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Minha revolução.

Das muitas citações do filósofo francês Jean Paul-Sartre (1905-1980), uma me chamou a atenção
mais recentemente: Agir é modificar a aparência (ou figura) do mundo.

Nos tempos atuais, quando inegavelmente a palavra de alguns grupos e de algumas áreas do
conhecimento vem sendo interditadas seja de forma direta ou pela intimidação que gera uma
autocensura, emerge a cobrança por atos de revolta e rebelião mais contundentes.

A rebelião e a revolta são fundamentais no avanço da sociedade. No entanto, para que elas
aconteçam, são necessárias algumas condições. Do contrário, rebeldes e revoltosos solitários
acabarão mártires que não causarão muitos efeitos na causa geral. Além disso, alguns dos que
anseiam por grandes revoluções costumam esquecer-se das revoluções do dia a dia, das
mudanças cotidianas, que produzem efeitos a curto prazo em nosso círculo mais próximo e, em
um processo de acumulação, gerarão efeitos significativos em mais longo prazo. Em geral,
raramente colhemos todos os frutos do que plantamos.

Costumamos não ter a noção histórica dos acontecimentos; a percepção que nossa vida é curta
demais diante da História da natureza, da própria humanidade e da civilização. O imediatismo
nos afeta e a angústia do “não fazer nada” consome boas almas que acreditam ter uma missão
de mudar o mundo e acabam na frustração de fazer muito pouco diante da grandeza da História.

Nesses sonhos de grandeza, esquecemo-nos de que agir – qualquer ação – modifica a face do
mundo em alguma escala. Não se trata efetivamente de abdicar de “mudar o mundo”, mas
entender que o “mundo” é muito grande e está, em geral, fora do nosso controle, enquanto
temos ao nosso redor um “mundo próximo” no qual podemos interferir de maneira mais
imediata e eficaz, e que muitas vezes deixamos de lado. No fim das contas, a motivação da
vaidade pode estar por trás das grandes ações mais do que o desejo de realmente mudar algo.
Isso me leva a outro importante pensador, o austríaco-britânico Wittgenstein (1889-1951), que
disse em uma das suas principais obras: “Eu sou meu mundo”.

Me perguntam se há razões para temer esse ambiente polarizado e de culto a violência que se
instalou no Brasil de forma mais explícita nos últimos anos. E eu digo que sim, há razões para
temer. Há no mundo uma reação contra os movimentos de identidade, o conhecimento
científico e formas de pensar que ameacem os projetos das elites globais dentro dos quais o
nosso país é um mero peão. Abster-se de agir de forma voluntariosa antes das condições da
revolta estarem dadas não é um ato de covardia, mas de sabedoria, de guardar as energias para
o momento propício ou contribuir para que esse momento um dia chegue. Enquanto isso, mudo
meu mundo e o mundo ao meu redor, ajo com discrição e construo para que as condições da
revolta se configurem em algum momento, ainda que eu não esteja mais por essas bandas da
existência.

Marco Aurélio Borges Costa

Professor; Doutor em Ciências Humanas/Sociologia (UFRJ); Membro da Academia Cachoeirense


de Letras.

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