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MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE APLICADOS AOS

PRINCIPAIS ELEMENTOS DO SISTEMA DE TRANSPORTE PÚBLICO


URBANO POR ÔNIBUS: ANÁLISE EM JOINVILLE-SC

SILVEIRA, Carolina Stolf (1);


DISCHINGER, Marta (2)
(1) Universidade Federal de Santa Catarina, Msc.
e-mail:carolinastolf@gmail.com
(2) Universidade Federal de Santa Catarina, PhD.
e-mail:martadischinger@gmail.com

RESUMO

A acessibilidade espacial no transporte coletivo por ônibus não se restringe apenas aos veículos, mas
também aos terminais, abrigos e calçadas. Avaliar a acessibilidade espacial em cada um dos seus
principais elementos requer uma metodologia adequada, desde a busca do estado da arte dos principais
temas envolvidos até a avaliação do estudo de caso, a fim de identificar problemas e aspectos positivos.
A partir dessa metodologia, na análise dos resultados, torna-se possível elaborar recomendações para
cada elemento do sistema, visando atingir a acessibilidade espacial de forma integrada. Nesse artigo,
descreve-se a metodologia explorada na pesquisa apresentando seus principais resultados.

ABSTRACT

The spatial accessibility of transport public system by bus is not restricted to vehicles but also includes
terminals, bus stops and sidewalks. To evaluate the accessibility conditions in each one of its main
elements requires an appropriate methodology, which starts with the study of the main concepts and
issues involved and evolves to the practical evaluation of the case study in order to identify problems and
positive aspects. Based on this methodology, through the results analyszis, becomes possible to formulate
accessibility recommendations considering each element of the system in an integrated form. In this
article, describes the research methodology and present its main results.

1. INTRODUÇÃO

Diariamente muitos brasileiros enfrentam diversos tipos de obstáculos no uso dos sistemas de
transporte público urbano. Dentre esses, as pessoas com deficiência são as mais afetadas. Em
junho de 2011, o Relatório Mundial sobre Deficiências (World Report on disability, 2011) da
Organização das Nações Unidas, divulgou que existem cerca de 30 milhões de pessoas com
deficiências no Brasil. Esse número significa um aumento de aproximadamente 13 milhões de
pessoas em 11 anos, considerando a estimativa da ONU em 2000, com 16,9 milhões de
pessoas com deficiências no Brasil. Cabe salientar que a deficiência faz parte da condição
humana. Seja no decorrer da vida, temporariamente ou não, seja no fim dela, com a velhice,
todos poderão vivenciar restrições do corpo físico.
Um dos objetivos centrais da acessibilidade é garantir a possibilidade de uso dos espaços da
cidade por todos seus habitantes. Para isso, é necessário transportar-se de um lugar para
outro, seja de forma individual ou coletiva. Esses deslocamentos devem garantir o direito de ir e
vir do cidadão, conforme determina a Constituição Federal de 1988. Para chegar aos destinos
desejados, as pessoas utilizam diversos modos de transportes, sendo os mais comuns o modo
a pé, bicicleta, motocicleta, automóvel e ônibus. Observa-se que existe uma relação direta entre
o primeiro e os demais modos, principalmente por ônibus, pois para se ter acesso ao transporte
coletivo é necessária a utilização do transporte a pé, já que se tem de caminhar da origem até o
ponto de embarque, e do ponto de desembarque até o destino.
Devido a fatores como o crescimento das cidades e a necessidade de deslocamento da
população para as áreas de interesse, o transporte coletivo constitui serviço imprescindível a
ser oferecido para todos. Tem como objetivo principal levar a maior quantidade de pessoas pelo
menor custo e em menor número de veículos ao maior número de destinos.
Para possibilitar um sistema de transporte público por ônibus acessível é necessário que cada
um dos elementos que compõe o sistema – calçadas (como primeiro elemento que conduz o
usuário ao sistema de transporte por ônibus), abrigos de ônibus, ônibus e terminais – ofereça
condições para sua utilização considerando suas funções e a diversidade de seus usuários.
Esses componentes devem necessariamente ser vistos de forma integrada, como elementos
físicos necessários para compor um sistema acessível em sua totalidade.
Entre as funções primordiais de um sistema de transporte urbano temos a informação. O
acesso à informação é fundamental para que os usuários possam orientar-se e assim deslocar-
se, comunicar-se e usar os espaços de forma efetiva e independente. Para utilizar qualquer
sistema de transporte é necessário saber onde se está no espaço e no tempo, ter informação
sobre as atividades e onde essas ocorrem, conhecer pontos de partida e chegada, definir
itinerários, e poder utilizar equipamentos e ambientes sem que seja necessário conhecimento
prévio de sua utilização. A legislação atual de acessibilidade no transporte coletivo concentra-se
na questão da mobilidade, todavia, a orientação – através da informação – é essencial para
promover o acesso universal ao sistema de transporte público.
Desta forma, ao analisar e avaliar a acessibilidade espacial em um sistema de transporte
público por ônibus é necessário estabelecer uma metodologia de avaliação que evidencie os
problemas e qualidades existentes, assim como, promover possíveis soluções a serem
recomendadas aos quatro principais elementos do sistema.

1.1 Objetivo

A pesquisa realizada como tema de estudo para mestrado em arquitetura e urbanismo teve
como objetivo geral analisar a acessibilidade espacial no transporte público urbano por ônibus,
incluindo o transporte a pé, da cidade de Joinville-SC, com a finalidade de propor
recomendações para calçadas, abrigos de ônibus, ônibus e terminais urbanos. Este artigo irá
expor o modo de aplicação, os principais resultados e a relevância da metodologia utilizada
para a análise, a qual foi imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa.

2. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO EMPREGADOS NA ANÁLISE: DESCRIÇÃO E PRINCIPAIS


RESULTADOS

A aplicação dos métodos foi realizada na cidade de Joinville, localizada na região sul do país,
nordeste do Estado de Santa Catarina. É a maior cidade do estado com 515.288 habitantes,
tendo cerca de 60 mil pessoas com algum tipo de deficiência.
Nesta pesquisa adotou-se metodologia qualitativa, com desenvolvimento de revisão teórica,
pesquisa de campo e análise dos resultados para definição de recomendações para os
elementos do transporte público analisados.
Para o levantamento bibliográfico, empregou-se o método de Análise Documental, que
consistiu em uma revisão teórica dos principais temas da pesquisa e na reunião de dados
acerca do transporte público de Joinville. Para compreensão desses temas na prática,
realizaram-se as pesquisas de campo, utilizando os métodos da Observação, do Passeio
Acompanhado e da Entrevista. A seguir os métodos são descritos, apresentando-se a
relevância de cada um para os resultados da pesquisa.

2.1 Método da Análise Documental

A revisão bibliográfica do tema em estudo foi desenvolvida através do método da Análise


Documental. Teve por objetivo compreender a problemática e proporcionar fundamentação
teórica para a análise do sistema de transporte público de Joinville e para a elaboração de
recomendações (juntamente com demais métodos) a fim de tornar cada elemento do sistema
acessível espacialmente. Buscou-se trabalhar inicialmente com os conceitos atuais sobre
deficiências, restrições espaciais e acessibilidade, tais como:
- Terminologias já utilizadas para tratar as pessoas com deficiência, considerando como
tratamento correto tratá-las pelo seu diferencial fisiológico dentro do contexto social, tendo por
finalidade inclui-la, e consequentemente, observar que são os espaços, mobiliários e
equipamentos que restringem e muitas vezes impedem o acesso e uso por todos. Desta forma,
a pessoa não precisa ter uma deficiência para sofrer uma restrição do ambiente;
- Conceitos sobre deficiência, adotando a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS,
CIF, 2008), de que “deficiências são problemas na função ou estrutura do corpo”. Dados
estatísticos mais atuais do número de pessoas com deficiência no Brasil, também foram
levantados, considerando o número aproximado de 30 milhões. (WHO, 2011);
- Conceitos de acessibilidade em seu sentido mais amplo, indo além dos aspectos físico-
espaciais, incluindo, por exemplo, uma perspectiva econômica e social. Adotando o conceito de
acessibilidade espacial como sendo: a possibilidade de acesso e de uso dos lugares e de seus
equipamentos de maneira independente por todos .
Por fim, o conceito de sistema de transporte público, abrangendo os modais ônibus e a pé, foi
abordado, estudando seu funcionamento e especificidades, tais como:
- Sua função de organizador e estruturador do espaço urbano, a fim de facilitar a mobilidade e
promover o crescimento das cidades, oferecendo eficiência, eficácia, segurança e autonomia
para toda população;
- As condições de transporte, consideradas pela Associação Nacional de Transportes Públicos
(ANTP), assim como as relações ideais de transportar o maior número de pessoas pelo menor
número de veículos, no menor tempo, menor custo, com conforto, segurança e acessibilidade;
- O estudo de seus componentes – calçadas, abrigos, ônibus e terminais, uma vez que esses 4
elementos foram identificados durante a pesquisa teórica, compondo o sistema básico para
utilização do transporte por ônibus: (1) o trajeto até o ponto de ônibus e entre eles, ou seja, as
calçadas; (2) o abrigo de ônibus; (3) o próprio ônibus; (4) e o terminal urbano, organizando-se
conforme o esquema a seguir:
Figura 01: Recorte dos principais elementos do sistema de transporte por ônibus.
Fonte: SILVEIRA, 2012.

- Acerca dos elementos calçada, abrigo de ônibus, ônibus e terminais destaca-se a seguir
alguns aspectos principais:
- Segundo Gold (2010) até 40% dos deslocamentos são feitos exclusivamente a pé. E
quase todos os demais incluem trechos percorridos a pé. Desta forma, a calçada deve
garantir o deslocamento de qualquer pessoa;
- A calçada abrange componentes que geram acessibilidade, tais como guias rebaixadas,
pisos táteis, revestimentos e sinalização. A má condição de acessibilidade espacial nas
calçadas dá-se, principalmente, pela falta de manutenção, pouco dimensionamento,
revestimentos inadequados e por obstáculos, resultando na falta de segurança, de
conforto e de acessibilidade;
- Segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP, 1997), além de abrigar
os usuários, os abrigos de ônibus devem prever iluminação própria, banco, lixeira, mapas
e informações;
- O ônibus urbano é o coletivo mais utilizado no Brasil (ANTP, 1997);
- Com os terminais urbanos de passageiros é possível realizar a integração entre
diferentes rotas, aumentando a acessibilidade dos usuários ao sistema e aos destinos
desejados. Estes devem oferecer condições de acesso e uso, conforme a NBR 14022/06.

- O estudo incluiu ainda uma pesquisa a respeito de distintos sistemas de transporte público e
as ideias centrais relacionadas à promoção da acessibilidade espacial. Os sistemas de distintas
cidades foram selecionados por apresentarem transporte público com características relevantes
à pesquisa e possibilitarem o acesso às informações. Encontraram-se exemplos em Seul
(Coréia do Sul), Karlskrona (Suécia), Bogotá (Colômbia), Londres (Inglaterra), Lisboa (Portugal),
Barcelona (Espanha), e aplicações no Canadá. No Brasil, Curitiba (Paraná), Uberlândia (Minas
Gerais) e São Paulo (São Paulo) também apresentam caracterísicas no transporte coletivo por
ônibus com requisitos pensados na acessibilidade do usuário ao sistema. Pesquisaram-se
também sistemas de informação tecnológica que visam melhorar a orientabilidade do usuário,
aqui chamados de “informação remota”. As figuras a seguir ilustram alguns dos sistemas
exemplificados, buscando formas de tornar o sistema acessível:
Figura 02: Exemplos de características que promovem acessibilidade espacial em sistemas de
transporte público por ônibus.
Fonte: SILVEIRA, 2012.

A tabela 01, incluída no final deste item, sintetiza e descreve as principais características dos
sistemas de transporte pesquisados (exemplificado pelas figuras acima), inserindo exemplos
dos principais resultados práticos obtidos através do método de análise documental.
Também foi efetuada a análise dos dados sobre o sistema de transporte público por ônibus e a
pé na cidade de Joinville. Junto a órgãos gestores da cidade foram obtidas informações sobre o
sistema de transporte público, incluindo terminais urbanos, abrigos de ônibus, ônibus e
calçadas. Também foram obtidos dados a respeito das pessoas com deficiências, quantas são
e como utilizam o transporte público, sobre o número da frota, características do sistema,
tipologia dos veículos, funcionamento das linhas, itinerários e horários.
Desta forma, foi possível reunir a fundamentação teórica para compreender as questões
relacionadas à acessibilidade espacial no transporte público urbano. A partir dessa base
puderam-se analisar na prática os quatro principais elementos do sistema de transporte público,
buscando-se exemplos no mundo e no Brasil, mostrando como é possível atender aos preceitos
da acessibilidade espacial. Da mesma maneira, no estudo de caso em Joinville, foi possível
avaliar com base teórica e prática, identificando problemas e buscando possíveis soluções,
sempre em parceria com demais métodos aplicados.
Tabela 1: Síntese das características dos sistemas de transporte público selecionados.
Elementos Características Locais
encontrados
Rampas, passarelas e elevadores de acesso aos terminais. Bogotá
Livre de barreiras; Canadá
Rebaixos por rampas com inclinação amena;
Calçadas
Travessias com temporizador visual e sonoro;
Piso antiderrapante e texturas delimitando mobiliário;
Mobiliário considerando variações antropométricas;
Sinalização utilizando símbolos universais.
Painéis eletrônicos sobre horários da chegada dos veículos via GPS. Seul/Lisboa/Barcelo
na/ Uberlândia
Mapa com linhas, paradas e referenciais; Barcelona/ Curitiba
Instruções para aderir ao sistema pela internet e receber
Abrigos
informações;
Banco, cobertura, proteção lateral e de fundos;
Identificação da localização do abrigo.
Piso alto com acesso por rampas ou por degraus com plataforma Curitiba
elevatória. Acesso em nível abrigo-ônibus.
E-ponto: acesso à internet com informações do sistema. São Paulo
Piso baixo com sistema pneumático e rampas. Suécia
Londres
Sistema de som com informações ao usuário; Suécia/Curitiba/
Assentos preferenciais e espaço para cadeira de rodas e cães guia. Bogotá/Londres/Bar
celona/Lisboa
Botões de solicitação de parada com som distinto. Londres

Cores dos veículos identificam itinerários. Seul/Curitiba


Ônibus GPS: localização em tempo real, oferecendo informação do horário Seul/Lisboa/
de chegada do veículo e monitoramento pelas empresas (segurança Barcelona/
aos usuários). Uberlândia/ São
Paulo
Integração com outros modais (podendo transportar bicicletas, por Seul/ Lisboa
exemplo)
Portas preferenciais. Bogotá
Ônibus para turismo com áudio em 8 idiomas Barcelona
Internet sem fio – NetBus Lisboa
100% da frota acessível Uberlândia
Plataforma para acesso em nível aos ônibus. Bogotá/ Curitiba/
Uberlândia
Mapa da cidade com linhas identificadas por cor. Quadro de horários Seul/Lisboa/
e itinerários. Barcelona/Curitiba
Marcações visuais e táteis ao fim da plataforma. Bogotá
Terminais Mapas visuais e em Braille. Bogotá
Pessoal de apoio. Bogotá
Caixas eletrônicos; telefones; bebedouros; lixeiras; sanitários; Curitiba
quiosques; informação digital.
Sinalização tátil, sonora e visual São Paulo
Mapa interativo no site do sistema: viagens planejadas; formatos Londres/ Lisboa/
acessíveis; linhas por cores; Barcelona/ Curitiba
Informação Linhas, horários e itinerários no site do sistema.
Remota Horário dos veículos por celular. Lisboa/ São Paulo
Central telefônica - linhas e horários. Curitiba
Fonte: SILVEIRA, 2012.
2.2 Método da Observação

O método da observação e da observação participante consistiu em observar e utilizar o


transporte por ônibus e a pé em diferentes momentos. Sua finalidade principal foi visualizar a
forma de utilização do sistema e principalmente detectar as dificuldades existentes, tais como
calçadas irregulares e a falta de informação.
Através da observação participante, a pesquisadora utilizou o sistema de transporte público
analisado, compreendendo-o e identificando problemáticas. Foram feitas anotações, fotografias
e conversas informais com demais usuários, sobre qualidade do transporte e dificuldades
encontradas nas calçadas, abrigos de ônibus, nos veículos e terminais. Buscou-se entender
como os usuários orientam-se, quais suas principais rotas, horários e quais atividades realizam
em cada elemento analisado. Definiu-se uma estratégia de ir para lugares desconhecidos da
cidade, tendo em vista que como moradora e conhecedora da cidade, a pesquisadora saber-se-
ia localizar em rotas familiares pelo conhecimento prévio. Dessa forma, foi possível perceber
questões importantes e falhas no sistema, no quesito orientação, como por exemplo, a
inexistência de informações quanto a horários, linhas e itinerários nos abrigos de ônibus da
cidade.
A aplicação do método ocorreu durante toda a pesquisa e foi realizada em diferentes condições
climáticas e distintos períodos do dia, durante a semana e aos finais de semana. Dessa forma,
foi possível observar, por exemplo, que em dias chuvosos as guias rebaixadas nas travessias,
tendem a empoçar pela falta de drenagem, acarretando em um obstáculo à circulação. Da
mesma maneira, observou-se que no período noturno a maioria dos abrigos de ônibus
observados não possui iluminação interna, o que influencia na sensação de insegurança dos
usuários e não permite a leitura, por exemplo.

2.3 Método dos Passeios Acompanhados

O método dos passeios acompanhados, desenvolvido por Dischinger (2000) objetiva identificar
a percepção e o uso do espaço pelo usuário que é acompanhado ao longo de percursos pré-
estabelecidos com pontos de partida e chegada e objetivos a alcançar. O pesquisador deve
somente acompanhar, sem conduzir ou ajudar. As conversas são gravadas, pontos relevantes
são descritos e fotografados, localizados em mapas sintéticos dos percursos. Com esse
método, as condições de acessibilidade espacial dos elementos estudados puderam ser
avaliadas.
O intuito foi entender, de forma mais detalhada, como as pessoas que realizaram os passeios
orientam-se, deslocam-se, utilizam e comunicam-se para chegar aos destinos desejados,
utilizando o transporte público de Joinville. Foi possível detectar os problemas e as facilidades
que esses espaços apresentam para essas pessoas e evidenciar peculiaridades conforme o
tipo de dificuldade enfrentado por cada usuário em função de sua deficiência.
A aplicação deste método visou principalmente confirmar ou identificar outros fatores que não
foram percebidos através dos demais métodos utilizados, complementando-os. Desta forma, a
amostragem pôde ser reduzida, e a seleção dos usuários e de suas características foi definida
para explorar aspectos das condições de orientação, comunicação, deslocamento e uso.
Para analisar as condições de deslocamento, principalmente nas calçadas, como complemento
de evidências já observadas, foi realizado passeio com pessoa em cadeira de rodas em um
trajeto nas calçadas da área analisada. Para complementar a análise a respeito do sistema de
informação, realizou-se passeio acompanhado com pessoa que desconhece o transporte
coletivo de Joinville. Por fim, para analisar principalmente o uso, deslocamento e orientação do
sistema, realizou-se passeio com duas pessoas com deficiência visual. Naturalmente, os
componentes deslocamento, uso, comunicação e orientação estão integrados e complementam
um ao outro, mas ocorrem em diferentes intensidades nos passeios, perante particularidades
das condições fisiológicas dos entrevistados.
Foi possível vivenciar fatores já observados nos demais métodos, confirmando-os, e também
identificar questões ainda não consideradas. Por exemplo, mesmo tendo rampas de acesso às
calçadas nas travessias, é necessário que essas estejam com inclinação correta (inferior à
8,33%), pois da forma que foram encontradas, não proporcionam autonomia à pessoa em
cadeira de rodas, uma vez que teve de ser empurrada por terceiros para conseguir subir (figura
03a). Ou ainda, a falta de informação nos abrigos de ônibus e nos veículos, que dificulta o
deslocamento de muitas pessoas, evidenciou-se ainda mais, com usuário que não conhece a
cidade. O usuário desinformado, não sabe qual ônibus embarcar e nem por onde esse trafega,
tendo de buscar informação com outras pessoas (figura 03b). Itens não só de orientação, mas
também de segurança, evidenciaram-se no passeio com pessoas com deficiência visual, que
declararam ter sofrido queda na plataforma do terminal urbano, 30cm elevada da pista de
rolamento dos ônibus, por não haver piso tátil alerta identificando desnível (figura 03c).

a b c
Figura 03: Trechos dos Passeios Acompanhados Realizados.
Fonte: SILVEIRA, 2012.
Esses foram pequenos exemplos ocorridos nos passeios acompanhados, método de grande
valor pessoal e para a pesquisa, principalmente por sua minuciosidade. Possibilitou que a
pesquisadora pudesse observar e vivenciar as dificuldades encontradas por cada entrevistado,
realçando o valor inestimável que as soluções em acessibilidade espacial possuem para
promover a cidadania.

2.4 Método da Entrevista

O Método da Entrevista consistiu em entrevistas abertas com alguns usuários do sistema,


questionando-os sobre os modos de utilização, as principais rotas realizadas, as formas de
buscar informações, o nível de conforto e acessibilidade espacial, etc. As entrevistas foram
realizadas durante o itinerário dos ônibus pela cidade com pessoas com quem a pesquisadora
fazia o trajeto e dividia o assento, ou ainda, no abrigo de ônibus ou no terminal urbano central à
espera do próximo veículo.
Buscou-se indagar, de forma sucinta, como a pessoa avalia as condições do transporte, quais
suas principais dificuldades, como faz para orientar-se quando necessita fazer um trajeto
diferente, etc. Antes de ir a campo elaborou-se um roteiro da entrevista, que mesmo de forma
aberta, buscava questionar o usuário através de perguntas pré-elaboradas.
Através das respostas e em conciliação com os resultados obtidos através dos demais métodos
foi possível compreender as dificuldades relacionadas e chegar a conclusões parciais que
auxiliaram no momento de propor as recomendações.
3. SEQUÊNCIA DOS MÉTODOS EMPREGADOS E AMOSTRA DOS RESULTADOS
Simultaneamente à revisão teórica dos temas afins, deu-se início à parte prática. Assim, os
problemas estudados foram percebidos em situações reais e o funcionamento do sistema foi
evidenciado.
Primeiramente foram feitas as visitas exploratórias, levantamentos fotográficos e de medição,
com o intuito de observar e participar de todo sistema e de cada um dos quatro elementos
(calçadas, abrigos, ônibus e terminais), registrando pontos relevantes a serem analisados pelos
Passeios Acompanhados e questionados nas entrevistas. Essa ordem nem sempre foi rígida,
havendo inversão dos métodos conforme a necessidade.
Através da combinação dos diferentes métodos empregados, foi possível identificar e classificar
os principais problemas nas calçadas, abrigos de ônibus, ônibus e terminal analisados em
Joinville. A tabela de síntese a seguir, resume os principais problemas encontrados nos quatro
elementos, os quais foram exemplificados de forma detalhada na pesquisa:
Tabela 2: Síntese dos Principais Problemas Encontrados nos Quatro Elementos em Joinville.
- Descontinuidade dos tipos de revestimentos e dos pisos táteis;
- Revestimentos irregulares com buracos e desníveis;
- Guias rebaixadas: com inclinação elevada e pequenos degraus antes da rampa; rebaixos
Calçadas nas esquinas; guia inexistente;
- Má aplicação pisos táteis;
- Escassez de informação.
- Raros possuem iluminação e lixeira;
- Bancos sem encosto. Alguns com material metálico e com divisão de assentos
(dificultando uso por pessoa obesa). Não há espaço ao lado dos assentos para pessoa em
Abrigos cadeira de rodas ou carrinho de bebê;
- Sem proteções laterais;
- Invasão na faixa de circulação;
- Inexiste informação quanto a horários, linhas e itinerários.
- Acesso por degraus de até 35 cm;
- Catraca 4 braços com altura demasiada de aprox. 105cm e largura estreita de 35cm;
- Acesso dificultado aos bancos que ficam sobre as rodas com passagens estreitas (35cm);
- Deslocamento interno com veículo em movimento (para buscar assentos ou alcançar os
Ônibus botões de solicitação de parada e saída);
- Elevadores/ Plataformas elevatórias: lentidão para o sistema;
- Estreita largura dos assentos;
- Inexiste informação quanto a horários, linhas e itinerários.
- Equipamentos e mobiliário em altura para alcance e visualização de uma pessoa adulta
em pé;
- Falta de visualização, alcance e aproximação nos guichês de compra;
- Rampas das plataformas com inclinação de aprox. 17%;
Terminal - Inexiste informação tátil ou sonora;
- Inexiste piso tátil alerta ao fim das plataformas;
- Inexiste mapa da cidade localizando o usuário e mostrando-lhe o itinerário das linhas;
- Escassez de informação sobre o sistema.
Fonte: SILVEIRA, 2012.
A partir da análise dos resultados obtidos através da combinação dos diferentes métodos
empregados, respaldados pela fundamentação teórica, foi possível formular recomendações
para os elementos calçadas, abrigos de ônibus, ônibus e terminais, visando atender aos
requisitos de acessibilidade espacial. Essas recomendações foram organizadas a partir das
atividades principais realizadas em cada elemento, buscando sempre responder como o
sistema pode oferecer condições para um melhor desempenho das atividades realizadas pelo
usuário.
Na pesquisa, as tabelas foram organizadas da seguinte forma: atividades principais realizadas
em cada elemento; requisitos para que essa atividade tenha um bom desempenho; o que existe
de positivo e negativo nos elementos analisados em Joinville (como comparativo); e requisitos
para atender usuários extremos (pessoas com deficiências ou com mobilidade reduzida, as
quais foram identificadas por figuras). Após essa tabela, exemplificou-se na pesquisa, textos,
ilustrações e croquis para complementar e detalhar as informações.
Para exemplificar como essas recomendações foram exploradas, apresenta-se a seguir a
tabela síntese das principais recomendações para o elemento Calçadas. Como as
recomendações para cada elemento organizaram-se através das principais atividades
realizadas, no elemento Calçadas, identificou-se três atividades: caminhar, orientar-se e usar
mobiliário.
Tabela 3: Síntese das Principais Recomendações para o elemento Calçadas.
ATIVIDADE Requisitos para O que existe em Joinville Requisitos para atender
que a atividade usuários extremos
tenha um bom Positivo Negativo
desempenho
Caminhar - Continuidade da - Guias -Descontinuidade - Piso regular, faixa livre
rota, livre de rebaixadas e de rotas; de circulação, sem
desníveis e faixa elevada. -Presença de obstáculos;
obstáculos; desníveis e - Travessias com guias
- Piso obstáculos; rebaixadas por rampas
antiderrapante e -Pisos irregulares. com inclinação de até
não trepidante; 8,33% ou faixas
-Travessias elevadas;
niveladas; - Rota segura para
- Semáforos para deslocamento, com uso
pedestres com de pisos táteis;
temporizador nas - Semáforos para
vias de alto fluxo. pedestres de forma
sonora.
Orientar - Nomes das - Placas com - Inexistem - Nome da rua em Braille
ruas; nomes de informações acessível ao toque (nos
- Mapa da área ruas; táteis; postes que sustentam as
localizado em - Pisos táteis placas de nomenclatura).
praças ou descontínuos, Pequeno mapa tátil da
calçadões; aplicados de área (em praças ou
- Faixas de forma errônea e calçadões);
circulação e perigosa. - Piso tátil contínuo,
serviços com sinalizando rotas
pisos de cores seguras, indicando
contrastantes. mudanças de direção e
alertando sobre
obstáculos. Também
podem indicar acessos
às edificações,
informações e mobiliário.
Padronizar forma de
utilização, materiais e
dimensões dos pisos
táteis de acordo com
NBR9050.
Usar - Mobiliário locado - Dimensões do - Considerar os alcances
mobiliário dentro da faixa de telefone público de uma pessoa sentada;
(telefone serviço; considerando - Considerar lugar ao
público, e - Devem abranger apenas pessoas lado de bancos para
bancos) espaço em pé; pessoas em cadeira de
confortável para - Mobiliário, como rodas e carrinhos de
seu uso. telefones bebê;
públicos, não - Identificação dos
respeitam limites principais equipamentos
da faixa de de forma tátil;
serviço. - Bancos sem divisão de
assentos (considerar
largura de quadris).

def. visual cadeirantes crianças obesos


de colo
Fonte: SILVEIRA, 2012.

Da mesma forma que as recomendações foram apresentadas para o elemento Calçadas,


através da tabela síntese e demais exemplificações dadas na pesquisa, também foram
expostos as recomendações para os demais elementos do sistema.
Para o elemento abrigo de ônibus, as recomendações foram organizadas através das
atividades de: acessar o abrigo de ônibus; informar-se; aguardar; e acessar o ônibus. Assim,
cada atividade teve sua específica recomendação, para um melhor desempenho, buscando
sempre requisitos de acessibilidade espacial. Por exemplo, na atividade de informar-se nos
abrigos de ônibus recomendaram-se: mapa da cidade com localização do abrigo e itinerário das
linhas de ônibus; horários das linhas com itinerários dos ônibus que ali passam; relógio; tarifa e
formas de pagamento; informações culturais e publicitárias; e nome da rua em que se encontra
e No. do ponto. Pensando-se ainda nos requisitos para que essa atividade também atenda
usuários extremos, como pessoas em cadeira de rodas, com deficiência visual, auditiva ou
pessoas analfabetas, também foi necessário recomendar que: essas informações possam ser
visualizadas pelo usuário sentado; sejam além de visuais, táteis ou sonoras; e sejam
exemplificadas por meio de símbolos gráficos e elementos visuais pictóricos.
No elemento ônibus urbano, as recomendações foram organizadas através das atividades de:
embarcar, passar pela catraca, informar-se, viajar sentado ou em pé, solicitar parada e
desembarcar. Dessa forma, na atividade embarcar ou desembarcar, recomendou-se que: o
embarque ou desembarque seja realizado em nível, seja pelo piso baixo do ônibus ou pelo
abrigo de ônibus elevado, uma vez que facilita o acesso de todos, sendo imprescindível para
àqueles sobre rodas; haja demarcação visual e tátil das portas de acesso, assim como a
identificação tátil do posicionamento de embarque/desembarque já no abrigo de ônibus;.e, haja
também iluminação das entradas e saídas, assim como na parte interna do veículo, sendo
facilmente identificadas. Assim, cada atividade teve sua recomendação especificada,
primeiramente pela tabela síntese e após, de forma textual, com demais complementações e
detalhamentos.
Por fim, no último elemento abordado, as recomendações para Terminais Urbanos,
concentraram-se sobre as principais atividades: chegar ao terminal; comprar passagem; entrar
no terminal; informar-se; aguardar; embarcar e desembarcar; e, sair do terminal. Como breve
exemplo das recomendações dadas, na atividade informar-se, especificou-se que é necessário
ter: mapa das linhas na cidade com o traçado urbano simplificado, podendo ter pontos
referenciais de forma pictórica; mapa do terminal com localização das linhas; quadro de
horários com nome das linhas e itinerário; televisores e sistema de som informando horário e
próximas linhas que irão chegar. Dessa forma, através da tabela síntese e demais
especificações foi possível apresentar recomendações para cada atividade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos estudos realizados, pode-se concluir que para ocorrer a avaliação da acessibilidade
espacial no sistema de transporte coletivo por ônibus, é preciso estabelecer uma metodologia
adequada que seja capaz de auxiliar o pesquisador a obter resultados válidos para a pesquisa.
Com o método de análise documental foi possível reunir o estado da arte sobre os principais
temas da pesquisa: deficiências e restrições espaciais, acessibilidade espacial e transporte
público urbano por ônibus – abordando desde sua essência até caracterizar cada um de seus
principais elementos: calçadas, abrigos de ônibus, ônibus e terminais. Esses conceitos puderam
interligar-se e serem visualizados na prática a partir do estudo de sistemas de transporte por
ônibus que consideram os princípios de acessibilidade espacial.
Tendo a base teórica estabelecida, os métodos práticos de observação, observação
participante, passeios acompanhados e entrevistas, permitiram avaliar o estudo de caso de
forma integrada, como complementos um ao outro e ainda, evidenciar problemáticas e itens
positivos de cada um dos quatro elementos, perante a acessibilidade espacial.
Além de amplificar o estudo sobre o tema da acessibilidade nos sistemas de transporte por
ônibus, o conjunto dos métodos permitiu atingir o principal resultado almejado pela pesquisa: a
formulação de recomendações para promover acessibilidade espacial de forma integrada nas
calçadas, abrigos de ônibus, ônibus e terminais. Essas, não apenas focadas para o estudo de
caso em questão, mas também para sistemas de transporte por ônibus similares, na busca de
melhoria das condições de acessibilidade.
Dessa forma, o uso de metodologia adequada que trabalhe para a evolução da pesquisa e para
resultados que possam ser aplicados na prática, auxilia não só no avanço do estudo temático,
mas na vida das pessoas que necessitam desse avanço para poderem exercer o direito de
cidadãos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS - ANTP. Transporte Humano – cidades


com qualidade de vida. São Paulo, A N T P, 1997.
BRASIL (1998). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
DISCHINGER, Marta. Designing for alll senses: accessible spaces for visually impaired citizens.
260f. Thesis (for the degree of Doctor of Philosophy) – Department of Space and Process School of
Architecture, Chalmers University of Technology. Göteborg, Sweden. 2000.
GOLD, Philip Anthony. Melhorando as Condições para a Locomoção a Pé e em Cadeiras-de-Roda
nas Áreas Urbanas Brasileiras. 4º Seminário Catarinense de Calçadas. Joinville, 26 de novembro de
2010.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008
SILVEIRA, Carolina Stolf. Acessibilidade Espacial no Transporte Público Urbano: Estudo de caso
em Joinville-SC. Dissertação de mestrado. PósArq –UFSC, 2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) AND WORLD BANK. World Report on disability 2011.
Genebra, Suíça. 2011.

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