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JUIZ DE FORA
JUNHO DE 2010
Verônica Aline Belchior Silva
JUIZ DE FORA
JUNHO DE 2010
AGRADECIMENTOS
Texto complicado de ser escrito, mas muito gratificante. É maravilhoso saber que
temos pessoas a quem agradecer pelos caminhos que percorremos. Pessoas que nos ajudam a
crescer e encontrar a direção por estas trilhas que enfrentamos. Por este trabalho e pelos
À Deus, pois foi Ele mesmo quem disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida...”
Aos meus pais, pois esforço incondicional só vem deles. Só sendo pai e mãe para abrir mão de
muito, acreditando piamente que vai dar certo. Agradeço não só pelo apoio financeiro, mas
por me mostrarem que eu posso, quando muitas vezes eu achava que não. E por continuarem
Ao Mario Angelo, por ser “a parte que eu não tinha”. Por sempre estar ao meu lado, por tudo
que se dispôs a fazer, por nunca pensar duas vezes. Por ter me dado tudo, e ainda ser capaz de
me dar mais!
A família Sartori Gomes Ferreira, por abrir as portas de “suas casas” e me acolher sempre.
Ao Soneca! Como deixar de agradecer a esse cara que foi meu amigo em um dos momentos
mais difíceis que já enfrentei. Obrigada também pela idéia do trabalho, e por ter dado a idéia
ao Artur! Obrigada por toda a logística (almoços, chocolates, south park...) em Costa
Aos amigos de Dores! A eles sempre toda a consideração, todo carinho, nostalgia. Conforta
saber que mesmo de longe eles me acompanham, principalmente elas (vocês mesmas!). Amo.
Aos amigos de Juiz de Fora. Nossa, como foi bom ter vindo pra esta cidade! Os amigos de
turma, os amigos de outras turmas, os amigos das farras, dos viradões. Muito obrigada por
Às amigas de casa: uma, duas, três... depois quatro, e agora cinco. Muitas histórias!
Ao ICMBio por toda a logística. Dentro do ICMBio agradeço muito à Jaqueline, por todo
apoio como então Chefe da Reserva Federal, pelo socorro com papelada para envio de
Aos seringueiros que abriram suas portas para nos receber. Graças a vocês este trabalho está
Obrigada, finalmente, à Universidade Federal de Juiz de Fora por ter feito parte da minha
história.
“Uma decisão sobre o uso da terra é correta quando
tende a preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica que
inclui o solo, a água, a fauna e flora e também as pessoas”
Aldo Leopold, 1949
RESUMO
Tabela II: Lista, número de citações e nomes populares das espécies de mamíferos (N=13)
causadoras de conflitos, com base nas entrevistas realizadas com os seringueiros (N=9) ......17
Tabela III: Freqüência de citação para cada categoria da subdivisão atitude, separadamente,
em relação a um total de 10 entrevistas ...................................................................................21
Figura 1: Imagem dos limites da RESEX Estadual Rio Cautário. Os pontos mostram a
localização das comunidades de Renascença e Jatobá, respectivamente (FONTE: IKEZIR et.
al. 2008) .....................................................................................................................................7
Figura 5: Grau de intensidade dos conflitos, variando entre baixo (cinza) e alto (preto), de
acordo com as perdas. Categorias das perdas: Grandes (plantações e criações); Pequenas C
(criações); Pequenas P (plantações) .........................................................................................18
Figura 7: Porcentagem de ocorrência das espécies de acordo com o período do ano ............20
Figura 9: Número de entrevistados que faz uso de animais abatidos, por conseqüência do
conflito, como alimento ...........................................................................................................22
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................................v
LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................vi
LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................................vii
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................1
OBJETIVO .................................................................................................................................6
Objetivo Geral ................................................................................................................6
Objetivos Específicos .....................................................................................................6
RESULTADOS ........................................................................................................................13
Perfil dos Entrevistados ................................................................................................13
Sobre as interações .......................................................................................................14
Espécies Citadas – Graus de Ameaça ..........................................................................22
DISCUSSÃO ...........................................................................................................................24
Interações e Conflitos ...................................................................................................24
Espécies Ameaçadas ....................................................................................................27
CONCLUSÕES .......................................................................................................................29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................30
ANEXOS .................................................................................................................................34
INTRODUÇÃO
biologia tenta, de modo artificial, organizar (POSEY, 1987 apud OLIVEIRA, 2007). Pode ser
transmitido oralmente, de geração em geração (DIEGUES et. al., 2000). Sendo assim,
DIEGUES et. al. (2000) dizem ainda que o equilíbrio entre populações humanas e o ambiente
não é mantido por decisões conscientes, mas por um conjunto complexo de padrões de
conhecimento, fortemente marcados por valores éticos, religiosos e por pressão social.
distintos, linguagem própria, muitas vezes diferente da oficial, presença de instituições sociais
pelas suas atividades extrativistas, de origem aquática ou florestal terrestre. Muitos dos
seringueiros e castanheiros vivem à beira de rios, igapós e igarapés, mas outros vivem em
terra firme, dependendo menos das atividades pesqueiras. Nas florestas, extraem o látex para
deles têm também algumas cabeças de gado. Moram em casas de madeira, construídas em
palafita, mais adaptadas ao sistema das cheias (DIEGUES et. al., 2000). Dentro deste
universo, estudos que envolvam a participação popular são pertinentes, pois estes estão
diretamente ligados às questões sociais, econômicas, culturais e biológicas, uma vez que o
influencia uma nova forma de ver a conservação e propõe a participação das comunidades
tem-se usado o termo Manejo Florestal Comunitário como um termo genérico a todos os
projetos que estão sendo desenvolvidos em áreas de comunidades, e mesmo aos projetos onde
as áreas manejadas não são de domínio comunitário. Os aspectos comuns a todos os projetos
de manejo florestal envolvendo comunidades são os enfoques sobre o papel das comunidades
A etnoecologia permite esta integração entre o saber acadêmico e o saber social, já que
é uma ciência voltada para o estudo do conhecimento dos grupos humanos, suas práticas e
(ANDRIOLO, 2006).
necessitam, com freqüência, do apoio da comunidade local. Ainda segundo este autor,
algumas informações só podem ser obtidas com ajuda de moradores antigos ou nativos da
região estudada, que possuem um grande conhecimento sobre a fauna e flora, além de
(2003) essas informações, assim como a relação (positiva ou negativa) que a população local
tem com o meio, podem ser obtidas através da realização de entrevistas e interpretação dos
uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no
pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas
simples fortalecem a hipótese de que existam conflitos entre estes e os animais que vivem no
domesticados pelos seres humanos há cerca de 9.000 anos (NOWELL & JACKSON, 1996).
(MORENO, 2008). Espécies predadoras competem com os humanos pelo uso dos recursos
espaço. Assim, sua ocorrência pode causar danos significantes (TREVES & KARANTH,
2003; WOODROFFE et al., 2005) podendo-se com isto gerar conflitos entre vida selvagem e
Os animais carnívoros, por exemplo, por estarem no topo da cadeia alimentar, têm
grande importância ecológica, pois podem regular a população de presas naturais, e desta
forma influenciar toda a dinâmica do ecossistema em que vivem (TREVES & KARANTH,
2003; IBAMA, 2004), contudo, são vítimas constantes de praticamente todas as formas de
ameaças, como a caça furtiva para troféu, caça predatória para o comércio de peles, comércio
2002). Entretanto onde os carnívoros são forçados a coexistir com animais domésticos, a
silvestres (MORENO, 2008). Estes conflitos são de interesse particular quando o animal
ZIMMERMANN, 2009).
Embora alguns estudos tenham sido realizados no Brasil em relação aos ataques de
criações domésticas, como bovinos e ovinos por Panthera onca e Puma concolor (MAZZOLI
et al., 2002; CONFORTI & AZEVEDO, 2003; PALMEIRA & BARRELLA, 2007),
informações sobre a freqüência dos ataques e prejuízos causados pelos demais carnívoros são
seu estudo que os animais que danificam plantações são muitas vezes caçados; nesse sentido,
estas plantações servem como forma de atrair espécies cinegéticas, de interesse para caça.
SANCHES (2004) apud GEHARA (2009) cita que as roças passaram a ser utilizadas como
isca, devido à baixa abundância de animais silvestres no interior de florestas tropicais. E que a
manutenção de pequenos cultivos nos quintais das casas possivelmente também permitiu aos
caiçaras compatibilizar agricultura com atividades de caça. Segundo GEHARA (2009), se por
outro lado, a existência de crenças pode limitar a utilização desses animais, auxiliando na
conhecimento popular dos moradores das áreas em estudo, pois uma vez trabalhado o
muito em êxito e são mais facilmente justificados perante os mesmos. O processo para a
Mesmo quando não é caracterizada uma relação conflituosa danosa entre homem-
animal, tais estudos são de grande importância, principalmente pelo fato, de que as
cunho particular, dependendo de vários fatores como nível educacional (CONFORTI &
AZEVEDO, 2003), proporções da criação (OIL et al., 1994 e NOWELL & JACKSON, 1996;
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
unidades de conservação.
MATERIAL E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
agosto de 1995, possui 146.400 hectares e abrange terras dos municípios de Costa Marques e
alterada pela presença humana, o que pode ser considerado pouco, dado que tem sido
utilizada para a extração de borracha há mais de 100 anos. A borracha continua sendo um dos
produtos mais importantes, mas há também extração de castanha e uma recente expansão da
(SOCIOAMBIENTAL, 2009).
Figura 1: Imagem dos limites da RESEX Estadual Rio Cautário. Os pontos mostram a localização das
comunidades de Renascença e Jatobá, respectivamente (FONTE: IKEZIRI et. al. 2008)
A área da Reserva está inserida no Mosaico Serra da Cutia e foi caracterizada com
principalmente composta por floresta ombrófila aberta (63%) (OLMOS et al., 1998 apud
IKEZIR et al., 2008) e manchas de cerrado, com formação de espessos tapetes de gramíneas e
A fauna, assim com na maioria das florestas rondonienses, é rica em aves, dentre elas,
muitas espécies ameaçadas, como o gavião-real (Harpia harpyja) bem com outros
vertebrados terrestres e insetos, além disso, a fauna inclui botos, tracajás, cobras, jacarés e
uma grande variedade de peixes. No entanto, nenhum estudo aprofundado a respeito dos
Além da produção em pequena escala de óleos, existe a atividade de pesca para subsistência.
PROCEDIMENTOS
previamente elaborado, contendo oito questões dividas em dois tópicos: aspectos sociais e
Esta técnica, segundo VIERTLER (2002), está entre aquelas em que ocorre uma relação de
comunicação mais equilibrada entre a visão êmica (do pesquisado) e a visão ética (do
pesquisador).
logísticas. Apesar de conhecido dos moradores das comunidades, as respostas dadas frente às
familiar. Para a amostragem dos seringueiros foi utilizada a metodologia da bola-de-neve, que
entrevistados e que estes nomeiem outras pessoas da localidade de estudo que possam ser
O perfil dos entrevistados foi traçado apurando-se idade, sexo, escolaridade e período
ou não de espécies causadoras de danos, sobre interferências nas criações e/ou plantações,
a) Ausência de conflito - quando foi relatada a não ocorrência de perdas de animais nem
de alimentos produzidos;
pela presença de animais no entorno das moradias. Estes conflitos foram apurados
a. “rara”: para animais que apareciam menos de uma vez por semana;
c. “muito freqüente”: para aquelas espécies que apareciam entre cinco vezes a
a. “sem época”: quando foi dito que o animal aparecia o ano todo;
extinção (2008).
Foram anotadas também algumas sugestões de mitigação desses ataques, quando havia
o que comentar. Além disto, foram considerados alguns eventos relevantes através da
este método prevê que o pesquisador esteja atento a todos os eventos (vistos e/ou ouvidos)
questões em que os informantes pudessem fornecer mais de uma resposta, listando vários
itens, foram analisadas através da freqüência das citações, considerando o número de vezes
que estes itens apareceram no total de respostas. As informações obtidas foram ainda
entrevistas representa 20% (N=50) de todas as famílias presentes na reserva. Do total, nove
entrevistados eram homens e apenas uma era mulher. Entre os mesmos 90% (n=9) são nativos
da região, sendo que três (30%) nasceram na reserva. Apenas um entrevistado (10%) é natural
de outro Estado brasileiro, este mesmo é o que reside a menos tempo na RESEX (tabela 1). O
tempo médio de moradia na região foi de 16,5 anos, com mínimo de três e máximo de 28
anos.
A idade dos moradores variou entre 18 a 47 anos (tabela I), sendo a média de 28,3
anos. Quanto a escolaridade, um entrevistado possui ensino fundamental completo, oito são
SOBRE AS INTERAÇÕES
segundo o mesmo, nunca houve danos a sua roça ou predação de criações por animais
silvestres, portanto, nunca teve perda alguma por conseqüência de tais interações. Em
contrapartida, nove informantes (90%) tiveram interações negativas com animais, definidas
como conflitos, ou seja, tiveram perdas em suas plantações e criações domésticas (figura 2).
Em 100% dos casos, não há cercados para as criações e plantações, ou seja, são mantidas
Figura 3: Foto mostrando as criações soltas (à esquerda) e ausência de cercados nas plantações
(à direita). FOTO: Verônica Belchior.
distribuídos em nove famílias e seis ordens (tabela II), e três espécies de aves. Dentre os
mamíferos (N=13) mais apontados nas entrevistas (N=9) estão o cateto (44,4%, n=4),
queixada (44,4%, n=4), gato-do-mato (44,4%, n=4) e anta (33,3%, n=3). O gavião (22,2%,
n=2) foi a ave mais citada. Dentre as espécies citadas como causadoras de conflitos (N=16),
43% (n=7) são onívoras, 25% (n=4) herbívoras e 31% (n=5) carnívoras.
9
8
7
Frequência
6
5
4
3
2
1
0
Espécies citadas
Figura 4: Frequência de citações pelos entrevistados das espécies causadoras de danos às comunidades.
Tabela II: Lista, número de citações e nomes populares das espécies de mamíferos (N=13) causadoras
de conflitos, com base nas entrevistas realizadas com os seringueiros (N=9).
Classificação Taxonômica Nome Popular (Nome dado por eles) Número de
citações
Ordem Didelphimorphia
Família Didelphidae
Subfamília Didelphinae Mucura 1
Gênero Didelphis Linnaeus, 1758
D. marsupialis Linnaeus, 1758
Ordem Primates
Família Cebidae Macaco-prego 3
Gênero Cebus Erxleben, 1777
Cebus apella (Linnaeus, 1758)
Ordem Carnivora
Família Felidae
Gênero Leopardus Gray, 1842
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Jaguatirica
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato pequeno (Gato-do- 4
Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato-maracajá mato) *
Família Canidae
Gênero Atelocynus Cabrera, 1940
Atelocynus microtis (Sclater, 1883) Cachorro-do-mato-de-orelha-curta 2
Gênero Lycalopex Burmeister, 1854 (cachorro-do-mato)
Lycalopex vetulus (Lund, 1842) Raposa-do-campo (raposa) 1
Família Mustelidae
Gênero Eira C. E. H. Smith, 1842
Eira barbara (Linnaeus, 1758) Irara 2
Ordem Perissodactyla
Família Tapiridae
Gênero Tapirus Brünnich, 1771
Tapirus terrestris Linnaeus, 1758 Anta 3
Ordem Artiodactyla
Família Tayassuidae
Gênero Pecari Reichenbach, 1835
Pecari tajacu Cateto (porquinho) 4
Gênero Tayassu G. Fischer, 1814
Tajacu pecari (Link, 1795) Queixada (porco) 4
Família Cervidae
Gênero Mazama Rafinesque, 1817
Mazama americana (Erxleben, 1777) Veado-mateiro
Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) Veado-catingueiro
Gênero Odoicoleus Rafinesque, 1832 2
(veado)**
Odoicoleus virginianus (Zimmermann, 1780) Veado-da-cauda-branca
Gênero Ozotocerus Ameghino, 1891
Ozotocerus bezoarticus (Linnaeus, 1758) Veado-campeiro
Ordem Rodentia
Família Caviidae
Gênero Cuniculus Wagler, 1830
Cuniculus paca (Linnaeus, 1758) Paca 2
Gênero Dasyprocta Illiger, 1811
Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823
Dasyprocta fuliginosa Wagler, 1832 Cutias*** 2
Dasyprocta leporina (Linnaeus, 1758)
*Gato-do-mato pode estar relacionando as três espécies de Leopardus acima citadas que ocorrem na região; **a designação
veado, assim como o gato-do-mato, pode significar uma das quatro espécies acima citadas que ocorrem na região; ***cutia
também pode fazer referência as três espécies acima. (FONTE: REIS, N. R. et al. 2006.Mamíferos do Brasil).
Quanto ao grau de intensidade desses conflitos, 66,7% (n=6) dos casos foram
considerados conflitos de nível “alto”, em casos nos quais as perdas relatadas pelos
Figura 5: Níveis de intensidade dos conflitos, variando entre baixo (cinza) e alto (preto), de acordo com as
perdas. Categorias das perdas: Grandes (plantações e criações); Pequenas C (criações); Pequenas P (plantações).
Foi também relatada a frequencia de aparecimento das espécies (figura 6). Para 22,2%
(n=2) dos entrevistados, o aparecimento de espécies é “raro”, 55,5% (n=5) disseram que são
diário. Um entrevistado inclusive afirmou: “Quando começa a atacar é quase todo dia”.
Figura 6: Frequencia de aparecimento das espécies por semana, de acordo com os entrevistados.
Para 33,3% (n=3) dos informantes não existe uma época definida para o aparecimento
dos animais, segundo um deles: “Num tem época não, é direto, quando tem, vem”. Em
contrapartida, 33,3% (n=3) relataram que a época que mais aparecem é no “inverno”,
principalmente o “porquinho” (cateto), porque “no inverno é que a terra fica mole”. Quando o
período das chuvas começa, a terra amolece e facilita a retirada da mandioca pelos catetos,
segundo os entrevistados. Porém, 11,1% (n=1) dizem que o “verão” é o período que os
animais mais aparecem: “agora mesmo no verão, eles ficam mais na beira do rio”. Entretanto,
22,2% (n=2) disseram ainda que animais que atacam plantação aparecem mais no “inverno”,
em 11,1% (n=1), e uma citação também para a sobreposição N, E1 e M (11,1%) (figura 8).
atitudes como matar (M) apareceu em oito delas, E2 em quatro, E1 em três, e N em duas
Tabela III: Freqüência de citação para cada categoria da subdivisão atitude, separadamente, em
relação a um total de 10 entrevistas (M: matar o animal; E2: espantar com cachorros; E1: espantar com
foguetes; N: não fazer nada contra o animal.)
Entrevistado M E2 E1 N
1 1 1 _ _
2 1 _ _
3 1 _ 1 _
4 1 _ _ _
5 1 _ _ 1
6 1 1 _ _
7 1 1 _ _
8 1 _ 1 _
9 1 _ 1 1
10 _ _ _ _
Total 8 4 3 2
Freqüência 80% 40% 30% 20%
Dentre aqueles cuja atitude é também matar o animal, 77,8% (n=7) consomem o
mesmo na alimentação, contra 22,2% (n=2) que afirmam não se alimentar destes animais
(figura 9).
Figura 9: Número de entrevistados que faz uso de animais abatidos, por conseqüência do conflito, como
alimento.
Em 100% dos casos, não houve invasão de residência por animais. Quando perguntados sobre
soluções para diminuir ou evitar os danos causados pelos animais, 66,6% (n=6) responderam não saber
o que fazer para diminuir. E entre os outros três (33,3%) encontramos as seguintes afirmações: “tem
que controlar o equilíbrio ambiental”; “só se correr atrás”; “queria comprar tela pra fazê um cercado
Das espécies citadas, três (18,75%; N=16) se enquadram entre espécies ameaçadas do
(Leopardus sp., Gray, 1842), onça (Panthera onca, Linnaeus, 1758), macaco-prego (Cebus
sp., Erxleben, 1777) (tabela IV). Dentre estas apenas o macaco-prego, segundo MARTINS
INTERAÇÕES E CONFLITOS
A ausência de conflito para apenas um morador pode ter ocorrido por sentimentos de
insegurança ou medo por parte do mesmo, pois muitas perguntas estavam intimamente
relacionadas a práticas limitadas, como a caça. A Lei 9.985 de 18 de Julho de 2000, em seu
parágrafo 6º do artigo 18, diz “são proibidas a exploração de recursos minerais e a caça
amadorística ou profissional”. Em contrapartida, o Plano de Utilização da Reserva Extrativista
Federal do Rio Cautário (2009) diz que no caso de um animal estar prejudicando a roça, os
animais domésticos ou a segurança do morador, este deverá comunicar ao ICMBio, para as
devidas providências (OLIVEIRA, 2009).
Isto corrobora outra discussão, a de que as respostas tenham o objetivo de expressar
aquilo que o entrevistado quer mostrar para o pesquisador e também para os representantes
das instituições gestoras, o que pode influenciar e servir de ponto de apoio para o
desenvolvimento de políticas efetivas de manejo a serem realizadas pelos órgãos gestores das
unidades, sempre ouvindo estas populações. Segundo DOUROJEANNI & PÁDUA (2007), a
maior parte dos planos de manejo é feita com escasso conhecimento da área, sem escutarem
A existência de conflito entre a maioria dos entrevistados pode ser explicado pela
forma como são manejadas as criações, ou seja, em todos os casos são mantidas soltas, uma
forma de criação extensiva. A ausência de cercados e galinheiros permite o livre acesso dos
animais às presas. Além disto, a proximidade das casas com a mata facilita ainda mais o
O conflito considerado Alto na maioria dos casos gera um sentimento negativo nas
comunidades, pois as criações e roças são pequenas e voltadas para subsistência. Segundo
OIL et al. (1994) e NOWELL & JACKSON (1996), por exemplo, quando as criações são
mantidas para subsistência e têm uma baixa produtividade, os prejuízos causados por
predadores são maiores para estes criadores do que para produtores de grande escala.
outras duas a perda foi na plantação. A menor intensidade deste conflito pode ser explicada
pelo fato de ter ocorrido mais ataques em roças. KRÜGER (1999) apud GEHARA (2009)
encontrou em seu estudo que os animais que danificam as plantações eram muitas vezes
caçados. Nesse sentido, estas plantações serviriam como forma de atrair espécies cinegéticas.
GEHARA (2009) cita ainda que segundo declarações dos informantes, em sua
pesquisa, as plantações de feijão, milho, mandioca e batata, serviriam como atrativo para
cervídeos. Tais afirmações podem ser sustentadas pelo fato de que, dentre as 16 espécies
citadas pelos seringueiros neste estudo, sete são comumente utilizadas na alimentação e
MARTINS (1993). A saber, porco, porquinho, anta, veado, macaco-prego, paca e cutia.
suas moradias. A freqüência, neste caso, pode estar intimamente relacionada com o período
períodos do ano e, em mais da metade dos casos, ou a espécie não tem época para aparecer,
ou seja, está presente o ano todo, ou aparece muito no inverno. Em contrapartida, parece
haver uma relação com o tipo de dieta e o período de ocorrência. Este fato fica evidente nos
casos em que foi dito que os carnívoros não têm época para aparecer, e que os herbívoros
aparecem com maior freqüência no inverno, por causa das chuvas que amolecem a terra e
Dentre as atitudes tomadas contra os ataques, observou-se que matar o animal foi a
mais praticada, o que reforça a intensidade do conflito. Segundo INSKIP & ZIMMERMANN
predam criações ou atacam pessoas, e as pessoas afetadas respondem aos ataques matando ou
CAVALCANTI (2002) apud MENDES et. al. (2005) dizem que a falta de uma política
regional para o manejo das criações, que vise a diminuição da freqüência da predação por
carnívoros, faz com que os proprietários rurais resolvam o problema, muitas vezes eliminando
como espantar com foguetes, espantalhos ou não fazer nada chegam a ser inofensivas às
prática eficaz pelos moradores, eles podem, muitas vezes acabar por matar os carnívoros
entrevistados. O resultado pode ser explicado pelo fato de que pelo menos sete espécies
causadoras de conflitos neste caso são de interesse cinegético e comumente utilizadas como
alimento.
Enquanto a maioria dos entrevistados não soube dar soluções para evitar o conflito,
um morador disse que gostaria de fazer um cercado para sua criação. Isto mostra que o
manejo extensivo das criações é um dos motivos dos ataques e que medidas como cercados
podem diminuir os mesmos. MENDES et. al. (2005) dizem que mesmo a população local
estando ciente de que seus animais domésticos estão sendo predados principalmente pela
forma (extensiva) como são criados, é necessária a realização de trabalhos mais intensivos de
educação ambiental e de orientação dos moradores a fim de evitar novos casos de ataques.
Apesar disso, em PALMEIRA & BARRELA (2007) todos os entrevistados acreditaram ser
necessário haver algum controle da predação (por onças) e aceitariam sugestões de terceiros
ESPÉCIES AMEAÇADAS
economicamente para os pequenos produtores que podem vir a perder seu único animal
(PALMEIRA & BARRELA, 2007). Isto intensifica medidas de retaliação contra estes
Apesar de ter sido citado por apenas um morador, este resultado pode vir a ser maior quando
se comparar com toda a população residente da reserva, intensificando o conflito quando se
O fato de algumas das espécies citadas como causadoras de danos estarem na lista
vermelha da fauna nacional ameaçada de extinção, mesmo que não estejam especificamente
práticas da população local que possam reduzir tanto os impactos humanos sobre a vida
silvestre, como os danos da fauna silvestre sobre a produção agropecuária (PALMEIRA &
O conflito apesar de ter se mostrado variável, entre baixo e alto, foi de intensidade
considerável, pois a maioria dos seringueiros afirmou matar o animal causador de dano.
ano.
Viu-se que dentre estes animais abatidos muitos são consumidos na alimentação e
comumente caçados.
estabelecida, pois pelo menos três espécies, dentre as mencionadas como causadoras de
uso de cachorros como “ferramenta” de prevenção dos ataques, o que muitas vezes
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ANEXOS
Anexo I
Anexo II
Questionário Conflito
Data:
Comunidade:
Colocação:
Nome do Entrevistado: Escolaridade:
Idade: Sexo:
Tempo que reside na reserva:
Natural de:
1- Existem espécies de animais silvestres causando danos aos animais domésticos ou plantações na sua
colocação? Quais espécies?
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2- Qual a freqüência com que estas espécies aparecem?
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3- Qual(is) espécie(s) é(são) mais freqüente(s)?
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4- Existe um período do ano em que estes danos são maiores?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, especificar o período para cada espécie: ______________________________
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5- Qual atitude é tomada para evitar o conflito?
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6- Se matam, estes animais são usados na alimentação posteriormente?
( ) Sim ( ) Não
7- Além de plantações e criações, existem outros conflitos, como invasão de residências?
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8- Que atitudes você acha que seriam melhores e que deveriam ser tomadas para evitar estes conflitos?
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