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Bem-aventurados os que
observam a justiça...
(Salmos 106:3)
CIRLENE PEREIRA ABRAAO, já devidamente qualificada nos autos da Ação Penal suso
mencionada, que lhe move o Ministério Público Estadual, por seu advogado que esta subscreve,
vem respeitosamente, à honrada presença de Vossa Excelência, com supedâneo nos artigos 396,
396–A e 397, todos do Código de Processo Penal, apresentar
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
DOS FATOS
Consta dos autos da Ação Penal suso, que o defendente supostamente teria infringido o infringiu
o artigo 157, §2º, II c/c, inciso II, c/c artigo 14, II, ambos do CPB, haja vista, conta do APFD, que
o defendente, em companhia de terceiro, mediante violência, tentou subtrair para si, coisa
alheia móvel, pertencente à vítima dos autos.
Finaliza a denúncia em comento: “Assim, agindo o denunciado infringiu o artigo 157, §2º, II c/c,
inciso II, c/c artigo 14, II, ambos do CPB.
PRELIMINARES
A denúncia oferecida pelo Representante do Ministério Público encontra-se em desrespeito aos
preceitos do nosso sistema processual penal, devendo, pois, ser rejeitada, conforme o artigo
395, I e III do Código de Processo Penal.
De modo primevo, por ser manifestamente INEPTA, haja vista que da narrativa dos fatos não
decorrer logicamente a conclusão e consequente emersão inequívoca do nexo entre fato e
acusado, ofensa inconteste ao ditame do artigo 41 do pátrio Código de Processo Penal.
O que percebe-se é uma distribuição sem critério de condutas atribuídas a alguns agentes, não
fornecendo elementos suficientes para definir com clareza qual conduta é atribuída a cada um
dos agentes.
1
STJ HABEAS CORPUS Nº 131.678 MT (2009/00497974). RELATOR: MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ. Data de Julgamento:
14/02/2017. T6 SEXTA TURMA. Data de Publicação: DJe 23/02/2017.
Rua Constante Sodré, nº 220 Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br
Sala 403, Bairro: Santa Lúcia 3215-4525 / 99778-6930 marceloserafim.adv@gmail.com
SERAFIM – ASSESSORIA & CONSULTORIA JURÍDICA
MARCELO SERAFIM DE SOUZA - OAB/ES 18.472
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Como o acusado poderia defender-se se nem mesmo a parte ex adversa na presente Ação Penal
define de modo cristalino quais condutas são imputadas a este? Não obstante a alegação supra,
a denúncia carece de uma das mais contundentes preliminares que reúne as CONDIÇÕES DA
AÇÃO que é a JUSTA CAUSA, ou seja, o lastro probatório mínimo para que a acusação tenha
fulcro e assaz consistência em seu intento.
É de assaz sabença que, o acusador deve descrever precisa e detalhadamente a imputação que
faz ao acusado na peça exordial, nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal. Nesse
ponto, se o acusador não especifica os fatos adequadamente, há inépcia da denúncia.
2
NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da Pena. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 25
Às fls. 05, o Sr. UEVERSON PEROBA ANCHIETA, vulgo “CHUPETA”, afirmou em seu depoimento
em sede policial que:
Acerca dos fatos constantes no BOP PM Nº 1474, datado de 11/05/2008,
afirma que não são verdadeiros, alegando que passou toda a tarde de
ontem, no Bar do Russo, em Povoação, ingerindo bebida alcoólica,
juntamente com seus familiares e a noite, chegou a Sra. VANILDA
EUZÉBIO, juntamente com uma outra mulher e também começaram a
ingerir bebida alcoólica, em uma outra mesa; Que não se recorda o horário
que foi embora de referido bar, mas o fez acompanhado de seus
familiares; Informa que nesse momento, a suposta vítima também foi
embora do bar; Esclarece, que posteriormente retornou ao já citado bar,
acompanhado de DIEGO RAMON PENHA COSTA, e lá encontrou os
sobrinhos do interrogando... Que lá tomou conhecimento que a Sr.ª
Vanilda havia sido agredida e que foi encontrada sem roupas...
Às fls. 79 dos autos, em novo depoimento em sede policial, a vítima dos autos, assim declara:
Que a DECLARANTE perguntou a VANILDA se a mesma havia sido abusada
sexualmente, PORÉM A MESMA NÃO SOUBE DIZER, EM VIRTUDE DE SEU
ESTADO DE EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA; Que a DECLARANTE DESCONFIOU
QUE A MESMA PODERIA TER SIDO VIOLENTADA SEXUALMENTE POR
ESTAR SEM CALCINHA... (sem grifos no original)
DO MÉRITO
FATOS & DIREITO EM MIRÍADE ANTE O CASO CONCRETO
Assevera a narrativa da exordial que o denunciado foi incurso na denúncia promovida pelo
Parquet pelo suposto protagonismo na autoria dos tipos penais descritos no artigo o artigo 157,
§2º, II c/c, inciso II, c/c artigo 14, II, ambos do CPB. Haja vista, conforme relata o APFD, o Acusado
em companhia de terceiro, mediante violência, tentou subtrair para si, coisa alheia móvel,
pertencente à vítima dos autos.
Com veemência, a defesa confessa que, com tamanho erro crasso da acusação em respeitar a
observância dos requisitos mínimos para oferecimento da denúncia, sente-se ressabiada em
delinear contra QUAL CONDUTA está defendendo seu patrocinado, haja vista que o eminente
Parquet, nestes autos, não objetiva tal prática ou quando o faz, executa de modo precário.
Conforme podemos observar a Denúncia Excelência, a mesma tem sua base formada apenas
por depoimentos da vítima e, dos condutores. Estes últimos que, sequer “presenciaram” os
acontecimentos na exordial acusatória delineados. Isso é, se realmente há materialidade. O que
duvidamos.
Em nosso sistema processual penal acusatório, cabe ao Ministério Público, com provas robustas,
comprovar a real existência do delito, não baseando sua acusação apenas em depoimentos da
vítima. O Policial Militar que executou a prisão do acusado, não presenciou o fato.
O Direito Penal brasileiro possui dentre vários princípios, o do in dúbio pro reo, em que, havendo
dúvida quanto à autoria do delito, deve-se absolver o réu, e para que haja a condenação é
necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, caso contrário, o fato deve
ser resolvido em favor do acusado.
Assim sendo, concluímos que em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios.
A prova da autoria deve ser lógica e livre de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no
juízo criminal. Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu deve prevalecer.
Apenas a declaração da suposta vítima de um crime não é suficiente para deflagrar a ação penal
contra o acusado de cometê-lo. Tal entendimento é da 5ª Câmara Criminal do Estado do Rio
Grande do Sul:
"ROUBO. MAJORADO. EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE AGENTES.
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. A palavra da vítima depende
de apoio no demais da prova. Reconhecimento policial precário e dúbio.
PROVA INCONSISTENTE. Conjunto probatório insuficiente a amparar a
condenação dos apelantes. In dubio pro reo. Absolvição que se impõe,
Assim sendo, para que a ação penal seja deflagrada, a acusação necessita apresentar provas
capazes de apontar os indícios de autoria e materialidade, além da constatação da ocorrência
de infração penal, não podendo uma denúncia ser baseada apenas na palavra da vítima.
Não há provas que comprovem que o réu fora preso com o objeto que materializa o delito a si
imputado, sendo este apenas cogitado pela vítima nos depoimentos durante a fase
investigatória.
De seu turno, o depoimento prestado pelo policial militar não poderá jamais operar validamente
contra o réu, visto que o mesmo não presenciou o suposto fato criminoso.
Sinale-se, outrossim, que para referendar-se uma condenação no orbe penal, mister que a
autoria e a culpabilidade resultem incontroversas. Caso contrário, a absolvição se impõe por
critério de justiça, visto que, o ônus da acusação recai sobre o artífice da peça portal. Não se
desincumbindo, a contento, de tal tarefa, marcha, de forma inexorável, a peça parida pelo
dominus litis ao exício.
Tais afirmações se fazem verdadeiras porque na peça inaugural, o denunciado fora acusado por
fatos com respaldo fático viciado, o que inviabiliza a sua defesa, restringindo seu direito
constitucionalmente garantido da ampla defesa, onde o acusado é elencado unicamente por
evidências dúbias, nebulosas e turvas.
Desde a gênese do discorrer processual, trago a superfície nestes autos, a pretensão punitiva é
impulsionada ante o acusado por colocações da acusação que não encontram azo, infundadas e
sem nenhum sustento fático.
Seria auspicioso demais considerar coesos os contornos tão divergentes delineados aos fatos e
a imputação deste resultante, quiçá (como no paradigma processual em diatribe) sem prova
alguma da materialidade em relação ao acusado. É a síntese basilar do que se discorre.
Impende ressaltar que, a prova carreada aos autos é extremamente frágil, colhidas na fase
inquisitorial, que nenhum lume faz ante o indício de envolvimento do acusado no delito de
maneira manifesta que lance à lógica nexo causal algum entre o acusado e ato delitivo em tela.
Ante todo o exposto, resta sedimentado que o acusado está sendo alvo de um crasso equívoco
estatal, por conta de uma criativa e combalida denúncia que neste tomo defensivo sofre
embate, não restando qualquer lacuna jurídica que demonstre sua outorga em face do acusado
DYEGO RAMON PENHA COSTA.
NO MÉRITO, requer-se à Vossa Excelência, seja esta Resposta à Acusação recebida, onde, com
supedâneo nos artigos 397, III c/c art. 386, II, V e VII do Código de Processo Penal, pleiteia-se a
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do Acusado, em face da atipicidade dos fatos narrados na peça
acusatória, considerando-se a ausência de materialidade em relação a este e a falta de nexo
entre fato e objeto que leve a um raciocínio indutivo seguro para a imputação das condutas
delituosas ao acusado, em que não se pode atribuir ao réu, pelos motivos supra expendidos.
Não sendo este o entendimento, o que se diz apenas por argumentar, reserva-se ao direito de
proceder em maiores delongas suas justificativas defensivas nas considerações finais,
protestando, de logo, provar o alegado por todas as provas em direito processual penal
admitida, valendo-se, sobretudo, do depoimento das testemunhas arroladas.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
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MARCELO SERAFIM DE SOUZA
ADVOGADO - OAB/ES 18.472
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