integrativa e posteriormente é


apresentada a discussão dos resultados.

Quadro 1. Dados identificadores - Expõe as informações extraídas dos artigos com respeito a: Autoria, Ano,
Base de dados, Periódico, Título e Objetivo.
Autoria/Ano/Base Periódico Título Objetivo

STEHLING, et al/ Rev. Min. Gestão de Resíduos com Avaliar o conhecimento


2013/LILACS Enferm. Risco Biológico e dos estudantes dos ciclos
Perfurocortantes: básicos de graduação das
Conhecimento de áreas biológicas e da
Estudantes de Graduação saúde, relativos ao GRS
das áreas biológicas e da conforme a legislação
Saúde da UFMG. brasileira.

BARONI, et al/ Rev. Min. O Trabalhador de Identificar o conhecimento


2013/LILACS Enferm. Enfermagem Frente ao dos trabalhadores de
Gerenciamento de Resíduo enfermagem sobre o
Químico em Unidade de gerenciamento dos
Quimioterapia resíduos quimioterápicos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

antineoplásica. antineoplásicos.

GESSNER, et al/ Cogitare O Manejo dos Resíduos Identificar fragilidades do


2013/LILACS Enferm. dos Serviços de Saúde um processo de gerenciamento
Problema a Ser de RS junto a
Enfrentado. trabalhadores que atuam
em ambientes de diferentes
complexidades
tecnológicas.

PEREIRA, et al/ Rev. Gerenciamento de Analisar o gerenciamento


2013/SCIELO Latino- resíduos em unidades não de resíduos nos serviços de
Am. hospitalares de urgência e saúde, em unidades não
Enferm. emergência. hospitalares de
atendimento às urgências e
emergências.

SANTOS & Rev. Bras. Conhecimento de Analisar o conhecimento


SOUZA/2012/SCIELO Enferm. enfermeiros da Estratégia das enfermeiras atuantes
Saúde da Família sobre na ESF, dos municípios de
resíduos dos serviços de Araputanga, Mirassol
saúde. D'Oeste e São José dos
Quatro Marcos, referente à
problemática do manejo
incorreto dos RSS.

VIRIATO; O Mundo Ecoeficiência e economia Diminuir o volume de


MOURA/2011/LILACS da Saúde com a redução dos resíduos infectantes
resíduos infectantes do produzidos no Hospital
Hospital Auxiliar de Auxiliar de Suzano;
Suzano.

SHINZATO, Rev. bras. Análise preliminar de Descrever qualitativa e


/2010/SCIELO saúde riscos sobre o quantitativamente os RSS
ocup. gerenciamento dos gerados no CES de uma
resíduos de serviços de instituição pública de E.S.
saúde de uma instituição localizada no Município de
de ensino em Mato Grosso Campo Grande, MS.
do Sul: estudo de caso.

MARMOLEJO R, et Rev. Fac. Gestión de los residuos Estimar a quantidade e


al/2010/SCIELO Nac. sólidos en hospitales composição dos resíduos
Salud locales del norte del Valle hospitalares em dez
Pública del Cauca, Colombia. hospitais locais públicos,
localizados no mesmo
número de municípios no
norte do departamento de
Valle del Cauca,
Colômbia.

Fonte: Pesquisa Bibliográfica (2015)

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Quadro 2. DADOS GENÉRICOS - Expõe as informações extraídas dos artigos referentes à: Periódico,
Classificação Qualis, Universidade Vinculada à publicação e País e Região da publicação.
Periódico Qualis Universidade Vinculada País e Região da Publicação

Rev. Min. Enferm. B2 UFMG Belo Horizonte, MG – Brasil.

Rev. Min. Enferm. B2 UFMG BRASIL

Cogitare Enferm. B2 USP São Paulo-SP-Brasil

Rev. Latino-Am. A1 PUC GOIÁS Goiás, Brasil.

Enferm.

Rev. Bras. Enferm. A2 FQM E UFAM São José dos Quatro


Marcos-MT, Brasil.

E Coari-AM, Brasil.

O Mundo da Saúde B2 SÃOCAMILO-SP Suzano – SP, Brasil.

Rev. bras. saúde B2 UFMS Campo Grande, Brasil.


ocup.

Rev. Fac. Nac. Salud B1 UNIVALLE Valle del Cauca, Colombia.


Pública

Fonte: Pesquisa Bibliográfica (2015)

Quadro 3. Resultados e considerações - Expõe as informações extraídas dos artigos que forem analisados
com respeito a: autoria, ano, periódico, resultados e considerações dos autores sobre.
Autoria/Ano Método Resultados Considerações Finais

STEHLING, Estudo Os alunos apresentam pouco Os resíduos biológicos e


et al/ 2013 observacional, conhecimento sobre o tema, têm perfurocortantes representam
seccional e interesse sobre o assunto e um risco à saúde e as
descritivo. reconhecem não estarem informações adquiridas sobre
preparados para lidar com o tema se apresentam
resíduos com risco biológico e fragmentadas, sendo que as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

perfurocortante na graduação buscas sobre o assunto


tema. partiram de observações.

BARONI, et Estudo Os trabalhadores de enfermagem O conhecimento dos


al/ 2013 descritivo e classificaram e acondicionaram trabalhadores de enfermagem
exploratório. de maneira errônea os resíduos mostra-se comprometido
químicos. frente ao gerenciamento do
resíduo, predispondo-os a
riscos ocupacionais.

GESSNER, Estudo Os profissionais conhecem O manejo adequado dos


et al/ 2013 descritivo de parcialmente o manejo dos Resíduos de Serviço de
natureza resíduos, e à medida que estes se Saúde pode contribuir para a
qualitativa afastam do serviço seu manejo é diminuição de riscos de
menos conhecido, constituindo- acidentes de trabalho e o
se em evidência do processo de impacto ambiental das ações
fragmentação do trabalho em dos serviços de saúde.
saúde.

PEREIRA, Estudo O manejo de resíduos apontou Inexistência de política


et al/ 2013 epidemiológic inadequações em todas as institucional de
o e transversal. etapas, principalmente na gerenciamento de resíduos,
segregação. evidenciada por falhas nas
etapas operacionais de
gestão, estrutura física,
recursos materiais e humanos
das unidades.

SANTOS & Estudo Sete profissionais negaram a Ainda há necessidade de


SOUZA/201 quantitativo capacitação da equipe em trabalhos de conscientização
2 relação ao gerenciamento, duas e desenvolvimento de
desconhecem a existência ou práticas adequadas de
não deste tipo de treinamento, e gerenciamento de Resíduos
apenas uma referiu a de Serviços de Saúde.
capacitação equipe.

VIRIATO; Pesquisa-ação Após as adequações realizadas Com a segregação adequada


MOURA/ no Plano de Gerenciamento dos RSS, o custo-benefício
houve redução de 40% na taxa foi positivo, em relação ao
2011 de resíduos infectantes caráter construtivo
incinerados, com consequente relacionado ao impacto
redução dos custos. ambiental, e à diminuição da
exposição ocupacional aos
resíduos infectantes.

Fonte: Pesquisa Bibliográfica (2015)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os RSS são gerados nos estabelecimentos prestadores de serviço de saúde, nos estados
sólido e semissólidos, resultantes destas atividades. Assim como, são também considerados sólidos
os líquidos produzidos nestes estabelecimentos, cujas particularidades tornem inviáveis o seu
lançamento em rede pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso, soluções técnicas
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.
Para os estabelecimentos de saúde esses resíduos tiveram destaque legal no início da década
de 90, quando foi aprovada a Resolução CONAMA nº 006. Todavia, essa resolução vem assumindo
grande importância nos últimos anos, gerando políticas públicas e legislações tendo como eixo de
orientação a sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde.
Vale salientar que os resíduos de serviços de saúde são parte importante do total de resíduos
sólidos urbanos, não necessariamente pela quantidade gerada, que é de cerca de 1% a 3% do total,
mas pelo potencial de risco que representam à saúde e ao meio ambiente. Os RSS são classificados
em função de suas características e consequentes riscos que podem acarretar ao meio ambiente e à
saúde.
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e CONAMA nº 358/05, esta classificação tem
por objetivo destacar a composição desses resíduos segundo as suas características biológicas,
físicas, químicas, estado de matéria e origem, para o seu manejo seguro. Desta forma, os resíduos
são divididos nos seguintes grupos: GRUPO A - resíduos com a possível presença de agentes
biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção; GRUPO B - resíduos
químicos; GRUPO C - rejeitos radioativos; GRUPO D - resíduos comuns; GRUPO E - materiais
perfurocortantes.
A disposição final dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários tem aumentado ao
longo dos últimos anos no país (IBGE, 2010). Enquanto no ano 2000, 17,3% dos municípios
utilizavam aterros sanitários para a destinação final, em 2008, passaram para 27,7%. No entanto,
cerca de metade dos 5.564 municípios brasileiros ainda dispõem em lixões, e o percentual de
cidades que dispõem em aterros controlados permaneceu praticamente estagnado nos oito anos,
22,3% (2000) e 22,5% (2008). A crescente redução da disposição em lixões, verificada entre os
anos 2000 e 2008, deve-se ao fato de as 13 maiores cidades, com população acima de um milhão de
habitantes, coletarem mais de 35% de todo o lixo urbano do país e terem seus locais de disposição
final adequado.
Não existem dados oficiais sobre a quantidade de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS),
gerados no Brasil e sua destinação final. A coleta executada por grande parte dos municípios é
parcial, o que contribui significativamente para esse desconhecimento. No entanto, um indicador
importante é que, na amostra de municípios, o SNIS (2010) identificou, em mais de 90% deles, uma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

coleta diferenciada de RSS, o que é fundamental quando se trata de RSS que provocam um grande
impacto ao ambiente e à saúde.
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/2005, são
definidos como geradores de RSS todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde
humana ou animal, como exemplo temos: Hospitais, clínicas e laboratórios;  Funerárias e
necrotérios;  Drogarias e farmácias;  Estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde; 
Centro de controle de zoonoses;  Unidades móveis de atendimento à saúde;  Serviços de
acupuntura e tatuagem, dentre outros similares.
Ainda no Quadro 3, Gessner, et al (2013) retrata que o manejo adequado dos Resíduos de
Serviço de Saúde pode contribuir para a diminuição de riscos de acidentes de trabalho e o impacto
ambiental das ações dos serviços de saúde. Notadamente, O risco no manejo está principalmente
vinculado aos acidentes que ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos
materiais perfurocortantes sem utilização de proteção mecânica.
Nos últimos 05 anos vários foram avanços advindos com a implementação da PNRS através
da Lei 12.305/2010, sendo traçadas metas para o controle e destinação final dos RS, bem como a
estipulação de prazos para se extinguirem os lixões (BRASIL, 2010). Para além da PNRS
implementada aqui no Brasil, o controle ambiental dos RS tomou proporções globais em
decorrência da constatação dos impactos gerados que acometem o meio ambiente e, por
conseguinte, todos os seres que dele necessitam para a manutenção da vida.
Os estudos realizados nos últimos 05 anos pelos autores descritos no Quadro 1, indicam uma
preocupação com os processos de gestão e gerenciamento que envolvem os RSS; bem como com os
profissionais e demais pessoas que lidam esses resíduos em decorrência do perigo que representa
para o ser humano e o meio ambiente o descarte ou destinação inadequada.
Nos dias atuais, em decorrência dos avanços tecnológicos e em pesquisas, percebe-se a
importância de se estudar e pesquisar a respeito da gestão e do gerenciamento de serviços,
entretanto, ao se fazer uma breve retrospectiva, observa-se que até o quase o final do século XX, a
gestão ambiental e a gestão social eram vistas como custo: despesas necessárias para que as
organizações atendessem à legislação; neste sentido, Seiffert (2007) corrobora com esse raciocínio e
afirma que ―o processo de gestão ambiental surgiu como uma alternativa para buscar a
sustentabilidade dos ecossistemas antrópicos, harmonizando suas interações com os ecossistemas
naturais‖.
Os termos gestão e gerenciamento são comumente empregados como sinônimos, todavia na
prática administrativa, o primeiro refere-se à seleção de um modelo e o segundo refere-se à
aplicabilidade desse modelo (NOVI; et al, 2013). Desta forma, podemos entender a diferenciação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

entre gestão e gerenciamento em dois sentidos, o primeiro onde predomina a conotação política e,
no segundo sua aplicabilidade, numa conotação técnica da área da administração.
O gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos (GIRSU) trata do envolvimento dos
diversos órgãos da administração pública e privada com o propósito de realizar o devido tratamento
e a disposição final do lixo, levando em consideração as características, como o volume e os tipos
de resíduos; assim como os aspectos sociais, culturais e econômicas dos cidadãos envolvidos nesse
processo, e isto além das particularidades geográficas (IBAM, 2001). Deste modo, a gestão de
resíduos visa o gerenciamento em todas as fases do manejo, que envolvem: segregação,
condicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final.
Um sistema apropriado de manejo integrado dos resíduos sólidos pode trazer diversos
benefícios de ordem econômica e ambiental, como a economia de energia, a proteção do meio
ambiente, a melhoria da qualidade de vida e a participação da população. Com relação ao modelo
de gerenciamento dos RSS de uma determinada organização, diversas questões o influenciam direta
ou indiretamente, como por exemplo, o fato da organização ser pública ou privada (NOVI et al,
2013).
No tocante a não geração e à redução da geração dos RSS, um estudo realizado por Castro et al
(2014) verificou que os RSS são descartados de forma inadequada, contrariando as normas vigentes
e, esta constatação evidencia a necessidade de informar e capacitar profissionais que manuseiam e
descartem os resíduos, onde é prestada assistência em saúde, buscando assim a destinação adequada
desses resíduos, os quais dependem da correta segregação dos por parte dos profissionais de saúde.
No Quadro 1, observa-se que os pesquisadores tiveram o interesse de estudar o conhecimento a
respeito dos RSS por parte dos estudantes de graduação, profissionais e os processos de gestão e
gerenciamento dos resíduos produzidos nos serviços de saúde; bem como o processo de segregação
desses resíduos nos ambientes que prestam atenção à saúde.
Em decorrência dos elevados custos dos RSS para tratamento, torna- essencial à redução na
geração e a adequada segregação desses resíduos, pois quando esta etapa é realizada de forma
apropriada na unidade geradora, pode-se reduzir a quantidade de resíduos perigosos, o custo de seu
tratamento e o risco de contaminação ambiental.
No Quadro 3, observa-se que um estudo realizado por Viriato e Moura (2011), apontou redução
do custo-benefício por meio da segregação adequada dos RSS pelos profissionais e de adequações
no plano de gerenciamento dos RS do serviço, promovendo uma economia pela redução 40% dos
resíduos que eram incinerados.
Nessa perspectiva, as novas tecnologias estão sendo desenvolvidas no intuito de definir
soluções para a problemática dos RSS, assim a informação, o conhecimento e sensibilidade dos
profissionais de saúde sobre a temática é imprescindível, visto que uma das prioridades da gestão é

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a não geração e/ou redução dos RSS, tal prioridade depende diretamente da qualificação e
conscientização dos profissionais de saúde.
Sontos e Souza (2012) retratam que ainda há necessidade de trabalhos de conscientização e
desenvolvimento de práticas adequadas de gerenciamento de RSS com os profissionais da saúde.
Deste modo, o processo de conscientização dos profissionais de saúde está pautado no
entendimento de que para a transformação de uma cultura necessita-se, em primeira instância, da
conversão e mudança pessoal/ particular, resultando, assim, em uma nova forma de comportamento
relacional.
Faz-se necessário, então, estimular o valor de responsabilidade com o ambiente como
inerente ao profissional de saúde, entendendo a sensibilidade para as questões ambientais como uma
decisão particular, mas que deve ser estimulada, pois ganha força na estrutura coletiva. Assim,
depreende-se que os profissionais das diferentes esferas de atenção à saúde estejam imbuídos dessa
atribuição de responsabilidade, uma vez que, os problemas ecológicos atingem todas as pessoas
integrantes da sociedade (PERES et al, 2015).

CONCLUSÃO

O presente estudo possibilitou traçar um panorama da produção científica a respeito da


gestão e do gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde por meio da realização de uma
revisão integrativa da produção científica sobre essa temática.
Os resultados apontam três eixos temáticos, no tocante à utilização, a gestão e ao
gerenciamento dos RSS, sendo eles: a qualificação para não geração, redução, reutilização e
reciclagem; a conscientização adotada pelos profissionais para tratamento dos resíduos sólidos e
disposição final, ambientalmente adequada e o monitoramento das ações para o controle e avaliação
da gestão e gerenciamento dos RSS.
Para haver uma operacionalização efetiva da gestão e do gerenciamento dos RSS é
imprescindível a ação solidária de todos os atores sociais, desde o Poder Público, produzindo e
aplicando uma legislação socialmente eficaz; passando pela iniciativa privada, a partir do
desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias capazes de não gerar resíduos, desenvolvimento de
sistemas de redução dos resíduos com a sua reinserção na cadeia de produção e estratégias de
correta destinação dos resíduos, culminando na sociedade que deve ser orientada e conscientizada
para ações ambientalmente adequadas e apropriadas.
Contudo, ainda se faz necessário identificar possibilidades que aliem o cumprimento da
legislação ambiental e a diminuição dos impactos decorrentes da má gestão e do gerenciamento
inadequado dos RSS aos quais se devem dar melhor ênfase com o direcionamento de estudos
teóricos e tecnicamente viáveis, promovendo a contribuição da comunidade científica e a reflexão

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos gestores e dos formuladores de Políticas Públicas direcionadas preservação ambiental e ao bem
comum da sociedade.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 362


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROCESSO DE TRATAMENTO BIOLÓGICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Maria do Socorro Duarte PINTO


Mestranda em Sistemas Agroindústrias – CCTA/UFCG
socorropd@hotmail.com
Jamilton Costa PEREIRA
Mestrando em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
jcp_jamiltoncosta@hotmail.com
Claudineide Baltazar da SILVA
Mestranda em Sistemas Agroindustriais – CCTA/UFCG
cbs.claudineide@yahoo.com.br
Orientador: Walker Gomes de ALBUQUERQUE
Doutor em Meteorologia – UFCG. Professor – CCTA/UACTA/UFCG
walker@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
Um dos principais desafios atuais para o gerenciamento de resíduos sólidos é o crescimento em
grande escala da população mundial, que consequentemente aumenta sua produção, sendo
necessário encontrar soluções para destinação/tratamento desses resíduos. Para tanto, o presente
estudo tem como objetivo geral analisar os processos de tratamento biológicos aos quais os resíduos
sólidos são submetidos atentando para os métodos que estão dispostos na legislação brasileira.
Como metodologia foi utilizada a pesquisa biográfica, em bases de dados científicos, utilizando as
informações dispostas em sites, revistas, livros, artigos que fazem uma abordagem sobre o assunto.
Por fim, conclui-se que soluções viáveis a prazo relativamente curto, com tecnologia testada e sem
maiores impactos ambientais, escolhendo o processo de tratamento de acordo com a realidade de
cada comunidade, levando em consideração a caracterização do resíduo, a disponibilidade espaço,
adequação a legislação, a aceitação da população envolvida e o valor de investimento e manutenção
a partir dos custos direitos e indiretos envolvidos, utilizando de métodos tais como a compostagem,
incineração, biodigestor para ser utilizada novamente seja como fonte de energia ou adubo para a
agricultura, como também dá a disposição ambientalmente correta seja por meio do Landfarming ou
Aterro sanitário. Esses processos precisam ser apresentados a sociedade, mostrando a necessidade
da gestão adequada dos resíduos sob o aspecto da sustentabilidade.
Palavras-chave: Meio Ambiente. Resíduos Sólidos. Tratamento Biológico.
ABSTRACT
One of the main current challenges for the management of solid waste is the large-scale growth of
the world population, which consequently increases its production, and it is necessary to find
solutions for the disposal / treatment of this waste. Therefore, the present study has as general
objective to analyze the biological treatment processes to which solid wastes are submitted
considering the methods that are available in Brazilian legislation. As methodology was used
biographical research, in scientific databases, using the information arranged in websites,
magazines, books, articles that make an approach on the subject. Finally, it is concluded that viable
solutions with relatively short term, technology tested and without major environmental impacts,
choosing the treatment process according to the reality of each community, taking into account the
characterization of the waste, the availability space, adequacy legislation, acceptance of the
population involved and the value of investment and maintenance from the indirect and indirect
costs involved, using methods such as composting, incineration, biodigester to be used again either
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 363
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

as a source of energy or fertilizer for agriculture, but also gives the environmentally correct
disposition either through Landfarming or Landfill. These processes need to be presented to society,
showing the need for proper management of waste under the aspect of sustainability.
Keywords: Environment. Urban solid waste. Processof Biological Treatment.

INTRODUÇÃO

O Meio Ambiente vem apresentando, já há algumas décadas, reação às alterações e


agressões que vem recebendo da dita evolução humana. Diante desse quadro, a humanidade
obrigatoriamente percebeu que faz parte dessas causas e sofre diretamente com suas consequências.
Atualmente, a gestão dos resíduos vem tornando-se um grande desafio para a humanidade,
já que, as transformações ocorridas ao longo do tempo, acarretadas pelas mudanças dos hábitos
humanos, aglomeração populacional em áreas urbanas, aumento da renda e consequentemente do
consumismo exacerbado, aliado a falta de gerenciamento, destinação, disposição, reciclagem e
reutilização adequada dos resíduos sólidos causam um comprometimento da qualidade ambiental e
da saúde pública na perspectiva de garantir a existência das gerações futuras.
Desta forma, uma gestão adequada de resíduos sólidos, requer várias formas de gestão, de
acordo com as necessidades das cidades e do tipo de resíduo gerado. Podendo assim em conjunto,
surgir várias maneiras de gerenciamento, através de meios educativos, políticos, de cidadania
participativa e meios tecnológicos.
Ao trabalhar com processos de tratamentos dos resíduos deve-se considerar se os
procedimentos estão relacionados à origem do resíduo e sua fonte geradora, se é um resíduo
orgânico ou inorgânico, suas características físicas, químicas e microbiológicas. Nesse contexto o
presente estudo tem como objetivo geral analisar os processos de tratamento biológicos aos quais os
resíduos sólidos são submetidos atentando para os métodos que estão dispostos na legislação
brasileira. Diante disso, é necessário compreender os aspectos gerais sobre os tipos de tratamento
biológicos. Como também estudar os aspectos e sistema de produção de materiais, trabalhando a
educação ambiental como uma forma de mudança de hábitos da sociedade para assegurar uma
melhora qualidade de vida ao ser humano e o respeito pelo ambiente.
Surgindo como umas das alternativas para o problema da quantidade de resíduos produzidos
diariamente nas cidades, o tratamento biológico, diminui os resíduos que vão para os aterros, tendo
em vista que para a realização de uma boa gestão de resíduos sólidos, são necessárias sua
caracterização e segregação, tendo em vista que, as diferentes formas de acondicionamento,
manutenção do local gerador, o sistema de coleta, tipos de transporte, formas de tratamento e
destinação final ambientalmente correta mudam de acordo com os diferentes tipos de resíduos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A metodologia utilizada para estruturar este trabalho é de cunho bibliográfico, a partir de


estudos teóricos. É evidente que esta pesquisa, a qual é definida por Silva e Menezes (2001) como
sendo aquela em que sua base se faz através de dados já elaborados anteriormente como, por
exemplo, livros, enciclopédias, periódicos, revistas e jornais, além de publicações como artigos
científicos, resenhas e ensaios críticos. Foi utilizada também a abordagem qualitativa visando um
aprofundamento teórico-metodológico sobre os processos de tratamento de biológico de resíduos
sólidos.
Contudo esse trabalho visa contribuir com informações para as futuras gerações sobre as os
processos de tratamento biológico dos resíduos sólidos, como também sobre a importância da
PNRS para que aconteça transformação urgente nas atitudes das sociedades atuais, sobre a
necessidade de preservação e proteção ao meio ambiente.

Legislação sobre Resíduos Sólidos

No Brasil, o desenvolvimento, a proteção e a preservação do meio ambiente para as futuras


gerações é um desafio a ser incorporado nas ações humanas, regulamentado pelo artigo 225 da CF
de 1988. Para assegurar que ocorra a proteção ambiental, o direito regula a relação sociedade
natureza, por meio da legislação ambiental e o exercício do poder de polícia no estabelecimento de
regulamentos, normas e padrões ambientais a serem observados pelos stakeholders (Poder público,
empresas, associações, escolas, ONG‘s, e comunidade). Uma dos grandes problemas ambientais
atualmente é a gestão dos resíduos sólidos, posto que a produção de resíduos é consequência
antrópica inevitável (TONETO JÚNIOR et al., 2014).
A par desta premissa, buscou-se enfrentar essas questões de cunho social, econômico e
ambiental com a criação da Lei nº 12.305 de 2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto 7.404/10. Esta política tem como base a
conscientização de hábitos de consumo sustentável, a partir de instrumentos diversos que propiciam
o incentivo à reciclagem e à reutilização dos resíduos sólidos, bem como o tratamento e a
destinação ambientalmente adequada dos dejetos.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos figura como uma das leis ambientais mais
relevantes para o Brasil, junto da Lei nº 6.938 de 1981 que instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente; Lei nº 9.605 de 1998 a Lei dos Crimes Ambientais; o Código Florestal (Lei nº 4.771 de
1965), dentre outras, como as resoluções do CONAMA e a Agenda 21.
Em relação ao tratamento dos resíduos, podem-se destacar as seguintes resoluções do
CONAMA:
 CONAMA nº 6/ 91 - Dispõe sobre o tratamento de resíduos sólidos provenientes de
estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 CONAMA nº 23/96 - Dispõe sobre as definições e o tratamento a ser dado aos resíduos
perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da Basiléia sobre o controle de
Movimentos Transfronteiriços de Resíduos perigosos e seu Depósito.
 CONAMA nº 424/10 - Dispõe sobre o descarte e o gerenciamento adequados de pilhas e
baterias usadas, no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição
final.
 CONAMA Nº 386/06 - Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de
sistemas de tratamento térmico de resíduos. (BRASIL, 2012)

Na Agenda 21(Brasil, 2004), destacam-se as medidas de minimização da geração, medidas


de controle e medidas corretivas eventualmente necessárias. Em seu capítulo quatro aborda a
questão das mudanças nos padrões de consumo minimização de rejeitos em todos os níveis, o
estímulo à reciclagem industrial, a redução do uso de embalagens, já no capítulo seis, incentiva a
produção de tecnologia na área de resíduos sólidos, a capacitação e treinamento de pessoal, a
substituição do uso de lixões por práticas de tratamento e disposição corretos de resíduos. No
capítulo 18 destaca a importância de melhores instalações de tratamento de esgoto e de lixo
industrial, para tanto neste capítulo é proposto que os resíduos sólidos das áreas urbanas sejam
tratados e dispostos de forma ambientalmente sustentável.

Processos de Tratamento dos Resíduos Sólidos

Em função da origem, os RSU são diferenciados em resíduos domiciliares, resíduos


comerciais e de serviços (grandes geradores) e resíduos de poda e varrição provenientes de limpeza
pública (BRASIL, 2010). Sendo assim, o Tratamento de Resíduos Sólidos consiste no uso de
tecnologias apropriadas com o objetivo maior de neutralizar as desvantagens da existência de
resíduos ou até mesmo de transformá-los em um fator de geração de renda como a produção de
matéria prima secundaria. Dessa forma podemos denominar de tratamento de resíduos as várias
tecnologias existentes desde a reciclagem até a disposição final de rejeitos. Compreendem-se por
tratamento todos os métodos, sejam eles físicos, mecânicos, biológicos ou químicos que
transformem as propriedades dos resíduos.
Conforme o Art. 9° da Lei 12.305/2010, o tratamento de resíduos sólidos tem a quinta
prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos a ser aplicada no Brasil: ―Na gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração,
redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos.‖ (BRASIL, 2010).
Os Resíduos Sólidos podem ser denominados como os vários materiais originários das
atividades antrópicas e naturais podendo ser parcialmente ou totalmente aproveitados e cuja
destinação e disposição final demanda procedimentos adequados. No entanto algumas medidas são
capazes de minimizar os impactos socioambientais sejam elas de modo preventivo ou de correção.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Algumas saídas para a problemática transcorrem pela educação ambiental, de uma adequada gestão,
estímulo à redução de resíduos e da sensibilização da população.
No senso comum a palavra lixo é considerada como tudo o que não tem mais utilidade. Para
a PNRS, lixo é o que sobra de material depois de separado o que é material orgânico, o
reaproveitável e os recicláveis, ou seja, lixo é somente o que não puder ser reaproveitado ou
reciclado, passando as ser chamado de rejeito. Existem várias definições para os resíduos sólidos a
Lei 12.305/2010 traz um conceito de resíduos em seu Art. 3º, Inciso XVI, que diz:

XVI – resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou
se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).

Do mesmo modo a PNRS traz também o conceito de rejeitos, chamado de os resíduos


sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação, não ofereçam
outra possibilidade que não seja a disposição final.
Igualmente existem diversas maneiras de classificar os resíduos sólidos. A classificação é
realizada a partir da separação dos resíduos com características afins. A forma mais convencional
de classificação é a que analisa como critério a origem e a utilidade no gerenciamento, geralmente
nas etapas dos diagnósticos dos resíduos gerados ou nas etapas de tratamento e disposição final.
Objetivando contribuir com o tratamento de forma adequada, bem como elaborar as formas de
gerenciamento e facilitar no período da coleta. As classificações mais comuns citados também pela
PNHR são: Quanto à natureza ou origem e quanto aos riscos de contaminação. No que diz respeito
à caracterização, as mesmas envolvem parâmetros físicos, químicos e microbiológicos.
Segundo (Campos 1999) em sistemas de tratamento biológico, o material orgânico presente
na água residuárias é convertido pela ação bioquímica de microrganismos, principalmente bactérias
heterótrofas. A utilização do material orgânico pelas bactérias, também chamada de metabolismo
bacteriano, se dá por dois mecanismos distintos, chamados de anabolismo e catabolismo.
No anabolismo as bactérias heterótrofas usam o material orgânico como fonte material para
síntese de material celular, o que resulta no aumento da massa bacteriana. No catabolismo, o material
orgânico é usado como fonte de energia por meio de sua convidassem produtos estáveis, liberando:
energia, parte da qual é usada pelas bactérias no processo de anabolismo. A natureza dos produtos
catabióticos depende da natureza das bactérias heterótrofas, que por sua vez depende do ambiente que
prevalece no sistema de tratamento. Distinguem-se, basicamente, dois ambientes diferentes: o aeróbio,
no qual há presença de oxigênio que pode funcionar como oxidante de material orgânico, e o
anaeróbio, no qual tal oxidante não existe.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No ambiente aeróbio, o material orgânico é mineralizado pelo oxidante para produtos


inorgânicos, principalmente dióxido de carbono e água. No ambiente anaeróbio se desenvolvem
processos alternativos chamados de fermentações que se caracterizam pelo fato de o material
orgânico sofrer transformações sem, contudo ser mineralizado (oxidado). A digestão anaeróbia é o
processo fermentativo que tem entre seus produtos finais o metano e o dióxido de carbono.
Destaca-se ainda a importância classificar e caracterizar com cautela os resíduos para decidir
a forma mais apropriada de tratamento, acondicionamento e manejo. Auxiliando ainda nas decisões
sobre a gestão e uma disposição final adequada.
Todo o procedimento de tratamento e destinação dos resíduos inicia com o
acondicionamento. Geralmente é realizado nas residências e nos estabelecimentos sejam eles
públicos ou privados. Por outro lado, a reciclagem é um processo de transformação dos resíduos e
que segundo a Lei 12.305/2010 que institui a PNRS em seu artigo 3º, inciso XIV, entende-se por
reciclagem:

XIV – reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração
de suas propriedades físicas, físico- químicas ou biológicas, com vistas à transformação
em insumo ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos
órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa (BRASIL, 2010).

Existem outros tipos de forma de tratamento que serão abordos de forma mais detalhada no
próximo tópico, são soluções momentâneas como forma de dar resposta a enorme quantidade de
resíduos e que os municípios não conseguem tratar.

Tipos de Tratamentos Biológicos dos Resíduos Sólidos

No Brasil, têm sido utilizados os seguintes processos de tratamento e /ou disposição final:
Compostagem (digestão aeróbia), incineração, biodigestor (digestão anaeróbia), gaseificação,
pirólise, placas de plasmas, cabe ressaltar ainda o Landfarmin e Aterros sanitários que são processos
voltados para a destinação final de resíduos inorgânicos, como vidro, areia e produtos químicos que
não podem ser decompostos por processos biológicos.

Compostagem

A compostagem é um método de tratamento com aproveitamento de resíduos sólidos


orgânicos, embora seja uma prática remota, surge atualmente como fonte de produção de um
fertilizante orgânico/ composto/condicionador de solos para a agricultura.
Acerca do conceito de compostagem, ressalta que: ―A compostagem ao contrário dos
processos (aterro sanitário e biodigestor) é um processo de decomposição aeróbia, ou seja, na
presença de oxigênio, na qual é gerado um composto orgânico a ser utilizado em jardins ou na
lavoura.‖ (OLIVEIRA E OLIVEIRA, 2014, p.306).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ao fazer uso do processo de compostagem, devem-se considerar as dimensões de ar para


que aconteça a passagem do oxigênio disponível para os micro e macro organismos aeróbios, esse
conjunto de organismos é formado por bactérias, fungos, minhocas, lacraias, aranhas, baratas,
besouros dentre outros. É necessária também a mistura dos resíduos, para que se obtenha uma maior
oxigenação, sendo assim, destaca que:

Uma composteira deve ter a umidade necessária para que se mantenha a vida dos
organismos envolvidos. Por outro lado, no caso de excesso de chuvas, ela deve ser coberta
para não encharcar demais, o que seria prejudicial aos seres. A temperatura, como nos
biodigestores, é fator de grande importância, já que em baixas temperaturas há redução da
atividade dos organismos. OLIVEIRA E OLIVEIRA (2014, p.306).

O tempo de decomposição numa composteira leva-se em consideração a questão da


umidade, temperatura, os resíduos utilizados e dos organismos envolvidos. Para tanto, é de
fundamental importância está atento à questão da temperatura, tendo em vista que, enquanto
permanecer aquecida está acontecendo o processo de decomposição, quando ela esfriar significa
que o processo foi concluído. Vele destacar que é possível utilizar o processo de compostagem no
tratamento de resíduos, desde que os mesmo sejam separados corretamente e preferencialmente no
lugar onde foi gerado.
De acordo com Oliveira e Oliveira, (2014) as principais vantagens da compostagem da
fração orgânica de RSU são: redução dos resíduos a serem encaminhados para aterros sanitários,
diminuindo a logística e prorrogando a vida útil dos aterros; maior envolvimento da comunidade no
processo de gestão dos resíduos; possibilidade de geração de renda a partir da venda do adubo;
melhoria das condições do solo onde fosse utilizado o composto; baixo custo operacional e de
Instalação, pode ser realizado na própria fonte geradora do resíduo, pode ser uma boa solução para
destinar o lodo produzido nas ETE‘s; possui a flexibilidade de processar volumes grandes ou
pequenos de resíduos.
O autor apresenta também as principais desvantagens, sendo elas: comprometimento
necessário dos geradores na segregação dos resíduos; necessidade de pessoal na gestão do processo;
possibilidade de aversão por parte da comunidade; é afetada por diversos fatores (pH, temperatura,
aeração, umidade, tamanho das partículas, concentração de nutrientes e segregação de materiais
(coleta seletiva); é sensível à produtos tóxicos ou não biodegradáveis e não processa metais
pesados; aso não haja rigoroso controle do processo, poderão surgir impactos ambientais, com
emanação de odores e produção de chorume; exige boa coleta seletiva e análise da matéria-prima
antes do início do processo; necessita de espaço.
Nesse sentido, se faz necessário incentivaras modalidades de experiências em compostagem
de RSU, a fim de mostrar novas rotas tecnológicas e estimular a diversificação dos sistemas de
gestão de resíduos. Compreender como tais processos podem ser desenvolvidos pode colaborar com

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a eficácia das estimulando a sociedade na tarefa de retornar nutrientes contidos nos resíduos
orgânicos para agroecossistemas.

Incineração

A incineração de resíduos emprega alta temperatura de fornos para queimar correntes de


resíduos, que entram em combustão completa. Isso garante o tratamento sanitário e a destruição de
componentes orgânicos e minimiza a presença de resíduos combustíveis nas cinzas resultantes. Para
CALDERONI (2003) é um processo complementar ao aterramento e aos programas de reciclagem,
conhecidos como 3R's (Reduzir na fonte, Reutilizar e Reciclar) na medida em que estes sejam
economicamente viáveis localmente.
De acordo com (Morgado e Ferreira, 2006) o processo de incineração também se apresenta
como alternativa ao tratamento de RSU, pois diminui o volume dos resíduos em cerca de 90% e o
peso a 15%, com destaque para a geração de energia, que viabiliza sua implantação sobre o ponto
de vista do custo/benefício de sua construção e implantação. Esse processo de tratamento pode ser
indicado para os resíduos que não podem ser reciclados, reutilizados ou encaminhados para aterros
sanitários.

Os incineradores podem variar de modelos extremamente sofisticados, como equipamentos


de alta temperatura, a outros de combustão básica, que operam a temperaturas muitos
inferiores. Os poluentes gasosos gerados pela incineração, dependendo do tipo de resíduo,
podem ser: acido clorídrico, ácido fluorídrico, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio,
metais pesados, particulados, dioxinas, furanos, entre outros. OLIVEIRA E OLIVEIRA
(2014, p.306).

É necessário ter uma atenção especial com os gases e cinzas geradas através do processo de
incineração, atentando para os requisitos dispostos na legislação, sendo necessários equipamentos e
instalações especiais para o seu tratamento.
De acordo com (Oliveira e Oliveira, 2014) as principais vantagens da incineração são as
seguintes: Alta redução do volume de resíduos; possibilidade de descentralização do tratamento,
com redução da logística; redução da necessidade de espaço em aterros sanitários; geração de
energia. Tendo como desvantagens: risco de problemas com os filtros e geração de poluentes na
atmosfera; geração de gases de efeito estufa; possibilidade de encaminhamentos de resíduos
passíveis de reciclagem, por comodidade; necessidade de equipamentos de qualidade,
constantemente monitorados e operados por pessoal especializado.

Biodigestor

É possível, portanto, definir biodigestor como um aparelho destinado a conter a biomassa e


seu produto: o biogás. Como defini Barrera (1993, p. 11) ―o biodigestor, como toda grande ideia, é
genial por sua simplicidade‖. Tal aparelho, contudo, não produz o biogás, uma vez que sua função é
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

fornecer as condições propícias para que um grupo especial de bactérias, as metano gênicas,
degrade o material orgânico, com a consequente liberação do gás metano.
Existem vários tipos de biodigestor, mas, em geral todos são compostos, basicamente, de
duas partes: um recipiente (tanque) para abrigar e permitir a digestão da biomassa, e o gasômetro
(campânula), para armazenar o biogás.

Um biodigestor deve ser composto por dois compartimentos: o primeiro, fechado, recebe os
dejetos orgânicos (exclusivamente) que são decompostos anaerobiamente, gerando biogás e
o biofertilizante, que será lançado gradativamente no segundo compartimento que é aberto.
O biofertilizante resultante do processo é um condicionador do solo, contendo nitrogênio e
fosforo, com baixa carga orgânica, que não provoca poluição quando lançado na lavoura.

A compostagem cessa quando algum nutriente essencial é limitado ou exaurido. Depois do


material carbonáceo, o nitrogênio é o maior nutriente requerido pelos microorganismos, seguido
pelo fósforo, potássio, magnésio, enxofre, cálcio e outros metais traço. A umidade é uma variável
muito importante a ser controlada no processo de compostagem, sendo ideal na faixa de 55%, pois
evita-se desta forma a decomposição anaeróbia.
Constitui-se no único meio de transporte para solubilizar o substrato, quanto para eliminar o
material residual digerido. Elevados teores de umidade promovem a aglutinação de partículas, o que
baixa a resistência estrutural da leira, restringindo sobremaneira a difusão de oxigênio. Este fato
reduz a temperatura média da leira (para faixa mesofílica de 20 à 40ºC) e a concentração de
oxigênio para valores menores que 5% (PEREIRA NETO, 1999). A compostagem é uma bio-
oxidação da matéria orgânica conduzida por uma variedade de microrganismos. A diversidade,
sobretudo de bactérias, fungos e actinomicetos favorece uma boa compostagem.
LELIS etall (1999) observou que a manutenção do teor de umidade na faixa considerada
como ótima (45 à 55ºC), objetivando a maximização da velocidade de degradação e a redução dos
impactos ambientais associados ao processo, bem como a eliminação de organismos patógenos,
pode ser obtida mediante um simples controle operacional, através de aeração e correção da
umidade.
De acordo com Oliveira e Oliveira (2014) as vantagens do uso da compostagem são: o
biodigestor pode receber diversos tipos de resíduos orgânicos; há redução de logística dos resíduos,
se instalado de forma descentralizada; pode gerar energia com boa eficiência; aumento da vida útil
dos aterros. Como desvantagem, temos: podem não ser aceitos pela comunidade; em lugares frios,
há o aumento do tempo de decomposição e redução da produção de biogás; o biogás pode reduzir a
vida útil dos equipamentos que o utilizam, aso o teor de compostos de enxofre não seja reduzido;
requer manejo e monitoramento.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Landfarming

O Landfarming é um tipo de tratamento biológico que está diretamente ligado a disposição


final do resíduo. Já que O solo possui, naturalmente, diversos microrganismos com atividades
metabólicas bastante variadas. Sendo assim, uma das maneiras mais simples de se proceder no
tratamento de um resíduo consiste em misturá-lo ao solo e deixar que a flora microbiana nativa
atue.

É o processo de biorremediação onde os resíduos contaminados com hidrocarbonetos são


misturados na camada superficial do solo, em local previamente preparado. Esta tecnologia
visa favorecer a biorremediação por viabilizar a redução da concentração dos
contaminantes no solo por ação de microrganismos através de operações adequadas de
manejo e gestão do solo (PAULA et al., 2006, p. 449).

As refinarias e indústrias petroquímicas de vários de países, inclusive do Brasil, utilizam o


Landfarming para o tratamento dos seus resíduos sólidos. Essa técnica é empregada para tratamento
de resíduos sólidos, onde se adicionam nutrientes e espalha-se a mistura sobre o solo. A escolha
deste sistema deveu-se à simplicidade de operação e à alta taxa de aplicação dos resíduos ao solo,
que varia de 83 a 252m³ ha-1 ano-1, reduzindo dessa forma o custo por unidade de volume de
resíduo tratado.
No entanto, erros na operação do Landfarming e condições ambientais desfavoráveis à
atividade microbiana durante alguns períodos do ano podem reduzir as taxas de degradação. Além
disso, sua utilização in situ é limitada aos casos de contaminação superficial do solo, sendo que, nos
casos de contaminação subsuperficial, faz-se necessário a remoção e o tratamentoex situ.
Para Carvalho (2014, p. 23) aponta as principais vantagens deste método de disposição de
resíduos sólidos são: Efetividade a um custo razoável; relativa segurança ambiental; uso de
processos materiais que reciclam o resíduo; relativa simplicidade de processo, não requerendo
equipamento que necessitam de constante manutenção ou que sejam à prova de falhas. Esse
processo pode apresentar algumas desvantagens, tais como: Deficiência dos solos, o problema de
espaço, pois no landfarming aproveita-se apenas os 20cm superiores do solo, exigindo grandes
extensões de terra, condições climáticas - o tratamento é altamente dependente das condições
climáticas e do tipo de solo. Os contaminantes voláteis, como os solventes, devem ser pré-tratados,
para evitar a emissão destes para a atmosfera, causando assim a poluição do ar.

Aterro de sanitário

Segundo a NBR 8419 da ABNT (1992) o aterro sanitário caracteriza-se como uma técnica
de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, que minimiza os impactos ambientais e sem
causar danos à saúde publica e a segurança. São utilizadas técnicas de engenharia para que os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

resíduos sejam confinados no menor volume possível e depois recobertos por uma camada de terra
ao final de cada jornada de trabalho. Conceitua-se aterro sanitário, também como:

Forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos, fundamentado em critérios de


engenharia e normas operacionais específicas, proporcionando o confinamento seguro dos
resíduos e evitando danos à saúde pública e minimizando os impactos ambientais. Esses
aterros possuem as seguintes infra-estruturas: cercamento; cinturão verde; guarita; balança;
escritório; refeitório; vestiário; drenagem de águas pluviais; impermeabilização da base,
drenagem e tratamento de percolados, drenagem de gases, e poços de monitoramento.
(CARVALHO, 2014, p. 36).

Os aterros sanitários traz consequências benéficas para o meio ambiente, podem gerar
créditos de carbono, pelas reduções de emissão de gases de efeito estufa, quando se queima ou se
utiliza o biogás gerado. Nesse sentido (Oliveira e Oliveira, 2014) mostra as principais vantagens do
aterro sanitário, sendo elas: domínio da tecnologia para construção e manutenção; retenção da
emissão de gases de efeito estufa (GEE) e possibilidade de recuperação energética a partir do biogás
e da venda de créditos de carbono; retenção e encaminhamento do chorume para tratamento;
minimização dos riscos à saúde pública causados pelos próprios resíduos e animais que circulam
nos lixões; redução da presença de catadores no local; decomposição controlada do resíduos.
E como principais desvantagens, destacam-se: Alto valor de investimento com as obras e os
equipamentos envolvidos; necessidade de grandes espaços públicos; demora no processo de
tratamento e baixa redução do volume, em termos de curto e médio prazo; custos com a operação,
pela necessidade de compactação após cada camada de resíduo e solo; custos de monitoramento.
O aterro sanitário destaca-se como um processo bastante conhecido, havendo possibilidades
de aperfeiçoá-lo para garantir melhorias ambientais e maior recuperação energética.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A atual situação do país, no que se refere aos resíduos sólidos, apresenta-se como um grande
desafio. Na análise realizada ficou evidente ainda, que a gestão dos resíduos sólidos prioriza tão-
somente as etapas do processo, a coleta e a destinação dos resíduos sólidos, significando que a etapa
de tratamento não é levada em importância.
A destinação apropriada dos resíduos é avaliada como um grande desafio da
contemporaneidade. Observa-se que o inadequado gerenciamento dos resíduos sólidos geram
diversos impactos ao meio ambiente e ao meio social. Fazendo-se necessário uma adequada gestão
dos mesmos. Os principais impactos estão diretamente ligados ao meio socioeconômico, bem como
ao meio antrópico, direta ou indiretamente ligado à gestão dos resíduos. Assim destacado o
desmatamento; queimadas; limpeza da área; contaminação das águas superficiais e subterrâneas,
contaminação do solo, contaminação do ar com a queima de resíduos, poluição visual e ainda o
comprometimento da qualidade de vida da população.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os riscos ambientais inerentes à disposição inadequada desses resíduos, além de por em


risco a qualidade dos aquíferos, pode também causar a contaminação dos solos nos locais de
disposição sem controle, criando um risco potencial para a saúde da população e para os
ecossistemas. Para tanto se faz necessário medidas mitigadoras para que os impactos negativos ao
solo, recursos hídricos, ar atmosférico, flora, fauna e antrópico entre outros sejam minimizados ou
sanados. Sendo fundamental a sensibilização dos gestores municipais e da sociedade de modo geral,
daí a importância dos processos de tratamento de resíduos.

CONIDERAÇÕES FINAIS

A disposição final dos resíduos inteiramente no solo os titulados lixões é gritante na grande
maioria das cidades brasileira. Considerado um problema de saúde pública tendo em vista, as
consequências das doenças adquiridas através de vetores, bem como o derramamento do liquido
chamado chorume resultado da concentração do lixo a céu aberto e que é altamente nocivo para à
saúde e meio ambiente.
Nas entrelinhas desse trabalho, foi possível atingir o objetivo proposto tendo em vista que,
os processos de tratamento biológico são alternativas para tratar os resíduos de forma adequada,
levando em consideração a caracterização do resíduo, a disponibilidade espaço, adequação a
legislação, a aceitação da população envolvida e o valor de investimento e manutenção a partir dos
custos direitos e indiretos envolvidos, utilizando de métodos tais como a compostagem, incineração,
biodigestor para ser utilizada novamente seja como fonte de energia ou adubo para a agricultura,
como também dá a disposição ambientalmente correta seja por meio do Landfarming ou Aterro
sanitário

REFERÊNCIAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-8419- Apresentação de projetos de aterros


sanitários de resíduos sólidos urbanos. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/61140879/NBR-8419-NB-843-Apresentacao-de-Projetos-de-Aterros-
Sanitarios-de-Residuos-Solidos-Urbanos>. Acesso em: 26 de abril de 2017.

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abril 2017.

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2010/2010/lei/l12305.htm.> Aceso em: 20 de abril 2017.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 375


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 376


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EFEITO DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NA PRODUÇÃO DA


CULTURA DO ALGODOEIRO

Joelma Sales dos SANTOS


Professora Adjunta Doutora em Engenharia Agrícola UFCG
Joelma_salles@yahoo.com.br
Vera Lúcia Antunes de LIMA
Professora Titular Doutora em Engenharia Agrícola UFCG
antuneslima@gmail.com
Maria Teresa Cristina Coelho do NASCIMENTO
Mestre em Engenharia Agrícola UFCG
teresacristina.eng@gmail.com

RESUMO
A reutilização de resíduos na agricultura tem-se tornado uma alternativa promissora e viável, de vez
que pode substituir a adubação química, proporcionando um elevado aporte de nutrientes às plantas.
Neste sentido, o objetivo desse trabalho foi avaliar o uso de composto orgânico oriundo de resíduo
sólido e a irrigação com água residuária doméstica sob os parâmetros de produção do algodoeiro
BRS 286. Para isto, cultivou-se plantas de algodão em ambiente protegido pertencente à
Universidade Federal de Campina Grande, distribuídas em um delineamento experimental em
blocos casualizados em esquema fatorial 6 x 2, com 3 repetições; onde 6 doses de nitrogênio
disponível em composto de resíduo sólido foram (0, 60, 100, 140, 180 e 220 kg ha-1) e 2 tipos de
água de irrigação (potável e residuária doméstica tratada). Verificou-se que as doses de nitrogênio e
os tipos de água utilizados não influenciaram significativamente à produção do algodoeiro. A
produção de massa seca do algodoeiro foi aumentada nas plantas irrigadas com água residuária
doméstica tratada. A adubação orgânica oriunda de resíduo sólido urbano e a irrigação com
residuária doméstica tratada, podem substituir a adubação química no cultivo de algodoeiro cultivar
BRS 286 sem comprometimento na qualidade do algodão.
Palavras-chave: Resíduo sólido, Gossypium hirsutum L., qualidade.
ABSTRACT
The reuse of residues in agriculture has become a promising and viable alternative, since it can
substitute the chemical fertilization, providing a high nutrient supply to the plants. In this sense, the
objective of this work was to evaluate the use of organic compound from solid waste under the
parameters of cotton production BRS 286. For this, cotton plants were cultivated in a protected
environment belonging to the Federal University of Campina Grande, distributed in a Experimental
design was randomized blocks in factorial scheme 6 x 2, with 3 replicates; The 6 doses of nitrogen
available in solid residue compost were (0, 60, 100, 140, 180 and 220 kg of N ha -1) and 2 types of
water (drinking water and treated domestic wastewater). It was verified that the nitrogen rates and
the types of water used did not significantly influence the production of the cotton. Cotton dry mass
production was increased in plants irrigated with treated domestic wastewater. Organic fertilization
from urban waste composting and treated domestic wastewater irrigation may replace chemical
fertilization in the cultivation of BRS 286 cotton without compromising cotton quality.
Keywords: Solid residue, Gossypium hirsutum L., quality.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A problemática ambiental vem ganhando relevante destaque, visto que uma das maiores
preocupações de todos os setores da sociedade é a produção acentuada de lixo e esgoto, tanto nos
centros urbanos como nas áreas rurais. A falta de destino adequado tem comprometido os recursos
naturais, com consequências marcantes no sistema solo-planta-atmosfera. Por outro lado, há um
entendimento, por parte da sociedade de que o ciclo dos produtos não precisa ser concluído após o
uso e descarte, mas que esses podem retornar à cadeia produtiva, por meio de reciclagem e
reaproveitamento.
A agricultura apresenta-se como uma atividade promissora no reaproveitamento de resíduos
urbanos, por trazer benefícios imensuráveis ao meio ambiente, diminuindo a carga destinada para
aterros sanitários, aproveitamento do material orgânico, retorno dos elementos ao ciclo
biogeoquímicos e redução dos custos com adubo químico, que geralmente são importados
(BERTONCINI, 2014). Aliada à adubação orgânica a irrigação com água residuária pode substituir
e suprir a adubação química, uma vez que apresenta quantidades significativas de matéria orgânica,
nitrogênio, potássio e cálcio.
O algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum L.) é uma cultura que pode ser considerada
uma ótima opção para o reaproveitamento, tanto da adubação com resíduos sólidos urbanos quanto
da irrigação com água residuária doméstica, uma vez ser uma cultura não comestível de alto valor
agregado.
Ante o exposto, objetiva-se avaliar as características de produção do algodoeiro cultivado
em solo adubado com composto orgânico de resíduo sólido urbano.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido sobre condições de casa de vegetação, na Unidade Acadêmica


de Engenharia Agrícola, pertencente à Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no
município de Campina Grande, Estado da Paraíba (7º13‘S, 35º54‘W).
O delineamento experimental foi em blocos inteiramente casualizado em esquema fatorial
6x2, onde foram seis doses de nitrogênio disponível no composto de resíduo sólido urbano (0, 60,
100, 140, 180 e 220 kg ha-1) e duas qualidades de água de irrigação (água potável e água
residuária), com 3 repetições. Cada parcela experimental se compunha de um vaso preenchido em
camadas da seguinte forma: brita zero, solo e por último solo homogeneizado com composto de
resíduo sólido urbano.
O composto de resíduo sólido urbano foi adquirido na usina de reciclagem do município de
Esperança, PB; no processo de compostagem o material ficou incubado durante de 120 dias, tempo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

suficiente para que a matéria orgânica fosse estabilizada pela ação de micro-organismos. Após a
coleta, a amostra do composto foi acondicionada em isopor com gelo e, em seguida, encaminhada
para as análises, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) onde foi realizada a caracterização
dos parâmetros físicos e químicos Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização do composto orgânico oriundo de resíduo sólido urbano*


Parâmetros Valores
pH 8,0
Umidade a 60 – 65 C (%) o
48,5
-1
Matéria orgânica (g kg ) 115
Carbono orgânico (g kg-1) 73,8
Nitrogênio Kjeldahl (g kg-1) 8,4
Relação C/N 8,8
-1
Boro (mg kg ) 15,0
-1
Cádmio (mg kg ) <1,0(1)
Cálcio (g kg-1) 23,8
Chumbo (mg kg-1) 29,2
-1
Cobre (mg kg ) 47,5
-1
Enxofre (g kg ) 1,7
-1
Ferro (mg kg ) 11788
Fósforo (g kg-1) 2,6
Magnésio (g kg-1) 2,5
* Analise realizada no Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

(1) Não determinado, concentrações menores que o limite de quantificação pelo aparelho

A variedade de algodão utilizada foi a EMBRAPA 286, lançada em 2009, a semeadura foi
feita de forma direta em número de cinco sementes colocadas a 1 cm de profundidade, após o
desbaste que se deu aos 15 dias depois da germinação ficou a planta mais saudável em cada uma
das unidades experimentais. A irrigação das plantas foi realizada de acordo com a necessidade
hídrica das plantas com duas fontes distintas de água: água potável e água residuária doméstica
tratada pelo sistema de tratamento de esgotos UASB (Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente),
Tabela 2.

Tabela 2. Análise química das águas utilizadas para a irrigação


Ca Mg Na K Fe P Zn Cu Mn N
CE
pH -------------------------------------- (mg L-1) ----------------------------------
(dS/m1)
----
Água potável 7,3 0,30 20 15,5 35,57 5,43 - - - - - -
Água 8,4
1,4 84,0 26,5 129,8 19,5 0,01 3,60 0,01 0,06 0,02 29,4
residuária 3

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Após a emergência das plântulas a irrigação foi realizada a cada dois dias, com reposição da
evapotranspiração da cultura e se levando em consideração os coeficientes de cultivo semanais,
determinados por Azevedo et al (1993) para cultivares precoces de algodoeiro herbáceo, no estado
da Paraíba.
Os componentes da produção foram avaliados por ocasião da colheita das plantas, quando as
mesmas se encontravam no estágio de maturação fisiológica adequada; as variáveis analisadas
foram: Peso de 1 Capulho, Peso dos Caroços e Peso da Pluma. Após a coleta dos capulhos de cada
planta, foi determinado o peso médio de cada capulho e o peso médio de caroços para cada um dos
tratamentos; em seguida, foram separados os caroços da pluma a fim de se obter o peso de pluma e
o percentual de fibras.
Ao final do ciclo do algodoeiro, que ocorreu aos 140 dias, as plantas foram coletadas e
separadas em parte aérea (galhos e folhas) e raiz. Após a coleta as plantas foram lavadas com água
destilada e secadas com papel absorvente, acondicionadas em sacos de papel, identificadas e
colocadas em estufa de ventilação forçada a temperatura de 65ºC até atingirem peso constante. Em
seguida, determinou-se a massa seca das raízes e da parte aérea de cada planta, por meio de
pesagem direta.
A avaliação estatística dos dados foi realizada no Assistat 7.7 Beta (SILVA e AZEVEDO,
2016) e os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, pelo teste F. Para a comparação
entre médias utilizou-se o teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se na Tabela 3 que a qualidade da água de irrigação não apresentou efeito


significativo em nenhuma das variáveis em estudo, enquanto as doses de nitrogênio apresentaram
efeito significativo a 1% de probabilidade para o peso do algodão em caroço e para o peso de
pluma. A interação da qualidade de água e das doses de N apresentou significância, apenas, para a
variável peso de capulho, a 1% de probabilidade.

Tabela 3. Resumo da análise de variância referente ao desdobramento das variáveis componentes de


rendimento do algodoeiro ‗BRS 286‘ para diferentes águas.
Peso médio de Peso algodão Fibra Peso de pluma
Fonte de Variação GL
capulhos (g) caroço (g) (%) (g)
Tipo de água (A) 1 1,9585ns 1755,6100ns 1,4400ns 331,8469ns
Dose de Nitrogênio (D) 5 3,1890ns 4884,9326** 2,8080ns 1012,3622**
** ns ns
AxD 5 16,5826 393,7173 1,7400 91,6582ns
Resíduo 1,8585 614,3200 2,3533 134,5608
Total 35
CV (%) 23,39 26,29 3,43 27,39
-
Dose de nitrogênio (kgha
1 Médias
)
0 kg ha-1 4,6665 38,9166 43,6833 17,2000

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

60 kg ha-1 6,3128 98,9000 44,9500 44,3500


100 kg ha-1 6,0663 99,3000 45,1833 44,8500
140 kg ha-1 5,0964 117,9000 45,5500 53,7333
180 kg ha-1 5,7029 96,3833 44,3000 43,2000
220 kg ha-1 6,5495 114,2000 44,3333 50,7500
Fonte de água
44,4666
Água potável 5,4991 a 87,2833 a 39,3111 a
a
44,8666
Água residuária 5,9656 a 101,25 a 45,3833 a
a
*, **, ns: significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente pelo teste F; Médias seguidas de
mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, GL: Grau de
liberdade; CV: coeficiente de variação.

Embora todas as variáveis tenham obtido valores superiores quando as plantas foram
irrigadas com água residuária, esta não apresentou diferença significativa em relação à água
potável, efeito devido, provavelmente, à maior disponibilidade dos nutrientes encontrados nesse
tipo de água, em particular o NPK. Verifica-se que a dose de 140 kg de N ha-1 proporcionou a maior
quantidade de capulho por planta, média de 28,50, ao final do ciclo, já em referência à qualidade de
água de irrigação nota-se uma diferença de 0,8333 observando efeito significativo no número de
capulhos por planta em relação a irrigação com água potável. Os resultados obtidos para peso médio
de um capulho estão de acordo com os obtidos por Brito (2005) e Silva et al (2001), que dizem não
terem observado diferença significativa entre os tratamentos, variação em doses de nitrogênio, para
a massa de um capulho, provavelmente, por ser uma característica genética da cultivar utilizada.
Alexandria Júnior et al (2011) verificaram que a dosagem de composto orgânico que
proporcionou os melhores resultados para a produção do algodoeiro BRS Rubi foi de 40 kg ha-1 de
nitrogênio associado a irrigação com água residuária. Também foi constatado por Rigon et al (2010)
que o uso de composto orgânico proveniente de lixo urbano apresentou incremento linear na
produtividade de grãos da cultura do girassol, ao utilizarem doses de 25; 50; 75; e 100 m3 ha-1.
Constata-se na Tabela 3, que o percentual de fibra não foi afetado pelas doses de nitrogênio,
resultado também obtido por Pedroso Neto e Abreu (2007). Porém, de acordo com as características
da cultura, o peso médio de capulho e o rendimento médio de fibra, estão entre 5,5 e 6,0 g e 39,5 e
41 %, respectivamente, valores obtidos para as variáveis em condições de campo nas safras de
2005/2006 e 2007/2008 (EMBRAPA, 2009). Nas condições de estudo, na BRS 286 foi observado
peso médio de capulho, máximo, de 6,55 g e rendimento médio, máximo, de 45,55%, plantas
adubadas com 220 e 140 kg ha-1 de nitrogênio. Valores que divergem com os encontrados por
Bezzera et al (2005) ao verificaram que a percentagem de fibra foi reduzida de 43,9% para 41,5%
quando as doses de N aumentaram de zero para 240 kg. Porém de maneira geral é concordante com
Furlani Júnior et al (2003) que verificaram que a aplicação de maiores doses de nitrogênio reduz na
percentagem de fibra. Ao verificar o efeito da adubação mineral sob o crescimento e produção do

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

algodoeiro, Dantas et al (2005) afirmaram que a percentagem de fibras diminuiu com o aumento de
doses de N no solo.
A maior quantidade de pluma foi observada na dose de 220 kg ha-1, as doses de nitrogênio
afetaram significativamente e, seguindo a tendência observada para as outras variáveis de produção
a qualidade de água não surtiu efeito mas a pluma das plantas irrigadas com água residuária foi
discretamente superior. Figueiredo et al (2005) perceberam, trabalhando com duas cultivares, que o
uso da água residuária como fonte de irrigação e nutrientes, incrementou 255,46% e de 370,6%,
respectivamente, para as cultivares BRS 200 Marrom e BRS Verde e que esta última cultivar
respondeu melhor quando se usou a água residuária na irrigação.
Encontra-se na Tabela 4, o resumo da análise de variância para os dados de massa seca da
parte aérea (caule + ramos + folhas) e das raízes das plantas de algodoeiro, BRS 286, obtidas ao
final do ciclo da cultura que se deu aos 140 dias.

Tabela 4. Resumo da análise de variância referente ao desdobramento das variáveis massa seca da parte
aérea e massa seca da raiz das plantas de algodoeiro ‗BRS 286‘ para a água potável e residuária
Quadrados Médios
Fonte de Variação GL
Massa seca da parte aérea Massa seca da raiz
Tipo de água (A) 1 871,0368ns 91,0116*
**
Dose de Nitrogênio (N) 5 1984,0166 63,8121**
ns
AxN 5 349,2934 6,8871ns
**
Regressão Linear 1 8145,3350 231,8063**
Regressão Quadrática 1 1329,9632* 69,7440*
Regressão Cúbica 1 423,498 1,5552
Resíduo 24 259,1251 13,0015
Total 35
CV (%) 17,11 14,10
-1
Doses de nitrogênio (kg ha ) Médias das massas secas
0 59,2216 19,5316
60 91,8200 24,7216
100 97,2133 26,0416
140 102,1116 28,6683
180 103,625 26,7500
220 110,4416 27,7566
Fonte de água
Água potável 89,1533 a 23,9883 b
Água residuária 98,9911 a 27,1683 a
*, **, ns: significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente pelo teste F; Médias seguidas de
mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, GL: Grau de
liberdade; CV: coeficiente de variação

Analisando os dados da Tabela 4, percebe-se que a qualidade de água não influenciou a


produção de massa seca da parte aérea influenciando, entretanto, a 5% de probabilidade, a massa
seca das raízes. Já a variação das doses de nitrogênio exerceu o efeito significativo a 1% de
probabilidade para as duas variáveis (massa seca da parte aérea e massa seca da raiz).
O acúmulo de massa seca nas plantas reflete a taxa de fotossíntese líquida ocorrida durante
todo o ciclo da cultura sendo extremamente influenciada pelas concentrações celulares de nutrientes

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

como nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio e enxofre, os quais participam ativamente dos
processos metabólicos de geração de fotoassimilados. Assim, é correto afirmar que a aplicação de
efluentes no solo ocasiona, ao sistema solo-planta, o fornecimento de água e nutrientes que poderão
ser usados pelas culturas para a produção de matéria seca (SILVA, 2010).
Percebe-se que a irrigação com água residuária doméstica proporcionou diferença
significativa na quantidade de massa seca produzida pelas plantas de algodoeiro. Proporcionando
um incremento de aproximadamente 10 g de matéria seca da parte aérea por planta. Seguindo a
mesma tendência, da altura e área foliar das plantas, a dose de 180 kg ha-1 foi a que contribuiu na
produção de maior quantidade de massa seca da parte aérea das plantas.
Independente da dose de nitrogênio observou-se que as plantas irrigadas com água
residuária doméstica obtiveram um aumento na matéria seca, tanto para a parte aérea quanto para as
raízes do algodoeiro, provavelmente devido a influencia proporcionada pelo nitrogênio um dos
principais nutrientes responsáveis pelo desenvolvimento das plantas. A maior quantidade de massa
seca das raízes observadas nas plantas irrigadas com água residuária (3,18 g) pode estar associada
ao maior teor de fósforo observado nessas águas. O acúmulo máximo estimado da fitomassa seca da
parte aérea e da raiz, apresentou um acréscimo de 0,204 e de 0,034 g vaso-1 a cada incremento de 40
kg de N ha-1, respectivamente.

CONCLUSÕES

A dose de nitrogênio equivalente a 140 kg ha-1 oriundo do composto orgânico foi a que
proporcionou melhores resultados nos parâmetros de produção do algodoeiro.
De maneira geral o uso de água residuária tratada contribuiu de forma positiva na produção
e qualidade de fibra do algodoeiro herbáceo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE CARNAÚBA


DOS DANTAS/RN

Joelma Medeiros DANTAS


Mestre em Ecologia e Conservação/ UFERSA
joelmadantasmed@hotmail.com
Maria Valdete da COSTA
Mestre em Ecologia e Conservação /UFERSA
mariavaldete@ufersa.edu.br
Danielle Marie Macedo SOUSA
Professor Visitante/ UFERSA
danielle.marie@ufersa.edu.br
Rodrigo Guimarães de CARVALHO
Prof. adjunto do Depto. de Gestão Ambiental/ UERN
rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
Com o desenvolvimento industrial veio o aumento da quantidade de lixo produzido nas cidades,
devido ao consumo exagerado da população e consequentemente ao descarte de resíduos sólidos.
Objetiva-se com o trabalho analisar o processo de gerenciamento dos resíduos sólidos no município
de Carnaúba dos Dantas/RN. A pesquisa foi executada em etapas, onde, em um primeiro momento,
ocorreu a pesquisa de campo, com a aplicação de um questionário com 48 perguntas abertas a três
servidores da prefeitura. Foram realizados registros fotográficos e entrevistas informais com
moradores da cidade. Na última etapa os dados coletados foram analisados e comparados com a
legislação vigente. Foram observados diversos problemas no processo de gerenciamentos dos
resíduos sólidos, tais como: poucos servidores, falta de um local adequado para depositar os
resíduos e tratamentos. Dessa forma, conclui-se que, os municípios de pequeno porte ainda estão
distantes de aplicar um gerenciamento de resíduos sólidos adequado. Fazendo-se necessárias
melhorias como a contratação de um número maior colaboradores qualificados, capazes de
gerenciar e implantar um processo de gerenciamento de resíduos sólidos adequado, desde a sua
coleta até sua deposição final.
Palavras-chave: Lixo, Cidades, Coleta, Resíduos Urbanos, Problemas ambientais.
ABSTRACT
With the industrial development came the increase of the amount of garbage produced in the cities,
due to the exaggerated consumption of the population and consequently to the solid waste disposal.
The aim is to analyze the process of solid waste management in the municipality of Carnaúba dos
Dantas / RN. The research was carried out in stages, where, at first, the field survey was carried out,
with the application of a questionnaire with 48 questions opened to three servers of the city hall.
Photographic records and informal interviews were conducted with residents of the city. In the last
step the collected data were analyzed and compared with the current legislation. Several problems
were observed in the process of solid waste management, such as: few servers, lack of a suitable
place to deposit waste and treatments. Thus, it is concluded that, small municipalities are still far
from applying an adequate solid waste management. Making improvements such as hiring more
qualified employees, capable of managing and implementing an appropriate solid waste
management process, from collection to final disposal.
Key-words: Garbage, Cities, Collect, Urban Waste, Environmental problems.

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as cidades vêm passando por inúmeras transformações políticas,
sociais, econômicas e ambientais. A urbanização acelerada e o crescente adensamento das cidades
de médio e grande porte têm provocado inúmeros problemas para a destinação do grande volume de
resíduos sólidos gerados (ALMEIDA et al., 2015).
Com o desenvolvimento industrial veio o aumento da quantidade de lixo produzido nas
cidades, devido ao consumo exagerado da população e consequentemente o descarte de resíduos
sólidos. Segundo Silva et al (2009), a dinâmica populacional imposta pelo processo da urbanização
e industrialização trouxe à tona uma demanda de lixo produzido diferente da capacidade de suporte
das cidades pouco industrializadas. Assim, as diversas regiões do mundo tiveram de se adaptar à
nova realidade em que a produção de novas mercadorias e a consequente inovação e
descartabilidade de materiais e alimentos geravam uma grande quantidade de lixo orgânico e
inorgânico.
Diante desta realidade, a geração de resíduos nos centros urbanos representa uma grande
preocupação para as instituições e governos, trazem inúmeros transtornos para a população e
demandam cada vez mais espaço e recursos para seu tratamento e destinação final no Brasil
(OLIVEIRA et al., 2009).
O lixo pode ser classificado em orgânico (de origem animal ou vegetal) e inorgânico
(plástico, vidro e papel). De acordo com a origem dos resíduos, estes podem apresentar
classificação ainda mais criteriosa, portanto os lixos podem ser caracterizados como: domiciliar,
hospitalar, agrícola, industrial, nuclear e tecnológico.
Diante dessa problemática, essa pesquisa visou investigar a situação do gerenciamento de
resíduos sólidos no município de Carnaúba dos Dantas/RN, localizado na região do Seridó Potiguar,
é um município de pequeno porte, com presença de muitas atividades distintas em seu território.
Dessa forma, objetiva-se analisar o processo de gerenciamento dos resíduos sólidos deste
município, bem como identificar os tipos de resíduos sólidos produzidos no município; verificar
como se dá o gerenciamento destes e o local onde está sendo depositados os resíduos sólidos é
adequado.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado no município de Carnaúba dos Dantas, situado na mesorregião


Central Potiguar e na microrregião Seridó Oriental, do Estado do Rio Grande do Norte. Segundo
Macedo (2005) tem uma área de 246 km², sua altitude média é de 310 metros acima do nível do

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mar. Distante 230 km de Natal, capital do estado e limita-se com os municípios de Acarí, Jardim do
Seridó, Parelhas e com o estado da Paraíba (Figura 1).

Figura 1: Localização geográfica do município de Carnaúba dos Dantas/RN.


Fonte: Site – cidades

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) sua
população é de 7429 mil habitantes, no ano de 2010.
A pesquisa utilizou o método indutivo, a análise dos dados foi interpretativa através da
pesquisa qualitativa, tendo como base empírica o município de Carnaúba dos Dantas/RN, sendo
tratado o gerenciamento dos resíduos sólidos municipal.
Para realizar a pesquisa documental e bibliográfica foram utilizados: monografias,
trabalhos publicados em anais, artigos científicos, textos, a legislação vigente, dados do IBGE,
IDEMA e CONAMA, realizados em sites na internet. A pesquisa foi executada em etapas, tais
como: pesquisa de campo e análise e interpretação dos dados.
Na primeira etapa ocorreu a pesquisa de campo, onde foi elaborado um questionário com
48 perguntas abertas. A entrevista direcionada aos servidores da prefeitura, fiscal de Obras,
coordenador da Limpeza Pública e secretário da Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente. O
trabalho conjunto desses servidores fez funcionar o processo de gerenciamentos dos resíduos
sólidos municipal. Para maior esclarecimento também foi realizado um termo de consentimento,
aplicado a diretora da maternidade, para obter maiores informações sobre a deposição final de
resíduos sólidos contaminantes produzidos em hospitais e PSF's.
Durante o período de uma semana in loco, foram realizados registros fotográficos e
entrevistas informais com moradores para posterior comprovação do relato feito pelos
responsáveis do gerenciamento dos resíduos sólidos. Na última etapa os dados coletados foram
analisados e comparados com a legislação vigente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O maior problema enfrentado pelos municípios de pequeno porte é a falta de estrutura e


verba disponível para gerenciar os resíduos sólidos. De acordo com o artigo 9° da Política

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Nacional de Resíduos Sólidos, na gestão e gerenciamento de resíduos, deve ser observada a


seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos
resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (PHILIPPI JR et al.
2005; AGUIAR, 2012).
No município em estudo, o responsável pelo gerenciamento dos resíduos sólidos é a
Secretaria de Obras, Serviços Urbanos e Transportes Públicos, apresentando um total de 53
servidores, sendo o número de colaboradores que trabalham diretamente com o processo de
gerenciamento dos resíduos 17. Foi observado que, a Secretaria de Meio Ambiente, trabalha em
conjunto com a secretaria de Obras, fiscalizando os procedimentos ocorridos no lixão e o trabalho
desenvolvido pelos catadores.
O secretário de Meio Ambiente do município, afirma que a prefeitura dispõe de um plano
de gerenciamento dos resíduos sólidos, mas não está sendo executado no momento. Todas as
prefeituras necessitam de um plano de resíduos sólidos, sendo este uma ferramenta
importantíssima para o gerenciamento dos resíduos. Um dos instrumentos da Política Nacional de
Resíduos Sólidos é o plano de resíduos sólidos, segundo consta no Artigo 8° da lei
12.305(BRASIL, 2012).
O município não apresenta legislação específica e não segue a legislação vigente para
municípios de pequeno porte. A prefeitura participa de capacitação e comitê intermunicipal sobre
disposição de resíduos sólidos domésticos. Também participa de reuniões com representantes dos
municípios vizinhos com propósito de criação de um consócio de aterro sanitário na área da cidade
de Caicó, que beneficiaria os pequenos municípios seridoenses. Mas por disputas políticas a
criação desse aterro ainda não foi concretizada.
Outra possibilidade de redução dos resíduos sólidos seria a criação de uma unidade de
triagem no município de Acarí, que já está em andamento, segundo o secretário de Meio ambiente.
Inicialmente este centro abrangeria somente a cidade citada, mas a intenção é de reunir alguns
municípios que estejam nas redondezas, como é o caso de Carnaúba dos Dantas, Cruzeta e Jardim
do Seridó.
De acordo com Fagundes (2009) os problemas ambientais ocasionados pela disposição
inadequada desses resíduos sólidos, muitos municípios de pequeno porte têm buscado a solução
através da reciclagem e compostagem. Nesse sentido, muitas administrações públicas e até o setor
privado têm realizado a implantação de Usinas de Triagem e Compostagem de resíduos nos
municípios.
Além dessas possibilidades de convênio, a secretaria está tentando desenvolver um projeto
conhecido como ―Casa limpa e rua saudável‖, para iniciar um trabalho de educação ambiental na
comunidade, para que esta venha a desenvolver uma nova postura referente ao meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nas áreas de potencial turístico também é realizada a limpeza, sendo esta mais frequente no
Santuário Monte do Galo ou Santa Vitória (Figura 2) e na praça dos romeiros, ambos localizados no
bairro Dom José Adelino Dantas, em Carnaúba dos Dantas/RN. Já nos sítios arqueológicos e no
Santuário Santa Rita a limpeza ocorre com menos frequência. Durante todo o percurso da subida do
morro (Santuário Monte do Galo), foi observado depósitos de lixo (Figura 3). Apesar da presença
dos reservatórios observaram-se pequenos focos de lixo, jogados por traz do muro de proteção.

Figura 2: Santuário Monte do Galo.


Fonte: Arquivo próprio.

Figura 3: Depósitos de lixo do santuário Monte do Galo.


Fonte: Arquivo próprio.

Apesar de todas essas propostas, o município enfrenta grandes dificuldades, começando


pela falta de um terreno apropriado para criação de um novo aterro sanitário, aquisição de um
caminhão coletor de lixo e contratação de mais servidores para o setor de limpeza pública e coleta
de lixo.
De acordo com o Coordenador de limpeza urbana, a prefeitura municipal é a responsável
pela coleta, transporte e destino final dos resíduos sólidos. A coleta e o transporte são realizados
por dois caminhões caçamba basculantes (Figura 4), mas apenas um faz a retirada do lixo nos
bairros, o outro é para retirada de restos de vegetais e materiais de construção. A coleta é
realizada todos os dias da semana, não apresenta trajeto constante, a coleta começa todos os dias

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

do ponto que parou no dia anterior. Como foi comprovado ―in loco”, o caminhão de lixo foi
flagrado durante três dias consecutivos passando pelo mesmo bairro.

Figura 4: Caminhão utilizado para coleta de lixo e depósito de lixo urbano.


Fonte: Arquivo próprio.

Segundo o coordenador, tentou-se implantar uma coleta que englobasse todos os habitantes
que tem suas moradias fora da cidade, mas não obteve sucesso. Pelo fato, dos moradores que
residem distante da estrada principal não levarem seu lixo nos dias programados para a coleta.
Diante disso, os moradores descartam seu próprio lixo, alguns queimas e outros enterram.
Conforme o que foi citado, o caminhão continua a fazer a coleta de moradores de sítios, mas
apenas atende aqueles que moram nas proximidades da estrada. No Brasil, a escolha do veículo
coletor é, ainda, bastante empírica (CUNHA e CAIXETA FILHO, 2002; FRANCESCON, 2014).
Como citado anteriormente esta é uma das dificuldades enfrentadas pelo município.
O lixo hospitalar é constituído do lixo comum e do lixo contaminado. Na Maternidade
Estelita Dantas, o lixo comum (restos de alimento e banheiros), é recolhido pelo responsável pela
limpeza urbana.

Em hospitais e clínicas, a segregação na fonte é um importante instrumento na gestão dos


resíduos. A coleta, o transporte e a destinação final dos resíduos de serviços de saúde são
de responsabilidade do gerador. No entanto, os resíduos que não sofreram contaminação
biológica, química ou radioativa e que não sejam perfurocortantes, podem ter a mesma
destinação que o lixo doméstico, podendo ser encaminhados à coleta regular
(GALBIATI, 2005).

O lixo contaminante é acondicionado em caixas e sacolas apropriadas, e em seguida


colocado no depósito (abrigo), anexo ao hospital, em um tambor com tampa (Figura 5). As terças-
feiras, a empresa responsável pela coleta e destinação final destes resíduos, remove o tambor e
devolve após o descarte. Essas informações são válidas para o Hospital e PSF's do município.

De acordo com Morais et al (2009), a gestão dos resíduos de serviços de saúde é tema
preocupante, visto o seu potencial de contaminação humana devido à exposição direta
ao contato com tais rejeitos. Assim, são necessários cuidados extras em cada etapa do

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 391


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sistema, que envolve a geração, a segregação, o acondicionamento interno e externo, a


coleta, o transporte, o armazenamento, tratamento e disposição final destes resíduos.

Figura 5: Depósito de resíduos hospitalar contaminados


Fonte: Arquivo próprio.

O município não trabalha com coleta seletiva e reciclagem, neste só ocorre à separação do
material reciclado que é realizado no próprio lixão.
A reciclagem é o conjunto de uma série de atividades e técnicas que tem por objetivo
aproveitar os materiais contidos no lixo e reutilizá-los no ciclo produtivo, é o resultado de uma
série de atividades, pela qual os materiais que se tornariam lixo, ou que estão no lixo, são
coletados e separados para serem usados como matéria-prima na produção de novos produtos.
Muitos materiais podem ser reciclados e os exemplos mais comuns são o papel, o vidro, o metal e
o plástico.

Para Braga e Dias (2008), a reciclagem envolve a separação e a coleta de materiais; a


preparação destes materiais para o reuso, reprocessamento e remanufatura propriamente
ditos. A reciclagem é um importante fator no auxílio à redução da demanda sobre os
recursos naturais e sobre o tempo de vida útil dos aterros sanitários, futuros e em
operação.

Os principais benefícios da reciclagem seriam: diminuição dos impactos ambientais, pela


redução da quantidade de resíduos depositados e pela diminuição da extração de matéria prima;
maior tempo de vida útil do aterro ou lixão, que passariam a receber menos resíduos; e geração de
emprego e renda para as pessoas envolvidas na reciclagem. Segundo Costa et al. (2013), dentre
alguns benefícios da reciclagem pode-se citar a preservação dos recursos naturais, a redução da
poluição do ar e das águas, a diminuição da quantidade de resíduos a ser aterrada e a geração de
emprego com a criação de usinas de reciclagem.
O local utilizado como depósito de lixo, é o lixão municipal. De acordo com o secretário de
Meio Ambiente ocorreu um estudo prévio para implantação, sendo este rudimentar. Há uns 200 m
da área de deposição existe um conjunto habitacional e residências particulares, que devido ao seu
crescimento acelerado já tomou até mesmo a cerca que há alguns anos isolava o lixão,
permanecendo-o apenas com uma cerca de arame farpado e estacas em alguns ângulos. A via de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tráfego apresenta boas condições de uso e o acesso é fácil, visto que o caminho é através do bairro.
Após ser depositado o lixo, a cada 60 dia é realizado um aterro com areia e entulho, sendo este o
único tratamento realizado no local (Figura 6).

De acordo com o Art. 48°, Capítulo VI, são proibidas, nas áreas de disposição final de
resíduos ou rejeitos, as seguintes atividades: I – utilização dos rejeitos dispostos como
alimentação; II – catação, observado o disposto no inciso V do art. 17; III – criação de
animais domésticos; IV – fixação de habitações temporárias ou permanentes; V – outras
atividades vedadas pelo poder público (BRASIL, 2012).

Figura 6: Lixão do município de Carnaúba dos Dantas/RN.


Fonte: Arquivo próprio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Com este estudo, foi possível perceber que, os municípios de pequeno porte, como o de
Carnaúba dos Dantas/RN, ainda estão distantes de aplicar um gerenciamento de resíduos sólidos
adequado. Fazendo-se necessárias melhorias como a contratação de um número maior de servidores
qualificados, capazes de gerenciar e implantar um processo de gerenciamento de resíduos sólidos
adequado, desde a sua coleta até sua deposição final.
A coleta ocorre de forma regular todos os dias, mas não abrange todos os moradores do
município. A prefeitura tentou implantar um sistema que atingisse esse grupo de moradores, mas
não obteve sucesso. Então, se faz necessário implantar uma medida que inclua os moradores que
estão à margem do serviço de limpeza.
Nos pontos turísticos, como o caso do Santuário monte do Galo, é preciso que ocorra
fiscalização frequente, já que, conforme foi verificado, ocorre a presença de pequenos focos de lixo
durante o percurso, mesmo existindo uma quantidade de depósitos residuais no percurso.
A prefeitura é a responsável pela coleta de resíduos, domiciliar, restos da construção civil,
industrial e hospitalar. Todos são levados para o mesmo destino, o lixão municipal. Mas, os
resíduos hospitalar contaminantes é recolhido por uma empresa encarregada do seu destino.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Um fato importante será a criação do centro de triagem no município de Acarí/RN, que vai
englobar os municípios circunvizinhos. Essa é uma ótima saída para diminuir a quantidade de
resíduos sólidos levados para o lixão a céu aberto. Entretanto, a criação do aterro sanitário no
município de Caicó/RN, será o ponto de partida para acabar com o lixão a céu aberto, dando um
destino final adequado aos resíduos, e mitigar os impactos ambientais negativos observados.

Enfim, o que se observa no município, é que a prefeitura juntamente com as secretarias


responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos sólidos tem um longo caminho pela frente. Pois,
essas mudanças dependem de dois fatores principais: a população, que precisa mudar a postura e os
hábitos culturais, e a vontade política.

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perspectivas de uma sociedade de consumo: um estudo exploratório na cidade de Natal-RN. III
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sustentabilidade: ―Os desafios da incorporação da gestão ambiental e social em organizações
empresariais‖. IFRN – Natal – RN, 25, 26 e 27 de novembro, 2009.

Saneamento básico e tratamento de rejeitos e resíduos/ Organização Paulo Roberto Moraes de


Aguiar. - 2ª ed. – Brasília: Senado Federal, Sub secretaria de Edições Técnicas, 2012.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 395


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CARACTERIZAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS


DE UM CONDOMÍNIO RESIDENCIAL LOCALIZADO NA CIDADE DE JOÃO
PESSOA – PB

Samara Gonçalves Fernandes da COSTA


Mestre em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
samaragfc@gmail.com
Mariana Moreira de OLIVEIRA
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
marianamoreiraa@hotmail.com
Lucila Araújo FERNANDES
Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
lucila.araujo@gmail.com

RESUMO
Condomínios verticais são locais que concentram um grande número de pessoas, gerando uma
quantidade relevante de resíduos sólidos a serem produzidos diariamente. Nesse sentido, este artigo
teve como objetivo fazer a análise qualitativa e quantitativa dos resíduos sólidos gerados em um
condomínio localizado na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, através da composição
gravimétrica. Foi utilizada a metodologia francesa MODECOM™ para verificar a quantidade diária
de resíduos gerados no condomínio. Este levantamento foi realizado duas vezes, em semanas
distintas. Esta análise mostrou que, em média, 30,6% dos resíduos sólidos (Kg) gerados por dia no
condomínio são referentes a materiais recicláveis (papel, plástico, papelão, metal e vidro), 58,8%
corresponde aos resíduos orgânicos, 10,5% representam os rejeitos e 0,1% os resíduos especiais. A
partir desses resultados é proposto como opção a implantação da compostagem e a coleta seletiva
de materiais úmidos e secos para uma gestão mais eficiente dos resíduos sólidos gerados.
Palavras-chaves: resíduos sólidos, condomínio, caracterização e quantificação.
ABSTRACT
Vertical condominiums are places that concentrate a large number of people, generating a
significant amount of solid waste to be produced daily. In this sense, this article aimed to make a
qualitative and quantitative analysis of the solid waste generated in a residential condominium
located in João Pessoa, state of Paraíba, through the gravimetric composition. A French
methodology, called MODECOM ™ was used to verify a daily amount of waste generated by the
condominium. This survey was performed twice, in different weeks. This analysis showed that, on
average, 30.6% of the solid waste (Kg) generated per day by the condominium refers to recyclable
materials, 58.8% refers to organic waste, 10.5% represents refuse waste and 0.1% special waste.
From these results, it is proposed the implementation of the composting process and the selective
collection of wet and dry materials for a more efficient management of solid waste generated.
Keywords: solid waste, condominium, characterization and quantification.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 396


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos são um dos principais problemas ambientais enfrentados pela sociedade
atual, tanto pela quantidade produzida quanto pelo volume do material descartado e a sua
disposição final inadequada.
No Brasil, a crescente urbanização tem tornado a vida em condomínios verticais uma
tendência nos grandes centros urbanos (PINTO e MONDELLI, 2017). Essas estruturas residenciais
são locais que concentram um grande número de pessoas, gerando uma quantidade relevante de
resíduos sólidos a serem produzidos diariamente.
Os autores supracitados afirmam ainda que o correto gerenciamento dos resíduos sólidos nos
condomínios residenciais proporciona o bem-estar dos condôminos quanto aos aspectos sanitários
satisfatórios presentes nos locais, valorização do empreendimento, o qual passa a transmitir boas
práticas de sustentabilidade da administração.
O setor de resíduos sólidos ganhou maior destaque a partir da criação da Lei nº 12.305/2010,
que dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, e visa a proteção da saúde
pública e da qualidade ambiental por meio de uma gestão integrada de resíduos sólidos e o estímulo
à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços (COSTA, 2017). Ainda
de acordo com a PNRS, os resíduos sólidos segregados na fonte geradora oferecem melhores
condições de aproveitamento, pois são evitadas contaminações e consequentemente perda de valor,
além de promover a cidadania e a educação ambiental pelo estímulo do trabalho em grupo, a
redução do consumo e do desperdício, sendo uma fonte geradora de trabalho e renda para muitas
famílias (BRASIL, 2010).
De acordo com a PNRS, a coleta seletiva é uma das principais ferramentas a serem
utilizadas em termos de gerenciamento de resíduos sólidos proporcionando a redução da quantidade
de resíduos gerados e encaminhados aos aterros sanitários, o aumento do valor econômico agregado
aos resíduos potencialmente recicláveis e a geração de renda ao trabalho dos catadores.
Para que seja implantado um correto gerenciamento dos resíduos e o uso eficiente de um
sistema de coleta seletiva é necessária a realização de uma análise qualitativa e quantitativa dos
resíduos sólidos, para que se possa conhecer as características físicas especificas do resíduo e sua
geração em volume. Uma forma de fazer esta análise é através da composição gravimétrica, em que
é contabilizado o percentual de cada componente em relação à massa total analisada (MONTEIRO,
2001). O conhecimento da composição gravimétrica dos resíduos sólidos auxilia na definição das
ações para um gerenciamento correto dos resíduos desde a coleta até seu destino final.
Partindo desse princípio e tendo em vista que os condomínios residenciais são considerados
grandes geradores de resíduos sólidos, faz-se necessária a caracterização e quantificação dos
resíduos sólidos com vista a identificar os diversos tipos de resíduos produzidos e seus percentuais,
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 397
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

podendo-se assim estimar a quantidade de materiais recicláveis que podem ser reaproveitados por
meio da implantação da coleta seletiva.
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar a caracterização dos resíduos
sólidos produzidos em um condomínio residencial localizado em um bairro nobre da cidade de João
Pessoa, estado da Paraíba.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado em um condomínio de classe média alta, situado no município de


João Pessoa, estado da Paraíba - Brasil. Possui uma área total de 7.560 m2, é composto por 140
apartamentos distribuídos em duas torres. Considerando a informação concedida pelo condomínio,
que cada apartamento é habitado por 4 pessoas, em média, e que alguns apartamentos estavam
desocupados na época do levantamento, estima-se uma população de 540 moradores.
No condomínio ainda não é realizado nenhum tipo de separação dos resíduos gerados pelos
condôminos. Segue abaixo outras características importantes:
 Número de funcionários: 19
 Capacidade média dos coletores existentes: 103 L
 Quantidade de bombonas de armazenamento final dos resíduos recolhidos: 6
 Frequência de coleta interna dos resíduos sólidos produzidos: 1 vez/dia
 Frequência de coleta externa dos resíduos pela equipe de limpeza urbana municipal: terça,
quinta e sábado
O condomínio possui um total de 26 coletores nos espaços comuns (salões de eventos, áreas
de lazer, quadra esportiva) e 76 coletores dispostos nos andares das duas torres.

Caracterização e quantificação dos resíduos sólidos

O processo de caracterização consiste na separação dos resíduos em diferentes classes, a


fim de classificá-los e quantificá-los. O procedimento foi realizado em dois dias e em semanas
distintas (11/05/17 e 25/05/17) em um espaço aberto do próprio condomínio.
Para obter melhor representatividade dos resíduos recicláveis gerados foi solicitado aos
condôminos, via interfone, e-mail e informativos, a realização da separação desse material em
resíduos secos e úmidos no dia anterior a caracterização (10/05/17 e 24/05/17).
A triagem dos resíduos foi realizada com o uso adequado de equipamentos de proteção
individual e por um total de 6 pessoas: dois funcionários do condomínio, um agente de coleta
seletiva e três engenheiras ambientais.
Os resíduos foram dispostos em uma lona plástica e separados de acordo com as categorias
definidas pela metodologia desenvolvida pela Agência de Proteção Ambiental Francesa,

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 398


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

denominada MODECOM™ - Mode de Caractérisation des Ordures Ménagères (ADEME, 1993).


As categorias bem como os respectivos exemplos são representados na Tabela 1.

Categoria Exemplificação

Resíduo orgânico Resto de alimentos, casca de fruta

Papel Jornal, revista, panfleto, papel

Papelão Caixa de papelão, embalagem tetrapack

Resíduo verde Poda (galhos e folhas), côco

Plástico Sacolas, PET, descartáveis, embalagens

Metal Latinhas, tampinhas, conservas

Vidro Copo, garrafas

Tecido Roupa, retalhos

Higiene pessoal Fralda descartável, papel higiênico, absorvente


feminino

Inflamáveis Couro, borracha, madeira

Inerte Pedra, osso, cerâmica, porcelana

Resíduo Especial Hospitalar, pilhas, aerossol, tintas

Finos Resíduo inferior à 20 mm

Tabela 1 – Categorias dos resíduos sólidos segundo a metodologia MODECOM™

As Figuras 1 e 2 registram, respectivamente, o momento da triagem e armazenamento dos


resíduos nas classes apresentadas na Tabela 1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 – Triagem do material reciclável

Figura 2 – Separação dos resíduos sólidos em categorias

Os resíduos foram depositados em sacolas plásticas com volume de 100 litros. Ao serem
preenchidas, foi realizada a pesagem dos mesmos em balança digital com capacidade de até 150 kg.
Os valores obtidos foram anotados em uma tabela separadamente.
Posteriormente, foi realizada a soma dos valores da pesagem de cada tipo de resíduo. A
determinação do volume de resíduos das categorias que não geraram quantidade suficiente para
preencher um saco completo foi estimada a partir da proporção do volume ocupado no saco. Na
Figura 3 pode ser observado um dos momentos da pesagem.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 – Pesagem do material reciclável

Os resíduos sólidos potencialmente recicláveis já separados foram colocados em sacolas


plásticas e encaminhados para a Associação dos Catadores de Recicláveis de João Pessoa
(ASCARE-JP) e os demais resíduos foram armazenados nas bombonas para coleta regular do
município.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No primeiro dia de caracterização (11/05/2017) foi gerado um total de 285,7 kg ou 4.530 L


de resíduos sólidos. Essa quantidade é equivalente a 0,53 kg/hab/dia. De acordo com a composição
gravimétrica analisada, o resíduo orgânico foi a categoria com maior representação, atingindo 41%
do total de resíduos, enquanto que o papel junto com o papelão representou 37% do peso total. O
plástico, resíduo de higiene pessoal, vidro e inflamável foram as categorias que tiveram menos de
10% de representação. A quantidade de metal, tecido e resíduos especiais foi considerada, neste
estudo, como insignificante. Não foi verificado a presença de resíduo verde, inerte e finos. A
distribuição dos resíduos gerados em cada categoria no primeiro dia de amostragem pode ser
observada na Tabela 2 e Figura 4.
Representação Representação
Categoria (Kg) em peso do (L) do volume total
total % %
Resíduo Orgânico 117,3 41,0 1.360,0 30,0
Plástico 22,8 8,0 800,0 17,7

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 401


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Papelão 18,9 7,0 700,0 15,5


Papel 86,3 30 1.000,0 22,1
Resíduo verde 0,0 0,0 0,0 0,0
Metal 1,3 0,0 50,0 1,1
Vidro 12,2 4,0 100,0 2,2
Tecido 0,6 0,0 20,0 0,4
Higiene pessoal 16,3 6,0 240,0 5,3
Inflamável 9,9 3,0 240,0 5,3
Inerte 0,0 0,0 0,0 0,0
Resíduos especiais 0,3 0,0 20,0 0,4
Finos 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 285,7 100,0 4.530,0 100,0
Tabela 2 – Quantificação dos resíduos sólidos gerados no dia 11/05/2017

Figura 4 – Peso e Volume total de resíduos gerados em um dia pelo condomínio na primeira amostragem
(11/05/2017)

Com o intuito de confirmar os valores obtidos no primeiro dia de caracterização, foi


realizada uma segunda amostragem no dia 25 de maio de 2017. Os resultados deste levantamento
informam que foi produzido, neste dia, um total de 350,2 kg ou 3.750 litros de resíduos sólidos, o
que equivale a 0,65 kg/hab/dia. Percebe-se que o peso dos resíduos gerados foi maior do que no
primeiro dia, no entanto o volume foi menor. Isso aconteceu porque a quantidade de papel e papelão
foi significativamente menor, apenas 5% do total produzido no condomínio. Por outro lado, o

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 402


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

resíduo orgânico mais do que dobrou. Passou de 117,3 kg no primeiro dia para 256,8 kg no segundo
dia, representando 73% dos resíduos totais.
Os valores da geração de resíduos encontrados, 0,53 kg/hab/dia (primeiro dia de
caracterização) e 0,65 kg/hab/dia (segundo dia de caracterização), estão abaixo da média produzida
no estado da Paraíba, que segundo a ABRELPE (2015) é de 0,766 kg/hab/dia. Os mesmos também
são inferiores aos resultados obtidos no Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, para
os municípios com população entre 250.001 a 1,0 milhão de habitantes, situação que se enquadra o
município de João Pessoa, cuja geração média é de 1,01 kg/hab/dia (SNIS, 2017).
Ao analisar os dados de geração em relação a outros estudos semelhantes em condomínios,
observa-se que os valores são bastantes variáveis. Um exemplo é o condomínio localizado em
Goiânia em que a produção de resíduos sólidos é de 0,59 kg/hab/dia, valor próximo aos obtidos no
presente trabalho (RODRIGUES e LEITE, 2017). Contudo, Rabelo et al (2015), em seu estudo,
chegaram a geração de 1,97 kg/hab/dia para um condomínio, no mesmo município, com quase o
dobro de apartamentos. Percebe-se que os dados de geração variam de acordo com porte do
condomínio e a quantidade de moradores.
Nesse sentido, a quantidade inferior de geração de resíduos por habitante, observada no
presente trabalho, quando comparada a outros estudos da literatura, pode se dar devido a adoção de
4 moradores por apartamento, sugerida pelo condomínio do estudo de caso, já que na maioria dos
trabalhos em condomínios de classe média alta costuma-se adotar 3 moradores por apartamento
(RODRIGUES e LEITE, 2017; RABELO et al ,2015).
A Tabela 3 e Figura 5 apresentam, respectivamente, a distribuição dos resíduos gerados em
cada categoria no segundo dia de amostragem.

Representação Representação
Categoria (Kg) em peso do (L) do volume total
total % %
Resíduo Orgânico 256,8 73,0 1470,0 39,1
Plástico 16,4 5,0 600,0 16,0
Papelão 14,2 4,0 700,0 18,6
Papel 4,4 1,0 90,0 2,4
Resíduo verde 0,0 0,0 0,0 0,0
Metal 2,8 1,0 50,0 1,3
Vidro 15,6 4,0 50,0 1,3
Tecido 0,3 0,0 20,0 0,5
Higiene pessoal 38,7 11,0 640,0 17,0
Inflamável 0,7 0,0 100,0 2,7

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Inerte 0,3 0,0 10,0 0,3


Resíduos especiais 0,3 0,0 30,0 0,8
Finos 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 350,2 100,0 3.760,0 100,0
Tabela 3 – Quantificação dos resíduos sólidos gerados no dia 25/05/2017

Figura 5 – Peso e Volume total de resíduos gerados em um dia pelo condomínio na segunda amostragem
(25/05/2017)

Essa diferença quantitativa de papel entre os dias de amostragem se deve, provavelmente, ao


fato de que quando solicitados a realizarem a separação dos resíduos em secos e úmidos, para a
realização da caracterização, muitos moradores aproveitaram para descartar papeis antigos que
tinham armazenado em casa, não só aqueles produzidos ao longo do dia da amostragem.
Dos materiais recicláveis gerados no condomínio, em média, 30,6% poderá ser destinado às
cooperativas de coleta seletiva (papel, papelão, plástico, vidro, metal) já existentes na cidade de
João Pessoa. Para isso, é necessária a correta aquisição e implantação dos coletores e educação
ambiental, para que os moradores separem os resíduos segundo uma metodologia pré-determinada.
O reaproveitamento dos resíduos orgânicos, que representam a maior parte da produção
total, com uma média de 58,8%, poderá ser feito por meio de doação do material para a realização
de processos de compostagens no próprio condomínio ou organizações que trabalhem com isso.
Os resíduos especiais (pilhas, baterias, lâmpada fluorescentes e eletroeletrônicos)
representaram 0,1% dos resíduos sólidos produzidos. Estes também podem ser encaminhados a
centros de coletas já existentes em João Pessoa. A destinação correta desse tipo de resíduo é

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 404


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

essencial, pois esse material pode conter metais pesados e, se descartado no ambiente, pode
comprometê-lo.
Por fim, os resíduos considerados como rejeito (higiene pessoal, inflamável, inerte e tecido),
que representam 10,5%, deverão ser armazenados para recolhimento da coleta urbana municipal e
encaminhados ao aterro sanitário metropolitano de João Pessoa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização deste trabalho pôde se observar que 89,5% dos resíduos sólidos gerados
pelos moradores do condomínio são potencialmente reaproveitáveis. Entretanto, o condomínio
ainda não possui nenhum sistema diferenciado ou de coleta seletiva interna para destinação
adequada desse material, apesar da cidade de João Pessoa já ter instituído a coleta seletiva no
município por meio do Plano Municipal de Gestão Integrada e Resíduos Sólidos desde 2014 e já
existir inciativas de associações de catadores de recicláveis desde 2005 (JOÃO PESSOA, 2014).
Para que o condomínio passe a gerenciar os seus resíduos de forma adequada e prezando por
padrões mais sustentáveis recomenda-se a implantação da coleta seletiva no condomínio que
consista na separação dos resíduos em dois tipos: úmido e seco, sendo assim compatível com a
coleta seletiva oferecida pelo município. Além disso, sugere-se a destinação dos resíduos especiais
aos centros de recolhimento dispostos pela cidade de João Pessoa e o reaproveitamento dos resíduos
orgânicos para práticas de compostagens e geração de adubo.
Destaca-se, também, a importância da participação dos moradores do condomínio em todo o
processo de implantação e funcionamento da coleta seletiva e que esses sejam sensibilizados da
importância de separar os resíduos por meio de campanhas de Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.


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altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso 29 de
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Brasileiro de Administração Municipal-IBAM. Rio de Janeiro. 2001.

PINTO, R. A. de F. R.; MONDELLI, G. Potencial de recuperação de recicláveis em um


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 406


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO SENADOR ELÓI


DE SOUZA – RN

Michelle Cristina Varela dos SANTOS


Mestre em Ciências Biológicas – UFRN
michellle_biologia@hotmail.com
Érika Geicianny de Carvalho MATIAS
Mestranda em Ciências Biológicas – UFRN
erikageicianny@hotmail.com
Marcelo Diogo da Silva BARROS
Especialista em Educação Ambiental e Patrimonial – IFESP
mar_inline@yahoo.com.br

RESUMO
Atualmente com o aumento demográfico, desenvolvimento econômico e aumento excessivo de
consumo, a produção de resíduos sólidos encontra-se exacerbada, excedendo a capacidade de
suporte dos ambientes naturais e inviabilizando o controle e a destinação adequada de tanto lixo. O
homem é parte integrante do meio ambiente. No entanto, suas ações muitas vezes causam impactos
prejudiciais ao meio ambiente e consequências à própria saúde humana, pela utilização intensa dos
recursos naturais. Desse modo, a disposição final de resíduos sólidos desponta como uma grave
problemática da sociedade humana. O presente trabalho tem como objetivo trazer essa discussão
para uma esfera popular, além de realizar um diagnóstico da problemática da disposição final de
resíduos sólidos na cidade de Senador Elói de Souza. Um trabalho de pesquisa do tipo qualitativo e
descritivo, sendo também realizado um estudo bibliográfico. Com análise do objeto de estudo
através de visitas e pesquisa de campo.
Palavras-chave: Resíduos sólidos, Meio ambiente, Sociedade, Urbanização.
ABSTRACT
Currently, with the demographic increase, economic development and excessive increase of
consumption, the production of solid waste is exacerbated, exceeding the capacity of support of the
natural environments and rendering unfeasible control and disposal of so much garbage. Man is an
integral part of the environment. However their actions often cause detrimental impacts to the
environment, and consequences to human health itself for the intensive use of natural resources. In
this way, the final disposal of solid waste emerges as a serious problem of human society. The
present work aims to bring this discussion to a popular sphere, as well as to make a diagnosis of the
problem of final disposal of solid waste in the city of Senador Elói de Souza. A research work of the
qualitative and descriptive type, being also carried out a bibliographical study. With analysis of the
object of study through visits and field research.
Key-words: Solid waste, Environment, Society, Urbanization.

INTRODUÇÃO

O crescimento da população humana associado à urbanização em massa gerou uma


necessidade crescente de aumento na produção de serviços. Causando como consequência uma

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 407


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

descarga cada vez maior de resíduos sólidos urbanos (RSU), sobrecarregando os ambientes naturais
e inviabilizando a decomposição natural desses resíduos. Ocasionando a poluição do solo e do ar,
contaminação das águas superficiais e subterrâneas, através de alterações físicas e químicas desses
recursos, além de problemas socioambientais como transmissão de doenças (BRAGA et al., 2005;
DIAS, 2002; JACOBI, 2003). Dessa forma a destinação adequada do RSU tornou-se uma
problemática cada vez mais discutida pela sociedade contemporânea. Já que as consequências
decorridas da inadequada disposição de resíduos, pode gerar alterações significativas na
composição dos recursos naturais, tais como, água, solo e ar, através da contaminação, afetando
drasticamente os ambientes antrópicos e a própria natureza (BRAGA et al., 2005; AZEVEDO, et
al., 2015).
Nesse contexto, o Município de Senador Elói de Souza apresenta inúmeros problemas
socioambientais. Havendo no município mau uso dos recursos naturais, falta de planejamento
urbano do município, tais como a falta de saneamento básico, a existência de construções
irregulares além da destinação inadequada dos RSU, tema principal abordado neste trabalho. Desse
modo, esses fatores contribuem para o aumento da poluição do município e consequentemente para
a queda na qualidade de vida da população.
O presente trabalho tem como propósito realizar um diagnóstico da problemática da
disposição final de resíduos sólidos na cidade de Senador Elói de Souza, e tentar viabilizar
sugestões para a minimização dos problemas decorrentes. Desse modo é possível perceber a
relevância do presente trabalho, por tratar-se de uma problemática atual e de um tema significativo,
na busca de uma melhor qualidade de vida para a sociedade humana, em equilíbrio com o meio
ambiente.
O trabalho de pesquisa realizado foi do tipo qualitativo e descritivo, sendo também realizado
um estudo bibliográfico. Foram definidas metas e cronogramas. Num primeiro momento foi
realizada a pesquisa bibliográfica, em obras literárias, artigos e pesquisa junto aos órgãos públicos
responsáveis. Num segundo momento foram realizadas visitas aleatórias ao lixão da cidade, a fim
de fazer as análises físicas e estruturais, coletar imagens e analisar as atividades realizadas no local.
Diante do pressuposto é notável a necessidade da adoção de políticas adequadas de destinação de
RSU, através de um gerenciamento de resíduos sólidos. Mas, principalmente voltadas para
conscientização e Educação Ambiental, possibilitando assim a participação popular nesse processo.

SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E SANEAMENTO BÁSICO

O aumento e desenvolvimento da população humana causaram grandes mudanças no


ambiente. O surgimento das civilizações e cidades gerou com o passar do tempo grandes impactos
na natureza, desequilíbrios ambientais e consequências muitas vezes irreversíveis. As modificações

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambientais decorrentes do processo antrópico de ocupação dos espaços de urbanização, que


ocorrem em escala global, principalmente entre os séculos XIX e XXI, impõem taxas incompatíveis
com a capacidade dos ecossistemas naturais (PAIVA, 2012).
A urbanização é um fenômeno socioespacial que tem se intensificado cada vez mais. De
acordo com o senso demográfico, pesquisa de natureza quantitativa realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 2010, o Brasil possuía 86% de seus habitantes
residentes nas cidades, conduzindo a essas um crescimento exponencial de seu tecido urbano e
consequentemente inúmeros problemas de ordem socioambiental. Dentre esses problemas
socioambientais está a pobreza, representada em seu mais amplo sentido, por pessoas com baixos
índices de alfabetização e desprovidas de uma racionalidade ambiental poluindo o meio ambiente
de diversas formas, inclusive com o descarte de seus resíduos aos corpos hídricos localizados em
suas adjacências. Assim, rios e riachos tornam-se exponenciais vetores de doenças de veiculação
hídrica, que são intensificadas mediante a proliferação de micro-organismos patógenos atuantes na
decomposição da fração biodegradável dos resíduos ali lançados (BOEING, 2013).
Para Gondim (2008), essa escassez de medidas sanitárias configura-se em sérios problemas
de saúde pública por meio de patologias infectocontagiosas. Entende-se por saneamento básico, ―o
controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos
nocivos sobre seu bem estar, mental e social‖ (BARROS et al., 1995, p. 13).
Contudo, os problemas de saúde relacionados à falta de qualidade do ambiente urbano não
se expressam unicamente pela contaminação da água, nem tampouco pela população mais pobre da
sociedade, que geralmente reside em espaços marginais a rios, depositando ali mesmo, nos leitos
fluviais, os seus resíduos. Carlos Minc (1998) relata que as cidades estão adoecidas, portanto
inúmeros problemas estão relacionados aos problemas ambientais. Dentre eles a disposição final
dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU).

DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Para Ribeiro e Lima (2000), ―lixo é um conjunto heterogêneo de elementos desprezados


durante um dado processo e, pela forma como é tratado, assume um caráter depreciativo, sendo
associado à sujeira, repugnância, pobreza, falta de educação e outras conotações negativas‖. Ainda
de acordo com os autores, a definição de lixo urbano é difícil de ser feita, devido à sua origem e
formação estarem relacionadas a vários fatores. Assim, ―é comum definir como lixo todo e qualquer
resíduo que resulte das atividades diárias do homem na sociedade‖.
Segundo Cherubini (2008), dentre os fatores que influenciam a formação de RSU, os
principais são: variações sazonais, condições climáticas, área relativa de produção, número de
habitantes do local, nível educacional, poder aquisitivo, hábitos e costumes da população,

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segregação na origem, sistematização na origem, tipo de equipamento de coleta, leis e


regulamentações específicas.
De acordo com o IPT/CEMPRE (2000), a responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos
domiciliares, comerciais (para pequenas quantidades, de acordo com legislação municipal
específica) e públicos é da prefeitura municipal e os demais, resíduos de serviços de saúde, resíduos
industriais, de portos, aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários, resíduos agrícolas e da
construção civil são de responsabilidade dos geradores.
Na época que antecedeu a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a questão dos
resíduos no Brasil atingia níveis alarmantes. O País produzia diariamente 150 mil toneladas de
resíduos, cerca de 1,22 Kg/hab., sendo que 59% desse lixo era disposto em lixões e apenas 13% do
lixo eram destinados à disposição final em aterros sanitários. Além disso, no ano de 2008 dos 5.564
municípios brasileiros, apenas 405 tinham serviço de coleta seletiva (FERRO, 2010). Atualmente é
possível constatar que pouca coisa mudou desde que esta lei foi sancionada, já que, a destinação
inadequada dos resíduos sólidos acarreta inúmeros problemas socioambientais. O descarte
inadequado de resíduos pode vir a causar a contaminação solo, das águas superficiais e
subterrâneas, proliferação de vetores transmissores de doenças, além dos impactos causados pela
queima do lixo, resultando na poluição do ar, e os impactos sociais, já que muitas pessoas utilizam
os lixões como fonte de renda (CRISPIM et al., 2012).
A contaminação do solo e recursos hídricos deve-se ao chorume, um líquido que resulta da
própria umidade do lixo ou da decomposição dos resíduos, junto com a água das chuvas. Dessa
forma, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (8419) define o sumeiro ou chorume
como sendo o ―líquido, produzido pela decomposição de substâncias contidas nos resíduos sólidos,
que têm como características a cor escura, o mau cheiro e a elevada demanda bioquímica de
oxigênio (DBO)‖. No Brasil, ―a grande maioria dos resíduos sólidos urbanos coletados tem como
destino o solo, disposto em lixões a céu aberto, em aterros controlados ou em aterros sanitários‖
(RIBEIRO & LIMA, 2000). ―Lixões a céu aberto também conhecidos como vazadouros são locais
onde ocorre a simples descarga dos resíduos sem qualquer tipo de controle técnico. É a forma mais
prejudicial ao ser humano e ao meio ambiente‖ (RIBEIRO & LIMA, 2000).
A disposição dos resíduos sólidos feita diretamente no solo exige estudos específicos das
condições ambientais da área utilizada para deposição. Esses estudos podem ser nas áreas:
hidrológica, geológica, ecológica, cultural, topográfica, econômica e tantas outras, para que sejam
respeitados os aspectos ambientais existentes. Caso não haja esse cuidado as consequências podem
ser degradação recursos naturais, produção de líquidos de percolação, poluição das águas
superficiais ou subterrâneas, produção de gases, o aspecto estético (poluição visual) e os maus
odores (MARQUES, 2011).

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De acordo com Marques (2011), no Brasil as principais formas de deposição de resíduos


são: o aterro controlado, que na realidade, minimiza os impactos ambientais e os lixões
caracterizados pela simples descarga sobre o solo. O aterro sanitário, que representa a forma mais
adequada, é pouco utilizado na maioria dos centros urbanos do país, principalmente em cidades
ditas ―pequenas‖.
Segundo Lanza (2009), O aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduos sólidos
urbanos no solo, que visa à minimização de danos à saúde pública e dos impactos sobre o meio
ambiente. Esse método utiliza princípios de engenharia para armazenar os resíduos sólidos em
menor área e reduzi-los ao menor volume possível, recobrindo-os com uma camada de terra na
conclusão de cada trabalho, contando com todos os elementos de proteção ambiental: sistema de
impermeabilização de base e laterais, sistema de recobrimento diário dos resíduos, sistema de
cobertura final das plataformas, sistema de coleta e drenagem de líquidos percolados, sistema de
coleta e tratamentos dos gases, sistema de drenagem superficial, sistema de tratamento de líquidos
percolados, sistema de monitoramento.
De acordo com dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente/MG (2008), o aterro
controlado é uma técnica utilizada para confinar os resíduos sólidos urbanos sem poluir o ambiente
externo, no entanto não apresenta elementos de proteção ambiental. Com base em Carvalho (2001),
esta forma de disposição utiliza princípios de sobreposição de material, cobrindo cada camada de
resíduo depositado por uma camada inerte, diminuindo dessa forma os impactos ambientais. Nessa
técnica de disposição produz-se, em geral, poluição localizada, não havendo impermeabilização na
base que impeça a contaminação do solo e das águas, nem sistema de tratamento de percolado
(chorume mais água de infiltração) ou de extração e queima controlada dos gases gerados. Esse
método é preferível ao lixão, Contudo constitui um método menos adequado que o aterro sanitário.
Os lixões são criados sem critérios técnicos e medidas de proteção ao meio ambiente ou à
saúde pública, constituindo a descarga de a ―céu aberto‖, sendo considerado inadequado e ilegal
segundo a legislação brasileira atual (Lei Nº 12.305/2010) . Nesse método a disposição de resíduos
acarretam problemas a saúde pública, geração de odores desagradáveis, além da poluição do solo,
do ar e dos recursos hídricos, acarretados pela produção de chorume, líquido de coloração escura,
malcheiroso e de elevado potencial poluidor, produzido a partir da decomposição da matéria
orgânica contida nos resíduos, sendo uma das forma mais inadequadas de disposição de resíduos
(MARQUES, 2011).

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CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A norma brasileira NBR 10.004 (ABNT, 2004), distingue os resíduos sólidos em duas
classes de acordo com os aspectos práticos e de natureza técnica ligados, principalmente, às
possibilidades de tratamento e disposição dos resíduos, além de suas propriedades.
 Classe I (ou perigosos), os que apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente com
graus de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade;
 Classe II (não perigosos) que se dividem em: classe II A (ou não inertes), os que podem
apresentar propriedades tais como biodegradabilidade, combustibilidade, ou solubilidade em
água, e resíduos classe II B (ou inertes), classificadas a partir da solubilização de seus
constituintes.
 Essa forma de divisão em classes facilita a utilização dos resíduos que podem ser úteis e
valiosos, podendo se tornar até matéria-prima para outros produtos ou processos.
A lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010) rege quê, os resíduos sólidos podem ser classificados
também quanto a sua origem, dessa forma podem ser: domiciliar, de limpeza pública, urbanos,
resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, de serviços de saúde, industrial,
agrosilvopastoril, resíduos da construção civil, dos serviços públicos de saneamento básico, de
serviços de transportes de mineração de entulhos de obras.

PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA DISPOSIÇÃO INADEQUADA


DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo Fogliatti, Filippo e Goudard (2004), impacto ambiental corresponde a qualquer


alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, podendo ser
provocada direta ou indiretamente por ações antrópicas, que podem afetar a saúde, a segurança e a
qualidade dos recursos naturais, gerando impactos negativos e possivelmente a degradação
ambiental. Afetando de forma direta ou indireta o próprio ser humano.
De acordo com Lanza (2009), embora o chorume e os gases sejam os maiores problemas
causados pela decomposição do lixo, outros problemas podem ser associados com a sua disposição,
como: poluição do solo e das águas superficiais próximas; poluição de águas subterrânea; poluição
visual; presença de odores desagradáveis; presença de vetores, causando doenças diretamente a
catadores; pessoal que trabalha no lixão; população do entorno e, indiretamente a população;
presença de catadores precariamente organizados, inclusive crianças; presença de gases de efeitos:
estufa (dioxinas e furanos) devido à queima, intensa degradação da paisagem, riscos de incêndio e a
desvalorização imobiliária no entorno. Diante do contexto, no município de Senador Elói de Souza
(local onde foi realizado o estudo), os maiores impactos decorrentes da disposição inadequada de

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resíduos são a poluição do solo e dos recursos hídricos, a ameaça à biodiversidade local e
transmissão de doenças.

SANEAMENTO BÁSICO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LIXO EM SENADOR ELOI DE SOUZA

Diante do exposto o município de Senador Elói de Souza não apresenta dados diferentes dos
demais municípios brasileiros. Apresentando as mesmas características históricas de ocupação as
margens de recursos fluviais, mas com o mesmo desrespeito ao meio ambiente como nos demais
centros urbanos, com uma infraestrutura incoerente a preservação dos recursos naturais. Possuindo
dessa forma as mesmas consequências danosas ao meio ambiente. Com problemas socioambientais
bem marcantes (GUEDES, 2003).
Com base nos dados do censo/2010, Senador Elói de Souza detém uma área de 167,59 Km²
e uma população de 6,021 habitantes (IBGE, 2010) e um IDH de 0,588 (PNUD). Com a população
da cidade, em sua maioria, apresentando um quadro de extrema pobreza, em virtude da falta de
políticas públicas que ofereçam condições dignas de sobrevivência. Apesar de estar inserida no
Agreste Potiguar, recebe influência do clima semiárido que juntamente com o uso inadequado do
solo, tem favorecido a degradação ambiental dos ecossistemas frágeis (FERREIRA et al., 2013).
Município localizado ás margens do Rio Jundiaí, um afluente da bacia hidrográfica do Rio
Potengi, nascido em terreno cristalino, na serra Chata, no município de Sítio Novo, a 280m de
altitude. Em seu percurso de 85 Km, a partir de Sítio Novo, o mesmo cruza parte dos município de
Tangará, Serra Caiada, Senador Elói de Souza, bom Jesus e Macaíba, encontrando-se com o Rio
Potengi a montante da cidade de Natal, desaguando no oceano Atlântico ( GUEDES, 2003). Diante
do contexto, no município de Senador Elói de Souza (local onde foi realizado o estudo), os maiores
impactos decorrentes da disposição inadequada de resíduos são a poluição do solo e dos recursos
hídricos, a ameaça à biodiversidade local e transmissão de doenças.
Segundo Mota (2003), a poluição do solo pode ser qualquer alteração provocada nas suas
características, pela introdução de produtos químicos ou resíduos, de maneira que ele se torne
prejudicial aos seres humanos e a outros organismos, ou até mesmo, que tenha seus produtos
prejudicados. Desse modo o lançamento de resíduos sólidos e a disposição de esgotos, são as
principais fontes poluidoras do solo. Para Braga et al. (2005), a poluição do solo urbano provém dos
resíduos gerados pelas atividades econômicas que são comuns das cidades, como indústria,
comércio e os serviços, assim como dos resíduos provenientes do grande número de residências
presentes em áreas relativamente restritas.
Em Senador Elói de Souza devido ao local de instalação do lixão, os danos causados pela
contaminação do solo por chorume e outros resíduos torna-se ainda mais agravante. Pois trata-se de
um terreno localizado na zona rural do município, próximo a áreas utilizadas para agricultura e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pecuária. Levando-se em consideração o tempo necessário para que essa área seja recuperada, ou a
inutilização da mesma por período indeterminado, potencializa ainda mais os danos causados ao
solo local.
Dentre os principais agravantes decorrentes do lixão de Senador Elói de Souza quanto aos
recursos hídricos estão: a possibilidade de contaminação das águas subterrâneas do município, já
que esse está localizado em um terreno baixo, próximo a poços antigos, além de haver no local
algumas lagoas com profundidade de aproximadamente um a dois metros de profundidade,
totalmente contaminadas, possibilitando o risco de transbordamento e contaminação generalizada
de toda área, inclusive de vazamento para afluentes do Rio Jundiaí que passam próximo ao local. As
águas subterrâneas, apesar de serem mais protegidas que as águas superficiais podem ser poluídas
ou contaminadas quando os poluentes atravessam a porção não saturada do solo (NEVES, 2011).
Para implantação do lixão foi necessária à abertura de uma clareira, em plena vegetação
nativa a Caatinga, sendo derrubadas árvores no local e ainda no percurso necessário para chegar ao
lixão, totalizando aproximadamente uns 500 m de estrada aberta da RN 096 até o local. Por ser um
local de mato fechado e próximo a pequenos reservatórios naturais de água, é possível verificar uma
grande variedade e quantidade de aves, insetos e lagartos no local. Diante da deposição de resíduos,
inclusive orgânicos a quantidade de animais presentes no local atraídos pelos dejetos é intensa e
nociva para essas espécies. Além da derrubada da vegetação que impulsiona a migração de animais
para outros locais, ou até a utilização de resíduos como moradia. São considerados resíduos sólidos,
―[...] os resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição‖ (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004).
A coleta dos RSUs na cidade citada é realizada diariamente no perímetro urbano do
município, com uma frequência de cinco vezes por semana, sendo três dias destinados à coleta de
resíduos domésticos, comerciais e das repartições públicas (inclusive resíduos hospitalares) e dois
dias destinados à coleta de entulhos e resíduos de construções civis. Para isso é disponibilizado
somente um carro, para atender toda a demanda.
Contudo, essas áreas utilizadas como lixões não são permanentes, sendo remanejadas
periodicamente de acordo com o suporte e mudanças na gestão pública municipal. Atualmente o
terreno utilizado para deposição de resíduos do município está localizado em uma área de Caatinga
e ocupa aproximadamente 100 metros quadrados. O lixo é depositado de forma irregular pelo
terreno, sendo queimado ao montante. Havendo em alguns pontos acumulação de resíduos
recicláveis, separados pelos catadores. Além de lagoas com água parada e contaminada.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi instituída pela Lei 12.305/2010 (BRASIL,
2010), que apresenta dentre os seus instrumentos os planos de resíduos sólidos. De acordo com esta
lei gerenciamento de resíduos sólidos consiste em um conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos.
O gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos deve ser assentado sobre condições
ambientais adequadas, considerando-se todos os setores e aspectos envolvidos, desde a fonte
geradora até a disposição final segura depois de esgotadas todas as possibilidades de recuperação
dos resíduos, buscando-se inclusive, incorporar mudanças nos padrões não-sustentáveis de
produção e consumo, mediante à educação ambiental para a sensibilização, conscientização e
participação da sociedade (BRASIL, 2010).
Mesmo com o fim do prazo para a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) em 2014, a situação do destino do lixo no Brasil pouco mudou. Se, em 2013, 41,7% do lixo
era depositado em locais considerados inadequados (lixões e aterros controlados), em 2014, essa
parcela foi de 41,6% – redução de apenas 0,1 ponto percentual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade atual está pautada no conhecimento e nas tecnologias, no entanto não consegue
compreender a necessidade de sobreviver em harmonia como meio ambiente, utilizando seus
recursos naturais de forma equilibrada e sustentável, respeitando a capacidade de suporte dos
ambientes e assumindo suas responsabilidades quanto aos resíduos oriundos das atividades
humanas. Ignorando desse modo sua dependência da natureza. Considerando a problemática
exposta no trabalho, é possível constatar que os RSU do município supracitado são depositados na
natureza de forma inadequada, em discordância com a legislação atual, lei nº 12.305, de 2 de agosto
de 2010 (BRASIL, 2010) que dispõe sobre resíduos sólidos e tem o objetivo de acabar, em longo
prazo, com os lixões e obrigar municípios e empresas a criarem programas de manejo e proteção
ambiental.
O terreno que serve atualmente como lixão do município, ocupa uma área de tamanho
considerável e apresenta inúmeras irregularidades ambientais, já apresentando graus elevados de
contaminação. Por se tratar de uma situação altamente impactante, não só para o ambiente como
também à saúde pública, é importante que essa realidade seja mudada, encontrando-se alternativas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para o tratamento e disposição final adequada para os resíduos sólidos urbanos, através de ações
como o gerenciamento de resíduos sólidos.
Diante do exposto é necessário que atitudes sejam tomadas imediatamente, priorizando a
preservação do meio ambiente local e consequentemente o bem estar da população residente no
município, através de um planejamento social e ambiental que possibilite o desenvolvimento do
município em harmonia com preservação dos recursos naturais e meio ambiente. Essas providências
devem partir do poder público, mas precisam estar integradas com a comunidade. Dessa forma
nota-se a importância da educação ambiental nesse contexto.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DA VIABILIDADE DA PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DO


RESÍDUO AVIÁRIO DA REGIÃO DE GLÓRIA - BA

Mônica Cavalcanti Pedrosa BRANDÃO


Professora de Biocombustíveis do IFBA
monica.brandao@ifba.edu.br
Tâmara Thainá Gomes FEITOSA
Técnica em Biocombustíveis
tthainafeitosa@gmail.com
Alberto Brandão TORRES NETO
Professor de Biocombustíveis do IFBA
alberto.brandao@ifba.edu.br
Luiz Antônio Pimentel CAVALCANTI
Professor de Biocombustíveis do IFBA
luiz.cavalcanti@ifba.edu.br

RESUMO
Os sistemas para a recuperação e utilização dos resíduos estão adquirindo um lugar em destaque na
comunidade mundial. Existe atualmente um maior reconhecimento da necessidade da eficiência
técnica e econômica na exploração de recursos. O uso da digestão anaeróbia em um sistema de
recuperação integrada é importante para resolver tanto problemas ecológicos, quanto econômicos. O
biogás obtido a partir da reutilização de resíduos orgânicos evita que ocorra o descarte indevido dos
mesmos, dando a eles um fim rentável e ambientalmente adequado. O propósito deste trabalho foi
avaliar a viabilidade do resíduo aviário da região de Glória–BA como substrato para produção do
biogás. Realizou-se, inicialmente, a caracterização físico-química do resíduo aviário através das
análises do teor de umidade, sólidos totais, sólidos voláteis e cinzas, além do pH e densidade
aparente. Após a caracterização o resíduo foi submetido à digestão anaeróbia realizada em
biodigestor nas proporções de biomassa:água (1:1) e (1:1,3) em volume, respectivamente. Os
resultados mostraram uma maior viabilidade de produção do biogás no biodigestor contendo a
proporção 1:1,3 levando-se em consideração o volume do gás armazenado no balão.
Palavras-chave: Resíduo Aviário, Digestão Anaeróbia, Biogás.
ABSTRACT
Systems for waste recovery and use are gaining a prominent place in the global community. There
is now a greater recognition of the need for technical and economic efficiency in the exploitation of
resources. The use of anaerobic digestion in an integrated recovery system is important to solve
both ecological and economic problems. The biogas obtained from the reuse of organic waste
prevents the undue disposal of the waste, giving them a profitable and environmentally appropriate
purpose. The purpose of this work was to evaluate the viability of avian residue in the Glória-BA
region as a substrate for biogas production. The physical-chemical characterization of the avian
residue was carried out initially through analyzes of moisture content, total solids, volatile solids
and ash, the pH and apparent density. After the characterization, the residue was submitted to
anaerobic digestion carried out in biodigestor in the proportions of biomass:water (1: 1) and (1: 1,3)
by volume, respectively. The results showed a greater viability of biogas production in the
biodigestor containing the ratio 1: 1.3, considering the volume of gas stored in the flask.
Keywords: Aviary Residue, Anaerobic Digestion, Biogas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O modelo consumista da sociedade atual elencado na ideia do novo, onde os produtos são
descartados rapidamente e a industrialização decorrente do estilo da produção em massa, acarretam
em um aumento vertiginoso da geração de resíduos, o que traz graves consequências ambientais e
da saúde pública.
A política ambiental surge como poderoso instrumento na luta por proteção e manutenção do
meio ambiente, aliando interesses econômicos em busca do desenvolvimento sustentável, através de
um gerenciamento adequado dos resíduos, assim como a reciclagem, reutilização e disposição
técnica e ambientalmente adequada dos mesmos (TOCCHETTO, 2005).
Segundo Khanna e Anton (2002), como a preocupação de gerenciar seus resíduos floresceu,
as indústrias têm adotado os princípios da gestão ambiental que consiste em um conjunto de práticas
e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam integrar ambiente e
produção, as quais identificam oportunidades para reduzir e controlar os impactos introduzidos por
suas atividades sobre o meio ambiente, estabelecendo melhorias contínuas nos sistemas de produção
e na sua performance ambiental.
A geração de resíduos representa perdas no processo, ineficiência produtiva e no uso dos
recursos naturais, alto consumo de energia, além de custos ambientais de gerenciamento.
No Brasil a produção avícola está entre as cadeias produtivas mais relevantes e crescentes
nos últimos anos (ANAULPEC, 2007). Devido a esse aumento, o resíduo proveniente da criação
aviária é produzido em grande quantidade. Consequentemente, surge a necessidade da busca pelos
produtores de meios de aproveitamento e/ou tratamento para o resíduo gerado, uma vez que a partir
da Instrução Normativa nº 15, de 17 de Julho de 2001, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, foi proibido o uso deste resíduo para alimentação de ruminantes, devido a
problemas sanitários ocorridos na Europa em 2001, como a encefalopatia espongiforme bovina
(BSE), impossibilitando assim que os avicultores vendessem este resíduo como insumo nutricional
para pecuaristas (PALHARES, 2004). Tal proibição se deve aos riscos de haver contaminação da
cama com restos de ração que por ventura tenha proteína de ruminantes em sua composição. Devido
à dificuldade de fiscalização em todo o território brasileiro para a diferenciação se as aves foram
alimentadas com proteína especificamente vegetal ou animal, a instrução proíbe o uso de toda e
qualquer cama, independente da sua origem (PAGANINI, 2004).
O resíduo aviário é formado basicamente de excretas das aves (urina e fezes), penas, ovos
quebrados e resto de ração e água caídos dos bebedouros e comedouro. Como os dejetos possuem
potencial biogênico elevado, utilizá-lo no solo sem tratamento não é aconselhável. Quando a
matéria é degradada emite odor desagradável e gases, o que caracteriza um impacto negativo ao

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiente como um todo. O manejo falho dos dejetos e das instalações agrava essa emissão
(FUKAYAMA, 2008).
À medida que a produção nacional de frango aumenta, maiores quantidades de resíduo
aviário são gerados e é notória a necessidade eminente de se pensar nas possibilidades de manejo e
de destino deste resíduo, a fim de minimizar os impactos por ele causados, e ainda poderão tornar-
se não apenas uma importante fonte de renda e agregação de valor à atividade, mas também um
modelo de produção sustentável que vem tornando-se cada vez mais uma exigência de mercado.
Entre as alternativas de tratamento proporcionadas, a digestão anaeróbia da matéria orgânica
mostrou-se como umas das mais vantajosas.
A digestão anaeróbia é um processo segundo o qual algumas espécies de bactérias degradam
a matéria orgânica até formar o metano e dióxido de carbono, além de biofertilizante (DEMIRER e
CHEN, 2005). Estes dois produtos possuem alto valor como fonte energética e nutricional podendo
ser substitutos de insumos adquiridos pelo avicultor. A grande importância do processo de digestão
anaeróbia não está somente no fato de se poder obter energia alternativa a partir de resíduos
orgânicos, mas também de saneamento rural, através da redução da carga orgânica poluentes dos
resíduos, além da redução de odores e de se obter um efluente apropriado para a fertilização do solo
(CARREAS, 2011).
Nos processos anaeróbios, ou nos sistemas de biodigestão anaeróbia, a degradação da
matéria orgânica envolve a atuação de microrganismos procarióticos anaeróbios facultativos e
obrigatórios, cujas espécies pertencem ao grupo de bactérias hidrolíticas, fermentativas,
acetogênicas e arqueas metanogênicas (CÔTÉ et al., 2006; ALVAREZ et al., 2006).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade de produção de biogás a
partir do resíduo da produção avícola de postura da região de Glória – BA, uma vez que fica
evidente que a biodigestão do resíduo aviário é de máxima importância, pois pode ser utilizada para
produzir calor para o aquecimento dos animais e energia para outros fins, propiciando um ótimo
manejo ambiental da propriedade, onde o resíduo produzido é reutilizado dentro da própria
atividade geradora.

METODOLOGIA

Caracterização do Substrato

O substrato utilizado no presente trabalho foi o resíduo da avicultura de aves de postura,


tendo como composição ovos quebrados, urina, fezes, penas e resto de ração. O resíduo foi cedido
pela Empresa Granja Moraes, localizada na entrada do município de Glória – Bahia.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A caracterização físico-química do resíduo da avicultura foi realizada em triplicata, onde


foram determinadas a densidade aparente, umidade, pH e cinzas de acordo com Brasil (2005) e os
teores de sólidos totais e de sólidos voláteis através da aplicação da Equação 1 e 2 após
determinação do teor de umidade e de cinzas, de acordo com o Método 2540 do Standar Methods
(EATON et al., 2005).

ST (%) = 100 – U(%) (1)

Onde:

U= teor de umidade da amostra

SV% = ST% – Cinzas % (2)

Onde:

SV= % Sólidos Voláteis

ST = % Sólidos Totais

Processo de Digestão Anaeróbia

No processo de digestão anaeróbia do resíduo em estudo, inicialmente foi feita a definição


das proporções (1ª biomassa – resíduo aviário:2º água) com base no estudo realizado por Costa
(2012) utilizando como substrato da digestão anaeróbia esterco de galinha.
Em seguida foi feita a montagem dos biodigestores. Para isso foram utilizadas 2 garrafas
PET de 2L, 2 bexigas, funil e fita adesiva. Onde adicionou-se com ajuda do funil o resíduo aviário e
a água nas garrafas, nas proporções (1:1) e (1:1,3) em volume como mostra a Figura 1.

(a) (b)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Início do processo de digestão anaeróbia do resíduo aviário nas proporções: (a) 1:1 e (b)
1:1,3 (biomassa:água).

Esses materiais foram incubados por aproximadamente 20 dias, e observados diariamente


para verificar a melhor proporção que apresentaria maior geração de biogás, em temperatura
ambiente, onde no 20º dia colocou-se os biodigestores expostos ao sol (aproximadamente 37ºC),
para verificar a possível influência do parâmetro temperatura no processo de digestão anaeróbia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do Resíduo Aviário

Na Tabela 1 encontram-se variáveis observadas e os desvios-padrão para a caracterização do


resíduo da avicultura.

Umidade (b.u) 32,77 ± 0,8351

Cinzas (%) 33,56 ± 0,5104

Sólidos Totais (%) 67,22 ± 0,8351

Sólidos Voláteis (%) 33,66 ± 1,0267

pH 7,47 ±0,0450

Densidade Aparente 0,44 ±0,10

Tabela 1 – Caracterização do resíduo aviário.

Conforme a Tabela 1, os resultados obtidos tornam o resíduo aviário em estudo uma boa
fonte de matéria orgânica para ser utilizada como substrato na digestão anaeróbia para produção de
biogás.
A umidade média obtida nas amostras foi 32,77%. A quantidade de umidade, citada por
Firmo (2010), é um fundamento utilizado para compreender a predisposição da biodegradação do
resíduo utilizado, dado que a água disponível no meio está entre os fatores que influenciam de
modo direto a atividade microbiana. Alves (2008) repara na literatura que alguns autores supõem
que a umidade considerada ótima para a biodegradação está entre 60-90% em peso do conteúdo
total. Tanto o excesso quanto a falta de água são prejudiciais para o processo. Além do que, na
digestão úmida, mistura do substrato permite aumentar o seu teor de umidade, tornando-o
bombeável e possibilitando o seu transporte até o biodigestor.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O pH do resíduo da avicultura em estudo apresentou um valor médio de 7,47, que está


próximo ao valor desejado em torno da neutralidade, que segundo Silva (1983), fica entre 6,5 e 7,6
por satisfazer melhor a fermentação e a produção de metano. O pH é uma variável importante em
todo processo biológico, porque induz mudanças morfológicas no organismo e também na secreção
enzimática, onde há valores ótimos para o desenvolvimento dos micro-organismos. Em meio ácido
a atividades enzimática das bactérias é anulada. Em meio alcalino, a fermentação produz anidrido
sulfuroso e hidrogênio (TOMMY et al., 2014).
As bactérias metanogênicas são as mais exigentes em todo processo de biodigestão, pois
elas são muitos sensíveis quanto a variação do pH, sendo a variação ótima para produção do metano
um pH entre 7,0 e 7,5, mais funcionando satisfatoriamente numa faixa de pH entre 6,6 e 7,6
(BAZADA et al., 2003).
De acordo com Santos (1997), os teores de sólidos totais do resíduo aviário apresentam em
média valores acima de 70%, o que indica a necessidade de diluição em água para ser utilizado
como substrato na biodigestão. O resíduo utilizado neste estudo apresentou 67,22%, valor próximo
ao encontrado na literatura. Dessa forma a necessidade de diluição não faz desse resíduo uma
impossibilidade de utilização, uma vez que, o teor de matéria seca do substrato separadamente não é
o fator determinante para o processo de biodigestão, mas sim o teor de matéria seca da mistura ao
qual o biodigestor é alimentado.
A quantidade de água a ser adicionada na biodigestão depende do tipo de processo a ser
utilizado, um substrato muito diluído pode ser tratado por diferentes técnicas, de modo a reter os
micro-organismos ou trazer a biomassa de volta ao processo. O importante é a disponibilidade de
material para os organismos, já que a degradação do substrato deve aumentar o número de micro-
organismos, os quais pode acelerar o processo de geração de biogás obtendo melhor rendimento.
O teor de sólidos voláteis é um dos parâmetros relevantes e determina a quantidade de
material orgânico presente no substrato que estará disponível para a biodegradação (FIRMO, 2010).
O resíduo aviário apresentou o valor de 33,66% em massa de sólidos voláteis, onde indica
quantidade satisfatória de material orgânico presente no resíduo a ser decomposto e convertido em
biogás. Essa variável é importante para determinar a carga ideal para o processo de biodigestão.
O teor de cinzas apresentou valor médio de 33,56%. Esse valor é referido ao resíduo
inorgânico que permanece após queima da matéria orgânica. De acordo com Palhares (2004), a
amplitude do teor de cinzas na composição da cama de aviário é de 14,4% – 69,2%. As cinzas são
constituídas principalmente de K, Na, Ca e Mg (Macronutrientes) e de Al, Fe, Cu, Mn e Zn
(Micronutrientes). Esses nutrientes são essenciais para o desenvolvimento dos micro-organismos.
Os principais nutrientes necessários para o crescimento dos micro-organismos são o carbono, o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

nitrogênio, o fósforo e uma série de elementos minerais como enxofre, potássio, sódio, cálcio,
magnésio e ferro que devem estar presentes a baixas concentrações (SARASA, 2010).

Processo de Digestão Anaeróbia

Na Figura 2 são apresentadas as fases da digestão anaeróbia do resíduo aviário ao longo dos
20 dias.

(1º dia) (10º dia)

(15º dia) (20º dia) (20º dia, exposto ao sol)


Figura 2: Etapas do processo de digestão anaeróbia do substrato (resíduo aviário) em estudo.

De acordo com os resultados, percebeu-se a geração do biogás a partir do 10º dia do


incubação do substrato (resíduo aviário), onde obteve-se um aumento mais acentuado ao longo dos
dias no biodigestor de proporção (1:1,3) biomassa:água, apresentando assim o melhor resultado,
principalmente quando o mesmo foi exposto ao sol (aproximadamente 37ºC). Temperaturas mais
elevadas aumentam a velocidade de degradação do substrato, pois o calor faz com que os micro-
organismos acelerem seu metabolismo devido ao aumento da atividade microbiana, desde que as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

espécies se adaptem ao clima, além de aumentar a disponibilidade de alguns compostos orgânicos à


medida que a temperatura é elevada.
Os resultados obtidos neste estudo podem evidenciar que o resíduo aviário pode ser
considerado uma fonte viável na produção de biogás através da biodigestão anaeróbia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A caracterização do resíduo aviário mostrou que este substrato pode ser considerado uma
boa fonte de matéria orgânica para produção de biogás, principalmente com relação ao teor de
sólidos voláteis.
Na digestão anaeróbia pode ser verificada a produção do biogás e que a proporção
biomassa:água de 1:1,3 foi a que apresentou, visualmemte, a maior produção de gás.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

UTILIZAÇÃO DO LODO FECAL DE LATRINAS NA PRODUÇÃO DE FERTILIZANTE:


EXPERIÊNCIA EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Natália Pires MARTINS


Pós-graduanda em Engenharia de Materiais pela UFPB
nataliapiresmartins@hotmail.com
Luan Cardoso de Oliveira PEREIRA
Graduando do Curso de Engenharia Civil da UFPB
lcardoso.engenharia@gmail.com
Thaís Farias de BRITO
Engenheira Civil
thaisfariasb@hotmail.com
Anna Gabriela Fechine LEITE
Engenheira Civil
annagfechine@hotmail.com

RESUMO
A construção e utilização de latrinas é uma prática comum em países em desenvolvimento. Trata-se
de uma opção de saneamento de baixo custo que requer uma gestão de qualidade na coleta,
transporte e disposição final segura dos excrementos a fim de prevenir a propagação de doenças
infecciosas. Frequentemente, a disposição final é feita de forma irregular, com descarte de excretas
sem qualquer tratamento em corpos d‘água ou acumulação em fossas, acarretando grande risco de
poluição e contaminação dos recursos naturais com diversos patógenos. Torna-se necessário aplicar
soluções adequadas para que o lodo fecal não seja descartado, mas que haja reutilização do
material, garantindo um sistema de saneamento mais seguro e sustentável. Uma alternativa seria
desenvolver um novo mercado focado na produção local de fertilizantes obtidos a partir do excreta
humano tratado. Diante desta possibilidade, este artigo procura apresentar uma revisão bibliográfica
sobre o tema e, ao final, expor estudos de casos nos quais é avaliada a viabilidade da produção de
fertilizantes a partir do excreta.
Palavras-chave: Países em Desenvolvimento; Excreta; Saneamento; Compostagem.
ABSTRACT
The use of pit latrines is a common practice in developing countries. It is a low-cost sanitation
solution that requires proper management in collection, transport and safe enduse or disposal of
fecal sludge, in order to prevent the spread of infectious diseases. In effect, the final disposal of
excreta into water streams or into the soil is common practice, causing great risk of pollution and
contamination of the water table. It is necessary to apply appropriate solutions on the reuse and
recycling of fecal sludge, ensuring a safer and more sustainable sanitation system. An alternative
would be the possibility of developing a new market focused on local production of fertilizers
obtained from treated human excreta. In view of that, this report seeks to present a literature review
on the subject and expose case studies in which the feasibility of production of fertilizers from
excreta was assessed.
Keywords: Developing Countries; Fecal sludge; Sanitation; Composting.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Está entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) da Organização das Nações


Unidas (ONU) realizar melhorias em saneamento que reduzam pela metade a proporção da
população que não possui acesso a instalações sanitárias melhoradas. São consideradas instalações
sanitárias melhoradas: aquelas conectadas ao sistema público de esgotamento sanitário ou tanque
séptico, latrinas de descarga de água, latrinas pit simples e as latrinas pit ventiladas e melhoradas,
que são conhecidas por VIP latrines, em inglês, entre outras. (THYE et al., 2009). Elas garantem a
eliminação dos excrementos humanos sem que estes contaminem os corpos d‘água que servem para
abastecimento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2015), no sul da Ásia, apenas 47%
da população faz uso de instalações sanitárias melhoradas. A África Subsaariana sofreu um avanço
ainda menor, com a cobertura atingindo apenas 30% da população. Índices como esses, associados
à sistemas deficitários ou inexistentes de abastecimento de água e tratamento de esgoto, refletem
diretamente nos indicadores de saúde pública desses países.
De acordo com Mara e Evans (2011), o manejo de excreta humano adequado à saúde requer
coleta e armazenamento seguros. Existem diversos sistemas de saneamento de baixo custo que
atendem a esses requerimentos; são os mais variados tipos de latrinas melhoradas. Há tipos
adequados para áreas urbanas e rurais, de acordo com o espaço disponível.
Entretanto, a necessidade de manutenção das latrinas e tanques sépticos é uma das maiores
dificuldades encontradas. Pickford e Shaw (1997) afirmam que, quando o nível de material
depositado nas fossas chega a 0,5m do solo, existem duas medidas que podem ser tomadas:
inutilizar a latrina e construir uma nova ou proceder o esvaziamento. O‘Riordan (2009) destaca
outras opções que são observadas na realidade: utilizar as latrinas da vizinhança, transferir parte do
material para uma fossa próxima cavada com esta finalidade ou regredir para a fecalização a céu
aberto.
Tanto no processo de esvaziamento quanto na disposição final do lodo fecal (LF), existem
pontos críticos: o contato entre os excrementos e os indivíduos e o contato entre os excrementos e
os recursos naturais (solo e água). No intuito de reduzir os riscos de contaminação nesses pontos e
promover higiene e dignidade à população, países em desenvolvimento como Gana, , Bangladesh e
Vietnã têm tentado implementar a produção de fertilizante a partir do LF. As pesquisas têm
apresentado resultados promissores.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Caracterização do problema

Segundo dados atualizados da OMS, cerca de 2,3 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a
instalações de saneamento básico, como banheiros ou latrinas melhoradas; e, 892 milhões desse
total ainda defecam a céu aberto, o que corresponde a aproximadamente 12,4% da população
mundial. (OMS, 2017, tradução nossa). Esses números são distribuídos com grande desigualdade,
sendo quase a totalidade concentrada em países em desenvolvimento.
Os países em desenvolvimento e a comunidade internacional têm trabalhado em reduzir
esses números através da implantação de sistemas de saneamento de excretas de baixo custo,
fornecimento de educação higiênica e da conscientização social sobre os danos causados pela
defecação a céu aberto. Entretanto, além de erradicar essa prática, é necessário garantir a higiene e o
aperfeiçoamento dos sistemas de saneamento, como sugerem Mara e Evans (2011).
Os tipos mais comuns de sistemas de saneamento implantados são: latrina pit simples,
latrina pit ventilada e melhorada (VIP) e latrina com descarga de água (pour-flush latrines). São
empregados materiais de baixo custo e abundantes em cada local, e a construção pode ser feita pela
própria população, devido à simplicidade técnica do processo como um todo (MARA e EVANS,
2011).

Disposição final dos excretas

Quando o volume de excretas no fosso é tal que a distância à laje é de 0,5m, não é mais
seguro utilizar a latrina, pois há risco de transbordamento. Nesse momento, as medidas geralmente
tomadas são: proceder o esvaziamento ou, caso o proprietário tenha recursos e haja espaço
disponível, cobrir o fosso com terra e construir uma nova latrina nas proximidades da primeira
(PICKFORD e SHAW, 1997 apud THYE et al., 2009).
Existem três métodos utilizados para esvaziar os fossos: o manual, o semi-mecanizado e o
mecanizado. O esvaziamento é considerado semi-mecanizado quando a força é aplicada
manualmente e os excretas são movidos por aparelhos. Está incluído nessa classificação o Gulper,
ferramenta portátil e de baixo custo desenvolvida para tornar o trabalho dos esvaziadores de latrina
mais fácil e higiênico (O‘RIORDAN, 2009).
O esvaziamento mecanizado é feito com os caminhões limpa-fossa, como o apresentado. Na
carroceria desses caminhões é instalada uma bomba a vácuo capaz de sugar o lodo fecal, que é
armazenado no tanque durante o transporte até o local de disposição final. (THYE et al., 2009).
Quando o esvaziamento é conduzido manualmente, cava-se o conteúdo do fosso utilizando
pá e balde. O transporte até a área de disposição é feito a pé por longas distâncias. Esse tipo é o
mais utilizado atualmente, principalmente pelo baixo custo. Para segurança do trabalhador, deve-se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ser utilizado equipamento que proteja o corpo do contato com o excreta. (PICKFORD e SHAW,
1997).
Existem diversas práticas de disposição final em uso nos países em desenvolvimento.
Embora algumas delas sejam aceitáveis, outras são extremamente indesejáveis. De acordo com
Brikke e Bredero (2003) e O‘Riordan (2009), as unidades de tratamento e compostagem estão entre
as mais comuns. Nessas estações, o LF é pré-tratado em leitos de drenagem e, posteriormente co-
compostado com resíduos vegetais. O produto do tratamento final é um composto seguro que pode
ser usado como condicionador de solo ou fertilizante.
Os principais produtos da reciclagem do LF com possibilidade de obter valor agregado para
comercialização são: combustível, biogás, proteína para ração animal, materiais de construção com
LF processado incorporado e fertilizante. Dentre eles, o fertilizante é a forma mais comumente
produzida (DIENER et al., 2014).

Produção de fertilizantes

Serão apresentados a seguir alguns casos de utilização de lodo fecal como fertilizante na
agricultura.

Estudo de casos

Gana

Um estudo feito no município de Kumasi, relatado por Cofie et at. (2005) e Cofie e Koné
(2009), analisou um método de tratamento preliminar de lodo fecal de latrinas públicas e fossas
sépticas e da fração orgânica dos resíduos sólidos (RS) municipais visando a utilização como
fertilizante na agricultura. O tratamento inicial é baseado na separação das partes sólidas e líquidas
do LF através de leitos de secagem, como o representado na Figura 1. A segunda parte consiste na
co-compostagem do RS e do LF seco, em leiras a céu aberto. Foi construída uma estação piloto de
tratamento para a realização do experimento.

Figura 16 - Perfil do leito de secagem


Fonte: COFIE et al. (2005). Adaptada.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Durante o estudo, foram coletadas e analisadas amostras do LF bruto, do LF pré-tratado


(biossólidos) e do líquido drenado (chorume) nos leitos de secagem. A coleta aconteceu durante
todo o período em que o lodo fecal esteve nos leitos, em média 15 dias. Os parâmetros observados
foram pH, temperatura, total de sólidos (TS), sólidos suspensos (SS), demanda química de oxigênio
(DQO), demanda biológica de oxigênio (DBO) e ovos de helmintos (COFIE et al., 2005).
Os resultados indicam que os leitos de secagem utilizados foram eficientes em separar os
líquidos e sólidos do lodo fecal. Entretanto, não foram eficientes para produzir biossólidos e
chorume com a qualidade esperada para a produção de fertilizante e disposição segura na natureza,
respectivamente. Quando comparados a índices padrões locais, os materiais resultantes do pré-
tratamento foram reprovados em alguns dos parâmetros. O chorume, por exemplo, apesar de ter
alcançado 100% de eliminação dos ovos de helmintos, não atingiu os níveis mínimos de
contaminantes necessários para que pudesse ser despejado em corpos d‘água. Os biossólidos, por
outro lado, apresentaram alta quantidade de ovos de helmintos, demandando tratamento adicional
para o uso na agricultura (COFIE et al., 2005).
A co-compostagem é o tratamento adicional utilizado. Ela deve durar idealmente 90 dias
para que, ao final do processo, o produto esteja devidamente estabilizado e adequado para aplicação
no solo. Esse processo começa na mistura de RS orgânico e LF seco em razões de 3:1 ou 2:1, sendo
a última mais indicada devido ao fato de conter mais altos níveis de nitrogênio e carbono (Cofie et
al., 2009). Em seguida, o material misturado deve ser disposto em leiras, que devem ser mantidas
úmidas e viradas manualmente. De maneira análoga à primeira etapa do tratamento, foram retiradas
amostras para a verificação das propriedades físico-químicas e microbiológica do material. Os
resultados da análise demonstraram que o sistema de tratamento conjunto (leito de secagem seguido
de co-compostagem) produz um composto fertilizante cuja qualidade está dentro dos padrões que a
OMS estabelece para uso seguro de excreta (COFIE e KONÉ, 2009).
O fertilizante foi fornecido gratuitamente a fazendeiros urbanos para utilização em
plantações de alface, revelando uma eficiência idêntica à de esterco de galinha, composto gratuito
largamente utilizado em Kumasi. Quando testado em um plantio de milho, ocasionou uma colheita
significativamente maior que à de um plantio idêntico sem aplicação de composto algum (COFIE e
KONÉ, 2009).
A forma do composto aplicado no solo influencia na extensão do seu efeito. Para facilitar a
aplicação e aumentar a densidade do fertilizante, uma alternativa é moldá-lo em péletes. Essa foi a
estratégia utilizada por Niliema et al. (2013) para melhorar a qualidade do produto e torná-lo mais
comercializável. Após a co-compostagem, o material deve ser moído, enriquecido com sulfato de
amônia ((NH4)2SO4), incorporado a uma substância ligante local (amido de mandioca ou argila) e,
por fim, peletizado.

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Em um estudo sobre a viabilidade de comércio do produto, Cofie e Koné (2009) afirmam


que 83% dos agricultores comprariam se o preço fosse muito baixo. Os agricultores céticos, 17%,
expressaram desconfiança quando à inexistência de riscos à saúde das pessoas e do solo, e
duvidaram que os alimentos produzidos com a utilização do fertilizante fossem adquiridos pelos
consumidores.
Cofie e Koné (2009) foram ainda mais fundo na pesquisa e calcularam todos os custos
envolvidos no processo de tratamento do LF e produção do fertilizante. A construção da estação
piloto, os custos operacionais e de manutenção e os custos relacionados à pesquisa foram
financiados por entidades internacionais. Operação e manutenção incluem principalmente mão de
obra, reposição dos filtros de areia e limpeza do local. A mão de obra empregada na triagem manual
é responsável por 30% da despesa total.
Finamente, Cofie e Koné (2009) concluíram que, para uma empresa privada, a produção do
composto não é um negócio rentável. Mesmo com alto subsídio do governo para cobrir os custos
iniciais, o custo de manutenção é potencialmente maior que a renda gerada com as vendas. Por
outro lado, os importantes benefícios trazidos, como a redução do volume de resíduo e as melhorias
na saúde pública, geram economia em outros setores.

Bangladesh

A complexidade do ambiente rural de Bangladesh com relação ao lençol freático elevado


combinada coma alta densidade populacional, além dos desafios de caminhões para acessar as
latrinas e a limitada capacidade de transporte do LF para estações de tratamento, exigem uma
solução específica para a região. Para isso, seria necessário encontrar métodos mais confiáveis para
o esvaziamento e tratamento dos resíduos das fossas. (EVAN et al. 2015).
Os projetos relacionados a essa problemática têm apresentado soluções inviáveis para
aplicação em grande escala. O projeto Value at the end of the Sanitation Value Chain (VeSV)
desenvolvido por Evan et al (2015) pretende proporcionar uma gestão eficaz de lodo fecal em um
número estimado de 30 (trinta) milhões de instalações sanitárias e tem como objetivo incentivar a
viabilidade comercial do recolhimento e compostagem do LF gerado nas latrinas para o uso na
agricultura e horticultura, de forma a cobrir todo o processo, desde a fonte até o mercado.

Figura 17 - Fluxo de LF da latrina até a utilização em terras agrícolas


Fonte: EVAN et al., 2015. Adaptada.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 434


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para que haja melhoria no serviço prestado pelas latrinas, é necessário o desenvolvimento de
um mercado para esvaziamento da fossa e transporte de LF para instalações de tratamento. Por
consequência, existe a necessidade de criação de unidades de pré-tratamento, com a finalidade de
ajustar a umidade do material a níveis compatíveis com o processo de compostagem
(recomendando-se variar entre 40% e 60%). Para isso, foram testadas duas opções de secagem, a
secagem por leito de areia e bio-secagem, a fim de identificar as condições ótimas para a
desidratação do LF como um pré-tratamento antes da co-compostagem (EVAN et al 2015).
A utilização de leitos de secagem é um método de desidratação de LF por meio da filtração e
evaporação. Evan et al (2015, p.20, tradução nossa) afirma que ―Bio-secagem é um processo que
utiliza a energia calorífica gerada por micro-organismos que utilizam o material biodegradável para
reduzir o teor de umidade do referido material sob condições anóxicas‖.
Ao serem comparados, os processos de secagem mostraram que a opção de desidratação
seguida por bio-secagem não apresentou melhora significativa no processo de secagem e trouxe
complicações adicionais relativas às perdas de nitrogênio por volatilização da amônia durante bio-
secagem. Por esta razão, recomenda-se que leitos de areia devem ser utilizados para reduzir o teor
de umidade do lodo fecal antes da co-compostagem, pois trata-se de uma alternativa eficaz de pré-
tratamento e, ao mesmo tempo, trazem uma contribuição importante para a inativação de agentes
patogênicos (EVAN et al 2015).
Em relação ao processo de pós-tratamento, observou-se que após a secagem e co-
compostagem, a concentração de enxofre e certos metais pesados estavam acima dos padrões de
Bangladesh, podendo causar sérias implicações para a gestão do LF na região. Como uma
alternativa, recomenda-se que, com base nas características do solo e das culturas, a carga de LF
composto em terras de cultura deva ser limitada (EVAN et al 2015).
Em termos da qualidade do produto final de fertilizantes feitos com LF, verificou-se ser
geralmente enquadrados dentro das normas exigidas em Bangladesh, com a exceção de enxofre,
zinco, crómio, chumbo e de níquel. Em particular, a prevalência de ovos de helmintos de material
do LF foi apontada como a principal preocupação em relação à qualidade de qualquer produto final
com o potencial de competir no mercado de fertilizantes. (EVAN et al 2015).

Observou-se também que a criação de um produto de valor agregado (por exemplo, LF


composto) pode melhorar as chances de desenvolvimento de negócios. Esse novo produto se daria
através da potencialização através da adição da co-compostagem do LF a outros resíduos orgânicos
disponíveis no local, a fim de melhorar o teor de nutrientes e o valor de um produto com um
mercado em potencial. O LF composto pode ser moldado em péletes, o que contribuiria com a sua
comercialização e aceitação entre os agricultores e outros consumidores. (EVAN et al 2015).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Bangladesh é atualmente incapaz de atender a demanda real da produção e importações


locais de NPK. A geração de LF na região pode atender até 17%, 15% e 10 % das necessidades de
N, P e K das principais culturas, respectivamente, embora haja possibilidade de superestimação
desses dados. Verificou-se, que os produtos de compostagem (por exemplo, adubo comprado,
esterco de vaca ou qualquer outro tipo) já são utilizados como um complemento para NPK. (EVAN
et al 2015).

Vietnã

No sul da China e no Vietnã, os excrementos humanos são considerados ―fertilizantes


valiosos‖ (PHUC et al., 2006). Um estudo feito em províncias no norte do Vietnã revela que a
demanda por fertilizantes a base de excretas é alta em comunidades dependentes da agricultura. Em
tais comunidades, os agricultores chegam a solicitar do governo que as soluções em saneamento
promovidas permitam o acesso ao excreta para esse uso (WATER AND SANITATION
PROGRAM, 2002).
Em virtude disso, o governo vietnamita desenvolveu diretrizes para a compostagem
apropriada dos excrementos antes do uso na agricultura. A recomendação para o tempo mínimo de
compostagem no interior das latrinas é 6 meses, tempo suficiente para eliminar os ovos de
helmintos mais duradouros (MINISTRY OF HEALTH, 2005 apud JENSEN et al., 2007).
As diretrizes levam em consideração o tipo tradicional de latrina de compostagem utilizada
no Vietnã, muito comum no centro e no norte do país. Nessas latrinas, os dejetos ficam acumulados
em duas caixas de concreto construídas sobre o solo. Apenas uma caixa é utilizada por vez. Cada
vez que o usuário utiliza a latrina, é adicionada uma porção de cal ou cinzas. Quando a caixa enche,
é fechada por 6 meses para que o lodo fecal seja compostado. Nesse período, a segunda caixa é
utilizada.
Entretanto, é muito utilizado também o modelo com apenas uma caixa. Nesse caso, como a
latrina está em uso contínuo, o volume de excreta retirado contém partes frescas. Para que sejam
seguidas as recomendações do governo, é indicado que os agricultores procedam a compostagem
fora da caixa por 6 meses.
Em seu estudo sobre o uso de excreta humano na agricultura, Jensen et al. (2007) afirma que
a maioria dos produtores que esvaziam suas latrinas a cada 6 meses acredita que está seguindo as
recomendações propostas pelo governo. Acrescenta que os agricultores associam o odor à
segurança, não achando necessário tomar medidas de proteção ao manusear os excretas quando
estes não apresentam forte odor. Além disso, os produtores acham inconveniente a utilização de
máscara, botas ou luvas enquanto manipulam o composto. Phuc et al. (2006) relata que homens,
mulheres e crianças utilizam as mãos nuas no manuseio.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo Jensen et al. (2007), os produtores acreditam que a decomposição está completa
quando o odor se torna brando. Devido ao calendário do plantio, os produtores frequentemente
esvaziam as latrinas após um período de 3 ou 4 meses de compostagem. De acordo com Phuc et al.
(2006), os agricultores priorizam os benefícios à colheita enquanto negligenciam os riscos à saúde.
Esrey et al. (1998 apud Phuc et al., 2006), afirma que é preciso melhorar e intensificar a educação
sobre higiene no Vietnã até que seja cessado o uso de dejetos como fertilizante.
É necessário que as orientações relativas aos produtos de compostagem e as soluções
sanitárias propostas pelo governo se adequem às práticas locais de utilização do excreta. Caso
contrário, não haverá esforço dos produtores em seguir as diretrizes estabelecidas (JENSEN et al.,
2005). Jensen et al. (2007) sugere que sejam desenvolvidos métodos que acelerem a decomposição
dos dejetos nas latrinas, para que o período de 6 meses seja reduzido a um período compatível com
as necessidades locais.
O fertilizante produzido a partir de excreta humana demostra ter importância econômica
para os agricultores que o produzem artesanalmente do Vietnã. Não foi encontrado na literatura, no
entanto, estudo que analisasse a possibilidade de criação de um negócio rentável no país.

CONCLUSÃO

A disposição final de excretas humanas provenientes de latrinas e tanques sépticos é um


grande problema enfrentado pelos países em desenvolvimento, sobretudo no Sul da Ásia e na África
Subsaariana. O material fecal, quando disposto diretamente no terreno, causa a contaminação de
águas subterrâneas e do solo, causando danos e afetando a qualidade do abastecimento de água.
Malefícios semelhantes são gerados quando os excrementos são despejados nos rios e lagoas.
Por outro lado, há quem enxergue o lodo fecal como uma matéria prima capaz de auxiliar na
solução da questão sanitária. Quando propriamente tratado, o excreta pode ser transformado em um
composto com propriedades que permitem sua utilização para melhoria da qualidade do solo. Isso é
possível porque os excrementos são ricos em matéria orgânica e nutrientes. Porém, para que possa
ser utilizado sem oferecer riscos à saúde humana e à qualidade dos recursos naturais, deve passar
por tratamentos de desinfecção suficientemente eficientes.
Alguns estudiosos analisaram a fundo a aplicação de um tratamento adequado à realidade
econômica dos países em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, com a eficiência necessária para
produzir um composto seguro. Os resultados das investigações são positivos quanto à qualidade do
produto, mas guardam ressalvas quanto à viabilidade da criação de um negócio a partir da
reciclagem do excreta.
O comércio do fertilizante a base de lodo fecal provou ser viável economicamente, porém
não financeiramente. Apesar de existir um mercado consumidor para o produto, esse mercado ainda

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 437


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

não é atrativo o bastante. De outro modo, os benefícios associados à produção do composto são tais
que geram economia em outras esferas (tratamento convencional de esgoto e saúde pública,
principalmente). Se os recursos economizados forem investidos no processo, este se aproximaria da
sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 440


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TRATAMENTO DO LODO DE CURTUME E AVALIAÇÃO DA


CORRELAÇÃO ENTRE A CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DE
ÁGUA E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

Poliana Pinheiro da SILVA


Mestranda do Curso de Engenharia Química UFCG
ppinheiroeq@gmail.com
Fernanda Siqueira LIMA
Mestranda do Curso de Engenharia Química UFCG
fsl_nanda@hotmail.com
André Luiz Fiquene de BRITO
andre.fiquene@cnpq.pq.com.br
Ana Cristina S. MUNIZ
anamuniz@deq.ufcg.edu.br

RESUMO
As indústrias que fabricam couro produzem muitos lodos que são descartados de forma inadequada.
Uma alternativa de tratamento é a estabilização por solidificação, que por ensaios de integridade e
durabilidade promovem a incorporação dos resíduos em matrizes cimentícias. O objetivo principal
deste trabalho é verificar a correlação entre a capacidade de absorção de água e resistência à
compressão no tratamento do lodo de curtume. Também foram realizados e avaliados a
estabilização por solidificação de lodo de curtume visando o tratamento do material estabilizado e
solidificado. No procedimento experimental, foi adotado o planejamento fatorial com dois fatores
(tempo de cura e percentagem de lodo) e com adição de pontos centrais para modelar os dados
obtidos. Foram adotados 7 e 28 dias de cura e 5 e 20% de lodo de Estação de Tratamento de
Efluentes de Curtume. Foram confeccionados corpos de provas à base de cimento Portland simples,
areia fina, brita e lodo os quais foram submetidos a ensaios de resistência à compressão e
capacidade de absorção de água. Posteriormente, os dados obtidos foram avaliados e modelados
usando o Software Minitab 17.0 que determinou, também, qual efeito foi ou não significativo ao
nível de 5% de probabilidade. Finalmente foi estudada a correlação existente entre a resistência à
compressão e a capacidade de absorção de água. Com a realização do trabalho foi possível verificar
que a resistência à compressão tem correlação com a capacidade de absorção de água quando se
usou lodo de indústria de curtume de Estação de Tratamento de Efluentes e que a maior resistência
à compressão (16,93 Mpa) se obteve no tratamento C que apresentou 5% de lodo de curtume e 28
dias de cura.
Palavras-Chave: Estabilização; Solidificação; Resíduo e Meio Ambiente.
ABSTRACT
The industries that manufacture leather produce many sludges that are improperly disposed of. An
alternative treatment is the stabilization by solidification, which by tests of integrity and durability
promote the incorporation of the residues in cement matrices. The main objective of this work is to
verify the correlation between water absorption capacity and compressive strength in the treatment
of tannery sludge. Stabilization by solidification of tannery sludge was also carried out and
evaluated in order to treat stabilized and solidified material. In the experimental procedure, factorial
design was adopted with two factors (curing time and sludge percentage) and addition of central

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

points to model the obtained data. 7 and 28 days of curing and 5 and 20% of sludge from the
Tanning Effluent Treatment Station were adopted. Samples were made with simple Portland
cement, fine sand, gravel and sludge, which were submitted to tests of compressive strength and
water absorption capacity. Subsequently, the obtained data were evaluated and modeled using
Minitab Software 17.0 which also determined which effect was significant at the 5% probability
level. Finally, the correlation between the compressive strength and the water absorption capacity
was studied. With the accomplishment of the work it was possible to verify that the compressive
strength has correlation with the capacity of water absorption when using sludge from the tanning
industry of Effluent Treatment Station and the higher resistance to compression (16.93 MPa)
obtained in treatment C that presented 5% of tannery sludge and 28 days of cure.
Keywords: Stabilization, Solidification, Residue, Environment.

INTRODUÇÃO

As empresas calçadistas estão entre as que mais geram resíduos. Segundo Pena (2008) em
média, uma empresa calçadista gera entre 54 a 78 toneladas semanais de resíduos de couro, que
necessitam de uma destinação apropriada. No entanto, observa-se que o problema principal dos
empresários é o alto custo para a destinação correta desses resíduos.

Brito (2007) propôs um Protocolo no qual caracteriza, classifica, informa propostas de


tratamento e destino aos vários tipos de resíduos. Determinando que a resistência à compressão
tenha influencia na capacidade de absorção de água.
No presente trabalho foi avaliada a influência da resistência à compressão na capacidade de
absorção de água, ou seja, avaliada a existência ou não da correlação entre os dois parâmetros. Foi
avaliado um resíduo industrial gerado em estação de tratamento de efluentes de curtumes: Lodo
primário de ETE.

Resíduos Industriais

A problemática dos resíduos sólidos industriais (RSI) tem necessitado de uma atenção
especial, por parte do poder público. Infelizmente não se tem um levantamento preciso da
quantidade gerada anualmente no Brasil, estima-se que, de 2,9 milhões de toneladas geradas, apenas
600 mil recebem um tratamento ou são dispostas adequadamente, dessa forma resta por ano uma
grande quantidade de resíduo a ser tratada (ROCHA; RAMOS; BRITO, 2010).
Segundo Neto; Araújo; Paiva (2014) as indústrias que produzem couro, quando comparadas
as demais estão entre as que mais trazem consequências ao meio ambiente. Um dos problemas
consiste no destino final dos resíduos que são gerados como lodo, as aparas e serragem cromada
que são gerados em grande quantidade, sendo bastante tóxicos ao meio ambiente, uma alternativa é
a incorporação destes resíduos a blocos para construção civil.

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Estabilização por Solidificação (E/S)

Conforme Ivanov (2014) atualmente a técnica mais utilizada para disposição final de
resíduos é a Estabilização por Solidificação (E/S), o qual consiste na adição do resíduo tóxico em
um material aglutinante, formando uma matriz sólida capaz de diminuir sua mobilidade e toxidade.
A estabilização por solidificação é usada como uma alternativa de pré-tratamento ou
tratamento propriamente dito de resíduos sólidos perigosos que não podem ser descartados,
reduzidos, reciclados ou aplicados no meio ambiente em que foram formados na sua condição
original (ROCHA; RAMOS; BRITO, 2010).
Os processos de E/S em sua maioria utilizam cimento Portland formando um sólido
granular ou monolítico que incorporam o material residual e imobiliza os contaminantes, garantindo
uma mobilidade e consequentemente aumentando a resistência física do resíduo SILVA (2007).

Ensaios de Integridade/Durabilidade

Na opinião de Brito; Soares (2009) dois critérios são importantes quando se trata de E/S, a
imobilização dos contaminantes e a integridade/durabilidade dos materiais. Que estão relacionados
respectivamente as análises de lixiviação e solubilização; resistência a compressão, capacidade de
absorção de água, umidificação/secagem.
O ensaio de resistência à compressão (RC) é adotado para averiguar a capacidade da
amostra em resistir a diferentes cargas de compressão mecânica. Cujo é primordial para certificar a
integridade do material E/S, na etapa de disposição final do material tratado, pois os materiais
encapsulados devem ter resistência para aguentar elevadas cargas colocadas sobre eles (ROJAS et
al. 2009).
De acordo com Brito (2007) os blocos produzidos com adição de resíduo de acordo com sua
RC podem ser usados como: Material para execução de obras de alvenaria sem unção estrutural,
como material de cobertura pavimentação em obras de rodovias, uso em cerâmica vermelha (tijolos
maciços, blocos cerâmicos e telha) e fabricação de artefatos de concreto. Da mesma forma o mesmo
pode ser disposto em aterro sanitário industrial, em uma célula especial (mono-disposição) ou em
codisposição com resíduos sólidos urbanos.
Nos ensaios de capacidade de absorção de água o objetivo é determinar a quantidade de água
presente nos poros de um material sólido, relacionando à porosidade dos materiais e a influência nos ensaios
de resistência a compressão e lixiviação (SPENCE; SHI, 2005). O aumento da absorção de água diminui a
resistência e consequentemente aumenta a lixiviação. No Brasil, utiliza-se a norma da ABNT NBR 9778 para
avaliar produtos estabilizados por solidificação. (ROCHA; RAMOS; BRITO 2010).
Como a adição de resíduo forma um material com capacidade de absorção de água maior,
esses são usados em argamassas que apresentam essa função (LISBOA; BINI; ANTUNES, 2012).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 443


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em corpos que tem como base cimento, hidróxido de cálcio, bentonitas e argilas organofílicas, a
capacidade de absorção de água aumenta favorecendo a lixiviação.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Gestão Ambiental e Tratamento de


Resíduos – LABGER, localizado na Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Campina
Grande, PB. Na pesquisa foi realizado o planejamento experimental, preparação dos corpos de
prova e a realização de ensaios.
Foi adotado o planejamento fatorial 2² com três repetições no ponto central (PtCt). Os
fatores adotados foram: A – Porcentagem de lodo de curtume (5 e 20%) e B – tempo de cura (7 e 28
dias). Os corpos de provas foram preparados seguindo as etapas propostas pela ABNT (1996) -
NBR 7215 e utilizando o Protocolo de avaliação de materiais E/S (BRITO, 2007).
Na Figura 1 é mostrada a sequência de preparação dos corpos de prova, onde 01(a)
apresenta o aglomerante (cimento CPII + Areia + Brita), na figura 01(b) é mostrada a massa sendo
formada a partir da mistura entre o aglomerante, o contaminante e a água destilada, na figura 01(c)
é apresentada a massa preparada já acondicionada nos moldes cilíndricos, na figura 01(d) é
apresentada os corpos de prova desmoldados, no decorrer do tempo de cura, para posterior
realização dos ensaios.

Figura 18 - Aglomerantes; b- Preparo; c- Moldagem; d- Corpos de prova.

FONTE: LABGER (2014)

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 444


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As análises realizadas neste trabalho foram: resistência à compressão e absorção de água.

Resistência à compressão

O ensaio de resistência à compressão foi realizado conforme ABNT (1996) - NBR 7215 do
setor cimento e concreto, específica para avaliar cimento Portland. A RC verificou a integridade do
material E/S, analisando a capacidade em resistir a diferentes cargas de compressão mecânica. Em
seguida, o cálculo da resistência a compressão, em MegaPascal, foi realizado dividindo a carga de
ruptura pela área da seção do corpo-de-prova (ABNT NBR 7215, 1996).
RC= F/A (1)

Onde: RC: Resistência a compressão em MPa; F: Força de ruptura dos corpos de prova em
kg; Área: Área de seção dos corpos de provas em cm2.

Figura 19 - Ensaio de resistência à compressão.

FONTE: LABGER (2014)

Capacidade de Absorção de Água

O ensaio de capacidade e absorção de água foi realizado conforme ABNT (1987) - NBR
9778: ―Argamassa e concreto endurecidos: Determinação da absorção de água, índice de vazios e
massa específica‖, que avalia a porosidade do material endurecido ou E/S.
O resultado foi expresso em % conhecendo-se a massa do corpo de prova após saturação em
água (Msat.) e a massa do corpo de prova seca em estufa (Ms 105°C).

CAA (%) = x 100 (2)

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 445


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A Tabela 23 mostra a saída do software Minitab para Anova (Análise de Variância).

Tabela 23-Análise de variância (ANOVA) para 2 fatores

Fontes de Variação G.L Soma do Quadrado Médio Valor p1


Quadrado (SQ) Ajustado (QM) e2
Efeitos principais 2 SQefeitos principais QMefeitos principais -
Interação AB 1 SQinteração QMinteração -
Curvatura 1 SQcurvatura QMcurvatura -
Erro residual 2 SQerro residual QMerro
Total 6 SQtotal -
2 2
R R max R
1
: Efeito Significativo (p≤0,05); 2: Efeito Não Significativo (p>0,05); G.L: Graus de liberdade;
R2: Coeficiente de Determinação; R2max: Variação máxima explicável.

O coeficiente de determinação é calculado usando a expressão 3. Ela representa a variação


explicável pelo modelo, ou seja, quanto o modelo explica a variação dos dados.

(3)

O coeficiente de correlação (R) é calculado usando a expressão 4 que representa a correlação


entre as variáveis.

√ (4)

O valor de R varia entre -1 e 1 e quanto mais próximo de 1 significa melhor resultado. O


valor –1 indica uma correlação linear negativa e o valor 1 indica uma correlaçãolinear positiva. É
um número usado para classificar a correlação da seguinte forma:

• R = 1 à Perfeita

• R entre0,75 e 1: Forte

• R = 0,5 e < 0,75 à Média

• R < 0,5 à Fraca

• R = 0 à Inexistente

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Quando se relaciona os ensaios de resistência à compressão e capacidade de absorção, torna-


se possível comprovar as teorias de Rocha; Gadelha; Brito (2010), pois assim como nos trabalhos

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 446


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

realizados pelos referidos autores, nesse trabalho ocorre diminuição da resistência à compressão na
medida em que a capacidade de absorção de água aumenta, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Correlação entre a capacidade de absorção de água e resistência à compressão.

Tempo (dias) e Porcentagem (%) RC (MPa) CAA (%)


7 e 20 3,358 16,326
28 e 20 8,723 11,601
17,5 e 12,5 9,346 11,473
7 e5 9,831 11,206
17,5 e 12,5 9,928 11,527
17,5 e 12,5 9,928 11,424
28 e 5 16,931 10,018

Na Tabela , também se pode perceber que a resistência à compressão tem bastante


influência quanto as relações dos fatores tempo e porcentagem de resíduo, já a capacidade de
absorção só variou significativamente na análise de 7 dias e 20%.

Figura 20 - Correlação: Resistência à Compressão x Capacidade de Absorção de Água

Na Figura 3 foi realizado o estudo da correlação de todos os percentuais e todos os tempos


numa única avaliação. Pode-se avaliar que quanto maior a capacidade de absorção de água menor a
resistência à compressão, devido a maior quantidade de espaços porosos formados pela quantidade
de resíduo utilizada. Dessa forma, o melhor experimento, correspondente aos dois fatores foi o
tratamento C com 16,9 MPa e 10,01% de capacidade de absorção, o corpo de prova representa 5 %
de resíduo e 28 dias de cura. O valor de R (Correlação de Pearson) foi igual a -0,87 apresentando
uma correlação forte e negativa entre a resistência à compressão e capacidade de absorção de água.
Quando a capacidade de água diminui, a resistência à compressão aumenta e vice versa,
caracterizando o valor negativo de valor de R(-0,87).
Para complementar o estudo da correlação a Figura 4 mostra o estudo individual entre a
resistência à compressão e capacidade de absorção de água.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 447


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 21 - Correlação entre a RC e CAA: Fixando o % de Lodo nas Figuras 4(a) e 4(b) e Fixando
o tempo nas Figuras 4(c) e 4(d).

Nos Gráficos 4(a) e 4(b) foi fixada o percentual de lodo em 5 e 20% respectivamente. O
valor de R foi igual a -1, indicando uma perfeita correlação negativa, ou seja, quando varia o tempo
de cura a resistência à compressão aumenta tanto para 7 dias quanto para 28 dias.
Nos Gráficos 4(c) e 4(d) foi fixado o tempo de cura em 7 e 28 dias, respectivamente. O valor
de R foi, também, igual a -1, indicando uma perfeita correlação negativa, ou seja, quando varia o
percentual de lodo a resistência à compressão diminui e a capacidade de absorção aumenta.

CONSIDERÇÕES FINAIS

Com os resultados obtidos pode-se concluir que:

 Existiu a correlação entre a capacidade de absorção de água e resistência à


compressão no tratamento de lodo de curtume ondeà medida que a resistência à compressão
diminuiu a capacidade de absorção aumentou;

 Os fatores porcentagem e tempo de cura influenciaram na resposta: quanto menor a


porcentagem de resíduo e maior o tempo de cura, melhor foi a correlação entre a resistência a
compressão e a capacidade de absorção de água;

 Com a análise de variância, constata-se que a interação dos fatores tempo e


porcentagem não tem influência significativa sobre a resistência à compressão, entretanto essa
afirmação não é válida para a variável resposta capacidade de absorção de água;

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 448


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Conforme as diferentes resistências à compressão encontradas, os corpos de provas


podem ter os mais variados destinos: base para pavimentação, tijolo maciço, bloco vazado em
concreto comum e material termo fixo.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO NETO, Cláudio Luis de; ARAÚJO, Yuri de Andrade; PAIVA, William de. Análise da
resistência mecânica de argamassas com serragem de couro curtido ao cromo: Uma alternativa
para tratamento dos resíduos sólidos de curtumes. in: V Congresso Brasileiro de Gestão
Ambiental, 5., 2014, Campina Grande. Belo Horizonte: Ibeas, 2014. p. 1 - 6.

BRITO, André Luiz Fiquene de. Protocolo de avaliação de materiais resultantes da estabilização
por solidificação de resíduos. 2007. 179 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Ambiental,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

BRITO, André Luiz Fiquene de; SOARES, Sebastião Roberto. Avaliação da integridade e da
retenção de metais pesados em materiais estabilizados por solidificação. Rio de Janeiro:
EngSanitAmbient, 2009. 14 v.

IVANOV, Raphael Coelli. Influência Do Dicromato De Potássio No Comportamento Do Cimento


Aluminoso Visando Ao Processo De E/S De Resíduos Com Cromo. 2014. 165 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2014.

LISBOA, Juliana Soares; BINI, Marcos Paulo Minussi; ANTUNES, Maria Lúcia Pereira. III-006 –
Estudo Da Incorporação De Resíduos Da Fabricação De Pás Eólicas Para Aerogeradores Em
Cimento Portland. In: Congresso Brasileiro De Engenharia Sanitária E Ambiental, 26º.
Sorocaba. Alto da Boa Vista, 2012. p. 1 - 6.

PENA, José Rafael. Análise De Alternativas Para O Reaproveitamento Do Resíduo Do Couro Das
Indústrias Calçadistas De Jaú -Sp. 2008. 106 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Tecnologia
Ambiental, Universidade de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2008.

ROCHA, Clarice Oliveira da; RAMOS, Amanda de Paula; BRITO, André Luiz Fiquene
de. Avaliação Da Integridade E Durabilidade Do Resíduo Sólido Sintético Através Da
Estabilização Por Solidificação. 2010. 7 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Química,
Universidade Federal de Campina Grand, Campina Grande, 2010.

ROJAS, J. W. J., HEINECK, K. S., CONSOLI, N. C. Resistência à compressão simples de um solo


contaminado e cimentado. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.13, UFRGS: 2009.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 449
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

SILVA, Marcos André do Rego. Solidificação e estabilização de resíduos inorgânicos industriais:


estudo da eficiência do processo e evidência de mecanismos de imobilização. 2007. 110f. Tese
(Doutorado em Química). Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de
Santa Catarina, 2007.

SPENCE, R. D.; SHI, C. Stabilization and solidification of hazardous, radioactive and mixed
wastes.Boca Raton, Florida. Ed. CRC Press. 2005. 378p.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 450


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GERAÇÃO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM OBRAS NO


CAMPUS DA UFCG CAMPINA GRANDE

Priscila Maria Sousa Gonçalves LUZ


Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental – UFCG
priscilaluz55@gmail.com
Thamires Dantas GUERRA
Mestranda em Engenharia Civil e Ambiental – UFCG
thamires_guerra@hotmail.com
Conrado Cesar Vitorino Pereira da SILVA
Graduando em Engenharia Civil – UFCG
cesar.vtr@hotmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Doutora Pesquisadora – UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com

RESUMO
Com o desenvolvimento da humanidade, a problemática que envolve os resíduos sólidos, sua
geração, coleta, transporte, disposição e destinação final segue preocupando cada vez mais os
órgãos públicos e a sociedade em geral. Neste contexto, os resíduos da construção civil chamam
atenção em função do seu grande volume gerado. Este trabalho objetiva fazer uma avaliação
quantitativa e qualitativa dos resíduos que são gerados e dispostos no campus sede da Universidade
Federal de Campina Grande. O referido campus vem passando por uma série de obras de reforma e
ampliação de espaços ao longo dos últimos anos e é preciso ter a noção de como está ocorrendo a
gestão dos resíduos gerados, tendo em vista que cerca de 35% do material de uma obra é
desperdiçado de alguma forma, sem considerar os resíduos gerados por demolição. Para o
desenvolvimento deste trabalho a metodologia tomada foi a visita dos pesquisadores às obras em
execução e o registro fotográfico, bem como a entrevista aos funcionários que estão trabalhando na
obra, além das demais observações realizadas no local. Percebe-se que é possível que obras da
construção se adequem a programas de qualidade em que os resíduos são segregados, pois isso
facilita seu gerenciamento tendo em vista a organização da obra, e consequentemente a disposição e
a destinação ambientalmente adequada.
Palavras Chave: Resíduos; Disposição; Geração; RCD.

RESUMÉN
El articulo trata como los procedimientos técnico-metodológicos de la Educación Ambiental y de la
Cartografia Social pueden contribuyer en los procesos de planificación y gestión territorial de las
comunidades tradicionales. Enfoca los conceptos y fundamentos teóricos de los abordajes en
cuestión, enseñando como la interacción entre los conocimientos científicos y los saberes
tradicionales pueden llevar a un mayor empoderamiento por parte de la población y gestión
ambiental. Destaca aún, como las etapas de planificación y gestión consideradas, como
organización e inventario, análisis, diagnóstico, prognóstico y ejecución, pueden ser mejor
adecuadas con el apoyo de la población debidamente capacitada por la Educación Ambiental y la
Cartografia Social. Ofrece así, un modelo de participación efectiva de la población en los planes de
una comunidad.
Palabras Clave: Educación Ambiental, Cartografia Social, Planificación y Gestión.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 451


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil gera impactos ambientas desde seu início de cadeia até o
final, começando na extração de matérias-primas e terminando na geração de entulhos e resíduos
sólidos que, na maioria das vezes, são dispostos de forma equivocada na natureza. Por se tratar de
um resíduo que não tem valor comercial, o entulho de construção geralmente é utilizado na própria
obra como material para enchimento de aterro, procedimento que não é recomendado por alterar as
características previstas em projeto, e quando não há essa possibilidade os resíduos são dispostos
em lixões e aterros sanitários, uma fração quase inexpressível é reciclada.

Os Resíduos de Construção e Demolição – RCD, também denominados como entulho, tem


se tornado um dos alvos do meio técnico-científico, utilizando o mesmo como agregado para
inúmeros usos na construção civil e também na pavimentação rodoviária, entrando como substituto
às matérias-primas hoje utilizadas nestes setores (CARNEIRO, 2001).

Furtado (2005) cita que a construção civil contribui com uma grande parcela da deterioração
ambiental nos países desenvolvidos, pois o setor utiliza, no ponto de vista global, aproximadamente
30% das matérias-primas, 42% do consumo de energia, 25% do uso de água e 16% do uso de terra.
Em relação à degradação ambiental, a construção civil é responsável por 40% das emissões
atmosféricas, 20% dos efluentes líquidos, 25% dos sólidos e 13% de outras liberações.

Os elevados gastos por parte da Administração Pública na limpeza e remoção desses


resíduos de locais inadequados, bem como da construção de um local apropriado para receber os
mesmos, é hoje um dos grandes problemas enfrentados pelos governantes, o que acaba gerando um
ciclo vicioso de disposição inadequada e remoção dos mesmos pelas companhias de limpeza
pública. Segundo a Resolução 307 do CONAMA (2002), os resíduos da construção civil não
poderão ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de "bota fora", em encostas,
corpos d`água, lotes vagos e em áreas protegidas por lei. Porém, essas recomendações não são de
fato aplicadas.

Na contramão da crise econômica que assola o Brasil desde 2013 e que gerou um período de
corte de investimentos, a Universidade Federal de Campina Grande, especialmente o campus sede,
vem passando por um acentuado processo de expansão e reformas de suas instalações. Neste
sentido, o presente estudo tem o objetivo de fazer uma análise quantitativa e qualitativa da geração
de resíduos sólidos provenientes destas obras no campus, bem como a disposição final destes, para
se ter um panorama da situação e poder apontar soluções para os problemas encontrados caso
necessário.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 452


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Impactos da Construção Civil

Para Agopyan e John (2011) toda atividade do ser humano depende de um ambiente
preparado e construído. A construção ou adequação deste ambiente gera impactos ambientais, seja
na extração de matérias-primas, produção, transporte, consumo de água e energia e, principalmente,
a geração de resíduos. O Conselho Internacional da Construção (CIB) aponta a indústria da
construção como o maior consumidor de recursos naturais, dentre os setores de atividades humanas.

Os reflexos dessas atividades são de caráter ambiental, social e econômico. Pode tanto
valorizar uma área quanto desvalorizar, mediante poluição visual, sonora, sombreamento de área
que necessita de insolação, empecilho para a ventilação, entre outros. Além disso, toda obra, de
pequeno ou grande porte, gera entulho da construção civil que acabam sendo despejados em locais
impróprios, havendo falta de gestão ou gestão inadequada, pode comprometer o meio urbano, tendo
em vista que o entulho acumulado é vetor de doenças como a dengue e chamariz de insetos e
roedores. Descartado erroneamente em rios, córregos e represas, pode gerar assoreamento,
culminando, possivelmente, em alagamentos.

Resíduos da Construção Civil

Segundo o CONAMA n° 307 (2002), os resíduos da construção civil são aqueles oriundos
de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os provenientes da
preparação e da escavação de terrenos. São comumente chamados de entulhos, caliça ou metralha,
tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto, solos, rochas, metais, colas, tintas, madeiras, forros,
argamassa, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiações, entre outros.
Na resolução 307 do CONAMA estão as definições de vários termos ligados ao
gerenciamento de resíduos da construção, bem como a classificação para tais resíduos em classes de
A até D conforme critérios de reciclagem, reuso e perigo a saúde do ser humano.

Classe A – resíduos reutilizáveis como agregados: solos, componentes cerâmicos, argamassas,


concreto, tubos, etc.

Classe B – resíduos recicláveis para outras destinações: plásticos, papel, papelão, metais, vidros,
madeiras, etc.

Classe C – resíduos para os quais ainda não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, como o gesso.

Classe D - resíduos perigosos: tintas, solventes, óleos, etc.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 453


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

De acordo com o CONAMA (2005), estes resíduos representam um percentual significativo


dos resíduos sólidos gerados e depositados nas áreas urbanas, porém com um bom gerenciamento e
reaproveitamento destes materiais podem proporcionar benefícios de cunho social e econômico e
diminuir os impactos ambientais.
O RCD, podendo ser reutilizado em outros materiais, pode contribuir diminuindo o consumo
de energia na produção e os custos na construção, como também evitar a ocupação de áreas
inapropriadas com a deposição, entre outros benefícios.
METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado por toda a extensão do campus sede da Universidade Federal
de Campina Grande, localizado no bairro Bodocongó da cidade de Campina Grande.

De modo geral, os dados expostos foram trabalhados através de pesquisa bibliográfica,


visitas in loco, entrevistas aos funcionários das obras encontradas e registro fotográfico, com
abordagem qualitativa e quantitativa. Foram avaliados e quantificados os focos de RCD, suas
proximidades e os locais de disposição, analisando as implicações geradas pelas aglomerações do
material em seu entorno. Os dados quantitativos apresentados foram obtidos de forma perspectiva,
visual e por meio de estimativas realizadas pelos pesquisadores e por trabalhadores das obras
relatadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O ambiente em questão, o campus sede da UFCG, vem passando por uma série de
adequações e construções que, como toda obra, seja ela de pequeno ou grande porte, são geradoras
de resíduos sólidos. Esse fato passa a se tornar preocupante a partir do momento que essa geração
chega a um grau de interferência no meio que pode ser prejudicial ao mesmo e às pessoas que por
ele circulam. Tal panorama pode ser reiteradamente observado por toda a extensão do campus.
Inicialmente, na Figura 01, observa-se o contorno do campus, localizado na Avenida Aprígio
Veloso, 882, Bairro Universitário, Campina Grande/PB.

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Figura 01 – Localização do campus sede da UFCG (Fonte: Google Earth 2017)

O campus apresenta cerca de 70% de sua área construída, dispondo de poucas áreas verdes.
Por este motivo, a maioria das obras em execução atualmente são de reformas de antigas
instalações, bem como a adequação do campus ao princípio da acessibilidade, que diz respeito à
implantação de rampas para portadores de necessidades especiais, pisos guia para deficientes
visuais e etc. A partir de observações realizadas foi feito um mapeamento dos principais locais onde
há a má disposição de resíduos de construção, exposto na Figura 02.

Figura 02 – Mapeamento dos problemas encontrados (Fonte: Google Earth 2017)

Foram encontrados, principalmente, problemas na área do entorno do lago. Recentemente foi


feita uma obra de troca de piso naquela região, o que gerou o acúmulo de pedras de calçamento e
resíduo de demolição às margens do corpo d‘água, como fica evidenciado nas Figuras 03 e 04.

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Figura 03 – Pedras de calçada nas margens do lago da UFCG

Figura 04 – Entulho nas margens do lago da UFCG

A Figura 03 ilustra a dimensão do problema: são cerca de 6 toneladas de material mal


dispostos às margens do manancial, segundo próprios trabalhadores da obra. A Figura 04 mostra
que os resíduos são, também, de origem orgânica, como troncos de árvores e folhas, provenientes de
uma obra de revitalização das margens do lago. É evidente que esta disposição inadequada de
resíduos sólidos às margens de um corpo d‘agua é prejudicial ao meio ambiente, pois com a
chegada da estação chuvosa há a possibilidade deste material ser carreado para dentro do lago, o
que reduziria significativamente sua capacidade de armazenamento, tendo em vista que o mesmo já
se encontra em elevado grau de assoreamento, bem como diminui a qualidade da água naquele
local.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Não muito distante deste local, está acontecendo a reforma do bloco CA, destinado a
atividades de monitoria estudantil e setores da administração do campus. Os resíduos gerados pela
obra estão dispostos nas áreas do seu entorno, próximo a passagem de pedestres e carros, conforme
ilustra as Figuras 06 e 07.

Figura 06 – Entulho ao lado do bloco CA/UFCG

Figura 07 – Entulho e material orgânico ao lado do bloco CA/UFCG

Ao se analisar as Figuras 06 e 07 observa-se que é evidente a proximidade em que estes


resíduos estão dispostos em relação às áreas de convivência dos estudantes e professores da UFCG,
o que além de se caracterizar como um problema ambiental, se qualifica como uma poluição visual
e até uma questão de saúde pública, tendo em vista que é sabido que resíduos de construção mal

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dispostos são abrigos ideais para a proliferação de pragas urbanas, os maiores vetores de doenças a
que as pessoas estão expostas nas cidades. Além disso, a Figura 07 mostra uma galeria de água
pluvial que corre risco de ser entupida com a os resíduos ali dispostos, trazendo o risco de
inundações, já que esta área em questão está numa cota topográfica abaixo do restante do território
do campus.
No campus em estudo, é comum observar a existência de resíduos descartados em locais
indevidos, como calçadas ou mesmo permeando as ruas, trazendo inconvenientes aos que circulam,
principalmente pelo fato de atrapalharem o trânsito, sejam de pedestres ou veículos. Na Figura 08
observa-se a presença de entulho, em sua maior parte composto por solo, madeira e fragmentos de
componentes cerâmicos, impossibilitando o tráfego de veículos próximo ao lago. Em uma
estimativa visual feita pelos pesquisadores, há cerca 10 m³ de entulho nesta região impossibilitando
o tráfego.

Figura 08 – Entulho no meio da passagem de carros na UFCG

Na Figura 09, por sua vez, nota-se a presença de entulho predominantemente formado por
materiais cerâmicos, na área correspondente ao Departamento de Engenharia Elétrica, em um
espaço que deveria ser destinado aos pedestres.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 09 – Entulho no entorno do Departamento de Engenharia Elétrica

Além dos incômodos causados ao tráfego de pessoas e veículos, a existência de alguns tipos
de materiais pode propiciar o acúmulo de água além de ser um chamariz para insetos e animais
capazes de proliferar doenças. As Figuras 10 e 11 correspondem a imagens das proximidades do
bloco de Ciências da Computação,

Figura 10 – Resíduos dispostos no meio ambiente - próximo ao bloco de Ciências da Computação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 11 – Entulho próximo ao Departamento de Ciências da Computação

Neste local foram encontrados despejos de resíduos de construções, majoritariamente


madeiras e metais, favoráveis à ocorrência de tal situação, ou seja, armazenamento inadequado de
água e em ambiente bastante propício à proliferação principalmente de insetos e roedores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o levantamento, fica evidente a carência de precauções referentes ao


gerenciamento dos resíduos sólidos no campus sede da UFCG. Tal cenário requer pronta
modificação, posto que afeta a convivência dos indivíduos com o meio.
Numa estimativa visual, feita com ajuda dos pesquisadores e de funcionários contratados
para a execução dos serviços de reforma no campus, constatou-se uma quantidade de cerca de 25
toneladas de entulho espalhados na área correspondente ao Campus sede da UFCG, o que
corresponde a aproximadamente 4 caminhões basculante cheios. A composição do material
(resíduo) é variada, partindo de solo, restos de materiais cerâmicos e concreto, até materiais
orgânicos e eletrônicos.
Fica claro, diante do exposto, que a presente situação interfere em vários âmbitos, sejam de
cunho social ou ambiental. Perturba a mobilidade, põe em risco a saúde dos indivíduos, macula o
visual do espaço, além de afetar diretamente na qualidade do meio ambiente. Os próprios
trabalhadores das obras em execução certamente sofrem as consequências deste tipo de situação,
tendo em vista que o alojamento dos mesmos se encontra próximo à obra.
É preciso, prioritariamente, que este tema seja discutido em sala de aula com os estudantes,
principalmente os dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura, pois estes serão os profissionais do
futuro e é necessário que todos adquiram, no âmbito acadêmico, a responsabilidade ambiental que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

suas profissões requerem. Como medida emergencial, cabe à prefeitura do campus fazer o
recolhimento do material e o destinar à reciclagem ou reuso, quando possível, ou ao aterro sanitário
da cidade de Campina Grande.

REFERÊNCIAS

AGOPYAN, Vahan; JOHN Vanderley M. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil: José


Goldemberg, coordenador. São Paulo: Blucher, 141 p. 2011.

CARNEIRO, A. P; BURGOS, P. C; ALBERTE, E. P. V. Uso do agregado reciclado em camadas de


base e sub-base de pavimentos. Projeto Entulho Bom. Salvador: EDUFBA/ Caixa Econômica
Federal, 188-227 p. 2001.

FURTADO, J. S. Atitude ambiental sustentável na Construção Civil: ecobuilding & produção


limpa. 2005.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução n. 307, de 5 de julho de 2002: Diretrizes,


critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, 2002.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO NAS EMPRESAS DO


SETOR DE MANUTENÇÃO E REPARAÇÃO AUTOMOTIVA

Rosimery Alves de Almeida LIMA


Mestranda em Recursos Naturais pela UFCG
ralvesalmeidalima@gmail.com
Antonio Fagundes Gomes da SILVA
Mestrando em Recursos Naturais pela UFCG

Maria de Fátima Nóbrega BARBOSA


Professora Titular Doutora em Recursos Naturais pela UFCG
mfnbarbosa@hotmail.com

RESUMO
As atividades do setor de manutenção e reparação automotiva geram quantidades significantes de
resíduos e, consequentemente, tende a alargar-se as fontes de poluição e contaminação ambiental.
Deste modo, pretendeu-se, então, neste estudo investigar quais as práticas de Gerenciamento de RS
nas empresas do setor de manutenção e reparação automotiva no Município de Sousa – PB, através
de aplicação de questionários, usando o critério da Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE), os estabelecimentos filtrados foram os que se enquadravam no CNAE 4520-
0, que de acordo com o IBGE é classificado como: manutenção e reparação mecânica de veículos
automotores. Os resultados apontaram que a grande maioria das empresas do setor de manutenção e
reparação automotiva do município de Sousa – PB ainda estão aquém de serem consideradas
ambientalmente corretas, visto que estas apresentam uma conduta baseada em práticas esporádicas
e insustentáveis, no que diz respeito ao gerenciamento de resíduos sólidos. Tais aspectos acendem
um novo repensar sobre o modo de como os recursos naturais estão sendo utilizados e dispostos no
meio ambiente, apontando assim desafios, inclusive, às organizações que precisam agir de forma
ambientalmente correta. Destarte, disseminar o conhecimento sobre a temática ora abordada neste
estudo pode impulsionar a adequação das empresas do setor de manutenção e reparação automotiva
a adequar-se em relação às práticas ambientalmente corretas em relação ao gerenciamento dos RS.
Palavras chave: Resíduos sólidos, gerenciamento, desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT
The activities of the automotive maintenance and repair industry generate significant amounts of
waste and, consequently, the sources of pollution and environmental contamination tend to widen.
Therefore, it was intended, in this study, to investigate the RS Management practices in the
automotive repair and maintenance companies in the city of Sousa - PB, through the application of
questionnaires using the National Classification of Economic Activities (CNAE), the filtered
establishments were those that were included in the CNAE 4520-0, which according to the IBGE is
classified as: maintenance and mechanical repair of motor vehicles. The results showed that the
great majority of the companies in the automotive maintenance and repair sector of the city of
Sousa - PB are still less than considered environmentally correct, since they present a behavior
based on sporadic and unsustainable practices, with respect to the management of solid waste.
These aspects spark a new rethink about how natural resources are being used and disposed of in
the environment, thus addressing challenges to organizations that need to act in an environmentally
sound manner. Therefore, disseminating the knowledge about the subject matter addressed in this
study can boost the adequacy of the companies in the automotive maintenance and repair sector to

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

adjust to the environmentally correct practices in relation to the RS management.


Key words: Solid waste, management, sustainable development.

INTRODUÇÃO

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos


Especiais (ABRELPE, 2014) a Paraíba gera, 3.439 toneladas por dia de Resíduos Sólidos Urbanos
(RSU). Apesar disso, percebe-se ainda que essa geração cresce, de modo exponencial, ao longo dos
anos e que atrelada ainda à disposição final inadequada, causam vários impactos negativos,
notadamente, no meio urbano.
A geração excessiva de resíduos sólidos versus a disposição de modo ambientalmente
correta instiga, pois, reflexões perante a forma de como os recursos naturais estão sendo utilizados
e dispostos no meio ambiente, expondo desafios, inclusive, às empresas, visto que esses recursos
foram e são apropriados de modo predatório (PHILIPPI JR; SILVEIRA, 2014).
Desse modo, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), em Sousa –
PB, local deste estudo, a frota de veículos automotores aumentou com uma variação positiva anual
de, em média, 9% ao longo da última década. Por conseguinte, cresce a demanda por serviços de
reparos e manutenção nas oficinas deste segmento, como a troca de óleo lubrificante e filtros,
serviços em freios, regulagem de motor, entre outras (NUNES; BARBOSA, 2012).
Essas atividades geram, por sua vez, quantidades significantes de resíduos e,
consequentemente, tende a alargar-se as fontes de poluição e contaminação ambiental (BETIM;
SILVA, 2014). Deste modo, estudos sobre o setor de manutenção e reparação automotiva ainda são
escassos, no entanto, mostram-se como relevantes principalmente, devido ao potencial que este
ramo tem em causar impactos deletérios no meio ambiente.
Foi diante de um cenário com notáveis deficiências do ponto de vista ambiental que se
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sob a Lei Federal 12.305/2010,
ressaltando o fortalecimento dos princípios da gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos;
propõe a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, dentre outros aspectos,
favorecendo para um meio ambiente sustentável à geração presente e às futuras.
Destarte, pretendeu-se neste estudo investigar quais as práticas de Gerenciamento de RS nas
empresas do setor de manutenção e reparação automotiva no Município de Sousa – PB, através de
aplicação de questionários, usando o critério da Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE), os estabelecimentos filtrados foram os que se enquadravam no CNAE 4520-0, que de
acordo com o IBGE classifica-se como: manutenção e reparação mecânica de veículos automotores.

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Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010)

A PNRS foi instaurada há seis anos, no dia 02 de agosto de 2010, e, instituída pela Lei nº
12.305, a qual vem por meio de 56 artigos elencar uma série de normas e princípios estabelecendo
uma política pública preventiva ambiental, com vistas a mitigar e/ou extinguir comportamentos de
manejo que prejudiquem o meio ambiente e a saúde pública (MACHADO, 2012).
A PNRS vem a estabelecer um conjunto de medidas com o cunho de precaver e prevenir os
danos ambientais ocasionados pelo consumo e destinação incorreta, falta de gestão e
irresponsabilidade quanto à produção de resíduos sólidos. É dessa maneira, que o seu objetivo é não
só propor os instrumentos e mecanismos de alcance para a preservação sustentável dos recursos
naturais, bem como de todo o planeta, mas sim, de fiscalizar e controlar por meio de normatizações,
o andamento e o planejamento das atividades em todos os níveis da federação, além de impor que
os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
Gerenciamento de RS que, por sua vez, relaciona-se ―ao conjunto de ações exercidas, direta
ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei‖ (BRASIL, 2010), devendo, pois,
ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

METODOLOGIA

A população desta pesquisa relaciona-se as empresas do setor de manutenção e reparação


automotiva do município de Sousa-PB. Sousa está localizada no interior do Estado da Paraíba, com
distância de 438 quilômetros de João Pessoa, capital estadual. Sua população, estimada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é de 69 196 habitantes, sendo o sexto mais
populoso do estado (IBGE, 2016).
Pelo critério da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), os
estabelecimentos filtrados foram os que se enquadravam no CNAE 4520-0, que de acordo com o
IBGE é classificado como: manutenção e reparação mecânica de veículos automotores. Adotou-se
como critério de inclusão as empresas que se enquadravam na subclasse CNAE 4520-0/01 (serviços
de manutenção e reparação mecânica de veículos automotores), considerando o alvo desta pesquisa.
Do total de 38 oficinas identificadas anteriormente pela classe 4520-0, apenas 25 oficinas
daquelas enquadravam-se para compor a população deste trabalho. Após a filtragem desta

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

população pelo CNAE 4520-0/01 e considerando o fato que a população era pequena, optou-se por
trabalhar com as 25 empresas do setor, cuja realização deste total foi realizada com êxito.
Os dados foram coletados e analisados entre os meses de agosto e outubro de 2016. Assim,
após a devida aplicação do formulário, aos profissionais relevantes à pesquisa, estes dados foram
transportados para uma planilha eletrônica para a elaboração das tabelas, de modo a discutir os
dados desta pesquisa e a relacionar com a literatura pertinente.
Submeteu-se os indivíduos ao inquérito por meio desse instrumento, cuja duração para
respondê-lo foi em média de 40 minutos. Optou-se, ainda, por utilizar a escala de Likert que
variaram de ―Discordo‖ a ―Concordo‖ e indiferente, quando nem concordavam nem discordava ou
quando manifestava-se indiferente de acordo com cada afirmação. Utilizou-se, pois, métodos
estatísticos descritivos e inferenciais para as conclusões.
O formulário estruturou-se com questões subjetivas e objetivas, totalizando 22, divididas em
duas partes: A primeira trata da caracterização da empresa e Perfil do respondente e a segunda do
Gerenciamento de Resíduos Sólidos, na qual esse conjunto de dimensões norteou a investigação das
práticas de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nas empresas do setor de manutenção e reparação
automotiva do município de Sousa – PB.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação à caracterização das empresas, um total de dezessete (68%) empresas atuam no
mercado sousense há mais de 16 anos (Tabela 1). De acordo com Medeiros, Meneses e Bezerra
(2015) o debate acerca da relação dos gestores com a consciência ambiental é algo ainda
considerado recente. Ainda segundo esses autores isso se dá devido o surgimento das legislações
que pressionam as empresas de alguma forma a se adequarem ambientalmente e assim terem maior
responsabilidade pelos impactos que causam no meio ambiente.

Tempo de atuação Porte Principais Serviços


Classes F fr Classes F fr Classes F fr
16 anos ou + 17 68% Micro empresa 15 60% Mecânica Geral 20 80%
Serviços em
Até 5 anos 6 24% Pequena empresa 8 32% 2 8%
motor
Troca de óleo,
de 06 - 10
2 8% Média empresa 1 4% filtros e 2 8%
anos
lubrificantes
de 11 - 15
0 0% Grande empresa 1 4% Suspensão 1 4%
anos
Total 25 100% Total 25 100% Total 25 100%
Tabela 1 – Caracterização das Empresas
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O setor de manutenção e reparação automotiva no município de Sousa - PB, no ano de 2016,


constituiu-se como um ramo de atividade composto majoritariamente por microempresas (60%),
com até 19 empregados. Na literatura encontra-se referência que mesmo sendo estas de pequeno
porte é financeiramente viável o investimento nas adequações das propostas ambientais (ENDO;
CARVALHO; BERTOLINI, 2015).
Cerca de 80% (20) concordaram que oferecem como principais serviços o de mecânica
geral, que inclui troca de óleo, filtro e lubrificantes; serviços de freios e motor. A diversificação dos
serviços oferecidos pelo setor de manutenção e reparação automotiva dificulta a identificação dos
resíduos gerados, tornando as ações diárias de separação e armazenamento dos resíduos, um
importante desafio às essas empresas (MEDEIROS; MENESES; BEZERRA, 2015), entretanto, isso
não pode ser visto como gargalho para que atuem dando prioridade à preservação ambiental.
Os resultados apontaram que a grande maioria dos entrevistados (52%), ou seja, 13
respondentes são proprietários (Tabela 2). A pesquisa também identificou que 44% (11) destes
gestores possuem o nível de escolaridade fundamental incompleto.

Cargo Nível de escolaridade Tempo de trabalho


(em anos)
Classes F fr Classes F fr Classes F fr
13
Proprietário 13 52% Fund. Incompleto 11 44% 16 ou mais 80%
Dir. Financeiro 6 24% Sup. Incompleto 5 20% Até 5 8 32%
Gerente 2 8% Méd. Incompleto 4 16% de 11 – 15 3 12%
Cons. Vendas 1 4% Méd. Completo 4 16% De 6 - 10 1 4%
Cons. Técnico 1 4% Sup. Completo 1 4%
Chefe de Oficina 1 4%
Mecânico 1 4%

Total 25 100% Total 25 100% Total 25 100%


Tabela 2 – Perfil dos Respondentes da pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Para Medeiros, Meneses e Bezerra (2015) em relação ao nível de escolaridade leva-se a crer
que pessoas com este perfil tende a possuir pouca consciência da geração de danos ambientais
proveniente das suas atividades e por consequência negligenciam-se a preservação do meio
ambiente, no entanto isso não deve ser entendido como uma regra.
Em relação ao tempo de trabalho na organização, 80% dos respondentes declaram que
atuam nestas a mais de 16 anos. Diante dessa constatação entende-se que dada à dinamicidade do
mundo dos negócios não só basta manter-se no mercado, mas atualizar-se e aproveitar-se das
oportunidades de aprendizado, superando, pois, os desafios com ações inovadoras que promova o
desenvolvimento sustentável.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em termos gerais, observou-se durante a coleta de dados que há uma íntima relação entre a
maioria das organizações estudadas, no que diz a respeito à estrutura física, ou seja, não diferem
muito entre si. Também, identificou-se que estas mesmas empresas apresentavam outra
característica em comum, qual seja a precariedade das condições de trabalho como, por exemplo, as
instalações físicas, segurança (por exemplo, uso de EPI‘s) e higiene corporal.
No que se refere ao Gerenciamento de RS, interrogou-se, inicialmente, tabela 3, se as
empresas possuem plano de gerenciamento de RSU. Mas apenas uma empresa, das vinte e cinco,
declarou possuí-lo. Todavia, a PNRS aborda no Art. 20º que os estabelecimentos comerciais e de
prestação de serviços estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos
(BRASIL, 2010).

Possui plano de Possui levantamento dos pontos Controle sobre o Técnicas à redução da
GRS de geração dos RS volume de RS geração de RS
Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr)
Discordo 24(96%) Discordo 19(76%) Discordo 22(86%) Discordo 5(20%)
Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%)
Concordo 1(4%) Concordo 6(24%) Concordo 3(14%) Concordo 20(80%)
Total 25 Total 25 Total 25 Total 25
Tabela 3 – Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nas Empresas pesquisadas.
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Já em relação se as organizações possuem um levantamento dos pontos de geração de RSU


também obteve-se uma situação desfavorável, alcançando 76% de discordo. Todavia, a PNRS
institui que se busque minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para
reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida
dos produtos, nos termos desta Lei (BRASIL, 2010). Assim, tal controle é fundamental para que se
tenham uma menor geração de resíduos.
Os autores Betim e Silva (2014) apontam que a quantidade elevada de resíduos gerados leva
a necessidade de locais próprios para descartes e até equipamentos destinados a esse fim. Frente a
isso, pesquisou-se se a organização tem controle sobre o volume de RS gerados, no entanto a grande
maioria (86%) dos respondentes discordou.
Percebe-se que se a organização não possui pelo menos o controle do que é gerado pode
ficar ainda mais complexa a situação da problemática dos RSU e com isso desencadear uma
tendência ainda maior de gerar impactos negativos ao meio ambiente.
Vinte empresas concordaram que acompanham o desenvolvimento de melhores técnicas
para a redução da geração de resíduos sólidos (Tabela 4). Sabe-se que há ações e medidas simples e
de baixo custo que promovem melhoras consideráveis no gerenciamento dos RSU, mas este
acompanhamento, por si só, não surti efeito para melhorias desse gerenciamento, deve-se colocá-las
em práticas, adequando-as a cada realidade empresarial.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Manuseio Segregação Acondicionamento Armazenagem


Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr)
Discordo 23(92%) Discordo 22(88%) Discordo 18(72%) Discordo 17(68%)
Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%)
Concordo 2(8%) Concordo 3(12%) Concordo 7(28%) Concordo 8(32%)
Total 25 Total 25 Total 25 Total 25
Tabela 4 – Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nas Empresas pesquisadas
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Questionou-se se existem procedimentos escritos e implantados sobre a maneira adequada


de manuseio dos resíduos sólidos, entretanto, conforme percebe-se 92% empresas da amostra
discordaram disso (Tabela 4). Em relação às práticas de segregação dos resíduos sólidos, observou-
se que 88% das empresas pesquisadas discordaram de segregar os RS de forma ambientalmente
correta (Tabela 4).
Observou-se, então, que parte considerável destas empresas não separa seus resíduos e
destinam de forma inadequada materiais perigosos como embalagens e estopas sujas de óleos,
juntamente com outros materiais como papelões, plásticos que poderiam ter um tratamento
adequado. O processo de reciclagem, por sua vez, é facilitado quando as organizações colocam em
prática a questão da separação desses resíduos. Então esta separação é crucial, pois evita que
materiais incompatíveis sejam misturados, aumentando assim a possibilidade de reutilização,
reciclagem e segurança no manuseio dos resíduos sólidos (ABNT NBR 10.004/2004).
Sobre a afirmação que os resíduos sólidos são acondicionados em recipientes
ambientalmente corretos para cada classe de resíduos, destacou-se a resposta do discordo
alcançando um percentual de 72% das empresas analisadas não concordam que acondicionam os
resíduos sólidos de forma correta (Tabela 4). Tal aspecto foi identificado também em outro trabalho
(GERHARDT et al., 2014) na qual as maiores falhas no processo de gerenciamento dos RS eram no
acondicionamento e armazenamento na oficina, entretanto, algumas melhorias baseadas em ações e
medidas simples e de baixo custo promove uma melhora significativa neste gerenciamento.
A última análise refere-se à afirmação, que os resíduos sólidos são armazenados de forma
ambientalmente correta, em área com condições de segurança (coberta, etc) onde se observou que
68% empresas discordaram dessa afirmação e um total de 32% concordaram (Tabela 4). Frente a
isso, Oliveira e Souza (2015) comprovaram que as empresas armazenam de forma incorreta os
resíduos, essa postura por sua vez viabiliza um potencial de poluição ambiental, como por exemplo,
no caso de óleo que pode contaminar o solo e, por conseguinte causar degradação nos recursos
hídricos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A Tabela 5 ainda trata sequencialmente do gerenciamento dos RSU das empresas estudadas.
Tratamento Reutilização Reciclagem Destinação Final
Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr)
Discordo 21(84%) Discordo 16(64%) Discordo 19(76%) Discordo 21(84%)
Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%)
Concordo 4(16%) Concordo 9(36%) Concordo 6(24%) Concordo 2(8%)
Total 25 Total 25 Total 25 Total 25
Tabela 5 – Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nas Empresas estudadas
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Conforme exposto na tabela 5, que se tratando especificamente da questão do tratamento


desses resíduos, um total de 21 empresas discordaram de adotar práticas ambientalmente correta de
tratamento para cada tipo de resíduos sólidos, em contrapartida 14 concordaram. Paralelamente,
afirmou-se que existem procedimentos para a reutilização de resíduos sólidos, quando possível, nas
empresas atingindo também um percentual desfavorável, onde 16 empresas discordam da
afirmação.
Posteriormente, afirmou-se que existem procedimentos para incentivo da reciclagem por
parte da empresa, entretanto esta afirmação foi discordada por 76% da amostra. Apesar disso,
percebeu-se diante dos resultados, observou-se, que 24% das empresas concordaram que
incentivam ações voltadas à reciclagem. Sabe-se que o gerenciamento adequado de resíduos sólidos
traz retorno à sociedade de um modo geral, pois os RS reutilizáveis e recicláveis são reconhecidos
como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania
(BRASIL, 2010).
Assim, o plano de gerenciamento se executado de maneira correta acarreta em melhorias
econômicas, tecnológicas, de segurança do trabalho e ambiental, baseada, inclusive, em ações
simples e de baixo custo, que aliam desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Então, considerando que as oficinas mecânicas geram diariamente quantidade considerável
de resíduos, mostra-se através disso a oportunidade que estas têm de alavancar os seus negócios,
pois a gestão ambiental influencia positivamente o desempenho organizacional das oficinas
(MANGUEIRA; FIGUEIREDO; GABRIEL, 2015). Desse modo, este retorno pode ser investido
para que elas se adequem ambientalmente.
Sobre se existem procedimentos escritos sobre o local para destinação final ambientalmente
correta para cada tipo de resíduos gerados pelas atividades das empresas 96% discordaram, e apenas
4% concordaram com o exposto (Tabela 6).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Destinação Final Transporte Logística reversa Impactos Ambientais


Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr) Classes F(fr)
Discordo 24(96%) Discordo 6(12%) Discordo 14(56%) Discordo 8(32%)
Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%) Indiferente 0(0%)
Concordo 1(4%) Concordo 19(88%) Concordo 11(44%) Concordo 17(68%)
Total 25 Total 25 Total 25 Total 25
Tabela 6 – Gerenciamento dos Resíduos Sólidos nas Empresas estudadas
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Em relação se a destinação final dos resíduos não perigosos e perigosos (óleos usados,
embalagens de óleos, estopas sujas, filtros, etc) é feita de maneira ambientalmente correta, 80%
discordaram disso e no outro extremo, 20% concordaram. Todavia, sobre o Óleo Lubrificante
Usado ou Contaminado (Oluc) a maioria das empresas pesquisadas alegaram destinarem de forma
ambientalmente correta à reciclagem, já que esta é a melhor forma de retirá-lo de circulação
(CAPELLO et al., 2015).
Observou-se que alguns rejeitos, a exemplo das estopas sujas de óleos, não são segregados e
como consequência disso destinam-se de forma indevida sem o devido tratamento ao considerado
―lixo comum‖. Isso se mostra em consonância com os achados de Muniz e Braga (2015), ao
demonstrarem no seu estudo que o óleo usado é destinado de forma adequada ao refinador, mas as
embalagens com resíduos desses são destinadas ao lixo comum, podendo causar riscos ao meio
ambiente por tratar-se de resíduo perigoso.
Sobre a afirmativa que o transporte dos resíduos perigosos e não perigosos é feito de
maneira ambientalmente correto com transporte licenciado para este fim, onde o fato que 22 (88%)
empresas concordaram com isso se desperta a atenção para este fato, já que transportes inadequados
geram grandes riscos de acidentes ambientais (Tabela 6).
A questão da prática da logística reversa (retorno das pilhas, baterias e etc.) teve-se como
resposta que 56% discordaram e por outro lado 44% concordaram (Tabela 6). Em relação a questão
do óleo usado ou contaminado, há necessidade de uma melhor fiscalização desta logística reversa
pelos órgãos ambientais responsáveis. Ainda percebe-se que, no município de Sousa, pneus e outros
resíduos que poderiam ter um destino ambientalmente correto, são dispostos de forma inadequada
no meio ambiente.
Em seguida, afirmou-se que a organização possui conhecimento dos impactos ambientais
negativos causados pela destinação inadequada dos RS, obtendo-se como resultado que 32%
discordaram, contra 68% que concordaram (Tabela 6). Parte considerável das empresas estudadas
compreende alguns aspectos que envolvem a problemática ambiental, todavia, isso não implica
dizer que, apesar de terem a percepção dos impactos ambientais negativos causados pela destinação
inadequada dos RS, eles atuem de forma ambientalmente correta.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 470


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O estudo demonstrou, diante das afirmações dos entrevistados, que há na grande maioria das
empresas práticas de GRSU inadequadas, como é o caso do descarte dos resíduos recicláveis sem a
devida segregação, evidenciando que estas desconhecem o potencial de geração de receitas e
benefícios ao meio ambiente, logo necessitam de medidas ambientalmente corretas.
Durante a pesquisa observou-se que alguns dos entrevistados alegaram que a falta de
incentivo por parte da gestão municipal dificulta este processo, pois muitas das vezes o que é
separado é novamente misturado com outros materiais quando arremessados dentro do transporte
municipal, entretanto, esse material poderia ser comercializado pela própria empresa, por exemplo,
com parceria com a associação de catadores de material reutilizável e reciclável que há no
município, denominada ASCAMARES.
Além disso, os resíduos perigosos gerados nas oficinas pesquisadas, também, precisam
receber tratamento, armazenamento e disposição final conforme preconizado pela legislação
vigente. Neste caso, a PNRS institui que as empresas são responsáveis pelos resíduos sólidos
gerados e obrigatoriamente carecem desenvolver ações para um gerenciamento correto destes
resíduos.
O cenário atual das empresas do setor de manutenção e reparação automotiva do Município
de Sousa – PB aponta para uma considerável necessidade de um gerenciamento ambientalmente
correto dos resíduos sólidos. Tais aspectos acendem um novo repensar sobre o modo de como os
recursos naturais estão sendo utilizados e dispostos no meio ambiente, apontando assim desafios,
inclusive, às organizações que precisam agir de forma ambientalmente correta.
Os resultados apontaram que a grande maioria das empresas do setor de manutenção e
reparação automotiva do município de Sousa – PB ainda estão aquém de serem consideradas
ambientalmente corretas, visto que estas apresentam uma conduta baseada em práticas esporádicas
e insustentáveis, no que diz respeito ao gerenciamento de resíduos sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que há necessidade de adequação ambiental das oficinas mecânicas


pesquisadas. Tal adequação pode ser consideravelmente onerosa às empresas, entretanto mostra-se
viável financeiramente, visto que contribui para a minimização dos danos ambientais, promove
melhoria da imagem da empresa no mercado, bem como contribui para o cumprimento das
exigências ambientais, evitando assim prejuízos financeiros.
Percebeu-se, também, que há certa preocupação de alguns dos entrevistados em relação às
questões ambientes, fato este que pode ter ligação, talvez, com os reflexos das pressões impostas
pela sociedade às organizações de uma maneira em geral, entretanto, observou-se que são
esporádicas as práticas de gerenciamento dos RS na grande maioria das empresas estudadas, uma

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 471


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vez que quando confrontadas com o referencial teórico abordado, demonstram-se que ainda são
incipientes.
Destarte, disseminar o conhecimento sobre a temática ora abordada neste estudo pode
impulsionar a adequação das empresas do setor de manutenção e reparação automotiva a adequar-se
em relação às práticas ambientalmente corretas em relação ao gerenciamento dos RS. Assim,
incumbe-se estudos futuros sobre a possibilidade de implantação de um plano de gerenciamento de
RS no setor estudado.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS: A PERCEPÇÃO DOS


CATADORES SOBRE OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DO LIXÃO DO
MUNICÍPIO DE ARACATI/CE

Samylle Ruana Marinho de MEDEIROS


Professora do curso técnico em meio ambiente – CEEP
samyllemedeiros@yahoo.com
Thamires Barbosa de OLIVEIRA
Gestora Ambiental pelo curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da UERN
thamiires28@hotmail.com
Ana Cláudia Medeiros de SOUZA
Doutoranda no programa de pós graduação em manejo de solo e água da UFERSA
anaclaudia.gambiental@hotmail.com
Aldi Nestor de SOUZA JÚNIOR
Pós graduando em geoprocessamento e georreferenciamento - UCAM
aldi.junior@ifma.edu.br
RESUMO
No Brasil, o inadequado gerenciamento dos resíduos é uma prática recorrente nas cidades de
pequeno e grande porte, tal problemática é bastante preocupante tendo em vista que o tratamento e a
destinação incorreta dos resíduos contribuem com a geração de impactos, os quais são sentidos,
principalmente, nos sistemas socioeconômicos, na saúde humana e no meio ambiente. A cidade de
Aracati, localizada no estado do Ceará, não difere deste contexto. Conhecida pelo potencial turístico
do seu litoral e pelo seu polo econômico, a cidade não possui um Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) instituído. A ausência deste instrumento de gestão favorece
o mau gerenciamento dos resíduos e acentua os problemas socioambientais relacionados à
disposição inadequada de resíduos que impacta diretamente: a saúde, a qualidade ambiental e as
atividades socioeconômicas. Tendo em vista esse cenário e a urgente necessidade de diagnosticar a
degradação da qualidade ambiental que ocorre no lixão do município, este trabalho teve por
objetivo analisar a percepção dos catadores acerca dos problemas socioambientais oriundos do lixão
a céu aberto. Os principais resultados demonstraram que mulheres e homens dividem esse espaço
de atuação, e que a maioria dos entrevistados possui baixo nível de escolaridade, apenas 25%
possuem o ensino médio completo, caracterizando uma força de trabalho desqualificada. Os
problemas socioambientais recorrentes na área do lixão de Aracati afetam diretamente a qualidade
ambiental e a saúde humana. Para mudança no cenário de degradação o município deve agir no
intuito de implementar medidas de controle que envolve: a elaboração do PGIRS; a desativação do
lixão e a construção de aterro sanitário; o investimento em educação ambiental e implementação de
uma coleta seletiva; estabelecimento de um manejo específico para os resíduos de serviços da
saúde.
Palavras-chave: Percepção ambiental. Degradação. Gestão Urbana.
ABSTRACT
In Brazil, inadequate management of waste is a recurring practice in small and large cities. Such
problems are very worrying, since the treatment and incorrect disposal of waste contribute to the
generation of impacts, which are mainly felt , socio-economic systems, human health and the
environment. The city of Aracati, located in the state of Ceará, does not differ from this context.
Known for the tourist potential of its coast and its economic center, the city does not have a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Municipal Integrated Solid Waste Management Plan (PGIRS). The absence of this management
tool favors poor waste management and accentuates socio-environmental problems related to the
inadequate disposition of waste that directly impacts: health, environmental quality and
socioeconomic activities. Considering this scenario and the urgent need to diagnose the degradation
of environmental quality that occurs in the municipal dump, this work had the objective of
analyzing the collectors' perception about the socioenvironmental problems arising from the open
dump. The main results showed that women and men share this space, and that most respondents
have a low level of schooling, only 25% have completed high school, characterizing a disqualified
workforce. The recurring socio-environmental problems in the Aracati dump area directly affect
environmental quality and human health. To change the scenario of degradation, the municipality
must act in order to implement control measures that involves: the elaboration of the PGIRS; the
deactivation of the dump and the construction of a landfill; the investment in environmental
education and the implementation of a selective collection; establishment of a specific management
for health service waste.
Key words: Environmental perception. Degradation. Urban Management

INTRODUÇÃO

Um dos grandes problemas socioambientais da atualidade é a produção de resíduos e o seu


mau gerenciamento. Os países desenvolvidos que proporcionalmente geram maiores quantidades
de resíduos demonstram mais capacidade no gerenciamento destes, por um somatório de fatores que
incluem recursos econômicos, preocupação ambiental da população e desenvolvimento tecnológico
(JACOB; BESEN, 2011).
Em contrapartida, países em desenvolvimento com urbanização muito acelerada, apresentam
déficits na capacidade financeira e administrativa em prover infraestrutura e serviços essenciais
como água, saneamento, coleta e destinação adequada do lixo e moradia, e em assegurar segurança
e controle da qualidade ambiental para a população (JACOB; BESEN, 2011).
No Brasil, o inadequado gerenciamento dos resíduos é uma prática recorrente nas cidades de
pequeno e grande porte, tal problemática é bastante preocupante tendo em vista que o tratamento e a
destinação incorreta dos resíduos contribuem com a geração de impactos, os quais são sentidos,
principalmente, nos sistemas socioeconômicos, na saúde humana e no meio ambiente.
Muitos municípios brasileiros apresentam grande dificuldade em realizar um adequado
gerenciamento de seus resíduos por não possuírem áreas livres para as instalações de estações
necessárias ao tratamento, destinação e disposição final (construção dos aterros). Além disso, ainda
há pouca capacidade técnica na gestão dos serviços de limpeza pública, na realização da coleta
seletiva e tratamento de resíduos. Este panorama torna-se mais agravante pelo desinteresse dos
gestores públicos em incentivar e fiscalizar o gerenciamento dos resíduos sólidos (FADE, 2012).
Levando em consideração o cenário indesejável em que se encontra o país, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela lei 12.305 de 2010, traz em seu bojo princípios e
instrumentos que contribuem para promoção adequada da gestão dos Resíduos Sólidos Urbano

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(RSU). Todavia, apesar da lei federal ter repercutido nas repartições públicas municipais, ainda falta
avançar no investimento de políticas públicas que possam controlar de maneira eficaz os problemas
socioambientais relacionados aos resíduos.
A cidade de Aracati, localizada no estado do Ceará, não difere deste contexto. Conhecida
pelo potencial turístico do seu litoral e pelo seu polo econômico, a cidade não possui um Plano
Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) instituído. A ausência deste
instrumento de gestão favorece o mau gerenciamento dos resíduos e acentua os problemas
socioambientais relacionados à disposição inadequada de resíduos que impacta diretamente: a
saúde, a qualidade ambiental e as atividades socioeconômicas. Dentro desse contexto os catadores
de lixo são os primeiros a sentir os impactos do mau gerenciamento de resíduos, uma vez que estes
atuam rotineiramente em contato com as áreas insalubres de lixão a céu aberto sem qualquer
incentivo ou política de segurança e saúde.
Tendo em vista esse cenário e a urgente necessidade de diagnosticar a degradação da
qualidade ambiental que ocorre no lixão do município, este trabalho teve por objetivo analisar a
percepção dos catadores acerca dos problemas socioambientais oriundos do lixão a céu aberto.

METODOLOGIA
Contextualização e local da pesquisa

O estudo de caso aqui proposto foi realizado no município de Aracati, localizado no estado
do Ceará, cuja área territorial é de 1.228,058 km². Conforme o IBGE (2010) a população é de
69.159 habitantes e a densidade demográfica de 56,32hab/km² (IBGE, 2010). Estima-se que a
produção de resíduos no município é de 120.000 toneladas de resíduos sólidos por mês. Todavia, a
cidade não dispõe de um Plano Municipal de Gerenciamento de Resíduos, permanecendo o cenário
indesejável de ausência de politicas públicas e disposição inadequada de resíduos.

Coleta de dados

A etapa de coleta de dados ocorreu no mês 08/2016, no próprio lixão da cidade, que fica
localizado próximo a BR - 304. Na oportunidade foram entrevistados 12 catadores de lixo,
correspondente a 60 % dos catadores que se encontravam no local durante a visita. Além da
aplicação dos questionários foram feitos registros fotográficos das evidências significativas para o
estudo. Os dados obtidos foram interpretados e discutidos em consonância com a bibliografia
consultada e com outros estudos de caso semelhantes.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil dos Catadores do Município de Aracati

Em detrimento do alto índice de desemprego, a alternativa de sobrevivência vislumbrada por


uma parte da população de excluídos é ―coletar lixo‖ como forma de adquirir a renda para o próprio
sustento. O aumento evidente do número de catadores de lixo nos últimos anos coincide com o
crescimento da indústria de reciclagem que necessita de uma força desqualificada de trabalho
(TEIXEIRA, 2015). Neste tópico optou-se por descrever o perfil socioeconômico dos catadores de
lixo de Aracati a partir das respostas obtidas com os questionários.
De acordo com os dados obtidos na pesquisa de campo, os entrevistados se caracterizam
como sendo 42% do sexo feminino e 58% do sexo masculino, percentual equilibrado entre homens
e mulheres, o que aponta que mesmo constituindo um trabalho que exige esforço físico
significativo, em virtude das horas dedicadas na coleta de resíduos, as mulheres atuam de maneira
expressiva. No distrito Federal, Hoefel et al (2011), identificou um percentual maior de mulheres,
correspondente a 56,5% dos catadores locais, confirmando o protagonismo feminino nestes espaços.
Em relação à faixa etária, verificou-se uma boa distribuição. 58% dos entrevistados estão
na faixa etária de 20 a 39 anos, 34% possuem entre 40 e 59 anos correspondem 17%, e apenas 8%
possuem 60 anos ou mais. No tocante ao estado civil, constatou-se que o percentual de casados
corresponde a 33% e os solteiros também é representado por 33%, já 8% disseram estar separados e
25% afirmaram ter uma união estável. Quanto ao nível de escolaridade à maioria possui o ensino
fundamental completo (33%), 25% possuem o ensino médio completo, 17% afirmaram ter o ensino
fundamental incompleto, 17% não concluíram o ensino médio, e apenas 8% não possuem
escolaridade.
Entretanto, todos sabem a devida importância do estudo na busca de novos conhecimentos e
no que isso contribui de maneira significativa no desenvolvimento pessoal, porém, a maioria dos
catadores entrevistados (33%) possui o ensino fundamental completo, ou seja, um conhecimento
mínimo ou razoável. O baixo nível de escolaridade foi justificado por eles em suas respostas,
quando os mesmos relataram que começaram a trabalhar cedo, carregando assim uma
responsabilidade desde jovens. Todavia, tal realidade não impediu dos mesmos deter o
conhecimento empírico sobre a segregação e aproveitamento de resíduos.
Quanto ao suporte financeiro dos entrevistados, constatou-se que todos (100%) possuem
renda mensal. Deste total, 25% recebem menos de um salário mínimo, 67% recebe um salário
mínimo e 8% recebe de um a dois salários mínimos. Quando questionados sobre a origem da renda,
se esta advinha apenas do lixão, 75% responderam que sim e 25% relataram que tinham outras
rendas, alegando que estas seriam aposentadorias e pensão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Um trabalho similar realizado em Viçosa, Minas Gerais, por Teixeira (2015) verificou que a
média da renda mensal dos catadores era de R$ 371,14 e que todos trabalhavam sem carteira
assinada, não havendo regulamentação e valorização da atividade, panorama semelhante ao de
Aracati, em que o trabalho de catador é uma atividade informal, não regulamentada.
Para Viana (2000) a desvalorização do trabalho do catador pode estar relacionada ao fato de
que, apesar da coleta de lixo ser considerada uma atividade vital, único meio de sobrevivência para
muitas pessoas, e modo legítimo de obter renda, não é suficiente para uma qualidade de vida plena.
Em relação ao tempo de trabalho no local, 50% alegaram que estão atuando catam lixo e 1 a
10 anos, que corresponde a 50%, por seguinte 25% corresponde aqueles que trabalham de 10 a 20
anos, já os de 30 a 40 representam 17% e os de 0 a 12 meses 8%.Tal resultado tem que ser levado
em consideração à faixa etária que também teve como maior percentual pessoas de 20 a 29 anos
como já foi dito, demonstrando que o início da rotina de trabalho no lixão ocorreu na juventude.
Quando questionado se já tiveram algum tipo de doença causada pelo lixo, a resposta
surpreendeu, pois por unanimidade (100%) todos os entrevistados disseram que não tiveram
nenhum tipo de doença causada pela exposição e o contato direto com lixo. Contudo, percebe-se
que 67% das pessoas entrevistadas possuem um conhecimento de que o lixão pode trazer uma série
de consequências à saúde e ao meio ambiente, mas 33% não sabem quais são estes danos, pois não
apresentaram uma percepção ou conhecimento sobre esta questão.
No trabalho de Hoefel et al (2011), 59% dos catadores entrevistados consideraram o
trabalho muito perigoso. Sobre essa questão Magera (2003) concorda que a rotina do catador de lixo
é exaustiva e precária. Frequentemente, ultrapassa doze horas ininterruptas; indivíduos se submetem
à condições precárias e fazem grande esforço físico ao deslocarem seus carrinhos puxados pela
tração humana, carregando por dia mais de duzentos quilos de lixo (quatro toneladas por mês), e
percorrendo mais de vinte quilômetros por dia, sendo, no final muitas vezes explorados pelos donos
de depósitos de lixo (sucateiros) que, num gesto de paternalismo, trocam resíduos coletados do dia
por bebida alcoólica ou pagam-lhe uma valor simbólico insuficiente para o sustento do catador e
sua família.
No trabalho de Passos, Patriarca e Pereira (2010) com os catadores de uma associação de
materiais recicláveis em Goiania, os entrevistados negligenciaram a ideia dos riscos aos a que estão
submetidos. Na verdade, verificou-se que o perigo é percebido por estes, mas é considerado como
algo que não pode ser evitado, algo inerente à atividade.
O lixão de Aracati e os problemas socioambientais: a percepção ambiental dos catadores de lixo
As abordagens teóricas metodológicas da percepção ambiental foram embasadas,
inicialmente, no âmbito da Geografia, a partir da corrente filosófica da Fenomenologia proposta por
Edmund Husserl no início do século XX. Posteriormente, outras referências foram sendo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

incorporadas a essas abordagens, sobretudo, referências advindas da Psicologia. (MIRANDA;


SOUZA, 2011).
Todavia, considerada sua fundamentação teórico metodológica cabe destacar que o foco de
análise da percepção ambiental está nas relações entre os seres humanos e o ambiente, sob o ponto
de vista da subjetividade (MIRANDA; SOUZA, 2011). Tal abordagem parte do pressuposto de que
tanto o ambiente natural como os ambientes construídos são percebidos de acordo com os valores e
as experiências de cada indivíduo, onde são atribuídos julgamentos e significados de acordo com o
grau de importância e/ou conhecimento que estabelecem com estes ambientes em suas vidas
(MELAZO, 2005). Nesta perspectiva os resultados discutidos neste tópico buscou refletir o olhar o
catador acerca do meio que interage, no exercício do seu trabalho.
Antes de adentrar na abordagem da percepção, é preciso destacar que a presença do lixão na
cidade ainda é um fato legalmente justificado, O projeto de lei 2289 de 2015 aprovado pela câmara
de deputados prorrogou o prazo para extinção dos lixões, estabelecendo para municípios com o
porte de Aracati, cuja população varia entre 50 e 100 mil habitantes, a meta de extinguir seus lixões
até 11 de julho de 2020. O lixão da cidade de Aracati, localizado próximo a BR-304, promove uma
série de impactos a saúde e a salubridade ambiental (Figura 1).
Os catadores já chegaram a consumir restos de alimentos que são descartados no lixão.
Segundo o relato de um catador entrevistado, além do aproveitamento de resíduos para
comercialização, o aproveitamento de restos alimentares na própria alimentação dos familiares,
como por exemplo, já aconteceu com consumo de camarões que foram descartados pelas empresas
em uma cavidade do lixão e foram coletados pelos catadores para posterior consumo em suas
residências.

Figura 1- Lixão de Aracati, localizado próximo a BR-304, 2016

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Todos os resíduos, incluindo domiciliares, hospitalar, e industriais são destinados a este


único local, onde a atividade realizada para a redução desse montante é a queima irregular e
contínua, causando um grande impacto ambiental e social, ao gerar grande volume de fumaça
(Figura 2) que atinge um bairro vizinho, o Pedregal, provocando também danos à saúde dos
catadores que trabalham nesse meio enquanto a queima está sendo realizada.
Para Almeida (2014) os impactos ambientais podem provocar danos como entupimentos das
galerias de esgoto, degradação estética das vias, aumento na produção de fuligem através das
queimadas ao céu aberto, contaminação dos lençóis freáticos, acidentes com resíduos da área de
saúde, surgimento de insetos, ratos, baratas e outros, transmissores de doenças.

Figura 2- Queima irregular causando fumaça no lixão de Aracati, 2016

A separação dos resíduos de origem diferentes é de responsabilidade dos próprios catadores


que trabalham no local. O lixo hospitalar (Figura 3) é depositado em uma cavidade separada do lixo
domiciliar. Todavia, cabe ressaltar que o manejo ideal do resíduo hospitalar e dos serviços de saúde
é que ele receba previamente uma desinfecção para que assim, posteriormente, possam ser
incinerados.
No lixão é possível observar também animais mortos despejados no local. Quanto ao
material destinado à reciclagem ou reaproveitamento, este é coletado (Figura 4), e vendido para os
interessados que se dirigem ao local buscá-lo, e de acordo com as respostas dos catadores os
principais resíduos coletados correspondem ao plástico, papelão, alumínio, metal e vidro.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3- Lixo hospitalar descartado no lixão de Aracati, 2016

Figura 4- Material destinado para reciclagem no lixão de Aracati, 2016

Em relação à percepção ambiental, cabe destacar que 67% dos catadores sabem dos riscos
que estão correndo por trabalhar em um lugar sem nenhum Equipamento de Proteção Individual
(EPI), e mesmo assim, alegam a importância do lixão para geração de renda pessoal. No tocante as
evidências observadas em campo, foi possível perceber que estes ficam expostos a altas
temperaturas, sujeitos a qualquer explosão que possa acontecer devido o gás metano não receber
nenhum tratamento e controle adequado.
Conforme o relato de um catador, que já reside no lixão há 20 anos, a instauração do aterro
sanitário e medidas de coleta seletiva já foram discutidas pela prefeitura de Aracati há muitos anos
atrás, mas que atualmente o lixão se encontra abandonado pelas autoridades locais, e a ajuda que
recebem no momento são de pessoas que se solidarizam com tal situação. O maior desejo do

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

entrevistado é de que sejam construídos o aterro sanitário e os galpões para a triagem de material,
pois os equipamentos facilitariam o trabalho além de evitar o contato direto com o lixo, fornecendo
condições mais dignas de trabalho e gerando menos impactos ambientais, sociais e econômicos.
Quando questionados a respeito da criação de uma associação de catadores no município,
todos disseram que já existe uma associação e que está possui cerca de 60 a 80 associados, porém,
conforme os respondentes, atualmente a mesma se encontra parada. Problemas como a falta de um
lugar fixo, o não comparecimento dos associados e a ausência de documentação institucional
contribuem com a estagnação da associação.
Há ainda que destacar que, 25% dos respondentes relataram que alguns catadores preferem
não se associar à cooperativa e trabalhar por conta própria, isto porque financeiramente é mais
vantajoso trabalhar de maneira independente do que associado. Já os demais (75%) disseram o
trabalho na associação pode ser benéfico, pois uma vez associado teria que ter uma divisão de
tarefas e ambos trabalhariam iguais, não ocorrendo uma divisão injusta, ou seja, uns trabalhando
mais e outros menos e no final todos ganhando o mesmo.
Dado o destaque a importância das associações, cabe ressaltar que na gestão de resíduos
sólidos a participação de todos é fundamental, pois só assim podem expor suas opiniões, discutir os
problemas e juntos buscar por soluções, podendo até provocar uma mudança de hábitos no qual nos
faz pensar e agir de forma correta agregando novos valores, ações ou atitudes. A cooperação é um
fator indispensável, sendo que sem uma união da sociedade e do poder público torna-se inviável
alcançar os objetivos almejados. A responsabilidade é algo que deve ser compartilhado, visto que a
redução dos resíduos é um dos desígnios estabelecidos então é responsabilidade dos fabricantes,
importadores, distribuidores comerciantes e os demais cidadãos garantir a minimização destes.
Os objetivos da PNRS contribuem para uma gestão mais democrática e apropriada, visando
sempre à minimização do volume de resíduos gerados, à preservação dos recursos naturais, o uso
sustentável respeitando o tempo necessário para os recursos se recompor novamente e outros. As
pessoas sempre devem dar preferência aos produtos que é ou que já foram reciclados e nos rótulos
devem contém todas as informações que sejam de grande relevância, para que assim possa ser feita
as melhores escolhas, estando ciente do que vai consumir além de valorizar o produto. Dentre os
diversos objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos que estão expostos no Art. 7°,
destacam-se:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;


II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem
como a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de
minimizar impactos ambientais;
V- Redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
VII- gestão integrada de resíduos sólidos;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços


públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos
gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados,
como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira (BRASIL, 2010, art.
7º).

Segundo Antunes (2012), apesar da PNRS disponibilizar de uma série de instrumentos, estes
se tornam vagos uma vez que siga o modelo bem marcado da legislação ambiental, sendo capaz de
gerar alguns conflitos entre pessoas ou instituições no aspecto de interpretação por não apresentar
uma explicação clara de alguns conceitos. Ainda pronuncia que a PNRS se submete à Política
Nacional do Meio Ambiente(PNMA) no qual se traduz como uma política setorial.
Todavia, segundo a PNRS a gestão adequada que deve ser implementada nos municípios
consiste no estabelecimento de um plano de gerenciamento de resíduos, que contemple a
responsabilidade compartilhada, a logística reversa, os consórcios, a reciclagem e outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das evidencias coletadas em campo fica constatado a carência de políticas publicas
no gerenciamento dos resíduos sólidos do Município de Aracati. Não há por parte do poder público
um incentivo ou programa institucional que capacite e regulamente os catadores locais, fator que
favorece as desigualdades sociais e promove uma qualidade de vida precária para as famílias que
dependem da coleta e reciclagem de resíduos.
Do ponto de vista do perfil socioeconômico, nota-se que mulheres e homens dividem esse
espaço de atuação, e que a maioria dos entrevistados possui baixo nível de escolaridade, apenas
25% possuem o ensino médio completo, caracterizando uma força de trabalho desqualificada.
Todavia os catadores são detentores do conhecimento empírico e da prática na segregação dos
resíduos, e mesmo reconhecendo os riscos da atividade e as condições inseguras de trabalho,
alegam a relevância do lixão para geração de renda pessoal e sustento de suas famílias. Os
problemas socioambientais recorrentes na área do lixão de Aracati afetam diretamente a qualidade
ambiental e a saúde humana.
Para mudança no cenário de degradação o município deve agir no intuito de implementar
medidas de controle que envolve: a elaboração do PGIRS; a desativação do lixão e a construção de
aterro sanitário; o investimento em educação ambiental e implementação de uma coleta seletiva;
estabelecimento de um manejo específico para os resíduos de serviços da saúde.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PARA VIABILIDADE DO REÚSO DE


ÁGUA COMO ELEMENTO MITIGADOR DAS IMPLICAÇÕES
DA SECA EM REGIÕES SEMIÁRIDAS

Sandra Sereide Ferreira da SILVA


Pós-Doutoranda em Recursos Naturais – PPGRN/UFCG
sandrasereide@yahoo.com.br
Vera Lúcia Antunes de LIMA
Professora do Departamento de Engenharia Agrícola e PPGRN-UFCG
antuneslima@gmail.com
Ricardo Moreira da SILVA
Professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFPB
ricardomoreira0203@hotmail.com
Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO
Professora da UEPB e PPGRN/UFCG.
angelamcramalho@gmail.com

RESUMO
A escassez da água em regiões áridas e semiáridas tem sido tema de debates, políticas e pesquisas com o
objetivo principal de subsidiar as ações capazes de permitir o seu aproveitamento racional,
permitindo a convivência da população com os períodos de seca ou reduzida precipitação. Em
virtude dessa situação, a escassez de água tem conduzido à implantação de projetos de
desenvolvimento, que têm como desafio a busca de alternativas de convivência com a seca que
conduzam a melhorias sociais. Com base nesse contexto, este estudo tem como objetivo propor a
criação de uma metodologia de construção de cenários para viabilidade do reúso de água para ser
utilizado como elemento mitigador das implicações da seca em regiões semiáridas. A metodologia
de construção de cenários é um importante instrumento de gerenciamento de recursos naturais,
neste caso específico, recursos hídricos, pois permite envolver um grande número de participantes,
tem a possibilidade de orientar o debate público para a construção estratégica coletiva de um futuro
almejado, contribui para um eficaz processo de aprendizagem organizacional no âmbito do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos visando um melhor entendimento, tanto dos
aspectos ambientais quanto dos aspectos sociais e institucionais relacionados aos recursos hídricos
no País, em especial, nas regiões semiáridas. Contudo, advirta-se que os cenários, por serem
baseados na tese do indeterminismo, não podem e nem pretendem eliminar a incerteza, predizer o
que vai acontecer e oferecer segurança e tranquilidade aos agentes econômicos, políticos e
institucionais. Porém, como se trabalham e convivem com a incerteza, os cenários procuram
analisar e sistematizar as diversas probabilidades dos eventos e dos processos por meio da
exploração dos pontos de mudança e das grandes tendências, de modo que as alternativas mais
prováveis sejam antecipadas.
Palavras-Chaves: Recursos Hídricos. Reúso de Água. Regiões Semiáridas. Construção de Cenários.

ABSTRACT
Water scarcity in arid and semi-arid regions has been the subject of debates, policies and research
with the main objective of subsidizing actions capable of allowing their rational use, allowing the
population to coexist with periods of drought or reduced precipitation. Due to this situation, water

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

scarcity has led to the implementation of development projects, which challenge the search for
alternatives to coexistence with drought that lead to social improvements. Based on this context,
this study proposes the creation of a methodology for the construction of scenarios for the
feasibility of water reuse to be used as a mitigating element of the drought implications in semi-arid
regions. The scenario-building methodology is an important instrument for the management of
natural resources, in this specific case, water resources, since it allows a large number of
participants to be involved, it has the possibility of orienting the public debate towards the
collective strategic construction of a desired future, contributes to an effective organizational
learning process within the National Water Resources Management System aiming at a better
understanding of both the environmental aspects and the social and institutional aspects related to
the water resources in the Country, especially in the semi-arid regions. However, it should be noted
that the scenarios, based on the thesis of indeterminism, can not and will not eliminate uncertainty,
predict what will happen and provide security and tranquility to economic, political and institutional
agents. However, as they work and coexist with uncertainty, the scenarios seek to analyze and
systematize the various probabilities of events and processes by exploring the points of change and
major trends, so that the most likely alternatives are anticipated.
Keywords: Water Resources. Water reuse. Semi-Arid Regions. Construction of Scenarios.

1.INTRODUÇÃO

É notório que a água é um recurso natural escasso e cuja disponibilidade tem sido
intensamente limitada, notadamente em regiões áridas e semiáridas. As projeções e tendências
traduzem sérios riscos de conflitos e vulnerabilidades cada vez mais complexos. Toda e qualquer
estratégia de uso e gestão deve estar focada nos conceitos mínimos de sustentabilidade,
considerando também as possibilidades de utilização de águas servidas e residuárias como
alternativas potenciais de minimização do impacto decorrente da escassez já identificada nos
diferentes setores de produção. A importância do uso eficiente, obviamente, varia de região para
região e de acordo com a época. Tratando-se do semiárido a situação se agrava, sendo basilar que a
concepção do uso dos recursos hídricos seja fundamentada no conhecimento cada vez mais
aprofundado e abrangente, de forma a assegurar a melhor partição entre as atividades de demanda e
produção.
A escassez da água em regiões áridas e semiáridas tem sido tema de debates, políticas e
pesquisas com o objetivo principal de subsidiar as ações capazes de permitir o seu aproveitamento
racional, permitindo a convivência da população com os períodos de seca ou reduzida precipitação.
Em virtude dessa situação, a escassez de água tem conduzido à implantação de projetos de
desenvolvimento, que têm como desafio a busca de alternativas de convivência com a seca que
conduzam a melhorias sociais. Neste enfoque, o reúso agrícola planejado de água mostra-se como
uma oportunidade de valorização da atividade agrícola nessas regiões.
Conforme enfatiza Asano (2002) o reúso planejado de água é uma prática
internacionalmente estabelecida em todos os continentes e tem sido largamente utilizado, de forma

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segura e controlada, em diversos países, inclusive para aumentar o suprimento de água potável,
como ocorre na Namíbia, desde 1968. Em Israel, o reúso de águas servidas é uma prioridade
nacional (FRIEDLER, 2001). No continente europeu, em países como França, Itália, Portugal,
Espanha e Grécia águas servidas tratadas são utilizadas na agricultura irrigada, dentre diversos
outros usos não potáveis (MONTE, 2007). Nos Estados Unidos, o reúso é praticado em larga escala
(USEPA, 2004). Na Austrália, o Programa Nacional de Reúso de Água tem avançado na
consolidação adequada do reúso como prática de conservação da água (DILLON, 2004).
Pode-se afirmar que a tendência atual, verificada por instituições de gestão das águas na
Europa, em Israel e na Austrália é considerar o reúso como componente da gestão integrada dos
recursos hídricos e do desenvolvimento sustentável, não apenas em regiões com problemas de
escassez de água, mas também em regiões densamente povoadas, onde a degradação da qualidade
das águas de superfície e subterrâneas tem levado a situações de escassez (FRIEDLER, 2001;
HURLIMANN, 2008; SALGOT, 2006). Mesmo em regiões onde existia abundância, o nível de
poluição das águas tem aumentado os custos com tratamento e inviabilizado alguns mananciais. O
reúso se apresenta como alternativa para minimizar a pressão de demanda sobre os mananciais,
devendo ser inserido nos primeiros estágios do planejamento de recursos hídricos (URKIAGA et
al., 2008). O entendimento de que o reúso de água é um importante componente da gestão de
recursos hídricos é explicitado na literatura do tema por diversos especialistas do assunto, mas esta
prática ainda é recente no Brasil e sua regulamentação ainda é incompleta, nas escalas nacional e
regional.
Entretanto, advirta-se que a percepção social acerca do reúso é um fator determinante para a
sua aceitação e viabilidade, que está diretamente ligada ao grau de confiança da população nas
instituições responsáveis pelo seu gerenciamento e a outras questões relacionadas à maneira como
projetos são apresentados e percebidos pela sociedade: a boa comunicação entre os setores
envolvidos é fundamental. Porém, alerte-se que o reúso, não planejado, ocorre sistematicamente
como uma determinação de condições socioeconômicas e ambientais nas periferias das grandes
cidades brasileiras, notadamente, na Região Nordeste. Para Hespanhol (2008), a percepção dessas
comunidades a respeito do reúso está pautada no nível de informação que tenham acesso, à
confiança nos interlocutores aos quais estejam apresentando o projeto, à forma como se relacionam
com os mananciais hídricos locais e à sua percepção sobre as diversas implicações da seca ao ser
humano e ao meio ambiente.
No campo das possibilidades, a metodologia de construção de cenários apresenta-se de suma
importância para o gerenciamento dos recursos hídricos, pois permite envolver um grande número
de participantes, orienta o debate público para a construção estratégica coletiva de um futuro
almejado, contribui para um eficaz processo de aprendizagem organizacional no âmbito do Sistema

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Isso tudo possibilita um melhor entendimento,


tanto dos aspectos ambientais quanto dos aspectos sociais e institucionais relacionados aos recursos
hídricos no País, em especial, regiões semiáridas.
Em razão dessa constatação e das considerações pontuadas, notadamente no que concerne à
implementação de um processo reúso de água não provocativo de externalidades negativas ao meio
ambiente, tendo como pressuposto princípios e critérios de sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável numa visão de longo prazo configura-se o seguinte problema de pesquisa: Qual
metodologia pode ser utilizada para a construção de cenários para viabilidade do uso de água
residuária como elemento mitigador das implicações da seca em regiões semiáridas?
Objetivando responder a este questionamento, este estudo tem como objetivo propor a
criação de uma metodologia de construção de cenário para viabilidade do reúso de água para ser
utilizado como elemento mitigador das implicações da seca em regiões semiáridas.

Questão Hídrica e Reuso de Água

Desde 2012, alguns Estados brasileiros, a exemplo dos estados nordestinos são assolados
por uma inclemente seca, que impõe restrições graves à população, sobretudo as necessidades do
chamado ―mínimo existencial‖; e o acesso à água é a principal delas. Tudo isso compõe um quadro
que se agravou nos últimos anos, com o impacto das mudanças climáticas. Esse cenário de
vulnerabilidade hídrica é atestado em pesquisas e relatórios divulgados pela Agência Nacional das
Águas - ANA; e, embora a gestão dos recursos hídricos objetive sanar problemas seculares, o
quadro piorou nos últimos anos, não só pela ausência de efetividade social de dispositivos expressos
na própria Lei dos Recursos Hídricos, mas também em razão de um novo fator que, hoje, deve ser
considerado: as mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática -
IPCC, órgão da ONU, divulgou em Yokohama, (Japão), em março de 2014, resultados da pesquisa
sobre a incidência e o agravamento das mudanças climáticas ao redor do planeta e de como elas
afetarão a vida dos seres humanos nos próximos anos.
Os múltiplos usos da água na agricultura, em um passado recente, não representavam tantos
riscos em relação à segurança hídrica, mas, hoje, com o aumento progressivo da produção de
alimentos em razão da demanda mundial e do uso intensivo de água na agricultura, o que se vê é a
degradação da qualidade da água superficial e subterrânea. Além disso, ―a eutrofização de lagos,
represas e rios é uma das consequências dos usos excessivos de fertilizantes na agricultura, os quais,
combinados com alterações de drenagem, podem aumentar excessivamente os índices de estado
trófico‖ (TUNDISI, 2008). Para um dos maiores estudiosos do tema no Brasil, o geógrafo Wagner
Ribeiro Costa, o principal fator que agrava a escassez de água doce na Terra é o seu uso na esfera
privada de maneira irresponsável, com fins de acumulação de capital; ele traz inclusive; dados sobre

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

o aumento exponencial, por exemplo, do uso da água na agricultura: ―o consumo, que era de 2.574
km³ por ano, em 1970, foi para 3.940 km³, em 2000. A área irrigada passou de 160 milhões de
hectares para 275 milhões. O incremento de novas terras à produção foi de 41%, enquanto a
demanda por água aumentou 53% em 30 anos‖ (RIBEIRO, 2013). Contudo, o acirramento da crise
da água no início do século XXI não ocorreu só em razão de um fator; trata-se de uma soma de
fatores próprios de uma sociedade que, a partir do século XIX, deixou de ser eminentemente agrária
e tornou-se urbana. A ―explosão‖ da urbanização está ligada a diversos fatores, dentre os quais à
vulnerabilidade hídrica de várias regiões do globo, pois a ação do homem sobre o solo pode
produzir alterações substanciais nos processos hidrológicos terrestres, como a redução ou o
aumento da vazão média, máxima e mínima de uma bacia hidrográfica e a alteração da qualidade da
água. O impacto do desenvolvimento urbano se constitui em um dos efeitos significativos sobre o
ambiente, criando condições extremamente desfavoráveis sobre os rios, na vizinhança dos centros
urbanos.
Adentrando-se nesse contexto e tomando como base a perspectiva de que o reuso de água
deve ser considerado como parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente
da água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da
produção de efluentes e do consumo de água; os esgotos tratados têm um papel fundamental no
planejamento e na gestão sustentável dos recursos hídricos como um substituto para o uso de águas
destinadas a fins agrícolas, florestais, industriais, urbanos e ambientais.
Ao liberar as fontes de água de boa qualidade para abastecimento público e outros usos
prioritários, o uso de esgotos contribui para a conservação dos recursos e acrescenta uma dimensão
econômica ao planejamento dos recursos hídricos. O reuso minimiza a demanda sobre os
mananciais de água devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Essa
prática, atualmente muito discutida, posta em evidência e já utilizada em alguns países é baseada no
conceito de substituição de mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade
requerida para um uso específico (CETESB, 2016). Assim, podem-se poupar grandes volumes de
água potável através do reuso com a utilização de água de qualidade inferior (geralmente efluentes
pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir desse recurso dentro dos
padrões de potabilidade.
Com o objetivo de estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas
públicas direcionadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade, para as
diversas atividades humanas, sem esquecer o papel essencial que os recursos hídricos desempenham
na existência (e reprodução) dos ecossistemas onde estão inseridos, aprovou-se em 2006 O Plano
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Dentre outras atribuições o PNRH visa propiciar o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

gerenciamento das demandas, considerando a água um elemento estruturante para a implantação de


políticas setoriais voltadas ao desenvolvimento sustentável e à inclusão social.
Contudo, advirta-se que a concepção de gestão de recursos hídricos tem se transformado
desde as décadas de 1980 e 1990. Na esfera dos recursos hídricos, o Estado Planejador-Investidor
com decisão centralizada e objetivando o crescimento econômico transforma-se em um Estado
mediador de conflitos e regulador, que usa descentralização, a participação pública e uma visão
integrada como método e o desenvolvimento sustentável, com o seu tripé: equidade social,
eficiência econômica, e sustentabilidade ambiental, como objetivo finalístico. Nesse sentido, as
ações de planejamento e investimento ficaram submetidas ao sistema de mediação de conflitos.
A esta mudança na função social da gestão de águas soma-se uma ampliação nas dimensões
da gestão de recursos hídricos que expande o horizonte da gestão da oferta (por exemplo,
incorporando novos mananciais dessalinizando água do mar ou fazendo reúso) e constrói novas
dimensões na gestão da demanda e na gestão de conflitos pelo uso da água. A este movimento
soma-se outro denominado no Plano por Tensão da Sustentabilidade, que consiste no conflito entre
desenvolvimento (entendido como crescimento econômico) e meio ambiente. Esta tensão estabelece
os limites entre o sistema de recursos hídricos (água para nós – água enquanto insumo econômico) e
o sistema ambiental (água em si – água essencial aos ecossistemas); assim como, assinala a
dimensão da sustentabilidade ambiental no gerenciamento de recursos contemporâneo.
Afluente a este movimento, o planejamento de recursos hídricos transforma-se. O
Planejamento de Recursos Hídricos, hoje, não segue mais o modelo de planejamento racional
clássico. O modelo adotado pelo planejamento de recursos hídricos brasileiro, principalmente após
a Lei n° 9.433, de 1997, é o modelo de planejamento político. O Plano, no contexto dessa mesma
Lei, é um espaço de reflexão com vistas à identificação de soluções de compromisso para os
conflitos potenciais ou manifestos, inerentes ao gerenciamento de recursos hídricos.
Mediante essa concepção, permite-se assegurar que no planejamento de recursos hídricos, o
uso de cenários prováveis e exploratórios ainda é uma novidade, especialmente em se tratando de
sua aplicação no âmbito de bacias hidrográficas. A sua aplicação tem sido mais comum em estudos
de âmbitos geográficos e setoriais mais abrangentes. Contudo, no plano internacional, há duas
experiências de estudos prospectivos na área de recursos hídricos que merecem destaque. A
primeira foi o desenvolvimento de uma Visão Mundial da Água (World Water Council, 2000) pelo
Conselho Mundial da Água, que envolveu mais de 15 mil pessoas em todo o mundo, objetivando
explicitar aspirações e estratégias de desenvolvimento de ações práticas para o uso sustentável e o
manejo dos recursos hídricos.
Foram elaborados cenários prospectivos qualitativos, com a quantificação de algumas
variáveis. A Visão Mundial da Água inclui contribuições de profissionais e atores que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desenvolveram visões regionais integradas em mais de quinze regiões do mundo. Os resultados


foram apresentados pela Comissão Mundial de Água para o Século 21, no segundo Fórum Mundial
da Água, realizado em 2000, na Holanda. A segunda experiência, de âmbito global, que adotou a
cenarização prospectiva, enfocando a temática ambiental e de recursos hídricos, foi realizada em
2003 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A iniciativa fez parte da
série Global Environment Outlook (PNUMA, 2004) em sua terceira edição. Foram desenvolvidos
cenários qualitativos (narrativos) e realizadas quantificações, com a utilização de alguns modelos. O
exercício contou com a participação de aproximadamente mil pessoas e quarenta instituições em
todo o mundo.
No Brasil nunca ocorreram semelhantes experiências antes do PNRH, provavelmente pelo
caráter conservador das instituições estatais e pela pouca divulgação que ainda possuíam as técnicas
de construção de cenários no País. No âmbito nacional, o uso de cenários exploratórios é muito
recente. Não tem mais que trinta anos. No caso de recursos hídricos - reúso de agua - é inédito.
Advirta-se que a importância do reúso de agua apresenta-se como uma estratégia contributiva para o
eficaz gerenciamento dos recursos hídricos em regiões semiáridas. Neste cenário de escassez dos
recursos hídricos, a disputa pelo uso da água, mesmo sendo um bem de domínio público, conforme
Vargas (2005) virou um tabuleiro de negócios com muitos interesses. É nesse campo de acordo
Lima (2009) que emana uma discussão importante e salutar a respeito de novas possibilidades para
o aproveitamento dos efluentes domésticos e industriais que podem ser usados como fonte
alternativa para ampliar a demanda hídrica e diminuir a pressão sobre os mananciais primários.

2.METODOLÓGICA PARA CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS PARA VIABILIDADE DO


REÚSO DE ÁGUA EM REGIÕES SEMIÁRIDAS

A construção dos cenários, na metodologia escolhida, origina-se de um processo que


percorre sete etapas: os estudos prospectivos constituem parte importante do processo de
planejamento, na medida em que oferecem uma orientação para as tomadas de decisões acerca de
iniciativas e ações para a construção do futuro almejado pela sociedade, governo e pelas empresas.
Dentre os estudos prospectivos, a técnica de cenários tem se firmado como um dos
principais recursos metodológicos, tendo sido incorporada aos processos de planejamento
estratégico tanto empresarial quanto sócio governamental. Os estudos de cenários recorrem,
normalmente, a um conjunto de técnicas e processos de sistematização e organização das
informações e hipóteses como forma de análise das probabilidades de comportamentos futuros e de
organização e teste da criatividade e das percepções subjetivas. Existe, evidentemente, um grande e
diversificado conjunto de técnicas que serve para realizar os diversos estágios do processo de
construção de cenários. Ressalve-se para a definição de Godet (1996) que afirma que o futuro é uma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

construção social, na qual os atores sociais devem ocupar uma posição central na construção desses
cenários. Diante desse enfoque, a construção dos cenários para viabilidade do uso de água
residuária como elemento mitigador das implicações da seca em regiões semiáridas, origina-se de
um processo que percorre sete etapas elencadas no quadro 1, a saber:

Quadro 1. Principais etapas da metodologia para construção de cenários para viabilidade do uso de água
residuária como elemento mitigador das implicações da seca em regiões semiáridas.
ETAPAS DA DESCRIÇÃO - SÍNTESE DE CADA ETAPA DA METODOLOGIA
METODOLOGIA DE
CONSTRUÇÃO DE
CENÁRIOS PARA
REÚSO DE ÁGUA EM
REGIÕES
SEMIÁRIDAS
Na estruturação do escopo do objeto de cenarização, prevê-se o
horizonte de 2030, correspondendo, portanto, há treze anos. O objeto da
cenarização, por sua vez, será definido como sendo o conjunto das
variáveis (dimensões e indicadores a serem definidos) e atores que fazem
parte do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Por sua vez, a lógica do
sistema consistirá em assegurar:
1. O uso múltiplo das águas residuárias pelos diversos usuários,
com prioridade para o uso agrícola;
Definição do escopo do 2. A qualidade das águas, em conformidade com os seus
objeto de cenarização diversos usos;
3. A quantidade necessária das águas, para responder às diversas
demandas, segundo os objetivos nacionais (segundo a
Constituição de 1988, são: erradicar a pobreza, reduzir a
desigualdade e assegurar o bem-estar social para todos os
membros do corpo da Nação) e, por fim;
4. A sustentabilidade ambiental, com o objetivo de assegurar a
reprodução dos diversos ecossistemas.

Para a definição das variáveis (dimensões e indicadores) relevantes para


o sistema de recursos hídricos – Reúso de Água – deve ser proposto com
o apoio de uma equipe técnica com conhecimento no tema um conjunto
inicial de variáveis. Após debates sobre sua viabilidade, a quantidade de
variáveis poderá ser redefinida e reagrupada. Para tanto, deve ser
estabelecido prazo para ocorrer tais debates com os vários atores sociais
e institucionais envolvidos nesta proposta. Finalizada essa etapa ocorrerá
a análise estrutural. Essa análise objetiva identificar e classificar as
variáveis e o seu jogo de mútuas influências, visando identificar quais as
incertezas críticas, ou seja, as variáveis de maior grau de incerteza e mais
capacidade de influência sobre o sistema como um todo. A análise
Análise estrutural
estrutural classifica as variáveis em quatro tipos, a saber:
a) motrizes – responsáveis principais pela evolução do sistema, por sua
alta capacidade de influência;
b) de ligação – que intermedeiam o jogo de influência no âmbito do
sistema;
c) de resultado – receptoras principais das influências do sistema,
servindo de indicadoras de sua evolução, e;
d) autônomas – ou seja, com baixa relação com o sistema, tendo relativa
independência em relação a outras variáveis.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A ferramenta utilizada na análise estrutural será a matriz de análise de


variáveis, duas a duas, denominada URCA (unidirecional, reversa,
circular e ausente de interferências, conforme Marques, 2004). O
resultado será a definição de um conjunto ―x‖ de incertezas críticas para
os recursos hídricos – reúso de água na agricultura – semiárido
paraibano, tomados como insumo para a etapa seguinte, a de
investigação morfológica.

A investigação morfológica consistirá na combinação lógica racional dos


estados possíveis das incertezas críticas selecionadas, ou seja, as suas
Investigação expressões concretas mais prováveis, levando em consideração a
Morfolólgica natureza e a provável evolução de cada uma delas. A partir disso, serão
construídas as combinações mais prováveis segundo as percepções dos
participantes.
Da aplicação da investigação morfológica resultarão os tipos de cenários
(cenário otimista, normal e pessimista), os quais serão submetidos a
testes de plausibilidade e consistência.
Esse teste consistirá no cruzamento dos interesses dos atores sociais e
institucionais em relação aos de cenários construídos. Ele permitirá que
Teste de plausibilidade se identifiquem quais os cenários com maior ou menor promoção entre
política e consistência os atores mais relevantes. Estes, por sua vez, serão selecionados a partir
dos cenários gerados da lista dos atores sinalizados nas reuniões realizadas. A partir da
realização do teste de plausibilidade, ocorrerá a identificação de cenários
com maior ou menor apoio dos atores e, portanto, maior ou menor
plausibilidade, caso os atores mantenham suas posições ao longo do
período de cenarização. Na escolha deverão prevalecer alguns critérios
tais como:
a) selecionar os cenários extremos, ou seja, aquele com maior
apoio e outro, com menor apoio, já que uma das funções dos cenários é
abarcar o maior espaço de futuros plausíveis;
b) guardar os cenários com maior distinção entre eles, pois
cenários muito similares não servem, pois apenas acumulam dúvidas no
processo de monitoramento.
Cenários selecionados são objetos de desenvolvimento, ou seja,
descrição pormenorizada, segundo uma matriz previamente construída
Desenvolvimento dos na qual as principais variáveis e dimensões do escopo do objeto serão
cenários selecionados contemplados. Em alguns casos poderá ser adotado o sistema de
descrição das etapas da trajetória do cenário, com segmentação do
período selecionado.
Comparação e O sexto passo da metodologia adotada consistirá na comparação e
quantificação dos quantificação simplificada dos cenários finais selecionados.
cenários finais

Elaborados os cenários, iniciar-se-á a definição da base sobre a qual o


plano irá repousar. Há três procedimentos usualmente utilizados, a saber:
a) Escolhe-se o cenário julgado mais interessante do ponto de vista
dos construtores ou o mais provável;
b) Constrói-se uma visão de futuro, ou então;
c) Define-se o campo de uma estratégia robusta, por meio da
Identificação da base de identificação de recorrências nos diversos cenários.
sustentação da estratégia Advirta-se que cada um dos procedimentos adotados tem,
do plano evidentemente, vantagens e desvantagens, e a escolha se faz tomando-se
em consideração alguns critérios básicos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Opta-se pela primeira alternativa – cenário mais plausível – quando entre


os cenários algum se destaca por sua plausibilidade e convergência de
interesse por parte dos construtores.
 A opção pela segunda alternativa – visão de futuro – se dá quando há
uma boa convergência de interesse e de ideologia entre os construtores.
 Por fim, adota-se a opção se construir uma estratégia robusta no caso da
confluência de duas situações: as alternativas anteriores serem pouco
recomendáveis e os diversos cenários apresentarem elementos comuns.
Fonte: Silva (2016).

Por meio do desenvolvimento e implementação da MCVUAR- Metodologia de Cenários


para Viabilidade de Uso de Água Residuária em regiões semiáridas é possível alcançar as seguintes
metas e objetivos, a saber:
1-Permitir o envolvimento de uma quantidade considerável de atores sociais e
institucionais;
2-Equilibrar, de um lado, a participação dos diversos atores interessados no acesso e uso
de águas residuárias, particularmente os membros de comitês de bacia, usuários e
governos estaduais, e, de outro lado, uma qualidade técnica, articulando, assim,
legitimidade política e consistência técnica;
3-Assegurar o relacionamento, de forma sistêmica, entre dimensões, indicadores e
atores envolvidos, enriquecendo a compreensão do sistema de reúso de água, e os
principais riscos que envolvem sua evolução;
4-Possibilitar o enunciado de futuros distintos e coerentes, entre atores tão divergentes,
em comunhão com o conhecimento dos especialistas;
5-Identificar um conjunto de oportunidades e ameaças comuns aos diversos cenários,
atribuindo um caráter novo ao modelo;
6-Criar uma base para a elaboração dos programas e projetos, possibilitando uma ação
antecipatória às políticas públicas, e um instrumento de monitoramento a ser
desenvolvido;
7-Constituir uma referência para a elaboração de futuro plano estadual e de bacia.

Principais contribuições científicas e tecnológicas da metodologia

A demanda crescente e a complexidade da gestão da água com a finalidade de reuso têm


envolvido distintos setores da sociedade, incluindo acadêmicos, políticos, articuladores das classes
sociais, organizações e demais usuários potenciais dos recursos naturais. Contudo, advirta-se que a
integração desse e outros atores são de fundamental importância na busca de tecnologias, métodos e
políticas a serem implementadas no processo de uso sustentável da água, com menores riscos de
comprometimentos futuros. Nesse sentido, pode-se afirmar que as inovações tecnológicas e a
pesquisa científica são indispensáveis para enfrentar os desafios presentes e do futuro da sociedade
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 494
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

quanto à disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos. No caso das regiões semiáridas a
situação se agrava com as expectativas crescentes dos efeitos do clima, associados à reduzida
disponibilidade, seja quantitativa ou qualitativa, de água superficial e subterrânea.
No sentido de incrementar a disponibilidade merecem destaque nesta proposta metodológica
os incentivos públicos para o uso racional dos recursos hídricos, conservação de água e solo, e
adoção de técnicas de reúso de águas de qualidade inferior para a agricultura. Nessa perspectiva,
Instituições de pesquisa, Universidades e cientistas têm-se debruçado sobre tecnologias apropriadas,
ao mesmo tempo em que o setor público tem elaborado mecanismos de fomento visando ao
desenvolvimento, à aplicação e apropriação, por parte das comunidades usuárias de tais tecnologias,
que não produzam impactos ambientais adversos, ao mesmo tempo em que agreguem valor aos
recursos hídricos disponíveis. Entretanto, o grande desafio tem sido produzir conhecimento e
tecnologias para melhorar a situação atual e proteger os recursos naturais no futuro. Para isso, a
pesquisa científica e seus resultados, sistematizados e difundidos têm importância fundamental. É
indispensável nesse contexto que a pesquisa seja um processo contínuo, visto que a tecnologia
gerada necessita de ajustes pontuais, em que a presença de técnicos e especialistas é oportuna, não
excluindo o apoio à programas de capacitação em todos os níveis, abrangendo técnicos,
administradores, tomadores de decisão e produtores. Quem tem acesso à informação e pode
entendê-la tem a vantagem e oportunidade para selecionar a melhor tecnologia e com isso a
possibilidade de redução dos riscos de comprometimento dos recursos e insumos de produção da
água residuária.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo-se da premissa de que o futuro é uma construção social, os atores sociais devem
ocupar uma posição central na construção de cenários hídricos para regiões semiáridas. Por outro
lado, o poder da metodologia de cenários decorre da habilidade e da capacidade para a organização
lógica de um grande volume de informações e de dados relevantes e diferenciados. Com efeito, a
metodologia de cenários precisa de um modelo teórico para assegurar a plausibilidade das hipóteses
e analisar a consistência das combinações delas, de modo que a descrição da realidade futura seja
fundamentada. Assim, para a construção dos cenários, parte-se de um modelo mental (teoria) que
interpreta as variáveis centrais e as interações entre elas como uma redução da complexidade da
realidade, como certo entendimento do sistema-objeto de análise e projeção futura.
Contudo, advirta-se que o desafio maior no desenvolvimento de uma visão de futuro de
cenário hídrico, seja este ―normal‖, ―otimista‖ ou ―pessimista‖ está em imaginar mudanças nas
tendências e nos paradigmas atuais, já que o objetivo não é prever o futuro, nem desenhar um futuro
provável ou desejável e que os cenários, por serem baseados na tese do indeterminismo, não podem e nem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pretendem eliminar a incerteza, predizer o que vai acontecer e oferecer segurança e tranquilidade aos agentes
econômicos, políticos e institucionais. Porém, como se trabalham e convivem com a incerteza, os cenários
procuram analisar e sistematizar as diversas probabilidades dos eventos e dos processos por meio da
exploração dos pontos de mudança, e das grandes tendências, de modo que as alternativas mais prováveis
sejam antecipadas.

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Technology. v. 45, p 23-33, IWA Publishing. 2002.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO


DE JANEIRO-CAMPUS SERÓPEDICA SOBRE A GERAÇÃO E O TRATAMENTO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL

Sayonara Costa de ARAÚJO


Mestranda em Engenharia Agrícola e Ambiental - PGEAAMB/UFRRJ
sayonara-vr@hotmail.com
Érika Flávia Machado PINHEIRO
Professora do Departamento de Solos - Instituto de Agronomia/UFRRJ
erika.solos@gmail.com
Adriana Paulo de Sousa OLIVEIRA
Mestranda em Engenharia Agrícola e Ambiental - PGEAAMB/UFRRJ
adrianasousaesa@hotmail.com
Raquel Silva de OLIVEIRA
Graduanda em Zootecnia - Instituto de Agronomia/UFRRJ
raquel.oliveiraasilva@gmail.com

RESUMO
A geração desordenada de resíduos sólidos, decorrente das altas taxas de industrialização e
urbanização atrelado ao padrão de consumo da sociedade moderna, tem acelerado a degradação dos
recursos naturais e comprometido o bem estar social. Somados a esses fatores, a falta de
conscientização e sensibilização com a temática é um fator que tem intensificado o problema.
Objetivou-se neste estudo avaliar a percepção dos alunos do ensino superior da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) a respeito de aspectos relacionados a resíduos sólidos no
Brasil. A pesquisa fundamentou-se na coleta de dados oriundos da aplicação de questionários a
cento e trinta graduandos da UFRRJ. Os resultados evidenciaram que 67,7% desconhecem a
existência da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Constatou-se que 92,3% preocupam-
se com a problemática (impactos ambientais, sociais e econômicos) relacionada ao excesso de
resíduos sólidos gerados, entretanto, cerca de 53% não praticam nenhuma ação que contribua para a
minimização dos danos em questão. Verificou-se ainda, que 72,3% dos graduandos afirmaram
conhecer os danos ambientais e socioeconômicos decorrentes do descarte inadequado dos Resíduos
Sólidos Orgânicos (RSO), no entanto, apenas 37,1% realmente identificaram todos os problemas
relativos a essa prática inadequada. A compostagem foi a técnica de tratamento de RSO mais
conhecida entre os universitários. Mediante os resultados, reafirma-se a necessidade de se
implementar a educação ambiental para os graduandos da UFRRJ-Campus Seropédica como um
instrumento indispensável para a construção de valores sociais e para o desenvolvimento de uma
consciência crítica capaz de modificar ações e hábitos, com a finalidade de reduzir os problemas
associados a geração e ao tratamento de resíduos sólidos, sobretudo, na instituição alvo desta
pesquisa. São necessárias ações que sejam direcionadas para promover o desenvolvimento
sustentável do país, devendo inclusive ser aplicado nos primeiros períodos de formação do cidadão.
Palavras-chaves: Geração de resíduos sólidos, resíduos orgânicos, meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ABSTRACT
The disorderly generation of solid waste, due to the high rates of industrialization and urbanization
added to the standard of consumption of modern society, has accelerated the degradation of natural
resources and compromised social well-being. Besides those factors, the lack of awareness and
sensitivity with the theme is a factor that has intensified the problem. The objective of this study
was to evaluate the perception of undergraduate students from Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ) regarding to aspects related to solid waste in Brazil. The results showed that
67.7% were unaware about the existence of the National Solid Waste Policy (PNRS). It was
verified that 92.3% are concerned with the problematic (environmental, social and economic
impacts) related to the excess of solid waste produced, however, about 53% do not take any action
that contributes to minimize the damages in question. It was also verified that 72.3% of the
undergraduates claimed to know the environmental and socioeconomic damages resulting from the
inadequate disposal of Organic Solid Waste (RSO), however, only 37.1% actually identified all the
problems related to this inadequate practice. Composting was the best-known RSO treatment
technique among the undergarduate students. The results reaffirmed the need to implement the
environmental education to the UFRRJ-Seropédica Campus undergraduate student as an
indispensable instrument for the construction of social values and for the development of a critical
awareness capable of changing actions and habits, to reduce the problems associated with the
generation and treatment of solid waste, especially in the institution that is the target of this
research. Actions are needed that are directed to promote the sustainable development of the
country and should even be applied in the first periods of citizen training.
Keywords: Generation of solid waste, organic waste, environment.

INTRODUÇÃO

O aumento populacional atrelado ao consumismo tem proporcionado a geração desenfreada


de resíduos sólidos, um problema que tem se firmado como um dos principais desafios da sociedade
contemporânea. Conforme os estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco
Mundial, se o modo de vida da humanidade permanecer da mesma forma, em 2050 serão 9 bilhões
de habitantes e 4 bilhões de toneladas de resíduo urbano por ano. Caso se confirme essa projeção,
serão necessários os recursos naturais existentes em basicamente três planetas Terra (ONU, 2016).
Em 2015, a produção de resíduos sólidos no país registrou um total de 79,9 milhões de
toneladas, o que representou um aumento de 1,7% em relação ao ano anterior, índice que foi
superior à taxa de crescimento populacional no mesmo período, que foi de 0,8% (ABRELPE,
2015). Com intuito de conter esse volume excessivo e mudar a forma de gerir os resíduos sólidos no
país, em agosto de 2010 foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, por meio da
aprovação da Lei Federal 12.305 (regulamentada pelo decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de
2010).
O conteúdo da referida Lei é inovador e envolve toda sociedade no que tange a
responsabilidade pela não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, assim como, pela disposição final ambientalmente correta. Todavia, os desafios são

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

enormes para que essa lei não seja apenas um documento contendo ótimas diretrizes e intenções,
mas que se torne parte da realidade nacional.
Um dos fatores que dificultam o cumprimento da PNRS é justamente a carência da
discussão que circunda a problemática referente ao excesso de resíduos sólidos gerados e os
impactos decorrentes da disposição inadequada destes, nos ambientes de ensino (infantil,
fundamental, médio e superior), somado ao fato da temática ser negligenciada por grande parte da
população. Esses motivos têm impedido ainda mais a efetivação de uma gestão e gerenciamento
eficientes, além de contribuir para formação de situações de vulnerabilidade ambiental, social e
econômica.
Em muitos países, as questões relacionadas a resíduos sólidos faz parte do cotidiano e existe
um alto grau de conscientização, sendo esta, fruto de uma abordagem que vem desde o ensino
básico. Este fato evidência que a educação é um fator primordial para que cada cidadão, se informe
da relevância do problema e da importância de sua participação na solução.
Diante do exposto, objetivou-se neste estudo avaliar o nível de conhecimento dos alunos da
graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Campus Seropédica, a
respeito de aspectos relativos a geração e ao tratamento dos resíduos sólidos no Brasil.

METODOLOGIA

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Campus Seropédica, localizada no município de Seropédica-RJ. A UFRRJ tem sua origem
institucional no documento que criou a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária
(ESAMV) em 1910, entretanto a denominação atual e reconhecimento como instituição federal só
veio com a Lei 4.759 em 1965 (UFRRJ, 2017).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa baseou-se na coleta de dados oriundos da aplicação de questionários a cento e


trinta graduandos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, selecionados de
maneira aleatória, em junho de 2017. O questionário foi elaborado com base nas recomendações
descritas por Aaker et al. (2001), podendo as etapas e os respectivos passos serem observados na
Figura 1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

1a Etapa: Planejar o Evidenciar os objetivos da pesquisa;


questionário Definir o assunto que será abordado;
Formar base conceitual, por meio de revisão bibliográfica.

2a Etapa: Formular o Determinar o conteúdo de cada pergunta;


questionário Elaborar as perguntas para obter as informações necessárias.

3a Etapa: Texto das Determinar como as questões serão redigidas;


perguntas Avaliar em termos de sua facilidade de compreensão, conhecimentos e habilidades exigidos.

4a Etapa: Decisões sobre


sequenciamento e Dispor as questões em uma ordem adequada;
aparência Definir o aspecto visual do questionário (tipo e tamanho de letra, quantidade de páginas).

Ler o questionário para averiguar se esta coerente e se atende os objetivos;


5a Etapa: Pré-teste e Verificar possíveis erros;
correção de eventuais Realizar o pré-teste: aplicar o questionário a um pequeno grupo de indivíduos que não fazem
problemas parte do universo amostral;
Corrigir os problemas identificados.

Figura 1 - Fluxograma das etapas e respectivos passos para elaboração do questionário.


Fonte: Adaptado de Aaker et al. (2001).

O questionário foi composto de 10 questões, sendo os formatos de respostas alternados entre


dicotômicas (sim ou não) e de múltipla escolha, sendo considerado do tipo: estruturado não
disfarçado, no qual o respondente consegue identificar o objetivo da pesquisa, e o questionário é
padronizado, usando questões fechadas conforme define Miguel e Carnevalli (2001). O conteúdo
das perguntas abordou aspectos gerais sobre resíduos sólidos no Brasil, com pontos relacionados a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), questões sobre o nível de conscientização e noções
sobre resíduos sólidos orgânicos e formas de tratamento desses resíduos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

PERFIL GERAL DOS PARTICIPANTES

Os participantes foram em grande parte do sexo feminino, apresentando um percentual de


68,5%, e de 31,5% do sexo masculino. Verificou-se que 65,5% dos participantes apresentavam
faixa etária entre 21 e 25 anos; 18,5% (entre 16 e 20); 14,6% (entre 26 e 35) e 1,5% (acima de 36
anos). Observou-se ainda que os respondentes eram alunos dos cursos de agronomia, ciências
agrícolas, engenharia agrícola e ambiental, engenharia química, licenciatura em química,
engenharia de materiais, engenharia de agrimensura e cartografia, engenharia florestal, arquitetura,
medicina veterinária, zootecnia, biologia, ciências sociais, letras e inglês e farmácia. Assim, os
resultados demostram uma visão que decorre de uma amostra de indivíduos pertencentes a
diferentes áreas do conhecimento.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos é resultado de um debate que tramitou no


Congresso Nacional por mais de 20 anos. Esta política contém definições, princípios, objetivos,
instrumentos, diretrizes, metas e ações importantes para permitir o avanço necessário ao país, com
vistas a enfrentar os principais problemas ambientais e socioeconômicos provenientes do manejo
inadequado dos resíduos sólidos (BRASIL, 2017). Neste estudo, constatou-se que apenas 32,31%
dos graduandos tinham conhecimento da existência da PNRS, e 67,69% desconheciam, conforme
pode ser visto na Figura 2.

Figura 2 - Conhecimento da existência da PNRS.

Logo, percebe-se que embora a PNRS seja um marco na legislação ambiental brasileira no
que tange a gestão integrada e gerenciamento correto dos resíduos no País e sua efetivação tenha
sido uma conquista que resultou em impactos positivos e significativos, como obrigatoriedade da
desativação de lixões, incentivo a indústria da reciclagem e implementação da coleta seletiva,
participação das cooperativas de catadores no processo de gestão de resíduos sólidos, o
desconhecimento de grande parte dos entrevistados evidência a necessidade de divulgação da
importância e das inovações advindas desta política para sociedade em geral.
Dentre os destaques do conteúdo da PNRS, está a oficialização da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, ou seja, todos os atores sociais estão sujeitos ao
comprimento da Lei 12.305, sendo direto ou indiretamente responsáveis pela geração de resíduos,
bem como pela gestão destes. Quando questionados sobre a quem compete o dever de prevenção e
redução na geração de resíduos sólidos (Figura 3), averiguou-se que 95,38% dos respondentes
reconhecem que a responsabilidade é compartilhada, sendo assim, compete aos fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e ao poder público; 3,85% delegaram ao
poder público e cidadão e 0,77% acreditam que cabe apenas ao poder público.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 - Opinião sobre a quem compete a responsabilidade de prevenção


e redução na geração de resíduos sólidos.

Reconhecer que toda sociedade é responsável pela redução na produção de resíduos, pelo
descarte correto após o uso e por dar um destino ambientalmente adequado a estes, contribui para
reforçar a discussão de temas como a reavaliação dos padrões de consumo, reciclagem de materiais,
oportunidade de novos negócios com viés socioambiental, minimização dos impactos ambientais
relativo ao modo de vida atual e inclusão social (BRASIL, 2017).
Outro aspecto notório resultante da PNRS é a obrigação da implementação da coleta seletiva
(CS), sobretudo com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores por
parte dos municípios brasileiros, devendo constar nos planos municipais de gestão integrada de
resíduos sólidos. A coleta seletiva é um instrumento da PNRS fundamental para garantir
significativamente a minimização dos impactos ao ambiente, à saúde humana e a degradação dos
recursos naturais, além de contribuir para a consolidação do desenvolvimento sustentável no País.
Entretanto, um conjunto de fatores prejudicam a efetivação da CS no Brasil, dentre os
motivos listados aos entrevistados (Figura 4A), verificou-se que 48,46% acreditam que os principais
obstáculos são a ausência de campanhas de conscientização, separação incorreta dos materiais, falta
de políticas públicas e descarte dos materiais em locais inapropriados como terrenos baldios, rios,
etc; 33,08% atribui ao descarte indevido dos resíduos, falta de políticas públicas e de recipientes de
CS nas ruas, prédios públicos e privados, entre outros locais e, 18,46% a inexistência da abordagem
do tema em ambientes de ensino (infantil, fundamental, médio e superior.
Todas as razões elencadas pelos graduandos poderiam ser condições que dificultam o
processo de execução da CS, no entanto, a sequência mais correta é dada pelos motivos 2 (Fig. 4A),
uma vez que a ausência de campanhas educativas que abordem assuntos como importância da
coleta seletiva e reciclagem, dos possíveis danos causados por despejar os resíduos em qualquer
local, tornam o manejo dos resíduos ainda mais difíceis. Outro ponto refere-se a separação indevida
dos materiais, posto que no Brasil, o êxito das formas de CS existentes, porta-a-porta ou em Pontos
de Entrega Voluntária (PEVs), dependem da separação correta nos estabelecimentos comerciais e
nas residências. Finalmente, de nada adianta saber segregar se não tem à disposição dos cidadãos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

uma estrutura para coleta desses materiais, fato este que é consequência da falta ou ineficiência das
políticas púbicas.

A B

Figura 4 - (A) Motivos atribuídos como sendo obstáculos para efetivação da coleta seletiva no Brasil.
(Motivos1: Descarte indevido dos resíduos, falta de políticas públicas e de recipientes de CS nas ruas,
prédios públicos e privados, entre outros locais; Motivos 2: Ausência de campanhas de conscientização,
separação incorreta dos materiais, falta de políticas públicas, descarte dos materiais em locais inapropriados
como terrenos baldios, rios; Motivos 3: Inexistência da abordagem do tema em ambientes de ensino (infantil,
fundamental, médio e superior), separação incorreta dos materiais, falta de políticas públicas). (B) Estimativa
de produção individual de resíduos pelos alunos entrevistados, em média, por dia. (C) Separa corretamente
os resíduos que produz.

Buscando avaliar o quanto cada entrevistado gerava, em média, de resíduo (orgânico e


inorgânico) por dia (Figura 4B) e se os mesmos sabiam separar os materiais em sua residência
(Figura 4C), averiguou-se que a quantidade produzida foi dividida em 1kg (33,85%), estes valores
estão dentro da média nacional, 0,8kg (31,54%) e 0,6kg (30%) e uma porcentagem menor, 4,62%,
gera entorno de 1,5kg. As quantidades geradas pelos respondestes pode ser vista como uma pequena
amostra da realidade brasileira. O Brasil é considerado o terceiro maior produtor de resíduos sólidos
do mundo, e mesmo diante dos avanços, tem-se ainda que mais de 40% (equivalente a 80 mil
toneladas) de resíduos sólidos urbanos é diariamente destinado a lixões (BRASIL, 2014; ONU,
2016).
Com relação a separação dos resíduos, 77, 69% dos graduandos afirmaram não saber separar
os resíduos e somente 23,31% sabem segregar corretamente, conforme visto na Figura 4C. Várias
são as implicações ao misturar recicláveis secos (plásticos, vidros, metais, papéis) com orgânicos
(sobras de alimentos, cascas de frutas e legumes), dado que a reciclagem dos materiais secos se
torna mais onerosa ou até mesmo inviável, mediante a contaminação destes devido a característica
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de rápida biodegrabilidade dos orgânicos e pela dificuldade de separá-los conforme sua constituição
ou composição, considerando que o processo industrial para reciclagem de cada material é distinto.
Outro fator é que a não separação do que se considera reciclável, orgânico ou rejeito, impossibilita
também o aproveitamento dos materiais de origem orgânica para produção de adubo e a
funcionalidade da logística reversa (que é aplicada especialmente a resíduos como pilhas e baterias,
pneus, lâmpadas, eletrônicos).

PREOCUPAÇÃO E AÇÕES RELACIONADAS AOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Além dos aspectos ligados a PNRS buscou-se averiguar o nível de preocupação dos
respondentes com relação a problemática (impactos ambientais, sociais e econômicos) resultante do
excesso de resíduos sólidos produzidos (Figura 5A), e constatou-se que 92,31% demostraram-se
preocupados e 7,69% não sentem-se incomodados com a problemática em questão.

Figura 5 - (A) Preocupa-se com a problemática relacionada ao excesso de resíduos sólidos gerados. (B)
Pratica alguma ação que contribui para redução da quantidade de resíduos produzidos.

Averiguou-se também, que embora um percentual alto tenha demostrado interesse com a
temática, cerca de 53,08% dos alunos não praticam nenhuma ação que contribua para redução da
quantidade de resíduos sólidos gerados e 46,92% dos graduandos declararam que realizam alguma
ação, como pode ser visualizado na Figura 5B. Nota-se que os entrevistados são conscientes quanto
aos danos resultantes do grande volume produzido, porém parte destes não se sensibilizam,
deixando evidente que é preciso mais que apenas preocupar-se com os aspectos relativos a
problemática que abrange os resíduos sólidos, é necessário mudanças, principalmente, nos padrões
de consumo da população e sobretudo ações de educação ambiental para sensibilizar e direcionar
práticas a serem implementadas.
De acordo com Godecke, Naime e Figueiredo (2012) o consumismo influência de maneira
indireta a depleção ambiental ao acelerar a extração dos recursos na natureza utilizados nos
processos de produção e diretamente, ao devolver ao meio ambiente volumes de resíduos em
quantidades superiores às que acontecem num cenário de consumo consciente. Os autores ressaltam
ainda que as consequências ao interferir nos serviços ecossistêmicos vão gradativamente reduzindo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a qualidade de vida dos seres vivos, mediante doenças, extremos climáticos, perdas na produção de
alimentos, disponibilização de água, etc.

RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS (RSO)

Quando se trata de resíduos sólidos, os orgânicos, provenientes de diversas atividades,


compõem de maneira significativa (aproximadamente 50%) os volumes de resíduos sólidos gerados
no Brasil. Através da Figura 6A observa-se que 72,31% dos respondentes afirmam conhecer os
impactos ambientais e socioeconômicos decorrentes do descarte inadequado dos RSO. No entanto,
do percentual que declarou conhecer as consequências, apenas 37,1% realmente identificaram todos
os problemas; cerca de 45,7% identificaram parcialmente e 17% não souberam indicar
corretamente, como pode ser observado na Figura 6B.

A B

Figura 6 - (A) Conhecimento sobre os problemas resultantes da disposição inadequada dos resíduos sólidos
orgânicos e (B) identificação (ID) dos danos pelos respondentes que afirmaram conhecer os problemas.

A disposição inadequada de RSO no ambiente gera problemas ambientais, sociais e


econômicos de grande impacto, tais como: poluição do solo e da água, devido à produção de
chorume; poluição do ar, mediante à liberação de gases tóxicos; perda expressiva de grande
quantidade de recicláveis; proliferação de vetores, como baratas, moscas, ratos e outros animais
infectados, que podem comprometer a saúde e a qualidade de vida (ISMAEL et al., 2013; COTTA
et al., 2015).
O desconhecimento desses danos agrava ainda mais as questões que envolvem a disposição
correta destes resíduos pois; dificulta a implementação de ações como coleta seletiva; prejudica o
trabalho de catadores; contribui para redução da vida útil de aterros sanitários e limita a prática da
utilização de métodos de tratamentos destes.
Com intuito de averiguar qual técnica de tratamento de RSO era mais conhecida ou mais
mencionada no meio acadêmico, foram listados aos graduandos três métodos e constatou-se que a
compostagem é o processo mais difundido, sendo indicado por 73,85%; seguido da biodigestão
anaeróbica ou aeróbica com 16,15%; a vermicompostagem foi a técnica menos conhecida (5,38%),

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

notou-se ainda, que 4,62% dos universitários desconhecem técnicas de tratamento de RSO (Figura
7).

Figura 7 - Método de tratamento de resíduos sólidos orgânicos que mais conhece ou ouviu falar.

O fato da compostagem ter se destacado como a técnica mais conhecida, deve-se


provavelmente, em razão desta ser o único método definido na Política Nacional de Resíduos
Sólidos como forma adequada de disposição dos RSO, logo é mais difundida em virtude da
imposição da Lei. Além de ser considerada um dos processos mais antigos, de baixo custo
operacional e simples execução.
Esse resultado reforça a necessidade de estudos que contribuam para a consolidação das
demais técnicas (biodigestão anaeróbica ou aeróbica e vermicompostagem) como ferramenta de
gestão de resíduos de natureza orgânica, principalmente, pelo fato de no Brasil cerca de 51,4% dos
resíduos sólidos gerados serem constituídos de matéria orgânica conforme menciona Costa et al.
(2015) e existirem apenas unidades de compostagem, e estas correspondem a somente 3,79% das
formas de destinação final (IBGE, 2010). Ressalta-se que não existe a melhor alternativa de
tratamento, e sim a melhor solução mediante a fatores como área, recursos e tecnologia disponível,
do mesmo modo que aspectos relativos a quantidade e as características dos resíduos orgânicos
(teor de umidade, nutrientes).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se constatar por meio desta pesquisa, que a temática referente a resíduos sólidos nem
sempre é tratado como um assunto relevante, que merece destaque em virtude dos impactos
negativos ao meio ambiente. E que até mesmo em ambientes de ensino superior existem desafios
enormes a serem superados, principalmente, no que refere-se a fatores relacionados ao conteúdo e
relevância da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A falta de sensibilidade as questões pertinentes aos resíduos sólidos, a dificuldade de
compreensão de alguns aspectos como importância da coleta seletiva, da separação correta de
materiais, dos danos decorrentes da má gestão dos resíduos de origem orgânica e da urgência na
mudança dos padrões de consumo, contribuíram para reafirmar a necessidade de se implementar a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

educação ambiental como um instrumento indispensável para a construção de valores sociais e para
o desenvolvimento de uma consciência crítica capaz de modificar ações e hábitos, de modo que
reduza os problemas associados a geração de resíduos sólidos e garanta o bem estar das gerações
presentes e futuras. São necessárias ações que sejam direcionadas para promover o
desenvolvimento sustentável do país, devendo inclusive ser aplicado nos primeiros períodos de
formação do cidadão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA PARA PREPARAÇÃO DE PEÇAS


ESQUELÉTICAS DIDÁTICO-CIENTÍFICAS

Sidney Saymon Cândido BARRETO


Mestrando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
sidneysaymon@live.com
Osmario Dantas WANDERLEY
Licenciado em Ciências Agrárias à Distância na Universidade Federal da Paraíba
odw@ig.com.br
Anderson Carlos de Melo GONÇALVES
Mestrando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
anderson.agroufpb@yahoo.com
Eduardo Vieira RODRIGUES
Mestrando em Agronomia na Universidade Federal da Paraíba
rodrigues_1410@hotmail.com

RESUMO
A utilização de esqueletos em atividades didático-científicas é de fundamental importância, pois
fornecem informações seguras sobre as adaptações específicas dos vertebrados. O preparo adequado
dessas peças anatômicas é de alta relevância, no entanto, no processo para se obter uma peça
esquelética de alta qualidade faz-se necessário o uso de grande quantidade de água. Diante disso, o
objetivo deste trabalho foi adaptar e avaliar um sistema hidráulico para preparação de peças
esqueléticas com reaproveitamento de água. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de
Anatomia Animal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, localizado
na cidade de Areia, Paraíba, Brasil. Foram realizadas estimativas para quantificar a quantidade de
água desperdiçada, elaboração de projeto hidráulico com orçamento, comparações entre os métodos
quanto à qualidade e o tempo de preparo das peças e a descrição da técnica de maceração óssea com
água de reuso. Os resultados constaram que a quantidade de água que era desperdiçada foi de 800
litros ao mês, o projeto hidráulico ficou orçamentado em R$ 82,00 no mercado local, a qualidade
das peças não foi alterada quando comparada ao não reuso de água, o tempo de preparo das peças
foi superior cerca de 8 dias quando considerado o reuso de água e a descrição da técnica de
maceração óssea em água corrente consistiu-se em acomodar as peças dentro de um recipiente,
cobrindo com lona, presa por uma liga. A água do recipiente constantemente era renovada
utilizando água de reuso oriunda do lavatório lava-olhos. Conclui-se que o método adaptado de
maceração óssea com água de reuso foi significativo por reduzir o desperdício de água potável e
principalmente por eliminar odores desagradáveis no ambiente de trabalho do Laboratório de
Anatomia Animal.
Palavras-chave: Reuso de água; Anatomia Animal; Maceração óssea.
ABSTRACT
The use of skeletons in educational and scientific activities is of fundamental importance because
they provide reliable information on the specific adaptations of vertebrates.
The proper preparation of these anatomical pieces is of high relevance, however, in the process to
obtain a high quality skeletal piece it is necessary to use a large amount of water. Therefore, the
objective of this work was to adapt and evaluate a hydraulic system for the preparation of skeletal
parts with water reuse.. The study was conducted at the Animal Anatomy Laboratory of

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Agricultural Sciences Center of the Federal University of Paraíba, located in Areia, Paraíba, Brazil.
Estimates were made to quantify the amount of wasted water, hydraulic design with budget,
comparisons between the methods on the quality and time of preparation of the pieces and the
description of the technique of bone maceration with reuse water. The results showed that the
amount of water that was wasted was 800 liters per month, the hydraulic project was budgeted at R$
82.00 in the local market, the quality of the pieces was not altered when compared to the non-reuse
of water, the time of preparation of the pieces was superior about 8 days when considered the reuse
of water and the description of the technique of bone maceration in running water consisted in
accommodating the pieces inside a container, covering with canvas, fastened by a garter. The water
in the container was constantly being refilled using reuse water from the eye-wash basin. It is
concluded that the adapted method from bone maceration with reuse water was significant to reduce
the drinking water and mainly by eliminating unpleasant odors in the working environment of the
Animal Anatomy Laboratory.
Keywords: Water reuse; Animal anatomy; Bone maceration.

INTRODUÇÃO

O uso de esqueletos auxilia nas atividades científicas e didáticas, fornecendo informações


seguras sobre as adaptações específicas dos vertebrados como, por exemplo, sustentação, postura e
modo de locomoção (HILDEBRAND e GOSLOW, 2006). O preparo adequado de peças
anatômicas é de fundamental importância, pois por meio delas podem-se adquirir peças ósseas de
qualidade, mais propícias para estudos anatômicos e uso didático.
Segundo Rodrigues (2005), para obter uma limpeza do esqueleto podem ser utilizados os
processos químico, biológico e mecânico. A maceração por processos químicos são, geralmente, os
mais agressivos, porém possibilitam a obtenção mais rápida de resultados, é feita através de
produtos que agem especificamente a retirar a carne e a gordura dos ossos. O processo biológico
consiste em submergir o espécime em água num recipiente deixando-o sob a ação de bactérias e
insetos como Cirolana (PACKARD, 1959) e Dermestes (HILDEBRAND, 1968; MAIORANA e
VALEN, 1985; LADEIRA e HÖFLING, 2007; CALONGE-MÉNDEZ e HÖFLING, 2007) e
também substâncias orgânicas, como, por exemplo, o suco do mamão (BALANDRIN et al., 1985;
BAKER et al., 2003; DAVIS e PAYNE, 2003), esses aceleram o processo de decomposição dos
tecidos moles. Os processos mecânicos são aqueles que eliminam gordura, músculos e cartilagens
manualmente, com auxílio de instrumentos como pinças e bisturis.
Rodrigues (2005) desenvolveu uma técnica de maceração em água corrente que baseia-se
primeiramente na aquisição de vasilhames ou cubas de maceração, ou ainda de pequenos tanques
construídos em alvenaria ou outro material. As medidas indicadas para as cubas são 50 cm de
largura, 50 cm de comprimento e 80 cm de profundidade, e outra maior de 180 cm de comprimento.
Dois canos devem ser instalados nestas cubas: um no fundo, por onde entrará a água corrente, e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

outro próximo à borda, por onde a água escoará. Para cada cuba é recomendável a instalação de um
registro para entrada e outro para saída de água.
A água deve ser continuamente renovada para que os ossos fiquem claros, o que torna
demorada a maceração. A não renovação favorece a rápida putrefação, com os inconvenientes de
maior proliferação bacteriana e também de larvas e insetos, produzindo odor desagradável. Após
alguns dias de maceração, as peças são retiradas uma a uma, passando por uma limpeza mais fina,
tirando-se o periósteo, restos de tendões e cápsulas articulares para que a maceração se processe
mais satisfatoriamente e a saída de gordura seja facilitada.
Estes tipos de técnicas anatômicas para maceração óssea, devem seguir algumas etapas.
Inicialmente, deve-se evitar o uso de ossos de animais que tenham tido como causa da morte
enfermidades ósseas, pois as mesmas podem descaracterizar as estruturas morfológicas originais. O
próximo passo seria o descarnamento, o qual consiste na retirada da tela subcutânea e músculos,
evitando danificar as superfícies ósseas. Esta etapa é realizada com o auxílio de instrumentos
cirúrgicos de dissecção (AURICCHIO e SALOMÃO, 2002).
No processo de limpeza da peça requer uma certa quantidade de água, tendo em vista que as
peças são lavadas em água corrente por alguns minutos para que o excesso de sangue acumulado
durante o descarne seja removido, em seguida são lavadas cuidadosamente em água corrente e
limpas com auxílio de bisturi e tesoura. Em seguida, as peças são submersas em recipiente com
água limpa para eliminação total por putrefação do restante de músculos e ligamentos que
perdurarem, a água desse recipiente deve ser continuamente renovada para que os ossos fiquem
claros, o que torna demorada a maceração. A não renovação favorece a rápida putrefação, com os
inconvenientes de maior proliferação bacteriana e também de larvas e insetos, produzindo odor
desagradável por todo o ambiente do laboratório, deixando-o em condições impróprias para
trabalho. Os ossos gordurosos podem manchar-se quando em contato com o ar, o que será evitado
deixando-se a peça completamente submersa.
Verificou-se que havia um desperdício de água limpa pelo lavatório denominado lava-olhos
(pia usada para lavar os olhos de alunos, técnicos ou professores, quando ficam irritados com
vapores de formol), água a qual podia ser reaproveitada de alguma forma por não haver o uso de
nenhum produto de limpeza convencional (detergente, desinfetante, etc), diante desta iniciativa foi
realizado uma reunião junto aos responsáveis do Laboratório, para informar uma possível solução
para o problema do desperdício da água e do odor desagradável oriundo do processo de maceração
óssea.
O reuso de água é uma alternativa que cada vez mais vem sendo utilizada para compatibilizar
a relação demanda/oferta de água e que constantemente vem apresentando tecnologias avançadas e
adequadas para sua utilização. Através desta alternativa firma-se um novo conceito de que a água

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

depois de utilizada não pode ser mais descartada, sua adaptação a um novo uso (mediante um
tratamento adequado) pode colaborar na redução de escassez hídrica (SILVA et. al., 2012).
Sabendo-se da alta quantidade de água que não é reaproveitada e pela expressiva demanda por
peças anatômicas para utilização em aulas práticas no Laboratório de Anatomia Animal do Centro
de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, objetivou-se adaptar e avaliar uma técnica
de maceração óssea para preparo de peças anatômicas a partir do reuso de água.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido entre maio e julho de 2017 no Laboratório de Anatomia Animal
do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado no
município de Areia - PB, cidade inserida na mesorregião do Agreste Paraibano, na microrregião do
Brejo Paraibano, possuindo área de 269 km². A sede do município encontra-se a 618 m de altitude,
com a posição geográfica determinada pelo paralelo de 6° 57‘48‖ de latitude sul em sua interseção
com o meridiano de 35°41‘30‖ de longitude Oeste (SILVA, 2006).
Para o desenvolvimento deste estudo foram feitas visitas exploratórias em torno do local de
estudo, buscando identificar uma técnica adequada, econômica e eficaz. Em concomitância, foi feito
um levantamento bibliográfico sobre a questão do reuso de água, como também de observações no
processo de maceração óssea atualmente utilizada no laboratório, processo que se baseia
inicialmente pela obtenção das peças, estas oriundas de cadáveres de vertebrados doados pelo
Hospital Veterinário, setores de bovinocultura, caprinocultura e suinocultura do CCA/UFPB. Todas
as peças anatômicas utilizadas foram submetidas a processos manuais de descarne para retirada do
excesso de músculos, gordura, nervos e ligamentos, utilizando-se pinças, bisturis e tesouras.
Na recepção da peça, as mesmas foram lavadas em água corrente durante o tempo suficiente
para que o excesso de sangue acumulado durante o descarne fosse removido. Em seguida, foram
lavadas cuidadosamente em água corrente e limpas com auxílio de bisturi e tesoura. Logo após, as
peças foram submersas em recipiente com água limpa para eliminação total por decomposição do
restante de músculos e ligamentos remanescentes. A água desse recipiente foi continuamente
renovada para que os ossos ficassem claros, o que torna demorada a maceração. A não renovação
favorece a rápida decomposição, com os inconvenientes de maior proliferação bacteriana e também
de insetos, produzindo odor desagradável por todo o ambiente do laboratório, deixando-o em
condições impróprias para trabalho.
Após alguns dias de maceração, as peças foram retiradas uma a uma, passando por uma
limpeza mais fina, tirando-se o periósteo, restos de tendões e cápsulas articulares para que a
maceração se processe mais satisfatoriamente e a saída de gordura fosse facilitada. Após todas essas
etapas, as peças são analisadas para utilização no preparo de esqueletos para uso didático.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Verificou-se que este processo supracitado desperdiçava muita água por causa das renovações
periódicas e que havia um desperdício de água limpa pelo lavatório denominado lava-olhos (pia
usada para lavar os olhos de alunos, técnicos ou professores, quando ficam irritados com vapores de
formol), água a qual podia ser reaproveitada de alguma forma por não haver o uso de nenhum
produto de limpeza convencional (detergente, desinfetante, etc). Diante desta iniciativa foi realizada
uma reunião junto aos responsáveis do Laboratório, para informar uma possível solução para o
problema do desperdício da água e do odor desagradável oriundo do processo de maceração óssea.
As avaliações e elaborações realizadas foram: Para estimar a água desperdiçada no processo
de maceração anterior, mediu-se com um recipiente de volume conhecido o volume de água gasto
durante uma renovação de água da bacia de descanso e multiplicou-se pela quantidade de
renovações durante o mês; Para elaboração do desenho projeto hidráulico foi utilizado o software
Paint da Microsoft®, que viabilizou a captação e o armazenamento adequado do efluente
desperdiçado para posterior utilização para o processo de maceração óssea; Para elaborar o
orçamento com os custos necessários para sua implantação, fez-se o levantamento de todos os
materiais utilizados a partir do desenho do projeto hidráulico; Para avaliar a qualidade das peças
mediante apreciação visual e comparativa com peças consideradas de alta qualidade que possuem
todas as estruturas ósseas preservadas já existentes no Laboratório de Anatomia Animal; Para a
determinação do tempo de preparo mediu-se o tempo em dias para a completa finalização das peças
do método anterior (maceração em água corrente) e do método desenvolvido no laboratório
(maceração em água corrente de reuso) e ao termino do estudo foi elaborado de forma descritiva a
metodologia da técnica de maceração óssea com água de reuso, a qual foi uma adapatação de
Rodrigues (2005), objetivando principalmente a reutilização da água oriunda do lavatório lava-
olhos, servindo de modelo a ser reproduzido por outros laboratórios de anatomia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estimou-se a água desperdiçada durante o período de um mês, de 1 de maio a 1 de junho de


2017, tomando o cuidado de medir o volume de água necessária todas as vezes que tinha a
necessidade de renovação de água, constatou que cada renovação de água gastava um volume de
100 litros e que a quantidade de renovações por mês eram de cerca de 8, totalizando uma economia
mensal de 800 litros de água potável por mês que era desperdiçado.
A água do lavatório lava-olhos foi incorporada ao processo de maceração óssea, contribuindo
assim sustentavelmente com o meio ambiente e agregando conhecimento interdisciplinar a
formação pessoal, por gerar conhecimento com relação a gestão de recursos hídricos, elaboração de
projeto, orçamento hidráulico e reutilização de água.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os estudos realizados com este trabalho resultaram em um projeto hidráulico (Figura 1), que
consiste na instalação de uma tubulação que liga o lava-olhos a parte inferior de um tambor com
capacidade para 200 litros de água e outra tubulação na parte mediana do tambor para a saída da
água para a caixa de esgoto.

Figura 1. Projeto hidráulico para maceração óssea com reuso


de água corrente.

A tabela 1 especifica detalhadamente todo o material necessário para a construção do


equipamento utilizado para o processo de maceração óssea em água corrente de reuso, incluindo o
valor unitário de cada um, a quantidade necessária e o valor total a ser utilizado foi de R$ 82,00 no
mercado local.

Item Unidade Quantidade Unitário* Subtotal


Tubo PVC 32 mm m 1 R$ 4,00 R$ 4,00
Tubo PVC 20 mm m 3 R$ 2,00 R$ 6,00
Luva PVC 32 mm u 1 R$ 0,80 R$ 0,80
Luva PVC 20 mm u 1 R$ 0,30 R$ 0,30
Joelho PVC 20 mm u 3 R$ 0,30 R$ 0,90
Tambor Plástico de 200 L u 1 R$ 70,00 R$ 70,00
Total R$ 82,00
Tabela 1. Descrição do material para a construção das instalações para maceração óssea com reuso de
água corrente. * Valor de mercado no dia 26/08/2017

Quanto à qualidade das peças anatômicas foi constatado visualmente e por comparação, que
não houve diferença entre as peças oriundas da maceração em água corrente de reuso e a maceração
em água limpa corrente. No entanto, o tempo de maceração em água corrente foi mais prolongado.
A maceração em água limpa corrente em média gastou cerca de 22 dias para sua finalização e a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

maceração em água corrente de reuso gastou em média 30 dias, verificou-se então que houve uma
diferença de 8 dias entre os métodos. Todavia, devido a outras vantagens, onde uma delas foi a total
eliminação do odor no laboratório, o qual causa transtorno a quem o utiliza, como funcionários,
professores e alunos, esse método pode ser considerado adequado.
A técnica de maceração óssea em água corrente de reuso do Laboratório de Anatomia Animal
do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, foi denominada MOAR
(Maceração óssea com água de reuso) e de maneira geral consistiu-se em acomodar as peças dentro
de um recipiente, cobrindo com lona, presa por uma liga (Figura 2A). A água do recipiente
constantemente era renovada utilizando água de reuso oriunda do lavatório lava-olhos do
laboratório, eliminando assim o recipiente de descanso das peças e consequentemente a água
utilizada no processo dentro do laboratório, juntamente com suas inconveniências, como dos odores
procedentes da decomposição das peças. Logo após as peças estarem totalmente maceradas, as
mesmas eram retiradas do recipiente e limpas (Figura 2B), em seguida fez-se a separação dos ossos
(Figura 2C) para iniciar o processo de montagem (Figura 2D), produzindo assim peças esquelética
didático-científicas de alta qualidade (Figura 2E).
Tendo em vista que antes deste projeto, a maceração de peças anatômicas processadas no
laboratório de anatomia animal consistia na colocação de estruturas ósseas dentro de um tanque
com água para a decomposição das estruturas musculares. O tanque não tinha vedação na tampa,
produzindo odores desagradáveis e capazes de deixar o ambiente insuportável. Outro problema
existente que afetava todo o laboratório de Anatomia Animal era a falta de higiene provocada pelo
tanque de maceração.

Figura 2. Processo de preparo de peças esqueléticas didático-científicas pelo


método de maceração óssea com água de reuso: (A) Acomodação das peças dentro
do recipiente cobrindo com lona, presa por uma liga; (B) Limpeza dos ossos após
maceração; (C) Separação dos ossos para montagem; (D) Montagem das estruturas
ósseas; e (E) Esqueleto didático-científico finalizado.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONCLUSÃO

Mediante os resultados encontrados, pôde-se concluir que: 1. O preparo de peças esqueléticas


didático-científicas com o reuso de água é viável e de baixo custo; 2. Possibilita a redução no
consumo de água no processo de maceração; e 3. Diminui os odores desagradáveis no laboratório.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 518


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

LOGÍSTICA REVERSA DO ÓLEO DE COZINHA SATURADO EM ESCOLA PÚBLICA

Simone Moraes STANGE


Doutoranda da Universidade Federal de São Carlos32
simonestangue@gmail.com
Julio Cesar STIIRMER
Doutor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
juliocs@utfpr.edu.br
Thales Liebl MIRANDA
Graduando da Universidade do Contestado– Mafra-SC33
thaleslieblmiranda@yahoo.com.br
Lucca Krause SAROT
Graduando na Universidade do Contestado – Mafra-SC34
sarotlucca@gmail.com

RESUMO
Propõe-se como um relato de experiência da aplicação de uma logística reversa do óleo de cozinha,
considerando tal logística como instrumento didático no ensino de educação ambiental em escola
pública, explicitando, enquanto Programa de Educação e Conscientização Ambiental, todos os
malefícios causados ao meio pelo descarte incorreto do óleo de cozinha. Metodologicamente, foram
realizadas palestras e divulgação de materiais gráficos no sentido de estimularem os alunos a
contribuírem coletando o óleo de fritura de suas casas para que, posteriormente, o teor armazenado
tivesse uma destinação correta. A experiência foi realizada em parceria com a Associação dos
Fumicultores do Brasil (Afubra) que transforma este óleo saturado em biodiesel, possibilitando,
ainda a diminuição da produção de combustíveis fósseis. Após quatro meses de aplicação do
programa de coleta e armazenamento – centralizados na Escola de Educação Básica "Barão de
Antonina", na cidade de Mafra, no estado de Santa Catarina, no ano de 2017, foi computada a
quantia de 319 litros de óleo, provenientes da adesão de 544 alunos (e suas respectivas famílias) do
ensino médio ao programa.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Produção de Biodiesel, Óleo saturado, Reciclagem.
ABSTRACT
It is proposed as an experience report of the application of a reverse logistics of cooking oil,
considering such logistics as a didactic instrument in the teaching of environmental education in
public schools, explaining, as an Education and environmental awareness program, all the damages
caused to the environment By improper disposal of cooking oil. Methodologically, lectures and
dissemination of graphic materials were carried out in order to stimulate the students to contribute
by collecting the frying oil from their homes so that, subsequently, the stored content had a correct
destination. The experiment was carried out in partnership with the Association of Tobacco
Growers of Brazil (Afubra), which transforms this saturated oil into biodiesel, making it possible to
reduce the production of fossil fuels. After four months of application of the collection and storage
program - centralized at the "Barão de Antonina" School of Basic Education, in the city of Mafra, in

32
E Escola de Educação Básica ―Barão de Antonina‖.
33
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Universidade do Contestado– Mafra-SC.
34
Bolsa de Pesquisa Art. 170 da Universidade do Contestado – Mafra-SC.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 519


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

the state of Santa Catarina, in 2017, the amount of 319 liters of oil was computed, From the
enrollment of 544 students (and their respective families) from high school to the program.
Keywords: Environmental Education, Biodiesel Production, Saturated Oil, Recycling.

INTRODUÇÃO
O mundo contemporâneo está se tornando agressivamente urbanizado, se consideramos
todos os impactos que os processos de produção e consumo de bens tem causado no sistema
terrestre enquanto ambiente natural. Desta forma considera-se relevante – para não dizer essencial -
perceber como minorar tais impactos, com o intuito de transformar não só as cidades, mas também
o planeta, em um lugar não só mais agradável, mas também saudável e seguro para se viver,
reduzindo os efeitos indesejados na biosfera (ROSA; FRACETO; MOSCHINI-CARLOS, 2012).
O resíduo do óleo de cozinha, proveniente dos processos de produção alimentar em
moradias, comércios e indústrias – seja em âmbito local ou global - é um item potencialmente
poluidor, sobretudo quando descartado de maneira inadequada, sendo necessárias alternativas, ao
ver desse trabalho, que possibilitem sua reciclagem que, não só é passível de promover o equilíbrio
na esfera ambiental, mas, também em relações de ordem econômica, política, cultural e social.
Este artigo tem o propósito de relatar os procedimentos adotados, em nível de Educação
Ambiental no ensino público, para promover o descarte/reuso do óleo de cozinha, conduzindo sua
manipulação de forma sustentável. Enquanto projeto de pesquisa, propôs-se a investigar: Quais os
procedimentos pedagógicos mais adequados para estimular o processo de coleta e armazenamento
do óleo de cozinha objetivando assegurar um uso sustentável do que se poderia denominar como
―refugo doméstico‖, uma vez que os principais agentes a serem estimulados a executarem tais
processos pertencem ao âmbito domiciliar de alunos em fase de formação escolar.
O gatilho para proposição desse projeto foi a percepção de uma grande falta de
conhecimento dos alunos, e seu entorno, sobre as formas de reciclagem do óleo de cozinha em
grande escala35, despertando um interesse acadêmico em pesquisar sobre o tema no intuito de
dinamizar um processo de multiplicação dessa consciência do problema ambiental a partir da
sensibilização dos alunos de ensino médio público.
Um interesse adicional foi o de dar continuidade ao programa de coleta e produção de
biodiesel por meio da logística reversa do óleo saturado – projeto realizado em parceria com
Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) -, percebeu-se uma boa oportunidade para se
levantar assuntos relevantes sobre o tema de forma didática, possibilitando a abordagem e o
entendimento de conceitos tais como meio ambiente, sustentabilidade, reuso, reciclagem, termos em
ampla transitação no meio social contemporâneo.

35
No Estado de São Paulo, um reuso comum do óleo de cozinha saturado, relativamente em baixa escala, é a produção
de sabão em barra, no espaço doméstico.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O objetivo geral da pesquisa foi, portanto, oportunizar o embate prático sobre a cultura do
uso sustentável de rejeitos líquidos, no que concerne ao processo de coleta, armazenamento e
destinação do óleo saturado. Como objetivo específico, buscou-se: conscientizar, por meio de
palestras expositivas, as consequências do descarte inadequado do óleo de cozinha no meio
ambiente; promover o reconhecimento dos danos causados ao meio ambiente pela manutenção
contínua da prática de descarte incorreto; oportunizar o exercício de campanhas de coleta do óleo de
cozinha no eco ponto da Escola de Educação Básica Barão de Antonina; Pesquisar os produtos
finais provenientes da reciclagem do óleo de cozinha.

REFERENCIAL TEÓRICO

Dois conceitos parecem passíveis de abordagem nessa seção: a questão da Educação


Ambiental; e a do Meio Ambiente e Sustentabilidade. Tais conceitos foram apresentados nas
subseções a seguir, buscando-se descrever as bases pelas quais os mesmos foram introduzidos como
temas importantes no desenvolvimento de uma noção tão cidadã quanto subjetiva do indivíduo em
formação (aluno e indivíduos a ele adjacentes).
Considera-se pertinente observar que definições acerca do rejeito líquido Óleo de Cozinha
foram consideradas um desdobramento do tema da Poluição do Meio Ambiente, sendo inserido
tanto o conceito Óleo de Cozinha quanto termos a ele adjacentes. Tais desdobramentos se deram
enquanto resultantes do uso inadequado do rejeito ou como processos de viabilização de seu reuso.

Educação Ambiental
Na acepção desse trabalho, a Educação Ambiental (EA) deve ser trabalhada de forma
interdisciplinar, acompanhando a didática em todos os níveis de formação educacional e
profissional, fortalecendo a ideia de que a integração de saberes na construção do indivíduo é uma
exigência cada vez mais premente nos tempos atuais, estimulando a manutenção de uma atenção
ativa e criticamente abrangente, capaz de observar e identificar a relação entre campos do
conhecimento, e setores de atuação social cidadã, inclusive com a tomada de consciência com os
problemas do meio ambiente, buscando manter, conservar e preservar os recursos naturais de uma
forma sustentável.
Conforme Macedo e Ramos (2015, p. 43):

Em 1987, a UNESCO definiu a educação ambiental como sendo um processo através do


qual os indivíduos devem tomar consciência do seu próprio contributo para com o
ambiente, adquirindo conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação
que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na procura de soluções para os
problemas ambientais, presentes e futuros.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ainda em relação ao conceito de EA, a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu


artigo 1, complementa a definição dos autores acima citados, da seguinte maneira:

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).

Análises mais recentes, de Schmidt et al. (2011), afirmam que a Educação Ambiental (EA)
deve ser compreendida como um processo de aprendizagem permanente que se deve manter ao
longo da vida do cidadão. Contrariamente a essa preconização, no entanto, ocorre basicamente nas
escolas e raramente envolve a comunidade que vive ao redor destas, cabendo, portanto, a busca de
aproximação entre esses dois sistemas – comunitário e escolar. Observa-se, ainda, que o Brasil é um
dos poucos países onde o processo de educação ambiental encontra-se sistematizado e, por meio de
processos colegiados, lhe são definidas políticas, objetivos, princípios, com as respectivas
recomendações de aplicação pelo IBAMA (INSTITUTO..., 2017).
Para Fracalanza et al. (2008, p. 4):

[...] a realização de práticas de Educação Ambiental, no âmbito da educação escolarizada,


entre outros aspectos, depende de uma adequada formação de profissionais para o
magistério. E, deve-se convir, face à diversidade de propostas de Educação Ambiental, a
formação adequada do professor necessita, também, de acesso às informações disponíveis e
sistematizadas pela produção acadêmica e científica.

Por isso, torna-se imprescindível que a Universidade proponha, durante a trajetória


acadêmica do aluno, estudos sobre práticas e processos formativos, relacionados aos sujeitos e aos
contextos socioculturais da EA, tendo em conta a capacitação do professor como profissional
reflexivo, para que este possa estar apto para enfrentar situações múltiplas que perfazem os
procedimentos do ensinar e aprender no cotidiano que versa a constante preocupação e atuação com
as questões do meio ambiente.

Meio Ambiente e Sustentabilidade


A partir do final do século XX, a preocupação com questões ambientais atingiu todos os
âmbitos da sociedade: econômico, científico, social e tecnológico. A constatação de problemas
como redução da camada de ozônio, efeito estufa, mudanças climáticas, diminuição da
biodiversidade e contaminação dos solos, ar e da água de rios e de oceanos evidenciaram a
existência de uma crise ecológica no planeta (DIAS, 2014) – em contrapartida a esse
reconhecimento, grupos científicos (ainda que em menor escala) advogam haver uma ―visão
alarmista‖ em torno do assunto36.

36
Ricardo Augusto Felício, climatologista da USP é um dos mais recentes porta-vozes que tem ganhado holofotes nessa
controvérsia, razão pela qual se considera necessário o desenvolvimento de um senso critico mais apurado para contra
argumentar-se a esse tipo de discussão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Reigota (2004, p. 14) define Meio Ambiente como: ―[...] o lugar determinado ou percebido,
onde os elementos naturais e sociais estão em relação dinâmica e em interação.‖ (p. 14),
implicando: ―[...] processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de
transformação do meio natural e construído.‖ (p. 14). Nesses termos, meio ambiente não é
considerado apenas como meio natural, mas também como resultante da interação do meio biótico e
abiótico, sendo o tempo sócio-histórico determinante desse espaço.
Barbieri (2006, p. 2) define meio ambiente com maior sofisticação linguística,
considerando-o:

[...] tudo o que envolve ou cerca os seres vivos. A palavra ambiente do latim e o prefixo
ambi dá a ideia de ‗ao redor de algo‘ ou de ‗ambos os lados‘. O verbo latino ambire
significa ―andar em volta ou em torno de alguma coisa‖. Assim por meio ambiente se
entende o ambiente natural e artificial, isto é, o ambiente físico e biológico originais e o que
foi alterado, destruído e construído pelos humanos, com as áreas urbanas, industriais e
rurais. Esses elementos condicionam a existência dos seres vivos, podendo-se dizer,
portanto, que o meio ambiente não é apenas o espaço onde os seres vivos existem ou
podem existir, mas a própria condição para a existência de vida na Terra.

A condição de ―destruição‖ do meio ambiente pela ação humana reside, sobretudo, no


fenômeno de poluição. A Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981) define poluição
como: ―[...] a degradação da qualidade ambiental [...]‖ (p. 1), que resulta de forma direta ou indireta
de atividades que: ―[...] a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem
condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d)
afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos [...]‖ (BRASIL, 1981, p. 1).
Em 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência de
Desenvolvimento e Meio Ambiente das Nações Unidas conhecida como ECO 92, a qual discutia
como o mundo poderia mudar em direção ao desenvolvimento sustentável. Nesta conferência foram
produzidos importantes documentos, sendo um deles a Agenda 21, documento que procura
estabelecer um consenso global e um compromisso político em torno do estímulo às soluções dos
problemas ambientais, e de um desenvolvimento sustentável37 (MALHEIROS; PHILIPPI JUNIOR;
COUTINHO, 2008).

Impactos do óleo de cozinha no meio ambiente

No tocante ao tema de Poluição, o recorte desse trabalho se dará pela consideração de um


resíduo líquido de uso em vários ambientes, mas que será enfocado a partir do seu uso doméstico: o
óleo de cozinha, proveniente de residências. Em sua maior abrangência, Zucatto, Welle e Silva

37
Desenvolvimento sustentável consiste - em conformidade com o Relatório Brundtland e na leitura de Torres e Cervi
(2005, p. 25 apud POVALUK, 2015, p. 39) - no: ―[...] atendimento das necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(2013) – incluindo os espaços do comércio e da indústria como setores de uso e descarte –


consideram-no um item potencialmente poluidor quando descartado de maneira inadequada. Os
autores salientam a necessidade de alternativas que possibilitem a sua reciclagem, promovendo-se a
diminuição dos impactos sofridos nos âmbitos ambiental (contaminação do solo), econômico
(custos na reversão de danos) e social (riscos à saúde).
Conforme Santos et al. (2017): ―Com o aumento da escassez de água, a poluição provocada
pelo óleo de cozinha começa a ser mais debatida, uma vez que a solução para o problema não
depende de grandes investimentos, mas de mudanças de hábito e ações de organizações que deem
destinação apropriada para o material.‖ (p. 66). Logo, é oportuno ressaltar que o uso de recursos
hídricos é um fator preponderante nessa questão.
De acordo com o Programa de Gestão Ambiental (PGA) (BRASIL, 2012b), do Ministério
Público Federal, um litro de óleo de cozinha, depois de utilizado, contamina um milhão de litros de
água – o suficiente para uma pessoa usar durante 14 anos. Essa desconcertante realidade carrega em
si, ainda, um caráter destrutivo à vida, pois, o óleo impedindo a troca de oxigênio, mata seres vivos,
plantas e microrganismos. Além disso, impermeabiliza o solo, contribuindo para as enchentes.
Adicionando-se, ainda que, ao passar pelo processo de decomposição junto a outras matérias
orgânicas, gera formação de metano que possui mau cheiro e é o principal gás contribuinte do
aquecimento global (ÓLEO..., [s.d.]).

Destino do óleo de cozinha

O descarte do óleo de cozinha saturado não deve ser feito no ralo da pia, no vaso sanitário e
nem com o lixo orgânico, pois esses destinos incorretos levam à contaminação dos mananciais
aquáticos, do solo e da atmosfera (FOGAÇA, [s.d.]). Atualmente, a melhor opção para seu descarte
é realizar a sua coleta seletiva, colocando-o em garrafas PET (garrafas plásticas) e destinando-as à
reciclagem que, dentre as formas mais correntes são a fabricação de sabão em pedra (geralmente em
âmbito domiciliar), e a produção de biodiesel (em âmbito industrial).
O enfoque desse trabalho se dará na produção de biodiesel como uma alternativa a utilização
de combustíveis derivados do petróleo, podendo ser utilizado em todos os tipos de motores movidos
a diesel (desde motores estacionários a não estacionários), produzindo muito menos resíduos
danosos ao meio ambiente e contribuindo em outras esferas de produção, tais como a de
cosméticos, e agricultura, por exemplo (BAESSO et al., 2006; YAMAOKA, 2014).
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustível (BRASIL, ANP,
2016) o biodiesel tem por definição ser uma solução de ésteres de ácidos carboxílicos de cadeia
longa, produzido a partir da transesterificação e ou/esterificação de matérias graxas, de gorduras de
origem vegetal (oleaginosas) ou animal, sendo atualmente composto por triacilglicerídeo (livre de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

enxofre aromático) e diesel, e classificado como: B + a porcentagem de biodiesel adicionado à


mistura.
No Brasil, nos postos de combustível – por meio da Lei n° 11.097 (BRASIL, ) -, se adiciona
5% de biodiesel ao diesel, considerando-se, portanto, o diesel utilizado nos postos brasileiros como
do tipo B5. Observa-se, no entanto, que algumas fábricas e montadoras estão desenvolvendo
caminhões e ônibus com motores adaptados para suportarem Biodiesel do tipo B8, como, por
exemplo, a Volkswagen (CARVALHO; RIBEIRO, 2014).
Com suas taxas de emissão de poluentes muito inferiores às taxas apresentadas pelos
combustíveis fósseis, e com seus custos de produção minimizados pela venda de coprodutos
gerados durante o processo de transesterificação, tais como a glicerina, considera-se uma alternativa
energética cada vez mais valorizada.

MATERIAL E MÉTODOS

Considera-se que o trabalho de investigação se enquadra como uma investigação empírica


de caráter exploratório, em abordagem experimental, constituindo-se a partir das preconizações de
Gil (1989) que salientam, respectivamente, construir um quadro aproximado do fenômeno de
adesão e participação de efetivo estudantil (e indivíduos a ele adjacentes) aos processos de
engajamento à questão ambiental, assim como, observar os instrumentos e procedimentos mais
eficazes para celebração eficiente das ações cidadãs.

Materiais

Nos moldes acima estabelecidos investigação teve como materiais:


- Rejeito líquido: óleo saturado, componente resultante de utilização de óleo de cozinha no processo
de fritura de alimentos no ambiente doméstico;
- Material de divulgação: panfletos para divulgação do projeto (Figura 1);
- Grupo de observação: turmas de alunos da 1ª, 2ª e 3ª série do ensino médio (totalizando 544
alunos com idades entre 15 e 17 anos) da Escola de Educação Básica ―Barão de Antonina‖, em
Mafra-Santa Catarina;
- Grupo de trabalho técnico: compostos pelos profissionais atuantes e desenvolvedores do Programa
de Coleta de Óleo Saturado na Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 – Panfleto distribuído entre os alunos para divulgação do programa. Fonte: Afubra (2017).

O período utilizado como execução da investigação cobriu do início do mês de fevereiro até
final do mês de maio de 2017.
No que tange à parceria da Afubra enquanto agente auxiliar do projeto de investigação, sua
cooperação foi essencial para seu êxito tanto pela possibilidade de produção do material de
divulgação e apoio especialista na execução de palestras quanto pelo fornecimento do transporte do
rejeito coletado/armazenado na escola e demonstração dos processos de manipulação deste material
(Figura 2).

Figura 2 – Esquema da usina de biodiesel utilizado pela Afubra. Fonte: Afubra (2017).

Observa-se que a Afubra já apresentava um programa de logística reversa do óleo de


cozinha saturado desde 2009, obtendo adesão do sistema escolar nas condições apresentadas pelo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quadro 1:,

ANO LT
Total Coletado 2009 14.249,0
Total Coletado 2010 47.426,0
Total Coletado 2011 59.305,5
Total Coletado 2012 87.122,5
Total Coletado 2013 95.721,0
Total Coletado 2014 118.795,0
Total Coletado 2015 127.556,0
Total Coletado 2016 143.702,0
TOTAL GERAL 693.877,0
Quadro 1 – Volume coletado desde início do programa nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Fonte: Afubra (2017)

Métodos

Os procedimentos metodológicos adotados se dividiram em duas ordens:


- De planejamento: com uso de revisão bibliográfica sobre o tema na literatura especializada, em
fontes acadêmicas, científicas, revistas do ramo e em sites – concretizado na seleção de conceitos-
chave para proposição e condução do projeto de reutilização do óleo de cozinha (conceitos
apresentados na seção 2 deste trabalho, compondo o embasamento teórico pelo qual o processo se
orientou); e
- De execução: com uso de processo de Pesquisa-ação realizado junto à Escola de Educação Básica
―Barão de Antonina‖ por meio de palestras incentivadoras e coleta do óleo saturado trazido pelos
alunos da escola, com apoio da empresa Afubra, visando executar a logística reversa do óleo de
cozinha para produção de biodiesel.
Os 544 alunos participantes da coleta do óleo receberam como incentivo uma porcentagem
de nota conceito de acordo com a quantidade de óleo que entregassem a escola, na disciplina de
química. A escola por sua vez recebia como uma carta de crédito o valor de R$ 0,50 por litro que
repassava a empresa Afubra, assim podendo fazer aquisição de equipamentos necessários à
instituição escolar. A associação, realizando a logística reversa, produz biocombustível para sua
frota de veículos que rodam por várias filias ao longo dos estados de Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná.
Seguindo-se as orientações da Afubra, os participantes do projeto receberam as seguintes
orientações, na execução dos processos de coleta/armazenamento:
- Filtragem do óleo saturado coletado de forma que não o mesmo não contenha mistura de material
sólido (sugere-se como filtro o uso de: coador de café, esponja de espuma, meia de nylon, tecido ou
outro mecanismo eficiente), seguindo-se de armazenamento em garrafas PET limpas, secas e sem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

rótulo (posteriormente ao esvaziamento, as garrafas PET são encaminhadas para outra empresa
responsável por este tipo de reciclagem).
Os passos seguintes se compuseram de: 1) estocagem do material no Eco ponto Escola de
Educação Básica Barão de Antonina, na cidade de Mafra, estado de Santa Catarina; 2)Transporte
dos resíduos para a unidade de bioenergia da Afubra (localizada na cidade de Rio Negro, no estado
do Paraná, que por sua vez irá encaminhar para a unidade de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio
Grande do Sul); 3) Retirada e processamento do óleo para produção de biodiesel; e, 4) Utilização do
biocombustível produzido para a frota de veículos da Afubra.

RESULTADOS

O projeto de investigação levado a efeito repercutiu positivamente na sensibilização tanto do


valor de uma conduta responsável em relação às exigências de cuidado para com o meio ambiente
quanto pela estimulação de um senso crítico mais desenvolvido, uma vez que tais resultantes
puderam ser observados tanto no processo de adesão ao projeto pelo aluno quanto pelos seus
familiares. Nesse sentido, o objetivo de produzir uma percepção mais apurada das questões
relacionadas à cultura de tratamento sustentável de rejeitos líquidos.
Uma possível consequência desse desenvolvimento seria, pois, amplificar essa percepção a
outros temas correlatos ao problema de poluição e degradação do meio ambiente, utilizando-se os
procedimentos adotados no projeto, considerado modelo – ou alternativa – para proposição de
outras ações de igual interesse.
Concretamente, de fevereiro até final do mês de maio de 2017 foram arrecadados 319 litros
de óleo de cozinha saturado, que foram entregues à Afubra para a produção do biocombustível,
tendo sido o dinheiro recebido (em forma de cheque simbólico) destinado a aquisição de
eletrodomésticos que a escola necessitava. Observa-se que a escola Barão de Antonina participa
deste programa de logística reversa de óleo, desde o ano de 2012, conseguindo ao longo desse
tempo adquirir: uma máquina de lavar roupa, uma máquina de cortar grama, uma batedeira e uma
chaleira elétrica para a cozinha da escola. Tais equipamentos, ainda que aparentem ser de pouco
impacto no cotidiano de uma escola, facilitam, sobremaneira, a lida diária dos seus funcionários na
execução de tarefas, e promovendo tanto maior bem-estar interpessoal quanto atendimento assertivo
das necessidades dos estudantes.
Com a contribuição da direção da escola e dos pais dos alunos pode se colocar em prática os
preceitos de uma proposta interdisciplinar que uniu tanto alunos quanto comunidade, esta última
nem sempre atenta às demandas ambientais, o que por si só, já é um progresso em relação ao
problema investigado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerou-se que, por meio de uma atividade simples, puderam se integrar vários nichos do
meio social do ambiente escolar. O fator interdisciplinar e o sentido de comunidade também
pareceram ser reforçados ao longo do projeto de coleta e armazenamento. Nesse sentido, observou-
se que os objetivos de ordem comunitária realçam o interesse conjunto em diversos níveis
interpessoais.
Como a atividade foi aplicada na disciplina de química, obteve-se compartilhamento
interdisciplinar em níveis: acadêmico, pela parceria com membros da UnC – Mafra, do curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas, na categoria de bolsistas do Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência (Pibid) e Bolsa de Pesquisa Artigo 170; em nível profissional, pela parceria
com associados da Afubra (com os quais se pretende estabelecer continuidade na adesão ao
programa colocado em ação); e, em nível afetivo-cidadão, com os membros da comunidade
atendida pela escola Barão de Antonina (alunos e respectivos familiares).

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 531


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

COLETA SELETIVA COM APLICAÇÃO DO MÉTODO


MULTICRITÉRIO M-MACBETH

Valquiria Melo Souza CORREIA


Doutoranda em Engenharia Civil UFC
valquiriamelosouza@hotmail.com
Marisete Dantas de AQUINO
Professora Titular UFC
marisete@ufc.br
Antônio Clécio Fontelles THOMAZ
Professor Titular Aposentado UFC
clecio@itic.org.br
Marcílio Luís Viana CORREIA
Professor Assistente de Engenharia Civil UFCA
marcilio.correia@ufca.edu.br

RESUMO
Atualmente os termos de consumo e sustentabilidade tem se tornado um dos temas mais relevantes,
visto que os problemas ambientais crescem de modo exponencial. Assim, o destino adequado dos
resíduos sólidos ganha a cada dia maior importância. Dentre esses problemas estão as embalagens
de PET (polietileno tereftalato). Esse tipo de embalagem é muito utilizada no Brasil e quando
reciclada traz inúmeras vantagens sobre as demais embalagens, particularmente relacionada a
energia consumida, ao consumo de água, ao impacto ambiental, em benefícios sociais, dentre
outros. O artigo tem como objetivo fazer uma análise de multicritério na coleta seletiva de PET
aplicando a ferramenta M-Macbeth no município do Crato-CE. A metodologia está baseada em
dados coletados e entrevistas com os responsáveis pela Associação dos Agentes Recicladores do
Crato, caracterizando-se como uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. Os resultados
obtidos indicam que apesar dos avanços existe uma necessidade de ampliação nas melhorias da
associação, particularmente, em melhorias na infraestrutura, nas negociações, na gestão financeira,
educação ambiental e na participação direta da população nesse novo paradigma de consumo-
descarte.
Palavras-chave: PET; M-Macbeth; Coleta Seletiva; Sustentabilidade.
ABSTRACT
Currently the terms of consumption and sustainability have become one of the most relevant issues,
as environmental problems grow exponentially. Thus, the proper destination of solid waste is
increasingly important. Among these problems are PET (polyethylene terephthalate) packaging.
This type of packaging is widely used in Brazil and when recycled brings numerous advantages
over other packaging, particularly related to energy consumed, water consumption, environmental
impact, social benefits, among others. The article aims to make a multicriteria analysis in the
selective PET collection applying the M-Macbeth tool in the municipality of Crato-CE. The
methodology is based on data collected and interviews with those responsible for the Association of
Crato Recyclers, characterizing itself as an exploratory research with a qualitative approach. The
results indicate that despite the advances, there is a need to increase the association's improvements,
particularly in infrastructure improvements, negotiations, financial management, environmental

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education and the direct participation of the population in this new consumption-discard paradigm.
Keywords: PET; M-Macbeth; Selective collect; Sustainability.

INTRODUÇÃO
O problema da gestão de resíduos sólidos é global sejam nos países em desenvolvimento ou
nos desenvolvidos. O fato é que com um ritmo acelerado do aumento da população, crescimento
econômico, urbanização e industrialização se tem a geração de resíduos sólidos, também, acelerado.
Gerando um desafio crescente para a sociedade, ou seja, a destinação dos resíduos sólidos e sua
disposição inadequada, além da ausência de políticas públicas e ações empresariais que estejam no
elo da responsabilidade compartilhada.
A existência de lixões, ambientes inadequados de destinação final dos resíduos sólidos onde
são descartados sem qualquer cuidado, proporciona um grave problema para a saúde pública e para
o meio ambiente. Isto repercute no setor econômico, pois com uma produção mais acelerada de
resíduos e sua disposição final sem planejamento desencadeia no desperdício de materiais e de
energia. Uma saída é tratamento adequado na origem, através da separação de materiais para a
reciclagem.
A coleta seletiva tem apresentado uma expansão em alguns municípios, devido ao
desenvolvimento econômico e urbano que tem gerado uma maior quantidade e variedade de
resíduos. De acordo com Mano et al. (2005), coleta porta a porta consiste nos materiais secos que
são coletados separadamente ou todos juntos, dependendo do objetivo do programa implantado. Já
os postos de coleta voluntária são normalmente instalados em pontos estratégicos, para onde a
população pode levar seus materiais pós-consumidos, que serão colocados em caçambas e
contêineres de diferentes cores. Depois, o que é coletado é encaminhado para diversos destinos
finais.
Com relação a reciclagem consiste em uma maneiras de se reduzir o volume dos RSU na
destinação final e que vem sendo estimulada em vários municípios. Todavia é através da reciclagem
que se busca recuperar matéria-prima, economia de energia, redução do impacto ambiental,
proporcionando ainda a criação de novos postos de trabalho e consequentemente a geração de
renda.
Dentro dessa atmosfera uma significativa parcela é formada por embalagens descartadas
pelos consumidores e entre elas está o PET (Polietileno Tereftalado) que vem sendo intensificado
nos últimos anos, devido a substituição das embalagens de vidro para água, refrigerantes e sucos.
Segundo Valt (2007) a embalagem PET é a que causa dos maiores impactos ambientais.
Por ser o planejamento da atividade de coleta seletiva uma questão que envolve conflito de
interesses nas avaliações, derivados da carência e limitação dos recursos, pela quantidade de atores

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

envolvidos e pela existência de objetivos não quantificáveis, opta-se pela utilização de métodos
multicritério.
Quanto a construção do modelo multicritério, é necessária a utilização de modelos e
métodos quantitativos, que estão disponíveis no software M-Macbeth. O que torna a pesquisa como
quantitativa de caráter descritivo quanto ao objetivo e grau do problema, visto que a evidência da
solução mais aceitável para o problema em estudo é mais indireta do que uma pesquisa de caráter
causal, o que torna mais adequado o uso dessa evidência no processo decisório que requer a
experiência e o julgamento do decisor quanto a natureza das relações causais.
Sendo assim, o objetivo do artigo é fazer uma análise de multicritério na coleta seletiva de
PET aplicando a ferramenta M-Macbeth no município do Crato-CE.

GESTÃO DOS RESÍDUOS E SUSTENTABILIDADE

Devido ao crescimento acelerado da sociedade, as inovações tecnológicas e os novos hábitos


e consumos da população os resíduos gerados tem alterado, significativamente, o ciclo natural do
sistema. Visto que, há uma aceleração dos processos de produzir e consumir, enquanto a
decomposição fica em déficit. Até porque os produtos fazem parte da ―Era dos Descartáveis‖ e são
lançados ao ambiente, na maioria, sem critérios de seleção e cuidados especiais, o que segundo,
Rodrigues e Canivato (2003) tem reproduzido os hábitos e costumes da sociedade.
Para Lopes (2003), a gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) consiste em todas as
normas e leis relacionadas a eles. Enquanto que o conceito de gerenciamento integrado dos resíduos
sólidos (GIRS) busca integrar todas as operações que envolvem os resíduos, como coleta,
tratamento, disposição final, entre outras. Ao passo que as atividades executadas para a gestão, a
primeira etapa é a realização de um diagnóstico socioambiental, ou seja, considerar o levantamento
inicial das principais potencialidades do munícipio.
O manejo eficiente dos resíduos sólidos urbanos (RSU) consiste em um dos grandes desafios
enfrentados, atualmente, pelos municípios das cidades brasileiras (NEVES e SOUZA, 2010). Uma
realidade que tem em seu contexto a aplicação de leis e ações que visam a redução da produção de
resíduos bem como a reutilização e reciclagem destes materiais. Sendo a coleta seletiva uma
alternativa viável para este problema ambiental dos resíduos que segundo a PNRS é definida como
a coleta de resíduos segregados previamente (BRASIL, 2010).
Sustentabilidade pode ser compreendida quando se atribui um sentido amplo à palavra
―sobrevivência‖, no entanto, é algo que proporciona sempre um desafio ao homem, de modo que
trata da sobrevivência ou manutenção dos recursos naturais para às gerações futuras (COGO;
OLIVEIRA; TESSER, 2013).

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A sustentabilidade corporativa trata-se de algo totalmente integrado ao processo de tomada


de decisão e nas operações das empresas, porém a dificuldade está em incorporá-la no dia-a-dia
empresarial e proporcionar vantagens competitivas (Gonçalves-Dias, Guimarães & Santos, 2012;
Lacy, Cooper, Hayward & Neuberger, 2010).

PET (POLIETILENO TERFTALADO)

Foi criado por volta de 1941 por Win Field e Dickson, muito conhecido Poliéster, que se
iniciou na indústria, somente após a 2a Guerra Mundial através de fibras têxteis conhecidas como
Tergal (VALLE, 1995).
A embalagem PET (polietileno terftalado) é produzida industrialmente por duas frentes
químicas. A primeira seria a esterificação direta do ácido tereftálico purificado (PTA) com etileno
glicol (EG) e a segunda seria a transesterificação do dimetil tereftalato (DMT) com etileno glicol
(EG) (SOLOMONS, 2009).
No Brasil a embalagem PET (polietileno terftalado) tem presença recente, desde 1988.
Sendo alvo de discussões que abordam benefícios e malefícios da sua presença na vida da
população. Todavia para as empresas esse tipo de embalagem é muito útil, particularmente quanto a
sua movimentação, armazenagem e transporte e para os consumidores de custo baixo,
particularmente devido a sua popularização. No entanto, o descarte é algo preocupante por causa da
quantidade de resíduos que geram e como estão dispostas no ambiente, gerando um crescimento da
―cultura do descartável‖.
Em virtude da alta resistência mecânica (impacto) e química a embalagem PET, consegue
conter os mais diversos produtos fabricados com higiene e segurança. Tornando-se vantajoso no
âmbito industrial, pois pode ser reprocessado diversas vezes, o que facilita seu processo de
reciclagem e ao uso contínuo na cadeia produtiva, isto porque são formados por polímeros.
Atualmente são recicladas no Brasil 274 mil toneladas do material, o que corresponde a um
reaproveitamento de quase 51%, sendo que o PET reciclado tem a maior variedade de aplicações do
mundo (ABIPET, 2016). Aproximadamente 1,5 % do lixo sólido orgânico urbano, sendo 15% da
resina PET (CEMPRE, 2008).
Dessa forma, para garantir eficiência e eficácia do processo de reciclagem do PET, é
necessário que haja um bom planejamento da coleta desse material tornando a eficácia na
reciclagem e diminuindo os agravos ao meio ambiente. Segundo Wiebeck e Piva (2004) a
reciclagem proporciona uma significativa redução do custo de gerenciamento de resíduos, isso com
menores investimentos em instalações de tratamento e disposição final e promove a geração de
empregos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DE MULTICRITÉRIO

A sociedade do Terceiro Milênio tem sido cada vez mais desafiada em preservar seus
recursos naturais exigindo uma nova postura na arte de viver, particularmente no tratamento de
resíduos sólidos, pois estes têm configurado uma das maiores e mais complexas dificuldades de
tomada de decisão. Visto que corresponde a recursos finitos com objetivos, extremamente,
complexos que na realidade não perpetua em fácil quantificação. Isto porque, todo esse processo de
apoio à tomada de decisão está, intrinsecamente, envolvido na esfera interdisciplinar, envolvendo
uma abordagem genuinamente sistêmica.
O Macbeth (Bana Consulting, 2005) é um sistema multicritério de apoio à decisão,
concebido para ser usado por um consultor (facilitado ou analista de decisão), seguindo o princípio
construtivista segundo o qual ―o problema e a solução pertencem ao decisor e não ao consultor‖
(SCHEIN, 1999).
A metodologia Macbeth pode utilizar o software M-Macbeth em suas etapas de apoio à
tomada de decisões: estruturação, avaliação e elaboração de recomendações.
Essa metodologia de apoio à tomada de decisão avalia opções de considerando múltiplos
critérios sendo: a) capaz de transformar julgamentos qualitativos em quantitativos; b) verificar
automaticamente a consistência dos julgamentos, proporcionando sugestões para solucionar
eventuais inconsistências; c) o software é de fácil uso e de fácil explicação para o decisor,
incluindo, nesse caso, a explicação da base axiomática; d) permite explicitar as preferências do
decisor.

MATERIAIS E MÉTODOS

O município do Crato tem uma distância de aproximadamente 402,4 quilômetros da capital


cearense (IBGE, 2016). Com uma população de 121.428 habitantes, dividida da seguinte forma,
100.937 na zona urbana e 20.525 na zona rural, distribuídos em uma área total de 1.176,467 km² e
densidade demográfica de 94,05 hab./km², é a terceira cidade mais desenvolvida do Estado em
número de residentes e o 9º maior PIB do Estado (IBGE, 2010). Os serviços de coleta comum
acontecem em toda a cidade, abrangendo aproximadamente 100% da área urbana assim como os
distritos do município e loteamentos irregulares.
O município não possui uma usina de triagem e compostagem, assim todos os resíduos
sólidos coletados tem como destino final o lixão. No entanto, existe a presença dos catadores de
materiais recicláveis que trabalham dispersos na cidade (SNIS, 2014), que são organizados na
Associação dos Agentes Recicladores do Crato, criada desde dezembro de 2005, que recebe
embalagem longa vida, metais, papel branco, plástico e vidro, tendo como objetivo a retirada do

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

catador do ambiente insalubre (lixão), proporcionando a reintegração social por meio da geração de
renda contribuindo, ainda, para a destinação adequada dos materiais. Dessa forma, os materiais
recolhidos são conduzidos até a Associação onde tem como logística o armazenamento temporário,
a triagem e a comercialização. Segundo dados do SNIS (2014) a quantidade de catadores associados
são de 60 pessoas.
Dentre os principais materiais denominados e encaminhados para a Associação de
Catadores, através de um trabalho de coleta diária em sistema porta-a-porta nas residências, em 14
ecopontos espalhados em alguns bairros do município e também através da venda dos materiais
recicláveis de catadores não cadastrados, que também, comercializam (compra e vende). Os
materiais recicláveis são: PET, plástico mole, bacia, filme limpo, plástico tipo filme semi-limpo,
embalagem ―brilux‖, recipiente ―polidor‖, cadeira de plástico, tubo de 5L, tubo de 2L, tampa, PVC,
papel branco, jornal, papelão, ferro, latinha, cobre, panela de alumínio, garrafinha tipo ―coquinho‖,
―ypióca‖, óleo, longnec, ―melissa‖, recipiente de detergente. Quanto aos rejeitos da coleta seletiva
são enviados ao lixão do município.
A pesquisa desenvolvida é descritiva. Quanto à abordagem, apresenta-se como qualitativa.
Os procedimentos metodológicos basearam-se em revisões de literatura, coleta de dados: Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (ABELPRE), visitas na Associação, no lixão e nos ecopontos.
Os dados se referem a coleta seletiva das embalagens PET realizada pela Associação dos
Agentes Recicladores do Crato entre os meses de maio a outubro de 2016. Para tanto, foram
coletados dados quantitativos como peso mensal das embalagens PET e o valor de venda, e dados
qualitativos tais como importância, impacto social, ambiental e logístico desse tipo de material.
A partir dessa coleta de dados foram definidos os critérios a serem avaliados pelo tomador
de decisão principal (responsável pela associação) para a realização da análise de multicritério
como uma forma de se estabelecer a importância dos critérios escolhidos, utilizando como
ferramenta de apoio á tomada de decisão o M-Macbeth.

RESULTADOS

A pesquisa mostra que a Associação dos Agentes Recicladores do Crato é importante para o
município do Crato, onde se é contemplada a coleta seletiva, de forma tímida, mas que colabora de
forma gradativa nas melhorias de disposição final dos resíduos sólidos.
A coleta seletiva é realizada em prédios públicos e escolas municipais através dos ecopontos
espalhados nesses espaços. O que não diminui o quadro de catação de recicláveis no lixão.
A aplicação do modelo seria realizada em, basicamente, três etapas: a primeira relacionada à
avaliação das escolhas realizadas pela analista quanto a alternativas e critérios, que poderiam ser

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desconsiderados e acrescidos. No que tange aos critérios, deve ser solicitada análise quanto à sua
forma de avaliação.
Para os critérios acrescentados solicitar-se-ia indicar sua forma de avaliação. Critérios
remanescentes seriam ponderados. Na segunda etapa da pesquisa se consolidar os dados obtidos
(alternativas, critérios e pesos). Quanto a apresentação e a avaliação dos resultados finais da
pesquisa, que deve ser gerada a partir do uso do Método Multicritério Macbeth que compõe a
terceira etapa.
O Quadro 1 apresenta a estruturação do problema segundo o ponto de vista do tomador de
decisão.
Quadro 1 - apoio à decisão na estruturação do problema
Critérios Níveis de Descrição dos níveis de impacto para Referência /
impacto cada critério classificação
C1: influência do N3 Não contaminação do meio ambiente Muito bom
aproveitamento do PET (solo, lençóis freáticos)
N2 Reaproveitamento de centenas de Bom
toneladas de embalagens
N1 Economia dos recursos naturais Regular
C2: quantidade recolhida do N4 Acima de 1000 kg Muito bom
PET N3 Entre 500 a 1000 kg Bom
N2 Entre 200 a 500 kg Regular
N1 Abaixo de 200 kg Fraco
C3: logística de descarte do N3 Na fonte geradora Muito bom
PET N2 Pontos de coleta Bom
N1 Coleta pelos recicladores Regular
No lixão Fraco
Fonte: elaborada pelos autores

A partir dessa estruturação é iniciado o processo da árvore de critérios e a definição das


opções de estudo serem analisadas que são os critérios de avaliação, conforme Figura 1.
Configuram-se as opções como produtos finais a partir do destino das embalagens PET.

Figura 1 - Árvore de critérios construídas para o estudo

(Fonte: Elaborada pelos autores)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com relação às opções de estudo são: Impactos pós-consumo - causados pelas garrafas
encaminhadas para o lixão e principalmente por aquelas que são descartadas diretamente no meio
ambiente. Empresa de reciclagem - revalorização realizando a descontaminação e adequação do
material coletado e selecionado para que possa ser utilizado como matéria prima na indústria de
transformação.
A Figura 2 mostra a definição dos níveis qualitativos de performances do critério Impacto
Ambiental que servirá de base para realização da comparação de intercritérios. Sendo, também,
realizada nos demais critérios.

Figura 2 - Definição das propriedades de critérios

(Fonte: Elaborada pelos autores)

Quanto à ordenação das opções ou níveis de desempenho dos critérios, de modo que foi
realizado o julgamento qualitativo de atratividade para cada critério estabelecido. De tal modo que
as diferenças de atratividade foram previamente definidas pelos tomadores de decisão e copiladas
no software.
Na Figura 3 se mostra a ordenação do critério Impacto Ambiental, onde há se tem a
comparação dos níveis de performance quanto a atratividade. Todavia para cada julgamento o M-
Macbeth verifica de modo automático a sua compatibilização com os julgamentos que são
introduzidos na matriz.
Figura 3 - Matriz de atratividade

(Fonte: Elaborada pelos autores)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A Figura 4 mostra por sua vez as referências de ponderação indicando as mais viáveis.

Figura 4 - Referências de ponderação processadas

(Fonte: Elaborada pelos autores)

Após as referências de ponderação se realiza a análise da atratividade para cada opção em


relação a cada critério estabelecido pelos tomadores de decisão, conforme Figura 5.

Figura 5 - Informações da ponderação processada

(Fonte: Elaborada pelos autores)


Na verdade, a Figura 5 é o resultado do julgamento de atratividade intercritérios, de modo
que apresenta as pontuações de cada critério tendo como base a avaliação qualitativa.

CONCLUSÕES

O desenvolvimento da pesquisa demonstrou a complexidade do gerenciamento dos resíduos


sólidos urbanos no município do Crato-CE. Nesse sentido, a Associação de Recicladores torna-se
uma entidade imprescindível para minimizar os impactos gerados pelos materiais recicláveis,
gerando trabalho e renda por meio da associação, além dos benefícios para o meio ambiente.
O estudo mostra que a Associação dos Agentes Recicladores do Crato é importante para o
município embora não se evidencie a preparação do pessoal envolvido na coleta seletiva em cursos
de capacitação que ofereçam noções básicas de higiene, de separação dos materiais, de relações
humanas, de gestão financeira e administrativa. Nesse caso, seria uma maneira de aumentar a
produtividade que possibilite agregação de valor no processo de trabalho dos recicladores.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 540


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A cidade do Crato é contemplada pela coleta seletiva, de forma tímida, mas se houver apoio
do poder público e colaboração efetiva da população a cidade inteira poderá ser contemplada e de
forma gradativa apresentar melhorias na disposição final dos resíduos sólidos.
Atualmente, a coleta seletiva é realizada em prédios públicos e escolas municipais através
dos ecopontos espalhados nesses espaços. O que não diminui o quadro de catação de recicláveis no
lixão, onde a presença de pessoas que aguardam o caminhão da coleta de resíduos sólidos urbanos
chegar para começarem a catação, em condições de insalubridade e alto risco, que buscam
constantemente a sobrevivência.
A Associação dos Agentes Recicladores do Crato é muito importante e busca contribuir para
a sustentabilidade ambiental. No entanto, muitas ações precisam ser avançadas, tendo em vista a
melhoria da qualidade socioambiental de tal modo, que o desenvolvimento de ações educativas e de
gestão sejam prioridades do poder público para assim promover uma cidade sustentável.
Por ser o PET um resíduo muito utilizado como matéria-prima tem maior rentabilidade e
aceitação no mercado.
O software M-MACBETH proporciona uma tomada de decisão mais criteriosa, onde há
como opção a simulação de várias possibilidades, facilitando o trabalho dos gestores na tomada de
decisão.
Assim tomar decisão é uma tarefa delicada, difícil, impactante e que muitas vezes pode levar
em consideração condições emocionais e interpessoais daquele que a toma. Neste trabalho foi
apresentado o Modelo Multicritério Macbeth como uma ferramenta para auxiliar na tomada de
decisão.
O Modelo Multicritério Macbeth faz à análise dos atributos inseridos na árvore submetida
por quem toma a decisão e posteriormente calcula os valores dessas variáreis nos atributos,
chegando assim a uma classificação final mostrando os resultados obtidos sem o intermédio de
qualquer órgão externo.
A abordagem proposta foi avaliada utilizando dados de três critérios essenciais para a coleta
seletiva. Considerando a sua importância, em cada atributo existente, pode-se concluir que o
Modelo Multicritério Macbeth atingiu bons resultados mostrando sua eficiência fazendo a melhor
análise de decisão. Assim, consideramos apropriada e eficiente à utilização da ferramenta aqui
proposta para auxiliar na tomada de decisão, pelo fato de seus resultados serem precisos e
condizentes com a situação analisada no trabalho.

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WIEBECK, Helio, PIVA, Ana Magda (2004) Reciclagem do Plástico. São Paulo, Editora Artliber.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 543


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESÍDUOS SÓLIDOS: INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO DA INDÚSTRIA DE


BENEFICIAMENTO DE GRANITO EM CONCRETO SIMPLES

Walter Rubens R. Feitosa BATISTA


Graduado em Engenharia Civil UFCG
walter_rubens1@hotmail.com
José Bezerra da SILVA
Doutor em Engenharia de Processos UFCG
prbezerracg@gmail.com
Pedro Azevedo da SILVA NETO
Graduando em Engenharia Civil UFCG
pedro_asneto@hotmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharias de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com

RESUMO
O impacto ambiental gerado pela disposição incorreta de resíduos ao meio ambiente ganhou espaço
nas discussões para implementação de políticas públicas e desenvolvimento de pesquisas
relacionadas ao processo de aplicação dos resíduos em diversos segmentos. Esse processo de
análise se faz necessário diante do cenário de degradação ambiental que, ao crescer, diminui a
qualidade de vida da população. A exemplo, o segmento de rochas ornamentais, onde é gerado
grande volume de resíduo. Para mitigar os efeitos, diversas alternativas estão sendo estudas. Uma
delas é a utilização dos resíduos para a devida incorporação no setor de construção civil, pois é um
dos que mais exploram fontes de recursos naturais. Este trabalho tem como objetivo principal a
incorporação de resíduo do beneficiamento de granito em concreto simples. Foram moldados
corpos de prova nas dimensões de 10 cm x 20 cm, com incorporação de 10% e 20% de resíduo de
granito em substituição parcial ao cimento, sendo determinada a resistência à compressão simples
nas idades de 7, 14 e 28 dias de cura. Observou-se que a incorporação do resíduo de granito
ocasionou uma redução da resistência do concreto, no entanto, os resultados obtidos satisfazem ao
limite mínimo exigido pela norma. Contribuindo desta forma para a redução do impacto ambiental
causado pela disposição inadequada do resíduo no meio ambiente.
Palavras Chave: Construção Civil, impacto ambiental, resíduos, concreto, educação ambiental.
RESUMÉN
Los impactos ambientales generados por la disposición incorrecta de residuos al medio ambiente
ganaron espacio en las discusiones para implementación de políticas públicas y desarrollo de
investigaciones relacionadas al proceso de aplicación de los residuos en diversos segmentos. Este
proceso de análisis se hace necesario ante el escenario de degradación ambiental que, al crecer,
disminuye la calidad de vida de la población. Por ejemplo, el segmento de rocas ornamentales,
donde se genera gran volumen de residuo. Para mitigar los efectos, varias alternativas están siendo
estudiadas. Una de ellas es la utilización de los residuos para la debida incorporación en el sector de
la construcción civil, pues es uno de los que más explora fuentes de recursos naturales. Este trabajo
tiene como objetivo principal la incorporación de residuo del beneficiamiento de granito en
concreto simple. Se han moldeado cuerpos de prueba en las dimensiones de 10 cm x 20 cm, con
incorporación del 10% y 20% de residuo de granito en sustitución parcial al cemento, siendo

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determinada la resistencia a la compresión simple en las edades de 7, 14 y 28 días de curado. Se


observó que la incorporación del residuo de granito ocasionó una reducción de la resistencia del
concreto, sin embargo, los resultados obtenidos satisfacen el límite mínimo exigido por la norma.
Contribuyendo de esta forma a la reducción del impacto ambiental causado por la disposición
inadecuada del residuo en el medio ambiente.
Palabras clave: Construcción civil, impacto ambiental, residuos, concreto, educación ambiental.

INTRODUÇÃO

Os impactos ambientais gerados pela disposição incorreta de resíduos ao meio ambiente


ganhou espaço nas discussões para implementação de políticas públicas e desenvolvimento de
pesquisas relacionadas ao processo de aplicação dos resíduos em diversos segmentos. Esse processo
de análise se faz necessário diante do cenário de degradação ambiental que, ao crescer, diminui a
qualidade de vida da população. Podendo ser citado como agente: os resíduos urbanos, rurais e
industriais.
As atividades antrópicas relacionadas com a indústria são indispensáveis para produção de
bens para a população mundial. Porém, os resíduos gerados nos processos da cadeia produtiva de
diversos materiais são os grandes vilões dos impactos gerados ao meio ambiente pelo setor. A
exemplo, pode-se observar o segmento de rochas ornamentais, onde é gerado grande volume de
resíduo. Segundo Mendonça (2012) a fase conhecida como desdobramento ou serragem do bloco de
granito, onde ocorre o corte dos blocos através da ação dos teares transformando-os em chapas, é a
etapa de maior geração do resíduo.
Para mitigar os efeitos, diversas alternativas estão sendo estudas. Uma delas é a utilização
dos resíduos para a devida incorporação no setor de construção civil, pois é um dos que mais
exploram fontes de recursos naturais. Inclusive, um dos materiais utilizados com grande frequência
são as rochas ornamentais, para fins de acabamento de diversas obras.
A importância do desenvolvimento de medidas alternativas para alocação de resíduos é
ainda maior quando observa-se o fato de que em países em fase de desenvolvimento a alocação
final de resíduos, de diversas origens, é feita de maneira incorreta.

Sustentabilidade e Meio Ambiente

A preocupação com o meio ambiente e a escassez de recursos naturais tem levado a


sociedade a buscar alternativas alinhadas com novos conceitos e técnicas de crescimento
sustentável, pois na atualidade a sustentabilidade das atividades econômicas tem sido um dos
principais desafios enfrentados pela humanidade. Assim as indústrias beneficiadoras de caulim e
granito vêm preocupando os ambientalistas devido à enorme quantidade de resíduos gerados, que

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estão sendo lançados no ecossistema sem nenhum processo de tratamento para eliminar ou reduzir
seus constituintes presentes.
No setor de beneficiamento de rochas ornamentais, a geração de quantidades de resíduos é
enorme, resíduos estes que são provenientes das etapas de corte e polimento das rochas e a
disposição inadequada desses rejeitos, geralmente em vazadouros a céu aberto, provocando além da
poluição visual, contaminação do ar e até sérios danos à saúde humana e de animais. O resíduo de
corte de granito, conhecido como lama, é uma massa mineral composta, basicamente, por água,
granalha, cal e rocha moída. Uma vez seca a lama granítica forma um pó de granulometria
extremamente fina, não biodegradável, não tóxico e inerte (LIMA, 2010).
Diante de tais aspectos verifica-se a necessidade de meios alternativos que possibilitem a
reciclagem de resíduos, permitindo desta forma à minimização dos descartes e o aproveitamento
dos resíduos como insumo de novos produtos, visando à economia de matérias-primas não
renováveis, a diminuição da emissão de poluentes, melhoria nas condições de saúde, segurança e
moradia da população (CAMPOS, 2007).

Setor de Rochas Ornamentais

As rochas ornamentais têm seu valor agregado a sua aparência estética. Na antiguidade
foram bastante usados como elemento de vedação e construção, porém com o surgimento tanto do
aço quanto do concreto, elas perderam essa funcionalidade.
Mesmo sendo empregadas para fins ornamentais as mesmas devem ser classificadas de
acordo com as suas características físicas e químicas, para uma utilização adequada. Um dos
exemplos dessas aplicações é o revestimento externo onde é necessária uma alta resistência ao
intemperismo, outra aplicação é o revestimento interno, para suporte de pia, que necessita de uma
baixa absorção de água, e para suporte de mesa (OLIVEIRA et al, 2014; FILHO et al., 2005).
De acordo com o setor de rochas ornamentais, as de maiores referências são o granito e o
mármore, no qual o granito é um conjunto de rocha silicáticas compostas por maioria de feldspato e
quartzo, sendo que se enquadram como granito outras rochas como sienitos, monzonitos
charnoquitos, entre outros.
Já o mármore, o outro tipo de rocha ornamental, são rochas metamórficas que são
constituídas geralmente por calcita e dolomita, possuindo comumente a coloração branca à rocha.
Além dessas rochas comercialmente conhecidas existem algumas outras que apesar de possuírem
menor valor agregado são conhecidas como rochas ornamentais. As que mais se destacam são
quartzitos, arenitos, ardósias e conglomerados (OLIVEIRA et al, 2014; SILVA et al., 2005).
No setor de rochas ornamentais, a produção tem um grande significado para a economia do
país, tendo uma grande ascensão no requisito de exportação que teve em números US$ 600 milhões

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em 2004. Média de 70% da produção é voltada para o mercado interno e os estados de origem são
Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais, porém os estados que possuem a maior quantidade de
marmoraria chegando a 75% são os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O Brasil é responsável por uma forte atividade industrial de extração e beneficiamento de
rochas ornamentais, tais como granito, mármore, gnaisse, ardósia, entre outras. No entanto, as
atividades da indústria de rochas ornamentais geram enormes quantidades de resíduos sólidos, que
podem causar consequências negativas à segurança do meio ambiente e das pessoas (ABIROCHAS,
2011). Estes resíduos não têm uma aplicação prática definida. Por este motivo, eles são em grande
parte descartados em rios, lagoas, lagos, córregos e no meio ambiente, resultando em impactos
negativos para o meio ambiente.
A reutilização de resíduos bem como sua reciclagem, são ótimas alternativas para redução
dos gastos na produção, diversificação dos produtos, redução do uso de materiais não renováveis,
economia de energia, ajudando ainda na melhoria da saúde da população. Mas essa reutilização só é
possível após análise das potencialidades desses (MENEZES, 2007; ALMEIDA et al., 2015).

Resíduos de Granito

Diante do setor de rochas ornamentais são gerados três tipos de rochas ornamentais, dentre
eles os principais são retalhos de rocha, lama de serraria e lama de marmoraria, sendo que os
retalhos são provenientes de sobras e quebra de peças chegando a ter de 10% a 20% de perda. A
lama de serraria é proveniente da serragem dos blocos após a extração, sendo ela com a maior
porcentagem de perca de toda a produção chegando de 30% a 40% (SOARES et al., 2009).
O beneficiamento do granito compreende três etapas. A primeira delas é responsável pela
extração dos blocos a céu aberto nas grandes jazidas, iniciando-se pela escolha desta. Na segunda se
processa então o desdobramento dos blocos ou o também chamado beneficiamento primário. Nas
serrarias ocorre à transformação dos blocos em chapas com espessuras padrão de 10,20 ou 30 mm,
através da utilização de máquinas apropriadas chamadas Teares. Finalmente a próxima etapa é a
transformação das placas em produto final através do uso de equipamentos chamados politrizes. É
realizado o levigamento (uniformização da superfície), polimento, lustração, corte e acabamento de
maneira a se adequar com as especificações que o produto final requer.
Durante todo o procedimento de corte e beneficiamento de rochas ornamentais, em geral,
são geradas enormes quantidades de resíduos abrasivos na forma de uma lama (granito moído, cal
ou substituto e granalha de ferro ou aço). Após passar pelos teares, a lama é drenada por um sistema
de esgotamento, seguindo para tanques de decantação, onde a água é reaproveitada e o material
sólido é retirado e depositado nos pátios das empresas. O desgaste das lâminas pode produzir

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pequenos fragmentos metálicos que são incorporados ao resíduo. A quantidade de resíduo gerado
por cada processo depende da serrabilidade de cada material.
Dentre os principais países produtores de blocos de mármore e granito (Itália, China,
Espanha, Índia, Brasil, Portugal e Grécia), encontra-se o Brasil, com um setor de rochas
ornamentais que movimenta cerca de US$ 2,1 bilhões/ano, incluindo-se a comercialização nos
mercados interno e externo e as transações com máquinas, equipamentos, insumos, materiais de
consumo e serviços.

Construção civil – produção de concreto

A construção civil é uma atividade importantíssima em todo mundo. Está ligada à


infraestrutura de um país e tem grande geração de emprego e rendas pela grande soma de recursos
aplicados, sendo um dos índices de desenvolvimento de uma nação. Representa a criação de
investimentos de longo prazo em empresas diversas nas áreas de indústria, serviço e agropecuária
(MENDONÇA et al., 2015; CHAGAS FILHO, 2005).
O crescimento sócio-econômico implica em maior consumo de bens minerais, tornando
importante garantir a disponibilidade de recursos demandados pela sociedade. Tem-se assim, uma
relação intrínseca entre o desenvolvimento econômico, qualidade de vida e de bens minerais.
Nos últimos anos, a construção civil, tem sido alvo da incorporação dos mais diversos tipos
de materiais, em virtude de alguns possuírem composição similar às matérias-primas naturais
(PANDOLFELLI, 2009). A busca por materiais alternativos para a construção civil com finalidade
de baratear custos é imperiosa, diante do crescimento populacional existente, limitação de recursos
econômicos e escassez de recursos naturais pelas altas demandas de consumo.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados para realização deste estudo foram:


Agregado miúdo: O agregado miúdo, utilizado na pesquisa, foi do tipo natural proveniente
de jazida do leito do Rio Paraíba, apresentando diâmetro máximo de 4,8mm, finura igual a 2,78%,
massa específica de 2,62g/cm3, massa unitária solta igual a 1,76g/cm3;

Agregado graúdo – Brita 9,5: Brita de origem granítica, apresentando massa específica seca
de 2,544g/cm3, massa específica na condição SSS de 2,589 g/cm3, massa específica aparente igual a
2,707g/cm3, absorção de 2,380% e diâmetro máximo 9,5mm;

Agregado graúdo – Brita 19: Brita de origem granítica, apresentando massa específica seca
de 2,80g/cm3, massa específica na condição SSS de 2,886 g/cm3, massa específica aparente igual a
3,065g/cm3, absorção de 3,107% e diâmetro máximo 19,1mm;

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Cimento: O cimento utilizado na pesquisa foi o Portland CPII F - 32, fornecido pela fábrica
de cimento Zebu, no município de Santa Rita-PB, apresentando massa específica igual a 2,96 g/cm3
e finura igual 2,82%;

Resíduo de granito: o resíduo de granito utilizado no desenvolvimento deste projeto foi


proveniente da indústria GRANFUJI situada no distrito industrial de Campina Grande-PB.

A Figura 1 ilustra o resíduo de granito utilizado neste estudo.

Figura 1 – Resíduo de granito utilizado neste estudo.

Esta pesquisa foi dividida em quatro etapas, a saber: na primeira foram selecionados os
materiais a serem utilizados para o desenvolvimento da pesquisa. Na segunda etapa foi realizada a
caracterização do resíduo de granito, para verificar suas propriedades químicas, físicas e
mineralógicas, assim como, caracterização física dos agregados e do cimento. Na terceira etapa
realizou-se a dosagem dos materiais e moldagem dos corpos de prova e estabelecimento dos teores
de substituição, e por fim, na quarta etapa foram determinadas as propriedades mecânicas do
concreto incorporado com resíduo de granito.
Após a caracterização dos materiais, foi realizado o estudo da dosagem, obtendo-se o traço
1:2,23:2,89:0,53. Sequencialmente foram moldados corpos de prova cilíndricos nas dimensões de
10 cm x 20 cm com substituição parcial do cimento por teores de 10% e 20% de resíduo de granito
e, estabeleceram-se as idades de cura de 7, 14 e 28 dias.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 1 apresenta a composição química do resíduo de granito.

Tabela 1 - Composição química do resíduo de granito


Determinações (%)
Amostras PR SiO2 Al2O3 Fe2O3 MgO CaO K2 O TiO2 Na2O Outros
Granito 1,09 61,80 16,50 4,99 2,08 5,08 4,63 0,43 2,92 0,48

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PR = Perda ao Rubro

Observa-se na Tabela 1 que o resíduo de granito é constituído basicamente de sílica (62%),


Al2O3 (16%), CaO (5%) e Fe2O3 (5%), elevados teores de K2O, Na2O e MgO. Observa-se que o
teor de sílica presente no resíduo favorece a melhoria das propriedades mecânicas do concreto. A
Figura 2 ilustra o Difratograma de raio-x do resíduo de granito.

Figura 2 - Difratograma de raios x do resíduo de granito.

Observa-se na Figura 2, que as fases mineralógicas presentes no resíduo de granito foram:


mica, feldspatos, quartzo, caulinita, fases típicas de rochas graníticas. Comparando os resultados
encontrados com os obtidos por Mendonça (2012), observa-se que as fases mineralógicas presentes
no resíduo de granito são semelhantes às indicadas na literatura.
A Figura 3 ilustra as curvas de análises termodiferenciais e termogravimétricas do resíduo
de granito.

Figura 3 - Análise termogravimétrica e termodiferencial do resíduo de granito.

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Observando a curva termodiferencial do resíduo de granito verifica-se a presença das


seguintes transformações térmicas: pico exotérmico com máximo em 175,51ºC correspondente à
presença de água livre e adsorvida no material; pico endotérmico por volta de 578,04°C referente à
transformação do quartzo α em quartzo β e pico exotérmico em 709,76°C relacionado à presença de
hidroxilas da mica. Através da curva termogravimétrica, observa-se que a perda de massa total é de
3,78%, correspondente a perda de água livre e adsorvida e hidroxilas.
A Figura 4 ilustra os resultados obtidos para a resistência a compressão do concreto
incorporado com resíduo de granito nos teores de 10% e 20%.

26 7 dias
25,03
14 dias
24
Resistência a Compressão Simples (MPa)

22,01 28 dias
22
20,69
20
17,51 19,08
18
16,64 17,19
16

14 13,05
11,45
12

10
CREF - Concreto de CRG 10 - Concreto CRG 20 - Concreto
referência incorporado com 10% de incorporado com 10% de
resíduo de granito resíduo de granito

Figura 4 - Resistência à compressão do concreto incorporado com resíduo de granito

De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que a substituição do cimento por teores de
10% e 20% de resíduo de granito resultou em reduçaõ da resistência quando comparado com o
concreto de referência, verificando para o teor de 10% uma redução da resistência a compressão,
em torno de 16% , e para o teor de 20% uma redução da resistência de aproximadamento 28%.
De acordo com a norma da ABNT NBR 5739 (ABNT, 2007) e NBR 12655 (ABNT, 2006)
os resultados obtidos para o concreto incorporado com resíduo de granito no teor de 10%, para a
idade de 7 dias de cura são inferiores ao que a norma prescreve, que é de aproximadamente 14MPa
para a idade de cura de 7 dias. No entando, para a idede de 28 dias obteve-se resultados que
satisfazem aos parâmetros normativos.
Apesar do resíduo de granito apresentar em sua composição química um percentual superior
a 60% de SiO2, este não atuou significativamente paar o ganho de resistência mecânica, visto que

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faz-se necessário um tratamento térmico do resíduo para que a sílica existente em sua composição
torne-se ativa e possa atuar como um melhorador da resistência.
Outro fator importante a se considerar são as fases mineralógicas do resíduo , como quatrzo,
feldspato, mica e caulinita, caracteristicas de rochas graniticas e que possivelmente contribuiram
para a melhoria da resistência, impedindo que houvesse perdas tão significativas.
Gonçalves (2000) estudou a resistência de concretos incorporados com resíduo de granito e
verificou que quanto a resistência a compressão axial, os concretos com adição do resíduo
obtiveram um ganho na resistência na sua condição de idade máxima experimentada. Entretanto,
observou-se que o ganho de resistência não foi de uma diferença significativa.
Assim, é necessária a realização de ensaios mais intensos e com teores de resíduo de granito
inferiores aos utilizados nesta pesquisa para verificar a viabilidade de utilização como material
alternativo em concreto.
No entanto, neste estudo foi possível observar que mesmo não apresentando resistência
compatível a obtida para o concreto de referência, a incorporação do resíduo de granito possibilitou
a obtenção de resistência que atende aos parâmetros normativos, indicando que sua incorporação
nos teores em estudo, permite a obtenção de resistência à compressão simples, dentro do limite
estabelecido em norma.
A utilização do resíduo de granito como material alternativo na composição de concretos,
argamassa, peças cerâmicas e na construção civil de um modo geral, contribui para redução do
passivo ambiental, visto que, as indústrias de beneficiamento de granito geram diariamente volumes
consideráveis de resíduos que necessitam de uma destinação ambientalmente correta. Neste sentido
sua utilização como insumo na construção civil, permitirá a redução do impacto ambiental, agregará
valor a material e promoverá a produção de um concreto ecologicamente correto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que:


O resíduo utilizado apresenta potencial para utilização em concreto;
Ocorreu uma redução da resistência a compressão simples do concreto, no entanto, os
resultados obtidos atingem o limite mínimo estabelecido em norma;
A utilização do resíduo de granito como material alternativo para uso em concreto permitirá
a minimização dos impactos ambientais gerados pelo seu descarte no meio ambiente, contribuído
ainda para a redução do custo dos produtos e para uma destinação ambientalmente correta. A
composição química do resíduo de granito é similar a diversas matérias-primas utilizadas na
construção civil, no entanto, seu descarte no meio ambiente causa degradação da fauna e da flora

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

além de gerar sérios danos à saúde humana, assim, a utilização deste resíduo proporcionará ganhos
ambientais significativos.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 553


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESÍDUOS SÓLIDOS: PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL


NO MUNICÍPIO DE GUARABIRA-PB

Wandson do Nascimento SILVA


Mestrando em Geografia – UFPB
wandsongba@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho traz uma analise sobre os problemas socioambientais ocasionados a partir do
mau gerenciamento dos resíduos sólidos no município de Guarabira-PB. Nesse sentido buscou-se
contextualizar conceitos pertinentes a discussão, como também levantamentos documentais e dados
estatísticos que permitem o conhecimento sobre o problema exposto. Desta forma, a pesquisa tem
por objetivo a analise sobre o atual processo de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em
Guarabira-PB e os potenciais problemas socioambientais advindos de tal prática. A partir de
observações e informações levantadas foi possível constatar que o referido município enfrenta
sérios desafios no tocante a efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
principalmente quando relacionados aos serviços de coleta, transporte e destinação final dos
resíduos coletados. Portanto, o gerenciamento realizado pelo poder público municipal através da
Secretaria de Meio Ambiente encontra-se em desacordo com as normas e legislações vigentes,
necessitando uma participação mais efetiva por parte da sociedade, bem como da gestão municipal
no que concerne um gerenciamento ambientalmente adequado.
Palavras-Chave: Gerenciamento. Resíduos Sólidos. Política Nacional de Resíduos Sólidos.
RESUMEN
El presente trabajo aporta un análisis de los problemas socioambientales causados por la mala
gestión de residuos sólidos en el municipio de Guarabira-PB. En este sentido, se buscó
contextualizar los conceptos pertinentes a la discusión, así como encuestas documentales y datos
estadísticos que permitan conocer el problema expuesto. De esta manera, la investigación pretende
analizar el proceso actual de gestión de residuos sólidos municipales en Guarabira-PB y los
potenciales problemas socioambientales de dicha práctica. De las observaciones y de la información
planteada, fue posible observar que el municipio antes mencionado se enfrenta a serios retos en el
efecto de la política nacional de residuos sólidos (PNRS), especialmente cuando se relaciona con la
recolección, transporte y servicios finales de eliminación de residuos recolectados. Por lo tanto, la
gestión de las autoridades públicas municipales a través de la Secretaría de medio ambiente está en
desacuerdo con las normas y legislación vigentes, requiriendo una participación más efectiva de la
sociedad, así como la gestión municipal en la que se refiere la gestión ambientalmente adecuada.
Palabras clave: gestionar. Residuos sólidos. Política nacional de residuos sólidos.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais vários são os problemas de caráter socioambientais, que afetam tanto a
sociedade como o meio ambiente. Os resíduos sólidos surgem como uma das formas mais severas
de degradação do meio ambiente, principalmente devido a grande geração, formas de manejo
inadequados e posteriormente o descarte dos mesmos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Os Resíduos Sólidos são conceituados na Lei 12.305/2010, como sendo:

[...] ―material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em


sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível‖ (BRASIL, 2012, p. 11).

Desde a antiguidade até o século XVIII, os resíduos eram produzidos em pequenas


quantidades e constituídos essencialmente de material orgânico e, portanto degradados facilmente
pelos agentes de destruição e transformação, mas a partir da Revolução Industrial, com o
crescimento demográfico e a expansão das cidades, acrescido do aumento desenfreado das
atividades industriais, iniciou-se a geração de um número muito mais elevado de lixo resistente ao
processo de decomposição (DORST, 1973).
Pode-se dizer, no entanto, que um dos principais problemas causadores dessa problemática
foi o aumento populacional, quando as pessoas deixaram de pensar no meio ambiente e passaram,
por motivos econômicos, a pensarem apenas no consumismo, estabelecendo uma forma
desarmônica entre a sociedade e o meio natural.
Atualmente em todo o mundo, a geração de resíduos sólidos é visto como um dos maiores
problemas ambientais, sendo resultado da produção e do consumismo exagerado, principalmente
pelo déficit de aplicação de tecnologia de reutilização e reciclagem, também causa grande
preocupação a administração publica, quando se trata do mau gerenciamento, tornando assim um
foco de doenças e poluição ambiental, além de ser um dos maiores consumidores dos recursos
públicos (LOPES, 2006).
Nesse cenário pode ser compreendido que a sociedade moderna, bem como o poder público
enfrentam grandes dificuldades quando se trata de gerenciamento dos resíduos produzidos nos
municípios brasileiros. Uma vez que a ação de gerir abrange desde a forma de dispor os resíduos até
sua disposição final, e todo esse processo deve ser permeado por técnicas que minimizem os
impactos socioambientais.
Contudo, nem todos os resíduos produzidos acabam sendo depositados nos lixões
municipais, grande parte acaba sendo disposto em lugares inadequados, sendo encontrados em
córregos, rios e ruas, favorecendo o entupimento de bueiros, e tendo como consequência o
alagamento das cidades e a propagação de doenças através de agentes transmissores. Outro grave
problema envolvendo os resíduos é o processo de coleta.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), na Paraíba,
dos 1.080.672 domicílios particulares permanentes recenseados, em um total de 762.736 domicílios
o lixo é coletado diretamente por serviço de limpeza, outros 76.575 domicílios são depositados em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

caçambas de serviços de limpeza e em 241.351 domicílios são depositados em outros lugares, ou


seja, em áreas impróprias para esse tipo de acondicionamento, agredindo assim o meio ambiente.
Fica evidente que o número de domicílios que não são atendidos pelos serviços de limpeza
ainda é grande, principalmente quando se trata não apenas do recolhimento desses resíduos, mas
como serão tratados e onde serão depositados, pois isso não é apenas uma realidade paraibana, mas
sim uma situação encontrada em quase todos os 5.570 municípios que fazem parte da Federação
Brasileira.
Ainda de acordo com o último Senso Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a cidade
de Guarabira/PB também enfrenta esse tipo de problema, já que de um total de 16.252 domicílios
recenseados, 14.506 domicílios têm o lixo coletado diretamente por serviço de limpeza; em 649
domicílios, o lixo é colocado diretamente em caçambas de serviços de limpeza e 1.097 acabam
sendo depositados em lugares inadequados. Salienta-se, no entanto que esses dados sofreram
alterações, uma vez que em 2010, a população do município era de 55.326, e a estimativa para
2015, segundo o IBGE é de 58, 162.
Diante da atual situação de agressão socioambiental gerado pelo mau gerenciamento dos
resíduos sólidos urbanos o presente trabalho tem como objetivo analisar como vem sendo realizado
o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos e apresentar os possíveis impactos socioambientais
na cidade de Guarabira/PB.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico, em trabalhos científicos e


documentos legais relacionados à temática em questão, de forma a proporcionar um aporte teórico,
o qual partindo de conceitos norteadores tornou-se indispensável para o entendimento sobre às
questão abordadas no decorrer do trabalho.
Realizou-se levantamento de dados referentes ao município de Guarabira – PB acerca de
informações sobre como vêm sendo realizado o processo de gerenciamento dos resíduos sólidos
urbanos do município, bem como o andamento e situações problemas envolvendo a efetivação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos, através de observações in lócus relacionadas ao andamento
dos trabalhos realizados pela equipe que compõem o serviço de limpeza municipal. Onde observou-
se como é realizado a coleta dos resíduos nos domicílios, as varrições nas ruas, o transporte e a
destinação final dos resíduos coletados no município. Diante das informações obtidas, através dos
levantamentos bibliográficos e da pesquisa empírica, tornou-se possível compreender e analisar o
atual cenário envolvendo o processo de gerenciamento dos resíduos no município de Guarabira –
PB.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Localização Geográfica

Guarabira pertence ao estado da Paraíba, à mesorregião do agreste paraibano e microrregião


de Guarabira, mais precisamente entre a vertente oriental do Planalto da Borborema e o Litoral, ou
seja, na chamada Depressão Sublitorânea. Está a 98 Km da capital (João Pessoa) e possui altitude
média de 150 metros (ARRUDA, 2008).
A sede tem as seguintes coordenadas geográficas: 6° 85‘ longitude oeste e 35° 49‘ latitude
sul, como apresentado na Figura I. Ocupa uma área de 165,7 Km² possuindo de acordo com o
último censo uma população de 55.326 pessoas, sendo 48.960 na Zona Urbana e 6.366 na Zona
Rural, resultando em uma densidade demográfica igual a 333,80 hab/Km² (IBGE 2010).

Figura I: Localização do Município de Guarabira – PB


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

A cidade de Guarabira possui uma vegetação composta basicamente pela caatinga


hiperxerófila e, em alguns trechos, presenciam-se resquícios de floresta caducifólia, caracterizado
pela predominância do clima Tropical Semiárido (Bioma Caatinga) com a presença de chuvas no
verão e uma precipitação média anual de 431,8 mm, drenada pela bacia hidrográfica do Rio
Mamanguape (CPRM, 2005).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESÍDUOS SÓLIDOS: DESAFIOS NA SOCIEDADE MODERNA

Em tempos passados, a produção de resíduos por parte da população era, em sua grande
maioria, de origem orgânica e, portanto, facilmente degradada, causando pouco impacto ambiental.
Contudo, a partir do processo de urbanização e do modo de produção capitalista a sociedade
moderna acaba por produzir variados produtos inorgânicos e descartáveis, resultando na degradação
do meio ambiente (HISATUGO & MARÇAL JÚNIOR, 2007).
No entanto, vivemos em uma sociedade de consumo, onde prevalece o modo de vida
capitalista, e cada vez mais produtos são lançados no mercado, com uma gama de variedades que
estimulam o consumo. Associado a isso, vem suas embalagens, as quais possuem composições
distintas, podendo ser plástico, papel, vidro ou outro tipo de material, após o uso dos produtos, uma
grande quantidade de materiais, na maioria das vezes passível de seres incorporados no processo de
reciclagem.
Os resíduos sólidos são mais usualmente denominados de lixo, podendo ser interpretados
como sendo um conjunto formado por materiais descartados pelas pessoas em suas ações
cotidianamente, predominando assim, a percepção que esses resíduos não possuem mais nenhuma
utilidade para os indivíduos e principalmente para o modo de produção capitalista, ou seja, o lixo
pode ser entendido como sendo materiais que já não possuem nenhuma serventia, sendo dessa
forma realizado o descarte (GOMIDES, SCHENKEL e SOUSA, 2009).
A partir dessa compreensão surge um aspecto importante na discussão sobre a geração e
destinação dos resíduos sólidos urbanos produzidos, que é o processo de gerenciamento. Segundo
Bringhenti (2004), a questão referente ao gerenciamento dos resíduos sólidos é de responsabilidade
do poder municipal, tornando-se importante que o mesmo desenvolva ações orientadoras, para que
os cidadãos possam executar medidas que resultem na minimização da geração de lixo, como
também participem dos programas de coleta seletiva, sempre buscando a compreensão e
participação da população para minimizar os impactos oriundos desse problema.
Portanto, as ações envolvendo o gerenciamento devem ser bastante articuladas e que
possuam certo comprometimento. No entanto, vale salientar a importância das questões econômicas
e sociais envolvidas nesse contexto e do crescimento do processo de urbanização, pois são as
principais causas do mau gerenciamento dos resíduos.
Para tanto, se existir o objetivo de minimizar esses problemas, se faz necessária a efetiva
participação da sociedade no intuito de reduzir os descartes, reaproveitar e enviar os resíduos para
reciclagem, bem como exigir dos empresários, que criem programas de redução da geração de
resíduos e que aproveitem ao máximo os materiais passíveis de reciclagem e que a disposição final
dos resíduos ocorra de forma mais sanitária e adequada ambientalmente (FRÉSCA, 2007).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Esses materiais necessitam de ações que resultem em um proveitoso tratamento desses


resíduos, principalmente nas zonas urbanas onde a produção é mais acelerada, sendo o
gerenciamento integrado de resíduos sólidos uma alternativa para o enfrentamento dessa
problemática, o qual é conceituado por Tenório e Espinosa (2004):

―O gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos é a definição de um procedimento


que envolve várias técnicas de manejo e que será usado pelo município, visando otimizar o
gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Portanto o gerenciamento integrado de resíduos
sólidos urbanos constitui-se em um conjunto de instrumentos e técnicas que o município
deve aplicar com o objetivo de aumentar a eficiência da cada um dos instrumentos de
manejo. Além disso, esse gerenciamento visa aproveitar ao máximo os potenciais dos
resíduos sólidos com relação à sua reutilização e à sua reciclagem‖ (TENÓRIO E
ESPINOSA, p. 198).

Esse processo relacionado ao gerenciamento deve ter como gestor a administração


municipal, porém, muitas vezes não acontece de forma eficiente e positiva, pois os próprios
municípios acabam dispondo os resíduos produzidos na zona urbana, em lugares inadequados,
como exemplo os lixões que são controlados pelo poder municipal, e tudo isso está diretamente
relacionado a questões como o crescimento das cidades e a falta de planejamento ambiental.
Todo o lixo produzido nas residências, nas indústrias, em ambientes públicos, ou mesmo
aqueles que possuem uma origem especial, devem passar por processos de beneficiamento, o qual
deve ter o objetivo a reutilização de forma adequada, ou quando necessário fazer o descarte dos
rejeitos, os quais são caracterizados pelos resíduos que não possuem mais utilidade.
Para se ter um gerenciamento de forma integrada, se faz necessário conhecer todos os
elementos que envolve esse processo. Desde o conhecimento sobre a fonte geradora, os tipos de
resíduos produzidos, como também o manuseio, a coleta, transporte e destinação final dos mesmos.
Todos esses elementos, sendo trabalhados em conjunto, possibilitará um adequado processo de
gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.
Nas últimas décadas houve um significativo aumento nas discussões relacionadas às
questões ambientais, como também em relação aos problemas de ordens sociais ocasionadas pela
ação do homem, na transformação do espaço. Partindo das questões que tem os resíduos sólidos
como causador de problemas socioambientais, é que surge a crescente demanda por parte da
sociedade, em discutir políticas públicas comprometidas com essa questão. Assim, políticas
públicas são concebidas a partir de uma demanda social, e que não apenas é caracterizada pela sua
normatização, mas sim pela sua efetivação.
No Brasil, um marco legal relacionado a políticas publicas nacionais, direcionadas a abordar
as questões envolvendo os resíduos sólidos urbanos e seu gerenciamento, aconteceu em 2010, com
a instituição da Lei 12.305, a qual tem como objetivo nortear as ações de estados e municípios no
que concerne ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, possibilitando o desenvolvimento
econômico, social e ambiental de forma sustentável.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

[...] “A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos,


instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo governo federal, isoladamente ou em
regime de cooperação com estados, Distrito Federal, municípios ou particulares, com vistas
à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos‖
(BRASIL, p.12. 2012).

Partindo da instituição dessa política, alguns pontos relevantes devem ser abordados para se
compreender a realidade brasileira nos dias atuais. Um dos instrumentos dessa lei é a criação dos
Planos de Resíduos Sólidos, os quais estarão diretamente ligados à execução dessa lei nos
municípios. Associado a isso, outros elementos são importantes, dentre eles pode elencar a
implantação da coleta seletiva, o incentivo a criação de associações ou cooperativas voltadas ao
trabalho dos catadores de materiais recicláveis, ações voltadas a prática de educação ambiental e ao
desenvolvimento de pesquisas no campo cientifico e tecnológico. Também destaca-se os incentivos
a adoção de consórcios entre entes federados com a finalidade de alargar a escala de aproveitamento
e diminuição dos gastos envolvidos.
Diante desses elementos acima citados, juntamente com os demais elencados no art. 8º da lei
12.305/2010, fica possível compreender o cenário apresentado, em relação ao que a lei institui e
como na realidade os municípios vêm articulando essas ferramentas na prática. Todas essas ações
estão interligadas com o Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos.

REALIDADE DA PROBLEMÁTICA NO MUNICÍPIO DE GUARABIRA-PB

Como enfatizado anteriormente, um grande desafio dos poderes públicos é como gerenciar
os resíduos sólidos produzidos, principalmente nas áreas urbanas. Associado as dificuldades de
gerenciamento de forma adequada ainda surgem os problemas de ordem social e ambiental
provenientes de práticas inadequadas. Atualmente a gestão municipal de Guarabira é a responsável
pelo gerenciamento dos resíduos produzidos, a qual desenvolve trabalhos de coleta, transporte e
destinação final dos mesmos.
Todos os resíduos produzidos no município são provenientes de diversas fontes, destacando-
se os resíduos domésticos, comercial e público, os quais são captados e transportados pela equipe de
limpeza. Porém, ainda existem os resíduos que fazem parte da zona rural que não são coletados pelo
serviço de limpeza, que acaba indo parar em lugares impróprios, como terrenos baldios, margens de
rodovias e córregos d‘água. Em se tratando da coleta na zona urbana do município, busca-se
abranger toda sua malha urbana, através de mapeamentos das ruas, que utilizando cronogramas
acaba por coletar resíduos na maioria dos domicílios urbanos.
Todo o processo de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos é realizado pelo serviço
público de limpeza, o qual encontra-se vinculado a SUMASA. Exceto os resíduos oriundos dos
serviços de saúde, os quais são geridos por uma empresa privada/terceirizada, a qual é contratada
pelo poder municipal. Pois necessitam de manuseio, acondicionamento, transporte e destinação
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

final diferenciada. Esses resíduos possuem características peculiares e requerem um tratamento


diferenciado, uma vez que os mesmos estão relacionados a questões de saúde pública.
Ainda não existe uma prática de separação dos resíduos produzidos, seja ele de origem
domiciliar, comercial, especial ou público, sendo todos depositados no lixão, onde na área que
compreende o Lixão, uma parte é destinada apenas os resíduos provenientes de obras e resíduos
públicos, os demais resíduos são lançados em outra área sem nenhuma separação. Esses materiais
ao serem depositados acabam por serem selecionados por alguns catadores, retirando
principalmente os materiais recicláveis, os quais são levados para seus domicílios e posteriormente
comercializados. Essa prática de separação e comercialização é realizada por algumas famílias que
fazem desse comércio seus meios de sobrevivência.
Atualmente o município de Guarabira faz parte do Consórcio Intermunicipal de Resíduos
Sólidos (CONSIRES), composto inicialmente por 25 municipios, porém nem todos estão
elaborando seus Planos Municipais. Esse Plano Intermunicipal está sendo elaborado com uma
estimativa de planejamento para 22 anos, com revisões, pelo menos a cada 4 anos, sobre a gestão e
o gerenciamento dos resíduos sólidos em seu território.
O CONSIRES tem como principal objetivo unir diversas prefeituras da região na elaboração
e efetivação de um Plano Intermunicipal de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos (PIGRS). Esse
plano encontra-se em conformidade com o inciso I do art. 8º da Lei Nº 12.303/2010 definido no
artigo 14 da Lei Nº 12.305/2010 e no artigo 52 do Decreto Nº 7.404/2010. Cada município terá seu
próprio Plano Municipal e juntos comporão o Plano Intermunicipal, no qual foi investido
aproximadamente 900 mil reais. Esse planejamento está sendo formulado a partir de um Plano de
Mobilização Social, o qual segue as seguintes etapas:
 Reuniões – Núcleo CONSIRES (Prefeituras);
 Reuniões dos grupos técnicos – Comitê de coordenação e executivo;
 Oficinas Participativas;
 Seminários de abertura e de apresentação de resultados;
 Audiências públicas.
Em audiência pública realizada em 02/12/2015, foi apresentado, o Plano Municipal do
município de Guarabira em sua fase final de elaboração. Já em 30/12/2015 foi publicado no Diário
Oficial do Município de Guarabira, a Lei 1308/2015 de autoria do Poder Executivo Municipal, o
qual aprovou o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e Instituiu o
Plano Intermunicipal de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos (PIGRS). Desta forma, ficou
instituída de acordo com seu Art. nº 4 a Política Municipal de Resíduos Sólidos (PMRS),
fundamentada na Lei 12.305/2010.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A partir da efetivação dessas ações será viável a inserção do aterro sanitário o qual seguirá
os parâmetros estabelecidos pelos Planos, o qual irá sugerir localização adequada para a
implantação do mesmo, uma vez que necessita de alguns elementos importantes para o pleno
funcionamento. Essa localização se dará a partir de estudos voltados as características físicas e
análises dos possíveis impactos socioambientais oriundos do aterro.
Espera-se que o aterro tenha uma validade de 22 anos, e receberá apenas os rejeitos
produzidos em consequência da separação dos materiais que podem ser reciclados ou reutilizados.
A produção dos materiais orgânicos passará pelo processo de compostagem, permitindo a utilização
do composto pelos próprios órgãos da prefeitura, como também realizar a comercialização, se for o
caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto evidencia-se que o município de Guarabira – PB, ainda sofre alguns
problemas relacionados às questões pertinentes ao processo de gerenciamento dos resíduos
produzidos pela população local. Uma vez que as metas contidas na Política Nacional dos Resíduos
Sólidos ainda não foram postas em prática, acarretando diversos problemas de ordem
socioambientais.
Outro problema que chama a atenção é a questão referente à separação dos resíduos, pois o
município ainda não realiza essa prática, e mesmo quando se separa nos estabelecimentos seja
público ou privado, acabam sendo misturados no momento da disposição final. Ou seja, não existe
por parte do serviço de limpeza um aproveitamento ou beneficiamento dos materiais residuais
produzidos no município.
No entanto, outro grave problema enfrentado pela sociedade refere-se a disposição final,
uma vez que todo os resíduos produzidos acabam sendo dispostos no lixão municipal, ficando a céu
aberto. Com isso geram-se alguns problemas socioambientais como a poluição do solo, através da
infiltração do chorume, poluição de corpos hídricos e um dos principais causadores de reclamações
por parte das comunidades que residem nas proximidades do lixão, que é a poluição do ar, oriunda
da queima dos resíduos.
Diante do atual cenário referente aos problemas encontrado em Guarabira surgem
perspectivas no que concerne às práticas de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, a partir
da efetivação das metas propostas pela PNRS. Porém, mesmo com todo o aparato legal, os órgãos
responsáveis pelo gerenciamento ainda não se adequaram as legislações vigentes.
Portanto, nota-se que vários são os desafios que os poderes públicos junto com toda
sociedade ainda devem enfrentar. Em especial no tocante as práticas de educação Ambiental, a qual
deve permear as ações direcionadas ao processo de gerenciamento. Porém, mesmo diante dessas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dificuldades, o município deve buscar soluções pertinentes ao problema de gerenciamento dos


resíduos sólidos urbanos, com a finalidade de minimizar os impactos socioambientais, promovendo
uma melhor qualidade de vida para população local.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, Luciene Vieira de. Caracterização de ambientes agrícolas e dos principais solos do
município de Guarabira – PB. Areia - PB: UFPB/CCA, 2008. 88p. il. Tese (Doutorado em
Agronomia - Solos e Nutrição de Plantas. Orientador: Prof. Fábio Henrique Tavares de Oliveira.
Centro de Ciências Agrárias). Universidade Federal da Paraíba.

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,que institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos. 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012.
73 p.

BRINGHENTI, Jacqueline. Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos: Aspectos Operacionais e


da Participação da População. Tese de Doutorado. USP. São Paulo. 2004. 234p.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS - CPRM. Serviço Geológico do


Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do
município de Guarabira, Estado da Paraíba / (orgs.). MASCARENHAS, J. de C.; BELTRÃO, B.
A.; SOUZA JÚNIOR, L. C. de; MORAIS, F. de; MENDES, V. A.; MIRANDA, J. L. F. de.
Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. 10p + anexos.

DORST, Jean. Antes que a Natureza Morra. Editora Edgard Blucher. 1973.

FRÉSCA, Fábio Rogério Carvalho. Estudo da Geração de Resíduos Sólidos Domiciliares no


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GOMIDES,J. E. SCHENKEL, C. A. SOUSA, J. S. Gestão de Resíduos Sólidos no Instituto Federal


de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – Campus Uberaba. II Seminário
Iniciação Científica – IFTM, Campus Uberaba, MG. 20 de outubro de 2009.

HISATUGO, Erika. MARÇAL JÚNIOR, Oswaldo. Coleta Seletiva e Reciclagem como


instrumentos para a conservação ambiental: Um estudo de caso em Uberlândia, MG. Sociedade
& Natureza, 19 (2): 205-216, Dezembro, 2007.

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LOPES, Luciana. Gestão e Gerenciamento integrados dos Resíduos Sólidos Urbanos. Dissertação
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

USO DE MICROEMULSÃO NA REMOÇÃO DE HIDROCARBONETOS


POLIAROMÁTICOS EM ÁGUA PRODUZIDA DO PETRÓLEO

Yasmin Maria da Silva MENEZES


Mestre em Ciências e Engenharia de Petróleo da UFRN
yasminmsmenezes@gmail.com
Yasmine Ísis Fernandes do NASCIMENTO
Doutoranda em Ciências e Engenharia de Petróleo da UFRN
yasmine_isis@hotmail.com
Tereza Neuma de Castro DANTAS
Profa. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Petróleo da UFRN
terezaneuma1011@yahoo.com.br
Djalma Ribeiro da SILVA
Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Petróleo da UFRN
djalmarib@gmail.com

RESUMO
A água produzida é o maior volume de descarte de líquidos gerados durante a produção e
processamento de petróleo e gás natural e, a sua composição pode conter vários compostos tóxicos
naturais, dentre eles têm-se os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), cuja presença causa
efeitos nocivos ao meio ambiente. O presente trabalho aborda um estudo sobre a remoção de 15
HPA em água produzida utilizando sistema microemulsionado. Para isso, foi construído um
diagrama de fases pseudoternário para o sistema composto por água produzida enriquecida com
HPA, como fase aquosa (FA), n-hexano como fase oleosa (FO) e n-butanol e CTAB como
cotensoativo (C) e tensoativo (T), respectivamente, a uma razão C/T = 4. A partir da construção do
diagrama foi realizado um planejamento experimental simplex centróide para que a influência das
fases na remoção dos HPA fosse mensurada. A avaliação quantitativa, realizada por meio de
cromatografia líquida de alta eficiência com detector de fluorescência (HPLC-FLD), mostrou que a
extração utilizando a microemulsão é eficiente. A microemulsão apresentou uma remoção máxima
de acenaftaleno, fenantreno, antraceno e benzo(a)antraceno no ponto com a composição 90% FA,
5% FO e 5% C/T, de nafteno, acenafteno, fluoranteno e pireno no ponto de composição 70% FA,
25% FO e 5% C/T, e remoção máxima de criseno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno,
benzo(a)pireno, dibenzo(a,h)antraceno e benzo(g,h,i)perileno. Essa técnica se mostra promissora
para o tratamento da água produzida na remoção de HPA, constituindo-se em uma alternativa para o
tratamento desse rejeito.
Palavras-chave: Água produzida, HPA, microemulsão, tensoativo.
ABSTRACT
This paper discusses a study on the removal of 15 polycyclic aromatic hydrocarbons (PAH) in
produced water using microemulsionado system. For this, it was developed a pseudo-ternary phase
diagram consisting of produced water enriched with PAH, as the aqueous phase (AP), n-hexane as
oily phase (OP) and n-butanol and CTAB as cotensoativo (C) and surfactant (T), respectively, to a
right C/T = 4. From the construction of the diagram it was performed an simplex centroid
experimental planning for the study of the influence of the phases and, thus, it was possible to
identify the best point of extraction. The quantitative assessment, carried out by means of high
performance liquid chromatography with fluorescence detector (HPLC-FLD), showed that

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

extraction using the microemulsion is efficient. The microemulsion showed a maximum removal of
acenaphthylene, phenanthrene, anthracene and benzo[a]anthracene in point with the composition
90% AP, 5% OP and 5% C/T, of naphthene, acenaphthene, fluoranthene and pyrene in point
composition of 70% AP 25% OP and 5% C/T, and maximum removal of chrysene, benzo[b]
fluoranthene, benzo[k]fluoranthene, benzo[a]pyrene, dibenzo[a,h]anthracene and benzo[g,h,i]
perylene. This technique appears promising for the treatment of produced water in removing HPA,
constituting an alternative to the treatment of this reject.
Key words: Produced water, PAH, microemulsion, surfactants.

INTRODUÇÃO
A água produzida é um subproduto da produção e processamento de óleo e gás natural. É o
maior volume de descarte de líquidos gerados nesses processos podendo chegar a dez vezes o
volume de óleo produzido durante o tempo de vida do reservatório.
A composição química desse efluente pode conter vários compostos tóxicos de origem
natural, tais como frações de aromáticos voláteis do óleo (como benzeno, tolueno, xileno e
etilbenzeno – BTEX), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), ácidos orgânicos, fenóis e
fenóis alquilados, metais, radionuclídeos e alta salinidade.
Os HPA fazem parte de uma família de compostos com dois ou mais anéis aromáticos
condensados com baixa solubilidade em água e volatilidade. Sua solubilidade e volatilidade
diminuem com o aumento do número de anéis. Denis et al. (2012) afirmam que apesar de
constituírem uma classe importante de compostos orgânicos presentes na composição do petróleo,
sua concentração é muito baixa em relação aos outros hidrocarbonetos constituintes do petróleo.
Dados da Associação Internacional dos Produtores de Óleo e Gás (2002) mostram que a
contribuição dos compostos aromáticos na composição da água produzida chega a 3,2% dos quais
os HPA de massa molecular mais elevada (> 3 anéis) não chegam a 0,2%. Embora o teor de
aromáticos na água produzida seja baixo, seu destino e efeitos ao meio ambiente são nocivos e sua
ocorrência tem sido estudada com consideráveis detalhes. Segundo Mazzuco (2004), HPA de até
três anéis aromáticos são compostos extremamente tóxicos, enquanto que os de alto peso molecular
são considerados genotóxicos.
Uma das formas de minimizar a não agressão ao meio ambiente com o descarte desse tipo
de efluente é tratá-lo adequadamente antes do seu destino final. Atualmente o tratamento da água
produzida se resume em duas partes: separação de gases, sólidos e óleo livre; e a separação de óleo
emulsionado. Inúmeros processos de tratamento têm sido cada vez mais estudados visando uma
otimização do custo-benefício para as empresas. Dentre as técnicas que vêm sendo estudadas para
solucionar a problemática apresentada, o uso de microemulsões para o tratamento de água
produzida tem apresentado resultados muito promissores.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo Lindman e Danielsson (1981), as microemulsões são sistemas dispersos


macroscopicamente homogêneos formados a partir da solubilização espontânea de dois líquidos
imiscíveis (água-óleo) na presença de um tensoativo e, se necessário, um cotensoativo. Winsor
(1954) propôs uma classificação de sistemas em que as microemulsões estão presentes e se
encontram em equilíbrio com outras fases. Seja em equilíbrio com uma fase aquosa ou oleosa, que
estejam em excesso formando sistemas multifásicos, dependendo da composição, temperatura e
salinidade. O sistema de Winsor II (WII) se comporta de maneira que fase microemulsionada está
em equilíbrio com uma fase aquosa em excesso.
Na literatura há um grande número de registros que apresentam a utilização dessa técnica na
remoção de metais, como, por exemplo, Nascimento (2014) utiliza este sistema para extrair metais
de água produzida sintética. Entretanto, os sistemas microemulsionados ainda não foram
introduzidos na remoção de compostos orgânicos em água produzida do petróleo, o que serve de
motivação para o desenvolvimento deste trabalho cujo objetivo é remover os HPA dessa matriz
utilizando esse tipo de sistema.

MATERIAIS E MÉTODOS

Obtenção do Diagrama de Fases

O método para construção do diagrama de fases baseia-se no estudo realizado por Moura
(2001), onde é realizada uma titulação gravimétrica entre os componentes, a fim de se obter as
respectivas proporções mássicas entre eles, e observando-se as mudanças de fases, delimita-se as
regiões de Winsor.
Para a formação do sistema CTAB/ n-butanol/ Água Produzida/ n-hexano, a mistura foi
titulada em tubo de ensaio e, para cada gota adicionada, o sistema era agitado, por meio de um
agitador mecânico (Fisaton, Modelo 752), e, em seguida, centrifugado (Centrífuga Quimis Q,
Modelo 222T28). Quando uma variação no sistema era identificada, o tubo com a solução era
pesado em uma balança analítica (Precisa, Modelo 240A) e a composição neste ponto era
determinada por um balanço de massas. A partir dos pontos definidos, as curvas de separação entre
os sistemas de Winsor I, II, III e IV foram traçadas em um diagrama pseudoternário (MELO, 2008).

Materiais utilizados

A água produzida utilizada nesse estudo foi proveniente da Bacia Potiguar. Trata-se de uma
água oleosa com alto teor de metais, matéria orgânica e salinidade aproximada de 40x10 3mg/L,
enriquecida com 40 µg/L de um padrão mix de HPA, da AccuStandard, na concentração de 2x106
µg/L, contendo: naftaleno (Naph), acenaftaleno (A), acenafteno (Ace), fluoreno (Flu), fenantreno

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(Phe), antraceno (Ant), fluoranteno (F), pireno (Pyr), benzo(a)antraceno (BaA), criseno (Chr),
benzo(b)fluoranteno (BbF), benzo(k)fluoranteno (BkF), benzo(a)pireno (BaP),
dibenzo(a,h)antraceno (DahA) e benzo(g,h,i)perileno (BghiPer).
O tensoativo escolhido para realizar a remoção de HPA pelo sistema microemulsionado foi
o brometo de cetiltrimetilamônio (CTAB) da marca CRQ, o cotensoativo foi o n-butanol da marca
Vetec e como fase oleosa foi utilizado um n-hexano da Merck.

Quantificação dos analitos


A presença de HPA nas amostras tratadas foi avaliada quantitativamente por meio de
cromatografia líquida de alta eficiência com detector de fluorescência (HPLC-FLD), da
ThermoScientific. Devido à alta complexidade dessas misturas em amostras ambientais, um
procedimento de três passos deve ser realizado para sua análise e determinação, segundo a Agência
de Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças (ATSRD, 2016): extração e isolamento dos HPA da
matriz da amostra; limpeza das impurezas nas misturas de HPA e fracionamento dos HPA em
subgrupos; e identificação e quantificação dos componentes individuais em cada subgrupo. Assim,
o método de extração de HPA da matriz das amostras que foi utilizado foi o particionamento
utilizando o solvente n-hexano e cada amostra foi extraída três vezes com a finalidade de se obter
uma maior confiança no método.
O particionamento ocorre da seguinte forma: 10 mL de amostra são adicionados a um tubo
de ensaio e posteriormente 1mL de n-hexano é adicionado. O tubo é fechado, submetido a agitação
mecânica por 30s e deixado em repouso para que ocorra a separação das fases. O líquido
sobrenadante (fase orgânica) é extraído com auxílio de uma microseringa e transferido para um tubo
cônico. Esse procedimento foi repetido três vezes. Ao tubo cônico foi adicionado aproximadamente
1g de sulfato de sódio anidro para que o excesso de água fosse retirado, e o conteúdo final foi
transferido para um vial. O n-hexano foi evaporado e a amostra foi reconstruída com acetonitrila
(ACN), que é um solvente polar, compatível com a determinação por HPLC-FLD.

Planejamento experimental
Neste trabalho a metodologia empregada na investigação do comportamento da extração dos
HPA na água produzida utilizando o sistema CTAB/ n-butanol/ água produzida/ n-hexano aplicou o
planejamento simplex centróide, que se baseia na variação das propriedades da mistura que
compões a microemulsão em função da concentração de seus constituintes. O estudo foi composto
por 7 ensaios, e suas respectivas réplicas, e o tratamento estatístico dos resultados foi realizado
utilizando o software Statistica 7.0, modelo cúbico especial (StatSoft, EUA).

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diagrama de Fases
A determinação da região do diagrama a ser usada nos ensaios de extração visa a escolha do
sistema à ser utilizado como agente extrator visando obter bons resultados na remoção dos HPA em
amostras de água produzida e menor custo. Para isso, é necessário determinar as regiões de Winsor
para os sistemas em estudo.
A Figura 01 apresenta o diagrama pseudoternário obtido com as regiões de Winsor para o
sistema estudado.

Figura 01 – Diagrama pseudoternário do sistema CTAB/ n-butanol/ água produzida/ n-hexano


utilizado na remoção de HPA, 25°C.

A partir da análise do diagrama de fases obtido para esse sistema (Figura 01), é possível
observar que o sistema apresenta diferentes regiões de Winsor, predominando a região de WII e
com a ausência de WIII.

Estudo da remoção de HPA utilizando o sistema microemulsionado

O modelo de planejamento simplex centróide baseia-se em variações das propriedades de


uma mistura ternária em função das concentrações dos seus constituintes. Em um diagrama
pseudoternário representando as zonas de Winsor, na região de WII, rica em água, foi construído
um triângulo equilátero para o estudo das etapas de extração (LUCENA NETO, 2005). A região
onde o simplex centróide será utilizado é apresentada na Figura 02.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 02 – Representação do modelo simplex centroide para o sistema CTAB/ n-butanol/ água
produzida/ n-hexano utilizado no processo de remoção de HPA.

As composições calculadas para os pontos de cada sistema encontram-se na Tabela 01.

Composição (%)
Ponto
FA FO C/T
1 90 5 5
2 70 5 25
3 70 25 5
4 80 5 15
5 70 15 15
6 80 15 5
7 76,67 11,67 11,67
Tabela 01 – Composição dos pontos de extração calculados.

Os pontos de interesse para se realizar os ensaios de remoção foram escolhidos de modo que
fosse utilizado o máximo de água e o mínimo de matéria ativa, assim, o processo tem um melhor
custo-benefício.
Deste modo, os resultados apresentados referentes à remoção dos 15 HPA estudados em
cada um dos pontos de extração estão apresentados na Tabela 02.

Pontos de Extração
HPA
1 2 3 4 5 6 7
Naph 98,784 99,301 100 98,443 98,640 8,987 0
A 99,957 99,498 99,953 98,712 98,110 79,662 74,294
Ace 99,542 99,078 99,649 98,535 98,380 98,297 98,331
Flu 99,447 98,532 99,489 98,326 98,134 98,163 98,437
Phe 99,254 98,003 99,125 98,691 97,827 98,292 99,021
Ant 99,401 98,178 99,075 98,753 97,827 98,472 99,189
F 100 100 100 100 100 100 100

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Pyr 98,658 97,252 97,899 98,426 97,119 97,456 98,818


BaA 99,704 99,563 99,657 99,702 98,299 98,837 99,526
Chr 99,862 99,441 99,823 99,654 98,590 99,012 100
BbF 99,698 99,470 99,527 99,614 98,368 99,062 99,941
BkF 99,706 99,569 99,515 99,707 98,059 98,609 99,892
BaP 99,695 99,480 99,536 99,661 98,031 98,688 99,886
DahA 99,803 99,691 99,579 99,777 97,595 98,734 100
BghiPer 99,778 99,698 99,555 99,785 98,075 98,726 99,920
Tabela 02 – Porcentagem de remoção de HPA em água produzida tratada, nas concentrações
40µg/L, nos 7 pontos experimentais; Naph: Naftaleno, A: Acenaftaleno, Ace: Acenafteno,
Flu: Fluoranteno; Phe: Fenantreno; Ant: Antraceno, F: Fluoreno; Pyr: Pireno; BaA:
Benzo(a)Antraceno, Chr: Criseno, BbF: Benzo(b)Fluoranteno, BkF: Benzo(k)Fluoranteno,
BaP: Benzo(a)Pireno, DahA: Dibenzo(a,h)Antraceno, BghiPer: Benzo(g,h,i)Perileno.
Fonte: Autor, 2017.

Os resultados apresentados mostram que na região central do triângulo, no ponto 7 (76,67%


FA, 11,67% FO, 11,67% C/T), a remoção de naftaleno chegou a ser nula, provavelmente porque o
aumento da porcentagem de C/T não foi suficiente para aumentar a sua solubilização. Por outro
lado, quando se tem 25% de FO e 5% de C/T, como é o caso do ponto 3, o sistema formado
favoreceu a solubilização dos compostos, certamente porque nessa composição, a geometria das
micelas favoreceu a extração dos compostos independentemente de sua polaridade. O acenaftaleno
apresentou um comportamento similar ao do naftaleno, com menores remoções nos pontos 7 e 6
(80% FA, 15% FO, 5% C/T), contudo não chegaram a ser nulas.
As porcentagens de remoção referentes ao acenafteno e fluoranteno mostram que a região de
maior extração de HPA é a do ponto 3 (70% FA, 25% FO, 5% C/T) onde a máxima porcentagem de
óleo e C/T e mínima de água se concentra. Entretanto, os demais pontos também apresentaram altas
porcentagens de remoção com aproximadamente 99% e 98% de remoção de acenafteno e
fluoranteno.
O fenantreno e o antraceno apresentaram comportamentos muito semelhantes, com a região
de maior remoção de HPA compreendendo os pontos 1 (90% FA, 5% FO, 5%C/T) e 3 (70% FA,
25% FO, 5% C/T) e também a região central no ponto 7 (76,67% FA, 11,67% FO, 11,67 C/T), com
aproximadamente 99% de remoção. Os demais pontos também apresentaram uma porcentagem de
remoção muito boa, de 98%.
Para o pireno, os pontos 1 (90% FA, 5% FO, 5%C/T) e 7 (76,67% FA, 11,67% FO, 11,67%
C/T) foram as de melhor remoção de HPA, chegando a 98,5% de remoção. Os pontos 2 (70% FA,
5% FO, 25% C/T) e 5 (70% FA, 15% FO, 15% C/T) tiveram uma menor eficiência de remoção de
97,5%, mostrando que para o pireno, é necessário que se tenha uma maior quantidade de água.
O fluoreno apresentou 100% de remoção em todos os pontos estudados.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A remoção de criseno, benzo(a)antraceno, benzo(a)pireno, benzo(b)fluoranteno,


benzo(k)fluoranteno, dibenzo(a,h)antraceno e benzo(g,h,i)perileno ocorre satisfatoriamente em
grande parte da região de estudo. As porcentagens de remoção mostram que, com exceção dos
pontos 5 (70%FA, 15% FO, 15% C/T) e 6 (80% FA, 15% FO, 5% C/T), que obtiveram
porcentagens de remoção um pouco mais baixas variando de 97,6% a 99,1%, aproximadamente, os
outros pontos atingiram valores de remoção superiores, chegando a 100% de remoção de criseno e
dibenzo(a,h)antraceno no ponto 7 (76,67% FA, 11,67% FO, 11,67% C/T).
Foi possível perceber que a remoção dos HPA de massa molecular mais elevada (>3 anéis)
foi, em geral, mais eficiente no sistema e, segundo Prak et al. (2002), existe uma certa competição
na remoção dos HPA, que favorece os HPA de peso molecular mais elevado, por eles possuírem
uma maior afinidade com a microemulsão, devido sua baixa solubilidade em água.
Chum et al (2001) explicam que o poder de solubilização dos HPA na microemulsão pode
ser alterado em decorrência da concentração dos HPA de massa molecular mais elevada, uma vez
que a solubilidade em microemulsão dos HPA é aumentada na presença daqueles de massa
molecular mais baixa (por serem menos hidrofóbicos) e reduzida na presença dos de massa
molecular mais elevada (mais hidrofóbicos).

CONCLUSÕES

A otimização da extração dos HPA por microemulsão, feita utilizando o planejamento


experimental simplex centróide, permitiu estudar a influência de diferentes variáveis e as interações
entre elas e, conclui-se que:
a. As variáveis estudadas, fase aquosa, fase oleosa e matéria ativa, mostraram que as
respostas para a extração de HPA possuem comportamentos independentes e
diferentes;

b. Os HPA estudados, que possuem menor peso molecular, apresentaram como ponto
ótimo de remoção o ponto 1 (90% FA, 5% FO, 5% C/T) e o ponto 3 (70% FA, 25%
FO, 5% C/T), sendo um resultado considerado bom, pois utiliza uma máxima
porcentagem de água, pouca matéria ativa e fase óleo, apresentando valores médios
de extração entre 98,6% e 100%, enquanto que os HPA de maior peso molecular
apresentaram o ponto 7 (76,67% FA, 11,67% FO, 11,67% C/T) como ponto ótimo de
remoção.

Os resultados obtidos neste estudo revelaram que é possível extrair HPA com eficiência
utilizando o sistema CTAB/ n-butanol/ água produzida/ n-hexano. Portanto, este trabalho apresenta-

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

se como uma boa contribuição e mostra-se como uma alternativa ao tratamento de água produzida
utilizando microemulsão para extração de HPA com viabilidade técnica e eficiência.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DE TENSOATIVOS NA REMOÇÃO SIMULTÂNEA DE


EM EQUILÍBRIO DE WINSOR II ÂNIONS EM ÁGUA PRODUZIDA UTILIZANDO
SISTEMAS MICROEMULSIONDOS

Yasmine Ísis Fernandes do NASCIMENTO


Doutoranda em Ciência e Engenharia de Petróleo no PPGCEP/UFRN
Yasmine_isis@hotmail.com

Gregory Vinicius Bezerra de OLIVEIRA


Estudante de Graduação em Engenharia Química/UFRN
gregory_vinicios@hotmail.com

Tereza Neuma de Castro DANTAS


Prof. Dra. do Instituto de Química, UFRN
tereza@eq.ufrn.br

RESUMO
Este trabalho avalia a eficiência de tensoativos utilizados em sistemas microemulsionados para a
extração simultânea de ânions (acetato, brometo, cloreto, enxofre, nitrato e sulfato) contidos na
água produzida em uma única etapa de processo. Foram utilizados sistemas contendo em sua
composição: água produzida de petróleo como fase aquosa (FA), hexano como fase orgânica (FO),
e uma razão cotensoativo/tensoativo igual a quatro (C/T= 4), foram utilizado seis tipos de
tensoativos não iônicos (Renex e Alkonat); aniônicos (OCS e SDS); catiônicos (Ultramina e CTAB)
e o n-butanol como cotensoativo. Foram escolhidos dois pontos localizados na região de Winsor II,
em uma região com grande quantidade de água e pouca quantidade de tensoativo. Um ponto
mínimo (5%C/T; 5%FO; 90%FA) e um ponto máximo de (30%C/T; 10%FO e 60%FA) de matéria
ativa. As amostras foram analisadas e avaliadas através da cromatografia iônica, utilizado um ICS-
2000 da Dionex - Thermo Scientific, com detector de condutividade e supressão eletroquímica.
Tendo em vista os percentuais das extrações observados nos experimentos, todos os tensoativos
apresentaram remoção, porém para todos, os melhores resultados foram apresentados na maior
composição de matéria ativa, ou seja, quanto maior a quantidade de tensoativo presente no sistema,
melhor o fator de remoção simultânea. O sistema microemulsionado que contém a Ultramina como
tensoativo foi o que apresentou o melhor percentual de remoção simultânea dos ânions estudados,
em torno de 25% de eficiência.
Palavras-chaves: Tratamento, Àgua produzida, Remoção simultânea, ânions, Winsor II
ABSTRACT
This work evaluates the efficiency of surfactants used in microemulsion systems for the
simultaneous extraction of anions (acetate, bromide, chloride, sulfur, nitrate and sulfate) contained
in the water produced in a single process step. It was used systems containing in its composition: oil
produced water as aqueous phase (AP), hexane as organic phase (OP), and a cosurfactant ratio of
four (C/S = 4), six types of surfactants Nonionic (Renex and Alkonat); Anion (SCO and SDS);
Cationic (Ultramina and CTAB) and n-butanol as a cosurfactant. Two points located in the region
of Winsor II were chosen, in a region with a large amount of water and little amount of surfactant.
A minimum point (5% C/S, 5% OP, 90% AP) and a maximum point of (30% C/S, 10% OP and
60% AP) active matter. The samples were analyzed and evaluated by ion chromatography, using an
ICS-2000 from Dionex - Thermo Scientific, with conductivity detector and electrochemical

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

suppression. Considering the percentages of the extractions observed in the experiments, all
surfactants showed removal, but for all, the best results were presented in the higher composition of
active matter, that is, the higher the amount of surfactant present in the system, the better the
Simultaneous removal. The surfactant that presented the best percentage of simultaneous removal
of the studied anions was the cationic surfactant ultramin, which obtained around 25% of efficiency.
Keywords: Treatment, produced water, simultaneous removal, anions, Winsor II

INTRODUÇÃO

Água Produzida é um subproduto proveniente do processo de extração do petróleo. Essa


água tem como característica principal a alta salinidade podendo estar associada a grandes
quantidades de contaminantes tais como: partículas de óleo em suspensão, produtos químicos
adicionados nos diversos processos de produção, metais pesados e, em alguns casos, até compostos
radioativos. Isto a torna um poluente de difícil descarte agravando-se pelo expressivo volume
(LIMA, 2008).
No processo de tratamento do óleo, a água oriunda desse processo carrega grandes
quantidades de cátions, ânions, hidrocarbonetos e de microorganismos, sendo um dos
contaminantes mais indesejados na indústria de petróleo. Além desses contaminantes, essa água
possui caráter corrosivo, causando transtornos na produção, transporte e refino, devido aos altos
teores de cloreto, carbonatos e sulfatos em sua composição, deixando a água com pH ácido
(NASCIMENTO, 2014).
Alguns sais de cloreto e de sulfato mais comuns encontrados na água produzida, na forma de
cloreto cálcio e sulfato de magnésio, se dissociam em solução aquosa, reagem ao serem aquecidos
formando ácido clorídrico e ácido sulfúrico. Para a indústria de petróleo esses ácidos formam um
gás corrosivo que podem causar grandes acidentes, destruindo dutos e torres de destilação e ao meio
ambiente. Por esse motivo a água produzida é alvo de atenção por não poder ser descartada sem um
tratamento adequado. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, trazendo valores referência com relação à
concentração destes contaminantes para que o lançamento desse efluente seja possível (CONAMA
357/05; CONAMA 430/11). Porém, é necessário tratamento prévio para torná-lo um efluente
próprio para descarte. Nas últimas décadas pesquisas veem sendo realizadas no tratamento de
efluentes utilizando, tensoativos e sistemas microemulsionados (DANTAS et al 2002; DANTAS et
al 2003, YANG, 2008; LU, 2011).
Tensoativos são compostos anfifílicos que possuem na sua estrutura duas regiões de
polaridades opostas: uma polar (hidrofílica) e outra apolar (hidrofóbica), que atuam baixando as
tensões interfaciais e superficiais e com grande capacidade de se adsorverem nas interfaces (ROSSI,
2016).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As microemulsões são formadas a partir da solubilização espontânea de dois líquidos


imiscíveis (água-óleo) na presença de um tensoativo e, se necessário, um cotensoativo.
Diferenciam-se das emulsões por serem sistemas estáveis, transparentes ou translúcidos, com baixa
tensão interfacial e com capacidade de combinar grandes quantidades de dois líquidos imiscíveis
em uma única fase homogênea (ROSSI, 2007).
Os equilíbrios de sistemas microemulsionados foram classificados por Winsor (WINSOR,
1954), pela ocorrência de diferentes regiões no diagrama de fases do sistema e, de acordo com esses
equilíbrios, são conhecidos como: Winsor I (WI): quando a fase microemulsionada está em
equilíbrio com uma fase oleosa em excesso; Winsor II (WII): quando a microemulsão está em
equilíbrio com uma fase aquosa em excesso; Winsor III (WIII): caracterizado pelo sistema trifásico,
onde a microemulsão está em equilíbrio com as fases aquosa e oleosa ao mesmo tempo; Winsor IV
(WIV): caracterizado pelo sistema monofásico, em escala macroscópica, constituído por uma única
fase de microemulsão.
Na procura de novas técnicas para o tratamento de água produzida e mediante a
problemática apresentada, este trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência dos tensoativos em
sistemas de microemulsão na remoção de ânions, contidos na água produzida, em uma única etapa
de extração.

MATERIAIS E MÉTODOS

Obtenção do Óleo de coco saponificado

O tensoativo OCS (óleo de coco saponificado) - foi sintetizado utilizando-se um balão de


fundo redondo de 1000 mL, ao qual foram adicionadas 100 g de óleo de coco, 300 mL de álcool
etílico (Neon - 99,5%) e 21,22 g de NaOH (Synth, 100%) dissolvidos em 80 mL de água destilada.
O balão foi conectado à um condensador de refluxo, mantendo o sistema em aquecimento em manta
(Fisaton, Mod. 52E), durante 2 horas (80 °C). Após este tempo, o material foi colocado em um
béquer de 600 mL e aquecido a 120 ° C (700 rpm) em um agitador magnético (Fisaton, Mod. 754-
A), sob aquecimento para evaporar o álcool em excesso e promover a cristalização do sabão. O
tensoativo, óleo de coco saponificado (SCO), uma mistura de sabão, foi pulverizado e mantido em
um dessecador (NASCIMENTO, 2014).

Obtenção e caracterização da água produzida

A água produzida sintética foi preparada em etapas, visando se aproximar ao máximo de


uma água produzida real baseado nas metodologias descritas na literatura (LIMA, 2008;
ABDOLLAHZADEH, 2013; NASCIMENTO, 2013; NASCIMENTO; 2014). A primeira etapa foi

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 577


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o preparo da água salina contendo (em g. L-1): 4,35 MgCl2; 0,13 BaCl2; 3,27 CaCl2; 0,04
CrCl3.6H2O; 0,04 FeCl3.6H2O e 0,006 MnSO4.H2O. Os sais foram pesados e misturados, e a
mistura resultante foi transferida para um balão volumétrico de 1 L cujo volume foi aferido com
água destilada. Na segunda etapa, misturou-se em um béquer de 1L, 300 mL da solução salina com
1g de petróleo bruto, proveniente do Campo Marítimo de Ubarana – Macau/RN (densidade de
0,8582 g/cm3, 33,23° API e viscosidade de 14,94 cP, determinados em uma temperatura de 30ºC).
O sistema foi mantido sob agitação até a dispersão da massa de petróleo. Em seguida, adicionou-se
os 600 mL restantes da solução salina, completando a mistura. Devido à baixa solubilidade do
petróleo em água, o sistema foi levado para o ultrassom (Elma, Transsonic 460), durante 1 hora, a
fim de homogeneizar a solução.
A determinação e caracterização da concentração dos ânions (acetato, brometo, cloreto,
enxofre, nitrato e sulfato), foi avaliada através da cromatografia iônica, utilizado um ICS-2000 da
Dionex - Thermo Scientific, com detector de condutividade e supressão eletroquímica, coluna
analítica AS19, de 4x250 mm, coluna de guarda AG19 4x50 mm, volume de injeção de 25 µL e
geração de eluente (10 mM KOH de 0-10min, rampa até 45 mM KOH de 10-30min).

Obtenção dos Diagramas de Fases

A determinação dos sistemas microemulsionados foi realizada através da obtenção dos


diagramas de fases, por titulação, onde quatro diferentes componentes são adicionados ao sistema,
(FA) água produzida, (FO) hexano, (T) Renex; Alkonat; OCS; SDS; Ultramina e CTAB e (C) n-
butanol, sendo representado por diagramas pseudoternarios de razão C/T: (4:1) (DANTAS et al.,
2009; NASCIMENTO, 2014), a composição dos sistemas estudados estão apresentadas na tabela
01.
Dois componentes são mantidos numa proporção fixa (FO e C/T), até a mudança de aspecto
físico do sistema, passando de límpido para turvo, ou vice-versa. Para cada alteração no sistema o
volume de fase titulada é pesado, e por balanço de massa, os pontos são obtidos, bem como as
linhas de delimitação de fases dos sistemas de Winsor são traçados formando o diagrama de fases
(NASCIMENTO, 2014), os diagramas obtidos estão apresentados na figura 02.

Composições dos Diagramas de Fase


Sistema Razão C/T C/T FA FO
1 4 n-Butanol/Renex Água Produzida Hexano
2 4 n-Butanol/Alkonat Água Produzida Hexano
3 4 n-Butanol/CTAB Água Produzida Hexano
4 4 n-Butanol/Ultramina Água Produzida Hexano
5 4 n-Butanol/SDS Água Produzida Hexano
6 4 n-Butanol/OCS Água Produzida Hexano
Tabela – 01 Composição dos diagramas pesudoternários utilizados e suas variações na FO; razão C/T e FO,
sendo sua FA água produzida.

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Escolha dos pontos dos sistemas microemulsionados visando à aplicação na extração

Na etapa de extração, os ensaios foram realizados no equilíbrio de Winsor II, onde existem
duas fases bem definidas, sendo a superior uma microemulsão e a inferior a fase aquosa, figura 01.
Cada ponto estudado foi preparado em tubos graduados do tipo Falcon de 50 mL, através
das pesagens dos constituintes: Cotensoativo/Tensoativo (C/T), fase orgânica (FO) e fase aquosa
(FA), conforme composições pré-definidas. Em seguida, os tubos foram mantidos sob agitação em
uma centrífuga de marca (Quimis Q – 222T28) durante 5 minutos, a 4000 RPM, visando a
separação de fases. Logo após, os pontos foram mantidos em repouso por alguns minutos para
permitir a separação das fases do sistema WII. Por fim, a fase aquosa foi coletada e separada, para
ser analisada, como mostra a Figura 01.

Figura 01 - Etapas de extração: Água produzida sem tratamento; Sistema com todos constituintes (FA);
(FO); (C/T); Sistema após centrifugação em equilíbrio de Winsor II; Água produzida tratada extraída do
sistema.
Fonte: Autor

Em seguida a fase aquosa foi coletada e as concentrações dos ânions (acetato, brometo,
cloreto, enxofre, nitrato e sulfato) foram avaliadas através da cromatografia iônica, utilizado um
ICS-2000 da Dionex - Thermo Scientific.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram desenvolvidos seis diagramas pseudoternários para os sistemas em estudo e


escolhidos dois pontos de interesse, comuns a todos os sistemas, um ponto com o mínimo de
matéria ativa (5% C/T; 5% FO; 90%FA) e o máximo de matéria ativa (30%C/T; 10%FO; 60%FA),
cujos resultados estão apresentados nos gráficos em seguida, figura 02.

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(1) (3) (5)

(2) (6)
(4)

Figura – 02. Diagramas pseudoternários com as respectivas composições (5% C/T; 5% FO; 90%FA) e
(30%C/T; 10%FO; 60%FA).

Analisando a Figura 02 observa-se que os diagramas pseudoternários obtidos apresentaram


regiões de WII bem definidas, porém, apenas o tensoativo catiônico Ultramina, não apresentou
região de WII no ponto de (5% C/T; 5%FO; 90%FA).
Aplicou-se os dois pontos escolhidos na extração dos ânions (acetato, brometo, cloreto,
enxofre, nitrato e sulfato), cujos resultados estão apresentados na figura 03, relacionando a remoção
total das espécies.
Para os tensoativos não iônicos (Alkonat e Renex) que em sua estrutura não apresentam
cargas na parte polar (cabeça do tensoativo), as interações das cargas praticamente não existem
devido às fracas forças de atração, observa-se que na composição de (5% C/T; 5% FO; 90%FA),
comparando os dois tensoativos (Alkonat e Renex), obteve-se uma extração média de 4,5%, isso se
explica devido à agitação provocada pela centrifugação do sistema que consegue vencer as força de
atração do tensoativo com as moléculas de água, favorecendo uma mínima extração. Enquanto na
composição de (30%C/T; 10%FO; 60%FA) ocorreu um aumento médio de extração de 18%,
percebe-se que com o aumento do percentual de matéria ativa houve aumento na extração,
certamente devido a diminuição na tensão interfacial que favoreceu a extração.

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Figura – 03. Representação gráfica do estudo de remoção simultânea dos tensoativos estudados, nos pontos
(5% C/T; 5% FO; 90%FA) e (30%C/T; 10%FO; 60%FA).

Para os tensoativos catiônicos (CTAB e Ultramina) que apresentam carga positiva na região
polar da molécula, na composição mínima de tensoativo, para o CTAB, obteve-se uma extração de
3%, e na composição máxima um acréscimo negativo de -2,4%, o acréscimo no percentual de
remoção se explica devido à parte polar do tensoativo ser brometo, quando ocorre a troca iônica na
solução, o tensoativo libera para o sistema íons brometo e atraí outras espécies de carga nuclear
efetiva menor, no entanto, o nitrogênio, por ser mais eletronegativo que o carbono, consegue atrair
parcialmente os elétrons envolvidos nessa ligação. Como os elétrons apresentam carga negativa,
esse efeito neutraliza parcialmente a carga positiva do tensoativo, reduzindo a polaridade da região
polar do tensoativo. O mesmo se aplica ao tensoativo Ultramina, que obteve um percentual de
remoção em torno de 25% na composição de (30%C/T; 10%FO; 60%FA), no ponto de menor
composição (5% C/T; 5% FO; 90%FA) não apresentou regiões de WII, logo não pode ser avaliado.
Os resultados obtidos para os tensoativos aniônicos mostraram percentuais de extração de
extração mínimas e máximas em torno de (20% – 23%) para o OCS e (9% – 7%) para o SDS. Os
tensoativos aniônicos, quando dissolvidos em água, liberam o contra íon de sódio que se dissolve na
água e o restante da molécula adquire uma carga negativa efetiva, pois é um ânion que foi gerado da
dissociação de um sal em água. Como a reação ocorre por troca iônica e a cabeça do tensoativo é
negativa, a interação não seria tão favorecida, porém, observa-se que ocorre boa remoção,

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comparado com os tensoativos não iônicos, que não apresentam carga em sua parte polar.
Comparando com os tensoativos catiônicos, o CTAB por ter o brometo presente em sua estrutura
não favoreceu a remoção no sistema, mas a Ultramina que também é um tensoativo catiônico,
obteve um percentual de remoção significativo, em torno de 25%, comparado a todos os outros
tensoativos estudados.
Nota-se que mesmo com a baixa interação entre o tensoativo e os ânions, ainda observa-se
percentagens de extração acima de 20%. Isso porque o tensoativo tem a capacidade de baixar as
tensões superficial e interfacial e de capturar para a fase de microemulsão cátions e ânions.

CONCLUSÕES

Tendo em vista os percentuais de extrações foi observado remoção simultânea dos íons
estudados acetato, brometo, cloreto, enxofre, nitrato e sulfato para todos os tensoativos, exceto o
CTAB.
Conclui-se que a extração dos ânions é favorecida pela baixa tensão interfacial e o alto poder
de solubilização da microemulsão, que em função do tipo de tensoativo arrasta os ânions através das
micelas da microemulsão. Os resultados obtidos se apresentam como satisfatórios, pois apresentam
uma diminuição das espécies no sistema, além de serem extraídos utilizando uma técnica que utiliza
uma única etapa de processo, se comparado com processos de tratamentos convencionais que
utilizam em torno de três ou mais etapas nos processos, sendo possível afirmar que o processo de
extração utilizado neste estudo pode ser uma alternativa considerada para o tratamento deste tipo de
resíduo da indústria petrolífera.

REFERÊNCIAS

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‗Dispõe sobre classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes’.
Diário Oficial da União n.53, de 18 de Março de 2005.

CONAMA n° 430, de 13 de maio de 2011. Treats of the conditions and standards for effluent
discharge complement and change the resolution nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 584


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA PARA


PRODUÇÃO DO CONCRETO38

Valter Ferreira de SOUSA NETO


Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental da UFCG
valterneto51@gmail.com
Conrado César Vitorino Pereira da SILVA
Graduando em Engenharia Civil na UFCG
cesar.vtr@hotmail.com
Maria Alinne Pires MATIAS
Graduanda em Engenharia Civil na UFCG
mariaalinnematias@hotmail.com

RESUMO
Atualmente existe uma grande preocupação mundial com o meio ambiente e os impactos causados
pelas atividades do homem, principalmente as que se referem a processos industriais que geram
uma grande quantidade de resíduos, que em sua maioria não possuem um destino final
ambientalmente adequado. A produção diária de borras oleosas resultantes do processamento do
petróleo, vem causando dificuldades às indústrias do setor petrolífero em relação ao
armazenamento, disposição final e monitoramento desses resíduos, que podem gerar riscos para a
saúde humana e para o meio ambiente. O armazenamento e descarte dos rejeitos, provenientes dos
processos de produção e exploração do petróleo, constituem-se num dos principais problemas
ambientais na atividade de uma refinaria de petróleo e das indústrias de subprodutos derivados. Os
resíduos gerados pela atividade petrolífera tiveram aumento de volume devido ao crescimento de tal
atividade. Sendo assim, existe a necessidade de aplicação de tecnologias que amenizem ou
eliminem os possíveis impactos negativos causados por estes resíduos. Portanto a incorporação do
resíduo oleoso de petróleo (ROP) ao concreto possibilita substancial redução de descarte deste
resíduo. O presente trabalho estudou a resistência a compressão de blocos de concreto com
substituição parcial do cimento por resíduo oleoso de petróleo nas porcentagens de 10% e 20% em
massa do cimento, com o objetivo de determinar o efeito na resistência dos blocos. Verificou-se que
a utilização do resíduo oleoso de petróleo em substituição ao cimento, promoveu a redução da
resistência do concreto quando comparado ao concreto de referência, no entanto, blocos produzidos
com concreto incorporado com 10% de resíduo oleoso de petróleo, podem ser classificados como
classe C com função estrutural para uso acima do nível do solo. Para o teor de 20% de resíduo
obteve-se resultados que permitem sua utilização para finalidades não estruturais, ou seja, para uso
como fechamento de paredes. Assim, o uso do resíduo como material alternativo para uso na
construção civil, permite a redução do impacto ambiental, agrega valor ao resíduo e ainda reduz os
custos do produto final.
Palavras-chaves: Meio ambiente, Resíduo de Petróleo, Incorporação, Blocos de Concreto.
ABSTRACT
Currently there is a great worldwide concern with the environment and the impacts caused by man's
activities, especially those that refer to industrial processes that generate a large amount of waste,
which mostly do not have an environmentally appropriate final destination. The daily production of

38
Ana Maria Gonçalves Duarte Mendonça, Professora Pesquisadora da UFCG. ana.duartemendonca@gmail.com
(Orientadora)

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 585


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

oil sludge resulting from the processing of petroleum has been causing difficulties for the oil
industry in relation to the storage, final disposal and monitoring of this waste, which can generate
risks to human health and the environment. The storage and disposal of tailings from petroleum
production and exploitation processes is one of the main environmental problems in the activities of
an oil refinery and by-product industries. The waste generated by the oil activity had an increase in
volume due to the growth of such activity. Therefore, there is a need for the application of
technologies that minimize or eliminate the possible negative impacts caused by these wastes.
Therefore, the incorporation of oily petroleum residue (ROP) into the concrete allows a substantial
reduction in the disposal of this residue. The present work studied the compressive strength of
concrete blocks with partial replacement of the cement by oily petroleum residue in the percentages
of 10% and 20% in mass of the cement, in order to determine the effect on the resistance of the
blocks. It was verified that the use of oily petroleum residue instead of cement promoted a reduction
of the concrete resistance when compared to the reference concrete, however, blocks produced with
concrete incorporated with 10% oily petroleum residue can be classified as class C with structural
function for use above ground level. For the 20% residue content, results were obtained that
allowed its use for non-structural purposes, that is, for use as wall closures. Thus, the use of waste
as alternative material for use in construction, allows the reduction of environmental impact, adds
value to the waste and also reduces the costs of the final product.
Keywords: Environment, Petroleum Residue, Incorporation, Concrete Blocks.

INTRODUÇÃO

A maioria dos problemas ambientais causados pelo homem decorre do uso inadequado do
meio ambiente. No processo de obtenção dos recursos naturais necessário para a produção de bens
de consumo e serviços tem-se a geração de resíduos, os quais não estão mais sendo absorvidos por
esse meio. Nos primórdios da humanidade, a população era pequena e o meio ambiente compensava
os impactos sofridos por tal agressão, sendo assim, não ocorriam desequilíbrios ambientais
significativos. Entretanto, o cenário atual destaca-se pelo consumo exagerado, principalmente nas
últimas décadas, seja pelo próprio crescimento da população, pelos avanços da ciência e/ou
expansão da indústria (RODRIGUES, 2009).
Nas indústrias, questões ambientais são cada vez mais importantes sendo um fator de
competição no comércio de seus produtos, deixando empresas que não possuem práticas
sustentáveis em desvantagem frente as que buscam o respeito ao meio ambiente. Regulamentos e
legislações também exigem que os resíduos sejam gerenciados desde a sua fonte até a disposição
final, tornando assim uma necessidade das empresas se adequarem as exigências ambientais
(CAMERA, 2010).
Diversas ações são tomadas nos mais diferentes países a fim de amenizar o dano que os
resíduos sólidos causam aos seus ambientes. Normalmente são criadas políticas de controle com o
objetivo de incentivar a reciclagem dos resíduos e o correto manejo de produtos usados com alto
potencial de contaminação estabelecendo a responsabilidade compartilhada entre a sociedade,
empresas e governo (SENA, 2013).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 586


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Setor de Exploração e Produção de Petróleo

A atividade de exploração e produção marítima de petróleo no Brasil cresceu


substancialmente na última década em função da abertura do mercado interno a empresas
estrangeiras. Esta atividade, por ser considerada de alto impacto no ambiente, é regulamentada
ambientalmente por um licenciamento específico em âmbito federal, que estabelece a
implementação de programas ambientais, entre eles um rigoroso projeto de controle da poluição
cujo escopo abrange o controle de despejo de efluentes, lançamento de emissões e descarte de
resíduos (SANTOS, 2013).
Dentre as atividades industriais, a exploração e produção de petróleo em campos marítimos,
apresentam um alto potencial de impacto ambiental, quer seja pelo volume de resíduos gerados,
quer pela toxidade dos mesmos e pela própria especificidade da atividade que ocorre em alto-mar,
onde qualquer falta de controle poderia provocar impactos catastróficos ao meio ambiente.
Dentre os resíduos industriais, podem-se destacar as borras oleosas, oriundas do fundo dos
tanques de armazenamento e dos separadores de água e óleo e materiais contaminados com óleo
(materiais resultantes de alguma atividade de limpeza, manutenção, varrição ou amostragem, etc.).
No processo de exploração de petróleo em Sergipe, são gerados aproximadamente 40.000
m³/dia de água oleosa, denominada de água produzida, a qual contém em torno de 1000 mg/L de
óleos e graxas (TOG) e 200 mg/L de sólidos suspensos. Essas quantidades de água tendem a
aumentar ao longo da vida produtiva do campo petrolífero, chegando a quase 100% no final da vida
do poço (GOMES, 2009).
Devido à escassez de processos que viabilizem a utilização desses resíduos, na maioria das
vezes, eles se tornam um problema para as indústrias de petróleo, por seu alto volume de geração e
as consequentes dificuldades em seu condicionamento, armazenagem, transporte e destinação final.
Vários trabalhos têm sido desenvolvidos com o intuito de dar uma destinação ambientalmente
adequada aos resíduos gerados nas atividades de Exploração e Produção de Petróleo.

Blocos de Concreto

A construção civil é uma atividade importantíssima em todo mundo. Está ligada à


infraestrutura de um país e tem grande geração de emprego e rendas pela grande soma de recursos
aplicados, sendo um dos índices de desenvolvimento de uma nação. Representa a criação de
investimentos de longo prazo em empresas diversas nas áreas de indústria, serviço e agropecuária
(MENDONÇA et al., 2015; CHAGAS FILHO, 2005).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 587


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O crescimento sócio-econômico implica em maior consumo de bens minerais, tornando


importante garantir a disponibilidade de recursos demandados pela sociedade. Tem-se assim, uma
relação intrínseca entre o desenvolvimento econômico, qualidade de vida e de bens minerais.
Nos últimos anos, a construção civil, tem sido alvo da incorporação dos mais diversos tipos
de materiais, em virtude de alguns possuírem composição similar às matérias-primas naturais
(PANDOLFELLI, 2009). A busca por materiais alternativos para a construção civil com finalidade
de baratear custos é imperiosa, diante do crescimento populacional existente, limitação de recursos
econômicos e escassez de recursos naturais pelas altas demandas de consumo.
A indústria da Construção Civil busca de maneira constante e insistente, materiais
alternativos ecologicamente corretos, que venham atender as condições de redução de custos,
agilidade de execução e durabilidade.
O concreto é material construtivo amplamente disseminado. Pode-se encontrá-lo em casas
de alvenaria, em rodovias, em pontes, nos edifícios mais altos do mundo, em torres de resfriamento,
em usinas hidrelétricas e nucleares, em obras de saneamento, até em plataformas de extração
petrolífera móveis. Estima-se que anualmente são consumidas 11 bilhões de toneladas de concreto,
o que dá, segundo a Federación Iberoamericana de Hormigón Premesclado (FIHP),
aproximadamente, um consumo médio de 1,9 tonelada de concreto por habitante por ano, valor
inferior apenas ao consumo de água. No Brasil, o concreto que sai de centrais dosadoras gira em
torno de 30 milhões de metros cúbicos (PEDROSO, 2009).
O bloco de concreto é um componente industrializado, produzido em máquinas que vibram
e prensam, podendo ser fabricados com uma vasta variedade de composições, é empregado em
larga escala no Brasil. Foi o primeiro bloco a possuir uma norma brasileira para cálculo de alvenaria
industrial.
De acordo com dados disponibilizados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de
Cimento – SINAPROCIM (2010), a produção de blocos de concreto representou em 2010 o
percentual de 15,66% do faturamento total do setor, apresentando crescimento de 18,50% em
relação a 2009. Em 2011, devido ao grande aumento da capacidade instalada e também à
diminuição do crescimento do PIB brasileiro, o índice de crescimento não ultrapassou a 7% porém,
em 2012 alcançou 30% no faturamento das indústrias de blocos vazados de concreto.
O déficit habitacional brasileiro é de 5,5 milhões de moradias, de acordo com o Ministério
das Cidades (BRASIL, 2011), logo, a indústria de blocos de concreto se apresenta promissora tanto
como empreendimento econômico como solução construtiva para viabilização de habitações com
menor custo e em menor tempo. Apesar do custo unitário ser mais elevado, a operacionalidade e a
economia de material que o uso de blocos de concreto proporciona, podem reduzir o custo final na
execução de alvenarias.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 588


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para que os blocos de concreto sejam de boa qualidade, a sua fabricação deve ser realizada
utilizando materiais industrializados, equipamentos de boa precisão, procedimentos de dosagem e
idade controlada (Alves, 2004). Os blocos de concreto devem ser produzidos com agregados inertes
e cimento Portland, sem ou com aditivo. Permite-se o uso de aditivos desde que não haja prejuízo
para a resistência e que isto seja comprovado em ensaios (REIS, 2011).

Sustentabilidade

Os tratamentos experimentados, até o presente momento, não conseguiram resolver


integralmente o problema dos resíduos oleosos tornando-se necessário encontrar uma alternativa de
tratamento para cada situação. A magnitude do impacto ambiental causado pela acumulação da
borra sobre o solo ou armazenamento em pátios de resíduos ―exige‖ uma saída mais rápida, viável
(econômica), aceitável (ecológica) e socialmente correta, conforme condiz à política da gestão do
desenvolvimento sustentável.
Há uma grande possibilidade de se reaproveitar o agregado artificial em substituições
parciais ou totais do agregado natural. Atualmente, estão sendo estudadas inúmeras técnicas para
mitigar problemas gerados com resíduos de perfuração, tais como adição do cascalho na
composição de tijolos solo-cimento para construção em alvenaria, nas matrizes argilosas para a
fabricação de tijolos maciços de alvenaria e blocos cerâmicos e coprocessamento desse resíduo na
fabricação do cimento.
Este trabalho tem como objetivo o estudo da resistência a compressão simples de blocos de
concreto incorporados com resíduo oleoso de petróleo nos teores de 10% e 20%.

METODOLOGIA

Para realização desta pesquisa, foram utilizados os seguintes materiais:


Cimento Portland CPV-ARI: o cimento Portland foi obtido no comércio local do município de
Santa Rita-PB, apresentando massa específica igual a 3,10 g/cm³ e finura igual a 1,40%;

Agregado graúdo: brita de origem granítica, apresentando diâmetro máximo padronizado para brita
0, apresentando massa específica seca de 2,63g/cm3, massa específica na condição sss de 2,64
g/cm3, massa específica aparente igual a 2,67g/cm3, finura de 6,19 e diâmetro máximo 6,3mm. O
pó de pedra utilizado obteve módulo de finura de 4,8 e diâmetro máximo 2,83mm, teve o objetivo
de reduzir o índice de vazios entre grãos e agregados, deixando a estrutura mais compacta e com
menos poros;

Agregado miúdo: o agregado miúdo, utilizado na pesquisa, foi do tipo natural proveniente de jazida
do leito do Rio Paraíba, apresentando diâmetro máximo de 2,36mm, finura igual a 2,42%, massa

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 589


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

específica de 2,618g/cm3, massa unitária solta igual a 1,429g/cm3, e teor de materiais pulverulentos
de 0,07%;
Resíduo Oleoso de Petróleo: o resíduo oleoso de petróleo utilizado no desenvolvimento deste
projeto foi proveniente das atividades de Exploração & Produção de petróleo do município de São
Sebastião do Passé no estado da Bahia, nordeste do Brasil;
Água: fornecida pela Companhia de Águas e Esgoto da Paraíba (CAGEPA).

A Figura 1 ilustra o resíduo oleoso de petróleo, utilizado nesta pesquisa.

Figura1 - Resíduo Oleoso de Petróleo utilizado na


pesquisa

Após a seleção dos materiais, onde foram selecionadas as matérias-primas convencionais


utilizadas, sendo esta a primeira etapa de quatro etapas que dividiram o presente trabalho. Como
segunda etapa, foi realizada a caracterização do resíduo oleoso de petróleo afim de se determinar
suas características físicas, químicas e mineralógicas, assim como a determinação das
características físicas do cimento e dos agregados. A terceira etapa consistiu no estudo da dosagem
dos materiais e moldagem dos blocos de concreto com os respectivos teores de substituição do
cimento por resíduo oleoso de petróleo. Concluindo as etapas, na quarta etapa foram determinadas
as propriedades mecânicas, resistência a compressão simples, dos blocos de concreto incorporados
com resíduo oleoso de petróleo.
A dosagem dos materiais foi realizada de acordo com a metodologia da ABCP – Associação
Brasileira de Cimento Portland, a partir da caracterização do agregado graúdo, miúdo e do cimento
e do estabelecimento do fator água/cimento. Assim, foi determinada a dosagem 1:2,5:1:1,5, com
substituição do cimento por resíduo oleoso de petróleo nos teores de 10% e 20%. A escolha dos
percentuais de substituição do cimento por resíduo oleoso de petróleo foi determinada a partir de
informações extraídas de pesquisas anteriores acerca do tema e do conhecimento das propriedades
do material. A determinação da resistência a compressão foi realizada para as idades de controle de
3, 14 e 28 dias.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 590
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Moldagem dos corpos de prova

Foram moldados corpos de prova nas dimensões de (14x19x29)cm com substituição parcial
do cimento por resíduo oleoso de petróleo nos percentuais de 10% e 20%, e corpos de prova de
referência, sem substituição do cimento.
Com o intuito de simular as condições de cura às quais os blocos são submetidos na fábrica
de pré-moldados, estes, permaneceram estocados em lotes, isentos do contato com água e agentes
químicos, estabelecendo-se as idades de controle de 3, 14 e 28 dias.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 2 ilustra os valores de resistência característica à compressão (fbk) para os blocos


de concreto de referência e de blocos com substituição do cimento por 10% de resíduo oleoso de
petróleo em função da idade de controle.

Figura 2 - Resistência característica (fbk) de blocos de concreto (CREF: Concreto de referência; 10% de ROP)

De acordo com a Figura 2, observa-se que para o teor de 10% de substituição do cimento
pelo resíduo oleoso de petróleo, houve uma redução da resistência para os tempos de cura de 3 e 14
dias quando comparado ao concreto de referência, para o concreto com cura de 28 dias houve uma
elevação da resistência, obtendo-se resultado superior ao do concreto de referência.
De acordo com os resultados apresentados na Figura 2, observa-se que a substituição do
cimento por resíduo oleoso de petróleo no teor de 10% promoveu um ganho da resistência, aos 28
dias, quando comparado ao concreto de referência, o ganho de resistência devido a essa substituição
chegou a aproximadamente 6,8%, apresentando para este percentual uma influência positiva na
resistência mecânica do concreto. Para as idades de controle de 3 dias, essa substituição teve uma

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 591


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

redução da resistência em aproximadamente 5,6%, já para a idade de 14 dias obteve uma redução da
resistência em aproximadamente 10,2%.
De acordo com a norma da ABNT NBR 6136 (ABNT, 2014) o valor obtido para a
resistência característica (fbk) dos blocos de concreto com o teor de 10% de substituição do cimento
pelo ROP, permitem classificá-los como classe C, com ou sem função estrutural, para uso em
elementos de alvenaria acima do nível do solo.
Assim, a utilização do resíduo oleoso de petróleo em substituição ao cimento, permite obter
resistência que atende aos parâmetros estabelecidos pela norma da ABNT NBR 6136/2014.
Contribuindo para a redução do impacto ambiental causado pelo volume de resíduo a ser descartado
no meio ambiente. A partir da utilização do resíduo como insumo na construção civil, parte do
resíduo que seria lançado no meio ambiente será utilizado como matéria-prima alternativa,
mitigando o impacto ambiental, reduzindo o custo final do produto e agregando valor ao resíduo.
A Figura 3 ilustra os resultados de resistência característica à compressão (fbk) dos blocos
de concreto de referência e do concreto com substituição do cimento por 20% de ROP em função da
idade de controle.

Figura 3 - Resistência característica (fbk) de blocos de concreto (CREF: Concreto de referência; 20% de ROP)

De acordo com os resultados apresentados na Figura 3, observa-se que a adição do resíduo


oleoso de petróleo provocou redução da resistência característica (fbk) para o teor de 20% de
substituição do cimento por resíduo oleoso de petróleo para todos os tempos de cura analisados.
Este fato deve-se a ausência da atividade pozolânica do ROP.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 592


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para a substituição do cimento por 20% de resíduo oleoso de petróleo observou-se uma
redução da resistência característica do concreto (fbk) em aproximadamente 27,5% para a idade de
controle de 3 dias, 23,6% para a idade de 14 dias e 32,9% para a idade de 28 dias. Esta redução de
resistência deve-se ao elevado teor de substituição de cimento por um resíduo sem propriedades
pozolânicas.
Para a substituição do cimento por teor de 20% de resíduo oleoso de petróleo, obteve-se
resistência característica à compressão aproximadamente 33% inferior aos valores observados para
o concreto de referência.
Para substituição do cimento por 20% de resíduo obteve-se resultados de resistência que não
permitem utiliza-lo com finalidades estruturais, portanto, podem ser utilizados com finalidade de
fechamento.
Assim, a utilização do resíduo oleoso de petróleo por cimento ainda é promissor, pois
permite produzir blocos de concreto com propriedades de resistências para uso em fechamento de
paredes.

CONCLUSÕES

De acordo com resultados obtidos, pode concluir que:

● O melhor resultado de incorporação do resíduo oleoso de petróleo a blocos de concreto se


deu para uma substituição parcial do cimento de 10%, sendo possível sua classificação
segundo a norma da ABNT NBR 6136/2014 como bloco classe C;

● Para a substituição de 20% de cimento por resíduo oleoso de petróleo em blocos de


concreto, temos que os blocos apresentaram significativa perda de resistência, sendo
possível seu uso somente para alvenaria de vedação, sem função estrutural.

● A possibilidade de incorporação do resíduo oleoso de petróleo, classificado como perigoso,


em blocos de concreto, tanto estrutural com incorporação de 10%, quanto vedação com
incorporação de 20%, traz um fim sustentável para tal resíduo. A incorporação desse resíduo
nos blocos de concreto garante um fim sustentável para esse resíduo, reduzindo assim sua
necessidade de armazenamento e consequente descarte ao meio ambiente, o que acarreta na
redução dos danos ambientais causados por tal resíduo.

● A utilização do resíduo como matéria-prima alternativa na construção civil contribui para


redução do passivo ambiental, além de agregar valor a um material indesejável, reduz os
custos da empresa geradora e aindo possibilita a obtenção de produtos com valor reduzido.

REFERÊNCIAS

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 593


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 595


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ecopedagogia,
Ensinoe Pesquisa

© Giovanni Seabra

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROCESO DE SENSIBILIZACIÓN Y CONCIENCIA AMBIENTAL GRUPO HORMIGA

Yendry DOVER
Master en Educación
Universidad Nacional de Costa Rica
yendry.dover.carrillo@una.cr

RESUMEN
En la actualidad algunos habitantes de las comunidades de Nicoya, Hojancha, Santa Cruz y
Nandayure se encuentran preocupados por el deterioro ambiental, debido a esto ellos plantean
acciones de recolección y separación de residuos, pero sobre su interés es establecer una cultura
ambiental que ayude a la preservación del medio ambiente. En estas condiciones conceptos como
educación ambiental y ecopedagogía emerge como solución a la problemática ambiental, sin
embargo es transcendental hacer un trabajo integral que involucre a las personas que se ven
afectadas por situaciones ambientales descontroladas, a las personas que causan deterioro ambiental
y aquella a quienes les preocupa y realizan acciones en pro del ambiente. Grupo Hormiga es un
programa ambiental que pertenece a la Universidad Nacional Campus Nicoya y enfoca sus acciones
a realizar y ejecutar actividades en las comunidades anteriormente mencionadas. El objetivo del
programa es hacer una planificación de condiciones ambientales de la institución en procura de
reducir el consumo de agua, electricidad y residuos sólidos y a su vez promover una adecuada
educación ambiental. Este documento se enfoca en el proceso de sensibilización y conciencia
ambiental llevado a cabo por el grupo Hormiga durante un periodo de año y medio. La metodología
de trabajo utilizada se basó en interacción participativa y permitió que los estudiantes se
relacionaran con las personas y les transmitan información relevante relacionada a aspectos
ambientales. El dialogo establecido género aprendizaje proveniente de la experiencia de las
personas, desde conocimiento popular hasta el profesional. Los resultados obtenidos son variados y
se muestran con relación a las tres fases ejecutadas, las cuales fueron capacitación en centros
educativos, campañas de recolección de residuos y campañas de prevención de criaderos de Aedes
Aegypti.
Palabras claves. Educación ambiental ecopedagogía, sensibilización y concientización.
ABSTRACT
Nowadays some habitants from Nicoya, Hojancha, Santa Cruz y Nandayure communities are aware
of the environmental damage, due to that they plan actions to collect and separate wastes, but
mainly to establish an environmental culture that preserve the environment. Under this conditions
terms like environmental education and ecopedagogy, emerge as the solution of the environmental
problematic; however, it is important to make and integral job that involve people affected by
environmental situations, people who cause environmental damages and people who are aware or
make action pro-environment. Hormiga group is an environmental program that belongs to
Universidad Nacional Campus Nicoya, this program focus its actions to carry out and execute
activities in different communities previously mention. The program aim is to make a planning of
the environmental duties in order to reduce consume of water, electricity and solid garbage and
promote an adequate environmental education. This document focused on the process of
environmental awareness and consciousness carry out for Hormiga group during a period of one
year and a half. The work methodology based on participative interaction permit that students have
a good communication with the people and can transmit relevant information related to
environmental actions. The dialogue established generate learning coming from people experience
it means, from popular or professional knowledge. The obtained results are varied and are showed

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 597


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

related through the three executed phases, which are elementary schools training, collecting garbage
campaign, Aedes Aegypti breeding ground prevention campaign.
Key-words: environmental education, ecopedagogy, awareness and consciousness

INTRODUCCIÓN

El trabajar en educación ambiental es toda una experiencia y representa la oportunidad para


promover un cambio actitudinal en las personas para que el ambiente sea el mayor beneficiado.
Grupo Hormiga desarrolla sus actividades en 4 cantones de la región chorotega y lo hace en
conjunto con diversas instituciones públicas o privadas, cuyo interés principal es dar un aporte
positivo a la problemática ambiental que les aqueja.
El aporte que dan los estudiantes del Grupo Hormiga de la Universidad Nacional Campus
Nicoya es significativo para el proceso porque son ellos quienes se encargan de cumplir a cabalidad
con el plan de trabajo asignado. Es importante recalcar que ellos reciben capacitaciones previas de
cada uno de los temas por desarrollar y posteriormente se preparan para transmitir la información a
niños y adultos.
Este proceso presenta resultados tangibles e intangibles principalmente se notan en el
impacto que se obtuvo en las personas, como por ejemplo el determinar la cantidad de niños
capacitados en los centros educativos y la cantidad de visitas a estos demuestran el número de
pernas instruidas durante la recolección de residuos y campaña contra el mosquito Aedes Aegypti;
―el mosquito de la fiebre amarilla, es un culícido que puede ser portador del virus del Dengue,
fiebre de Zika, Chikingunya y el virus Mayaro‖ (Wikipedia, 2017).
El documento presenta también los aprendizajes en torno al proceso de sensibilización y
concientización efectuado y se muestran con relación a cada una de las actividades realizadas lo que
permite de forma más ágil visualizar resultados.

DESARROLLO

A partir del siglo XX el término educación ambiental se ha convertido en uno de los más
utilizados en el mundo. En su gran mayoría los países del mundo tratan de buscar la forma como
proteger sus recursos ambientales estableciendo prácticas que ayuden a promover cambios en la
conducta de las personas. Algunos ambientalistas mencionan que para lograr ese cambio es
necesario que las personas aprendan a reconocer cuales son los condiciones que están deteriorando
al ambiente y posteriormente enseñarles mediante actividades a ser conscientes para que no
continúen dañando al medio ambiente.
Sarmiento 2013 expresa que ―la tarea de la educación ambiental o ecopedagogía es,
precisamente, contribuir a formar ciudadanos conscientes del carácter global de las acciones

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 598


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

individuales y colectivas (1). La sensibilización ecológica del individuo consiste en la inserción del
ser humano y su modo de vida dentro el orden de la naturaleza‖ (p, 30) Es decir si se instruye
adecuadamente acerca de la forma adecuada como proteger el ambiente, se podrán replicar las
acciones e involucrar a más personas cada vez, ya que solo ellas pueden generar los cambios
necesario y su vez ejercer un efecto mariposa para que otros aprendan como proteger el ambiente.
Ibañez, Amador y Mateos (2017) también mencionan que:

Environmental Education is a process that lasts a lifetime and which aims -through both
formal and non-formal education- to try to inculcate among students aspects such as
environmental awareness, ecological knowledge, attitudes, values, commitment to action and
ethical responsibilities for rational use of resources, in order to achieve adequate and
sustainable development. (p, 20).

Es decir educación ambiental debe de ser ese proceso que a través del tiempo logre pactar a
la educación formal y no formal para que mediante las personas que asisten a ellas se transmita la
preocupación ambiental, conocimiento ecológico, actitudes, valores compromiso a acciones y
responsabilidad. Básicamente este el papel que quiera la universidad y el grupo hormiga desarrollar
en los estudiantes sin importar la región o sector social a los que ellos pertenezcan.
También dentro del auge que tiene la problemática ambiental en el mundo surge otro
término estrechamente relacionado al anterior y es el término de ecopedagogía. Misiaszeck (2015)
expresa ―The goal of ecopedagogy is to promote transformative action by helping to reveal socio-
environmental connections that oppress individuals and societies‖ (p, 280). Esté es precisamente el
interés que tienen algunas instituciones, ya que la acción social puede generar los cambios
necesarios en la mentalidad de las personas.

EDUCACIÓN AMBIENTAL EN COSTA RICA.

Algunos Costarricenses se encuentran preocupados por la problemática ambiental existente,


constantemente se escucha mencionar la creación de un sin número de organizaciones que buscan
proteger o recuperar algunas áreas o animales en peligro de extinción; esto también es de interés del
gobierno ya que actualmente se encuentra con políticas y leyes ambientales, pero las acciones no
paran ahí, también a nivel de instituciones educativas existen programas encargados de promover la
educación ambiental entre la población estudiantil y el resto de la sociedad.
Como parte de esta necesidad por ejecutar acciones atinentes a procesos ambientales se da la
creación de los PGAI. Y qué es el PGAI?, como lo expresa el DIGECA (s.f) es un Programa de
Gestión Ambiental Institucional, este se crea a partir del 2011 posterior a la declaración de la Ley
para la Gestión Integral de Residuos N° 8839, se enfoca en la responsabilidad que tienen todas las
instituciones públicas para aplicar instrumentos de planificación, partiendo de un diagnóstico
ambiental del quehacer institucional considerando aspectos ambientales inherentes a la

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 599


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

organización, incluyendo los relacionados con eficiencia energética reducción de residuos y


cambio climático.
El interés de los PGAI es que cada institución sea consiente de los niveles de consumo de
recursos y producción de residuos para así poder determinar su nivel de implicación al cambio
climático del país. Bajo este nivel de responsabilidad es que cada institución pública los ejecuta en
cada una de sus sedes.

UNIVERSIDAD NACIONAL Y EL PGAI

Debido a lo anterior y a preocupación que la sociedad actual tiene por el ambiente, es que
instituciones como la Universidad Nacional de Costa Rica y consciente de su labor de enseñanza
plantea acciones y capacitaciones para ejecutar los PGAI en todos sus campus Universitarios y así
lograr capacitar al resto de la población en temas ambientales. La Universidad Nacional de Costa
Rica Campus Nicoya, ejecuta el PGAI desde el 2016 y lo hace con el apoyo que brindan los
estudiantes del grupo ambientalista llamado Hormiga, la misión de PGAI Grupo Hormiga consiste
en promover una cultura ambiental sustentable, en instituciones públicas o privadas a través del
desarrollo de charlas, capacitaciones, proyectos responsables e integrales que aseguren la
estabilidad ecológica y social tanto de la Universidad como de la comunidad de Nicoya, Hojancha,
Santa Cruz, Nandayure y sus alrededores.
Los proyectos se desarrollan en varias líneas de acción; sin embargo, este documento se
enfocara en la sensibilización y conciencia ambiental, esto con el fin de cumplir con la visión de ser
un programa líder institucional en la trasmisión de cultura ambiental sustentable en la provincia de
Guanacaste, que integre de manera articulada la gestión de residuos, gestión de calidad ambiental,
gestión del cambio climático, la educación ambiental y la conservación del entorno.
El programa trabaja desarrolla actividades con el apoyo de estudiantes de las carreras de
Bachillerato en Administración de Empresas, Gestión del Turismo Sostenible, Comercio y
Negocios Internacionales, Ingeniería y Sistema de Información, Bachillerato en la Enseñanza del
Inglés y Diplomado en Inglés; para este año 2017 contamos con la participación de un total de 116
estudiantes, los cuales trabajan en 4 comisiones especificas pero que a su vez al desarrollar los

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

proyectos lo hacen todos en conjunto, debido a que todos reciben la capacitación requerida sin
importar a cual comisión de trabajo pertenezcan.

SENSIBILIZACIÓN Y CONCIENCIA AMBIENTAL

En la búsqueda constante de promover prácticas ambientales que generen sensibilización y


conciencia ambiental, en el caso de PGAI grupo Hormiga realiza varias acciones con los estudiantes
que involucra, no solo la extensión universitaria, sino que también la investigación llevada a cabo
desde la Investigación Acción Participativa (IAP). IAP se ha establecido en la praxis pedagógica
cotidiana como un estilo de trabajo, puesto que implica técnicas y procedimientos de reflexión
transformación, aprendizaje, cambio y progreso docente (Teppa, 2012. pág. 5)
Esto es precisamente la base que guía el accionar del grupo ya que para la coordinadora del
programa lo más importante es que a través de las actividades se logre transformar la vida de los
estudiantes y de las personas que conviven constantemente con ellos. Esto a su vez generaría un
cambio importante en la conducta que las personas tienen hacia el medio ambiente.

CAPACITACIÓN EN CENTROS EDUCATIVOS

El programa tiene como objetivo primordial trabajar capacitando en distintos temas en las
escuelas primarias cercanas al campus universitario. Se realiza el proceso de selección de centros
educativos y se toma como base a aquellas que se encuentren desarrollando el programa de Bandera
Azul Ecológica.
El objetivo principal es fomentar en los estudiantes un pensamiento crítico con respecto a las
acciones que se llevan a cabo en su comunidades, las cuales en ocasiones dañan al ambiente, pero al
no tener conciencia de si estas son buenas o malas, se toman como normales o cotidianas. Ibañez,
Muñoz y Claros (2017) señalan que ― it is essential to introduce critical thinking and a problem-
solving approach in Environmental Education at each and every educational level; considering that
students have to be able to identify and solve environmental problems as students, and later as adult
citizens and possibly as decision makers‖ (p, 21). Si se les enseña a los estudiantes ellos serán
capaces de identificar y generar un cambio a las acciones que actualmente dañan el ambiente.
En este año y medio de ejecución se han capacitado a las escuelas de Barrio Los Ángeles,
Cacique Nicoa, Leonidas Briceño y Centro Educativo Católico San Ambrosio, Puerto Thiel y la
Presbitero José Daniel Carmona. El proceso se lleva a cabo estableciendo con ellas un programa de
capacitación que incluye 16 temas distintos que abarca la mayoría de las efemérides ambientales y
temas de intereses sugeridos por los docentes.
El proyecto se lleva a cabo con 15 estudiantes, asistiendo al centro educativo una vez a la
semana y atendiendo tres grupos de estudiantes, como mínimo 18 estudiantes por grupo en total

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

unos 270 sensibilizados. Durante el proceso de capacitación con los niños se utilizaban materiales
impresos, videos y demás material que demostrara problemas ambientales, posteriormente los
estudiantes debían poner en práctica el conocimiento adquirido o mostrar su reacción ante tal
situación.
Campañas de recolección de residuos
Las comunidades de Nicoya, Samara, Hojancha y Tamarindo muy conscientes de la
cantidad de residuos que pasan a ser un problema de basura para sus vecindarios realizan como
mínimo dos campañas de recolección al año. El grupo Hormiga participa de la recolección
trabajando desde las 7 de la mañana hasta las 12 medio día. Por actividad se trabaja con 30
estudiantes supervisados por la coordinadora del programa y recorriendo la comunidad a pie para
hablar con las personas y recolectar residuos, en ocasiones trabaja en varios grupos para asistir a
lugares específicos como ríos, quebradas y playas.
El objetivo es también dialogar y hacer conciencia en las personas durante el proceso de
recolección, esto no solo beneficia a la comunidad sino que también sirve de ejemplo para muchos
lugares cercanos. Es importante que las personas sean conscientes de la cantidad de residuos que
producen y que estos llegan a provocar la reproducción desmedida de zancudos. En el 2016 se
contabilizó la recolección de varias toneladas de basura, específicamente los datos que tiene PGAI
grupo Hormiga son Sámara 6 toneladas, Hojancha 3 toneladas, Tamarindo 8 toneladas y Nicoya 5
toneladas.
En el proceso de recolección de residuos también se involucran distintas instituciones que
colaboran facilitando, personal, vehículos, alimentación o dinero para sufragar diversos gastos que
implica la actividad. Esto hace que el compromiso y la concientización se expandan a varios
sectores de la comunidad y por ende se logre un mayor impacto en aspectos como involucramiento
de 19 instituciones (6 en Nicoya, 3 en Hojancha y 10 en Tamarindo) 335 personas participantes
(169 en Nicoya, 70 en Hojancha y 96 en Tamarindo).

CAMPAÑAS PREVENCIÓN DE CRIADEROS DE AEDES AEGYPTI

Este proyecto se realizó solo en la comunidad de Nicoya y consistía en visitar casa por casa
en los barrios de La Granja, La Virginia, Jardines Universitarios y Guadalupe para informarles que
medidas temar para evitar la acumulación de agua y que no se conviertan en criaderos de zancudos
como el Aedes Aegypti que es el causante de enfermedades como Dengue, Zika y Chikungunya y
fiebre Amarilla.
Los estudiantes recibieron capacitación previa impartida por funcionarios del Ministerio de
salud y una doctora de la CCSS, en esta capacitación se les enseño el proceso de reproducción del

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 602


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

insecto, los lugares que favorecen su reproducción (criaderos), medidas para combatirlos y
cualquier otra particularidad concerniente al tema.
El proceso de aprendizaje tuvo tres momentos distintos y permitió que se capacitaran 43
estudiantes quienes desarrollaron un arduo trabajo de visita a las casa estableciendo charlas de
alrededor 25 minutos, durante este tiempo se les comenta a las personas sobre lo peligroso de estas
enfermedades, qué medidas tomar para combatirlo y se completa una entrevista estructurada que
forma parte de otro proyecto del programa.

DISCUSIÓN

El quehacer ambiental no solo consiste en hacer unas cuantas campañas al año y pensar que
ya se cumplió con la labor, por el contrario implica ser constante en el accionar y predicar con el
ejemplo para concientizar sobre las prácticas que deben seguirse haciendo. El involucrar a los
estudiantes en las actividades pro-ambientales les inculca una forma diferente de ver y enfrentar la
problemática ambiental existente. La Universidad como institución de enseñanza tiene la
responsabilidad de proveer estudiantes capaces de marcar la diferencia en estos aspectos. Es por
esta razón que el papel que juego la Universidad Nacional y el Grupo Hormiga marca un precedente
ya que está formando estudiantes conscientes de la necesidad de dar un cambio para establecer
cultura ambiental.
Las condiciones ambientales enfrentan grandes retos y deben de ser enfrentados con
responsabilidad y acciones concretas, se reconoce después de este proceso, que la forma de
sensibilizar y concientizar debe hacerse mediante el reconocimiento de la problemática ambiental
existente, como afecta directa o indirectamente a las personas y cuales medidas deben ser tomadas
para cambiar la situación. Es por esto que el involucrar a las personas en los distintos procesos les
permite ver y valorar cuales serían las prácticas ambientales que se deben de ejecutar para así
proteger al medio ambiente, prevenir la contaminación y hacer un uso responsable de los recursos
naturales.
Con respecto a cada fase del proceso de sensibilización y concientización ambiental se
generaron los siguientes aprendizajes.

Proyecto Aprendizajes
Capacitación a  Capacitar a niños permite que ellos enseñen a sus padres y dupliquen la
estudiantes de información aprendida.
primaria.  Interactuar con niños promueve el aprendizaje mediante el aprender haciendo
y genera aprendizaje significativo.
 Promover actividades dentro y fuera del aula facilita el reconocimiento
problemáticas ambientas y permite que ellos a la vez sugieran consejos.
 Trabajar temas relacionados a problemáticas ambientales, permite que los
estudiantes tengan un amplio conocimiento desde primaria generando un

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

mayor conciencia ambiental en niveles superiores


 Desarrollar la sensibilización ambiental mediante actividades lúdicas
produce en los estudiantes mayor interacción y desarrollo de temas.
 Abordar temas ambientales desde el contexto y la realidad de las
comunidades genera reacciones en los niños que demuestran la inocencia y
practicidad a la hora de dar proponer medidas ambientales.
 Intercambiar saberes entre Grupo Hormiga y las instituciones educativas
fortalece las relaciones y produce un mejor desarrollo de efemérides
ambientales.
Campañas de  Involucrar a las personas permite que ellos o ellas se responsabilicen de sus
recolección de acciones y se genere un cambio de mentalidad.
residuos.  Promover que cada persona haga uso responsable de los sus residuos tanto
dentro de su casa y fuera de ella forjara cambios significativos en el acciones
de los habitantes de las comunidades.
 Recolectar residuos brinda la oportunidad para hablar con las personas y
enseñarles en su propio hogar como hacer la separación y recolección de
residuos.
 Los estudiantes desarrollan la habilidad de comunicarse asertivamente con
las personas.
 Interactuar con personas posterior a la recolección de residuos en donde se
les muestra a las personas fotos de los residuos colectados y los lugares
donde se encontraron promueve concientización ambiental.
 Sensibilizar a las personas para que reduzcan el consumo de algunos
productos que son altamente contaminantes como por ejemplo las bolsas
plásticas es relevante ya que ese aspecto es muy visible en estos procesos.
Campañas  Tener conocimiento sobre el tema permite que los estudiantes informen a sus
prevención de familiares y eviten tener criaderos en sus propios hogares.
criaderos de Aedes  Desarrollar capacidades investigativas (aplicación de instrumentos,
Aegypti recolección y análisis de datos) en los estudiantes es relevante para promover
conciencia ambiental.
 Obtener datos que sirven para elaborar una lista de acciones preventivas
contra el mosquito es relevante.
 Recopilar de las personas algunas experiencias positivas contra el mosquito
Aedes Aegypti genera información para promover el uso de repelentes
naturales.
 Mostrar a las personas que y como llevar a cabo actividades que protejan la
salud de la familia favorece la aplicación de las mismas, ya que esta forma va
más allá que del simple hecho de escuchar por radio o televisión algunos
consejos.
 Los estudiantes de PGAI Grupo Hormiga evidenciaron que los relatos de los
adultos mayores contienen conocimiento algunos ancestrales que pueden ser
aplicados en la actualidad. Por ejemplo el uso de ceniza para echar en los
lugares que acumulen agua.
 Se determinó que el tener algunos árboles o arbustos cerca de la casa
eliminaba o ahuyentaba el mosquito por ejemplo Árbol de Nim y el Árbol de
Mirto.

CONCLUSIONES

Para promover la educación ambiental es importante trabajar y establecer buenas relaciones


con niños, jóvenes, adultos y los adultos mayores, de igual forma es importante que a través de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

diversas actividades se logre promover un cambio en la forma como las personas ven al ambiente y
lo que causa su deterioro, para así considerar su protección como una prioridad mundial.
Si se provee a las personas con información pertinente para que reconozcan los problemas a
los que nos enfrentamos si continuamos destruyendo el ambiente, se podrá establecer cambios
significativos en las conductas y a su vez de forma individual y como grupo social buscar
soluciones a los problemas.
La sensibilización y conciencia ambiental se alcanza estableciendo estrategias educativas
para que exista participación ciudadana, formación de grupos comprometidos con el ambiente y
sobre todo que la investigación forme personas líderes que lleven a cabo actividades basados en
conocimiento popular y científico.
El papel de las universidades en este proceso es fundamental porque cumple con la
responsabilidad social que se debe llevar a cabo; pero sobre todo con el proceso de transformación
social, que en este caso es hacer cambio de mentalidad en las personas para que no continúen
realizando prácticas que perjudiquen el medio ambiente.
El Grupo Hormiga desde el 2016 se ha convertido en el grupo base para las actividades
ambientales que realiza la comunidad de Nicoya y sus alrededores, el aporte de los estudiantes ha
sido significativo desde la labor que ejercen e impacto que tienen en sus familias y comunidades.
Actualmente las personas solo los conocen como ―Los Hormigas‖ ya que su trabajo es arduo,
constante y silencioso pero muy significativo.
Este documento refleja parte de toda la participación e interacción que los estudiantes han
venido ejerciendo a través de estos años. Las actividades realizadas en estas tres fases se han
trabajado simultaneas con otras, pero el énfasis en procura de sensibilización y concientización son
más marcadas en estos procesos.
La puesta en práctica e implementación de los conceptos de ecopedagogía y educación
ambiental permite que se promuevan acciones que transforman las conductas de los habitantes
creando así buenas prácticas ambientales que fortalezcan el compromiso con el ambiente. El
trabajar con distintos sectores de la sociedad crea un espacio de mayor interacción y por ende de
mayor alcance, para así influenciar positivamente en las personas y su forma de impactar al
ambiente.
El ambiente es responsabilidad de todos y todas, debemos de tomar acciones que marquen
un cambio significativo y que se haga de manera oportuna, para no tener que llegar a un estado de
arrepentimiento sin sentido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 605


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

SARMIENTO MEDINA, PEDRO JOSÉ. Bioética Ambiental Y Ecopedagogía: una tarea pendiente.
Acta Bioethica. en línea Disponible
en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=55428166004> ISSN 0717-5906

ESTEBAN IBÁÑEZ, M.; AMADOR MUÑOZ, L. V. Y MATEOS CLAROS, F. (2017). Attitudes


of University Students towards the Environment: Environmental Education and Innovation.
Revista de Humanidades, n. 31, p. 17-38, ISSN 1130-5029 (ISSN-e 2340-8995).

MISIASZEK, G. (2015) Ecopedagogy and citizenscccchip in the age of globalization: connections


between environmental and global citizenship education to save the planet. European Journal of
Education, Vol.50, No.3, 2015. DOI:10.1111/ejed.12138

DIGECA (2017) Dirección de Gestión de Calidad Ambiental. COSTA RICA.


http://www.digeca.go.cr/areas/programas-de-gestion-ambiental-institucional

TEPPA, S. (2012) Investigación- Acción Participativa en la Praxis Pedagógica Diaria: intervenir la


práctica pedagógica para transformar la sociedad y lograr la evolución del docente-investigador.
Alemania. LAP LAMBERT.

Wikipedia. Definición Aedes Aegypti. https://es.m.wikipedia.org/wiki/Aedes_aegypti

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

BARCO ESCOLA CHAMA-MARÉ E O ESTUDO DO MEIO EM GEOGRAFIA

Adjael Maracajá de LIMA


Estudante de pós-graduação da UFRN, pesquisador e professor do Barco Escola
adjaelmaracaja13@gmail.com
Lorenna Fernanda CORDEIRO
Professora e pesquisadora do Barco Escola
lorennabernardo83@hotmail.com
André Antônio de Melo PESSOA
Coordenador do projeto Barco Escola
coordenação@barcoescolachamamare.com

RESUMO
As questões ambientais são debatidas constantemente devido aos problemas que cada vez mais
afetam as pessoas em diferentes escalas, do global ao local. No campo pedagógico, a educação
ambiental ganha destaque e projetos que debatem a temática do meio ambiente tornam-se
importantes ferramentas para as mudanças e reflexões almejadas. Tratar da educação ambiental
envolve uma diversidade complexa de temas e de fenômenos. Dessa forma, o meio enquanto espaço
do homem pode ser um caminho metodológico importante para entendermos certas problemáticas
de cunho ambiental. O estudo do meio em geografia aparece na ciência como uma forma prática de
entendimento do espaço do homem e de seus fenômenos, dessa forma, o estudo do meio nos é
apresentado como uma possível ferramenta metodológica para o entendimento dos problemas que
envolvem o homem e o seu habitat (o meio). Buscando como referencia e experiência o projeto
Barco-Escola Chama Maré em Natal-RN, tentaremos discutir a importância do estudo do meio para
a formação cidadã e para as reflexões sobre temáticas ambientais diversificadas, trazendo a luz do
debate o estudo do meio como caminho para apreender as questões ambientais multifacetadas.
Palavras-chave: Estudo do meio. Educação ambiental. Barco-Escola Chama-Maré.
ABSTRACT
Environmental issues are debated constantly due to the problems that increasingly affect people at
different scales, from global to local. In the pedagogical field, environmental education is
highlighted and projects that discuss the environmental concerns become important tools for the
changes and desired reflections. Dealing with environmental education involves a complex diversity
of themes and phenomena. In this way, the medium as man's space can be an important
methodological path to understand certain problems of an environmental nature. The study of the
environment in geography appears in science as a practical form of understanding of the space of
man and his phenomena, thus, the study of the environment in is presented as a possible
methodological tool to understand the problems which involve man and his habitat (the
environment). Seeking as a reference and experience the project School Boat Chama Maré in Natal-
RN, we will try to discuss the importance of the environment to formation citizen and for
reflections on diversified environmental themes, bringing the light of the debate the study of the
environment as a way to discuss multifaceted environmental issues.
Keywords: Middle study. Environmental education. School Boat Chama Maré.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O estudo do meio se tornou há muito tempo uma ferramenta fundamental para a produção
do conhecimento geográfico. Esse tipo de prática foi essencial para a sistematização da ciência
geográfica, sendo o ato de explorar o meio uma peça chave para a consolidação da geografia
enquanto ciência que estuda o espaço do homem.
Atualmente o estudo do meio ou as chamadas ―aulas de campo‖ estão integradas a grade
curricular de boa parte dos cursos de graduação em geografia no Brasil, não sendo essa prática
limitada apenas para o curso de geografia ou áreas afim. O estudo do meio é na verdade uma
ferramenta metodológica interdisciplinar que confere ao pesquisador o contato direto com os
problemas/objetos que ele se propõe a investigar. Na educação básica o estudo do meio aparece
para dar suporte ao trabalho do professor ao tratar de temáticas diversificadas, tento a saída para o
―campo‖ um papel fundamental para consolidar o que está sendo visto em sala de aula na teoria.
As possibilidades de estudo do meio se ampliaram e se multiplicaram com o passar do
tempo devido ao seu caráter alternativo que possibilidade a renovação de práticas educacionais
constantemente. Cada vez mais notamos a importância do estudo do meio para a produção do
conhecimento, visando dessa forma, no caso da geografia, articular ações que promovam a
aproximação do homem com o espaço que ele vive.
O trabalho aqui exposto buscou apresentar o Projeto Barco Escola Chama-Maré em Natal
RN como uma alternativa de estudo do meio para a formação de professores de geografia. Sendo
assim o trabalho vem apresentado em três partes: a primeira parte traz discursos acerca do estudo do
meio e do ensino de geografia, como essa ferramenta pedagógica pode ser uma prática viável para a
produção de conhecimento sobre o espaço geográfico pra enxergar a relação do homem com seu
espaço; a segunda parte apresenta aspectos gerais sobre o rio Potengi como local onde ocorre a
realização das ―aulas passeio‖ do projeto Barco Escola Chama Maré, as características do projeto e
seus objetivos; a terceira e ultima parte traz um relato de experiência que ocorreu com estudantes e
professores de cursos de geografia de universidades paraibanas, que pensaram o projeto Barco
Escola como uma alternativa de estudo do meio para o ensino básico.

O ESTUDO DO MEIO E O ENSINO DE GEOGRAFIA.

A geografia enquanto ciência que estuda o espaço social tem como característica
fundamental o estudo dos fenômenos através da correlação do ser social com o meio em que ele se
insere, dessa forma, a apreensão do conhecimento geográfico deve ter como plano de fundo o
máximo de experiências no chamado ―campo‖, ou seja, no espaço onde os fenômenos são
produzidos. Essas experiências vão possibilitar o entendimento do que está posto na paisagem

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 608


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

através da análise dos fenômenos que forjam constantemente a produção do espaço, garantindo
assim a percepção das complexidades e dos problemas contidos nesse, o espaço do homem.
A qualidade de profissionais da educação depende de suas experiências e de suas vivencias
no processo de formação acadêmica. Sendo assim, o estudo do meio aparece como um importante
elemento na dinâmica do ensinar-aprender e na produção do conhecimento para o geografo, pois
confere uma rica experiência na consolidação do conhecimento sobre os problemas observados no
espaço não só aos estudantes que ―recebem‖ o estudo do meio, mas também para os professores e
profissionais que o idealizam. Segundo Lopes e Pontuschka (2009, p.179),

O Estudo do Meio é uma metodologia de ensino interdisciplinar na qual se buscam


alternativas à compartimentalização do conhecimento escolar e à excessiva segmentação do
trabalho docente. Seu ponto de partida, então, é a reflexão individual e coletiva sobre as
práticas pedagógicas desenvolvidas em determinada escola e o desejo de melhorar a
formação do aluno, construindo um currículo mais próximo dos seus interesses e da
realidade vivida.

A metodologia de estudo do meio faz parte hoje da grade curricular de alguns cursos ligados
à formação de professores, sendo o de Licenciatura em Geografia um dos mais habituais para esse
tipo de prática docente. Dentro de campo temático da geografia , o estudo do meio pode se revelar
como o principal elemento para a construção do conhecimento entre sujeito e objeto, dessa forma, é
muito comum encontrar atividades de estudos do meio ou as conhecidas ―aulas de campo‖ nos
cursos de geografia ou mesmo em escolas de ensino básico.
Devemos nos atentar, que, para a consolidação do conhecimento se efetivar e o proveito do
estudo do meio ser o melhor possível , faz-se necessário o devido planejamento da atividade,
buscando integrar as múltiplas disciplinas que estão relacionadas aos fenômenos observados no
estudo do meio e buscando caracterizar as diversas dimensões do espaço contidas naquele recorte
ou naquele tipo de problema observado.

Diante da complexidade e das múltiplas estratégias de abordagem do espaço geográfico,


reafirmamos que o método do estudo do meio requer a prática da interdisciplinaridade.
Sobre esse caráter interdisciplinar, Feltran e Feltran Filho afirmam que ―a proposta de
abordagem interdisciplinar apela à totalidade, à visão conjunta desde o início da colocação
do problema e durante todo o processo de construção do conhecimento‖ (1991, p.124).
Llarena (2009.p.48).

Pensar o estudo do meio como parte essencial do conhecimento geográfico nos remete a
lembrar que essa ferramenta metodológica forjou o próprio surgimento da geografia enquanto
ciência do espaço, uma vez que a observação do meio (do espaço) fazia parte do cotidiano dos
geógrafos durante o período de sistematização da ciência. O laboratório do geografo portanto é o
seu o espaço e os fenômenos que nele estão contidos, sejam naturais, sociais ou a integração dos
dois segmentos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O trabalho de campo sempre teve destaque como metodologia para o geógrafo. [...] foi
através de relatórios e pesquisas de campo, realizados outrora por viajantes, que se criou
uma gama de informações que serviram para construir as bases do que posteriormente se
chamaria de Geografia. Seja para a formação do profissional geógrafo, para a realização de
uma pesquisa científica nos níveis de mestrado ou doutorado, ou como prática pedagógica
para alunos do ensino básico, o trabalho de campo destaca-se na produção do conhecimento
geográfico. Lima Junior (2014, p.65),

Sabendo disso, destacamos aqui a importância de projetos de educação ambiental de caráter


interdisciplinar como alternativas de estudo de campo, pois auxiliam diretamente na formação de
diversos profissionais da educação, surgindo como alternativas pedagógicas interdisciplinar ligando
áreas como geografia, história, biologia, ecologia etc. e se utilizando da paisagem como ferramenta
pedagógica para a aproximação entre indivíduos e o meio em que vivem.
O projeto Barco-Escola Chama-Maré, desenvolvido em Natal-RN, é um projeto idealizado
pelo governo do estado através do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente –
IDEMA e tem como foco a educação ambiental e patrimonial ligados ao rio Potengi e a formação
histórica da cidade de Natal. Ele aparece como uma das ferramentas pedagógicas que aproximam o
homem e o espaço e que pode ser utilizado como alternativa de estudo do meio por parte de
profissionais da área de geografia.
Sendo assim, destacaremos adiante as principais características do projeto, do rio e de como
esses elementos aparecem como importantes alternativas de estudo do meio, trazendo como
exemplo a experiência com professores de geografia de universidades públicas do estado da Paraíba
realizada em marco de 2017.

O BARCO-ESCOLA CHAMA-MARÉ: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO RIO POTENGI

As propostas de conscientização e educação ambiental, assim como a sustentabilidade,


tornaram-se pautas debatidas em esfera global de maneira ascendente nos últimos anos. Eventos e
projetos dessa natureza se fizeram multiplicar em escalas distintas e a preocupação ambiental
tornou-se vanguarda nesse ―novo jeito‖ de ver as relações entre homem e meio. Problemas
relacionados às diversas condições no meio nos mostram que a questão ecológica não se limita aos
fatos generalizados em escala global ou com as especificidades dos locais, mas considera os
fenômenos que interagem em diversas escalas do local ao global.

A incorporação dos termos meio-ambiente e questão ambiental são mais recentes e ligadas
ao debate sobre modelos de desenvolvimento. Assim, tais termos passam a abranger uma
diversidade de questões, incluindo desde o problema do desmatamento na Amazônia até os
problemas ambientais urbanos, como a produção e o destino do lixo. Carvalho (2011.p.41)

Seguindo esse panorama global de preocupações ecológicas em crescimento, algumas


normas são criadas no intuito de legalizar a proteção e promover um ambiente mais equilibrado e
justo para a vida. Sendo assim, o surgimento de Unidades de Conservação ou Parques ecológicos,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

por exemplo, se inserem como um desses modelos normatizados que tem a preocupação ambiental
em vigência.
Na cidade de Natal no Rio Grande do Norte, alguns projetos e atividades são desenvolvidos
para a promoção da educação ambiental e para ―harmonizar‖ a relação dos cidadãos potiguares com
o meio em que vivem, especialmente com o rio Potengi. Um deles é o projeto Potengi Vivo
idealizado pelo Governo do estado, que tem como finalidade a preservação e recuperação do
estuário do rio Potengi, (principal e maior rio que corta a cidade de Natal-RN). Dentro das
atividades dispostas pelo Potengi Vivo existem outros projetos integrados à recuperação do estuário
rio, um deles é o Barco-Escola Chama- Maré:

O Barco-escola Chama-maré está presente no cenário educacional desde 2006, seguindo


um plano de recuperação do estuário do Potengi, é um projeto de educação ambiental
pertencente ao Governo do Estado através da SEMARH (Secretaria do Meio Ambiente e
dos Recursos Hídricos), desenvolvido pelo IDEMA (Instituto de Defesa do Meio
Ambiente) e operacionalizado pela FUNDEP (Fundação para o Desenvolvimento
Sustentável da Terra Potiguar) que está inserido dentro de um conjunto de ações sócio
ambiental que tem com objetivo principal a Recuperação do Estuário do Rio Potengi.
(Roteiro Pedagógico, 2005.P.5)

O rio Potengi nasce na Serra de Santana no município de Cerro Corá a 176 km de Natal e
tem uma importância histórica e cultural para a formação do estado do Rio Grande do Norte a
começar por nomes bem conhecidos dos natalenses e potiguares, sobre isso (TEXEIRA ,2015) nos
mostra:

Nos primórdios da ocupação não-indígena do território potiguar, quando da instituição das


capitanias hereditárias por d. João III, em 1534, a capitania que daria origem ao atual estado
foi batizada pelos colonizadores de capitania do ‗Rio Grande‘, e alguns dos primeiros
registros da cidade do Natal também a designavam cidade do ‗Rio Grande‘, em alusão ao
rio. Ainda que documentos do início do século XVII já o denominassem de Rio ‗Potigi‘,
que chegou aos nossos dias como ‗Potengi‘, o nome Rio Grande, que não é mais usado para
designar o rio, permaneceu, porém, no nome do estado do Rio Grande do Norte, cuja
capital é Natal. A palavra Poti-gi, significa, segundo Cascudo (1968: 117), ‗rios dos
camarões‘.

Este corpo hídrico apresenta-se como o maior e principal elemento natural que fora
apropriado nas terras potiguares durante o longo processo de ocupação, também como o que mais
sofreu com alterações do ponto de vista de sua paisagem, principalmente no estuário na cidade de
Natal. Essas modificações nos fazem refletir sobre como se deu a relação do homem com seu meio
nesse espaço no decorrer da historia.
Os marcos históricos nos indicam registros de aldeias indígenas nas margens do rio antes
mesmo da ocupação portuguesa se processar, porem, é a partir da chegada dos portugueses que
notaremos que o sitio de Natal e a paisagem do rio Potengi vão ser alterados de maneira mais
evidente, devido principalmente aos possíveis potenciais econômicos ligados ao ecossistema do
estuário e também pela logística de navegação do rio devido as dimensões espaciais deste.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O rio poderia fornecer a tão essencial água para o consumo dos habitantes da cidade, mas
também para os animais, bem como servir para os moinhos e engenhos; poderia ser fonte
de alimentos, principalmente por meio da pesca; poderia servir como meio de penetração
no território, em seu trecho navegável. Essas razões, que não são privilégio de Natal,
estão entre as que justificaram plenamente a escolha do sítio urbano também dessa cidade
nas proximidades de um rio. (Teixeira, 2015).

Esses aspectos históricos e outros elementos da paisagem são destacados durante a aula no
Barco-Escola Chama-Maré, que consiste em uma aula expositiva e interativa onde a própria
paisagem torna-se mote principal para os temas abordados durante a aula, que dura cerca de 1 hora
e 30 minutos. Durante o trajeto, é possível abordar temas que percorrem por diversas áreas do
conhecimento como história, geografia, biologia, economia, arquitetura, ecologia etc., pois a
paisagem do estuário posta como sala de aula proporciona o desenvolvimento de temas diversos.
É importante destacar que, apesar de serem sugeridos alguns pontos de destaque vistos na
paisagem, durante a aula bem como o ―trajeto‖ a ser seguido pelo barco no leito do rio, as aulas
sempre possibilitam experiências diferentes e contextualizações diversas a depender do professor e
do que está posto durante a aula em determinado dia e momento. A variação de Maré, por exemplo,
pode ser um elemento que vai conduzir aspectos diversificados de temas abordados durante a aula
bem como o perfil do grupo atendido.
O trajeto da aula se desenvolve quase que em toda área do leito do rio Potengi no trecho
compreendido a seu estuário. Partindo do Iate Clube de Natal, o barco percorre diversos pontos
entre a ―Boca da barra‖ já no contanto quase direto com o oceano atlântico, próximo a ponte
Newton Navarro, até a antiga ponte conhecida como ponte de Igapó na direção oeste na área mais
interior do estuário.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Representação do trecho percorrido pelo Barco-Escola no estuário do rio Potengi em Natal-RN
Fonte: Google maps (modificado pelo autor)

EXPERIÊNCIA COM PROFESSORES DE GEOGRAFIA NO PROJETO.

Sabendo da importância do estudo do meio como ferramenta a ser utilizada por


profissionais da educação de diversas áreas do conhecimento, destacaremos aqui a experiência da
atividade envolvendo estudantes dos cursos de graduação em geografia da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Em atividade realizada no mês de Março de 2017, os alunos dos cursos de graduação de
licenciatura em geografia tiveram a oportunidade de visitar o projeto Barco Escola Chama-Maré,
em Natal-RN. O objetivo central desse projeto é promover a recuperação ambiental e patrimonial
do estuário do rio Potengi, além de buscar a sensibilização dos grupos sobre temas ligados a relação
entre sociedade e meio. O público alvo do projeto são estudantes de nível básico, porém as
atividades são ofertadas também para os chamados grupos especiais (igrejas, universidades,
condomínios etc.).
O projeto surge então como uma alternativa de estudo do meio enriquecida por sua
interdisciplinaridade e pela ampla abordagem de temas/problemas do cotidiano urbano e sua relação
com ambientes naturais, nesse caso o rio Potengi e sua relação com a cidade de Natal-RN. Dessa
forma, a ―aula-passeio‖ do Barco-Escola foi observada como uma ferramenta pedagógica
importante para a idealização de estudo do meio pelos futuros professores de geografia das
respectivas universidades. Na ocasião estavam presentes alunos das disciplinas: ―Prática de Ensino

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

em Geografia II‖ da UFPB e ―Prática Pedagógica em Geografia I‖ da UEPB, todas ministradas no


primeiro semestre de 2017.
Na ocasião os estudantes puderam conhecer o contexto do projeto de forma geral em um
primeiro momento realizado no turno da manhã no escritório da FUNDEP; e, no segundo momento,
no período da tarde, realizaram a ―aula-passeio‖ no estuário do rio Potengi, onde puderam conhecer
de perto o principal elemento do projeto, o barco escola, observado nesse caso como uma
ferramenta importante para o estudado do meio na disciplina de geografia.
No primeiro momento no escritório da FUNDEP (figuras 2 e 3) os estudantes conheceram
como o surgiu o projeto, como se dá sua operacionalização, os problemas ambientais que nortearam
seu surgimento, alguns jogos pedagógicos e o contexto que envolve as aulas no barco. O intuito era
apresentar as caracterizas pedagógicas gerais ligadas a natureza do projeto e como se dá sua
operacionalização. No 2° momento (figuras 4 e 5) já no estuário do rio Potengi, os estudantes
puderam conhecer algumas das temáticas abordadas nas aulas, além de levantar discursões sobre a
natureza pedagógica dos temas e da aula em si observando sempre as possibilidades de se trabalhar
o projeto como estudo do meio. Nesse momento, percebeu-se por parte da equipe de professores e
monitores do barco que a aula desses foi diferente, devido não só ao perfil da turma, mas também
por seus objetivos na realização da aula.

Figuras 2 e 3: Visita técnica ao escritório da FUNDEP


Fonte: Pessoa (2017).

Figuras 4 e 5: Realização da aula-passeio no Chama-Maré


Fonte: Pessoa (2017).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Essa experiência possibilitou a discussão de temas relacionados ao ensino de geografia e


como o espaço pode se tornar uma ferramenta viável para a produção do conhecimento. Possibilitou
também observar as formas alternativas de educação ambiental que se apresentam a partir de
projetos que tem o meio geográfico como ferramenta pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de geografia assim como o de educação ambiental, tem alguns reguladores de


qualidade pelas metodologias adotadas e pelo perfil do profissional de educação que o idealiza.
Sabendo disso, percebemos que meios alternativos de produção do conhecimento podem surgir
como ferramentas de renovação na promoção e multiplicação de conhecimento.
A experiência relatada sobre o projeto Barco Escola como uma ferramenta viável para o
estudo do meio em geografia mostra não só a importância de projetos dessa natureza para a
recuperação e conscientização ambiental, mas confere um amplo cenário experimental para
profissionais como professores e educadores de diversas áreas do saber. Dessa forma, acreditamos
que o projeto Barco Escola Chama Maré aparece como uma alternativa pedagogicamente viável
para a realização de estudo do meio e para a formação ambiental crítica do cidadão.

REFERÊNCIAS

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socionatureza dos rios urbanos. Tese de doutorado, Programa de pós-graduação em Geografia
da Universidade Federal de Pernambuco (PPGeo/UFPE), 2011.

FUNDEP (Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da Terra Potiguar). ROTEIRO


PEDAGÓGICO, 2005.

LIMA JUNIOR, Guibson Da Silva. O ESTUDO DO MEIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: um


caminho para discussão dos problemas ambientais do município de João Pessoa. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós- Graduação em Geografia do Centro de Ciências Exatas e da
Natureza da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa – PB, 2014.

LLARENA, Marco Antônio Almeida. O ESTUDO DO MEIO COMO UMA ALTERNATIVA


METODOLÓGICA PARA ABORDAGEM DE PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS NA
EDUCAÇÃO BÁSICA. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em Geografia do
Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa – PB, 2009.

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Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009.

TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. O RIO POTENGI E A CIDADE DO NATAL EM CINCO TEMPOS


HISTÓRICOS, aproximações e distanciamentos. In Revista Franco-brasileira de Geografia, N°
23, 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 616


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CARTILHA EXPERIMENTAL: UMA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA


O ENSINO DA PEDOLOGIA

Ailson de Lima MARQUES


Mestrando em Ciência do Solo CCA-UFPB
marques.ailsonl@gmail.com
Ulisses Dornelas Belmont NERI
Licenciado em Geografia UAG-UFCG
udbn@live.com
Júlia Diniz de OLIVEIRA
Mestranda em Geografia CCHLA-UFRN
juliadiniz.oliveira@hotmail.com
Debora Coelho MOURA
Professora de Geografia UAG-UFCG
debygeo@hotmail.com

RESUMO
O processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos de geografia, especificamente a física, em
geral, são trabalhados de modo superficial ou precário no ensino básico. Diante disso, este trabalho
fruto da pedagogia de projetos objetiva expor uma cartilha desenvolvida por alunos do ensino
básico e alunos do ensino superior de geografia em estágio de licenciatura, para que apoie e
possibilite os docentes nos conteúdos sobre morfopedogênese do semiárido, tendo por aspectos a
diferenciação dos perfis, cor, textura, informações de usos, fertilidade e conservação no semiárido.
Para tanto, no estágio supervisionado foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos:
caracterização da área de estudo; levantamento bibliográfico; aulas teóricas e praticas e confecção
da cartilha. O principal resultado deste processo correspondeu à cartilha elaborada durante o
processo de ensino e aprendizagem, onde os conteúdos abordados na cartilha correspondem aos
seguintes tópicos: O que são solos; Como estão inseridos em nosso cotidiano; Como se forma os
diferentes tipos de solos (argiloso e arenoso no semiárido), além de questões de uso e manejo no
semiárido. Por fim, a cartilha apresenta um glossário com os termos técnicos, visando assim,
atender as possíveis dúvidas de professores e alunos e, além disso, apresenta uma versão digital que
pode ser baixada livremente.
Palavras-chave: pedagogia de projetos, solos, didático, semiárido.
ABSTRACT
The process of teaching and learning geography contents, specifically physics, in general, are
worked superficially or precariously in basic education. Therefore, this work, which is the result of
the pedagogy of projects, aims to present a primer developed by undergraduate students and
postgraduate geography undergraduates in order to support and enable teachers in the contents of
semi-arid morphogenegenesis. Differentiation of profiles, color, texture, information of uses,
fertility and conservation in the semiarid. Therefore, in the supervised stage the following
methodological procedures were adopted: characterization of the study area; Bibliographic survey;
Theoretical and practical classes and preparation of the booklet. The main result of this process
corresponded to the primer developed during the teaching and learning process, where the contents
covered in the booklet correspond to the following topics: What are solos; How they are inserted in
our daily life; How different types of soils are formed (clayey and sandy in the semiarid), besides

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 617


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

questions of use and management in the semiarid. Finally, the booklet presents a glossary with the
technical terms, aiming to answer the possible doubts of teachers and students and, in addition,
presents a digital version that can be downloaded freely.
Key words: pedagogy of projects, soils, didactic, semiarid.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho surgiu a partir do interesse em conhecer as dimensões que estão


associadas à prática docente e os conteúdos da geografia física, especificamente no ensino básico. A
proposta de considerar tais conteúdos surgiu a partir do reconhecimento que os componentes
curriculares relacionados à Geografia Física, em geral, são trabalhados de modo superficial ou
precário nesta fase escolar (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Neste sentindo, Venturi (2005) ressalta que a precarização de temas da Geografia Física
constitui um grave problema para toda comunidade escolar. Dessa forma deixam de serem
trabalhadas questões demográficas, agrárias, urbanas, industriais, energéticas, logísticas e
socioculturais numa abordagem sistemática.
Dentre os conteúdos da geografia física elencados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) destacam-se temáticas inerentes à natureza, como questões atreladas ao solo e suas
características, que devem ser abordados nos anos iniciais do ensino fundamental, em especial, no
primeiro ano do terceiro ciclo (SILVA et al., 2008).
Os PCNs ressaltam ainda que a inserção do tema solos nas séries iniciais do ensino
fundamental é interessante, pois desde cedo à criança é despertada sobre a relevância desse recurso
para o ser humano e o ambiente. Porconseguinte nas séries posteriores, o conhecimento sobre o
assunto deverá ser aprofundado progressivamente, de forma que os alunos possam adquirir base
sobre a inter-relação do solo com os demais elementos do meio, sua distribuição espacial, processo
de formação, principais características e alguns cuidados necessários com manejo e conservação
(SILVA et al., 2008).
No entanto, Sposito (1999) adverte que os PCNs não devem ser considerados unanimemente
adequados. Esta preocupação é expressa também por Pontuschka (1999, p. 16), ao afirmar que os
PCNs se destinam ―à minoria dos professores bem formados, que com maior ou menor intensidade
já conhecem a bibliografia mais atualizada e acompanham a trajetória percorrida pela ciência [...]‖.
Para Feltran Filho et al. (1996), os professores da educação básica apresentam notórias
dificuldades conceituais e metodológicas em abordagens de conteúdos sobre solos. Essas
dificuldades são construídas por especificidade do conteúdo e/ou por deficiências na formação
acadêmica. Além disso, muitas equipes pedagógicas das escolas não se posicionam criticamente
frente ao livro didático e ignoram a complementação com outras bibliografias ou materiais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Todo esse contexto faz parte de uma discussão muito mais ampla. Resumidamente alguns
autores concordam que o professor deve adotar metodologias e materiais pedagógicos diversos, e
que despertem o interesse dos alunos quanto à dinâmica dos solos na paisagem e os levem a um
posicionamento crítico frente ao processo de apropriação do espaço pelo ser humano (LIMA, 2002;
LIMA, 2004; MUGGLER et al., 2004; HATUM et al., 2007).
De acordo com Diniz et al., (2005), a popularização do conhecimento pedológico deve
passar por metodologias que considerem o conhecimento sobre solos das comunidades locais, uma
vez que percebe-se que os alunos podem entender um conceito por meio de várias abordagens.
Essas metodologias não estão contidas nos livros didáticos e cada região apresentam especificidades
pedológicas (FELTRAN FILHO et al., 1996; ROMANATTO, 2004; SILVA. FALCÃO e FALCÃO
SOBRINHO, 2008),
Diante da dificuldade de alguns docentes em abordar conteúdos da Geografia Física,
especificamente em temáticas que envolvam solo, alguns recursos didáticos podem se tornar um
importante instrumento, dentre eles, cartilhas, imagens, perfil de solo, entre outros. Nesse contexto
Lima et al., (2007, p.7) afirma que:

[...] o solo é um componente fundamental do ecossistema terrestre por ser


principal substrato utilizado pelas plantas para o seu crescimento e
disseminação. O solo fornece às raízes fatores de crescimento, tais como:
suporte, água, oxigênio e nutrientes. Além disto, o solo exerce multiplicidade
de funções, a saber: a) regulação da distribuição, armazenamento,
escoamento e infiltração da água da chuva e de irrigação; b) armazenamento
e ciclagem de nutrientes para as plantas e outros organismos; c) ação filtrante
de poluentes e proteção da qualidade da água. O ser humano também utiliza o
solo enquanto matéria-prima ou substrato para obras civis (casas, indústrias,
estradas), cerâmica e artesanato. Como recurso natural dinâmico, o solo é
passível de ser degradado em decorrência de seu uso inadequado pelo ser
humano. Nesta condição, o desempenho de suas funções básicas fica
severamente prejudicado, acarretando interferências negativas no equilíbrio
ambiental, e diminuindo drasticamente a qualidade de vida nos ecossistemas.

Ressalta-se que o tema deve ser abordado em todas as disciplinas de forma interdisciplinar,
com diferentes graus de complexidade de acordo com o ciclo em que se está trabalhando. Nesse
trabalho procuramos enfatizar o solo como componente do Geossistema, que faz parte do nosso
cotidiano, seja na fertilidade, na dinâmica geomorfológica, no substrato biogeográfico, e nas
dinâmicas ecológicas, mas sempre numa perspectiva sistêmica de Educação Ambiental.
Diante disso, criar materiais didáticos alternativos que sejam confeccionados com o apoio
dos próprios discentes se torna um método instigante no ensino, e ao mesmo tempo uma alternativa
multidisciplinar de potencializar o ensino sobre solos e suas correlações. Na internet estão dispostas
algumas propostas, entre elas: coleção de recortes de figuras de solos (CONDEIXA et al., 1993),
jogos (CENPEC, 1998), experimentos (LENZI; FÁVERO, 2000); (COLE, 1999). No Ensino

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Fundamental, as propostas de Condeixa et al., (1993) e as de Gonzales & Barros (2000) sobre jogos,
são interessantes.
A partir deste cenário, teve-se como objetivo geral e produto uma cartilha que possibilite os
docentes do ensino fundamental desenvolver conteúdos sobre a pedogênese de um solo argiloso e
solo arenoso, tendo por aspectos a diferenciação dos perfis, cor, textura, informações de usos,
fertilidade e conservação. Ressalta-se que a proposta de produzir uma cartilha sobre solos,
considerou algumas dimensões que vão além dos conteúdos contato com o campo, mas desde a sua
elaboração, condições estruturais para a execução e do ambiente que direcionam e determinam o
êxito ou fracasso no uso deste tipo de recurso.

METODOLOGIA

A escola

A proposta em questão foi desenvolvida no município de Campina Grande – PB, na Escola


Estadual de Ensino Fundamental Maria Emília Oliveira de Almeida, localizada no bairro Presidente
Médici, no período de março a maio de 2016, como requisito do estágio supervisionado IV do curso
de licenciatura plena em Geografia da Universidade Federal de Campina Grande – PB (Figura 1).
Foi realizada em caráter de projeto simples, tendo como título ―Solos na Cartilha‖. Para
tanto, teve-se o apoio dos alunos do 6ª ano C, que foram escolhidos sob critério de identificação
com a temática. Inicialmente todos os alunos formam envolvidos. Porém ativamente participaram
do projeto apenas os oito alunos. O projeto foi desenvolvido em 30 horas.

Caracterização da área de estudo

O estágio IV, a meu ver, mostra bem essa interface, entre profissionalismo e estrutura
escolar. Encontramos na escola professores do ensino fundamental que trabalham a geografia
humana e deixe a geografia física marginalizada.

O projeto

O objetivo geral do projeto ―Solos na Cartilha‖, que trabalhou com a pedagogia de projetos,
foi a criação de uma Cartilha para expor a morfopedogênese de um solo argiloso e um solo arenoso
do semiárido, tendo por aspectos a diferenciação dos perfis, cor, textura, informações de usos,
fertilidade e conservação. Assim possa ser utilizada por alunos e professores nas aulas do ensino
Fundamental (6ª ANO), mas não limitando seu uso no Ensino Médio e Universitário. Os objetivos
específicos se dividiram em: Conceituais: a) debater em sala de aula sobre gênese e morfologia; b)
debater em sala de aula sobre usos, fertilidade e conservação dos solos c) debater em sala de aula

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sobre temáticas relevantes em educação ambiental e solos; Procedimentais: d) capacitar os alunos


em campo sobre identificação e retirada de diferentes perfis de solos e) confeccionar a cartilha de
solos; Atitudinais: f) fazer um evento na escola no qual os alunos envolvidos irão apresentar o
conteúdo apreendido durante todo o projeto, apresentar a cartilha e doar os exemplares à escola.

Figura 1. Localização da área de realização da proposta.

ETAPAS PROCEDIMENTAIS

Levantamento bibliográfico

Esta etapa da pesquisa foi dedicada à busca por referenciais bibliográficas relativas ao
tema de estudo. Onde foram consultadas diferentes fontes bibliográficas, como publicações avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas desenvolvidas, monografias, dissertações, teses, entre
outros. Tendo como suporte teórico conceitual desta pesquisa: outros.

Aulas de Geografia

Esta etapa foi dedicada à construção teórica sobre a temática, onde os alunos envolvidos no
processo tiveram como base temas sobre a gênese e morfologia, além de usos, fertilidade e
conservação dos solos. Os alunos forma estimulados a diferenciar e identificar os horizontes em
perfis de solos e por fim, foi confeccionada uma cartilha sobre os solos.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Confecção da cartilha

Esta etapa foi dedicada à escolha de conteúdos (conteúdo público de internet sob licença da
Google) e construção da cartilha. Todos os conteúdos foram escolhidos e apreciados pelos alunos, e
o produto final passou pela supervisão dos estagiários.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O resultado deste trabalho correspondeu ao desenvolvimento da cartilha simples, que além


de ter contribuído para a construção do conhecimento sobre a temática, possibilitou um ambiente de
estimulo, visto que os alunos se perceberem como agentes modificadores e parte da natureza
(Figura 2).
Ressalta-se que a cartilha é uma proposta de material didático para o ensino da Geografia
física que pode ser utilizada por outros docentes e alunos em diferentes níveis. Quanto aos
principais conteúdos abordados na cartilha correspondem aos seguintes tópicos: O que são solos;
Como estão inseridos em nosso cotidiano; Como se forma os diferentes tipos de solos (argiloso e
arenoso), além de questões de uso e manejo.

Figura 2. Imagens da cartilha pronta.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Durante as aulas de Geografia foram ministrados conteúdos sobre rochas, gênese,


morfologia, fertilidade, usos e conservação dos solos e temáticas relevantes em educação ambiental
e solos. As temáticas relevantes foram escolhidas de acordo com o uso da terra nos arredores da
escola. Para isso, foi usada uma linguagem típica a faixa etária dos discentes do 6° ano através de
uma tentativa de construção do conhecimento didática e usos de recursos como cartilhas, mapas,
textos e vídeos. Dentre eles, destacam-se o livro didático ―Construindo o espaço humano‖ do autor
Igor Moreira e a cartilha do projeto Solo na Escola / CDSA-UFCG (Sumé) que foram utilizados
como apoio, além materiais do Programa de Extensão Universitária Solo na Escola/UFPR.
Em sequência, houve um ―geografando digital‖ com uso de recortes fotográficos dos
arredores das escolas, para uma identificação dos usos do solo nos arredores da escola, onde houve
um debate sobre as temáticas de solos a partir da análise da paisagem que envolve a dinâmica
cotidiana no contexto de educação ambiental.
Os recortes foram fotografados pelos discentes que conhecem a realidade, as imagens que
apresentaram os melhores detalhes foram utilizadas para compor a cartilha. A montagem a
idealização da cartilha, onde se teve a preocupação coma seleção das figuras, cores, informações e
fotos foram escolhidas num consenso entre todos os alunos envolvidos.
Para finalizar a proposta os alunos envolvidos no processo apresentaram aos demais alunos
da instituição à cartilha em uma amostra simples na escola, reunindo os alunos do ensino
fundamental numa perspectiva de Educação Ambiental.
O debate a acerca da nossa formação como docentes cada vez mais vem se ampliando,
precisamos de um lado responder a sociedade com alunos mais ―educados ― e do outro, precisamos
ter condições cognitivas, físicas, sociais e econômicas de garantir a construção do conhecimento.
São poucos os professores que conseguem traduzir a linguagem técnica da geografia física por meio
de uma transposição didática cotidiana.

CONCLUSÕES

Entende-se que o Estágio Supervisionado é a exteriorização do aprendizado acadêmico fora


da universidade; é o espaço onde licenciandos desenvolvem um cognitivo em face da construção do
conhecimento, encaramos a singela missão de idealizar, fomentar e orientar a criação da cartilha
com a temática solos.
Desenvolver um trabalho nos moldes propostos correspondeu a um importante desafio.
Quanto a promoção do conhecimento de elementos físicos da natureza, possibilitou construir uma
visão crítica dos alunos sobre a temática, ultrapassando os limites da escola, relacionando com o
contexto e o reflexo social destes elementos que interferem na condição do indivíduo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Neste contexto, o trabalho desenvolvido possibilitou ao corpo discente maior interesse no


estudo, uma vez que participaram ativamente da estruturação da cartilha, tornando-se a principal
contribuição cientifica deste trabalho, que se apresenta como um importante recurso didático para a
exploração das características presentes no semiárido brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLE, J.; DEGEN, B. O Ônibus Mágico: no interior da Terra. Tradução de Heliete Vaitsman. Rio
de Janeiro: Rocco, 1999.

COSTA, A. A. da; MESQUITA, N. L. Solos e Ensino: a proposta dos livros didáticos de geografia
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– RS. Anais.2010.

DINIZ, A. A.; BATISTA, R. B.; SANTOS, R. F. Popularização da taxonomia do solo: Vocabulário


mínimo e aspectos sócio econômicos no contexto do Ensino Fundamental. Revista Brasileira de
Ciência do Solo. Viçosa. Minas Gerais. V. 29. p. 309-316. 2005.

FELTRAN FILHO. Livro didático de Geografia: uma análise dos conteúdos da área física.
Sociedade e Natureza. Uberlândia, v. 1. n.1, p. 80-86. 1996.

GONZÁLES, S.L.M.; BARROS, O.N.F. O ensino de pedologia no ciclo básico de alfabetização.


Geografia. Londrina. V.9. n.1. p.41-90. 2000.

HATUM, I.S., ZECCHINI, M.V., FUSHIMI, M., NUNES, J.O. R. Trilhando Pelos Solos –
Aprendizagem e Conservação do Solo.

LIMA, M.R. O solo no ensino fundamental: Situações e Proposições. Curitiba. Universidade


Federal do Paraná. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola. 2002.

LIMA, M.R. Uma análise das classificações de solo utilizadas no ensino fundamental. Curitiba.
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MUGGLER, C. C.; SOBRINHO, F. A. P.; CIRINO, F. O.; SANTOS, J. A. A.; COSTA, C. A.


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ROMANATTO, M. C. O livro didático: alcances e limites. In: Encontro Paulista de Matemática, 7,


2004, São Paulo. Anais... São Paulo, 2004.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século
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SPOSITO, M. E. B. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino de geografia: pontos e


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mundo da educação: parâmetros curriculares e geografia. Ed. Contexto. São Paulo. P. 19-
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VENTURI, L.,A.,B. Praticando a Geografia: técnicas de campo e laboratório em Geografia e


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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA A PARTIR DA ELABORAÇÃO DE


HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Alexandre dos Santos SOUZA


Doutorando em Geografia no PPGG/UFPB, Professor do Ensino Fundamental e Médio
alesougeo@gmail.com
Alírio Vercélio Bezerra WANDERLEY FILHO
Discente - Século Colégio e Curso
alirio.oficial@gmail.com
Guilherme Thomas Freitas LIMA
Discente - Século Colégio e Curso
guithomasfl@gmail.com
Natan Nunes HAMAD
Discente - Século Colégio e Curso
natannhamad@gmail.com

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar a importância de se trabalhar a Educação Ambiental na
Educação Básica a partir da elaboração de histórias em quadrinhos. A Educação Ambiental é um
tema inserido transversalmente dentro dos currículos escolares, o qual educadores e educandos
devem abordar de maneira integrada, observando-o no âmbito da interdisciplinaridade, como uma
oportunidade que contribua para a construção do conhecimento de maneira global. Nesta
perspectiva, é imprescindível a postura didático-pedagógica do professor, enquanto agente
facilitador desse processo, planejando atividades que possibilitem articulação entre as disciplinas
para alcançar resultados que permitam uma aprendizagem significativa. Partindo desses
pressupostos, tem-se, na elaboração de histórias em quadrinhos a partir de um dado tema gerador,
um meio interessante de se ampliar as formas de aprendizado e de exploração de diversas
possibilidades do imaginário dos alunos, de sua capacidade artística, criativa, entre outras. O
resultado da culminância deste trabalho se apresenta de forma lúdica por meio de uma história em
quadrinhos inédita que alunos do Ensino Médio elaboraram, aplicando conhecimentos obtidos
durante as aulas acerca da água, elemento fundamental à manutenção da biosfera terrestre.
Palavras-chave: Educação Ambiental. História em quadrinhos. Ciclo da água.
ABSTRACT
This paper aims to present the importance of working Environmental Education in Basic Education
from the elaboration of comic books. Environmental Education is a theme inserted transversally
within the school curricula, which educators and learners must approach in an integrated way,
observing it within the scope of interdisciplinarity, as an opportunity that contributes to the
construction of knowledge in a global way. In this perspective, it is essential the didactic-
pedagogical posture of the teacher as facilitator of this process, planning activities that enable
articulation between the disciplines to achieve results that allow meaningful learning. Based on
these assumptions, there is, in the elaboration of comic books from a given generating theme, an
interesting way of expanding the ways of learning and exploring the various possibilities of the
students‘ imaginary, their artistic and creative capacity, among others. The result of the culmination
of this work presents itself in a playful way through an unpublished comic book that students of the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

High School elaborated, applying knowledge obtained during the lessons about the water,
fundamental element to the maintenance of terrestrial biosphere.
Keywords: Environmental Education. Comic books. Water cicle

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) na Escola é de grande relevância na formação do senso ético-


cidadão, uma vez que possibilita a percepção e consciência necessária acerca da integração do ser
humano com o meio ambiente. Nessa perspectiva, Guimarães (1995, p.15) destaca o
desenvolvimento de uma consciência harmoniosa do ser humano a respeito do equilíbrio dinâmico
da natureza, de maneira que haja, ―por meio de novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção
do educando e do educador como cidadãos no processo de transformação do atual quadro ambiental
de nosso planeta‖.
A Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a EA e institui a Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA), traz, em seu artigo 1º, o conceito de EA:

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Nessa perspectiva observa-se que a EA no âmbito escolar envolve processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, competências, habilidades, atitudes e
conhecimentos fundamentais ao princípio de sustentabilidade e conservação do meio ambiente.
Dessa forma, o presente trabalho desenvolvido no ambiente do Século Colégio e Curso, com
alunos do 2º ano do Ensino Médio, tem como foco abordar a importância da água, bem de uso
comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade. A proposta objetiva, a partir
de abordagens conceituais relacionadas às questões envolvendo a hidrosfera terrestre, por
intermédio de aulas expositivas e dialogadas fundamentadas em diversas fontes de pesquisa,
desenvolver atividades complementares de elaboração de histórias em quadrinhos (HQs),
possibilitando uma abordagem mais ampla, por meio do ensino interdisciplinar, promovendo
interação entre as disciplinas e conduzindo o aluno a absorver, de forma mais ampla, o
conhecimento acerca da temática em questão.
Assim, considerando-se que as HQs utilizam linguagem e estruturação própria, na qual se
aplicam, de forma artística, técnicas de desenho, elaboração de roteiro, argumentos e organização
de cenas e fenômenos, configura-se, então, como um instrumento de aprendizagem que possibilita
ampliar as possibilidades de absorção do conhecimento. Partindo desses pressupostos, Barbosa
(2009, p. 112) aponta que, ao elaborar o um quadrinho, o artista (neste caso particular, os discentes)
assume o papel de informante, de ―um formador de conceitos e opiniões bem como fomentador de
percepções e interpretações do pensamento subjetivo‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Cabe destacar que, para este trabalho, a proposta de construção de HQs na sala de aula
surgiu como forma de consolidar os conceitos acerca da temática que já estava sendo abordada com
os discentes a partir de aulas expositivas e dialogadas, de leitura de textos e estudos dirigidos sobre
a hidrosfera terrestre, as águas continentais, o ciclo hidrológico e a gestão de bacias hidrográficas.
A oportunidade de incentivar os alunos a criarem, de forma autoral e criativa, sua própria
versão a respeito do tema proposto amplia substancialmente a possibilidade de interesse pelo tema
abordado, pois permite explorar as infinitas possibilidades do imaginário deles, sua capacidade
artística e criativa, além de integrar, no processo de construção da HQ, habilidades e competências
adquiridas em outras disciplinas fundamentais à formação do aluno como cidadão e agente
transformador do meio ambiente onde vive.

METODOLOGIA

As HQs carregam relevante potencial no campo do entretenimento e da educação, uma vez


que o produto final é um veículo interessante de comunicação, com grande capacidade de escoar
funções de representações de fenômenos que configuram o Espaço Geográfico.
Nessa perspectiva, após se apresentar toda a abordagem teórico-conceitual durante as aulas,
criaram-se círculos de debates que permitiram traçar um plano para produção de uma HQ que
atendesse às necessidades pedagógicas propostas e que cujo produto final corroborasse como um
instrumento de conscientização acerca das questões voltadas à relação entre sociedade e natureza.
A metodologia empregada consistiu em organizar os alunos em grupos, para iniciar o
levantamento de dados pertinentes ao trabalho (pesquisa bibliográfica, imagens, infográficos etc.),
por meio dos quais se estruturou a construção dos quadrinhos. Por se tratar de uma atividade pouco
comum dentro do planejamento das aulas, sugeriu-se que se reservasse um momento extraclasse
para oficina com os alunos (Figura 1).

Figura 1. Momento extraclasse para definição das estratégias de elaboração da HQ.


Fonte: Autoral (2017).

Para a elaboração da HQ, Caiado (2017) sugere que se observe um argumento que possua
início, meio e fim, seguindo uma organização ordenada das cenas, cenários, diálogos e apresentação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos personagens. Além disso, a autora destaca que se defina o tipo de traço e cores que se aplicarão
nos desenhos. O número de páginas deverá estar previamente planejado, como forma de indicar o
ritmo da narrativa.
Após os procedimentos supracitados, deve-se definir o formato mediante rabiscos (croquis)
para montagem das cenas, diálogos e legendas. Para o acabamento final, deve-se observar o tipo de
lápis, a aplicação das cores (manualmente ou por meio de programa de computador) e a correção do
texto e das imagens antes da confecção do produto final.

RESULTADOS E DISCURSÕES

Não resta dúvida de que os debates envolvendo a questão hídrica em todas as suas esferas são
fundamentais no ambiente escolar, em face da função vital da água para a vida na Terra. De acordo
com Karmann (2009), a água é a substância mais abundante na superfície terrestre, sendo responsável
pela manutenção da vida na biosfera, prova disso é a fotossíntese, que produz biomassa pela reação
entre CO2 e H2O, ressaltando, também, que praticamente 80% do corpo humano se compõe de água.
Mas como surgiu a água? Qual o caminho percorrido por ela até se tornar esse recurso tão
importante para a vida na Terra? Para Karmann (2009, p.188), a origem da água está relacionada
―com a formação da atmosfera, ou seja, a ‗degaseificação‘ do planeta. Esse termo refere-se ao
fenômeno de liberação de gases por um sólido ou líquido quando este é aquecido ou resfriado‖,
processo que se iniciou durante a fase de resfriamento geral da Terra. Dessa forma, julga-se que a
hidrosfera gerou-se gradativamente no decorrer do tempo geológico.
Apesar da idade geológica, ―a água não permanece num mesmo reservátorio
indefinidamente, [...] ela está em constante movimento e renovação‖, circulando indefinidamente
entre os subssistemas que sustentam a vida no planeta Terra (HIRATA; VIVIANI-LIMA;
HIRATA, 2009, p.450). Denomina-se ciclo hidrológico essa circulação da água na superfície
terrestre (Figura 2). Esse processo,

Pode ser comparado a uma grande máquina de reciclagem da água, na qual operam
processos tanto de transferência entre os reservatórios como de transformação entre os
estados gasoso, líquido e sólido, em relativo equilíbrio através do tempo geológico,
mantendo o volume geral de água constante no Sistema Terra (KARMANN, 2009, P.190).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2. Ciclo hidrológico.


Fonte: Brasil (2017).

De acordo com o World Water Development Report, publicado pelo United Nations World
Water Assessment Programme (2017), ―uma grande proporção de águas residuais ainda é liberada
para o ambiente sem ser coletada ou tratada.‖ O relatório supracitado aponta que, nos países de
baixa renda, são tratadas, em média, apenas 8% das águas residuais domésticas e industriais, já nos
países desenvolvidos essa cifra é de 70%. Nesta perspectiva Hirata; Viviani-Lima e Hirata (2009,
p.449) destacam que: ―Mesmo a água já utilizada pode deixar de ser recurso, se tiver passado por
processos de poluição ou contaminação que inviabilizem sua reutilização; nesse caso, a água deixa
de ser um recurso renovável.‖ Sendo assim, a educação voltada para a sustentabilidade deve
promover amplo debate sobre esta questão.
Cabe destacar também que, por todo o mundo (em maior ou menor proporção), a água
contaminada pela atividades antrópicas é descarregada em rios e lagos que terminam nos oceanos,
com consequências negativas para o meio ambiente e à saúde pública. Destarte, é inegável a enorme
necessidade de que a sociedade humana se una em torno de um projeto nas esferas pública e
privada, adotando o desafio de proteger e melhorar a qualidade da água dos mananciais.
Nesse contexto, embora o homem viva em um planeta cuja superfície é ocupada por cerca de
dois terços de água, ele esquece que pode aproveitar apenas 0,09% dessa água para seu consumo e
que há uma parte significativa que sua ação já poluiu ou degradou. Preocupada com essas questões,
a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no seu Capítulo 18,
apresenta a água doce como um elemento essencial a todos os ecossistemas terrestres e necessária em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

todos os aspectos da vida, destacando a grande necessidade de que se assegure uma oferta adequada
de água de boa qualidade para toda a população do planeta; e que se preservem as funções
hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, de maneira que as atividades humanas se
adaptem aos limites da capacidade da natureza utilizando as tecnologias disponíveis (inovadoras e
nativas) para o pleno aproveitamento dos recursos hídricos.
Por essas razões e considerando a estreita relação entre a necessidade crucial de conservação
da água como elemento vital na biosfera terrestre, e com o intuito de contribuir de maneira prática
com a proposta pretendida para EA no ambiente escolar, concebeu-se, a partir de debates e
exposições conceituais de conteúdos envolvendo a questão da água e a relação da sociedade
humana com esse recurso, a proposta de elaboração de um conto nos moldes de HQs, no qual se
demonstrassem, de forma lúdica e criativa, alguns aspectos envolvendo o caminho da água na
superfície, considerado o processo envolvendo o ciclo hidrológico e as formas de uso desse recurso
pela sociedade humana.
O objetivo do projeto é corroborar e promover uma proposta de conservação da água por
meio de uma prática que amplie o conhecimento a respeito das formas de uso, com sugestões
criativas para o melhor aproveitamento e minimização do desperdício mediante a EA. Para tanto,
considera-se a construção de HQs como um instrumento que possibilita a divulgação da informação
proposta não apenas no meio impresso, mas, também, no universo virtual.
Partindo das premissas supracitadas, após a abordagem teórico-conceitual sobre o tema, a
coleta de dados e cumprida a etapa de comparações das informações, com o objetivo de estabelecer
correlações significativas ao desenvolvimento do trabalho de construção da HQ, objeto síntese do
projeto, efetuaram-se as etapas semântica (verificações de informações anteriores e processo de
transformação que favorecem à tomada de decisões lógicas) e normativa (demonstração de modelos
da realidade, de planejamento, caracterização ambiental, entre outros), cujo produto final culminou
numa narração que traça o caminho percorrido pela água na superfície terrestre (Figuras 3a a 3f).

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a
Figura 3a. Capa da história em quadrinho.
Fonte: Autoral (2107).

Como não poderia ser diferente, a trama é protagonizada pela própria água, representada por
uma gota d‘água, ―Pingo‖ (Figura 3a), um super-herói que recebe a missão de vir à Terra para
conscientizar os atores coadjuvantes da trama (os humanos), acerca da importância do uso e
consumo consciente da água, recurso fundamental às gerações presentes e futuras, com o intento de
promover uma utilização racional integrada, a prevenção e a defesa dos recursos hídricos.
Como contribuição aos argumentos supramencionados e considerando-se a EA como
instrumento pedagógico de ação, construiu-se, como produto final das reflexões conceituais
apresentadas no ambiente da escola, uma forma de HQ que poderá, conforme frisado acima, ser
impressa e/ou divulgada em meios digitais como literatura que contribua com o processo de ensino-
aprendizagem dentro da esfera que envolve a EA nas diversas séries do Ensino Básico.

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Figura 3b. Ilustra o processo descrito no ciclo hidrológico global, quando as particulas de água presente na
atmosfera precipitam sobre a Terra. Figura 3c. Retrata o diálogo entre o ―Pingo‖ e um homem que planeja
erroneamente uma obra de engenharia numa área de nascente fluvial.
Fonte: Autoral (2017).

Figura 3d. A gota d‘água segue seu curso natural até ser captada para suprimento das atividades humanas.
Figura 3e. Cenas que ilustram as principais atividades que mais utilizam água.
Fonte: Autoral (2017).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3f. Ilustra uma situação na qual a água se encontra contaminada por atividade antrópica.
Figura 3g. Retrata uma situação na qual está posta a resiliência da água, que, apesar da contaminação, retoma
seu ciclo natural por meio do processo de evaporação.
Fonte: Autoral (2017).

CONCLUSÃO

E, com o intuito de não concluir, ressalta-se que, para que haja uma relação harmoniosa
entre os seres humanos e os ambientes naturais, é imprescindível perpassar decisivamente por um
engajamento político-social, que tenha como principal alicerce a EA aplicada na formação de um
senso ético que possibilite empreender formas racionais e adequadas de uso dos recursos naturais
dentro da ótica da sustentabilidade, consolidando uma cultura de informação na qual as pessoas
aprendam a pensar e atuar criticamente na medida em que o homem se torna agente de profundas
transformações do Espaço Geográfico.
Para tanto, é importante compreender que essa ação transformadora deve ser vista como um
compromisso do coletivo social, daí o papel da EA, disseminada em todas as esferas sociais,
políticas e econômicas, pois, na medida em que se compartilha conhecimento, este é apropriado
pela sociedade, que produzirá ações educativas e práticas efetivas.
Obviamente, dada a amplitude das questões envolvendo a relação sociedade e natureza, não
se ousaria jamais afirmar que a proposta metodológica aqui aplicada representa o meio mais eficaz
de fomentar a EA na escola, afinal, a apropriação do livro didático, as experiências empíricas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

mediante aulas de campo, feiras de ciências, campanhas de conscientização, construção de


maquetes de demonstração de fenômenos, entre outros, são partes desse processo.
No entanto, deve-se considerar que, durante o processo de construção das políticas
educativas, seja observado, principalmente, o contexto no qual estão inseridos os indivíduos,
partindo-se de uma visão holística que estabeleça uma noção clara dos fenômenos nas escalas
global e local, e que viabilize ações participativas dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente.
Nesse difícil universo, trabalhar EA é um grande desafio para qualquer escola, afinal, nem
sempre a escola dispõe em seu quadro de professores, profissionais (nas diversas áreas envolvidas)
que possuam qualificação e interesse em transpor os limites de propostas formais que abordam
timidamente as questões ambientais.
O intuito deste estudo é corroborar uma visão que impulsione a EA na escola, como um
processo de aprendizagem permanente, que valoriza as diversas formas de conhecimento e prepare
o exercício pleno da cidadania e da sustentabilidade, uma vez que a preocupação com a natureza é
um dever de todos e independe de classe social, faixa etária, cultura, sexo ou cor. Portanto, é
necessário consolidar na escola um projeto pedagógico participativo, entre as famílias e a
sociedade, para uma convivência harmoniosa com as peculiaridades do meio ambiente.

REFERÊNCIAS

AVELAR, Távita de. A interdisciplinaridade nas histórias em quadrinhos. 2010. 12 f. Trabalho de


Conclusão de Curdo (Graduação em Pedagogia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2010.

BARBOSA, Alexandre. História e quadrinhos: a coexistência da ficção e da realidade. In:


VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (Orgs.). Muito além dos quadrinhos: reflexões
sobre a 9ª arte. São Paulo: Devir, 2009. p. 103-112.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 abr. 1999.

Ministério do Meio Ambiente. Ciclo hidrológico. Disponível em: <http://www.mma.gov.


br/agua/recursos-hidricos/aguas-subterraneas/ciclo-hidrologico>. Acesso em: 28 abr. 2017.

CAIADO, Elen Campos. Como construir histórias em quadrinhos com os alunos. Disponível em:
<http://educador.brasilescola.uol.com.br/sugestoes-pais-professores/como-construir-historia-
quadrinhos-com-os-alunos.htm>. Acesso em: 23 abr. 2017.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.


ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 635
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

HIRATA, Ricardo Cesar Aoki; VIVIANI-LIMA, Juliana Baitz; HIRATA, Haroldo. A água como
recurso. In: TEIXEIRA, Wilson; FAIRCHILD, Thomas Rich; TOLEDO, M. Cristina Motta de;
TAIOLI, Fabio. Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. P.
448 – 485.

KARMANN, Ivo. Água: ciclo e ação geológica. In: TEIXEIRA, Wilson; FAIRCHILD, Thomas
Rich; TOLEDO, M. Cristina Motta de; TAIOLI, Fabio. Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2009. p. 186 – 2009.

UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME. The United Nations


World Water Development Report 2017: wastewater: the untapped resource. Paris, UNESCO,
2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ENTRELAÇANDO CONCEITOS: A COMPLEXIDADE NA EVOLUÇÃO DO


CONHECIMENTO DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS39

André Luiz Queiroga REIS


Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente - UFPB
andre_queiroga@yahoo.com.br
Alineaurea Florentino SILVA
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Embrapa
alineaurea.silva@embrapa.br
Taysa Tamara Viana MACHADO
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente - IF PB
taysatamara@gmail.com
Graça NASSAU
Mestre em Economia - UFPB
gnassau20@hotmail.com

RESUMO
A confecção deste artigo teve início na identificação de pontos de interseção entre os materiais
bibliográficos a partir da temática recorrente sobre conhecimento em ciências ambientais. Em todos
os textos foi aprofundada a discussão do tema, inter-relacionando-a com a literatura. A temática
recorrente nos textos era a discussão da Construção do Conhecimento em contextos sociais,
históricos, ambientais, acadêmicos e culturais, muito amplos. Neste sentido, foi elaborado o artigo
com uma discussão mais aprofundada de diversos autores com diferentes conceitos sobre o que é
ciência e conhecimento, estruturado com uma análise a partir de quando a ciência era trabalhada de
maneira unificada, passando a ser fragmentada e se apresentando em uma tendência atual de se
reunificar através do conceito de inter, trans e pluridisciplinaridade, sendo abordando de maneira
mais intensamente o contexto das ciências ambientais. Espera-se alcançar com essa discussão uma
clara reflexão sobre o tema, considerando, sem sombra de dúvida, como aspecto altamente relevante
na construção deste artigo, a capacidade de interação para discussão de um tema muito amplo. Para
isso foi necessária a conjunção de diferentes autores com formação diversificada, num grupo que
era composto por Engenheira Civil, Engenheira Agrônoma, Economista, Geógrafo e Químico, que
dada a riqueza na linguagem por si só já representa um desafio para a confecção deste artigo.
Concluiu-se com a certeza de que cada vez mais os estudos voltados para a construção do
conhecimento nas ciências ambientais exigem a adoção de formas de compreensão das diferentes
linguagens que perfazem o meio acadêmico-científico interdisciplinar.
Palavras-Chave: construção do conhecimento, interdisciplinaridade, educação ambiental.
ABSTRACT
The preparation of this article began in the identification of points of intersection between
bibliographic materials from the recurrent theme of knowledge in environmental sciences. In all of
the texts the discussion of the subject was deepened, interrelating with the literature. The recurrent
theme in the texts was the discussion of the Construction of Knowledge in very broad social,
historical, environmental, academic and cultural contexts. In this sense, the article was elaborated
with a more in depth discussion of several authors with different concepts about what is science and

39
Agradecemos a valiosa colaboração do Doutor Lucas da Silva, Professor do IFCE, na discussão que deu origem ao
presente trabalho.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

knowledge, structured with an analysis from when science was worked in a unified way, becoming
fragmented and presenting in A current tendency to reunite through the concept of inter, trans and
pluridisciplinarity, and is addressing in a more intense way the context of the environmental
sciences. It is expected to reach with this discussion a clear reflection on the subject, considering,
without doubt, as a highly relevant aspect in the construction of this article, the capacity for
interaction to discuss a very broad topic. In order to do so, it was necessary to combine different
authors with diverse backgrounds, in a group that was composed of Civil Engineer, Agronomist,
Economist, Geographer and Chemist who, given the richness of language alone, represents a
challenge for this article. It was concluded that more and more studies aimed at the construction of
knowledge in the environmental sciences require the adoption of ways of understanding the
different languages that make up the interdisciplinary academic-scientific milieu.the richness of
language alone, represents a challenge for the preparation of this article.
Key-words: Construction of knowledge, interdisciplinarity, environmental education

INTRODUÇÃO

A discussão que trata da múltipla complexidade dos conceitos da construção do


conhecimento das ciências, relacionadas principalmente as ciências ambientais, que por natureza
necessitam de um olhar mais abrangente e generalista e ao mesmo tempo especializado, traduz a
relevância da discussão do nascimento, evolução e a contextualização na história da humanidade.
A busca do entendimento do que é na verdade a ciência e a procura em entender, através do
comportamento humano sua evolução, passa pela observação de como se deu a passagem do
homem primitivo que não sabia dominar técnicas agrícolas e sofreu a beira da extinção antes de
dominar o uso do fogo, isso a seis milhões de anos e a 150mil anos no surgimento do homem
moderno, desta forma o intervalo de tempo entre essas duas situações foi muito longo, se
consideramos que a ciência e a tecnologia fez com que a humanidade desse um salto evolutivo
muito rápido, transformando as descobertas científicas em um panorama de evolução sem
precedentes. Ou seja, nos últimos 200 anos a velocidade com que os seres humanos avançaram
frente ao ―desconhecido‖ (nas áreas de química, física, astronomia, telecomunicações, internet...)
foi muito rápido, se levarmos em consideração que o intervalo de tempo entre o surgimento do
homem moderno e revolução agrícola foi de aproximadamente 140 mil anos a civilização moderna
em contra ponto do descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, nas caravelas até a primeira
viagem tripulada ao espaço, o intervalo foi de apenas 460 anos.
Outro exemplo vem das telecomunicações, que da criação do telefone em 1860 à criação da
internet o intervalo foi apenas de 100 anos. Se formos mais contemporâneos pegarmos o primeiro
celular inventado pela Motorola em 1956, que era um aparelho que pesava 40 quilos e foi instalado
na mala de um carro, para os dias de hoje, que um só aparelho tem múltiplas funções e não pesa
mais que um grampeador, esse intervalo é de 57 anos, ora, então o que aconteceu com a
humanidade? O que proporcionou este salto?

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Imaginamos que as ciências seguiram uma via de mão dupla, elas tanto promoveram quanto
se beneficiaram destes eventos. Sendo assim, o objetivo deste artigo é questionar, despertar e
discutir uma parte dos inúmeros caminhos tomados pela ciência e tentarmos entender os
acontecimentos de hoje, como uma volta as raízes das ciências, onde a filosofia, a matemática, a
biologia, a física, a medicina, a psicologia andavam juntas.
Como metodologia central para confecção do trabalho foi utilizada a leitura de trabalhos
previamente direcionados ao tema Construção do Conhecimento. Em seguida foram resgatadas
referências correlatas e adicionadas a discussão numa sequencia que buscou retratar o movimento
da ciência nas suas diversas fases, numa abordagem evolutiva, nos aspectos econômicos, sociais,
geográficos e tecnológico.

METODOLOGIA

Para confecção do presente trabalho foi necessária pesquisa documental com ampla busca de
informações na literatura escrita, em textos contidos no ambiente físico e virtual, bem como de
relatos de diversos pensadores atuais e pretéritos. As informações foram reunidas e discutidas em
equipe interdisciplinar. Inicialmente foram realizadas discussões niveladoras, tendo em vista o
vocabulário diversificado das diferentes áreas do conhecimento dos autores, em seguida pode-se
avançar na discussão do tema propriamente dito elaborando uma síntese do conteúdo discutido e
aprofundado. A análise dos textos e posterior discussão foi organizada tomando-se como base os
diversos contextos na construção do conhecimento ambiental, desde o contexto social, econômico e
mesmo tecnológico.

A ABORDAGEM EVOLUTIVA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO: DO UNIFICADO


AO REUNIFICADO

A primeira abordagem trata como o conhecimento foi gerado no passado, de maneira


unificada, onde as diversas áreas das ciências (sejam elas ambientais ou não) relacionavam-se e
eram direcionadas entre si para um objeto ou fato comum.
Nos tempos mais remotos, os antigos profetas compreendiam e explicavam os fenômenos da
natureza como algo transcendente a ótica humana, derivados de incursões enigmáticas e abstratas,
porém imersas num relacionamento complexo, afirmando-o como instável e filosófico. Essa forma
de pensamento influenciou os pensadores e filósofos antigos, marcando o período com
desdobramentos que nortearam diversas discussões atuais sobre o assunto.
Porém, antes dessa tendência atual, notou-se uma evolução do conhecimento científico
voltado para a fragmentação, onde o todo não representava as partes e cada parte teriam suas
fisiologias próprias e precisariam ser entendidas separadamente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assim, a ciência por muito tempo mostrou-se empenhada em exprimir conceitos dos
fenômenos naturais e classificá-los conforme o conteúdo de cada um, tornando-os pertencentes a
química, física, matemática, biologia, etc. Essa separação resultou numa infinidade de
especializações e direcionamentos nas pesquisas e no conhecimento acadêmico, reduzido o aspecto
multifacetado dos fenômenos naturais a dimensões prioritariamente planas e bem visualizadas,
exaltando as desigualdades existentes entre as ciências e sociedades (SANTOS, 1999),
desenfreando uma busca por conhecimento aprofundado das partes.
Segundo Freire (2002), desde os primórdios da humanidade, a linguagem das formas de
expressão do conhecimento tem sido abstratas e alegóricas, traduzindo-se em uma narrativa de fatos
sequenciais relacionados simbolicamente, tidos quase que como mito.
Por outro lado abordando a construção do conhecimento de forma prática e pedagógica, pois
o acúmulo de conhecimento incluiriam práticas e técnicas que transformassem os recursos naturais
disponíveis no meio ambiente.
A outra forma que consideramos ser um fator evolutivo dos estudos das ciências (ambientais
ou não) foi sua fragmentação, ou seja, um processo que gerou a necessidade de especialistas nas
diferentes áreas do conhecimento. Para alguns pesquisadores isso foi um processo necessário,
natural e espontâneo e que ocorreu de certa forma mais acentuada no mundo acadêmico das
universidades.
Nas Ciências Ambientais o conjunto de elementos físicos, químicos, biológicos e os
próprios fatores sociais são visados muitas vezes apenas por suas funções, sem, contudo serem
expressas as diferentes formas de interação. Posteriormente percebe-se que as funções de cada um
são interligadas e dependentes entre si (GIANNUZZO, 2010, GARCÍA, 1994), numa lógica
totalmente contrária a tendência à divisão das ciências e dos conhecimentos. Segundo Giannuzzo
(2010), no entanto, uma complicação importante é a existência de uma grande variedade de ideias
entre as disciplinas, gravitando entre elas, o que poderia ter efeito benéfico pela pluralidade
(RANSANZ, 1997).
Porém a principal complicação reside no risco do desprezo aos relacionamentos que existem
ou aspectos ou componentes presentes nessas relações que por sua vez, poderiam afetar o
conhecimento deles (Giannuzzo, 2010). Por outro lado, o conhecimento muito profundo sobre um
componente ou uma disciplina pode prejudicar a compreensão de suas interações com outras, ou o
resto dos componentes, impedindo a solução de problemas em que estão contidos na interelação
entre as disciplinas.
A Conferência de Estocolmo, em 1972, marca geração de novos conceitos, como o meio
ambiente humano, onde se considera as partes, conjunto de meios físicos, química e biológica,
porém dentro de um contexto particularmente ecológico, articulando principalmente fatores sociais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O que desmistifica e desencadeia fortemente uma nova tendência a unificação e interligação entre
as ciências, num exercício da interdisciplinaridade.
Desta forma, nas ultimas duas décadas, devido a complexidade de diversas interações na
produção do conhecimento e o aumento na velocidade na transmissão de informações, é perceptível
uma forma de reunificação das ciências, principalmente das ambientais, através dos conceitos de
inter, trans e multi disciplinaridade.
Segundo Latour (1990), citado por Carvalho (2007), o processo de produção de
conhecimento científico tem características de uma rede sociotécnica. Para tanto, buscou-se
entender a estrutura existente por de trás desse universo, considerando o programa educacional.
Assim, ao final do estudo, após a análise dos dados Carvalho (2007) constatou que a
emersão de nós e tramas no programa. Nele, as ações desempenhadas pelos envolvidos diretos e
indiretos, gradativamente construíram uma rede de relações sociotécnicas na formação de
professores e de pesquisadores de CNMT/Física.
Atualmente novas formas de construção do conhecimento estão surgindo e fortalecendo a
interação com as comunidades, principalmente no âmbito do conhecimento ecológico ambiental
rural. Um desses exemplos muito próximos a nossa realidade é uma a proposta que envolve o
Projeto Semear e vem ocorrendo em diversas regiões nordestinas e está publicado na Revista Fórum
(RIOS, 2013).
Nesse caso, a proposta metodológica do grupo coordenador das ações parte da observação
de realidades concretas, do desconstruir conhecimentos, digerir sensações, percepções e construir
novos conhecimentos‖, que partem de questionamentos como: O que é e onde está o conhecimento?
Como estabelecer metodologias que facilitem o diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes
populares? Como agricultoras e agricultores, técnicos e pesquisadores podem dialogar para
construir métodos e caminhos que favoreçam uma visão mais sistêmica dos processos? Esses
questionamentos favorecem o trabalho de construção do conhecimento nas comunidades de
agricultores e utilizando dialética simples e apropriada envolve as diferentes disciplinas acadêmicas,
implícitas, vivenciadas com a realidade local e validadas pelos próprios protagonistas do
conhecimento empírico que passa da prática a ser teórico.
Essas tendências mostram claramente a necessidade de unificação ou diálogo contínuo entre
as ciências como forma de construção de conhecimento científico, seja no âmbito prático (rural), ou
mesmo teórico, na formação de novas formas de conhecimento (estruturas sociotécnicas), ambos
levando em consideração o arcabouço conceitual pré-existente e atualizável, conforme o nível de
pragmatismo dos atores envolvidos.

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CONTEXTOS QUE INFLUENCIARAM NAS CIÊNCIAS E TIVERAM REFLEXO NAS


FORMAS DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: CONTEXTO ECONÔMICO

A evolução do conhecimento transformou a sociedade tanto nos aspectos econômicos como


sociais. O aumento da competitividade fez com que as pessoas e as organizações compreendessem
que o que diferencia umas das outras é o conhecimento em si e a maneira como ele é aproveitado
em suas atividades. As contribuições que a ciência e a tecnologia vêm trazendo para a sociedade são
resultados de intensas descrições, análises, discussões, debates, divergências e até mesmo profundos
enfrentamentos teóricos e metodológicos. E os enfrentamentos têm marcado a revisão de seus
paradigmas e conceitos, o que demonstra o dinamismo e as constantes críticas pelos quais vêm
passando.
Enquanto o conhecimento científico visa à explicação dos fenômenos, o conhecimento
tecnológico busca o resultado do fenômeno. Assim, é oportuno trazer à tona algumas considerações
sobre os desafios da ciência e da tecnologia contemporânea.
O desenvolvimento da ciência se pautou nos últimos quatro séculos, pelos objetivos de
compreender a natureza e os fenômenos ligados ao mundo real. E a ciência moderna nasce com o
objetivo específico de criar um método confiável pelo qual seria feito o controle desse
conhecimento sistemático, preciso e objetivo, e que passou a ser chamado de método científico.
Neste contexto, o conhecimento científico foi subdividido em milhares de disciplinas que fizeram as
ciências avançarem. E cada ciência se torna então, uma ciência particular, no sentido de delimitar
um campo de pesquisa e procedimentos específicos.
A partir do século XX, surgem as ciências híbridas, tais como a bioquímica, a biofísica e a
mecatrônica, com o objetivo de resolver problemas que exigem ao mesmo tempo o conhecimento
de mais de uma delas. E essas novas ciências se desenvolveram também de forma diferenciada,
apresentando como um de seus traços identificadores a prática interdisciplinar necessária para o
desenvolvimento de sua pesquisa. Diante dessa nova realidade, tornou-se evidente e necessária a
adoção, pela ciência, de novas abordagens para a solução de problemas complexos, principalmente
nos campos de interação entre o homem e os sistemas naturais, nos campos de grande
desenvolvimento tecnológico e nas áreas de grande competição econômica. Novas estruturas estão
sendo discutidas e desenvolvidas para tratar de temas atuais, como a ecologia, os estudos da paz, a
avaliação de tecnologia, os campos do trabalho e do lazer, entre outros, que exigem uma
aproximação com outras fronteiras do conhecimento e que levam ao contato com outras disciplinas
para que empreendimentos sejam bem-sucedidos. As inovações tecnológicas contribuíram muito
para a ocorrência de mudanças fundamentais no papel do conhecimento nas relações sociais,
criando um novo paradigma, econômico e tecnológico, que se tornou a base da sociedade atual,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tendo como consequências principais, dentre elas, a despersonalização do conhecimento, a


credibilidade do conhecimento, a fragmentação do saber, e a racionalização do conhecimento.
As novas tecnologias criaram assim, novos espaços do conhecimento e ―a busca e
apropriação sistemática de conhecimentos científicos para a produção de inovações tecnológicas,
tem refletido numa aceleração de mudanças sociais sem precedente na historia da humanidade‖
(LONGO, 2008). Porém, os desafios da ciência e da tecnologia contemporâneas exigem cada dia
mais, um diálogo constante e profundo com os campos do saber. A hiper-especialização, que tanto
mistério desvendou, precisará ser compensada por esforços de integrar os conhecimentos
conquistados. Enquanto a complexidade da sociedade envolvia pequenas interações espaciais, a
tendência foi útil e criou um bom avanço científico-tecnológico. Porém, o próprio desenvolvimento
humano gerou novas pressões e interações ambientais que exigem da ciência uma indispensável
postura interdisciplinar.
Tem-se a convicção que o enfoque unidisciplinar dado aos diversos campos do saber não
comtempla a solução dos problemas ambientais, torna-se evidente que o formato científico-
tecnológico acumulado apenas em função de disciplinas compartimentadas, perde sua eficácia
quando se trata de equacionar conflitos de ordem ambiental, a exemplo dos problemas de poluição,
degradação ambiental, entre outros.
Assim, é oportuno trazer a tona, que a ciência e a tecnologia caminhando como parceiros na
direção do sustentável descobrem a complexidade do meio ambiente e se dão conta de que precisam
estar cada vez mais equipadas; para tanto, as bases tecnológicas e científicas deverão ser alteradas,
pois só assim estarão em condições de enfrentar e resolver transtornos ambientais complexos.

CONTEXTO TECNOLÓGICO

Segundo Longo (2008), em todas as civilizações, o ser humano, na busca de aumentar o seu
conforto, criou utensílios e obras que provocaram transformações ao longo do tempo. Desde então,
estavam fazendo o que hoje se chama hoje de ciência, tecnologia e inovação. Porém essas
transformações eram extraordinariamente lentas se comparadas com as atuais, e em muitos casos, o
espaço temporal era de séculos. A propagação e, consequentemente, o uso das mesmas eram
também muito lentas, de tal forma que, tudo parecia definitivo como: os hábitos, os costumes, as
profissões, a divisão do poder etc. Ao longo da historia da humanidade, a ciência, que tem por
objetivo explicar os fenômenos naturais, e a tecnologia, que visa transformar a natureza,
percorreram caminhos distintos, ou seja, eram praticamente independentes.
Mesmo após a Revolução Industrial, iniciada no Século XVII, a ciência não tinha objetivos
econômicos, sendo considerada cultura e tratada como arte. E a contribuição inicial dessa

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Revolução não foi a de introduzir o conhecimento científico no processo produtivo, mas de criar
uma ambiência favorável à inovação.
Só a partir da segunda metade do Século XIX, com as inovações ocorridas na indústria
química e nos usos da energia elétrica, as transformações produzidas foram sendo aceleradas,
fazendo uso dos conhecimentos científicos com o intuito de produzir tecnologias que satisfizessem
suas necessidades imediatas.
Desde então, o conhecimento científico deixou de ser um bem puramente cultural, para
tornar-se insumo importante, para a geração de inovações tecnológicas. As transformações
tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da informação. A informática associada às
telecomunicações tornou possível transportar, enormes quantidades de informações. As
transformações tecnológicas foram lentamente liberando o home do trabalho braça, e hoje, devido
aos meios de eletrônicos de comunicações interativos, um numero cada vez maior de atividades
profissionais, podem ser realizados em casa, como por exemplo, até complexos projetos de
engenharia podem ser executado coletivamente por profissionais espalhados pelo planeta,
trabalhando em rede.
O acesso à informação não é apenas um direito, mas um direito fundamental, pois sem ele
não se tem acesso aos outros direitos. A sociedade do século XXI tornou-se uma sociedade de redes
e de movimentos (GADOTTI, 2006; LONGO 2008). Ainda para Longo (2008), ―a busca e
apropriação sistemática de conhecimentos científicos para a produção de inovações tecnológicas,
tem refletido numa aceleração de mudanças sociais sem precedente na historia da humanidade‖.
Não se tem uma ideia clara do que deverá representar, para a humanidade, a globalização da
economia, das comunicações e da cultura. Hoje, muitos educadores estão perplexos diante dessas
rápidas mudanças na tecnologia, na economia e consequentemente na sociedade. As novas
tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o
espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos.
Gadotti (2005) aborda, nessa perspectiva, que se podem ―incluir as reflexões de Edgar
Morin, que critica a razão produtivista e a racionalização modernas, propondo uma lógica do
vivente. Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento, em torno
do ser humano, valorizando o seu cotidiano, o vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso
...‖. Saindo da fragmentação para alcançar, de forma bem sucedida, a multi, trans, inter e
pluridisciplinaridade.

CONTEXTO SOCIAL E GEOGRÁFICO

As ciências ambientais se consolidam com interação e inter-relação das ciências e/ou ramos
das ciências ditas como ambientais e as que assumiram o papel de discutir as questões ambientais.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 644


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No Brasil foi nos anos 50 que se iniciou a formação dos estudiosos que de alguma forma se
interessavam pelo estudo as coisas da natureza. A biologia, a química e até a física eram matérias
constituintes deste tipo de formação, abrangendo também a geologia, a geografia e a oceanografia
entre outras.
Esta formação generalista era possível, pois primeiramente o montante de conhecimento
acumulado ainda não era tão significativo, mas, sobretudo a formação em ciências naturais não era
uma demanda de sociedade, que pouco valorizava o conhecimento natural e os cientistas ainda eram
considerados apaixonados e sonhadores (WASSERMAN & ALVES, 2004)
No entanto esse paradigma é assentado na razão, na divisão/análise e na máxima ―conhecer
para controlar‖, reduziu os problemas e suas respostas a modelos para a ação transformadora sobre
a natureza e controladora da sociedade, produzindo conhecimentos disciplinares e com alto nível de
especialização. Separar e reduzir têm sido máximas do paradigma moderno. (Baumgarten et al,
2007)
Com o surgimento dos modelos de ciência para a conservação, evidenciou-se com
característica o reducionismo metodológico, tanto entre as ciências naturais quanto as sociais. Essa
ciência tenta descobrir a verdadeira natureza da realidade a fim de predizer e controlar os
fenômenos naturais (Baumgarten et al, 2007). Os estudiosos acreditam que estão separados dessa
realidade e por isso são objetivos.
O reducionismo positivista tenta desagregar a realidade em componentes para reordená-los
posteriormente como generalizações ou leis. Essa visão parcial e positivista, ignora alternativas e,
no entanto, novos paradigmas estão aparecendo como a ciência não-linear, a teoria do caos, a física
quântica, a teoria crítica, a pesquisa construtivista, entre outras (Pimbert e Pretty,1997).
No entanto a natureza e a sociedade jamais deixaram de ser completas e o meio social onde
a mesma está inserida é a expressão dessa complexidade. Para os problemas que se nos apresentam
são multidimensionais e as contradições se avolumam. Baumgarten (2006), o ser humano, por suas
próprias mãos alienadas da natureza (que não deixa por isso de integrar), passou a ameaçá-la de
forma perigosa para a sua própria espécie e para todas as outras. Os laços de solidariedade humana
tornam-se frágeis, desfazem-se e contradições irredutíveis emergem no cotidiano natural e social
(Baumgarten, 2006).
Ainda para Baumgarten (2006), um dos principais focos do debate epistemológico em
ciências sociais tem sido a questão da objetividade do conhecimento. De um lado, a reivindicação
positivista de objetividade em geral, baseada no princípio da existência de uma relação de
exterioridade entre o sujeito conhecedor e a realidade, realidade essa que contém racionalidade,
ordenação, sendo por isso mesmo cognoscível, desde que o sujeito se arme de meios adequados.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 645


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O mundo social é visto como um mundo construído com significados e símbolos, o que
implica a busca dessa construção e seus significados. A predição e o controle da tradição das
ciências naturais não são encarados como possíveis na vida social, instância em que a causa está
mediatizada por sistemas de símbolos que nela interferem (ou podem interferir) a cada momento
(Santos & Baumgarten, 2005).
Não se pode negar que as ciências atuais ditas modernas são o resultado emergente, situado
na intersecção e articulação dinâmica de atores humanos, entidades vivas não humanas, materiais de
vários tipos, instrumentos, competências diversas, recursos institucionais e financeiros.
Tanto o conhecimento, como os objetos tecnológicos são construídos no quadro daquilo que
se pode designar ecologias de práticas (Nunes, 2003). Para Leff (1998), numa perspectiva social,
reconhece-se que os problemas ambientais são sistemas complexos, nos quais intervêm processos
de diferentes racionalidades, ordens de materialidade e escalas espaço-temporais.
A problemática ambiental é o campo privilegiado das inter-relações sociedade-natureza,
razão pela qual seu conhecimento demanda uma abordagem holística e um médodo interdisciplinar
que permitam a integração das ciências da natureza e da sociedade; das esferas do ideal e do
material, da economia, da tecnologia e da cultura (UNESCO, 1986)
Ainda para Leff (2006) o conceito articula os processos ecológicos, tecnológicos e culturais
que operam local ou regionalmente, com os aparelhos do Estado, os regimes políticos e os
processos econômicos que operam em nível nacional, e com ordem econômica mundial que gera os
padrões de valorização e uso dos recursos e que determina os processos de transformação
socioambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não foi intenção do grupo de trabalho esgotar a discussão sobre a evolução das ciências,
sobre tudo as ambientais, mas decorrente das leituras e discussões que o grupo realizou, foi possível
concluir algumas informações.
A primeira delas é que visualizamos que nos primórdios das descobertas científicas e nas
primeiras observações do conhecimento aristotélico não fica claramente definida as relações
dinâmicas e mútua entre os meios biótico e abiótico. Mas, toda a relação científica integra e
relaciona todos os tipos de conhecimento.
Com o avanço das ciências, esta postura se modifica, definindo melhor essas relações entre
os meios naturais e artificiais e incorporando outras dimensões, como a política, legislação,
territorialidade, etc. e de certa forma fragmentando as ciências, apresentando a necessidade de uma
especialização mais aprofundada em cada área científica, corroborando com muita coisa
preconizada pela comunidade acadêmica tradicional.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 646


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com o passar do tempo, observamos a própria academia buscar a reintegração das análises
sistêmicas de seus processos educacionais, mantendo-se as especialidades, mas buscando uma
integração cooperativa. Um exemplo prático que encontramos que descreve muito bem essa
integração cooperativa multi e transdisciplinar recente chama-se Projeto Manhattan, que foi o
projeto de pesquisa que desenvolveu e produziu as primeiras bombas atômicas durante a segunda
guerra e contou com a participação de vários engenheiros, químicos, físicos, matemáticos e outros
profissionais das ciências duras, de modo que o projeto fosse concluído.
E por fim, observamos hoje nas universidades a procura de desenvolvimento de projetos que
necessitem envolver mais que uma dimensão do conhecimento científico, pois percebeu-se que
pesquisas altamente especializadas podem ficar fadadas a não promover resultados relevantes para a
sociedade, sendo este uma prerrogativa primordial nas pesquisas atuais.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 648


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTERDISCIPLINARIDADE: GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE

Carine Fonseca LOPES FONTES40


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UERJ (PPGEO)
carine.fl@hotmail.com
Rodrigo Araujo FONTES41
Doutorando em Engenharia Ambiental da UERJ (DEAMB)
rodrigoaf.ambiente@gmail.com

RESUMO
A Geografia e o Turismo têm inúmeros pontos de inter-relação e interdependência. A Geografia
traz em seu bojo a síntese do conhecimento de várias ciências, a partir da qual construiu o próprio
alinhamento científico. O Turismo, ao estudar as formas, organização e impactos dessa atividade no
contexto social, ambiental e econômico, remete a Geografia algumas noções e estratégias no uso do
território. Portanto, desmembrar uma ciência da outra se configuraria numa visão reducionista e
equivocada dos seus campos teóricos. Nessa perspectiva, este trabalho tem por objetivo discutir a
interdisciplinaridade entre a Geografia e Turismo, a partir de uma revisão de literatura com
referência a eixos e temas de caráter socioambiental que envolve ambas as disciplinas.
Palavras-chave: geografia; turismo; interdisciplinaridade.

ABSTRACT
Geography and Tourism have many points of interrelationship and interdependence. Geography
brings in its bosom the synthesis of the knowledge of various sciences, from which it constructed its
own scientific alignment. Tourism, when studying the forms, organization and impacts of this
activity in the social, environmental and economic context, refers to Geography some notions and
strategies in the use of the territory. Therefore, dismembering one science from the other would be
shaped by a reductionist and misguided view of its theoretical fields. In this perspective, this paper
aims to discuss the interdisciplinarity between Geography and Tourism, based on a literature review
with reference to axes and socio-environmental themes that involve both disciplines.
Keywords: geography; tourism; interdisciplinarity.

1. INTRODUÇÃO

Poucas ciências possuem tantas aproximações em seus universos de análise quanto a


Geografia e o Turismo. A linha tênue que as aproxima tem inúmeros pontos de inter-relação e
interdependência. Seja a partir da apropriação de conceitos e categorias geográficas pelo turismo -
como ―paisagem‖, ―território‖, ―lugar‖ e ―espaço‖; seja ao considerar o turismo enquanto
organizador, produtor e consumidor do espaço que por natureza se constitui geográfico; seja pela

40
Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental pelo Programa de Pós Graduação em Geografia da UFRJ; Especialista
em Gestão Ambiental pelo Programa de Pós Graduação da Escola Politécnica da UFRJ em parceria com o PNUMA;
Bacharel e licenciada em Geografia pela UFRJ. Professora substituta do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAP-UFRJ).
41
Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental da UFF; Especialista em Gestão Ambiental pelo
Programa de Pós Graduação da Escola Politécnica da UFRJ em parceria com o PNUMA; Bacharel e licenciado em
Geografia pela UFRJ. Professor de Geografia da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 649


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

perspectiva das políticas de planejamento e desenvolvimento turístico, levando-se em conta seu


processo de urbanização; ou ainda, pela perspectiva mais humanística e cultural, associando-o a
imagem e cultura, as intercessões entre tais ciências se revelam bastante evidentes.
Segundo Becker (2014), o estudo das interações ou interdependências nas últimas décadas
vem recebendo uma grande atenção por parte dos pesquisadores em geral e, em especial, pelos
geógrafos. Sob esse aspecto, a Geografia, ao meandrar entre as ciências naturais, humanas e sociais,
apresenta um rico campo de investigação, multidisciplinar desde a sua gênese como ciência
moderna e o turismo tem uma interlocução muito direta com esta ciência.
O Turismo, ao estudar as formas, organização e impactos dessa atividade no contexto social,
ambiental e econômico, remete a Geografia algumas noções e estratégias no uso do território, da
paisagem, além de questões relativas às políticas públicas e privadas do turismo e do espaço
(ALVES e SALES, 2010).
Portanto, desmembrar uma ciência da outra se configuraria, minimamente, numa visão
reducionista e equivocada dos seus conceitos, categorias e objetos de análise. Para tanto e, sem a
menor pretensão de desconsiderar as especificidades de cada ciência, pretende-se nas linhas abaixo,
apresentar parte das múltiplas relações entre a geografia e o turismo, considerando suas
sobreposições e interseções. Cabe ressaltar que em hipótese alguma se pretende esgotar a
profundidade e complexidade desta questão.

2. GEOGRAFIA, TURISMO E SUAS MÚLTIPLAS RELAÇÕES

Tendo a interdisciplinaridade como intrínseca a sua formação, a Geografia traz em seu bojo
a síntese do conhecimento de várias ciências, a partir da qual construiu o próprio alinhamento
científico. Ela tem uma história epistemológica conflitante, por estar entre as ciências naturais,
humanas e sociais.
Para Alves e Sales (2010), desde sua fundação, no início do século XIX, aproximando-se
das ciências naturais com Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, passando pelas ciências sociais e
humanas, nos estudos culturais e econômicos do espaço geográfico, a Geografia esteve associada a
várias ciências.
Embora careça de definição quanto ao seu objeto de estudo, para Santos (1996), cabe a
Geografia estudar o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação que juntos
formam o espaço. Este se constitui como principal objeto de estudo dessa ciência, embora seu
referencial epistemológico ainda esteja longe de um consenso por esta e pelas demais que se
utilizam desse conceito.
Segundo Alves e Sales (2010), a Geografia caracteriza-se pelo estudo da relação sociedade -
natureza ou homem - meio e a forma como esta ideia/pensamento é colocada na teoria, é definida

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pela categoria ―espaço geográfico‖. Ou seja, a referência teórica da Geografia está associada ao
conceito de espaço e suas múltiplas dinâmicas, relações e processos, todas elas permeando a relação
sociedade - natureza ou homem - meio.
Para Santos (1996), o espaço geográfico é extremamente dinâmico e está em constante
transformação. O espaço são as ―formas‖ mais a vida que as anima, é sempre o tempo presente e
resulta da intrusão da sociedade nessas formas. Para tanto, preenche uma função atual como
respostas às atuais necessidades da sociedade, fazendo uma dialética com a mesma.
Já o turismo, ao estudar as formas, organização e impactos dessa atividade no contexto
social, ambiental e econômico, remete a Geografia algumas noções e estratégias no uso do
território. Ele transita em diversos lastros teóricos, apropriando-se dos diferentes arcabouços
científicos para construir o seu referencial epistemológico. Assemelha-se a Geografia na busca pelo
seu objeto específico de análise.
Para Becker (2014), representa uma nova ciência que, no campo teórico, ainda não constitui
uma ciência independente, sistematizada e com antecedentes próprios. Seu estudo exige ação
interdisciplinar que busca o fenômeno turístico em diferentes áreas do conhecimento, como
Antropologia, Filosofia, Ciências Políticas, Psicologia, História, Direito, Sociologia e Economia e,
evidentemente, a Geografia.
A atividade turística é resultante de diversas ações produtivas, derivadas de diferentes
setores sociais e que, a partir da segunda metade do século XX, recebe cada vez mais a atenção dos
gerenciadores econômicos e dos administradores públicos.
Para Becker (2014), se por um lado a importância social, econômica, política e cultural do
Turismo, são iminentes, por outro, ainda se fazem necessários estudos, investigações e construções
de referenciais teóricos que possam balizar a epistemologia desta ciência.
Segundo Rejowski (2001), a geografia tem sido uma das poucas disciplinas em que o
turismo tem sido reconhecido como área de interesse, sendo estudada sob a denominação de:
―Geografia do Turismo‖, ―Geografia Turística‖, ―Geografia da Recreação‖ ou ―Geografia
Recreacional‖. Para tanto, segundo a autora, tanto a Geografia quanto o Turismo possuem em
comum o uso de uma abordagem holística e sistêmica em sua metodologia de estudos, pois
envolvem diversos elementos que compõem a relação sociedade - natureza.
Segundo Becker (2014), a Geografia é indiscutivelmente fundamental por oferecer o campo
de atuação da oferta turística: o espaço geográfico. Poucas ciências sociais e humanas possuem
tantas aproximações em seus universos de estudos quanto a Geografia e o Turismo.
O Turismo, como atividade dinâmica, representa um agente que interfere na construção
desse espaço geográfico, estando ligado com o objeto de estudo da Geografia (relação sociedade -
natureza). Por estar intrinsecamente conectado a categoria de espaço geográfico, alguns elementos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conceituais como a ―paisagem‖, ―território‖ e ―lugar‖ são usados como produtos ou atrativos para a
realização da atividade turística (ALVES e SALES, 2010). O espaço geográfico é um suporte a vida
dos indivíduos e aos grupos, independentes dos estágios de desenvolvimento tecnológico em que se
encontram. Ele resulta da ação humana que interfere na realidade natural e cria paisagens
humanizadas. Por isso modifica-se constantemente incorporando novos objetos e novas técnicas
criadas pelo conhecimento e pelo trabalho. Essas modificações relacionam e inter-relacionam os
diferentes espaços geográficos e criam a oferta turística (BECKER, 2014).
Para Santos e Souza (1996), ―o espaço é o mais interdisciplinar dos objetos concretos‖.
Portanto, todos os espaços são geográficos porque são determinados pelo movimento da sociedade e
da produção. Assim, tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos da sociedade numa
realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações, de formas, funções e sentidos
(BECKER, 2014).

3. GEOGRAFIA, TURISMO E MEIO AMBIENTE

Ainda dentro da ótica interdisciplinar, este item apresenta uma discussão sobre geografia,
turismo e meio ambiente, a partir de uma revisão de literatura, e delimitado por eixos temáticos.
Nestes eixos tem-se: as articulações e conexões entre a ciência geográfica e o turismo em
razão dos referenciais teóricos e usos de conceitos e categorias em comum; as políticas e
planejamento turístico e ambiental abordando a aparente ineficácia das normas e instrumentos
legais em frear a crescente ocupação da costa brasileira, sejam por resorts, condomínios fechados
ou turismo de segunda residência e a problemática socioambiental que envolve esses espaços; e por
fim trata de ecoturismo, conflitos socioambientais e a gestão do patrimônio natural e cultural.

3.1 Articulações entre a Geografia e o Turismo: Conceitos e Categorias

Considerando que os conceitos chaves da geografia ―paisagem‖, ―território‖ e ―lugar‖


perpassam paralelamente as discussões abaixo, cabe a priori categorizá-los. Para em seguida
apresentar as articulações entre os conceitos e categorias destas disciplinas.
O primeiro desses conceitos chaves da geografia, ―paisagem‖, diferentemente do conceito de
―espaço‖, se constitui um conjunto de formas, conjunto de elementos naturais e artificiais reais e
concretos que fisicamente caracterizam uma área. Em outras palavras, caracteriza o que se abarca
com a visão, sendo atemporal (SANTOS, 1996).
Já o conceito de ―território‖, para Raffestin (1993), um dos pioneiros nessa abordagem, está
vinculado a um caráter político e associa-se ao conceito de espaço, sendo posterior a ele. Para
Haesbaert (2004) in Bordo et al. (2005), a análise do território pode ser feito com diferentes
enfoques, elaborando uma classificação em que se verificam três vertentes básicas: 1) jurídico-

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

política, segundo a qual ―o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual
se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal‖; 2) cultural(ista), que ―prioriza
dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da
apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço‖; e 3) econômica,
―que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate
entre classes sociais e da relação capital-trabalho‖.
O conceito de ―lugar‖, para Tuan (1979), se constitui uma entidade única, um conjunto
especial, que tem história e significado. Ele encarna as experiências e aspirações das pessoas. Não é
só um fato a ser explicado na ampla estrutura do espaço. Ele é a realidade a ser esclarecida e
compreendida sob a perspectiva dos indivíduos que lhe dão significado. É um conjunto complexo e
simbólico que pode ser analisado a partir de cada experiência pessoal.
Em relação ao turismo, Claval (2010) e Ambrósio (2005) indicam que este se revela
enquanto organizador produtor e consumidor do espaço. Espaço esse que, por sua natureza, se
constitui geográfico. Ele é prática social acoplada à produção de mercadoria. Dá-se em massa
porque existe uma produção em massa de espaço-mercadoria.
Na perspectiva de Claval (2010), o homem, à medida que vai se descobrindo no espaço,
acaba sendo seu protagonista no sentido de consumi-lo e organizá-lo. Havendo certa tendência, na
atualidade, de apropriação privada do espaço, limitando seu direito ao uso. O que tem gerado
inúmeros conflitos.
Ao analisar as categorias analíticas do espaço e do turismo, Ribeiro (2006), a partir da
experiência da refuncionalização da Fortaleza de Santa Cruz, localizada no município de Niterói –
Rio de Janeiro, afirma que, na dinâmica espacial da cidade (nesse caso, de Niterói), o processo de
mudança de função dos fixos sociais tem sido extraordinário, com verdadeiras monumentalidades
sendo cada vez mais refuncionalizadas e turistificadas.
Segundo Ribeiro (2006), o espaço urbano tem passado por um intenso processo de
reconfiguração, protagonizado por diversos agentes que o constrói e o reconstrói cotidianamente.
Nessa linha, Almeida (2013), Figueredo (2013) e Paes-Luchiari (2005) abordam o conceito de
Paisagens Culturais e Patrimônio Cultural refletindo sobre o atual processo de turistificação,
mercantilização/privatização e refuncionalização dos espaços urbanos. Segundo eles, tais espaços
têm se tornado cada vez mais segregados, com exclusão direta e/ou indireta da população local que
culturalmente o personifica essas áreas, em detrimento das novas demandas do grande capital.
Segundo Paes Luchiari (2005), os centros históricos das cidades mais adensadas abandonam
o caráter público dos seus bens patrimoniais para transformá-los em espaços coletivos privados,
acessíveis apenas mediante o poder aquisitivo de determinados grupos sociais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

3.2 Políticas e Planejamento Turístico e Ambiental

No Brasil, mais especificamente, na costa nordestina brasileira, a ausência de políticas


públicas eficazes, a deterioração de infraestrutura nas áreas costeiras e as questões sociais e urbanas,
tem acentuado a problemática socioambiental nesses espaços (CRUZ, 1998). Limonad (2007),
aborda tal problemática com ênfase nos condomínios fechados o nos resorts, que, segundo a autora,
acaba por complexificar tais problemas.
Assis (2003) discute o papel desempenhado pelo turismo de segunda residência e suas
repercussões sócio-espaciais. Segundo Becker (1995) apud Assis (2003), o fenômeno da residência
secundária no Brasil tem sua gênese na década de 1950 sob a égide do nacional-
desenvolvimentismo, com emergência de novos estratos sociais médios e urbanos que, aos poucos,
começaram a incorporar, entre os seus valores socioculturais, a ideologia do turismo e lazer.
Este conceito ganha múltiplos significados ao decorrer das décadas seguintes. Mas, em
comum, sempre está associado ao conceito: de propriedade, nesse caso, privada, onde a renda entra
como um fator limitante de quem pode ou não possuí-la; de temporalidade, de uso ocasional de
finais de semana ou de temporada de férias para fins de recreação e lazer; e de finalidade,
geralmente para gozo do prazer e do tempo livre.
Para Assis (2003), tal fenômeno tem consequências positivas e negativas do ponto de vista
socioespacial, transformando significativamente as áreas receptoras desse tipo de uso. Ribeiro e
Coelho (2008), ainda dentro deste eixo, abordam a importância do fenômeno da segunda habitação
e suas implicações com as atividades de lazer-veraneio, dando ênfase a dimensão espacial do
fenômeno na expansão urbana da metrópole do Rio de Janeiro. Enfatiza seu espraiamento em
direção à Baixada Litorânea, à Costa Verde, à Região Serrana e ao Norte Fluminense.
Limonad (2011) aborda a dimensão desse fenômeno fazendo breves considerações a cerca
da aparente ineficácia das normas e instrumentos legais em frear a crescente ocupação da costa
brasileira, assim como questões relacionadas à diferenciação socioespacial e degradação ambiental,
enfatizando o caso negativo dos megaresorts, os conflitos socioambientais, a degradação ambiental
e a exclusão social da população tradicional local.

3.3. Ecoturismo e a Questão Socioambiental

Pela própria definição do conceito ―ecoturismo‖ - que transcende a perspectiva do mero


contato com a natureza, para uma postura mais integral de valorização da cultura local e
compromisso étnico de divisão de benefícios numa perspectiva de sustentabilidade -, problemas
observados em áreas protegidas - como: a exclusão da população local; a falta de reconhecimento
das potencialidades e limitações das áreas protegidas; o despreparo das agências operadoras de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

turismo e de condutores/ guias dentro das Unidades de Conservação; a precariedade da oferta, em


quantidade e qualidade, de programas de educação ambiental e; a própria carência do contato dos
visitantes com o ―natural‖- andam na contramão do que se convém chamar de ecoturismo.
Os autores Irving (2008), Costa (2008) e Neiman (2008) abordam o papel elemental do
―Ecoturismo‖ enquanto discussão central das políticas públicas brasileiras. Para eles tal prática
deveria integrar a inclusão social e a redução das desigualdades sociais em áreas protegidas do
Brasil.
Dentro desta perspectiva política, não é incomum que nas áreas, onde há oferta desse tipo de
atividade, haja conflitos socioambientais diversos. Segundo Vivacqua et al. (2005), o termo conflito
socioambiental designa as relações sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos ou atores
sociais pela apropriação e gestão do patrimônio natural e cultural.
Inclui-se na definição de conflitos a noção de antagonismo e a existência de práticas que
colocam em oposição intenções, interesses ou sentimentos quanto a um objeto determinado.
Constitui-se numa relação de forças entre grupos que se manifestam no espaço público e as
diferentes categorias de percepção sociais e políticas dos atores.
A luz dessa perspectiva, Costa (2014), Fernandez (2012), Siqueira (2009) e Tomazzoni
(2006) discutem que o turismo não deixa de ser um modelo que reflete a ação social dos atores da
economia centrada, atendendo, prioritariamente, a lógica perversa do mercado. Na maioria das
vezes, se desconsidera a relevância da comunidade receptora que reside nas áreas diretamente
afetadas por essa demanda. Ou seja, o discurso prevê a inclusão social, mas a prática, infelizmente,
a desconsidera.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pode ser observado ao longo das discussões e debates apresentados acima, existe uma
clara relação entre o Turismo e a Geografia enquanto saberes que se complementam e se
entrelaçam. O Turismo, ao estudar as formas, organização e impactos dessa atividade no contexto
social, ambiental e econômico, remete a Geografia algumas noções e estratégias no uso do
território. Em paralelo, a Geografia oferece o campo de atuação da oferta turística: o espaço
geográfico. Portanto, desmembrar uma ciência da outra se configuraria numa visão reducionista e
equivocada dos seus campos teóricos.
O turismo revela-se enquanto organizador, produtor e consumidor do espaço. Por isso, ele
deve ser ofertado em quantidade e qualidade que garanta seu acesso. As políticas de planejamento e
desenvolvimento turístico, por meio suas normas e instrumentos legais, bem como seus agentes,
devem zelar para que sua oferta seja garantida a todos os indivíduos, sem estratificação social. Isso
minimizaria os problemas socioambientais existentes nas áreas turísticas brasileiras, protagonizada

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

há décadas por diferentes agentes e interesses, assim como diminuiria a segregação e a exclusão
social, em detrimento das novas demandas do grande capital.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ENSINO DE CIÊNCIAS NA REDE SOCIAL FACEBOOK:


ANÁLISE DE INFOGRÁFICOS COMO ESTRATÉGIA DE MOBILIZAÇÃO

Carlos Jorge da Silva CORREIA


Biólogo, especialista em Educação Ambiental. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em
Ensino de Ciências e Matemática (PPGECIM) da Universidade Federal de Alagoas
carloscorreia1986@gmail.com
Anamelea de Campos PINTO
Doutora em Educação. Professora dos Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática (PPGECIM) e em Educação (PPGE), ambos da Universidade Federal de Alagoas
anamelea@gmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta resultados parciais de uma pesquisa-ação que articulou os campos do Ensino
de Ciências e da Educação Ambiental a partir de Tecnologias da Informação e da Comunicação, a
exemplo das redes sociais e dos infográficos, tendo como amálgama o desafio de envolver jovens
estudantes em discussões sobre questões socioambientais. Assim, neste trabalho, discutimos a
adoção de infográficos enquanto suporte para discussões em uma comunidade de aprendizagem
sobre meio ambiente estabelecida na rede social Facebook. A análise de interações como curtidas e
visualizações estabelecidas na comunidade de aprendizagem estudada demonstra que o uso de
infográficos promoveu uma maior abrangência das postagens que os utilizaram em relação às
publicações que não foram acompanhadas por eles, sugerindo que estes recursos podem servir como
estratégia para a facilitação de discussões sobre meio ambiente em contextos virtuais.
Palavras-chave: Questões socioambientais, juventude, infográficos.
RESUMEN
Este artículo presenta resultados parciales de una investigación-acción que articuló los campos de la
Enseñanza de Ciencias y de la Educación Ambiental a partir de Tecnologías de la Información y de
la Comunicación, a ejemplo de las redes sociales y de los infográficos, teniendo como amalgama el
desafío de involucrar jóvenes estudiantes en discusiones sobre cuestiones socioambientales. Así, en
este trabajo, discutimos la adopción de infografías como soporte para discusiones en una comunidad
de aprendizaje sobre medio ambiente establecida en la red social Facebook. El análisis de
interacciones como curtidas y visualizaciones establecidas en la comunidad de aprendizaje
estudiada demuestra que el uso de infografías promovió una mayor cobertura de las publicaciones
que las utilizaron en relación a las publicaciones que no fueron acompañadas por ellos, sugiriendo
que estos recursos pueden servir como estrategia para la facilitación de discusiones sobre el medio
ambiente en contextos virtuales.
Palabras clave: Cuestiones socioambientales, juventud, infográficos.

1 INTRODUÇÃO

Instiga-nos pensar em uma Educação Ambiental interessada em multiplicar maneiras de


percebermos e narrarmos o ambiente e a nossa relação com ele, sem estar necessariamente
preocupados em criar/impor/estabelecer protocolos de ―como salvar o mundo‖, ―proteger a fauna e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a flora‖, ―reverter as mudanças climáticas‖. Em outras palavras, pensamos ser importante caminhar
por fronteiras territoriais sem almejar endossar o coro daqueles que sabem o que deve e como deve
ser o futuro e, ainda, como as pessoas precisam se adequar a ele. Tanto é assim que, neste artigo,
apresentamos resultados de uma pesquisa-ação desenvolvida entre 2015 e 2016 no contexto de um
curso de mestrado em Ensino de Ciências e Matemática cujo objetivo foi articular os campos do
Ensino de Ciências e da Educação Ambiental a partir de Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC), a exemplo das redes sociais e dos infográficos, tendo como amálgama o
desafio de envolver jovens estudantes em discussões sobre questões socioambientais.
Como chegamos a esta pesquisa em específico tem muito a ver com as trajetórias de
formação de um dos autores que, desde a graduação, tem se interessado por temas e recortes da
Educação Ambiental que dialogam com a cultura e com a comunicação. Assim, uma vez no
mestrado, dentre as linhas de pesquisa disponíveis foi com muita naturalidade que se viu
interessado em pensar a possibilidade de se fazer Educação Ambiental com base em recursos das
TIC. E isto, portanto, vem a ser exatamente um dos interesses investigativos do presente trabalho
que reflete sobre como utilizar a crescente oferta de ferramentas de comunicação que a internet
disponibiliza às pessoas para ampliar as práticas de Educação Ambiental, no espaço das redes
sociais. Dessa forma, reconhecemos que o ciberespaço tem sido palco de movimentos autorais
importantes. Isto tem muito a ver com a emergência de processos de participação inovadores desde
as redes sociais, tais como o Facebook e, por isso, acreditamos ser necessária uma reflexão acerca
de como esses aspectos podem nutrir os horizontes da Educação Ambiental, particularmente naquilo
que se refere ao seu caráter mobilizador para ações coletivas que poderiam ser direcionadas ao
enfrentamento das questões socioambientais.

2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ENSINO DE CIÊNCIAS NO CIBERESPAÇO

Useda e Castañeda (2015) afirmam que aos educadores as TIC têm implicado desafios no
sentido de adotarem estratégias inovadoras na escola e fora dela (para os que atuam na educação
não-formal) que sejam capazes de fomentar o ensino e a aprendizagem na interação das redes do
conhecimento. Para as autoras esta necessidade se impõe na era globalizada que vivemos como um
fator norteador para os processos de formação dos sujeitos. Isto é, trata-se cada vez mais de
estarmos dispostos a um trabalho sistemático que busque entender, favorecer e ampliar as novas
relações entre os docentes e os alunos em contextos colaborativos de aprendizagem.
Ampliando essa discussão para o contexto de ações de Educação Ambiental articuladas ao
Ensino de Ciências encontramos na literatura autores que visualizam o potencial das TIC como
recurso tanto para uma mais ampla divulgação das informações sobre questões ambientais
(NUNES, 2013), quanto para um igualmente mais amplo ativismo digital em prol do meio

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiente, a partir de sites de Organizações Não-Governamentais (ONG), tais como o Greenpeace


(SANTOS, BELINAZZO e MACEDO, 2013), e da internet como um todo (TYBUSCH e
ROSSATO, 2013). Nesse contexto, podemos inserir entre as de TIC estruturas mais complexas
como as redes sociais, agregando a esta discussão contribuições fundamentais da obra de Castells
(2015), que tem teorizado acerca das redes sociais como espaço para os novos movimentos sociais
do século XXI, dentre os quais emergem irremediavelmente as bandeiras das questões
socioambientais do contemporâneo.
Para Castells (op. cit.), o avanço dos meios de comunicação multimodais representados
pelas redes sociais tem significado um novo espaço por meio do qual as transformações sociais têm
sido forjadas em nosso tempo. Ainda de acordo com o autor, as questões ambientais nesse contexto
emergem como fator aglutinador de atores sociais preocupados com o futuro do planeta e que
reivindicam transformações na gestão de problemas ambientais globais tais como a acentuação das
mudanças climáticas. Assim, compreendemos que este potencial não deve ser desconsiderado ou
mesmo menosprezado. E, por isso, acreditamos que a atuação educacional no ciberespaço deve ser
estimulada, ainda mais no que se refere aos temas socioambientais, cuja capacidade de mobilização
das pessoas pode ser utilizada como um fator de agregação.
É preciso dizer também que o estudo da sociedade, tendo como parâmetro a noção de rede,
não é algo novo e, de fato, atravessa estudos das Ciências Sociais durante todo o século XX
(RECUERO, 2009; CASTELLS, 2015). O novo nesse sentido são as atuais redes sociais
estabelecidas a partir das TIC de nosso tempo. O que se tem verificado é uma expansão do
entendimento que se tem das redes e do seu papel de transformação na sociedade. Até mesmo
porque a família enquanto primeiro círculo social dos indivíduos sempre foi compreendida como
uma organização em teia. A diferença, contudo, dessa organização familiar que estaria no bojo da
organização social desde muito atrás para a organização das redes sociais do presente estaria,
sobretudo, no poder de transformação social que essas últimas adquiriram ao articular
interesses/bandeiras entre os diferentes atores sociais, indivíduos e organização, entendidos como
nós que compõem tais entrelaçamentos.
Portanto, é possível pensarmos nas redes sociais como uma ampliação da sociedade em rede
ou, em palavras mais justas, como sendo a viabilização virtual do potencial das relações entre as
pessoas e as organizações, que antes não estava tão bem articulado. Porém, a sociedade em rede não
é definida pelas redes sociais, estas são tão somente uma expressão daquela. Na realidade, a
sociedade em rede é uma estrutura social baseada em várias redes, tais como as que regulam os
fluxos de pessoas, mercadorias e capitais, todas elas, no presente, operadas por meio de TIC. Para
Acioli (2007), qualquer que seja a nossa perspectiva de trabalhar com esta noção algo que devemos
ter em vista é que nessa estrutura social o que permanece constante é o processo de troca de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

informações. No contemporâneo, estas trocas são cada vez mais intensas e velozes graças às
conexões globais. Com isso, caracteriza-se uma transição profunda na sociedade que não mais se
restringe ao meio geográfico para efetivar os fluxos informacionais que a organizam, graças ao
avanço das tecnologias comunicacionais oferecidas pelos meios virtuais (IJUIM e TELLAROLI,
2008).
Por outro lado, alguns autores como Colvara (2015) argumentam que esses ambientes
digitais onde as pessoas se reúnem por afinidades ou por algum outro tipo de relação dificultam
mais que auxiliam a comunicação entre as pessoas, chegando em alguns casos a impossibilitá-la,
dado que geralmente os usos que se faz dessas plataformas são superficiais. Para a autora (op. cit.,
p. 53), isto resta claro pela fixação ―na representação, na encenação enunciativa (...) [e na]
sociabilidade restrita ao âmbito de meras trocas de informação (mensagens, posts, comentários)‖
que se verifica com frequência nesses espaços virtuais. Não afastamos, portanto, tais críticas do
horizonte teórico com o qual nos lançamos a atuar/pesquisar nas redes sociais. Com isso,
reafirmamos a nossa busca por uma abordagem crítica de como podemos fazer Ensino de Ciências e
Educação Ambiental no ciberespaço e que não compreendemos que as TIC em geral e, as redes
sociais em particular, devam ser tomadas como exclusivamente positivas, nem mesmo negativas,
quando pensadas com fins educacionais. Entendemos, na verdade, que a importância desses
recursos está na possibilidade de utilizá-los para favorecer a constituição de redes de solidariedade e
de coaprendizagem, o que é, realmente, uma possibilidade no presente.
Muitos estudos sobre tecnologia e educação têm se dedicado a compreender os usos que
crianças e jovens fazem dos meios de comunicação digital e os impactos do acesso à internet na
aprendizagem (MELÃO, 2011). Nesta perspectiva, de compreensão de ambientes virtuais de
convivência como espaços também pedagógicos, Barros (2014) identifica um grande potencial
desafiador para o processo de aprendizagem informal e, por isso, argumenta que é preciso
entendermos as dinâmicas dessas plataformas digitais no que se refere às possibilidades de
coaprendizagem inauguradas por elas. As redes têm potencial para ampliar contatos, reunir
informações e perspectivas diferentes sobre um determinado tema de interesse. Já com o
desenvolvimento das redes sociais criou-se uma nova forma de organização social, em que as
pessoas passam a compor coletivos, o que por si só favorece o intercâmbio de ideias e
conhecimentos, importantes para qualquer processo de pesquisa e que seria suficiente para
visualizamos nessas estruturas a viabilidade de práticas educacionais (BARROS, OKADA e
KENSKI, 2012).
Nesta direção, Basso et al. (2013) experimentaram incorporar tecnologias digitais no
contexto de uma pesquisa que aproximou a informática na educação do ensino de Matemática. Para
os autores, os resultados do trabalho apontam que as redes sociais possuem elementos atrativos ao

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

processo de aprendizagem, pois estimulam a cooperação entre os estudantes, uma competência


muito importante para a aprendizagem de conceitos de Matemática. Para Pechi (2011), as redes
sociais apresentam recursos que podem ser operados online para criar e gerir espaços que facilitam
a aprendizagem de diferentes conteúdos. Já considerando o ciberespaço como um todo, podemos
até mesmo falar em um novo lugar de sociabilidade, com novas formas de relações sociais, dotadas
de códigos e estruturas próprias, capazes de promover ―uma distribuição de saberes que não está
restrita para poucos privilegiados e que leva ao enriquecimento cultural‖ (GOMES e CANIATO,
2016, p. 138). Não à toa, tem se consolidado o entendimento de que é muito recomendável utilizar
recursos que favoreçam a interação e as trocas cooperativas em ambientes virtuais de aprendizagem,
independentemente da modalidade de ensino ou da área específica de atuação (AXT e ELIAS,
2003, p. 261).

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa teve como proposta engajar jovens estudantes do Ensino Médio em torno de
discussões sobre questões socioambientais a partir da constituição de uma comunidade de
aprendizagem em uma rede social, onde utilizamos infográficos para mediar debates sobre meio
ambiente. Neste sentido, o desafio que tínhamos era possuir ao nosso dispor uma plataforma virtual
amplamente conhecida, de acesso livre, na qual fosse possível constituirmos grupos com
ferramentas de criação de fóruns de discussão e, sobretudo, com recursos de privacidade, já que a
identidade dos participantes deveria ser protegida. Assim, o Facebook foi a nossa escolha por
atender a todos esses critérios.
Para compor o universo amostral da pesquisa, foram realizados esforços de divulgação da
comunidade de aprendizagem criada no Facebook. Inicialmente, a mobilização de voluntários
ocorreu em uma oficina realizada na 3ª Conferência Nacional de Juventude (ConfJuv) que se deu
em Brasília, de 16 a 19 de dezembro de 2015. Posteriormente, retomamos o processo de
mobilização de participantes da pesquisa com visitas a cinco escolas estaduais 42 do Centro
Educacional de Pesquisas Aplicadas (CEPA), em Maceió/AL, que ofertavam Ensino Médio. Com
isso, no final de todo o processo de divulgação da pesquisa e mobilização de voluntários tivemos o
cenário em que, juntando os 6 (seis) jovens que declararam interesse em fazer parte da pesquisa
ainda na 3ª ConfJuv com os outros 37 (trinta e sete) que declararam interesse nas escolas visitadas,
conseguimos um total de 43 (quarenta e três) voluntários mobilizados.
Sendo assim, intitulada de ―Meio ambiente em rede‖, a comunidade que criamos para dar
seguimento às etapas da pesquisa foi estabelecida no dia 4 de julho de 2016 com 26 (vinte e seis)

42
Escola Estadual Afrânio Lages; Escola Estadual José Correia da Silva Titara; Escola Estadual Moreira e Silva; Escola
Estadual Princesa Isabel e Escola Estadual Professor José da Silveira Camerino.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos 43 (quarenta e três) voluntários mobilizados na fase inicial de divulgação da pesquisa. Esta
diferença entre o total de pessoas mobilizadas e o quantitativo real de integrantes da comunidade se
deu em decorrência de algumas desistências comunicadas ao pesquisador e, principalmente, pela
não localização de determinados perfis na rede social Facebook devido erros na prestação das
informações pelos participantes ao preencherem seus dados no formulário de consentimento da
pesquisa. Para garantir a privacidade dos participantes, a comunidade foi criada na modalidade de
―grupo secreto pois esta modalidade torna o grupo visível apenas para os seus membros.
Finalmente, os infográficos elaborados enquanto dispositivos capazes de suscitar/mediar o
debate acerca de diferentes questões socioambientais na referida comunidade abordaram os
seguintes temas: mudanças climáticas, ameaça à biodiversidade, crise hídrica, urbanização não
planejada, agrotóxicos, ausência de saneamento básico, resíduos sólidos, consumismo, injustiças
socioambientais e desmatamento. Exemplos podem ser vistos no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1. Exemplos de infográficos elaborados para a comunidade de aprendizagem.


Fonte: Carlos Correia, 2015.

Aqui, resta-nos ainda informar que o conjunto de infográficos criados foram publicados na
comunidade de aprendizagem em um período que correspondeu a aproximadamente 5 (cinco)
meses, de julho a novembro de 2016, organizados em 9 (nove) postagens. Além dessas publicações,
as interações estabelecidas na comunidade, ao longo da pesquisa, deram origem também a outras 9
(nove) postagens espontâneas criadas pelos pesquisadores ou por membros do grupo tratando de
temas livres. Para fins de organização, na análise dos resultados, os dados das postagens com
infográficos receberam códigos de P1 a P9 e as demais postagens foram codificadas de P1.1 a P9.1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os participantes desta pesquisa foram jovens com 18 anos de idade ou mais, até
mesmo porque este foi exatamente um dos critérios de seleção. Além disso, todos eles moram na
zona urbana de suas cidades e o grupo foi constituído de maneira praticamente paritária em termos
de sexo (53,90% de mulheres e 46,10% de homens). Assim, ainda que óbvio, podemos caracterizar
o grupo formado pelos 26 (vinte e seis) participantes da pesquisa como sendo um conjunto de
jovens urbanos, na fase inicial da vida adulta, com ligeira predominância de mulheres e interesse
em temas relacionados ao meio ambiente.
Seria este, então, o perfil dos jovens interessados em meio ambiente? Foi o que nos
perguntamos imediatamente. Na busca por respostas a esta indagação, a resposta mais atual que
encontramos foi o levantamento desenvolvido pelo Mistério da Educação (MEC) em 2005 que
caracterizou o jovem ambientalista integrante de Coletivos Jovens pelo Meio Ambiente, uma
política pública promovida pelo órgão principalmente na década de 2000, como sendo
―preferencialmente, mulher urbana e da capital, tem idade de até vinte e cinco anos, sendo de cor
parda, classe média e média-baixa, com renda familiar de até cinco salários-mínimos mensais.
Apresenta-se com bom nível de escolaridade e estudou em escola pública‖ (DEBONI e MELLO,
2006, p. 29). Ou seja, o perfil geral dos participantes desta pesquisa permanece bastante próximo
daquele que foi caracterizado pelo estudo em tela há cerca de dez anos.
Em termos de interações, o conjunto de participantes da pesquisa estabeleceu, ao longo do
período considerado para análise, correspondente aos meses de julho a novembro de 2016, um total
de 294 interações pelos participantes na comunidade de aprendizagem, assim distribuídas: 217
visualizações (73,81%), 49 curtidas (16,67%), 21 comentários (7,14%) e 7 criações de postagens
(2,38%). Aqui, é oportuno refletirmos até que ponto o desempenho das postagens em mobilizar a
atenção dos participantes da comunidade para os temas que estavam sendo tratados foi satisfatório
ou não, em especial no que se refere às postagens criadas a partir dos infográficos, pois esta análise
sobre o potencial deste recurso visual para o engajamento dos jovens em discussões sobre meio
ambiente é exatamente o objetivo geral deste estudo.
Tendo em vista essa necessidade de reflexão, buscamos considerar os indicadores de
visualização e curtidas das postagens, que são dados proporcionados pelo Facebook aos
pesquisadores na página de administração do grupo, como elementos mínimos para traçarmos um
panorama sobre o interesse depositado pelos participantes nas questões levantadas pelos
infográficos, bem como nas demais publicações que acabaram ocorrendo na comunidade. Para
tanto, calculamos os percentuais de curtidas e visualizações dos dois tipos de publicação que
circularam na comunidade, ou seja, as postagens criadas a partir dos infográficos de autoria dos
pesquisadores e as demais postagens com temas livres, sem o uso de infográficos.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesta direção, entenderemos o ato de curtir com uma interação que significa um gesto claro
de aprovação. Já as visualizações serão entendidas como uma demonstração de disponibilidade para
discussão e interesse pelo assunto tratado, pois nem todas as publicações foram visualizadas pelos
participantes. A seguir, passamos a comparar os resultados obtidos ao tempo em que tecemos
algumas considerações possíveis a partir dos mesmos.

Figura 1. Gráfico com percentuais de ―curtidas‖ dadas às postagens com


infográficos pelos participantes na comunidade de aprendizagem.
Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

No gráfico acima, constatamos que os maiores índices de aprovação, ou ―curtidas‖, foram


dados às primeiras publicações, bem como às postagens P5, realizada praticamente no meio do
período destinado à pesquisa, e P9, que encerrou o uso de infográficos na comunidade. Em outras
palavras, se o referido enredo de ações fosse considerado um livro, seria o mesmo que dizer que os
jovens atribuíram melhores índices de aprovação ao começo, ao meio e ao fim dessa história. Mas
não seria precipitado demais falarmos em aprovação das postagens com os infográficos quando nos
damos conta de que o melhor índice verificado no gráfico foi de 19,23%? De fato, parece não ser
adequado falar em aprovação quando as postagens atingem curtidas de apenas 1 (um) em cada 5
(cinco) participantes e se o fazemos é porque estamos cientes dos resultados obtidos pelas outras
publicações que não se relacionavam com os infográficos e foram colocadas na comunidade
inicialmente como uma forma de promover o sentimento de pertencimento dos integrantes. Os
dados em questão são apresentados no gráfico abaixo.

Figura 2. Gráfico com percentuais de ―curtidas‖ dadas às postagens sem


infográficos pelos participantes na comunidade de aprendizagem.
Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesse ponto, podemos desenvolver melhor o nosso argumento, pois queremos destacar o
fato de que o melhor índice de aprovação dado a uma postagem deste outro grupo de publicações
foi o recebido por P2.1 referente a 15,38% de participantes que curtiram a resposta de J24 ao
desafio lançado pelos pesquisadores na comunidade aos participantes, que deveriam trazer para o
ambiente de discussão online questões ambientais de seu cotidiano. Isto é, o índice que para este
grupo de ações é o máximo foi praticamente a média de aprovação observada para as publicações
com infográficos, cujo gráfico anterior a este detalhou os resultados de aprovação.
Com isso, fica demonstrado que as publicações com infográficos receberam melhores
índices de aprovação pelos participantes que as demais postagens, o que não nos torna precipitados
ao considerarmos que a infografia que criamos conseguiu, em certa escala, ser chancelada pelos
participantes da comunidade. Outro indicador que corrobora com estas conclusões são os referentes
às visualizações das publicações realizadas na comunidade de aprendizagem. Mais uma vez,
calculamos os índices dos dois conjuntos de postagens, as com infográficos e as sem infográficos,
para construir outros dois gráficos com curvas que podem nos dizer algo mais sobre a capacidade
dos infográficos em chamar a atenção dos participantes para o que está sendo debatido.

Figura 3. Gráfico com percentuais de ―visualizações‖ das postagens com


infográficos verificados entre os participantes na comunidade de
aprendizagem. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

A característica da curva de dados retratada pelo gráfico acima que nos salta aos olhos é a
sua quase linearidade. E isso nos diz que as postagens com infográficos tiveram um desempenho
regular ao longo da pesquisa no que se referiu ao seu potencial de chamar a atenção dos
participantes para os temas que promoviam. Além disso, novamente verificamos que a estratégia de
usar infográficos é sempre muito bem recebida pela audiência enquanto novidade. No caso, estamos
destacando o fato de que assim como no gráfico com dados relacionados às curtidas recebidas, aqui
também notamos que a primeira postagem (P1) foi igualmente mais bem-sucedida que as demais,
alcançando 73,08% de visualização entre os participantes da comunidade. Contudo, como está
nítido no gráfico, o índice de visualização das publicações com infográficos foi bem menor que
isso. Em média, este grupo de ações atingiu cerca de 55% dos integrantes da comunidade.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Por outro lado, como veremos a seguir, as demais postagens que não se basearam nos
infográficos como recursos de mediação apresentaram índices de visualização bastante irregulares e
disto podemos inferir pelo menos três pontos: 1) Os infográficos funcionaram como elementos que
despertaram o interesse dos participantes quando foram utilizados; 2) As publicações livres que não
eram ilustradas com infográficos foram mal elaboradas pelos participantes e/ou 3) As postagens
criadas pelos participantes da comunidade não foram recebidas com a mesma credibilidade que as
criadas pelos pesquisadores.

Figura 4. Gráfico com percentuais de ―visualizações‖ das postagens sem


infográficos verificados entre os participantes na comunidade de
aprendizagem. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Uma análise conjunta dos dois últimos gráficos apresentados nos leva a argumentar a favor
dos infográficos como o elemento que melhor explica as diferenças observadas nos índices de
visualização dos dois grupos de postagens que acabou se configurando na comunidade, pois além
das postagens com infográficos terem obtido uma média de visualização maior, outro aspecto
fundamental que distingue as curvas de dados analisadas é a regularidade do desempenho das
postagens com infográficos frente a dispersão observada nos índices de visualização das demais
postagens. Isso parece-nos apontar que no contexto da comunidade que criamos os infográficos se
comportaram como o esperado para este tipo de recurso, atuando enquanto elemento visual capaz
de atrair a atenção das audiências para aquilo que se pretendia destacar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegarmos às conclusões deste trabalho, parece-nos importante reafirmar que o


problema que enfrentamos ao longo desta pesquisa se relacionou com a atenção que as pessoas em
geral, e os jovens, em particular, dispensam atualmente à internet, de modo que esta evidência nos
levou a adentrar o ambiente virtual como educadores que somos para nele dar vazão a práticas
educacionais; mas não a quaisquer práticas. Neste ponto, entraram também na equação que deu
origem a este estudo os questionamentos que nos ocorriam no início do mestrado acerca de como
conciliar a Educação Ambiental, o Ensino de Ciências e as Tecnologias da Informação e da

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 668


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Comunicação em nossas práticas docentes. Foi considerando todos esses fatores e muitos outros que
nos decidimos por analisar como os infográficos poderiam ser elementos estratégicos para o
desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem sobre meio ambiente formada por jovens
em uma rede social.
Nesse sentido, após os dados apresentados e as discussões realizadas acerca dos resultados
que eles retrataram, podemos afirmar que as interações analisadas, bem com os pontos de vista aqui
desenvolvidos, constituem elementos para apontar que o uso dos infográficos promoveu uma maior
abrangência das postagens que os utilizaram em relação às publicações que não foram
acompanhadas por eles, sugerindo que esses recursos podem servir como estratégia para a
facilitação de discussões sobre meio ambiente em contextos virtuais. Dessa forma, recomendamos
os infográficos, como recurso inicial, para a mediação de discussões sobre meio ambiente em
comunidades de aprendizagem constituídas a partir de redes sociais, devendo seu uso ser ampliado
por desdobramentos que podem ser alcançados, por exemplo, com atividades de pesquisa de
informações complementares àquelas veiculadas pelos próprios infográficos.
Por fim, é também importante enfatizar que nessa pesquisa escolhemos investigar o
potencial dos infográficos per se, sem nenhum outro tipo de estratégia pedagógica que
contextualizasse os seus usos. E, neste ponto, reconhecemos que isto limitou, em certa medida, os
resultados obtidos em termos de participação na comunidade de aprendizagem. É exatamente por
isso que propomos o uso destes recursos contextualizado por atividades educacionais que ampliem
os temas por eles tratados, de maneira que os infográficos atuem como um elemento introdutório,
não definitivo. Além disso, sugerimos como possibilidade pedagógica a adoção da estratégia de
criação de infográficos pelos próprios alunos participantes das atividades em questão, pois isto pode
ampliar o repertório de temas para o debate, bem como fomentar habilidades de leitura e produção
de diferentes tipos de texto, tornando-os sujeitos autores.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 670


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MEIO AMBIENTE NA CONCEPÇÃO DE PROFESSORES DO AGRESTE


PERNAMBUCANO

Cristiane Félix da Silva SOUTO


Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFPE
cristianefelixfelix@hotmail.com
Eduarda Florencio SANTOS
Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFPE
eduarda_florencio@hotmail.com
Érica de Araújo FIGUEIREDO
Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática da UFPE
ericaafigueiredo2015@gmail.com
Roberto Araújo SÁ
Professor Adjunto IV Doutor em Química UFPE
sa_aaraujo@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo teve por objetivo investigar as concepções de meio ambiente entre professores do
agreste de Pernambuco. Trata-se de uma pesquisa exploratória qualitativa realizada com quarenta e
nove professores da rede estadual de ensino na cidade de Caruaru – PE em maio/2017. Para a coleta
de dados foi solicitado aos pesquisados que representassem através de um desenho a sua concepção
de meio ambiente. Nos resultados predominou a visão naturalista em que apenas os aspectos
ecológicos (componentes bióticos e abióticos) são abordados, ou seja, o meio ambiente visualizado
como algo natural e inalterado. Esse olhar ambiental pode contribuir ou não de forma significativa
para uma formação consciente e preocupada com as questões ambientais no ambiente escolar.
Desse modo, sugere-se a necessidade de promoção de formações inicias e continuada que busquem
inserir a Educação Ambiental cada vez mais cedo no âmbito acadêmico e escolar.
Palavras Chave: Meio Ambiente, Concepções, Professores.
RESUMÉN
El presente artículo tuvo por objetivo investigar las concepciones de medio ambiente entre
profesores del agreste de Pernambuco. Se trata de una investigación exploratoria cualitativa
realizada con cuarenta y nueve profesores de la red estadual de enseñanza en la ciudad de Carurú -
PE en junio / 2017. Para la recolección de datos se pidió a los encuestados que representasen a
través de un diseño a su concepción del medio ambiente. En los resultados predominó la visión
naturalista en que sólo se abordan los aspectos ecológicos (componentes bióticos y abióticos), es
decir, el medio ambiente es visualizado como algo natural e inalterado. Esta mirada ambiental
puede contribuir o no de forma significativa a una formación consciente y preocupada por las
cuestiones ambientales en el ambiente escolar. De este modo, se sugiere la necesidad de promoción
de formaciones iniciales y continuadas que busquen insertar la Educación Ambiental cada vez más
temprano en el ámbito académico y escolar.Palabras clave: Medio Ambiente, Concepciones,
Profesores.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 671


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O mundo hoje globalizado enfrenta muitos problemas ambientais como as crises


energéticas, desmatamentos, extinções de espécies, escassez de água e problemas climáticas,
questões que são presente no cotidiano da sociedade contemporânea.
Nesse panorama o processo educativo apresenta-se cada vez mais desafiador. Visto que,
esses problemas são resultado da relação homem/sociedade através de seus aspectos culturais,
políticos, ambientais, econômicos e sociais, tornando indispensável um enfoque emergente no
processo de reflexão e tomada de decisões a partir de uma educação crítica e inovadora nos níveis
formais e não- formais.
Nesse contexto a visão de meio ambiente pelo homem, nem sempre é satisfatória para o seu
entendimento, quando se discute a temática ambiental com a finalidade de apresentar melhorias
para o nosso planeta seja por fóruns, palestras, roda de conversas, congressos, na sala de aula,
diversas concepções são apresentadas, dentre elas, a concepção naturalista geralmente é a mais
frequente, apontando o meio ambiente como algo intacto, associada aos processos ecológicos em
constante equilíbrio.
Segundo Catarros (2006), o homem apresenta uma visão de meio ambiente exclusivamente
como um sinônimo de natureza e seus elementos que constituem a vida, fragmentando o olhar em
relação, a sua complexidade e dimensões. Nesse sentido observa-se que o ser humano na maioria
das vezes não se perceber como componente do meio ambiente, contemplando-a como algo belo,
natural.
A concepção de ambiente é baseada nos conhecimentos, cultural e na postura individual,
fazendo com que cada pessoa tenha uma concepção diferenciada sobre o mesmo assunto
(OKAMOTO, 2002). Brügger (1999), Reigota (1998), Dias (1994) e Sauvé (1997) relacionam o
conceito de educação ambiental à concepção de meio ambiente, destacando que a mesma tem sido
realizada efetivamente a partir da concepção que se tem de meio ambiente, destacando a
necessidade de entender qual o significado atribuído pelos professores ao termo, mesmo que o
conhecimento sistemático sobre o ambiente ainda esteja em plena construção, tornando a definição
destes elementos bastante controvertida (SATO, 1997).
De acordo com Dias (2000), a educação ambiental constitui uma área de conhecimento
eminentemente interdisciplinar, por lidar com a realidade, por adotar uma abordagem que considera
todos os aspectos que compõem a questão ambiental (socioculturais, políticos, científico-
tecnológicos, éticos, ecológicos, entre outros). Nesse sentido, a educação ambiental não pode ser
concebida apenas como conteúdo curricular, pois implica em uma tomada de conscientização em
relação aos processos socioambientais, priorizando a participação social nas tomadas de decisões.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo Medina (1994), as atividades de educação ambiental, podem ser classificadas em


duas grandes vertentes de abordagem: a ecológico-preservacionista e a socioambiental. A vertente
ecológico-preservacionista-naturalista se relaciona com a forma com que a educação ambiental foi
discutida nas décadas de 60 e 70, quando se falava de uma educação naturalista com enfoque
ecológico, onde se conceituavam isoladamente nas disciplinas de geografia e ciências, o aspecto
ambiental a partir do aspecto natural, a natureza sendo visualizada como valor supremo, logo, para
servir ao homem.
Nesse panorama, o ser humano é visto apenas como entidade abstrata, que permanece
distante da natureza a qual atribui valores estéticos e éticos de não violação. Há uma ocultação dos
conflitos pelo uso dos recursos naturais, decorrentes do modelo de desenvolvimento vigente,
desconsiderando os aspectos políticos e econômicos que causam a degradação ambiental. Além
disso, ela postula um retorno das comunidades naturais, como modelos de sociedades harmônicas,
em contato permanente com a natureza (BRASIL, 2001).
Reigota (2006), afirma que a problemática ambiental não está na quantidade de pessoas que
existem no planeta e que necessitam consumir cada vez mais recursos naturais para se alimentar,
vestir e morar, mas sim no excessivo consumo desses recursos por uma pequena parcela
privilegiada da humanidade e no desperdício e produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de
vida. Nesse contexto, a Educação Ambiental deve ser compreendida como uma educação política,
no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional
e planetária, autogestão e ética nas relações sociais com a natureza.
Nessa perspectiva, estudar o comportamento ambiental não se reduz a trabalhar conceitos
relacionados apenas a natureza de maneira isolada como: a biodiversidade, o lixo, a água e o solo,
esta temática apresenta uma especificidade mais ampla, abrangendo comportamentos a partir de
uma construção de valores que proporcione uma relação de interdependência homem, natureza e
universo, considerando sempre as relações sociais, políticas, econômicas, culturais, éticas e
ambientais.
Compreender como se posicionam os professores sobre Meio Ambiente tem sido
identificado pelos teóricos como uma estratégia de fundamental importância para que se direcionem
ações e encaminhamentos para um programa de educação ambiental (LOUREIRO, 2012).
Este trabalho teve por objetivo investigar as concepções de meio ambiente entre professores
do agreste de Pernambuco.

METODOLOGIA

A pesquisa do tipo exploratória qualitativa foi realizada em maio/2017 e aplicada a quarenta


e nove professores da rede estadual de ensino do Agreste de Pernambuco. Sendo estes de ambos os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sexos, os mesmos foram escolhidos através de um convite para participar voluntariamente de uma
oficina roda de conversa da seguinte temática: ―Pernambuco e nossas questões ambientais‖, a
oficina foi realizada antes da roda de conversa ser iniciada com todos os professores que estavam
presentes.
Para a coleta de dados, foi solicitado que cada professor representasse através de um
desenho a sua concepção de meio ambiente, e que não seria necessário identificar no desenho a sua
área de atuação.
Optou-se pela utilização do desenho como instrumento metodológico, por ser uma forma de
linguagem simples e direta, para tal utilizou-se a técnica da análise interpretativa dos elementos
desenhados, observando a relação existente entre eles.
Os métodos que utilizam desenhos têm por base um olhar único sobre aspectos que afetam
a vida, revelando impressões e sentimentos bem distintos, conforme as vivências socioeconômicas
(HORSTMAN et al., 2008).
Para análise dos dados, (os desenhos) foram estabelecidas três categorias de classificação
segundo a tipologia das concepções de Meio Ambiente apresentadas por Reigota (2010). Sendo
elas: naturalista, antropocêntrica e globalizante.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos quarenta e nove professores participantes resultaram trinta e dois desenhos, sendo que
os demais (dezessete) não se propuseram a desenhar.
A tabela 01 apresenta os resultados obtidos, os quais foram categorizados de acordo com os
aspectos que expressavam maior proximidade com a tipologia das concepções de Meio Ambiente
apresentada por Reigota (2010).
A classificação naturalista evidencia por apresentar noções relativas aos aspectos naturais do
ambiente, visualizando o meio ambiente como natureza intocada. Já a antropocêntrica, destaca a
necessidade de utilização e degradação dos recursos naturais pelo ser humano para a sua
sobrevivência onde tudo gira em torno das suas necessidades e a globalizante evidencia as relações
recíprocas entre natureza e sociedade.

CATEGORIA PERCENTUAL DESCRIÇÃO DO


DESENHO
Naturalista 56 % Árvores, plantas, água, solo e
ar.
Antropocêntrica 28 % Homem, árvores, frutas,
pássaros, rios, peixes, plantas,
solo.
Globalizante 16% Homem, plantas, solo,
comércio, escolas, planeta
Tabela 01: Resultados categorizados a partir dos desenhos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A concepção da categoria naturalista é a visão apresentada em mais da metade dos


entrevistados. Os 56% representados por 18 professores destacam nas imagens ora construídas
evidencias apenas dos aspectos naturais, o meio ambiente visto como intocado.
A segunda tendência, 28% das respostas observadas por 9 professores, relaciona o homem
como posição referencial no meio ambiente, a natureza pronta para servi-lo, garantindo a sua
sobrevivência a partir de uma visão antropocêntrica.
Por fim, quanto à visão globalizante apresentando por 16% das respostas demonstrado por 5
dos docentes entrevistados associa a temática meio ambiente através de uma representação que
envolve aspectos sociais onde o homem encontra-se inserido como parte desse meio.
A seguir, estão expostos os resultados de alguns desenhos realizados pelos professores
pesquisados (Figura 01 e 02).

Figura 01: Categoria naturalista. Figura 02: Categoria naturalista.

Os desenhos expostos nas Figuras 01 e 02 são classificados na categoria naturalista, pois


enfatizam apenas os aspectos ecológicos (componentes bióticos e abióticos), o meio ambiente é
visualizado como algo natural, inalterado.
Foi constatado que mais da metade dos professores pesquisados (56%) apresentaram uma
visão naturalista, isto é, meio ambiente observado como sinônimo de natureza. Os desenhos trazem
os elementos água, ar, solo, fauna e flora, porém, não se observa o homem fazendo parte desses
cenários e não se percebe também uma inter-relação entre os elementos desenhados.
A visão naturalista de meio ambiente pode influenciar a prática pedagógica dos professores
ao discutir as questões ambientais, apresentando uma abordagem privada de reflexões críticas sobre
esta temática. Além disso, esta percepção pode levar o professor a abordar exclusivamente os
conceitos de ecologia, e considerar que apenas as disciplinas de Biologia e Geografia devem
trabalhar esse conteúdo (MOREIRA, 2009).
Os desenhos expostos nas Figuras 03 e 04 são classificados na categoria antropocêntrica, a
qual aborda a natureza transformada pela ação do homem e para o homem.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 03: Categoria antropocêntrica. Figura 04: Categoria antropocêntrica.


A Concepção antropocêntrica foi identificada em nove representações pesquisadas onde o
ser humano é visto como elemento constituído do meio ambiente um ser social com vida em
sociedade e se relacionando com o meio, e utilizando-o para a sua sobrevivência, esse
posicionamento, que inclusive está presente na Constituição Federal brasileira de 1988 em seu
artigo 225, defende que o meio ambiente deve ser protegido para proporcionar qualidade de vida às
pessoas (BRASIL, 1988).
Nessa perspectiva, o meio ambiente está a serviço do homem, no qual o mesmo tem maior
valor intrínseco do que outras espécies. Essa visão potencializa atitudes em que tudo do ambiente é
para os seres humanos e diante disso todos os recursos naturais podem ser explorados. Este uso
muitas vezes ocorre de forma insustentável, resultando em degradação às vezes ao ponto de
extinção do recurso biológico, esta visão é confirmada nos desenhos que apresentam o homem
como centro do ambiente e os componentes bióticos e abióticos postos para servi-lo.
Reigota (2010) afirma que os conceitos naturalista e antropocêntrico podem estar vinculados
a práticas associadas à concepção tradicional de ensino, nas quais os alunos são levados a
memorizar enunciados de maneira técnica, sem uma construção pessoal e sem construção de ideias
espontâneas. O ensino relacionado ao meio ambiente, nesse contexto, se resume à transmissão de
conhecimentos sobre a natureza, sem estabelecer a devida relação de interdependência que envolve
o complexo saber ambiental. Diante disso, o entendimento de meio ambiente pelos professores
conduz a uma relação homem/natureza, tendo o homem como o centro do universo, remetendo a
sua prática pedagógica voltada ao trabalho com questões ambientais com foco exclusivo na
resolução de problemas ambientais, em função do bem-estar da espécie humana, buscando apenas
um meio de conscientização para que as demandas ambientais sejam amenizadas ou resolvidas.
Os desenhos expostos nas Figuras 05 e 06 são considerados na categoria globalizante, sendo
o meio ambiente compreendido como algo global.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 05: Categoria globalizante. Figura 06: Categoria globalizante.

Apenas 5 professores sobressaíram apontando uma visão globalizante em relação ao meio


ambiente, expondo em seus registros relações de reciprocidade entre a sociedade e a natureza,
enfocando aspectos naturais, políticos sociais e econômicos.
Para Leff (2001), através do aspecto globalizante de meio ambiente é possível promover a
educação ambiental visto que a mesma instiga a pensar o ambiente sobretudo na relação homem-
natureza de uma forma integrada, voltada aos aspectos físicos e sociais através da superação da
fragmentação do conhecimento, ao compreender a natureza sobre o aspecto que envolvam a
humanidade. Porém, é interessante destacar que a compreensão do meio ambiente, enquanto
interação complexa, voltada aos aspectos políticos, sociais, culturais, econômicos apresentam-se
distante da maioria dos professores. Nesse cenário, a Educação Ambiental deve ser inserida nos
conteúdos programáticos dos currículos de formação de professores, e possa fazer parte do
cotidiano dialógico entre professores e alunos compreendendo o Meio Ambiente em sua totalidade.
Nesse sentido Seabra (2011), corrobora afirmando que a Educação Ambiental como política
efetiva é o principal instrumento para conservar a natureza e o ambiente em que vivemos.

CONCLUSÃO

O trabalho apresentado permitiu identificar as concepções de Meio Ambiente por parte dos
professores pesquisados. Os resultados revelaram uma maior porcentagem na visão reducionista,
sendo esta caracterizada como naturalista e está voltada aos aspectos ecológicos.
A partir desse artigo, evidencia-se que a concepção de Meio Ambiente por parte dos
professores apresenta diferentes aspectos, os quais refletem suas vivências sociais, econômicas,
políticas, culturais e éticas. Esse olhar ambiental pode contribuir ou não de forma significativa para
uma formação consciente e preocupada com as questões ambientais no ambiente escolar, visto que,
existe a preocupação de um ensino que forme o aluno numa perspectiva integral e participativa
diante dos seus direitos e deveres sociais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Contudo, esta pesquisa visa contribuir para uma discussão acerca das concepções e
interpretações que os docentes fazem sobre Meio Ambiente e assinalamos a necessidade de
promoção de formações inicias e continuada que busquem inserir a Educação Ambiental cada vez
mais cedo no âmbito acadêmico e escolar.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 679


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: EXPOSIÇÃO


DE BIOLOGIA - (EXPOBIO)

Elida Lucia da CUNHA


Docente da UEG Campus Porangatu-GO
elidabio@live.com
Solange Xavier dos SANTOS
Docente da UEG Campus Anápolis-GO
solxav@yahoo.com.br
Ivan Luis PALHARES
Discente da UEG Campus Porangatu-GO
ivanpalhares@hotmail.com
Lucas Leonardo da SILVA
Discente da UEG Campus Anápolis-GO

RESUMO
A extensão universitária possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, de modo
crescente, junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo
para a superação das desigualdades sociais existentes. Surgiu no ano de 2003, no curso de Ciências
Biológicas o Projeto de Extensão ―Expobio‖ com o objetivo de Estimular o interesse dos
acadêmicos do curso de Ciências Biológicas à pesquisa científica, promover a interação entre os
estagiários e alunos do ensino médio do colégio campo, desenvolver o gosto pelo conhecimento
científico na prática, dos alunos do ensino médio, estagiários e acadêmicos do próprio curso e
também aproximar a comunidade em geral de trabalhados de cunho científico desenvolvidos e
expostos no evento. Assim, na sua décima terceira edição, os trabalhos feitos pelos acadêmicos e
expostos em forma de feira, possibilitaram aos mesmos, maior contato com a prática de
desenvolvimento de projetos de cunho científico, e ao mesmo tempo, como demonstrar de forma
simples e objetiva, os resultados de suas pesquisas à comunidade em geral. Em específico aos
acadêmicos do último ano do curso de ciências biológicas foi possível ampliar os horizontes na
perspectiva da organização de Projeto de Extensão Universitária.
Palavras Chave: Projeto de Extensão. Pesquisa Científica. Exposição. Ciências Biológicas.
ABSTRACT
The university extension enables the formation of the professional citizen and is credited,
increasingly, with society as a privileged space for producing significant knowledge to overcome
existing social inequalities. In 2003, in the course of Biological Sciences, the Extension Project
"Expobio" with the objective of Stimulating the interest of the academics of the Biological Sciences
course to the scientific research, to promote the interaction between the trainees and high school
students of the college campuses , to develop a taste for scientific knowledge in the practice of high
school students, trainees and academics of the course itself, and also to bring the general
community closer to scientific work developed and exhibited at the event. Thus, in its thirteenth
edition, the work done by the academics and exhibited in the form of a fair, enabled them to make
greater contact with the practice of developing scientific projects, and at the same time, how to
demonstrate in a simple and objective way, the results of their research to the community at large.
Specifically to the academics of the last year of the biological sciences course it was possible to
broaden the horizons from the perspective of the organization of the University Extension Project.
Keywords: Extension Project. Scientific research. Exhibition. Biological Sciences.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 680


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A pesquisa científica está tomando o seu espaço nos cursos de educação superior em
diversas universidades. Esta tem sido considerada um lugar em que se vivencia a cultura universal e
que tem por finalidade o ensino, a pesquisa e a extensão, sendo organizada para a formação de
profissionais que atuarão na sociedade Rodrigues (2006). Nos dias atuais a globalização, o mercado
cada vez mais competitivo e as novas tecnologias, estão exigindo do profissional não só o
conhecimento teórico, mas uma prática baseada na reprodução e produção de conhecimentos.
Segundo Rodrigues (2006) tal reprodução e produção devem ser acompanhadas de uma análise
crítica, reflexiva e criativa para que os profissionais formados possam ingressar na sociedade de
maneira competente e atuante.
A pesquisa científica tem por objetivo contribuir com a evolução dos saberes humanos em
todos os setores, sendo sistematicamente planejada e executada através de rigorosos critérios de
processamento das informações. Os trabalhos de graduação devem produzir ciência, ou dela
derivar, ou acompanhar seu modelo de tratamento, Fonte (2004).
Os projetos, conforme Nogueira (2003) são fontes de investigação e criação, que passam por
pesquisas, aprofundamento, análise e criação de novas hipóteses, colocando as diferentes
potencialidades e limitações dos componentes do grupo. Na busca para obter mais informações,
materiais, detalhamentos, etc., os alunos acabam encontrando estímulos para o desenvolvimento das
suas competências.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (1997) a metodologia de projetos surge como
alternativa para a elaboração de uma proposta curricular enfatizando a contextualização dos
conteúdos, a interação entre as áreas do conhecimento e a participação ativa dos professores no
desenvolvimento da metodologia de ensino.
O trabalho com projetos implica em ensino globalizado. Não se pensa em disciplinas
isoladas, mas em um problema real a ser solucionado, no qual as relações entre conteúdos e áreas de
conhecimento serão utilizadas para resolver problemas apresentados pelo processo de
aprendizagem. Em busca da solução do problema o aluno irá atrás de informações teóricas, de
cálculos, desenvolverá o registro e expressão escrita, organizará etapas a serem programadas e
cumpridas e dessa forma promoverá a aprendizagem.
O curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas se propõe a realizar exposição
científica em forma de feira na tentativa de despertar o interesse, das pessoas envolvidas, à pesquisa
científica e de mobilizar a comunidade para os assuntos científicos e sua aplicação em benefício do
homem, bem como conscientizar que o desenvolvimento depende, em grande parte, do que está
sendo feito nas universidades e, dessa forma, promover um maior entrosamento entre a UEG
campus Porangatu e a comunidade.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Dentre os objetivos específicos do projeto estão: Desenvolver habilidades de pesquisa


científica
 Estabelecer uma relação comunicação científica entre estágio e alunos do Ensino Médio
 Divulgar trabalhos científicos à comunidade e a acadêmicos de outras instituições

MATERIAIS E MÉTODOS

O Projeto Expobio ocorreu durante todo o ano de 2016, com as atividades distribuídas entre
os acadêmicos do último ano de graduação, os quais são incumbidos da organização geral do
projeto. Os demais acadêmicos do primeiro, segundo e terceiro ano de graduação escolhem seus
temas, montam seus projetos e realizam suas pesquisas, sendo que estes são divididos em grupos de
4 a 5 pessoas em média.
Dentre as atribuições dos organizadores, que também são divididos em grupos de
quantidades variáveis de acordo com a tarefa proposta, estão: a monitoria nos projetos e pesquisas
dos acadêmicos do primeiro, segundo e terceiro ano, criação de logotipo, providenciar as camisetas,
ir em busca de patrocínio, divulgação do evento, decoração para o dia da exposição, correção da
parte escrita dos projetos e elaboração de documentos sendo ofícios, ficha de avaliações e relatórios
de atividades.
As pesquisas e atividades são realizadas durante todo o primeiro semestre, sendo
supervisionadas pela prof.ª coordenadora do projeto. Os monitores também exercem papel
importante no auxílio e acompanhamento dos grupos e suas pesquisas.
O segundo semestre é marcado pelo processo final dos projetos, em que os resultados
obtidos são apresentados de forma oral, usando os recursos metodológicos de acordo com a
criatividade pertinente a cada temática, em uma feira que ocorre no contra turno, no caso de
Ciências Biológicas da UEG câmpus Porangatu que ocorre no turno matutino a exposição acontece
no turno noturno.
A exposição ocorreu na quadra do câmpus no mês de setembro. Foi delimitado um espaço
de 3x3m para que cada grupo montasse sua tenda e decorasse como preferir, sendo obrigatória a
existência de uma faixa no estande com o título do trabalho, para facilitar a visualização dos jurados
e da comunidade em geral. A exposição foi aberta ao público em geral, estudantes do Ensino
Médio, acadêmicos de outros cursos e de outras instituições de ensino.
Neste ano foram um total de 17 (dezessete) projetos expostos com temáticas diversas, sendo:
Obesidade Infantil, Importância Das Bactérias Nos Alimentos, A Adubação Verde e a Recuperação
do Solo Como Uma das Alternativas Para Agricultura Familiar, Soja: Nutrição e Saúde,
Compostagem: O Uso de Restos de Alimentos Para Fazer Adubo Orgânico, Poluição Hídrica e Os
Impactos Ambientais no Rio Ribeirão Funil Em Porangatu-Go, Uso da Ludicidade Como Meio de
Transmissão do Conhecimento: O Impulso Nervoso, A Célula Animal e o Processo Digestivo,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Características das Plantas Afrodisíacas: Abacate, Gengibre E Pimenta: Métodos Naturais Para
Impotência Sexual, Aspectos Positivos do Ferro Na Alimetação, Ipê Roxo (Handroanthus
impetiginosus) e Seu Valor na Medicina, Aplicação de Sistema Agroflorestal Em Sucessão Natural,
Células Tronco: Origem à Aplicação, O Uso dos Anabolisantes Com Ênfase Para Os Maleficios da
Saúde Humana, Arborização Urbana e Qualidade de Vida, Coletor Menstrual, O Uso De Materiais
Recicláveis Para a Prática Pedagógica, A Importância Das Ervas Medicinais.
Para avaliação desses trabalhos foram convidados 4 (quatro) jurados de outras instituições
de ensino, de modo que fosse uma avaliação ―neutra‖. Após a somatória dos pontos de cada
avaliação os grupos foram colocados em ordem classificatória, a divulgação do resultado, bem
como a premiação a partir do patrocínio arrecadado foram feitos em datas posteriores ao dia da
exposição.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A apresentação oral dos trabalhos em forma de feira é importante porque configuram uma
possível construção de conhecimento, por envolver diversas ações e áreas do saber. Nogueira
(2003) ressalta que projetos são fonte de investigação e criação, que passam por pesquisas,
aprofundamento, análise e criação de novas hipóteses, colocando as diferentes potencialidades e
limitações dos componentes do grupo.
Dos grupos participantes é importante destacar os 3 (três) primeiros colocados, segundo a
avaliação dos jurados, os quais constam na tabela 1.

Tabela 1. Classificação dos três melhores projetos da Expobio 2016


Classificação Média Projetos
Geral final
1º 18,75 Aplicação de sistema agroflorestal em sucessão natural
2º 18,25 Coletor menstrual
3º 16,5 O uso da ludicidade como meio de transmissão de conhecimento. O
impulso nervoso, organização da célula e processo digestivo

Em primeiro lugar, aplicação de sistema agroflorestal em sucessão natural, um tema com


bastante relevância para os meios de agriculta locais e atuais. A técnica denominada agrofloresta ou
sistema agroflorestal (SAF) é interessante para a agricultura familiar por reunir vantagens
econômicas e ambientais. A utilização sustentável dos recursos naturais aliada à uma menor
dependência de insumos externos que caracterizam este sistema de produção, resultam em maior
segurança alimentar e economia, tanto para os agricultores, como para os consumidores, Armando
et al (2002).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Essa temática teve grande repercussão na exposição, de modo que para o próximo ano será
aplicada como outro projeto de extensão dentro do câmpus Porangatu, afim de envolver as escolas
de ensino fundamental do próprio município.
Em segundo lugar no resultado geral, com pouca diferença na contagem dos pontos ficou o
coletor menstrual. Uma proposta alternativa para diminuição de lixo gerados pelos absorventes
convencionais.
O absorvente ecológico ou Bioabsorvente traz para mulher um ligeiro contado de
proximidade entre ―o eu e corpo‖, um relacionamento de ―intimo‖. Essa tecnologia feminina já é
bastante disseminada entre pessoas que tem por prática a busca por uma vida ecológica e sem
prejudicar o meio ambiente, Silva (2016).
Para a população do munícipio essa temática ainda é pouco disseminada, o que pode ser
resolvido com a exposição dos tipos de coletores e das formas de uso, bem como instruções gerais
de como comprar e como higienizar. Dessa forma nota-se mais uma vez a importância dos trabalhos
acadêmicos serem levados até a comunidade em geral.
Para o terceiro lugar o uso da ludicidade como meio de transmissão de conhecimento. O
impulso nervoso, organização da célula e processo digestivo. As atividades lúdicas são usadas por
diversas disciplinas, pois, auxiliam na transposição dos conteúdos considerados mais difíceis, dando
significado a aprendizagem. Além disso, desenvolvem e estimulam os alunos à oralidade, as
expressões corporais, o uso da lógica e reforça os laços sociais.
Segundo Vygotsky (1989) os jogos ajudam no desenvolvimento da linguagem, do
pensamento de concentração, ajuda a agir corretamente em determinadas situações e estimula a
capacidade de discernimento.
Observa-se a pertinência da temática abordada por esse grupo de alunos, por se tratar de um
curso de licenciatura é fundamental que as atividades didáticas e pedagógicas estejam voltadas, da
melhor maneira possível, para o processo ensino-aprendizagem.
A partir dos trabalhos expostos, foi possível perceber que o empenho dos acadêmicos, nas
pesquisas e apresentação oral de seus resultados é de grande valia para a formação pessoal como
futuro docente de biologia.
Observa-se também a pertinência e relevância das temáticas abordadas, tanto para a
população em geral, o qual compreende o cerne maior das ações extensionistas, quanto para os
acadêmicos de outros cursos, outras instituições de Ensino Superior e colégios de Ensino Médio.
De forma geral todos os que participaram direta ou indiretamente, tendem sempre a ganhar
mais experiência e conhecimento com a realização do Projeto Expobio. Assim a proposta é que esta
ação extensionista seja perpetuada por vários anos mais dentro da UEG câmpus Porangatu.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARMANDO, M. S.; BUENO, Y. M.; ALVES, E. R. da S.; CAVALCANTE, C. H. Agrofloresta


para Agricultura Familiar. Brasília. 2002. Disponível em:
<http://www.agrisustentavel.com/doc/agrofloresta.pdf>. Acesso em: 19 de dezembro de 2016.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: MEC, 2000.Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com
content&view=article&id=12598:publicacoes&catid=195:seb-educacao-basica> Acesso em: 16
nov. 2016.

FONTE.N.N.da. Pesquisa científica: o que é e como se faz. [S.L:s.ed,s.d], 2004.

NOGUEIRA, N. R. Pedagogia dos projetos. Uma jornada interdisciplinar rumo ao


desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2003.
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desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2003.

RODRIGUES.A.de.J. Metodologia Científica: completo e essencial para a vida universitária. São


Paulo: Avercamp, 2006.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais:


introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf> Acesso: 01/12/2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A INCLUSÃO E O DESENVOLVIMENTO DA


CIDADANIA: UM RELATO DE CASO SOBRE FEIRA DE PROFISSÕES

Fernanda Cristina ROMERO


Mestranda em Análise Ambiental Integrada da UNIFESP
romero_fcr@yahoo.com.br
Aline Martins VICENTIN
Mestranda em Ciências Ambientais da UNESP
line_vicentin@hotmail.com
Rafaella Menezes AYLLÓN
Mestre em Análise Ambiental Integrada da UNIFESP
may_fane@hotmail.com
Luciana Aparecida FARIAS
Docente da UNIFESP
lufarias2@yahoo.com.br

RESUMO
A educação superior, reconhecida como bem público, é um importante meio de transformação
social, a qual garante o fluxo de conhecimento, cultura, ciência e tecnologia, além de promover o
desenvolvimento humano e econômico de um país. Todavia, o acesso às universidades no Brasil
tem em seu histórico forte influência da elitização. Dentro dessa perspectiva e partindo do
entendimento do papel da educação ambiental no processo de construção da cidadania, a proposta
do presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos no projeto "Feira das
Profissões", desenvolvido em uma escola estadual do distrito Riacho Grande, localizado na região
metropolitana de São Paulo. O estudo utilizou uma abordagem predominantemente qualitativa, de
caráter exploratório, com aplicação de questionários estruturados. O principal problema observado
foi a falta de conhecimento que estes jovens em vulnerabilidade socioambiental apresentaram com
relação à existência do ensino superior público. Sendo que para a maioria, após o ensino médio e
na falta de condições financeiras favoráveis, a única opção é trabalhar.
Palavras-chave: Educação ambiental, ensino superior, cidadania
ABSTRACT
Higher education, recognized as a public good, is an important means of social transformation,
which guarantees the flow of knowledge, culture, science and technology, as well as promoting the
human and economic development of a country. However, access to universities in Brazil has in its
history a strong influence of the elitism. In this perspective and starting from the understanding of
the role of environmental education in the process of citizenship construction, the purpose of this
study is to present the results obtained in the "Professions Fair" project, developed in a state school
in Riacho Grande district, located in the metropolitan region of São Paulo. The study used a
predominantly qualitative, exploratory approach, with the application of structured questionnaires.
The main problem observed was the lack of knowledge that these young people in socio-
environmental vulnerability presented with regard to the existence of public higher education.
Being that for the majority, after high school and in the absence of favorable financial conditions,
the only option is to work.
Keywords: Environmental education, higher education, citizenship

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

De acordo com o Art. 205 da Constituição Federal de 1988, a educação é um direito de


incumbência do Estado e deve ser garantido à todos, preceito esse que evidencia sua importância na
formação do cidadão. Segundo Souza (2016), educação e cidadania são dois conceitos
indissociáveis, já que, uma vez educada, a sociedade tem melhores condições de exigir seus direitos
e cumprir seus deveres, exercendo assim a cidadania. Nesse contexto, a educação superior,
reconhecida como um bem público (Sobrinho, 2013) é o nível mais elevado dos sistemas educativos
e aparece como um importante meio de transformação social, a qual garante o fluxo de
conhecimento, cultura, ciência e tecnologia, além de promover o desenvolvimento social e
econômico do país (Neves, 2007). Complementarmente, Amartya Sen (2000) discute sobre
oportunidades sociais e as relaciona com a educação, definindo-as como: ―oportunidades sociais são
as disposições que a sociedade estabelece nas áreas de educação, saúde, entre outras, as quais
influenciam a liberdade substantiva de o indivíduo viver melhor‖. Dessa forma, o acesso à
educação, incluindo todos os seus níveis e formatos, garante a instrumentalização do cidadão e
potencializa melhor qualidade de vida e o exercício da cidadania.
Dentro dessa perspectiva, no que diz respeito ao ensino superior e ao acesso às instituições
de ensino no Brasil, Neves (2007) aponta para diversos desafios, dentre os quais cabem destacar: a
qualidade do ensino, maior número de cursos oferecidos e ampliação de acesso. Segundo Zago
(2006), a classe de baixa renda é a menor parcela do público que atinge o ensino superior, o que
configura a exclusão social. Como uma forma de superar tal desafio, houve ampliação do acesso ao
ensino superior, a qual se deu mediante programas de expansão. O processo em questão teve como
objetivo a interiorização do ensino público superior Federal, por meio da ampliação de condições
necessárias para tal e da permanência estudantil (Brasil, 2012a). Com isso, em 2007, houve a
criação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(Reuni), o qual buscou ―criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação
superior, no nível de graduação presencial, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de
recursos humanos existentes nas universidades federais‖ (Brasil, 2012a). Dentre as diretrizes do
Programa, um dos objetivos definidos era a ampliação de políticas de inclusão e assistência
estudantil, o qual contou com o aumento do número de instituições de ensino Federais no período
entre 2003 e 2010, somando 59 Universidades Federais e 38 Institutos Federais de educação (Brasil,
2012a). Sendo que um dos instrumentos que potencializou essa expansão foi o sistema de cotas que,
por meio da Lei 12.711/2012, garantiu a reserva de 50% das matrículas para estudantes formados
no ensino médio público, cujos critérios incluem renda familiar e etnia (Brasil, 2012b). Segundo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

levantamento comparativo realizado pela Universidade Federal de São Paulo43 a respeito dos seus
ingressantes, o ano de 2015 contou com aumento de 3,7% de estudantes pardos, bem como com
crescimento de 6% no número de estudantes advindos do ensino público, dados esses que apontam
para a expansão e universalização do ensino superior.
Entretanto, mesmo com a ampliação do acesso às universidades e a despeito dos inúmeros
problemas e críticas que o Reuni vem enfrentando desde sua implementação (Tonegutti e
Martinez,2007; Léda e Cancebo, 2009) e ainda há barreiras a serem superadas também no âmbito
do acesso à instituições de ensino superior (IES) públicas. Nesse sentido é importante se fazer o
seguinte questionamento: quem vem ocupando as vagas no ensino superior público? De acordo com
a IV Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação nas instituições
federais, realizada pela Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-sociais - CEPES em
2014, foi constatado que na região Centro-Oeste o número de estudantes oriundos do ensino médio
público que ingressam em universidades públicas federais está abaixo das demais regiões, com
9,47% de alunos vindos do ensino médio integralmente em escola pública. Por outro lado, também
deve ser levado em consideração a questão da iniciativa privada, pois, de acordo com estudo de
Santos e Freitas (2014), no período compreendido entre 2007 a 2011, 74,2% das vagas das IES
estavam nas unidades privadas, enquanto nas unidades públicas o índice era de 10%. Ou seja, ainda
segundo o estudo, os dados apontam para a mercantilização do ensino, tornando o processo de
exclusão social evidente.
Nesse contexto, é evidente a importância da garantia de oferecimento de uma educação de
qualidade e, atualmente, o país conta com o avanço de políticas públicas que tornam possível o
acesso e permanência no ensino superior, porém, com deficiências. Dentro dessa perspectiva e
partindo do entendimento do papel da educação ambiental no processo de construção da cidadania,
o presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos no projeto "Feira das
Profissões", desenvolvido em uma escola estadual do distrito Riacho Grande, localizado na região
metropolitana de São Paulo. O projeto visava proporcionar reflexões e orientações aos estudantes
do terceiro ano sobre o acesso e permanência no ensino superior, partindo-se do pressuposto inicial
que os jovens sabiam da existência das duas universidades federais na região, ainda que não
tivessem conhecimento dos mecanismos gerais de ingresso.

MÉTODOS

Esta pesquisa utilizou uma abordagem predominantemente qualitativa, de caráter


exploratório, com aplicação de questionários estruturados.

43
Disponível em: http://www.unifesp.br/noticias-anteriores/item/2357-cai-o-numero-de-estudantes-ingressantes-
brancos-e-aumenta-o-de-pardos-e-os-vindos-do-ensino-publico-na-unifesp.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 688


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Escolha da escola

A escola estadual participante está localizada no distrito Riacho Grande, do município de


São Bernardo do Campo, no bairro Tatetos, e é uma das poucas escolas da região, a qual recebe
estudantes do ensino fundamental e médio. O bairro Tatetos situa-se na região rural do município,
em local conhecido popularmente como ―Pós-Balsa‖, já que, para acesso à região, a qual se
encontra em um dos braços da Represa Billings, é necessário a utilização de balsa.
O local tem em seu histórico conflitos socioambientais recorrentes, uma vez que,
resguardado por leis de proteção ambiental, a construção de vias de acesso não é permitida, o que
causa descontentamento na população, dado a ineficiência de serviços de saneamento básico, saúde,
segurança e educação decorrentes da dificuldade de acesso. Entretanto, segundo relatos obtidos no
processo de organização do evento, a população possui apreço pela região, ainda que haja
problemas de ordem política, social e ambiental.
Marin e col. (2003) descrevem essa afetividade criada entre o indivíduo e a paisagem,
utilizando um termo trazido por Gaston Bachelard (Horodyski e col. 2001) e bastante empregado
pelo geógrafo Yi-Fu Tuan, a topofilia. Segundo o autor (Horodyski e col. 2001 apud Tuan, 1980 p.
286):

[...] a topofilia varia em amplitude emocional e em intensidade, estando relacionada, entre


outros, aos prazeres visuais efêmeros, ao deleite sensual do contato físico ou, simplesmente,
ao apego pelo lugar, seja por sua familiaridade, por seu passado representativo ou por
evocar algum tipo de orgulho de posse.

A partir dessa perspectiva, é possível relacionar tal afetividade com a relação com a natureza
que é possibilitada na região, o que não ocorre na área central da cidade. Assim, dadas as
características apresentadas, a escola, desde 2014, vinha participando de um projeto de pesquisa
desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo, cujo objetivo era o desenvolvimento de um
projeto de educação ambiental de construção coletiva, a partir de uma metodologia adaptada do
conceito ―Comunidades de Aprendizagem‖ e Pesquisa Ação (Mello e col., 2012). Como forma de
atender uma demanda da escola e também para estimular a reflexão e o debate entre os estudantes a
respeito do ensino superior, foi elaborada a ―Feira das Profissões, organizada pelos discentes da
Universidade Federal de São Paulo do grupo de pesquisa e extensão ―Quimicando com a Ciência‖,
juntamente com os estudantes do grêmio estudantil da escola e funcionários, além de convidados de
outras universidades.

Elaboração e aplicação dos questionários

Para esta ação foram desenvolvidos dois questionários, um para antes da Feira da Profissões
e o outro após a ação, a fim de conhecer o grupo participante e identificar déficits de informação

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 689


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

acerca do tema, além de verificar os resultados da feira. Realizou-se a aplicação de questionários


fechados (Nogueira, 2002), com perguntas claras, concretas e concisas, como propõe Gil (2002),
seguindo-se as demais premissas correspondentes à elaboração dos questionários.
O questionário preliminar envolveu cinco perguntas simples, sendo que as duas primeiras
consistiam na identificação do aluno e as demais em conhecer o interesse do aluno a respeito do seu
ingresso no ensino superior.
Com o levantamento de dados preliminares do questionário inicial foi possível identificar as
preferências dos estudantes com relação às carreiras e seus conhecimentos sobre o assunto, como
também observar déficits dentre o grupo, referentes ao conhecimento a respeito da presença de duas
universidades federais na região, bem como os cursos mais citados. Esta primeira etapa orientou a
organização da Feira das Profissões, direcionando o grupo organizador a levar maiores informações
acerca dos cursos e profissões mais citados nos questionários. Já o questionário posterior à ação foi
aplicado cerca de um mês após a feira e objetivou identificar de que forma o evento influenciou no
conhecimento e visão crítica dos jovens sobre a temática das profissões.
O questionário da primeira etapa foi respondido por 93 estudantes, com idade média de 17
anos (59%). Do total de respondentes na segunda etapa, 63% não haviam participado da feira, 34%
participaram (com idade média de 17 anos) e 3% não responderam, sendo que o presente trabalho
terá como objeto de análise principal os estudantes que participaram do evento e responderam
ambos questionários.

Análise dos questionários

Nos dados qualitativos resultantes das frases elaboradas pelos entrevistados foi realizada
análise de conteúdo, a qual busca descrever conteúdo de mensagens ou indicadores permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)
dessas mensagens (Bardin, 1994). Os dados de quantificação obtidos foram organizados em
gráficos e tabelas de forma a facilitar a comparação dos resultados para escrita do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Questionário pré-feira

Do total de respondentes na primeira etapa, 89% declararam ter intenção em fazer faculdade,
porém, apenas 53% tinha conhecimento de instituições de ensino público, dos quais, 2% citam
instituições privadas como públicas. Dos estudantes que diziam conhecer as instituições públicas,
49% dizia ter conhecimento de universidades públicas localizadas na região, mas ao serem
questionados sobre quais eram, majoritariamente responderam a Universidade de São Paulo,

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 690


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

localizada na cidade de São Paulo e o Senai, localizado na cidade de São Bernardo do Campo. Tal
informação revela as falhas ainda existentes na divulgação de informação e inserção do ensino
público superior entre a população local, uma vez que, na região do ABCD paulistano, que inclui os
municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema, há duas universidades federais, a
Universidade Federal do ABC e a Universidade Federal de São Paulo, porém, somente 2% alegou
ter conhecimento sobre estas.
Como é possível refletir a partir de Durham (1998), a perda de prestígio das universidades
públicas e, consequentemente, o ganho de espaço por parte das instituições particulares, não é de
hoje. A restrição do número de vagas e a falta de cursos noturnos obrigou a população a buscar o
ensino privado e, com isso, apenas estudantes de maior poder aquisitivo acessam o ensino público
(Durham 1998). Segundo Sguissardi (2015), no que se refere ao acesso à universidade, o Brasil
possui baixa cobertura quando comparado aos demais países da América Latina, fator determinante
para a expansão do setor privado da educação superior, característica essa reforçada por Lucchesi
(2005). Andrade e col. (2002) ilustram a situação com realidades norte-americanas, com a
instauração de universidades criadas por indústrias, como por exemplo a Universidade Motorola.
Ainda segundo reflexão dos autores, tais instituições não desempenham investigações, haja vista o
custo envolvido nessa atividade, pondo em prática o pensamento de que o conhecimento é obtido
gratuitamente. Já com relação às carreiras pretendidas, 26% optou por cursar Administração e
Direito, seguido por Medicina com 11% e 9% ainda não havia decidido.
De acordo com o Relatório técnico contendo estudo sobre a atual relação oferta/demanda de
cursos de graduação no Brasil, como subsídio ao Conselho Nacional de Educação para a
formulação de políticas públicas que possibilitem a melhor distribuição da oferta de vagas no ensino
superior de graduação, 2013, o curso mais concorrido tanto em instituições de ensino superior
públicas quanto privadas é Medicina. Vargas (2010) discute as profissões imperiais no Brasil, e
coloca Medicina, Direito e Engenharia, cursos bastante citados no questionário do presente estudo,
em posição de destaque. Complementarmente, Nogueira (2004 p. 162) discorre sobre o momento de
escolha do curso superior, e afirma que:

Para se compreender o processo de escolha de um curso superior, tal como vivido por um
indivíduo específico, seria necessário investigar, portanto, como, a partir de uma primeira
versão da realidade, constituída na socialização primária, o indivíduo foi aceitando ou
rejeitando múltiplas influências sociais e, assim, preservando ou transformando, de maneira
mais ou menos radical, sua percepção da realidade.

Nesse sentido, o autor discute que o indivíduo ―sustenta a versão da realidade que lhes
parecesse fazer mais sentido, que fosse mais plausível ou, simplesmente, que fosse mais facilmente
reconhecida como válida‖. Nesse sentido, também foi possível observar que o número de jovens
interessados em ingressar na carreira do magistério foi baixíssimo, muito provavelmente em

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 691


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

decorrência da pouca valorização social da profissão, dos baixos salários, das condições
inadequadas de ensino, da violência nas escolas e da ausência de uma perspectiva motivadora de
formação continuada associada a um plano de carreira atraente. De acordo com os resultados
obtidos em estudo realizado por Tartuce e col. (2010), cujo objetivo era avaliar a atratividade da
carreira docente no Brasil por meio de pesquisa feita com alunos concluintes do ensino médio, a
carreira de docente é menos atrativa do que as demais profissões, e alguns alunos entrevistados
acreditam que essa pode desaparecer futuramente.
Bruno (2008) discute o índice de indecisão dos estudantes acerca da carreira almejada, e
aponta a falta de conhecimento das profissões, em especial em escolas públicas, como um dos
principais problemas. Para Ribeiro (2003) a escola deveria exercer um papel fundamental na
escolha profissional, porém, isso não ocorre. Segundo levantamento do mesmo autor em pesquisa
cujo objetivo era levantar as necessidades dos estudantes de escola pública com relação ao seu
futuro profissional, os jovens alegam que informações sobre mercado de trabalho e as
possibilidades de relacionar suas características socioeconômicas são escassas, daí a importância,
enfatizada pelo estudo, do processo de orientação profissional. Nesse sentido, o presente projeto
procurou atender a esta demanda discutida pelo autor.
Dos estudantes que tinham intenção em ingressar no ensino superior, suas respostas ao
questionamento sobre o motivo podem ser observadas na Figura 2.

27% 26%

1%
5%
13%
6%

11% 11%

Gosto Oportunidades no mercado de trabalho


Admiração ou sonho Sem justificativa
Qualidade de formação Próprio negócio
Motivos diversos Melhores condições de futuro

Figura 1- Por que é importante ingressar no ensino superior

De acordo com estudo realizado na Universidade de Porto (Pereira, 2009), uma das razões
de o indivíduo ingressar no ensino superior é a remuneração. No presente estudo o motivo parece
seguir na mesma direção, haja vista as justificativas dadas, como por exemplo, ―melhores condições
de futuro‖. Já os estudantes que responderam não ter intenção em cursar o ensino superior,
totalizaram 9,4%, sendo que um elevado percentual, 40%, não responderam e 20% preferiam outras
opções, com justificativas como: ―eu prefiro fazer cursos pois faculdade exige muito esforço e
dedicação‖. Ainda de acordo com Pereira (2009), as condições econômicas do estudante como um

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 692


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

importante fator para o abandono dos estudos após conclusão do ensino médio, sendo que, na
ausência de recursos, o indivíduo acaba, até mesmo, em trabalhos precários.
Segundo análise de Lucchesi (2005), o papel da universidade na sociedade vai além de
difundir conhecimento, devolvendo à comunidade suas produções, como por exemplo tecnologias
educacionais para auxiliar no desenvolvimento das escolas públicas. O autor também caracteriza as
instituições de ensino como criadoras e transformadoras da estrutura vigente. Nesse sentido, a partir
do resultado do presente estudo, pode-se observar que ainda é necessário que ambas as instituições
federais invistam mais na participação do seu entorno social, pois muitos jovens da região
desconhecem ambas as universidades. A chegada de uma universidade pública nestas regiões
deveria representar uma conquista para a população local, se considerarmos que o mercado
educacional nestas regiões se caracterizou historicamente pela predominância de cursos de
formação técnica e pela presença de faculdades privadas. Conforme também foi constatado no
presente estudo.

Questionário pós-feira

A análise da categorização das respostas dos questionários evidenciou que, ao serem


questionados sobre os pontos positivos e negativos da feira, 33% dos estudantes gostaram da
proposta do evento, e alegaram que a ―escola nunca havia tido um evento tão interessante‖. Já
quando questionados sobre o impacto da feira em suas decisões, 10% dos estudantes alegaram que
pretendiam seguir adiante com os estudos após o ensino médio, sendo que, uma das justificativas
foi que a feira possibilitou reflexão sobre as possibilidades de acesso ao ensino superior.
De acordo com Alvarenga e col. (2012), existem dois fatores para a dificuldade no ingresso
nas universidades públicas por parte de estudantes advindos de escolas públicas, que são: altas
relações candidato/vaga e recursos financeiros inexistentes para arcar com os custos da permanência
na instituição. Por outro lado, ainda segundo o autor, se optarem pela iniciativa privada, muitas
vezes também não conseguem arcar com os custos, optando dessa forma, por não darem
continuidade aos estudos após conclusão do ensino médio, o que evidencia um sério problema
social. Sguissardi (2015) aponta um importante variável que deve ser levada em conta com relação
ao acesso ao ensino superior por parte de jovens cujas famílias têm renda de até três salários
mínimos, o nível socioeconômico. Segundo o autor, a condição básica para a democratização do
ensino superior e dos demais níveis de educação é a igualdade das condições de acesso e
permanência, daí a importância de programas como Reuni, Prouni e Fies. De acordo com pesquisa
feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 693


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(Andifes) (2011)44, o perfil dos estudantes em universidades federais mudou e, em 2014, os


estudantes pertencentes às classes D e E era de 66,1%, o que evidencia um aumento de 22,1% com
relação a 2010.
No presente estudo foi possível verificar que um dos grandes problemas para o ingresso no
ensino superior, em especial o público, é a falta de conhecimento das instituições, que estão
presentes no município em que se situa a escola, São Bernardo do Campo, e nos dois municípios
vizinhos, Diadema e Santo André. Além do fato que, segundo Perosa e Costa (2015) o número de
estudantes no campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo advindos da escola
privada e com melhores condições socioecômicas ainda é predominante, correspondendo a mais de
60% dos indivíduos. O que corrobora também o resultado que foi observado no presente trabalho.
Por fim, as políticas públicas que equalizem o acesso e a permanência dos estudantes nas
universidades são importantes instrumentos para o alcance do desenvolvimento do país,
principalmente um desenvolvimento que seja sustentável, além de ser o caminho para a
democratização do ensino. O relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) ―Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável 2005-2014‖ enfatiza o papel da educação superior na busca pelo desenvolvimento
sustentável e a caracteriza como: ―A educação superior tem um papel específico a desempenhar. As
universidades devem funcionar com lugares de pesquisa e aprendizagem para o desenvolvimento
sustentável e como iniciadores e polos de atividades nas suas comunidades e também
nacionalmente.‖ Jacobi (2003) discute a importância da educação para a cidadania como uma forma
de sensibilização social acerca da relação homem-natureza e seus impactos e caracteriza a educação
ambiental como uma ―função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-
se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento
sustentável.‖ Reigota (1995) descreve a educação ambiental como uma educação política, para
alcance da justiça social e uma ―nova aliança‖ com a natureza por meio de práticas pedagógicas
dialógicas (Reigota 1995 apud Prigogine e Stengers). Nessa direção, o ensino superior tem seu
papel ressaltado como agente produtor de conhecimento, que permite pensar novos caminhos de se
viver em sociedade (Zottis e col. 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A expansão das universidades constituiu um importante passo para a democratização do


ensino, entretanto, a disseminação de informações sobre a existência de instituições públicas e sobre
os programas de permanência ainda não é universal, em especial quando se trata de regiões

44
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sejam-a-maioria-dos-estudantes-das-universidades-federais/>.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 694


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

afastadas e de difícil acesso. De acordo com Santos e Freitas (2014), há necessidade de


estabelecimento de outras políticas públicas para que o processo seja massificado e que as
condições de ingresso no ensino superior, principalmente por parte de pessoas de baixa renda, sejam
igualitárias e a realidade da expansão seja ampliada.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 698


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO EM


UMA INSTITUIÇÃO FILANTRÓPICA, BARBALHA-CE, BRASIL

Fernanda Custódio CAVALCANTE


Bióloga e Mestra em Bioprospecção Molecular/URCA
Instituto Federal do Maranhão/IFMA (fernanda.custodio@ifma.edu.br)

Adjuto RANGEL JÚNIOR


Biólogo e Mestre em Bioprospecção Molecular/URCA
jr_arangel@hotmail.com
Antonina Jessica Damasceno LUCIANO
Bióloga/URCA
Kyhara Soares PEREIRA
Bióloga/URCA

RESUMO
Projetos de Educação Ambiental são necessários para desenvolver sensibilização e compreensão da
população sobre o meio ambiente. Diante disso, esta pesquisa buscou analisar a influência de ações
socioambientais na percepção e na aquisição de conhecimentos entre crianças e jovens sobre
problemas ambientais e suas causas. Foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa em uma
instituição filantrópica no Município de Barbalha-CE, com 24 crianças e adolescentes do sexo
masculino, com idade entre 10 a 15 anos, todos participantes do time de futebol desta instituição. A
pesquisa consistiu em um pré-questionário para análise da percepção ambiental dos participantes
quanto às questões específicas sobre meio ambiente, sendo realizado no mês de agosto de 2016.
Posterior à aplicação deste questionário, realizou-se um ciclo intensivo de debates, conversas, e
palestras abordando a temática: meio ambiente, problemas ambientais e realidade local, no sentido
de despertar um olhar crítico e transformador nestes jovens. Finalizando, reaplicou-se o mesmo
questionário no final do mês de setembro de 2016 e foi possível perceber que nas perguntas
realizadas houve uma diferença significativa entre as respostas do primeiro questionário para o
segundo, evidenciando a importância das ações em atividades socioambientais envolvendo
Educação Ambiental para disseminação de conhecimento a cerca do Meio Ambiente. Este estudo
apontou que a realização de ações educativas mostra-se como uma ferramenta precisa de
conscientização e estabelecimento de uma cidadania ambiental que necessita de continuidade, visto
que, a partir dessas ações se desenvolve mudanças comportamentais que permitem às pessoas
entender as questões voltadas ao Meio Ambiente e a partir daí, o surgimento de mudanças de
hábitos, favorecendo então a sustentabilidade e preservação ambiental.
Palavras-chave: Meio Ambiente; Sustentabilidade; Educação Ambiental.

ABSTRACT
Environmental Education projects are needed to develop awareness and understanding of the
population about the environment. In view of this, this research sought to analyze the influence of
social and environmental actions on the perception and acquisition of knowledge among children
and young people about environmental problems and their causes. A qualitative research was
carried out at a philanthropic institution in the municipality of Barbalha-CE, with 24 male children
and adolescents aged 10 to 15 years, all of them participating in the soccer team of this institution.
The research consisted of a pre-questionnaire to analyze the environmental perception of the
participants regarding the specific issues on the environment, being carried out in August 2016.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Subsequent to the application of this questionnaire, an intensive cycle of debates, conversations, and
Lectures addressing the theme: environment, environmental problems and local reality, in order to
awaken a critical and transformative look at these young people. Finally, the same questionnaire
was reapplied at the end of September 2016 and it was possible to perceive that in the questions
asked there was a significant difference between the answers of the first questionnaire to the second
one, evidencing the importance of the actions in socioenvironmental activities involving
Environmental Education for Dissemination of knowledge about the Environment. This study
pointed out that the accomplishment of educative actions shows itself as a precise tool of awareness
and establishment of an environmental citizenship that needs continuity, since, from these actions
develop behavioral changes that allow people to understand the issues directed to the Environment
and from there, the appearance of changes of habits, favoring the sustainability and environmental
preservation
Keywords: Environment; Sustainability; Environmental Education.

INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 introduziu pela primeira vez na história do país, um capítulo


específico sobre o meio ambiente, considerando-o como um bem comum do povo e essencial à
qualidade de vida, impondo ao poder público e à coletividade o dever de preservá-lo para as
gerações presentes e futuras (MEDEIROS et al., 2011).
A sociedade pós-moderna, considerada pós-industrial, até os dias atuais, tem exercido uma
pressão sobre os recursos naturais nunca antes vista. Essa demanda por recursos naturais para
produção, em escala cada vez maior, vem pondo em risco não somente os ecossistemas que sofrem
com esse processo, mas o próprio destino da humanidade, havendo comprometimento pelos padrões
insustentáveis de produção e consumo (SILVA, 2014).
Com isso, questões voltadas ao meio ambiente e problemática ambiental nos últimos 40
anos, e os significados que carregam, têm se incorporado profundamente às discussões mais
relevantes da sociedade em geral sendo de preocupação em nível mundial (GERHARDT;
ALMEIDA, 2005). A adoção de estratégias de desenvolvimento sustentável se faz necessário para
entender as relações entre educação, emprego, ambiente e responsabilidade social (RAMOS, 2012).
Deste modo, em abril de 1999, com a lei nº 9795/99, veio o reconhecimento da importância
da Educação Ambiental, oficializada como área essencial e permanente em todo processo
educacional, possibilitando repensar práticas sociais e o papel dos docentes como transmissores de
um conhecimento necessário para que os discentes adquiram uma compreensão eficaz do meio
ambiente global e local, dos problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um
para construir uma sociedade mais igualitária e ambientalmente sustentável (MEDEIROS et al.,
2011; CANTARINO; PENNA, 2014).
A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir
mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

comunidades (JACOBI, 2003). Portanto, se faz necessário incrementar os meios de informação e o


acesso a eles, bem como o papel indutivo de Educadores Ambientais, a fim de promover o
crescimento da consciência ambiental, expandindo a possibilidade da participação popular, como
uma forma de fortalecer sua corresponsabilidade na fiscalização e no controle dos agentes de
degradação ambiental.
Nesse contexto, as ações ocorrem através de diversas interfaces como palestras, cursos,
participação em eventos, orientação para trabalho de campo, visitações em parques, museus ou
horto florestal, além de outras atividades, possibilitando que a Educação Ambiental seja desenhada
com contornos regionais firmes, em processo de conformação, que atravessa departamentos,
instituições e áreas do conhecimento, oferecendo um verdadeiro trabalho interdisciplinar (SILVA,
2012).
A Educação Ambiental contribui para a compreensão fundamental da relação e interação da
humanidade com todo o ambiente e fomenta uma ética ambiental pública a respeito do equilíbrio
ecológico e da qualidade de vida, despertando nos indivíduos e nos grupos sociais organizados o
desejo de participar da construção de sua cidadania (ZITZKE, 2002). Professores e alunos tornam-
se os principais agentes de transformação e conservação do meio ambiente, pois são nas instituições
específicas, escolares ou não, com educação intencional, onde mais se discuti assuntos ambientais, e
prospecta melhorar as condições do Planeta (MEDEIROS et al., 2011).
Portanto, o papel do Educador Ambiental diante de seus alunos deve ser um instrumento de
ação para a conscientização e desenvolvimento de uma postura crítica diante da realidade
ambiental, a fim de construírem uma consciência global das questões relativas ao meio ambiente,
para que possam assumir posições relacionadas com os valores, conservação e melhoria. Desta
forma, o presente estudo objetivou analisar a influência de ações socioambientais para a percepção
e a aquisição de conhecimentos entre crianças e jovens sobre problemas ambientais e suas causas.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado em uma instituição de caráter filantrópico, localizada no


Município de Barbalha-CE. Este município encontra-se situado na Mesorregião do Sul do Ceará,
Microrregião do Cariri, abrangendo uma área de aproximadamente 569,508 km2 e possui cerca de
55.323 habitantes (IBGE, 2010).
A pesquisa foi realizada nos meses de agosto e setembro de 2016. Foram entrevistadas 24
crianças e adolescentes que fazem parte do time de futebol da instituição.
A pesquisa enquadra-se no tipo de abordagem qualitativa, a qual segundo Gerhardt e
Silveira (2009, p. 31, 32) esclarece:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compressão de um grupo social, de uma organização, etc. (...) As
características das pesquisas qualitativas são: objetivação do fenômeno; hierarquização das
ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local
em determinado fenômeno.

Foi aplicado um pré-questionário no mês de agosto, no sentido de investigar a percepção dos


participantes quanto às questões específicas sobre o Meio Ambiente, sendo indagados sobre três
pontos centrais: Questão 1 – Para você, o que é Meio Ambiente?; 2 – Para você, o que são
problemas ambientais?; 3 – Quem são os responsáveis pelo surgimento dos problemas ambientais?.
Subsequente à aplicação do pré-questionário, realizou-se na semana posterior, um ciclo de
intensivos debates, conversas, e palestras abordando a temática: Meio Ambiente; problemas
ambientais e realidade local, no sentido de despertar um olhar crítico e transformador nestes jovens,
com relação ao ambiente natural. No início do mês de setembro a equipe executora retornou à
instituição e reaplicou o mesmo questionário aos mesmos jovens envolvidos no início deste
trabalho, finalizando a pesquisa.
Para que esse estudo seguisse os padrões éticos da pesquisa, todos os participantes foram
questionados se gostariam de participar de forma voluntária, e convidados a assinar o termo de
consentimento livre e esclarecido autorizando o uso das respostas na pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram desta pesquisa, 24 crianças e adolescentes do sexo masculino com idade entre
10 a 15 anos. Nas respostas comparativas, que estão dispostas nas tabelas abaixo, os participantes
foram identificados como: A, B, C, D, E, F, G, H, I, para que houvesse mantido o sigilo dos
mesmos, seguindo o código de ética.
Na primeira pergunta, os alunos foram questionados sobre o que é meio ambiente (Tabela
1), e a grande maioria das respostas foi simples e direta. Os participantes citaram como meio
ambiente ―Plantas‖; ―Vegetação‖; ―Natureza‖; ―Um meio de vida‖; algumas respostas foram mais
amplas, incluindo mais de um recurso ou explicando mais detalhadamente, como: ―O meio
ambiente é parte importante, é o que nos mantém vivos‖. Analisando o segundo questionário, e
comparando as respostas, podemos encontrar uma definição mais elaborada para meio ambiente, ―O
meio ambiente é tudo que está ao nosso redor‖.

Participante QUESTIONÁRIO I QUESTIONÁRIO II


A As plantas e a vegetação etc. A terra, o solo, as pedras, tudo que tem ao nosso redor.
B A limpeza das ruas. É tudo que existe na floresta, como água e solo.
C Não jogar lixo na rua. Terra, água, árvores, tudo.
Tabela 1 - Respostas referentes à questão: Para você, o que é meio ambiente?.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Sobre a pergunta ―Para você, o que é meio ambiente?‖, o segundo questionário apresentou
respostas mais concretas, que englobava uma visão mais ampla: ―O meio ambiente é a terra, o solo,
água, tudo‖; ―O mundo a nossa volta‖; ―Todas as coisas feitas por Deus‖. Cornélius et al. (2011),
em estudo de projetos de Educação Ambiental na escola, perceberam que ao realizarem ações
educativas, promoveram a construção do conhecimento, momentos de reflexão e discussões
coletivas, o espírito de equipe e a autonomia, contribuindo para uma melhor compreensão das
questões ambientais, evidenciando a importância dessas ações socioambientais.
Na questão sobre problemas ambientais (Tabela 2), surgiu um contraponto entre definições
superficiais no primeiro questionário. A evolução do entendimento sobre problemas ambientais
ocorreu a partir do termo poluição. Este termo foi percebido como um pouco restrito, já que não
seguia de exemplos.

Participante QUESTIONÁRIO I QUESTIONÁRIO II


A poluição, desmatamento, lixo no solo, nas ruas e matas
D Poluição e desmatamento.
sendo queimadas.
Esgotos ao ar livre, lixos e Poluição, as matas sendo queimadas, o lixo,
E
poluição. desmatamento, poluição dos rios e mares, etc.
F O lixo, poluição. Lixo, poluição do ar, água, solo, poluição das florestas.
Tabela 2 - Respostas referentes à questão: Para você, o que são problemas ambientais?.

Podemos observar a diferença significativa do questionário I para o questionário II, onde se


observa a influência positiva das ações (discussões, debates e palestras) sobre a visão dos
participantes, aprimorando o conhecimento sobre a questão abordada. De acordo com Silva (2012),
a escola deve iniciar e tratar a Educação Ambiental (EA) a partir dos conhecimentos prévios dos
alunos. Este tipo de aprendizado permite que os alunos analisem a natureza de acordo com as
práticas sociais. Uma análise crítica poderá contribuir profundamente para as mudanças de valores
sobre o cuidado com o meio ambiente.
Por último, os participantes foram indagados sobre quem eles consideravam responsáveis
pelos problemas ambientais (Tabela 3). De maneira diversa, o responsável citado no primeiro
questionário foi: ―O homem‖; ―O governo‖; ―As pessoas ruins‖; ―Os moradores‖; ―Nós seres
humanos‖. No segundo questionário, as respostas continuaram a apontar o Homem como causador
dos problemas ambientais que eles próprios identificaram na segunda pergunta.

Participante QUESTIONÁRIO I QUESTIONÁRIO II


G Nós mesmos. Nós mesmos.
H Os pais das pessoas. Nós.
I O governo. Nós seres humanos.
Tabela 3 - Respostas referentes à questão: Quem são os responsáveis pelo surgimento dos problemas
ambientais?.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Apesar da pouca experiência de vida e de conteúdos científicos específicos das crianças e


adolescentes que participaram do estudo, eles compreendem o ser humano, como agente ativo e
negativo sobre o meio ambiente a partir de suas ações.
Essa compreensão sobre o causador dos impactos ambientais apresentados pelos alunos
possibilita um passo para a inserção da responsabilidade social que todos devem ter, a fim de
minimizar os problemas ambientais e aumentar a sustentabilidade dos recursos naturais.
Construir o conhecimento a partir dos saberes que os alunos já possuem, aumenta as chances
de significado das informações adquiridas para mobilizar o aprendizado em situações reais. Effting
(2007) salienta a importância de o aluno saber lidar com a informação e não simplesmente que a
retenha, para que haja a construção de uma cidadania emancipatória, corresponsável e participativa.
Para Silva (2012), a sociedade precisa perceber-se como parte integrante do processo de
transformação de hábitos, tendo acesso a conhecimentos básicos sobre o meio ambiente que a
auxilie na identificação das principais fontes geradoras de impactos ambientais.
No presente estudo, foi possível observar que os alunos participantes da pesquisa obtiveram
apropriação satisfatória do conhecimento construído a partir das ações socioambientais
desenvolvidas. A interação dos alunos nos debates e palestras, e a ampliação das respostas nos
segundo questionário aplicado, demonstra a aquisição de novos conhecimentos e a aplicabilidade
dessas informações nos hábitos diários que eles próprios discutiram.
Nas discussões estabelecidas, fica claro que a EA deve ser inserida como parte integrante do
processo ensino e aprendizagem de forma continuada para que essas ações sejam disseminadas à
sociedade de forma geral. Gasparin (2006) aborda a metodologia histórico-crítica, a partir da prática
social empírica contextualizada, a fim de chegar a uma nova prática social mais concreta e coerente.

CONCLUSÃO

A Educação Ambiental (EA) durante a formação de crianças e adolescentes possibilita


repensar práticas sociais, e o papel dos professores como transmissores e mediadores da construção
desse conhecimento é fundamental para que os alunos adquiram uma compreensão básica do meio
ambiente global e local.
Ações voltadas à EA pode ser uma estratégia para potencializar a conscientização das
pessoas. Para que isto ocorra, os programas de EA oferecidos a alunos precisam de reflexão e
teorias que permitam distinguir com clareza as perspectivas sobre as quais são construídos os
conceitos relacionados ao Meio Ambiente.
É importante inserir projetos de EA na formação de jovens, através de palestras, cursos,
participação em eventos, visitações em parques, museus ou horto florestal, e que tais projetos

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 704


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

devem ser contínuos para ampliar o conhecimento e gerar a sensibilização das pessoas acerca do
ambiente que os cerca.

REFERÊNCIAS

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Cândido Rondon, 2007. Monografia (Pós-Graduação em ―Latu Sensu‖ Planejamento Para o
Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 706


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E DE TRABALHO DOS CATADORES DE


RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS DO LIXÃO DE PAU DOS FERROS/RN.

Flávia Tiburtino de Andrade SALES


Mestra em Ensino – UERN
flaviatiburtino@hotmail.com
Aurea de Paula Medeiros e SILVA
Mestra em Ciências Florestais – UFRN
aurea-sofia@hotmail.com
Maria do Socorro da Silva BATISTA
Professora Doutora - UFERSA
Socorro.batista@ufersa.edu.br
Geversson Pinheiro Dias Fernandes de MORAIS
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – UFERSA
Geversson93@gmail.com

RESUMO
O estudo que resultou neste artigo se propôs a realizar um diagnóstico das condições
socioeconômicas e de trabalho dos catadores de resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis do lixão
de Pau dos Ferros/RN. Tratou-se de uma pesquisa de campo exploratória de natureza qualitativa
desenvolvida com 12 catadores, no período de agosto de 2016 a abril de 2017, como parte das
atividades do projeto de extensão Coletares do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Campus Pau dos Ferros em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Os dados
foram coletados em três etapas, por meio de pesquisa bibliográfica, aplicação de questionários e
visitas a campo. A pesquisa evidenciou que 75% dos catadores são homens, com faixa etária entre
18 e 32 anos e com ensino fundamental incompleto. 50% trabalham no lixão desde criança,
contabilizando de 11 a 20 anos de trabalho sob uma jornada média de 48 horas semanais debaixo de
sol ou chuva, sem proteção pessoal e expostos a diversos riscos, inclusive com casos de acidentes
com materiais perfuro cortantes, para obter uma renda média de R$500,00 mensais. Dentre as
dificuldades apontadas pelos catadores encontra-se a exposição ao sol, excesso de calor, elevado
esforço físico e o preconceito da sociedade. Contudo, eles têm compreensão da importância social e
ambiental do seu trabalho de catador. Portanto, faz-se necessário agir de modo emergencial para
inseri-los na sociedade concedendo-lhes melhores condições de trabalho e dignidade humana, um
meio seria a implantação de um sistema municipal de coleta seletiva.
Palavras Chave: Resíduos sólidos. Catadores. Condições de trabalho. Coleta seletiva.

ABSTRACT
This study aimed to make an analysis of the socioeconomic conditions of waste collectors who
work with reusable and recyclable material from the landfill in Pau dos Ferros/RN. It is a qualitative
field research developed with twelve collectors. The research occurred in the period from August
2016 to April 2017, this study is an activity, it is a part of extension program called Coletares from
Federal Institute of Education, Science and Technology Campus Pau dos Ferros in collaboration
with the Municipal Secretary of the Environment. We collected data in three steps, by means of
bibliographical research, application of questionnaires and field research. This work notice that 75%
of the waste collector are men, from the age group between eighteen and thirty-two years old and
with the primary grade uncompleted. From the collectors 50% work with waste collection since the

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 707


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

childhood, they count around 11 to 20 years of work under an excessive workload, around 48 hours
per week overcoming many difficulties, without security and exposed to different kinds of danger
like punch materials because they work without gloves, just to obtain a salary around R$ 500,00
monthly. Among other difficulties pointed by the collectors, this work pointed to the sun exposure,
excessive hotness, physical exploration and social exclusion. However, the collectors have
conscience of the importance of their work to society and environment. Therefore, the collectors
need the recognition of their importance now; they need to be recognized and to be reinserted in the
society. The authorities need to implant a municipal system of selective collection that is way to
give dignity to this people.
Keywords: Solid waste. Collectors. Work condition. Selective collection.

1 INTRODUÇÃO

No contexto da sociedade capitalista contemporânea, estamos submetidos à lógica do


consumismo extremo de produtos desnecessários e, consequentemente, na excessiva geração de
resíduos sólidos que tem contribuído para acelerar a degradação ambiental em todos os seus
aspectos.
Na maioria das cidades brasileiras a problemática do lixo não reside apenas na grande
quantidade de resíduos gerados, mas também, na falta de gestão e gerenciamento adequados. De
acordo com Schalch et al. (2002), em nosso país, geralmente o curso dos resíduos sólidos é muito
semelhante, envolvendo apenas atividades de coleta e descarte inadequados em locais distantes dos
centros urbanos. Nesta perspectiva, Angelis, Neto e Soares (2006) afirmam que gerir corretamente
os resíduos sólidos é um grande desafio para os municípios, tendo em vista que existe escassez de
recursos financeiros e/ou a desqualificação do pessoal responsável pelo processo de gerenciamento.
O manejo inadequado dos resíduos sólidos compromete tanto a saúde humana quanto a
ambiental, pois, altera a paisagem, gera odor, contamina o ar, o solo, as águas superficiais e
subterrâneas, além de gerar a proliferação de focos de organismos patogênicos e vetores de
transmissão de doenças, tornando-se um sério problema de saúde pública (SCHALCH et al, 2002).
Este quadro também contribui para agravar um problema de âmbito social, que é a presença de
pessoas de baixa renda em busca de catar no lixo o necessário para sua sobrevivência, o que
intensifica o processo de exclusão social.
Neste contexto, encontra-se o município de Pau dos Ferros/RN que apesar de apresentar
uma elevada produção de resíduos sólidos (aproximadamente 75 t/dia), ainda oferece um processo
de gestão e gerenciamento deficitário, com um atual sistema de manejo e limpeza urbana reduzido
aos serviços básicos de coleta dos resíduos domiciliares e comerciais, de podação, da construção
civil e da saúde (não perfuro cortantes), bem como, dos resíduos provenientes da limpeza das vias
públicas, do sistema de drenagem, das feiras, praças, canteiros e terrenos públicos, com destinação e
disposição final, sem tratamento, em terreno a céu aberto (GOMES, 2015).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 708


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No município supracitado a alta produção de resíduos atrelada a destinação final inadequada


produz diversos impactos ambientais negativos, dentre eles, a presença de catadores de materiais
recicláveis no lixão, sob condições precárias e insalubres de trabalho, que é exercido a céu aberto,
com exposição às variações climáticas e à riscos de acidentes ao manipular os materiais.
Diante do exposto, bem como, da não valorização da profissão do catador que foi
legalmente reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego desde 2002, de acordo com
a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2002), o estudo que resultou neste artigo se propôs a
realizar um diagnóstico das condições socioeconômicas e de trabalho dos catadores de resíduos
sólidos reutilizáveis e recicláveis do lixão de Pau dos Ferros/RN.
A importância ambiental e comercial destes profissionais os tornam peças fundamentais na
implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Assim, torna-se imprescindível
sistematizar o conhecimento desta realidade, pois, é evidente a necessidade de melhorias nas
condições de trabalho, renda, e, consequentemente na qualidade de vida dos catadores.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo tratou-se de uma pesquisa de campo exploratória de natureza qualitativa


desenvolvida com 12 catadores que trabalham no lixão de Pau dos ferros/RN. Considerado o
principal município da região do Alto Oeste, a cidade está situada no interior do estado do Rio
Grande do Norte-RN, a cerca de 392 km da capital, com população estimada em aproximadamente
30 mil habitantes, sendo que 95% desta é urbana (IBGE, 2010).
Este trabalho é resultante de atividades realizadas no período de agosto de 2016 a abril de
2017 pelo projeto de extensão Coletares, desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) - Campus Pau dos Ferros em parceria com a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA). Um dos objetivos do Coletares consistiu em
identificar os catadores que trabalham no lixão da cidade, cadastrá-los e realizar cursos de
capacitação.
Os dados foram coletados em três etapas, por meio de pesquisa bibliográfica, aplicação de
questionários e visitas a campo. A primeira consistiu em fazer um levantamento de documentos e
produções científicas que abordassem a temática de resíduos sólidos, especificamente no município,
para se construir um panorama da situação atual. Durante a segunda etapa realizou-se visitas
regulares ao lixão com o intuito de conhecer os catadores que trabalhavam no ambiente, apresentar
os objetivos do projeto, cadastrá-los e incentivá-los a participar dos cursos de capacitação.
Na terceira etapa foi realizado, nas dependências do IFRN Campus Pau dos Ferros, no
período noturno, o primeiro curso de capacitação sobre segurança do trabalho com entrega de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI‘s). Ao final do curso realizamos com todos os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

participantes a aplicação individual do questionário, que era composto de questões objetivas e


subjetivas sobre aspectos sociais, econômicos, ambientais e de saúde dos catadores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em diagnóstico45 realizado no ano de 2015 foi constatado que no município de Pau dos
Ferros há uma produção de resíduos sólidos que fica acima da média nacional, em torno de 2,08 Kg
por habitante ao dia (GOMES, 2015). Em pesquisa semelhante realizada por Silva e Alves (2011),
os resultados são mais alarmantes. Segundo os autores, os resíduos sólidos produzidos pelo
comércio, pelos hospitais e pelo setor da construção civil chega a um total de 165.000 kg, o
equivalente a 6,46 kg por habitante ao dia, sendo que este valor pode oscilar entre 30% a 40% a
mais nos meses festivos. Essa quantidade exacerbada talvez seja justificada pelo fato do município
ter 95% de sua população na zona urbana e por ser um polo regional para os setores da saúde,
educação e comercio, o que promove um alto fluxo de pessoas dos municípios vizinhos, isso tudo
sem falar nos demasiados padrões de consumo.
Toda esta elevada produção de resíduos sólidos é despejada como rejeito, sem passar por um
tratamento, em terreno a céu aberto à apenas 2,6 km do início da zona urbana, a 1,5 km do Rio
Apodi-Mossoró e a 800 m do Riacho Cajazeiras. Desse modo, fica evidente que o município em
referência está indo de encontro as indicações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
instituída pela Lei no 12.305/2010, que orienta uma gestão integrada e um gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, de modo que, os planos e ações considerem de
forma holística as dimensões ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública
(BRASIL, 2012).
Com relação aos catadores constatou-se a existência de três categorias, a saber: os que
trabalham nas ruas revirando os sacos de lixo antes do caminhão coletor passar; os próprios garis
que ao fazer a coleta dos resíduos já separam os recicláveis de seu interesse; e os que compuseram
nosso objeto de estudo que foram os que buscam seu material somente no lixão. Nesta última
categoria encontram-se, dentre homens e mulheres, cerca de 20 catadores dos quais cinco são da
mesma família e compõem a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Agamenon
Reciclagem (ACAMARA), que foi criada em 2013 por incentivo da Prefeitura, porém nunca
funcionou por falta de conhecimento técnico dos seus associados e hoje se encontra desativada.

3.1 Perfil demográfico e socioeconômico dos catadores pesquisados

45
Este diagnóstico foi realizado com o objetivo de traçar o panorama da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos no
município de Pau dos Ferro com vistas a elaboração do PMSB.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A pesquisa evidenciou que 75% dos catadores do lixão são do sexo masculino, enquanto os
outros 25% são do sexo feminino. A maioria (83%) possuía idade entre 18 e 32 anos, sendo que,
apenas 17% apresentaram idade entre 51 e 60 anos. Em relação ao grau de escolaridade dos
pesquisados, 75% possuem apenas o ensino fundamental incompleto (Gráfico 1). Desse modo,
percebe-se claramente que a grande maioria dos catadores são homens, jovens e com baixa
escolaridade, o que nos remete a uma reflexão acerca da precariedade do sistema educacional em
nosso país que se somando às deficiências das demais políticas sociais ainda produz um contingente
populacional à margem do processo de escolarização e formação profissional.

Gráfico 2 – Gênero e faixa etária dos catadores pesquisados.


90% 83%
80% 75% 75%
70%
60%
50%
40%
30% 25%
17% 17%
20%
8%
10%
0%
Gênero Idade Escolaridade

Masculino Feminino 18-32


51-60 Analfabetos Fundamental incompleto
Fundamental completo

Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

Em relação as condições de moradia, 75% dos catadores residem no bairro Manoel Deodato,
situado na periferia da cidade, próximo ao lixão e que abriga a população de baixa renda. Os demais
residem no bairro São Benedito, que é o mais populoso do município e faz divisa com o Manoel
Deodato. Fica evidente que um número expressivo dos pesquisados residem na área mais carente do
município, retratando o quadro de pobreza no qual estão inseridos.
Na Tabela 1 pode-se observar que 83,3% dos catadores são casados e todos possuem filhos,
sendo que 58,3% tem no máximo dois filhos. Entretanto, a maioria destes (66,7%) já casaram ou
não estão em idade escolar. Constatou-se que 50% dos pesquisados possuem residência própria e
que em 75% das residências habitam entre 4 e 5 pessoas da mesma família. Todas as habitações têm
energia elétrica, coleta de resíduos sólidos e esgotamento sanitário, embora este seja veiculado de
modo inadequado.

Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos catadores pesquisados


Variáveis No %

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Estado civil
Casado 10 84
Separado 1 8
Solteiro 1 8
Número de filhos
1a2 7 58
3a5 4 34
Mais de 5 1 8
Idade escolar
Sim 8 66
Não 4 34
Casa própria
Sim 6 50
Não 6 50
No de moradores por residência
2 a 3 moradores 3 25
4 a 5 moradores 9 75
Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

3.2 Condições de trabalho e percepção de riscos à saude dos catadores

Em relação as condições de trabalho e renda, 50% trabalham no lixão desde criança, não
tendo, desse modo, exercido outra atividade anteriormente. Os demais chegaram a trabalhar em
outras profissões, mas ao ficarem desempregados a única oportunidade que encontraram para
sobreviver foi a de catar material reciclável no lixão. Dentre os pesquisados, 34% contabilizou entre
11 e 20 anos de trabalho, sob uma jornada média de 48 horas semanais debaixo de sol ou chuva,
sem proteção pessoal e expostos a diversos riscos (Tabela 2). Mesmo sob tais condições parte dos
catadores (42%) afirmam gostar do trabalho que realizam, pois preferem trabalhar para si do que
terem que se submeter a regimes patronais. Ou seja, fazem opção pela autonomia em relação a
jornada de trabalho, embora esta seja extensa e desgastante, conforme demonstrado anteriormente.

Tabela 2: Condições de trabalho e renda dos catadores pesquisados


Variáveis No %
Tempo de trabalho como catador
Menos de um ano 2 16
De 2 a 5 anos 3 25
De 8 a 10 anos 3 25
De 11 a 20 anos 4 34
Profissão anterior
Auxiliar de pedreiro 4 34
Auxiliar de cozinha 1 8
Motorista 1 8
Sempre foi catador 6 50
Renda com a venda do material
R$500,00 a R$600,00 9 75
Acima de R$700,00 3 25
Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

O deslocamento até o local de trabalho é realizado de moto por 67% dos catadores ou a pé
por 33% deles. Verificou-se também que os principais materiais coletados são papel/papelão,

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 712


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

plásticos, alumínios, cobre, bronze e alguns tipos de vidro. Assim, os catadores conseguem separar
uma média de 300 kg de recicláveis ao dia, o que gera um rendimento mensal de R$ 500,00 a R$
600,00 com a venda do material coletado, segundo afirmou 75% dos pesquisados. Contudo metade
dos catadores declararam possuir outra fonte de renda, como bolsa-família (42%) e criação de
porcos (8%).
Todo o material coletado é armazenado ao lado do lixão em um terreno a céu aberto,
adquirido pelos catadores associados da ACAMARA, para ser vendido a atravessadores do próprio
município ou de municípios vizinhos. O fato deles não venderem os recicláveis direto para a
indústria é um dos fatores que contribui para a baixa renda apresentada acima, pois a passagem pelo
atravessador reduz a potencialidade lucrativa de venda do material coletado. Outro fator é a redução
da quantidade de resíduos recicláveis que chega ao lixão, devido a ação de outros catadores nas ruas
e garis que fazem uma pré-seleção dos materiais mais rentáveis como as latas de alumínio que
chega a custar R$ 2,50 o quilo.
Quanto aos riscos à saúde dos catadores, 66% afirmou ter sofrido algum tipo de acidente
durante o trabalho, sendo a maioria do tipo cortes com materiais perfuro cortantes, inclusive de
origem hospitalar (Gráfico 2). Fica evidente que os catadores estão expostos a diversos riscos
ocupacionais, principalmente os que estão relacionados a aquisição de doenças. No entanto, 50%
ainda acha que não há perigo algum nesta atividade laboral e 92% afirmam não ter nenhum
problema de saúde. Ou seja, mesmo reconhecendo o risco que correm, inclusive com acidentes
vivenciados, os catadores não percebem a dimensão do perigo a que estão expostos principalmente
por não utilizarem EPI‘s e ainda se consideram saudáveis.

Gráfico 2 – Percepção dos catadores quando aos riscos à saúde provenientes do trabalho

100% 92%
90%
80%
66% 67%
70%
60% 50% 50%
50%
40% 34%
30%
20% 8% 8%
10%
0%
Sofreu acidente Tipo de acidente Trabalhar na catação é Possui algum problema
perigoso de saúde

Sim Não Corte Picada de inseto/animal

Fonte: Pesquisa de campo, 2017.


Os pesquisados também apontaram as principais dificuldades enfrentadas no trabalho de
catação, que foram: a exposição ao sol, excesso de calor, elevado esforço físico devido à grande
quantidade de peso que precisam transportar e o preconceito social. A exclusão social, o
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 713
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

preconceito e a desvalorização deste segmento de trabalhadores são apenas algumas das


consequências das desigualdades de uma sociedade pautada na exclusão e exploração, deixando-se
cair por terra o respeito e o direito à cidadania em sua plenitude.
Na Figura 1 é possível observar alguns catadores realizando a coleta (A) enquanto outros
fazem a triagem do material à sombra do Pereiro (B), também foi observado o preparo de alimentos
sem quaisquer condições higiênicas com alimento coletados no próprio lixão (C) e a criação de
porcos no local, que são alimentados com os resíduos orgânicos também coletados no lixão (D).

Figura 1 – Ambiente e condições de trabalho dos catadores do lixão de Pau dos Ferros.

Fonte: Autoria própria, 2017.

Os pesquisados também foram indagados quanto a importância do trabalho de catador para a


sociedade. As respostas foram relacionadas a contribuição deles para a limpeza das ruas e a retirada
de materiais que iriam prejudicar o meio ambiente. É interessante ressaltar que apesar da baixa
escolaridade, eles têm uma percepção de que fazem um trabalho social e ambientalmente
importante, pois como resultado de seu trabalho a indústria da reciclagem movimenta bilhões, as
prefeituras economizam com os serviços de coleta e disposição final dos resíduos sólidos e o
ambiente agradece. Em que pese tal reconhecimento, necessário se faz que registremos o fato de
que os benefícios proporcionados pelo trabalho dos catadores não retornam para os mesmos em
forma de políticas públicas que sejam capazes de atenuar a precariedade das suas condições de vida,
conforme demonstrado ao longo deste trabalho.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Constatou-se que a maioria dos catadores participantes deste estudo são jovens que
nasceram e foram criados dentro da realidade do lixão. São pessoas de baixa escolaridade, de baixa
renda e residentes da periferia urbana, que por meio de um trabalho árduo, insalubre e cheio de
riscos estão em busca da sobrevivência. Trata-se de uma população alvo de preconceitos e
submetida a condições de trabalho indignas para qualquer ser humano.
Esta realidade presente em praticamente todos os municípios do Brasil, revela que ainda há
pouco reconhecimento das gestões públicas no que se refere a importância do trabalho dos
catadores, não apenas como fonte de renda, mas como contribuição à proteção do ambiente. A
ausência de iniciativas públicas que valorize esse tipo de trabalho, segrega um segmento
populacional que além de afetado pela precariedade das condições de trabalho, sofre com o
preconceito social, pois são vistos como aqueles e aquelas que lidam com o supostamente
descartável, inútil e sujo. Portanto, faz-se necessário agir de modo emergencial para inseri-los na
sociedade concedendo-lhes melhores condições de trabalho.
Neste contexto, entende-se que a implantação de um sistema municipal de coleta seletiva
juntamente com o fortalecimento da já existente associação de catadores contribuiria para melhoria
da qualidade ambiental e da qualidade de vida destes trabalhadores, tendo em vista que, os resíduos
seriam separados e adequadamente acondicionados na fonte geradora, onde seriam coletados com
reduzidos riscos de danos à sua saúde.

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http://www.mma.gov.br/estruturas/182/_arquivos/manual_de_residuos_solidos3003_182.pdf>
Acesso em: 30 de jun de 2017.

CBO 2002 – Classificação Brasileira de Ocupações – nomeia e descreve as ocupações do mercado


de trabalho CBO94 – Portaria 397 de 9/out/2002. Ministério do Trabalho e Emprego – Governo
Federal.

GOMES, Loiane Tamara dos Santos Alves. Plano Municipal de Saneamento Básico do município
de Pau dos Ferros/RN: Subproduto F - Serviço de Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
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Copirn, 2015. 111 p.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 715
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censo Demográfico 2010. Disponível em: <
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240940&search=rio-grande-do-
norte|pau-dos-ferros> 15 de jun de 2017.

SCHALCH, V. et al. Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos. 93 f. Universidade de São


Paulo Escola de Engenharia de São Carlos, 2002. Disponível em:
<http://www.deecc.ufc.br/Download/Gestao_de_Residuos_Solidos_PGTGA/Apostila_Gestao_e
_Gerenciamento_de_RS_Schalch_et_al.pdf>. Acesso em: 20 jun 2017.

SILVA, Alcimária Fernandes da; ALVES, Agassiel de Medeiros. Considerações acerca do processo
de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos em Pau dos Ferros-RN. Revista Geotemas, Pau
dos Ferros, v. 1, n. 2, p.53-67, jul. 2011. Semestral. Disponível em:
<http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/view/141/0>. Acesso em: 28 jun 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRATICANDO A SOLIDARIEDADE ATRAVÉS DE UMA HORTA ESCOLAR: O


CASO DO IFCE CAMPUS JUAZEIRO DO NORTE - CEARÁ

Girlaine Souza da Silva ALENCAR


Profa. Dra. Titular em Ciências Ambientais do IFCE-Campus Juazeiro do Norte
girlainealencar@gmail.com
Francisco Hugo Hermógenes de ALENCAR
Prof. Dr. Titular em Ciências Agrárias do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
hugohermogenes@gmail.com
Beatriz Dias PINTO
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
beatrizdiazpt@gmail.com
Juliane Fernandes dos SANTOS
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
juhnandez@gmail.com

RESUMO
Com a Revolução Verde, houve um incremento de ―tecnologias‖ baseadas no uso de insumos
químicos, maquinários agrícolas, sementes geneticamente modificadas, sistemas de irrigação e
monocultura. O uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras, a contaminação do solo, das águas e do
homem tornou-se inevitável. Na perspectiva de minimizar os impactos socioambientais causados
pelo uso intensivo de insumos químicos pela agricultura convencional, surge a agricultura orgânica.
A horta orgânica é o cultivo de verduras, frutas, legumes e ervas condimentares sem o uso de
sementes modificadas, fertilizantes e agrotóxicos, utiliza práticas sustentáveis como compostagem,
adubação verde e orgânica para manter a fertilidade do solo e compostos alternativos no combate de
pragas e doenças. Nesta perspectiva, surge o Projeto Horta Solidária, cujo objetivo é difundir
princípios agroecológicos produzindo frutas, hortaliças e ervas condimentares contando com a
solidariedade da comunidade acadêmica, que doará parte das suas horas livres ao Projeto. A
implantação no Campus Juazeiro do Norte, teve início em 2012. A construção dos primeiros
canteiros e plantio de mudas e sementes foram realizados pelos alunos do Técnico em Eletrotécnica
e Edificações e de Engenharia Ambiental e a colaboração de dois diaristas para a construção dos
canteiros e a limpeza da área. Inicialmente, a área total era de 180m2, mas um Projeto de
Agroecologia também foi incorporado e atualmente possui o dobro da área inicial. Os canteiros de
tijolos foram substituídos por canteiros de garrafas PET. O local que antes ficava escondido e
causava poluição visual, hoje tem se tornando ponto de encontro. Têm-se percebido que está
havendo a multiplicação da experiência fora do ambiente escolar. Muitos alunos, professores e
funcionários tem feito suas próprias hortas em casa. Os voluntários participam ativamente e
multiplicam a experiência no ambiente familiar. Espera-se que à longo prazo, este Projeto seja
multiplicada em outros Campi do IFCE.
Palavras-chaves: Agroecologia; Produção Orgânica; Trabalho Voluntário; Cooperação.
ABSTRACT
With the Green Revolution, there was an increase in "technologies" based on the use of chemical
inputs, agricultural machinery, genetically modified seeds, irrigation systems and monoculture. The
intensive use of agrochemicals in the crops, contamination of soil, water and man has become
inevitable. In the perspective of minimizing the socio-environmental impacts caused by the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

intensive use of chemical inputs by conventional agriculture, organic agriculture appears. The
organic vegetable garden is the cultivation of vegetables, fruits, vegetables and herbs without the
use of modified seeds, fertilizers and agrochemicals, uses sustainable practices such as composting,
green and organic fertilization to maintain soil fertility and alternative compounds in pest and
diseases. In this perspective, the Solidarity Vegetable Project arises, whose objective is to spread
agroecological principles producing fruits, vegetables and condiment herbs counting with the
solidarity of the academic community, which will donate part of their free hours to the Project. The
construction of the first seedbeds and planting of seedlings and seedlings were carried out by the
students of the Technician in Electrotechnics and Buildings and of Environmental Engineering and
the collaboration of two day laborers for the construction of the beds and Cleaning the area.
Initially, the total area was 180m², but an Agroecology Project was also incorporated and currently
has double the initial area. The brick beds were replaced by PET bottles. The place that was hidden
before and caused visual pollution today has become a meeting point. It has been realized that there
is a multiplication of experience outside the school dependences. Many students, teachers and staff
have done their own home gardens. Volunteers actively participate and multiply the experience in
the family circle. It is hoped that in the long run, this Project will be multiplied in other IFCE
Campi.
Key-words: Agroecology; Organic Production; Volunteering Work; Cooperation.

INTRODUÇÃO

A partir da segunda metade do século XX, o setor agrícola teve um intenso


―desenvolvimento‖ tecnológico, conhecido como ―Revolução Verde‖ que resultou em intensas
mudanças neste setor. Com o objetivo de aumentar a produtividade, esta ―revolução tecnológica‖
baseou-se em técnicas produtivas que utilizam insumos químicos, máquinas, sementes
geneticamente modificadas, sistemas de irrigação e monocultura.
O cultivo com agroquímicos passou a ser chamado de ―agricultura convencional‖. As
tecnologias desenvolvidas para esse tipo de sistema não levou em consideração os diferentes
ecossistemas, e a degradação do ambiente foi inevitável.

Na medida em que o homem avança, no seu anunciado objetivo de conquistar a natureza,


ele vem escrevendo uma sequência deprimente de destruições; as destruições não são
dirigidas apenas contra a terra que ele habita, mas também contra a vida que compartilha o
globo com ele (CARSON, 1962, pág. 95).

As modificações ocorridas pela agricultura com o advento da Revolução Verde e com a


intensa utilização dos agrotóxicos nas lavouras, a contaminação do solo, das águas e do homem
tornou-se inevitável. Esta contaminação ocorre através da lixiviação dos agrotóxicos pela água da
chuva e/ou pelo excesso de irrigação das culturas. As vias de contaminação pelo Homem se dão de
várias formas, as mais frequentes são: ingestão, inalação, absorção e contato dérmico.

No afã de auferir lucros descabidos, a ganância da poderosa e iniciante indústria química,


chegou a fazer a população de consumidores ―comer‖ produtos banhados em inseticidas
que, originalmente, foram utilizados como armas químicas no palco mortal da guerra
(FONTES, 2010).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em grande parte dos casos, o solo é o receptor primário dos agrotóxicos, contaminando
assim todo o ambiente. Apesar do solo estar em constantes modificações devido às influências
naturais como o clima, catástrofes, o principal fator destas modificações é a interferência antrópica.
A adição de quaisquer substâncias no solo poderá alterar suas características originais. A utilização
de agrotóxicos e produtos afins deve ser analisado com cautela levando em conta os possíveis
efeitos adversos que estas substâncias podem causar.

[...] agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos,


utilizados nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas,
pastagens, proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de
ambientes urbanos, hídricos e industriais (MMA- 2012).

Os agrotóxicos entraram na agricultura com a intenção de livrar (grifo nosso) as lavouras de


produção de possíveis pragas. A utilização desses insumos químicos teve início na década de 1920.
Entretanto, no Brasil o uso destas substâncias foi intensificado a partir da década de 1960 e
atualmente ocupa o primeiro lugar na utilização de agrotóxicos do mundo. (CNS, 2012).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, através do Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos –PARA, avaliou em 2010 resíduos de agrotóxicos em 2.488
amostras dos 18 tipos de alimentos mais consumidos pelos brasileiros. O estudo concluiu que
91,8% das amostras de pimentão, 63,4% das amostras de morango, 57,4% das amostras de pepino,
e 54,2% das amostras de alface, dentre outras, apresentaram resíduos de agrotóxico acima do limite
máximo permitido.
Segundo a EMBRAPA (2012), são usados anualmente 2,5 milhões de toneladas de
agrotóxicos no mundo. No Brasil o consumo anual mostra-se superior a 300 mil toneladas, a média
geral passou de 0,8 kg i.a. ha-1, em 1970, para 7,0 kg i.a. ha-1, em 1998. A região Nordeste apresenta
demanda de aproximadamente 6% do consumo de agrotóxicos, em que grande quantidade é
utilizada nas áreas de agricultura irrigada.
Na perspectiva de minimizar os impactos socioambientais causados pelo uso intensivo de
insumos químicos pela agricultura convencional, surge a agricultura orgânica. Para Ruscheinsky
apud Silveira-Filho (2002), este caminho é indispensável para se alcançar ―uma agricultura mais
autossustentável e menos agressiva à natureza‖, além de trazer ―benefícios para quem produz, para
quem consome e para o conjunto do meio ambiente.‖
Horta é o termo dado ao local onde são cultivadas as hortaliças. As hortaliças são espécies
de plantas comestíveis de alto valor nutritivo que genericamente são chamadas de legumes ou
verduras.

Hortaliças é o nome comum dado a mais de 100 espécies de plantas (erradamente chamadas
de legumes ou verduras) das quais se utilizam diferentes partes na alimentação, dependendo
da espécie. De alto valor nutritivo, são consumidas cruas ou cozidas, ou ainda
industrializadas e como condimentos (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2012).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A horta orgânica é o cultivo de verduras, frutas, legumes, temperos e ervas medicinais sem o
uso de produtos transgênicos e químicos como fertilizantes e agrotóxicos. Esta prática utiliza
processos sustentáveis como compostagem, adubação verde e orgânica para manter a fertilidade do
solo e compostos alternativos no combate de pragas e doenças.
A produção e consumo de alimentos orgânicos deixou de ser ―moda‖ e passou a ser medida
saudável pelos consumidores em busca de qualidade de vida. Nacionalmente o mercado dos
orgânicos cresce em média 20% ao ano.
Para Riva (2012), o crescimento do setor nos principais mercados mundiais sinaliza que os
orgânicos não são mais um ―nicho de mercado‖, mas sim uma tendência mercadológica. Segundo
ele, as pequenas propriedades são as mais beneficiadas, pois proporciona uma boa rentabilidade e
possibilita um consumo de alimentos saudáveis e sustentáveis pelos consumidores e pelos
produtores.
A Horta Escolar relaciona diversos conteúdos, permitindo a prática da interdisciplinaridade,
além de permitir que os discentes compartilhem experiências vivenciadas no seu cotidiano e adote
hábitos saudáveis que podem ser multiplicados no ambiente familiar.
Nesta perspectiva, surge o Projeto Horta Solidária, cujo objetivo é difundir princípios
agroecológicos produzindo frutas, hortaliças e condimentos contando com a solidariedade da
comunidade acadêmica, que doará parte das suas horas livres ao Projeto, regando, plantando e
colhendo.

METODOLOGIA

Caracterização da área

O município de Juazeiro do Norte, localiza-se no extremo Sul do Ceará. Possui uma


população de 249.939 habitantes, onde 96,07% reside na zona urbana (IBGE,2010). Faz fronteira ao
Norte com Caririaçu, ao Sul com Crato, Barbalha, Missão Velha, a Leste com Missão Velha,
Caririaçu e a Oeste com Crato (Figura 1).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Localização do município de Juazeiro do Norte - CE


Fonte: Dados do IBGE. Elaboração: Autor,2017.

O clima predominante é o Tropical Quente Semiárido e Tropical Quente Semiárido Brando,


com temperatura média variando entre 24 e 26 °C. A precipitação pluviométrica média anual é de
925,1 mm e o período chuvoso ocorre de janeiro a maio (IPECE,2006).
O município é um importante polo calçadista e varejista do estado. Possui diversos Campi
Universitários, Aeroporto e importante turismo religioso ligado à figura do Padre Cícero Romão
Batista que impulsiona a economia local.
Em 1994, devido a demanda por Ensino Técnico na região, foi criada uma Unidade de
Ensino Descentralizada (UNED) do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET)
em Juazeiro do Norte, que em 2008 foi transformado no Campus Juazeiro do Norte do Instituto
Federal do Ceará (IFCE). Com área total é de 50.000m2, possui Restaurante Acadêmico, Piscina,
Auditório, dentre outras edificações. Atualmente conta com 1.738 alunos distribuídos em 3 cursos
Técnicos, 5 cursos Superiores e uma Especialização.
Devido à grande quantidade de edificações, a área disponível para implantação da Horta era
destinada a depósito de entulhos de construção (Figura 2).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2: Localização da Horta Solidária.


Fonte: IFCE/Campus juazeiro do Norte (Adaptado), 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implantação da Horta no Campus Juazeiro do Norte, teve início em 2012. A capina,


construção dos primeiros canteiros e plantio de mudas e sementes foram realizados por alunos dos
cursos Técnico em Eletrotécnica e Edificações e de Engenharia Ambiental e a colaboração de dois
diaristas para a construção dos canteiros e a limpeza da área. As sementes e mudas foram doadas
pela comunidade acadêmica. Os materiais utilizados para os primeiros canteiros foram sobras de
material de construção, garrafas PET, pneus e corpos de prova utilizados em aulas práticas do curso
Técnico em Edificações (Figura 3).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3: Construção dos canteiros.


Fonte: Arquivo do Projeto, 2012.

Inicialmente, a área total era de 180m2, mas um Projeto de Agroecologia também foi
incorporado e atualmente o Projeto possui o dobro da área inicial.
Os canteiros de tijolos foram substituídos por canteiros de garrafas PET onde foram
cultivadas hortaliças e ervas condimentares (Figura 4). As garrafas Pet foram doadas pela
comunidade escolar.

A B
Figura 4: Vista panorâmica da Horta (A); Canteiro de Manjericão (B).
Fonte: Arquivo do Projeto, 2017.
Foram plantadas também frutíferas, plantas nativas e diversas mudas doadas pela
comunidade (Figura 5). Tudo o que é colhido é destinado ao Restaurante Acadêmico. Todo o chá
servido nos setores do Campus também é resultante das ervas colhidas na Horta.

A C
Figura 5: Colheita: Mamão (A), Capim Santo (B) e Alecrim (C).
Fonte: Arquivo do Projeto, 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O adubo utilizado é resultante da compostagem dos resíduos das capinas do Campus e de


esterco doado pelo IFCE/Campus Crato.
A irrigação é realizada com auxílio de mangueiras distribuídas ao longo da área, adquiridas
através de doações da comunidade escolar.
O controle fitossanitário, é realizado mediante a aplicação de defensivos alternativos
naturais devido ao baixo custo e menor impacto ambiental. São utilizados Nim indiano para
combater pulgões e gergelim para combater formigas.
O acompanhamento diário é feito com a participação de dezesseis alunos voluntários de
vários cursos do Campus que colaboram com a manutenção do Projeto e um bolsista remunerado
(Figura 6).

Figura 6: Manutenção da Horta, realizada por voluntários.


Fonte: Arquivo do Projeto, 2017.

Toda a comunidade foi convidada a se integrar ao Projeto: técnicos administrativos,


professores e colaboradores, entretanto, até o momento, somente os alunos participam ativamente
do Projeto.
O local que antes ficava escondido e causava poluição visual, hoje tem se tornando ponto de
encontro. Nas rodas de conversa, têm-se percebido que está havendo a multiplicação da experiência
fora do ambiente escolar. Muitos alunos, professores e funcionários tem feito suas próprias hortas
em casa. Outro ponto importante é a troca de mudas e sementes, resgatando o lado solidário dos
quintais produtivos, onde há troca e doações de plantas.
Um dos problemas identificados no decorrer do Projeto, é a irrigação nos períodos de
recesso e férias escolares. Nessas ocasiões, pede-se a colaboração de alunos e pais que moram nas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

proximidades do Campus e dos funcionários contratados pelo Campus, para fazer as regas. Até o
momento tem havido uma boa participação de todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A execução do Projeto Horta Solidária do IFCE/Campus Juazeiro do Norte tem sido uma
agradável e exitosa experiência, onde a solidariedade é prática diária. Voluntários participam
ativamente do Projeto e multiplicam a experiência no ambiente familiar. Espera-se que à longo
prazo, este Projeto seja multiplicada em outros Campi do IFCE.

REFERÊNCIAS

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica de Esclarecimento sobre o Risco
de Consumo de Frutas e Hortaliças Cultivadas com Agrotóxicos. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/d0c9f980474575dd83f3d73fbc4c6735/nota+tecni
ca+risco+consumo+frutas+e+hortalicas.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 04 out. 2012.

CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. 2ª Ed. São Paulo: Portico, 1969. 285 p.

CNS, Conselho Nacional de Saúde. Consumo de agrotóxicos cresce no Brasil. Brasil - 2005.
Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2005/consumoagrotoxico.htm>.
Acesso em: 12 set. 2012.

EMBRAPA, Agência de Informação. Agrotóxicos no Brasil. Distrito Federal - 1998. Disponível


em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/arvore/CONTAG0
1_40_210200792814.html>. Acesso em: 24 set. 2012.

EMBRAPA, Hortaliças. Horta em pequenos espaços. Rio de Janeiro- RJ. Disponível em:
<http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/outros/Horta_em_pequenos_espacos.p
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1, p.136-140, 2010. Disponível em:
<http://www.uniabc.br/site/revista/pdfs/3/11_Primavera_Silenciosa.pdf>. Acesso em: 20 set.
2012.

IBGE. População do censo demográfico 2010. Disponível em:


https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_cea
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 725


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

IPECE- Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Perfil Básico Municipal – Juazeiro
do Norte. 2006. Disponível em:
http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2006/Juazeiro%20do%20Norte.pdf

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Agrotóxicos. 2012. Disponível em:


<http://www.turminha.mpf.gov.br/para-o-professor/para-o-professor/publicacoes/Manual-da-
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RIVA, Ludovico da. Orgânicos em alta: Produtos orgânicos têm crescimento nos principais
mercados internacionais. 2011. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/setor/horticultura/agricultura-organica/o-que-
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SILVEIRA FILHO, José. A sustentabilidade socioambiental das hortas orgânicas escolares da


Prefeitura Municipal de Fortaleza.2002. Disponível em:
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 726


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GEOGRAFIA: CAMINHOS HOLÍSTICOS E CRÍTICOS


PARA A DISCUSSÃO ACERCA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Hugo Aureliano da COSTA


Mestrando no programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRN
aureliano.hugo@gmail.com

RESUMO
Objetivando sensibilizar os alunos acerca dos compromissos individuais e coletivos para com o seu
ambiente, além de fomentar uma discussão acerca da destinação de resíduos sólidos, o presente
trabalho apresenta uma experiência de ensino-aprendizagem voltada para o fortalecimento dos
deveres sociais perante ao meio ambiente, com uma visão crítica e holística deste. Inserido nas
atividades de práticas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID-
Geografia), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, as experiências das quais trata este
artigo pautaram-se nos seguintes procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica com autores
da pedagogia marxista, da teoria da complexidade e da Educação ambiental a fim de ter um corpo
teórico coeso; planejamento da atividade e oficina de resíduos sólidos, que ocorreram em algumas
escolas, como a Escola Estadual Mascarenhas Homem e a Escola Estadual Jerônimo Gueiros,
localizadas no município de Natal/RN. Dessa forma, a Educação Ambiental, em sala de aula, pôde
ser tratada com uma discussão holística, crítica e apresentando um objeto de intervenção na
realidade como resultado dessas discussões, a fim ajudar os alunos a pensar a partir de uma
aprendizagem mais cidadã na forma em que eles veem o meio ambiente. As oficinas realizadas
podem ser avaliadas, de modo geral, como positivas, uma vez que foi possível durante a atividade
problematizar sobre temáticas do mundo globalizado atual, o consumismo na sociedade, questões
públicas e privadas, além de apontar problemas como o acondicionamento dos resíduos sólidos em
locais impróprios. Analisar criticamente os problemas sociais, ambientais, políticos e econômicos é
um dever do homem deste século. Diante disso, é necessário que todas as dimensões sociais atuem
no sentido de propor soluções, com viés holístico e crítico, que resolvam as questões sociais – entre
elas a problemática ambiental – em curto e em longo prazo, a fim de contribuir para o bem-estar da
coletividade.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Ensino de Geografia; Meio ambiente; Resíduos sólidos;
Complexidade.
RESUMEN
Con el objetivo de sensibilizar a los alumnos acerca de los compromisos individuales y colectivos
hacia su entorno, además de fomentar una discusión sobre el destino de residuos sólidos, el presente
trabajo presenta una experiencia de enseñanza-aprendizaje orientada al fortalecimiento de los
deberes sociales ante el medio ambiente, Con una visión crítica y holística de éste. En las
actividades de prácticas del Programa Institucional de Beca de Iniciación a la Docencia (PIBID-
Geografía), de la Universidad Federal de Rio Grande do Norte, las experiencias de las cuales trata
este artículo se basó en los siguientes procedimientos metodológicos: revisión bibliográfica con
autores de la pedagogía Marxista, de la teoría de la complejidad y de la educación ambiental a fin
de tener un cuerpo teórico cohesivo; La planificación de la actividad y taller de residuos sólidos,
que ocurrieron en algunas escuelas, como la Escuela Estatal Mascarenhas Homem y la Escuela
Estatal Jerónimo Gueiros, ubicadas en el municipio de Natal / RN. De esta forma, la Educación
Ambiental, en el aula, pudo ser tratada con una discusión holística, crítica y presentando un objeto
de intervención en la realidad como resultado de esas discusiones, para ayudar a los alumnos a
pensar a partir de un aprendizaje más ciudadano en la forma En el que ven el medio ambiente. Los

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

talleres realizados pueden ser evaluados, en general, como positivos, ya que fue posible durante la
actividad problematizar sobre temáticas del mundo globalizado actual, el consumismo en la
sociedad, cuestiones públicas y privadas, además de apuntar problemas como el acondicionamiento
de los residuos sólidos En lugares inapropiados. Analizar críticamente los problemas sociales,
ambientales, políticos y económicos es un deber del hombre de este siglo. Por eso, es necesario que
todas las dimensiones sociales actúen en el sentido de proponer soluciones, con sesgo holístico y
crítico, que resuelvan las cuestiones sociales -entre ellas la problemática ambiental- a corto ya largo
plazo, a fin de contribuir al bienestar, De la colectividad.
Palabras clave: Educación Ambiental; Enseñanza de Geografía; Medio ambiente; Residuos sólidos;
Complejidad.

INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade e com a força cada vez maior dos imperativos da globalização, os


elementos chaves desse período são postos sempre em um processo contínuo de evolução e
revolução, seja dos aspectos sociais, tecnológicos ou informacionais. A informação permeia os
territórios, os objetos geográficos são dotados com uma racionalidade dominante e os eventos
naturais têm um poder de alteração e influência do meio extremamente representativo.
Em todas as áreas do conhecimento, neste período, há uma elevação da quantidade de
informações e o conhecimento vai se tornando cada vez mais flexível e especializado, em
contraposição a rigidez do conhecimento científico de outrora (MORIN, 2011). O ambiente escolar,
consequentemente, está inserido nesse meio, uma vez que ele, de forma direta ou indireta, absorve
as mudanças desse período informacional e complexifica-se em todas as áreas de conhecimento,
além de se integrar ao pensamento dominante. A educação ambiental, dessa forma, vem se
apresentando, em contraposição ao conhecimento específico, como uma área do ambiente escolar
em que se é possível trabalhar de maneira holística, ligada com a complexidade de diferentes
ciências e pautando-se na questão sócio-ambiental, tão presente no meio o qual vivemos. Este
trabalho, portanto, se objetiva a analisar como a Educação Ambiental pode servir, a partir de
experiências no ambiente escolar a exemplo da reciclagem de lixo, como uma força motriz entre a
capacidade crítica de observar a primeira e a segunda natureza, partindo do viés crítico marxista,
com a concepção de entendimento do objeto holístico, isto é, observando os aspectos
socioambientais de maneira multifacetada e integrada, pelas várias áreas do conhecimento, como
propõe a teoria da complexidade do Edgar Morin (2009; 2011).
Metodologicamente este trabalho propõe-se a discutir acerca do que significa a educação
ambiental no ambiente escolar, tema corrente no ensino médio a partir de uma perspectiva
transversal e proposto como uma face dos Parâmetros Curriculares Nacional, partindo do
pressuposto como ―Meio Ambiente‖, onde se discute o debate ambiental e o que significa o
aprender educação ambiental. Após isto, integrando a concepção do ambiental com o social, como

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

algo intrínseco, o viés marxista nos dá a possibilidade de observar o fenômeno ambiental a partir de
sua integração com a sociedade, demonstrando como o meio ambiente deve ser visto em sua relação
com o homem a partir de uma perspectiva de relação local-geral, resultando em como o meio
ambiente está relacionado com a sociedade e como esta altera-o e sofre sua influência. Então, a
perspectiva da teoria da complexidade foca na procura entre ―as relações e inter-retro-ações entre
cada fenômeno e seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes‖ (MORIN, 2011, p. 25), isto
é, a ligação e não a redutibilidade de um determinado fenômeno, estabelecendo uma concepção
crítica e holística dos fenômenos. Toda essa concepção e discussão deste artigo remeterá e terá
como ―pano de fundo‖ experiências em sala de aula com discussão referente a educação ambiental,
problemas socioambientais urbanos referentes ao lixo e sua coleta, seja em estágio supervisionado
e, mesmo, em experiências como bolsista do PIBID – a práxis deste trabalho.
O diálogo com outras disciplinas, bem como com temáticas transversais, é uma ideia central
no subprograma PIBID-Geografia, neste artigo a prática em sala de aula ocorreu no período em que
o autor foi bolsista desse programa. Nesse contexto, busca-se propor aulas com maior ludicidade,
fugindo sumariamente de uma aula com perspectiva mais tradicional. Para tanto, não basta abster-se
do uso do livro didático ou do quadro-negro – ferramentas importantes no processo de
aprendizagem –, mas sim encontrar novas formas de tornar os conteúdos geográficos mais atrativos
e mais próximos da realidade vivida pelos discentes. Para alcançar tais objetivos, faz-se mister
utilizar recursos variados: imagens, vídeos curtos, charges, letras de músicas, tabelas, gráficos, entre
outros. Entretanto, não podemos ficar restritos ao uso de tais ferramentas sob o peso de tornarmo-
nos, também, excessivamente tradicionais, haja vista que mudaria apenas a tecnologia ou
ferramenta utilizada, e não a prática em si.
No intuito de promover uma prática realmente construtivista, a proposta apresentada foi a da
confecção, por parte dos alunos, de cestos recicláveis, nos quais cada um destes estaria apto a
receber um tipo de material específico: o cesto azul serve para o armazenamento do papel, por
exemplo. Diante disso, tal proposta encaixa-se também na ótica de trazer para a realidade concreta
do aluno a problemática ambiental, notadamente a questão dos resíduos sólidos espalhados em
locais impróprios de seu município e a possibilidade de reutilização desses materiais. Com isso,
pretende-se cumprir – de maneira integral – a função social da escola, percorrendo caminhos para
além dos conteúdos curriculares básicos e propiciando a formação cidadã do alunado, tendo como
pressuposto a problemática ambiental, sua resolução e como ela é complexa, principalmente diante
de uma sociedade cada vez mais consumista e utilitarista. Sobre a necessidade de se cumprir
integralmente a função social da escola, pode-se dizer que ―a escola refletiu sempre o seu tempo e
não podia deixar de refleti-lo; sempre esteve a serviço de um regime social determinado e, se não
fosse capaz disso, teria sido eliminada como um corpo estranho inútil‖ (PISTRAK, 2005, p. 29).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 729


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TEMA TRANSVERSAL PARA ABORDAGEM ESCOLAR

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os chamados Temas Transversais não


representam novas disciplinas para os discentes. O documento evidencia que os objetivos e
conteúdos dos Temas Transversais devem estar presentes nas disciplinas já existentes e no processo
educativo da escola. Esta organização – incorporação de objetivos e conteúdos – por parte das
disciplinas foi denominada de transversalidade e é utilizada para que temas importantes, como, por
exemplo, sexualidade, ética, meio ambiente, entre outros, sejam debatidos por todas as disciplinas
regulares. No que diz respeito ao meio ambiente, é fundamental compreender que ele se estende
para além dos aspectos físicos e naturais. O homem – campeão de inteligência do planeta – faz parte
da natureza, assim como todas as suas manifestações sociais, culturais e econômicas pertencem ao
meio ambiente.
Atualmente, a Educação Ambiental está para além da transversalidade com as disciplinas
regulares, abrangendo outras modalidades, tais como: projetos de cunho social e educativo
envolvendo ecoturismo, museus, parques zoológicos; promoção do desenvolvimento local para o
melhor aproveitamento dos recursos naturais; a incorporação da dimensão ambiental no sistema
escolar formal; programas de educação continuada do tipo de gestão ambiental e, por fim, as
chamadas escolas ecológicas ou verdes. A listagem dessas modalidades são a prova de que a
Educação Ambiental dá uma resposta também prática à sociedade, pois oferece uma visão de
conjunto sobre a resolução de problemas urgentes. Assim sendo, faz-se necessário, também,
mudanças no sistema de ensino, sejam eles ligados às escolas, governos ou mesmo à organizações
não governamentais, deixando claro o ―porquê‖ e qual a utilidade dessas mudanças estruturais.
Edgar Morin (2011) afirma que a educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e
universal, centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz
os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade
comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.
Respeitando a diversidade de povos e de saberes, a humanidade deve compreender que estamos
todos amplamente conectados no mundo e que nossas ações, materializadas localmente, repercutem
em esfera global. Dito isto, e sabendo que fazemos parte da natureza, somos diretamente
responsáveis pela parte que vivemos e pelo todo. Ainda de acordo com Morin, o ―Quem somos?‖ é
inseparável de ―Onde estamos?‖, ―De onde viemos?‖, ―Para onde vamos?‖. Hoje, sabe-se que a
humanidade é parte da natureza e habita, constrói e explora o orbe terrestre. Entretanto, para onde
vamos permanece um mistério, mas entende-se que depende, em parte, de nós enquanto
humanidade, de nossas decisões a respeito da vida individual e coletiva e do equilíbrio entre as
necessidades humanas e a disponibilidade dos recursos da natureza.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 730


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A leitura do livro ―A contribuição da educação ambiental à esperança de Pandora‖, o,


organizado por José Eduardo dos Santos (2001), propicia uma reflexão a respeito do que se entende
por Educação Ambiental. Porém, na opinião dos referidos autores, até o momento não há uma
resposta homogênea sobre o que seja a chamada Educação Ambiental. A dificuldade de responder
concretamente sobre do que se trata este tema pode ser resultado do período de tempo em que ele
foi sistematicamente ignorado, apesar da sua enorme relevância nos dias de hoje. Devido ao
momento ímpar pelo qual passa o planeta: fome, terrorismo, injustiça social, ignorância ecológica,
entre outros, o tema da Educação Ambiental ganhou o merecido destaque, sendo discutido,
renovado e difundido.
Os 32 capítulos da já citada obra trazem em si um embrião sobre a Educação Ambiental. Ao
quantificar e qualificar os problemas ambientais que assolam o planeta atualmente, faz-se
necessário pensar em um modo de vida e de produção que degradem o menos possível a natureza.
Entretanto, sabe-se que a implementação de medidas benéficas ao ambiente e, por extensão, às
pessoas, passam diretamente pela educação da sociedade como um todo, sendo, portanto, mudanças
processuais que necessitam de anos para se efetivarem. Para que essas mudanças possam ser
cogitadas, a forma de produzir e os padrões de consumo precisam ser alterados, uma vez que, como
estão atualmente, causam forte estresse ao ambiente. Por esse ângulo, é possível afirmar que já
existe a gênese de um consenso que entende a Educação Ambiental como um vasto campo
interdisciplinar – e não como uma disciplina a mais para os alunos –, no qual deve-se estimular
debates teóricos e atitudes práticas que permitam o equilíbrio entre as necessidades da sociedade e o
que a natureza pode oferecer.

DIALOGANDO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, COMPLEXIDADE, MARXISMO E


GEOGRAFIA

A Educação Ambiental, como sabemos, é um tema transversal e, por isso, não deve ser
discutido pelo viés de uma única disciplina. Assim sendo, faz-se necessário estabelecer conexões
entre as mais variadas disciplinas do ambiente escolar ao tratar de problemas socioambientais.
Dessa forma, determinados fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, tratado nas aulas de
Geografia, podem ter dialógo para uma concepção mais holística desse fenômeno a partir do
trabalho com disciplinas como História, Química, Biologia etc. Uma única ciência, como Morin
afirma (2011), não se pode, partindo da teoria da complexidade, trabalhar de maneira satisfatória
uma temática transversal, visto que como são problemáticas complexas e abrangentes, necessitam
de discussões igualmente amplas.
Dessa mesma maneira, a educação ambiental deve sempre partir do pressuposto de um
conhecimento totalizante, que integra as mais variadas disciplinas escolares. Assim, de acordo com

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 731


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Garcia (1993), a educação ambiental deve ser uma concepção totalizadora da educação, mas que,
mesmo com a visão totalizante, ela não pode se negar a ser entendida sem a participação política.
Dessa maneira, uma pedagogia crítica que busca absorver a concepção de mundo a partir do motivo
pelo qual existir tais problemas e como superá-los, dessa forma, ela deve ser entendida, também,
como educação ambiental. Nesse caso é aí que a pedagogia crítica, cunhada pelo marxismo, faz-se
presente no entendimento da educação ambiental. O ―processo de conscientização‖ (FREIRE, 1987)
é central no processo educativo, afinal é na transformação da sociedade em que se funda a teoria
marxista, mas que, ao ver os problemas da sociedade, como, por exemplo, os de caráter
socioambiental, procura problematizar as relações presentes de exploração e dominação, com a
consequente degradação do meio ambiente. O exercício da cidadania, cunhado pela pedagogia em
suas mais diversas vertentes, mas que, partindo do viés crítico, a educação ambiental, preconizada
por essa influência a que estamos chamando de marxista, poderá reinserir o humano no meio
ambiente, de uma maneira em que os alunos se percebam como parte integrante também da
complexidade do ambiente, procurando superar essa visão reducionista de separar o homem de seu
meio.
Tal visão reducionista na educação ambiental, que pode ser criticada a partir da teoria da
complexidade ou mesmo das pedagogias influenciadas pelo marxismo, deve ser superada a partir do
momento em que em sala de aula se procure não apenas considerar os aspectos biológicos ou
culturais do meio, e sim entender de forma conjunta todas as esferas sociais, ambientais/ecológicas,
econômicas e políticas, dando, assim, a visão de totalidade e procurando colocar o discente a se
entender como ente no seu espaço e no tempo presente – mas como este tendo toda uma carga
histórica e não esvaziado do passado. Desta forma, alguns conteúdos que são trabalhados pela
Geografia, como é o caso da urbanização, quando relacionado à Educação Ambiental ou mesmo a
problemas ambientais urbanos, não devem ser discutidos exclusivamente por essa disciplina ou por
seu enfoque. Nesse caso é preciso estabelecer, para se ter um conhecimento mais holístico, relações
com a história, comprovando que, como processo, estes problemas têm gênese e desenvolvimento
ao longo do tempo. Mas, cabe a Geografia localizar espacialmente a área do fenômeno, trabalhar o
conceito e fornecer a sua contribuição para esse conteúdo. Assim poderá se entender como esses
problemas ou mesmo a urbanização em si atinge o espaço geográfico como um todo, mas de forma
desigual: em alguns lugares de forma mais acentuada e em outros com menor intensidade; da
mesma maneira que em alguns locais se torna mais ordenado e em outro mais desorganizado, isto é,
com maior possibilidade de existir problemas socioambientais.
Com o avanço da técnica e da tecnologia, o homem passou a ocupar e a atuar sobre os mais
distantes e improváveis espaços terrestres. Áreas antes anecúmenas ou de acesso limitado pela
virilidade da natureza, são ocupadas e modificadas pelo homem do século presente, dotado das mais

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

elevadas tecnologias e da vontade insaciável de conhecer e explorar. Nesse contexto, inegavelmente


as novas descobertas e ferramentas humanas trouxeram conforto e progresso à sociedade.
Entretanto, o preço da maior comodidade é elevado: áreas verdes são devastadas para dar lugar a
casas, prédios, fábricas etc; perda da fauna devido à queimadas, desmatamentos e atividades
industriais; variados tipos de poluição: do ar, sonora e visual. A parte concreta do fenômeno da
urbanização, isto é, as cidades, trazem em si problemas relacionados ao meio ambiente: resíduos
sólidos espalhados em locais impróprios, contaminação dos solos e dos lençóis freáticos, ausência
de áreas verdes, contaminação e assoreamento dos rios etc. Diante dessa difícil realidade, o debate
sobre a Educação Ambiental torna-se cada vez mais precioso e importante nos mais variados
ambientes sociais: instituições de ensino, mundo do trabalho, instâncias do Estado, entre outros.
Tomando como referência o princípio estabelecido desde o início deste artigo, esse trabalho
visa partir da ideia de que o entendimento de fenômenos os quais vêm sendo discutidos aqui devem
partir do local para o global, na intenção de propiciar a discussão próxima da realidade do aluno, a
fim de possibilitar que este realize as conexões necessárias entre a teoria e a realidade prática que
ele observa no seu dia a dia. Desse modo, a teoria marxista (GARCIA; 1993) e a teoria da
complexidade do Morin (2009) apresentam, em seus métodos, dois pressupostos importantíssimos
sobre a forma de se pensar a realidade, que são: a dialética marxista e a dialógica, da teoria da
complexidade. A dialética marxista, em contraposição à dialética hegeliana, baseia-se na ideia de
pensamento e realidade ao mesmo tempo, ou seja, movimentos históricos de acordo com as
condições materiais da vida, com a contraposição da tese e antítese e a superação com a síntese.
Mas qual a importância disso? Ter o entendimento da realidade tal qual ela se apresenta é
importante para abstrair as condições materiais existentes dos fenômenos socioambientais e o que
está por trás deles, as condições políticas e materiais que influenciam nos problemas do meio
ambiente. Só assim, tendo esse entendimento, é que pode-se superar essa realidade para, portanto,
transformar tal realidade.
Com relação à dialógica (MORIN, 2009), ela também parte do mesmo pressuposto da
dialética em que as condições existentes são superadas por uma nova condição, entretanto a
principal diferença dela para a dialética é que as condições pretéritas, mesmo superadas,
influenciam as condições que são resultados dela. Dessa maneira, pensando a partir da educação
ambiental, não basta intervir em uma realidade, por exemplo, com algum projeto de cunho social,
sabe-se que, mesmo a realidade transformada, o passado dela não some, e se não continuar a
conscientização para essa realidade, mesmo após o projeto efetuado, os problemas socioambientais
podem muito bem voltarem.
Voltando a importância da Geografia para os conteúdos da Educação Ambiental, a partir de
agora descreveremos como podemos usar essa ciência partindo do tema transversal da Educação

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 733


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ambiental no ambiente escolar, fundada nas matrizes de pensamentos citadas no decorrer deste
artigo. As experiências em questão que deram frutos para a escrita deste artigo ocorreram entre os
anos de 2013 a 2015 a partir do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e do
Estágio Supervisionado IV, no ano de 2015, no curso de Geografia Licenciatura, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, e o tema tratado, assim, foi a Urbanização, Educação Ambiental e
Práticas Conscientizadoras.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais que tratam sobre a temática Meio
Ambiente, é possível afirmar: ―A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é
contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade
socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global‖. Diante disso, é lícito perguntar: Como preparar cidadãos conscientes de
suas responsabilidades e compromissados para com o meio ambiente? A resposta está na educação,
mas não na educação tradicional focada apenas em passar conteúdos igualmente tradicionais. A
educação voltada para o progresso e para qualidade de vida traz em si a resposta, haja vista que
busca romper com as visões estreitas e fragmentárias e propõe ações integradas entre várias
disciplinas, abrangendo atividades para além da sala de aula e dos conteúdos comuns. Em uma
palavra: promove a formação integral do indivíduo.

SALA DE AULA: TEORIA E PRÁTICAS

Durante as atuações em sala de aula, inicialmente, pode-se dizer um ponto central para as
práticas, que é: a atenção e respeito dos alunos nas aulas. Assim, não seria uma surpresa que alguns
dos alunos demonstrassem desinteresse pelos temas apresentados ou mesmo falta de empatia pelo
fato de um aluno/professor que não é funcionário da escola atuar em sala de aula. Entretanto, a
recepção dos graduandos e, principalmente, dos conteúdos e temas trabalhados, foi extremamente
positiva e animadora nas experiências citadas. A complexidade do momento do mundo atual exige
da humanidade e das suas instituições respostas igualmente complexas. Dessa maneira, a família –
primeira instância social –, a escola e a sociedade devem contribuir para a formação cidadã dos
nossos jovens. Estes precisam de liberdade, autonomia, amparo emocional e acesso à informações,
conteúdos e temas que possibilitem o melhor entendimento do mundo e dos compromissos para
com a vida individual e coletiva, à nível local e global. Nesta perspectiva, Cury (2008, p. 130)
evidencia que: ―a liberdade que o jovem precisa está intimamente relacionada com sua autonomia e
independência e essas precisam ser conquistadas. A clara demonstração de padrões seguros de
responsabilidade, ou seja, de comportamentos responsáveis ao longo do seu desenvolvimento,
deveria capacitar o a maiores níveis de liberdade‖.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 734


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Levando em consideração todos esses elementos que compõem a demanda do mundo atual e
as necessidades concretas dos alunos, tornou-se possível explorar diversos conteúdos e temáticas
transversais trabalhados pela ciência geográfica, bem como por outras disciplinas. O processo de
urbanização, os conceitos de consumo e consumismo, as questões urgentes referentes ao meio
ambiente, a enumeração e a discussão das possíveis soluções para os problemas ambientais urbanos,
entre outras questões de relevância são debates urgentes. Contudo, a utilização da Geografia de
forma isolada seria ineficaz, uma vez que abrangência da temática ultrapassa os conceitos
geográficos. Com isso, somos chamados a estabelecer conexões com outras áreas do conhecimento,
a fim de explicar satisfatoriamente as questões apresentadas. Caso a inércia supere nossa vontade e
o diálogo com as outras áreas do saber fique comprometido, o processo de ensino-aprendizagem
estará prejudicado por uma tentativa de explicação fragmentária, distante da realidade total, que é
amplamente complexa atualmente, e os discentes terão maior dificuldade em compreender questões
essenciais sobre a vida em sociedade.
A urbanização, como um processo desigual e combinado (SMITH, 1988), ocorre
processualmente sobre os variados pontos do espaço ocupado e modificado pelo homem, e sua
materialidade, isto é, a cidade – casas, prédios, ruas, avenidas, pontes, escolas, hospitais, praças,
shoppings, entre outros – é um fazer e um refazer constante. Sendo assim, transportando esse
raciocínio para a realidade concreta do aluno, podemos somar as variáveis: nível de intensidade e
ordenamento da urbanização, elevado consumismo e ignorância acerca das questões ambientais, o
resultado não pode ser benfazejo. Em alguns casos, a urbanização acontece de maneira tardia e
concentrada em curto intervalo de tempo, tal qual aconteceu na cidade de Natal, capital Potiguar.
Como resultado desse processo desordenado, alguns canais e rios que cortam a cidade de Natal
transformam-se em verdadeiros esgotos a céu aberto. Materiais como papéis, panos, madeiras,
plásticos, metais, vidros, pneus etc, que duram de seis meses até um milhão de anos para se
decompor na natureza, estão presentes nas águas. Dito isto, pergunta-se: como resolver eficazmente
este problema?
Como gênese e embasamento deste trabalho, a primeira aula se deu a partir da reflexão entre
a urbanização natalense e a Educação Ambiental. Nesta, buscou-se discutir, primeiramente, sobre o
que seria Educação Ambiental e seus conceitos e quais são os seus objetivos. Feito isso, o momento
seguinte foi preenchido pela tentativa de aplicação de uma visão geográfica dos fenômenos
trabalhados, isto é, área de atuação e alcance dos processos, as mudanças promovidas nas paisagens
naturais e artificiais e a ocupação de novos espaços. Evidentemente, partir do pressuposto sobre
uma cabeça bem-feita é entender a condição humana nas incertezas do espaço geográfico, para,
assim, partindo de Morin (2011), reformar o pensamento e criar uma aprendizagem cidadã, e esta só

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 735


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ocorrerá com debates críticos e fundados na busca da totalidade do conhecimento de determinados


fenômenos.
Por isso, inicialmente, a exposição de imagens que retratavam a realidade das paisagens
naturais e artificiais da capital Potiguar fomentou a discussão a respeito de temas como consumo,
consumismo e ―ignorância‖ ambiental. Estes são encarados como fatores que contribuem para a
significava quantidade de resíduos sólidos espalhados por locais inapropriados na cidade de Natal.
Simploriamente, o consumo pode ser entendido com o ato de comprar coisas ou produtos de acordo
com a necessidade. Porém, as necessidades são variáveis e, muitas vezes imprevisíveis, propiciando
alterações no padrão de consumo devido às propagandas, diversidade de produtos, facilidade de
pagamento, tendências do momento, entre outros. Dessa maneira, a sociedade atual – dotada de alta
tecnologia e informação – caminha a passos largos para o consumismo, a qual o modo capitalista
tem a força de consumir coisas e pessoas. Aqui, o equilíbrio entre a necessidade e o consumo está
rompido, pois compra-se e usa-se além do necessário, provocando excessos e estresse sobre o meio
ambiente, sobretudo nas grandes cidades brasileiras, onde os resíduos sólidos, não raras vezes, são
acomodados em locais impróprios. A exposição das áreas afetadas tem o objetivo de demonstrar
que se trata de um problema real, que faz parte, mesmo que indiretamente, da realidade dos alunos.
Findada as aulas sobre a apresentação dos conceitos, conteúdos e temas transversais,
chegamos ao momento de maior praticidade e ludicidade, no qual os educandos construíram objetos
de cunho educacional. Não obstante, antes disso, a turma foi dividida em grupos de até cinco
componentes, o que permitiu a explanação sobre o objeto pedagógico a ser confeccionado, assim
como sobre o direcionamento da atividade. Desse modo, cada grupo ficou responsável por uma
parte do todo. No intuito de sensibilizar os alunos e propor uma destinação adequada dos resíduos
sólidos, foi sugerida a construção de cestos de reciclagem como uma ferramenta de atuação prática.
Para tal intento, cada grupo recebeu um garrafão de água mineral de vinte litros seco e com a parte
superior recortada previamente. Com isso, cada grupo deveria pintar os cestos com a cor
correspondente ao tipo de material que estes devem armazenar. Além disso, os discentes devem
colocar no depósito a nomenclatura do tipo de material que este está apto a receber.

Imagens 01 e 02. Fonte: o Autor, 2014.


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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E PERSPECTIVAS

A prática em sala de aula sobre reciclagem possibilitou uma profunda reflexão acerca da
realidade que está ao nosso redor, notadamente sobre as questões referentes ao meio ambiente
urbano. Os discentes se mostraram bastante interessados pelas problemáticas tratadas, sobretudo
pela presença de temáticas transversais na aula de Geografia (com a interdisciplinaridade), fato
comprovado pela significativa participação e citação de exemplos práticos vivenciados pelos alunos
durante a aula. Considerando a participação e o interesse, pode-se afirmar que os principais
resultados iniciais foram: a busca por informações a respeito do meio ambiente, a discussão sobre
os males de nossa sociedade que produzem desequilíbrio no meio ambiente, as prováveis e
possíveis soluções, além da renovação de atitudes individuais e coletivas em prol da natureza. Estes
resultados preliminares materializaram-se nos cestos recicláveis, objetos pedagógicos que podem
influenciar um número maior de pessoas, haja vista que estão no pátio da escola e podem ser vistos
e utilizados pelos membros da comunidade escolar.
De modo geral, a ideia de produzir cestos recicláveis no ambiente escolar possibilitou, entre
outros pontos, a verificação da quantidade de materiais espalhados pela capital Potiguar e uma
reflexão acerca dos padrões de consumo e nível de compreensão ecológica da população. A
instância social da escola tem a obrigação de contribuir para o esclarecimento dessas questões,
expondo os problemas e incentivando as soluções por meio de práticas educativas e cidadãs.
Gradativamente, esperamos que o aprendizado adquirido pelos alunos seja transmitido e difundido
para seus amigos, familiares e conhecidos, fomentando uma transformação de comportamento que
supere os limites da sala de aula e do ambiente escolar e possa atingir toda a comunidade dos
alunos. Este é apenas o primeiro passo para a difusão das ideias da Educação Ambiental: fornecer
uma visão integradora, de conjunto, de valores individuais e coletivos, nos quais a parte e o todo são
importantes e dependentes um do outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, este artigo teve como foco dar exemplos de como a Educação Ambiental, em sala
de aula, pode ser tratada com uma discussão holística, crítica e, mesmo assim, apresentar um objeto
de intervenção na realidade como resultado dessas discussões. As oficinas realizadas podem ser
avaliadas, de modo geral, como positivas, uma vez que foi possível durante a atividade
problematizar sobre temáticas do mundo globalizado atual e apontar problemas como o
acondicionamento dos resíduos sólidos em locais impróprios: nas ruas, terrenos baldios, rios, praias
urbanas, entre outros inúmeros espaços. Analisar criticamente os problemas sociais, ambientais,
políticos e econômicos, é um dever do homem deste século. No entanto, a crítica pela crítica não

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

acrescenta nada à sociedade nem oferece, minimamente, soluções aos problemas reais. Diante disso,
é necessário que todas as dimensões sociais atuem no sentido de propor soluções que resolvam as
questões sociais – entre elas a problemática ambiental – em curto e em longo prazo, a fim de
contribuir para o bem-estar da coletividade. Nesse sentido, é importante destacar o papel da
educação moderna nessa nova fase da humanidade, advertindo para as suas responsabilidades para
com o meio ambiente e com as gerações do por vir. A apresentação de novos conceitos e princípios
– como é o caso daqueles trabalhados pela Educação Ambiental – ganha destaque nos dias de hoje,
e ideias como a criação de objetos úteis para a comunidade escolar e para a sociedade são
fundamentais e fortalecem projetos de reciclagem e atitudes de respeito ao meio ambiente,
garantindo sua manutenção e equilíbrio.
Dessa forma, entende-se que, sim, houve êxito na tentativa de sensibilizar os educandos no
que diz respeito à problemática de resíduo sólido dispensado em locais inadequados no município
de Natal. Além disso, partindo do pressuposto de pôr os discentes a um conhecimento cidadão,
holístico e que procure intervir no meio indo além das contradições, isto é, conforme o Morin
(2011) aponta em seu livro A Cabeça Bem-Feita, podemos observar que essa tentativa é mais do
que válida na produção do conhecimento. Porém, houve também a preocupação de sensibilizar os
discentes quanto a como o consumismo exacerbado é prejudicial ao meio o qual vivemos, bem
como como a partir da história o fato de que a reprodução e a produção da sociedade dependem da
natureza (FOSTER, 2005). Foi possível compreender, minimante, o nível de degradação que o meio
ambiente natalense está exposto, permitindo que o alunado reflita sobre o seu papel social. Em uma
palavra: o debate sobre a Educação Ambiental fortalece a formação integral do indivíduo e propicia
o autoconhecimento por parte dos alunos como importantes agentes de transformação do espaço em
que vivem e que atuam. Dessa maneira, os estudantes passam a compreender melhor que suas ações
interferem não apenas em esfera local, mas repercutem em escalas geográficas mais extensas e que
cada indivíduo tem sua parcela de responsabilidade e de ações na busca de uma sociedade mais
solidária e harmônica, assim como na construção de um planeta mais equilibrado para todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. 9 ed. Rio de Janeiro: Sextante,
2003.

FOSTER, J.B. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2005.

FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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GARCIA, R.L. Educação ambiental: uma questão mal colocada. Cadernos CEDES, Campinas, n.
29, p. 31-37, 1993

LIBÂNEO, José Carlos et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
Cortez, 2003.

MORIN, Edgar. Os sete Saberes necessários à Educação do Futuro. 3a. ed. São Paulo: Cortez,
2001.

MORIN, Edgar. Educar na Era Planetária. 3a. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita. 19a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

SANTOS, J. E. ; SATO, M (Orgs.) A contribuição da educação ambiental à esperança de Pandora.


São Carlos: Rima, 2001.

SMITH, Neil. Desenvolvimento desigual. Rio de Janeiro: Bertrand, 1988.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 739


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FOMENTADA


A PARTIR DO CONCEITO DE PERTENCIMENTO AMBIENTAL:
UMA ANÁLISE CONSTRUTIVISTA

Joaquim Dutra FURTADO FILHO


Mestrando em Ensino e História das Ciências da Terra, PEHCT-IG/UNICAMP
e-mail: joaquim_dutra2@hotmail.com
Tiago Gomes de AGUIAR
Graduando em Matemática Aplicada e Computacional, IME/USP
e-mail: tiago.aguiar@usp.br
Luciana Cordeiro de SOUZA-FERNANDES
Professora do PEHCT-IG/UNICAMP
e-mail: luciana.fernandes@fca.unicamp.br

RESUMO
O modelo construtivista, moderna corrente científicacriada no começo do século XX, propôs uma
nova forma de interpretação das ciências, contribuindo teoricamente nas mais diversas áreas do
conhecimento. A partir dele, busca-se analisar o desenvolvimento da Educação Ambiental (EA)com
base no Pertencimento Ambiental (PA), sustentada por meio de três eixos: a Participação, a
Interdisciplinaridade e os Espaços de Interação Ecológica. A relação fundamental entre o ser
humano e a natureza deve ser abordada com profundidade: dela com a Terra, com o homem e com
o habitat natural em que vive; a história a qual pertence e o seu sentido de vida. Estas são, portanto,
as bases para o aprofundamento do PA sobre o qual se pretende discorrer, isto é, a EA como base
para mitigar os efeitos nocivos ao meio ambiente a partir da relação entre humano e natureza. Deste
modo, intenta-se construir as bases que suportam a EA, ressignificando o sentimento de PA e, por
conseguinte, despertando a Consciência Ecológica.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Participação; Espaço de Interação Ecológica
ABSTRACT
The constructivist model, a modern scientific current created at the beginning of the 20th century,
proposed a new interpretation of the sciences, contributing theoretically to the most diverse areas of
knowledge. From it, we seek to analyze the development of Environmental Education (EA) based
on Environmental Perception (PA), sustained through three axes: Participation, Interdisciplinarity
and Ecological Interaction Spaces. The fundamental relationship between the human being and
nature must be approached in depth: with the Earth, with man and with the natural habitat in which
he lives; the history to which he belongs and his sense of life. These are, therefore, the bases for the
deepening of the PA on which it is intended to discuss, that is, the EA as a basis to mitigate the
harmful effects to the environment from the relation between human and nature. In this way, it is
tried to build the bases that support the EE, resignifying the feeling of PA and, consequently,
awakening the Ecological Consciousness.
Keywords: Interdisciplinarity; Participation; Ecological Interaction Spaces

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por escopo abordar o desenvolvimento da Educação Ambiental (EA)
fomentada a partir do conceito de Pertencimento Ambiental (PA) sob a ótica do construtivismo. A
base do estudo busca compreendê-lo teoricamente, a fim de circunscrevê-lo ao modelo proposto
neste trabalho.
Poder-se-ia traçar duas possíveis fontes de avanços significativos relacionados à EA: a
primeira é produto imediato de avanços legislativos relacionados à questão ambiental; a segunda,
por sua vez, busca situar temporalmente a ciência na História a partir de três principais concepções
teóricas, quais sejam: a Racionalista, a Empirista e a Construtivista.

1.1 - A Ciência na História

A teoria racionalista,cujas bases remetem ao inatismo de Platão (348/347 a.C.), postula que
a verdade e a realidade só podem ser perfeitamente compreendidasúnica e exclusivamente pela
razão - em si, por si e para si -esta uma espécie de estrutura pronta e acabada, dotada de princípios
universais presentes em todos os humanos desde o nascimento. Segundo CHAUI (1994, p. 320),

(...) a ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo (...)capaz de provar a


verdade necessária e universal deseus enunciados e resultados, sem deixar qualquer dúvida
possível (...). As experiências científicas sãorealizadas apenas para verificar e confirmar as
demonstrações teóricas e não paraproduzir o conhecimento do objeto, pois este é conhecido
exclusivamente pelopensamento.

O Empirismo, por sua vez, se opõe às ideias racionalistas. Suas raízes também se encontram
na Grécia Antiga, e tem como precursor o filósofo Aristóteles, discípulo de Platão. Tal teoria
compreende que a realidade em si também pode ser explicada pela razão, porém esta seria uma
estrutura vazia, dependente do meio externo para se completar e materializar. Daí a importância às
observações e aos experimentos, externos aos domínios da razão, e agora não mais determinados
pelo mundo das ideias. Conforme CHAUI (1994, p.320),

A concepção empirista (...) afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em
observações e experimentos que permitem estabelecer induções e que, ao serem
completadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e suas leis de
funcionamento. A teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de modo
que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confirmar conceitos, mas
tem a função de produzi-los.

A teoria construtivista, por fim, não temnecessariamente por escopo contrapor as duas
teorias supracitadas. Ao contrário, busca se utilizar de ambas, dado que as interpreta como ―faces da
mesma moeda‖: aproveita do racionalismo a pura formalização racional da realidade e da verdade a
partir das ideias; do empirismo, utiliza as técnicas e métodos experimentais rígidos. Desse
amálgama, nasce um terceiro elemento, que não mais descobre a realidade e os conhecimentos, mas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

os constrói, sempre deixando margem para que, a partir das experimentações, os conceitos possam
ser destruídos para, depois, serem reiteradamente reconstruídos. De acordo com CHAUI (1994, p.
321),

Essas duas concepções de cientificidade possuíam o mesmo pressuposto, emborao


realizassem de maneiras diferentes. Ambas consideravam que a teoria científicaera uma
explicação e uma representação verdadeira da própria realidade, talcomo esta é em si
mesma. A ciência era uma espécie de raio-X da realidade (...) A concepção construtivista –
iniciada no século passado – considera a ciência uma construção de modelos explicativos
para a realidade e não uma representação da própria realidade. O cientista combina dois
procedimentos – um, vindo do racionalismo, e outro, vindo do empirismo – e a eles
acrescenta um terceiro, vindo da ideia de conhecimento aproximativo e corrigível.

De fato, as verdades ―eternas‖ estão presentes nas três teorias. Todavia, no construtivismo,
elas serão eternas enquanto durarem. Analogamente, tal fenômeno também ocorre na confecção das
leis, produto imediato das dinâmicas sociais, como observa-se a seguir.

1.2 - Avanços Legislativos

Vale ressaltar que alguns avanços significativos relacionados à EA tornaram-se possíveis


somente após a inserção do assunto no texto constitucional (Constituição Federal de 1988),que
recepcionou a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n° 6.938/1981), diplomas legais que
trouxeram uma discussão descentralizada e ampla sobre meio ambiente. A Constituição Federal de
1988, em seu artigo 225, disciplinou que o meio ambiente é um direito de todos, impondo ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, bem como assegurar a efetividade
desse direito por meio da promoção da EA, que, conforme art. 225, parágrafo 1.º, IV da CF/88, é
um dever do Poder Público realizara conservação do meio ambiente em todos os níveis de ensino
(BRASIL, 1988). Ainda na referida lei, a EA consta como um dos princípios desta política
ambiental brasileira, in verbis:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
(...)
X –A Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. E
esta EA encontra-se disciplinada na Lei nº 9795 regulamentada pelo Decreto n. 4281,
diplomas legais que serão discutidos neste trabalho. (BRASIL, 1988)

Igualmente, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) definiu meio ambiente, em seu
art. 3º, parágrafo 1º, como sendo ―o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖ (BRASIL,
1981).No entanto, cabe notar que, embora esta lei tenha sido recepcionada pela Constituição
Federal, a definição de meio ambientesob o aspecto constitucional se tornou mais ampla ao

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estender-se ao todo que nos cerca, daí dizer que o meio ambiente é multifacetário compreendendo
quatro aspectos: meio ambiente natural (art. 225), meio ambiente artificial (art. 182), meio ambiente
cultural (art.216) e meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII) (BRASIL, 1988).
Outra dinâmica do processo legislativo foi aaprovação da Política Nacional de Educação
Ambiental(PNED), Lei nº 9.795/1999, que destacou a construção dos valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências como importantes ferramentas voltadas à
conservação do meio ambiente. Destaca-se, ainda, no artigo 2° da Lei, que a EA é um componente
essencial e que deve ser articulada em caráter formal e não-formal, incumbindo aos três setores da
sociedade e a coletividade o desenvolvimento de políticas públicas de EA. No artigo 4° e incisos da
lei em destaque, define-se, entre outros princípios básicos da EA, o enfoque participativo, a
avaliação crítica, a inter, multi e transdisciplinaridade, bem como uma abordagem de forma
articulada com as questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais (BRASIL, 1999).
Devido ao aumento populacional e ao consumo cada vez mais exacerbado, surgem novas
necessidades de mudanças culturais, sociais e ambientais para o avanço das políticas públicas de
sustentabilidade. Para PAULO (2011, p.183), ―Em outras palavras, com o crescimento
populacional, surge a necessidade de uma maior produção por parte da indústria, visando ao
suprimento das necessidades dos cidadãos‖. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2017), a população brasileira atingiu a marca de 206.081.432habitantes, o que
reflete mudanças dos padrões de consumo, na estrutura produtiva brasileira e na exploração dos
recursos naturais.
Portanto, urge desenvolvermecanismos de conscientização e sensibilização ecológica cujas
finalidades são concretizaras ações positivadas em leis, e.g. a Política Nacional de Resíduos Sólidos
por meio da Lei n° 12.305, que reorganizou a destinação dos resíduos sólidos e ofereceu diversas
ferramentas e diretrizes que possibilitaram a condução sustentável destas ações; por outro lado, o
resultado prático da aplicação da lei pouco condiz com as normas instituídas pela Política Nacional
de Resíduos Sólidos.
Pode-se notar que esses avanços ainda não foram suficientes para impedir os efeitos nocivos
ao meio ambiente. Não é mistério – ou não deveria ser – que a educação é a base para todo e
qualquer projeto. Questiona-se, todavia, qual seria essa educação: dar continuidade ao modelo atual
ou impulsionar novas práticas a partir do corpo teórico construtivista? Segundo VIANA (2006, p.
02),

Atualmente as questões ambientais vêm sendo discutidas intensamente, devido à


preocupação dos diversos grupos sociais em alertar os seres humanos sobre os principais
problemas ambientais. Diante disso, a Educação Ambiental vem sendo proposta como um
meio de conscientizar os indivíduos de que suas ações são responsáveis pelo
comprometimento da sua própria existência.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Neste sentido, FREIRE (1968, p. 50) aponta que

Não foi por acaso que esse método de conscientização se originou como método de
alfabetização. A cultura letrada não é invenção caprichosa do espírito; surge no momento
em que a cultura, como reflexão de si mesma, consegue dizer a si mesma, de maneira
definitiva, clara e permanente.

A EA é fundamental na proposição de um novo paradigma de políticas públicas sustentáveis


e transformadoras para as presentes e futuras gerações. O processo de conscientização e
sensibilização ecológica gera novos comportamentos e práticas, as quais buscam impedir futuras
degradações dos recursos naturais e mitigar as existentes. Nesta última década, grandes avanços
ocorreram, tanto na propositura de leis Municipais, Estaduais e Federais, quanto em avanços
teóricos e práticos. Para TOMAZELLO & FERREIRA (2000, p. 199),

Ainda que de forma incipiente, muitos professores têm dedicado parte de seu trabalho em
sala de aula às questões ambientais, isso sem contar as inúmeras iniciativas nesta área
tomadas por organizações não-governamentais, centros comunitários, empresas, mídia,
dentre outros.

Diante do exposto, qual seria o modelo de EA transformadora? Quais seriam as ferramentas


educativas utilizadas de forma a racionalizar o sentimento de PA?

2. PERTENCIMENTO AMBIENTAL (PA)

Para o dicionário Aurélio (2017),“pertencimento‖ significa ―Ser propriedade de alguém ou


ser devida a alguém (alguma coisa); formar ou fazer parte; ser parte integral de; ser da atribuição ou
competência de; ter relação; dizer respeito; ser concernente‖.
A descrição trazida pelo dicionário apresenta várias acepções. No contexto, a definição de
pertencimento que melhor se insere no tema é: ―fazer parte, ser parte integral, ter relação‖, o que
nos permite inferir que o PA revela a relação das partes com o todo, ou seja, as influências e
interações físicas, químicas e biológicas entre os seres vivos, e deles para com o meio ambiente,
conforme indicado, inclusive, no PNMA. Em resumo, tais relações não só se dão no meio ambiente,
mas se tornam o próprio meio ambiente.Desta forma, para FREIRE E VIEIRA (2006, p. 35),

Etimologicamente, ―pertencer a‖ é ―ser propriedade de‖ ou ―fazer parte de‖, que podemos
referir à relação do sujeito com o lugar. O sentimento de estranhamento seria o seu oposto.
De uma perspectiva radicalizada, os lugares não me pertencem, ou seja, minha casa não é
minha casa, já que é usurpação do lugar do outro. Visto de uma outra maneira: pertencemos
aos lugares e não eles a nós. Assim, pertencemos a todos os lugares que já habitamos,
sendo ligados a eles pelos sentimentos que neles experimentamos.

Para CARVALHO (2013, p. 78), ―O sentimento que acompanha a consciência da realidade


de forma conectada é pertencimento. A existência deve ser compreendida dentro do contexto
temporal, cultural e familiar, o vínculo que se cria dentro destes contextos propicia o sentido‖.

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Também, o sentimento de PA visa redescobrir os ambientes em que pertencemos, nos incluir


neles como um todo e entender a história desses espaços. Para SANTOS (2013, p. 15), ―Somente a
história nos instrui sobre os significados das coisas. Mas é preciso sempre reconstruí-la, para
incorporar novas realidades e novas ideias ou, em outras palavras, para levarmos em conta o Tempo
que passa e tudo muda‖.
O PA é uma proposta de conexão que deve dialogar harmonicamente com diversas áreas do
saber. Para FOLLARI (1999, p. 27),

A Educação Ambiental interdisciplinar desempenha um papel de forma estrutural. A


Educação Ambiental e outras áreas pedagógicas devem ser pensadas como resultante da
combinação de disciplinas necessariamente diferentes, e não como a substituição de
ciências específicas.

Outro aspecto de extrema importância que se coaduna ao PA é a participação da


comunidade na construção dos programas ambientais, a partir deles, com eles e para eles. Ou seja,
constitui-se uma práxis ipso facto. Ao participar da comunidade nos programas ambientais, catalisa
o sentimento de pertencimento, o que reflete na solidez das ações exitosas. Conclui-se, portanto,
que a definição de PA ocorre por meio da estruturação de três vertentes: Espaços de Interação
Ecológica, Interdisciplinaridade e Participação.

2.1 - Espaços de Interação Ecológica

É o locus a partir do qual se busca a conexão e a interação do homem com a Natureza, a fim
de desenvolver o pertencimento e seu consequente produto, que é a sensibilização ecológica. A EA
pode e deve ser desenvolvida difusamente: comunidades, conselhos, escolas, igrejas, empresas etc.
Igualmente, deve estabelecer uma passagem entre as ações abstratas e os planos concretos. Segundo
HOEFFELet al (2004) apud SILVA & ALMEIDA (2016, p. 192), ―A ideia sobre as diferentes
percepções sobre meio ambiente torna relevante para resolução de conflitos e, ainda, na composição
de planejamento de programas ambientais que visam a participação de todos os envolvidos no
processo. ‖
As formas de abordagem sobre EA têm sido amplamente discutidas, tanto a EA formal,
discutida de maneira transversal entre as disciplinas escolares, quanto a educação informal,
desenvolvida fora do ambiente escolar. Um modo consistente de abordar EA foi a descrita por
LUCAS (1980, 81) apud TOMAZELLO & FERREIRA (2000), que distingue educação sobre, no e
para o ambiente. Educação sobre proporciona informações e formação sobre o meio ambiente e
relações que se dão nele. A educação no ambiente reconhece a primazia da emoção ante a razão,
propondo experiências que reconstruam o elo entre o homem e a natureza. A educação para, por
sua vez, objetiva a conservação e a melhoria do meio, isto é, pretende-se, além da aquisição das
técnicas, desenvolver no indivíduo o envolvimento emocional.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

2.2 - Interdisciplinaridade

Para melhor compreender o conceito interdisciplinar, caracterizado aqui por meio da


premissa construtivista supracitada, infere-se que a multidisciplinaridade e a intradisciplinaridade
são os elos da sua construção histórica. O primeiro ocorre quando um mesmo objeto de estudo é
abordado por duas ou mais disciplinas, sem que haja conexões entre elas. Já o segundo tem como
característica o aprofundamento intencional em uma única e exclusiva disciplina, sem que haja,
ainda que dentro de um mesmo campo de conhecimento, interferências de naturezas diversas
(COIMBRA, 2000).
Por sua vez, o método interdisciplinar propõe um avanço, isto é, o de estabelecer correlações
entre várias disciplinas, criando canais para tratar de um mesmo objeto. No que diz respeito às
questões ambientais, as discussões acontecem separadas de outras áreas do saber, o que restringe a
possibilidade de sensibilização ecológica e de ampliação do conhecimento por meio de um sistema
integrado. As práticas interdisciplinares que necessitam maiores difusões devem constar nos
currículos escolares e estar presentes nas bases construtivas dos projetos, em especial nas
ferramentas utilizadas pelo poder público. Para COIMBRA (2000, p. 07),

O interdisciplinar consiste num tema, objeto ou abordagem em que duas ou mais disciplinas
intencionalmente estabelecem nexos e vínculos entre si para alcançar um conhecimento
mais abrangente, ao mesmo tempo diversificado e unificado. Verifica-se, nesses casos, a
busca de um entendimento comum (ou simplesmente partilhado) e o envolvimento direto
dos interlocutores. Cada disciplina, ciência ou técnica mantém a sua própria identidade,
conserva sua metodologia e observa os limites dos seus respectivos campos. É essencial na
interdisciplinaridade que a ciência e o cientista continuem a ser o que são, porém,
intercambiando hipóteses, elaborações e conclusões.

Com base no modelo aqui adotado, seria difícil supor que a interdisciplinaridade previsse ou
antevisse todas as nuances e complexidades do processo educativo. Daí aimportância de buscar
outras formas de tratar dessa problemática, qual seja, a de inserir no campo epistemológico
ambiental as ferramentas educacionais atuais, por meio de um novo conceito: a
transdisciplinaridade, esta já inserida, inclusive, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

2.3 - Participação

É fato que a participação deve ser condição sine qua non da elaboração de quaisquer
projetos ambientais. Dada a sua realidade conectada inexoravelmente com as necessidades básicas e
urgentes, torna-se possível melhor interpretá-la e traduzi-la em modelos factíveis para a consecução
do bem-estar social. Para tal, faz-se necessária a implantação de canais e espaços que permitam e
promovam a efetiva participação da sociedade por meio de grupos organizados e interessados na
formulação de políticas públicas ambientais. Para BOFF (2012, p. 63), ―É notório que as sociedades

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

civilizadas se construíram e continuam se construindo sobre dois pilares fundamentais: a


participação dos cidadãos (cidadania ativa) e a cooperação de todos. Juntas, criam o bem comum‖.
Chega-se aqui, portanto, a um importante ponto de inflexão: aparticipação tornando-se
verdadeiramente efetiva a partir de ações e comportamentos ativos. Segundo BOBBIO et al (1983,
p. 1113),

O termo participação se acomoda também a diferentes interpretações, já quese pode


participar, ou tomar parte nalguma coisa, de modo bem diferente, desde a condição de
simples espectador mais ou menos marginal à de protagonista de destaque. (...) Há pelo
menos três formas ou níveis de Participação política que merecem ser brevemente
esclarecidos. A primeira forma, que poderíamos designar com o termo de presença, é a
forma menos intensa e mais marginal de Participação política; (...) A segunda forma
poderíamos designá-la com o termo de ativação: aqui o sujeito desenvolve, dentro ou fora
de uma organização política, uma série de atividades que lhe foram confiadas por delegação
permanente, de que é incumbido de vez em quando, ou que ele mesmo pode promover (...)

Em outras palavras, a efetiva participação é condição necessária para a construção da


cidadania, esta que, ao consolidar-se como ativa, torna possível a existência da verdadeira Política,
ou seja, aquela que institui os espaços públicos que, separados das esferas e interesses privados,
viabiliza a criação de políticas genuinamente públicas.Em suma, a participação efetiva é o gérmen
da dialética democrática, qual seja, a de mediar e de legitimar os conflitos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A EA parte de uma ideia abrangente e não isolada, sendo instrumento imprescindível para a
mudança de valores e conceitos apontados pela literatura e legislação brasileira supracitadas. Asua
simples positivaçãoem leis formais é condição necessária, porém não suficiente para efetivá-la, pois
exige a aplicação efetiva das mesmas, além de outros mecanismos de consciência ecológica, os
quais,do ponto de vista epistemológico,podem resultar em boas práticas ambientaisse fortalecidos
conjuntamente.
A priori, os conceitos de Interdisciplinaridade, Espaços de Interação Ecológica e
Participação, equivalentes entre si em grau de importância, devem manter uma relação sistêmica
cujo resultado engendra o PA e, por conseguinte, a Consciência Ecológica. Todavia, dado o amplo
campo semântico do conceito de Participação, há a necessidade de uma melhor compreensão
teórica, donde a escola filosófica de Platão mostra-se consistente ao defini-la como a relação entre
as coisas sensíveis e as ideias.
Seguindo-se tal preceito, torna-se evidente que os Espaços de Interação Ecológica estão ou
se aproximam das coisas sensíveis (empirismo), assim como a Interdisciplinaridade está ou se
aproxima do mundo das ideias (racionalismo), donde a Participação é a própria relação, pois a
mesma se estabelece pelo embate entre a prática empirista e a pura elucubração teórica.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ora, se tal relação resulta do conflito, e se o mesmo se intensifica à medida que os canais e
os espaços são erigidos, é de se supor que a Participação não pode e não deve ser caracterizada
apenas como um dos eixos principais que sustentam o PA; ela é, de fato, o eixo central do modelo
dialético-construtivista sugerido. Sem essa conexão, sem essa ponte de mão dupla‖, a dinâmica
empirista apenas se limita a resolver casos pontuais, sem generalizações formais; por outro lado, a
pura atividade racional, à medida que tem sucesso nas formalizações perfeitas, fecha-se ao impedir
correções propostas pelos experimentos.

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 15/05/2017.
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15/05/2017.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 749


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Revista Ciência & Educação. Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2001. 199 p.

VIANA, Pedrina Alves Moreira Oliveira. A Inclusão do Tema Meio Ambiente nos Currículos
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Bahia.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 750


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O AUDIOVISUAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO


AMBIENTAL

Jordanna Sebastiana GREGÓRIO


Mestre em Educação para Ciências e Matemática pelo IFG – Campus Jataí
gregoriojordanna@gmail.com
Sandra Regina LONGHIN
Docente do Programa de Pós-graduação do IFG – Campus Jataí
srlonghin@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho é um recorte da dissertação de mestrado intitulada ―Formação de professores
em educação ambiental: o ensinar e aprender com audiovisuais‖, a qual teve como orientação o
seguinte questionamento: Como um curso de formação inicial de professores, pautado na leitura e
produção de audiovisuais, possibilita o processo de Educação Ambiental? Em consonância com esta
problemática, o objetivo da pesquisa foi investigar as potencialidades e desafios da utilização de
audiovisuais no processo de formação inicial de professores visando o desenvolvimento da
Educação Ambiental crítica. Neste sentido, foi proposto um curso de formação de professores,
voltado para acadêmicos de licenciatura de Jataí-GO, o qual propunha um aprofundamento teórico
no que diz respeito ao desenvolvimento da Educação Ambiental crítica, bem como no que tange à
integração das TIC na educação. Utilizamos como instrumentos para a coleta dos dados as
atividades desenvolvidas no decorrer da formação, assim como dois questionários aplicados no
início e ao final do curso. Todos os dados foram analisados à luz da análise de conteúdo. Os
resultados apontaram que o curso possibilitou o desenvolvimento da Educação Ambiental crítica
dos sujeitos, uma vez que identificamos uma mudança no que diz respeito às representações sociais
de meio ambiente dos participantes.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Formação de Professores. TIC. Audiovisual.
RESUMÉN
El presente trabajo es un recorte de la disertación de maestría titulada "Formación de profesores en
educación ambiental: el enseñar y aprender con audiovisuales", la cual tuvo como orientación el
siguiente cuestionamiento: ¿Como un curso de formación inicial de profesores, pautado en la
lectura y producción de audiovisuales, posibilita el proceso de Educación Ambiental? En
consonancia con esta problemática, el objetivo de la investigación fue investigar las potencialidades
y desafíos de la utilización de audiovisuales en el proceso de formación inicial de profesores
visando el desarrollo de la Educación Ambiental crítica. En este sentido, se propuso un curso
dirigido a estudiantes de licenciatura de Jataí-GO, el cual proponía una profundización teórica en lo
que se refiere al desarrollo de la Educación Ambiental crítica; Así como en lo que se refiere a la
integración de las TIC en la educación. Utilizamos como instrumentos para la recolección de los
datos las actividades desarrolladas en el transcurso de la acción, así como dos cuestionarios
aplicados al inicio y al final del curso. Todos los datos se analizaron a la luz del análisis de
contenido. Los resultados apuntaron que el curso posibilitó el desarrollo de la Educación Ambiental
crítica de los sujetos, una vez que identificamos un cambio en lo que se refiere a las
representaciones sociales de medio ambiente de los participantes.
Palabras Clave: Educación Ambiental. Formación de profesores. TIC. Audiovisual.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A problemática ambiental está cada vez mais em evidência, em todo mundo, tendo em vista
a crescente degradação que assola a humanidade, forçando a sociedade contemporânea a repensar
seus modos de agir e pensar. Frente a este contexto mundial, acreditamos nas contribuições da
Educação Ambiental (EA), a fim de que seja possível desenvolver novos conhecimentos,
habilidades, valores e atitudes, propendendo à melhoria da qualidade ambiental e efetivamente a
elevação da qualidade de vida para as gerações presentes e futuras.
Ocorre que nem todas as ações em EA possuem um cunho político, voltado para a
identificação dos problemas sociais e ambientais com vistas à emancipação e participação dos
sujeitos em sua realidade, principalmente quando tratamos da EA formal, ou seja, desenvolvida no
âmbito escolar.
Nesse sentido, a utilização e integração dos recursos audiovisuais e sua linguagem na
educação, particularmente nas práticas pedagógicas em EA, apresenta-se como um tema
extremamente relevante na formação inicial e continuada de professores, uma vez que, por um lado,
podem ser entendidas como instrumentos ou ferramentas educacionais para melhoria do processo
ensino-aprendizagem e, por outro, o estudo crítico e sistemático destes recursos como podem ser
utilizados para mediar as relações entre a escola e os membros dos grupos sociais na formação da
cidadania e responsabilidade socioambiental.
Justificamos a relevância deste trabalho, pois o mesmo buscou contribuir, no que diz
respeito à formação inicial dos professores, proporcionando a estes importantes atores sociais a
possibilidade, não somente de lidar com as novas tecnologias na educação, como é o caso da
utilização dos materiais audiovisuais, mas também de refletir sobre como utilizar esses instrumentos
a serviço do desenvolvimento de uma EA crítica.
Assim, o problema que motivou e orientou esta pesquisa pode ser expresso na seguinte
pergunta: Como um curso de formação inicial de professores, pautado na leitura e produção de
audiovisuais, pode possibilitar o processo de EA? Em consonância com a questão de pesquisa, o
objetivo geral da mesma foi investigar as potencialidades e desafios da utilização de audiovisuais
para o processo de formação inicial de professores visando o desenvolvimento da EA em uma
perspectiva crítica.
A fim de alcançarmos nossos objetivos, propusemos um curso de formação de professores
em EA, voltado para os acadêmicos de licenciatura do município de Jataí-GO, em parceria com o
Laboratório de Arte-Educação do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás – Regional
Jataí (UFG/REJ). Durante o curso buscamos possibilitar aos participantes um aprofundamento
epistemológico no que diz respeito ao desenvolvimento da EA em uma perspectiva crítica; assim
como um aprofundamento teórico e metodológico no que tange à interação das Tecnologias de
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Informação e Comunicação (TIC) na educação, especialmente na EA. Os participantes realizaram


durante a ação formativa atividades como participação de fóruns de discussão; elaboração de planos
de aula com vistas para o desenvolvimento da EA formal; e a produção de um vídeo como
ferramenta cultural para o desenvolvimento da EA.
Neste trabalho apresentaremos os resultados da pesquisa em relação aos dados coletados
durante a participação dos acadêmicos nos fóruns de discussão e na produção audiovisual,
relacionando as respostas dos participantes aos questionários aplicados antes e depois da ação
formativa, afim de verificar se houve mudanças nas representações sociais de meio ambiente dos
participantes, porém destacamos que na dissertação que originou este trabalho foram apresentados
também resultados referentes à análise dos planos de aula desenvolvidos pelos participantes durante
o curso, bem como a análise dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos cursos dos participantes
em relação à abordagem, ou não, dos temas relacionados à Educação Ambiental e a utilização das
TIC na educação.
A ação formativa contou com a inscrição de dezenove participantes, sendo que destes
quatorze concluíram o curso. Havemos de destacar que a ação formativa foi divulgada para todos os
cursos de Licenciaturas da UFG/REJ e outras IES do município, contudo houve uma predominância
de participantes dos cursos de Pedagogia e Ciências Biológicas da UFG/REJ e somente 1 acadêmica
de outra IES.
A pesquisa relatada neste trabalho, caracteriza-se como qualitativa do tipo estudo de caso.
Na perspectiva de Lüdke e André (1986), este tipo de pesquisa consiste em um estudo de um caso
simples e específico. Os dados foram analisados a luz dos referenciais teóricos de Bardin (2011).
Para tanto, inicialmente realizamos uma pré-análise do material, selecionando os documentos que
seriam analisados e formulando hipóteses. Concluída essa etapa, iniciamos o processo de inferência,
buscando interpretar logicamente os dados encontrados. Posteriormente elaboramos e agrupamos as
unidades de registro, estabelecendo categorias.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO MEIO AMBIENTE PARA A INVESTIGAÇÃO EM


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As representações sociais são consideradas como formas de interpretação que conduzem


nossas relações com o mundo e com os outros, organizando as condutas e as comunicações entre os
membros sociais. Para Moscovici (2007) as concepções científicas e as de senso comum são modos
diferentes de explicar a realidade que não são excludentes e incompatíveis, e embora o senso
comum mude seu conteúdo e as maneiras de raciocinar, ele não é substituído pelas teorias
científicas e pela lógica.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo Porto-Gonçalves (2006) toda sociedade institui uma determinada ideia do que seja
meio ambiente, assim, o conceito de meio ambiente não é um conceito inato, mas sim construído de
forma social. Dessa forma, entendemos o conceito de meio ambiente como uma representação
social que influencia os modos de agir dos seres humanos independente de sua cultura.
No livro ―Meio Ambiente e Representações Sociais‖, Reigota (2007) aponta as seguintes
representações de meio ambiente: naturalista, antropocêntrica e globalizante.
Na concepção Naturalista o meio ambiente é retratado como sinônimo de natureza,
envolvendo os aspectos bióticos e abióticos do meio. Nessa representação ocorre a separação do ser
humano do ambiente, colocando-o como um observador passivo, sem laços de pertencimento e
responsabilidade. E o ser humano, quando retratado nesta categoria de representação, apresenta-se
como agente de degradação.
A concepção Antropocêntrica apresenta o ser humano como centro de interesses, onde tudo
no ambiente está à disposição das suas necessidades e desejos, cabendo- lhe dispor dos recursos
naturais para garantir uma melhor condição de vida, o que indica por sua vez, uma postura
individualista e a ausência de compromisso sócio-político.
Já a concepção Holística ou Globalizante compreende o meio ambiente enquanto interação
complexa de configurações sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais, percebendo as
relações de interdependência, responsabilidade e pertencimento.
Diante das diferentes representações sociais apresentadas, verifica-se quão complexo e
desafiador é o trabalho de inserção da EA no ambiente escolar. As diferentes concepções de meio
ambiente, da relação entre ser humano e natureza e de EA se entrelaçam e constituem um mosaico
de visões que ora se complementam, ora se excluem, ora se integram. Lidar com o desafio de
analisar essas representações buscando sua (re)construção em uma nova realidade deve se constituir
num primeiro passo para a concretização das ações educativas ambientais.

O AUDIOVISUAL NA EDUCAÇÃO

Vivemos imersos em um mundo de imagens. Temos acesso a linguagem audiovisual nas


salas de cinema, nos inúmeros aparelhos de televisão que estão por toda parte, nas telas dos
computadores e celulares. Atualmente até mesmo as pessoas que moram na zona rural têm sua
própria experiência com a linguagem audiovisual para relatar. Em algum momento da nossa vida, a
linguagem audiovisual nos toca, nos sensibiliza, nos educa.
Diante das potencialidades da linguagem audiovisual, Arroio; Giordan (2006), comentam
que os recursos baseados nesta linguagem, como vídeos e filmes têm um forte apelo emocional e,
por isso, motivam a aprendizagem dos conteúdos apresentados pelos professores. Ou seja, com a
utilização destes recursos os estudantes compreendem de maneira sensitiva, não apenas diante das

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

argumentações da razão, ou seja, se trata da aquisição de experiências por meio de emoções,


atitudes, sensações, etc.
Mediante a utilização dos audiovisuais na educação, Moran (1995) sugere alguns princípios
metodológicos para nortear o trabalho do professor dessa nova linguagem, dentre elas: o vídeo
como sensibilização, para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação
para novos temas; o vídeo como ilustração para ajudar a mostrar o que se fala em aula, a compor
cenários desconhecidos dos alunos; O vídeo como simulação de experimentos perigosos ou que
necessitam de muito tempo ou recursos; o vídeo como conteúdo de ensino, para trabalhar
determinado assunto, de forma direta ou indireta; e o vídeo como produção para documentar
eventos ou aulas, para intervenção em materiais já prontos, para expressão dos alunos ou até mesmo
para avaliação.
Pesquisas demonstram que o uso mais comum do vídeo na educação é o ilustrativo, isto é,
como representação de algum fato ou fenômeno que se quer abordar numa determinada disciplina
(MIRANDA, 2008). Contudo, a autora aponta na mesma obra que trabalhar com produção de vídeo
promove a melhor percepção do indivíduo sobre o mundo, uma vez que com criatividade, com
criticidade e espírito investigativo propõe a interpretação do conhecimento e não apenas a sua
aceitação. Possibilita-se que o aluno deixe de ser objeto e torne-se sujeito do próprio conhecimento
Frente a integração de novas tecnologias, dentre elas os recursos audiovisuais, o desafio da
educação é explorar as infinitas possibilidades que estes recursos oferecem, mas também,
―reconhecer, no universo cultural dos estudantes o que faz parte do seu cotidiano, novos modos de
ler (conhecer) o mundo e de escrevê-lo (transformá-lo)‖ (FREIRE, 1970 apud PIRES, 2010).
Assim, atribuímos a escola o papel de mediadora sociocultural nos processos de apropriação da
linguagem audiovisual e usos de diferentes suporte para criação, expressão e comunicação.

CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Com vistas à utilização dos audiovisuais no desenvolvimento da EA crítica, optamos por


adotar uma metodologia de trabalho ancorada nos desígnios da Abordagem Triangular, a qual têm
suas raízes na arte-educação contemporânea, proposta inicialmente na década de 1980 pela arte-
educadora Ana Mae Barbosa.
De acordo com Barbosa (1998), a Abordagem Triangular deve se apresentar em ações
dentro do processo de ensino/aprendizagem, relacionado a apreciação estética, com a informação
histórica, e a produção artística, identificada da seguinte forma: leitura da imagem, contextualização
e criação, sendo que a leitura envolve questionamentos, perguntas, descobertas e desperta a crítica
em relação à obra de arte ou imagem lida; a contextualização envolve estabelecer relações entre

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

características sociais de quem lê e de quem produz uma imagem; e a criação é a ação de fazer arte,
é a experimentação e o domínio da técnica, enfatizando a criatividade (ANDRADE, 2011).
O curso de formação de professores em EA contemplou as etapas propostas na Abordagem
Triangular levando em consideração que os participantes passaram pelo momento de leitura da
imagem (exibição dos vídeos com temática ambiental afim de que os participantes lançassem mão
de suas histórias de vida para entender o que foi visto); o momento de contextualização (debate
sobre as questões tratadas nos materiais levando em consideração os aspectos históricos e sociais do
ambiente) e posteriormente a criação (produção do vídeo com ênfase na EA crítica).
Em relação a estrutura da ação formativa a mesma ocorreu em modalidade semipresencial e,
a princípio, planejada para acontecer em 7 encontros presenciais, com carga horária de 4 horas cada,
8 encontros à distância com a carga horária de 4 horas cada, totalizando 60 horas/aula.
Os encontros presenciais foram planejados para que ocorressem nas quintas-feiras no
período noturno no laboratório de Mídias da UFG/REJ. Já em relação aos encontros à distância, os
alunos teriam um prazo de 5 dias para desenvolverem as atividades, por meio do ambiente de
aprendizagem Moodle, disponibilizado pela própria universidade para atividades educacionais à
distância.
No que diz respeito aos módulos, o curso foi organizado em três módulos, sendo eles:
 O Módulo I ―Fundamentos epistemológicos de EA‖ – teve como propósito principal
proporcionar aos participantes, subsídios para que eles repensassem as relações entre
sociedade e natureza, as representações sociais de meio ambiente presentes na sociedade e
suas implicações no desenvolvimento da EA crítica.

 O Módulo II ―A utilização do audiovisual na escola‖ - teve como propósito principal


analisar as potencialidades e dificuldades encontradas pelos educadores no que diz respeito à
utilização dos audiovisuais na educação, assim como em específico na EA. Outro objetivo do
módulo foi apresentar aos alunos a Abordagem Triangular (ler, contextualizar e fazer) e
discutir sobre como esta proposta pode ser utilizada na leitura e produção de materiais
audiovisuais com enfoque na EA.

 O Módulo III ―Produção de Vídeos‖ - teve como proposito principal concluir a proposta
da Abordagem Triangular iniciada no módulo anterior. Neste sentido, o módulo foi voltado
para a produção dos vídeos como forma de compreensão crítica das questões que envolvem
nossa sociedade relacionada à temática ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Levando em consideração a necessidade do aprofundamento epistemológico em EA por


parte dos professores em formação, buscamos no módulo I do curso proporcionar aos participantes
subsídios para que eles repensassem nas representações sociais de meio ambiente presentes na
sociedade e principalmente nos materiais audiovisuais e suas implicações no desenvolvimento da
EA crítica. Neste sentido, escolhemos como material de discussão o texto ―Repensando nosso olhar
sobre as relações entre sociedade e natureza‖ (CARVALHO, 2004) e os vídeos ―Ilha das Flores 46‖,
―Man47‖ e ―Pense nisso! Preservação da natureza48‖.
A atividade elaborada para este módulo foi a participação no Fórum de Discussão 1, no
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Para tal, levantamos os seguintes questionamentos: a)
Quais as representações sociais de meio ambiente mais difundidas na TV e outros meios de
comunicação; b) Como são representadas as relações entre seres humanos e natureza nos vídeos
"Ilha das Flores", "Man" e "Pense nisso! Preservação da natureza"; e c) O que é a representação
socioambiental de meio ambiente?
No que diz respeito as discussões no Fórum sobre as representações sociais de meio
ambiente mais difundidas na TV, todos os participantes apontaram que predomina neste meio de
comunicação uma visão naturalizada de meio ambiente, considerando somente os aspectos
biológicos do meio como a fauna e a flora. Porém, os cursistas destacaram que essa visão de
―natureza intocada‖ apresentada pelos meios de comunicação não é o que acontece na realidade,
mas sim a destruição da natureza causada pelos seres humanos.
Os depoimentos dos participantes deixam clara a dualidade no que diz respeito as
representações de meio ambiente presentes na sociedade, sendo que, nestas representações o meio
ambiente é sinônimo de natureza, sem que haja a presença dos seres humanos, ou quando há, a
mesma é sinônimo de malefícios ao ambiente natural, como se nós não fizemos parte deste meio, ou
como se não pudéssemos nos relacionar com o ambiente natural de forma positiva.
Como citado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a EA, a visão naturalista de
meio ambiente ainda está muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino (BRASIL,
2012). Para algumas pessoas, a expressão ―meio ambiente‖ diz respeito apenas à fauna, flora e parte
da natureza relativa às florestas, matas, bosques, ou seja, as pessoas geralmente enfocam somente os
aspectos biológicos e físicos do meio, esquecendo-se dos aspectos sociais e culturais que também
constituem o ambiente.

46
Vídeo Ilha das Flores: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg.
47
Vídeo Man: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WfGMYdalClU.
48
Vídeo Pense nisso! Preservação da natureza. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_5oVo0nA9fw.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assim, tem-se que o conceito de EA deve ser visto de forma complexa, não apenas voltada
para o respeito e preservação do meio ambiente natural, pois o meio ambiente, compreende muito
mais do que a conservação da fauna e flora nativas; aprofunda-se em questões pertinentes à própria
convivência do ser humano em sociedade, e na interação que tem com todo o planeta.
No fórum os cursistas também foram questionados sobre o que é a visão socioambiental de
meio ambiente, neste sentido todos souberam responder este questionamento, ressaltando que nesta
perspectiva o meio ambiente é entendido como uma articulação e interação entre os seres humanos
e a natureza, como pode ser identificado no excerto a seguir. Porém, ao compararmos essas
respostas com os depoimentos dados em relação aos vídeos, identificamos que havia uma
contradição nas respostas, o que significa que mesmo conhecendo o que é uma visão
socioambiental ainda se faz incutida nas representações sociais dos participantes a dualidade entre
sociedade e natureza.
Durante o segundo módulo do curso, discutimos com os alunos sobre a utilização do
audiovisual na Educação, sendo que para tal propusemos a leitura dos textos "Os desafios da TV e
vídeo na escola" (MORAN, 2005) e o texto "Avaliando a Educação Ambiental no Brasil: materiais
audiovisuais" (JUNQUEIRA, 2001) e posterior participação no Fórum de Discussão 2.
A fim de iniciar as discussões no fórum, lançamos os seguintes questionamentos aos
participantes: Quais são as potencialidades e desafios da utilização de recursos audiovisuais como a
TV e vídeo na educação? Quais as características dos materiais audiovisuais analisados por
Junqueira (2001) que retratam a temática ambiental? Como você utilizaria recursos audiovisuais
para desenvolver uma EA crítica?
Em relação a participação no Fórum de Discussão 2, predominara a opinião dos cursistas de
que os audiovisuais são importantes recursos quando utilizados na educação, uma vez que são uma
forma do aluno fugir do abstrato, partindo do concreto, o que consequentemente fará com que ele
tenha uma aprendizagem mais significativa.
Neste sentido, Moran (1995) assinala que o prazer que sentimos ao assistirmos os materiais
audiovisuais é devido à linguagem utilizada, a qual é sensorial, visual, falada, musical e escrita, de
forma que todas interagem superpostas, interligadas, somadas, não-separadas. Daí a sua força.
―Somos atingidos por todos os sentidos e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa,
entretém, projeta em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços‖ (MORAN,
1995, p. 28).
Outra opinião que predominou nas respostas do fórum, foi de que os audiovisuais fazem
parte do cotidiano das pessoas e que por isso ele deve ser valorizado no contexto educacional.
Diante deste cenário retratado pelos acadêmicos, (KRASILCHIK, 2004, p.63) aponta que no
contexto educacional ainda existe ―uma barreira entre a vida e a escola, sendo que às vezes o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estudante tem acesso no seu dia-a-dia a tecnologias modernas e sofisticadas, e estas não estão
presentes no contexto escolar‖. Sendo assim, a utilização de audiovisuais e demais TIC em sala de
aula representam uma inovação no processo de ensino, e no que diz respeito a formação de
professore, deve ser abordado nos cursos de licenciaturas de forma com que estes professores
tenham subsídios, teóricos e metodológicos para superar estas barreiras.
No que diz respeito a opinião dos participantes durante o fórum de discussão sobre a
utilização dos audiovisuais na EA, destacamos que ao contrário das respostas dadas durante o
questionário diagnóstico, nas quais os participantes enfatizaram a utilização dos audiovisuais para a
EA, no sentido de sensibilizar e conscientizar, percebemos que após decorridas as três semanas de
curso os cursistas já apresentaram outras possibilidades de utilização para os audiovisuais na EA
não só no sentido de sensibilização e conscientização mas também como forma de investigar os
problemas ambientais de seu meio e de socializar essas informações com a sociedade, não aceitando
mais o papel de meros telespectadores.
Os alunos destacaram a tendência dos educadores ambientais em utilizarem somente os
audiovisuais no formato de documentário na maioria das vezes especializados em temas voltados
para as questões ambientais. Neste sentido apontamos aos cursistas que os filmes comerciais, por
exemplo, também podem ser utilizados nas práticas de EA, uma vez que isso faz parte do cotidiano
dos nossos alunos. As questões ambientais não são dissociadas do nosso dia-a-dia, ao contrário elas
estão presentes nas novelas, nos telejornais, nos desenhos animados, nos jogos dentre outros.
Durante o módulo III da ação formativa, intitulado ―Produção de Vídeos‖, convidamos os
alunos a partirem da produção de vídeos como forma de compreensão crítica das questões que
envolvem nossa sociedade relacionadas à temática ambiental.
Para o melhor desenvolvimento da produção dos vídeos, dividimos as atividades em cinco
encontros, sendo os três primeiros encontros presenciais, voltados para as questões teóricas da
produção audiovisual; uma semana à distância para que os cursistas realizassem o trabalho de
campo; e por último um encontro presencial para a apresentação e discussão dos vídeos produzidos.
Para a realização desta atividade dividimos a turma em dois grupos com três integrantes, um grupo
com quatro integrantes e um grupo com cinco integrantes.
No que diz respeito aos vídeos produzidos, foram entregues pelos participantes três obras
sendo elas os vídeos: ―Lazer e lesar49‖; ―Eu gosto de opostos50‖ e o vídeo ―H2O até quando51‖.
Destacamos que o grupo quatro, mesmo decorridas as duas semanas depois do último encontro não
entregou a atividade proposta.

49
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=6lJ5nlsRnPM>.
50
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1QhIYyopBWo>.
51
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s5Aqkj2gQ94>.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

De acordo com o relato do grupo 1, o vídeo ―Lazer e lesar‖, teve o intuito de mostrar que as
vezes as pessoas têm uma consciência ambiental, porém continuam com as mesmas ações em
relação ao meio ambiente. O grupo também ressaltou que procurou destacar no vídeo algumas
situações que ocorrem no parque ―Lago Diacuy‖, mas que não são percebidos pelas pessoas. Após a
apresentação dos vídeos os cursistas discutiram sobre as várias situações retratadas no vídeo como:
a alimentação inadequada dos animais do lugar; a questão dos direitos e deveres dos cidadãos ao
utilizarem o parque; o descaso público em relação ao parque (banheiros, bebedouros e bancos
quebrados); a necessidade de ações contínuas de EA junto aos usuários do parque; e questões de
saúde pública envolvendo a utilização do espaço.
No relato do grupo 2, o vídeo ―Eu gosto de opostos‖, buscou fazer uma reflexão das relações
entre as pessoas e o seu meio utilizando a música ―Esquadros‖ da cantora Adriana Calcanhoto. As
integrantes do grupo disseram que durante as filmagens elas discutiam a letra da música e um dos
componentes desenhava as representações feitas pelo grupo. Após a apresentação dos vídeos os
cursistas discutiram sobre as várias situações retratadas no vídeo como a desigualdade social e as
inter-relações pessoais frente as novas tecnologias.
No relato do grupo 3, o vídeo ―H2O até quando?‖ buscou mostrar com a obra as diversas
formas com que fazemos uso da água em nosso cotidiano, e como esse recurso é indispensável para
a existência dos seres vivos. O vídeo também contém imagens de uma enchente que aconteceu em
Jataí no ano de 2010, que por conta do descarte indevido dos resíduos sólidos, causando o
entupimento dos bueiros e a poluição da água, também provocou a perda de inúmeras casas dos
moradores das margens do Córrego Jataí.
Os depoimentos coletados durante as aulas presenciais deixam claro que a experimentação
como sujeito produtor possibilitou aos cursistas um entendimento do audiovisual como recurso
didático atrelado ao processo de ensino-aprendizagem em EA, e a compreensão da
interdisciplinaridade necessária ao entendimento da EA como uma dimensão das inter-relações
entre o mundo natural e o mundo social, mediado pelos diferentes saberes.
No que tange às representações sociais de meio ambiente, comparamos os questionários
respondidos pelos participantes antes e depois da ação formativa e verificamos que houve uma
diminuição de participantes que representavam o meio ambiente de forma Naturalista e
Antropocêntrica, bem como, aumento de participantes que representavam o meio ambiente de
forma Globalizante, como apresentado na Tabela 1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 24 - Comparação entre as respostas dos questionários (diagnóstico e final), no que diz respeito as
representações sociais de meio ambiente dos participantes.
Questionário
Inicial Final
Categorias
Naturalista 10 6
Globalizante 0 5
Antropocêntrica 2 1
Não responderam 2 2
Total 14 14

Ao analisarmos as mudanças em relação às representações sociais de meio ambiente dos


participantes, não tínhamos como objetivo estabelecer um juízo de valor e classificar as mesmas
como certas ou erradas, mas gostaríamos de destacar que durante o curso trabalhamos para que os
cursistas desconstruíssem as representações que possuíam e as reconstruíssem ampliando os pontos
de vista sobre o tema.
As discussões realizadas nos encontros presenciais foram importantes e destacamos dentre
elas uma que aconteceu ao final do curso, no encontro presencial, no qual os participantes
apresentaram seus vídeos e debatemos sobre os temas apresentados. Nesta ocasião comentamos
com os participantes sobre a predominância da representação naturalista entre eles no início do
curso e que achamos importante que ao final do curso foram apresentados vídeos com uma
concepção um pouco diferente, como o vídeo produzido pelo grupo um ―Eu gosto de opostos‖, uma
vez que buscaram elaborar a obra de uma forma mais artística utilizando o tema de uma música e
elementos de arte (desenho) para discutir questões como a fome, a falta de tempo das pessoas, as
influências das tecnologias na sociedade e as relações interpessoais não como um mero repasse de
informações. Também ressaltamos o trabalho desenvolvido no vídeo ―Lazer e lesar‖ do grupo dois,
uma vez que não abordou somente os problemas biológicos em relação ao parque ―Lago Diacuy‖,
mas também fez críticas em relação questões sociais envolvendo o assunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma geral, foi sinalizado pelos participantes que o curso contribuiu de forma positiva
para sua formação, uma vez que possibilitou um maior aprofundamento teórico em relação ao
desenvolvimento da EA em uma perspectiva crítica, além de contribuir no embasamento teórico e
metodológico dos participantes no que diz respeito à utilização dos audiovisuais na educação e em
específico para o desenvolvimento da EA.
Ao final do trabalho consideramos a pesquisa muito enriquecedora, pois foi por meio dela
que pudemos desenvolver uma ação de EA voltada para formação de professores utilizando os
recursos audiovisuais para emancipação destes indivíduos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Diante de toda a reflexão exposta, propomos que novas pesquisas, envolvendo a formação
de professores em EA aconteçam, haja vista que, estas são importantes ferramentas para que
ocorram mudanças na sociedade. Havemos de destacar, que estas mudanças devem começar pelo
processo educacional, e neste contexto, o pilar central é sem sombra de dúvidas o educador. Essas
pesquisas podem ser realizadas, envolvendo as TIC ou com outros recursos e até mesmo na
formação continuada, como forma de suprir esta lacuna apontada pelos teóricos pesquisados e
também pelos participantes, de que nas graduações a formação para o uso das tecnologias e para o
desenvolvimento da EA ainda é deficitária.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 763


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ÀS DISCIPLINAS


DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL: DIAGNÓSTICO
E PERSPECTIVAS DA TRANSVERSALIDADE DISCIPLINAR
NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO BRASIL

Josiane Maria de Santana Melo LINS


MSc. Universidade Católica de Pernambuco UNICAP
josianemlins@hotmail.com
Eduardo José Melo LINS
Engenheiro Civil e Licenciado em Matemática Universidade de Pernambuco UPE
eduardojmlins@hotmail.com
Vanice Santiago Fragoso SELVA
Professor Adjunto Pós-Doutor em Geografia UFPE
vanice.ufpe@gmail.com

RESUMO
A integração da educação ambiental às disciplinas dos cursos universitários de engenharia civil é de
fundamental importância para a adequada formação do engenheiro civil, visto que a engenharia está
entre as atividades que mais interferem no meio ambiente natural e construído. A autonomia
universitária permite às universidades liberdade para a formulação de políticas pedagógicas mais
adequadas à região onde estão inseridas. Foram analisadas as grades curriculares dos cursos de
engenharia civil de cinco universidades brasileiras, uma por região administrativa do país, segundo
aquelas que disponibilizam a grade curricular através dos seus sítios eletrônicos. As universidades
analisadas correspondem a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade de São Paulo,
Campi São Carlos (USPSCar), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e Universidade Federal do Pará (UFPA). Para o auxílio da análise das grades
curriculares é proposta uma escala de classificação do grau de adequação (GA) da carga horária
total em educação ambiental, o qual pode variar de maior que 0,9 (adequação alta) a menor que 0,4
(adequação crítica). Da análise das grades curriculares, com o uso da escala de classificação, é
possível compreender que a UFPA e a UnB possuem os currículos mais modernos do ponto de vista
da oferta de carga horária para as disciplinas obrigatórias e optativas do eixo ambiental, as quais
apresentam um GA alto, igual a 0,78 e 0,72 respectivamente, os quais podem servir como modelo
para as demais universidades brasileiras. Além das análises quantitativas das disciplinas de
educação ambiental, é importante destacar que a análise qualitativa é prescindível.
Palavras Chave: Transversalidade, Eixo Ambiental, Ensino Superior.
ABSTRACT
The integration of environmental education in the disciplines of university courses in civil
engineering is of fundamental importance for the adequate training of the civil engineer, since
engineering is among the activities that most interfere in the natural and built environment.
University autonomy allows universities the freedom to formulate pedagogical policies more
appropriate to the region where they are inserted. The university curriculum of the civil engineering
courses of five Brazilian universities were analyzed, one per administrative region of the country,
according to those that make available the curricular grid through its electronic sites. The analyzed
universities correspond to the Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade de São Paulo,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Campi São Carlos (USPSCar), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) and Universidade Federal do Pará (UFPA). A classification scale of the adequacy
(GA) of total hours in environmental education is proposed, which can vary from greater than 0.9
(high adequacy) to less than 0,4 ( Critical adequacy). From the analysis of curricular grades, using
the classification scale, it is possible to understand that UFPA and UnB have the most modern
curricula from the point of view of the supply of hours for the obligatory and optional subjects of
the environmental axis, which present A high GA, equal to 0.78 and 0.72 respectively, which can
serve as a model for other brazilian universities. In addition to the quantitative analyzes of the
environmental education disciplines, it is important to highlight that the qualitative analysis is
dispensable.
Keywords: Transversality, Environmental Axis, University Education.

INTRODUÇÃO

A crise ambiental é um dos grandes desafios globais da humanidade, e, mais que soluções
técnicas, requer normalmente soluções educacionais que se configurem em mudanças de hábitos,
valores e atitudes. No Brasil, como em outros países do planeta, as implicações sociais e
econômicas têm grande peso na formulação de políticas de educação, pois questões primárias de
sobrevivência devem ser resolvidas. Assim, discussões sobre meio ambiente e sustentabilidade
podem ser um espaço de luta política e social pela emancipação, pela superação do estado de
exploração, invisibilidade e marginalização em que vive a maior parte da sociedade
(GUIMARÃES; TOMAZELLO, 2003).
Conforme conceito estabelecido pela Lei n. º 9.795/1999, Lei que instituiu a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), entendem-se por educação ambiental os processos por
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. De acordo com o artigo 2º da
PNEA, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo
educativo, em caráter formal e não formal. O Decreto n°. 4.281, de 25 de junho de 2002, que
regulamenta a Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a PNEA, estabelece no inciso
primeiro do artigo 5º que na inclusão da educação ambiental em todos os níveis e modalidades de
ensino, inclusive o ensino superior, recomenda-se como referência os Parâmetros e as Diretrizes
Curriculares Nacionais, observando-se a integração da educação ambiental às disciplinas de modo
transversal, contínuo e permanente.
De acordo com o Grupo de Trabalho em Educação Ambiental da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), a educação ambiental vem sendo ampliada e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

fortalecida aos poucos no cenário acadêmico brasileiro, através de maiores possibilidades em


estudos e pesquisas nessa área (ProNEA, 2014).
Embora as universidades estejam vinculadas à estrutura do Governo Federal, é garantido
pela Constituição Federal (CF) de 1988, que as mesmas gozem de autonomia para atingir a
excelência nos três pilares que regem o funcionamento das instituições de ensino superior, quais
sejam, o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, podendo-se destacar a autonomia da
promoção de políticas pedagógicas relacionadas ao pilar do ensino da educação ambiental, fazendo
com que as universidades possam cumprir, de modo autônomo e independente, a sua verdadeira,
relevante e indispensável finalidade – a disseminação do conhecimento e saber científico. Sem a
citada autonomia as universidades ficariam reféns das mudanças políticas ocorridas a cada novo
ciclo quadrienal de eleições gerais.
A indústria da construção civil é um dos setores produtivos que mais modifica e afeta o
meio ambiente natural, seja para a extração de recursos naturais não renováveis para uso como
matéria prima ou para a construção de ambientes projetados para o conforto e bem-estar da
sociedade. De acordo com SELVA (2012), o processo de modificação de ambientes naturais ocorre
sempre que o homem se utiliza dos recursos ambientais e transforma o espaço de acordo com as
suas necessidades, disponibilidade de recursos e de seus interesses. Esse processo tem sido
condicionado pela matriz sociocultural, pela capacidade tecnológica e pelo poder político e
econômico da sociedade moderna, resultando em novos espaços que são continuamente construídos
e reconstruídos para atender as necessidades e os interesses socioeconômicos.
A necessidade de conservar o meio ambiente promovendo o desenvolvimento sustentável
apresenta-se como o padrão de comportamento ético-profissional esperado na formação do
engenheiro civil (SOUSA et al., 2015).
O presente artigo tem como objetivo apresentar um panorama atual da educação ambiental
integrada de modo transversal, contínuo e permanente às disciplinas obrigatórias e optativas que
compõe a grade curricular de cursos superiores de bacharelado em engenharia civil, ofertados pelas
universidades públicas brasileiras nas cinco regiões administrativas do país, a partir do qual é
traçado um diagnóstico preliminar da carga horária das disciplinas do eixo ambiental, bem como é
proposta uma escala numérica simplificada de classificação da adequação da carga horária total em
educação ambiental para o citado curso universitário, de forma que a escala seja uma ferramenta de
apoio à análise da grade curricular vigente nas diversas universidades brasileiras e da eventual
necessidade de aprimoramento, adequação e expansão das disciplinas do eixo ambiental que as
compõe, de maneira que a excelência em educação ambiental seja em um futuro próximo uma
realidade na maior quantidade possível de cursos universitários em engenharia civil ofertados no
Brasil.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DA GRADE CURRICULAR DOS CURSOS DE ENGENHARIA


CIVIL NO TOCANTE A INTEGRAÇÃO DAS DISCIPLINAS À EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Para analisar os currículos dos cursos de engenharia civil foi realizado inicialmente um
levantamento das grades curriculares dos cursos de bacharelado em engenharia civil nos sítios
eletrônicos das universidades públicas das diferentes regiões brasileiras. Observou-se que nem todas
as universidades dispõem das grades curriculares dos cursos de engenharia civil. Com base no
levantamento realizado foi selecionada uma amostra de cinco universidades, sendo uma de cada
região brasileira, para que fosse feito o diagnóstico preliminar e amostral do panorama atual das
disciplinas do eixo ambiental ofertadas no citado curso de graduação. As universidades foram
escolhidas de maneira aleatória, segundo aquelas que disponibilizaram a grade curricular do curso
em engenharia civil na sua página oficial da rede mundial de computadores.
Com base nos critérios adotados foram selecionadas na região Nordeste a Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), na região Sudeste a Universidade de São Paulo, Campi São Carlos
(USPSCar), na região Centro-Oeste a Universidade de Brasília (UnB), na região Sul a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e na região Norte é analisada a Universidade Federal do Pará
(UFPA). A escolha do curso de bacharelado em engenharia civil como objeto de análise do presente
artigo se deu em função deste representar a área da aplicação do conhecimento e de tecnologia com
um dos maiores potenciais para a degradação do meio ambiente natural e construído, pelas
intervenções tanto do uso de matérias primas como dos produtos destas intervenções. Para a análise
dos currículos tomou-se como referência o que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) sobre a flexibilidade e liberdade de escolha das disciplinas dos cursos.
Os currículos vigentes à época da Lei nº. 4.024/61, primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), caracterizavam-se por excessiva rigidez, advinda, em grande parte, da
fixação detalhada de mínimos currículos, resultando na progressiva diminuição da margem de
liberdade das universidades para a organização das atividades de ensino, bem como na fixação de
currículos muitas vezes com a prevalência de interesses de grupos corporativos interessados na
criação de obstáculos para o ingresso da sociedade no mercado de trabalho, o que resultou no
excesso de disciplinas obrigatórias e em desnecessária prorrogação dos cursos de graduação (CNE,
2004).
Ainda segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE), Câmara de Educação Superior, a
vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº. 9.394, de 1996, eliminou a
exigência de currículos mínimos, inserindo-se tal medida no espírito mais amplo de uma proposta
de reestruturação do sistema de ensino superior no país, com menor ênfase na centralização, e em
prol de maior autonomia para que as instituições possam inovar, atendendo às demandas regionais e
nacionais. A carga horária necessária para a integralização dos currículos não está mais presa à
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

determinação de currículos mínimos para cada curso, facultando-se às instituições de ensino


superior ampla liberdade para a fixação do conteúdo necessário para que o estudante tenha atestado,
pelo diploma, a formação recebida em seu curso superior.
Buscou-se estabelecer a relação entre as disciplinas propostas nos cursos e a educação
ambiental, compreendendo que estas disciplinas oferecidas nos cursos possibilitam a construção de
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente e a sustentabilidade ambiental, indicando a integração destas com a educação
ambiental. A educação ambiental, segundo a Lei 9.795, de 1999, que define a Política Nacional de
Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal.

A. Grade Curricular da UFPB (Nordeste):

Inserida na região Nordeste a Universidade Federal da Paraíba, prever na grade curricular do


curso de Engenharia Civil de 2011 um conjunto de disciplinas que apontam para as preocupações
ambientais como ciências ambientais, gestão de resíduos sólidos urbanos e saneamento ambiental
(tabela 1), as quais são integradas à educação ambiental de modo transversal, com carga horária de
disciplinas obrigatórias igual a 105 horas-aula ou 2,61% da carga horária total do curso (CHT) (2
disciplinas) e de disciplinas optativas igual a 60 horas-aula ou 1,49% da CHT (1 disciplina). A
carga horária máxima total de disciplinas optativas de livre escolha pelos discentes é igual a 300
horas-aula ou 7,46% da CHT (Tabela 1). Vale destacar que para as disciplinas optativas (eletivas),
em tese, não há a garantia de oferta em todos os semestres letivos.

Tabela 1 - Disciplinas Obrigatórias e Optativas do Eixo Ambiental (EA) da Grade Curricular da Graduação
em Engenharia Civil da Universidade Federal da Paraíba - UFPB (Fonte: UFPB, 2011)

B. Grade Curricular da USP São Carlos (Sudeste):

Inserida na região Sudeste a Universidade de São Paulo, Campi São Carlos (USPSCar),
prever na grade curricular de 2017 cinco disciplinas de temáticas voltadas para as preocupações
ambientais – Sistemas e Adequação Ambiental (disciplina obrigatória), Logística Reversa,
Geossintéticos em Proteção Ambiental, Tratamento de Águas Residuárias e Drenagem Urbana
Sustentável e Controle de Enchetes (disciplinas optativas), integradas à educação ambiental de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

modo transversal, com carga horária de disciplinas obrigatórias igual a 60 horas-aula ou 1,65% da
CHT (1 disciplina) e de disciplinas optativas igual a 270 horas-aula ou 7,41% da CHT (4
disciplinas). A carga horária máxima total de disciplinas optativas de livre escolha pelos discentes é
igual a 180 horas-aula ou 4,94% da CHT (Tabela 2). Vale destacar que para as disciplinas optativas
(eletivas), em tese, não há a garantia de oferta em todos os semestres letivos.

Tabela 2 - Disciplinas Obrigatórias e Optativas do Eixo Ambiental (EA) da Grade Curricular da Graduação
em Engenharia Civil da Universidade de São Paulo Campos São Carlos – USPSCar (Fonte: USPSCar, 2017)

C. Grade Curricular da UnB (Centro-Oeste):

Inserida na região Centro-Oeste a Universidade de Brasília, prever na grade curricular de


2017 um conjunto de 16 disciplinas de temáticas voltadas para saneamento ambiental, reuso de
água, tratamento de resíduos e específicas para a atuação do engenheiro em intervenções técnicas,
como planejamento e construções sustentáveis, as quais se integram à educação ambiental de modo
transversal, com carga horária de disciplinas obrigatórias igual a 90 horas-aula ou 2,10% da CHT (2
disciplinas) e de disciplinas optativas igual a 795 horas-aula ou 18,53% da CHT (14 disciplinas). A
carga horária máxima total de disciplinas optativas de livre escolha pelos discentes é igual a 360
horas-aula ou 8,39% da CHT (Tabela 3). Vale destacar que para as disciplinas optativas (eletivas),
em tese, não há a garantia de oferta em todos os semestres letivos.

Tabela 3 - Disciplinas Obrigatórias e Optativas do Eixo Ambiental (EA) da Grade Curricular da Graduação
em Engenharia Civil da Universidade de Brasília - UnB (Fonte: UnB, 2017)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

D. Grade Curricular da UFSC (Sul):

Inserida na região Sul está a Universidade de Santa Catarina, a qual prever na grade
curricular de 2015 um conjunto de disciplinas de temáticas integradas à educação ambiental de
modo transversal, com carga horária de disciplinas obrigatórias igual a 36 horas-aula ou 0,78% da
CHT (1 disciplina) e de disciplinas optativas igual a 108 horas-aula ou 2,34% da CHT (2
disciplinas). A carga horária máxima total de disciplinas optativas de livre escolha pelos discentes é
igual a 162 horas-aula ou 3,52% da CHT (Tabela 4). Vale destacar que para as disciplinas optativas
(eletivas), em tese, não há a garantia de oferta em todos os semestres letivos.

Tabela 4 - Disciplinas Obrigatórias e Optativas do Eixo Ambiental (EA) da Grade Curricular da Graduação
em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (Fonte: UFSC, 2015)

E. Grade Curricular da UFPA (Norte):

Inserida na região Norte está a Universidade Federal do Pará, a qual prever na grade
curricular de 2012 um conjunto de disciplinas de temáticas integradas à educação ambiental de
modo transversal, com carga horária de disciplinas obrigatórias igual a 360 horas-aula ou 7,75% da
CHT (6 disciplinas) e de disciplinas optativas igual a 540 horas-aula ou 11,62% da CHT (9
disciplinas). A carga horária máxima total de disciplinas optativas de livre escolha pelos discentes é
igual a 240 horas-aula ou 5,16% da CHT (Tabela 5).

Tabela 5 - Disciplinas Obrigatórias e Optativas do Eixo Ambiental (EA) da Grade Curricular da Graduação
em Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará - UFPA (Fonte: UFPA, 2012)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

SÍNTESE DA ANÁLISE E DIAGNÓSTICO

A Universidade com a grade curricular menos moderna do ponto de vista do Eixo Ambiental
é a Universidade Federal de Santa Catarina UFSC (Região Sul). A Universidade com a grade
curricular mais moderna do ponto de vista do Eixo Ambiental é a Universidade Federal do Pará
UFPA (Região Norte), quando analisadas as disciplinas obrigatórias, ou seja, as disciplinas que têm
a garantia de cumprimento pelos discentes. A Universidade com a grade curricular mais moderna
do ponto de vista do Eixo Ambiental é a Universidade de Brasília UnB (Região Centro-Oeste),
quando analisadas as disciplinas obrigatórias juntamente com as optativas, ou seja, disciplinas que
têm a garantia de cumprimento pelos discentes, somadas às disciplinas de livre escolha.
O ranking das Universidades com o currículo mais moderno do ponto de vista do Eixo Ambiental
corresponde a (Figura 1): Por conjunto de disciplinas obrigatórias: 1º (UFPA = 7,75%), 2º (UFPB =
2,61%), 3º (UnB = 2,10%), 4º (USPSCar = 1,65%) e 5º (UFSC = 0,78%). Por conjunto de
disciplinas optativas: 1º (UnB = 18,53%), 2º (UFPA = 11,62%), 3º (USPSCar = 7,41%), 4º (UFSC
= 2,34%) e 5º (UFPB = 1,49%). Por conjunto de disciplinas optativas – carga horária máxima: 1º
(UnB = 8,39%), 2º (UFPB = 7,46%), 3º (UFPA = 5,16%), 4º (USPSCar = 4,94%) e 5º (UFSC =
3,52%).
A UFPA apresenta a maior carga horária para as disciplinas obrigatórias do eixo ambiental e
a terceira maior carga horária máxima total de disciplinas optativas, quando comparadas às grades
curriculares das cinco Universidades analisadas no presente estudo. A UFPB apresenta a segunda
maior carga horária para as disciplinas obrigatórias do eixo ambiental e a segunda maior carga
horária máxima total de disciplinas optativas, quando comparadas às grades curriculares das cinco
Universidades analisadas no presente estudo. A UnB apresenta a terceira melhor carga horária para
as disciplinas obrigatórias do eixo ambiental e a primeira maior carga horária máxima total de
disciplinas optativas, quando comparadas às grades curriculares das cinco Universidades analisadas
no presente estudo. A USPSCar apresenta a quarta melhor carga horária para as disciplinas
obrigatórias do eixo ambiental e a quarta maior carga horária máxima total de disciplinas optativas,
quando comparadas às grades curriculares das cinco Universidades analisadas no presente estudo.
A UFSC apresenta a quinta melhor carga horária para as disciplinas obrigatórias do eixo ambiental
e a quinta maior carga horária máxima total de disciplinas optativas, quando comparadas às grades
curriculares das cinco Universidades analisadas no presente estudo. Vale destacar que para as
disciplinas optativas (eletivas), em tese, não há a garantia de oferta das mesmas em todos os
semestres letivos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 - Percentual de Disciplinas do Eixo Ambiental do Curso de Engenharia Civil (Por Região e
Universidades do Brasil)

Independentemente dos resultados apresentados para cada Universidade, é importante


destacar que a autonomia universitária prevista na CF, bem do previsto na LDB, que faculta as
instituições de ensino superior ampla liberdade para a fixação do conteúdo necessário de acordo
com as características regionais, permite compreender que há currículos universitários mais bem
ajustados à realidade regional, a despeito da carga horária dedicada às disciplinas do eixo ambiental.

PROPOSTA DE UMA ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO DA ADEQUAÇÃO DA CARGA


HORÁRIA TOTAL EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Como resultado das análises dos componentes curriculares dos cursos de graduação de
bacharelado em engenharia civil ofertados nas universidades das regiões Norte, Nordeste, Centro-
Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, no tocante à adequação da integração da educação ambiental às
disciplinas do referido curso superior de modo transversal, contínuo e permanente, é proposta uma
ferramenta de apoio à análise da grade curricular vigente nas diversas universidade brasileiras e da
eventual necessidade de aprimoramento, adequação e expansão das disciplinas do eixo ambiental
que as compõe.
A citada adequação da carga horária dos componentes curriculares é calculada através da
Equação 1 e ajustada segundo as seguintes premissas:

i. As disciplinas obrigatórias de educação ambiental analisadas de forma empírica


correspondem a uma carga horária maior ou igual a 8,00% da carga horária total do
curso de graduação;
ii. As disciplinas optativas, inclusive as disciplinas de educação ambiental, analisadas de
forma empírica correspondem a uma carga horária maior ou igual a 8,00% da carga
horária total do curso de graduação;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

iii. As disciplinas optativas de educação ambiental ofertadas e disponíveis para livre escolha
dos discentes, analisadas de forma empírica correspondem a uma carga horária maior ou
igual a 18,00% da carga horária total do curso de graduação;
iv. Às disciplinas obrigatórias de educação ambiental é atribuído o maior peso, peso 3,
tendo em vista que os discentes às cursarão de forma obrigatória; às disciplinas
optativas, inclusive as disciplinas de educação ambiental, é atribuído peso intermediário,
peso 2, tendo em vista que correspondem a uma possibilidade dos discentes às cursarem;
e às disciplinas optativas de educação ambiental ofertadas e disponíveis para livre
escolha dos discentes é atribuído o menor peso, peso 1, tendo em vista que figuram
dentre as disciplinas optativas com algum potencial de serem escolhidas pelos mesmos.

GA = 10,3448 x (((CHOBEA x 3) + (CHOP x 2) + (CHOPEA x 1)) / (6 x CHtotal)) (Equação 1)

Onde,
GA – Grau de Adequação;
CHOBEA – carga horária das disciplinas obrigatórias de educação ambiental;
CHOP – carga horária das disciplinas optativas, inclusive de educação ambiental;
CHOPEA – carga horária das disciplinas optativas de educação ambiental disponíveis para
livre escolha;
CHtotal – carga horária total das disciplinas do curso de graduação.

O Grau de Adequação (GA) da grade curricular do curso de graduação à carga horária total
estabelecida como ideal para as disciplinas de Educação Ambiental (EA) é classificado segundo a
escala da Figura 2:

Grau de Adequação
Adequação da Carga horária Total em EA
(GA)
GA ≥ 0,9 Muito Alta
0,7 ≤ GA < 0,9 Alta
0,6 ≤ GA < 0,7 Média
0,4 ≤ GA < 0,6 Baixa
GA < 0,4 Crítica
Figura 2 – Escala do Grau de Adequação (GA) da grade curricular do curso de graduação à carga horária
total ideal para as disciplinas de Educação Ambiental (EA)

Para os cursos de graduação em engenharia civil, analisados no presente artigo, foram


obtidos os seguintes resultados através da metodologia proposta de análise do Grau de Adequação
(GA) da grade curricular do referido curso no tocante às disciplinas de Educação Ambiental (EA):
Universidade Federal do Pará (UFPA): GA 0,78 (adequação alta); Universidade de Brasília (UnB):
GA 0,72 (adequação alta); Universidade Federal da Paraíba (UFPB): GA 0,42 (adequação baixa);

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Universidade USP São Carlos (USPSCar): GA 0,38 (adequação baixa); Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC): GA 0,20 (adequação crítica).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dos perfis curriculares universitários analisados, os quais correspondem a uma amostragem


da integração da educação ambiental às disciplinas dos cursos de graduação em engenharia civil nas
cinco regiões administrativas do Brasil, é possível compreender que a Universidade Federal do Pará
(UFPA), a qual está inserida numa região de importante valor ambiental do ponto de vista
ecossitêmico e climático representado pela floresta amazônica, apresenta uma alta adequação da
grade curricular com a oferta de significativa carga horária de disciplinas obrigatórias e optativas do
eixo ambiental, servindo a mesma como um modelo diferenciado de currículo para inspirar as
demais instituições de ensino superior do país, juntamente com a grade curricular da Universidade
de Brasília (UnB), que oferta uma expressiva quantidade e diversidade de disciplinas optativas do
eixo ambiental.
Apesar da grande variação entre os perfis curriculares das cinco universidades analisadas no
tocante às tipologias, quantidades e cargas horárias para as disciplinas dedicadas à educação
ambiental, é importante mencionar que a autonomia pedagógica das universidades tem um grande
valor, pois permite o ajuste dos currículos universitários às demandas da região nas quais estão
inseridas.
O modelo proposto para a classificação da adequação da carga horária total em educação
ambiental dos cursos de graduação em engenharia civil, aplicável a outros cursos universitários,
apresenta-se como uma interessante ferramenta de partida para a análise, diagnóstico e apoio na
tomada de decisões no tocante à carga horária e quantidade de disciplinas do eixo ambiental
ofertadas no referido curso superior, necessitando, contudo de aprimoramento e ajustes às variáveis
não consideradas, tais como o aspecto qualitativo das disciplinas de educação ambiental.
Embora não tenha sido foco do presente estudo, além da análise quantitativa é prescindível
uma análise qualitativa das disciplinas ofertadas, tendo em vista a necessidade de um equilíbrio
entre as disciplinas de gestão, gerenciamento, direito aplicado e técnica ambiental, dentre outras.

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PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (ProNEA). Documentos de


Referência para o Fortalecimento da Política e do Programa Nacional de Educação Ambiental.
ProNEA. Ministério do Meio Ambiente. Ministério da Educação. Brasília, 2014.

SELVA, V.S.F. Litoral da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe: de ambiente natural a
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SOUSA, A. A. P.; CRUZ, D. B. P.; CORREA, M. P.; GOMES, C. A responsabilidade ambiental na


formação do engenheiro civil. Revista do CEDS. Periódico do Centro de Estudos em
Desenvolvimento Sustentável da UNDB. N. 3 – Volume 1 – setembro/dezembro 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 775


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL FOMENTADA ATRAVÉS DA PEDAGOGIA DE PROJETOS.

Josué Alves SOUSA


Mestrando em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação – UNEB
jo84souza@hotmail.com
Marcus Túlio de Freitas PINHEIRO
Professor da Universidade do Estado da Bahia - UNEB
mtulio@gmail.com

RESUMO
Elucidar a importância de discussões voltadas para o cuidado com o Meio Ambiente, tem se tornado
algo fundamental em todos os segmentos da educação formal ou não formal, principalmente nas
séries iniciais, para que as crianças desde cedo possam amadurecer a consciência ambiental. Esta
proposição vem nos indicar que a Educação Ambiental (EA) precisa ser trabalhada desde as series
iniciais, e promover a criticidade dos alunos frente aos problemas socioambientais com o apoio de
metodologias dinâmicas e que coloquem os estudantes como protagonistas nas discussões desses
conteúdos, como por exemplo, através da Pedagogia de Projetos. Portanto, este trabalho tem como
objetivo, investigar de que maneira os projetos podem contribuir para o fortalecimento da EA nas
séries inicias, a partir da aplicação e analise do Projeto Biomas Brasileiros, desenvolvido na rede
municipal de ensino da cidade de Morro do Chapéu na Bahia. Trata-se de um estudo de caso com
abordagem qualitativa e se característica como uma pesquisa descritiva. Para obter subsídios para
este trabalho, foi aplicado um questionário para 22 (vinte e dois) docentes das séries inicias que
participaram do projeto, onde procuramos investigar a opinião dos mesmos em relação ao trabalho
com a Educação Ambiental, a partir da Pedagogia de Projetos.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Pedagogia de Projetos, Series Iniciais.

RESUMEN
Aclarar la importancia de las discusiones dirigidas al cuidado del medio ambiente, se ha vuelto algo
fundamental en todos los segmentos de la educación formal o no formal, principalmente en las
series iniciales, para que los niños desde temprana perciban la necesidad de madurar la conciencia
ambiental. Esta premisa nos indica que la Educación Ambiental (EA) necesita ser trabajada desde
las series iniciales, y debe promover la criticidad de los alumnos frente a los problemas
socioambientales com el apoyo de metodologías dinámicas y que coloquen a los estudiantes como
protagonistas en las discusiones de esos contenidos, como por ejemplo , La Pedagogía de Proyectos.
Por lo tanto este trabajo tiene como objetivo, investigar de qué manera los proyectos pueden
contribuir al fortalecimiento de la EA en las series iniciales, a partir de la aplicación y análisis del
Proyecto Biomas Brasileños, desarrollado en la red municipal de enseñanza de la ciudad de Morro
do Chapeu en Bahía. Se trata de un estudio de caso con enfoque cualitativo y se caracteriza como
una investigación descriptiva. Para obtener subsidios para este trabajo, se aplicó un cuestionario
para 22 (veintidós) docentes de las series iniciales que participaron del proyecto, donde buscamos
investigar la opinión de los mismos en relación al trabajo con la Educación Ambiental, a partir de la
Pedagogía de Proyectos.
Palabras-clave: Educación Ambiental, Pedagogía de Proyectos, Educación Iniciales.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 776


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A crise ambiental, intensificada a partir das intervenções do homem na Natureza, tem gerado
grandes preocupações em toda a humanidade, pela forma desenfreada que o Meio Ambiente vem
sendo degradado, e tudo para satisfazer as necessidades da contemporaneidade que, coloca o
homem como ser soberano acima de qualquer espécie.
A preocupação com a degradação da Natureza, não é algo recente. No Brasil é da década de
1980, as discussões mais acaloradas em torno dos cuidados ambientais, motivados pela Conferencia
de Tblisi, que originou a Política Nacional do Meio Ambiente, dentre outras leis, inclusive a nossa
Carta Magna, a Constituição Federal que em seu artigo 225, estabelece o trabalho com a Educação
Ambiental em todos os níveis de ensino. A década seguinte, também marcou o desenvolvimento de
uma política de EA mais solida, a partir das discussões da Agenda 21, ―que impulsionada pela Rio
92, redefine a EA, reorientando a educação para o desenvolvimento sustentável.‖ (DIAS, 2004, p.
50).
Com o intuito de consolidar e implementar os debates em torno da Educação Ambiental, na
rede de ensino da cidade de Morro do Chapéu na Bahia, as escolas de educação infantil até o
fundamental 2, trabalharam no primeiro semestre de 2017, o Projeto Biomas Brasileiros, para
atender não apenas as diretrizes citadas acima, como também despertar a consciência ambiental dos
estudantes do município. O projeto foi elaborado pelo departamento de ensino da secretária
municipal de educação com o apoio do NEA (Núcleo de Educação Ambiental).
O presente artigo tem como finalidade investigar quais foram os impactos desse projeto para
o trabalho com a EA, a partir do olhar dos professores que aplicaram tal proposta em suas salas de
aula nas séries iniciais do ensino fundamental. Para tanto organizamos esta proposta, com uma
síntese sobre a Educação Ambiental, apresentando a responsabilidade das unidades escolares em
incentivar discussões voltadas para o respeito ao Meio Ambiente.
Neste trabalho, apontamos também reflexões teóricas sobre a Pedagogia de Projetos,
enquanto alternativa metodológica para o trabalho com a EA. Tais ponderações permitiram avançar
no debate a respeito dos projetos enquanto aliados na aplicação de atividades e discussões voltadas
para os temas ambientais.
Com o objetivo de investigar de que maneira a Pedagogia de Projetos pode contribuir para o
fortalecimento da educação ambiental nas séries inicias do ensino fundamental, propusemos um
questionário com perguntas fechado para os docentes que aplicaram o Projeto Biomas Brasileiros,
com o intuito de averiguar se o trabalho com a EA pode ser favorecida a partir do desenvolvimento
sistemático de ações educativas oferecidas pela Pedagogia de Projetos. O estudo se caracteriza
como descritivo e de abordagem qualitativa.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O método utilizado foi o estudo de caso, onde a partir da aplicação do Projeto Biomas
Brasileiro, pode-se desenvolver esta investigação e aclarar as concepções acerca da importância de
se trabalhar com a EA, tendo como estratégia metodológica a utilização de um projeto de rede.
Os resultados e discussões desta pesquisa foram expostos em gráficos, para melhor
visualização e analise das respostas dos sujeitos que participaram da pesquisa, e dessa forma
alcançar os objetivos do estudo.
Vale ressaltar, que esta proposta parte da analise de outros dois artigos, bastante acessados
na internet, e que tentam fomentar as discussões a respeito da EA, partindo do trabalho com
projetos em escolas da educação básica. Por fim, apresentamos as conclusões do estudo,
enfatizando a importância do trabalho com a EA em todas as etapas de ensino e componentes
curriculares, pela emergência em ensinar sobre a importância de cuidarmos do Meio Ambiente
desde a infância.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS

Na construção de um novo modelo de sociedade, a Educação Ambiental tem um papel


fundamental e precisa estar presente em todas as etapas da educação, pela importância e
abrangência contextual da mesma, na ressignificação de práticas econômicas, sociais e políticas que
venham fortalecer o compromisso dos sujeitos com a Natureza. Nesta perspectiva o artigo primeiro
da Lei 9795/99 nos esclarece que:

Educação ambiental são os processos por meio dos quais o indivíduo e a


coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, Lei
9795/99, 27 de abril de 1999).

A escola com sua ação de ensinar, é o espaço que, por excelência, pode fomentar estas
discussões a respeito da preservação ambiental e o cuidado para com o Meio Ambiente. Dialogar
com as crianças das séries iniciais sobre este assunto é algo imprescindível para o desenvolvimento
humano, no que tange o amadurecimento da consciência ambiental, acreditando no potencial de
cuidado e respeito destes sujeitos pelo Meio Ambiente desde a infância.
Nas séries iniciais a curiosidade das crianças auxilia em seu desenvolvimento, motivando-as
a observar, agir e explorar os espaços onde vivem de maneira singular, como em nenhuma outra
etapa da vida, é nestas series que os pequenos assimilarão conceitos e valores que levarão para a
vida inteira. Aproveitar esta etapa que tem tais características nos permite assegurar que, a EA
precisa figurar nestes espaços educativos, pois promoverá consciência ambiental nas crianças e ao
mesmo tempo serão trabalhados outros conteúdos do currículo base de maneira significativa para o
desenvolvimento cognitivo dos alunos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Mesmo com toda a importância da EA nas escolas, podemos observar que, esta é uma
discussão recente e ainda inicial nos espaços escolares, principalmente na educação infantil e nas
primeiras series do ensino fundamental, segundo Guimarães (2007), ―a EA nos espaços escolares, é
incipiente de interdisciplinaridade, realizada pontualmente e sem uma abordagem contínua‖. O
autor sinaliza duas questões cruciais para a qualidade do trabalho com a EA no contexto escolar: a
ausência de atividades e discussões de cunho socioambiental perpassando por todas as disciplinas e
práticas pontuais no que tange o trabalho com a EA.
Nesta perspectiva, torna se imprescindível que os currículos escolares busquem incrementar
e estabelecer posições de fortalecimento teóricos e práticos que, problematizem a ação humana
sobre o Meio Ambiente, e que educadores reconheçam seus papeis de mediadores nesta discussão.
Para tanto, faz-se necessário o reconhecimento da complexidade do tema, que se aclara
gradativamente nas vivencias dos alunos em atividades de pesquisa, debates e discussões que
coloquem os estudantes como protagonistas dessas propostas, levando em consideração as
aprendizagens prévias das crianças a respeito do tema.
A Educação Ambiental em sua essência privilegia a interdisciplinaridade como ação
primordial no contexto escolar pela abrangência de suas temáticas, no entanto, o que se revela nas
pesquisas sobre o trabalho com a EA é a fragilidade dos planejamentos didáticos das escolas
quando, por exemplo, delega apenas a disciplina de ciências a responsabilidade em despertar a
consciência ambiental de seus estudantes, a EA precisa ser encarada como um desafio de todos os
envolvidos na educação, por ser este um problema que coloca em xeque a vida no Planeta.
Diante disso, concretizar práticas didáticas e metodológicas que viabilizem a reflexão sobre
as ações do homem que supervalorizam o desenvolvimento econômico a qualquer custo, sem se
preocupar com as questões ambientais é um dos pontos cruciais para o trabalho com a EA nas series
inicias, bem como em todos os outros segmentos de educação.

A PEDAGOGIA DE PROJETOS COMO METODOLOGIA DE ENSINO.

A partir dos estudos desenvolvidos pelos representantes da Pedagogia Ativa, que


contrapunham o ensino verticalizado do inicio do século XX, faz surgir a Pedagogia de Projetos,
como uma alternativa metodológica do processo de ensino. John Deway foi o grande expoente desta
nova concepção de ensino baseada em experiências práticas do sujeito no ambiente escolar, o
mesmo considera que, ―o trabalho com projetos não é uma sequência de atividades desconectas,
mas sim, a sucessão de passos ordenados e coerentes que possibilitam avançar nas proposições que
os projetos pretendem abordar‖ (DEWEY. 1975 p. 13).
Nos fundamentos que orientam o trabalho com os projetos pedagógicos, percebemos uma
orientação primordial contida em sua base teórica, que é a problematização constante, dos desafios

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contidos no cotidiano dos estudantes, tem como principio a interdisciplinaridade e os alunos são
sujeitos ativos na elaboração e aplicação dos projetos, experimentando de maneira prática, situações
contextualizadas de resolução dos problemas que, demandaram o surgimento do projeto.
Hoje, os representantes mais expressivos que defendem a Pedagogia de Projetos como
alternativa metodológica para o trabalho sistemático em sala de aula de forma interdisciplinar e
sistemática é o espanhol Fernando Hernandez e César Coll, ambos, inspirados nos trabalhos de
Dewey.
Diferente das aulas expositivas, os projetos se bem elaborados e desenvolvidos com a
participação de todos os envolvidos, pode contribuir significativamente para o aprendizado dos
estudantes, de maneira interessante e significativa, pois os temas partirão da vivencia dos alunos,
que são vistos como seres autônomos e ativos no processo de construção de sua própria
aprendizagem, a função do professor nesta proposta é a de mediador dos conflitos cognitivos e
orientador das diversas atividades que podem acontecer dentro e fora da sala de aula.
O trabalho com a Pedagogia de Projetos envolvendo a Educação Ambiental é algo
extremamente propicio para dar vida ao debate tão necessário a respeito da preservação ambiental e
das discussões socioambientais. Nesta perspectiva encontramos no repositório institucional da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e na Universidade Federal de Uberlândia, dois
trabalhos significativos que sinalizam o uso desta metodologia como propulsora do trabalho com a
EA.
O trabalho de Nehme (2005) intitulado, A pedagogia de projetos na práxis da EA: uma
experiência na Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, MG, 2003-2004, podemos constatar
através das conclusões da autora que, após aplicar a pedagogia de projetos em suas práxis para
trabalhar a EA, verificou-se que ela é uma forma eficaz para agir, incorporando as questões
ambientais à prática cotidiana da escola e complementa dizendo que, ―dessa forma se evitou o
trabalho voltado apenas para as datas comemorativas e desarticuladas‖.
No estudo de Araújo (2010) a autora afirma que a ―A Educação Ambiental enquanto práxis
pedagógica possui um caráter processual que forçosamente implica num trabalho que busca
promover a formação de cidadãos conscientes‖. E conclui dizendo.

―É nessa perspectiva que a Pedagogia de Projetos configura-se no contexto escolar, à


medida que busca suplantar o ensino compartimentalizado, verticalizado e
cumulativo, enfocando a realidade em sua dimensão dinâmica e exigindo da escola o
acompanhamento das mudanças, no sentido de discutir, analisar, refletir e atuar
sobre os conflitos que prejudicam os interesses e bem estar da coletividade‖.

Nos dois trabalhos mais significativos encontrados na internet, e supracitados, podemos


perceber os resultados positivos no tratamento do trabalho com a Educação Ambiental a partir da
proposta interativa, dialógica e cheia de possibilidades que a Pedagogia de Projetos pode

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

proporcionar. Nesta perspectiva buscamos analisar a aplicação do Projeto Biomas brasileiros, na


rede municipal de educação da Cidade de Morro do Chapéu na Bahia, com a finalidade de perceber
a contribuição desta metodologia para o fomento da EA no fundamental I.

O PROJETO BIOMAS BRASILEIROS NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE MORRO


DO CHAPÉU

A rede municipal de educação da cidade de Morro do Chapéu, situada a 360 Km da capital


Salvador, oferta em seu sistema de ensino o berçário (para as crianças de 0 a 1 anos), perpassando
pelo maternal, educação infantil e o ensino fundamental 1 e 2. As escolas possuem autonomia para
elaborar e desenvolver suas próprias estratégias de ensino, conforme os Projetos Políticos
Pedagógicos de cada instituição.
Neste sentido, a secretaria de educação do município, não costuma determinar ações
metodológicas para as unidades escolares, tão pouco influenciar no desenvolvimento das propostas
pedagógicas. No entanto, para o primeiro semestre do ano de 2017, o Departamento Pedagógico da
secretaria mencionada, elaborou e disseminou na rede de ensino o Projeto Biomas Brasileiros, que
surgiu a partir da leitura do material da Campanha da Fraternidade 2017. E tinha como principal
objetivo desenvolver um projeto para problematizar o tema Biomas do Brasil, salientando a
diversidade de riquezas naturais ao longo do território brasileiro, verificando a interação
sociedade/natureza e desta maneira contribuir para a construção do conhecimento.
O projeto surgiu das discussões levantadas no Núcleo de Educação Ambiental (NEA)
juntamente com os membros do Departamento Pedagógico. Ao chegar às escolas, o projeto que já
tinha etapas elaboradas, não foi bem recebido pelos professores e equipes gestoras, no entanto, ao
saber da flexibilidade e das discussões que o projeto iria promover em torno dos problemas
ambientais em ambitos locais e globais, a proposta foi modificada e incrementada por estes
profissionais, a partir desta ação o projeto foi trabalhado nas unidades escolares em todos os
segmentos de ensino.
O projeto culminou no centro da cidade, mobilizando a comunidade local para os cuidados
que precisamos ter para com a natureza e a preservação do meio ambiente. Estudantes e professores
mostraram em praça pública o resultado do trabalho desenvolvido em sala de aula, fomentando a
reflexão em torno da degradação dos biomas brasileiros.
No intuito de verificar a contribuição da Pedagogia de Projetos no fomento da Educação
Ambiental, averiguamos junto aos docentes das séries iniciais que trabalharam com a proposta
apresentada suas impressões a respeito do trabalho da EA partindo de projetos, para tanto na seção
abaixo apresentaremos o percurso dessa investigação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

METODOLOGIA

O principal objetivo deste trabalho é investigar de que maneira a pedagogia de projetos pode
contribuir para o fortalecimento da Educação Ambiental nas séries iniciais, para tanto temos como
sujeitos da proposta 22 (vinte e dois) professores das séries iniciais do ensino fundamental, da rede
municipal de ensino da cidade de Morro do Chapéu que, trabalharam com o Projeto Biomas
Brasileiros. Estes sujeitos foram indagados sobre o fomento nas discussões sobre Educação
Ambiental nas classes do fundamental I, a partir da proposta metodológica baseada na Pedagogia de
Projetos.
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, onde segundo Minayo (1999, p, 67) ―a
abordagem qualitativa não pode pretender o alcance da verdade, como o que é certo ou errado; deve
ter como preocupação primeira a compreensão da lógica, que permite a prática que se dá na
realidade‖. Portanto, do olhar critico dos docentes a respeito da aplicação do referido projeto,
buscaremos subsídios para perceber as relações de sucesso ou de insucessos existentes entre o
trabalho com a EA partindo da Pedagogia de Projetos.
Do ponto de vista dos objetivos, esta investigação se caracteriza como descritiva. Os
questionários com perguntas fechadas será o instrumento da pesquisa, onde segundo Prodanov,
(2013) os mesmos se constituem de ―respostas limitadas, apresentam alternativas fixas (O
informante escolhe sua resposta entre algumas opções apresentadas)‖. Estes questionários serão
distribuídos via Email, com o intuito de atingir o maior número de docentes da sede e do interior do
município pela capacidade de abrangência desta ferramenta.
O estudo de caso será a técnica de pesquisa utilizada para a coleta de dados, este método
está plenamente adequada às pesquisas sociais uma vez que ―consiste no estudo profundo e
exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira, que permita seu amplo e detalhado conhecimento‖
Gil (2008, p. 57). Sendo assim, o estudo de caso será a técnica que organizará a coleta dos dados a
partir da aproximação do pesquisador com as questões aqui levantadas, com o intuito de oferecer
respostas a elas.

DISCUSSÃO

Os profissionais que participaram da pesquisa (um total de 22) são todos graduados e mais
da metade possui especialização na área de educação. Como informado apresentaremos gráficos
para sistematizar as respostas dos sujeitos pesquisados e compor o panorama investigativo do
estudo. Primeiro queríamos saber em quais momentos a Educação Ambiental era trabalhada em sala
de aula, para que pudéssemos ter uma ideia da periodicidade que a EA, aparecia nas classes
pesquisadas, e obtivemos o seguinte resultado:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1. Verificação da periodicidade que a EA é trabalhada nas classes das séries iniciais.

Ao analisar as respostas dadas pelos sujeitos pesquisados e expressas no gráfico acima,


observamos que, boa parte dos docentes leva a EA para a sala de aula apenas quando o componente
curricular ciências é trabalhado, o que nos permite inferir que a consciência desses profissionais em
relação à importância das discussões a respeito da EA, ainda é algo inconsistente, restringindo-se a
um único campo do conhecimento, excluindo o principio da interdisciplinaridade que os
documentos sobre a EA requerem. No entanto, nos alegra perceber que a mesma quantidade de
docentes privilegia o trabalho com a EA, em todas as disciplinas de maneira sistemática, o que nos
indica, ser um trabalho contínuo, que vai além de datas pontuais se constituindo da inter-relação
entre os componentes curriculares.

Figura 2. Colocações sobre o trabalho da escola, com relação à Educação Ambiental partindo da Pedagogia
de Projetos.

Ao serem indagados sobre o trabalho com a EA, partindo da metodologia empregada na


Pedagogia de Projetos, menos de dez por cento dos entrevistados trabalham com a proposta de EA
em datas comemorativas como o dia da árvore, Dia Mundial do Meio Ambiente, Dia da Água, etc.
Cerca de vinte e três por cento nunca trabalhou com a Pedagogia de Projetos como aporte para dar
tratamento às discussões que envolvem o trabalho com a EA. Enquanto, a grande maioria dos 22
entrevistados, expôs ser esta prática metodológica comum em seus espaços escolares.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3. Respostas para a consigna, sobre continuar trabalhando a Educação Ambiental a partir de projetos.

Com relação a dar continuidade ao trabalho com a Educação Ambiental partindo de


projetos, um dado nos chamou a atenção, um número alto de professores expressou querer continuar
trabalhando com a EA a partindo de projetos, no entanto, desde que seja uma proposta elaborada
pela rede. Revelando que, se houver um projeto pensado para acontecer a EA, esta será trabalhada,
todavia, caso este projeto não parta da secretária de educação, tal proposta poderá não acontecer,
configurando um não despertar da consciência dos docentes para o trabalho sistemático que a
Pedagogia de projetos pode favorecer para o ensino, neste caso para fomentar a
interdisciplinaridade e discussões pertinentes a EA.
Quando foram indagados se o Projeto Biomas Brasileiros, contribui com as temáticas
voltadas para o trabalho com a Educação Ambiental, as respostas foram positivas e unânimes,
professores da sede e do interior do município, expressaram que a proposta, mesmo chegando
pronta para eles, não engessou as discussões, e as etapas traçadas no projeto deixavam brechas para
que outras possibilidades fossem incluídas na proposta, como ações conjuntas, opções por recursos
acessíveis, de acordo com a realidade de cada educador.

CONCLUSÃO

A partir das valiosas colocações dos professores que se disponibilizaram a responder ao


questionário dessa pesquisa, percebe-se a urgência de discussões a respeito da importância do
trabalho com a EA, nas series iniciais do ensino fundamental, nos espaços de estudo desses
profissionais, no intuito de que essas discussões se transformem em planejamento sistemático e com
boas alternativas metodológicas capazes de fomentar a consciência ambiental dos estudantes, como
a Pedagogia de Projetos, por exemplo. E que a partir desse despertar que novas possibilidades
ganhem espaço na sala de aula como sequências didáticas, aula de campo, etc.
A aplicação do Projeto Biomas Brasileiros na rede municipal de ensino da cidade de Morro
do Chapéu, serviu para o Núcleo de Educação Ambiental, da secretária de educação, como um

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

marco balizador para que a Educação Ambiental no município venha a ganhar a visibilidade que a
mesma merece no planejamento, reuniões pedagógicas e estudos dos docentes, no intuito de que tais
ações venham culminar em um trabalho sólido e necessário para a conscientização dos estudantes a
respeito dos cuidados e problemáticas ambientais que assolam o Planeta.
A pesquisa demonstrou o quanto a Pedagogia de Projetos pode colaborar com a inserção da
EA, nas classes do ensino fundamental, de maneira sequenciada, interdisciplinar e colocando os
alunos como sujeitos ativos nas discussões, valorizando e partindo dos conhecimentos prévios dos
estudantes através das vivências dos mesmos, enquanto cidadãos que presenciam a degradação do
Meio Ambiente.

REFERÊNCIAS

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Escolar. Disponível em http://www.sbpcnet.org.br/livro/61ra/resumos/resumos/6194.htm.
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BRASIL. Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999.

DEWEY, John. Vida e Educação. 9ª ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1975.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental – princípios e práticas. São Paulo: Editora Gaia, 9ª
ed. 2004.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. - São Paulo : Atlas, 2008.

GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus (Coleção Papirus


Educação) 2007.

MINAYO, M.C de S. (Org). Pesquisa Social. Petrópolis: Vozes. 1999.

PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico] : métodos


e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico– 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA SOCIAL E AMBIENTAL ATRAVÉS DA


ARTE-EDUCAÇÃO E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Juliana GONÇALVES
Mestranda da Universidade Estadual de Campinas
julianamovel@gmail.com
Bárbara Caroline de Freitas PANTALEÃO
Mestranda da Universidade Estadual de Campinas
barbara2212@gmail.com
Hadassa Leticia de OLIVEIRA
Graduanda do Curso de Construção Civil da UNICAMP
haddyoliveira@gmail.com
Lubienska Cristina Lucas Jaquiê RIBEIRO
Professora Doutora da Universidade Estadual de Campinas
lubi@ft.unicamp.br

RESUMO
O artigo utiliza a Educação Ambiental aliada com a Arte-Educação como ferramentas para o
desenvolvimento da conscientização social e ambiental, ao não vandalismo e depredação do
patrimônio público e urbanístico, formando assim cidadãos independentes, empoderados e donos de
suas próprias histórias. Apresenta os conceitos e as práticas realizadas para mudar a realidade atual,
o seu reconhecimento como indivíduo pertencente à sociedade, o reconhecimento de situações do
seu dia a dia, a capacidade de identificar barreiras e conseguir ultrapassá-las. Unindo e munindo
todos com pincel e consciência, contra a pichação e o vandalismo que as escolas enfrentam, criando
e moldando novos perfis de identidade para fazer a diferença no hoje e amanhã da sociedade que os
cercam, podendo transformar o futuro desses jovens.
Palavras-chave: Educação, Educação Ambiental, Arte-Educação

ABSTRACT
The article uses Environmental Education allied with Art-Education as tools for the development of
social and environmental awareness, non-vandalism and depredation of public and urban
patrimony, thus forming independent, empowered citizens and owners of their own stories. It
presents the concepts and practices carried out to change the current reality, its recognition as an
individual belonging to society, the recognition of everyday situations, the ability to identify
barriers and overcome them. Uniting and bringing everyone together with brush and conscience,
against the graffiti and vandalism that schools face, creating and shaping new identity profiles to
make a difference in today and tomorrow of the society that surround them, and can transform the
future of these young people.
Key-word: Education, Environmental Education, Art Education

INTRODUÇÃO

Obter melhoria da qualidade de vida, local ou global, é algo que se busca nos dias de hoje.
Para isso, o que se vivencia é a necessidade de mudanças profundas na concepção de mundo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Propor uma mudança de paradigma na relação do homem com o meio pode ser uma alternativa para
atingir esse objetivo.
Duas ferramentas podem encaminhar a formação de personalidades do bem, podem ser
utilizadas como conexão com a realidade do indivíduo e também como estratégia de
conscientização para atitudes certas e positivas com o meio, estamos falando da Educação
Ambiental e da Arte-educação que juntas podem transformar valores e atitudes por meio da
construção de novos hábitos e novos valores nos indivíduos. Juntas podem ser fortes ferramentas de
transformação social e de formação integral do indivíduo. Através das suas diferentes linguagens,
podem despertar a capacidade de cada um descobrir-se sujeitos históricos e críticos de sua própria
realidade, intervindo em sua condição de vida de maneira consciente e crítica, possibilitando a
redução dos riscos sociais e educacionais que eles enfrentam, mobilizando, inclusive, seus
familiares, facilitando o processo de inclusão social dos mesmos, pois se encontram mais
preparados emocionalmente para os desafios da vida, encarando-os de forma mais equilibrada,
assumindo uma postura mais positiva diante de sua realidade, construindo para si uma visão de
futuro realista, mas extremamente otimista.
Como a Educação tem a importante função de formar um cidadão consciente de seus
direitos e deveres para com a sociedade é, portanto, na educação que se deve trabalhar essas duas
ferramentas. A Educação é a orientação que todo indivíduo precisa para viver bem. É um processo
de ensinar e aprender, onde favorece a formação do cidadão. Quando ela é exercida em diversos
espaços de convívio social de forma não intencional chamamos de educação informal. Já a
educação formal ocorre nos espaços escolares e acontece de forma intencional e com objetivos
determinados. Acredita-se que tanto a educação formal como a informal devem caminhar juntas. É
no seio da família e no nível de educação básica que se constroem as atitudes e aprendizagem para o
resto da vida, é aí que se adquire a capacidade de raciocinar, imaginar, discernir, o senso de
responsabilidade e a exercer a sua curiosidade em relação ao mundo que o rodeia.
A educação escolar no Brasil precisa mudar muito para atingir níveis satisfatórios, por
muitas vezes não proporciona uma aprendizagem significativa ou efetiva e não atende as
necessidades dos alunos por estar muitas vezes ultrapassada em suas formas. Quando a população
tem acesso a educação a economia se desenvolve mais rápido, a pobreza diminui, melhora a saúde
promovendo a higiene pública e pessoal, portanto, ela é fundamental para combater a pobreza, é um
direito humano. Todas as pessoas nascem com o mesmo direito à educação de forma a estabelecer
condições básicas para viver com dignidade.
A escola precisa implantar um currículo que trabalhe a realidade imediata e a cultura local,
tendo como objetivo a construção, aquisição e ampliação de conhecimentos. Formando jovens
formadores de ideias, capazes de criar suas metas, enfrentando os obstáculos e alcançando seus

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

objetivos, a escola tem que ser uma aventura agradável, despertando o aprender e explorando o
desconhecido, sem medo de falhar e com o objetivo de formar pensadores e empreendedores.
Na escola pode-se listar alguns problemas sociais existentes, a pichação vem sendo um dos
maiores problemas de violência e falta de cidadania, UDEMO (2009), vem transformando os locais
em ambientes sujos e de desordem (Figura 1). E essas ações são mais significativas durante o dia,
levando a acreditar que os próprios alunos possam ser os agressores das escolas (Figura 2). Os
Jovens buscam através da pichação, emergir no contexto da sociedade se expressando em pontos
visíveis, como se estivessem se apresentando a cada pessoa que passa por aquele local.
Nesse contexto, a Arte-Educação entra como um importante eixo da educação, procura
através de suas diversas tendências encaminhar a formação do gosto, personalidade, imaginação,
organização de pensamentos, sentimentos e sensações, sendo também um importante eixo da
educação como estratégia de conscientização para atitudes certas e positivas. Já a Educação
Ambiental será responsável por formar indivíduos preocupados em solucionar problemas, buscar a
conservação e preservação do ambiente e da sustentabilidade, abordando os aspectos econômicos,
sociais, políticos, ecológico e éticos.

Figura 1. Pesquisa de Violência nas Escolas Estaduais de São Paulo.


90
Porcentagem de Violência (%)

80
70
60
50
40
30
20
10
0
Explosão
Depredaç Arromba Danos a
Pichação Furto de
ão mento veículos
bombas
2002 63 40 33 28 27 26
2007 65 62 45 62 32 38
2009 85 82 63 50 58 65

Fonte: Baseado em UDEMO (2009).

Figura 2. Pesquisa de Violência nos Turnos nas Escolas Estaduais de São Paulo.
40
35
Porcentagem (%)

30
25
20
15
10
5
0
Final de
Manhã Tarde Noite
Semana
2002 14 34 25 27
2007 36 26 23 15
2009 32 36 18 14

Fonte: Baseado em UDEMO (2009).

Neste caso trabalhar o ensino por meio da Educação Ambiental e da Arte-Educação pode ser
eficaz, capaz de estimular a reflexão sobre valores, atitudes e comportamentos, promovendo assim o
processo educacional de qualquer indivíduo, estimulando muitos tipos de questionamento,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

colocando os jovens e as pessoas envolvidas diante de caminhos que os levam a outras


possibilidades de escolha, fazendo sua opção com consciência e cidadania.
Como mudança de paradigma essa pesquisa quer mostrar que os danos ao meio ambiente
urbanístico, através de pichações efetuadas pelo homem, podem ser minimizados através do uso na
educação dessas duas ferramentas, para formar cidadãos protagonistas e conscientes do seu papel na
sociedade, mudando a relação do homem com o meio e isso tudo pode acontecer dentro da escola.

A Arte-Educação junto com a Educação Ambiental

A Arte-Educação e a Educação Ambiental são dois importantes eixos na formação


educacional de um aluno, apesar de distintas, ambas tentam buscam e despertar cognição,
percepção, razão e emoção, dicotomias enraizadas em nosso imaginário pelo projeto moderno de
civilização, complementando este pensamento Barros (2010) diz:“ O filósofo Kierkegaard me
ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o caminho
da cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia nada. Não tinha as certezas científicas. Mas
que aprendera coisas di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas das árvores servem para
nos ensinar a cair sem alardes. [...] seu rosto tinha um lado de ave. Por isso ele podia conhecer
todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara nos livros demais. Porém
aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.”
Barros (2010) faz uma ligação de pensamentos sobre cultura e natureza, remetendo à
primeira experiência que se tem com o mundo a partir dos sentidos, da percepção e das sensações
que este provoca, antes de qualquer símbolo e quem sente e sofre as ações, quem vive é o corpo e
este aciona o raciocínio e a reflexão de tudo o que esta a sua volta, interligando o pensamento
sensível e o raciocínio. Interpretando este pensamento se entende que o melhor meio de se aprender
é a partir da sensibilidade.
Para Duarte Jr. (2003, p. 12): ―Sem dúvida, há um saber sensível, inelutável, primitivo,
fundador de todos os demais conhecimentos, por mais abstratos que estes sejam; um saber direto,
corporal, anterior às representações simbólicas que permitem os nossos processos de raciocínio e
reflexão.‖
Essas reflexões fazem acrescer a necessidade de reestruturar a prática educativa como arte
educadores e/ou educadores ambientais, uni-las de modo que as ações se impliquem em promover
mudanças estruturais no modelo de desenvolvimento que vigora nos dias de hoje, nas relações
sociais, na educação, arte, ciência, tecnologia e meio ambiente. Segundo JACOBI, 2005 ―[...] vive-
se, no início do século XXI, uma emergência que, mais que ecológica, é uma crise do estilo de
pensamento, dos imaginários sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que
sustentaram a modernidade. Uma crise do ser no mundo que se manifesta em toda a sua plenitude:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

nos espaços internos do sujeito, nas condutas sociais autodestrutivas; e nos espaços externos, na
degradação da natureza e da qualidade de vida das pessoas‖.
Interligar a Arte-Educação com a Educação Ambiental, requer muito mais que revisar as
ideias e sim desenvolver ações que fortaleçam este laço. De acordo com Aguirre (2009) sobre a
necessidade de expansão da Arte-Educação: ―Faz tempo que muitos companheiros e companheiras
de estudo e trabalho ocupam-se em demonstrar o quão importante pode ser a educação artística em
outros terrenos de jogo, como o da arteterapia, a formação no campo da museologia, o lifelong
learning, a educação social e tantos outros.‖. E sobre a mesma necessidade que também sofre a
educação ambiental Reigota (1998, p. 23) afirma que:“ Precisamos ter claro que a Educação
Ambiental representa ao mesmo tempo uma crítica e uma alternativa aos processos pedagógicos
conservadores. Mas a sua crítica/alternativa não se limita ao espaço educativo. Elas se ampliam
ao modelo econômico, social e cultural vigente, assim como às formas de se fazer política, ciência
e arte, sem esquecer ainda que ela pretende influir no cotidiano, propondo relações sociais e
afetivas baseadas na ética, na justiça e na sustentabilidade.”
Ensinar Educação Ambiental, segundo Zeppone (1999), é ― ir além do amor à natureza e do
conhecimento de seus fundamentos, pois é preciso também aprender a fazer valer as ideias com
relação aos destinos da sociedade e do planeta‖. Assim, quando a educação ambiental é trabalhada,
não cabe somente pensar no meio ambiente, mas deve ser apurada as relações de interdependência
entre os mais variados elementos da natureza, a qual o ser humano pode reconhecer e transformar,
podendo ser físico, artístico, social, cultural e intelectual.
Para Freire (1997), a educação é um método que usa como meio de trabalho a transformação
e a conscientização. Transformação por intervir na humanização do ser humano, na mudança de
atitudes, na reflexão, na tomada de decisões por meio das experiências de dialogo, assim como na
de criticar questões problemáticas. Conscientização individual e coletiva por sensibilizar e motivar
as pessoas a alcançarem o conhecimento das ciências e também do seu ambiente, possibilitando que
participem com responsabilidade social, política e como cidadãos.
Por isso, espera-se que ao unir as duas ferramentas, elas possam contribuir para as reflexões
e críticas ligadas ao contexto sociocultural e ambiental contemporâneo, fortalecendo a compreensão
de que educar é o ato de produzir o que somos, ontológica, política, espiritual, cultural e
ecologicamente, com produção que pretende provocar a discussão de conhecimentos voltados à
transformação individual e social do indivíduo.

A Educação no Brasil

O Brasil é um país com desigualdades sociais, má distribuição da renda e com problemas no


sistema educacional, características típicas de países em desenvolvimento. Mas medidas precisam

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ser tomadas para que isso comece a ser resolvido. Esta não é uma situação simples e nem fácil de se
resolver, mas não é impossível.
Muitas mudanças ocorreram nas últimas décadas com a educação brasileira, que resultou em
mais pessoas com acesso as escolas e também aumentou o nível médio de escolarização da
população. Mas estas mudanças não foram suficientes para mudar o quadro educacional do país,
mesmo assim o Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados, de acordo com
os resultados do Pisa (Programme for International Student Assessment) de 2015, que é um dos
mais importantes exames educacionais do mundo, aplicado a cada três anos, ficando, portanto, nas
últimas posições do ranking (BRUINI, 2017).
Segundo Goldemberg (1993): “Não é possível, hoje em dia, aumentar substancialmente a
renda média de adultos sem instrução, nem se consegue educar adequadamente crianças cujas
famílias vivem à beira da miséria. Por isso mesmo, ao se traçar uma política educacional, há de se
evitar a posição simplista de que se pode resolver o problema da pobreza apenas abrindo escolas.
Pobreza e ausência de escolarização são deficiências que somente poderão ser superadas se
enfrentadas simultaneamente, cada uma em seu lugar próprio.”
Portanto, Goldemberg (1993) tinha razão, não se pode esperar que a educação no Brasil
resolva, sozinha, os problemas sociais do país, mas ela é um dos cominhos para que isso ocorra.
Melhorar cada vez mais a educação deve ser uma prioridade para o Brasil e para ajudar nesse
processo acredita-se que a Arte-Educação aliada a Educação Ambiental são ferramentas
indispensáveis.
Nos principais documentos referentes a Educação Ambiental, destacando a Lei Nº 9795/99,
onde fica evidente que a Educação Ambiental deve ser compreendida como um processo de
educação, e não uma disciplina, então, trata-se de uma prática pedagógica interdisciplinar, que deve
ser desenvolvida em todos os níveis de ensino, desde a Educação Infantil ao Ensino Superior, nos
mais diferentes contextos educacionais. Já a Arte-Educação é associada ao desenvolvimento
cognitivo, um processo de educação, que afirma a eficiência da arte para desenvolver formas sutis
de pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades, construir,
formular hipótese e decifrar metáforas (BARBOSA e COUTINHO, 2009). Assim, a Educação
Ambiental e a Arte-Educação devem ser vistas como mediação cultural e social dentro da educação.

O PROJETO

A escola protagonista nessa pesquisa é a Escola Estadual José Marciliano da Costa Junior,
localizada no município de Limeira, São Paulo. Foi utilizado uma metodologia própria, em virtude
do perfil e da faixa etária dos seus alunos e também de suas necessidades. Os jovens que
participaram do pesquisa trazem consigo uma bagagem fortalecida de dificuldades sociais,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

econômicas e culturais, agravadas pela falta de políticas públicas que afetam a realidade individual
e familiar diariamente. A Educação Ambiental aliada a Arte-Educação se transformará em uma
poderosa ferramenta de transformação cultural e social.
A proposta é munir os jovens de conhecimento técnico, prático e cultural objetivando o
empoderamento, aqui usando a Educação Ambiental e a Arte-Educação. Esses jovens empoderados
serão incentivados a passar seus conhecimentos adquiridos para seus amigos e colegas de escola,
familiares e comunidade em geral de forma a motivá-los e automaticamente empoderá-los, podendo
ser utilizado panfletos, jornais, cartazes, palestras, dinâmicas, entre outras. Assim, formando uma
corrente de ações que vai se multiplicando como um dominó. Durante o processo de
empoderamento serão realizadas duas ações que objetivam trabalhar com a escola e sua
comunidade entorno de ações de preservação e multiplicação de conhecimentos através da
sensibilização e conscientização de seus alunos na preservação, respeito e pertencimento do meio
ambiente urbanístico em que estão inseridos.
A metodologia se apoia em bases quali-quantitativa, é apropriada para medir tanto opiniões,
atitudes e preferências como comportamentos, conforme Garavello (2009). Para a realização da
pesquisa serão utilizados procedimentos descritivos e a pesquisa-ação-participativa, que segundo
Thiollent (1992) é uma pesquisa social, com base empírica, concebida e realizada em estreita
associação com uma ação e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação
estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Antes do início das aulas foi realizado uma pintura mural, inspirada nas pinturas da artista
plástica Esther Mahlangu, no Hall de entrada da escola (Figura 3 (a) e (b)) e alguns pilares, local
onde a pichação era certa. Foram pintadas também todas as portas das salas de branco (Figura 3
(c)), que anteriormente eram de cor azul escuro e mesmo assim pichadas. O projeto só se iniciou na
escola na quarta semana de aula. Durante as três primeiras semanas foram colocados cartazes nas
portas brancas, com chamadas para despertar o interesse do que viria a acontecer nos próximos dias
(Figura 4 (a)). Tudo isso para instigar a curiosidade dos alunos ao retornarem das férias. Até o
início do projeto já pode-se perceber uma mudança de comportamento dos alunos, todas as portas
ou paredes da escola e mesmo o Hall que eram alvo de pichações ficaram intactos.
Ao iniciar o projeto os alunos tiveram aulas semanais sobre, arte, grafite, conscientização,
direitos e deveres e educação ambiental. Pode-se citar uma aula de exemplo: aula sobre os artistas
que saíram da periferia e hoje obtiveram sucesso e reconhecimento pessoal e profissional através da
arte e do grafite, esta aula trouxe os alunos para perto de uma realidade que parecia ser distante, até
mesmo impossível, sobre ser alguém e querer criar e alcançar objetivos na vida. Após algumas
aulas foi realizada uma ação somente com esses alunos em um sábado. Nessa ação eles realizaram
uma pintura mural nas portas que estavam em branco (Figura 4 (b) e (c)). E em metade de uma das

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

portas foi dado espaço para alguns dos alunos, que se identificaram como pichadores, mostrarem a
arte deles (Figura 4(d)).

Figura 3. (a) Hall de entrada da escola antes (b) Hall de entrada da escola depois.
(a) (b) (c)

Figura 4. (a) Porta em branco. (b) Pintura das portas. (c) Porta pintada. (d) Grafite na porta.
(a) (b) (c) (d)

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Na segunda-feira após a pintura, a escola toda comentava sobre a pintura e questionavam


quem fez e porque não foram convidados a participar. Com essa ação os jovens puderam perceber e
posteriormente mostrar para o resto da escola que juntos e conscientes de seus direitos e deveres
podem manter um ambiente limpo e preservado, e que esse ambiente é bom. Após a primeira ação
as aulas do projeto continuaram e agora com mais um objetivo, empoderar a escola toda para
realizar a próxima ação, maior, que foi programada após o término de todas as aulas, onde os
próprios jovens foram os mobilizadores, para a realização de uma pintura mural em alguns lugares
na escola e também a recuperação de áreas revitalizando o meio ambiente cotidiano da escola.
A esperada ação maior chegou, e foi chamada de mutirão, alunos, professores e pais dos
alunos que estiveram presentes, foram divididos em equipes para realizaçao das tarefas. Uma
equipe ficou responsavel pela jardinagem, cortou galhos de árvores, mato, grama e fez o plantiu de
20 mudas de árvores (Figura 5). A outra equipe ficou com a parte da limpeza, limparam as
canaletas, ralos e tiraram os lixos em geral. Teve três equipes de pintura, para pintar a arquibancada
da quadra cujo os desenhos foram criados pelos próprios alunos (Figura 6), outra para demarcar e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pintar da quadra de volei no chão e pintar as muretas laterias (Figura 7) e por último a equipe que
pintou o muro da escola, que posteriormente vai ser escrito o logo da escola em cima (Figura 8). E
um espaço maior foi reservado para os alunos que queriam realizar seu próprio grafite (Figura 9).

Figura 5. Jardinagem da escola.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Figura 6. (a) Arquibancada antes. (b) Arquibancada depois.


(a) (b)

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Figura 7. (a) Quadra antes. (b) Quadra depois.


(a) (b)

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

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Figura 8. (a) Fachada antes. (b) Fachada depois.


(a) (b)

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Figura 9. Grafite feito pelos alunos em um local da escola.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.

Os resultados estão començando a aparecer, pois desde que o projeto se iniciou na escola,
ela não foi mais pichada e nem alvo de vandalismo e depredação, o que motiva saber que este é o
caminho certo para mudanças concretas na educação. Mudanças discretas mas já significativas
foram percebidas nos jovens que participaram, a proximidade e o respeito pelo ambiente escolar
ficou evidente. A pesquisa atingiu 28 jovens da eletiva e na ação conseguiu mobilizar cerca de 150
pessoas entre alunos, familiares e comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa pesquisa fica evidente que atividades que integrem a Educação, a Arte-Educação e a
Educação Ambiental podem desenvolvem o indivíduo em vários aspectos, como na criatividade, na
percepção de problemas, na criação de valores e atitudes que transformam o modo de ver e viver o
mundo. Este é o início do Projeto, é uma semente que foi plantada e que se bem cuidada vai gerar
bons frutos. Esta pesquisa precisa ser um projeto contínuo dentro das escolas até que todos se
sintam empoderados, se reconheçam como pessoas responsáveis por suas atitudes com relação a sí
mesmo, aos outros e ao ambiente que os cercam. Acredita-se que a assim a educação possa
proporcionar um acesso mais interessante a cultura e diminuir as diferenças sociais, de forma a criar
uma consciência ambiental urbanística em todos os envolvidos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

AGUIRRE, I.. Teorías y prácticas en educación artística. Barcelona: Octaedro, 2005.

BARBOSA, A. M; COUTINHO, R. G.. Arte/educação como mediação cultural e social. Editora


Unesp. 2009.

BARROS, M.. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta, 2010.

BRUINI, Eliane da Costa. "Educação no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em


<http://brasilescola.uol.com.br/educacao/educacao-no-brasil.htm>. Acesso em 01 de marco de
2017.

DUARTE Jr.. João Francisco. Fundamentos estéticos da educação. Campinas: Papirus, 1988.

FREIRE, P.. Pedagogia do Oprimido. 24ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

GARAVELLO, J. P. Contribuição a Educação Ambiental: a construção da consciência ecológica


em alunos do ensino fundamental. Tese Doutorado. Universidade Federal de São Carlos. 2009.

GOLDEMBERG, J. O repensar da educação no Brasil. Estudos Avançados. vol.7 no.18 São


Paulo May/Aug. 1993.

JACOBI, Pedro Roberto. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico,


complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2 , ago. 2005.

REIGOTA, Marcos. Educação ambiental: fragmentos de sua história no Brasil. In. NOAL, F.O. et
al. (org.). Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 1998.

THIOLLENT , M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1992.

UDEMO - Sindicato de Especialistas de Educação do Ministério Oficial do Estado de São Paulo.


Pesquisa Violência de 2009. http://www.udemo.org.br/Pesquisas/Pesquisa_2009.html. 2009.
Acesso em: 10 de janeiro de 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONTEXTUALIZAÇÃO DAS AÇÕES RELACIONADAS AO MEIO AMBIENTE


NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA DO CÂMPUS
DE PONTA GROSSA DA UTFPR

Júlio César STIIRMER


Prof. Dr. Departamento de Engenharia Química
juliocs@utfpr.edu.br
Julia Pereira Barbosa ALVES
Acadêmica Engenharia Química
julia_pba12@hotmail.com
Simone Moraes STANGUE
Mestre UTFPr
simonestangue@gmail.com
Matheus Santos WROBEL
Acadêmica Engenharia Química
matheussantoswrobel@gmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo a contextualização das ações relacionadas ao meio ambiente
no Departamento de Engenharia Química na UTFPR de Ponta Grossa. Dentre as ações, destacam-se
o projeto de gerenciamento de resíduos dos laboratórios de química, a confecção de uma cartilha
explicativa e um mural de meio ambiente (MMA).
Palavras Chave: Resíduos, Conscientização, Meio ambiente.

RESUMÉN
El presente artículo tiene como objetivo la contextualización de las acciones relacionadas al medio
ambiente en el departamento de Ingeniería Química en la UTFPR de Ponta Grossa. Entre las
acciones, se destacan el proyecto de gerenciamiento de residuos de los laboratorios de química, la
confección de una cartilla explicativa y un mural de medio ambiente (MMA).
Palabras Claves: Residuos, Concientización, Medio ambiente.

INTRODUÇÃO

A preocupação com o meio ambiente atualmente é um assunto que atinge diferentes setores
da sociedade e que ganhou aderência nas duas últimas décadas, representada pelo crescimento de
movimentos ambientalistas, maior interesse pela preservação ambiental por parte da sociedade
(MARCATTO, 2002). Junto a ela, a criação da consciência sustentável foi um fator que
impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias, pesquisas e estudos dentro de meios
empresariais e acadêmicos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No entanto, embora as instituições de ensino superior (IES) assumam um papel de destaque


na formação de membros da sociedade providos de pensamento crítico, é paradoxal que sejam
observadas poucas práticas de conscientização e qualificação dos formadores de opinião do futuro
dentro dessas instituições. (TAUCHEN; BRANDLI, 2006).
O gerenciamento de resíduos químicos, segundo ROCCA et al (1993), é uma prática
baseada no controle do potencial de impactos ambientais dos resíduos gerados de uma determinada
atividade e ―deve sempre adotar a regra da responsabilidade objetiva, ou seja, quem gerou o resíduo
é responsável pelo mesmo‖ (JARDIM, 2007). Entretanto, há pelo menos duas décadas, o tema da
gestão de resíduos era pouco discutido dentro das IES e as práticas ligadas a ela eram quase nulas
devido à falta de órgãos para realizar a fiscalização (JARDIM, 2007). Visto que por muito tempo as
instituições de ensino não costumavam ser consideradas unidades poluidoras (MARINHO;
ESTEVES; BOZELLI, 2011), foi preciso que estas buscassem a conformidade com a lei
12.305/2010, lei que rege a Política de Gerenciamento de Resíduos Sólidos no país e ―por uma
questão de coerência de postura, é chegada a hora das universidades, e em especial dos Institutos e
Departamentos de Química, implementarem seus programas de gestão de resíduos‖ (JARDIM,
2007). A partir da incorporação das práticas de sustentabilidade, o processo de conscientização
torna-se mais viável ao passo que tais princípios são disseminados entre alunos, professores e
colaboradores da instituição (TAUCHEN; BRANDLI, 2006).
Visando fomentar a melhor releitura da realidade e promover a mudança de postura dos
indivíduos ante os problemas socioambientais (SILVA, 2011), foram constituídas dentro do
Departamento de Engenharia Química da UTFPR – Ponta Grossa ações relacionadas à educação
ambiental lançando mão de recursos tais como uma cartilha explicativa, um mural de meio
ambiente (MMA) e o projeto gerenciamento de resíduos dos laboratórios de Química (já
previamente vigente na instituição). Conforme aponta Butzke et al. (2001), para que haja a
minimização dos problemas ambientais e a melhoria da qualidade de vida, o indivíduo e a sociedade
como um todo deve passar por um processo de mudança de comportamentos em todos os aspectos
de sua vida, implicando assim em um processo de educação e conscientização ambiental.
À vista disso, as intervenções desenvolvidas no campus trazem o incentivo aos alunos e
professores a ―desenvolver uma consciência ética em relação ao uso e descarte de produtos‖
(PEDROZA, 2011), a promover a transformação do indivíduo em objeto essencial de
desenvolvimento sustentável (REIS, et al., 2012) e, por conseguinte, a diminuição da degradação do
meio ambiente através da educação ambiental.

METODOLOGIA

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A metodologia utilizada para promover ações de cunho ambiental realizadas no


departamento deu-se, a primeiro momento, por meio de pesquisa metodológica a fim de selecionar
o melhor método para a mobilização do público alvo. Foram estabelecidos como material de
conscientização uma cartilha explicativa e um mural de meio ambiente (MMA) e a prática do
gerenciamento de resíduos químicos.
O projeto de gerenciamento de resíduos é executado com a seguinte metodologia: em cada
um dos laboratórios envolvidos no projeto de gerenciamento são dispostos recipientes de
armazenamento (denominados bombonas) para que o descarte dos resíduos químicos gerados a
partir das atividades práticas. Cada bombona, por sua vez, recebe uma ficha de identificação que
designa o tipo de resíduo que será acondicionado a fim de que o descarte dos mesmos seja realizado
levando em consideração suas composições químicas. Utiliza-se também, para garantir um controle
mais rígido de volumes e concentrações dos reagentes usados, uma pasta que deve ser devidamente
preenchida pelos usuários dos laboratórios. A capacidade das bombonas varia entre 20 e 60 litros e,
quando atingem um volume considerável de resíduos gerados, são levadas a local próprio para
armazenamento até que uma das empresas credenciadas que são incumbidas do tratamento dos
resíduos seja acionada para realizar a destinação final. Os tipos de resíduos administrados no
projeto são: Inorgânicos, Orgânicos, Orgânicos halogenados, Orgânicos não-halogenados, Metais
pesados e outros (cujas características não se assemelham às dos demais).
O projeto de gerenciamento de resíduos, por sua vez, motivou a confecção da cartilha
explicativa, cujo propósito é conscientizar e provocar a reflexão acerca do papel das instituições de
ensino como responsáveis por significativa parcela de resíduos químicos gerados. Seu conteúdo
explicita os objetivos da cartilha explicativa e trazem informações a respeito da classificação dos
resíduos químicos de laboratório, justificativa do projeto de gerenciamento de resíduos químicos,
metodologia aplicada na gestão desses resíduos e considerações e sugestões para a realização do
descarte.
O mural de meio ambiente (MMA) foi desenvolvido para a exposição de materiais que
contemplam temas alusivos ao meio ambiente e tem a função de informar e conscientizar o público
alvo, que são os alunos, professores e servidores da universidade. Tais temas, previamente
delimitados, são abordados com o auxílio de cartazes, banners e imagens e serão periodicamente
renovados no mural para que todos os tópicos sejam tratados. Os murais são posicionados em
pontos estratégicos dentro do campus de modo que os materiais, de fácil leitura e visualização,
possam transmitir informações relevantes sobre cada assunto de maneira sucinta.
A fim de que os materiais de conscientização ganhassem maior alcance do público alvo, a
cartilha explicativa foi disposta nos laboratórios e fixada no mural. O mural de meio ambiente, além
de ter espaço reservado no bloco de Engenharia Química do campus, foi disposto também em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

outros locais dentro da universidade de forma os cartazes e banners tivessem maior visibilidade
entre os demais estudantes e servidores e atingissem um público ainda maior. Em respaldo a esses
recursos de conscientização do público, é possível que haja a divulgação por através de meios
virtuais (como as redes sociais) e, imprescindivelmente, haver a comunicação oral e que se
aproxime mais das pessoas, pois assim a preocupação com o meio ambiente é fomentada e os
valores sustentáveis difundidos mais efetivamente.

RESULTADOS

Do período de segundo semestre de 2016 até o primeiro semestre de 2017, obteve-se um


volume de aproximadamente 500 litros de resíduos gerados pelos laboratórios do departamento de
Engenharia Química que foram encaminhados à destinação final. Conforme levantamento, entre os
tipos de resíduos, o inorgânico destacou-se por ter sido gerado, somando um volume de 244 litros,
seguido dos resíduos contendo metais pesados e dos solventes orgânicos halogenados com um
volume de 51 e 37,3 litros, respectivamente.
A cartilha explicativa, por conter informações sobre o projeto de gerenciamento de resíduos
químicos, teve um papel importante na gestão dos resíduos à medida que o público alvo passou a
assimilar a periculosidade desses compostos e os prováveis danos ao meio ambiente decorrentes de
maus hábitos. Assim, os estudantes passaram descartar os resíduos com maior cautela e preencher
as fichas dos reagentes devidamente.
O mural de meio ambiente é uma ferramenta de conscientização muito útil e desempenhou
um importante papel na educação ambiental dentro do câmpus. Conforme os materiais contendo os
temas estipulados foram sendo alternados no mural, a mudança de atitude foi estimulada

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados obtidos a partir do projeto de gerenciamentos de resíduos químicos no


Departamento de Engenharia Química da UTFPR – Campus de Ponta Grossa validam fortemente a
tese de que as instituições de ensino superior e de pesquisa são responsáveis por uma parcela
considerável de resíduos gerados que, se não tratados devidamente, são extremamente nocivos ao
meio ambiente.
Assim, para que as ações relativas ao meio ambiente na instituição logrem resultados
satisfatórios, parte-se da premissa de que a mudança de atitude é um passo fundamental. Visto isso,
é de grande necessidade a existência de iniciativas que promovam a educação ambiental de modo a
estimular a conscientização e disseminação de valores sustentáveis dentro e fora do ambiente das
instituições de ensino, formar cidadãos dotados de uma postura consciente e, consequentemente,
minimização dos danos causados ao meio ambiente.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 800


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 801


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

UMA TRILHA ECOPEDAGOGIA COMO MEDIADORA DE NOVA VIVÊNCIA


ESCOLAR CONSCIENTIZADORA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Jussara Lopes de MIRANDA


Professora associada IQ-UFRJ
email:jussaraufrj@gmail.com
Mariana BERENDONK
Mestranda no Ensino de Química – UFRJ
email:marianah.berendonk@gmail.com
Tainá Ferreira dos Santos SILVA
Licenciada em Biologia - Unigranrio
Email: taina_pufito@hotmail.com
Maria das Graças do NASCIMENTO
Estudos Sociais com licenciatura plena em História - ISM
email: nascimento.dasgracas@gmail.com

RESUMO
O presente artigo é um recorte de um fruto de uma dissertação de mestrado profissional no ensino
de Química, vinculado a um projeto de Extensão intitulado ―A Arte no Lixo‖, do Instituto de
Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem como propósito a pesquisa em Educação
ambiental no viés Crítico e de ação transformadora e humanizadora. Para isso, procedeu-se essa
pesquisa, a partir de uma aula cultural de química em espaço não-formal de ensino no Laboratório
Vivo de Agroecologia e Permacultura (LAVAPER – MUDA- UFRJ), e que estiveram presentes
como sujeitos participantes quatro professores de diferentes disciplinas, Química, Biologia,
Geografia e Matemática e um total de doze alunos de uma escola de ensino do município de Duque
de Caxias, Rio de Janeiro, além de dois mediadores das atividades em campo um estudante de
engenharia ambiental e outra estudante de geografia. O propósito desta aula fora dos muros da
escola, foi de avaliar o quanto os alunos tinham conhecimento sobre o ciclo da matéria orgânica na
natureza, e o quanto este tema pode ser útil para sensibilizar os envolvidos, por meio da mediação e
análise reflexiva. Uma trilha eco pedagógica intitulada ―O caminho para o infinito‖ foi realizada
com os professores e estudantes, empregando-se aulas de vida real sobre reciclagem de resíduos e
ciclos de vidas, contribuindo para a formação de uma cidadania mais consciente e crítica, não
somente no sentido estrito de argumentação para fins acadêmicos, mas no estímulo da busca pela
ação e na formação de multiplicadores ambientais, além das possibilidades de trabalho
interdisciplinar com enfoque nos desdobramentos da temática em resíduos sólidos.
Palavras-chaves: educação socioambiental, resíduos sólidos, trilha ecopedagógica

SUMMARY
This article is a cross - section of a master 's dissertation in the teaching of Chemistry, linked to an
Extension project titled "Art in the Waste", from the Chemistry Institute of Federal University of
Rio de Janeiro. Its purpose is the research in Environmental Education in the bias Critical and
transforming and humanizing action. For this, this research was carried out, from a non-formal
educational chemistry classroom in the Living Laboratory of Agroecology and Permaculture
(LaVaPER - MUDA-UFRJ), involving the participation of teachers from Chemistry, Biology,
Geography and Mathematics and a total of twelve students from a high school in the municipality of
Duque de Caxias, Rio de Janeiro and two mediators of the field activities, one student of

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

environmental engineering and another student of geography. The purpose of this lesson outside the
walls of the school was to investigate how students can lively learn about the organic matter cycle
in nature, and how useful this topic can be used to sensitize them through mediation and reflexive
analysis. A walking trail called ―a path to infinity‖ was done with the teachers and students
employing real live lessons from waste recycling and life cycles in a social and environmental
perspective, contributing to the formation of increasingly conscious and critical citizens, not only in
the strict sense of argumentation for academic purposes, but also in the Stimulation of the search for
action and in the formation of environmental multipliers, as well as the possibilities of
interdisciplinary work focused on the unfolding of the solid waste theme.
Keywords: social and environmental education, solid waste and walking trail

INTRODUÇÃO

A trilha do infinito como instrumento de aprendizagem, pode provocar a necessidade de


pertencimento ao planeta no qual habitamos se o mesmo for trabalhado através da educação no
sentido de nos fazer encantar com o universo (GADOTTI, 2016, p.2). Deslumbramento esse, que é
próprio da experiência de cada um, como ―plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma
plantinha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta‖ (GADOTTI, 2016,
p.4). Para situar inicialmente este artigo ao propósito da atividade da trilha, deve-se atenção especial
primeiramente ao panorama da Educação Ambiental Crítica no Brasil que segundo (Loureiro 2013,
p. 64) se inicia na década de 1980 e início de 1990, como a redemocratização da sociedade
brasileira, que garante o resgate de vários movimentos ligados à área social de caráter
emancipatório e a fortificação de perspectivas críticas da mera educação ao alcance da educação
popular. Diante do cenário de degradação ambiental e de tais movimentos de urgência social, a
educação ambiental passou a ser contemplada como processo contínuo de aprendizagem em que se
faz presente a tomada de consciência, a produção e transmissão de conhecimento, além de
habilidades, valores e atitudes. (LOUREIRO, 2013, p.64). A educação ambiental crítica encontra
na Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, seu aporte de enraizamento. Esta educação crítica
conforme Guimarães, 2004, p.29)refere-se, propõe expor a resistência presentes como combate a
hegemonia, para que numa compreensão complexa do real se opere os atores sociais e assim, se
possa intervir nessa realidade. Ademais, podemos encontrar características na educação ambiental
crítica que se vincula as atividades pedagógicas encadeadas durante a trilha como meio capaz de
proporcionar aprendizagem, mudanças na forma de agir, pensar e provocar impacto no
desenvolvimento das emoções que é além de tudo, uma reação subjetiva aos impulsos ambientais
que acompanham desde as mudanças orgânicas, as fisiológicas e endócrinas, e que são
influenciadas pela experiência individual e coletiva, no qual impactam positivamente no ensino de
Ciências.(VÁZQUEZ E JIMENEZ, et al. 2014, p.14). Uma dessas características citadas por
(GUIMARÃES, 2005, p.32), é o estimulo a autoestima tanto dos educando quanto dos educadores,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

além da confiança na potencialidade transformadora da ação pedagógica promovida pelo trabalho


em grupo. Não obstante fazendo menção à Mazzuco et al, 2016. P. 30, no qual afirma que a
sociedade tem um papel de suma importância tanto na degradação ambiental, quanto da sua
preservação, neste sentido, faz-se necessário a condução da população a ter maior criticidade sobre
situação atual, na transformação dos hábitos e costumes em prol da sustentabilidade.
Baseando-se nos pressupostos referenciados acima, foi promovido um relato de experiência
em uma trilha do infinito, do tipo guiada, pois contou com a presença de dois monitores intérpretes,
segundo Moraes(2000, apud COSTA 2017, p.214) é aquele que além de conduzir o grupo na rota
estabelecida, estimula ainda participação nas diversas atividades, seja por sensações e levantamento
de questões a cerca do tema estudado. Esse tipo de trilha tem vantagens como enquadramento dos
participantes a determinada idade, tipo de escolaridade, esclarecimento de possíveis incertezas,
maior segurança para os visitantes, pelo fato das pessoas terem de seguir o ritmo do grupo (COSTA,
2017). Classificaremos aqui, as questões abordadas durante as atividades da trilha do infinito, como
problemas ecológicos em sentido crítico que estão tecidos juntos à realidade socioambiental do
aluno como o descarte inadequado dos resíduos sólidos, especificamente os de matéria orgânica, a
questão da sustentabilidade e a integração desses temas relacionados à área da saúde e o impacto
destes na sociedade. Temas estes, que são vistos como transversais pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais e que os estudantes precisam estar inseridos para uma compreensão melhor da realidade
como ―Viver situações práticas a partir das quais seja possível perceber que não há uma única visão
de mundo, portanto, um fenômeno, um problema, uma experiência podem ser descritos e analisados
segundo diferentes perspectivas e correntes de pensamento, que variam no tempo, no espaço, na
intencionalidade.‖ (DCNEM, IV, p.33, 2013). Ainda segundo Barcelos 2005, p. 70-74 pode-se
considerar as problemática ecológicas como um texto, em que há a possibilidade de leitura de
mundo, em que o universo pode ser lido e interpretado por aqueles que o leem e o interpretam,
fomentando assim, o diálogo e o alcance da cidadania planetária que estejam comprometidas com
as pesquisas em educação ambiental.( BARCELOS, 2005, p.81). Conforme o trecho abaixo, pode-
se perceber o que foi referenciado anteriormente.

―Procurando descrever um problema ecológico, a reflexão sobre ele nos leva a um caminho
de autoconhecimento, à medida que ao assumirmos determinadas interpretações, estaremos
necessariamente, assumindo também nossa participação ou nossa parcela de
responsabilidade sobre o que estamos analisando. Estaríamos lançando mão de algo
semelhante ao processo de ―desmascaramento‖, sugerido por Paz em Laberinto de la
soledad como forma de se buscar uma aproximação maior com o imaginário de um grupo
ou de uma sociedade, bem como evitando cair na armadilha tão frequente da aposta nas
soluções rápidas e simplistas para problemas tão complexos como os ecológicos.‖
(Barcelos, 2005, p. 77)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CAMINHO METODOLÓGICO

O desenvolvimento das atividades procedeu-se no LaVAPer (Laboratório Vivo de


Agroecologia e Permacultura), no espaço MUDA, o qual desempenha funções de centro de
Tecnologias sociais em atividades de extensão, pesquisa e ensino, o espaço laboratorial vivo e
aberto é situado no estacionamento do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Aconteceu uma visita guiada com dois monitores, um aluno de engenharia ambiental e a
outra aluna do curso de geografia. A aula em campo aconteceu no dia 03 de julho de 2017 durante
todo a parte da manhã com atividades de trilha do infinito, no qual participaram somente doze
alunos das três séries do Ensino Médio, justificando-se esse quantitativo, pois nem todos tiveram
interesse e condições em participar, pois o transporte era pago, apesar da visita ao local ser gratuito.
Estiveram presentes os professores da escola das seguintes disciplinas: Matemática, Biologia,
Química e Geografia. É importante salientar que os professores citados acima, tem o mesmo dia de
trabalho, com exceção da professora de química, fato este que viabilizou a saída dos mesmos nesta
aula de campo, promovida pela escola. Antes que houvesse a saída, ainda na escola, foi solicitado
aos alunos que preenchessem um questionário semiestruturado de sondagem investigativa em
questões que iriam ser abordadas na trilha. Após a trilha foi distribuído um outro questionário no
intuito de averiguar as respostas e fazer um comparativo no que foi respondido antes e depois das
atividades.
As principais perguntas que foram avaliadas no questionário prévio foram com respeito ao
destino dos resíduos, trabalho em equipe e gosto pela trilha.
Acerca dos procedimentos metodológicos baseado na pesquisa-ação em análise qualitativa e
quantitativa, as atividades propostas na trilha foram divididas em cinco fases pelos dois monitores
no LAVAPER.
 1ª Fase: Como está seu tempo? Indagação feita em roda de conversa inicial com os alunos
ao chegar no Laboratório Vivo. O intuito dessa atividade é demonstrar que as atividades em
Educação ambiental trabalham com a sensibilização, e que é de importância extrema esse
estímulo da equipe ao aguçar esse percepção ambiental e seu estudo para que se possa ter
um entendimento melhor das relações do ser humano com o meio ambiente, levando-os ao
processo de sensibilização e conduta apropriada. (Kanda, et al. 2014, p.24). Nessa fase os
alunos respondiam se o tempo estava ensolarado, nublado, chuvoso ou com tempestade.

 2ª Fase: Os monitores contaram sobre a história do MUDA e sua vinculação ao projeto de


extensão da UFRJ juntamente com a participação dos alunos da Engenharia ambiental e a
contribuição deste curso no desenvolvimento das atividades com viabilidade técnica
econômica em Ensino e Pesquisa nas seguintes áreas: Agroecologia, Saneamento ecológico,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Recuperação de Áreas degradas na implementação da Agrofloresta, compostagem sob a


ótica dos resíduos Sólidos Urbanos em leiras de compostagem e em minhocário. Foi
abordado também a história da Universidade Federal do Rio de Janeiro que era formado por
sete ilhas pequenas feita com aterro compactados cheio de entulho, a dificuldade em lidar
com solo altamente pobre para a implementação de reflorestamento, a partir da agrofloresta.
Foi destacado também, a relação entre consumo exacerbado da população e sua relação
direta com a produção de resíduos sólidos, a importância da coleta seletiva e do
reaproveitamento da matéria orgânica por processo de compostagem em uma gestão
descentralizada, ou seja, a responsabilidade por decompor a matéria orgânica está sob nosso
dever. Além disso, foi levantado um questionamento sobre o potencial que o gás metano tem
sobre o efeito estufa que é maior que o próprio dióxido de carbono, que segundo Ministério
do Meio Ambiente, esse gás tem o poder de aquecimento 21 vezes maior do que o dióxido
de carbono. Deixou-se claro que compostagem é um processo no qual dá-se condições para
facilitar a degradação da matéria orgânica e que o solo precisa da relação entre fontes de
carbono e nitrogênio para aceleração do processo aliado à dimensão das partículas e o
revolvimento ( Kiehl 1985 apud. A.T.de Matos et al. 1998, p.200). Esta, podendo ser
termofílica com aeração, em que os micro-organismos como bactérias e fungos são
protagonistas no processo ocorrido em temperatura entre 45 a 70° C. Foi explicado que este
tipo de compostagem é feita pelo LAVAPER, com restos de resíduos do bandejão da UFRJ
diariamente. Foram abordados também aspectos como manutenção da composteira, método
de compostagem no qual é importante controlar a relação entre fonte de carbono e
nitrogênio no meio, e sucessão ecológica no qual a fauna existente dependendo pode
propiciar condições de atingimento da temperatura até 80°C, garantindo assim, a obtenção
do composto com maior velocidade e em menos tempo.

 3ª Fase: Foram abordados aspectos históricos e sociais ligados a Revolução verde, que no
Brasil, foi marcadamente nos anos 60 e 70 no qual houve estímulo à produção agrícola e uso
de insumos industriais (MOREIRA, 2013), como o uso do DDT - composto químico
organoclorado, fez disparar a produção de alimentos graças a seu uso como fertilizante ou
agrotóxico como insumo químico na agricultura. Esse composto também foi utilizado na
segunda Guerra mundial como arma química, o agente laranja, entre Coréia e Vietnã, no
intuito de dizimar a população vietnamita e as florestas. (LUCCHESI, Geraldo, 2005, p.3).
Baseando-se nessas problemáticas é que surge a agroecologia como ciência agrícola no viés
de uma agricultura sustentável, em que há uma preocupação em alimentar a população
mundial sem agressão ao meio ambiente e à vida, já que as técnicas não envolvem insumos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

químicos que podem dar origens a doenças como câncer, a problemas psicológicos ou ainda
a outras anomalias. Deixou-se claro que a agrogloresta faz parte da agroecologia.

 4ª Fase: Dinâmica de Grupo durante cinco minutos. Nessa fase, os alunos são convidados a
refletir, contemplar, observar em período de silêncio na agrofloresta e a tentar interagir com
o meio ambiente.

 5ª Fase: Trilha do Infinito: Alunos entraram na floresta e puderam observar tudo à sua volta,
plantas, banheiro seco como técnica milenar, abordou-se historicamente aos alunos que o
próprio Palácio de Versalhes não tinha banheiro. Mostrou-se o Sombreiro, que é bom para
produção de biomassa, Guapuruvu, árvore nativa da mata atlântica que seu tronco é
utilizado para fazer canoa, Pau-Brasil, como árvore plantada, mais antiga do LAVAPER.
Foi abordado com a intervenção da professora de Biologia aspectos do Meristema que é o
tecido encontrado em todas as plantas. Os alunos também tiveram contato com plantação de
alface, vinagreira e puderam saborear esses elementos colhidos na hora.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O que pode ser observado é que a comunicação das atividades por meio das fases
aconteceram em circuito (Morin, p.138, 2005), considerando os domínios trabalhados como a
Química, a Biologia e a Geografia que tiveram comunicação durante as atividades, e torna-se em
dimensão crítica quando consideramos além de tudo, os aspectos antropológicos, pois todo
conhecimento depende das condições, possibilidades e limites do nosso entendimento, sendo assim,
é necessário enraizar o conhecimento físico, biológico em uma cultura, em sociedade, na história e
na humanidade. (Morin, p.139, 2005). Já em relação aos resultados avaliados do questionário
prévio, dos doze alunos que se propuseram a pesquisa, obteve-se as seguintes porcentagens, em
relação as perguntas: 1) Qual é o tipo de lixo predominante você acha que tem em sua casa:
66,67% dos alunos responderam que são restos de alimentos; 25%, responderam garrafas e
embalagens plásticas e apenas 8,33% sinalizaram jornais e papéis. 2) Perguntou-se se eles sabiam o
que era uma trilha do infinito: 91,67% disseram que não e apenas 8,33% disseram que sabiam. 3)
Indagou-se o que eles faziam com os restos de alimentos da casa deles? 75% jogam fora, 16,67%
coloca no vaso de plantas e apenas 8,33 % enterram o lixo no quintal. 4) Você já ouviu falar em
compostagem? 83,33% dos alunos marcaram a opção: por alto, mas não sei o que é, e 16,67%
nunca ouviram falar sobre, ninguém assinalou a alternativa: sim, sei o que é; Apesar dos estudantes
não saberem ao certo o que é compostagem 41,67% dos entrevistados disseram que esse método de
compostagem é benéfico para o meio ambiente e 58,33% não souberam responder. 5) Como é seu
sentimento quando você trabalha em grupo: apenas 16,67% dos alunos se sentem muito felizes

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

quando trabalham em equipe; 50% ficam felizes; 33,33% se sentem irritados e ninguém assinalou a
opção triste. 6) o quanto nossas ações contribuem para qualidade de vida de uma comunidade?
58,33 dos alunos assinalarem que contribuem muito; 25% assinalaram que contribuem pouco e
16,67% assinalaram quase nada.7) Quais são os micro-organismos que decompõem a matéria
orgânica? 91,67% responderam fungos e bactérias e apenas 8,33% assinalaram somente
protozoário, salientando que ainda tinham as alternativas de somente bactérias e somente fungos
que não foram assinaladas por nenhum dos pesquisados. 8) Você sabe o que é húmus? 33,33%
alunos sinalizaram que sabem o que é e 66,67% expressaram que não tem ideia do que seja. 9)
Perguntou-se também porque consideraram a visita ao LAVAPER na UFRJ importante: 8,33%
assinalaram que gostariam de conhecer para sair da rotina; 33,33% gostariam de conhecer as
atividades do laboratório vivo e 58,33% queria conhecer a instituição UFRJ.
Utilizamos o questionário posterior a fim de respaldar a evolução das respostas desde o
questionário prévio e se houve mudanças na mesma, após o percurso da trilha e explicação dos
monitores presentes. Em relação ao questionário pós tem que a pergunta 1) pergunta sobre o que
acharam da visita ao LAVAPER : 33,33% acharam a trilha interessante, mas cansativa; 16,67%
marcaram que foi legal, porque aprenderam muitas coisas; 16,67 legal porque fizeram coisas
divertidas e 33,33% assinalaram três opções (legal porque foi um bom passeio, legal porque fizeram
coisas divertidas e legal porque aprenderam muitas coisas). Pode-se notar que após a trilha os
alunos já demonstram conhecimento sobre que é uma trilha do infinito, em comparação ao
questionário prévio 83,33% respondendo que sim. Na questão 3) O que se pode fazer com os restos
de alimentos da sua casa?, 75% dos alunos assinalaram que poderiam fazer a compostagem. Em
relação à resposta da pergunta 4) O que é compostagem?, 83,33% dos alunos respondem que a
partir daquele momento sabiam do que se tratava. Já em relação ao que eles acharam de trabalhar
em equipe, pergunta 5, 50% dos alunos acharam que foi bom, mas poderia ter sido melhor e 50 %
acharam muito bom, porque puderam aprender em grupo. Após a explicação todos os alunos
responderam que quem decompõem a matéria orgânica são os fungos e as bactérias, o que denota
que durante a trilha, os estudantes demostraram atenção durante a explicação durante essa parte,
mas o percentual de alunos que responderam o que é húmus, após a atividade permaneceu o mesmo,
embora isso tenha se falado durante a visita ao LAVAPER.
Ainda durante o trajeto dentro da agrofloresta, tinham placas fixadas nas árvores, não para
proceder o percurso de forma autoguiada, mas sim possibilitar ao visitante um impacto de
preservação ambiental pelo uso da imagem e da linguagem não verbal, que segundo Pulh
(Pulh2016, p.192) salienta-se que é pela linguagem em que há análise e capacidade de
interpretação, o olhar e a compreensão, e que por meio dela ocorre essa estrita relação entre
interpretar e compreender, a relação entre o homem e a natureza. Ainda pelo trecho abaixo,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

percebe-se que a linguagem não só transmite o que foi referenciado acima, mas também aguça
outros sentidos como o tato, olfato, paladar e a visão, o que pode ser percebido quando os alunos
olharam as diversas placas de madeira desenhadas com algumas informações e alguns objetos que
foram deixados na trilha, por catadores de material reciclável, como uma boneca e algumas bolinhas
de natal que sempre procuravam passar um sentido de beleza e encantamento na floresta, segundo a
equipe de monitores presentes.

―[...] não chegamos a tomar consciência que o nosso estar no mundo, como indivíduos
sociais que somos, é mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem, isto é, que nos
comunicamos também através da leitura e/ou produção de fórmulas, volumes, massas,
interações de forças, movimentos; que somos também leitores e/ou produtores de
dimensões e direções de linhas, traços, cores..Enfim, também nos comunicamos e nos
orientamos, através de imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes...Através de objetos,
sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar, do sentir e do apalpar.‖
(Santaella, 2017, n.p).

Figura 1: uma das placas informativas na Figura 2: aluna colhendo alface para saborear
agrofloresta

Fonte: Dados de campo Fonte: Dados de campo

A maioria dos estudantes demonstraram interesse e participação em todas as atividades,


alguns pegaram até o ipad da professora para poder tirar fotos das espécies de besouros, plantas
encontradas durante o percurso e até mesmo foto em grupo com os amigos. Outros ainda
saborearam a vinagreira e comeram a alface colhida do pé, levaram até muda de vinagreira para
plantarem em casa, outros ainda comiam algumas espécies de pimenta diferentes que tinham lá. Um
aluno se abismou com o caroço do feijão branco que era bem maior do que compramos no mercado.
Além disso, um outro grupo de alunos acompanhava e fotografava o professor de matemática
enquanto o mesmo tirava fotos dos vários elementos da agroflorestal. Sendo assim, podemos
constatar que a trilha possibilitou novas oportunidades e um novo olhar dos alunos para as questões
ambientais em uma perspectiva crítico social, pois muitos dos temas abordados em sala de aula de
forma fragmentada por meio de disciplinas, puderam ser contemplados de uma maneira abrangente,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

interdisciplinar e participativa. Como relata Chassot (Chassot, 2007) a educação ambiental


caracteriza-se por um aprender juntos pela troca de experiências. Ressalta, ainda que é muito
importante o quanto diferentes ações de homens e de mulheres de maneira individual ou coletiva
procuram construir novas possibilidades de vida no planeta. E que ainda temos como objetivo
construir valores sociais, direcionados não unicamente para sustentabilidade e conservação do meio
ambiente, mas também valores críticos que se responsabilizam pelas modificações que ocorrem no
ambiente natural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o tema trilha do infinito pode abrigar várias dimensões
socioambientais, e isto pode estar imbricado com as os aspectos econômicos e políticos, podendo
causar múltiplos direcionamentos no agir e fazer do professor no que diz respeito às dimensões
pedagógicas. A trilha do infinito pode proporcionar ainda aos alunos um efeito impactante em seus
sentidos, pois aguça a sensibilidade e a forma como os sujeitos leem e interpretam o mundo
complexo em constante transformação. O ensino feito por trilhas eco pedagógicas favorece, assim o
campo da compreensão e da experiência humana de estar no mundo e participar da vida, e isto
contribui consideravelmente para a promoção do trabalho em equipe, como constatado pelo
questionário aplicado posterior à visita ao LAVAPER, onde 50% dos alunos consideraram o
trabalham em equipe muito bom, porque puderam aprender em grupo. Sendo assim, aspira-se a um
conhecimento multidimensional quando se trabalha temas relevantes em educação ambiental e que
são permeados por disciplinas fechadas em si mesmas no espaço formal, que em contra partida,
conseguem ser trabalhadas de forma hologramática quando são realizadas em espaços não formais
como a trilha do infinito, por exemplo.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 811


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONTRIBUIÇÕES DA DISCIPLINA SEMINÁRIO DE PESQUISA I À UMA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ANTICOLONIAL

Leandro CARNEIRO
Mestrando do PPGEDUC/UFRRJ
leandrocarneiro13@gmail.com

RESUMO
O artigo relata uma experiência à cerca das contribuições de uma abordagem diferenciada, na
disciplina Seminário de Pesquisa I, ministrada no programa de mestrado em educação da UFRRJ,
associada aos saberes de uma Educação Ambiental anticolonial. Esta última, perpassada pela
ampliação dos conhecimentos em relação às explorações realizadas pelo colonialismo europeu e
suas pilhagens ocorridas até hoje nas paragens ao sul. Tal relação foi estabelecida por meio da
escolha de algumas teses de Boaventura de Sousa Santos a respeito ―Da ideia de Universidade à
Universidade de ideias” e suas interconexões com importantes formas de pensar a relação da
sociedade com a natureza. Além do emprego de saberes de bell Hooks (Gloria Watkins) quanto à
―pedagogia anticolonial‖ e também de Maria Aparecida Bento quanto à necessidade de novas
epistemologias, porque a manutenção do silêncio em relação à situação de povos e nações
marginalizadas também é uma forma de preconceito e manutenção de privilégios.
Palavras Chave: Educação Ambiental Anticolonial, Ecopedagogia e Novo Senso Comum.

RESUMEN
El artículo relata una experiencia a la cerca de las contribuciones de un enfoque diferenciado, en la
disciplina Seminario de Investigación I, impartida en el programa de maestría en educación de la
UFRRJ, asociada a los saberes de una Educación Ambiental anticolonial. Esta última, atravesada
por la ampliación de los conocimientos en relación a las explotaciones realizadas por el
colonialismo europeo y sus saqueos ocurridos hasta hoy en las paradas al sur. Esta relación fue
establecida por medio de la elección de algunas tesis de Boaventura de Sousa Santos al respecto
"De la idea de Universidad a la Universidad de ideas" y sus interconexiones con importantes formas
de pensar la relación de la sociedad con la naturaleza. Además del empleo de saberes de bell Hooks
(Gloria Watkins) en cuanto a la "pedagogía anticolonial" y también de María Aparecida Bento en
cuanto a la necesidad de nuevas epistemologías, porque el mantenimiento del
Palabras clave: Educación Ambiental Anticolonial, Ecopedagogía y Nuevo Senso Común.

INTRODUÇÃO

Desde o início dos estudos desta disciplina, foram externadas a inquietação e a necessidade
de uma abordagem diferenciada. De modo que, a modernidade ocidental já não pode ser vista como
única fonte de interpretações da realidade. E por isso, novas fontes e novas perspectivas
epistemológicas precisam ser conhecidas e empregadas como novas lentes interpretativas desta
realidade, principalmente a realidade daqueles que vivem por estas paragens do sul da linha do
Equador.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Sendo assim, serão entrelaçados elementos da Educação Ambiental com os saberes contidos
em alguns textos apresentados e discutidos pelos professores Amauri Mendes Pereira e Aloísio
Jorge de Jesus Monteiro; no decurso da disciplina de Seminário de Pesquisa I, realizada no
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas
Populares (PPGEduc), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no primeiro
semestre de 2017.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ALGUNS ENLACES COM AS ―TESES PARA UMA


UNIVERSIDADE PAUTADA NA CIÊNCIA PÓS-MODERNA‖, DE BOAVENTURA DE
SOUSA SANTOS

A partir do texto ―Da ideia de Universidade à Universidade de ideias‖, capítulo 8 do livro


―Pela mão de Alice...‖ de Boaventura Santos, podemos vislumbrar diferentes entendimentos a
respeito da universidade e das suas colocações, em variados contextos históricos ao redor do
mundo.
Entre as ―Teses para uma Universidade pautada na Ciência Pós-moderna‖, chama a atenção
as de número 4, 7 e 11. Na tese 4, ―...a dupla ruptura epistemológica e a criação de um novo senso
comum...‖ (Souza Santos, p.51) se relacionam perfeitamente a ideia de uma Educação Ambiental
que possa promover uma novus ordum seclorum, na medida em que as atuais práticas das
universidades podem ser aprimoradas, em prol da construção de um novo senso comum à cerca das
novas inquietações e necessidades no campo da Educação Ambiental. Associada a esta ideia, a tese
11 nos mostra que, ―Numa sociedade à beira do desastre ecológico, a universidade deve
desenvolver uma apurada consciência ecológica...‖ (Souza Santos, p.53-54).
À primeira vista poder-se-ia supor que tentamos entender a atualidade sob a ótica conceitual
de período de transição. Não é esse o caso. Na realidade, o pressuposto básico da análise remete-nos
a mudanças sentidas por todos nós, os contemporâneos dos fatos; ignorantes, obviamente, do
resultado final proporcionado por eles, mas acompanhando-os cotidianamente. Em suma, não é um
período de transição, mas de mudanças aceleradas, adequações aos novos tempos vindouros.
Hoje, felizmente, é um tempo de vigorosa aceitação de que ações devem ser desencadeadas
com uma certa urgência, em função da degradação acelerada dos mananciais – aqui entendido em
sentido lato – que fornecem suporte à vida, e, sem os quais, a existência de todo ser vivo se torna
impossível. Tais ações são atos com objetivo, seu resultado é uma alteração no meio e no próprio
agente, concomitantes ao cumprimento de regras e um gasto de energia.
As ações podem ser distinguidas entre ―técnicas, formais e simbólicas e ideológicas (Braun
e Joerges apud Santos, 1996, p.66). As ações técnicas são aquelas que delineiam as maneiras de
transformar a natureza. As ações formais tendem a respeitar regras jurídicas, econômicas e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

científicas. As ações simbólicas são identificadas por um caráter afetivo, emocional, ritualístico ou
cultural. Todas ocorrem simultaneamente, com destaque para uma ou para a outra dependendo do
momento.
A crescente conscientização do quadro supramencionado fornece aos atores sociais da
atualidade a clareza de que algumas certezas seculares – como consumo ilimitado e
desenvolvimento econômico a qualquer custo – não mais se sustentam, ou seja: ―nós vivenciamos
coisas que não são mais e coisas que não são ainda‖.
Ademais, precisamos enfatizar que uma série de mudanças em nossas ações precisam ser
realizadas urgentemente.

Pela gravidade da situação socioambiental em todo o mundo, assim como no Brasil, já se


tornou categórica a necessidade de implementar a EA para as novas gerações em idade de
formação de valores e atitudes, como também para a população em geral, pela emergência
em que nos encontramos. (GUIMARÃES, 2015, p.34)

Se os indivíduos formam indubitavelmente a base constitutiva de qualquer sociedade, eles,


por sua vez, de forma isolada, não têm condições de enfrentarem e modificarem as estruturas
presentes naquele arranjo social. Somente o coletivo possui força suficiente para fazê-lo; mesmo
porque, como nos estabelece Castoriadis, toda sociedade é mais do que a simples soma dos
indivíduos que a compõem.

O autodesenvolvimento do imaginário radical como sociedade e como história – como


social-histórico – faz-se e só pode fazer-se com e pelas duas dimensões do instituinte e do
instituído. A instituição, no sentido fundador, é criação originária do campo social-histórico
– do coletivo anônimo – que ultrapassa como eidos, toda ‗produção‘ possível dos
indivíduos ou da subjetividade (CASTORIADIS, 1992, p. 121, grifado no original).

Dessa realidade decorre que: mesmo que individualmente possamos ter a clareza das
mazelas presentes na sociedade – como, por exemplo, ―o modelo de desenvolvimento da sociedade
moderna se mostra claramente esgotado por ser insustentável ambientalmente (em sua dimensão
biológica e social) ‖ (GUIMARÃES, 2010, p. 17) –, precisamos arregimentar forças para combatê-
lo, tendo como principal arma a união de um número expressivo de indivíduos que possuam o
mesmo objetivo.
Sem que com isso evoquemos a ―vontade geral‖ de Rousseau, um conceito muito mais
político teórico do que passível de concretização, uma vez que ele pressupõe um modelo ideal de
cidadão: Emílio, educado para satisfazer às exigências daquele conceito, em uma novus ordo
seclorum.
Voltando-nos, agora, para a impossibilidade dos indivíduos, isoladamente, se mostrarem
capazes de provocarem mudanças estruturais em qualquer modelo de sociedade, percebemos de
imediato a noção equivocada de que basta o educador ambiental ―fazer a cabeça‖ de alguns alunos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para que todos os problemas decorrentes das nossas práticas sociopolíticas sejam resolvidos
rapidamente.
Por isso, a demonstração teórica de que a edificação de uma nova ordem sociopolítica, a
partir de pressupostos educacionais, é viável, desde que mantenhamos o foco na coletividade. Claro
que, em sala de aula, nos relacionamos com individualidades – e assim deve sê-lo – em função de
uma prática educacional voltada para as diferenças, sem que haja homogeneização das alteridades
presentes no espaço escolar.
Em nosso caso específico, teoricamente, o passado – ―pensamento herdado‖, na concepção
de Castoriadis –, o presente – a nossa ―cotidianidade‖, na terminologia de Heller (1990) – e o futuro
diverso da realidade atual – tempo ainda a ser construído por nós; em nosso contexto, a novus ordo
seclorum, na expressão revivida por Hannah Arendt (1992) –, encontrar-se-iam simultaneamente
presentes em um mesmo espaço: a sala de aula, pois, ―A identidade da educação ambiental está se
consolidando na atualidade ligada a um projeto de sociedade que se pretende construir‖
(GUIMARÃES, 2010, p. 10).
Sendo assim, objetiva-se verificar os porquês de tantas insatisfações individuais (de
professores, alunos, pais e mães dos alunos, coordenadores, gestores...) e tantos problemas
coletivos; mesmo assim, as devidas ações rumo à construção de uma sociedade melhor não são
realmente praticadas.
Contudo, não se trata de um modelo social qualquer, mas, sim, um que incorpore em suas
estruturas a preocupação com a elucidação de questões inerentes à degradação do meio ambiente, e,
por extensão, ou vice-versa, fundamente novas relações sociais, políticas e econômicas. Ou,
simplificando, uma novus ordo seclorum.

A VALORIZAÇÃO DO OUTRO NAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Na tese 7 encontramos a aplicação edificante da ciência, onde temos:

A revalorização dos saberes não científicos e a revalorização do próprio saber científico


pelo seu papel na criação ou no aprofundamento de outros saberes não científicos implicam
um modelo de aplicação da ciência alternativo ao modelo de aplicação da técnica...
(SOUSA SANTOS, 1995, P.52)

A partir daqui podemos cartografar alguns saberes não científicos encontrados em povos
nativos, comunidades ribeirinhas e quilombolas. Os saberes não científicos ou tradicionais, como
também são chamados, estão relacionados à culinária, ao uso de ervas medicinais, ao artesanato e
outros.
Dessa maneira podemos citar o caso da Comunidade Quilombola da Rocinha, localizada na
encosta da Serra das Almas, a cerca de vinte quilômetros do município baiano de Livramento de
Nossa Senhora. Na qual, é desenvolvido o projeto de Educação Ambiental, intitulado

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

―Ecopedagogia & Identidade Cultural: O Resgate das Plantas Medicinais na Comunidade


Remanescente de Quilombos da Rocinha‖. Conforme nos descreve Luciana M. Santos, ali
verificou-se uma experiência muito ligada à ―Ecologia de saberes‖, de Boaventura Sousa Santos e, é
claro, ao termo/conceito de ―Ecopedagogia‖, lançado por Francisco Gutiérrez, na década de 1990 e
aprofundado mais adiante por Moacir Gadotti.

A ecopedagogia pretende desenvolver um novo olhar sobre a educação, um olhar global,


uma nova maneira de ser e de estar no mundo, um jeito de pensar a partir da vida cotidiana,
que busca sentido a cada momento, em cada ato, que ―pensa a prática‖ (Paulo Freire), em
cada instante de nossas vidas, evitando a burocratização do olhar e do
comportamento.(GADOTTI, 2001, p.91)

Naquela realidade (naquele cotidiano), por meio do uso de plantas medicinais houve uma
práxis de Educação Ambiental, na medida em que as mesmas foram utilizadas como elementos
articuladores entre os saberes específicos daquela comunidade e os sabres científicos.
Além disso foi verificada a forte participação das mulheres negras mais idosas, como
portadoras ou ―guardiãs‖ e porta-vozes desse conhecimento não científico a respeito das ervas
medicinais. Tal fato está diretamente relacionado ao que aprendemos nos textos acerca do papel da
mulher e principalmente do papel da mulher negra; conforme destacado na entrevista com Pedrina
de Deus e nos textos de Judith Butler: ―Variações sobre Sexo e Gênero‖ e ―Mulheres
Disciplinantes‖, de Isaac D. Balbus.
Outros saberes não científicos que podemos exemplificar é o uso de plantas alucinógenas,
como a ayahuasca (Santo Daime), pelos índios Ashaninka. Viventes de territórios que se estende,
desde a região do alto Juruá e da margem direita do rio Envira, em terras brasileiras, até as vertentes
da cordilheira andina no Peru, ocupando parte das bacias dos rios Urubamba, Ene, Tambo, Alto
Perene, Pechitea, Pichis, alto Ucayali, e as regiões de Montaña e do Gran Pajonal. Essa erva da
Amazônia chegou a ser patenteada por um laboratório dos Estados Unidos, mas depois de uma ação
movida por algumas entidades brasileiras tal patente foi revogada.
As práticas nocivas ao meio ambiente, a falta de consideração pelas ―epistemologias do sul‖
e as práticas racistas; muitas delas ainda agravadas pelo machismo, estão diretamente ligadas ao
eurocentrismo. Assim:

(...)todo ser que é dominado não é respeitado em seu próprio ser, nas suas virtualidades e
potencialidades, porquanto é considerado somente nas suas qualidades que podem servir ao
dominador. Dominação é, sempre, em algum grau, a negação do outro, o que é válido tanto
para povos, para etnias, para grupos e/ou classes sociais como para a natureza. (PORTO-
GONÇALVES, 2012, p.21)

É imprescindível romper com esses grilhões do dominador europeu. Desta feita, temos
observado que as práticas coloniais em relação à natureza foram extremamente danosas, incluindo
aquelas executadas contra povos inteiros, faz-se necessário o estudo de abordagens descoloniais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Além do que, é preciso dar mais visibilidade às epistemologias que vem desses territórios
marginalizados. Como forma de reconstrução de suas identidades e produção de novas ações e
objetos, mais positivos para os povos dessas paragens da sul.
Desse modo, é extremamente importante a prática de uma ―pedagogia engajada‖ ou ainda,
uma ―pedagogia anticolonial‖, como nos ensina bell Hooks (Gloria Watkins), com fortes influências
de Paulo Freire.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os assuntos ministrados no decurso da disciplina foram de muita valia, no sentido de realçar


novas perspectivas epistemológicas, a respeito de temáticas muitas vezes ignoradas. Fato que
também configura uma forma de preconceito, conforme o que é destacado por Bento (2002).
Pincipalmente como elemento de manutenção de privilégios e da dominação, seja ela qual for.
Enfim, se faz cada vez mais necessário um conjunto de novas práticas pedagógicas
anticoloniais. As quais venham, de fato, a promover significativas melhorias na qualidade de vida
dos povos dessas paragens do sul. Sejam eles os negros e negras que até hoje sofrem com as
consequências negativas dos anos de escravidão, sejam os nativos das Américas que, há mais de
cinco séculos tem sofrido pilhagens dos mais diferentes dominadores; praticantes dos mais diversos
roubos; desde o pau-Brasil, passando pela dignidade dos povos até hoje com a chamada
―etnobiopirataria‖.
Além, é claro, da observação, análise e protagonismos cada vez mais necessários de serem
incentivados (ou não atrapalhados) em relação às mulheres, com destaque para as mulheres negras.
A referida disciplina nos permitiu intensos exercícios de análises, com auxílio de novas
territorialidades de observação. E, estudos enxertados de novos ramos para o desenvolvimento de
novos frutos epistemológicos, mais ambientados às paragens do sul da linha do Equador.

REFERÊNCIAS

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BENHABIB, Seyla e CORNELL, Drucilla. Releitura dos pensadores contemporâneos do ponto de


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 817


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GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. 6.ed., Campinas: Papirus, 2010.

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HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 4.ed., São Paulo: Paz e Terra, 1992.

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SANTOS, Milton. A Natureza do espaço – técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo. Hucitec.
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sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil. Editora Nandyala. Belo Horizonte.
2014. Capítulo 9 Pedrina de Deus: militância e teoria em corpo e alma. Pags. 205-217
disponível em

SOUSA SANTOS, Boaventura. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade.


Cortez editora. São Paulo. 1995. Capítulo 8 – Da idéia de universidade à universidade de idéias.
Pag 187-232

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 818


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SANTOS, Luciana M. Ecologia de saberes: a experiência do diálogo entre conhecimento científico


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 819


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O RIO POTENGI E O TEMPO: MÚLTIPLOS OLHARES DO RIO E DA CIDADE


ATRAVÉS DA AULA PASSEIO NO BARCO ESCOLA
CHAMA-MARÉ EM NATAL-RN

André Antônio de Melo PESSOA


Graduado em Ciências Biológicas e Especialista em Docência pela Universidade Potiguar – UnP
andpes.bio@gmail.com.com

Lorenna Fernanda Cordeiro BERNARDO


Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da terra Potiguar (FUNDEP)
lorennabernardo83@hotmail.com
Tiago Pinheiro de SOUZA
Professor/ Especialista. Fundação Para o Desenvolvimento Sustentável da Terra Potiguar
tiagounp@yahoo.com.br

RESUMO
Documentos e narrativas a partir do século XVI descrevem o encantamento do estrangeiro com as
potencialidades do território brasileiro, com o estuário do Potengi não foi diferente. A grande
riqueza e diversidade de todo ecossistema refletia o sentimento de posse e possibilidades aos olhos
do colonizador. O rio Potengi apresenta-se como atemporal para cidade do Natal, no contexto
geográfico, a cidade cresceu no entorno do rio, nas diferentes temporalidades o rio foi tendo
inúmeros usos e fortes relações de proximidade e distanciamento com a cidade, fortes laços foram
sendo construídas. Este trabalho tem como grande perspectiva apresentar os resultados das aulas
passeios no Barco Escola Chama-Maré no processo de reaproximação do sujeito com cidade,
incluindo seus recursos naturais e transformações urbanas. As aulas aconteceram de forma
interdisciplinar, na embarcação modelo catamarã que navega nas águas do estuário do rio Potengi,
proporcionado a leitura da paisagem e interpretação do espaço através da sensibilização, a
sensibilidade intensifica o processo de aprendizagem por proporcionar ao sujeito as intenções da
ecologia da responsabilidade. Ao interpretar o espaço, os alunos que estavam habituados a
enxergarem o rio da cidade, tiveram a possibilidade de ver a cidade através do rio, desta maneira as
ações antrópicas e suas interpretações surgem de forma aparente, refletindo na cidade, nas águas do
rio e no novo olhar. Em outubro de 2016 o projeto barco escola Chama-Maré completará dez anos
de atividades no estuário do Potengi, os resultados são positivos no contexto da educação ambiental,
por possibilitar a mais de 176.000 pessoas a possibilidade de conhecer a história local e
potencialidades do estuário do rio Potengi. Por meio de atividades pedagógicas, ações ambientais,
da arte, da cultura e do lazer o rio se torna atemporal, vivo como um elemento direto da construção
da identidade local. As relações de pertencimento sugerem um novo olhar, uma reaproximação da
cidade com o rio, o Potengi encontra-se associado à cidade desde sempre, este referido trabalho
aborda os caminhos das metodologias de um projeto ambiental e, sobretudo, as características da
cidade que cresceu dando as costas para o rio, dos reflexos deste distanciamento e em especial, os
caminhos da reaproximação.

ABSTRACT
Documents and narratives from the sixteenth century describes the enchantment of the foreigner
with potentialities of the Brazilian territory, with the Potengi estuary was no different. The great
richness and diversity of every ecosystem reflected the feeling of possession and possibilities in the
eyes of the colonizer. The Potengi river presents itself as timeless for Natal city, in the geographical

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

context, the city grew around of the river, in the different timings of the river and was having
numerous uses and strong relations of proximity and distance with the city, were strong ties being
constructed. This work has as a great perspective to present the results of the classes, in the Boat
School Chama-maré, in the process of rapprochement of the subject with the city, including its
natural needs and urban transformations. The classes of interdisciplinary transmission, in the
catamaran model boat that sails in the waters of the Potengi river, providing a reading of the
landscape and an interpretation of the space through the sensitization, a sensitivity intensified by the
process of learning by the consumer as intentions of the ecology of Responsibility. In interpreting
the space, students who use to see the river of the city, which has a possibility to see the city
through the river, in this way as anthropic actions and their interpretations, apparently, apparent,
reflecting in the city, in the waters of In the new look. In October 2016, the Chama-Maré school
boat project will complete ten years of activities in the Potencial estuary. The results are positive in
the context of environmental education, since it enables more than 176,000 people to know a local
history and potential of the estuary of the Potengi River. Through pedagogical activities,
environmental actions, art, culture and leisure, is more timeless, as a direct element of the
construction of local identity. The relations of belonging suggest a new look, a rapprochement of
the city with the river, the Potengi has been associated to the city since always, this work oriented
approaches the methodological paths of an environmental project and above all, as characteristics of
the city that grew back to the river, the reflexes of this distance, and in particular, the ways of
rapprochement.
Keywords: Environmental Education- Boat-School-Space-Memory

1. INTRODUÇÃO

O Rio Potengi é o maior rio do estado do Rio Grande do Norte, tendo sua nascente na cidade
Cerro Corá e sua foz na cidade do Natal onde se encontra com as águas do oceano atlântico,
formando assim a zona de estuário que percorre 15 km até o município de Macaíba. O Rio Potengi
é de suma importância para a cidade, afinal em diferentes períodos o mesmo é peça fundamental e
desassociada para o crescimento do estado.
O historiador Cascudo (2010) em suas obras destaca e menciona a importância direta do
Potengi em diferentes temporalidades, não se pode falar em história do Rio Grande do Norte sem
destacar o rio Potengi, pois ambos estão diretamente ligados, numa coexistência mútua, vencendo a
barreira do tempo, diferentes visões e interpretações, o rio está para cidade, como a cidade esta para
o rio, e a sociedade interpretou e vivencio ao longo do tempo inúmeros usos dessa ligação, homem,
estruturação urbana e natureza. A cidade do Natal, que se desenvolveu com suas edificações de
costas para o rio, teve no mesmo muito mais que um eixo de estruturação urbana, um elo direto de
crescimento.
Muito antes da chegada dos Europeus, as terras onde hoje está à cidade do Natal fora
ocupada por indígenas. Esses indígenas que habitavam o litoral eram os Potiguaras, do tronco
linguístico Tupi-Guarani que povoaram todo o litoral do país. Os Potiguaras viviam nas margens do
rio grande, este que recebeu o nome de Potengi, palavra do tupi-guarani que quer dizer rio de
camarões.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quando o corsário Francês Jacques Riffault já andava pelo litoral potiguar no século XVI
era notório que os franceses não respeitavam o Tratado de Tordesilhas assinado em 1494 e vinham
explorar as riquezas naturais na América, a corrida mercantilista que o mundo vivia no momento,
onde as grandes navegações eram fortes elementos da globalização e faziam dos rios e mares portas
de entrada para um novo mundo segundo Sergio Buarque de Holanda (2006).
O estuário do Potengi torna-se atemporal, grande referencia e valor histórico, cultural e
social, para outros tantos, esses valores caíram no esquecimento ou não chegaram ao devido
conhecimento, em conflito com a falta de informação e formação o rio sofre o reflexo das pegadas
humanas, pegadas estas que deixam duras marcas de poluição.
Neste contexto é fundamental enfatizar que o estuário do Potengi é uma região de
importante valor para a cidade do Natal, mesmo que por momentos caia no esquecimento quando a
atenção da população é voltada para outros pontos da cidade, a influência das estruturas do
capitalismo impactou e transformou a cidade e os valores dos moradores.
O estudo da identidade está cada vez mais intenso no ramo da história, este já fora bem
desenvolvido no ramo da psicologia, a identidade local é vista como algo que permanece idêntico a
si próprio; como uma característica de continuidade que o ser mantém consigo mesmo. Seguindo
essa linha este estudo utilizou os parâmetros curriculares referentes aos temas transversais, que
apontam a ligação da identidade e memória, pois sem recordar o passado não é possível saber quem
se é. E nessa ótica, surge a identidade, evocando-se uma série de lembranças, a sensibilidade reflete
nas ações individuais e coletivas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Espacialização do Potengi

A área de estuário do Potengi compõe uma das principais unidades geoambientais da zona
costeira de Natal, está inserida nos domínios territoriais de um importante ecossistema associado de
da mata atlântica, o manguezal. Uma das características bastante peculiar dos estuários é sua
vulnerabilidade às ações antrópicas, pois os estuários servem como ambientes favoráveis à presença
humana e ao crescimento de centros urbanos, sendo, por exemplo, locais apropriados para a
construção de portos.
A disponibilidade de alimento, tornando-se favoráveis para a exploração de recursos, como
a pesca; são vias de acesso importantes para o interior do continente, estão próximos a rios, o que
facilita a captação de água doce e tratamento de esgotos domésticos, sofrem renovação de suas
águas periodicamente sob influência da maré e têm aproveitamento turístico e recreativo, que são
atividades que atualmente tem maior crescimento no mundo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Até meados do século passado, as perturbações nas bacias hidrográficas que alimentam os
estuários com água doce foram pequenas, e os efluentes das cidades lançados nesses corpos d´água
eram adequadamente diluídos e renovados naturalmente, com baixos impactos nos ecossistemas.
Porém este cenário se modificou com o crescimento urbano, a revolução agrícola e a revolução
industrial, as obras portuárias e canais de navegação, a quantidade e a diversidade de sedimentos e
resíduos domésticos e industriais passaram a ser cada vez maiores, ameaçando as características
naturais dos estuários (Miranda et al. 2002).
O estuário é, por natureza, um habitat com uma elevada diversidade biológica onde
coabitam espécies adaptadas ao meio marinho e fluvial, com diferentes necessidades ecológicas e
diferentes graus de tolerância à salinidade. Os estuários desempenham também uma importante
função ecológica no desenvolvimento de certas comunidades aquáticas de peixes, crustáceos e
moluscos, de elevado interesse económico e ecológico, que utilizam o estuário em determinadas
fases dos seus ciclos biológicos, fundamentalmente na fase de criação e engorda, de forma que
grande parte dos habitats mais valiosos e áreas protegidas estão funcionalmente relacionados com
os processos estuarinos. Os estuários têm também um importante papel depurador devido à função
de filtração que a vegetação destes desempenha e aos fenómenos de sedimentação (floculação) e de
retenção de partículas, sobretudo poluentes.

2.2 Dinâmica Ecossistêmica

Os ambientes estuarinos são originados e sustentados pela bacia de drenagem, sendo esta a
responsável por fornecer a energia de entrada para este ecossistema, que é o suprimento da água
fluvial, sedimentos, substâncias orgânicas e inorgânicas e eventualmente, poluentes. A quantidade
de água recebida pela bacia depende das condições climáticas, das características do solo, da
cobertura vegetal, da ocupação urbana, agrícola e industrial e da evapotranspiração da região de
captação de suas interações com outros fatores do ambiente natural (Miranda, et al. 2002). O
balanço entre a radiação, precipitação, descarga fluvial e evapotranspiração na bacia de drenagem
compreende a soma de fatores que mantém o funcionamento do ambiente estuarino. A descarga
fluvial e os gradientes longitudinais de salinidade gerados pela diluição de água do mar são
fundamentais para a dinâmica do estuário.
Na planície fluviormarinha do Potengi vários rios tem sua área de foz, os principais são: Rio
Golandim, Rio Jundiaí, Rio Doce e Rio Jaguaribe, estes dois últimos formando duas importantes
gamboas, respectivamente, Manimbu e Jaguaribe. Todos contribuem com água doce, matéria
orgânica e nutrientes, que são utilizados pelas plantas de mangue, formam a base de uma intricada
cadeia alimentar.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Além dessa importância na produção de nutrientes, os manguezais oferecem locais de pouso


e alimentação de diversas espécies de aves aquáticas, dentre elas o maçarico- pintado do hemisfério
norte (Actitis macularia) e batuíra-de-coleira (Charadruis collaris), além oferecer proteção e servir
como hábitat de espécies aquáticas como o Boto Cinza (Sotalia guianensis).
A cobertura vegetal do mangue instala-se em substratos de várzea de formação recente, de
pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra. O
Mangue é considerado pela legislação federal do Brasil como Áreas de Preservação Permanente
(APP), havendo todo um escopo de legislações que o protegem e regulamentam o uso de seus
espaços.
É importante destacar que o mangue, é apenas um subsistema do manguezal encontrado no
Estuário do Potengi, devem-se distinguir os termos "manguezal" (ecossistema) de "mangue", termo
comum dado às espécies vegetais características desses habitats, compostos pelas espécies de
mangue características da região: Rhizophora mangle (dominando as franjas) de mangue ao longo
das margens do rio em terrenos de solos lamosos, já a Laguncularia racemosa e a Avicennia
schaueriana dominam as áreas do rio que sofrem menos influencia direta da maré aonde o solo é
mais arenoso.

2.3 O rio atemporal

Os corpos de água sempre foram grandes atrativos para a composição e organização das
primeiras civilizações e mais tarde das primeiras cidades. Natal - RN surge como exemplo desse
aspecto que tem o Rio Potengi como elemento principal para a ocupação e as ações do homem no
espaço. Pegando-se como referencia a historia da ocupação portuguesa, nota-se que a fixação no
espaço se dá não só pela chegada do homem europeu nas terras potiguares, mas pela afirmação
através de equipamentos como a Fortaleza dos Reis Magos e a Igreja de Nossa Senhora da
Apresentação, que vão marcar o espaço e os símbolos culturais nas terras do novo mundo. Essas
edificações carregam consigo não só a representação de duas entidades fortes para aquele momento
histórico (Estado e Igreja), mas promovem um embate cultural bastante impactante para os nativos
que habitavam a região.
As duas edificações são instaladas na margem direita do rio e existem inúmeras hipóteses
que pode explicar a razão para elas terem sido instaladas especificamente naquele ponto: porque na
margem direita e não na esquerda? Porque não um pouco mais adentro do rio? Porque a igreja não
ficou ao lado da fortaleza? Talvez porque as condições e as configurações da natureza nesse período
condicionaram de forma mais significante essas localizações. Algo que um aporte tecnológico mais
avançado teria alterado completamente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O rio Potengi apresenta-se como o maior e principal elemento natural que foi apropriado nas
terras potiguares durante todo o processo de ocupação, também como o que mais sofreu com
alterações do ponto de vista de sua paisagem, principalmente no estuário na cidade de Natal. Essas
modificações induzem a reflexão que aponta os corpos de água como grandes atrativos de ocupação
nos processos de aglomeração da humanidade.
O traçado histórico antes mesmo da ocupação portuguesa já indicava registros de aldeias
indígenas nas margens do rio, mas é a partir da chegada dos portugueses percebe-se o que o espaço
de Natal e o potencial do rio Potengi sendo alterados para atender as necessidades de exploração,
principalmente devido aos possíveis potenciais econômicos ligados diretamente ao ecossistema do
estuário e também pela logística de navegação do rio.

O rio poderia fornecer a tão essencial água para o consumo dos habitantes da cidade, mas
também para os animais, bem como servir para os moinhos e engenhos; poderia ser fonte
de alimentos, principalmente por meio da pesca; poderia servir como meio de penetração
no território, em seu trecho navegável. Essas razões, que não são privilégio de Natal, estão
entre as que justificaram plenamente a escolha do sítio urbano também dessa cidade nas
proximidades de um rio. (Teixeira, 2015).

As transformações existentes no rio Potengi e em seu entorno, foram intensificadas antes


mesmo da colonização, os indígenas tinham uma ligação direta com a natureza e extraiam apenas o
que precisavam. As práticas mercantilistas e as características do novo mundo do no século XVI,
trouxeram o colonizador e os impactos das práticas mercantilistas. O colonizador com a perspectiva
eurocêntrica descrevia o indígena como imaturo, estranho, desprovido de ciência, fé e detentor de
pequenas habilidades rudimentares. Segundo alguns especialistas, no século XVI os índios se
dividiram em mais de mil povos, com crenças, hábitos, costumes e estruturas heterogêneos. Eram
diferenciadas em dois troncos linguísticos principais, o Macrojê e o Tupi.

"De porte mediano, acima de 1,65cm, reforçados e bem feitos no físico. Olhos pequenos e
amendoados como os da raça mongólica, escuros e encovados, de orelhas grandes, cabelos
lisos e cortados redondos, arrancavam os pêlos da barba até as pestanas e sobrancelhas.
Eram baços, claros, pintavam seus corpos com desenhos coloridos. Furavam o beiço,
principalmente o inferior, assim como orelhas e o nariz". (SUASSUNA E MARIZ: 1997, p.
51).

Mesmo sendo os indígenas estigmatizados, e rotulados pela aparência, os mesmos ainda são
forte referencia quando se trata de boas práticas ambientais, práticas essas que estão muito distantes
do homem contemporâneo, instruído, globalizado, informatizado e ainda muito indiferente as
questões ambientais. O rio Potengi, grande patrimônio natural de Natal, manteve por diferentes
temporalidades relações diversas com a cidade, no período colonial era visto como um elemento
propicio para ocupação territorial, no século XIX com o crescimento da indústria internacional e a
abertura dos portos brasileiro para transações comerciais o rio passa a ser um obstáculo por separar
o interior da capital.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Natal não possuía eixos de estruturação urbana, por esse motivo não apresentava
características de capitais, o século XX marca as transformações estruturais da cidade, com a
construção das pontes, fortalecimento das linhas férreas, desenvolvimento portuário e sobretudo a
reaproximação do rio com a cidade. O melhor momento desse novo olhar vem com a presença das
atividades de aviação no estuário do Potengi, ás aguas que refletiam a cidade e a paisagem, estavam
a partir da segunda década do século XX, sendo pista de pouso para hidroaviões, inicialmente os
hidroaviões que amerissavam nas águas do rio Potengi tinham perspectiva comercial, no momento
que Natal se tornou base americana na II Guerra Mundial, as rotas passaram a seguir as estratégias
do conflito.
Margeando o Potengi encontram-se os mais antigos bairros da cidade, a cidade cresceu em
torno do rio, atividades diversas surgiram de forma atemporal em um misto de cultura, economia,
crença, arte e fé. Inúmeras contribuições contradizem com o descaso existente na atualidade, a aula
passeio norteia pelos caminhos da recuperação através da educação, o reconhecimento do rio como
patrimônio natural da cidade.
Durante a década de trinta com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), hoje intitulado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
já se observava uma mudança na noção do que é Patrimônio, se tornando assim mais abrangente
com a participação de intelectuais que faziam parte do movimento Modernista como Mário de
Andrade na elaboração desses conceitos. É nesse momento que a noção de patrimônio passa a ser
não só de cunho monumentalista e sacralizador e sim cultural abarcando obras de artes, artefatos
indígenas, fotografias como patrimônio cultural.

A noção de patrimônio histórico tradicionalmente se refere à herança composta por um


complexo de bens históricos. Mas, apesar de ainda pouco conhecido mesmo pelos egressos
dos cursos de História do Brasil, o fato é que os especialistas vêm continuamente
substituindo o conceito de patrimônio histórico pela expressão patrimônio cultural. Essa
noção, por sua vez, é mais ampla, abarcando não só a herança histórica, mas também a
ecológica de uma região. Assim, em última instância, podemos definir patrimônio cultural
(incluindo nessa ideia a de patrimônio histórico) como o complexo de monumentos,
conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques nacionais de determinado país ou
região que possui valor histórico e artístico e compõem um determinado entorno ambiental
de valor patrimonial. Em sua origem, todavia, o patrimônio tem sentido jurídico bastante
restrito, sendo entendido como um conjunto de bens suscetíveis de apreciação econômica.
(ROSSETI, 2002)

A educação patrimonial e ambiental ajuda o indivíduo a reconhecer o que é o Patrimônio


Natural de um lugar, ou seja, as ―áreas que transmitem a importância do ambiente natural para que
possamos lembrar-nos do passado, de onde viemos, o que estamos fazendo com o ambiente e para
onde vamos‖ de forma perceber a importância de esse lugar ser protegido pela sociedade como um
elemento coletivo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A ecologia da responsabilidade, onde o papel individual confere ao sujeito o perfil de


cidadão do mundo (Morim, 2009) é uma das principais propostas do trabalho, o cuidado que se
perdeu ao longo dos anos, com as transformações e particularidades do mundo contemporâneo,
volta com as características da sensibilidade.

2.4A cidade e o rio, o rio e a cidade.

O Potengi como porta de entrada do Rio Grande, intensifica o crescimento comercial,


práticas de escambo que eram indispensáveis no período colonial, novidades vindas da Europa
soavam como objetos de outro mundo aos olhos dos nativos, na verdade eram. Os simples
elementos do mundo Moderno causavam espanto e cobiça nos indígenas que não perceberam que
eram gradativamente fixados em uma engrenagem mercantilista.
Os franceses interessados na posse territorial obtiveram uma amigável relação com os
potiguares, aprimoraram o escambo e exploraram parte do pau-brasil em portos estruturados na
curva do Rifoles, área hoje próxima à base naval, a nomenclatura tem origem no grande corsário
francês Jean Jack Rifolt, referência no comercio de pau-brasil. Até o século XIX a praia da redinha
tinha seu comercio ligado a venda de rendas e comidas locais, em especial o pescado. Um local
exclusivo para moradia e povoamento de pescadores devotos de nossa senhora dos navegantes.
Durante muito tempo era muito forte na sociedade um estigma que as águas do rio e do mar eram
insalubres, e até a primeira década do século XX não existiam as práticas de veraneio.
O comercio no Rio grande do Norte toma novos rumos, uma maneira de adequação em um
período pós-secas, o cultivo do algodão no agreste potiguar cresce e substitui o cultivo da cana-de-
açúcar tomando inúmeras proporções enraizadas no contexto do crescimento das indústrias têxteis
inglesas e a busca por matéria prima de qualidade e custo-benefício. O rio grande do norte da inicio
ao seu processo de interiorização e desenvolvimentos econômicos relacionados à pecuária e
agricultura.
A presença de inúmeros estrangeiros no estado gera uma problemática, como em todas as
cidades coloniais, os falecidos eram enterrados nas igrejas católicas, e até mesmo em suas
proximidades, que eram consideradas solos sagrados. Os estrangeiros em especial alguns
comerciantes ingleses funcionários de galpões e casarões de algodão localizados na Ribeira,
faleceram vitimas de um surto de cólera e febre amarela. Parte dos estrangeiros: calvinistas,
luteranos e protestantes, quando faleciam em território potiguar não tinham um local para serem
enterrados pelo fato da cidade não possuir cemitérios, o primeiro deles foi o do Alecrim, construído
em 1955 considerado como cemitério museu.
Até meados do século XIX Natal não possuía mercados, era muito comum a venda nas ruas,
as famílias mais abastadas tinham em suas residências até o final do século XVIII uma reserva

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

significativa de alimentos, as frutas eram um forte recurso de sobrevivência juntamente com o


pescado abundante no rio Potengi. A ideia de intensificação comercial cria asas com a chegada de
engenheiro inglês John Won, com a abertura dos portos no século XIX o Brasil imperial deveria ter
um crescimento comercial significativo, o engenheiro constatou a extrema necessidade da dragagem
do canal juntamente com o arrasamento dos recifes para aprimoramento do porto. A construção do
porto é vista como algo indispensável para o estado que estava vivendo um bom momento da
economia açucareira.
As transações comerciais no estado dependiam muito do porto de recife, desta maneira, parte
dos lucros era empregada na capital Pernambucana. Sendo assim as obras seriam pertinentes para
emancipação potiguar. Até o século XIX era de grande interesse dos comerciantes que os navios
levassem para o Rio Grande do Norte cargas completas, tal pretensão comercial não se igualava a
realidade dos comerciantes locais.
Um das primeiras medidas da experiente equipe responsável pela construção do porto de
Natal foi buscar uma fixação das dunas evitando que a areia penetrasse no rio causando o
assoreamento, o porto fica parcialmente pronto em 1932 com a construção do cais, dos galpões de
armazéns e o espaço administrativo da companhia docas intensificando a melhoria nos serviços
básicos e aprimorando a operação de novas tecnologias, como o uso da linha férrea nas
movimentações dos produtos.
A II Guerra mundial e as instalações de bases americanas em solo potiguar refletiram como
uma imensa possibilidade de aprimoramento do porto e grande eram as expectativas no estado.
Com a renuncia de Getúlio Vargas, assume a presidência do Brasil o potiguar Café Filho, renasciam
as chances para o porto ter o seu melhor momento, estudos são realizados, calçamento nas
proximidades e reformas nas residências fazem parte da proposta de valorização da região portuária.
Os anos noventa são marcados pelo fim da crise portuária que começou nos anos sessenta a
proposta do governo em transformar o local em uma ZPE (Zona de processamento de exportação) a
fruticultura tem um desempenho significativo. A destruição da Pedra da Bicuda em 2007 intensifica
a presença de grandes embarcações nas transações comerciais na região portuária, chega ao fim a
crise no porto de Natal. O século XX consolida o novo momento entre rio e a cidade, as práticas
esportivas ganham força, a economia impulsionada com as exportações, gradativamente as relações
de cuidado e busca de recuperação da saúde Ambiental do Potengi.

2.5 As Aulas No Barco Escola Chama-Maré

As aulas são estruturadas em um contexto inter e multidisciplinar, acontecem no Barco-


escola Chama-maré, uma referência na educação ambiental do Estado do Rio Grande do Norte
desde 2006, seguindo um programa de recuperação do estuário do Potengi, é um projeto de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

educação ambiental pertencente ao Governo do Estado através da SEMARH (Secretaria do Meio


Ambiente e dos Recursos Hídricos), desenvolvido pelo IDEMA (Instituto de Defesa do Meio
Ambiente) e operacionalizado pela FUNDEP (Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da
Terra Potiguar) que está inserido dentro de um conjunto de ações socioambientais que tem com
objetivo principal a Recuperação do Estuário do Rio Potengi, as atividades desenvolvidas pelo
projeto buscam desenvolver a sensibilidade dos alunos participantes da aula passeio de modo que
estes possam perceber a importância do estuário como um patrimônio natural digno de ser
preservado.
O referido projeto atende grupos previamente agendados de alunos das redes públicas,
particulares, universidades e qualquer grupo organizado da sociedade que tenha como propósito
participar da aula passeio. A embarcação do tipo catamarã, que tem capacidade para 77 pessoas
(alunos e tripulação) conta com uma estrutura propícia para que os alunos estejam de fato
acomodados de modo a sentirem-se como se estivessem em uma sala de aula a céu aberto.
Perceptível do rio e de todo ecossistema que esta em torno da cidade, a cidade que em sua estrutura
geográfica da às costas para o rio e ainda um estudo da fauna e da flora estuarina presentes nesse
percurso. A leitura visual, interpretação da paisagem através de uma abordagem interdisciplinar
acrescentada as emoções e descobertas, agregam valores e enriquecem a aula.
É de total relevância o conhecimento da história e importância desse bem natural para
formação do estado. Por tanto, os alunos tem uma visão diferenciada ao Potengi, fazendo com que
estes construam uma memória individual e até mesmo coletiva com o espaço. Memória esta que
está ligada quase que totalmente a identidade. Há pessoas que nas aulas passeio que compartilham
da mesma memória no cenário do Potengi.
Seja porque atravessam as pontes diariamente; seja porque quando criança compravam peixe
no Canto do Mangue; seja porque moram nas proximidades do rio; seja o odor característico,
sempre haverá motivos para ligar uma pessoa à outra dentro do barco. O objetivo dos professores e
monitores é resgatar essa memória, para que a partir dela haja a criação da identidade Potiguar ou
natalense.
Segundo a Nova História a memória coletiva, é de relevante importância para a definição
das identidades. Um dos estudiosos sobre esse tema é Jacques Le Goff (1994), que diz que a
memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto
de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou
reinterpretadas. Apresentar o Potengi como patrimônio, imagina-se que os alunos e passageiros
passem a se sentir parte daquela paisagem, ou mais, passem a se sentir proprietários, cuidadores,
responsáveis pela saúde e vida do rio, despertando o papel individual como sujeitos históricos e
agentes transformadores do espaço.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O trabalho apresenta os aspectos positivos das aulas em torno do estuário do rio Potengi,
possibilitando conhecimento, participação e interação de uma sociedade consciente e informada,
onde a educação informal estende-se para as ações do cotidiano, desta maneira sendo implantada
uma nova cultura, a cultura da sustentabilidade. Pretendeu-se com este estudo analisar, a partir da
periodização histórica, as relações estabelecidas entre o maior corpo hídrico do Estado do Rio
Grande do Norte (RN), o Rio Potengi, e a cidade que cresceu e se desenvolveu em seu entorno, a
cidade do Natal. Além disso, objetivou-se destacar a importância do projeto de educação ambiental
e patrimonial ―Barco Escola Chama-Maré‖ dentro do processo de revalorização desse importante
patrimônio natural do RN.
Foi fundamental a valorização do conhecimento prévio do aluno em relação ao meio e
fortalecer a sua identidade e participação direta como cidadão atuante seguindo o Plano Nacional de
Educação que trata a Educação Ambiental de forma transversal, com uma prática educativa
integrada. As aulas realizadas estabelecem diálogos sociais, desconstruindo estigmas negativos
associados diretamente ao estuário do rio Potengi, a contemplação da paisagem possibilitou a nova
interpretação do espaço. As aulas no barco escola Chama-Maré são realizadas no estuário do rio
Potengi, as mesmas acontecem com a perspectiva interdisciplinar, onde a leitura da paisagem
possibilita a ligação de pertencimento com a história local. A apresentação da cidade pelo ângulo do
rio destacando suas potencialidades naturais e importâncias para todo estado.
Utilizando a transposição didática as aulas acontecem com metodologias diferenciadas de
acordo como o perfil de casa grupo recebido na embarcação, uma linguagem ampla e aberta, repleta
de interpretações e reflexões sobre o espaço. O rio Pode não ser o maior do mundo, mas é o grande
rio do estado, os ensinamentos seguem por essa vertente, o conhecimento como elemento
fortalecedor da identidade local, e a educação como elemento formador da cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aula passeio é um elemento de ligação entre o participante, o rio e a cidade. Ao


vivenciarem a aula, os participantes notam os diferentes valores atribuídos ao rio através dos
aspectos naturais, a leitura geográfica da paisagem, elementos que constroem a história local.
Com base na aula surgem reflexões quer permeiam a história desde séculos antes da
chegado dos europeus, o que gera: a sensibilidade frutifica debates e questionamentos que os alunos
levam pra sala de aula, os mesmos se questionam sobre qual a finalidade das pessoas jogarem lixo
no estuário tendo outras maneiras naturais para isso, os mesmos trazem para o meio escolar
mudanças ambientais, como preservar e manter limpa a própria sala de aula e seu espaço.
Os objetivos foram alcançados com êxito, os alunos levam de lembrança mais que
fotografias, o sentimento de responsabilidade pelo rio, isso é reflexo do que o Filósofo Edgar Morin

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

na obra os sete saberes necessários para educação do futuro Chama de ecologia da ação, a atitude
que se toma quando uma ação é desencadeada e escapa ao desejo e às intenções daquele que a
provocou, desencadeando influências múltiplas que podem desviá-las até o sentido oposto ao
intencionado.
Trabalha-se os questionamentos com finalidade e propósitos da educação ambiental
seguindo a linha de pensamento dos pilares necessário para a educação do futuro segundo o filósofo
Edgar Morin (2001) os saberes e as atitudes desencadeadas com a influencia dos mesmos, desta
maneira a aula passeio no barco escola Chama-Maré é uma ferramenta de ligação para maior
compreensão humana, fruto do entendimento do espaço, destacando a auto avaliação e o poder das
atitudes individuais para o meio global.
O espaço passa a ser compreendido com a totalidade de importâncias, assim surgindo uma
associação entre natureza e sociedade, despertando a responsabilidade do agente passivo e ativos do
meio, através do conhecimento as ações de transformações são potencializadas. O rio visto de
maneira holística em plenitudes naturais, geográficas, históricas, econômicas, sociais e culturais.
Perceber o rio como um todo e a cidade como elemento de integração

AGRADECIMENTOS

A todos que aqui estão aos que por aqui passaram, deixando um pouco de si, e levando
muito do Potengi. Em especial, á todos que fazem e fizeram parte da família barco escola Chama-
maré.

REFEÊNCIAS

CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 2010.

FAIRBRIDGE, R. 1980 The estuary: its definition and geodynamic cycle, p. 1-35. In: E. Olausson
& I. Cato [Eds.], Chemistry and biogeochemistry of estuaries. New York, John Wiley & Sons.

FUNDEP (Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da Terra Potiguar). Relatório do


programa de recuperação do estuário do Potengi e operacionalização do Barco-Escola-Ecológico
no estuário do rio Potengi em Natal-RN, 2016.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

JACOMELI, Mara Regina M. PCNs e Temas Transversais: análise histórica das políticas
educacionais brasileiras. Campinas: Editora Alínea, 2007.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1994.

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MARIZ, Marlene da Silva; SUASSUNA, Luiz Eduardo B. História do Rio Grande do Norte. Natal:
Edições do Sebo Vermelho, 1997.

MIRANDA, L.B.; CASTRO, B.M.; KJERFVE, B. Princípios de Oceanografia Física de Estuários.


São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo. 2002. 411p.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

OLIVEIRA,U.C.(2008). The Roleofthe Brazilian Port sinthe Improvement of the National Ballast
Water Management Program According to the Provisions of the International Ballast Water
Convention. New York: Division for Ocean Affair sand the Law of the Sea Office of Legal
Affairs, The United Nations.

ROSSETI, Marta. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ―Ante-Projeto de criação do


Serviço do Patrimônio Artístico Nacional‖. In:_.Mario de Andrade.Org. Marta Rosseti Batista. nº
30, ano 2002.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 832


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DE BACHARELADOS


TECNOLÓGICOS INTERDISCIPLINARES

Luciana de Figueirêdo Lopes LUCENA


Professora Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
lllucena@yahoo.com.br
Jazielli Carvalho SÁ
Professora Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
jazielli.sa@gmail.com
Vera Lúcia Lopes de CASTRO
Professora Associado da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
veracastro@ect.ufrn.br
Sebastião Luiz de OLIVEIRA
Professor Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
sluiz50@gmail.com

RESUMO
A participação das Instituições de Ensino Superior (IES) na promoção do Desenvolvimento
Sustentável vem sendo mundialmente incentivada desde a Conferência de Estocolmo sobre o Meio
Ambiente Humano, em 1972. Esta recomendação foi dirigida tanto aos níveis administrativo – com
a implantação progressiva de Sistemas de Gestão Ambiental -, como educacional, especialmente
por seu papel de destaque na difusão dos novos conhecimentos, tendo participação essencial na
formação dos diversos profissionais e, portanto, responsáveis pela oferta da educação ambiental nas
IES. A responsabilidade da observância da inclusão de conteúdos relativos à sustentabilidade
ambiental em todos os cursos universitários do Brasil tem sido reforçada a partir da promulgação da
Política Nacional da Educação Ambiental, em 1999 e, mais recentemente, com a implementação
das diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental, em 2012. Seguindo esta premissa,
este artigo apresenta as estratégias curriculares adotadas no Bacharelado de Ciências e Tecnologia -
um curso de caráter interdisciplinar ofertado pela Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN - a fim
de garantir aos seus egressos um conteúdo abrangente relativo às questões ambientais, de forma
transversal e contínua.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Sustentabilidade, Ensino Superior, Bacharelados
Interdisciplinares.

ABSTRACT
The participation of Higher Education Institutions (HEIs) in the promotion of Sustainable
Development has been encouraged worldwide since the Conference of Stockholm on the Human
Environment, in 1972. This recommendation was addressed both at administrative levels – with the
progressive implementation of Environmental Management Systems - as well as educational,
especially due to its prominent role in the diffusion of new knowledge, with an essential
participation in the training of the various professionals and, therefore, assigned for the supply of
Environmental Education in HEI. The responsibility for observing the inclusion of content related
to environmental sustainability in all Brazilian university courses curriculums has been
strengthened since the promulgation of the National Environmental Education Policy in 1999 and
more recently with the implementation of the National Curricular Guidelines for Environmental
Education, in 2012. Following this premise, this article presents the curricular strategies adopted in

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

the Bachelor of Sciences and Technology – a course of interdisciplinary nature offered by the
School of Sciences and Technology of UFRN -, in order to guarantee its graduates a comprehensive
content related to environment issues, in a way transversal and continuous.
Key-words: Environmental Education, Sustainability, Higher Education, Interdisciplinary
Bachelors.

INTRODUÇÃO

Durante a segunda metade do século passado se intensificaram os debates sobre a urgência


de se considerar os problemas ambientais em escala global e de forma coletiva, envolvendo todas as
nações. Ao mesmo tempo também avançou par e passo o consenso do papel da educação ambiental
como veículo da própria conscientização quanto à complexidade e inter-relação daqueles
problemas, assim como de agente fundamental, na busca por soluções e alternativas técnicas,
tecnológicas ou comportamentais desses mesmos problemas ambientais.
A denominada crise ambiental que todos vivemos foi bem retratada por Miller (1985) na
analogia do planeta Terra como uma grande astronave, deslocando-se a cem mil quilômetros por
hora pelo espaço sideral. Nela, o número de passageiros (POPULAÇÃO) cresce exponencialmente,
os RECURSOS NATURAIS são limitados (trinômio ar/água/comida sob pressão, sem possibilidade
de parada da astronave para reabastecimento), e os resíduos energéticos (principalmente na forma
de calor) acrescidos aos resíduos de matéria, que têm levado a diferentes tipos e graus de
POLUIÇÃO (alterando significativamente a qualidade do meio ambiente na própria astronave).
Essa crise ambiental, sob a ótica do saber científico acumulado nas Geociências, nas
Biociências e nas Ciências Humanas, também tem revelado contornos negativos e sinais de alerta.
Muitos recursos naturais - por definição finitos ou com prazos incalculáveis para se recriar - já se
mostram fragilizados ou esgotados em consequência da forma como a ―espécie‖ dominante os
explorou. E desequilíbrios ambientais que podem ter efeitos cumulativos e sinérgicos de difícil
reversão têm sido identificados.
O debate internacional sobre a adoção da educação ambiental como política tem seus
primeiros registros, segundo Dias (2000), igualmente na segunda metade do século passado, a
saber: na Conferência de Belgrado (1975); na Primeira Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental realizada em Tbilisi, Geórgia (1977); no Seminário sobre Educação
Ambiental, na Costa Rica (1979); no Congresso Internacional sobre Educação e Formação
Ambientais, em Moscou (1987); e, por fim, no Seminário Latino-Americano de Educação
Ambiental, na Argentina (1988).
Vale lembrar que essa sequência de eventos internacionais centrados na discussão de
diretrizes e vias para a implementação da educação ambiental nas políticas de diferentes países, teve

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

como motivação e inspiração primeiras a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, realizada
em Estocolmo, em junho de 1972. Esta conferência, além disso, trouxe para o debate internacional a
noção de ecodesenvolvimento, derivada depois para a de desenvolvimento sustentável e,
principalmente, levou à inserção da dimensão ambiental em acordos, convenções e tratados
internacionais, e no estabelecimento de políticas de meio ambiente em cada país.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, § 1º, VI, estabeleceu como
obrigação do Poder Público ―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente‖ (BRASIL, 1988). Anteriormente, em
1981, a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) já determinara a ―educação ambiental a todos
os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente‖ (BRASIL, 1981).
Na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, a Educação Ambiental mereceu destaque no
Capítulo 36 da Agenda 21 Global. Ao longo da década de 1990 o debate se ampliou e, em
27.04.1999, foi editada a Lei 9.795 da Política Nacional de Educação Ambiental.
A conceituação legal de educação ambiental contida no artigo 1º da Lei 9.795 é,
reconhecidamente, completa. ―Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖ (BRASIL, 1999). Na sequência desse
artigo, ao se abordar o trabalho desenvolvido pelo grupo de professores da Escola de Ciências e
Tecnologia da UFRN – ECT/UFRN se busca demonstrar a conexão intrínseca entre educação
ambiental e educação para a sustentabilidade.
Outro ponto importante a destacar na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) é
aquele em que fica consignada a obrigação de se promover a educação ambiental nos diferentes
níveis educacionais. ―A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal‖.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR

A atuação das Instituições de Ensino Superior (IES) como agentes do Desenvolvimento


Sustentável tem sido evidenciada e reforçada ao longo dos anos, destacando-se o seu papel de
promotor do conhecimento, a partir do ensino e formação de egressos. (TAUCHEN E BRANDLI,
2006; BARBIERI E SILVA, 2011).
Apesar de, no Brasil, esta responsabilidade vir sendo mais evidente nos últimos anos com o
estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental no ano de 2012,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a contribuição das IES como Instrumentos de implementação da Educação Ambiental para a


consecução dos princípios e diretrizes do Desenvolvimento Sustentável vem sendo sugerida a nível
mundial desde a década de 1970. De acordo com Wright (2002) e Loureiro et al (2016) a educação
superior para a sustentabilidade se fundamenta em instrumentos e declarações ratificadas ao longo
dos anos por diversas instituições de ensino superior dos diversos continentes.
Já em 1977, a UNESCO realizou a I Conferência Intergovernamental de Educação
Ambiental em Tbilisi na Geórgia, a qual resultou em um documento que traz recomendações
especificando a necessidade do ensino relativo às questões ambientais a grupos específicos cuja
profissão impacta o meio ambiente (engenheiros, administradores, entre outros), incentivando ainda
a adoção de programas interdisciplinares vinculados ao ambiente natural e urbano.
Vários acordos e compromissos vêm sendo firmados desde então, visando ratificar o
compromisso das instituições em atuar em prol do desenvolvimento sustentável. São acordos
voluntários que inter-relacionam IES dos mais diversos países estabelecendo ações e metas nos
níveis administrativos, de ensino, pesquisa e extensão. A Declaração de Talloires (1990) talvez seja
uma das mais representativas, tendo sido subscrita por mais de 400 IES, dentre as quais, 50
brasileiras. Espelhando-se em Talloires, foram assinadas a Declaração de Halifax (1991), Swansea
(1993), Kyoto (1993) e Copernicus (1994), sempre em caráter voluntário e sem tratar efetivamente
do ensino no nível superior (BARBIERI E SILVA, 2011; BILERT, 2013; LOUREIRO et al, 2016).
No Brasil, apesar de já prevista na Constituição Federal e PNMA, a PNEA apenas veio a ser
institucionalizada no ano de 1999 e tem entre os seus objetivos:

―I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas


e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,
sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
(...) III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social;
(...) VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
(BRASIL, 1999)‖

Estabelece-se então, um marco regulatório promovendo uma educação para a


sustentabilidade, prevendo a integração tecnológica ao processo e especificando a necessidade de
incluí-la nos currículos do ensino superior, quaisquer que sejam as áreas de conhecimento.
Destaca-se que mesmo com a PNEA, uma visão conteudista e pontual tem permanecido nos
diversos níveis de ensino, carecendo de uma visão interdisciplinar. De acordo com Silva (2008), na
prática, as ações relativas à EA têm sido desenvolvidas de forma desarticulada, destacando a
insistência em uma abordagem do meio ambiente sob a perspectiva de uma análise dos aspectos
biológicos dos ecossistemas.
A institucionalização e legitimação formal da necessidade de interdisciplinarizar o conteúdo
relativo à Educação Ambiental veio a ser reforçada mais recentemente com a homologação das

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA), estabelecidas pela


Resolução nº02 do CNE/CP02/2012, fundamentada no Parecer CNE/CP nº14/2012. A Resolução
especifica a necessidade de observância dos referenciais orientadores dos aspectos determinados
pela CF e PNEA, tanto pelos sistemas de educação básica, quanto do ensino superior, definindo em
consonância a estes princípios e objetivos da educação ambiental. Essa educação deve ocorrer de
acordo com as DCNEA, em seu artigo 16:

―I - pela transversalidade, mediante temas relacionados com o meio ambiente e a


sustentabilidade socioambiental;
II - como conteúdo dos componentes já constantes do currículo;
III - pela combinação de transversalidade e de tratamento nos componentes curriculares.‖
(BRASIL,2012)

As DCNEA enfatizam ainda em suas recomendações quanto à organização curricular nos


Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) das IES, a recomendação de um planejamento curricular
diversificado e que contemple a pluralidade sociocultural dos discentes e o respeito às
características regionais dos territórios onde estão localizadas as IES. Deve-se, portanto, estimular o
desenvolvimento de uma visão multidimensional considerando não apenas os processos biológicos,
mas as influências ―políticas, sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, na relação entre
sociedade, meio ambiente, natureza, cultura, ciência e tecnologia‖, provocando no discente,
reflexões acerca das desigualdades socioeconômicas e seus reflexos sobre o ambiente a partir do
estímulo ao pensamento crítico. Para tanto, ainda de acordo com as DCNEA, devem ser promovidos
estudos filosóficos, científicos, socioeconômicos, políticos e históricos (BRASIL, 2012). Buscando
pautar-se na legislação vigente e recomendações quanto ao papel das IES para a sustentabilidade,
estruturou-se a dimensão ambiental do curso de Bacharelado em Ciências e Tecnologia (BCT) da
Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
apresentada a seguir.

A ESTRUTURA CURRICULAR DA ECT E A INSERÇÃO DO CONTEÚDO AMBIENTAL.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) abriga hoje, 78 cursos de


graduação, nos campi dos municípios de Natal, Caicó, Currais Novos, Macaíba e Santa Cruz,
resultado do processo de expansão das Instituições Federais de Ensino Superior vivida nessas
últimas duas décadas em nosso país. Essa política de expansão pode ser dividida em dois
momentos: 1) um movimento de interiorização da oferta de vagas, com criação de novos campi, e
2) o aumento da oferta de vagas nas instituições já consolidadas. Como resultado dessa política, tem
início em 2007 o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI),
sendo um dos pilares do REUNI, no âmbito da UFRN, a implantação da Escola de Ciências e
Tecnologia (ECT), que abriga o curso de Bacharelado em Ciências e Tecnologia, sediado no

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

campus central da UFRN, na cidade de Natal (BRASIL, 2010).


Em 2007, uma comissão foi designada para elaborar o projeto de criação da Unidade
Acadêmica Especializada ―Escola de Ciências e Tecnologia‖, e seu projeto pedagógico original do
Curso único da ECT, o Bacharelado em Ciências e Tecnologia (BCT). É válido ressaltar que os
estudos para criação desse projeto foram realizados anteriormente à publicação dos Referenciais
Orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares do Ministério da Educação, que ocorreu em
2010, o que evidencia o caráter de pioneirismo da UFRN na implementação dessa estrutura de
ensino. No segundo semestre de 2009, quinhentos estudantes compuseram a primeira entrada de
alunos no BCT.
A estrutura curricular de um discente que ingressa no BCT é flexível e interdisciplinar,
contendo uma carga-horária total de 2400 horas. Destas, 1380 horas são de componentes
obrigatórios, que é o núcleo comum a todos os discentes. O BCT está integrado a oito cursos de
engenharia (ambiental, biomédica, petróleo, mecânica, mecatrônica, telecomunicações, materiais, e
computação) sendo ele o primeiro ciclo para os alunos que optarem em fazer essas engenharias. No
entanto, o discente pode optar por não seguir uma das engenharias e buscar uma formação
acadêmica interdisciplinar, no contexto dos novos Bacharelados Interdisciplinares. Nesse caminho,
o estudante tem ampla liberdade para moldar sua formação escolhendo componentes curriculares
pertencentes a diferentes áreas do conhecimento (UFRN, 2013).
O MEC traz como definição de Bacharelados Interdisciplinares (BIs) ―programas de
formação em nível de graduação de natureza geral, que conduzem a diploma, organizados por
grandes áreas do conhecimento‖, sendo exemplos de grandes áreas: Artes; Ciências da Vida;
Ciência e Tecnologia; Ciências Naturais e Matemáticas; Ciências Sociais; Humanidades e outros. O
BCT, sendo um bacharelado interdisciplinar, ―é o espaço de formação universitária onde um
conjunto importante de competências, habilidades e atitudes, transversais às competências técnicas,
aliada a uma formação geral com fortes bases conceituais, éticas e culturais assumiriam a
centralidade nas preocupações acadêmicas dos programas. Por seu turno, o segundo ciclo de
estudos (engenharias), de caráter opcional, estará dedicado à formação profissional em áreas
específicas do conhecimento‖ (BRASIL,2010).
A UFRN abre 1120 vagas para o BCT por ano, resultando numa importante característica
desse modelo: a de turmas grandes. As componentes curriculares obrigatórias possuem em média
100 alunos, podendo chegar a 140. Esse número de discentes em uma sala representa certamente
um desafio para a relação de ensino-aprendizagem, e tem sido superado gradativamente por meio
do auxílio de programas de monitoria e tutoria, de apoio psicopedagógico aos discentes, e da
orientação acadêmica efetiva.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesse contexto, dentro da realidade de turmas numerosas em um bacharelado


interdisciplinar, o BCT tem buscado diálogo entre áreas de conhecimento e entre componentes
curriculares. A construção da componente curricular Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
(MADU) vem atender à caracterização do perfil do egresso em BIs, conforme o documento
Referenciais Orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares (BRASIL, 2010): ―a)
comprometimento com a sustentabilidade nas relações entre ciência, tecnologia, economia,
sociedade e ambiente; b) capacidade de trabalho em equipe e em redes; c) capacidade de reconhecer
especificidades regionais ou locais, contextualizando e relacionando com a situação global; d)
atitude investigativa, de prospecção, de busca e produção do conhecimento‖.
Faz-se necessário, nesse artigo, uma abordagem teórica-filosófica sobre a ligação dos
diversos conhecimentos, que foram reforçados em obras como a exemplo de Krishnamurti (1966),
Morin (2000; 2005; 2006; 2012), Philippi, Jr. et al. (2000), dentre outros, no intuito de observar a
relevância da iniciativa que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte teve, através da criação
da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), onde abriga o curso de Bacharelado em Ciências e
Tecnologia, em propor uma estrutura curricular interdisciplinar, flexível e inovadora.
Krishnamurti em sua obra de 1966, ―Viagem por um mar desconhecido‖ (título original:
Talks by Krishnamurti in India), fez uma menção alinhada com o princípio do funcionamento da
natureza: ―Sendo todas as coisas causadas e causadoras, auxiliadas e auxiliantes, mediatas e
imediatas, e sustentando-se todas mutuamente por meio de um elo natural e insensível que liga as
mais distantes e diferentes, eu assevero que é impossível conhecer o todo sem conhecer
particularmente as partes‖ (BIBLIOTECA PLANETA, 1973).
Em tempos recentes Morin (2000) trata de um dos princípios da Complexidade ―o Princípio
Sistêmico ou Organizacional‖, destacando a essência da ligação do conhecimento das partes com o
conhecimento do todo e vice-versa.
O prefácio do livro intitulado ―Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais‖ (Philippi, Jr.
et al. 2000) traz uma menção sobre a ligação dos saberes, quando menciona que ―os desafios da
ciência e da tecnologia contemporâneas exigem, cada dia mais, um diálogo constante e profundo
com os campos do saber. Reforça, ainda, que a hiper-especialização, que tanto mistério desvendou
ao longo do Século XX, precisará, no Século XXI, ser compensada por esforços de integrar os
conhecimentos conquistados.
Quando se faz a inter-relação dos pensamentos sobre a Complexidade de Edgar Morin com
a religação de saberes interdisciplinares na área ambiental visando à formação de engenheiros
percebe-se o intuito da configuração delineada pelo curso bacharelado em C&T na perspectiva de
atingir uma formação acadêmica que favoreça ao egresso a capacidade de ligar os saberes e
solucionar problemas. O egresso do curso do Bacharelado em C&T que seguirá uma das oito

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

engenharias subsequentes do segundo ciclo está construindo um perfil que exercita, desde já, a
percepção das soluções dos atuais problemas ambientais no contexto dos sistemas complexos,
incluindo os métodos e procedimentos de díspares racionalidades, em que a rotina profissional
incorpore as inter-relações do binômio sociedade-natureza considerando as ligações entre a ciência
ambiental, sociedade, economia, tecnologia, cultura e as respectivas escalas espaço-temporais.
Nessa perspectiva, o arranjo interdisciplinar, no eixo ambiental, envolve um componente
curricular obrigatório, intitulado ―Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano‖ com caráter
generalista, cujo conteúdo programático compreende basicamente oito tópicos, e estes tópicos estão
articulados com outros sete componentes curriculares optativos, Quadro 1. Essa configuração
permite ao corpo de docentes e discentes persistir no exercício cognitivo, oportunizando o egresso a
não apenas equacionar problemas de poluição ou de degradação do meio ambiente, como destaca
Philippi, Jr. (2000), mas avançar epistemologicamente no sentido de provocar a integração das
diferentes interfaces com as quais se apresentam as questões de ordem ambiental.

COMPONENTE
TÓPICOS DO COMPONENTE COMPONENTES
CURRICULAR
MADU CURRICULARES OPTATIVOS
OBRIGATÓRIO
1. As Cidades e suas 1. Fundamentos em Desenvolvimento
Transformações Sustentável
2. Questões Ambientais,
Territoriais e Sustentabilidade
3. Problemas e Desafios das 2. Tópicos em Desenvolvimento
Aglomerações Sustentável
4. Ciências do ambiente
3. Tópicos em Práticas Ambientais
contextualizadas nos problemas
MEIO AMBIENTE contemporâneos de poluição e
E contaminação do solo e da água 4. Política, planejamento e gestão em
DESENVOLVIMENTO no meio urbano saneamento
URBANO 5. Políticas e Instrumentos do
MADU Planejamento Urbano
6. Indicadores e Desenvolvimento 5. Economia Ambiental
Urbano
7. Instrumentos da Política 6. Políticas, planejamento e gestão do
Nacional do Meio Ambiente e meio ambiente e dos recursos
dos Recursos Hídricos e suas hídricos
relações com o meio Urbano
8. Energia, Meio Ambiente e 7. Políticas e recursos energéticos
Desenvolvimento Urbano para o desenvolvimento sustentável
Quadro 1 - Componentes curriculares do eixo ambiental oferecidos no Curso do Bacharelado em Ciências e
Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Fonte: Elaboração Própria

A Figura 1 demonstra algumas das interfaces possíveis de serem exploradas entre os


diversos componentes curriculares do eixo ambiental ministrados no curso do Bacharelado em
Ciências e Tecnologia/UFRN.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 – Componentes curriculares do eixo ambiental e interfaces. Fonte: Elaboração Própria

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se afirmar que o início do século XXI tem sido marcado por profundas transformações
nas relações entre a sociedade e o meio ambiente. Tais mudanças que norteiam a busca por sistemas
mais sustentáveis, têm se pautado na ênfase da necessidade de alterações comportamentais baseadas
num processo educacional inclusivo, participativo e abrangente. Apesar de um hiato de mais de uma
década entre o estabelecimento de uma Política Nacional de Educação Ambiental e a
regulamentação de parâmetros norteadores que definiram as Diretrizes Curriculares Nacionais em
todos os níveis de ensino, é certo que o país vem evoluindo em direção a uma maior
conscientização coletiva de que as sociedades apenas serão sustentáveis ao se buscar o
desenvolvimento em todas as suas dimensões. As DCNEA de 2012 ressaltam que os profissionais
formados nas instituições brasileiras, aqui recortando para aquelas de ensino superior, devem
desenvolver uma visão integrada e multidimensional da área ambiental, a partir de ―estudos
filosóficos, científicos, socioeconômicos, políticos e históricos, na ótica da sustentabilidade
socioambiental, valorizando a participação, a cooperação e a ética.‖
O currículo desenvolvido para o BCT vem cumprindo seu papel transformador ao extrapolar
em seus conteúdos curriculares, os aspectos biológicos e biogeoquímicos dos ecossistemas
incluindo discussões que envolvem os processos de transformação das cidades, seus aspectos
urbanísticos, suas dimensões socioeconômicas, bem como os aspectos normativos e reguladores
relacionados ao meio ambiente. A procura sistemática e crescente dos alunos pelas disciplinas
optativas ofertadas dentro do eixo temático (cujas turmas têm se mantido próximo ou com
capacidade máxima de alunos matriculados) tem demonstrado que o objetivo de estimular um

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pensamento crítico e reflexivo acerca do sustentável em todas as suas dimensões, tem sido
alcançado com êxito.

REFERÊNCIAS

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uma trajetória comum com muitos desafios. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 12, n. 3, p. 51-
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BILERT, Vania Silva de Souza. A educação ambiental na Universidade: um estudo nos cursos da
área das ciências sociais aplicadas nas Insituições de Ensino Superior Públicas (IES) no
Paraná. Pato Branco: UTFPR, 2013.

BIBLIOTECA PLANETA. Krishnamurti Viagem por um mar desconhecido. Título original: Talks
by Krishnamurti in India (1966) Editores: Luis Carta, Domingo Alzugaray, Fabrizio Fasano.
Editora Três , SP, Brasil – 1973, 218 p.

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Brasília, DF, Senado, 1988.

______. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Institui a Política Nacional de Meio Ambiente.
Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 1-4, set. 1981.

______. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 1-4, abr. 1999.

______. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (OG-PNEA). Mapeamento da


educação ambiental em instituições brasileiras de educação superior: elementos para políticas
públicas. OG-ProNEA. Documentos Técnicos – 12, 2007.

______. Ministério da Educação (MEC). Secretária de Educação Superior. Referenciais


Orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares e Similares. Brasília, 2010

______. Resolução nº2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação Ambiental. Diário Oficial da União. Brasília: DOU, 2012.

DIAS,G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. In: MILARÉ, E. Direito do ambiente. 5. ed.
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2002.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 843


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRILHA ECOLÓGICA DA UTFPR,


DOIS VIZINHOS, PARANÁ

Jheniffer Valmira WARMLING


Mestranda do curso de Agroecossistemas da UTFPR-DV
jheniffervalmira@hotmail.com
Marciele FELIPPI
Professora Doutora do curso de Ciências Biológicas da UTFPR-DV
marcielefelippi@utfpr.edu.br
Mara Luciane KOVALSKI
Professora Doutora do curso de Ciências Biológicas da URFPR-DV
marakovalski@utfpr.edu.br
Yuri Renan Alves de LIMA
Graduando do curso de Ciências Biológicas da UTFPR-DV
yurirenan@live.com

RESUMO
A Educação Ambiental compreende uma prática educativa que auxilia na sensibilização de
estudantes em relação à preservação do meio ambiente. Em função de tal importância o presente
trabalho foi realizado na Trilha Ecológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
Campus Dois Vizinhos, através de práticas educacionais envolvendo palestras e visitações com
alunos dos cursos de Ciências Biológicas e Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. As
atividades surtiram resultados positivos de sensibilização em relação ao meio ambiente,
promovendo o envolvimento entre docentes e discentes com as questões ambientais dentro da
instituição. O estudo proporcionou de maneira prática o desenvolvimento e a aplicação da Educação
Ambiental, contribuindo para a formação profissional e pessoal dos envolvidos.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Sensibilização, Comunidade acadêmica.
ABSTRACT
Environmental education comprises an educational practice that assists in the sensitization of
students in relation to the preservation of the environment. Due to this importance, the present work
was carried out in the ecological track of the Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus
Dois Vizinhos, through educational practices involving lectures and visits with students of the
courses of Biological Sciences and Engineering of Bioprocesses and Biotechnology. The activities
had positive environmental awareness results, promoting the involvement of teachers and students
with environmental issues within the institution. The study provided in a practical way the
development and application of environmental education, contributing to the professional and
personal training of those involved.
Keywords: Environment, Awareness, Academic Community.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental vem ganhando força, tornando-se um dos temas mais discutidos na
atualidade, devido ao surgimento e fortalecimento de inúmeras problemáticas ambientais,
principalmente, oriundas da busca desenfreada pelo desenvolvimento econômico do País.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dessa maneira, o tema educação ambiental surge com o intuito de sensibilizar a sociedade,
construindo conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, visando à conservação do meio
ambiente (BRASIL, 1999). Assim, organizações ambientais e membros da sociedade buscam por
práticas educativas, visando à qualidade de vida e à proteção da biodiversidade.
Por consequência, dentre as práticas utilizadas, estão as ―trilhas ecológicas‖, servindo como
ferramenta de educação, interpretação, comunicação e sensibilização ambiental (BRASIL, 1999).
As trilhas ecológicas possuem importante função na formação de cidadãos, auxiliando nas
mudanças comportamentais, tanto no modo de agir, quanto de pensar. Tal estratégia de
aprendizagem possibilita contato direto do homem com a natureza (EISENLOHR; MELO; SILVA,
2009).
É indiscutível a importância que a motivação deve assumir na educação em geral. O ensino
pautado somente nas ideias, no abstrato, sobretudo na fragmentação do conhecimento, tem
contribuído para um desânimo, indiferença e desprezo em relação ao saber (SENICIATO;
CAVASSAN, 2004). Tal concepção coloca em xeque a maneira como as aulas vêm sendo
conduzidas e cria a necessidade de se buscar novas metodologias capazes de chamar a atenção dos
alunos.
Assim, as trilhas como recurso didático, permitem a aquisição de valores e a inserção de
conhecimento a cerca da preservação e sensibilização ambiental. Considerando-se, essa magnitude
da educação ambiental na formação educacional, buscou-se desenvolver ações educativas na Trilha
Ecológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos (UTFPR-DV).

METODOLOGIA

Caracterização da Área

A UTFPR-DV localiza-se no Município de Dois Vizinhos, Paraná, tendo área aproximada


de 190 ha, onde estão distribuídas as Unidades de Ensino e Pesquisa (UNEPEs), dentre elas a
Floresta Nativa, na qual se encontra a ―trilha ecológica‖, que de acordo com Gorenstein et al.
(2010), consiste de um remanescente de floresta ciliar com 48 hectares, composta pela Floresta
Estacional Semidecidual em encontro a Floresta Ombrófila Mista.

Atividades de Educação Ambiental

O trabalho envolveu 20 acadêmicos vinculados aos cursos de Licenciatura em Ciências


Biológicas (LCB) e Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia (EBB). Foram repassados
conceitos, termos e problemáticas ambientais, assim como, informações a cerca da educação
ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em dia agendado, os acadêmicos foram conduzidos a percorrer os 1.600 m da trilha, tendo


auxilio de monitor. Foram repassadas algumas regras antes da visitação: permanecer em silêncio;
não jogar lixo no percurso; acompanhar os demais colegas; praticar a observação direcionada a
biodiversidade e respeitar o monitor para toda e qualquer solicitação. Durante o percurso, os
participantes realizaram paradas em seis locais estratégicos. Os pontos serviram para relatar a
ocorrência de plantas exóticas, nativas, arbóreas e herbáceas, a ação antrópica e a ocorrência da
mata ciliar, destacando a importância da educação ambiental.
Em um dos locais, previamente escolhido, realizou-se a dinâmica da ―trilha interpretativa‖,
onde os alunos trabalharam a percepção da natureza a partir dos diferentes sentidos. Para isso, o
grupo foi dividido em subgrupos contendo guias e estes foram orientados a conduzir os colegas com
seus olhos vendados, pelo ambiente natural, solicitando que esses tocassem em árvores, na água e
ouvissem os sons. Em seguida, todos foram convidados a relatar suas percepções.
Para o registro e análise das atividades, realizou-se pesquisa qualitativa, com a aplicação de
cinco questões na forma de pré-questionário, antes das atividades, e seis questões ao término das
ações. Os dados foram avaliados segundo Bardin (2009) e representados por meio de gráficos.

RESULTADOS E DUSCUSSÃO

Percebe-se, conforme Figura 01, que mais de 83% dos participantes responderam ao
questionário, utilizando informações interligadas ao assunto educação ambiental, nos remetendo a
pensar que estes estudantes possuem algum entendimento sobre o assunto.

Não sei
Viabilizar uma nova condição social
Prática de sensibilização
Manejo correto de instrumentos…
CATEGORIA

Explorar o meio ambiente


Educar o meio ambiente
Conscientização de crianças e jovens
Ação de ensinar
Respeito com o meio ambiente
Prática de sustentabilidade
Estudo do meio ambiente
Preservar a natureza

0 1 2 3 4 5 6 7
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 1 – Respostas dos participantes à questão 1: O que é Educação Ambiental?. Trilha Ecológica da
UTFPR-DV, 2015.

No entanto, 8,7% dos alunos não responderam corretamente o que é educação ambiental, já
que, citaram ser um ato de educar o meio ambiente (4,3%) e explorar (4,3%). Assim, é possível que

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 846


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estes não tiveram contato com o assunto ou tenha passado despercebido durante a formação
educacional.
Além disso, solicitou-se aos alunos que citassem palavras relacionadas à educação
ambiental, obtendo-se termos importantes e condizentes com a temática ambiental, como:
preservação (18,9%), sustentabilidade (10,8%), sensibilização (8,1%), reciclar (8,1%), natureza
(8,1%), prática (5,4%), ambiente (5,4%), reflorestar, ecologia, aprendizado, ética, respeito,
equilíbrio, tempo, vida, ensino, cuidado, reutilizar, reaproveitar, animais, todas com 2,7% cada,
respectivamente.
Segundo Lima, Lima e Barros (2014), educação ambiental é um processo no qual as pessoas
individualmente e coletivamente constroem valores, adquirem conhecimentos, atitudes e exercem
funções e habilidades relacionadas à preservação do meio ambiente. Ficando evidente, através das
respostas, onde os alunos, em sua maioria, destacaram os termos preservar, conhecer e prezar pelo
meio ambiente.
De acordo com Sauvé (1997), a maioria das pessoas observa o ambiente como um problema
a ser resolvido, sendo que este é o suporte da vida que está sendo ameaçado pelos problemas
ambientais, onde nós devemos aprender a cuidar e preservar sua integridade.
Conforme Figura 02, dos 20, 14 participantes nunca fizeram parte de atividades envolvendo
educação ambiental.

Hortas na escola

Recolhimento de resíduos

Palestras
CATEGORIA

Palestras sobre importância do manguezal


na produção de peixes e economia local

Limpezas de rios

Projetos

Trilhas baseadas no conhecimento


ambiental

0 2 4 6
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 2 – Respostas dos participantes à questão 2: Atividades nas quais participaram e que envolveram
Educação Ambiental. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

Dentre as atividades citadas, a visitação em trilhas foi citada por 67% dos alunos. Segundo
Marcuzzo et al. (2015), as trilhas são ambientes naturais que estimulam o aprendizado e o
desenvolvimento de valores e atitudes, sendo recomendadas na educação ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentre outras atividades citadas pelos acadêmicos, estão as palestras. Para Santos (2009), o
processo de conquista do conhecimento está representado pela soma entre experiências mentais e
afetivas, as quais podem propiciar a direção para as mudanças ou resgate de valores referentes à
forma que observamos, pensamos e agimos sobre o mundo. Nesse contexto, a participação em
explanações, conversas, palestras, proporciona mudanças educacionais positivas.
É interessante destacar, algumas individualidades citadas, como o caso da participação em
palestra envolvendo a importância do manguezal na reprodução dos peixes e da economia local. De
alguma forma, o assunto está relacionado à educação ambiental, pois visa à perpetuação da espécie.
Na Figura 03 é possível observar as respostas direcionadas à educação ambiental na Universidade,
como deveria ser abordado, segundo os participantes.

Respostas não elucidativa


Não sei
De forma continua e intensa
Presente na ementa dos cursos de…
Utilização de meios visuais
Cursos
CATEGORIA

Mutirão de limpeza
Visitas à trilha
Em forma de projetos
Envolver toda a comunidade acadêmica
Disciplina de EA
Ações práticas
Palestras

0 2 4 6 8 10 12 14
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 3 – Respostas dos participantes à questão 3: Na nossa universidade como deveriam ser abordados os
assuntos relacionado a educação ambiental?. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

A realização de palestras e ações práticas foram as mais citadas (53,13%). De fato, aliando a
teoria e a prática, a concretização e o conhecimento a respeito do tema, tendem a proporcionar
resultados mais efetivos.
Silva et al. (2009), destacam a importância na utilização de diferentes métodos e estratégias
para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, procurando interligar assuntos
teóricos com a prática. Ainda, de acordo com Krasilchik (1996), quanto mais às experiências educativas
forem próximas as futuras situações dos alunos, mais fácil será a concretização do aprendizado.
Sendo assim, torna-se de grande relevância a construção e aplicação do conhecimento
voltado à sensibilização ambiental nas instituições de ensino, procurando utilizar e ampliar formas
de aplicação, desde que envolvam a teoria e a prática, de forma consorciada.
Conforme Figura 04, os acadêmicos responderam o que significa Área de Preservação
Permanente (APP).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 848


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Não respondeu

Não sabe

Região que já está comprometida


CATEGORIA

Sem presença humana constante


Reser. amb. que não pode ter manejo
local
Preservação temporária de uma área

Reserva amb. que nunca será tocada

Área em preservação

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 4 – Respostas dos participantes à questão 4: O que é Área de Preservação Permanente?. Trilha
Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

A maioria dos acadêmicos (63,64%) foram assertivos quanto ao significado de APP.


Segundo o atual Código Florestal, em sua Lei nº 12.651 de 2012, a APP é: ―Área protegida, coberta
ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas‖ (BRASIL, 2012).
Em relação à Figura 05 os acadêmicos foram indagados quanto à relação da visitação em
trilhas com a educação ambiental. Desses, 19 alunos (95%) direcionaram sim como resposta,
justificando.

Resposta não elucidativa


Não sei
Conhecimento de coisas novas
Explorar assuntos relacionados às disciplinas
CATEGORIA

Sensibilização por meio da experiência


Trilhas não fazem mal ao meio ambiente
Aprendem sobre a biodiversidade da região
Mostra o meio ambiente sem ação do homem
Conhece a importânc. de preservar o meio amb.
Maior contato com o meio ambiente
Os alunos veem na prática a EA

0 1 2 3 4 5 6 7 8
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 5 – Respostas dos participantes à questão 5: Você considera visitas em trilha uma prática de educação
ambiental? Se sim, por quê?. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 849


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo Araújo e Farias (2003) as trilhas pretendem não somente transmitir o


conhecimento, mas também procuram propiciar atividades que divulguem o significado e as
características do meio ambiente, através de elementos naturais e por meio de experiências diretas,
sendo assim, instrumento primordial em programas de educação ambiental ao ar livre.
Conforme a Figura 06 a 10 é possível observar as respostas referentes ao pós-questionário.
Na primeira questão (Figura 06), 52,38% dos acadêmicos responderam que a educação ambiental é
uma prática a qual promove ações voltadas à preservação da natureza.

Ética

Conhecimento

Aprender a usar os recursos naturais sem


CATEGORIA

prejudicar o ambiente

Prática de sensibilização

Ensina a importância do meio ambiente

Respeitar a natureza

Ações que ensinam a preservar a natureza

0 2 4 6 8 10 12
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 6 - Respostas dos participantes à questão 6: O que é Educação Ambiental?. Trilha Ecológica da
UTFPR-DV, 2015.

Pode-se observar que a maioria dos alunos focou em uma mesma interpretação, podendo
isso ser decorrente da participação na palestra e da visita à trilha ecológica, onde foram abordados
assuntos sobre a temática. Segundo Lanfredi (2002, apud TOALDO; MEYNE, 2013) a educação
ambiental tem por objetivo despertar a sensibilização ambiental, tanto em crianças, como jovens e
adultos, para que estes valorizem, preservem e cuidem da natureza, sendo um dos meios
privilegiados para a preservação e conservação do meio ambiente.
Na Figura 07 estão expressas as respostas referentes ao que os alunos aprenderam com a
atividade na trilha.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 850


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assuntos que podem ser abordados em


aulas de campo
Sobre plantas arbóreas e herbáceas

CATEGORIA Praticar os sentidos (audição, tato, ...)

Existência de uma grande biodiversidade

Sobre plantas exóticas

Sobre espécies nativas

A importância de preservar a natureza

0 1 2 3 4 5 6 7 8
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 7 – Respostas dos participantes à questão 7: O que você aprendeu com a prática realizada (palestra e
visitação)?. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

Através das informações, observa-se que os acadêmicos adquiriram conhecimentos


diversificados, estando estes correlacionados com o que foi explicado pelo monitor no decorrer do
percurso da trilha. Já na dinâmica realizada na trilha, os alunos manifestaram surpresa e satisfação.
Menghini e Guerra (2008) destacam que as trilhas interpretativas são métodos que podem ser
utilizados em ações de educação ambiental, quando seus recursos são explicados aos visitantes,
relacionando-os com a biodiversidade, paisagem e o ser humano.
De acordo com Campanha e Silva (2013), o indivíduo quando considerado parte integrante
do ambiente natural, desenvolve melhor a capacidade de refletir sobre suas responsabilidades em
relação à preservação, buscando mudar suas atitudes cotidianas.
Analisando-se a questão três (Figura 08), observa-se a relevância da visitação à trilha, a
partir do ponto de vista dos alunos, com suas justificativas.

Observação da diversidade de espécies


Preocupação do Câmpus DV com a…
Ver a diversidade das plantas
CATEGORIA

Observou o trabalho realizado pela…


Incentivo a preservação
Usufruir do local para estudo
Conhecimento do meio ambiente
Import. do contato e cuidado com a…
Vivenciar na prática a EA

0 1 2 3 4 5 6
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 8 - Respostas dos participantes à questão 8: Você achou relevante realizar a visita na trilha?. Trilha
Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 851


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Através do resultado, percebe-se o quão importante é a prática. De acordo com Grun (1996
apud CAMPANHA; SILVA, 2013), a educação ambiental de maneira prática é uma ação
inquestionável nos dias atuais, já que pessoas são educadas de forma teórica, ficando distante do
ambiente natural. Assim, deve-se contextualizá-la e praticá-la de maneira não formal, fortalecendo
o conhecimento adquirido através de método formal.
Na Figura 09 têm-se informações de como poderíamos realizar melhorias e a conservação
do ambiente em que vivemos, de acordo com os alunos.

Preservando
Participando de mutirões de limpeza
Obediência aos 3R (reciclar,…
Reutilização (garrafas, sacos…
CATEGORIA

Separação do lixo
Reciclagem

Não poluir
Jogar lixo em local adequado
Evitar desperdícios (água, luz, entre…

0 2 4 6 8 10
UNIDADES DE ANÁLISE

Figura 9 - Respostas dos participantes à questão 9: O que você tem realizado com o intuito de melhorar ou
conservar o ambiente em que vive?. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

Percebe-se, que a maioria dos participantes destacou que evitam desperdícios,


compartilhando informações sobre a importância de preservar a natureza e reciclar os resíduos
produzidos. De alguma maneira os acadêmicos estão auxiliando o meio ambiente através de
pequenas ações. Segundo Camargo (2002), a educação ambiental auxilia no processo de resgate dos
valores éticos e humanistas, induzindo a repensar técnicas e propondo ações transformadoras.
A Figura 10 direciona-se a questão cinco do pós-questionário.

Respostas não elucidativas

Para que se possa descartar corretam.


CATEGORIA

Porque a natureza é vida


Mostrar que a degrad. causa danos…
Formação - envolve toda comum.…
Mais informações sobre o meio ambiente
Sensibilizar os graduan. da import. de…

0 1 2 3 4 5 6 7 8
UNIDADES DE ANÁLISE

Gráfico 10 – Respostas dos participantes à questão 10: Dê sua opinião em relação à formação ambiental nos
cursos de graduação. Trilha Ecológica da UTFPR-DV, 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 852


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Percebe-se, primordialmente, que os alunos creem na importância da formação ambiental


nos cursos de graduação porque esta acaba sensibilizando os graduandos quanto à preservação
ambiental. De fato, se essa questão fosse vinculada aos cursos de graduação de forma mais ampla,
interdisciplinar e transversal, possivelmente traria ótimos resultados na formação e conduta de cada
cidadão.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Meio Ambiente (1997), a educação
ambiental deve ser trabalhada de maneira transversal, a fim de alterar os conceitos, tornar claro os
valores e incluir metodologias voltadas à realidade da sociedade, de modo a obter cidadãos
participativos.
Sendo assim, a recomendação n.º 13 da conferência de Tbilisi considera que as
universidades deveriam enfatizar cada fez mais a pesquisa sobre educação formal e não formal,
transmitindo aos acadêmicos, conhecimentos essenciais para que suas futuras profissões resultem
em benefícios ao meio ambiente (GUIMARÃES; INFORSATO, 2011).
Analisando-se a última questão do pós-questionário (questão 06), são citadas a seguir, duas
frases de acadêmicos, resumindo o que aprenderam durante as atividades realizadas: ―O equilíbrio
mútuo entre o homem e a natureza depende exclusivamente da maneira que a preservamos. Ao
cuidarmos do meio ambiente colheremos seus frutos para o resto das nossas vidas‖ e ―A
conscientização ambiental é um dever de todos‖.
Destaca-se que a partir do pré e pós-questionário foi possível observar o crescimento em
termos de conhecimento a respeito do tema educação ambiental, adquirido no decorrer das
atividades ministradas, as quais repercutiram em resultados satisfatórios, percebendo-se que a
sensibilização ambiental desses acadêmicos se tornou mais ativa com a prática realizada.

CONCLUSÕES

Com este trabalho foi possível iniciar um processo de sensibilização e aprendizado com os
envolvidos por meio de ações práticas. O contato direto com o meio natural possibilitou a
compreensão de diversos assuntos, contribuindo à formação de multiplicadores da Educação
Ambiental na Universidade.
Constatou-se a valorização das trilhas interpretativas para a promoção da Educação
Ambiental. Confirma-se, dessa forma, a importância do contato com a natureza para uma melhor
compreensão e mudança de postura frente às questões ambientais.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 856


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MONTAGEM DE PEÇAS ANATÔMICAS A PARTIR DE CARCAÇAS DE ANIMAIS


ATROPELADOS DAS FAMÍLIAS CANIDAE E FELIDAE PARA A COMPOSIÇÃO DO
ACERVO DE UM MESEU DA FAUNA DO CERRADO

Mateus Flores MONTALVÃO


Estudante de Pós Graduação em Conservação dos Recursos naturais do Cerrado - IF GOIANO
mateus_lopo@yahoo.com.br
Daniele Cipriano de SOUZA
Mestranda em Biodiversidade Animal- UFG – Campus Samambaia
danielecsouza.bio@gmail.com
Karine Maria de Souza VIANA
Licenciada em Ciências Biológicas – IF GOIANO - Campus Urutaí - GO
karinevianaa@hotmail.com
Luciana Aparecida Siqueira SILVA
Orientadora – Profa. IF GOIANO - Campus Urutaí - GO
Siqueira.lusilva@gmail.com

RESUMO
Nas rodovias que cortam o Cerrado brasileiro ocorrem várias mortes de animais silvestres por
atropelamento. Dessa forma objetivou-se a utilização de carcaças de animais das famílias
Myrmecophagidae, Canidae e Felidae, mortos por atropelamento nas rodovias da região sudeste do
estado de Goiás que dão acesso ao Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí, para o processo de
taxidermia e montagem de peças anatômicas que integrarão o acervo de uma coleção didática
voltado à diversidade do cerrado que serão usadas para o ensino. Para a coleta do material biológico
adquirido nas rodovias GO 330 e GO 020 foi concedida uma autorização através do Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade. Os animais coletados foram congelados para
conservação e antes do procedimento de taxidermia, descongelados. As vísceras que não
apresentavam deformidades decorrentes da colisão do atropelamento eram fixadas em formaldeído
10%, álcool 70% e inseridos em glicerina consecutivamente para preservação final. Os animais
foram taxidermizados e um esqueleto de lobo-guará foi montado, o que permitiu um aumento do
conhecimento cientifico durante o período. As peças montadas nesta etapa do projeto foram
integradas a uma coleção previamente iniciada contendo outros animais taxidermizados para
exposição em escolas de Educação Básica. Houve exposição das peças juntamente com palestra
informativa sobre Educação Ambiental e diversidade do cerrado, com aplicação de um questionário
investigativo entre os participantes. Os resultados demonstram que a iniciativa foi bem sucedida,
uma vez que os alunos puderam conhecer melhor o bioma Cerrado.
Palavras-chave: Diversidade do cerrado, museu didático, taxidermia.
ABSTRACT
On the highways that cut the Brazilian Cerrado there are several deaths of wild animals by
trampling. The objective of this study was the use of animal carcasses from the Myrmecophagidae,
Canidae and Felidae families, killed by trampling on highways in the southeastern region of Goiás
that give access to the Goian Federal Institute - Câmpus Urutaí, for the taxidermy process and
assembly of anatomical pieces Which will integrate the collection of a didactic collection focused
on the diversity of the cerrado that will be used for teaching. For the collection of biological

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 857


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

material acquired on GO 330 and GO 020 highways, an authorization was granted through the
Biodiversity Information and Authorization System. The animals collected were frozen for
preservation and before the taxidermy procedure thawed. The viscera that did not present
deformities due to the collision of the trampling were fixed in formaldehyde 10%, alcohol 70% and
inserted in glycerin consecutively for final preservation. The animals were taxidermized and a
maned wolf skeleton was assembled, which allowed an increase of the scientific knowledge during
the period. The pieces assembled in this stage of the project were integrated into a collection
previously started containing other taxidermized animals for exhibition in Primary Education
schools. There was an exhibition of the pieces together with an informative lecture on
Environmental Education and diversity of the cerrado, with the application of an investigative
questionnaire among the participants. The results demonstrate that the initiative was successful,
since the students were able to know better the Cerrado biome.
Key words: Cerrado diversity, didactic museum, taxidermy.

1. INTRODUÇÃO

Conhecer as características e diversidade do cerrado é requisito básico para sua preservação


(ANDRADE, 2013, p. 40). A biodiversidade do cerrado tem sido objeto de grandes estudos
(CACHAPUZ et. al, 2011; JACOBI, 2003; BORTOLLOZI, 1999; GUIMARÃES, 1995) numa
crescente preocupação relacionada ao desenvolvimento sustentável.
Um dos grandes problemas relacionados à conservação da fauna do cerrado é o elevado
número de mortes de animais silvestres por atropelamento (BAGATINI, 2006; MOREIRA et al.,
2007). No levantamento de espécies atropeladas realizado por Nunes et al. (2011) na rodovia GO
330 entre os municípios de Pires do Rio, Urutaí e Ipameri, foi identificado que a incidência de
atropelamento de animais silvestres neste trecho superou muitos dos estudos similares já realizados.
Práticas envolvendo o conceito de educação ambiental devem ser estimuladas nos mais
diversos setores da sociedade, visando levar informação de qualidade à população, sendo que as
Instituições de Ensino Superior (IES) configuram-se como importantes centros de difusão do saber.
De acordo com Bortollozi (1999), é preciso repensar o compromisso social da universidade e o
museu configura-se como um importante canal para que o conhecimento científico atinja a
comunidade.
Muitos dos problemas relacionados à falta de museu fora dos grandes centros urbanos está
na falta de formação de pessoas qualificadas para gerenciar os Museus de Ciências (JACOBUCCI,
2008). Além disso, novos espaços devem ser utilizados para disseminarem o saber, e os espaços não
formais a exemplo de museus e centros de ciências são tidos como ótimos disseminadores, pois
proporcionam um ambiente capaz de despertar a curiosidade nos alunos e nas comunidades de uma
forma geral. Isto se dá por fazer uso de uma nova metodologia, que proporciona ao público uma
nova concepção de educação ambiental, se tornando cada vez mais utilizada e aliada aos processos
educativos (PEREIRA et al., 2011).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No entanto, nas cidades localizadas no interior do estado de Goiás, não existem museus
disponíveis à visitação, o que limita a utilização deste importante recurso pelos educadores. Sendo
assim, a proposta de criação de uma exposição interdisciplinar de Ciências, com foco na diversidade
do cerrado, mostra-se como uma proposta viável neste cenário, considerando-se que ―os museus
interativos de ciência tornam-se fundamentais como um espaço educativo adicional, onde as
pessoas possam aprender conceitos científicos sobre a natureza da ciência‖ (CONSTANTIN, 2001,
p. 196).
Diante do exposto, foi objetivado no presente trabalho a utilização de carcaças de animais
mortos por atropelamento das famílias Myrmecophagidae (Myrmecophaga tridactyla, Tamandua
tetradactyla), Canidae (Chrysocyon brachyurus, Cerdocyon thous) e Felidae (nenhum animal com
integridade física satisfatória foi coletado) para a montagem de peças anatômicas variadas
(montagem de esqueletos, taxidermia e técnicas de preservação de vísceras) que farão parte do
acervo de um museu didático voltado à diversidade do cerrado.
Com a finalidade de promover a democratização do acesso ao conhecimento produzido, a
proposta aborda o emprego de técnicas de preparação de peças anatômicas utilizando-se animais
silvestres das famílias Myrmecophagidae, Canidae e Felidae, mortos por atropelamento, com coleta
mediante autorização concedida pelo Sistema de Autorização e Informação da Biodiversidade
(SISBIO) sob o número nº 42047-1 e 48689-1.
A estruturação de um museu de anatomia poderá contribuir para que os acadêmicos
conheçam a fauna silvestre do cerrado, bem como estejam envolvidos em atividades de extensão, já
que a procura por parte de escolas de ensino básico, públicas e privadas, das cidades circunvizinhas
tem sido crescente nos últimos anos. O IF Goiano - Campus Urutaí está inserido em uma região de
Cerrado, local rico em biodiversidade vegetal e animal, entre cidades de pequeno porte e sem
acesso a museus.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Coleta do material biológico

Para coletar os animais das respectivas famílias Myrmecophagidae, Canidae e Felidae,


mortos por atropelamento nas principais rodovias de acesso ao Campus, o projeto foi previamente
submetido ao IBAMA, através do SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade), solicitando autorização deste órgão para coleta de animais das referidas famílias
mortas nas rodovias citada no documento e a autorização foi concedida sob o nº 42047-1 e 48689-1.
Durante as coletas, os animais foram fotografados e medidos no local do atropelamento e
recolhidos obedecendo-se todas as medidas de segurança e utilizando-se os EPI's ‗adequados. Os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

animais permaneceram acondicionados em sacos plásticos e vasilhames de acrílico, sendo


transportados até IF Goiano - Campus Urutaí, onde foram congelados para posterior processamento.
Os animais que apresentarem integridade física satisfatória e que ainda não estavam em estado de
decomposição foram utilizados para taxidermia. Os animais em decomposição, mas com poucas
lesões ósseas foram destinados à maceração para a confecção de esqueletos.

2.2 Conservação e preparação das peças anatômicas

Para a conservação de órgãos, foram montadas diversas peças com utilização de técnicas de
glicerinação, criodesidratação, corrosão, entre outras, de acordo com o estado dos animais
coletados. Após a coleta os animais foram conservados em freezer até aproximadamente 36 horas
antes da realização das técnicas de taxidermia. Instrumentos como pinças de ponta fina reta e curva;
pinça hemostática; tesoura cirúrgica fina-fina e fina-romba; bisturi e outros utensílios arame
galvanizado nº 14 e 16 para reforço de cauda e membros; borato de sódio para tirar a umidade e
preservar os espécimes; olhos de polietileno utilizados em animais de pelúcia e estopa para
enchimento da peça, foram essenciais para a taxidermização (figura 1).

Figura 1: Animais taxidermizados vítimas de atropelamento nas rodovias que dão acesso ao Campus.
(A) tamanduá-bandeira fêmea com o filhote nas costas, (B) cachorros-do-mato, (C) tamanduá-mirim.

2.3 Palestra e Aplicação do questionário investigativo

A palestra e aplicação do questionário foram realizadas com vinte e nove alunos do primeiro
ano do curso de Biotecnologia do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí no dia 08 de agosto de
2016 para obtenção de uma análise sobre o conhecimento e saberes dos alunos em relação aos
mamíferos citados no projeto e o Bioma Cerrado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foi elaborado um questionário investigativo com sete perguntas objetivas referentes à


Educação Ambiental e às técnicas do processo de taxidermia que foram realizadas ao longo do
desenvolvimento do projeto, bem como o desenvolvimento de uma questão discursiva sobre o que
chamou mais a atenção dos alunos durante a aula.
A palestra foi realizada no Laboratório de Biologia Geral da Instituição e durou cerca de
uma hora e meia, dividida em duas etapas, apresentação áudio visual com auxílio de recursos
multimídia, dando enfoque na educação ambiental, sua importância e aplicação no meio acadêmico.
A segunda etapa consistiu em uma palestra áudio visual expositiva, onde os alunos tiveram contato
com as peças já processadas e taxidermixadas.
Durante a palestra foi relatado todo o processo de taxidermização, a importância de cada
animal, seu papel e contribuição para o Bioma Cerrado. Após a palestra os alunos foram
encaminhados para a sala de aula onde o questionário foi aplicado e depois analisado para tabulação
e análise de discussão dos resultados.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto foi realizado em três etapas, sendo a primeira, a coleta, o transporte e a taxidermia
dos animais. Em seguida, foi realizada a palestra como uma forma de explicar sobre a importância
dos museus e centros de ciências. Além disso, foram explicitadas as técnicas de taxidermia e
história de vida dos animais. As peças anatômicas confeccionadas forma doadas ao laboratório de
zoologia do campus (fetos, rins, úteros, coração). Por fim, foi aplicado um questionário
investigativo logo após a palestra expositiva.
Durante a palestra, atividade despertou curiosidade e interesse por parte dos alunos, que
fizeram vários questionamentos entre si, perguntaram se os animais estavam vivos, se os animais
poderiam oferecer algum perigo e ficaram bastante entusiasmados, por ser uma atividade inovadora
para eles.
Com relação às respostas dadas pelos alunos aos questionamentos feitos, pode-se perceber
que foi uma atividade que despertou bastante interesse e curiosidade. Sendo assim, serão
apresentados os resultados a seguir. A primeira questão foi a seguinte: ―Ao longo de sua vida
escolar, você já havia participado de alguma aula parecida?‖. Dos 29 alunos 62,1% disseram que
nunca haviam participado, 31,1% responderam que sim, e 6,80% não responderam. Estes dados
confirmam a fala de diversos autores que reconhecem a importância dos espaços não formais, em
especial os Museus e Centros de Ciências como importantes mediadores entre ensino, educação e
extensão, sendo de fundamental importância para a viabilização de novas práticas e a formação
inicial de professores (MELO, et al., 2015). Mesmo com os estudos recentes apontando para a
importância desta metodologia de ensino, os museus e centros de ciências estão presentes em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

grandes centros urbanos, dificultando a acesso de grande parte da população. Observa-se que no
interior do estado de Goiás não existem museus disponíveis à visitação, o que limita a utilização
deste importante recurso pelos educadores.
Na opinião dos alunos, ―museu é?‖ (Gráfico 1), temos os seguintes resultados: (93,1%)
consideram ser uma instituição dedicada a buscar, conservar, estudar e expor objetos de interesse
duradouro ou de valor artístico, histórico; (3,45%) responderam que são espaços de produção de
conhecimento, de criação e de reconhecimento de identidades e de práticas culturais e socais;
(3,45%) disseram que os museus são locais onde se acessa um conjunto de objetos com a intenção
de se obter informações sobre determinado tema ou assunto, e por fim nenhum dos entrevistados
afirmou que os museu e lugar de coisa antiga. Assim como descrito no trabalho de Chaves &
Shellard (2005) os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul são os maiores
detentores destes centros. Sendo assim, devido a esta má distribuição são poucas as pessoas que
conhecem estes centros, assim como o papel que o mesmo possa vir a desempenhar na sociedade
(PEREIRA, et al., 2011).

Gráfico 1: Porcentagens de alunos com relação à questão 2 do questionário investigativo.

Quando questionado sobre por que o lobo-guará e o cachorro-do-mato serem mamíferos


(Gráfico 2), 13,7% dos alunos responderam que o fato de estes animais serem mamíferos está
relacionado ao pelo nos seus corpos; 72,5% consideram o fato de estes animais apresentarem
glândulas mamárias e 13,7% afirmaram que são mamíferos por serem animais terrestres. Alguns
alunos apresentam pouco ou nenhum nível de conhecimento a respeito dos mamíferos, ao se tratar
de uma turma de primeiro ano do ensino médio, como pode ser analisado apenas 72,5% dos alunos
marcaram a alternativa correta, sendo estes animais mamíferos por apresentar glândulas mamárias.
Importante observar que os estudantes deste nível de ensino ainda não tiveram contato formal com
este componente curricular durante o Ensino Médio, sendo abordado somente no segundo ano. No
entanto, é um conteúdo presente no sétimo ano do Ensino Fundamental. Espera-se que o estudante

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de Ensino Médio traga noções básicas das características dos mamíferos. Tal resultado pode trazer
um questionamento: como este assunto é abordado ao longo do Ensino Fundamental? É um dado a
ser considerados pelos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, futuros
professores de Educação Básica, em sua formação inicial. A busca constante do professor de
Ciências e Biologia por recursos didáticos diversificados e mais eficientes que a aula expositiva
centrada na figura do professor deve ser estimulada ao longo da carreira docente para que tal
realidade possa ser modificada.

Gráfico 2: Porcentagens de alunos com relação à questão 4 do questionário investigativo.

Quando os participantes foram questionados sobre qual o seu sentimento predominante ao


participar da atividade proposta (Gráfico 3), 20,68% dos entrevistados responderam ter nojo, asco,
repulsa e 79,32% tiveram curiosidade. Nenhum dos entrevistados responderam ter medo ou pena do
animal. Dentre as propostas que norteiam as ações das coleções didáticas para a educação não
formal, pode-se observar que proporcionam um ambiente capaz de despertar o interesse, instigar a
curiosidade do indivíduo, tornando-se um forte aliado dos processos educativos.

Gráfico 3: Porcentagens de alunos com relação à questão 5 do questionário investigativo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Como já se esperava, com a realização de uma atividade pouco comum para o cotidiano
destes alunos, foram perguntados a estes, qual o papel da palestra, para a sistematização dos seus
conhecimentos a respeito do conteúdo ministrado (Gráfico 4), 51,73% dos entrevistados disseram
ter obtido conhecimentos mais aprofundados sobre educação ambiental, 44,82% disse que com a
aula, eles puderam obter conhecimentos mais aprofundados sobre a conservação destas espécies,
dentre outros animais pertencentes à mesma família dos Canídeos e Felídeos, e apenas 3,45% dos
entrevistados disseram que á aula desfez mitos existentes sobre os animais. Devido à falta de
informação por parte destes alunos, e por parte da comunidade rural e urbana, os mitos,
preconceitos, falta de informação, discursos fóbicos perpetuados por amigos familiares acerca de
animais ditos como perigosos são fatores que em sua grande maioria desencadeiam a zoofobia nos
indivíduos e consequentemente elevando a taxa de mortalidade destes animais (DOS SANTOS &
CAPPELLARI, 2016).

Gráfico 4: Porcentagens de alunos com relação à questão 6 do questionário investigativo.

Com relação à questão: ―Na sua opinião, porque não são ministradas nas escolas aulas
utilizando-se metodologias parecidas como esta que você acabou de participar?‖, as seguintes
proporções de respostas foram obtidas. A grande maioria dos entrevistados (41,37%) afirmam que a
falta de recurso financeiro é um agente limitador; 24,23%% responderam que á falta de capacitação
dos professores; 24,13% falta de parceria com outros órgãos/instituições são um dos agentes que
limitam a realização deste tipo de metodologia; 10,34% admitem que não são ministradas
metodologias parecidas devido à falta de tempo para preparação das aulas. Em contraste, neste
questionário (Gráfico 5), 56,6% afirmam que aulas ministradas utilizando metodologias parecidas,
como a execução de aulas praticas em laboratórios, são em sua grande maioria por falta de tempo
por parte de professores, 10% pela falta de capacitação dos docentes, 23,3% pela falta de incentivo
financeiro e 10% ela falta de parceria com outros órgãos/instituições.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Gráfico 5: Porcentagens de alunos com relação à questão 7 do questionário investigativo.

E por fim, ao serem questionados sobre o que mais chamou a atenção deles durante a
palestra (Gráfico 6), 62,07% dos alunos afirmaram ter sido as técnicas utilizadas durante o processo
de taxidermia e a finalização dos animais. Em seguida 20,68% deles se interessaram pela vida
selvagem que os animais têm em seu habitat natural. Apenas 10,34% falaram dos meios de
conservação do Cerrado e 6,89% da capacitação necessária que os profissionais dessa área devem
possuir.

70,00%
62,07%
60,00%

Conservação do Cerrado
50,00%

Processo de Taxidermia
40,00%

Capacitação dos profissionais


30,00%
da área
20,68%
Vida dos animais
20,00%
10,34%
10,00% 6,89%

0,00%

Gráfico 6: Porcentagens de alunos com relação à questão discursiva do questionário investigativo.

3. CONCLUSÃO

Ao final da sequência de atividades realizadas, pôde-se concluir que:


 Diversas dificuldades para a coleta das carcaças foram enfrentadas, principalmente devido à
falta de um veículo próprio para tal finalidade e uma equipe devidamente treinada;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Com relação à aplicação das técnicas de taxidermia, por ser um grupo autodidata, foi difícil
estabelecer as dosagens corretas dos reagentes;
 Ao final das técnicas, a falta de um local específico para o armazenamento das peças
dificultou sua conservação, além de dificultar o acesso do público às peças. Em cada
atividade de exposição, as mesmas precisam ser transportadas, o que danifica sua estrutura;
 Mesmo diante dos pontos negativos e dificuldades enfrentadas, observou-se que a utilização
das peças anatômicas e animais taxidermizados apresenta-se como importante recurso
didático e de popularização da Ciência, aproximando o público das características e
diversidade do bioma Cerrado.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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métodos. São Paulo: Editora Cortez.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ABORDAGEM DO BIOMA CERRADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: PARA ALÉM DO


ENSINO DISCIPLINAR

Mirley Luciene dos SANTOS


Doutora em Ecologia, Universidade Estadual de Goiás
mirley.santos@ueg.br
Luciana Cristina de Melo TAVARES
Mestre em Ensino de Ciências, Universidade Estadual de Goiás
luciana.cmtarares@gmail.com
Gislaine Maria Ferreira MATOS
Mestranda em Ensino de Ciências, Universidade Estadual de Goiás
gisamferreira@gmail.com
Bianca Martins da SILVA
Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Goiás
bims.botany@gmail.com

RESUMO
Atividades práticas realizadas em espaços não formais, como parques e trilhas ecológicas, podem
promover experiências significativas com o bioma local, como é o caso do Cerrado na região
Centro-Oeste. Assim, no intuito de contribuir com estratégias de ensino que possam promover a
aprendizagem efetiva e contextualizada sobre o Cerrado numa perspectiva investigativa e
interdisciplinar é que o presente estudo foi desenvolvido. A pesquisa de campo incluiu diferentes
procedimentos: a avaliação das representações dos estudantes do Ensino Fundamental sobre o
bioma Cerrado e suas interações por meio do desenho livre; a realização de duas atividades práticas
de campo, utilizando a abordagem de ensino por investigação e duas outras atividades na
perspectiva interdisciplinar para o ensino de conteúdos da Matemática contextualizados com o meio
natural de uma trilha no Cerrado. Os resultados apontam as práticas de campo e a abordagem
investigativa como estratégias exitosas ao motivarem os alunos a estabelecerem relações
interdisciplinares e contextualizadas entre os conteúdos trabalhados, levando-os à aprendizagem
não somente desses conteúdos, mas também de procedimentos e atitudes necessários ao processo de
construção de sua autonomia intelectual.
Palavras-chave: Meio Ambiente; Metodologias de Ensino; Ensino por Investigação;
Interdisciplinaridade; Atividades de Campo.
ABSTRACT
Practical activities carried out in non-formal spaces, such as parks and ecological trails, can promote
significant experiences with the local biome, as is the case of the Cerrado in the Central-West
region. Thus, in order to contribute to teaching strategies that can promote effective and
contextualized learning about the Cerrado in a research and interdisciplinary perspective, the
present study was developed. Field research included different procedures: the evaluation of the
representations of elementary school students about the Cerrado biome and its interactions through
drawing; The accomplishment of two practical field activities, using the research teaching approach
and two other activities in the interdisciplinary perspective for the teaching of Mathematics contents
contextualized with the natural environment of a trail in the Cerrado. The results point out the field
practices and the investigative approach as successful strategies in motivating students to establish
interdisciplinary and contextualized relationships between the contents worked, leading them to

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

learn not only these contents, but also the procedures and attitudes necessary to the process of
building their intelectual autonomy.
Keywords: Environment; Teaching Methodologies; Inquiry-based teaching; Interdisciplinarity;
Field Activities.

INTRODUÇÃO
O bioma Cerrado constitui um mosaico de fisionomias vegetais, que variam das formações
campestres aos ecossistemas florestais (RIBEIRO; WALTER, 1998), com alta riqueza de espécies e
grande número de endemismos. Entretanto, o Cerrado é a savana mais ameaçada do planeta e um
dos 25 hotspots mundiais (MYERS et al., 2000). Essa degradação acelerada do bioma é o resultado
de uma manipulação antrópica que traz consequências para o próprio homem que geralmente não se
percebe como parte do meio ambiente. Esse fato pode ser caracterizado como uma perda da
capacidade de pertencimento (RONSSEN, 2012).
Segundo Mourão (2005), a necessidade de preservação do meio ambiente e a perda da
capacidade de pertencimento são problemas educacionais. Assim, é durante o período escolar que o
aluno precisa ser estimulado a sentir-se parte do ambiente em que vive para que desenvolva a ideia
da necessidade da preservação (SALES; LANDIM, 2009; RONSSEN, 2012). Esse sentimento de
pertencimento e de valoração do meio em que o aluno está inserido, na perspectiva da educação
escolar, pode ser estimulado quando vínculos diretos entre o conhecimento disciplinar e a realidade
do aluno são estabelecidos (RONSSEN, 2012). Essa prática pedagógica é denominada
contextualização (PELIZZARE et al., 2002; RAMOS, 2003) e quando utilizada pelo professor irá
promover o real aprendizado ao aluno, que segundo Ronssen (2012), terá o seu cotidiano
desmistificado em sala.
Além de proporcionar uma aprendizagem efetiva, a contextualização estimula a valorização
do ambiente em que o aluno está inserido, como por exemplo, os ecossistemas da sua região
(SALES; LANDIM, 2009). Um dos procedimentos metodológicos que pode influenciar na
contextualização de forma positiva, despertando nos alunos o interesse pelo bioma no qual estão
inseridos é a realização de atividades de campo, sobretudo nos espaços não formais, como parques e
trilhas ecológicas, promovendo experiências significativas com o bioma local, como é o caso do
Cerrado na região Centro-Oeste.
Vários são os estudos e os autores que apontam a utilização da aula de campo como um
recurso importante para estimular a aprendizagem e a compreensão dos conteúdos ensinados
(SENICIATO, CAVASSAN, 2004; CECCON, 2008; LOPES; PONTUSCHA, 2009; MARTINS;
BRANDO, 2009; GRANDI; MOTOKANE, 2012). No entanto, ainda que recomendadas, as aulas
de campo nem sempre são um recurso utilizado pelos professores, principalmente em função das
inúmeras dificuldades encontradas, tais como transporte para o local em que a atividade será

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

realizada, número elevado de alunos por turma, número de aulas semanal insuficiente da disciplina
(geralmente os professores de Ciências, Biologia e Geografia são os que se propõem a realizar tais
atividades), abordagem predominantemente disciplinar, currículos engessados, entre outras
dificuldades.
Outro aspecto que dificulta o ensino contextualizado sobre o Cerrado é a falta de material
didático que aborde o tema com maior profundidade como apresentado e discutido por Siqueira
(2012), Bezerra e Goulart (2013) e Bezerra e Suess (2013). Desse modo, Bezerra e Goulart (2013)
concluem que, ao trabalhar esse conteúdo, o professor não pode se limitar ao livro, devendo
procurar outras fontes além de realizar aulas práticas.
Também o conhecimento dos estudantes sobre os aspectos naturais, sociais e históricos do
Cerrado é escasso e superficial, podendo gerar, segundo Monteiro (2011), atitudes negativas e
impactantes ao meio ambiente. Por outro lado, Marques (2012) ao realizar estudo com o intuito de
investigar os conhecimentos e práticas pedagógicas de professores de Geografia no Distrito Federal,
com relação aos conceitos sobre ecossistema, bioma e biodiversidade, concluiu que estes tópicos
são trabalhados de maneira superficial e existem dificuldades de realizar aulas de campo e
desenvolver a interdisciplinaridade. Todos esses estudos e fatores evidenciam a necessidade de
inovar a forma como o tema Cerrado tem sido abordado na Educação Básica, buscando a superação
das dificuldades citadas.
No presente estudo, desenvolvemos algumas propostas de ensino sobre o Cerrado buscando
a interdisciplinaridade e a abordagem investigativa como meio de promover um ensino mais
contextualizado e eficaz. Para tanto, investigamos inicialmente junto aos estudantes da Educação
Básica da rede pública de ensino do município de Anápolis, Goiás a sua representação do bioma
Cerrado por meio de desenhos e produção de textos, bem como aplicamos e avaliamos
metodologias para o ensino sobre o Cerrado de forma contextualizada e investigativa.
Para alcançar os objetivos propostos foi utilizada a Trilha Ecológica do Tatu situada na área
de Cerrado do Câmpus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de
Goiás (UEG), na cidade de Anápolis, GO. Essa trilha que contém três formações fitofisionômicas:
Cerrado stricto sensu, Mata Estacional Semidecidual (mata seca) e Mata Galeria, tem sido utilizada
desde 2001 para a realização de atividades de Educação Científica e Ambiental junto aos alunos da
Educação Básica de Anápolis e região. Essas atividades são realizadas com o objetivo de aproximar
os estudantes dos temas relacionados ao Cerrado e de sua biodiversidade.

METODOLOGIA

A pesquisa vem sendo realizada desde 2015 e envolveu procedimentos que podem ser
organizados em três momentos:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Avaliação das representações de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental em Anápolis,
GO sobre a biodiversidade do Cerrado.

Nesse procedimento, estudantes de duas turmas do 6º ano e duas turmas do 7º ano do Ensino
Fundamental de escolas públicas de Anápolis, GO, foram convidados a fazerem desenhos sobre a
vegetação do Cerrado e também das interações existentes entre as plantas e os animais. Segundo
Schwarz, Sevegnani e André (2007) os desenhos infantis são instrumentos úteis e significativos que
podem ser empregados para avaliar conhecimentos, competências, observações e conceitos de
Ciência, além de possibilitar analisar a capacidade de raciocínio.
Os desenhos foram aplicados antes e após a realização de atividades práticas de campo e
comparados segundo categorias estabelecidas. Estabelecemos padrões de representação da flora e
fauna do Cerrado e de suas interações, bem como se os alunos percebem diferenças nessa
vegetação, considerando que o Cerrado é formado por um mosaico vegetacional que varia de
formações savânicas a florestais, com diversidade de formas e hábitos. Também foi avaliado o
conhecimento e a percepção dos estudantes quanto à riqueza de interações que ocorrem entre a flora
e a fauna do Cerrado, e a importância dessas interações para a manutenção do bioma (ex. predação,
competição, polinização e dispersão de frutos e sementes).

Realização de atividades práticas de campo utilizando a abordagem do Ensino por Investigação.

Duas atividades práticas com abordagem investigativa foram elaboradas, aplicadas e


avaliadas. A primeira atividade foi desenvolvida com duas turmas do 7º ano de escola pública
municipal e abordou o tema: ―As interações ecológicas no Cerrado‖. Essa atividade e seus
resultados são descritos em detalhes no artigo publicado por Silva et al. (2016). Nessa atividade, as
duas turmas percorreram a Trilha do Tatu no mês de abril de 2016. O objetivo da atividade foi
investigar as interações ecológicas em campo, e evidenciar as características do bioma de maneira
prática. Para tanto, cada uma das turmas, compostas por cerca de 30 estudantes, foi dividida em
quatro grupos de sete ou oito alunos e acompanhados por dois monitores. Os estudantes foram
orientados a investigarem na trilha a presença ou os vestígios de possíveis interações ecológicas,
sendo, portanto, instigados a levantar hipóteses sobre as possíveis interações ecológicas observadas,
e a propor métodos para verificar se realmente se tratava de uma interação ecológica e quais os
organismos envolvidos. Os alunos deveriam anotar na caderneta de campo individual e registrar por
meio de fotografias tudo o que achassem pertinente sobre as interações ecológicas observadas.
Ao retornarem da trilha foram conduzidos ao laboratório para que observassem na lupa e ao
microscópio óptico alguns dos materiais coletados durante a descida à trilha. Algumas
considerações gerais foram apresentadas aos alunos sobre as principais interações observadas e as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

características do bioma. Para esta exposição foram utilizados slaides, alguns modelos didáticos de
insetos e de cortes anatômicos de folha, evidenciando algumas adaptações da vegetação aos
diferentes tipos de fitofisionomias observadas. Por fim, os alunos foram orientados a sistematizar
todas as suas observações e registros.
Na semana seguinte à descida à trilha, os alunos foram orientados a apresentar uma
exposição de fotografias e maquete sobre o que haviam investigado na trilha e novamente foi
solicitado aos alunos que fizessem um desenho e elaborassem um texto sobre as interações
ecológicas no Cerrado, com intuito de se fazer um comparativo entre a pré e a pós intervenção.
Considerou-se ainda, como parâmetro de avaliação dessa atividade, o interesse e a participação dos
alunos, os questionamentos e comentários dos alunos dentro de cada grupo monitorado na trilha
interpretativa, além da produção coletiva para a exposição.
A segunda atividade, realizada no mês de junho de 2017, envolveu duas turmas de 6º ano de
escola pública estadual e seguiu os mesmos passos da atividade anterior. Nessa atividade,
entretanto, o tema abordado foi ―As fitofisionomias do Cerrado encontradas na Trilha do Tatu‖.
Para tanto, os estudantes foram conduzidos ao Laboratório de Educação Científica e Ecologia da
UEG e a eles foi apresentada uma exposição de fotografias da trilha do Tatu com o intuito de
mediar a seguinte questão: existem diferentes ambientes (fitofisionomias) no Cerrado? Os
estudantes foram instigados a refletir sobre essas diferenças e argumentar sobre possíveis estratégias
para evidenciar essas diferenças, tais como registros fotográficos, anotações de campo e coleta de
materiais (solo, amostras da vegetação, características de cada ambiente). A seguir os estudantes
foram guiados na trilha do Tatu para que pudessem colocar em prática a coleta de dados para cada
uma das fitofisionomias. Nesses ambientes os estudantes coletaram amostras de solo e de folhas,
realizaram medições de comprimento e diâmetro das árvores, temperatura do ambiente e do solo,
registraram em planilha as características de cada um dos três ambientes visitados, além de
inúmeros registros fotográficos utilizando seus aparelhos celulares. Ao final da atividade
observaram e compararam os materiais coletados nos três ambientes, as fotografias e anotações de
campo para chegaram às conclusões sobre o que diferenciava esses ambientes, e também sobre o
porquê das denominações dadas a cada uma das fitofisionomias visitadas.
Além das falas e registros dos grupos, a sistematização dos dados foi possível por meio da
produção de texto pelos estudantes sobre a atividade realizada em campo.

Realização de atividades de campo interdisciplinares para o ensino de conteúdos da Matemática.

Além das duas atividades de campo descritas realizadas com alunos do Ensino Fundamental
no contexto das Ciências, duas outras atividades foram realizadas com estudantes do ensino médio,
abordando conteúdos de Matemática. Tradicionalmente, para a disciplina de Matemática, o modelo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tradicional das aulas segue o esquema de exposição apresentando as ideias e os exemplos, seguidos
de exercícios, muitas vezes semelhantes aos resolvidos pelo professor. Skovsmose (2000) atribui a
esse método de ensino o nome de paradigma do exercício e propõe a abordagem investigativa como
alternativa de método de ensino.
Desse modo, nas duas atividades práticas realizadas, a proposta foi promover aos estudantes
situações de aprendizagem nas quais utilizando de conhecimentos prévios e ferramentas para a
coleta de dados pudessem construir novos conhecimentos mediados pela intervenção do professor.
As duas atividades de campo desenvolvidas constituem parte integrante de duas dissertações
vinculadas ao Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da UEG. A primeira atividade,
denominada: ―A Geometria no Cerrado‖ foi desenvolvida na Trilha do Tatu por estudantes do 2º
ano do ensino Médio de uma escola pública estadual no município de Anápolis, GO. Nessa
atividade, objetivou-se utilizar a descida à trilha e o uso da fotografia como procedimentos didáticos
para o ensino contextualizado da Geometria e do bioma Cerrado, considerando que a busca pela
interdisciplinaridade e a transversalidade na Educação Básica, bem como ensinar sobre o Cerrado
não é apenas uma tarefa do professor de Biologia ou Geografia.
Metodologicamente, os procedimentos utilizados envolveram a descida à trilha pelos
estudantes que realizaram o registro de imagens utilizando de aparelhos celulares e a medição de
árvores e objetos encontrados na trilha com auxílio de instrumentos para medição (trena, fita
métrica, régua). Essas imagens e medições foram utilizadas para o desenvolvimento de um recurso
didático para o ensino de Geometria Plana e Espacial que foi avaliado em sala de aula pela
professora e autora da dissertação.
A segunda atividade foi desenvolvida para o ensino de Trigonometria e o problema proposto
foi o de investigar matematicamente a trilha ecológica da UEG. A trilha possui três portais que
separam as formações vegetais (fitofisionomias). Um dos aspectos que caracteriza uma
fitofisionomia é a altura da vegetação e para estudar e entender matematicamente a trilha foi
necessário coletar as medidas das árvores de cada trecho. A trigonometria no triângulo foi
apresentada como ferramenta para medir as alturas inacessíveis das árvores de maior porte e
também dos portais. A fase que antecedeu a visita à trilha, ainda em sala de aula, caracterizou-se
pelo diálogo alunos-professora, definindo juntos os principais pontos de observação e coleta de
dados. Os dados coletados foram apresentados na forma de maquetes. Todo o processo de aplicação
foi realizado em dez aulas, que era o tempo disponível para que a professora e autora da segunda
dissertação pudesse trabalhar o conteúdo abordado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Representações de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental em Anápolis, GO sobre a


biodiversidade do Cerrado.

A avaliação dos desenhos elaborados evidenciou uma concepção de Cerrado muito


romântica e distorcida, com desenhos caracterizando cenários floridos, com árvores frondosas e de
copas largas e elementos que representavam a harmonia e equilíbrio entre a natureza e o ser humano
(SILVA et al., 2016) (Figura 1). Nos desenhos apareceram poucos registros de interações
ecológicas no Cerrado, o que evidencia pouco conhecimento sobre o assunto. Também em relação a
representação da flora, os desenhos em sua grande maioria representam cenários montanhosos,
presença de cactáceas e árvores retorcidas. Já em relação a fauna, animais caraterísticos do Cerrado
apareceram, como lobo guará, onça, tamanduá, cobras e lagartos. Após a realização da trilha, os
mesmos alunos elaboraram novo desenho, nos quais percebemos com maior frequência,
componentes característicos do bioma (fauna e flora) e das interações observadas em campo:
predação, herbivoria, polinização e competição (Figura 1).

Figura 1: Representação das interações ecológicas e do bioma Cerrado por alunos do 7º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Anápolis, Goiás. As letras A e B representam o antes e depois dos
alunos ―A‖ e ―B‖ percorrerem uma trilha ecológica em área de Cerrado. Fonte: Silva et al. (2016).

Atividades práticas de campo utilizando a abordagem do Ensino por Investigação.

A abordagem investigativa utilizada nas atividades práticas de campo mostrou-se eficiente


para a motivação e a contextualização necessárias para a promoção do aprendizado dos alunos, bem
como para a construção ativa de conhecimentos sobre a biodiversidade do Cerrado, suas interações
ecológicas e formações fitofisionômicas. Os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar situações

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

problema, investigando as interações ecológicas e também as formações fitofisionômicas que


ocorrem na trilha. Ao coletarem dados no campo, utilizarem instrumentos de coleta tais como
termômetros, trenas, aparelhos celulares e planilhas, elaborarem os seus registros, discutiram com
os colegas os resultados e as conclusões obtidas, envolveram-se ativamente na resolução dessas
questões e vivenciaram a construção do conhecimento (Figura 2). ―Os alunos observaram,
registraram, coletaram materiais para observação no laboratório. Usaram termos científicos, fizeram
perguntas, elaboraram hipóteses, fizeram descrições, argumentações e chegaram a algumas
conclusões, caracterizando assim práticas importantes do fazer científico‖ (SILVA et al., 2016, p.
5853). Ao final da atividade elaboraram um texto em que a grande maioria dos estudantes
distinguiu as três fitofisionomias do Cerrado, utilizando várias características para a sua
classificação em cerrado stricto sensu, mata seca e mata galeria.

Figura 2: Atividades investigativas em Trilha interpretativa do bioma Cerrado realizada com os alunos do 6º
e 7º anos do Ensino Fundamental de escolas pública em Anápolis, Goiás. a-b) Entrada da ―Trilha do Tatu‖
UEG/CCET. c-f) Instrumentos utilizados para a coleta de dados em campo.

Um dos aspectos que gostaríamos de destacar sobre as atividades realizadas na trilha é a sua
capacidade de engajar os estudantes para a aprendizagem, fato esse ressaltado por Zômpero e
Laburu (2010) como imprescindível no ensino por investigação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Atividades de campo interdisciplinares para o ensino de conteúdos da Matemática.

A primeira atividade foi realizada em 2015 com uma turma do 2º ano do ensino médio. Para
descer a trilha estavam presentes 23 alunos que foram divididos em três grupos, dois com oito
componentes e um grupo com sete alunos. Ao percorrer a trilha, os alunos fotografaram e mediram
tudo o que para eles representava Geometria. A descida à trilha foi bem participativa e possibilitou
a interação entre os alunos que discutiam sobre o que fotografar e como medir (Figura 3). Além de
descer procurando visualizar a Geometria, tiveram acesso a nome de plantas, animais e informações
sobre as características das diferentes fitofisionomias do Cerrado presentes no percurso da trilha.

Figura 3: A e B: Imagens dos alunos do 2º ano do Ensino Médio de uma Escola Pública Estadual de
Anápolis, Goiás, organizados em grupos, coletando e anotando medidas tomadas de elementos presentes na
Trilha Ecológica do Tatu. Fonte: Tavares, 2016.

Nas aulas seguintes à visita à Trilha Ecológica do Tatu, os alunos reuniram-se nos mesmos
grupos que desceram a trilha e foram analisar as fotografias tiradas, assim como os cálculos de área
e volume com as medidas coletadas na trilha. Essa atividade ocorreu na sala de informática da
escola sob a supervisão da professora regente. Os alunos transferiram as fotos para o computador e
cada grupo criou um texto para cada fotografia, relatando o que encontrou de Geometria naquela
foto e desenvolvendo os cálculos relativos a ela. O objetivo dessa atividade foi levar o aluno a
pensar, refletir, produzir, discutir para encontrar um ponto em comum e para perceber as diferentes
visões sobre o mesmo conteúdo.
Todos os dados colhidos nessa atividade resultaram em uma Sequência Didática (SD)
construída para o ensino de Geometria Plana e Espacial com abordagem de conteúdos de forma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contextualizada. Essa SD resultou em um Produto Educacional que faz parte da dissertação de


mestrado de uma das autoras (TAVARES, 2016).
A segunda atividade também resultou em um material didático para o ensino de Matemática
e faz parte de outra dissertação de mestrado em conclusão. Nessa atividade os alunos do 2º ano do
ensino médio de uma escola Militar em Anápolis, GO fizeram o percurso da trilha e munidos de
instrumentos para a coleta de dados, tais como fita métrica, transferidor e celulares, calcularam
medidas, registraram e anotaram dados e produziram maquetes da trilha visitada.
Em ambas as atividades o envolvimento dos estudantes com os conteúdos da matemática e
sua aplicação em atividades concretas mostrou-se válida para os objetivos de aprendizagem
inicialmente propostos e destacaram-se como estratégias de ensino capazes de gerar ambientes de
diálogo, de pesquisa e de interesse por aprender, mostrando-se, portanto, potenciais facilitadores da
aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As propostas e resultados aqui descritos representam a possibilidade de diferentes estratégias


de ensino que poderão ser adotadas pelos professores da Educação Básica para o ensino
contextualizado sobre o Cerrado, utilizando ambiente não formal de educação (trilha interpretativa),
fotografia e desenhos. O desenho utilizado no primeiro momento desta pesquisa trouxe valiosas
informações sobre o conhecimento dos alunos, evidenciando uma importante ferramenta para que o
professor possa conhecer as concepções prévias de seus alunos sobre determinado assunto,
favorecendo o ensino contextualizado e a aprendizagem significativa.
O uso da trilha interpretativa para o ensino sobre as fitofisionomias do Cerrado, as
interações ecológicas ou mesmo os conteúdos de matemática abordados, mostrou-se eficiente no
processo de ensino e aprendizagem, estimulando os alunos a participarem de forma ativa na
construção do seu conhecimento. A ida à trilha ecológica mobilizou conhecimentos prévios, aguçou
a curiosidade dos alunos, promoveu cooperação entre os estudantes na coleta dos dados,
proporcionou momento de investigação sobre o que poderia ser ou não elementos geométricos,
possibilitou a aplicação de conhecimentos matemáticos na resolução de problemas, promoveu
conhecimentos sobre a biodiversidade do Cerrado e sobre a importância da preservação do meio
natural para a sobrevivência das espécies. Enfim, essas atividades motivaram os alunos à
aprendizagem, levando-os a estabelecer relação entre novos conhecimentos e àqueles já existentes
em sua estrutura cognitiva.
Finalmente, as situações problemas enfrentadas pelos alunos, a motivação na busca de
evidências, a coleta dos dados em campo e sua posterior análise e organização em diferentes
materiais (desenhos, textos, maquetes, exposição de fotos) evidenciou o aprendizado não somente

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de conteúdos científicos, mas de procedimentos e atitudes tão importantes para o processo ensino
aprendizagem.

AGRADECIMENTOS

À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Goiás pela


concessão à professora orientadora de bolsa no Programa de Bolsas de Incentivo ao Pesquisador –
BIP, e bolsa nível Mestrado Stricto Sensu à terceira autora. À Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Goiás (FAPEG) pela bolsa concedida à segunda autora. Ao CNPq pela bolsa
PIBIC/CNPq concedida à quarta autora.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS


FUNDAMENTAIS À EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Osmundo R. CLAUDINO
Professor do departamento de Biologia/UEPB
osmundorc@gmail.com

RESUMO
Este artigo trabalho analisa o processo de alfabetização científica desenvolvido no ensino das
ciências naturais, especificamente em relação à apropriação dos conceitos de resíduo, reutilização e
reciclagem por estudantes concluintes da escola fundamental. A investigação quantitativa tomou
como principais referenciais teóricos o conceito de alfabetização científica, trabalhados por Attico
Chassot (2008) e por Demétrio Delizóicov (2002), na perspectiva da formação e da sensibilização
ambientais. Os dados de pesquisa foram coletados mediante a aplicação de questionário estruturado
aos aprendentes de duas escolas públicas do município de Boqueirão (PB), cujas perguntas
inicialmente buscaram delinear o perfil escolar e identificar os níveis de conhecimento acerca dos
conceitos básicos focalizados e do envolvimento com a problemática ambiental. O panorama
caracterizado ratifica a necessidade permanente de estratégias inovadoras para a contextualização
de conteúdos de ciências, revela que os estudantes se mostram preocupados com as problemáticas
socioambientais e, por conseguinte, demonstra a relevância de um processo de alfabetização
científica capaz de promover a formação para a cidadania e para a proteção dos ecossistemas.
Palavras-chave: conceito - ensino - cidadania – ambiente.
ABSTRACT
This paper analyzes the process of scientific literacy developed in the teaching of the natural
sciences, specifically in relation to the appropriation of the concepts of waste, reuse and recycling
by students of the elementary school. Quantitative research took as main theoretical references the
concept of scientific literacy, worked by Demétrio Delizóicov (2002) and by Attico Chassot (2008).
The research data were collected through the application of a structured questionnaire to the
students of two public schools in the city of Boqueirão (PB), whose questions initially sought to
delineate the school profile and later deepened questions intrinsic to the learners' knowledge about
the basic concepts focused . The characterized panorama confirms the permanent need for
innovative strategies for the contextualization of science contents, reveals that students are
concerned with socio-environmental problems and, therefore, demonstrate the relevance of a
scientific literacy process capable of promoting citizenship and Protection of ecosystems.
Key words: concept - teaching - citizenship - environment.

1. INTRODUÇÃO

Convivemos com as maravilhas dos processos tecnológicos avançados, mas também com
todas as consequências do impacto da atividade humana sobre o ambiente. O advento tecnológico
não necessariamente induz à percepção dos seus desdobramentos, e por tal deve-se evitar a redução
ao determinismo tecnológico como condicionante da depredação ou do progresso. Todavia, o uso

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

abusivo de produtos tecnológicos pode interferir no meio natural, ocasionando problemas


ambientais que se tornam cada vez mais visíveis.
Nesta perspectiva, as aprendizagens sociais evidenciam concepções fortemente
influenciadas por valores culturais e/ou propagação midiática, o que, todavia, não assegura que tais
concepções estejam embasadas por conhecimento científico consistente (PEDRANCINI, 2007).
Assim, faz-se necessário ampliar a compreensão do conceito da alfabetização científica, sobretudo
trabalhado na escola fundamental, como forma de fortalecer o seu papel de inclusão e de formação
de cidadãos cientificamente letrados e comprometidos com a garantia de futuro.
Cabe à educação científica inovadora não apenas desmistificar a ideia de ciência como uma
atividade restrita a um grupo de pessoas ou realizada em locais apropriados, mas transformar a sala
de aula em espaço de recriação, de aproximação de saberes. De tal forma, proveem as justificativas
do presente estudo a compreensão de que os conceitos devem estar integrados na escola e na
comunidade e, especificamente, a pertinência de sensibilizar estudantes da zona urbana do
município de Boqueirão (PB) para a destinação correta de resíduos domiciliares, bem como
compreenderem as oportunidades de reaproveitamento e ressignificação de materiais. Neste sentido,
este artigo analisa a concepção de educandos do 9º ano do Ensino Fundamental em relação aos
conceitos de resíduo, reutilização e reciclagem, trabalhados no âmbito da disciplina Ciências
Naturais, tomando como parâmetro o conceito de alfabetização científica sustentados por Demétrio
Delizóicov (2002) e por Attico Chassot (1998).
Assim sendo, na primeira parte, este trabalho dedica-se à explanação teórica, na qual são
detalhados os conceitos de resíduo, reutilização e reciclagem, a correlação entre os conhecimentos
cotidiano e escolar; a introdução ao estudo da química a partir da reutilização e das formas de
reciclagem de resíduos sólidos. O arcabouço teórico busca respaldar o conceito mais amplo do
processo de alfabetização científica, considerando o ensino das ciências naturais como exercício de
compreensão e transformação da realidade. Na segunda parte, está delineada a construção
metodológica, detalhando a abordagem da investigação, a caracterização do campo de pesquisa, os
instrumentos e procedimentos de coleta de dados, além dos aspectos éticos observados.
Ao culminar com as considerações finais, a partir das opiniões expressas, reitera-se que as
metodologias de ensino devem considerar a necessidade permanente de correlacionar, cada vez
mais, o conhecimento cultural com o conhecimento científico, buscando-se através da
contextualização minimizar dificuldades e proporcionar a aprendizagem de conteúdo fundamental
para compreensão imbricada da própria perpetuação planetária.

2. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Uma gama de concepções acerca do papel da educação cientifica vem sendo discutidas por
pesquisadores das ciências naturais e, também, por investigadores de outras áreas de conhecimento,
comportando, assim, visões naturalistas, sociológicas e filosóficas da ciência. Isto reitera a
constatação de que a educação para a ciência consiste de conceito amplamente vinculado ao
contexto histórico, agregando diferentes significados e atribuições.
De acordo com Attico Chassot (2008) o sentido da alfabetização cientifica é o de promover
a ciência como uma linguagem e compreender tal linguagem como parte integrante da natureza, da
cultura e das artes, devendo despertar o interesse acerca dos fenômenos naturais e sociais, os quais
estão interligados no cotidiano não apenas de quem vai à escola, mas de todas as pessoas. Segundo
o autor, a alfabetização científica pode ser definida como a capacidade de ensinar a ler e interpretar
uma linguagem construída por homens e mulheres para explicar o mundo natural. A escola deve
promover a alfabetização científica atribuindo-lhe função de ponte auxiliadora, interconectando
diversidades sociais e culturais, redimensionando o caráter investigativo e estimulando o educando
a querer buscar informações.
A forma como as temáticas de estudo são apresentadas podem auxiliar o aprendente a
coletar informações, relacionar, organizar, comparar e debater com outras pessoas favorecendo a
interação e a aprendizagem, não apenas incorporando a realidade humana e social, mas
redimensionando suas experiências transformadoras. Assim, comparam-se incompreensões acerca
da explicação e intervenção nos fenômenos naturais com as dificuldades dos estudantes diante de
um texto em uma língua estrangeira.
O autor esclarece a necessidade de a alfabetização científica, através de uma linguagem
crítica, contribuir para a formação de jardineiros ou cuidadores do planeta, cabendo às professoras e
professores de ciências a tarefa de formar homens e mulheres cônscios da inseparabilidade natureza,
ciência e cidadania. Para isso, os professores precisam ser capazes de transformar suas salas de aula
em lócus de pesquisa, principalmente nos anos iniciais e nos anos finais do ensino fundamental,
instantes em que se formam as retenções mais significativas da leitura de mundo.
Os anos finais do ensino fundamental comportam estudantes que estão em plena formação
cognitiva, como também de fácil influência intelectual, estimuladas por vias do pensamento e pela a
ação do meio. A aprendizagem requer tempo e, principalmente a paciência para compreender
conceitos, que exijam mais observação e interpretação dos fatos, particularmente no 9° ano, quando
os aprendentes terão seu primeiro contato com o estudo da física e da química, aprendendo
conceitos sobre matéria, sua composição e propriedades, as transformações sofridas pela matéria e a
energia que acompanham essas transformações.
Delizoicov e Lorenzetti (2002) ampliam a importância da alfabetização cientifica nos anos
iniciais do ensino fundamental, também no sentido de formar sujeitos críticos, sem descuidar da

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

formação dos professores e da produção de materiais didáticos adequados. Os autores destacam a


interação escola e comunidade, descrevendo a migração da alfabetização ao letramento científico,
levando em consideração a importância de poder conquistar um espaço antes visto como impossível
para o ensino.
Ainda de acordo com aqueles autores, a alfabetização científica diferencia-se quanto aos
seus objetivos, público considerado, formatos e meios de disseminação. Tais formas nomeadas (a)
alfabetização científica prática, (b) alfabetização científica cívica e (c) alfabetização científica
cultural, apresentam especificidades que demonstram seu largo alcance. A alfabetização científica
prática é aquela que torna o indivíduo apto a resolver mais especificamente problemas básicos que
diretamente impulsionam o funcionamento de sua vida diária. A alfabetização científica cívica
auxilia na aptidão de cidadãos a resolverem problemas, tomando decisões com excelência em
conhecimentos. O cidadão capacitado e mais informado sobre a ciência e questões relacionadas,
torna-se capaz de participar mais intensamente no processo democrático de uma sociedade. Por fim,
a alfabetização científica cultural é motivada pela busca de conhecer a ciência e compreendê-la,
ajudando na ampliação das interações entre as culturas científicas e humanísticas.
Sob outro prisma, a alfabetização científica evolui gradualmente, denominando-se de (i)
alfabetização científica funcional, alfabetização científica conceitual e processual e alfabetização
científica multidimensional. A alfabetização científica funcional objetiva o desenvolvimento de
conceitos visando o enriquecimento do vocabulário e se utilizando de palavras técnicas que
permeiam a ciência e a tecnologia. Na alfabetização científica conceitual e processual há a
atribuição de significados próprios aos conceitos científicos, relacionando informações e fatos sobre
ciência e tecnologia.
A alfabetização científica multidimensional é o somatório da alfabetização funcional com a
alfabetização conceitual. A alfabetização científica multidimensional visa o aprendizado de ciência
e tecnologia com o desenvolvimento da capacidade de contextualizá-la e aplicá-la ao dia-a-dia.
Delizoicov & Angotti (1982) relatam que a alfabetização e o trabalho realizado na escola
contempla três momentos: estudo da realidade, estudo cientifico e trabalho prático. O estudo da
realidade corresponde ao primeiro contato com a turma, ao qual se promove a partir desse primeiro
contato a compreensão sobre o objeto em estudo. O estudo científico aborda aspectos necessários à
compreensão dessa realidade, incorporando o desenvolvimento de habilidades diversas, manuseio
de instrumentos, o uso da língua portuguesa, numa linguagem formal e a capacidade reflexiva e
critica, dentre outros. O trabalho prático consiste na realização de atividades coletiva utilizando o
estudo cientifico, relacionando com as condições locais em que o objeto de estudo está inserido.
2.1. Conceituando a reutilização e a reciclagem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Deparamo-nos com uma nova ciência, transdisciplinar, uma ciência com consciência, como
afirma Morin (1984), que abre espaço para a inserção de novos paradigmas emergentes em campos
científicos, num esforço articulador e integrador para chegar ao que se poderia considerar uma
interpretação complexa do mundo.
A sociedade atual viabiliza a extração da natureza para tudo que é necessário em suas
atividades. O que preocupa, é o descarte inadequado de seus resíduos, como também a destinação
desse lixo, que vem gerando vários problemas para o meio ambiente. Lixo é um conjunto
heterogêneo de elementos que após um dado processo será descartado e poderá de acordo com a
forma como é tratado, ter caráter depreciativo associado a conotações negativas como sujeira,
pobreza e falta de educação (Ribeiro e Lima, 2000).
Segundo Silva (2003, p.48), resíduos são matérias resultantes de processo de produção,
transformação, utilização ou consumo, oriundos de atividades humanas ou animais, ou decorrentes
de fenômenos naturais, cujo descarte se propõe a proceder ou se está obrigado a proceder. Os
resíduos sólidos podem ser divididos em vários grupos (NBR 10.004/04):
 Quanto às características físicas agrupam-se em:
- Seco: papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras,
guardanapos e toalhas de papel, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas, parafina,
cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças
- Molhado: restos de comida, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes,
alimentos estragados, etc...
 Quanto à composição química são classificados em:
- Orgânico: restos alimentares, de plantas, de animais, etc.
- Inorgânico: composto por vidros, metais, etc.
 Quanto à origem podem ser:
- Doméstico: produzido nas residências formado por embalagens de comida e
bebidas e materiais biodegradáveis (restos alimentícios e higiênicos);
- Comercial e Industrial: basicamente papel, papelão e resíduos dos processos de
fabricação;
- De fontes especiais: lixo nuclear, restos de agrotóxicos e hospitalares.

A maioria dos resíduos sólidos produzidos é não biodegradável, mas podem ser recicláveis
ou também serem reutilizados. É importante mostrar para o aprendente que o reaproveitamento
desses materiais reduzindo a demanda ou exploração dos recursos naturais, como também ameniza
os impactos gerados no meio ambiente. Torna-se necessário a intervenção de uma prática
educacional, que envolve a Política dos três R, reciclar, reduzir e reutilizar, repensando seus
hábitos.
Esse trabalho auxilia na mudança de consciência e perspectiva sobre o lixo que deixa de ser
algo sem valor para se tornar matéria-prima para novos produtos através do despertar da
conscientização para a necessidade e o papel de cada um durante o funcionamento das oficinas,
como também a contribuição na preservação dos recursos naturais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A reciclagem pode oferecer ludicidade ao provocar a criatividade em aulas práticas


abordando um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os detritos e reutilizá-los no
ciclo de produção de que saíram.

Reciclar significa transformar os restos descartados pelas residências, fábricas, lojas e


escritórios em matéria-prima para a fabricação de outros produtos. Não importa se o papel
está rasgado, a lata amassada ou a garrafa quebrada. Ao final, tudo vai ser dissolvido e
preparado para compor novos objetos e embalagens (RODRIGUES, 1997, p. 56).

Isto conduz a mudanças de comportamento dos indivíduos e da comunidade, essas


mudanças comportam adotando medidas políticas e econômicas impopulares. É necessário acoplar
no seio da ciência e da epistemologia da ciência o nascimento do movimento ecologista e dos novos
princípios psicopedagógicos e fundamentadas nas séries iniciais.
No seio da complexidade do estudo em Ciências uma formação voltada para a consciência
ambiental é denominada como ―paradigma ambientalista‖, pois o conceito de vida e o sentimento
de preservá-lo estão relacionados à capacidade de suscitar, ao menos, um debate reflexivo. O ideal é
a organização de uma estrutura em torno dos temas e problemas oriundos do mundo real
envolvendo as diversas áreas de atuação dos agentes sociais envolvidos, construindo-se
coletivamente o conhecimento, sem negligenciar o rigor científico.
A falta de percepção projetada em torno de uma sociedade funcional, que se move á curso
do individualismo e não do coletivismo, acaba evidenciando um alto nível de impactos como um
todo, desproporcional ao imaginário do agente responsável pela engrenagem e funcionamento da
sociedade. Com o processo de reciclagem ocorre uma brusca diminuição na extração de recursos
naturais; como também a diminuição de aglomerados de lixo, evitando sua decomposição que
demoraria por muitos anos. O trabalho de reciclagem nas escolas visa educar seus alunos para
construir uma sociedade mais consciente de seus atos, objetivos e hábitos, como também instruí-los
para as tomadas de medidas sócias educativas, e de como reaproveitar esses materiais.
Atualmente os objetos têm menor durabilidade, facilmente são descartados e substituídos
por outros.
Na era dos descartáveis as embalagens de bebidas e de alimentos, feitas principalmente de
alumínio, plástico ou papel, passaram a ser produzidas em larga escala, substituindo os
recipientes que até pouco tempo eram totalmente reutilizáveis, como as garrafas de cerveja
e de refrigerantes feitas de vidro (RODRIGUES, 1997, p 13).

A reciclagem, então, surge como uma tendência tecnológica e como alternativa permite o
reaproveitamento dos resíduos que possuem valor econômico como matéria-prima, reincorporando-
os ao processo produtivo, reduzindo o seu impacto ambiental. A Prática voltada para a reciclagem
viabiliza a geração de renda para os cidadãos desempregados através das vendas destes materiais
para postos coletores, como também pela transformação destes materiais em acessórios artesanais
decorativos e utilitários.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Trazer para sala de aula alternativa consideráveis, técnicas de reutilização de garrafas PET,
papelão, papeis, caixas de madeira, latinhas, pneus, entre outros que se apresentam acessíveis a
qualquer cidadão, não apresentam consumo considerável de energia, sendo mais viável
economicamente para a realização de um trabalho social. Por serem materiais que apresentam
grande volume de descarte, será importante para a compreensão dos mesmos a veracidade da
amplitude dos impactos que serão gerados quando expostos ao meio ambiente. Partindo do
princípio que a implantação deste projeto na escola almeja alcançar uma parcela de alunos que na
maioria das vezes não tem acesso à informação de qualidade.
Manzini (2008) ressalva que cabe a todos fazer a sua parte no sentido de redirecionar a
produção e o consumo rumo à sustentabilidade, ao se exige uma de indução de mudanças de
hábitos.
Todavia a política dos 3R´s, influência a conceituação de que a reutilização deve priorizar
sobre a reciclagem, mas que o grande problema está no consumo desenfreado, ou seja, para se obter
resultados benéficos, se é necessária uma mudança no sistema cultural.
Na prática educativa se faz importante o entendimento do aprendente o conceito de saúde
pública que vai além de uma saúde curativa, como a que é apresentada através das mídias, mas para
uma saúde preventiva, pois se entende que onde há falta de saneamento básico, o índice de pobreza
é ainda maior. O conhecimento por parte desses alunos de que se faz necessário haver uma coleta
seletiva do lixo e que o reaproveitamento de resíduos que normalmente chamamos de lixo na cidade
em que residem os tornando aptos para exigirem do poder público medidas reducionistas e a prática
da reutilização e a separação do material para a reciclagem, havendo uma mudança de
comportamento e mentalidade.
3. METODOLOGIA
O estudo quantitativo envolveu estudantes do Ensino Fundamental da Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio ―Conselheiro José Braz do Rêgo‖, situada na Avenida Nossa Senhora
do Desterro - Bairro Novo, bem como da Escola Municipal ―Padre Inácio‖, situada na Avenida
Antônio Palmeira - Bairro Novo, da rede pública de Boqueirão, Paraíba. Cada escola conta com
aproximadamente 300 alunos, funcionando nos dois turnos.
As escolas dispõem de laboratório de ciências com recursos para desenvolvimento de
atividades experimentais, além de disporem de equipamentos audiovisuais. Na rede estadual e na
rede municipal de Boqueirão, a carga horária das aulas de Ciências no Ensino Fundamental é de
duas (02) horas/aula semanais.

3.1. Coleta e análise de dados

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Inicialmente foram contatadas as respectivas administrações escolares, informando-as sobre


os objetivos do projeto e a importância da contribuição para o estudo proposto. Após a
concordância, documentou-se a mesma através de Termo de Livre Consentimento Livre
Esclarecido-TECLE, autorizando a participação dos alunos.
A amostragem foi retirada de um conjunto de aproximadamente 120 (cento e vinte) alunos
no 9° ano das turmas A e B nas duas unidades escolares, contando cada uma delas em torno de 30
(trinta) alunos matriculados no turno tarde, com faixa etária de 14 a 16 ou mais. A escolha deveu-se
à natureza dos conteúdos trabalhados, permitindo estabelecer relação com a transformação de
materiais e misturas que integram o tema da introdução à química no 9° ano do Ensino
Fundamental. Considerando o número de presentes na data de aplicação do questionário, foram
completamente respondidos e entregues aproximadamente 65 (sessenta e cinco) formulários por
todas as turmas envolvidas na investigação.
O procedimento de delimitação da amostra deu-se através da numeração dos formulários de
1 a ―n‖, adotando-se o critério de escolha aleatório, cujo procedimento caracteriza a abordagem
quantitativa, que emprega valores estatísticos para a análise e interpretação dos dados
(RICHARDSON, 1999). Em seguida, foram escolhidos os investigados múltiplos de dois nas
turmas A e B da Escola Estadual José Braz do Rêgo e da turma B da Escola Municipal Padre
Inácio. Na turma A da mesma Escola Municipal foram selecionados os múltiplos de três. Estes
procedimentos foram adotados levando em conta o total de formulários respondidos e devolvidos.
Foi solicitado aos aprendentes que respondessem ao questionário e foi também informado
que dos questionários seria retirada a amostra para análise das respostas, assegurando o anonimato
dos entrevistados e que não seria necessária nenhuma identificação no formulário (RICHARDSON,
1999). O questionário foi composto de 7 (sete) perguntas de múltipla escolha, inicialmente
identificando a faixa etária e a regularidade na escola e, posteriormente, visando caracterizar a
concepção dos estudantes em relação aos conceitos de resíduo, reutilização e reciclagem, no âmbito
do processo de alfabetização científica direcionado à identificar os níveis de retenção dos referidos
conceitos, fundamentais ao desenvolvimento da educação ambiental e ainda, levando em
consideração as características da comunidade escolar analisada.
3.2. Aspectos éticos
A investigação foi submetida à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual da Paraíba, nos termos da Resolução 466/2012, Conselho Nacional da Saúde/Ministério da
Saúde, mediante o protocolo nº 42479015.2.0000.5187, sendo aprovada.

4. RESULTADOS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesta seção discutimos a realidade que foi possível delinear a partir da leitura dos dados
resultantes da verificação empírica e para facilitar tal compreensão, na apresentação gráfica dos
dados, a Escola Estadual Conselheiro José Braz do Rêgo foi designada de Unidade Estadual e a
Escola Municipal Padre Inácio, Unidade Municipal. Os dados estão ordenados conforme a
sequência de varáveis apresentadas aos componentes do universo amostral.

I- Variável Conceitual: Resíduo

Instados a classificar o seu nível de conhecimento em relação ao significado do termo


resíduo, a maioria dos entrevistados indicaram ter domínio do conceito que, descrito por Silva
(2003, p.48) constituem ―matérias resultantes de processo de produção, transformação, utilização ou
consumo, oriundos de atividades humanas ou animais, ou decorrentes de fenômenos naturais, a cujo
descarte se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder‖. Os níveis de conhecimento
indicados pelos aprendentes investigados estão indicados na tabela 1 a seguir:

Tabela 1. Nível de conhecimento do conceito de Resíduo


Respostas %
Alto 58,3
Médio 25
Baixo 16,7
Total 100

II- Variável Conceitual: Reutilização

Paradoxalmente, as respostas dos investigados acerca do domínio do conceito do termo


reutilização indicam um baixo nível de conhecimento. Os dados sugerem que os estudantes não
fazem relação entre os conceitos de ―resíduo‖ e ―reutilização‖, conforme se verifica na tabela 2:

Tabela 2. Nível de conhecimento do conceito de Reutilização


Respostas %
Alto 12,5
Médio 8,3
Baixo 79,2
Total 100

III- Variável Conceitual Reciclagem

Os dados indicados pelos entrevistados sugerem uma proximidade ou familiaridade


considerável com o conceito de reciclagem, o que pode ser favorecido pela mídia através da
divulgação de questões ambientais. Conforme Rodrigues (1997, p. 56) a reciclagem ―transformar
os restos descartados pelas residências, fábricas, lojas e escritórios em matéria-prima para a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

fabricação de outros produtos. Não importa se o papel está rasgado, a lata amassada ou a garrafa
quebrada (...)‖. A tabela 3, a seguir, retrata os níveis de conhecimentos verificados:

Tabela 3. Nível de do conceito de Reciclagem


Respostas %
Baixo 37,5
Médio 54,2
Alto 8,3
Total 100

IV- Variável Participação Ambiental

Os estudantes investigados foram questionados se tinham conhecimento sobre a coleta e a


destinação do lixo urbano, especificamente em relação à existência ou não de coleta seletiva na
cidade. A quase totalidade (96% dos entrevistados) informou que na cidade não há coleta seletiva
do lixo e que o lixo deveria ser coletado de forma separada. Estes dados indicam que os estudantes
estão conscientes da importância da coleta seletiva para a preservação ambiental e a melhoria da
qualidade de vida.
A alfabetização científica transcende à convicção de preservação ambiental ao proporcionar
aos aprendentes a possibilidade de ligar conceitos interdisciplinares, que antes eram tidos como
dissociados. A partir da alfabetização científica prática o indivíduo se torna apto a resolver mais
especificamente problemas básicos que diretamente impulsionam o funcionamento de sua vida
diária. Enquanto que a alfabetização científica cívica auxilia na aptidão como cidadãos, para
resolverem problemas, tomando decisões com excelência nos conhecimentos. O cidadão capacitado
e mais informado sobre a ciência e as questões relacionadas, torna-se capaz de participar mais
intensamente no processo democrático de uma sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trajetória para o desenvolvimento desta pesquisa sobre a Alfabetização Científica nas


Ciências Naturais com foco no nono ano do Ensino Fundamental nos propiciou um conhecimento
teórico real sobre a problemática, observando o que precisa ser aperfeiçoado no tocante trabalho no
ensino de Ciências e Biologia, principalmente pelo fato de os estudantes não conseguirem interligar
as aulas diretamente ao seu cotidiano, tornando apenas um espectador passivo ao se deparar com
termos científicos que são ―impostos‖ de forma mecânica.
O objetivo da educação científica pode ser mais facilmente alcançado se for considerado os
conhecimentos prévios dos alunos, devendo haver equilíbrio permeando a multiplicidade de
conhecimentos sobre o meio natural, sejam eles adquiridos através de processos tradicionais ou
repassados de pais para filhos ou, ainda, adquiridos por outras fontes de conhecimento.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Destacamos, ainda que a escola deva construir o conhecimento utilizando-se também do


histórico e vivência do próprio aprendente e não apenas impor novos paradigmas que ―devem ser
aceitos por todos‖, restringindo-se a uma postura errônea que precisa ser repensada pela escola e
por todos os professores, a fim de proporcionar ao aluno uma correlação e interação entre os tipos
de conhecimentos que precisam interconectar-se para que atuem de forma adequada no processo de
aprendizagem.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: Resíduos sólidos – Classificação. Rio de
Janeiro, 2004.

CHASSOT, Attico. Para quem é útil o nosso ensino de química? Espaços da Escola. Ijuí: UNIJUÍ,
n. 5, p. 43-51, 1992.

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da Escola, p. 13-19, 1998.

CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Unijuí, 1ª
ed. 2000, 434 - 438p.

CHASSOT, Attico. Sete Escritos Sobre Educação e Ciência. 1. Ed. São Paulo: Cortez , 2008,
p.285.

DELIZOICOV, D; ANGOTTI, J. A., PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e


métodos. São Paulo: Cortez, 2002, p. 202.

DELIZOICOV, Demétrio LORENZETTI, Leonir. Alfabetização Científica no Contexto das Séries


Iniciais. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v.3, n.1, p. 1-17, 2001.

MANZINI, Ezio. Design Para a Inovação Social e Sustentabilidade: Comunidades Criativas


organizações colaborativas e novas redes projetivas. 1ª. ed. Rio de Janeiro: E-papers , 104 f,
2008.

PEDRANCINI, V. D. CORAZZA-NUNES, M. J.; GALUCH, M. T. B.; MOREIRA, A. L. O .R.;

RIBEIRO, T. F.; LIMA, S. C. (2000). Coleta seletiva de lixo domiciliar – estudo de casos‗.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RICHARDSON, Roberto Jerry et al. Pesquisa SociaL: métodos e técnicas. 3. Ed. São Paulo: Atlas,
1989. p.330 - 334.

RODRIGUES, Francisco Luiz; CAVINATTO, Maria Vilma. Lixo: de onde vem para onde vai? 2ª
Ed. São Paulo: Moderna, Coleção desafios, 2003, p. 13 – 66.

SILVA, S. T. Aspectos da Futura Política Brasileira da Gestão de Resíduos Sólidos à Luz da


Experiência Europeia. Revista de Direito Ambiental. São Paulo, n.30, p.45-62, Abr./ jun. 2003.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 892


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UM SISTEMA ESPECIALISTA: ATIVIDADE DE


CAMPO COMO FERRAMENTA NO ENSINO SUPERIOR

Rafael PEREIRA-SILVA
Mestrando do PPG Biologia Animal – UFPE
rafaelpsilvape@gmail.com
Ivo Raposo Gonçalves CIDREIRA-NETO
Mestrando do PPG Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFPE
Gilberto Gonçalves RODRIGUES
Professor Doutor, do Departamento Zoologia – UFPE

RESUMO
A utilização da EA como forma de sensibilização as temáticas ambientais, aliada a métodos
interdisciplinares é de suma importância para a construção de conscientização ambiental ampla e
humanizada. O conhecimento ecológico local tem como suporte uma riquíssima base de dados
coletados por tentativa e erro, porém respaldados pela experimentação prática de milhares de
gerações. O sistema especialista amplia a visão engessada do conhecimento rígido, a utilização
desta metodologia de construção de conhecimento, aliando o CEL e o conhecimento científico se
mostra importante cada vez mais importante para uma visão mais ampla dos fenômenos e processos
socioeconômicos. A ciência moderna carece cada vez mais da trans e interdisciplinaridade,
permeando e interligado os diversos saberes, a educação e o conhecimento formal deve cada vez
mais voltar o olhar para o conhecimento e a educação informal, tentando ajustar as suas métricas e
metodologias a esse saber, para uma visão ampla e interligada entre as diversas formas de saberes.
Como proposta de atividade de campo foi utilizada uma excursão didática para a APA da Barra do
Rio Mamanguape, utilizando diversas atividades de visam a interação entre o saber ecológico local
e o saber cientifico, buscando a construção de produtos didáticos de sirvam de subsídios para
próximas gerações, ações de educação ambiental e sensibilização quanto a temáticas ambientais e
pertencimento do meio ambiente, aliado a uma sensibilização dos alunos do ensino superior a
importância dessa riquíssima base de dados fixada no conhecimento tradicional.

ABSTRACT
The use of environmental education as a way of sensitizing the environmental themes, together with
interdisciplinary methods is of paramount importance for the construction of broad and humanized
environmental awareness. The local ecological knowledge is supported by a rich database collected
by trial and error, but backed by the practical experimentation of thousands of generations. The
expert system expands the embedded vision of rigid knowledge, the use of this methodology of
knowledge construction, combining the traditional knowledge and the scientific knowledge is
important for a broader view of phenomena and socioeconomic processes. Modern science lacks
ever more trans and interdisciplinary, permeating and interlinking the various knowledge, education
and formal knowledge should increasingly turn to informal knowledge and education, trying to
adjust its metrics and methodologies to that knowledge, for a broad and interconnected view of the
various forms of knowledge. As a field activity proposal, a didactic excursion was used for the APA
of Barra do Rio Mamanguape. Using several activities aimed at the interaction between local
ecological knowledge and scientific knowledge, seeking the construction of didactic products to
serve as subsidies for future generations, actions of environmental education and environmental
awareness and environmental awareness, together with an awareness of the students of higher
education the importance of this rich database set in traditional knowledge.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A educação ambiental (EA) é caracterizada como o processo de reflexão e sensibilização


acerca de aspectos socioambientais emergentes (resíduos sólidos; conservação da biodiversidade;
proteção de corpos d‘água, entre outros) (Capra, 2002). A EA visa à participação social na
conservação e a sensibilização em prol da proteção do meio ambiente e de seus processos. A EA
tomou grandes proporções na pauta internacional a partir da década de 60, com uma maior atuação
de movimentos ambientalistas e um enfoque maior para as questões ambientais, além de diversas
conferências internacionais abordando o assunto (e. g. Conferência de Estocolmo em 1972).
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental, a educação ambiental é um conjunto de
processos em que o indivíduo, e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, que é um bem
comum de uso para todos, podendo ser essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade
(LEI nº 9795/1999, Art. 1º). A utilização da educação ambiental para a conservação e valorização
do meio ambiente, estimula uma reflexão sobre a importância de construir uma conscientização para
o respeito, convívio e preservação da biodiversidade.
O processo de aprendizagem e ensino da EA se apresenta de forma bastante complexa,
dependendo de inúmeras variáveis, que se modificam de intensidade em dependência do meio.
Sauvé (2005) prediz que apesar das preocupações comuns com a sensibilização as temáticas
ambientais e o papel do homem como principal ator na conservação ambiental, os diversos autores
apresentam discursos diferentes sobre a EA e as práticas e ações neste campo. A educação
ambiental de modo geral é um campo prático, socialmente construído, historicamente formado,
inseparável e irredutível as disciplinas ―patenas‖ e ―puras‖ (disciplinas de currículo formal)
(Kemmis, 1988 apud González-Goudiano, 2005), permeando de forma transdisciplinar e
interdisciplinar, com todas as disciplinas formais. Uma ação conjunta de diversas atividades e
recursos didáticos contribuem para a motivação e interesse de discentes nas diversas áreas do
conhecimento (Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da natureza
e suas tecnologias; Ciências humanas e sociais aplicadas) e nos diversos níveis da educação (Ensino
básico, superior e pós-graduação) (González-Goudiano, 2005).
Entre docentes de matérias relacionadas às ciências naturais é indiscutível o valor das
excursões de campo para o ensino (Brusi et al, 2011). O contato direto ao meio socioambiental
contribui substancialmente para ilustrar conceitos, procedimentos e elementos, que dificilmente
poderiam ser tratados com tanta propriedade em sala de aula ou laboratório. Atividade de campo é
definida como toda a atividade que propicia um deslocamento dos alunos do seu ambiente de
estudos escolares para quaisquer ambientes alheios a esta realidade (Fernandes, 2007). Fernandes et
al. (1981) predizem que as atividades de campo desempenham um importante papel na
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

aprendizagem e apontam os principais pontos de sua contribuição: ilustrativa – reforça e ilustra


diversos conceitos apresentados em aula; motivacional– motiva o discente a investigar determinado
tema; treinadora – incentiva a aprendizagem de habilidades técnicas de campo; e geradora de
problemas– orienta na resolução de problemas teóricos e/ou formulação de hipóteses.
Além de todas essas contribuições, as atividades de campo servem também como um meio
de interação entre os docentes, discentes e a comunidade, permitindo uma troca de conhecimento
acadêmico e local (Conhecimento ecológico local – CEL). O CEL é definido como, o conjunto de
crenças e conhecimentos acumulados a partir da vivência de determinada comunidade com os
recursos naturais e o ambiente (Berkes; Folke, 2002). A colaboração entre o conhecimento
ecológico local e o conhecimento científico é denominada por Mackinson; Nottestad (1998) como
―sistema especialista‖, que tem como objetivo ampliar a compreensão de fenômenos
socioambientais, para a construção de um conhecimento abrangente e integrador. Ruddle; Davis
(2011) reforçam a importância da utilização conjunta destes conhecimentos para uma melhor
compreensão dos processos socioambientais e de suas peculiaridades.
As pesquisas científicas em institutos de ensino superior deveriam primordialmente atender
aos interesses e demandas sociais (Quinteiro et al, 2013). Estas instituições deveriam internalizar os
problemas sociais e fornecer opções de soluções teóricas e práticas, fornecerem a formação de
agentes de transformação social (Riojas, 2003). Além de realizar trabalhos científicos de
sensibilização e divulgação em linguagem acessível para a população leiga, objetivando a
divulgação do conhecimento. Em 1992, o acordo firmado por 162 países (incluindo o Brasil) na
Convenção da Diversidade Biológica (CDB), foi determinado à repartição de benefícios decorrentes
da utilização de patrimônio genético, tanto de forma monetária, quanto ao reconhecimento das
populações (Cunha, 1999), dando um grande enfoque a este retorno das pesquisas cientificas. Em
países megadiversos como o Brasil, a questão do retorno (monetário ou de reconhecimento), apesar
de uma pauta antiga, tomou novos ares diante do compromisso da sociedade com a preservação
ambiental, conservação da biodiversidade e uso sustentável de recursos naturais (Patzlaff; Peixoto
2009).
Algumas questões foram norteadoras no presente estudo, são elas: Qual o papel da educação
ambiental para sensibilização e reflexão acerca das temáticas ambientais? Como o sistema
especialista fornece uma visão mais ampla dos processos socioambientais? Quais as importâncias
das atividades de campo e do retorno dessa atividade para a construção de um diálogo entre o
conhecimento local e o conhecimento científico?

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A BIODIVERSIDADE, O HOMEM E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A biodiversidade se apresenta no ambiente natural de forma bastante volátil, respondendo de


diversas formas a interferências humanas, porém o homem necessita dos recursos naturais para a
sua manutenção. Assim é de se esperar que a melhor alternativa fosse o gerenciamento dos recursos
da biodiversidade (Gordon; Munro 1996), porém como aponta Diamond (1992), o ser humano em
sua maioria apresenta um pensamento de curto prazo, e como tal, continua explorando os recursos
de forma indiscriminada; ―Porque pensar no futuro, se em longo prazo vai estar morto?" (Lord
Keynes, 1936). Após as décadas de 60/70 e a maior insurgência de movimentos ambientalistas e
cooperações internacionais visando à conservação dos recursos naturais, emergem esforços para
conscientização e reflexão da população acerca do gerenciamento da biodiversidade (ICMBIO,
2016). Devido à necessidade de conservação e principalmente de conscientização da importância do
meio ambiente e da biodiversidade, a EA se mostra como ferramenta para fornecer um processo de
reflexão e de tomada de decisão sobre aspectos socioambientais emergentes com a participação da
população e a sensibilização acerca da importância e do pertencimento dos recursos naturais e do
meio ambiente (Capra, 2002).
É de direito de todo brasileiro um meio ambiente ―saudável‖, porém também é dever de
defendê-lo e preservá-lo. Assim é de suma importância garantir uma gestão ambiental participativa,
envolvendo diversos atores, afim de uma gestão ampla e democrática do meio ambiente e de seus
recursos. Segundo o informe final da Conferência de Tbilisi, a EA é parte constituinte do processo
educativo e deve permear problemas concretos de forma interdisciplinar, reforçando os valores e
contribuindo para um bem-estar geral e para a sobrevivência harmônica do ser humano e do meio
ao qual este está inserido (Brasil, 1997).
No Brasil, a EA deve ser crítica e emancipatória, tendo como eixo principal o diálogo entre
saberes e fazeres, e o reconhecimento de diferentes realidades socioambientais, valorizando a
cultura e a organização social dos sujeitos das ações ambientais (ICMBIO, 2016). Dessa forma, fica
perceptível a necessidade de se trabalhar a EA em conjunto com a gestão ambiental com o intuito
de harmonizar a relação homem natureza, demonstrando que atores locais possam servir de
inspiração na mitigação de problemáticas ambientais.

COMBINAÇÃO DO CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E CIENTÍFICO: SISTEMA


ESPECIALISTA

Antes de definir todos os termos necessários para o entendimento deste tópico precisamos
fazer uma reflexão acerca do conhecimento. Segundo Marconi; Lakatos (2003), há quatro tipos de
conhecimento: popular, científico, filosófico e religioso. Aqui iremos nos ater apenas aos dois

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 896


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

primeiros. Desde os primórdios da humanidade, os agricultores, mesmo desprovidos do


conhecimento ―formal‖, sabiam o momento certo de plantar as melhores sementes, as necessidades
de cada cultura, o tipo de solo, a quantidade de água entre outros parâmetros para sua cultura
crescer de forma a propiciar uma melhor colheita. Esse CEL é passado de forma oral, de geração
em geração, se perpetuando através do espaço/tempo, sendo adquirido de forma empírica baseado
em experiência pessoal de tentativa e erro (Diegues et al, 2000).
A descrição de métodos remota a grandes civilizações antigas (Egito e Grécia antiga), mas
foi na sociedade islâmica, aproximadamente há mil anos, que surge o método científico com base
nos estudos sobre ótica do cientista Ibn Al-Haytham. Sua metodologia apresenta bastante
similaridade com o método de Descartes e o atual método científico que se baseia em dados
prévios, observação, experimentação, categorização, formulação de hipóteses, teste de hipóteses e
formulação de teorias (Ryan, 2014). O conhecimento científico, provido de fontes documentais nos
permitiu idealizar novas ferramentas, e através da pesquisa científica podemos selecionar, por
exemplo, as melhores variedades de sementes, adubos químicos, soluções que evitam pragas e fazer
o controle biológico, evitando insetos indesejáveis. Esse conhecimento científico é repassado
através de literatura científica, de forma documental, de pesquisadores para o ―mundo‖, frutos de
formulação de teorias e testes destas que refutam ou corroboram suas hipóteses. O Conhecimento
ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos (Ryan,
2014). Segundo Hawking (1988), ―Nunca se prova uma teoria científica‖. Assim vemos as
principais diferenças entre o conhecimento ecológico local e o conhecimento científico que é a
aquisição de dados, um adquire dado empiricamente e o outro através da experimentação e teste de
hipóteses, porém ambas se modificam através de experimentação, uma por tentativa e erro a outra
por teste de hipóteses.
A utilização do CEL remota os estudos das etnociências do séc. XVI, com as primeiras
viagens exploratórias dos europeus para o novo mundo, se estendendo até o séc. XX. Como frutos
dessas viagens foram produzidos inventários de animais e plantas e sua utilização por povos nativos
(Prado; Murrieta 2015); em uma segunda fase através de estudos de Conklin (1954; 1961),
Goodenough (1956) e Sturtevant (1964), com uma abordagem mais êmica das etnociências e a
crítica à ―superioridade‖ do conhecimento científico, causou uma maior valorização do CEL (Ford;
Martinez, 2000). Dando início a um maior aporte de recursos para as pesquisas das etnociências,
que permitiu uma maior expansão desta disciplina e a sua utilização interdisciplinar, que é um dos
pilares dessa ciência.
Mackinson; Nottestad (1998) consideram que uma barreira a relutância e fraca capacidade
de utilização do CEL como dados, para corroborar dados empíricos. Porém começa a ocorre a
quebra desse paradigma devido a uma maior intensidade na divulgação científica de pesquisas

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 897


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

etnobiológicas e etnoecológicas, sendo reconhecida como área científica pela Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (CAPES) como cursos de Pós Graduação em nível
de mestrado e doutorado. No Brasil a etnociência começa a ser explorada a partir de diversas
esferas, sendo Posey um dos seus precursores (e.g. POSEY, 1987; 1992).
A etnociência surge da necessidade de conhecer os processos cognitivos culturais,
abrangendo diversas áreas do conhecimento (COUTO, 2007), como exemplo de sua, listamos dois
exemplos práticos da utilização desta base de dados para o entendimento de certos fenômenos
naturais:
 Rodrigues (com. pers.) em um estudo com uma comunidade indígena do Rio Grande do
Sul, em entrevista com um dos líderes de uma aldeia Guarani (Mbia Guarani), se
deparou com a seguinte afirmação: ―Nós saímos para pescar, assim que os cupins
avoam‖. Instigado por tal afirmação, ele observou que os cupins avoam no período
anterior às chuvas, devido as condições fisiológicas destes. É neste período que os peixes
de água doce terão mais recurso alimentares e maior espaço na coluna d‘água, assim
estes apresentam motilidade, o que propicia uma maior eficiência na pesca dos índios.
 Mackinson; Nottestad (1998) tiveram uma experiência semelhante com o capitão de uma
embarcação durante o trabalho de campo, este forneceu informações sobre a distribuição
de areques (Cuplea Linnaeus, 1758) que eram desconhecidas pela ciência até o
momento.
Sendo assim é inegável que tal base de dados pode fornecer informações riquíssimas, que
servira como base para estudos empíricos, que através da metodologia científica atendem aos pré-
requisitos da ciência, gerando dados replicáveis e hipóteses testáveis, ampliando a visão de
fenômenos e processos através de uma permeabilidade entre o saber popular e o científico.
Com base em tudo que vimos anteriormente podemos simplificar a obtenção de dados em
duas categorias: os dados rígidos (científicos) e os dados práticos (CEL). A utilização conjunta
dessas informações reduz a incerteza e constrói uma compreensão mais complexa e ampla dos
fenômenos e processos. Nossa visão limitada e a necessidade de metodologias rigorosas e testáveis
nos dão uma maior segurança acerca dos resultados obtidos e da replicabilidade dos estudos, assim
o caminho a ser seguido é encontrar maneiras de gravar, usar e apresentar informações do CEL em
um formato que atenda a metodologia científica e ao rigor das análises estatísticas, possibilitando
uma informação acessível e compreensível para todos (Mackinson; Nottestad 1998).
Assim chegamos ao ―sistema especialista‖ que foi adaptado do ramo da inteligência
artificial para as etnociências por Mackinson; Nottestad (1998) (Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 898


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Atores Locais Gestores Ciêntistas

Conhecimento Prático Conhecimento Empírico


(conhecimento aplicado) (conhecimento científico)

Comunicação

Sistema especialista

Compreensão mais
completa
Figura 1. Combinação de fontes de dados. (Modificado de Mackinson; Nottestad, 1998)

Um dos benefícios da utilização do conhecimento não-científico são os insights


proporcionados pela visão dos detentores do conhecimento local sobre fenômenos e processos. Essa
diferente visão pode servir como base para futuros estudos que procurem aprimorar e explicar estes
fenômenos e processos. Os acadêmicos podem nortear através de recomendações a formulação de
ações de gerenciamento de recursos e do meio ambiente, e com aconselhamento dos detentores de
conhecimento, formular um plano de gerenciamento que atenda a necessidade de utilização dos
recursos e a inegável necessidade de conservação dos ecossistemas e processos associados. O
envolvimento de especialistas nativos na tomada de decisão e na produção de conhecimento, agrega
um senso de valor e orgulho, que pode ser fundamental para a promoção de uma maior
responsabilidade na manutenção do meio ambiente, no manejo da biodiversidade e no uso
sustentável do recurso (Mackinson; Nottestad 1998). Além desse senso de responsabilidade, o
respeito mútuo entre o pesquisador e o especialista nativo pode se tornar uma ponte para a partilha
de informações e uma co-gestão de recursos, que propiciaram uma construção de conhecimento
abordando uma visão mais ampla e completa dos ecossistemas.

ATIVIDADE DE CAMPO: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO A PARTIR DO SISTEMA


ESPECIALISTA

A Barra de Mamanguape

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 899


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dada as devidas definições e aplicações, o presente tópico tem como objetivo indicar
possíveis metodologias para a construção de uma atividade de campo e a confecção de produtos
baseados no sistema especialista. Como vimos anteriormente, Mackinson; Nottestad (1998)
predizem que o sistema especialista é formado pela comunicação e permeabilidade entre o
conhecimento formal e não-formal. Para fins de exemplificação, nós apropriamos da experiência e
dos produtos confeccionados por discentes do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas com
ênfase em Ciências Ambientais na disciplina de Ecologia de Ecossistemas Aquáticos. Essa
disciplina é ministrada pelo Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Rodrigues, do Dep. de Zoologia da
Universidade Federal de Pernambuco, no Centro de Biociências e fazem parte do 6° período do
currículo obrigatório do Curso. Tais atividades são realizadas semestralmente na Área de Proteção
Ambiental (APA) da Barra de Mamanguape no estado da Paraíba em parceria com diversas
instituições locais (e.g., Fundação Mamíferos Aquáticos, Cipó de Fogo é Arte, Comunidade de
Pescadores e Guias/Condutores Locais).
A palavra que dá nome à Barra e a unidade de conservação ―mamã-gua-pe‖ é uma corruptela
do tupi que significa onde se reúne para beber, bebedouro (de um rio ou lagoa) (IAHGP, 2012). A
APA da Barra de Mamanguape, criada através do decreto nº 924 (de 10 de setembro de 1993), está
localizada no litoral norte da Paraíba ( 6°47'19"S / 34°59'22"O) e envolve porções estuarinas do rio
Mamanguape e Miriri. A Unidade de Conservação (UC) apresenta uma área total de
aproximadamente 15.000ha (ICMBIO, 2014), temperatura média anual de 28°C, com uma
precipitação anual de 1200-1800mm, clima quente e úmido (classificação climática de Köppen), do
tipo As‘ (Lima; Heckendorff, 1985).
A vegetação da APA da Barra de Mamanguape é caracterizada por fragmentos de Mata
Atlântica, Mata de Tabuleiro, Restinga, Vegetação de Dunas, estas fitofisionomias apresentam alto
grau de conservação e propiciam uma alta heterogeneidade ambiental que resulta em uma alta
diversidade de espécies. Tem-se registro de 111 espécies da flora fanerogâmica (Pereira; Alves
2006), além de uma diversidade faunística considerável, para invertebrados temos 149 espécies,
pertencentes aos táxons Crustacea, Cnidaria, Mollusca e Anellida (e.g., Moura et al, 2002; Franklin-
Júnior, 2000; Leonel et al, 2002). Para ictiofauna local se tem registro de 112 espécies (Rosa et al.
2002); para anurofauna 23 espécies (Arzabe et al, 2002); para repteis 35 espécies (Sugliano, 2002);
para aves 27 espécies (Freitas, 2002); para mamíferos 27 espécies dentre os quais se destaca o
peixe-boi marinho (Trichechus manatus), espécie que costa na lista vermelha da IUCN como
vulnerável, está presente nos estuários da barra durante todo o ano. Silva et al. (1992) indicam que o
estuário do rio Mamanguape é a principal área de concentração de peixe-boi marinho do Nordeste
brasileiro.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 900


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Atividade de campo

Semestralmente os alunos saem de Recife, Pernambuco em uma quinta-feira e se


encaminham para a Barra, onde montam acampamento num camping local, após a acomodação os
alunos são conduzidos para a sede local da Fundação de Mamíferos Aquáticos (Figura 2), onde
ocorre uma palestra sobre o histórico e as pesquisadas realizadas pela fundação e pelo projeto peixe-
boi marinhos.

Figura 2. Palestra na Fundação de Mamíferos Aquáticos. Fonte: Costa, 2017

Pela manhã do segundo dia de atividade, ocorre a Trilha do Oiteiro (Total 4 km) ou a Trilha
do Miriri (Total 10 km) que são trilhas efetuadas com guias locais, que também se apresentaram
como atores sociais engajados na temática ambiental, estes possuem conhecimento ecológico local
sobre os diversos ecossistemas encontrados na Barra de Mamanguape como os tipos de vegetações
Restinga, Restinga, Mata Tabuleiro, Floresta Ombrófila Densa, além do Estuário do Rio
Mamanguape e uma parte do curso do rio que corre por dentro da Mata adjacente a este Estuário,
durante a trilha a uma interação entre alunos e os guias onde são expostas as visões sobre as
espécies o ecossistema e a historia do local. Os alunos têm sua participação com perguntas sobre o
ecossistema e as potencialidades do local.
No terceiro dia ocorre à visita ao estuário e manguezal da Barra de Mamanguape, que conta
com uma vasta diversidade, os alunos embarcam em barcos que são pilotados por pescadores locais
que durante esta semana também servem de guias, a primeira parada é localizada na antiga estação
de reabilitação do projeto peixe-boi-marinho que foi desativada, neste local um dos guias que
participava das atividades do projeto, apresenta um breve histórico sobre as atividades de
reabilitação e reintrodução de peixe-boi na Barra, neste local também um pesquisador convidado
fala um pouco sobre o manguezal através do conhecimento científico, falando sobre a riqueza da
biodiversidade do mangue, suas espécies e interações que ocorrem nestes ecossistemas. A segunda
parada acontece já no manguezal onde os guias apresentam um breve histórico sobre as atividades

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 901


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

extrativistas, a uma interação com a coleta de caranguejo uca (Ucides cordatus (Linnaeus, 1763));
siri-azul (Callinectes sapidus Rathbun, 1896) e no final a um banho de lama. Nesta atividade
também ocorre momento para perguntas e esclarecimento de duvidas dos alunos.
No terceiro dia de atividade ocorre à visita ao banco de Coral da Barra, os alunos são
conduzidos novamente por barcos que cotidianamente são utilizados para a pesca, os guiais locais
mostram um pouco do conhecimento sobre a dinâmica marinha da Barra, além de discorrer sobre a
atividade de pesca e extração de espécimes que ocorrem tanto na coluna d‘água quanto no banco de
corais. Em um segundo momento um pesquisador convidado explana um pouco sobre o
conhecimento científico relacionado ao banco de corais, a baia e as espécies associadas a estes
ecossistemas. Quando possível ocorre à interação com mamíferos aquáticos, geralmente com o
peixe-boi que ocorrem na Barra, é terminantemente proibido o contato direto com o peixe-boi, mas
os alunos contemplam o nado e a dinâmica desses animais no ambiente natural, alguns cientistas da
FMA explanam um pouco sobre a biologia e ecologia desses animais que servem de espécie
guarda-chuva para a proteção do ecossistema e de outras espécies menos carismáticas. Os
pescadores e guias também comentam sobre como se deu a conscientização a cerca da proteção
destes mamíferos e de toda biodiversidade da Barra, através de gestos como a padronização do
motor das embarcações, evitando o contato direto com os animais, recolhimento de redes para
evitar que os indivíduos fiquem emaranhados entre outras ações. Ao final da atividade ocorre uma
pesca de arrasto com estes pescadores e o auxilio dos alunos aonde ocorre à interação dos dois
conhecimentos (científico e ecológico local), os alunos e pesquisadores comentam sobre as espécies
coletadas seu nome cientifico e algumas considerações sobre a biologia das espécies, do mesmo
modo os pescadores comentam sobre os nomes populares, o uso, as peculiaridades de algumas
espécies, as espécies descartadas na pesca entre outros aspectos.
Por fim no último dia ocorre a visita a cooperativa local de costureiras, onde são
confeccionados pelúcias de diversos mamíferos, além da visita ao ateliê de um morador local que
confecciona artesanato com o cipó de fogo. Onde é explanado um breve histórico destas atividades
e como se da no caso do cipó de fogo a extração sustentável deste recurso. Neste mesmo dia ocorre
à volta para universidade, os alunos têm como exercício a confecção de um boletim individual e um
boletim em grupo que expresse a visão da comunidade local, atrelada à visão cientifica, abordando
um determinado assunto relevante nestes ecossistemas, estes boletins são impressos e
disponibilizados para a comunidade da Barra, além de estar disponível online para a academia e
simpatizantes do assunto. Os boletins seguem um modelo pré-estabelecido e servem como
contrapartida dos alunos para a comunidade, visando devolver os conhecimentos disponibilizados
por estes em todas as atividades e todo o empenho para o desenvolvimento de uma atividade
interessante e dinâmica.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 902


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Todas as atividades têm como objetivo despertar nos alunos uma visão geral sobre os
ecossistemas encontrados na Barra de Mamanguape, evidenciando os conceitos abordados em sala
de aula, mostrando a visões empíricas e êmicas destes ecossistemas. Além de evidenciar a interação
entre o conhecimento científico e o conhecimento ecológico local buscando uma visão ampla e
diversificada de todos os atores e processos (Sistema Especialista).

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 906


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROJETO HORTA ESCOLAR - ESCOLA MUN. CRISTO REDENTOR NO MUNICÍPIO


DE COELHO NETO/MA: AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E AMBIENTAL

Rivânia da Silva LIRA


Professora de Biologia do IFMA
rivania.lira@ifma.edu.br
Ana Cristina Lima de VASCONCELOS
Aluna de Administração do IFMA
vasconceloslimaana@gmail.com

RESUMO
Este trabalho descreverá de forma coesa a colaboração de estudantes do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus Coelho Neto juntamente com à comunidade
da Escola Municipal Cristo Redentor no Município de Coelho Neto/Ma,com foco no planejamento
a uma vida mais saudável,criando dentro da escola uma área verde onde possam trabalhar juntos na
execução e na manutenção das hortas da escola, levando assim informações importantes sobre
horticultura orgânica,reciclagem de resíduos sólidos(compostagem), oficinas culinárias (utilização
dos alimentos colhidos na horta) e mutirões de manutenção do ambiente escolar e das hortas.Além
disso esclarecer sobre como aproveitar os recursos de uma alimentação saudável e a importância da
educação ambiental no equilibrio dos sistemas ecológicos.Através do projeto ―HORTA
ESCOLAR‖todos os envolvidos terão a oportunidade de conhecer como funciona o método de
produção dos alimentos, além de alencar as realidades do campo/cidade e escola. Nesse trabalho
será desenvolvido metodologia de abordagem qualitativa, pesquisa descritiva, com apoio na
pedagogia dialógica e da troca de saberes entre os sujeitos envolvidos na investigação.Pretendesse
obter resultados positivos na implementação de planos de ações para o constante desenvolvimento
das atividades pedagógicas e agronômicas no cultivo de hortas orgânicas com vistas ao estudo da
educação ambiental e a utilização dos produtos originários da horta na merenda escolar com foco na
melhoria da alimentação e da qualidade de vida dos discentes da Escola Municipal Cristo Redentor
no Município de Coelho Neto/Ma
Palavras-chave: Horta escolar, educação orgânica.
ABSTRACT
This work will cohe- sively describe the collaboration of students from the Federal Institute of
Education, Science and Technology of Maranhão Campus Coelho Neto together with the
community of the Cristo Redentor Municipal School in the Municipality of Coelho Neto / Ma,
focusing on planning a healthier life , Creating a green area within the school where they can work
together in the execution and maintenance of school gardens, thus providing important information
on organic horticulture, recycling of solid waste (composting), cooking workshops (use of food
harvested in the garden) and mutirões Maintenance of the school environment and vegetable
gardens. In addition to clarifying on how to take advantage of the resources of a healthy diet and the
importance of environmental education in the balance of ecological systems. Through the project
"HORTA ESCOLAR" everyone involved will have the opportunity to know how it works The
method of production of food, in addition to And to highlight the realities of the countryside / city
and school. This work will develop a methodology for qualitative approach, descriptive research,
with support in dialogical pedagogy and the exchange of knowledge among the subjects involved in
the research. It would have to obtain positive results in the implementation of action plans for the
constant development of pedagogical and agronomic activities in the culture Of organic gardens

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 907


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

with a view to the study of environmental education and the use of products originating from the
vegetable garden in the school lunch focused on the improvement of food and the quality of life of
the students of the Cristo Redentor Municipal School in the Municipality of Coelho Neto / Ma
Key words: School garden, organic education.

INTRODUÇÃO

A escola é um espaço importante para a formação de indivíduos responsáveis e aptos a


colaborar e decidir sobre questões sociais, restabelecendo suas relações com o meio onde vivem.
Por ser parte integrante da sociedade e co-responsável pela sua transformação, torna-se necessário
que a Escola ofereça meios para que seus alunos participem se manifestem, criando a sua
consciência crítica e comprometida com o meio ambiente. Os educadores têm um papel
fundamental na inserção da Educação Ambiental. O docente precisa ter como horizonte a
transformação de hábitos, mobilizando os discentes para formação da consciência ambiental. A
Escola deve favorecer o trabalho de questões ambientais, promovendo ações de integração,
divulgação e discussão das atividades desenvolvidas (TRINDADE, 2011).O projeto ―HORTA
ESCOLAR‖ tem o intuito de melhorar os hábitos alimentares dos estudantes de escolas públicas e
ainda fortalecer o vínculo positivo entre a educação e a saúde,visando incentivar os mesmos a
reciclagem e a importância de uma boa alimentação, por meio de horta urbana, ou seja, hortas
produzidas em escolas, na possibilidade de melhorar a vida dos alunos, levando em consideração o
fato de não utilizar substancias agrotóxicas no manejo do solo até a proliferação do fruto, tendo
como foco central alertar os mesmo desde cedo sobre o uso incorreto de conservantes e fertilizantes
nos solos e na ingestão dos alimentos, colocando em risco à saúde dos consumidores e do meio
ambiente, assim reduzindo custos financeiros e além de tudo que os alunos possam levar o exemplo
para suas casas e ai possam começar de fato um vida saudável com seus familiares.Conforme
afirma Ruscheinsky (2002), tudo indica que é indispensável deixar de lado a agricultura
convencional e caminhar em direção de uma agricultura mais auto-sustentável e menos agressiva à
natureza. A agricultura ecológica apresenta-se como um espaço em construção que pode trazer
amplos benefícios para quem produz, para quem consome e para o conjunto do meio ambiente.
As ações desenvolvidas pelo Projeto compreendem o envio de sementes de hortaliças, flores
e condimentares, e de utensílios para o manejo da horta, o acompanhamento da horta escolar por
profissionais habilitados (nutricionista, pedagogo,biologo,agrônomo e estagiário de agronomia),
cursos de capacitações teóricas e práticas para professores e funcionários nas unidades educativas
sobre temas relacionados à educação ambiental e educação alimentar, com o propósito de discutir
com esses profissionais a relevância desses temas para a formação integral da criança.O
conhecimento e a ação participativa na produção e no consumo principalmente de legumes - fonte

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de vitaminas, sais minerais e fibras - despertam nos alunos mudanças em seu comportamento
alimentar, atingindo toda a família, conforme relata Turano (1990). Essa relação direta com os
alimentos também contribui para que o comportamento alimentar das crianças seja voltado para
produtos mais naturais e saudáveis.Magalhães (2003) afirma que utilizar a horta escolar como
estratégia, visando estimular o consumo de feijões, legumes e frutas, torna possível adequar a dieta
das crianças. Outro fator interessante é que os legumes cultivados na horta escolar, quando
presentes na alimentação, fazem muito sucesso, ou seja, todos querem provar, pois é fruto do
trabalho dos próprios alunos.As atividades desenvolvidas na horta envolvem a participação de
diversos membros da comunidade escolar (diversos profissionais das unidades educativas, pais e
pessoas da comunidade), tal trabalho coletivo fortalece a relação da comunidade com a escola,
aproximando os sujeitos sociais e desenvolvendo o senso de responsabilidade e de cooperação nas
escolas.Nesse contexto,um trabalho realizado pelo IFMA, apresenta a contribuição a comunidade
no desenvolvimento deste tipo de projeto,evidenciando que a horta inserida no ambiente escolar não
deve apenas restringir-se à produção de alimentos, mas pode ser usada e trabalhada no processo
pedagógico como um todo.

METODOLOGIA

O presente trabalho será desenvolvido em etapas as quais serão de fundamental importância


para o sucesso do mesmo, inicialmente serão realizadas reuniões com a direção da escola,
juntamente com a comissão pedagógica do projeto (nutricionista, psicólogo,
pedagoga,biologo,agrônomo,02 bolsistas), onde nestas deverá ser repassado todas as informações
relevantes para que tenhamos total apoio da escola, onde abordaremos vários assuntos de forma
multidisciplinar como: a fome no planeta, o desperdiço de alimentos, destinação adequada de
resíduos, produções agrícolas dentre outros,em seguida será realizado um encontro com os alunos
da escola.
Antes de instalar a ―horta ecológica‖ deve-se fazer um diagnóstico do terreno, verificar a
exposição solar, se o terreno é plano, o sistema de rega que possui e se possível fazer uma análise
de solo e a construção de um compostor doméstico, seguindo todos os procedimentos adequados. A
construção da horta será com garrafas pet`s, pneus, a adubação com resíduos orgânicaos, onde o que
será produzido na horta ecológica será usado no complemento da merenda escolar,incentivando
assim a comunidade a produzir não apenas no ambiente escolarar e que estes alimentos podem está
presentes nas saladas, sopas, sanduíches naturais e sucos mistos de vegetais etc.Segundo
Magalhães,2013 são estratégias muito eficazes para promover uma melhoria na aceitabilidade
desses alimentos, os quais, embora muito nutritivos, costumam ser os campeões de rejeição.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Levar os alimentos para a sala de aula, tentando, de algum modo, transformá-los em


elemento pedagógico, faz com que as crianças participem das ações de educação alimentar
desenvolvidas e não fiquem como meros espectadores (MAGALHÃES; GAZOLA, 2002),
aprendendo ainda acerca da importância da higienização desses alimentos. Com isso deixando de
lado o uso de substancias químicas, gerando assim uma educação alimentar bem elaborada e renda à
comunidade, além de tudo deixando o consumo de produtos mais prazeroso.

DISCUSSÃO

O cultivo da horta orgânica é uma alternativa de educação ambiental e melhoria na


alimentação escolar. Para Morgado (2006), a horta inserida no ambiente escolar pode ser um
laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação
ambiental e alimentar unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de
ensino aprendizagem e estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperado
entre os agentes sociais envolvidos.
A finalidade da horta na escola é que seja o ponto de partida para uma verdadeira educação
ambiental e alimentar, onde as crianças são preparadas para compreender as inter-relações dos seres
humanos entre si e com a naturezaLocalizada no município de Coelho Neto/MA, a Escola
Municipal Cristo Redentor foi fundada em meados de 1993 e conta com uma estrutura física
composta por: 06 salas de aula, 03 banheiros, 01 sala de secretaria, 01 cozinha, 01 dispensa para
alimentos.
Quanto ao corpo técnico, a escola conta com 05 professores efetivos, 02 merendeiras, 04
auxiliares de serviços gerais,0 1 coordenadora pedagógica e 01 diretora, 02 agentes administrativos
e 06 vigias. Atualmente, a Escola abriga 314 crianças de 04 a 08 anos, dividas em 12 grupos,
divididos em turno(matutino e verspertino). Sendo que algumas permanece no turno da manhã (das
7h às 12h),a maioria dos alunos provém de diversas comunidades do bairro Mutirão.Tendo com
objetivo principal melhorar os hábitos alimentares dos estudantes da Escola Municipal Cristo
Redentor no Município de Coelho Neto/Ma através da construção e manutenção de uma horta
escola.,promovendo um ambiente saudável,integrando a rede municipal e Federal de
Ensino,despertando o interesse pelo o cultivo da horta e conhecimento dos processos necessários
para a manutenção da mesma e construindo conhecimentos no contexto multidisciplinar e ainda
estimulando a percepção ambiental através de ações concretas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

CAPRA, F. Alfabetização ecologia: o desafio para a educação do século 21. In: TRIGUEIRO, A.
(Coord.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas
áreas de conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Sextante, p.14, 2003.

MAGALHÃES, A. M. A horta como estratégia de educação alimentar em creche. 2003. 120 f.


Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2003.

MAGALHÃES, A. M.; GAZOLA H. Proposta de Educação Alimentar em Creches. In:


CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL, 1, 2002, Bombinhas. Anais...
Bombinhas: PMPB, 2002.

MORGADO, F. S.. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto


Horta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. 2006. 45p. Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

TRINDADE, N. A. D. Consciência Ambiental: Coleta Seletiva e Reciclagem no Ambiente Escolar.


ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer- Goiânia, vol.7, N.12; 2011.

TURANO, W. A didática na educação nutricional. In: GOUVEIA, E. Nutrição Saúde e


Comunidade. São Paulo: Revinter, 1990. 246 p.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA GRANDES TURMAS DO ENSINO SUPERIOR E


ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS COM O APOIO DE MONITORES

Sebastião Luiz de OLIVEIRA


Professor Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
sluiz50@gmail.com
Luciana de Figueirêdo Lopes LUCENA
Professor Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
lllucena@yahoo.com.br
Jazielli Carvalho SÁ
Professor Adjunto da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
jazielli.sa@gmail.com
Vera Lúcia Lopes de CASTRO
Professor Associado da Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN
veracastro@ect.ufrn.br

RESUMO
Os projetos acadêmicos de monitoria dirigidos aos alunos do curso de Bacharelado em Ciências e
Tecnologia – BCT, da UFRN, em apoio ao trabalho dos professores têm se mostrado fundamentais
para a viabilização de seu plano pedagógico, em razão das grandes turmas que são criadas - entre 80
e 120 alunos, em média. A constituição de grandes turmas tem sido a solução adotada para
acomodar o contingente de 1120 novos alunos que ingressam a cada ano no BCT. A
obrigatoriedade legal de incluir a educação ambiental nos currículos do ensino superior vem sendo
atendida desde a implantação do BCT em 2009, por meio da Componente Curricular obrigatória
Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano – MADU que, igualmente, convive com a situação
desafiante do ensino e aprendizagem em grandes turmas. Assim, a partir do semestre 2016.1, foram
sendo implementadas algumas metodologias que buscassem atender justamente às características
das grandes turmas, levando em consideração as experiências dos semestres anteriores e as
contribuições dos monitores e dos próprios discentes. Desde então diferentes técnicas, metodologias
de aprendizagem e metodologias motivacionais vêm sendo aplicadas e aprimoradas ao longo dos
anos pela equipe de docentes responsáveis por esse Componente Curricular obrigatório, sempre
com a colaboração permanente do grupo de monitores. Os resultados positivos já contabilizados
indicam ganhos significativos tanto para os alunos como para os monitores e professores, e
continuam inspirando a equipe de docentes de MADU na busca permanente por um processo de
ensino-aprendizagem de excelência na área de meio ambiente.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Grandes Turmas, Ensino Superior,
Monitoria.

ABSTRACT
The academic monitoring projects directed to the students of the Bachelor of Science and
Technology (BCT) course of UFRN in support of the work of teachers have been fundamental for
the viability of their pedagogical plan, due to the large classes that are created – between 80 and 120
students on average. The constitution of large classes has been the solution adopted to
accommodate the contingent of 1120 new students who enter each year in the BCT. The legal
obligation to include environmental education in higher education curricula has been met since the
implementation of the BCT in 2009, through the compulsory Curricular Component Environment

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

and Urban Development - MADU, which also coexists with the challenging situation of teaching-
learning in large classes. Thus, beginning in the semester 2016.1, some methodologies were
implemented that sought to take into account the characteristics of the large classes, taking into
account the experiences of the previous semesters and the contributions of the monitors and the
students themselves. Since then different techniques, learning methodologies and motivational
methodologies have been applied and improved over the years by the team of teachers responsible
for this compulsory Curricular Component, always with the permanent collaboration of the group of
monitors. The positive results already recorded indicate significant gains for both students and
teachers and continue to inspire the MADU teachers in the permanent search for a teaching-learning
process of excellence in the area of environment.
Keywords: Environmental Education, Environment, Large Classes, Higher Education, Monitoring.

INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA estabeleceu em 1999 a obrigatoriedade


da inclusão da educação ambiental nos currículos do ensino superior, em todas as áreas de
conhecimento (BRASIL, 1999). Posteriormente, em 2012, essa obrigatoriedade veio a ser reforçada,
melhor direcionada e detalhada para a aplicação nas Instituições de Ensino Superior - IES por meio
da homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental - DCNEA
(BRASIL, 2012).
O curso de Bacharelado em Ciências e Tecnologia - BCT da Escola de Ciências e
Tecnologia - ECT da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN foi implantado em
2009, e permite aos alunos que optem por se direcionar, após dois anos de estudo em uma estrutura
curricular flexível e interdisciplinar, a um entre oito cursos de engenharia: ambiental, biomédica,
petróleo, mecânica, mecatrônica, telecomunicações, materiais, e computação (UFRN, 2013).
Atendendo ao que já determinava a legislação vigente em 2009 sobre a obrigatoriedade da
inclusão da educação ambiental nos currículos do ensino superior (e ao que passou a determinar
com mais detalhes a legislação vigente em 2012), o BCT da UFRN desde sua implantação incluiu
em sua estrutura curricular a dimensão ambiental e do desenvolvimento sustentável, com a
disciplina obrigatória Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano – MADU.
O Bacharelado em Ciências e Tecnologia – BCT, da UFRN, tem o ingresso médio anual de
1120 alunos (PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO, 2016), e este contingente, acrescido das
retenções, leva à definição de turmas sempre numerosas, inclusive as MADU, em média de 100
alunos/turma Assim, de um lado há o desafio permanente aos docentes em termos de ensino e
transmissão do conhecimento, com satisfatórios índices de evolução acadêmica de novos e antigos
alunos. De parte dos discentes há o risco da desmotivação e da dispersão, além da natural
impessoalidade em turmas tão grandes. Para superar esse conjunto de problemas e desafios, uma
das estratégias bem sucedidas adotada desde a criação do BCT, tem sido o apoio permanente ao

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

trabalho dos docentes por meio dos projetos de monitorias e de tutorias. Após vários anos de prática
e de ajustes implementados, tais projetos têm correspondido de forma positiva ao interesse no
aprendizado dos alunos, e vêm se mostrando de fundamental importância para o sucesso do trabalho
docente em turmas numerosas, como as do BCT.
É comum nessas grandes turmas a limitação de tempo dos docentes para lidar com a
necessidade constante de resolução de problemas e dúvidas dos alunos e, nesse sentido, o apoio dos
projetos de monitoria tem levado a um melhor atendimento dessa demanda e à otimização da
interação do aluno com o professor e, no final, às melhorias na avaliação do aprendizado dos
estudantes.
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados advindos de métodos de ensino-
aprendizagem desenvolvidos nas grandes turmas, a partir de um trabalho em equipe envolvendo
monitores, docentes e discentes, em que o principal desafio é trabalhar assuntos afins com as
temáticas de meio ambiente e de desenvolvimento sustentável em conformidade com a Componente
Curricular obrigatória Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano – MADU. Essa disciplina é
oferecida desde o primeiro semestre do Bacharelado em Ciências e Tecnologia – podendo ser
cursada em qualquer etapa do curso -, e não possui pré-requisitos.
Nessa perspectiva, a equipe responsável pela disciplina de MADU tem persistido em
aperfeiçoar um trabalho inter e multidisciplinar visando criar possibilidades para desenvolver ações
de ensino-aprendizagem com caráter estimulador, cooperativo e inovador.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia e os materiais são pensados para uma estrutura de um componente curricular


com carga horária de 60 horas que compreende tópicos que tratam das cidades e suas
transformações, energia e crise ambiental, das ciências do ambiente contextualizadas nos problemas
contemporâneos de contaminação e poluição, tópicos esses analisados tendo sempre em
consideração as interdependências das três dimensões do desenvolvimento sustentável (dimensões
ambiental, social e econômica). As questões e problemáticas identificadas passam, também, a ser
trabalhadas na perspectiva das soluções dos problemas à luz da compreensão das convenções e
acordos internacionais em meio ambiente, das políticas e instrumentos do planejamento urbano e
dos marcos institucionais e regulatórios da proteção e gestão do meio ambiente e dos recursos
hídricos no Brasil.
Neste cenário os projetos de monitoria são conduzidos por uma equipe de quatro
professores, entre eles um Coordenador, e oito monitores que atuam em cinco turmas com
capacidade máxima de 120 alunos, em cada turma. Normalmente a disciplina é oferecida nos dois
turnos diurnos e no turno da noite.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No início de cada semestre a estrutura do componente curricular é discutida com os


monitores, momento em que são realizados alguns ajustes e adequações das metodologias usadas a
partir das críticas, observações e avaliações realizadas pelos próprios monitores, no percurso das
aulas do semestre anterior.
As aulas compreendem desde os materiais selecionados pela equipe de professores e
monitores, como artigos científicos, notas técnicas, documentários, filmes, sites, entrevistas, dentre
outros, como também os sugeridos pelos discentes. É importante destacar, também, que a atualidade
do tema Meio Ambiente - com eventos naturais extremos e acidentes ambientais acontecendo no
Brasil e no mundo com mais frequência que no passado recente, além da incorporação e valorização
contínua de tecnologias sustentáveis como as novas fontes energéticas renováveis -, exige que a
cada semestre sejam apresentados aos bacharelandos enfoques técnicos atualizados, sejam
propostos novos debates em sala, e sejam estimuladas novas pesquisas em publicações e fontes
eletrônicas de amplo acesso. Em suma, se trata de um Componente Curricular conectado com a
atualidade, com aulas e debates naturalmente contextualizados com essa atualidade.
Além da parte teórica, que cabe aos professores tratarem em cada aula, são compatibilizadas
na carga horária deste componente curricular, outras atividades como: oficinas, orientações de
projetos, seminários, apresentações, debates, palestras proferidas por profissionais externos, dentre
outras modalidades de ensino/aprendizagem.
No desenvolvimento e na aplicação destas metodologias os monitores participam
efetivamente de todo o processo, facilitando a relação docente/discente, além de realizar uma gestão
do componente curricular observando, por exemplo, a situação da frequência dos alunos e dos
problemas por eles registrados quanto às justificativas das ausências. Este acompanhamento se faz
necessário considerando que a equipe está diante de grandes turmas (80 a 120 alunos). Além desse
trabalho, os monitores estão presentes em todas as aulas, como também nos dias de aplicação de
provas, dando apoio aos professores.
Vale destacar que as atribuições dos monitores são descritas no Programa de Monitoria da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Resolução Nº 221/2012 – CONSEPE, Art. 13
(CONSEPE, 2012).
Ainda nessa mesma Resolução Nº 221/2012 – CONSEPE estão explicitados em seu Artigo
3º, os Objetivos do Programa de Monitoria, que são: ―I – contribuir para a melhoria do desempenho
acadêmico dos cursos de Graduação; II – contribuir para o processo de formação do discente; III –
incentivar no monitor o interesse pela carreira docente‖ (CONSEPE, 2012).
Assim, tendo presente essas diretivas do CONSEPE, tem sido dada especial atenção por
parte dos professores na orientação aos trabalhos de monitoria da disciplina de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Urbano – MADU para que, além da contribuição à melhoria do processo de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ensino e aprendizagem na própria disciplina, os monitores adquiram também maior preparo,


desenvoltura e segurança em situações que não seriam evidentes se fossem apenas alunos, e
experiência – ainda que inicial – para uma possível docência no futuro.
Em relação às técnicas de ensino participativo voltadas às grandes turmas, se destaca o
trabalho realizado nos semestres 2016.1, 2016.2 e 2017.1, cuja opção metodológica utilizada pelos
professores orientadores foi desenvolvida com a prática e a partir da observação das atitudes e dos
desempenhos dos alunos ao longo dos semestres anteriores. Com o estudo das metodologias
utilizadas anteriormente, os docentes foram selecionando aquelas mais adequadas e com melhores
resultados para uso nas novas turmas.
Havia o desafio de instigar o interesse dos alunos para, de fato, assistirem às aulas e
acompanharem os assuntos desenvolvidos na disciplina. Para isso, combinando as discussões
realizadas entre os docentes da disciplina, assim como as sugestões e críticas de muitos monitores e
alunos, foi desenvolvida uma nova metodologia de avaliação contínua dos alunos.
Decidiu-se, antes do início das aulas de 2016.1, pela adoção de um processo de
acompanhamento das presenças às aulas - combinado com discussões, a cada aula, de textos
previamente selecionados e indicados aos discentes -, e pela realização de seminários.
As aulas já possuíam e possuem, tradicionalmente, uma dinâmica oral para melhor
entendimento dos assuntos, contando com recursos audiovisuais e experiências de casos, e guardam
uma linha de raciocínio contínua e crescente. Foi acrescentado, então, o debate em sala baseado em
textos auxiliares: o docente seleciona previamente textos relativos aos temas das aulas e os divulga
junto aos alunos e via Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas da UFRN –
SIGAA/UFRN. E o prazo que os discentes têm para ler e preparar os textos são de, no mínimo, três
dias úteis antes das respectivas aulas em que serão debatidos em sala.
No sentido de fortalecer o novo hábito da leitura prévia dos textos indicados para o debate
nas aulas, se estabeleceu uma pequena pontuação (entre 0,20 e 0,50 em cada aula), atribuída tanto
pela presença em aula como pela real preparação dos textos e participação nos referidos debates. E
logo se verificou que a assiduidade melhorou, os temas de aula com as respectivas leituras prévias
da bibliografia selecionada despertaram crescente interesse, e cada aula passou a ser encarada como
uma ―mini avaliação‖, com reflexos positivos no rendimento final do discente.
De acordo com Weisz (2004), a aprendizagem é uma construção, depende de como a
informação chega ao aprendiz, na forma de desafio ou de reflexão:

O aprendiz é um sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que


vai produzir a transformação que converte informação em conhecimento próprio. Essa
construção, pelo aprendiz, não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de situações nas
quais ele possa agir sobre o objeto de seu conhecimento, pensar sobre ele, recebendo ajuda,
sendo desafiado a refletir [...].

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com base em Weisz (2004), é necessário que haja um estímulo para os alunos aprenderem
determinado assunto.
De forma prática, nas aulas, perguntas são dirigidas a alguns alunos escolhidos
aleatoriamente (o que estimula a que todos se preparem), e a atribuição da pontuação – como um
estímulo, na visão de Weisz, citado acima - leva em conta a coerência das respostas.
Nessas turmas numerosas de MADU, muitos estudantes não são questionados, por natural
carência de tempo. Mas mesmo quem não é questionado recebe, igualmente, a pequena pontuação.
Embora pareça paradoxal, a prática vem comprovando que a quase totalidade dos alunos estuda a
bibliografia previamente indicada já que não quer perder a chance de ganhar a pequena pontuação,
mesmo sabendo que terá uma pequena probabilidade de ser escolhido para responder. Ou seja, a
grande maioria, independente de ser questionada ou não, demonstra motivação com a metodologia
e, de fato, prepara os textos, estuda-os e participa das aulas com um pré-entendimento dos
respectivos temas. E este fato é o que mais conta ao se verificar o rendimento nas provas escritas,
uma vez que o hábito comum de ―só estudar para as provas‖ vem sendo substituído pelo hábito de
―estudar e aprender nas aulas, continuamente‖. De outra parte, no início de cada aula, é dada a
oportunidade para que os alunos que, por qualquer motivo, não leram, eles próprios se identifiquem,
e ganhem ―apenas a metade daquela pequena pontuação‖. Mas sabem que, muito provavelmente,
serão perguntados na aula seguinte...e a motivação se renova e se fortalece.
Os alunos que justifiquem a ausência devido a problemas de saúde ou outros motivos
relevantes, não perderão a pontuação. Ou melhor, deixarão de ganhar. Nesses casos a nota relativa
máxima na prova escrita de cada unidade será diferente da nota daqueles alunos que participaram
assiduamente de todas as aulas.
Outra metodologia de ensino e aprendizagem adotada nas turmas grandes de MADU a partir
desse semestre de 2016.1 visando o maior envolvimento e participação dos discentes foi a da
realização de seminários, técnica essa amplamente utilizada em cursos universitários e bastante
eficiente como estratégia de ensino, ao se buscar maior socialização dos envolvidos (SEVERINO,
2007).
Em sua reconhecida obra Metodologia do Trabalho Científico, Severino (2007) ressalta o
que se busca com a realização de um seminário, em seu formato clássico: ―O objetivo último de um
seminário é levar todos os participantes a uma reflexão aprofundada de determinado problema, a
partir de textos e em equipe‖.
Entretanto, para se definir o formato dos seminários algumas modificações e adaptações
precisavam ser feitas naquele modelo clássico, em razão das turmas numerosas de MADU, assim
como do visível, crescente e irreversível uso e familiaridade por parte dos alunos, de aparelhos
eletrônicos conectados à internet – PC‘s, celulares, tablets e notebooks, quase sempre com grande

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

capacidade de produção e edição combinada de textos, imagens e sons, com superior qualidade. No
lugar de combater o uso desses aparelhos e das opções inumeráveis de busca por conteúdos na rede
mundial – internet -, decidiu-se incentivar o emprego desses recursos nos seminários, e as equipes
partiriam de textos, mas deveriam combinar com o uso de sons e imagens – fotos, slides, vídeos,
entrevistas, filmes, documentários, reportagens de TV, etc.
Essa opção metodológica de buscar uma maior interatividade docente-discente no processo
de ensino aprendizagem na disciplina de MADU, com a ampliação do emprego de ferramentas de
mídia eletrônica, acompanha, igualmente, a tendência recente de incorporação das tecnologias
digitais na educação, em geral, com ganhos tangíveis, Sousa, R. et al. (2011):

A multimídia interativa permite uma exploração profunda devido a sua dimensão não
linear. Através da multimídia tem-se uma nova estruturação de como apresentar,
demonstrar e estruturar a informação apreendida. O computador mediante texto, imagem e
som interrompe a relação autor/leitor que é claramente definida num livro, passa para um
nível mais elevado, reconfigurando a maneira de como é tratada esta relação. A
interatividade proporcionada pelos aplicativos multimídia pode auxiliar tanto na tarefa de
ensinar quanto na de aprender.

Outra modificação em relação ao modelo clássico de seminário é que cada turma foi
dividida em grupos de até 12 componentes (a depender do número de matriculados em cada turma),
e cada grupo aprofundaria o estudo e a reflexão sobre um determinado tópico abordado em sala de
aula. Mas todos os tópicos definidos deveriam guardar conexão, obrigatoriamente, com os eixos
temáticos da disciplina, tendo sempre em consideração as interdependências das três dimensões do
desenvolvimento sustentável (dimensões ambiental, social e econômica).
No começo de cada semestre o calendário de preparação e das apresentações finais dos
seminários já é divulgado, de modo que os horários de sete dias de aula, pelo menos, já ficam
reservados. Os grupos/equipes são formados (e os componentes de cada grupo constituem, também,
grupos virtuais nas redes sociais, mantendo-se em permanente contato) e as reuniões livres já
iniciam, em horários e locais definidos pelos componentes dos grupos. Quanto aos sete dias de aula
reservados no calendário, quatro desses dias se destinam a que os diferentes grupos/equipes se
reúnam na própria sala reservada para as aulas, nos horários de aula (o que estimula e torna viável a
presença de todos os componentes de cada grupo, pois já deveriam estar ali e naquele horário, caso
se tratasse de uma aula normal) e, orientados pelos monitores e supervisionados pelos professores,
disponham de tempo para a discussão/roteirização, construção/edição e consolidação do produto
final: um vídeo, em geral com duração máxima de 30 minutos, tratando sobre o tópico determinado
anteriormente (figuras 1 e 2). Nos outros três dias de aula/seminário, em plenário, são
apresentados/exibidos, discutidos e avaliados todos os trabalhos/vídeos produzidos. É o auge do
processo, aguardado com um misto de expectativa e confiança, uma vez que os vídeos são todos
entregues na mesma data, com a ordem de apresentação/exibição definida por sorteio e, nesses dias

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de apresentações finais tomam parte nas avaliações os professores da disciplina, monitores,


professores convidados e os próprios alunos.
A avaliação final do seminário se apoia em uma ficha de avaliação, preenchida pelos
avaliadores durante as apresentações/exibições, com cinco critérios estabelecidos: a) pertinência da
abordagem (O trabalho não fugiu do tema? O grupo não ficou divagando?); b) riqueza de
informações (Foram apresentados pontos relevantes sobre o tópico escolhido); c) criatividade (O
formato e a dinâmica adotados, facilitaram a compreensão? Boas ilustrações e/ou outras inserções?
A abordagem tornou o tema atrativo?); d) organização da apresentação (A sequência adotada
mostrou-se lógica, com bom encadeamento de idéias, ou foi confusa? Houve inserção de textos
longos ―saturados‖, com muitas informações? O tempo foi bem distribuído?); e) desempenho nos
questionamentos (O grupo soube articular bem as respostas? Houve erros graves – conceituais ou de
desinformação?).
Todo o processo de construção, roteirização e apresentação final desses seminários é
considerado como uma das três avaliações/unidades previstas para a disciplina de MADU no
semestre e, portanto, tem caráter obrigatório, sem possibilidade de reposição.
A construção e finalização desses seminários, utilizando vários recursos de mídia eletrônica,
tem se mostrado como ferramenta de grande interesse para os alunos e de efetivo aprendizado de
tecnologias de vanguarda relacionadas às temáticas da disciplina.

Figura 1– Encontros para a discussão, construção e consolidação de apresentações de seminários.


Fonte: Produzida pelos autores, 2016

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 919


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2– Reuniões dos grupos com a orientação dos monitores e a supervisão dos professores.
Fonte: Produzida pelos autores, 2016

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fazendo um estudo comparativo, verificou-se que os alunos a partir de 2016.1 apresentaram


melhor rendimento em relação aos dos semestres anteriores (Tabela 1), quando se utilizavam apenas
parcialmente algumas das técnicas aqui discutidas, o que vem a comprovar a importância dessa
nova abordagem metodológica, que envolve um processo dinâmico de ensino-aprendizagem, onde
os alunos são avaliados constantemente.
Além do rendimento ter melhorado, o número relativo de alunos reprovados (que não
obtiveram rendimento suficiente para alcançar a aprovação – ―alunos reprovados por média e nota‖,
na Tabela 1) diminuiu.
A partir desse resultado foi percebido que o desempenho dos discentes no quesito frequência
acadêmica, nas grandes turmas de MADU, também melhorou comparando com as turmas
anteriores, mesmo estando sob orientação do mesmo docente, pois a metodologia adotada estimula
o comparecimento dos alunos às aulas, e a prévia compreensão do tema estudado favorece ao
acompanhamento continuado.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 920


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 1 – Relação dos alunos aprovados nas cinco últimas turmas

SEMESTRE ALUNOS ALUNOS ALUNOS REP. POR ALUNOS PORCENTAGEM DE


VIGENTE MATRICULADOS1 APROVADOS MÉDIA E NOTA2 DESISTENTES APROVAÇÃO3

2015.1 58 52 6 0 89,66%

2015.2 34 27 1 6 96,43%

2016.14 81 79 1 1 98,75%

2016.25 122 102 3 17 97,14%

2017.16 163 155 3 5 98,10%

1
Total de alunos matriculados excluindo os que trancaram a matrícula.
2
Reprovados porque a média está entre cinco e sete e a nota da reposição foi inferior a três.
3
Essa porcentagem foi obtida pela divisão da quantidade de alunos aprovados (excluindo os desistentes) pela quantidade de alunos na turma.
4
O Semestre de 2016.1 foi o primeiro a utilizar, por completo, a nova metodologia de ensino descrita nesse artigo.
5
O Semestre de 2016.2 foi o segundo a utilizar, por completo, a nova metodologia de ensino descrita nesse artigo.
6
O Semestre de 2017.1 foi o terceiro a utilizar, por completo, a nova metodologia de ensino descrita nesse artigo.

Fonte: Produzida pelos autores a partir de dados oficiais processados pelo SIGAA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
Total de alunos matriculados excluindo os que trancaram a matrícula.
2 A efetividade do processo de ensino aprendizado nas grandes turmas da componente
Reprovados porque a média está entre cinco e sete e a nota da reposição foi inferior a três.
3
Essa porcentagem foi obtida pela divisão da quantidade de alunos aprovados (excluindo os desistentes) pela quantidade de alunos na turma.
curricular
4 Meiofoi oAmbiente
O Semestre de 2016.1 e porDesenvolvimento
primeiro a utilizar, Urbano,
completo, a nova metodologia do BCT/UFRN,
de ensino descrita nesse artigo. tem sido possível, e
5
O Semestre de 2016.2 foi o segundo a utilizar, por completo, a nova metodologia de ensino descrita nesse artigo.
continua
6
O Semestre deevoluindo, a partir
2017.1 foi o terceiro a utilizar,da aplicação
por completo, a novade metodologias
metodologia participativas
de ensino descrita nesse artigo. e interativas que contam
com a estreita colaboração entre professor/orientador e aluno/monitor.
Diante da experiência vivenciada nessas grandes turmas de MADU constata-se que os
alunos que procuram a equipe de monitores obtêm melhores resultados acadêmicos, com um ótimo
desempenho na disciplina. Isso ocorre principalmente em atividades presenciais, seja no curso das
aulas como ao longo da produção dos seminários, onde existe a possibilidade de contribuir para
sanar as dúvidas e proporcionar orientações individualizadas.
Assim, o saldo do desenvolvimento deste trabalho cooperativo envolvendo monitores e
docentes, com especial atenção dirigida aos resultados e à participação continuada dos discentes
(futuros engenheiros), tem sido francamente positivo, proporcionando qualificações diferenciadas e
desenvolvendo capacidades para eleger possíveis soluções de problemas em um sistema sócio-
econômico-ambiental, que urge por humanização e visão holística.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 1-4, abr. 1999.

______. Resolução nº2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação Ambiental. Diário Oficial da União. Brasília: DOU, 2012.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 921


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSEPE. Resolução Nº 221/2012, de 24 de outubro de 2012. Programa de Monitoria da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Disponível em:
<http://www.sistemas.ufrn.br/shared/verArquivo?idArquivo=1341198&key=61720265a0d455c8
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2016. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Disponível em:
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SEVERINO, Joaquim Antônio. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. ver. e atual. São Paulo.
Editora Cortez. 2007. Disponível em:
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do_Trabalho_Cientifico_2007.pdf>. Acesso em 23 ago. 2017.

SOUSA, R. Pequeno; MOITA, Filomena M. C. da S. C.; CARVALHO, A. B. Gomes (Orgs.).


Tecnologias digitais na educação. Campina Grande: EDUEPB; 2011. Disponível em:
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Projeto Pedagógico do Curso de Bacharelado em Ciências e Tecnologia. Natal, 2013.

WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2 ed. São Paulo: Ática, 2004.
Disponível em: <http://www.demandanet.com/smerp2010/portal_doc/148.PDF>. Acesso em: 10
jun. 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 922


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O CONCEITO DE NATUREZA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Sherly Gabriela da SILVA


Mestranda em Geografia-UFPB
sherlygeografando@gmail.com

RESUMO
A compreensão do conceito de Natureza possui diversas abordagens no âmbito do Ensino de
geografia. A Natureza pode ser compreendida como um dos principais conceitos de que a Geografia
discute a dinâmica da sociedade/natureza. Necessita-se de uma educação ambiental e uma
Cartografia Social eficiente e com enfoque nos conceitos e fundamentos teóricos da educação
geográfica. Este trabalho tem como objetivo analisar a forma de abordagem do conceito de natureza
na mediação professor/aluno na geografia escolar. Para este fim, utilizou-se técnicas de observação
direta, com análises retrospectiva através de um estudo qualitativo de levantamentos práticos, com
aplicação de questionários, roteiros de entrevistas, conversas informais e análises de documentos,
onde serão utilizados dois principais instrumentos de coleta de dados: um roteiro de entrevista e
aplicação de um formulário impresso com questões fechadas e abertas que serão distribuídos entre
alunos e professores de geografia. Em seguida, será realizada uma análise crítica de documentos,
procurando compreender a percepção de natureza. Será adotada a noção de criticidade que é
entendida como a leitura do real, do espaço geográfico, para elucidação as relações de poder e de
dominação, através da abordagem qualitativa, que tem como fundamento o contato direto com
situações sociais, através de observações empíricas e conversas informais.
Palavras Chaves: Natureza, Cidadania, Geografia Escolar, Educação Ambiental.

ABSTRACT
The understanding of the concept of nature has various approaches in the context of the teaching of
geography. Nature can be understood as one of the main concepts of that geography discusses the
dynamics of society/nature. There is need for an environmental education and a Social Cartography
efficiently and with focus on concepts and theoretical foundations of education. This article aims to
analyze the way to approach the concept of nature in mediation teacher/student in geography at
school. to this end, we use direct observation techniques, with retrospective analysis through a
qualitative study of practical surveys, with application of questionnaires, interview plan, informal
conversations and analysis of documents, where two main data collection instruments are used: An
interview script and application of a printed form with closed and open questions that are
distributed between students and teachers of geography. In going through a critical analysis of
documents, it seeks to comprehend the perception of nature. It will be adopted the notion of
criticality that is understood as a reading of the real, of geographic space, for elucidation the
relations of power and domination, through the qualitative approach, which has foundation the
direct contact with social situations, through empirical observations and informal conversations.
Keywords: Nature, Citizenship, School geography, environmental education

INTRODUÇÃO

O sistema educacional vigente está vivenciando uma crise como um todo, tornando um
desafio, especificamente, a geografia escolar, para explicar as mudanças ocorridas na sociedade.
Compete à Geografia recorrer a condições crítico-reflexivo para compreender o processo de

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 923


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

transformação da sociedade, faz se necessário entende-lo para poder dinamizar o ensino e alcançar a
meta desejada, que é fazer com que os alunos compreendam o mundo, através de conceitos
científicos e conteúdos sistematizados estudados.
Ao se aproximar dos conhecimentos e produções geográficas, tem que considerar o contexto
no qual os alunos estão inseridos na sociedade, onde o aluno perceba e compreenda que faz parte do
processo participativo da produção do espaço que estuda.
Na visão de Carvalho (2004, p.22) ―Se faz necessário entender o momento de aceleração
que estamos vivendo, e a escola deveria ser o meio mais preparado para discutir e incorporar
criticamente o novo que vem surgindo‖. Com isto, o educador deve buscar fazer uma relação
dialética entre as propostas curriculares, saberes cotidianos e conceitos científicos para a construção
do conhecimento.
A Geografia pode contribuir de forma significativa na compreensão da realidade dos
educandos. Ao estudar o espaço geográfico, alunos e professores irão questionar sobre a dinâmica
da relação sociedade/natureza, pois tanto a natureza como a sociedade constituem a base da
construção do espaço geográfico. Nesse contexto, Cavalcanti (1998, p.114) argumenta:

É preciso construir no ensino um conceito de natureza que seja instrumentalizador das


práticas cotidianas dos alunos, em seus vários níveis, o que requer inserir esse conceito num
quadro da problemática ambiental da atualidade. Por ser assim, é útil a análise geográfica
do ambiente, envolvendo a relação sociedade/natureza.

A questão ambiental é reconhecida como algo emergencial atualmente, então a Geografia


Crítica reavalia as análises referentes à natureza, levando em questão uma consciência ambiental.
Diante dessa perspectiva, a natureza é vista de forma diferenciada em seu processo de
transformação.
O conceito de natureza pode ser compreendido como um dos principais conceitos de que a
Geografia precisa para compreensão da dinâmica da sociedade/natureza. Nas palavras de Neto
(1993): ―O estudo da natureza sempre constituiu uma das bases sobre a qual se estruturou o
conhecimento geográfico‖. Daí a justificativa para estudarmos o conceito de natureza, ou seja, por
meio do conceito de natureza, compreendemos a própria geografia.
A relação entre o ser humano e natureza tem passado por diversas transformações no
período histórico, produzindo novas formulações em suas bases teóricas. Nesta perspectiva, é
extremamente importante conhecer os significados da concepção de natureza. Ao estudarmos a
relação sociedade-natureza, buscamos o entendimento das inúmeras mudanças paradigmáticas que
refletiram na materialização das ideias quanto à natureza no mundo.
Assim, alguns questionamentos são indagados: Em qual tipo de abordagem está sendo
trabalhada a construção do conceito de natureza na geografia, para compreensão da dinâmica

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 924


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sociedade/natureza na contemporaneidade? Este trabalho pretende analisar a forma de abordagem


do conceito de natureza na mediação professor/aluno na geografia escolar.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa desejamos conduzir uma reflexão tendo como base
orientações que compõem a teoria do pensamento geográfico e dos procedimentos praticados no
ensino da geografia, quanto à construção das concepções sobre natureza, através da realização de
levantamentos práticos, com aplicação de questionários, roteiros de entrevistas, conversas informais
e análises de documentos.
Pretendemos usar das reflexões desenvolvidas por Moreira (2008), (2009), Santos (2001),
(2006), para compreender os problemas que impedem a construção de uma geografia orientada para
uma problemática social mais ampla e construtiva.
Para subsidiar o entendimento dos contextos da geografia serão utilizadas as reflexões
desempenhada por Rego, Castrogiovanni e Kaercher (2007), Cavalcanti (1998), (2013), Vesentini
(2004), (2008).
Em seguida, será realizada uma análise crítica de documentos, procurando perceber a visão
de natureza. Nesse sentido, a noção de criticidade adotada na pesquisa, pauta-se naquela
apresentada por VESENTINI (2004). De acordo com esse autor, ―a abordagem crítica é entendida
como a leitura do real – isto é, do espaço geográfico que ajuda a esclarecer a espacialidade das
relações de poder e de dominação‖.
Logo após, será realizado um levantamento prático, conforme dados fornecidos do próximo
ano, para coleta de dados, onde serão utilizados dois principais instrumentos de coleta de dados: um
roteiro de entrevista e aplicação de um formulário impresso com questões fechadas e abertas que
serão distribuídos entre alunos e professores de geografia. Será exercitada também uma abordagem
qualitativa, que tem em sua base o contato direto com situações sociais, através de observações
empíricas e conversas informais.
Para o delineamento do estudo será utilizado técnicas de observação direta, com análises
retrospectiva. Para tabulação e elaboração de tabelas e gráficos utilizaremos o Microsoft Excel
2010 para criação de elaboração dos resultados. A figura 01 mostra o local e objeto da pesquisa.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Município de Crato-CE

 127.657 habitantes

DISCUSSÃO

É importante entender a geografia como uma ciência que, ao tratar do espaço geográfico,
concebe-o na sua construção interativa entre natureza e sociedade. Nesse sentido, ao abordar a
natureza leva-se em consideração a sua dinâmica e a articulação desta como a organização da
sociedade.
Para Neto,

O estudo da natureza dentro da geografia, compreendida como ciência social, é de


fundamental importância, pois ressalta o jogo de influências que se desenvolve entre a
sociedade e a natureza no processo de estruturação do espaço. Embora não seja a geografia
a única ciência a trabalhar com a natureza, é ela que melhores condições apresentam para
desenvolver esta visão integradora (holística?) que tão importante se mostra nos dias atuais.
(1993, p. 285).

A geografia ao ser estudada tem que considerar o aluno e a sociedade em que vive. Não
pode ser feita apenas de descrição de lugares distantes ou de fragmentos do espaço. Em se tratando
de natureza, sempre é realizada uma análise classificatória e descritiva.
No ensino de geografia, torna-se imprescindível considerar o espaço como dinâmico, que
sofre alterações em função da ação humana, sendo este um sujeito que faz parte do processo
histórico. Portanto o aluno deve ser orientado no sentido de perceber-se como elemento ativo de seu
processo histórico. Na visão de Moreira (2008) ―A Geografia é uma forma de leitura do mundo. A

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

educação escolar é um processo no qual o professor e seu aluno se relacionam com o mundo através
das relações que se travam entre si‖.
Quando se trata do conteúdo didático da Geografia, há sempre uma dicotomia separando o
quadro natural, do quadro humano, característica essa da geografia tradicional. A ênfase que é dada
ao que é natural são apenas descrições relevantes ao relevo, clima, hidrografia, vegetação etc, sem
visar o ser humano como um ser ativo causador de profundas transformações. Ainda mais quando
se observa que todos esses conteúdos são passados pelo professor, que detém o conhecimento, sem
considerar o aluno como um elemento ativo do seu processo histórico.
Daí a necessidade de uma geografia crítica, para abordar a questão social no mundo
contemporâneo, para compreender melhor o abstrato e o real com mais coerência. Nas indagações
de Santos, (2006) ele diz que:

Os recursos de um País formam uma totalidade. As diversas disciplinas buscam enumerá-


los, segundo suas próprias classificações mais ou menos específicas, mais ou menos
detalhadas, e até certo ponto, mais ou menos enganosas. Mas, de fato, nenhum recurso tem,
por si mesmo, um valor absoluto, seja ele um estoque de produtos, de população, de
emprego ou de inovações, ou uma soma de dinheiro. O valor real de cada um não depende
de sua existência separada, mas de sua qualificação geográfica, isto é, da significação
conjunta que todos e cada qual obtêm pelo fato de participar de um lugar. (2006, p. 86).

Reconhecemos como importante essa reflexão no ensino da Geografia, porque professores e


alunos devem procurar entender que sociedade e natureza são inseparáveis, ambas constituem a
base objetiva sobre a qual o espaço geográfico é construído. Para Cavalcanti,

Não basta ao professor ter domínio da matéria (principalmente se o entendimento desse


domínio não estiver pressupondo um quadro de referência sobre esse modo de analisar a
realidade), é necessário tomar posições sobre as finalidades sociais da geografia escolar
numa determinada proposta de trabalho, é preciso que o professor saiba pensar criticamente
a realidade social e se colocar como sujeito transformador dessa realidade. (2012, p 73).

Em sala de aula pode-se debater questões teóricas, realizando conexões com elementos
próximos à realidade dos educandos. Isso faz com que eles confrontem a realidade vivida com a
teoria, num processo de produção e aplicação de conhecimento com o intuito de fazer com que a
sociedade em geral possa compreender as dinâmicas espaciais.
A partir dessas relações, surgiu a proposta de investigação desse trabalho que constitui em
uma análise teórica e metodológica das concepções de natureza no ensino de geografia. De maneira
específica, serão investigados os conteúdos e as metodologias aplicados em sala de aula,
relacionado às adequações ao conceito de natureza do conhecimento cientifico, em uma perspectiva
crítica da realidade. Será adotado o método qualitativo em sua análise com perguntas exploratórias
sobre temas que podem constituir problemas de pesquisa.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Geografia escolar atualmente pressupõe um conjunto de conceitos e metodologias


complexas, para compreensão do processo de construção espacial pelo educando. O ensino de
geografia deve levar o aluno a desenvolver uma percepção crítica da realidade, para entender as
transformações ocorridas no espaço a nível local e mundial.
Espera-se com a proposta deste trabalho, possa contribuir à superação das dificuldades no
ensino de uma Geografia em constante movimento e que contribua para o entendimento mais crítico
do espaço, compreendendo o papel da dinâmica da natureza, através de conceitos e categorias do
pensamento geográfico, que possibilitem uma aproximação dos educandos à realidade vivida, sua
compreensão e diferentes formas de intervenção no espaço em que atuam como principais
transformadores da realidade.
Através da seguinte pesquisa, pretendemos comprovar que trabalhando o conceito de
natureza com um olhar geográfico direcionado as transformações ocorridas na sociedade no espaço
e tempo, dentro da geografia escolar em uma perspectiva dialética, o ensino de geografia será
consolidado e efetivado de forma coerente em relação aos conteúdos trabalhados e sistematizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O Professor pesquisador: Introdução à pesquisa qualitativa.


São Paulo: Parábola, 2008. 136 p. (Estratégias de Ensino; 8).

CARVALHO, Maria Inez da Silva de Souza. Fim de Século: a escola e a geografia. Ijuí: Unijuí,
2004.

CAVALCANTI, Lana de Souza. O ensino da geografia na escola. São Paulo: Papirus, 2013.

______.Geografia, escola e construção de conhecimentos. São Paulo: Papirus, 1998.

MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia crítica. São
Paulo: Contexto, 2009.

______. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2008.

NETO, Hélion Póvoa (org.). Para ensinar Geografia. Rio de Janeiro:RJ-ACCESS, 1993).

PONTUSCHKA, N. N. Geografia, representações sociais e escola pública.Terra Livre. n. 15, p.


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REGO, N.; CASTROGIOVANNI, A. C.; KAERCHER, N. A. Geografia: práticas pedagógicas para


o ensino médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 928


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REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. São Paulo, Cortez, 2001.

RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável:


problemática, tendências e desafios. Edições UFC: Fortaleza, 2013.

RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. Planejamento e Gestão Ambiental: Subsídios da


Geoecologia das Paisagens e da Teoria Geossistêmica. Edições UFC: Fortaleza, 2013.

RUA DE CABO, A. Planificación Territorial. Editora Universitária Felix Varela, La Habana,Cuba,


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SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Universidade
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______. Por uma nova Geografia: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo:
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VESENTINI, Jose William. (Org.) O ensino da Geografia no século XXI. Campinas: Papirus, 2004.

______. Para uma Geografia crítica na escola. São Paulo: Editora do autor, 2008.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 929


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS SOB A FORMA DE AÇÃO EXTENSIONISTA

Solange XAVIER-SANTOS
Docente, Universidade Estadual de Goiás, campus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas
solange.xavier@ueg.br
Ivan Luis PALHARES
Graduando do curso de Geografia, Universidade Estadual de Goiás, Campus Porangatu
ivanpalhares@hotmail.com
Élida Lúcia da CUNHA
Docente, Universidade Estadual de Goiás, campus Porangatu, Mestranda do PPG em Recursos
Naturais do Cerrado, campus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas
elidabio@live.com

RESUMO
A agricultura convencional ainda é a principal forma de produção de alimentos para a humanidade.
Porém, é notório o desgaste ambiental que ela acarreta em função do uso intenso e exaustivo de
recursos naturais e do uso de agroquímicos para o controle de pragas e manejo do solo nas lavouras.
A agroecologia propõe alternativas para o cultivo de alimentos em consonância com o uso
consciente do solo, dos recursos hídricos e de insumos biodegradáveis. Visando difundir este
conhecimento, foi proposta uma ação extensionista no âmbito do estágio de docência do curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Goiás, em parceria com escolas
do Ensino Fundamental e Médio do município de Porangatu, Goiás. O projeto procurou demonstrar
de forma prática como implantar e manejar um sistema agroflorestal a partir da perspectiva da
produção orgânica. Utilizando-se uma área nas dependências do campus universitário, os
acadêmicos, em conjunto com estudantes da Educação Básica das escolas campo estruturaram
canteiros para o cultivo orgânico, nos quais foram plantados mandioca, banana, abacaxi, limão,
goiaba, figo, aroeira, além de hortaliças diversas, como cebolinha, alface e couve. A colheita obtida
foi comercializada e a renda resultante utilizada para autossustentar o projeto. Além de demonstrar
a viabilidade da produção agroecológica com foco em orgânicos, inclusive em espaços urbanos, a
ação extensionista tem contribuído para a conscientização dos estudantes envolvidos para a
sustentabilidade e para a disseminação desse conhecimento a suas famílias, incluindo agricultores e
não agricultores.
Palavras-chave: Agroecologia. Agrofloresta. Agricultura orgânica. Extensão universitária.

ABSTRACT
The conventional agriculture is still the main form of food production. However, the environmental
degradation caused by the intensive and exhaustive use of natural resources and the use of
agrochemicals to control pests and soil management in this kind of crops is notorious. The
agroecology proposes alternatives for growing food in consonance with the conscious use of soil,
water resources and biodegradable inputs. Aiming to disseminate this knowledge, an extensionist
action was proposed in the scope of teaching stage of the Licentiate in Biological Sciences course of
the State University of Goiás, in partnership with primary and secondary schools of the
municipality of Porangatu, Goiás. The project demonstrated in a practical way how to implant and
manage an agroforestry system from the perspective of organic production. Using an area on the
campus campus, academics, together with students from the Basic Education of the field schools,
structured organic gardens, in which cassava, banana, pineapple, lemon, guava, fig, of various
vegetables such as chives, lettuce and cabbage. The harvest obtained was commercialized and the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

resulting income used to self-sustain the project. In addition to demonstrating the feasibility of
agroecological production with a focus on organic, including in urban spaces, the extensionist
action has contributed to the awareness of the students involved for the sustainability and the
dissemination of this knowledge to their families, including farmers and non-farmers.
Keywords: Agroecology. Agroforests. Organic agriculture. University Extension.

INTRODUÇÃO

A agricultura convencional ocupa uma área extensa da superfície terrestre. Não obstante, é
considerada uma das manipulações humanas mais impactantes ao ambiente. Em uma paisagem
agrícola de monocultura, as árvores são encaradas como uma obstrução que desacelera o
desenvolvimento econômico, pois ocupam espaço e nutrientes que seriam utilizados na produção.
Nesse modelo, a concepção de desenvolvimento econômico baseado na agricultura parte do
princípio de extrair do solo seus nutrientes e riquezas minerais para transformá-los em capital. Tais
práticas agrícolas, em especial as de monocultura, tem desenvolvido uma extensiva atividade que,
com o passar do tempo acaba tornando a terra infértil, impossibilitando o desenvolvimento de
vegetação mais complexa, que exija maior concentração de nutrientes.
Por outro lado, a agroecologia busca integrar os saberes históricos dos agricultores com os
conhecimentos de diferentes ciências, permitindo, tanto a compreensão, análise e crítica do atual
modelo do desenvolvimento e de agricultura, como o estabelecimento de novas estratégias para o
desenvolvimento rural e novos desenhos de agriculturas mais sustentáveis, desde uma abordagem
transdisciplinar e holística (Caporal, 2009). Ela propõe alternativas para o cultivo de alimentos em
consonância com o uso consciente do solo, dos recursos hídricos e de insumos biodegradáveis,
sendo dirigidos pela sucessão natural e comprometidos com a sanidade dos produtos gerados. Entre
esses, os sistemas agroflorestais e a agricultura orgânica, representam uma forma de produção de
alimentos que contribui para conservar e/ou recuperar os recursos naturais e a biodiversidade
(Gotsch, 1995).
A agrofloresta ou sistema agroflorestal (SAF) constitui uma prática no contexto da
agroecologia que utiliza os recursos naturais de forma sustentável, aliada a menor dependência de
insumos externos, o que é vantajoso tanto para a segurança alimentar, quanto ambiental; tanto para
produtores, quanto para consumidores (Armando et al, 2002). A legislação brasileira define SAF
como um sistema de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes são manejadas em
associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, forrageiras em uma
mesma unidade de manejo, de acordo com um arranjo temporal e espacial, com elevada diversidade
de espécies e suas interações (Brasil, 2009, 2010). Esse sistema propõe a preservação da

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

biodiversidade, de modo que a própria floresta se sustenta em consonância com a produção de


alimentos.
A agricultura orgânica constitui um sistema agrícola sustentável que não permite o uso de
produtos químicos sintéticos prejudiciais para a saúde humana e para o meio ambiente, nem de
organismos geneticamente modificados. O que garantiria um solo saudável e alimentos de
qualidade superior à daqueles produzidos em sistemas agrícolas convencionais. Este sistema de
produção se utiliza de fertilizantes naturais, manutenção do solo protegido dos raios solares e das
gotas de chuva, rotação de culturas, o aumento da biodiversidade, consorciação de culturas,
adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. É um processo produtivo
comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos, garantindo a saúde
dos seres humanos, razão pela qual usa e desenvolve tecnologias apropriadas à realidade local de
solo, topografia, clima, água, radiações e biodiversidade própria de cada contexto.
Para a produção orgânica em sistema agroflorestal é necessário o redesenho dos
agroecossistemas a partir da diversificação de cultivados, a viabilização de condições para o
equilíbrio ecológico, uso e resgate de variedades adaptadas aos locais de produção, considerar os
princípios da trofobiose, os quais refletem um metabolismo equilibrado da planta sem excesso de
aminoácidos livres, o que reduz o ataque de pragas e doenças, manejo ecológico do solo, produção
de biomassa local e reciclagem de matéria orgânica (Souza, 2015).
A partir desta premissa e das indagações sobre as contribuições da universidade para a
formação de cidadãos ambientalmente conscientes, foi proposta uma ação extensionista envolvendo
a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e escolas do Ensino Fundamental e Médio do município
de Porangatu, Goiás, procurando demonstrar de forma prática como implantar e manejar um
sistema agroflorestal a partir da perspectiva da produção orgânica.

DESENVOLVIMENTO

Iniciada em janeiro de 2017, como projeto de extensão universitária, a ação foi idealizada no
âmbito do estágio de docência do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UEG,
envolvendo acadêmicos e estudantes do Ensino Fundamental e Médio de duas escolas do município
de Porangatu, Goiás.
A área de implantação dos cultivos está localizada nas dependências do campus
universitário, cuja escolha levou em consideração a incidência de sol constante durante todo o dia.
A aquisição de sementes, mudas, esterco (orgânico), ferramentas e outros insumos se deu por meio
de doações entre os envolvidos no projeto e do patrocínio do comércio local.
Foram preparados quatro canteiros de 0,5x6m, a partir do revolvimento do solo e adição de
esterco de cavalo, com o auxílio de enxadas (Figura 1). Posteriormente foi feito o plantio de mudas

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 932


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de aroeira, goiaba, figo, abacaxi, banana e mandioca e de sementes hortaliças, como couve, alface e
cebolinha, entre outras espécies (Figura 2). O solo foi, então, coberto com folhagens e palhas para
reduzir a incidência de luz solar e preservar a umidade e, utilizando-se de mangueiras perfuradas,
por construído um sistema de irrigação por gotejamento.
Até o mês de agosto de 2017 foi verificado o estabelecimento de todas as espécies plantadas,
algumas em processo de desenvolvimento, outras já tendo sido colhidas., como foi o caso
dacebolinha, alface (Figuras 3 e 4) e couve. Os produtos até então colhidos foram vendidos para a
comunidade local que mostrou grande interesse e aceitação. Os recursos obtidos foram revertidos
para a sustentabilidade do projeto. Com a ampliação do projeto pretente-se comercializar os
produtos junto a feiras permanentes.
Os estudantes da educação básica visitaram a área em diferentes momentos da implantação
dos cultivos. Durante as visitas, monitoradas pelos licenciandos, os visitantes tiveram uma aula
campo dialogada sobre os princípios da agroecologia, os procedimentos adotados, e
desdobramentos desse sistema de produção agrícola, articulando a teoria com a prática e instigando
o debate sobre sustentabilidade, incluindo aspectos sociais, econômicos e ambientais.
Além de demonstrar a viabilidade da produção agroecológica com foco em orgânicos,
inclusive em espaços urbanos, a ação extensionista tem contribuído para a conscientização
ambiental, dos estudantes envolvidos, para a sustentabilidade e para a disseminação desse
conhecimento a suas famílias, incluindo agricultores e não agricultores.
Observando o envolvimento dos acadêmicos e dos escolares nas atividades, foi possível
perceber que o projeto contribuiu para a implementação de uma educação ambiental baseada nos
princípios agroecológicos, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e sensibilidades
ambientais, responsabilidade, compromisso, solidariedade que constituem aspectos fundamentais
para a formação do sujeito ecológico (Bernardes et al, 2013) nos diferentes níveis de ensino (desde
o ensino fundamental ao superior).

Figura 1 - Preparação dos canteiros agroecológicos. Figura 2 - Cultivos agrícolas em canteiros


agroecológicos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 - Produção de cebolinha em sistema Figura 4 - Produção de alface em sistema


agroecológico. agroecológico.

REFERÊNCIAS

ARMANDO, M. S.; BUENO, Y. M.; ALVES, E. R. da S. A., CAVALCANTE, C. H. Agrofloresta


para Agricultura Familiar. Circular técnica 16. Brasília-DF. 2002.

BERNARDES, M. B. J., Matos, P. F., Nehme, V. G. Educação Ambiental e Agroecologia nas


Escolas do Campo. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research
medium, v. 4,n.1, p. 436-447, 2013.

BRASIL. Resolução CONAMA nº 425, de 25 de maio de 2010. 2010.

BRASIL. Instrução Normativa nº 4, de 8 de setembro de 2009. Diário oficial da união. 09 de


setembro de 2009.

CAPORAL, F. R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a agriculturas mais

sustentáveis. 1 ed. Brasília: MDA/SAF, 2009. v. 1., 30 p.

GOTSCH, E. O renascer da agricultura. AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em


Agricultura Alternativa. 2ª ed. Rio de Janeiro. 1996.

SEVILLA GUZMÁN, E.; OTTMANN, G. Las dimensiones de la agroecologia. In: Instituto de


Sociología y Estudios Campesinos. Manual de olivicultura ecológica. Universidad de Cárbora.
Cárdoba. 2004

SOUZA, J. L. Agroecologia e agricultura orgânica: princípios, métodos e práticas. 2ª ed. Incaper.


Vitória-ES. 2015.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 934


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O USO DA COMPOSTAGEM COMO PRÁTICA EDUCATIVA NUMA ESCOLA DO


CAMPO NO MUNICÍPIO DE JAGUARETAMA (CE)

Wellington Brito JERONIMO


Professor da E. E. M. Padre Augusto Regis Alves /SEDUC – CE
wellington29a@hotmail.com
Catia Melissa LEMOS
Educanda da E. E. M. Padre Augusto Regis Alves
catiamelissa6102@gmail.com
Francisco Jackson PEIXOTO
Educando da E. E. M. Padre Augusto Regis Alves

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo relatar a experiência da prática da compostagem numa escola
do campo utilizando resíduos orgânicos produzidos na própria escola. O desenvolvimento da
atividade ocorreu na Escola de Ensino Médio Padre Jose Augusto Regis Alves, em Jaguaretama –
Ce, junto com os educandos e educandas do ensino médio. A prática constou de aulas teóricas e
aulas práticas sobre o processo de compostagem e sua importância para o meio ambiente, além de
ser uma ferramenta para o processo de aprendizagem sobre questões ligadas a preservação do meio
ambiente e sustentabilidade. Diante disso, este trabalho teve o objetivo de relatar a experiência
adquirida pelos educandos e educandas através da pratica da compostagem, visando o
aproveitamento de resíduos orgânicos produzidos na escola e em seu entorno, além de utilizar o
adubo produzido na horta e nos canteiros de plantas medicinais e frutíferas.
Palavras-chave: Agroecologia; Educação do campo; Resíduos orgânicos

ABSTRACT
This article aims to report the experience of composting in a school in the countryside using organic
waste produced in the school itself. The development of the activity took place in the Escola
Superior de Padre Jose Augusto Regis Alves, in Jaguaretama - Ce, together with the students and
high school students. The practice consisted of theoretical classes and practical classes on the
composting process and its importance for the environment, besides being a tool for the learning
process on issues related to preservation of the environment and sustainability. The objective of this
work was to report the experience acquired by the students and students through the practice of
composting, aiming at the use of organic waste produced in the school and its surroundings, besides
using the fertilizer produced in the vegetable garden and in the plant beds Medicinal and fruit.
Keywords: Agroecology, Field education, Organic waste

INTRODUÇÃO

A grande quantidade de resíduos orgânicos gerados pelas atividades agrícolas,


agropecuárias, industriais, florestais e até mesmo resíduos urbanos demandam por técnicas que
possibilitem reduzir o impacto negativo do seu despejo inadequado e também demandam por
técnicas que possam sanar os problemas da falta de áreas com capacidade de suporte para receber

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 935


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

esses resíduos, causando contaminação do meio ambiente. O processo de compostagem surge como
uma técnica alternativa no tratamento e na destinação final desses resíduos, além de gerar um adubo
orgânico de baixo custo que pode ser utilizado em várias culturas, como hortaliças e espécies
ornamentais (MARQUES et al, 2017).
A compostagem é uma prática agroecológica que visa o aproveitamento dos recursos
disponíveis a partir da mistura de resíduos oriundos de diversas fontes que aparentemente não eram
utilizadas (COSTA & SILVA, 2011). Considerando, portanto, esta, uma atividade para além de um
processo biológico de transformação dos resíduos orgânicos, resultado da mistura de restos de
alimentos, frutos, folhas, estercos, serragem e palhadas, mas com fins socializador pertinente a troca
e propagação do conhecimento.
A compostagem tem algumas vantagens como: favorecer o melhor aproveitamento dos
resíduos orgânicos e permitir a utilização
A prática da compostagem realizada na escola de ensino médio Padre José Augusto Regis
Alves, situada no município de Jaguaretama – Ce, teve como objetivo proporcionar aos educandos e
educandas, através dos cuidados com o meio ambiente, o aprendizado sobre técnicas de manejo
racional da natureza, a partir do aproveitamento dos recursos disponíveis no local, proporcionando
o aumento da sua autonomia, sem, no entanto, descaracterizá-los em suas técnicas, costumes e
modo de vida.
Com as aulas práticas sobre compostagem, pretende-se produzir adubo orgânico para ser
utilizado na mandala agrícola, nos canteiros das plantas medicinais e nas espécies frutíferas, que se
encontram no campo experimental da escola, como também dentro da escola.
O objetivo dessa atividade foi além da aquisição de conhecimentos teóricos e práticos sobre
a compostagem, visou também promover a conscientização dos educandos e educandas sobre a
importância da preservação ambiental e do patrimônio escolar, bem como o aprendizado sobre
práticas sustentáveis.

METODOLOGIA

A atividade vem sendo desenvolvida com os educandos e educandas do ensino médio,


através da disciplina de OTTP (Organização do Trabalho e Técnicas Produtivas), disciplina essa,
pertencente a grade curricular utilizada pelas escolas do campo do Estado do Ceará. Um dos
objetivos da disciplina de OTTP é proporcionar aos educandos e educandas subsídios teóricos e
práticos, dentro do contexto da agroecologia e práticas agrícolas sustentáveis, que sejam utilizados
em sua vida cotidiana, dentro e fora da escola. Diante disto, surgiu a ideia de se trabalhar a
compostagem na Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Regis Alves, localizada no município
de Jaguaretama – CE. Essa prática foi realizada dentro do campo experimental que da escola.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foram utilizados na compostagem resíduos produzidos na própria escola e em seu entorno. Os


resíduos foram coletados pelos educandos e educandas. Seguiu-se da seguinte maneira: 1- Houve a
coleta de folhas e galhos provenientes da poda das áreas interna da escola, bem como das áreas de
capina do campo experimental (Figura 01); 2 - houve a coleta do esterco (de bovinos, ovinos e
caprinos) (Figura 02). Após a coleta dos resíduos, começou a formação da pilha para compostagem,
os educandos e educandas foram fazendo o amontoamento dos resíduos por camada, sendo uma
camada de folhas e restolhos e outra camada de esterco, sucessivamente até que a pilha pudesse
ficar em uma altura ideal para uma adequada decomposição dos resíduos, ou final da montagem da
pilha, foi colocado um ferro no meio da pilha de resíduos e folhagens, para que pudesse
acompanhar o processo de decomposição, se a decomposição estiver ativa a temperatura dentro da
pilha estará muito elevada, ou seja o ferro estará muito quente, e quando o ferro esfriar é um sinal
de que o composto está pronto. O produto final do processo de compostagem é um adubo orgânico
de excelente qualidade que é utilizado na horta e no horto da escola.

Figura 01. Coleta de material verde Figura 02. Coleta do esterco de animais

Figura 03. Amontoamento do material para formação da pilha

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a prática da compostagem pode-se observar que os educandos e educandas sentiram-se


atraídos por desenvolver uma consciência ecológica e crítica sobre a utilização dos resíduos
orgânicos para a produção da compostagem, reduzindo assim, os resíduos liberados para os lixões.
No entanto, fica claro que os educandos e educandas tornaram-se envolvidos ativamente,
com as aulas teóricas e práticas sobre compostagem, consolidando, assim, a construção de
conhecimentos pelos mesmos e também por seus educadores. A compostagem é uma técnica que
consiste num processo de transformação de diferentes tipos de resíduos orgânicos em adubo. Desta
forma, este adubo produzido quando adicionado ao solo pode melhorar as suas características
físicas e biológicas. O processo de compostagem pode ainda proporcionar um destino útil para os
resíduos orgânicos produzidos na escola e na comunidade ao entorno da escola, evitando assim a
contaminação do meio ambiente (SANTOS et al 2010).
A utilização da compostagem em aulas práticas da disciplina de OTTP é de extrema
relevância, pois pode promover a associação ensino/pesquisa; a interdisciplinaridade com outras
disciplinas do currículo escolar, até por que este é um método de contextualizar o conteúdo exposto
pelo educador com o dia-a-dia dos educandos e educandas. Além disso, os educandos e educandas
se tornam mais interessados pelas aulas, devido o despertar de sua curiosidade e caráter
investigativo necessário no estudo gerado pelo tema.
A prática da compostagem é uma técnica bastante relevante para atividades agrícolas, pois
além de substituir adubos químicos, que, na maioria das vezes, pode tornar o solo infértil, contribui
no processo de fertilização do solo, além de aumentar a quantidade de nutrientes necessários ao
desenvolvimento da cobertura vegetal. (CAMPBELL, 1995).
É uma técnica muito simples, onde pode-se utilizar restos de comida e poda de plantas, sem
muitos gastos, pois permite a minimização do uso de adubos industrializados pelo produtor
rural, que obtém uma economia de custos, beneficiando, deste modo, o meio ambiente.

CONCLUSÕES

A prática da compostagem permitiu aos educandos e educandos, bem como aos educadores
o acompanhamento do processo de planejamento e implantação da atividade, trazendo orientações
sobre o melhor local, quais os materiais deverão ser colocados, teor de umidade e temperatura,
fatores essenciais para garantia de um excelente composto. Permitiu igualmente a troca de
experiências entre os educandos e educandas e o desenvolvimento de posturas mais éticas, pois
foram trabalhados ao longo das aulas e do acompanhamento do processo de compostagem.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Concluiu-se que a aprendizagem pode ser auxiliada pela prática, melhorando hábitos atuais e
futuros. Foi observado também que a utilização da compostagem como recurso metodológico é
bastante relevante para a disciplina de OTTP, bem como outras disciplina do currículo escolar,
como biologia e química, visto que além de chamar a atenção dos educandos e educandas para a
observação dos fenômenos que ocorrem no processo, é uma maneira dinâmica de contextualização
e de interdisciplinaridade, onde os educandos e educandas têm a oportunidade de realizar a ruptura
com suas concepções alternativas, para construção de conhecimentos científicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, B.W; GOMES, N. R; LIMA, S. K. L; BARBOSA, S. J. A e ARAÚJO, E. A. O uso da


Compostagem para melhoria da agricultura familiar: Uma nova visão dos Jovens do Curso de
Formação De Agentes De Desenvolvimento Rural Sustentável. I Congresso Paraibano de
Agroecologia e IV Fórum Sobre o Registro Profissional do Agroecológico de Lagoa Seca- PB:
UFPB, 2010.

CAMPBELL, S. Manual de compostagem para hortas e jardins. 5. ed. São Paulo: Nobel, 1995.

COSTA, A. P.; SILVA, W. C. M. A Importância da Compostagem em Aulas Práticas de Ciências


Naturais E Geografia na Escola Municipal Maria Cândido de Oliveira em Cachoeira dos Índios
– PB. In 63ª Reunião Anual da SBPC, 2011.

MARQUES, R.; BELLINI, E.; GONZALEZ, C. E. F.; XAVIER, C. R. Compostagem como


ferramenta de aprendizagem para promover a educação ambiental no ensino de ciências. In: 8°
Fórum internacional de resíduos sólidos – Resíduos sólidos e Recursos hídricos: As grandes
consequências de cada atitude. Curitiba – Brasil/junho 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 939


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TRABALHO DE CAMPO: UMA FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO


ENSINO SUPERIOR

Zaqueu Henrique de SOUZA


Professor Mestre do Curso de Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
zaqueu@fimes.edu.br
Valéria Silva Felipe MOURA
Graduanda do Curso De Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
valleriafellipe13@gmail.com
Bethânia Leite MACHADO
Graduanda do Curso De Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
bethanialeite.m@gmail.com
João Pedro Novais Queiroz GUIMARÃES
Graduando do Curso De Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
jnovaisq@gmail.com

RESUMO
No presente trabalho apresenta-se resultados de uma pesquisa com alunos do ensino superior dos
cursos de Administração e de Engenharia Ambiental da Universidade de Rio Verde – Campus
Caiapônia-GO, cujo objetivo foi aplicar trabalho de campo como estratégia para realização de
educação ambiental. Partindo do princípio que os alunos que chegam ao curso superior já deveriam
em algum momento de sua formação ter tido contato com educação ambiental, não como disciplina,
mas como tema transversal. Para fazer o diagnóstico aplicou-se um questionário e entrevista, os
quais revelaram que 43% dos alunos afirmavam que nunca haviam participado de nenhuma
atividade de educação ambiental e que 60% apresentavam uma percepção utilitarista de meio
ambiente. Esse resultado reforça a tese de que a educação ambiental é ineficiente ou inexistente na
formação dos estudantes de nível fundamental e médio. Na sequência da pesquisa utilizou-se a
estratégia de trabalho de campo, baseado em paisagem que se contrastam, e que fazem parte da
realidade dos alunos, numa perspectiva de leitura de mundo ou da construção de leitura de mundo a
partir de novos conceitos e olhares. Em seguida foram feitas rodas de conversas para discutir a
questão da Educação Ambiental no trabalho de campo. Após a realização dos trabalhos de campo
foi aplicado o segundo questionário e entrevista que mostraram indicativos de mudanças de
percepção ambiental dos alunos. Assim, concluiu-se que o trabalho de campo é uma estratégia
eficiente para trabalhar educação ambiental, necessita ser um trabalho contínuo, pois somente o
trabalho de campo não dará conta de toda a problemática existente em torno das questões
ambientais e que ações pontuais não são suficientes para mudar a atitude de um sujeito. Portanto a
Educação deve ser trabalhada de forma continua e transversal na educação básica e superior,
contribuindo para a formação de sujeitos envolvidos em uma nova relação com a natureza e entre
si.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Trabalho de Campo. Percepção Ambiental.

ABSTRACT
In this paper we present results of a survey of students in higher education of Business
Administration courses and Environmental University of Rio Verde Engineering - Campus
Caiapônia-GO, whose goal was to apply field work as a strategy for conducting environmental
education. Assuming that students arrive at college already should at some point in their training

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 940


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

have had contact with environmental education, not as a subject but as a crosscutting theme. To
make the diagnosis applied a questionnaire and interview, which revealed that 43% of students said
they had never participated in any activity of environmental education and 60% had a utilitarian
perception of the environment. This result reinforces the thesis that environmental education is
inefficient or non-existent in the training of primary and secondary level students. Following the
research used the fieldwork strategy, based on landscape that contrast and that are part of the reality
of the students, in a world of reading perspective or world reading construction from new concepts
and looks. Then conversations wheels were made to discuss the issue of environmental education in
the field of work. After completion of the field work was applied to the second questionnaire and
interview showed indicative of environmental awareness of students changes. Then conversations
wheels were made to discuss the issue of environmental education in the field of work. After
completion of the field work was applied to the second questionnaire and interview showed
indicative of environmental awareness of students changes. Thus, it is concluded that the field
work is an effective strategy to work environmental education needs to be a continuous work, as
only the fieldwork will not give account of all existing issues around environmental issues and
specific actions are not enough to change the attitude of a subject. Therefore education should be
worked continuously and cross in basic and higher education, contributing to the formation of
subjects involved in a new relationship with nature and each other.
Keywords: Environmental. Education. Fieldwork. Environmental awareness.

1 – INTRODUÇÃO

No presente trabalho, são apresentados os resultados de uma pesquisa com alunos do ensino
superior dos cursos de Administração e de Engenharia Ambiental da Universidade de Rio Verde –
Campus Caiapônia, que teve como objetivo verificar a percepção e a concepção dos alunos com
relação ao meio ambiente com base na definição de Malafaia e Rodrigues (2009) antes e depois da
realização de trabalhos de campo numa perspectiva para a Educação Ambiental.
A partir da aplicação de questionário e de entrevista, antes da realização dos trabalhos de
campo, verificou-se que mais da metade dos alunos têm uma percepção e concepção utilitarista da
percepção ambiental. Isso aponta para uma educação ambiental que está longe de ser uma realidade
no processo educacional, mesmo diante da existência da lei nº 9.975 de 1999, que institui a Política
Nacional de Educação Ambiental.
Na tentativa de contribuir para a mudança de concepção e de percepção ambiental dos
sujeitos da pesquisa foi proposto a realização de trabalhos de campo que foram realizados partindo
do conceito de paisagem de Ab‘Sáber (2011), Tuan (2012) e Santos (2006), numa perspectiva de
leitura de mundo de Freire (1994) e Carvalho (2011), abrindo espaços para a realização dos
trabalhos de campo nos seguintes pontos: Lixão da Cidade de Caiapônia-GO; Córrego das Galinhas
que é de onde é extraído a água que abastece a cidade de Caiapônia-GO; Cachoeira do São
Domingos no município de Piranhas-GO; Parque Nacional das Emas – PNE - GO; e na Estação de
tratamento de resíduos sólidos de Chapadão do Céu – GO. A realização deste trabalho de campo
aconteceu no segundo semestre de 2014.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ao final de cada trabalho de campo eram promovidas rodas de conversa com cada turma no
sentido de construir uma reflexão coletiva e de observar quais eram as impressões que os estudantes
tinham a partir das atividades desenvolvidas de modo a facilitar a reflexão para a próxima atividade.
E, para encerar, novamente foram aplicados questionário e entrevista, e verificou-se uma redução
da concepção utilitarista das questões ambientais e um aumento da concepção socioambiental.
Neste trabalho foi utilizado a classificação de concepção de Malafaia e Rodrigues (2009),
que se basearam em Reigota (1995), Brügger (1999), Tamaio (2000) e Fontana et al. (2002).
Malafaia e Rodrigues (2009) estabelecem as seguintes concepções de meio Ambiente:
Romântica, Utilitarista, Abrangente, Reducionista e Socioambiental. A descrição de cada uma
dessas concepções estão no quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Classificação de Categorias de Concepção Ambiental


CATEGORIAS DESCRIÇÃO
Elabora uma visão de ―super-natureza‖, mãe natureza. Aponta a grandiosidade da
natureza, sempre harmônica, enaltecida, maravilhosa, com equilíbrio e beleza estética. O
Romântica
homem não está inserido neste processo. Dentro desta concepção está embutida uma visão
dualística, homem vs. natureza.
Esta postura, também dualística, interpreta a natureza como fornecedora de vida ao
Utilitarista homem, entendendo-a como fonte de recursos para o homem. Apresenta uma leitura
antropocêntrica.
Define o meio ambiente de uma forma mais ampla e complexa. Abrange uma totalidade
Abrangente que inclui os aspectos naturais e os resultantes das atividades humanas, sendo assim é o
resultado da interação de fatores biológicos, físicos, econômicos e culturais.
Traz a ideia de que o meio ambiente refere-se estritamente aos aspectos físicos naturais,
como a água, o ar, o solo, as rochas, a fauna e a flora, excluindo o ser humano e todas as
Reducionista
suas produções. Diferentemente da categoria ―romântica‖, não proclama o enaltecimento
da natureza.
Desenvolve uma abordagem histórico-cultural. Essa leitura apresenta o homem e a
paisagem construída como elementos constitutivos da natureza. Postula uma compreensão
Socioambiental de que o homem apropria-se da natureza e que o resultado dessa ação foi gerado e
construído no processo histórico. Muitas vezes o homem surge como destruidor e
responsável pela degradação ambiental.
Fonte: Malafaia e Rodrigues, 2009.

A análise dos dados das entrevistas, que busca entender a percepção dos participantes da
pesquisa, foi tomada como base essas categorias, usando ainda a análise de conteúdo, conforme
Bardin (2011).
Fazer o confronte entre a percepção e a concepção, tornou-se algo importante para esse
trabalho, porque pela leitura de Carvalho (2011), isso torna possível identificar a origem da
formação das percepções e das concepções ambientais.
A realização dessa pesquisa consistiu-se em quatro etapas: na primeira foi feita uma
sondagem com a aplicação de um questionário e realização de entrevistas semiestruturadas; na
segunda, o desenvolvimento de duas atividades de campo e discussões após a realização dessas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

atividades em cada turma; na terceira foi aplicado outro questionário e uma entrevista após as
atividades de campo; e na quarta foi feita a análise dos dados obtidos pela aplicação dos
questionários, entrevistas e atividades, desenvolvidas no trabalho.
Os locais dos trabalhos de campo foram escolhidos para proporcionar paisagens que
pudessem se contrastar e, ao mesmo tempo, pudessem fazer de alguma forma parte da realidade dos
alunos.

2 - ANÁLISE DE DADOS SOBRE CONCEPÇÃO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL

2.1 Analise inicial dos primeiros instrumentos

Esse tópico apresenta as análises referentes à concepção e à percepção dos sujeitos


envolvidos, os quais foram obtidos por meio de um questionário e uma entrevista inicial. A turma
do segundo período de Administração, segundo semestre de 2014, contou, inicialmente na pesquisa,
com 15 alunos participantes, sendo que dois não se interessaram em participar, pois alegaram que
não era de interesse direto do curso em que estavam fazendo. No entanto, nesse mesmo semestre,
eles tinham uma disciplina de gestão ambiental. Nesse momento, já começamos a perceber certa
dificuldade com relação ao interesse dos alunos sobre o assunto.
A pesquisa contou com a participação de todos os alunos da turma 1 (17 alunos) da turma 2
(15 alunos) de Engenharia Ambiental do segundo semestre de 2014..
A primeira questão analisada foi a concepção dos alunos sobre o meio ambiente (questão 5
do questionário), na qual o aluno escolhia como resposta um texto que melhor adequasse à
definição de meio ambiente para ele. Esses textos explicitavam as categorias de Malafaia e
Rodrigues (2009), sobre meio ambiente, mencionadas anteriormente.
Conforme demonstra o Gráfico – 1, a concepção utilitarista de meio ambiente dos alunos de
Administração é a predominante, com 69%; 15% têm uma visão romântica, 8% abrangente e 8%
socioambiental. Esse gráfico aponta a deficiência na construção de concepção da EA por parte dos
alunos no ensino básico. Porém, 100% desses alunos, na entrevista, responderam que fazem a
relação do Meio Ambiente com algum elemento da natureza, como, 'mata, floresta, árvore, rio.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Gráfico 3- Concepção de Meio Ambiente dos alunos

80%

Eng. Amb 2
35%
Eng. Amb 1
ADM

69% 53%
13%
6% 7%
15% 6%
8% 8%

Elaborado pelo próprio autor, 2015

Da turma 1 de Engenharia Ambiental, 53% dos alunos apresentam uma concepção de meio
ambiente abrangente, 35% utilitarista, 6% apresentaram uma concepção romântica e 6%
socioambiental. A constituição do imaginário ambiental dessa turma passa pela ideia de 'árvores,
rios, florestas, pelo verde'. Essa é uma condição que parece ser inevitável, não que isso não seja
apenas os elementos físicos.
Na entrevista, quando foi perguntado - quais são as imagens que vêm à sua mente quando
pensa em meio ambiente, apenas uma resposta foi o 'desmatamento', e as demais remetiam aos
elementos naturais 'terra, fauna, flora, rios', entre outros, com a mesma conotação.
Na turma 2 de Engenharia Ambiental 80% dos alunos apresentaram uma concepção de meio
ambiente utilitarista, 13% romântica e 7% socioambiental. Prosseguindo a entrevista com a
pergunta - o que você pensa, quando ouve ou vê a expressão 'Meio Ambiente', foi observado que
79% dos alunos remeteram 'meio ambiente' a algum elemento natural (árvores, florestas, rios) e
21% apresentaram em suas falas elementos ligados à ideia da destruição da natureza pela sociedade
como, ―desmatamento e poluição‖. As mesmas respostas se repetem quando é perguntado - quais
são as imagens vêm à sua mente quando pensa em meio ambiente.
O gráfico 01 revela que em uma avaliação geral prevalece a concepção utilitarista de meio
ambiente, exceto na turma 1 de Engenharia Ambiental, quando o maior percentual ficou com a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

concepção abrangente. A concepção socioambiental foi a que apresentou os menores índices das
que pontuaram. A concepção reducionista não pontuou em nenhuma das turmas.
No gráfico 02, é apresenta a soma das concepções ambientais de todas as turmas, sendo que
59% apresentaram uma concepção de meio ambiente utilitarista, 23% abrangente, 11% romântica e
7% socioambiental. Observe que nenhum dos pesquisados marcou a visão reducionista.

Gráfico 4 - Concepção de meio ambiente soma total dos alunos da pesquisa.

7% 11%

22% Romântica
Utilitarista
Abrangente
Reducionista
Sócio-Ambiental

60%

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2015

Nesse sentido, esses dados são preocupantes, pois apontam para uma ineficiência da EA nas
fases de ensino fundamental e médio, tendo em vista que desde 1999 existe a lei que estabelece a
política nacional de EA, a qual prevê a oferta de EA em todos os níveis escolares. O quadro 2,
revela que 43% dos alunos não participaram de nenhuma atividade de EA durante a sua vida escolar
ou não reconhecem a prática de EA na escola.

Quadro 2 - Durante a sua vida escolar você participou de alguma atividade de EA?
ADM ENG. AMB1 ENG. AMB. 2 TOTAL
Sim 77% 63% 33% 57%
Não 23% 37% 67% 43%
Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2015

Em seguida, foram analisados os dados dos alunos que afirmaram ter participado de algum
projeto de EA durante a vida escolar, conforme gráfico 03.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Gráfico 5- Concepção de meio ambiente dos alunos que na sua vida escolar participaram de algum projeto de
EA.

8%
14%

Romântica
25% Utilitarista
Abrangente
Reducionista
Sócio-Ambiental

53%

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2015

Ao analisar e comparar os gráficos 02 e 03, observamos que a diferença existente entre eles
é muito pequena. Apontam para uma ineficiência da EA, pois mesmo os alunos que reconhecem
terem participado de alguma atividade de EA, ao longo da vida escolar, os quais permanecem em
sua maioria absoluta com uma visão utilitarista de meio ambiente.
Essa ineficiência da EA pode ter várias causas, e para aprofundar nessas causas, devemos
analisar a origem escolar desses alunos (em qual unidade escolar estudavam), na tentativa de
compreender os fatores que contribuem para esse grave problema de uma EA ineficiente. No
entanto, deve-se considerar que analisar as unidades só deve servir para se ter dados e variáveis de
análise para o enfrentamento do problema, pois se acredita que esse não resida apenas na escola,
mas na política educacional do Estado ou na ausência de uma política ampla em prol da EA e na
formação dos professores.

2.2 - Analise após os trabalhos de campo

De fato o gráfico 4 mostra que houve uma mudança de concepção de meio ambiente que foi
percebida a partir da aplicação do questionário quando as concepções Românticas, Utilitaristas e
Abrangentes, que reduziram do primeiro para o segundo questionário e a concepção socioambiental
cresceu. Isso é um indicativo de que os trabalhos de campo contribuíram de alguma forma para a
mudança de concepção dos sujeitos da pesquisa, todavia deve-se ter o cuidado de entender que em
um processo de EA não está se trabalhando com amostra controlada, há, portanto, muitas variáveis
agindo sobre o mesmo sujeito.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Gráfico 6 -Concepção de Meio Ambiente dos alunos nos questionários


70%
60%
60%
49%
50%
40%
32%
30%
22% Quest 1
20% 14%
11% Quest 2
10% 5% 7%

0%

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Numa análise mais detalhada por turma dos dados do segundo questionário (Gráfico 5),
observa-se que alguns detalhes devem ser considerados no momento de preparação do processo de
EA, dentre elas destaco a participação de vários professores, pois não pode ser responsabilidade de
um professor apenas fazer EA, mas deve ser cultura corrente entre todos os professores.
Observamos que a turma de Administração, por mais que, ao longo do processo, tenha mostrado
muita mudança, é a única que não assinalou a concepção socioambiental.

Gráfico 7 - Concepção de Meio Ambiente dos alunos no segundo questionário

88%

ADM
33%
50% Eng. Amb. 2
13% Eng. Amb 1
8% 47%
8% 29% 18%
6%

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A proposta de trabalharmos a EA na Administração foi justamente para criar uma


possibilidade de contraposição, ou a abertura de novos caminhos para o conceito de administrar,
pois ao longo das aulas, o conceito mais ouvido dos estudantes foi ―Ah é uma forma eficiente a

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 947


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

administração de minimizar custo e maximizar lucro‖. Assim, o desafio de propor EA é de romper


com essa ideia de que só o lucro era importante. Neste caso, a visita a Estação de Tratamento de
Resíduos contribuiu muito, pois quando o responsável que nos recebeu foi questionado se a venda
dos resíduos pagava as despesas, a resposta foi: ―não, não paga, hoje está pagando
aproximadamente de 12% das despesas totais, mas com uma mudança que fizemos deve chegar a
aproximadamente 40%. Mas a questão não é a despesa aqui mas a economia com as questões de
saúde, para se ter ideia, neste ano não tivemos nenhum caso de dengue. ‖Essa fala ecoou durante
dias de discussões na turma em que algumas novas constatações foram feitas sobre o lucro.
Entretanto, deve-se levar em consideração que não temos uma política nacional de EA
efetiva e, por isso, a maioria dos professores toma certa distância dessas questões, o que é diferente
no caso do curso de Engenharia Ambiental em quede alguma forma os professores e as disciplinas
estão mais próximos da discussão da problemática ambiental. Isso demonstra uma desigualdade na
forma como é tratada a EA, um problema estrutural da educação. Por outro lado, o gráfico 5
demonstra que nos cursos de Engenharia Ambiental foi onde houve maior crescimento dos sujeitos
com uma concepção socioambiental.
É importante comparar os dados coletados por meio das entrevistas, quando percebemos que
nas entrevistas os sujeitos têm dificuldades de formular respostas sobre a concepção
socioambiental, mas por outro lado, algumas situações são reveladoras, pois quando perguntado o
que era meio ambiente, muitas das respostas continham essa concepção:
―Antes eu pensava que meio ambiente era só mata, rio, mas hoje eu sei que nós também
somos parte desse meio ambiente, que a cidade também é um meio ambiente.‖
Nesta condição, percebe-se que houve um avanço em se reconhecer como parte do meio
ambiente, o que demonstra o gráfico 4.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de campo é uma excelente estratégia para a EA, porém dois destaques precisam
ser feitos: primeiro, o trabalho de campo precisa ser planejado e é importante ter um conhecimento
das concepções e percepções que a turma já têm de meio ambiente, daí a necessidade de o trabalho
de campo remeter-se à realidade do sujeito, pois, caso contrário, torna-se turismo; segundo, no
campo, diante de um conhecimento prévio da turma, o professor deve ser o condutor para
possibilitar as novas lentes aos sujeitos para que desvelem a realidade.
O elemento tempo e contexto são fundamentais para desenvolver a EA. No entanto, não se
deve imaginar que somente os trabalhos de EA individualizados vão resolver a situação, isso fica
nítido quando comparamos dois cursos de ensino superior distintos, pois no curso onde se é mais

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

voltado para a questão ambiental há um processo de mudança mais acentuado do que no outro curso
em que isso não ocorre.
Portanto, é preciso ter claro que a EA a que este trabalho remete é uma educação escolar,
pois a escola não pode ser alheia à realidade na qual está envolvida, sob pena de não desenvolver a
EA emancipadora.
A escolha da paisagem a ser trabalhada nesta pesquisa se deu pensando em lugares que
remetesse ao cotidiano dos sujeitos envolvidos. Neste caso justifica-se a visita ao Lixão, ao Córrego
das Galinhas e à Cachoeira do São Domingos, pois tanto a questão do lixo como da água são
questões que permeiam o dia a dia dos sujeitos, tanto que, após a visita aos campos, percebeu-se
nas discussões das turmas o desejo em buscar soluções para os problemas. Foi a partir daí que
surgem o Parque Nacional das Emas e a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos de Chapadão
do Céu – GO, como estratégia de se contrastar paisagens e, ao mesmo tempo, permitir uma nova
paisagem ao sujeito e novas análises da sua paisagem diária ou, ao menos, saber que existem outras
possibilidades.
A medição de resultados na EA é muito complexa por dois motivos: o primeiro é que não se
é possível fazer uma análise da totalidade, neste caso, incorremos no velho erro da ciência
fragmentada; o segundo problema é temporal, pois temos resultados de um espaço de tempo, sendo
que, às vezes, os resultados tardam a vir. Mas nem por isso devemos deixar de fazer EA.
O trabalho de campo precisa ser entendido como uma ferramenta pedagógica e não como
um fim de uma atividade, e precisa ser mediado pelo professor, porque mais importante que a
paisagem e a estratégia pedagógica de trabalho de campo é a mediação, sendo esta que leva ao
sujeito a possibilidade de outra leitura, ou seja, outra lente.
Para possibilitar outra lente ao sujeito é importante saber qual a sua concepção de meio
ambiente, pois é a partir da forma como ele a concebe e percebe que definirá as suas atitudes frente
ao meio ambiente. Além disso, essa sondagem aos alunos poderá funcionar como um balizador para
o planejamento das atividades de EA com a turma pretendida.
A leitura das paisagens que se contrastam traz uma contribuição de oferecer ao sujeito, a
condição mínima de saber que existem outras possibilidades que não aquelas que já foram
naturalizadas no seu dia a dia, ao proporcionar outras lentes para a leitura de mundo no processo
educacional cria um start, para pensar a sua realidade, ou ao menos fazer outra leitura da paisagem
que está inserido.
Neste caso, devemos destacar o processo um processo de encaminhamento para uma leitura
de mundo, que vai sendo possibilitada aos alunos envolvidos na pesquisa a partir do desvelamento
da paisagem, caminhando assim para a construção de bases de uma EA que vai além do
comportamento.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 951


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

UMA ABORDAGEM RELACIONAL PARA O DESAFIO DA TRANSFORMAÇÃO DE


HÁBITOS: REFLEXÕES SOBRE O PROJETO ESCOLA LIXO ZERO

Luiz Gabriel Catoira de VASCONCELOS


Mestrando em Engenharia Ambiental – UFSC
luizgabrielcv@gmail.com
Armando Borges de CASTILHOS JR
Professor doutor titular da Engenharia Sanitária Ambiental – UFSC
armando.borges@ufsc.br

RESUMO
O desafio da transformação de hábitos em relação aos resíduos sólidos segue alarmante, mesmo
após décadas de difusão de informação e Educação Ambiental (EA) sobre o tema. Através do
projeto Escola Lixo Zero, o Núcleo de Educação Ambiental da UFSC (NEAmb), tem desenvolvido
uma abordagem para promover essa transformação em escolas de educação básica, consolidando a
metodologia do Desafio Lixo Zero, que obteve resultados significativos em escolas de
Florianópolis. Agora através de uma pesquisa de mestrado, Vasconcelos tem buscado compreender
quais aspectos dessa abordagem são fundamentais para sua efetividade. Nesse artigo serão
compartilhados resultados parciais desse processo de pesquisa-ação mais amplo, oriundos da etapa
de avaliação da experiência do projeto em uma das escolas em 2016, o que metodologicamente
incluiu a realização de entrevistas qualitativas não estruturadas e narrativas reflexivas. O resultado é
uma compreensão da prática de educação ambiental que enfatiza a atenção à participação na
dinâmica complexa das relações sociais na escola, onde reside tanto o potencial de sustentar os
velhos hábitos, como a possibilidade de transformá-los.

ABSTRACT
The challenge of transforming habits related to waste remain a great concern, even after decades of
spreading information and environmental education about the topic. With the Zero Waste School
project, the Environmental Education Group from UFSC (NEAmb) has been developing an
approach to tackle this issue in schools, giving form to the Zero Waste Challenge methodology,
which had significant results in schools in Florianópolis. Currently, through a masters degree
research, Vasconcelos have seeked to understand which are the aspects of this approach that are key
to its success. This paper shares some of the preliminary results of this wider action research
process, produced in the evaluation stage after the experience of the poject in one of the schools in
2016, which methodologically included non-structured qualitative interviews and reflexive
narratives. The result is an understanding of the practice of environmental education which
emphasizes the attention to the participation in the complex dynamics of the social relations in the
school, in which lies the potential of sustaining old habits, as well as the possibility of transforming
them.

INTRODUÇÃO

Enquanto uma consciência superficial sobre a problemática dos resíduos sólidos já


predomina quase universalmente na população brasileira, como já se indicava em pesquisa nacional

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ainda nos anos 90 (CRESPO, 2003), também continua preocupante o descolamento de tal
consciência de uma real transformação de hábitos necessária. É o que demonstra, ano após ano, o
aumento da produção média de resíduos por habitante no país, até mesmo diante de recentes
cenários de crise econômica (ABRELPE, 2015). Os avanços na difusão de informação sobre a
importância da Gestão de Resíduos Sólidos (GRS) e a conquista de instrumentos legais como a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), parecem não ser suficientes para
transformar esse panorama no país. Embora a literatura sobre a GRS há muito tempo venha
prescrevendo a promoção de consciência da população como fundamental (CARABIAS et al.,
1999; WILSON, 2007), responsabilidade que recai principalmente sobre os educadores ambientais,
a Educação Ambiental (EA), por sua vez, acumula décadas de trabalho em torno da temática e,
ainda assim, pouco avançamos em termos de mudanças culturais.
No intuito de contribuir para a transformação desse cenário, surge em 2014 na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) o projeto Escola Lixo Zero, uma iniciativa do Núcleo de
Educação Ambiental da UFSC (NEAmb) sob orientação do prof. Armando Borges de Castilhos Jr,
do Laboratório de Pesquisa em Resíduos Sólidos (LARESO). Motivados pela importância da
educação básica na promoção dessa consciência e participação necessárias e inspirados pelo
potencial das escolas serem Espaços Educadores Sustentáveis, atuando como ―incubadora de
transformações nas comunidades‖ (TRAJBER; SATO, 2013), a proposta do projeto de extensão era
implementar a GRS no Colégio de Aplicação da UFSC (CA). Entretanto, o projeto se deparou com
a complexidade dessa tarefa, enfrentando diversas dificuldades em seu primeiro ano, que foram
despertando o desejo de desenvolver uma abordagem de GRS apropriada para o contexto escolar.
Assim, o projeto tornou-se o campo de experimentação para isso, sobre o qual foi
desenvolvida uma pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Engenharia Sanitária e
Ambiental, que agora segue adiante como pesquisa de mestrado. Através de uma abordagem de
pesquisa-ação, junto ao Colégio de Aplicação da UFSC (CA) foi desenvolvida a metodologia do
Desafio Lixo Zero (VASCONCELOS, 2015) que obteve resultados significativos no Colégio de
Aplicação em 2015, já apresentados em edição anterior do Congresso Nacional de Educação
Ambiental (VASCONCELOS, 2015; VASCONCELOS; CASTILHOS JR; VIEIRA, 2016), como a
redução pela metade da quantidade de resíduos enviados ao aterro, e a continuidade do projeto na
escola por um grupo de profissionais envolvidos, organizados no Coletivo Lixo Zero.
O sucesso da abordagem inspirou a sua aplicação em outras escolas de Florianópolis em
parceria com a Secretaria Municipal de Educação, processo sobre o qual se debruça a pesquisa de
mestrado, abrangendo esse novo ciclo de pesquisa-ação, com o acompanhamento da experiência de
aplicar a metodologia nas novas escolas. Através da pesquisa, mais do que consolidar a
metodologia, o interesse se volta para a compreensão de quais fatores da abordagem realizada pelo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

projeto levam ao seu sucesso, em termos de transformação de hábitos e envolvimento da


comunidade escolar nesse esforço de mudança cultural em torno do cuidado com os resíduos.
Nesse sentido, para além do alinhamento metodológico da pesquisa com o campo da
pesquisa qualitativa e da pesquisa-ação, a investigação tem encontrado amparo epistemológico na
perspectiva dos Processos Responsivos Complexos (STACEY, 2001). Articulando analogias das
ciências da complexidade ao pensamento de George H. Mead, Norbert Elias entre outros, essa
perspectiva considera a capacidade intrínseca das interações sociais de se auto-organizar em
padrões como discursos, hábitos, identidades e relações de poder. Padrões sempre atualizados em
interações locais, seja entre pessoas, ou nos diálogos internos do pensamento, mas também os
mesmos padrões que levam às mais amplas configurações que caracterizam nossa cultura e
sociedade (STACEY, 2001).
Este artigo busca compartilhar os resultados parciais dessa pesquisa, abrangendo algumas
reflexões advindas da avaliação da experiência em uma das novas escolas envolvidas. O Desafio
Lixo Zero foi realizado com sucesso na escola Dorival Caymmi (nome fictício), com uma redução
de um terço na quantidade de resíduos enviados ao aterro na Semana Lixo Zero e um grande
envolvimento da comunidade escolar, em especial dos alunos, que vêm dando continuidade ao
projeto em 2017. Na sequência das atividades previstas na metodologia do Desafio, com a
observação participante durante todo o processo, foi realizada a etapa de avaliação e reflexão, que
envolveu tanto o desenvolvimento de narrativas reflexivas sobre a experiência de conduzir o
projeto, quanto entrevistas qualitativas com profissionais da escola.
Compartilhando aqui parte dos resultados dessa investigação, almeja-se iluminar a
compreensão da dinâmica complexa das relações humanas na escola, e como nela reside tanto a
sustentação da dificuldade de mudança de hábitos, quanto a possibilidade de sua transformação. O
intuito é de que, compreendendo melhor como o projeto conseguiu atuar nessa dinâmica e
contribuir para o envolvimento da escola na transformação de hábitos, seja possível oferecer uma
contribuição para professores e demais educadores ambientais que estejam implicados em fazer
avançar essa transformação cultural tão necessária.

METODOLOGIA

Como já mencionado, os resultados aqui apresentados são parte integrante da pesquisa que
irá compor a dissertação de mestrado de Vasconcelos. A pesquisa é caracterizada por uma
metodologia do tipo pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011; TRIPP, 2005), com a aplicação da
metodologia do Desafio Lixo Zero (VASCONCELOS, 2015) no CA em 2015, e em duas escolas
municipais de Florianópolis em 2016. A dissertação insere-se como produto da avaliação desse
novo ciclo de pesquisa-ação, debruçando-se sobre as três experiências de aplicação do Desafio,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

numa espécie de estudo comparativo entre os três casos. Para isso serão aplicados métodos de
pesquisa qualitativa para avalia-las, incluindo a observação-participante e as entrevistas não
estruturadas (TAYLOR; BOGDAN; DEVAULT, 2015), mas também as narrativas reflexivas sobre
a experiência de conduzir o projeto, sob luz do paradigma dos Processos Responsivos Complexos
(STACEY; GRIFFIN, 2005). A metodologia de análise de dados utilizada é a análise temática
(BRAUN; CLARKE, 2006), em combinação com elementos de pesquisa narrativa (OSPINA;
DODGE, 2005), e da perspectiva do construcionismo relacional sobre a relação entre pesquisa e
práticas de mudança social (MCNAMEE; HOSKING, 2012), de forma a promover uma
aproximação mais produtiva entre os resultados da pesquisa e a prática dos profissionais envolvidos
com as áreas de atuação pesquisadas.
A metodologia do Desafio Lixo Zero, que orientou a intervenção nas escolas, se organiza
em torno do lançamento do desafio de a escola tentar ser Lixo Zero por uma semana. Em torno
dessa proposta são realizadas as demais etapas da metodologia, incluindo as atividades de
sensibilização, atividades pedagógicas, e a formação do Coletivo Lixo Zero, espaço de participação
da comunidade escolar na concepção e implementação das estratégias de GRS, para que na Semana
Lixo Zero se possa avaliar a redução obtida na quantidade de resíduos enviadas ao aterro sanitário
(VASCONCELOS, 2015).
Após a realização do Desafio Lixo Zero na escola Dorival Caymmi, foi realizada uma etapa
de avaliação, incluindo a realização de entrevistas não estruturadas com seis profissionais da escola,
que tiveram contato com as atividades do projeto: o diretor, um professor, e quatro professoras. No
início da conversa era apresentado o desejo de explorar com o entrevistado o entendimento dos
desafios da GRS na escola, e como o projeto pode ter contribuído para superá-los. A fim de
registrar as reflexões produzidas nas conversas, as entrevistas foram gravadas, transcritas, e
posteriormente analisadas através da análise temática (BRAUN; CLARKE, 2006). Mais do que um
instrumento de coleta de dados sobre a visão dos profissionais da escola sobre a problemática e o
projeto, as entrevistas foram também um momento de estender o processo reflexivo da pesquisa em
sua natureza social, no caso, buscando através do diálogo criar um sentido mais rico e inclusivo
sobre a experiência e, assim, experimentar movimentos na forma de pensa-la, durante esse processo
(STACEY; GRIFFIN, 2005).

RESULTADOS

O Desafio da Transformação de Hábitos

Através da pesquisa foi possível enunciar alguns fatores que tornam a transformação de
hábitos no cuidado com os resíduos um desafio nas escolas. Isso inclui perceber que a problemática

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

é parte de uma dinâmica cultural sustentada nas interações sociais; que o padrão predominante das
relações entre professor e aluno faz parte dessa dinâmica dificultando o trabalho pedagógico; e que
esse trabalho parece ter pouca efetividade quando a questão dos resíduos é trabalhada apenas em
um nível teórico, de informações sobre o problema, ou normativo, do que se deve fazer ou não fazer.
Não é necessário se delongar na demonstração do consenso existente na escola quanto a
falta de cuidados com relação aos resíduos. A coordenadora de projetos oferece um relato na
entrevista:

a gente tem um problema bem sério, assim, eles comem, onde eles tiverem eles deixam a
caneca eles deixam o prato. Eles comem, eles trazem o lanche de casa, eles jogam a
embalagem no pátio, eles não têm essa consciência (Profa. Projetos, entrevista)

A problemática, porém, não se restringe aos estudantes, fica evidente também entre
professores e profissionais da escola, como constata o Diretor:

antes mesmo de vocês chegarem, que tinha a proposta de ter o lixo reciclado na sala dos
professores e nem isso era respeitado, então a gente percebe que o problema ele tá aqui, né,
ele tá na educação não apenas da criança, mas nossa (Diretor, entrevista)

A percepção é de que, embora algumas pessoas tenham individualmente a preocupação em


relação aos resíduos, os maus exemplos predominam, e acabam prevalecendo.

as crianças não têm nenhum cuidado, então embora alguns alunos acabam sendo mais
retraídos porque talvez eles tenham algum tipo de educação em casa, muitos outros não são
e eles acabam sendo opressores por falta de educação [...] às vezes a gente percebe embaixo
da carteira de um aluno um quantitativo de sujeira imenso, né, e dos outros não
necessariamente, mas acaba havendo um certo contágio, pela acomodação, então, ―é melhor
eu ficar em silêncio e não me incomodar‖ então aí fica tudo sujo, e isso gera meio que um
círculo vicioso. (Diretor, entrevista)

Além desse contágio dos maus exemplos, acaba ocorrendo o que uma das professoras
chamou de ―naturalização‖ da falta de cuidado com os resíduos, em que as situações deixam de
incomodar, deixam de ser visíveis enquanto problema. É o caso dos pratos de comida deixados no
chão do pátio, em que pombos acabam sendo atraídos e dele se alimentam.

meio que eles naturalizaram isso né? Acho que todo mundo naturalizou isso. E aí quando
eu disse ―vocês viram aquela foto que tinha um pássaro dentro...‖ eu falei pássaro né ―um
pássaro‖, ―é professora, os pombos‖, ― e isso acontece?‖, ―ah professora acontece todo dia‖,
―e vocês vêem isso?‖, ―é‖, ― e como é que vocês reagem?‖, ―ah, as vezes a gente até deixa
um restinho pra dar pra eles‖. Né, a perspectiva da criança talvez é matar a fome do pombo,
sem saber as consequências que isso pode trazer né. (Prof. Iniciais, entrevista)

Essa diferença de perspectiva entre os alunos e os professores também chamou atenção na


pesquisa. Um dos desafios apontados pelos professores foi a falta de conhecimento profundo da
realidade dos estudantes

o fato de a gente mesmo desconhecer a realidade das crianças, como elas vivem na casa
delas, como elas fazem as coisas cotidianas né. Porque se a gente conhece um pouco mais
da realidade da criança a gente consegue identificar que ela pode ou não ter uma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

compreensão a respeito do mundo, e das coisas, que eu vou precisar alterar (Prof. Iniciais,
entrevista)

Essa realidade do aluno é entendida pelos professores como tendo papel fundamental na
forma com que ele constrói seus hábitos e entendimentos, como reflete a professora de ciências
sobre a ausência até mesmo de coleta de lixo convencional nas comunidades:

por causa dessa dificuldade de não receber, não ter um sistema de tratamento de lixo,
mesmo que seja a coleta que vai pro aterro sanitário, fica mais difícil ainda você inserir no
pensamento dele que ele precisa separar esse material. Então imagina assim, eu não tenho
onde colocar esse lixo, mas agora eu tenho que separar isso, eu vou separar pra que? Qual o
sentido dessa separação? (Profa. Ciências, entrevista)

Outro aspecto desse distanciamento, em alguns casos, é a falta de reconhecimento da


legitimidade do professor pelos alunos, como relata a professora de projetos:

―o que tu tá falando não tem nada a ver com minha realidade‖, parece que o pensamento é
esse.[...] Muitas vezes eles olham assim ―ah, mas quem é você? Você não vive, você não
mora…‖. No início, quando eles não sabiam que eu morava aqui… ―ah tu não sabe, tu não
sabe como é na vila, tu não conhece‖ (Profa. Projetos, entrevista)

Investigando mais a fundo essa dinâmica de interações que encontramos na escola, ficou
evidente a importância da relação professor-aluno, e do fato de ela estar estabelecida de uma forma
conflitante, que dificulta o trabalho pedagógico de transformação de hábitos.

você entrar numa sala, às vezes de séries finais que é mais complicado, e não conseguir dar
aula, às vezes demorar quinze minutos para conseguir fazer uma chamada, coloca-los em
ordem, tudo isso... é um desafio né, e aí o pedagógico e a educação ambiental às vezes vai
ficar em segundo plano né, porque primeiro você pensa, ―poxa, primeiro eu tenho que fazer
com que eles me escutem‖. [...] Parece que quando a gente entra da porta pra dentro da sala
de aula, assim, o professor vira um inimigo deles [...] É uma autoridade a ser desobedecida.
(Profa. Música, entrevista)

A dificuldade começa com esse padrão adquirido da relação professor-aluno, marcada pela
rejeição pelo aluno da legitimidade do professor, na forma da indisciplina, ou ainda pela imposição
coerciva através do poder instituído do professor sobre o aluno, que pode resultar em uma
conformidade momentânea, mas não na apropriação da atitude pelo aluno, que na ausência do
professor, ou com outro professor menos impositivo, volta para a atitude tida como indisciplina.

tem um grupo, que já ―oh, tu deixou um copo lá no chão, ó, vai lá e junta‖ e vai lá e junta
―já to juntando, já to levando‖. Alguns ―não vou, tem as gurias da limpeza pra quê? Pessoal
da limpeza faz o quê?‖, ―não mas não é assim, eles não estão aqui para te servir, é pra
manter o ambiente limpo‖ [...] parece que eles ficam esperando que eu vá lá e diga ‖oh, teu
copo aí oh, pode ir juntando‖. Eles ficam esperando, se ninguém falar nada… (Prof.
Projetos, entrevista)

Configura-se o que o sociólogo Norbert Elias (1939 apud STACEY; GRIFFIN, 2005) chama
de configurações de poder, um padrão de relações que constituem identidades coletivas em relação
às quais estabelece-se relações de poder que favorecem a alguns grupos e excluem a outros. Isso se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estabelece de formas diferentes na relação aluno-professor, uns dominando a indisciplina de forma


coercitiva, alguns conseguindo ao longo dos anos transformar essa relação com os alunos.
Porém no que diz respeito ao cuidado com os resíduos, isso se reflete na falta de
responsabilização pessoal pelos resíduos. Cuidar dos resíduos é visto ou como uma imposição pelos
professores que cobram, já exemplificada pela professora de projetos, ou como uma
responsabilidade transferida pelos alunos à equipe de limpeza, o que pude perceber na interação
com os alunos, e também demonstrado nas entrevistas.

De quem é a responsabilidade com aquilo que não tá adequado? [...] porque eu vejo assim
ó, responsabilidade é uma coisa que qualquer um pode ter, mas será que tem que ter alguém
específico? Por exemplo, o aluno próprio não poderia ter se dado conta de que ele deveria
pegar a casca e colocar no lugar certo? Né? Isso tem que ser uma tarefa de quem limpa a
sala? Não! Né, então eu acho assim, identificar quem são os responsáveis pelas ações
também é uma outra coisa que precisa ficar mais claro na escola. Porque senão a gente
deixa de fazer né? Ah, não é minha função então não faço. (Profa. Iniciais, entrevista)

É preciso que a pessoa construa um sentido próprio sobre a atitude em questão, que se
aproprie dela como sua, especialmente quanto ela exige um esforço de mudança de hábitos
consolidados, afinal, jogar lixo no chão é mais fácil que leva-lo até o coletor apropriado. Nas
palavras de Freire, é preciso que ―a necessidade do limite, seja assumida eticamente pela liberdade‖
(FREIRE, 2014, p. 103).
Aqui se faz interessante a distinção entre normas e valores oferecida por Griffin e Stacey
(2005) a partir do trabalho de Joas (2000). Normas morais são experimentadas como restrições que
os grupos sociais que participamos oferecem sobre nossa ação, o ―como devo agir segundo os
outros‖. Já os valores se refletem em tendências de ação assumidas como pessoais, como o ―o que
considero bom para mim e para os outros‖. Tanto normas e valores, são o que Mead (1938 apud
STACEY; GRIFFIN, 2005) entende como generalizações que a pessoa faz de sua história de
interações, levadas em consideração na avaliação de qual atitude tomar no momento presente.
Generalizações de respostas impositivas por certos grupos, as normas, ou generalizações de
experiências positivas capturadas pela imaginação como ideais com os quais a pessoas se sente
pessoalmente comprometida, os valores.
Conforme percebido, a preocupação com os resíduos na escola predomina enquanto norma
restritiva, obedecida quando sob observação e sobre cobrança, mas perdendo o valor quando quem
cobra não está presente. A EA é muitas vezes trabalhada com base no ―o que se deve fazer‖, onde
colocar cada resíduo, e ―o que não se deve fazer‖, como jogar lixo no chão. Mesmo quando são
problematizados os impactos dessas atitudes sobre o ambiente, a saúde pública, os mares, essas
informações acabam sendo lidadas como conteúdos teóricos, desvinculados da experiência pessoal
e cotidiana, o que prejudica a efetividade do trabalho pedagógico no que diz respeito a
transformação de hábitos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

quando faz parte da vivência eles se interessam, quando não faz parte da vivência é como se
aquilo fosse... é só pra aquele momento, ou é só pra estudar pra uma prova e é descartável
(Profa Ciências, entrevista)
Se não brilhar nosso olho quando a gente falar disso pra eles, isso não conta bola né, ―ah,
isso é só mais um conteúdo da escola [...] já cria um preconceito (Profa. Música, entrevista)

Trabalhar apenas no plano das informações parece não ser suficiente, o que pode ser melhor
compreendido ao se conceber os hábitos como padrões culturais construídos no plano das relações
sociais (STACEY, 2001). É no plano das relações que significados pessoais de certas atitudes são
construídos, através de relações afetivas e de identidades de pertencimento, tanto quanto através de
justificativas racionais para tais atitudes.

eu percebo que isso tem que estar diariamente, assim, lembrando, lembrando, usando,
usando, fazendo, fazendo, não tem outra forma, não é no discurso, não é dando uma aula
linda maravilhosa, né, embora isso ajude, isso complemente, porque quando a gente fala
que limpar a mão é bom, mas quando eu vejo lá no microscópio óptico né, que as bactérias
se reproduzindo numa cultura da nossa mão suja! Aí eu vejo uma correspondência com
aquilo que eu to aprendendo né, e aí eu incorporo isso como hábito (Profa. Iniciais,
entrevista)

Trabalhar a questão dos resíduos em relação com o desafio prático e palpável de reduzir a
produção de lixo na escola ao envolve-la na elaboração de estratégias de GRS foi um dos pontos da
abordagem que contribuiu para a superação desse desafio da transformação dos hábitos esboçado.
Novas Relações, Novos Sentidos, Novos Hábitos
O Desafio Lixo Zero trouxe a oportunidade de abordar a questão dos resíduos de uma forma
que supera esses dois padrões com que a questão é vista na escola. Supera o caráter normativo ao
construir uma narrativa de desafio que dá a oportunidade para as pessoas da própria escola se
tornarem os protagonistas das mudanças possíveis; e supera o caráter conteudista, pois as
informações e o trabalho pedagógico são feitos em conexão ao contexto das ações práticas
possíveis, e através de experiências cotidianas de interação e construção de relações ao longo do
projeto. Em especial o envolvimento dos alunos como protagonistas foi muito valorizado:

essa era a diferença de como vocês trabalhavam. Vocês chegavam aqui com a proposta,
―hoje a gente tem que criar algo sobre a conscientização sobre a geração dos resíduos‖. Ou
diminuir, ou trabalhar esses resíduos que estão, enfim, vocês traziam várias ideias, né, e
essas ideias eram colocadas mas eles tinham que criar as próprias alternativas deles né, pro
ambiente, pensando o ambiente que eles estavam, que era a escola Donícia. Eu acho que
isso fez eles fazerem parte do processo, se sentirem importantes dentro do processo, sabe.
Que é isso que a gente vê hoje, eles falando, eles questionando, eles chamando atenção dos
outros em relação à produção do lixo, que eu já vi isso até no sétimo ano. Por quê? Porque
eles aprenderam (Profa. Ciências, entrevista)

Após a sensibilização e o lançamento do Desafio, com a formação do Coletivo Lixo Zero


reforçou-se esse caráter de protagonismo na mudança. Não eram os professores obrigando, nem o
NEAmb realizando um projeto, eram as pessoas envolvidas no Coletivo que seriam responsáveis
por realizar alguma mudança. E foi impressionante como os alunos foram se assumindo como
responsáveis, se identificando como ―do lixo zero‖, participando das reuniões e atividades, e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cobrando os colegas e professores para colaborarem com as mudanças que eles estavam
promovendo.

o fato de eles desenvolverem aquilo, eles se sentirem ―eu to fazendo!‖, entendeu? ―essa é a
minha proposta de sensibilização‖ [...]. Então aquele era o pensamento deles, não era o
pensamento de vocês imposto pra eles. Então eu acho que essa foi a diferença, o que fez
que eles se apropriassem mais e gostassem da ideia. (Profa. Ciências, entrevista)

Criou-se o que o diretor chamou de ―uma onda de conscientização‖ entre os alunos, em que
os alunos assumiram a responsabilidade de propagar essas mudanças de hábitos. Isso se demonstrou
em diversos relatos de professores sobre alunos cobrando-se entre si e aos professores, por exemplo,
a separação correta do papel na sala de aula. Houve um rompimento com o padrão anterior, de falta
de cuidado, falta de envolvimento com a questão dos resíduos. Essa desestabilização do padrão
anterior é apontada como fundamental por uma das professoras:

precisa alguém, ou algum evento, fato, impactar! Negativamente, assim, no nosso dia a
dia. Precisa desestabilizar, acho que essa é a palavra. Desestabilizou, tu começa a
perceber outras possibilidades. O negócio é que a gente faz tudo cotidianamente, igual,
igual, igual. [...] Eu acho que vocês foram animadores, né. Porque não era possível olhar
vocês e não ―po, esse lixo aqui, não pode ser mais aqui‖, porque vocês concretizaram a
ideia, né, vocês romperam com o nosso cotidiano, eu acho. A figura de vocês estarem
aqui na escola rompe com o cotidiano de qualquer jeito, porque nos obriga a repensar. Se
eu vou fazer ou não é outra história, mas não tenho como passar batido. (Profa. Iniciais,
entrevista)

Começavam a ocorrer mudanças naqueles padrões de relações que encontramos na escola.


Além desse rompimento do cotidiano mencionado, outro fator apontado como facilitador dessa
mudança é o fato de nós, equipe do NEAmb, sermos pessoas externas, que não estavam envolvidas
naqueles padrões de relação, conseguindo mais facilmente criar relações diferentes, como reflete a
professora sobre como os alunos não tinham a mesma rejeição conosco que tinham com os
professores:

Com vocês não, com vocês, até porque vocês são bem jovens e tudo, tem uma relação mais
de igual pra igual e eles sentem isso né. Embora vocês tenham tido dificuldade de falar com
eles no início, né, tem ali a questão do silêncio, alguns falam o tempo todo, então, mas
mesmo assim, falando e ouvindo, a gente percebe que eles estão ouvindo, né. É uma relação
diferente. (Profa. Música, entrevista)

A partir dessas relações diferentes surge a possibilidade da emergência de outros padrões,


outros significados e atitudes. Porém, mais do que essa condição de novidade na escola, na minha
experiência percebo ter sido fundamental a forma com que direcionei a minha atenção às interações
e relações pessoais durante minha atuação na escola DC, buscando acima de tudo construir relações
pessoais sinceras com as pessoas na escola. É a partir dessas relações que vêm as oportunidades de,
estando atento aos seus detalhes, conseguir trazer os temas e os valores que eu pessoalmente tenho
em relação à GRS para as conversas que ali desenvolvia. Ao fazer isso de dentro de uma relação
experimentada como legítima por ambos os lados, em que há uma abertura à identificação com o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

outro, configura-se a possibilidade da emergência de novos sentidos pessoais para as atitudes com
os resíduos, que passam a compor subjetividades, valores com que as pessoas se implicam
pessoalmente.
Aqui existe um paradoxo entre essa posição de agente externo que nós do NEAmb
ocupávamos, e a posição de participantes da comunidade escolar que íamos adquirindo ao longo das
relações que construíamos, a ponto de sermos chamados de professor por alguns alunos, ou mesmo
por apelidos por aqueles com que ficamos mais próximos. O que houve foi a imersão nas interações
como parte da comunidade, mas ao mesmo tempo trazendo elementos distintos para as interações
estabelecidas, possibilitando novas formas de interação que possibilitam a emergência de outras
narrativas e identidades, nas quais as pessoas passaram a se sentir envolvidos com a questão dos
resíduos, dispostos a mudar hábitos e a se engajar na GRS na escola. É a atenção a essa dinâmica
complexa das interações e relações humanas que é a essência da abordagem desenvolvida ao longo
do projeto.

CONCLUSÃO

Ao longo do artigo busquei ilustrar uma das compreensões percebidas como fundamentais
ao longo da pesquisa de mestrado em andamento sobre a abordagem do projeto Escola Lixo Zero: a
dinâmica complexa das relações humanas na escola, e como nela reside tanto a sustentação da
dificuldade de mudança de hábitos, quanto a possibilidade de sua transformação. Essa perspectiva
oferece um novo ânimo para minha prática de EA em torno da temática dos resíduos sólidos, que
mesmo figurando a décadas como um dos principais temas trabalhados, ainda representa um grande
desafio. Compreendendo a problemática desde essa perspectiva, permite ir além do paradigma do
indivíduo autônomo e racional, oferecendo um caminho que vai além do trabalho pedagógico no
plano das informações, que parece não ser suficiente. Um trabalho pedagógico que possa gerar
transformação de hábitos deve se dar no plano em que esses hábitos se desenvolvem culturalmente,
o plano das relações entre as pessoas e o vir a ser de suas subjetividades através das relações.
Através das experiência do Desafio Lixo Zero no projeto, foi possível experimentar o
potencial transformativo que uma certa forma de participação nesse plano das relações pode ter. O
processo de reflexão propiciado pela pesquisa, incluindo os resultado dessa etapa de entrevistas aqui
compartilhados, tem modificado o entendimento sobre minha prática enquanto educador ambiental,
e da abordagem desenvolvida com o projeto Escola Lixo Zero.
Enquanto anteriormente dei maior ênfase aos aspectos metodológicos da prática
desenvolvida no projeto, apresentando a metodologia do Desafio Lixo Zero como principal
resultado da pesquisa (VASCONCELOS, 2015; VASCONCELOS; CASTILHOS JR; VIEIRA,
2016), ao longo da pesquisa de mestrado tem ganhado destaque os aspectos relacionais dessa

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

prática. O entendimento que tenho desenvolvido é o de que a abordagem do Desafio Lixo Zero
consiste em uma oportunidade de se somar enquanto participante dos Processos Responsivos
Complexos (SHAW, 2002; STACEY, 2001; STACEY; GRIFFIN, 2005) que constituem as relações
entre as pessoas na escola. A metodologia do desafio criou a ocasião para eu passar a participar do
dia-a-dia da escola, direcionando minha atenção às interações e relações pessoais que ia construindo
ao longo do processo, que somados ao potencial já explorado do Desafio enquanto narrativa de
envolvimento da comunidade escolar enquanto protagonista, e o próprio potencial pedagógico do
conceito lixo zero (VASCONCELOS, 2015), permitiu a emergência do envolvimento da escola na
proposta, e na implementação da GRS. Não menosprezando o papel da metodologia do Desafio,
entendo que a característica fundamental da abordagem desenvolvida é o direcionamento da atenção
à participação nas inúmeras interações, conversas e relações humanas com que me envolvia ao
longo desse processo, justamente por perceber que é nelas que reside o verdadeiro potencial da
emergência de sentidos e identidades necessários à transformação de hábitos e ao envolvimento da
comunidade escolar na GRS.
Na prática, isso requer estar atento aos processos que compõe minha identidade enquanto
alguém implicado com a questão dos resíduos, e entrelaçá-lo aos processos com que me engajo na
escola. Uma dinâmica não é subserviente à outra. Me envolver na escola não acontece de forma
instrumental para cumprir o objetivo de promover a GRS, mas requer um envolvimento sincero nas
relações. Somente quando do estabelecimento de relações de mútuo reconhecimento, torna-se
sensível para mim a realidade das pessoas com que estou trabalhando, e sensíveis para elas os
processos que me fazem implicados com a questão dos resíduos. Desta dialógica é que é possível a
emergência de pensamentos, identidades e soluções específicas daquela realidade, que sustentem
uma GRS efetiva. Não da imposição sobre a realidade deles das razões que eu tenho para querer a
GRS, mas tornando-me parte dessa realidade e fazendo operar nesse novo contexto os processos
que me motivam a desejar o funcionamento da GRS. Fazendo isso, cria-se a possibilidade de as
pessoas com que ali me relaciono, reconhecendo-me como legítimo, participem, e dessa
participação emerjam sentidos e identidades novos, apropriados como seus, mas que também
internalizem a implicação com a GRS, de maneira única e específica, local e pessoal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 963


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conceitos e Práticas em
Educação Ambiental
nas Escolas

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 964


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESCOLA DO NOVO TEMPO EM RONDÔNIA: MODELO EDUCACIONAL QUE


POSSIBILITOU INSERIR O DIÁLOGO POLAR COMO DISCIPLINA ELETIVA

Maria Carolina de O. REIS


Coordenadora Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado de Rondônia – SEDUC52
carol.olirreis@hotmail.com

Nubia CARAMELLO
Docente Secretaria de Educação do Estado de Rondônia – SEDUC / Doutora em Geografia
nubiacaramello@yahoo.com.br

RESUMO
Evidenciar o processo e as parcerias estabelecidas que oportunizaram inserir por um semestre
escolar a temática polar na região amazônica através de uma disciplina eletiva, é o principal
objetivo desse artigo. O interesse de 35 estudantes do ensino médio da escola estadual Cândido
Portinari, Rolim de Moura - RO, fez com que a eletiva ―Pré-iniciação científica: Amazônia vai a
Antártica‖, germinasse. A abordagem metodológica foi Freiriana onde as propostas do conteúdo e o
que fazer a partir do conhecimento obtido, foi construído juntamente com os estudantes. Resultando
em uma pesquisa – ação, envolvendo um trabalho coletivo, onde a ação de cada grupo
complementou ao outro, desde o processo de diagnóstico do conhecimento até o processo de
socialização do conhecimento obtido com jovens do ensino fundamental no mesmo estabelecimento
escolar. A partir dessa experiência os jovens pesquisadores decidiram organizar as informações
obtidas em estruturas de relatórios e artigos submetendo a eventos e informativos científicos.
Palavras chaves: Educação Ambiental, Ambiente Polar e Amazônico, Tecnológica, Iniciação
científica.
RESUMÉN
Evidenciar el proceso y las asociaciones establecidas que han oportunado insertar por un semestre
escolar la temática polar, a través de una disciplina electiva es el principal objetivo de ese artículo.
El interés de 35 estudiantes de la escuela secundaria Cândido Portinari, ubicado en Rolim de
Moura - RO, hizo que la electiva "Pre-iniciación científica: Amazonia va a la Antártica", se
germinara. El enfoque metodológico fue Freriano donde las propuestas del contenido y qué hacer a
partir del conocimiento obtenido, fue construido junto con los estudiantes, a partir de los
conocimiento previos. En una investigación-acción, involucrando un trabajo colectivo, donde la
acción de cada grupo complementó al otro, desde el proceso de diagnóstico del conocimiento hasta
el proceso de socialización del conocimiento obtenido por ellos, con jóvenes de la enseñanza
fundamental en el mismo establecimiento escolar. A partir de esa experiencia los jóvenes
investigadores decidieron organizar las informaciones obtenidas en estructuras de informes y
artículos sometiendo el evento científico e informativos científicos.
Palabras claves: Educación Ambiental, Ambiente polar y amazónico, tecnología, Iniciación
científica.

INTRODUÇÃO
Em um mundo cada vez mais tecnológico, globalizado, e com um conjunto de informações
disponíveis em redes sociais, página de busca a alcance de uma parte significativa de jovens

52
Especialista em Visão Interdisciplinar em Educação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

observa-se nas salas de aula que essas informações não oportunizam, reflexões sobre o ambiente
vivido tampouco desperta o interesse de compreender o impacto que o lugar onde vive pode intervir
em outro ambiente ou ser influenciado por ele.
Talvez seja cobrar muito que um rico banco de dados disponíveis a um clik pudesse ser
utilizado para fins educacionais pela simples opção de jovens estudantes do ensino médio. Nesse
sentido a figura do profissional da educação tem um importante papel como mediador do
conhecimento através da tecnologia até mesmo da reflexão conteudista, ainda que possa parecer um
pouco arcaico, se faz necessário reconhecer que muitas das informações disponíveis podem estar
descontextualizadas ou até mesmo com dados incorretos, de forma que um olhar atento e reflexivo
pode levar aos jovens questionar dados, despertando interesse na pesquisa investigativa.
Fazer essa reflexão se faz necessária quando se busca oferecer uma educação de qualidade
no século XXI a jovens da era digital (Souza et al, 2011). Paulo Freire dizia que teríamos que
ensinar o aluno o ―ler o mundo‖ (1981), a partir de então este decidirá quais ações inserir nele, a
partir de uma abordagem dialógica aprende a questionar o que está pronto e aceita-se o desafio de
construir um novo conhecimento, com base na reflexão, surgindo o protagonismo juvenil.
O Programa Escola do Novo Tempo, idealizado pelo Governo do Estado de Rondônia,
surge como uma alternativa a educação integral, tendo entre seus pilares despertar o protagonismo
dos estudantes, ao tempo que oportuniza ao corpo docente a conhecer linhas de interesses de
conhecimento e projetos de vida desses jovens que optaram por estar 9 horas e 30 minutos
integralmente na escola.
O oferecimento de disciplinas eletivas foi um dos instrumentos para analisar esse interesse,
Dentre essas disciplinas foi oferecida a ―Pré-iniciação Cientifica: Amazônia vai a Antártica‖, que
teve os recursos tecnológicos como principal instrumento de diálogo entre investigadores polares
integrantes ou colaboradores da APECs-Brasil e APECs-Portugal, cientistas de outras áreas que
através de webconferências apresentaram parte de suas teses, reflexões de pesquisa que estão
desenvolvendo, trazendo informações contemporâneas.
Ao propor a disciplina se objetivou despertar o interesse pela pesquisa, alimentando
interrogantes ambientais, para que ao buscar as respostas o próprio conhecimento se construiria
individual e coletivamente. Correlacionar dois ambientes distintos buscando suas interfaces se
converte um desafio de pensar global com base nas experiências locais, e globalizar não somente o
mercado consumidor como também as próprias preocupações ambientais.

A BASE DO DIÁLOGO

A busca por melhoria dos resultados do Ensino Médio tem sido nos últimos anos um dos
importantes pontos de atenção da Secretaria Estadual de Educação do estado de Rondônia, com

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

metas estabelecidas no Plano Estadual de Educação, instituída pela Lei nº 3.565 de 03 de junho de
2015.
A ampliação da jornada escolar no Ensino Médio surge como estratégia para o alcance
dessas metas, tornando-se alvo de políticas públicas no estado. Nesse contexto de mudanças e
adequações, a Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo Integral Cândido Portinari encontra-se
no ano de 2017 entre as dez escolas do estado selecionadas para implantação de um novo programa
denominado Escola do Novo Tempo, inspirado no modelo da Escola da Escolha, numa parceria
estabelecida entre o governo do Estado de Rondônia e o Instituto de Corresponsabilidade pela
Educação – ICE.
Baseado na filosofia de educação interdimensional de Antônio Carlos Gomes da Costa, o
Modelo traz a necessidade de se repensar a educação integral além da simples ampliação da jornada
escolar. Nesse Modelo, a educação em tempo integral é concebida como uma estratégia para o
desenvolvimento de ações intencionais articuladas para a formação integral do estudante, o que
significa despir-se da lógica que primeiro define-se o tempo que o estudante permanecerá na escola
para depois definir o que será feito com este tempo, em termos de currículo, metodologias e
articulação com o projeto escolar (ICE, 2015).
Na Escola do Novo Tempo, o centro de toda ação educativa é o Projeto de Vida dos
estudantes. O currículo, as metodologias, o modelo de gestão, devem propiciar aos estudantes
ferramentas para que ao final da Educação Básica possam executar seus projetos de vida. Para
tanto, inovações pedagógicas são propostas no currículo, articulando metodologias de êxito da parte
diversificada ao currículo da Base Nacional Comum, favorecendo o desenvolvimento de atividades
contextualizadas e significativas (ICE, 2015).
Dentre as metodologias de êxito que compõe o currículo da Escola do Novo Tempo, as
Disciplinas Eletivas, destacam-se na Escola Cândido Portinari com grande aceitação por parte dos
estudantes. São disciplinas temáticas, oferecidas semestralmente, propostas pelos professores a
partir da manifestação de interesse dos alunos e do diagnóstico da necessidade de aprofundamento
em determinados conteúdos do currículo, onde os estudantes se inscrevem conforme sua opção pelo
tema.
No primeiro semestre de implantação do Programa na escola, foram oferecidas dez
disciplinas eletivas. A linha de diálogo de cada disciplina oportunizou uma ampla variedade para
escolha:
Trazendo diretamente para discussão os temas ambientais, foram propostas quatro eletivas:
a. Meio ambiente e reciclagem, com foco na responsabilidade ambiental e
reaproveitamento de materiais recicláveis;
b. O dia do juízo final, buscando explicações na ciência para os desastres naturais;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

c. O diamante azul da Amazônia, colocando em discussão a água como fonte de vida no


planeta e a riqueza deste recurso natural na Amazônia, e
d. A Amazônia vai à Antártica, fomentando a pré-iniciação científica por meio da
investigação de temas regionais, polares e dos mares.
Dentre as quatro temáticas supracitadas as três últimas tiveram adesão dos estudantes como
primeira opção, preenchendo todas as vagas. Destas, apresenta-se aqui o desenvolvimento da última
disciplina que resultou em um diálogo com instituições internacionais, cooperação entre
universidades e associação de pesquisa no país através do diálogo tecnológico que aproximou tanto
territórios quanto oportunidades.

O DIÁLOGO POLAR NA AMAZÔNIA

O tema polar chega ao de Estado de Rondônia em meados de 2012, onde a escola estadual
Maria Comandolli Lira, localizada no município de Rolim de Moura, participa da Semana Polar
Internacional e do Dia da Antártica, uma proposta que desde 2008 já vinha sendo desenvolvida em
escolas de todo o Brasil (com exceção da região norte) através da Associação de Pesquisadores
Polares e dos Mares em Início de Carreira APECs - Brasil (CARAMELLO, et al 2017), aproximar
cientistas de estudantes do ensino fundamental e médio nestas semanas é reflexo do objetivo
norteador da Associação:

A APECS tem como principal objetivo promover o desenvolvimento de redes de pesquisa e


campanhas de comunicação e divulgação da ciência, envolvendo jovens cientistas em
atividades de pesquisa, comunicação e educação (www.apecs.is) (CARAMELLO, et al
2017, p. 355).

A partir de 2013 não somente escolas de ensino fundamental de Rolim de Moura


(BETTIOL; CARAMELLO, 2014; BORCHES, 2014), Pimenta Bueno e Alta Floresta do Oeste
(ARRUDA, 2013), mas também faculdades passam inserir o tema em reflexões com seus alunos
como o caso da Faculdade de Pimenta Bueno – FAP (XIMENES, 2015) ampliando o diálogo de
investigadores polares a região norte do Brasil.
Todos esses diálogos foram inseridos em momento pré-determinado pelos organizadores a
nível nacional de forma que uma agenda de ações pudesse ser apresentada disponibilizando
palestrantes através de web conferência ou presencial especificamente nas regiões sudeste e sul do
Brasil.
Em 2017, a possibilidade de o corpo docente propor uma disciplina eletiva na escola
Cândido Portinari, oportunizou ampliar o diálogo polar para um semestre escolar. O
estabelecimento de parcerias com a própria APECs-Brasil/Portugal e com o projeto de extensão
universitária ―Antártica ou Antártida?‖, desenvolvido pela Universidade do ABC-Paulista sob
coordenação da Dra. Silvia Dotta, Investigadores inseridos na Universidad Autonoma de Barcelona

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 968


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

– UAB e Korea Polar Research Institute, foram essenciais para que as temáticas propostas pelos
estudantes pudessem se estruturar em um programa curricular (Anexo 1).
Possibilitando que entre março a junho de 2017 fosse desenvolvido na Escola Estadual de
Ensino Médio em Tempo Integral Candido Portinari, a disciplina eletiva Amazônia vai a Antártica?
O objetivo norteador da disciplina foi ―Desenvolver competências necessárias para analisar
problemas ambientais do local - global - local, realizar investigação em âmbito local, identificar o
processo de formação de um cientista e correlacionar o ambiente Amazônico com o Antártico.
Analisar o papel do Brasil no diálogo do Tratado Antártico e o incentivo a investigação na
Amazônia e no Continente Antártico‖.

METODOLOGIA

A estratégia metodológica consistiu em dialogar ambientalmente além dos muros da escola,


ultrapassando as barreiras territoriais e dos oceanos intermediado pelas tecnologias como
instrumento pedagógico, integrada ao diálogo presencial e local, uma reflexão proposta por
Ab´Saber (2007), para ele o geografo tem que estar sempre atento às transformações espaciais e
suas escalas de impacto. Neste aspecto, Boada e Saurí (2002) reforçam sobre a urgência de uma
leitura do ―cambio ambiental‖ em distintas escalas.
Se junta a essas reflexões a necessidade de construir a informação, a partir da reflexão do
conjunto de informações que chegam a cada indivíduo uma leitura a partir do que cada um sabe e o
que juntos almejam conhecer, como idealizou Freire, converte o fomento ideológico de o próprio
fazer geográfico no processo ensino-aprendizagem.

Diagnóstico
Obtenção do conhecimento
- Aplicado a 35 Resultado
estudantes inscritos na - Vídeos projeto "Antártica ou
eletiva (realizado pela Antártida" ;
- Elaboração de propostas de
coordenadora do - Weboconfêrencia: pesquisadores atividades a serem
projeto); polares e outras ciências; desenvolvidas: árvore de ideias;
- Organização de dados e - Palestras presencial: pesquisadores Pesquisa-ação desenvolvida
análise: estatística da amazônia; pelos estudantes;
descritiva;
- Pesquisa virtual e bibliografica -Sintetização da experiência
- Aplicado a 224 vivenciada através de relatos.
estudantes do 6º ao 9º
ano (realizado pelos EIE).

Figura 1 – Organização de ações da disciplina eletiva Pré-iniciação cientifica: Amazônia vai a Antártica.
Fonte: Organizado pelas autoras a partir da experiência vivenciada pelo projeto.

De forma que inicialmente foi realizado um diagnóstico dos saberes sobre as temáticas, e
posteriormente a construção da ementa da eletiva juntamente com os estudantes inscritos (Fig. 1),

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sendo os resultados guias para as ações que foram desenvolvidas. Paralelamente foi realizado o
contato com Instituto, Universidades e Associação compostos por investigadores para dar suporte
conteudista ao diálogo polar e amazônico, surgindo um pacto informal de cooperação.
Todas essas etapas geraram reflexões em forma de relatórios científicos desenvolvidos a
partir dos diálogos estabelecidos.

RESULTADOS

Ainda que um projeto envolvendo o diálogo ambiental no espaço escolar seja dotado de
múltiplos interesses por quem coordena um projeto, há que reconhecer que os objetivos são
distintos entre o conjunto de atores que compõem esse espaço de ensino-aprendizagem (Fig. 2).

Ator (a) escolar Objetivos

• Proporcionar um ensino de qualidade.


Gestor • Identificar o nível de interesse sobre a temática
proposta;
• Averiguar a presença do tema durante a vida escolar
do estudante;
Docente • Analisar a percepção ambiental despertada pela
coordenador contribuição tecnologica (vídeos, web oconferencias,
pesquisa virtual;
• Despertar interesse sobre o tema, sobre a profissão do
pesquisador e os processos que levam a formaçao de
um investigador.
• Contribuir com o projeto de vida
(meta profissional);
Estudantes • Conhecer sobre o tema polar e
aprofundar sobre o tema
amazônico;

Figura 2 – Objetivos norteadores de um projeto na perspectiva dos distintos atores (as) escolar
Fonte: Organizado pelas autoras a partir da experiência vivenciada pelo projeto.

Todos esses objetivos se encontram no momento da produção de uma reflexão sobre as


escolhas de cada ator, o resultado é indeterminado, ele se constrói como propôs Paulo Freire, no
processo de diálogo onde a construção de um novo conhecimento sobre o ambiente polar e
amazônico, dependerá de como as informações são processadas pelos envolvidos na proposta,
proporcionando fluir o protagonismo tanto individual como coletivo.
A gestão do conhecimento gera ações e, é ele o grande produto final da eletiva ―Amazônia
vai a Antártica‖, uma proposta de educação ambiental geográfica que dialoga com outras ciências.
O diagnóstico realizado com os inscritos na proposta e apresentado a eles oportunizou
desenhar as diretrizes da eletiva, tanto na questão curricular (BOY et al, 2017) quanto aos
resultados que os EIE esperavam alcançar, resultando em dois encaminhamentos:
1. Os conteúdos a serem analisados e dialogados com os pesquisadores polares e amazônicos.
2. O que fazer com as informações obtidas, fato que oportunizou a construção de uma árvore
de propostas de ações. Entre as atividades foram sugeridas a realização de palestras, feira de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conhecimento, teatro, concurso de desenho, reportagem, maquete, tratamento de resíduos,


sendo estes os mais frequentes nas 35 falas.
A partir de então, decidiu-se que após o processo de formação, considerada relevante pelos
integrantes do projeto, as informações deveriam ser multiplicadas através de palestras a outros
públicos. Inicialmente os inseridos dentro da comunidade escolar, para posteriormente alcançar
novos públicos como Escola Indígena da TI Rio Branco, Escolas de áreas rurais e outros espaços
que demonstrasse interesse em receber os multiplicadores ambientais (VIDAL et al, 2017).
Para delimitar quais turmas do ensino fundamental de 6º ao 9º ano da escola Candido
Portinari seriam escolhidas para as palestras, foi sugerido pelos EIE aplicar o mesmo diagnóstico
realizado inicialmente a equipe, com o intuito de identificar o nível de conhecimento e interesse
destes (SILVA et al, 2017).
Dessa forma, 221 alunos foram entrevistados com nove perguntas estruturadas (Fig. 3),
sendo considerada apenas a resposta sim, de cada questão. Averiguou-se que 23%, em algum
momento da vida escolar, havia estudado sobre o ambiente polar, com maior concentração nas
turmas do 6º ano A, 8º ano A e 9º ano C. As demais apresentaram menos de 5% dos que já haviam
estudado a respeito. Nos estudantes da eletiva esse valor não ultrapassou 6%. Um dos estudantes
que afirmou ter estudado informou que fez parte do projeto na Escola Maria Comandolli Lira em
2013 (VIDAL et al, 2017).
Ao ser questionado se saberiam diferenciar o Polo Norte do Polo Sul, tanto os alunos do
ensino fundamental quanto da eletiva pelo menos 10% alegaram que sim. A APECs-Brasil já era
conhecida por 14% dos alunos do ensino fundamental, valor superior aos da eletiva que não
ultrapassaram 8%. Esse fator se deve a uma antiga professora de ciências ter trabalhado sobre o
tema em 2016 com algumas turmas do ensino fundamental.
Ainda que pareça comum os alunos estarem inseridos no bioma amazônico e se sentirem
parte dele, observou-se que há uma grande perca de percepção de escala, pois um percentual
expressivo desconhece que Rondônia está inserido na região Amazônica. Contudo, apresentaram os
exemplos do que julgavam ser problema ambiental para a região, de forma que 67% do ensino
fundamental e 49% da eletiva ressaltaram os principais problemas da região, sendo as queimadas e
o lixo os mais citados.
Os pesquisadores polares e amazônicos são conhecidos por menos de 22% dos
entrevistados, mostrando que ambos estão ainda muito distantes do espaço escolar. O primeiro se
justifica por estarem inseridos em ambientes distintos dos quais os alunos fazem parte. Contudo, o
segundo estão a menos de 3 km da escola, evidenciando a urgência de novas propostas de extensão
universitária que aproxima jovens estudantes do mundo acadêmico e da pesquisa local.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

35
Turmas entrevistadas

30

Total de alunos
25

20

15

10

0
6A 7B 7A 8A 8B 9A 9B 9C Eletiva
1. Você já estudou a respeito das regiões
14 1 0 20 5 0 0 11 2
polares?
2. Saberia explicar a diferença entre as
0 1 0 13 1 2 0 0 2
regiões polares dos extremos norte e sul?
3. Já ouviu falar sobre as Ações da
Associação de Pesquisadores Polares e
0 0 0 1 22 1 4 4 3
dos Mares conhecida como APECs-
Brasil?
4. Conhece os problemas ambientais da
24 22 18 15 26 25 3 16 17
região Amazônica?
5. Já teve contato com algum cientista
1 0 0 0 0 0 1 0 0
polar?
6. Já teve contanto com algum um
0 1 0 0 31 0 0 0 3
cientista Amazônico?
7. Já participou de uma
0 1 10 22 9 3 0 1 5
videoconferência?
8. Já participou de algum projeto
21 5 28 8 30 17 4 10 16
ambiental no espaço escolar?
9. Gostaria de participar de um projeto
para conhecer os impactos ambientais na 28 23 26 21 31 16 16 19 35
região Amazônica e na Antártica?

Figura 3 – Diagnóstico integrado dos estudantes do ensino médio inseridos na eletiva e do ensino
fundamental.
Fonte: Adaptado de pelas autoras a partir de Galdino et. al 2017.

Acima de 40% dos entrevistados informaram que em algum momento de sua vida escolar
participaram de projetos envolvendo temáticas ambientais, esse número é maior entre os estudantes
do ensino fundamental de 6º ao 9º, ano em que 56% já participaram. O número é otimista quando o
questionamento é se haveria interesse em participar de um projeto envolvendo as temáticas
ambientais da região Amazônica e Antártica, com exceção dos 9º anos o restante apresentou acima
de 80% de interesse em participar, com destaque para 6º ano A e 8º ano A que foram unânimes
100% e o 7º ano A (93%) e B (88%), razão pela qual as quatro últimas turmas citadas foram as
escolhidas pelos alunos da eletiva para o desenvolvimento das propostas de ações socializadoras do
conhecimento obtido.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A busca pela identificação do cenário da informação polar e amazônica, pode ser


considerado uma primeira estratégia da pesquisa – ação, proposta pelos EIE, partindo da relevância
da auto avaliação do resultado da turma para então averiguar o que o ensino fundamental saberia
sobre a temática, e a partir do resultado analisado por turma foi possível estruturarem quais
abordagens seriam necessárias no processo de multiplicação.

DA OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO A PESQUISA-AÇÃO

Os processos de obtenção de informação são descritos por Martins el al (2017) e Vidal et al


(2017), evidenciando os diálogos estabelecidos entre estudantes e pesquisadores polares, com
temáticas voltadas a fauna, clima, impacto antropogênico entre eles o lixo. Esses diálogos foram
estabelecidos via Skype, um instrumento utilizado para fins pedagógicos, facilitado de acordo com
Ricarte e Carvalho (2011) por ser ―(...) um programa gratuito que permite a comunicação via áudio,
através da conexão VOIP (Voz sobre IP), realizando chamadas telefônicas e de videoconferência,
sem nenhum custo aos usuários conectados a este software‖ (2011, p.265).
Juntamente ao Skype foi utilizado o projetor multimídia de forma que o pesquisador fosse
inserido em um diálogo coletivo e convidado literalmente a estar dentro da sala de aula da escola
Cândido Portinari, independente de sua localização no planeta.

Dra. em climatologia Dr. em matemática Jackson Dra. em ciências e


Elaine Santos – Rio de Itikawa – Barcelona tecnologias ambientais
Janeiro Francyne Elias-Piera –
Coreia do Norte
Figura 4 – Localização dos pesquisadores colaboradores no momento do diálogo
Fonte: Banco de dados do projeto.

Consorciada a esta metodologia, foram utilizados vídeos do projeto de extensão Antártica ou


Antártida? E palestras presenciais de investigadores da região amazônica que vivem no município
de Rolim de Moura (Galdino et al, 2017).
As reflexões geradas da auto avaliação do diagnóstico da turma, os motivaram a analisar se
os alunos do segundo ciclo do ensino fundamental teria a mesma realidade, ao constatarem que as
respostas apresentaram semelhança, propuseram uma atividade coletiva, dividindo a turma em
quatro equipes: uma para palestra polar, outra amazônica, uma equipe de jornalismo e uma equipe

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para analisar o conhecimento obtido, nesta última foi utilizado a análise de conteúdo dos desenhos
gerados pós palestras ( LIMA et al, 2017).
Essa interação entre informação e a necessidade de multiplicar, resultou posteriormente em
reflexões sobre o processo realizado, organizado em relatórios científicos. Estes foram submetidos a
espaços de diálogo no país resultando em 80% dos estudantes com suas reflexões publicadas ou em
vias de publicação (Quadro 1).

Palestra Amazônia Palestra Antártica


Produção da reflexão Produção da reflexão: A ser submetido no
destinado ao V Congresso IV Simpósio de Recursos Hidricos.
Nacional de Educação
Ambiental e VII Encontro
Nordestino de Biogeografia.
 Amazônia vai à Antártica:  Antártica: um reservatório de água doce
formação de multiplicadores ameaçado dialogado em sala de aula.
ambientais.
Concurso de desenhos Equipe de jornalismo
Produção da reflexão Produção da reflexão: APECs Brasil
destinado ao V Congresso Informativo do 1º e 2º semestre de 2017.
Nacional de Educação
Ambiental e VII Encontro
Nordestino de Biogeografia.
 Desenho como instrumento  A informação polar na escola Estadual de
para análise da percepção Tempo Integal Cândido Portinari: uma
ambiental adquirida pós opção estudantil).
palestras.  Novos horizontes proporcionados por
investigadores polares e amazônicos.
 Conhecimento dos alunos do 6º ao 9º ano
da Escola Estadual Cândido Portinari
acerca dos ambientes Amazônico e
Antártico – Fase. I
 Conhecimento dos alunos do 6º ao 9º ano
da Escola Estadual Cândido Portinari
acerca dos ambientes Amazônico e
Antártico – Fase II.
Quadro 1 – Resultado dos relatórios sistematizado das reflexões pós – pesquisa ação
Fonte: Organizado pelas autoras com base no banco de dados da eletiva.

A sistematização das ações desenvolvidas em grupo ampliou a capacidade de tomada de


decisões e a participação na construção do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final de um semestre integrando Antártica e Amazônia na reflexão espacial, buscando


despertar o olhar questionador sobre o conjunto de dados disponíveis, pode-se concluir
parcialmente sobre:
a. Os temas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Não foi possível atender ao interesse sobre a temática Antártica, devido a demanda de
interesse ser maior que a carga horária disponibilizada para a disciplina eletiva. Fator que
evidencia que o enfoque dado ao conteúdo no currículo e nos livros didáticos (geografia)
desde o 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio é insuficiente;
 O conhecimento sobre a região Amazônica ainda que muito rica em livros didáticos
disponibilizados na escola, por si só não oportuniza o sentimento de pertencer a esse espaço
pelos alunos de 6º ao 8º ano do ensino fundamental, devendo ser desenvolvidos novos
estudos para averiguar se esses dados são inseridos nas séries iniciais;
 A contribuição de pesquisadores polares, oportuniza tirar dúvidas em tempo real, ao tempo
que desperta o estudante para a necessidade de questionar o conjunto de informações
disponível na mídia, nem sempre clara. A exemplo disso, o uso constante de imagens com
urso polar e pinguins em um bloco de gelo, sem uma discussão leva erroneamente a se
concluir que ambos fazem parte do mesmo ambiente.
b. A metodologia
 A possibilidade de construir uma ementa com estudantes torna o processo de diálogo mais
participativo, ampliando o índice de responsabilidade da obtenção da informação;
 O uso de tecnologias como instrumento de ensino de aprendizagem e de estabelecimento de
pactos cooperativos oferecerem informação de qualidade, atualizada e estimuladora,
possibilitando que as múltiplas ciências possam estar inseridas dentro de uma única pauta;
 Apresentar metodologia de investigação quali-quantitativa a estudantes do ensino médio em
tempo integral, possibilita sistematizar ações em busca de respostas a uma interrogação
construída a partir de reflexões sobre o objeto que se pretende estudar.
 A entrevista, estatística descritiva e a produção da sistematização da experiência vivenciada
através de relatório científico é aplicável a estudos do 1º ao 3º do ensino médio.
A replicabilidade pelo próprio estudante, de uma metodologia vivenciada por ele no espaço
escolar a partir do diálogo participativo alimentado por um tema provocador como a questão
ambiental, é uma possibilidade viável e atrativa para que a iniciação científica se converta em
realidade em escolas de ensino em tempo integral, estimulando tanto o olhar questionador como o
protagonismo aplicado não somente no espaço escolar, mas ao projeto de vida dos estudantes.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 977


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A ABORDAGEM CONTEXTUALIZADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM BASE


NOS ESTUDOS DA PERCEPÇÃO DO MEIO

Ádson Bruno Costa PEREIRA


Mestrando em Energias Renováveis da UFPB
ad-bruno@hotmail.com
Henrique CHUPIL
Doutorando em Zoologia da UFPR
hchupil@gmail.com

RESUMO
Os estudos sobre a percepção ambiental tornam-se cada vez mais necessários na tentativa de
contribuir para mudar o atual quadro de degradação ambiental. Diante desta problemática, surge
então uma preocupação da sociedade exigindo soluções e mudanças que venham favorecer o meio
ambiente. Neste trabalho objetivamos investigar, com base em uma pesquisa bibliográfica e a partir
da análise socioambiental na Escola Estadual Padre Zuzinha – PE, na forma de relato de
experiência, a importância do estudo da percepção ambiental, em aspectos cognitivistas e mentais
acerca do meio ambiente, visando maneiras de sensibilizar a comunidade escolar, em especial os
alunos, com práticas em Educação ambiental. A percepção ambiental consiste no conhecimento que
o ser humano tem de um determinado ambiente ou como o percebe. Portanto, a Educação
Ambiental precisa ser tratada de forma mais contextualiza e clara para que possa contribuir de
maneira efetiva no processo de ensino-aprendizagem em um contexto global, integrado e
interdisciplinar, e para que consiga a atenção e relevância que merece na resolução de problemas
pertinentes.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Percepção ambiental, Meio ambiente.

ABSTRACT
Studies on environmental perception are becoming increasingly necessary in an attempt to change
the current picture of environmental degradation. Faced with this problem, then a concern of society
demands solutions and changes that come to favor the environment. In this work we aim to
investigate, based on a bibliographical research and from the socioenvironmental analysis at the
Padre Zuzinha State School – PE, in the form of an experience report, the importance of the study
of the environmental perception, in cognitive and mental aspects about the environment, aiming at
ways of To sensitize the school community, especially the students, with practices in environmental
education. Environmental perception consists in the knowledge that the human being has of a
certain environment or how he perceives it. Therefore, Environmental Education needs to be treated
in a more contextualized and clear way so that it can contribute effectively to the teaching-learning
process in a global, integrated and interdisciplinary context, and to achieve the attention and
relevance it deserves in solving problems relevant.
Keywords: Environmental Education, Environmental Perception, Environment.

INTRODUÇÃO

Ao longo de toda a história da humanidade, as civilizações não têm tido os devidos cuidados
com o planeta, além de não se preocuparem com as gerações futuras. De acordo com Effeting

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(2007) com a urbanização e evolução da civilização, a percepção do meio mudou


consideravelmente e a natureza passou a ser compreendida como um ambiente a parte na sociedade
humana, onde só se retira, consumi e descarta, e dessa forma os recursos naturais vão se tornando
escassos e a qualidade de vida das gerações futuras pode estar comprometida.
Existem inúmeros problemas que diz respeito ao ambiente, estes devem-se em parte ao fato
das pessoas não serem sensibilizadas para a compreensão da dinâmica da biosfera e dos problemas
da gestão dos recursos naturais. Eles não estão e não foram devidamente preparados para delimitar
e resolver de modo eficaz os problemas concretos do seu ambiente imediato. Sobre isso, Andrade
(2004, p. 56) discorre que para ―toda intervenção do homem na natureza, por mais branda que seja,
acarreta em ambos: um preço energético e um preço entrópico‖. Contudo não existe uma forma de
divisão entre ser humano e natureza, uma vez que nos é esclarecido que o homem é parte
integrante do meio (ANDRADE, 2004).
São muitos os exemplos de agressão aos sistemas de sustentação da vida. A agricultura que
é tida por muitos como algo que não trás impactos é exemplo disto, como também a caça, a pesca
predatória, entre outros. Nesse sentido, podemos utilizar de tudo isso para servir de mote para
estimular uma reflexão bem como uma abordagem mais profunda de temas em educação ambiental
(PEREIRA, 2011). Conforme Silva e Sousa (2009, p. 2) diante dos conflitos políticos e ideológicos,
―a Educação Ambiental surgiu como proposta ao enfrentamento dessa crise, buscando as suas
raízes, através da articulação entre as dimensões social e ambiental‖. Por sua implementação
depender de recursos financeiros menores e também por serem mais eficazes se implantadas antes
da ocorrência de degradação ambiental, a Educação Ambiental, como medida preventiva, pode ser
aplicada como forma de orientar e organizar a sociedade em busca da compreensão do meio
ambiente. Nesse sentido as medidas preventivas devem antecipar ou minorar a ocorrência dos
fatores de degradação, de modo que as medidas corretivas sejam aplicadas com menos
frequência.Conforme Odum (1988, p. 341) nós poderemos ser enfaticamente otimistas se a
humanidade conseguir relutar e propagar as ideias consideradas positiva em relação à crise atual. O
referido autor ainda destaca outro aspecto importante em relação às buscas das possíveis soluções
para a crise, discorrendo que uma forma de se avaliar a crise atual da humanidade é considerar os
desníveis que devem ser reduzidos para que os seres humanos e o ambiente, bem como as nações
industriais e não industriais, sejam direcionados a um equilíbrio harmonioso. Dentre os desníveis
citados estão o de renda, alimentar, de valores e o enorme desnível na educação. Nenhum desses
desníveis, e principalmente na educação, foi diminuído sensivelmente, de modo que é através da
Educação Ambiental que é preciso trabalhar com uma perspectiva de mudança de paradigma e de
percepção inadequada. Deve-se, com isso, construir subsídios para uma melhor preservação e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conservação dos recursos naturais que irão conduzir à humanidade a uma sociedade sustentável e
consciente dos agraves pertinentes da crise ambiental.
Diante desta problemática, surge então uma preocupação da sociedade exigindo soluções e
mudanças que venham favorecer o meio ambiente. A introdução da perspectiva de Educação
Ambiental como ferramenta de mudança nas relações do homem com o ambiente é uma das ideias
propostas, que, segundo Silva (2009, p. 57) ―pode ser considerada um dos principais instrumentos
de mudança para o atual quadro que retrata o meio ambiente‖. Através desse instrumento é
possível proporcionar a garantia e a manutenção da sobrevivência para a humanidade e para os
demais elementos do meio ambiente.
A Educação Ambiental é considerada como um processo contínuo em que se busca
despertar a preocupação individual e coletiva para a problemática e, dessa forma, contribuir para o
desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as questões ambientais e sociais. Partindo desta
ideia, os alunos têm a possibilidade de conscientizar-se das situações que acarretam problemas no
seu ambiente próximo ou para a biosfera em geral, refletindo sobre as suas causas e efeitos para o
agora e para as gerações futuras, procurando ações apropriadas na tentativa de resolvê-las.
Para intervir no processo de aprendizagem em Educação Ambiental nas escolas é necessário
que se faça previamente um trabalho de identificação da percepção ambiental dos estudantes. A
maneira como as escolas, os educadores ambientais, e os professores podem trabalhar a temática,
deve extrapolar as iniciativas de capacitação introdutória (FORSBERG et al., 2009). Segundo
Leripio et al. (2003) é importante destacar que os estudos dos processos mentais relacionados à
percepção ambiental é fundamental para a compreensão das relações do homem com o ambiente,
pois direcionam para o pensamento humano, tanto de forma individual quanto coletivamente.
Para Silva (2010, p. 65) a ―Educação Ambiental tem como objetivo possibilitar mudanças de
valores, atitudes e de conceitos‖, o que permite uma mudança de comportamento e uma
reestruturação da percepção, tendo em visto que a maior parte dos problemas ambientais é
decorrente da percepção inadequada. Conforme Andrade (2008) observando-se o contexto histórico
da interação homem e natureza, o ser humano não se coloca como parte integrante do meio
ambiente. No entanto, é preciso que ocorra uma mudança de paradigma em relação a muitas
questões ambientais, mudanças essas que façam com que o homem se sinta cada vez mais parte
integrante do meio. Torna-se necessário um resgate dos laços que unem o ser humano à natureza.
No âmbito escolar deve-se promover uma educação inovadora, que aperfeiçoe as
metodologias que irão subsidiar a Educação Ambiental no ensino de Ciências. A Educação
Ambiental, de acordo com a Lei n°. 9.795, de 27 de abril de 1999, deve ser contínuo, permanente
da educação Nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo de
educação formal e não formal. Conforme o programa Ensino Médio inovador, quando de sua

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

implantação, pretende com uma nova organização curricular, com perspectiva de articulação
interdisciplinar, um maior desenvolvimento de conhecimentos - saberes, competências, valores e
práticas (BRASIL, 2009).
A presente pesquisa tem como objetivo destacar a importância da análise da percepção
ambiental de estudantes acerca do meio ambiente, como também a respeito de temas relacionados
em aspectos cognitivistas e mentais, visando o desenvolvimento de formas para se trabalhar com a
temática em Educação Ambiental, uma melhor relação do homem com o meio e contribuir no
processo de formação de cidadãos conscientes ecologicamente, como também fazer uma análise
sócioambiental na instituição pesquisada na forma de um relato de experiência. Trabalhar o tema
proposto neste estudo pode ser um ponto de partida para reforçar o papel das escolas na formação
de agentes multiplicadores de Educação Ambiental.

METODOLOGIA

O presente estudo teve início com uma análise socioambiental realizada em uma escola
pública (Escola Padre Zuzinha), situada no centro do município de Santa Cruz do Capibaribe – PE,
durante o segundo bimestre do ano letivo de 2014.
A coleta dos dados foi desenvolvida em duas etapas, a saber: 1ª Etapa: consistiu do
reconhecimento do campo no qual se deu o estudo, a partir da análise sócioambiental da escola e na
forma de relato de experiência. A ação se deu por meio de observações e visitas periódicas à
instituição para o levantamento do perfil ambiental (se possui área verde, horta, coleta seletiva de
lixo) e, de maneira informal, buscou-se saber com os professores e alunos, se existiam projetos
sobre o tema meio ambiente e Educação Ambiental desenvolvido na instituição e como os
professores e estudantes se integravam neste projeto;
2ª Etapa: consistiu em uma pesquisa bibliográfica obtida com base em artigos científicos
publicados em periódicos científicos; livros relacionados às temáticas ambientais e educacionais;
trabalhos acadêmicos, como dissertações e teses, que enfatizam em aspectos cognitivistas e mentais
temas relacionados ao meio ambiente e Educação Ambiental.

O PAPEL DO PROFESSOR E A TEMÁTICA AMBIENTAL NAS ESCOLAS

A Educação Ambiental é indispensável na formação educacional da sociedade que busca e


necessita cada vez mais do crescimento sustentável. Por ser multidisciplinar, deve ser
necessariamente abordado nas escolas de forma a mostrar aos alunos sua importância no contexto
ambiental e sensibilizá-los de que podem ser agentes transformadores. Nesse processo de ensino o
professor é um componente importante e revolucionário de grande contribuição. A esse respeito
Carvalho, citado por Pereira, (2011, p. 14) fala sobre ―uma forte tendência em reconhecer o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

processo educativo como uma possibilidade de provocar mudanças e alterar o atual quadro de
degradação do ambiente com o qual deparamos‖. Conforme Oliveira (2006) o professor pode ser
considerado como um agente transformador cidadão que deve estar envolvido no processo de
transformação da educação e da sociedade. A escola também deve ter um papel importante e
revolucionário neste processo, visto que nela passamos boa parte de nossa vida construindo e
reformando nosso conhecimento e pensamento crítico. Nesse pensamento, o educador deveria atuar
como um facilitador entre escola, aluno e posicionamento ambiental, visto que, cabe a ele
questionar, problematizar e desenvolver significados. Se o individuo não percebe a consequência
ambiental, dificilmente entenderá sua participação neste processo, por não saber a sua importância e
como atuar na resolução de problemas concretos, além de não ser sensibilizado para isso. A esse
respeito Silveira (2002) destaca que ao abordar os conteúdos ligados à noção de ambiente, o
professor deve fazê-lo através de uma perspectiva global e integrado, portanto, deve-se levar em
consideração os contextos econômicos, políticos, culturais e sociais aos quais o aluno está inserido.
Conforme Fernandes (2007, p. 16) as interações e relações do homem com o meio tem
desencadeado uma forte degradação deste e gerado um intenso debate sobre os procedimentos
considerados ecologicamente corretos. Essas discussões, quando devidamente relacionadas ao
cotidiano do estudante, são relevantes por implicarem aos discentes compreenderem os diferentes
aspectos de sua realidade, e através disso, possam transformá-la e contribuir na formação cidadã.
De acordo com Ferreira e Rosso (2009) o professor, em suas escolhas, deve produzir
sentidos e propor iniciativas para que os resultados do seu trabalho sejam favoráveis e se alinhem
conforme a sua posição como sujeito com propostas educativas. O referido autor ainda ressalta que
a função do educador ambiental, na sua arte de interpretar, poderia ser pensada como o de um
intérprete de nexos que conduzem aos diferentes sentidos do ambiental em nossa sociedade. Ou
seja, os educadores tornam-se intérpretes das interpretações construídas no âmbito social. É
principalmente nas escolas que se pode trabalhar para mudar a forma com que a da educação
ambiental vem sendo difundida na sociedade, implantando metodologias inovadoras que possam
conduzir à melhores resultados perante os problemas ambientais.
Tendo em mente que a escola é o espaço social em que o aluno dá continuidade ao seu
processo de socialização e educação, ela também pode proporcionar a formação de cidadãos
conscientes e sensibilizados. Dessa forma ocasionará o desenvolvimento de ações que visem à
minimização dos problemas pertinentes à crise ambiental, decorrentes da desenfreada degradação
do meio ambiente e da insustentabilidade.
Através da organização por áreas, de acordo com o currículo proposto pelos PCNs, a
Educação Ambiental, por ser amplamente relacionada a diversos conteúdos disciplinares, pode ser
compreendida diante de uma concepção interdisciplinar, que articula as linguagens, a filosofia, as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ciências naturais e humanas e as tecnologias (BRASIL, 2001). Portanto, a Educação Ambiental não
deve ser incluída erroneamente no âmbito escolar como mais uma disciplina da grade curricular,
mas deve ser abordada de forma interdisciplinar e transversalmente aos conteúdos. Trabalhar de
forma transversal, conforme Rodrigues, M. e Rodrigues, L, (2001, p. 36) ―significa buscar a
transformação de conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre
vinculados à realidade cotidiana da sociedade‖, desse modo obteremos cidadãos mais participantes
e ativos no processo educativo, pois entenderá os conteúdos com base na sua realidade. A este
respeito Santos (2007) enaltece que a contextualização no currículo poderá ser constituída com base
na abordagem de temas sociais e de situações cotidianas, sempre de forma dinâmica e articulada
transversalmente aos conteúdos e aos conceitos científicos de aspectos sociocientíficos,
concernentes a questões ambientais, éticas, sociais, econômicas, culturais e políticas.
Por meio da metodologia da problematização também é possível trabalhar o tema meio
ambiente. De acordo com Lorencini Jr. e Verona (2009) essa metodologia contém um conjunto de
métodos, técnicas e procedimentos que organizam melhor o estudo por etapa e facilita a
compreensão. Esse método promove um pensamento mais crítico e complexo da realidade, além de
dá direcionamento para se experimentar na prática vários princípios de uma pedagogia
problematizadora em Educação Ambiental que seja transformadora da sociedade.
Diante disso, numa abordagem contextualizadora sociocultural, o homem pode reconhecer-
se como agente e paciente de transformações, muitas vezes intencionais no seu meio, como também
promover relações entre o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico com questões
ambientais favoráveis a vida e ao desenvolvimento sustentável da humanidade, caracterizando
assim, aspectos essenciais na interação do ser humano com o ambiente.
Na busca de atribuir significado ao conhecimento escolar, e superar obstáculos do ensino
tradicionalista e conteudista que existe na maioria das escolas nos dias de hoje, o ministério da
Educação (MEC) lançou, em 2000, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(PCNEM). O documento oferece uma nova modalidade de aprendizagem regrada na
contextualização, opostamente ao ensino descontextualizado, compartimentalizado e baseado no
acúmulo de informações que tínhamos. Procura-se agora novas formas de abordagem e
metodologias para os conteúdos. Segundo Saraiva et al. (2008) os PCNs conseguem dá a ênfase
necessária a preservação do meio ambiente, contemplando as realidades locais e sugerindo formas
de introdução de Educação Ambiental nos currículos escolares.
Segundo Lorencini Jr. e Verona (2003, p. 2) para que as recomendações sejam alcançadas,
exige-se a necessidade da implementação de alternativas metodológicas que estejam em
consonância com o cotidiano da escola e do aluno. Com essa proposta, a Educação Ambiental vem
sendo introduzida nas escolas através de projetos e programas conduzidos por professores e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

coordenadores junto às turmas, através de organizações não governamentais (ONGs) ou até mesmo
por organização de grupo ou comunidades como forma de sensibilizar e conscientizar a comunidade
escolar para os problemas locais e mais abrangentes.
Cabe então, nesse contexto, compreender os princípios científicos e associá-los aos
problemas que se pretende solucionar e de forma contextualizada buscar soluções para esses
problemas, conduzindo a aplicações para os princípios científicos que expliquem o funcionamento
do mundo e relacione-os com ações de intervenção na realidade. Os PCN para o ensino médio
ainda ressalta que, em relação ao aprendizado, deve colaborar para uma cultura mais vasta,
ampliando meios para a interpretação de fatos naturais e a compreensão de procedimentos e
equipamentos do cotidiano social e profissional, assim como para a articulação de uma visão do
mundo natural e social (BRASIL, 2000).

ESTUDO DA PERCEPÇÃO PARA UMA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

A caminho de uma reestruturação da consciência ambiental referente ao comportamento


humano perante o meio ambiente, torna-se necessário a compreensão da percepção. De acordo com
Guerra e Abílio, citado por Machado Filho et al. (2008) a percepção dos indivíduos acerca do seu
meio é de relevante importância para compreender melhor as suas relações com o ambiente e seus
valores. A esse respeito Palmas, citado por Silva (2010) diz que estudar como uma população
percebe o ambiente é essencial para a compreensão das inter-relações da mesma com o meio, suas
possibilidades, contentamentos e insatisfações, apreciações e comportamentos.
A percepção ambiental consiste então no conhecimento que o ser humano possui sobre um
determinado ambiente ou como percebe o meio ambiente. De acordo com Leripio et al. (2003) a
percepção ambiental é uma atividade mental de interação do homem com o meio ambiente, que se
desenvolve através de mecanismos perceptivos, mas ocorre, principalmente, por meios cognitivos.
Para Okamoto, citado por Franco et al. (2010) a percepção ambiental é o sentido individual do
ambiente, acerca das circunstâncias vividas, que o conduz a reagir de maneira distinta com o meio
em que vive. Portanto o homem irá agir no meio em que vive conforme a sua percepção, e se essa
percepção não for a mais adequada, acarretará em problemas ambientais a curto e longo prazo.
Com base no estudo da percepção, busca-se a elaboração da consciência ambiental para o
desenvolvimento de ações decisivas. Segundo Gumes (2005) agir na realidade socioambiental é
também uma maneira de cidadania, sendo uma condição posterior da aquisição de uma consciência
socioambiental. Nessa interpretação as atitudes conscientes caminham junto à percepção, e as
prováveis soluções para as questões ambientais enfrentadas hoje em relação ao mundo seria a
tomada de consciência que pode ser construída a partir do pressuposto da percepção do indivíduo e
da sua adequação e reestruturação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quanto à reestruturação na maneira de perceber o ambiente, conforme Andrade (2004) o


modelo ecológico destaca as mudanças nas percepções, na maneira de pensar e nos valores, que
passam de autoafirmativo para uma tendência mais integrativa. Nesse sentido, a maneira como uma
determinada população percebe o ambiente sofre influência do sistema cultural e do modelo de
desenvolvimento determinado para a região, acordado que a maioria dos problemas ambientais
pode ser decorrente da percepção inadequada que as pessoas detêm do meio. A esse respeito Capra,
citado por Silva (2010) afirma que os problemas necessitam ser analisados por diferentes ângulos
ligados a crise de percepção. É através do conhecimento de como as pessoas percebem e
compreendem os diferentes níveis de espaços ambientais que são obtidos dados específicos e
demonstrativos sobre o modo de desenvolver as atividades e de se relacionar com a natureza.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise socioambiental da escola pública localizada no centro de Santa Cruz do


Capibaribe – PE, foi possível constatar que a instituição, considerada de porte médio, possui um
espaço físico que conta com: salas de aula, sala de professores e salas da administração amplas,
biblioteca, refeitório, sala de vídeo, auditório, laboratório, quadra de esportes, banheiros e
corredores, além de um estacionamento e almoxarifado. Possui também uma área na qual está
inserido um espaço aberto central entre as salas de aula.
Frequentada por alunos de nível sócio econômico considerado baixo e que residem em áreas
próximas à instituição, a escola não possui problemas com a manutenção do ambiente estrutural e
visual, que se encontra bem conservado em decorrência do bom uso por parte dos estudantes, que
no ensino médio são, em sua maioria, compostas por adultos e adolescentes.
O recolhimento dos materiais descartados na escola é feito através de lixeiras comuns e por
meio de um sistema de coleta seletiva para a separação e gerenciamento dos resíduos produzidos.
Apesar disto, a instituição não possui um programa de gerenciamento ou aproveitamento do seu
espaço que pudesse contribuir no processo de inserção e aprendizagem no contexto da Educação
Ambiental, tendo em vista que os alunos não são instigados a contribuírem na resolução de
problemas pertinentes na escola e na comunidade.
A instituição possui alguns projetos culturais que não são ligados diretamente com a
problemática, porém ainda não foi possível se trabalhar com a Educação Ambiental de uma forma
mais contextualizada e como tema transversal em todas as disciplinas.
A escola dispõe de três professores de Biologia que abordam a temática ambiental nos
conteúdos de ecologia em suas turmas de 3ª série do ensino médio com o apoio do livro didático
adotado na escola e de acordo com o planejamento feito pelo mesmo e pelos programas de
planejamento escolar. Porém, os temas transversais, como a Educação Ambiental, também são

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

abordados nas outras séries do ensino médio na disciplina durante o ano letivo, mas em nenhuma
série a temática é abordada em uma perspectiva interdisciplinar.
A instituição ao qual se deu a pesquisa, apesar de ter condições físicas e pedagógicas, não se
atentou ainda para se trabalhar com os estudantes sobre as questões ambientais, o que a torna
carente em relação aos aspectos direcionados com a temática, tendo em vista que é principalmente
nas escolas que se pode trabalhar para mudar a atual realidade da educação voltada para a
sustentabilidade. Oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, a
interferência das ações humanas e sua consequência para o meio ambiente e todas as formas de vida
existentes nele é indispensável para os tempos de crise ao qual estamos vivenciando.
A contribuição na formação de cidadãos responsáveis e conscientes de seus direitos e
deveres para com o meio ambiente deve ser contínua no processo de ensino-aprendizagem, de
forma que, através de um processo educativo que vise à reestruturação da percepção, possa
provocar alterações significativas na maneira de pensar dos estudante na tentativa de esclarecer
questionamentos e torná-los mais participativos e defensores da causa. Isso possibilita um maior
desenvolvimento de ações que possam trazer soluções para os problemas decorrentes da crise
ambiental vinculada a desenfreada degradação do meio ambiente e da insustentabilidade.
Em relação à forma compartimentalizada como a Educação Ambiental está sendo tratada na
disciplina de Biologia na escola, esta limita a discussão do assunto e a relação com a qual a temática
tem com as outras ciências, não se colocando de forma transversal como recomendo pelos PCNEM.
Com uma abordagem contextualizada, dinâmica, com um enfoque global e integrado a escola em
parceria com os professores de todas as disciplinas, precisam encontrar maneiras de trazer a
discussão transversalmente aos conteúdos para a sala de aula e relacioná-las com o contexto social,
cultural, econômico e político ao quais os alunos estão inseridos. A elaboração de projetos para
serem conduzidos dentro e fora da sala de aula pode ser um caminho, mas tudo deve ser bem
planejado e pensado com base na realidade local e na percepção do grupo estudado, possibilitando
que os mesmos façam a interação do ser humano com o ambiente em que vivem.
Para a efetiva preservação e conservação ambiental, como uma ação de proteger contra a
destruição ou degradação de um ecossistema e de seus elementos, é preciso uma conscientização e
sensibilização global para que cada indivíduo faça a sua parte como cidadão e responsável pelos
cuidados com o planeta e com as gerações futuras, adotando-se as medidas preventivas necessárias.
A conservação do meio ambiente é uma tarefa difícil de ser exercida na sociedade
consumista em que vivemos, nem sempre as atuações feitas nesse sentido são verdadeiramente
realizadas com o intuito de conservar, buscando-se mais um retorno financeiro. Torna-se
necessário, diante do estudo aqui feito, trabalhar maneiras de melhorar a forma como as pessoas
compreendem alguns aspectos relacionados com o meio ambiente e sua composição. O fato de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

alguns, inconscientemente, não se sentirem como parte integrante do meio ambiente também é
relevante, e essa separação homem-natureza é uma característica que ainda domina a sociedade
capitalista e reflete no individualismo do ser humano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos referentes à percepção ambiental devem ocupar um papel de destaque, à medida


que proporciona conhecer as particularidades de cada relação grupo, sociedade, comunidade,
indivíduo e meio ambiente, propiciando, assim, o desenvolvimento de projetos que realmente
promovam a participação e integração de todos. Identificar a percepção também contribui com o
desenvolvimento de novas metodologias voltadas para o aperfeiçoamento do processo ensino-
aprendizagem em Educação ambiental, que por sua vez, torna-se fundamental à medida que
estimula a percepção ambiental, sobretudo através do processo evolutivo e contínuo capazes de
sensibilizar e/ou conscientizar.
A abordagem contextualizada em Educação ambiental contribui de forma efetiva com o
processo de ensino-aprendizagem e acarreta avanços que possivelmente ocorrerão na educação.
Tida como um instrumento de sensibilização e conscientização para o enfrentamento da crise
ambiental, a Educação Ambiental está conquistando cada vez mais espaço nas instituições de
ensino. Os atores desse processo precisam reconhecer o seu papel e relacionar o aprendizado com o
contexto ao qual está inserido, e só assim poderá atuar como um agente transformador capaz de
reverter o atual quadro de degradação ambiental.
As práticas conservacionistas, reducionistas e descontextualizadas devem ser rompidas,
exigindo do professor uma participação mais efetiva e uma reflexão crítica quanto à organização
dos conteúdos a serem ensinados no âmbito da temática ambiental. Portanto, para reestruturar a
percepção e instigar as pessoas a serem mais ativas nesse processo, torna-se necessário se trabalhar
e discutir a respeito dessa temática com uma linguagem mais acessível ao grupo estudado, com
metodologias inovadoras, sempre criadas a partir de uma análise previa de percepção para que
possa usar as ferramentas adequadas, diante de que a maioria dos problemas ambientais causados
pelo ser humano são decorrentes da percepção inadequada que eles detêm do meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O USO DE MAPA CONCEITUAL PARA O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Alexsandra Gomes Biral STAUFFER


Mestranda em Ensino na Educação Básica- PPGEEB/UFES
alexsandra@ifes.edu.br
Ana Paula Carvalho BARBOSA
Mestranda em Ensino na Educação Básica- PPGEEB/UFES
anapaulacarvalhogr@hotmail.com
Profª Drª Sandra Mara Santana ROCHA
Doutora em Engenharia Química -DTI/UFES
rochasms@gmail.com

RESUMO
Partindo do pressuposto de que a formação inicial deve também preparar os futuros educadores para
o trabalho com educação ambiental de forma a priorizar uma aprendizagem significativa associando
teoria, prática e saberes; esse trabalho apresenta uma experiência singular. Trata-se da aplicação de
uma Sequência Didática junto aos alunos do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, da
UFES. Este estudo é um recorte de uma pesquisa mais abrangente e está relacionado à inclusão de
sequências didáticas e mapas conceituais na formação inicial de professores no que tange ao ensino
de educação ambiental e relata uma prática desenvolvida na disciplina de Ciências Naturais,
Conteúdos e seus Ensinos II. O objetivo foi verificar o conhecimento inicial da turma sobre o tema
Sustentabilidade, utilizando elementos da teoria da aprendizagem significativa, que são os mapas
conceituais como ferramenta para o trabalho de educação ambiental na formação de professores.
Para tal propósito foram comparadas as concepções transcritas nos mapas elaborados pelos alunos
do curso. A amostra foi composta por quatro mapas construídos por dois grupos no início e no final
da sequência didática com o tema Sustentabilidade. O estudo configura-se como uma pesquisa-ação
cuja abordagem é qualitativa. Foram pré-definidas categorias de análise que seguiram as
orientações de Bardin (1977) e Trindade e Hartwig (2012). Por fim, a elaboração de mapas
conceituais utilizando sequências didáticas permitiu concluir que é uma ferramenta eficaz para o
trabalho com educação ambiental. Também um meio instrucional eficaz para avaliação não-
tradicional que prioriza a construção e reestruturação de conceitos e significados, elementos
imprescindíveis no processo de aprendizagem.
Palavras-chave: Estratégia de ensino. Formação Inicial de Professores. Mapa Conceitual.
ABSTRACT
Assuming that initial training should also prepare future educators to work with environmental
education in order to prioritize meaningful learning by associating theory, practice and knowledge;
This work presents a unique experience. It is the application of a didactic sequence to the students
of the Undergraduate Course in Field Education, UFES. This study is a cut of a more
comprehensive research, is related to the inclusion of didactic sequences and conceptual maps in the
initial formation of teachers with respect to the teaching of environmental education, and reports a
practice developed in the discipline of Natural Sciences, Contents and their Teachings II. The
objective was to verify the initial knowledge of the class on the topic Sustainability, using elements
of the theory of meaningful learning, which are the conceptual maps as a tool for environmental
education work in teacher training. For this purpose, the concepts transcribed in the maps elaborated
by the students of the course. The sample consisted of four maps constructed by two groups at the
beginning and end of the didactic sequence with the theme Sustainability. The study is an action
research whose approach is qualitative. Categories of analysis were pre-defined following the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

guidelines of Bardin (1977) and Trindade and Hartwig (2012). Finally, the elaboration of
conceptual maps using didactic sequences allowed concluding that it is an effective tool for the
work with environmental education. Also an effective instructional medium for non-traditional
evaluation that prioritizes the construction and restructuring of concepts and meanings, essential
elements in the learning process.
Keywords: Teaching strategy. Initial Teacher Training. Conceitual map.

INTRODUÇÃO

O cenário precário de formação tanto inicial, quanto continuada voltado para a práxis em
sala de aula relativo aos temas transversais no currículo, bem como o discurso quase inaudível da
educação ambiental, nos despertaram o interesse em voltar o olhar para a formação de professores
para trabalharem esse tema de forma contextualizada e crítica. Nesse contexto, de formação
docente, temos uma vasta bibliografia crítica e filosófica ligada às questões de aprendizagem mas
pouca literatura que trata diretamente às questões de o quê, como, porquê e quando fazer (GATTI,
2000). Bem como, faltam pesquisas que orientem o professor nos saberes necessários à sua
realidade da sala de aula e às questões práticas de educação ambiental que despertem um ensino
crítico, emancipatório e transformador. Apenas apontar os erros nos modos de atuação do professor
em sala de aula deixa de ser suficiente porque estes apontamentos não mostram os caminhos
concretos para o principal saber docente de ação-reflexão-ação (FREIRE, 2015), ou seja, analisar,
refletir ou até mesmo criticar, visando a transformação de sua própria práxis.
Nosso estudo se baseia na teoria do construtivismo de Jean Piaget (1973, 1976), de Jerome
Bruner (1973), Lev Vygotsky (1987, 1988), Gérard Vergnaud (2003), mas principalmente na teoria
da Aprendizagem Significativa de David Ausubel (1963, 1968, 2000). A ênfase desta teoria está em
afirmar que o conhecimento acontece por construção interna do indivíduo e dessa teoria surgem
diversas metodologias de ensino construtivistas. A concepção de que a construção do conhecimento
acontece internamente na estrutura cognitiva do aluno é consenso entre os educadores (MOREIRA,
2010), porém o contexto educacional não os estimulam a usar metodologias construtivistas em suas
aulas de educação ambiental.
Segundo Ausubel (2003), para acontecer a aprendizagem, os novos conhecimentos precisam
ser ancorados em conhecimentos já assimilados pelo aprendiz, isto é, precisa existir relação entre o
novo conhecimento e o conhecimento prévio armazenado em sua estrutura cognitiva. Dessa
maneira, o ensino deve ser contextualizado e ter relações com o cotidiano do aluno, daí então, a
lógica em dizer que os conflitos socioambientais tem um grande potencial pedagógico para a
aprendizagem (RUSCHEINSKY, 2012). Outro ponto importante, destacado por Ausubel (2003)
trata da motivação do aluno, haja visto, que este precisa ter disposição para aprender. Nessa

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

perspectiva, os problemas ambientais que interferem diretamente no cotidiano do aluno e suas


possíveis soluções coletivas são conteúdos motivadores para a aprendizagem.
Na expectativa de garantir e obter indícios de uma aprendizagem significativa, Novak e
Gowin (1984), fundamentados na teoria, propõem os Mapas Conceituais como recursos por meio
dos quais o aluno será capaz de demonstrar relações entre os conceitos, possibilitando ao professor
compreender como estes foram organizados em sua estrutura cognitiva, objetivando superar uma
aprendizagem mecânica ou apenas de memorização. Para fundamentar a utilização de Mapas
Conceituais propusemos uma estratégia de ensino baseada na ideia dos três momentos pedagógicos,
propostos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011). Essa estratégia possibilita, por meio da
problematização, organização e aplicação de conhecimentos, vivenciar situações e estabelecer
relações entre conceitos e contextos.
Nessa perspectiva o objetivo foi verificar o conhecimento inicial da turma sobre o tema
Sustentabilidade, utilizando elementos da teoria da aprendizagem significativa, que são os mapas
conceituais como estratégia de ensino para o trabalho de educação ambiental na formação de
professores e o resultado consiste na análise dos mapas quanto à estrutura e à adequação a proposta
desse recurso como instrumento de ensino para o trabalho com educação ambiental.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E MAPAS CONCEITUAIS

No Brasil, as discussões sobre mapas conceituais e sua relação com a Teoria da


Aprendizagem Significativa estão presentes em diversas pesquisas e tem como foco trabalhar com
as relações entre os conceitos numa estrutura de proposições que tenham significado para o aluno
que constrói o mapa. O uso de mapas conceituais para o desenvolvimento da estrutura cognitiva é
atribuído aos pesquisadores Novak e Gowin (TAVARES, 2007; RAZERA et al., 2009; MOREIRA,
2010; TRINDADE e HARTWIG, 2012). Para Novak e Cañas (2010, p.10) ―mapas conceituais são
ferramentas gráficas para a organização e representação do conhecimento‖.
Um mapa conceitual possui várias funções tais como demonstrar conclusões de ideias,
demonstrar roteiros para aprendizagem, resumir leitura de artigos, ser ferramenta para exposições
orais ou instrumento de avalição formativa. São vários os tipos de mapas conceituais utilizados em
uma variedade de situações e com diferentes objetivos. Alguns exemplos são os no formato: Teia de
Aranha, Fluxograma, de Sistema e Hierárquico. Segundo Tavares, ―o único tipo de mapa que
explicitamente utiliza uma teoria cognitiva em sua elaboração é o mapa hierárquico do tipo
proposto por Novak e Gowin‖ (TAVARES, 2007, p. 75, apud STANZANI et.al., 2014).
Ao analisar proposições presentes em mapas conceituais é possível observar vários aspectos
relacionados à aprendizagem significativa, entre eles, a diferenciação progressiva e a reconciliação
integrativa. Segundo Moreira e Masini (2001), a diferenciação progressiva é um processo que as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ideias mais gerais e inclusivas do conteúdo são apresentados antes e de forma progressiva são
introduzidos os detalhes específicos necessários. Neste processo de interação, os conhecimentos vão
se modificando e se diferenciando progressivamente. Os significados atribuídos influenciam
particularmente na aprendizagem.
Para Moreira (2010, p. 18) ―aprendizagem sem atribuição de significados pessoais, sem
relação com o conhecimento preexistente, é mecânica, não significativa‖. A reconciliação
integrativa é um processo que pode ser observado quando o sujeito, a partir do material instrucional
oferecido pelo professor, consegue relacionar ideias, apontar similaridades e integrar conhecimentos
já existentes na estrutura cognitiva (MOREIRA, 2010).
Sempre que se verifica o princípio da reconciliação integrativa, o princípio da diferenciação
progressiva também pode ser observado porque um está atrelado ao outro. Se estiver visível estes
dois processos em mapas conceituais é possível perceber evidências de aprendizagem significativa
(STANZANI et.al., 2014). Ao analisar um mapa conceitual pode se obter um entendimento da
organização dos conceitos e as relações que o aluno atribui a um conteúdo, em outras palavras, ter
mostras da estrutura cognitiva do aluno. Então, estes podem perfeitamente ser utilizados como
instrumento de avaliação da aprendizagem. Podemos dizer que é uma ferramenta não tradicional de
avaliação que busca informações sobre os significados e relações significativas entre conceitos-
chave do conteúdo de ensino segundo o ponto de vista do próprio aluno, se mostrando muito
apropriada para uma avaliação qualitativa e formativa da aprendizagem.

OS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS

A metodologia dos três momentos pedagógicos prevê as etapas: problematização inicial,


organização do conhecimento e aplicação do conhecimento (DELIZOICOV, ANGOTI e
PERNAMBUCO, 2011).
Na problematização inicial, ou seja, no primeiro momento, são apresentadas as questões
para reflexão e discussão com os alunos sobre o tema. Esta etapa tem como objetivo conhecer e
avaliar os conhecimentos prévios do aluno, relacionando-os com os tema a ser abordado. É um
momento de instigar o aluno para conhecer o tema e buscar uma reflexão ou solução para o mesmo.
A organização do conhecimento (segundo momento), trabalha de forma expositiva ou
exploratória os conteúdos necessários para os possíveis problemas levantados no primeiro
momento, iniciando assim o estudo sistemático do conteúdo. Os autores explicam que nesse
momento serão desenvolvidos os conceitos, as definições e suas relações. Para isso, o conteúdo deve
ser preparado e organizado de forma que o aluno perceba outras possibilidades, outras explicações e que
faça comparações desses novos conhecimentos com os já existentes em sua estrutura para usá-los em
situações ou problemas futuros.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No terceiro momento, da aplicação do conhecimento utiliza-se os conceitos desenvolvidos


no momento anterior para analisar, interpretar e apresentar possíveis respostas para os problemas
discutidos no primeiro momento. Nesta etapa outras situações diferentes da problematização inicial
podem ser abordadas de forma a serem compreendidas com base nos mesmos conceitos.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida com 50 alunos da turma do 4º período do curso de Licenciatura


em Educação do Campo da UFES, na disciplina de Ciências Naturais: Conteúdos e seus Ensinos II.
O programa dessa disciplina contempla vários temas acerca de Educação Ambiental tais como:
Educação Ambiental: princípios éticos e filosóficos na relação sociedade/natureza e A contribuição
da educação ambiental à conservação dos recursos naturais rumo ao desenvolvimento sustentável.
A metodologia usada foi baseada nos pressupostos de uma pesquisa participante, que
segundo Ludwig (2009, p. 59) "refere-se ao compartilhamento do pesquisador com os papéis e
hábitos dos integrantes de um determinado grupo social, durante um certo período, tendo em vista
observar acontecimentos que não ocorreriam ou seriam alterados na presença momentânea do
pesquisador‖. Além disso, através das características de uma pesquisa qualitativa, o objeto de
estudo baseia-se na análise de mapas conceituais sobre um tema já bem discutido em educação
ambiental, a sustentabilidade. A sequência didática foi aplicada em cinco encontros, divididos em
Três Momentos Pedagógicos(TMP) totalizando dez horas de aula. No Quadro 1, pode-se verificar
as principais atividades desenvolvidas na pesquisa na distribuição das aulas.

Quadro 1 -Descrição das Atividades


MOMENTO
AULAS DATAS ATIVIDADES
PEDAGÓGICO
Apresentação de slides sobre Aprendizagem Significativa e
2
1MP 30/03/17 Mapas Conceituais.
Formação de Grupos para Discussão e Elaboração dos Mapas
com o Tema Sustentabilidade.
2 31/03/2017 Elaboração do 1º Mapa Conceitual em Grupos.
Utilização do software CMapTools.
2 01/04/2017 Apresentação dos Mapas Conceituais
Apresentação e discussão sobre o tema Sustentabilidade.
2MP Leitura de textos sobre Sustentabilidade.
Responder um Questionário sobre Qual é a sua Pegada
Ecológica?
2 27/04/2017 Referência utilizada:
AQUINO, A.F.(Org) Sustentabilidade ambiental - 1. ed. - Rio de
Janeiro: Rede Sirius; OUERJ, 2015.
SCARPA, F. SOARES, A.P. Pegada ecológica: qual é a sua?
São José dos Campos, SP: INPE, 2012.

3MP 4 25/05/2017 Elaboração do 2º Mapa Conceitual em Grupos.


Apresentação dos Mapas Conceituais
Fonte: Arquivo pessoal

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Neste trabalho, como recorte de uma pesquisa mais abrangente, foram analisados os mapas
conceituais elaborados na sequência didática aplicada. Em nossa pesquisa utilizamos os mapas
conceituais do tipo hierárquico, que apresentam a característica dos conceitos mais inclusivos ou
mais abrangentes estarem no topo da hierarquia (parte superior do mapa) e conceitos menos
inclusivos ou pouco abrangentes, estarem na base (parte inferior) (MOREIRA, 2010).
Utilizamos como referencial de análise uma adaptação das categorias estabelecidas por
Trindade e Hartwig (2012), como apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Critérios para Análise e Observação dos Mapas


CATEGORIAS DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS
CAT1: Ligações válidas Utilizam palavras de ligação que formam sentido lógico com o
conceito ao qual se ligam?
CAT2: Proposições (conceito- As proposições têm significado lógico do ponto de vista
palavra de ligação-conceito) semântico e científico?
CAT3: Conceitos válidos Há uma ordenação sucessiva dos conceitos? É possível identificar,
com clareza, os conceitos mais gerais e os mais específicos?
CAT4: Diferenciação Progressiva Há uma diferenciação conceitual progressiva que mostra o grau de
subordinação entre os conceitos?
CAT5: Reconciliação Integrativa Há relações cruzadas ou transversais entre conceitos pertencentes
a diferentes partes do mapa?
Adaptado: Trindade e Hartwig, 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, com o objetivo de fazer um levantamento do conhecimento prévio foi


realizado um momento de debate, quando os alunos responderam a seguinte questão: "O que você
entende por Sustentabilidade?". Algumas respostas podem ser vistas no Quadro 3 os alunos foram
identificados como A1, A2, A3 e A4, visando garantir o anonimato do mesmo.

Quadro 3: Respostas Dadas pelos Alunos Sobre Sustentabilidade


A1 É produzir sem agredir o meio ambiente.
São meios e tecnologias pensados pelo homem para diminuir o impacto ambiental causado
A2
pelo próprio homem.
A3 É um conceito contraditório pois como é possível consumir sem causar agressão ao ambiente?
A4 É quando há produção orgânica, sem uso de insumos, agrotóxicos ou fertilizantes.
Fonte: Arquivo pessoal

As respostas nos permitem concluir que os alunos possuem conhecimentos prévios no que
tange ao tema sustentabilidade. Pode ser evidenciado uma consciência da relação do homem com o
meio ambiente. Embora considerem a sustentabilidade uma consequência apenas das ações
provocadas pelo homem, percebe-se nas respostas a mesma reflexão de Jacobi (2003, p.195),
quando diz:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assim, a ideia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso


definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que
levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por
meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um
sentimento de co-responsabilidade e de constituição de valores éticos.

Na sequência solicitamos que os alunos construíssem um mapa conceitual no qual


―Sustentabilidade‖ fosse o conceito inclusivo. As Figuras 1 e 2 mostram os primeiros mapas
conceituais construídos pelos grupos 1 e 2.

Figura 1 – Primeiro Mapa do Grupo 1

Figura 2 – Primeiro Mapa do Grupo 2

Analisando os mapas conceituais foi possível concluir que os alunos já possuíam


conhecimento prévio do tema abordado, o que era de se esperar, pela temática do curso, entretanto,
ao construírem seus mapas, o grupo 1 não utilizou em alguns conceitos palavras de ligação (Figura
1) e apesar do grupo 2 ter utilizado palavras de ligação em todos os conceitos, uma relação está

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

incoerente no sentido (Figura 2). Após leitura de textos sobre o tema e aula expositiva com
discussão do assunto, solicitamos a construção de um segundo mapa conceitual. Esses mapas estão
apresentados nas Figuras 3 e 4.

Figura 3 – Segundo Mapa do Grupo 1

Figura 4 – Segundo Mapa do Grupo 2

A seguir apresentamos os resultados do processo de análise seguido das discussões para


cada uma das categorias estabelecidas.
 Ligações válidas : Os quatro mapas analisados apresentaram ligações válidas, entretanto, o
primeiro mapa do grupo 01 não apresentou ligação ao conceito ―agroecologia‖ ( Figura 1) e
o primeiro mapa do grupo 02 apesar de apresentar 100% de ligações, uma não foi válida por
não existir lógica entre os conceitos (Figura 2). O esperado era que os alunos apresentassem
palavras de ligação válidas na construção do segundo mapa, visto que eles já haviam

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estudado o tema. Porém, ao analisar os gráficos apresentados nas Figuras 3 e 4, observamos


que isso ainda não ocorria. A inclusão de conectivos facilita a leitura e isto é importante,
porque os mapas não são autoexplicativos como dito por Moreira e Masini (2001). Desta
forma as palavras de ligação ou conectivos tem uma grande importância para avaliar se os
alunos entendem estas relações ou simplesmente as colocam de forma aleatória por acharem
ter alguma coerência.

 Proposições: Dos mapas analisados todos eles apresentam significado lógico entre os
conceitos e as palavras de ligação, o que identificamos como proposições. Ao todo foram
quatro proposições não adequadas com as palavras desvinculado, igual, diferente e produção
(Figuras 2, 3 e 4). As palavras de ligação devem auxiliar na formação das proposições
evidenciando ―o significado da relação conceitual‖ (MOREIRA, 2010, p.15) que só pode ser
evidenciado na leitura do primeiro mapa do grupo 1 (Figura 1): Sustentabilidade significa
equilíbrio entre homem e natureza. O equilíbrio entre homem e natureza resulta no
ecossistema que favorece a agroecologia.

 Conceitos Válidos: O segundo mapa construído pelo grupo 2 (Figura 4) apresenta um maior
número de conceitos válidos e palavras de ligação entre eles, construindo portanto também,
um maior número de proposições válidas, isso comparado ao primeiro mapa elaborado pelo
mesmo grupo (Figura 2). Podemos notar que esse grupo embora tenha atingido o princípio
da diferenciação progressiva, ou seja, partiram do conceito mais inclusivo para os mais
específicos como suas origens, causas e consequências, não conseguiram fazer ligações
cruzadas para ampliar o significado de alguns conceitos para atingir o princípio da
reconciliação integrativa como tentou fazer o grupo 1 em seu segundo mapa (Figura 3).
Tentativa pois não houve ligação válida.

 Diferenciação progressiva: Em todos os mapas os alunos contemplam aspectos da


diferenciação progressiva, tanto no que se refere à identificação dos conceitos mais gerais e
dos mais específicos como a diferenciação conceitual progressiva que mostra o grau de
subordinação entre os conceitos. Os quatro mapas analisados apresentam o conceito mais
inclusivo no topo do mapa, conforme é indicado adequado por Moreira (2010) e Novak
(1984) e os demais conceitos devem aparecer na sequência demonstrando o seu grau de
subordinação.

 Reconciliação integrativa: Com esta categoria pretende-se verificar a existência de relações


cruzadas ou transversais entre conceitos pertencentes às diferentes partes dos mapas. Dos
quatro mapas analisados, não identificamos em nenhum mapa aspectos da reconciliação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

integrativa de maneira clara e consistente. Apenas uma relação foi realizada no segundo
mapa do Grupo 1 (Figura 3) conforme indicação da seta mas sem ligação válida.

Na Tabela 1 apresentamos um resumo do total de ligações, proposições e conceitos, bem


como as relações de diferenciação progressiva e de reconciliação progressiva observadas nos quatro
mapas em cada categoria analisada.

Tabela 2- Critérios de análise dos Mapas Conceituais construídos pelos grupos

1º MAPA1 2º MAPA1 1º MAPA2 2º MAPA2


Ligações Válidas 04 12 08 09
Proposições 05 04 08 10
Conceitos Válidos 10 09 09 18
Diferenciação Progressiva SIM SIM SIM SIM
Reconciliação Integrativa NÃO NÃO SIM: 01 NÃO
Fonte: Arquivo pessoal

Podemos notar que os dois grupos entenderam o significado da diferenciação progressiva


pois estava incluído em todos os mapas, bem como o uso de proposições pois foi considerável o
aumento das mesmas do primeiro para o segundo mapa dos grupos. Houve um aumento
considerável dos conceitos válidos comparando os mapas do Grupo 2 e de ligações válidas
considerando os mapas do Grupo 1.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho, evidenciamos que a medida que os alunos foram interagindo com os
conteúdos de educação ambiental, segundo momento pedagógico, eles ampliaram os conceitos
relacionados ao tema e progressivamente construíram sua definição. Pode-se inferir que a
capacidade de incluir novos conceitos e relacioná-los a outros existentes foram dificuldades
visualizadas entre os alunos do curso.
O uso de mapas conceituais como instrumentos para avaliação do conhecimento prévio ou
qualitativa difere muito da avaliação quantitativa mais comumente utilizada nas escolas. O uso dos
mapas conceituais está relacionado com uma avaliação, não de classificação ou de teste, mas de
obter informações sobre o tipo de estrutura cognitiva que o aluno possui a partir de suas
experiências e vivências para um conjunto de conceitos.
A pesquisa evidenciou que os futuros professores tem potencial para utilizar a metodologia
para o trabalho com a educação ambiental em ambientes formais ou não formais de ensino. Durante
a aplicação da pesquisa didática houve uma interação aluno/aluno, aluno/professor, aluno/material.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

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BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BRUNER, J. O processo da educação. São Paulo: Nacional, 1973.

DELIZOICOV, D. ANGOTTI, J.A. PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos.


São Paulo: Cortez. 2011.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50ª Ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2015.

GATTI, B. Formação de Professores e Carreira. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.

LUDWIG, A. C. W. Fundamentos e Prática de Metodologia Científica. Petrópolis, RJ: Vozes,


2009.

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,


março/ 2003 Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, março/ 2003.

MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. São Paulo: Centauro, 2010.

MASINI, E. F. S. Aprendizagem Significativa: A teoria de David Ausubel. 2 ed. São Paulo:


Centauro, 2001.

NOVAK, J.D. e GOWIN, D.B. Aprender a aprender. 1ª ed. Lisboa: Plátano Edições Técnicas,
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CAÑAS, A. J. A teoria subjacente aos mapas conceituais e como elaborá-los e usá-los. Práxis
educativa, v.1, n.5, p.9-29, 2010.

PIAGET, J. A epistemologia genética. Rio de Janeiro: Vozes, 1973.

A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.

RAZERA, J. C.; MENDES, O. V. M.; DUARTE, A. C. S.; BARRETO, M. G. O uso de mapas


conceituais em projetos de aprendizagem significativa: uma avaliação quali-quantitativa de
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RUSCHEINSKY, A. Educação Ambiental. Porto Alegre: Penso, 2012.

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STANZANI, E.L; BROIETTI, F.C.D; BEBER, S.Z.C; MARCOLINI, G.A.M. Mapa Conceitual e
Abordagem dos Três Momentos Pedagógico: integrando estratégias para o ensino de química.
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TAVARES, Romero. Construindo Mapas Conceituais. Revista Ciência & Cognição. v.12, 2007.

TRINDADE, J. D.; HARTWIG, D. R. Uso combinado de mapas conceituais e estratégias


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v.34, n.2, p. 83-91, 2012.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1001


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: UM OLHAR


INTERDISCIPLINAR SOBRE O CERRADO

Aline Ferreira Santos ARRUDA


Graduanda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, ULBRA/Canoas
enilaarruda@hotmail.com
Maria Eloisa FARIAS
Profª. do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática,ULBRA/Canoas53
mariefs10@yahoo.com.br

RESUMO
Este estudo exploratório introduz a Educação Ambiental na escola e busca contribuições em
relação à sustentabilidade do Cerrado. É uma reflexão inicial, subsidiada pelas contribuições
advindas da Educação Ambiental, ponderando que os instrumentos de coleta de dados aplicados na
comunidade escolar, propõem o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar, embasado nas
características do Cerrado, como modelo teórico de ambiente. Há a preocupação em incluir ações
educativas que considerem os aspectos físicos, químicos, biológicos e socioambientais deste
Bioma. Considera-se importante o envolvimento dos professores como parte do processo de sua
formação e de que maneira eles influenciam no contexto. Visa-se o surgimento de uma consciência
ambiental que poderá servir como fundamento para uma disciplina específica sobre o Cerrado
como meio ambiente e/ou por temática ambiental que possa ser inserida nas demais disciplinas.
Parte-se da ideia que a Educação Ambiental se estabelece através de ação humana e da sociedade
construída historicamente.
Palavras Chaves: Educação ambiental; Sustentabilidade; Interdisciplinaridade; Aspectos
socioambientais; Bioma Cerrado.
ABSTRACT
This exploratory study introduces environmental education in the school and seeks contributions to
wards the sustainability of the Cerrado. It is an initial reflection, subsidized by contributions from e
nvironmental education, pondering that the instruments of data collection applied in the school com
munity propose the development of an interdisciplinary project, based on the characteristics of the
Cerra do, as a theoretical environment model. There is concern to include educational actions that c
onsider the physical, chemical, biological and socio-environmental aspects of this biome. The invol
vement of teachers is important as part of the process of their formation and in what way they influe
nce the context. It is aimed at the emergence of an environmental consciousness which may serve a
s a basis for a specific discipline on the Cerrado as environment and/or environmental thematic whi
ch can be inserted into the other disciplines. It is part of the idea that environmental education is est
ablished through human action and the historically constructed society.
Keywords: Environmental education; sustainability; interdisciplinary; socioenvironmental aspects.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, a humanidade desvendou, conheceu, dominou e modificou a natureza


para melhor aproveitá-la. Estabeleceu outras formas de vida, e, por conseguinte, novas necessidades

53
Orientadora.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

foram surgindo e os homens foram criando novas técnicas para suprirem essas necessidades, muitas
delas decorrentes do consumo e da produção (SANTOS& FARIA, 2004).
Neste sentido, observa-se também que o território brasileiro aos poucos foi se desenhando,
visando inicialmente atender à demanda do êxodo rural, e, esse proporcionado pelo estimulo ao
trabalho que os grandes centros provocavam. Nesse quadro observa-se que a mudança dentro do
contexto de produção artesanal a maquinofatura e também a construção de grandes cidades
acarretaram diferentes impactos sobre o meio ambiente.
Em se tratando deste tema, sabe-se que a Educação Ambiental ganhou notoriedade com a
promulgação da Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu uma Política Nacional de Educação
Ambiental e, por meio dela, foi estabelecida a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os
níveis do ensino formal da educação brasileira. A lei 9.765/99, regulamentada pelo Decreto
4.281/02, precisa ser mencionada como um marco importante da história da Educação Ambiental
no Brasil, porque ela resultou de um longo processo de interlocução entre ambientalistas,
educadores e governos (BRASIL, 1999).
Situando-se neste contexto, a interdisciplinaridade, surge em um momento marcado por
movimentos estudantis, que entre outros motivos intentavam por um ensino mais contextualizado
em relação as questões de ordem social, política e econômica.
Desta forma, como consequência surge o anseio da comunidade escolar em promover
intercâmbios teóricos entre a ciência e os objetos científicos, sendo oportuno relacionar teoria à
pratica visando encontrar resoluções aos problemas envolvendo o meio ambiente, que neste caso é
o Bioma Cerrado.
Optamos por uma educação escolar, na perspectiva crítica, pois é um processo de
instrumentalização dos sujeitos para uma prática transformadora visando à formação humana
(REIS e CAMPOS, 2014). Ainda, segundo Reis e Campos (2014) isso significa afirmar que ―a
especificidade da educação escolar está em promover a consciência dos educandos para a
compreensão e a transformação da realidade‖.
Neste sentido, ― se pretendemos que a escola forme indivíduos com a capacidade de
intervenção na realidade global e complexa, teremos de adequar a educação, em seu conjunto, aos
princípios do paradigma da complexidade e, por conseguinte, às características de uma
aproximação sistêmica. Temos que promover uma educação que responda precisamente a essa
realidade global e complexa, e que dê uma resposta a seus problemas, entre eles o da crise
ambiental‖ (DIAS, 2002, p.35).
As pesquisas apontam e é importante esclarecer que a interdisciplinaridade se encontra no
debate pertencente na Educação Ambiental, tanto na linha acadêmica bem como os documentos
internacionais oficiais que são criados pelo movimento ambientalista em diversos setores da

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sociedade. Observa-se que a interdisciplinaridade se relaciona à Educação Ambiental, desde as


primeiras iniciativas que inseriram ao processo educativo o tema como alternativa na formação dos
indivíduos.
A interdisciplinaridade e a Educação Ambiental, portanto, são considerados como frutos de
uma mesma árvore, e em virtude disto não pretende entender uma sem outra. Dentro desse
contexto, passamos a interpretar que os temas ambientais, por sua natureza são temas vistos como
extremamente relevantes em virtude de sua complexidade (LUCHIARI, 2007).
Acreditamos que Educação Ambiental é também educação, concordamos que a Educação
Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social que imprime ao
desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres
humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-se mais plena de prática
social e de ética ambiental. Essa atividade exige sistematização por meio de metodologia que
organize os processos de transmissão/ apropriação crítica de conhecimentos, atitudes e valores
políticos (TALAMONI, 2003).
Desta forma mesmo não sendo algo explicito e imediatamente claro, ao professor, em
relação à crise ambiental, essa questão extrapola os conhecimentos de disciplinas como Biologia,
Geografia e Ecologia, torna-se impossível de evitar ao educador admitir que existe uma lacuna na
sua formação, havendo a necessidade de se agir de forma interdisciplinar. Constata-se então que
essa abordagem interdisciplinar possibilitará uma discussão sobre o meio ambiente envolvendo os
aspectos sociais, culturais, econômicos e biológicos, elementos que envolvem a temática proposta.
Diante desse contexto é que trazemos esta reflexão, sob a forma de um estudo exploratório,
visando o surgimento de uma consciência ambiental que poderá servir como fundamento teórico
para uma disciplina específica sobre o Cerrado, como meio ambiente desta comunidade escolar
e/ou por temática ambiental, que possa ser contemplada nas demais disciplinas desta escola.

CERRADO, EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR

A abordagem sobre o Cerrado teve a finalidade de apesar dos diferentes olhares sobre um
mesmo objeto, e considerando os objetos específicos presentes em cada ciência, vai além de uma
visão disciplinar tendo como intuito analisar, refletir e compreender uma realidade complexa. Mais
adiante, ao estabelecermos essas questões, visamos inseri-lo em um campo social abrangente e de
certa forma político.
A importância do bioma Cerrado, tanto no Brasil como em São Paulo é absolutamente
indiscutível, não apenas pela sua alta biodiversidade, mas também, pela enorme quantidade de
espécies vegetais com notável valor para o ser humano (BITENCOURT 2004)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Será importante mesmo que de modo sintético abordar alguns aspectos sobre o Cerrado no
Brasil, inicialmente o mesmo representa uma grande biodiversidade que deve ser levado em conta
não apenas a diversidade dos seus componentes vivos, diversidade de espécies, e não vivos,
diversidades de fatores ecológicos abióticos, além disso, a diversidade de habitats e de paisagens.
A extensão ocupada pelo Bioma no Brasil é extensiva, envolvem alguns Estados, que são da
região Norte, nordeste, sudeste e centro-oeste, formando desta maneira o segundo maior bioma da
América do Sul. Importante mencionar que nesse espaço estão incluídas as nascentes das bacias
hidrográficas dos rios Amazonas, São Francisco e Tocantins.
No domínio do Cerrado predomina o bioma cerrado, mas ali também estão representados
outros tipos de biomas como veredas, matas galeria e matas mesófilas de interflúvio, o clima
predominante desse domínio é o tropical sazonal, de inverno seco e a temperatura média anual fica
em torno de 22-23°C (COUTINHO, 2000).
No Brasil os latos solos têm a características de baixa fertilidade e alta acidez do solo, sendo
solos antigos, profundos, de boa drenagem e apresentando relevos planos ou leves ondulações.
Devido às características de solo pobre e ácido, até a década de 1970 o solo do Cerrado era
considerado impróprio para o cultivo agrícola, mas com o avanço da tecnologia foi possível tornar
os solos mais férteis através de corretivos e fertilizantes e por serem bem drenados, resistentes à
compactação e de relevo planos permitiu o uso intensivo de mecanização permitindo assim a
expansão agricultura deste bioma (SANTOS et al., 2010).
O Cerrado tem passado, nas últimas décadas, por intensas devastações e sua fauna e flora
tem sofrido constantemente devido a queimadas, desmatamento, caça, pecuária, agricultura dentre
outros. Tendo em vista que a Educação Ambiental visa conscientizar a todos sobre preservação do
meio ambiente, uma grande opção para a escola desempenhar seu papel na conservação deste
bioma é seguir estas ações (MARQUES, 2011).
Em acordo com os objetivos estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino de Ciências, os alunos devem perceber-se agentes integrantes e transformadores do
ambiente em que vivem conscientes da sua importância para a melhoria e preservação. Tendo em
vista que essa percepção permite ao aluno posicionar-se de forma crítica aos impactos ambientais
advindos da relação dos seres humanos com a natureza e contribuir para a criação de soluções para
estes impactos (BRASIL, 1997).
De acordo com Bizerril e Faria (2003), o Cerrado não é um tema tratado de forma
transversal no ensino fundamental, pois é discutido quase exclusivamente nas duas primeiras séries
deste ensino, esse tema parece ser tratado, na maioria das vezes, de modo descritivo, pois pouco é
analisado em relação aos impactos negativos causados por determinações antrópicas, como também
em relação à diversidade biologia e cultural deste bioma.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nessa perspectiva, a escola tem um papel fundamental para o incentivo à preservação do


bioma Cerrado e difusão da educação ambiental, com vistas à valorização e aproximação dos
alunos com o seu ambiente de vivência, essas práticas de educação ambiental nas escolas devem
sensibilizar o professor e o aluno para que juntos construam o conhecimento por meio de
estratégias pedagógicas de mudança de atitude, compreendendo a ação humana sobre diferentes
ecossistemas e estimulando, a aplicação de temáticas relacionadas ao cotidiano dos alunos
(ALMEIDA et. al., 2004)
No contexto do ambiente, dos elementos socioculturais e naturais, faz-se relevante a
ponderação sobre questão socioambiental, repensar a natureza percebendo as interações antrópicas,
bem como a sociedade e o ambiente, formando um só, um todo e único mundo. Ao pensarmos na
abordagem da Educação Ambiental em projetos pedagógicos e que capacitem a formação de
professores, os pressupostos tomados como referência são de uma Educação para o
Desenvolvimento Sustentável, subsidiada pela Educação Ambiental critica dentro de um contexto
critico da realidade. (VIEIRA, 2016)
Para Camargo (2008), a Educação Ambiental está associada à cidadania e ao
desenvolvimento da consciência ecológica e cabe à escola e ao professor, dentro da sala de aula e
de forma interdisciplinar, por isso o ambiente escolar pode ser um espaço transformador da
sociedade, pois o saber construído inclui a comunidade, os educadores, os educandos e seus
familiares e os ambientes de socialização.
O processo educativo que circula a temática ambiental que é realizado pela
interdisciplinaridade acontece normalmente tendo como fundamento os conhecimentos científicos,
onde a Educação Ambiental e sua respectiva temática podem ser transformados em conteúdos
chamativos onde os temas científicos possam ser debatidos e desta forma demostrem sua
relevância social em referência a ciência e a responsabilidade social.
Concordamos com Alarcão (2001), se quisermos mudar a escola, devemos assumi-la como
organismo vivo, dinâmico, capaz de atuar em situação, de interagir e desenvolver-se
ecologicamente e de aprender a construir conhecimento sobre si próprio nesse processo.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em um Colégio Público, pertencente ao município de Inaciolândia-


GO. Este estudo encontra-se ancorado na abordagem de pesquisa qualitativa com características de
estudo exploratório. Estão participando do projeto 160 (cento e sessenta alunos) do Ensino
Fundamental de 6º (sexto) ao 9º (nono) ano dos turnos matutino e vespertino e 10 (dez) professores
que ministram aulas nas respectivas turmas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A dinâmica montada para discutir o projeto pedagógico da escola trazia o intuito de que
todos os professores de forma efetiva participassem. E através de painéis, eles exprimiram suas
ideias. (SEGURA, 2001)
A ideia que fundamentou um projeto interdisciplinar tem o significado de construção de
fatos, de ocorrências de aprendizagem atribuindo um sentido ao aprendizado, a apreensão dos
alunos. As interdisciplinaridades vieram organizar ligações e dar complementaridade. Ao tratar
sobre a interdisciplinaridade e sua abordagem em relação à educação ambiental acreditasse que
essa deve estar inserida na proposta curricular, procurando atingir um olhar que consiga inserir a
complexidade da relação entre a natureza e a sociedade.
Os instrumentos de coleta de dados são: reuniões sistemáticas para estudo, discussão e
reflexão envolvendo o referencial teórico que embasam o projeto; questionário de sondagem,
estudo de documentos LDB, PCN, PPP com a participação de professores e alunos.
Os professores e alunos responderam um questionário com questões versando sobre
facilidades, dificuldades e sugestões para um trabalho interdisciplinar envolvendo a comunidade
escolar, com atividades que facilitem o aprendizado em Educação Ambiental e posteriormente
elaborem uma Cartilha com os materiais (trabalhos) produzidos sobre o bioma Cerrado.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Educação Ambiental e propriamente as questões ambientais expõem conteúdos propícios


para práticas educativas interdisciplinares, visando focar conhecimentos científicos ou que tenham
estreita relação com a ciência e a sociedade. Assim, neste estudo, a Educação Ambiental enquanto
Educação está em primeiro plano na ação educativa.
Observamos que a ideia de interdisciplinaridade está sempre presente nas discussões de
Educação Ambiental, tanto na literatura acadêmica. Nessas diferentes publicações encontramos
diferentes enfoques de interdisciplinaridade como princípio metodológico ou como paradigma
educativo (TOZONI REIS, 2004).
Portanto a Educação Ambiental não representa uma disciplina particular, ela seria
basicamente uma disciplina que serve de articulação para a compreensão das demais, considerando
os níveis de ensino e suas especificidades, havendo a necessidade de um tratamento especifico em
relação a integração das demais disciplinas.
A partir das discussões constatamos que não existe uma linha muito objetiva que relacione a
integração das disciplinas e da formação cientifica na Educação Ambiental, principalmente quando
esta refere-se a busca por uma melhor qualidade de vida ao meio ambiente do ser humano.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesta etapa do estudo estão expostas as concepções dos professores dispostos


primeiramente em gráfico e distribuídos em tabela, destacando-se a seguir os principais resultados
encontrados:

Gráfico 1: Distribuição referente a como os pesquisados podem trabalhar a Educação Ambiental de forma
interdisciplinar.

Como trabalhar a Educação


Ambiental de forma interdisciplinar

Fonte: A pesquisa

Os dados a respeito de como trabalhar a Educação Ambiental de forma interdisciplinar


mostram que 70% relataram trabalhar através de projetos, 10% com aulas práticas e 20% trabalhar
com excursões.
Observa-se que atualmente o aperfeiçoamento de projetos vem sendo a estratégia mais
utilizada no ensino em relação ao desenvolvimento de um trabalho pedagógico interdisciplinar.
Ainda nesse sentido é através dos projetos que os professores adquirem condições de introduzir o
estudo de determinados temas que não estão inseridos numa disciplina específica.
Garcia (2000) considera que a interdisciplinaridade é um "modo de se trabalhar o
conhecimento buscando uma reintegração de aspectos que ficaram isolados uns dos outros pelo
tratamento disciplinar". Desta forma, sugere que por meio da interdisciplinaridade seja possível
haver uma melhor aproximação dos complexos fenômenos naturais e sociais.
As práticas educativas utilizadas nas escolas e na comunidade devem priorizar como foco a
mudança de hábitos e atitudes, daí surge a necessidade de criar novos saberes, o que de acordo com
Morin (2003) chama de ―uma reforma do pensamento‖, e Leff (2001), uma nova racionalidade
ambiental, capaz de subverter a ordem imperante entre as lógicas de vida e o destino das
sociedades. Dados obtidos com a pesquisa com os alunos do 6º, 7º, 8º e 9º ano:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 1: Distribuição referente as atividades que os pesquisados já participaram de educação ambiental na


escola
VARIÁVEIS 6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO TOTAL

(%) (%) (%) (%) (%)


Recolher o lixo 37 32 22 11 25

Reciclagem 27 5 - 7 10

Plantio de mudas 9 32 56 61 39

Respeitar o próximo 18 5 - - 6

Palestra 9 21 - 21 13

Projeto meio ambiente - 5 22 - 7


TOTAL 100 100 100 100 100

Fonte: A pesquisa

Os dados dos 47% pesquisados que disseram ter participado de atividades em Educação
Ambiental relataram ser: plantio de mudas 39%, recolher o lixo 25%, 13% palestra, 10%
reciclagem, 7% projeto meio ambiente e 6% respeitar o próximo.
Conforme Berna (2004), o educador ambiental deve procurar colocar os alunos em
situações que sejam formadoras, como por exemplo, diante de uma agressão ambiental ou
conservação ambiental, apresentando os meios de compreensão do meio ambiente. Em termos
ambientais isso não constitui dificuldade, uma vez que o meio ambiente está em toda a nossa volta.
Dissociada dessa realidade, a educação ambiental não teria razão de ser. Entretanto, mais
importante que dominar informações sobre um rio ou ecossistema da região é usar o meio ambiente
local como motivador.
Outro ponto extremamente relevante é a educação ambiental centrada no conhecimento
cientifico, apreensão deste conhecimento é importante para os cidadãos, sendo necessário que
estimule na formação do sujeito o seu interesse em compreender a relação entre a sociedade e a
natureza, ansiando a participação dos alunos enquanto cidadãos na transformação das relações
sociais que representam a degradação humana do ambiente.
Lopes (1999, p. 43) cita a necessidade de trabalhar a Educação Ambiental relacionada a um
planejamento participativo. Para o autor, ―a ação de planejar implica a participação ativa de todos
os elementos envolvidos no processo de ensino; deve priorizar a busca entre a teoria e a prática; o
planejamento deve partir da realidade concreta (aluno, escola, contexto social...); deve estar voltado

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para atingir o fim mais amplo da educação―. É importante salientar que o planejamento em
Educação Ambiental parte da realidade local, mas inserida na realidade global.

CONSIDERAÇÕES

Este estudo exploratório nos leva a considerar que a Educação Ambiental pode surgir do
processo educativo que direciona a um saber ambiental materializado em valores éticos, e de
acordo com as regras políticas e sociais. Assim, esse processo educativo deve direcionar o cidadão
a estimular o seu saber, a querer estimular a busca pelo conhecimento.
Verificamos que a Educação Ambiental é uma ferramenta necessária à formação de
cidadãos com alto nível de consciência ecológica, e atuando como educadores, devemos pensar em
uma escola, que promova esse aprendizado.
Ao refletir e analisar o papel do professor para atuar com a temática ambiental observamos
que sua formação ainda requer maior aprofundamento, pois o tema é pouco abordado em seus
cursos iniciais e a temática envolvendo o ambiente ainda não se encontra inserida nos currículos.
Constatamos a necessidade de que o currículo escolar seja compreendido de modo amplo,
dinâmico e flexível, bem como é interessante criar alternativas de análise na construção do saber e
consequentemente do currículo, sem existir padrões e sem apresentar respostas prontas.
Os resultados das discussões devem ser incorporados ao currículo escolar, a realidade que a
comunidade escolar se encontra e buscar as saídas alternativas para seus problemas.
Neste estudo o processo educativo ambiental tornou-se uma preocupação principalmente
entre os professores responsáveis pelas disciplinas de Ciências, Biologia e Geografia, principais
participantes do projeto. Sendo ainda necessário esclarecer que dentro da questão ambiental,
abordada e debatida em relação aos aspectos do Bioma Cerrado, é importante o trabalho
interdisciplinar do professor.
É também necessário atentar-se que a racionalidade cientifica e também tecnológica vem
sendo o instrumento para mediar às relações humanas e de natureza nos dias de hoje e trás consigo
fundamentos e lógicas que estimulam a degradação socioambiental tão presente nesta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURRÍCULO FORMAL DAS ESCOLAS FAMÍLIA


AGRÍCOLA

Ana Paula Carvalho BARBOSA


Mestranda em Ensino na Educação Básica – PPGEEB/UFES
anapaulacarvalhogr@hotmail.com
Alexsandra Gomes Biral STAUFFER
Mestranda em Ensino na Educação Básica- PPGEEB/UFES
alexsandra@ifes.edu.br
Profª Drª Sandra Mara Santana ROCHA
Docente do Programa de Pós Graduação - DTI/UFES-Orientadora
sandra.m.rocha@ufes.br

RESUMO
No Brasil a Educação Ambiental (EA) foi agregada aos documentos oficiais curriculares pela
primeira vez em 1997 através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e posteriormente em
2012 nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação ambiental (DCNEA), a fim de vincular a
Educação Ambiental ao cotidiano dos estudantes visando relacionar o ensino e aprendizagem às
questões sociais. Esta pesquisa consistiu em uma abordagem metodológica qualitativa de como é
abordada a EA no currículo formal da Escola família Agrícola do Bley, currículo este, estabelecido
a partir da Base Nacional Comum Curricular. Para a obtenção dos dados foi utilizado à pesquisa
documental, responsável pela extração dos elementos que subsidiam os resultados obtidos do
documento oficial da EFA, documento este, que condiz com as orientações curriculares nacionais e
as especificidades da modalidade de ensino adotado pela escola, a Pedagogia da Alternância, que
rompe as formas tradicionais de ensino, transcende os espaços de sala de aula e transforma a
comunidade e o ambiente familiar em espaços de ensino aprendizagem a partir da realidade local.
A pesquisa permitiu concluir que a EFA Bley inclui elementos empíricos e científicos da EA em
seu documento oficial, entretanto, a conceituação de termos relacionados à temática ambiental estão
limitados a proteção de ambientes naturais, desenvolvimento sustentável sem considerar a real
necessidade de reflexão crítica entre a EA e o Desenvolvimento Social (DS). Este estudo aponta que
os documentos oficiais curriculares que respaldam a transversalização da EA no Brasil devem
avançar muito em termos práticos de sua execução junto às escolas.
Palavras-Chave: Educação Ambiental. Currículo. Ensino
ABSTRACT
In Brazil, Environmental Education (EA) was added to official curricular documents for the first
time in 1997 through National Curricular Parameters (PCNs) and later in 2012 in the National
Curriculum Guidelines for Environmental Education (DCNEA), in order to link Environmental
Education to Students to relate teaching and learning to social issues. This research consisted of a
qualitative methodological approach to how EA is addressed in the formal curriculum of the Bley
Agricultural Family School, this curriculum, established from the National Curricular Common
Base. In order to obtain the data, it was used the documentary research, responsible for extracting
the elements that subsidize the results obtained from the official EFA document, which corresponds
to the national curricular guidelines and the specificities of the teaching modality adopted by the
school, Pedagogy Of Alternation, which breaks the traditional forms of teaching, transcends the
classroom spaces and transforms the community and the family environment into teaching spaces
learning from the local reality. The research allowed to conclude that the EFA Bley includes
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

empirical and scientific elements of EA in its official document, however, the conceptualization of
terms related to the environmental theme are limited to protection of natural environments,
sustainable development without considering the real need for critical reflection between EA and
Social Development (DS). This study points out that the official curricular documents that support
the mainstreaming of EE in Brazil must advance much in practical terms of its implementation in
schools.
Keywords: Environmental Education. Curriculum. Teaching

INTRODUÇÃO

Gradativamente o agravamento da crise ambiental vem causando fortes danos ao equilíbrio


do planeta Terra, fazendo com que a sociedade civil pressione o poder público à tomar decisões que
diminuam estes impactos ambientais negativos, e passem a considerar o meio ambiente como parte
integral da vida. Surgindo assim, a necessidade de se debater sobre a Educação Ambiental (EA),
tema este que ocupará à partir de então as agendas de países considerados desenvolvidos,
entendendo que a EA seria uma forma de reduzir a degradação do meio ambiente (TAMAIO,
2000). A partir da década de 1970 aconteceram inúmeras conferências mundiais a fim de que, todos
os países realizassem ações concretas de conservação sustentável, preferencialmente nas
instituições de ensino. No Brasil a temática ambiental foi agregada ao currículo escolar apenas no
final da década de 90, inicialmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997)
e posteriormente em 2012 nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação ambiental (DCNEA).
Os PCNs têm como função apresentar um currículo que subsidie os projetos e programas
curriculares das escolas, no que tange à EA espera se que ela não ocorra apenas de forma pontual,
como na semana do meio ambiente ou no dia da árvore, mas sim de forma transversal e
interdisciplinar. Ou seja, incluindo a temática ambiental em todas as disciplinas que compõem a
base nacional comum curricular, bem como perpassando todo este currículo na busca de, apoiar e
instruir as escolas no cumprimento do seu papel institucional no fortalecimento da preservação do
planeta Terra.
Apesar de o Ministério da Educação (MEC) propor a inserção da EA no ensino formal, na
prática ocorrem iniciativas tímidas se comparadas ao que recomenda sua explicitação no texto
constitucional. Visto que essa inserção da EA com a sociedade se dá principalmente no âmbito
escolar, ou seja, é na escola que se pode encontrar a principal fonte de propagação da consciência
ambiental. Porém, na maioria dos casos a fragilidade do ensino por parte do currículo escolar e a
falta de preparo dos educadores levam a EA a ser desenvolvida de forma insatisfatória (BOSA e
TESSER, 2014).
Esta pesquisa consistiu em uma análise da forma como é abordada a EA no currículo das
Escolas Famílias Agrícola (EFAs), que tem como modalidade de ensino a Pedagogia da Alternância

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(PA) na educação do campo. A Pedagogia da Alternância é caracterizada, como dispositivo de


mediações pedagógicas, que se utiliza de instrumentos didáticos para extrair da realidade concreta
elementos significativos que motivam a relação ensino-aprendizagem, ou seja, a aprendizagem por
meio da realidade social no qual o indivíduo está inserido (NOSELLA, 2013).
Segundo a Raceffaes (2015), a modalidade de ensino da pedagogia da alternância condiz
com um formato de aprendizagem que rompe as formas tradicionais de ensino, transcende os
espaços da sala de aula, e transformam a comunidade e o ambiente familiar em espaços de ensino e
aprendizagem a partir das especificidades locais. Assim, espera-se que com esta visão os
documentos da EFA apresentem uma abordagem significativa da temática ambiental em seu
contexto institucional.
Nessa perspectiva o objetivo do presente trabalho consiste em analisar a proposta da EA no
currículo formal da Escola Família Agrícola do Bley localizada no município de São Gabriel da
Palha região noroeste do Espírito Santo.

O CURRÍCULO FORMAL

O currículo formal segundo Libâneo (2001, p. 99), ―refere-se aquele que é estabelecido
pelos sistemas de ensino ou instituição educacional‖, portanto, traz prescrito institucionalmente as
diretrizes da Base Nacional Comum Curricular. O mesmo é compreendido como estrutura do
conhecimento acadêmico. Ou seja, ―[...] é aquele conjunto de diretrizes normativas prescritas
inconstitucionalmente, como por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais divulgados pelo
Ministério da Educação, as propostas curriculares dos Estados e Municípios.‖
Corroborando com o trecho referido, Borges e Rocha (2014, p. 10), ressaltam que o
currículo formal é instituído pelos sistemas de ensino, ―[...] expresso em diretrizes curriculares,
objetivos e conteúdos das áreas ou disciplina de estudo; encontrado em leis e nos parâmetros
curriculares‖.
De forma sucinta, o currículo formal se designa ao documento instituído e legitimado pelo
poder público, em formas de legislações, regulamentos, programas, planos de estudo, dentre outros
diversos documentos oficiais amparados pelo Ministério da Educação, materializa-se, assim, numa
gama de escritos que se destinam a promoção de projetos como o Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI) caracterizado como parte integrante da organização curricular interna da escola,
que deve ser construído a partir das especificidades da mesma, com a preocupação de um
referencial teórico que sustente as características distintas da instituição de ensino, historicamente
condicionado e incorporado num sistema social ao qual seleta-se conteúdos que compõem esse
projeto (SANTOS, 2001; VEIGA, 2002).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O PDI é um instrumento desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado do Espírito


Santo (SEDU), instituídos pela Resolução do Conselho Estadual de Educação (CEE) nº 3.777/2014,
como instrumento de identidade da instituição de ensino, a ser produzido a partir de resultados do
diálogo entre a comunidade escolar, com finalidade de organizar e planejar o desenvolvimento
administrativo e pedagógico da escola, levando em consideração as especificidades locais e
regionais.
De acordo com Moura (2001, p. 27), os documentos internos da escola orientam ações
educativas por meio de objetivos educacionais, pois ―ele contém os elementos que definem a
condição humana: possui metas, define ações, elege instrumentos e estabelece critérios que
permitirão avaliar o grau de sucesso alcançado na atividade educativa‖.
O PDI não é um instrumento exclusivo das EFAs, entretanto, conforme art. 47 da resolução
o mesmo deve conter o perfil institucional, portanto, as especificidades da escola, no caso das EFAs
a modalidade de ensino PA, tais como: filosofia, missão, visão, objetivos, metas, deverá contemplar
todos os elementos do PPP: cronograma de desenvolvimento do período de vigência do plano de
cada um de seus cursos, etapas e/ou modalidades de no mínimo cinco anos, responsabilidade social
da escola, considerando sua contribuição em relação à inclusão social, desenvolvimento econômico
e social, defesa do meio ambiente, preservação da memória cultural, formas de integração com a
comunidade, políticas de pessoal, gestão democrática, infraestrutura física, políticas de atendimento
aos estudantes e plano de sustentabilidade financeira.
Acredita-se, portanto, que a EA no currículo formal das EFAs aportam não apenas
conhecimentos pedagógicos sobre a transversalização ambiental, mas também a interação entre os
saberes empíricos e científicos dos sujeitos que compõem as EFAs.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida na Escola Família Agrícola (EFA) Bley localizada no
município de São Gabriel da Palha, região Noroeste do Estado do Espírito Santo.
A metodologia utilizada para a coleta de dados foi à pesquisa documental que segundo Gil
(2007, p. 45), ―vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos do material‖. Para viabilizar a obtenção de dados
da pesquisa, foi-se utilizado o modelo metodológico qualitativo com caráter descritivo, para Godoy
(1995) a pesquisa qualitativa descritiva objetiva investigações que lidam excepcionalmente com
dados textuais.
A codificação e diagnóstico dos dados coletados consistiram de análise de conteúdo que
conforme Moraes (1999) e Bardin (2011) são caracterizados de técnicas para ler e interpretar os
documentos de forma a adequar os aspectos e fenômenos que se procurar verificar. As abordagens

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

da análise de conteúdo possibilitam a condução de atos num amplo movimento de ações no


processo final dos resultados adquiridos, oriundos da sistematização proposta por esta metodologia.
Os elementos obtidos a partir do documento da EFA Bley são reflexos do caráter
pedagógico da instituição, pressupondo que tais dados retratam, portanto, os aspectos pedagógicos
do processo de ensino aprendizagem executados pela escola.

RESULTADOS

Através da análise documental do PDI da EFA Bley, foi possível levantar informações
importantes sobre a forma como a EA se encontra proposta na instituição escolar. Cumprindo a
exigência nacional de que a EA deve ser componente essencial e permanente na educação
brasileira, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades de ensino educacional, formal e
não-formal.
A resolução CEE nº 3777/2014, aponta que o PDI deve conter informações e elementos que
demonstrem a pretensão de ensino adotada pela escola. O PDI mesmo sendo um instrumento de
gestão escolar proposto pela SEDU se entrelaça com as especificidades da EFA, e aponta em seu
perfil institucional conforme proposto no art. 47 inciso I as metas institucionais:

 Promover a formação dos sujeitos nas dimensões: humano-social, intelectual-


profissional, espiritual-ético-ecológico dentro de uma dimensão da solidariedade;
 Contribuir para a promoção e o desenvolvimento sustentável do educando, da família
e do campo;
 Proporcionar um ambiente educativo fundamentado em princípios de
responsabilidade, liberdade, participação e cooperação, voltados para o bem comum;
 Favorecer condições para refletir sobre a problemática do meio, no que se refere aos
hábitos culturais e à preservação ambiental.
Entende-se que tais incentivos educacionais também estão expressos nos PCNs e DCNs,
pressupondo que a EA deve ser desenvolvida como tema transversal, e que para Loureiro (2012), a
EA deve ter o caráter político, crítico, vislumbrando quais os sujeitos pretende-se formar no
ambiente escolar.
Um elemento resultante das ações educativas da EFA Bley consta em sua política de
responsabilidade social,
[...] uma visão agroecológica e sustentável, com profundo respeito à natureza e tudo que
nela existe [...], finalidade a promoção integral da pessoa humana, interagindo na saúde, educação e
ação comunitária, numa ampla atividade voltada, principalmente, ao meio rural, naquilo que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

concerne à elevação humano-social, especialmente do agricultor, nas dimensões da vida: espiritual,


sanitário, técnica econômico e ambiental.
Entretanto, as concepções atribuídas na visão de responsabilidade social da escola dispõem
de conceitos que segundo Sauvé (1997), se limitam a mera proteção de ambientes naturais, sem
considerar os aspectos relacionados à realidade econômica. Ramos (2010) enfatiza que sob o ponto
de vista da produção capitalista é inviável qualquer forma de desenvolvimento sustentável, com
longa vigência e que venha resguardar os recursos naturais. Do ponto de vista crítico da EA
sociedades com desenvolvimento econômico a qualquer custo são considerados por Leff (2012)
como produtoras antiecológicas. Importante destacar, ainda, que embora a EFA Bley se enquadre
como instituição da pedagogia libertadora de Freire, à necessidade de superação da lógica de
acumulação para a construção de uma formação social emancipatória.
O inciso II, alínea e, designa as práticas pedagógicas inovadoras que cada escola deve
adotar. Na EFA Bley, todos os planejamentos das áreas do conhecimento, são desenvolvidos por
planejamentos de integração, ou seja, inserção de temáticas interdisciplinares no currículo prescrito
em forma de rede, portanto, o alicerce desta rede é o tema gerador (FIGURA 1) que parte da
motivação para a investigação e adequação dos conteúdos conforme o tema gerador proposto.

Figura 1: Temas Geradores em Rede

Fonte: Plano de Desenvolvimento Institucional das EFAs da Rede MEPES, adaptado.

Os temas geradores descritos na Figura 1 correspondem aos pontos que visivelmente no PDI
constam de objetivos que entrelaçam a preocupação com o meio ambiente na transversalização dos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conteúdos. Os temas geradores A família, A alimentação e A saúde correspondentes ao 6º ano do


ensino fundamental objetivam relações sócio-ambientais. Em específico o tema A família tem como
um dos objetivos ―Refletir sobre a necessidade de conservação da terra e dos recursos naturais‖.
O 7º ano do ensino fundamental os temas geradores O clima, A energia e os meios de
transporte e a Comunicação, tais temas são inseridos nos conteúdos da base nacional comum, de
forma a transversalizar temáticas importantes para a formação de sujeitos autênticos. Dos temas
desenvolvidos durante o período letivo de aula do 7º ano, O clima se destaca por conter todos os
seus quatro objetivos voltados para o bem estar social e ambiental da população:

 Perceber a maneira que o clima interfere na vida do homem e do meio ambiente;


 Analisar os fatores e as mudanças ocorridas no clima;
 Refletir sobre as técnicas de uso e conservação da água;
 Perceber a importância da água como fonte de vida do camponês e da humanidade.

O ensino médio técnico profissionalizante 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série não diferem do fundamental,
ou melhor, nos objetivos dos temas geradores do ensino médio a temática ambiental se concentra
com maior ênfase.
A 1ª série no tema gerador O homem e a terra têm como um dos objetivos,
Analisar de forma interdisciplinar o tema, tendo em vista que o estudante deve chegar a
entender os problemas sociais, políticos, econômicos, ambientais que acontecem no seu meio, que
estão na maioria interligados e que as questões técnicas, desenvolvidas até hoje, não são isentas de
conteúdos ideológicos.
Os PCNs acrescentam que é preciso encontrar formas de adquirir conhecimentos na busca
de viabilizar o objeto de estudo com vínculos nos contextos físicos, biológicos, históricos, social,
político e ambiental. Loureiro (2012) aponta que a educação deve objetivar o desenvolvimento da
EA, de forma a instigar a autonomia e a compreensão dos estudantes.
A 2ª série com tema gerador Saúde adiciona como objetivo principal ―analisar a partir do
cotidiano, as relações existentes entre saúde, alimentação e meio ambiente em vários níveis (social,
biofísico, político, econômico e agrícola), em vista de refletir sobre as contradições de nossa
sociedade.‖
Na 3ª série há apenas um tema gerador durante todo ano letivo, o tema Agroecologia, que
objetiva extrair dos estudantes e capacitá-los, para:

 Despertar na realidade agropecuária da região a visão agroecológica, como


opção alternativa viável para o campo no âmbito ecológico, social, político e econômico.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Resgatar e/ou conceber valores da ruralidade para os habitantes e


trabalhadores do campo, a fim de que as relações das pessoas entre si, com a terra, as plantas
e os animais se constituam no campo da cooperação harmoniosa.
 Incentivar a diversificação agropecuária como meio de motivar a agricultura
camponesa;
 Analisar os problemas econômicos, sociais, e ambientais da monocultura.
 Estudar as funções que a diversidade de cultivo exerce na sociedade, bem
como na interação dos elementos do meio ecológico.
 Analisar as relações de trabalho, a evolução das técnicas de cultivo e a
sustentabilidade da agricultura camponesa, tendo em vista a soberania e a qualidade
alimentar em nível local, regional, nacional e internacional;
 Estimular as diversificação das pequenas e médias criações, nos
estabelecimentos camponeses ampliando a renda econômica dos agricultores;
 Analisar os avanços técnico-científicos, principalmente a biotecnologia, no
sentindo de formar jovens camponeses críticos e conscientes dos diversos riscos que este
modelo pode representar para a agricultura camponesa e/ou para a saúde humana.
Por fim, o tema gerador da 4ª série do ensino médio é Administração Rural, que compreende
como objetivo,
 Compreender a importância da administração Rural como fator de
sustentabilidade da produtividade agrícola, conhecendo as teorias da gerência;
 Identificar as Organizações Rurais no processo produtivo e proporcionar o
conhecimento básico dos elementos da ciência na administração que contribui para a
sustentabilidade da agricultura camponesa.

A PNEA contempla elementos de fomentação a formação humana em seu ciclo de vida para
a garantia da sadia qualidade de vida, o tema gerador considera o perfil do ciclo de vida do
indivíduo, que parte do desenvolvimento humano em ciclos de vida: a infância e a adolescência,
momento de reflexão das necessidades básicas do sujeito, em função da preparação da vida adulta,
contemplando: a nutrição, a reprodução e a interação social, a integração entre os conhecimentos
empíricos e científicos, é desenvolvida em cadeia na integração das áreas de conhecimento.
A resolução que ampara o PDI no seu inciso VIU, alínea a, fomenta a formação de docentes,
e um dos quesitos aponta a questão ambiental como responsabilidade do trabalho nas EFAs. ―IV. O
educador/monitor e a ação sócio-ambiental do Projeto Pedagógico da EFA. O objetivo é reconhecer
a função social da educação e a responsabilidade ambiental do trabalho das EFAs‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com as especificidades da PA, a EFA Bley proporciona a formação de educadores para que
integrem cada vez mais a inserção de temáticas relacionadas a realidade à garantia de melhor
desenvolvimento aos estudantes. Na Conferência de Tbilisi 1977 na recomendação nº 17 contempla
programas de formação de docentes o estudo de ciências do ambiente e da EA.
Desta forma, o PDI, regulariza os fundamentos metodológicos da PA, afim de, garantir uma
educação própria e apropriada aos sujeitos do campo.
O arcabouço pedagógico expresso no PDI refere-se às práticas adotadas na EFA Bley,
resultado de uma ação coletiva e democrática. Tais pressupostos abarcam princípios e competências
de ações que ao longo de períodos se fundamentam nas interações entre escola, educando e
comunidade.
CONCLUSÃO
A realização da pesquisa permitiu concluir que o documento escolar PDI que compõe o
currículo formal da EFA Bley contempla elementos que contribuem na propagação da EA.
É perceptível a contribuição da Base Nacional Comum Curricular e as especificidades da
escola do campo, que visa promover a formação dos sujeitos, fundamentados em princípios de
responsabilidade, participação, voltados ao bem comum ambiental. O empoderamento da formação
nas escolas de modalidade de ensino PA, garante a consolidação real da EA.
Comprova-se que a EA está inserida no PDI da EFA Bley, de forma a transversalizar a
temática ambiental conforme a base nacional comum curricular.
Assim é possível afirmar que a preocupação da EFA Bley na formação integral dos seus
estudantes, agrega a EA de forma interdisciplinar, na busca por sujeitos ambientalmente conscientes
e críticos. Entendendo que a escola encontra-se inserida em uma sociedade capitalista e que sua
modalidade de ensino rompe com o proposto ensino adotado nas escolas convencionais, à
necessidade de superação na compreensão de conceitos envoltos sobre a temática ambiental.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DE UM CURSO


TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE

Ana Raquel de Oliveira MANO


Professora IFCE-Campus Limoeiro do Norte; Doutora em Agronomia/Fitotecnia-UFC
raquelmano@yahoo.com.br
Maria Gizeuda de Freitas SOUSA
Professora IFCE-Campus Limoeiro do Norte; Mestre em Tecnologia e Gestão Ambiental - IFCE
gizeudafreitas@ifce.edu.br

RESUMO
O meio ambiente é foco de várias discussões atualmente seja com base na escassez de recursos
naturais essenciais, como água, seja relacionada a sua preservação de uma forma geral. Nesse
cenário surgiu a Educação ambiental (EA) como estratégia voltada para conscientização da
população global no sentido de preservar o meio ambiente. No entanto, para se desenvolver EA é
importante caracterizar a população em estudo por meio da identificação da percepção, ou seja,
deve-se saber como uma população vê e interage com o seu meio ambiente para executar as ações
educativas ambientais significativas. Diante disso, este estudo teve como objetivo de identificar a
percepção ambiental de alunos do curso técnico em Meio Ambiente, primeiro semestre, do IFCE
Campus Limoeiro do Norte. Para coleta dos dados foi aplicado um questionário com 15 questões
objetivas e três subjetivas a 26 alunos desse curso. Este trabalho foi desenvolvido no período de
junho a agosto de 2017. A partir dos dados coletados percebeu-se que os alunos avaliados já
tiveram contato com a EA em outros momentos da vida acadêmica. 76,92% dos alunos
frequentemente têm contato com assuntos relacionados a questões ambientais no dia-a-dia. A
maioria dos alunos possui certa consciência ambiental ao reutilizar produtos ou ser adepto a
reciclagem de materiais. Quanto a definição de meio ambiente 88,46% dos alunos investigados
possuem uma visão naturalista de meio ambiente onde o homem não é parte desse. Conclui-se com
este trabalho que os alunos avaliados precisam trabalhar mais concretamente a EA modificando
assim sua percepção sobre a sua integralização ao meio ambiente e consequente valorização em prol
da extensão da vida humana com qualidade no planeta.
Palavras Chave: Educação; Reciclagem; Meio; Natureza.
ABSTRACT
The environment is the focus of several discussions currently whether based on the scarcity of
essential natural resources, such as water, is related to its preservation in general. In this scenario of
confrontations came the Environmental Education (EA) as a strategy aimed at raising awareness of
the global population in the sense of preserving the environment. However, to develop EA, it is
important to characterize the study population by means of the identification of perception, that is,
one must know how a population sees and interacts with its environment to carry out environmental
educational actions. Therefore, this study had the objective of identifying the environmental
perception of students of the technical course in Environment, first semester, of ―IFCE Campus
Limoeiro do Norte‖. To collect the data, a questionnaire with 15 objective and three subjective
questions was applied to 26 students of this course. This work was developed from June to August
2017. From the collected data it is noticed that the evaluated students already had contact with the
EA in other moments. 76.92% of students often have contact with environmental issues on a day-to-
day basis. Most students have some environmental awareness when reusing products or being adept
at recycling materials. Regarding the definition of the environment 88.46% of the students

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

investigated have a naturalistic view of the environment where the man is not part of it. It is
concluded with this work that the evaluated students need to work more concretely the EA, thus
modifying their perception about their payment to the environment and consequent appreciation for
the extension of human life with quality on the planet.
Keywords: Education; Recycling; Medium; Nature.

INTRODUÇÃO
A sociedade, desde a sua formação e, em suas atividades diárias está constantemente em
intervenção sobre o meio ambiente, e essa atuação persistente ocasionou e ocasiona diversas
transformações na condição natural do ambiente no qual estamos inseridos. Essas transformações se
dão devido a retirada de materiais que são utilizados para produção de bens de consumo que
mantêm as relações econômicas das sociedades funcionando. O fruto dessa retirada, e os processos
de conversão desses materiais, acarretam no ambiente alguns prejuízos perceptíveis como, a
modificação da paisagem que influencia diretamente muitos seres vivos, a poluição atmosférica, dos
recursos hídricos e do solo, além do acúmulo de resíduos gerados pelo processamento dessa
matéria-prima de uma forma geral, entre outras agressões ambientais.
A percepção dessa transformação ambiental muitas vezes não existe, ou seja, a sociedade
como um todo ainda não despertou completamente para refletir quanto as suas ações e as
consequências dessas sobre o meio ambiente. Uma alternativa viável para induzir esse despertar é
por meio da execução da educação ambiental, que deve ser tratada em todos os níveis de ensino,
formal e Informal (BRASIL, 1999). A educação ambiental pode favorecer a sociedade o
conhecimento necessário para desenvolver habilidades que a permitam viver em harmonia com o
ambiente minimizando os conflitos ambientais.
Sabe-se que o posicionamento ecológico de uma população é diretamente influenciado por
fatores externos, esses compostos pelos problemas socioeconômicos, ausência de uma educação de
qualidade, inexistência de cultura e as relações interpessoais corrompidas, os quais não favorecem o
desenvolvimento de uma consciência ambiental. Todos esses fatores fazem com que as populações,
dependendo do ambiente no qual estejam inseridas, tenham uma percepção diferenciada do meio
ambiente. O conhecimento do tipo de percepção (apreender por meio dos sentidos ou da mente
(HOUAISS, 2002)) de uma determinada população reflete a interpretação que essa faz da sua
realidade e ―justifica‖ suas atitudes cotidianas, ecológicas ou não. Então, ―A percepção pode ser
entendida como a relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-fisiológica de
um sujeito físico-fisiológico a um conjunto de estímulos externos‖ (CHAUÍ, 1999). Esse conjunto
de estímulos externos implica proximidade do objeto no tempo e espaço (PENNA, 1997).
O comportamento de uma população frente ao ambiente atualmente é bastante discutido,
pois se acredita que ao estudar as relações pessoa-ambiente poder-se-á chegar a possíveis soluções

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para os problemas ambientais vigentes, já que é necessária a conservação dos recursos naturais em
consonância com as atividades cotidianas das sociedades (LOPES 2013; LOPES; SANTOS, 2014).
Assim, estudos de percepção que possibilitem conhecer as interações do homem com a
natureza permitem compreender a maneira como esse se relaciona com o meio ambiente e fornecem
subsídios para o planejamento de uma ação educativa ambiental significativa. A identificação
dessas relações homem-natureza é um campo bastante amplo de pesquisa e se torna cenário para
atuação da Educação ambiental, pois essa permite conhecer o grupo de trabalho no qual a ação
ambiental irá ser executada, para que esse momento aconteça de forma planejada e consciente.

A percepção ambiental é considerada uma precursora do processo que desperta a


conscientização do indivíduo em relação às realidades ambientais observadas. O
conhecimento é um importante aspecto na compreensão da interação homem-natureza,
fazendo-se então necessário o desenvolvimento do aprendizado que envolva elementos de
ordem científica, ética e estética, e que essa interação seja explicitada e favoreça a
conscientização ambiental, estimulando ações relativas à conservação da natureza
(MACEDO, 2000).

―A percepção ambiental pode ser utilizada para avaliar a degradação ambiental de uma
determinada região ou comunidade local, como no caso de uma comunidade escolar‖ (FERREIRA,
2001). Nesse aspecto ressalta-se aqui a importâncias das instituições escolares que são ambientes
constantes de transformação e construção de conhecimento e, consequentemente de atitudes. ―A
escola constitui um espaço privilegiado para o desenvolvimento da Educação Ambiental, na medida
em que possibilita a realização de um trabalho de intervenção sistemático, planejado e controlado‖
(PELICIONI, 2002). Por meio desse trabalho sistematizado pode-se direcionar atividades que
favoreçam o despertar da consciência ecológica nos alunos dentro das escolas, e esses ficarão
responsáveis por disseminar o aprendizado de convivência harmônica com a natureza para a
comunidade, o que beneficiará a todos.

A educação ambiental é entendida como o conjunto de processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Artigo 1º), sendo um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não formal (Artigo 2º) (BRASIL, 1999).

Muitos documentos produzidos em conferências globais e/ou nacionais sustentam a


Educação ambiental em seus pressupostos teóricos, e incentivam as instituições de ensino a
desenvolvê-la, como: a Conferência de Estocolmo (1972), a Carta de Belgrado (1975), a Convenção
de Tbilisi (1977), o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global (1992), a Agenda 21 (1992), a Política Nacional de Educação Ambiental
(BRASIL, 1999), as Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental (2012), entre outros
documentos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A proposta para a Educação ambiental é o estabelecimento de conhecimentos para


convivência social e respeito ao meio ambiente condição necessária para a melhoria da qualidade de
vida das sociedades embasadas na sustentabilidade. Além de, identificar as transformações da
sociedade em direção a novos modelos de justiça social e qualidade ambiental, sem uma abordagem
conservadora e sim questionadora do modelo econômico e social atual (GUIMARÃES, 2000). È
interessante que os alunos mediante suas potencialidades adquiram posturas pessoais e sociais
humanizadas no sentido de contribuir positivamente para construção de uma sociedade mais
igualitária, justa e saudável. A execução das ações para abordagem da Educação ambiental nas
escolas é orientada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que destacam sendo como
principal função dessas contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e a
atuarem na realidade socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada
um e da sociedade, local e global. Portanto, além de informações e conceitos, a escola deve propor
o exercício das atitudes, formação de valores, ensino e aprendizagem de habilidades e
procedimentos (BRASIL, 1998).
È sabido a dimensão da atividade prática quando se trabalha EA no ambiente escolar,
contudo, diagnosticar a percepção ambiental de um grupo (aluno formais ou informais) onde se
quer efetuar práticas de EA é fundamental. Pois, a partir do resultado dessa investigação é que se
pode nivelar e planejar uma prática com maior aproveitamento. Diante disso, fica notório a
relevância dos estudos para caracterização dessa percepção ambiental dentro dos ambientes
escolares (educação básica, profissionalizante, superior) com intuito de se identificar a relação que
os alunos, nos mais diversos níveis de escolaridade e condição socioeconômica, têm com o meio
ambiente nos quais estão inseridos.
Silva (2013) investigando a percepção ambiental dos alunos do ensino médio no Colégio
Estadual Manoel de Jesus, localizado no município de Simões Filho, na Bahia observou que a
percepção ambiental dos alunos é fragmentada em referência aos conceitos de Educação Ambiental
e Meio Ambiente, ou seja, não contemplam os aspectos socioculturais locais e nem contribuem para
uma melhoria na qualidade de vida.
Rolim e Scerni (2010) avaliando a percepção ambiental no Colégio Integrado de Ensino
Médio e Profissional Professor Francisco da Silva Nunes, localizado no Conjunto Médici II, Av.
Santarém S/N, Bairro Marambaia, na cidade de Belém do Pará, na qual participaram os alunos do
primeiro ano do Curso Técnico em Meio Ambiente na Modalidade Educação de Jovens e Adultos,
verificaram a necessidade de um maior esforço de todos os professores no que tange ao assunto
Educação Ambiental, em especial das disciplinas que abordam diretamente o tema, que não deve
ser tratado em separado, por modalidade, e sim em conjunto, num esforço de aprimorar e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desenvolver a mudança do comportamento dos alunos em relação às questões ambientais, em


especial porque serão formados Técnicos em Meio Ambiente.
Santos, Lopes e Silva Júnior (2017) analisaram a percepção ambiental dos estudantes do
ensino técnico em agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano em
relação à educação ambiental e a sua importância para a formação profissional. Os autores
perceberam que há um entendimento sobre a dinâmica da interação homem e natureza e os
desdobramentos econômicos e sociais deste processo, mas é preciso despertar um olhar sistêmico
capaz de evidenciar a inter-relação meio ambiente e setor agropecuário, mitigando os danos
ambientais oriundos de tais práticas e estimular a mudança de atitude frente à problemática
ambiental.
A relevância e significância da questão ambiental podem não está sedimentada mesmo no
segmento docente como foi observado por Oliveira e Pereira (2015) em sua pesquisa que analisou
as relações entre as práticas ambientais propostas nos projetos pedagógicos dos cursos técnicos do
Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) (Campus Gaspar) e a atuação com foco ambiental por
parte de docentes nestes cursos. Os resultados demonstram que 81,2% dos docentes entrevistados
visualizam o meio ambiente como uma forma de trocas recíprocas entre sociedade e natureza
(concepção globalizante) e 18,2% dos docentes veem o meio ambiente como sinônimo de natureza
(concepção naturalista). Os autores ainda ressaltam que estudos de percepção ambiental possuem
grande importância dentro da instituição de ensino, corroborando na tomada de decisões que
valorizem o objetivo inicial: ressignificar o saber por meio da EA.
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo identificar a percepção ambiental de
alunos do curso técnico em Meio Ambiente, primeiro semestre, do IFCE Campus Limoeiro do
Norte/CE.

METODOLOGIA

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) é uma instituição


criada nos termos da Lei. N º 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mediante a integração do Centro
Federal de Educação Tecnológica do Ceará com as Escolas Agrotécnicas Federais de Crato e de
Iguatu, vinculado ao Ministério da Educação, é uma autarquia de natureza jurídica, detentora de
autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar, atuando nas
áreas técnica e tecnológica. O IFCE é composto atualmente por 26 campi, entre esses o Campus
Limoeiro do Norte que oferece graduação tecnológica e formação técnica, além de cursos de
especialização e um de mestrado.
O Campus Limoeiro do Norte/CE oferta o curso técnico em Meio Ambiente (pertencente a
área ambiente, saúde e segurança) desde 2009, atualmente modalidade subsequente, período

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vespertino, com duração de 24 meses, particionando em quatro semestres letivos, com carga horária
de disciplinas 1.300 horas e estágio 320 horas, totalizando 1.620 horas. Esse curso tem disciplinas
básicas e aplicadas a formação técnico de nível médio e forma de ingresso seleção por edital próprio
e oferta de 40 vagas. Esse curso habilita para o desempenho de atividades técnicas profissionais
como combater os agentes e fontes poluidoras do ambiente, realizar análises e medições para
controle da qualidade do ar, da água e do solo, interpretar resultados analíticos referentes aos
padrões de qualidade do solo, do ar, da água, da poluição visual e sonora propondo medidas
mitigadoras, monitorar o sistema de limpeza pública, entre outras (CEARÁ, 2012).
Para detecção da percepção ambiental dos alunos do curso técnico em Meio ambiente do
IFCE Campus Limoeiro do Norte, primeiro semestre (2017.1), entrada em maio de 2017, foi
aplicado um questionário (adaptado de Silva (2013)) semiestruturado com 15 questões objetivas e 3
subjetivas sobre como é a abordagem da educação ambiental nesse curso, conceituação de meio
ambiente, conscientização ambiental, importância e propagação das ações ambientais, entre outros
aspectos. Esta pesquisa foi desenvolvida no período de junho a agosto de 2017. O questionário foi
aplicado a 26 alunos dessa turma, de 43 que ingressaram. Além da coleta e análise dos dados
obtidos com a aplicação do questionário, anteriormente foi realizado levantamento bibliográfico
sobre a educação ambiental com foco na identificação da percepção ambiental, em diferentes
segmentos educacionais com o intuito de fornecer subsídios teóricos para discussão dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos dados coletados observou-se que 80,77% dos alunos do curso Técnico em Meio
Ambiente (TMA) do IFCE Campus Limoeiro do Norte, primeiro semestre, são do sexo feminino e
19,23% do sexo masculino, onde 61,54% possuíam, no período de aplicação do questionário, entre
15 e 20 anos, 34,61% entre 21 e 30 anos e 3,84% aluno entre 31 e 40 anos. A renda familiar da
amostra avaliada foi para 42,30% entre ½ e 1 salário, para 26,92% menor que ½ salário, para
26,92% entre 1 e 2 salários e para 3,84% ficou entre 2 e 3 salários. Nessa turma estudada tem dois
alunos que já possuem nível superior e dois que estão cursando faculdade. A motivação quanto a
escolha do curso se deu por falta de opção na oferta de outros cursos e não por afinidade, segundo
todos os dos alunos. Como esses haviam terminado o ensino médio e se viram sem ocupação
resolveram continuar os estudos na profissionalização técnica em meio ambiente.
Os dados deste trabalho foram similares ao verificados na pesquisa de Rolim e Scerni
(2010) no que diz respeito ao sexo da turma e renda, onde a amostra avaliada por esses autores
constitui-se em sua maioria por integrantes do sexo feminino (74%), faixa etária entre 21 a 30 anos
(43%) e renda familiar média mensal em torno de meio a um salário mínimo (30%), demonstrando
que a maioria dos alunos entrevistados se encontra na categoria de família de baixa renda.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Silva (2011) analisando a educação ambiental sob a ótica dos alunos de um curso técnico em
meio ambiente do Colégio Agrícola Nilo Peçanha e no Curso Técnico em Meio ambiente do
Colégio Estadual Presidente Kennedy observou que 70,2% da amostra pesquisada era do sexo
feminino, que 27,7% tinha renda média de mais de 5 salários mínimos, e 72,3% pertenciam a faixa
etária de 15 a 18 anos. Verifica-se que alunos no sexo feminino compõem uma boa parcela das
turmas nos cursos TMA, sendo a faixa etária mais representativa entre 15 e 30 anos, provavelmente
devido ao curso ser de nível médio fato que atrai muitos jovens que terminam o ensino médio
regulares, e adultos que não tiveram oportunidade de ingressar no ensino superior ao terminar o
ensino médio. A procura por cursos técnicos na área ambiental também remete a possibilidade de
trabalho já que a condição de exploração ambiental é bastante discutida atualmente.
De acordo com a amostra de alunos avaliada neste trabalho observou-se que 73 % dessa já
teve em outro nível de ensino alguma disciplina que abordasse Educação Ambiental, provavelmente
no ensino médio. Como o percentual encontrado engloba mais de 50% da amostra pode-se afirmar
que a EA está sendo trabalhada na maior parte das escolas da Região do Baixo Jaguaribe, aonde
reside os alunos do curso TMA do IFCE Campus Limoeiro do Norte, e que essa é abordada dentro
de disciplinas do núcleo comum como orienta a PNEA por meio da inter, multi e
transdiciplinaridade (BRASIL, 1999).
Conforme a Recomendação nº 1 da Conferência Intergovernamental de Tbilisi a Educação
Ambiental deve ser o resultado da articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que
propiciem uma percepção integrada do meio ambiente, e que tenha como objetivo fundamental
possibilitar que os ―indivíduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio
ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integração de seus aspectos
biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais‖.
Rolim e Scerni (2010) detectaram em seu estudo que para 38% dos alunos no Curso técnico
em meio ambiente, primeiro semestre, não teve nenhuma disciplina que abordasse EA ainda.
Entretanto, quando foi perguntado se as disciplinas estavam contribuindo para o entendimento das
questões ambientais a maioria da turma respondeu que sim. Dessa forma, pode-se inferir que alguns
alunos ainda se mostram confusos com os temas abordados nas disciplinas do Curso.
Foi perguntado aos alunos que compuseram a amostra em estudo se a partir desse contato
inicial com as disciplinas do 1º semestre e conhecimento da grade curricular do curso TMA as
disciplinas do mesmo ajudariam na compreensão das questões ambientais, e todos os alunos
responderam que sim. Esse resultado evidencia certa maturidade ao detectar e esperar que um curso
TMA trabalhe de forma exaustiva as questões ambientais.
O grau de preocupação quanto as questões ambientais foi indagado aos alunos em avaliação
e 53,85% responderam que têm forte preocupação com essas questões, 42,30% responderam que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

têm preocupação mediana com essas questões e 3,85% não responderam. No estudo de Rolim e
Scerni (2010) a análise do grau de preocupação dos alunos a respeito das questões ambientais
mostrou que 65% dos alunos manifestaram uma forte preocupação, podendo, dessa forma,
observar-se a importância do incentivo e modelação da consciência ambiental.
A frequência com que assuntos ambientais são abordados no dia-a-dia dos alunos foi
perguntada e 76,92% afirmou que as vezes esse tema surgi na rotina diária; 11,54% respondeu que
esse tema aparece na sua rotina e 11,54% respondeu que EA nunca é abordada. Acredita-se que esse
contato com as questões ambientais no dia-a-dia aconteça por meio da mídia, televisiva ou
interativa, onde se podem ter constantemente atualizações sobre desastres ambientais, controle do
desmatamento, poluição, terremotos, furações, etc. Deve-se atentar para a fonte que divulga
determinadas informações sobre os fatos ambientais, pois geralmente existe toda uma postura ética
ou não inserida em cada material a ser divulgado na TV ou na rede mundial.
Partindo para o aspecto não formal foi perguntado aos alunos se alguma vez eles já haviam
abordado o tema problemas ambientais entre seus familiares, e 76,92% afirmaram que sim. Nesse
momento acredita-se que a TV e internet novamente contribuam para alimentar essa abordagem da
EA. Diante desse contato com alguma abordagem mais ou menos teórico-prática sobre meio
ambiente em momentos não formais foi indagado se algum aluno já teria tentado passar para
familiares e/ou amigos informações quanto a importância da preservação ambiental, e 84,61% dos
alunos desse estudo afirmou ter realizado essa intervenção em favor do meio ambiente.
No que concerne ao comportamento ambiental dos alunos, Rolim e Scerni (2010)
observaram em sua pesquisa que 52% da amostra trabalhada afirmaram que o tema ‗meio ambiente‘
é frequentemente abordado em seu dia-a-dia; E todos (100%) os alunos dessa mesma amostra já
abordaram o tema junto a seus familiares e /ou amigos, afirmando a importância da preservação do
meio ambiente.
Para Rodrigues et al. (2012) e Leite et al. (2015), as questões investigadas sobre a atitude
ambiental dos estudantes encontram-se fortemente atrelada por uma representação social,
construída a partir da tomada de conhecimento destes problemas através da mídia. Para os autores,
as informações já vêm carregadas de julgamentos de valor, de posicionamentos ideológicos e de
conhecimento científico que são apropriados pelos veículos de comunicação, professores ou agentes
sociais e incidem sobre a vida dos estudantes.
No aspecto da execução e propagação de um comportamento ambientalmente correto
indagou-se aos alunos se esses antes de descartarem algum resíduo pensam em como reutiliza-lo, e
65,4% da amostra responderam que às vezes pensa em poder reutilizar alguns produtos, 19,23%
afirmaram que dificilmente pensam que alguns produtos podem ser reutilizados, e 15,38%
indicaram que sempre pensam em reutilização na hora do descarte do resíduo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O desperdício também foi pesquisado neste trabalho, perguntou-se aos alunos se esses têm a
preocupação de não deixar a torneira ligada ao escovar os dentes, e 80,80% respondeu que sim, mas
19,2% responderam que somente às vezes exprime essa preocupação. Ainda sobre o desperdício foi
perguntado se eles apagam luzes ou desligam a TV ao sair dos cômodos em casa, e 73% afirmaram
que sim, enquanto 27% responderam que apensa às vezes.
Em consonância com a pesquisa, Rolim e Scerni (2010) identificaram também, com relação
ao comportamento ambiental desses alunos, que 78% têm a preocupação de fechar a torneira ao
escovar os dentes, 75% apagam as luzes ou desligam a TV quando saem do ambiente, 52% tem a
preocupação de, ao comprar algum produto, verificar se o fabricante pratica ações ambientais; 57%
têm a preocupação de comprar produtos e/ou embalagens fabricadas com material reciclado ou
reciclável, os outros 43% questionaram que apesar de saberem que é ecologicamente correto
comprar esses produtos, não o fazem por achá-los mais caros que os outros.
Foi indagado aos alunos constituintes da amostra avaliada quanto a preocupação de
utilizar/adquirir/consumir/comprar apenas produtos recicláveis ou recicladas, onde 84,62%
afirmaram que desempenham esse comportamento. Pode-se destacar que a maioria dessa amostra se
preocupa com a exploração dos recursos naturais já que atentam para reutilizar ou adquirir produtos
recicláveis que agridem menos o meio ambiente no sentido da reduzir a extração constante de
matéria-prima para transformar em produtos caros, o que é benéfico para o meio ambiente de uma
forma geral. Quando o aluno percebe que a mudança de conduta dele pode auxiliar no aumento de
vida do planeta e ele se conscientiza e repassa esse conhecimento para sua comunidade formal e não
formal. Ainda sobre esse desempenho das ações ambientalmente corretas indagou-se a amostra em
avaliação se eles verificam ao comprar um produto se o fabricante realiza ações ambientais, e
92,30% afirmaram realizar essa pesquisa.
Um conceito de meio ambiente foi solicitado aos alunos deste estudo e detectou–se que
88,50% escreveu que meio ambiente era a natureza composta por elementos vivos formando o meio
que nos cerca. Enquanto, 11,50% escreveram que meio ambiente seria o espaço que o homem
explora e que faz parte dele. Entende-se que a maior parte dos alunos que participaram desta
pesquisa percebe o meio ambiente como algo distante no qual o homem não se integra, apenas
habita esse ‗espaço‘ composto por outros seres vivos, essa visão pode ser entendia como naturalista.
Os alunos indagados não se sensibilizaram ainda que o meio ambiente envolve a natureza, os
recursos naturais, as relações do homem com a natureza de uma forma geral, e os problemas
ambientais gerados por essas relações.
Silva (2011) percebeu-se em seu estudo que 59,6% dos alunos, entendem que meio ambiente
é tudo aquilo a nossa volta e que é necessário para nossa sobrevivência; 17% escolheram entendiam
que meio ambiente são os seres humanos, a natureza e os problemas ambientais decorrentes do uso

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos recursos naturais; e por fim, 2,1% definiram que meio ambiente é a natureza, como os rios,
animais, florestas e etc. excluindo o ser humano desse contexto.
Santos, Lopes e Silva Júnior (2017) verificaram que 26 estudantes possuíam uma visão mais
naturalista de ambiente, considerando a natureza e o sujeito como partes distintas, atrelando o
conceito de meio ambiente principalmente à flora e a fauna. Sobre o conceito de meio ambiente, 45
alunos compreendem que o homem faz parte do meio ambiente e para 46 alunos a relação do
homem com a natureza é considerada parte integrante da dinâmica ambiental. Para 37 alunos as
cidades, bairros e casas também fazem parte do meio ambiente, esses alunos do curso técnico em
agropecuária, por já estarem concluindo o percurso formativo, evidenciaram uma percepção mais
crítica da relação estabelecida com o meio ambiente e os seus reflexos no cotidiano.
Rodrigues et al. (2012), Garrido e Meirelles (2014) e Bezerra et al. (2014) identificaram em
seus trabalhos uma percepção mais biótica, com elementos da flora e fauna, dos alunos. Para
Reigota (2007) essa visão é classificada como uma abordagem naturalista do meio ambiente que
tem a natureza como intocada. Para Rosa e Silva (2002) a percepção ambiental ―pode ser definida
pelas formas como os indivíduos veem, compreendem e se comunicam com o ambiente,
considerando-se as influências ideológicas de cada sociedade‖. Villar et al. (2008) complementar
que ―respostas ou manifestações decorrentes desse contexto são resultados das percepções,
individuais e coletivas, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa‖.
Solicitou-se aos alunos do curso TMA sugestões de abordagens para que os professores
trabalhassem EA em nas salas de aula, 38,50% responderam: a utilização de casos/exemplos locais,
aulas práticas, visitas técnicas e vídeos; 23,07% citaram linguagem acessível, motivação, palestras e
minicursos; 19,23% responderam desastres ambientais, áreas degradadas e reciclagem. Pode-se
conferir que os alunos sugeriram métodos, como visitas técnicas, ou temas (desastres ambientais), a
serem trabalhados e não um tipo de abordagem, se construtivista, conservadora, mais politizada,
humanizada, antropocêntrica ou geocêntrica. O tipo de percepção que os alunos expõem sobre a EA
é construída conforme o tipo de abordagem que alunos recebem por meio do professor ou educador
em sala de aula formal ou não. Oliveira e Pereira (2015) pesquisando sobre a percepção de meio
ambiente segundo docentes de cursos técnicos verificaram que 81,2% dos docentes apresentavam
uma abordagem do tipo globalizante, e 18,2% expunha uma concepção naturalista. O fato dos
docentes pesquisados terem essa percepção de meio ambiente numa dimensão mais globalizante
aponta um avanço conceitual vivenciado nas últimas décadas com relação ao meio ambiente.
Os alunos foram indagados se a EA poderia contribuir na resolução dos problemas
ambientais e 53,85% responderam que sim por meio da conscientização da população, e 46,15%
afirmaram que a EA poderia auxiliar na questão ambiental por meio da indução a preservação da
natureza e a reciclagem. Contata-se que a maior parte dos alunos que participaram desta pesquisa

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

percebe a EA como algo ou uma ação maior que possibilite a conscientização da população quanto
a importância do meio ambiente para sobrevivência do planeta e consequentemente das civilizações
que nela habitam. Assim como fundamenta a PNEA em seu artigo 5º, a EA deve ―favorecer a
compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo
aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais
éticos‖ (BRASIL, 1999).
A EA em seus fundamentos proporciona ao profissional Técnico em Meio Ambiente as
atribuições para poder estruturar e modular programas na área ambiental para empresas e
comunidades, desenvolver capacidade de diálogo com a sociedade civil na implementação de
projetos de interesse público, desenvolver campanhas de educação ambiental, campanhas de
esclarecimentos de prevenção à poluição e de práticas ambientalmente corretas com o intuito de
construir pensamentos e atitudes ambientalmente corretas (BRASIL, 2000). A formação técnica em
meio ambiente segundo pressupostos legislativos deve preparar o profissional para desenvolver
ações práticas que culminem com a conscientização ecológica a população em favorecimento da
manutenção da qualidade ambiental e de vida. Dessa forma, para se trabalhar EA deve-se buscar
apoio nos eixos estruturantes da educação contemporânea, cujas diretrizes gerais visam capacitar o
aprendiz para a realização da ação humana em sua vida social, produtiva e de experiência subjetiva
(TORALES, 2013).

CONSIDERÇÕES FINAIS

Pode-se considerar mediante os dados obtidos neste trabalho que os alunos avaliados
possuem uma percepção ambiental ainda segmentada, pois não se veem parte do meio ambiente, e
nem corresponsáveis pela atuação situação de desequilíbrio em que a natureza se encontra. Com
isso, seria importante que a EA fosse trabalhada de forma mais concreta e contextualizada para que
os alunos se sintam parte integrante do meio ambiente e desenvolvam um comportamento
ambientalmente correto consciente em prol da extensão da vida humana com qualidade no planeta.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1034


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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROGRAMA FLORESTAR: EDUCAÇÃO E


RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Ana Rosinery Luz Silva SANTOS


Analista de Saneamento - Compesa
analuz@compesa.com.br
William Ferreira da SILVA
Assistente de Saneamento e Gestão – Compesa
williamfsilva@compesa.com.br
Irageu Ferreira FONSECA
Analista de Gestão – Compesa
irageuferreira@compesa.com.br
Lucíola Karla Oliveira Beltrão WAKED
Gerente de Meio Ambiente – Compesa
luciolabeltrao@compesa.com.br

RESUMO
O artigo aborda o desenvolvimento de uma das linhas de ação do Programa Florestar (Projeto
Florestar Vai à Escola) pela Companhia Pernambucana de Saneamento e utilização de Viveiros
Florestais como espaços educativos. O Projeto integra a estratégia da Companhia em disseminar a
―cultura do plantar‖ e ampliar a prática de educação ambiental como forma de interação social nos
municípios pernambucanos. O objetivo do trabalho é a inclusão de estudantes, professores, agentes
públicos, organizações sociais e comunidade em geral para estabelecer uma rede de protetores
ambientais. É realizada a capacitação de estudantes por meio da realização de aulas teóricas e
práticas, atividades lúdicas e vivência prática em um dos Viveiros Florestais da Companhia. Aliada
à formação de viveiristas e sensibilização da comunidade local, ocorre a elaboração do Plano de
Arborização do município participante do Projeto. São obtidas melhorias nas condições de conforto
ambiental, preservação de recursos hídricos e conservação da biota local, impactando na qualidade
dos recursos hídricos dos municípios.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Viveiros Florestais, Preservação Ambiental.
ABSTRACT
The article focuses the development of one of the lines of action of the Programa Florestar - Projeto
Florestar Vai à Escola (Florestar Program - Goes to School Project) by the the Companhia
Pernambucana de Saneamento - COMPESA (Sanitation Company of Pernambuco, Brazil) and use
of Forest Nurseries as educational spaces. The Project integrates the Company's strategy to
disseminate the "planting culture" and to expand the practice of environmental education as a form
of social interaction in the municipalities of Pernambuco. The objective of the work is to include
students, teachers, public agents, social organizations and the community at large to establish a
network of environmental protectors. The training of students is carried out through theoretical and
practical classes, play activities and practical experience in one of the Company's Forest Nurseries.
Allied to the formation of nurseries and sensitization of the local community, the elaboration of the
Arborization Plan of the participating municipality of the project takes place. Improvements in the
conditions of environmental comfort, preservation of water resources and conservation of the local
biota are obtained, impacting on the quality of the water resources of the municipalities.
Keywords: Environmental Education, Forest Nurseries, Environmental Preservation.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O objetivo da Companhia Pernambucana de Saneamento – Compesa é prestar, com


efetividade, serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, de forma sustentável,
conservando o meio ambiente e contribuindo para a qualidade de vida da população. Dentro desse
contexto, a gerência de meio ambiente da Companhia possui algumas frentes de trabalho, quais
sejam: licenciamento ambiental, gestão ambiental, pesquisas e tecnologias ambientais, educação
ambiental e setor florestal (que visa dentre outras coisas, a manutenção de corpos d´água e da
cobertura vegetal). Para atender as demandas de educação ambiental e do setor florestal foi
estruturado o Programa Florestar.
A construção do Programa Florestar ocorreu a partir de um olhar para as responsabilidades
da Companhia como empresa produtora de água, com o ciclo hidrológico da região e as dimensões
ambiental e social que se conectam à sustentabilidade. ―Floresta e água são recursos naturais
intrinsecamente ligados e a ausência de um compromete profundamente a existência do outro‖
(BRAGA, 2005). Pensando nisso, acredita-se na importância da disseminação da ―cultura do
plantar‖, conceito que advém do entendimento de que a preservação ambiental, a proteção dos
recursos hídricos e a ampliação da cobertura vegetal são um dever coletivo e ato necessário para
manutenção do fornecimento de água. Sabendo que hábitos, crenças e costumes forjam a formação
cultural de um povo, a ―cultura do plantar‖ convida para uma mudança social e nos traços culturais
da relação indivíduo x meio ambiente (MEAD, 1965).
A proposta propõe transformar Viveiros Florestais pertencentes à Companhia em Viveiros
Florestais Educadores com foco em aprendizagem, contemplando desde o processo de produção de
mudas nativas, oficinas itinerantes, formações técnicas, reintegração social até eventos
socioambientais, promovendo cada vez mais a importância da conservação e recuperação das áreas
de proteção dos mananciais hídricos.
Uma das ações desenvolvidas se configura no Projeto Florestar Vai à Escola. O Projeto
integra a estratégia empresarial em disseminar a ―cultura do plantar‖ e ampliar a prática de
educação ambiental como forma de interação social, conforme preconizado pela Política Nacional
de Educação Ambiental (Lei Federal nº 9.795/1999). O ambiente escolar foi escolhido por se tratar
de um espaço pedagógico, por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências. Na perspectiva construtivista de Piaget, ―o
começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto. Ou seja, o conhecimento humano se
constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto‖ (FARIA, 1998). Então, conhecer consiste em
operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo. É algo que se dá a partir da ação do
sujeito sobre o objeto de conhecimento. Sendo assim, o espaço escolar, aliado à vivência prática,
que ocorre nos Viveiros Florestais da Compesa, proporciona a interação dos indivíduos sobre o
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

meio. Ressaltando que a abordagem teórica é tratada como tema transversal, sem se constituir
disciplina específica, mas, como uma prática educativa integrada, envolvendo os educadores,
estudantes e comunidade, com abordagem articulada das questões ambientais local, regional,
nacional e global.
O trabalho desenvolvido visa incluir estudantes, professores, agentes públicos, organizações
sociais e comunidade em geral. Tem como objetivo o estabelecimento de uma rede de protetores
ambientais – viveiristas, educadores e agentes. Dentre outras ações, a execução do projeto contribui
com a arborização da escola e de espaços públicos do município.

METODOLOGIA

A Companhia Pernambucana de Saneamento estabeleceu critérios técnicos para selecionar


os municípios que são contemplados com a realização do projeto Florestar Vai à Escola.
Pernambuco tem mais de 180 municípios, e inúmeros solicitaram a implantação dessas ações. No
planejamento do projeto foi levada em consideração essa grande procura como elemento desafiador.
Há limitação de recursos, então, a Companhia estabeleceu como critérios: percentual de arborização
de vias públicas, existência de obra de saneamento básico, realização de trabalho técnico social no
município contemplado, existência de empreendimentos florestais, o bioma local e outros.
Outro elemento que se buscou fortalecer é a interface entre os objetivos estratégicos da
Companhia, com as políticas públicas municipais, tudo isso é formalizado por meio de Termo
Cooperação Técnica, estabelecido entre as partes.
A capacitação de estudantes compreende a realização de aulas teóricas e práticas, atividades
lúdicas e vivência prática (coleta e preparo de sementes, preparo do solo, semeadura, condução e
plantio de mudas) ((Figuras 1 e 2). Para realização da vivência prática o público é levado ao Viveiro
Florestal Educador da Compesa, localizado num dos municípios pernambucanos: Bonito, Cabo de
Santo Agostinho ou Poção. Os professores participam de uma formação e atualizam conhecimentos
para prática de educação ambiental. A Prefeitura local é parceira institucional, age como indutora e
será responsável pela continuidade do trabalho. E, a comunidade é sensibilizada, para preservar o
meio ambiente e os recursos hídricos, por meio de ações coletivas: panfletagem informativa,
afixação de cartazes e faixas de sensibilização, divulgação do conteúdo através de spots, conversa
pessoal (visitação), e atividade de culminância (integração das partes envolvidas).
A culminância é o evento de finalização do projeto (Figura 3). Em geral, é realizada em
local público e conta com a participação de grupos culturais – música, dança, cordel, percussão,
teatro com temática ambiental, grupos de escoteiros, associações comunitárias, ONGs, moradores,
representantes dos poderes públicos. Na ocasião, acontece a entrega formal de um Plano de
Arborização do município à Prefeitura, como forma de contribuir tecnicamente com a gestão

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiental da localidade. Esse plano é elaborado com o apoio da prefeitura e aponta diretrizes
iniciais para a gestão municipal das áreas verdes. Além disso, é realizado o plantio simbólico de 100
mudas nativas do bioma local, pelos estudantes capacitados - viveiristas. Cada muda é identificada
com placa sinalizadora indicando nome da escola, nome do estudante e espécie. Essa identificação
proporciona a interação homem-meio, sujeito-objeto, traz pertencimento e fortalece a ideia de
proteção ambiental e cultura do plantar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mobilização social é realizada a luz do conceito de valor social, que conforme tratado por
Carvalho, Ravagnani e Lauand (1980), os indivíduos ―...aprendem os valores sociais dos
conhecimentos que já adquiriram, como técnica da atividade cotidiana: aprendem porque são
importantes para o bem-estar e sobrevivência do grupo como um todo, no presente e no futuro...‖.
Assim, considera-se que uma sociedade se torna uma nação quando é capaz de responder aos
desafios postos pela história. Quando a sociedade incorpora a educação como valor social e se
mobiliza para que todos e cada um tenham corresponsabilidade (SMOLKA & GÓES, 1995), então,
é possível responder aos desafios, que neste caso, são os desafios ambientais. Para isso, todos são
instados à participação.
É importante destacar a necessidade de adaptação pedagógica do conteúdo para aplicação do
método. É indispensável considerar o público que participará, adaptando o conteúdo ao bioma em
questão, aos costumes locais, além de observar valores étnicos e faixa etária, para compor a
contextualização.
Outro desafio é a construção do plano de arborização do município. Para isso, há que se
considerar todos os elementos locais, que comporão o documento: plano diretor, legislações
municipais específicas (passeio público, corte de árvores, solos de parcelamento, etc), identificação
de logradouros, identificação de áreas verdes, entre outros elementos. Então, a Compesa se propõe a
elaborar um Plano de Arborização Urbana, onde estabelece orientações gerais e diretrizes lastreadas
nas legislações estadual e federal, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS,
2017), por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
O alto índice demográfico em áreas urbanas é um agravante aos problemas ambientais:
produção de lixo, esgotos e a poluição da água, do solo e da atmosfera. Os municípios
pernambucanos convivem com o ambiente urbano intensamente alterado, devido aos atuais modelos
de edificações e loteamento do solo.
Dessa forma, a arborização aliada a Educação Ambiental nas cidades reduz os impactos
ambientais. A arborização desempenha diversas funções, relacionadas a aspectos ecológicos,
estéticos e sociais. As árvores proporcionam sombra, amenizam a temperatura e aumentam a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

umidade do ar, melhoram a qualidade do ar e amenizam a poluição sonora. Do ponto de vista


estético, contribui através das qualidades plásticas (cor, forma, textura); a vegetação guarnece ruas e
avenidas, contribui para reduzir o efeito agressivo das construções que dominam a paisagem urbana
devido à sua capacidade de integrar os vários componentes. Contribui ainda com o aspecto
psicológico das pessoas, quando em contato com a vegetação e com o ambiente criado. Com o uso
de espécies nativas, salvaguardam a identidade biológica da região, preservando ou cultivando as
espécies vegetais que ocorrem nos biomas dos municípios: mata atlântica e caatinga. Essas espécies
é que oferecem abrigo e alimentação à fauna local, protegendo assim o ecossistema como um todo.
O Projeto Florestar Vai à Escola sensibiliza a população, forma viveiristas e educadores e
fomenta a arborização urbana através do plantio de mudas. Além disso, oferta apoio técnico
especializado, que implica na continuidade da arborização. Tudo isso como forma de ampliar a
―cultura do plantar‖, educar para preservação do meio ambiente, proteger os recursos hídricos e
contribuir com a ampliação da cobertura vegetal.
Resultado direto do projeto é a capacitação de educadores, formação de jovens viveiristas
florestais, sensibilização da comunidade local para preservação ambiental (em especial cobertura
vegetal e uso sustentável dos recursos hídricos) e apoio na elaboração de um Plano de Arborização
do município. Como resultado indireto do projeto, o município contemplado obtém melhoria nas
condições de conforto ambiental (sombra, amenização da temperatura e aumento da umidade
relativa do ar, melhoria da qualidade do ar e redução da poluição sonora), preservação de recursos
hídricos e conservação da fauna/flora local, impactando na qualidade dos recursos hídricos.
Por fim, registramos que o projeto é um método replicável – pode ser realizado em
municípios, com realidades diferentes (com alguns ajustes). Ele é sustentável, desde que haja
participação coletiva de poderes públicos e sociedade civil. E, sobretudo, se propõe a discutir,
intervir e apontar soluções para os problemas ligados ao meio ambiente, em especial à relação entre
água e cobertura vegetal.

Figura 1 – Projeto Florestar Vai à Escola – Capacitação Teórica

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2 - Projeto Florestar Vai à Escola – Visita ao Viveiro Florestal Educador

Figura 3 - Culminância do Projeto Florestar Vai à Escola

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de aprendizagem desenvolvido ao longo do projeto permite entendimento sobre


as etapas do método – como acontece o Florestar Vai à Escola. O projeto articula atores do
território, para contribuírem com sua construção e execução, no qual todos aportam conhecimentos
e recursos. Como consequência o plano toma vida, por meio das atividades, e cada um assume seu
papel no projeto, como educador, como viveirista, como gestor, etc.
Com a articulação de agentes públicos, conhecimento técnico, escola e o saber comunitário,
é possível construir uma mobilização para fomento da responsabilidade social e ambiental. Nesse
sentido, se produz um ciclo virtuoso de cuidados e de ampliação da cobertura vegetal no município.
A realização da culminância proporciona o ato de registrar, comunicar e publicizar, e
sobretudo, convocar toda a população local, para assumir o compromisso em dar continuidade e
disseminar a ―cultura do plantar‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999.

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trabalho pedagógico). 177p.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES


INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Andrezza Grasielly COSTA


Doutoranda em Engenharia Agrícola na UFRB
andrezza_grasielly@hotmail.com
Vanessa Tainara da CUNHA
Engenheira Agrícola e Ambiental pela UFERSA
tainara.vanessa@yahoo.com.br
Rodolfo de Azevedo PALHARES
rodolfo.palhares@hotmail.com
Mestrando em Estruturas e Construção Civil na UnB

RESUMO
A educação ambiental ainda se faz pouco presente no âmbito escolar, porquanto deveria estar
inserida de forma interdisciplinar nas atividades didáticas em todas as modalidades de ensino.
Porém, existe um déficit de informações por parte dos docentes a respeito da Lei n° 9.795/99, que
rege sobre a educação ambiental no país. De acordo com a referida Lei, a educação ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-
formal. Neste contexto, o trabalho teve como objetivo analisar o conhecimento dos docentes das
séries iniciais do ensino fundamental a respeito da educação ambiental. O estudo foi desenvolvido
com professores das séries inicias do ensino fundamental de duas escolas da rede estadual de
ensino, do município de Mossoró/RN. Utilizou-se como instrumento de pesquisa questionários,
aplicados com os professores das duas escolas da rede estadual de ensino. De acordo com a
pesquisa, os professores de ambas escolas mostraram ter conhecimento a respeito da importância da
educação ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental. Porém, ao analisar as escolas foi
possível averiguar que não existe uma observação mais cuidadosaa respeito da Lei regente sobre a
Educação Ambiental, sendo trabalhada de forma bastante superficial.
Palavras-Chave: Lei n° 9.795. Anos Iniciais. Prática Docente.
ABSTRACT
Environmental education is still little present in schools, because it should be inserted in an
interdisciplinary way in activities in teaching all forms of education. However, there is a deficit of
information from teachers regarding the Law No. 9.795/99, which governs on environmental
education in the country. According to this law, environmental education is an essential component
and permanent education, which should be present in an articulate manner, at all levels and
modalities of the educative process, in formal and non-formal education. In this context, the
objective of this work was to analyze the knowledge of teachers from the initial series of basic
education about environmental education. The study was developed with teachers of the series
stages of basic education of two schools of the state system of education, the municipality of
Mossoro/RN. It was used as an instrument of research questionnaires, applied with teachers from
both schools of the state system of education. According to the survey, teachers from both schools
were shown to have knowledge about the importance of environmental education in the first grades
of elementary school. However, when analyzing the schools were unable to ascertain that there is an
observation more careful regarding the governing law on Environmental Education, being worked
on very shallow.
Keywords: Law No. 9,795. Early Years. Teaching Practice.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A educação ambiental é um assunto que está em discussão ao longo de décadas, tornando-se


relevante após a Segunda Guerra Mundial, no qual desencadeou os avanços tecnológicos através da
Revolução Industrial, divisor de águas na história, que contribuiu de forma significativa para o uso
demasiado dos recursos naturais. Desde então, a relação entre o homem e a natureza vem se
tornando cada vez mais precária. Mediante essa problemática torna-se imprescindível buscar um
compromisso com uma educação diferenciada, que resulte numa transformação consciente.
Nessa perspectiva de mudança, faz-se necessárioentender como os documentos oficiais
definem à Educação Ambiental, segundo o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério do Meio
Ambiente (MMA) em seu textos obre a Política Nacional de Educação Ambiental (―BRASIL,
1999‖), a educação ambiental pode ser conceituada como ―os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖.
―Klein (2007)‖ descreve que torna-se fundamental no papel transformador da sociedade
atitudes voltadas para um desenvolvimento mais sustentável, onde através do conhecimento há
possibilidades das pessoas se conscientizarem mediante a imensidão do problema, e se
sensibilizarem através das mudanças nos seus hábitos e atitudes relacionados ao meio ambiente.
De acordo com o ―MEC (1998)‖ o objetivo da Educação Ambiental é criar uma interação
mais harmônica, positiva e permanente entre o homem e o meio criado por ele, de um lado e o que
ele não criou, de outro.Dados de uma pesquisa nacional apresentados pelo ―MEC (1998)‖mostram
que 95% dos brasileiros apoiavam a obrigatoriedade da Educação Ambiental nas escolas, e somente
2% discordaram com ideia da inserção do assunto em questão tornar-se algo obrigatório. No ano
seguinte, 1999, a Lei de Educação Ambiental entrou em vigor, tornando-se obrigatório em todas as
modalidades de ensino.
No âmbito escolar a educação ambiental ainda se faz pouco presente, visto que deveria ser
inserida de forma interdisciplinar nas atividades didáticas. Porém, ―Adams et al. (2010)‖ afirma
que, há ausência de informações por parte dos docentes a respeito da Lei n° 9.795/99, que rege
sobre a educação ambiental no país. Segundo a referida Lei, em seu capítulo I, Art. 2°, ―a educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não-formal‖ (―BRASIL, 1999‖). Todavia, ―Adams et al. (2010)‖ relata que fica muito a critério dos
professores das áreas de Ciências Biológicas instruir sobre educação ambiental para os alunos.
Desse modo, ―Klein (2007)‖ enfatiza a importância das crianças terem o contato com a
natureza o mais cedo possível, estimulando relações respeitosas e harmônicas com o meio, para que
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

as mesmas tomem consciência de que são parte integrante e são dependentes desses recursos para
sobrevier. É perceptível que as crianças são comumente mais vulneráveis as mudanças de costumes,
tornando-se agentes mediadoras de boas práticas, proporcionando ferramentas para outras pessoas
se conscientizem diante dessa problemática (―PRUDENTE, 2013‖).
Mediante a isso, relacionar a educação ambiental com o ensino nas séries iniciais torna-se
primordial nos processos de transformação social. Visto que, as contemporâneascrianças
constituirão as futuras gerações e crescerão com uma visão diferenciada a respeito do meio que
estão inseridos, entendendo a importância que cada elemento natural tem para a existência humana.
Assim, torna-se essencial para a construção de hábitos saudáveis, aproximando-se de um modelo de
desenvolvimento mais sustentável, que segundo ―Brasil (2011)‖ é definido como ―o modelo que
prevê a integração entre economia, sociedade e meio ambiente‖, assim o crescimento econômico
deve levar em consideração tanto meio social quanto ambiental.
Faz-se necessário ressaltar a importância das séries iniciais do ensino fundamental, no qual é
estabelecido pela Lei N° 11.274/06 a obrigatoriedade de todo individuo a partir dos 6 anos de idade
estar matriculado no referido nível de ensino (―BRASIL, 2006‖). Porquanto, ―à medida que se
aproxima dos seis anos de idade, a enorme curiosidade e vontade de aprender da criança comporta
uma programação mais dirigida às diversas áreas do conhecimento, sem que isso signifique
escolarização precoce nos moldes tradicionais‖ (―CAMPOS, 2009, p. 11‖).
As questões ambientais tornaram-se preocupante e de uma repercussão imensa por todo o
mundo, sendo comum a divulgação dessa problemática através das tecnologias de comunicação,
como também vivenciada no cotidiano. Diante dessa situação, é fundamental que todos tenham
conhecimento através da inclusão da educação ambiental em todos os níveis de ensino.
Deste modo, faz-se necessário abordar essa temática desde as séries iniciais para que as
crianças cresçam a parte dos acontecimentos, bem como das medidas que possam vir a inverter, ou
pelo menos amenizar, esses impactos. Mediante a essa problemática ambiental, busca-se entender a
concepção dos professores das séries inicias a respeito da educação ambiental, e como esses
profissionais abordam a temática. Além disso, analisar a influência de uma horta didática na
qualidade de ensino no que diz respeito às questões ambientais.
Nesse contexto, emerge a temática escolhida para a pesquisa, a qual se busca fazer um
levantamento de dados em duas escolas da rede Estadual de ensino, no município de Mossoró/RN,
voltadas para a educação nas séries iniciais do ensino fundamental. Uma escola que possui uma
horta didática inserida no âmbito escolar, e outra que não possui esse laboratório vivo como
ferramenta de ensino.
Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo analisar o conhecimento dos docentes
das séries iniciais do ensino fundamental a respeito da educação ambiental.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido com professores das séries inicias do ensino
fundamental de duas escolas da rede estadual de ensino, localizadas no município de Mossoró/RN.
O critério inicial utilizado para escolha das duas escolas constituem fazer uma comparativa entre
uma escola estadual que trabalhava com projetos voltados para a educação ambiental, e outra da
mesma rede de ensino que não trabalhava de forma direta com a temática em questão.
O município de Mossoró está localizado no interior do estado do Rio Grande do Norte,
pertence à mesorregião do Oeste Potiguar e à microrregião homônima. O município está localizado
entre as capitais Natal (RN) e Fortaleza (CE), distando cerca de 278 e 245 km, respectivamente.
Limita-se ao norte como Estado do Ceará e o Município de Grossos; ao sul com os Municípios de
Governador Dix-Sept Rosado e Upanema; ao leste com Areia Branca e Serra do Mel; e a oeste com
Baraúna. De acordo com dados do ―IBGE (2014)‖, o município possui 259.815 habitantes, área
territorial de 2.099,333 km².
A Escola A, está voltada somente para a educação de criança nas séries iniciais do ensino, de
1° ao 5° ano, funcionando apenas no período matutino, e possui 7 professores lecionando nos
referidos anos. Do mesmo modo, a Escola B possui 7 professores que estão distribuídos do 1° ao 5°
ano, funcionando no período matutino,com exclusividade no ensino das séries iniciais, funciona nos
demais turnos, com outras modalidades de ensino.
Para o levantamento de dados foi trabalhado na perspectiva exploratória, caracterizando um
estudo de caso em duas instituições escolares, utilizando no primeiro a pesquisa bibliográfica
através de levantamento de dados históricos sobre a educação ambiental no Brasil e no mundo,
como também a respeito da legislação vigente sobre a temática e a relação da mesma com o ensino
fundamental das séries iniciais. A pesquisa pautou-se na documentação direta, através de
observações e análise, bem como indireta com pesquisas bibliográficas e s documentais, assim,
caracterizando um estudo de caso.
Foram utilizados questionários como instrumento de pesquisa, que de acordo com
―Prodanov e Freitas (2013)‖ é o sistema de coleta de dados que obtém informações diretamente do
entrevistado. Dessa forma, o mesmo foi aplicado com 92,86%dos professores das séries iniciais do
ensino fundamental das duas escolas,com exceção de um professor da Escola A, que não pôde
contribuir com a pesquisa.
O questionário foi composto por perguntas doze perguntas abertas e uma fechada.
Inicialmente foi destinado um espaçado para preenchimento dos dados pessoais, como o nome,
idade e gênero. Posteriormente, foi questionado a respeito da formação acadêmica e experiência
profissional, concluiu-se com indagações voltadas para a educação ambiental e a sala de aula,
tomando como base a Lei n° 9.795.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Juntamente com os questionários foram entregues um Termo de Consentimento Livre e


Esclarecido, no qual explicou a finalidade da pesquisa, assegurando-lhes também que a pesquisa
não trará prejuízo na qualidade e condição de vida e trabalho dos seus participantes, salientando que
as informações seriam sigilosas, e que não haveria divulgação personalizada das informações.
Todos os participantes receberam duas vias, sendo uma para o sujeito de pesquisa e a outra para o
arquivo do pesquisador.
Após a coleta, os dados foram tabulados, onde utilizou-se de procedimentos de análise
descritiva, obtendo-se, dependendo da variável estudada, valores da média. Assim também foram
obtidos, o valor da frequência relativa percentual, expressa na forma de gráficos, depende da
adequação a variável e, consequentemente, ao estudo para que ocorresse a interpretação dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria dos profissionais possuem longos anos de carreira, com está representado
nafigura 1. Assim, na Escola A, 86% dos docentes lecionam a mais de 10 anos, e somente 14%
possuem entre 1 e 5 anos de experiência. A maioria dos professores da Escola B também possuem
mais de 10 anos de atividade docente, e na referida instituição não existe nenhum professor com
poucos anos de atuação.
Da mesma forma, ―Oliveira (2001)‖ descreve em sua pesquisa que grande maioria dos
informantes possuem larga experiência, com uma atuação a mais de 10 anos.―Moreira e Messeder
(2009)‖ verificaram que 55,3% dos professores lecionam há mais de 11 anos. Sendo os extensos
anos de carreira de fundamental importância, visto que às práticas pedagógicas e às relações de
ensino e aprendizagem vão sendo incorporadas pelo professor ao longo dos anos.

Figura 1. Tempo de atividade docente dos professores das Escolas A/B, Mossoró/RN.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A distribuição dos professores por série está tipificada na figura 2. De acordo a figura
mencionada, a Escola A apresenta uma demanda maior de turmas para o 4° ano, havendo
necessidade de locar mais professores no referido ano. Já na Escola B há uma maior demanda de
turmas tanto para o 4° quanto para o 5° ano, havendo uma maior demanda de professores para as
referidas turmas. Na pesquisa de ―Oliveira (2001)‖, os professores em sua maioria lecionam no 2°
ano, 4° ano e 5° ano.
Ao questionar a respeito da presença da Educação Ambiental em alguma Lei Federal todos
os professores da Escola A afirmaram conhecer leis que tratam da temática em questão. Entretanto,
42,86% dos professores da Escola B afirmaram não saber se a Educação Ambiental estava prevista
por leis, e os demais afirmaram que havia Leis voltadas para a Educação Ambiental.
―Trevisol (2003)‖ mostra uma realidade semelhante a Escola B, no qual a grande maioria
dos informantes não conhecem ainda os documentos essenciais da educação ambiental, e 52,3%
afirmaram desconhecer a Lei n° 9.795/99, e somente 9,1% dos professores asseguraram usar a
referida lei com frequência.

Figura 2. Séries lecionadas pelos discentes das Escolas A/B, Mossoró/RN.

A Escola A por estar inserida nas dependências de uma universidade, favorece a propagação
do conhecimento da educação ambiental, existindo parcerias em projetos da universidade com a
referida escola, estando todos os professores informados sobre a legislação vigente. Já a situação
dos professores da Escola B é mais delicada, visto que quase 50% dos professores expuseram não
ter conhecimento a respeito de nenhuma Lei, e quase 30% não souberem informar se havia justo
algo específico durante a graduação, fator esse que está associado a ausência de informação
Todavia, a Lei n° 9.795 está em vigor a mais de 15 anos, no entanto ainda existe muitas
irregularidades a respeito das questões abordadas na educação, não só no que se refere as séries

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

iniciais, mas em todas as modalidades de ensino. ―Moreira e Messeder (2009)‖ enfatiza que faz-se
necessário primeiramente uma discussão com toda a comunidade para que posteriormente a
educação ambiental seja inserida no cotidiano escolar.
Ao se tratar da formação dos professores da Escola A, todos afirmaram não terem visto nada
específico voltado para a Educação Ambiental durante a graduação (Figura 4). Os professores da
Escola B, em sua maioria, informaram não terem visto nada específico voltado para a Educação
Ambiental durante a graduação (57,14%), já 28,57% dos docentes não souberam informar, e
14,28% não respondeu esse item, como representado na figura 3.
Os referidos resultados corroboram com os de ―Moreira e Messeder (2009)‖, no qual 54,7%
dos professores afirmaram que não tiveram nenhum contato com o tema durante a sua formação
acadêmica. Já em relação à abordagem de Educação Ambiental durante a formação
acadêmica45,3% dos entrevistados afirmaram terem visto a respeito do assunto.

Figura 3. Percentual de professores que viram conteúdo específico voltado para a Educação Ambiental
durante a graduação, Escolas A/B, Mossoró/RN.

Assim, ―Oliveira (2001)‖ mostra que existe uma preocupação por parte dos professores em
trabalhar de forma mais aprofundada as questões ambientais, porém existe uma carência de
informação devido à ausência do conhecimento a respeito da temática durante a formação
acadêmica, afetando assim na qualidade de ensino.
Quanto à importância de trabalhar a educação ambiental nas séries iniciais, dentre as opções:
grande, razoável, pequena, necessária, todos os docentes da Escola A alegaram ser de grande
importância, demonstrando interesse pelas questões ambientais. Grande parte dos docentes da
Escola B também afirmaram ser de grande importância, com exceção de um professor que
acrescentou em seu questionário o item necessário.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

É perceptível que todos têm consciência da importância de se trabalhar a temática, apesar da


ausência de informação durante a graduação. Segundo ―Fadanni e Massola (2010)‖, 50% dos
docentes informaram que era de extrema importância abordar sobre a temática nos anos inicias do
ensino fundamental.
A educação ambiental na Escola A é trabalhada principalmente através dos conteúdos
abordados em sala de aula, como também através de músicas ou vídeos, como está representado na
figura 4. De acordo com a figura 4, a principal maneira pelo qual os professores da Escola B
trabalham a Educação Ambiental é através dos conteúdos abordados em sala de aula, equivalente a
86% dos docentes, e apenas 14% utilizam ferramentas audiovisual e/ou músicas.
Para ―Pinesso (2001)‖, apesar das dificuldades na utilização dos recursos tecnológicos das
professoras com idade superior a 35 anos, existe interesse por parte das mesmas em utilizar esses
recursos.Segundo ―Oliveira (2001)‖, os educadores buscam enriquecer as aulas de forma
diversificada, através de outros recursos, que vão desde os meios de comunicação até a realidade
dos alunos, o que favorece o aprendizado.

Figura 4. Formas de se trabalhar a Educação Ambiental nas Escolas A/B, Mossoró/RN.

Os professores de ambas escolas mostraram ter conhecimento a respeito da importância da


educação ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental. Todavia, não buscam propostas extra
sala para mostrar de forma mais clara e interativa as formas de se trabalhar a Educação Ambiental,
detendo-se apenas a apresentações dentro do conteúdo abordado, isso quando possível, afirmaram
grande parte dos professores das duas escolas.
―Oliveira (2001)‖ indaga que há um melhor aprendizado por parte dos discentes quando a
temática abordada corresponde a fatos que retratem o seu cotidiano, devido a imaturidade dos
alunos para trabalhar com a abstração sem associação alguma com sua realidade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ao ser indagado se a escola como um todo trabalha a Educação Ambiental, todos os


professores da Escola A afirmar que sim. De igual modo, a maioria dos professores da Escola B
asseguraram que a mencionada escola trabalha a Educação Ambiental, porém um docente afirmou
não ter conhecimento a respeito de alguma atividade voltada para a referida temática em sua escola.
Em relação à forma predominante da inserção da educação ambiental na escola, todos os
professores da Escola A afirmaram ser de forma interdisciplinar, e 25% afirmaram ainda que a
Educação Ambiental era trabalhada através de projetos interdisciplinares (Figura 5).
A maioria dos professores da Escola B (57%) expuseram que a referida escola trabalha a
Educação Ambiental de forma interdisciplinar, 43% através de projetos interdisciplinares, e um
professor não opinou a esse respeito. ―Moreira e Messeder (2009)‖ mostram que em seu
levantamento todos os professores afirmaram a trabalhar o tema Educação Ambiental nas aulas, e
os principais recursos utilizados para apresentar a referida temática é através de livros didáticos,
textos diversos e vídeos.

Figura 5: Forma pela qual a Educação Ambiental predomina nas Escolas A/B, Mossoró/RN.

A Escola A, foi privilegiada com a implantação de uma horta didática, que objetivou não só
contribuir para enriquecimento nutricional da merenda escolar, mas principalmente conscientizar
sobre a importância do meio ambiente e incentivar a formação de bons hábitos alimentares nos
alunos das séries inicias do ensino fundamental.
Apesar disso, somente dois professores afirmaram que a referida escola trabalha a Educação
Ambiental através de projeto. Mesmo que a iniciativa tenha partido da universidade, existe a
interação da escola como um todo, visto que o público atingido são os próprios alunos da escola
mencionada.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Embora de todos os professores da Escola A garantirem ter conhecimento a respeito de


alguma Lei Federal voltadas para a Educação Ambiental, os mesmos afirmaram não ter visto nada
específico durante a graduação.
Todavia,―Pinesso (2001)‖ aponta como que é de suma importância o conhecimento por parte
dos professores dos problemas ambientais locais, servindo de ferramenta para o planejamento das
atividades. Além disso, torna-se primordial para o ensino das séries iniciais a trabalhabilidade com
questões referente a problemática local, devido se tratar de um universo acessível.
Com isso, ―Moreira e Messeder (2009)‖ afirmam que existe a necessidade de produzir
materiais com a linguagem adequada à faixa etária do Ensino das Séries Iniciais, para que possam
auxiliar o professor numa prática educativa, abordando temas relevantes como questões
relacionadas ao lixo, água, reciclagem, preservação do meio ambiente, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a concepção docente nas duas escolas foi possível averiguar que não existe uma
observação mais cuidadosa a respeito da Lei n° 9.795/99, sendo trabalhada de forma bastante
superficial. Porém, a Escola B encontra-se numa situação mais crítica, porquanto alguns professores
não têm conhecimento a respeito das legislações vigentes, tão pouco da Política Nacional de
Educação Ambiental e suas exigências.
Pôde-se constatar ainda que, a educação ambiental pode ser trabalhada com poucos recursos,
sendo necessário a interação de todos para que haja uma maior abrangência. Todavia, falta
conhecimento por parte dos docentes, que em consequência dessa ausência de informação, afeta
diretamente no ensino dos alunos que ficam ausentes do conhecimento.
Neste contexto, torna-se fundamental que os educadores obtenham conhecimento a respeito
da educação ambiental, através de palestras, oficinas e cursos, que favoreçam a expansão do
conhecimento, já que existe uma carência do conteúdo durante a formação acadêmica.
Outro fator relevante seria a obtenção de materiais didáticos, com conteúdo de fácil
aplicação, apresentando propostas de trabalho por meio de recursos presentes no cotidiano e a
trabalhabilidade das questões que envolve a própria escola e seu entorno. Assim, o aprendizado das
crianças serão intensificados e os docentes sairão da monotonia da sala de aula através de aulas de
campo e visitas técnicas.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1054


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ANÁLISE DO CÁLCULO DA PEGADA ECOLÓGICA EM DUAS ESCOLAS NO


MUNICÍPIO DE JACARAÚ – PB

Angélica Fernandes PESSOA


Graduada em Ecologia – UFPB
angelicafernandespessoa@gmail.com
Horácio da Silva do NASCIMENTO
Graduado em Ciências Contábeis – UFPB
horacio_silva.18@hotmail.com
Joel Silva dos SANTOS
Professor – UFPB
joelgrafia.santos@gmail.com

RESUMO
A presente pesquisa objetivou calcular a pegada ecológica dos alunos de duas escolas (pública e
privada) localizadas no município de Jacaraú/PB. Inicialmente foi feito um 1evantamento
bibliográfico à cerca da temática em questão, seguido de visita técnica as duas escolas escolhida,
visando o conhecimento e caracterização da área de estudo. A coleta de dados para o cálculo da
pegada ecológica foi realizada a partir de um questionário específico proposto pela WWF – Brasil
(2007). Posteriormente os dados foram discutidos à luz do referencial teórico. O indicador de
sustentabilidade ―Pegada Ecológica‖ serviu para indicar quais as atividades realizadas no cotidiano
dos alunos estão gerando impactos e contribuindo com a degradação ambiental. Ao final da
pesquisa verificou-se que os dois grupos de alunos investigados superaram o limite de capacidade
de suporte do planeta, contribuindo assim, para a degradação do ambiente. No entanto, o grupo de
alunos da escola privada tiveram uma pegada ecológica maior devido ao seu poder aquisitivo e
consequente consumismo.
Palavras Chave: Recursos Naturais, Degradação Ambiental, Sustentabilidade.
ABSTRACT
This study aimed to calculat the Ecological Footprint of students from two schools (public and
private) located in the municipality of Jacaraú/PB. Initially done a literature review regarding the
issue in question, followed by a thecnical visit to the two chosen schools, aiming at the knowlwdge
and characterization of the study área. The data collection for the calculation of the Ecological
Footprint was made based on a specific questionnaire proposed by WWF – Brazil (2007).
Subsequently the data were discussed in the light of theoretical reference. The sustainability
indicator ―Ecological Footprint‖ served to indicate which activities carried out in the students daily
life are generating impacts and contributing to environmental degradation. At the end of the
research it was verified that the two groups of students investigated exceded the limito f support
capacity of the planet, thus contributing to the degradation of the environment. However, the group
of private school students had a greater ecological footprint due to their purchasing power and
consequente consumerism.
Keywords: Natural resources, Degradation Environment, Sustainability.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1055


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Ao longo de sua existência o homem vem usufruindo os recursos naturais de forma


inadequada, sem se preocupar em preservá-los para as próximas gerações. Com a chegada da
Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, tal uso se intensificou ainda mais, pois a
demanda da produção industrial associada ao urbanismo acelerado resultou em um aumento
significativo da degradação ambiental e da perda da qualidade de vida.
O novo cenário que surgiu no período pós-Revolução Industrial deu origem à preocupação
das nações do mundo inteiro para o uso e a manutenção dos recursos naturais, de modo a se
preservar as diversas formas de vida e conciliar crescimento econômico com conservação
ambiental.
Visando a necessidade de desenvolver ferramentas para mensurar a sustentabilidade
ambiental, surgiram os indicadores ambientais. O termo indicador é originário do latim indicare,
que significa descobrir, apontar, anunciar, estimar (HAMMOND et al., 1995, apud BELLEN, 2006,
p.41). Sendo assim, o termo indicador ambiental é utilizado para comunicar ou informar sobre o
progresso de uma determinada população, em direção à sustentabilidade ambiental (BELLEN,
2006).
Para Bellen (2006), um indicador é uma ferramenta que permite a obtenção de informações
de uma dada realidade tendo como principal característica a de poder sintetizar um conjunto
complexo de informações, retendo apenas o significado essencial dos aspectos analisados
(MITCHELL, 1997 apud PARENTE, 2007, p.85). Dessa forma, os indicadores simplificam as
informações sobre os problemas complexos, tentando melhorar com isso o processo de informação
(BELLEN, 2006).
De acordo com Meadows (1998 apud BELLEN 2006) os indicadores são essenciais, pois
muitos tipos desses indicadores são necessários para o fornecimento das informações que são
indispensáveis ao gerenciamento ambiental.
Dentre os indicadores de sustentabilidade, se destaca a pegada ecológica, que por sua vez,
tem sido muito utilizada nos últimos anos, ―devido ao seu enfoque na dimensão ambiental e sua
facilidade na comunicação dos resultados observados‖ (PARENTE, 2007, p. 22).
A pegada ecológica é utilizada para verificar a capacidade que uma dada população tem de
viver em uma determinada área, que suporta a extração de insumos (recursos naturais) e absorve os
impactos ambientais (poluição) gerados por uma dada população (WACKERNAGEL E REES,
1996 apud BELLEN, 2006).
Dessa forma, a pegada ecológica de cada cidadão, serve para medir os ―rastros‖ que são
deixados na natureza, devido ao consumismo, e aos possíveis impactos absorvidos por determinada

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1056


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

área. O homem ao tentar satisfazer as suas necessidades e desejos, e a manter o seu padrão de vida e
o seu conforto, tem tornado a vida no planeta terra insustentável (WWF, 2007).
A sociedade atual está cada vez mais consumista e tem levado à utilização irracional dos
recursos naturais da terra. Pautada na lógica do extrair, consumir e descartar, a sociedade Pós-
Moderna já sofre as consequências econômicas, sociais e ecológicas da crise Ambiental. À medida
que o homem interfere no meio ambiente, para satisfazer as suas necessidades e prover o seu
conforto, surgem conflitos socioambientais com relação ao usufruto dos recursos, uma vez que
esses recursos naturais são finitos.
Dessa forma, a pegada ecológica mostra o quanto estamos utilizando de recursos naturais
para sustentar o estilo de vida da sociedade contemporânea e absorver os resíduos gerados. Vale
salientar que o tamanho da pegada ecológica depende do estilo de vida que cada um possui (WWF,
2007).
A problemática que norteia a pesquisa é a seguinte: Qual o tamanho da pegada ecológica dos
alunos do 8º ano da escola pública e da escola privada no município de Jacaraú/PB? Qual dos dois
grupos de alunos apresentam uma pegada ecológica maior?
A hipótese da pesquisa é que os alunos da escola privada tem um estilo de vida mais
consumista e consequentemente uma pegada ecológica maior em relação ao grupo de alunos da
escola pública.
Diante o exposto a presente pesquisa tem como objetivo principal calcular a pegada
ecológica de dois grupos de alunos do 8º ano de duas escolas (pública e privada) localizadas no
município de Jacaraú.

METODOLOGIA

Área de estudo

A área de estudo compreende o município de Jacaraú-PB, que está localizado na


microrregião do Litoral Norte da Paraíba, e se encontra a 96 Km da capital João Pessoa. Segundo
estimativas do IBGE 2010, Jacaraú tem uma população de 13.942 habitantes e seu IDH é de 0,558,
que por sua vez, está situado na faixa de Desenvolvimento Humano considerado Baixo (IDHM
entre 0,5 e 0,599).

Escola pública

A E.M.E.I.F Anatilde Paes Barreto está localizada na área rural do município de Jacaraú, no
Sítio Salvador Gomes de Baixo, e se encontra a 10 Km do município.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 01 – Escola Anatilde Paes Barreto

A escola abrange 130 alunos, onde funciona em dois turnos, durante o período da manhã,
funciona o Fundamental I com as turmas do 2º,3º,4° e 5° ano. Já no turno da tarde, funciona o
Fundamental II, com as turmas do 6°,7° e 8°ano.
A escola Anatilde Paes Barreto é de extrema importância para a população do Sítio Salvados
Gomes de Baixo, e também para a população dos sítios vizinhos, pois se não houvesse esta escola,
os alunos teriam que se deslocar para outra escola localizada no perímetro urbano do município.
Escola privada
A escola privada chama-se Chapeuzinho Vermelho e está localizada na área urbana do
município de Jacaraú. A escola funciona em dois turnos, durante o período da manhã, funciona o
maternal, pré 1, pré, 2, e do 4° ao 9° ano. No turno da tarde, tem também o maternal, pré 1,
pré 2, e do 1° ao 5° ano.

Figura 02 – Colégio Chapeuzinho Vermelho. Fonte: Google Maps, 2015

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa foi realizada em duas escolas, sendo uma de rede pública, localizada na
área rural, e outra de rede privada, localizada na área urbana, ambas localizadas no município de
Jacaraú-PB.
O público alvo da pesquisa foram os alunos do 8º ano do Fundamental II das duas escolas
definidas para a realização da pesquisa.
No que se refere aos procedimentos metodológicos, inicialmente foi feito um levantamento
bibliográfico à cerca da temática em questão, seguido de visita técnica as duas escolas escolhida,
visando o conhecimento e caracterização da área de estudo.
A coleta de dados para o cálculo da pegada ecológica foi realizada a partir de um
questionário específico proposto pela WWF – Brasil (2007). O questionário é composto por 15
questões de múltipla escolha e contém temas diversos: alimentação, moradia, consumo, transporte e
resíduos. O cálculo é realizado somando-se os pontos obtidos no questionário, seguido de sua
interpretação de acordo com a tabela de referência abaixo adaptada da WWF-Brasil (2007).

PONTOS OBTIDOS SUSTENTABILIDADE PEGADA ECOLÓGICA


Até 23 Pontos Necessário um planeta para Se sua pegada ecológica ficou
sustentar seu estilo de vida. nessa faixa, parabéns! Seu estilo
de vida leva em conta a saúde do
planeta! Você sabe equilibrar o
uso dos recursos com sabedoria.
Que tal mobilizar mais pessoas e
partilhar sua experiência? Você
pode ajudar outras pessoas a
encontrarem um padrão mais justo
e sustentável também!
De 24 à 44 Pontos Necessário dois planetas para Sua pegada está um pouco acima
sustentar seu estilo de vida. da capacidade do planeta. Vale a
pena reavaliar algumas opções do
seu cotidiano. Algumas mudanças
e ajustes podem levá-lo a um
estilo de vida mais sustentável,
que traga menos impactos à
Natureza. Se você se juntar a
outras pessoas pode ser mais fácil.
De 45 à 66 Pontos Necessário três planetas para Se todos no planeta tivessem um
sustentar seu estilo de vida. estilo de vida como o seu, seriam
necessárias três Terras. Neste
ritmo planeta não vai aguentar!
Que tal fazer uma reavaliação dos
seus hábitos cotidianos hoje
mesmo? Dê uma olhada nas
sugestões de como diminuir sua

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pegada e mobilizar mais pessoas!


De 67 à 88 Pontos Necessário quatro planetas para Alerta total! Sua pegada está entre
sustentar o seu estilo de vida. os padrões mais insustentáveis do
mundo! É urgente reavaliar seu
jeito de viver. Seu padrão de
consumo e hábitos de vida estão
causando danos À vida na Terra e
ameaçando o futuro. Mas não
desanime, nunca é tarde para
começar a mudar. Veja as
sugestões de como diminuir a
pegada na próxima sessão! Junte-
se a outras pessoas!
Tabela 01 – Tabela de referência para o cálculo da Pegada Ecológica dos alunos investigados. Fonte: WWF,
2007

O questionário foi direcionado a 30 alunos das duas escolas escolhida: 15 alunos da turma
do 8º ano da escola Anatilde Paes Barreto e 15 alunos da turma do 8º ano da escola Chapeuzinho
Vermelho.
Após a aplicação do questionário, os dados coletados foram organizados e tratados através
de estatística descritiva em planilha Excel. Os dados foram discutidos à luz do referencial teórico.

RESULTADOS

Após a análise dos resultados foi possível verificar a relação entre o estilo de vida e o
cotidiano dos dois grupos de alunos investigados, e consequentemente calcular a pegada ecológica
dos dois grupos de alunos da escola: pública e privada.
Com relação às questões referentes ao tipo de alimentação consumida pelos alunos, quando
questionado a respeito dos alunos fazerem compras no supermercado, a maioria dos alunos (67%)
da escola pública – afirmaram que utilizam o preço como critério de escolha dos produtos que
consomem. Já com relação ao comportamento dos alunos da rede privada, também prevalece à
escolha do alimento pelo critério do preço, chegando a 53% dos entrevistados. Os resultados
encontrados por Borges (2016) em pesquisa realizada no município de Itapororoca, demonstraram
que tanto os alunos da escola pública como da rede privada, além de utilizarem o preço como
critério de escolha na compra de um produto, os mesmos também levam em consideração a
qualidade.
Verificou-se também, que apenas os alunos da rede privada (7%) responderam que –
compram tudo o que tem vontade. Isso demonstra que os alunos da rede privada apresentam maior
poder aquisitivo e um nível de consumo maior em relação aos alunos da escola pública, sem levar
em conta a degradação ambiental. O fato dos alunos da escola pública serem desprovidos de
melhores condições financeiras acaba limitando os mesmos a comprarem os produtos que desejam.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Na questão referente ao tipo de alimento consumido pelos alunos: pré-preparada, embalada


ou importada, na escola pública, 100% dos alunos tem sua alimentação dividida, sendo metade
direcionada para o uso de alimentos comprados prontos ou embalados, e metade para alimentos
orgânicos.
Já na escola privada esses resultados variaram, sendo 20% das respostas para o consumo de
produtos industrializados, e apenas 7% para o consumo de produtos orgânicos. Veras (2016)
encontrou resultados semelhantes ao avaliar a pegada ecológica dos alunos do Instituto Dom Pedro
I. A autora destaca que 24% dos alunos da escola privada afirmaram que consomem produtos
industrializados, e 8% consomem produtos orgânicos. O fato dos alunos da escola pública
consumirem mais alimentos orgânicos do que os alunos da escola privada pode ser explicado pelo
fato desses alunos morarem em área rural, onde muito dos alimentos que os mesmos consomem
provém da agricultura familiar.
No que se refere ao consumo de energia, foi observado que 53% dos alunos da escola
pública utilizam apenas lâmpadas frias. Os alunos não levam em consideração a eficiência
energética dos eletrodomésticos consumidos. No que se refere aos alunos da escola privada verifica-
se que 40% só utilizam lâmpadas frias e compram eletrodomésticos que consomem menos energia.
Ainda no que diz respeito ao consumo de energia, verifica-se que a maioria dos alunos
(67%) da escola pública, afirmaram deixar as luzes dos cômodos ligadas, quando sabem que ainda
voltarão.
Por outro lado, quando observado os resultados para a escola privada, verifica-se o
contrário. A maioria dos alunos (53%) afirmaram que sempre desligam as lâmpadas quando não
estão utilizando. Observa-se com esses resultados que os alunos da escola pública não estão
preocupados com o gasto de energia elétrica, que por sua vez, contribui diretamente para a
degradação dos recursos naturais.
Ainda com relação ao consumo de energia, 100% dos alunos da escola pública afirmaram
não ter aparelhos de ar condicionado. Por outro lado, 20% dos alunos da rede privada afirmaram
que utilizam o ar condicionado praticamente todos os dias.
No que se refere ao meio de transporte, 100% dos alunos da escola pública afirmaram que
nunca utilizam o avião como meio de transporte. Com relação aos alunos da rede privada, estes
afirmaram gastar em média 10h por ano andando de avião. Com relação a utilização do avião como
meio de transporte, Borges (2016) encontrou resultados semelhantes, onde 100% dos alunos da
escola pública ainda não tiveram a oportunidade de andar de avião, já para os resultados dos alunos
da escola privada foram diferentes, onde apenas 1 aluno afirmou andar 10h de avião.
Com relação à utilização de eletrodomésticos, na escola pública a maioria dos alunos (67%)
afirmaram só utilizar a geladeira no seu dia a dia. Já na rede privada, 40% utilizam geladeira e forno

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

micro-ondas. Com relação aos resultados dos alunos da escola pública, Borges (2016) encontrou
resultados semelhantes, onde 60% dos alunos da escola pública afirmaram só utilizar a geladeira.
No entanto, com relação aos resultados da escola privada, houve diferença, onde 15% dos alunos
utilizam a geladeira e a máquina de lavar (BORGES, 2016).
Nas questões referentes ao consumo de água, 33% dos alunos da escola pública levam mais
de 20 minutos para tomar banho, sendo que 40% dos alunos da rede privada levam entre 10 e 20
minutos para a mesma atividade. Sobre a questão de deixar a torneira aberta ou não quando se está
fazendo a higiene pessoal, 100% dos alunos, tanto da rede pública quanto da rede privada
afirmaram abrir a torneira apenas para molhar a escova e na hora de enxaguar a boca. Resultados
semelhantes também foram encontrados por Veras (2016). Isso demonstra uma certa consciência
ambiental com relação ao uso da água. Esse fator é de extrema importância uma vez que mostra que
a consciência para a preservação da água é importante para a sobrevivência de todos que habitam o
planeta Terra (VERAS, 2016).
Após a análise das questões referentes ao cálculo da pegada ecológica dos alunos da escola
pública e privada, verifica-se na figura 03 tomando como referência as faixas de sustentabilidades
da WWF, apresentados na tabela 01, é possível verificar que 53% dos alunos do Fundamental II da
escola pública se enquadram na faixa 2 (24 à 44 Pontos), o que demonstra que mesmo sendo alunos
de escola pública teoricamente com baixo poder de compra, estão incluídos na faixa de
sustentabilidade em que a pegada ecológica está um pouco acima da capacidade de suporte do
planeta, ou seja, faixa 02.

Escola Pública

47% FAIXA 1
53% FAIXA 2
FAIXA 3
FAIXA 4

Figura 03 – Pegada Ecológica dos alunos da Escola Pública

Já 47% dos alunos entrevistados, estão na faixa 3 (45 à 66 pontos), o que demonstra que os
mesmos também estão ultrapassando a capacidade que o planeta tem de absorver os resíduos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

gerados. De modo geral, é possível verificar que não houve tanta diferença nos resultados da pegada
ecológica entre os alunos da rede pública de ensino.
Analisando a figura 04, que mostra os resultados dos alunos entrevistados da escola privada,
é possível perceber que houve uma diferença na pegada ecológica dos alunos, onde grande parte dos
alunos (87%) se enquadram na faixa 3 (45 à 66 pontos). Isso demonstra o quão insustentável é o
estilo de vida desses alunos, uma vez que os mesmos apresentam uma pegada ecológica em um
grau bastante elevado em relação a capacidade de suporte do planeta. Apenas 13% se enquadram na
faixa 2 (21 à 44 pontos).

Escola Privada

13%
FAIXA 1
FAIXA 2

87% FAIXA 3
FAIXA 4

Figura 04 – Pegada Ecológica dos alunos da Escola Privada

De maneira geral, os dois grupos de alunos investigados na pesquisa mostram-se com um


estilo de vida insustentável, devido ao tamanho da pegada ecológica apresentada por cada grupo.
Dessa forma, fica nítido que os mesmos precisam urgentemente rever seus hábitos para que possam
adotar medidas que reduzam os impactos na natureza e contribuir para uma sociedade mais
sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O indicador de sustentabilidade ambiental ―Pegada Ecológica‖serviu para indicar quais as


atividades realizadas no cotidiano dos alunos estão gerando impactos e contribuindo com a
degradação ambiental.
A análise dos dados coletados permitiu concluir que os dois grupos de alunos investigados
superaram o limite de capacidade de suporte do planeta, contribuindo assim para a degradação do
ambiente. No entanto, o grupo de alunos da escola privada tiveram uma pegada ecológica maior
devido ao seu poder aquisitivo e consequente consumismo. Apesar dos alunos da escola pública
residirem em área rural no interior da Paraíba, os mesmos apresentam uma pegada ecológica

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

próxima dos níveis encontrados pelos alunos da escola privada. Isso reforça a necessidade de
atividades de Educação Ambiental que estimulem o consumo consciente e o uso dos recursos
naturais de forma racional e sustentável.

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<http://ideme.pb.gov.br/servicos/perfis-do-idhm/atlasidhm2013_perfil_jacarau_pb.pdf>. Acesso
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VERAS, E. B. Pegada Ecológica: um estudo de caso em duas escolas no município de Santa Cruz
do Capibaripe/PE. Monografia (Licenciatura a Ciências Biológicas a Distância). Universidade
Federal da Paraíba – UFPB. João Pessoa, 2016. 43 p.

WWF – Brasil. Pegada Ecológica: que marcas queremos deixar no planeta?: Texto: Mônica Pilz
Borba; Coordenação: Larissa Costa e Mariana Valente; Supervisão: Anderson Falcão – Brasília:
WWF-Brasil, 2007. 38 p.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1064


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA INCLUSÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM


SÍNDROME DE DOWNN

Bárbara Caroline de Freitas PANTALEÃO


Mestranda da Universidade Estadual de Campinas
barbara2212@gmail.com
Juliana GONÇALVES
Mestranda da Universidade Estadual de Campinas
julianamovel@gmail.com
Hadassa Leticia de OLIVEIRA
Graduanda da Universidade Estadual de Campinas
haddyoliveira@gmail.com
Lubienska Cristina Lucas Jaquiê RIBEIRO
Professora Doutora da Universidade Estadual de Campinas
lubi@ft.unicamp.br

RESUMO
O artigo utiliza a Educação Ambiental como ferramenta que auxilia o desenvolvimento social e
inclusão de criança com síndrome de down viabilizando a formação do cidadão independente,
empoderado e protagonista de sua história. Apresenta os conceitos e as práticas realizadas para
estimular a independência e o seu reconhecimento como indivíduo pertencente à sociedade, a
percepção de situações do seu dia a dia e a capacidade de identificar barreiras e conseguir superá-
las. Entendendo qual seu meio ambiente, este pode relacionar-se com tudo que o compõe, criando
assim um sentimento de pertencimento que fortalece a autonomia e a iniciativa pessoal,
fundamentais para o desenvolvimento global do indivíduo.
Palavras-chave: Educação, Educação Ambiental, Educação Inclusiva
ABSTRACT
The article uses Environmental Education as a tool that assists in the social development and
inclusion of children with Down Syndrome, enabling the formation of the independent and capable
citizen and protagonist of its history. It presents the concepts and practices developed to stimulate
independence and its recognition as an individual belonging to society, the perception of everyday
situations and the ability to identify barriers and overcome them. By understanding the
environment, it can relate to everything that makes it up, thus creating a sense of belonging that
strengthens autonomy and personal initiative, fundamental to the overall development of the
individual.
Key-word: Education, Environmental Education, Inclusive Education

INTRODUÇÃO

A síndrome de down, durante muito tempo, passou despercebida por muitos. A população
sem informações acabava a interpretando equivocadamente criando-se muitos mitos acerca desta

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1065


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

favorecendo a perpetuação do contexto de exclusão social oriunda da ignorância, inclusive dos


mais letrados.
Tendo conhecimento sobre as diferenças entre os seres humanos, sejam elas físicas ou
intelectuais, ainda permeia no meio social e conceitual a ideia de padrões os quais não sendo
atendidos geram certa estranheza e rejeição. O indivíduo que não está no padrão adequado para
determinada sociedade é tido como atípico e a partir desta concepção situações adversas podem ser
estabelecidas como o medo, a indisposição e o julgamento negativo. O indivíduo com deficiência
(PcD) é considerado uma pessoa atípica, sendo que algumas podem ser físicas e, portanto, visuais
ou intelectuais, sendo perceptíveis apenas no crivo relacional. (REIS, 2016).
O indivíduo portador da Síndrome de Down faz parte do grupo de pessoas atípicas com
características físicas, devido a má formação durante a gestação. A principal causa para o
nascimento de crianças com síndrome de down, advém de gestações após os 40 anos da
progenitora, que se desdobrarão em problemas de saúde para a criança desde o seu nascimento,
sejam cardíacos, nutricionais ou fonéticos. Alguns destes irão se prolongar por toda a vida desses
indivíduos requerendo atenção contínua. A questão de aprendizado vista pela ótica da pedagogia,
encontrará barreiras também, salvo suas proporcionalidades respeitando-se o grau de
comprometimento resultante da gestação. (BARBOSA, 2017).
No primeiro momento, receber a notícia sobre um filho portador desta de Síndrome de
Down gera sentimentos de culpa, frustração, angústia, e insegurança. Por se sentir despreparada e
amedrontada com a nova fase desconhecida e com o aceite dos indivíduos que a rodeiam, esses
sentimentos se atenuam e os sintomas do luto aparecem. Ao passar dos dias a busca por respostas se
desdobram em lágrimas e pesquisas, na busca pela compreensão e pelo desejo de ser o melhor por
aquele pequeno ser humano que se chama de filho. O aceite dos que rodeiam a família com filho
Síndrome de Down é fundamental neste processo inicial que, principalmente, a mãe passa e que
influenciará a criança pois, esta recebe diretamente os sentimentos experimentados pela mãe.
(FUENTES - ROJAS, 2001)
Nesta fase inicial, a ideia de inclusão começa a aparecer ainda timidamente, sendo
perceptível pela busca de referências de sucesso de indivíduos em situações semelhantes. Nascem
então, os primeiros frutos da proteção exacerbada fundamentada coerentemente na experiência
vivida pela progenitora e sua família atrelada a toda gama de informação adquirida nas pesquisas
por semelhanças, que será companheira fiel durante toda a vida deste ciclo familiar.
Apesar dessa superproteção dos pais de deficientes acontecer ao longo de toda a trajetória
familiar, percebe-se o incentivo à autonomia quando notam que seus filhos são capazes de realizar
várias tarefas cotidianas, ao passo que passam a incentivá-los cada vez mais a se tornarem
independentes mesmo que mantendo sempre uma supervisão (FUENTES - ROJAS, 2001). A

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

percepção da capacidade de autonomia em crianças Síndrome de Down é notada quando está


inserida em grupos desenvolvendo atividades que estejam alinhadas à sua realidade, sendo
fundamental o conhecimento e o reconhecimento de seu meio ambiente.
Nota-se atualmente um aumento no conhecimento sobre quem são e como são os portadores
de deficiência intelectual através da disseminação de informações, compreendendo hoje que estas
pessoas podem se desenvolver globalmente e ser ativas em suas comunidades. Não se esforça mais
em analisar suas limitações e sim suas potencialidades, através da necessidade de inclusão e
incorporação completa e relacional com o meio ambiente próprio.
De acordo com a lei nº13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015), que institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), artigo 1º,
―esta lei é destinada a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e
das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e
cidadania”. Considera-se que pessoas com deficiência são:

―...aquelas que têm impedimento de longo prazo de natureza física, metal,


intelectual ou sensorial, o qual, em interação com diversas barreiras, pode obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas‖.

O portador de deficiência tem que se sentir livre e a vontade no meio em que está inserido,
tem que entender o funcionamento da sociedade, das regras, das leis, condições de vida, interesses
da humanidade, para poder se desenvolver. Todas essas características irão auxiliar no estilo de vida
que eles irão seguir, os ajudará a se sentir mais independentes, mais confiantes de escolher por si
mesmo. Esse sentimento de pertencimento, ainda falta nos dias atuais, para que ocorra o
desenvolvimento e a inclusão dos dois lados tanto dos portadores da deficiência quanto dos não
portadores (MOURÃO, 2010).
A inclusão só traz melhorias para todos, modificando nossos valores, nosso modo de ver a
vida, de entender o outro, passando a entender ações do cotidiano por um viés descentralizado e se
adaptando às demandas encontradas sem prejuízo nas relações (MAZZOTTA e D‘ANTINO, 2011).

EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação é um direito fundamental à todos. Crescemos ouvindo esta frase da sociedade, e


de nossos pais que nosso principal tesouro é o conhecimento, e ainda assim, hoje vemos a privação
desse direito (RODRIGUES, 2006).
É de responsabilidade da escola ensinar o ato de socializar, passar conhecimento e abordar
sobre a cultura do meio em que estamos inseridos. Essa absorção de informações não acontece de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

um dia para o outro, por isso o trabalho da educação é contínuo e repetitivo e é preciso trazer este
lado crítico e reflexivo. (COAN e ZAKRZEVSKI, 2003)
De acordo com a lei nº12.796, de 4 de Abril de 2013, que altera a lei nº 9.394, de 20 de
Dezembro de 1996, estabelecem-se as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a
formação dos profissionais da educação (BRASIL, 2013) e determinar em seu artigo 4, incisos I e
III:

I – Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de


idade, organizada da seguinte forma:
a) Pré-escola;
b) Ensino fundamental;
c) Ensino médio.
III – Atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino.

A Educação possibilita o ganho de conhecimento efetivo, apresenta novas situações


relevantes para seus participantes, que incentiva a participação desses cidadãos no meio em que
vivem, fazendo com que eles pensem no futuro e tragam benefícios para os mesmos com as
informações conhecidas. Faz com que eles coloquem em prática tudo aquilo que foi absorvido
anteriormente, propiciando uma noção maior do meio envolvendo o lado intelectual e o sentimental
(BONFIM et al, 2015).
Cada ano a Educação tem se reinventado, fazendo com que as pessoas participem mais dos
temas abordados, ela busca abordar de forma mais leve assuntos complexos para o fácil
entendimento de qualquer indivíduo (BONFIM et al, 2015). A Educação tem a função de
desenvolver no indivíduo um conjunto de habilidades e sentimento de pertencimento do meio em
que vive, além de reproduzir as condições da vida em sociedade.
De acordo com a Constituição Federal, artigo 205 define a Educação:

―...direito de todos, certifica o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o


exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Artigo 206, § I determina a igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola.
Artigo 208, § III estipula atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

Quando se fala de Educação não se pode deixar de falar nas duas frentes da Educação, a
Educação Inclusiva (EI) e a Educação Ambiental (EA), que são de extrema importância para a
sociedade. A EA e a EI são vitais no processo de aprendizado dos cidadãos, ela oportuniza uma
evolução mental dessas pessoas, que passam a pensar mais em suas ações e refletir mais na vida em
interação e nas circunstâncias que podemos passar a viver. O que as duas têm em comum é a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vontade de modificar o modo como as pessoas vivem e pensam trazer uma reflexão mais
aprofundada sobre a sua influência ao próximo e ao meio em que vive (REIS, 2016).
A inclusão social é um conjunto de ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida
em sociedade, provocada pelas diferenças, como a deficiência. A deficiência classifica as condições
referentes a domínio de saúde (ver, ouvir, andar, aprender e lembrar). Segundo o IBGE, em 2010 o
Brasil possuía 46 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 24% da população. Portanto
de acordo com Camargo (2017):

―Inclusão é uma prática social que se aplica no trabalho, na arquitetura, no lazer na


educação, na cultura, mas principalmente na atitude e no perceber das coisas, de si
e de outrem.‖

De acordo com Reis (2016), a Educação Ambiental e a Educação Inclusiva promovem


transformações no ponto de vista, no modo como vivem em sociedade, nos conceitos aprendidos,
através das diferenças existentes, acolhendo assim a PcD. As duas trabalhando em conjunto só
trazem benefícios, são um complemento eficaz a educação e ajudam no melhor entendimento destas
pessoas na sociedade, trazendo tanto pessoas típicas quanto atípicas, para conviver em conjunto,
fazendo o contato com o meio ambiente e sociedade melhorarem. As duas colaboram para que
pessoas PcD se sintam apropriadas para ir atrás dos seus ideais, que elas tenham conhecimento do
que é seu por direito e batalhe para ter.
É fundamental, ao trabalhar com a educação inclusiva, entender as diferenças, a
personalidade e a disparidade existentes nos alunos, para compreender qual será o melhor caminho
a seguir e assim obter êxito no trabalho, pois desse modo entendemos melhor a especificidade de
cada um, sem prejudicá-lo. (CAMARGO, 2017)
Entende-se por Educação Ambiental uma ferramenta que auxilia no melhor entendimento
das pessoas sobre o meio ambiente, sobre o pensamento de novas atitudes para auxiliar a harmonia
do lugar em que vive e a maturidade para questionar e achar soluções para os problemas
ocasionados ao decorrer do tempo, acordar para a indispensável transformação (REIS, 2016)
A Educação Ambiental (EA), tem o intuito de trazer uma melhora de qualidade de vida para
as pessoas, uma interação mais harmoniosa, sem exclusões, promovendo o desenvolvimento e
crescimento de todos. De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999)

―Educação Ambiental é um processo por meio dos quais o individuo e a


coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidade, atitudes
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.‖

A EA tem um papel fundamental na formação do cidadão, ela traz benefícios para sua vida,
como a capacidade de fazê-lo refletir sobre o meio em que vive, que ele é a pessoa responsável por
fazer acontecer, é através dele que se encontra as respostas, a EA transforma ideais e ações, isso só

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

torna o homem mais perceptível a importância de se conviver em grupo e com as diferenças e o


quão enriquecedor são estes momentos (ARAUJO e LIMA, 2012).
Ela tem o papel de dar capacidade para quem tem seu envolvimento ativo, fazer as pessoas
refletirem sobre o verdadeiro sentido de viver em harmonia, de trazer mudanças significativas e
alterar o estilo de vida para melhor, pois quando a pessoa compreende o todo através da EA, ela
consequentemente já está iniciando sua mudança de hábitos. Diretamente ligada aos direitos e
deveres do cidadão e da compreensão de que nossas atitudes têm consequências e que se não
agirmos de maneira que não prejudique o meio em que vivemos, nós mesmos seremos prejudicados
(REIS, 2016).
Muda constantemente a visão e o modo de se relacionar do homem, com ele mesmo, com os
outros e com a natureza. Faz com que ele compreenda a força de suas ações e a influência delas,
auxilia na construção de novos valores e na consciência de que é necessário a mudança de costumes
(BONFIM et al, 2015). A EA relacionada com a inclusão social tem uma grande importância na
construção da consciência de todos, permite a apreciação da dignidade humana e da cidadania,
mostrando a possibilidade das pessoas portadoras de deficiência mental se relacionarem de forma
saudável com outras pessoas, de criarem independência.
Em busca de uma sociedade mais inclusiva, a inclusão de deficientes em atividades de EA,
só acarreta em bons resultados, contribui na formação do indivíduo e na socialização. Para
complementar esse pensamento Maciel (MACIEL et al 2015) diz:

―O contato com as áreas naturais contribui para a formação de um indivíduo


com valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes voltadas para a
conservação e uso sustentável do ambiente e de uma visão holística sobre
espaços que compõe a cidade.‖

Mas a escola ainda não está conseguindo realizar a Educação, a Educação Inclusiva e a
Educação Ambiental de forma integrada. Esta pesquisa apresenta como essas três Educações
efetivamente integradas, e ainda realizadas em parceria com as famílias podem ser realmente
inovadoras e modificadoras nas vidas de crianças com síndrome de down.

A INTEGRAÇÃO DAS EDUCAÇÕES

Interpretando cada uma dessas Educações é possível verificar que atividades desenvolvidas
que as integrem têm grande probabilidade de sucesso. A faixa etária trabalhada foi de crianças entre
sete e oito anos, superprotegidas pelos pais, dependentes para realizar atividades rotineiras, que não
falam, não obedecem às regras e com coordenação motora comprometida. Os temas foram baseados
em assuntos escolares como corpo humano, água e meio ambiente e os assuntos trabalhados dentro
desses temas foram abordados de forma lúdica. A higiene pessoal, a prática de esportes, a nutrição,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a identificação das cores, a natureza, a água, a família, os animais, os meios de transportes, foram
alguns dos temas trabalhados.
Em cada encontro, de acordo com o tema, era explorado a Educação, a Educação Inclusiva e
Educação Ambiental. Como exemplo tem-se o tema do Meio Ambiente com o enfoque para a
natureza, o qual foi realizado uma caminhada pelas áreas verdes da Universidade de Tecnologia da
Unicamp que sedia as ações. Durante a caminhada pôde-se trabalhar os tipos de folhas, seus
tamanhos, suas texturas e suas cores. Repetindo em voz alta várias vezes as palavras folhas, por
favor e obrigada a fim de trabalhar o respeito entre as pessoas do grupo e o respeito para com a
natureza, além da atividade estar auxiliando no desenvolvimento da coordenação motora através de
movimentos dos pequenos e grandes membros.
A criança com síndrome de down, nos primeiros encontros não se comunicava verbalmente,
não realizava ações cotidianas sozinha, e com pouca concentração, queria sempre chamar a atenção.
Pode-se observar a importância de no grupo ter pessoas diferentes pois, esta precisa de referências
que se dão por afinidade notada pela tentativa de copiar os monitores do grupo.
Neste processo de cópia percebeu-se a fala como desdobramento, portanto, ao copiar e
reproduzir os sons aprendia a se comunicar de forma verbal. A cópia acontecia no comportamento,
permitindo que incorporasse regras para conviver naquela sociedade, sentindo-se parte dela.
A rotina nas atividades mostrou ser algo importante. Através de imagens o tema era
explicado e depois verbalizado referenciando o visual. O processo deu-se por unificar o verbal ao
visual, de modo que inicialmente não havia verbalização por parte da criança, apenas gestos e sons
que não formavam palavras; posteriormente a fala foi incorporada com palavras soltas e ainda mal
formuladas; ao passo que ao final do trabalho começava-se a observar a tentativa de compor frases
mais elaboradas. Alguns relatos dos monitores com relação às atividades revelam isso:
Recorte do relato de um monitor na primeira aula: ―...Ela se cansou rápido das atividades e
por conta disso, fizemos diversas abordagens diferentes, ela se dispersava com muita facilidade. No
momento em que fomos procurar folhas, a cada folha encontrada todos juntos falavam ―folha‖.
Falávamos repetidamente para que ela falasse a palavra junto, mas ela ficou a aula inteira sem falar
nada e apenas no final ela falou bem baixo a palavra ―folha‖, nada além disto...‖
Recorte do relato de um monitor na terceira aula: ―...ela já está ficando mais tempo
concentrada...após realizada as atividades propostas, ela falou o nome de todos os animais...‖
Recorte do relato de um monitor na quarta aula: ―...apresentamos as partes do corpo pra ela e
no começo ela não repetia as palavras ou não falava, mas com o tempo foi se soltando e no final já
estava falando tudo e identificando todas as partes do corpo...Fizemos as simulações e ela soube
colocar a meia e o tênis certinho, sozinha, no tempo dela, mas sozinha... E quando fizemos a
dinâmica com a bola, jogando a bola e falando uma parte do corpo humano, ela falava sempre, foi

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

muito produtivo, conseguimos perceber a evolução da criança, na primeira aula ela não falava nada,
dessa vez ela já estava muito falante....‖
Recorte do relato de um monitor na décima primeira aula: ―O tema foi meios de transportes,
sempre começamos a aula mostrando imagens do tema... a criança nos surpreendeu, ela pegou todas
as imagens da minha mão, sentou em um puff igual aos monitores, e começou a explicar os meios
de transportes, ela mostrava a imagem, falava o nome e contava um pouco sobre isso, os monitores
deixaram ela livre para falar sobre eles, foi muito interessante...‖
A educação ambiental e a inclusiva usadas como ferramenta, trazem um modo diferenciado
de abordar os temas, através de atividades lúdicas que ficam mais fáceis de serem compreendidos e
trabalhados, além de proporcionarem o desenvolvimento da independência, da comunicação e do
entendimento. Traz a compreensão do ―ser diferente‖, da riqueza que é conviver com pessoas
opostas a nós, e que pessoas ―atípicas‖ têm tanta capacidade quanto nós para contribuir com o meio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa pesquisa fica evidente que atividades que integrem a Educação, a Educação Inclusiva
e a Educação Ambiental auxiliam no desenvolvimento do indivíduo em vários aspectos:
criatividade, percepção de problemas, criação de valores e atitudes que transformam o modo de ver
e viver o mundo, socialização, autonomia e valorização. Apresentam um outro lado de algo que não
fora descoberto pelo viés da singularidade, mas que quando desdobrado para o outro relacionado ao
meio ambiente a que está inserido, nos fazem ser seres humanos mais completos e prestativos.
A discussão sobre a Educação Ambiental como ferramenta para a inclusão social de crianças
com Síndrome de Down não se esgota neste artigo, que apresentou brevemente o desenvolvimento
e os resultados observados em uma pesquisa aplicada e documental desenvolvida, mas instiga ao
pensamento e a discussão de novas abordagens ambientais que fomentem o desenvolvimento global
e a inclusão social fazendo uso conjunto a educação, educação ambiental e educação inclusiva.

REFERENCIAS

ARAÚJO, A. L.; LIMA, A. M. de S. Sugestões didáticas do Ensino de Sociologia. Londrina, 2012.

BARBOSA, J. A., et al. Alfabetização de adultos com Síndrome de Down na cidade de Aral
Moreira – MS. Revista Magsul de educação da fronteira, Faculdades Magsul, Aral Moreira, v. 2,
n. 1, 2017.

BRASIL. Lei n.9795, de 27 de Abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Politica Nacional de Educação Ambiental e dá outras providencias. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm. Acesso em: 04/05/2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1072


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

BRASIL. Lei n. 12.976, de 4 de abril de 2013. Altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos
profissionais da educação e dar outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm. Acesso em:
04/05/2017.

BRASIL. Lei n.13146, de 6 de Julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em:
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BONFIM, D. A., et al. A educação ambiental como uma ferramenta na construção da cidadania.
Integrart, Vitoria da Conquista, v.1, n.1, 2015.

CAMARGO, E. P. Inclusão social, educação inclusiva, e educação especial: enlaces e desenlaces.


Ciência e educação, Bauru, v. 23, n.1, 2017.

COAN, C. M.; ZAKRZEVSKI, S. B. A educação ambiental na escola – Abordagens Conceituais.


Edifapes, Erechim, 2003

FUENTES - ROJAS, M. O significado de conviver e crescer junto a uma pessoa portadora de


deficiência mental na idade adulta. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas –
UNICAMP, 2001.

MACIEL, J. L., et al. Metodologias de uma Educação Ambiental Inclusiva. Revista EGP, Escola de
Gestão Pública. Secretaria Municipal de Administração de Porto Alegre, Porto Alegre, 2015.

MAZZOTTA, M. J. S.; D‘ANTINO, M. E. F. Inclusão Social de Pessoas com Deficiências e


Necessidades especiais: cultura, educação e lazer. Saúde Soc., São Paulo, v.20, n.2, 2011.

MOURAO, L. Pertencimento. Universidade de Brasilia - UnB, Brasília, 2010.

REIS, A. de A. Educação ambiental e educação inclusiva: possíveis conexões. Dissertação de


mestrado, Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão, 2016.

RODRIGUES, D. Inclusão e educação: Doze olhares sobre a educação inclusiva. Summus, São
Paulo, 2006.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1073


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PERCEPÇÃO AMBIENTAL: UM DIAGNÓSTICO DAS CONCEPÇÕES PRÉVIAS DOS


ALUNOS ACERCA DO ECOSSISTEMA MANGUEZAL

Aldeci dos SANTOS


Mestre em Ensino de Ciências e Matemática PPGECIMA/UFS
aldeci26@hotmail.com
Carlos Alberto VASCONCELOS
Doutor em Geografia. Prof. .do Depto de Educação do Campus prof. Alberto Carvalho/UFS
geopedagogia@yahoo.com.br

RESUMO
Para que haja mudanças as no comportamento da sociedade em relação ao meio natural, faz-se
necessário buscar alternativas, objetivando fazer um resgate das relações de afetividade do homem
com a natureza, pois relações de pertencimento são importantes para que o ser humano sinta-se
como parte integrante dela. Nesse sentido, o estudo da percepção ambiental é de suma importância
para que sejam compreendidas as inter-relações do homem e o meio ambiente. Logo o presente
artigo traz um recorte da dissertação intitulada ―Percepção ambiental de alunos do ensino
fundamental sobre o ecossistema manguezal‖, com o objetivo de contribuir para a conservação dos
manguezais. Nesse recorte, foi apresentado um diagnóstico sobre a percepção ambiental de alunos
com referencia aos manguezais através de questionário aplicado na turma do 6º ano, composta por
30 estudantes do Ensino Fundamental no município de Barra dos Coqueiros/SE. A utilização do
questionário apresentou importantes contribuições, no sentido de avaliar as percepções prévias dos
alunos, onde se constatou que os discentes já apresentavam um conhecimento e preocupação
ambiental quanto ao ecossistema, porém, é essencial realizar processos de sensibilização quanto aos
aspectos atitudinais, sempre considerando o contexto discente.
Palavras-chave: Percepção ambiental. Diagnóstico. Manguezal.

ABSTRACT
So that there is changes in the behavior of society in relation to the natural environment, it is
necessary to seek alternatives, aiming to make a ransom of the relations of affectivity of man with
nature, because relations of belonging are important for the human being to feel as an integral part
of her. In this sense, the study of environmental perception is of paramount importance for them to
be understood the interrelations of man and the environment. Thus the present paper brings a
cutting of the dissertation entitled "Environmental perception of elementary school students about
the mangrove ecosystem", with the objective of contributing to the conservation of mangroves. In
this cutting, introduced a diagnosis was made on the environmental perception of students with
reference to the mangroves by means of a questionnaire applied in the 6th grade class, composed of
30 students of the Elementary School in municipality of Barra dos Coqueiros / SE . The use of the
questionnaire presented important contributions, in order to evaluate the students' previous
perceptions, where it was found that the students already had an environmental knowledge and
concern about the ecosystem, however, it is essential to carry out sensitization processes regarding
the attitudinal aspects, always considering The student context.
Keywords: Environmental perception. Diagnosis. Mangrove

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

De acordo com Silva (2002), a percepção ambiental envolve o desenvolvimento da cognição


ambiental, retratando a forma como o ser humano vê o meio ambiente e como compreende as leis
que o regem, como resultado de conhecimentos, experiências, crenças, emoções, culturas e ações.
Ela representa um ambiente ideal para desenvolver o conhecimento, valores, atitudes e atributos
favoráveis ao meio, tendo a educação ambiental como uma ferramenta importante para interagir
neste processo (DIAS, 2010). Assim sendo, Frattolillo et al. (2004) afirma que a percepção
ambiental é o instrumento de ação e a escola, o agente básico e legítimo nesse processo de
construção do elo entre o aluno e seu ambiente de vida.
Segundo Tuan (1980), por mais diversas que sejam as nossas percepções do meio ambiente,
duas pessoas não veem a mesma realidade. As respostas, ou manifestações, são resultados das
percepções, julgamentos e expectativas de cada um.
Para que possamos aprender a cuidar e proteger o ambiente no qual estamos inseridos, é
necessário conhecê-lo antes de tudo. As percepções revelam a maneira pela qual se vive e se planeja
o espaço, tornando-se uma resposta das diferentes interações entre ser humano e meio ambiente.
Notamos arbustos, árvores e gramas, mas raramente as folhas individuais e as lâminas; vemos areia,
mas não os seus grãos individuais (TUAN, 1980).
Conforme FAGGIONATO (2002) diversas são as formas de se estudar a percepção
ambiental: questionários, mapas mentais ou contorno, representação fotográfica, assim como
trabalhos em percepção ambiental que buscam não apenas o entendimento do que o indivíduo
percebe, mas que busque promover a sensibilização, bem como o desenvolvimento da percepção e
compreensão do ambiente.
Deste modo, entre os inúmeros ambientes perceptíveis, o ecossistema manguezal se destaca,
sendo um ambiente localizado nos litorais tropicais e subtropicais, desenvolvendo-se na zona entre
marés, geralmente na desembocadura de rios, onde predominam espécies vegetais típicas, às quais
se associam outros componentes vegetais e animais, se caracterizando pelas altas taxas de
produtividade primária (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2004).
As funções e serviços prestados pelos manguezais são numerosos, destacando-se que se
constituem na base da cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou ecológica,
servem de área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas,
estuarinas e terrestres, além de pouso de aves migratórias, protegem a linha de costa contra erosão,
previnem as inundações e protegem contra tempestades; mantêm a biodiversidade da região costeira
e são fontes de proteína e produtos diversos para a população que vive em áreas vizinhas aos
manguezais, além de outros papéis ecológicos (COELHO JR & NOVELLI, 2000).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Contudo, o ecossistema aludido vem sofrendo processos de destruição nos mais diferentes
níveis por meio da ação antrópica como aterros, poluição dos rios, depósitos de lixo, além da
exploração ilegal da fauna e flora. No litoral sergipano, a situação não é diferente, pois os
ecossistemas costeiros encontram-se fortemente antropizados. Fato observado nas áreas de
manguezais situadas neste município litorâneo de Barra dos Coqueiros, onde o equilíbrio do
ambiente vem sendo rompido com a especulação imobiliária e construções destinadas a uma
população de poder aquisitivo médio e alto.
Além disso, é possível observar que boa parte dos mangues daquela área vem sofrendo
processos de destruição em vários níveis através da ação humana, não só em função da exploração
predatória de sua fauna e flora, como também pela poluição de suas águas, aterros, depósitos de
lixo, dentre outros.
Com esta compreensão, este texto traz um recorte da dissertação ―Percepção ambiental de
alunos do ensino fundamental sobre o ecossistema manguezal‖ que teve como objetivo principal
contribuir para a preservação ambiental dos manguezais através da percepção ambiental dos alunos
do 6º ano de uma escola pública no município de Barra dos Coqueiros em Sergipe.
Sabe-se que o estudo da percepção ambiental é de suma importância para que se possa
compreender as inter-relações do homem e o meio ambiente, além de fazer com que os indivíduos
percebam o ambiente em que vivem podendo desta forma, ajudar no desenvolvimento de
metodologias para despertar nas pessoas a tomada de consciência frente aos problemas ambientais.
Diante do exposto, a descrição dos conhecimentos e sentimentos dos alunos em relação ao
ecossistema é de suma importância, pois pode representar uma ferramenta estratégica para
monitorar e fomentar mudanças de atitudes, considerando o pressuposto de que a sensibilização, por
meio do conhecimento dos manguezais, é condição básica para o envolvimento efetivo desses
discentes na formação de uma consciência na busca da preservação e conservação. Assim, o
presente artigo traça um diagnóstico sobre a percepção prévia dos alunos sobre o ecossistema
manguezal.

1. PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

O presente trabalho foi realizado no Colégio Estadual Dr. Carlos Firpo, local escolhido por
estar próximo de área remanescente de manguezais. Para a análise da percepção prévia dos alunos,
foi aplicado questionário de cunho qualitativo, com perguntas semiestruturadas, objetivando
verificar a percepção dos alunos quanto ao ecossistema manguezal. De acordo com Minayo (1994)
―A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares‖. Ela se preocupa com um nível de
realidade que não pode ser quantificado. É o ―Fenômeno de aproximações sucessivas da realidade,
fazendo uma combinação particular entre teoria e dados‖. (MINAYO, 1993).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Optou-se por questionário, segundo Gil (2008) por constituir o meio mais rápido e barato de
obtenção de informações, além de não exigir treinamento de pessoal e garantir o anonimato. Este
instrumento possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas numa área
geográfica extensa e, pode ser enviado por e-mail e outros meios tecnológicos.
Desta feita, foi aplicando em uma turma de 30 alunos do 6º ano B no período matutino do
colégio supracitado e constaram de perguntas concernentes à caracterização do ambiente, sua
biodiversidade, sua importância, bem como questões relacionadas à problemática ambiental, além
de sugestões apresentadas pelos discentes para solucionar tais problemas.
Foi um estudo de caso, que segundo Gil (2008, p. 76-77) é caracterizado pelo estudo
profundo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado,
tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentos considerados. Partindo
deste ponto de vista, Stoecker (1991, apud YIN 2001, p. 33), ressalta que o estudo de caso não é
nem uma tática para coleta de dados nem meramente uma característica do planejamento em si, mas
uma estratégia de pesquisa abrangente.

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES

2.1 Caracterização dos Sujeitos

A maioria dos discentes encontrava-se na faixa etária de 11 anos, o que evidencia que estes
apresentam idade compatível com a série em que estavam cursando. Quanto ao sexo, constatou-se
que 54% do alunado é do sexo masculino e 46% do sexo feminino.
Quanto à profissão exercida pelos pais dos alunos, verificou-se que 34% destes apresentam
profissões diversificadas, nas quais foram inseridas na categoria item ―outros‖, com maior
porcentagem de identificação, porém, vale observar que 26% dos pais desempenham a profissão de
pescador no município, como fonte de renda e alimentação para a família.

2.2 Avaliação sobre a percepção prévia dos alunos a partir do questionário

Como dito anteriormente, o presente artigo traz um recorte da dissertação ―Percepção


ambiental de alunos do ensino fundamental sobre o ecossistema manguezal‖, cuja primeira etapa
realizou-se um diagnóstico quanto à percepção prévia dos alunos. Essa fase iniciou-se com a
aplicação de questionário com perguntas abertas e fechadas sobre a temática, para os alunos do 6º
ano B do Ensino Fundamental durante as aulas de Ciências no Colégio Estadual Dr. Carlos Firpo,
cujo objetivo foi verificar os conhecimentos prévios dos discentes acerca do ecossistema
manguezal.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1077


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Como complementação da primeira etapa, os alunos foram orientados a representar o


manguezal através de desenhos (mapas mentais), no intuito de avaliar o nível de percepção
ambiental, relacionado ao ecossistema manguezal.
Os mapas mentais elaborados pelos alunos foram analisados a partir do método de análise
criado pela professora Kozel (2001). A metodologia da referida professora tem como parâmetros
para análise dos mapas mentais, a interpretação destes quanto aos elementos da paisagem natural
(Figura.1); elementos da paisagem construída (Figura.2); elementos móveis (Figura.3); elementos
humanos (Figura.4), além dos elementos especiais (Figura.5). Contudo o referido artigo deu ênfase
ao diagnóstico da percepção ambiental prévia dos sujeitos objetos da pesquisa.

Figura 1 – Elementos da paisagem natural Figura 2 - Elementos da paisagem construída

Figura 3 - Elementos móveis Figura 4 - Elementos humanos

Figura 5 - Elementos especiais

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1078


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quando questionados sobre o conceito de manguezal, 44% dos alunos relacionaram o


ecossistema à fauna existente. Tais informações podem ser verificadas nas seguintes respostas: ―É
um lugar onde existem bastante animais‖, ―manguezal é onde ficam caranguejos e pássaros‖.
Perante o exposto, percebe-se a ligação existente entre a classe estudantil analisada e as respostas
apresentadas, configurando-se numa relação biofílica. Conforme cita Wilson (1984), biofilia é o elo
afetivo entre seres humanos e as demais formas de vida no planeta.
Já 22% relacionaram a definição do ecossistema à poluição e preservação, onde foi possível
perceber que nas respostas, os alunos atentam para o fato de não desmatar o manguezal, por ser
importante para os animais, para o homem e para natureza. Porém, é necessária uma abordagem
mais aprofundada, enriquecendo as atividades através de aulas extraclasse sobre o ecossistema
mencionado, além da inserção deste conteúdo nas aulas de Ciências.
Conforme Vygotsky (1997) existem conceitos espontâneos, adquiridos através da
experiência pessoal, e os não espontâneos, que são adquiridos formalmente pela criança no
aprendizado em sala de aula. Ainda, de acordo com o autor, quando um conceito sistemático é
transmitido à criança, variadas coisas são ensinadas, sem que ela possa ver nem vivenciar,
entretanto, há necessidade dessa transmissão, pois a criança, com o passar do tempo, modula o
conceito sistemático, passando este, então a fazer parte de sua vida como conceito espontâneo.
Na questão seguinte, quando indagados se já haviam entrado no manguezal e com qual
finalidade, 58% deles responderam ter adentrado, enquanto que 42% responderam que adentraram
no manguezal para pescar. Observa-se que os 42 % dos alunos refletem suas vivências relacionadas
à pesca, pelo fato da maioria dos pais apresentar o ofício de pescadores, e são auxiliados pelos
filhos.
Indagou-se também aos alunos sobre a classe de animais que vive no mangue, e cada um
respondeu conforme sua vivência, onde 77% citou os crustáceos (Figura. 6), dentre estes, o mais
citado foi o caranguejo, talvez pelo fato deste ser característico do ambiente, assim como fonte de
alimento e renda.
Segundo Alves (2008) a fauna do manguezal é composta por espécies residentes e visitantes.
Apesar da baixa diversidade, é grande a quantidade de animais, destacando-se dentre eles os
crustáceos e os moluscos. Ainda Torres et al. (2009) diz que tais resultados afirmam que a maior
representatividade deste grupo pode ser proveniente da maior visibilidade, uso utilitário e
importância cultural.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Série1; Não
sabe; 1%

Série1;
Pássaros; 2%

Série1; Outros;
5%
Animais

Série1; Peixes;
7%

Série1;
Moluscos; 8%

Série1;
Porcentagem Crustáceos; 77%

Figura 6 - Animais que vivem no manguezal.

Quanto à flora, embora a maioria dos alunos resida em regiões do município que apresentam
áreas de manguezais, 51% alegaram não ter conhecimento sobre as plantas que habitam o
ecossistema. Dos alunos que afirmaram conhecer as plantas existentes no manguezal, 29%
responderam que o mangue é a vegetação predominante. É interessante destacar que alguns alunos
conhecem o nome popular de algumas dessas espécies: ―mangue manso‖ (Laguncularia racemosa)
e ―mangue gaiteiro‖ (Rhizophora mangle) enquanto outra parcela de alunos mencionou, como
sendo plantas do manguezal: ―comigo-ninguém-pode‖ e ―cajueiro‖, talvez devido à proximidade
destas espécies no ecossistema e por pertencerem à zona de transição.
Em se tratado da flora característica do manguezal, Teixeira (2008) destaca três tipos de
vegetação: Rhizophora mangle ou mangue-vermelho (característica de solos lodosos, com raízes
aéreas), Laguncularia racemosa ou mangue-branco (encontrado em terrenos mais altos, de solo
mais firme, associado a formações arenosas) e Avicennia schaueriana ou mangue-preto assim como
a Laguncularia possui raízes radiais só que com pneumatóforos (estruturas que auxiliam na troca
gasosa).
Quando investigados sobre a importância do manguezal 41% responderam que a
importância se deve pelo fato de que parcela da população utiliza para seu sustento (Figura 7).
Destaca-se, dentre as respostas dos alunos, a importância da diversidade biológica, não apenas para
a vida do ser humano, mas também para a existência de outras espécies de seres vivos, conforme se
observa no gráfico.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Série1;
Sustento; 41%
Série1;
Sobrevivencia
de animais;

Porcentagem
23% Série1; Série1;
Outros; 18% Alimentação;
15%

Série1; Não
sabe; 3%
Por que

Figura 7- Importância do manguezal.

Assim sendo, Dias (2006) corrobora com as referidas respostas, quando ressalta a grande
importância do manguezal para muitas pessoas que vivem ao longo de áreas costeiras tropicais,
onde centenas de comunidades litorâneas no Brasil e no mundo tiram sua subsistência, seja através
da pesca, da exploração de madeira ou do turismo. Além disso, o referido autor chama a atenção
quanto à importância do ecossistema na manutenção do equilíbrio natural do ambiente, ao
mencionar a produção de alimento, habitat e proteção para fauna local e visitante; local de postura e
criadouro para muitas espécies marinhas e proteção contra a erosão dos solos circundantes pelas
marés e ressacas do mar entre outras.
Quanto aos problemas existentes no manguezal, 54% dos alunos afirmaram que o lixo é um
dos principais problemas ambientais e 23% mencionaram lançamento de esgoto no ecossistema, os
demais alunos mencionaram outros problemas, a exemplo do desmatamento, conforme a figura 8.

Série1; Abrigo de Série1;


Série1; Especulação
Série1; ; 0; 0% ladrões; 1; 3% Caranguejo;
imobiliaria; 2; 5% 1; 2%
Série1;
Desmatamento; 5;
13% Lixo

Lançamento de esgoto
Série1; ; 0; 0%

Desmatamento
Série1; Lixo; 21; 54%

Especulação imobiliaria

Série1; Lançamento Caranguejo


de esgoto; 9; 23%
Abrigo de ladrões

Figura 8 - Problemas existentes no manguezal.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Percebe-se que, diante das respostas atribuídas, o conhecimento e entendimento dos alunos,
quanto à gradativa poluição que ocorre no manguezal local, é devido à deposição de lixo e ao
lançamento de esgotos domésticos e industriais, principalmente, oriundos do crescimento
populacional, juntamente com a especulação imobiliária.
Tais respostas condizem com as afirmações de Cintrón e Schaeffer-Novelli (1981) quanto ao
ecossistema manguezal, quando destacam que, apesar de sua importância ecológica e econômica,
diversas características, próprias deste ambiente estuarino, tais como a oferta quase ilimitada de
água, a possibilidade de fácil despejo de rejeitos sanitários, industriais e agrícolas, e a proximidade
de portos, resultam em altas taxas de expansão urbana e industrial.
Vale destacar os manguezais situados no rio Sergipe, onde é possível observar diversos
eventos relacionados à problemática ambiental no ecossistema mencionado, predominando
principalmente nas áreas urbanas a exemplo do aterramento e despejo de esgotos domésticos.
Porém, Landim e Guimarães (2006) lembram que os impactos ambientais oriundos do
manguezal foram causados há muito tempo, quando da colonização inicial da região. As autoras
trazem à baila a questão relacionada às cidades que foram edificadas em áreas de manguezais e
restingas, onde não havia ainda uma compreensão generalizada da importância da preservação
desses ecossistemas e nem sequer legislação a esse respeito.
Atualmente, apesar de apresentar uma legislação e códigos ambientais específicos, os
manguezais permanecem sofrendo intensos impactos ambientais, sendo que tais problemas não são
casos isolados. Assim, é notória a inexistência do respeito às leis que regem o ecossistema estudado,
sendo que a evidente ganância e a busca desenfreada pelo desenvolvimento econômico, são mais
proeminentes que a preservação e conservação destes.
Diante do exposto, fica evidente que a problemática ambiental encontrada nos manguezais e
consequentemente em sua preservação, não se limitam apenas em documentos bem estruturados
contendo palavras rebuscadas, enfatizando o quão importante é o ecossistema.
Assim, de acordo com Sato e Santos (1996) é fundamental implantar e consolidar ações e
programas de Educação Ambiental que desenvolvam um saber não puramente científico e pouco
prático, mas um saber crítico e contextualizado. Pois, quando indagados sobre alguma solução para
os problemas encontrados no manguezal, 63% dos discentes responderam que seria necessária a
conscientização da população não jogar lixo no manguezal, 15% responderam que para solucionar
tais problemas seria necessário que não poluíssem o manguezal.
Perante os dados coletados, foi possível perceber a preocupação dos alunos para com o
ecossistema, porém, torna-se indispensável uma significativa implementação da Educação
Ambiental na escola, através de atividades pedagógicas que estimulem a tomada de consciência em
relação aos problemas socioambientais e também a formação cidadã e participativa dos alunos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As respostas dos alunos apresentaram importantes contribuições no sentido de identificar a


percepção que possuem em relação ao ecossistema manguezal, onde se verificou que os mesmos
detinham conhecimento prévio com relação a algumas temáticas abordadas sobre o ecossistema. Foi
percebido também que a maioria dos alunos reconhece a importância econômica e ecológica do
manguezal.
Nesse sentido, fica clara a importância de realizar junto aos alunos um processo de
sensibilização quanto aos aspectos atitudinais, visando contribuir para a melhoria do ambiente ao
seu redor, ressaltando que a Educação Ambiental como ferramenta facilitadora deverá considerar a
procedência dos alunos, ou seja, o lugar de onde vieram, a fim de favorecer e estimular as relações
mais estreitas destes com seu meio.

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Federal Rural de Pernambuco, 2000.

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FRATTOLILLO, A. B. R.; MOROZESK, R. S.; AMARAL, I. Quando o contexto social e


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programa de educação ambiental e ecoturismo em escolas de Santa Cruz e Mangue-seco. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 4., 2004, Goiânia. Anais... Rio de Janeiro:
UERJ, 2004. 7 p.

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MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento científico: pesquisa qualitativa em saúde. 2a edição.


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1084


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA DE ENSINO


FUNDAMENTAL ANITA DE MELO BARBOSA LIMA, BELÉM – PB

Carlos Antonio Belarmino ALVES


Professor Titular Doutor – UEPB
c_belarminoalves@hotmail.com
Márcio Balbino CAVALCANTE
Professor Mestre – FIP
marcio-balbino@hotmail.com
Edneide Cardoso de MORAIS
Graduada em Geografia - UEPB
edneidecm@hotmail.com
Ginaldo Ribeiro da SILVA
Graduando em Geografia – UEPB
ginaldo.ribeiro@gmail.com

RESUMO
A relação entre sociedade e meio ambiente tem gerado na maioria das vezes problemas que estão
relacionados diretamente a nossa forma de viver. Tais problemas se originam da necessidade a qual
a sociedade tem de transformar o meio natural para construir o seu espaço, a partir de então se inicia
uma série de desequilíbrios, a começar pela produção de lixo urbano a poluição do ar, do solo e da
água, bem como também a proliferação de pragas e doenças. Este trabalho tem como objetivo
definir uma proposta de práticas voltadas para a Educação Ambiental (EA) para a Escola de Ensino
Fundamental Anita de Melo Barbosa, localizada no município de Belém, estado da Paraíba. Diante
do exposto, optou-se pela abordagem metodológica da pesquisa quantitativa, através do
levantamento bibliográfico, pesquisa in loco com aplicação de 115 questionários, entrevistas
semiestruturadas, análise e tabulação das informações coletadas. Diante dos resultados, esta
proposta reafirma o compromisso da comunidade escolar com as questões voltadas para o meio
ambiente local, no intuito de cumprir os deveres como educadores, fazendo do ambiente escolar um
espaço de produção de ideias e atitudes para melhorar a qualidade de vida das gerações futuras
envolvendo a escola e a sociedade.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Sensibilização, Meio Ambiente.

ABSTRACT
The relationship between society and the environment has most often generated problems that are
directly related to our way of living. These problems arise from the need to transform the natural
environment into a society space, from which a series of imbalances begins, starting with the
production of urban waste, air, soil and water pollution, as well as the proliferation of pests and
diseases. This work aims to define a proposal for practices focused on Environmental Education
(EA) for the Anita de Melo Barbosa Elementary School, located in the municipality of Belém, state
of Paraíba. Therefore, we opted for the methodological approach of quantitative research, through
literature review, research on site with the application of questionnaires, analysis and tabulation of

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1085


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

the collected information. According to results, this proposal reaffirms the commitment of the
school community with issues related to the local environment, in order to fulfill the duties as
educators, making the school environment a space for producing ideas and attitudes to improve the
quality of life of the future generations.
Keywords: Environmental Education, Awareness, Environment.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) é um processo de aprendizagem constante, baseado no respeito


a todas as formas de vida do planeta. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a
transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de
sociedades ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e
diversidade (CAPORLINGUA, 2012).
De acordo com Dias (2010, p. 63) a EA caracteriza-se por: incorporar as dimensões
socioeconômicas políticas, culturais e históricas, não podendo se basear em pautas rígidas e de
aplicação universal devendo considerar as condições de estágio de cada país, região e comunidade
sob uma perspectiva histórica.
A EA constitui-se numa forma abrangente de educação, que se propõe a atingir todos os
cidadãos, através de um processo pedagógico participativo, permanente que procura incutir no
educando uma consciência crítica sobre a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas
ambientais.
O direito à informação e o acesso às tecnologias capazes de viabilizar o desenvolvimento
sustentável constituem, assim, um dos pilares deste processo de formação dessa nova consciência
em nível planetário, sem perder a ótica local, regional e nacional. O desafio da educação, neste
particular é criar as bases para a compreensão holística da realidade.
Nesse contexto, a EA não deve ser baseada na transmissão de conteúdos específicos, o
conteúdo mais indicado deve ser originado do levantamento da problemática ambiental vivida
cotidianamente pelos alunos e professores, que se queira resolver. Senso assim, o processo
educativo proposto pela EA objetiva à formação de sujeitos capazes de compreender o mundo e agir
nele de forma crítica e consciente (OLIVEIRA; LEMOS, 2011).
Ao observar os conteúdos trabalhos em sala de aula, estes devem-se aplicados de maneira
multidisciplinar, envolvendo temas diversos, tais como: saneamento básico, extinção de espécies de
fauna e flora, poluição em geral, o efeito estufa, biodiversidade, reciclagem do lixo doméstico e
industrial, energia nuclear e produção armamentista, etc.
No âmbito da metodologia utilizada reside um dos aspectos que caracteriza a criatividade do
professor diante dos desafios que encontra no seu cotidiano. Para a realização da EA podemos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

empregar os métodos passivo (em que só o professor fala), ativo (em que os alunos realizam
experiências sobre os temas), descritivo (em que os alunos aprendem à definição de conceitos e
descrevem o que eles puderam observar, por exemplo, numa excursão) e analítico (em que os
alunos completam sua descrição com dados e informações e respondem a uma série de questões
sobre o tema) (BRASIL, 2001).
Partindo desses princípios, este trabalho tem como objetivo definir uma proposta de práticas
voltadas para a Educação Ambiental (EA) para a Escola de Ensino Fundamental Anita de Melo
Barbosa, localizada no município de Belém, estado da Paraíba.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Para Dias (2010, p. 31), o fato de se utilizar o ambiente como instrumento pedagógico não
consiste de uma ideia inovadora no processo educativo, pois Patrick Gedds, considerados por
alguns dos especialistas dessa área como sendo o pai da Educação Ambiental, no final do Séc. XIX
destacava a importância da aprendizagem da criança em contato com o meio natural, destacou ainda
que uma criança em contato com o seu ambiente, não só aprenderia melhorar, como também
desenvolveria atitudes criativas em relação ao mundo em sua volta.
Essa preocupação referida pelo autor supracitado tem aumentado nos dias atuais, em função
dos movimentos em torno da preservação do meio ambiente e da tomada de consciência da
sociedade do estado atual em que se encontra o ambiente natural, contudo ainda se faz necessário à
implementação e implantação de novas propostas de EA, para que se possa obter êxito na luta pela
sensibilização e conscientização da preservação do ambiente como também na luta pela formação
de cidadãos conscientes de seus deveres para com a natureza e com a sociedade.
Segundo a Lei nº 9.975 de 27 de Abril de 1999, a EA constitui-se:

De processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes, e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Interpretando a Lei supracitada, pode-se dizer que a EA constitui-se da relação de interação


sustentável da sociedade e o meio ambiente, uma relação que é constituída como direito de toda
sociedade, contudo é necessário existir uma relação que não se constitua pela agressão da sociedade
ao meio ambiente, mas pela preservação e sustentabilidade desse ambiente do qual somos
dependentes.
Dias (2010, p.210) afirma que:

A Educação Ambiental é um processo de conteúdo dimensionado, que utiliza-se de


conhecimentos de diversas áreas inclusive da Ecologia, com a finalidade de desenvolver a
compreensão da inter-relação natureza-homem, em suas diversas dimensões.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para Reigota (2009, p. 30) a EA tem como finalidade estabelecer um processo conciliador
entre a sociedade e a natureza, uma razão que não tenha como significado a autodestruição, e sim
estimular a ética nas relações econômicas, políticas e sociais. Pode-se ir mais além se baseando no
diálogo entre diferentes culturas e gerações em busca da tripla cidadania local, continental e global.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) define a EA como um processo de
formação e informação, orientado para o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as
questões ambientais, e de atividades que levem a participação das comunidades na preservação dom
equilíbrio ambiental (BRASIL, 1997).
Dentro dessa perspectiva a escola tem uma função importante a de gerir um processo de
conscientização através da realização de projetos eficazes e contínuos sobre a EA, visando inserir
seus discentes, bem como a comunidade escolar, nesse processo; para repensar as práticas e
construir uma nova visão a respeito do ambiente, porém só se tornará possível quando as propostas
forem consistentes e atraentes, para tornar o ambiente escolar o berço das possíveis soluções para os
problemas ambientais da atualidade.
Segundo Almeida (2007, p.7), visando o desenvolvimento da EA no nosso estado, foram
criadas e implementadas em 1996 e 1997 duas entidades importantes até então nesse processo, são
estas o Fórum Paraibano de Educação Ambiental (FEA/PB), que tem por objetivo gerar o Programa
Estadual de Educação Ambiental; a outra instituição é a Rede de Educação Ambiental da Paraíba
(REA), cujos objetivos estão voltados para a promoção de um intercâmbio entre profissionais e
instituições ligadas a EA, para a capacitação de recursos humanos em EA como estimulo a
realização de eventos que visem a efetiva implantação da Educação Ambiental no estado.

METODOLOGIA

Diante do exposto, optou-se pela abordagem metodológica da pesquisa quantitativa, através


do levantamento bibliográfico, pesquisa in loco com aplicação de 115 questionários, entrevistas
semiestruturadas, análise e tabulação das informações coletadas na referida instituição escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A área de estudo da presente pesquisa foi a Escola de Ensino Fundamental Anita de Melo
Barbosa está localizada no município de Belém, na mesorregião do Agreste paraibano e
microrregião de Guarabira, no estado da Paraíba.
Iniciou-se a aplicação de 115 questionários ,com base em (ALBUQUERQUE, 2010) onde as
entrevistas semiestruturadas tem como método em que as perguntas são parcialmente formuladas
pelo pesquisador antes de ao campo ,apresentando grande flexibilidade ,pois permite aprofundar
elementos que podem ir surgindo durante a entrevista.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O gráfico 01 apresenta resultados relacionados onde pergunta-se o que deve se fazer para se
organizar o meio ambiente na escola. Conforme os dados desta pesquisa, 48% dos sujeitos
entrevistados afirmaram que, com a conscientização de todos, 33% com a participação nos projetos
escolares e 19% com a conservação da escola, constatando-se, portanto que o corpo discente está
preocupado com organização do meio escolar tentando encontrar soluções.

Conscientização de
todos
19%
Participação nos
48%
projetos escolares

33%
Conservação da escola

Gráfico 1: Condições de organização no meio escolar.


Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Nessa ótica, a EA deve reorientar e articular diversas disciplinas e experiências educativas


que facilitem a visão integrada do meio ambiente, proporcionando vinculação mais
estreita entre os processos educativos e a realidade (CAVALCANTE, 2016).
O gráfico 02 apresenta como resultado a diversificação dos problemas ambientais
observados na escola, no bairro e na cidade de Belém, com finalidade de equacionar ou mitigar
esses problemas ambientais no decorrer da pesquisa. Conforme o resultado da pesquisa, 35%
disseram que o desmatamento tem sido o vilão dos problemas ambientais, 25% mencionaram a
poluição da água, 20% a poluição do ar e os outros 20% poluição do solo.
De todos os problemas ambientais relacionados no âmbito da escola, os alunos ressaltaram
ter consciência que o principal causador é o homem, por suas ações praticadas de maneira
inadequada e sem medir ou pesar as consequências ao ambiente.

Desmatamento

20% 35% Poluição da Água

Poluiçaõ do Ar
20%
25%
Pluição do Solo

Gráfico 2: Degradação ambiental observada no município de Belém-PB


Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No gráfico 03 podemos observar algumas medidas apontadas pelos alunos que os


professores adotaram para desenvolver o processo de conscientização dentro da escola, e da
sociedade. São propostas pertinentes e que se bem aplicadas podem trazer bons resultados, como:
mudanças no hábito de vida atual e a formação de uma nova consciência entre os jovens em relação
ao meio ambiente.
Desse modo, para que as mudanças de fato aconteçam é preciso inserir a comunidade
enquanto sociedade nesse processo de conscientização a partir de sua realidade. Onde 35%
opinaram pelas caminhadas ecológicas sendo está uma ótima opção, 26% relataram que as aulas de
campo fazem com que eles tenham um melhor aprendizado sobre o assunto, 25% mencionaram que
as aulas com recursos audiovisuais ajudam bastante na conscientização e 14% afirmaram que as
palestras servem como guia para o processo de conscientização.

Realizar Palestras
14%
35% Aulas de Campo

26% Aulas com Vídeo


25%
Fazer Caminhadas
Ecológicas

Gráfico 3: Medidas de desenvolvimento do processo de conscientização


Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Nesse contexto, a escola como espaço de produção do conhecimento sistematizado, tem a


tarefa de ensinar os alunos a compartilharem o saber através de um espírito crítico, construindo
conhecimentos, valores, habilidades e competências, importantes para o convívio social, cultural e
científico (CAVALCANTE, 2016).
O gráfico 04 aponta algumas definições ou conceitos de EA na concepção de alunos e
professores. Onde 42% definiram a E.A. como conceitos e práticas relacionadas com preservação
do meio ambiente, 30% disseram que é um conjunto de valores e atitudes relacionadas a
preservação do meio ambiente, 17% citaram que são hábitos e atitudes que deveram ser praticadas
pelo homem e 11% definiram como uma forma de se esclarecer os assuntos relacionados ao meio
ambiente.
Como base dos resultados podemos observar que as várias definições dadas têm a mesma
direção de preocupação na preservação do meio ambiente. Nesse contexto, a prática da EA que tem
como um dos objetivos despertar na sociedade a devida preocupação e responsabilidade com o meio

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiente, pois é através da tomada de decisões que se interfere direta ou indiretamente nas ações
que o envolvem (QUINTANA; PHILOMENA, 2007).

Conceitos e
praticas
relacionadias a
preservação do
meio ambiente
11% Conjuntos de
17% valores e atitudes
42%
relacionadas a
peservação do
meio ambiente
30%
São hábitos que
devem ser
práticados pelo
homem

Gráfico 4: Definição de Educação Ambiental


Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Diante do exposto e com base no quadro atual da escola em estudo, pode-se destacar alguns
aspectos negativos: a) complexidade do assunto a ser explorado – a Educação Ambiental; b) o fato
de ser um processo de conscientização lento e dificultoso; c) o contraste na educação aplicada na
escola e a educação aplicada em casa; d) a aplicação dos PCN‘s por apenas algumas disciplinas;
pois sabe-se que a EA tem sua aplicabilidade em todas as áreas do conhecimento.
Sendo assim, tendo em vista a minimização desses problemas, elaborou-se uma proposta
observando as peculiaridades, adotando o método de interdisciplinaridade, onde possa haver uma
maior integração entre a sociedade e meio ambiente e que estes alunos possam se tornar cidadãos
cientes de suas responsabilidades através das mudanças de comportamento em sua comunidade.
A proposta a ser seguida faz-se necessária, visto que com estas práticas adotadas pode-se
contribuir para um ambiente escolar saudável, através da aplicação inovadora da Educação
Ambiental no âmbito da escola pública, além de sociedade integrar a sociedade ao processo de
sensibilização conscientização adoção e pratica da EA.
Desta forma, como medidas práticas de EA proposta para a unidade escolar, pode-se sugerir
as seguintes ações e projetos: realização de palestras e debates sobre Educação Ambiental nos
eventos de capacitação que envolva a escola e a sociedade; participação de professores e alunos em
cursos de capacitação em Educação Ambiental, bem como palestras, seminários, congressos,
oficinas, etc. Promoção de campanhas de conscientização que tratem do meio ambiente, utilizando a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sensibilização como instrumento didático, capaz de atingir os objetivos propostos; padronizar a


coleta de lixo seletiva no ambiente escolar, integrando o corpo docente e discente e pessoal de
apoio, implantação de utensílios necessários a esta ação; desenvolver atividades extraclasse
envolvendo os conceitos de EA, através das rádios locais, de folders, panfletos e informativos; criar
eventos culturais envolvendo escola, sociedade e alunos voltados para a prática da Educação
Ambiental e cidadania, com a participação de diversas entidades, escolas particulares, associações
de bairros, secretaria do meio ambiente, igrejas, etc.; estender os resultados obtidos em sala de aula
para a sociedade em comum, através da divulgação em rádios comunitárias e exposições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados, observou-se que a EA deve fazer parte do cotidiano da escola, e a
cada mudança de atitude torna-se exemplo significativo para uma sociedade que tem perdido a
noção dos valores morais, culturais, familiares e socioambientais. A partir de então, e que se propôs
esta proposta, reafirmando o compromisso da comunidade escolar com as questões voltadas para o
meio ambiente, no intuito de cumprir os deveres como educadores, fazer da escola um instrumento
de produção de ideias e propostas para melhorar a qualidade de vida das gerações futuras.
Quanto a Educação Ambiental na E.M.E.F. Anita de Melo Barbosa Lima, vale ressaltar a
proposta de integração entre pais, professores e alunos para se discutir as questões relacionadas ao
ambiente, servindo de viés onde se possa cumprir o nosso papel como formadores de uma nova
consciência.
Desta maneira, o resultado da pesquisa através da implantação da proposta de EA na escola
será repassado às autoridades municipais e órgãos suplementares, para que seja transformado em
documento de caráter de inclusão da EA nas escolas do município de Belém – PB, e inserido no
conteúdo da grade curricular da rede municipal de ensino e escolas privadas.
Dessa forma, a proposta também tem como sugestão a criação de uma cartilha de EA para
todas as escolas da rede municipal de ensino no intuito de orientar os discentes, bem como as
famílias presentes nas comunidades, para a necessidade de conscientizar acerca da questão
ambiental.

REFERÊNCIAS

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Meio Ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA. Brasília: Ministério da


Educação e do Desporto, 1997.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1092


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

BRASIL. Lei Federal n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: ˂
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em 15 de agos. 2013.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais. 3. ed. Brasília: Ministério de


Educação / Secretaria de Educação Fundamental, 2001.

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Jundiaí: Paco Editorial, 2012.

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ambiental na gestão de resíduos sólidos. 1. ed. Recife: EDUFRPE, 2016.

CAVALCANTE, M. B. Nos caminhos da Geografia: a importância do trabalho de campo no


processo de ensino-aprendizagem. In: CANANÉA, F. A. (Org.). Educação: olhares diversos.
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REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo. Brasiliense, 2009.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1093


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

COLETA DE RECICLÁVEIS COMO ATIVIDADE DE ENSINO E APRENDIZAGEM


EM ESCOLA PÚBLICA

Cláudio Roberto Farias PASSOS


Doutorando em Geografia pela UFPE
cbetopassos37@gmail.com
Elvis Berg MARIZ MOREIRA
Doutor em Geografia, Docente da UFBA, Campus Barreiras
elvisberg@hotmail.com
Deivide Benício SOARES
Doutor em Geografia pela UFPE
deividebenicio@yahoo.com.br
Josinaldo José DA SILVA
Mestre em Desenvolvimento Local Sustentável pela UPE
josinaldogeografo@gmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta ação educativa realizada em uma comunidade escolar da rede pública estadual
em Olinda (PE); e apresenta metodologia de ensino para estimular nova forma de aprendizado. O
projeto mobilizou estudantes e professores das diversas áreas, com o objetivo de aplicar os
conceitos discutidos durante o bimestre letivo o qual teve como tema a geração de resíduos sólidos
e os problemas causados pela sua má gestão. Trata-se de uma metodologia de que tem como
agentes os estudantes mediante aplicação dos conhecimentos vivenciados na escola. Os dados
foram organizados e discutidos por meio do referencial teórico sobre Práticas de Ensino, Educação
Ambiental, Resíduos Sólidos e Cidadania. Os resultados apontaram que quando os estudantes são
estimulados a serem agentes ativos no processo ensino aprendizagem ocorre maior eficácia na
construção do conhecimento e da sensibilidade sobre questões ambientais.
Palavras-Chave: Ensino; Cidadania; Reciclagem; Meio Ambiente.
ABSTRACT
This article presents educational action carried out in a school community of the state public
network in Olinda (PE); and presents teaching methodology to stimulate new learning. The project
mobilized students and teachers from different areas, with the objective of applying the concepts
discussed during the two-month period, which had as its theme the generation of solid waste and the
problems caused by its mismanagement. It is a methodology that has as agents the students through
the application of the knowledge experienced in the school. The data were organized and discussed
through the theoretical reference on Teaching Practices, Environmental Education, Solid Waste and
Citizenship. The results pointed out that when students are stimulated to be active agents in the
learning teaching process, greater effectiveness in the construction of knowledge and sensitivity on
environmental issues occurs.
Key Words: Teaching; Citizenship; Recycling; Environment.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Na sociedade atual, percebe-se rompimento de vínculo na subsistência dos homens com o


meio natural surgindo novas formas de ocupação e reprodução do espaço geográfico. Tais
transformações são visíveis quando se relaciona o aumento no consumo de bens e o volume
crescente e espantoso da quantidade de lixo ou como são tecnicamente denominados, Resíduos
Sólidos (RS). Estes são responsáveis por danos ao meio ambiente e a saúde pública quando
dispostos de maneira inadequada.
O desfrute de qualidade de vida sadia, coerente com a preservação ambiental, passa por uma
auto avaliação de cidadão e fabricantes. Esses últimos têm por obrigação dar destino correto aos
resíduos que produzem, separando e recebendo a devolução do lixo comum e material que pode ser
reciclado. A cidadania requer participação em ações que objetivem sustentabilidade ambiental com
vistas ao bem estar da sociedade.
A destinação correta do lixo é um bom exercício de cidadania, que pode ser realizada com
ações simples da separação dos resíduos orgânicos como restos de alimentos; resíduos secos como
papéis, vidros, Politereftalato de Etileno (PET) e outros derivados do plástico. Exercício que pode
ter como referência a unidade escolar na qualidade de disseminadora de tais procedimentos. A partir
desse contexto, foi elaborado projeto como forma de contribuição de uma comunidade escolar da
rede pública estadual de ensino, situada na cidade de Olinda, Pernambuco (PE). A iniciativa
ocorreu como forma de diversificar o aprendizado dos estudantes, inicialmente, em relação às
disciplinas de Geografia e Educação ambiental. A unidade Escolar Argentina Castello Branco
(EACB) foi o palco do projeto educacional de inserção da comunidade em atividade prática de
educação ambiental e cidadania. O presente artigo objetiva apresentar uma experiência onde a
prática escolar foi realizada após serem discutidos alguns temas sobre disposição e tratamento de
resíduos sólidos em uma escola pública estadual.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A escola, enquanto instituição pública mantida pela sociedade, para educar as gerações
atuais e futuras, tem como dever a construção da cidadania nos moldes que atualmente se entende a
sociedade. Os pressupostos atuais da cidadania têm como pilar a garantia de uma vida digna e a
preparação dos estudantes para vida política e pública. A escola deve ser democrática, inclusiva e
de qualidade. Para tanto, deve promover, na teoria e na prática, os meios para que tais objetivos
sejam alcançados (BRASIL, 2007).
Assim, conforme discorre Melo (2012), é pela educação que se constrói a vivência cidadã
contemplando tanto o conhecimento científico como os aspectos subjetivos da vida, que incluem as

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

representações sociais, assim como o imaginário acerca da natureza e da relação do ser humano
com ela. Isso significa trabalhar os vínculos de identidade com o entorno socioambiental.
O sistema de ensino público nacional é ancorado pela Lei nº 9.394/96, denominada Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a qual determina a diversificação de estratégias
que busquem a integração dos estudantes ao meio social. Esta norma destaca, entre outros aspectos,
o papel do docente que é incumbido pelo art. 13:

I - Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;


II - Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
III - Zelar pela aprendizagem dos alunos; (...)
IV - Colaborar com as atividades de articulação da escola com as comunidades
(FERREIRA, 2011, p. 323).

Para Kimura (2011, p. 109/110), a melhoria no ensino das escolas públicas brasileiras vem
ocorrendo de modo intenso graças à preocupação de educadores que de modo intenso tem feito boas
propostas e projetos de ensino. ―O novo conhecimento permite que, sem ser definitivo, o fazer
pensar do aluno mediado pelo professor ascenda a um novo fazer pensar (...) também
contextualizados poderão trazer novos sentidos para a realidade na qual o aluno vive‖.
E os desafios impostos às instituições de ensino são gigantescos, contudo não os impedem
que sejam capazes de desenvolver nos estudantes, profissionais e pesquisadores competências para
interagir ―com o mundo global, alertá-los que a aprendizagem não é um processo estático, mas que
estará em constante mutação, afirmação e negação durante toda a história humana‖ como descreve
em recente artigo, Santos e Dos Santos (2017, p. 136).
Professores, estudantes e a estrutura escolar compõem o espaço geográfico (tanto rural
quanto urbano), um espaço social, um lugar, território e paisagem de modo que Milton Santos
(2012, p. 58) defendia que cabe ao pesquisador ―Espaciólogo‖ traçar as linhas que indiquem com
precisão como se dá a relação social no espaço geográfico, a exemplo da dinâmica entre a geração
de resíduos sólidos e o trabalhador catador que envolve o consumismo contemporâneo. Questões
que devem ser trabalhadas no cotidiano social e escolar.

GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A AÇÃO DO CATADOR

Pelo fato de o homem existir, pode-se dizer que existe o lixo em suas diversas formas,
qualidades e denominações. Em suma, é a coisa desprezível, o excremento, a sobra, o refugo.
Reitera-se que é comum a utilização de um termo técnico ―Resíduos Sólidos‖ que aparentemente
diferencia o lixo comum do reaproveitado, o que não deve ser encarado como uma verdade
absoluta, uma vez que lixo e resíduo sólido têm geralmente a mesma conotação, sendo que este
último foi o termo criado e adotado pelo meio técnico. E apesar da repulsa, o lixo é produto do
cotidiano das pessoas e prova do modelo de consumo adotado no mundo moderno ou em parte dele.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O sociólogo polonês, Zygmunt Bauman (2008) identificou uma sociedade voltada para o
consumo que prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros (e
assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles). E também caracterizou um método de se
atingir tal efeito depreciando e desvalorizando os produtos logo depois de terem sido adquiridos,
descartando-os rapidamente a fim de possuir o modelo mais atual e da moda. Este é o contexto
econômico e cultural que fortalece sobremaneira a classe consumidora global que contribui para a
degradação do meio ambiente e é responsável pela geração de resíduos sólidos.
A título de conceito, salienta-se que conforme ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas (2012), esses resíduos são os que se apresentam: no estado sólido e semissólido, que
resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços de varrição.
No Brasil existe legislação específica que conceitua e normatiza a destinação dos resíduos: a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Instituída pela Lei Federal nº 12.305, de 02 de
agosto de 2010, esta norma, entre outros aspectos, fortaleceu o uso do referente termo. Além disto,
aponta diversas ações que poderão reduzir o volume dos resíduos sólidos produzidos, utilizados e
descartados pela sociedade. Uma dessas ações voltadas para amenizar o volume dos RS produzido é
a reciclagem. Atividade esta que conta com o trabalhador denominado de Catador de Material
Reciclável. O trabalhador catador é um agente que dinamiza a relação de estorno da ―matéria-
prima‖ às fábricas.

ESFORÇO DE DESTINAÇÃO CORRETA DOS RESÍDUOS: COLETA SELETIVA

A coleta seletiva de resíduos é procedimento adotado em várias cidades do Brasil que


possuem diretrizes e norteiam a disposição dos resíduos de seus citadinos. A coleta pode ocorrer na
versão porta a porta ou através dos PEVs (Ponto de Entrega Voluntária), os quais são postos
especiais de convergência dos resíduos a locais estrategicamente convencionados, contendo
caçambas ou contêineres especiais com cores regulamentadas pelo CONAMA – Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Resolução nº 275, de 16/04/2001). Conforme tabela 1 a seguir:

Tabela1. Padronização dos PEVs.


Cor do Recipiente de Coleta Material a ser coletado
Azul Papel / Papelão
Amarelo Metais / Alumínio
Verde Vidrarias
Vermelho Plástico em geral
Fonte: Grippi (2006).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conforme Grippi (2006), o sistema de coleta seletiva pode ser mensurado e a meta é a
diminuição do volume de resíduos recicláveis que pode beneficiar os trabalhadores da catação
destes materiais, em vez de destiná-los a aterros ou lixões. Segundo o autor o cálculo é desta forma:

Toneladas mês de coleta seletiva / Tonelada mês de coleta regular x 100 = Taxa de material desviado do
aterro (%)

A implantação do programa de coleta seletiva faz parte de um conjunto de procedimentos


que convergem para a materialização de uma educação ambiental entre pessoas e instituições. Em
pesquisa realizada por Passos (2012), foi identificado em Olinda – PE projeto idealizado pelo poder
público de Coleta Seletiva no Sítio Histórico do município.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

A aprovação da Lei 9.795, de 27/04/1999 e do seu regulamento, o Decreto nº 4.281, de


25/06/2002, estabelecendo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), trouxe grande
esperança para educadores, ambientalistas e professores, pois essa regulamentação veio formalizar
as atividades de cunho ambiental que já vinham ocorrendo nos estabelecimentos de ensino.
Igualmente, existe a tendência de universalização da Educação Ambiental na legislação brasileira.
Ainda, Layrargues (2006), aponta que a Lei 6.938, de 31.08.1981, que instituiu a Politica
Nacional de Meio Ambiente, também discorreu sobre a dimensão pedagógica no Brasil,
apresentando, em seu artigo 2º, inciso X, a necessidade de promover a educação ambiental de
maneira plena, a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade; objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
Também a lei maior do país, a Constituição de 1988, elevou a categoria de componente
essencial para a qualidade de vida das pessoas a ―educação ambiental‖. Em seu artigo 225, § 1º,
inciso VI, incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e
a conscientização pública para a preservação do meio ambiente de maneira que surgiu o direito
constitucional de todos os cidadãos brasileiros terem acesso à educação ambiental (FERREIRA,
2011).
E, conforme o mesmo autor, a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, que organiza as
estruturas dos serviços educacionais estabelece competências ao ensino nacional, reserva espaço,
mesmo que discreto, a questão ambiental; referenciada no artigo 32, inciso II onde para o ensino
fundamental se exige o entendimento do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade.
E, segundo Layrargues (2006, p. 84 / 85), a educação ambiental deve estar ligada a
responsabilidade social das pessoas e instituições e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

assim vemos os problemas ambientais separados dos problemas sociais, a questão


ambiental descolada da questão social. Reconhecemos então, que a educação
ambiental com responsabilidade social é toda aquela que propicia o
desenvolvimento de uma consciência ecológica no educando, mas que
contextualiza seu planejamento político-pedagógico de modo a enfrentar também a
padronização cultural, a exclusão social, a concentração de renda, a apatia política,
a alienação ideológica; muito além da degradação do ambiente (sem confundi-la
com o ‗desequilíbrio ecológico‘).

Já para Freitas & Zaú (2015):

A Educação ambiental não possui um conteúdo específico, porém vários,


dependendo da faixa etária dos estudantes e do contexto educativo do momento.
Mas o conteúdo mais indicado deve ser originado do levantamento da problemática
ambiental vivenciada pela comunidade escolar (REIGOTA,1994 apud FREITAS &
ZAÚ, 2015 p. 252).

Por fim, os princípios da Educação Ambiental podem formar indivíduos e a coletividade na


construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades voltadas para a conservação do meio
ambiente compondo um trabalho interdisciplinar.

UM ESFORÇO A INTERDISCIPLINARIDADE

O aparecimento de novas preocupações, conflitos e temas voltados à problemática ambiental


requer novas atitudes para a solução dos impasses encontrados cotidianamente. A
interdisciplinaridade está prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) onde propôs numa
primeira abordagem a reorganização curricular em áreas de conhecimentos com o objetivo de
facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e
contextualização (BRASIL, 1997).
A interdisciplinaridade deve ter inicio na atitude das pessoas envolvidas. Partindo da
necessidade de viabilizar o processo de diálogo entre os conhecimentos, representa a credibilidade
do professor em sua função de modificador da sociedade na qual atua. Cabe ao professor preparar
as gerações futuras para sua função de ―fazedores‖ da história e construtores do conhecimento
verdadeiro. Para a autora, a interdisciplinaridade tem como função melhorar primeiramente a
relação dos seres humanos com o conhecimento, com o entendimento do saber contextualizado,
modificando a vida das pessoas ao promover a cidadania (BOCHNIACK, 1992, p. 6).
E interdisciplinaridade deve ser entendida como um instrumento para aproximar o
conhecimento formalizado à prática cotidiana. Consequentemente sua metodologia prevê a ruptura
de barreiras preestabelecidas, favorecendo o diálogo entre saberes, com algumas disciplinas e
estudiosos de áreas diferentes trabalhando para resolver um mesmo problema, nos moldes do que
defende Santos (2004). E realizado pelos professores da escola Argentina Castello Branco que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

mesclaram conhecimentos de Geografia, Biologia, Artes, Lingua Portuguesa, Matemática e


Química.
Também vale a pena trazer a tona o que discorreu Edgar Morin sobre o papel da
interdisciplinaridade na educação:

(...) de pronto que a história das ciências não se restringe à da constituição e


proliferação das disciplinas, mas abrange, ao mesmo tempo, a das rupturas entre as
fronteiras disciplinares, da invasão de um problema de uma disciplina por outra, de
circulação de conceitos, de formação de disciplinas híbridas que acabam tornando-
se autônomas; enfim, é também a história da formação de complexos, onde
diferentes disciplinas vão ser agregadas e aglutinadas. Ou seja, se a história oficial
da ciência é a da disciplinaridade, uma outra história, ligada e inseparável, é a das
inter-poli-transdisciplinaridades (MORIN, 2008, p. 107).

E a escola tem papel importante neste contexto, de modo que o projeto relatado neste artigo
buscou contribuir, agregando forças, dos agentes envolvidos de maneira interdisciplinar. O saber
especializado foi canalizado para integrar uma ação coletiva e por em prática alguns conceitos
utilizados em sala de aula, fortalecendo ações de cidadania mescladas com valores éticos
constituídos por diferentes tipos de direitos, sendo um produto de histórias sociais diferenciadas,
protagonizadas por diversos grupos, nos moldes do que defendem Souza Santos (2006) e
Vasconcellos (2009).

METODOLOGIA

O artigo trata de uma metodologia de ensino que busca contribuir com formação sócio
cultural de estudantes; mediante a problematização dos temas presentes no seu cotidiano. Buscou-
se alinhar as estratégias de ensino aprendizado utilizando, também, o saber trazido pelos alunos.

O PASSO A PASSO: PROCEDIMENTOS ADOTADOS

O projeto em questão foi iniciado na primeira semana de outubro de 2011 e encerrado em 25


de novembro do mesmo ano e envolveu os docentes de disciplinas diversas a exemplo de Artes,
Biologia, Matemática, Geografia e Educação Ambiental de maneira integradora e interdisciplinar.
Como afirma Libâneo (1994), a escola tem por princípio a democratização do ensino e os
professores devem transmitir os conteúdos de ensino de forma não linear nem mecânica. A escola
cedeu o espaço físico e garantiu o engajamento dos professores e auxiliares, mas os principais
atores foram os discentes do ensino médio e também os 7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental
perfazendo um total de aproximadamente 400 estudantes, importantes na execução das atividades e
no envolvimento de seus pais e vizinhos.
Quais os conteúdos teóricos possibilitaram a prática? O inicio da atividade foi marcado pela
escolha dos conteúdos (organizados pedagógica e didaticamente), além da formalização da

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1100


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

atividade como tema transversal e como um dos projetos educativos para o ano letivo de 2011. As
disciplinas e conteúdos que embasaram a ação estarão elencados a seguir:
1.Educação artística: inicialmente, estabeleceu-se como procedimento a exibição do documentário
―Lixo Extraordinário‖ do artista plástico Vik Muniz. O vídeo tem como temas o valor do lixo
descartado cotidianamente, bem como o trabalho dos catadores no Aterro de Gramacho situado no
Rio de Janeiro.
Objetivo: apresentar aos estudantes o potencial do lixo desprezado pela sociedade cotidianamente e
o trabalho de catadores de materiais recicláveis.
2.Geografia: ocorreram diálogos em torno das seguintes temáticas: formas de destinação de
resíduos sólidos (aterros, lixões, incineradores, reciclagem), tipos de resíduos, impactos ao meio
ambiente do descarte irregular, 3Rs (Redução, Reutilização e Reciclagem) e as condições de
trabalho e a baixa qualificação do catador.
Objetivo: descrever as formas de disposição do lixo e as consequências para o espaço urbano nos
centros urbanos e em especial no bairro que a escola está localizada.
3.Matemática: o docente direcionou o conteúdo a fim de despertar nos estudantes o valor que o
município destina para coleta e disposição dos resíduos, quantidades de produção diária, bem como,
a necessidade de grandes espaços para acumulação e uma noção sobre os valores de mercado de
alguns produtos reciclados como o alumínio e o PET.
Objetivo: quantificar o volume diário de lixo gerado e o custo de sua destinação.
4.Biologia: tratou-se do aspecto da saúde das pessoas e tipos de doenças causadas pelo contato com
o lixo e produtos químicos presentes na composição dos resíduos.
Objetivo: explicitar os riscos do contato com lixo e seus contaminantes, a proliferação de vetores
(ratos, baratas e mosquitos) atraídos pela acumulação dos dejetos.
5.Química: composição química dos produtos que são descartados diariamente como os resíduos
hospitalares.
Objetivo: apresentar os elementos que compõem o PET, o vidro, os detergentes e óleos domésticos
e demais resíduos.
6.Língua Portuguesa: trabalhou-se a identificação nos rótulos de algumas embalagens e origens de
nomes nas embalagens descartadas.
Objetivo: aprimorar os aspectos da língua e identificação de termos estrangeiros.

Ademais, concluída a fase das discussões e teorias, foi implementada a parte prática do
projeto. Teve inicio a parte logística com a escolha do local e forma de acomodação do material que
seria arrecadado. Pois, é sabido que os recicláveis necessitam de acomodação, em local amplo e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

com fácil acesso, não podendo permanecer ao relento (devem ser ensacados evitando o acúmulo de
água e vetores transmissores de doença).
Utilizou-se como espaço de deposição parte do pátio interno da unidade escolar, a fim de
agruparem-se todos os itens. E foram utilizados depósitos de plástico com cores diferentes,
semelhantes aos utilizados na coleta seletiva. Em seguida, conforme entendimento prévio entre
equipe gestora da unidade escolar e professores, todos os discentes envolvidos no projeto receberam
notas e conceitos como retribuição ao empenho na atividade. Individualmente, a cada cinco
unidades de garrafas PET ou lata de alumínio, equivaleria um valor específico em posterior
avaliação bimestral. Assim a cada 5un = 1,0 ponto, com limite máximo de 50 unidades por aluno e
um total de 10,0 pontos conquistados. Esse incentivo foi responsável por alavancar o projeto de
coleta do material.
Os dias de entrega do material foram terças e quintas. Os estudantes foram divididos em
grupos e cada grupo elegeu um líder. Esse representante foi responsável, juntamente com o
professor que estivesse em aula no horário da entrega do material, por fazer a pesagem e triagem
dos resíduos e em seguida fazer as anotações de peso e volumes. O projeto constou como atividade
de sala de aula de maneira transversal de forma que não houve perda ou déficit de carga horária
para os participantes e supriu parte da cota escolar exigida pela Secretaria de Educação para
elaboração de projetos de cunho social.
Às sextas-feiras foram reservadas para reorganização do espaço físico onde se guardavam o
material coletado/doado. É relevante se fazer um esclarecimento: o consenso entre os participantes
foi de que a finalidade da atividade consistiria praticar a Educação Ambiental e contribuir com a
manutenção da boa qualidade do espaço onde viviam. E a pontuação (nota utilizada na avaliação
individual) atribuída aos participantes no bimestre em curso, não deveria ser objetivo a perseguir.
O volume de material disposto em um dos pátios internos da escola surpreendeu a todos, em
função do espaço ocupado pela quantidade de resíduos, que alguns alunos ainda denominavam
―lixo‖. Foram arrecadados aproximadamente 1,10 (toneladas). Por fim, a entrega foi realizada aos
catadores da Associação dos Recicladores de Olinda (ARO), localizada no bairro de Aguazinha,
município de Olinda – que obtiveram incremento de renda comercializando com uma indústria local
a qual utiliza os recicláveis como matéria-prima.
Assim, a EACB tornou-se um laboratório de experiências de cunho social para os discentes
além de espaço de ação cidadã; de maneira que um dos papéis da escola e do professor é suscitar
nos estudantes outras necessidades articulando situações que tragam saberes e possam provocar
novas possibilidades e valores para além daqueles vividos no cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foi possível dinamizarem-se as aulas dos docentes envolvidos, muito além da ideia inicial
que buscava, apenas, aprimorar a metodologia das disciplinas de Geografia e Educação Ambiental.
Essa, a época disciplina obrigatória nas escolas da rede estadual pernambucana. Percebeu-se o
engajamento dos estudantes, pais e pessoas residentes próximas à Escola Argentina Castello
Branco. Também, ocorreu o fortalecimento da prática interdisciplinar entre professores e estudantes
do ensino médio e fundamental. Eles estiveram em contato com a realidade de um grupo de
catadores, dos quais ouviram angústias e projetos futuros, trabalhadores que os estudantes ―já
tinham ouvido falar‖ ou conheciam por vídeos ou contos que envolvem a degradação humana no
contato com o lixo.
A atividade entrou na grade de projetos da instituição escolar. A partir da solicitação de um
grupo de estudantes do ensino médio, a ação de coleta de recicláveis foi retomada no primeiro
bimestre do ano de 2012. Foram corrigidas as falhas da primeira versão e implantadas novas ações
como: o uso de planilha monitorada por representantes de turmas com o controle diário; coleta
semanal do material pelos catadores; separação de tampas das garrafas tipo PET, as quais possuem
um valor separado; triagem de latas de alumínio e aço, em função do peso e preço diferenciado. Por
sua vez, instituiu-se outro incentivo para os estudantes participantes do projeto, a distribuição de
brindes (simbólicos) para os representantes das turmas e também aos estudantes que conseguiram
coletar, individualmente, maior quantidade de itens.
Assim, os benefícios foram relevantes para a escola que apresentou a atividade de coleta de
recicláveis e a parceria com associação de catadores à Gerência Regional de Educação (GRE)
cumprindo a meta de promoção de atividades diversificadas para os estudantes. Ademais,
verificou-se a disposição da comunidade escolar em contribuir com o meio ambiente saudável, pois,
durante a realização do projeto de coleta de recicláveis o entorno da escola e as ruas por onde os
estudantes e professores residiam, permaneceu sem o descarte irregular do lixo potencialmente
reciclável.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: BUSCANDO AS


ASSOCIAÇÕES NO CHÃO DA ESCOLA

Debora Bezerra de SANTANA


Mestranda em Ensino das Ciências no PPGEC/UFRPE
debysantana@gmail.com
Monica Lopes Folena de ARAÚJO
Profa. Drª no PPGEC/UFRPE
monica.folena@gmail.com

RESUMO
Detemos nesse estudo a concepção de que o conhecimento científico e o ambiental devem cooperar
entre si e se associarem em prol de uma melhor compreensão de mundo. Por vezes um ou outro é
negado/dissociado/desconectado em prol de uma visão estritamente cientificista ou ambientalista.
Visto o distanciamento comumente praticado entre essas duas dimensões e o tratamento isolado
delas, nosso olhar se volta para a compreensão das conexões e imbricações que podem ser
estabelecidas entre elas na escola, o qual é objeto de dissertação desta autora. Neste texto, trazemos
um recorte de tal estudo, onde o interesse em pensar sobre a temática de trabalho e se questionar
sobre ela surge a partir do momento em que observamos um evento escolar anual, de nível
internacional, na área de ensino de ciências, que contempla e busca revelar iniciativas e projetos
escolares inseridos no trato com a educação científica sob o eixo da educação ambiental, ou seja,
práticas que se permitem contemplar conjuntamente tais dimensões. Logo, nosso objetivo consiste
em mapear a existência de tais práticas no ambiente escolar. Nesse sentido, nos propomos observar
a Ciência Jovem, um evento bastante difundido no âmbito pedagógico e que atrai a participação das
escolas em vários âmbitos, como uma forma de divulgação das práticas escolares. Para este artigo,
utilizamo-nos dos pressupostos da pesquisa exploratória, que possibilita a aquisição de
familiaridade com o campo de pesquisa visando estruturação de novos problemas, hipóteses e
encaminhamentos para novos estudos. Para a melhor compreensão do nosso ambiente, o olhar não
pode e não deve estar distanciado das construções científicas que também se propõem ao estudo e a
explicações do mundo e seus fenômenos. Os percursos devem seguir compartilhando e dialogando
com os resultados, avanços e insucessos, de forma tão imbricada que o saber de um transforme o
outro.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Educação Científica, Feira Ciência Jovem.
ABSTRACT
We deem in this study the conception that scientific and environmental knowledge should cooperate
with each other and associate in favor of a better understanding of the world. Sometimes one or the
other is denied / disassociated / disconnected in favor of a strictly scientistic or environmentalist
view. Considering the common distance between these two dimensions and the treatment of them
alone, our gaze turns to the understanding of the connections and interlocks that can be established
between them in the school, which is the object of this author's dissertation. In this text, we bring a
cut of such a study, where the interest in thinking about the topic of work and questioning about it
arises from the moment we observe an annual school event, of international level, in the area of
science education, which contemplates and seeks to reveal initiatives and school projects inserted in
the treatment of scientific education under the environmental education axis, that is, practices that
allow to contemplate these dimensions together. Therefore, our objective is to map the existence of
such practices in the school environment. In this sense, we propose to observe the Young Science,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

an event very widespread in the pedagogical scope and that attracts the participation of the schools
in several scopes, as a form of dissemination of the school practices. For this article, we use the
assumptions of the exploratory research, which allows the acquisition of familiarity with the field of
research aiming at structuring new problems, hypotheses and referrals for new studies. For the
better understanding of our environment, the eye can not and should not be distanced from the
scientific constructions that also propose to the study and explanations of the world and its
phenomena. The paths must continue to share and dialogue with the results, advances and failures,
so intertwined that the knowledge of one transform the other.
Keywords: Environmental Education, Scientific Education, Young Science Fair.

INTRODUÇÃO
Muitas pesquisas no cerne da educação científica têm sido desenvolvidas no espaço
acadêmico focadas na sua importância e necessidade para a formação cidadã, reflexiva e crítica dos
sujeitos, onde estes possam se aproximar do conhecimento científico escolar conscientes de sua
capacidade de ação no mundo. No entanto, o ensino das ciências enfrenta inúmeros desafios para
efetivar tais premissas. Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2007) expõem que os atuais problemas
incidem sobre a formação, os saberes e as práticas tradicionalmente estabelecidas e esgotadas pelos
professores. Portanto, é preciso renovar e disseminar alternativas de ensino, que sejam interessantes
e motivadoras, aproximando, assim, o conhecimento científico do público escolar.
No entanto, esse ―conhecimento científico não é evidente, não se impõe por observações e
experimentos‖ (BORGES, 2007, p. 93), ele vai sendo construído para responder às necessidades e
questionamentos levantados, será o fruto de um processo de abstração e formalização, que se
estabelece, muitas vezes, em ruptura em relação à evidência (GIORDAN; VECCHI, 1996). Nesse
contexto, Borges (2007, p. 93) acrescenta: ―os fatos sozinhos não impõem o conhecimento novo‖.
Nessa perspectiva, vimos a Educação Ambiental (EA) como um meio que faz a
aproximação, inter-relaciona e dialoga com os diferentes conhecimentos disponíveis e com a
realidade apresentada em dado momento. Loureiro (2012) destaca que a Educação Ambiental
promove a conscientização, a qual se dá na relação entre o ―eu‖ e o ―outro‖, pela prática social
reflexiva e fundamentada teoricamente, onde a ação conscientizadora é mútua, envolvendo
capacidade crítica, diálogo, assimilação de diferentes saberes e a transformação ativa da realidade e
das condições de vida.
Logo, em EA, ciência e formação crítica precisam se relacionar, de modo a
compreendermos sob que condições o saber científico se desenvolveu e a favor do que e de quem,
nos apropriando da base instrumental e reflexiva necessária para a educação, para a alteração
objetiva das condições de vida da população e da natureza como um todo, rompendo com dogmas e
obstáculos à liberdade humana (LOUREIRO, 2012).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para Araújo (2012), a EA, inserida em todos os níveis de ensino pode ser uma alternativa
para promover transformação social nos sujeitos, pois exerce influência na construção de mudanças
e na preservação ambiental e figura como campo de conhecimento na materialidade de mudanças
sociais. Na mesma perspectiva, Layrargues considera as contribuições para a ―reprodução da
sociedade tal qual está, ou a sua transformação‖ (2009, p. 11).
Pelo exposto, detemos a concepção de que o conhecimento científico e o ambiental devem
cooperar entre si e se associarem em prol de uma melhor compreensão de mundo. Por vezes um ou
outro é negado/dissociado/desconectado em prol de uma visão estritamente cientificista ou
ambientalista. Visto o distanciamento comumente praticado entre essas duas dimensões e o
tratamento isolado delas, nosso olhar se volta para a compreensão das conexões e imbricações que
podem ser estabelecidas entre elas na escola, o qual é objeto da dissertação desta autora.
Por vivenciá-la tão intimamente e conhecer o contexto socioambiental insustentável dos dias
atuais e, com isso, a necessidade de discutir cientificamente tais problemas, nos instiga entender o
caminhar e a aproximação da educação ambiental com a ciência na escola.
Nesse texto, trazemos um recorte de tal estudo, onde o interesse em pensar sobre a temática
de trabalho e se questionar sobre ela surge a partir do momento em que observamos um evento
escolar anual, de nível internacional, na área de ensino de ciências, que contempla e busca revelar
iniciativas e projetos escolares inseridos no trato com a educação científica sob o eixo da educação
ambiental. Ou seja, tais práticas se permitem contemplar tais dimensões.
Diante disso, nos inquieta investigar como tais dimensões – educação científica e ambiental
– podem estar associadas nas práticas escolares.

PERCURSOS METODOLÓGICOS

O campo de pesquisa se refere ao evento Ciência Jovem, uma Feira Internacional de


Ciências que reúne trabalhos de todos os Estados brasileiros e de outros países e que congrega todos
os anos cerca de 10 mil visitantes em três dias de intensa interatividade entre estudantes e
professores. A organização é realizada pelo Espaço Ciência, um Museu Interativo de Ciência,
vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Pernambuco, que ocupa
uma área de 120 mil m² entre as cidades de Recife e Olinda, no Estado do Pernambuco, Brasil,
conhecido como o maior museu a céu aberto da América Latina.
Em 2017, o Ciência Jovem está completando 23 anos, a mesma idade do Espaço Ciência, o
que demonstra a importância desta feira no contexto geral das atividades do Museu. Ela está
articulada a diversas feiras nacionais e internacionais, como Feira Brasileira de Ciências e
Engenharia (FEBRACE), Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (MOSTRATEC),
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - Jovem (SBPC-Jovem), International Movement

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

for Leisure Activities in Science and Technology (MILSET) e o Foro Internacional de Ciência e
Engenharia, nas quais tem conquistado prêmios, demonstrando a qualidade de seus trabalhos. Com
a crescente ampliação do quantitativo de instituições educacionais participantes, do público e
consolidação do evento, a Ciência Jovem é hoje um evento integrado ao calendário escolar das
diversas redes de ensino (CIÊNCIA JOVEM, 2016).
Dividida em cinco categorias – Iniciação a pesquisa, Divulgação científica, Incentivo a
pesquisa, Desenvolvimento tecnológico e Educação científica – o evento atrai alunos e professores
da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Técnico, Educação especial, das redes
pública e privada, além de estudantes de escolas estrangeiras, para compartilhar as práticas
vivenciadas em sala de aula. O nosso olhar se volta para os trabalhos que tratam sobre a temática
ambiental presente na modalidade de Educação Científica, a qual é voltada exclusivamente para
professores, e tem como objetivos:
● Incentivar a reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem em educação científica;
● Socializar as experiências vivenciadas no âmbito da educação científica;
● Estimular o desenvolvimento de práticas de ensino voltadas para a educação científica nas
diferentes áreas do saber (biológicas, sociais, humanas, naturais).
No contexto do evento, compreende-se como educação científica o conjunto de práticas que
preparam os indivíduos para compreenderem, expressarem opiniões e tomarem decisões sobre os
fatos em geral, bem como a tecnologia e suas consequências, apoiados em explicações que
descrevem e fazem previsões acerca dos fenômenos, utilizando-se de conhecimentos produzidos de
modo intencional, sistematizados, divulgados e terem sido reconhecidos pela comunidade científica
(CIENCIA JOVEM, 2016).
Observamos os trabalhos participantes do evento nos últimos três anos. Inicialmente foi
realizada a catalogação da listagem desses trabalhos. A partir delas foram observadas a quantidade
de projetos abordando a temática ambiental e mapeamento das mesmas.
A pesquisa visa atender a necessidade de um estudo exploratório, que busca descobrir
ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenômeno pesquisado,
assim como, possibilitam aumentar o conhecimento do pesquisador sobre os fatos, permitindo a
formulação mais precisa de problemas, criar novas hipóteses e realizar pesquisas mais estruturadas
(OLIVEIRA, 2011). Gil (1999) considera que a pesquisa exploratória tem como objetivo principal
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas
mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Segundo o autor, são planejadas
com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato.
Nesse sentido, justifica-se a escolha desse tipo de estudo no início de uma pesquisa maior,
uma vez que, são extremamente relevantes para diagnosticar situações, descobrir concepções e,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

assim, poder guiar o planejamento para atender as necessidades que daí se colocarem, trilhar
alternativas e/ou novos percursos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Inicialmente, percorremos pelos três últimos anos de ocorrência do evento para mapear
como os participantes trazem a temática objeto desta pesquisa. No gráfico 1, podemos visualizar a
relação entre a quantidade total de trabalhos selecionados para participação, os pertencentes a
categoria educação científica e aqueles que, dentro desta categoria, abordam sobre temáticas
ambientais. Considerando que Educação Científica possui uma ampla dimensão de abordagens que
podem ser trabalhadas, ficamos com um bom percentual dedicado às discussões ambientais, que
equivale a aproximadamente 25% dentro da categoria observada.

Gráfico 1 – Visão geral quantitativa da modalidade observada nos últimos três eventos.

Fonte: A autora.

Percebemos que a maioria deles são oriunda do nível de ensino médio, de escolas estaduais
da Região Metropolitana do Recife/PE, sendo apenas cinco deles advindos do interior do Estado. Os
trabalhos pertencentes ao nível de ensino fundamental são apenas cinco, nos três anos observados, e
desses, a mesma escola participa de forma consecutiva com a mesma docente, estes se encontram
em destaque no quadro. Logo, a prática desta docente é alvo de observação desta autora para a
pesquisa maior.
Podemos visualizar no quadro 1 os trabalhos que abordam a temática ambiental nos
respectivos períodos observados. As suas abordagens transitam pelas seguintes proposições e
objetos de estudo:
● Alimentação, por meio da produção de hortas escolares e discussões sobre agrotóxicos;
● Reciclagem, a partir do reaproveitamento de materiais;
● Tecnologias, empregada para o bem-estar;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

● Água, numa abordagem sobre o desperdício e a poluição;


● Cidadania, para formação de sujeitos conscientes ambientalmente;
● Saúde;

Quadro 1 – Projetos participantes nos anos 2014, 2015 e 2016 na temática e categoria observada.
EDIÇÃO ANO 2014
1 A alimentação e a consciência ecológica
2 A brincadeira, a horta escolar e a interdisciplinaridade: a educação
científica e a educação infantil
3 Desenvolvimento de materiais didáticos de forma sustentável com
práticas interdisciplinares
4 Educação ambiental: uma ferramenta na formação infantil e juvenil
5 Espaço sustentável e ecológico no ambiente escolar
6 Horta orgânica na escola
7 O cinema como instrumento de educação ambiental
8 Sustentável mundo novo
9 Um olhar químico-biológico na agricultura familiar
EDIÇÃO ANO 2015
1 Projeto coleta e reciclagem de óleo de cozinha usado
2 Irrigando saberes: proposta interdisciplinar para uso consciente da água.
3 Projeto horta na escola
4 Doces caminhos da ciência: o uso da tecnologia integrada a
sustentabilidade para promoção do bem-estar social
5 Educação e intervenção ambiental no sertão nordestino – resgatando
história e valores socioambientais de Petrolândia, Pernambuco,
―submersos‖ nas águas do rio São Francisco
EDIÇÃO ANO 2016
1 Estudando as águas do recife as margens do rio Capibaribe
2 Alagou onde há lagoas: mapeando o caminho das águas.
3 Os agrotóxicos como uma temática para pesquisa e sua aplicação na
comunidade da Escola Estadual Custódio Pessoa, Paulista/PE
4 A EREM AGDL contra o Aedes aegypti
No ano de 2014, os olhares se voltam para várias temáticas. A produção de horta escolar é
tema comum em dois trabalhos (2 e 6), assim como, os alimentos são alvos de atenção em outros
dois trabalhos (1 e 9). Todos esses se relacionam e são temas consequentes, uma vez que a
produção das hortas nas escolas impregna nos estudantes a premissa do alimento saudável e
ecologicamente correto. Em relação a essa estratégia, Santos (2014) ressalta que a implantação de
uma horta escolar é um instrumento capaz de desenvolver no sujeito mudanças de valores e
comportamentais, possibilitando o conhecimento de práticas sustentáveis que levem a preservação
do planeta. Além disso, proporciona o desenvolvimento de habilidades como o trabalho em equipe,
o respeito com o outro, criatividade, criticidade, promovem atividades de reutilização, reciclagem, e
manejo sustentável os quais podem conduzir a uma qualidade de vida mais saudável.
Os demais projetos nesse mesmo ano buscam recursos, ferramentas ou métodos que sejam
capazes de trazer à tona uma educação ambiental para a formação do estudante. Com esse foco, se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

utilizam da abordagem sobre o reaproveitamento de materiais (3), do cinema como meio de


sensibilização para novas atitudes (7) e dos conceitos de educação ambiental nas práticas escolares
(4,5 e 8).
Para Silva e Krasilchik (2007), os filmes são possibilidades que podem mostrar alguns temas
geradores no sentido de apresentar os conflitos pelo acesso e pelo uso dos recursos naturais,
interesses privados e públicos relacionados à problemática ambiental, a responsabilidade dos
diversos atores sociais na degradação ambiental, as maneiras como os impactos ambientais atingem
diferentes camadas sociais. Os conhecimentos adquiridos por meio dos recursos televisivos é o
único mecanismo de informação para uma parcela da sociedade, as quais se tornam referência nas
aplicações cotidianas. ―Mais do que aprendizagens derivadas das práticas educativas formais, as
experiências vivenciadas nos filmes acabam compondo boa parte do arsenal simbólico através do
qual a opinião pública passa a vislumbrar o alcance dos empreendimentos científicos e
tecnológicos‖. (OLIVEIRA, 2006, p. 135).
No ano seguinte, em 2015, os trabalhos seguem pelo âmbito das discussões sobre a
promoção da cidadania e de bons hábitos a partir de práticas ambientais, como pode-se observar em
três dos trabalhos (2, 4 e 5). E ainda, o incentivo sobre práticas que gerem mudança de atitude,
como é o caso, mais uma vez, da horta escolar (3) e da coleta e reciclagem de óleo (1).
O projeto 1 possui o viés da sensibilização sobre os perigos que representa para a natureza o
descarte inadequado do óleo vegetal, o qual, em contato com a água, libera o gás metano, um dos
mais nocivos para a camada de ozônio, que protege a terra dos raios ultravioleta do sol. A ciência
está por todos os lugares e ambientes, e interage com as diversas dimensões.
O projeto 2 e 3 foram desenvolvidos na mesma unidade educacional e, para seus
idealizadores, é essencial a criação de ―oportunidades de reflexão e ação mais realistas, de maneira
que eles entendessem que a importância das ciências está muito mais ligada a questões cotidianas, a
maneiras de se posicionar diante do desconhecido, de problematizar situações que não parecem
oferecer nenhuma dúvida, de perceber que existem maneiras diferentes de entender o mundo‖.
No projeto 5, buscam resgatar as espécies nativas erradicadas a partir da plantação de mudas
com a finalidade de recuperação das matas degradadas e melhoria na qualidade ambiental dos
ecossistemas naturais e urbanos, além de manter a especificidade ambiental local, ao qual teve
espécimes perdidos devido a inundação intencional provocada pela instalação de uma usina
hidrelétrica na região. Tal projeto vem como um alerta e incentivo aos estudantes no que tange o
reconhecimento e valorização das riquezas regionais que permeiam o ambiente natural e as
dimensões que o envolve, citando o aspecto cultural, econômico e social.
No ano de 2016, percebem-se dois tipos de abordagens, as quais relacionam as discussões
ambientais às consequências das ações humanas em seu meio. De forma unânime, os objetivos dos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

projetos percorrem, essencialmente, por temas relacionados aos males para a saúde humana,
ocasionados por intervenções inapropriadas nesse ambiente.
Nesse contexto, no projeto 1 e 2, a temática da água está em evidência. No primeiro, analisa-
se a água em um ambiente das proximidades da própria escola, com foco nas mudanças das
características naturas em consequências das intervenções humanas naquele contexto. O projeto 2
visa mapear os possíveis pontos de alagamento em um bairro da Região Metropolitana de Recife,
incentivar a educação ambiental e analisar a qualidade de água como fator de risco à saúde da
população.
Conforme Araújo (2011), um dos grandes problemas ambientais está relacionado com as
práticas abusivas dos recursos naturais pela população. Corroborando isso, Felix (2007) afirma que
a maioria dos desequilíbrios ambientais está associada ao uso inadequado dos bens da natureza. Por
esse motivo, a urgência nas mudanças de valores e comportamentos que busquem a melhoria da
qualidade de vida, e a compreensão consumirem apenas o essencial, não explorando esses recursos
que um dia poderá acabar.
O projeto 3 aborda sobre a impregnação de substâncias poluentes no cultivo de alimentos,
que permeia todo o mercado alimentício visando baixo custo e altos lucros. Com isso, há a
contaminação relacionada com o uso de agrotóxicos, que são produtos químicos utilizados na
agricultura com a finalidade de controlar as pragas e aumentar a produtividade. De acordo com
Carvalho (2010), a temática agrotóxico utilizada no contexto escolar é conceitualmente rica, pois
abarcam diversos conteúdos como das disciplinas química, biologia e ambientais, visando alertar os
alunos sobre os riscos à saúde da população humana e ao meio ambiente recorrentes ao uso de
agrotóxico. Nesse sentido, a escola cumpre o seu papel no que tange a sensibilização dos alunos
para uma tomada de consciência e, daí, perceber tais abusos em seu cotidiano.
Por fim, o quarto projeto trata sobre os casos de doenças advindos da picada do mosquito
Aedes aegypt, o qual vem atingindo cada dia mais espaços devido, principalmente, a falta de
cuidados da população. Gouw e Bizzo (2009) destacam que a explosão de número de recipientes
artificiais, tais como plásticos em geral, pneus e o hábito de cultivar plantas em vasos com água
vem corroborando este acúmulo indevido de materiais passíveis de se tornarem criadouros do
mosquito.
Esses fatores associam-se também às condições climáticas, que com a incidência de chuvas
e aumento da temperatura, favorecem a proliferação dos vetores. Os núcleos urbanos são os mais
atingidos, onde há maior quantidade de criadouros naturais ou resultantes da ação do homem,
embora a doença possa ocorrer em qualquer localidade que ofereça as condições necessárias para a
sobrevivência do vetor (BRASIL, 1996).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Todas as questões abordadas são consideradas relevantes e urgentes por acarretar sérios
problemas no meio ambiente e na saúde humana, interferindo diretamente na qualidade de vida das
pessoas (CRUZ, 2013), por esse motivo é de suma importância desenvolver essas atividades, uma
vez que permite ao aluno compreender seu papel no meio buscando resolver os problemas
ambientais ou, pelo menos, não colaborar para o seu agravamento. Logo, diante de todo o exposto e
observado nos projetos, percebemos que o tratamento de questões ambientais é indissociável das
explicações científicas nas práticas de educação ambiental. É preciso que a educação científica dos
estudantes compartilhe das práticas e necessidades da educação ambiental a fim de se obter um
pensamento complexo.
Loureiro e Lima (2009) ressaltam a importância da educação em ciências em sua
interlocução com a educação ambiental crítica, por entender que, para que os cidadãos possam
discutir e se engajar no enfrentamento dos desafios socioambientais, precisam estar cientificamente
letrados e politicamente conscientes. Dessa forma, concordam que tal enfrentamento depende da
luta pela formulação de ciências e culturas engajadas no processo de construção de um modelo de
sociedade democrática, ecológica e socialmente sustentável.
A educação científica, em conjunto com a educação social e ambiental, dá a oportunidade
para os atores sociais explorarem e entenderem o que existe ao seu redor nas diferentes dimensões:
humana, social, educacional, política e cultural. A educação científica desenvolve habilidades,
define conceitos e conhecimentos, estimulando a observação, o questionamento, a investigação e a
compreensão lógica dos seres vivos, o meio em que vivem e os eventos do dia a dia. Além disso,
estimula a curiosidade, a imaginação e o entendimento do processo de construção do conhecimento
(ROITMAN, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a melhor compreensão do nosso ambiente, o olhar não pode e não deve estar
distanciado das construções científicas que também se propõem ao estudo e a explicações do mundo
e seus fenômenos. Os percursos devem seguir compartilhando e dialogando com os resultados,
avanços e insucessos, de forma tão imbricada que o saber de um transforme o outro.
Uma vez que as áreas de estudo são vistas de forma segmentada e/ou isolada, deixamos de
visualizar a completude de suas reais e profundas necessidades, uma vez que o ambiente é uma teia
de relações e implicações.
Os projetos que vem sendo desenvolvidos no chão da escola aproximam a ciência são
relacionados com os desdobramentos da presença e intervenção do homem no ambiente e,
consequentemente, o impacto na própria saúde.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1114


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesse sentido, é válido ressaltar que quando a escolha do tema e a ênfase oferecida à
atividade didática emergem do contexto vivenciado e do grupo social do sujeito, tais momentos
ganham mais significados para os participantes, por esse motivo é de suma importância desenvolver
projetos ou atividades oriundos da visão pertencente a cada grupo, para que eles consigam associar
o conteúdo com a sua realidade. É fundamental para o aprendizado e o desenvolvimento de atitudes
e mudanças de valores quando o assunto abordado faz parte do contexto do aluno.
No corrente ano, estamos observando a prática docente para encontrarmos mais contextos de
aproximações possíveis e necessárias entre educação científica e educação ambiental e, assim,
aprofundar os estudos e análises nesse campo.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, M. L. F. O quefazer da educação ambiental crítico-humanizadora na formação inicial


de professores de biologia na universidade. Tese (Doutorado). Universidade Federal de
Pernambuco. Programa de Pós-graduação em Educação, 2012. Recife: O autor, 2012. 240 f.

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2007.

CIENCIA JOVEM. Site. Regulamento. 2016. Disponível em: http://cienciajovem.net.br/. Acesso


em: 15 de dez. 2016.

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Acesso em: 30 de jan. 2017.

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Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, v. 18, p. 56-71. 2007.

GOUW, A. M. S.; BIZZO, N. A dengue na escola: contribuições para a educação em saúde da


implementação de um projeto de ensino de ciências. In VIII ENPEC, Florianópolis, 2009.

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concepções científicas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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Ambiente - Um Estudo com a Programação da TV Escola. In: IV EPEA, 2007, Rio Claro.
Caderno de Programação e Resumos. Rio Claro: UNESP, 2007. p. 59-59.

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desigualdades. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. de. Repensar a
educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009, p. 11 – 31.

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n.1, p. 88-100, jan./jun, 2009.

_________. Trajetórias e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo; Cortez, 2012.

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(suplemento), p. 133-50, out 2006.

ROITMAN, I. Educação Científica: quanto mais cedo melhor. Brasília: Ritla, 2007. Disponível em:
http://www.ritla.net/index.php?option=com_content&task=view&id=2151. Acesso em: 10 de
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Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) – Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa. 2014.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1116


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRÁTICA EDUCATIVA AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL APLICADA AO


USO DA ÁGUA NA AGRICULTURA

Denis Cesar CARARO


Agrônomo, Doutor em Agronomia com área de concentração em Irrigação e Drenagem. Embrapa
Rondônia. denis.cararo@embrapa.br
Vânia Beatriz Vasconcelos de OLIVEIRA
Comunicóloga, Mestre em Extensão Rural e Especialista em Jornalismo Científico.
Embrapa Rondônia. vania.beatriz@embrapa.br

RESUMO
O conhecimento científico gerado nas últimas décadas indica possibilidades do uso da água na
agricultura ser feito com racionalidade e sem desperdício. A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – Embrapa tem desenvolvido, ou adaptado, soluções tecnológicas para diferentes
biomas, que visam colaborar para reduzir os impactos do mau uso desse precioso recurso natural.
Diante da crise hídrica que se observa em importantes regiões produtoras de alimento no Brasil, é
fundamental que a sociedade tenha acesso a este conhecimento. Eventos como a Semana Nacional
do Meio Ambiente (SEMEIA) permitem intensificar ações de educação ambiental voltadas,
sobretudo, para a comunidade estudantil do Ensino Fundamental, uma vez que é crescente a
percepção de que, para se alcançar as mudanças de atitudes esperadas pelas ações educativas
visando à preservação da água para uso na agricultura e outros fins, faz-se necessário educar as
crianças. Este trabalho tem como propósito avaliar uma prática educativa ambiental criada para
aplicação em uma palestra sobre o uso de recursos hídricos na agricultura sustentável, para 35
alunos do Ensino Fundamental, em uma escola pública de Porto Velho – Rondônia, como parte das
comemorações da SEMEIA – 2017. A avaliação foi feita por meio de análise qualitativa dos dados,
coletados em observação participante, referente ao diálogo e participação dos estudantes. O objetivo
principal foi, por meio de uma abordagem lúdica, promover interações construtivas a partir da
realidade cotidiana, de modo a conscientizá-los da necessidade de conhecer os problemas
relacionados à escassez de água e seus impactos na produção de alimentos, bem como estimulá-los
a agir, para que os problemas sejam minimizados. Na avaliação observou-se que a prática
proporcionou diversas abordagens da temática água, desde os aspectos técnicos do ciclo hidrológico
até o protagonismo dos alunos nas decisões, quando no papel de produtor e de consumidor de
alimentos.
Palavras-Chave: diálogo; participação; recursos hídricos.
ABSTRACT
Rational use of water increased in the last decades, as result of companies like Embrapa, wich has
been developed technologies to reduce impacts related to hydric crisis in crop production areas in
Brazil. Some events like SEMEIA, are useful to inform these technologies and knoledgments to
elementary school students based on an environmental education to water preservation. In
SEMEIA-2017, a water resource in a sustainable agriculture lecture was done as an environmental
education practice for 35 elementary school students in a public school in Porto Velho, Rondônia
state, Brazil. Quantitative and qualitative analysis of the students participant observation was done.
A playful approach using constructive interactions by daily reality was done to make children aware
about problems related to water shortage and its impacts in crop production, as well as, mitigation
acts by them was encouraged. Several approaches were noted, technical aspects from hydrological
cicle to role of students in decision-making, in the role from rural producer to food consumer.
Keywords: diolague; participation; water resources.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO
A crescente demanda por recursos naturais, principalmente a água, somada aos efeitos das
mudanças climáticas e da contaminação de rios pela população exige uma reflexão. Uma das
maneiras em se promover a reflexão é, como sugerem Ananias e Marin (2013) , ao mencionar o
slogan ―Pensar Globalmente Agir Localmente‖, outra é sobre o papel da formação escolar dos
alunos, para que os mesmos adquiram conhecimentos, habilidades e atitudes, no sentido de
compreender e intervir na realidade. Uma abordagem voltada à preservação dos recursos hídricos,
destacando a agricultura, cujo consumo consiste em 69% da água doce no planeta, Fialho (2012), é
pertinente ao problema exposto. Ainda segundo Ananias e Marin, papel do professor é de suma
importância ao contribuir para a formação dos alunos com práticas educativas voltadas à
compreensão da realidade local e global e ao fomento de hábitos e atitudes. Essa abordagem é
extremamente importante, no que diz respeito ao uso racional da água - um dos recursos mais
importantes, se não o mais importante, na manutenção e na continuidade da vida no planeta, seja
diretamente ou indiretamente, pelo fato do mesmo ser um elemento essencial à produção de
alimentos.
Eventos como a Semana Nacional do Meio Ambiente (SEMEIA) permitem intensificar
ações de educação ambiental voltadas, sobretudo, para a comunidade estudantil do ensino
Fundamental, uma vez que é crescente a percepção de que, para se alcançar as mudanças de atitudes
esperadas pelas ações educativas visando a preservação da água para uso na agricultura e outros
fins, faz-se necessário educar as crianças. Em Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, para as
comemorações da SEMEIA – 2017 foi elaborada uma Agenda Integrada, da qual participaram 16
instituições, dentre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Rondônia, por
meio do desenvolvimento de várias ações, tais como, visitas, oficinas e palestras em escolas da rede
pública municipal e estadual. Foi neste contexto que, sob a temática do ―uso de recursos hídricos na
agricultura sustentável‖, foi elaborada a prática educativa, objeto deste relato, criada e aplicada,
pelo primeiro autor, em palestra ministrada para 35 alunos da 5ª Série da E.M.E.F. Maria Izaura da
Costa Cruz, em Porto Velho – Rondônia.

OBJETIVOS

 - Desenvolver atividades sobre a água, um dos quatro elementos da Natureza (ar, fogo, terra
e água) de modo a levar a criança a refletir sobre a importância da água na agricultura, na
produção e consumo de alimentos, no seu cotidiano.
 - Experimentar, criar, investigar formas de abordagens do elemento Água.
 - Desenvolver atividades lúdicas e interativas na transmissão de informações técnicas, em
uma linguagem acessível ao público infantil.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

JUSTIFICATIVA

A crescente escassez da água vem sendo apontada como um dos principais fatores que
ameaçam inviabilizar a vida no Planeta Terra. Na educação ambiental para crianças, a abordagem
do uso da água na agricultura, da forma como aqui apresentada, tem sua importância por ser mais
abrangente, indo além das costumeiras recomendações para a redução do consumo de água por
meio de atitudes tais como ―escovar os dentes com a torneira fechada‖, por exemplo. Ou seja, é
possível estabelecer conexões entre as práticas agronômicas na agricultura e seus impactos na
produção de alimentos, uma vez que esta depende da oferta de água e a sobrevivência humana
depende da disponibilidade de água e alimentos. A criança, que está em consolidação e formação
de sua percepção ambiental, pode, por meio do acesso às informações, influenciar no
comportamento de adultos (especialmente os familiares), na adoção de atitudes cidadãs para a
minimização dos impactos ambientais.

MATERIAL E MÉTODOS

A prática educativa consistiu em uma palestra com duração de 50 minutos, realizada com
alunos, na faixa etária de 8 a 10 anos, da Escola Municipal Maria Izaura, em Porto Velho,
Rondônia, sendo parte das atividades que o Programa Embrapa & Escola desenvolveu na Semana
de Meio Ambiente (SEMEIA-2017).
Foi adotada uma abordagem que associa aspectos teóricos do conhecimento sobre o
uso da água na agricultura com um processo lúdico de reflexão sobre os hábitos de consumo de
alimento, na qual os alunos foram levados a desenvolver raciocínio sobre suas experiências
alimentares, correlacionando com o cotidiano. Morelli (2003: 52) em reflexões sobre educação
socioambiental, considera que nos livros didáticos – utilizados nas escolas desde as primeiras séries
- deveria haver maior destaque crítico aos temas ligados ao meio ambiente; destaca também a
importância dos materiais paradidáticos (cartilhas, revistas, álbuns, jogos) por ter como objetivo
ensinar e divertir.
Na prática em avaliação, o aluno observa e experimenta exercer os papéis desempenhados
pelos atores sociais do processo de produção e consumo de alimentos, alternando posições como a
de um produtor, um comerciante, um comprador no mercado ou um consumidor. Desta forma, sua
compreensão é associada a todos os elos da cadeia produtiva, bem como sua relação com o meio
ambiente. O palestrante (ou professor), no papel de interlocutor e portador do discurso da Ciência,
dialoga com os alunos, abordando os aspectos diretamente associados ao meio ambiente, como o
uso de recursos hídricos, solo e resíduos sólidos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foram utilizados os seguintes materiais: microfone e caixas de som; dois conjuntos de


ilustrações impressas em folhas de papel A5 (21 cm x 15 cm). O primeiro conjunto continha
imagens de diversas frutas, verduras, grãos e espécies animais (boi, porco), habitualmente
consumidos como alimento. O segundo, continha imagens de pessoas jogando lixo na rua e em rio;
nuvem com chuva; nome de profissões como Engenheiro Agrônomo e Florestal, Médico
Veterinário, etc. Também foi utilizado um vaso contendo solo e uma planta seca; uma bandeja
plástica, uma esponja do tipo utilizada para lavar louças, nas cores verdes (face áspera) e amarelas
(face macia); uma jarra em inox, ou outro recipiente que contenha aproximadamente 2 litros de
água.

DINÂMICAS NO DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA EDUCATIVA AMBIENTAL

Após as apresentações de praxe, foram desenvolvidas abordagens introdutórias à temática da


palestra, envolvendo de forma crescente, a participação das crianças.
Inicialmente, fez-se a distribuição aleatória do primeiro conjunto de ilustrações (de tipos de
alimentos) aos alunos, que posteriormente, foram orientados a usá-las. O segundo conjunto de
ilustrações foi utilizado pelo palestrante, que mostra as ilustrações aos alunos, na medida em que o
assunto é apresentado. Na abordagem, falou-se sobre os recursos necessários para a produção dos
alimentos, como o solo, os nutrientes para as plantas (neste momento, pode-se falar do vendedor de
adubo e sementes, indicando o primeiro elo da cadeia produtiva), o clima, o produtor rural, os
profissionais (mostra-se o nome das profissões neste momento). Ao falar do clima, menciona-se o
sol e a chuva, sendo neste momento mostrado a ilustração da nuvem com chuva. A importância da
água da chuva às plantas foi destacada, pela visualização e manuseio da planta morta no vaso
contendo o solo seco (Figura 1).

Figura 22- Crianças observam o resultado da ausência de água em solo e plantas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com o objetivo de abordar a chuva como um dos componentes do ciclo hidrológico, foi
desenvolvida uma dinâmica com os participantes, na qual eles representaram o produtor de cada
alimento ilustrado. Pede-se que cada aluno, investido do papel de produtor rural, mostre a sua
ilustração, quando o palestrante pergunta quem é o produtor de café, por exemplo. Logo em seguida
à uma rodada de identificação da diversidade de agricultores, o palestrante, repentinamente, asperge
água sobre as crianças, representando a chuva nas respectivas plantações.
No processamento da dinâmica, o palestrante comentou sobre, como a água na quantidade
certa pode produzir mais alimento para as pessoas. Falou-se também sobre as recomendações para
manutenção dos recursos hídricos: conservação de áreas próximas aos rios (áreas de preservação
permanente) e nascentes, e também a conservação da umidade no solo. Para demonstrar isto, fez-se a
simulação da penetração da água da chuva no solo, em duas distintas situações: (1) com vegetação
florestal, ou outra cobertura vegetal, (representada pela face verde da esponja) e outra (2) sem
vegetação, solo desmatado ou descoberto (representada pela face amarela da esponja). A esponja é
colocada na bandeja levemente inclinada, a água é vertida lentamente sobre a face verde, de modo
que as crianças possam visualizar a prática (Figura 2). A água é absorvida pela esponja e pouco
escorre. Em seguida, inverte-se a face da esponja e, repete-se o procedimento anterior, e desta vez, a
água irá escorrer de modo expressivo e acumular na bandeja. Assim, fica demonstrado outro
componente do ciclo hidrológico, o escoamento da água, bem como a importância de se cuidar das
matas e da umidade no solo, a fim de ter água para as plantas. Pode-se também comentar que a planta
e o solo perdem água, se o objetivo for descrever a evapotranspiração, fechando o ciclo hidrológico,
utilizando-se o vaso com planta e solo secos.

Figura 23 – Crianças observam a representação do armazenamento e escoamento da água no solo.

Outra dinâmica aplicada teve por objetivo abordar as atitudes e a vivência das crianças,
relacionadas ao descarte de lixo. Para isso, inicialmente foi utilizada a ilustração de pessoas
lançando lixo no rio e na rua. Na interação, as crianças identificam o hábito de pessoas na

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contaminação da água. Neste ponto, menciona-se a importância da melhoria e manutenção da


qualidade dos recursos hídricos no ambiente urbano. Podem ser também dadas recomendações para
o não lançamento de esgotos em cursos d´água, advertindo os participantes sobre os impactos
ambientais que podem resultar da falta de cuidados com o meio ambiente, especificamente, na falta
de água de boa qualidade nos rios, na cidade e na plantação.
A próxima dinâmica levou os alunos a refletir sobre o fluxo dos produtos alimentares, desde
a porteira da propriedade rural, passando pelo mercado até a mesa do consumidor, estabelecendo
assim o vínculo do urbano com o rural. Essa dinâmica permite estimular o raciocínio das crianças,
refletindo que, sem água, as pessoas não sobrevivem, pois também não há alimento. No
procedimento inicial, chama-se um voluntário dentre as crianças para ser um comprador dos
alimentos, representando o ―representante comercial‖ aquele que compra do produtor rural e
fornece os produtos ao supermercado.
O voluntário passa pelos ―produtores rurais‖ (alunos) e recolhe os ―alimentos‖ (placas
ilustradas) no ―caminhão‖ (bandeja). Em seguida, esta bandeja passa a representar uma gôndola no
supermercado e as crianças devem fazer uma fila em frente à bandeja, escolhendo o produto (―placa
ilustrada com o alimento‖), enquanto o voluntário, agora no papel de operador de caixa no
supermercado, segura a bandeja. De posse do ―alimento‖ adquirido no supermercado, os alunos
voltam para suas cadeiras, agora representando as suas casas, e não mais a propriedade rural.
Fechando assim, o ciclo da cadeia produtiva, o aluno no papel de consumidor final (Figura 3).
Na dinâmica seguinte, as ilustrações representando os alimentos do consumidor foram
devolvidas ao palestrante, na medida em que este repetia às crianças, que aquele alimento não mais
existia no mercado e na casa delas, devido à gradativa redução dos recursos hídricos. Ao final, fez-
se uma reflexão sobre a prática, ressaltando que a escassez de água influi grandemente na produção
de alimentos e consequentemente na permanência da vida no Planeta.

Figura 24 – Crianças interagem como atores da cadeia produtiva de alimentos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

As dinâmicas aqui relatadas compõem, em conjunto, uma prática educativa criada


especialmente com o objetivo de abordar o uso da água na agricultura familiar em uma palestra para
um público infantil. Buscou-se trabalhar a transmissão de informação sobre o tema, numa
perspectiva de reflexão a partir do cotidiano das crianças relacionado ao consumo de alimentos.
Esta primeira experiência nos permitiu observar as diversas possibilidades de abordagem: o ciclo
hidrológico, pela representação da chuva, escoamento e evapotranspiração da água; a cadeia
produtiva dos alimentos pela representação dos diferentes atores da cadeia produtiva, como o
produtor rural, o comerciante, o varejista (vendedor no mercado) e o consumidor final; a
contaminação ambiental da água; e a própria sobrevivência humana ameaçada pela falta de
alimentos, representada pela planta morta devido à falta de água.
Em caso de reprodução da prática sugerimos que sejam feitos alguns ajustes, para melhor se
adequar aos preceitos da educação ambiental. Recomenda-se enfatizar as informações sobre a
correlação entre a falta de água e a consequente inviabilidade da agricultura e da produção de
alimentos; apontar as possibilidades de ação-cidadã do aluno, no ambiente da escola, motivando-os
a cuidar para não desperdiçar água, apontando como exemplo, o uso do bebedouro na escola ou de
torneiras em suas casas.
Com relação ao material utilizado: sugere-se que as ilustrações impressas em papel comum,
sejam substituídas pelo uso de algum material impermeável e durável, ou mesmo a plastificação da
folha comum, de modo a ser reutilizada em outras palestras (ou aula). Deve-se também atentar para
empregar ilustrações de alimentos que fazem parte do cotidiano do público alvo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANANIAS, N.T.; Marin, F.A.D.G.. Educação ambiental e água no ensino fundamental: o trabalho
docente em questão. Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 21 a 24 de
outubro, 2013 Colloquium Humanarum, vol. 10, n. Especial, Jul–Dez, 2013, p. 882-889.

FIALHO, E. Contaminação e consumo da água no mundo. Publicado em


http://bioclimaufv.blogspot.com.br/search?q=%C3%A1gua em 18 de dezembro de 2012 e
acessado em 09 de agosto de 2017.

MORELLI, L. Grito das Águas. Letra d‘Água: Joinville, 2003.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA


ATRAVÉS DE ATIVIDADES LÚDICAS

Denis Rocha CALAZANS


Professor Adjunto (D-III) do Instituto Federal de Alagoas
denisrc1@yahoo.com.br
Maryanna Alves OLIVEIRA
Aluna de Edificações do Instituto Federal de Alagoas
alvesmaryoliveira@gmail.com
Vitória Reginna dos Santos SILVA
Aluna de Edificações do Instituto Federal de Alagoas
vitoriareginna01@gmail.com

RESUMO
Trabalhar com o tema transversal Meio Ambiente em sala de aula de forma significativa é um
desafio para os professores da Educação Básica. Por isso, foi criado o projeto de extensão Consumo
e Meio Ambiente, desenvolvido por alunos do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), visando
promover, através da pedagogia de projetos e com a aplicação de atividades lúdicas, o trabalho com
essa temática. O trabalho foi desenvolvido em uma turma do 5º ano da Escola Municipal Dr.
Orlando Araújo, situada no bairro Ponta Verde, em Maceió - AL. As atividades foram iniciadas em
abril de 2017 e desenvolvidas em um dia por semana. Com o intuito de mensurar as contribuições
das atividades para o processo de ensino aprendizagem e nortear as ações desenvolvidas,
primeiramente foi aplicado um questionário com os alunos e com a professora regente. O
questionário visou coletar informações sobre o perfil do alunado e suas percepções sobre questões
inerentes ao tema Meio Ambiente e consumo. Esse questionário será reaplicado ao final do projeto,
acrescido de outras perguntas, necessárias a verificação da contribuição do trabalho. A primeira
atividade foi a apresentação de conceitos sobre o tema; nessa atividade os alunos foram estimulados
a criar seus próprios conceitos. Nas etapas seguintes, os alunos participaram de jogos interativos,
visando estimular o aprendizado e a reflexão sobre seu papel na conservação do meio ambiente. Os
primeiros resultados mostraram que os alunos se tornaram mais presentes, participativos e
interessados nas aulas. Mostrou também que a visão sobre o meio ambiente e sua conservação é
baseada no senso comum, apresentando conceitos equivocados e ideias confusas sobre como evitar
problemas ambientais. A professora repassou a experiência que está sendo vivenciada em sua
turma para outras colegas da escola, estas, por sua vez, passaram a incluir atividades lúdicas na sua
prática em outras turmas.
Palavras-Chave: Meio ambiente. Aprendizagem significativa. Atividades lúdicas.
ABSTRACT
Working with the transversal theme Environment in the classroom in a meaningful way is a
challenge for teachers of Basic Education. Therefore, the project for the extension of Consumption
and the Environment was developed, developed by students of the Federal Institute of Alagoas
(IFAL), aiming to promote, through the pedagogy of projects and the application of play activities,
the work with this theme. The work was developed in a group of the 5th year of the Municipal
School Dr. Orlando Araújo, located in the Ponta Verde neighborhood, in Maceió - AL. The
activities started in April 2017 and were developed one day a week. In order to measure the
contributions of the activities to the process of teaching learning and guide the actions developed, a
questionnaire was first applied to the students and to the teacher regent. The questionnaire aimed to
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1124
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

collect information about the profile of the student and their perceptions about issues inherent to the
theme Environment and consumption. This questionnaire will be reapplied at the end of the project,
along with other questions, necessary to verify the contribution of the work. The first activity was
the presentation of concepts on the theme; In this activity students were encouraged to create their
own concepts. In the following stages, students participated in interactive games to stimulate
learning and reflection on their role in environmental conservation. The first results showed that the
students became more present, participative and interested in the classes. It also showed that the
view on the environment and its conservation is based on common sense, presenting
misconceptions and confused ideas about how to avoid environmental problems. The teacher passed
on the experience that is being experienced in her class to other classmates of the school, who, in
turn, began to include play activities in their practice in other classes.
Keywords: Environment. Meaningful learning. Playful activities.

INTRODUÇÃO

O ensino escolar no Brasil é caracterizado historicamente por um processo baseado na


memorização, na transmissão de conhecimentos prontos, priorizando o conhecimento
enciclopédico, sem necessariamente fazer conexão com o mundo vivido pelo aluno. Nesta condição
o aluno é tratado ―como um receptor de conteúdos sem nenhum sentido‖ (CASTELLAR;
MORAES, p. 122, 2012).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) nos alertam para essa prática quando nos
concitam a usar as várias linguagens em busca de uma educação significativa, indo muito além dos
significados tradicionais e das abordagens mnemônicas das disciplinas escolares (BRASIL, 2000).
Assim, é preciso ressignificar o conhecimento, tornando-o atrativo e agradável ao discente,
identificando e valorizando os conhecimentos prévios do aluno, para, assim, criar desafios que
transformem o novo conhecimento em algo interessante (CASTELLAR; MORAES, 2012).
Nesse contexto, cabe ao professor tornar o conteúdo atrativo ao estudante, mas esse
procedimento nem sempre é aprendido em sua formação inicial. Grande parte dos docentes das
licenciaturas prioriza o ensino de conhecimento técnico em detrimento dos conhecimentos
pedagógicos que subsidiariam a práxis dos futuros professores (PICONEZ, 2008), dessa forma os
professores iniciam sua vida profissional com um grande déficit de conhecimentos que o auxiliaria
a se tornar um profissional da educação. Diante dessa realidade, a formação continuada ou a
formação em serviço se apresenta como um elemento importante para qualificação docente e
melhoria do ensino.
A inserção de atividades lúdicas no ensino de Meio Ambiente na Educação Básica se
caracteriza como uma metodologia que auxilia no processo de ensino-aprendizagem e contribui
para a melhoria da prática docente, além de promover um maior envolvimento dos alunos. Souza e
Yokoo (2013, p. 1) salientam

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a importância da inclusão de jogos como parte integrante do processo de aprendizado [...].


Por meio da inclusão de novos conceitos e conteúdos tornando assim mais dinâmica as
atividades que abarquem o processo de ensino [...], contribuindo para a motivação dos
alunos.

Para o desenvolvimento deste trabalho, optou-se pelas aulas de Geografia, ministradas em


um dia específico da semana. Apesar de as demais áreas, dentro da sua especificidade, poderem
contribuir para que o aluno tenha uma visão mais integrada do ambiente, a escolha de Geografia se
justifica pela própria natureza do objeto de estudo dessa ciência (BRASIL, 1998).
O trabalho foi desenvolvido em uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental da Escola
Municipal Dr. Orlando Araújo, na cidade de Maceió – AL, visando contribuir com o aprendizado
dos alunos e com a formação continuada e em serviço da professora regente. Assim, o projeto de
extensão intitulado Consumo e Meio Ambiente, desenvolvido por docente e alunos do Instituto
Federal de Educação de Alagoas (IFAL), tem como objetivo proporcionar o desenvolvimento de
uma nova perspectiva sobre o ensino de Geografia, através da elaboração e aplicação de atividades
sob uma perspectiva dinâmica, atrativa e integrada à realidade do aluno. Visa também, contribuir
com a formação continuada de professores da Educação Básica através da execução de atividades
lúdicas sobre o tema transversal Meio Ambiente, incentivando a mudança do fazer pedagógico e
estimulando o uso de novas metodologias educacionais para tornar as aulas mais significativas.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A educação ambiental deve fazer parte de todo o contexto educativo escolar, envolvendo
todos aqueles que fazem a escola: pais, professores, funcionários, alunos e comunidade. Além de
ser uma necessidade do planeta, entendido aqui como o espaço geográfico da humanidade, é o
reflexo do próprio processo de avanço da sociedade, que vem identificando seus erros e buscando
soluções para corrigi-los. Uma formar é ensinar as novas gerações para que tenham uma atitude
diferenciada em relação ao uso dos recursos naturais.
Nesse contexto, os Temas Transversais propõem o trabalho com Meio Ambiente na escola,
possibilitando a integração dos vários componentes curriculares em função de um tema comum,
auxiliando o ensino e propiciando um maior engajamento de toda a escola em torno das atividades
desenvolvidas. Os PCNs elegem vários temas transversais para serem trabalhados de forma
transdisciplinar nos vários níveis educacionais, um dos temas transversais é Meio Ambiente
(BRASIL, 1997), que, segundo Carvalho (2004), adquire grande importância no ensino, pois
engloba uma necessidade premente de formação cidadã, valorizando a relação homem-meio e
ampliando a visão de que o meio ambiente inclui o próprio ser humano, sem a dicotomia de uma
natureza à parte do homem.
Além de ser tema transversal, o trabalho com meio ambiente na escola é reforçado pela Lei

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

9.795 de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, na qual
estabeleceu em seu artigo Art. 10º que ―a educação ambiental será desenvolvida como uma prática
educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal‖.
Para tanto, segundo o parágrafo 1o do mesmo artigo ―A educação ambiental não deve ser
implantada como disciplina específica no currículo de ensino‖ (BRASIL, 1999).
Portanto, o trabalho com meio ambiente na Educação Básica, além de uma determinação
legal, é uma necessidade social, pois visa contribuir com a formação da consciência ambiental,
trabalhando valores necessários a criação de cidadãos preocupados com aspectos ambientais e com
uma sociedade mais justa.
Historicamente, a humanidade vem consumindo e extraindo recursos naturais em
quantidades que, em alguns casos, ultrapassa a capacidade de suporte do meio, o que pode levar a
escassez ou extinção de determinados recursos (ALMEIDA, 2011). Além disso, o consumo
exagerado pode levar as pessoas ao descontrole, gerando problemas financeiros, familiares e de
saúde. Assim, o ato de consumir pode se tornar algo extremamente prejudicial, tanto ao meio
ambiente como também a pessoa que consome em demasia e a sociedade.
Por isso, o consumo e sua relação com a pressão sobre os recursos naturais deve ser
trabalhada com os alunos desde os anos iniciais, no intuito de despertar a percepção de que cada
indivíduo é parte responsável pela forma como nos relacionamos com o meio ambiente e como
impactamos os recursos naturais. No entanto, trabalhar temáticas complexas com alunos da
Educação Básica exige um olhar diferenciado, que atenda a duas necessidades prementes, a
transposição didática e o atendimento a fase de desenvolvimento da criança. É nesse contexto que
se insere o trabalho com a Pedagogia de Projetos e com as atividades lúdicas.

A PEDAGOGIA DE PROJETOS E AS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Trabalhar com temas motivadores na educação é uma técnica educativa que cria um fio
condutor de ações que promovem a interdisciplinaridade. Podendo, essa interdisciplinaridade, ser
alcançada através da Pedagogia de Projetos, que, segundo Moura e Barbosa (2006, p.12), são
atividades

desenvolvidas por alunos em uma (ou mais) disciplina(s), no contexto escolar, sob a
orientação do professor, e têm por objetivo a aprendizagem de conceitos e desenvolvimento
de competências e habilidades específicas. Esses projetos são conduzidos de acordo com
uma metodologia denominada Metodologia de Projetos, ou Pedagogia de Projetos. [...] os
projetos de trabalho são executados pelos alunos sob a orientação do professor visando a
aquisição de determinados conhecimentos, habilidades e valores.

A pedagogia de projetos é uma forma de ensinar e também de aprender. Ela instiga os


alunos a participar da construção do conhecimento e transformar os conteúdos em elementos
significativos. Assim, o que muitas vezes é passado de forma pronta, mnemônica, se transforma em
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conteúdos dinâmicos. Essa mudança no fazer pedagógico é uma metodologia auxiliar no processo
educativo, que possibilita ao docente repensar sua práxis, pois

a pedagogia de projetos surge como uma mudança de postura pedagógica fundamentada na


concepção de que a aprendizagem ocorre a partir da resolução de situações didáticas
significativas para o aluno, aproximando-o ao máximo do seu contexto social, através do
desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução do problema. (ALVES;
OLIVEIRA, 2008, p. 21).

Para Portes (2010), o mais importante no trabalho com a pedagogia de projetos não é
propriamente o tema, mas o desenvolvimento deste, sendo essencial a promoção de atividades que
estimulem a realização dos trabalhos a fim de que o projeto se torne interesse do grupo envolvido.
Nesse contexto, o trabalhar com atividades lúdicas através de jogos e brincadeiras na pedagogia de
projetos, proporciona diversão, lazer e conhecimento a todos os participantes.
Desde a antiguidade os jogos estão presentes nas atividades sociais. Na Grécia antiga os
jogos e brincadeiras faziam parte do treinamento e do aprendizado dos jovens, sendo utilizados
como elementos motivadores. Mas, é na Idade Média que o relato e a descrição dos jogos adquire
um caráter mais técnico, passando a ser estudado em relação ao seu uso e sua funcionalidade social.
Para D. Afonso X, rei de Castela, ―os jogos eram inspiração divina para auxiliar os homens a
superar as agruras diárias‖ (VANZELLA, 2016, p. 83).
Mais especificamente sobre a utilização dos jogos no processo de ensino-aprendizagem,
Oliveira (2006), afirma que foi com Pestalozzi e Fröebel que, pela primeira vez depois de Platão, os
brinquedos e jogos foram reconhecidos como de importância essencial para a educação. Ainda
segundo a autora, Freinet questionava as tarefas escolares repetitivas e cansativas e apontava os
jogos e as atividades lúdicas como práticas prazerosas capazes de promover a aprendizagem.
Ainda nesse contexto, Brougère (2001), afirma que os jogos e brincadeiras devem ser
entendidos como objetos culturais, portadores de significados que remetem as crianças a elementos
legíveis do real ou do imaginário, possibilitando à criança o entendimento de questões variadas que
permeiam a sociedade.
Portanto, além de fazer parte das necessidades básicas das crianças (NEGRINE, 1995), as
brincadeiras e os jogos auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo com a
construção da forma de pensar, de socializar, de montar estratégias, de trabalhar em equipe, além de
estimular a imaginação.
Dessa forma, o desenvolvimento do projeto Consumo e Meio Ambiente, que tem como
objetivo criar uma consciência de consumo ambientalmente sustentável, utilizou as atividades
lúdicas como ferramenta na promoção da aprendizagem.

METODOLOGIA

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O desenvolvimento do projeto de extensão adotou um procedimento participativo, devido,


principalmente, à natureza da proposta de intervenção direta. A realização das atividades foi
norteada pelo perfil dos alunos, obtido através da aplicação de questionário, elaborado de acordo
com as orientações de Moreira e Caleffe (2006), aplicado antes do início das atividades, visando
investigar o nível de conhecimento dos alunos sobre o tema motivador (consumo e meio ambiente) e as
impressões que esses tinham sobre as aulas de Geografia.
A partir dos resultados obtidos, o projeto desenvolveu várias atividades lúdicas com os
alunos, destacando-se duas, que visaram, primeiro, fomentar o conhecimento sobre temas ligados a
consumo e meio ambiente e, em seguida, estimular nos alunos a prática de atitudes que ajudam a
conservar os recursos naturais.
A primeira atividade trabalhou 12 temas relativos ao projeto, levando os alunos a
conhecerem conceitos e reelaborá-los, possibilitando a reflexão e a aproximação desses temas da
realidade do educando.
A segunda atividade buscou estimular os alunos a conhecer e refletir sobre as atitudes
tomadas no dia a dia que impactam o meio ambiente e como a mudança de hábito pode contribuir
para conservá-lo.
Os resultados das atividades foram obtidos através da observação e do registro do
procedimento dos alunos, de entrevista informal, não estruturada, e da aplicação de questionário
com a professora regente, visando coletar suas impressões sobre as atividades e sua percepção sobre
mudanças observadas na atitude dos alunos, após a realização das atividades.

Perfil dos alunos

Ao iniciar um projeto voltado ao aprendizado de temas sociais relevantes, como Consumo e


Meio Ambiente é importante conhecer o público alvo. Para isso, fez-se o levantamento de dados
relacionados aos estudantes da escola parceira deste trabalho. Esse levantamento objetivou traçar o
perfil escolar e familiar dos estudantes, auxiliando no direcionamento das atividades desenvolvidas,
identificando suas carências e necessidades.

Os resultados mostraram que 90% dos alunos estão na faixa etária adequada para o 5º ano do
Ensino Fundamental, entre 9 e 11 anos, apenas 10% dos alunos estão fora de faixa, pois já
completaram 12 anos. A pesquisa mostrou que os alunos fora de faixa foram reprovados no ano
anterior.
A estrutura familiar é um fator importante no processo de aprendizagem, por isso, foi
perguntado aos alunos com quem eles moravam. Os resultados mostraram que 48% vivem com pai
e mãe; 40% apenas com a mãe; 4% apenas com o pai; 4% apenas com avós e 4% apenas com

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

irmãos. Os resultados mostram que a maior parte, 52%, vive em famílias não nucleares, com três
membros em média.
A análise da estrutura familiar mostrou que a maioria das famílias dos alunos são de baixa
renda, possuindo renda familiar entre um e dois salários mínimos. Além disso, o contato do aluno
com os responsáveis pela família ao longo da semana é muito pequeno, sendo em média de apenas
2 horas por dia, exceto nos fins de semana.
Foi perguntado se os pais ou responsáveis conversavam com eles sobre questões ambientais,
86% afirmaram que sim e 14% que não. Dos que afirmaram que sim 56% relataram assuntos vagos,
como a descrição de algum aspecto natural ou comentários acerca de reportagens na TV. Essas
―conversas‖ não têm relação direta com a formação de uma consciência ambiental, pois são
fortuitas, não se caracterizando pela intencionalidade de educar.
Perguntou-se quais problemas causam impactos ambientais. 62% afirmou que o lixo,
apenas; 19% apontou problemas gerais, sem especificá-los, e 19% respondeu o desmatamento. Na
sequência dessa questão, foi perguntado o que você faz para preservar o meio ambiente? As
respostas foram vagas, apesar de ser pedido para especificar a ação, 69% respondeu não poluir;
28% economizar e 3% preservar. Essas informações demonstram que as noções sobre os problemas
ambientais são confusas, não estruturadas e baseadas em informações muito superficiais.
Para averiguar o conhecimento dos alunos sobre o que é meio ambiente, foi perguntado se a
escola fazia parte do meio ambiente. A resposta mais comum (95%) foi que sim, no entanto, ao
perguntar o porquê a resposta foi: porque tem árvore. Isso mostra que os alunos não se sentem parte
do meio ambiente, predominando a visão dicotômica do homem à parte da natureza.
Para saber como os alunos pensavam a relação entre o consumo e as questões ambientais,
foi perguntado se o consumo causava algum impacto sobre o meio ambiente. Apenas 48%
respondeu que sim, confirmando a necessidade de se trabalhar essas questões na escola. Além disso,
56% considerou sua família consumista, porém, apesar de 73% saber que consumismo é o consumo
exagerado e desnecessário de produtos, 64% não vê a necessidade de modificar hábitos de
consumo. Ou seja, apesar de reconhecer a família como consumista, o desejo de consumir e a não
percepção de que esse consumo exagerado afeta negativamente o meio ambiente, leva o aluno a não
sentir a necessidade de mudar os seus hábitos.

TRABALHANDO CONCEITOS

O levantamento do perfil dos estudantes mostrou que eles não dominavam conceitos básicos
sobre questões ambientais. Diante disso, a primeira atividade desenvolvida foi direcionada para o
trabalho com conceitos. A atividade consistiu em trabalhar 12 temas sobre consumo e meio
ambiente, foram eles: meio ambiente; impacto ambiental; educação ambiental; responsabilidade

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiental; coleta seletiva; reciclagem; vida útil dos produtos; consumo e consumismo; consumo
sustentável; consumo colaborativo; propaganda e influência no consumo e preservação e
conservação.
A primeira parte do trabalho foi mostrar os temas aos alunos, para isso, foi utilizada uma
apresentação de slides nos quais foram associados o tema a uma imagem que o sintetizava. Além
disso, cada slide era acompanhado de um conceito que explicava o tema mostrado, utilizando para
isso uma linguagem simples, adequada a faixa etária dos estudantes. Os alunos foram estimulados a
discutir os conceitos, formular perguntas para esclarecer dúvidas e expor novos pontos de vista
sobre cada tema, além de relatarem experiências pessoais.
Após o fim da primeira etapa, a turma, nesse dia com 26 alunos, foi dividida em 4 grupos. A
dois grupos foi entregue material idêntico, contendo 6 temas trabalhados na primeira etapa da
atividade. Aos dois outros grupos foi entregue material idêntico, contendo os 6 outros temas
trabalhados. Para estimular a atividade foi pedido que os alunos nomeassem suas equipes, anotando
o nome na lousa. Esclareceu-se que se tratava de uma competição e que o grupo que se saísse
vitorioso ganharia uma recompensa. Foi pedido que o grupo elaborasse um conceito sobre cada
tema contido no material, sem informar que dois grupos possuíam material idêntico. Nessa etapa os
alunos podiam ser auxiliados pela professora regente.
A terceira etapa da atividade foi a disputa. Os grupos com os mesmos temas leram para a
turma o conceito elaborado, um de cada vez, e os outros dois grupos decidiram qual estava mais
adequado. O grupo vencedor marcou um ponto, anotado na lousa. Houve o revezamento entre os
grupos com materiais idênticos. Nos casos de conceitos muito parecidos, foi solicitado a professora
regente que fizesse o julgamento, podendo inclusive optar pelo empate. No final, o grupo que
alcançou o maior número de pontos foi o vencedor. Os vencedores foram premiados com uma caixa
de chocolate, e os demais ganharam pirulitos.

ESTIMULANDO AÇÕES AMBIENTALMENTE RESPONSÁVEIS

O levantamento do perfil dos alunos mostrou também que as ideias sobre como reduzir os
impactos sobre o meio ambiente eram confusas. Diante disso, foi elaborado uma atividade para que
os alunos pensassem sobre suas atitudes diárias e como elas poderiam contribuir com a conservação
ambiental.
A atividade foi chamada de quebra-cabeça ambiental e consistiu na elaboração de 8 quebra-
cabeças, utilizando imagens coloridas de situações diárias em que se verifica o desperdício ou o
consumo exagerado. As imagens foram impressas em papel cartonado brilhante no tamanho A3 e
recortado em trinta pedaços, formando o quebra-cabeça.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Além da imagem, cada figura foi elaborada com uma frase que sintetizava a ação a ser
executada para evitar contribuir com o impacto ambiental mostrado na figura. Por exemplo, uma
das imagens mostrava um garoto em casa com vários aparelhos eletrônicos e lâmpadas ligados ao
mesmo tempo, a frase escrita na parte inferior da figura era: economize energia.
A primeira parte da atividade foi dividir a turma em oito grupos, depois os grupos foram
distribuídos pela sala formando um círculo; no centro da sala foram colocadas algumas bancas e
sobre elas as peças dos oito quebra-cabeças, todas misturadas. Os alunos foram orientados a pegar
dez peças por vez e começar a montar a imagem. As peças que não se encaixasse na figura seriam
devolvidas ao monte principal no centro da sala. Os alunos foram orientados a não deixar que as
outras equipes vissem suas frases. No caso de duas equipes iniciarem a montagem da mesma
imagem, a equipe que tivesse mais partes da frase teria a prioridade de ficar com aquele quebra-
cabeça, a outra equipe deveria optar por outra imagem.
Ao final da montagem de todos os quebra-cabeças os alunos deveriam ir ao centro da sala e
através de mímica indicar, primeiro, o problema ambiental retratado na sua figura, depois, a atitude
que deveria ser tomada para evitar o problema relatado. O restante dos alunos teria que identificar
cada uma das mímicas. O grupo que acertasse seria pontuado. Ao final da atividade todos os alunos
foram premiados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da execução das atividades foram muito satisfatórios, dentro da proposta do


projeto de extensão. As imagens utilizadas nos slides da primeira atividade se mostraram muito
importantes para que os alunos entendessem os conceitos e fizessem associações com seu cotidiano.
A elaboração de conceitos feita pelos alunos surpreendeu positivamente, pois eles conseguiram
desenvolver ideias próprias e associá-las a elementos do seu dia a dia, expandindo o conhecimento e
a representação social e de mundo.
A segunda atividade se mostrou mais dinâmica e com maior empolgação dos alunos. A
montagem dos quebra-cabeças movimentou a turma e todos tentaram montar o seu mais rápido que
as outras equipes, além disso, a atividade despertou a curiosidade, já que todos queriam saber a
imagem que surgiria. O momento da mímica se mostrou o mais alegre, pois todos queriam
participar e contribuir de alguma forma com a identificação do problema ambiental ou da atitude
para diminuir os impactos sobre o meio ambiente.
Essas atividades tornaram as aulas mais atrativas e despertaram nos alunos o desejo de
aprender, pois eles relataram que a ―aula ficou mais legal‖ e que ―aprender assim é muito melhor e
mais fácil‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A professora regente também relata o aumento na participação dos alunos nas outras aulas,
informando que ―as crianças estão mais atentas e fazem mais perguntas sobre os assuntos‖. Além
disso, a professora tem repassado essas experiências para as outras docentes da escola.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA


SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL_AEE

Euzimar Gregório dos SANTOS


Professora da Escola Municipal Cônego Joaquim
euzimar.gregorio@gmail.com

RESUMO
O presente Trabalho tem como objetivo registrar uma experiência realizada com turmas da Sala de
Recursos Multifuncional do Atendimento Educacional Especializado do Ensino Fundamental
menor e maior, da Escola Municipal Cônego Joaquim de Assis Ferreira da Cidade de Malta
localizada no médio sertão paraibano. A Educação Ambiental é um importante mecanismo de
inserção social, político e econômico, sendo fundamental na melhoria da qualidade de vida de uma
dada população. A meta deste estudo foi sensibilizar através de práticas e ações com o alunado no
tocante aos problemas ambientais diversos vividos na comunidade escolar e no seu entorno. A
inserção do trabalho nas turmas irá incentivar aos mesmos estímulos pela preservação do meio
ambiente local, além da inclusão do trabalho com ferramentas da pesquisa social. Foi possível
observar uma elevada preocupação do alunado com os aspectos sócio-ambientais que foram
abordados em encontros participativos e aula de campo, levando-os a uma reflexão sobre as
diversas percepções sobre o ambiente onde vivem. A valorização do espaço ocioso e construção da
paisagem no município, residências e em comunidades rurais serão beneficiados com doação de
mudas pelos alunos. Isso, já com resultados já alcançados com mudas produzidas pelo alunado.
Palavras chave: Educação Ambiental, prática pedagógica, escola.

RESUMEN
El presente trabajo tiene como objetivo registrar una experiencia realizada con grupos de la Sala de
Recursos Multifuncional de la Atención Educativa Especializada de la Enseñanza Fundamental
menor y mayor, de la Escuela Municipal de Côtego Joaquim de Assis Ferreira de la Ciudad de
Malta ubicada en el medio sertão paraibano. La Educación Ambiental es un importante mecanismo
de inserción social, política y económica, siendo fundamental en la mejora de la calidad de vida de
una población dada. La meta de este estudio fue sensibilizar a través de prácticas y acciones con el
alumnado en cuanto a los problemas ambientales diversos vividos en la comunidad escolar y en su
entorno. La inserción del trabajo en las clases incentivará los mismos estímulos por la preservación
del medio ambiente local, además de la inclusión del trabajo con herramientas de la investigación
social. Es posible observar una elevada preocupación del alumnado con los aspectos socio-
ambientales que fueron abordados en encuentros participativos y clases de campo, llevándolos a una
reflexión sobre las diversas percepciones sobre el ambiente donde viven. La valorización del
espacio ocioso y construcción del paisaje en el municipio, residencias y en comunidades rurales
serán beneficiados con donación de mudas por los alumnos. Esto, ya con resultados ya alcanzados
con mudas producidas por el alunado.
Palabras clave: Educación ambiental, práctica pedagógica, escuela.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um relato de experiência de uma das ações com a inserção de práticas
da Educação Ambiental (EA) na Sala de Recursos Multifuncional, a mesma é vista hoje como uma
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

possibilidade de formar pessoas para sociedades sustentáveis, ou seja, sociedades orientadas para
enfrentar os desafios ambientais da contemporaneidade, garantindo uma boa qualidade de vida para
esta e futuras gerações. A escola, contudo, continua a ser o local por excelência destinado à
aprendizagem. Trata-se de um espaço em que as bases da cultura da sustentabilidade podem ser
delineadas. Afinal, se a concepção do mundo mudou, a escola constitui peça-chave nessa necessária
reorientação paradigmática.
A atividade em questão, desenvolvida com o alunado do Atendimento Educacional
Especializado (AEE), visa atender a clientela com necessidades educacionais específicas, a
atividade está relacionada ao trabalho com as práticas e ações em EA desenvolvidas no ambiente
escolar e em seu entorno, que foi a produção de mudas arbóreas e o lixo no ambiente escolar.
Espera-se que ao final desta atividade que o público envolvido reconheçam a EA como instrumento
de cidadania.
Os professores da educação básica são os atores principais da EA na escola, do
enraizamento de reflexões de práticas libertadoras e transformadoras. Sem eles não há EA formal
ou não formal. Porém, a EA deve ser entendida em um sentido mais amplo, voltada para a formação
de pessoas para o exercício da cidadania responsável e consciente, e para uma percepção ampliada
sobre os ambientes em que se inserem.
Para tanto sabe-se que, transformar e aprimorar a relação entre os seres humanos e destes
com o meio ambiente deve ser um dos objetivos da EA, lembrando que o termo ambiente é muito
mais que o ambiente natural, por isso, neste estudo inserimos os (as) alunos (as) do Atendimento
Educacional Especializado (AEE).
Entretanto, modificar estas relações com os mesmos passa por uma transformação interior
de cada um dos mesmos, incluindo o cuidado consigo mesmo, com seu corpo, com sua saúde e com
suas emoções e com o Meio Ambiente. Em um outro nível, inclui a transformação da relação com
os demais seres humanos do convívio direto e indireto com todos os envolvidos no estudo. Num
movimento contínuo e crescente é possível então modificar as relações que as sociedades
comtemporaneas estabelecem com o mundo.
Na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Cônego Joaquim de Assis Ferreira,
os (as) alunos (as) e professores envolvidos no estudo se deparam com a falta das práticas em EA
no ambiente escolar, no entanto, as turmas envolvidas do AEE estão inseridas para que os mesmos
se socializem e interajam com o Meio Ambiente através de aulas práticas e de campo.
As Intervenções nesta situação, tem como meta a sustentabilidade do ambiente da
comunidade escolar e em seu entorno e também a interação social do alunado com alunos (as) da
zona rural e comunidade local através da troca de experiências, preservação ambiental e, de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

mudanças de atitudes em nossas práticas diárias. Dessa forma, conseguiremos a formação de novos
hábitos e atitudes através das práticas em EA com relação ao ambiente escolar e em seu entorno.
Portanto, buscou-se inspirações para realização deste trabalho em experiências já
desenvolvidas no campo das práticas e ações em EA realizadas em outras instituições, optando-se
na atual experiência pela plantação de mudas de árvores ornamentais e frutíferas que se adaptem ao
nosso semiárido. Pois queríamos de fato uma prática que os envolvesse completamente e em
seguida obtivéssemos o envolvimento dos mesmos e suas famílias para futuras ações a serem
desenvolvidas na sala de AEE.

OBJETIVO GERAL

Registrar uma experiência realizada com a Educação Ambiental com turmas da Sala de
Recursos Multifuncional do Atendimento Educacional Especializado do Ensino Fundamental
menor e maior.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

O presente estudo abordou o tema Educação Ambiental na Escola, constituída por alunos do
Atendimento Educacional Especializado em diferentes faixas etárias, visto que a Educação Básica
abrange desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, garantidos e assegurados pelo Governo
Federal através da Lei 9394/96, que é Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A
escola pode ser considerada um espaço privilegiado para desenvolver o tema Educação ambiental,
desde que dê oportunidade a interdisciplinaridade e a criatividade.
A Educação Ambiental dentre seus princípios possibilita na execução diária no ambiente
escolar com suas ações e práticas buscando uma nova consciência do ser humano para que dessa
forma possamos compreender as complexas relações entre sociedade e natureza e que sejam
tomadas posições frente aos problemas ambientais vividos fazendo a ligação com os aspectos
sociais, históricos, políticos, econômicos e culturais.
No caso do estudo do relato de experiência aqui exposto trabalhou-se com a inserção de
alunos da Educação Inclusiva no ensino Formal e não formal, onde a educação ambiental tem sido
geralmente exercida de várias maneiras visando estimular a consciência ambiental dos (as) alunos
(as) e ao mesmo tempo desenvolver o exercício de cidadania. Para tanto, uma das funções mais
importantes da escola é seu poder de influência e transformação da comunidade em que está
inserida.
A educação ambiental é uma ação interdisciplinar para ser trabalhada por todas as idades,
comunidades e realidades, considerando-se o meio ambiente em sua totalidade: o resgate e o
surgimento de novos valores sociais que conduzam a um modo de vida mais consciente e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sustentável, por isso nesta experiência com práticas e ações inserimos o alunado do Atendimento
Educacional Especializado.
Essa educação deveria preparar o indivíduo, mediante a compreensão dos principais
problemas do mundo contemporâneo desde que suas ações e práticas sejam inseridas de forma
interdisciplinar no ambiente escolar, com vistas a melhorar a qualidade de vida e proteger o meio
ambiente local, dando assim, a devida atenção aos valores éticos.
A educação ambiental se configura como uma excelente aliada nesse processo de
valorização dos alunos (as) do Atendimento Educacional Especializado por ser um processo
dinâmico e transformador que busca a formação de valores, atitudes, inclusão, bem como a
participação ativa de cada pessoa.
Acreditamos que os trabalhos com as questões ambientais devem ultrapassar o espaço da
sala de aula, articulando a prática com a realidade, em ambientes diferenciados, promovendo assim
novas oportunidades de contato com a realidade local, incentivando assim aprendizagens concretas
as quais são mais significativas, estimulando nos alunos a construção de novos valores e atitudes em
relação ao meio ambiente local.
O processo da inclusão educacional tem causado as pessoas envolvidas com a educação
sentimentos de fragilidade frente ao processo, pois a maioria dos professores sente-se despreparado
frente ao processo. Por isso, resolvemos fazer diferente e trabalhar de forma diferenciada com o
nosso público do AEE.
A Educação Ambiental não pode se limitar ao acúmulo de conhecimentos, mas sim,
selecionar e interpretar os conhecimentos disponíveis e sem perder de vista que o objetivo principal
é fazer com que esse conhecimento possibilite e amplie a participação política social dos (as) alunos
(as), professores (as) e toda a comunidade escolar e local, assim como de todos os sujeitos do
processo educativo.

METODOLOGIA

A coleta de dados foi realizada com alunos (as) e professora da Sala de Recursos
Multifuncional do Atendimento Educacional Especializado (AEE), da Escola Municipal Cônego
Joaquim de Assis Ferreira, Código INEP: 25014706, localizada na cidade de Malta, Paraíba, Brasil.
Localizada a Rua Monsenhor Valeriano Pereira, as margens da BR- 230 Antonio Mariz. A mesma
conta com 426 alunos, funcionando com turmas desde a pré-escola ao 9º ano do ensino
fundamental. O estudo foi desenvolvido com 20 duas turmas do AEE, as mesmas contam 20 (vinte)
alunos (as), sendo que, em cada sala tem 10(dez) alunos (as).
A inserção dos mesmos deu-se a partir da visão de que, o acesso igualitário a todos (as) aos
espaços da vida é um pré-requisito para os direitos humanos universais e liberdades fundamentais

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

do cidadão. Observa-se com essa ação um esforço da equipe com os mesmos e dessa forma,
direcioná-los rumo a uma sociedade inclusiva é a essência do desenvolvimento social sustentável.
Para o desenvolvimento do presente trabalho, realizou-se em primeiro lugar uma reunião
com as mães dos alunos do AEE, comunicando as ações que iria se realizar, pedir permissão as
mesmas para tais ações e ajuda para os mesmos acompanhá-los nas aulas de campo, após a
explanação pela professora de como aconteceria todo o processo do estudo, obtivemos a autorização
dos mesmos. Contamos com a participação e parceria com uma professora e técnica em
Agroecologia existente no município que acompanhou e assessorou todo o trabalho da equipe da
escola. A escolha pela realização da prática de produção de mudas foi uma opção das famílias e a
equipe gestora da escola.
Desenvolveu-se, uma pesquisa de opinião junto as mães, direção e coordenação pedagógica
para definição da área de plantação e doação das mudas de árvores, seleção de plantas que se adapte
ao nosso semiárido e de interesse da comunidade escolar e fora da escola.
Trabalhamos para a produção de mudas com as seguintes ferramentas de jardinagem,
enxada, pá pequena, adubo orgânico, areia, regador entre outros. Salientamos que, os sacos
plásticos utilizados para a produção de mudas são reutilizados, pois utilizamos os que vem com a
polpa para serem servidos na merenda escolar, evitando-os assim de irem para o lixo. Utilizamos
ainda o adubo orgânico doado por alguns familiares do alunado envolvido no estudo.

Tabela I - Relação de espécies de mudas produzidas pelos alunos (as) da Sala de Recursos Multifuncional
Mudas arbóreas produzidas pelo alunado
Espécie QTD Forma de plantio
Mangueira 08 Sementes
Pinha 10 Sementes
Seriguela 04 Estaquia
Cajarana 03 Estaquia
Acerola 12 Sementes
Ipê 06 Sementes
Acácia 04 Sementes
Sete copas 04 Sementes
Limoeiro 04 Sementes
Laranjeira 02 Sementes
Cajueiro 10 Sementes
Goiabeira 06 Sementes
Graviola 02 Sementes
TOTAL 75 --
Fonte: A autora

Esta etapa se realizou entre os meses de janeiro de 2016 a julho do ano de 2017, sendo que,
o trabalho não irá parar. Devido à grande aceitação do alunado coma prática da produção de mudas
arbóreas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Um ponto interessante que merece destaque, é que a Lei 9.795/99, que dispõe sobre
Educação Ambiental no Brasil, determina que a Educação Ambiental deve atingir os diversos
níveis e modalidades educacionais, e com isso podemos dizer que a Educação Especial também
está inserida, de forma mais incisiva em seu artigo 9º, inciso III, que prevê o desenvolvimento da
Educação Ambiental no âmbito da Educação Especial.
Utilizaremos como amostra no estudo 20(vinte) alunos (as) atendido na Sala de Recursos
Multifuncional.

Tabela II - Abaixo, relataremos na tabela as especialidades dos alunos (as) envolvidos no trabalho com ações
e práticas em Educação Ambiental na Escola Municipal Cônego Joaquim de Assis Ferreira
Ano/serie que cursa na QDT
Especialidade Idade
sala regular Alunos
Deficiência intelectual 14 anos 8º ano 02
Deficiência intelectual 12 anos 2º ano 01
Deficiência intelectual 07 anos 2º ano 01
Deficiência intelectual 12 anos 6º ano 01
Baixa visão 07 anos 2º ano 01
Baixa visão 13 anos 9º ano 01
Baixa visão 12 anos 8º ano 02
Baixa visão 06 anos 1º ano 02
Baixa visão 12 anos 6º ano 04
Encepatologia Crônica 10 anos 6º ano 01
Distrofia muscular 12 anos 7º ano 01
Distrofia muscular 07 anos 2º ano 01
Autismo 08 anos 3º ano 01
Autismo 08 anos 3º ano 01
Déficit de aprendizagem 08 anos 2º ano
Total de alunos 20
Fonte: A autora

Priorizamos nesta ação, o alunado do Atendimento Educacional Especializado pois, a EA foi


desenvolvida de forma interdisciplinar para poder ser trabalhada por todas as idades dos alunos (as)
envolvidos, considerando-se o meio ambiente em sua totalidade: o resgate e o surgimento de novos
valores sociais que conduzam a um modo de vida mais consciente e sustentável.
Segundo Santos (2011), é sabido que a Educação Ambiental faz parte de um processo de
mudanças e de adoção de novos comportamentos, em que os indivíduos com necessidades
especiais, independentemente de qual seja esta necessidade, podem e devem participar dessa
experiência. A integração e inclusão dos portadores de necessidades especiais nas questões
ambientais hoje, é além de uma necessidade, também uma realidade devendo ser encarada como
um direito a melhoria de condições de vida.
Abaixo veremos alguns registros através de fotos de alguns momentos do trabalho realizado
pelos alunos (as)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figuras I e II: Alunos produzindo mudas arbóreas e mudas já produzidas. Fonte: A autora

Figura III e IV - Doação de mudas a famílias carentes e plantação de mudas na escola objeto de estudo.
Fonte: A autora.

Os encontros, reuniões e aula fora da escola, aconteceram respeitando o planejamento


educacional da escola, autorização das famílias e na elaboração da metodologia de cada atividade
priorizou-se no planejamento educacional as ações e práticas em EA. Apesar de que a norma do
programa da Sala de Recursos Multifuncional se estabelece que, o AEE deve acontecer
prioritariamente na sala, porém vimos a necessidade de inovar a forma de inclusão desse alunado. E
dessa forma aconteceram as aulas de campo para produção e distribuição de mudas arbóreas, aulas
estas que sempre estamos acompanhadas pelas cuidadoras e e um membro da família.

RESULTADOS ALCANÇADOS

Em nosso meio educacional o aluno deve ser estimulado a estabelecer relações, a


compreender ―causa e efeito‖ e perceber o avanço da ciência, mas também a ação do homem sobre
a natureza e suas consequências sobre o contexto social. Um projeto envolvendo realmente os
alunos provoca a busca de novas informações para a resolução ou entendimento de outras situações,
a concentração, a cooperação entre colegas e a necessidade de organização. Evita que eles sejam
meros espectadores ou receptores passivos de informações que serão temporariamente memorizadas
e o quanto antes esquecidos.
Obtivemos como resultado do alunado:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Formação de alunos para o trabalho com a Educação Ambiental e preservação


do meio ambiente;

 Interação do alunado do Atendimento Educacional Especializado com famílias


carentes da comunidade urbana e rural;

 Difusão de árvores friutíferas e ornamentais que se adaptam a nossa região;

 Valorização do espaço escolar com a plantação de árvores;

 Formação da equipe multi e interdisciplimar entre os membros da escola;

 A importancia através da aula expositiva e explicativa do trabalho com a


Educação Ambiental formal e não-formal para preservar o meio ambiente local.

 Exercício da cidadania;

 Produção de mudas arbóreas pelos alunos (as) atendidos na sala de Recursos


Multifuncional;

 Distribuição de mudas para famílias carentes da zona rural e urbana para


implantação de pomares domésticas.

Os registros das atividades foram feitos através de fotos que se encontram no texto em
etapas concluídas do projeto, o trabalho que estamos realizando atualmente com as turmas do
Atendimento Educacional Especializado do Ensino Fundamental menor e maior da Escola
Municipal Cônego Joaquim de Assis Ferreira. No relato da experiência apresentada vimos que é
possível incluir o alunado da sala de recursos em atividades de campo, porém, sugerimos o debate e
a inserção sobre ações na EA com os mesmos de formas diversas.
A educação e a problemática ambiental são antes de tudo, questões políticas que envolvem
atores, interesses e concepções de mundo diferentes, e que podem assumir direções mais
conservadoras ou emancipatórias. É possível termos aulas ambientais teóricas e práticas nas escolas.

CONCIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do presente trabalho permitiu o enriquecimento da Educação Ambiental


formal na compreensão de técnicas com aulas extra-classe e sua importância no meio escolar.
Viu-se no decorrer do estudo que, é necessária uma nova concepção de educação e
sociedade, sendo essencial que o sistema educacional assuma essa vontade. E para que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

transformações na educação inclusiva aconteçam é necessário que todos os profissionais se


envolvam com as questões e as mudanças que ocorrem na contemporaneidade.
As experiências vivenciadas junto a equipe da escola, mostram o quanto é importante a
valorização das percepções sobre a importancia da Educação Ambiental de uma dada comunidade a
respeito do ambiente em que vive. O esforço humano aqui utilizado foi minimizado pelo trabalho
em grupo. As árvores, plantadas ao decorrer desse projeto, encontram-se no municipio de Malta. Os
registros escritos e fotográficos encontram-se na secretaria da escola campo de estudo.
Durante a realização do projeto não educamos, mas sensibilizamos. Aprendemos a valorizar
cada ato relacionado ao meio ambiente e aos envolvidos na pesquisa. Sentimos – nos importantes
quando observamos os esforços dos alunos. Os frutos que obtivemos foram e são colhidos dentro e
fora das comunidades escolares, com a contribuição do alunado. Em relação à Educação Ambiental
muito ainda há de ser feito, tanto na escola quanto na comunidade rural estudada.
O trabalho desenvolvido até o presente momento apenas serviu para iniciar, tornar visíveis,
muitos aspectos a serem trabalhados com os alunos (as) do AEE em nossa escola com mais
profundidade. Assim, conclui-se que a humanidade pode sim realizar uma mudança
comportamental e melhorar sua relação com o meio ambiente. O que esperamos é mostrar à
sociedade que é possível a construção do conhecimento através desse diálogo, proporcionando uma
reflexão crítica acerca da sua realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL. Lei Darcy Ribeiro (1996). LDB: Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional: Lei n°
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola.


Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Fundamental, 2001.

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei 9.795/99. Brasília: MMA, 2009.

CASCINO, Fábio; JACOBI, Pedro; OLIVEIRA, José Flávio. Educação, Meio Ambiente e
Cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SEMA/CEAM, 1998. YIN, R.K. Estudo de
caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo:


Cortez, 2004.

CARVALHO, R. E. Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2004.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

GRÜN, Mauro. Ética e Educação ambiental: a conexão necessária. São Paulo: Papirus, 1996.

GUIMARÃES, M. (Org.) Caminhos da educação ambiental: da forma à ação. Campinas: Papirus,


2006.

LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania in:


LOUREIRO, C. F. B., LAYRARGUES, P. P. e CASTRO R. S. de (orgs). Educação ambiental:
repensando o espaço da cidadania. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – PRONEA- Ministério do Meio


Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação. Coordenação Geral de
Educação Ambiental. - 3ª. ed - Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.

SATO, Michèle. Educação ambiental. São Carlos: EdUFSCar, 1996.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2012.

SAVIANI, D. A pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9 ed. Campinas: Autores


Associados, 2005.

SORRENTINO, M.; TRAJBER, R.; MENDONÇA, P.; JUNIOR, L. A. F. Educação Ambiental


como política pública. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n 2, p. 285-299. Ano 2005.

TAMAIO, Irineu; CARREIRA, Denise (orgs.) Caminhos & aprendizagens Educação Ambiental,
conservação e desenvolvimento. Brasília: WWF Brasil, 2000.

FERREIRA. Aurélio. A importância da educação ambiental na educação especial


.https://aferreira73.jusbrasil.com.br/artigos/233443231/a-importancia-da-educacao-
ambiental-na-educacao-especial. Acesso em 25 de junho de 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1144


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESCOLA SUSTENTÁVEL NO AMBIENTE SEMIÁRIDO

Francisco Elitom Rodrigues da SILVA


Mestrando do Curso de Geografia da UVA
elitomfilosofo@gmail.com
José Falcão SOBRINHO
Prof. Dr do curso de Geografia da UVA e coordenador do Proejto.
falcao.sobral@gmail.com
Edson Vicente da SILVA
Professor Pós Doutor do Programa de Pós Graduação da UFC
cacauceara@gmail.com
Cleire Lima da Costa FALCÃO
Professora Dra do curso de Geografia da UECE
cleirefalcao@gmail.com

RESUMO
O estudo do recurso hídrico no contexto educacional quando tratado no ambiente semiárido do
Nordeste brasileiro é preponderante ao passo que ao detalharmos de forma minuciosa e pôr em
evidência que a região se trata da área semiárida com o maior contingente populacional, consistindo
numa diversidade econômica, social, cultural e natural, deve-se intervir com práticas motivadoras
no ensino da Educação Básica. Nesta perspectiva, objetivamos desenvolver metodologias de ensino
que envolva os recursos hídricos a realidade local dos alunos, seja no espaço urbano ou no campo,
congregando ainda, a educação ambiental. Isto posto, optamos por trabalhar com os alunos da
Educação Básica, em nível de Fundamental II, tendo como base a realidade local do aluno. Vale
ressaltar que a temática ―recurso hídrico‖ foi tratada de forma integrada e interdisciplinar e, ainda,
de acordo com os parâmetros curriculares PCN‘s de 1998. Na oportunidade, foi possível debruçar
com o interesse dos alunos, seja na escolha da temática ou das atividades práticas em campo.
Palavras-Chaves: Recursos Hídricos. Desenvolvimento Sustentável. Interdisciplinaridade.
Educação Básica.

ABSTRACT
The study of the water resource in the educational context when treated in the semi-arid
environment of the Brazilian Northeast is preponderant, while detailing in detail and showing that
the region is the semi-arid area with the largest population, consisting of an economic, social
cultural and natural, one must intervene with motivating practices in the teaching of Basic
Education. In this perspective, we aim to develop teaching methodologies that involve water
resources the local reality of the students, be it in the urban space or the countryside, also bringing
together environmental education. That said, we chose to work with students of Basic Education, at
Fundamental level II, based on the local reality of the student. It is noteworthy that the theme "water
resource" was treated in an integrated and interdisciplinary way, and also according to the curricular
parameters PCN's of 1998. In the opportunity, it was possible to deal with the students' interest,
either in the choice of theme or activities Practices in the field.
Keywords: Water Resources. Sustainable development. Interdisciplinarity. Basic education.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional nos últimos tempos vem colocando a humanidade em situação


crescente de vulnerabilidade em relação aos recursos hídricos propícios ao consumo humano, de
modo que o manejo sustentável desses recursos tem sido tema constante dos grandes debates
mundiais sobre as questões ambientais. Uma vez que a disponibilidade desse recurso hídrico é
muito limitada ao acesso humano, sobretudo nas regiões semiáridas, como é o caso do município de
Sobral, lócus de desenvolvimento de nossa pesquisa tornou-se viável a realização da presente
prática aqui a ser relatada.
Vale destacar que os desafios para o homem do século XXI, diante das adversidades
ambientais dos últimos tempos, principalmente no que diz respeito a água para o abastecimento
humano, e as dificuldades que a população, sobretudo da região supracitada, vem passando nos
últimos tempos foram os elementos motivadores desse trabalho. Todavia, o mesmo não tem a
pretensão de ser um tratado sobre o assunto, mas apenas de ser uma ferramenta instigadora de
outras pesquisas e iniciativas sobre essa temática.
Apesar do setor doméstico, na escala de consumo, ser um dos que tem menor expressão, 7%
do total, é o que mais nos preocupa devido a maior concentração populacional encontrar-se nas
regiões urbanizadas, onde a produção de esgoto e demanda por água é cada vez mais crescente e
afeta diretamente as principais fontes desse recurso, tornando-os inviáveis para o consumo humano.
Sobre isso, segundo o Ministério do Meio Ambiente - MMA (2013), ―apenas 25% do esgoto
coletado pelos sistemas de saneamentos básicos no Brasil é tratado, sendo o restante despejado ―in
natura‖, ou seja, sem nenhum tipo de tratamento, nos rios, lagoas ou no mar‖. Tal situação se
agrava ainda mais quando se trata da região semiárida brasileira, cujas precipitações médias anuais
ficam entre 300mm/ano e 800mm/ano e a rede fluvial é constituída, em sua maioria, de rios
intermitentes. De acordo com GONSALVES, et al, FROTA, (2012, P-45), ―o Estado do Ceará tem
93% de seu território inserido nesse domínio geomorfoclimático‖.
―Tudo isso somado ao manejo inadequado das águas, principalmente as dos reservatórios
artificiais e dos açudes, principal fonte de abastecimento nas regiões do semiárido cearense,
segundo Falcão Sobrinho, et al (2012, p-49) ‖. A Situação de desperdício vai de uma escala macro à
micro, desde situações coletivas às ações individuais, percebíveis no cotidiano dos indivíduos,
como as ações negativas de esperdício de água observadas no ambiente escolar pelos seus atores na
instituição de ensino básico onde ocorreu o desenvolvimento dessa pesquisa.
Partindo-se desse ponto, teve-se a necessidade de investigar sobre a compreensão do
estudante da educação básica em relação às questões ambientais direcionadas aos recursos hídricos,
como também a relação do ensino de geografia, numa perspectiva da educação ambiental e
interdisciplinar, poderia influenciar nas suas atitudes em relação ao meio e ao uso dos recursos
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1146
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

naturais, para então propor-se ou reforçar metodologias que propicie o desenvolvimento de


tecnologias sustentáveis como alternativa metodológica no processo de ensino e aprendizagem,
além de ter como pretensão contribuir na formação de sujeitos conscientes de seu papel em relação
ao meio.
Em relação a essas questões, a hipótese inicial foi a de que para os estudantes da educação
básica os assuntos relativos às questões ambientais não seria novidade, uma vez que, de acordo com
o programa nacional do livro didático – PNLD, (2015-2017),‖ os conteúdos que tratam dos recursos
hídricos, em especial e dos demais recursos naturais como um todo; disponibilidade, distribuição,
ciclo da água e abastecimento, são contemplados desde as séries iniciais do ensino fundamental II‖.
Destaca-se, ainda, que a inserção da prática adotada no viés da educação ambiental como
metodologia inovadora de ensino na disciplina de geografia, aproxima melhor o indivíduo do seu
meio e é, sem dúvida, o primeiro passo para o progresso sustentável de uma nação 54, de modo que
uma sociedade bem educada compreenderá melhor as consequências das suas atitudes na natureza.
Assim reza a lei Estadual nº 14.892, de 31 de março de 2011, na sua seção II, Art.2º, que trata dos
princípios da Educação Ambiental: I - ser fator de transformação social; II - promover a consciência
coletiva capaz de discernir a importância da conservação dos recursos naturais e da preservação dos
diferentes ambientes como base para sustentação da qualidade de vida; III - considerar o ambiente
como patrimônio da sociedade, fator que responde pelo bem estar e pela qualidade de vida dos
cearenses; IV - dar condições para que cada comunidade tenha consciência de sua realidade global,
do tipo de relações que os seres humanos mantêm entre si e com os demais elementos da natureza e
de seu papel na articulação e promoção de desenvolvimento sustentável, (DOE, ABRIL DE 2011).
Daí, optou-se por trabalhar com alunos da Educação Básica do Ensino Fundamental II, no
município de Sobral, Ceará, em face a sua realidade local.

MATERIAL E MÉTODO.

Para realização da pesquisa e, consequentemente, atender aos objetivos, optou-se em


trabalhar em uma escola da Educação Básica do município de Sobral. Os critérios adotados para
escolha da escola obedeceram a sua localização e disponibilidade dos alunos e do corpo docente
quanto ao entendimento da proposta do projeto. Foi selecionado o Colégio Sobralense Experimental
de Tempo Integral Maria de Lourdes de Vasconcelos, situado no distrito de Aracatiaçu, a 70 km da
sua sede municipal, Sobral.
O público selecionado para participar dessa investigação científica foi uma turma de
54
―Refiro-me à Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
prevê que na formação básica do cidadão seja assegurada a compreensão do ambiente natural e social; que os currículos
do Ensino Fundamental e do Médio devem abranger o conhecimento do mundo físico e natural; que a Educação
Superior deve desenvolver o entendimento do ser humano e do meio em que vive; que a Educação tem, como uma de
suas finalidades, a preparação para o exercício da cidadania, (CNE, 2012)‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cinquenta alunos do sétimo ano do ensino fundamental II da escola pública de tempo integral. Esta
instituição de ensino publico atende um contingente 400 alunos entre onze e quinze anos de idade,
distribuídos nas séries do 6° ao 9° ano, num período de oito horas diárias, totalizando 60horas.
―O percurso metodológico adotado para a realização dessa pesquisa foi o próprio de uma
investigação empírica, cujo processo de apreensão das informações se deu pela dedicação ao
tratamento da face empírica e fatual da realidade, produzindo e analisando dados, procedendo
sempre pela via do controle empírico e fatual, de acordo com Demo, (2000, p-21) ‖. Todavia,
adotou-se, como base fundamental teórico-metodológico a visão fenomenológica de investigação.
Assim, durante todo percurso de investigação da referida pesquisa foram realizados estudos de
casos e levantamentos bibliográficos para melhor fundamentação teórica desse trabalho científico,
na perspectiva de uma intercomunicação entre as ações do homem e os diversos elementos da
natureza no seu espaço geográfico, assim como entre os diversos saberes científicos em relação a
este.
Com base na aplicação de questionários os quais continham trinta questões fechadas de
múltipla escolha, que se subdividiu em três eixos estruturantes fundamentais, a saber:
socioeconômico, ético-ambiental e de proficiência em relação ao aprendizado de geografia e sua
―prax” no cotidiano do educando.
No primeiro eixo, composto por dez perguntas, procurou-se conhecer a estrutura
socioeconômica e familiar do educando, a fim de se conhecer melhor a sua base educacional e
estrutural para verificar-se sobre possíveis influências na sua compreensão do espaço e dos recursos
nele existente em relação a postura do mesmo diante do meio natural.
No segundo eixo norteador do questionário da pesquisa, também com dez perguntas diretas
e de múltipla escolha, procurou-se compreender a influência do ensino de geografia na formação da
consciência ambiental do educando. As perguntas desse eixo giraram em torno de questões que
visaram verificar a proficiência do aluno em geografia, se ele compreende os conceitos geográficos
e sua relação no espaço e no tempo, se o aluno sabe compreender, na prática, a relação entre os
elementos solo, água e ar com as condições de natureza do semiárido brasileiro, por exemplo.
Também se buscou verificar se a relação de maior ou menor proximidade do educando com a
natureza poderia interferir na sua compreensão e interesse pelos conteúdos geográficos ministrados
nas aulas de geografia.
Já o terceiro e último eixo estrutural visou-se verificar a relação do educando com os
recursos hídricos de sua região, se ele compreende os desafios e preocupações acerca desse assunto
aos quais as populações viventes nas regiões semiáridas vêm enfrentando nos últimos tempos em
relação à água, especialmente na sua localidade, como ele trata a água no seu dia-a-dia, como ele e
sua família têm acesso a mesma, como é a qualidade da água que ele e sua família têm acesso,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

enfim, as dez ultimas perguntas do questionário foram voltadas especialmente para a compreensão
da relação do educando com esse recurso hídrico.
Após a aplicação desse questionário, fez-se então a consolidação dos dados da referida
pesquisa, para então dar procedimento às análises e reflexões acerca das informações colhidas, para
então, num segundo momento, fazer-se o cruzamento de dados referente às respostas dos
entrevistados para então formular-se a conclusão dessa investigação científica.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De início pode-se destacar que a motivação para o desenvolvimento do referido projeto de


pesquisa deu-se a partir da observação, no cotidiano escolar, da prática dos alunos acerca dos usos
da água e do visível desperdício desse recurso pelos seus pares. Com base no resultado de
levantamento preliminar em relação a essas questões, levou-nos a uma reflexão sobre a necessidade
de se buscar novas formas de implementar a educação ambiental a partir do ensino de geografia, de
modo a garantir uma maior compreensão e mudança de postura do educando em relação ao meio
ambiente e seus recursos naturais, especialmente em relação a água e seus usos.
Tais observações geraram diversos debates e discussões nas aulas de geografia da referida
turma, cujo fim foi promover o debate amplo sobre as questões ambientais dos recursos hídricos na
comunidade escolar, dinamizando assim as aulas de geografia e promovendo a interdisciplinaridade
com as outras áreas de conhecimento, na perspectiva de criar-se um ambiente de estudos práticos e
integrado no próprio espaço escolar como proposta metodológica inovadora na educação ambiental,
desenvolver uma educação ambienta de forma dinâmica, despertando maior interesse do educando
pelo assunto, e, por fim, formar cidadãos eticamente mais responsáveis e conscientes do seu papel
em relação ao meio.
Na segunda parte dessa pesquisa-ação, adotou-se uma postura mais qualitativa na
interpretação dos dados, não se teve a intenção de desenvolver um projeto, mais apenas a de uma
investigação, por amostragem, acerca da compreensão do educando em relação às questões
ambientais, que, no caso em questão teve como foco os recursos hídricos.
O grupo de alunos participantes da referida pesquisa representa um total de 59% dos alunos
matriculados na 7° série ensino fundamental II, de um universo de 84 alunos matriculados nesta
mesma série. Entendeu-se ser necessário a subdivisão desse grupo de alunos para melhor atender os
propósitos da pesquisa e dar maior fidelidade à coleta de dados, cuja configuração foi: grupo A
composto pelos alunos residentes na sede, representando um total de 54% dos participantes; e grupo
B, composto pelos alunos residentes nas localidades, zona rural, representando um total de 46% dos
componentes do referido grupo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

De inicio, constatou-se que a metodologia foi proposital para que se pudesse perceber a
compreensão do educando acerca das questões ambientais na sua relação com o meio.
Do ponto de vista socioeconômico, a maioria dos entrevistados mora com os pais e a renda
familiar é menor que um salário mínimo. No caso dos indivíduos do grupo ―B‖, a origem da renda
familiar vem, em grande parte, da agricultura ou da pesca, ou seja, o meio de subsistência destes
está mais ligado diretamente à natureza em relação àqueles do grupo ―A‖, cuja fonte de renda
familiar está mais ligada às atividades do meio urbano.
Em relação às questões socioambientais, enfatizando o conhecimento e o acesso aos
recursos hídricos da região de Aracatiaçu, e a postura ético-ambiental do educando em relação aos
usos e preservação da água como recurso indispensável à sobrevivência, constatou-se que o acesso
à água é diverso; desde cisternas de placa; programa p1+2, a maioria; poços profundos e carro pipa,
nas épocas de maior estiagem, em detrimento dos alunos da sede que têm como fonte principal de
abastecimento o sistema de abastecimento público local, através do serviço autônomo de água e
esgoto - SAAE. Assim, no que diz respeito à qualidade e a disponibilidade da água, os alunos da
zona rural a consideram, em sua maioria, de boa qualidade e o acesso mais fácil em relação aos
demais alunos.
No que concerne ao grau de preocupação e cuidado com a qualidade e preservação da água
na região estudada, os alunos demostraram, por um lado, preocupação quanto a escassez, e, por
outro, abstenção em relação às responsabilidades com a preservação e usos desse recurso hídrico,
delegando-as a terceiros, como às autoridades governamentais, por exemplo.
Acerca da responsabilidade socioambiental foi perguntado quanto às ações empreendidas
pelos indivíduos em relação à preservação e uso racional dos recursos hídricos na região de
Aracatiaçu. A maioria dos entrevistados diz evitar o desperdício de água em casa, alguns, a maioria
da sede, fazem até certas intervenções acerca do assunto, ao passo que um número bem
significativo de alunos, dos sois grupos, afirmaram não fazerem nada sobre o assunto, a pesar de
confirmarem ter uma boa relação com a natureza.
Sobre o consumo de água na escola, 74% do total de alunos entrevistados responderam que
a água é fundamental para o funcionamento das aulas, mas reconhecem que há um grande
desperdício e que eles próprios contribuem para tal. Nessa questão os alunos demostram uma
contradição em relação à questão anterior, no que diz respeito às suas práticas ambientais.
Sobre a disciplina de geografia e sua relação com a formação da conscientização ético-
ambiental do educando, os alunos foram submetidos ao mesmo método de investigação das
questões anteriores, que abordou questões de conhecimento prático e de ordem conceitográfica de
geografia, cujo fim foi investigar a compreensão do educando em relação às questões de ordem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

geomorfoclimático e ambientais da região de Aracatiaçu e se o educando sabia relacionar os


conteúdos das aulas de geografia com fenômenos e elementos naturais do seu espaço de vivencia.
Na pergunta acerca das causas da diminuição das precipitações anuais na região de
Aracatiaçu, nos últimos anos. Apenas uma pequena minoria, 37% dos entrevistados da sede distrital
e 17% da zona rural, responderam que esse fenômeno está ligado aos fatores de ordem natural e
antrópica, no entanto, a grande maioria dos alunos, de ambos os grupos, não soube responder a
pergunta. Apesar de o número de alunos que tiveram a compreensão mencionada acima ter sido
mais expressivo dentre os entrevistados da sede distrital.
Sobre o conhecimento acerca da relação entre a formação geológica e a disponibilidade de
água na região em questão, 30% dos alunos do grupo ―A‖ e 52% dos alunos do grupo ―B‖
concordam que há uma relação direta entre a impermeabilidade do solo, cristalino, e a escassez de
água na região. Nessa questão, os alunos da zona rural, grupo ―B‖, demostraram maior
conhecimento geográfico em relação a questão proposta, cuja maioria demostrou compreender bem
a ligação entre formação geológica e disponibilidade hídrica na região pesquisada. Tal fato
confirma a hipótese de que o conhecimento prático acerca dos elementos naturais aumenta na
medida em que os mesmos fazem-se mais presentes no cotidiano do sujeito, que, nesse caso, o solo,
como elemento fundamental de subsistência, está muito mais presente na vida do homem do campo
do que na vida do homem da cidade.
Quando se trata da relação entre o clima e a disponibilidade de água na região, percebeu-se,
apesar das opiniões dos dois grupos terem sido parecidas, que quando se trata de clima, as questões
relativas a esse elemento são mais claras para os moradores da sede distrital, uma vez que estes
sentem com maior proporção os efeitos colaterais das variações climáticas no cotidiano da vida
urbana, ao passo que os moradores da zona rural ainda não sofrem tanto com os efeitos da poluição
atmosfera e das ilhas de calor, no caso de Aracatiaçu, essa ultima proporcionada pelas malhas
asfálticas, fatores próprios dos núcleos urbanos.
No que diz respeito à importância do conhecimento geográfico de Aracatiaçu em relação à
sobrevivência do homem no semiárido, 59% dos alunos do grupo ―A‖ e 65% dos do grupo ―B‖
concordam que o conhecimento geográfico dessa região é muito importante e facilita a
sobrevivência do homem nas adversidades da semiaridez. Nessa questão, percebeu-se que o aluno
do campo compreende melhor tal relação que o aluno da zona urbana.
Sobre a frequência e a forma com que é tratado o assunto acerca do meio ambiente e dos
recursos hídricos no atual contexto do mundo globalizado nas aulas de geografia, 44% dos
entrevistados do grupo ―A‖ e 57% dos do grupo ―B‖ responderam que é tratado sempre que
oportuno, enquanto os demais entrevistados responderam que o assunto é tratado algumas vezes.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tal fato demostra certa divisão de opiniões em relação à pergunta, o que nos chama atenção pelo
fato de ser a mesma professora que ministra aulas para os referidos grupos de alunos.
Quanto à metodologia aplicada nas aulas de geografia, o grupo não consegue entrar em
consenso, 41% dos alunos da sede e 70% dos alunos da zona rural responderam que o mesmo é
tratado apenas de forma oral e expositiva pela professora. Nota-se, portanto, que a metodologia
aplicada pela professora divide opiniões e que os alunos da zona rural percebem mais a necessidade
de aulas diferenciadas. Isso nos leva a uma reflexão acerca do modo como o ensino de geografia e,
em especial, a educação ambiental, vem sendo ministrado na sala de aula e a forma como o aluno da
educação básica vem recebendo esse conhecimento. Fato que se contradiz quando a pergunta foi
acerca da importância do ensino de geografia na formação da conscientização ambiental do
educando, cuja grande maioria, 78% e 87% dos alunos, respectivamente, concordam ser o ensino de
geografia é de muita importância para a compreensão do papel do individuo em relação ao meio em
que habita.
Acerca do interesse do educando em conhecer o processo de captação, tratamento e
distribuição de água e os locais de acesso a esse recurso hídrico, 70% dos educandos do grupo ―A‖
e 61% do grupo ―B‖ responderam que já tiveram a curiosidade de conhecer todo o processo e que
seria importante que todas as pessoas o conhecessem para melhor valorizar a água que chega até as
suas residências. Todavia, apesar da grande maioria dos participantes da pesquisa ter manifestado
tal curiosidade, na prática isso não se confirmou, uma vez que na aula de campo, cujo fim foi
conhecer todo o processo de captação, tratamento e distribuição de água da região da sede distrital,
apenas um pequeno grupo de doze alunos, 24%, do universo de cinquenta participantes da pesquisa
participaram da aula, ou seja, o discurso da maioria não se confirma na prática em relação a essa
questão.
A respeito das políticas públicas de combate a seca na região estudada, 41% do primeiro
grupo e 48% do segundo responderam que são muito importantes, mas não resolvem o problema da
seca na região. No entanto, a maioria dos entrevistados demostraram falta de conhecimento acerca
do assunto.
Em síntese, compreende-se, portanto, que, no geral, em se tratando da relação entre o
conhecimento geográfico e as práticas diárias do educando em relação ao meio ambiente, percebeu-
se um significativo distanciamento, no qual o estudante não consegue fazer a correlação entre teoria
e prática. Todavia, o mesmo demostrou outros saberes em relação ao meio que condizem com a sua
vivencia diária em relação aos elementos naturais aos quais o educando tem mais acesso, ou maior
contato. Sendo assim, conclui-se que o aluno do campo manifesta uma preocupação maior em
relação ao meio, sobretudo no que diz respeito aos recursos hídricos e ao solo, como também

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

compreende melhor a importância do conhecimento geográfico para a sobrevivência do homem na


região semiárida, no caso, em Aracatiaçu.
Em relação ao ensino de geografia, numa perspectiva da educação ambiental, observou-se
que, na prática, não há uma ligação entre a teoria de sala-de-aula com a vida prática do educando,
cujas metodologias aplicadas nas aulas dividem opiniões dentre os próprios alunos, que, por sua
vez, não dão a importância devida a essa disciplina. Fato comprovado com a experiência da
presente pesquisa, na qual se verificou que o educando que reside na zona rural e tem um maior
contato com os elementos naturais demostrou maior compreensão em relação ao conhecimento
geográfico, em relação aos elementos naturais, sendo estes educandos também os que demostraram
maior insatisfação em relação à metodologia das aulas de geografia, em detrimento dos alunos do
outro grupo, que não demostraram muito interesse e conhecimento acerca do assunto em questão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Considera-se, portanto, diante das adversidades as quais o homem vem enfrentado nos
últimos tempos, sobretudo no que diz respeito ao acesso à água potável para a sua sobrevivência,
que os desafios tornam-se ainda maiores pela ignorância do próprio homem em relação aos
cuidados e uso racional dos recursos naturais a seu dispor, todavia, a presente pesquisa comprovou
que é possível preparar melhor as futuras gerações a partir da educação escolar, entretanto, para
isso, é necessário a implementação de ações pedagógicas mais práticas e interdisciplinadas. Não
basta apenas ter boa vontade, é necessário que aluno e professor sejam desafiados a saírem do
conforta da sala-de-aula e buscar novas metodologias que lhes garantam conhecer de perto a
realidade do próprio espaço em que vivem, cujas disciplinas de geografia e demais outras afins
sirvam de suporte técnico metodológico, mas que a verdadeira educação ambiental aconteça na
prática, a partir das experiências vivenciadas pelo próprio educando no seu cotidiano.
A partir dos resultados obtidos com essa investigação científica, na qual foram submetidos
alunos do 7° ano do ensino fundamental II, comprovou-se que a educação ambiental ainda acontece
de forma muito distante da realidade dos alunos, que estes, em sua maioria, não sabem relacionar os
conteúdos aprendidos em sala-de-aula com situações vivenciadas no seu cotidiano em relação às
questões ambientais e que é necessário haver uma reformulação metodológica no ensino de
geografia capaz de garantir um conhecimento prático do meio ao educando, a partir da sua própria
realidade espacial.
Em síntese, pode-se confirmar, a partir da supracitada experiência científica, que é possível,
com ações práticas e simples, utilizando os conteúdos de geografia da educação básica como
elemento instigador e norteador, desenvolver-se uma proposta educacional inovadora e mais
dinâmica, na qual o educando, tendo o educando como sujeito da ação e o seu ambiente de vivencia

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

como palco da sua atuação, quebrando-se os paradigmas da educação ambiental, onde o educando
ver os conteúdos apenas como algo fantasioso, distante de si e desconhece sua própria realidade
espacial. Essa metamorfose no processo de ensino e aprendizagem torna-se uma medida urgente
diante da realidade a qual os habitantes do planeta terra vêm passando nos últimos tempos,
especialmente em relação às questões de abastecimento, caso ainda mais grave para aqueles que
vivem nas regiões semiáridas, como é o caso dos sujeitos dessa pesquisa, moradores da localidade
sobralense de Aracatiaçu, região integrante do polígono das secas nordestinas, cujos índices
pluviométricos dessa localidade ficam entre 200mm/ano e 400mm/ano. Compreende-se, portanto,
que é a partir da sala-de-aula, que essas mudanças devem acontecer, cujos sujeitos da ação não são
outros senão os próprios atores dessa referida comunidade escolar.

APOIO: Artigo produzido a partir do projeto ―Escola Sustentável – conhecendo os recursos hídricos
do semiárido‖ e cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UVA. Atividade de estágio
pósdoutoral do Curso de Geografia da UFC.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1156


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CRÍTICA DE ALUNOS


DO ENSINO FUNDAMENTAL

George Ferraz PEREIRA


Biólogo, Profº da Rede Municipal de Educação de Itapetinga-Bahia
george.ferraz1@hotmail.com
Breno Silva da PAIXÃO
Discente de graduação em Ecologia da UNIVASF/Senhor do Bonfim
breno.paixao@hotmail.com
Sônia Gorette da Cruz ALMEIDA
Graduada em Letras, Coordenadora da Rede Municipal de Educação de Itapetinga-Ba.
sonia.gca10@hotmail.com
Claudine Gonçalves de OLIVEIRA
Docente do curso em Ecologia da UNIVASF/Senhor do Bonfim
claudine.oliveira@univasf.edu.br

RESUMO
O artigo apresenta a importância da escola e de seus educadores na missão de sensibilizar,
aprimorar o conhecimento e as percepções dos alunos do ensino fundamental sobre educação
ambiental, integrando a comunidade na ideia de transformá-los em atores sociais e agentes
transformadores do meio ambiente. Como metodologia foi ministrada palestras sobre educação
ambiental e realizado o plantio de 36 mudas de árvores de arbóreas nativa nas dependências
externas da Escola Municipal de Ensino Fundamental II Sizaltina Silveira de Souza Fernandes –
anexo I, localizada no Município de Itapetinga – Bahia. As intervenções utilizadas como estratégias
de sensibilização dos alunos a cerca das temáticas ambientais, permitiu concluir que estes métodos
foram satisfatórios, pois, conseguiram criar nos alunos um elo entre eles e o meio ambiente,
aumentando assim, a criticidade dos alunos sobre seu papel socioambiental.
Palavras chave: Arborização, Sustentabilidade, meio ambiente.
RESUMÉN
El artículo presenta el valor de la escuela y de sus educadores en la misión de sensibilizar, mejorar
el conocimiento y las percepciones de los alumnos del sistema fundamental de educación ambiental,
integrando una comunidad en la ideología de transformación de los agentes y agentes
transformadores del medio ambiente. Como metodología para la educación ambiental y la
planificación de los trabajos realizados en las dependencias externas de la Escuela Municipal de
Ensino Fundamental II Sizaltina Silveira de Souza Fernandes - anexo I, localizada no Municipio de
Itapetinga - Bahia. Como las intervenciones utilizadas como estrategias de sensibilización de los
alumnos a las medidas de salud temática, permitir que los métodos para satisfacer los requisitos, los
puntos de vista, obtener los estudiantesensu entorno socioambiental.
Palabras Clave: Arborización, Sustentabilidad, Medio ambiente.

INTRODUÇÃO

O mundo está preocupado com o meio ambiente. O Brasil não esta fora desse contexto, em
1992 o país foi sede de um evento de conotação mundial, intitulado: A Conferência das Nações

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Rio 92onde muitos países se uniram para
idealizarem propostas para tal sustentabilidade, que viesse conciliar o desenvolvimento econômico
com a saúde socioambiental. Desde então, os temas relacionados à educação ambiental ganharam
uma importância maior no País. (SEMA)
Diversas leis foram criadas nessa perspectiva, no entanto, uma merece destaque por
apresentar a melhor definição sobre o que é a educação ambiental neste país, assim a presente
definição está na Política Nacional de Educação Ambiental instituída no artigo primeiro da lei
9795/99:

―Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.‖

Nela mostra como é importante à participação popular para que a materialização da


qualidade de vida e da sustentabilidade seja de fato alcançada. Deveras, quanto mais precoce se
inicia o pensamento de educação ambiental na sociedade, mais perto estamos de mudar e construir
valores sociais. Reforçando essa ideia os parâmetros curriculares nacionais do ensino fundamental
(1998), definem que adolescentes integrantes de um processo educativo formal, devem exercer seu
papel de cidadão e sentir-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente,
identificando seus elementos e suas interações, contribuindo ativamente para a melhoria do meio
ambiente. Então como estratégia, deve-se criar um senso crítico nesses pequenos atores sociais, para
rever conceitos, e futuramente conquistar a tal mudança, assim como diz Milton Santos:

―Nas fases de grande mudança, o primeiro trabalho é rever o que pensamos. Isso não
significa jogar fora tudo o que fizemos, mas retomar, partindo de como o mundo é em cada
lugar. Sem isso, planejar é como um vôo cego, com todas as suas conseqüencias‖ (Milton
SANTOS, 2007: 104) apud (Bautès, Reginensi, 2008)

Um dos mecanismos mais simples para melhorar os danos socioambientais é a arborização


urbana. (BONONI, 2004). Visto que, as plantas são organismos fotossintetizantes, de grande
importância para a preservação da vida e equilíbrio do planeta, assumindo, desta forma, um papel
de destaque nesse processo de transformação (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001). Tendo em
vista que as plantas têm elevada importância interdisciplinar englobando a Botânica, a Educação
Ambiental, além de outras disciplinas do universo ecológico, permitindo que os alunos e a
comunidade ampliem suas áreas de conhecimento e desenvolva as habilidades necessárias para a
compreensão do papel do ser humano na natureza (BRASIL, 2006).
A dinâmica do desenvolvimento urbano retira cada vez mais a qualidade de vidada
sociedade, em diversos parâmetros, tais como: aumento da poluição do ar e sonora, desmatamento,
que propicia menor umidade e captação de água. Por conseguinte, com o plantio de mudas ou

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

árvores almeja-se uma melhor qualidade de vida para todos que frequentam. Portanto a ideia de
arborização é um projeto primário que visa à importância das plantas para o bem estar da
humanidade, pois estas podem solucionar diversos danos gerados pela globalização, tais como:
reduzir a poluição do ar (por trocas gasosas); redução da poluição sonora e dos ventos, ao servir de
barreira física; deixam um clima mais ameno, já que modifica o microclima; melhora a beleza
cênica do local, com suas estruturas morfológicas; proporcionam áreas de lazer, com sombras, e,
portanto, melhora a saúde física e mental da comunidade. (MOTA et al, 2011)
É sabido que cada lugar tem sua peculiaridade espacial, se tornando, indubitavelmente, a
seleção das plantas necessárias para evitar danos futuros por motivos bioquímicos da planta. Além
disso, Emer e colaboradores (2011) sugerem o uso de plantas nativas, pois estas desenvolve uma
identidade e tem o poder de recuperar o patrimônio da biodiversidade natural da vegetação local,
muitas vezes esquecidos pela comunidade.
Contudo, o objetivo deste trabalho é sensibilizar, aprimorar o conhecimento e as percepções
dos alunos do ensino fundamental da escola Sezaltina Fernandes – Anexo I,a cerca de quentões
ambientais para que se tornem atores sociais e agente transformador do meio ambiente.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado nas dependências externas da Escola Municipal de Ensino


Fundamental II Sizaltina Silveira de Souza Fernandes – anexo I, localizada no Município de
Itapetinga – Bahia. A primeira etapa da pesquisa consistiu-se em fazer um levantamento ambiental
da situação em que se encontrava a escola (4.800m2 da área total da escola), para que pudesse
elaborar o projeto, e consecutivamente, executá-lo. Após averiguar a necessidade de arborização, o
local foi fotografado no intuito do que se poderia ser reestruturado, direcionando-o a estética, lazer
e aprendizado.
As atividades contaram com a participação e apoio da equipe pedagógica da escola, dos
alunos e professores para o seu planejamento, desenvolvimento e exposição à comunidade escolar.
Inicialmente, a coordenação, direção, alunos e professor de ciências, definiram o tema.
A organização das atividades foi em etapas da seguinte forma: 1ª Etapa: mapeamento do
local onde se realizou o projeto, com registros fotográficos; 2ª Etapa: palestra sobre Educação
Ambiental e determinação dos participantes e condução das atividades; 3ª Etapa: limpeza da área
externa, separação e recuperação de materiais que foram utilizados para serem usados na
delimitação e canteiros(pneus e garrafas PET), 4ª Etapa: plantação de 36mudas de arbóreas típicas
da mata Atlântica do sul da Bahia, (a exemplo de Ipê amarelo(Tabebuia Alba), Ipê-miri(Tecoma
stans), Ingazeira(Inga edulis), saboneteira(Sapindus saponaria) e identificação com placas
informativas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Após a plantação os alunos organizaram-se em grupos para semanalmente, em turnos


opostos aos horários de aula e com a supervisão e colaboração dos responsáveis pelo projeto,
cuidarem dos canteiros por cerca de 2 horas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a implantação das etapas descritas na metodologia, mapeamento do local e limpeza da


área, palestra sobre Educação Ambiental, determinação dos participantes na condução das
atividades, produção de canteiros de Jardinagem (Figura 1) e plantação de 36 mudas de arbóreas
típicas da mata Atlântica do sul da Bahia (Figura 2) foi possível perceber que ao passar do tempo
surgiu uma significativa mudança nos alunos a respeito das suas concepções e interações
socioambientais, visto que, muitos foram impactados com as vivenciadas atividades abordadas, no
qual propiciou o crescimento intelectual mais crítico. Esse resultado pode está correlacionado com a
integração de duas dinâmicas o qual Silva e Leite (2008) afirmam trazer ótimos resultados no
reconhecimento do ser humano-ambiente. Essas dinâmicas são o trabalho em grupo e em campo, o
primeiro, respectivamente, cria uma percepção ampla e renovada de sociedade, meio ambiente e
educação, já a segunda, cria um elo entre o educando e o ambiente, ao propiciar que eles excitem
seus sentidos ao construir, ver e presenciar o beneficiamento de seu local de convívio, tornando os
protagonistas no incentivo para um mundo.
Além das dinâmicas supracitadas é importante destacar que todas as atividades tiveram
perspectivas interdisciplinares, com o intuito de aprimorar o aprendizado dos alunos, (AUGUSTO
& CALDEIRA, 2007) no qual envolveu as disciplinas das Ciências naturais, correlacionando temas
de conservação de meio ambiente, crise da água e reciclagem; artes, ao alimentar sua criação nas
oficinas para confecção dos canteiros com pneus, garrafas PET e cidadania ao mostrar o seu papel
na sociedade (Figura 3). Além de disseminar princípios como os três R –Reduzir, Reutilizar e
Reciclar – que é um ótimo método para evitar o dano com resíduos sólidos.
Por outro lado, esse projeto fortaleceu a boa imagem da escola para a sociedade local, ao
ganhar visibilidade nos blogs jornalístico da cidade. Por conseguinte evidenciou o seu papel social
de criar pessoas com valores intelectuais, morais e éticos a respeito da educação ambiental,
disseminando novos hábitos que poderão ocasionar melhorias na qualidade de vida e na
transformação para uma sociedade cada vez mais sustentável.(MASCARENHAS, 2008)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1 – Vista do Canteiro de jardinagem após intervenção dos alunos participantes do projeto.

Figura 2 – Momentos de plantação das mudas pelos alunos orientados pelos professores.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3 – Áreas da escola Sizaltina Fernandes – anexo I, com a arborização.

CONCLUSÃO

O projeto de arborização da Escola Municipal de Ensino Fundamental II Sizaltina Silveira


de Souza Fernandes – anexo I obteve resultados significativos sobre a educação ambiental,
conseguindo integrar os educadores, educandos e a comunidade, numa ação que resultou na
sensibilização de muitos e na elevação criticam dos participantes sobre seus papeis socioambientais,
tornando-os multiplicadores de um moral sustentável que possibilita o bem estar do meio ambiente
e, consequentemente, de seus habitantes.

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AUGUSTO, T. G. S.; CALDEIRA, A. M. A. Dificuldades Para A Implantação De Práticas


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a junho de 2008

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1163


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL MARINHA: PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO


FUNDAMENTAL II DE UMA ESCOLA PERNAMBUCANA SOBRE A
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MARINHA

Geórgia Brennichi CABRAL


Licenciada em Ciências Biológicas UPE
georgia.brennichi@gmail.com
Gledson Fabiano de Araújo FERREIRA
Professor Doutor em Oceanografia UPE
gledsonfabiano@gmail.com

RESUMO
Os oceanos cobrem 71% da superfície de nosso planeta, e são povoados desde microscópicos seres
fotossintetizantes até grandes animais aquáticos. Apesar de abrigar uma elevada biodiversidade, os
oceanos e mares têm sofrido as consequências da interferência humana que está modificando a
qualidade das águas e destruindo hábitats essenciais para a sobrevivência de muitas espécies. A
melhor alternativa para modificar este panorama está na educação de qualidade, levando à
sociedade a necessidade de um ambiente equilibrado, bem e de uso comum do povo e essencial a
qualidade de vida. O presente estudo foi realizado com alunos do 8º ano do ensino fundamental de
uma escola estadual da cidade do Recife-PE, a fim de avaliar percepção sobre conceitos
relacionados à conservação da biodiversidade marinha. Este estudo revelou que os discentes
possuem dificuldades no entendimento de alguns conceitos apresentados, principalmente sobre os
ecossistemas e a fauna. Há a necessidade de uma discussão mais ampla sobre a temática abordada
assim como a vivência com os ambientes marinhos para uma melhor compreensão dos conceitos. A
ação antrópica sobre o meio ambiente deve ser trabalhada no ensino fundamental afim de que
tenham uma visão crítica sobre a atual crise ambiental que coloca em risco a vida do planeta,
inclusive a humana. O ensino das Ciências Naturais pode contribuir para uma reconstrução da
relação homem-natureza e a sua manutenção para as gerações futuras.
Palavras-chaves: Educação, Ecossistemas, Ciências Naturais, Ensino de Ciências, Escola.
ABSTRACT
The oceans cover 71% of the surface of our planet, and are populated from microscopic
photosynthetic beings to great aquatic animals. Despite harboring high biodiversity, the oceans and
seas have suffered the consequences of human interference that is changing the quality of water and
destroying habitats essential for the survival of many species. The best alternative to modify this
panorama is in quality education, leading to the society the need for a balanced environment, well
and common use of the people and essential the quality of life. The present study was carried out
with 8th grade elementary school students from a state school in the city of Recife, Brazil, in order
to evaluate the perception of concepts related to the conservation of marine biodiversity. This study
revealed that the students have difficulties in understanding some concepts presented, mainly on
ecosystems and fauna. There is a need for a broader discussion on the subject matter as well as the
experience with marine environments for a better understanding of the concepts. The anthropic
action on the environment must be worked on in elementary education so that they have a critical
view on the current environmental crisis that puts the life of the planet, including human life, at risk.
The teaching of the Natural Sciences can contribute to a reconstruction of the man-nature
relationship and its maintenance for future generations.
Keywords: Oceans. Education, Ecossistems, Natural Science, Science teaching, School.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1164


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Os oceanos cobrem aproximadamente 71% da superfície terrestre, abrigando uma elevada


biodiversidade, desde grandes organismos como as baleias até microscópicas algas produtoras de
nosso oxigênio, sendo o verdadeiro produtor de oxigênio do planeta (SOARES-GOMES,
FIGUEIREDO, 2009, p.01). Apesar disso, diversas espécies marinhas estão sendo ameaçadas de
extinção pela ação antrópica, tendo como agravantes a poluição do ar e das águas, as mudanças
climáticas, a destruição de hábitats e a pesca predatória (MARQUES JÚNIOR. et al., 2009;
BRASIL, 2014; MUMBY et. al., 2014).
A educação ambiental marinha surge como uma importante ferramenta para conscientizar a
sociedade para a grave crise ambiental aquática que está surgindo com a interferência humana, de
forma a minimizar os impactos e desenvolver de práticas sustentáveis (PEDRINI et al, 2014).
Porém, deve antecedê-la um diagnóstico da percepção ambiental dos jovens estudantes sobre a
problemática.
Neste contexto, o espaço escolar tem o papel fundamental na formação de jovens
conscientes de seu papel na sociedade, na preservação da natureza e na manutenção de seus
recursos para as gerações futuras. Os parâmetros curriculares Nacionais para o ensino fundamental
II descrevem a aplicação de temas transversais sobre o meio ambiente na disciplina Ciências
Naturais e apontam a educação como elemento indispensável para a transformação da consciência
ambiental (Brasil, 1997).
Frente a este cenário, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a percepção ambiental de
alunos do ensino fundamental II de uma escola pernambucana sobre a conservação da
biodiversidade marinha.

METODOLOGIA

O presente trabalho iniciou a partir de pesquisa bibliográfica, levantando referências para


estruturar os conteúdos a serem avaliados e em seguida a realização da pesquisa de campo,
utilizando a aplicação de questionários semiestruturados abordando o tema ―Conservação da biota
marinha‖ com os alunos do 8º anodo ensino fundamental II da Escola Estadual Poeta Manuel
Bandeira, localizada na cidade do Recife-PE, com intuito de avaliar o conhecimento deles sobre o
tema.
Ao todo 36 alunos participaram da pesquisa respondendo aos questionários propostos em
sala. Após aplicação dos questionários foi realizada uma análise dos dados obtidos através das
repostas dos alunos e foram representadas por gráficos. Durante as atividades na escola, foram
realizadas intervenções didáticas para mostrar aos alunos os resultados observados e discutir a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

importância sobre o conhecimento da biodiversidade marinha e a conservação dos ecossistemas


(Fig. 02).

Figura 02: Aula de conservação da vida marinha.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Analisando os questionários aplicados foi possível observar as seguintes respostas:


Na primeira questão, os alunos foram perguntados sobre quem é o maior produtor de
oxigênio do planeta e a grande maioria 69% responderam que a Floresta Amazônica é a responsável
por essa produção (Fig. 03).
Segundo Lopes (2016) "florestas como a Amazônia, são ambientes em clímax ecológico,
isso quer dizer que elas consomem todo - ou quase todo - oxigênio que produzem." Os organismos
marinhos fitoplanctônicos produzem mais da metade do oxigênio que respiramos e ajudam a regular
o clima da Terra (CASTRO; HUBER, 2008, p. 1). Para esta questão a resposta esperada seria os
oceanos, já que neles contêm algas microscópicas fotossintetizantes, maiores produtores de
oxigênio do planeta.

Figura 03: Produção da maior quantidade de oxigênio do planeta de acordo com os alunos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A segunda questão tratou sobre ecossistemas considerados marinhos, a maioria (34, 29%)
respondeu que o ecossistema manguezal é marinho, enquanto apenas 20% das respostas para
ecossistema recifal e 7,14% para o ecossistema estuarino (Fig. 04). Boa parte dos alunos
consideraram o pantanal como um ecossistema marinho, por ele ser alagadiço como o mangue, no
entanto este bioma é formado por uma planície e está situado na Bacia Hidrográfica do Alto
Paraguai (BRASIL, 2017). Esperava-se que fossem marcadas as alternativas manguezal, recifes e
estuários.

Figura 04: Ecossistemas considerados marinhos.

A terceira questão, esteve relacionada com as espécies marinhas ameaçadas de extinção,


em que a maioria 28,57% respondeu que a Baleia azul está ameaçada, enquanto 21,98% para o
Tubarão-tigre, 5,49% para a Toninha, 16,48% para a Tartaruga-de-couro e 23,08% para o Peixe-boi
marinho (Fig.05).
O Ministério do Meio Ambiente (Portaria Nº 444 e Nº 445, 17 de dezembro de 2014) as
espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção, das espécies marinhas citadas acima só a Baleia
azul, Toninha, Tartaruga-de-couro e Peixe-boi marinho estão ameaçados - sendo classificadas como
Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 05: Espécies marinhas ameaçadas de extinção.

Quando os alunos foram perguntados sobre quais motivos que causam risco a vida de
espécies marinhas, a grande maioria 43% (Fig. 06) respondeu poluição como a maior causa,
seguido da destruição de habitats com 19%. Atividades como poluição, destruição de habitats e
sobrepesca estão causando sérios problemas na degradação dos oceanos e nos ecossistemas
costeiros (CASTRO; HUBER, 2008, p. 403-406).

Figura 06: Motivos que causam risco a vida de diversas espécies marinhas.

Em seguida foi perguntado aos alunos quais seriam as funções do ecossistema manguezal,
na qual (22%) (Fig. 07) responderam "absorver o impacto das ondas" e "berçário de espécies".
Além disso 20% acreditam que o manguezal tem como função o "depósito de lixo" uma vez que
exalam um cheiro característico de degradação de matéria orgânica, além da deposição de resíduos
sólidos vindo dos rios das cidades grandes. Os manguezais tem fundamental importância nas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

espécies marinhas, servindo como berçários para peixes, caranguejos e moluscos, e muitos outros
animais que vivem neles. A vegetação mais conhecida como "mangue" ajuda a absorver o impacto
das ondas, evitar erosões no solo e eliminar substâncias dele. No entanto só o mangue preto
(Avicennia germinans) que possui raízes pneumatóforas, raízes que crescem rente à superfície do
solo, são adaptadas para a realização das trocas gasosas (CASTRO; HUBER, 2008, p.278).

Figura 07: Funções de um ecossistema manguezal de acordo com os alunos

Na oitava questão, os alunos responderam sobre a importância de um recife de coral, no qual


80% responderam "abrigo para várias espécies marinhas", mostrando compreender do assunto.
Segundo Castro e Huber (2008) "os ramos dos corais e fragmentos quebrados fornecem abrigo e
uma superfície dura onde espécies sésseis podem se fixar‖. Porém alguns (3%) responderam ser um
local de armazenamento de lixo.

Figura 08: A importância de um recife de coral.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A nona e última questão, foi perguntado qual lugar deveria ser descartado o lixo de produtos
consumidos nas praias (Fig.09), tendo os alunos seis opções de respostas: a) Levar com você; b)
Cavar um buraco na areia; c) Nos lixeiros mais próximos; d) Na água; e) Nenhuma das alternativas;
f) Alternativas "a" e "c", 60% responderam "Alternativas 'a' e 'c'" e 37% responderam "Nos lixeiros
mais próximos", mostrando que os discentes tinham um bom nível de conhecimento sobre a
necessidade de não produzir lixo marinho.
Segundo Brasil (2017) "O lixo marinho é qualquer tipo de resíduo sólido de origem
antropogênica gerado em terra ou no mar que, intencionalmente ou não, tenha sido introduzido no
ambiente marinho, incluindo o transporte destes materiais por meio de rios, sistema de drenagens e
esgoto, ou vento".

Figura 09: Conhecimento dos alunos sobre o lixo da praia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho mostrou a necessidade de ser mais bem trabalhado o pensamento da


conservação da biodiversidade marinha a partir da percepção de conceitos avaliados nos discentes.
Averiguou-se que muitos alunos não tem percepção sobre a importância dos ecossistemas
marinhos e de sua biodiversidade, apesar de viverem em uma cidade banhada pelo mar e cercada
por áreas de manguezais. Foi possível perceber a necessidade de atividades de educação ambiental
marinha na escola, além de vivências para que os alunos possam presenciar os ecossistemas,
conhecerem suas funções e conhecer a biota que neles habitam.
Trabalhar assuntos relacionados aos recursos marinhos para que possam conhecer melhor
sua biota e saberem as reais necessidades da conservação da vida marinha e do uso sustentável dos
ecossistemas presentes nos oceanos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

BRASIL, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Ministério do Meio


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<http://www.icmbio.gov.br/portal/especies-ameacadas-destaque>. Acesso em: 22 jun. 2017.

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<http://www.mma.gov.br/biomas/pantanal>. Acesso em: 03 jul. 2017.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Não ao lixo marinho. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/informma/item/8685-não-ao-lixo-marinho>. Acesso em: 03 jul. 2017.

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PEDRINI, A. G.; LIMA, L.; VIANA, T. Educação ambiental em praça pública como estratégia
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problemática. In: Anais do VII Fórum Nacional de Educação Ambiental, Universidade Federal
do Pará, Belém, 3-6 de dezembro de 2014.

SOARES-GOMES, A.; FIGUEIREDO, A. G. O Ambiente Marinho. In: PEREIRA, R. C.;


SOARES-GOMES, A. (Org.). Biologia Marinha. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2009. Cap.
1. p. 1-34

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1171


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O USO DA TEMÁTICA ―RELEVO‖ COMO ALTERNATIVA PARA O ENSINO DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Helena Paula de Barros SILVA


Professora Licenciatura em Geografia, UPE - Campus Mata Norte
Helena.silva@upe.br
Karoline Marques de ANDRADE
Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia, UPE - Campus Mata Norte
karoline_flor@hotmail.com
Leonardo Nogueira de Queiroga MACIEL
Doutorando em Geografia -UFPE
lenoquema@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo aborda a importância da temática relevo como ferramenta para o ensino da
educação ambiental em sala de aula. A Geomorfologia é um ramo da Geografia, embora com pouca
divulgação popular, apresenta um importante papel nos estudos ambientais. Nesse contexto, o
objetivo da pesquisa foi associar os conceitos trazidos pelos livros utilizados em sala de aula aos
problemas ambientais das proximidades do local onde moram, para assim despertar um maior
interesse pela temática em questão. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede particular
de ensino, localizada no município de Camaragibe –PE, especificamente com alunos do sétimo ano
do Ensino Fundamental. O instrumento empregado foi um questionário com nove perguntas
direcionada aos alunos, com questões referentes ao conteúdo didático, ao método de ensino-
aprendizagem e as ações antrópicas do homem sobre o relevo. Como resultado foi observado que
relacionar os problemas ambientais locais com a temática vista em sala de aula, despertou no
alunado um maior interesse pela temática, fazendo com que debatessem a temática com entusiasmo
e despertando o interesse por questões ambientais.
Palavras-chaves: Ensino de Geografia; Educação ambiental; Problemas ambientais;
ABSTRACT
The present article approaches the importance of the thematic relief as a tool for teaching
environmental education in the classroom. Geomorphology is a branch of Geography, although with
little popular dissemination, it plays an important role in environmental studies. In this context, the
objective of the research was to associate the concepts brought by the books used in the classroom
to the environmental problems near the place where they live, in order to arouse a greater interest in
the subject in question. The research was carried out at a private school in Camaragibe -PE,
specifically with seventh-year primary school students. The instrument used was a questionnaire
with nine questions directed to the students, with questions regarding the didactic content, the
teaching-learning method and the man's anthropic actions on the relief. As a result, it was observed
that linking local environmental problems with the theme seen in the classroom, awoke in the
student a greater interest in the subject, causing them to discuss the theme with enthusiasm and
arousing interest in environmental issues.
Keywords: Geography Teaching; Environmental education; Environmental problems;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO
O professor de Geografia em formação tem grande dificuldade em elaborar o passo a passo
do ensino (e outros tipos de planejamento como os de aulas), encaixando as informações de forma
que o beneficie no momento de ministrar suas aulas em classe. Essa dificuldade é comum, já que
sabemos que o professor de Geografia se depara com inúmeros obstáculos, muitos deles de ordem
burocrática e alguns deles de ordem psicológica, demonstrada pela ansiedade de entrar pela
primeira vez em sala de aula. O futuro educador, seguramente, vai se empenhar ao máximo para
que seu planejamento seja executado com excelência.
Conforme apresenta Silva (2006):

A sala de aula é um local privilegiado onde se realiza o ato pedagógico. Porém, em uma
visão simplista, a função do professor está sendo reduzida a um ato mecânico e
descontextualizada. É no reconhecimento da relevância de seu papel e no conhecimento de
sua realidade que poderão favorecer a intervenção no seu desempenho. A educação em
âmbito geral tem sido muito mais a que procura internalizar o saber do que conscientizar o
homem do conhecimento, ou seja, o indivíduo absorve, mas não reflete sobre o
conhecimento (SILVA, 2006, Pg. 8).

Do ponto de vista educacional, Mattos (1968), sugere que ―o Planejamento de Ensino é a


previsão inteligente e bem calculada de todas as etapas do trabalho escolar que envolve as
atividades docentes e discentes, de modo a tornar o ensino seguro, econômico e eficiente‖. Já para
Cappelletti (1972), ―é a previsão das situações específicas do professor com a sua classe ou
alunado‖.
Para que o trabalho do professor tenha êxito, é necessário que ele desenvolva um
planejamento adequado à realidade na qual atua e que também seja flexível, tendo em vista os
inúmeros fatores que podem interferir no momento de sua aplicação.
A Geomorfologia segundo Cassetti (1995) é ―entendida como uma ciência que busca
explicar dinamicamente as transformações do relevo, portanto, não apenas quanto à morfologia
(forma) como também à fisiologia (função), incorporado organicamente ao movimento histórico das
sociedades, é natural que sua vinculação com a Geografia é mais que justificável‖.
Silva (2006) sugere que ―alunos do ensino fundamental possuem dificuldade no
entendimento do conhecimento geomorfológico, sua linguagem técnica e seus métodos‖, o que
―resulta na não compreensão do conteúdo por parte dos alunos‖. Dessa forma, acrescenta ainda que:

se os alunos não compreendem, não estarão conscientes que suas interferências na dinâmica
do relevo podem acelerar um processo erosivo que naturalmente levaria muitos anos,
causando impactos ambientais sérios e a ocupação de áreas de risco, com possibilidade de
perdas e danos para a sociedade (Silva, 2006, pg. 10 )

Dessa forma, para realizar esta pesquisa foi traçado como objetivo, associar a temática
―relevo‖ vista em sala de aula com o ensino da educação ambiental. Realizando um estudo de caso
em um sétimo ano do ensino fundamental de uma escola da Rede Particular de Ensino do município

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de Camaragibe-Pernambuco, relacionando questões abordadas no livro didático ao cotidiano e ao


espaço vivido do aluno.

ENSINO E APRENDIZAGEM

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:

―O ensino e a aprendizagem da Geografia no ensino fundamental representam um processo


de continuidade. Nesses dois ciclos conclusivos, o aluno deverá avançar teórica e
metodologicamente em relação ao campo epistemológico da Geografia que lhe foi
oferecida nos dois primeiros ciclos iniciais‖ (BRASIL, 2000).

Os resultados a serem alcançados por qualquer atividade humana dependem de um grande


número de fatores, podemos destacar a capacitação dos indivíduos e os meios que lhe são
disponíveis.
A capacitação refere-se à qualidade do processo de formação; os meios disponíveis, que
possam viabilizar, ou favorecer o desempenho e eficiência para se atingir os melhores resultados. A
facilidade de acesso ao conhecimento, à possibilidade do uso de tecnologias e a disponibilidade de
recursos materiais diversos, são exemplos, de alternativas que normalmente estimulam e permitem
que os indivíduos atinjam os objetivos almejados mais rapidamente.
De acordo com Cunha (1994):

―O caminho a ser trilhado pelo aprendizado parte da constatação da existência de certo


nível de conhecimentos, teóricos e práticos, que deverá ser retransmitido de uma forma
organizada. Isto, seguindo uma orientação capaz não só de selecionar os conteúdos
fundamentais e relevantes a serem incorporados, como também fornecer as informações
básicas indispensáveis para o domínio e discernimento do valor e do uso desses
conhecimentos. É recomendável treinar o raciocínio, pensar nas dificuldades que devem ser
suplantadas e estar atento às novas linhas de trabalho a serem desbravadas.‖ (CUNHA,
1994, p.26).

Dessa forma, compreende-se que para se trabalhar com o ensino da geografia é importante
receber uma formação específica e qualificada, ou seja, o profissional que mediará o conteúdo sobre
relevo, deve possuir a habilidade do entendimento sobre aquilo que se refere às formas de relevo.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, como objetivo do ensino fundamental
indicam que os alunos sejam capazes de perceber-se integrante, dependente e agente transformador
do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a
melhoria do meio ambiente e também reconhecer que a sociedade e a natureza possuem princípios e
leis próprios e que o espaço geográfico resulta das interações entre elas, historicamente definidas.
O estudo do espaço geográfico deve considerar as noções e os conceitos, já construídos, que
envolvam a espacialidade e valorizem a formação da consciência territorial. Deve interpretar as
territorialidades dentro da complexidade e conhecer não apenas os elementos objetivos que
compõem o espaço, mas também, valorizar as subjetividades e tentar entendê-las.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em outras palavras, de acordo com Castrogiovanni & Goulart (1990) ―estudar o espaço
supõe a análise da sociedade e da natureza, não isoladas, mas como parte integrante de uma
totalidade a qual se organiza e se relaciona, configurando-se em diferentes feições (paisagens), de
acordo com os diferentes tipos de sociedade em determinado território‖.

METODOLOGIA

Em linhas gerais, pode-se afirmar que a investigação científica esteve baseada num estudo
de caso (sendo o locus da pesquisa uma escola de educação básica do Município do Camaragipe -
PE). Para o estudo de caso, adotou-se a metodologia de pesquisa ação, uma vez que em diversos
momentos havia a intervenção do sujeito estudado, como se detalha a seguir. Inicialmente, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do assunto tratado, buscando a ampliação do arcabouço
teórico e sobre métodos/práticas possivelmente empregados no ensino e aprendizagem da temática
Relevo em sala de aula. Em adição, foi realizada uma análise nos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCN‘s, referente ao ensino de Geografia e aos assuntos geológicos-geomorfológicos
trabalhados no sétimo ano do Ensino Fundamental.
Para efeito de um estudo de caso, em termos de localização geográfica, a pesquisa foi
desenvolvida em uma escola da rede particular de ensino, localizada no município de Camaragibe –
PE, especificamente com alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental. A escola selecionada para
realização da pesquisa possui disponibilidade de recursos pedagógicos, sendo os mais comuns: o
livro didático, projetor de slides, aparelhos de som e TV, copiadora, acervo de material audiovisual.
Além de mapas, globos terrestres e demais recursos.
Para realização da pesquisa foram observadas três aulas da disciplina de Geografia em
quatro turmas do sétimo ano do Ensino Fundamental (7ºA; 7ºB; 7ºC e 7ºD). Durante essas três aulas
foi trabalhado todo o conteúdo da temática ―Relevo‖ (conceito, divisões, formas e influencia
antrópica) pelo professor em cada sala de aula. Na quarta aula em cada sala, o professor concedeu
um espaço para serem aplicados questionários e discutido a temática em questão com os alunos.
A população amostral foi de 147 alunos no total das quatro turmas pesquisadas. O que
corresponde a 96,07 % dos alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental da escola selecionada para
o estudo de caso. O instrumento empregado foi um questionário com nove perguntas direcionada
aos alunos: o primeiro bloco com seis questões relacionadas ao conteúdo didático e ao método de
ensino-aprendizagem usado pelo professor. O segundo bloco, composto por três questões, buscou
levantar questões referentes as ações antrópicas do homem sobre o relevo, despertando o aluno às
questões relacionadas a educação ambiental.
É importante mencionar que o professor da disciplina na escola, teve antecipadamente
acesso aos questionários, autorizando a aplicação dos mesmos. Após o levantamento das

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

informações, os dados foram analisados para posteriores conclusões. Após aplicação dos
questionários foi realizada em cada sala um debate sobre as questões abordadas no questionário.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada com cento e quarenta e sete alunos, onde cada aluno respondeu a
um questionário contendo nove perguntas. As questões como mencionado anteriormente, foram
divididas em dois blocos, o primeiro com quatro questões relacionadas ao conteúdo abordado na
sala de aula, e ao método de ensino-aprendizagem usado pelo professor.
Na primeira pergunta, os alunos foram questionados sobre ―qual a importância em estudar o
tema relevo? ‖, ou seja, os alunos teriam que explicar o motivo pelo qual eles estudam esse
conteúdo. Nesta questão 64% dos alunos responderam que ―se está no livro, então é importante‖,
ficando claro que os alunos não sabem o real valor de se estudar essa temática.
A segunda pergunta questionou se o livro traz os conceitos das formas básicas de relevo de
maneira clara. Todos os alunos respondem que ―sim‖, justificando que através dos textos e das
imagens os conceitos ficam claros.
A questão três indagou se os alunos sabem explicar o que é uma depressão: 81% dos alunos
disseram que ―depressão é um tipo de relevo‖; alguns responderam que não sabiam o que era
depressão e outros disseram que sabem o que é, mas não sabem explicar. Os alunos dizem que o
conteúdo sobre relevo é fácil, que no livro está tudo bem explicado e bem claro, porém, na hora de
conceituar depressão, houve inúmeras respostas diferentes e divergentes.
A quarta pergunta questionou se o livro ajuda a compreender melhor o conteúdo sobre
relevo. A maioria dos alunos (87%) respondem que ―sim‖, entre eles: ―as figuras e os textos são
claros‖, o que ajuda na compreensão do conteúdo. Verificou-se que para os alunos, o livro contém a
verdade absoluta sobre o tema estudado. O conteúdo sobre relevo no livro é muito reduzido,
restringindo-se a conceituar planalto, planície e depressão e ainda, em alguns momentos, de maneira
equivocada.
Na quinta questão, os alunos responderam em terem ―facilidade ou dificuldade de estudar o
relevo‖, 74% dos alunos disseram que ―foi fácil‖. Um aluno justificou que ―é uma parte fácil de
entender‖ na ciência Geográfica. Alguns mencionaram que sentiram dificuldade em ―decorar‖ as
formas de relevo, outros dizem que tiveram dificuldade ―em saber distinguir planalto, planície e
depressão‖, e que tinham coisas que eles ―nem sabia que existia‖, portanto, ficou complicado de
entender.
Na sexta pergunta, foi questionado aos alunos se eles teriam entendido o assunto e se
gostaram de como o professor havia transmitido para eles‖ e a maior parte (78%) responderam que
sim. Que a forma que o professor trazia as informações, deixava a aula mais interessante. Vale

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

salientar que o professor, além do livro didático, trouxe recortes de revistas e figuras impressas com
imagens de diferentes formas de relevo, além de levar os alunos na biblioteca da escola para
visualizarem uma maquete do relevo (figura 01)
O segundo bloco de questões, abordou a temática ―as ações antrópicas sobre o relevo e os
possíveis impactos‖, buscando despertar os alunos para a educação ambiental. Este foi iniciado
com a questão: ―você consegue compreender a atuação dos homens nos processos erosivos?
Exemplifique‖. Cerca de 91% dos alunos, responderam de forma correta a ação do homem nos
processos erosivos, dando diferentes exemplos.
Na segunda questão, foi pedido os alunos que ―relacionassem os processos erosivos de ação
humana com problemas ambientais próximo ao local que moram‖. Apenas 5% dos alunos
responderam de forma correta. Algumas respostas mencionaram que ―o livro não mostra o processo
erosivo em nossa cidade‖. Outros até responderam algo relacionado a deslizamento, porém com
exemplos de outros estados (Exemplo Rio de Janeiro).

Figura 01: atividade prática na biblioteca da escola.

Na terceira questão foi pedido que os alunos observassem alguns problemas ambientais
decorrente de ação humana no relevo, listados na questão (entre eles: deslizamentos, voçorocas,
alagamentos e assoreamento), e relacionassem com possíveis soluções. Para essa questão 76% dos
alunos responderam de forma semelhante: ―não poluir o ambiente‖; ―não construir casas nas partes
inclinadas dos morros‖; ―não desmatar‖.
Após a realização dos questionários, os alunos foram instigados a participarem de um debate
que trouxe, novamente, as últimas três perguntas. Pode-se observar que os alunos, após as aulas,
souberam responder sobre as questões lançadas no debate, demonstrando interesse em relação a
temática em questão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Durante o debate foi questionado se, próximo ao local que eles moravam, existia problemas
relacionados a deslizamento de morro, alagamentos de vias ou assoreamento de rios. Todos
responderam de forma positiva a, pelo menos, um dos problemas citados, trazendo dessa forma ao
debate, a realidade dos alunos para as questões vistas na sala de aula, através dos recursos usados
pelo professor. Dando continuidade, o debatedor demonstrou, por meio de imagens, ações da
população que ocasionavam em problemas ambientais já citados, e solicitou que todos refletissem
se cometiam, ou não, aquelas ações negativas.
Nesse momento do debate, os alunos responderam que muitas das ações negativas eram
comuns de serem realizadas onde eles moravam, entretanto iriam se esforçar para não realizar
novamente, além de apresentar aos seus familiares, os riscos daquelas ações para o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando-se os resultados com a presente pesquisa, alguns fatores merecem ser


evidenciados. Dentre eles, o fato de que a aula realizada pelo professor de Geografia fugiu à regra
das aulas tradicionais, nelas o professor, além do livro didático, trouxe para sala de aula imagens
sobre a temática envolvida e realizou uma ida a biblioteca da escola.
Os alunos ao serem abordados sobre problemas ambientais causados por razões antrópicas
com ênfase no relevo, responderam as questões de forma satisfatória, entretanto tiveram dificuldade
em conseguir associar com os problemas dos locais onde moram.
Relacionar os problemas ambientais locais com a temática vista em sala de aula, despertou
no alunado um maior interesse pela temática, fazendo com que debatessem a temática com
entusiasmo e despertando o interesse por questões ambientais.

Assim, foi constatado que a educação ambiental auxilia os alunos a compreenderem que a
utilização e a ocupação humana incorreta sobre o relevo, ou seja, sem o devido conhecimento da
sua estrutura e dinâmica, pode provocar danos materiais e humanos irreparáveis. Dessa forma, o
ensino consciente da Geografia torna-se uma ferramenta para tornar o aluno mais crítico, podendo
relacionar neste caso, as temáticas vistas em sala com os problemas ambientais locais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências


humanas e suas tecnologias. Secretaria de Educação média e tecnológica – Brasília: MEC / SEF,
2000.

CAPPELLETTI, I. F. Planejamento de Ensino. Revista Escola n.5. Abril, São Paulo, 1972. p.10.

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CASSETI, V. Ambiente e Apropriação do Relevo. 2 ed. São Paulo: Contexto. 147 p. 1995.

CASTROGIOVANNI, A. C.; GOULART, L. B. Uma contribuição à reflexão do ensino de


geografia: a noção da espacialidade e o estudo da natureza. Terra livre: Geografia Pesquisa e
Prática Social, São Paulo, n.7, 1990.

CUNHA, N. H. S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Maltese, 1994.

MATTOS, L. A. Sumário de Didática Geral. Rio de Janeiro: Aurora, 1968. p. 140.

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SILVA, V. M. Análise dos conteúdos sobre relevo no ensino fundamental em escolas públicas –
estaduais e municipais –e particulares no município de Criciúma-SC. Monografia. Universidade
do Extremo Sul Catarinense- UNESC. Criciúma. 2006.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1179


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO VERDE: UMA EXPERIMENTAÇÃO TEÓRICA METODOLÓGICA NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

Iris Maria Ribeiro PORTO


Professora Adjunta Doutora em Ciências Sociais UEMA
Porto.iris@gmail.com
Karla Corrêa de SOUSA
Karlacorreadesousa@outlook.com

RESUMO
Este trabalho assume o modelo de uma experimentação teórica metodológica utilizando a Educação
Verde como referencial didático para a proposta da Educação Infantil. A problemática ambiental
faz-se cada vez mais presente no contexto atual, e nada mais plausível do que começar essa
conscientização desde cedo, mas especificamente desde a primeira idade. A pesquisa teve como
objetivo analisar de que forma a Educação Verde pode ajudar as crianças a desenvolverem um
sentimento de responsabilidade e amor à Terra para crescerem saudáveis em todas as suas
dimensões, corporal, emocional, social, intelectual e espiritual. Utiliza o método Histórico-
Dialético, como norteador do processo, bem como o tipo de pesquisa qualitativa. Os sujeitos da
experimentação foram crianças do Infantil II, de uma escola da rede pública de ensino. Desenvolve
um laboratório de experimentação metodológica com atividades desenvolvidas para as referidas
crianças no ambiente escolar. Apresenta como resultado a constatação de que as crianças podem
desenvolver atitudes relacionadas à preservação do meio ambien. Conclui finalmente que a
Educação Verde na Educação Infantil é primordial no sentido de que a formação de seres críticos e
conscientes em relação ao meio em que vivem deve ser desenvolvida desde a primeira etapa
escolar.
Palavras- chaves: Educação Verde. Conscientização ambiental. Educação Infantil.
ABSTRACT
This work takes the form of a theoretical experimentation methodology using the Green Education
as a textbook for the proposal of Early Childhood Education. The environmental issue is
increasingly present in the current context, and nothing more plausible than getting this awareness
from an early age, but specifically since the first age. The research aimed to analyze how Green
Education can help children develop a sense of responsibility and love for the Earth to grow up
healthy in all its dimensions, body, emotional, social, intellectual and spiritual. It uses the
Historical-Dialectic method as a guide to process, as well as the type of qualitative research. The
subject of experimentation were children of the playground II, a school of public education. For the
collection of data that supports the research, interviews with the children, application of a
questionnaire with the director and two teachers from segment and a laboratory for experimentation
methodology with activities for those children in the school environment. It is based on the
theoretical literature on Environmental Education, Education Green and Early Childhood
Education. It offers as a result a dialog between Education Green and Early Childhood Education
and the observation that children can develop and also develop, attitudes related to the preservation
of the environment through activities directed to the theme. It concludes Education in Early
Childhood Education is fundamental in the sense that the formation of critical and conscious beings
in relation to the environment in which they live must be developed from the first stage of school.
Keywords: Green Education. Environmental awareness. Early Childhood Education.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1180


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO
A ideia de uma Educação ou de uma Pedagogia com uma cor representativa de um conceito
surgiu em 1983, com a Psicanalista suíça Alice Miller, empregando o termo ―Pedagogia Negra‖
para se referir a um tipo de Educação que usa o autoritarismo e a violência para conseguir
obediência. Posteriormente ela cria o termo ―Pedagogia Branca‖ que usa métodos mais suaves para
o mesmo objetivo. Essa visão foi criticada por reacender uma certa visão racista e de cunho
excludente. (FREIRE, 2013)
Sequenciando, essa perspectiva de cor na Pedagogia, reaparece em 2004 com alguns autores,
o termo ―Pedagogia Vermelha‖, para designar uma realidade de um projeto crítico, emancipatório
das identidades particulares comprometida com a liberação das minorias. (Ib Id). A Educação Verde
ou Pedagogia Verde surgiu em 2004, com Freire (2013, p.12) como ―uma filosofia educativa que se
associa à tradição humanista das Ciências Sociais e entende metaforicamente o ser humano como
uma semente em uma planta que possui dentro de si tudo o que é necessário para o seu
desenvolvimento‖. A concepção da Educação Verde é que ―assim como na agricultura ecológica, a
tarefa educativa não requer o emprego de procedimentos agressivos, como herbicidas, pesticidas ou
grandes podas, para ‗corrigir‘ o crescimento ou obter o máximo rendimento‖. (FREIRE, 2013, p.12)
Ela se constitui num processo orgânico do acompanhamento e aprendizado conjunto em que
a criança aprende a cultivar o seu interior, assim como o adulto, como bons jardineiros. Nessa
perspectiva, estimular o amor pela Terra e cuidados necessários ao seu desenvolvimento sadio parte
do contato indispensável com a natureza, utilizando a paisagem como um meio para a aproximação
e a compreensão do mundo para o desenvolvimento de uma consciência ambiental. Educação Verde
pensa o ambiente em relação ao homem, como uma condição de saúde em totalidade.

A IMPORTÂNCIA DO VERDE NA SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL DA CRIANÇA


A carência ocasionada pela falta de contato com o meio natural, ora pelo uso exacerbado da
tecnologia, ora pela insegurança por parte dos adultos, acaba por provocar, sobretudo, a falta de
movimento na criança. As crianças passam a realizar mais atividades sentadas e quase ou sempre,
não tem a oportunidade de participar ativamente da vida cotidiana, isto inclui as brincadeiras ao ar
livre. Em outras palavras, a criança acaba fazendo parte do grupo sedentário da sociedade.
Segundo Freire (2013), ―estamos diante da primeira geração de pessoas que cresceram
principalmente sentadas. Existem informações alarmantes a respeito desse sedentarismo forçado:
obesidade, menos saúde física, mais problemas de concentração e aumento dos comportamentos
violentos‖. (FREIRE, 2013, p.33). Além de benefícios relacionados ao aprendizado, o contato com
a natureza contribui também para a saúde física e consequentemente, para o desenvolvimento
emocional da criança.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1181


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Foi comprovado, por exemplo, que a luz solar é a fonte mais adequada de vitamina D,
responsável pela fixação do cálcio nos ossos, cuja carência produz, entre outras coisas, o
raquitismo. Ela também protege o coração, assegura o bom funcionamento do fígado e do
intestino, nos ajuda a não engordar e regula os impulsos da fome, da sede e do sono.
(FREIRE, 2013, p.40)

Na década de 90, dois psicólogos ambientais americanos, Stephen e Rachel Kaplan, fizeram
um estudo envolvendo especialistas e funcionários de escritório de empresas. Os psicólogos
constataram que as pessoas que trabalhavam com vista para árvores e jardins eram mais produtivos
e entusiasmados do que os que trabalhavam em lugares sem essas características. Assim, chegaram
ao conceito de ―meio ambiente restaurador‖, no intuito de explicar ―o efeito calmante do verde‖.
(FREIRE, 2013). Espaços abertos proporcionam à criança uma liberdade de expressão, no sentido
de a mesma poder ―colocar para fora‖ as suas emoções, seja a tristeza, a raiva ou até mesmo a
timidez.
Atividades que proporcionam à criança o tocar, o sentir, o transformar, além de prazer,
trazem consigo um significado maior para a sua aprendizagem. A aproximação com o ambiente
natural possibilita maior dinamismo às aulas, bem como maior aproximação do conteúdo ao
contexto e às vivências.
Faria e Salles (2007) apontam que as crianças se mostram seres ávidos para explorar o
mundo, para conhecê-lo, para dele se apropriarem e terem possibilidade de transformá-lo.

As crianças estabelecem relação entre todas as coisas e fatos, criando suas próprias
hipóteses e explicações para entender esse mundo que, cada vez mais, se abre à sua frente.
Sua curiosidade é enorme e se manifesta de forma cada vez mais ampla, à medida que vão
tendo contato com os vários sujeitos de sua cultura, em suas experiências e vivências do
cotidiano. (FARIA; SALLES, 2007, p. 47)

Assim, o contato com a natureza contribui significativamente no desenvolvimento e


consequentemente na qualidade de vida das crianças. Esse contato propicia um modo harmonioso
de se crescer, conviver e aprender, além de fazer com que as mesmas sintam-se parte dela.
Nesse sentido, a aprendizagem não deve limitar-se apenas no diálogo sobre os tipos de
plantas, nas pinturas dos animais, na contação de histórias, enfim em ―aprender de longe‖ o que é
preciso para preservar o meio ambiente. É primordial também, fazer o uso do corpo, das mãos para
perceber e apreender os sentidos desse meio.
A criança estabelece uma relação de conhecimento entre as experiências que tem sobre o
mundo e suas possibilidades sobre este mundo; e entre o conhecimento das suas próprias
possibilidades. A mesma vive, experimenta, sente, aprende. Vivências e experiências concretas
promovem uma aprendizagem significativa.
O tempo que as crianças passam em contato com a natureza possibilita inúmeros benefícios
no que diz respeito à aprendizagem. Em um outro relatório publicado pela C&NN (2009), entra em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pauta como esse tempo ao ar livre está conectado com benefícios acadêmicos abrangentes. São
exemplos dele:
 Comportamento melhorado na sala de aula;
 Aumento de motivação e entusiasmo para aprender;
 Melhor desempenho;
 Déficit de atenção reduzido.
Nesse sentido, é necessário estimular as crianças, desde cedo, a terem esse contato com o
meio natural. Isso fará com que elas contribuam, durante a infância e no futuro, com o equilíbrio e
preservação dele. As crianças que vivenciam esse contato tem mais qualidade de vida e se preparam
melhor para o amanhã. Assim, o contato com esse meio é fator diferencial para um bom
desenvolvimento infantil, visto que oportuniza as crianças explorarem, descobrirem muito mais o
mundo a sua volta e, portanto, se desenvolverem melhor.

A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO VERDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para Alarção (2001, p. 18) ―a escola tem função de preparar o cidadão, mas não pode ser
pensada apenas como tempo de preparação para a vida. Ela é a própria vida, um local de vivência
de cidadania‖. É baseado nesse conceito de que a escola desempenha o papel de formadora de
cidadãos, que se entende que ela é um local de educação, de socialização.
Voltada para a temática da Educação Verde, o papel da escola é, sobretudo chamar a atenção
da criança para os problemas ambientais e consequentemente, desenvolver valores e atitudes de
respeito ao meio ambiente. Esse caráter emergencial está relacionado com as condutas humanas
inadequadas no que diz respeito ao uso dos recursos oferecidos pela natureza. Dias (2003) salienta
que:

Hoje, trata-se de uma questão de responsabilidade individual e coletiva. Ao final do dia, ao


deitarmos, devemos ter feito alguma coisa em prol da melhoria e manutenção da qualidade
ambiental. Devem estar, dentro das nossas decisões e atitudes daquele dia que acabou, atos
verdadeiros de cooperação/contribuição à causa ambiental, ou seja, ao final de cada dia,
devemos ter cumprido nossa parcela de responsabilidade, independentemente da postura
dos outros (que precisa ser modificada). (DIAS, 2003, p. 110)

Freitas (2012) estabelece uma relação entre a gestão educacional e a sustentabilidade do


planeta, afirmando que ―gerir a escola de maneira socialmente responsável, portanto, é buscar a sua
sustentabilidade de forma coerente, com princípios éticos e com a construção de valores sociais‖.
Nesse sentido, a escola oportuniza a formação de uma consciência crítica, e, sobretudo, a formação
de uma consciência ambiental. Provocar na criança um sentimento de cuidado em relação ao meio
em que está inserida é primordial para lidar com questões referentes a esta temática.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O PAPEL DO EDUCADOR

O contexto em que se vive, marcado pela degradação do meio ambiente, nos leva a refletir
sobre as práticas educativas voltadas para essa temática. A educação entra em cena no sentido de
formar as gerações futuras, configurando novas possibilidades de ação. Assim, o educador deve ter
suas práticas de ensino voltadas para a sensibilização da criança no que diz respeito à problemática
ambiental, fazendo com que a mesma compreenda que é parte ativa desse meio. Guimarães (2005,
p.31) salienta que ―é preciso que o educador trabalhe intensamente a integração entre ser humano e
ambiente e se sensibilize de que o ser humano é natureza e não apenas parte dela‖.
O autor complementa ao afirmar que: ―por meio da execução dos procedimentos planejados
o educando/educador deverá construir conhecimentos, possibilitando a criação de novos valores e
atitudes na relação ser humano/ambiente, atendendo aos objetivos específicos planejados e aos
objetivos gerais da EA‖. (GUIMARÃES, 2005, p.46)
O RCNEI (1998) aponta que ―o professor precisa ter claro que esses domínios e
conhecimentos não se consolidam nesta etapa educacional. São construídos, gradativamente, na
medida em que as crianças desenvolvem atitudes de curiosidade, de crítica, de refutação e de
reformulação de explicações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e acontecimentos do
mundo social e natural‖. (RCNEI, vol. 03, 1998, p. 24)
Vale ressaltar a importância em trabalhar essa temática não se limitando apenas às datas
comemorativas especificas, como por exemplo, o dia do Meio Ambiente. O RCNEI (1988) salienta
que apesar de algumas datas comemorativas abrirem um leque de propostas criativas de trabalho, na
maioria das vezes o tema acaba não ganhando profundidade e tampouco, o cuidado necessário.
É de fundamental importância que o educador oportunize a vivência de situações de
aquisição de conhecimento, isto é, o contato com todos os meios possíveis de aprendizado. O
mesmo deve criar ambientes favoráveis no intuito de promoverem experiências diretas com a
participação ativa da criança nas atividades. Sempre que possível, o educador deve dar preferência
às atividades ao ar livre, para que assim, a criança possa ter um contato mais próximo dos
elementos da natureza e consequentemente do meio em que está inserida.

A CRIANÇA COMO AGENTE MULTIPLICADOR

O trabalho da Educação Verde na Educação Infantil torna-se imprescindível na medida em


que esta é uma fase de criação de valores e conceitos. O ponto ideal para a formação de futuros
cidadãos críticos e atuantes na sociedade em que estão inseridos. De acordo ainda com Craidy;
Kaercher (2001, p. 98), a criança é um ―participante ativo‖ que, se tiver oportunidade, pode se
tornar cada vez mais competente para lidar com as coisas do mundo. Nesse sentido, a criança,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

através das vivências, é capaz de perceber gradativamente as relações existentes, construindo e


reconstruindo informações que contribuem para a sua aprendizagem.
O RCNEI (1998) salienta que ―as crianças refletem e gradativamente tomam consciência do
mundo de diferentes maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. As transformações que
ocorrem em seu pensamento se dão simultaneamente ao desenvolvimento da linguagem e de suas
capacidades de expressão. À medida que crescem, se deparam com fenômenos, fatos e objetos do
mundo; perguntam, reúnem informações, organizam explicações e arriscam respostas; ocorrem
mudanças fundamentais no seu modo de conceber a natureza e a cultura‖. (RCNEI, vol. 03, 1998, p.
169)
As crianças tornam-se agentes multiplicadores na medida em que disseminam, do modo
delas, conceitos de posturas ambientais à sociedade. Desse modo, essa primeira etapa da vida torna-
se a base para a formação desses futuros cidadãos, cidadãos melhores e sensíveis em relação ao
meio que estão inseridos. Nessa perspectiva, além de multiplicadores, as crianças podem tornar-se
modificadoras no sentido de despertarem nos adultos, atitudes positivas inexistentes ou pouco
praticadas em relação ao meio para a sua saúde. A maioria dos adultos de hoje, não foram
acostumados a pensar na preservação desse meio em si, nesse conexto. Gadotti (2000, p.79) salienta
que ―a formação da consciência depende da educação‖.
Didonet (2008, pgs 10-13) aponta que os valores e atitudes adquiridos na primeira infância
traçam um caminho mais firme e estável para a vida. Assim, é primordial o trabalho, na Educação
Infantil, envolvendo questões ambientais, pois a criança passa a entender desde cedo que precisa
cuidar, preservar e que ela também é responsável pelo meio em que vive e que suas atitudes e as
atitudes das outras pessoas podem interferir no futuro desse meio.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM EXPERIMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO

O laboratório foi de relevante importância, pois a partir dele foi possível aliar as
contribuições teóricas com a parte prática, através da aplicação de atividades. A estratégia utilizada
para a realização de atividades voltadas para a Educação Verde com os alunos do Infantil II foi a de
aplicação de projetos. Nesse sentido, foi aplicado 01 (um) projeto por semana, totalizando 04
(quatro) projetos com temáticas específicas. Na primeira semana foi trabalhado o projeto ―Meu
amigo animal‖, na segunda semana o projeto ―Uma gotinha de vida‖, na terceira semana o projeto
―Espere, não jogue isto fora!‖ e por fim, na quarta semana, o projeto ―Mãozinha verde‖. As
atividades foram realizadas no período de 01 (um) mês, totalizando 16 (dezesseis) atividades. Aqui
descrevemos apenas uma atividade de cada projeto.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Semana 01

Projeto: ―Meu amigo animal‖.


Os animais têm forte presença no dia a dia das crianças, seja de forma física ou através
de músicas, desenhos animados, jogos, histórias e brinquedos. Sendo assim, é primordial trabalhar
noções de respeito e cuidados com a natureza, incentivando, em especifico, a preservação da fauna
assim cuidando de sua saúde, do seu desenvolvimento sadio. Nesse sentido, este projeto levou à
reflexão sobre o risco de extinção dos mesmos e os impactos que causam para a saúde humana em
todas as suas dimensões. As atividades dessa semana foram divididas em 04 (quatro).

Atividade

Objetivo: Identificar os diversos tipos de animais, bem como sua importância para o meio ambiente
e para a manutenção da saúde ambiental e física dos seres vivos..
Conteúdo: Música; Natureza e Sociedade; Linguagem oral e escrita.
Metodologia: Para iniciar a aula, fez-se uma rodinha de abertura na qual foi colocada para tocar a
música ―A dança dos bichos‖, da Eliana. Posteriormente, apresentou-se, através de um saco
surpresa, imagens da diversidade de animais existentes e a sua importância para o meio ambiente,
dando ênfase para o tema do projeto ―Meu amigo animal‖. Dando continuidade, por meio de uma
votação, foi ―adotado‖ um animal para receber cuidados durante a aplicação do projeto.

Semana 02

Projeto ―Uma gotinha de vida‖.


O planeta Terra é composto principalmente de água e consequentemente, toda a vida da
Terra é dependente desse elemento. A escassez de água ao redor do planeta sinaliza que a
preservação do recurso deve ser praticada e disseminada. Corremos o risco da falta de água. Desse
modo, é primordial que desde cedo a criança aprenda sobre a importância da preservação desse
recurso natural indispensável à vida. Neste sentido, este projeto promoveu a consciência da
dependência em relação à água, reconhecendo a ação do indivíduo na transformação do meio
ambiente, sobretudo, no que diz respeito ao desperdício e à poluição da água. As atividades dessa
semana foram divididas em 04 (quatro).

Atividade

Objetivo: Reconhecer a importância da água, bem como suas diversas utilidades para a manutenção
da saúde em sua totalidade.
Conteúdo: Música; Artes visuais; Natureza e Sociedade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Metodologia: Para iniciar a aula fez-se uma rodinha de abertura, resgatando o projeto que havíamos
estudado na semana anterior no intuito de apresentar, através do cartaz do projeto, o que
estudaríamos nessa semana, o projeto ―Uma gotinha de vida‖. Fez-se algumas indagações sobre a
água. Logo em seguida, foi apresentada a música ―Água‖, do tio Marcelo. A música fala de um
modo geral, sobre a importância da água. Posteriormente, pediu-se que cada aluno desenhasse uma
gotinha de água em uma folha de chamex.

Semana 03

Projeto ―Espere, não jogue isto fora!‖.


O acúmulo do lixo causa inúmeros prejuízos à saúde da população. Quando jogamos alguma
coisa fora, ela vai para o lixo. Mas isso não significa que o lixo deixa de existir. Não podemos
deixar de produzir lixo, todavia podemos diminuir a sua produção ao reutilizar os materiais, em vez
de jogá-los fora. Se reciclarmos, estaremos produzindo menos lixo e contribuindo para mantermos
o bem estar da natureza.
Este projeto possibilitou à criança, a descoberta de suas potencialidades criadoras e a noção
de que o reaproveitamento desses materiais surtirá efeito positivo para o meio ambiente. A
construção de brinquedos, por exemplo, além de aguçar a criatividade, é uma alternativa bastante
atrativa para mostrar às crianças que esses materiais que teriam como destino final o lixo, podem se
tornar objetos úteis. As atividades desse projeto foram divididas em 04 (quatro).

Atividade

Objetivo: Identificar os elementos prejudiciais à natureza e consequentemente à saúde do homem,


bem como o período de decomposição de cada elemento.
Conteúdo: Natureza e Sociedade; Artes visuais.
Metodologia: Para iniciar a aula, fez-se uma rodinha de abertura resgatando o projeto que havíamos
estudado na semana anterior no intuito de apresentar, através do cartaz do projeto, o que
estudaríamos nessa semana, o projeto ―Espere, não jogue isto fora!‖. Logo em seguida, foi
apresentado às crianças alguns tipos de resíduos sólidos e quanto tempo cada um demora a se
decompor na natureza. Posteriormente, foi apresentado à turma o vídeo da Turma da Mônica
intitulado de ―Um plano para salvar o planeta‖.

Semana 04

Projeto ―Mãozinha verde‖.


A finalidade do projeto foi, sobretudo, a criação de uma mini horta. As atividades da semana
foram divididas em 04 (quatro).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Atividade

Objetivo: Despertar o interesse para o cultivo de horta e da boa alimentação para a sua saúde e de
sua família.
Conteúdo: Natureza e Sociedade; Artes visuais.
Metodologia: Para iniciar a aula, fez-se uma rodinha de abertura resgatando o projeto que havíamos
estudado na semana anterior com a finalidade de apresentar, através do cartaz do projeto, o que
estudaríamos nessa semana, o projeto ―Mãozinha verde‖. Fez-se algumas indagações. Logo em
seguida, foi distribuído jarrinhos para cada criança explicando que dentro deles colocaríamos uma
sementinha e que ela era muito importante para nós e precisaria, sobretudo, dos nossos cuidados.
Cada criança colocouum pouco de terra e adubo. Feito isso, umedecemos a terra e plantamos as
sementes.
É na Educação Infantil que ―plantamos‖ a sementinha da consciência em relação ao meio
ambiente, para que assim, as crianças possam crescer tendo a preocupação com esse meio e os
problemas que lhe são associados e possam também, sempre estar buscando soluções para a sua
melhoria. O contato com as plantas ajuda as mesmas a entenderem desde cedo a importância da
natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho foi direcionado às crianças na justificativa de que esta é a fase mais propícia
para aprender, e também porque elas precisam amar a si mesmas e à Terra para que tenham uma
Educação Verde importante para sua saúde plena. Não devemos pensar nelas como um ser incapaz,
ao contrário, esses pequenos indivíduos podem fazer a diferença no que diz respeito à problemática
ambiental e suas consequências positivas e negativas para a saúde.
No trabalho foram discorridas algumas formas de inserir a Educação Verde na Educação
Infantil e constatou-se que as crianças são capazes de desenvolver atitudes no que diz respeito à sua
construção de sustentabilidade. Porém, notou-se que a escola, de um modo geral, não observa a
Educação Infantil com capacidade para a Educação Verde
Durante toda a aplicação das atividades propostas, a experiência trocada com as crianças foi
de significativa importância para a função de Pedagoga em que a pesquisadora está se
profissionalizando. Planejar, formular atividades para toda a turma foi essencial no que diz respeito
ao amadurecimento pessoal e profissional. Cada atividade realizada no laboratório serviu para o
enriquecimento de conhecimento sobre a temática em questão.
A priori, para embasar de forma segura este trabalho, foram realizadas leituras que de certa
forma, fizeram com que houvesse uma ampliação de visão sobre a Educação Verde, bem como

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sobre a Educação Infantil. Assim, conclui-se que a Educação Verde na Educação Infantil é
primordial tanto no que diz respeito ao desenvolvimento em si da criança quanto para a melhoria do
meio ambiente.
REFERÊNCIAS
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1190


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS EM ESCOLAS PÚBLICAS


DO MUNICIPIO DE POMBAL, PB

Jackson Silva NÓBREGA


Mestrando em Agronomia PPGA/CCA/UFPB
jacksonnobrega@hotmail.com
Joseano Graciliano da SILVA
Graduando em Agronomia CCTA/UFCG
Joseano2007-123@hotmail.com
Bárbara Genilze Figueiredo Lima SANTOS
Graduanda em Agronomia CCTA/UFCG
Barbarafigueiredo_77@hotmail.com
Kilson Pinheiro LOPES
Dr. Professor do Curso de Agronomia da UFCG/CCTA
Kilson@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
O uso de plantas medicinais para o tratamento de doenças é uma prática muito antiga e tradicional
da sociedade, onde o conhecimento é passado de geração para geração e servindo como mecanismo
importante para a população menos favorecida. O objetivo deste trabalho foi promover o cultivo de
plantas medicinais com fins fitoterápicos, desde o plantio até as formas de preparo para o público da
Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Newton Seixas na cidade de Pombal-PB. O
projeto é desenvolvido por alunos e professores do PET-Agronomia em conjunto com professores,
funcionários e alunos da referida escola pública de Pombal. Foram cultivadas no local espécies
medicinais tradicionalmente utilizadas na região, a partir do levantamento de estudos científicos
comprovando a eficiência dos usos das plantas na cura de doenças e o conhecimento popular. Os
envolvidos realizam as atividades de cultivo, acompanhados pelos alunos que orientam sobre as
práticas que devem ser realizadas no local. As informações sobre as formas de preparo das plantas
foram repassadas pelos alunos do PET-Fitoterapia da UFCG, sendo transmitidas por meio palestras
e debates com o público-alvo envolvido no projeto. O hábito do uso de plantas medicinais é prática
presente entre as comunidades, necessitando contudo de ações que busquem o correto cultivo,
preparo e administração na busca por reduzir problema de saúde pública.
Palavras-Chave: Conhecimento popular; Medicina tradicional; Fitoterapia.

ABSTRACT
The use of medicinal plants for the treatment of diseases is a very old and traditional practice of
society, where knowledge is passed from generation to generation and serving as an important
mechanism for the underprivileged population. The objective of this work was to promote the
cultivation of medicinal plants for phytotherapeutic purposes, from the planting to the forms of
preparation for the public of the Municipal School of Elementary Education Professor Newton
Seixas in the city of Pombal - PB. The project is developed by students and professors of PET
Agronomy in conjunction with teachers, employees and students of this public school in Pombal.
Medicinal species traditionally used in the region were cultivated on the spot, based on the study of
scientific studies proving the efficiency of plant uses in curing diseases and popular knowledge.
Those involved carry out the cultivation activities, accompanied by the students who advise on the
practices that must be carried out in the place. The information about the preparation forms of the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

plants was passed on by PET Phytotherapy students of the UFCG, being transmitted through
lectures and debates with the target public involved in the project. The habit of using medicinal
plants is a present practice among the communities, however, requiring actions that seek the correct
cultivation, preparation and administration in the search to reduce public health problem.
Keywords: Popular knowledge; Traditional medicine; Phytotherapy.

INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre o cultivo e uso de plantas medicinais é uma questão milenar, onde o
homem utilizava e ainda utilizam plantas com propriedades fitoterápicas para o tratamento de
determinadas doenças. Há registros históricos datados de milhares de anos, demonstrando que o
homem já conhecia diversas propriedades medicinais das plantas, onde o conhecimento do valor
terapêutico dessas espécies passou a ser transmitido de geração em geração, ao longo dos tempos,
formando em conjunto com outras práticas, um sistema médico, conhecido como tradicional
(LEITE et al., 2015).
No Brasil os primeiros relatos foram descritos por padre José de Anchieta (1560-1580),
onde até os dias atuais utilizam-se plantas medicinais com fins de tratamento, cura de doenças,
prevenção e para o bom funcionamento dos sistemas fisiológicos dos humanos (VAGENAS et al.,
2015). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população mundial
faz uso de alguma medicinal tradicional, e que 85% faz ou fez uso de alguma planta medicinal ou
preparados vegetais, com a finalidade de atender suas necessidades médicas básicas (SILVA, 2002;
GADELHA et al., 2013; PAIXÃO et al., 2013).
A biodiversidade da flora brasileira é imensa apresentando uma grande diversidade de
espécies com potencial fitoterapeutico, sendo muito utilizadas nas camadas menos favorecidas da
sociedade. Esta prática está inserida não só nas comunidades interioranas, mas também nos grandes
centros, sendo em muitos casos a única alternativa encontrada por populares para o tratamento
inicial de diversas doenças, uma vez que o acesso à assistência medica pode ser dificultoso e o uso
de medicamentos alopáticos muito dispendiosos (GADELHA et al., 2013).
O potencial da flora brasileira é inquestionável, sendo considerada uma das mais ricas em
potencial bioativo, no entanto, poucas plantas nativas tem o reconhecimento acadêmico e cientifico
e são utilizadas na medicina tradicional (BRANDÃO et al., 2006). Com o conhecimento popular e
científico sobre o verdadeiro poder fitoterápico das plantas medicinais, aliada ao conhecimento
agronômico de cada espécie e as políticas de incentivo, pode-se estimular na sociedade uma cultura
de implantação de farmácias vivas no seu cotidiano.
É necessario a adoção de medidas e politicas públicas para que o conhecimento cultural
sobre o uso de plantas medicinais não se perca ao passar dos tempos. Segundo Assis (2013), a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ciência e a tecnologia são áreas fundamentais do conhecimento desta temática, englobando o a


pesquisa e desenvolvimento social, para o desenvolvimento de diversas politicas sociais que visam
a melhroia da qualidade de vida da população.
O cultivo de hortas medicinais em locais públicos, como escolas, penitenciarias, asilos, entre
outros, é uma forma eficaz de manter o conhecimento popular sobre as planta medicinais e na
pertuação de espécies. Neste sentido, o emprego de práticas acadêmicas nas comunidades são de
fundamental importância na recuperação do conhecimento popular acerca das plantas medicianais,
uma vez que tais práticas servem como uma forma de subsidio sobre o conhecimento do potencial
da flora medicial, dando auxilio substancial a dircussão sobre a questão do uso e manutenção da
biodiversidade dessas plantas (BATTISTI et al., 2013).
O objetivo deste trabalho foi estimular o cultivo, preparo e administração de plantas
medicinais com fins fitoterápicos aos alunos da escola Newton Seixas do município de Pombal-PB,
favorecendo a prática de hábitos que possibilitem a preservação da saúde.

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Newton


Seixas, no munícipio de Pombal-PB, envolvendo estudantes, professores e funcionários nas
atividades de cultivo, preparo e administração de plantas medicinais.
A escolha das espécies vegetais com propriedades medicinais a serem utilizadas na atividade
levou em consideração o conhecimento popular com a indicação das plantas medicinais
tradicionalmente utilizadas na região para o tratamento de determinadas doenças, aliado à
realização de revisões científicas a respeito das espécies com comprovada eficiência no controle ou
prevenção de determinadas doenças. As espécies escolhidas para a atividade foram: hortelã da folha
miúda, malva santa, saião, malva colorama, anador, capim santo, erva doce, erva cidreira e romã.
O projeto foi executado de março à dezembro de 2016, período esse correspondente ao ano
letivo da escola. Ao decorrer da execução foram realizadas visitas quinzenais por parte dos alunos
do PET-Agronomia com o intuito de repassar informações e orientações a respeito do projeto. Para
a execução das atividades foram realizadas palestras fazendo uso de recursos audiovisuais (slides e
vídeos didáticos), execução de atividades práticas e aplicação de questionários para avaliar a
evolução e o andamento das atividades, além da realização de uma gincana final utilizando todo o
conteúdo aplicado durante o decorrer do projeto.
As atividades foram intercaladas entre teóricas e práticas. Nas atividades teóricas foram
realizadas palestras com duração de 35 minutos de apresentação com o auxílio de slides, abordando
os seguintes temas: histórico e importância das plantas medicinais; tratos culturais no cultivo de
plantas medicinais e, formas de preparo e administração de plantas medicinais. Nas atividades

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

práticas foram realizados o levantamento de canteiros e preparo de covas, semeadura e produção de


mudas por estacas, tratos culturais como preparo do solo, capinas, irrigação e tratos fitossanitários.
Os resultados obtidos foram baseados na aplicação dos questionários aplicados junto ao
público alvo no decorrer da atividade, os quais eram compostos de questões objetivas e subjetivas,
sendo estes de natureza quantitativa, uma vez que os mesmos foram traduzidos em números,
opiniões e informações para classificá-los e analisá-los. Para a quantificação dos resultados os
dados foram analisados e transformados em porcentagem e apresentados por meio de histogramas
para uma melhor compreensão do leitor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A caracterização do público alvo precisa ser encarada como um fator primordial no


planejamento das atividades de extensão, uma vez que disso dependerá a definição de estratégias
que melhor conduzam a obtenção dos objetivos.
Conforme a Figura 1A, constata-se que 62,5% do público-alvo são do sexo feminino,
enquanto 37,5% do sexo masculino. A maioria (56,25%) possuíam de 13 a 14 anos de idade (Figura
1B), caracterizando um público-alvo dominado por adolescentes do sexo feminino. Este perfil deve
ser considerado uma vez que o sexo feminino tende a ser responsável pelo bem estar do núcleo
familiar, além de ser responsável pela aquisição de alimentos para a casa, caracterizando-se por
serem mais exigentes e darem grande importância à aparência do produto e à questão nutritiva ou
farmacológica (MARCHESE et al., 2004).

[A] [B]

Figura 1. Sexo (A), faixa etária (B). PET-Agronomia, CCTA/UFCG, Pombal-PB 2016.

O público-alvo foi caracterizado como bem miscigenado (Figura 2A) e cerca de 80%
residem na zona urbana (Figura 2B), caracterizada por uma região carente em cobertura vegetal e
conhecimentos acerca do cultivo, uso e administração de plantas medicinais para fins preventivos
ou curativos. Em estudo realizado em diversas localidades na América Latina relata a presença de
plantas medicinais na maioria das residências que praticam alguma forma de agricultura urbana que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

permitem reduzir os gastos das famílias com problemas de saúde. Entre as espécies de plantas
medicinais mais utilizadas na agricultura urbana na América do Sul se destacam a babosa (Aloe
vera L. ex Webb.), o alecrim (Rosmarinum officinalis L.), anacahuita (Schinus molle L.) e a hortelã
(Mentha L.) (SANTANDREU et al., 2010).

[A] [B]

Figura 2. Como se consideram (A) e local onde residem (B). PET-Agronomia, CCTA/UFCG, Pombal-PB,
2016.

O uso de plantas na medicina popular ou de medicamento fitoterápico para o tratamento de


alguma doença é prática frequente em cerca 66% do público-alvo (Figura 3). A prática do uso de
plantas medicinais é consequente do conhecimento repassado pelos familiares que detinham o
conhecimento a respeito da administração de plantas com finalidade terapêuticas. Esse repasse de
conhecimento relacionado ao uso da medicina popular é extremamente importante, uma vez que
assegura que as futuras gerações tenham o contato e o conhecimento dessa cultura local, além de
garantir a prática da preservação das espécies utilizadas na medicina tradicional. Segundo Theisen
et al. (2015), se faz necessário à associação das ciências com os saberes empíricos, a respeito do
manuseio e uso de plantas medicinais de maneira correta, como também associando ao preparo dos
alimentos, sendo uma ferramenta eficaz a prática da implantação de hortas em locais públicos e
privados, assegurando benefícios à saúde dos envolvidos e o resgate do conhecimento popular.

Figura 3. Fizeram o uso de alguma planta medicinal ou medicamento fitoterápico. PET – Agronomia,
CCTA/UFCG, Pombal-PB, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentre as plantas de conhecimento ou uso por parte do público-alvo destacam-se a malva


(Malva sylvestris L.), laranjeira (Citrus sinensis L.), hortelã (Mentha sp.), erva cidreira (Melissa
officinalis L.), erva babosa (Aloe vera L.), camomila (Matricaria recutita L.) e capim santo
(Cymbopogon citratus (DC.) Stapf), chá preto (Camellia sinensis L.), goiabeira (Psidium guajava
L.), boldo (Peumus boldus L.) e maracujá (Passiflora edulis L.). Segundo Magalhães-Fraga e
Oliveira, (2010), a biodiversidade brasileira apresenta alto potencial para fins fitoterápicos e
medicinais, em virtude de possuir uma grande diversidade de espécies, as quais não foram
totalmente exploradas, sendo uma fonte indispensável para a descoberta de novas substâncias
capazes de exercer uma ação positiva no combate a doenças.
Na figura 4 observa-se a frequência de uso de plantas medicinais na prevenção ou cura de
doenças, onde aproximadamente 78% dos envolvidos no projeto destacam fazer uso de plantas
medicinais esporadicamente, enquanto que 14,3% consomem mensamente e 7,7% fazem uso diário
de algum tipo de planta medicinal. Estes resultados sugerem a presença de problemas de saúde ou
mesmo a não ingestão de líquidos como café da manhã, optando por chás adoçados. Os benefícios
pelo uso de plantas com a finalidade medicinal são inegáveis, tais como a relação custo/beneficio,
ação biológica eficaz com baixa toxicidade, efeitos colaterais que podem ser aproveitados e o uso
medicamentos oriundos da natureza de forma gratuita (OZAKI; DUARTE, 2006; LIMA; PIRES;
VIEIRA, 2014).

Figura 4. Frequência de uso de plantas medicinais. PET – Agronomia, CCTA/UFCG, Pombal-PB, 2016.

A dúvida sobre a correta forma no preparo e administração das plantas medicinais foi
frequente entre os envolvidos no projeto. Palestras foram realizadas com o intuito de orientar o
público-alvo na maneira correta de preparar chás, lambedores, cataplasma, vinho medicinal e
tinturas. Práticas como a decocção, infusão e maceração, foram destacadas no preparo de vários
fitoterápicos.
De acordo com Bochner et al. (2012), o uso de plantas medicinais com fins terapêuticos
envolve várias etapas, desde o cultivo até sua administração, mesmo sendo consideradas
terapêuticas pela população, as plantas frequentemente possuem propriedades tóxicas

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1196


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desconhecidas. O aproveitamento de um determinado princípio ativo contido em uma planta exige


um preparo correto, ou seja, para cada parte a ser utilizada, grupo de princípio ativo a ser extraído
ou doença a ser tratada existe as formas de preparo e os meios de uso mais adequado (ARNOUS et
al., 2005).
O repasse de informações e realização de atividades práticas no projeto garantiu que mais de
80% dos envolvidos fizessem uso dos conhecimentos adquiridos fora do ambiente (Figura 5). E a
respeito de que conhecimento eles adquiriram durante o desenvolvimento do projeto, foram citados
nas respostas que realizam o cultivo de plantas medicinais em casa, repassaram a forma correta de
preparar uma determinada planta medicinal e com a finalidade correta, entre outros. Isso é um
aspecto de grande relevância, uma vez que a principal função de uma atividade de extensão é
conseguir transformar o grupo de pessoas que estão envolvidas, a partir do desenvolvimento de
atividades e da transferência de conhecimento. A extensão assegura à comunidade acadêmica a
oportunidade de elaboração de práxis de um conhecimento acadêmico, este que viabiliza a relação
transformadora entre a universidade e sociedade e vice-versa (SERRANO, 2013).

Figura 5. Conseguiram adquirir conhecimento e fez uso do mesmo. PET-Agronomia, CCTA/UFCG,


Pombal-PB, 2016.

As práticas que envolviam o cultivo das plantas medicinais permitiram uma maior interação
e troca de conhecimentos entre os envolvidos no projeto A extensão universitária atua como uma
via de mão-dupla, possibilitando uma troca mútua entre os saberes acadêmicos e populares,
promovendo uma maior democratização com a participação da comunidade efetiva nas ações
desenvolvidas pela universidade (SILVA, 2011; BATTISTI et al., 2013).
É evidente a carência de informações e a necessidade de envolvimento de comunidades
urbanas sobre a importância, cultivo e finalidade das plantas com propriedades medicinais em suas
vidas. Estas ações contudo necessitam de políticas públicas que envolvam a segurança alimentar,
saúde pública e conservação da cultura e dos recursos genéticos da região, podendo claramente se
tornar uma fonte de renda na melhoria das condições das famílias por meio da agricultura urbana.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONCLUSÕES

A prática de cultivo de plantas medicinais em locais públicos possibilita o resgate da cultura


local e a preservação dos recursos genéticos vegetais.
As hortas urbanas podem ser consideradas sistemas agroflorestais que conservam alta
diversidade genética de espécies de plantas medicinais e muitas destas apresentam também uso
ornamental e alimentar.
O hábito do uso de plantas medicinais é prática presente entre as comunidades, necessitando
contudo de ações que busquem o correto cultivo, preparo e administração na busca por reduzir
problema de saúde pública.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

Jane Mary Lima CASTRO


Mestranda do Curso de Geografia da UESB
janecastroo@hotmail.com
Luzia Barbosa de OLIVEIRA
Mestranda em Geografia e Bolsistada UESB.
luh.barbosa@hotmail.com
Meirilane Rodrigues MAIA55
Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia UESB
meire.rmaia@gmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como propósito analisar a retrospectiva da Educação Ambiental no Brasil,
bem como os parâmetros legais de interpretação e implementação da Educação Ambiental, pois na
medida em que a humanidade aumenta a capacidade de intervir na natureza para satisfação de
necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos
recursos. Por ser uma pesquisa de cunho bibliográfico e documental a referência para a base teórica
e compreensão do estudo enfatizou a problemática socioambiental no contexto geográfico e
histórico, as inferências acerca dos conceitos ambientais, bem como dos antecedentes históricos e a
Educação Ambiental na escola, dando suporte ao conhecimento das potencialidades e possibilidades
da qualidade ambiental, destacando a legislação brasileira sobre a educação ambiental. A Política
Nacional de Educação Ambiental aborda as diretrizes traçadas para a Educação Ambiental através
da proposta de políticas nacionais da Educação Ambiental em todos os setores da sociedade. Como
objeto de estudo da pesquisa a Educação Ambiental tem o importante papel de fomentar a
percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambientepossibilitando, por meio de
novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadãos na
transformação dos processos históricos-sociais e ambientais encontrados, apresentando possíveis
soluções para subsidiar um planejamento e uma gestão que vise a conservação e preservação
dosgeossistemasatravés da Educação Ambiental.
Palavras-Chave: Meio Ambiente. Educação Ambiental. Leis.Escola.

ABSTRACT
This article aims to analyze the retrospective of Environmental Education in Brazil, as well as the
legal parameters of interpretation and implementation of Environmental Education, because as
humanity increases the capacity to intervene in nature to meet growing needs and desires, arise
Tensions and conflicts over the use of space and resources. As a bibliographical and documentary
research the reference to the theoretical basis and understanding of the study emphasized the socio-
environmental problematic in the geographical and historical context, the inferences about the
environmental concepts, as well as of the historical antecedents and the Environmental Education in
the school, giving support To the knowledge of the potentialities and possibilities of environmental
quality, highlighting Brazilian legislation on environmental education. The National Environmental
Education Policy addresses the guidelines drawn up for Environmental Education through the
proposal of national Environmental Education policies in all sectors of society. As an object of
research, Environmental Education has the important role of fostering the perception of the

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Doutora em Geografia UFS

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necessary integration of the human being with the environment, making possible, through new
knowledge, values and attitudes, the insertion of the educator and the educator as citizens in the
transformation Of the historical-social and environmental processes found, presenting possible
solutions to subsidize planning and management that aim at the conservation and preservation of
geosystems through Environmental Education.
Keywords: Environment, Environmental Education, Laws, School.

1 INTRODUÇÃO

A crescente demanda pelo uso dos recursos naturais, foi acompanhada pela preocupação
com as questões que se refere ao meio ambiente, com a quantidade e a qualidade desses recursos
nos dias atuais e no futuro, pois diante das mudanças científicas e tecnológicas ocorridas no final
do século XX, criaram a necessidade de um novo olhar sobre a realidade que levasse à compreensão
e à construção de uma outra relação do homem com o meio natural e social, exigindo uma postura
de busca de entendimento do processo e compreensão de que se deve trabalhar para a
transformação do mundo, das relações entre os homens e da relação da sociedade com a natureza.
A exploração dos recursos da natureza evoluiu com a história do homem, mas só a partir de
1970, os estudos sobre a questão ambiental ganharam repercussão mundial, sendo registrados em
Conferências e Fóruns em diversos países do mundo. Sobretudo, a partir da Conferência
Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a ―Eco-92‖, que
acentuou-se a relevância do entendimento das relações sociedade-natureza.
Diante desse contexto, o presente trabalho tem por finalidade fazer uma retrospectiva da
Educação Ambiental no Brasil, pois na medida que a humanidade aumenta a capacidade de intervir
na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto
ao uso do espaço e dos recursos. Tendo em vista o uso da pesquisa de cunho bibliográfico e
documental.
Nesse sentido, nota-se que o grande problema da civilização moderna, industrial e
tecnológica, é talvez o de não ter percebido que ela ainda depende da natureza; o homem como ser
social, depende de uma natureza rica, complexa e equilibrada em torno de si. Ainda que ele se
mantenha isolado na selva urbana, os ecossistemas naturais continuam constituindo o seu meio
ambiente. E o direito a um meio ambiente equilibrado, é lei.
À medida que, tal modelo de desenvolvimento aumentou efeitos negativos mais graves
surgiram manifestações e movimentos que refletiam a consciência de parcelas da população sobre o
perigo que a humanidade corre ao afetar de forma tão violenta o seu meio ambiente. Diante desse
patamar, várias iniciativas foram tomadas por organizações governamentais internacionais, para

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sensibilizar e amenizar as questões ambientais, incorporando essa abordagem na vida prática


educacional.
Dessa forma, a perspectiva ambiental consiste no modo de ver o mundo no qual se
evidenciam as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e
manutenção da vida, uma vez que o conhecimento sistemático relacionado ao termo ―meio
ambiente‖ é recente e tem sido utilizado para indicar ―espaço‖ onde os seres vivos habita e se
desenvolve, trocando energia e interagindo com ele de forma mútua.

2 MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

A educação ambiental é um processo de formação dinâmica, permanente e participativa, no


qual as pessoas envolvidas passam a ser agentes transformadores, participando ativamente da busca
de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o uso sustentável dos recursos
naturais.Assim,

[...] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e
com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos,
habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e
coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos
novos [...] (Capítulo 36 da Agenda 21).

Partindo dessa premissa de referência, entende-se que a Educação Ambiental decorre de


uma percepção renovada de mundo; uma forma integral de ler a realidade e de atuar sobre ela.
Nesse novo paradigma, a proposta educativa envolve a visão de mundo como um todo e deve estar
inserida na vida e no cotidiano de todos os indivíduos. Educação Ambiental é uma proposta de
filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas.Seu objetivo é
assegurar a maneira de viver mais coerente com os ideais de uma sociedade sustentável e
democrática. Essa perspectiva parte de um princípio de respeito à diversidade natural e cultural, que
inclui a especificidade de classe, de etnia e de gênero. A ―educação deve ser o portal para o
desenvolvimento sustentável e essa sustentabilidade é o novo paradigma do desenvolvimento
econômico e social‖. (CAMARGO, 2002, p. 22).
Percebe-se, que o autor enfatiza uma concepção de Educação Socioambiental, que visa o
processo histórico de relações mútuas entre as sociedades humanas e os ecossistemas naturais,
discutidas por Grun como processo de evolução do pensamento humano racionalista, uma vez que
ambiente e natureza eram conceitos dissociados e negativos na teoria educacional, mas ele afirma
que:

A educação ambiental surge hoje como uma necessidade quase inquestionável pelo simples
fato de que não existe ambiente na educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos
educados e educássemos fora de um ambiente. [...] a adição do predicado ambiental que a
educação se vê agora forçada a fazer explicita uma crise da cultura ocidental (GRÜN, 2002,
p.20-21).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No entanto, antes de se tornar uma vertente socioambiental a Educação Ambiental foi


ecológico-conservacionista, em virtude de sua concepção apresentar caráter essencialmente técnico,
reduzindo a questão ambiental a um contexto ―apolítico‖ e ―a-histórico‖.
Todavia, os avanços da legislação brasileira acerca do tema Educação Ambiental, através
da Lei 9.9795/99, consagraram o Brasil como o primeiro país latino-americano a possuir uma
política nacional específica para a Educação Ambiental. Dessa forma, a Educação Ambiental torna-
se um elemento imprescindível e constante da educação nacional, devendo participar, de maneira
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo formal e não-formal.
A Agenda 21 incorporou, junto a outros temas, as decisões de Tbilisi sobre Educação
Ambiental, que trata da promoção do ensino, da conscientização e treinamento em relação à questão
ambiental. Um dos aspectos principais das recomendações da Agenda 21 sobre Educação
Ambiental refere-se à reorientação do ensino formal no sentido de incorporá-la, salientando que:

[...] o ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e


para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e
desenvolvimento. Ainda que o ensino básico sirva de fundamento para o ensino em matéria
de ambiente e desenvolvimento, este último deve ser incorporado como parte essencial do
aprendizado.

[...] O ensino é também fundamental para conferir consciência ambiental e ética, valores e
atitudes, técnicas de comportamentos em consonância com o desenvolvimento sustentável e
que favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de decisão. Para ser eficaz, o
ensino sobre o meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do
desenvolvimento do meio físico/biológico, do socioeconômico e do desenvolvimento
humano (que pode incluir o espiritual), deve integrar-se em todas as disciplinas e empregar
métodos formais e informais e meios efetivos de comunicação.(Capítulo 36 da Agenda 21).

Com base nessas recomendações, acordadas em âmbito internacional, o Congresso Nacional


instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) por meio da Lei n.º 9.795 de 27 de
abril de 1999. A mesmadefine a educação ambiental como processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (Art. 1).
Estabelece ainda no Art. 4. os princípios básicos da educação ambiental:

I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;


II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência
entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e
transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural..
(Lei n. 9.795/99)

No Art. 5, apresenta os objetivos fundamentais da educação ambiental:


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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas


e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,
sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II - a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social;
IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na
preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e
macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada,
fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social,
responsabilidade e sustentabilidade;
VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como
fundamentos para o futuro da humanidade. Lei n. 9.795/99)

A educação ambiental assim como o meio ambiente apresenta alguns conceitos, poiscada
conferência ou convenção lhe atribui um conceito diferente. Observe, um para cada década:

a Educação Ambiental é o resultado de uma reorientação e articulação de diversas


disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio
ambiente, tormando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades
sociais‖.[...] a educação ambiental deve ser vista como um processo contínuo, com ajustes
constantes, por meio de frequente reavaliações de suas orientações, conteúdos e métodos.
(Seminário Educação Ambiental para a América Latina, Costa Rica/79).
Educação Ambiental é considerada como um processo permanente no qual os indivíduos e
a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os
valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir –
individual e coletivamente – e a resolver problemas ambientais presentes e futuros.
(Conferência Internacional de Educação e Formação Ambientais, Moscou/87).
[...] se caracteriza por incorporar as dimensões socioeconômicas, política, cultural e
histórica, não podendo basear-se em pautas rígidas e de aplicação universal [...] deve
capacitar ao pleno exercício da cidadania, através da formação de uma base conceitual
abrangente, técnica e culturalmente capaz de permitir a superação dos obstáculos à
utilização sustentada do meio. (Rio/92).

O ensino e a aprendizagem da Educação Ambiental tornou-se obrigatório com a


promulgação da Política Nacional da Educação Ambiental, para todos os níveis e modalidades de
ensino. Mas, iniciativas de Educação Ambiental no ensino formal datam da década de 50, ainda que
muito isoladas.
A Rio 92 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – foi
um estopim para o aumento de iniciativas deste tipo, que se multiplicaram. Estas iniciativas têm
ocorrido, tradicionalmente, por meio da execução de projetos de Educação Ambiental que
trabalham com temas relacionados às questões ambientais mais significativas para a comunidade
da qual a escola faz parte. Muitas destas iniciativas demonstram a mobilização de alguns
professores para o tema (que muitas vezes agem isoladamente), outras demonstram interesse de
ONGs, das Secretarias de Educação e/ou da escola como um todo, o que em si é louvável.
Entretanto, raramente os projetos de Educação Ambiental estão inseridos no projeto
educativo da escola: caracterizam-se por serem projetos extracurriculares, nos quais a
transversalidade nas disciplinas, quando acontece, é centrada em um tema específico.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No Art. 10 da Lei 9.795/99, enfoca que―a educação ambiental será desenvolvida como uma
prática educativa integrada, contínua e permanente‖. Todavia, não deve ser implantada como
disciplina específica no currículo de ensino, já nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas
voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, é concedida a criação de disciplina
específica, porém nos cursos de formação e especialização técnico-profissional deve ser
incorporado apenas conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais.
Segundo os PCN Meio Ambiente (2001, p.135) a educação ambiental correu o risco de se
tornar, por decreto, uma disciplinaobrigatório no currículo nacional, mas, osprofissionais
conhecedores da área evitou que a mesma se tornasse mais uma banalidade pedagógica, perdendo
todo o seu potencial crítico e questionador a respeito das relações cotidianas com a natureza, artes,
conhecimento, ciência, instituições, trabalho e pessoas.
A tendência da educação ambiental na escola é de se consolidar como uma filosofia de
educação presente em todas as disciplinas já existentes, e possibilitar uma concepção mais ampla do
papel da escola no contexto ecológico local e planetário contemporâneo. A escola ecologizada pela
educação ambiental está mais próximo da ―escola única popular‖, que Gadotti chama de:

[...] local de um sadio pluralismo de ideias, uma escola moderna, alegre, competente,
científica, séria, democrática, crítica e comprometida com a mudança, uma escola
mobilizadora, centro irradiador da cultura popular, à disposição de toda comunidade, não
para consumi-la, mas para recriá-la. (GADOTTI, 2003, p. 54)

Nessa linha de raciocínio, educação ambiental permite que o processo pedagógico aconteça
sob diferentes aspectos, que se complementam uns aos outros. Assim há espaço para momentos
onde ocorrem transmissão e construção de conhecimento e a desconstrução das representações
sociais, principalmente a dos professores, fundamentados na interação entre ciência e cotidiano,
conhecimento científicoe popular.
Com a educação ambiental, a escola, os conteúdos e o papel do professor e dos alunos são
colocados em uma nova situação, não apenas relacionada com o conhecimento, mas sim com o uso
que se faz dele e a sua importância para a participação política cotidiana.
O Ministério da Educação (MEC), antes mesmo da promulgação da Lei Política Nacional de
Educação Ambiental (PNEA), definiu Meio Ambiente como Tema Transversal nos PCN. Mas é
fato que nem o reconhecimento da necessidade nem a obrigatoriedade da lei são suficientes para
garantir a existência da Educação Ambiental na escola. A prática da Educação Ambiental na escola
busca assegurar um ensino-aprendizagem que torne os estudantes aptos a compreenderem o
conceito de meio ambiente e seus processos e dinâmicas. É necessário, também, que eles
compreendam o seu lugar, seu papel e sua responsabilidade com os processos e as dinâmicas
características do meio ambiente. Em consonância com a proposta do MEC, em 1992, a Comissão
Interministerial na Preparação da Eco-92 ressalta que:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A Educação Ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões socioeconômicas,


política, cultural e histórica não podendo se basear em pautas rígidas e de aplicação
universal, devendo considerar as condições e estágios de cada país, região e comunidade,
sob uma perspectiva histórica. Assim sendo, a Educação Ambiental deve permitir a
compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre
os diversos elementos que confirmam o ambiente, com vistas a utilizar racionalmente os
recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade, no presente e no futuro
(BRASIL, MEC. 1992)

A proposta do MEC para a prática da Educação Ambiental na escola, implementada pela


Coordenação Geral de Educação Ambiental, é a inserção da temática ambiental nos currículos,
aliada à adoção de uma nova postura – de práticas e atitudes – de toda comunidade escolar, que
pode ser exercitada em projetos de a Educação Ambiental articulados com o projeto educativo da
escola. E os professores são os principais agentes de implantação da Educação Ambiental etem o
importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio
ambiente.
No Parágrafo único, do Art. 11. na Lei 9.795/99, os professores em atividade devem receber
formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao
cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
A inclusão da Educação Ambiental como tema transversal pelos PCNs exige, portanto, uma
tomada de posição diante de um problema fundamental e urgente da vida social, o que requer uma
reflexão sobre o ensino e a aprendizagem de seus conteúdos: valores, procedimentos e concepções a
eles relacionados. Para Freire

A educação libertadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira consciente ou


mistificada, tem sido prática de dominação. A prática da liberdade só encontrará adequada
expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente,
descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica. (FREIRE,
1995, p.9).

Os PCNs trazem ferramentas com o objetivo de ajudar professores e alunos a tornarem-se


parte integrante e transformadora dessa máquina chamada produção globalizadora. As escolas não
são a solução para todos os problemas ambientais que testemunhamos, mas podem ajudar a formar
cidadãos mais comprometidos com o futuro desse planeta.
Quando se pensa na viabilidade da Educação Ambiental como tema transversal, é necessário
cuidar da formação inicial e continuada e das condições salariais e de atuação profissional, que
poderiam constituir-se, isoladamente, em medidas paliativas, mas não em soluções. Achar que o
problema de verba pode salvar a educação é o mesmo que dizer que um mau cozinheiro pode fazer
pratos maravilhosos se possuir panelas sofisticadas.
A formação contínua, tão defendida por Freire, surge como mais uma tentativa de
implementar a EA, qualificando professores e adequando-os a uma sociedade em constante
transformação. Essa ideia é cada vez mais difundida, pois se busca cada vez a modificação do papel

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

do professor e da escola, especialmente a pública, a única que recebe educandos com menos
recursos, frutos das condições de desigualdade e injustiça social brasileira.
Leonardi enfatiza que a universidade tem um papel importante na formação ambiental dos
profissionais que está colocando no mercado. E também destaca que: ―Os profissionais que a
universidade está formando deveriam ser capazes de trabalhar em grupos multidisciplinares e em
ações interdisciplinares, através de uma leitura abrangente, global, holística, sistêmica e crítica da
crise ambiental que vivemos.‖ (LEONARDI, 2001, p.102)
Cabe, portanto, à universidade promover articulações intra e interinstitucionais, no sentido
de favorecer a formação e a capacitação de profissionais competentes e preparados para engendrar
mudanças no perfil educacional brasileiro, em particular quanto à EA. As secretarias de educação e
as ONGs também devem estar presentes nessa discussão.
No caso da incorporação da temática ambiental pela escola o envolvimento do professor é o
primeiro passo a ser dado. O professor, além de sensibilizado e consciente da necessidade e da
importância do tratamento dessa questão com seus alunos, deve estar preparado e instrumentalizado
para enfrentar esse desafio.
Nesse sentido, os cursos de formação inicial dos professores desenvolvidos nas
universidades poderiam investir em uma estrutura curricular muito mais flexível e dinâmica que
facilitasse o tratamento das questões ambientais nos diferentes cursos de licenciatura por meio de
experiências diversificadas e de uma abordagem que envolvesse os vários aspectos desse tema.

3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Existem dispositivos legais no Brasil que, seguindo uma tendência mundial, dão importância
para a educação ambiental. Uma das primeiras leis que cita a educação ambiental é a Lei Federal Nº
6938, de 1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente. A lei aponta em seu Art. 2 a
necessidade de que a Educação Ambiental seja oferecida em ―todos os níveis de ensino, inclusive a
educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente‖. Seguindo a cronologia legislativa, a Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano
de 1988, estabelece, em seu artigo 225, que:

Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações;

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

VI- promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização


pública para a preservação do meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação( Lei Nº 9394/96), reafirma os princípios


definidos na Constituição com relação à Educação Ambiental (Art. 36, inciso I):

A Educação Ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos


os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica, implicando desenvolvimento de
hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir do
cotidiano da vida, da escola e da sociedade.

No ano de 1997, foram divulgados os novos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN. Os


PCN foram desenvolvidos pelo MEC com o objetivo de fornecer orientação para os professores. A
proposta era que eles fossem utilizados como "instrumento de apoio às discussões pedagógicas na
escola, na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas, na reflexão sobre a prática
educativa e na análise do material didático".
Os PCN enfatizam a interdisciplinaridade e o desenvolvimento da cidadania entre os
educandos. Estabelecem que alguns temas especiais, entre eles meio ambiente, devem ser discutidos
pelo conjunto das disciplinas da escola, não constituindo-se em disciplinas específicas. São os
chamados temas transversais, que não seria uma disciplina a mais no currículo sobre o meio
ambiente, mas especificar qual a contribuição de cada área disciplinar à dimensão abrangente da
Educação para o meio ambiente. Este foi considerado o maior desafio a ser enfrentado pelos
professores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise ambiental é a crise do nosso tempo. Segundo Leff (2002), a crise ambiental é acima
de tudo um problema de conhecimento da razão entendida também como uma crise de civilização
que constrói e destrói o mundo, através das suas ações, uma vez que as transformações catastróficas
da natureza ocorreram nas diversas fases da evolução geológica e ecológica do planeta e não
interferiam de forma agressora no ambiente.No entanto,a crise ambiental atual não constitui apenas
uma transformação natural, é uma transformação da natureza induzida pela ação humana, visto que
a ―perda da identidade orgânica do homem com a natureza, se dá a partir do capital, que gera a
contradição e que, na contradição, gera a perda da identificação do homem com a natureza e,
consequentemente, a degradação ambiental.‖ (OLIVEIRA, 2002, p. 6).
Para Oliveira (2002), a destruição da natureza e a consequente "crise ecológica" é
provocada pelo processo social de produção, ―impulsionando a utilização irracional dos recursos
naturais, o desperdício de matérias-primas, de energia e de trabalho (2002, p. 6). Ela ressalta ainda,
que essa crise ―ecológica/ambiental‖ é,

evidenciada através de dois elementos característicos da sociedade contemporânea:


tecnologia e crescimento, nos incita ao questionamento de um estilo de
desenvolvimento internacionalizado, que revela-se enquanto modelo de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desenvolvimento ambientalmente predatório e socialmente injusto, manifestado,


principalmente nos processos de modernização da agricultura, de urbanização e de
exploração desenfreada dos recursos naturais. (OLIVEIRA, 2002, p. 7).

As diretrizes expressas na Política Nacional de Educação Ambiental definida pela Lei


Federal nº 9.795 de 27 de abril de 1999, trazem orientação quanto aos princípios, aos objetivos, às
linhas de atuação e as estratégias de implementação da Educação Ambiental. É reconhecida como
um instrumento pelo qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à qualidade de vida.
A Educação Ambiental na dimensão escolar tende a se consolidar como filosofia de
trabalho, interagindo com todas as disciplinas, permitindo assim que o processo de construção do
conhecimento aconteça sob diferentes aspectos, levando tanto o aluno quanto o professor à uma
formação contínua para adequar-se a uma sociedade em constante transformação. Essa educação
formal ou informal continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a
tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas porque a época e a herança
histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas.
Um dos principais objetivos da Educação Ambiental consiste em contribuir para a
compreensão da complexidade do ambiente em suas dimensões ecológicas, econômicas, sociais,
culturais, políticas, éticas e tecnológicas, de maneira a sensibilizar a coletividade quanto a
importância de sua organização e participação na defesa de todas as formas de vida.
Pretende-se, assim, incentivar a mobilização dos cidadãos a partir do reconhecimento das
causas e das consequências dos impactos socioambientais que afligem o planeta, buscando
satisfazer as necessidades fundamentais da humanidade ao mesmo tempo em que são respeitados
os direitos das gerações,atuais efuturas, terem acesso a um ambiente saudável.
Portanto, compete ao Poder Público e às instituições de ensino definir e desenvolver
estratégias de implementação das diretrizes expressas na Política Nacional de Educação Ambiental
definida pela Lei federal nº 9795/99, propondo parâmetros de forma transversalizada, cumprindo
assim os preceitos da Política Nacional de Educação Ambiental.

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Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

FOSSAS ECOLÓGICAS NAS ESCOLAS DE CAMPO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA


TRANSVERSALIDADE

Joana Beatriz Barros PEREIRA


Docente da UEMG
joana.beatriz@uemg.br
Joana Ferreira LEFOL
Bolsista de Extensão da UEMG
joana.uemg@gmail.com

RESUMO
Muita ciência se construiu com a evolução do conhecimento mas este cabedal de saberes não foi
suficiente para promover a sustentabilidade no âmbito das ações efetivas para a preservação do
meio ambiente. Muito se sabe e pouco se faz em preservação ambiental. O objetivo deste trabalho
de extensão foi promover a consciência ambiental a partir da aprendizagem ativa e da interação com
políticas públicas utilizando o Projeto Fossa Ecológica da EMATER, o Projeto PROGEA da Policia
Ambiental e a escola de campo da Secretaria Municipal de Educação. A metodologia utilizada foi
de pesquisa-ação com um estudo de campo em escola rural, a integração dos entes públicos para a
solução do problema e ações de aprendizagem ativa com a comunidade interna e externa da escola
como oportunidade para criar a consciência ambiental. A Escola Rural estava com fossa negra
entupida e, para solucionar o problema, foi realizado uma ação de integração do Projeto Fossa
Ecológica da EMATER que está comprovado em eficiência e ganho ambiental sendo uma fossa
ecológica construída com pneus velhos, do Projeto PROGEA da Policia Ambiental que trabalha a
formação de agentes mirins de preservação do meio ambiente, da Escola Rural com práticas
pedagógicas de aprendizagem ativa com a comunidade escolar e as famílias e da UEMG na
formação de professores. O resultado foi a solução do saneamento básico da Escola Rural com a
instalação da fossa ecológica, o desenvolvimento da responsabilidade ambiental nas crianças e nas
famílias e a integração dos entes públicos na solução dos problemas comunitários. Foi instalada a
fossa ecológica, participaram ativamente 52 crianças, 05 professores, 35 familiares, 03 bolsistas de
licenciatura e 04 órgãos públicos. Desenvolveu-se 06 práticas pedagógicas interdisciplinares com
aprendizagem ativa na escola.
Palavras chave: fossas ecológicas, aprendizagem ativa, educação ambiental, escola do campo,
meio ambiente.
RESUMEN
Mucha ciencia se construyó con la evolución del conocimiento pero este cabal de saberes no fue
suficiente para promover la sostenibilidad en el ámbito de las acciones efectivas para la
preservación del medio ambiente. Se sabe mucho y poco se hace en preservación ambiental. El
objetivo de este trabajo de extensión fue promover la conciencia ambiental a partir de aprendizaje
activa e de la interacción con políticas públicas utilizando el Proyecto Fosa Ecológica de EMATER,
el Proyecto PROGEA de la Policía Ambiental y la escuela de campo de la Secretaría Municipal de
Educación. La metodología utilizada fue de pesquisa-acción con un estudio de campo en escuela
rural, la integración de los entes públicos para la solución del problema y acciones de aprendizaje
activa con la comunidad interna y externa de la escuela como oportunidad para crear la conciencia
ambiental. La Escuela Rural estaba con fosa negra obstruida y para solucionar el problema se
realizó una acción de integración del Proyecto Fosa Ecológica de la EMATER que está comprobado
en eficiencia y ganancia ambiental siendo una fosa ecológica construida con neumáticos viejos del

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Proyecto PROGEA de la Policía Ambiental que trabaja la formación de agentes mirines de


preservación del medio ambiente, de la Escuela Rural con prácticas pedagógicas de aprendizaje
activo con la comunidad escolar y las familias y de la UEMG en la formación de profesores. El
resultado fue la solución de la saneamiento básico con la instalación de la fosa ecológica, el
desarrollo de la responsabilidad ambiental en los niños y en las familias y la integración de los entes
públicos en la solución de los problemas comunitarios. Se instaló la fosa ecológica, participaron
activamente 52 niños, 05 profesores, 35 familiares, 03 becarios de licenciatura, 04 organismos
públicos e se desarrollaron 6 prácticas pedagógicas interdisciplinares con aprendizaje activo en la
escuela.
Palabras clave: fosas ecológicas, aprendizaje activa, educación ambiental, escuela de campo,
medio ambiente.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a redução na disponibilidade da água está se intensificando e a sociedade
brasileira responde de forma lenta e incrédula quanto à falta deste recurso natural em futuro
próximo. Esta escassez já se mostra realidade, porém as pessoas se acomodam diante de qualquer
pequeno volume de chuva, na certeza da reposição de mananciais mesmo que, tecnicamente, isto
não seja anunciado. O cenário atual é de escassez de água e necessidade de uma nova cultura no
uso deste recurso natural. O desenvolvimento econômico e social promoveu inúmeras pressões
sobre o ciclo hidrológico e sobre as reservas de águas superficiais e subterrâneas.
Com a redução na disponibilidade de água superficial para os múltiplos usos, os usuários
promovem a busca pela água subterrânea e a construção de poços artesianos está em expansão.
Neste cenário, o saneamento básico, mesmo que de forma indireta, vai ganhando espaço
como prioridade nos programas de uso racional da água pois os lençóis freáticos precisam ser
mantidos sem contaminação e em volumes suficientes para alimentar o ciclo da água na superfície.
Conforme aborda Tundisi (2003, pag 38), ―a contaminação das águas subterrâneas pelo uso
indiscriminado e inadequado de fossas negras é outra fonte de degradação de recursos hídricos,
agravada pelo fato de que águas de poços subterrâneos podem ser ou são usadas sem qualquer
tratamento‖.
O esgoto sanitário é um elemento poluidor e desafia a sociedade no sentido de que ele seja
eliminado sem prejudicar o meio ambiente. Com construções antigas e cidades estruturadas ao
longo da história sem a perspectiva das estações de tratamento de esgotos, este desafio tem sido
enfrentado de formas diversas e possíveis para cada cenário. Na mesma perspectiva, porém em
dimensão quantitativamente menor, as áreas rurais também demandam tratamento do esgoto
sanitário. O volume de resíduo concentrado em redes de esgoto ou em fossas tem aumentado tanto
que ultrapassam o poder depurativo do solo e da água e assim acabam poluindo estes ambientes
naturais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -


IBGE/2010, apontou que 29,9 milhões de pessoas residem em localidades rurais, totalizando
aproximadamente 8,1 milhões de domicílios, no Brasil. A cobertura para os serviços de
saneamento prestados a esta parcela da população é deficitária. Com base nos dados do PNAD –
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE do ano 2015, tem-se que: apenas 5,45%
dos domicílios estão ligados à rede de coleta de esgotos, 4,47% utilizam a fossa séptica ligada a
rede coletora e 28,78% fossa séptica não ligada a rede coletora como solução para o tratamento dos
dejetos. Os demais domicílios (61,27%) depositam os dejetos em fossas rudimentares, lançam em
cursos dágua ou diretamente no solo a céu aberto. Conforme aborda De Vicq (2016) ―Investimentos
relativamente baixos, como a construção das fossas, podem trazer melhorias à qualidade dos
recursos hídricos em áreas rurais‖.
Segundo os dados do Panorama do Saneamento Rural no Brasil publicado pela FUNASA –
Fundação Nacional da Saúde, do Ministério da Saúde, publicado em 24 de abril de 2017,

O fato de nas áreas rurais existir significativo número de domicílios dispersos, assim como
a inexistência de rede coletora de esgotos nas áreas mais concentradas, leva as famílias a
recorrerem a soluções alternativas para o esgotamento sanitário, muitas vezes inadequadas,
como fossa rudimentar (43,7) e outras formas (7,3%), representando um total de 51% do
total de domicílios rurais

A Fundação Banco do Brasil editou, em 2010, a Cartilha das Fossas Sépticas Biodigestoras,
na qual o assunto é introduzido com a citação abaixo:

No Brasil, que reúne 12% de toda a água doce do planeta, 22 milhões de pessoas não têm
acesso à água de boa qualidade. Rios, lagos e lençóis subterrâneos são capazes de atender
essa necessidade, desde que a própria população não os esgote ou os contamine.

A opção por instalar um modelo de fossa adequada para a destinação de resíduo sanitário é
um passo na confirmação da relação ética com o homem e com a sustentabilidade. O ganho
ambiental e humano, social e econômico é expressivo quer seja no respeito a vida humana, na
preservação ambiental, na redução de doenças de veiculação hídrica, na melhoria da qualidade de
vida do homem do campo. O conhecimento técnico para a fossa está configurado e é necessário
transpor dos livros para o ambiente rural. Na dimensão da ação, apresentando os processos
descentralizados de tratamentos de águas residuárias e qualificando este processo como uma ação
de inclusão ao possibilitar a melhoria na qualidade de vida de populações rurais, , Oliveira Junior
(2013) cita:

Nesse sentido, no final do século XX e início do século XXI, o tratamento descentralizado


de esgotos é visto como alternativa a mais sustentável, especialmente, para países em
desenvolvimento (PARASKEVAS et al., 2002) e em pequenas vilas isoladas ou
assentamentos rurais com baixa densidade populacional em virtude de sua simplicidade e
efetividade de custos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Realizando o monitoramento da efetividade das fossas sépticas biodigestoras, as melhorias


foram quantificadas por Costa e Guilhoto (2014) e expressas como:

Foi observado que, ao ano, a construção desse sistema de saneamento poderia evitar cerca
de 250 mortes e 5,5 milhões de infecções causados por doenças diarreicas; reduzir a
poluição dos cursos d'água em cerca de 129 mil toneladas de resíduos; e que cada R$ 1,00
investido na implementação da alternativa tecnológica avaliada poderia causar um retorno
para a sociedade de R$ 1,6 em renda interna bruta.

Na Paraíba, Paes (2014) desenvolveu trabalhos em comunidades rurais e urbanas visando


mobilização e conscientização para as técnicas integradas de controle a poluição ambiental. Em
suas conclusões cita:]

[...]e a construção de fossas ecológicas com o Círculo de Bananeiras no Vale do Gramame,


para o tratamento de águas cinzas e o Tanque de Evapotranspiração no Condomínio da
Amizade, para o tratamento das águas negras, em João Pessoa. Deparou-se com a
dificuldade da articulação comunitária nos locais e apenas poucas pessoas participaram das
atividades propostas. No entanto, após as ações desenvolvidas, verificou-se a satisfação de
todos que participaram destas.

A construção de fossas sépticas ou ecológicas, por si só, promovem a melhoria nos


parâmetros ambientais da região onde estão localizadas. Em Minas Gerais, a EMATER – Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais, elaborou um projeto de fossa ecológica
para destinação e aproveitamento dos efluentes sanitários, com uso de materiais reciclados, o qual
conta com aprovação pelo órgão ambiental SUPRAM/Sul de Minas, através do Parecer nº
788/2011 de 10/05/2011. Este modelo foi reconhecida como Tecnologia Social Certificada 2013
pelo Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. A tecnologia é conhecida por
fossas ecológicas de evapotranspiração - TEVap e é apresentada na cartilha específica:

É um sistema de tratamento e reaproveitamento dos nutrientes do efluente do vaso


sanitário. Foi criado por Tom Watson, nos EUA, e adaptado por vários permacultores
brasileiros . Nele ocorre a decomposição anaeróbica da matéria orgânica, mineralização e
absorção pelas plantas. É um sistema fechado.[...] Consiste em um tanque retangular
impermeabilizado, dimensionado para uma unidade familiar, preenchido por um túnel de
pneus usados e por diferentes camadas de substrato (entulho, brita, areia e terra) e plantado
com espécies vegetais de rápido crescimento, de raízes superficiais, grande área foliar e alta
demanda de água.

As escolas rurais são espaços onde se acumulam pessoas e há um esgotamento sanitário


mais volumoso, proporcional ao número de componentes da comunidade escolar. Além deste
resíduo concentrado que carece de uma depuração para ser eliminado no solo, há crianças e adultos
que podem participar ativamente do processo de implantação da fossa ecológica, difundir a prática
por toda a comunidade externa e promover a formação de uma nova consciência para o uso da água
e do solo. Considerando a simplicidade estrutural da fossa ecológica neste projeto da EMATER e
a possibilidade de construir estas fossas em domicílios do meio rural, optou-se por instalar uma
fossa ecológica em escola de campo como uma solução local e também uma tecnologia a ser

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

difundida através da escola. A utilização de pneus na construção do túnel de depuração do resíduo


é uma medida para o aproveitamento dos pneus, evitando que eles sejam abandonados e se tornem
poluentes.
A escola é um espaço legítimo para estas ações, pois trabalha a construção de conhecimento
com a criança, intencionado na formação de uma nova cultura, a se expressar no adulto em
formação. Constitui-se partícipe essencial neste processo de construção do novo saber que se
efetivarão junto às novas gerações, aquelas que consolidarão futuramente esta nova consciência. As
atividades escolares de todas as disciplinas durante o período em que a escola vivenciar a
construção da fossa estarão integradas aos temas saneamento básicas e sustentabilidade. As famílias
e a comunidade do entorno da escola devem participar de todo o processo, discutindo a construção e
as possibilidades alternativas. A capacitação da comunidade se faz ferramenta básica para que a
tecnologia tenha alcance social.
A Polícia Militar Ambiental de Minas Gerais – Varginha MG desenvolveu o Programa
PROGEA de mobilização para consciência ambiental com alunos das escolas de Campanha. No
final do projeto, as crianças da escola rural Escola Municipal Campo Grande, formaram-se agentes
ambientais mirins e, em ação, manifestaram o interesse em solucionar a questão da eliminação do
resíduo sanitário de sua escola. A UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais elaborou e
coordenou um projeto extensionista a ser desenvolvido na escola, contando com a participação de
outros entes públicos como parceiros. A EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural no Estado de Minas Gerais e a Prefeitura Municipal foram convidadas a participar e assim
criar o ambiente da coletividade, da cooperação, da solidariedade e da aprendizagem para uma nova
cultura.
Obteve-se como resultado uma solução adequada para o destino do resíduo sanitário da
escola do campo e espera-se incrementar a consciência para a sustentabilidade e para uma nova
cultura em relação ao uso da água e do solo.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi de pesquisa-ação com trabalho de campo. Após o relato da


situação problema da fossa negra de uma Escola do Campo encaminhado pelos alunos da escola,
fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre os modelos de fossas para a área rural. Definido o modelo
TEVap da EMATER, elaborou-se este projeto e organizou-se a parceria entre a UEMG e os entes
públicos e privados para a construção da fossa no modelo selecionado.

Parceiros

 UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais Unidade Campanha (coordenadora)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Polícia Militar Ambiental de Minas Gerais


 EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais
 Prefeitura Municipal de Campanha MG – Serviço de Educação e Serviço de Meio Ambiente
 Comunidade Rural do Campo Grande
Projeto técnico da fossa ecológica

A EMATER disponibilizou a orientação técnica e o Projeto Fossas Ecológicas detalhado na


Cartilha Fossa Ecológica ou Tanque de Evapotranspiração – Passos para a Construção, da
EMATER. Identificou-se 60 usuários/dia na escola. Assim definiu-se tecnicamente a fossa na
dimensão de 25 m de comprimento, 2 m de largura e 1m de profundidade

Participação da comunidade local

A Comunidade Rural do Campo Grande foi convidada a participar de palestra com a


apresentação da fossa e capacitação para construir em suas residências e atuarem como
disseminadores do projeto.
A comunidade escolar da Escola Rural do Campo Grande foi convidada a participar das
capacitações e das atividades escolares em caráter interdisciplinar.

Material

O material abaixo listado para a construção foi obtido na comunidade local.


 5 m2 de brita
 5 m2 de areia média
 5 sacos de cimento
 5 sacos de cal
 100 m de tela de galinheiro
 2 caçambas de entulho
 50 pneus em desuso

Atividades escolares

Durante o período de construção, as atividades escolares foram realizadas coletivamente,


com a participação de todos os professores, em todas as disciplinas. O professor de Educação Física
promoveu atividades integradas a natureza e ao projeto da fossa. Foram:
 Cálculos de Medidas da fossa : comprimento, largura, profundidade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Pesquisas e trabalhos sobre saneamento básico, doenças de veiculação hídrica, cultivo de


bananeira, preparação de adubo orgânico com esterco animal, adubação da plantas.
 Confecção de cartazes e exposição na escola apresentando o projeto e as etapas da
construção. Desenhos esquemáticos do leito da fossa.
 Teatro sobre Ciclo da Água.
 Excursão no entorno da escola e visita às propriedades da comunidade. Jogos e competições
envolvendo toda a comunidade escolar.
 Apresentação dos agentes ambientais mirins (alunos) sobre as etapas e o resultado
ambiental da construção da fossa. Inauguração da fossa ecológica com a presença de
autoridades, parceiros e comunidade do Campo Grande. Evento apresentado pelos agentes
ambientais mirins.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

O projeto foi programado e desenvolvido em 05 meses. Iniciou com o relato do fato de que
a fossa negra da Escola do Campo Grande se encontrava entupida e os Agentes Ambientais Mirins
(alunos da própria escola) manifestaram interesse em solucionar o problema. Após este relato, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os modelos de fossa ecológica para área rural. Definido
o modelo da fossa ecológica TEVap da EMATER, foram emitidos os convites aos parceiros
EMATER, PMC Campanha e Policia Militar Ambiental e elaborado o Projeto Águas da UEMG:
Fossas Ecológicas na Escola de Campo. O projeto foi inscrito em Edital de Seleção de Projetos
para Extensão e selecionado para execução.
Em atuação conjunta com a EMATER foi realizada a visita técnica da equipe de
engenharia responsável pelo mapeamento e dimensionamento da fossa e a elaboração da lista de
materiais. Empresários do município se uniram e doaram o material. A Prefeitura Municipal
disponibilizou a máquina escavadeira para abrir o leito da fossa. Alunos, professores, auxiliares da
escola e moradores do Campo Grande acompanharam as obras, discutindo, apresentando opiniões e
ouvindo palestras sobre o assunto. Em reunião com a Direção e Equipe Pedagógica da Escola
Municipal Campo Grande foi elaborado o Programa de Atividades Interdisciplinares para a Fossa
Ecológica. No ambiente escolar as disciplinas trataram o tema de forma interdisciplinar e
transversal, integrando todos os segmentos administrativos e pedagógicos nesta vivência escolar. A
fossa ecológica foi estudada no âmbito da linguagem oral e escrita, desenhada, colocada em
cartazes, apresentada em números, em histórias e contos, mapeada geograficamente e em
brincadeiras, jogos e excursão na área de educação física.
A capacitação com os moradores promoveu uma integração das pessoas com a escola e
com os parceiros do projeto. Pais, moradores da comunidade e professores foram convidados a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contar histórias e experiências sobre fossas, eliminação de resíduos, esterqueiras, medidas


alternativas de sua época de infância para eliminação dos resíduos e as possibilidades atuais de
aproveitamento de resíduos.
O programa foi organizado com a participação de todos os professores e disciplinas, e
também o setor administrativo da escola. Foi elaborado com foco na transversalidade e na
interdisciplinaridade.
As dificuldades encontradas foram quanto a disponibilidade de horários para a reunião das
pessoas da comunidade e foi resolvida com a integração do sábado letivo e a presença das pessoas
da comunidade. Estendeu-se um pouco além do horário da tarde para receber pais, familiares e
pessoas da comunidade quando as crianças apresentaram a fossa e a depuração de resíduos no
sistema da fossa de evapotranspiração para os visitantes.
Considerando as abordagens dos autores citados no referencial teórico e o desafio de ampliar
a eliminação de resíduos sanitários no campo a partir de fossas sépticas ou de evapotranspiração, o
projeto estimula a adesão dos moradores do campo pela facilidade em construir e pelo aspecto final
que, com as bananeiras ou outras plantas, camuflam o equipamento e fazem a perfeita harmonia
com o ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A consciência ambiental se configura um desafio para a sociedade pois está constituída por
leis e decretos e mesmo assim não logra a efetividade. Carece de uma consciência para a
sustentabilidade, não apenas a consciência individualizada mas a consciência coletiva da
sustentabilidade.
Este trabalho envolveu a capacitação das pessoas na comunidade interna e externa, o
envolvimento das crianças, a ligação entre os autores e implementadores da sustentabilidade, a
integração dos entes públicos e a formação de professores. A ação transformadora para as questões
ambientais vem de um entendimento próprio porém construído na interdisciplinaridade e na
transversalidade, em metodologias ativas. Todos os participantes foram autores do processo.
As vivências experienciadas na construção da fossa ecológica permitiu que as diferentes
pessoas, professores, alunos, auxiliares, servidores públicos, moradores da comunidade, políticos e
gestores públicos, pais, familiares e toda a sociedade exercitassem uma cidadania capaz de
consolidar uma nova visão para os recursos naturais e a sustentabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php Acesso em 11/02/2017

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BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Panorama do Saneamento Rural no


Brasil . 2017. http://www.funasa.gov.br/panorama-do-saneamento-rural-no-brasil Acesso em
11/02/2017

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TUNDISI, José Galizia. Água no Século XXI. Enfrentando a escassez. São Carlos, RiMa. IIE, 2003.
248p.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1221


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NORTEADORA DA PRÁTICA DE VIVÊNCIA NO


ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA MUNICIPAL
CORONEL CASTOR DO REGO

João Batista de SOUZA


Doutorando em Ciências da Educação UNGRENDAL
Juba_batista@yahoo.com.br
Josinaldo Clemente da SILVA
Doutorando em Ciências da Educação pela UAA – Universidade Autônoma de Assunção – PY
Josincs@gmail.com

RESUMO
A questão ambiental vem desapertando, nos últimos anos, interesse em escala global. A Educação
Ambiental surge como criadora de novos valores e como uma crítica aos padrões e comportamentos
estabelecidos. Através do processo de conscientização das populações, tornando-se assim, cada vez
mais sinônimo de uma cidadania emancipadora, subjetiva, que também poderemos classificá-la de
qualidade de vida. Como objeto de estudo adotaremos a Escola de Ensino, Fundamental. Cel.
Castor do Rego que fica na Comunidade de Bela Vista, no município de Mamanguape-Pb, no
Litoral Norte da Paraíba na Mesorregião da Mata Paraibana, por se tratar de uma comunidade que
luta por sua sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica local, já que a mesma abriga
uma Usina de Reciclagem de Lixo. A metodologia será dividida em revisão bibliográfica e
documental; pesquisa de campo; Entrevista semi-estruturada, conversa informais, interpretação de
fotos, textos e frases produzidos pelos atores envolvidos, (professores e alunos) análise de dados e
redação final da Dissertação. Um estudo exploratório realizado na E M.Coronel Castor do Rego,
enriqueceu esta dissertação, pois professores de diferentes áreas, por meio de questionários,
relataram experiências com o ensino de Educação Ambiental, que pode ser dimensionado sua real
aplicabilidade nas ações educativas.
Palavras-chave: Educação, Meio Ambiente e Interdisciplinaridade.
ABSTRACT
The environmental issue has been loosening in recent years, interest on a global scale.
Environmental Education emerges as a creator of new values and as a critique of established
patterns and behaviors. As object of study we will adopt the School of Education, Fundamental.
Cel. Castor do Rego, located in the community of Bela Vista, in the municipality of Mamanguape-
Pb on the northern coast of Paraiba in the Meso-region of Mata Paraibana, because it is a
community that fights for its social, cultural, environmental and local economic sustainability, since
It houses a Garbage Recycling Facility. The choice for this theme happened through my
professional relationship; By the holistic and interdisciplinary nature of Environmental Education;
Since Environmental Education is a fundamental factor in the field of education at the national
level, and must be made present at all levels and modalities of the educational process; And thus
seek to contribute with the practice of a discussion of this theme that is part of the social reality and
for this reason needs to be approached through the scientific look. For this we built educational
activities that sought the exchange of information and the conceptual discussion on the praxis of
environmental education aimed at the construction of citizenship. This study has the general
objective of analyzing how Environmental Education has been developed in the Community of
Bairro Bela Vista, specifically with the students of the School mentioned above and what their
contribution to the changes of attitudes towards the environment. The scientific method we will use

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1222


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

is the systemic study looking to analyze the parts involved. The methodology will be divided into
bibliographical and documentary review; field research; Semi-structured interview, informal
conversation, interpretation of photos, texts and phrases produced by the actors involved, (teachers
and students) data analysis and final writing of the Dissertation. An exploratory study carried out in
E M. Coronel Castor do Rego, enriched this dissertation because Teachers from different areas,
through questionnaires, reported experiences with the teaching of Environmental Education, which
can be scaled their real applicability in educational actions.
Keywords: Education, Environment and Interdisciplinarity.

INTRODUÇÃO

Apresentam-se os resultados de uma pesquisa sobre a construção do projeto de dissertação


de um Mestrado. A pesquisa foi realizada a partir de uma proposta da implantação de um Projeto de
Educação Ambiental na Escola Municipal Coronel Castor do Rego.
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, cujo objetivo foi conhecer como
a EA vem sendo trabalhado no âmbito escolar, através da análise das práticas pedagógicas no
Ensino Fundamental II na Escola Municipal de Ensino Fundamental Coronel Castor do Rego.
Para a concretização desse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica baseada em
algumas linhas de estudos científicos; Educação, Educação Ambiental e Ciências Ambientais. E a
partir de uma interpretação dos escritos dos teóricos selecionados, foi dado sequencia parte prática,
ou seja, a ida ao campo de estudo, que teve por objetivo a percepção de professores e alunos do
Ensino Fundamental II da Escola Municipal Coronel Castor do Rego, na cidade de Mamanguape
localizada no litoral norte da Paraíba-Brasil.
Na Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação
Ambiental, definem-se diretrizes relacionadas à concepção e operacionalização da educação
ambiental em espaços formais e não-formais, aproximando-a de conceitos como democratização,
cidadania e igualdade (BRASIL, 1999).

Conforme é definido pelo art. 1º da referida lei, a Educação Ambiental é entendida como:
[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A educação ambiental requer a construção de novos objetos interdisciplinares de estudo


através da problematização dos paradigmas dominantes, da formação dos docentes e da
incorporação do saber ambiental emergente em novos programas curriculares (LEFF, 1999: 115).
Portanto o presente trabalho teve como objetivo aplicar e analisar as propostas de
intervenção das práticas desenvolvidas pelos professores do 6º ao 9º ano do ensino fundamental
dentro dessa perspectiva ambiental, de modo que, os alunos participassem mais ativamente desse
processo como co-autores nessa construção, aperfeiçoando tanto a prática docente como também o

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conhecimento de ambos sobre o tema em questão. Para tanto, foi necessário conhecer como a
Educação Ambiental é desenvolvida pelos professores dessa escola e se esta é ou não abordada de
modo crítico a objetivar mudanças de atitudes individual e coletivamente.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

O presente trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, cujo objetivo é conhecer como a
EA vem sendo trabalhado no âmbito escolar, através da análise das práticas pedagógicas no Ensino
Fundamental II na Escola Municipal de Ensino Fundamental Coronel Castor do Rego.

Objetivos específicos

 Analisar a concepção que os professores e alunos possuem acerca do que seja meio
ambiente e educação ambiental;
 Identificar quais são as principais metodologias que os professores vêm utilizando para
trabalhar didático e pedagogicamente a educação ambiental no decorrer de suas aulas;
 Destacar a importância da comunidade escolar no processo de educação, como forma de
defesa da vida.

JUSTIFICATIVA

O Desenvolvimento Sustentável deve ser ser compreendido e incorporado ao mundo que


cada ser humano constrói, dentro do seu domínio de condutas, em contrapartida com as pessoas
com quem convive. Surgindo assim, a uma necessidade de qualificação das pessoas, portanto, trata-
se de um processo educacional. A Educação Ambiental surge, então, como um esforço pedagógico
de articulação de conhecimentos, metodologias e práticas ditadas pelo paradigma da
sustentabilidade. Diante disso a Educação Ambiental pode ser vista como a estratégia inicial do
Desenvolvimento Sustentável através da qual as pessoas não só se qualificam, mas se sensibilizam
para reencontrar suas pertinências e afinidades com a natureza e o Universo, ponto de partida
substantivo do paradigma da sustentabilidade. (SILVA). Para a concretização desse trabalho foi
realizada uma pesquisa bibliográfica baseada em algumas linhas de estudo científica; Educação,
Educação Ambiental e Ciências Ambientais. E a partir de uma interpretação dos escritos dos
teóricos selecionados, foi dado sequencia parte prática, ou seja, a ida ao campo de estudo, que teve
por objetivo a percepção de professores e alunos do Ensino Fundamental II da Escola Municipal
Coronel Castor do Rego, na cidade de Mamanguape localizada no litoral norte da Paraíba-Brasil.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O ESTADO DA ARTE

―Temos os genes da sobrevivência. Temos que continuar nossa escalada evolucionária.


Transformar os problemas em desafios e encará-los. E a educação é um dos caminhos mais
iluminados, com qualquer um dos tantos rótulos recebidos‖ (Genebaldo Freire Dias).

Reconhece-se, a escola como um local privilegiado para a construção de conhecimentos de


Educação Ambiental, pois oferece condições de investigar os problemas ambientais, articulando
teoria e prática, desenvolvendo novas metodologias e recursos apoiados nas tecnologias de
informação e comunicação, propondo também experimentos e conteúdo específicos de Educação
Ambiental, favorecendo sua contextualização.
Observa-se que a escola se tornou mais que um lócus de apropriação do conhecimento
socialmente relevante, mas um espaço de diálogo entre diferentes saberes - científico, social, etc. –
e suas linguagens. Analisa criticamente e incentiva o exercício da capacidade reflexiva e de uma
visão plural e histórica do conhecimento, da ciência, da tecnologia e das diferentes linguagens.
Acredita-se, portanto, que é na interação e no reconhecimento da dimensão histórica e social do
conhecimento que a escola se situará.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de pesquisa está localizada na Depressão Sub-Litorânea do Estado da Paraíba, na


Mesorregião do Litoral Norte, na Unidade Geoambiental dos Tabuleiros Costeiros.
A população amostrada foi a partir dos alunos das quatro turmas do 6º ao 9º ano das séries
do Ensino Fundamental II, onde em um total de 96 alunos, 88 responderam ao questionário. Os
mesmos alunos que responderam a primeira aplicação o fizeram também na segunda aplicação.
A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de um questionário composto de dez
questões, referentes a coleta seletiva, água, biodiversidade e mata ciliar. O questionário foi aplicado
pelo acadêmico responsável pelo trabalho.
Procuramos encontrar subsídios para sua fundamentação teórica, na pesquisa bibliográfica,
pesquisa documental e na aplicação de questionários semi-abertos e observações indiretas.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A pesquisa buscou verificar se as práticas educacionais sobre Educação Ambiental, nesta


Unidade de Ensino ocorriam de forma interdisciplinar, como determina os Parâmetros Curriculares
Nacionais, com evidência na necessidade de preservação do meio ambiente, começando com as
realidades locais, de maneira que estas se reflitam no global, ou se estavam sendo desenvolvidas
como projetos isolados.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A análise dos resultados foi realizada em dois momentos: o primeiro refere-se ao perfil dos
entrevistados, onde se trata de dados cadastrais dos pesquisados e dos motivos pelos quais a escola
aborda as questões ambientais; e o segundo, à análise estatística baseada nas categorias elencadas.
Inicialmente, os dados pessoais dos pesquisados revelam que 83% são professores ou
professores-formadores; 79% têm cargo de professor s; 93,9% têm curso superior completo e
34,8%, alguma especialização (somente 0,1% tem mestrado).
Dos entrevistados 75% responderam que sim e a apenas 25% responderam que não tinham
conhecimento sobre os temas transversais, conforme gráfico abaixo:

25%
SIM
NÃO

75%

Gráfico 8 - Tem conhecimento sobre os Temas Transversais e a Educação Ambiental?


Fonte: Autor, 2016.

Conforme os PCN - Temas Transversais (1998), a temática ambiental deve ser de forma
transversal. Nesse sentido, cabe ao professor, dentro da especificidade de sua área, adaptar a
abordagem dos conteúdos, considerando os assuntos relacionados ao meio ambiente.
Concorda-se com Tardif (2002), que é incontestável, que sendo o professor integrante de um
grupo social e em virtude das funções que desempenha, ocupe uma posição estratégica nas relações
que unem as sociedades contemporâneas aos saberes que elas produzem e mobilizam para as mais
diferentes finalidades, reconhecendo que a relação dos professores com os saberes não pode ser
reduzida à mera transmissão dos conhecimentos já constituídos.
1. Existe planejamento das atividades sobre meio /ambiente na sua Escola através de reuniões
pedagógicas?
A essa pergunta, 35% dos professores responderam que sim e 65% deles, responderam que
não.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

35%
SIM
NÃO
65%

Gráfico 9 - Existe planejamento das atividades sobre meio ambiente na sua Escola através de reuniões
pedagógicas?
Fonte: Autor, 2016.

A relação existente entre o meio ambiente e a sociedade baseia-se na expropriação dos


recursos naturais para produção de produtos manufaturados. Consequentemente, educar para o meio
ambiente se torna uma tarefa difícil, pois a Educação Ambiental não consegue se envolver nos
currículos de ensino, de modo a reconhecer e valorizar o ambiente como um todo interdisciplinar.
2. Já trabalhou com o tema Transversal sobre o Meio Ambiente em sua sala de aula?
80 % responderam que sim e apenas 20 % responderam que não.

20%

SIM
NÃO

80%

Gráfico 10 - Já trabalhou com o tema Transversal sobre o Meio Ambiente em sua sala de aula?
Fonte: Autor, 2016.

Observa-se que os professores entendem que a problemática ambiental deve ser abordada de
maneira interdisciplinar. Uma visão da educação mais ampla para o meio ambiente deve envolver
as pessoas da comunidade, os currículos escolares e a preparação dos professores em geral, não
apenas aqueles que estão ligados às áreas das Ciências Biológicas ou da Geografia.
3. A Escola em que você trabalha incentiva a prática da Educação Ambiental?
65% responderam que sim e apenas 35 % responderam que não.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

35%
SIM
NÃO
65%

Gráfico 11 - A Escola em que você trabalha incentiva a prática da Educação Ambiental?


Fonte: Autor, 2016.

Os problemas vivenciados pelos professores vêm de longa data e, são decorrentes da pouca
valorização da educação como ferramenta na construção de mentes que participam de forma crítica
para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Para Freire, ―só se trabalha em favor das
classes populares se você trabalha com elas, discutindo com respeito seus sonhos, seus desejos, suas
frustrações, seus medos e suas alegrias‖ (Freire, 2000, p.85).

4. Possui formação teórica, metodológica e epistemológica para desenvolver as práticas de


Educação Ambiental?

De acordo com a pesquisa cerca de 70% dos professores possui formação suficiente para
desenvolverem em suas aulas o tema Educação Ambiental.
Segundo Mortimer (2006), os educadores precisam se preocupar em propor um ensino que
prepare o educando para o desenvolvimento de suas potencialidades, debatendo e tomando decisões
sobre os diversos problemas encontrados na sociedade, tais como problemas ambientais, sociais,
políticos e econômicos. O que podemos observar, no entanto, é uma grande preocupação por parte
dos professores em cumprir metas e conteúdos, se alienando a cada dia, numa escola alienadora e
fragmentada, desumanizando o indivíduo através de suas práticas pedagógicas ultrapassadas e
inadequadas.

5. Durante a realização de sua Licenciatura teve alguma Disciplina que enfatizou a questão da
Educação Ambiental?

Podemos observar que a maioria dos professores participantes da pesquisa não teve em sem
curso de licenciatura, disciplinas voltadas para o tema ambiental, algo que vem contribuindo para a
não realização de projetos sobre Educação Ambiental nas escolas.
Tem Ciência dos problemas ambientais ocorridos na Comunidade em que a Escola está
inserida?

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Percebemos que cerca de 65% dos professores entrevistados desconhece os problemas


ambientais existentes na comunidade em que está a escola onde trabalham. Portanto podemos
concluir por meio deste estudo exploratório, que o desenvolvimento da prática pedagógica referente
à Educação Ambiental na Escola Mun. Coronel Castor do Rego, não é uma preocupação da maioria
dos professores e, estes reconhecem que devido à necessidade de se cumprir um extenso conteúdo
programado, a Educação Ambiental muitas vezes é relegada ao segundo plano.

6. A Escola em que trabalha desenvolve projetos relacionados a Educação Ambiental Se sim,


de que maneira eles são desenvolvidos?

É notório pela pesquisa, que a escola desenvolve trabalhos relacionados à Educação


Ambiental, mas de forma isolada, não relacionando à temática, são professores de Disciplinas
isoladas, como Geografia, Artes, Ciências e Português.

7. Os Professores tem participado de Cursos de Formação Continuada sobre Educação


Ambiental?

Observamos que a maioria dos professores que respondeu ao questionário não tem
participado de cursos de formação continuada que trate de Educação Ambiental. Com isso,
podemos perceber um déficit para a realização dos projetos ambientais que já poderiam estar em
andamento ou implantados.
O processo de ensino–aprendizagem em Educação Ambiental fundamenta-se numa visão
complexa e sistêmica das realidades ambientais, concebidas como problemas e potencialidades,
visando à compreensão de suas inter-relações e determinações; ao mesmo tempo, considera o papel
e as características das instituições e agentes sociais envolvidos, localizados em um tempo e espaço
concretos.

8. A Direção da Escola, assim como os funcionários, colaboram com a promoção da Educação


Ambiental?

Podemos perceber que a maioria dos professores reconhece que há uma colaboração por
parte da administração e funcionários da escola na promoção da Educação Ambiental, no entanto
esta colaboração é mínima.
Com base na análise das respostas dos questionários aplicados na Escola Municipal Coronel
Castor do Rego, foi possível averiguar os seguintes aspectos da relação dos estudantes do 6º ao 9º
ano sobre meio ambiente:
Conhecem os principais rios do estado e do município;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Reconhecem a importância da preservação das matas, embora haja uma sensação de medo
quanto a entrar nelas, conforme foi explicitado anteriormente;
O lixo e a fumaça são os seus principais referenciais de poluição.
Reconhecem os rios e arroios como as principais vítimas da poluição na região.
Não conseguem diferenciar com clareza rio de lagoa.
Têm uma percepção muito concentrada em fauna e flora (cerca de 80% das respostas)
quando questionados sobre o que existe dentro da floresta.
A noção de meio ambiente está diretamente relacionada com o lugar de vida de cada aluno.
Dessa forma, a percepção de meio ambiente prevalente refere-se aos problemas ambientais
existentes na localidade onde a Escola está inserida.
Meio ambiente é não jogar lixo nas ruas (aluno do 7º ano)
Meio ambiente é saber cuidar da natureza é ter água limpa para cozinhar e beber aluno do 9º
ano.
Em relação aos alunos da Escola pesquisada, os mesmos apontaram como problemas
ambientais no município, a poluição devido às queimadas da cana-de-açúcar, o desmatamento da
mata de sertãozinho, falta de saneamento básico no entorno da Escola e no bairro em que residem.
Quanto a análise da percepção ambiental ficou evidente que em relação a conceituação de
meio ambiente não ficou bastante claro entre os alunos pesquisados, havendo dessa forma a
necessidade do desenvolvimento de atividades que venham privilegiar a mudança de percepção que
a maioria da população pesquisada apresenta sobre a temática.

CONCLUSÃO

A realização deste trabalho teve como objetivo de pesquisa estudar o desenvolvimento da


prática pedagógica relacionada à Educação Ambiental na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Coronel Castor do Rego no nível fundamental de escolaridade. Diante do estudo realizado
percebemos que o trabalho pedagógico sobre o meio ambiente na Escola pesquisada o tema é
abordado de forma interativa levando os alunos a conhecerem um pouco as práticas da Educação
Ambiental, que tem por objetivo promover a conservação dos ecossistemas do município e formar
cidadãos comprometidos com o meio ambiente.
Portanto, podemos concluir que de acordo com o que foi analisado podemos que a Educação
Ambiental na Escola acima citada não é desenvolvida como deveria, onde não há efetivamente o
desenvolvimento de uma prática educativa que integre disciplinas. O modo como a Educação
Ambiental é praticada na escola e nas salas de aulas, é através de projeto isolado, extracurricular,
sem continuidade, descontextualizado, fragmentado e desarticulado.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Diante, desses pressupostos os estabelecimentos de ensino possui uma responsabilidade de


preparar as novas gerações para um futuro viável. Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos dentro
das instituições de ensino têm um efeito multiplicador, pois cada estudante, convencido das boas
idéias da sustentabilidade, influencia o conjunto, a sociedade, nas mais variadas áreas de atuação.

REFERÊNCIAS

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Educação) – Curso de Pós Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, 1993. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.

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_______. Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola: guia do formador. Brasília: MEC/SEF,
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________. Educação como prática da liberdade. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1982.

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LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3.ed. ver. E


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REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação,
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REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros
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_______. Meio ambiente e representação social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002, 1994.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1232


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PESQUISA E GEOGRAFIA ESCOLAR: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO


INSTRUMENTO PARA PRÁTICA CIDADÃ

José Alves CALADO NETO


Mestrando em Geografia / CERES – UFRN
Professor Substituto na EAC/CAMPUS IV/UEPB
joseneto.geo@gmail.com
Antonio IZIDRO SOBRINHO
Mestrando em Geografia / CERES – UFRN
antonioizidro58@gmail.com

RESUMO
A Pesquisa é uma prática frequente nos cursos de Graduação e Pós-Graduação. Entretanto, o
desenvolvimento de atividades desta natureza ainda é um procedimento esporádico na educação
básica. Cabe, pois a Geografia escolar, preocupar-se em fazer uso dessa ferramenta metodológica
com maior frequência, melhorando assim o processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, os
procedimentos de Pesquisa podem ser vinculados à prática de ensino desenvolvida em sala de aula,
instigando assim o aluno a ser protagonista do seu próprio conhecimento e sujeito da sua prática
cidadã. O trabalho em tela consistenum relato de experiência, norteado pela sistematização dos
resultados obtidos a partir de uma atividade realizada com alunos concluintes do ensino médio,
numa escola de educação técnica e profissional, localizada no município de Catolé do Rocha – PB,
tendo como cerne o desenvolvimento da Pesquisa no âmbito da Geografia escolar, abordando temas
relacionados a Educação Ambiental com vistas a promoção da Cidadania. Objetivou-se com essa
atividade a inserção da Pesquisa como prática comum no cotidiano do ensino de Geografia e sendo
assim, de acordo com os temas propostos, corpo discente e docente desenvolveram um trabalho
voltado para a análise e compreensão das principais questões ambientais presentes na realidade
local, construindo conceitos e levantando questionamentos a partir do viés da Cidadania.
Palavras-Chaves: Cidadania; Educação Ambiental; Geografia; Pesquisa.

ABSTRACT
Research is a frequent practice in undergraduate and postgraduate courses. However, the
development of activities of this nature is still a sporadic procedure in basic education. It is,
therefore, the school geography, to be concerned with making use of this methodological tool more
frequently, thus improving the teaching-learning process. To do so, the Research procedures can be
linked to the teaching practice developed in the classroom, thus instigating the student to be
protagonists of their own knowledge and subject of their citizen practice. The work on the screen
consists of an experience report, guided by the systematization of the results obtained from an
activity carried out with high school graduates, in a technical and vocational education school,
located in the city of Catolé do Rocha - PB. The development of research in the field of school
geography, addressing themes related to environmental education with a view to promoting
citizenship. The objective of this activity was to insert Research as a common practice in the daily
life of Geography teaching and, in accordance with the proposed themes, the student body and the
teacher developed a work focused on the analysis and understanding of the main environmental
issues present in reality Local, constructing concepts and raising questions from the bias of
Citizenship.
Keywords: Citizenship; Environmental Education; Geography; Search.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO
A Pesquisa é um elemento inerente a prática de ensino em Geografia, tendo em vista que o
processo de ensino-aprendizagem da mesma perpassa pela produção do conhecimento através do
trabalho de investigação científica. Ademais, a Pesquisa também torna-se ferramenta primordial no
sentido de contribuir para que os conteúdos abordados na Geografia, notadamente a Educação
Ambiental, passem a figurar dentro de um contexto social, levando o aluno a desenvolver um ideal
de Cidadania.
Este trabalho é resultado do projeto de ensino denominado Pesquisa e Geografia Escolar,
que teve como temática a Geografia e a Cidadania, destacando a Educação Ambiental como
instrumento constituinte para prática cidadãe buscoudespertar no aluno o interesse pela Pesquisa,
instigando-o a reconhecer a mesma como instrumento de extrema relevância para o seu processo de
desenvolvimento escolar, contribuindo acima de tudo para a sua formação cidadã, através do
cuidado para com o meio ambiente.
O pressente trabalho foi desenvolvido junto as turmas de 3º ano do Ensino Médio, tendo
como unidade de execução do mesmo a Escola Agrotécnica do Cajueiro – EAC, vinculada a
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Campus IV, localizada no município de Catolé do
Rocha – PB. A referida escola desenvolve atividades de ensino no nível médio, integrado ao ensino
técnico e profissionalizante, notadamente com a oferta do Curso de Técnico em Agropecuária.
Assim, os 51 alunos envolvidos no projeto, oriundos de diversos municípios da Paraíba e do Rio
Grande do Norte, tiveram a oportunidade de conhecer melhor o meio em que habitam, tendo como
princípio metodológico atividades de Pesquisa que os conduziram a compreender melhor a
realidade ambiental na qual estão inseridos.
O desenvolvimento deste trabalho buscou despertar o interesse pela Pesquisa como um
instrumento de fundamental importância para o processo de construção do conhecimento geográfico
e formação cidadã do discente, compreendendo a Educação Ambiental como elemento primordial
deste processo.
Na oportunidade, os alunos puderam constatar os principais problemas ambientais presentes
em escala local, bem como, analisar melhor os objetosde estudos propostos e desenvolver os
conceitos de Pesquisa e Cidadania na sua formação escolar, relacionando os temas sugeridos,
denominados aqui de temas geradores, organizados em eixos temáticos, a saber, Eixo temático 1:
Água: fontes e reservatórios; tratamento e distribuição; utilização, desperdício e aproveitamento
racional. Eixo temático 2: Lixo: tipos de lixo e produção diária; coleta seletiva e reciclagem; destino
e tratamento do lixo. Eixo temático 3: Poluição: sonora; visual; atmosférica; com a sua prática
cidadã.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A PESQUISA COMO RECURSO METODOLÓGICO


A prática daPesquisa é considerada como sendo um importante recurso didático-
metodológico, pois é por meio da mesma que se dão as descobertas, as construções teóricas e as
confirmações ou não de hipóteses científicas nos mais diversos campos do conhecimento. Porém,
essa prática ainda é algo muito restrito ao âmbito do ensino superior, nos cursos de graduação e de
pós-graduação. A educação básica por sua vez, constitui um cenário ainda carente de intervenções
educativas desta natureza.
Visando a quebra desse paradigma, Demo (2006), propõe uma educação básica, seja ela no
ensino fundamental ou no ensino médio, baseada na atividade pesquisadora, ou seja, o aluno, sob a
orientação do professor, deve ser construtor do seu próprio conhecimentoou ao menos um
questionador da sua realidade. Segundo Demo (2006, p. 51), ―O importante é compreender que sem
Pesquisa não há ensino. A ausência de Pesquisa degrada o ensino a patamares típicos da reprodução
imitativa‖. Desse ponto de vista, o autor argumenta que o processo de ensino-aprendizagem não
pode e não deve ficar restrito a mera reprodução ou imitação do conhecimento, devendo os
educandos e educadores atuarem juntos na busca por novas respostas e novos saberes.
Partindo desse princípio, a educação pode ser enxergada como uma mola propulsora capaz
de impulsionar descobertas e instigar a formação do sujeito crítico de sua realidade. Porém, essa
propulsão só existe quando os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem deixam a sua ―zona
de conforto‖, não contentando-se apenas com o conhecimento que lhes é proposto e passam a ser
protagonistas do processo. Protagonismo esse que se dá justamente por meio da Pesquisa. Ademais,
a busca pelo conhecimento não deve se restringir a sua absorção, mas também e sobretudo, a sua
disseminação, permitindo assim questionamentos e colaborações construtivas. Nesse contexto,
transcrevemos o pensamento de Demo (2006), para corroborar com a ideia de que o conhecimento
construído através da Pesquisa vai muito além de uma prática mnemônica.

Pesquisar, assim, é sempre também dialogar, no sentido específico de produzir


conhecimento do outro para si, e de si para o outro, dentro de contexto comunicativo nunca
de todo devassável e que sempre pode ir a pique. [...] Quem pesquisa tem o que comunicar.
Quem não pesquisa apenas reproduz ou apenas escuta. Quem pesquisa é capaz de produzir
instrumentos e procedimentos de comunicação. Quem não pesquisa assiste à comunicação
dos outros. (DEMO, 2006, p. 39)

Assim, fica evidente que a Pesquisa deve ser prática cotidiana do processo de ensino-
aprendizagem no ensino fundamental e médio. Os conteúdos e temas propostos precisam e devem
ser compreendidos através de uma abordagem investigativa que contemple levantamentos
bibliográficos e estudos em campo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UM EXERCÍCIO COTIDIANO


A Educação Ambiental (EA), pode ser compreendida como um conjunto de procedimentos e
principalmente atitudes que visem estabelecer uma relação pacífica, de respeito mútuo entre o ser
humano, enquanto ser social e os elementos naturais, sejam eles seres bióticos ou abióticos. Para
Dias (2004), a Educação Ambiental pode ser vista como um processo por meio do qual as pessoas
aprendam como funciona o ambiente, como dependem dele, como o afetam e como promovem a
sua sustentabilidade.
No que diz respeito a ideia de desenvolvimento sustentável, importante ressaltar que o
mesmo deve ser visto sob dois prismas, um relacionado a ideia de preservação da biodiversidade e
dos recursos naturais como um todo, e outro direcionado para a inclusão da sociedade no
desenvolvimento de uma agenda ambiental mais próxima dos anseios sociais, como bem explica
Sorrentino (2005, p. 19):

É possível enunciar a existência de duas grandes tendências no capo do desenvolvimento


sustentável. A primeira volta-se para a proposição de soluções que se coadunem com a
necessidade de preservação da biodiversidade, conservação dos recursos naturais,
desenvolvimento local e diminuição das desigualdades sociais, por meio de novas
tecnologias, políticas compensatórias, tratados internacionais de cooperação e de
compromissos multilaterais, estímulo ao ecoturismo, certificação verde de mercados
alternativos, entre outros. A segunda volta-se para finalidades semelhantes, mas por
intermédio da inclusão social, da participação na tomada de decisões e da promoção de
mudanças culturais nos padrões de felicidade e desenvolvimento.

Segundo Dias (2004) a definição proposta pelo Conama – Conselho Nacional do Meio
Ambiente, é de que a EA deve ser compreendida como um processo de formação e informação,
orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais e de
atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.
Com base nesses pressupostos, é mister compreender que a Educação Ambiental (EA), deve
ser percebida como uma construção diária, uma prática a ser desenvolvida independentemente do
ambiente em que o sujeito esteja inserido. Porém, talvez seja a escola, o palco de maior relevância
para que tal processo educativo ocorra. Tal afirmação justifica-se pelo fato de que práticas
educativas podem ocorrer em vários lugares, mas é no ambiente escolar que este processo se dá de
maneira formal e, sobretudo, sistematizada.
De acordo com as palavras de Souza (2007, p. 69), ―Caberá a EA despertar no cidadão uma
consciência crítica sobre o ambiente, considerando um bem comum, direito natural e essencial à
vida‖. Percebe-se que o grande objetivo do desenvolvimento da EA no ambiente escolar diz respeito
a conscientização por parte do sujeito (aluno) para com as questões ambientais a sua volta.
Conhecer, compreender e principalmente tentar transformar a dinâmica ambiental presente em
escala local, talvez seja este o principal desafio das práticas em Educação Ambiental no meio
escolar.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conforme advoga Jacobi (2003, p. 198), ―A educação ambiental deve ser vista como um
processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma
cidadãos com consciência local e planetária‖. Nesse sentido, Callai (2009, p. 84) diz que: ―Na
literatura geográfica, o lugar está presente de diversas formas. Estuda-lo é fundamental, pois ao
mesmo tempo em que o mundo é global, as coisas da vida, as relações sociais se concretizam nos
lugares específicos‖. É necessário considerar que mesmo agindo localmente, as ações voltadas para
o meio ambiente podem ter resultado em escala global, assim como o inverso ocorre
frequentemente.

GEOGRAFIA E CIDADANIA

Constantemente, somos convidados a agirmos cada vez mais como cidadãos críticos e
conscientes de nossas atuações, mas, afinal, o que é Cidadania? Em que consiste a prática cidadã?
Qual o papel da Geografia nessa discussão? A Constituição Federal (1988), em seu Artigo 1º, elenca
a Cidadania como sendo um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. A mesma Carta
Magna, em seu artigo 5º, dispõe de uma série de direitos e deveres inerentes ao ser humano,
enquanto agente social. Assim, depreende-se que o efetivo exercício da Cidadania seria o pleno
gozo dos direitos e o cumprimento dos deveres elencados no referido texto constitucional.
Porém, não pretendemos trabalhar aqui a noção de Cidadania apenas do ponto de vista
jurídico, pois compreendemos que o exercício da mesma está norteada por um arcabouço político e
social bem mais amplo.Neste sentido, Geografia e Cidadania estão relacionadas de forma intrínseca,
pois se o objeto de estudo da ciência geográfica é o espaço, esse, por sua vez, é palco também de
fenômenos humanos e, por conseguinte, das relações sociais e ambientais. O ensino da Geografia
não pode então estar dissociado da prática cidadã de alunos e professores. Assim, a relação entre o
espaço geográfico (objeto da Geografia), esfera onde ocorrem as relações ambientais e sociais e a
promoção da Cidadania pode ser assim explicada:

Há uma relação íntima entre espaço geográfico e cidadania. Essa relação é permeada pelo
fato de que a identidade do cidadão tem uma referência espacial, que se estende, hoje mais
do que nunca, do local ao mundial, pra não falar do planetário. Considerando a Geografia
escolar, pelo menos em uma perspectiva crítica, há de se registrar que ela procura
desenvolver a cidadania por meio de uma integração do aluno ao meio. Esse é o papel do
ensino de Geografia. (VLACH, 2013, p. 252)

Em síntese, a noção de Cidadania remete ao conceito de participação, protagonismo perante


as questões sociais e ambientais. Segundo Loureiro (2004, p. 18), ―A participação é o cerne da
aprendizagem política, da gestão democrática de uma escola, um lar, uma comunidade, enfim, de
um ambiente, e é por meio dela que vinculamos a educação à Cidadania e estabelecemos os elos
para formulações transdisciplinares e ampliadas acerca da realidade‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Partindo desses pressupostos, depreende-se que a abordagem de questões relacionadas a


Educação Ambiental no ensino de Geografiacontribui para o desenvolvimento de uma visão mais
ampla da realidade local por parte do aluno, pois a consciência de que o cuidado ambiental deve ser
algo inerente a todos os indivíduos de uma coletividade, acaba por se transformar em uma forma
bem mais abrangente de se fazer educação.
Conforme Callai (2009), é aprendendo a pensar o espaço a partir do lugar, que se pode
descobrir e compreender o mundo, criando assim possibilidades para a construção de uma prática
cidadã. Assim, o agir localmente, principalmente em relação as questões ambientais consiste no
fulcro para uma contribuição em escala global. Corrobora com essa afirmação o que está posto nas
palavras de Damiani (2004, p. 50), ao defender que ―A noção de Cidadania envolve o sentido que se
tem do lugar e do espaço, já que se trata da materialização das relações de todas as ordens, próximas
ou distantes‖.
Educação Ambiental deve ser tema frequente abordado nas aulas de Geografia, ocorrendo
sua investida através do ensino e da Pesquisa, pois a ideia de construção e preservação de um
ambiente sustentável é a representação mais nítida de uma prática cidadã plena, tendo a escola,
principalmente, como espaço de desenvolvimento da mesma.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os temas geradores propostos para o desenvolvimento da pesquisa, a saber: Eixo temático 1:


Água: fontes e reservatórios; tratamento e distribuição; utilização, desperdício e aproveitamento
racional. Eixo temático 2: Lixo: tipos de lixo e produção diária; coleta seletiva e reciclagem; destino
e tratamento do lixo. Eixo temático 3: Poluição: sonora; visual; atmosférica; serviram de ponto de
partida para uma discussão mais ampla, ou seja, os temas propostos a partir da questão da água, lixo
e poluição foram tomados como norteadores e coube ao aluno enxergar desafios e possibilidades
que permitissem a abordagem mais específica de cada tema em relação aos problemas relacionados
a cada um deles.
Nesse sentido, a pesquisa adquiriu um viés exploratório. SegundoGil (2002, p. 41) ―estas
pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-
lo mais explícito ou a constituir hipóteses‖, considerando que os problemas que foram alvo de
análise puderam ser vistos in loco através de levantamentos em campo.
O trabalho foidesenvolvido de forma coletivaonde os discentes foram organizados em
grupos de trabalho, ficando cada grupo responsável por organizar, distribuir e realizar as etapas
inerentes ao processo de pesquisa.Inicialmente cada grupo realizou um levantamento bibliográfico a
respeito do subtema para, a partir daí, elaborar uma sucinta introdução e referencial teórico sobre o
mesmo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Posteriormente foi realizado um trabalho de campo com coleta de informações. Para tanto,
foram feitos registro de imagens, vídeos e áudios. Para uma maior eficácia na coleta dessas
informações, foram aplicados questionários e realizadas conversas informais com profissionais e
moradores de algumas comunidades, notadamente dos municípios de Catolé do Rocha – PB, Brejo
dos Santos – PB, Alexandria – RN e região circunvizinha, tendo em vista que os alunos envolvidos
no projeto são oriundos de diversos municípios dos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte.
Após o levantamento bibliográfico e a coleta de dados em campo, cada grupo procurou
identificar quais problemas, limitações, potencialidades, pontos positivos e negativos faziam parte
da realidade nas comunidades onde a pesquisa foi aplicada. Em seguida, os alunos, de forma
coletiva elaboraram um relatório final apresentando as seguintes informações:
Introdução(problematização inicial do tema, caracterização do grupo de trabalho); Especificação do
objeto de estudo (problema), identificando e delimitando o mesmo; Considerações sobre os
problemas encontrados, emitindo opiniões a partir dos dados coletados; Sugestões de possíveis
soluções para os problemas encontrados; Considerações finais sobre a pesquisa; Referências
bibliográficas; Anexos e/ou apêndices (imagens, vídeos, áudios).
Por fim, os resultados obtidos através do trabalho de pesquisa foram apresentados junto à
comunidade escolar na Escola Agrotécnica do Cajueiro, com o intuito de socializar os mesmos e
contribuir para o enriquecimento do debate sobre a importância do estudo da Geografia, da
Pesquisa, da Educação Ambientale da participação cidadã.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos a partir deste trabalho não possuem características quantitativas, mas
sim, são de naturezaqualitativa, tendo em vista que em seu escopo, esta atividade buscou
compreender realidades, construir conceitos e a partir deles formar uma consciência cidadã e,
sobretudo, transformadora de pensamentos e atitudes relacionados a questões ambientais. Destarte,
os resultados aqui expostos não estão retratados em gráficos ou números, mas sim em concepções e
opiniões.

RESULTADOS OBTIDOS PELO CORPO DISCENTE

O ensino de Geografia por si só, faz uso de conceitos, temas e diversas categorias de análise
que ajudam o sujeito a entender o espaço e as relações que se estabelecem sobre o mesmo. Porém,
quando os estudos teóricos podem ser vistos sob uma nova ótica, ou seja, a partir da pesquisa
bibliográfica, ou ainda da pesquisa de campo, isso torna a compreensão dos conceitos, temas e
categorias de análise bem mais produtiva. Além disso, o ensino de Geografia também deve buscar
relacionar os conteúdos estudados com a vivência de mundo do educando. Em outras palavras, a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Geografia deve alcançar a prática social do discente. Desse modo, foi possível perceber que o
trabalhodenominadoPesquisa e Geografia Escolar: A Educação Ambiental como Instrumento para
Prática Cidadã, propiciou aos alunos do 3º ano integrado da EAC/UEPB, a oportunidade de
investigar em campo alguns conceitos construídos e debatidos em sala de aula.
A atividade foi realizada de maneira coletiva, instigando os discentes também a promover o
espírito de equipe por meio do trabalho em grupo.Outro ponto que merece destaque é o fato de que
as pesquisas de campo realizadas proporcionaram condições para que os alunos conhecessem
melhor a comunidade onde estão inseridos, pois apesar dos temas geradores contemplarem
problemas que existem em escala global, o recorte espacial escolhido como universo da pesquisa foi
a escala local. Sendo assim, o estudo desenvolvido no âmbito da comunidade onde o aluno reside
ou áreas circunvizinhas, permitiu que os mesmos alcançassem um conhecimento mais profundo da
realidade local onde estão inseridos e por conseguinte passassem a ter uma noção mais ampla sobre
os problemas propostos nos eixos temáticos também em escala regional e global.
O projeto de ensino apresentou ainda importantes resultados quando da socialização das
informações obtidas pelos alunos em suas pesquisas. Após o levantamento bibliográfico, o trabalho
de campo, a organização e análise dos dados levantados, os alunos passaram a uma última etapa que
consistiu na apresentação de seus relatórios de pesquisa e consequente socialização com a
comunidade escolar.
Na oportunidade os grupos tiveram o tempo de quinze minutos para exposição do seu
relatório, seguidos por outros quinze minutos para arguição por parte dos colegas e debate dos
pontos apresentados. Desta feita, os relatórios foram expostos com o auxílio de recursos
audiovisuais e durante as explanações os discentes tiveram a oportunidade de mostrar os resultados
obtidos em seus trabalhos, bem como puderam defender suas opiniões a respeito dos temas
trabalhados.

RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DA ATUAÇÃO DOCENTE

Com base no trabalho realizado pelos discentes do 3º ano da EAC/UEPB, faz-se necessário
uma autocrítica por parte do professor, sujeito propositor e mediador desta atividade, pois assim
como a Pesquisa deve nortear o processo de formação do aluno, não pode o docente imaginar-se
alheio a esta prática, já que a mesma deve ser tida como instrumento capaz de lhe fornecer subsídios
para o desenvolvimento de suas atividades educacionais.
O profissional do magistério, sobretudo, deve ser o principal responsável pelo incentivo e o
fomento à Pesquisa junto aos seus alunos. Ele deve propor, mediar e criar mecanismos que
estimulem o aluno a pensar a partir da investigação científica, procurando sempre relacionar teoria e
prática no universo do ensino-aprendizagem, notadamente da Geografia.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A Pesquisa em Geografia, tendo como ênfase a Educação Ambiental, adquiriu um outro viés
de extrema importância, o viés da Cidadania, ou seja, a realização deste trabalho, com etapas de
levantamento bibliográfico e coleta de dados em campo, pôde contribuir para que o professor da
disciplina passasse a enxergar os seus estudos teóricos relacionados ao exercício de uma prática
cidadã.
Em outras palavras, o que se coloca neste momento é que a construção do conhecimento
geográfico não pode mais ser limitado aos estudos teóricos em sala de aula, mas sim, deve ser
alicerçado e complementado com uma atividade pesquisadora, seja ela bibliográfica ou de campo.
Por fim, é forçoso afirmar que os temas propostos na atividade foram de suma importância
também para o professor, pois as ideias e concepções que se tinha sobre os eixos temáticos
pesquisados foram ampliadas e em alguns casos reformuladas. A ideia de Cidadania deixou de ser
algo apenas conceitual e passou a ser um objeto mais presente na realidade e a Educação Ambiental
se revelou como sendo um tema de potencial ainda pouco explorado nas aulas de Geografia,
merecendo assim um maior relevo em suas abordagens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho desenvolvido no âmbito da EAC/UEPB, escola de nível médio,


integrado ao ensino técnico, foi de suma importância, pois a atividade de pesquisa realizada a partir
de temas geradores que pressupõem a ideia de sustentabilidade, Educação Ambiental e Cidadania,
contribuiu para a formação escolar e cidadã dos alunos, além de ter fornecido subsídios para
atualizar a prática docente do professor envolvido no projeto. Assim, o trabalho em tela constituiu
um elemento importante para a formação de um pensamento crítico, sobretudo, por parte dos
discentes, pois diante da realidade constatada e vivenciada pelos mesmos, almeja-se que possam ser
capazes de identificar, analisar e propor medidas que atendam as demandas oriundas do contexto
presente nas problemáticas pesquisadas.
Ademais, necessário lembrar que o intuito principal do trabalho foi alcançado, ou seja, o fato
de interferir localmente para vislumbrar resultados em escalasmaiores, seja, regional, nacional ou
global. Mesmo que esses resultados muitas vezes não sejam nítidos num primeiro momento, a
simples mudança de postura dos envolvidos no projeto já pode ser considerado um grande passo.
A partir desta atividade os alunos concluintes do Curso Técnico em Agropecuária da Escola
Agrotécnica do Cajueiro – EAC, vinculada a Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, tiveram
uma experiência ímpar no sentido de compreender a importância da Pesquisa para o estudo da
disciplina de Geografia. Nesta vertente, os discentes puderam ainda, a partir do trabalho realizado,
perceber que alguns problemas sociais e ambientais propostos como objeto de estudo, estão
incorporados na comunidade onde habitam.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A contribuição deste projeto foi bem além daquela ofertada ao corpo discente, contribuindo
de forma significativa para a melhoria da prática docente, tendo em vista que o professor de
Geografia passou a enxergar na Pesquisa um instrumento de extrema eficácia dentro do processo de
ensino-aprendizagem.
A grande lição deixada por esse trabalho diz respeito as reais possibilidades que existem e
ficaram bem claras, de se trabalhar questões de ordem ambiental durante as aulas de Geografia,
promovendo descobertas e construções através da Pesquisa, fazendo com que o processo de ensino-
aprendizagem adquira um caráter construtivo e autônomo por parte do corpo discente e docente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Edição administrativa


do texto constitucional promulgado em 05 de outubro de 1988, consolidado até a Emenda
Constitucional nº 84/2014. Brasília: SEGRAF, 2015.

CALLAI, Helena Copetti. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI,
Antonio. (org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. – 7. ed. – Porto
Alegre: Mediação, 2009.

DAMIANI, Amélia Luisa. A Geografia e a Construção da Cidadania. In: CARLOS, Ana Fani
Alessandro. (org.). A Geografia na sala de aula.– 6. ed. – São Paulo: Contexto, 2004.
(Repensando o Ensino).

DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo.– 12. ed. - São Paulo: Cortez, 2006.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. – 9. ed. – São Paulo: Gaia,
2004.

GIL, Carlos Antônio. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas. 2002.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São


Paulo, n. 118, p. 189-205, março/2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834>. Acesso em: 06 Jul. 2017.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educar, participar e transformar em educação ambiental.


Revista brasileira de educação ambiental. Brasília, v. 01, n. 00, p. 13-20, novembro/2004.
Disponível em: <http://assets.wwf.org.br/downloads/revbea_n_zero.pdf>. Aceso em: 06 Jul.
2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1242


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

SORRENTINO, Marcos. Desenvolvimento sustentável e participação: algumas reflexões em voz


alta. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO,
Ronaldo Souza de. (orgs.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. – 3. ed. –
São Paulo: Cortez, 2005.

SOUZA, Joselma Maria Ferreira de. Educação ambiental no ensino fundamental: metodologias e
dificuldades detectadas em escolas de município no interior da Paraíba. – João Pessoa, Editora
Universitária, 2007.

VLACH, Vânia Rubia Farias. Cidadania, democracia, escola, ensino de Geografia: elementos para
um debate. In.: COSTA, Ademir Araújo de; LOCATEL, Celso. (Re)pensando o território e a
cidadania: desafios da Geografia no Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2013.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1243


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROJETO ―CAMPUS VERDE‖: NÍVEIS DE CONHECIMENTO E PARTICIPAÇÃO


DOS DISCENTES DOS CURSOS SUPERIORES DO IFRN/MOSSORÓ

Jéssica Thaisa da Costa HOLANDA


Pedagoga, especialista em Educação e Contemporaneidade pelo IFRN
jessica thaisa@hotmail.com
José Araújo AMARAL
Doutor em biotecnologia e Professor de Biologia no IFRN/Campus Mossoró
jose.amaral@ifrn.edu.br

RESUMO
A Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) propõe uma série de ações visando tornar as
Instituições públicas mais sustentáveis. Em todos os campis do IFRN esta agenda foi adotada por
meio do Projeto Campus Verde (PCV). O presente artigo levanta e discute o nível de
conhecimento/participação de estudantes dos cursos superiores desta Instituição no PCV.
Utilizamos, como metodologia, a aplicação de questionários aos estudantes de quatro turmas (duas
inicias e duas avançadas) dos cursos superiores de Gestão Ambiental e Matemática. Percebemos
que há um completo desconhecimento e raríssima participação no projeto pelos alunos do curso
superior em Matemática. Alunos do curso de Gestão ambiental apresentam um nível de
conhecimento e participação relativamente melhores que os alunos de Matemática, mas muito
aquém do poderia ser considerado ideal. Concluimos que, embora o PCV já tenha conseguido
instituir algumas ações sustentáveis importantes, ainda apresenta algumas dificuldades relativas ao
desconhecimento e pouca participação dos alunos, em especial dos alunos do curso de Gestão
Ambiental. Ações institucionais que promovam a maior discussão sobre o PCV e o incentivo à
participação discente devem ser ampliadas, no intuito de se otimizar a busca por uma Escola
sustentável.
Palavras-chave: Gestão e Educação Ambiental na Escola, Escola sustentável, A3P.

RESUMEN
La Agenda Ambiental en la Administración Pública (A3P) propone una serie de acciones para hacer
las instituciones públicas más sostenibles. En todos los campis del IFRN esta agenda fue adoptada
por medio del Proyecto Campus Verde (PCV). El presente artículo levanta y discute el nivel de
conocimiento / participación de estudiantes de los cursos superiores de esta Institución en el PCV.
Utilizamos, como metodología, la aplicación de cuestionarios a los estudiantes de cuatro clases (dos
iniciales y dos avanzadas) de los cursos superiores de Gestión Ambiental y Matemática. Se percibe
que hay un completo desconocimiento y rarísima participación en el proyecto por los alumnos del
curso superior en Matemáticas. Alumnos del curso de Gestión ambiental presentan un nivel de
conocimiento y participación relativamente mejores que los alumnos de Matemáticas, pero muy por
debajo de lo que podría ser considerado ideal. Concluimos que, aunque el PCV ya ha logrado
instituir algunas acciones sostenibles importantes, todavía presenta algunas dificultades relativas al
desconocimiento y poca participación de los alumnos, en especial de los alumnos del curso de
Gestión Ambiental. Las acciones institucionales que promuevan la mayor discusión sobre el PCV y
el incentivo a la participación discente deben ser ampliadas, con el fin de optimizar la búsqueda por
una Escuela sustentable.
Palabras clave: Gestión y Educación Ambiental en la Escuela, Escuela sostenible, A3P.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

No ano de 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como ECO 92. Nesse encontro, representantes
de cento e setenta e nove países acordaram e assinaram um programa de ação que ficou estabelecido
em um documento de 40 capítulos, a Agenda 21, uma agenda de trabalho e compromisso para o
próximo século em prol de uma sociedade sustentável, buscando identificar os problemas
prioritários, como enfrentá-los e as metas a serem estabelecidas para as próximas décadas.
(BRASIL, 1995).
A agenda 21 propõe a adoção de medidas que sigam um novo padrão de produção e
promova o desenvolvimento de maneira sustentável. Destacamos aqui o capítulo IV deste
documento que orienta aos países e suas governanças sobre as mudanças nos padrões de consumo:

0s governos e as organizações do setor privado devem promover a adoção de atitudes mais


positivas em relação ao consumo sustentável por meio da educação, de programas de
esclarecimento do público e outros meios, como publicidade positiva de produtos e serviços
que utilizem tecnologias ambientalmente saudáveis ou estímulo a padrões sustentáveis de
produção e consumo. No exame da implementação da Agenda 21 deve-se atribuir a devida
consideração à apreciação do progresso feito no desenvolvimento dessas políticas e
estratégias nacionais. (BRASIL, 1995, p. 38)

No ano de 1999, na perspectiva de trazer as discussões e ações da Agenda 21 para o âmbito


da administração pública, foi criado pelo Ministério do Meio Ambiente, o programa Agenda
Ambiental na Administração Pública – A3P, que busca institucionalizar uma nova cultura nos
órgãos e entidades públicos. A A3P tem como objetivo ser um instrumento de promoção e incentivo
a reflexões sobre a ação direta de todos no ambiente de trabalho e a responsabilidade
socioambiental. Desta forma, tornou-se um guia importante para a iniciativa voluntária que
demanda o envolvimento pessoal e coletivo na busca de alternativas para superar esses padrões
insustentáveis de produção e consumo na gestão pública (BRASIL, 2016).
Para tanto, a A3P estrutura suas propostas em cinco eixos temáticos: uso racional dos
recursos naturais e bens públicos, gestão adequada dos resíduos sólidos, qualidade de vida no
ambiente de trabalho, sensibilização e capacitação dos servidores e licitações sustentáveis.
O eixo Sensibilização e capacitação busca criar e consolidar a consciência cidadã da
responsabilidade socioambiental nos servidores (e demais envolvidos nas instituições, como o corpo
discente, nas instituições públicas de ensino), o que se relaciona fortemente com ações de educação
ambiental .
O objetivo da A3P é o estímulo aos gestores públicos para incorporar em suas práticas,
princípios e critérios de gestão socioambiental, contribuindo para a economia de recursos naturais e
a redução de gastos institucionais por meio do uso racional dos recursos públicos, da gestão

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

adequada dos resíduos, da licitação sustentável e da promoção da sensibilização, capacitação e


qualidade de vida no ambiente de trabalho (BRASIL, 2016).
A efetividade da A3P na administração pública demanda o envolvimento de todos os entes
partícipes nesse processo, a começar pela mudança de condutas e hábitos rotineiros, seja na
economia de água, papel, coleta seletiva, enfim, consumo responsável dos bens e serviços na esfera
pública.
No ano de 2011, o IFRN resolveu implantar o Projeto Campus Verde (PCV) em todos os
campis do Estado do Rio Grande do Norte (RN), reconhecendo a importância da atuação das
instituições públicas no processo de conscientização da sociedade e seu papel frente à proteção
ambiental (IFRN, 2011). Um dos objetivos específicos do PCV é a implantação da A3P no
Instituto, incluindo um plano de gerenciamento de resíduos, com o objetivo de caracterizar e
quantificar os resíduos sólidos, implantar a coleta seletiva de papel, plástico e lixo eletrônico,
dando-se, assim, a destinação correta dos resíduos decorrentes das atividades institucionais e
encaminhando o material para associações ou cooperativas de catadores.
O PCV propõe também, dentro do eixo sensibilização, a promoção de programas de
educação ambiental, dando ênfase a atividades sensibilizadoras dos funcionários (terceirizados),
alunos e servidores (professores e técnicos administrativos) no que concerne à importância da
participação de todos na Coleta Seletiva, bem como na adoção de práticas que minimizem os
resíduos gerados e promovam o respeito ao meio ambiente.
Recentemente o PCV, no âmbito geral do IFRN, foi investigado e avaliado e discutido a
partir do levantamento de seu escopo e ações e da visão dos coordenadores deste projeto nos
diferentes campi do nosso Instituto (LOPES E MOURA, 2015). Como contraponto, sentimos que
era importante investigar tais aspectos a partir da visão do corpo discente da nossa entidade.
Desta forma, o objetivo geral da nossa pesquisa consistiu em investigar o nível de
conhecimento e participação dos alunos dos cursos superiores do IFRN/Mossoró no PCV,
comparando-se dados obtidos a partir de questionários aplicados a alunos dos cursos superiores de
Matemática e Gestão ambiental.

METODOLOGIA

O campo investigativo de nossa pesquisa foi o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia


(IFRN) situado na cidade de Mossoró/RN. O Campus Mossoró possui uma infraestrutura capaz de
atender a mil e oitocentos alunos de seus cursos regulares, além dos outros cursos de curta e média
duração. Atualmente, oferece educação profissional em cursos técnicos integrados em Edificações,
Eletrotécnica, Informática, Mecânica, e subsequentes em Petróleo e gás, Saneamento ambiental e
Segurança do Trabalho. No ensino superior, os cursos oferecidos são os de Tecnologia em Gestão

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ambiental e de Licenciatura em Matemática, além da especialização em Educação e


Contemporaneidade.
O objeto explorado foi o PCV em nosso campus e a coleta de dados se deu através de
questionário (ANEXO) com questões abertas e fechadas, aplicado a sessenta alunos de quatro
turmas dos cursos superiores de Tecnologia em Gestão Ambiental e Licenciatura em Matemática
(duas turmas de cada curso, uma inicial e outra avançada), com o objetivo de obter informações e
impressões sobre o projeto pesquisado. Os sessenta alunos respondentes ao questionário tem idades
entre 17 e 50 anos e estão assim distribuídos nas turmas:
 Gestão ambiental I (alunos do primeiro período) (G.amb I): vinte e um alunos.
 Gestão ambiental II (alunos do quinto período) (G.amb II): dez alunos.
 Matemática I (alunos do primeiro período) (Mat I): dezoito alunos.
 Matemática II (alunos do sétimo período): onze alunos.
Em nosso levantamento de dados demos espaço para que os discentes também pudessem
relatar alguma experiência adquirida com o PCV, uma vez que o questionário foi estruturado de
modo que permitisse que o entrevistado expusesse sua opinião, caso desejasse, em alguns
questionamentos específicos.
Embora a pesquisa tenha abordagem qualitativa, trazemos, nas questões fechadas, uma
amostragem quantitativa (gráficos percentuais) sobre os dados coletados nos questionários, de
forma a apresentar com clareza os elementos principais de nossa pesquisa, proporcionando uma
compreensão mais concreta da realidade (MINAYO,1994).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O PCV na visão de Alunos dos Cursos Superiores am Gestão Ambiental e Matemática no


IFRN/Mossoró

O IFRN já traz em seu Projeto Político Pedagógico (CEFET, 2004-2006) proposições de


atuação pertinentes à temática ambiental, respeito ao meio ambiente e sustentabilidade para todos
os cursos. Dessa forma, a atenção para essa discussão demonstra o interesse de inserir essa temática
no contexto educacional, como se observa na concepção institucional de sociedade constante no
PPP de nossa Instituição:

É necessário que a vida, no sentido pleno da palavra, possa ser gestada, observando seu
caráter complexo, que abraça a dimensão social, humana, ecológica, geográfica, econômica
e política envolvida nas relações entre os homens. Essa nova visão precisa se impor ao
modelo atual, inaugurado por uma concepção expropriadora que desde os primórdios vê na
exploração descontrolada, tanto do homem como dos recursos naturais, uma fonte legítima
de crescimento e progresso. Essa leitura, no entanto, se mostra equivocada a cada dia e a
urgência em implementar uma perspectiva de sustentabilidade se apresenta como a única
saída para a manutenção da vida no planeta. (CEFET, 2004-2006, p. 20).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As discussões no âmbito escolar permite dar um passo em busca da mudança de


comportamento em ações diárias que minimizem o impacto ambiental provocado pela exploração
desenfreada dos recursos naturais provocada pelo homem. Inserir esse contexto na formação
educacional sempre será relevante desde que haja aplicabilidade por meio de ações práticas e que
não se restrinja apenas ao discurso. O PPP da instituição reitera esse pensamento na concepção de
educação proposta pelo documento:

A educação é o processo de construção da capacidade cognitiva de um indivíduo. Deve


estar comprometida com a sua formação plena, promovendo o despertar de sua criatividade
e sensibilidade, o acesso à cultura e tecnologia, como também, a conservação do meio
ambiente, para sua própria sobrevivência. A recuperação dos valores morais, sociais,
científicos e éticos são imprescindíveis para a viabilização desse processo de formação e
transformação do homem, pois eles definem o seu caráter, estabelecendo, assim, a
integração social e o espírito de cidadania. (CEFET, 2004-2006, p. 27).

Essa formação integral apontada nas diretrizes do PPP demonstra a amplitude formativa que
a escola busca promover, atendendo a vários aspectos necessários para formação plena do
indivíduo, reconhecendo a importância dos valores pessoais de cada um e o acesso à ciência e
tecnologia atrelado a conservação do meio ambiente, entendendo que essa formação perpassa por
várias vertentes do conhecimento e não apenas ao conteúdo das disciplinas propriamente ditas.
Em nossa pesquisa buscamos conhecer o nível de conhecimento e participação dos alunos
no PCV ambientado no IFRN/Mossoró. Para tanto, realizamos a aplicação de questionários aos
alunos dos cursos superiores de Licenciatura em Matemática e Tecnologia em Gestão Ambiental,
com o objetivo de ter visões diferentes sobre o conteúdo da pesquisa, partindo-se da hipótese de que
encontraríamos visões e níveis de conhecimento e participação diferentes entre os dois cursos e
entre turmas iniciais e avançadas, em cada curso. Assim, aplicamos os questionários em quatro
turmas, sendo duas dos períodos iniciais (intituladas como G.amb I e Mat I) e duas dos períodos
finais dos referidos cursos (intituladas como G.amb II e Mat II).

Nível de conhecimento sobre a A3P

As informações obtidas com os questionários nos dão uma visão mais aproximada do
alcance do PCV e o olhar do aluno sobre ele. Iniciamos nosso questionário indagando os alunos
sobre o conhecimento da A3P, agenda base para os princípios do PCV.
O documento norteador que trata da implantação do PCV aponta em seus objetivos
específicos a implantação da A3P no Instituto, e isso suscitou o interesse em conhecer até onde as
diretrizes contidas no documento criado pelo governo se aproxima dos alunos. Podemos ver no
gráfico da figura 1 que o percentual de alunos do curso de G.amb I que conhecem a A3P é muito
baixo (5%); dentre os alunos de G.amb II (quinto periodo) somente 30% possuem um nível de
conhecimento apenas parcial sobre a A3P, número que podemos considerar como baixo se levarmos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

em conta o escopo do curso de Gestão ambiental, a princípio extremamente relacionado à proposta


contida na A3P. Já dentre os alunos dos cursos Mat I e Mat II não há qualquer menção sobre
conhecimento da A3P, o que, em nossa hipótese, já era esperado, devido ao foco do curso de
matemática.

Figura 1 – Níveis percentuais de conhecimento dos alunos dos cursos de gestão ambiental e matemática
sobre a A3P. Fonte: Elaborado pelo autor.

Nível de conhecimento sobre o PCV e identificação de equipamentos relacionados

No gráfico da figura 2 apresentamos o nível de conhecimento dos discentes sobre o PCV e


descreveremos se algum respondente identifica e descreve esses equipamentos relacionados, dentre
os quais incluímos: coletores da coleta seletiva, coletor de pilhas, baterias e materiais escolares,
mecanismos de reuso de água nos banheiros, e recentemente a instalação de placas fotovoltaicas.

Figura 2 – Níveis percentuais de conhecimento dos alunos dos cursos de gestão ambiental e matemática
sobre o PCV. Fonte: Elaborado pelo autor.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentre os dezoito alunos do primeiro período do curso superior de Licenciatura em


Matemática (Mat I) apenas dois alunos (11%) detinham alguma informação ou conhecimento sobre
o PCV. Quando perguntados sobre se conseguiriam identificar algum equipamento instalado no
campus que esteja relacionado a alguma ação proposta pelo PCV, três alunos responderam de forma
afirmativa; eles indicaram, como equipamentos ligados ao PCV, as placas de energia solar que estão
sendo instaladas atualmente, os coletores para cada tipo de material (resíduos sólidos) e cultivos em
garrafas PETS pelos corredores.
Para termos a dimensão do nível de conhecimento sobre o PCV de uma turma que já está há
algum tempo na Instituição aplicamos o mesmo questionário na turma correspondente ao sétimo
período de Matemática (Mat II). Dos alunos respondentes (onze), apenas um aluno (9%) afirmou
conhecer o projeto, expondo como exemplo de equipamento relacionado ao PCV os coletores de
pilhas e baterias, considerando ele, uma importante iniciativa, pois quando não servem para utilizar,
já se sabe onde pode dar a destinação correta para tal material. Os demais alunos não emitiram
nenhuma opinião sobre o projeto, limitando-se a dizer que não conhecem.
Aplicamos o questionário na turma referente ao 1º período de curso (G.amb.I, na figura 2), e
dentre os vinte e um respondentes, 10% informaram ter conhecimento sobre o PCV, enquanto 28%
tem conhecimento parcial sobre o PCV e 62% desconhecem o referido projeto. Sobre os
equipamentos instalados no campus relacionado ao projeto, os alunos indicaram, em sua maioria, os
coletores de pilhas e baterias, lixeiras de coleta seletiva, instalação de placas de energia solar, e
coletor de material escolar.
A última turma a ser entrevistada foi o 5º período de Tecnologia em Gestão Ambiental
(G.amb II, na figura 2). Dos dez alunos respondentes ao questionário, apenas um (10%) não
conhecia o projeto, mas há um grande percentual (70%) de alunos que conhecem o PCV apenas em
partes, enquanto 20% dizem conhecer o referido projeto. Os alunos identificaram os mesmos
equipamentos relacionados ao PCV das turmas anteriores, sendo que um aluno indicou as torneiras
do banheiro que contribuem para a economia de água (reuso nos mictórios).
O baixo percentual de alunos que conhecem o PCV na turma iniciante do curso de Gestão
ambiental (G.amb I) e o grande percentual de alunos que dizem conhecer apenas parcialmente o
projeto na turma final de Gestão ambiental (G.amb II) parece indicar uma falta de sintonia e
articulação entre o curso de Gestão ambiental e o PCV, projeto este com grande escopo relacionado
à temática do curso em questão. Isto merece uma reflexão por parte da Instituição, e denota a
necessidade de se aplicar uma politica institucional que procure integrar o corpo discente do
referido curso, desde o inicio (turmas iniciais), em ações que visem promover o conhecimento sobre
o PCV, estimulando-se a participação dos alunos, no sentido de alçar-lhes à condição de um real
suporte pessoal à efetividade do projeto.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Participação em ações relacionadas ao PCV

Ao analisarmos os dados coletados relacionado ao nível de participação dos alunos nas


ações do PCV (figura 3) podemos perceber que na turma de G.amb I apenas 5% dos alunos
participou efetivamente de alguma ação relacionada ao projeto, 10% de maneira esporádica e 85%
nunca participou de qualquer atividade. Os alunos da turma de G.amb II demonstraram um nível de
participação melhor que a turma anterior, apontando um índice de 40% dos alunos respondentes,
sendo que ainda mais da metade da turma (60%) nunca participou de qualquer ação do PCV.
Os alunos da turma Mat I nunca participaram de ações ligadas ao projeto, enquanto dentre
os alunos da turma Mat II apenas 9% indicaram ter participado alguma vez do projeto (91% da
turma nunca participou).

Figura 3 – Níveis percentuais de alunos dos cursos de gestão ambiental e matemática que participaram de
ações do PCV. Fonte: Elaborado pelo autor.

Esse baixo índice de alunos que participaram do PCV podem ter vários significados, tais
como a necessidade de abrangência na divulgação das ações que estão sendo desenvolvidas, maior
participação dos professores visando aproximar a discussão em sala de aula, conforme é dito por
LOPES E MOURA (2015), e um diagnóstico mais efetivo por parte da comissão organizadora do
PCV, a fim de propor melhorias na articulação dos trabalhos junto a coordenação do curso de
Gestão ambiental, professores, e as turmas deste curso. Essa dualidade entre a efetiva participação
dos alunos e o papel dos professores nesse processo permite pensar que este papel pode ser o agente
propulsor de mudanças que provoque o interesse dos alunos nas ações do PCV. Como nos diz
JACOBI (2004):

[...] o papel dos professores é essencial para impulsionar as transformações de uma


educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade,
como parte de um processo coletivo. A necessidade de uma crescente internalização da

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1251


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

questão ambiental, um saber ainda em construção, demanda um esforço de fortalecer visões


integradoras, que se centradas no desenvolvimento, estimulam uma reflexão em torno das
diversidades e da construção de sentidos em torno das relações indivíduos/natureza, dos
riscos ambientais globais e locais e das relações ambiente/desenvolvimento. (JACOBI,
2004, p. 34).

Nesse sentido, cabe inferir que os professores podem ter um papel mais efetivo nesse
processo de consolidação do PCV, de modo a promover o estímulo aos alunos, trazendo essa
discussão da temática ambiental para sala de aula, reforçando as iniciativas criadas pela escola e
contribuindo para estimular o interesse dos alunos nas ações do PCV. Assim, uma ampliação deste
estudo, coletando as impressões dos professores de ambos os cursos superiores sobre o PCV e como
tais professores poderiam se inserir na proposta pedagógica deste projeto, traria uma visão sistêmica
maior ao nosso trabalho.
Neste ponto, vale a pena fazermos uma reflexão pontual sobre o curso de Gestão Ambiental;
esse, pela natureza do seu escopo, precisa ser melhor inserido no contexto do PCV, buscando-se
meios de direcionar o projeto à rotina normal do curso, uma vez que esses alunos podem ser agentes
nesse processo de renovação e melhoria na estrutura do projeto.
Por fim, seja no curso de Gestão ambiental, cuja necessidade de inserção é evidente, seja no
curso superior de Matemática (e mesmo nos demais cursos técnicos de nível médio do
IFRN/Mossoró) é extremamente desejável a plena inserção participativa dos discentes no PCV de
forma gradativa e contextualizada, enaltecendo-se as relações existentes entre o curso, sua realidade
local e o referido projeto em gestão/educação ambiental. Como diz RIGONAT, 2002 apud COSTA,
et al, 2013, as instituições de ensino devem encampar o desenvolvimento de projetos de educação e
de gestão ambiental, como uma via de formação profissional consistente, pautada na consciência
crítica dos problemas ambientais e na formação multidisciplinar, própria para lidar com a temática
em questão em ambiente complexo.
A visão dos coordenadores locais do PVC no IFRN como um todo é que tal projeto tem
apresentado resultados positivos, pois já é perceptível algumas mudanças no comportamento dos
servidores e dos alunos. Entretanto, segundo tais coordenadores, as discussões socioambientais
devem adentrar mais a sala de aula e serem incluídas nos foros de debates entre pedagogos e
professores da nossa Instituição, no sentido de se buscar o estimulo à visão crítica e a vontade de
participação em projetos desta natureza (LOPES & MOURA, 2015)
Assim, o PCV, em todos os campi do IFRN e em particular no Campus Mossoró, pode
colher resultados expressivos se conseguir envolver o curso de Gestão Ambiental, buscando a
intersecção entre ações de gestão ambiental e de educação ambiental dentro do próprio IFRN; tanto
os alunos quanto os professores tem muito a contribuir com as atividades que já vem sendo
desenvolvidas e planejar outras ações concretas visando a melhoria do projeto. Por trazer a temática

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ambiental como aporte teórico do curso, os alunos do curso de Gestão ambiental podem ter um
papel de destaque nas mudanças necessárias para o aprimoramento e melhor andamento do PCV.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que há quase um completo desconhecimento do projeto pelos alunos do curso


superior em Matemática. Alunos do curso de Gestão ambiental apresentam um nível de
conhecimento e participação relativamente melhores que os alunos de Matemática, mas muito
aquém do poderia ser considerado ideal, se considerarmos que o PCV está totalmente enquadrado
no escopo ambiental desse referido curso.
Deve-se buscar, assim, a interseção entre ações de gestão e educação ambiental em nosso
ambiente acadêmico, envolvendo o corpo discente de ambos os cursos superiores, demandando-se
para isso um melhor planejamento que envolva estabelecimento de metas, a constante
(auto)avaliação e a diversificação das ações, no sentido de se atingir o objetivo de otimização do
PCV no âmbito da sensibilização da comunidade acadêmica do IFRN/Mossoró.
Acreditamos que o levantamento das percepções de toda comunidade escolar (professores,
gestores, coordenadores, e discentes de outros cursos) pode contribuir para um melhor diagnóstico
das fragilidades e méritos do projeto e levar à busca de ações que visem à melhoria da execução das
propostas, aproximando-as cada vez mais daquelas ideais para a construção de um IFRN/Mossoró
Sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL (1995). Câmara dos Deputados. CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o
meio ambiente e desenvolvimento (Rio de Janeiro:1992): de acordo com a Resolução nº 44/228
da Assembleia Geral da ONU, de 22-12-89, estabelece uma abordagem equilibrada e integrada
das questões relativas a meio ambiente e desenvolvimento: a Agenda 21. Brasília: Câmara dos
Deputados, Coordenação de Publicações, 1995. 472p.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Como implantar a A3P; 2ª Edição – Brasília-DF, 2016.
Disponível em http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80063/Cartilha Intermediaria - Como
Implantar a A3P - 2 edicao - Capa Miolo.pdf. Acesso em 28 de jul.2017.

CEFET - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO


NORTE. Projeto Político-Pedagógico: um documento em construção (2004 a 2006). Disponível
em: http://portal.ifrn.edu.br/institucional/projeto-politico-pedagogico-1. Acesso em 20 de jun.
2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1253


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

COSTA, Francisco José; Ramos, Roberto Rodrigues; Ramos, Ingrid Mazza Matos; Oliveira, Leonel
Gois Lima. Valores pessoais e gestão socioambiental: um estudo com estudantes de
administração. RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 14, N. 3, Edição Especial, SÃO PAULO,
SP • MAIO/JUN. 2013.

IFRN - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA. Gestão


Ambiental no IFRN: proposta de implantação projeto campus verde, 2011. Disponível em:
http://portal.ifrn.edu.br/servidores/campus-verde/projeto-sga. Acesso em 20 de jun. 2017.

JACOBI, Pedro. Sustentabilidade e práticas educativas. Revista brasileira de educação ambiental.


Brasília, p. 28, 2004.

LOPES, R. G; MOURA, L. R. Responsabilidade Socioambiental: uma análise do projeto “campus


verde – Gestão ambiental do IFRN”. Holos Rio Grande do Norte, v. 03, p. 135-147, 2014-2015.

MINAYO, Maria Cecilia de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu; NETO,
Otávio C. Pesquisa Social – Teoria, método e criatividade. 21º Edição. Rio de Janeiro: Vozes,
1994. 21 p.

ANEXO

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS – PROJETO CAMPUS VERDE

1- Qual o seu nível de conhecimento sobre o Projeto Campus Verde?


Conheço ( ) Conheço em partes ( ) Não conheço ( )
2- Você consegue identificar algum equipamento instalado no nosso Campus que esteja
relacionado a alguma ação proposta pelo Projeto Campus Verde?
Sim ( ) Não ( )
Se sim, nos diga qual(is) equipamento(s) e se ele tem sido eficaz?
3- Você participa ou participou de alguma ação ligada ao Projeto Campus Verde?
Sim ( ) Às vezes ( ) Nunca ( )
Se sim ou às vezes, nos diga qual ação e como você participa ou participou?
4- Você conhece a Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P e sua relação com o Projeto
Campus Verde?
Sim, totalmente ( ) Parcialmente ( ) Não conheço ( )

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REVISTA ECOPEDAGÓGICA: UM RECURSO NO ENSINO DA ECOEDUCAÇÃO

José Gabriel BARBOSA NETO


Mestrando em Oceanografia Biológica FURG
gabrielorigamista@hotmail.com

Samara Oliveira TELES


Graduada em Oceanografia UFC
marinha-91@hotmail.com

Kamila Vieira MENDONÇA


Profª Titular Dra em Economia da UFC
kamilavm@terra.com.br

Oscarina Viana de SOUSA


Profª Titular Dra em Microbiologia UFRJ
oscarinavs@ufc.br

RESUMO
A introjeção de valores ecopedagógicos no ambiente escolar consiste em uma das propostas mais
desafiadoras e estratégicas do atual século, uma vez que a ecoeducação visa a construção da
cidadania e a manutenção de um ambiente equilibrado. Tendo em mente a importância da escola no
desenvolvimento cognitivo dos alunos, o presente trabalho buscou a configuração de um material
gráfico e impresso. Como consequência do planejamento estratégico dos pontos críticos passíveis
de intervenção observados após a analise qualitativa da percepção ambiental dos estudantes do
ensino Fundamental da Escola Bom Jesus dos Navegantes, da Reserva Extrativista da Prainha do
Canto Verde, em Beberibe, Ceará. A Revista Ecopedagógica foi compartimentada nas seguintes
seções: Prefácio, Curiosidades:―Você sabia?‖, Coleta seletiva em Foco, A história de Sujinho,
Desafios, Experiência senhor do tempo, Tirinhas e respostas dos Desafios, Mural de desenhos das
crianças da escola. Esse método consistiu em uma resposta sintética a todos os aspectos
socioambientais que precisavam ser reforçados aos estudantes do ensino Fundamental, da forma
mais lúdica possível, contribuindo bastante para a assimilação de tais conceitos pelos mesmos.

Palavras-chave: Valores Ecopedagógicos. Recursos Arteducativos. Reserva Extrativista


ABSTRACT
The internalization of ecopedagogics values in the school environment is one of the most
challenging and strategic proposals of the present century, since the ecoeducation aimed at building
citizenship and maintaining a balanced environment. Bearing in mind the importance of school in
the cognitive development of students, this study sought the configuration of a graphic material and
printed. As a result of the strategic planning of the critical points in which intervention observed
after the qualitative analysis of environmental perception of students in elementary school School
Bom Jesus dos Navegantes, the Extractive Reserve of Prainha do Canto Verde, in Beberibe, Ceará.
The Journal ecopedagogic was compartmentalized in the following sections: Preface, Curiosities:
"Did you know?" Selective Collection in Focus, The story of Sujinho, Challenges, Experience Time
Lord, Comic Strips and answers the challenges, Wall school children's drawings. This method
consisted of a synthetic answer to all environmental aspects that needed to be reinforced to students
of elementary education, more playful way possible, thus contributing enough to the assimilation of
these concepts by them.
Keywords: Ecopedagogics values. Arteducational Resources. Extractive reserve.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O ensino da ecoeducação consiste em uma das propostas mais desafiadoras e estratégicas do


atual século. Tendo em vista sua importância para configuração da sociedade, busca um presente e
futuro equilibrados, reconhecendo a importância individual dos direitos e das responsabilidades
sociais (LUZZI, 2009). É possível observar ações utópicas contra o ambiente que podem levar a um
cenário negativo. Nesse cenário, a ecoeducação visa a construção da cidadania sem esquecer-se das
responsabilidades individuais e coletivas para manutenção de um ambiente equilibrado.
Respaldados no Direito Ambiental e na Justiça Federal Brasileira, uma comunidade de pescadores
decidiu se impor diante das pressões externas existentes nas terra em que moravam. Para isso, foi
necessário desenvolver ações estratégicas, mobilizações organizadas para que o direito da terra por
parte dos pescadores fosse garantido pela Justiça Federal.
A comunidade em questão, pertencente à Prainha do Canto Verde vem conseguindo se
manter unida e organizada, consciente de seus direitos e deveres, em busca do desenvolvimento de
atividades que não descaracterizem o ambiente e o seu modo de vida. Em 2009, a Comunidade
recebeu o diploma legal para criação da chamada Reserva Extrativista da Prainha do Canto Verde,
sendo administrada por técnicos do Instituto Chico Mendes, ICMBio e pelo conselho dos
moradores da comunidade (PCV, 2014).
A educação da comunidade não foi caracterizada como uma preocupação secundária, uma
vez que era necessário se construir desde cedo os padrões éticos relevantes para manutenção da
resistência, do engajamento político da população, da preservação do ambiente, dos seus costumes e
da sua história. Nesse âmbito, foi criada a Escola Bom Jesus dos Navegantes, em agosto de 1980
através do decreto 364/90 (EBJN, 2011). A comunidade PCV apresenta uma história de resiliência e
de adaptação que mostram a disposição de superar os desafios que surgem através da coletividade
que é ensinada desde a escola primária. Nesse contexto, a educação não seria o fim, mas o meio de
alcançar a transformação que se quer observar na sociedade.
Considerando o papel relevante da escola na formação da consciência e no estabelecimento
de debates sobre as relações entre a comunidade e o seu contexto, o presente estudo analisou, por
meio da de questionário qualitativo, o nível de percepção ambiental entre os estudantes do Ensino
Fundamental da Escola Bom Jesus dos Navegantes. Baseado na análise das respostas dos
questionários foi traçado um perfil desses estudantes e estabelecido um plano de intervenção com
base ecopedagógica direcionado a atender pontos estratégicos e contribuir para o processo da
educação ambiental que é desenvolvido diariamente pelos professores da Escola.
A construção de uma revista foi observada propícia na comunidade, uma vez que já havia
uma demanda por parte dos gestores da reserva. Sendo assim, observando o perfil dos alunos
entrevistados, foi formatada a revistinha de acordo com curiosidades, histórias, desafios e atividades
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

para alcançar o interesse existente por parte dos alunos, assim como se resgatar valores
socioambientais de forma criativa.

METODOLOGIA

Caracterização da Área de Estudo

A PCV está localizada no município de Beberibe, litoral leste do Ceará, a 126 km de


Fortaleza, NE, Brasil. Situada em área de faixa litorânea de elevado valor econômico, entre alguns
dos principais destinos turísticos do litoral cearense: Praia das Fontes, Morro Branco (Beberibe) e
Canoa Quebrada (Aracati) (ALMEIDA, 2002) (Figura 1).

Figura 1: Localização da Área de Estudo, Prainha do Canto Verde no município de Beberibe-CE, Brasil.
Fonte: Imagem criada e cedida por Raissa Silveira, 2014

O município é caracterizado pela presença de praias, falésias de areia colorida, existência de


nascentes e bicas, dunas, denso coqueiral, núcleo de pescadores, ancoradouro de jangadas e
navegação de barcos; lagoas; barras de rio, lagamares, mangues (SEMACE, 2000).

MÉTODOS DE PESQUISA

Inicialmente foi necessário submeter o projeto ao conselho da comunidade e obter a


aprovação por parte do Instituto Chico Mendes. Com a aprovação de ambos, foi necessário conciliar
a disponibilidade dos estudantes para o desenvolvimento das atividades. Pretendeu-se aplicar o
conceito de transversalidade que a ecoeducação contém em seu cerne. Nesse sentido, conceitos

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

absorvidos nas áreas de educação, ciências ambientais e oceanografia serviram de base conjunta
para fundamentação teórica da pesquisa.
Além da observação participante, foram aplicados 64 questionários no dia 17 de julho de
2014, durante a primeira semana do início do segundo semestre letivo das 9h às 12h. Os
questionários foram direcionados aos alunos do Ensino Fundamental I e II da Escola Bom Jesus dos
Navegantes. Tais questionários buscavam a caracterização da percepção ambiental das crianças da
comunidade, consistindo num método que possibilita atingir um grande número de pessoas,
implicando menores gastos com pessoal, garantindo o anonimato das respostas, além de não expor
os pesquisadores à influência das opiniões e dos aspectos do entrevistado (GIL, 2009).
Os questionários foram elaborados e aplicados para uma amostra especifica, segundo o
conceito de amostra intencional de pesquisa qualitativa, visando compreender o público de interesse
a partir da seleção proposital de amostras que poderiam melhor produzir informações referentes às
perguntas do projeto de pesquisa (MAYAN, 2001). Quanto a estrutura, foi dividido em 4 partes: A
primeira referente às informações do entrevistado, a segunda parte associada às características
socioeconômicas do mesmo. A terceira parte visava analisar a percepção da paisagem e, por fim, a
quarta parte vinculada às questões socioambientais.
O questionário reuniu perguntas, trazendo uma linguagem acessível e direcionada conforme
recomendado por Gardner (1994), assim como figuras e espaço para caracterização subjetiva do
ambiente. Esses procedimentos serviram de base para construção de uma visão qualitativa da
população alvo, e de um diagnóstico prévio, no qual foi observada a percepção ambiental dessa
população, para que seja articulada posteriormente uma possível intervenção de acordo com a
demanda apresentada.

CRIAÇÃO DO FLUXOGRAMA

Com base em Matus (1996), foi elaborado um fluxograma explicativo situacional a partir da
avaliação dos questionários respondidos (Figura 2). Segundo o autor, o planejamento é formado a
partir da construção de uma rede sistêmica de causalidade, da identificação de fatores e condições
que podem ser consideradas como nós críticos, isto é, causas diretas ou indiretas daqueles efeitos
que foram qualificados.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Fatos
Visão geral dos
Nós críticos de ação Considerados num
questionários
Plano de ação

Implementação de
Atividades envolvendo
atividades com
tecnologia
recursos audiovisuais

Sugestão de criação de
Ausência de
uma área específica de
Playground
lazer

Possibilidade de
Gosto pela leitura trabalhar com
materiais impressos

Lugares mais referidos: Consciência de


Casa e Praia cidadania pronunciada

Balanço das Respostas


Consciência do que é
Possibilidade de
reciclagem e
realização de oficinas
reutilização

Necessidade de ouvir Viabilidade de


mais sobre coleta intervenção por meio
seletiva de palestras

Conhecimento sobre a Mostra o engajamento


Resex político

Oportunidade se usar
Conhecimento sobre a
recursos didáticos de
Disposição do Lixo
ensino

Figura 2: Fluxograma explicativo situacional. Avaliação dos nós críticos (Matus, 1996).

RESULTADOS
Proposta Da Revisa Ecopedagógica

Baseado no fluxograma foi desenvolvida uma proposta de uma revista de ecoeducação como
material adicional para a apresentação e conceitos sócioambientais. Na Ecoeducação os recursos
didáticos produzidos, sejam eles impressos ou audiovisuais, contribuem para sensibilização da
população em geral aos problemas da degradação ambiental (LUCCA, BRUM, 2013). O recurso
didático, por sua vez, não tem a capacidade de garantir inteiramente a aprendizagem do aluno, mas
desperta nesse um interesse maior na aula, pois oferece ao educando a oportunidade de trabalhar
com elementos que o permitam ser protagonista na construção do conhecimento (SILVA, 2010,
p.65)

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com a utilização dos recursos de webdesign, foram confeccionadas as diversas seções da


revistinha. O projeto da revista reuniu seções de curiosidades, história, atividades, experimento,
tirinhas de forma lúdica e criativa. Dessa forma, o conhecimento básico sobre determinadas
temáticas como coleta seletiva, poluição por resíduos sólidos pode ser reforçado entre estudantes,
possibilitando o exercício da criatividade dos alunos sob orientação e direcionamento do conteúdo,
do professor (Figura 3).

(a) (b)
Figura 3: Capa da Revista Ecopedagógica a. Exercícios para fixação do temab. Imagem de Samara
Oliveira Teles.

Na primeira seção da revista os alunos se deparam com 10 curiosidades acerca do planeta,


da inter-relação dos sistemas constituintes do mesmo, assim como a importância dos oceanos no
clima, conceitos sobre o lixo no ambiente aquático, importância de preservação de recursos vivos,
assim como a importância do homem na preservação do ambiente. Em seguida, foi separada uma
seção que aprofunda alguns conceitos sobre reciclagem e de coleta seletiva, aonde se define quais
os lixos recicláveis e os não recicláveis, assim como seus destinos.
A terceira seção contém a fábula ―A História de Sujinho‖, cujo personagem principal,
Sujinho, é uma criança habituada a um cenário de poluição e de lixo em sua casa e na praia. Com
ajuda da professora e de sua cadela ―acima do peso‖, de nome Consciência, decidem mudar esse
cenário de lixo na localidade aonde moram. Isso é consolidado através das atividades da seção
posterior, em que os alunos têm a oportunidade de resolver atividades de labirinto, caça-objetos e
sete erros. Essas duas seções em especial, visam instigar o aluno a participar através da coleta
seletiva do lixo encontrado no chão.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As duas últimas seções da revista foram associadas a um pequeno experimento prático


aonde as mesmas poderiam verificar as mudanças de estado físico da água e a um mural onde
ficariam expostos alguns dos desenhos obtidos nos questionários aplicados anteriormente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da revista procurou-se reforçar os alguns conteúdos pertinentes de forma criativa,


que interligassem um pouco do contexto onde os alunos estavam inseridos, assim como estimular o
raciocínio de forma dinâmica e reflexiva. Como meio didático de ensino, esse recurso gráfico pode
contribuir também para o diálogo criativo na relação educador e educando, dando possibilitando
novos horizontes ao ensino aprendizagem da Ecoeducação. Nesse sentido, a arteducação pode
representar importante ferramenta ecopedagógica para disseminação de conceitos socioambientais,
instigando os estudantes a participarem como cidadãos e agentes transformadores do ambiente
numa linguagem acessível.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, HENRIQUE L.P. S. Indicadores de Qualidade de Vida, instrumento para o


monitoramento participativo da qualidade de vida de comunidades costeiras tradicionais. In:
MENDONÇA, T. Turismo e participação comunitária. Dissertação (Mestrado em
Psicossociologia de Comunidade e Ecologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2004.

GARDNER H. Estruturas da mente: teoria das inteligências múltiplas. Tradução Sandra

Costa. Porto Alegre. 1994. p.11-23.

LUCCA, E.J; BRUM, A.L. Educação Ambiental: como implantá-la no meio rural? RAIMED -
Revista de Administração, IMED. Passo Fundo, RS. 2013, p. 33-42.

LUZZI, DANIEL Educação Ambiental: Pedagogia, Política e Sociedade. In: PHILIPPI JR. A.,
PELICIONI, M.C. F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Barueri, SP. Ed. Manole. 2009. p.
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MATUS, C. O método PES: Roteiro de análise teórica. São Paulo. FUNDAP; 1996. In. Educação
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MAYAN, M. J. An introduction to qualitative methods: a training module for students and


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Pesquisa Social. 6ª Edição.São Paulo. Ed. Atlas. 2009.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1261


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

MOSCOVICI, F.Desenvolvimento Interpessoal. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 3ª


Edição, São Paulo. 1985.In: MILITÃO R., A. Jogos, Dinâmicas & Vivências Grupais. Ed. Ltda.
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Superintendência Estadual do Meio Ambiente , SEMACE.. Desenvolvimento Urbano- Litoral


Leste do Estado do Ceará. Relatório Final. 2000. p.14.

SILVA, V. A Geografia e os recursos didáticos: uso das maquetes no ensino-aprendizagem da


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SPOTON, MARIA. H. C. Arte, Espaço de Investigação, Construção e Humanização. In: PHILIPPI


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TOLEDO, RENATA F.; PELIOCINI, M,C.F. Educação Ambiental em Unidades de Conservação.


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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1262


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O RIO ESPINHARAS COMO TEMA PARA A ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO


AMBIENTAL EM UMA ESCOLA DE PATOS – PB

José HERCULANO FILHO


Professor de Filosofia do IFPB
herculanofilho@yahoo.com.br
João Batista de LIMA
Professor de Geografia do Ensino Básico
joaobatistalima36@gmail.com
Antonio IZIDRO SOBRINHO
Mestrando em Geografia pela UFRN
antonioizidro58@gmail.com
Me. José Ronaldo de LIMA
Professor de Geografia do IFPB
ronageografia@gmail.com

RESUMO
Os recursos naturais sempre foram usados pela humanidade na realização de suas diversas
atividades, estes por sua vez, foram mais explorados nas últimas décadas com o uso de
equipamentos cada vez mais modernos provocando a degradação ambiental. A necessidade de
discussão dessa temática é urgente, principalmente quando se trata de recursos hídricos, pois estes
são cada vez mais atingidos por meio das atividades humanas o que tem gerado a poluição e,
consequentemente, sua escassez. Neste cenário, a escola constitui em uma importante instituição
para a promoção do debate deste tema visando o desenvolvimento de uma conscientização
ecológica. Diante disso, pretende-se analisar como os professores da Escola Municipal de Ensino
Fundamental José Genuíno e Napoleão Nóbrega localizada em Patos - PB realizam a abordagem
dessa temática de modo a produzir uma aprendizagem significativa formando cidadãos conscientes
da sua atuação para com a natureza. Entende-se que a educação ambiental se torna relevante quando
aborda temas e objetos que fazem parte do cotidiano em que estão localizados os discentes, assim
sendo, definiu-se como objeto de estudo o trecho urbano do rio Espinharas que constitui no
principal canal fluvial do local e encontra-se bastante poluído. Tratar desse recurso não só nas aulas
de Geografia, mas em todas as disciplinas de forma interdisciplinar é de extrema importância, pois
este está localizado numa região semiárida e possui regime intermitente cuja carência por este
recurso ganha maiores proporções. Dessa forma, realizou-se uma pesquisa bibliográfica baseada em
diversos autores entre os quais podemos destacar Branco (1988), Vitte e Guerra, (2004),
Christofoletti (2004) entre outros que discutem as diversas situações que envolvem os recursos
hídricos. Esta pesquisa teve caráter exploratório onde foram aplicados questionários a professores e
alunos do 9º ano do ensino fundamental onde procuramos identificar como se dá o processo de
ensino-aprendizagem desta temática no ambiente escolar.
Palavras-chave: Educação ambiental, rio espinharas, recursos hídricos.

ABSTRACT
Natural resources have always been used by mankind in carrying out their various activities, which
in turn have been more exploited in recent decades with the use of increasingly modern equipment
causing environmental degradation. The need to discuss this issue is urgent, especially when it
comes to water resources, since these are increasingly affected through human activities, which has

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

generated pollution and, consequently, their scarcity. In this scenario, the school constitutes an
important institution to promote the debate of this theme aiming the development of an ecological
awareness. In view of this, we intend to analyze how the teachers of the Municipal School of
Primary Education José Genuíno and Napoleão Nóbrega located in Patos - PB carry out the
approach of this theme in order to produce a meaningful learning forming citizens aware of their
action towards nature. It is understood that environmental education becomes relevant when it
addresses subjects and objects that are part of the daily life in which the students are located. Thus,
the urban stretch of the Espinharas river that constitutes the main fluvial channel of the Place and is
very polluted. Treating this resource not only in Geography classes, but in all disciplines in an
interdisciplinary way is of extreme importance, since it is located in a semi-arid region and has an
intermittent regime whose lack by this resource gains greater proportions. In this way, a
bibliographic research was carried out based on several authors among which we can highlight
Branco (1988), Vitte and Guerra, (2004), Christofoletti (2004) among others that discuss the various
situations that involve water resources. This research had an exploratory character where
questionnaires were applied to teachers and students of the 9th year of elementary school where we
tried to identify how the teaching-learning process of this theme in the school environment is given.
Key words: Environmental education, espinharas river, water resources.

INTRODUÇÃO

Em decorrência do crescente aumento da população mundial, do modo de produção vigente


e do uso de diversas tecnologias modernas o uso dos recursos naturais se intensificou muito nas
últimas décadas ao ponto de comprometer a permanência destes recursos para esta geração e para as
gerações vindouras.
Este modo de produção provoca por meio de seu marketing o desejo incontrolável para
consumir diversos produtos que associado a fragilidade dos produtos fabricados que os tornam
descartáveis, faz com que as pessoas consumam cada vez o que, por sua vez, exige o uso de mais
matérias-primas e o consequente descarte dos produtos vencidos gerando uma maior produção de
resíduos cujo tratamento e destino não são realizados adequadamente na maioria dos municípios o
que desencadeia numa série de outros impactos ambientais.
Este problema se torna mais visível quando as cidades crescem de maneira desordenada
trazendo consigo sérios problemas para o espaço urbano principalmente no que se refere aos
impactos ambientais causados pela urbanização anômala, neste sentido, Del Grossi (1991, p. 10)
―com o aumento do grau de urbanização, aumenta também em proporção à degradação ambiental
decorrente da concentração da população nas áreas urbanas‖.
Esta situação, por sua vez, tem gerado uma maior preocupação por parte de alguns
governantes, empresários, cientistas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e da sociedade de
modo geral, no entanto, estes grupos ainda são limitados frente às imposições do modo de produção
capitalista cujo objetivo principal gira em torno do lucro. Neste conjunto de instituições que podem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

contribuir com o desenvolvimento de forma sustentável a escola como formadora de cidadãos


ganha destaque.
Diante disso, buscar-se-á analisar as diferentes formas usadas pelos professores Escola
Municipal de Ensino Fundamental José Genuíno e Napoleão Nóbrega localizada no município de
Patos, sertão paraibano, para trabalhar com a educação ambiental dando ênfase ao rio Espinharas
que corresponde a um corpo hídrico do local bastante poluído constituindo, portanto, num excelente
laboratório para aulas práticas promovendo a aprendizagem significativa por parte dos discentes.
Se as ações antrópicas estão comprometendo a capacidade de regeneração dos elementos
naturais uma alternativa que, mesmo em longo prazo, pode provocar mudanças no cenário
destrutivo atual diz respeito à formação de uma sociedade mais consciente ecologicamente. Neste
sentido a escola tem um papel de extrema relevância.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterização do município de Patos-PB

O município de Patos está localizado na porção central do estado da Paraíba, mais


precisamente na mesorregião do Sertão paraibano e faz parte da microrregião que leva o seu nome
(ver figura 1). Atualmente segundo dados de estimativa do censo demográfico do Instituto Nacional
de Geografia e Estatística (IBGE, 2016) o município conta com 107.067 habitantes.

Figura 1. Mapa do município de Patos - PB

Adaptado de: http://esma.tjpb.jus.br/sites/default/files/legado/2012/06/Esma-mapa-Paraiba.jpg


Acesso em: 03 de agosto de 2017.

Devido a sua localização geográfica, o comércio crescente e a presença de várias indústrias


o município de Patos exerce uma polarização não só no estado da Paraíba, mas em vários
municípios dos estados vizinhos, sobretudo, os estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

veem buscar produtos e serviços nos mais distintos ramos: hospitalar, educacional, comercial, entre
outros, o que lhe confere o título simbólico de ―capital do sertão paraibano‖.
Quanto aos aspectos físicos o referido município está localizado na depressão sertaneja,
possui predomínio do clima tropical semiárido cujas características são – baixa precipitação e altas
temperaturas na maior parte do ano. Devido a forte insolação que gera altas temperaturas no
município este também recebe a denominação de ―morada do sol‖.

Percurso Metodológico

Este estudo surge com o propósito de analisar as metodologias usadas por professores no
trato a educação ambiental usando como tema principal o rio Espinharas, bem como identificar
como os alunos entendem este processo de degradação em que se encontra atualmente o rio
identificando suas causas e consequências.
Para levar a efeito a proposta de trabalho definiu-se uma metodologia a ser cumprida da qual
constam as seguintes etapas: levantamento bibliográfico e um estudo de caso. Na primeira etapa
buscou-se na literatura informações por meio de livros, artigos científicos, monografias e revistas,
que tratam de recursos hídricos como forma de entender as consequências que estes sofrem,
sobretudo, quando localizados em perímetros urbanos como é o caso do rio Espinharas.
No estudo de caso foi realizada uma pesquisa do tipo exploratória que para Gil (2002, p. 41)
―estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a
torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses‖. Nesta etapa buscou-se entender como a escola
aborda a temática ambiental, relatando causas e consequências desta relação por meio da coleta de
dados in locu através da aplicação de questionários.
A partir da coleta de dados a pesquisa ganha uma abordagem quantitativa que segundo
Minayo (2008), os métodos quantitativos têm o objetivo de mostrar dados, indicadores e tendências
observáveis, ou produzir modelos teóricos abstratos com elevada aplicabilidade prática. Nesta etapa
foram construídos gráficos e quadros para sua posterior análise dos resultados obtidos.
Esses dados foram levantados através da aplicação de questionários junto a 10 professores
das mais diferentes áreas do conhecimento e 30 alunos da 9º ano do ensino fundamental num total
de 40 participantes cujo objetivo consiste em analisar como a educação ambiental pode ser
trabalhada em uma escala geográfica local, ou seja, o trecho urbano do rio Espinharas localizado na
cidade de Patos – PB.

HOMEM E ÁGUA: UMA RELAÇÃO CRUEL

O uso dos recursos naturais ocorre desde os primórdios da história humana, no entanto, o
que é questionável nos dias atuais diz respeito a forma como estes recursos são utilizados, pois,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dependendo dos meios utilizados para sua exploração podem provocar diversos danos ambientais
decorrentes dessas relação.
O que se tem notado e que vem aumentando nas últimas décadas é o uso da natureza como
sendo uma mercadoria como outra qualquer que só procuramos quando necessitamos, em outras
palavras, exercermos sobre ela uma forma meio exploratória, abusiva e predatória. Por outro lado,
não questionamos que esta mesma natureza não apresenta a capacidade de reposição dos seus
elementos com a mesma agilidade com que se fazia séculos atrás.
Neste sentido Branco (1988) chama a atenção sobre a forma como tratamos a natureza ao
afirmar que:

[...] a natureza não pode ser comparada tão simplesmente a um pião ou a um equilibrista.
Ela é essencialmente complexa, isto é, formada de inúmeros elementos diferentes em
constante interação entre si, e seu equilíbrio depende, exatamente, desse complicado jogo
de interações (BRANCO, 1988, p. 29).

Sendo o meio ambiente formado por um conjunto de constantes e complexas interações se


faz necessário compreendermos que dependendo da forma como a exploramos esse não tenha
condições suficientes e rápidas de regeneração o que levará o seu fim e em consequência disso o
fim de várias espécies, inclusive, a humana.
Quando esse recurso natural é a água a temática requer ainda mais cuidados e ganha,
obviamente, grande relevância. Quando este recurso natural – a água – está localizada em uma
região semiárida a discussão se torna ainda mais importante, devido a seu acesso que é já é restrito.
No entanto, o que se tem notado é que os corpos hídricos estão sendo cada vez mais
poluídos pelas diversas atividades humanas. A ausência de consciência ecológica para muitos e a
cobiça em busca do lucro tem gerado sérios impactos ao meio ambiente e sobre os recursos hídricos
mais ainda isso, por sua vez, exige a elaboração de leis específicas e fiscalização desses
reservatórios mantendo a gestão das águas de forma consciente.

O objetivo da gestão é preservar e recuperar os recursos hídricos. Esta gestão é feita por um
conjunto de órgãos e instituições, que assumem, cada um, responsabilidades e funções,
entre as quais: coordenar, arbitrar os conflitos, implementar a política, planejar, regular,
controlar o uso, preservar e recuperar os recursos hídricos (VITTE; GUERRA, 2004, p.
184).

A poluição dos corpos hídricos se dá em todas as escalas geográficas e em todos os tipos de


reservatórios, no entanto, o grau de degradação destes se torna ainda mais elevado quando estão
localizados próximos ou no interior de perímetros urbanos onde a ação antrópica é maior e mais
intensa.
Diante disso, vários canais fluviais que têm trechos de seu leito percorrendo o interior de
cidades recebem, constantemente, os resíduos e dejetos que se tornam obsoletos para o ser humano.
Assim sendo, em uma cidade em que o crescimento urbano é grande as margens desses corpos se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tornam locais utilizados para construção de suas residências o que leva a retirada da mata ciliar e,
em consequência disso, causa o assoreamento do mesmo.
Segundo a concepção de Guerra e Cunha (2003), o canal fluvial deve ser analisado de forma
conjunta, uma vez que ao sofrerem a ação antrópica culmina em processos específicos de rios que
são erosão, transporte e deposição de sedimentos no leito dos rios, o que provoca o seu
assoreamento.
Neste sentido, Vitte e Guerra (2004) chamam a atenção a respeito desta relação entre
sociedade urbana e corpos hídricos:

O sistema hidrológico em áreas urbanizadas apresenta especificidades em relação às áreas


não urbanizadas (áreas de formações vegetais naturais ou cultivadas), onde a ocupação
humana é invariavelmente menos intensa e as alterações no ambiente costumam ser em
níveis menos acentuados (VITTE; GUERRA, 2004, p. 172).

Por mais simples que seja a alteração provocada a um reservatório de água natural,
sobretudo a um rio, gera danos considerados graves, pois o mesmo já tem suas transformações
naturais (provocadas pelo clima tropical semiárido) e quando somada aos danos provocados pela
ação humana compromete a sua vitalidade. Para Christofoletti (2004) ―qualquer modificação rompe
com a estabilidade, repercutindo de imediato nas condições de erosão, transporte e deposição de
sedimentos até chegar a uma nova condição de equilíbrio‖.
Conforme afirmam Vitte e Guerra (2004, p. 154), ―a crescente demanda pelo uso dos
recursos naturais foi acompanhada nos últimos anos pela preocupação com a quantidade desses
recursos nos dias atuais e para as futuras gerações‖. Partindo do ponto de que só temos o meio
natural como está hoje porque a geração passada conservou nota-se a enorme preocupação em
conservar o meio ambiente para as futuras gerações.
Diante disso, cabe a todas as instituições, e a escola principalmente, formar cidadãos cada
vez mais conscientes das suas ações para que cientes e adeptos do conceito de sustentabilidade estes
promovam a conservação dos elementos naturais para si e para as gerações vindouras.

IMPACTOS AMBIENTAIS AO RIO ESPINHARAS

Tratar de temas que envolvem problemática ambiental, sobretudo, a que está relacionada aos
recursos hídricos é de extrema importância e se faz extremamente necessário que se discuta nas
mais diferentes instituições – igreja, família, escola - uma vez que o grau de degradação cresce cada
vez mais a ponto de comprometer o futuro desta geração e das gerações vindouras.
A abordagem desta temática ganha relevância pelo fato de o objeto de estudo – o rio
Espinharas - está localizado numa região de clima tropical semiárido, possuindo, portanto, um
regime intermitente, que, por sua vez, associado ao descaso dos governantes locais para com os
problemas advindos das secas constantes deixa a população desprovida de tal recurso.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assim sendo, buscamos identificar a visão que professores e alunos têm deste canal fluvial e
dos impactos provocados pela sociedade para com ele. Quando questionados a respeito da poluição
do rio Espinharas 90% dos entrevistados revelaram ter consciência desta poluição alegando que é
visível, pois ao passarem próximo ao local podem notar a coloração escura das águas, a presença de
latinhas, garrafas pet, caixas de papelão, entre outros, dentro ou ás margens do rio (ver foto 01).
Esta poluição, por sua vez, tem provocado a eutrofização das suas águas que ocorre quando
o corpo hídrico recebe uma grande quantidade de nutrientes oriundo da poluição advinda de adubos,
fertilizantes, detergentes e esgoto doméstico que formam uma camada de algas no leito do rio (ver
foto 02).

Foto 1. Resíduos sólidos no rio Espinharas Foto 2. Eutrofização das águas do rio Espinharas

Fonte: IZIDRO SOBRINHO, Antonio (2017)

O trecho urbano do rio Espinharas na cidade de Patos encontra-se atualmente em um grau


elevadíssimo de poluição, no entanto, perguntamos aos entrevistados quem é, na concepção deles, o
verdadeiro culpado, o causador desse problema ambiental (ver gráfico 01).

Gráfico 1. Causadores da poluição no rio Espinharas segundo os entrevistados

Moradores ribeirinhos

Empresários

Sociedade geral

Governantes

0 10 20 30 40

Fonte: pesquisa de campo, julho de 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Como vemos, todos os entrevistados (100%) atribuíram a poluição do rio Espinharas ser de
responsabilidade do descaso que os governantes (em todas as suas esferas – federal, estadual e
municipal) têm para com este canal fluvial em questão e para com os demais. Neste aspecto, os
professores citaram a indústria da seca que ocorre no semiárido nordestino onde políticos desviam
os recursos que deveriam favorecer a construção de açudes, barragens, canais que minimizariam os
problemas advindos da seca.
Mas, e a sociedade de modo geral como fica nessa situação? Não tem culpa nesse processo?
Afinal, não são eles, os moradores, que jogam seus resíduos no interior ou às margens do rio? Para
estas indagações 95% dos entrevistados reconheceram a parcela de culpa dos moradores do local,
no entanto, afirmaram que eles só fazem isso porque não há o esgotamento sanitário, coleta seletiva
e cooperativas de reciclagem no município sendo o rio o local usado para despejo.
Reconhecendo a parcela de participação da sociedade que por falta de conhecimento dos
riscos provocados ou por não dar a importância merecida às questões ambientais descartam seus
resíduos no interior ou às margens do leito do rio Espinharas perguntamos aos professores
entrevistados se eles debatem tal problemática em sala de aula e quais metodologias usam para isso.

Quadro 1. Metodologias usadas para trabalhar a Educação ambiental


Em todas as aulas sempre abordo questões ambientais,
Aulas explicativas em sala de aula inclusive, escutando as opiniões de cada aluno a respeito
desse tema.
Os projetos constituem em uma excelente metodologia,
Projetos didáticos pois os alunos ficam curiosos e se envolvem participando
e sendo produtores por meio de sua pesquisa.
As feiras de ciências realizadas na escola são excelentes,
Feira de ciências pois os alunos mostram para os pais o resultado dos seus
trabalhos.
A aula de campo é o momento de maior aprendizagem,
Aulas de campo pois os alunos veem no local o objeto que estava presente
nos livros.
Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2017.

Diante de tal questionamento buscou-se entender se esta geração que ora julga as ações dos
moradores do local que poluem o rio está consciente da sua importância para a manutenção de tais
recursos, uma vez que eles são consumidores e, portanto, produtores de resíduos. Desse modo,
100% dos alunos entrevistados disseram ter consciência que seus atos contribuem para o processo
de poluição e eutrofização das águas do rio Espinharas, no entanto, afirmaram está mais conscientes
dos seus atos para com o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da literatura utilizada para fundamentação desta pesquisa nota-se que os recursos
hídricos sofrem com as constantes ações humanas que os atingem direto ou indiretamente. Estes
recursos sofrem maior degradação quando tem seu leito localizado em perímetro urbano como é o
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

caso do rio Espinharas onde o processo de ocupação e de construções às margens, a ausência de


estação de tratamento de esgoto faz com que este se torne o local para despejo desses dejetos.
Com base no estudo de caso realizado fica evidente que a escola, com sua função de
formadora de cidadãos, tem um papel fundamental no processo de formação de sujeitos com
consciência cada vez mais crítica quanto aos riscos impostos para com o meio ambiente, de modo
que, as gerações futuras recebam uma natureza viva.
Diante disso, notamos que os professores tentam por meio das mais diversas metodologias:
aulas expositivas, aulas de campo, projetos didáticos, feiras de ciências, entre outras tantas, abordar
temáticas que envolvem o meio ambiente com o intuito de formar cidadãos cada vez mais
conscientes ecologicamente.
O processo de degradação ocorre de forma intensa, no entanto, ações de conservação,
revitalização e da promoção do debate no ambiente escolar constituem em mecanismos que
promoverão a redução dos danos provocados para com o rio Espinharas de modo que a situação
atual em que se encontra seja reversível.
Considera-se como uma das causas do elevado índice de degradação o descaso dos
governantes com o rio devido a ausência de projetos de saneamento básico na cidade, no entanto,
fica notória, a parcela de culpa dos moradores do local, uma vez que mesmo tendo a coleta do lixo
estes ainda jogam seus resíduos no leito do rio Espinharas.

REFERÊNCIAS

AESA. Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Disponível em:
<http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/volumesAcudes.do?metodo=preparaGraficos&codAcude=5418
> Acesso em: 20 ago. 2011.

BRANCO, Samuel Murgel. O desafio amazônico. 16. ed. São Paulo: Moderna, 1988.

CHRISTOPHOLETTI, A. Impactos no meio ambiente ocasionados pela urbanização tropical. In:


SOUZA, M. A. A. et al (Org.). O novo mapa do mundo: natureza e sociedade de hoje: uma
leitura geográfica. São Paulo: Hucitec/Anpur, 2004. p. 127-138.

DEL GROSSI, Suely Regina. De Uberabinha a Uberlândia. Os caminhos da natureza: Contribuição


ao estudo da geomorfologia urbana. 1991. 208 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1991.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002

GUERRA, Antonio Jose Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (Org). Geomorfologia e meio
ambiente. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1271
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2010. Disponível em:
<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=CD77&sv=&t=populacao-presente-e-
residente-por-sexo-dados-do-universo-dados-da-amostra> Acesso em: 20 de julho de 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2008.

VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira. Reflexões sobre a geografia física no
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1272


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O BIOMA CAATINGA E SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL

José Ronaldo de LIMA


Professor de Geografia do Ensino Básico
ronageografia@gmail.com
Msc. José HERCULANO FILHO
Professor de Filosofia do IFPB
herculanofilho@yahoo.com.br
João Batista de LIMA
Professor de Geografia do Ensino Básico
joaobatistalima36@gmail.com

RESUMO
A Caatinga consiste em um dos grandes biomas brasileiros e se individualiza dos demais por
possuir grande diversidade de endemismos tanto em sua flora quanto na fauna. Convencionou-se
em retratar este bioma como sendo pobre em biodiversidade devido à interferência do clima tropical
semiárido que provoca um grande período de estiagem, no entanto, ao contrário do que é retratado
nos diversos meios de comunicação e em boa parte dos livros didáticos de Geografia este bioma
possui grande biodiversidade. Uma forma de desmistificar tais ideias e de promover o maior
conhecimento a respeito deste bioma é por meio da sua abordagem em sala de aula, uma vez que até
mesmo boa parte dos sertanejos não o conhece com profundidade. Assim sendo, um
questionamento norteia esta pesquisa – como os alunos sertanejos ingressantes no ensino médio
percebem o bioma Caatinga? Buscou-se analisar como os alunos da 1ª série do ensino médio do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus de Patos, sertão paraibano
percebem a Caatinga enquanto vegetação típica do semiárido nordestino. Realizou-se uma pesquisa
bibliográfica por meio da leitura de Melo (2004) Moreira (2004), Mueller (1998), Ab‘ Saber (2003)
entre outros que trataram dos diferentes aspectos que envolvem este bioma. Esta pesquisa teve
caráter exploratório onde foram aplicados questionários junto a alunos da 1ª série do ensino médio
da referida escola onde procurou-se identificar como estes alunos apreenderam os conhecimentos a
respeito desse bioma no ensino fundamental. Percebe-se que muito do que os alunos sabem sobre o
bioma Caatinga está limitado ao que é apresentado nos livros didáticos, especialmente de Geografia
e Ciências, pois as escolas não faziam a abordagem deste tema em outras atividades didáticas como
a realização de aulas de campo.
Palavras-chave: Bioma caatinga. Ensino fundamental. Conhecimento.
ABSTRACT
The Caatinga consists of one of the big Brazilian biomes and is individualized from the others
because it possesses a great diversity of endemisms both in its flora and fauna. It was convened to
portray this biome as being poor in biodiversity due to the interference of the semi-arid tropical
climate that causes a great dry season, however, contrary to what is portrayed in the various media
and in most of the textbooks of Geography This biome has great biodiversity. One way to demystify
such ideas and to promote greater knowledge about this biome is through its approach in the
classroom, since even some of the sertanejos do not know it in depth. Thus, a questioning guides
this research - how do the sertanejos students entering high school perceive the Caatinga biome?
The aim of this study was to analyze how the students of the high school of the Federal Institute of
Education, Science and Technology of Paraíba, campus of Patos, Sertão Paraibano perceive the
Caatinga as typical vegetation of the northeastern semi-arid region. A bibliographic research was

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

carried out by reading Melo (2004) Moreira (2004), Mueller (1998), Ab 'Saber (2003) and others
that dealt with the different aspects that involve this biome. This research had an exploratory
character where questionnaires were applied to students of the 1st grade of the high school of the
referred school where we sought to identify how these students learned the knowledge about this
biome in elementary school. It is noticed that much of what the students know about the Caatinga
biome is limited to what is presented in textbooks, especially Geography and Sciences, because the
schools did not approach this theme in other didactic activities such as the realization of field
lessons.
Key words: Caatinga biome. Elementary School. Knowledge.

INTRODUÇÃO

A Caatinga nordestina constitui em um dos grandes biomas brasileiros, ao contrário, do que


se pensam e é retratado em vários meios de comunicação este possui enorme biodiversidade e
grande endemismo tanto na sua flora quanto na fauna. No entanto, percebe-se que este bioma é
representado de forma muito resumida nos livros didáticos de Geografia que dão destaque ao
período de estiagem.
Os livros didáticos constituem em uma ferramenta de apoio ao trabalho docente e facilitador
da aprendizagem pelos alunos, portanto, entende-se que estes devem apresentar-se de forma clara,
com conceitos corretos, por outro lado, entende-se que devido a vários fatores, entre os quais pode-
se destacar a enorme extensão territorial do Brasil os conteúdos presentes nos livros acabam não
sendo retratados de forma aprofundada.
O presente trabalho visa analisar a forma como o Bioma Caatinga é visto pelos alunos da 1ª
série do ensino médio, uma vez que estes já concluíram os nove (9) anos do ensino fundamental e
estão iniciando o ensino médio, portanto, entender como eles apreenderam os conceitos que
envolvem este bioma nesta fase.
Nota-se que o conhecimento por parte da maioria das pessoas que mora em outras regiões do
país a respeito do Bioma Caatinga é muito restrito aos aspectos ligados à seca e as espécies animais
e vegetais ligadas a ela, pois é assim que ela aparece retratada nos diferentes meios de comunicação,
seja na televisão, na internet e nos livros. No entanto, muitas vezes percebemos que os próprios
alunos sertanejos também percebem este bioma unicamente por este ângulo.
Faz-se necessária uma investigação a respeito das metodologias usadas pelos professores, e
não só os professores de Geografia, mas das demais ciências, usam para tratar deste tema para
alunos que mesmo inseridos neste cenário muitas vezes o desconhece ou conhece de forma
resumida baseada nas imagens que lhes chegam dos mais diferentes meios.
As regiões geográficas do Brasil apresentam-se com características naturais e
socioeconômicas muito diferentes e peculiares que as fazem ser importantes dentro deste espaço tão
grande que é o Brasil que por se tratar de um país com dimensões continentais acaba limitando a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

representação das características locais e/ou regionais, uma vez que estas não sejam retratadas com
fidelidade e abrangências nos livros didáticos.
Diante disso, buscou-se analisar como os alunos da 1ª série do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Patos percebem a Caatinga enquanto vegetação
típica do semiárido nordestino onde foi realizada uma pesquisa bibliográfica e por meio de um
estudo de caso onde foram aplicados questionários aos alunos. Assim, percebeu-se que estes
concluem o ensino fundamental entendendo o Bioma Caatinga por meio de aulas expositivas
baseadas no que está posto no livro didático.
Desta forma, justifica‐se a necessidade em promover o debate em sala de aula que gire em
torno das suas características naturais, à rica biodiversidade, à conservação deste bioma e a
importância natural/histórico dele para os sertanejos. Assim, o desenvolvimento de projetos
didáticos na sala escola e fora dela enaltecendo a importância de se conhecer e preservar a
diversidade da fauna e flora presente neste ecossistema com intuito de formar uma sociedade cada
vez mais consciente e ambientalmente sustentável.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Entender como alunos sertanejos veem e percebem o Bioma Caatinga é de fundamental


importância, uma vez que este está diretamente interligado nas nossas condições de vida, nos nossos
costumes, crenças e sofre os efeitos das nossas ações por meio da realização de nossas atividades,
portanto, compreendê-lo é necessário para o desenvolvimento sustentável.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – está localizado no
município de Patos que, por sua vez, localiza-se na porção central do estado da Paraíba, mais
precisamente na mesorregião do Sertão paraibano e integra a microrregião que leva o seu nome.
Atualmente segundo dados de estimativa do censo demográfico do Instituto Nacional de Geografia
e Estatística (IBGE, 2016) o município conta com 107.067 habitantes.
O IFPB – campus Patos – tem as três séries do Ensino Médio, Técnico Integrados e os
cursos de Informática, Edificações, Eletrotécnica e Segurança do Trabalho. Este estudo surge com o
propósito de analisar as formas como os alunos percebem o Bioma Caatinga cujo conhecimento já
deve ter sido adquirido durante os nove (9) anos do ensino fundamental, ou seja, quais
conhecimentos eles trazem do ensino fundamental já concluído, em outros estabelecimentos de
ensino.
Para realização desta pesquisa foi realizada uma pesquisa bibliográfica baseada em livros,
artigos publicados em anais de eventos, periódicos como forma de fundamentar teoricamente este
estudo. Posteriormente a esta etapa foi realizado um estudo de caso onde foram aplicados
questionários junto a 20 alunos da 1ª série do ensino médio.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No estudo de caso foi realizada uma pesquisa do tipo exploratória que para Gil (2002, p. 41)
―estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a
torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses‖. Nesta etapa buscou-se entender como a escola
aborda a temática ambiental através das respostas dadas pelos alunos entrevistados.
A partir da coleta de dados a pesquisa ganha uma abordagem quantitativa que segundo
Minayo (2008), os métodos quantitativos têm o objetivo de mostrar dados, indicadores e tendências
observáveis, ou produzir modelos teóricos abstratos com elevada aplicabilidade prática. Nesta etapa
foram construídos gráficos e quadros para sua posterior análise dos resultados obtidos.

A CAATINGA PARAIBANA

O Estado da Paraíba, pela situação geográfica, formas de relevo, natureza de suas rochas,
diversificação de solos e clima, apresenta uma vegetação variada, traduzida pela multiplicidade das
paisagens naturais e das formações vegetais distribuídas pelo seu território (FELICIANO; MELO,
2003). Nota-se, portanto, que a Caatinga caracteriza-se com alto grau de heterogeneidade, ou seja,
existem várias caatingas.
O domínio das Caatingas na Paraíba estende-se por cerca de 4/5 da superfície do seu
território, abrangendo as regiões do Sertão, Cariri, Seridó, Curimataú. Compreendendo uma área de
40.539 km² (SUDEMA, 1992) e fazendo parte do Polígono das Secas. Os climas variam de
semiáridos a subúmidos secos tropicais, caracterizados por apresentar chuvas concentradas em um
só período do ano – 3 a 6 meses (janeiro a junho) – com médias anuais entre 250 a 900 milímetros,
distribuídas irregularmente no tempo e no espaço. As temperaturas médias anuais são relativamente
elevadas, 25 a 27ºC; a insolação média é de 2.800 horas/ano, a umidade relativa do ar é de
aproximadamente 50% e as taxas médias de evaporação estão em torno de 2.000 mm/ano (MELO,
2004).
Para este autor, a Caatinga no estado apresenta-se como uma formação vegetal arbórea e
arbustiva em que quase todas as espécies perdem as folhas como meio de resistir à estação seca. É
parcialmente rica em cactáceas, bromeliáceas e outras espécies espinhentas e plantas herbáceas
anuais. Em razão da semiaridez climática, a quantidade de espécies é relativamente pouco
numerosa, mas, mesmo assim, seus aspectos fisionômicos variam muito, a tal ponto, que seria
melhor dizer Caatingas, pois se trata de tipos de vegetação que só têm em comum a proporção
maior ou menor de cactáceas e a queda das folhas.
De maneira geral as Caatingas paraibanas podem ser agrupadas em:
 Caatingas arbóreas mais ou menos densas, com ou sem cactáceas; se situam nas serras e
outras elevações e apresentam normalmente um estrato arborescente com cerca de 7 a 8
metros;

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

 Caatingas arbustivas densas com poucas ou muitas cactáceas e bromeliáceas são mais
abundantes no cariri nas altitudes próximas a 550m.
 Caatingas mais ou menos abertas com arbustos dispostos em touceiras esparsas e com
grande quantidade de cactáceas, típicas de setores com aridez edáfica e climática severa,
solos compactos e pedregosos e com grande quantidade de afloramentos rochosos, como
também setores degradados por atividades antrópicas;
 Caatingas ralas, esparsas, baixas formado de pequenos arbustos dispostos em tufos esparsos
e separados por grandes extensões de solo nu ou recobertas por um tapete de poáceas e
herbáceo por vezes bastante desenvolvido (cerca de 70 cm de altura). Encontram-se bem
representadas na microrregião de Patos e no Seridó paraibano, assim como nos setores
extremamente degradados principalmente pela prática excessiva da agricultura do plantio do
algodão e a mineração.

Como se ver a Caatinga é um bioma diversificado em paisagens e tipos vegetacionais, que


ocorrem devido aos fatores geomorfológicos, climáticos, topográficos e, claro, devido à ação
humana que por meio de suas atividades modificam as características naturais provocando sérios
impactos, muitos deles irreversíveis.
De acordo o Ministério de Meio Ambiente, apesar da sua importância, o bioma tem sido
desmatado de forma acelerada, principalmente nos últimos anos, devido principalmente ao consumo
de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para fins domésticos e indústrias, ao
sobrepastoreio e a conversão para pastagens e agricultura. Frente ao avançado desmatamento que
chega a 46% da área do bioma. (MMA, 2014).

CAATINGA DA MICRORREGIÃO DE PATOS

A microrregião de Patos é uma das vinte e três (23) microrregiões do estado da Paraíba
pertencente à mesorregião Sertão Paraibano. Esta é composta pelos municípios de Areia de
Baraúnas, Cacimba de Areia, Mãe d'Água, Passagem, Patos, Quixaba, Santa Teresinha, São José de
Espinharas e São José do Bonfim (ver mapa 01).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Mapa 1: Microrregião de Patos, sertão paraibano.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o_de_Patos. Acesso em 20 de julho de 2017

A microrregião de Patos está localizada na depressão sertaneja cuja altitude gira em torno
dos 250 metros tendo ao seu entorno as serras residuais pertencentes ao Planalto da Borborema.
Este, por sua vez, atua como uma barreira natural impedindo a passagem das massas de ar e de
ventos fazendo com que a barlavento a vegetação possua maior porte e a sotavento seja formada de
arbustos como é o caso da vegetação encontrada nesta microrregião.
Em busca de entender se os alunos concluem o ensino fundamental conhecendo o bioma no
qual está inserido foi pedido para que eles caracterização a vegetação presente no Bioma Caatinga
que são do seu conhecimento e obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 1. Aspectos da vegetação da Caatinga segundo os entrevistados


Grupo 1: Vegetação seca, sem agua é caracterizada por folhas secas ou até sem folhas.

Grupo 2: Vegetação bastante diversificada. Seu tipo de vegetação em tempos de estiagem


perdem as folhas, aparentando ter morrido como, por exemplo, o mandacaru.

Grupo 3: Planta adaptada a passar muito tempo sem água, como cactos, etc.

Grupo 4: Tem alta resistência e armazena o máximo possível de água e se recupera muito
rápido.

Fonte: pesquisa de campo, julho de 2017.

É notório por meio dos comentários acima que todos os grupos responderam em torno da
ausência de água que acomete a vegetação da caatinga no período de estiagem, inclusive,
apontando-as como vegetação morta. Nenhum dos quatro grupos citou a variedade de espécies e de
estratos diferentes que ocorrem nesse bioma.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Como bioma, a caatinga é rica em espécies vivas apesar, da agressividade das condições do
solo e da meteorologia. Sua composição e seus elementos variam de acordo com a qualidade do
solo, do sistema fluvial, da topografia e das atividades de seus habitantes. (MOREIRA, 2004, p.
220).
Vale salientar de que há uma variação das espécies, sobretudo, quando estas estão
localizadas em solos diferentes como é o caso dos setores com grande quantidade de afloramentos
rochosos e solos muito pedregosos, as cactáceas prostradas como o quipá (Tacinga palmadora) e o
xique-xique (Cereus gounellei); e as bromeliáceas terrestres como a macambira (Bromelia
forrageira) e de rochedo são bastante numerosas (MELO 2004).
Em razão da semiaridez climática, a quantidade de espécies não é tão numerosa, mesmo
assim os aspectos fisionômicos variam muito, não apenas pelas variações climáticas regionais e
locais, mas também pela topografia de solos e atividades antrópicas (MELO 2004). O clima tropical
semiárido provoca as maiores interferências no bioma, no entanto, as atividades humanas provocam
mudanças drásticas, muitas vezes irreversíveis.
Pesando nos efeitos provocados pelas atividades humanas perguntamos aos alunos
entrevistados quais atividades mais degradam o bioma Caatinga:

Gráfico 1. Atividades antrópicas que degradam o bioma Caatinga

Pecuária 10

Agricultura 5

Extração de madeira 5

0 2 4 6 8 10

Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2017

Na microrregião de Patos que está a sotavento do Planalto da Borborema que, por sua vez,
possui solos rasos e pedregosos, vegetação de caatinga, com muitas baraúnas (Schinopsis
brasiliensis), angicos (Anadenanthera colubrina) e aroeiras (Myracrodruom urundeuva),
primitivamente arbustivo-arbórea, foi sendo degradada ao longo do tempo, para ocupação do solo
com o algodão, milho e ainda com o pasto para criação do gado, principal atividade econômica.
A atual situação predatória em que se encontra o bioma Caatinga se dá por uma série de
fatores entre os quais pode-se destacar: o desemprego, a precariedade da saúde e a concentração de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

terra e riquezas nas mãos de poucos, alcançam graves proporções em decorrência, dentre outras
causas, das secas periódicas que atingem a região, as quais também podem ser consideradas como
fatores agravantes de problemas ambientais. (MELO; RODRIGUES, 2004, p. 31).

Gráfico 2. Materiais e/ou metodologias para estudo da Caatinga no ensino fundamental

60%

50%

40%

60%
30%

20%

20%
10% 15%
5%
0%
Livro didático Aulas expositivas Internet Aulas de campo

Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2017

Os livros didáticos exercem uma supremacia no processo de aquisição e conhecimentos por


parte dos alunos no ensino fundamental. Não que isso seja negativo, no entanto, questionamos o
fato de que o baixo uso de outros materiais e metodologias dificulta a compreensão dos mesmos,
pois as aulas de campo constituem numa ferramenta indispensável para entendimento deste bioma,
uma vez que a caatinga está logo ali do outro lado do muro da escola.
Segundo Moreira (2004) a caatinga é a flora típica do Sertão Nordestino Brasileiro,
constituída de plantas de pequeno porte arbóreo, comumente espinhosas, que perdem as folhas no
decorrer de estação de seca prolongada, entre as quais se encontram numerosas plantas suculentas,
onde predominam as cactáceas. Esta definição do bioma Caatinga é a que está mais fortemente
presente nos livros didáticos e, portanto, na mente dos alunos que, por sua vez, desconhecem as
outras caatingas.
Considerando que a caatinga é uma vegetação xerófita, mas com vários refúgios úmidos o
que contribui para uma maior diversidade de espécies da fauna e flora destaca-se também o papel
das matas ciliares ou riparias que são verdadeiros refúgios úmidos que sustentam grande parte da
diversidade durante os períodos mais secos do ano.

MATA CILIAR

Relevantes para o equilíbrio dos ecossistemas, as matas ciliares são definidas como as
massas de vegetação que se formam naturalmente às margens dos rios e de outros corpos d‘água.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Esse comportamento ocorre mesmo em regiões de pluviosidade baixa e irregular nas quais as
condições de clima e solo não permitem o desenvolvimento de árvores nas áreas mais distantes dos
corpos hídricos. O Estado paraibano, que possui um número significativo das suas bacias
hidrográficas localizadas no semiárido (CARNEIRO, 1998) vem sendo foco de sérios problemas
ambientais como o desmatamento das suas matas ciliares.
A mata ciliar é encontrada ao longo do curso dos rios e tem uma fisiologia dos diversos
biomas existentes, mesmo não estando diretamente ligada a eles. As espécies arbóreas apresentam
diferenciações sutis que só são percebidas por um bom especialista em taxonomia. Essas formações
arbóreas variam de acordo com a região onde se encontram e a vegetação que predomina no local.
Podendo ser encontradas do norte ao sul do Brasil, apresentam uma notável biodiversidade arbórea.
―Todas essas florestas associadas a curso d‘água tem uma estrutura e funcionalidade
ecossistemática, aparentemente similar. No entanto elas diferem fundamentalmente entre si, pela
sua composição taxonômica, conforme o domínio a região e até a altitude em que são encontradas"
(RODRIGUES e LEITÃO FILHO, 2001).
No geral, as matas ciliares encontram-se bastante degradadas uma vez que cedem lugar para
exploração de diversas atividades, notadamente a agricultura de vazante e pecuária como é o caso
da mata ciliar do rio Espinharas no município de Patos (ver fotos 1). Isto ocorre, pois devido a baixa
pluviosidade na região estes lugares apresentam solos com maior umidade e fertilidade,
favorecendo, dessa forma o seu desenvolvimento de tais atividades.

Foto 1. Supressão da mata ciliar no perímetro urbano

Disponível em> http://www.patosonline.com/ Acesso em julho de 2017

No espaço semiárido nordestino, a cobertura vegetal, especialmente das matas ciliares, vem
sendo crescentemente degradada. Nesse sentido, (MUELLER, 1998) coloca que a generalizada
destruição ou degradação das matas ciliares vem contribuindo para intensificar a erosão dos solos, a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

destruição da vida silvestre, o desfiguramento da paisagem à beira dos rios e, principalmente, o


assoreamento e a degradação de rios, lagos e barragens.
Esses tipos de mata são considerados por muitos um verdadeiro mosaico, pois podem
ocorrer de uma forma ou de outra em todas as regiões do país, também influencia na forma que
existirá naquela região de predominância da mata ciliar. Para entender melhor sobre esses aspectos
observa-se algumas características do solo, da bacia hidrográfica e de outros elementos existentes
durante o curso das águas, que influencia diretamente nas características das espécies arbóreas
existentes nestes locais.
Em regiões semiáridas, onde a água é limitante, a presença da mata ciliar pode significar um
fator de competição. Isso se deve ao fato de que suas árvores apresentam raízes em constante
contato com a franja capilar do lençol freático (AB‘ SABER 2003). No entanto, tal competição
natural perde quando troca forças com a ação humana que retira as espécies vegetais para realização
de diversas atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise do material bibliográfico utilizado neste estudo nota-se a grande
biodiversidade encontrada no bioma Caatinga, muitos deles ainda desconhecidos pela maioria das
pessoas que moram em outras regiões e até mesmos pelos próprios sertanejos. Esta variação natural
do bioma se dá mediante aos diversos fatores entre os quais os tipos de solo, formas do relevo,
atividades econômicas realizadas no local, entre outras.
Assim sendo, a Caatinga passa por diversos estratos desde as herbáceas até as arbóreas cuja
presença animal apresenta grande diversidade. No entanto, muitos alunos não conhecem com
profundidade as características naturais do bioma com o qual estão envolvidos diretamente e com o
qual mantêm contato. Diante disso, muitos alunos no ensino fundamental ao verem imagens de
outros biomas acabam menosprezando a Caatinga classificando-a como seco, sem vida, morto,
pobre, baseados em imagens e textos presentes em muitos materiais didáticos.
Ficou evidente que a ideia que os alunos ingressantes no ensino médio têm do bioma
Caatinga é marcada por uma ideia que foi transmitida e ainda está presente em muitos meios de
comunicação que retratam tal bioma por um único ângulo – o da estiagem – quando, na verdade,
sabe-se que este apresenta-se bastante diversificado ao longo do ano e em lugares diferentes.
Nota-se, portanto, que a escola de modo geral e a Geografia de modo particular têm um
papel fundamental no processo de conscientização dos alunos desde as séries iniciais, pois a
conservação e preservação de um determinado bioma só ocorrem mediante o conhecimento que os
habitantes deste local têm dele, em outras palavras, só protegemos o que conhecemos e o que
amamos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

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<http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/volumesAcudes.do?metodo=preparaGraficos&codAcude=5418
> Acesso em: 20 ago. 2011.

BRANCO, Samuel Murgel. O desafio amazônico. 16. ed. São Paulo: Moderna, 1988.

BRASIL. Ministério de Meio Ambiente. Caatinga. <disponível em:


http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga> Acesso em: 20 de julho de 2017.

CHRISTOPHOLETTI, A. Impactos no meio ambiente ocasionados pela urbanização tropical. In:


SOUZA, M. A. A. et al (Org.). O novo mapa do mundo: natureza e sociedade de hoje: uma
leitura geográfica. São Paulo: Hucitec/Anpur, 2004. p. 127-138.

DEL GROSSI, Suely Regina. De Uberabinha a Uberlândia. Os caminhos da natureza: Contribuição


ao estudo da geomorfologia urbana. 1991. 208 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1991.

FELICIANO, M. de L. M.; MELO, R. B. Atlas do Estado da Paraíba – informações para gestão do


patrimônio natural (Mapas). João Pessoa: SEPLAN/IDEME/APAN/UFPB, 2003. 58 p.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002

GUERRA, Antonio Jose Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (Org). Geomorfologia e meio
ambiente. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2010. Disponível em:
<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series. aspx?vcodigo=CD77&sv=&t=populacao-presente-e-
residente-por-sexo-dados-do-universo-dados-da-amostra> Acesso em: 20 de julho de 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2008.

VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira. Reflexões sobre a geografia física no
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS NUMA ESCOLA DO CAMPO NO


MUNICIPIO DE JAGUARETAMA - CEARÁ

Juliana dos Santos Rodrigues BARBOSA


Mestre em Zootecnia pela UVA/Sobral-CE
jullyzootecnia@gmail.com
Wellington Brito JERONIMO
Professor da E. E. M. Padre Augusto Regis Alves /SEDUC – CE
wellington29a@hotmail.com
Antônio Henrique Barreto LIMA
Educando da E. E. M. Padre Augusto Regis Alves
henrique26@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo identificar o conhecimento sobre agroecologia dos educandos
e educandas da Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Regis Alves, localizada no município
de Jaguaretama – Ce. Foram desenvolvidas algumas atividades na escola com o intuito de auxiliar
na compreensão dos conceitos de agroecologia e sua aplicação nas atividades realizadas no campo
experimental da Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Regis Alves, localizada no município
de Jaguaretama – Ce. Para obtenção dos dados foi aplicado aos educandos e educandas das três
séries do ensino médio um questionário semi-estrururado composto por perguntas objetivas e
subjetivas referentes a temática. Os resultados dos questionamentos foram tabulados, e a partir da
análise dos resultados pode-se observar as dúvidas mais frequentes sobre o tema agroecologia, bem
como a necessidade dos educadores de intensificar o conhecimento sobre o tema junto aos
educandos e educandas desta escola.
Palavras-chaves: Agroecologia, Educação do campo, Sustentabilidade.
ABSTRACT
The present article aims to identify the knowledge about agroecology of the students and educandas
of the Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Regis Alves, located in the municipality of
Jaguaretama - Ce. Some activities were developed in the school with the purpose of helping to
understand the concepts of agroecology and their application in the experimental field of the. To
obtain the data, a semi-estrururado questionnaire composed of objective and subjective questions
related to the subject was applied to the students and students of the three high school grades. The
results of the questionnaires were tabulated and from the analysis of the results the most frequent
doubts about the subject of agroecology can be observed, as well as the need of the educators to
intensify the knowledge about the subject with the students and students of this school.
Keywords: Agroecology, Field education, Sustainability

INTRODUÇÃO

A agricultura familiar é responsável por produzir a maioria dos alimentos consumidos


diariamente pela população, além de ser responsável por gerar emprego e renda para população
rural (BRASIL, 2012). Entretanto, para que a agricultura tivesse um aumento considerável em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

produtividade é preciso que os agricultores adotem um conjunto de práticas tecnológicas que


auxiliem na melhora do processo produtivo como: utilização de insumos industriais (fertilizantes
químicos e agrotóxicos), além do uso intensivo de máquinas agrícolas no preparo do solo. No
entanto, tais práticas também contribuem significativamente para o aumento de alguns problemas
ambientais, como: a perda de fertilidade do solo, perda da biodiversidade, aumento do
desmatamento, poluição das águas e de atmosfera, entre outros (MAROUELLI, 2003).
A busca por práticas agrícolas alternativas que tenham o intuito de promover a conservação
dos recursos naturais são de extrema relevância. Desta forma o ensino destas práticas dentro da
escola do campo pode auxiliar a comunidade a construir não só a reflexão sobre conservação dos
recursos naturais, mas também proporcionar os educandos e educandas a uma consciência
transformadora e geradora de sustentabilidade.
A educação do campo assume um importante papel para o desenvolvimento das
comunidades rurais, pois a escola assumi um papel de elo integrador das trocas de saberes e
técnicas que apontem para uma nova proposta de desenvolvimento local e como sua valorização
(RAMOS et al., 2008)
Medidas simples e eficazes, como assistência técnica de caráter continuado, captação e
armazenamento de água das chuvas em áreas do semiárido, manejo adequado do solo, combate à
erosão e adubação orgânica, aumentariam a produção, possibilitando assim diversificar culturas e
produzir ao longo do ano inteiro, e não apenas nos quatros ou cinco meses do período chuvoso.
O conhecimento destas práticas alternativas permiti que os educandos e educandas possam
desenvolver a capacidade de ensino/aprendizagem na troca de experiências e participando
ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais e busca de soluções, sendo preparado como
agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, através de
uma conduta ética, condizentes ao exercício da cidadania e nela devemos buscar valores que
conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais espécies que habitam o
planeta. Daí vem a importância da construção da educação do campo como uma prática social
alimentada pelos sonhos e desejos coletivos, além de ser um reflexo dos interesses dos grupos
sociais que atuam no contexto da escola. Logo a escola não está para determinar os sonhos e
projetos das pessoas, mas para contribuir na construção de saberes que permitam a concretização
dos sonhos e projetos coletivos. Constitui-se numa ferramenta imprescindível na democratização de
conhecimento e tecnologias que auxiliarão as pessoas na compreensão do mundo e na produção de
novas perspectivas de vida.
A discussão sobre a produção de alimentos utilizando princípios agroecológicos é de
extrema importância dentro de um ambiente escolar, pois favorece o conhecimento sobre as praticas
produtivas alternativas, reconhecendo a relevância da agroecologia, bem como da agricultura

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

familiar, além de garantir a consciência dos educandos e educandas sobre a importância da


preservação do meio ambiente, como aspecto fundamental para alcançar a segurança alimentar
(SOUZA, 2011).
É nesse contexto que o trabalho teve como objetivo analisar se as práticas produtivas
adotadas pelos educandos, educandas e educadores na escola do campo contribuem para promover a
sustentabilidade da agricultura familiar no município de Jaguaretama - Ceará.

METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo exploratório-descritivo com uma abordagem


qualitativa, utilizando-se a pesquisa bibliográfica e de campo, com coleta de dados por meio de
roteiro semi-estruturado, com questões abertas e fechadas, no qual não havia a necessidade de
identificação, sobre a temática da agroecologia, em entrevistas com os educandos, educandas e
educadores da Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Regis Alves, localizada no município
de Jaguaretama – Ce. O método utilizado foi o dedutivo. Foram entrevistados 33 membros do corpo
discente da escola, e a coleta de dados foi realizada em dezembro de 2016.
Após a aplicação do questionário, foi realizada a interpretação e análise dos mesmos,
tabulando-se os dados coletados com o auxílio dos recursos do Microsoft Office Excel que gerou
gráficos e tabelas, os quais serão apresentados e analisados a seguir. Essa análise nos possibilitou
considerar os conhecimentos prévios dos educandos e educandas, o que eles entendem por
Agroecologia e por Práticas Sustentáveis, mas também adequar as atividades práticas do projeto à
realidade e necessidades dos educandos e educandas, bem como da Escola de Ensino Médio Padre
José Augusto Regis Alves, localizada no município de Jaguaretama – Ce.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisar as respostas dos educandos e educandas para a primeira questão aberta sobre o
conhecimento sobre agroecologia, 42%, ou seja, a maioria dos educandos e educandas,
responderam que a agroecologia é uma agricultura sustentável. Já 30% dos educandos e educandas
estabeleceram em suas respostas que a agroecologia é uma agricultura que não agride o meio
ambiente, 15% responderam que agroecologia é um conjunto de técnicas agrícolas, enquanto que
9% responderam que agroecologia é uma agricultura que não utiliza agrotóxicos e apenas 3% dos
educandos e educandas não responderam ou alegaram não saber nada sobre o assunto, como se
pode observar na Figura 01.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 01. O que você entende por agroecologia?

Os educandos e educandas quando questionados sobre seus conhecimentos sobre práticas


sustentáveis, em sua grande maioria, 51% do total associaram as práticas sustentáveis a produção
agrícola que permite o sustento familiar. Apenas 27% dos educandos e educandas associaram a
práticas de produção que não prejudicam o meio ambiente, 9% responderam que era uma maneira
de resolver os problemas de uma forma sustentável e 12% alegaram mão saber ou não responderam
(Figura 02).

Figura 02. O que você entende por práticas sustentáveis?

Mesmo se tratando de questões abertas, as respostas aos dois primeiros questionamentos


(Figura 01 e 02) foram bastante homogêneas, o que possibilitou uma tabulação por agrupamento de
termos relacionados aos conceitos em questão. A partir das respostas foi possível identificar que a
maior parte dos educandos e educandas conseguiram associar os temas à preocupação ambiental,
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

agricultura familiar e sustentável. Pode-se observar também que a maioria das respostas se
aproximaram da correta, mesmo não apresentando uma resposta completa.
Ao serem questionados sobre o que acham das práticas sustentáveis realizadas na escola, os
educandos e educandas, em sua maioria, 45% responderam que era uma oportunidade de
aprendizado, 24% responderam que as práticas realizadas na escola contribuíam com a produção de
alimentos saudáveis e que estes alimentos são utilizados na cantina da escola, 18% responderam
que as práticas eram importantes porque não agrediam o meio ambiente, e 12% do total não
responderam à questão (Figura 03).
Dentre as práticas agrícolas sustentáveis adotadas na escola temos: Utilização da água das
centrais de ar condicionado e água do bebedouro na irrigação de frutíferas; Compostagem;
Cobertura morta; Técnica de plantio direto; Farmácia viva; Irrigação por aspersão reutilizando
palito de pirulito; Plantio de Palma para alimentação animal.
Em resposta ao questionamento sobre o que você acha das práticas sustentáveis realizadas
na escola, a maioria dos educandos e educandos alegaram que acham as práticas realizadas na
escola são muito importantes para o aprendizado, além de que essas ações são importantes também
para a formação de uma consciência mais sustentável e de cuidado com o meio ambiente.
De acordo com Morgado (2006), o ambiente escolar possibilita uma ampliação de diversas
formas pedagógicas em agroecologia, unindo teoria e prática de uma maneira contextualizada,
estreitando relações, e auxiliando no processo ensino/aprendizagem através do trabalho coletivo
entre educandos, educandas e educadores.

Figura 03. O que você acha das práticas sustentáveis realizadas na escola?

Sobre qual a prática sustentável que aprendeu na escola, você coloca em prática na sua casa,
os educandos e educandas em sua maioria, 42% reproduz a prática da compostagem (a produção de
adubo orgânico), 36% reproduz em casa a prática do plantio de hortaliças e plantas nativas sem a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

utilização de agrotóxicos. Já 9% dos educandos e educandas fazem a reutilização da água do banho


em atividades agrícolas e 12% não coloca em prática por falta de espaço em casa (Figura 04).

Figura 04. Qual a prática sustentável que aprendeu na escola, você coloca em prática na sua casa?

Das questões objetivas, os educandos e educandas ao associarem algumas afirmativas ao


tema agroecologia, o resultado pode ser observado na tabela 01. Nessa questão os educandos e
educandas, na maioria das respostas apresentam que o conceito que repassado pelo educador nas
aulas teóricas e nas aulas práticas tem sido adquirido, ou seja, os educandos e educandas estão sim
assimilando o conceito básico sobre agroecologia.

Tabela 01. Quais os itens estão relacionados com agroecologia e práticas sustentáveis?
Itens relacionados a agroecologia Marcaram Não marcaram
1. Uso de fertilizantes químicos 0 0% 33 100%
2. Proposta alternativa voltada para a agricultura familiar 29 88% 4 12%
3. Sistema de produção voltado à monocultura 8 24% 25 76%
4. Uso de plantas defensivas para controle de pragas 28 85% 5 15%
5. Uso de máquinas e implementos agrícolas de alta tecnologia 3 9% 30 91%
6. Produção com uso de agrotóxicos 2 6% 31 94%
7. Sistemas de produções agroflorestais 25 76% 8 24%
8. O uso de alimentos orgânicos contribui para uma melhor
29 88% 4 12%
qualidade de vida
9. Utilização de adubação orgânica 33 100% 0 0%
10. O uso de agrotóxicos não oferece riscos tanto ao produtor
2 6% 31 94%
quanto ao consumidor

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com base nas respostas dos questionamentos sobre agroecologia e práticas sustentáveis, é
possível perceber que os educandos e educandas compreendem os conceitos, porém há uma
associação muito grande desses conceitos com o cuidado das plantas, a não utilização de
agrotóxicos e cuidado com o meio ambiente.
Com base nos resultados podemos observar que a construção do conhecimento sobre a
temática da agroecologia e das práticas sustentáveis deve ser baseada tanto nos saberes que são
repassados pelos educadores quanto na atividade prática. De acordo com Freire (1996) o ensino
deve ser realizado respeitando os saberes dos educandos e educandas no meio que os mesmos estão
inseridos, avaliando os resultados desse trabalho, podemos perceber a importância em se realizar
práticas agroecológicas promovendo assim uma efetiva aprendizagem por parte dos educandos e
educandas.

CONCLUSÃO

A adoção de práticas agrícolas sustentáveis dentro do ambiente escolar, proporciona aos


educandos, educandas e educadores a desenvolverem uma consciência de sustentabilidade, que os
uso de tais práticas podem trazer benefícios não só para o ambiente escolar, mas também benefícios
para a comunidade como um todo. Já que desta forma os educandos, educandas passam a ser
multiplicadores daquilo que vivenciam.
Se a experiência dentro do ambiente escolar for favorável, o educando ou a educanda irá
levar para aplicar em sua casa, e assim todos estarão contribuindo para disseminar o conhecimento
adquirido nas aulas teóricas e nas aulas práticas que são desenvolvidas no campo experimental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério de desenvolvimento Agrário (MDA). Plano Safra da Agricultura Familiar


2012/2013. Cartilha, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.

MAROUELLI, R. P. O desenvolvimento sustentável da agricultura no cerrado brasileiro. Pós-


Graduação (Especialização em Gestão Sustentável da Agricultura Irrigada, com área de
concentração em Planejamento Estratégico. Brasília-DF, 2003.

MORGADO, F. S. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto


Hirta Viva nas escolas municipais de Florianópolis. 2006. 45p. Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1290


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RAMOS, V. G.; LOSEKAM, M. B.; WIZNIEWSKI, C. R. F. Educação rural e desenvolvimento


sustentável: uma experiência a partir do ensino da geografia na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Nossa Senhora Aparecida, Julio de Castilhos, RS. In:4° Encontro Nacional de
Grupos de Pesquisa – ENGRUP, São Paulo, pp. 574-592, 2008.

SOUZA, P. M.; FORNAZIER, A.; PONCIANO, N. J.; NEY, M. G. Agricultura Familiar Versus
Agricultura Não Familiar: uma Análise das Diferenças nos Financiamentos Concedidos no
Período de 1999 a 2009, Documentos Técnicos do Banco do Nordeste do Brasil, v.42, Nº 01,
jan./mar., 2011, pp. 105-124.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1291


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ATIVIDADES LÚDICAS NA ESCOLA AMBIENTAL: UMA ADAPTAÇÃO


METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Julieta Beserra da SILVA


Especialista em Gestão Ambiental e Professora da Escola Ambiental de Lajedo/PE
juli_bes@hotmail.com
Marina de Sá Leitão Câmara de ARAÚJO
Professora Adjunta do Curso de Ciências Biológicas da UPE
marina.araujo@upe.br

RESUMO
Enfatizar a importância da educação ambiental, e do seu ensino, aos professores, como também aos
estudantes é fundamental para mostrar a necessidade da aproximação do conhecimento e da ação
ambiental. O conhecimento científico deve estar relacionado com atividades que estimulem a
mudança de comportamento visando à formação de uma cidadania ambiental. É necessário inovar á
prática pedagógica, e as atividades lúdicas são uma importante ferramenta metodológica para tornar
o ensino da educação ambiental mais dinâmico e interativo, propiciando uma aprendizagem
significativa. A realização desse trabalho é justificada pela importância de desenvolver atividades
inovadoras que estimulem a participação e viabilizem o ensino/aprendizagem da educação
ambiental. Esse artigo tem como objetivo geral divulgar o uso de atividades lúdicas no processo de
aprendizagem no ensino da educação ambiental, a fim de estimular o raciocínio, a cooperação e a
criatividade entre os alunos. As atividades lúdicas foram elaboradas pelos professores da Escola
Ambiental de Lajedo/PE e desenvolvidas entre 2016 e 2017, com os alunos do ensino fundamental
e médio, de escolas públicas e particulares. A cada visitação os estudantes participaram de
atividades diferenciadas após uma breve contextualização teórica, de conteúdos das áreas de
ciências, geografia e artes. Os estudantes que participaram das atividades se mostraram
entusiasmados com o novo ambiente e com as atividades vivenciadas. O trabalho em grupo
estimulou a comunicação e a cooperação entre os estudantes, além de despertar a responsabilidade,
a iniciativa pessoal e o respeito mútuo. As atividades lúdicas como ferramentas metodológicas
foram fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem, e se mostraram um meio dinâmico e
viável na construção do conhecimento do aluno, também promoveu interação, diversão e revelou
aos professores visitantes a necessidade de inovar sua práxis pedagógica.
Palavras-chaves: Meio ambiente, Educação ambiental, Atividades lúdicas.
ABSTRACT
Emphasize the importance of environmental education, and its teaching, not only teachers but also
to students are fundamental to show the need to approximate knowledge and environmental action.
The scientific knowledge must be related to activities that stimulate the change of behavior aiming
at the formation of an environmental citizenship. It‘s necessary to innovate the pedagogical
practice, and the ludic activities are an important methodological tool to make the teaching of
environmental education more dynamic and interactive, providing a meaningful learning. The
realization of this work is justified by the importance of developing innovative activities that
stimulate participation and enable the teaching/learning of environmental education. This article has
as general objective to divulge the use of ludic activities in the process of learning in the teaching
environmental education, in order to stimulate the reasoning, the cooperation and the creativity
among the students. The ludic activities were elaborated by the teachers of the Environmental
School of Lajedo/PE and developed between 2016 and 2017, with primary and secondary school

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

students, public and private schools. At each visit, the students participated in different activities
after a brief theoretical contextualization of contents in the areas of science, geography and the arts.
Students who participated in the activities were enthusiastic about the new environment and
activities. Group work has stimulated communication and cooperation among students, as well as
awakening responsibility, personal initiative and mutual respect. The ludic activities as
methodological tools were fundamental for the teaching and learning process, and have shown
themselves to be a dynamic and viable medium in the construction of student knowledge, also
promoted interaction, fun and revealed to visiting teachers the need to innovate their pedagogical
praxis.
Keywords: Environment, Environmental education, ludic activities.

INTRODUÇÃO
A educação ambiental apresenta diversas definições, a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999,
sobre Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA no seu artigo 1º: ―Entendem por educação
ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimento, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sua qualidade de vida e sua sustentabilidade‖. (BRASIL, 1999).
A educação ambiental é um ramo da educação que contribui para a formação de cidadãos
conscientes e atuantes no enfrentamento das questões ambientais. Segundo os princípios da
Conferência de Tbilisi, em 1977, a Educação Ambiental tem um caráter transformador, ―possibilita
a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a
construção de uma nova visão das relações do homem com o seu meio e a adoção de novas posturas
individuais e coletivas em relação ao ambiente [...]‖. (BRASIL, 1998, p. 31)
A escola é o espaço apropriado para a discussão sobre as questões ambientais, com o
objetivo de sensibilizar o aluno para atuar criticamente na sociedade e despertar sua cidadania
ambiental. Segundo Oliva (2000) a escola busca formar indivíduos que compreendam sua realidade
e sejam capazes de questioná-la, que se preocupe com o destino coletivo e que se posicione diante
dos desafios do mundo, pois dedicar-se ao meio ambiente é uma tarefa inerente ao seu cotidiano.
A educação ambiental está prevista no artigo 2º da PNEA, apontada como ―um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal‖. (BRASIL, 1999)
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN‘s (2001), a educação ambiental
é vista como um meio indispensável para descobrir formas mais sustentáveis de interação entre a
sociedade e a natureza, a fim de solucionar os problemas ambientais, pois a educação é uma
condição necessária para mudar os rumos do planeta.
A educação ambiental deve ser abordada de forma interdisciplinar nas escolas,
proporcionando a ação conjunta das diversas disciplinas em torno de temas específicos. A

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

abordagem interdisciplinar de conteúdos facilita a construção do conhecimento, evitando sua


fragmentação. Para Coimbra (2005) a discussão de um tema comum ao cotidiano promove a
interação entre as pessoas, as diferentes áreas e disciplinas, propiciando um conhecimento coletivo.
As diferentes descrições, interpretações e análises do mesmo objeto permitem a construção de um
novo saber, buscando o entendimento do ambiente como um todo.
A interdisciplinaridade demanda tempo e diálogo entre profissionais, integrar várias
disciplinas e campos de conhecimento mexe com a zona de conforto da educação tradicional e
compartimentalizada. Para Luck (2003) a interdisciplinaridade é um processo de integração e
envolvimento de educadores num trabalho coletivo, de interação entre as disciplinas do currículo
escolar com a realidade, com o objetivo da formação integral dos alunos, a fim de estimular a
cidadania, por meio de uma visão global tornando-os capazes de enfrentar os problemas atuais.
De acordo com Balbinot (2005), o aluno vivencia dois mundos nas aulas de Ciências: o
mundo material, que seria a sala de aula onde aprende conceitos científicos, e também o mundo
real, do seu cotidiano, normalmente sem ligação com as aulas que frequenta. Para melhor
estabelecer essa conexão, o professor pode explorar sensações, imagens, sons e ambientes com
atividades que envolvam a emoção e a construção de modelos da realidade, de uma forma criativa,
que serão facilitadores no processo de aprendizagem.
Conforme Knechtel e Brancalhão (2008) no decorrer das atividades lúdicas, através da
imaginação, ultrapassamos a realidade e a transformamos. A inserção de brinquedos, jogos e
brincadeiras, na prática pedagógica contribuem com a aprendizagem, pois desenvolve diferentes
capacidades nas crianças e jovens, contribuindo para a ampliação da rede de significados
construtivos na aprendizagem.
Esse trabalho teve como objetivo geral divulgar o uso de atividades lúdicas no processo de
aprendizagem no ensino da educação ambiental nas aulas ministradas na Escola Ambiental de
Lajedo/PE. Os objetivos específicos são: estimular o raciocínio, a cooperação e a criatividade entre
os alunos, promover o conhecimento e diversão aos estudantes e incentivar os professores visitantes
a inovar sua práxis pedagógica.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Escola Ambiental está localizada no espaço rural, a 10 km do centro do Município de


Lajedo, em Pernambuco. Por muitos anos a escola atuava na educação regular denominada de
Escola José Dourado da Costa Azevedo, mas em 2005 foi desativada para início da construção do
aterro, e em 2009 foi reativada passando a se chamar Escola Ambiental de Lajedo (figura 1).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Escola Ambiental, localizada no Sitio Serrote, em Lajedo/PE.


Fonte: Andréa Félix, 2016.

O trabalho da Escola Ambiental ultrapassa os muros da escola e hoje se tornou referência no


ensino de educação ambiental em Lajedo. A escola recebe diariamente um público bastante
diversificado para visitação que varia entre alunos, professores e sociedade civil, do espaço rural e
urbano, do município de Lajedo e cidades circunvizinhas.
Mantida pela Prefeitura Municipal de Lajedo e vinculada à Secretaria Municipal de
Educação, realiza atividades educacionais em parceria com as demais secretarias, entidades
religiosas, empresas privadas e Organização Não-Governamentais – ONG‘s.
A Escola Ambiental oferece um ensino informal para todas as modalidades de ensino,
seguindo o calendário escolar nacional, nos turnos matutino e vespertino. Os professores podem
agendar visitações e trabalhar temáticas específicas que são apresentadas inicialmente em uma aula
teórica, e em seguida, abordadas numa aula prática, atividade lúdica, aula de campo, entre outras.
A atividade lúdica é utilizada como metodologia nas aulas da Escola Ambiental, pois
desperta o interesse do aluno, desenvolve níveis diferentes de experiência pessoal e social, contribui
para novas descobertas, desenvolve sua personalidade, possibilitando a aproximação do
conhecimento científico ao cotidiano, segundo a diretora Andréa Félix (comunicação pessoal).
Para a visitação, o professor ou profissional interessado, deve realizar um agendamento
prévio, e fornecer algumas informações como: nome da escola (ou instituição), série (ou faixa
etária), quantitativo de pessoas (não deve exceder 40 pessoas), temática a ser trabalhada e turno.
As experiências relatadas nesse artigo foram vivenciadas no período entre 2016 e 2017, com
alunos de escolas públicas e particulares, do ensino fundamental e médio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades descritas a seguir foram trabalhadas durante as visitações solicitadas por


professores das áreas de ciências, geografia e artes, sobre os conteúdos de: resíduos sólidos,
destinação do lixo, aterro sanitário, reciclagem, água e solo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Aula sobre resíduos sólidos e destinação do lixo (Aterro sanitário)

A abordagem sobre resíduos sólidos tem o objetivo de capacitar os visitantes do aterro sobre
o consumo exagerado, produção de resíduos não-biodegradáveis e destinação correta do lixo. A
aula é divida em dois momentos, o primeiro é teórico, onde se elucida por meio de slides a
―Estrutura e Funcionamento do Aterro Sanitário‖ (figura 2) com uma breve discussão sobre os
problemas da deposição inadequada de resíduos.

Figura 2: Aula teórica com os alunos do 5º ano da Escola Municipal Clementino Francisco de Lima,
localizada no bairro Novo, Lajedo/PE. Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.
Em seguida é explicado o processo de construção do aterro, desde análise do local,
elaboração da planta, processo de impermeabilização, tratamento de efluentes até o processo de
pesagem. Além disso, são analisados dados com o quantitativo da deposição de resíduos de Lajedo
e das cidades consorciadas (Cachoeirinha, Calçado, Canhotinho, Ibirajuba, Jucati, Jupi, Jurema,
Quipapá e São Bento do Una).
Para ajudar na apropriação de conceitos, os alunos conhecem a estrutura e as atividades
realizadas no aterro através da maquete tátil (Figura 3). Essa maquete também é utilizada nas aulas
com a participação de pessoas com deficiência visual, possibilitando a percepção por meio do tato e
melhorando a aprendizagem. Além disso, a escola também possui placas em braile identificando os
ambientes e as espécies de plantas com habitat, nome popular e científico.

Figura 3: Maquete tátil elaborada com material reciclado pelos professores da Escola Ambiental de
Lajedo/PE. Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Conforme aponta Crochík (2012) a educação inclusiva reconhece as diferenças e adapta as


condições para possibilitar à formação, deve proporcionar recursos para o cumprimento dos
objetivos escolares. A linguagem em braile é importante para os alunos com deficiência visual; usar
a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para incluir os deficientes auditivos; falar mais
pausadamente e utilizar imagens facilita a aprendizagem de alunos com deficiência intelectual.
No segundo momento a aula ocorre no campo (Figura 4), isto é, no espaço do aterro
sanitário para corroborar aquilo que fora discutido no plano teórico.

Figura 4: Observação do processo de pesagem dos caminhões com resíduos sólidos pelos discentes do 6º ano
da Escola Municipal Tancredo Neves, da cidade de Cachoeirinha/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

Os alunos podem acompanhar o processo de pesagem dos caminhões; observam o sistema


de tratamento de efluentes (dreno central, drenos horizontais e verticais), que direcionam o chorume
para os tanques de decantação; caminham próximo as calhas para drenagem da água pluvial e
terminam a visita conhecendo a estação meteorológica, com a apresentação de dados como: pressão
atmosférica, velocidade do vento, temperatura, umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica.

Aulas de Reciclagem

De acordo com Jacobi e Besen (2011) a produção de resíduos é um dos grandes desafios
enfrentados pela sociedade moderna, com o aumento populacional e o crescente poder de consumo,
ocorre uma geração excessiva dos resíduos sólidos, gerando um problema para a disposição final
ambientalmente correta. A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos causam impactos
socioambientais, evidenciando a necessidade da adoção de padrões de produção e consumo
sustentáveis e o gerenciamento desses resíduos sólidos.
A preocupação com a coleta, o tratamento e a destinação dos resíduos sólidos é apenas uma
parte do problema ambiental. Na Escola Ambiental as aulas com a temática reciclagem são
iniciadas com a definição de resíduos sólidos, os tipos de lixo (úmido e seco), como também sua
classificação em lixo doméstico, comercial, industrial, entre outros. Para então apresentarmos
formas de redução na geração de resíduos, discutindo a política dos 5R‘s: Reduzir, Repensar,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Reaproveitar, Reciclar e Recusar, disseminada pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA (2017),
com o intuito de priorizar a redução do consumo e difundir o reaproveitamento dos materiais.
Os alunos, orientados pelo professor da disciplina, geralmente de ciências ou artes, recolhem
o material em suas casas, com vizinhos ou na própria escola e após a aula teórica os discentes
iniciam uma prática de reaproveitamento de materiais recicláveis. Os produtos utilizados, em geral,
são garrafas PET (Figura 5) e papelão, pois são de fácil manuseio.

Figura 5: Atividade prática com garrafa PET para produção de pelos estudantes do 9º ano da Escola
Municipal Colégio Normal de Lajedo, bairro Centro, em Lajedo/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

No mês de maio, dia 19, em homenagem a Emancipação Política de Lajedo, os visitantes


participaram da aula expositiva com um resgate histórico e fotográfico da cidade, e confeccionaram
com rolinhos de papelão a bandeira da cidade para exposição (Figura 6).

Figura 6: Confecção da bandeira de Lajedo com rolinhos de papelão pelos discentes do 6º e 7º ano da Escola
Municipal Mamede Bento do Amaral, do povoado Quatis, em Lajedo/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

Mês da Água

Durante o mês de março, foram planejadas diversas atividades com o propósito de salientar
a importância da conservação e do uso consciente desta fonte renovável, tendo em vista que no dia
22 de março de 1992, foi instituído pela Organização das Nações Unidas – ONU, como o Dia
Mundial da Água, conforme ONU (2017). As atividades foram planejadas de acordo com nível de
ensino, iniciando com a aula ―Água: uso Sustentável‖, na qual elencamos o histórico do Dia

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Mundial da Água, a distribuição da água no planeta, os usos da água no Brasil, poluição e questões
de saúde pública, e finalizamos com dicas para redução do consumo.
Após o intervalo para o lanche, os discentes participaram de uma gincana, com brincadeiras
como: pescaria, com perguntas relacionadas à aula teórica valendo pontuação (Figura 7); jogo dos
vidros, no qual os alunos deveriam encher o vidro com a quantidade de líquido correspondente ao
tamanho do recipiente sem desperdiçar água; complete a garrafa, a cada resposta correta o aluno
recebia 200 ml de líquido para encher a garrafa, ganhava o grupo que completasse os 2 litros.

Figura 7: Atividade de pescaria, com perguntas relacionadas à aula teórica valendo pontuação, com os
estudantes do 6º ano da Escola Prof.ª Irene Leão, do bairro Bom Jesus, em Lajedo/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

Segundo Knechtel e Brancalhão (2008) o professor deve encorajar o espírito de cooperação


e de trabalho em grupo para atingir metas comuns. O objetivo do jogador na competição deve ser
superar suas limitações, aperfeiçoando cada vez mais suas habilidades e destreza, enquanto que o
trabalho em grupo auxilia no desenvolvimento da personalidade das crianças e jovens, e estimulam
atitudes muito importantes para a vida em sociedade como cumprimento às regras,
responsabilidade, iniciativa pessoal, respeito mútuo, entre outros.
Ainda no mês da água, para os alunos do ensino médio, ocorreu a produção de um filtro de
garrafa PET (Figura 8), para mostrar o processo de filtragem da água pelas camadas do solo.

Figura 8: Produção de um filtro de garrafa PET pelos discentes do 1º ano do Ensino Médio da Escola Jean
Piaget (Rede particular), localizada no Centro, em Lajedo/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Aulas de biogeografia (Solo)

As aulas de biogeografias são dinâmicas e práticas, dissertam sobre solo, cartografia, flora e
fauna. Com o objetivo de mobilizar a sociedade sobre a importância dos solos e como parte
fundamental do meio ambiente, além de mostrar os problemas causados pela degradação do mesmo,
as aulas giram em torna do tema "Conhecendo o chão".
A educação ambiental, segundo os PCN‘s (2001), permite que o indivíduo adquira
conhecimento sobre os problemas ambientais, aliado ao processo educativo, essa apropriação de
conhecimento, leva a mudanças de comportamento, atitudes e reforça os valores de cidadania que
podem ter importantes reflexos sociais, ainda é apontado pelos como um elemento indispensável
para a transformação da consciência ambiental.
Os alunos conhecem a composição do solo da cidade, processo de formação, os tipos e
camadas do solo, como também os processos de degradação e recuperação do mesmo. Ao final da
explanação os visitantes são convidados a caminhar pelo entorno da escola e observar a paisagem
natural e o solo local. Durante a caminhada eles recolhem material para produção do perfil do solo
observado (Figura 9).

Figura 9: Produção do Perfil de Solo pelos discentes do 7º ano da Escola Jean Piaget (Rede particular),
localizada no Centro, em Lajedo/PE.
Fonte: Julieta Beserra da Silva, 2016.

Teatro de fantoche

Para as aulas com estudantes da educação infantil ou educação especial utilizamos como
metodologia músicas, vídeos e o teatro de fantoches (Figura 10). Essas atividades contribuem para
melhorar a sensibilidade das crianças, a capacidade de concentração e a memória.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 10: Encenação por meio do Teatro de fantoche para os estudantes da Educação Especial da Escola
Municipal Dom Expedito Lopes, do bairro Planalto, em Lajedo/PE.

Na educação, a metodologia e a didática utilizada em determinados grupos ou espaços


podem não funcionar em outros, isto faz parte da dinâmica do ensino. A palavra chave é adaptar o
conteúdo à realidade do aluno. Assim, a educação deve considerar o contexto histórico e cultural do
povo para desenvolver da melhor maneira seu papel, conforme Dias, Leal e Carpi Junior (2016).
As atividades lúdicas promovidas pela Escola Ambiental podem ser utilizadas no processo
de aprendizagem em diversos conteúdos escolares, possibilitando a aproximação dos alunos ao
conhecimento científico. Os estudantes que participaram das atividades se mostraram
entusiasmados com o novo ambiente, segundo os relatos dos professores, a participação nas
discussões foi mais ―efetiva e qualitativa‖, quando comparada ao dia a dia em sala de aula.
De acordo com Campos, Bortoloto e Felício (2002) as atividades lúdicas são uma
importante ferramenta metodológica para a aprendizagem de conceitos abstratos e, muitas vezes, de
difícil compreensão, ajuda a desenvolver habilidade de resolução de problemas, estimulando o
raciocínio, a interação, a criatividade entre os alunos.
As aulas diferenciadas promovidas pela Escola ambiental não tem apenas o objetivo de
promover conhecimento e diversão aos estudantes, mas também incentivar os professores a inovar
sua práxis pedagógica. Isso corrobora o que Brasil (2007) afirma que esses encontros incentivam o
professor a pensar na educação e no meio ambiente sob uma perspectiva provocadora, tendo como
principio fundamental o exercício da cidadania no uso dos recursos ambientais, ressaltando o
caráter coletivo de sua responsabilidade pela sustentabilidade local e planetária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental é um importante instrumento de transformação social, a partir do


lúdico desenvolvemos metodologias visando à incorporação da dimensão ambiental, de forma
interdisciplinar nos diferentes níveis. Quando os professores entram em contato com a Escola
Ambiental para agendar a visitação, eles procuram aulas diferenciadas para romper a rotina de sala

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

de aula. As atividades lúdicas revelam uma prática inovadora, visto que o aprendizado não se
restringe a um ambiente escolar, podendo tornar-se um momento prazeroso e estimulante,
permitindo que o conhecimento científico seja construído de um modo diferenciado.
As atividades lúdicas auxiliaram na apropriação de conhecimentos científicos de forma
eficaz e significativa, despertaram atitudes de respeito ao colega e as regras de jogo, bem como o
espírito de cooperação, e serviram também como instrumento de sensibilização ambiental com
intuito de transformar os cidadãos em participantes ativos na proteção do meio ambiente.

REFERÊNCIAS

BALBINOT, Margarete Cristina. Uso de modelos, numa perspectiva lúdica, no ensino de ciências.
In: IV ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE COLETIVOS ESCOLARES E REDES DE
PROFESSORES QUE FAZEM INVESTIGAÇÃO NA SUA ESCOLA, 2005, Rio Grande do
Sul. Disponível em:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010 /
Ciencias/Artigos/perspectiva_ludica.pdf. Acesso em: 20 jul. 2017.

BRASIL. A Implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília: Ministério de Educação e do


Desporto, 1998. 166 p.

________. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República
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________. Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do


Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e
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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1303


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM UMA ESCOLA


PÚBLICA NA CIDADE DE FEIRA NOVA, PERNAMBUCO

Marcella Rayana Sousa FARIAS


Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas da UPE
marcellinhabelinha@hotmail.com
Marcelo Alves RAMOS
Professor Adjunto da UPE
marcelo.alves@upe.br
João Allyson Ribeiro de CARVALHO
Professor Adjunto da UPE
allyson.carvalho@upe.br

RESUMO
O presente trabalho investigou as percepções ambientais de alunos do último ano do ensino médio,
através de uma pesquisa realizada com 107 estudantes do 3º ano do ensino médio na Escola
Antônio Inácio, localizada no município de Feira Nova (PE), onde aplicou-se um questionário
estruturado com 18 perguntas abertas e fechadas. A partir da análise dos resultados, constatou-se
que a maioria dos reconhecem o meio ambiente como sinônimo de natureza, não conseguindo
enxergar de forma mais abrangente o tema, e que associam a importância de proteger o meio
ambiente como forma de garantir benefícios próprios. Os estudantes mostraram conhecimentos
muito limitados sobre a fauna e flora da região, citando predominantemente espécies exóticas.
Diante dos dados registrados, ficou evidente que a escola tem contribuído pouco para promover nos
estudantes uma maior sensibilização sobre questões ambientais, assim como o desenvolvimento de
conceitos associados a essa temática, isso é um cenário preocupante, tendo em vista que o grupo
pesquisado está concluindo a educação básica.
Palavras-chave: Representação ambiental; Recursos Naturais; Educação Ambiental.
ABSTRACT
The present study investigated the environmental perceptions of the students of the last year of high
school, through a survey carried out with 107 students of the 3rd year of high school in Antônio
Inácio School, located in the city of Feira Nova (PE), with a structured questionnaire with 18 open
and closed questions. From the analysis of the results, it was verified that most of them recognize
the environment as synonymous of nature, not being able to see in a more comprehensive way the
theme, and that they associate the importance of protecting the environment as a way to guarantee
their own benefits. The students showed very limited knowledge about the fauna and flora of the
region, citing predominantly exotic species. In view of the recorded data, it was evident that the
school has contributed little to promote in the students a greater awareness on environmental issues,
as well as the development of concepts associated with this subject, this is a worrying scenario,
considering that the group researched is concluding basic education.
Keywords: Environmental representation; Natural resources; Environmental education.

INTRODUÇÃO

Diante dos graves problemas ambientais instalados no planeta, passou-se a perceber a


necessidade de alterar as formas de ocupação do homem na terra e repensar a sua relação com
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a natureza, especialmente após a revolução industrial, que é considerada um dos marcos de


mudança das relações estabelecidas entre o homem e o ambiente. Esse tipo de constatação
contribuiu para aumento de movimentos em defesa do ambiente, dada a necessidade de
diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais existentes e propor alternativas
que conciliem a conservação da natureza com a qualidade de vida das populações humanas.
Uma das ações que tem sido desenvolvidas para conter, ou pelo menos minimizar, as
consequências das ações antrópicas sobre os recursos naturais é trabalhar as questões
ambientais em espaços que englobem um grande quantitativo de pessoas. Dentro desse
contexto surgem as escolas como espaço que exerce um papel fundamental na sensibilização e
conscientização dos indivíduos, pois esta não tem apenas a responsabilidade de repassar
conteúdos, mas também de contribuir para formar cidadãos, o que traz a tona a importância da
educação ambiental no espaço escolar. No Brasil a educação ambiental foi regulamentada
pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei 9.795 de 27 de abril de 1999, que
define seus princípios básicos, incorporando oficialmente a Educação Ambiental nos sistemas
de ensino (TOTE & ANDRADE 2009).
Desenvolver práticas pedagógicas que contribuam para trabalhar a Educação
Ambiental no espaço escolar é uma forma de combate e defesa com o meio ambiente, que
permite a sensibilização e mudanças de hábitos, possibilitando uma nova visão de olhar o
mundo que o cerca (FERNANDES, 2003). A escola deve proporcionar um ambiente
saudável, onde os alunos desenvolvam situações em que os mesmos possam colocar em
prática sua capacidade de atuação para que tenham responsabilidade com o meio ambiente e
serem capazes de atitudes de proteção visando um ambiente ecologicamente equilibrado.
Diante disso, faz-se necessário um estudo acerca da percepção ambiental de
estudantes, onde se pode analisar como estes veem o meio ambiente na atualidade e em seu
dia a dia. A percepção integra as relações que se estabelecem por meio da experiência
cotidiana, ou seja, é o ato de perceber o ambiente em que se está inserido, e que muitas vezes
passa despercebido diante do dia a dia (TUAN, 1980). Uma das maiores dificuldades
encontradas hoje para a proteção dos ambientes naturais está nas visões distintas e diferenças
nas percepções e da importância que o meio tem para com o indivíduo (VILLAR et al., 2008),
de forma que cada um constrói sua percepção através do contato direto e íntimo com o
ambiente e a paisagem em que vivem (XAVIER, 1998).
Nesse sentido o objetivo principal deste trabalho foi conhecer a percepção ambiental
de estudantes de uma escola estadual da cidade de Feira Nova, interior do estado de
Pernambuco, com intuito de responder as seguintes questões: a) quais conceitos que os alunos
trazem sobre o meio ambiente e sobre a necessidade de protegê-lo? b) os alunos reconhecem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

os problemas ambientais da região onde moram e identificam quem são os principais


responsáveis pela solução desses problemas? c) qual a percepção dos estudantes sobre os
recursos naturais que eles consideram importantes para sua sobrevivência, assim como os
animais e plantas que eles reconhecem como parte do meio ambiente em que vivem?

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Estudo

Este trabalho foi realizado em uma escola estadual localizada na cidade Feira Nova, estado
de Pernambuco. O município de Feira Nova possui como atividade principal a produção de farinha
de mandioca, por isso é conhecido como a ―Terra da Farinha‖, sendo esta atividade a fonte de renda
de parte da população. Localiza-se à latitude 7º57'03" sul e à longitude 35º23'21" oeste, com
altitude de 154 metros. Sua população aproximada em 2015 foi de 21.710 habitantes, distribuídos
em 118,83 km² de área territorial (IDHM 2010; IBGE, 2015). Em relação ao acesso à educação,
Feira Nova possui um total de 19 escolas, sendo quatro na zona rural e 15 na zona urbana,
distribuídas da seguinte forma: quatro escolas particulares, 12 escolas públicas e três escolas
estaduais.
Para esta pesquisa foi escolhida a Escola Estadual Antônio Inácio, localizada na zona urbana
da cidade de Feira Nova, contendo alunos no Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Travessia e
EJA fundamental e médio. A escola possui sete salas de aula e uma equipe de 25 professores. A
turma escolhida para o presente trabalho foram os quatro terceiros anos do Ensino Médio (3ºA, 3ºB,
3ºC e 3ºD), contendo 124 alunos matriculados dispostos da seguinte forma: no turno da manhã
funciona o 3ºA com 43 alunos matriculados, e no turno da tarde funcionam o 3ºB com 32 alunos, o
3ºC com 27 alunos e 3ºD com 22 alunos matriculados.

Coleta de Dados

A primeira parte do trabalho consistiu em solicitar à direção da escola a autorização para o


desenvolvimento da pesquisa. Dada esta autorização as turmas do 3º ano do Ensino Médio foram
visitadas sendo entregue aos alunos o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), os
alunos maiores de 18 anos assinaram o termo enquanto os que são menor de idade tiveram que
solicitar as assinaturas de seus responsáveis. Todos os esclarecimentos acerca da pesquisa foram
feitas aos alunos e aos responsáveis destes, e com a assinatura do TCLE e a autorização da
participação, foi atendido parte dos parâmetros éticos de pesquisas que envolvem a participação de
seres humanos (Resolução 510/16 do Conselho Nacional de Saúde).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A coleta de dados se deu com a realização de entrevistas usando questionários estruturados


preenchidos pelo próprio aluno, esta etapa foi realizada usando o tempo de uma aula completa (50
minutos). Nestes questionários os alunos puderam responder 16 questões abertas e fechadas, e de
uma forma geral foi possível ver o entusiasmo e motivação dos alunos em participar da pesquisa. O
questionário teve a finalidade de buscar do aluno suas percepções a respeito do meio ambiente, se
eles reconhecem que é necessário preservar o meio ambiente, se há algum problema ambiental na
região onde vivem, se eles se preocupam com o meio ambiente e se conhecem espécies de plantas e
animais nativos do meio onde vivem. Um total de 107 alunos participaram da pesquisa, 40 alunos
da zona rural e 67 alunos da zona urbana, a idade variou de 15 a 23 anos, sendo 34 homens e 73
mulheres.

Análise dos dados

Os dados coletados nos questionários foram plotados em uma planilha do Microsoft Office
Excel contendo todas as respostas dos alunos. Em seguida, foram calculadas as frequências de
respostas para cada questão, a partir de regras de três simples, para elaboração de gráficos e tabelas
sobre cada questão e suas respectivas respostas. Foi feita a análise de conteúdo proposta por Bardin
(2011) para criação de categorias que representassem as percepções dos alunos, o que facilitou a
quantificação das informações obtidas nas entrevistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os alunos apresentaram diferentes concepções acerca de o que é o meio ambiente (Figura 1).
A maior parte deles associaram o meio ambiente apenas como como a natureza (42,05% de
citação), um local onde há vida no planeta. Fontana et al. (2002) diz que é comum as pessoas
associarem a natureza como sinônimo de meio ambiente, reportando para esses locais sentimentos
de apreço e respeito, embora nem sempre estejam aptas para desenvolver ações de proteção ao meio
ambiente.
A categoria de resposta que se destacou em segundo lugar, em relação ao conceito de meio
ambiente, foi aquela que incluiu o local em que os próprios alunos vivem (41,12% de citação). Isso
mostra um cenário interessante, já que evidencia um grupo de alunos que se percebe como parte do
ambiente. Outros alunos em suas respostas associaram o meio ambiente isoladamente a fatores
bióticos (33,64%), como os animais, plantas, vegetação entre outros. Segundo Lenoble (1969) ―(...)
o meio ambiente não tem apenas um sentido estático, por ser constituído por relações dinâmicas
entre seus elementos e componentes, tanto vivos como não vivos‖. Nas entrevistas observou-se
ainda uma menor parte dos alunos que definiram meio ambiente como um lugar que necessita de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

cuidados (8,41%) (―é um lugar que tem vários tipos de espécies de animais, frutas, árvores, e onde
nós estamos. Bem com um ecossistema e nós não podemos deixar de cuidar‖).
Percebe-se que a educação ambiental se faz necessária à medida que os alunos trazem visões
pouco desenvolvidas acerca do meio em que vivem, muitas vezes apresentando uma visão
reducionista do meio ambiente, restringindo-o apenas ao ambiente natural. A educação ambiental
pode ser considerada uma arma eficiente na defesa do meio ambiente, podendo inclusive, ajudar a
reaproximar o homem da natureza, garantindo um futuro com mais qualidade de vida para todos, já
que desperta maior responsabilidade e respeito dos indivíduos em relação ao ambiente em que
vivem (FERNANDES, 2003).
Quando os alunos foram questionados sobre a necessidade de proteção do meio ambiente,
apenas um deles relatou que o mesmo não necessitaria de ajuda, mas não soube justificar sua
resposta. Todos os outros entrevistados (106) afirmaram que o meio ambiente necessita de proteção,
mas as justificativas dadas estavam associadas, exclusivamente, a necessidade de proteção do meio
ambiente para garantir a existência da vida humana, nenhum aluno considerou que ações de
conservação devem ser adotadas pelo direito a vida dos outros seres vivos.
Observou-se que 86 alunos (80,37%) perceberam que o local em que vivem tem problemas
ambientais, enquanto 21 (19,62%) disseram que o local onde vivem não tem problemas ambientais.
Godoy et al. (2008) aponta que é comum estudantes serem capazes de identificar os principais
problemas ambientais dos locais onde vivem, no entanto, na maioria das vezes, eles são incapazes
de ter mudanças de atitude, mudanças de hábitos e formas de viver, por isso a escola, como local
responsável por contribuir para conscientização dos estudantes, tem o difícil desafio de despertar
essas mudanças.
Os que identificaram problemas ambientais em sua região, 47,66% relataram que um dos
maiores problemas é o lixo nas ruas, enquanto 27,1% acredita que o principal problema ambiental é
o esgoto a céu aberto, 23,36% disseram ser o desmatamento das matas da região, 19,52% afirmaram
que são as queimadas, 11,21% disseram ser a poluição dos rios e 6,54% disseram ser a captura de
animais silvestres.
Quando os alunos foram questionados sobre os responsáveis pelos problemas ambientais,
98,13% reconheceram o homem como principal autor. Neste reconhecimento, ora os estudantes se
incluíam como parte dos responsáveis (―pois somos nós que poluímos, queimamos e estragamos a
natureza‖) ora não se colocavam como responsáveis (―eles destroem sem ter consciência de que os
mesmos vão sair prejudicados‖). Apenas 6,54% consideraram que as fábricas ou indústrias
existentes na região são as principais responsáveis pelos problemas ambientais da região, e 4,67%
reconhecem os carros como um dos grandes responsáveis: ―(...) com seus veículos poluentes, a
jogada de lixo à céu aberto e nos rios, fábricas, desmatamento e queimada, tudo isto são problemas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

causados ao meio ambiente‖. Ribeiro et al. (2008), pesquisando o entendimento sobre impactos
ambientais exibidos por estudantes do município de Itaporanga no alto sertão Paraibano
constataram que os itens mais citados foram: ―poluição dos reservatórios hídricos através da má
gestão de resíduos sólidos‖, ―desmatamento‖, ―poluição‖ e ―aquecimento global‖. Isso mostra que
os alunos, de forma geral, possuem consciência dos principais impactos ambientais existentes nos
locais onde residem.
Quando perguntados sobre os recursos naturais que precisam para sobreviver, percebe-se
nas respostas dos alunos que eles sabem que necessitam do oxigênio, de alimentos e de água para
garantir sua sobrevivência. O ―ar‖ foi citado em maior quantidade (93,45%). Com percentual muito
próximo (91,58%) os estudantes afirmaram a necessidade de alimentos, e em terceiro lugar
destacou-se a água (81,3%).
Sobre o conhecimento dos alunos a respeito dos animais que vivem no ambiente onde eles
moram, notou-se que eles conhecem mais animais mamíferos e aves (Tabela 1). Um pequeno
número de alunos citaram os insetos, embora estes organismos constituam o maior grupo de
animais existentes no planeta, sendo conhecidas mais de um milhão de espécies (COSTA-NETO,
2000). Ainda menos foram os anfíbios, peixes e répteis (Tabela 1 e 2). Analisando os tipos de
animais citados, verifica-se que se destacam aqueles do convívio do dia-a-dia dos alunos, como:
cachorro, gato, cavalo, boi e pássaros. De acordo com Moura (2004), a fauna doméstica comumente
se destaca pois eles tem mais aproximação com esses animais em suas casas. O pequeno
conhecimento sobre animais nativos da região onde vivem é preocupante, e evidencia a importância
da escola em tentar conscientizar e ampliar o conhecimento dos alunos sobre os animais silvestres,
visto que os estudantes pesquisados estão concluindo o 3º ano do ensino médio, e apresentaram
pobre conhecimento a respeito dos animais silvestres.

Tabela 1. Classes de animais citados pelos alunos do ensino médio da Escola Antônio Inácio, Município de
Feira Nova (PE).
CLASSES NÚMERO DE CITAÇÃO POR PESSOA
Mamíferos 107
Aves 106
Insetos 11
Anfíbios 8
Répteis 7
Peixes 4

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Tabela 2. Animais mencionados pelos alunos do ensino médio da Escola Antônio Inácio, Município de Feira
Nova (PE)
Animais Citações Animais Citações Animais Citações Animais Citações
Cachorro 94 Tatú 9 Inseto 2 Preá 1
Gato 79 Rato 9 Lebre 2 Jumento 1
Cavalo 63 Sapo 8 Raposa 2 Preguiça 1
Boi 61 Camaleão 6 Pata 2 Mosquito 1
Pássaro 57 Coelho 4 Urubu 2 Macaco 1
Bode 26 Ovelha 4 Cágado 1 Tembú 1
Vaca 26 Peixe 4 Barata 1 Répteis 1
Burro 21 Saguim 4 Formiga 1 Tacaca 1
Cabra 18 Borboleta 3 Égua 1 Jaguatirica 1
Cobra 18 Jacaré 3 Escorpião 1
Carneiro 11 Lagarta 3 Gambá 1
Carcará 11 Tartaruga 3 Gafanhoto 1
Capivara 9 Aranha 2 Cutia 1

Em relação as plantas citadas pelos estudantes (Tabela 3), as frutíferas exóticas foram as
mais mencionadas pelos mesmos, como manga, cajueiro, côco, jaca, acerola, banana, goiaba,
laranja. Conforme aponta Diegues (2001), esta visão antropocêntrica permite que os indivíduos
percebam da natureza tudo aquilo que for necessário para satisfazer suas necessidades, ou seja, a
natureza se configuraria como uma reserva de recursos naturais prontos para serem explorados pelo
homem. Da mesma forma que observado com os animais, mais uma vez ressalta-se a preocupação
pelo fato dos alunos estarem conhecendo poucas espécies nativas da região, e associarem ―plantas
do meio ambiente onde vivem‖ a espécies domesticadas de interesse alimentício.

Tabela 3. Plantas mencionadas pelos alunos do ensino médio da Escola Antônio Inácio, Município de Feira
Nova (PE). Onde NC = Número de citações
Plantas NC Plantas NC Plantas NC Plantas NC
Manga 46 Alfavaca 6 Trepadeira 3 Franboeza 1
Cajueiro 37 Mamão 6 Abacaxi 2 Grama 1
Côco 30 Jabuticaba 5 Angico 2 Jambo 1
Jaca 25 Pau-brasil 5 Azeitona 2 Jucá 1
Palmeira 23 Pé-de-café 5 Cravo 2 Maçã 1
Acerola 22 Urtiga 5 Erva-doce 2 Manclero 1
Cajarana 21 Árvores frutíferas 4 Girassol 2 Mandacarú 1
Bananeiro 14 Eucalipto 4 Jurema 2 Mandioca 1

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Goiaba 14 Graviola 4 Jurubeba 2 Maracujá 1


Laranja 14 Abacate 3 Orquídea 2 Milheiro 1
Romã 13 Amendoim 3 Boa-noite 2 Pé de alcachofra 1
Pitomba 11 Avenca 3 Pitanga 2 Juá 1
Árvores 9 Cacto 3 Samambaia 2 Quiabo 1
Babosa 9 Capim-santo 3 Uva 2 Pinheiro 1
Juazeiro 8 Carambola 3 Alho 1 Sabiá 1
Capim 7 Seriguela 3 Ameixa 1 Salmeira 1
Colônia 7 Flores 3 Amor-de-negro 1 Tamarindo 1
Comigo ninguém pode 7 Limão 3 Catingueira 1
Hortelã 7 Rosas 3 Coentro 1

Ao analisar sobre a contribuição dos alunos para a melhoria do meio ambiente (Figura 9),
85% (N=91) disseram que contribuem, e 15% (N=16) disseram que não contribuem. Um aluno
respondeu da seguinte forma: “não tenho nenhum incentivo ou projeto para me interessar a
participar disso‖. Isto evidencia que incentivos para participação de projetos envolvidos com as
questões ambientais fazem-se necessários dentro da escola, para contribuir com a sensibilização e
desperte nos alunos o desejo de contribuir positivamente com o meio ambiente.
Sobre a contribuição que os estudantes relataram que desempenham em relação a proteção
do meio ambiente destacou-se: não jogando lixo nas ruas (61,68%), outros 20,56% relataram que
ajudam plantando árvores, não realizando queimadas (18,69%), não desmatando (15,88%),
economizando água (14,01%). Outros 9,34% afirmam que não contribuem em nada e 2,8% afirmam
que não cuidam pois não adianta, pois a maioria da população não faz quase nada.
A UNESCO (1973) destaca que:

Uma das dificuldades para a proteção dos ecossistemas naturais está na existência de
diferenças nas percepções dos valores e da importância dos mesmos entre os indivíduos de
culturas diferentes ou de grupos socioeconômicos, que desempenham funções distintas no
plano social, nesses ambientes.

Logo, a forma como os alunos veem o meio onde estão inseridos, a partir de suas vivências
culturais, influencia diretamente na sua abertura para desenvolver ações pró-ambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo e análise dos questionários a respeito de percepção ambiental dos alunos da Escola
Antônio Inácio, no Município de Feira Nova – PE, permitiu constatar que estes, de forma geral,
reconhecem o meio ambiente como o meio em que vivem, não conseguindo enxergar de forma mais

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

abrangente o tema, visualizando apenas com olhar individual. Protegem o meio ambiente para
benefícios próprios, pois do contrário reconhecem que serão os primeiros a serem atingidos.
Os alunos percebem que o homem é o principal responsável pelos problemas ambientais, e
isso mostra que existe uma percepção em que o próprio ser humano está prejudicando o meio em
que vive, porém, não sabe como fazer para reverter esse agravante, e devem pensar mais sobre suas
atitudes para com a sua comunidade. É necessário que a escola auxilie na construção do
conhecimento dos alunos sobre meio ambiente, a fauna e a flora local, pois os alunos estão saindo
da formação básica e pouco sabem ou conhecem sobre os animais e plantas que fazem parte do seu
ambiente natural. Isso pode ser reflexo da falha do sistema educacional, que hoje mantém seu foco
em atingir metas e números, deixando de lado questões ambientais, que é tão importante para a
construção da conscientização e sensibilização do indivíduo.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO


DE LAGOA DE DENTRO-PB

Marcilene Barbosa da Silva OLIVEIRA


Licenciatura em Geografia pela UEPB56
barbosa.marcilene7@gmail.com

RESUMO
O trabalho em questão trata-se sobre as políticas de educação ambiental no município de Lagoa de
Dentro, onde este é um município que faz parte do estado da Paraíba (Brasil), localizado a 75 km da
capital. A mesma está inserida na microrregião de Guarabira-PB. A pesquisa foi realizada no
município de Lagoa de Dentro, nas escolas municipais, contabilizando um total de 17 Escolas.
Assim, pode-se dizer que, a educação ambiental é um processo pelo qual o educando começa a
obter conhecimentos acerca das questões ambientais, onde ele passa a ter uma nova visão sobre o
meio ambiente, sendo um agente transformador em relação à conservação ambiental. As questões
ambientais estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade, contudo, a educação ambiental
é essencial em todos os níveis dos processos educativos e em especial nos anos iniciais da
escolarização, já que é mais fácil conscientizar as crianças sobre as questões ambientais do que os
adultos. . Esta pesquisa é norteada pela metodologia qualitativa e quantitativa. Conforme Moresi
(2003, p.8), a pesquisa quantitativa ―considera que tudo pode ser quantificável, o que significa
traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de
recursos e de técnicas estatísticas‖.
Palavras chave: Educação ambiental, Meio Ambiente, escolas.
ABSTRACT
The work in question is about environmental education policies in the municipality of Lagoa de
Dentro, where this is a municipality that is part of the state of Paraíba (Brazil), located 75 km from
the capital. It is inserted in the micro-region of Guarabira-PB. The research was carried out in the
municipality of Lagoa de Dentro, in the municipal schools, counting a total of 17 Schools. Thus, it
can be said that environmental education is a process by which the learner begins to obtain
knowledge about environmental issues, where he starts to have a new vision about the environment,
being a transforming agent in relation to environmental conservation. Environmental issues are
increasingly present in everyday life, however, environmental education is essential at all levels of
educational processes and especially in the early years of schooling, since it is easier to raise
children's awareness of environmental issues than the adults. . This research is guided by the
qualitative and quantitative methodology. According to Moresi (2003, p.8), quantitative research
"considers that everything can be quantifiable, which means translating opinions and information
into numbers to classify and analyze them. It requires the use of resources and statistical
techniques."
Keywords: Environmental education, Environment, schools.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental é um processo pelo qual o educando começa a obter conhecimentos


acerca das questões ambientais, onde ele passa a ter uma nova visão sobre o meio ambiente, sendo
56
Estudante de Ciências Contábeis – UNIP.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

um agente transformador em relação à conservação ambiental. As questões ambientais estão cada


vez mais presentes no cotidiano da sociedade, contudo, a educação ambiental é essencial em todos
os níveis dos processos educativos e em especial nos anos iniciais da escolarização, já que é mais
fácil conscientizar as crianças sobre as questões ambientais do que os adultos.
Com o mundo cada vez mais globalizado, com a sociedade tão violenta e com o acelerado
crescimento das cidades que substituem os espaços verdes pelo concreto, vem diminuindo o contato
direto da criança com todos os elementos da natureza. Desse modo, cada dia que passa as crianças
passam a ter espaços cada vez mais restritos para o contato com os elementos do ambiente e então
as crianças estão sendo obrigadas a ficarem trancadas em casa tendo como fonte de lazer o uso das
tecnologias, que na maioria das vezes, elas não sabem o que é o meio ambiente nem tampouco os
problemas que ele enfrenta e se a criança for questionada, por exemplo, de onde vem o leite, é bem
provável que ela responda que vem da caixinha.
Diante disso, Alves (1999) diz que: ―há crianças que nunca viram uma galinha de verdade,
nunca sentiram o cheiro de um pinheiro, nunca ouviram o canto do pintassilgo e não tem prazer em
brincar com a terra. Pensam que a terra é sujeira. Não sabem que terra é vida‖. A cada dia que passa
a questão ambiental tem sido considerada como um fato que precisa ser trabalhada com toda
sociedade e principalmente nas escolas, pois as crianças bem informadas sobre os problemas
ambientais vão ser adultas mais preocupadas com o meio ambiente, além do que elas vão ser
transmissoras dos conhecimentos que obtiveram na escola sobre as questões ambientais em sua
casa, família e vizinhos.
As instituições de ensino já estão conscientes que precisam trabalhar a problemática
ambiental e muitas iniciativas tem sido desenvolvida em torno desta questão, onde já foi
incorporada a temática do meio ambiente nos sistemas de ensino como tema transversal dos
currículos escolares, permeando toda prática educacional.
A educação ambiental nas escolas contribui para a formação de cidadãos conscientes, aptos
para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com
o bem-estar de cada um e da sociedade. Para isso, é importante que, mais do que informações e
conceitos, a escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações
práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a amar, respeitar e praticar ações voltadas à
conservação ambiental.
A escola é o lugar onde o aluno irá dar seqüência ao seu processo de socialização, no
entanto, comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no decorrer da
vida escolar com o intuito de contribuir para a formação de cidadãos responsáveis, contudo a escola
deve oferecer a seus alunos os conteúdos ambientais de forma contextualizada com sua realidade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O trabalho com o meio ambiente nas escolas traz a ela a necessidade de estar preparada para
trabalhar esse tema e junto aos professores adquirir conhecimentos e informações para que possa
desenvolver um bom trabalho com os alunos. Os professores têm o papel de ser o mediador das
questões ambientais, mas isso não significa que ele deve saber tudo sobre o meio ambiente para
desenvolver um trabalho de qualidade com seus alunos, mas que ele esteja preparado e disposto a ir
à busca de conhecimentos e informações e transmitir aos alunos a noção de que o processo de
construção de conhecimentos é constante.
Para isso o professor precisa buscar junto com os discentes mais informações, com o
objetivo de desenvolver neles uma postura crítica diante da realidade ambiental e de construírem
uma consciência global das questões relativas ao meio ambiente para que possam assumir posições
relacionadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria.
No entanto, a figura do professor diante de seus alunos deve ser um instrumento de ação
para a conscientização deles educando-os de forma correta desde a conservação da limpeza da sala
de aula até a preservação do meio em que comunidade escolar está inserida na sociedade

CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

Lagoa de Dentro é um município que faz parte do estado da Paraíba (Brasil), localizado a 75
km da capital. A mesma está inserida na microrregião de Guarabira-PB.
Segundo a tradição oral e popular, o nome do município deu-se devido à lagoa que existe no
meio da cidade. Há muito tempo atrás houve um extremo período de seca na região, entretanto,
alguns criadores de porcos da referida cidade constataram que seus animais sempre chegavam
molhados e com os pés enlameados, mesmo diante da grande escassez de água no período. E eis
que seguiram os animais e encontraram uma lagoa dentro da floresta, daí o nome Lagoa de Dentro.
Precisamos alertar para o fato de que, esta história não está documentada pelo IBGE, são
apenas dados transmitidos oralmente pelo povo da região.
O IBGE (2015), por sua vez, afirma que o município possui 7. 619 habitantes numa
densidade demográfica de 87,21 hab./km2 e área territorial de 84,508 Km².
Menciona, ainda, que não há uma data certa de fundação do município, mas existem indícios
de que em 1880 já existiam no local de 10 a 12 casas erguidas por bravos pioneiros, porém, só
conseguiu a emancipação em 1961 por meio da lei estadual nº 2614, de 11-12-1961. É sabido que,
algumas das casas citadas pertenciam a José Cardoso, José Batista, Bevenuto Ferreira de Lima,
Francisco Costa, Joaquim Freire de Amorim, Antônio Fernandes e Manoel Prígio.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Mapa 1: Localização geográfica de Lagoa de Dentro- Paraíba Fonte: IBGE (Censo 2010).

A pesquisa foi realizada no município de Lagoa de Dentro, nas escolas municipais,


contabilizando um total de 17 Escolas. Onde o município está em busca de uma efetivação das
políticas ambientais locais.
Esta pesquisa é norteada pela metodologia qualitativa e quantitativa. Conforme Moresi
(2003, p.8), a pesquisa quantitativa ―considera que tudo pode ser quantificável, o que significa
traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de
recursos e de técnicas estatísticas‖.
Já, no que concerne a pesquisa qualitativa, Moresi afirma que:

Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são
básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador:
(MORESI, 2003, p.9)

BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Sabe-se que a EA (Educação Ambiental) surgiu como resposta às necessidades que não
estavam sendo completamente correspondidas pela educação formal. Em outras palavras, a
educação deveria incluir valores, capacidades, conhecimentos, responsabilidades e aspectos que
promovam o progresso das relações éticas entre as pessoas, seres vivos e a vida no planeta. No
entanto, o problema do descuido com o meio ambiente, é uma das questões sociais que tem deixado
a humanidade preocupada, por isso talvez, seja um dos fatores, mais importante, a ser estudado nas
escolas, porque tem haver com o futuro da humanidade e com a existência do planeta.
Segundo a UNESCO:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

―Educação ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza a relação dos homens
com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus
recursos adequadamente‖. Assim, incluindo a EA na escola pode-se preparar o indivíduo
para exercer sua cidadania, possibilitando a ele uma participação efetiva nos processos
sociais, culturais, políticos e econômicos relativos à preservação do ―verde no nosso
planeta‖, que se encontram de certa forma em crise, precisando de recuperação urgente.
(UNESCO, 2005, p. 44)

O início do processo de conscientização, de que o meio ambiente solicita é o entendimento e


a reflexão de uma condição básica para a convivência humana. A EA tem muito a contribuir no
sentido de construir relações e proporcionar intercâmbios entre as diversas disciplinas. Este
intercâmbio depende exclusivamente da vontade dos docentes em participarem deste processo, e
que esta vontade dificilmente acontece sem haver uma orientação e um preparo. A EA busca
assegurar que o futuro do planeta esteja equilibrado no que se refere a natureza. A sua Política
Nacional tem como um de seus princípios ―o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas na
perspectiva da interdisciplinaridade‖.
Esta lei determina que a EA não seja trabalhada na forma de disciplina especifica, mas que
permeie o currículo das disciplinas. Deve ter na perspectiva da transversalidade a estratégia
metodológica, o que tem se revelado um desafio que as escolas vêm enfrentando com muitas
dificuldades, seja pelo programa estritamente fechado em seus conteúdos e carga horária, seja pelo
pouco interesse, por parte dos professores, em atividades diferentes do binômio quadro-giz.
Portanto, os PCNs (Parâmetros curriculares nacionais) vêm fortalecer para os professores a
importância de se trabalhar a EA como forma de transformação da conscientização dos indivíduos,
sendo uma forma de integrar as diversas áreas do conhecimento. Porém em nosso país a realidade
diverge do que determina a lei. A temática ambiental, em muitas instituições de ensino, é abordada
nas disciplinas de Geografia e Ciências, quando na verdade, deveria ser trabalhada em todas as
matérias ministradas em sala de aula.
O caráter integrador do meio ambiente acaba permanecendo na teoria, o que vem reforçar a
idéia antropocêntrica de grande parte da sociedade: o homem não faz parte do meio ambiente, ele
está fora do mesmo, muitas vezes considera-se algo superior.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ALGUMAS QUESTÕES ESPECIFICAS

A problemática ambiental é uma das principais preocupações da sociedade moderna,


desencadeando, por isso, uma série de iniciativas no sentido de reverter a situação atual de
conseqüências danosas à vida na terra. Uma dessas iniciativas é a Educação Ambiental que as
instituições de educação básica estão procurando implementar, na busca da formação de cidadãos
conscientes e comprometidos com as principais preocupações da sociedade (SERRANO, 2003).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Aliado a este fator, o rápido processo de urbanização das cidades, que substitui espaços
verdes por concreto, diminui o contato direto do homem com todos os elementos bióticos da
natureza da qual é parte integrante. Dentro desse paradigma, as crianças passaram a ter espaços
cada vez mais restritos para vivenciarem o prazer natural de terem contato com elementos do
ambiente da qual fazem parte (PMF/SME, 2004).
Segundo LEFF (2001) esse processo de conscientização mobiliza a participação dos
cidadãos na tomada de decisões, junto com a transformação dos métodos de pesquisa e formação, a
partir e uma ótica holística e enfoques interdisciplinares e não como uma coleção de partes
dissociada.
No Brasil a educação ambiental foi regulamentada pela Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA), instituí da pela Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que estabelece e define seus
princípios básicos, incorporando oficialmente a Educação Ambiental nos sistemas de ensino.
Todavia na realidade do ensino Formal a educação ambiental ainda não cumpre o seu papel, tanto
do ponto de vista de educacional (nível didático) como de seu tratamento interdisciplinar (nível
epistemológico).
Na área educacional, a educação ambiental não pode ser tratada como uma disciplina
isolada nos níveis da educação básica devido a sua compreensão. Na educação infantil o RCNEI
insere a educação ambiental nos diversos eixos de trabalhos propostos. Para a educação
fundamental os PCNs a inserem em diversos temas transversais, principalmente meio ambiente,
saúde e consumo, nas áreas do saber (disciplinas), de modo que impregne toda a prática educativa,
e ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os
aspectos físicos e histórico-sociais, assim como a articulação entre a escala local e planetária desses
problemas (MEC, 2005).
É de suma importância destacar a preocupação demonstrada pela maioria dos professores
em trabalhar educação ambiental nas escolas, esta preocupação torna-se ponto favorável para a
implantação de novas idéias e propostas ligadas à área (VALDAMERI, 2004).

CONCLUSÃO

Com este trabalho é possível elucidar que, a educação tem a capacidade de promover
valores, não sendo somente um meio de transmitir informações, trata-se de um processo que
envolve transformações no sujeito que aprende e incide sobre sua identidade e posturas diante do
mundo. Desenvolvendo habilidades como mais cooperação, e menos competitividade, assim se
pode ter grandes expectativas sobre a recuperação do meio ambiente, ou o congelamento da
destruição dos bens naturais que ainda não entraram em extinção no nosso planeta.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Portanto, é com muitos argumentos, desenvolver de atividades e experimentos que se


consegue conscientizar grupos. Esse lugar, provavelmente é a escola, mas não obrigatoriamente,
somente ela deve ensinar e conscientizar que para melhorar é preciso que se dêem as mãos.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1321


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

FÓRUM DE MEIO AMBIENTE E COMUNIDADE ESCOLAR: PRÁTICAS DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL SENADOR
DUARTE FILHO – MOSSORÓ/RN

Marcos Paulo de AZEVEDO


Professor Mestre em Letras - SEDUC-CE
marcos_h.p@hotmail.com
Alexandre Alves de ANDRADE
Professor Mestre e Doutorando em Geografia - UFRN

RESUMO
Este artigo apresenta as concepções de Educação Ambiental que norteiam as experiências teórico-
metodológicas nas práticas pedagógicas realizadas pela Escola Municipal Senador Duarte Filho –
Mossoró/RN, destacando a metodologia dos fóruns de debate e exposição de problemas do
cotidiano da comunidade escolar como forma de promoção de uma Educação Ambiental plena. O
objetivo é discutir proposições teórico-práticas na efetivação da Educação Ambiental a partir das
experiências realizadas no ambiente escolar. Destaca-se o papel da interdisciplinaridade como
elemento essencial no diálogo entre os saberes sobre os problemas e soluções das questões
ambientais na escala local, tomando estes como questão central para formação de sujeitos ativos em
seus processos formativos enquanto cidadãos.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Escola, Metodologias de Ensino e Problemas Locais.
ABSTRACT
This paper presents the conceptions of Environmental Education that guide the theoretical-
methodological experiences in the pedagogical practices performed by a public school called
Senador Duarte Filho, from Mossoró/RN (Brazil), highlighting the methodology of the discussion
forums and the discussion about the routine of the school community as a way to foster an overall
environmental education. The aim of the study is to discuss theoretical-practical propositions to the
implementation of the environmental education from the experiences performed in the school
environment. The role of interdisciplinarity here is highlighted. It works as an essential element to
develop the dialog between the knowledge of the problems and solutions for environmental issues
in a local sphere, these being the central issue to the education of active subjects in their own
formative process to become citizens.
Keywords: Environmental Education, School, Teaching Methodologies and Local Problems.

INTRODUÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS NA ESCALA LOCAL-GLOBAL DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação Ambiental é um movimento recente que consiste em pensar as práticas


cotidianas das relações do homem para com a natureza e das relações humanas na esfera inter e
intrapessoal. Evocam-se as práticas educativas nos ambientes formais e não formais por
acreditar-se que a educação é uma propulsora de mudanças na sociedade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Historicamente as práticas educativas nos ambientes formais estavam pautadas no


discurso do respeito e da preservação da diversidade. No entanto, o que hoje convencionamos
chamar de Educação Ambiental são ações que buscam superar o plano discursivo e ideológico e
empreender ações concretas para com a ambiente e para com as pessoas que são seres iner entes
ao ambiente físico.
Debruçar-se sobre a Educação Ambiental no Brasil é reconhecer que somos tributários de
ações e impulsos globais na denúncia da atuação nociva da sociedade para com o ambiente, mas
também colaboradores globais de mudanças buscando melhores condições de vivência coletiva,
pautados na solidariedade e no sentimento de pertencimento que deve reger os comportamentos
sociais.
Ao voltamos nosso olhar ao passado, perceberemos que as ideias de progresso econômico
e financeiro motivaram a ação de governos, empresas e indivíduos a pensarem isoladamente as
condições de acumulação de riqueza e produção de lucro pautadas na exploração dos recursos
ambientais e humanos. O resultado dessa corrida pela riqueza foram destruição, guerras, pobreza
e segregação.
Esse percurso não passou despercebido por aqueles que possuíam uma visão diferente de
se estar no mundo. Ocorrem denúncias como as de Raquel Canson na obra Primavera silenciosa
e as conclusões do clube de Roma, apontando para um redirecionamento nos padrões de
produção e consumo da sociedade.
Na escala mundial, temos a Conferência Mundial de Meio Ambiente Humana promovida
em 1972 pela Organizações das Nações Unidas, em Estocolmo/Suécia como marco inicial das
discussões sobre os danos provocados aos ambientes e, por consequência, às pessoas, fruto de
um modelo de organização produtiva pautado pela industrialização massiva da produção e na
exploração dos recursos naturais, enfatizando a ideia do homem enquanto dominador das forças
da natureza. Nessa perspectiva, o homem não é visto como ser pertencente ao quadro natural,
mas como agente superior às forças da natureza, com potencialidade de exploração infinita sobre
seus recursos.
O ideário do progresso difundido como elemento essencial aos Estados-Nação induzia
políticas públicas pautadas na exploração dos recursos naturais sem a preocupação com os
passivos ambientais que as atividades econômicas geravam. Na América Latina, África e leste da
Ásia vivenciava-se o processo de industrialização impulsionando novas formas de arranjos
produtivos e espaciais com reflexos nas formas e perfis de urbanização, de organização do
espaço urbano e rural e na adoção de políticas de liberalização econômicas, incentivando a
dispersão industrial e atraindo os olhares e investimentos dos capitais internacionais com a
instalação das empresas multinacionais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nesse contexto, ressalta-se o fortalecimento de movimentos antidemocráticos e a


imposição de regimes de governos autoritários, em especial na América Latina, como as ocorrida
no Brasil, Chile e Argentina, que massacraram movimentos sociais que projetavam padrões de
reprodução econômica e social pautados em forças endógenas e lutavam contra a exploração
latifundiária, ruralista, monocultora e exportadora em que se alicerçavam as sociedades latino-
americanas, a exemplo do Brasil.
A exploração de Carajás e a formação da Serra Pelada são marcos concretos da ganância
e modus operandis das forças políticas, econômicas e produtivas que dirigiam o Brasil. A luta
por uma sociedade mais justa e igualitária motivou a ação dos diversos segmentos da sociedade
civil organizada na tentativa de se mudar a forma como a geração e distribuição de riquezas
ocorria no Brasil. Nesse sentindo, a luta pela redemocratização, pela universalização d os
serviços de saúde e educação, pela preservação da floresta e pela reforma agrária fizeram surgir
esperanças de condições de vivência equilibrada entre sociedade e natureza.
O crescimento e fortalecimento de movimentos ambientalistas pelo mundo encontrar am
eco na ação de movimentos nacionais, como os liderados por Chico Mendes em defesa da
floresta Amazônica. Destarte, emergiam em escala global ações políticas e concretas para uma
tomada de posição frente aos agravos ambientais decorrentes da ação humana. Na esteira desse
processo, a academia produzia teoricamente novas formas de análises sobre a natureza e a
sociedade e suas relações mútuas. Assim, concepções filosóficas, históricas, geográficas,
sociológicas e antropológicas se debruçavam no processo de criação de mecanismos conceituais
sobre as novas posturas diante dos problemas ambientais.
As conferências internacionais sobre a questão ambiental apontavam a necessidade de se
pensar um novo paradigma para superar a crise ambiental. Desse modo, a Educação Ambiental
emerge como medida eficaz na promoção de mudanças sobre as visões e ações nas relações entre
sociedade e natureza. Os eventos internacionais patrocinados pela Unesco, como a carta de
Belgrado (1975), Congresso Internacional de Educação Ambiental (1977 – Tbilissi/Geórgia), A
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992 – Rio de
Janeiro/Brasil), Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (2002 –
Johannesburgo/ África do Sul) e RIO+20, corroboraram e fortaleceram o entendimento sobre a
necessidade de educar para a mudança.
Desse modo, a Educação Ambiental é fruto de um processo histórico de ações locais e
globais na buscar por um novo modelo de sociedade que passa por novas concepções de sujeito ,
de vivência e de educação. A Educação Ambiental emerge enquanto novo paradigma educacional
direcionado à formação de um sujeito que pensa e adota posturas de respeito e solidariedade para
com os demais sujeitos e para com os recursos naturais. Uma educação pautada na alteridade, na

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

diversidade e na emancipação política, alicerçada na criticidade, interdisciplinaridade, liberdade


e autonomia dos saberes, valorada por seus participes de modo a reconhecer a integração
harmônica entre sociedade e natureza. Nossa definição de Educação Ambiental corrobora com a
visão de Reigota (2009, p. 13):

[...] afirmamos e definimos a Educação Ambiental como educação política, estamos


afirmando o que deve ser considerado prioritariamente na Educação Ambiental é a
análise das relações políticas, econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e
as relações entre os humanos, visando a superação dos mecanismos de controle e de
dominação que impedem a participação livre, consciente e democrática de todos.
A Educação Ambiental como educação política está comprometida com a ampliação da
cidadania, da liberdade da autonomia e da intervenção direta dos cidadão e cidadãs na
busca de soluções e alternativas para o bem comum .

Nesse sentido, a Educação Ambiental não se pauta tão somente em práticas de


reciclagem e reutilização de materiais. Ela possibilita mecanismos cognitivos para repensar
posturas frente aos desafios do mundo contemporâneo, instrumentalizando para a tomada crítica
e consciente de decisão, considerando holisticamente a humanidade e a natureza. Certamente
essas concepções diferem da efetiva Educação Ambiental no país e em especial aquela
desenvolvida nas escolas, no entanto, ressaltamos que o que vem sendo desenvolvido é
importante e nossa intenção nesse texto é contribuir epistemologicamente com o debate acerca
de uma Educação Ambiental renovada. Considerando o exposto, nos debruçamos sobre a
institucionalização política da Educação Ambiental no Brasil enquanto ação norteadora das
práticas efetivas em curso no país, influenciando o fazer docente de professoras e professores
nos diferentes níveis e modalidades de ensino.

MARCOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

A institucionalização de uma agenda pública direcionada às práticas educativas passa


necessariamente por um projeto político que contemple os aspectos históricos, econômicos e
políticos. Ao olharmos o direcionamento do Estado brasileiro para com a Educação Ambiental
observamos distintos momentos. Segundo Reigota (2009) as primeiras ações de Educação
Ambiental no país foram pensadas pela Secretaria Nacional do Meio Ambiente nos anos 1970,
num período em que a ideia de progresso estava alicerçada na exploração dos recursos naturais e
sua conservação era vista como dispensável aos interesses econômicos e políticos.
No entanto, destaca o autor, naquele momento germinava o sentimento de novas posturas
e práticas frente ao embate progresso x conservação, e nesse cenário surgia um movimento de
educadores e pesquisadores que faziam críticas às ações do Governo brasileiro frente à
integração amazônica, à expansão do front agrícola com a cultura da soja e na modernização
agrícola pautada na Revolução Verde.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Nas escolas já ocorriam práticas direcionadas à observação da paisagem, à catalogação


das espécies e à preservação dos recursos, como são citadas na obra A implantação da Educação
Ambiental no Brasil (BRASIL,1998) editada pela Coordenação de Educação Ambiental do então
Ministério da Educação e do Desporto.
O discurso da crise ambiental que se acentua nos anos 1980 ganha força e se reverbera na
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como
Rio92. Emergia desse discurso várias proposições encaminhadas, dentre elas a formulação de
políticas de Educação Ambiental são contempladas na construção de uma Agenda de Ação global
para as questões ambientais, conhecida como Agenda 21.
Após 1992 havia a necessidade de se pensar um marco regulatório que abarcasse os
interesses dos movimentos sociais e ambientalista, dos educadores e da sociedade sobre a
formação de novas maneiras de pensar e agir diante dos desafios da questão ambiental. Assim, o
Governo brasileiro edita em Lei 9.795/1999 que determina a institucionalização da Política
Nacional de Educação Ambiental.
Em seus primeiros artigos já se expressam claramente as finalidades e concepções sobre a
Educação Ambiental a ser desenvolvida, aclarando a intenção de se estabelecer a escola como
espaço privilegiado de efetivação de aprendizado, reflexões e práticas da Educação Ambiental:

Art. 1º Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art.2º A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999, p.1).

A intenção de colocar a escola como espaço de aquisição de uma postura combatente às


questões ambientais é acertada, uma vez que na escola o sujeito molda e estabelece seus padrões
de comportamento nas relações em sociedade.
O entendimento da interdicisplinaridade e da transversalidade do conhecimento na
Educação Ambiental fica exposto no Artigo 4º ao estabelecer ―o pluralismo de ideias e
concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade‖ (BRASIL, 1999,
p. 1). Nesse sentido, a Educação Ambiental é contemplada nos Parametros Curriculares Nacional
como tema transversal atrelado ao eixo meio ambiente e saúde, considerando a Educação
Ambiental um elemento essencial à cidadania plena (PCN, 2001).
A política de Educação Ambiental passa a ser regulamentada pelo decreto 4.281/2002,
trazendo uma sistematização das ações que promovem a Educação Ambiental entre as
instituições educacionais e as instituições que representam a sociedade civil organiz ada, com a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

criação do Comitê Gestor de Educação Ambiental no âmbito da União e estabelecendo sua


necessária criação nos âmbitos estaduais e municipais.
A Política Nacional de Educação Ambiental conjuntamente com os Parâmetros
Curriculares Nacionais são importantes marcos regulatórios e norteadores das práticas
pedagógicas direcionadas à execução de uma Educação Ambiental pautada na diversidade, de
modo a delinear o posicionamento do país frente à formação de seus cidadãos. Estes documentos
são referências, também, na formulação de planos de cursos, planos de ensino e planos de aulas
em todas as modalidades e níveis de ensino; são, ainda, documentos referenciais na elaboração
de políticas estaduais e municipais de Educação Ambiental.
Corroborando com a Legislação Nacional, o Poder Executivo do município de Mossoró
institui em 14 de dezembro de 2014 a Lei 2.573, dispondo sobre a Política Municipal de
Educação Ambiental, ―instituindo os deveres e direitos de ordem pública e privada voltados a
incorporar e promover a Educação Ambiental nas políticas municipais e em toda sua área de
abrangência, de modo a capacitar a população de maneira geral e participativa na defesa e
proteção do meio ambiente‖ (MOSSORÓ, 2014, p. 10). Assim, a municipalidade em
conformidade com o pacto federativo de estabelecer consonância com as políticas de ordem
nacional institui seu dispositivo regulatório de promoção das práticas de Educação Ambiental.
A perspectiva da interdisciplinaridade está posta no Artigo 11º que ―prever uma prática
educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal‖
(MOSSORÓ, 2014, p. 11), não sendo obrigatória a criação de um novo componente curricular. A
premissa da participação de todos os educadores da rede municipal estabelece que ―os
professores em atividade devem receber formação continuada em suas áreas de atuação, com o
propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política
Municipal de Educação Ambiental‖ (MOSSORÓ, 2014, p. 11). A previsão orçamentária na Lei de
Diretrizes Orçamentárias fica estabelecida para investir-se nas práticas de educação municipal.
Destarte, os marcos legais são indispensáveis para o estabelecimento de uma Educação
Ambiental dentro de um projeto educativo nacional, que por sua vez está atrelado a um projeto
de Nação. A simetria nos instrumentos legais denota uma preocupação entre os entes federados
em construir de forma sólida e articulada uma formação plena e holística alicerçada em valores
éticos, humanísticos e ambientais. No entanto, a regulação normativa é apenas um passo frente
ao desafio de promover uma Educação Ambiental eficaz dentro da estrutura macro educacional
do sistema de ensino vigente no país. Recai sobre as escolas e sobre o professor a
responsabilidade de promover a Educação Ambiental com seus próprios recursos e métodos. Na
sessão seguinte, traçamos as experiências formativas no âmbito da Educação Ambiental

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

promovida pela escola pública, tomando como referência empírica as experiências da Escola
Municipal Senador Duarte Filho, em Mossoró/RN.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL SENADOR DUARTE FILHO:


EXPERIÊNCIAS DO FÓRUM DE MEIO AMBIENTE E COMUNIDADE ESCOLAR.

A Escola Municipal Senador Duarte Filho (EMSDF) é uma unidade urbana de Ensino
Fundamental, contemplando os anos finais (6º ao 9º ano) da rede municipal de ensino do Município
de Mossoró/RN. Há 43 anos a unidade de ensino se destaca por oferecer educação pública a
moradores da área urbana e rural na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. No ano de 2016
atingiu 4,5 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
No município de Mossoró/RN está prescrito em sua política municipal de educação Lei
2.717/2010, lei de Responsabilidade Educacional. Neste instrumento normativo, prevê-se que a
cada início de ano letivo, todas as unidades de ensino elaborem um documento referencial para o
trabalho pedagógico a ser desenvolvido pela unidade por meio do seu corpo de profissionais,
denominado de Mapa Educacional. Neste documento contempla-se o planejamento anual de um
conjunto de metas educacionais a serem atingidas por meio das atividades pedagógicas que serão
realizadas no decorrer do calendário escolar.
O Artigo 9º inciso V prevê que as unidades de ensino devem promover ―eventos de caráter
científico ou cultural que será realizado com o envolvimento da comunidade escolar‖ (MOSSORÓ,
2010, p. 4). Enquanto eixos norteadores a Secretaria Municipal de Educação (SME) orientada a
realização de projetos educativos que contemplem no mínimo quatro temas transversais, seja de
modo isolado ou articulado entre si, a saber; 1) bulliyng, 2) trânsito, c) meio ambiente e d)
alimentação saudável.
No ano de 2014, a EMSDF, visando atender às instruções normativas da SME desenvolveu a
experiência da realização de um fórum educativo que possibilitasse a abordagem da temática meio
ambiente e oportunizasse um espaço de discussão entre a escola e a comunidade sobre seus
problemas. Na ocasião, nascia o Fórum de Meio Ambiente e Comunidade Escolar, discutindo a
temática: ―A situação ambiental do canal dos Teimosos - Mossoró/RN: discutindo a
sustentabilidade‖.
Naquele momento, foi debatida a situação ambiental do Canal dos Teimosos que corta a
comunidade em que a escola está situada. Pais, professores e alunos desenvolveram um conjunto de
atividades como: coleta de água em parceria com a Universidade Federal Rural do Semiárido,
miniexpedições no curso do canal, elaboração de material informativo a ser distribuído na
comunidade e a culminância com um fórum de discussão acerca da realidade em que se encontrava
aquele corpo d‘água (figura 01).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Optou-se pela metodologia do fórum por considerar um espaço aberto e democrático para
exposição de ideias e opiniões entre os participantes em caráter colaborativo e dinâmico. Os alunos
são orientados a desenvolver pesquisas e atividades sobre um tema relacionado a sua realidade e a
posteriori apresentam e debatem os resultados que encontram ao longo do projeto. A mediação
ocorre por meio do grupo de professores ou por profissionais técnicos especializados no tema em
estudo.

Figura 01: Banner e convite do I e II Fórum de Meio Ambiente e Comunidade Escolar,


respectivamente.

Fonte: Azevedo e Andrade, 2017.

No ano de 2015, a EMSDF realizou a segunda edição do Fórum de Meio Ambiente e


Comunidade Escolar, desta vez discutiu-se a importância da arborização de áreas urbanas e as
consequências da retirada desta vegetação para o equilíbrio ambiental e qualidade de vida da
população. Em parceria com o curso de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal
Rural do Semiárido e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Mossoró a Escola
promoveu uma série de discussões acerca da importância das áreas verdes urbanas da cidade,
enfatizando o manejo sustentável e o desmatamento ocorrido nessa vegetação (figura 1).
Em sua terceira edição, no ano de 2016, a temática ―O controle de zoonoses enquanto
questão de saúde pública‖ foi o foco do Fórum. Em parceira com o Hospital Veterinário da
Universidade Federal Rural do Semiárido e a Unidade Básica de Saúde da própria comunidade, por
meio da equipe de residência multiprofissional em saúde coletiva e da comunidade, foram
discutidas as questões de saúde, o papel do poder público municipal na promoção de sanidade e
controle de zoonoses e o atendimento ao paciente acometido por uma zoonose na rede do Sistema
Único de Saúde (figura 02).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

As discussões da temática do Fórum de Meio Ambiente e Comunidade Escolar surge das


inquietações e vivências dos próprios alunos. Debates são providos no decorrer das aulas e
aprofundados em pesquisas e atividades escolares com vistas a instrumentalizar os discentes em
uma discussão acerca dos problemas ambientais, buscando-se sempre pensar as soluções para o
problema apresentado. O intuito maior das discussões é promover a formação de sujeitos capazes
de perceber sua realidade e propor mecanismos cognitivos e científicos na busca de soluções e
melhoria na qualidade de vida; formar um cidadão capaz de intervir em sua realidade; perceber o
ambiente em que vive e dialogar com a comunidade escolar e profissional sobre os rumos de um
ambiente sadio e sustentável.
O fórum é coordenado pelos professores, em especial os de geografia, e recebe a
colaboração e apoio por parte da equipe de coordenação pedagógica e gestão da unidade de ensino.
Todos os professores são inseridos na discussão e buscam colaborar com o debate em suas
respectivas áreas de conhecimento. A articulação das atividades, a abordagem em diferentes
linguagens e por diferentes áreas do conhecimento faz com que o aluno perceba a relevância e a
importância do tema em sua vida cotidiana.
Na quarta edição realizada no mês de julho do ano de 2017, o Fórum de Meio Ambiente e
Comunidade Escolar se consolida no calendário letivo como espaço para debater as questões
ambientais de modo holístico e interdisciplinar na realidade escolar, atendendo aos instrumentos
normativos e pedagógicos na realização de práticas de Educação Ambiental efetivadas de modo
crítico, articulada com a realidade e de relevante interesse social. A escola, atenta à sua realidade,
promove um diálogo entre a comunidade escolar e acadêmica buscando desenvolver formas de
promover um processo de ensino-aprendizagem da Educação Ambiental enquanto formação
humana e política para o pleno exercício da cidadania.
Neste ano, discutimos a problemática inerente ao bioma caatinga. O bioma, pertencente ao
quadro natural do Brasil, é formado por um mosaico de paisagens inerente às condições
edafoclimáticas e botânicas do clima semiárido brasileiro. Para além dos aspectos naturais, o bioma
caatinga pode ser caracterizado pelo modo de vida e pela produção material e simbólica das pessoas
que ocupam suas terras. No tocante a regionalização nacional, o bioma caatinga é um elemento
definidor da região nordeste.
O bioma caatinga tem sido desmatado, seus rios assoreados, sua fauna caçada e seus solos
empobrecidos pela ação desenfreada com o avanço das atividades econômicas altamente
capitalizadas. Em consequência, ocorre um acelerado processo de desertificação impulsionando a
migração dos morados desta área.
Um agravante a este cenário é a limitada e escassa abordagem educacional promovida por
escolas situadas dentro do bioma caatinga para com seus alunos. Percebe-se que o bioma caatinga e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a região nordeste aparecem nos materiais didáticos usados por diferentes redes de ensino associados
ao sinônimo de pobreza e miséria, favorecendo a expansão da degradação e a não criação de uma
identidade regional para com os aspectos naturais e históricos da caatinga.

Figura 02: Convite e Banner e do III e IV Fórum de Meio Ambiente e Comunidade Escolar,
respectivamente.

Fonte: Azevedo e Andrade, 2017.

Neste contexto, o IV Fórum de Meio Ambiente e Comunidade e Escolar discute a


problemática da caatinga e a formação de uma identidade regional, no intuído de dissociar as
imagens negativas de seca, miséria, problema e escassez como algo inerente ao bioma caatinga, no
intuído de promover um ensino que leve ao reconhecimento das potencialidades físicas e sociais do
bioma. Desse modo, partimos do ambiente próximo, uma vez que estamos inseridos dentro deste
bioma, como forma de promover uma discussão partindo da realidade local sobre sustentabilidade e
preservação socioambiental.
As pesquisas realizadas pelos estudantes para o IV Fórum produziram material que
ambientaram quatro salas temáticas apresentando fauna, flora, modos de vida urbana e rural,
culinária, música, dança e arte produzidos pelos catingueiros a partir da disponibilidade dos
recursos existentes. Nesse sentido, partiu-se de uma perspectiva histórica para delinear uma
Educação Ambiental contextualizada no tempo e no espaço.
Enquanto integração dos saberes, estabeleceu-se parceria com o curso de Gestão Ambiental
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Na culminância,
contamos com a presença de alunos da graduação em Gestão Ambiental que eram ex-alunos da
EMSDF, fato que motivou a participação dos discentes nas atividades do fórum. Apresentações
literárias, poéticas e musicais, exposição fotográfica e gastronômica, exposição de objetos
históricos, plantio de mudas nativas e palestras aconteceram de modo simultâneo, para alunos e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

familiares que acompanharam as atividades. As apresentações e exposições foram produzidas pelos


próprios alunos da escola sob a orientação dos professores de Geografia, Ciências, História e
Língua Portuguesa. Na ocasião, a emissora de TV TCM fez uma cobertura do evento e produziu
matéria jornalística que pode ser vista no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=XlVSexpOSas>. Tal matéria possibilitou que um número
maior de pessoas tivesse acesso às discussões e aos trabalhos desenvolvidos pela escola.
Outrossim, acreditamos que a Educação Ambiental é o pontapé inicial para uma formação
crítica, propulsora de autonomia e liberdade cognitiva e intelectual capaz de produzir novas formas
de nos relacionarmos socialmente e para com o planeta. Nesse sentindo, o Fórum de Meio
Ambiente e Comunidade Escolar se constitui como uma ferramenta metodológica capaz de
promover a socialização e a integração de saberes nas práticas de Educação Ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental formulada no Brasil apresenta uma regulação normativa que baliza
suas práticas na transversalidade e interdisciplinaridade do conhecimento. Privilegia os espaços
formais de educação a execução da Educação Ambiental, ressaltando a relevância do engajamento
de todos os setores da sociedade, incluindo as da educação não formal. Nesse cenário, a escola
assume relevante papel na execução de práticas educativas destinadas à formação da Educação
Ambiental, por ser o espaço em nossa sociedade de sistematização do conhecimento e de
preparação à vida e ao exercício da cidadania. Consideramos que a Educação Ambiental deve ser
avaliada enquanto educação política promotora de valores éticos, humanísticos e ambientais.
Nesse sentido, ressaltamos a adoção de metodologias participativas na condução das práticas
pedagógicas inserindo os diversos sujeitos da comunidade escolar. Nesse sentindo, acreditamos
que os fóruns temáticos de debate e exposição de conhecimentos pautados nos problemas
cotidianos da comunidade são espaços promotores de Educação Ambiental articulada com a
vivência do aluno, tornando-o sujeito ativo de seu próprio processo formativo.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Implantação da Educação Ambiental no Brasil.


Coordenação de Educação Ambiental. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
1998.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Brasil. LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 1999.

Brasil. Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de abril de


1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2002.

MOSORÓ. LEI Nº 2.573 DE 14 DE DEZEMBRO DE 2009. Dispõe sobre a Política Municipal de


Educação Ambiental. Jornal Oficial do Munícipio, Poder Executivo, Mossoró, RN, 2009.

MOSSORÓ. LEI Nº 2717, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2010. Institui a Política de


Responsabilidade Educacional no Município de Mossoró e dá outras providências. Jornal Oficial
do Munícipio, Poder Executivo, Mossoró, RN, 2010.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O LÚDICO DO LIXO: TRABALHANDO OS 3RS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Mariana GUENTHER
Prof Adjunto do Instituto de Ciências Biológicas UPE
mariana.guenther@upe.br
Mario Leandro dos Santos FERREIRA
Graduando do Curso de Ciências Biológicas UPE
Email: marioleandrosf@gmail.com
Alef Diogo da Silva SANTANA
Graduando do Curso de Enfermagem UPE
Email: allef.diogo@gmail.com

RESUMO
A exploração dos recursos naturais em franca expansão a consequente geração de resíduos têm sido
o maior problema ambiental da atualidade, tanto em escala local quanto global. A educação
ambiental como meio de sensibilização, conscientização, mudança de hábitos, e desenvolvimento
da cidadania é peça chave na construção de uma sociedade consciente e com práticas
ecologicamente equilibradas, economicamente viáveis e socialmente justas. A educação infantil no
Brasil, apesar dos inestimáveis avanços preconizados por grandes educadores e filósofos da
educação ainda está muito focada em métodos tradicionais de desenvolvimento psicomotor criando
poucos espaços para a criação, conscientização e formação de capacidade crítica nas crianças em
sua primeira infância. A educação ambiental no ensino formal vem atuando principalmente no
âmbito do ensino fundamental e médio, ainda baseando-se na ideia de que esta faixa etária esteja
mais apta a receber e compreender as informações passadas. Acreditamos, no entanto, que a
educação ambiental focada na primeira infância permite criar nos estudantes, desde cedo, um
pensamento crítico relacionado ao modo como lidamos com o meio ambiente. Portanto, o objetivo
do presente estudo foi desenvolver e aplicar atividades lúdicas sob o tema da reutilização e
reciclagem dos resíduos com crianças de 02 a 04 anos e avaliar o seu grau de entendimento e
apreensão do conhecimento. As atividades desenvolvidas incluíram rodas de conversas, oficinas de
construção de brinquedos a partir de resíduos domésticos trazidos pelas próprias crianças,
apresentação de teatro e exibição de vídeo educativo. Ao final do processo podemos perceber que as
atividades realizadas se mostraram plenamente adequadas para a faixa etária e satisfatórias quanto
ao objetivo do projeto. As crianças se mostraram interessadas e participativas em todas as
atividades e apreenderam de forma surpreendente o conteúdo trabalhado. Esperamos que este relato
sirva de inspiração para ações futuras em outras creches e escolas.
Palavras chave: Educação ambiental; Educação infantil, Reciclagem, Reutilização, Resíduos sólidos
ABSTRACT
The growing natural resources depletion and the resulting increase in waste disposal have been one
of the major environmental problems nowadays, either locally and globally. Environmental
education as a mean of raising awareness, changing habits, and creating mindful citizens is key in
building a society whose actions should be economically viable, environmentally sound and
socially just. In spite of the invaluable advances in education promoted by great educators and
philosophers, preschool in Brazil is still focused on traditional methods of psychomotor
development, with few spaces for the creation, awareness and critical consciousness for early
children. Environmental education in formal education has been devoted mainly to elementary,
medium and high school, still based on the belief that this group is more capable of receiving and

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

understanding the information. We believe, however, environmental concern and critical


consciousness can be learned as early as possible and that environmental education focused on
preschool can successfully provide this. Therefore, the aim of the present study was to create and
play fun activities focusing on waste reuse and recycling with 2 to 4 years old kids and evaluate
their understanding and knowledge. Activities included chats, workshops for toy building from
household solid waste, performances and videos. The activities performed proven fully adequate for
preschoolers and totally fulfilled the aims of the study. The children were interested and engaged in
all the activities and seized surprisingly all the new information presented. We hope this story will
inspire future actions in other preschools and schools.
Keywords: Environmental education; Preschool education; Recycling; Reuse; Solid wastes

INTRODUÇÃO
Desde o início da civilização, as populações humanas mantiveram uma relação de
exploração com os recursos naturais, hoje em franca expansão justificada pela busca de melhores
condições de bem estar, segurança e conforto. A retomada da relação harmônica homem-natureza
exige, portanto, mudanças comportamentais profundas para o estabelecimento de uma relação
ecologicamente equilibrada, economicamente viável e socialmente justa.
Assim, a educação ambiental como meio de sensibilização, conscientização, mudança de
hábitos, e desenvolvimento da cidadania é peça chave na construção de uma sociedade consciente e
igualitária. De natureza multi e transdisciplinar, englobando várias áreas como a biologia, a
ecologia, a economia, a sociologia, a comunicação social e a política, e diversos segmentos da
sociedade, a educação ambiental é amplamente democrática, atingindo todas as faixas etárias,
classes sociais, culturas, credos e religiões (Reigota, 2010). É, portanto uma das ferramentas
fundamentais para adequar o homem a seu espaço por meio de incentivos à análise crítica de sua
realidade, usando a observação e sensibilização do indivíduo e gerando nele a sensação de
pertencimento.
A educação infantil no Brasil, apesar dos inestimáveis avanços preconizados por grandes
educadores e filósofos da educação, destacando-se Jean Piaget (1896-1980) e Paulo Freire (1921-
1997), ainda está muito focada em métodos tradicionais de desenvolvimento psicomotor criando
poucos espaços para a criação, conscientização e formação de capacidade crítica nas crianças em
sua primeira infância (Freire, 2009). Estudos recentes vêm demonstrando a capacidade de raciocínio
lógico e, portanto o desenvolvimento de análise crítica em crianças desde a mais tenra idade (e.g.
Gopnik et al., 1999; Hirsh-Pasek & Golinkoff, 2003), abrindo espaço para a criação de novos
métodos de aproveitamento e desenvolvimento de sua capacidade cognitiva.
A escola é um espaço importante de socialização e troca de experiências, e quanto mais cedo
no desenvolvimento infantil a Educação Ambiental for aplicada, maiores as chances de se alcançar
uma consciência ambiental efetiva. A educação ambiental no ensino formal vem atuando

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

principalmente no âmbito do ensino fundamental e médio, ainda baseando-se na ideia de que esta
faixa etária esteja mais apta a receber e compreender as informações passadas. Acreditamos, no
entanto, que a educação ambiental focada na primeira infância permite criar nos estudantes, desde
cedo, um pensamento crítico relacionado ao modo como lidamos com o meio ambiente. Isso, em
longo prazo, gera indivíduos que se entendem como parte do ambiente e uma sociedade atenta aos
problemas ambientais, procurando soluções alternativas para atenuar esses problemas.
O objetivo do presente estudo foi desenvolver e aplicar atividades lúdicas no contexto da
gestão dos resíduos com crianças de 02 a 04 anos e avaliar o seu grau de entendimento e apreensão
do conhecimento.

METODOLOGIA

Esse estudo foi desenvolvido na Creche Municipal Professor Francisco Amaral, localizada
no bairro de Santo Amaro, Recife – PE (Fig. 1) com duas turmas de 20 alunos cada, a primeira de
2-3 anos (turma A) e a segunda de 3-4 anos (turma B). A metodologia adotada neste estudo atende,
rigorosamente, aos preceitos éticos e legais exigidos para a pesquisa científica em Ciências
Humanas sendo aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa de nossa Instituição.
Para a turma A foram realizados três encontros distantes em uma semana cada. No primeiro
encontro realizamos uma roda de conversa com o objetivo de se avaliar o conhecimento prévio das
crianças sobre o lixo: o que é ―lixo‖, como descarta-lo corretamente, quais seriam as consequências
do descarte incorreto, como por exemplo, nas ruas, etc. Neste mesmo encontro confeccionamos,
com a ajuda das crianças, bonecos (fantoches) com jornal e rolos de papel higiênico, trazidos
previamente pelas crianças.
No segundo encontro, encenamos uma peça de teatro com os fantoches confeccionados no
encontro anterior sobre os problemas causados pela destinação incorreta do ―lixo‖.
No terceiro e ultimo encontro utilizamos material reciclado trazido pelas crianças
(solicitados previamente) como garrafas PET, embalagens Tetra Pak de sucos e leites, caixas de
papelão, para a confecção de brinquedos (carrinhos, aviões, bonecos) a partir desse material.
Para a turma B foram realizadas três atividades em um mesmo encontro. A primeira
consistiu em uma roda de conversa com o objetivo de se avaliar o conhecimento prévio das crianças
sobre o ―lixo‖, assim como na turma A. Em seguida realizamos a confecção de bonecos a partir de
jornal e rolos de papel higiênico como na turma A, sendo que nesta turma as crianças tiveram maior
autonomia em confeccionar seus bonecos. Por fim, assistimos a um vídeo sobre a importância da
redução da geração de resíduos, sua reutilização e reciclagem, seguido de uma nova roda de
conversas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conhecimento prévio

As crianças demonstraram bom conhecimento sobre os problemas resultantes do descarte


incorreto do ―lixo‖. Quando perguntados sobre os problemas que o descarte indevido dos resíduos
nas vias públicas pode causar, as crianças demonstraram conhecimento tanto sobre os aspectos
estéticos (―lixo na rua é feio‖, ―tem cheiro ruim!‖) e de saúde (―junta muito rato e barata que traz
doenças pra gente!‖) quanto sobre o impacto ambiental que o ―lixo‖ pode causar quando é ―levado
pela chuva até o rio e o mar, matando os animais e as plantas‖.
A escola onde foi desenvolvido esse estudo está localizada em uma grande avenida que
margeia um braço do principal rio da cidade, o Rio Capibaribe, que desemboca no mar em alguns
quilômetros dali. Essa porção do rio encontra-se bastante poluída, exalando odores fortes e
carreando uma grande quantidade de resíduos. Foi notável que a precária situação desta região,
onde as crianças moram e transitam todos os dias, ao invés de tornarem-nos acostumados a esse
cenário, criam um processo de sensibilização e conscientização, conforme podemos perceber
quando perguntamos sobre o destino que davam aos resíduos em casa e na escola. A turma foi
unanime em anunciar que jogavam na lixeira, como podemos constatar pela organização e limpeza
da escola e pela atitude deles ao fim de cada atividade.
Não foram mencionadas pelas crianças, no entanto, práticas como a reutilização ou
reciclagem como um destino alternativo aos resíduos depositados nas lixeiras. Nenhuma criança
mencionou a separação do lixo em casa, por exemplo. Assim, passamos para nossa próxima
atividade com foco na reutilização dos resíduos domésticos.

Oficinas

A oficina realizada com a turma A ocorreu no primeiro encontro, logo após a roda de
conversa. A partir de rolos de papel higiênico trazidos pelas próprias crianças, jornal e material de
pintura e colagem fornecido pela escola, ensinamos às crianças como confeccionar um boneco-
fantoche. Durante o processo de confecção conversamos sobre a importância de reutilizar os
resíduos ao invés de ―jogar no lixo‖, trazendo a ideia da redução do volume descartado (quanto
menos ―lixo‖, melhor) e da economia que há por trás desse processo (não precisando comprar o
material). Assim, discutimos a importância econômica e ambiental da reutilização dos resíduos
sólidos em uma linguagem simples e lúdica.
Solicitamos aos alunos que juntassem todo o material que tivessem em casa (caixas de leite,
suco, embalagens plásticas, garrafas PET, caixas de papelão) para trazer no nosso 3º encontro em
duas semanas. Solicitamos às professoras que reforçassem a solicitação com os pais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A oficina realizada com a turma B ocorreu também no primeiro encontro com essa turma,
logo após a roda de conversa. Ao final da discussão sobre o problema estético, de saúde e ambiental
causado pelo ―lixo‖ propomos: ―Por que não reutilizar parte desses resíduos?‖. Assim, seguindo o
mesmo procedimento realizado com a turma A, confeccionamos bonecos-fantoches a partir de rolos
de papel higiênico trazidos pelas próprias crianças, jornal e material de pintura e colagem fornecido
pela escola. Nessa turma, porém, cada um confeccionou seu próprio boneco, sendo apenas
auxiliados por nós.
Tal qual na primeira oficina desenvolvida com a turma A, discutimos a importância da
reutilização dos resíduos que nós mesmos produzimos, seja para diminuir a quantidade de resíduos
nas lixeiras e nas ruas, seja para diminuir os gastos com materiais novos. A receptividade dos
estudantes à atividade foi excelente. Apesar da agitação inicial, quando foram distribuídos os
materiais para confecção dos bonecos todos se sentaram e se concentraram na atividade. Com muita
atenção e cuidado, cada um foi produzindo seus bonecos e ao final todos se juntaram para brincar
com seus brinquedos novos. Foi um momento de grande alegria e descontração.

Apresentação teatral

No segundo encontro com a turma A, montamos um pequeno palco juntando duas mesas e
um pedaço de TNT em torno do qual as crianças se acomodaram. Os personagens da peça foram os
fantoches construídos por eles no encontro anterior. As crianças se surpreenderam e demonstraram
grande excitação ao reconhecerem seus trabalhos no teatro. Com um enredo direto e diálogos
simples, buscamos discutir de forma divertida o problema do descarte indevido dos resíduos nas
vias públicas. Dois rapazes e uma moça compunham a trama, onde um não se preocupava com o
ambiente e jogava o lixo no chão, e os demais tentavam convencê-lo de que além de acabar com os
animais e as plantas, os rios e os mares, ele mesmo sofreria as consequências dos seus atos. No final
ele percebe que ele mesmo estava ficando doente, com tanto lixo em volta e resolve que a partir de
então, mudaria de atitude.
As crianças participaram atentas de todo o espetáculo, que durou aproximadamente 15
minutos, respondendo ativamente aos diálogos e às perguntas dos personagens. Foi um momento de
extrema diversão. Podemos perceber já a apreensão de alguns conceitos trabalhados anteriormente
na primeira oficina, como a reutilização dos resíduos que estariam sendo jogados na rua para a
construção de outros materiais (como os bonecos, por exemplo!).

Vídeo

Após as oficinas, as crianças da turma B tiveram um intervalo para o lanche e depois vieram
para a sala de vídeo que já estava toda preparada com colchonetes para recebê-los. Escolhemos um

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vídeo da Turma da Monica intitulado: ―Um plano para salvar o planeta‖ da turma da Monica (São
Paulo: Maurício de Souza Produções, 2011, 25min, son., color) onde é apresentada a solução dos
3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) para o problema do acúmulo de resíduos no planeta. Esse vídeo
foi escolhido por apresentar um enredo rico em termos de conteúdo e uma linguagem apropriada
para a faixa etária, além de conter personagens conhecidos das crianças. As crianças assistiram
atentamente aos 10 minutos de vídeo e depois conversamos um pouco sobre as impressões deles em
relação à estória. Decidimos passar o vídeo para essa turma ao invés da apresentação teatral
realizada na turma A, porque pensamos que prenderia mais a atenção da turma, que se mostrava
mais agitada e dispersa do que a anterior. De fato foi uma decisão bastante acertada.

Avaliação do projeto

As atividades de avaliação do projeto foram distintas em cada turma. Para a turma A, foi
realizada uma segunda oficina no terceiro encontro, a partir do material trazido pelas crianças e
material de pintura e colagem fornecido pela escola. Neste momento as crianças estiveram livres
para escolher seu material e pensar junto conosco em ideias do que construir a partir deste.
Antes de iniciarmos a atividade, perguntamos quais seriam seus brinquedos preferidos, ao
que todos listaram os brinquedos mais famosos das lojas e propagandas de TV. Então perguntamos:
―E se nós mesmos construíssemos nossos próprios brinquedos? Sem gastar dinheiro do papai e da
mamãe? Com tudo o que a gente tem em casa?‖
Aos olhares curiosos e desconfiados com nossas perguntas, seguiu-se um alvoroço de
mãozinhas ávidas por escolher o seu material e construir seu brinquedo favorito. Carrinhos, trens,
aviões, robôs e bonecas, foram alguns dos brinquedos produzidos com muita alegria e capricho.
Tivemos receio com uma possível frustação quando da comparação entre os brinquedos ali
produzidos e aqueles das lojas e propagandas de TV. Mas a alegria da criação foi tamanha que estes
se transformaram nos brinquedos mais valiosos do mundo!
Ao longo do processo de construção dos brinquedos, muitos já estavam planejando o que
mais poderiam fazer a partir de quais resíduos. Já combinavam com os colegas o que iriam juntar, a
quem mais pedir - tios, amigos e vizinhos - caixas, garrafas e papéis, para produzir mais brinquedos
para todas as crianças da escola, da rua, do bairro. Foi extremamente gratificante perceber que
atividades tão simples puderam surtir tanto efeito no pensamento e atitudes destas crianças. De fato,
foi evidente a evolução dessas crianças ao longo dessas três semanas no sentido da apropriação do
conhecimento construído e da aplicação desse novo conhecimento em suas atitudes.
Para a turma B, foi realizada uma roda de conversa após a apresentação do vídeo para
avaliar o que eles apreenderam de toda a dinâmica (conversa, oficina e vídeo). Reutilização e
reciclagem foram termos presentes em todas as falas, e apesar de alguma dificuldade em diferenciar

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

os dois termos, foi possível verificar que muito possivelmente a reutilização de materiais em casa e
a separação do lixo para reciclagem passariam a ser um hábito na vida daquelas crianças.

CONCLUSÕES

Concluímos que as atividades realizadas com ambas as turmas do Maternal (roda de


conversa, oficina de criação de brinquedos, teatro de fantoches e exibição de vídeo) se mostraram
plenamente adequadas para a faixa etária e satisfatórias quanto ao objetivo do projeto. As crianças
se mostraram interessadas e participativas em todas as atividades e apreenderam de forma
surpreendente o conteúdo trabalhado. O conceito de reaproveitamento dos resíduos para a
confecção de outros objetos foi incorporado por todos. E a semente da separação do lixo para a
reciclagem foi plantada. Foi uma grande satisfação realizar esse projeto e esperamos que sirva de
inspiração para ações futuras em outras creches e escolas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, P. 2009. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra.
148 p.

GOPNIK, A., MELTZOFF, A.N. & KUHL, P.K. 1999. The scientist in the crib: what early
learning tells us about the mind. HarperCollins Publishers Inc., 279p.

HIRSH-PASEK, K & GOLINKOFF, R.M. 2003. Einstein never used flash cards: how our children
really learn – and why they need to play more and memorize less. Libray of Congress, 302p.

PINOTTI, R. 2010. Educação Ambiental para o Século XXI. Editora Blucher. 264 p.

REIGOTA, M. 2010. O que é Educação Ambiental? Editora Brasiliense. 112p.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS PELO OLHAR


DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO.

Meirilane Gonçalves COELHO


Professora de Biologia da rede estadual de ensino no município de Ouro Branco MG
meirilaneg@yahoo.com.br
Taciana Maria da SILVEIRA
Professora de Geografia da rede municipal de ensino do município de Ouro Branco MG
tacianageo@yahoo.com.br

RESUMO
A legislação federal brasileira, Lei nº 9.795/1999, estipula como componente essencial e
permanente no processo da educação nacional, a Educação Ambiental. Desta forma a escola deve
ser utilizada como principal instrumento da comprensão do aluno dos fenômenos naturais, das ações
humanas e suas consequências. Os impactos ambientais, principalmente, aqueles que provoquem
desequilíbrio do ecossistema natural é um assunto a ser abordado na educação ambiental. Este
trabalho teve como objetivo integrar aos alunos do 3º ano de ensino médio de uma escola pública o
conhecimento de alguns impactos ambientais negativos, sendo estes: i. Rompimento da Barragem
Samarco, 2015, ii. Vazamento de óleo na Bacia de Guanabara, 2000, iii. Césio 137, Goiânia 1987,
iv. Lixão versus Aterro Sanitário, v. Desmatamento e Erosões, vi. Queimadas em áreas florestadas.
Os alunos desenvolveram o trabalho através de pesquisa, apresentação em sala e na Feira de
Ciências para demais alunos e comunidade escolar. Após a realização do trabalho, foi avaliada a
eficiência do projeto na percepção dos alunos sobre os impactos ambientais negativos.
Palavras chaves: educação ambiental, impactos ambientais negativos, escola pública, feira de
ciências.
ABSTRACT
Brazilian federal legislation, law 9.795/1999, stipulates environmental education as an essential and
permanent component in the process of national education. Thus, the school should be used as the
main instrument of the student's understanding of natural phenomena, human actions and their
consequences. The environmental impacts, especially those that cause an imbalance of the natural
ecosystem is a topic to be addressed in environmental education. This work had as objective
integrate the students of the 3rd year of public high school with knowledge of some negative
environmental impacts, being these: i. disruption of the Samarco‘s Barrage, 2015, ii. oil leak in
Guanabara Bay, 2000, iii. cesium 137, Goiania 1987, iv. landfill versus sanitary landfill, v.
deforestation and erosion, vi. fire in forested areas. The students developed the work through of
research, presentation in the classroom and at the Science Fair for other students and school
community. After the work realization, the efficiency of the project was evaluated through the
students' perception of negative environmental impacts
Key words: environmental education, negative environmental impacts, public school, Science Fair

INTRODUÇÃO

Conforme estipula a Lei nº 9.795 de abril de 1999 em seus artigos 1º e 2º (BRASIL, 1999):

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

―Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖.
―Art. 2.º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não formal‖.

De acordo com o Programa Nacional de Educação Ambiental (2003) as estratégias de


enfrentamento da problemática ambiental, para surtirem o efeito desejável na construção de
sociedades sustentáveis, envolvem uma articulação coordenada entre todos os tipos de intervenção
ambiental direta, incluindo nesse contexto as ações em educação ambiental. Dessa forma, assim
como as medidas políticas, jurídicas, institucionais e econômicas voltadas à proteção, recuperação e
melhoria sócio ambiental, despontam também as atividades no âmbito educativo.
Pensando nas atividades de âmbito educativo EFFTING (2007) afirma que, dentro da escola
deveremos encontrar meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais, as
ações humanas e sua consequência para consigo, para sua própria espécie, para os outros seres
vivos e o ambiente. É fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote
posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma
sociedade socialmente justa, em um ambiente saudável.
Um dos assuntos que podem ser abordados no processo da educação ambiental é o estudo
dos impactos ambientais negativos, suas causas e consequências. Porém na literatura existem várias
formas de conceituar o termo impacto ambiental, neste caso, levando em consideração o objetivo da
abordagem adotaremos o conceito de BRANCO (1984) que descreve impacto ambiental como uma
poderosa influência exercida sobre o meio ambiente, provocando o desequilíbrio do ecossistema
natural, deste modo é considerada somente as alterações que excedam a capacidade de absorção do
ambiente.
O objetivo deste trabalho, desenvolvido no ano de 2016 com alunos do 3º ano do ensino
médio da rede pública, Escola Estadual Levindo Costa Carvalho, no município de Ouro Branco MG
foi integrar aos mesmos o conhecimento de alguns impactos ambientais negativos, sendo estes
divididos nos seguintes temas: i. Rompimento da Barragem Samarco, 2015, ii. Vazamento de óleo
na Bacia de Guanabara, 2000, iii. Césio 137, Goiânia 1987, iv. Lixão versus Aterro Sanitário, v.
Desmatamento e Erosões, vi. Queimadas em áreas florestadas.

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido no ano de 2016 em duas turmas do 3º ano do ensino médio da
rede pública, Escola Estadual Levindo Costa Carvalho, no município de Ouro Branco MG, 44
alunos participaram do projeto.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Inicialmente, foram realizadas aulas teóricas com exposição de vídeos, uso de textos e
discussões para introduzir o tema. Posteriormente, estes alunos foram subdivididos em 06 (seis)
grupos, para os mesmos foi repassado um roteiro de realização do trabalho, Figura 1, o qual
continha informações relativas à composição das equipes, valor, formatação do trabalho escrito,
data para apresentação oral e data para apresentação na Feira de Ciências da escola.
Para o desenvolvimento do trabalho foram estipulados os seguintes temas: i. Rompimento da
Barragem Samarco, 2015, ii. Vazamento de óleo na Bacia de Guanabara, 2000, iii. Césio 137,
Goiânia 1987, iv. Lixão versus Aterro Sanitário, v. Desmatamento e Erosões, vi. Queimadas em
áreas florestadas. A partir da definição dos grupos os temas foram sorteados entre os eles.
Após o período de pesquisa, com auxílio dos professores, os grupos realizaram a
apresentação oral em datashow, na sala multimídia da escola para os demais colegas da turma. A
apresentação foi utilizada como forma de cada grupo expor o conhecimento assimilado sobre o
assunto e repassar aos colegas de maneira sucinta as principais questões envolvidas no seu tema.
Nesta apresentação além, da avaliação do desenvolvimento dos trabalhos, foram tiradas as
dúvidas e discutido como estava o desenvolvimento de seus projetos para a apresentação na Feira
de Ciências da escola.
Para a apresentação na Feira de Ciências os alunos desenvolveram maquetes, experiências e
cartazes (figuras 2 e 3) que representassem seus respectivos temas. A apresentação foi aberta aos
demais alunos dos 03 (três) turnos (matutino, vespertino e noturno), incluíndo alunos do
fundamental II, ensino médio e EJA, aos funcionários da escola e a comunidade, tendo em vista que
este evento inclui a participação dos pais, responsáveis e demais pessoas da comunidade envolvida.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESCOLA ESTADUAL LEVINDO COSTA CARVALHO


Roteiro de Trabalho – Impactos Ambientais Negativos
Disciplina: Biologia

Informações técnicas
Composição das equipes:
3º Japão: Equipe 1- 1,2,3,12,13,21,22 Equipe 2- 4,5,6,14,15,24,26 Equipe 3- 7,8,9,10,19,20,28
3º Suécia: Equipe 1- 1,2,3,12,13,21,22,23 Equipe 2- 4,5,6,14,15,24,25,26 Equipe 3-
7,8,10,17,18,19,20

Valor: 6,0 (1,5- trabalho escrito; 1,5 apresentação oral slides; 3,0 apresentação na Feira de
Ciências);

Trabalho escrito: deve ser digitado conforme as normas da ABNT vigentes (fonte Times New
Roman, tamanho 12, alinhamento justificado, margem esquerda e superior 3 cm., margem
direita e inferior 2 cm, entrelinhas 1,5).
Composto por: Capa, sumário, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências e anexos.

Apresentação oral/slides: Data: 11/11/2016


Conforme o tema proposto cada equipe deverá elaborar uma apresentação clara e suncinta onde
será avaliado:
* Participação significativa de todos integrantes da equipe;
* Fala espontânea, com clareza e tom de voz adequados;
* Uso de recursos didáticos como imagens e vídeos;
* Uso adequado do tempo disponível (15 min. para cada equipe).

Apresentação na Feira de Ciências: Data: 26/11/2016


Elaboração de cartazes, painéis e maquete sobre o tema. Para a maquete não poderá utilizar
isopor e deverá ser criativo utilizando principalmente materiais reutilizados.

Temas:
1 Rompimento da Barragem Samarco, 2015
2 Vazamento de óleo na Bacia de Guanabara, 2000
3 Césio 137, Goiânia, 1987
4 Lixão versus Aterro Sanitário
5 Desmatamento e erosões
6 Queimadas em áreas florestadas

Figura 1- Roteiro do trabalho realizado pelos alunos do 3º ano ensino médio da rede pública no ano de 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2- Desenvolvimento da apresentação oral dos trabalhos na sala multimídias da escola.

i ii

iii iv

v vi
Figura 3- Desenvolvimento da apresentação durante a Feira de Ciências: i. Rompimento da
Barragem Samarco, 2015, ii. Vazamento de óleo na Bacia de Guanabara, 2000, iii. Césio
137, Goiânia 1987, iv. Lixão versus Aterro Sanitário, v. Desmatamento e Erosões, vi.
Queimadas em áreas florestadas.

Após o desenvolvimento do projeto, foi realizada uma avaliação, a fim de identificar o nível
de assimilação dos temas pelos alunos envolvidos diretamente no projeto. A forma de avaliação

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

utilizada foi o desenvolvimento de resenhas pelos alunos sobre o trabalho, onde os mesmos
poderiam expor os pontos positivos e negativos do projeto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pensando no contexto atual, é consenso a necessidade de conservação e defesa do meio


ambiente. Sendo assim, não há outro caminho, os indivíduos precisam ser conscientizados e, para
que esta tomada de consciência se multiplique a partir das gerações presentes e passe para as
futuras, se faz vital o trabalho de educação ambiental dentro e fora da escola, incluindo projetos que
envolvam os alunos em sala de aula, tornando-os multiplicadores de atitudes sustentáveis, do ponto
de vista do meio ambiente (CUBA, 2010).
Diante desta situação, o trabalho desenvolvido com os alunos do 3º ano do ensino médio da
Escola Estadual Levindo Costa Carvalho, no município de Ouro Branco MG, foi importante no
quesito de identificação do conhecimento prévio dos alunos relativos aos possíveis impactos
ambientais negativos ocasionados, principalmente, por atividades antrópicas. Foi possível perceber
que muitas das vezes estes alunos possuíam uma ideia vaga sobre este conceito e como estes
impactos podem afetar seu entorno, tanto no quesito ambiental como no social.
A falta de conhecimento por parte dos alunos sobre o quesito impactos ambientais negativos
se deve principalmente, por não haver nos livros didáticos o aprofundamento do assunto, não se ter
uma base curricular relativa à Legislação Ambiental e principalmente pela dinâmica mais teórica
que prática desenvolvida na sala de aula.
Os alunos se mostraram muito receptíveis ao desenvolvimento do trabalho, coletaram o
máximo de informações, trouxeram suas dúvidas e se empenharam pelo melhor resultado final.
Houve um interesse maior pelas informações sobre o acidente na Mineradora Samarco,
ocorrido em 05 de novembro de 2015, na barragem de Fundão, município de Mariana MG. Tanto
pelo fato de se tratar de um impacto mais recente, de grandes proporções, em uma área muito
próxima ao município de Ouro Branco, aproximadamente, 41,05 km e por se ter no entorno a
presença de diversas empresas mineradoras (Figura 4).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 3- Imagem georreferenciada com os principais municípios do entorno, onde estão presentes
grandes empresas mineradoras, e a proximidade entre o município de Ouro Branco MG e a Barragem
Fundão da empresa SAMARCO. Fonte Google Earth Pro acessado em 21/08/2017.

A apresentação do trabalho para a comunidade escolar auxiliou na avaliação dos conceitos e


visão crítica dos estudantes, além de proporcionar dispersão do conhecimento e discussões com os
demais alunos e funcionários da escola, além da comunidade externa que se fez presente nas
apresentações.
Após o desenvolvimento do projeto, os alunos se tornaram capazes de conceituar o termo
impacto ambiental negativo, incluindo impactos ambientais, socioeconômicos e sobre a saúde da
população.
Com a avaliação final ficou perceptível que os alunos foram capazes de assimilar o
conhecimento do assunto de forma mais eficiente e agradável devido ao desenvolvimento prático do
projeto e a troca entre eles das informações adquiridas. Além disso, a apresentação aos demais
alunos, funcionários e comunidade escolar permitiu também a propagação do conhecimento
adquirido por eles desempenhando de forma mais efetiva a prática da Educação Ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola é um espaço privilegiado para estabelecer conexões e informações, como uma das
possibilidades para criar condições e alternativas que estimulem os alunos a terem concepções e
posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades e, principalmente, perceberem-se como
integrantes do meio ambiente (LIMA, 2004).
Considerando o trabalho realizado com os alunos do 3º ano do ensino médio da Escola
Estadual Levindo Costa Carvalho, no município de Ouro Branco MG, observou-se que a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

metodologia utilizada foi bem eficiente no ponto de vista da assimilação dos conceitos de impactos
ambientais negativos pelos alunos. Conclui-se, portanto, que o objetivo foi alcançado, porém, o
processo de educação ambiental deve ser constante, não somente no cenário educacional, mas
também no social, econômico e político.
REFERÊNCIAS

BRANCO, Samuel Murguel. O fenômeno Cubatão na visão do ecólogo. São Paulo, ed.
CETESB/ASCETESB, 1984.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, n. 79, Seção I, p. 1-3, 1999.

CUBA, Marcos Antônio. Educação ambiental nas escolas. Educação, Cultura e Comunicação
(ECCOM), v. 1, n. 2, p. 23-31, jul./dez., 2010.

EFFTING, Tânia Regina. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios.
Marechal Cândido Rondon, 2007. 78f. Monografia (Pós-graduação em ―latu sensu‖) - Curso de
Especialização em Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável, Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, Paraná, 2007.

LIMA, Waldyr. Aprendizagem e classificação social: um desafio aos conceitos. In: LEITE, Islanny
Alvino et al. A escola: Principal ferramenta na formação de uma consciência coletiva voltada
para uma vida sustentável. Biodiversidade - V.14, n. 1, pág. 161-167, 2015.

PRONEA. Programa Nacional de Educação Ambiental. Secretaria do Meio Ambiente. Brasília 2ª


edição, 2003.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONHECENDO OS HÁBITOS ALIMENTARES DE PRIMATAS URBANOS COMO


INSTRUMENTO PARA SUA CONSERVAÇÃO

Miriam MILANELO
Mestranda PEHCM/ UFABC
Professora Ciências da SME – SP
mila.astrobio@gmail.com

RESUMO
No presente trabalho, analisou-se a experiência da aplicação de uma Sequência Didática baseada na
Metodologia de Ensino de Ciências por Investigação quanto à promoção de mudanças das
concepções alternativas a respeito dos hábitos alimentares de primatas urbanos da Mata Atlântica,
com a participação de estudantes do 5º e 6º anos de uma escola municipal da zona norte do
município de São Paulo, SP desenvolvido entre fevereiro e abril de 2017, compreendendo a
realização de atividades em classe e extraclasse. Foi proposta uma questão investigativa ―O que os
macacos comem?‖ para a qual os estudantes propuseram hipóteses bem como delinearam um
método para investigá-las. Dentre as atividades planejadas, incluiu-se a prática de estudo do meio
em um parque zoológico e a leitura de artigos sobre alimentação de primatas na natureza e em
cativeiro. O estudo demonstrou que os estudantes apresentam concepções alternativas e
estereotipadas sobre a alimentação e as espécies que ocorrem na região o que pode resultar em um
conhecimento superficial a respeito da importância da conservação dos primatas em seu ambiente
natural a despeito de frequentemente terem contato visual com bugios nos fragmentos de mata
adjacentes à escola. A utilização do exemplo de espécies silvestres que ocorrem próximo ao
ambiente da comunidade escolar envolvida contribuiu para o incremento de conhecimentos sobre a
diversidade de primatas e seus hábitos alimentares relacionando a importância de medidas tanto
individuais quanto coletivas de proteção destes animais e de seu próprio ambiente.
Palavras – chave: ensino de ciências; educação ambiental; primatas urbanos; Mata Atlântica.
ABSTRACT
This report aims to show the results of environmental education activities through an inquiry-based
learning in the science classroom regarding the promotion of changes in knowledge related to
alternative conceptions about the feeding habits of urban Atlantic forest primates. The work had as
target audience interdisciplinary cycle students (5 and 6 grade) of a municipal school of the
northern zone of São Paulo city, developed during February to April 2017, comprising the
realization of activities in class and extra-curricular class. This intended to promote discussion on
diversity and relationships of the primates in their habitat in the woods around the school, so an
enhancement of learning about the local wildlife for which consequently may be a more responsible
interaction with the environment. An investigative question "What do monkeys eat?" to which the
students have proposed hypotheses as well as outlined a method to investigate them.
Keywords: Teaching science; environmental education; urban primates; Atlantic Forest.

INTRODUÇÃO

Um dos fatores que motivou esta proposta de ensino de ciências por investigação dentro de
uma perspectiva de educação ambiental crítica foi o fato dos estudantes apresentarem grande

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dificuldade em reconhecer a importância dos primatas que ocorrem nas matas do entorno de suas
casas e da escola. Ao longo dos anos de experiência docente no local percebeu-se que os estudantes
atribuem à esses animais hábitos e comportamentos impregnados por estereótipos os quais são
massivamente veiculados pelos meios de comunicação, como quando são treinados para ―roubar‖
objetos das pessoas, alimentando-se exclusivamente de bananas, usando roupas, imitando
comportamentos humanos, entre outros. Este fato é particularmente preocupante, pois tratam-se de
estudantes cujo contato visual com primatas da Mata Atlântica é quase que cotidiano. Todavia não
são capazes de associar a mata como local onde estes animais se alimentam, se reproduzem, cuidam
de seus filhotes e competem com outros animais. Portanto, este trabalho pretendeu servir como um
ponto de partida para que concepções pudessem ser reconstruídas a partir de um repertório
conquistado com um processo de aprendizagem inovador para a escola. Diversos casos de sucesso
no Brasil têm mostrado que práticas de Educação Ambiental (EA) que busquem envolver a escola e
a comunidade escolar podem levar à conservação da biodiversidade (BUSS et al, 2007; DIETZ et
al, 1997; MARTINS, 2015). Logo, estabelecer práticas nas quais as situações de aprendizagem
enfoquem experiências cotidianas pode contribuir com o interesse e curiosidade dos estudantes,
uma vez que faz mais sentido tratar de problemas que estejam vivenciando.
Dietz e Nagagata (1997) ao trabalharem com programas de EA visando a conservação de
primatas ameaçados de extinção, afirmam que estes trabalhos têm se tornado cada vez mais efetivos
como um meio de buscar apoio e participação da comunidade para a conservação e melhoria da
qualidade de vida, já que podem trazer mais conhecimentos sobre o tema, a atribuição de valores e
o aprimoramento de habilidades a favor do meio ambiente.
Bezerra et al (2012) estudando a percepção que habitantes do Sul da Bahia apresentam em
relação a alguns mamíferos nativos com ênfase em uma espécie de primata, afirmam que há um
distanciamento entre as espécies nativas e os jovens habitantes com menos de 18 anos. Destacam
ainda que esta característica é comum em outros lugares da Mata Atlântica reforçando que há a
necessidade da criação de um programa de educação ambiental focado nos jovens. Diversos
trabalhos no Brasil e na América Latina apontam que projetos de conservação de primatas
priorizam pesquisas de censo populacional, estudos biológicos e ecológicos e que, entretanto, essas
ações isoladamente não garantem a conservação das espécies e de seus habitats (DE LA TORRE e
YÉPEZ, 2003; MENDÉZ-CARVAJAL et al., 2013 e BUSS et al., 2007). Alguns autores defendem
a necessidade de trabalhos multidisciplinares nos quais programas de EA, que privilegiem a
participação comunitária, façam parte em igual proporção para a efetiva conservação de primatas
urbanos (MENDÉZ-CARVAJAL et al., 2013; BUSS et al., 2007; GORDO et al, 2013). Dietz e
Nagagata (1997) atribuem o sucesso do emblemático programa de conservação do mico-leão-

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dourado, no Rio de Janeiro, ao fato de que o apoio comunitário permeou todo o processo para que
as pesquisas ecológicas, os esforços para o manejo e proteção pudessem ocorrer em longo prazo.
Conforme Teixeira (2017), o ensino de ciências por investigação, no contexto de práticas de
educação ambiental, pode promover o desenvolvimento de habilidades que permitam a
familiarização com o contexto de práticas socioambientais pelos alunos da escola básica além da
integração entre diferentes áreas do conhecimento bem como o desenvolvimento de saberes e
habilidades pelo indivíduo que atua para além dos contextos escolares sendo que essa abordagem de
ensino-aprendizagem vem ao encontro dos pressupostos nos documentos governamentais, como os
PCN (Brasil, 1997a e 1997b). Segundo Carvalho et al (2004), uma atividade investigativa deve ir
além de uma uma mera observação ou manipulação de dados devendo levar o aluno a refletir, a
discutir, a explicar e a socializar suas descobertas. Para que isso aconteça, os alunos devem ser
envolvidos em um processo investigativo por meio de uma situação-problema cujos
questionamentos podem determinar a elaboração de hipóteses, à análise de evidências, fazendo com
que eles cheguem a uma conclusão e comuniquem os resultados aos seus colegas.

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO ENTORNO DA ESCOLA.

A escola da área de estudo é circundada por fragmentos de Mata Atlântica. Devido a essa
peculiaridade é comum o contato visual e auditivo com diversas espécies da fauna silvestre urbana
como jacu, tucano, maritaca, serelepe, gavião-pega-macaco, pica-pau, serpentes, abelhas sem ferrão
além de numerosos outros artrópodes. Particularmente em relação aos primatas, quatro espécies
ocorrem na região, movimentando-se solitariamente ou em bandos, tanto sobre muros, nos cabos da
rede de energia elétrica, nos telhados da escola, nos fragmentos florestais como também nas trilhas
das UC. Essas espécies se enquadram em diferentes categorias de ameaça de extinção. São elas:
macaco-prego Sapajus libidinosus, bugio-ruivo Alouatta guariba, sauá Callicebus personatus e o
sagui-da-serra-escuro Callithrix aurita (SÃO PAULO, 2014). Apesar dessa diversidade, do status
de conservação e por representarem espécies indicadoras de pressão ambiental (SUMMA et al.,
2006) não foi encontrado registro na literatura de programas de educação ambiental direcionados ao
envolvimento das comunidades locais à proteção destas espécies de primatas urbanos e de seu
habitat. Também há registros visuais de grupos introduzidos de sagui-de-tufo-branco Callithrix
jacchus. Duas Unidades de Conservação (UC) nas proximidades da escola, o Parque Estadual
Alberto Löfgren (Horto Florestal) e o Parque Estadual da Cantareira (PEC) representam
significativos espaços de lazer para comunidades de baixa renda (CASTRO et al.,1999). Nestes
ambientes é comum primatas aproximarem-se dos visitantes com o objetivo de comer as guloseimas
ofertadas por eles (SÃO PAULO, 2009). Em relação aos hábitos alimentares destes primatas,
podem ser folívoros (como os bugio-ruivo), frugívoros, gumívoros e insetívoros como o sagui-da-

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

serra-escuro e, onívoros como o macaco-prego e o sauá (REIS et al., 2015).


Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi o de analisar as contribuições para a
construção do conhecimento científico elaboradas a partir do ensino de ciências sob a perspectiva
da investigação científica na compreensão por parte dos estudantes dos hábitos alimentares dos
primatas na natureza e ações para sua conservação.

ENSINO DE CIÊNCIAS POR INVESTIGAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Como relata Bachelard (1996), as primeiras concepções são oriundas de um processo


simplório, do entusiasmo e da paixão constituindo conhecimentos empíricos. O autor argumenta
que tal conhecimento não é substituído de maneira ―imediata e plena‖, exigindo do educador um
esforço, por meio de técnicas variadas e uma linguagem adequada. Portanto, é fundamental para o
processo de ensino em ciências que a aprendizagem não parta do ―zero‖, pois o aluno já apresenta
algum conhecimento, ou seja, na simplicidade de suas explicações já está incorporada a abstração e
os estereótipos.
Baseando-se nesses pressupostos, foi elaborada uma SD com a finalidade de verificar e
avaliar a metodologia ativa de ensino-aprendizagem em ciências por investigação denominada
Programa ―ABC na Educação Científica - Mão na Massa‖, proposta por Charpak (1985), e sua
contribuição para a mudança das concepções alternativas dos estudantes sobre os hábitos
alimentares dos primatas para que posteriormente possam se interessar pela conservação das
espécies silvetres. Em consonância com essas ideias, para que haja o desenvolvimento desta
metodologia e para a efetividade do aprendizado significativo, o estudante deve participar de todo
seu processo de problematização, levantamento de hipóteses, investigação, conclusão, registro e
divulgação (BRASIL, 2014). Os métodos que foram utilizados neste trabalho levaram em
consideração a participação dos estudantes na descoberta de forma que esta ação pudesse
potencialmente transformar a sua própria realidade. Neste sentido, a educação ambiental crítica
(SAUVÈ, 1997) permeou o processo, tendo o cuidado para que não fosse apenas uma ferramenta
que se utiliza da natureza para ensinar conceitos de ciências. Assim, como destaca Carvalho (2007)
a temática ambiental no processo educativo foi tratada como uma tentativa para mudanças diante
das questões ambientais. Kindel, Silva e Sammarco (2004) acreditam que este seja um dos
primeiros passos para o estabelecimento de uma relação de pertencimento destes jovens tentando
construir novos valores e atitudes em relação ao seu entorno por meio da valorização do conjunto de
atributos ambientais com o qual a comunidade convive.
A SD foi desenvolvida ao longo de oito aulas com duração de sessenta minutos cada, em
dois encontros semanais sendo que as atividades elaboradas priorizaram as percepções dos
estudantes em relação ao ambiente, de modo estimular e motivar seus estudos frente ao status de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conservação dos primatas do entorno. Os seguintes critérios foram estabelecidos para seu
desenvolvimento: (a) o conhecimento prévio dos estudantes; (b) a abstração e o conteúdo conceitual
foram desenvolvidos de forma contextualizada para que pudessem ser mais bem entendidos; (c) os
conteúdos atitudinais têm uma importante influência no processo de aprendizagem, e (d) as quatro
habilidades linguísticas (ler, escrever, ouvir, falar) foram integradas em cada atividade. Os
estudantes trabalharam em grupos para a escolha das hipóteses a serem verificadas, das propostas
de sua verificação, nos estudos em campo e para a análise de dados. As diferentes ações educativas
foram realizadas tanto em sala de aula como em atividades extraclasse na Fundação Parque
Zoológico de São Paulo (ZOOSP). Observações na mata do entorno da escola também aconteceram
de forma espontânea quando eventualmente primatas eram avistados pelos estudantes e/ou
funcionários. Todas atividades desenvolvidas procuravam propiciar a discussão, a reflexão e a
dialogicidade sobre a crescente urbanização da zona norte do município de São Paulo e da Serra da
Cantareira, os processos de desmatamento e perda de habitat natural e suas consequências
socioambientais. Essa temática foi discutida na forma de rodas de conversa, aula expositiva
dialogada, leitura de texto, saída a campo roteirizada, debate e produção textual.
A turma de 28 estudantes com faixa etária entre 10 a 12 anos, sendo 18 (64,3%) estudantes
do sexo feminino e 10 (35,7%) do sexo masculino, foi incentivada a responder individualmente um
questionário de modo que pudessem registrar suas respostas vinculadas ao conteúdo informacional
que eles detêm sobre primatas, sem nenhuma intervenção por parte do professor. Em seguida foram
constituídos 7 grupos e a proposta era que comparassem as respostas entre si. Para esta atividade foi
explicado que eles tinham acabado de fazer um levantamento de hipóteses acerca de uma questão.
Nesse momento oportunizou-se para discutir sobre a prática científica por meio de trabalho
colaborativo para obtenção e discussão de dados a partir da questão-problema, a elaboração de
hipóteses, sua verificação e conclusão, como forma de aproximá-los da natureza da ciência. Cartões
com as hipóteses foram afixados no mural da sala para que as contribuições pudessem ser
socializadas. Em grupos, fazendo um arranjo com suas carteiras de modo que todos os participantes
pudessem ser vistos e ouvidos, foram estimulados a levantarem possíveis métodos para a
verificação das hipóteses que eles haviam apresentado no encontro anterior. Por meio de
provocações, procurou-se envolvê-los na discussão de modo que procurassem mais de uma forma
de verificação. Solicitou-se que pensassem nas implicações acerca de suas decisões e que levassem
em consideração os custos financeiros, de infraestrutura e de tempo que envolveria o método de
verificação, além do fato de não ser permitido sair dos limites municipais devido a impedimentos
legais. Foi discutido então qual seria a melhor estratégia, uma vez que essa coleta de dados deveria
ser registrada para que fosse analisada e discutida entre todos para se chegar a uma conclusão. Na
atividade subsequente uma aula expositiva foi apresentada com a finalidade de apresentar a Ordem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

dos Primatas destacando algumas espécies que ocorrem no Brasil e nas matas circunvizinhas a
escola. Para cada slide apresentado era solicitada a participação dos estudantes para que refletissem
sobre as características deste grupo animal e suas particularidades em relação à anatomia externa
(presença de cauda, cor da pelagem, forma da mão e dos pés, modo de locomoção em árvores ou no
solo). Para as espécies que ocorrem naturalmente nas matas do entorno, após a exibição da foto, foi
associado um playback da vocalização correspondente com a intenção de estimular nos estudantes a
sua memória auditiva. Ao longo da apresentação foi solicitado que os estudantes relatassem qual ou
quais espécies já tinham visto e em que contexto. Ainda, foi proposta uma pesquisa, em grupo,
sobre as origens da bananeira bem como sobre o cultivo da bananeira no Brasil de modo que os
estudantes percebessem que trata-se de uma espécie exótica que deveria responder as seguintes
questões: As bananeiras nascem naturalmente nas matas do Brasil? Qual é a sua origem natural?
Quais tipos de bananas existem no mercado? Onde foi cultivada a banana que você compra? Para
responder a estas questões, os estudantes em grupo fizeram uma pesquisa na Sala de Informática e
registraram sua pesquisa na forma textual para posterior socialização.
Com a intenção de utilizar outra forma de narrativa para esta intervenção optou-se pelo uso
de uma matéria jornalística. Para tanto foi realizada a leitura e a discussão a partir de uma
reportagem ―Zoológico proíbe alimentar macacos com banana‖, publicada pelo periódico de um
zoológico da Inglaterra, sobre os problemas nutricionais advindos da utilização de bananas na
alimentação de primatas em cativeiro. Este texto foi explorado para que os estudantes pudessem
analisar e discutir sobre a necessidade de alimentar primatas cativos de modo mais similar possível
às condições da natureza. Paralelamente a isto os estudantes foram orientados a estabelecer
comparações entre o texto lido com suas pesquisas sobre as bananeiras. Os grupos fizeram seus
registros na forma de uma produção textual. A cada etapa da SD, os estudantes eram orientados
para que agrupassem os dados obtidos durante suas pesquisas com a finalidade de perceber que uma
pesquisa deve ter múltiplas fontes de informação e coleta de dados de forma que pudessem se
aproximar da natureza da ciência.

ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA (ATD)

Para a análise da produção textual foi utilizado o método de ATD. Sendo uma ferramenta
analítica, ou ainda, um método de analisar produções escritas a partir do estabelecimento de
categorias, conforme propõem Moraes e Galiazzi (2006), favorece uma visão mais holística das
maneiras dos estudantes trabalharem questões abertas. Proporciona ainda uma forma inovadora de
interpretação de uma produção textual por meio de sua desconstrução e reconstrução, apontando
significados que poderiam ficar despercebidos pelo pesquisador, por meio da ―categorização‖ e da
―unitarização‖. Sendo assim, a análise de dados foi realizada por meio da análise de discurso e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

conteúdo. Entre os processos de desconstrução do texto original, existe a categoria nomeada como
―unitarização‖, ou seja, separação das unidades significativas a partir das capacidades
interpretativas do pesquisador. Logo após a ―unitarização‖, abre-se espaço para a ―categorização‖,
na qual se agrupa elementos após o estabelecimento das unidades significativas. Finalmente inicia-
se o processo de ―reconstrução‖, que pretende ser um meio para garantir a ressignificação do
conteúdo a partir da construção de um metatexto. A finalidade foi avaliar aspectos aprendidos
durante o processo de investigação vinculando-se as respostas dos estudantes aos objetivos de
aprendizagem da SD desenvolvida na metodologia investigativa. Categorias e subcategorias foram
determinadas de modo que esta ferramenta de análise ATD pudesse indicar o grau de sucesso da
atividade. Para a realização da avaliação qualitativa os estudantes foram orientados a elaborar,
individualmente, um texto que resumisse suas experiências com esta atividade estabelecendo
conexões com o que foi investigado. De modo auxiliá-los na redação, receberam um roteiro com as
seguintes questões: De acordo com as observações que vocês fizeram até agora, todos os macacos
são iguais? Quais são as principais diferenças observadas? E as semelhanças? Vocês fizeram uma
pesquisa sobre a bananeira. Ela ocorre naturalmente na Mata Atlântica? Vocês ainda acreditam que
eles comem sempre a mesma coisa? Explique. O que vocês acharam de estudar utilizando o método

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a questão ―Você já viu um macaco alguma vez?‖ todos responderam afirmativamente e
a maioria (89%) soube identificar qual era a espécie que tinham visto sendo as espécies exóticas as
mais lembradas sendo que 71,4% mencionaram e 35,7%, o gorila. Em relação aqueles que ocorrem
na região de estudo, o macaco-prego e o bugio-ruivo foram os mais citados, não aparecendo
nenhum nome de animal que não representasse um primata. Ao mencionarem o local onde viram, o
ZOOSP (42,9%) e o Horto Florestal (39,3%) são os locais mais indicados o que pode demonstrar o
uso desses espaços para atividades de lazer. Curiosamente, tanto a televisão como as matas
circunvizinhas ao local de suas moradias e o entorno da escola não foram lembrados. Foi
mencionado por alguns que já viram animais se deslocando pela rede de energia elétrica o que
comprova sua ocorrência em áreas urbanizadas oferecendo riscos a estes animais, conforme já
descrito por Summa et al. (2006). Para a questão ―Você sabe o que os macacos comem?‖, as
respostas já eram previstas, pois coincidiram com a fala dos estudantes ao longo dos anos anteriores
da prática docente. O item ―banana‖ que aparece em quase a totalidade das respostas mostrando o
estereótipo do vínculo entre macacos e bananas, independente da espécie ou da região onde eles
ocorram. Resultados semelhantes foram relatados por Couto-Santos et al. (2008) entrevistando
visitantes de um zoológico em Belo Horizonte (MG), que observaram a admiração dos visitantes
quando perceberam primatas caçando insetos para comer quando imaginavam que só se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

alimentavam de bananas. As concepções do público em geral, conforme apontado pelos autores,


coincidem com as ideias dos estudantes que apontam o desconhecimento sobre as espécies de
primatas locais, o seu papel na cadeia trófica, na ciclagem de nutrientes, na polinização e dispersão
de sementes. Portanto, trabalhos educativos que possam auxiliar na transposição do conhecimento
científico em primatologia de modo que se aproxime do público podem aumentar as chances do
aprendizado e a promoção de atitudes de conservação ambiental (PÁDUA e VALLADARES-
PÁDUA, 1997). A resposta da questão anterior foi escolhida como hipótese a ser verificada pelos
estudantes em suas pesquisas. De forma unânime, os estudantes propuseram como método de
verificação da hipótese uma visita ao ZOOSP. É interessante notar que esta escolha dos estudantes
demonstra que a simples observação do ambiente natural com animais de vida livre nas matas
circunvizinhas à escola pareceria não legitimar a pesquisa deles, pois estaria calcada em suas
observações e eles ficariam inseguros com as suas próprias respostas, acreditando que a informação
mais concreta estaria em uma instituição onde estão existem pesquisadores e os animais cativos. No
levantamento sobre a forma que coletariam e registrariam seus dados para posterior discussão dos
resultados, apareceu: andar por todo o zoológico e ficar ―olhando‖ o que os macacos comem
(39,3%); levar uma prancheta com uma folha para ir anotando todas as informações (28,6%);
perguntar para o tratador dos animais (10,7%); copiar o que está escrito nas placas dos recintos
(10,7%); procurar os macacos que estão soltos e ver o que estão comendo (7,1%) e fotografar os
macacos (3,6%). Foi comentado que de fato todas esses procedimentos conjuntamente podem ser
meios muito importantes para a coleta de dados. O que resultou dessa atividade foi um roteiro
impresso para que pudessem focar sua atenção na coleção de primatas do ZOOSP. Os itens do
roteiro foram elaborados de modo que houvesse um estímulo para a leitura e interpretação do
conteúdo das placas informativas presentes em cada recinto para as diferentes espécies de primatas
já que se apresentam na forma de um texto contínuo, sem separação por itens sobre a caracterização
do animal. Na ocasião foi elaborado também um questionário para o técnico do ZOOSP que
entrevistariam com a finalidade de levantar dados sobre a alimentação dos primatas em cativeiro.
Ao término dos trabalhos, para o fechamento das atividades de levantamento em campo,
estabeleceu-se uma roda de conversa para coletar as impressões dos estudantes sobre a atividade e
os estudantes aparentavam muito cansaço ao mesmo tempo muita satisfação pelo aprendizado.
O fato de terem sido orientados previamente para a finalidade desta atividade pode ter
contribuído grandemente para esta motivação. A solidariedade e a colaboração entre eles também
foi um fato marcante. Durante o período no qual os estudantes permaneceram no ZOOSP não houve
problemas com indisciplina ou ainda com desvio das tarefas a que se propuseram. Como os grupos
saíram da portaria do ZOOSP em diferentes direções foi possível ainda observar que ao se
encontrarem pelas alamedas, os grupos contribuíam entre si para ajudar a localizar os recintos de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

algumas espécies de primatas que constava de seus roteiros e que tinham dificuldade em encontrar.
Existiu ainda correspondência com os objetivos propostos neste trabalho que é o fato da atividade
despertar a curiosidade sobre assuntos científicos, capacidade de observação e o foco em busca de
respostas a uma questão investigativa como também o trabalho em grupo. O envolvimento na
proposta investigativa e a demonstração do apreço pelos primatas foi um indicador muito positivo
permeando todos os momentos das atividades.

ANÁLISE DAS CATEGORIAS COM ABORDAGEM DA ATD

As produções textuais, corrigidas e reescritas, foram afixadas no mural da sala de modo que
pudessem dar significado aos desdobramentos planejados. Esse conjunto de dados foi considerado
como resultados para o confronto entre a hipótese inicial os que auxiliou para a conclusão por meio
das pesquisas realizadas pelo método proposto. No Quadro 1 são apresentadas as categorias
selecionadas após a unitarização do corpus analisado a partir dos textos produzidos pelos grupos
quanto aos aspectos relacionados à aprendizagem.

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS COM EXEMPLIFICAÇÃO


1. Percepção da existência de
Não sabia que existiam tantos macacos diferentes;
diferentes
Já vim várias vezes aqui no Zoológico com a minha família e com a escola. Nunca tinha
espécies / diversidade de
percebido como tem tantos macacos diferentes aqui;
espécies
Comem folhas, frutinhas e gafanhoto.
Comem banana se alguém der para eles porque não tem banana na mata.
No mato onde vejo os macacos só tem folha então eu acho que é só isso que o bugio come.
Se a bananeira é plantada no mato os macacos acham a banana. Daí eles comem frutinhas e
2. Percepção sobre a variação
folhas do mato. Tem uns que até comem bichos do tipo do gafanhoto. Tem que ter tudo
de
isso na mata pra eles viverem senão eles podem morrer de fome.
hábitos alimentares entre as
Depende do macaco. Se ele vive no zoológico eles dão banana pra eles comer. Mas acho
diferentes espécies de
que depois ele fica gordo e não vai conseguir pular.
macacos / diversidade de
Eu estudei que macacos comem muitas coisas diferentes. Pode ser até outros macacos. Não
hábitos alimentares
todos. Só aqueles que são bem grandes como os chimpanzés.
Eu nunca pensei que macaco não pode comer banana. Sempre vi isso. Agora eles têm que
comer comida saudável senão ficam gordos e doentes.
Alguns vivem solitários e outros em bando.
3. Percepção do comportamento Dormem em ocos de árvore e ficam abraçados por causa do frio.
e de adaptações físicas. Alguns não páram nunca e e outros mais quietinhos.
Existem macacos grandes e sem rabo. Agora parece que os pequenos todos têm rabo.
4.Percepção da variedade de
estruturas morfológicas e Ficam agarrados ao pelo da mãe para mamarem.
adaptações físicas entre as Macacos grandes sem rabo e pequenos com rabo.
diversas espécies de macacos.
Eu não sabia que tem macaco em todo o mundo... achei que só tivesse na selva da
5. Percepção de distribuição
Amazônia[...]gostei muito de estudar estes animais. Vou começar a olhar eles mais de
geográfica dos macacos
perto no mato da minha casa agora.
Alguns são feios, peludos e outros, bonitinhos.
Desejar ter macaco como ―pet‖.
6. Percepção estética e afetiva
São carinhosos e cuidadosos com os filhotes.
Colocar comida no muro de casa para atrair os macacos.
7. Percepção da existência de O IBAMA não permite que um particular crie macacos.
órgãos de proteção às espécies Não pode matar eles senão a policia ambiental pode prender a pessoa
Quadro 1: Categorias dos aspectos relacionados à aprendizagem estabelecidas a partir da unitarização
por meio da análise textual discursiva (ATD).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Baseando-se na análise das categorias foi possível relacionar a proposta de ensino à


resultados satisfatórios no que diz respeito à maior empatia pelos primatas, reconhecimento do
diversificado hábito alimentar e a correlação entre os primatas e seu habitat. A análise mostrou que
os estudantes ficaram surpresos ao saberem da existência da diversidade de espécies, ainda que já
tivessem visitado ao ZOOSP diversas vezes, tanto com a escola com os familiares. Além disso,
apenas os grandes primatas é que normalmente sempre foram mais cativantes para os estudantes
sendo que durante a visita perguntaram várias vezes quando iriam ver o chimpanzé. A média de
tempo que cada grupo se detinha em frente aos recinto selecionados para a coleta de dados e
preenchimento da planilha foi de cerca de sete minutos. Contudo, diante dos recintos dos grandes
primatas como o chimpanzé e orangotango é que se detinham por dezoito minutos em média. Nesse
caso, durante a maior parte do tempo dedicavam-se a tentativa de comunicação com os animais
através de gestos e gritos.
Em relação a pesquisa sobre a origem da bananeira e a articulação com a leitura e discussão
referente a matéria ―Zoológico proíbe alimentar macacos com bananas‖ que tratou da preocupação
dos técnicos em nutrição com a questão da saúde desses animais, pode ter influenciado na reflexão
dos estudantes que afirmaram que a banana pode fazer com que fiquem ―gordos e doentes‖ e de que
―no mato os macacos não acham banana‖. Portanto nesta categoria há indícios que os estudantes
foram capazes de se apropriarem de conceitos sobre a diversidade alimentar entre os primatas
discutidos ao longo da SD. Ainda, ficou claro que conseguem distinguir que a alimentação dos
primatas tanto em cativeiro como na natureza deve ser variada e balanceada para garantir a saúde e
o bem estar destes animais. Os estudantes descreveram também necessidades básicas dos primatas
como qualquer outro ser vivo (alimentação, estabelecimento de relações entre membros do grupo,
acasalamento, criação de filhotes e abrigo) e este aspecto pode ser bastante positivo para trabalhos
de educação ambiental envolvendo medidas de proteção para um ambiente ecologicamente
equilibrado para a manutenção destas populações. A comparação relatada pelos estudantes entre o
tamanho e a presença de cauda e ao grau de atividade da espécie indica que a observação acerca da
variação da forma do corpo foi relacionada à movimentação destes animais pelo ambiente.
Os relatos indicam que, apesar do fato de avistarem primatas em fragmentos florestais
adjacentes a escola e ao bairro onde moram não tinham um olhar detido no ambiente como um todo
porém, a partir dessa atividade afirmações como ―vou começar a olhar melhor eles, mais de
pertinho, no mato da minha casa…porque eu achava que macacos só vivessem na selva
amazônica‖. Talvez este relato esteja relacionado aos estereótipos veiculados pelos meios de
comunicação que, via de regra, associam a região amazônica como um ambiente tropical selvagem
e repleto de animais como araras, papagaios, serpentes e macacos. Os adjetivos como ―bonitinhos‖,
―feios‖, ―peludos‖, ―carinhosos com os filhotes‖ pode revelar o grau de afeição que os estudantes

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

tem por estes animais. Este fato é importante e apontado em trabalhos que se utilizam de espécies-
bandeira para projetos de educação ambiental uma vez que as pessoas se sentem mais compelidas a
ajudar animais mais carismáticos que se beneficiariam devido aos seus atributos físicos e
características comportamentais (BUSS et al, 2007).
Esta proposta pedagógica extrapolou os muros da escola utilizando-se de um espaço não-
formal de educação, o ZOOSP e o próprio ambiente dos estudantes, como meios eficientes de
motivá-los a terem atitudes de pesquisadores que vão em busca de dados para suas pesquisas
utilizando-se de várias fontes. O resultado observado por meio dos registros dos estudantes
demonstrou que a metodologia ABC na Educação Científica - Mão na Massa, postulados por
Charpak (2005) e Schiel (2010) pelos quais a SD se apropriou dos pressupostos investigativos foi
possível entender as relações e as contribuições para a construção do conhecimento científico
produzido em ensino de Ciências tratando de conteúdos científicos articulados com a realidade dos
estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contribuição de visitas e estudos do meio em espaços não-formais de educação com um


propósito de aprendizagem ativa pode ser atrelado a uma experiência significativa de ensino de
ciências. Portanto, este foi um processo propiciou aos estudantes a ampliação seu repertório de
significados, de modo poder utilizá-los na compreensão de fenômenos e no entendimento de
sistemas biológicos, principalmente a existência de diversidade de seres vivos no ambiente, suas
interações e condições para a manutenção da sobrevivência das diversas espécies de primatas.
Ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. E como forma de aproveitar a motivação dos
estudantes dentro deste contexto, alguns desdobramentos desta atividade estão em andamento na
escola, tais como a confecção de um herbário com espécies vegetais devidamente identificadas e
que fazem parte da dieta dos primatas do entorno; exposição sobre o bugio-ruivo e seu hábitat,
incluindo quadros com fotos e playback da vocalização; divulgação dos resultados no Jornal da
Escola (JR em Ação); elaboração de novas SD que relacionam os temas ambientais locais aos
conteúdos escolares a fim de promover o aprendizado de forma contextualizada e interdisciplinar,
desenvolvendo o sentido de pertencimento e a ação coletiva. Um benefício muito positivo que pode
ser atribuído ao uso da metodologia investigativa é a sua influencia na adoção de tomada de
decisões e o desenvolvimento do espírito crítico e reflexivo quanto à iniciativa de procurar e cobrar
das autoridades a resolução de um problema que afeta a conservação dos primatas locais. Esse fato
pode ser constatado por meio do protagonismo de um grupo estudantes diante de uma situação-
prblema: em uma atividade na quadra de esportes do bairro presenciaram o corpo de um bugio
recém morto, por eletrocução. Incorfomados diante do fato, decidiram escrever um ofício à

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

empresa responsável pela transmissão de energia elétrica, responsabilizando-a pela morte cobrando
providências evitar as mortes no futuro. Nota-se portanto que essa atividade pode promover a
sensibilização e posterior mudança de hábitos desses jovens sendo essa atitude um diagnóstico da
percepção ambiental no momento em que puderam resignificar os conteúdos por meio de
intervenções nas questões ambientais do seu bairro. A aquisição desta dimensão social que
demonstra a valorização da preservação ambiental foi o maior ganho depois de todo este trabalho.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DO CAMPO

Paula SALVADOR
Mestranda em Ensino na Educação Básica – CEUNES/UFES
paula.ifes@gmail.com
Sandra Mara Santana ROCHA
Doutora em Engenharia Química – DTI/UFES
sandra.m.rocha@ufes.br

RESUMO
Foi realizado um estudo sobre a prática da Educação Ambiental (EA) em uma Escola do Campo, do
município de Nova Venécia, região Noroeste do Espírito Santo. Considerando que a metodologia
pedagógica adotada nas escolas do campo é a Pedagogia da Alternância (PA), em que os discentes
relacionam a prática cotidiana à teoria aprendida na escola. O discente passa uma semana em casa
(Tempo Comunidade) e a outra semana na escola (Tempo Escola), levando consigo a realidade
vivida, seus problemas, a busca por soluções, o compartilhamento das informações e a verificação
de diferenças e semelhanças nos problemas do campo, muitas vezes de ordem ambiental. Neste
contexto este trabalho visa pesquisar se a prática pedagógica da alternância influencia no
desenvolvimento da EA na escola, principalmente no que tange à interdisciplinaridade. Quanto à
metodologia se trata de um estudo de caso, de natureza qualitativa e exploratória. Como
instrumento de pesquisa foi utilizado diálogo, entrevistas presenciais semiestruturadas com a
direção e docentes, visitação e observação. Considerando que a escola é a melhor fonte para
transformação social, ela não está à parte da sociedade, mas faz parte dela, e seus limites
ultrapassam as barreiras de seus muros. Pode se observar que tanto a direção como os docentes da
escola entendem a importância da interdisciplinaridade na educação ambiental e que mesmo com
dificuldades são desenvolvidos projetos relacionados à EA. Quanto à influência da PA no
desenvolvimento da educação ambiental pode se concluir que é positivo, pois os temas geradores
adotados nesta prática pedagógica facilitam a inserção da questão ambiental nas aulas e devido a
estes temas os professores fazem interligação das demais áreas às suas disciplinas, promovendo de
forma natural à interdisciplinaridade da Educação Ambiental.
Palavras-Chave: Interdisciplinaridade, Pedagogia da Alternância, Formação Cidadã.
ABSTRACT
A study was carried out on the practice of Environmental Education (EA) in a School of the Field,
in the municipality of Nova Venécia, in the Northwest region of Espírito Santo. Considering that
the pedagogical methodology adopted in the rural schools is the Pedagogy of Alternation (AP), in
which the students relate the daily practice to the theory learned in the school. One week the student
goes home (Tempo Comunidade) and the other goes to school (Tempo Escola), taking with him the
lived reality, his problems, the search for solutions, the sharing of information and the verification
of differences and similarities in the problems of the Field, often of environmental order. In this
context, this work aims to investigate whether the pedagogic practice of alternation influences the
development of EE in school, especially in relation to interdisciplinarity. As for the methodology,
this is a case study, of a qualitative and exploratory nature. As a research tool, dialogue was used,
semistructured face-to-face interviews with management and teachers, visitation and observation.
And school is the best source for social transformation, it is not apart from society, but it is part of
it, and its limits go beyond the barriers of its walls. It can be observed that both the direction and the
teachers of the school understand the importance of interdisciplinarity in environmental education
and that even with difficulties, projects related to EE are developed. The influence of PA in the

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

development of environmental education can be concluded that it is positive, since the generative
themes adopted in this pedagogical practice facilitate the insertion of the environmental issue in the
classes and due to these themes the teachers interconnect the other areas to their disciplines,
promoting the interdisciplinarity of Environmental Education.
Keywords: Interdisciplinarity, Pedagogy of Alternation, Citizen Formation.

INTRODUÇÃO

O estudo da Educação Ambiental remete a diversos conceitos como sociedade, economia,


política, cultura, ética e comportamento. Em seu dia a dia, o ser humano está o tempo todo em
contato com questões ambientais, quer por ter uma educação ambiental, formal, não formal,
informal, vivida tanto dentro quanto fora da escola, junto à família, no trabalho, quer por sofrer com
a ausência desta educação. O indivíduo pode contribuir para a preservação ou não do meio
ambiente, ou seja, é responsável por atitudes que impactarão no futuro da humanidade.
A sociedade utiliza-se de recursos naturais para produção de bens e serviços em atendimento
às necessidades e desejos dos indivíduos. A população mundial é de mais de sete bilhões de
habitantes e este número tende a crescer desencadeando um aumento na produção de bens
necessários à sobrevivência dos indivíduos na mesma velocidade (ALVES, 2014).
O problema não é o consumo em si, mas os padrões e os efeitos que ele gera sobre os
recursos naturais, desta forma torna-se necessário modificá-lo para que este consumo seja
sustentável. O consumo excessivo difundido pelos meios de comunicação, de modo irresponsável
do ponto de vista ético e social, tem como consequência problemas para a sociedade e o ambiente.
Assim, faz-se necessário uma educação para o consumo que considere a preservação do meio
ambiente, ou seja, que se consuma de modo consciente para que não comprometa a sobrevivência
das gerações futuras. Ou seja, encontrar o equilíbrio entre homem-natureza é crucial para ter uma
qualidade de vida e sustentabilidade dos recursos naturais, incluindo o homem, que é um ser
natural. Este distanciamento do homem da natureza, ou melhor, da sua própria natureza, tem
colocado em risco a existência da vida (MORIN, 1979). Precisamos de uma reforma de pensamento
e consequentemente de ensino (MORIN, 2010).
Em meio à crise ambiental que a humanidade se encontrava inserida, em 1968 um grupo de
especialistas se reuniu em Roma para debater sobre a questão econômica, social, e ambiental, o
chamado Clube de Roma. A partir do relatório fruto deste Clube, percebeu-se a necessidade de uma
conferência internacional para tratar as questões ambientais de forma global, dando origem à
primeira reunião da Organização das Nações Unidas – ONU sobre as questões ambientais que
aconteceu em Estocolmo, na Suécia em 1972. Discutiu-se a preocupação crescente da sociedade
quanto à qualidade de vida das pessoas em virtudes da poluição e a degradação do meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Uma estratégia para solução do problema de uso desenfreado de recursos naturais pelos indivíduos
foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e a recomendação
para que se criasse o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), conhecida como
―Recomendação 96″. Esta Recomendação sugere o estabelecimento da EA como estratégia para a
crise ambiental (DIAS, 2004).
Após Estocolmo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -
UNESCO assume e organiza discussões regionais e internacionais sobre a educação ambiental. Em
1975 foi realizado um Seminário em Belgrado, capital da Sérvia, com o objetivo de levar programas
de educação ambiental para todos os países membros da ONU. Neste período já se falava em
educação ambiental formal e não-formal, estudada de forma interdisciplinar para crianças e jovens.
Este seminário gerou um documento conhecido como Carta de Belgrado, com definição de metas
ambientais, objetivos, público-alvo, e diretrizes básicas de programas de educação ambiental
(DIAS, 2004). Porém o grande marco da Educação Ambiental foi a ―Primeira Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental‖ que ocorreu em outubro de 1977 em Tbilisi, antiga
União Soviética, com uma parceria da UNESCO e do Programa de Meio Ambiente da ONU –
PNUMA. Na conferência de Tbilisi foram elaborados os princípios, estratégias e as ações que
orientariam a implementação e realização da educação ambiental pelos países signatários,
organizado com 41 recomendações. Apesar do tempo passado que estas recomendações foram
feitas, muitas são aplicadas até os dias atuais. (CRUZ; MELO; MARQUES, 2016).
O Brasil não participou da conferencia de Tbilisi devido ás divergências do governo da
época (Ditadura Militar) com o governo do país sede, assim o Brasil teve acesso às estes
documentos apenas 20 anos depois (CZAPSKI apud CRUZ; MELO; MARQUES, 2016). No ano de
1988 o Brasil cria a Constituição Federal que em seu artigo nº 225 estabelece como dever do Estado
a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente além de diversas formas de controle de condutas que ameaçam a
fauna e a flora. No ano de 1999, foi criada a Lei nº 9.795, que dispõe sobre a política nacional de
educação ambiental, princípios e objetivos e expõe a educação não formal, que vem a ser a prática
da educação ambiental não curricular, que é promovida fora do sistema formal de ensino, não há
avaliações formais, e não é disciplina específica no currículo de ensino (BRASIL, 1999).
Assim a EA começa a ser timidamente praticada no Brasil, vislumbrando que o ensino da
educação ambiental possa contribuir na formação cidadã. No que tange a educação básica, a EA
pode ser um suporte para aplicação deste conhecimento levando a uma mudança de hábitos da
sociedade. A educação básica é dever do Estado, obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade
(BRASIL, 1988). O modo não formal do ensino da educação ambiental, descrito pela Lei nº 9.795
(BRASIL, 1999), é entendido como as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade


do meio ambiente. Entendendo por coletividade as organizações da sociedade, os agricultores,
universidades, empresas, e a população em geral. E quanto à interdisciplinaridade, ainda nesta Lei
9.795 (BRASIL, 1999), em seu artigo 10º estabelece que ―A educação ambiental será desenvolvida
como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do
ensino formal‖. Quer dizer que a educação ambiental deve estar presente em todas as disciplinas e
não ser uma disciplina, não deve ser específica no currículo de ensino. E ainda que seja constante,
que ocorra diariamente no desenvolvimento do trabalho educativo.
Quanto à educação do campo que rege as escolas que atendem aos discentes residentes em
zona rural, tem-se como política e princípio, o respeito aos aspectos culturais, sociais e todos outros
que abrangem a diversidade do campo. Valorizando a identidade e permitindo a flexibilidade da
organização escolar (BRASIL, 2010). Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seu
artigo 23 descreve as modalidades de organização do ensino, em que se destaca a alternância, uma
metodologia de ensino para a educação do campo, que usa vários instrumentos para organização
dos conteúdos curriculares, apropriados aos interesses e necessidades dos discentes do campo
(BRASIL, 1996).
Dentre os instrumentos pedagógicos utilizados estão o plano de estudo, o caderno da
realidade, viagem e visita de estudo, estágio, serões, visitas às famílias e avaliação. O fundamental é
o plano de estudo, que consiste em um questionário desenvolvido pelos alunos e professores a cerca
de questões da vida cotidiana das famílias (a realidade vivida). Enquanto permanecem em casa
descrevem suas vivências e ao retornarem à escola compartilham com todos a fim de comparar os
casos, as semelhanças, as diferenças e as causas analisando a realidade da própria vida. Geralmente
os alunos passam uma semana na escola e duas semanas em casa (NOSELLA, 2013).
Na pedagogia da alternância é considerada a relação entre o tempo família, escola e
comunidade. O discente alterna entre o tempo que fica na escola; o tempo que passa em casa e na
comunidade (geralmente este tempo é de uma semana) para o desenvolvimento e aplicação de
conhecimentos adquiridos na escola e praticados no seu cotidiano (tempos formativos). Esta prática
pedagógica teve origem como uma alternativa para facilitar a ida e permanência dos discentes do
campo nas escolas, uma vez que o transporte e as estradas apresentavam-se como um problema para
os mesmos, além de adequar o calendário escolar com as fases do ciclo agrícola e as condições
climáticas, uma vez que os discentes participam do trabalho no campo em casa. A PA é um
processo que envolve o contexto histórico e social em que o discente do campo se encontra inserido
(NOSELLA, 2013).
O objetivo geral deste artigo é pesquisar se a prática pedagógica da alternância influencia no
desenvolvimento da EA na escola, principalmente no que tange à interdisciplinaridade, tendo em

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vista o urgente e necessário conhecimento para sobrevivência futura da humanidade. E os objetivos


específicos são descrever a importância do estudo da educação ambiental na educação básica bem
como observar as práticas pedagógicas que são utilizadas pelos docentes para desenvolver a
educação ambiental com os educandos.

METODOLOGIA

O estudo de caso define a metodologia empregada nesta pesquisa cujo objeto de estudo é
uma Escola do Campo, do município de Nova Venécia região noroeste do estado do Espírito Santo,
privada, de categoria filantrópica, conveniada com o poder público estadual e mantida por ONG,
que oferece educação básica de ensino médio.
Representa as opiniões por vezes distintas entre o diretor da escola e quatro docentes
integrais (que trabalham 44 horas semanais) de um total de oito docentes. Quanto ao nível de ensino
da educação básica, a escola oferece o ensino médio integrado regular (técnico em agropecuária).
Os alunos apresentam idade entre 15 a 18 anos, é uma escola mista. Apesar de ser uma escola do
campo voltada para moradores da zona rural, este não é um pré-requisito para estudar na escola,
mas no período de desenvolvimento desta pesquisa 100% dos alunos são residentes em zona rural.
Segundo o diretor, não existe demanda de alunos provenientes da zona urbana. Para ingressar na
escola é realizada uma entrevista com o aluno e com a sua família para saber sobre a visão que se
tem da escola e o objetivo de se estudar nela. Atualmente tem um número total de 113 alunos
regularmente matriculados. Possui transporte escolar público, oferece alimentação escolar e tem
como infraestrutura biblioteca, laboratório de informática, e de ciências, quadra de esportes, e
acesso à internet.
Como hipótese, pressupõe-se que ocorra o desenvolvimento da educação ambiental na
escola objeto de estudo, devido à filosofia da Educação do Campo, bem como as exigências legais,
no entanto, no desenvolvimento deste estudo buscará responder a indagação do problema de
pesquisa. De forma a se entender a influência da Pedagogia da Alternância no desenvolvimento da
Educação Ambiental, foi realizada uma análise considerando o contexto no qual a Escola se
encontra inserida, assim como os vários fatores que abrangem a complexidade da realidade da
mesma. A pesquisa tem natureza qualitativa, deste modo foram utilizados como fonte de
informação, entrevista semiestruturadas realizada com o diretor e questionário aplicado a quatro
professores a fim de confirmar a hipótese levantada.
A pesquisa consistirá em três fases, a saber: uma primeira exploratória, em que a
pesquisadora levanta os pontos que considera críticos por meio da literatura, da observação direta
na escola, definindo assim mais precisamente o objeto de estudo com estabelecimento de contatos
iniciais para entrada em campo a fim de localizar os sujeitos e as fontes de dados necessárias; a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

segunda referente à coleta de dados com aplicação de entrevista e questionário semiestruturado com
a direção da escola e os docentes, coleta de depoimentos, e por fim a terceira fase que é a análise e a
interpretação dos dados coletados que ocorrerá de modo interpolar com a transcrição da entrevista
juntada com os dados obtidos pelos questionários para confronto e interpretação (LUDKE;
ANDRÉ, 2014). Para minimizar o viés do comprometimento da qualidade, foram definidos
procedimentos metodológicos conforme o Quadro 1.

Quadro 1. Resumo das técnicas e instrumentos de coleta de dados empregados durante a investigação.
Investigação Técnicas Instrumentos

Exploratória Leitura, anotações e


observações.

Delimitação do Estudo Entrevista semiestruturada,


Qualitativa aplicação de questionários aos
Coleta de Dados docentes.
Tipo: Estudo de Caso
Análise e interpretação e Registros, transcrições,
relatório gráficos, tabela e comparações
com a legislação e teoria.
Fonte: Baseado em Ludke; André (2014).

Como prática pedagógica, a escola utiliza a alternância, prevista como forma de organização
da educação básica pela Lei nº 9.394 de 1996 em seu artigo 23 (BRASIL, 1996). Os alunos aplicam
os conhecimentos aprendidos na escola, na vida particular e profissional da família.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como mencionado na metodologia, os resultados deste trabalho são referentes às respostas


do diretor e de 4 docentes da instituição.
Considerando que a escola objeto de estudo desta pesquisa utiliza a Pedagogia da
Alternância (PA) como metodologia de ensino e aprendizagem, perguntou-se ao diretor da
instituição, quais as principais diferenças esta prática pedagógica traz em relação ao currículo das
escolas tradicionais. Principalmente no que tange à Educação ambiental. Segundo o diretor, os
alunos da educação do campo estudam de forma interdisciplinar toda a área do conhecimento e
disciplinas através dos temas geradores, projetos das áreas e conteúdos macros. Ou seja, a
metodologia adotada pelas escolas do campo, que cumprem as exigências da Base Nacional
Comum Curricular, facilita a abordagem das questões ambientais por parte dos educadores. Segue a
explicação do diretor:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

―Por exemplo, o clima, considerando como um tema gerador pode ser abordado vários
conteúdos geografia, biologia, português, integrando as disciplinas. Imagine uma árvore, posso
olhar para ela e descrever seus elementos químicos, biológicos, verificar o local geográfico
onde ela se encontra ou ainda escrever uma poesia, ou na física para calcular o ângulo que sua
sombra projeta no solo. É uma gama infinita de abordagem integrada, interdisciplinar e
interdependente de um tema gerador, que ocorre de forma contínua na escola, não cessa‖.

Em suas citações, o diretor deixa claro que a prática pedagógica da alternância favorece o
desenvolvimento da educação ambiental no ambiente escolar e em seu entorno, haja visto que nesta
prática existe uma íntima relação entre o cotidiano dos educandos e a teoria aprendida na escola.
Sobre a interdisciplinaridade da Educação Ambiental na escola, segue a declaração do
diretor a respeito:

―Há uma identificação clara da interdisciplinaridade da Educação Ambiental no ensino na nossa


Escola, porque a concepção da educação ambiental é naturalmente interdisciplinar, o discente
leva para a sala de aula sua vivência, onde problemas ambientais estão presentes. Existe uma
relação de favorecimento com a pedagogia da alternância porque é a forma do ser humano se
relaciona com o meio, a forma de se estudar praticada pela pedagogia da alternância faz com que
o aluno estude e pratique a educação ambiental‖.

O diretor da instituição considera ótimo o trabalho interdisciplinar da Educação Ambiental


na escola. Segundo ele a EA não só está no currículo da escola, como também nas práticas
desenvolvidas no ambiente escolar. Apesar de se enfrentar algumas dificuldades no
desenvolvimento dos projetos de cunho ambiental a interdisciplinaridade no desenvolvimento dos
temas geradores faz com que a EA aconteça e seja de responsabilidade de todos os educadores da
escola, independente da área de atuação. Abaixo segue a fala do diretor em relação ao motivo que
dificulta a execução da interdisciplinaridade da Educação Ambiental.

―É o sistema externo, em que se tem uma sociedade de consumo, que pensa única e
exclusivamente no lado econômico, sem se preocupar com o meio ambiente. Não entendem que
a economia não anda sozinha, ela tem como matéria prima os recursos naturais advindo do meio
ambiente, logo é preciso uma educação ambiental no sentido da conscientização sobre o uso
destes recursos. Por exemplo, para a produção agrícola, não há uma mudança na matriz
tecnológica para produção sem uso de agrotóxicos. Outro ponto na atividade agrícola é que não
se respeita os limites de reserva legal, querem usar todo o recurso natural disponível‖.

Tanto o diretor quanto os docentes entrevistados afirmaram que existem projetos em


educação ambiental, desenvolvidos e/ou em desenvolvimento na escola, principalmente
relacionados ao setor agropecuário. Projetos de conservação de solos, planejamento agropecuário, o
uso de agrotóxicos, o uso da energia, o estudo do clima, as visitas a terras vizinhas destinadas a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

agricultura e a pecuária para observação e pesquisa, a formação do lixo, a recuperação de áreas


degradadas, o projeto de pastagem sombreada e as viagens de estudo em que ocorrem abordagens
de cunho ambiental.
Quando os docentes foram questionados sobre o desenvolvimento da EA na escola, eles
declararam que a falta de maturidade do aluno para relacionar os conteúdos estudados nas
disciplinas com os problemas do dia a dia dificultam o ensino da EA, tornando a
interdisciplinaridade responsabilidade do docente, e eles acabam tendo que entrar em disciplinas de
outras áreas (os quatro docentes entrevistados declararam que trabalham acerca de conteúdos que
não são de sua área). O diretor apesar de considerar ótimo o desenvolvimento da EA na escola
aponta alguns problemas e dificuldades como a falta de água, a seca na represa que abastece as
atividades agrícolas da escola como a horta cultivada como atividade avaliativa da disciplina de
técnicas agrícolas e como fonte de alimento para os alunos. Três dos quatro entrevistados também
apontaram problemas destacando a seca regional, a estiagem, a cultura dos alunos, a falta de
consciência dos mesmos, com atitudes que impactam diretamente no ambiente escolar como sujar e
jogar lixo no pátio, e o esgoto. Houve forte frequência da abordagem da seca como fator
problemático. No Quadro 2, estão apresentados os problemas ambientais na escola citados pelo
diretor e pelos discentes.

Quadro 2: Problemas ambientais na escola.


PROBLEMAS AMBIENTAIS NA ESCOLA

Falta de maturidade do aluno

Escassez de água

Cultura dos alunos

Falta de consciência dos alunos

Esgoto
Fonte: Elaborado pelas autoras.

O diretor afirma que ainda existe a necessidade do fortalecimento da integração entre as


disciplinas para garantir o sucesso da EA na escola, e que para alcançar este sucesso tem se
investido na formação docente através de cursos, treinamentos, aperfeiçoamento e formação inicial
que é a auto formação feita pela equipe de docentes como uma ambientação para os recém-
chegados na escola e continuada que ocorre nos encontros regionais de formação, a pós-graduação
em PA, entre outros, para que o trabalho com as disciplinas seja integrado, realmente trabalhado de
modo interdisciplinar.
Quanto aos problemas que dificultam a execução da interdisciplinaridade da educação
ambiental, de acordo com as respostas dos docentes, apresentadas no Quadro 3, têm-se que 25% dos
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

docentes responderam que não há dificuldades encontradas, 50% responderam que a literatura
existente não faz relação nas disciplinas, e 25% responderam outro motivo que não estava nos itens
apresentados. O outro motivo citado pelo docente foi a falta apoio do poder público, por não
oferecer condições, de fato, para o cumprimento da legislação em tempo hábil, pois há atraso na
liberação de licenças, por exemplo, o que desmotiva sua busca, além da falta de conscientização dos
alunos. Nenhum docente citou a falta de condições necessárias na escola; e nenhum docente citou
que os conteúdos abordados são independentes.

Quadro 3: Problemas na execução da interdisciplinaridade da Educação Ambiental

Lista Problemas Resposta dos docentes

P1 Não há dificuldades encontradas 1

P2 A literatura não faz relação com as 2


disciplinas

P3 Conteúdos abordados serem 0


independentes

P4 Outros 1
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Com base nos resultados obtidos na pesquisa, verifica-se que a prática pedagógica da
alternância afirmativamente influencia no desenvolvimento da EA na escola, principalmente no que
tange à interdisciplinaridade, uma vez que a forma de organização curricular, baseada em temas
geradores presente no ensino da escola do campo de alternância tem naturalmente a concepção da
EA visto que aborda a forma como o ser humano se relaciona com seu meio. Vale ressaltar que os
dados obtidos pela pesquisa representam a opinião dos entrevistados com base na realidade vivida
pelos mesmos.
Tendo em vista o histórico da educação ambiental, e sua origem baseada em problemas de
ordem social, econômica e política, não só ecológica, considera-se a importância de seu estudo na
educação básica. Constatou-se que as práticas pedagógicas utilizadas pelos docentes para
desenvolver a educação ambiental, são diversas, desde visitas, viagens de estudo, experiências e
projetos como atividade de conservação dos solos, o uso de energia, estudo sobre o clima,
recuperação de área degradada, formação de lixo, compostagem e higiene, até a prática do ensino
cotidiano que propõe ir além da transmissão do conhecimento para um aprendizado que provoque
uma mudança individual de comportamento, um estudo amplo, crítico que atinja práticas sociais de
transformação.
Desta forma o desenvolvimento da educação ambiental na escola deve se pautar na prática
educativa que forme sujeitos críticos, presentes nas políticas públicas, na conscientização e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sensibilização quanto à abrangência social, econômica e ambiental do estudo. Não se restringindo a


abordagem reducionista do meio ambiente a eventos fora do contexto da realidade vivida, e
assumindo o perfil de datas comemorativas na escola. Diferente disto, que seja autônoma,
abrangente e permeie todas as disciplinas e ultrapasse os muros escolares, atingindo transformações
sociais e equilíbrio na relação homem-natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa nos permite concluir que a Pedagogia da Alternância favorece o


desenvolvimento da educação ambiental através dos temas geradores que em sua maioria abarcam
questões relacionadas ao meio ambiente. Que além dos alunos praticarem a EA no espaço escolar
eles também levam estas práticas para o seu cotidiano junto a sua família durante o chamado Tempo
Comunidade. Em que estes alunos terão que relatar no Caderno da Realidade tudo o que foi
desenvolvido no período que eles estiveram no ambiente familiar. Permitindo assim que os
educadores observem se os ensinamentos sobre EA no Tempo Escola têm transformado o cidadão e
não apenas o aluno. Assim, o educador pode realizar as mudanças necessárias em suas aulas e
atividades de forma a cumprir verdadeiramente o que é proposto pelo ensino da EA.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESTUDO SÓCIO-ECONÔMICO-AMBIENTAL DA POPULAÇÃO


DA ZONA SUL DE ILHÉUS

Paulo Sergio Nascimento GUEDES


Especialista em Ensino de Geografia da UESC
oceano0316@yahoo.com.br

RESUMO
Estudar os aspectos sociais, econômicos e ambientais da população da Zona Sul de Ilhéus Bahia
com intuito de conhecer a realidade local e o desenvolvimento desses bairros, com alunos do 1º ano
do ensino médio no Colégio Estadual Moysés Bohana em Ilhéus, Bahia e Brasil.Visto que a maioria
dos alunos mora nestas localidades. Em virtude dessa demanda resolvemos implementar um projeto
na escola com intuito de qualificar nossos alunos para desenvolver conhecimentos coletivos para o
tema proposto.
Palavras chaves: População, alunos e escola.
ABSTRACT
To study the social, economic and environmental aspects of the population of the Southern Zone of
Ilhéus Bahia with the purpose of.Knowing the local reality and the development of these
neighborhoods, with students of the high school in MoysésBohana state College in Ilhéus, Bahia
and Brasil. Since the majority of the students live in these localities. Due to this demand we decided
to implement a project in the school in order to qualify our students to develop collective
knowledge for the proposed theme.
Keywords: Population, students and school.

INTRODUÇÃO

O Trabalho vem sendo desenvolvido desde o ano de 2010, com alunos do 1º ano do ensino
médio no Colégio Estadual Moysés Bohana em Ilhéus Bahia, durante a II Unidade. Abordando
diversos conteúdos vinculados ao ensino de geografia. Portanto, ao observar que, muitos dos nossos
alunos mora nesses bairros, foi verificado a importância da aplicação de um projeto para conhecer
essas localidades e que esses alunos tenham uma percepção de espaço geográfico e que possa
analisar a produção do espaço desses locais para o bem comum de todos.

JUSTIFICATIVA

Atualmente a população precisa construir conhecimento coletivo para desenvolver


estratégias para criação de projeto de sustentabilidade nas localidades, diversas cidades têm exigido
profissionais qualificados para isso há necessidade do desenvolvimento de projetos para
qualificação dos jovens. Essa qualificação depende muito do olhar do professor. Outro fator

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

importante nesse projeto é a motivação de interdisciplinaridade. É necessário, entretanto, o


comprometimento de todos os profissionais da escola para desenvolver a capacidade de articular o
seu próprio discurso em relação aos diferentes saberes disciplinares de diferentes fontes, com vistas
a ampliar e diversificar o processo ensino-aprendizagem. Dessa forma, mesmo sendo um projeto na
área de geografia, é possível trabalhar em parceria com outras disciplinas.

FUNDAMENTAÇÃO

A geografia é uma ciência fundamental nos processos educativos. A geografia serve para
conhecer nosso mundo e obter conhecimentos sobre nosso habitat e as organizações societárias.
Esta ciência estuda, analisa e procura explicar o espaço produzido pelo homem, estudando o espaço
físico e o humano, ao mesmo tempo, procurando compreender e estabelecer as relações entre
sociedade e natureza. ―Atualmente a geografia preocupa-se em formar cidadãos críticos para atuar
na sociedade contemporânea‖ (Castrogiovanniet al. 1998).
O ensino da geografia busca propiciar a construção do conhecimento e dos conceitos
geográficos. Essa construção começa a ser interessante quando a uma relação dialética, entre
professor e aluno na construção dos conceitos geográficos que possibilitem que os alunos coloquem
em prática na sua realidade para transformação da sociedade (Cavalcanti, 1998).
Para o aluno transformar seu espaço, ele precisa compreender os processos que faz com que
as sociedades produzam e transformem o espaço local, regional, nacional e mundial, devendo o
mesmo entender que esses espaços estão em constantes transformações devido às relações entre
sociedade e natureza.
Na geografia, é necessário dar ênfase ao espaço humanizado – nossa preocupação inicial
deve ser o espaço vizinho, ou seja, o espaço vivido (casa, escola, bairro, cidade), sem esquecer as
outras escalas maiores: região, país e mundo, com o entendimento dos conceitos e escalas
geográficas o educador e o educando poderão desenvolver e despertar novos conceitos para a
geografia (Castrogiovanni et al. 1998).
Nesse início de século XXI, o principal objetivo da geografia, é compreender a vida de cada
um de nós, interpretando com uma visão crítica, as paisagens, a globalização, a organização do
espaço geográfico, as questões ambientais e a relação sociedade e natureza em que vivemos, em
especial, entender os mecanismos para podermos analisar os processos de transformação da nossa
sociedade.
Para explicar melhor esses mecanismos, é preciso perceber que entre homem e lugar existe
uma constante dinamicidade: se o espaço contribui para a formação do ser humano, este por sua
vez, através da sua intervenção, com seu fazer, com seu trabalho e com suas atividades, transforma
constantemente esse espaço geográfico (Cavalcanti, 1998).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Observado a importância da geografia, verifica-se que cada sociedade produz uma geografia
de acordo com seu interesse, mais importante do que localizar é relacionar os lugares e as
sociedades que ali habitam, sempre tendo em mente a globalização da sociedade mundial. Se nosso
aluno conseguir fazer uma leitura do mundo, creio que estaremos ajudando a construir uma
sociedade mais crítica e humana.

METODOLOGIA

O método utilizado na pesquisa foi uma abordagem tipo crítico-dialética da transformação


sócio-econômico-ambiental da Zona Sul de Ilhéus. Inicialmente foi feito o planejamento deste
trabalho, com levantamento bibliográfico e durante a II unidade do ano letivo foi colocado em
execução: Para realização desse projeto na primeira fase é colocado conteúdo referente ao tema,
geografia da cidade de Ilhéus Bahia para que os alunos entendam a proposta, esse tema é exposto
em aula dialogada ao longo da unidade. Na segunda fase são apresentados fotos e vídeos da Zona
Sul de Ilhéus e elaboração do questionário que vai ser aplicado na localidade. Na terceirafase os
alunos realizam apesquisa de campo, em grupo, com aplicação de questionário elaborado em sala de
aula, no final do trabalho os grupos de alunos apresentam um relatório escrito e um seminário oral.
Relatório: Introdução - (tabulação de dados) – Entrevistas - planilha e gráficos - fotos - desenho de
mapa do bairro e síntese com solução para melhoria da qualidade de vida no bairro, junto com a
produção de um vídeo: Entrevistando dois moradores: um estudante e um adulto do bairro.

RESULTADO

Ao longo dos anos através das pesquisas realizadas pelos alunos observamos uma expansão
horizontal desordenada na Zona Sul da cidade de Ilhéus, impactando ambientes de Restinga,
Manguezal e Mata Atlântica.
Atualmente a população da Zona Sul de Ilhéus está com aproximadamente 60.000
habitantes. Os alunos analisaram informações dos bairros mais populosos. Pontal, Nelson Costa,
São Francisco, Hernane Sá, Nossa Senhora das Vitórias e Ilhéus II, analisando os respectivos dados
dessas localidades, foi observado um crescimento dessas localidades, sobre ambientes naturais,
como praia, restinga, manguezais e matas. As famílias nessas localidades apresenta em média 4
pessoas, a maioria cursa o ensino fundamental e médio, apresentando um consumo baixo, devido a
renda família ficar em torno de um salário mínimo.
Os problemas encontrados nas localidades, apontadas pelos moradores são falta de
segurança, transporte coletivo deficitário, ocupação de ambientes naturais, desemprego, falta de
serviços: financeiro, hospitalar, limpeza, saneamento básico,iluminação pública, manutenção e
pavimentação de ruas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Segundo os moradores a maioria das associações e administrações dos bairros não funciona,
algumas observações e reivindicações das comunidades são feitas individualmente por moradores
ao poder público, geralmente utilizando as diversas mídias de comunicações: Redes sociais, blogs,
rádio e TV.
Observo que precisa compromisso e responsabilidade da gestão pública para atender melhor
as diversas comunidades da cidade de Ilhéus. Bahia. A sociedade em forma de associação e grupo
pode cobrar melhoria para suas localidades, para isso é preciso que toda comunidade esteja
envolvida no bem comum para todos os moradores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse projeto tem sido importante para a aprendizagem dos alunos, pois muitos deles passam
a valorizar e entender os diversos aspectos de transformação da sua localidade e também ajuda na
formação desses cidadãos que, no futuro próximo, poderá ajudar e contribuir para o
desenvolvimento sustentável da sua localidade Quando realizei o projeto, procurei mobilizar e
sensibilizar os alunos para que eles agissem como atores na sociedade. O projeto foi desenvolvido a
partir desta premissa: estudando os diversos temas ligados a sua localidade diagnosticando juntos
com alunos e moradores da localidade os diversos problemas enfrentados na comunidade. Quando
terminou o trabalho, percebi que esse tipo de projeto pode ser perfeitamente estendido a toda escola,
em interação com as diversas disciplinas oferecidas num trabalho interdisciplinar ou
transdisciplinar, Para que isso aconteça, precisa da participação de toda comunidade escolar,
principalmente os professores que serão mediadores para a execução desse projeto.Após o projeto
verificamos o significado da aprendizagem para os alunos, muitos deles começam a valorizar a
importância da sua localidade para o município. Nota-se que os alunos com este tipo de projeto
criam laços de valorização e com isso acabam valorizando todos os aspectos da sua cidade.

REFERÊNCIAS

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AGB, 1998.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

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TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar. São Paulo: Difel. 1983.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL I: MÚLTIPLAS


VIVÊNCIAS EM UMA ESCOLA DE JOÃO PESSOA, PB

Pryscilla Barbosa de LACERDA


Licenciada em Ciências Biológicas pela UFPB
pryscillalacerda_jp@hotmail.com

RESUMO
A relevância que a Educação Ambiental apresenta diante da formação das jovens gerações foi o
principal fator que motivou a construção deste trabalho. Assim, o presente artigo tem como objetivo
geral refletir sobre a contribuição de uma série de vivências pedagógicas desenvolvidas em uma
turma de ensino integral, composta por alunos do Fundamental I (do 1º ao 5º ano), da escola
Carrossel Prisma, localizada no município de João Pessoa, na Paraíba. A fim de facilitar a
compreensão dos educandos sobre as temáticas ambientais abordadas, diferentes estratégias e
recursos didáticos foram empregados. A exibição de vídeos, o cultivo de uma horta, a realização de
oficinas com materiais reutilizáveis, a montagem de uma experiência e a promoção de atividades
artísticas e lúdicas, formaram o conjunto de estratégias metodológicas escolhidas para guiar o
desenvolvimento das vivências. As ações, divididas em quatro momentos distintos, ocorrem ao
longo dos anos de 2016 e 2017 e tiveram como eixo norteador as temáticas: problemas ambientais,
sustentabilidade, resíduos sólidos e água. Portanto, as reflexões construídas ao longo deste relato de
experiência ajudam a evidenciar a importância da Educação Ambiental na infância, estimulando o
desenvolvimento de práticas pedagógicas comprometidas com a formação crítica e reflexiva das
jovens gerações.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Vivências Pedagógicas, Carrossel Prisma.
ABSTRACT
The relevance that Environmental Education presents to the young generations' academic formation
was the main factor that motivated the construction of this work. Thus, the present article has as
general objective to reflect on the contribuition of pedagogical experiences performed in an integral
teaching class, composed by Elementary School students (1st to 5th grades), of Carrossel Prisma
school, located in João Pessoa, Paraiba, Brazil. In order to facilitate the comprehension of the
learners on the environmental related themes, different strategies and didactic resources were used.
The exhibition of videos, growing a vegetable garden, workshops with reusable materials, the
assembly of a experiment and the promotion of ludic and artistic activities formed the set of
methodological strategies chosen to guide the development of the experiences. The actions, divided
in four different moments, occurred throughout 2016 and 2017 and addressed the themes:
environmental problems, sustainability, solid waste and water. Therefore, the reflections built along
this article thei call to attention for the importance of Environmental Education in childhood and
stimulate the development of pedagogical practices committed to the critical and reflective
formation of the young generations.
Keywords: Environmental Education, Pedagogical Experiences, Carrossel Prisma.

INTRODUÇÃO

A exploração dos recursos naturais, sejam eles renováveis ou não renováveis, é um fato que
acompanha a humanidade desde o início de sua trajetória histórica. Como diz Andrade (2001),

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

interessado basicamente na sua própria sobrevivência, o ser humano passou a se relacionar com a
natureza por meio de um comportamento predatório e com a chegada da era Moderna e advento da
Revolução Industrial, desencadeada no ano de 1750, esta relação se intensificou. A transição da
produção artesanal para a fabril impôs novas formas de vida e de trabalho, modificando
drasticamente as necessidades de consumo da população dos países em processo de
industrialização.
Mais que afetar as condições de vida de todas as classes sociais, o surgimento das primeiras
indústrias foi responsável por provocar um intenso êxodo rural e a forte migração, da zona rural
para a urbana, ajudou a acelerar o processo de crescimento das grandes cidades. A ocupação dos
novos centros urbanos em ascensão, criados sem nenhum planejamento e organização, além de ter
colaborado com o aumento das desigualdades sociais, passou a interferir na qualidade dos
ecossistemas locais, tornando-os mais vulneráveis a sofrer com as consequências dos danos
causados ao meio ambiente.
Frente a este contexto, Leff (2009) evidencia que a sociedade moderna se desenvolveu
mediante o domínio da natureza, à custa de riscos ambientais regionais e globais, alicerçando-se em
padrões de vida, produção, consumo e acumulação insustentáveis. Como consequência, estamos
vivendo em mundo marcado por uma evidente crise ecológica, onde os efeitos da degradação
ambiental se manifestam rapidamente, colocando em risco o mundo natural do qual depende a
sobrevivência de todos os seres vivos.
Ao tomar conhecimento desta realidade, Boff (2012) vem chamando a atenção para a
importância da adoção de estratégias que ajudem a redirecionar as ações humanas diante do meio
ambiente. Na concepção de Carvalho (2004), uma alternativa é atuar junto aos ambientes
educativos, uma vez que estes se configuram como espaços que possibilitam rever conceitos,
fundamentos, teorias e práticas. Ao promover o desenvolvimento de atividades pautadas nas
questões ambientais, a educação estará contribuindo com a formação de sujeitos com novos valores,
padrões de comportamento, atitudes, posturas e hábitos diante do meio ambiente.
A chamada Educação Ambiental, termo criado para unir, na mesma expressão, as esferas
educacional e ambiental, vem sendo vista como uma área de atuação pedagógica capaz de auxiliar
na divulgação de medidas que prezam pela redução dos processos degradantes. Por se constituir
como um tema transversal de cunho social, abrangente, atual, urgente e interdisciplinar, a Educação
Ambiental, de acordo com Brasil (1998), deve compor o currículo de todas as disciplinas escolares,
perpassando os diferentes níveis e etapas da educação básica como um processo contínuo e
permanente.
No âmbito do ensino fundamental, a abordagem da Educação Ambiental se torna ainda mais
relevante, dado que é nesta fase que se inicia o processo de formação dos futuros cidadãos. A

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Educação Ambiental, quando trabalhada desde cedo, favorece a formação de cidadãos conscientes e
comprometidos com as questões ambientais de seu tempo. Brasil (2001) coaduna com esta
concepção e defende que o compromisso com a cidadania exige uma prática educativa pautada no
reconhecimento e na compreensão das múltiplas questões socioambientais que interferem na vida
dos sujeitos.
Por ser indispensável à transformação de consciências e atitudes, a Educação Ambiental,
mais que fornecer informações e conceitos, é capaz de estimular o desenvolvimento de processos de
ensino-aprendizagem comprometidos com a construção de uma postura ética e de respeito diante do
meio ambiente. Entretanto, para que isso ocorra, as ações em Educação Ambiental devem ser
organizadas de modo a permitir a participação ativa dos alunos, criando espaços para que eles
utilizem seus conhecimentos acerca do meio ambiente para entender a realidade e modificá-la.
Portanto, foi com base na importância da abordagem da Educação Ambiental nas séries
iniciais do ensino fundamental que este trabalho foi construído. Desse modo, o presente artigo teve
como objetivo geral refletir sobre a contribuição de uma série de vivências pedagógicas realizadas
em uma turma de ensino integral, composta por alunos do Fundamental I (do 1º ao 5º ano), da
escola Carrossel Prisma, localizada no município de João Pessoa, na Paraíba. Para contribuir com o
aprofundamento da temática que norteou a construção das vivências, ressalta-se a seguir a
importância da Educação Ambiental como campo de atuação pedagógica.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CAMPO DE ATUAÇÃO PEDAGÓGICA

O papel central da educação na ―construção de um mundo socialmente mais justo e


ambientalmente equilibrado‖ (BRASIL, 2001, p. 181) foi reconhecido mundialmente a partir da
década de 1970. Mediante a influência dos movimentos ambientalistas, a educação foi considerada
como elemento indispensável para a transformação da consciência ambiental e com isso, passou-se
a adotar explicitamente a expressão ―Educação Ambiental‖ para qualificar iniciativas ―por meio das
quais se busca conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais‖ (BRASIL, 2001, p.
181).
No Brasil, a Educação Ambiental foi assumida como uma obrigação nacional, a ser adotada
em todos os níveis de ensino, através da Constituição de 1988. Porém, a inserção desta área no
âmbito da educação básica só se formalizou através da publicação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), documento de caráter político-pedagógico que engloba uma série de
conhecimentos comprometidos com o exercício da cidadania (BRASIL, 2001).
Os PCNs apresentam a Educação Ambiental como uma área complexa, de natureza
transversal e interdisciplinar, responsável por dar aos indivíduos e à sociedade os elementos éticos e
conceituais necessários ao estabelecimento de uma relação orgânica com a natureza. Além disso, os

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PCNs ressaltam que as atitudes favoráveis ou desfavoráveis ao meio ambiente são construídas
desde a infância e por isso, as práticas em Educação Ambiental devem ser adotadas a partir das
séries iniciais do ensino fundamental.
Ferreira, Pereira e Borges (2013) coadunam com esta afirmação e defendem que o ensino
fundamental representa a fase da educação que levará o indivíduo a se tornar um cidadão crítico e
participante de seus direitos e deveres. Durante o ensino fundamental, as crianças estão em fase de
melhor aprendizado, assimilando e construindo os conhecimentos que servirão de alicerce para suas
ações futuras. Nesse sentido, a escola deve estimular o desenvolvimento de atividades que
incentivem as crianças a adquirir valores, atitudes e comportamentos em benefício do meio
ambiente (FERREIRA, PEREIRA, BORGES, 2013).
Na concepção de Carmo et al. (2012), o desenvolvimento de atividades de Educação
Ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental se configura como uma prática promissora,
uma vez que é nesta fase que os alunos estão em processo de descoberta e transformação. Desta
forma, ―os educadores podem introduzir a questão ambiental de maneira a sensibilizá-los,
motivando-os a adotar uma postura que possibilite a percepção acerca da necessidade do cuidado e
respeito para com a natureza‖ (CARMO, et al. 2012, p. 5).

PERCURSO METODOLÓGICO

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência e sua construção fundamentou-se


em autores que versam sobre o surgimento e a importância da Educação Ambiental. Diante disso,
fez-se uso das obras de Andrade (2001), Carvalho (2004), Brasil (1998, 2001), dentre outras. Já no
que diz respeito aos pressupostos teórico-metodológicos, fez-se uso de elementos da Abordagem
Qualitativa e da Pesquisa Bibliográfica. A Abordagem Qualitativa apresenta, como uma de suas
principais características, o foco na interpretação das situações em estudo, ao invés de enfatizar a
quantificação dos resultados.
De acordo com Oliveira (2013), esta abordagem metodológica é empregada quando o
pesquisador deseja, de forma flexível, elevar aspectos da subjetividade, fornecendo uma
compreensão detalhada acerca do objeto de estudo em seu contexto histórico. Aliada a abordagem
qualitativa, fez-se uso da Pesquisa Bibliográfica, utilizada com a finalidade de levantar informações
sobre a temática de estudo. De acordo com Amaral (2007), este tipo de pesquisa consiste
basicamente na seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas a um determinado
tema.
As vivências pedagógicas foram desenvolvidas na turma do ensino integral do turno da
tarde, formada por alunos do Fundamental I, do 1º ao 5º ano. As atividades foram planejadas e
executadas com base nos princípios da Educação Ambiental e para compor este artigo, algumas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

experiências, que ocorreram ao longo de dois anos, foram descritas. Para facilitar a compreensão
dos educandos sobre as questões ambientais trabalhadas, diferentes estratégias e recursos didáticos
foram empregados. As ações, divididas em quatro momentos, foram guiadas por um roteiro
previamente elaborado e o tempo necessário para a realização das atividades variou de acordo com
a temática abordada, os objetivos propostos e a metodologia empregada.
A exibição de vídeos, o cultivo de uma horta, a realização de oficinas de reuso, a montagem
de uma experiência e a promoção de atividades artísticas e lúdicas, formaram o conjunto de
estratégias metodológicas escolhidas para guiar o desenvolvimento das vivências. Para ajudar neste
processo, diversos recursos didáticos foram selecionados e a utilização destes recursos dependeu do
tipo de estratégia metodológica adotada em cada momento.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As temáticas ambientais foram abordadas ao longo do segundo semestre de 2016 e primeiro


semestre de 2017, em quatro momentos distintos. O primeiro momento serviu para introduzir o
debate acerca das questões ambientais em sala de aula. O segundo permitiu trabalhar o conceito de
―Sustentabilidade‖. O terceiro englobou a problemática dos ―Resíduos Sólidos‖ e o quarto e último,
utilizou a ―Água‖ como tema gerador.
O primeiro e o segundo momento ocorreram no ano de 2016, e o terceiro e o quarto em
2017. Participaram das atividades cerca de 25 alunos regularmente matriculados em uma turma do
ensino integral do turno da tarde. A turma estava composta por crianças de 6 a 10 anos de idade.

1º Momento – Iniciando o diálogo acerca das questões ambientais

Para começar a trabalhar com a Educação Ambiental no âmbito da escola integral, a


professora utilizou os recursos audiovisuais como principal estratégia didático-pedagógica. O
seriado ―Invasão Plâncton‖, disponibilizado pela TV Escola (produzidos em 2011), foi escolhido
para iniciar e mediar uma conversa acerca das questões ambientais que, na atualidade, se fazem
emergentes. Este seriado foi escolhido por ser capaz de, mediante a animação, chamar a atenção das
crianças para a necessidade de cuidar do meio ambiente.
Ao longo de dois dias, oito episódios foram exibidos aos alunos. Cada episódio durou
aproximadamente oito minutos e durante sua exibição, diversos assuntos foram tratados. Por meio
dos vídeos, buscou-se problematizar as temáticas: perda de biodiversidade; emissão de gases
poluentes; consequências das ações antrópicas; atual situação do desmatamento na perspectiva
local; importância da conservação dos ecossistemas; consumo insustentável; poluição e consumo
inadequado da água potável.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ao término de cada episódio, a professora conduziu uma discussão coletiva sobre as


temáticas abordadas nos vídeos. Pode-se notar que os episódios do seriado ―Invasão Plâncton‖
abordam diversas temáticas ambientais, mas, por serem de curta duração, o fazem de forma
superficial. Assim, torna-se importante ressaltar que o principal objetivo da exibição dos vídeos foi
introduzir o debate ambiental em sala de aula. A partir do uso deste recurso, e ao observar o
comportamento dos alunos no momento de sua exibição, a professora também pôde identificar as
temáticas que mais despertaram o interesse dos alunos, ajudando a elencar assuntos para serem
trabalhados em maior profundidade.

2º Momento – Cultivando uma horta na escola

O cultivo de hortas escolares representa um valioso instrumento educativo, pois sua criação
é uma iniciativa de grande importância, uma vez que permite por em prática ações sustentáveis de
fácil acesso. Tal atividade valoriza o trabalho em grupo, o contato com a natureza e gera o prazer da
produção do próprio alimento. No que diz respeito à Educação Ambiental, o cultivo de uma horta
proporciona aos alunos a criação de uma área verde e produtiva pela qual todos se sintam
responsáveis, possibilitando ainda, ao professor, trabalhar diversas temáticas ambientais. Sabendo
disso, o segundo momento foi planejado com a finalidade de cultivar uma horta na escola.
Antes de iniciar a atividade, a professora entregou um roteiro didático para guiar e instruir
os alunos durante a realização dos procedimentos necessários ao plantio e cultivo da horta. Após ler
o roteiro, as crianças receberam espátulas para revolver a terra e em seguida, cavaram covas rasas,
de aproximadamente um centímetro de profundidade, para abrigar as sementes. Nas jardineiras,
foram plantadas diferentes variedades de alface e após distribuir as sementes, as crianças fecharam
as covas, regaram a terra e apontaram as espécies plantadas com placas de identificação.
Utilizando cartolina e palitos para churrasco, os próprios alunos, com a ajuda da professora,
elaboraram as placas. As crianças do integral acompanharam o crescimento das hortaliças ao longo
de oito semanas e durante este período, ficaram encarregadas de cuidar, diariamente, da manutenção
da horta, irrigando, adubando e retirando as espécies daninhas sempre que necessário. Depois de
cultivada, a horta foi utilizada como elemento impulsionador para que o tema sustentabilidade
ambiental fosse trabalhado.
A sustentabilidade se constitui como uma categoria básica diante das reflexões acerca do
meio ambiente e em virtude dos impactos gerados pelo modelo de desenvolvimento que rege a
sociedade, sua abordagem se torna essencial (BOFF, 2012). Assim, no campo da sustentabilidade, a
professora buscou chamar a atenção dos alunos para a relação de interdependência existente entre o
homem e o meio ambiente, para as formas de apropriação dos recursos naturais e para as
consequências dessa apropriação no equilíbrio ecológico.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Assuntos como importância dos alimentos orgânicos para a saúde humana e atual padrão de
consumo também foram trabalhados. Contudo, é importante ressaltar que o cultivo da horta, além
de ter estimulado nos educandos a aquisição de uma série de novas aprendizagens, contribuiu com o
aperfeiçoamento de algumas habilidades e competências, tais como saber ouvir, tomar decisões,
socializar conhecimentos, compartilhar experiências, seguir instruções, dentre outras.

3º Momento – Trabalhando com a temática “Resíduos Sólidos”

As vivências desenvolvidas no terceiro momento giraram em torno da problemática dos


―Resíduos Sólidos‖. No âmbito desta temática, duas atividades distintas foram realizadas e dentre
outros objetivos, buscou-se chamar a atenção dos alunos para a importância da adoção de práticas
sustentáveis que envolvam o consumo consciente e o correto descarte do lixo. Para abordar a
temática de forma lúdica, as oficinas com materiais reutilizáveis foram empregadas como a
principal estratégia didático-pedagógica.
Por envolver a participação ativa dos alunos em todo o processo, a realização de oficinas de
reuso é de fundamental importância quando se pretende criar, no contexto da sala de aula, um
espaço de reflexão sobre hábitos e comportamentos em relação ao consumo, uso e descarte
consciente de diferentes materiais. Antes da realização das oficinas, uma aula expositiva-dialogada
sobre a questão do lixo foi ministrada. Neste momento, a professora mediou uma discussão sobre
os diferentes tipos de lixo, apresentou o conceito de resíduos sólidos, questionou sobre o destino
destes quando descartados e elencou, com a ajuda dos alunos, alguns dos impactos que estes
resíduos podem causar ao meio ambiente.
Para finalizar as discussões e dar início à primeira oficina, a professora mostrou aos alunos
alguns materiais que podem (e devem) ser reciclados e reutilizados e explicou como o lixo não
reaproveitável deve ser separado para descarte (dispondo deste momento para evidenciar a
importância dos baldes coloridos, reservados para coleta seletiva, presentes na escola). O objetivo
da primeira oficina de reuso consistiu em confeccionar um porta-lápis a partir do uso de materiais
reaproveitáveis.
Os materiais utilizados foram: caixas de leite tetrapack, folhas de jornal e revista, cola,
tesoura, pincel e tintas guache de diferentes cores. Com auxílio da tesoura, as crianças cortaram as
caixas de leite ao meio e em seguida, utilizaram cola para cobrir as duas partes da caixa com folhas
de revista ou jornal. Para finalizar, as crianças utilizaram pincel e tinta guache para colorir e decorar
os porta-lápis.
A realização da segunda oficina, por sua vez, visou estimular a construção de brinquedos
com sucatas. Diversos materiais foram disponibilizados aos alunos e em seguida, eles ficaram livres
para escolher os materiais necessários à elaboração de seus brinquedos. Dentre os materiais

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

disponibilizados estavam: rolinhos de papel higiênico; caixas de papelão; embalagens plásticas de


shampoo, amaciante e sabão líquido; bandejas de ovos; garrafas pet; tampinhas de garrafa, dentre
outros.
Utilizando fios de náilon e bastões de cola quente, os alunos uniram os materiais escolhidos
para construir seus brinquedos. Dentre os resultados obtidos, houve a construção de um cata-vento,
um foguete, um carrinho e móveis para casinhas de boneca. Frente a estes resultados, pode-se notar
que a realização desta oficina despertou a imaginação e a criatividade das crianças.

4º Momento – Trabalhando com o tema gerador “Água”

As atividades desenvolvidas no quarto momento visaram abordar a temática ―Água‖ através


da experimentação e da ludicidade. Ao total, foram realizadas quatro atividades e dentre os
objetivos, pretendeu-se: chamar a atenção dos educandos para os níveis de potabilidade vigentes na
atualidade, discutir sobre as consequências do desperdício de água e elencar ações que visem
contribuir com a diminuição do consumo e da perda de água.
A primeira atividade consistiu na realização de um experimento. A segunda pautou-se na
produção de desenhos sobre a temática. Na terceira e última vivência, as crianças confeccionaram
uma máscara em formato de gota de água, o que ajudou a sistematizar as atividades em torno deste
tema gerador.

 1ª Atividade: Montagem da experiência “Onde foi parar a água?”

Antes de iniciar a primeira atividade, a professora, por meio de uma roda de conversa,
sondou as concepções prévias dos alunos sobre diversos aspectos da temática trabalhada. Durante a
realização da sondagem, foram feitos questionamentos do tipo: ―O que é água?‖; ―Porque a água é
importante para os seres vivos?‖; ―Como a água está distribuída no nosso planeta?‖; ―De onde vem
a água que consumimos?‖, dentre outros. Após este diálogo inicial, as crianças foram conduzidas
para fora da sala de aula, onde montaram um experimento chamado ―Onde foi parar a água?‖.
A experiência foi preparada com o objetivo de mostrar para as crianças que a água é um
recurso que pode se dissipar com facilidade e dentre os materiais necessários para sua realização
estavam: dois potes de vidro, uma caneta permanente e papel-alumínio (utilizado com a finalidade
dificultar a evaporação da água em um dos potes). A montagem do experimento foi divida em três
etapas, executadas ao longo de quatro dias. As crianças foram informadas sobre os objetivos da
atividade e instruídas a realizar as etapas da experiência e acompanhar, diariamente, seus resultados.
A professora apenas atuou como mediadora do processo.
As três etapas necessárias à montagem da experiência ―Onde foi parar a água?‖ foram: (1)
Preencher dois potes de vidro com água até a metade, delimitando o nível inicial da água com uma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

caneta permanente; (2) Fechar a região da boca de apenas um dos potes de vidro com papel-
alumínio, deixando-os em seguida em um lugar com bastante luminosidade e protegido da chuva,
por quatro dias e (3) Analisar o estado da água no quarto dia, comparando, entre os dois potes, o
nível atual da água com o nível inicial.
Após analisar o estado final da água ao quarto dia, a professora pediu para que as crianças
levantassem hipóteses para explicar os resultados encontrados. Todas as hipóteses foram registradas
e utilizadas para mediar uma discussão sobre os fenômenos observados. No contexto da
experiência, a água se dissipou por meio da evaporação e após debater sobre este processo, os
alunos foram convidados a citar outros mecanismos que colaboram para que água se dissipe no dia
a dia. Com isso, além de favorecer a aprendizagem de fatos e fenômenos que ocorrem na natureza,
esta experiência foi utilizada para criar um espaço de reflexão acerca da forma como os seres
humanos utilizam a água no cotidiano.
Para finalizar e sistematizar a atividade, as crianças listaram uma série de ações que podem
ser desenvolvidas a fim de reduzir o consumo excessivo da água potável. Para mais de contribuir
com o aprimoramento dos sensos de investigação e descoberta, esta experiência foi escolhida por se
configurar como uma estratégia didática que não precisa de muitos recursos e nem de um
laboratório de Ciências para ser realizada. Assim, além de auxiliar na revisão de assuntos que são
vistos em sala de aula durante o ensino regular, a adoção desta metodologia permitiu trabalhar
conteúdos conceituais, factuais, procedimentais e atitudinais por meio da experimentação.

 2ª Atividade: Oficina para elaboração de desenhos

Para dar continuidade as atividades e ilustrar as discussões construídas em torno da temática


―Água‖, os alunos foram convidados a representar, por meio de desenhos, o significado da água
para suas vidas. A oficina para confecção de desenhos foi escolhida por ser uma estratégia que,
além de contribuir para o aperfeiçoamento da coordenação motora, estimula o imaginário criativo e
expressivo das crianças.
Folhas de ofício, lápis e canetas para colorir foram distribuídas e através da utilização desses
recursos, a professora buscou investigar como os alunos estavam utilizando a água no cotidiano.
Embora simples, a atividade objetivou identificar se as discussões construídas ao longo da atividade
anterior, em algum nível, contribuíram para sensibilizar as crianças no sentido da adoção de
mecanismos que prezem pela redução do consumo de água. Como resultado, algumas crianças
representaram situações de como a água poderia ser economizada no dia a dia.
Os desenhos que mais chamaram a atenção foram aqueles que representaram situações em
que as crianças fechavam a torneira do chuveiro enquanto utilizavam o sabonete no banho,
reutilizavam a água do ar-condicionado para molhar plantas e reaproveitavam a água da chuva para

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

lavar carros. Torna-se importante evidenciar que nem todas as crianças apresentaram
conscientização sobre o tema e por isso, este resultado chama a atenção para a necessidade de
continuar desenvolvendo atividades que busquem estimular nas crianças à adoção de atitudes
sustentáveis, uma vez que é na infância que os hábitos e os valores começam a ser construídos.

 3ª Atividade: Oficina para confecção de máscaras de “gotinhas”

Nesta vivência, a partir da confecção de uma máscara em formato de gotinha, a professora


buscou, de forma lúdica, chamar a atenção das crianças para a importância de cada gota de água que
é consumida diariamente. Além de fortalecer os diálogos construídos ao longo das vivências
anteriores, esta atividade visou mostrar para as crianças que a água potável é um recurso natural
esgotável e por isso, cada ser humano deve adotar ações efetivas que prezem pelo seu consumo
consciente, diariamente.
Os atuais índices de escassez de água no planeta indicam que a preservação deste recurso
deve ser estimulada em todos os espaços da sociedade. Diante disso, é de fundamental importância
que a escola problematize as questões que giram em torno da água em todos os níveis de ensino,
pois esta se configura como um dos principais espaços de formação de agentes de transformação.
No âmbito do ensino fundamental isso se torna ainda mais relevante, uma vez que as crianças
devem aprender, desde cedo, qual o valor de cada gota de água para todas as formas de vida. Para
confeccionar a máscara, cada aluno recebeu um molde em formato de gotinha. Em seguida, com
lápis de pintar e canetas coloridas, as crianças ficaram a vontade para decorar seus moldes. Depois
de pintados e decorados, os moldes foram colados em folhas de papelão reutilizadas, o que ajudou a
fortalecer e resgatar os princípios trabalhados durante as oficinas de reutilização que ocorreram no
terceiro momento.
Ao finalizar as máscaras, os alunos foram convidados a realizar uma breve dramatização e
de forma espontânea, relataram sobre as aprendizagens adquiridas ao longo da vivência. A
dramatização ocorreu em um ambiente externo ao da sala de aula e ao término da atividade, os
alunos puderam socializar suas produções e brincar com suas máscaras. A máscara é um artesanato
simples de ser feito e sua confecção representa uma possibilidade de abordar conceitos e conteúdos
curriculares através de atividades artísticas. A arte, por sua vez, é fundamental para o aprendizado e
desenvolvimento cognitivo das crianças, pois estimula, dentre outras habilidades e competências, o
uso da sensibilidade, da criatividade e da imaginação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas de Educação Ambiental ainda são pouco exercidas no âmbito das séries iniciais
do ensino fundamental. Embora a literatura evidencie a importância desta área para a formação das

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

jovens gerações, muito ainda se tem para avançar, pois diversos trabalhos ainda se apresentam
como ações simplistas e isoladas, reduzindo-se à sensibilização de alunos mediante o
desenvolvimento de atividades pontuais em datas comemorativas, como no Dia do Meio Ambiente,
do Índio, da Árvore, dentre outros.
Apesar de essas atividades serem necessárias, elas não são suficientes para provocar uma
mudança de valores e de atitudes diante do meio ambiente. Assim, é de grande relevância que as
práticas em Educação Ambiental façam parte da rotina escolar, principalmente nas séries iniciais do
ensino fundamental, com ações contínuas e articuladas que visem contribuir com a formação de
cidadãos críticos e reflexivos.
Neste cenário, o professor tem um papel fundamental e por isso, pode ser entendido como
um dos principais sujeitos capazes de multiplicar os objetivos e princípios da Educação Ambiental.
Sabendo disso, estes profissionais precisam refletir sobre seu papel, a fim de promover ações mais
concretas e significativas que estimulem nas crianças o comprometimento e o cuidado com a
natureza. Para isso, torna-se necessário utilizar diferentes metodologias e recursos didáticos que
despertem o interesse e envolvam a participação ativo dos alunos.

REFERÊNCIAS

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Fortaleza, 2007.

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Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental, apresentação dos Temas
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LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. 7 ed.


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OLIVEIRA, M. M. Como Fazer Pesquisa Qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2013.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1390


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTERCEPTAÇÃO DE CHUVAS PELA VEGETAÇÃO: UM EXPERIMENTO COM


ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM CAMPO GRANDE - MS

Rafael Bartimann de ALMEIDA


Mestre em Geografia e discente do curso de Geografia (Bacharelado) na UFGD
rafael_barthimann@hotmail.com
Adelsom SOARES-FILHO
Docente do curso de Geografia na UFGD
adelsomfilho@ufgd.edu.br
Bruno de Souza SOARES
Mestrando em Solos na Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Brunosoares06@live.com

RESUMO
Este artigo relata as ações executadas no Plano de Desenvolvimento da Escola municipal Domingos
Gonçalves Gomes, do município de Campo Grande-MS. A ideia central é aproximar o aluno da
educação básica de atividades escolares que propiciam a acumulação de conhecimentos e a
apropriação de práticas socioambientais. Logo, o presente estudo teve por objetivo analisar a
importância da vegetação na interceptação das chuvas através de um exemplar de Ingá-Fagifolia
(popularmente conhecida como Ingazeiro). A pesquisa ocorreu em forma de monitoramento durante
o outono de 2017 e foi toda elaborada por alunos do nono ano do ensino fundamental. As pesquisas
apontaram para a eficácia do uso de pluviômetros artesanais fabricados com garrafas PET (2 litros)
no monitoramento de chuvas e indicaram que um exemplar de Ingazeiro pode reter até 86,67% das
chuvas. Os alunos obtiveram uma compreensão crítica da complexa relação socioambiental, que
abrange elementos econômicos, políticos, sociais e naturais. Logo, conseguiram debater de forma
aberta sobre a importância da cobertura vegetal para evitar a degradação do solo e dos rios. Este
projeto foi relevante também para o reconhecimento da importância da pesquisa científica na
geração de dados que possam somar no planejamento e na gestão ambiental. Com isso, muitos
alunos buscarão novas opções de ensino médio, como em instituições que valorizam a pesquisa
científica. Por fim, esperamos que este projeto seja mantido e que mais alunos sejam motivados a
estudar através de atividades práticas de educação ambiental.
Palavras-chaves: Interceptação de chuvas, vegetação, ensino fundamental, educação ambiental.
ABSTRACT
This article reports on the actions taken in the Development Plan of the Municipal School
Domingos Gonçalves Gomes, in the municipality of Campo Grande-MS. The main idea is to bring
the student closer to basic education in school activities that allow the accumulation of knowledge
and the appropriation of socio-environmental practices. Therefore, the present study had the
objective of analyzing the importance of vegetation in the interception of rainfall through an
example of Ingá-Fagifolia (popularly known as Ingazeiro). The survey took place in the form of
monitoring during the fall of 2017 and was all crafted by students in the ninth grade. The surveys
pointed to the effectiveness of the use of handmade rain gauges manufactured with PET bottles (2
liters) in rainfall monitoring and indicated that a specimen of Ingazeiro can retain up to 86.67% of
rainfall. The students obtained a critical understanding of the complex socio-environmental
relationship, which encompasses economic, political, social and natural elements. Soon, they were
able to discuss in an open way about the importance of the vegetal cover to avoid the degradation of
the soil and the rivers. This project was also relevant for the recognition of the importance of
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

scientific research in the generation of data that can add up in planning and environmental
management. With this, many students will seek new options for high school, as in institutions that
value scientific research. Finally, we hope that this project will be maintained and that more
students will be motivated to study through practical environmental education activities.
Key words: Interception of rains, Vegetation, Elementary School, Enviromental Education.

INTRODUÇÃO

O presente estudo teve por objetivo analisar a importância da vegetação na interceptação das
chuvas através de um exemplar de Ingá-Fagifolia, junto com alunos de ensino fundamental,
considerando que esta atividade prática pode somar no desenvolvimento de novas práticas de
pesquisa e de educação ambiental na escola. Para atingir o objetivo proposto, algumas etapas foram
propostas ao longo do estudo: a) Monitorar as chuvas durante o outono de 2017; b) Comparar
resultados entre um pluviômetro artesanal e um pluviômetro caseiro; c) Estimar a interceptação de
água por um exemplar de Ingazeiro; e d) realizar discussões de sala envolvendo os procedimentos
de observação, registro, descrição, documentação, representação e pesquisa dos fenômenos
socioambientais que compõem a paisagem e o espaço geográfico.
A hipótese a se considerar neste experimento é a proteção do solo, que tendem a ser mais
eficaz quando associada a algum tipo cobertura vegetal. A presença de cobertura vegetal é
fundamental para a estruturação e estabilidade do solo, visto que a vegetação atua como um sistema
amortecedor para as partículas de água provenientes da chuva, pois reduz a energia com que essas
partículas atingem o solo. Isto minimiza os impactos das gotas (splash) e impede a formação de
processos erosivos. Para isto, as taxas de interceptação de chuva pela vegetação devem ser
monitoradas e utilizadas como recurso para estudos de degradação ambiental (IZIDIO et. al., 2013).
Esta pesquisa é pioneira na Escola Domingos Gonçalves Gomes, município de Campo
Grande-MS e trata-se de uma aproximação entre as atividades de pesquisa científica e o ensino
fundamental, visto que a partir do próximo ano (2018) estes alunos poderão frequentar instituições
de ensino que valorizam a pesquisa em todos os níveis da educação, como os institutos federais e as
escolas técnicas de nível médio. O projeto foi executado dentro das ações do Plano de
Desenvolvimento da Escola no intuito de estimular os alunos para atividades discentes e
conscientizar os mesmos sobre a importância da escola e dos estudos na vida cotidiana de todos os
cidadãos.
A escola é um ambiente que pode garantir a prática da cidadania, pois através desta, o aluno
tem a oportunidade de se manifestar como membro de uma sociedade, evidenciando a
autoconsciência sobre seus direitos e deveres e expressando suas opiniões (MENDES et.al. 2015).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Neste contexto, a educação ambiental surge como uma possibilidade de apresentar para
alunos de ensino fundamental, que é dever de cada um, cuidar do meio ambiente, gerando meios de
desenvolver uma atitude consciente e ecológica em cada cidadão (SAUVÉ, 1997).
Segundo o Art. 2º da Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012, que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, esta é ―uma dimensão da educação, é atividade
intencional da prática social‖ e deve, portanto, permitir que o aluno desenvolva ―um caráter social
em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos‖ (BRASIL, 2012, p.2). A partir da
educação ambiental, os alunos poderão potencializar suas atividades tornando-as uma prática social
ética e com responsabilidade ambiental. Conforme descreve Ferreira e Santos, 2012, p.5:

[...] a educação ambiental deve despertar no discente a consciência de preservação e


cidadania. O ser humano deve passar a entender, desde cedo que precisa cuidar e preservar
e que o futuro depende do equilíbrio homem e natureza e do uso racional dos recursos
naturais. O ambiente onde o ser humano habita deve estar em equilíbrio com o lugar onde
vive (Ferreira e Santos, 2012, p.5).

Com o desenvolvimento de projetos que aproximam o aluno da realidade e da


aplicabilidade daqueles conteúdos aprendidos em sala de aula, o professor pode levá-los a perceber
as relações sociais e econômicas que foram construídas pela humanidade, compreendendo que os
recursos naturais são finitos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia é essencial ―que o
professor crie e planeje situações de aprendizagem em que os alunos possam conhecer e utilizar os
procedimentos de estudos geográficos‖ (BRASIL, 1998, p.30).
Deste modo, o processo de construção do conhecimento sobre os diferentes tipos de
paisagens passam por etapas fundamentais como observação, descrição, analogia e síntese. Estas
etapas constituem procedimentos importantes e podem ser praticados pelos alunos em conjunto com
o professor, oferecendo melhores possibilidades para uma educação de qualidade.

METODOLOGIA

Esta pesquisa é de cunho experimental caracterizada por uma abordagem quali-


quantitativa, considerando que os dados foram adquiridos em números e posteriormente,
convertidos em informação (MORESI, 2003). Os dados aqui apresentados foram coletados em
forma de monitoramento durante o outono de 2017.
A coleta foi organizada a partir de um pluviômetro digital sem fio (Foto 1 – A), modelo
4760 da marca Incoterm, que foi instalado em ponto fixo (coordenadas latitude 20°30'50.93"S e
longitude 54°36'31.98"O), a uma altura de 1,5 metros, sem nenhuma interferência de vegetação
e/ou construção, conforme determina as orientações do manual fornecido pelo fabricante do

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

equipamento. Este equipamento serviu de base para validação de amostras coletadas em 2


pluviômetros artesanais (fabricados com garrafas PET) e instalados em pontos estratégicos.
O primeiro pluviômetro artesanal foi instalado em um espaço destinado ao projeto ―Horta
na escola‖, nas coordenadas 20°30'51.67"S e 54°36'31.56"O e para fins de organização, foi
intitulado ―HORTA‖ (Foto 1 - B). O segundo pluviômetro artesanal foi instalado em um espaço
destinado ao estacionamento da escola, nas coordenadas 20°30'51.67"S e 54°36'31.56"O, sob um
exemplar de Ingá-Fagifolia, árvore conhecida popularmente no estado de Mato Grosso do Sul como
Ingazeiro. Para fins de organização da coleta, este pluviômetro foi intitulado ―INGÁ‖ (Foto 1 – C).

Figura 1: Pluviômetros instalados na escola municipal Domingos Gonçalves Gomes.

Os pluviômetros artesanais foram construídos pelos alunos do 9º ano do ensino


fundamental, da escola municipal Domingos Gonçalves Gomes, município de Campo Grande-MS.
Estes se organizaram em grupos de 5 alunos e produziram seus pluviômetros a partir de Garrafas
PET (2 litros) e massa impermeável (cimento e areia). A régua de indicação de milímetros foi
organizada com base na régua da Defesa Civil e impressa em adesivo plástico (Figura 2).

Figura 2: Alunos confeccionando/instalando pluviômetros na escola municipal Domingos Gonçalves Gomes

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A leitura dos pluviômetros ocorreu todos os dias, entre 07 e 08 horas, durante todo o outono
de 2017. O trabalho de monitoramento também foi responsabilidade dos alunos tendo o
acompanhamento sistemático para manutenção e validação dos dados sempre que necessário.
Ao final da etapa de coleta de dados, os dados foram tabulados e analisados. Posteriormente,
foi realizada uma aula dinâmica com a exposição dos resultados do experimento bem como a
discussão que faz a partir destes.
Nesta etapa, os alunos puderam apontar a qualidade de uma aula na qual ele próprio produz
os resultados e ainda, indicar suas perspectivas para novas atividades práticas de monitoramento e
educação ambiental.

RESULTADOS DO EXPERIMENTO

O monitoramento realizado pelos alunos registrou 24 eventos de chuva durante o outono de


2017 na escola municipal Domingos Gonçalves Gomes, município de Campo Grande-MS. O
pluviômetro digital registrou um total de 340,40 mm, enquanto que o pluviômetro da horta registrou
um total de 320,00, tendo uma diferença de 5,99%. O pluviômetro do Ingá registrou 258,10 mm de
chuva, permitindo concluir que houve 19,34% de interceptação do volume de chuvas (Tabela 1).

DIGITAL HORTA DIFERENÇA INGÁ INTERCEPTAÇÃO


DATA
24 HORAS REGISTRO (%) REGISTRO ( %)
23/3 3,10 2,8 9,68 1,2 61,29
25/3 26,70 25,5 4,49 23,2 13,11
26/3 4,70 4,3 8,51 1,4 67,44
27/3 9,20 8,5 7,61 7,2 21,74
2/4 3,60 3,4 5,56 1,2 64,71
6/4 18,90 17,5 7,41 15,8 16,40
9/4 5,40 5 7,41 4,6 8,00
10/4 7,20 6,5 9,72 5,7 12,31
11/4 1,30 1,2 7,69 0,9 25,00
15/4 10,70 10 6,54 9,6 4,00
16/4 18,70 17,7 5,35 15,4 12,99
17/4 7,20 7 2,78 6,3 10,00
20/4 59,40 53,5 9,93 36,7 31,40
21/4 15,60 14,6 6,41 13,5 7,53
22/4 21,30 21 1,41 18,2 13,33
27/4 7,60 7,2 5,26 6,3 12,50
28/4 8,20 7,5 8,54 6,8 9,33
29/4 21,90 22 0,46 18,3 16,82
30/4 48,70 44,2 9,24 34,1 22,85
22/5 4,50 4,9 8,89 2,3 53,06
24/5 5,80 5,3 8,62 4,5 15,09
9/6 25,20 25 0,79 22,8 8,80
11/6 1,40 1,5 7,14 0,2 86,67
12/6 4,10 3,9 4,88 1,9 51,28
TOTAL 340,40 320,00 5,99% 258,10 19,34
Tabela 1. Comparação entre os índices de chuva registrados nos três pluviômetros instalados.

Os volumes de precipitação anotados via pluviômetro digital variaram de 1,30 mm a 59,40


mm. Já o pluviômetro caseiro feito de garrafa PET e instalado na horta da escola indicou

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

precipitações que variam de 1,20 mm até 53,5 mm. Contudo, na comparação entre os resultados
coletados com estes dois instrumentos, nota-se diferenças que variaram de 0,79% a 9,93.
Já o pluviômetro instalado sob a vegetação (Ingazeiro), apresentou dados que indicam
retenção de água que variam 4% a 86,7%. Percebe-se aqui uma grande variação que pode ser
explicada pelos índices pluviométricos agrupados associados a interceptação média (Tabela 2).

CLASSE Diferença entre pluviômetro digital e INTERCEPTAÇÃO


NÚMERO DE EVENTOS
(mm) o pluviômetro da horta (%) MÉDIA (%)
<5 7 < 10 58,49
5 - 10 7 < 10 12,71
10 - 20 4 <8 10,23
20 - 30 4 <5 13,2
30 - 40 0 0 0
40 - 50 1 < 10 22,85
> 50 1 < 10 31,4
Tabela 2. Comparação dos índices de chuva e interceptação média da vegetação (Ingá-Fagifolia) em dados
agrupados.

A interceptação média tende a ser maior com chuvas abaixo de 5 mm (58,49%) e segue uma
ordem decrescente até atingir chuvas de até 20 mm. Contudo, chuvas com volumes mais elevados
(acima de 20 mm) tendem a ter valores de interceptação cada vez maiores. Isto pode ser observado
nos volumes de chuva que ultrapassaram 40 mm, contudo, foi registrado apenas um evento dentro
desta classe, o que dificulta apontar algo com maior precisão.

A PERSPECTIVA DOS ALUNOS ENVOLVIDOS E A CULMINÂNCIA DO PROJETO

As aulas que seguirão após o término do experimento foi regada de novos questionamentos
e novas leituras. Durante a realização das coletas, os alunos fizeram questionamentos quanto à
diferença de precipitação ao longo da cidade, o que permitiu uma discussão sobre a distribuição
irregular das chuvas. Além disso, o fato da vegetação reter água da chuva também foi bastante
questionado e isso permitiu a intermediação entre discussões associadas como desmatamento e
processos erosivos.
Considerando as dinâmicas de sala, vale acrescentar que a aprendizagem é mais significativa
quando existe ligação entre as questões do cotidiano e as indagações permitidas pelo conteúdo
estudado. Logo, um ensino investigativo que tende a provocar curiosidade no aluno permite que
este possa refletir também sobre o processo de construção do conhecimento (FREIRE, 1987;
MEDEIROS et. al. 2011).
Parte desta pesquisa (dados de chuvas e interceptação) será apresentada na Feira de Ciências
e Tecnologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul – IFMS, que ocorrerá entre os dias 16 e 21
de outubro de 2017. A exposição será responsabilidade de duas alunas participantes do projeto que
se propuseram a participar do evento, e através desta atitude, motivaram outros alunos a participar
deste encontro que promulgará o conhecimento científico em diversos níveis da educação.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Novos projetos estão sendo desenvolvidos e o destaque fica para um simulador de


escoamento superficial, que pode servir de base para aulas que necessitem evidenciar na prática a
importância da cobertura vegetal no controle de processos erosivos. Muitos alunos, após conhecer
os métodos de pesquisa e perceber as vantagens de um trabalho prático estão buscando inserção em
escolas de ensino médio que valorizam a pesquisa científica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização de um projeto de educação ambiental orientado por atividades práticas é


considerada uma ótima opção para atrair a atenção dos alunos para discussões sobre a importância
da conservação dos ambientes naturais bem como para a reestruturação de ambientes alterados.
Ao longo deste projeto, alunos de nono ano do ensino fundamental coletaram dados
relevantes dentro da escola através de ferramentas simples e de baixo custo (pluviômetro artesanal)
e puderam comprovar através da comparação com um pluviômetro digital que os dados são
relativamente próximos (diferença máxima de 10%).
Isto indica que para fins de pesquisa acadêmica, e principalmente, para trabalhos de
educação ambiental e iniciação à pesquisa científica, a utilização de pluviômetros analógicos pode
ser uma opção viável, já que fornece bons resultados, com um baixo custo de aquisição.
As taxas de interceptação das chuvas pelo exemplar de Ingazeiro serviram de base para que
os alunos percebam a importância da valorização da cobertura vegetal e para a ampliação do
conhecimento sobre a necessidade de preservação das florestas, que podem atuar como agentes de
estabilização do solo.
Fato é que o experimento realizado pelos alunos do nono ano da escola Domingos
Gonçalves Gomes evidenciou que as atividades de pesquisa podem ser realizadas na educação
básica e os resultados podem servir de base para a conscientização de outras turmas quanto a
importância da cobertura vegetal em ambientes urbanos, rurais e naturais.
As atividades práticas culminaram na participação dos alunos na Feira de Ciências e
Tecnologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul – IFMS e estimularam novos projetos de
educação ambiental através de atividades práticas.
Por fim, esperamos prosseguir com as atividades de pesquisa envolvendo alunos da escola
municipal Domingos Gonçalves Gomes, agora sob uma perspectiva interdisciplinar, sempre
divulgando a relevância da pesquisa científica na geração de dados que possam somar no
planejamento e na gestão ambiental. A manutenção do projeto bem como a iniciação de outras
atividades pode motivar os alunos a estudar e a novas práticas de educação ambiental.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1397


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia.


Brasília: Ministério da Educação e Cultura - MEC, 1998. 156 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução 02, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes


Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=10988-
rcp002-12-pdf&category_slug=maio-2012-pdf&Itemid=30192. Acesso em agosto de 2012.

FERREIRA, Francisca Karen Rodrigues. SANTOS, Claudilivia Ferreira. Educação Ambiental:


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importância na Escola. VII Congresso Norte/Nordeste de pesquisa e Inovação. Palmas-TO,
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IZIDIO, Naiara Sâmia de Caldas; PALÁCIO, Helba Araújo de Queiroz; ANDRADE, Eunice Maia;
ARAÚJO-NETO, José Ribeiro de; BATISTA, Adriana Alves. Interceptação da chuva pela
vegetação da caatinga em microbacia no semiárido cearense. Revista Agroambiente On-line, v.
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MEDEIROS, Aurélia Barbosa de. MENDONÇA, Maria José da Silva Lemes. SOUSA, Gláucia
Lourenço de. OLIVEIRA, Itamar Pereira de. A Importância da educação ambiental na escola
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MENDES, C. A. CÂNDIDO, T. F. SILVA, C. F. A. FERREIRA, D.A. A importância da escola


para a formação do cidadão. VIII Encontro Nacional de Ensino de Geografia - Fala Professor:
(qual) é o fim do ensino de Geografia. CATALÃO-GO, 2015.

SAUVÉ, L. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: uma análise complexa. Revista de


Educação Pública, vol. 10, jul/dez, 1997.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1398


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS: UMA PROPOSTA DE


INTERVENÇÃO A SER TRABALHADA NAS ESCOLAS 57

Raquel Silva dos ANJOS


Mestre, Bacharel em Geografia e discente do curso de Licenciatura em Geografia da UFRN
raquelanjos91@hotmail.com
Ivaniza Sales BATISTA
Discente do mestrado do PPGE e da Licenciatura em Geografia da UFRN
ivanizas@ymail.com
Rodrigo Quirambú da SILVA
Bacharel em Geografia e discente da Licenciatura em Geografia da UFRN
quirambusilva@gmail.com
Nadeline Hevelyn de Lima ARAÚJO
Bacharel em Geografia e discente da Licenciatura em Geografia da UFRN
nadelineh@gmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental constitui-se em um processo educativo indispensável para uma
transformação social. Trata-se de um mecanismo substancial para a formação cidadã. Deste modo, o
educador precisa adotar estratégias que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem, propiciando
condições reais de aprendizado e o desenvolvimento do olhar crítico-analítico do aluno. Neste
sentido, objetivamos apresentar uma proposta de intervenção de educação ambiental aplicável em
escolas inseridas em contextos com problemáticas relacionadas aos recursos hídricos. Para tanto,
trazemos como objeto teste a Escola Estadual Berilo Wanderley, localizada em Natal, Rio Grande
do Norte. A proposta de intervenção partiu da necessidade de conscientizar os alunos, tendo como
público-alvo os discentes do segundo ano do ensino médio, sobre a importância de conservar os
recursos hídricos, visto que há a lagoa de captação de Pirangi no entorno da referida escola. A
aplicação de projetos em educação ambiental traz para o ambiente escolar novas perspectivas e
possibilidades que exercem papel fundamental para o aprimoramento deste processo. Portanto, essa
prática configura-se indispensável na promoção de maior fluidez dos assuntos e trocas de
experiências entre o corpo docente e discente. Ao gerar ações para que o aluno, desde os anos
iniciais de sua base educacional, possa pensar criticamente a realidade socioespacial em que está
inserido e, assim, formar cidadãos preocupados com as questões ambientais, garantindo um mundo
melhor para gerações atuais e posteriores.
Palavras-chaves: Educação Ambiental; Proposta de intervenção; Ambiente escolar; Recursos
hídricos.
ABSTRACT: Environmental Education is an indispensable educational process for a social
transformation. It is a substantial mechanism for citizen training. Thus, the educator needs to adopt
strategies that favor the teaching-learning process, providing real learning conditions and the
development of the critical-analytical view of the student. In this sense, we aim to present a
proposal of intervention of environmental education applicable in schools inserted in contexts with
problems related to water resources. To do so, we bring as a test object Berilo Wanderley State

57
Sob orientação da Profª Drª Juliana Felipe Farias (Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – DGE/UFRN).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1399


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

School, located in Natal, Rio Grande do Norte. The intervention proposal was based on the need to
educate the students, targeting second-year high school students about the importance of conserving
water resources, since there is the Pirangi catchment lagoon near the school. The application of
projects in environmental education brings to the school environment new perspectives and
possibilities that play a fundamental role for the improvement of this process. Therefore, this
practice is indispensable in the promotion of greater fluidity of subjects and exchanges of
experiences between faculty and students. By generating actions so that the student can, from the
earliest years of his educational base, think critically about the socio-spatial reality in which he is
inserted, and thus train citizens concerned with environmental issues, ensuring a better world for
present and future generations.
Keywords: Environmental Education; Proposed intervention; School environment; Water resources.

INTRODUÇÃO

O debate referente aos problemas que afetam a vida do aluno e de sua comunidade, em
âmbito local e global, tem sido frequente no âmbito escolar e, nesse aspecto, os educandos precisam
ser incentivados a refletir sobre as questões ambientais, passando a construir seus saberes de forma
participativa e crítica (SILVA, 2003).
É nesse viés que a presente proposta de projeto de intervenção sugere um conjunto de ações
e atividades inseridas no contexto da Educação Ambiental, tendo como objeto teste a Escola
Estadual Berilo Wanderley (EEBW), localizada na Rua Governador Valadares, bairro de Neópolis
(Conjunto Pirangi, 2ª etapa) na zona administrativa sul da cidade de Natal, Rio Grande do Norte
(RN - MAPA 1).

MAPA 1 - Localização da Escola Estadual Berilo Wanderley

FONTE: Os autores (2017).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1400


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Neste sentido, a referida proposta configura-se como um modelo aplicável a escolas que
apresentem realidades socioambientais similares as da escola em foco, escolhida devido à
necessidade de conscientização dos seus alunos, visto que há uma lagoa de captação de águas
pluviais no entorno da referida escola, a Lagoa de Captação Pirangi. Para tanto, definiu-se como
público-alvo os discentes do segundo ano do ensino médio, em razão da coerência com parte do
conteúdo programático, relacionada à realidade do entorno do ambiente escolar.
É importante o entendimento de que uma lagoa de captação se refere a uma obra de
engenharia hidráulica, cuja finalidade é mitigar os efeitos dos alagamentos, bastante recorrentes em
Natal. De acordo com Melo e Chaves Júnior (2012) a drenagem urbana é hoje um dos grandes
problemas enfrentados pelos gestores municipais, onde a falta de planejamento, as construções
irregulares, dentre outros fatores, favorecem a impermeabilização do solo urbano, contribuindo,
assim, para a ampliação da magnitude de efeitos negativos provocados pelas precipitações.
Desse modo, para por em prática este modelo de intervenção, deve-se questionar: como se
caracteriza institucionalmente a escola escolhida e o perfil do corpo discente que a compõe? Quais
as percepções dos alunos a respeito do ambiente natural e social no qual a comunidade escolar está
inserida? Quais ações estratégicas podem ser realizadas visando à promoção da conscientização do
alunado sobre o uso sustentável de recursos hídricos? Qual o entendimento dos alunos sobre lagoa
de captação e sobre sua importância para a população que reside nas proximidades?
A partir desses questionamentos, deve-se pensar a realidade que compõe a escola, tanto em
relação à conjectura institucional, quanto da comunidade escolar. Visando a promoção e/ou
exercício da conscientização ambiental dos alunos a cerca do uso sustentável de recursos hídricos,
considerando a contextualização de onde a instituição está situada.
Assim, este artigo tem por objetivo apresentar uma proposta de intervenção de educação
ambiental aplicável em escolas inseridas em contextos com problemáticas relacionadas aos recursos
hídricos, similares as da EEBW (objeto teste). A realização deste artigo justifica-se perante o
relevante papel desempenhado por projetos de intervenção de educação ambiental nas escolas,
principalmente, para se trabalhar as temáticas em torno dos recursos hídricos.
Portanto, parte-se do entendimento da função social e ecológica da aplicabilidade de
projetos dessa natureza, reconhece-se a importância das discussões relativas às ações do homem e
suas consequências no espaço geográfico. Ademais, os alunos devem exercitar a consciência de que
são parte integrante do meio ambiente, buscando soluções cabíveis a fim de minimizar a degradação
ambiental e garantir condições relativas à qualidade de vida.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1401


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

TRABALHANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

A Educação Ambiental sobressai-se como um processo educativo necessário a uma


transformação social, fundamentada na preocupação individual e coletiva com as questões
ambientais (MARCATTO, 2002). Constituindo-se como um instrumento necessário para o
fortalecimento dos sujeitos e de suas ações enquanto cidadãos. Todavia, o educador precisa ter
clareza da responsabilidade social que tem na sociedade, procurando sempre adotar estratégias
didático-metodológicas, em sala de aula, que propiciem condições reais de aprendizado e trabalhem
o desenvolvimento do olhar crítico-analítico dos discentes sobre as temáticas ambientais
(LOUREIRO, 2004).
Entendendo educação, no seu sentido mais amplo, como o meio em que os hábitos,
costumes e valores de um grupo social são transferidos de uma geração para outra, ela se configura
em um mecanismo que vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por
cada indivíduo ao longo da sua vida. Nesse sentido, torna-se necessário uma discussão mais
detalhada que possa contemplar a educação, o ensino e o papel da escola no processo de formação
do indivíduo, onde esses ao fomentarem articulações entre seus agentes internos e externos criem
reais possibilidades de aprendizagens e para que os agentes desempenhem uma ação mútua e
articulada ao bem comum de todos.
Trabalhando a ideia de escola, essa se configura, de acordo com Leal e Pimentel (2003,
p.17), como ―um lugar da memória social e efeito de uma sedimentação acumulada no tempo, que
produziu monumentos resultantes da fixação de certas funções nelas desenvolvidas. Nesse contexto,
sobre os espaços da escola se reproduzem saberes e se organizam múltiplas relações sociais‖. São
neles que as disciplinas dos diferentes saberes são aplicadas com propósito de transmitirem
conhecimentos específicos para a formação do alunado.
Dentre esses conhecimentos variados, abordamos um específico como fonte de análise do
trabalho proposto, que é a educação ambiental. Salientando a crescente preocupação com o meio
ambiente e com os recursos naturais presentes nele, mediante uma significativa mudança de
comportamento no homem em relação a sua forma de pensar e atuar no seu meio geográfico.
Percebendo que, enquanto parte integrante do ambiente, deveríamos atuar de forma coerente
e respeitosa com a natureza. O nosso propósito inicial deveria ser cuidar e preservar. Porém,
contraditoriamente, estamos nos empenhando em promover ações que estão acarretando sérios
danos à natureza, seja nos seus compartimentos terrestres ou aquáticos. As preocupações geradas
por essas ações são muitas, vistas que os danos causados podem ser irreversíveis na medida em que
os impactos aumentam gradativamente com o tempo, deixando de ser um ponto isolado para ser
algo globalizado.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1402


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em Natal (RN) não é difícil presenciar locais que estão sendo impactados pela ação
humana. É corriqueiro o depósito irregular de lixo pela cidade, o desmatamento de vegetação e
principalmente a contaminação das águas praianas, do subsolo e dos mananciais por esgotos e
agentes químicos domésticos e industriais.
A educação ambiental enquanto disciplina, vem para formar e preparar cidadãos com
uma reflexão crítica e para uma ação social corretiva, ou transformadora do sistema. De forma a
tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos. Nesse contexto de uma crise
ambiental, a ideia de sustentabilidade surgiu como uma alternativa frente a esse modelo econômico
vigente. Segundo Afonso (2006, p.11) podemos entendendo a sustentabilidade como

Um termo que implica na manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de recursos


ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas fontes ou limitar a capacidade de
suprimentos futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam
ser igual satisfeita.

Assim, o conceito de sustentabilidade está normalmente relacionado com uma mentalidade,


atitude ou estratégia que é ecologicamente correta, e viável no âmbito econômico, socialmente justa
e com uma diversificação cultural. Nesse sentido, agregar essa ideia ao meio educacional, com o
intuito de promover debates acerca de assuntos pertinentes à educação ambiental, se torna algo
extremamente relevante e enriquecedor para a formação do pensamento crítico do educando. A
sustentabilidade promove ações e integra um pensamento focado no não poluir, sujar, desperdiçar
etc. gerando uma mentalidade conservacionista nas pessoas.

Projetos de educação ambiental no processo de ensino e aprendizagem

A escola é um ambiente de ensino indispensável para o desenvolvimento de discussões


múltiplas, sobre os mais distintos temas e campos da ciência, os quais transcedem seus limites
físicos e são disseminados para casa, rua e até mesmo para a vida dos alunos e das pessoas com as
quais eles mantêm contato social. Neste sentido, o professor de geografia, ciências, biologia ou de
qualquer outra disciplina inserida nos planos curriculares nacionais, deve problematizar os temas
aproximando-os com a realidade, de modo a contribuir na sua formação.
Ademais, diante dos avanços do meio técnico-científico-informacional e da complexidade
vivenciada nos dias atuais, o processo de ensino e aprendizagem necessita de meios que auxiliem
aos educadores trabalharem os conteúdos com seus alunos, de maneira a otimizar a compreensão
dos mesmos. Deste modo, o professor deve sempre buscar sua capacitação e a ―inovação‖ de suas
metodologias, indo além do livro didático, utilizando-se de instrumentos diversos de maior eficácia
no aprendizado das aulas teóricas.
No que se diz respeito à vertente da Educação Ambiental, sua utilização pode fomentar a
abordagem de temas distintos, como por exemplo, a preservação e conservação do meio ambiente,

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1403


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

os problemas ambientais e as especificidades de cada lugar. A aplicação de projetos em educação


ambiental traz para o ambiente escolar novas perspectivas e possibilidades que exercem papel
fundamental para o aprimoramento deste processo, pois o alunato passa a apreender os conteúdos
teóricos e a realidade e/ou problemas ambientais de forma didático-elucidativa através da empiria.
Este tipo de alternativa para o ensino constitui-se como um mecanismo relevante, pois possibilita
trabalhar com os alunos de forma dinâmica e mais objetiva, de modo, a fomentar neles maior
motivação e interesse nas aulas e, por conseguinte, melhorar seu desempenho escolar.
Portanto, essa prática configura-se indispensável na promoção de maior fluidez dos assuntos
e trocas de experiências entre o corpo docente e discente. Ao gerar ações para que o aluno, desde os
anos iniciais de sua base educacional, possa pensar criticamente a realidade socioespacial em que
está inserido e, assim, formar cidadãos preocupados com as questões ambientais, garantindo um
mundo melhor para gerações atuais e posteriores.

Alunos conscientes, recursos hídricos conservados

A água é um elemento substancial para a espécie humana, não apenas para a sua
sobrevivência, mas também para o desenvolvimento de várias atividades, tais como: geração de
energia, produção industrial, transporte fluvial, diluição de efluentes domésticos e industriais,
captação de água para potabilização, e especialmente, a manutenção do equilíbrio das condições
ecológicas e ambientais.
Sabe-se que as ações antrópicas afetam e alteram a qualidade da água, levando a sua
contaminação. A realidade atual nos leva a situações em que muitas pessoas, hoje, captam e
consomem água superficial sem nenhum tratamento. Apesar de inadmissíveis, fatos assim fazem
parte do cotidiano de diversas comunidades (HELLER; PÁDUA, 2006).
O município de Natal, apesar de possuir grandes reservas hídricas, possui sua oferta
comprometida, diante de níveis elevados de contaminação por nitrato em suas águas subterrâneas,
devido ao crescimento urbano desordenado, pautado em um modelo que promove um histórico de
degradação ambiental.
Neste sentido, a Educação Ambiental não deve apenas se preocupar com a aquisição de
conhecimentos científicos ou com campanhas utópicas de proteção ao meio ambiente, mas sim,
com um processo de mudança de comportamento e aquisição de novos valores e conceitos
convergentes à necessidade do mundo atual e suas relações com as questões sociais, econômicas,
culturais ou ecológicas (PEDRINI, 1997).
Assim, cabe ao educador saber problematizar e contextualizar a realidade em que o aluno
e/ou a escola está inserida, não se detendo somente ao que está exposto nos livros didáticos,
transcendendo o ambiente escolar. Embora, seja evidente a existência de dificuldades para se

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1404


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

trabalhar conceitos e aplicações concernentes à temática dos recursos hídricos, não se pode
desconsiderar a importância das discussões a cerca da mesma, mediante a necessidade da
conscientização do alunato para a conservação dos mesmos.

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO A SER TRABALHADA NAS ESCOLAS: A EEBW


COMO OBJETO TESTE

Baseada na metodologia de Libault (1971) a realização da proposta de intervenção estrutura-


se nos quatro níveis da pesquisa geográfica (nível compilatório: aquisição e seleção de dados; nível
correlativo: correlação dos dados; nível semântico: análise e interpretação dos dados; e nível
normativo: feedback dos discentes - QUADRO 1), para a aplicação do projeto de Educação
Ambiental enquanto produto final.

QUADRO 1 - Esboço dos procedimentos técnico-operacionais.


PROCEDIMENTOS TÉCNICO-OPERACIONAIS
NÍVEL COMPILATÓRIO: AQUISIÇÃO E SELEÇÃO DE DADOS
 Pesquisa bibliográfica;
 Diagnóstico institucional e pedagógico;
 Diagnóstico do perfil do corpo discente;
 Diagnóstico do entorno da escola.
NÍVEL CORRELATIVO: CORRELAÇÃO DOS DADOS
 Análise da percepção dos alunos a respeito do ambiente natural e social no
qual a comunidade escolar está inserida.
NÍVEL SEMÂNTICO: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
 Visita à lagoa de captação, localizada nas proximidades da escola;
 Caminhada ecológica;
 Discussões teórico-conceituais (em sala de aula);
 Exposição fotográfica dos alunos;
 Cine Pipoca Geográfica.
NÍVEL NORMATIVO: FEEDBACK DOS DISCENTES
 Gincana Ambiental
 Aplicação de entrevistas com os discentes (fechamento das atividades).

APLICAÇÃO DO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


FONTE: Os autores (2017).

No nível compilatório, propomos a realização de pesquisa bibliográfica para embasar teórica


e conceitualmente o desenvolvimento do projeto de intervenção ambiental, assim como, reunir
informações relevantes sobre a comunidade escolar e sua circunvizinhança. Ademais, sugerimos a
elaboração dos diagnósticos institucional e pedagógico da escola, do perfil do corpo discente e do
entorno da mesma.
Já no nível correlativo recomendamos a análise da percepção dos alunos a respeito do
ambiente natural e social no qual a comunidade escolar está inserida. Para tanto, será necessária a
aplicação de entrevistas semi-estruturadas com os discentes e a proposição de que os mesmos

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1405


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

registrem por meio de fotos, imagens que representem aspectos e problemas do entorno da escola.
Além do mais, para a aplicação da proposta de intervenção é preciso à promoção de debates com os
alunos, em sala de aula, com o intuito de reconhecer os seus conhecimentos prévios.
No que se refere ao nível semântico, faz-se necessário à efetivação de visitas à lagoa de
captação de Pirangi, Natal (RN), onde os discentes terão a oportunidade de fazerem observações
empíricas (utilizando-se de fichas de caracterização dos aspectos físico-naturais e sociais, locais) e
registros fotográficos, assim como, promover à discussão de conteúdos pertinentes a temática
ambiental. Concomitantemente, propomos a realização de uma caminhada ecológica com os
discentes contemplados com o projeto, visando à análise da realidade ambiental e social do entorno
da escola, somada a coleta de resíduos sólidos (vidros, plásticos, latinhas de alumínio e garrafas
pets) na localidade. Já no ambiente escolar, sugerimos a efetivação de aulas expositivas dialogadas
para se promover discussões teórico-conceituais, nas quais devem ser abordados temas como:
Educação Ambiental, meio ambiente e questões ambientais, recursos hídricos, preservação e
conservação, saneamento básico, resíduos sólidos, degradação, poluição e contaminação.
Torna-se importante também, em outro momento, a realização de uma exposição fotográfica
com as fotos registradas, pelos alunos, durante as atividades anteriores, para que todo o alunato da
escola possa contemplar a percepção ambiental dos discentes contemplados com o projeto. Por fim,
sugerimos a exibição de filmes, vídeos e documentários a respeito da temática ambiental, com
ênfase nos recursos hídricos, através do Cine Pipoca Geográfica.
No último nível da proposta de intervenção, ressaltamos a eficiência da promoção de uma
gincana ambiental, com o intuito de avaliar o empenho, participação, conhecimento e
conscientização dos alunos e, consequentemente, a eficácia da realização do projeto, por meio do
feedback dos alunos durante as provas concretizadas durante a gincana.
Como exemplos de tarefas para a gincana ambiental, podemos elucidar as proposições do
Centro Social Dom João Costa58 que nos deram embasamento na seleção e adequação das seguintes
provas: prova 01: nome da equipe e slogan mais criativo; prova 02: melhor fotografia perceptiva;
prova 03: número de resíduos sólidos coletados nas proximidades da escola; prova 04: número de
participantes nas seções do ―Cine Pipoca Geográfica‖; prova 05: redação com o tema "a
importância da conservação dos recursos hídricos: uma análise sobre a lagoa de captação Pirangi";
prova 06: quiz ambiental: questões de múltipla escolha sobre a temática ambiental; prova 07:
paródias ambientais (nesta prova devem ser avaliados: a criatividade da composição, a forma de
apresentação e interação com o público); prova 08: teatro ecológico (com a temática dos recursos
hídricos e problemas socioambientais).

58
Gincana ambiental: promovendo cultura e bem estar. Disponível em <http://www.centrosocialdjc.org.br/site1/wp-
content/uploads/2015/06/Gincana-Ambiental-2015-15-06-15.pdf>. Acesso em 26, Jul 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1406


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Por fim, recomenda-se o fechamento das atividades através da aplicação de entrevista com
os discentes para avaliação de conhecimentos e conscientização ambiental a respeito dos recursos
hídricos e a importância da Lagoa de captação de Pirangi. Assim como, obter um respaldo a
respeito da eficácia ou não do modelo proposto, a partir dos resultados obtidos por meio de sua
concretude.
Vale ressaltar, que como se trata de um modelo, sua aplicabilidade deve levar em
consideração o tempo e as ações segundo o contexto de cada objeto (escola) a ser trabalhado.
Assim, tendo com base o tempo total de seis meses para a aplicação do projeto na EEBW,
propomos a distribuição das atividades a serem executadas mensalmente, visando sua viabilidade
prática e metodológica (QUADRO 2).

QUADRO 2 - Cronograma de atividades.


ATIVIDADES 1º 2º 3º 4º 5º 6º
Pesquisa bibliográfica x x x x x
Diagnóstico institucional e pedagógico x
Diagnóstico do perfil do corpo discente x
Diagnóstico do entorno da escola x
Lançamento da gincana x
Análise da percepção dos alunos a x x
respeito do ambiente natural e social no
qual a comunidade escolar está inserida
Visita à lagoa de captação x
Caminhada ecológica x
Discussões teórico-conceituais x x x
Exposição fotográfica dos alunos x
Cine Pipoca Geográfica x
Gincana Ambiental x
Fechamento das atividades x
FONTE: Os autores (2017).

Em suma, inicialmente deve ser realizada a pesquisa bibliográfica para embasar teórica e
conceitualmente as atividades a serem realizadas (durante cinco meses), os diagnósticos
(institucional e pedagógico; do perfil do corpo discente; do entorno da escola) visando melhor
apreensão tanto a respeito da escola e dos profissionais e alunos que a frequentam, quanto da
circunvizinhança (no primeiro mês).
No segundo mês sugerimos o lançamento da proposta da gincana para os alunos, elucidando
as regras, provas, pontuações e possíveis brindes, com o intuito dos mesmos apresentarem maior
interesse e motivação no engajamento das atividades sugeridas durante a execução do projeto.
Concomitantemente, propõem-se que até o terceiro mês seja feita a análise da percepção dos
discentes a respeito do contexto natural e social a qual a escola está inserida.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1407


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Ainda no terceiro mês, recomendamos a realização de visitas técnicas à lagoa de captação de


Pirangi, na mesma ocasião torna-se viável a caminhada ecológica no entorno com o objetivo de
desenvolver o olhar crítico analítico do alunado sobre as questões e/ou problemas ambientais locais,
assim como, buscar a conscientização dos mesmos a respeito da conservação dos recursos hídricos
e resíduos sólidos.
No referido mês e nos dois que se sucedem, indicamos a efetivação (em sala de aula e/ou em
espaços disponibilizados pela administração da escola) de discussões teórico-conceituais com os
alunos. No quarto mês torna-se possível a promoção da exposição fotográfica dos alunos do 2º ano
para os demais discentes da escola, já no quinto mês propomos a concretização do "Cine Pipoca
Geográfica". Por fim, salienta-se a execução da "Gincana Ambiental" e o fechamento das atividades
com a aplicação de entrevista com os discentes para avaliação de conhecimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação de projetos de ensino no ambiente escolar é substancial para o aprimoramento


do processo de aprendizagem dos discentes, trazendo resultados bastante satisfatórios no
desempenho do alunato, desde a alfabetização até os níveis da educação superior. A
problematização e contextualização da realidade vivenciada pelos envolvidos fazem-se necessárias,
devido a maior eficácia metodológica para a apreensão dos conteúdos teóricos.
Neste sentido, a presente proposta de projeto de intervenção para se trabalhar os recursos
hídricos, na EEBW e o conjunto de ações e atividades sugeridas tornam-se indispensáveis para
fomentar as discussões relativas às ações do homem e suas consequências no que tange ao
comprometimento dos recursos hídricos com o público-alvo.
Portanto, trata-se de uma estratégia que potencializa a fluidez das aulas e a compreensão das
temáticas elucidadas, a depender da forma que é utilizada pelo educador ao desempenhar seu papel.
Salienta-se que a mesma constitui-se numa proposta/modelo aplicável em escolas com realidades
similares às da EEBW, nos diferentes níveis do ensino formal, com suas devidas adequações.

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refletir a prática. Dissertação de mestrado. Florianópolis, Universidade Federal de Santa
Catarina, 2003.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1409


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O USO DO CELULAR E DA FOTOGRAFIA COMO RECURSO DIDÁTICO NAS


AULAS DE GEOGRAFIA EM UMA ESCOLA PÚBLICA – SÃO LUÍS, MA.

Jonas Jansen MENDES


Mestrando em Geografia da UEMA
jjonasjansenn@hotmail.com

Regina Célia de Castro PEREIRA


Doutora do programa de pós-graduação em Geografia da UEMA
rcdecastropereira@yahoo.com.br

Glenda Ribeiro PINTO


Pedagoga e Socióloga pela UEMA
glendarpinto@gmail.com

Kadja Regia Silva LIMA


Mestranda em Geografia da UEMA
kadjaregia80@gmail.com

RESUMO
O ensino da Geografia é integrante do currículo da educação básica de nível médio como disciplina
obrigatória, porém o que se observa é a prática dessa disciplina de forma tradicional baseando-se
principalmente na utilização do livro didático e da exposição oral. A presente pesquisa buscou
investigar o uso do celular e da fotografia nas aulas dessa disciplina, verificando o uso desses novos
recursos didáticos para sala de aula e buscando envolver ativamente o aluno no processo de ensino-
aprendizagem, proporcionando a ele um papel de agente ativo na construção do conhecimento. A
pesquisa foi desenvolvida em uma escola da educação básica de São Luís – MA. O ponto de partida
da pesquisa foram 4 aulas teóricas sobre os agentes externos do relevo, onde cada turma foi dividida
em 4 grupos com a temática definida (erosão eólica, marinha, pluvial e ação antrópica). A última
atividade realizada foi a aplicação de formulários estruturados com uma pergunta aberta e 5
fechadas para os alunos, com o objetivo de identificar a percepção dos mesmos sobre o uso do
celular e da fotografia no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com o feedback dos alunos,
o recurso didático foi adequado, sendo possível constatar in loco os conhecimentos adquiridos em
sala de aula. Portanto, o uso do celular e da fotografia atingiu seu objetivo de modo eficaz
manifestando-se como uma nova alternativa no ensino da Geografia.
Palavras Chave: ensino da Geografia; recursos didáticos; educação básica.
RESUMÉN
La enseñanza de la Geografía es integrante del currículo de la educación básica de nivel medio
como disciplina obligatoria, pero lo que se observa es la práctica de esta disciplina de forma
tradicional basándose principalmente en la utilización del libro didáctico y de la exposición oral. La
presente investigación buscó investigar el uso del celular y de la fotografía en las clases de esa
disciplina, verificando el uso de estos nuevos recursos didácticos para el aula y buscando involucrar
activamente al alumno en el proceso de enseñanza-aprendizaje, proporcionándole un papel de
agente activo en la enseñanza Construcción del conocimiento. La investigación fue desarrollada en
una escuela de educación básica de São Luís - MA. El punto de partida de la investigación fueron 4
clases teóricas sobre los agentes externos del relieve, donde cada grupo fue dividido en 4 grupos
con la temática definida (erosión eólica, marina, pluvial y acción antrópica). La última actividad

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

realizada fue la aplicación de formularios estructurados con una pregunta abierta y 5 cerradas para
los alumnos, con el objetivo de identificar la percepción de los mismos sobre el uso del celular y de
la fotografía en el proceso de enseñanza-aprendizaje. De acuerdo con el feedback de los alumnos, el
recurso didáctico fue adecuado, siendo posible constatar in loco los conocimientos adquiridos en el
aula. Por lo tanto, el uso del celular y de la fotografía alcanzó su objetivo de manera eficaz
manifestándose como una nueva alternativa en la enseñanza de la Geografía.
Palabras clave: enseñanza de la geografía; Recursos didácticos; Educación básica.

INTRODUÇÃO

Parte-se do pressuposto que a Geografia é um ramo do conhecimento que tem uma


linguagem específica, e como tal é necessário ―alfabetizar o aluno em geografia‖ para que ele não
só se aproprie do vocabulário específico dessa área de conhecimento, mas, sobretudo, se capacite
para a ―leitura-entendimento do espaço geográfico‖ próximo ou distante (KAERCHER, 2003, p.
12).
De acordo com Calado (2012), o ensino da disciplina de Geografia está em processo de
mudanças significativas e essas têm posto questões com as quais os professores têm-se defrontado
ultimamente. Isso significa que, o ensino da disciplina na atualidade tem-se voltado para uma nova
realidade onde o aluno deve interpretar o que lhe é ensinado para melhor compreender o que passa a
sua volta, ou seja, o lugar que ele ocupa dentro do contexto geográfico, bem como sua relação com
as demais áreas do conhecimento.
Nos últimos anos, muito tem se falado a respeito de novos métodos para melhorar o
aprendizado dos alunos, onde o professor possa criar condições para que os alunos possam construir
suas experiências. Nessa perspectiva, o uso do celular e da fotografia pode ser o ponto de partida
para a análise de um fenômeno que pretende estudar em geografia, ou seja, o processo de
construção das paisagens capturadas através das imagens, parte do conhecimento prévio do aluno
que deve ser sistematizado com o auxílio do professor facilitando a compreensão de um conceito ou
fenômeno.
Como mediador do conhecimento, o professor deve estimular o aluno a ter uma posição
crítica incentivando-o a questionar não só os elementos mostrados na imagem, mas também
o contexto que levou à sua produção o professor poderá propor aos alunos consultas a
outras fontes documentais disponíveis (livros, jornais, revistas, vídeos etc.) no sentido de
contextualizar o assunto, comparando-os com as imagens e aprofundando sua análise
(MUSSOI, A.B, 2008).

Durante muito tempo, o ensino não priorizou o uso de imagens e celulares nas aulas de
Geografia, sendo as mesmas utilizadas apenas como ilustração nos livros didáticos, muitas vezes
sem estarem relacionadas com o texto ou em mapas que tinham a finalidade de localização.
Atualmente, com a evolução da tecnologia, a Geografia tem feito uso de diferentes imagens para a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

compreensão do espaço geográfico, tornando-se uma ferramenta de fácil acesso aos professores,
pois as mesmas podem ser obtidas e divulgadas com rapidez.
A presente pesquisa buscou investigar o uso do celular e da fotografia nas aulas de
Geografia, verificando o uso desses novos recursos didáticos para sala de aula e buscando envolver
ativamente o aluno no processo de ensino-aprendizagem, proporcionando a ele um papel de agente
ativo na construção do conhecimento.

O USO DA FOTOGRAFIA E DO CELULAR COMO RECURSO DIDÁTICO

No ensino tradicional, onde o livro didático é a principal ferramenta, observa-se uma


aprendizagem baseada na memorização dos conteúdos e um aluno passivo no processo de ensino-
aprendizagem, transformando o ambiente escolar em uma obrigação e resultando no desinteresse e
na desmotivação que comprometem uma reflexão crítica acerca da realidade.
Para Ramos (2012), no ensino de Geografia é importante que o professor utilize os
recursos didáticos com a capacidade de utilizá-los como instrumentos que levem os alunos a
desvendar e compreender a realidade do mundo, dando sentido e significado à aprendizagem. A
Geografia faz uso de diferentes linguagens para a compreensão do espaço geográfico, em que as
linguagens-imagens entendidas aqui como mapas, histórias em quadrinhos, fotografias e obras
fílmicas se destacam, pois através dessas os elementos do espaço podem estar mais evidenciados,
facilitando a compreensão das geograficidades.
Segundo Brandão e Mello (2013), as fotografias são instrumentos que podem auxiliar o
aluno na compreensão das mudanças na paisagem, que ocorre, sobretudo, com a expansão da
ocupação humana, e as diferentes técnicas que o homem utiliza sobre o espaço. A análise
fotográfica aguça a percepção da paisagem de forma cronológica, seja através da assimilação entre
fotos ou entre estas com a realidade imediata.
A fotografia é um recurso de fácil acesso e muito pouco utilizada pelos professores. Se
ela for bem direcionada, o professor facilitará a compreensão da dinâmica espacial pelo aluno e/ou
despertará nele a identidade com o espaço ao qual ele socializa.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da educação básica de São Luís - MA, com
a participação de 120 alunos do 1° do ano do ensino médio, utilizando a fotografia, a partir do
celular como uma ferramenta nas aulas de Geografia, com o intuito de proporcionar novas
alternativas de aprendizado, aqui voltadas para as discussões sobre os agentes externos do relevo.
O ponto de partida da pesquisa foram 4 aulas teóricas sobre os agentes externos do
relevo, onde cada turma foi dividida em 4 grupos com a temática definida (erosão eólica, marinha,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pluvial e ação antrópica). A captação das fotos foi realizada pelos alunos a fim de registrar a
paisagem do entorno da escola, culminando na exposição e apresentação das equipes com seus
respectivos temas. A última atividade realizada foi a aplicação de formulários estruturados com uma
pergunta aberta e cinco fechadas para os alunos, com o objetivo de identificar a percepção dos
mesmos sobre o uso do celular e fotografia no processo de ensino-aprendizagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da aplicação do questionário, verificou-se que os alunos, na sala de aula


pesquisada, possuem 15 anos de idade que corresponde a um total de 69,23% e a turma possui
53,85% no sexo feminino. O uso do celular foi um dos itens analisados pela pesquisa, onde 73,08%
afirmaram que possuem celulares (gráfico 1).

80,00 73,08
70,00
60,00
50,00
Porcentagem (%)

40,00
26,92
30,00
20,00
10,00
0,00
Sim Não

Gráfico 1. Uso do aparelho celular.

A escola possui medidas para o uso do celular em sala de aula, sendo constatado que
todos os alunos são cientes da proibição do aparelho em momentos de aula, porém 42,31%
afirmaram que usam o celular, contrariando a medida proposta pela escola. O uso da internet
também foi avaliado, onde se observou que 88,46% dos entrevistados usam o aparelho celular
durante o horário escolar (gráfico 2).

100,00
88,46
90,00
80,00
Porcentagem (%)

70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00 11,54
10,00
0,00
Nunca Sempre que posso

Gráfico 2. Acesso à Internet durante o Horário Escolar.


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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Cerca de 53,85% dos alunos afirmaram que o uso desse telefone móvel dificulta o
processo de ensino-aprendizagem, porém o mesmo pode ser utilizado como recurso didático, desde
que realizado com as devidas orientações. A maioria dos alunos, em torno de 65,38%, desconhecem
aplicativos que podem ser utilizado como meio de aprendizagem, como podemos demonstrar no
gráfico 3.

70,00 65,38

60,00
Porcentagem (%)

50,00

40,00 34,62

30,00

20,00

10,00

0,00
Sim Não

Gráfico 3. Conhecimento de aplicativos usados em sala de aula.

Os entrevistados que conhecem esses aplicativos, cerca de 60%, disseram que usam o
Google Maps (gráfico 4), como meio de localização de espaços que desejam obter conhecimento,
outros 20% usam o Google Earth e 10% o Show do Milhão e o site de busca Google 10%

Show do Milhão 10

Google Earth 20

Google Maps 60

Google 10

0 10 20 30 40 50 60 70
Porcentagem (%)

Gráfico 4. Aplicativos utilizados como meio de aprendizagem.

As tecnologias contidas nos celulares usados por esses alunos, podem abrir um leque no
processo de aprendizagem, sendo verificado que 24,36% possuem o sistema Android que permitem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

o download de aplicativos e 23,08% constituídos por mp3 e câmera, 20,15% apresentam GPS e
8,97% TV (gráfico 5).

TV 8,97

GPS 20,51

Câmera 23,08

Mp3 23,08

Android 24,36

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00


Porcentagem (%)

Gráfico 5. Tecnologias presente nos celulares.

Os trabalhos e as imagens fotografadas pelo celular foram apresentados por meio de


slides, como no grupo de erosão marinha (figura 1).

Figura 1. Apresentação do grupo de Erosão Marinha.

O grupo responsável pela erosão eólica apresentou as imagens por meio do Office
Word, onde realizou uma contextualização com o recurso utilizado, dialogando com o referencial
teórico (figura 2).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2. Apresentação do grupo de Erosão Eólica.

A equipe responsável pela erosão causada pela ação antrópica apresentou as imagens
fotográficas retiradas, apontando as ações humanas que influenciariam no movimento de massas.

Figura 3. Apresentação do grupo de Erosão causado pela Ação Antrópica.

O grupo responsável pela erosão pluvial apresentou por meio de slides a concepção que
adquiriram dos efeitos da ação pluvial nas feições geomorfológicas, sendo apontadas as influências
desse tipo de erosão para os banhistas e comunidades adjacentes.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4. Apresentação do grupo de Erosão Pluvial.

Com isso verificou-se a aplicabilidade do uso do celular como recurso didático,


demonstrando ser uma tecnologia de fácil acesso para os alunos, que afirmaram usá-lo
frequentemente em sala de aula, além de apontar mais um uso para essa ferramenta, agora
concernente ao processo de ensino-aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As aulas de Geografia, em sua grande maioria, ainda são tradicionais, utilizando o livro
didático como principal instrumento, mas partindo da necessidade de tirar o aluno da passividade
dentro da sala de aula e tentar levá-lo a refletir sobre a sua realidade. É necessário, portanto, que os
professores busquem outros recursos para suprir as deficiências da sala de aula e diante desse fato,
os celulares apresentam-se como um importante recurso, levando o aluno a perceber os elementos
reais contextualizando com a sua realidade e suas experiências.
De acordo com o feedback dos alunos, o recurso didático foi adequado, sendo possível
constatar in loco os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Portanto, o uso do celular e da
fotografia atingiu seu objetivo de modo eficaz mostrando uma nova alternativa no ensino da
Geografia.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, I.D.N.; MELLO, M.C.O. Principais recursos didáticos analisados no ensino de


geografia do Brasil. Peru: EGAL, 2013.

CALADO, F.M. O ensino de geografia e o uso dos recursos didáticos e tecnológicos. Revista
Geosaberes, Fortaleza, v.3, n.5, p. 12-20, jan./jun. 2012. Universidade Federal do Ceará.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1417


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

KAERCHER, N.A. A geografia é o nosso dia-a-dia. In: CASTROGIOVANNI, C. [et al.],


organizadores. Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4° edição. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2003.

MUSSOI, Arno Bento. A fotografia como recurso didático no ensino de geografia. 2008. Disponível
em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/785-2.pdf>. Acesso em: 25 jul.
2017.

RAMOS, M.G.S. A importância dos recursos didáticos para o ensino de Geografia no ensino
fundamental nas séries finais. Monografia apresentada ao departamento de Geografia da
UNB/UAB. Brasília: 2012.

REIS, W.D. A fotografia como suporte didático para professores do ensino fundamental. Alagoas:
Secretaria de Estado da Educação/AL.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1418


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

AS DIFICULDADES DAS ESCOLAS PARA TRABALHAR COM


EDUCAÇÃO AMBIENTAL. O ESTUDO DE CASO DE DUAS
ESCOLAS PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL

Regina de S. MANIÇOBA
Profa. Dra. do Curso de Pós-Graduação do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB
regina.manicoba@bol.com.br
Gabriela Henriques da SILVEIRA
Graduanda do Curso de Geografia da Universidade de Brasília - UnB
gabih95@gmail.com

RESUMO
Principalmente nas últimas quatro décadas a preocupação ambiental tem tomado um espaço cada
vez mais significativo nas agendas políticas dos países. Para se alcançar a Sustentabilidade, a
Educação tem sido aventada como o principal instrumento. No desenvolvimento de atividades
ligadas à Educação Ambiental (EA), no entanto, as escolas enfrentam uma série de
dificuldades.Nesse sentido, como objetivo geral, este artigo buscou identificar as principais
dificuldades encontradas pelos professores para aplicar a Educação Ambiental nas escolas.Como
estudo de caso, no âmbito da disciplina Extensão em Geografia, do curso de Bacharelado em
Geografia da Universidade de Brasília foram desenvolvidas atividades de EA em duas escolas
públicas do DF:uma na Região Administrativa (RA) XIV (São Sebastião) e outra na RA X(Guará).
Tal experiência mostrou que na primeira,o Centro Educacional (CED) São Francisco, os professores
desenvolvem atividades de Educação Ambiental. Já na segunda, oCentro de Ensino Fundamental 08
(CEF 08), não há nenhum projeto de EA, no entanto, os professores mostraram interesse em
desenvolver práticas na área ambiental com seus alunos. Em ambas, como limitadores destacam-se:
a falta de recursos para aquisição de ferramentas e materiais necessários para a realização de
algumas atividades ligadas a questão ambiental.
Palavras Chave: Educação Ambiental (EA), Sustentabilidade, Extensão em Geografia.
ABSTRACT
Especially in the last four decades environmental concern has taken an increasingly significant
place in the political agendas of countries. To achieve Sustainability, Education has been advocated
as the main instrument. In the development of activities related to Environmental Education (EA),
however, schools face a number of difficulties. In this sense, as a general objective, this article
sought to identify the main difficulties encountered by teachers to apply Environmental Education
in schools. As a case study, in the scope of the Extension in Geography discipline of the Bachelor of
Geography course of the University of Brasília, EA activities were developed in two public schools
in the Federal District: one in the Administrative Region (RA) XIV (São Sebastião) and another in
the RA X (Guará). Such experience has shown that in the first, the São Francisco Educational
Center (CED), teachers develop Environmental Education activities. In the second, the Center for
Elementary Education 08 (CEF 08), there is no EA project, however, teachers showed interest in
developing environmental practices with their students. In both, as limiters, the following stand out:
the lack of resources to acquire tools and materials necessary to carry out some activities related to
the environmental issue.
Keywords: Environmental Education (EA), Sustainability, Extension in Geography.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1419


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Embora muito discutida na atualidade, a preocupação com o meio ambiente é muito antiga,
vem desde as primeiras civilizações. Com o aumento da urbanização, no entanto, veio o
agravamento dos problemas ambientais e decadência cada vez mais acentuada da qualidade de vida
nas cidades. Como resposta a isso, após a década de 1970, as questões ambientais passaram a
receber papel de destaque nas mesas de negociações de diversos países.
Naatualidade, uma das formas propalada para se alcançar a Sustentabilidade é por meio da
Educação. A Conferência de Estocolmo, marco da preocupação ambiental no mundo, realizada em
1972,ressaltoua Educação como estratégia para resoluções de problemas ambientais. As discussões
neste âmbito avançaram e, com elas, a necessidade de se incluir a EA no ensino formal e informal.
No Brasil, essa inclusão foifeita em 1981 na Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA)
que enfatizava ―a necessidade de inclusão da educação ambiental em todos os níveis de ensino‖
(BRASIL, 1981) econsolidada, posteriormente, na Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA), instituída pela Lei nº. 9795 de 1999.
No entanto, apesar de, na atualidade, os professores e a sociedade em geral reconhecerem a
necessidade de incluírem a EA entre suas práticas, muitas escolas ainda enfrentam uma série de
dificuldades para alcançar isto.
Dessa forma, como objetivo geral, o presente trabalho pretende identificar as principais
dificuldades encontradas pelos professores para aplicar a EA nas escolas.Como estudo de caso,
serão enfocadas duas escolas públicas do Distrito Federal: o Centro Educacional (CED) São
Francisco, localizado na Região Administrativa XIV - São Sebastião e o Centro de Ensino
Fundamental 08 (CEF 08), na Região AdministrativaX - Guará.
Como objetivos específicos, buscar-se-à: realizar um breve histórico sobre EA no mundo e
no Brasil ediscutir seu conceito sob o ponto de vista de alguns autores;identificar as principais
dificuldades encontradas pelos professores para implantar a EA nas escolas; e, levantar a aplicação
da EA nas escolas públicas.
Nesse sentindo, o presente artigo se encontra dividido em três partes. Na primeira foi
apresentado um histórico sobre o surgimento, evolução e conceito da EA no mundo e no Brasil. Já
no segundo, discutiu-se as principais dificuldades de se praticar hoje a EA nas escolas. E, por fim,
no terceiroabordou-se os estudos de caso, enfatizando como e se as escolas selecionadas
trabalhavam com a EA e a contribuição do trabalho dos alunos de Graduação em Geografia da UnB
para impulsionar e consolidar estas atividades nestas escolas.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNDO E NO BRASIL

A Revolução Industrial modificou a relação do homem com a natureza, tornando esta cada
vez mais constante e predatória. A natureza passou a ser tratada como local de produção e extração
de bens, tornando-se produto.
No entanto, a partir de 1960, tomaram força questionamentos relativos ao cuidado com o
meio ambiente e à qualidade de vida e estes passaram a ter destaque na política internacional.
Portanto, diante do quadro considerável de degradação ora instalado, diversos países passaram a se
unir para se posicionarem em relação aos problemas ambientais.
Em 1972 foi realizada a Primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano, em
Estocolmo, na Suécia, devido ao grande impacto causado pelo Relatório do Clube de Roma59,
produzido nesse mesmo ano, e que discutiu o uso dos recursos naturais disponíveis no planeta.
Nessa conferência, realizada sob responsabilidade da Organização das Nações Unidas, ficou
estabelecida a importância da EA como solução dos problemas ambientais.
Ainda na década de 1970, dois outros eventos relevantes relacionados à EAforam realizados.
O primeiro foi o Seminário Internacional sobre EA, concretizadoem 1975, em Belgrado, que
estabeleceu os princípiose definiu como metasdesta: a formação de uma população mundial
consciente e preocupada com o meio ambiente e seus problemas, ―e que tivesse conhecimento,
aptidão, atitude, motivação e compromisso para trabalhar individual e coletivamente na busca de
soluções para os problemas existentes e para prevenir novos‖(ESAC, 2017).
O segundo evento foi a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em
Tbilisi, na Geórgia, ex-União Soviética (URSS), em 1977, que em sua Declaração atribuiu à EA a
responsabilidade de criar consciência e compreensão dos problemas ambientais e, além disso,
estimular comportamentos positivos (MMA, 2017a). A EA devia ―ser dirigida à comunidade
despertando o interesse do indivíduo em participar de um processo ativo no sentido de resolver os
problemas dentro de um contexto de realidades específicas, estimulando a iniciativa, o senso de
responsabilidade e o esforço para construir um futuro melhor‖ (MMA, 2017a).
Já na década de 1980, na Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental,
realizada, em 1987, em Moscou, e organizada pela UNESCO, fez-se a avaliação dos avanços desde
Tbilisi, reafirmou-se os princípios de EA e a necessidade da pesquisa e da formação em EA (MMA,
2017b).

59
Conforme o IPEA (2008, p. 12), ―em abril de 1968 o economista e empresário da indústria italiana, Aurélio Peccei,
promoveu em Roma um evento com 30 pesquisadores provenientes de dez diferentes países, incluindo cientistas,
educadores e economistas, a fim de discutir o dilema da humanidade. Do encontro, surgiu o Clube de Roma, uma
organização informal, que estabeleceu como finalidades: promover o entendimento de componentes variados
(econômicos, políticos, ecológicos) que formam o sistema global e chamar a atenção para uma nova maneira de
entender e promover iniciativas e planos de ação‖.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Na década de 1990, outro documento internacional importante desenvolvido foio Tratado de


Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Globalque, elaborado pela
sociedade civil planetária no Fórum Global, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), estabeleceu ―os princípios fundamentais da educação para
sociedades sustentáveis, destacando a necessidade de formação de um pensamento crítico, coletivo
e solidário, de interdisciplinaridade, de multiplicidade e diversidade‖ e a relação entre as políticas
públicas de EA e a Sustentabilidade (PORTALRESÍDUOSSÓLIDOS, 2013).
Esse papel da EA como incentivadora da formação do pensamento crítico nos cidadãos,
principalmente, em relação às questões ambientais, é ressaltado por Quintas (2008 apud MMA,
2017c):

A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das


capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais
do país, intervenham, de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais
quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja
físico-natural ou construído, ou seja, educação ambiental como instrumento de participação
e controle social na gestão ambiental pública.

No Brasil, a EA se manifestou antes da popularização do termo na década de 1990, através


de atitudes dos educadores em relação ao meio ambiente no ato de ensinar na década de 1950.
Já na década de 1970, em meio à emergência do movimento conservacionista no mundo,
surgiram os primeiros cursos de especialização em EA.Em 1973, a Presidência da República criou a
Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), no âmbito do Ministério do Interior que constituiu-
se no primeiro órgão nacional do meio ambiente e começa a fazer EA (MMA, 2017b).
Em 1988, a nova Constituição Federal promulgada dedicou um capítulo inteiro, o art. 225,
ao Meio Ambiente. No parágrafo 1º, inciso VI, cita que cabe ao Poder Público: ―promover a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente‖ (BRASIL, 1988). Atualmente, a Constituição brasileira é considerada uma das
legislações mais avançadas do mundo em relação às questões ambientais.
Já na década de 1990, seguindo às orientações da Agenda 21 (documento resultante da Rio
92) e da Constituição brasileira, foi aprovado, no Brasil, o Programa Nacional de Educação
Ambiental – PRONEA (1994), com a intenção de intervir na educação ambiental formal e
informal.Em 1999, é promulgada uma legislação específica para a Educação Ambiental, a Lei n°.
9795, que confirma a proposição da EA em todos os níveis de ensino. Conforme cita o art. 2º:―a
educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não-formal‖ (BRASIL, 1999).
Tal lei estabelece como princípios básicos da EA alguns pontos como:

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

[...] III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e


transdisciplinaridade; [...] V - a garantia de continuidade e permanência do processo
educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem
articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o
reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL,
1999).

Logo, apesar de não ter participado da Conferência Internacional de Tbilisi, marco para a
discussão da questão ambiental, e de não possuir recursos técnicos em abundância, o governo
brasileiro avançou na elaboração de uma legislação focada na EA, no qual foram delineados
caminhos e objetivos para o desenvolvimento desta no país.

A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: PRINCIPAIS DIFICULDADES

Apesar de todos os avanços na discussão e na legislação brasileiraque incluíram a EA em


todos os níveis de ensino, esta ainda enfrenta uma série de dificuldades para ser praticada nas
escolas.Entre as mais comuns destacam-se a falta:de formação adequada dos professores para
trabalhar a questão ambiental;de recursos e infraestrutura nas escolas; de abertura da direção; de
projetos de EA que estejam contemplados no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola.
No que diz respeito à formação do corpo docente, a Política Nacional de Educação
Ambientaltrouxe entre suas premissas que nas escolas, esta deveria estar presente em todos os
níveis de ensino, como tema transversal, sem constituir disciplina específica, podendo envolver
assim, todos os professores. No entanto, o que percebe-se é que grande parte dos professores não
está preparada para integrar os temas ambientais aos conteúdos ensinados em suas disciplinas.
Os primeiros teóricos da Geografia, já ressaltavam o papel desta como uma ciência sintética
que trabalhava com dados de todas as demais ciências. Tal amplitude do conteúdo que pode ser
discutido no âmbito geográfico facilita,dessa forma, a ligação entre os temas ambientais e o
conhecimento ensinado nas demaisdisciplinas.Cabe aos professoresno entanto, levantar que
conteúdos trabalhados por eles em suas disciplinas tem ligação com a Geografia e, portanto, com a
questão ambiental e podem ser explorados.
Como exemplos, pode-secitar osprofessores de Matemática, que tem a possibilidade de
desenvolver um projeto de Horta na escola e, a partir desta,podemestudar com os alunos: a relação
entre a profundidade de semeadura e a velocidade de germinação; calcular as medidas do
espaçamento entre linhas e covas de semeadura e da área dos canteiros; a quantidade e a economia
que pode ser feita na escola de água e alimentos, etc.Já os professores de Biologia por meio do
desenvolvimento de projetos de educação ambientalpodem tratar das questões de saúde, como a
poluição e escassez da água ou má deposição dos resíduos sólidosque podem comprometer a
qualidade de vida e a longevidade da população.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O que acontece, no entanto, é que, muitas vezes, não há no processo de formação dos
professores uma capacitação para trabalhar os temas ambientais.Este treinamento,em regra, só se dá
por cursos ou palestras em curta duração. Além disso, os cursos de Graduação, geralmente, não
trazem a formação profissional de Educação Ambiental, o que faz com que esta só se insira
intensamente na pós-graduação (lato-sensu e stricto-sensu) (CASSINI; TOZONI-REIS, 2008;
MORALES, 2009).
Para Molon (2009), a formação em EA deve ser feita de forma continuada, isto é, gradual,
iniciando-se, em geral, no ensino superior e tornando-se mais sólida à medida que os estudos e
comprometimentos avancem. Para a autora, o educador é um ser em formação e que deve ser visto
como uma unidade na multiplicidade, contraditória e mutável, possibilitando assim, a superação da
visão fragmentada da realidade social e da concepção do ser humano como acabado e imutável.
Outra dificuldade bastante comum é a falta de recursos e a inadequação estrutural das
escolas para o desenvolvimento de práticas educativas em EA .
Conforme Trajber e Mendonça (2007), na obra intitulada: O que fazem as escolas que dizem
que fazem Educação Ambiental,uma pesquisa com 418 escolas distribuídas,realizada em 2006,nas
cinco regiões do paísmostrouque as principaistemáticas abordadas nos projetos de EA nasescolas
são: ―Água‖; ―lixo e reciclagem‖; a criação de hortas (que promove a educação para a saúde por
meio do incentivo e promoção da alimentação saudável e a preservação do meio ambiente) e de
pomares; e, o plantio de árvores.
Para oinício e manutenção dessas atividades, no entanto, são necessários espaço e materiais.
As hortas, por exemplo, requerem, além de áreas verdes, tijolos para elaboração dos canteiros,
ferramentas, adubo e sementes. Já o trabalho com reciclagem necessita de material educativo
(cartazes, cartilhas), lixeiras para coleta seletiva, além de materiais de escritório (cola, tinta, tesoura)
para o desenvolvimento de atividades de reciclagem de PET, por exemplo.No entanto, estes
materiais e recursos, muitas vezes, não estão disponíveis na maioria das escolas.
Bosa e Tesser (2014) citam ainda como dificuldades,o fato da EA ainda ser trabalhada de
forma esporádica, sob a forma de projetos efêmeros e não estar inserida no contexto de atividades
regulares das escolas e em seusProjetos Político Pedagógico, o que traria uma quase que
obrigatoriedade em se desempenhar essas atividades.
Todos estes fatores, dificultam a implantação das atividades de EA nas escolas colaborando
para que as instituições de ensino reproduzam um modelo de comportamento descomprometido
com a sustentabilidade socioambiental e abrindo mão assim, da utilização da EA como ferramenta
de transformação e mudança de comportamentos lesivos ao Ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho teve como base uma pesquisa bibliográfica, feita em livros, artigos, sites
da internet e periódicos que discutem a temática da EA sua conceituação e a forma com que esta
vem sendo desenvolvida nas escolas.
Inicialmente desenvolveu-se o levantamento e análise da bibliografia sobre EA.
Posteriormente, passou à realização da parte prática que foi o estudo de caso do emprego da
Educação Ambiental em duas escolas públicas do DF: o Centro Educacional (CED) São Francisco,
localizado na Região Administrativa de São Sebastião (RA XIV) e o Centro de Ensino Fundamental
08 (CEF 08), localizado na Região Administrativa do Guará (RA X).
Durante o 2º semestre de 2016 e o 1º semestre de 2017, estas escolas foram visitadas pelos
alunos da disciplina Extensão em Geografia, do curso de Bacharelado em Geografia da
Universidade de Brasília que observaram como os Professores e Coordenação destas trabalhavam a
EA e puderam contribuir com estes a partir do desenvolvimento de atividades relacionadas a este
tema (como manutenção da horta comunitária, plantação de mudas nas áreas verdes da escola e
criação de uma Sala Temática de Geografia).
Tais atividades surgiram no âmbito da disciplina Extensão em Geografia, do curso de
Bacharelado em Geografia da Universidade de Brasília com objetivo de aliar Pesquisa e Ensino e
viabilizar a integração entre Universidade e Sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No âmbito da disciplina Extensão em Geografia, do curso de Bacharelado em Geografia da


Universidade de Brasília, realizada no período de Agosto de 2016 a julho de 2017, foram
selecionadas duas escolas públicas do Distrito Federal, o Centro Educacional (CED) São Francisco,
localizado na Região Administrativa de São Sebastião (RA XIV) e o Centro de Ensino Fundamental
08 (CEF 08), na Região Administrativa do Guará (RA X), para se investigar e desenvolver a prática
da Educação Ambiental e assim, viabilizar a integração entre Universidade e Sociedade.
Nestas escolas observou-se duas situações diferentes: uma realiza práticas ligadas à
Educação Ambiental e busca ampliar a inserção da temática Meio Ambiente no âmbito das diversas
disciplinas;ao passo que a outra, embora os professores tenham interesse, nenhuma atividade na
área ambiental é desenvolvida.
Inaugurado em 12 de agosto de 2009, o CED São Franciscoatende cerca de 3.000 mil alunos
(Ensino Médio Regular, diurno) e possui uma estrutura física ampla com um extenso pátio, quadra
esportiva, laboratórios, salas temáticas, biblioteca, área verde com horta e viveiro para mudas
(COORDENAÇÃO REGIONAL DE ENSINO DE SÃO SEBASTIÃO, 2016).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com excelente espaço e uma forma diferenciada de conduzir as atividades de ensino e


aprendizagem, a escola se destaca das demais de ensino público. Juntamente com as aulas normais,
esta desenvolve um projeto denominado de ―Selfie Pedagógico‖, que consiste na reserva de um dia
a cada semana para a realização de oficinas e atividades variadas por toda a escola: música, teatro,
cinema, meio ambiente. Os alunos podem escolher no que querem participar.
Uma das atividades desenvolvida é o trabalho na horta comunitária existente nos fundos da
escola e que foi criada e mantida por funcionários eprofessores. Participavam no segundo semestre
de 2016 e primeiro de 2017 da atividade da horta os professores de Geografia, Matemática e
Sociologia. Nos últimos anos, os professores de várias disciplinas tem intensificado o trabalho e
buscado integrar nesta também os alunos com o intuito de ligar o conteúdo de Meio Ambiente com
os ministrados em suas disciplinas.
Integraram-se e também fizeram parte da limpeza e manutenção da horta da escola,
juntamente com os alunos do CED São Francisco, os estudantes da disciplina Extensão da
Universidade de Brasília.Foram plantadas na horta e em outras áreas da escola (pátio e entrada da
escola), mudas conseguidas em doação no Viveiro Comunitário do Lago Norte e na Prefeitura da
Universidade Nacional de Brasília – UnB (Figuras 01 e 02).

Figura 01 - Manutenção da horta comunitária Figura 02 - Plantação de mudas, CED São


pelos alunos de Extensão da UnB Francisco pelos alunos da UnB
Fonte: Maniçoba (2016). Fonte: Maniçoba (2016).

Além da plantação de mudas, os estudantes da Universidade de Brasília desenvolveram


também a montagem na escola de uma sala temática para a disciplina de Geografia. Foram
realizadas a pintura das paredes com temas ligados à Geografia (Mapa Mundi, Mapa das Regiões
Administrativas do DF, Rosa dos Ventos e o símbolo da sustentabilidade) e a colagem de bandeiras
de vários países e de mapas geográficos do DF(Figuras 02 e 03).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 02 - Pintura das paredes do CED São Figura 03 - Resultado final, sala temática de
Francisco Geografia
Fonte: Maniçoba (2016). Fonte: Maniçoba (2016).

Já na outra escola, o CEF 08, na Região Administrativa do Guará (RA X), a situação é um
pouco diferente. Fundado em 1973, a escola hoje atende o Ensino Fundamental, Educação Especial
e Educação de Jovens e Adultos (Supletivo). Também dispõe de uma boa infraestrutura, contendo:
Laboratório de informática, Sala de recursos multifuncionais para Atendimento Educacional
Especializado (AEE), Quadras de esportes, Sala de leitura, Refeitório, Pátio coberto e Área verde.
Nesta, localizada nos fundos da escola, encontra-se uma grande área com canteiros
onde,num período anterior, já funcionou, uma horta desenvolvida por professores da escola (Figuras
04 e 05). Hoje o local é mantido pelos funcionários da escola (porteiros e servidores da limpeza)
que plantam alguns temperos. A desativação da horta se deu pela falta de segurança do lugar, em
virtude das grades de ferro para escoamento da água (como pode ser visto nas fotos abaixo) que se
encontram soltas e devido à falta de nivelamento do piso que pode colocar em risco os alunos
comnecessidades especiaisou sem que frequentavam o local.

Figura 04 – Canteiros existentes na área verde Figura 05 – Canteiros, antiga local da Horta
do CEF 08 do CEF 08
Fonte: Maniçoba (2017). Fonte: Maniçoba (2017).

Conforme informações da Direção, após a resolução desses problemas, as atividades de


manutenção da Horta serão retomadas pelos professores e contarão com a participação dos alunos.
Os professores de Geografia dos turnos vespertino e noturno se mostraram dispostos e interessados

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

a desenvolver o trabalho na horta. O objetivo é de plantar temperos que possam ser usados para
preparar a alimentação dos alunos e, ao mesmo tempo, promover o incentivo e promoção da
alimentação saudável e a preservação do meio ambiente.
Visando iniciar esta atividade para que os professores pudessem levar adiante, os alunos da
disciplina Extensão da Universidade de Brasília fizeram a pintura das grades, limpeza do local,
retirada das folhas secas, poda das árvores frutíferas e de flores existentes, capina dos canteiros e
iniciaram a criação de mudas de alface, alho, coentro, cebolinha, salsinha (Figuras 06 e 07).

Figura 06 – Alunos da UnB realizando a Figura 07 – Alunos da disciplina Extensão em


manutenção da Horta do CEF 08 Geografia fazendo mudas para a Horta do CEF 08
Fonte: Maniçoba (2017). Fonte: Maniçoba (2017).

O trabalho desenvolvido nestas instituições de ensino contribuiu para que os alunos da UnB
pudessem integrar a teoria vista na Universidade com a prática do trabalho na comunidade, a escola.
Buscou-se passar o conhecimento, e ao mesmo tempo contribuir com as escolas em questão.
A partir da observação dessas experiências foi possível constatar nas duas a vontade que o
corpo docente e a Coordenação têm em desenvolver práticas ligadas ao Meio Ambiente ficando
estas atividades comprometidas pela falta de recursos, infraestrutura da escolae também, muitas
vezes, a falta de inserção dessas atividades no Programa Pedagógico das escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho discutiu as dificuldades encontradas pelas escolas para desenvolver a


EA. Como as principais destacaram-se: a falta de formação adequada dos professores para trabalhar
a questão ambiental (deverão ser treinados para incluir o tema nos diversos assuntos tratados em
sala de aula); de recursos e infraestrutura nas escolas; de abertura da direção; de projetos de EA que
estejam contemplados nos PPP das escolas.
Como estudo de caso foram enfocadas duas escolas públicas no DFonde observou-se
situações diferentes.No Centro Educacional (CED) São Francisco, localizado na Região
Administrativa de São Sebastião (RA XIV), os professores de diversas disciplinas (Geografia,
Matemática, Sociologia) desenvolvem atividades de EA (isto é, utilizam os conteúdos de suas

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

disciplinas no desenvolvimento da horta escolar). Como limitadores das atividades


foramobservadas a baixa participação dos alunos que ainda não estão totalmente integrados à
atividade e a falta de recurso para a manutenção da horta (como adubos, mudas e sementes).
Já no Centro de Ensino Fundamental 08 (CEF 08), na Região Administrativa do Guará (RA
X), na atualidade, não está sendo desenvolvido nenhum projeto de EA pelos professores embora
estes tenham manifestado interesse em desenvolver práticas na área ambiental com seus alunos.
Nesta escola, observou-se também a falta de recursos para aquisição de ferramentas e materiais
(como adubos, mudas, sementes) necessários para realizar a manutenção e desenvolvimento da
horta da escola.
Tal estudo foi desenvolvido com base no conceito de ―Extensão Comunitária‖ que consiste
em promover ―o contato e a interação de estudantes da graduação com a população, podendo além
de transmitir conhecimentos adquiridos na faculdade, trocar experiências com trabalhos
desenvolvidos diretamente com a sociedade‖ (CERQUEIRA, 2011). Desta forma, ambas as partes
se enriquecem com o conhecimento produzido.
Buscou-se com as atividades desenvolvidas pelos alunos de Extensão de Geografia da UnB
nas escolas, despertar os professores para a importância de implantar atividades voltadas para
sustentabilidade e preservação do meio ambiente e incentivá-los a desenvolver projetosde EA que
ressaltem a adoção daalimentação saudável, cuidado com o solo e com a deposição dos resíduos
sólidos, entre outras ações que minimizem impactos ambientais e melhorem a qualidade de vida
dacomunidade escolar.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988Disponível


em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
jul. 2017.

CASSINI, L.F.; TOZONI-REIS, M.F.C. Trajetórias de educadores ambientais. Revista Eletrônica


do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 21, p. 109-120, jul./dez. 2008.

CERQUEIRA, Fernanda (Org.). Refletindo sobre a extensão e suas práticas. Ano IV- No 36 Abril
– 2011. Disponível em:<https://petgeoudesc.files.wordpress.com/2012/03/informativo-do-pet-
abril-de-2011.pdf>. Acesso em: jul. 2017.

COORDENAÇÃO REGIONAL DE ENSINO DE SÃO SEBASTIÃO. CED São Francisco.


Disponível em:<http://www.cresaosebastiao.com/cedsaofrancisco/>. Acesso em: jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1429


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

ESAC. ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA.A carta de Belgrado.Disponível


em:<http://www.esac.pt/abelho/EdAmbiental/carta_de_Belgrado.pdf>. Acesso em: jul. 2017.

MMA. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Declaração de Tbilisi.Disponível


em:<http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/decltbilisi.pdf>. Acesso em: jul. 2017a.

MMA. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. A política de educação ambiental. histórico


brasileiro.Disponível em:<http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-
ambiental/historico-brasileiro>. Acesso em: jul. 2017b.

MMA. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Conceitos de Educação Ambiental. Disponível


em:<http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-ambiental>. Acesso em:
jul. 2017c.

MANIÇOBA, Regina de S. Espaço de cultivo de muda, CED São Francisco. 2016. 1 fotografia.

MANIÇOBA, Regina de S. Canteiros existentes na área verde do CEF 08. 2017. 1 fotografia.

MOLON, S.I. As contribuições de Vygotsky na formação de educadores ambientais. In:


LOUREIRO, C.F.B.; LAYRARGUES, P.P.; CASTRO, R.S. (Orgs.).Repensar a Educação
Ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009. p.141-172.

MORALES, A.G.M. A formação dos profissionais educadores ambientais e a universidade:


trajetórias dos cursos de especialização no contexto brasileiro.Educar em Revista,Curitiba, n. 34,
p.185-199. 2009.

TRAJBER, Rachel; MENDONÇA, Patrícia Ramos (Org.). Educação na diversidade: o que fazem
as escolas que dizem que fazem educação ambiental. Brasília: Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade-MEC/ONU, 2007.
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao5.pdf

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDAS PELO PROJETO


SOLO NA ESCOLA UEA - PARINTINS/AM

Reginaldo Luiz Fernandes de SOUZA


Doutorando do PEHCT-IGE-UNICAMP
reginaldo.uea@gmail.com
Luciana Cordeiro de SOUZA- FERNANDES
Profª de Direito da FCA e do PEHCT-IGE-UNICAMP
luciana.fernandes@fca.unicamp.br

RESUMO
O solo é um componente natural fundamental para a vida na Terra. No entanto, este componente
natural vem sofrendo contínuo processo de degradação ocasionando graves problemas ambientais
para a sociedade, tais como a desertificação, o assoreamento dos rios, a contaminação do lençol
freático, a perda da fertilidade etc. Neste contexto, é necessário criar uma conscientização ecológica
em torno desse tema. Uma das formas de atingir esse objetivo é por meio da Educação Ambiental
com ênfase no ensino de solos que demonstre a importância desse recurso natural para a sociedade.
Este trabalho pretende divulgar as atividades desenvolvidas pelo Projeto ―Solo na Escola UEA –
Parintins‖, que por meio de experimentos vem desenvolvendo o conhecimento sobre esse recurso na
região do Baixo Amazonas. A pesquisa foi de cunho qualitativo e teve como procedimento
metodológico o levantamento bibliográfico para a fundamentação teórica e à técnica da observação
assistemática durante o desenvolvimento das atividades. Foram observadas e anotadas as
impressões que os alunos tiveram durante a realização das oficinas nas escolas. Pode-se concluir
que o Projeto esta conseguindo, através da prática da educação ambiental em solos, atingir os
alunos e professores de forma significativa, levando principalmente o educando a refletir sobre sua
realidade e contribuindo para que ele entenda seu papel de agente modificador na sociedade.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Ensino. Solo.
RESUMEN
El suelo es un componente natural fundamental para la vida en la Tierra. Sin embargo, este
componente natural viene sufriendo continuo proceso de degradación que esta generando graves
problemas ambientales para la sociedad, tales como la desertificación, el sedimentación de los ríos,
la contaminación de la capa freática , la pérdida de la fertilidad, etc. En este contexto, es necesario
crear una concientización ecológica en torno a este tema. Una de las formas de alcanzar ese objetivo
es por medio de la Educación Ambiental con énfasis en la enseñanza de suelos que demuestre la
importancia de ese recurso natural para la sociedad. Este trabajo pretende divulgar las actividades
desarrolladas por el Proyecto ―Solo en la Escuela UEA – Parintins‖, que por medio de experimentos
vienen desarrollando el conocimiento sobre ese recurso en la región del Bajo Amazonas. La
investigación fue de cuño cualitativo y tuvo como procedimiento metodológico el levantamiento
bibliográfico para la fundamentación teórica y la técnica de la observación asistemática durante el
desarrollo de las actividades. Se observaron y anotaron las impresiones que los alumnos tuvieron
durante la realización de los talleres en las escuelas. Se puede concluir que el Proyecto esta
logrando, a través de la práctica de la educación ambiental en suelos, alcanzar a los alumnos y
profesores de forma significativa, llevando principalmente al educando a reflexionar sobre su
realidad y contribuyendo para que él entienda su papel de agente modificador en la sociedad .
Palavras clave: Educación Ambiental. Enseñanza. Suelo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

A prática pedagógica na perspectiva da educação em solos é uma das formas de perceber o


solo como componente essencial à vida, objetivando trazer a importância do solo na vida dos
educandos, ampliando o conhecimento que já possuem, para criar um processo de conscientização
com esta temática (MUGGLER et al., 2006). Nessa perspectiva, foi criado o Projeto ―Solo na
Escola‖ no CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE PARINTINS - UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO AMAZONAS, com o objetivo de desenvolver práticas pedagógicas por meio de
oficinas que busquem ampliar a compreensão dos educandos sobre a importância da conservação
deste recurso natural, bem como a importância do seu uso de forma sustentável.
Ao dar ênfase aos solos durante as aulas de educação ambiental, é possível demonstrar como
esse recurso é valioso para a humanidade, além de ensinar características importantes dos solos da
Amazônia. A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno, com o seu meio e a sua
comunidade, não é novidade. Por isso, o sistema escolar é, na verdade, o protagonista principal das
ações de educação ambiental, mesmo havendo a necessidade de ampliar essa responsabilidade para
os diferentes setores da sociedade.
A abordagem sobre o tema solos em sala de aula é uma maneira de oportunizar a população
sobre a preocupação com este recurso natural, permitindo aos envolvidos criar um conjunto de
valores que direcionem suas ações, a partir do entendimento de que os impactos negativos
produzidos pelo homem nesse recurso natural poderá resultar no comprometimento de sua
sobrevivência. Nesse contexto, a temática ―solos‖ necessita ser conhecida desde cedo por todos
aqueles que direta ou indiretamente trabalham na terra ou dela retiram seu sustento.

RELAÇÃO HOMEM X NATUREZA E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ao longo do último século a relação que o ser humano estabeleceu com o meio ambiente foi
tornando-se cada vez mais exploratória. Todos os recursos naturais do planeta começaram a sofrer
um constante processo de degradação.
Historicamente, a princípio, os agentes transformadores do meio ―viviam apenas da caça e
da coleta e as alterações ambientais introduzidas pelas comunidades eram dispersas por diferentes
áreas, pois essas práticas geralmente estavam associadas ao nomadismo‖ (FRASSON &
WERLANG, 2010). No entanto, num certo período, o homem estabeleceu outras formas de vida,
deixando de ser nômades, passou a se fixar em determinado territórios nos quais iniciou o cultivo de
plantas para obter mais facilmente alguns de seus alimentos (LEPSCH, 2010).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Com o início da prática da agricultura, as modificações ambientais ganharam maior impacto,


principalmente porque isso possibilitou o sedentarismo, isto é, a retirada dos recursos naturais de
um único lugar, para a manutenção da comunidade (FRASSON & WERLANG, 2010).
Nesse sentindo, a relação entre a concepção de uso dos recursos naturais e a convivência
com o meio, principalmente no final do século XIX e, praticamente todo o século XX, resultaram
na atual crise de valores que estamos vivenciando, o que tem gerado problemas sociais e ambientais
das mais variadas proporções (SANTOS et al 2004 apud CUBA, 2010). Diante disso, a degradação
ambiental tornou-se mais evidente, necessitando ser cada vez mais debatido e ampliado o seu
conhecimento. Entretanto, segundo Dias (2004), a preocupação com o meio ambiente nesse
momento restringia-se ainda a um pequeno número de estudiosos e apreciadores da natureza -
espiritualistas, naturalistas, entre outros.
Uma das formas encontradas para a ampliação desse debate foi à inserção no ensino regular
de disciplina especifica para tratar das questões ambientais como uma necessidade de mudança na
forma de encarar o papel do ser humano no mundo. Segundo Cuba (2010), foi em março de 1965,
durante a conferência de Educação da Universidade de Kelle, Grã-Bretanha, que se falou pela
primeira vez o termo Educação Ambiental (Environmental Education).
Entretanto, se ampliou esta discussão na década de 1970, quando:

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em Estocolmo, Suécia, a


primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, na qual atribuiu grande
importância estratégia à Educação Ambiental, na busca por melhorias da qualidade
ambiental. No entanto, um dos eventos mais importantes para a Educação Ambiental em
nível mundial, foi a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, em Tbilise,
Capital da Geórgia, (ex-URSS) 1977. Na qual foi definido, objetivos e estratégias utilizados
até os dias atuais como referência internacional para o desenvolvimento de atividades da
Educação Ambiental (DIAS, 2004).

No Brasil, vários documentos do governo buscaram regulamentar a implantação da


Educação Ambiental. Em 1981, a Lei da Política Nacional de Meio Ambiental – Lei 6938/81 – a
consagrou como princípio no art. 2º, inciso X, ao estabelecer que a ―educação ambiental a todos os
níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente‖ (BRASIL, 1981). O Parecer n° 226, de 11 de março de 1987,
indica o caráter interdisciplinar da EA e recomenda sua realização em todos os níveis de ensino
(MEC, 1987). Em 1988, a Constituição Federal recepcionou a educação ambiental no art. 225,
parágrafo 1º, inciso VI (BRASIL, 1988).
No final da década de 1990, a Lei n° 9795, de 28 de abril de 1999, instituiu a Política
Nacional de Educação Ambiental, para a aplicação da educação ambiental como tema transversal
em todos os níveis e modalidades do processo educativo. Entendendo-se por Educação Ambiental
como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades e competências voltadas para a conservação do meio ambiente bem de
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Porém, somente com o Decreto n. 4281, de 25 de junho de 2002, ocorreu a efetiva regulamentação
da educação ambiental no país com a criação de um órgão gestor responsável pela coordenação da
Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL,2002).
Para Dias (2004), a Educação Ambiental deve ser dirigida a todos os cidadãos em defesa da
qualidade de vida, estabelecendo uma educação crítica e inovadora a todos os níveis na educação
formal (na escola) e não-formal (fora da escola). No qual a educação ambiental haja como um
mecanismo que ajuda contribuir para que a sociedade adquira conscientização intervindo no que o
movimento ambientalista tem proposto (CUBA, 2010).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM FOCO NO ENSINO DE SOLO

A Educação em Solos dentro da Educação Ambiental coloca-se como um processo de


formação que, em si, precisa ser dinâmico, permanente e participativo, na busca por uma
―consciência pedológica‖ e um ambiente sustentável (MUGGLER et al., 2006). Nele, é necessário
educar as pessoas envolvidas a fim de que se tornem agentes transformadores, e dessa forma,
participem ativamente na busca e construção de alternativas para a redução de impactos ambientais
e para o controle social do uso dos recursos naturais (PINTO SOBRINHO, 2005).

Estudar o solo é de suma importância, como elemento essencial a todos os seres vivos
devido a amplitude de suas utilidades para o ser humano, como: armazenamento de agua,
substrato utilizado pelas plantas para seu crescimento e disseminação, para a sobrevivência
de milhares de organismos como minhoca, formiga etc., é onde o homem constrói suas
moradias, retira seus alimentos, trabalha, além de receber todo o depósito de resíduos
vindos de suas atividades (LIMA, 2005).

Tais características de acordo com Muggler et. al (2006) são tratadas com negligência pela
sociedade. A consequência dessa negligência é o crescimento contínuo dos problemas ambientais
ligados à degradação do solo, tais como: erosão, poluição, deslizamentos, assoreamento de cursos
de água, etc.

Mesmo diante da emergência dos temas que tangem os problemas ambientais, há uma
carência de atenção frente à degradação dos solos. O solo, como componente essencial do
meio ambiente e, portanto, à vida, tem seu estudo pouco valorado perante o ensino básico e
perante outros elementos naturais como a água e o ar. Faz-se necessário, nesta concepção,
de um fortalecimento dos estudos pedológicos, norteados por um caráter sustentável,
conscientizador e que integre os solos aos demais elementos da natureza e a sociedade, de
maneira sistêmica e dinâmica. Essa perspectiva vem ao encontro da Educação Ambiental
emancipatória, ou seja, crítica e reflexiva (FRASSON & WERLANG 2010).

Esta reflexão fortalece a importância da educação em Solo como uma ferramenta para
sensibilizar as pessoas em relação aos problemas do seu manejo incorreto. A partir de uma
abordagem pedológica Muggler et. al (2006) aponta que a Educação em Solo é uma maneira de
promover a conscientização ambiental das pessoas, de forma que elas tenham um conjunto de

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

valores que as instrumentalize para perceber, analisar e avaliar o impacto das ações públicas e
privadas, assim como o impacto de suas próprias ações sobre o solo e, portanto, sobre o meio
ambiente
Para Fontes & Muggler (1999), a escola mostra-se como ambiente propício para a
propagação de conhecimento acerca da importância ecológica, social e econômica da conservação
dos solos. Dessa forma, as experiências com solo podem tornar as aulas mais interessantes para os
educandos por meio da prática.

METODOLOGIA

Está pesquisa foi realizada durante realização das oficinas nas escolas pelo Projeto Solo na
Escola UEA-Parintins do Centro de Estudos superiores de Parintins - Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). Para a Fundamentação teórica, foi realizado um levantamento bibliográfico com
o objetivo e subsidiar a discussão, bem como embasar o referencial teórico. A técnica utilizada foi
a da observação, que segundo Gil (1999), constitui elemento fundamental para a pesquisa, pois é a
partir dela que é possível delinear as etapas de um estudo desde formular os problemas, construir as
hipóteses, definir as variáveis, coletar dados e etc.
A observação é a aplicação dos sentidos humanos para obter determinada informação sobre
aspectos da realidade (GIL, 1999). A observação utilizada foi a assistemática, que de acordo com
Rudio (1999), é o tipo também conhecida por ocasional, simples, não estruturada, pois é aquela que
―se realiza sem planejamento e sem controle anteriormente elaborados, como decorrência de
fenómenos que surgem de imprevisto‖. Foram anotadas as impressões sobre o que foi observado e
realizados registros fotográficos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Projeto Solo na Escola UEA-Parintins é pioneiro na região do Baixo Amazonas e tem


como objetivo apoiar o desenvolvimento da Educação em solo por meio dos experimentos e jogos
educativos criados ou os disponibilizados por outros projetos, como os da UFPR, ESALq/USP.
Esse projeto visa apresentar atividades que englobem desde a formação do solo, características,
tipos, usos, degradação e conservação, criando mecanismos que permitam que os educandos
possam compreender a importância desse recurso natural para a sociedade.
Durante a exposição dos experimentos como: formação, cor, textura, granulometria,
porosidade, erosão, o solo como filtro, magnetismo do solo, dentre outros, pode-se observar o
entusiasmo, interesse e curiosidade dos educandos e os professores com os experimentos e
atividades que trouxeram para informações sobre a geografia e as propriedades químicas, físicas e
biológicas dos solos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Experiência 01 – tintas a base das cores do solo

Na Figura 1, Tintas a base de solos, uma das atividades desenvolvidas pelo projeto
seguindo as orientações de Capeche (2010) que trata da educação ambiental tendo o solo como
material didático. Essa atividade tornou-se uma das mais atraentes para alunos e professores de
Parintins, devido à arte produzida e reproduzida com esse material.
As tintas foram feitas a base das cores presentes nos solos da região e durante a atividade
foi demonstrado como se realiza a coleta, secagem, moagem até a sua preparação. Além disso, foi
explicado porque os solos apresentam cores diferenciadas no ambiente.
Neste sentido, anotamos que:
A cor do solo é uma das feições pedológicas mais notadas, por ser de fácil visualização. As
várias tonalidades existentes no solo como: preto, vermelho, amarelo, acinzentado, etc.
dependem do material de origem como também do lugar. Solos escuros, costumam indicar
altos teores de restos orgânicos decompostos. A cor vermelha relaciona-se a solos
naturalmente bem drenado e com altos teores de óxido de ferro, tons cinzas, com pequenas
manchas, indicam que há permanentemente excesso de água no perfil, como por exemplo,
os situados nos ares úmidos das baixadas próximas aos rios (LEPSCH, 2010).

Figura 01: Atividades com tintas à base de solo em papel e tela. Foto: Reginaldo Souza.

A atividade prática com as tintas à base de solo torna a aula prazerosa. No entanto é
fundamental que seja dado sentido ao processo na construção do conhecimento. A atividade não
pode ficar limitada a pintura, deve-se instigar o aluno a construir as etapas que caracterizam as
cores dos solos, além de enfatizar a importância desse recurso para a humanidade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Experiência 02 – magnetismo do solo

Na Figura 2, é possível observar a curiosidade em torno da experiência que demonstrou as


propriedades magnéticas do solo. Foi explicado que essas propriedades magnéticas dependiam do
tipo de rocha que iria dar origem ao solo e que esse tipo de solo não existe na nossa região.
Durante a oficina de magnetismo do solo apresentou-se duas amostras, uma com a presença
da magnetita (Litossolo do Estado do Paraná) e outra sem a presença da magnetita (Latossolo
Amarelo da região), as quais foram despejados sobre a superfície da placa de vidro com ímã fixado
na parte de traz, conforme passo a passo exemplificado por Maia & Lima (2015).
O magnetismo é uma propriedade que certos corpos, ímãs, têm em atrair ou repulsar ímãs e
outras substâncias magnéticas como ferro, níquel e cobre. As substâncias ferromagnéticas são
caracterizadas por possuírem uma magnetização (espontânea) que pode persistir mesmo na ausência
de um campo magnético. Portanto, os solos com maior concentração de ferro são os que terão maior
atração pelo ímã (MAIA & LIMA, 2015).

Figura 02: Alunos curiosos com a experiência sobre o magnetismo do solo. Foto: Reginaldo Souza

Experiência 03 – erosão do solo

Já na Figura 3, a experiência apresenta o processo de erosão do solo que é um dos maiores


problemas ambientais enfrentados pela sociedade atual. A degradação do solo pelo seu uso
incorreto acaba por gerar a perda desse elemento natural valioso para a humanidade.
O experimento de erosão hídrica demonstra como a cobertura vegetal é fundamental para a
conservação dos solos. A retirada da floresta gera um processo em cadeia, com a perda do húmus na
parte superior do solo, acelerando seu processo de degradação (SILVA & LIMA, 2016).
No ensaio de erosão hídrica foi simulado a ação da chuva com um regador de jardim em três
situações: o solo com a cobertura vegetal, o solo com matéria orgânica e o solo sem a vegetação.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 03: Experimento demonstrando o processo de erosão do solo. Foto: Reginaldo Souza

O solo com a vegetação de acordo com Lepsch (2010) é como um manto protetor; sua
remoção é muito lenta na maior parte do planeta. Assim, pode-se perceber durante a exposição do
ensaio de erosão a importância da cobertura vegetal contra impacto do solo.
Quando o solo está desprovido de sua vegetação natural, o solo fica exposto a uma série de
fatores que tendem a depauperá-lo que varia com as características, o tipo de clima e os aspectos da
topografia (LEPSCH, 2010). Assim, foi simulado a ação da chuva sobre o solo sem vegetação com
o regador, observou-se a remoção de partículas do solo das partes mais altas, transportados e
depositados para as terras mais baixas ou para o fundo dos lagos, rios e oceanos.
Ressaltou-se aos educandos que a chuva simulada no solo sem a cobertura vegetal foi por
pouco tempo e levou consigo a parte superior do solo em forma de sedimentos. Com uma chuva
real no qual dura muito mais tempo tem o potencial de carregar mais solo causando assim, a erosão
hídrica acelerada e agravando os problemas ambientais.
No Brasil, a erosão hídrica, segundo Lepsch (2010) é a mais importante e se processa em
duas fases distintas: desagregação (ocasionada pelo impacto direto no solo das gotas da chuva e
pelas águas que escorrem pela superfície) e transporte (dependendo do tamanho das partículas são
mais facilmente carregados pelas águas como: argila, o silte e a matéria orgânica).
Foi destacado ainda que a erosão do solo pode ser causada pela própria natureza, como por
exemplo, quanto à declividade e forma das encostas. Assim, o propósito desse experimento (ensaio
de erosão) foi contribuir para o entendimento de como a erosão se origina e evolui no ambiente e
ainda discutir as consequências sócio-econômico-ambientais locais e regionais de um solo
degradado pela erosão (SILVA & LIMA, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática da Educação Ambiental por meio do tema ―solo‖ despertou o interesse dos
educandos, principalmente devido à metodologia que incluía a utilização de materiais reciclados
utilizados nas experiências. Durante a observação foi possível notar que as atividades realizadas
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pelo projeto permitiram que os alunos tivessem uma compreensão do solo como componente
essencial do meio ambiente despertando uma maior sensibilização e percepção acerca da
importância da sua conservação e uso adequado.
Por fazer parte do cotidiano de todos, os conteúdos de solos podem constituir em um efetivo
instrumento da educação ambiental. E é sobre a necessidade de se conhecer para preservar, é que o
projeto solo na Escola UEA-Parintins surge para integrar ainda mais as ações entre universidade e
escola.

REFERÊNCIAS

BRASIL 1981. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília: Palácio do Planalto, 1981.
Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm. Acesso em 10/04/2017.

BRASIL 1988. Constituição Federal de 1988. Brasília: Palácio do Planalto, 1988. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 10/04/2017

BRASIL 1999. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, Política Nacional de Educação Ambiental.
Brasília: Palácio do Planalto. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm. Acesso em 10/07/2017.

BRASIL. 2002. Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei no 9.795/99 da


PNMA. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm. Acesso
em 10/04/2017.

CAPECHE, Cláudio L.. Educação ambiental tendo o solo como material didático: pintura com
tinta de solo e colagem de solo sobre superfícies. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010. 60 p.
Disponível em: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/883230. Acesso em: 15 mar.
2016.

CUBA, Marcos A. Educação ambiental nas escolas, ECCOM, v. 1, n. 2, p. 23-31, jul./dez., 2010.
Disponível em: http://www.fatea.br/seer/index.php. Acesso em: 26/07/2017.

DIAS, Genebaldo. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9ª ed. São Paulo: Gaia, 2004.

FONTES, L. E. F.; MUGGLER, Caroline. C. Educação não formal em solos e o meio ambiente:
desafios na virada do milênio. In: CONGRESO LATINOAMERICANO DE LA CIENCIA DEL
SUELO, 14. Pucón (Chile). Resumenes. Temuco: Universidad de la Frontera, 1999.

FRASSON, Vanise R; WERLANG, Mauro K. Ensino de Solos na Perspectiva da Educação


Ambiental: Contribuições da Ciência Geográfica. Geografia: Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v.

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1 4, n. 1, p. 94- 99, 2010. Disponível em: www.ige.unicamp.br/pedologia. Acesso em:


19/07/2017.
GIL, Antonio C. Métodos e técnicas em pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

LEPSCH, Igor F. Formação e conservação dos solos. 2ª ed. São Paulo: Oficina de textos, 2010.

LIMA, Marcelo. R. O Solo no Ensino de ciências no nível Fundamental. Ciências e educação, V.


11, n.3, p.383-394, 2005.

MAIA, Gabriela N., LIMA, Marcelo R.. Experimentoteca de solos magnetismo no solo.
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Agrícola da UFPR. 2015. Disponível em: www.escola.agrarias.ufpr.br. Acesso em 09/03/2016.

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Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 12/07/2017.

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Acesso em 09/03/2016.

PINTO SOBRINHO, F.A. Educação em Solos: construção conceitual e metodologia com docente
da Educação Básica. Viçosa. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Viçosa. UFV,
2005. Disponível em: http://alexandria.cpd.ufv.br. Acesso em: 29/03/2017.

RUDIO, Franz V. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. 24ª edição. Petrópolis, Vozes,
1999.

SILVA, Bruna O.; LIMA, Marcelo R.. Experimentoteca de solos cobertura do solo e redução da
erosão. Experimentoteca de Solos - Programa Solo na Escola - Departamento de Solos e
Engenharia Agrícola da UFPR. 2016. Disponível em: www.escola.agrarias.ufpr.br. Acesso em
19/04/2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EREM JOÃO FERNANDES DA SILVA


EM SÃO JOÃO-PE, NUMA ÓTICA GEOGRÁFICA E SISTÊMICA

Renner Ricardo Virgulino RODRIGUES


Especialista em Ensino de Geografia - UPE/Campus Garanhuns
rennervirgulino@outlook.com
Maria Betânia Moreira AMADOR
Doutora em Geografia; Professora Adjunta da UPE/Campus Garanhuns
betaniaamador@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo é parte de uma monografia de Especialização em Ensino de Geografia e trata das
práticas de Educação Ambiental vivenciadas na Escola de Referência em Ensino Médio João
Fernandes da Silva (EREM JFS), que pertence a Rede Estadual de Ensino de Pernambuco, situada
na área urbana do Município de São João-PE, sob um olhar geográfico com base na abordagem
sistêmica. Com base no método sistêmico e em técnicas observacionais foi identificado que a
EREM JFS se preocupa com as questões ambientais e através de seus projetos pedagógicos
vivenciados durante o ano letivo promove ações que valorizam a educação ambiental e o lugar.
Entre esses projetos citam-se os principais: Projeto de Educação Ambiental, Horta
Escolar/Canteiros e projetos de arborização. Diante disso, a EREM JFS apresenta resultados
favoráveis, tornando uma escola mais atrativa num contexto educacional, estético e ambiental
trazendo valores significativos ao lugar.
Palavras-chave: Educação Ambiental, EREM JFS, São João-PE.
ABSTRACT
This article is part of a specialization monograph on Geography Teaching and Environmental
Education Practices Processes, which was carried out at the João Fernandes da Silva High School
(EREM JFS), which belongs to the State Education Network of Pernambuco, located in the Urban
area of the Municipality of São João-PE, under a geographical view based on the systemic
approach. Based on the systemic method and observational techniques to identify what an EREM
JFS is concerned with as environmental issues and through its pedagogical projects experienced
during the school year promoting actions that value environmental education and the place. Among
the projects, the following are mentioned: Environmental Education Project, School Garden /
Canteiros and afforestation projects. Given this, an EREM JFS presents favorable results, making a
school more attractive in an educational, aesthetic and environmental context bringing significant
values to the place.
Keywords: Environmental Education, EREM JFS, São João-PE.

INTRODUÇÃO

Muito tem se falado em Educação Ambiental (EA) e desenvolvimento sustentável na


atualidade, seja em escolas, universidades, em empresas, nas diversas mídias e em diversas áreas do
conhecimento. Essas temáticas são de extrema importância, pois abordam situações pertinentes ao

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

nosso cotidiano as quais versam problemas como, a exemplo, degradação do meio ambiente e ações
que possam reverter tais problemas com a finalidade de amenizá-los e/ou erradicá-los.
Justifica-se dialogar com essa temática porque a mesma pode se atrelar em diferentes
contextos de forma sistêmica, coadunando-se com o estudo da geografia, por exemplo, a qual se
tem uma relação intrínseca com a educação ambiental, pois buscam a qualidade do meio ambiente e
de vida dos seres humanos de forma sustentável.
No que concerne ao ensino, de acordo Rodrigues (2017, p. 9), ―no ensino da geografia
escolar o tema meio ambiente aparece como tema transversal e deve ser abordado por meio da
relação entre o homem (enquanto ser social) e a natureza‖, evidenciando a interação homem-
sociedade-natureza. Diante disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN‘s) voltados para a
Geografia no Ensino Fundamental, sobre o estudo do meio ambiente, ressalta que:

Refere-se às interações entre a sociedade e a natureza, um grande leque de temáticas de


meio ambiente está necessariamente dentro do seu estudo. Pode-se dizer que quase todos os
conteúdos previstos no rol do documento de Meio Ambiente podem ser abordados pelo
olhar da Geografia. (BRASIL, 1998, p. 46).

Além disso, traz subsídios para uma nova forma de como trabalhar o tema meio ambiente na escola
e até mesmo na prática efetiva em sala de aula, servindo como contribuição e modelo para o público
de interesse.
Diante da diversidade de estudos voltados para a temática ambiental, bem como em
diferentes áreas do conhecimento, optou-se pela abordagem geográfica, evidenciando a escola como
categoria de lugar. Também, observa-se uma variedade de conceitos sobre EA, sendo aqui
elencados alguns dos principais.
De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecida pelo Congresso
Nacional através da Lei nº 9.795 de 27 de Abril de 1999, define em seu primeiro artigo que:

―Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖ (BRASIL, 1999).

Pela relevância que se tem a temática ambiental, o trabalho que se segue foi realizado numa
escola de referência em Ensino Médio, localizada no Município de São João, interior de
Pernambuco, no Nordeste brasileiro. A escolha da escola se deu tendo em vista ações voltadas para
práticas de educação ambiental.

OBJETIVOS

Objetivou-se com esse trabalho analisar as práticas de Educação Ambiental realizadas pela
Escola de Referência em Ensino Médio João Fernandes da Silva em São João-PE, numa ótica

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

geográfica e sistêmica visando sua compreensão e importância na formação cidadã. Também teve
como objetivo, identificar e registrar por meio de observações e registros fotográficos as principais
práticas de educação ambiental no espaço escolar.

METODOLOGIA

A metodologia que se segue é pautada no âmbito da Geografia Humanista, sendo optado o


método sistêmico e de natureza qualitativa. É materializada por levantamento bibliográfico em
diversas fontes e, também, pesquisa de campo, a qual se realizou através da técnica de observação e
registros fotográficos para embasamento do trabalho. Utilizou-se imagem de satélite por meio do
programa Google Earth para localização e caracterização da área de estudo.
A Escola de Referência em Ensino Médio João Fernandes da Silva está localizada na
Avenida Joaquim Pereira dos Santos, Bairro Centro, na área urbana de São João-PE, nas
coordenadas geográficas 8º52‘19,40‖ de latitude sul e 36º21‘57,80‖ de longitude oeste. Tendo uma
elevação corresponde a 695 metros de altitude acima do nível do mar.

Figura 25 - Vista parcial através de imagem de satélite da área e entorno da EREM JFS.
Legenda:
Linha azul – área territorial da EREM JFS
Linha vermelha – Avenida Joaquim Pereira dos Santos
Linha Amarela – Rodovia (PE 177).
Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor, 2017.

Fundada em julho de 1966, a EREM JFS pertence a Rede Estadual de Ensino de


Pernambuco. Em 2012, foi implantado o Programa de Educação Integral e a mesma passa a ser
referência em ensino médio, pelo decreto nº 37.825, publicado no D.O 1º/02/2012. Dispõe três
modalidades de ensino, funcionando atualmente o Ensino Médio na modalidade Semi-integral, o
Ensino Médio Regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apresenta corpo discente composto
por 912 matriculados (dados de 2017). A faixa etária dos discentes está entre 14 e 17 anos no
sistema Semi-integral; entre 16 e 20 anos no Ensino Médio Regular e entre 20 e 50 anos na
modalidade EJA.
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para Beidack e Lima (2007, p. 211) citado por Belfort (2012, p. 19) ―o objetivo da EA é
preparar a sociedade para que esta desenvolva a ética em suas relações com a natureza, pois se
entende que os problemas ambientais só poderão ser resolvidos com cidadãos conscientes de seus
direitos e deveres‖. Diante do exposto, cabe considerar a escola como um dos lugares ideais para
que a EA tenha seus objetivos disseminados e que os resultados cheguem à sociedade num contexto
mais abrangente, tendo os próprios alunos a aquisição da capacidade crítica e consciente das
questões inerentes aos problemas ambientais e sejam os disseminadores de ideias e práticas que
amenizem tais problemas.
Ao discutir o tema ambiental inserido no ensino de geografia, Bortolozzi (1997) apud
Belfort (2012), afirma que:

A questão ambiental traz, em si, a semente de uma discussão que pode fazer germinar no
ensino de Geografia, juntamente com outras disciplinas, uma educação escolar integradora,
principalmente se ela se fizer através do estudo do espaço geográfico e de uma inovação
pedagógica de formação intelectual, partindo da construção de novos conhecimentos
concretamente ligados a vida dos alunos e de sua comunidade. Em nível escolar, a
Geografia estará auxiliando na formação de novos valores, iniciando nos adolescentes o
desenvolvimento de um espírito construtivo, estimulando dessa forma a sua formação
intelectual e cultural e emocional (BORTOLOZZI, 1997 apud Belfort, 2013, p. 26).

Tendo a EREM JFS como campo de estudo foi visto que a mesma trabalha com diversos
projetos pedagógicos, inclusive voltados para EA em suas ações efetivas. Dentre eles: Horta
Escolar, Projeto de Educação Ambiental e Arborização. Em análise ao PPP (2014) da EREM JFS, é
destacado que:

Projeto de Educação Ambiental: Ação didática que envolve os educandos, numa atividade
de cuidado com o ambiente. Nossa meta é obter um ambiente saudável e acolhedor, bem
como auxiliar na formação de agentes multiplicadores desta informação e atitude para a
comunidade, com ênfase na consciência dos problemas gerados pelo lixo e mudança de
atitude em relação ao tratamento do lixo doméstico. (PPP, 2014, p. 13).

Inerente ao Projeto Educação Ambiental é trabalhada diferentes ações durante o ano letivo,
bem como em datas específicas como o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 05 de
junho. Nesse dia/semana são vivenciadas diversas atividades pedagógicas em todas as disciplinas
do currículo da escola campo de estudo de forma interdisciplinar. Também são promovidas na
escola visitações de técnicos, especialistas para ministrarem palestras, dicas e práticas efetivas como
o plantio de árvores.
Em atividades de EA a reutilização e reciclagem de materiais são vistos com frequência pela
comunidade local. De materiais que estão em desuso, os alunos e professores conseguem
transformá-los/reutilizá-los no espaço escolar de forma que não sejam depositados em locais
inapropriados e que poluam o ambiente. Como exemplo tem-se os pneus de automóveis que foram

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

reutilizados para servir como protetor de plantas e assento na entrada da escola, tendo um local
aconchegante na escola ao adentrar (Figura 2).

Figura 26 - Utilização de pneus descartados pela EREM JFS.


Fonte: O autor, 2017. Adaptado.

Outras ações dentro do Projeto Educação Ambientais se têm os jardins suspensos


(Figura 3) através de palletes que são pendurados nas paredes, sendo plantadas mudas de flores
variadas.

Figura 27 - Jardins suspensos através de palletes.


Fonte: O autor, 2017.

Além dos palletes foi visualizado que os jardins suspensos são feitos com garrafas
plásticas do tipo PETI (Figura 4), evitando que elas fossem descartadas em locais não propícios,
dessa forma tendo um gerenciamento do lixo produzido pelos alunos da escola.

Figura 28 - Jardim suspenso com garrafas PETI.


Fonte: O autor, 2017.

Identificou-se que a EREM JFS envolve o alunado com as questões ambientais por meio de
desenhos artísticos feitos pelos alunos e professores em uma das paredes da escola. Esse desenho

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(Figura 5) evidencia a relação de elementos naturais no ambiente com a presença de pássaros e


árvores.

Figura 29 - Desenho artístico de elementos da natureza.


Fonte: O autor, 2017.

Outro processo importante no que concerne à educação ambiental na EREM JFS se trata dos
projetos de arborização. Essa ação viabiliza diversos benefícios, onde as árvores existentes nas
áreas verdes traz sombra, alimento, estética, bem estar social e ambiental, além de preservar
exemplares típicos do bioma local, a Mata Atlântica.

Figura 30 - Árvores na frente da EREM JFS.


Fonte: O autor, 2017.

Ainda sobre a arborização, a mesma tem a importância para realização de práticas


pedagógicas da escola. Além disso, ela serve de local agradável para descanso e conversas em
intervalos de aula.
Alusivo ao Projeto Horta o PPP da escola afirma que:

Horta escolar/canteiros: Espaço criado como fonte de observação, pesquisa e exploração da


multiplicidade das formas de aprender, visando a integração dos saberes das diversas áreas
para sistematização do conhecimento a fim de possibilitar ao educando aplicar os
conhecimentos construídos nas aulas para o manuseio do solo, técnicas de cultura orgânica
e alimentação saudável, bem como socializar experiências e compartilhar os conhecimentos
construídos (PPP, 2014, p. 12).

Nesse sentido a horta da EREM JFS (Figura 7), foi reativada no sentido de proporcionar um
local propício para aulas práticas, aplicando teoria à prática. Além de produzir alimentos saudáveis
para a comunidade escolar.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 31 - Horta escolar.


Fonte: O autor, 2017.

Em análise ao que foi exposto, é importante salientar que o estudo do meio ambiente pelo
olhar geográfico é necessário uma análise integradora. Para isso, é relevante um estudo por meio de
uma abordagem sistêmica, a qual tem o intuito de integrar, ligar partes dentro de uma unidade no
todo. Nesse caso, a abordagem sistêmica auxilia no estudo da geografia, do meio ambiente, da
educação ambiental de forma integrada.
Para Amador (2013, p 30), sobre o sistemismo na Geografia, afirma que ―o sistemismo
como forma de abordagem dos fenômenos, favorece desenvolver-se estudos de forma integrada
uma vez que, de um lado, pode-se interagir com a área das geociências e, de outro, com a área das
ciências sociais‖. É importante lembrar que ao discutir sobre sistemismo, é importante discorrer
sobre o conceito de sistema, que para Edgar Morin (2013) é ―uma unidade global organizada de
inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos‖ (MORIN, 2003 apud AMADOR, 2011, p. 87).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola como ferramenta indispensável para a formação cidadã dispõe em seus inúmeros
objetivos o de disseminar ideias que venham a agir de forma sustentável e positiva no meio
ambiente. Essas ações importantes na EREM JFS vêm somar e engrandecer o seu currículo, de
modo que os alunos saem, em sua maioria, com a consciência de preservar o seu meio através das
atividades que são propostas pela escola em seus projetos didáticos. Salienta-se que sejam
atividades lúdicas que favorece pedagogicamente ao ato de educar.
Considera-se que a escola campo de estudo se mostra preocupada com as questões inerentes
a problemática ambiental e busca alternativas que venham agregar e enriquecer o ensino e seu
espaço físico, obtendo até o momento ótimos resultados.

REFERÊNCIAS

AMADOR, Maria Betânia Moreira. Sistemismo e sustentabilidade: questão interdisciplinar. São


Paulo: Scortecci, 2011.

Abordagem Geográfica de Antigas Áreas Algarobadas. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2013.
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1447
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

BELFORT, Marisa Romi. Geografia e Educação Ambiental: uma abordagem introdutória. 2012. 22
f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia-Bacharelado). Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, 2012.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia. (5ª à


8ª séries). Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL, LEI nº. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a
Política nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm> Acesso em 27 jun. 2017.

ESCOLA DE REFERÊNCIA EM ENSINO MÉDIO JOÃO FERNANDES DA SILVA. Projeto


Político Pedagógico e Proposta Pedagógica: Escola de referência semi-integral. São João, 2014.

RODRIGUES, Renner Ricardo Virgulino. Considerações sobre a arborização da Escola de


Referência em Ensino Médio João Fernandes da Silva Em São João-PE: afeição e experiências
no lugar – 2017. 2017. 48 f. Monografia (Especialização em Ensino de Geografia) –
Universidade de Pernambuco, Garanhuns, 2017.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1448


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CRIATIVIDADE E REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS

Samara Thaisa Alves de MEDEIROS


Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPE
samarathaisa@gmail.com
Tatyane Nadja Martins de MENDONÇA
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental UFPB
tatyanemartinn@gmail.com

RESUMO
O ensino de ciências geralmente baseado em exposição de uma listagem de conteúdos a serem
abordados e fixados, distancia-se de uma metodologia interessante e motivadora. Também não há
uma preocupação com uso responsável de materiais em aulas práticas e eventos. Com isso, buscou-
se neste trabalho vivenciar práticas que pudessem tornar o processo de ensino-aprendizagem mais
ativo e sustentável. São relatadas aqui práticas docentes nos segmentos do ensino infantil e
fundamental II, a fim de compartilhar as técnicas e reflexões, na busca de um processo mais criativo
no ensino de ciências.
Palavras-chave: Reaproveitamento; modelos didáticos; aprendizagem ativa.
ABSTRACT
Teaching Science is usually based on simply exposing information to be memorized. This is very
far from an interesting and motivating methodology. There is also no concern with the responsible
use of materials during practical activities and events. Therefore, this work seeks to show practices
that allowed a more active and sustainable process of learning. We describe experiences from
intermediate kindergarten and middle school, as to share techniques and reflections in the search for
a more creative process in teaching science.
Keywords: Reuse; didactic models; active learning.

INTRODUÇÃO

O ensino de Ciências Naturais promovido nas instituições de ensino básico do Brasil tem
sido desenvolvido de forma expositiva, de um modo geral, embora historicamente tenha sido
incentivado a realização de práticas. Desde as décadas de 50 e 70, como apontado por
KRASILCHIK (2000), prevalecia uma estratégia de ensino através do método científico, e que a
modalidade didática recomendada nesse contexto era a aula prática. Contudo, tão logo se discutiu
que uma prática seguida como um receituário não tornaria o ensino significativo e crítico, apenas
apresentaria o ensino de ciências de forma técnica, ou seja, como a ciência fosse realizada com
procedimentos repetitivos e sem dificuldades. Atualmente, com o ensino voltado para realização de
exames (provas, simulados, Enem, vestibulares e concursos), o processo de ensino-aprendizagem
parece exigir uma exposição e memorização do conhecimento, com extensos conteúdos
programáticos que precisam ser desenvolvidos em um tempo curto pelo docente. É certo, que a

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

forma de desenvolver e apresentar um conteúdo faz toda diferença, é certo também que as
características de uma sala de aula, de uma turma, também limita a metodologia a ser aplicada, não
dá para desenvolver qualquer prática com qualquer turma. Mas, afinal, o que são atividades
práticas? Entendemos aqui como sendo ―Estudo do meio, experimentação, visita com observações,
entre outras, são exemplos do que podemos chamar de atividades práticas, fundamentais para o
ensino de Ciências‖ (ANDRADE, M. L. F.; MASSABNI, V. G., 2011). Esses autores ainda
destacam a preocupação com a ausência desse tipo de atividade no ensino de ciências,
principalmente nas séries iniciais.
Bem se sabe que, o cenário comum das salas no Brasil são de superlotação. Isso dificulta
metodologias ativas, visto que o tempo da aula não permite um acompanhamento individual nas
atividades, limitando as aulas ao expositivo, na maioria das vezes, ou práticas demonstrativas, sem
participação direta do aluno. Além das dificuldades citadas acima, desenvolver aulas dinâmicas,
com atividades práticas requer empenho e pesquisa por parte do docente, afinal não se aprende nas
universidades diversas metodologias criativas, apenas práticas pontuais. Essas, muitas vezes, não
podem nem ser desenvolvidas no ensino básico, seja por falta de laboratório, de equipamentos, ou
até mesmo de treinamento pelo docente. Sendo assim, deve-se convir que um ensino prático e
reflexivo de ciências, não é tarefa fácil no contexto de educação que se apresenta, trata-se mais de
um desafio que uma metodologia. Sendo assim, mediante a experiência de atividades realizadas
pelas docentes, compartilha-se aqui algumas práticas no ensino de ciências na educação infantil e
ensino fundamental II. Tentamos contribuir com a perspectiva de que o ensino das ciências da
natureza pode ser criativo e interessante, rompendo a barreira da precariedade de recursos e da visão
metódica de estudar os assuntos somente para a realização de exames.
Um foco especial é dado ao potencial do uso de materiais reutilizáveis, transformando o que
é tratado como lixo em materiais didáticos, com isso explora-se a vertente ambiental, no que tange a
problemática do lixo no mundo contemporâneo.

METODOLOGIA

Ao longo de 2 anos, 2015 a 2017, foram desenvolvidas em escolas de ensino privado da


grande João Pessoa (PB), nas turmas da educação infantil e do ensino fundamental II de
responsabilidade das docentes, estratégias de ensino mais criativas e dinâmicas, prezando pelo uso
de materiais recicláveis. Ao longo do processo de ensino-aprendizagem, foram desenvolvidos
recursos didáticos de valor pedagógico. No ensino infantil, houve alguma participação dos
educadores na confecção dos materiais, mas no fundamental II todos os materiais foram fabricados
exclusivamente pelos alunos, sendo apenas supervisionados pela professora. A experiência trouxe
reflexões às docentes, que são compartilhadas neste trabalho, aqui apresentadas em um resumo

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

sequencial - por segmento - das atividades desenvolvidas: o que se obteve de produto junto às
turmas, e as análises subjetivas do olhar das professoras sobre o processo. Finalizando, houve uma
crítica a respeito da quantidade de resíduos gerada em eventos e algumas sugestões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Processos de reutilização se mostram mais econômicos que a compra e uso desenfreado de


materiais escolares, mas algumas instituições ainda são resistentes. Resignificar um material é uma
forma de colocar esse processo nas mãos dos alunos e professores, de dar nova utilidade ao que já
cumpriu sua função e ainda fomentar novas estratégias pedagógicas no cotidiano escolar.

Educação ambiental no ensino infantil:

Por ser a primeira etapa da educação formal, é de grande importância para a formação do
alicerce da cidadania – responsabilidades, ética, consciência ambiental. O ensino de ciências nessa
fase é bem contextualizado. Estão na educação infantil as primeiras noções sobre animais, planetas,
materiais e suas propriedades, etc. Como se sabe, os educadores dessa fase são polivalentes,
formados em pedagogia. A prioridade no ensino infantil não são os conteúdos propriamente ditos,
mas ‗ensinar a aprender‘. Através de unidades como ‗Água‘, ‗Universo‘, ‗Transformações‘,
‗Aranhas‘, trabalha-se empatia, trabalho em equipe, desenvolvimento cognitivo e emocional.
Como professora assistente, pude perceber a riqueza que é o ano letivo de crianças de duas
turmas do Infantil V (de 4 a 6 anos de idade). Elas são muito curiosas e gostam de experimentar, o
que é ótimo para se explorar o mundo com olhos de um cientista. A educação ambiental pode ser
feita em momentos próprios para isso, através da conscientização com o meio ambiente, bichos,
plantas, água, lixo, etc. Mas também é feita dia a dia através das ações, pois crianças aprendem
muito mais por modelos comportamentais do que falas. Seguem alguns exemplos de práticas
desenvolvidas:

Reutilizar sobras de papéis usados para construir um barco

Essa atividade foi parte da unidade ‗Água‘ e teve como objetivo a exploração das
propriedades dos materiais quando em contato com o líquido. No caso, diferentes tipos de papéis:
qual absorve água, qual não absorve, o que flutua, o que pode ser dobrado, etc. Pode-se dizer que
são as primeiras noções de Física e Química. Os alunos foram convidados construir um barco
usando apenas materiais da ‗Caixa de sobras‘ (contendo pedaços de papéis diversos restantes de
atividades passadas). O barco seria colocado no tanque de água e deveria flutuar carregando cinco
ursinhos. Um exemplo de sucesso está na Figura 1 abaixo. Quando o barco não flutuava, a criança
era convidada a melhorar seu design, analisar outros papéis.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Barquinho de papel que conseguiu flutuar com ursinhos dentro. Fonte: Samara Medeiros,
2015.

Montar uma teia de aranha com prato de papel e barbante:

O que diferencia uma aranha de um inseto? Como a aranha faz a teia? Estão aí noções de
aracnídeos na Biologia. Os alunos receberam pratos de papel já com o centro cortado e perfurações
nas bordas para que, usando um barbante longo, construíssem uma teia de aranha (Figura 2).

Figura 2: Modelos da atividade de construção de teias de aranha. Fonte: Pinterest, 2017.

Propriedades dos líquidos:

Nesse experimento, o único material que necessitou ser comprado foi o leite. Os potinhos,
detergente, canudos e corantes foram conseguidos de sobras na própria escola. Cada aluno recebeu

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

um pote com leite. Em seguida, poderiam escolher duas dentre as três cores primárias - azul,
amarelo e vermelho (Figura 3a). A primeira etapa consistia em ver a cor resultante das duas cores
escolhidas, dado que o corante e o leite eram líquidos ―semelhantes‖, logo, se misturavam (Figura
3b). Por último, a professora cuidadosamente pingava detergente à mistura, levando os alunos a
perceber que o terceiro líquido, ―competia‖ com os líquidos do recipiente, que se afastavam (Figura
3c).

3b
3a
3c
Figura 3: Materiais utilizados no experimento do leite (3a); Cores se misturando no leite (3b); Detergente
reagindo com leite e corantes (3c). Fonte: Samara Medeiros, 2016.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II:

O ensino de Ciências no ensino fundamental II aborda desde a Terra e o Universo no 6º ano,


da biodiversidade nas turmas de 7º ano, do corpo humano no 8º ano, a uma abordagem mais
química e física, além da genética e biotecnologia no 9º ano. Claro, que esses tópicos são apontados
aqui apenas como temáticas gerais, mas, que na realidade são muito bem exploradas em subtópicos
por todo ano letivo. A educação ambiental vista como tema transversal, pode ser explorada em
qualquer conteúdo em qualquer momento do processo de ensino-aprendizagem de ciências; nos
trabalhos que serão apresentados a seguir, a estratégia foi na forma de apresentação dos conteúdos,
que vestiram-se de uma roupagem digamos que reciclada, ou no mínimo criativa e interativa na
promoção de um processo de ensino-aprendizagem criativo e crítico, uma vez que se é possível
incorporar a responsabilidade ambiental no processo.

6º ano - A Terra e o Universo

A construção de modelos (Figura 4) ajuda na fixação dos conteúdos. O tipo do material


utilizado dá oportunidade para reflexão e discussão do aspecto ambiental, principalmente da
responsabilidade do cidadão na redução e destinação correta dos seus resíduos.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4: Representações do Sistema solar e equipamentos para estudos. Fonte: Tatyane Martins, 2015.

7º ano - Biodiversidade

Jogos para explorar o conhecimento acerca da biodiversidade (Figura 5) podem ser


desenvolvidos com materiais simples, tais como, tecido cru, tinta e folhas - para produzir cartas. O
jogo foi intitulado como os colonizadores de Biomas, uma vez que explora a fauna e a flora dos
Biomas brasileiros.

Figura 5: Mapa mostrando os biomas do território brasileiro. Fonte: Tatyane Martins, 2016.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

8º ano - O Corpo Humano

Sistemas humanos podem ser explorados com a construção de modelos 3D, utilizandos-se
de técnicas de reciclagem do jornal (Figura 6).

6a)Processo de confecção da base 6b) Processo de confecção dos órgãos 6c) Sistema digestório
para fixação do sistema digestório. que compõe o sistema digestório.

Figura 6: Processo de confecção de sistema digestório a partir de folhas de jornal. Fonte: Tatyane Martins,
2015.

9º ano – Genética

Reutilizando pratinhos de isopor é possível desenvolver um simples ‗Jogo dos Alelos‘, uma
estratégia para entendimento de como se dá a segregação dos genes e suas combinações (Figura 7).

7a 7b
Figura 7: Pratinhos de isopor de supermercado (7a); Materiais de genética confeccionados (7b). Fonte:
Tatyane Martins, 2016.

EVENTOS ESCOLARES COMO OPORTUNIDADES PARA AMPLIAR ESSAS PRÁTICAS:


ANÁLISE CRÍTICA DO QUE TEM SIDO ENCONTRADO PELAS DOCENTES

Eventos escolares tais como feiras de ciências e datas comemorativas, têm gerado muitos
resíduos. Os alunos decoram os seus espaços e produzem maquetes que, na maioria das vezes, se
transformam em lixo logo após o evento. A prática fica distante da teoria desta forma, pois
ensinamos sobre os impactos ambientais, causas e consequências. Se não somos capazes de reduzir
o impacto ambiental de um evento escolar, há uma total discrepância entre o que se diz e o que se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

faz, conforme registros feitos na visita de alguns eventos desse tipo. Vejamos os seguintes exemplos
encontrados:

Situação 01: Descarte de pilhas

Alunos apresentam o trabalho sobre o impacto das pilhas nos solos e para as plantas. O
discurso é bem preparado, ou seja, os alunos sabem falar sobre o tema. Mas, veja o que se
encontrou ao final do evento (figura 8b) na sala onde o trabalho havia sido apresentado, uma das
pilhas utilizadas na demonstração, ou seja, uma contradição, e que se não fiscalizada e avaliada pelo
docente e feita as devidas intervenções, a educação ambiental fica somente no ambito da teoria.

8a 8b
Figura 8: Pilhas recolhidas para o Papa-pilhas (8a); Pilhas descartadas inadequadamente pelos alunos na
escola (8b). Fonte: Tatyane Martins, 2015.

Situação 02: Quantidade de resíduos pós Feira de Ciências

O uso de materiais de forma aleatória para ornamentar os eventos escolares geram muitos
resíduos, conforme se pode ver nas figuras 9a e 9b a seguir.

9a 9b
Figura 9: Papéis usados para diminuir a luminosidade gerada pelos cobogós (9a); Quantidade de resíduo
gerada por apenas uma sala ao final do evento (9b). Fonte: Tatyane Martins, 2015.

Com isso, há de se convir que se faz necessário um olhar diferente para os materiais que
deve-se usar no evento e estudar com os alunos o ciclo de vida do material. Também deve-se

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

escolher o destino mais adequado para cada material após o evento, para conseguir uma produção
mais limpa do evento.

CONCLUSÃO

Sabe a história de ―dei um presente caro para a criança, mas ela quis brincar com a caixa‖?
Crianças são criativas, imaginativas e, muitas vezes, o currículo escolar vai conseguindo
desestimular esse lado, com o qual todos nascemos. Somos, por natureza, cientistas
experimentadores. É como aprendemos sobre o mundo, as coisas e suas funções. Materiais didáticos
prontos têm sua importância, mas construir algo é muito mais pedagógico. O planejamento, a
experimentação, execução, tudo trabalha uma habilidade: coordenação motora grossa (dos grandes
movimentos corporais, como articulações de braços e pernas) e coordenação motora fina (de
manipulações com cola, tesoura, escrita, pintura, tão importantes para o desenvolvimento escolar).
Quando se fala em educação ambiental, muitos pensam em um momento anunciado para tal
finalidade, quando se explica o que é, como fazer, etc. Ela pode ser trabalhada inserida em qualquer
contexto, através de ações sustentáveis no dia a dia - como mostrado nesse trabalho - em vez de
discursos vazios. Há ainda práticas que podem ser adotadas de forma generalizada na escola, como:
○ Cada um trazer seu copo de casa em vez de usar tantos copos descartáveis ao longo
do dia;
○ Cada um ter sua toalha para enxugar as mãos num cabide perto da pia de sua sala,
reduzindo assim o consumo de papel toalha;
○ Promover competições saudáveis entre as turmas, como de ‗Árvores de Natal
sustentáveis‘ no fim do ano.
○ Ter uma área acessível onde todos podem vir depositar materiais, como por exemplo
a ‗Central do papelão‘, que funciona como um ―banco‖ do material, com depósitos
(de quem quiser fazer o descarte) e saques (quando há necessidade do material para
alguma atividade).
São práticas pontuais que começam modestas e seguem crescendo com a adesão de cada vez
mais membros da comunidade escolar. É uma necessidade devido ao crescimento do consumo no
mundo e o planeta à beira de um colapso. Educação necessita de coerência: a teoria ambientalista
não pode discordar da prática. Se a teoria diz que economizar recursos naturais é importante,
devemos vigiar para não comprar tantos materiais pra concretizar os projetos.
Pode-se perceber que a construção de modelos didáticos junto com os alunos os motiva,
tornando a aula mais prazerosa. Além disso, tem-se como resultados os jogos didáticos produzidos,
que passam a ser incorporados ao acervo didático da escola, podendo ser posteriormente
vivenciados por outras turmas, inclusive.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Por fim, a arte envolvida na construção de recursos pedagógicos trabalha uma necessidade
crescente no mundo competitivo: a expressão de emoções. Com a depressão e ansiedade sendo
consideradas os males do século (LELES, 2017), a arte vem oferecer uma válvula de escape às
pressões do mundo que nos são colocadas desde tão cedo. Trabalhar emoções é fundamental em
qualquer idade, mas especialmente na infância e adolescência, quando desenvolvemos a base da
nossa personalidade. Um educando que aprende a reconhecer e processar suas emoções cresce um
adulto mais feliz e equilibrado.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. L. F.; MASSABNI, V. G., 2011. O desenvolvimento de atividades práticas na


escola: um desafio para os professores de ciências. Ciência & Educação, v. 17, n. 4, p. 835-854,
2011

KRASILCHIK, M. (2000). Reformas e realidade o caso do ensino das ciências. São Paulo em
perspectiva, 14(1) 2000.

LELES, B. Ansiedade e depressão: os males do século? Aspas Sonoras, 13 jul. 2017. Disponível
em: http://site.medicina.ufmg.br/inicial/ansiedade-e-depressao-os-males-do-seculo/ Acesso em
30 out. 2017.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: DIÁLOGOS AMBIENTAIS COMO


INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO DE SABERES

Silenildo Rafael LOPES


Biólogo, Pós-graduando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFRN60
silenildo.bio@hotmail.com
Alana Gleise Dantas da Silva de MOURA
Geógrafa – UERN, especialista em Educação Ambiental61
alanagleise@bol.com.br

RESUMO
Vivenciamos atualmente diferentes tipos de crises, envolvendo assim diversos tipos de
conhecimento, ciência e tecnologia, aliado ao capitalismo desenfreado. É necessário, portanto,
considerar neste processo os indivíduos e suas culturas a partir do saber ambiental, constituído ao
longo de suas vidas. Assim, a educação ambiental assume um papel importante neste contexto, pois
é capaz de integrar diversos valores e saberes através do reconhecimento da importância que cada
ser possui em seu ambiente. Os Diálogos Ambientais emergem fundamentados nessa ideia, de
integrar os saberes ambientais locais e regionais e assim possibilitar a construção de novos
conhecimentos. As atividades ocorreram na Escola Estadual Maurício Freire, localizada no
município de São Paulo do Potengi/RN e em outros ambientes da cidade, sendo compostas por
palestras, mesas de diálogos, diálogos culturais, dinâmicas e caminhadas interpretativas. As
atividades contribuíram para o reconhecimento de problemas ambientais, sensibilização dos
estudantes envolvidos, compartilhamento de vivências ocorridas em diversos espaços e
oportunizaram a integração de conhecimentos fragmentados pela própria escola, necessitando de
discussões contínuas e ações efetivas com a participação da comunidade escolar e sociedade.
Palavras Chave: Vivências, Saber Ambiental, Sensibilização.
ABSTRACT
We are currently experiencing different types of crises, involving diverse types of knowledge,
science and technology, allied to unbridled capitalism. It is necessary, therefore, to consider in this
process the individuals and their cultures from the environmental knowledge, constituted
throughout their lives. Thus, environmental education plays an important role in this context, since
it is capable of integrating diverse values and knowledge through the recognition of the importance
each being has in his environment. The Environmental Dialogues emerge based on this idea, to
integrate the local and regional environmental knowledge and thus to enable the construction of
new knowledge. The activities took place at the Maurício Freire State School, located in the city of
São Paulo do Potengi/RN and in other environments of the city, being composed of lectures,
dialogues, cultural dialogues, dynamics and interpretive walks. The activities contributed to the
recognition of environmental problems, sensitization of the students involved, sharing of
experiences in various spaces and opportunities for the integration of fragmented knowledge by the
school itself, requiring continuous discussions and effective actions with the participation of the
school community and society.
Key Words: Experiences, Environmental Knowledge, Sensitization.

60
Professor da E. E. Maurício Freire.
61
Professora da E. E. Maurício Freire.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo apresenta mecanismos variados resultantes de diversos processos


em que o homem surge como um ser controlador, quer seja na economia, na ciência, na tecnologia,
na sociedade e na cultura. No entanto, esse controle, nem sempre controlado, impossibilita a
reflexão acerca de seus maiores beneficiados, seus impactos positivos e negativos, ou seja, quase
sempre desconsidera a complexidade sistêmica desses processos, provocando diferentes tipos de
crises – ambiental, social, econômica, política, ética, moral.
As duas últimas décadas apresenta uma profunda crise mundial. É uma crise complexa e
multidimensional e que afeta todos os aspectos de vida – a saúde, a qualidade ambiental, as relações
sociais, a economia, a tecnologia e a política. Constitui uma crise de dimensões intelectuais, morais
e espirituais. Portanto, pela primeira vez, depara-se com uma ameaça real de extinção do homem e
de toda vida no planeta. Essa crise atual não é apenas uma crise de indivíduos, governos ou
instituições sociais; é uma transição de dimensões planetárias cujos indivíduos, sociedade,
civilização ou ecossistema planetário encontra-se em um momento decisivo (CAPRA, 1982, p. 11).
Crises ambientais são problematizadas através de paradigmas do conhecimento no
qual exige novas metodologias que orientem os processos de reconstrução do saber e possibilite a
realização de uma análise da realidade. O processo do qual emergiu a ciência moderna e a
Revolução Industrial, constituiu-se como uma das principais causas dos problemas ambientais,
levando distinção as ciências e ao fracionamento do conhecimento. Assim, buscou-se métodos
capazes de reintegrar os conhecimentos dispersos num campo unificado do saber e que orientem
práticas de interdisciplinaridade. Desta forma, os problemas ambientais, constituídos por processos
naturais e sociais, não serão compreendidos nem resolvidos sem a integração de campos diversos do
saber (LEFF, 2002, p. 60).
A crise ambiental, portanto, é uma crise da razão, do pensamento e do conhecimento. A
complexidade ambiental se traduz numa reapropriação do conhecimento desde o ser do mundo e do
ser no mundo a partir do saber e da identidade que se incorporam aos indivíduos e suas culturas. A
construção do processo de complexidade ambiental, ocorre a partir do diálogo de saberes, da
hibridização da ciência, da tecnologia e dos saberes populares. Portanto, a educação ambiental se
constitui como processo dialógico capaz de fertilizar e abrir possibilidades para que se constitua a
ser o que ainda não se é (LEFF, 2009, p. 23).
Pensamento semelhante é apresentado por Rodriguez e Silva (2016, p. 142) em que
argumentam que a educação ambiental deve ser incorporada a partir do saber ambiental, unindo os
conhecimentos científico e popular.
Não se alcançam os objetivos da educação ambiental apenas com o ensino de métodos
sistêmicos, práticas interdisciplinares ou com uma matéria de caráter integrador. O processo de
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

educação ambiental é complexo e exige a criação de um saber ambiental e sua assimilação


transformadora às disciplinas (LEFF, 2015, p. 213). Visa também a formação e a preparação de
cidadãos para reflexão crítica e ação social corretiva ou transformadora do sistema e que contribua
na viabilidade do desenvolvimento integral do ser humano. Contudo, a educação ambiental não
deve ter como único objetivo a consciência ecológica que, sozinha, não garante ação
transformadora, necessitando para isso que conhecimentos e habilidades sejam incorporados e
atitudes sejam tomadas (PHILIPPI JR.; PELICIONI, 2014, p. 3).
Necessitamos também mudar a forma como buscamos entender o ambiente no qual somos
parte, almejando mudar as estratégias da educação ambiental para novas formas de pensar e agir
através de experiências com a natureza. Portanto, a educação ambiental deve ser compreendida
como processo permanente de aprendizagem que valoriza os diferentes conhecimentos e visa a
formação de cidadãos com consciência local e global (CHAGAS, 2011, p. 27). As ações de
educação ambiental, além de ensinar princípios ecológicos e culturais que constituem o meio
ambiente, devem possibilitar a formação de cidadãos sensíveis e críticos aos problemas
socioambientais (SILVA; ARAÚJO, 2016, p. 115).
A educação ambiental contemporânea exige um novo pensar fruto das experiências
vivenciadas, em que a escola tem o papel de converter-se em uma pequena democracia em ação
onde se pratique o diálogo, se discuta os erros com responsabilidade e que se configure num espaço
de participação ativa para os atores do sistema educativo (CHAGAS, 2011, p. 33-35).
Na visão de Figueiró (2016, p. 83), algumas dificuldades são relatadas por professores,
sendo a principal delas a falta de tempo para trabalhar a educação ambiental como forma de
conteúdo curricular. Desta forma, a educação ambiental não agregará conhecimento científico novo
além do que os componentes curriculares realizam. O autor ainda acrescenta que,

o ambiental da educação está no olhar, no conectar, no contextualizar, no sentir, e não na


informação que se possa acumular. Assim, o desafio teórico-metodológico da educação
ambiental consiste exatamente em não torná-la um laboratório de ciências aplicadas, e sim
um espaço de religação, reconstrução e contextualização dos conhecimentos fragmentados
que os indivíduos incorporam nos distintos espaços da vida por onde transitam
(FIGUEIRÓ, 2016, p. 83).

Outra dificuldade apontada pelos professores é de como trabalhar a educação ambiental


interdisciplinarmente. Diante desse fato, é preciso desenvolver estratégias que além de promover
conhecimento de questões ambientais, considerem principalmente os aspectos loco-regionais
(ABÍLIO, 2004, p. 295).
Chagas (2011, p. 116), propõe que para construção do conhecimento transdisciplinar é
necessária uma Educação Ambiental Corporalizada que considere as dimensões ontológica,
epistemológica e metodológica de forma interativa e capaz de proporcionar a religação de saberes.
Associado a este pensamento, Santos e Meneses (2009, p. 45) propõem a ecologia de saberes, que

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

parte do conceito e do reconhecimento da diversidade epistemológica do mundo e de outras formas


de conhecimento além do científico e que, portanto, toda experiência social produz e reproduz
conhecimento.
Diante do exposto, o presente artigo visa apresentar e discutir os resultados produzidos
durante os Diálogos Ambientais, assumindo papel fomentador de debates, considerando o saber
ambiental adquirido e os aspectos locais e regionais.

METODOLOGIA

A proposta dos Diálogos Ambientais configura-se como um espaço destinado à discussões e


análises de variadas questões através de abordagens interdisciplinares, surgindo da eminente
necessidade de criar dentro da escola ambientes abertos aos estudantes e a comunidade para pensar
e discutir sobre diversas situações através de vivências apresentadas por diferentes atores. Além
disso, resgata a cultura, a história, as tradições e a importância do espaço natural para a sociedade
contemporânea e, deste modo, atua no encontro de uma racionalidade ambiental.
As atividades dos Diálogos Ambientais foram realizadas durante três dias do mês de junho
de 2016 na Escola Estadual Maurício Freire, nas margens do rio Potengi, na barragem Campo
Grande e na praça Monsenhor Expedito, ambos localizados no município de São Paulo do
Potengi/RN.
Considerou-se como público-alvo principal, todos os alunos da escola Maurício Freire,
situada no núcleo urbano do referido município e considerada a maior instituição de ensino do
território Potengi. A instituição atende exclusivamente o Ensino Médio e possui atualmente 675
alunos matriculados nos três turnos. No entanto, todas as atividades foram abertas à comunidade
escolar e demais instituições de ensino.
Foram discutidos diversos temas como recursos hídricos, solo, ar, poluição, educação, seca,
semiárido e resíduos sólidos. Quanto aos procedimentos, utilizou-se palestras, mesas redondas
(mesa de diálogos), apresentações culturais (diálogos culturais), mostra de vídeos, debates,
caminhadas interpretativas e dinâmicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o desenvolvimento das atividades, constatou-se a sensibilização dos alunos envolvidos


a partir da discussão de situações-problemas vivenciados, que levou em consideração o saber
popular e ambiental da comunidade e dos convidados, através de diferentes olhares e com a
participação ativa do público presente em cada atividade, demonstradas na tabela 1.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Durante todos os momentos buscou-se reconhecer a realidade local através de dois olhares,
do passado e do contemporâneo. Assim, o projeto favoreceu a percepção da qualidade do espaço de
vivência e da relação Homem-Natureza e a construção de novos conhecimentos.
O conhecimento ambiental, como assinala Rodriguez e Silva (2016, p. 141), deve resultar de
um processo de construção de conceitos pelos estudantes baseados em suas significações primárias.
A aprendizagem deve considerar o conhecimento tradicional e o saber popular através dos seus
elementos básicos constituídos pelos saberes individual, local, global, singular, concreto e prático.

Tabela 1: Resultado da primeira etapa do projeto Diálogos Ambientais.


Atividades Resultados
Mostra de vídeos
Conhecimento e discussão de diferentes temas.
(água, solo e ar) e debates
Sensibilização sobre a contribuição do indivíduo
Palestra: Desafios ambientais no
nos problemas ambientais e como sujeito de
mundo contemporâneo.
mudança.
Compartilhamento de experiências de vida em
Mesa de diálogos: Momentos de vida
diferentes épocas.
em paisagens naturais.
Construção de novos saberes ambientais.
Compartilhamento de vivências em projeto de
pesquisa no rio Potengi (E.E. Maurício Freire e
Vivência em projetos ambientais e
Escola Agrícola de Jundiaí/UFRN).
caminhada interpretativa
Reconhecimento de causas e consequências da
poluição do rio Potengi, São Paulo do Potengi/RN.
Apresentações culturais voltadas as questões
Diálogos culturais
ambientais.
Fonte: Os autores.

A mesa de diálogos (Figura 1), a palestra e as atividades de vivência, oportunizaram os


envolvidos a descontruírem conceitos pré-estabelecidos e construção de novos saberes, auxiliando a
ampliação de novos horizontes através do resgate histórico e compreensão do espaço natural e
construído da atualidade. Possibilitou o compartilhamento de experiências em diferentes épocas às
margens do rio Potengi, reconhecendo sua importância cultural, histórica, econômica, social e
religiosa e comparando-as com a situação atual, de desvalorização política, de seca e degradação
ambiental. Rigonato e Santos, (2016, p. 49), em trabalho desenvolvido no rio Guará, afirmam que
preservar e valorizar os modos de vida e os saberes ambientais tradicionais da comunidade local,
contribuem com a conservação das paisagens. Tais situações, colaboram para a expressão dos
valores simbólicos das paisagens para os indivíduos, criando identidades com o seu lugar (Rigonato
e Santos, 2016, p. 44) e permitem a compreensão das representações sociais que, na visão de
Reigota (2010, p. 72), constituem diferentes princípios construídos interativamente e posteriormente
compartilhados por grupos que compreendem e transformam suas realidades.
Neste contexto, Reigota (2010, p. 27) afirma ainda que a Pedagogia Dialógica se origina de
trabalhos realizados por Paulo Freire e, atualmente, baseia-se na interação entre pessoas e

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

elaboração de alternativas ambientais, exigindo a prática e o aprendizado do diálogo entre diferentes


gerações, culturas, hábitos, conhecimentos científico e tradicional.

Figura 1: Mesa de diálogos.


Fonte: Os autores.

A caminhada interpretativa em trechos do rio Potengi, permitiu o reconhecimento de sua


relevância ambiental e socioeconômica, o regaste histórico da relação rio-cidade e da sua
importância para o surgimento e desenvolvimento da mesma. Além disso, destaca-se a identificação
pelos envolvidos de alguns problemas ambientais no rio supracitado como o despejo de esgotos sem
tratamento, uso e ocupação irregular do solo, assoreamento, degradação da mata ciliar e descarte de
resíduos sólidos em suas margens. Ações de interpretação ambiental deste tipo são importantes
pois, como descreve Chagas (2011, p. 42), corresponde a um instrumento de educação ambiental
cujo objetivo é conectar as pessoas com o seu lugar, estimulando as pessoas a compreenderem o seu
entorno ecológico.
A mostra de vídeos e os diálogos culturais fomentaram discussões e troca de ideias a
respeito da qualidade ambiental em diversos ecossistemas e a interdependência existente entre eles
e ainda o papel da escola quanta instituição social e que pode contribuir para a sensibilização
ambiental interna e da comunidade em que se encontra inserida.
As atividades atuaram na aglutinação dos conhecimentos fragmentados da escola,
permitindo a construção de novos saberes de forma sistemática e complexa, considerando a relação
Natureza-Sociedade e conduzindo ao que Rodriguez e Silva (2016, p. 142) descreve como a
reelaboração epistemológica das ciências. Assim, visualiza-se o ambiente de vivência como um

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

espaço de aprendizagem permanente, em que o conhecimento tradicional também deve ser


considerado nos processos formais de ensino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Diálogos Ambientais fomentaram a integração e o compartilhamento de diferentes


conhecimentos e realidades, buscando a manutenção e o surgimento de novos saberes ambientais.
Contudo, percebe-se a necessidade de continuidade dessas discussões para que outras
experiências sejam vivenciadas, resgatadas e aprimoradas e surjam assim novos conhecimentos.
Esses conhecimentos que hora são construídos coletivamente e diversamente, precisam e devem
estar associados a tomadas de decisões e efetividade em ações concretas e que permitam envolver
toda a comunidade escolar e a sociedade local.
Para que se produza novas ações, fundamentadas por novos conhecimentos, é preciso o
reconhecimento mútuo da importância da vida do outro, seja o homem ou demais seres vivos. É
necessário enxergar as relações de dependência do ser humano perante a Natureza. São esses,
portanto, os passos iniciais para a valorização das vivências e para a construção de novos
conhecimentos, aliando ciência e o saber tradicional.

REFERÊNCIAS

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escola sustentável. In: Giovanni Seabra (Org.). A conferência da Terra: agricultura familiar,
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DE ENSINO MÉDIO E


PROFESSORES DE BIOLOGIA: MATA CILIAR COMO EIXO INVESTIGATIVO

Sonaly Silva da CUNHA


Especialista em Etnobiologia pela UEPB
Sérgio de Faria LOPES
Professor Dr. Em Ecologia da UEPB
defarialopes@gmail.com
Maiara Bezerra RAMOS
Mestranda em Ecologia Vegetal pela UEPB
maiarabramos@hotmail.com
Humberto de Almeida ARAÚJO
Graduando do curso de Biologia da UEPB
Humbertoalmeida4@gmail.com

RESUMO
Os estudos de percepções ambientais veem sendo apontados como recursos valiosos para mediar
possíveis soluções para as problemáticas ambientais, a partir de práticas de Educação Ambiental
condizentes justamente com as visões, atitudes e valores de cada grupo social. Assim, o presente
trabalho tem caráter exploratório e seus resultados foram analisados conforme uma abordagem
qualitativa, cujo objetivo foi investigar quais as percepções dos alunos do 2º ano do ensino médio e
seus respectivos professores de Biologia de escola pública e privada apresentam sobre mata ciliar e
questões ambientais que se relacionam no meio. Os resultados mostram a presença de uma
concepção tradicional de Educação Ambiental dos professores, o que reflete a visão naturalista
predominante entre os alunos de ambas as escolas.
Palavras chave: Educação Ambiental, Visão naturalista, Pesquisa Qualitativa.
ABSTRACT
Studies of environmental perceptions has arguably been valuable resources to mediate possible
solutions to environmental problems, from environmental education practices precisely consistent
with the views, attitudes and values of each social group. Thus, the present study is exploratory and
its results were analyzed according to a qualitative approach, whose objective was to investigate the
perceptions of students of the 2nd year of high school and their public and private school biology
teachers present on the riparian vegetation and environmental issues that relate in the middle. The
results show the presence of a traditional conception of Environmental Education of teachers,
reflecting the prevailing naturalistic view between students from both schools.
Keywords: Environmental Education, Naturalistic view, Qualitative research.

INTRODUÇÃO

As matas ciliares correspondem às vegetações que cercam os cursos de água, apresentando


como funções, protegê-los, além de fornecer alimentos e abrigo a fauna, evitar erosões nos solos e
preservar a biodiversidade, uma vez que há uma interdependência entre a floresta e a água

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(LEANDRO; VIVEIROS, 2003). Em face de tamanha importância, estes sistemas florestais são
estabelecidos pelo código florestal brasileiro (Lei 12.651), como Áreas de Preservação Permanente
(APPs) ( CASTRO et al., 2013). Contudo, ainda assim, o cumprimento da legislação continua sendo
negligenciado ( PRIMO; VAZ, 2006; RIZZO, 2007).
Diversos estudos destacam a supressão das matas ciliares, como uma questão preocupante,
uma vez que as matas veem sendo altamente devastadas (CARVALHO; ROCHA; MISSIRIAN,
2009). Os altos índices de desmatamento destas áreas ocorrem devido a vários motivos, dentre eles
o desmate em detrimento à construção de estradas, hidrelétricas, ocupação urbana, agricultura
irrigada, ocupação com pastagem para rebanho bovino, assim como extração de madeira e minerais
(HOLANDA et al., 2011).
No entanto, partindo do pressuposto que a degradação das matas ciliares não é percebida
pela maioria das pessoas (CARVALHO; ROCHA; MISSIRIAN, 2009), urge neste contexto, a
formação de cidadãos conscientes, para a qual é indispensável os trabalhos de percepção ambiental
(PA) (MARQUES; CARNIELLO; NETO, 2010), uma vez que, os estudos de percepção norteiam
as práticas de Educação Ambiental que envolvam a sensibilização, conscientização e o
esclarecimento referentes às questões ambientais (OLIVEIRA; CORONA, 2011).
Nesta perspectiva, espera-se da escola que por esta tratar-se de um espaço social e um local
onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização, adote condutas ambientalmente
corretas, por suas práticas serem entendidas como aquilo que é desejável ter na sociedade,
auxiliando assim, na formação de cidadãos responsáveis (FREITAS; RIBEIRO, 2007). Farias et al.
(2012), apontam que a educação é um fator preponderante da efetiva consciência humana,
fundamental para entender e buscar soluções para os problemas ambientais.
O grande desafio da educação para seu efetivo cumprimento do papel social, porém, está na
ruptura de como são organizados os currículos e abordados os conteúdos. De acordo com Gerhard e
Filho (2012), o currículo escolar é estruturado de forma que fragmenta o conhecimento e tem
comprometido a educação, uma vez que, trata separadamente e de forma desconexa partes
interligadas do saber. Nesse sentido, emerge neste cenário a necessidade de uma abordagem
interdisciplinar, que permita compreender as partes de ligação entre as diferentes áreas de
conhecimento, unindo-se para transpor algo inovador, abrir sabedorias, resgatar possibilidades e
ultrapassar o pensar fragmentado (BONATTO et al., 2012). Este é um importante viés a ser
perseguido pelos educadores ambientais, onde se permite, pela compreensão mais globalizada do
ambiente, trabalhar a interação em equilíbrio dos seres humanos com a natureza (COIMBRA,
2010).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Em frente a estas problemáticas, o presente trabalho teve como objetivo investigar quais as
percepções dos alunos do 2º ano do ensino médio e seus respectivos professores de Biologia
apresentam sobre mata ciliar e questões ambientais que se relacionam no meio.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo foi realizado em duas escolas (uma pública e outra privada) localizadas na cidade
de Campina Grande-PB. A seleção das escolas foi por disponibilidade e devido aos vínculos
mantidos pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) com uma das instituições, como também
em face a facilidade de acesso, em virtude da proximidade das mesmas. O critério pela delimitação
da série a ser investigada, foi devido ao ensino médio tratar-se da última etapa da educação básica
como consta no art. 35 da Lei de Bases e Diretrizes, e assim é importante, analisar com quais
concepções estes jovens estão saindo da escola. Tendo em vista, que suas percepções estão
intrinsecamente vinculadas à suas práticas. Assim, a pesquisa foi realizada com alunos do 2 º ano do
ensino médio e seus respectivos professores de Biologia totalizando uma amostra de 51
entrevistados. Os questionários foram aplicados no mês de agosto de 2014, conforme a
disponibilidade das escolas. Foi enviado um ofício antecipadamente, informando as respectivas
instituições sobre os objetivos da pesquisa e da garantia do sigilo a identidade das mesmas e de seus
alunos e professores.
A abordagem metodológica da pesquisa foi quali-quantitativa. O estudo contou com a
aplicação de questionários semiestruturados, com questões abertas e de caráter direto referentes às
percepções dos discentes sobre a mata ciliar, reservatórios aquáticos (açudes), degradação dos
ecossistemas aquáticos, meio ambiente e medidas para preservá-lo. No questionário direcionado aos
docentes, buscou-se analisar o conceito de Educação Ambiental e como era abordada na prática
escolar, bem como questões referentes às matas ciliares.
O método de análise consistiu em identificar, em cada resposta dos sujeitos da pesquisa, a
palavra e/ou expressão que representasse o seu núcleo de sentido. Após o trabalho de transcrição de
todos os conteúdos foi realizada a codificação dos dados brutos. Nesse sentido, cada sujeito da
pesquisa recebeu um código identificador (participante 1, 2 etc) e da escola a qual o sujeito
pertence: Epu (escola pública) e Epri (escola privada).
As categorias referentes as concepções ambientais foram classificadas conforme Reigota
(1995) em: naturalista, antropocêntrica e globalizante. As outras respostas foram classificadas em
categorias e/ou subcategorias que agrupassem esses núcleos de sentido por suas semelhanças e
diferenças. Tais categorias foram, portanto, criadas empiricamente e representam uma compilação
de todas as respostas e opiniões fornecidas pelos sujeitos da pesquisa. Algumas opiniões que foram

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

julgadas como relevantes ao trabalho, mesmo que aparecendo nas respostas de apenas um dos
participantes, também foram consideradas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo os sujeitos da pesquisa, constatou-se predominantemente a visão naturalista


referente ao meio ambiente dos discentes de ambas as escolas, como mostra a Figura 1. Tais
resultados estão em consonância com trabalhos realizados por outros autores (BEZERRA;
GONÇALVES, 2007; RODRIGUES; MALAFAIA, 2009). Os alunos restringem o meio ambiente à
aspectos naturais, eliminando-se do próprio contexto. Os trechos abaixo ilustram essas concepções:

Meio ambiente é a natureza em si própria [...] É tudo que vemos ao nosso redor, como
plantas, árvores, rios, lagos, entre outros [ participante 15, Epu]
É todo o conjunto do meio onde vivemos, interligando a fauna e a flora [ participante 30,
Epri]

Observou-se que muitos discentes confundiram meio ambiente com fauna e flora, o que
segundo Vasconcelos e Santos (2007) é muito comum. Essa concepção de meio ambiente tem
inúmeras implicações, uma vez que, ao colocar-se como elemento a parte, também exclui o papel
predominantemente desempenhado pela espécie humana sobre os demais elementos da biosfera e,
na sua responsabilidade direta no que tange a conservação ou extinção dos ecossistemas, bem como
todas as suas formas de vida (RODRIGUES; MALAFAIA, 2009). De acordo com Oenning e
Carniotto (2011), a própria mídia contribui para incutir essa visão naturalista de meio ambiente, de
modo que a maioria das informações transmitidas a respeito nos leva a pensar naquilo que é natural,
que não foi feito pelo homem, na natureza intocada.

100%
Escola…
80% Escola…

60%

40%

20%

0%
Naturalista Antropocêntrica

Figura 1. Concepções ambientais de alunos do 2° ano de escola pública e privada localizadas em Campina
Grande, PB.

Os demais alunos apresentaram uma concepção antropocêntrica (31%). De acordo com


essa visão, observa-se que os alunos veem o meio ambiente de uma forma utilitarista, apenas na

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

perspectiva do uso dos recursos naturais, no intuito de assegurar a própria sobrevivência. O que na
ótica de Souza; Faria e Pereira (2011), se justifica, porque ao passo em que o ser humano se
distanciou da natureza, passou a encará-la como um objeto a ser preservado, protegido e cuidado
com intuito de ser explorado, pois deste objeto o homem retira os recursos necessário para a sua
própria sobrevivência. A visão antropocêntrica é caracterizada, também, pelo sentimento de
superioridade do homem em relação aos demais seres vivos, a qual tem origem nos aspectos
culturais e até mesmo religiosos (OENNING; CARNIOTTO, 2011). Os trechos abaixo representam
essa visão dos alunos:

Meio de equilíbrio entre homem e natureza com presença de elementos necessários à vida
humana. [participante 21, Epu]
Espaço e os seres vivos que ocupam e dele retiram o necessário para sua sobrevivência.
[participante 27, Epri]

A preocupação, nesta perspectiva para preservar os recursos provenientes do meio ambiente,


está relacionada ao benefício próprio, uma vez que os impactos causados ao mesmo, comprometem
o ser humano em algum aspecto.
Os resultados relacionados ao conceito de mata ciliar mostram diferenças entre o nível de
conhecimento apresentado dos alunos da escola pública e particular, uma vez que, enquanto todos
os alunos desta última responderam afirmativamente a essa questão, definindo de maneira unânime
como uma vegetação ao longo de rios, lagos e açudes. Em contrapartida, apenas um discente da
escola pública soube responder a essa assertiva. Os alunos que afirmaram saber o que é mata ciliar
da escola particular, apontaram variáveis funções desempenhadas pela mesma, as quais estão
expostas na Figura 2.

45%

40%

35%

30%

25% Escola Pública

20% Escola Particular

15%

10%

5%

0%

Figura 2. Funções desempenhadas pela mata ciliar, conforme os alunos de escolas pública e privada
localizadas em Campina Grande, PB.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Uma vez que, os reservatórios aquáticos mantêm estreitas relações com as matas ciliares,
buscou-se nesse sentido analisar qual o nível de conhecimento dos discentes a respeito da temática.
Nesse intuito, foi perguntado aos alunos qual a importância dos reservatórios aquáticos, verificando
então que, a maioria dos alunos tanto da escola pública quanto particular, apontaram
predominantemente o fornecimento de água para suprir as necessidades humanas (Figura 3). Estes
dados refletem justamente a visão antropocêntrica de parte dos alunos, na qual veem a importância
dos recursos hídricos principalmente em relação à própria existência.
Não o bastante, tais resultados chamam atenção para outra questão, uma vez que, a
degradação dos recursos naturais mediante as ações antrópicas pode estar associada a ausência ou a
reduzida percepção sobre a importância dos ecossistemas representada pelos bens e serviços
providos por estas áreas, como destaca Molisani (2009). Assim, de acordo com o autor, uma
alternativa para esta problemática, concentra-se justamente em práticas voltadas a Educação
Ambiental que corroborem em mudanças na percepção sobre os bens e serviços fornecidos pelos
ecossistemas aquáticos no intuito de tornarem significativas as ações pela sua recuperação e
preservação. Petrovich e Araújo (2009) também ressaltam, a importância dos estudos de percepção
ambiental e práticas de Educação Ambiental, como ferramentas de sensibilização e conscientização
para os problemas ambientais relacionados à água.

30%
25%
20% Escola Pública
Escola Particular
15%
10%
5%
0%
Fornece água para Mantém a Armazena água à Respostas vagas Não respondeu Mantém uma
suprir as biodversidade longo prazo temperatura amena
necessidades
humanas

Figura 3. Importância dos reservatórios aquáticos apontada pelos alunos de escolas pública e privada
localizadas em Campina Grande, PB.

Por outro lado, quando questionado quais as consequências da degradação dos reservatórios
aquáticos e vegetação em torno deles, constatou-se que os alunos da escola pública apresentam
dificuldades em responder esta questão, demonstrando respostas confusas (8%), afirmaram não
saber (8%) ou não responderam (4%). Por sua vez, a escola particular, apresentou respostas mais
diversificadas, embora uma pequena parcela tenha deixado o espaço em branco (6%) ou ter ficado
bem esclarecido (2%). Assim, mais uma vez nota-se diferenças no conhecimento exibido pelos
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

alunos entre as escolas (Figura 4). Um dado interessante, porém, é que uma pequena parcela dos
alunos da escola pública associou os problemas ambientais aos sociais, como fica evidenciado ao
relacionarem a degradação dos ecossistemas aquáticos a proliferação de doenças. Essa percepção é
muito importante, uma vez que, a compreensão de como a água e a saúde estão relacionadas
permitirá a tomada de decisões com mais efetividade e impacto (PETROVICH; ARAÚJO, 2009).
Os discentes de ambas as escolas mostraram-se em sua maioria sensíveis quanto às
problemáticas ambientais. Entre os alunos da escola pública foi citado que ao se depararem com
pessoas jogando lixo na rua ou desperdiçando água, buscam conscientizá-las. No tocante à essa
assertiva, em contrapartida, é importante ressaltar, que uma parcela dos alunos da escola particular
afirmou não se preocupar com o meio ambiente (8%). Isto evidencia justamente, essa perda de
pertencimento do ser humano em relação ao meio ambiente e como não se veem no cenário
ambiental, esta percepção, impede que o mesmo se sensibilize frente às questões ambientais e
apresente atitudes conscientes em relação às mesmas.

25%
Escola Pública
20% Escola Particular

15%

10%

5%

0%

Figura 4. Consequências da degradação dos ecossistemas aquáticos e da mata ciliar apontada pelos alunos de
escolas pública e privada localizadas em Campina Grande, PB.

Partindo desse pressuposto, são baseadas em percepções como estas, que o processo
educativo torna-se imprescindível, constituindo-se, preponderantemente, a partir de experiências
educativas que facilitem a percepção integrada do ambiente, percepção de que ser humano é
natureza, e não apenas parte dela (NETO; AMARAL, 2011).
Em relação ao questionário aplicado aos professores, uma vez que, estes são vistos como
mediadores entre o aluno e o conhecimento e assim é de extrema importância analisar suas
concepções, as quais podem, em muitas das vezes, estar diretamente ligadas às visões dos alunos. É
essencial que os docentes tenham conhecimento do conceito e objetivos da Educação Ambiental,
tendo em vista que a forma como ela é trabalhada está vinculada a concepção que se tem

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

(VASCONCELOS; SANTOS, 2007). Nesta perspectiva, verificou-se que o professor da escola


pública e ambos os professores da escola particular, apresentam uma visão tradicional sobre a
Educação Ambiental, ao conceitua-la apenas como um subsídio para conscientizar os alunos a
preservar o meio ambiente. De acordo com Vasconcelos e Santos (2007) é justamente as ações
educacionais fundadas nesta concepção, que contribui para a visão naturalista predominante entre
os alunos da educação. Ao mesmo tempo, destaca-se que a concepção de Educação Ambiental
destes professores limita o papel desta à conscientização ambiental, o que aponta para falta de um
embasamento teórico que capacite os professores a promover nos alunos a construção e
reconstrução de conhecimentos e valores ambientais que transcenda apenas o cultivo ao respeito à
natureza, como ressalta Oliveira; Obara; Rodrigues (2007).
Atrelada essa questão, buscou-se investigar como os docentes inseriam a Educação
Ambiental em suas práticas. A professora da escola pública respondeu utilizar desenhos, palestras,
cartilhas e vídeos, enquanto que mais uma vez, a escola particular se destacou frente aos recursos
usados para explorar a Educação Ambiental no âmbito escolar, contando com a participação dos
alunos em palestras, cartilhas, músicas, vídeos, debates, teatro, painéis educativos e aulas de campo.
Sendo estas últimas essenciais para permitir que o aluno ao manter contato com o meio, se
sensibilize acerca dos problemas ambientais (VIVEIRO; DINIZ, 2009), e consequentemente,
contribua para a construção de nova ótica na relação entre o homem e a natureza (SENICIATO;
CAVASSARI, 2004). No entanto, no que concerne essa questão, como afirma Vasconcelos e
Santos (2007), observa-se que as práticas educacionais voltadas à Educação Ambiental nas escolas,
se resumem a projetos como reciclagem de lixo, semana do meio ambiente, plantio de árvores, entre
outras atividades e não se comprometem com seu objetivo geral, que é a formação da cidadania.
Silva, Costa e Almeida (2012), também apontam a visão estreitamente naturalista e conservadora
com a qual a Educação Ambiental é introduzida nos âmbitos escolares, de forma que as aulas
teóricas e práticas funda-se em um teor unicamente ecologizante, dissociando das discussões
econômicas, políticas, culturais e sociais.
Os resultados aqui encontrados justificam as dificuldades da implementação efetiva da ED
nas práticas educacionais é justamente por não haver uma clareza do que sejam meio ambiente e
Educação Ambiental, como destacam Oliveira; Obara e Rodrigues (2007). Nesse sentido, esta
importante ferramenta acaba sendo trabalhada de forma descontextualizada e fragmentada, que na
realidade não contribui para a construção de uma consciência crítica.
Por último, foi questionado aos docentes sobre o conceito de mata ciliar e suas funções, uma
vez que, conforme Vasconcelos e Santos (2007), os professores de Biologia devem conhecer
substancialmente o conteúdo, a fim de propiciar uma melhor habilidade e competência do docente.
Nesse sentido, constatou-se que o professor da escola pública não soube responder essa questão,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

enquanto que ambos os professores da escola particular responderam afirmativamente, apontando


funções como proteger as nascentes de rios, evitando o assoreamento. Tais resultados são
preocupantes, como enfatiza Souza; Faria e Pereira (2011), tendo em vista que, levando em
consideração o educador na função de mediador de referências ambientais, questiona-se, como os
alunos podem se apropriarem das temáticas ambientais, se o próprio professor (a) da escola não
conhece o assunto? Enfim, isso apenas mostra o quanto os professores precisam reavaliar sua
prática para melhor orientar os alunos, já que são coautores do conhecimento adquirido pelos
mesmos. Como ressalta Freire (1996), avaliar a prática educativa é um dos saberes indispensáveis
aos educadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental desempenha um importante papel no que tange contribuir para


formação de cidadãos conscientes e novas perspectivas ambientais. No entanto, como foi observado
no referido estudo, a promoção de uma educação que contemple este objetivo, pode estar ainda
distante da realidade. Mesmo que a proposta de EA conste nos parâmetros legais como tema
transversal, os âmbitos escolares ainda mostram atitudes incipientes para torná-la de fato, efetiva. A
priori, porque falta embasamento teórico e capacitação que oriente as práticas educativas, problema
que tem como origem, desde a formação inicial do docente ou ainda a perspectiva passiva que
permeia a educação. Uma vez que, muitos educadores permanecem engessados em práticas que não
evoluem com as expectativas atuais. Assim, as aulas que deveriam ser essenciais para incutir novos
valores ambientais, resumem-se a atividades pontuais, em vez de processais, que não refletem a
realidade do aluno, porque não consideram as percepções e bagagem que os mesmos carregam.
Portanto, embora essas deficiências sejam uma realidade, tornam-se cada vez mais, prioritárias
ações que verdadeiramente contribua para mudanças de atitudes. Tendo em vista que, os problemas
ambientais estão tomando dimensões exacerbadas, principalmente aqueles referentes a degradação
dos recursos hídricos e ecossistemas associados.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1478


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E BIOMAS: UMA EXPERIÊNCIA NA SALA DE AULA

Taciana Maria da SILVEIRA


Professora de Geografia da rede municipal de ensino do município de Ouro Branco
tacianageo@yahoo.com.br
Natalia MAMEDE
Professora de Biologia da rede municipal de ensino do município de Ouro Branco
nataliamamedebio@gmail.com
Meirilane Gonçalves COELHO
Professora de Biologia da rede estadual de ensino no município de Ouro Branco
meirilaneg@yahoo.com.br

RESUMO
Segundo Nascimento (2015) a Educação Ambiental é um instrumento fundamental para
conservação dos ambientes naturais e deve ser utilizada de forma eficaz na luta contra a crise
ambiental determinada pelo modelo capitalista imposto à sociedade. O contato do homem com a
natureza adentra numa revolução socioambiental que altera drasticamente o ambiente natural
gerando impactos na maioria das vezes irreversíveis aos biomas. O ambiente escolar que é o centro
da Educação Formal deve desencadear no aluno o senso de conservação do planeta, dos biomas e
consequentemente manterem o planeta habitável, assim como sua diversidade. O tema bioma
brasileiro foi escolhido para ser abordado com seis turmas de oitavo e nonos anos do ensino
fundamental da Escola Municipal Livremente, na cidade de Ouro Branco, MG. Cada turma
realizou o levantamento de informações sobre o bioma que lhe coube. Os alunos caracterizaram a
sala de acordo com o bioma sorteado, trazendo informações de flora, fauna e intervenções
antrópicas, além de uma exposição oral. Os demais alunos da mesma escola tiveram a oportunidade
de visitarem as salas caracterizadas dessa forma, envolvendo um total de 450 alunos. A data
escolhida para as apresentações foi o dia 5 de junho de 2017, Dia Mundial do Meio Ambiente com
o intuito de aumentar a sensibilização de todos os envolvidos. Essa ação atende aos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil, 1999) admitindo o desenvolvimento de posturas e valores
pertinentes às relações entre os seres humanos, entre eles e o meio, entre o ser humano e o
conhecimento. Além disto os resultados revelaram excelente rendimento e assimilação do conteúdo
ao criar uma aproximação com os mesmos.
Palavras chaves: educação ambiental, biomas, escola pública.
ABSTRACT
In accordance with to Nascimento (2015) Environmental Education is a fundamental instrument for
the conservation of natural environments and should be used effectively in the fight against the
environmental crisis determined by the capitalist model imposed on society. The human contacts
with nature enters into a socioenvironmental revolution that drastically alters the natural
environment, generating impacts that are mostly irreversible to the biomes. The school environment
that is the center of Formal Education should unleash in the student the sense of conservation of the
planet, the biomes and consequently keep the planet habitable as well as its diversity. The Brazilian
biome theme was chosen to be approached with six eighth and ninth grade classes of the Escola
Municipal Livremente, in the city of Ouro Branco, MG. Each group carried out the survey of
information about the biome that belonged to it. The students characterized the room according to
the biome drawn, bringing information about flora, fauna and anthropic interventions, in addition to
an oral presentation. The other students of the same school had the opportunity to visit the rooms

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1479


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

characterized in this way, involving a total of 450 students. The date chosen for the presentations
was June 5, 2017, World Environment Day with the intention of raising the awareness of all
involved. This action takes into account the National Curricular Parameters (PCNs) (Brazil, 1999),
admitting the development of postures and pertinent values to the relations between human,
between them and the environment, at last between human and your knowledge. In addition, the
results revealed excellent yield and assimilation of the theme when creating an approximation with
them.
Key words: environmental education, biomes, public school

INTRODUÇÃO
Outrora se confundia a educação com a obediência. O aprendizado era imposto por meio do
respeito forçado, de castigos ou tarefas, o que não encorajava os educandos a compreenderem
reflexivamente o conteúdo proposto, podendo, até mesmo, irritá-los. Mas, nos últimos anos, tem
havido mudanças no modo de ensinar, tanto nas escolas quanto nas universidades. Metodologias
diferentes e novas tecnologias de apoio fizeram com que a educação passasse por várias fases,
processo este que faz parte da história do Brasil e de outros países. Neste contexto, o papel do
educador é, portanto, criar condições para que isso ocorra, criar situações que levem ao
desenvolvimento desse potencial, que estimulem as pessoas a crescerem cada vez mais (Dias et al.
2016).
Para Sauvé (2005), no correr dos anos, um número cada vez maior de atores da educação
ambiental introduziu uma dimensão de pesquisa ou de reflexão em suas intervenções no terreno da
prática. Desenvolveu-se, assim, um ―patrimônio pedagógico‖ que contém rica diversidade de
proposições teóricas, de modelos e de estratégias, capaz de estimular a discussão e de servir de
inspiração para os que trabalham na prática. A análise dessas proposições permite identificar uma
pluralidade de correntes de pensamento e de prática na educação ambiental: naturalista,
conservacionista, solucionadora de problemas, sistêmica, holística, humanista, crítica, bioregional,
feminista etc., que correspondem a outros tantos modos complementares de ligar-se ao meio
ambiente.
Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo
e no espaço, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação destas
atividades. A escola dentro da Educação Ambiental deve sensibilizar o aluno a buscar valores que
conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais espécies que habitam o
planeta, auxiliando-o a analisar criticamente os princípios que tem levado à destruição
inconsequente dos recursos naturais e de várias espécies. Tendo a clareza que a natureza não é fonte
inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional,
evitando o desperdício e considerando a reciclagem como processo vital (Effting, 2007).

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1480


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentre outros objetivos propostos pelos PCN, o tema transversal ‗meio ambiente‘ propõe
que os estudantes sejam capazes de identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se
afetivamente ligados a ela. Partindo desse pressuposto foi abordado o tema ―biomas e suas
principais implicações‖ em uma escola de ensino fundamental no município de Ouro Branco/MG.

METODOLOGIA

O município de Ouro Branco (Figura 1) está localizado na região central do estado de Minas
Gerais. O clima predominante é o tropical de altitude, apresentando temperatura mínima em torno
de 13 ºC no inverno, com grande estiagem e baixa umidade do ar. No verão apresenta temperatura
média em torno de 22 ºC, com altos índices pluviométricos. A vegetação divide-se em três tipos:
cerrado com vegetação rala; remanescente de Mata Atlântica; e em porções mais elevadas surgem
os campos rupestres, adaptados a temperaturas mais baixas. Possui uma população de 35.268
habitantes, dos quais 31.608 residem na zona urbana e 3.659 moram na zona rural. Dessa, 10 mil
são população flutuante, pessoas que vieram á trabalho ou estudo. Trata-se de uma cidade
planejada, em meados dos anos setenta, como base urbana de apoio à instalação de uma usina
siderúrgica de grande porte, a Açominas, hoje Gerdau. A mesma desenvolve-se contígua ao núcleo
original de Ouro Branco, situado na antiga Estrada Real que ligava o Rio de Janeiro a Ouro Preto
(IBGE, 2017).

Figura 1- Localização do município de Ouro Branco/MG.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O projeto em questão foi desenvolvido por alunos de 8º e 9º anos do ensino fundamental da


escola Municipal Livremente em Ouro Branco/MG, juntamente com as professoras de Geografia e
Biologia, no mês de junho de 2017 em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente.
Preliminarmente decidiu-se em trabalhar o conceito de biomas brasileiros que foi conteúdo
das turmas no primeiro bimestre. Dessa forma observou-se a complexidade do tema para alguns
alunos que muitas vezes tem contato apenas com o bioma local, Ouro Branco/MG insere-se em uma
área de transição dos biomas Cerrado e Mata Atlântica. Do total de seis turmas, foi sorteado um
bioma para cada uma: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampas.
Posteriormente os alunos deveriam realizar levantamento bibliográfico sobre o tema que lhe
coube, e então realizar a caracterização das salas representando o mais fiel possível o bioma a ser
trabalhado. Seria necessário também trazer informações que levassem em consideração fauna, flora,
recursos hídricos, intervenção antrópica nas apresentações orais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desde a segunda metade dos anos 90, o Brasil vem realizando esforços por intermédio da
criação e implementação de diretrizes e políticas públicas no sentido de promover e incentivar a
educação ambiental no ensino fundamental. A educação ambiental no Brasil, segundo diretrizes do
MEC, é desenvolvida por meio de três modalidades básicas: projetos, disciplinas especiais e
inserção da temática ambiental nas disciplinas. A organização que ainda prevalece em parte das
escolas brasileiras continua refletindo uma concepção obsoleta de educação, de ser humano e de
sociedade, em que o conhecimento é algo a ser transmitido, a aprendizagem é um acúmulo de
informações, os conteúdos escolares são recortes do conhecimento científico arbitrariamente
considerados relevantes, os professores são os que transmitem, e os alunos são os que assimilam.
Uma cadeia educativa linear, reprodutivista e violadora dos nossos direitos de sermos quem somos
e vivermos nossa realidade e não a de outros. Pensando assim, compreendemos por que os assuntos
da escola precisam ser amplos, contextualizados, vinculados à realidade local e abordados na forma
mais concreta possível: para que possamos formar pessoas livres, conscientes de sua realidade,
capazes de discutir e enfrentar os desafios de sua história (MEC, 2007).
Nesse contexto o projeto ―biomas na sala de aula‖ envolveu toda a escola, aproximando e
despertando o interesse de outros alunos. As apresentações e caracterização (Figura 2) das salas
aconteceu no dia 5 de junho de 2017, aproveitando a comemoração do Dia Mundial do Meio
Ambiente, todas as turmas se revezaram para assistir as apresentações e observar a decoração típica
do bioma escolhido. Além disso os alunos visitantes recebiam uma lembrancinha com sementes e
uma mensagem simbólica, participavam de charadas sobre o bioma ou podiam escolher mudas de
árvores doadas pela prefeitura municipal para plantio. As turmas de 9º anos prepararam também um

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

pequeno teatro sobre a expansão agrícola na Amazônia, o que despertou o interesse e curiosidade de
vários alunos, professores e funcionários da escola.

Figura 1- Apresentação dos alunos da Escola Municipal Livremente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com (Vaccari et al., 2007) o crescente aumento das populações urbanas, a falta de
planejamento ambiental e de programas de conscientização, bem como a falta de informação para a
população, são alguns dos fatores que contribuem para o aumento da degradação ambiental e, tal
degradação, tem apresentado consequências cada vez mais graves ao meio ambiente. A Educação
Ambiental assume uma função de transformar, na qual a responsabilização dos indivíduos torna-se
um objeto essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento, o sustentável. Ao se aplicar
uma política nacional que ressalte e promova a importância da Educação Ambiental desde o ensino
básico, as novas gerações crescerão com uma mentalidade voltada para a preservação ambiental,
facilitando a criação e a promoção de políticas públicas que visem à utilização sustentável dos
recursos naturais. Muitos especialistas afirmam que, ao menos em um primeiro momento, a solução
para os problemas ambientais tem relação com o surgimento de uma geração ambientalmente
consciente, o que se pode alcançar através da educação ambiental, possibilitando a formação de
indivíduos capazes de compreender o mundo e suas relações e agir de forma crítica diante de
diversas situações. Quando se consegue proporcionar essa educação desde o ensino básico,
consegue-se, então, a formação de cidadãos conscientes das questões ambientais, de forma que a
preservação da biodiversidade passe a ser encarada como preocupação de toda a população e não

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1483


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

apenas de uma pequena parcela. O papel do educador ambiental é fundamental nesse processo de
transformação.
Com a finalização do projeto atingiu-se os objetivos preliminarmente esperados, com
atividades de sensibilização e promoção de estratégias de educação ambiental, integrando teoria e
prática. Notou-se um comprometimento geral da Escola Municipal Livremente e dos alunos que
desempenharam as atividades propostas com seriedade e empenho correspondendo ao propósito do
projeto. Para os mesmos foi de extrema importância um trabalho como este, uma vez que desperta
capacidades cognitivas que vão além do conhecimento teórico.

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ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1484


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS DE JUAZEIRO


DO NORTE– CEARÁ, BRASIL

Thaís Lucena GRANGEIRO


Mestrando no PRODER-UFCA
thaisjua@gmail.com
Jardel Pereira da SILVA
Mestrando no PRODER-UFCA
jardel.pereira@aluno.ufca.edu.br
José Paulo dos SANTOS
Especialista em Educação Ambiental-URCA
josepaulo535@gmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo principal verificar a prática do ensino da geografia com eixo no
tema de educação e meio ambiente em duas escolas públicas de Juazeiro do Norte, CE, (CAIC Dom
Antônio Campelo de Aragão e EEFM Dona Maria Amélia Bezerra), discutindo sua importância e
compreendendo as principais dificuldades e desafios enfrentados por professores e alunos do ensino
fundamental e médio. A pesquisa foi realizada com o auxilio de questionários pré-elaborados,
direcionados aos alunos de duas turmas de 8º e 9º ano do fundamental e duas turmas do 2º e 3º ano
do ensino médio, bem como seus professores de Geografia. Os resultados obtidos revelaram uma
concepção de Educação Ambiental reduzida ao entendimento de meio ambiente e espaço. A ênfase
dada pelos professores precisa ser melhorada, pois do modo como se apresenta não atende aos
princípios norteados pela Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira.
Palavras-chave: Educação. Meio-Ambiente. Desenvolvimento sustentável. Cidadania.

RESUMEN
Este trabajo tuvo como objetivo verificar la práctica de la enseñanza de la geografía con el eje en el
tema de la educación y el medio ambiente en dos escuelas públicas en Juazeiro do Norte, CE,
(CAIC Dom Antonio Campelo de Aragão y EEFM Dona María Amelia Bezerra), hablando de su
importancia y la comprensión de las principales dificultades y desafíos que enfrentan los profesores
y estudiantes de la escuela primaria y secundaria. La encuesta se llevó a cabo con la ayuda de un
cuestionario pre-diseñado, dirigido a los alumnos de dos clases de 8º y 9º grado y dos clases del 2º y
3º año de secundaria, así como de sus profesores de geografía. Los resultados revelaron una
concepción de la Educación Ambiental redujo la comprensión del medio ambiente y el espacio. El
énfasis dado por los profesores necesita ser mejorado debido a la forma en que se presenta no
cumple con los principios guiados por la Ley de Directrices y Bases de la educación brasileña.
Palabras clave: Educación. Medio ambiente. Desenvolvimiento sustentable. Ciudadanía.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Para Suleiman e Zancul (2012), a partir do século XVIII, com a Revolução


Industrial, há o início uma fase de avanços tecnológicos, marcada por características como o
domínio do ser humano sobre as forças naturais e a possibilidade de acúmulo de bens e riquezas.
Esse modelo de desenvolvimento, estruturado na exploração insustentável de recursos
naturais, vem ocasionando patamares de desigualdade social e danos irreversíveis ao meio
ambiente. Com um número cada vez maior de pessoas adotando padrões de consumo
incompatíveis com a capacidade de regeneração dos recursos naturais de nosso planeta, tem- se
constatado uma perda da biodiversidade e grandes prejuízos à qualidade de vida das populações
humanas.
De acordo com o relatório Brundtland (1987) que trouxe uma nova nova compreensão
acerca do termo "desenvolvimento sustentável" referindo-se como aquele que ―atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as
suas próprias necessidades‖ permeando uma nova visão para implementação da educação
ambiental como processo de conhecimento para as gerações futuras.
Os efeitos globais da crescente interferência do homem no ambiente têm contribuído
bastante para a sensibilizar a sociedade sobre questões ambientais, destacando-se em todo o
mundo. Isso talvez possa ser explicado pela incerteza que o homem passou a experimentar em
relação à própria existência e pela constatação de sua incapacidade de entender e controlar os
processos e as transformações ambientais decorrentes de suas atividades (BRAGA et al, 2005).
Em um mundo em que a informação assume um papel cada vez mais relevante no qual o
ciberespaço, multimídia e internet atuam diretamente, a educação para a cidadania representa a
possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de
participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a Educação e
meio ambienteassume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização
dos indivíduos torna-se um objeto essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento, o
desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003). Vemos com isso que esse processo é
indispensável para se chegar ao desenvolvimento sustentável, pois é a melhor forma de se
atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da população.
Quando a expressão ―Educação Ambiental‖ surgiu pela primeira vez, em março de
1965, na Conferência de Educação da Universidade de Keele, da Inglaterra, já existia a consciência
de que era essencial que ela fizesse parte da educação de todos os cidadãos. Mais tarde a UNESCO
mostrou através de um estudo sobre meio ambiente e escola, que ela deveria ser integrada ao
currículo escolar, e não como disciplina específica, mas na interdisciplinaridade, perpassando por
todas as disciplinas (CZAPSKI, 1998)
ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1486
Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A ideia foi difundida amplamente e no Brasil, foi incluída na Constituição Federal de 1988,
Cap. VI Art. 225 onde consta que ―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
o
gerações‖. Continuando no § 1 que ―para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público‖, inciso VI, ―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.‖
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, como não poderia deixar de ser, fazem
menção a esse tema transversal e m meio ambiente. E por fim a Lei 9.795/99, que institui a
Política Nacional de Educação Ambiental, regulamentada em 2002. Onde no seu Art. 2º destaca,
―a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo
estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal.‖
É inquestionável que a educação para a cidadania com enfase no meio ambiente é
necessária para a compreensão das pessoas em relação ao mundo em que vivem. Considerando
tais aspectos com este estudo procurou-se analisar território e práticas de Educação Ambiental
desenvolvida em duas escolas públicas de Juazeiro do Norte - CE discutindo sua importância e
compreendendo as principais dificuldades e desafios enfrentados por professores e alunos no
Ensino Fundamental e Médio.

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada em duas escolas públicas da cidade de Juazeiro do


Norte, Ceará, Brasil, no período de 01 a 30 de novembro de 2016. Sendo uma escola de nível
fundamental (CAIC Dom Antônio Campelo de Aragão), e um de nível médio (EEFM Dona
Maria Amélia Bezerra).O público alvo selecionado foram professores de geografia, e alunos
do 8º ao 9º ano do ensino fundamental e, 2º e 3º ano do ensino médio.
Em cada escola duas turmas com cerca de 40 alunos e um professor, responderam a
questionários relacionados à Cidadania e Educação Ambiental - (Quadros 1 e 2). Esses
questionários permitiram explorar o conhecimento dos alunos sobre o objeto de estudo, verificar
a aplicação do ensino sobre o meio ambiente e transdiciplinaridade nas referidas escolas, além de
procurar compreender a visão e percepção dos professores sobre o tema.
A análise destes questionários também permitiu observar o cumprimento ou não da
legislação regida pela Lei de Diretrizes e Bases - LDB que trata da EA no ambiente escolar e
como esta interfere na conduta dos entrevistados.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quadro 1 – Questionário dirigido aos alunos de duas escolas públicas de Juazeiro do Norte- CE Bra
1. Com que frequência a temática ―Educação Ambiental‖ é tratada em sala de aula?

2. A escola desenvolve algum projeto voltado para a Educação Ambiental? Como


isso é visto pelos alunos?

3. Você percebe alguma dificuldade geral em tratar do tema ―Educação Ambiental‖


com os alunos?
Como você acha que isso poderia ser melhorado?

4. Você tem conhecimento sobre o que a legislação coloca em relação à Educação


Ambiental?

5. Na sua percepção a Lei é atendida no que diz respeito aos conteúdos curriculares na
sua escola?

Quadro 2 – Questionário dirigido aos alunos de duas escolas públicas de Juazeiro do Norte- CE Brasil

1. O que você entende por Educação Ambiental?

2. Você avaliaria o ensino de Educação Ambiental em sua escola bom ou ruim? Por
quê?

3. No seu cotidiano você aplica os conhecimentos obtidos em sua escola sobre o


tema?

4. O que você entende por desenvolvimento sustentável?


5. Você conhece a diferença entre um aterro sanitário e um lixão tradicional. E a
importância do aterro sanitário para a população e para o meio ambiente? Explique.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos resultados obtidos mostra que existe um problema com o ensino dos temas
transversais em educação ambiental e meio ambiente nas escolas pesquisadas. Como se pode
perceber na figura 1, sobre o entendimento dos alunos do fundamental em relação à Educação
Ambiental, mais de 90% não sabem o que é ou fugiram do assunto. E, pouco mais de 80% dos
alunos do nível médio vêm apenas como o estudo do meio ambiente, sem a criticidade necessária.
Menos de 10% dos alunos tanto do ensino médio como do fundamental, chegaram mais próximo,
definindo como a conscientização para preservação do meio ambiente.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 1: Questionamento sobre o que os alunos entendem por Educação Ambiental.

Como se pode perceber o conceito de educação ambiental e cidadania entre os alunos das
escolas pesquisadas estão restrito ao de meio ambiente isoladamente, ou ao cuidado com o meio
ambiente/natureza, enquanto que a ideia básica da Educação ambiental é, ―ressignificar o cuidado
com a diversidade da vida como valor ético e político, fugindo da equação simplista ambiente =
natureza‖ (BRASIL, 2007). Isso mostra que apesar da questão ambiental ser trabalhada em sala
de aula e de questões como meio ambiente e preservação ambiental serem tratadas com esses
alunos, não se atinge de fato os objetivos fundamentais da prát i ca em sal a de aula. que,
ainda de acordo com a lei 9.795/99, inclui ―o desenvolvimento de uma compreensão
integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos
ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
Além do estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social e o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na
preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como
um valor inseparável do exercício da cidadania.‖
A figura 2 mostra que pouco mais de 50% dos alunos do ensino fundamental têm uma
avaliação positiva sobre o ensino de meio ambiente e Educação Ambiental, enquanto que para a
maior parte do ensino médio está entre regular (37%) e ruim (23%). Há que se considerar que o
entendimento dos alunos avaliados foge um pouco do conceito de Educação Ambiental e centra-se
apenas no sentido de meio ambiente. Mesmo assim percebe-se uma deficiência na abordagem do
assunto, pois na opinião de muitos deles a questão ambiental deveria ser tratada mais vezes. Alguns
alunos, principalmente do ensino médio, gostariam que fossem trabalhados mais projetos na
escola, e acrescentam que as poucas vezes que estudam sobre o meio ambiente é quando as
disciplinas de biologia ou geografia trás algum assunto sobre o tema, o que é raro.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1489


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Para alguns professores do ensino médio é dado mais importância aos conteúdos
curriculares convencionais com vistas no ENEM e no vestibular. Eles comentam ainda, que os
livros deveriam trazer mais conteúdos voltados à questão ambiental.
Algumas coleções costumam ao final de uma unidade trazer um tema interdisciplinar, então,
uma vez que a Educação ambiental e a cidadania deve ser trabalhada na transversalidade, deveria
seguir esse exemplo, ainda que restrita às ciências biológicas e geografia, o que possibilitaria que a
temática fosse tratada mais vezes.
Sobre como os alunos aplicam os conhecimentos adquiridos sobre a questão ambiental, ou
se costumam aplicá-los na prática, a figura 3 mostra que mais de 80% dos alunos têm uma
consciência ecológica.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1490


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

A maioria dos alunos explicou que praticam os ensinamentos adquiridos com o t e m a é


c o n h e c i d o com atos simples, como não jogando lixo no chão e praticando a coleta seletiva.
Muitos comentaram que costumam utilizar os coletores seletivos expostos no ambiente escolar.
São pequenos atos que vão fazendo a diferença e esses jovens que hoje são instigados a
atuarem na sociedade seguindo os princípios éticos e/ou morais podendo futuramente dar uma
maior contribuição para a melhoria da qualidade de vida no planeta.
Segundo Jacobi (2003), a EA é o caminho para o desenvolvimento sustentável, sendo
condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental.
Sobre o conhecimento dos alunos acerca do termo desenvolvimento sustentável, podemos
observar que menos de 20% dos alunos dos níveis fundamental e médio entendem o conceito do
referido termo (Figura 4).

Figura 4: Gráfico demonstrativo do conhecimento dos alunos de quatro escolas públicas de Juazeiro do
Norte-CE do que seja desenvolvimento sustentável.

Ainda assim é notável que esses alunos tenham alguma noção, pois certamente já ouviram
falar em livros, revistas ou até mesmo através da mídia. Falta-lhes, porém, compreender o seu
significado científico. Para possibilitar isso, cabe ao professor desenvolver metodologias que
torne mais clara a noção do que seja Desenvolvimento Sustentável. Trabalhando por exemplo a
questão do consumismo exagerado, de modo a desenvolver neles uma visão crítica acerca disso.
Quando os alunos foram levados a refletir sobre a questão do aterro sanitário, , uma parte
significativa sendo 45% e 42% do ensino fundamental e médio, respectivamente, ainda não

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1491


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

estava à parte do assunto e tão pouco tinha consciência da sua importância (Figura 5). Contudo,
mais de 50% tinha alguma noção acerca do assunto.

Figura 5: Gráfico demonstrativo da noção dos alunos do nível fundamental e médio de escolas de
Juazeiro do Norte sobre a diferença entre aterro sanitário e um lixão tradicional. E a importância do aterro
sanitário para a população e para o meio ambiente.

Um aterro sanitário é um item essencial a questão da preservação ambiental, visto que


além de evitar a disposição do lixo a céu aberto, é uma medida de proteção ao meio ambiente e à
saúde pública. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN‘s no que se refere ao
Meio Ambiente o maior interesse dos alunos é se aproxima da realidade e da relação com o seu
entorno local. Por ser seu território vivo esta localidade é local de vivência porá refletir sobre o
meio ambiente e suas responsabilidades para com o planeta.
Na educação básica é necessário enfatizar a sensibilidade e o cuidado das crianças para
com a natureza ressaltando a diversidade dessa relação. Em relação aos professores quando
indagados quanto à frequência com que os temas transversais de cidadania e meio ambiente é
tratada na escola, percebe-se que no ensino fundamental tem havido um maior trabalho voltado
para essa área. Embora não tenham citado, exatamente, com que frequência, esclarece que a
temática está dentro do plano de curso da escola. Chegaram a citar alguns trabalhos realizados
com seus alunos no decorrer do ano, como: jardinagem; arborização da escola; visitas ao viveiro
municipal; e até trilhas ecológicas, que no geral tem uma boa aceitação entre os alunos. Logo
não encontram muita dificuldade em tratar do assunto, contudo destacam que o livro didático é
pobre no que diz respeito a essa temática.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Quanto ao ensino médio, nas duas escolas tem-se trabalhado no contexto transversal,
principalmente nas disciplinas de biologia e geografia, citando-se uma frequência de uma a duas
aulas por mês.
Os referidos professores também trabalham a temática transversal de meio ambiente e
cidadania através do desenvolvimento de pequenos projetos. No CAIC Dom Antônio
Campelo de Aragão é trabalhada a coleta seletiva e o cultivo de uma horta hidropônica.
Percebe-se que esta escola tem uma estrutura que possibilita trabalhos desse tipo,
principalmente por ser favorecida com uma grande área livre em seu entorno. Todavia, na escola
EEFM Dona Maria Amélia Bezerra, geralmente procura-se desenvolver algum projeto
semestralmente. De acordo com os professores entrevistados falta mais incentivo.
Os professores do ensino médio afirmam que há dificuldade em se trabalhar o tema nas
escolas, e que os problemas não se restringem a Educação Ambiental, mas a educação em si. E
sugerem que aplicar mecanismos metodológicos práticos e deixar a teorização em segundo plano
seria uma saída. Quanto ao conhecimento de que existem leis que defendem a o ensino da
educação para o meio ambiente a sustentabilidade e no ensino de modo geral, ambos têm
consciência disso, assim como também de que isso não funciona na prática. De fato existe um
hiato muito grande entre a lei e sua aplicabilidade, e na escola isso não é diferente.

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada mostra que tanto os alunos do ensino fundamental como do


médio possuem uma visão muito restrita quanto à temática transversal de educação ambiental.
Cidadania e meio ambiente. Sendo necessária uma maior dedicação dos professores em relação à
temática.
Fica evidente que, embora a questão ambiental seja trabalhada nessas escolas, como
afirmam os professores, não estão de fato fazendo educação para a reflexão sobre o meio
ambiente. Há uma necessidade de se trabalhar novas metodologias. Deve ser revista a formação
desses profissionais. E não apenas daqueles que já trabalham em áreas da educação mais ligadas a
essa temática, pois se o tema é uma transdisciplinaridade, o educador de forma geral deve está
consciente e capacitado para desenvolver nos seus alunos a cidadania ambiental.

REFERÊNCIAS

BRAGA, B.; HESPANHOL, I.; CONEJO, J. G. L.; MIERZWA, J. C.; SPENCER, M.; PORTO,
M.; NUCCI, N.; JULIANO, N.; EIGER, S. Introdução a Engenharia Ambiental. 2. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1493


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

BRASIL. Lei Federal Nº 9.795, de 27 de abril de 1999: Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 10 Dez. 2016.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente. Portal do Professor. Disponível


em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?categoria=23> Acesso em:
10 Dez. 2016.

BRASIL. Vamos Cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola.


Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do
Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

COMISSÃO BRUNDTLAND (ou Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).


Nosso Futuro Comum. Rio, Ed. FGV, 1988, 1º ed.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa. São


Paulo: Autores Associados, no. 118: p. 189-205, 2003.

SULEIMAN, M.; ZANCUL, M. C. S. Meio Ambiente no Ensino de Ciências: Análise de Livros


Didáticos para os Anos Finais do Ensino Fundamental. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient.
ISSN 1517-1256, v. 28, 2012.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1494


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUSEU DE CIÊNCIAS DURANTE UMA VISITA AO


MANGUEZAL CHICO SCIENCE

Thayana Patrícia da Silva MARQUES


Mestranda em Ensino das Ciências PPGEC-UFRFE
thayana24patricia@gmail.com
Helaine Sivini FERREIRA
Professora Adjunta do departamento de Educação na UFRFE
hsivini@terra.com.br

RESUMO
A Educação Ambiental tem o objetivo de sensibilizar as pessoas a uma mudança de comportamento
e atitudes, ou seja, propõem uma nova forma de viver. Em virtude disso, compreendeu-se que é
necessário que essa modalidade educativa ultrapasse os muros da escola e abarque os ambientes de
espaço não formal como o museu de ciência. Trabalhar com essa modalidade é de extrema
importância devido aos problemas ambientais vigentes que vem comprometendo a dinâmica dos
ecossistemas. Um dos ecossistemas que está passando por um processo de degradação ambiental é o
Manguezal. Por essa razão, o presente trabalho busca analisar, através das concepções de uma
Educadora Ambiental, como as vivências no Manguezal contribuem para a Educação Ambiental. O
objeto de pesquisa foi o Manguezal Chico Science, situado no Espaço Ciência, um museu interativo
localizado em Olinda-PE. A Educadora Ambiental, sujeito da pesquisa, é coordenadora e monitora
desse espaço. Para a coleta de dados, utilizamos dois modelos de entrevista: uma semiestruturada e
outra balizada no aporte teórico metodológico ―Resultados Genéricos da Aprendizagem‖, cujo
objetivo é inferir as aprendizagens mobilizadas pelos visitantes durante a vivência na exposição
museu. Por fim, constatamos que as atividades desenvolvidas nesse espaço auxiliam na construção
de percepções críticas por parte dos visitantes, sensibilizando-os a uma mudança de comportamento
e atitudes em relações ao meio ambiente.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Museu de Ciência; Manguezal; Mudanças de atitudes.
ABSTRACT
Environmental Education has the objective of sensitizing people to a change of behavior and
attitudes, that is, they propose a new way of living. By virtue of this, it has been understood that it is
necessary that this educational modality surpasses the walls of the school and embraces the
environments of nonformal space like the museum of science. Working with this modality is of
extreme importance due to the current environmental problems that have been compromising the
dynamics of ecosystems. One of the ecosystems that is going through a process of environmental
degradation is the Mangrove. For this reason, the present work seeks to analyze, through the
conceptions of an Environmental Educator, how the experiences in the Mangrove contribute to
Environmental Education. The research object was Mangrove Chico Science, located in Space
Science, an interactive museum located in Olinda-PE. The Environmental Educator, subject of the
research, coordinates and monitors this space. For the data collection, we used two models of
interview: one semistructured and one based on the theoretical methodological input "Generic
Results of Learning", whose objective is to infer the learning mobilized by the visitors during the
experience in the museum exhibition. Finally, we verified that the activities developed in this space
help in the construction of critical perceptions by the visitors, sensitizing them to a change of
behavior and attitudes in relation to the environment.
Keywords: Environmental Education; Science Museum; Mangrove; Changes in attitudes.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

INTRODUÇÃO

Acreditamos que problemas socioambientais acarretados pela ação antrópica, não podem ser
discutidos apenas nas escolas ou universidades, pois implicam num conjunto de fatores políticos,
econômicos, culturais e científico muito amplo que dificilmente podem ser tratados no âmbito do
ensino formal. Defendemos que é necessário extrapolar a abordagem dessas questões para outros
espaços de fomento à educação, como o museu de ciência, que permite de forma interativa o
compartilhamento de aprendizagens, valorizando sempre o aprender com o outro.
Jacobi (2003, p. 191) endossa essa perspectiva quando expressa que ―a realidade atual exige
uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação dos saberes e das práticas
coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias diante da reapropriação da
natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes‖.
Assim, a problemática levantada nessa pesquisa consiste em analisar se a vivência no
Manguezal Chico Science e suas atividades, abarcam a temática Educação Ambiental, e se essas
despertam nos visitantes atitudes e valores voltados para a preservação do meio em que vivemos e
se auxiliam na construção de posicionamento crítico frente às decisões políticas que afetam a
dinâmica do nosso planeta.

MUSEU DE CIÊNCIA COMO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Devido às novas demandas sociais, pensar a educação apenas no universo escolar é


simplificá-la, pois a educação visa à formação integral do indivíduo, por essa razão é necessário à
mobilização de saberes além do que é apresentado nas escolas (GARCIA, 2009). Conforme Gonh
(2010) o processo de aprendizagem ―deve possibilitar aos indivíduos fazer uma leitura do mundo do
ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor‖ (p. 35).
Segundo Príncipe e Diamente (2011), esse campo educacional consiste em atividades
organizadas, sistematizada fora do marco da escola formal. Apresenta objetivos definidos,
flexibilidade nos conteúdos propostos, no tempo e no local de aprendizagem. Na Educação não
formal, a aprendizagem é construída a partir do coletivo, mediante ao compartilhamento de
informações e experiências, apresenta intencionalidade na ação, de aprender e a participação
espontânea do público (GOHN, 2010).
Além disso, dispõe de uma variedade metodológica e uma gama de recursos didáticos
bastante atrativos e motivador, pois permite ao visitante à manipulação do artefato científico e o
contato com o meio ambiente que favorece o desenvolvimento das aprendizagens. Por isso que ela é
fundamentada na perspectiva da formação de cidadãos através de ações reflexivas para que o
indivíduo possa (re) pensar seu papel na sociedade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Contudo, a Educação não formal não é uma solução milagrosa para os problemas
educacionais, nem possui a finalidade de substituição da escola. Ela pode ser desenvolvida no
sentido de complementar, não em relação ao que a escola deixa de realizar por diversos motivos,
mas de desenvolver os campos de aprendizagens e saberes que lhes são específicos (TRILHA,
2008). Corroborando com esse pensamento, Gohn (2010) afirma que em nenhuma hipótese a
educação não formal substitui a educação formal, ela poderá ajudar em sua complementação, ―via
programações específicas, articulando escola e comunidade educativa localizada em torno da
escola‖ (p.39).
Um exemplo prático de um Espaço não formal são os museus de ciência, que consistem em
um espaço educativo e apresentam elementos que promovem a realização de atividades lúdicas e
interativas, que despertam no visitante a curiosidade sobre questões científicas, tecnológicas e
socioambientais (GONH, 2010). Além disso, desenvolvem atividades e projetos educativos baseado
em modelos sociais que proporcionam ao público visitante uma experiência além da diversão e do
deleite, mas de uma aprendizagem que compreende ganhos cognitivos, habilidades, mudanças de
comportamento e valores, tornando-a ampla e complexa (MARANDINO, 2005).
O museu de ciência passou por um processo de evolução, inicialmente era considerado um
espaço de conservação de instrumentos que faziam parte da história da ciência, com intuito de
preservação dos artefatos históricos e culturais da humanidade. Contudo, na atualidade esses
espaços tornaram-se um ambiente educativo, onde as aprendizagens são mobilizadas pelos
visitantes, mediante a utilização de diversas estratégias pedagógicas que estimulam a sua
curiosidade e motivação de retorno a instituição.
Além disso, apresentam elementos atrativos como a exposição que é um elemento
primordial do espaço museal, pois é onde ocorre o processo de interação entre os visitantes e o
monitor, visando promover um espaço de diálogo e reflexão, ademais, permite a comunicação de
ideias e conceitos científicos (MARANDINO, 2005). Esse conhecimento científico é apresentado
de forma simples e compreensível para que todas as pessoas, independente do seu nível de
escolarização ou faixa etária sejam capazes de compreender.
O processo de comunicação é articulado pelo mediador, que tem a função de ―aproximar e
gerenciar a interação entre a produção de bens culturais e o público, fornecendo meios e códigos
que favoreçam o acesso e a apropriação dessas produções‖ (PINTO; GOUVÊA, 2014, p.56.), ou
seja, é o profissional que dá subsidio ao público. Esses profissionais utilizam uma diversidade de
saberes, composto de conhecimentos, valores e habilidades, que foram construídos ao longo de sua
formação e por meio de sua prática cotidiana. Por essa razão, o museu também é considerado um
espaço para formação desses profissionais.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM MUSEU DE CIÊNCIA: UM OLHAR PARA O MANGUEZAL

Devido aos grandes impactos ambientais causados pelo homem, a sociedade começou a
repensar suas atitudes agressivas e surgiram diversas conferências entre os países para discutir e
formular leis que tivessem o intuito de preservação e conservação do Meio ambiente.
Um dos desdobramentos foi à inserção das questões ambientais nos currículos escolares de
forma obrigatória, não só da educação básica, mas no ensino superior. De acordo com o Art. 1º da
Legislação Federal n° 9.795 de 27 de abril de 1999 compreende a Educação Ambiental como

Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e da sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A importância de desenvolver práticas com a temática ambiental nas escolas é pertinente,


pois instiga o indivíduo a refletir sobre ações e valorizar o ambiente que vive, além de transformar
sua relação de comprometimento com a natureza. Entretanto, a educação ambiental não é um
instrumento que irá resolver os problemas, é uma dimensão essencial da educação, porque é à base
do desenvolvimento humano, sendo ele pessoal ou social, e sua relação com o meio ambiente
(JACOBI, 2003).
Consideramos que a Educação Ambiental em ambientes não formais de ensino, permite aos
indivíduos a possiblidade de modificarem seu olhar em relação às vivências socioculturais,
compreender a sua dependência da natureza, em relação aos seus recursos naturais e que por esse
motivo é necessário transformar suas atitudes em sustentáveis (FREITAS; BERNARDES, 2013).
Além disso, há a possibilidade de oferecer atividades educativas que promovem ações coletivas
contribuindo para percepção e comportamentos para conservação da natureza e a formação de
indivíduos capazes de compreender o seu papel na sociedade, como aponta a Legislação Federal n°
9.795, em seu Art. 13º, ―entendem-se por educação ambiental não formal as ações e práticas
educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua
organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente‖ (BRASIL, 1999).
Acreditamos que os espaços não formais de ensino têm a capacidade de motivar os seus
participantes a mudarem sua postura e seu comportamento em relação às ações consumistas e
condutas inadequadas ao meio ambiente e favorecer o engajamento para resolução de problemas
ambientais ocasionados pelas suas práticas equivocadas (SCHWENGBER; CÂNDIDO, 2011).
Diante disso, o Manguezal é um ambiente rico para o desenvolvimento de atividades sobre a
Educação Ambiental, uma vez que é um ecossistema com vasta biodiversidade. É um espaço de
reprodução, crescimento, alimentação, sendo considerado um berçário para o desenvolvimento de
diversas espécies, além de realizar o processo de reciclagem da matéria orgânica disponível (LIMA,

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

2015). Ademais, apresenta uma grande uma importância socioeconômica, pois as pessoas que
vivem próximas ao Manguezal sobrevivem dos recursos oferecidos e realizam a prática da pesca
como fonte de renda.
Contudo, com a exploração exacerbada dos recursos naturais do ecossistema manguezal,
ações de aterramento e desmatamento, lançamento de esgoto doméstico e dejetos de indústria sem
tratamento e lixo, vêm ocasionando a degradação desse ambiente, prejudicando o equilíbrio
ecológico e colocando em risco a biodiversidade e a cadeia alimentar, comprometendo também as
pessoas que dependem dele para a sobrevivência (JACOBI, 2003).
Diante desse contexto, mudanças na postura do homem em relação ao meio ambiente são
necessárias, e a Educação Ambiental é um caminho com potencialidade para reverter o modelo
atual, estimular a mudança de comportamento e ações que configurem uma consciência de
preservação e conservação (LIMA, 2015).

RESULTADOS GENÉRICOS DA APRENDIZAGEM

Os Resultados Genéricos da Aprendizagem (RGAs) consiste em um arcabouço teórico com


intuito de mensurar as aprendizagens em espaços culturais como museus, bibliotecas, arquivos, etc.
Partindo do pressuposto que as aprendizagens nesses espaços abarcam além dos conteúdos teóricos,
apresentam particularidades próprias no que se refere ao curto período de tempo, as exposições, o
espaço físico, elas não podem apresentar o mesmo processo avaliativo encontrado nos Espaços
Formais, como a escola, onde a avaliação consiste na atribuição de notas ou conceitos, por essa
razão, havia uma necessidade de desenvolver um instrumento que inferisse a apropriação das
aprendizagens nesses espaços, dessa forma foi construído esse referencial teórico metodológico
(HOOPER-GREENHILL, 2007).
Sua construção foi a partir de discussões e diálogos entre instituições e profissionais da área,
sendo testada por quinze instituições culturais, possuindo dessa forma uma autoria coletiva
(FRANÇA, 2014). Esse arcabouço teórico apresenta categorias a partir das cinco dimensões da
aprendizagem: conhecimento e entendimento; habilidades; atitudes e valores; divertimento,
inspiração e criatividade; ação, comportamento e progressão (FRANÇA, 2014; HOOPER-
GREENHILL, 2007), as quais serão apresentadas na tabela a baixo:

Quadro 1. As dimensões dos Resultados Genéricos da Aprendizagem

Dimensões dos Resultados Conceituação


Genéricos da Aprendizagem
Conhecimento e Consistem na aprendizagem de fatos ou informações, ou
Entendimento seja, saber sobre um determinado assunto e desta forma

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

desenvolver uma compreensão mais estruturada sobre o


mesmo conteúdo (FRANÇA, 2014; HOOPER-
GREENHILL, 2007).
Habilidades Compreendem-se no saber fazer algo resultando das
experiências, divide-se em cognitivas, emocionais e físicas.
As habilidades cognitivas são consideradas habilidades de
manipular a informação através da comunicação, da leitura,
da análise crítica e a argumentação. As habilidades sociais
consistem no desenvolvimento das relações, demonstração
de interesse pela fala do outro, ser amigável e o trabalho em
equipe. Habilidade emocional está relacionada com o
controle das emoções como: a raiva, frustação e reconhecer
os sentimentos dos outros. As habilidades físicas
desenvolvidas nas atividades que incluem correr, pular,
manipular algum equipamento (FRANÇA, 2014; HOOPER-
GREENHILL, 2007).
Atitudes e Valores A visita nesses espaços podem possibilitar mudanças de
valores, como o respeito pela diversidade, tolerância
(FRANÇA, 2014; HOOPER-GREENHILL, 2007).
Divertimento, Inspiração e São elementos que estão intimamente ligados à diversão que
Criatividade instiga ao visitante a se interessar pelo conteúdo, tornando a
aprendizagem mais agradável. Elas podem ser ofertadas
durante atividades de exploração e experimentais
(FRANÇA, 2014; HOOPER-GREENHILL, 2007).
Comportamento e Progressão Estão relacionados com as ações das pessoas, ou seja, as
posturas e o envolvimento dos visitantes frente a uma
exposição, e a forma como dirige sua vida (FRANÇA, 2014;
HOOPER-GREENHILL, 2007).
Fonte: As autoras

METODOLOGIA

O percurso metodológico desse trabalho se baseia na abordagem qualitativa. Esse paradigma


permite o mergulho e ―aprofundamento no mundo dos significados das relações humanas, um lado
não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas‖ (MINAYO, 1994, p.22). O

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

paradigma qualitativo permite ao pesquisador compreender os fenômenos conforme as concepções


dos participantes, os quais contribuem para a efetivação do estudo.
A pesquisa foi desenvolvida no Espaço Ciência que é um museu interativo que promove a
divulgação científica e apoio ao ensino de ciências através de suas exposições. Localizado no
Complexo de Salgadinho s/n – Parque 2, em Olinda Pernambuco. É considerado o maior museu a
céu aberto da América Latina e está vinculado à secretaria de ciência, tecnologia e inovação do
estado de Pernambuco. O objeto de estudo do nosso trabalho é a exposição Manguezal Chico
Science, que compreende atividades e práticas de Educação Ambientais voltadas para a
conservação e manejo desse ecossistema, o qual por muito tempo vem sendo devastado devido o
despejo de lixo proveniente do canal Tacaruna. Por essa razão, neste local são trabalhadas questões
de valorização desse ecossistema com o intuito de alertar aos visitantes acerca do problema da
poluição, que pode acarretar sérias complicações para a fauna e flora pertencente a esse ambiente.
A autora social da pesquisa foi à Educadora Ambiental, que tem a função de coordenadora e
mediadora da exposição manguezal. Possui a formação em ciências biológicas e atua nessa
exposição há onze anos. Para a coleta de dados foi realizada uma entrevista semiestruturada e outro
tipo de entrevista balizada na Teoria dos RGAs que tem o objetivo de mensurar o que um visitante
aprendeu durante a visita ao manguezal, se as atividades abarcam o desenvolvimento das
aprendizagens proposta por esse arcabouço teórico.
Inicialmente, entramos em contato a Educadora Ambiental para sabermos a sua
disponibilidade e discutir sobre o objetivo da pesquisa. Posteriormente, foi assinado um terno de
livre consentimento e esclarecido. Elaboramos o roteiro para entrevista semiestruturada e a que
compreende as dimensões de aprendizagens do RGAs com perguntas abertas, do qual a finalidade é
de compreender as contribuições das atividades e práticas de Educação Ambiental no museu de
ciência para a construção de um ser humano consciente de suas ações para com o meio ambiente e
em quais dimensões da aprendizagem se enquadras as atividades. A interpretação dos dados se deu
através da transcrição e análise da entrevista.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Resultado da Entrevista Semiestruturada

Através da entrevista semiestruturada, realizamos a transcrição e o recorte da fala da nossa


entrevistada que será representada pela sigla (En), observou-se que as atividades desenvolvidas na
exposição manguezal são voltadas para a preservação e conservação desse ecossistema, que na
maioria das vezes, é visto como algo sem importância para o equilíbrio ambiental, sendo muitas

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1501


Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

vezes desprezado e desvalorizado, diante disso levantou-se o questionamento referente ao objetivo


da visita ao manguezal à colaboradora que afirmou:

―O objetivo é aproximar os visitantes e toda a sociedade de forma lúdica, de um


ecossistema pouco valorizado, mas rico em vida e diversidade, além disso, ressaltar sua
importância para a manutenção do planeta, pois esses espaços apresentam importância
ambiental, econômica e social.‖ (En).

Quando a entrevistada foi indagada sobre os aspectos do Manguezal que são visualizados
durante a visita, tivemos a seguinte resposta: ―A vegetação única do ecossistema, a variedade
faunística, animais endêmicos, água, importância na manutenção da vida, reprodução das espécies‖
(En), no entanto, ela enfatiza que os aspectos que atraem a atenção e curiosidade dos visitantes são
a degradação e a poluição desse ambiente, como observamos em sua fala: ―A degradação e poluição
desse ecossistema são muito questionadas e observadas pelos visitantes, pois o manguezal vem
sofrendo grandes impactos mediante ao lançamento de dejetos dos esgotos domésticos e industrial e
ainda funciona como um depósito de lixo‖ (En).
Dando sequência a entrevista, questionamos e Educadora Ambiental sobre a finalidade das
atividades desenvolvidas. De acordo com ela, ―as práticas realizadas no manguezal Chico Science
permitem o claro entendimento sobre a importância e cuidados que devemos ter com este ambiente
proporcionando novas percepções e ideologias‖ (En). As principais atividades realizadas nessa
instituição envolvem a apresentação do manguezal através do píer ou pelo passeio com o barco
movido pela energia solar, onde são ressaltadas as características ecológicas e econômicas desse
ecossistema. Há também a realização de atividades lúdicas realizadas por monitores que interagem
com o público tornando esse momento motivador. São oferecidas também oficinas pedagógicas
intituladas de diagnóstico ambiental que são voltadas para a preservação do manguezal, o qual é
alvo de despejo de lixo. Além disso, os visitantes podem experimentar o trabalho de um
pesquisador sendo ele biólogo, ecologista ou analista. Eles realizam a coleta do material presente
nesse ambiente e analisam a presença de agentes poluentes. Há também o roteiro botânico onde são
apresentadas as características das plantas presentes no espaço.
Ainda em relação às atividades desenvolvidas no manguezal a Educadora ambiental ressalta
que a prática e interação são sempre os principais instrumentos utilizados nos atendimentos de toda
Educação Ambiental no Espaço Ciência (En). Essa forma de trabalhar é pertinente, pois segundo
Jacobi (2005) a ―educação ambiental assume, a forma de um processo intelectual ativo, enquanto
aprendizado social, baseado no diálogo e interação em constante processo de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados‖ (p. 245).
Segundo Lima (2015) é preciso conhecer para preservar, cuidar, por meio dessa afirmação
acreditamos que devido à falta de informação, o manguezal é conhecido como um local com cheiro

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

forte, de proliferação de mosquito, depósito de lixo, mas na realidade é um local de vida,


exuberante, que tem uma grande importância para a o equilíbrio ambiental.
Guimarães (2004) discute sobre as formas através das quais são desenvolvidas as ações e
atividades que abordam a temática ambiental, ele comenta que geralmente essas atividades são
pontuais, ocorrem em datas comemorativas, pouca crítica e distante da realidade que nos envolve,
mostra uma visão fragmentada, descontextualizada da realidade socioambiental, para ele, é
necessária uma nova abordagem, que permita a reflexão dessa problemática. Verificamos na fala da
entrevistada que as atividades desenvolvidas no espaço ciência estão alinhadas com essa visão:

A abordagem sempre é realizada com indagações e problematizações que remetem instigar


a reflexão e a relação com o cotidiano, de modo que os visitantes sintam-se inseridos e
responsáveis por qualquer ato que prejudique o desenvolvimento natural dos manguezais e
suas espécies, bem como a do meio ambiente (En).

No entanto, é importante ressaltar que o problema que envolve a relação do homem com o
meio ambiente não é apenas responsabilidade do indivíduo como unidade, mas abarca a
coletividade, o modelo da estrutura social e modo de produção, constitui-se uma problemática
social, ambiental, econômica e política.

Resultado da Entrevista embasada no RGAs

O desenvolvimento da entrevista foi organizado da forma que seus itens pudessem


identificar as cinco dimensões dos RGAs: conhecimento e compreensão; habilidades; atitudes e
valores; ação, comportamento e progressão e prazer, inspiração e criatividade. A primeira pergunta
da entrevista tinha o objetivo de constatar a construção de um novo conhecimento ou entendimento
em relação às atividades desenvolvidas no Manguezal Chico Science. Essa informação foi coletada
mediante a seguinte indagação: ―Você acha que os alunos após uma visita ao manguezal conseguem
aprender algo novo‖? De acordo com a entrevistada, a visita ao manguezal proporciona um contato
direto com esse ecossistema, que além da parte teórica, eles conseguem visualizar novas práticas,
atividades que são realizadas dentro do manguezal, o que possibilita sim, um aprendizado bem mais
apurado do que se fosse dentro de uma sala de aula.
Em relação se as atividades desenvolvidas proporcionam uma mudança de atitudes e
valores, perguntou-se: ―Durante a visita você consegue identificar mudanças de atitudes e valores‖?
Ela afirmou que existe uma dificuldade em mensurar uma mudança de valores e atitudes em um
visitante, pois para que isso seja avaliado, seria necessário um acompanhamento deste. Contudo, há
uma mudança de concepção sobre o ecossistema, pois, de acordo com ela, a maioria dos visitantes
não tem o contato direto com o manguezal e possui a concepção que é um lugar de lançamento de
dejetos. Diante disso, no final da visita eles conseguem quebrar essa concepção equivocada que esse
ecossistema é sempre poluído.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No que se refere às habilidades que são mobilizadas nesse ambiente, foi realizado o seguinte
questionamento: ―Em relação às habilidades, quais os visitantes mobilizam: manipulação da
informação, o trabalho em equipe e o desenvolvimento de relações ou atividades de manipulação de
equipamentos‖? Conforme a resposta da entrevistada, todas as habilidades podem ser exploradas,
no entanto, a que é mais evidente é o trabalho de equipe e o desenvolvimento das relações sociais,
pois, as atividades desenvolvidas são realizadas em grupo e que durante o seu desenvolvimento a
aprendizagem é construída a partir do coletivo. Nesse contexto as habilidades que são mais
evidentes são as sociais. Essa questão se refere à: ―Quais assuntos referentes ao manguezal os
alunos ficam surpresos, interessados, inspirado ou entusiasmado?‖ As respostas serão apresentadas
na tabela a seguir:

Surpresos Que o manguezal não é feito de poluição,


ele não existe por causa de um canal, não
existe por causa do lixo.
Interessados Procurar os seres dentro do manguezal

Inspirado Em relação da preservação, como eles vão


cuidar desse ambiente a partir do
momento quando eles saírem daqui.
Entusiasmado Eles gostam muito do passeio de barco a
oportunidade de propiciar para eles um
contato direto com o manguezal. Então
eles veem por fora, mas tem a
oportunidade de ver por dentro.
Fonte: As autoras

Por fim, o questionamento foi referente às experiências que são vivenciadas durante a visita
ao manguezal no espaço ciência. Foi perguntado: ―Em relação às experiências vivenciadas pelos
visitantes, quais tem mais importância a: experiência de relacionamento social, experiência de
comunicação e escuta (falar e ouvir), experiência de raciocínio/ resolução de problemas, experiência
de atividades práticas, experiência de criatividade, experiência de observação?‖ Em relação a essa
pergunta foi esclarecido que as atividades e oficinas desenvolvidas nesse espaço envolvem todas as
experiências questionadas, entretanto, as atividades práticas são as mais exploradas, pois através
dessas atividades os visitantes podem colocar em prática o que foi trabalhado de forma teórica na
sala de aula, ―enquanto na escola eles têm o assunto teórico e no espaço ciência um resumo rápido
do conteúdo e a prática‖ (En). Além disso, outro ponto bastante explorado é que através da
ludicidade ocorre o estímulo da criatividade.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Diante da analises realizadas, pudemos constatar que as atividades realizadas no Espaço


ciência na exposição do Manguezal desenvolvem atividades voltadas para uma Educação ambiental,
cujo objetivo é de desertar nos visitantes o cuidado com esse ecossistema, o qual tem sido tão
devastado pelas ações antrópicas. Além disso, subsidiam uma mudança de concepção em relação ao
Manguezal, ressaltando sua importância para o desenvolvimento de algumas espécies e para o
equilíbrio natural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo mostrou que é de grande importância a inclusão da temática Educação Ambiental


em ambientes não formais como o museu de ciência, pois ele consiste em um espaço de divulgação
científica e aborda questões relevantes no cotidiano das pessoas, esclarecendo e informando de
forma interativa. Principalmente quando se trata de um assunto de caráter urgente, como é o caso da
degradação do ecossistema manguezal, que é um assunto um pouco esquecido. No entanto é
interessante explorar essa questão, porque se trata de um ambiente importante para o equilíbrio
ambiental, partindo dessa visão, destaca-se a importância de atividades que ajudem as pessoas a
desenvolverem uma consciência crítica, e uma mudança de postura sobre as questões ambientais.
De acordo com a pesquisa constatou-se que o Manguezal é um ambiente propicio para
trabalhar a Educação ambiental, pois demanda de fatores que problematizam a necessária mudança
de valores e atitudes, estimula ações de forma responsável, respeitando o desenvolvimento natural
desse ecossistema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

AQUAPONIA: PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

Viviane Modesto ARRUDA


Professora Doutora em Fitotecnia - UEMG
viviarruda@yahoo.com.br
Júlio Cesar Pereira RIBEIRO
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da UEMG
juliocesarstuart@gmail.com
Christiano Demétrio de Lima RIBEIRO
Professor Mestre em Biologia Animal -UEMG
cdlribeiro@gmail.com
Tais Arthur CORRÊA
Professora Doutora em Quimica - UEMG
taiscorreaquimica@gmail.com

RESUMO
A sensibilização dos indivíduos por meio da Educação Ambiental em relação ao ambiente em que
vivem é fundamental para que respeitem esse espaço com qualidade de vida. Atualmente, em
virtude das questões ambientais o papel do homem é fundamental, no que tange o discutir a
Educação Ambiental em âmbito escolar. Exercitar a Educação Ambiental nas escolas é exercer a
cidadania para incentivar as crianças a compreender seu espaço, e repassar aos adultos em casa. A
Aquaponia é uma opção agro sustentável em que se baseia no sistema de reuso de água no cultivo
de plantas. O presente trabalho foi elaborado como instrumento a Educação Ambiental no
município de Ubá – MG, na escola Municipal Nossa Senhora Aparecida. Foram realizadas
atividades por meio de oficina voltada aos alunos do 2º ao 5º ano, e de idades compreendidas entre
8 a 11 anos, para esclarecer sobre o sistema Aquaponia e sua funcionalidade. Foram aplicados
questionários semi-estruturados aos alunos, docentes e funcionários da escola para avaliar sobre
seus conhecimentos sobre as plantas condimentares. Com os questionários foi possível selecionar as
plantas condimentares que melhor atenderiam a necessidade da escola e da comunidade, e dar inicio
a sua produção no sistema de Aquaponia. Dos 80 questionários aplicados, 8% dos entrevistados
conheciam o sistema de Aquaponia e 92% não conheciam, e demonstraram interesse em saber mais
sobre seu funcionamento e seus benefícios. Verificou-se que, no decorrer da inserção do projeto
houve interesse e integração dos alunos e comunidade pelo sistema de Aquaponia e seus resultados
na produção de espécies condimentares usadas na alimentação. Assim conclui-se que, neste trabalho
dentro do espaço da escola, buscou-se trabalhar com os alunos, o respeito com aos elementos da
natureza com intuito de torna-los responsáveis na concepção dos sujeitos de ação e de cidadãos
conscientes de seu papel no mundo.
Palavras-Chaves: Educação Ambiental, Sustentabilidade, Aquaponia.
ABSTRACT
Sensitization of individuals through Environmental Education in relation to the environment in
which they live is fundamental for them to respect this space with quality of life. Currently, due to
environmental issues, the role of the human being is fundamental, as far as discussing
Environmental Education in school is concerned. Exercising Environmental Education in schools is
to exercise citizenship to encourage children to understand their space, and pass it on to adults at
home. Aquaponics is an agro-sustainable option based on the water reuse system in plant
cultivation. The present work was developed as an Environmental Education instrument in the
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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

municipality of Ubá - MG, at the Nossa Senhora Aparecida Municipal School. Activities were
carried out through workshops aimed at students from 2nd to 5th grades, and aged between 8 and 11
years, to clarify about the Aquaponics system and its functionality. Semi-structured questionnaires
were applied to students, teachers, and school officials to evaluate their knowledge about the
flowering plants. With the questionnaires it was possible to select the condiment plants that would
best meet the needs of the school and the community, and begin their production in the Aquaponics
system. Of the 80 questionnaires applied, 8% of respondents knew the Aquaponics system and 92%
did not know, and showed an interest in knowing more about its operation and its benefits. It was
verified that during the insertion of the project there was interest and integration of the students and
community by the Aquaponics system and its results in the production of condiments species used
in food. Thus, it is concluded that, in this work within the school space, we sought to work with
students, respect for the elements of nature in order to make them responsible in the conception of
action subjects and citizens aware of their role in the world.
Keywords: environmental ambiental, sustainability, aquaponics.

INTRODUÇÃO

A Lei 9795 que institui Política Nacional de Educação Ambiental (1999) define educação
ambiental como sendo um conjunto de processos pelos quais os indivíduos e a sociedade constroem
valores para a conservação do meio ambiente. Sendo assim, como cita Jacobi (2003), ela possui
uma função transformadora diante da realidade da crescente degradação ambiental.
A escola é um local importante de se discutir questões relacionadas à degradação e
preservação da natureza, pois comportamentos ambientalmente corretos podem ser aprendidos no
cotidiano escolar, contribuindo com a formação de cidadãos responsáveis ( FREITAS E RIBEIRO,
2007)
A complexidade crescente das ações inerentes à sociedade e o avanço do conhecimento
humano têm resultado na criação de novos campos da ciência e de áreas tecnológicas, envolvendo
novos paradigmas e metodologias. Comparáveis, aos avanços do conhecimento agronômico e
ecológico abalizam no sentido de aproximar e integrar os conteúdos de ambos os campos em uma
perspectiva interdisciplinar (COSTA; RAMALHO, 2010).
A prática de sistemas integrados aquicultura - agricultura é empregada há vários séculos. O
multiuso da água para cultivos vegetais e a piscicultura com reciclagem de nutrientes aumentam a
eficiência produtiva do meio, intensificando a produção e aumentando a quantidade de alimentos
produzidos, com a utilização mínima de recursos não renováveis. A água oriunda da aquicultura
comumente é rica em nutrientes, especialmente em compostos de nitrogênio e fósforo, apresentando
grande potencial para o uso em produção de vegetais. Mais da metade do custo de produção na
aquicultura é voltada para produção de alimentos (EL-SAYED, 1999). Dessa forma, é importante
encontrar fontes alternativas para propiciar aproveitamento local da água, o que contribui para
melhorar a sustentabilidade e diminuir os custos de produção.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Dentro dessa temática sustentável, a aquaponia no sentido amplo conceitua-se como o


sistema de produção de organismos aquáticos em cativeiro integrado com a hidroponia, de forma
que haja benefícios para ambos (RAKOCY et al., 2004). Esta integração permitir que as plantas
aproveitem os nutrientes provenientes da água do cultivo da espécie aquática local, melhorando a
qualidade da água (QUILLÉRÉ et al.,1995). Esta atividade vem ganhando atenção como um
sistema biointegrado de produção de alimentos que poderia ser realizado em sistemas fechados de
circulação. Entre as vantagens da aquaponia, incluem- -se o prolongado reuso da água e a
integração dos sistemas de produção de organismos aquáticos e plantas, que permitem uma
diminuição dos custos (ALDER et al., 2000) e melhoram a rentabilidade dos sistemas de
aquicultura.
A abordagem do projeto justificou-se, por sua interdisciplinaridade e construção do
conhecimento e de conceitos trabalhados no decorrer do projeto como sustentabilidade, educação
ambiental em prol da promoção do meio ambiente aos quais os sujeitos alunos, professores,
funcionários e progenitores foram inseridos.
O projeto teve a perspectiva de trabalhar os conceitos de Educação ambiental, alimentar e
sustentabilidade na visão interdisciplinar na escola, por meio da construção do sistema aquaponico
para produção de plantas condimentares e hortaliças.

MATERIAL E MÉTODO

Local do Trabalho

A cidade de Ubá- MG, na Zona da Mata Mineira, possui uma das maiores densidades
demográficas da Zona da Mata, o que pode ser facilmente visível nas regiões central, noroeste, leste
e sudeste da cidade, onde se concentram os bairros mais populosos. O clima da cidade é classificado
tropical com chuvas durante o verão e temperaturas médias anuais entre 18,2ºC e 31ºC. Os
municípios limítrofes as cidades de Dores do Turvo, Senador Firmino, Divinésia, Visconde do Rio
Branco, Guidoval, Rodeiro, Astolfo Dutra, Piraúba, Tocantins.

Caracterização da Área
O sistema foi implantado na Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Ubá
– MG na Zona da Mata de Mineira. A escola possui turnos matutino e vespertino, em ambos os
turnos são servidas refeições. Este foi um dos fatores para a instalação do projeto na escola, com o
uso de espécies condimentares. Outro fator de escolha fundamenta-se na área, ou seja, a escola
possuía espaço físico para instalação do sistema.
Mobilização

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

No início da instalação do projeto ocorreu uma mobilização de todos os envolvidos alunos,


professores e funcionários para criar a identidade do projeto com o intuito de agregar a participação
com a possibilidade de mudança no cotidiano dos envolvidos.
Instalação do Sistema
Para a instalação do sistema aquapônico foram utilizados tambores de plástico de cor escura,
com capacidade de cinquenta litros. Dentro destes tambores foram inseridos, um filtro de
escorredor de arroz invertido. Na caixa d‘água acoplada ao sistema foram colocadas doze tilápias
de pesos variados, a bomba utilizada foi submersa denominada sapo com vazão de 1400 L/hora. As
bancadas para criação das espécies foram feitas com tubos de PVC. Todo o sistema foi instalado
numa área protegida por tela.

Cultivo das Espécies

As espécies vegetais utilizadas foram: pimenta (Capsicum L.), cebolinha (Allium


fistulosum), salsa (Petroselinum crispum (Mill.); Coentro (Coriandrum sativum) selecionadas junto
às escolas durante a etapa participativa. O plantio das espécies foi realizado por meio de sementes
em substrato - terra vegetal e recipientes plásticos que foram adaptados ao sistema de montagem.

Alimentação dos Peixes

Os peixes escolhidos para a realização do trabalho foram tilapias (Oreochromis niloticus),


adquridas em pesque-pague da região. Foram implantadas doze tilápias no sistema. A etapa de
alimentação dos peixes foi por meio da ingestão de ração diária especifica para a especie. Nesta fase
foi constante a participação dos alunos, ou seja os professores levavam os alunos para alimentar os
peixes como forma de aprendizado ecujo momento realizado por eles, para que se sentissem parte
do projeto. Por tratar-se de um sistema sem fins lucrativos, e não industrial não foram realizadas
nenhuma forma de controle em água.

Aplicação de Questionários

Como forma de acompanhamento do projeto foram aplicados questionários a todos os


envolvidos no projeto, docentes, alunos, funcionários, com o intuito de avaliar o impacto do projeto
na escola e no cotidiano de cada um dos envolvidos.
A participação dos pais foi por meio do desenvolvimento de receitas utilizadas em casa que
continham espécies condimentares, e ou hortaliças.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Manutenção

Quando as mudas atingiram a época de colheita, 35 dias, as cavidades forma substituídas por
outras.

Divulgação

Como forma de estimular o desenvolvimento do projeto em outras escolas, e ou informar a


comunidade em geral foram confeccionados folders contendo informações básicas sobre o sistema.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema aquapônico apresentou-se como metodologia inovadora no processo de ensino -


aprendizagem, pois com a construção do sistema os alunos obtiveram compreensão a cerca dos
conteúdos. Verifica-se que, houve uma maior integração aluno-professor / aluno-escola o que gerou
um momento para discutir sobre a importância da sustentabilidade. O sistema também contribuiu
para ajudar na relação entre os alunos e os pais, pois foi solicitada uma receita que utilizasse
espécies condimentares ou hortaliças na alimentação. Na turma do período matutino houve a
participação de quinze receitas enviadas, sete receitas utilizavam espécies condimentares e
hortaliças. Dos 80 questionários aplicados 8% dos entrevistados conhecem sobre o sistema
aquapônico, 92% não conhecem sobre o sistema, figura 1.

Figura 1 – Conhecimento sobre o sistema aquapônico dos pais, professores e funcionários na escola Municipal
Nossa Senhora Aparecida. Ubá- MG, 2014.

Dos entrevistados 75% tinham entre 31 e 40 anos, 20% entre 41 e 50 anos 5% entre 51 e 60
anos. 65% dos entrevistados tinham o segundo grau incompleto, 80% são donas de casa.
No decorrer das entrevistas 100% dos entrevistados utilizam plantas condimentares ou alguma
hortaliça no seu dia a dia. Das espécies mais citadas (figura 2) foram cebolinha (90%) e
salsinha(85%), seguidas da hortaliça alface( 55%), orégano (50%), pimenta (45%),agrião (35%) e
hortelã (20%).

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 2- Espécies mais citadas (%) pelos entrevistados, Ubá - MG, 2014.

Das espécies citadas neste projeto 65% são adquiridas em supermercados, 25% em
quitandas do bairro e 5% cultivadas em casa. Dos entrevistados ( 95%) utilizam as espécies frescas
salsa, cebolinha, alface, agrião frescas, exceto para as espécies hortelã e orégano são adquiridas no
mercado na forma seca (5%).
Todos os entrevistados gostariam de cultivar as espécies em casa, mas alguns citaram
dificuldades no cultivo. Dentre elas manter as espécies no sistema orgânico. As embalagens mais
citadas 65% foram os pets, seguidos da caixa de leite 25% , 8 % latas de alumínio e 2% vidros (
figura 3).

Figura 3- Embalagens mais citadas para cultivo das espécies condimentares e hortaliças. Ubá – MG, 2014.

De acordo com a figura 4 e 5 verificou-se que a escola Nossa Senhora Aparecida


apresentou um espaço territorial apropriado para desenvolvimento das atividades de forma a
auxiliar a interação entre os alunos- professores e funcionários. Este espaço físico adequado propõe
condições para que educação ambiental possa ser adotada de forma metodológica e ser realizada
atendendo os padrões de articulações dos espaços formais e não-formais de educação. A
aproximação da escola à comunidade em que se insere leva ao planejamento integrado de
atividades curriculares e extra-curriculares, onde a escola em seu espaço caminha para a construção
coletiva e democrática do projeto político-pedagógico e pela vinculação das atividades de cunho
cognitivo com as mudanças das condições objetivas de vida.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Figura 4 – Entrada da Escola Nossa Senhora Aparecida. Ubá – MG, 2014.

Figura 5- Pátio da Escola Nossa Senhora Aparecida. Ubá – MG,2014.

Os sistemas aquapônicos são encontrados no mercado montados de forma atender a uma


população que exige a obtenção de espécies de qualidade no seu cotidiano. Na figura 6 observa-se
que, a estrutura utilizada neste projeto foi montada passo a passo na escola usando materiais de
baixo custo. A proposta visa atender uma metodologia de construção para mostrar aos alunos
maneira de aproveitar elementos e ser sustentável, dando um novo olhar para

Figura 6 – Montagem do sistema no pátio da escola Nossa Senhora Aparecida, Ubá- MG

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

Atividades com o objetivo de incentivar e sensibilizar os alunos para a compreensão sobre o


sistema aquapônico foram realizadas com os alunos, seguindo a idéia de promover Educação
Ambiental como recomendam Parâmetros Curriculares Nacional, através dos temas transversais
(MEC/SEF,1998). As ações desenvolvidas com as crianças foram diferentes no turno da manha e da
tarde por contemplarem faixas etárias diferentes de alunos matriculados no ensino fundamental.
No turno da manhã, cada turma ficou responsável por levar um questionário para casa, e
assim obter respostas para servir de base para o cultivo das espécies no sistema e futuro uso na
escola (Figura 7).

Figura 7 – Aplicação da oficina aos alunos. Ubá, 2014.

Como forma de sensibilização, durante o projeto foram realizadas visitas com o intuito de
alimentar os peixes, e assim demonstrar a importância de cuidar dos peixes para o desenvolvimento
das espécies. De acordo com Tomazello e Ferreira, 2001 , a educação no ambiente reconhece que os
comportamentos vêm guiados muito mais pelas nossas emoções e valores do que por nossos
conhecimentos, portanto é necessário não só oferecer aos educandos informações como propor
experiências que reconstruam a conexão entre o homem e a natureza. Nesse caso, a teoria implícita
é que o vínculo emotivo com o meio ambiente será suficientemente forte para promover mudanças
de comportamento (Figura 8).

Figura8 – Visita e interação dos alunos no sistema aquapônico montado. Ubá, 2014.

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Educação ambiental: ensino, pesquisa e práticas aplicadas

CONCLUSÃO

Conclui-se que, a implantação do sistema aquapônico na escola foi considerado uma técnica
sustentável por proporcionar benefícios para o ambiente escolar. A integração do sistema
aquapônico permitiu que as plantas utilizassem os nutrientes provenientes da água do cultivo de
peixes, melhorando a qualidade de vida e a valorização do conhecimento sobre as espécies. Durante
todas as ações no processo avaliativo foi observado que a sensibilização ambiental deve ser
trabalhada com as crianças, para que elas cresçam desenvolvendo o respeito com a natureza e
saibam que é importante preservá-la.
Informar e consequentemente sensibilizar é uma etapa essencial de qualquer trabalho
relacionado às questões ambientais, pois somente através do abandono de atitudes prejudiciais e
adoção de boas práticas, é que podemos garantir um ambiente saudável para a atual e para as
futuras gerações.

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tilapia and basil: comparing a batch and staggered cropping system. Acta Horticulturae (ISHS),
648:63-9.2004.

ISBN: 978-85-68066-52-2 Página 1516

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