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RESUMO
O presente trabalho busca discutir o papel que as políticas de integração regional
desempenharam nas estratégias de desenvolvimento econômica dos governos de Luiz Inácio
Lula da Silva (Brasil, 2003-2006) e Vicente Quesada Fox (México 2000-2006). Partimos do
pressuposto de que a condução da política externa possui íntima relação com a política interna
de cada país. Por isso, a escolha em comparar governantes de orientações ideológicas distintas
dos dois países mais ricos e economicamente complexos da América Latina permite observar
as semelhanças e diferenças no que diz respeito tanto à condução da política externa quanto da
política interna.
Palavras-chave: Brasil – México – Integração Regional – Lula – Fox
ABSTRACT
The present paper seeks to discuss the role played by regional integration policies in the
economic development strategies of the governments of Luiz Inácio Lula da Silva (Brazil,
2003-2006) and Vicente Quesada Fox (Mexico 2000-2006). We start from the assumption that
the conduct of foreign policy is closely related to the domestic politics of each country. For this
reason, the choice to compare rulers with distinct ideological orientations from the two richest
and most economically complex countries of Latin America allows us to observe the similarities
and differences regarding both the conduct of foreign policy and domestic politics.
1
Doutorando em História Econômica pela FFLCH-USP. Bolsista FAPESP (processo: 2017/17481-2)
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Doutorando em História Econômica pela FFLCH-USP.
2
Introdução
México e no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) no Brasil.
Nesse sentido, nos parece fundamental justificar os critérios de escolha dos países
comparados. Brasil e México foram escolhidos fundamentalmente por três razões, a saber: 1)
trata-se das duas maiores economias da América Latina; 2) a estrutura econômica dos países é
Na virada para o século XXI, Brasil e México enfrentavam crises econômicas que
acarretaram o desgaste das forças políticas que impuseram e/ou sustentaram a implementação
dos pressupostos do Consenso de Washington na década de 1990. Nesse sentido, no ano 2000
– início do nosso recorte cronológico - o eleitorado mexicano impôs a primeira derrota eleitoral
ao PRI (Partido Revolucionário Institucional) em 70 anos, quando levou ao poder Vicente Fox,
do Partido Acción Nacional (PAN). Já no Brasil, em 2002, a novidade foi a eleição de Luiz
Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), o primeiro presidente eleito, desde o
isso, é interessante observar que ambos trabalharam com uma estratégia retórica bastante
semelhante: a crítica de uma “herança maldita”. Entretanto, o conteúdo ideológico das respostas
apresentadas aos dramas socioeconômicos variaram bastante. Enquanto Vicente Fox – cujo
corrupção para desenvolver a economia do país e erradicar a miséria, Lula mobilizou “Um
Brasil Para Todos” (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2002) – título de seu programa de
Em linhas gerais, podemos dizer que, apesar das diferenças ideológicas, os dois
fim de evitar pressões inflacionárias, buscaram manter o equilíbrio fiscal e o superávit primário.
Nesse sentido, a razão Dívida Pública/PIB4 diminuiu nos dois países tanto em função da
como indica a redução da taxa de pobreza. No México, Fox logrou reduzir a pobreza em quase
10%, ao passo que a redução brasileira no primeiro governo Lula foi mais tímida, 3,4%
(CEPALSTATS).
Dessa forma, nos dois casos os pleitos presidenciais de 2006 deram vitória a projetos de
continuidade. No Brasil, Lula foi reeleito para mais um mandato de quatro anos. No México,
onde a reeleição não é permitida, o vencedor foi Felipe Calderón do mesmo partido de seu
antecessor, o PAN, que governaria o México por mais seis anos. Em termos de conjuntura
3
Veja-se, por exemplo, o discurso de posse de Fox (2000), no qual o crescimento econômico e a diminuição da
pobreza são apresentados como consequências de uma gestão eficiente. Já no caso do PT, o protagonismo do
Estado não implicaria o desajuste das contas públicas, conforme importante documento da época: a Carta ao Povo
Brasileiro (SILVA, 2002). Essa dualidade – responsabilidade fiscal e inclusão social – foi a marca dos governos
Lula (tendo sofrido modificações no governo de Dilma Roussef.
4
Em 2000 a Razão Dívida Pública Bruta/PIB no México era de 41,85%, caindo para 37,75% em 2006 (FMI). O
Brasil, por sua vez, experimentou redução maior: de 73,75%, em 2003, para 65,8% em 2006.
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A média de crescimento durante o primeiro governo Lula (2002-2006) foi de 3,7%. No governo de Fox (2000-
2006) a média foi de 2,2%. Importante ressaltar que os primeiros anos dos dois governantes – especialmente Fox
– sofreram bastante os reflexos da crise econômica da virada do século. Para efeito de registro, em 2006, o Brasil
cresceu 4% e o México, 5%. (FMI)
4
estratégias de desenvolvimento?
A política externa como política pública: o potencial dos aspectos dinâmicos da Integração
Regional
Nos anos 1990, surge o “novo regionalismo”, que busca promover uma integração agora
De modo geral, podemos dizer que o impulso da renovação das concepções integracionistas
advém de dois motivos: 1) a superação da longa e crônica crise econômica que abateu o
continente desde os anos 1980; 2) a insatisfação com o andamento das questões debatidas nos
OMC). Uma vez que o processo de industrialização já havia ocorrido na região, os desafios
estímulo a uma economia internacional mais aberta, livre de travas e amarras à troca de bens e
que abateu o continente nos anos 1980. A assinatura do Tratado de Assunção em março de 1991
delineava
Nesse sentido, podemos dizer, tal qual Carvalho (2017) que atualmente o processo de
acabam por abrir espaços para produtos provenientes de outros países, especialmente a China.
O NAFTA, por sua vez, surge do desenvolvimento do Acordo de Livre Comércio EUA-
as Américas”, o plano de Bush era o de criar uma área de livre comércio do Alasca à Patagônia,
daí o primeiro passo de incluir o México no processo de integração delineado junto ao Canadá.
Carvalho (2017):
México parecem esgotadas, especialmente quando se tem em conta que o acordo de livre
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comercio não evoluiu no sentido de permitir a livre mobilidade dos fatores de produção,
tornando os movimentos emigratórios para os Estados Unidos uma das questões mais urgentes
Inicialmente, é imperioso esclarecer uma distinção fundamental entre termos que são
usualmente tomados como sinônimos, mas que representam conceitos distintos: política externa
que não deve ser confundida com diplomacia, pois esta é uma ferramenta daquela. Desse modo,
a diplomacia operaria o interesse nacional, adequando sua atuação dentro da proposta maior de
política externa, matéria prima de sua ação. Por isso, como já mencionado nas páginas iniciais
deste artigo, a política externa guarda uma íntima relação com a política interna e, assumindo
tal premissa, devemos observar quais eram as principais ações governamentais naquele
quadrante temporal.
quando se privilegia a condução pessoal dos assuntos de política externa pelo presidente. Para o
autor, a Diplomacia Presidencial (que pode ser entendida também como diplomacia de cúpula,
externa, fora da mera rotina ou das atribuições ex-officio, pelo presidente” (DANESE, 1999, p.
projeto político do presidente” (DANESE, 1999, p.21). Considerando que o mandatário pode
atuar em diversos níveis, o autor propõe uma gradação interna para a diplomacia de cúpula: o
grau zero, referente ao exercício apenas protocolar; o primeiro grau, quando o mandatário reage
a solicitações ou pressões externas, sendo elas burocráticas ou não, em virtude de sua condição
de instância decisória superior; o segundo grau, descrito em suas palavras como o “limite da
imensa maioria das diplomacias ao redor do mundo” (DANESE, 1999, p. 51); e, finalmente, o
terceiro grau, em que o mandatário “conduz pessoalmente a política externa segundo sua própria
Nesse sentido, o autor propõe que a política interna é um dos eixos da diplomacia
projeto nacional, no âmbito do qual tal política constitui-se em fator de poder, ligado a um plano
Prosseguimos, então, à análise dos casos de México e Brasil para compreender como as opções
presidentes.
Vicente Fox foi eleito presidente do México em 2000 com uma plataforma de cunho
liberalizante. Seu “Gobierno del Cambio” – do ponto de vista internacional – foi bem recebido
pelo mercado, até mesmo porque Fox fora CEO da Coca-cola Company no México.
A assimetria e a proximidade com os Estados Unidos tornam esse um tema central para
giro na tendência histórica mexicana de afrontar o vizinho do norte. É importante destacar que
considerável crescimento econômico nos primeiros anos após a sua criação em 1994.
recuperação econômica mexicana se deu a uma taxa média de crescimento de 5,1% a.a. entre
1996 e 2000. Boa parte da recuperação econômica se deu em função do aumento do comércio
exterior impulsionado pela entrada do país no NAFTA. Como detalharemos adiante, boa parte
maior economia do mundo, a dos Estados Unidos. Nesse sentido, o gráfico 1, a seguir,
buscar a aproximação com o vizinho do norte, já que as relações com os Estados Unidos e
Canadá formam o primeiro dos três eixos que conduziram a elaboração da agenda mexicana de
política internacional nos primórdios dos anos 2000. Os outros dois eixos são a diversificação
No que diz respeito ao primeiro dos eixos – o NAFTA – a principal proposta de Jorge
Casteñeda (Ministro das Relações Exteriores de Fox), era a de aprofundar as relações com
entre os três países6. Contudo, é importante notar que a assimetria econômica dos países impede
1) La mejora del trato hacia los migrantes mexicanos, ampliando el acceso a las visas
y a la regularización de su situación migratoria; 2) ayudar a reducir la migración
indocumentada por medio de la cooperación bilateral en el combate a las
organizaciones criminales dedicadas al tráfico de personas, así como salvar vidas al
prevenir y evitar cruces fronterizos peligrosos; 3) construir conjuntamente una región
fronteriza viable; y 4) enfocar las políticas de desarrollo hacia las comunidades
emisoras y fortalecer la economía mexicana, con el fin de reducir la presión migratoria
(ITAM, 2001)
Área Livre de Comércio das Américas (ALCA). Nesse sentido, como ele aponta em entrevista
para a Folha de São Paulo na ocasião de visita ao Brasil no ano de 2002, a integração no âmbito
Para nós é tão importante que o México cresça e se desenvolva como que os outros
países também cresçam. Um exemplo: se a economia dos EUA não cresce, nós não
crescemos. Tenho que torcer bastante para que os EUA cresçam. Ocorre o mesmo
com o Mercosul. Se a Argentina não se recuperar, o Brasil terá dificuldades, o Chile
vai ter dificuldades, o Uruguai vai ter dificuldades. Precisamos de um avanço regional,
de um avanço equitativo para todos. Essa é nossa visão e estamos convencidos que a
Alca vai permitir isso. A Alca permitirá que a América Central -hoje um lugar de
muita pobreza e marginalização- ingresse num processo de desenvolvimento. Isso
interessa muitíssimo ao México. Convém muito ao México que a América Central
cresça, que o Haiti resolva seus problemas, que as populações do Caribe tenham um
melhor nível de vida. O México entende isso porque estamos na metade desse
processo de desenvolvimento. Não somos um país totalmente desenvolvido, mas
também não somos um país com a pobreza extrema que os outros têm. Isso permite a
nós entender os dois lados da equação e buscar um desenvolvimento compartilhado
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2002).
6
Vale lembrar que Vicente Fox em sua campanha, dizia que governaria também para os 20 milhões de mexicanos
que viviam nos Estados Unidos, além de diversas vezes citar a União Europeia como modelo a ser perseguido.
10
dos parceiros comerciais (especialmente no que diz respeito à América Latina e à Europa) que
eram vistos como a construção de uma alternativa que permitiria ao México barganhar com os
Estados Unidos (RUIZ SANDOVAL, 2008). A própria defesa da implementação da ALCA por
NAFTA, além da conjuntura interna dos EUA (baixo crescimento econômico e os ataques
nas relações bilaterais entre México e Estados Unidos. A euforia com o acordo de livre
comércio que caracterizou as relações dos dois países nos anos finais de 1990 impunha à
economia o peso de tópico mais importante nas relações entre os dois países. Contudo, nessa
contrabando de mercadorias.
economia na condução das relações entre os membros do NAFTA. Ao mesmo tempo, também
pessoas no âmbito do NAFTA, já que agora havia uma exigência muito maior do controle das
fronteiras. É interessante observar, contudo, que apesar de não ser o foco do acordo, a
exportações mexicanas pode ser explicada pelas tentativas de Fox de ampliar a gama de
parceiros comerciais, especialmente a União Europeia (ainda que timidamente, como indica a
tabela). Contudo, as viagens de Fox à Europa, em sua maioria, foram curtas e com objetivo de
É importante notar que apesar dos esforços de Fox, especialmente amparado no Acuerdo
termos relativos. É muito difícil para o México sair da sombra dos Estados Unidos. Por
exemplo, em 2008 a União Europeia era o segundo parceiro do México com apenas 6% do
comércio mexicano sendo destinado ao Velho Mundo. Por outro lado, o México não se
encontrava sequer entre os 15 primeiros parceiros da União Europeia naquele mesmo período.
Para muestra de la disociación entre las acciones y los objetivos, baste mencionar que,
en una reunión paralela a la cumbre Unión Europea-Amé- rica Latina celebrada en
mayo de 2002 en Madrid, en la que el presidente Vicente Fox, a pesar de estar en
Europa para una reunión con la Unión Europea, al referirse a las prioridades de la
política exterior de México se limitó a hablar, primero, de querer tener mayor
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No que diz respeito à América Latina – segundo dos eixos da política externa mexicana
do período -, a prioridade correu no sentido mais político do que econômico. De acordo com o
Plan Nacional de Desarrollo (2001) os objetivos da política externa mexicana para o continente
O terceiro eixo consistiu no maior peso atribuído aos fóruns multilaterais. Destaca-se
nesse sentido a forte campanha mexicana para ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança
da ONU. De maneira geral, podemos dizer que a política externa mexicana no século XXI foi
Primeiro, ela passou a ser de caráter reativo a proativo; segundo, está transformando
sua natureza legalista em uma mais pragmática; e, terceiro, passou de uma posição de
isolamento relativo a uma de abertura ao mundo. Essas tendências já se observavam
na área de política externa comercial desde o sexênio de Salinas, mas nas
administrações de Fox e Calderón, se generalizam para todas as áreas de política
externa (NETO; SCHIAVON, 2010).
impõe ao presidente um grande peso na elaboração da agenda de política externa. Por isso, a
abertura proposta por Fox tenta ser coerente com a sua proposta de superar o passado autoritário
que marca a história do México. Daí se explica, por exemplo, a opção da atuação
assinalar que a atuação internacional – justamente respondendo a essas demandas internas – foi
um elemento importante do sucesso eleitoral panista (no México, onde a reeleição não é
permitida, Fox elegeu seu sucessor Felipe Calderón), apesar das críticas da intelectualidade
mais ligada à esquerda, para quem o ex-CEO da Coca Cola muito disse e pouco efetivou a
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diversificação que aumentaria o poder de barganha frente aos Estados Unidos da América
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente do Brasil em 2002, com um discurso que
Brasil passava desde o último biênio dos anos 1990. Em termos de política externa, a questão
mais urgente foi a do receio do mercado internacional diante do novo presidente (o dólar,
naquele momento, chegou a atingir R$ 4,00 e o “Risco Brasil” alcançou seu maior patamar - 2.
Apesar das dificuldades iniciais, o governo Lula logrou – através de medidas ortodoxas
dos indicadores econômicos (e modestos, nos sociais, nesse primeiro mandato) foram
Nos quatro anos de seu primeiro mandato, Lula assistiu ao comércio brasileiro dobrar, partindo
de US$ 107 bilhões (2002) para US$ 228 bilhões em 2006 (BRASIL, 2007).
Inácio Lula da Silva afirmou: “No meu Governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada
nacional”; prosseguindo em seu discurso de posse no Congresso Nacional, declarou ainda que:
presidente eleito: a primeira nos informa que “a ação diplomática do Brasil será, antes de tudo,
da política externa brasileira, a América do Sul, objetivo que seria alcançado por uma medida
Por isso, adotando a perspectiva de Amado Luiz Cervo (2003)7, podemos dizer que o
duro nacional, por modo a alçá-lo em termos comparativos ao núcleo forte das nações
avançadas e a abrir caminho para sua internacionalização”(CERVO, 2003, p.21) e, por isso,
esse paradigma não deve ser tomado como uma negação do desenvolvimentismo típico da
política externa brasileira do século XX, mas sim como uma tentativa de resolver as questões
as negociações com da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas); 2) as relações com os
7
Cervo concebe quatro paradigmas para compreender tal inserção no caso brasileiro: o liberal-conservador (1810-
1930), o desenvolvimentista (1930-1989), o “normal” ou neoliberal (1990-2002) e o logístico (governo Lula da
Silva).
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No que tange aos dois primeiros pontos, pode-se dizer que houve uma mudança – ainda
que não seja de tonalidade radical – na postura do governo Lula se comparado a seu antecessor.
No processo de negociação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), Lula passou a
MERCOSUL com a Comunidade Andina das Nações (CAN) e a aproximação com países em
Como dizia Lula em seu discurso de posse do segundo mandato: “Fizemos do entorno sul-
americano o centro de nossa política externa. O Brasil associa seu destino econômico, político
SILVA, 2007).
Sob tal perspectiva a retórica oficial do Presidente Lula adquire sentido mais claro. De
um lado, a ação diplomática – a ferramenta – deveria ser acionada no sentido de contribuir para
Política Externa – o Mercosul – teria de revestir-se antes de uma proposta de ação política, mais
que de uma ação econômica, para atingir plenamente os objetivos e metas traçados para a
8
Não a toa, em 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil.
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política interna. Podemos, então, considerar como momento fundante oficial das relações
brasileiras – sob o governo Lula - com o bloco do cone sul o discurso proferido na XXIV
Argentina, asseverando ainda que o comércio regional deveria retomar, em 2003, “pelo menos
pontos: 1) Efetiva e completa União Aduaneira até o final do mandato; 2) Construção final do
participação do BNDES.
DA SILVA, 2008, p. 30). Esta afirmação, ainda que possa representar um apreço ao bloco
Outro ponto que merece destaque nos itens apresentados é a mobilização do BNDES no
exportações do BNDES para a América do Sul soma US$ 5,8 bilhões”. (BNDES, 2006) -, o
civil para a América do Sul”, informando o montante para aquele ano de US$ 5,8 bilhões para
Vale ressaltar que no dia 8 de dezembro de 2004 foi criada a Comunidade sul-americana
de Nações, embrião da futura da União das Nações Sul-americanas (UNASUL), um dos mais
ambiciosos projetos de integração continental propostas no período sob enfoque, que viria a
Expressiva parcela dos recursos do BNDES destinados para a América do Sul foram
objetivo declarado de reduzir a assimetria regional dos Estados-parte do Mercosul, foi criado
orçamento anual do FOCEM foi estipulado em US$ 100 milhões, integralizado nos seguintes
percentuais: Brasil – 70%, Argentina – 27%, Uruguai – 2% e Paraguai – 1%. Tal fundo pode
aportar, em recursos não reembolsáveis, até 85% dos valores dos projetos apresentados.
alterações nas estruturas econômicas dos países membros e associados do Mercosul, algo que
seguramente não poderia ser alcançado nos limites temporais estabelecidos para este trabalho.
Contudo, vale consignar que entre a reunião que formaliza a criação do fundo e os primeiros
projetos apresentados transcorreram três anos, com o Projeto Habitat, beneficiando a República
econômico das medidas propostas pelo presidente Lula para o Mercosul. Nesse sentido,
podemos observar que o crescimento das exportações entre os países do bloco (intrarregionais)
em proporções muito parecidas com as das exportações totais dos países do bloco (ver tabela
3).
Ou seja, a partir da tabela podemos perceber que apesar das medidas no período terem
favorecido o crescimento das exportações totais do bloco, isso não significou uma maior
bloco – especialmente as que dizem respeito à necessidade de consenso para qualquer decisão
– não cabem no espaço de nossa discussão. Por isso, basta assinalar que esse foi um dos aspectos
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diversificação” foi vista pelos setores mais conservadores como “ideológica”. Nessa
com países menos desenvolvidos era vista como desperdício de recursos, afinal o pragmatismo
cujo momento mais marcante foi a liderança militar na a Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti (MINUSTAH) em 2004 - foi lida como uma manifestação do “sub-
imperialismo” brasileiro, o qual representaria uma espécie de fiança paga pelo Brasil na
manutenção do status quo no cenário internacional (SANTOS, 2016; FONTES, 2010). Por fim,
Considerações finais
Tentamos demonstrar nesse breve artigo – parte de um esforço de pesquisa mais amplo
– ainda que de forma exploratória, alguns elementos e motivações políticas que mobilizaram as
da política externa de um país ocorre em íntima relação com as questões de política doméstica.
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Sendo assim, mobilizamos dois conceitos pertinentes à renovação dos estudos de política
O primeiro dos conceitos procura explicitar que a atuação internacional dos países se
segundo, procura dar conta de que os esforços de integração regional não se limitam a questões
buscavam responder às crises que o continente vivia desde os 1980, impôs novos desafios aos
dois países. Por isso, o eleitorado votou no começo dos 2000 por discursos de transformação e
mudança. Evidentemente, a inserção internacional dos países não passaria incólume dos anseios
de transformação.
Conceber a política externa como uma “política pública” permite analisar as opções dos
países de maneira mais ampla. Por isso, para além da matemática econômica, é necessário ter
em mente as ideias que mobilizam a agência dos atores na elaboração das suas estratégias. Essas
responder. Em linhas gerais, podemos dizer que o cenário analisado até agora foi marcado por
liquidez financeira internacional e juros baixos. Além disso, o período aponta para a estreita
relação entre crescimento econômico e ciclos de expansão de primários, para toda a América
que precisavam ser superados. Não à toa, Fox elencou as discussões com os Estados Unidos
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como elemento central de sua campanha e de sua atuação diplomática. Vale lembrar que a
“diversificação” preconizada pelo então presidente mexicana tinha como fim último, o aumento
do poder de barganha frente aos Estados Unidos. Daí, por exemplo, deriva-se o fato do México
ter se projetado no continente latino-americano mais como força política do que econômica.
Cremos que a proximidade dos Estados Unidos o quadro de dependência econômica que se
seguiu após o estabelecimento do NAFTA são as principais explicações para a primeira das
perguntas de que lançamos mão. Evidentemente, a própria estratégia de Fox que subordinou a
também a questão pela ótica americana. Esse movimento nos dá pistas para respondermos à
segunda questão. Depois dos atentados de 11 de setembro, o governo Bush adotou medidas
restritivas à imigração dos mais variados países. Por isso, aqui havia um limite à estratégia
mexicana, já que a “guerra contra o terror” – movida a altas doses de estímulo à paranoia
coletiva – era vista como prioridade em detrimento dos esforços de aumento de integração no
que diz respeito à circulação de pessoas. Daí ocorreu deslocamento da questão econômica –
após a euforia com o NAFTA em fins dos 1990 – para as questões de segurança na fronteira
fronteiras entra em flagrante contradição com o discurso eleitoral de Fox de buscar avanços no
os EUA, podemos dizer que Fox foi relativamente bem-sucedido – do ponto de vista doméstico
resultados positivos, ao menos do ponto de vista eleitoral, já que Fox foi capaz de eleger o seu
Já Lula da Silva, por sua vez, traçou metas e estratégias mais ambiciosas. A estratégia
esses sejam mais visíveis no período que extrapola nosso recorte temporal (especialmente na
viria ficar conhecido como “cooperação Sul-Sul”, marca dos governos de Lula da Silva. Como
resposta à primeira das questões elencadas, defendemos que Lula resgatou a noção da política
externa como instrumento para o desenvolvimento econômico, daí o maior sucesso do Brasil
Contudo, como vimos, os esforços de integração não foram suficientes para resolver os
problemas estruturais do MERCOSUL. Por isso, no que diz respeito ao segundo ponto é
importante lembrar que os consideráveis avanços alcançados no que diz respeito à circulação
sentido, defendemos que a integração do Cone Sul se encontra “bloqueada”, já que as disputas
entre Brasil e Argentina – mesmo quando ambos eram governados por políticos que levantavam
que o aumento das exportações totais do bloco cresceu em proporções muito próximas das
exportações intrabloco. Ou seja, não se pode afirmar que as intenções enunciadas a respeito do
aumento da integração comercial regional tenham sido alcançadas. Como hipótese a ser
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desenvolvida em outros trabalhos, até porque ultrapassa os limites temporais demarcados para
esse trabalho, é que a expansão da presença chinesa no continente dificultou avanços nesse
sentido.
Por fim, apesar dos sucessos relativos, já que ambos governantes foram capazes de
eleger sucessores, é preciso observar que as fórmulas propostas por Fox e Lula acabaram por
se esgotar tanto no campo doméstico quanto no campo internacional. Não é a toa, que
atualmente, no primeiro semestre de 2018, ambos os países são governados por tendências
ambos países, o que impõem desafios aos dois partidos, especialmente no tocante à elaboração
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