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Introdução
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“To bring out this texture, one needs to magnify the space of knowledge-in-action, rather than simply observe
disciplines or specialties as organizing structures.” (KNORR CETINA, 1999, p. 2-3) (tradução e grifos nossos).
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A noção de prática situada é característica da teoria da prática social de Jean Lave, introduzida no livro Cognition
in Practice (LAVE 1988) e é semelhante à incorporada na estrutura da teoria ator-rede, introduzida na mesma época
(CALLON,1986; LAW, 1986; LATOUR, 1988), e mais recentemente sistematizada por Bruno Latour no livro
Reassembling the Social (LATOUR, 2005).
‘sociedade tecnológica’ em Berger (1974), de ‘sociedade da informação’ em Lyotard
(1984) e de ‘sociedade do conhecimento’ em Bell (1973) e Druker (1993), para em
seguida se distanciar da perspectiva econômica em favor de uma perspectiva mais
sociológica, a da teoria da modernidade reflexiva de Beck, Giddens e Lash (1994).
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“Epistemic subjects (the procurers of knowledge) are derivatives of these machineries. In fact, a variety of
substrates could realize epistemic subjects: the thinking and intuitive brain we suppose when we link scientific
progress to ´genius´, ´brilliance´, or (mental) innovation, or embodied persons inhabited by skills and socially
featured as individuals, or social collectives, or the discourse that runs through an experiment and constitutes the
workbench of a lab. The substrates are variable; their variability, transformation and constitution is what leads one
to think about the construction of the construction machineries” (KNORR CETINA, 1999, p. 11) (tradução nossa).
uma “ontologia de instrumentos” e outros dispositivos que constituem ambientes
particulares de produção de conhecimento científico-tecnológico; e (3) a maquinaria
social, ou os arranjos sociais que se constituem em culturas e práticas epistêmicas
específicas.
Knorr Cetina discute a noção de laboratório como uma textura local8, que
delimita as fronteiras dentro das quais a prática científica é, não apenas observada, mas
formatada, um lugar onde aspectos da ordem circundante são sintonizados nas mentes
dos cientistas e onde realidades alternativas podem ser instaladas e exploradas para o
empreendimento em questão (p. 13). Enquanto laboratórios reais são unidades que
variam em funcionalidade, tamanho e estrutura interna, em diferentes áreas e no tempo,
a noção de ‘laboratório’ evidencia a substância do trabalho (p. 242) – o mundo de
objetos ao qual é voltado o trabalho. Esta noção – de um tipo de organização mais
experimental no qual as ciências se desenvolvem, é mais útil aqui do que o conceito de
organizações enquanto estruturas de coordenação de grupos humanos.
Mas a autora pondera que alguns aspectos desta noção precisam ser
reconsiderados. Para a recente sociologia da ciência, o laboratório é mais do que um
lugar de exploração que abriga experiências, um lugar onde metodologias são aplicadas
na prática. Knorr Cetina associa à noção de laboratório a noção de reconfiguração:
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Esta é uma noção cara aos etnometodologistas, interacionistas simbólicos e antropologistas (Cicourel, 1964;
Garfinkel, 1967; Geertz, 1983; Goffman, 1972; Lynch, 1991).
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“Laboratories recast objects of investigation by inserting them into new temporal and territorial regimes. They play
upon these objects natural rhytms and developmental possibilities, bring them together in new numbers, renegote
their sizes, redefine their internal makeup. They also invent and recreate these objects from scratch” (KNORR
CETINA, 1999, p. 42) (tradução nossa).
tornando-os parte da estratégia de pesquisa e dispositivos técnicos na produção de
conhecimento10.
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“For me ontology is something quite different. It refers to a potentially empirical investigation into the kinds of
entities, the forms of being, or the structures of existence in an area.” (KNORR CETINA, 1999, p. 253) (tradução
nossa).
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“Model systems constitute circumscribed environments in which [...] reflexivity is turned into an instrument of
knowledge, machines are redefined and recruited into the social world, and the subjectivity of participants is put on
the line – and quite successfully replaced by something like distributed cognition. It is precisely these processes, it
would seem, which might come to characterize societies that run on knowledge” (KNORR CETINA, 1999, p. 25)
(tradução nossa).
O Instituto Recôncavo de Tecnologia, entidade privada sem fins lucrativos,
credenciada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) brasileiro para a execução
de P&D em projetos de inovação pela Lei da Informática, proporcionou-nos a
oportunidade do campo empírico de pesquisa.
Deve-se enfatizar que o MCT exige que os projetos desenvolvidos sob a égide
da Lei de Informática tenham, de fato, potencial de inovação tecnológica, e exerce
controle efetivo sobre este ponto sob a forma de avaliação rigorosa de relatórios anuais
minuciosos.
Tabela 1: Institutos privados sem fins lucrativos da Área de TICs em atuação no Brasil
(Fonte: Albuquerque e Bonacelli, (2009, p. 210)
Um olhar atento percebe que as atividades dos membros do grupo na web não se
limitam à busca de informações. Cada pessoa, ao seu modo, tem uma atuação em
comunidades virtuais na internet com participação mais ou menos ativa em fóruns
especializados em software, hardware e dispositivos móveis, em práticas de engenharia
de software, design gráfico ou metodologias de gerenciamento de projetos de TI, em
comunidades de software livre, em eventos online voltados para novas tecnologias, em
redes sociais digitais e outros ambientes da web social. Nestes ambientes virtuais
produzem e consomem informação mais ou menos relevante. Trocam mensagens,
publicam textos, comentários, fotos e vídeos em blogs e redes sociais, relacionam
informações a mapas ou coordenadas georreferenciadas, consultam e eventualmente
alimentam sistemas de referências online e de reputação na web (folksonomias), típicos
em diversas comunidades virtuais. O uso de dispositivos móveis para acesso à web e
diversos outros aplicativos e serviços, motivado a princípio pela natureza dos projetos
tecnológicos desenvolvidos, é ampliado e torna-se parte de rotinas que extrapolam o
ambiente de trabalho, à medida que os membros da equipe adquirem smartphones e
tablets para uso pessoal, estendendo a relação dos atores com estes dispositivos, da
posição de desenvolvedores para também a de efetivos usuários finais.
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Disponível em http://lattes.cnpq.br
Faz-se necessário esclarecer que o interesse da investigação em campo não recai
sobre os métodos e o ferramental da construção dos produtos finais em si, e sim, nos
mecanismos e sistemas que permitem tais construções, nos processos e modos de
trabalho desta comunidade epistêmica, nos princípios que guiam as suas orientações
cognitivas, no contexto específico de pesquisa e desenvolvimento em tecnologias de
informação e comunicação.
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Faz-se referência à noção de cartografia em Bruno Latour, como modelo que permite a superposição de inscrições
móveis e fiéis tornando-as comensuráveis (em Redes que a Razão Desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções.
In: Andre Parente (org.). Tramas da Rede (2010).
1) a rede de projetos associa atores a projetos em que participam como membros da
equipe de projeto; 2) a rede acadêmica associa atores aos programas acadêmicos stricto
sensu e lato sensu a que são afiliados, sejam os atores diplomados, estudantes, ou ainda
professores nestes programas acadêmicos; 3) a rede de coautoria associa atores a
publicações conjuntas, sejam artigos científicos publicados, sejam patentes ou registros
de software, sejam monografias, dissertações ou teses de doutorado, nas quais
orientador e orientando, sejam membros da comunidade estudada; 4) a rede virtual
associa atores às suas participações em comunidades virtuais na web, sejam
comunidades de software livre, repositórios de código, fóruns e sites focados em
tecnologia computacional, sites de entidades profissionais e acadêmicas, sites de
eventos (simultaneamente presenciais e online), universidades abertas, redes sociais. A
rede resultante da superposição destas redes é uma rede complexa heterogênea. Aqui o
conceito de heterogeneidade não é associado à tipificação dos atores como nós da rede e
sim à caracterização da rede superposta, dada pela multiplicidade de tipos de nós e laços
da rede resultante, a saber: os diferentes tipos de nós são atores, programas acadêmicos,
projetos, publicações conjuntas e comunidades virtuais; os diferentes laços são afiliação
aos mesmos programas acadêmicos, participação conjunta em projetos, coautoria em
publicações, participação nas mesmas comunidades virtuais.
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SEELY BROWN, John. Growing Up Digital: How the Web Changes Work, Education, and the Ways People
Learn. In: Change (March/April 2000).
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FRÓES BURNHAM, Teresinha e LAGE, Ana Lúcia. Construção de conhecimento em espaços
multirreferenciais de aprendizagem: comunidades de prática, comunidades epistêmicas, comunidades virtuais
(em construção).
A participação simultânea dos sujeitos nessas diferentes comunidades,
mutuamente influenciadas e enriquecidas em seus processos de construção de
conhecimento, que transbordam fronteiras e se dão no trânsito dos sujeitos e ideias entre
diferentes comunidades, caracterizam o que definimos como uma ecologia de
aprendizagem.
Conclusão (provisória)
Referências