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A Apreciação da Prova no Direito Moçambicano (Parte II: Direito Penal)

Conforme prometido em outro lugar neste blogue (ver: Apreciação da


Prova no Direito Moçambicano, Parte I: Direito Civil) e porque aqui as
promessas são por se cumprir, volto a discutir o tema do sistema de
apreciação da prova adoptado pelo legislador moçambicano, agora com
enfoque particular para o Direito Penal.
E porque neste campo não tenho a pretensão de "inventar a roda",
apresentarei esta breve reflexão seguindo de perto as lições do mestre
moçambicano da ciência penal, o Dr. João Carlos Trindade, (que foi, até há
pouco tempo, Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo) proferidas
na Cadeira de Direito Processual Penal, na Faculdade de Direito da
Universidade Eduardo Mondlane. Na verdade, actualmente, em
Moçambique não se pode falar da instrução em Processo Penal sem tocar
no ensinamento daquele insigne jurista.
Explicando a superação do sistema de prova legal no Direito Penal, João
Carlos Trindade expende que com o advento das reformas legislativas do
processo penal consequentes à Revolução Francesa, afirmou-se a ideia de
que o valor e a força dos meios de prova não podem ser concretamente
aferidos a priori através de regras com o carácter de generalidade, próprios
dos critérios legais mas só o devem ser no contexto das circunstâncias
concretas de cada caso.
Para o reforço desta ideia concorrem vários factores segundo o jurista que
venho citando, designadamente, a instituição do júri como entidade
competente para apreciação da prova em processo penal, a difusão dos
chamados métodos científicos de prova que permitirão a redução de erros
na livre apreciação da prova e por último o facto de que só através da livre
valoração se lograria apreciar a personalidade do delinquente (v. art. 84 do
C. P. Penal).
A reflexão conduz-nos ao entendimento de que no nosso processo penal a
prova é avaliada segundo o princípio da livre apreciação nos termos do qual
a valoração das provas pelo juiz não está sujeita a critérios legais, a regras
pré determinadas que indicam o valor de certos meios de prova. A valoração
é assim feita segundo a livre convicção do juiz.
Recorda o renomado jurista que a convicção do juiz não pode, porém, ser
puramente subjectiva, emocional, imotivável, portanto, arbitrária. A
apreciação da prova deve ser racional e apoiar-se nos elementos de prova
produzidos. O juiz não pode servir-se para fundamentar a sua decisão de
factos conhecidos fora do processo (quid non est in actis non est in mundo).
O princípio da livre apreciação da prova funciona quase sem excepções em
se tratando de prova testemunhal e por declarações (arts. 214 e segs. do
C.P.Penal).
Já no tocante ao depoimento do arguido (arts. 244, 250 e segs. 425 e segs.
do C. P.Penal) há que se distinguir duas situações, consoante o arguido
negue ou confesse os factos.
No primeiro caso (o arguido nega os factos que lhe são imputados), o juiz
é livre de valorar tal comportamento conforme sua convicção.
Já quando ocorre o segundo (o arguido confessa os factos), a lei impõe um
critério vinculativo de avaliação: só será válida a confissão que for
acompanhada de outros elementos de prova (v. art. 174 do C.P.Penal).
Quanto à prova pericial afirma-se no nosso Direito a ideia da absoluta
liberdade da sua apreciação pelo juiz ao contrário do que sucedeu no
deslumbramento consequente ao advento da chamada prova científica em
que se advogava que os pareceres dos peritos deviam considerar-se como
contendo verdadeiras decisões às quais o juiz tinha de sujeitar-se.
Já a apreciação de factos constantes de documentos autênticos ou
autenticados traduz-se num verdadeiro critério legal (v. art. 468, Parágrafo
único, art. 165 e 169 do C.P.Penal).
Completa-se assim a ideia de que o nosso Direito, à semelhança de muitos
outros Direitos dos tempos modernos, mistura o melhor do sistema da
prova legal com o melhor do sistema de convencimento, adoptando assim,
o chamado sistema de convencimento motivado no que respeita à
apreciação da prova no processo.
Não me prestarei a alongamentos nesta II Parte da reflexão sobre os
sistemas de apreciação da prova, tendo em consideração a suficiente
abordagem já apresentada na I Parte.
Porque entendo que o campo do Direito Probatório é ainda um "campo
virgem" no nosso meio, continuarei a privilegiar neste blogue uma
abordagem académica sobre o assunto, com o objectivo de lançar o debate
sobre o mesmo e, sobretudo, com o objectivo de dotar os meus estudantes
de Direito Probatório de ferramentas úteis para a sua pesquisa.
Um abraço
Dixi et salvavi animam meam!

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