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Sumários Desenvolvidos

Introdução ao Estudo do Direito


Universidade Lusíada de Angola
Docente: Drª. Nereida Ramos
IMPORTÂNCIA DO DIREITO PARA GESTORES DE EMPRESAS

Queridos estudantes de forma sucinta passaremos a expor algumas das vantagens que o
conhecimento do direito proporciona aos gestores das empresas e por conseguinte ao crescimento e solidez
das empresas.

O Direito é uma das peças fundamentais para as empresas e comunidade, pois é através desta
fonte que se tem a base das informações e conceitos, normas e regras, que norteiam a administração
das empresas em geral, tanto privadas, quanto públicas.
No mundo dos negócios, é comum surgirem questões que envolvam processos jurídicos nas
mais diferentes situações e, por isso, deve-se ter cautela ao tomar quaisquer decisões – mesmo as
que parecem inofensivas à empresa.
Para agilizar as decisões diárias, não dependendo somente dos advogados, os líderes e
empresários devem manter-se informados sobre questões legais que envolvam seus colaboradores e
os factos administrativos e jurídicos de uma companhia.
Cabe ressaltar os inúmeros ramos do Direito que tem reflexo directo sobre as atividades
empresariais tais como: Direito do Trabalho, Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito
Ambiental, Direito Econômico, Direito do Consumidor, Direito Penal, Direito Comercial, Direito
Civil, Direito Internacional fora outros ramos que directa ou indiretamente produzem efeitos ou de
controlo e fiscalização ou de imposição de condutas a serem observadas pelas empresas e, por
ordem, por seus administradores.
Por esta importância e dimensão é que nos cursos de Gestão de Empresas as cadeiras
jurídicas são tão valiosas para a compreensão exacta pelo futuro administrador acerca da enorme
relevância do Direito para o êxito de qualquer atividade empresarial.
Vejamos, portanto, a relação e a influência de cada ramo acima citado na atividade
empresarial. Com relação ao Direito do Trabalho, é de fundamental importância a compreensão
deste tema pelo administrador, pois hoje a negociação de acordos trabalhistas com sindicatos e
trabalhadores é vital para a sobrevivência das empresas especialmente em momentos de crise.
Ainda o conhecimento das normas contidas na LGT evita o crescimento de passivos trabalhistas que
podem gerar enormes prejuízos. Assuntos como a exploração de trabalho infantil ou a admissão de
empregados deficientes contribuem para a formação da imagem da empresa.
Quanto ao Direito Tributário, este face à voracidade enorme do Estado em arrecadar, tem
grande influência no sucesso de cada empreendimento. O conhecimento de instrumentos
adequados de planeamento tributário além de procedimentos de defesa administrativa propicia uma
melhor performance dos resultados da empresa evitando perdas e até inviabilizando o crescimento
ou mesmo a sobrevivência do negócio.
Já com relação ao Direito Administrativo, sabemos que o mesmo regula as atividades do
Estado e de seus agentes, temos a sua importância quando o Estado torna-se um parceiro comercial
seja como sócio, seja como cliente. A absorção dos conceitos da administração pública facilita o
entendimento dos processos de licitação e de contratos com os entes públicos. Ademais o
crescimento das Agências Reguladoras faz com que a atividade empresarial mantenha constante e
estreita relação com os órgãos públicos. Também a formação de administradores públicos
conhecedores de sua correta atuação evita a ocorrência de práticas ilegais e de prejuízos para o
Estado.
No que concerne ao Direito Ambiental, vemos que inúmeras atividades actualmente
precisam adaptar-se às exigências das normas ambientais vigentes, permitindo assim a continuidade
da atividade empresarial e evitando pesadas sanções quanto ao incumprimento das referidas
normas. Além disso, a sua observância proporciona um relativo conforto face à sociedade trazendo
benefícios ligados à imagem das empresas. Internacionalmente o mercado valoriza empresas que
seguem os padrões mundiais de conduta ambiental.
O Direito do Consumidor impôs regras claras para as relações de consumo ampliando as
responsabilidades dos fornecedores de produtos e serviços. O conhecimento destas regras evita
enormes transtornos não só ao facturamento das empresas através das pesadas indenizações por
danos materiais e morais como há suas imagens. Assim, através de uma política clara de
atendimento e de respeito ao consumidor as empresas conseguem crescer,
Actualmente os actos e a atividade empresarial repercutem também nas normas de Direito
Penal como veremos a seguir. Tanto o Código de Defesa do Consumidor quanto a Legislação
Ambiental trazem em seus textos normas específicas tratando dos Crimes contra o Consumidor e
dos Crimes contra o Meio Ambiente. Estas normas têm reflexo diretamente sobre os gestores de
empresas. Em matéria tributária também encontramos normas específicas de natureza penal
imputando aos seus transgressores penas por seus actos ilícitos.
Seguindo o nosso raciocínio, na esfera do Direito Comercial temos temas de extrema
relevância para o mundo dos negócios sendo abordados. Entre eles podemos destacar os temas
ligados à própria existência das empresas seja sob a forma de Sociedades Anônimas seja sob a forma
de Limitadas. Além disso, trata do processo de recuperação de empresa através do pedido de
concordata ou sua de sua extinção através do pedido de falência. A emissão de títulos, os direitos
autorais ou propriedade industrial, registro de patentes e de marcas também fazem parte do Direito
Comercial.
Por último, mas ainda sem esgotar o assunto, vemos o crescimento das relações
internacionais ampliando a importância do Direito Internacional principalmente através dos
organismos internacionais sejam eles de fomento, sejam eles de regulação. No comércio
internacional, não possuir noções de Direito Internacional, é conquistar o fracasso. Institutos, como
o da Arbitragem, surgem com extrema força agilizando os negócios e prevenindo uma solução
rápida e eficaz para eventuais conflitos.
Com isto não queremos defender a transformação dos administradores em advogados,
queremos sim, salientar a importância das disciplinas jurídicas nos Cursos de Gestão de Empresas e
que devem proporcionar aos alunos um conhecimento holístico e bem actual da influência do
Direito no sucesso das ações empresariais dotando-os de competências e habilidades para a atuação
frente às diversas situações jurídicas que lhes aparecerem. Da concepção do negócio e de suas
estratégias, de sua área de actuação e de seus mercados, de sua relação com fornecedores,
empregados e consumidores até a sua relação com o Estado, a atividade empresarial está totalmente
impregnada pelo Direito através das mais simples até as mais complexas relações jurídicas.
Finalmente, como se disse, não se consegue esgotar todas as implicações para as empresas e por
consequência para seus administradores, dos reflexos do Direito em suas atividades; mas é certo que
os mesmos deverão estar sempre atentos às constantes mudanças sociais e econômicas e possuir
noções jurídicas básicas para interpreta-las dentro de sua área de atuação, contribuindo assim para o
sucesso de seus empreendimentos.

1.- NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO


A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM

O Homem sempre viveu em comunidade é da sua natureza não viver isolado e sim integrado num grupo
organizado, pois a sua realização tendo em vista o suprimento das suas debilidades individuais e a
necessidade de actuar de modo racional e efectivo exige a vida em sociedade, esta exigência de vida em
sociedade implica a adopção de um conjunto de princípios que regulam a actuação humana, tais princípios
devem promover a solidariedade de interesses e definir as regras que resolvam os conflitos.

Alguns pensadores como Thomas Hobbes, Jonh Locke, Jean-Jacques Rousseau, entre outros, teorizaram
acerca da existência de uma vida “pré -social” do ser humano, a que chamaram “estado de natureza” em que
os homens viveriam isolados e apartados dos seus semelhantes. Estes mesmos pensadores no
desenvolvimento das suas teses defenderam ainda que o “estado natural” cessou e deu lugar ao chamado
“estado de sociedade”, ocorrendo tal transição devido a um acordo ou “contrato social” em que os homens
deliberaram associar-se, obrigando-se reciprocamente, surgindo assim as primeiras sociedades organizadas.
Tendo em consideração as investigações históricas e a própria natureza do homem estas teses são de afastar.
Aristóteles na sua célebre obra “A política” destacou “O Homem é um ser social”.
Na verdade só através da interacção com outros homens, da conjugação dos seus esforços, baseado na
solidariedade e na divisão do trabalho o homem atingirá a sua plena realização.
Já os Romanos defendiam “ubi homos, ibi societas”.
Contudo convém destacar que a convivência em sociedade só é possível se existir um elenco, um conjunto
mínimo de princípios ou regras que pactuem as condutas humanas pelo que “ ubi societas, ibi ius”.
De o anteriormente exposto podemos concluir:
a) O homem é por natureza um ser social;
b) O homem e a sociedade a que naturalmente pertence carece de regras de estruturação e de definição de
condutas necessárias à existência e desenvolvimento do próprio homem e da sua identidade social.
Que é Sociedade?
Não se torna fácil defini-la. No entanto, alguma coisa se pode dizer a este respeito, e sobre todo notar-se que
a sociedade tem sido concebida de maneiras diferentes.
Existem duas concepções opostas de sociedade, respectivamente a concepção mecânica e a concepção
orgânica.
Por tanto existem vários tipos de sociedades como por exemplo as sociedades naturais (Família, Estado,
Comunidades), as sociedades voluntárias (Sociedades Comerciais, Associações).
Segundo o Professor Galvão Telles a sociedade resulta do enquadramento dos indivíduos numa certa ordem.
Os indivíduos são elementos integrados num conjunto harmonioso a que preside como fim ou bem comum
de todos, distintos do bem particular de cada um.

2.1.- APROXIMAÇÃO AO CONCEITO DE DIREITO


O dia-a-dia vai forjando em cada pessoa uma noção aproximada do que seja o Direito
A palavra é conhecida e constantemente utilizada nas suas mais diversas acepções há certos fenómenos
sociais, como os que se ligam a actividade dos tribunais ou dos notários, que todos consideram
imediatamente relativos ao Direito. Também se utiliza noutras acepções como por exemplo “Direito a vida”,
“Direito a Liberdade”
A palavra Direito é assim sentida através das mais diversas situações: Pratica-se um crime todos têm a noção
que com o crime o Direito foi violado, uma pessoa adquire uma casa para morar, uma criança nasce, uma
pessoa morre.
Praticamente toda a vida está sujeita a disciplina do Direito, de modo que não é possível conhecer bem o
Direito sem conhecer a vida, todos vivemos sob o Direito e por ele somos constantemente dirigidos, seja
porque através de decisões dos tribunais somos forçados a observa-lo, seja porque de modo espontâneo
aderimos às regras nele contidas.

CONCEITO DE DIREITO
O Direito destina-se a regular e ordenar o convívio dos homens em sociedade, traduzindo-se em regras de
conduta social, prescritas que regulam, com carácter de generalidade a convivência do homem em sociedade
mediante a imposição de acções e abstenções, podendo realizar-se pelo uso da força quando necessário e
possível.
O direito diz o que se deve e não se deve fazer, com o fim de proporcionar a cada um a possibilidade de
prefigurar as consequências dos seus comportamentos, prevenir eventuais litígios, resolver litígios já
desencadeados, potenciar a cooperação entre os homens, assegurar a atribuição a cada um do que lhe
pertence, realizar a paz e o bem comum.
A palavra Direito pode ser analisada em diferentes acepções assim se dizemos:
“O Direito rege a vida dos homens em sociedade”, “Eu tenho Direito a Vida”, vemos que em ambas frases foi
utilizada a palavra Direito, mas que nelas não têm o mesmo significado por tanto podemos entende o direito
como um conjunto de normas por um lado e por outro como um conjunto de poderes ou faculdades dos
sujeitos.

Realmente, como efeito primordial da norma jurídica está o de atribuir a um sujeito uma existência ou
pretensão contra outro sujeito, sobre quem impende, por isso mesmo, uma obrigação, ou seja, um dever
jurídico. Mas à pretensão atribuída pelo Direito chama-se também direito. O significado da palavra não é o
mesmo em ambos os casos: no primeiro, corresponde à norma da coexistência – ou direito em sentido
objetivo; no segundo caso, corresponde à faculdade de pretender – ou direito em sentido subjetivo.

Temos aqui uma plurivalência semântica, pois a palavra direito ora significa o direito positivo vigente, ou
melhor, o ordenamento jurídico vigente em determinado Estado, ora significa o poder que as pessoas têm de
fazer valer seus direitos individuais. No primeiro caso falamos de direito objetivo, enquanto no segundo, de
direito subjetivo.

Sendo assim podemos definir ao Direito como:


1º.- Um conjunto de regras de condutas que regulam o comportamento do homem em sociedade e que se
pode aplicar pelo uso da força quando necessário e possível. Estamos assim a entender o Direito em sentido
Objectivo, exemplo o Direito Constitucional, Direito Administrativo, quando se afirma que o Direito
Constitucional Angolano não prevê a pena de morte.
O Direito Objectivo é abstracto, está concebido em termos genéricos para toda uma categoria mais ou menos
vasta de hipóteses, aplicando-se caso a caso, resolve-se em direito subjectivo que os indivíduos adquirem.
Assim o Direito Objectivo se apresenta como regras de conduta, que dizem ao homem o que deve e não deve
fazer, sendo essencialmente violáveis, imperativas e produto da inteligência do homem.
2º.- Noutra acepção o termo Direito pode ser entendido como poder ou faculdade de agir, olhando o direito
da perspectiva do seu titular, do atributo conferido a uma pessoa estamos a entender ao Direito em sentido
Subjectivo, exemplo O credor esta constituído no direito de reclamar do devedor o pagamento.
Direito Objectivo: Conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, assistido
de tutela coercitiva.
Exemplo: A lei, os Estatutos, os Regulamentos.
Direito Subjectivo: Poder ou faculdade atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa de exigir de outra um
comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão), ou de, por um acto de livre vontade produzir efeitos
jurídicos que inevitavelmente se impõem na esfera jurídica de outra pessoa.
Exemplo: o direito à livre expressão de pensamento que os jornais invocam para criticar os políticos, o
direito à greve, o direito ao nome.
O Direito Objectivo é a norma de agir, o Direito Subjectivo é a faculdade de agir.
Relação entre o Direito Objectivo e o Direito Subjectivo: Não se pense que há entre o direito objectivo e o
direito subjectivo uma distinção total, entre eles existem óbvias e naturais ligações, no fundo não são mais
que a mesma realidade vista desde ângulos diferentes, pois o direito subjectivo emana do direito objectivo, é
como a sua concretização. O direito objectivo, que regula a coexistência do homem em sociedade, fá-lo
atribuindo poderes a uns em fase dos outros e, portanto, dando aos primeiros direitos subjectivos, sendo que
o direito objectivo cria, modifica e extingue o direito subjectivo.

Na verdade, “direito subjetivo e direito objetivo são aspectos de conceito único, compreendendo a
faculdades e a norma os dois lados de um mesmo fenómeno, os dois ângulos de visão do jurídico. Um é o
aspecto individual, outro, o aspecto social”.

O Direito também pode ser entendido como:


Direito Positivo: Conjunto de normas e princípios postos em vigor através de procedimentos legítimos em
qualquer comunidade. Exemplo o Código Civil, O código de Família, a antiga Lei Geral do Trabalho, a nova
Lei Geral do Trabalho, o Código Penal, a Lei Constitucional de 1992, a Constituição de 2010.
Direito Vigente: Parte do Direito Positivo que rege a comunidade jurídica actual. Exemplo o Código Civil,
O código de Família, a nova Lei Geral do Trabalho, o Código Penal, a Constituição de 2010.
Direito Natural: A problemática do Direito Natural consiste em saber se para além do sistema de Direito
Positivo existe um Direito dotado de validade eterna e universal, que possa ser aplicado em todas as épocas e
em qualquer comunidade.
2.2.- RAZÃO DE SER DO DIREITO
“Ubi ius ibi societas; ubi societas ibi ius”
O Direito existe porque é necessário para regular o comportamento do homem em sociedade,
definindo os deveres sociais, para a satisfação dos seus interesses e necessidades, em vista ao bem comum de
todos.
O direito informa-nos de quais as atitudes que devemos tomar perante situações ilegais. Representa o
somatório de todas as normas pelas quais devemos reger a nossa vida. Assim, o direito não é apenas um
fenómeno social mas sim uma forma de moldar o comportamento e a própria dinâmica social. É uma forma
de preceitos impostos que não têm uniformidade geral.
Podemos, então, concluir que o direito é imprescindível a toda a sociedade, não existe uma sociedade
sem direito pois se este faltasse verificar-se-ia a dissolução dessa mesma sociedade. A ordem tanto é
necessária numa sociedade muito simples como o é numa muito complexa, pois em ambas sociedades é
necessário definir o lugar de cada um, para que juntos alcancem o objectivo comum. A regra da vida social é
justamente o direito.
RELAÇÃO ENTRE O DIREITO E A FORÇA

A força física é utilizada como meio preventivo da ordem social. Existe, no entanto, uma diferença
entre a utilização da força e a utilização da violência: o direito precisa da força mas condena a violência.
Esta força pode ser legitimada por um poder livremente aceite pelos cidadãos. É o povo que organiza
o seu direito através das instituições responsáveis e é, também, o povo que legitima essas mesmas
instituições.
Não se deve contudo, cair na definição do direito como ordem da força. O direito precisa de ter a
força ao seu serviço, as normas jurídicas se caracterizam pelo facto de que o seu descumprimento acarreta
punições que envolvem o uso da força pelas instituições sociais competentes.

O jurista alemão Rudolf von Inering no livro a Luta pelo Direito, uma das principais obras do século XIX,
assim refere a relação entre o direito e a força:

"O objetivo do direito é a paz, a luta é o meio de consegui-la. [...] O direito não é mero pensamento,
mas sim força viva. Por isso, a Justiça segura, numa das mãos, a balança, com a qual pesa o direito, e
na outra a espada, com a qual o defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a
espada é a fraqueza do direito. Ambas se completam e o verdadeiro estado de direito só existe onde a
força, com a qual a Justiça empunha a espada, usa a mesma destreza com que maneja a balança."
Será que é legítimo o direito recorrer à força?
O direito é essencial à sociedade, uma vez que é necessário limitar o espaço de cada um, segundo um
ideal de justiça.
O direito não se define pela coercibilidade, mas esta é uma característica ou qualidade que resulta da
própria natureza do direito.
Para manter a ordem e repor a justiça na sociedade, o recurso a meios de coacção não só é legítimo
mas até exigível. A força é necessária na sociedade porque nós somos imperfeitos.
O direito sem a força seria impotente, note-se, no entanto, que esta força advém do poder político.
Só numa sociedade ideal o direito dispensaria a força.

Proporcionalidade entre o uso da força ou da sanção


A força que acompanha a ordem do direito é muito complexa. Uma força estruturada feita ao serviço
do direito por órgãos legítimos tem que ser uma força proporcional, não pode cair em violência. A força
física tem que ser a última medida pensada pelo direito, depois de ter esgotado todas as outras. Contudo,
indivíduos que violam gravemente os valores e as leis podem ser punidos com penas violentas
É, também, importante que as pessoas acreditem na legitimidade do direito e na justiça dos tribunais
e que evitem violar as leis não só porque receiam a sanção mas também porque têm consciência do Bem e do
Mal.
2.3.- O DIREITO COMO ORDEM SOCIAL NORMATIVA, SUAS CARACTERISTICAS
FUNDAMENTAIS.
Entender o Direito como um sistema de normas de conduta social, assistidas de protecção coactiva, significa
dizer que o Direito no consiste num mero complexo de normas e sim num conjunto ordenado e
sistematizado de normas, que constituem a Ordem Jurídica.
Analisando o conceito podemos destacar três elementos:
1.- Sistema: Se trata de um conjunto organizado de normas jurídicas.
2.- Norma: A existência de regras de conduta é essencial para a manutenção da ordem.
3.- Protecção coactiva: Pode ser imposto se necessário e possível através do uso da força.
A estes elementos devemos acrescentar outras ideias como são:
a) O âmbito de aplicação do Direito: nem todas as situações criadas e desenvolvidas interessam ao Direito.
b) Princípio da plenitude da ordem jurídica: todo o que interessa ao Direito deve nele encontrar resposta ou
solução. (arts. 8º e 10º do Código Civil).
c) Presunção de perfeição da ordem jurídica: as soluções consagradas pelo Direito presumem-se ser as mais
adequadas. (art.9º nº 3 do Código Civil).
2.4.- O DIREITO E AS OUTRAS ORDENS SOCIAIS NORMATIVAS.
RELAÇÕES ENTRE O DIREITO, A MORAL E A RELIGIÃO
Podemos distinguir dois tipos de ordem numa sociedade: a ordem social e a ordem natural. Ambas são um
facto mas não se confundem uma com a outra.

 Ordem Natural: esta ordem alberga as leis da natureza, que são leis de fatalidade, de necessidade e
universais, e que relacionam fenómenos em termos de causa e efeito. As leis desta ordem não são
substituíveis, aplicam-se forma invariável e constante, independentemente da vontade do Homem ou
mesmo contra sua vontade. Tais leis não são fruto da vontade do Homem, mas sim inerentes à própria
natureza das coisas.
 Ordem Social: esta ordem alberga as leis sociais, e é uma ordem de liberdade, pois, apesar de as normas
exprimirem um «dever ser» e se imporem ao Homem, este pode violá-las, contestá-las e até mesmo
alterá-las. As leis sociais são criadas pelo Homem e pela sua cultura, pelo que podem modificar-se
segundo o espaço e o tempo.

Na Ordem Social podemos distinguir, ainda, as ordenações éticas ou normativas


Ordenações Normativas: compreendem as leis do dever ser, as quais podem ser alteradas e representam a
vontade do Homem em querer que elas existam. Das ordens normativas que pautam aspectos diferentes da
vida do Homem em sociedade destacam-se, pela sua importância, as seguintes ordens:
1.- Ordem Moral: é uma ordem de condutas que visa o aperfeiçoamento do indivíduo, dirigindo-o para o
Bem, e que só indirectamente influencia a organização social. É um conjunto de imperativos impostos ao
homem por si próprio, o que faz da moral uma ordem intra-subjectiva, porque relaciona a pessoa consigo
mesma.
A violação da regra moral pode não implicar apenas a censura por parte da própria pessoa que a
violou, mas também a de toda a comunidade, levando inclusivamente à marginalização ou rejeição dessa
pessoa pelo círculo social onde estava inserida.
2.- Ordem Religiosa: é uma ordem de Fé. Regula as relações que se estabelecem entre o crente e Deus ou os
deuses. Trata-se de uma ordem normativa essencialmente intra-individual, mas que, tal como acontece com
a moral, repercutir-se-á na vida social, já que o comportamento dos crentes é condicionado pelos seus
valores religiosos.
A violação das regras religiosas leva a sanções de carácter extraterreno.
3.- Ordem de Trato Social: esta ordem exprime-se através dos usos sociais, e pretende fazer com que os
homens vivam em melhor harmonia (ex.: cumprimentar o vizinho).
A violação das normas de trato social implica uma sanção social inorgânica, que consiste
essencialmente num sentimento de reprovação por parte da comunidade, levando muitas vezes à própria
segregação social do infractor.
4.- Ordem Jurídica: constituem esta ordem normas de conduta humana obrigatórias, que são garantidas por
mecanismos de coacção socialmente organizados, que visam a prossecução de valores, designadamente a
Justiça e a Segurança.
Podemos encontrar uma confusão entre Direito, Moral e Religião nas sociedades primitivas. Com o
tempo cada um destes ramos foi-se tornando independente.
De facto, o Direito não é o único sistema normativo pois, ao seu lado, convivem, muitas vezes
interagindo (quando há coincidência entre Direito e Moral, por exemplo), outros sistemas normativos:
moral, religião e política.

2.5.- A NORMA JURÍDICA. CONCEITO.ESTRUTURA. CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÕES.


Norma Jurídica: Norma de conduta social, regulamentada de forma coercitiva.
Estrutura da Norma Jurídica:
A Norma Jurídica, como enunciado orientador da conduta humana, desdobra-se em duas partes: uma
descreve abstratamente o facto ou situação fáctica que a norma pretende regular; outra que estabelece a
consequência jurídica que lhe corresponde quando este efectivamente ocorra, por tanto:
A norma jurídica pode ser decomposta em dois elementos: uma previsão (antecedente) e uma estatuição
(consequente).
Previsão: Situação ou facto da vida social, representada em forma de hipótese e que interessa ao direito
regulamentar ou seja factos da vida social relevantes para o direito.
Estatuição: Consequência jurídica que decorrerá do facto previsto na norma acontecer na vida real.

A norma estabelece uma relação de causalidade entre os factos a que se reporta na sua previsão e os efeitos
jurídicos presentes na sua estatuição. Estes efeitos consistem na imposição de um direito subjectivo.
Ex. Artigo 483 do Código Civil, nº 1, a violação de uma norma o um direito alheio, é objecto da Previsão e a
obrigação de indemnizar é objecto da Estatuição.
As normas jurídicas não devem confundir-se com Artigos de lei, nem com normas sancionatória que são
apenas uma das suas espécies.
O Artigo de lei é a expressão escrita de uma norma legal ou parte de uma norma legal.
A Norma sancionatória é apenas uma das modalidades da norma jurídica. Todas as normas sancionatórias
são normas jurídicas, mas nem todas as normas jurídicas são sancionatórias.

CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS:


1.- Bilateralidade: Especial direcção das prescrições jurídicas, que têm no mínimo dois destinatários o titular
de um direito e o sujeito de um dever.
Mesmo norma jurídica que qualifica uma pessoa, por exemplo, dizendo que se trata de alguém capaz,
somente faz sentido se colocada em um contexto no qual essa pessoa terá relação com outras.
2.- Imperatividade: porque a norma é uma ordem, um comando, uma lei de comportamento dos indivíduos,
a norma não está elaborada em forma de conselhos a norma indica aos indivíduos os comportamentos
devidos.
3.- Generalidade: porque se dirige a um número indeterminado de pessoas, ou seja, não tem destinatários
definidos.
4.- Abstracção: porque visa regular um número indefinido de situações. Não contempla um caso concreto.
5.- Coercibilidade: a possibilidade do uso da força, se necessária, para impedir ou reprimir a violação da
norma.

6.- Violabilidade: porque a norma se dirige a entes livres e o facto de serem constantemente violadas não
lhes retira a sua força e validade, ao contrário do que ocorre, por exemplo, nas leis científicas que, quando
são violadas, deixam de ter validade.

CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS


1.- Normas Permissivas: Permitem ou facultam certos comportamentos, reconhecendo certos poderes ou
faculdades. Ex: art. 1322º, 1353º do Código Civil.
2.- Normas Universais: São universais as normas que se aplicam a todo o território nacional. Estas normas
têm de ser feitas por um órgão de poder nacional (Assembleia da República) e aplicam-se a todo o território
do Estado, a não ser que o próprio órgão queira limitar a aplicação de uma determinada lei a uma
determinada região, uma vez que tem poder para tal. Ex: as normas do Código de Família.
3.- Normas Locais: São normas locais apenas se aplicam numa parcela do território nacional.
4.- Normas Gerais ou de Direito-Regra: As normas gerais constituem o direito-regra, ou seja, estabelecem o
regime-regra para o sector de relações que regulam. Estabelecem os princípios gerais do Direito. Ex.: o artigo
219º do Código Civil.
5.- Normas Excepcionais: As normas excepcionais representam um direito singular, isto é, um regime
oposto ao regime-regra das normas gerais. Ex.: o artigo 1143º do Código Civil.
6.- Normas Interpretativas: art. 13º Código Civil, aclaram o sentido de outras normas ou negócios jurídicos.
Ex.: arts.874º Código Civil.
7.- Normas Directas: Têm por destinatários todos os participantes no tráfico jurídico.
8.- Normas Indirectas: Têm por destinatários os Órgão que aplicam o Direito, indicando-lhes os modos de
resolver questões meramente jurídicas. Ex.: art. 10º do Código Civil.

9.- Normas Supletivas: Visam suprir a manifestação da vontade dos particulares em relação a determinados
aspectos que devem estar juridicamente regulados. Ex.: O art. 1043º do C.C.

10.- Normas Imperativas: A sua a aplicação não depende da vontade das pessoas. Impõe-se-lhe, exigindo um
comportamento que pode ser positivo (facere) ou negativo (non facere). Ex: art. 1456º do C.C

11.- Normas proibitivas: Proíbem condutas. Art. 1025º do C.C

12.- Normas Especiais: Consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos mais restritos de pessoas,
coisas ou relações, mas não directamente opostas ao regime comum das normas gerais, Ex: As que qualificam
certos crimes considerando a qualidade militar dos seus autores (Direito Penal Militar).

2.6.- GRANDES DIVISÕES DO DIREITO. RAMOS DO DIREITO. CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO.


O Direito Positivo é extremamente vasto, apresenta enorme extensão, e isso gera a necessidade de o separar
em grandes ramos autónomos.

DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO. CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO.


Entende-se por Ramos de Direito todo o sector normativo dotado de autonomia científica por possuir
princípios gerais próprios que permitam um tratamento técnico e sistemático peculiar.
A distinção entre direito público e direito privado já vem de longe, tendo surgido na antiga Roma. É uma
distinção que ainda hoje é fundamental, e que continua a ser polémica.
Vários são os critérios de distinção propostos por diversos autores, mas os principais são três:
1.- Critério Clássico ou da Natureza dos Interesses: Este critério diz que são normas de direito público as
que regulam ou tutelam interesses públicos, e são normas de direito privado as que regulam ou tutelam
interesses privados.
Contudo, este critério falha na medida em que na maior parte das vezes é difícil saber quais são os
interesses dominantes numa relação jurídica se são os particulares ou os públicos, e pode, ainda, acontecer
que exista uma convergência de interesses.
2.- Critério da Qualidade dos Sujeitos que participam na Relação Jurídica: Numa relação jurídica os
sujeitos não têm que aparecer necessariamente com a mesma qualidade. Assim, este critério sustenta que é
público o direito que regula situações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público, e é privado o
direito que regule situações de sujeitos particulares.
Contudo, nem sempre os entes públicos actuam a coberto de poderes de autoridade, actuado
frequentemente nos mesmos termos e utilizando as mesmas regras que os particulares. Assim, a qualidade
dos sujeitos nem sempre é suficiente para determinar se a natureza da relação jurídica é pública ou privada.
3.- Critério da Posição dos Sujeitos que participam na Relação Jurídica: Segundo este critério, são de
direito público as normas que regulam as relações entre o Estado, as Entidades Públicas e os Particulares
sempre que o Estado apareça na relação jurídica munido de poderes de autoridade. São de direito privado, as
normas que regulam as relações entre os Particulares, o Estado e as Entidades Públicas sempre que todos
participem numa posição de igualdade.

Note-se que o critério que mais correctamente explica a divisão tradicional entre direito público e
privado é, sem dúvida, o critério da posição dos sujeitos na relação jurídica, pois é aquele que é susceptível
de menos reparos sendo, por isso, o mais praticável.
A distinção entre direito público e direito privado determina quais são as normas que devem ser
aplicadas numa relação jurídica, quais as vias a seguir, e quais os tribunais a que se pode recorrer em casos de
violação dessas normas.
Assim, esta distinção permite, também, determinar a medida da responsabilidade civil que pode
resultar do incumprimento dos deveres jurídicos que decorrem da relação.
O direito público e o direito privado subdividem-se, ainda, em outras áreas designadas por Ramos de
Direito.
RAMOS DO DIREITO PÚBLICO
a) Direito Constitucional: Este é o direito que caracteriza o Estado, encarregando-se da sua organização
e também da dos entes públicos menores, dos órgãos da soberania e da repartição dos poderes entre eles,
estabelecendo os direitos fundamentais dos cidadãos. A Constituição é, pois, a Lei Fundamental.
b) Direito Administrativo: É o conjunto de normas que regulam a organização e a actividade da
Administração Pública, tutelando as relações que esta disciplina.
c) Direito Criminal/Penal: Este é o direito que regula os crimes, as penas e as medidas de segurança
aplicadas a infractores. Materialmente são crimes as condutas que violam normas básicas da
convivência social, que lesam bens ou valores fundamentais.
d) Direito Financeiro ou Tributário: Fazem parte deste direito as normas que regulam a recolha, a
gestão e a aplicação ou dispêndio dos meios financeiros públicos, provenientes dos impostos e taxas,
das receitas patrimoniais e dos empréstimos públicos.
e) Direito Fiscal: Regula as relações de natureza tributária que se estabelece entre os sujeitos activos da
relação tributária (ex: Estado) e os agentes económicos em geral.
f) Direito Processual: Entende-se por direito processual o conjunto de normas que regulam as acções
dos tribunais e dos particulares que perante eles actuam ou litigam durante o processo jurisdicional.
Note-se que o direito processual pode ser civil, criminal ou penal, administrativo, fiscal, do trabalho,
entre outros.
O direito processual é, ainda, o direito que permite determinar o tribunal competente para uma
determinada acção jurisdicional.

RAMOS DO DIREITO PRIVADO


Dentro do direito privado é costume distinguir o direito civil, o direito comercial e o direito
internacional privado.
a) Direito Civil: Este é o direito privado comum ou geral que abrange todas as relações de direito
privado, excepto aquelas que se podem tornar objecto de um direito especial. O direito civil
subdivide-se em:
 Direito das obrigações: regula as relações jurídicas que têm o contrato como instituição fundamental.
 Direito das coisas ou direitos reais: regula as relações que se estabelecem entre as pessoas e as coisas, em
que a propriedade aparece como instituição central.
 Direito das sucessões: regula a sucessão por morte nos bens do defunto. Esta sucessão, consoante o título
de vocação sucessória dos herdeiros, pode ser:
- Testamentária: deferida por testamento.
- Legitimaria: forçosa, prevalecendo contra a vontade do autor da sucessão.
- Legítima: com carácter supletivo, pela hipótese de o autor da sucessão ter morrido sem testamento.
b) Direito Comercial: É aquele que rege os actos de comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas
que nele intervêm. É um direito historicamente elaborado para desembaraçar o tráfico mercantil das
peias do formalismo do direito civil, que tem por base a necessidade de celeridade do tráfico
económico e a do reforço do crédito.
c) Direito Empresarial
d) Direito Cooperativo

RAMOS MISTOS DO DIREITO


a) Direito do Trabalho: É inequivocamente, Direito Privado enquanto regula o contrato individual de
trabalho, gerador de obrigações entre o trabalhador e a entidade patronal. É Direito Público porque
regulamenta relações colectivas de trabalho.
b) Direito Económico: Se distribui pelo Direito Público e Privado, conforme os preceitos reguladores da
economia fazem parte do primeiro ou do segundo.
c) Direito da Segurança Social: É Direito Público enquanto se traduz na intervenção de órgãos
administrativos; Direito Privado na medida em que regula os direitos e obrigações dos particulares
relativamente às prestações a que tem jus e os encargos a que se encontram sujeitos.

2.7.- FONTES DE DIREITO E VIGÊNCIA DAS NORMAS


Fontes do Direito: Expressa, os modos de formação e de revelação do direito (objectivo)
A expressão Fontes de Direito é uma expressão que traduz diversos significados.
Podemos fixar cinco acepções ou sentidos principais que são:
a) Sentido Orgânico: Órgão de onde emanam as Normas Jurídicas, exemplo a Assembleia Nacional
b) Sentido Material: Factores que provocam o aparecimento das Normas Jurídicas e condicionam o seu
conteúdo concreto.
c) Sentido Histórico: Raízes Históricas das Normas Jurídicas.
d) Sentido Instrumental: Textos ou diplomas que contêm as Normas Jurídicas.
e) Sentido Técnico- Jurídico ou Formal: Modos de formação e de revelação das normas jurídicas, neste
sentido são fontes do Direito o Costume, a Jurisprudência, a Doutrina e a Lei.
No elenco tradicional das fontes de direito é de uso referir a lei, o costume, a jurisprudência e a doutrina

Segundo o nosso Código Civil, há que distinguir entre as fontes imediatas e as fo ntes mediatas do direito.
a) Fontes Imediatas: são aquelas que têm força vinculativa própria, sendo, portanto, os verdadeiros
modos de produção do direito.
Para o Direito angolano é aquela criada por meio de processo legislativo adequado.
b) Fontes Mediatas: não têm força vinculativa própria mas são importantes pelo modo como
influenciam o processo de formação e revelação da norma jurídica.
Para o Direito angolano é aquela que não foi criada por meio de processo legislativo, abrange o
costume, a jurisprudência e a doutrina.

2.7.1.- Costume. Noção. Elementos


Costume: Prática social reiterada, constante e uniforme, acompanhada do sentimento ou convicção
da obrigatoriedade da norma a que corresponde.

Os elementos do costume são dois:


 Corpus: a observância generalizada e uniforme de determinado padrão de conduta em que está implícita
uma norma. (prática social reiterada, constante e uniforme – Uso)
 Animus: a convicção de se estar a obedecer a uma regra geral, abstracta e obrigatória, caucionada pela
consciência jurídica da comunidade. (a consciência da sua obrigatoriedade jurídica).

Em relação com a Lei o Costume pode ser: segundo a lei, para além da lei e contra a lei.

a) Costume Secundum legem: regulamenta princípios contemplados na lei, exemplo a União de Facto.

b) Costume Praeter legem: costumes não abrangidos pela lei, regulamentam princípios que a lei não
regulamentam, não contrariam os princípios legais, exemplo o Alambamento.

c) Contra legem: costumes opostos à lei, onde as normas costumeiras contrariam as normas de Direito
escrito. Classicamente, o costume contra legem também pode ser denominado costume ab-rogatório,
por estar implicitamente revogando disposições legais, exemplo em algumas regiões de angola as
pessoas acusadas de feiticeira são mortas contrariando assim o artigo 59º da Constituição da
República de Angola.

Para a ordem jurídica angolana, o costume não é considerado fonte imediata do Direito, pela
variedade dos costumes, porque não todos estão compilados, porque é a lei que define se o Costume é válido
ou não, art. 7º da Constituição, e porque no nosso ordenamento jurídico não se admite qualquer costume
contra legem.
Contudo ainda o Costume é tido em atenção e aplicado pelos tribunais, sendo que a parte que o invocar, tem
de provar que ele existe, além disso o tribunal pela sua própria iniciativa, tem de procurar obter
conhecimento desse costume. Art. 348º do Código Civil.
Uso: Prática social, reiterada, constante e uniforme.

Jurisprudência. Noção
Jurisprudência: Conjunto das decisões tomadas pelo tribunal no exercício de aplicação do Direito.
Em Angola, ao contrário dos países do Common Law, não vigora a regra do precedente, ou seja, a decisão
proferida por um tribunal superior não vincula ao mesmo tribunal, nem a tribunais inferiores, a resolver de
forma igual, casos semelhantes.
As decisões dos tribunais só têm força de caso julgado, isto é, só vinculam o caso concreto sobre o qual é
proferida a decisão pelo que para a ordem jurídica angolana a jurisprudência não é fonte imediata do direito.
Assentos: Artigo 2º do Código Civil
Estes assentos, quando publicados no diário da República, vinculam todos os tribunais e todas as
demais pessoas e entidades.
Os Assentos não podem ser considerados fonte imediata do direito, porque eles só valem quando a lei
autoriza, porque não podem contrariar nem revogar a lei e são proferidos em matéria de integração e de
interpretação da Lei.
Doutrina. Noção
Doutrina: Opiniões ou pareceres dos jurisconsultos em que estes desenvolvem, em bases científicas ou
doutrinárias, as suas concepções sobre a interpretação ou integração do Direito. Essa doutrina consta de
tratados, monografias, manuais, anotações e estudos jurídicos. A influência que a doutrina exerce de facto
sobre as decisões jurisprudenciais depende em muito do apuro técnico da mesma e da autoridade científica
(ou qualidade de especialista na matéria) do autor que a subscreve. Para a ordem jurídica angolana não é
fonte imediata do direito.
2.7.2.-Lei: Conceito. Requisitos formais da lei. Causas de Cessação da Vigência da lei.
A Lei, na sua designação oficial, corresponde a uma lei em sentido material e formal. Assim, são leis
a Constituição, as Leis de Revisão Constitucional e as leis Ordinárias da Assembleia da República.
Lei como fonte do direito: é sinónimo de acto normativo
Lei em sentido formal: são actos normativos das Assembleias Legislativas mesmo que sem conteúdo material
de Lei
Lei em sentido material: é sinónimo de acto normativo, sendo este a a actividade do órgão legislativo
(Assembleia Nacional), tendente a produzir normas jurídicas. Exemplo a Constituição, Regulamentos,
Decretos.

REQUISITOS FORMAIS DA LEI:


1.- Promulgação: Acto pelo qual o Presidente da República declara que o Diploma foi elaborado pelo órgão
competente que tem todos os requisitos para valer como lei formal, Artigo 119º alínea r) da Constituição da
República de Angola.
2.- Publicação: Acto pelo qual a lei é dada a conhecer aos destinatários.
Nos termos do artigo 5ºnº1 do Código Civil a lei só se torna obrigatória a partir do momento da sua
publicação num Diário Oficial, no caso de Angola no Diário da República.
3.- Entrada em vigor: aqui podem acontecer três situações:
a) Que a data da publicação coincida com a data de entrada em vigor da lei.
b) Que a data de entrada em vigor seja posterior a data da publicação. O período de tempo entre a data da
publicação e a data de entrada em vigor designa-se de “Vacatio Legis”.
Importância do “Vacatio Legis”: permite aos destinatários melhor conhecimento da lei, melhor adaptação
ao novo regime legal e que se criem mecanismos para uma melhor aplicação da lei.
c) Que com a publicação não se indique a data de entrada em vigor da lei, nestes casos o artigo 4º nº 2 da Lei
n.º 7/14 de 26 de Maio, LEI SOBRE PUBLICAÇÕES OFICIAIS E FORMULÁRIOS LEGAIS , determina:

1) O Diploma legal entra em vigor quatro dias após a sua publicação na província de Luanda
2) O Diploma legal entra em vigor no décimo quinto dia após a sua publicação nas restantes províncias.
3) O Diploma legal entra em vigor no trigésimo dia após a sua publicação no estrangeiro.
CESSAÇÃO DE VIGÊNCIA DAS LEIS:
Os modos de cessação de vigência da lei estão previstos no artigo 7º do Código Civil e consistem na
caducidade e na revogação da lei
Caducidade: A lei deixa de vigorar por razões que a própria lei determina, por exemplo quando a própria lei
determina a data em que deixará de vigorar, ou quando a lei se destina a regular uma determinada situação e
esta definitivamente deixa de existir, etc.
Revogação: A lei deixa de vigorar por uma nova manifestação de vontade do legislador e esta pode ser em
quanto a sua forma, expressa ou tácita, e em quanto a sua extensão, total ou parcial.
Nos termos do artigo 7º nº 4, a revogação da lei revogatória no importa o renascimento da lei que esta
revogara, para que isso seja possível tem de existir uma nova manifestação de vontade do legislador nesse
sentido (disposição repristinatória).

2.8.- INTERPRETAÇÃO DA LEI


A lei, em regra dotada de generalidade e abstracção, é criada para a resolução de casos concretos. É
da lei que se retira a solução para as situações que, verificadas em sociedade, reclamam uma disciplina
jurídica.
Para que seja possível aplicar uma lei a um caso concreto, retirando daí uma solução jurídica, é
necessário, antes de mais, saber qual o conteúdo da norma, isto é, o seu sentido. É nisto que consiste a
interpretação da lei, que pode definir a norma que regula a matéria da interpretação da lei como a “fixação
do sentido e alcance da lei”.
Interpretação da Lei: Fixar o sentido e o alcance com que a lei deve valer, tratando de extrair do texto um
sentido que possa ser entendido pelo maior número de pessoas possível e aplicado a um maior número de
casos.
A interpretação da lei é absolutamente necessária, mesmo quando a “fonte” se afigura clara.
Existem um conjunto de directivas e princípios que orientam ao intérprete como interpretar a lei e que
conformam a chamada Metodologia da Interpretação ou Hermenêutica Jurídica.
Intérprete: é quem procede à interpretação da lei. É, por isso, de rejeitar o velho aforismo que diz que as
normas claras não necessitam de ser interpretadas, tarefa reservada apenas às menos claras. Com efeito, só
depois de se proceder à interpretação do preceito é que se pode concluir se ele é “claro” ou não, se o seu
conteúdo é facilmente apreendido ou se o respectivo entendimento exige uma tarefa interpretativa árdua e
difícil. Mesmo a lei cujo conteúdo se afigura, à primeira vista, facilmente apreensível necessita de ser
interpretada, para que seja possível determinar o seu sentido. Só após esta determinação se pode proceder à
sua aplicação a um caso concreto.
O problema da interpretação reside no facto de surpreender o que está no texto, de saber o que é que
o autor quis efectivamente dizer, qual a ideia que o guiou, isto inclusive se o texto estiver mal escrito.
O problema refere-se especialmente ao direito porque os textos que não vinculam, que não estão
ligados a quaisquer sanções ficam-se pelos princípios. O Direito, sendo uma ordem imperativa, obriga à sua
observância, por isso não pode ter mais do que uma interpretação dada por cada qual.
Formas de Interpretação da Lei:
a) Interpretação Doutrinal: é feita por qualquer pessoa seja ou não jurisconsulto, juiz, jurista ou
executor de um acto administrativo, tendo em conta os princípios que orientam a interpretação e não tem
força obrigatória.
b) Interpretação Autêntica: este é o tipo de interpretação feita pelos órgãos com competência
legislativa, que têm, também, competência para interpretar, modificar, suspender ou revogar uma lei. Quer
isto dizer que quando uma lei promulgada suscita dúvidas quanto ao seu conteúdo e, por conseguinte,
quanto ao seu sentido, o órgão que a criou tem competência para a interpretar através de uma nova lei,
trata-se, por tanto, da explicação legislativa de uma lei duvidosa, carecida de esclarecimento, que tem a força
vinculativa da Lei que está a interpretar.
A estas leis, criadas para fixar o sentido de outras leis anteriores, dá-se o nome de leis interpretativas.
As normas interpretativas têm sempre eficácia retroactiva porque se integram na lei que estão a interpretar e
por isso adquirem a força obrigatória da própria lei. Art. 13º do C.C
c) Interpretação Oficial: é feita por um órgão de hierarquia inferior ao que criou a lei, só vale nos
domínios desse órgão e não tem força obrigatória.
ELEMENTOS DE INTERPRETAÇÃO DA LEI:
Para melhor compreender o sentido e o alcance das leis, o intérprete serve-se de vários elementos
que de acordo com o art. 9º do Código Civil são:
1.- Elemento Gramatical: Consiste em aclarar o sentido gramatical de cada uma das palavras que integram o
texto da lei, sendo certo que o texto é o ponto de partida da interpretação, mas não é o suficiente. É preciso
encontrar o “espírito da lei”. Por vezes, não é possível encontrar o sentido imediato do texto, pelo que o
intérprete deve optar por aquele sentido que melhor e mais imediatamente corresponde ao significado
natural das expressões verbais utilizadas, e designadamente ao seu significado técnico-jurídico.
Este elemento tem duas funções, a função negativa art.9º nº 2 do C.C e a função positiva art.9º nº 3 do C.C.
2.- Elemento Lógico: Dentro deste encontramos outros três elementos, nomeadamente:
a) Elemento racional/teleológico: este é o elemento que permite ao intérprete perceber qual a finalidade dos
termos da lei, qual o sentido final que o legislador pretendeu ao elaborar a norma. O conhecimento desse
fim é essencial para a determinação do sentido da norma, mais ainda quando acompanhado pelo
conhecimento das circunstâncias em que a norma foi elaborada.
b) Elemento sistemático: Compreende o estudo do sistema jurídico onde a norma está inserida, pois a ordem
jurídica tem unidade e coerência jurídico-sistemática, pelo que a compreensão de uma norma postula a
cognição das normas afins ou paralelas.
 O contexto de Lei: o intérprete nuca deve analisar a norma isoladamente, deve, pois, inseri-la no seu
contexto, isto é, no complexo normativo que regula a mesma matéria que a norma em questão.
 Os lugares paralelos: é legítimo que o intérprete recorra a uma norma mais clara e explícita para fixar a
interpretação de outra norma (paralela) mais obscura ou ambígua. Quer isto dizer que o legislador ao
analisar um problema de regulamentação jurídica pode e deve procurar casos análogos que lhe permitam
um maior esclarecimento do caso, e uma correcta inserção da norma.
c) Elemento histórico: compreende todos os materiais relacionados com a história do preceito, a saber:
 História evolutiva do instituto: o intérprete deve procurar conhecer a evolução histórica da instituição
que analisa (ex.: casamento, família, etc.) de forma a melhor alcançar o sentido da norma.
 Fontes da lei: entende-se por “fontes da lei” os textos legais ou doutrinais que inspiraram o legislador na
elaboração da norma. O intérprete deve ter em conta essas fontes que serviram de base à fórmula
normativa e, ainda, as leis doutros países (recorrendo ao Direito Comparado) que serviram, também, de
fonte de inspiração ao legislador.
 Trabalhos preparatórios: o intérprete deve tomar em conta todos os trabalhos realizados antes da
promulgação de uma determinada lei, os quais são uma grande valia na definição do sentido final que o
legislador quis dar a essa mesma lei.

RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO:
1. Interpretação Declarativa: esta é, normalmente, a interpretação que resulta dos casos mais simples,
onde a letra e o espírito da lei coincidem, e o intérprete se limita a retirar o sentido que o texto
transmite clara e directamente, pois é esse o sentido que corresponde ao pensamento legislativo.
2. Interpretação Extensiva: esta é a interpretação que o intérprete faz quando chega à conclusão que o
espírito da lei é mais amplo do que o texto da mesma, isto é, o texto diz menos do que aquilo que se
pretendia dizer. Então, o intérprete estende a sua interpretação, fazendo corresponder o texto da lei ao
espírito da lei.
3. Interpretação Restritiva: esta é a interpretação que o intérprete faz quando chega à conclusão que o
texto da lei diz mais do que aquilo que se pretendia dizer, o texto da lei atraiçoa o espírito da lei.
Apesar de, pelo seu texto, muitos casos serem abrangidos por esta lei, é preciso restringir a aplicação da
mesma, pois muitos casos devem ser excluídos deste tipo de interpretação. O argumento em que
assenta este tipo de interpretação é “lá onde termina a razão de ser da lei termina o seu alcance”.
4. Interpretação Revogatória ou Ab-rogante: é o tipo de interpretação usado quando o conteúdo da
norma é contrário a algum princípio, isto é, quando existe uma contradição insanável entre duas
disposições legais.
5. Interpretação Enunciativa: é aquela pela qual o intérprete deduz de uma norma um preceito que nela
apenas está virtualmente contido, utilizando para tal certas inferências lógico-jurídicas que assentam
nos seguintes tipos de argumentos:
 Argumento “a maiori ad minus”: a lei que permite o mais também permite o menos (se certo
indivíduo pode alienar determinados bens, também pode onerá-los).
 Argumento “a minori ad maius”: a lei que proíbe o menos também proíbe o mais (se, por
exemplo, proíbe onerar certos bens, também proíbe aliená-los).
 Argumento “a contrário”: da norma excepcional deduz-se que os casos que ela não contempla na
sua hipótese, seguem um regime oposto (contrário), que será o regime-regra. Exemplo: uma
norma regulamenta que em tempo de guerra há recolher obrigatório às 20:00 horas, logo se pode
deduzir que quando não há guerra não há recolher obrigatório às 20:00 horas. Note-se que este
argumento deve ser usado com muita prudência, pois por exemplo no domínio do Direito Penal,
tal no acontece.

Qual é a posição do nosso Código Civil perante o problema da interpretação?


O artigo 9.º do Código Civil, referente a esta matéria, não tomou posição na controvérsia entre a
doutrina subjectivista e a doutrina objectivista, uma vez que não se refere nem à “vontade do legislador”
nem à “vontade da lei”. Aponta como acção fundamental na actividade interpretativa a descoberta do
“pensamento legislativo”.
 Este artigo serve apenas na medida em que afasta certos extremismos que os próprios cânones
hermenêuticos correntes também repudiam.
 Começa o referido texto por dizer que a interpretação não deve cingir-se à letra (texto) mas reconstituir a
partir dela o pensamento legislativo (espírito da lei).
 A letra é o ponto de partida para a interpretação, mas, também, exerce um limite já que “não pode ser
considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei, um mínimo de
correspondência verbal, ainda que imperfeitamente exprimido”.
 A letra tem, ainda, a função de fortalecer a interpretação que melhor se lhe adapta, pelo que o intérprete
presumirá que o legislador “soube exprimir o seu pensamento em termos adequados”.
 O artigo 1º deste artigo refere, ainda, três elementos de interpretação que devem ser tomados em conta,
são eles: “unidade do sistema jurídico”, “as circunstâncias em que a lei foi elaborada” e “as condições
específicas do tempo em que é aplicada”.

2.9.- INTREGRAÇÃO DA LEI


Na perspectiva dinâmica da aplicação do Direito, a custo se poderá distinguir, no plano
metodológico, entre interpretação e integração do Direito.
Começa por se afirmar que nenhum legislador é capaz de prever todas as relações da vida social
merecedoras de tutela jurídica, por mais diligente e precavido que seja.
Embora tais situações da vida careçam de regulamentação jurídica, a verdade é que terão de ser
decididas pelo julgador de acordo com os processos de integração das leis. Daí que o comando directo da lei
não cubra aquelas inferências que o intérprete faça, a partir das normas postas, para resolver casos não
previstos. As decisões do julgador não poderão aqui fundar-se directamente nos comandos normativos, mas
sim em argumentos e inferências metodológicas - vincadas a tais comandos.
Segundo Baptista Machado, perante os casos omissos, isto é, perante situações que não caibam em
qualquer previsão legal, poderia formalmente adoptar-se sempre a seguinte atitude: considerar tais situações
excluídas do âmbito jurídico, ainda que as considerássemos merecedoras de tutela jurídica.
NOÇÃO DE LACUNA
Como o diz Baptista Machado «a lacuna é sempre uma incompletude, uma falta ou falha.»
Quando a lei e o direito consuetudinário não albergam uma resposta a uma determinada questão
jurídica, estamos perante uma lacuna da lei.
Até se chegar a esta conclusão passa-se por uma “operação técnica” muito cuidada, uma vez que se
deve partir do princípio que o sistema legal é completo, possuindo todas as soluções dadas a sua flexibilidade
(a norma move-se). Assim, a constatação de uma lacuna da lei deve ser muito bem fundamentada.
É no Direito Penal que se torna mais provável o aparecimento de lacunas.
Nos termos do artigo 8º do C.C o juiz não pode abster-se de julgar invocando a falta da lei, pelo que tem que
integrar a lei ou seja preencher as lacunas legais.
PROCESSOS PARA INTEGRAR A LEI: Art.10º do C. Civil:

1.- Recurso à Analogia/ Integração Analógica: art. 10º nº 1 e 2 do C. Civil.


Certas lacunas poderão ser preenchidas por normas referentes a casos análogos. Dois casos dizem-se
análogos quando neles se verifique um conflito de interesses paralelo ou semelhante, de modo a que o
critério valorativo adoptado pelo legislador para compor esse conflito de interesses num dos casos seja por
igual ou maioria de razão aplicável ao outro.
O recurso à analogia como primeiro meio de preenchimento das lacunas justifica-se por uma razão
de coerência normativa ou de justiça relativa (princípio da igualdade), a que acresce ainda uma razão de
certeza do direito: é muito mais fácil obter a uniformidade de julgados pelo recurso à aplicação da norma
aplicável a casos análogos do que remetendo o julgador para critérios de equidade ou para os princípios
gerais do direito.
Limites à Analogia: Existem certos espaços do direito onde não é possível a aplicação da analogia como são
a) As Normas Excepcionais, art.11º do C. Civil.
b) Os Impostos no Direito Fiscal, art. 102º da Constituição.
c) As Normas Penais Incriminatórias, art. 65º da Constituição e arts 1º e 18º do Código Penal.
2.- O recurso a uma Norma “ AD HOC” elaborada pelo legislador dentro do espírito do sistema:
“Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se
houvesse de legislar dentro do espírito do sistema” (n.º 3 do artigo 10º do Código Civil).
Quando o sistema jurídico não deu qualquer solução para este caso porque ultrapassa os limites da lei
constitucional, o juiz deve ele próprio fazer-se de legislador tomando em consideração:
 A arquitectura do sistema jurídico.
 Os princípios gerais de direito.
Cria uma norma jurídica nova só para aquele caso (já que não pode criar leis abstractas).
Às vezes as lacunas existem porque o legislador não encontra nenhuma solução para determinado
caso, deixando aos juízes a tarefa de criar a norma consoante o caso. Isto cria a instabilidade social - surgem
casos imperativos no Direito, pelo que o juiz tem, assim, que fazer um julgamento para cada caso.

2.10.- APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO E NO ESPAÇO BREVES CONSIDERAÇÕES.

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO


As leis sucedem-se no tempo. A cada passo o legislador modifica os regimes jurídicos.
Quando há um determinado caso concreto (relação/situação jurídica) para resolver, é preciso saber
qual é a lei que se deve aplicar. No caso de existirem duas leis, uma nova e uma antiga, referentes à mesma
situação é preciso saber qual delas é aplicável a essa situação jurídica.
A cada momento, surgem leis novas que se aplicam para o futuro. A entrada em vigor de uma lei
nova ou até de um sistema jurídico inteiramente novo não provoca um corte radical na continuidade da vida
social. Há factos e situações que, tendo-se verificado antes da entrada em vigor da lei nova, tendem a
continuar no futuro ou a projectar-se nele. Há situações jurídicas constituídas no passado que se prolongam
no futuro.
Em princípio, a eficácia da nova lei só se projecta para o futuro, deixando incólume o passado.
Muitas vezes, a coordenação entre os dois regimes que se sucedem é tão complexa, ou estão em jogo aspectos
tão peculiares, que o legislador considera oportuno estabelecer-se critérios específicos de resolução de
conflitos que orientem ao julgador. Estes critérios ou directrizes dizem-se Disposições Transitórias.
As disposições transitórias no bastam, nem sempre existem pelo que nos devemos orientar pelos princípios
gerais do Direito.
O artigo 12º do Código Civil, estabelece o Princípio Geral da Aplicação das Leis no tempo, determinando
que, a Lei só dispõem para o futuro, ou seja, que a lei só se aplica aos factos que surgem depois da sua
entrada em vigor, ainda reconhece o legislador que à nova lei possa ser-lhe atribuída eficácia retroactiva,
sendo aplicada as situações que persistam aquando a sua entrada em vigor, sendo assim, os efeitos já
produzidos ficam ressalvados (Princípio da não retroactividade da lei).
As várias constituições dos fins do século XVIII deram ao princípio da não retroactividade da lei o valor de
um princípio constitucional. Nas constituições modernas isto só acontece no domínio do Direito Penal.
Em matéria de lei penal incriminadora a lei penal só é retroactiva se dela resultar benefícios para o
arguido, artigo 65º nº 4 da Constituição.

LEIS INTERPERTATIVAS E LEIS CONFIRMATIVAS:


b) Leis interpretativas: devem ter o valor da lei, pois integram-se na lei interpretada, e devem ser
aplicadas retroactivamente. É possível que um legislador faça certos “truques”, isso é, através de uma lei
interpretativa o legislador faz uma lei inovadora. Artigo 13º do C. Civil.
c) Leis confirmativas: são, pela sua própria natureza, retroactivas.

CONCLUSÃO:
 O princípio da retroactividade só tem força de princípio constitucional no domínio do Direito Penal.
 O legislador pode resolver os problemas mediante disposições transitórias.
 Na maioria dos casos a lei nada estabelece quanto à sua aplicação no tempo – vigora o princípio da não
retroactividade da lei.
Assim, cabe à doutrina, à lei e à jurisprudência apurar um critério racional e preciso que permita
definir a retroactividade, isto é, desenhar com nitidez a linha de confins que separa o âmbito de competência
da lei antiga e da lei nova.
 Este problema da definição do conceito da retroactividade foi objecto de duas doutrinas principais:
 Doutrina dos direitos adquiridos: a lei nova teria de respeitar os direitos adquiridos sob pena de
retroactividade. O direito adquirido não pode ser revogado pela lei nova, não se pode fazer a
aplicação retroactiva.
 Doutrina do facto passado / caso julgado: a lei nova não se aplicaria (sob pena de retroactividade)
a factos passados e aos seus efeitos (só se aplicaria a casos futuros). Garantia dos cidadãos e do
próprio Direito – um dos valores fundamentais do Direito é a estabilidade/segurança nas relações
jurídicas. Não há outra figura que reclame a segurança e a estabilidade como o caso julgado, daí
que tenha ultrapassado a doutrina anterior e predomine, hoje, em toda a parte.

 Tende-se a sintetizar a teoria da aplicação das leis no tempo distinguindo entre constituição e conteúdo
das situações jurídicas. À constituição das situações jurídicas aplica-se a lei do momento em que a mesma
se verifica (requisitos de validade, factos constitutivos,); ao conteúdo das situações jurídicas aplica-se
imediatamente esta lei, pelo respeita ao regime futuro o seu conteúdo e os seus efeitos, com ressalva das
situações de origem contratual relativamente às quais poderia haver uma sobrevigência da lei antiga.
Artigo 12º nº 2 do C. Civil.

APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO


O espaço limita a aplicação das leis, na medida em que as normas jurídicas não podem ter a
pretensão de regular factos que se passaram e passam sem qualquer contacto com o Estado que as edita,
daqui o princípio da territorialidade das leis.
Contudo há situações jurídicas que entram em contacto com mais de um ordenamento jurídico
estadual, pelo que surgem, então, conflitos de leis no espaço. Estes conflitos de leis no espaço são dirimidos
mediante regras de conflito, cuja função é determinar qual de entre as leis em contacto com a situação deve
ser considerada competente para a reger. Tem que haver uma norma supletiva para resolver os problemas
quando os vários direitos se entrecruzam. Tais regras são, ainda, “normas sobre normas”, matéria de que se
ocupa o Direito Internacional Privado. (Código Civil – artigos 14º a 65º)

2.11.- A RELAÇÃO JURÍDICA. CONCEITO. CLASSIFICAÇÕES E ELEMENTOS.

Os homens são seres sociais. Esta sociabilidade resulta do seu forte instinto para se aproximarem uns dos
outros e traduz-se nas relações estreitas, variadas, que estabelecem entre si e em que se vêem envolvidos
desde que nascem até que morrem. Tais relações são disciplinadas pelo Direito, que existe justamente para
disciplinar essas relações. Daí que a relação jurídica seja entendida como toda relação social regulada pelo
Direito
A relação jurídica representa a expressão jurídica de um conflito de interesses. Tem por isso estrutura
bilateral, comportando dois lados: um activo, constituído pelo direito e outro passivo, constituído pela
obrigação. O direito e a obrigação são correlativos.
A relação jurídica pode assim definir-se como:
Relação Jurídica: Relação social regulada pelo Direito mediante a atribuição de um poder a um dos sujeitos e
a imposição do correspondente dever a outro.

CLASSIFICAÇÕES:
Relação jurídica abstracta: é aquela que aparece em forma de um modelo, de um tipo, referenciada na lei.
Exemplo a relação geral entre o senhorio e o inquilino.
Relação jurídica concreta: é a relação jurídica existente na realidade, entre pessoas determinadas, sobre um
objecto determinado, e procedendo a um facto jurídico determinado. Exemplo o Sr. Alberto arrendou ao Sr.
Miguel, pelo valor de 45.500,00 akz mensais, um apartamento na rua do Pelourinho em Luanda.
Relação jurídica simples: se esgota num só direito e numa só obrigação. Exemplo a relação entre o credor e o
devedor.
Relação jurídica complexa: é aquela constituída por uma pluralidade de direitos, poderes, deveres e
sujeições. Exemplo a relação entre o comprador e o vendedor.
2.11.1.- ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
1. SUJEITOS: são as pessoas entre as quais se estabelece a relação, o suporte do poder e o dever.
2. OBJECTO: é aquilo o que recaem os poderes das partes
3. FACTO JURÍDICO: todo evento natural ou acção humana que produz efeitos ou consequências
jurídicas.
4. A GARANTIA: é a possibilidade que tem o sujeito activo da relação jurídica de recorrer aos meios
coercivos para fazer valer os seus direitos.

OS SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA: Personalidade e Capacidade Jurídica.


Sujeito de uma relação jurídica é todo aquele que pode ser sujeito activo ou passivo de uma relação jurídica.
Esta ideia aparece relacionada com a personalidade jurídica, por isso os sujeitos de direitos também se dizem
pessoas jurídicas.
Podem ser sujeitos de relação jurídica, em primeiro lugar o Homem (Pessoa Singular) e em segundo lugar,
certas entidades ou organizações a quem o direito pela importância do seu fim social concede personalidade
jurídica (Pessoas Colectivas).
Pessoa em sentido jurídico é quem possui personalidade jurídica.
Personalidade Jurídica: Aptidão de uma pessoa (Singular ou Colectiva) para ser titular de direitos e
obrigações.
Capacidade Jurídica: Esta se desdobra em Capacidade de Gozo e Capacidade de Exercício.
Capacidade de Gozo: Susceptibilidade em concreto de adquirir direitos e obrigações.
A Capacidade de Gozo se identifica com a Personalidade Jurídica, não pode ter-se personalidade jurídica e
ser-se inteiramente desprovido de capacidade de gozo, o que pode acontecer é que a capacidade de gozo seja
mais ou menos ampla.
A personalidade jurídica representa algo absoluto, que não comporta medição, ou se é pessoa jurídica ou não
se é. Mas poderá afirmar-se que se é mais ou menos capaz, que se tem maior ou menor capacidade.
Nomeadamente os indivíduos possuem, de maneira geral, capacidade mais extensa de que as Pessoas
Colectivas, como são as associações, fundações e sociedade. Há toda uma série de direitos que estas entidades
pela sua natureza ou pela sua finalidade específica estão necessariamente privadas, como por exemplo os
direitos de família.
A incapacidade de gozo é insuprível.

Capacidade de Exercício: É a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo


deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações, por acto próprio ou mediante procurador.
Um sujeito de direito não pode deixar de ter capacidade de gozo, mas pode faltar-lhe a capacidade de
exercício, pelo que existem as incapacidades de exercício.
As incapacidades de exercício podem ser supridas através dos Institutos da Representação Legal e da
Assistência.

Instituto da Representação Legal: O representante legal age em nome e no interesse do incapaz,


juridicamente é como si fosse o próprio incapaz. (Poder Paternal e Tutela).
Instituto da Assistência: Consiste na faculdade do incapaz agir por si próprio, embora para poder realizar
validamente os seus negócios seja necessário o consentimento de certa pessoa ou entidade, o assistente.
(Curador).
Pessoas Singulares:
Personalidade Jurídica da Pessoa Singular:
Nos termos do artigo 66º nº 1 do Código Civil a personalidade jurídica da pessoa singular começa a partir do
momento do seu nascimento completo e com vida e perde-se com a morte artigo 68º do Código Civil.
Condição jurídica do Nascituro (o feto): O Nascituro carece de personalidade jurídica mas goza de protecção
jurídica, artigo 66º nº 2 do Código Civil.

Capacidade de Gozo da Pessoa Singular:


Em regra o ser humano pode ser titular de quaisquer direitos e adstrito a quaisquer obrigações, artigo 67º do
Código Civil.
Existem situações de incapacidade de gozo, por exemplo, os menores não podem testar, artigo 2189º alínea a)
do Código Civil.
A incapacidade de Gozo é insuprível. Os actos praticados pelo incapaz são nulos, isto é, não produzem
efeitos jurídicos.
Capacidade de Exercício da Pessoa Singular:
Em regra as pessoas singulares são capazes de exercício, podem exercer os seus direitos e cumprir as suas
obrigações por si, pessoal e livremente.
Esta regra tem excepções: os incapazes.
As incapacidades de exercício previstas na nossa legislação são:
1- Menoridade: são menores aqueles que ainda não atingiram a maioridade. Segundo a Constituição art. 24º
a maioridade é adquirida aos 18 anos e o Código Civil, no seu artigo 122º determina que são menores as
pessoas de um ou outro sexo enquanto não perfizerem 18 anos de idade.
A menoridade é um facto evidente que não precisa ser declarado.
Esta incapacidade termina quando atingem a maioridade ou pela emancipação do menor, artigo 129º do
Código Civil.
É suprida pelo Instituto da Representação Legal a traves do Poder Paternal e subsidiariamente da Tutela,
artigos 134º e 220 alínea a) do Código de Família.
2.- A Interdição: Esta é uma incapacidade própria dos maiores de idade artigo 138º nº 2 do Código Civil,
podendo ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez
ou cegueira se mostrem incapazes de governar a sua pessoa e bens, artigo 138º nº 1 do Código Civil.
A interdição tem de ser declarada pelo tribunal a traves de uma sentença que põem fim a um processo
especial de interdição, artigos 140º e seguintes do Código Civil.
Esta incapacidade é suprida pelo Instituto da Representação Legal, equiparando-se o interdito a um menor,
sendo-lhes aplicáveis as mesmas regras com as respectivas adaptações e que fixam os meios de suprir o poder
paternal (Tutela), artigos 139º do Código Civil e 220º alínea b) do Código de Família.
Esta incapacidade cessa quando cessam as causas que lhe deram origem e é levantada pelo tribunal a traves
de sentença do tribunal, artigo 151º do Código Civil.
3.- Inabilitação: Esta incapacidade é originada pelos mesmos motivos que a interdição, mas revestidos de
menor gravidade, bem como pela prodigalidade, abuso de bebidas alcoólicas ou estupefacientes, que levam a
pessoa a ser incapaz para governar os seus bens, artigo 152º do Código Civil.
A inabilitação é decretada pelo tribunal a traves de uma sentença que põem fim a um processo especial de
inabilitação, artigo 156º do Código Civil.
A inabilitação é suprida pelo Instituto da Assistência, pela figura do Curador, artigo 153º do Código Civil.
A inabilitação quando é decretada pelas mesmas causas da interdição, revestidas de menor gravidade pode
ser levantada quando cessam as causas que lhe deram origem, mas quando tiver por causa a prodigalidade ou
o abuso de bebidas alcoólicas ou estupefacientes, o seu levantamento não será definido antes que decorram
cinco anos sobre o trânsito em julgado da sentença que a decretou, artigo 155º do Código Civil.
4.- Incapacidade Acidental: Esta incapacidade é transitória, pois resulta de causas como embriaguês,
intoxicação, estado hipnótico, etc. Ou seja é uma incapacidade que não afecta o estado da pessoa.
Quem se encontra incapacitado acidentalmente possui em geral, capacidade de exercício, perdendo-a só em
casos específicos, artigo 257º do Código Civil.
Os actos praticados neste estado são anuláveis.

AS PESSOAS COLECTIVAS:
São pessoas colectivas as organizações colectivas destinadas à prossecução de interesses colectivo, a quem a
ordem jurídica atribui personalidade jurídica, ou seja, como susceptíveis de serem titulares de direitos e
obrigações.
Pessoas colectivas são:
Associações: União voluntária de cidadãos angolanos ou estrangeiros, com carácter duradouro que visa a
prossecução de um fim comum e sem intuito lucrativo, artigo 2º da Lei das Associações.
Fundações: Complexos patrimoniais, criados pelo seu fundador ou de acordo a sua vontade, com vista a
prossecução de um fim social sem intuito lucrativo, artigo 185º e seguintes do Código Civil.
Sociedades: Conjunto cidadão que juntam bens e serviços com o objectivo de obter lucros e dividir os
mesmos pelos sócios, Lei das Sociedades Comerciais.
PERSONALIDADE JURÍDICA DAS PESSOAS COLECTIVAS:
As pessoas colectivas adquirem a personalidade jurídica pelo seu reconhecimento, artigo 158º do Código
Civil.

CAPACIDADE DE GOZO DAS PESSOAS COLECTIVAS:


Ao contrário das pessoas singulares as pessoas colectivas têm uma capacidade de gozo limitada: limitada aos
direitos e obrigações adequados aos interesses que prosseguem, e que se chama princípio da especialidade,
artigo 160º do Código Civil.
CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DAS PESSOAS COLECTIVAS:
Acerca da capacidade de exercício das pessoas colectivas, existem algumas dúvidas na doutrina.
Alguns defendem que as pessoas colectivas são incapazes por natureza, sendo essa incapacidade suprida por
representação.
Outras correntes entendem que as pessoas colectivas são capazes de exercício, só que essa capacidade não é
natural, mas juridicamente organizada. A lei dota as pessoas colectivas de órgãos, através dos quais actua
no mundo do direito. Artigo 163º do Código Civil.
A segunda corrente parece a mais adequada, sendo certo que a Lei em parte alguma equipara as pessoas
colectivas a incapazes.

O OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA E OS FACTOS JURÍDICOS


2.- O OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA: Classificação
O Objecto da Relação Jurídica é aquilo sobre o que incidem os poderes do sujeito activo, ou seja sobre o que
recaem os direitos subjectivos.
O Objecto da Relação Jurídica pode classificar-se tendo em conta os Direitos de Crédito e tendo em conta os
Direitos Absolutos.
Os Direitos de Crédito proporcionam ao titular o contacto com o bem mediante a realização de uma
prestação.
Os Direitos Absolutos proporcionam ao titular o contacto directo com o bem, como por exemplo os Direitos
Reais (Direitos sobre as Coisas).
CLASSIFICAÇÃO DO OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA SEGUNDO OS DIREITOS DE CRÉDITO:
a) Objecto Imediato: a Prestação do Devedor.
b) Objecto Mediato: O Bem devido.

CLASSIFICAÇÃO DO OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA SEGUNDO OS DIREITOS ABSOLUTOS:


1.- Bens Coisificáveis:
a) Coisas Materiais, incluindo as formas de energia da matéria.
b) Coisas imateriais: Criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, exemplo o direito de
autor, a propriedade industrial e outros.
c) Os Direitos: são os chamados direitos sobre direitos, exemplo Penhor de um Crédito.
2.- Bens não Coisificáveis:
a) A própria pessoa: Direito sobre si mesmo, ou seja os direitos de personalidade, o homem em relação a
estes direitos, é ao mesmo tempo sujeito e objecto de relação jurídica.
b) A pessoa de Outrem: são direitos sobre outras pessoas, nomeadamente os chamados poderes-deveres,
como por exemplo o Poder Paternal.
c) As Prestações: A Prestação é a conduta a que o devedor está obrigado. Trata-se de um comportamento,
uma acção ou uma omissão.
d) Outras situações económicas não autónomas: São situações que resultam para o titular de um direito pelo
facto da titularidade desse direito.

3.- OS FACTOS JURÍDICOS


Vamos agora a analisar o terceiro elemento da relação jurídica, dando especial relevância ao negócio
jurídico, o contrato.
Facto Jurídico: Acontecimento natural ou humano que produz efeitos jurídicos, que se podem traduzir na
constituição, modificação ou extinção de uma relação jurídica.

CLASSIFICAÇÃO DOS FACTOS JURÍDICOS:


1.- Factos Jurídicos Voluntários: que são os que dependem da vontade do homem, estes actos podem ser:
a) Lícitos: são aqueles que estão conforme à lei, e que por sua vez podem ser:
- Negócios Jurídicos: Facto voluntário lícito assente numa ou várias declarações de vontade dirigidas à
produção de determinados efeitos jurídicos. Exemplo o contrato de Empreitada.
- Simples Actos Jurídicos: Acções humanas lícitas cujos efeitos jurídicos, eventualmente concordantes com a
vontade dos seus autores, não são determinados pelo conteúdo desta vontade, mas direccionados pela lei.
Exemplo o livro dá lugar ao direito de autor, independentemente de ter sido essa a vontade do seu autor.
b) Ilícitos: são aqueles que são contrários à ordem pública e que implicam uma sanção para o seu autor; por
exemplo o roubo, o homicídio, etc. e podem ser:
- Dolosos: quando o seu agente tem a intenção deliberada de causar mal, exemplo o furto.
- Meramente culposo: o autor age por imprudência ou negligencia e causa um dano. Apesar de não prever
os resultados, essa actuação imprudente e descuidada confere-lhe culpa. Exemplo um Acidente de viação por
simples distracção.
2.- Factos Jurídicos Involuntários: são aqueles em que a produção de efeitos jurídicos não depende da
vontade humana e mesmo que esta se manifeste não é juridicamente relevante, exemplo o Nascimento, a
Morte, ou uma Catástrofe Natural.

CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (CONTRATOS).


1.- Negócios unilaterais: caracterizam-se por uma só manifestação de vontade ou várias em paralelo
formando uma só, exemplo o Testamento.
2.- Negócios Bilaterais: caracterizam-se por várias manifestações de vontades, que podem ser até contrárias,
mas se harmonizam porque o resultado final interessa a todas as partes, exemplo a Compra e Venda.
3.- Negócios Formais ou Solenes: são aqueles para os quais a lei normalmente impõe a elaboração de um
documento sujeito a formalidades, exemplo a Compra e Venda de um Bem Imóvel.
4.- Negócios Consensuais ou não Solenes: são aqueles para os quais a lei não impõe forma específica de
celebração e obedecem ao princípio da liberdade de forma negocial do artigo 219º do Código Civil, exemplo
Compra e Venta de uma Carteira.
5.- Negócios entre Vivos: são os destinados a produzir efeitos em vida das partes, sem ter que esperar-se pela
morte do declarante ou de um dos declarantes, exemplo a Empreitada.
6.- Negócios Mortis Causa: são os destinados a produzir efeitos depois da morte das partes ou de uma das
partes, exemplo o Testamento.
7.- Negócios Onerosos: pressupõem prestações de ambas as partes, cada uma dá considerando que dá
retribuído ou contrabalançado por aquilo que recebe, cada uma das prestações é a contrapartida da outra,
exemplo Contrato de Locação.
8.- Negócios Gratuitos: neles intervém o espírito da liberalidade – a chamada intenção liberal, que reside na
consciência e vontade negocial de dar ou receber uma prestação sem contrapartida, exemplo A Doação.
9.- Negócios Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de qualquer outro.
Exemplo: Locação.
10.- Negócios Acessórios: exigem que haja um negócio principal, estando subordinados a eles, assim como
ocorre com a Sub- Locação.
11.- Negócios Paritários: são contratos em que as partes estão em situação de igualdade prevalece o
princípio da autonomia de vontade; discutem os termos do acto do negócio e livremente se vinculam
fixando cláusulas e condições que regulam as relações contratuais, exemplo o Comodato.
12.- Negócios de Adesão: se caracterizam pela inexistência da liberdade de convenção, porque excluem a
possibilidade de debate ou discussão sobre os seus termos; um dos contratantes se limita a aceitar as cláusulas
e condições previamente redigidas pelo outro, aderindo a uma situação contratual que já está previamente
definida, exemplo os Contratos de Telefonia
13.- Contratos Típicos: Aparecem na lei em forma de um modelo, um tipo, no Código Civil, Livro II, Titulo
II, aparecem relacionados os contratos típicos, como por exemplo o Mútuo.
14.- Contratos Atípicos: São aqueles que não estão disciplinados pelo ordenamento jurídico, embora lícitos
por estar sujeitos às regras gerais dos contratos e não contrariar a lei, nem os bons costumes, nem os
princípios gerais do direito e normalmente se formam juntando cláusulas de vários contratos típicos.

4.- A GARANTIA DA RELAÇÃO JURÍDICA:


A Garantia é o quarto elemento da Relação Jurídica, é o elemento que imprime a jurisdicidade a esta relação.
A Garantia da Relação Jurídica se processa através da Tutela Pública ou Estadual e da Tutela Privada ou
Autotutela.
Tutela Privada: é aquela que é assegurada pelo próprio titular do direito violado, para reparar essa violação,
e só é admitida pela Lei a título excepcional e subsidiário, quando o particular não possa em tempo útil
recorrer aos médios coercivos normais.
Nos termos do artigo 1º do Código de Processo Civil “a ninguém é lícito o recurso a força a fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei.
A lei prevê três meios de Tutela Privada:
a) Acção Directa: consiste no recurso à força como forma indispensável de realizar o assegurar um direito do
que o agente é titular, dada a impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais. O
agente não pode exceder o estritamente necessário para evitar o prejuízo e tem de atender ao princípio da
proporcionalidade relativamente aos interesses em jogo, artigo 336º do Código Civil.
b) Legítima Defesa: consiste na reacção destinada a afastar uma agressão actual e ilícita da pessoa ou do seu
património, artigo 337º do Código Civil.
c) Estado de Necessidade: consiste na prática de actos que destroem ou danificam coisa alheia, com o fim de
remover um perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de um terceiro, artigo
339º do Código Civil.

Tutela Pública: é aquela que é assegurada pelo Estado com o objectivo de garantir a boa aplicação e
cumprimento das normas jurídicas.

Medidas de Tutela Pública:


1.- Medidas Preventivas: têm por objectivo prevenir a violação de um direito, dentro destas se destacam as
medidas de segurança e os procedimentos cautelares, artigo 399º do Código de Processo Civil.
2.- Medidas Compulsivas ou compulsórias: conjunto de medidas tendentes a actuar sobre o infractor de
certa norma jurídica, de forma a levá-lo a adoptar o comportamento adequado, como por exemplo a
Excepção do não cumprimento dos Contratos artigo 428º do Código Civil e o Direito de Retenção artigo 754º
do Código Civil.
3.- Medidas Reconstitutivas: consistem em reconstituir ao lesado na condição em que se encontrava antes
da lesão, esta reconstituição pode ser:
a) In Natura: A situação que se verifica é semelhante à que existiria se não houvesse violação da norma
jurídica.
b) Reintegração por mero equivalente ou sucedâneo: sendo impossível ao devedor reconstituir a situação
anterior à violação da norma, a lei impõe-lhe o pagamento de um equivalente em dinheiro, artigo 566º do
Código Civil.
c) Medidas compensatórias: estas medidas se aplicam quando por alguma razão a reconstituição não é
possível. Através dela não se repõe a situação anterior a violação da norma jurídica, mas antes procura
proporcionar-se ao lesado, uma contrapartida pela lesão sofrida, artigo 496º do Código Civil.
4.- Medidas Punitivas: Estas sanções correspondem aos casos mais graves de violação de normas jurídicas.
Ao seu autor a ordem jurídica aplica-lhe uma pena, podem ser sanções, multas ou coimas.
5.- Ineficácia dos Actos Jurídicos: têm por objectivo negar os efeitos jurídicos pretendidos pelas partes, o
seja quando por qualquer motivo legal não produzem todos ou parte dos efeitos jurídicos. Esta medida se
processa através da nulidade, a anulabilidade e a inexistência jurídica.
Nulidade: Verifica-se quando o acto não produz os efeitos jurídicos que as partes pretendem e resulta
fundamentalmente dos seguintes vícios: vícios de forma, vícios de objecto, faltam de vontade, contrariedade
à lei.
Anulabilidade: os efeitos jurídicos produzem-se mas ficam à mercê de uma das partes, que tem o direito de
anular o negócio, ou seja de destruir esses efeitos retroactivamente e decorre principalmente da
incapacidade do agente ou de vícios da vontade.
Inexistência Jurídica: É a forma mais grave de ineficácia jurídica, pois o acto jurídico carece de alguns
elementos essenciais impostos pela norma, enquanto os negócios nulos ou anuláveis podem vir a surtir os
efeitos desejados pelas partes os negócios inexistentes não. Exemplo o contrato de compra e venda em que as
partes não tenham dado o seu consentimento, sem preço ou sem coisa vendida.
Exemplo: As declarações não sérias artº. 245º do Código Civil.

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