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Autoras
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.)
Colecção
Psicologia Clínica e Pfüjuiatria n.º 17
'Coordenação
Óscar Gonçalves ,, .
Capa
Victor Hugo
Edição
Quarteto Editora
Rua Adriano Lucas
Arroteias, lote 3
3020-430 Coimbra
E-mail: quarteto_editora@ip.pt
http://quarteto.regiaocentro.net
Execução Gráfica
Cláudia Mairos
claudia_mairos@yahoo.com
Impressão
Arte Pronta
ISBN: 972-8717cS6-3
Depósito'legal: 185 365/02
Introdução . . . . ... .... .... ........... ..................... .. . ... . .. ..... . .. . .. ..... . ... . ............ .. ..... 9
Capítulo 1
Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
Capítulo 2
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
Fátima Tribuna
Ana Paula Relvas 53
Capítulo 3
Adopção e Parentalidade
Gabriela Mateus
Ana Paula Relvas 121
Capítulo 4
Casal, Casamento e União de Facto
Capítulo 5
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de Uma Família?
Capítulo 3
Adopção e Parentalidade
Gabriela Mateus
Ana Paula Relvas 121
Capítulo 4
Casal, Casamento e União de Facto
Capítulo 5
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de Uma Família?
Capítulo 6
A Mulher na Família: "Em torno dela"
não por comparação, oposição ou déficite face a uma família padrão, mas
todos eles firmados no conhecimento ponderado das suas regularidades e
singularidades.
No entanto, pese embora as transformações a que acabámos de fazer
referência, nomeadamente no nosso país, existem ainda poucos estudos
que nos ajudem a ter um olhar não enviesado sobre estas novas formas de
famílias e a co-construir, com elas, diálogos que lhes permitam crescer na
sua própria especificidade e, entre nós, estudiosos da família, a ter um co
nhecimento mais ajustado (fit) às realidades familiares.
Mas...
Para duas terapeutas familiares, toda esta reflexão teria necessaria
mente que ser acompanhada por um questionar de experiências clínicas
que começam, mais regularmente, a ser a rotina do setting da intervenção
familiar (cap. 1). E para duas mulheres que, há cerca de vinte anos, se obri
garam a uma recursividade entre teoria e prática, este livro não poderia
fechar a sua última página sem que, antes, se problematizasse a forma
como o percurso do feminino na família se vem espelhando nas transfor
mações do sistema familiar (cap. 6).
Coimbra, 1984-1985
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
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Novas Formas de Família
A ideia de vir a uma entrevista familiar era tão pouco bem acolhida
pelos pais que nos pediam ajuda que, filiados na cibernética e nas terapias
de i a ordem, considerávamos' esse movimento como uma expressão clara
e excelente da tendência morfostática do sistema familiar. Assim hipoteti
zado, o convite aos ausentes, ou aos menos receptivos, era envolvido em
conotação positiva com a qual procurávamos recuperar os ausentes e
entrar paulatinamente na fortaleza que a rigidificação homeostática tinha
' Tendo trabalhado quase sempre em regime de co-terapia e com terapeutas obser
vadores, o plural utilizado é, efectivamente, real. Ana Paula Relvas tem sido a colega
com quem tenho mais persistentemente co-evoluído, tanto no espaço terapêutico quan
to no docente universitário e no da formação sistémica. Outros colegas foram impor
tantes nesses primeiros tempos: Rui Paixão, Ana Bertão e Margarida Matos Beja - os
dois primeiros acabaram por investir outras formas de posicionamento clínico; com a
terceira, os espaços profissionais divergiram e a co-evolução não pôde ser alimentada.
Anos mais tarde, Madalena Carvalho Lourenço passou a ser uma nova colega com quem
partilhei experiências terapêuticas muito ricas. Ao longo de dezoito anos muitos têm
sido os terapeutas observadores e mais alguns têm sido os co-terapeutas: seria impos
sível referi-los a todos, embora todos façam parte das minhas memórias e tenham dei
xado as suas marcas. De entre os mais novos, Joana Sequeira tornou-se uma interlocu
tora muito especial. Com todos, ainda que de formas diversas, tenho tecido um percur
so de que este texto é mais um reflexo: muito obrigado a cada um e às várias unidades
sistémicas que vamos criando.
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Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
' Apesar de toda a obra constituir um documento de referência para este tipo de
leitura e de intervenção, estes aspectos são claramente abordados nos pontos 7 - La con
notation positive - e 13 - Comment récupérer les absenrs. Para uma compreensão mais
detalhada dos termos ténicos, dos conceitos e das propostas da teoria sistémica, aplica
da à família, veja-se Alarcão (2000).
' Em algumas famílias de três gerações trabalhámos, apenas, com a família nuclear.
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Novas Formas de Família
• Foi com Ana Paula Relvas que realizei este processo terapêutico. A sua descrição
integra partes do texto apresentado em Alarcão (2000, 58-59).
' Carlos era um dos filhos do primeiro casamento do pai de Mafalda e de Filipa o
qual, já viúvo, regressara a Portugal onde casara com Ana.
25
Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
não cobria); d) as filhas, uma de cada vez, tiveram uns dias de férias sem a
mãe (a Mafalda com a prima, a Filipa com uma colega e amiga).
No respeito pela cultura desta família, fortemente enraizada no modelo
que Ana trouxera da sua família de origem, penso ter-se conseguido a reor
ganização estrutural e a abertura do sistema suficientes ao seu posterior
desenvolvimento6 • Em diversos momentos o par de co-terapeutas teve de
refrear o seu ímpeto de procurar maiores níveis de autonomia e de inde
pendência individual, nomeadamente pelo alargamento do núcleo familiar
a outrc;1s relações. Essa seria, por ventura, a família das terapeutas, não a das
suas clientes ... Sem outros elementos de triangulação, as terapeutas tive
ram que estar suficientemente atentas para não se transformarem em novos
receptáculos de dependência nem imporem um ritmo de autonomização.
'º Sabe-se como socialmente ainda é importante a ideia de que os pais-homens têm
dificuldade em assegurar todas as tarefas inerentes ao desenvolvimento e à educação dos
filhos.
29
Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
Neste processo sinto que foi também muito importante que os terapeu
tas tivessem estimulado pai e filho: 1) a metacomunicarem sobre o que sen
tiam face à ausência/morte da esposa/mãe e 2) a reverem a(s) história(s) da
família para lhe poderem dar continuidade. Quase logo no início do proces
so o adolescente disse que não queria falar sobre isso, para não magoar o
pai que se entristecia com a sua própria tristeza. Aceitando partilhar essa
tristeza e essa dor, e não insistindo numa visão patologizante ou disfuncio
nante da crise acidental, os terapeutas permitiram a sua transformação po
sitiva.
"Juntamente com Ana Paula Relvas com quem conduzi este processo.
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Novas Formas de Família
Apesar das claras indicações que este caso tinha para terapia familiar -
problemática essencialmente relacional e claras dificuldades de diferencia
ção num momento do ciclo vital particularmente sensível a essa tarefa
desenvolvimental - considerámos não estarem reunidas as condições para
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Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
A Maria e o Pedro foram, pois, uma das famílias que me permitiu clara
mente compreender que também é possível introduzir alterações no sistema
familiar mesmo quando se trabalha directamente só com um dos seus ele
mentos. Uma vez mais pude constatar a imp01tância de não rigidificar a
hipótese central que tínhamos inicialmente traduzido desta forma: face ao
medo do abandono, num período de natural abertura do sistema ao exterior,
mãe e filho esgotam-se numa simetria comunicacional que lhes dá a ilusão
de autonomia e que, simultaneamente, reforça a dependência relacional.
12 Refiro-me ao intervalo que, em cada sessão, separa a primeira parte (de entrevista
a uma ligação mais madura), entre o pai e o filho (que facilitassem o desen
volvimento de identificações a que o Ivo queria dar expressão) e entre os
próprios pais (que gerassem uma complementaridade funcional através da
qual os pais, agora separados, pudessem continuar a potenciar as funções
fundamentais da família, i.é, a do crescimento de indivíduos autónomos e
a da socialização e adaptação desses mesmos sujeitos à sua cultura) e face
à manutenção de um padrão de contactos frequentes entre estes três ele
mentos, a equipa terapêutica 13 decidiu propor um contrato de cinco sessões
em que estariam presentes os pais e o Ivo. Rapidamente os sintomas desa
pareceram e, no fim do contrato, a luta pela definição da posição de poder
na relação deu lugar a uma articulação relacional que tornou mais fácil a
posição de educador único da mãe (permitindo-lhe, igualmente, o desen
volvimento de novas relações sociais e de tempos livres) e a manutenção
das relações de Ivo com o pai. A criança pôde conciliar as suas lealdades e
o seu desejo de poder continuar a relacionar-se com ambos os pais. Durante
vários anos, Ivo continuou a integrar uma família monoparental, contac
tando, também, com uma família recasada.
Embora tenha referido que comecei por aceder ao divórcio num con
texto de terapia pedida para ou pelo casal, nos últimos anos têm começado
a aparecer pedidos de ajuda para famílias que estão numa fase de pré
-decisão ou de relativa separação, sobretudo por parte do progenitor que
perspectiva ficar com os filhos e que não desejou o divórcio. Recordando
algumas dessas situações, diria que, na sua maioria, a família está no está
dio de cognição individual ou no estádio de metacognição familiar, tal
como Peck e Manocherian (1995) os apresentam.
No primeiro estádio, "pelo menos um dos cônjuges está considerando o
divórcio e iniciando o processo de separação emocional, mantendo distân
cia através de actividades e envolvimentos separados. Este período é fre
quentemente caracterizado por estresse aumentado, com consideráveis
brigas, amargura, acusações, desvalorização do parceiro, depressão,
ansiedade e, sempre, ambivalência. Pode haver um caso amoroso que fre
quentemente serve para apressar a decisão. ( ... ) para aquele que o inicia, o
período de tomada de decisão talvez seja o mais difícil de todos, pois
ele/ela luta com tremendo remorso e culpa (Wallerstein e Kelly, 1980, cit.
in Peck e Manocherian, 1995, 294). No segundo estádio, ainda de pré-se
paração, o segredo é revelado, provocando, habitualmente, um grande
sofrimento e um profundo desequilíbrio em toda a família, nomeadamente
ao nível do grupo mais alargado. Grande parte do sofrimento e da pertur
bação familiar decorre, desde logo, da diferença temporal com que cada
elemento se relaciona com a perspectiva/decisão de separação e divórcio:
quando o elemento que quer sair comunica essa decisão, ou deixa que o
cônjuge descubra as suas intenções, já decorreu, para si, um período de
tempo relativamente longo em que pôde confrontar-se e debater-se com tal
ideia e com as suas consequências; no entanto, para o seu parceiro e para
os filhos essa revelação é geralmente inesperada, indesejada e cai na
família como uma bomba, provocando uma catástrofe de maiores ou
menores dimensões consoante a forma como todos venham a lidar com a
situação. A raiva, a impotência, a traição sentidas decorrem do facto da
decisão ser unilateral, mesmo em casos em que o clima familiar era "pesa
do" em virtude dos níveis de conflitualidade conjugal atingidos. "Para o
cônjuge que não toma a iniciativa, quanto mais súbita e inesperada a
decisão parece ser mais difícil será o ajustamento emocional inicial
(Spanier e Castro, 1979). Muitos cônjuges não-iniciadores do processo
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Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
" O fotograma não é mais do que um genograma cuja base de construção são as
fotografias que cada elemento traz para a sessão. Habitualmente, os terapeutas solicitam
a cada elemento da família que, individualmente, escolha um número limitado de
fotografias (p.e. 3 ou 5) que retratem pessoas e/ou tempos da vida familiar considerados
como significativos, sejam as emoções que as mesmas despertam positivas ou negati
vas.
" Uma vez mais realizei este processo com Ana Paula Relvas. Num outro processo
anterior, com Rui Paixão, prescrevi um tempo de separação mais longo e a evolução foi
semelhante.
" Esta decisão estava facilitada dado o tempo de férias que se aproximava e dado
que João já vinha ficando em casa de um familiar.
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Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
homens sentiam que a sua vida havia melhorado e 64% das mulheres ver
sus 16% dos homens relataram um sentimento de crescimento emocional
psicológico em resultado do divórcio" (cit. in Peck e Manocherian, 1995,
295). Naturalmente que, neste processo, torna-se não só muito importante
a forma como cada um dos elementos se posiciona face à crise como tam
bém assumem papel relevante a forma como toda a família lida com a situa
ção e o apoio que os ex-cônjuges sentem por parte da sua rede social pes
soal, isto é, da família alargada, dos amigos, dos colegas de trabalho, de
possíveis vizinhos ou outros elementos da comunidade. A rede social das
pessoas separadas muitas vezes muda, perdendo-se os amigos antigos,
casados, para se estabelecerem novas interacções, eventualmente mais
casuais e com mais sujeitos solteiros. Parece, no entanto, relativamente
consensual que o ajustamento é mais rápido quando a interacção social é
maior e qualitativamente mais rica.
" Num outro local já tive oportunidade de equacionar alguns dos aspectos mais sig
nificativos relativamente ao ciclo de vida destas famílias, assim como os elementos que
podem dificultar esse mesmo processo desenvolvimental. Aí referi alguns dos aspectos
em que o ciclo de vida destas famílias mais se distingue do das famílias nucleares tradi
cionais - !) coexistência de diferentes etapas do ciclo vital que não podem ser fundidas
nem ultrapassadas mas que têm de ser vividas num registo de complementaridade e que
obrigam a uma rápida vivência de diferentes papéis familiares (p.e., uma jovem solteira
pode tornar-se simultaneamente esposa e madrasta de dois filhos adolescentes; um filho
único pode tornar-se o irmão mais novo de uma fratria de dois, etc.), 2) necessidade de
criar novas regras e de tecer novos padrões transaccionais, sem negar o passado mas
percebendo que o presente é outro (Alarcão, 2000, 204-211).
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Novas Formas de Família, Novas Formas de Terapia?
José tinha oito anos quando veio para casa do casal Lemos. A mãe
deixara-o, cedo, entregue aos cuidados da avó, juntamente com outros
irmãos. O casal não tinha filhos, gostou do pequeno e adoptou-o. Quando
o rapaz perguntava pela avó, o casal respondia-lhe que agora a casa dele era
aquela e eles eram os seus pais pois haviam-no adoptado. Tudo correu bem
até que José foi para o ciclo: no sexto ano de escolaridade, tinha então onze
anos, começou a faltar a algumas aulas, a roubar pequenos objectos e
pequenas quantias de dinheiro para comprar rebuçados e outras guloseimas
que distribuía pelos colegas. Um dia as coisas complicaram-se na escola
pois "assaltou" o bar para, em conjunto com outros colegas, beberem
sumos e apropriarem-se de diversas gulodices.
A desilusão do casal era tão manifesta que os Lemos nem precisavam
de dizer o quanto desejavam poder "devolver" o rapaz à avó biológica. No
entanto, verbalizavam a sua decepção afirmando a ingratidão de José que
tantas arrelias lhes provocara nos últimos meses. Encolhido, indeciso entre
ouvir ou reagir às afirmações dos pais, José só dizia que não sabia o que era
ser adoptado.
Tentou a equipa terapêutica 18 redefinir o pedido de consulta (feito para
o José) no sentido de clarificar as dificuldades sentidas pela família (gestão
das relações entre os pais e o José no sentido de que este compreenda o que
pode ou não pode fazer e de que cada um perceba o que é que pode pedir e
dar aos outros). Mas também nesse momento percebeu que os Lemos ape
nas queriam a magia de poder regressar a casa com o José que tinham so
nhado e que era tão diferente daquele menino que com eles tinha vindo a
Coimbra e com eles regressava a casa...
É sempre difícil saber o que teria acontecido se... mas tornar este um
assunto tabu, operar um corte tão profundo nas memórias e nas histórias
destas pessoas parece-me ter constituído um processo que dificultou o
desenvolvimento posterior da família, particularmente quando o filho mais
velho procurou reorganizar a sua genealogia familiar e reconfigurar a sua
identidade. Como já escrevi noutro local (Alarcão, 2000, 225-226) a quar
ta etapa do ciclo vital - família com filhos adolescentes - constitui um dos
períodos mais difíceis do desenvolvimento individual do adaptado e do
desenvolvimento familiar da família adoptiva. "Se habitualmente este é um
período de claro ensaio e negociação da autonomia e da separação do ado
lescente e dos seus pais, tais tarefas complexificam-se nestas famílias pelo
medo do abandono e pelo receio que estes sentem de que o adolescente,
finalmente, opte pelos seus pais e pela sua família biológica ou os castigue
pelo facto de eles, pela adopção, o terem privado do contacto com essa
parte da sua história. As dúvidas identitárias que normalmente assaltam o
adolescente estão, neste caso, amplificadas: muitas vezes, o desejo do ado
lescente de querer conhecer a sua família biológica, as suas raízes geográ-
ficas, as histórias do passado não significa que ele queira deixar a família
adoptiva mas apenas que quer unir as várias partes da sua história para
poder continuar a tarefa de construir a sua identidade. Neste período de pro
funda insegurança e grande transformação, é importante que pais e filhos
adoptivos tenham uma confiança mútua, se sintam afectivamente gratifica
dos e demonstrem flexibilidade de forma a poderem superar as crises que
necessariamente ocorrerão. Neste sentido, esta é uma fase em que as
famílias adoptivas podem necessitar novamente de apoio familiar e social
(eventualmente técnico): o poder metacomunicar sobre os seus medos,
sobre as suas angústias, o poder partir à procura de novos encontros com o
passado são tarefas dolorosas que despertam muita ambivalência em ambos
os pólos desta díade (pais-adolescente) mas que são necessárias para que o
seu desenvolvimento possa continuar a processar-se satisfatoriamente.( ... )
Face a estas múltiplas questões o adolescente pode tomar uma de três
opções: a metacomunicação sobre as suas dúvidas e o seu sofrimento (com
os pais adoptivos, com outros familiares ou com outras pessoas da sua rede
social) seria a opção mais desejável e satisfatória mas nem sempre é a mais
seguida; a provocação e a projecção da agressividade sentida é um recurso
frequente que se reificará ou será ultrapassado em função da resposta do
meio e da evolução das angústias e dos medos do adolescente; os vividos
depressivos ou a apatia constituem uma outra saída, habitualmente mais
problemática. A aparente ausência de problemas, dúvidas ou angústias
deve constituir um sinal de alerta pois este processo é naturalmente com
plexo e doloroso e esta pseudo-calma mais não é do que negação de tais
dificuldades".
Concluindo...
Bibliografia
'º Num outro local (Alarcão, 2000, 13-31 e 81-90) pude desenvolver mais especifi
camente a forma como a sistémica, e particularmente a terapia familiar, têm conceptua
lizado a forma como os sistemas humanos funcionam e como a mudança neles ocorre.
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Novas Formas de Família
Fátima Tribuna
Ana PauJa Relvas
Este capítulo é uma síntese revista da Dissertação de Mestrado em Família e
Sistemas Sociais (ISMT) realizada por M. F. Tribuna, sob a orientação de A. P. Relvas,
e intitulada Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência (cf. Tribuna, 2000).
Iniciamos este debruçar; com carácter mais empírico, sobre algumas das
chamadas novas formas de família, apresentando uma investigação cen
trada nas Famílias de Acolhimento.
Provavelmente, de todos os tipos de família, estas são as menos reco
nhecidas como tal. Com efeito, quem pensa nas famílias a quem foi tem
porariamente entregue uma criança, com o objectivo de lhe garantir
condições de educação e desenvolvimento que os pais biológicos não lhe
podem proporcionar; como uma família com características novas e dife
rentes atendendo à inclusão desse novo elemento? Poucos, cremos. Por
outro lado, para quem fará sentido isolar como forma ou estrutura fami
liar diferente um contexto que, por definição, se supõe efémero, quando
mesmo o próprio conceito alargado de família aponta para a per
manência e continuidade no tempo dos laços entretanto criados? Talvez
já muitos mais. Efectivamente, esse sentido resulta da percepção que
quase todos temos de que essas famílias "emprestadas" vão ter que,
junto da criança ou do jovem que acolhem, desempenhar um papel muito
próximo daquele que é atribuído às famílias "verdadeiras". Será, ainda,
que é útil entender como mais uma forma de família uma estrutura
definida como tal a partir de um reconhecimento e legitimação externa
e formal, isto é, feita pelos Serviços de Acção Social? De novo acredita
mos que sim e também que, neste sim, estaremos acompanhadas por
muitos dos que lidam e se preocupam com estas famílias.
Posto isto, um primeiro aspecto a rejlectir tem que ser o inevitável
envolvimento de duas famílias nesta problemática - a biológica e a de
acolhimento - o que implica, necessariamente, alianças e triangulações,
nas quais se pretende evitar o aparecimento de coligações e disfun
cionamentos. Um segundo aspecto prende-se com o que afirmámos ini
cialmente: o recurso ao acolhimento familiar implica a transitoriedade
56
Novas Formas de Família
Surge, então, uma pergunta inevitável: quem são e como são as famílias
que, quando aceitam acolher alguém nestas condições, se dispõem, elas
próprias, a jogar este jogo? Que famílias, supostamente, respondem
"Sim!" às duas regras fundamentais do próprio jogo: 1) estão disponíveis
para aceitar e cuidar desta criança?; 2) estão dispostas a fazê-lo sem
desenvolver em relação a ela um sentimento de pertença? Na tentativa de
encontrar respostas utilizámos, na investigação levada a cabo, algumas
medidas do funcionamento e da dinâmica familiares.
Contudo, outras perguntas acompanham a anterior. Como é que este
jogo é jogado por alguns dos seus principais protagonistas (quem acolhe
e quem é acolhido)? Que implicações tem o seu desenrolar nos vínculos
que entre eles se estabelecem? Para lhes respondermos recorremos a
escalas de medida da comunicação e da vinculação, no pressuposto de
que permitiriam obter bons índices da qualidade da relação entre eles
estabelecida.
Porque, como já foi afirmado por uma de nós, colocar uma criança não
é um acto neutro nem uma simples operação técnica, é preciso encarar
de frente estes contextos e tentar conhecer estas famílias, tantas vezes
pouco (re)conhecidas.
A perspectiva sistémica imprime à noção de família quer uma dimensão
relacional, expressa nas normas, na estrutura e na interacção familiares,
quer uma dimensão temporal, expressa no seu desenvolvimento, na sua
evolução e continuidade. Nesta perspectiva, a família tem que ser com
preendida como um sistema com funções próprias e distintas na articulação
entre estas duas dimensões. Poderemos dizer que aqui reside o valor
intrínseco e específico da Família que a distingue de todo um outro con
junto de sistemas sociais e humanos.
A família, tal como a sua própria definição, nada tem de linear.
Transportando esta conclusão para o que pode ser uma linha condutora de
análise na actualidade, é inevitável aceitar, hoje em dia e abandonando
esquemas simplistas de pensamento, que a nossa reflexão tem que se cen
trar no estudo e análise das diferentes formas de família que constituem,
afinal, a Família, enquanto conceito lato integrador.
Todas as suas expressões, entre as quais incluímos as famílias de aco
lhimento, traduzem a realidade da família contemporânea, ou seja, uma
nova visão sobre a família, agora enquadrada numa perspectiva mais rela
cional das suas funções e papéis e mais apoiada no consenso mútuo do que
nos costumes.
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
58
Novas Formas de Família
Puis Biológicos/
Criunçus
Subsistemas e Triangulações
Acção Social
Sobre este mesmo assunto Bridgman (1988) é ainda mais amplo, enten
dendo que, numa perspectiva sistémica, se podem inscrever tantos subsis
temas quantos os que, de acordo com as próprias definições institucionais
e finalidades, vierem a estar implicados (pais biológicos, família de acolhi
mento, Acção Social, Justiça, instituições escolares, de saúde, etc.).
De todo o modo, é quase consensual entender que os pais biológicos
destas crianças registam um baixo nível de interacções positivas com a
criança, grande falta de competências educativas e baixa tolerância ao
stress (idem).
Por outro lado, a família de acolhimento, ao inverso dos pais biológicos,
é vista como tendo competência educativa e estando socialmente adaptada
às normas sociais, sendo os próprios Serviços a reconhecer-lhe idoneidade
para a prestação desta tarefa, aliás tal como consignado na legislação
(Decreto-Lei n. 0 190/92 de 3 de Setembro, art.0 1. 0).
As crianças em risco, face às situações vivenciadas no passado, são
genericamente caracterizadas como manifestando uma baixa expressivi
dade emocional e dificuldade em atingir metas comportamentais.
Finalmente, à Acção Social compete: (1) o acompanhamento dos pais
biológicos do menor; (2) seleccionar, formar e acompanhar as famílias de
acolhimento, na sua qualidade de entidade enquadradora; (3) apoiar o
menor e colaborar na definição do seu projecto de vida. No quadro das suas
funções, acaba por estabelecer uma relação triádica com os pais biológicos
e a família de acolhimento, na qual se observa, em regra, uma coligação,
mais ou menos secreta, com a família de acolhimento contra os pais
biológicos (Figura 4).
64
Novas Formas de Família
Família de Acolhimento
} Pais biológicos
Acção Social
Acção Social
Legenda
-H--
Ruptura/Conflito/Escalada
p,, L�
Biológicos
Família de
Acolhimento
Pais Família de
Biológicos
11 Acolhimento
-n-
Legenda
R uptura/Conf1ito/Escalada
Criança
Problema e Método
• Foi esta, aliás, uma das razões que nos levou a optar por conduzir esta investigação
com adolescentes e não com sujeitos de outras faixas etárias em acolhimento.
73
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
Sujelillldt
apJlí;açào
Demográficas e associadas ao
acolhimento Questionário Sócio-Demog ráfico
Eunci0111111,eu10,J1,tmiliar
$ípo4<: fl\mllíit
c.iesno
Adnp!abtlidud&
Ruurso$FumB,ates
Or,o,.uil\o
Bl\leadime,no
Comunicação
Aberta . Escala de Comunicação Pais.Adolescentes (fonna mãe/
Dificuldades pí!i/ e forma pais)
B.unes & Olson, 1982
IPPA
Greenber,g,;u,/., 1981
Os Sujeitos
11
Foi solicitada a colaboração de 80 famílias de acolhimento e 80 jovens a cargo das
mesmas, registando-se as seguintes taxas de participação (completion rate): 77.50% na
amostra Colocação em Família (n=31) e 75.00% na amostra Acolhimento Familiar
(n=30).
12
Este critério foi definido na sequência do estudo sumário da população, a partir do
qual se concluiu que o tempo médio de permanência das crianças e jovens nas famílias
de acolhimento ultrapassava os quatro anos. Por outro lado. a duração da relação de
quatro anos ou mais permitia indiciar uma estabilidade, pelo menos temporal, impor
tante no que se refere ao estudo da vinculação.
76
Novas Formas de Família
" Esta é a forma abreviada, através da qual faremos referência às amostras de colo
cação em família e acolhimento familiar.
" Atendendo à extensão da informação recolhida através do Questionário não se
explicitam nesta Tabela todas as variáveis avaliadas [não se apresentam as seguintes:
profissão do inquirido; habilitações literárias, profissão e idade do cônjuge; local de
residência e número de elementos do agregado familiar; regularidade de contactos do
jovem com os pais/família biológica; contribuição económica destes últimos], nem se
indicam, diferenciadamente, todas as categorias contidas na análise original dos dados
(para urna mais completa análise da caracterização individual e sócio-familiar da
amostra consultar Tribuna, 2000, pp. 127-146). Contudo, sempre que tal se revele per
tinente, citaremos no texto alguns dados não especificados na Tabela 1.
77
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
Idade p=.003
êoJocação
Jl�it
34-80; M=59.23
"'�º
Acolflimento
30-78; M=50.07
�·J9 p=-.��� 9$,iJifo f 9ª.j,)<% i
Estado Civil 54.84% casado 90.0% casado
p=.012 35.48% viúvo 3.33% viúvo
9.68% outros 6.67% outros
.
Dabifitaçáes lk·t�í% amdfabetos 3.33% anaffabetos
-·g.
·e: llt.erárias 3'&.71% 4• aoo ine. L>tS.6'7% 4°an0h1c.
22.58% eusiuo bc.isieo $3.34% e:nsino bá-sieo
e
3.23'% seeundlirio 6.67% seoondruli©
?,§'i'% 9\!WQt 2�4�% <?9�
Situação 12.50% domésticas 0% domésticas
.g Profissional 37.50% pensionistas 11.54% pensionistas
p=.048 50.0% trabalhadores 88.46% trabalhadores
- ..:rªiiº-1;\l!l&ê!!I.:§.
elemento,srngular+fi'lhos elenmnt0 s'ingulm'+
. ,fflbWJ+i!i:!9Í9,§§§lJ!tç
Presença de outros 67.74% Sim 40.0% Sim
adolescentes 32.26% Não 60.0% Não
p=.055
Tempodé M=tl1 anos . M:..1 MQS
permmi�ncia D.P. == 4.1 D.P. = 3.J(5
p::5,.!l!))j l
Origem do pedido 16.13% Acção Social 50.0% Acção Social
p=<.001 64.52% laços familiares 50.0% outros
19.35% outros
Parentesco 25.ÍÍlo/o tio/a
õJ.7491> avós
(ili'�� Qlillf,ffi
�
1
l
Residência anterior
Se1to
93.54%
6.46%
4'S.3J%
Não
Sim
Masculino
60.0%
40.0%
36,($7%
Não
Sim
Masculfoo
P:-l9§ iH-� % Jí!mhlioo y;}.,};l% Ft!Wl!Rf
Idade M=l4.42 M=l 4.83
p=.376 DP=l.86 DP=l.76
Ntveicie 34.5% 2• eido . 1.U<i% jõefolo
llSCOlal'<idad·e 62.1% 3° ciclo Sílí.2% 3'° cido
p=.173 .,3-.4% oatros :20.7% OUU'QS
Existência de 70.97% Sim 66.67% Sim
contactos 29.03% Não 33.33% Não
p=.931
78
Novas Formas de Família
" A amostra total não deixa de apresentar também um baixo nível de escolaridade
(apenas 1.64% concluiu o ensino superior e 42.62% são analfabetos), o que provoca
inevitáveis reflexos na situação profissional do inquirido (37.70% são domésticas e
37.70% são trabalhadores não qualificados).
"Na amostra de colocação o peso das domésticas é um dado esperável, uma vez que
estamos perante uma população predominantemente feminina e pouco habilitada lite
rariamente. Em oposição, na amostra de acolhimento são os trabalhadores que detêm o
maior peso (serviços: 35.71 %; não qualificados: 14.29%; operários: 7.14%).
79
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
integração actual envolveu a passagem por outras famílias e/ou outras for
mas de acolhimento 17 • Como seria esperável, também se vê que, neste caso,
a própria integração do adolescente não teve por base a relevância dos laços
familiares mas surge na sequência de um pedido da Acção Social.
Em termos da dimensão, ou seja, do número de elementos, estes agre
gados familiares não apresentam diferenças significativas'ª. Há, também,
entre modalidades, uma distribuição uniforme por local de residência 19 •
Feita esta análise de pormenor podemos, em síntese, concluir o seguinte:
" Dos 60% dos jovens que vivem em famílias de Acolhimento, 23.33% passaram
por outras famílias e 20.0% por instituições.
" Não existem diferenças significativas no número de elementos do agregado
familiar em função da modalidade (F(l,60)=.029, p=.865). O número de elementos do
agregado varia entre 2 e 7 na modalidade de colocação, com uma média de 4.29 ele
mentos (dp=l.42). Os agregados familiares da modalidade acolhimento variam entre 2
e 6, com uma média de 4.23 (dp=l.17).
" Não existem diferenças significativas entre modalidades em função do local de
residência X2(2)=1.75, p=.416 (urbano - 45.16% em colocação; 40.00% em acolhi
mento; suburbano - 35.48% em colocação; 50.00% em acolhimento; rural - 19.35% em
colocação; 10.00% em acolhimento).
20 Recordamos que ao nível das variáveis demográficas só o sexo do inquirido, o
número de elementos do agregado familiar e o local de residência são idênticos nas duas
amostras.
21
Não existem diferenças significativas entre modalidades em função da existência
ou não de contactos com os pais (X2(1)=.01, p=.931 ). No caso da variável regularidade
de contactos, não foi possível o cálculo do Qui-Quadrado, por um elevado número
80
Novas Formas de Família
Famiiías-(neâtl
JoY1111s (n=&iJ
-- ---·
A acolhimento ..-.•-------.-
lo--...-·-•'...---.-
_ .._
A colocação
-_...::__
C acolhimento l,,ii,iiiiiiiiiiiiiiiiiii._______
. ---=--=-·-
e colocação l!!!!!!!!!
!P"......,
____
TFacolhimento �;.:_iiiiã,-iiil._____
o 20 40 60
25
No estudo psicométrico da FACES II obtiveram-se os seguintes valores para o
índice alfa de Cronbach: Coesão .772; Adaptabilidade .782; escala completa .865.
26
Os valores do alfa de Cronbach para esta escala foram os seguintes: subescala
Orgulho .866; subescala Entendimento .387 (o que, associado ao facto de apenas dois
itens se correlacionarem significativamente com a escala, exige grande cautela na leitu
ra dos resultados); escala total .736.
83
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
Tabela 2 - Distribuição da amostra total (n=61) pelos quatro níveis do tipo de família,
coesão e adaptabilidade
Categorias
1 2 3 4
Dimensões % % % %
50
40 �Colocação
30
20
10
o
Recursos Orgulho Entendimento
pela positiva, ou seja, quanto mais elevado o seu valor, mais positiva é a
comunicação, sendo que há menos problemas na comunicação pais-filhos.
Por outro lado, e considerando os mínimos e máximos possíveis na
escala e subescalas (20-100; 10-50) bem como os valores de construção
apresentados por Barnes e Olson (1982), podemos observar, em relação ao
esperável, uma inversão nos valores das figuras maternas e dos adoles
centes: estes últimos obtêm melhores valores, em todas as medidas, valores
que são em termos absolutos bons índices de comunicação adolescente
-figura materna. Perante estes dados, procurámos saber até que ponto o
sexo do adolescente faz ou não variar os resultados. A conclusão foi nega
tiva: o sexo não altera a percepção da comunicação, quer por parte do ado
lescente quer por parte da figura parental substituta.
Assim, em síntese podemos afirmar que:
A Vinculação do Adolescente
em Relação às Figuras Parentais de Acolhimento
" A consistência interna da escala vinculação foi calculada para a versão materna,
uma vez que apenas 5 sujeitos responderam à versão masculina e a sua inclusão nos cál
culos poderia enviesar substancialmente o estudo psicométrico desta escala, já por si
complexo. A consistência interna obtida para a escala foi de .671, o que aponta para a
necessidade de alguma cautela na leitura dos resultados, não deixando de considerar,
contudo, o carácter exploratório do estudo, o facto de que a análise psicométrica não ser
conclusiva e, fundamentalmente, as características da amostra.
"Diferenças significativas entre Acolhimento e Colocação no padrão de vinculação
(X2(1)=.016, p = .900). Diferenças significativas entre Acolhimento e Colocação em
função do sexo do jovem (F(l,60)=.58, p=.451) e composição do agregado
(X2(3)=2.08, p=.556).
92
Novas Formas de Família
corocacão 1� 50 16 $1.6
30 100 31 100
Características da
dinâmica familiar
Variáveis
Recursos familiares associadas ao
Orgulho acolhimento
Entendimento
Comunicação
Comunicação aberta
Dificuldades de
comunicação
"Para uma leitura mais detalhada destes estudos empíricos deverá ser consultada a
versão integral da dissertação de Mestrado em Família e Sistemas Sociais, Tribuna, M.
F., Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência. Coimbra, 2000, JSMT, texto
policopiado.
94
Novas Formas de Família
40
Os padrões de vinculação diferem em função da comunicação-adolescente glo
bal [total F(l,60)=4.50, p=.038; acolhimento F(l,29)=7.97, p=.009]; comunicação
-aberta [acolhimento F(J,29)=4.34, p=.046] e dificuldades de comunicação [acolhi
mento F(l,29)=6.55, p=.016]; o mesmo acontece com a comunicação-mães (global)
[total F(l,54)=7.63, p=.008; acolhimento F(l,27)=7.25, p=.012]; comunicação-mães
aberta [total F(l,54)=8. I 3, p=.006; acolhimento F(l,27)=7. 70, p=.010].
101
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
nesta faixa etária, podem, neste contexto, ser entendidos como mais uma
expressão desse conflito.
É importante, pois, concluir que os contactos devem surgir de forma
acautelada e planeada, no sentido de prevenir toda esta tensão, devendo ser
estudados caso a caso, para além de constantemente acompanhados e ava
liados nos seus efeitos e implicações para todos os envolvidos, mais par
ticularmente para os adolescentes. Finalmente e no limite, pode obrigar-nos
a repensar, senão mesmo a questionar, o próprio conceito de "Acolhimento
Familiar".
Comunicação-mãe
Comunicação aberta
Tipo de família
Insegura
Coesão
Adaptabilidade
Conclusões
Bibliografia
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42.
119
Famílias de Acolhimento e Vinculação na Adolescência
. ... .
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1'/
'
Gabriela Mateus
Ana Paula Relvas,
Este capítulo é uma síntese revista da Dissertação de Mestrado em Família e
Sistemas Sociais (ISMT) realizada por M. G. M. Santos, sob orientação de A. P. Relvas,
e intitulada Famílias de Adopção e Stress Parental. Um estudo exploratório (cf. Santos,
1999).
Continuando à descoberta das novas formas de família, a nossa atençâo
dirige-se para um tipo de estruwra familiar que, à semelhança do ante
rior, se constitui como tal porque acolheu no seu seio, com responsabi
lidades parentais, um novo elemento sem laços de parentesco biológico.
Contrariamente à situação anterior, o que é pedido a estas famílias, e
por elas próprias desejado, é o estabelecimento de vínculos e de um sen
timento de pertença que se prolongue no tempo, mesmo através de ge
rações. Falamos, evidentemente, de Famílias Adoptivas.
É uma forma de família sobre a qual podemos dizer que "ames de ser,
já o era!" É consensual aceitar que a sua formação coincide com a
chegada a casa do adaptado; mas, tal como na família tradicional em
que o período que antecede a primeira etapa do seu ciclo de vida (jovem
adulto entre famílias, Carter e McGoldrick et ai., J 989) é muito impor
tallle para o que se lhe segue, também nesta forma de família o período
prévio à sua constituição é fulcral para o seu desenvolvimento e
evolução. Duas fases distintas constituem esse período: a primeira, que
se prolonga desde a descoberta da infertilidade do casal até à tomada
de decisão da adopção e que é, afinal, um longo período de sofrimento
físico e psicológico, durante o qual tudo é posto à prova, inclusive,
muitas vezes, a própria relação conjugal; a segunda, que decorre desde
a decisão da adopção até à entrega da criança e na qual as famílias de
origem, ou mesmo os amigos e a comunidade, aparecem como novos
aclares com papéis importantes na continuação da história familiar.
Dois aspectos emergem como pano de fundo da constituição e evolução
da família adoptiva 110 sentido do bem-estar: 1) a aceitação das dife
renças por parte de todos os elementos da(s) família(s) (nuclear e de
origem). Sublinhamos o plural de diferenças, na medida em que aquelas
não são apanágio do adaptado; a família adoptiva, ela própria, terá que
124
Novas Formas de Família
i
aceitar e integrar as suas dferenças pera/l/e as outras famílias; 2) as
particularidades do evoluir do seu ciclo de vida, das quais apenas
destacaremos aqui as mais relevantes. Logo na primeira etapa a família
é sujeita a uma avaliação e controlo extra-familiares (referimo-nos,
como é evidente, a todo o processo de selecção sob a alçada dos Serviços
de Acção Social e consequente ratificação judicial). Nas etapas
seguintes a necessidade de revelação à criança do seu estatuto de adap
tada, bem como de aprendizagem para lidar com tal estatuto, impõe-se
como questão fundamental para todos os elementos da família e mesmo
para o meio mais próximo. Seguidamente, na adolescência do adaptado,
os aspectos ligados à construção da sua idemidade que implicam, fre
quentes vezes, voltar às origens numa telllativa de "descobrir" a família
biológica, são tarefas acrescidas nestas famílias.
Num contexto familiar inevitavelmente sujeito a tantas e tão importantes
fontes de stress, parece ser lógico perspectivar a existência de dificul
dades muito particulares no exercício da parentalidade. Será que é assim?
E em que áreas específicas? Prendem-se mais com os próprios pais ou
com as características do filho adoptado? Tentando encontrar alguma luz
neste labirinto de dúvidas, utilizámos, na nossa investigação, uma escala
de medida do stress parental, analisável em dois domínios - dos pais e
da criança.
Contudo, é nossa convicção que não basta diagnosticar as grandes difi
culdades, no caso de existirem. Detectar as competências destas famílias
é tanto ou mais importante. Assim, desejávamos saber a que "almo
fadas" da dinâmica familiar recorrem estas famílias como elementos de
suporte e conforto. Foi com este objectivo que complementámos o nosso
estudo com escalas de medida dos recursos internos e satisfação fami
liares.
"Parir é dor; criar é amor", diz o nosso povo. As famílias que colabo
raram nesta investigação ajudaram-nos a perceber as vias pelas quais,
no seu caso, esta máxima se torna possível.
Apesar de enquadrarmos as famílias adoptivas nas novas formas de
família, o conceito de adopção é quase tão antigo como a história da
humanidade. No Antigo Testamento é-nos dado conta que Moisés foi reti
rado de um canavial pela filha de um fái'aó, que lHí1 seguida b adoptou.
Nos nossos dias, a imagem da matetrddade e da paternidade encontra
-se extremamente valorizada. Ter um filho tort101,1 ° se quase uma exigência
no sistema de representações do indivídüo e da fãfflílÜt Símbolo da
perenidade da espécie, um filho é também, muitas vezes, símboiõ àa iclêft�
tidade sexual, da integridade física e da integração social do indivíduo e do
casal. Daí o desejo de ter um filho (Leandro, 1987).
Adultos querem crianças, crianças precisam de pais, A questão parece
ser simples, mas, tal como em qualquer oufl-a relação htHflâfia; a ãdopção
significa uma grande complexidade de emoções, necessidades ê ÍnUlt•
acções.
Num esforço para defender a criança, durante muito tempo advogou-se
a inexistência de qualquer diferença entre famílias biológicas e famílias
adoptivas. Porém concluiu-se que estas, apesar de terem um funcionamen
to idêntico ao das famílias não adoptivas, apresentam algumas esptcifki•
dades com as quais é preciso saber lidar. A adopção é urna decisão que
afecta todos os seus intervenientes. Pais e Crianças, ninguém fica indife
rente a esta forma de constituir família.
A Família Adoptiva
De facto, até à primeira metade do século XX, era prática comum ten
tar que uma família adoptiva se assemelhasse o mais possível a uma família
biológica. Assim, pais e terapeutas tratavam o processo de adopção de um
modo muito discreto, "escondendo-o" da criança e da sociedade. Este com·
portamento, que pretendia proteger a criança e a família de sentimentos de
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
126
Novas Formas de Família
A Construção da Parenta/idade
2
"Os novos pais organizam o modelo parental que comporta dois modelos distin
tos: o maternal e o paternal. Esta representação vai permitir assumir a função parental
[parentalidade], baseada no ajustamento das funções maternal e paternal que não sig
nificam, estritamente, papel desempenhado pela mãe e pelo pai. Podem ser definidas
como 'o conjunto de elementos biológicos, psicológicos, jurídicos, éticos, económicos
e culturais que tornam um indivíduo' mãe ou pai (... )" (in Relvas, 1996, 83).
Assim, "a função parental alarga-se, ultrapassando a simples interacção de tipo
causal que consiste na protecção e na educação do jovem pelos seus progenitores: inter
age com finalidades próprias da família da criança que se expressam na transmissão
intergeracional de regras, nas redundâncias dos modelos comunicacionais, na utilização
dos mitos e rituais familiares" (idem, 86).
128
Novas Formas de Família
' Optámos por manter o vocábulo na língua original por não termos encontrado na
língua portuguesa um que tivesse o mesmo sentido.
129
Adopção e Parentalidade
A Revelação
'Idem.
'Para aprofundar os aspectos jurídicos, que não serão neste contexto desenvolvidos,
consultar a lei da adopção actualmente vigente em Portugal (Decreto-Lei n.º 185/ 93 de
22 de Maio; Decreto-Lei n.º 120/ 98 de 8 de Maio; cf. Santos, 1999).
130
Novas Formas de Família
Ainda que não haja unanimidade acerca de qual a melhor idade para se
dizer a uma criança que ela é adaptada, os estudos indicam que esta reve
lação deve ser feita o mais cedo possível e pelos pais adoptivos, facto que
pode contribuir para que a família adquira um maior sentido de equilíbrio e
estabilidade. Contudo, como teremos oportunidade de ver, este "mais cedo
possível" não é linear...
O processo é normalmente iniciado assim que a criança chega a casa dos
pais adoptivos. Estes, que encaram este problema como uma das suas
maiores dificuldades, começam por decidir quando e qual a melhor idade e
a melhor forma para explicar à criança o significado da adopção. Nas
famílias em que pais e criança têm raças diferentes a adopção é mais visí
vel, pelo que os pais deverão desenvolver estratégias de modo a defender
as crianças dos comportamentos intrusivos das outras pessoas (Anderson et
al.,1994).
Acerca de qual é a melhor idade para fazer essa revelação, as investi
gações mais recentes indicam a existência de dois grandes grupos que se
dividem: um que considera que a revelação da adopção deve ser feita o
mais cedo possível, aos dois ou três anos (Clarke e Dawson, 1998), e um
segundo grupo que defende que esta revelação só deve ser feita aquando da
entrada da criança para a escola ou mesmo posteriormente (Smith,1997).
Os defensores da primeira posição consideram que a criança deverá, desde
muito nova, ser familiarizada com vocábulos relacionados com a adopção,
de modo a que esta palavra não lhe seja totalmente desconhecida. Por outro
lado, referem que é menor o risco dessa revelação ser feita por estranhos e
abruptamente, em vez de ser pelos pais, num local previamente preparado,
com uma atmosfera tranquila e afectiva. Além disso, o atraso por seis ou
sete anos poderá envolver alguma decepção, com efeitos negativos no rela
cionamento pais-filhos.
Aqueles que defendem que a situação de adaptada só deverá ser reve
lada à criança mais tarde preconizam que esta só deve ter conhecimento
sobre a adopção depois de entender o significado de concepção, infertili
dade ou nascimento (Melina, 1998). Receiam que etiquetar uma criança
como criança adaptada, demasiado cedo, possa ter efeitos nocivos para
o seu desenvolvimento psicológico e afectivo (Wieder cit. in Melina,
1998).
David Brodzinski e colaboradores, num estudo publicado em 1984,
defenderam a existência de um meio-termo, ou seja, a revelação deverá ser
feita quando os pais considerarem que a criança é suficientemente madura
131
Adopção e Parentalidade
Perdas e Lutos
Cada uma destas fases envolve questões emocionais específicas que vão
desde a aceitação de cada um dos elementos do casal relativamente à sua
incapacidade de gerar filhos, passando pelo reconhecimento da existência
135
Adopção e Parentalidade
Família com filhos adoptivos em idade escolar (6-11 anos) é uma etapa
que se caracteriza fundamentalmente pela entrada das crianças na escola, o
que significa que o seu mundo se expande e deixa de se confinar à família.
Verificam-se mudanças significativas nas suas capacidades cognitivas. O
processo de maturação física e psicológica permite-lhes ter um nível de
pensamento mais lógico e, portanto, estabelecer relações de causa e efeito.
É nesta altura que os pais se sentem mais inclinados para falarem com
a criança sobre a adopção. Nesta idade, a maior parte das crianças consegue
compreender a diferença entre nascimento e adopção, assimilando também
o conceito de concepção. É nesta altura que a criança conceptualiza as
140
Novas Formas de Família
-se os elos familiares. Ao atingir este estádio, ocorre uma mudança radical
no seio da família e nos papéis até agora desempenhados. Um aspecto
importante, que decorre da constituição de uma nova família nuclear, é o
nascimento do primeiro filho, que assume um especial significado para os
adoptados. Muitos experienciam, pela primeira vez, o estabelecimento de
um vínculo sanguíneo com alguém. Mesmo que as experiências com a
família adoptiva tenham sido muito positivas, o facto de terem um filho é
um acontecimento com uma grande dimensão e gratificação emocional que
lhes devolve, de algum modo, parte da sua identidade (Lifton, 1979).
Para os pais adoptivos, o facto de os filhos terem filhos é encarado de
acordo com a maneira como eles próprios resolveram e lidaram com a
questão de não terem filhos biológicos. Assim, os que aceitaram as especi
ficidades de uma família adoptiva experienciam a mesma felicidade que os
filhos adoptivos, aceitando o seu novo estatuto de avós; os que não con
seguiram resolver esses problemas, sentem que perderem a "sua criança"
para um "parente de sangue", reavivando os velhos sentimentos de dor e
sofrimento (Rosenberg, 1992).
No entanto, é importante referir que nesta fase de transição da família,
seja qual for o grau de aceitação do recém-nascido, é esperável que, ini
cialmente, os pais adoptivos se sintam inseguros em relação àquilo que os
filhos adoptivos sentem relativamente a eles.
Por outro lado, a integração do passado biológico e psicológico, feita
anteriormente, vai permitir ao adaptado contribuir definitivamente para o
desenvolvimento de uma nova geração.
pré-natais. Por outro lado, é importante não esquecer que, de acordo com
as suas necessidades emocionais e afectivas, recém-nascidos e crianças
mais velhas vivem o período de adaptação de modo diferente.
A tomada de consciência do estatuto de adaptada e respectivas impli
cações fazem a criança sentir-se incompleta, por vezes indesejada: por um
lado, sofre a rejeição dos pais biológicos e a perda das suas origens; por
outro, experimenta um sentimento de insegurança relativamente aos pais
adoptivos. Finalmente, essa consciência fá-la sentir-se diferente das outras
crianças, sentimento vivenciado, frequentemente, de um modo negativo.
Famílias felizes e com sucesso não acontecem por acaso. Durante o seu
desenvolvimento existem momentos de maior e de menor crise, com mais
e menos" stress. Se a família, perante tais situações e acontecimentos,
responder com rigidez, corre o risco de se tornar disfuncional. Pelo con
trário, se for flexível e conseguir evoluir através da crise, reestruturar-se-á,
prosseguindo a sua história (Relvas, 1996).
Foi considerando todos estes aspectos que elegemos, como questão fun
damental do estudo empírico sobre famílias adoptivas, a avaliação do modo
como por elas é vivido e gerido o stress parental, tentando, ainda, identi
ficar algumas das condições, especificamente ligadas à adopção, eventual
mente interferentes nesse processo.
Os participantes
Outro dos critérios que definimos teve a ver com o número de crianças
adaptadas por cada casal. Assim, procurando a comparabilidade no inte
rior da nossa amostra, estipulámos que cada família não deveria ter mais do
que uma criança adaptada.
147
Adopção e Parentalidade
Características da amostra
Instrumentos e Resultados
SATISFAÇÃO FAMILIAR
(0lson et ai. 1982)
COESÃO ADAPTABILIDADE
1
coligações assertividade
separações controlo
espaço disciplina
amigos regras
limites
lllRSVl()•
MÉDlA MÍN'IM0 MÁX1M(i} P=
-f�Q
Satisfação
Fami1iar 48.20 40 58 5.27
Coesão 27.82 23 33 3.28 < O. 0001
Adaptabilidade 20.38 17 25 2.37 < o. 000!
N=34
RECURSOS FAMILIARES
(Olson et ai. 1982)
i
ORGULHO ENTENDIMENTO
optimismo capacidade para:
lealdade cumprir tarefas e
confiança lidar com dificuldades
N=34
154
Novas Formas de Família
" Para uma melhor análise dos resultados de cada uma das subescalas (compreen
são do seu conteúdo e significado) consultar o Anexo onde serão apresentados todos os
itens do ISP organizados, precisamente, em termos de subescalas e domínios.
"Idem.
155
Adopção e Parentalidade
DOMÍNIO
� R,9fot:ÇO li� f'/lJS iô.$ij § 7i i. �Q
DA e Humor 7.2 4 14 2 56
CRIANÇA P, )\ctjlas!O 14.26 $ ,1§ 4. }3
E Maleabilidade 26. li 16 42 4.88
F Bxigr11cj9 l7 li 21 �- 91
G Autonomia 18.50 13 26 3 02
ABCDEFGHI JLMNO
inquiridos [exemplos'ª - item 2 (A): "é tão irrequieto que me esgota"; item
8 (A): "é fácil de convencer quando lhe negamos alguma coisa"; item 67
(G): "gosta de brincar (... ) fora de casa, mas eu evito deixá-lo/a porque
tenho medo"].
No mesmo sentido surgem as condições do desempenho da função
parental que, de algum modo, restringem as necessidades, interesses ou
actividades individuais dos pais [exemplos (J) - item 75: "gasto as horas do
meu dia a tratar das coisas para ele/a"; item 77: "sinto-me limitado por
causa das minhas responsabilidades como pai/mãe"]. Contudo, é impor
tante notar que a relação/ligação afectiva pais-filhos é a área da função
parental que menos stress potencia [exemplos (1) - item 68: "é-lhe fácil
• compreender o que ele/a [a criança] deseja ou precisa?"; item 70: "espera
va ter mais afecto por ele/a [a criança] e isso realmente aborrece-me"].
Se pensarmos que estamos a falar de pais adoptivos, este último aspec
to é facilmente compreensível, mesmo esperável. Os aspectos anteriores
(picos de stress) podem surpreender (ou não) na medida em que contrariam
o mito de que estes pais não se permitem "cansar" das suas crianças ou das
suas características mais difíceis de aceitar como acontece com os pais
biológicos, pelo que, indirectamente e tal como os outros, parecem "recla
mar" tempo e espaço para si próprios. A ser assim, este é, de facto, um
aspecto positivo quando se pensa no percurso atravessado pela relação pais
-filhos ao longo do processo de desenvolvimento (quer individual quer gru
pal, enquanto família).
Contudo, este aspecto também poderá apontar para algo que é referido
na literatura, ou seja, para a atribuição das maiores dificuldades da parenta
lidade à criança, da qual, pela sua condição de adoptada, se desconhece ou
se avalia como perturbadora a influência do seu "património" prévio à
vinda para a família de adopção (quer ao nível genético quer relacional).
Perante estes dados e reflexões tornava-se interessante perceber as
semelhanças e diferenças entre pais adoptivos e a população geral, no que
se refere ao stress parental.
"Note-se, como é visível nestes exemplos, que os itens do ISP são formulados quer
em sentido directo (Likert 1, 2 ,3, 4, 5) quer em sentido invertido (Likert 5, 4, 3, 2, 1).
159
Adopção e Parentalidade
méd,a mél)fa
D1stracção/Hiperactiv1dade 21.02 20.3
. keforç() aqssPqis 9.84 IÔ.�
DOMÍNIO
Humor 8.9 7.2 0.029
DA
CRIANÇA A..,ceiJ� lg.S'Í 14.� Q.OiQ
(DC) Maleabilidade 27.27 26.11
ll�!!..�E 17.� J7
Autonomia 18.75 18.5
DOMfNIO
Vl!)çajp,ç!9 1�4? 9,44 O.OQ1
DOS Restrição do Papel 17.22 15.58
PAIS Q�Jl"t� �M:5 1� 14 ÕQÇ)j
(DP) Relação Marido Mulher 15.98 12.94 0.007
Í;plarnenro SroaJ 13.4$ 11.fÍ ó.ô?}
Saúde 12.16 10.35 0.039
60 ----'-"---------�----------.
50 +-----"T-...-----------
4© +-----
[:] amostra de adopção
80
li amostra de adaptação
20:
1,1)
o·
A B C D µ F $ H I J L M N O
El'l1o-padrão 28.83
IOl-102 1.9'1
'º [IDI- ID2) e ISP: r = 0.38, p = 0.028; [IDI- ID2] e DP: r = 0.38, p = 0.034.
163
Adopção e Parentalidade
T-empo<C!lue mediou eime a vinda da ctiança e a uniã.o d:o 039 2.8'1 o.aos•
casal
Idade da criança quando veio viver para casa do casal - 0.54 -3.97 0.0004*
°§t'flJ•Pl!!l!'ÍiP p, 9.9�
Variáveis Beta T (30) p
Idade da criança quando veio vi ver para casa do casal - o. 63 - 4.57 0.0007*
164
Novas Formas de Família
Idade da criança quando veio vi ver para casa do casal -0.34 -2.26 0.03*
'
Tempo que mediou entre o pedido e a entrega da criança 0.24 l.S7 0.1,2
criança e Idade da criança quando veio viver com o casal - não se desfaz
com o tempo, pois a criança existe, está na família pelo menos há três anos
e a sua influência fez-se sentir a todos os níveis do stress parental.
os casais adoptivos verão nas raparigas uma maior possibilidade de, um dia
mais tarde, elas virem a cuidar deles (Moe, 1998).
Em relação à idade da criança a adaptar, os casais preferem crianças
mais novas. Quando o casal decide adoptar, procura viver a experiência da
parentalidade tão completa quanto possível, preferindo, naturalmente, um
bebé pequenino. Por outro lado, é melhor para o desenvolvimento e equi
líbrio afectivo da criança, e da própria família, que a sua inserção na família
que a vai adaptar seja efectuada o mais precocemente possível (Melina,
1998). Curiosamente, ou talvez não, no nosso estudo pudemos verificar
que, no entanto, quanto mais novas são as crianças adaptadas, maior é o
• stress sentido nas famílias adoptivas, aspecto cuja complexidade interpre
tativa oportunamente discutimos.
Ainda no que se refere às características da amostra, e para que pos
samos perceber alguns dos resultados obtidos no trabalho empírico, é
importante situá-la em termos da fase do seu ciclo vital. A média de idades
das crianças em estudo é de oito anos. Esta idade corresponde à etapa,
segundo o faseamento estudado e proposto por Rosenberg (1992), FamíZia
com filhos adoptivos em idade escolar (6-JJ anos). Este aspecto ajuda a
perceber, especificamente, o perfil de stress observado e onde a distrac
ção/hiperactividade, a autonomia (ou seja, o controlo) e as restrições asso
ciadas ao desempenho do papel parental, emergem como áreas relevantes.
Faz ainda sentido recordar que não encontrámos diferenças entre o perfil de
stress destas famílias e duma amostra da população em geral (amostra de
adaptação do ISP). Sabendo nós, também, que essas famílias se encontram
numa etapa semelhante do seu ciclo de vida e que o ISP foi intencional
mente adaptado em Portugal para a população com filhos em idade escolar
(Santos, 1997), o significado da "escola" aparece, portanto, como uma re
gularidade das famílias (adoptivas e não adoptivas) nesta etapa do ciclo de
vida familiar.
Com efeito, esta etapa caracteriza-se fundamentalmente pela entrada da
criança para a escola e pela expansão do seu mundo que deixa de estar tão
limitado à família. Por outro lado, nesta idade as crianças atingem um
desenvolvimento cognitivo que lhes permite um nível de pensamento mais
lógico e logo o estabelecimento de relações de causa e efeito. As crianças
já parecem entender determinados conceitos como concepção, nascimento
ou adopção, pelo que os pais começam a sentir-se inclinados para lhes re
velar o seu estatuto de adaptadas ou acabarem de o fazer. Seja como for, a
revelação é, nesta etapa, uma questão activamente presente. É também
169
Adopção e Parentalidade
nesta altura que as crianças mais fantasiam sobre a família ideal ou os pais
perfeitos, sobre os quais constróem as suas próprias histórias (Van Gulden
e Bartels-Rabb, 1995).
Em relação às variáveis familiares, e no que se refere à Satisfação
Familiar, estes pais sentem-se muito satisfeitos com a forte ligação emo
cional entre os seus elementos (coesão) que, no entanto, sentem como
respeitadora de limites, espaços e tempos. Por outro lado, sentem-se mais
insatisfeitos com o nível de adaptabilidade das suas famílias. Curiosa
mente, poderemos identificar aqui uma das primeiras conclusões deste
estudo. Para estas famílias, a satisfação com a sua capacidade para mudar
a soo estrutura de poder ou papéis em resposta a situações de stress é
reduzida. Relembremos que a adaptabilidade mede atributos como o con
trolo, a assertividade e a disciplina. Quererá isto significar que estes pais
são pouco disciplinadores ou menos exigentes em relação às crianças adop
tadas e, hipoteticamente, por essa razão, apresentam níveis de stress mais
baixos que os da generalidade da população portuguesa? A afirmação feita
por Melina (1998, 19), segundo a qual "Sentem-se tão satisfeitos e gratos
por terem uma criança que, apesar de nutrirem por eles um grande afecto,
sentem muita dificuldade em exercerem a sua autoridade e disciplina",
parece ser uma interpretação possível para este dado. Este aspecto ajudaria,
então, a perceber os "picos" de stress nas subescalas do domínio da criança
associadas à gestão do controlo/autonomia já anteriormente focados, com
plementando, como singularidade destas famílias, a regularidade ligada à
idade da criança e à sua escolarização.
Em relação a este grupo de variáveis, verificámos, também, que estas
famílias têm uma boa percepção do orgulho familiar, onde são medidos
atributos como o optimismo, a lealdade e a confiança. Depois da entrega da
criança, o casal sente que o seu esforço foi compensado e, por isso, o sen
timento de gratificação e de optimismo renasce no seio da família (Raynor,
1980). Recordemos que o orgulho é uma das dimensões da escala dos
recursos familiares que, em termos globais, avalia os recursos internos do
sistema familiar para responder a situações que envolvam algum stress.
Coerentemente, nesta investigação verificámos como os inquiridos recor
rem, frequentemente, aos seus recursos internos para a resolução de pro
blemas, nomeadamente aqueles que dizem respeito à criança adoptada
(quando têm dúvidas ou problemas procuram, na sua grande maioria,
resolvê-los sem recorrer à ajuda de outros quer da família quer do exte
rior).
170
Novas Formas de Família
22 Esta leitura pode, aliás, ser indirectamente confirmada, uma vez que os nossos
resultados mostram que o nível de stress emergente no DP, tal como o stress total, apre
senta uma associação positiva, com significância estatística, relativamente à idade do
respondente, o mesmo acontecendo com a média de idades do casal (aqui também no
que se refere ao DC). Ou seja, quanto mais idosos são os pais, maior é o stress. Por
outro lado, também pudemos verificar que a relação entre a idade (do inquirido) e o
tempo que medeia entre a união do casal e a vinda da criança, é, ela própria, forte, po
sitiva e significativa.
173
Adopção e Parentalidade
Perante tudo isto parece claro que, em futuros estudos, há variáveis que
poderão/deverão ser consideradas, tais como o tempo que medeia entre a
união do casal e a tomada de decisão de adaptar uma criança ou o período
que medeia entre a chegada da criança e a decisão judicial ou, ainda, o
número de anos de contacto entre a família e a criança.
Também as questões relacionadas com o diagnóstico de infertilidade do
casal ou associadas à resposta das famílias de origem se poderão revelar
importantes. Todavia e, apesar de todas as limitações desta investigação, é
de concluir que a tomada de decisão do casal de adoptar uma criança de
verá ser tão célere quanto possível. Do mesmo modo, o período que medeia
entre essa tomada de decisão e a chegada da criança deverá ser encurtado
• também o mais possível, já que se constitui como factor determinante para
os níveis de stress percepcionados pelos pais.
Por outro lado, os agentes envolvidos neste processo (desde candidatos
à adopção aos técnicos e serviços) devem ser sensibilizados para conside
rar as vantagens que, em certos casos e condições, a adopção de uma
criança mais velha implica. Todo o tempo e qualquer idade são bons para
amar e ser amado.
É claro que o modo como é preparado todo o processo de adopção é uma
questão muito importante e a ter em conta. Os serviços devem estar
preparados para trabalharem, nesta fase, com os casais e porventura com o
seu círculo de relações. Finalmente, com as famílias adoptivas deverá ser
desenvolvido um trabalho em ordem a flexibilizar a sua capacidade para
enfrentar os problemas e as diversas mudanças que vão ocorrendo ao longo
do seu percurso.
pelos laços biológicos e tendo Portugal uma lei da adopção das mais
avançadas da Europa, ainda subsistem muitas dificuldades, o que torna
estes processos morosos e difíceis. Esta morosidade parece ser, de algum
modo, responsável por algum stress e dificuldades sentidas pelos pais
adoptivos no exercício da sua parentalidade, pelo que deveriam ser desen
volvidas estratégias que tornassem aquele período o mais curto possível.
Não esqueçamos que pais e crianças experienciam um constante sofrimen
to...
Outro aspecto a assinalar prende-se com o facto de que, embora com as
suas especificidades e diferenças, o desenvolvimento do ciclo vital da
famíli� adoptiva é idêntico ao das famílias biológicas. Na adopção, a
parentalidade desenrola-se do mesmo modo que numa família não adopti
va, apesar das questões específicas do seu desenvolvimento. Questões
como a criação do sentimento de pertença, o exercício da autoridade ou o
acto da revelação são tarefas acrescidas nestas famílias. O processo de
adaptação mútua é fundamental para o seu sucesso.
Também através deste estudo empírico, pudemos concluir que o stress
implicado pela função parental na adopção segue, em paralelo, os resulta
dos obtidos pelos pais não adoptivos. Em relação ao ISP, tanto quanto é do
nosso conhecimento, nunca foi aplicado anteriormente a famílias com estas
características. No entanto, os resultados deixam-nos antever que a sua uti
lização poderá ser muito útil para o estudo da parentalidade nas famílias de
adopção, podendo ser utilizado como um meio para detectar e prevenir pos
síveis disfuncionalidades nesta nova forma de família.
Bibliografia
Anexo
ÍNDIC E DE STRESS PARENTAL (ISP)*
DOMÍNIO DA CRIANÇA
A - Distracção /Hiperacrividade
C-Humor
D - Aceitação
E - Maleabilidade
F - Exigência
43. Pense cuidadosamente e conte o número de coisas que ele/a faz e que o/a
aboITecem (por exemplo, fazer ronha... (1-3/.. ./IO ou mais).
44. Faz coisas que eu não suporto.
45. Tem tido mais problemas de saúde do que eu esperava.
46. À medida que vai crescendo e se vai tornando mais independente, sinto cada
vez mais receio de que ele/a possa meter-se em complicações ou aleijar-se.
47. Ele/a saiu-me um problema mais complicado do que eu esperava.
48. Parece mais difícil de cuidar do que a maior parte das crianças.
49. Anda sempre agaITado a mim.
50. Exige mais de mim do que as crianças costumam exigir dos pais.
G -Autonomia
H - Sentido de Competências
I - Vinculação
68. É-lhe fácil compreender o que ele/a deseja ou precisa? (muito fácil/... /geral
mente não consigo descobrir... )
69. Os pais demoram muito tempo até conseguirem sentir verdadeiramente amor
pelos filhos
70. Esperava ter mais afecto por ele/a do que realmente tenho e isso aborrece-me.
71. Às vezes faz coisas que me aborrecem, só por maldade.
72. Quando eu era mais novo/a não gostava muito de crianças.
73. Reconheceu-me desde muito cedo e teve uma preferência especial por mim.
74. Neste momento acho que tenho filhos a mais.
185
Adopção e Parentalidade
J - Restrições do Papel
75. Gasto as horas do meu dia a tratar das coisas para ele/a.
76. Para poder responder às suas necessidades acabo por me privar de ter a
minha própria vida.
77. Sinto-me limitado/a por causa das minhas responsabilidades como pai/mãe.
78. Sinto muitas vezes que as necessidades dele/a controlam a minha vida.
79. Desde que ele/a chegou a nossa casa [Desde que esta criança nasceu] nunca
�ais consegui fazer coisas novas e diferentes.
80. Desde que ele/a chegou a nossa casa [Desde que esta criança nasceu] sinto
que não posso fazer as coisas de que gosto.
81. Em casa é difícil encontrar um espaço só para mim.
L - Depressão
82. Quando penso no tipo de pai/mãe que sou sinto-me culpado/a e mal comigo
mesmo/a.
83. Acontece-me ir comprar roupa para mim e ficar descontente.
84. Quando ele/a se porta mal ou faz birra sinto-me responsável, é como se eu
não estivesse a agir correctamente.
85. Quando ele/a faz uma coisa errada, sinto realmente que a culpa é minha.
86. Sinto-me muitas vezes culpado com os sentimentos que tenho em relação a
ele/a.
87. Há bastantes coisas na minha vida que me aborrecem.
88. A seguir à chegada desta criança [A seguir ao nascimento] senti-me mais
triste e deprimido/a do que esperava.
89. Quando me zango com ele/a acabo sempre por me sentir culpado/a e isso
aborrece-me.
90. Depois da chegada [Depois do nascimento] desta criança senti-me, durante
algum tempo, mais triste e deprimido/a do que esperava.
186
Novas Formas de Família
91. Depois da chegada desta criança [Depois de ele/ela nascer], a minha mu
lher/marido não me deu tanta atenção e ajuda como eu esperava.
92. Ter filhos tem causado mais problemas do que esperava no relacionamento
com a minha mulher/marido.
93. Desde que os filhos apareceram, eu e a minha mulher/marido não fazemos
tanta coisa juntos como fazíamos.
94. Desde a chegada desta criança [Desde que ele/a nasceu] eu e a minha mu
lher/marido não estamos tanto tempo juntos em família, como eu esperava.
95. Desde a chegada desta criança [Desde que o meu último filho/a nasceu]
tenho tido menos interesse pelo sexo.
96. A vinda da criança [A vinda dos filhos) parece ter contribuído para aumen
tar o número de problemas que temos com os sogros e familiares.
97. Ter filhos tem saído muito mais dispendioso do que eu pensava.
N - Isolamento Social
O - Saúde Parental
104. Nos últimos tempos tenho estado mais em baixo ou com mais achaques do
que era costume
!05. Em geral sinto-me bem fisicamente
106. Com a chegada da criança [Com o nascimento dos meus filhos] mudaram
os meus hábitos de sono.
107. Não aprecio as coisas como dantes.
1-08. Desde que ele/a chegou a nossa casa [nasceu]: (tenho estado mais vezes
doente/.. ./ tenho sido mais saudável)
Este capítulo é uma síntese revista da Dissertação de Mestrado em Família e
Sistemas Sociais (ISMT) realizada por M. H. F. Silva, sob a orientação de A. P. Relvas,
intitulada Uniões de Facto versus Casamento. Análise comparativa da qualidade con•
jugal em casais heterossexuais (cf. Silva, 1999).
Após termos centralizado a nossa atenção em duas novas formas de
família "criadas" por meio de processos e mecanismos jurídico-legais
(famílias de acolhimento e famílias de adopção), viramo-nos, agora,
para outraforma familiar que, na sua génese, tem, aparentemente, o sig
nificado oposto, ou seja a desinstitucionalização dos laços e vínculos
afectivos. Falamos das uniões de facto.
Mesmo que hoje em dia, no nosso país, e à semelhança do que acontece
por essa Europa fora, as uniões de facto estejam juridicamente regula
mentadas, continuam a instalar-se como situações de facto, nascidas
fora de rituais e vínculos jurídicos. Estes transformam-se, assim, num
eventual ponto de chegada, não sendo nunca um ponto de partida, como
acontece nos tipos de família anteriores ou no caso da formação da
família tradicional.
Associadas às grandes transformações sociais da segunda metade do
século XX, bem como do próprio conceito de Amor - também hoje, e
particularmente a partir dos anos sessenta, supostamente assente nos
cânones da democracia-, as uniões de facto supõem a valorização ínti
ma dos laços conjugais, tal como a consagração da liberdade individual
e conjugal. Neste sentido, a sua bandeira é a recusa da formalização
legal da relação, a qual subentende mais algumas recusas: da rotina do
quotidiano conjugal, da relação submetida à norma da procriação como
seu último objectivo, dos papéis sociais de "marido" e "esposa", da
diferença entre sexos na relação, entre outras que poderíamos apontar.
Com ou sem "papéis" não deixam, contudo, de se constituir como
relações amorosas conjugais e, assim, também não podem deixar de
conter, em si mesmas, ou de se confrontar com toda a multidimensionali
dade e complexidade da conjugalidade.
do da sua chegada à cidade doze anos antes, falou assim sobre o casa
mento:
"Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor urna obrigação,
mas antes um mar vivo entre as praias das vossas almas.
Enchei cada um o copo do outro, mas não bebais por um só copo.
Partilhai o pão mas não comer a mesma fatia.
Cantai e dançai juntos, partilhai a alegria mas que permaneça cada
um sozinho, como estão sozinhas as cordas do alaúde enquanto
nelas vibra a mesma harmonia.
Dai os vossos corações mas não o deixai à guarda um do outro.
Porque só a mão da Vida os pode guardar.
Como falava ainda o Profeta, agora sobre o Amor, numa "voz forte e
firme(... ) - Quando o amor vos fizer sinal, segui-o, ainda que os seus ca
minhos sejam duros e difíceis" (Gibran, 1999, 10). Nesses caminhos
pr;ocurámos algumas direcções porque perante o Amor também surgem,
ainda 110 falar do Profeta, alguns desejos como este: "voltar a casa ao
crepúsculo com gratidão e adormecer tendo no coração uma prece pelo
bem-amado" (idem, 11 ).
Desde finais dos anos sessenta que a estrutura do casal se modificou
profundamente. O número de divórcios aumentou, o número de casamen
tos diminuiu, a união de facto generalizou-se, os nascimentos fora do casa
mento multiplicaram-se, bem como o número de famílias monoparentais e
pes�oas sós.
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
194
Novas Formas de Família
para menos de 15%, em 1991. Na faixa etária dos 25-29 anos, sobretudo nas
mulheres, o decréscimo é ainda mais notório, passando de 65% para menos
de 45%. Po1tugal não é excepção: em 1994, por cada cinco casamentos
havia um divórcio; de 1970 para 1991, a taxa de nupcialidade baixa de 7.4
para 7.3; mais recentemente, de todas as uniões conjugais, 3.88% são uniões
de facto e 16.29% são segundos casamentos (Nazareth, 1994; INE, 1996).
As formas alternativas de vida conjugal multiplicaram-se e afirmaram
-se. Passámos de uma sociedade regida por uma única norma (família fun
dada num casal/casamento estável) para uma multiplicidade de modelos
• conjugais e, consequentemente, para novas formas de família. O casal
tornou-se, pois, uma realidade menos institucionalizada e, consequente
mente, menos estável. Hoje em dia, as uniões livres e as mudanças de com
panheiro, outrora excepcionais, assumem carácter legítimo.
Cada um dos elementos que formam o par aspira "a uma vida íntima
cheia de compensações afectivas e sexuais" (Badinter, 1986, 330). "Pesada
carga a de ser ao mesmo tempo, para a pessoa com quem se partilha a vida,
o amante, o cônjuge, o amigo, o pai ou a mãe, o irmão ou a irmã, o confi
dente, o confessor" diz Béjin (1983, 180), referindo-se ao ideal contemporâ
neo da relação conjugal. De facto, o espaço da conjugalidade caracterizar-se
-á, cada vez mais, pelo grande investimento pessoal e social que suscita, sobre
o qual se gerarão elevados níveis de exigências e de expectativas (Badinter,
1986; Singly e Lemarchant, 1991; Kaufmann, 1993; Giddens 1994, 1995).
O destino da relação será, então, menos previsível e a sua continuidade
e gratificação tenderá a depender mais dos esforços conjugados do casal e
menos da pré-determinação e da imposição externa (Vicent,1991). Falar-se
-á mais de relações do que de casamentos, mais de companheiros do que
de amantes e de cônjuges (Badinter, 1986). Segundo Giddens (1995), o
conceito de relação, como significado de igualdade sexual e emocional e de
laço emocional contínuo com outrem, só recentemente entrou no uso cor
rente. Sob o imperativo da relação, sendo esta importante em si mesma,
fundamento e motivo de continuidade, estabelecer-se-á o que aquele autor
chama relação pura, traduzindo "uma situação em que uma relação social
foi assumida em si mesma, naquilo que pode resultar para uma pessoa da
relação com a outra e que dura apenas enquanto seja considerada por ambas
as partes como fonte de satisfação" (Giddens, 1995, 38). Competirá, pois,
à díade, a construção dos alicerces da relação, considerada "especial e
baseada na intimidade", em vez de atender aos apoios externos, sejam eles
a família alargada ou a normatividade social.
195
Casal, Casamento e União de Facto
A construção do "nós"
... quando o casal acontece estão três: como refere Caillé (1991, 13):
"cada um dos elementos e o seu modelo específico, o seu absoluto", enten
dendo por absoluto do casal a experiência relacional única, particular, onde
se inscrevem vivências e significações que se constroem no casal. Cada um
dos elementos traz consigo uma história e uma experiência diferente. Tais
diferenças só podem coexistir, no dizer de Caillé, se for possível a criação de
uma síntese, ou seja, a "reunião dos elementos psíquicos num todo estrutura
do, apresentando qualidades ou valores novos em relação aos elementos de
origem. Na ausência de um processo dialéctico, excluída a possibilidade de
uma síntese, a justaposição dos contrários resulta numa exclusão recíproca"
(Caillé, 1991, 105). O absoluto do casal é, pois, parte essencial da relação.
Também Gullota (1993) e Satir (1980) (in Narciso, 1994) se referem ao
casal afirmando que "em qualquer casal existem três partes, eu, tu e nós,
que se possibilitam e facilitam mutuamente" (idem,18). Segundo Satir é o
modo como estas três partes funcionam que possibilita a função do Amor.
Sem o nós referido por Satir, sem o absoluto de Caillé, isto é, sem a iden
tidade do próprio casal, as diferenças de cada um dos seus elementos tor
nam-se uma ameaça à identidade de cada um.
Deste modo, a identidade do casal implica que a relação seja sentida
como privilegiada, diferenciando-se das relações extra-familiares de cada
um dos elementos, permitindo, paralelamente, que no sistema intra-fami
liar se diferenciem um do outro. Ou seja, a identidade do casal só é possí
vel numa constante dinâmica entre pertença e individuação, dependência e
independência. A união conjugal será, pois, um processo que envolve duas
pessoas, procurando o equilíbrio entre proximidade e distância, entre dese
jo de pertença e de autonomia, equilíbrio esse que exige uma permanente
adaptação e mudança face ao outro (Whitaker, 1989, in Narciso, 1994).
Cada um dos elementos do casal é portador das cláusulas de um con
trato psicológico (Granger, 1980, in Narciso, 1994), resultantes da história
e cultura pessoais e de ideias pré-concebidas de cada um sobre a relação,
ou melhor, sobre o modo de estar na relação. São cláusulas que contem
plam a forma como pensam comportar-se e como querem que o outro se
comporte no casal. Uma vez que só muito improvavelmente tais contratos
psicológicos serão coincidentes, a continuidade da relação é possível se
aqueles derem lugar a um contrato de relação (idem, ibidem), baseado no
acordo e compromisso de ambos os elementos do casal sobre o modo de
198
Novas Formas de Família
' Rui Veloso/ Carlos T, A Paixão (Segundo Nicolau da Viola), Mingas e Samurais, 1990.
199
Casal, Casamento e União de Facto
As componentes do amor
'Como exemplo das mais conhecidas teorias do amor referem-se: os estilos de amor
de J. Lee (1988); os tipos de amor de Hatfield (1988); a teoria do amor triangular e os
200
Novas Formas de Família
Intimidade
Paixão Decisão/Compromisso
Narciso (1994, 38) afirma: "a paixão sentida varia na sua intensidade,
no modo como se manifesta, com a idade, com as experiências anteriores,
com o momento do ciclo de vida e com a história pessoal de cada um". E
a propósito, já não exclusivamente da paixão mas do amor, coloca, depois,
algumas interrogações: será que as componentes do amor conduzem a sig
nificações particulares em cada relação? Até que ponto são semelhantes
para os elementos do casal estas significações? A semelhança das signifi
cações será um factor de atracção? Terá influência na satisfação do casal?
São questões que não podem deixar de nos fazer reflectir sobre a cons
trução da relação amorosa e sobre o valor que nela assume a significação
individual e/ou co-construída.
Seja como for, a finalizar este ponto faz sentido citar Bárbara De
Angelis (1996), para quem o segredo do amor duradouro reside no traba
lho diário. Citando, por sua vez, o dramaturgo irlandês Samuel Becket
aquela autora afirma: "o amor é uma conta-corrente, a qual exige entrada�
constantes de capital para se poder receber juros, sob a forma de afecto. Se
deixarmos de depositar dinheiro num banco a conta congela, passando-se o
mesmo com o amor" (in Casal e Amor Guia, 1999).
tos do par. Pelo contrário, uma ligação "sem papéis" parece proporcio
nar-lhes realização e satisfação pessoal (gratificação no "aqui e agora"),
uma perspectiva anti-autoritária da conjugalidade e a igualdade dos sexos
na relação, reformulando papéis e responsabilidades tradicionais estereoti
padas.
O Par e os Outros
Características e Vicissitudes
Estabilidade Conjugal
Por outro lado, to.dos estes aspectos associam-se a outros factores como
a estabilidade ou o momento do ciclo de vida do casal, o que permite ima-
213
Casal, Casamento e União de Facto
'Segundo H. Fisher (1992) este tipo de amor opõe-se ao amor amizade ou com
panheiro e caracteriza-se pela presença da paixão, pressupondo uma intensa relação
apaixonada, um profundo envolvimento emocional, uma idealização do parceiro, uma
forte atracção sexual e admiração mútua. De notar que a expressão amor romântico
pode ter diferentes significações para outros autores, como por exemplo Giddens (1995)
ou Branden (1988) .
217
Casal, Casamento e União de Facto
Problema e Método
'Cada uma das dimensões é constituída por um conjunto de itens (10, à excepção
da EI com S itens). Pede-se a cada sujeito que avalie, através de uma escala Likert de
cinco pontos, o seu grau de acordo com cada um dos itens, enquanto descrição da sua
situação conjugal.
219
Casal, Casamento e União de Facto
Com efeito, sabíamos teoricamente que estas poderiam ser algumas das
variáveis, intrínsecas e extrínsecas, potencialmente interferentes nos resul
tados obtidos através da ENRICH e que, como tal, deveriam ser conside
radas e, de algum modo, controladas.
'Este trabalho foi feito em colaboração com E. Marques, investigador que utilizou
o mesmo instrumento no estudo conducente à sua dissertação de Mestrado (Marques,
2000).
• Para uma análise mais detalhada do estudo empírico da escala efectuado neste tra
balho, consultar Silva (1999).
222
Novas Formas de Família
Recolha da Amostra
Independência
Financeira
sim 68 89.5 36 47.4 32 42 1 11.",,
não 8 10.5 4 5.3 4 5.3
Os sujeitos têm uma média de idades à volta dos 34 anos, são maiori
tariamente do sexo feminino, embora haja uma percentagem relevante de
inquiridos do sexo masculino. O nível de habilitações literárias mais fre
quente é o secundário, seguido do superior, este mais representado na nossa
amostra do que o obrigatório; as profissões dos sujeitos situam-se, maio
ritária e respectivamente, nos serviços administrativos ou profissões simi
lares e áreas técnico-científicas; os inquiridos são, na sua grande maioria,
independentes financeiramente em relação ao cônjuge. Estamos, portanto,
pelante uma amostra, em média, relativamente jovem e de classe
média/média-alta, o que se enquadra na definição de união de facto pro
posta por Bawin-Legros (1992).
sm,ação ConJuJlai
L'nilloti,fa,;w 40 su; 40 52.6 ••
e�� Jfi 4h4 J§ 41.4
fllstória O>'l)u�al
uniã<>- defoeto 29 40·3 '1:1 7-lJ 2 5,9
ca""""""' 29 40.3 o o.o 29 853
tca,,+,Ju.!o,;;u., H ISJ JO 16.3 2.9 0.001
lcM +lu. f<lOll:l M 2.6 o o.o
u o
ºº
2u.fucto+lco.. 00 29
l\!d!ls!!'t1� u !1
Número de Olhos
�mÍl.lhos 49 65.3 27 675 n 628
o.1mumfüho 12 16.0 7 17 5 14.3 us
com dq1s filhos 14 187 6 150 22.9
Coa�o
pc:m1.mentc 64 �li 35 897 29 90.6 R4,
li;;�g�!!Jr 7 � 1 � 3 M
Religião
Catllhcn 55 73.3 25 641 30 83.3 005
Agnóstico 20 26.7 14 35.9 6 16.7
226
Novas Formas de Família
.
Valores da Qualidade Conjugal e Respectivas Dimensões: ENRICH
45 .---------,o;=====:::--i
40
35 �---.,e_,"-------<
30 t---;;ni,e._;�::::;,!::4;:----j--=-,.,--'
25
20
15 +----------�c--.,,P!!-'.,:__-_.:,t----4
10�-------�----=-------I
5 �------------------""
0-1----------------------
Gráfico 1
227
Casal, Casamento e União de Facto
I
DIMENSÕES Uniões de Facto Casados
1
.. médíu b.í>. 1-11.édin ê.P.
Satisfação Conjugal (E2) 22.9 5.14 23.5 4.1
A•ctoS>da P-er-s<maíidade (ll,3') 2'4.4 ?.l 1 i,1 6."t
tí m 1 ãf a
liesolução de Conflitos (S-5) !-5.4 59 1 26.7 5.8
Administrnção Financeirn (E6) 28.8 6.7 30 5.9
1
AisúvJ(Íades de.Lazer (4t'i) 20.4 5.5 l 1;1.4 4.3
Filhos e Casamento (E9) 12.7 li 12.3 11.9
1
Famiila,e Amlgos,@il•&) !•fü9 4,4
l ,u 3.64
Igualdade de Papéis (EI J) 24.I 5.1 1
25.3 4.6
Ôrientaçi1o Religiosa (E lÍJ l'S.5 6.8 1 k8.1 6.6
1
J
Nota: o sombreado destaca as dimensões cujas médias, obtidas pelas duas amostras, se diferen
ciam significativamente.
Dimensões
/ Ens. Obrigatório Aspectos de Personalidade (E3)
Nível de Escolaridade / Ens. Obngatório Comunicação (E4)
/ Ens. Superior Actividades de Lazer (E7)
/ Ens. Superior Filhos e Casamento (E9)
Nclmero de Piihos Filh� é'.:asamento-(E9)
Duração da Relação / 4-6 anos de relação Comunicação (E4)
ConJugal / 1-3, 4-6 e 7-9 anos de Filhos e Casamento (E9)
relação
Nota: na coluna do meio indicam-se as categorias das variáveis demográficas que fazem variar sig
nificativamente os valores das escalas; destacam-se a sombreado as que apresentam médias mais
elevadas nas dimensões da ENRICH que lhes correspondem na última coluna.
Optámos por fazer estes estudos com os dados da amostra total, uma vez que as
11
duas amostras, como seria previsível no que se refere a este tipo de variáveis, só variam
significativamente em função das variáveis Estado Civil e História Conjugal.
"Mann-Whitney U para as variáveis: sexo, situação conjugal, adopção do nome do
cônjuge, religião, coabitação, doença crónica de um cônjuge e independência financeira;
Tukey HSD para as variáveis: nível de escolaridade, estado civil, número de filhos.
duração da relação conjugal e história conjugal; Unequal NHSD para a variável profissão.
229
Casal, Casamento e União de Facto
" As médias (E4) encontradas foram as seguintes: 1-3 anos/m.= 40; 4-6
anos/m.=32.6; 7-9 anos/m. =37.2 e 10 anos ou mais/m. = 35.7.
230
Novas Formas de Família
Nota: o sinal entre parêntesis refere-se ao valor de B, ou seja, indica o senti do da correlação.
Nota: o sinal entre parêntesis refere-se ao valor de B, ou seja, indica o sentido da correlação.
232
Novas Formas de Família
" Esta leitura, referente ao grau de influência, repo11a-se aos valores de R' das
equações de regressão que, como é sabido, nos indicam a percentagem em que a variável
independente prediz a variável dependente, mantendo constantes as restantes condições.
233
Casal, Casamento e União de Facto
E2 .843 • .132
E3 .800 • ·.102
E4 .889 * .112
E5 .861 • .109
E6 .827 * ·.235
E7 .788 * .192
E9 -.244 -.320
El0 .820 * -.075
Elt .245 -.878 •
E12 . 0431 .759 •
Pfli 'rotai .498 .tf>O
\4ariãncia Bxpl. 4.o/84 1.560
Conclusões
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Este capítulo é uma síntese revista da Dissertação de Mestrado em Famílias e
Sistemas Sociais (ISMT) realizada por Carlota M. R. Pessoa Vaz, sob a orientação de
A. P. Relvas, intitulada Uma Família à Parte ou Parte de uma Família? Estudo
Psicossociológico sobre a Família de Educador Único (cf. Vaz, 1999).
A concluir o caminho que encetámos à descoberta de diferentes formas
de família, nomeadamente no que se refere às suas especificidades, cen
tramo-nos numa estrutura familiar que, contrariamente às anteriores,
não é criada a partir da junção de novos elementos, uma vez que, em
regra, se constitui a partir de rupturas conjugais. Falamos das famílias
monoparentais ou de educador único.
A elevada complexidade da definição desta forma de família é marca
da quer pela existência de diferentes subformas que nela se enquadram
(como as famílias pós-divórcio, com educador viúvo(a) ou com proge
nitor solteiro) quer pela confusão conceptual que envolve as noções
que se lhe associam (como parenta/idade, co-parentalidade, bi-pa
rentalidade, função maternal/paternal, entre outras). Seja comofor, em
termos estruturais, a definição de monoparentalidade contém, implíci
ta, a ideia da conjugalidade desfeita ou nunca existente; em termos
funcionais, o exercício solitário das funções parentais, nomeadamente
educativas, é a referência mais constante. Este último aspecto justifi
ca, aliás, a designação alternativa proposta de início - famflia de edu
cador único.
Neste contexto, e com todas as limitações inerentes à proposta de
definições simples e descritivas para situações complexas, consideramos
que à forma de família que nos propusemos estudar correspondem os
lares onde os filhos vivem com um dos progenitores, o qual não mantém
uma relação conjugal em termos de coabitação permanente, indepen
dentemente das razões que conduziram a essa situação. Esta definição
permite "pôr o dedo na ferida" da sua especificidade enquanto família,
tal como a abordámos na investigação que conduzimos: a "solidão"
parental de um progenitor.
248
Novas Formas de Família
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
252
Novas Formas de Família
' Esta opção por uma revisão da literatura preferencialmente centrada na análise
sociológica da monoparentalidade não exclui o interesse e complementaridade de ou
tras leituras, nomeadamente de carácter mais psicológico. Nesse sentido, e até como
clarificação de alguns temas e conceitos mencionados no texto introdutório do capítulo,
recomenda-se a consulta de Carter, McGoldrick et al., 1995, (Capítulos 15, 16 e 17),
enquanto obra de base, e de Alarcão, 2000 (Capítulo 2, 6.2), enquanto obra de síntese.
253
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
'A este respeito existem vários estudos denominados "estudos do género", onde se
constatam assimetrias· entre o homem e a mulher em vários domínios sociais, nomeada
mente no mundo do trabalho. Para maior aprofundamento do tema consultar Amâncio
(1994).
259
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
Este estudo, com carácter exploratório, não sendo por isso representati
vo da realidade em causa, dá-nos algumas pistas de trabalho para a análise
dos papéis e funções do homem e da mulher na farru1ia actual. Os dados
que analisámos revelam que as famílias da classe média urbana apresentam
algumas mudanças, relativamente à família tradicional, nomeadamente nos
valores e nos papéis do homem e da mulher. O facto de a mulher do meio
urbano trabalhar, exercendo funções na esfera pública, permite-lhe obter
uma maior independência económica, um maior poder nas decisões fami
liares e, também, uma maior autonomia relacional perante o homem. Deste
processo resulta um acréscimo de tensões e indefinições nos papéis e
funções do homem e da mulher na família (Vaz, 1995). Resulta, ainda,
alguma fundamentação para a ideia de que, em determinados contextos
familiares, dos quais a classe média urbana parece ser o exemplo prototípi
co, a biparentalidade é, de facto, uma "quase" monoparentalidade exercida
pela mulher.
Portanto, cada vez é maior o número de casais com filhos que se divor
ciam, sendo certo que muitos destes indivíduos não se casam de novo.
Durante algum tempo, os casais hesitavam diante da separação, em parte
devido às dificuldades económicas das mulheres que não trabalhavam mas
também atendendo aos valores sociais que ainda excluíam os divorciados,
bem como por causa dos filhos. A partir dos anos 60, como vimos, valores
como a autonomia, tolerância, felicidade conjugal e independência, insta
laram-se na nossa sociedade, permitindo, pouco a pouco, uma maior
aceitação social dos divorciados, bem como de outras formas de
coabitação. Como consequência, nas últimas décadas assistiu-se a uma
inversão da forma como a parentalidade era exercida, passando a ser defini
da segundo o eixo mãe/filhos, dependendo dela as relações que os filhos
têm, ou não, com o pai biológico (Sullerot, 1993). A realidade, do ponto de
vista das crianças, é que cada vez são menos as que vivem com os seus dois
pais biológicos, vivendo apenas com um deles, habitualmente a mãe, ou em
situações de um novo casamento de um dos pais.
-se os tempos que passam em casa com os filhos, que dedicam às tarefas
domésticas, aos cuidados com as crianças e ao acompanhamento dos tra
balhos escolares.
As famílias da actualidade revelam, no nosso entender, algumas ten
sões nos papéis parentais, em parte devido a alguns dos aspectos ante
riormente referidos mas, sobretudo, pelo facto de necessitarem, no seu
dia-a-dia, de acompanhar o ritmo de vida actual mais acelerado e com
mais exigências, desempenhando uma enorme quantidade de tarefas e
funções, correndo constantemente de um lado para o outro para poderem
"estar" sempre presentes e resolverem um grande número de problemas e
situações.
Os ciclos de vida, com as habituais passagens por diversas fases evolu
tivas, sofreram uma reformulação que passa, também, pelos actuais proces
sos de autonomização dos jovens. Sabemos que as questões que se colocam
aos jovens são diferentes das que as crianças sentem, nomeadamente no
que diz respeito aos processos de identificação. Na fase da adolescência,
inicia-se um processo de autonomização dos jovens relativamente aos seus
pais, sendo esse processo reforçado pelo grupo de amigos que vem com
plementar ou substituir, em grande parte, as referências parentais
(Figueiredo, 1985; Sampaio, 1989; ReJvas, 1996). O modelo de família
patriarcal, como nos referem diversos autores, não permitiria o processo de
autonomização dos jovens da forma como hoje acontece. Embora os jovens
que cresceram sob a influência desse modelo constituíssem, também, as
suas próprias famílias, não lhes era permitida uma autonomização em
relação às referências parentais, nem em termos psicológicos nem rela
cionais, devido à maneira como a autoridade do Pai era exercida, tendo um
carácter de donúnio sobre toda a família (Le Play, 1947; Malpique, 1990).
Pensamos que os actuais processos de identificação e autonomização são
mais diversificados e mais subtis, podendo coexistir diversas formas pos
síveis de identificação dos jovens e das crianças com as figuras parentais,
com os amigos ou mesmo com os tios e os avós e o exterior da família.
Os processos de identificação psicossocial são, em grande parte, in
fluenciados pelas pressões sociais, ambientais, da cultura e de vários
processos sociais. Neste âmbito, um dos processos sociais consiste no facto
de se valorizarem, actualmente, questões como as que atrás apresentámos.
Por outi:o lado, desde há algumas décadas, as ciências sociais e humanas
têm tido um papel muito importante neste questionamento do homem e das
sociedades, através do desenvolvimento de um procedimento científico
264
Novas Formas de Família
Parentalidade e Co-Parentalidade
Metodologia e Objectivos
OBJECTIVO
1
Questionário
1
Representações Satisfação
1
Recursos
1
Índice de Stress
Sociais (ERSM) Familiar Familiares Parental {ISP)
Variáveis: Vaz & Relvas, 1999 (Olsop et ai., 1982) (Olson n ai., 1982) (Santos, 1990)
1) Demográficas Dimensões: Dorrúnios:
2) Associadas à Exigência Coesão Orgulho 1) Da criança
monoparentalidade Dificuldades Adaptabilidade Entendimento 2) Dos pais
Características da Amostra
�
Sexo Masculino 6.6
Feminino 93.4
Mínimo-20A
Máximo - 53 A
Mécji� - �9.03 Ai D, :e.=�,68
Solteiro
Estado civil Viúvo
Divorciado
Conjugalidade não coabitante
1 filho
2 filhos
�2 fl!hos _______
Mínimo-2 A
Idade dos filhos Máximo-23 A
· + Ã1ho + omros famti1ares
Pai +Filho
Agregado familíar Mãe+ 1 F.dho
Mãe + 2 Blhos ou mai'S
� + fiJhQ§ + OQ(JqÜ@'!Jfiar�
< 35horas 27.6
Número de horas de trabalho/ semana 35-44 horas 58.6
> 44 horas 13.8
Alta '43.b
Classe social Média 27.0
l;laj� )CM�
l º CEB 13.3
2º CEB 13.3
Nível de escolaridade 3º CEB 16.7
Ensino secundário 26.7
Ensino Superior 30.0
273
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
Mínimo-3 A
Número de anos de monoparentalidade Máximo-22 A
Moda-6 (3 A)
Média - 6 A; D. P.=4.23
· Si:gniiÍcação da situaçoode · Õpção 48.3
mpnop��nU\fidac;!e Fatal)dade ?l.7
Número de vezes em situação de Primeira vez 90.0
monoparental idade Segunda vez !O.O
Reiação afectiva estávet do inquirido Sim 20.0
))ijij9 &0,0
Situação económica Favorâvel 58.6
Desfavorável 41.4
274
Novas Formas de Família
10 ■ Aceitação Social
UVtda Socia!
2$ ■ Kal:litação
n Ausência comp
li Educação lilhos
H Económicas
15
n Rec:Uf'So a outros
10 li Gestão qtolidiano
n Trabalhc)'Famflia
5 • Ta-npo livre
o Ausência 00 pai
o
'Nestas questões pedíamos aos inquiridos que inventariassem, no máximo, três difi
culdades e três facilidades decorrentes da sua situação de monoparentalidade.
275
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
35 ■ Decidir melhor
30
O Bem-estar filhos
25
li Ajustamento
20 horários
10 a Mais estabilidade
educação filhos
5 151 Independência/
o --.- Autonomia
' Não foi possível identificar, com rigor, o sentido destas variâncias, pois não se
obtiveram os testes post-hoc, uma vez que existem categorias com n= 1.
276
Novas Formas de Família
Número
f11_u1tqi: Í·- w..�ruut� Saturação
Descrição do item
do item do jt�m
j As truntlias monopareutais têm mais dilieuldãdes em
ei:ins.e:guif ter um desenv.otwmentoemooloo:ai equilfumoo ,86
r
4 As famílias monoparentais têm mais dificuldades no seu dia .75
-a-dia
3
ÍÉ mais impprtante a maneira somo o educador únfoo vtve a
*l!'Fº, �o qy, a a�4nejq qq-911t,�HJ�Cl}dOr
O Pai ou a Mãe que está ausente geralmente não participa na
-�
.49
educação dos filhos
7 , Ôs fiffnm dest{IS fàmifias têm menor rendimento �iar .41
A família monoparental é frequentemente vista pela sociedade .32
de modo desfavorável
Dinâmica Familiar
Adaptabilidade 10 16.20
35
25 3.64
:J
'º Tal como aconteceu relativamente às outras escalas utilizadas nesta investigação,
abstemo-nos de detalhar aqui as características do ISP, uma vez que foram devidamente
referidas no Capítulo 3. Recomenda-se, nomeadamente, a consulta do Anexo aí incluí
do, onde se apresenta a descrição de todos os itens, por subescala e domínio.
" Neste estudo, como é óbvio, não considerámos a subescala "Relação Marido
-Mulher" uma vez que nos centrámos em famílias monoparentais e que a existência de
par conjugal/parental foi critério de exclusão da amostra.
283
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
� - �e{9t�llf1t�� ).i7
Donúnio
C - J{umor 5 p7 15 2.65
da
criança
i· �t;� n IP,$ç }i t>O
E - Maleabilidade 16 27.46 38 5.92
1.9-�W�IW'�
" Este procedimento revelou-se necessário, uma vez que as subescalas variam em
termos do número de itens que as compõem.
284
Novas Formas de Família
FocJ
�
A B C D .E F G H I J L N O
" Note-se, como é visível nos exemplos, que os itens do ISP são formulados quer
em sentido directo (Likert 1, 2, 3, 4, 5) quer em sentido invertido (Likert 5, 4, 3, 2, 1).
285
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de uma Família?
e de culpa [exemplos - (J) item 75: "gasto as horas do meu dia a tratar das
coisas para ele/a"; item 77: "sinto-me limitado por causa das minhas
responsabilidades como pai/mãe". (L) item 85: "quando ele/a faz alguma
coisa errada, sinto realmente que a culpa é minha"; item 82: "quando penso
no tipo de pai/mãe que sou, muitas vezes sinto-me culpado/e e mal comigo
mesmo/a"].
Contudo, é importante notar que as áreas da função parental que menos
stress potenciam se referem ao sentimento de recompensa (afectivo e rela
cional) pelo esforço desenvolvido, bem como ao apoio da rede social
[exemplos - (B) item 10: "em geral sinto que gosta de mim"; item 13:
"quando trato das coisas para ele/a tenho a sensação de que o meu esforço
não é muito apreciado". (N) item 102: "quando tenho algum problema
com os meus filhos, conto sempre com alguém para pedir ajuda ou con
selho"].
- arrostra de
adaptação
-arrostra fam
rronoparentais
A 8 O & E F 0 H I J L N O
Virt4>vds &1!.1ª T r
Nível de Escolaridade - .578 -3.683 .001
VimtiY� 1 ilt3 T f
Nível de Escolaridade - .541 -3.346 .002
tivas. As tabelas com a indicação dos valores e níveis de significãncia de todas as cor
relações podem ser consultadas em Vaz, 1999.
291
Monoparentalidade: Uma Família à Parte ou Parte de um;r-Fainília?
Nota Final
Por outro lado, e para terminar, os nossos sujeitos ainda nos ensinaram
aquilo que teoricamente sabemos mas muitas vezes esquecemos (talvez até
no desenho desta investigação... ): a fanúlia monoparental, como a família
em geral, não pode ser pensada como um "bloco uniforme e monolítico".
Considerando as suas características sócio-demográficas, os nossos
sujeitos, na sua quase totalidade mulheres, distribuem-se em dois grupos,
mães solteiras e mulheres divorciadas (ou viúvas), que parecem vivenciar
a monoparentalidade de modos distintos - quem sabe? - logo desde a
origem da situação. Em estudos posteriores este aspecto poderá ser consi
derado, ajudando a conhecer as diferentes situações que se enquadram
nesta designação mais lata e que, como tal, exigem uma atenção e reflexão
também elas diversas.
Bibliografia
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Capítulo 6
A Mulher na F�Oia: "Em torno dela"
Posto isto, conhecê-las, bem como aos processos que no seu seio se
desenrolam, faz todo o sentido. Com esse objectivo, desenvolvemos a
303
A Mulher na Família: "Em torno dela"
Ana Paula Relvas e Madalena Alarcão (Coords.) (2002). Novas Formas de Família.
Coimbra, Quarteto Editora.
306
Novas Formas de Família
Não parece haver muitas dúvidas que o modo como, hoje em dia, se
entende o papel da mulher na família (e na sociedade) está fortemente asso
ciado às transformações ocorridas nos paradigmas de ciência, particular
mente nas ciências sociais. A complexidade impôs-se à linearidade, o mul
tiversus ao universus, o construído ao descoberto, a auto-referência à neu
tralidade, a história ao aqui e agora, o qualitativo ao quantitativo, a pers
pectiva contextual ao individualismo, a intersubjectividade à objectividade,
307
A Mulher na Família: "Em torno dela"
' Os autores que vimos seguindo (Fuster e Ochoa, 2000) apresentam estas duas
grandes antinomias enquanto paradigmas enquadradores dos estudos sobre a família.
Segundo eles, em termos ontológicos, a visão nominalista, que situa a realidade social
no indivíduo e na sua intencionalidade enquanto actor social, é congruente com o
reducionismo, que propõe que a realidade é melhor compreendida quando se decompõe
nas suas partes constituintes (também designado, por outros autores, como abordagem
analítica; Rosnay, 1977). À visão nominalista opõe-se o realismo social, segundo o qual
as unidades colectivas não podem ser totalmente explicadas em termos das propriedades
dos indivíduos, considerando a emergência das suas inter-relações como algo novo.
Esta visão é congruente com o holismo (designada por outros autores por abordagem
sistémica; idem) que se opõe ao reducionismo ao postular que a realidade é melhor com
preendida a partir das inter-relações entre as suas partes constituintes.
Em termos epistemológicos, a segunda antinomia opõe a visão positivista, que con
sidera a natureza objectiva do seu objecto de estudo, ou seja, da realidade social, à visão
pós-positivista, que supõe a natureza subjectiva do mesmo, enquadrando os movimen
tos construtivistas e o construcionismo social.
309
A Mulher na Família: "Em torno dela"
O construcionismo social
As abordagens feministas
para os anos 903, conclui que as gerações mais novas têm posições mais
conservadoras do que os seus próprios pais em relação a questões como o
casamento, a sexualidade pré-nupcial, o papel da mulher na família, nomea
damente no que se refere ao direito de acesso ao trabalho "durante toda a
vida", ou mesmo a valorização da famflia. Não poderemos, portanto, apon
tar maior validade a uma ou outra hipótese, sendo certo que até se podem
articular: o casamento; ao ter hoje um significado diferente, pode reverter
-se num novo valor, só aparentemente mais tradicional.
Um outro aspecto evidente no estudo apresentado no capítulo 4 é o
reduzido número de filhos dos sujeitos em união de facto. Isto aponta para
dois outros aspectos relevantes: o planeamento familiar e o decréscimo da
taxa de natalidade. Com efeito, a invenção química da pílula anticoncep
cional, em 1950, é um importante contributo para a emancipação da mu
lher em termos sexuais e, por consequência, a diversos níveis familiares e
sociais. Pese embora a posição contrária da Igreja Católica, dominante em
muitos países ocidentais como é o caso em Portugal, ter filhos ou não, pla
nificar o timming do seu nascimento e o seu número passou a ser uma
decisão do casal e, em última análise, da mulher.
Mas o contributo da ciência para todas estas transformações não se fica
por aí: os avanços na medicina e na genética, desde situações como a pos
sibilidade de mudança de sexo, até à reprodução medicamente assistida, à
possibilidade de recurso a bancos de esperma, ao diagnóstico precoce de
algumas anomalias ou perturbações e mesmo ao facto, hoje banalíssimo, da
identificação do sexo do bebé muito antes do seu nascimento, mudaram
radicalmente "a ordem natural" de um conjunto de vínculos e significados
relacionais.
Poderíamos começar por afirmar que este é, afinal, o tema de todo este
livro. Que sentido faz, então, a presente abordagem? Ainda numa perspec
tiva sistémica, diríamos que, precisamente por isso, se torna importante
articular num todo coerente o que, capítulo a capítulo, fomos reflectindo.
Começaremos, então, por falar da falência do modelo das "duas formas
de farru1ia" como referência estrutural da Família. A família extensa (várias
gerações vivendo sob o mesmo tecto) e a farru1ia nuclear intacta (pai, mãe
e filhos) constituem-se, ainda hoje, como um protótipo. Um protótipo e um
"mito" que, tal como assinala R. Barthes (1976), "transforma um sentido
em forma" (idem, 271), tendo por "missão fundar uma intenção histórica
enquanto natureza, uma contingência enquanto eternidade" (idem, 282).
Como tal, para subsistir, "o mito transforma a história em natureza" (idem,
272). Assim, esse modelo permanece, apesar da "invalidação" do seu con
teúdo face às transformações entretanto ocorridas, o que, evidentemente, o
reforça como mito.
Salvador Minuchin (1991) fala-nos da importância dessa permanência
na vivência das estruturas familiares diferentes das tais "duas formas de
farru1ia". Chama também a atenção para a necessidade de que todos - estu
diosos, terapeutas e farru1ias - a ultrapassemos. Assim,já em 1984, afirma
va: "As novas famílias sentem o fantasma das velhas estruturas como os
amputados experimentam os seus membros fantasmas." (Minuchin, 1991,
35). E, um pouco mais à frente, clarifica ainda melhor o seu pensamento,
quando refere que a maior parte dos indivíduos "considera a família nuclear
intacta como a norma a qual, automaticamente, faz considerar todas as ou
tras formas como 'incorrectas'. Mas a história avança. Parece-me que em
vez de obsessivamente procurarmos manter a 'normalidade' da família
319
A Mulher na Família: "Em torno dela"
hipótese de que este último aspecto se prenda com os dados anteriores re
ferentes à predominância das mulheres nas famílias de educador único.
Sej� como for, a eventual existência de filhos de anteriores casamentos, de
um ou outro cônjuge, bem como o aparecimento de filhos do novo·casal,
implicam grandes ajustes na parentalidade que exigem, prin íp:rl!J;rente,
tempo e flexibilidade. Por outro lado, neste sentido, o reajusta ento de li
�
mites com o ex-cônjuge e com as famílias de origem e alargada, omeada
mente. com as famílias por afinidade, constitui-se uma tarefa elevante,
muitas vezes particularmente acometida à mulher, atendendo, nomeada
mente, ao seu pape) ainda dominante na "esfera privada" e à sua especifi
cidade em· termos de competências relacionais (Gilligan, 1982; Carter,
McGoldrick et al., 1995).
Embora o núcleo familiar actualmente mais representado seja a família
com· dois elementos, a todas estas estruturas familiares acrescenta-se o
incremento estatístico das famílias de elemento único, particularmente fe
minino, o que se prende fundamentalmente com o celibato por opção e com
o aumento da esperança de vida. Este dado liga-se, ainda, com o aumento
da designada ''conjugalidade não coabítante", ou seja, com ·os indivíduos,
quer de um sexo quer de outro, que, embora vivendo sós, declaram manter
uma ·relação afectiva estável.
1:, 'Para um apr.ofundamento global e mais completo do•ciclo vital da fanu1ia, consul�
' O "ninho vazio" corresponde, nas classificações clássicas do ciclo vital familiar, à
etapa de saída dos filhos de casa e a uma nova centralização da família nuclear na con
jugalidade.
323
A Mulher na Família: "Em torno dela"
Ví.
e1amos, entao, etapa a etapa, como se expressam e concretizam estas
transformações.
Elas começam por emergir, desde logo, numa primeira fase nem sempre
considerada pelos estudiosos do ciclo de vida da família. Referimo-nos à
etapa jovem adulto entre famílias (idem), caracterizada pela aceitação da
autonomia emocional e financeira do jovem adulto, quer por si próprio quer
por parte da família de origem. Implicando, igualmente, o desenvolvimen
to de relações íntimas com um parceiro e o estabelecimento de uma identi
dade no mundo laboral, é também, agora, vivida em pleno pelas mulheres,
facto que não acontecia até há poucas décadas atrás. Associada, como é evi
dente, tanto ao aumento das suas qualificações académicas como à abertu
ra que lhes é proporcionada no sentido de uma participação efectiva no
mundo do trabalho, é uma etapa totalmente nova para as mulheres - e para
as famílias com filhas - na medida em que, anteriormente, a via de eman
cipação da jovem em relação à sua família de origem era, basicamente, o
casamento. Caricaturalmente, podemos dizer que ela deixava de estar a
cargo do primeiro homem da sua vida, o pai, para passar para o âmbito da
responsabilidade do segundo, ou seja, do marido. Hoje em dia, é de todo
razoável para a jovem e sua família que só depois de completada a for
mação académica, indispensável à sua autonomia e independência laboral
e financeira, surja a "formalização" de uma relação afectiva conducente ao
assumir da conjugalidade. Assim, frequentes vezes, a jovem "sai de casa
dos pais" para a sua própria casa, o que implica que seguidamente vá para
casa do casal e já não "para casa do marido".
O necessário diferimento no tempo relativamente à formação do casal,
implicado pelo assumir desta etapa pela mulher e pela família, facilita a
vivência de relações de intimidade prévias à definição de uma relação con
jugal com carácter mais formal e socialmente reconhecido. Deste modo,
pode considerar-se que, nalguns casos, surge uma nova etapa antes da for
mação do casal, designada por Bawin-Legros (1992) coabitação ou união
pré-nupcial e cuja formalização depende da continuidade do envolvimento
sentimental do par ou da melhoria das condições profissionais por parte de
um dos parceiros (como aliás já tivemos oportunidade de referir no
Capítulo 4).
'-
pela assunção de um compromisso conjugal por parte de dois indivíduos
que pretendem dar início a nova famflia nuclear, podemos começar por
referir que na actualidade se inicia, em média, mais tardiamente. Com
efeito, a idade média do primeiro casamento aumentou para ambos os sexos
e nomeadamente para a mulher - no nosso país, e de acordo com os dados
disponíveis, em 1993 situava-se, sensivelmente, nos '24 anos9 • Por outro
lado, a redução da taxa de nupcialidade, proporcional na mulher à maior
formação e maior salário, expressa-se, como vimos anteriormente, no
aumento da taxa dos casamentos de facto (3.88% de todas as uniões em
1991). Finalmente, nesta primeira etapa e no que se refere à organização do
subsistema conjugal, é de salientar a transformação dos padrões conjugais
que tivemos oportunidade de aprofundar no capítulo referente ao estudo
das uniões de facto. Este dado foi confirmado num estudo realizado em
indivíduos casados, nomeadamente no que se reporta aos aspectos rela
cionados com a igualdade de papéis no casamento, sendo de -salientar que
as mulheres se diferenciam significativamente dos homens nesta questão,
defendendo valores mais igualitários· e uma maior partilha de papéis na
relação (Marques, 2000). Vem também a propósito notar que no inquérito
de 1996, do já citado estudo sobre v.alores nos anos 80-90 (Figueiredo,
2001}, a primeira opção quanto aos objectivos do casamento passou a ser,
quer para os jovens quer para os pais, o "auxílio mútuo entre os esposos",
substituindo, enquanto item mais escolhido dez anos antes, a "realização
humana para os cônjuges".
' Todos os dados demográficos apresentados neste ponto são referentes a Portugal e
retirados das seguintes fontes: INE - Censos 91; Estudos Demográficos 1993 e 1998.
325
A Mulher na Família: "Em torno dela"
como, pelo menos por parte destes protagonistas da relação, surge o desejo
e a necessidade de inve�er, "por dentro da famflia", esta situação.
Apesar disso, os dados de que .vamos dispondo mostram que não se afir
mou, ainda, uma correlativa transformação no que diz respeito ao papel da
mulher na farru1ia: a mãe continua a ser a "cuidadora" e, em última análise,
a primeira responsável pelo desenvolvimento dos filhos. Mesmo quando há
partilha de tarefas com o pai, com frequência o seu significado é redutora
mente comportamental ou encarado como uma "ajuda"'º. Por outro lado,
tudo isto interfere com a já "esperável" diminuição da satisfação conjugal
associada a esta fase do ciclo de vida da farru1ia, que referimos quando
focámos o modelo de sátisfação conjugal em U", e que pode ajudar a perce
ber as elevadas taxas de divórcio que se observam neste período. É, então,
frequente observarmos nesta etapa rupturas familiares, com a emergência
das consequentes novas formas de família que implicam o início de novos
ciclos familiares'\ muitas vezes perturbados na sua evolução pela culpabi
lidade dos pais, associada à incapacidade de resolução emocional e/ou
comportamental de conflitos.
Todas estas novas dificuldades na ultrapassagem desta fase são
agudizadas pela pressão que a sociedade coloca sobre os pais, e particular
mente sobre as mães, expressas nas exigências do exercício de uma boa
parentalidade e nas regras que a definem. Sublinhemos, a propósito, a
responsabilidade da psicologia e da sua divulgação na construção desta
pressionante representação social da função parental, e particularmente
maternal, actuante mesmo antes do nascimento da criança. Não surpreende,
portanto, o sucesso das chamadas "escolas de pais" ou dos cursos para pais,
aos quais os indivíduos recorrem na ânsia de "aprenderem" a bem desem
penhar a sua tarefa de pais e educadores. Estes aspectos são de tal modo
'º É interessante notar que uma sondagem SIC/Visão de 1998, sobre a divisão das
tarefas domésticas entre homem e mulher, registou os seguintes resultados: executadas,
exclusivamente, pela mulher 67%, pelo homem 3% e pelo casal 25%; no que se refere
ao "cuidar dos filhos", a distribuição é mulher 58%, homem 0% e casal 30% (também
exclusivamente). A não totalização de 100% destes dados associa-se, como é óbvio, a
outros participantes no desempenho destas tarefas.
11 Confronte Capítulo 4 - A Conjugalidade, Sinónimo de Complexidade; O ciclo
vital do casal.
"Referimo-nos, neste contexto, ao ciclo vital do divórcio e ao ciclo vital da família
pós-divórcio (Carter, McGoldrick et ai., 1995).
327
A Mulher na Família: "Em torno dela"
" Recorde-se, como vimos anteriormente neste capítulo, que as mulheres são par
ticularmente exigentes em relação ao seu desempenho dentro e fora de casa, mesmo
mais exigentes que os seus maridos (Worman, Biernat e Lang, 1991).
333
A Mulher na Família: "Em torno dela"
1
• A ausência de um dos progenitores por longos períodos de tempo caracteriza a
família acordeão que Minuchin e Fishman (1981) enquadram na sua tipologia estrutu
ral-diagnóstica. O progenitor que permanece em casa assume tarefas parentais adi
cionais, durante ciclos marcados pela ausência do outro, o que exige reajustamentos pe
riódicos na exercício da parentalidade.
335
A Mulher na Família: "Em torno dela"
Poder-se-á, então, perguntar: depois disto, que sentido faz tudo o que ao
longo destas páginas ficou escrito? Particularmente, qual o sentido de uma
abordagem psicológica das implicações das transições que fomos focando?
Esse sentido, se existe, poderá, de novo, ser procurado nos processos de
mudança. Para clarificar esta ideia, socorremo-nos do exemplo e das
palavras de Gergen, em resposta a uma questão sobre como lidar com "as
vozes absolutistas que rejeitam a diversidade":
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