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Tradução e comentários de Fernando Vázquez Ramos | Team 10: Manifesto de Doorn.

Team 10: Manifesto de Doorn.


Team 10: the Doorn Manifesto.
Tradução e comentários de Fernando Vázquez Ramos*

Resumo Abstract

O artigo discute o Manifesto de Doorn, impor- The article discuss the “Doorn Manifesto”, which
tante texto que inaugura o trabalho do Team 10 is an important text that introduces the Team 10
e que seria o preâmbulo do X CIAM, o Congres- work and serves, also, as an preamble to the CIAM
so onde se declarou a morte do evento que ti- X. During the 10th CIAM commission, Team 10
nha sido inaugurado em 1928 em La Sarraz. No declared the death of the event, which had been
Manifesto, se apresentam as novas posições inaugurated in 1928 in La Sarraz. This Manifes-
sobre o urbanismo dos anos de pós-guerra, já to presents new stances on city planning during
não mais pautado pela Carta de Atenas. A bus- post-war years. At that time, urbanism was no lon-
ca de novas definições que dessem conta da ger guided by the Charter of Athens. The search
complexidade da cidade nos anos 1950-1960 for new definitions to account for the complexity
introduz o conceito de “habitat”, que tentam of the city in the years 1950-1960, ultimately lead
*Arquiteto (UNBA, 1979); adotar e explicar os jovens arquitetos europeus to the concept of “habitat”. This new concept was
Técnico em Urbanismo (INAP, que herdaram a tradição moderna e arriscaram undertaken by the young European architects who
1988); Master em Estética superá-la. Além de uma introdução que procu- had inherited modern tradition and tried to overco-
y Teoria de las Artes (IETA, ra situar o Manifesto em seu contexto históri- me it. This article presents an introduction to the
1990); Doutor em Arquitetura co e cultural, apresentam-se aqui os textos no historical and cultural situation of the text, as well
(ETSAM-UPM, 1992). Desde original e uma tradução ao português, assim as the originals and the Portuguese translation,
2010, é professor responsá- como as indicações bibliográficas onde se po- they also offer bibliographical information, which
vel no curso de Arquitetura dem encontrar os originais e outras traduções contains the original texts and other translations,
e Urbanismo e no Programa ao castelhano e ao português. such as Spanish and Portuguese.
de Pós-graduação da USJT.
Desde 2011, é coeditor da Palavras chaves: Team 10, manifestos, modern Key Words: Team 10, manifestos, modern archi-
revista eletrônica arq.urb. architecture, Brutalism tecture, Brutalism

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Introdução

A Declaração do Habitat, produzida por parte Contudo, ele tem algumas particularidades que
dos integrantes do Team 101 nos anos 1950, o distinguem dos manifestos tradicionais escri-
é o último manifesto do Movimento Moderno. tos pelos arquitetos modernos continentais. A
1.Team 10 é o nome que Com ele se encerra o glorioso período dos ma- primeira é que está escrito em inglês. Destar-
recebeu o grupo de jovens nifestos, que tivera início durante a Primeira te, evidencia-se nele parte da estratégia que
arquitetos encarregados de
Guerra Mundial (1914-1918) e que fora a arma os jovens arquitetos que formavam o Team 10
organizar o X Congrès Inter-
nationaux d’Architecture Mo- predileta dos combativos arquitetos dos anos decidiram implementar para quebrar o domínio
derne (CIAM). A encomenda 1920-30 para expressar suas ideias e suas pro- dos mestres da primeira e da segunda gera-
foi feita a eles durante o IX
postas, majoritariamente utópicas. Trata-se, ção que dominavam a estrutura dos Congrès
CIAM, que aconteceu em
Aix-en-Provence, em 1953. no entanto, de um texto de transição. Pois, se Internationaux d’Architecture Moderne e que
O X encontro deveria realizar- bem é certo que tenta usar a estrutura de um falavam, e escreviam, em francês. Peter Smi-
-se inicialmente em Argel,
manifesto (pontual, pragmática, declaratória, thson (in SPELLMAN e UNGLAUB, 2004, p. 23)
em 1955, mas por questões
relacionadas com à instabili- intencional e sobretudo afirmativa e portadora afirmou que:
dade do norte da África, nos de alguma verdade que deve ser revelada para
anos 1950, terminou sendo
ser seguida), de fato, só expõe uma serie de Os CIAM eram uma organização francesa, e
realizado em Dubrovnik (an-
tiga Iugoslávia), em 1956. Os postulados genéricos que pretendem cercar toda sua documentação estava em francês.
integrantes mais importantes, um conceito esquivo ou inexistente nos anos Durante e depois da II Guerra Mundial, os alia-
que podem ser considerados
1950: o de “habitat”. É menos uma revelação dos ocidentais impuseram o inglês como língua
seu núcleo duro, são: Jaap
Bakema, Georges Candilis, que uma suposição, ou o interesse num novo internacional, o que significou que a arquitetura
Giancarlo De Carlo, Aldo van entendimento do ambiente como determinante e a arte, que ao final da década de 1940 girava
Eyck, Alison e Peter Smith-
son, e Shadrach Woods.
da arquitetura e da cidade. em torno de Paris, se debilitaram. [Assim,] nos

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comprometemos a fazer com que os debates O outro texto, o Manifesto de Doorn, é uma adap-
arquitetônicos mudassem para o inglês. tação posterior de Alison Smithson (Figura 1) que
circulou em revistas inglesas a partir da publica-
A segunda é que introduz um termo latino, que vi- ção da obra dos Smithson por Theo Crosby em
nha da ecologia, mas que tinha sido apresentado Uppercase (n. 3, 1960) (Figura 2). Esse mesmo
por Le Corbusier no VIII CIAM, cujo significado texto foi publicado repetidas vezes desde então e
na época era difuso e podia ser entendido como acabou sendo sua versão mais conhecida.
uma ideia análoga à de “habitação” (acepção
cara a Giedion, Sert, Gropius e Le Corbusier) ou
como um conceito novo que, partindo da comu-
nidade, pretendia entender o “ambiente” no qual
ela se desenvolvia (ponto de vista defendido pe-
los jovens arquitetos que questionavam a visão
funcionalista do CIAM). Assim, o documento ser-
via aos interesses de vários grupos que de fato
eram antagônicos, o que o transformava num
“cavalo de Troia” plantado às portas do X CIAM.
A terceira é que não é um documento, mas dois,
pois ele tem duas versões: a Declaração do Ha-
bitat e o Manifesto de Doorn. O texto mais antigo
é o da Declaração, que foi o resultado da primei-
ra reunião do Team 10 na cidade holandesa de
Doorn, entre 29 e 31 de janeiro de 1954. Partici-
param dessa reunião os arquitetos Jaap Bakema
(1914-1981), Aldo van Eyck (1918-1999), Daniel
2.The Valley Section foi ini-
cialmente apresentada por van Ginkel (1920-2009), Alison e Peter Smithson
Geddes em 1905, em seu (1928-1993; 1923-2003), John Voelkler (1927-
Figura 1. Texto mecanografado do Manifesto de Doorn, escri-
livro Civics: as applied so-
1972) e o economista Hans Hovens-Greve, que to por Alison e Peter Smithson. O título do texto é “Habitat”.
ciology (Londres: Macmillan,
devem ser considerados seus autores. Eles assi- Carimbos com as datas de 2 e 3 de fevereiro 1960. Fonte:
1905), e republicado em di-
http://team10assignment.blogspot.com.br/. (10/05/2013)
ferentes versões desde essa naram a Declaração como um documento prepa-
data; a mais citada talvez
ratório e programático para orientar os trabalhos Apesar de algumas diferenças quanto à forma,
seja a de 1925, no jornal The
Survey (Jun. 1, 1925, p. 288- que seriam apresentados no X CIAM, que voltaria a Declaração tem quatro pontos e uma explana-
290). a discutir o tema do “habitat”. ção, e o Manifesto só apresenta oito pontos; mas,

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no geral, são textos muito parecidos. Neles, os gem, os arquitetos do pós-guerra imaginam uma
membros do Team 10 esclarecem seus princípios nova organização do diagrama, que apresenta a
sobre o que significa a construção do ambiente casa rural, vinculada à produção agrícola, pas-
humano, desde a casa até a cidade. Justamente sando pela vila pré-industrial, ou protoindustrial,
essa diversificação entre ambientes era a base até a cidade industrial, que era a maior conquis-
conceitual para evitar continuar construindo as ta da civilização e ficava no eixo do vale (Figura
mesmas casas em todos os lugares, pois, como 4). Curiosamente, a importância do esquema de
afirmavam, “o modelo da casa depende do am- Geddes tem sido enfatizada mais pela crítica que
biente” (MUMFORD, 2000, p. 239). pelos próprios arquitetos do Team 10. Em 2001,
Peter Smithson (2004, p. 38) explicava aos estu-
Para explicar esse entendimento, os jovens ar- dantes que eles já haviam usado o diagrama de
quitetos introduziram uma adaptação do diagra- Geddes, pois, na época, na Inglaterra, acontecia
ma da organização territorial (The Valley Section) um processo de revisão de seu trabalho. Essa
criado por um urbanista escocês no início do revisão não consistia em nenhum estudo apro-
século XX:2 Patrick Geddes (1854-1932). Nesse fundado; só lhes tinha chegado às mãos como
diagrama, em um corte esquemático (Figura 3), uma espécie de “presente” de seus professores.3
Geddes apresenta diferentes agrupamentos hu- Ainda assim, o uso do diagrama alterado foi par-
manos, em diferentes estágios de produção e ticularmente oportuno, posto que ali se resumia
de urbanização, mas relacionados com seu meio o entendimento das novas formas de perceber o
Figura 2. Capa da revista Uppercase, n. 3, 1960. Dirigida por
Theo Crosby. Número especial dedicado aos arquitetos Ali- ambiente. A partir do entendimento dessa ima- mundo: ecológica, social, e cultural.
son e Peter Smithson e ao fotográfo Nigel Henderson.

3. Lewis Mumford manteve 1950. Mumford, L. “Mumford


uma importante correspon- on Geddes”, in Architectural
dência com Patrick Ged- Review, V. CVIII, ago. 1950,
des entre 1915 e 1932 e foi p. 81-87. Publicado também
grande promotor das ideias como: “Patrick Geddes and
do escocês nos anos 1950- his Cities in Evolution”, in
1960. Publicou um artigo Magazine of Art, V. XLIV, jan. Figura 3. Diagrama de Patrick Geddes: “The Valley Section” como publicado em seu seu livro Civics: as applied sociology
biográfico de Geddes em 1951, p. 25-31. (Londres: Macmillan, 1905).

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Ambos os textos são importantes também por- “El Manifiesto de Doorn” [tradução ao caste-
que representam o primeiro trabalho conjunto do lhano], in: Manual del Team 10. Buenos
grupo e seu único manifesto. Os trabalhos poste- Aires: Libreria Nueva Visión, s/d, p. 37.
riores, especialmente o publicado por Alison Smi- Tradução de Mario Pozo do número de
thson em 1962, Team 10 Primer, têm formas total- dezembro de 1962 da revista Architectural
mente diferentes. Seguindo a ideia da colagem de Design.
fragmentos, escritos ou desenhados, de todos os
membros do grupo, esse formato certamente ex- “El Manifiesto de Doorn” [tradução ao cas-
pressa de forma evidente as rupturas e as reformu- telhano], in: HEREU, Pere; MONTANER,
Figura 4. Primeiro desenho de Peter Smithson interpretando o lações que convulsionaram os anos 1960-1970. Josep Maria e OLIVERAS, Jordi (Orgs.).
diagrama do “Valley Section” de Geddes. Doorn, 1954. Fonte: Textos de Arquitectura de la Modernidad.
http://rhetoricplatform.wordpress.com/tag/the-smithsons/.
As publicações do texto e suas traduções Madri: Nerea, 1999, p. 290-292. Essa tra-
(10/05/2013)
dução inclui o comentário ao manifesto
“Doorn Manifesto” [original em inglês], in: que Alison Smithson publicou em seu arti-
CROSBY, Theo (Ed.). Uppercase 3. Lon- go “Alternatives to the Garden City”, Archi-
dres: Whitefriars Press, 1960, s/p. Pos- tectural Design, jul. 1956.
teriormente reeditado em: SMITHSON,
Alison (Ed.): Team 10 Primer. 1953-1962. “Manifesto de Doorn” [tradução ao portu-
Architectural Design, dez. 1962; e reedi- guês], in: BARONE, Ana Cláudia Castilho.
tado como Team 10 Primer. Boston: MIT Team 10: arquitetura como crítica. São
Press, 1968. Paulo: Annablume/Fapesp, 2002, p. 66-67.
Traduzido do original publicado em SMI-
“Doorn Manifesto” [original em inglês], in: THSON, Alison (Ed.): Team 10 Primer. Bos-
OCKMAN, Joan e EIGEN, Edward (Orgs.). ton: MIT Press, 1968.
Architecture Culture 1943-1968. New
York: Columbia Books of Architecture/Ri- “Manifesto Doorn” [tradução ao português],
zzoli, 1996, p. 183. in: AMORIM, Mariana Souza Pires de. O
Novo Brutalismo de Alison e Peter Smith-
“Statement on Habitat” [original em inglês], in: son. Em Busca da Ordem Espontânea da
MALLGRAVE, Harry Francis e CONTANDRIO- Vida. Dissertação de Mestrado. Rio de
POULOS, Christina (Eds.). Architectural The- Janeiro: Pontifícia Universidade Católica,
ory. An Anthology from 1871-2005 (v. II). Mal- 2008, p. 113-114. Traduzido do original in:
den: Blackwell Publishing, 2009, p. 323-324. SMITHSON, Alison e Peter. Urban Structu-

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ring: Studies of Alison and Peter Smithson. tely expressed.


London: Studio Vista, 1967, p. 19. To comprehend these human associations we
must consider every community as a particular
Os textos originais total complex.

“Statement on Habitat” (MALLGRAVE, CONTAN- In order to make this comprehension possible, we


DRIOPOULOS, 2009, p. 324). propose to study urbanism as communities of va-
rying degrees of complexity.
1) La Charte d’Athènes proposed a technique
which would counteract the chaos of the 19th These can be shown on a Scale of Association:
Century, and restore principles of order within We suggest that the commissions operate each
our cities. in a field not a point on the Scale of Association,
for example
2) Through this technique the overwhelming
variety of city activities was classified into four isolated buildings (Note: These fields are sufficien-
distinct functions which were believed to be tly finite for general purposes but there may be
fundamental. new forms of association, new patterns of com-
munity which replace the traditional hierarchy)
3) Each function was realized as a totality wi- villages
thin itself. Urbanists could comprehend more towns
clearly the potential of the 20th Century. cities

4) Our statement tries to provide a method This will enable us to study particular functions
which will liberate still further this potential. As in their appropriate ecological field. Thus a hou-
a direct result of the 9th Congress at Aix, we sing sector or satellite of a city will be conside-
have come to the conclusion that if we are to red at the top of the scale, (under City, 4), and
create a Charte de l’Habitat, we must redefine can in this way be compared with development
the aims of urbanism, and at the same time in other cities, or contrasted with numerically
create a new tool to make this aim possible. similar developments in different fields of the
Scale of Association. This method of work will
Urbanism considered and developed in the terms induce a study of human association as a first
of the Carte d’Athènes tends to produce “towns” principle, and of the four functions as aspects of
in which vital human associations are inadequa- each total problem.

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Declaração do Habitat4 um conjunto específico.

1) La Charte d’Athènes5 propôs uma técni- Para compreender essa ideia, propomos conce-
4.Tradução nossa do origi- atuar num determinado lugar, ca que agiria contra o caos do século XIX e ber-se urbanismo como o estudo de comunida-
nal “Statement on Habitat”, é preciso começar definin-
restauraria os princípios de ordem em nossas des de diferentes graus de complexidade.
publicado em: MALLGRAVE do suas condições sociais
e CONTANDRIOPOULOS, específicas. Na realidade, cidades.
2009, p. 324. O mesmo tex- trata-se de um “diagrama” Elas podem ser organizadas segundo uma Esca-
to pode ser encontrado em que representa a noção de
2) Por meio dessa técnica, a enorme varieda- la de Associação,8 e sugerimos que cada comis-
OCKMAN, Joan e EIGEN, mudança de complexidade
Edward (Orgs.). Architectu- e possibilidades de asso- de de atividades da cidade foi classificada em são opere em um campo, e não em um ponto
re Culture 1943-1968. New ciação humana que ocorrem quatro funções distintas, que se acreditava dessa Escala. Por exemplo:
York: Columbia Books of nas comunidades locali-
serem essenciais. edifícios isolados (Nota: Esses campos são su-
Architecture/Rizzoli, 1996, zadas nas diferentes áreas
p. 183. de um vale, que incluem a ficientemente finitos para fins gerais, mas pode
5.O nome da “Carta de Ate- grande cidade (no centro do 3) Cada função foi percebida como uma to- haver novas formas de associação ou novos pa-
nas” é sempre escrito em vale) e as diferentes escalas
talidade em si mesma. [Assim, os] urbanistas drões de comunidade que substituam a hierar-
francês no original, sem de associação humana das
aspas e sem diferença na vilas e das aldeias, até as ca- podiam compreender melhor o potencial do quia tradicional.)
grafia, talvez para demarcar sas isoladas do mundo rural. século XX. aldeias
velhos e novos territórios, O diagrama do Vale foi de-
vilas
vinculando ao francês a óti- senhado por Peter Smithson
ca funcionalista do CIAM (La (Figura 4). 4) Nossa declaração tenta prover um método cidades9
Charte d’Athènes) e ao inglês 9. Em português, a diferença que liberará esse potencial ainda mais. Como
a nova visão de mundo e do entre as categorias estabe-
resultado direto do IX Congresso de Aix,6 che- [primeiro diagrama da “Seção de Vale” desenha-
urbanismo do Statement on lecidas no inglês (villages,
Habitat. towns e cities) é hoje relati- gamos à conclusão de que, se quisermos ins- do por Peter Smithson, 1954] (Figura 4)
6.O texto refere-se ao IX va, contudo, no passado co- tituir uma Charte de l’Habitat,7 é preciso rede-
CIAM, que se realizou na lonial, a categorização dos
finir os objectivos do urbanismo e, ao mesmo Isso nos permitirá estudar funções específicas em
cidade francesa de Aix-en- assentamentos humanos era
-Provence, em 1953. bem mais clara e próxima ao tempo, criar uma nova ferramenta para viabili- seu respectivo campo ecológico. Assim, um setor
7.Em francês no original. significado ainda atual dos zar esse objetivo. de habitação ou uma área satélite de uma cidade
Nesse caso, é de supor que termos em inglês. Para esse
será alocada no topo da escala (no item 4, cidade),
assim se pretendesse enfati- período os termos “aldeia”,
zar a importância disciplinar “vila” e “cidade” possuem O urbanismo considerado e desenvolvido nos podendo, assim, ser comparado com o desenvol-
da nova proposta que deve- conotações específicas e termos da Charte d’Athènes tende a produzir “ci- vimento de outras cidades ou com crescimentos
ria substituir a antiga “carta”. bem diferenciadas. Conf.
dades” que não representam adequadamente as numericamente similares em diferentes campos
8.O conceito de Escala de MOREIRA, Rafael. A arte da
Associação é o fundamento ruação e a cidade luso- associações humanas vitais. da Escala de Associação. Esse método de tra-
de um método de planeja- -brasileira. Cadernos de balho induzirá um estudo da associação humana
mento baseado nas ideias Pesquisa do LAP, n. 37, jan./
Para compreender essas associações humanas, como um primeiro princípio e as quatro funções
de Patrick Geddes, que de- jun. 2003, p. 8-30. Série Ur-
fendia que, para entender e banização e Urbanismo. devemos considerar toda a comunidade como como os aspectos de cada problema total.

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Doorn Manifesto (CROSBY, 1960) 8) The appropriateness of any solution may lie
in the field of architectural invention rather than
1) It is useless to consider the house except as social anthropology.
a part a community owing to the inter-action of
these on each other. Manifesto [de] Doorn10

2) We should not waste our time codifying 1) É inútil considerar a casa, exceto como
the elements of the house until the other rela- parte de uma comunidade, devido à interação
tionship has been crystallized. entre elas [e com a comunidade].

3) “Habitat” is concerned with the particular 2) Não devemos desperdiçar nosso tempo
house in the particular type of community. codificando os elementos da casa até que o
outro relacionamento [o da comunidade] não
4) Communities are the same everywhere. 1) esteja cristalizado.
detached houses – farm. 2) Village. 3) Towns
of various sorts (Industrial, Admin. Special). 4) 3) O “habitat” refere-se à casa específica num
Cities (multi-functional). tipo particular de comunidade.

5) They can be shown in relationship to their 4) As comunidades são as mesmas em toda


environment (Habitat) in the Geddes valley parte. 1) moradias isoladas – chácara. 2) Al-
section. deia. 3) Cidades de vários gêneros (industrial,
admi[nistrativo], especial). 4) [grandes] cida-
6) Any community must be internally con- des (multifuncionais).
venient – have ease of circulation, in conse-
quence whatever type of transport is avai- 5) Elas aparecem relacionadas com seu ambien-
lable, density must increase as population te (habitat), na seção do Vale de [Patrick] Geddes.
increase, i.e. (1) is least dense (4) is most
dense. [segundo diagrama da “Seção de Vale” desenha-
do por Peter Smithson, 1960] (Figura 5)
7) We must therefore study the dwelling and
10.Tradução nossa do original the groupings that are necessary to produce 6) Qualquer comunidade deve ser internamen-
publicado por Alison e Peter convenient communities at various points on te acessível – ter a circulação facilitada –, con-
Smithson na revista Upperca-
se, n. 3 (CROSBY, 1960). the valley section. sequentemente, qualquer tipo de transporte

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BARONE, Ana Cláudia Castilho. Team 10: arqui-


tetura como crítica. São Paulo: Annablume/Fa-
pesp, 2002.

BANHAM, Reyner. El brutalismo en arquitectura:


¿ética o estética? Barcelona: Gustavo Gili, 1967.

CROSBY, Theo (Ed.). Uppercase 3. Londres:


Whitefriars Press, 1960.
Figura 5. Segundo diagrama do "Valley Section", desenhado está disponível, a densidade deve aumentar
por Peter Smithson, 1960. Como aprece na publicação do FRAMPTON, Kenneth. As vicissitudes da ideolo-
na medida do aumento da população, ou seja,
Manifesto de Doorn, em Uppercase n. 3, 1960.
(1)11 é a menos densa e (4) é a mais densa. gia: os CIAM e o Team X, crítica e contracrítica,
1928-68. In: ______. História crítica da arquite-
7) Devemos, portanto, estudar a habitação e tura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003,
os agrupamentos que são necessários para cap. 3, p. 325-339.
produzir comunidades acessíveis em vários
pontos na seção do Vale. GOLD, John R. The Practice of Modernism.
Modern architects and urban transformation,
8) A adequação de qualquer solução [aos pro- 1954-18972. New York: Routladge, 2007.
blemas apontados] pode estar no campo da
invenção arquitetônica, preferivelmente que HEREU, Pere; MONTANER. Josep Maria; OLI-
no da antropologia social. VERAS, Jordi (Orgs.). Continuidad y Revisión
del Movimiento Moderno. In: ______. Textos de
Referências bibliográficas arquitectura de la modernidad. Madri: Nerea,
1999, cap. 9,, p. 289-350.
AMORIM, Mariana Souza Pires de. O Novo Bru-
talismo de Alison e Peter Smithson: em busca MONTANER, Josep Maria. Continuidade ou cri-
da ordem espontânea da vida. Dissertação (Mes- se. In: ______. Depois do movimento moderno.
trado em História Social da Cultura) – Centro de Barcelona: Gustavo Gili, 2009, p. 12-35.
11.Indica o número dado a
cada aglomeração no es- Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católi-
quema da Seção do Vale de ca, Rio de Janeiro, 2008. MUMFORD, Eric Paul. The CIAM Discourse on
Geddes: (1) são as moradias Urbanism: 1928-1960. USA: MIT Press, 2000.
isoladas e (4) a grande cida-
de multifuncional.

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______. Defining Urban Design: CIAM Architects SPELLMAN, Catherine; UNGLAUB, Karl (Eds.).
and the Formation of a Discipline, 1937-1969. Peter Smithson: conversaciones con estudian-
New Haven: Yale University Press, 2009. tes – un espacio para nuestra generación. Barce-
lona: Gustavo Gili, 2004.
OCKMAN, Joan; EIGEN Edward (Orgs.). Archi-
tecture Culture 1943-1968. Nova York: Colum- WEBSTER, Helena (Ed.). Modernism Without
bia Books of Architecture/Rizzoli, 1996. Rhetoric: Essays on the Work of Alison and Peter
Smithson. Londres: Academy, 1997.
RISSELADA, Max (Ed.). Alison & Peter Smithson:
A Critical Anthology. Barcelona: Polígrafa, 2011. Websites

RODRIGUES, José Manuel. 1950-1960. In: TEAM 10 BIBLIOGRAPHY. Contém uma biblio-
______. Teoria e crítica de arquitetura: século grafia selecionada e ordenada cronologicamente,
XX. Lisboa: Ordem dos Arquitetos SRS/Caleidos- com publicações de e sobre o Team 10 em geral,
cópio, 2010, p. 346-448. especialmente sobre seus principais membros:
Jaap Bakema, Georges Candilis, Giancarlo De
SMITHSON, Alison (Ed.). Team 10 Primer, 1953- Carlo, Aldo van Eyck, Alison e Peter Smithson e
1962. Architectural Design, Londres, n. 12, dez. Shadrach Woods. Disponível em: <http://www.
1962. Número especial. team10online.org/team10/bibliography.html>.
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SMITHSON, Alison (Ed.). Team 10 Primer. Bos-
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SMITHSON, Alison. Manual del Team 10. Tradução de
Mario Pozo. Buenos Aires: Libreria Nueva Visión, s/d. THE DOORN MANIFESTO. Contém o texto em
inglês do Manifesto de Doorn, publicado na
SMITHSON, Alison; SMITHSON, Peter. Urban 2ª edição do Team 10 Primer. Nova York: MIT
Structuring: Studies of Alison and Peter Smith- Press, 1974. Contém ainda uma imagem do tex-
son. Londres: Studio Vista, 1967. to datilografado por Alison Smithson em 1962.
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celona: Gustavo Gili, 2001.

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