Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
TRIBUNAL DE JUSTIÇA SP
VUNESP - PARTE 1I
- REPRODUÇÃO PROIBIDA –
Março/2017
SUMÁRIO
1.1. Introdução
1.2. Adolescência
No imaginário social a velhice sempre foi pensada como uma carga econômica
– seja para a família, seja para a sociedade – sendo a forma mais comum de
discriminação cultural o estigma de ‘descartável’, ‘passado’ ou ‘peso social’. A visão
depreciativa dos mais velhos tem sido, através dos tempos modernos, alimentada
profundamente pela ideologia ‘produtivista’ que sustentou a sociedade capitalista
industrial (MINAYO & COIMBRA, 2011).
A) O processo demencial
B) O processo de cuidar
WINNICOTT, D.W. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
J. Bowlby descreve sua teoria de vinculação como produto dos seus interesses
sobre a contribuição do meio ambiente de uma pessoal em seu desenvolvimento
psicológico. Ele define como teoria da ligação:
O ponto fundamental de Bowlby (2015) é que “existe uma forte relação causal
entre as experiências de um indivíduo com seus pais e sua capacidade posterior para
estabelecer vínculos afetivos” (p. 178). A experiência de uma parentalidade saudável
envolvem 1) uma compreensão intuitiva, por parte dos pais, do comportamento de
ligação de uma criança e a disposição para satisfazê-lo e, no momento adequado,
termina-lo e; 2) o reconhecimento de que uma das fontes mais comuns de raiva na
criança é a frustração de seu desejo de amor e cuidados e de que sua ansiedade
reflete a incerteza quanto à disponibilidade dos pais.
A parentalidade patogênica pode levar a perturbações do comportamento de
ligação, estabelecendo-se um padrão denominado de ligação ansiosa. A ligação
ansiosa caracteriza-se por uma constante ansiedade, com medo da perda da figura de
ligação e um baixo limiar para ativação do comportamento de ligação. No luto, isto é, a
perda irreversível da figura de ligação, aparece sentimentos como raiva intensa, autor
recriminação e depressão (BOWLBY, 2015).
O oposto da ligação ansiosa é a autoconfiança compulsiva, em que o indivíduo,
comporta-se constantemente como uma pessoa insiste em aguentar todas as
pressões e fazer tudo por si mesma, em quaisquer condições. Para Bowlby (2015), a
origem desse padrão comportamental está na inibição do comportamento de ligação,
negando qualquer desejo de relações estreitas de modo a evitarem a dor de serem
rejeitadas ou a submissão a pressões que obriguem a cuidar de outrem. Em tais
indivíduos, o luto pode ser protelado por meses ou anos.
Uma terceira manifestação da perturbação do comportamento de ligação é a
solicitude compulsiva, que pode ser descrita como o envolvimento de um indivíduo em
relações íntimas, mas sempre no papel de dispensador de cuidados e nunca de
receptor. A experiência infantil típica desses casos é a de uma figura parental que não
pode cuidar da criança mas, em vez disso, aceitou de bom grado seus cuidados
(BOWLBY, 2015).
Por fim, uma quarta manifestação patológica do comportamento de ligação se
observa nos indivíduos que foram privados de cuidados maternos durante os primeiros
anos de vida, combinada por rejeição ou ameaças de rejeição posteriores. Nesses
casos, observa-se alguém emocionalmente desligado, incapaz de manter um vínculo
afetivo estável (BOWLBY, 2015).
A aplicação da teoria de ligação nos contextos clínicos deve incluir, nos casos
em que pode ser utilizada tal teoria, o exame do padrão de comportamento de ligação
assumido pelo paciente, além da exploração de eventos relevantes de sua vida,
principalmente separações, doenças e mortes. É necessário, ainda, obter alguma ideia
dos padrões de interação que predominam no lar atual do paciente (BOWLBY, 2015).
O sintoma trazido como queixa deve ser considerado como:
A) A paternidade
B) A maternidade
C) O padrasto
D) Homoafetividade e parentalidade
Uma relação conjugal violenta é composta por uma série de paradoxos, sendo
o primeiro deles a simplificação e essencialização das experiências e violência. A
conduta violenta é algo que emerge de uma combinação complexa de fatores
históricos, culturais, sociais, institucionais, relacionais, familiares e pessoais e não é
RAFAEL TREVIZOLI NEVES
CRP 06/107487
ORGANIZADOR E ELABORADOR 34
uma “exceção”. Mitos como o ciúme e o controle como prova de amor contribuem para
a minimização e o silenciamento da violência contra a mulher (FÉRES-CARNEIRO,
2016).
O isolamento é outra dimensão importante que pode favorecer tanto o
surgimento quanto a manutenção da violência. A precariedade da rede social, a
impossibilidade de contar com ajuda de familiares/parentes, aumenta a vulnerabilidade
e dependência do parceiro (FÉRES-CARNEIRO, 2016).
Outro paradoxo refere-se ao controle, que assume centralidade na relação,
transformando-a numa dinâmica perversa em que por trás de um discurso de “não
poder viver sem o outro” é justamente o controle que pode levar a morte desse outro
(FÉRES-CARNEIRO, 2016).
Um paradoxo importante está relacionado à distância entre as experiências
vividas e a possibilidade de nomeação e reconhecimento dessas experiências. Isso
desdobra-se em duas questões – o que é violência, para essas mulheres e o porque
do silêncio. Muitas vezes, são os próprios familiares que se unem no silenciamento da
mulher (FÉRES-CARNEIRO, 2016).
A permanência da mulher numa relação violência pode, muitas vezes, ser vista
como um paradoxo. Mas como aponta Féres-Carneiro (2016):
1
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta
Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
RAFAEL TREVIZOLI NEVES
CRP 06/107487
ORGANIZADOR E ELABORADOR 40
4.3.1. Os abusos sexuais: sedução, culpa e segredo
A perícia psicológica das crianças vítimas de abuso sexual coloca em jogo algo
diferente para o juiz, para a criança e para os adultos que a cercam. Para o juiz,
importa os fatos, de forma a estabelecer um julgamento. Os adultos tem como
preocupação uma reparação, em geral pelo silêncio dos próprios fatos. Nesse sentido,
a perícia, que pode se dar varias meses após a revelação, é percebida como uma
intervenção que ultrapassa o silêncio vigente e desperta sofrimento. Por fim, em
relação à criança vitima, tem a necessidade de se proteger se seu sofrimento, mas
O tempo da perícia prolonga o tempo da revelação, uma vez que pode revelar,
também, o que não é visível nas reações da criança e da família. É importante, nesse
contexto, a autorização para revelar, uma vez que a criança só consentirá em expor
simultaneamente seu sofrimento presente e passado se os adultos de quem ela
dependem a autorizarem a isso (GABEL, 1998).
Quando a criança fala sobre seu abuso, o adulto, mesmo não sendo o adulto-
agressor, reage como acusado. As evasivas ante a perícia não são um fenômeno
incomum e é preciso entender a sua significação. O perito deve, ainda, levar em
consideração, a lealdade da criança àqueles com as quais convive (GABEL, 1998).
O momento da perícia não é neutro. Fazendo a investigação em nome da lei,
do relato do abuso e da historia da criança, abre-se um diálogo com a família e a
criança sobre a necessidade de reparação (GABEL, 1998).
“De maneira geral, até pouco tempo atrás, a história de vida das
crianças que viviam em instituições de acolhimento não eram
tomada como uma questão a ser considerada de forma
cuidadosa e crítica pelos profissionais que trabalhavam com ela.
O mesmo podia ser observado em casos de adoção de uma
criança por uma família. (...) havia quase um consenso de que,
se não se falasse sobre sua historia, a criança dela se
esqueceriam consequência, não sofreria” (GHIRARDI &
FERREIRA, 2016, p.18).
GABEL, M. (org.) Crianças Vítimas de Abuso Sexual. São Paulo, Summus Editorial,
1998.