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COMARCA DE PORECATU
COMPETÊNCIA DELEGADA DE PORECATU - PROJUDI
Rua Iguaçu, 65 - Centro - Porecatu/PR - Fone: (43) 3623-1016
Processo: 0003004-45.2016.8.16.0137
Classe Processual: Procedimento Comum
Assunto Principal: Aposentadoria Especial (Art. 57/8)
Valor da Causa: R$1.000,00
Autor(s): ANTÔNIO RIGGO
Réu(s): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
SENTENÇA
1. RELATÓRIO.
ANTÔNIO RIGGO, devidamente qualificado nos autos, ajuizou a presente AÇÃO PREVIDENCIÁRIA (revisão do benefício
de Aposentadoria por Tempo de Contribuição), em face do INSS – INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL,
igualmente qualificado, alegando, em síntese que: (i) na esfera administrativa, formulou pedido de aposentadoria por tempo de
contribuição, com reconhecimento de atividade especial; (ii)ao seu acervo de tempo de serviço, deve reconhecido e averbado
como atividade especial o período de 19/04/1972 a 23/04/1975; 24/04/1975 a 30/11/1976; e 01/12/1976 a DER; e (iii) requer a
revisão do benefício e na eventualidade a conversão em aposentadoria especial (seq. 1.1).
Devidamente citado (seq. 13), o requerido apresentou contestação, onde asseverou, em suma que: (i) oPPP e /ou LTCAT
apresentado pela parte autora, não contém elementos suficientes para a comprovação da exposição a agentes nocivos, bem
como indica que a utilização de EPI eficaz afasta o reconhecimento da pretensão; e (ii) a exposição excessiva aos raios solares
não caracteriza atividade especial, uma vez que não atende à exigência prevista no Anexo III, código 1.1.1 do Decreto nº
53.831/64, de ser proveniente de fontes artificiais, motivo pelo qual deve julgar improcedente o pedido autoral(seq. 14.1).
Na sequência 19.1 a parte autora apresentou impugnação à contestação, postulando por prova pericial e ratificando os termos
da inicial.
A perícia realizou-se em 22/09/2017, cujo laudo pericial foi juntado na seq. 38.1.
Instadas as partes a manifestarem do laudo pericial (seq. 39.1), a parte autora postulou pelo julgamento no estado em que se
encontra (seq. 44.1), enquanto o INSS postulou pela improcedência do pedido (seq. 45.1).
Decido.
2. FUNDAMENTAÇÃO.
Partes legítimas. Há interesse e o pedido é juridicamente possível. O juiz é competente para a causa. As partes possuem
capacidade civil e estão devidamente representadas. A forma processual foi observada. O instrumento de mandato foi juntado
aos autos. Não há litispendência, nem coisa julgada. Não há nulidades.
No mérito, trata-se de pedido de revisão de aposentadoria por tempo de contribuição c/c atividade especial.
O autor pede que o reconhecimento da especialidade na condição de trabalhador rural e escriturário agrícola nos seguintes
períodos: 19/04/1972 a 23/04/1975; 24/04/1975 a 30/11/1976; e 01/12/1976 a DER.
Desde já, pontuo que a necessidade de eventual compensação financeira não obsta a procedência do pedido, pois, para que o
INSS cobre eventual contribuição adicional, basta que ajuíze execução fiscal (argumento que se presta para arrostar a defesa no
que concerne ao julgamento da ADI 1.664 pelo STF).
A jurisprudência consolidou o entendimento no sentido de que, para fins de obtenção de aposentadoria previdenciária, deve o
trabalhador provar sua atividade por meio de, pelo menos, início razoável de prova documental, não sendo admissível a
concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição com base em prova exclusivamente testemunhal.
Nesse contexto, o tempo de serviço deve ser comprovado mediante a produção de prova material suficiente, ainda que inicial,
podendo ser complementada por prova testemunhal idônea, quando necessária ao preenchimento de eventuais lacunas.
Como cediço, o tempo de serviço é disciplinado pela lei em vigor à época em que efetivamente foi exercido, passando a
integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador.
Desse modo, uma vez prestado o serviço sob a égide de legislação que o proteja, o segurado adquire o direito à contagem como
tal, bem como à comprovação das condições de trabalho na forma então exigida, não se aplicando retroativamente uma lei
nova que venha a estabelecer restrições à admissão do tempo de serviço especial.
Tal posicionamento é pacífico na Terceira Seção do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (AGRESP 493.458/RS, Rel. Min.
Gilson Dipp, 5ª Turma, DJU 23-6-2003, e RESP 491.338/RS, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, DJU 23-6-2003), a
qual passou a ter previsão legislativa expressa com a edição do Decreto 4.827/2003, que introduziu o § 1º ao art. 70 do Decreto
3.048/99.
Dessa forma, e tendo em consideração que existem inúmeros diplomas legais dispondo acerca da matéria, impende estabelecer
qual a legislação aplicável ao caso concreto, ou seja, qual a legislação vigente quando da prestação da atividade pela parte
autora.
A doutrina e a jurisprudência estabeleceram ao tratar do labor em condições especiais as seguintes regras (AC
2001.72.01.000646-0/SC, TRF da 4 Região): a) Quanto ao período de laborado até 28 de abril de 1995, quando vigente a Lei
n° 3.807/60 (Lei Orgânica da Previdência Social) e suas alterações e, posteriormente, a Lei n° 8.213/91 (Lei de Benefícios), em
sua redação original (arts. 57 e 58), é possível o reconhecimento da especialidade do trabalho quando houver a comprovação
do exercício de atividade que se enquadre como especial nos decretos regulamentadores e/ou na legislação especial ou quando
demonstrada a sujeição do segurado a agentes nocivos por qualquer meio de prova (exceto para ruído, em que necessária
sempre a aferição do nível de decibéis por meio de perícia técnica, carreada aos autos ou noticiada em formulário emitido pela
empresa, a fim de se verificar a nocividade ou não desse agente); b) Quanto ao período laborado a partir de 29 de abril de
1995, inclusive, foi definitivamente extinto o enquadramento por categoria profissional, de modo que, no intervalo
compreendido entre esta data e 05 de março de 1997, em que estavam em vigor as alterações introduzidas pela Lei 9.032/95 no
art. 57 da Lei de Benefícios, necessária a demonstração efetiva de exposição, de forma permanente, não ocasional nem
intermitente, a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, por qualquer meio de prova, considerando-se suficiente,
para tanto, a apresentação de formulário-padrão preenchido pela empresa, sem a exigência de embasamento em laudo técnico;
c) Quanto ao período compreendido entre 06 de março de 1997 e 28 de maio de 1998, época em que estava em vigor o Decreto
n° 2.172/97, que regulamentou as disposições introduzidas no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória 1.523/96
(convertida na Lei n° 9.528/97), passou-se a exigir, para fins de reconhecimento de tempo de serviço especial, a comprovação
da efetiva exposição do segurado a agentes agressivos por meio da apresentação de formulário-padrão, embasado em laudo
técnico, ou por meio de perícia técnica; d) Quanto ao período posterior a 28 de maio de 1998, não é mais possível a conversão
de tempo especial para comum (art. 28 da MP 1.663/98, convertida na Lei n° 9.711/98). Tais interpretações encontram forte
fundamento na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, veja-se: RESP 461.800/RS, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton
Carvalhido, DJU 25-02-2004; RESP 513.832/PR, 5ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU 04-8-2003; RESP 397.207/RN, 5ª
Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 01-3-2004.
Devem ser considerados os Decretos n° 53.831/64 (Quadro Anexo - 2ª parte) e n° 83.080/79 (Anexo II) até 28 de abril de
1995, para fins de enquadramento das categorias profissionais, data da extinção do reconhecimento da atividade especial por
presunção legal. Já para o enquadramento dos agentes nocivos, devem ser considerados os Decretos n°s 53.831/64 (Quadro
Anexo - 1ª parte) e 83.080/79 (Anexo I) até 05-3-97 e o Decreto 2.172/97 (Anexo IV) no interregno compreendido entre 06 de
março de 1997 e 28 de maio de 1998. Além dessas hipóteses de enquadramento, sempre possível também a verificação da
especialidade da atividade no caso concreto, por meio de perícia técnica, nos termos da Súmula nº 198 do extinto Tribunal
Federal de Recursos (STJ, AGRESP 228832/SC, Relator Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, DJU 30-6-2003).
Não é possível reconhecer a especialidade da atividade do trabalhador rural, uma vez que o enquadramento previsto no código
2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, diz respeito aos trabalhadores assalariados na atividade agropecuária. Essa é a orientação do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no julgamento do AC 2003.04.01.051116-8, Turma Suplementar, Rel. Des. Federal
Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle, de 30-11-2007.
O enquadramento na categoria profissional "trabalhadores na agropecuária" pressupõe o trabalho como empregado, e não
como segurado especial, cujo exercício da atividade agrícola, além de se dar de forma diversa, não impõe ao segurado o
recolhimento das contribuições previdenciárias.
Demais disto, a atividade na lavoura não está enquadrada como especial, porquanto o código 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 se
refere apenas à agropecuária. Assim, ainda que o rol das atividades especiais elencadas no Decreto não seja taxativo, é certo
que não define o trabalho desenvolvido na lavoura como insalubre. Aliás, é específico quando prevê seu campo de aplicação
para os trabalhadores na agropecuária, não abrangendo, assim, todas as espécies de trabalhadores rurais.
[...].
5. O Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre somente os serviços e
atividades profissionais desempenhados na agropecuária, não se enquadrando como tal a
atividade laboral exercida apenas na lavoura.
6. Recurso especial da autarquia previdenciária não conhecido. Recurso especial do segurado
improvido. (REsp n. 291.404/SP, Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, DJ 2/8/2004).”
Também a turma Nacional Única exarou o seguinte julgamento em sede de Uniformização de jurisprudência:
Sendo assim, não é possível o reconhecimento da atividade exercida pela autora como trabalhadora rural no corte de cana de
açúcar, como especial, pelos fundamentos acima expostos.
Quando ao período em que desenvolveu atividade de escriturário agrícola, verifica-se no laudo pericial que “não foi
identificada Insalubridade nesse período” (seq. 38.1).
Desse modo, a pretensão autoral não preenche os requisitos legais para que possa ser acolhida, logo a improcedência é a
medida que se impõe.
3. DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo IMPROCEDENTE o pedido formulado pela parte Autora, em face do INSS, extinguindo o processo
com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, I, do NCPC.
Por sucumbente, condeno a parte autora a pagar custas processuais e honorários advocatícios, os quais arbitro em 10% (dez
por cento) sobre o valor da causa atualizado, arbitramento realizado em conformidade com o art. 85, § 2º, CPC, suspensa a
exigibilidade de tais verbas, por ser a parte autora beneficiária da justiça gratuita (Lei nº 1.060/50).
Cumpram-se as determinações do Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça, no que forem aplicáveis.
Após, com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com as anotações e baixa de praxe.
Juíza Substituta