Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
documentário experimental
por Rafael de Almeida¹
Sendo assim, por um viés vertoviano, temos que a câmera não era conside-
rada capaz de capturar a realidade. Nesse sentido, Vertov defendia “uma atitude
de reconstrução poética dos registros do que a câmera viu” (NICHOLS, 2005:
131), em especial por perceber a máquina por um viés futurista, como modelo
para o homem, e manter uma postura anti-ilusionista. Por isso o líder dos kinoks
se vale de todos os recursos e procedimentos da linguagem cinematográfica
possíveis, com especial importância para as noções de montagem e intervalo,
tão caras para as aproximações que pretendemos apontar.
Os filmes produzidos pelo método do cine-olho estavam ininterruptamente
em processo de montagem, de construção. Eram considerados resultados de
um processo de criação artística, assumidamente fabricados da escolha do
tema à finalização da obra. As teorias soviéticas da arte construtivista e da
montagem fílmica atrelavam a capacidade de o aparato fílmico representar o
mundo histórico com fidelidade fotográfica “ao desejo do cineasta de recriar o
mundo numa imagem da nova sociedade revolucionária.” (NICHOLS, 2005: 133).
O intervalo – ou seja, o efeito de transição entre os planos, as correla-
ções visuais sugeridas entre os planos – permitia ao cineasta construir novas
percepções do mundo histórico e deixava nas obras lacunas que deveriam ser
preenchidas pelo próprio espectador. Os filmes, desse modo, visavam a uma
participação mental ativa do espectador e pretendiam não só decifrar o mundo,
As sinfonias
_________. The Film American Film Avant-garde, 1919-1945. In: DIXON, Whe-
eler Winston & FOSTER, Gwendolyn Audrey (Orgs.). Experimental Cinema: The
Film Reader. New York: Routledge, 2002.
TAVES, Brian. Robert Florey and the Holywood Avant-Garde. In: HORAK, Jan-
Christopher (Org.). Lovers of the cinema: the first American film avant-garde,
VERTOV, Dziga. Extrato do ABC dos Kinoks. In: XAVIER, Ismail (Org.). A Experi-
ência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal; Embrafilme, 1983.