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direitos autorais.
Organizadoras do livro
Robervânia de Lima Sá-Silva
Miranilde Oliveira Neves
Revisão
Robervânia de Lima Sá-Silva
Miranilde Oliveira Neves
Isabelle Coimbra da Silva
Diagramação
Octávio de Oliveira Jorge
Sendas da Amazônia
ISBN:
4
Sendas da Amazonia
Conteúdo
Prefácio.................................................................................................. 7
Louis Althusser em “Os aparelhos ideológicos do Estado”............ 7
Apresentação......................................................................................... 8
O monstro doguinho............................................................................ 10
Um amigo inesperado ......................................................................... 14
A morte da estrela................................................................................ 24
Anhangá................................................................................................ 28
O assobio do Vaqueiro ....................................................................... 30
Rasga Mortalha e a Matinta................................................................. 32
O arranho na janela ............................................................................. 34
A despedida.......................................................................................... 37
O Milagre .............................................................................................. 40
Uma casa no escuro............................................................................. 43
O velho do cruzeiro............................................................................. 46
Cobra braba ......................................................................................... 50
Férias praianas..................................................................................... 52
O casal que virava bicho em São João da Ponta.............................. 77
Palmito da bacabeira ........................................................................... 79
O diabo da Capanema.......................................................................... 81
O ritual................................................................................................... 83
Procuram -se gatos ............................................................................. 99
Barões do Queijo................................................................................. 101
A hora do Desespero.......................................................................... 107
A bela moça..........................................................................................111
A loira do táxi........................................................................................113
A luta até a perda .................................................................................116
A moça do lenço...................................................................................118
Os ttrês pretinhos da pororoca.......................................................... 120
A mulher do Sapé................................................................................ 121
O espeáculo de horror........................................................................ 132
Guerreiras da Amazônia..................................................................... 133
O padeiro e o cliente fiel..................................................................... 135
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Sendas da Amazonia
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Sendas da Amazonia
Prefácio
As organizadoras
Apresentação
As organizadoras
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O monstro doguinho
Noite de sexta feira em Curuçá, 13 de julho, cães latem aos sete ventos.
A inquietação toma conta de mim, antigos já haviam dito: “A feiticeira quando se
transforma vaga pelos quintais, causando alvoroço e morte de animais”. Pen-
sando nisso, lembrei-me de que não tinha visto meu cachorro o dia todo, Dogui-
nho era seu nome. Preocupado, saí à procura dele com uma lanterna na mão e
uma coragem no bolso. Desço a calçada e ando no meio da rua, na escuridão
da noite, não vejo mais ninguém naquele horário. De longe, escuto latidos que
vinham de uma pequena arena de futebol abandonada. Abro o portão enferru-
jado e encosto na parede com cuidado para não fazer barulho. Aproximo-me
do campo, ou melhor, do resto dele. Assusto-me com o barulho que os animais
fazem quando me veem.
Vejo muitas pegadas pelo chão de terra, como se tivesse ocorrido uma
briga de cão. Meu cachorro era pequeno, mas se fazia de valente. Tinha espe-
rança de encontrá-lo ali, mas não o achei. Continuei a procurar, porém nenhum
tufo de pelo semelhante ao dele. Voltei para a casa da minha avó Cecília, com
quem passava aquelas férias, perguntei a ela o que poderia acontecer com o
Doguinho naquela hora da noite. Ela entrou na cozinha procurando sua cesta
de crochê que sempre guardava em cima do armário porque tinha medo de eu
pegar as linhas e amarrar nas minhas pipas.
- Ei vó, não vejo o Doguinho desde ontem. Fui atrás dele, mas não o en-
contrei. A senhora sabe de alguma coisa para fazer ele voltar?
- Ah meu filho... Seu cachorro deve ter sido possuído pela feiticeira!
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-Tá, quero sim. – Falo rápido porque seria capaz de ela não querer me
falar.
-Vó? - interrompo.
-Que foi?
-Sem detalhes.
-Quem disse?
-Olha lá!
Fiquei pensando em como vou arranjar essa lágrima. Lembrei que tenho
um amigo que me disse que quando ele passa muito tempo fora de casa, o ca-
chorro dele fica triste. Até então, é comum, mas quando ele chega, o cachorro
chora de felicidade. Foi minha desculpa para ir à casa dele. Apesar da cara de
estranheza do meu amigo, tentava passar um lenço nos olhos do cachorro que
quase não parava quieto. Consegui a lágrima, porém perdi um amigo, porque
creio que ele nunca mais vai me aceitar na casa dele.
Robert Renan
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Um amigo inesperado
Era a terceira, somente esta semana, mas o velho incrédulo nem se im-
portou com a primeira denúncia, pois pensava que a brincadeira de pregar pe-
ças nos adultos era uma especialidade de crianças. Porém, essa brincadeira já
não tinha mais graça nenhuma.
Assim como fez com a primeira, iria fazer com a segunda e terceira de-
núncias. Após isto, a semana passou tranquilamente e as crianças perceberam
a ignorância do idoso.
- Padre! Padre Anselmo! Espere, por favor! – gritavam quatro freiras en-
quanto corriam até a ele. Manteve-se parado à porta, espantado com tal deses-
pero das irmãs.
- Já vou trazê-la – disse uma jovem muito bonita, que morava com sua
avó Francisca. Retornou pouco tempo depois com a anciã apoiando-se no braço
da jovem. – Vovó, esse é o padre de quem lhe falei.
- Bom dia, senhora! Sou o padre Anselmo, gostaria de fazer umas pergun-
tas, se não se importar é claro.
-Não obrigado.
- Eu era uma jitita, morava em uma fazenda com a minha avó – iniciou –
ele apareceu de repente ...
Inhangapi - 1984
- Eiii!!!!! Você, eiiii!!! Estou falando contigo, me dê mais uma dose, pro-
meto pagar!
José Francisco, um homem de caráter nem tão impecável, não era uma
pessoa ruim, mas possuía a ambição maior que o próprio coração. Cantarolando
alguma música de bar, pegou caminho para a Vila de Inhangapí, na esperança
de arranjar o que fazer para ganhar um dinheiro e voltar pro bar e reclamar da
vida desgraçada que ele dizia ter.
Roberto saia para São Raimundo para cumprir seus afazeres, mas ao
atravessar o portão notou algo estranho, algo não, alguém. Desceu da cami-
nhonete e aproximou-se do homem que jazia desacordado, escorado no portão.
Olhou ao seu redor até encontrar alguns de seus funcionários, mandando leva-
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***
- Estou no céu?
No mesmo instante, a porta foi aberta revelando dois homens e uma se-
nhora de idade. Ambos pareciam surpresos por vê-lo. José, desconfiado, acom-
panhou com o olhar os três desconhecidos se aproximarem.
- Como se sente?
- Me sinto um pouco tonto. Quem são vocês, onde estou e o que acon-
teceu?
– Eu sou Roberto, este é o Dr. Carlos e está é a Dona Neide. Você foi
encontrado inconsciente e o trouxeram para cá. Mas, agora eu lhe pergunto...
quem é você?
Esta pergunta fez com que José saísse de seu pequeno transe enquan-
to assimilava tudo o que lhe foi dito.
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Sendas da Amazonia
- Meu nome é Jo-José, e-eu não t-tenho como pagar, eu não tenho di-
nhero-ro nenhum! – disse nervoso tropeçando nas próprias palavras.
- Estou lhe dizendo meu amigo, exija aquelas terras! São todas suas,
aquelas pessoas não pagaram para estar morando lá. Se você tomar de volta,
poderá investir em plantações, animais ou até mesmo indústrias como fazem
hoje em dia.
- Vejo que não você não fará o que digo – olhou para o fazendeiro que
apenas concordou.
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Sendas da Amazonia
– Pois bem, tenho que sair, preciso comprar uma boneca que Dudinha
não para de me pedir.
Estava indo para o carro quando encontrou um dos homens que lhe
induziram a comentar sobre a posse das terras de Roberto, era um dono de
uma fábrica queria o terreno para construção de uma nova indústria, mas não
convencerá o dono das terras porque o mesmo não quis expulsar as pessoas
que moravam lá.
- Olá amigo!
Saudou José.
- É! Ele é um homem muito bom, mas ele tem que aprender que não
podemos ser bom o tempo todo.
José refletiu sobre essas palavras, mas teve seus pensamentos inter-
rompidos.
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Sendas da Amazonia
- Apenas uma?
Seguiram para o bar, sentaram e pediram suas doses, mas o que era
para ser apenas uma dose, tornou-se uma garrafa inteira ingerida praticamente
por José. O homem rico que enchia o seu copo a cada virada aproveitava para
encher sua cabeça de ideias, maneiras de convencer o fazendeiro, insistindo
que era a melhor escolha que ele poderia fazer e descobrindo sua ambição
imensurável.
- Vá lá! Diga a ele o quanto ele poderá ganhar, pense no quanto você
pode ganhar
- Isso, você com certeza pode ter uma, só precisa convence-lo, ele
lhe deve muito, já pensou o quanto você já trabalhou para ele, o quanto essas
pessoas estão perdendo oportunidades porque ele as convence com suas boas
ações que aqui é o melhor lugar para ficar e que o seu trabalho familiar é o
suficiente?
- Será que ele está fazendo isso? Esse traste está enganando a nós
todos?
- É duro de ouvir, mas eu não duvido. Mas você pode mudar isso, nem
precisa convencer ele e sim os moradores. Eles terão a mim como porto seguro
e você poderá lucrar com isso, pense nisso. – disse por último e partiu para qual-
quer direção que José nem se importou em saber qual era, “lucrar”, “ganhar”,
“ser bom demais” vagavam pela cabeça conturbada do homem.
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Sendas da Amazonia
Este saiu cambaleante até seu carro, dirigiu de volta para a fazenda,
enquanto olhava a estrada notou que se aproximava das terras ocupadas que
poderiam lhes proporcionar grandes lucros.
Dias depois, enquanto José voltava para a fazendo, vindo de uma co-
munidade vizinha, assustou-se ao chegar a frente da entrada, uma multidão en-
furecida tentava entrar, visto que por ali não passaria, José pegou um caminho
conhecido por poucos para o interior da fazenda.
últimos tempos passou por sua cabeça, enquanto vasculhava cada cômodo da
casa, pensou no quanto havia sido estúpido, mau, um péssimo amigo e pessoa,
e ambicioso. O arrependimento o afogava e o castigava por tudo, mas o senti-
mento que sentiu jamais pode ser explícito em palavras quando entrou no último
cômodo.
Gritou ele.
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- Acredito.
- Que ele esteja lá porque não quer que ninguém aproximou-se das terras
do amigo, cuidando delas. Porque como eu vi naquele dia, meu pai nunca este-
ve tão arrependido de tudo de ruim que fez na sua vida.
Não um homem forte e grande com sangue da cabeça aos pés, viu dois
homens serenamente olhando para ele. Um era grande e forte e o outro era um
homem muito mais maduro que o outro, acenaram para o padre que fez o mes-
mo, virou novamente em sua direção e segui seu caminho.
Maria Helena
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A morte da estrela
Já era por volta das 22 horas quando decidi voltar para casa, não morava
muito longe, a praça ficava a duas quadras da minha casa, mas meus amigos
me convenceram a tomar um último sorvete para encerramos.
Perguntou Sandro.
- Pensei um pouco, olhei para minha amiga Rita, ela com um pequeno
gesto com o rosto, fez me lembrar de nossa conversa de hoje na escola, ela
havia me contado que gostava de Sandro e queria sair com ele hoje a noite, iria
pedir para que ele a acompanha-se até sua casa.
- Obrigada Sandro, mas não moro muito longe daqui. Talvez você deves-
se acompanhar a Rita, já está tarde e ela mora um pouco longe daqui.
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Sendas da Amazonia
Minha mãe trouxe um copo de água, tomei. Meu pai esperou eu me acal-
mar um pouco e perguntou:
Meu pai saiu, foi até a frente da rua, olhou o muro de casa e voltou para
dentro.
- Filha, não tem nada escrito lá! Você tem certeza? Deve ter se engando
com alguma coisa, vá dormir um pouco.
Pensei no ocorrido durante dias, todas as vezes que saia de casa, ficava
à espreita, com cisma de encontrar a misteriosa mulher de novo. Decido pes-
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quisar algum caso ou relato, com esperança de encontrar alguém que também
tinha visto aquela mulher.
- Boa tarde.
- Antigo quanto?
- Boa sorte! – Olho para ela sorrindo dizendo em minha mente “Vou pre-
cisar dela!”.
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Sendas da Amazonia
Por isso, havia boatos que ela assombrava a rua onde morava.
Volta para casa com aquilo na cabeça. Deita na sua cama par tentar as-
similar as informações, porém sentiu que tinha outra pessoa no seu quarto. Le-
vanta a cabeça, mas não vê ninguém, se levanta e olha pela janela. Já estava
tarde da noite, não tinha notado que o tempo havia passado, voltou para a cama
para tentar dormir, mas olhou para seu armário e viu a porta aberta, não tinha
lembrado de deixa-la aberta. Se levantou e ia fechando a porta quando algo a
agarrou pelo pescoço e começou a enforca-la, com muita força, tenta ver quem
estava fazendo aquilo, viu que era a mesma mulher do jornal, tenta gritar, no
entanto não conseguia porque ela tampava sua boca. Viu uma corda pendura-
da, não sabia de onde aquilo surgiu. Em meio a mão que abafa suas palavras
perguntou a tal mulher: Por que eu?
De manhã, ela foi encontrada por seus pais no quarto. Nem seus pais,
nem a polícia tiveram alguma explicação lógica para isso. Pelas características
encontradas, a polícia concluiu o caso como sendo suicídio. Assim mais uma
vítima foi feita na rua da Estrela Nova.
Rita de Cássia
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Anhangá
O Anhangá se irrita com ele e assovia cada vez mais alto. Chalá, por
mais que não conseguisse ver muita coisa, começou a procurar um pedaço de
pau para se proteger. Não adiantou. O Anhangá agiu rápido e lhe tomou o peda-
ço de pau da sua mão e começou a bater no homem. Não aguentando a força
da batida, ele começou a gritar por socorro desesperadamente.
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os gritos. Chovia no momento, mas Virgílio tenta descobrir de que lado vinha os
pedidos de socorro. Pega o terçado e vai em direção à mata que ficava perto do
igarapé. Somente trovões e relâmpagos iluminavam o céu naquela chuva forte
e grossa.
-O que aconteceu?
Chalá respondeu:
- Não sei o que era, mas tenho certeza de que não era gente! Eu escuta-
va assovios e me arrepiava todo! Não consegui nem ver quem foi, pois me batia
muito! Estou dolorido e com medo dessa coisa!
Paulo Henrique
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Sendas da Amazonia
O assobio do Vaqueiro
Dona Ana sempre ia e vinha da cidade de Altamira do Pará para sua chá-
cara no interior da cidade, mas naquele seria diferente. Todos os dias, acordava
cedo e viajava na sua motocicleta, enfrentando também o medo de ladrões. Na
quinta-feira, ela deixou seu filho com sua irmã e saiu cedo para sua chácara
para trabalhar com agricultura. Logo ao chegar foi cuidar de seus animais e
plantas, como de costume. De tanto cuidar da chácara, às vezes perde até a
noção da hora e, foi justamente o que aconteceu. Quando se deu por conta
percebeu que já eram 19h e rapidamente organiza suas coisas e vai embora
de moto. Até então, seu maior medo era dos assaltantes que atuavam naquele
horário, no entanto, não sabia do tal “vaqueiro” que rodava pela aquela estrada,
principalmente, na ladeira.
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Sendas da Amazonia
Ana evita passar a noite por aquele local. Não só ela, mas todas as pessoas que
ficaram sabendo do ocorrido.
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Sendas da Amazonia
Cheguei para jogar com eles, não sabia o nome de ninguém e nem eles
o meu, mas só foi eu falar que queria jogar, eles deixavam na boa. Jogamos por
um bom tempo, no entanto eu não estava jogando bem por que meu corpo já
sentia o cansaço aparente além da febre aumentar. Parei de brincar e voltei para
casa da vovó, já estava de noite e muito escuro, deveria ser umas 22h.
Eu estava quase chegando em casa, já andava pela mata que dava aces-
so à rua quando escutei um som de pássaro, olhei para cima e vi uma rasga
mortalha. Na hora tremi de medo, pois já sabia das histórias dela, então, andei o
mais depressa possível, mas ainda estava no começo da trilha.
Entro na cozinha para tomar um chá ou água com açúcar. Minha avó
percebe a febre e briga por não tê-la avisado. Vou repousar do atormentado dia.
Nenhuma gota de sono em meus olhos, somente o tsunami de cansaço em meu
corpo, mas ao passar algumas horas consigo me acalmar e, apago literalmente.
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Sendas da Amazonia
O arranho na janela
Minha vizinha se chama Roniele e certa vez, foi visitar sua avó na agrovila
do São Raimundo, em Castanhal. Ao chegar a casa por volta de meio-dia, todos
os seus parentes ficaram contentes com sua chegada e foram comemorar em
um igarapé próximo. Fazia muito tempo que não a viam.
e o silêncio é interrompido pela cantiga dos grilos que convida as crianças para
uma boa noite de sono, porém as crianças são elétricas! Thiago é o primeiro
a sair da cama, logo é acompanhado por seus primos que se sentam no chão
perto da janela. Resolvem sentar em um círculo no quarto e conversarem mais
um pouco. As baixas risadinhas são interrompidas por uns grunidos, no entanto,
não ligam, pois a dona da casa tinha cachorros, gatos, galinhas, uma criação
de porcos no final do terreno, além de um cercado de tartarugas. Poderia ser
qualquer um deles
-Galera... Já ouvi sobre isso antes! Meu pai me falou que quando morava
aqui, ele via tipo isso e, falou que tinha um bicho que sempre rodeava essa casa.
Falou ainda, que pode ser um Lobisomem! Mas não liguem, porque pode ser
porco do mato ou algo do tipo. Todos se olham com expressões de ironia e dão
gargalhadas depois de se encararem por alguns segundos, depois, continuam
o que estavam fazendo.
Era 01h30min e o barulho perturba a roda de conversa por ficar cada vez
mais alto. Thiago, que estava com menos medo, resolve olhar entre as brechas
da janela e diz:
- Mano! Acho que o bicho me viu! O olho dele apareceu bem pertinho da
brecha! Eram tão vermelhos... Que doideira!
Devido a isso, todos ficaram sabendo que realmente havia um bicho es-
tranho pelo lugar. Ficam aterrorizados com tal situação. O Lobisomem começa a
arranhar as janelas de madeira e todos ficam apavorados! Roniele diz:
O barulho que o bicho estava fazendo, some. Porém, eles escutam outro
barulho da porta da casa. Saem do quarto e se trancam no banheiro. Alguns mi-
nutos se passaram e todos continuam em absoluto silêncio. Percebem que tem
alguém na frente da porta. A maçaneta se mexe e eles agem de modo frenético,
aumentando o nervosismo. Vovó abre a porta e todos correm para abraçá-la.
Sem entender o que estava acontecendo, a senhora pergunta o que houve, mas
ninguém soube explicar o que aconteceu de fato. Dona Raimunda briga com
todos, pois não eram para estarem acordados naquela hora da noite.
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A despedida
Mesmo com pouco tempo em que viviam na pequena casa, notaram que
algo estranho estava presente nela. Sentiam energias negativas, cômodos frios
e observavam constantemente móveis fora do lugar. No início, achavam que al-
guém poderia está invadindo a casa, mas nunca encontraram ninguém. Mesmo
assim, Firmino e Lindalva não tinham escolha, porque usaram todas as suas
economias para comprarem a tão almejada casa própria. Deixaram para trás
todas as dificuldades do campo para terem uma velhice descansada.
Os filhos do casal já não moravam com eles, os três filhos eram casados.
Eram apenas os dois cuidando um do outro. Novos na cidade, eles não conhe-
ciam sobre a história do local. Tempos atrás, antes de ser urbanizado, lá era o
cemitério da cidade.
Certo dia, bateu uma mulher de meia idade em sua casa, trajando roupa
branca, bastante elegante. A senhora estranhou, pois não tinha o hábito de rece-
ber visitas em sua casa, raramente seus filhos iam até lá. A senhora a convidou
para entrar e levou-lhe até a cozinha para conversar enquanto fazia um café. A
mulher começou dizendo:
- Ando muito incomodada, não consigo mais descansar. O meu lugar vi-
rou a morada de outros e eu não gosto disso, eu tenho que tirá-los daqui.
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- Eu já estava aqui antes de ter essa casa. Depois dela, meu descanso
acabou.
O grito dela ecoou de uma forma fantasmagórica pela casa toda, com um
vento que batia em todas as portas e janelas, tão alto que acordou o seu mari-
do que tirava um cochilo no quarto. A misteriosa mulher de branco sumiu num
piscar de olhos ao perceber que seu Firmino tinha chegado à cozinha. De tanto
medo, Lindalva não conseguiu se apoiar em nenhum local e caiu nos braços do
marido.
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O Milagre
Apesar de ser inverno, o dia estava animado. Meus pais estavam felizes
e eu também. A visita que veio passar alguns dias em casa era o Sr. João. Ele
era bem legal e fez o dia ficar bem melhor. A casa era simples, bem simples.
Na verdade, ela não possuía portas fixas, apenas uma prancha de madeira bem
grande e pesada.
A noite caiu, mas as conversas não diminuíram. O seu João gosta mes-
mo de conversar. Eles estão sentados à mesa e eu estou sentada no sofá que
fica de frente para a “porta”. Eu estou com sono, mas a conversa está boa, não
quero sair do local. Os meus olhos estão quase se fechando, enfim, eu dormi.
Acordei com muita dor. Meu Deus! O que está acontecendo? Onde eu es-
tou? Minha visão está embaçada e alguém está falando comigo. É a minha mãe.
Como que uma porta foi cair em cima de mim? Parece até mentira que
isso aconteceu.
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- Vou pedir mais alguns exames para confirmar. Vou encaminhá-la para
a sala de cirurgias.
- Querida, eles vão apenas colocar uma placa no seu rosto para corrigir
a fratura
- Filha, não se preocupe você não vai sentir dor. Falou meu pai, tentando
me acalmar, no entanto, em vão.
Essa semana foi horrível, além da dor, não consegui parar de pensar na
cirurgia que me aguarda amanhã.
- Maria, coma tudo amanhã é o dia da sua cirurgia e você precisa estar
bem.
- Eu não vou!
- Maria, você não tem querer! Você precisa ir. Ande coma logo e vá dor-
mir. – Fala a mãe com autoridade.
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Sendas da Amazonia
Antes de ir dormir, sempre faço minhas orações, mas dessa vez foi dife-
rente. Eu pedi a Deus com muita fé e acredito firmemente que ele vai me ajudar.
Já estou cerca de uma hora aguardando para ser atendida. Tem uma
equipe de médicos residentes aqui e muitas pessoas na minha frente. Estou
nervosa. Chega a minha vez.
- Então Maria, você está sentindo muita dor? - Perguntou o doutor, falan-
do enquanto apertava o meu rosto. Não doía muito. Tinha percebido que a dor
passou.
- Não entendo. Você veio porque estava com uma fratura, mas agora não
tem alguma.
- Como assim?
Raquel Torres
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Era início da noite, ouvia-se o grasnar das corujas vindo de fora da casa,
Arthur e Samuel aceitaram o trabalho como caseiros na casa dos falecidos Sr.
Manoel e Sr.ª Lina, no município de Irituia. Escutaram vários boatos que a casa
era assombrada pelo espírito do casal, os quais tiveram uma morte cruel e inex-
plicável na casa. Escutaram de moradores da cidade que durante a noite, acon-
tecia fenômenos estranhos vindo da casa, porém eles não sabiam sua causa.
Mesmo assim, resolveram aceitar o serviço.
Chegaram a casa por volta das 18h, todos os moveis estavam cobertos
por lençóis brancos, ficaram impressionados com a organização do local, até
parecia que a casa não estava abandonada há dois anos. Eles entram para
guardar suas malas no quarto e preparar o jantar. Organizaram tudo por volta
das 23hs, e estavam se preparando para irem a cozinha, quando escutaram um
barulho de cadeira sendo arrastada na sala. Poderia ser o vento derrubando
alguma coisa, logo, eles foram ver o que tinha acontecido, mas todas as portas
e janelas estavam fechadas. Então, talvez fosse um rato, já que a casa estava
abandonada fazia tempo. O ruído sumiu.
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do em todos os cantos, não havia ninguém lá. Samuel pede para Arthur ir até o
velho armário, ele vai e abri o móvel, mas só encontra teias de aranha, poeira e
uma caixa de fotografias. A caixa ainda se encontrava aberta. Os dois se olham
e Arthur decide levar a caixa para cima. Apanham-na, trancam a porta do porão
e voltam ao quarto.
- Quem é?
- Vá embora daqui! Essa casa não lhe pertence mais! Pois o senhor está
morto! – Dizia autoritário.
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O velho do cruzeiro
-Ao Norte, encontrarás um tesouro que o deixará muito rico! O lugar tem
nome de pássaro.
-Ali! Logo abaixo do cruzeiro, ali está o seu tesouro! Mas cuidado, há
perigos inexplicáveis por lá…
- Há um cruzeiro ali perto, mas tome cuidado! Aqui não é um local seguro
e você deve prestar atenção porque muitas pessoas já morreram aqui pelas
mãos de forças inexplicáveis!
Desta forma, Eugênio saiu pensativo, porém não deu muita importância
ao aviso. Ao dormir, o sonho que o atormentava voltou, mas de forma diferente,
agora o velho homem de branco falou para Eugênio enquanto apontava para o
fundo do rio:
- Aqui você encontrará uma pedra que possui guardada forças de tempos
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muito antigos. Ela pode fazer coisas inimagináveis, porém devido a um antigo
feitiço colocado nela não se pode tirá-la do fundo do rio sem certas condições…
-Quando uma antiga tribo indígena vivia aqui, foi descoberta uma pedra
com alguma linguagem irreconhecível e com ela era possível curar qualquer
doença, fazer plantas crescerem mais rápido. Alguns dizem que ela era capaz
de trazer mortos a vida novamente. Porém, certa vez a pedra começou a ser
usada para o mal por um padre franciscano que a colocou em uma cruz e tentou
tirá-la da tribo, mas quando estava tentando tirar a pedra…
-O padre foi possuído por algum tipo de força que o levou a se jogar no
fundo do rio junto com a sua expedição e a pedra. Dizem que até hoje eles ficam
em procissão.
Marcelino respondeu:
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-Você enlouquecerá e terá sua alma presa junto a pedra por toda a eter-
nidade.
Sem ação, Eugênio ficou com os olhos vidrados enquanto Marcelino con-
tinuava:
-Você deve tomar cuidado com estes artefatos... Eu dei minha vida por
eles, meu bisneto.
Eugênio percebeu que o homem que falava com ele era o velho senhor
de branco, e o senhor continuou:
-Você deve continuar a sua busca, o último item está junto a pedra a anos
e com ela a alma da índia, você deve tomar cuidado com o padre, ele fará de
tudo para tomar o seu lug…
Com astúcia, Eugênio pega a caixa e corre rumo ao rio e vê a jovem índia
que fala para ele:
-O padre tem poder sobre nós, pegue esta pena e junte com os utensílios
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Matheus Pereira
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Cobra braba
– Nadi, Nadi, Nadi!!! Cari, Cari, Cari - apontando para o pigmento preto
se aproximando-.
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Sendas da Amazonia
– Mate-os!
E hoje, no grande rio largo e fundo, acredita-se que existe uma cobra
enorme da boca grande, os traços que rodeia a bela terra faz semelhança ao
formato desse grande bicho. Nadi, Jaci, e Potira? Nadi se tornou a maior árvore
da frente de sua terra, Jaci brilha e ilumina sua terra, Potira se tornou a mais bela
flor no centro de Bujaru.
Samilly Beatriz
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Sendas da Amazonia
Férias praianas
– E aí, rapaz? Como vão as coisas? Você não parece tão empolgado,
e acredite: entendo bem como é – falei em um sussurro. O cachorro nada me
dizia, nem sequer latiu, como costumava fazer na minha infância, apenas me
olhava com aqueles olhos esbugalhados; por fim, resolvi visitar a casa ao lado.
De longe, sentia-se o aroma de bolo recém assado no ar, logo me animei, segui
apressado e bati a porta lateral da casa.
– Querido! Nem vi quando você chegou, você está bem? Vamos! Entre
logo, acabei de tirar o bolo do forno – tia Rosa me puxou pelo braço para dentro
da casa.
– E ai? Como foi a viagem? Vocês demoraram muito para pegar o Ôni-
bus?
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Sendas da Amazonia
– Não tia, que nada, até que foi rápido – menti – foi uma viagem tranqui-
la, tudo está como eu me lembro.
– Está mesmo, não está? Nossa velha cidade – brincou ela – mas enfim,
não vamos tagarelar se não o bolo vai esfriar – ela rumou para a cozinha, pegou
um pires e uma xícara e me serviu de bolo e café.
– Carla estava a sua espera, mandei ela ir comprar umas coisas no mer-
cado, mas já, já volta. Mas então, como estão as coisas lá na sua casa?
***
Conversamos por mais algum tempo até que Carla adentrou na casa.
– Ah! Olha você ai! Nossa, você precisa vir mais vezes, só assim pra
mamãe fazer tanta coisa gostosa em um único dia – brincou minha prima toda
risonha como sempre – mas então? Já acabou aí? Temos que dar uma volta, ou
você prefere ficar enfurnado na casa das tias o dia todo? Eu adorava esse jeito
espontâneo de Carla, a forma como ela sempre estava sorrindo não importava
a situação.
Após agradecer pela comida e lavar a louça, saí com Carla para a tal
volta; caminhamos um pouco até que ela começou com sua típica tagarelice.
– Hei! Quando você vai à praia? Temos que ir logo, é muito sem graça
ir sozinha, e você sabe, agora que os primos inventaram de namorar, eu acabei
ficando de canto, é muito entediante! Como é possível que você só venha uma
vez ao ano? É tão injusto! Sabe, Lili disse que leva a gente na praia hoje de
tarde, que tal? Uma carona! Não vamos ter que dar aquela pernada toda! – eu
apenas concordava com tudo o que ela dizia, mas honestamente, eu só queria
deitar e dormir um pouco pra variar.
***
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Sendas da Amazonia
– Égua menino! Eu jurava que você ia recusar dessa vez, poxa, você me
fez perder uma grana viu? – disse ele bagunçando meu cabelo – mas que tal?
Quer um passeio de macho pra variar? Ou você vai brincar de boneca de novo
com a Carla? Expliquei que eu havia prometido passar a tarde com minha prima,
o que rendeu umas boas gargalhadas por parte dos meninos, mas que não levei
muito a sério, o que se podia fazer? Estava na natureza deles. Marcamos de
ficar juntos pela parte da noite, assim que eu terminasse de “brincar de boneca”.
– Então priminho! Vai dizer pra Carla que ela me fez perder uma grana
hoje? – eu apenas o encarei.
– Não enche Lili! Eu apenas já tinha prometido ficar com Carla hoje,
e não tem nada a ver eu ser crescido ou não! – completei um pouco exaltado.
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Sendas da Amazonia
vez disso, vamos contar histórias, como fazíamos antes, lembram? Carla ainda
caga de medo, então vai ser divertido.
– Ah, nossa querida Carlinha não fica uma gracinha gente? – João es-
tava apertando as bochechas de Carla – certo, certo, sem brigas pessoal, hoje
ainda é o primeiro dia de férias, vamos aproveitar! Temos um longo tempo para
nos matarmos ainda – falou por fim.
- Tá, que seja, vamos começar logo o lance das histórias, porque se
formos discutir quem é o mais cagão aqui, tá todo mundo ferrado – riu-se Lili –
então, como é? Quem começa? João?.
– Quê? Eu? Eu não, não sou bom nisso, vai que as tias do terreiro ou-
vem? Deus me livre ficar macumbado.
Dani sempre fora a mais atraída por histórias de terror, e morar onde
morava acabou atiçando ainda mais esse gosto nela.
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Sendas da Amazonia
– Não estou não! É sério! Aqui na rua mesmo tem uma, a Carla até já viu
umas coisas estranhas uma vez lá, não foi Carla?
– Foi sim, eu tinha acabado de voltar do igarapé e fui procurar a tia Si-
mone, já que a mamãe tava precisando dela, e ai acabei vendo... – Carla deixou
o mistério suspenso no ar – sabem o quê? – todos agora estavam com os olhos
atentos nela – Um ritual!.
– Tá Carla, vai com calma, como você exatamente viu isso? – perguntei
curioso.
E com essa resposta acabei soltando: – Eu sei que foi com os olhos ô
anta! Tô perguntando o como você pode ter visto um ritual assim, do nada? Se
eles iam fazer uma coisa dessas eles não iam fazer assim a céu aberto! Como
você acabou vendo isso?
– Ah tá! Não grita comigo seu grosso! Foi o seguinte, a rua tava meio
deserta, e na época, a casa do ritual tava em reforma, então tava tudo jogado e
o muro da frente não estava totalmente pronto, então dava de ver.
– Credo, deve ter sido esquisito – falou João – esse povo aqui é meio
estranho mesmo.
***
Conversamos por um pouco mais de uma hora, Lili falara sobre os gritos
que ouvia antigamente da casa da tal vizinha macumbeira, Dani falou que certa
vez vira um grupo de mulheres fazendo oferendas na praia no dia de ano novo, e
falou também das coisas esquisitas que sentia de vez em quando, coisas essas
que ela jurava serem fruto de mal olhado.
até o quarto; assim que entrei, vi que lá no fundo, em um colchonete surrado, El-
ton – irmão de João – já dormia, então tentei fazer o mínimo de barulho possível;
Lili me jogou um lençol velho e me desejou seu “boa noite”.
– Dorme bem, e ah! Vê se não pensa demais nos fantasmas tá? Eles
sentem quando você está com medo – gracejou meu primo.
– Vai dormir, eu heim, e quem é que está com medo aqui? – bravejei;
no canto do quarto, ouvi um resmungo, algo como um “calem a boca” silencioso,
mas não tenho certeza.
Queria poder dizer que tudo o que eu disse era verdade e que eu, de
fato, não estava com nenhum pingo de medo, mas a realidade foi: eu mal con-
segui pregar os olhos direito a noite. Ficava em alerta a todo som, pensando em
possíveis passos de uma macumbeira invadindo o terreno, ou ficava esperando
ouvir alguma batucada de um suposto tambor das tias do terreiro. Após muito
tempo, creio que acabei adormecendo, mas a perturbação perdurou até nos
sonhos, coisas horríveis que prefiro nem comentar.
Acordei todo dolorido, o quarto já estava vazio, então supus que já de-
viam ser umas dez horas, me levantei com tudo. Na cozinha, tia Simone já cor-
tava os temperos para o almoço.
Comi tudo e fui tomar banho, em seguida, fui atrás de algo para fazer.
Eu mal passara pela porta da frente e uma voz me chamou ao longe:
– O cara de preto! O Lili disse que viu ele passando agora a pouco, deus
do céu, tô toda arrepiada!.
– Tia Rosa veio me chamar hoje – Começou Lili – vocês sabem como
ela é em relação a essas coisas espirituais, bom, ela me disse que ouviu sons
de madrugada, mas que não tinha certeza, então, pela manhã, ela resolveu con-
ferir, e esse foi o resultado: a terra atrás do pé de algodão tava toda remexida e
essa garrafa tava enterrada lá, titia soube na hora que era macumba, então veio
me chamar.
***
O primeiro a chegar foi João, ele empurrava sua Caloi verde barulhenta
pelo quintal, ouvi ele cumprimentar tia Simone até finalmente chegar ao lugar
onde Carla, Lili e eu estávamos.
– Você vai ter que esperar os outros, vamos contar assim que todos
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Sendas da Amazonia
– Falta quem? – Dani surgiu detrás da porta que ligava o pátio a sala.
– Ah tá, como se você vivesse sem mim – Dani exibiu seu dedo do meio
juntamente com sua língua para Lili – Então? Vocês não vão dizer o que está
acontecendo?
– Bom, acho que todos já estão aqui – Lili fez uma pausa dramática –
então foi o seguinte...
***
– Obrigado pela parte que me toca – bufei – mas enfim, é verdade gen-
te, o cara surgiu do nada e também sumiu, foi assustador.
– N-Nada não, eu... – Por alguma razão, eu não conseguia dizer nada
direito – Eu só... eu preciso – Tentei falar mais uma vez – só... me deem licença.
Levantei e fui em direção a casa, ou melhor, fui conduzido, não sei bem des-
crever o que foi aquilo, em um momento eu estava no pátio com os outros, em
outro, eu estava sendo meio que puxado para um determinado ponto da casa,
uma lugar atrás da parede que separava a cozinha do quarto de limpeza; cami-
nhei até ficar diante de um quadro pequeno, não deveria ter mais de trinta centí-
metros, eu nunca havia reparado naquele quadro antes, estivera sempre ai? Eu
não saberia dizer. Nele, uma criança me encarava apática, não havia brilho nos
seus olhos, parecia meramente estar lá, um corpo vazio, sem expressão, suas
mãos pálidas estavam apoiadas no cavalinho de madeira igualmente apático e
sem vida, ela usava um vestido azul com um avental branco, a imagem estava
um pouco gasta, fruto do tempo creio eu, mas pude notar que algo estava escrito
sobre o avental, um nome talvez? Não consegui definir, cheguei a conclusão de
que se tratava de uma letra “R” acompanhada de mais alguns caracteres que
não consegui decifrar; o que mais me atraía naquela criatura era seu rosto, era
ao mesmo tempo angelical e grotesco, ao seu modo.
Eu não sabia como havia acabado ali, só sei que a sensação que me
sucedeu me fez sair de lá na mesma hora, uma sensação de desespero e ao
mesmo tempo, sufocamento, aquilo foi desesperador. Criei forças nas pernas e
me virei em direção aos quartos, virei-me tão rápido, que, seu eu não tivesse
desviado no último segundo, teria dado de cara com tia Rosa.
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Sendas da Amazonia
– Certeza – disse eu, por fim. Quando eu ia me virando para sair, senti
o peso de suas mãos no meu ombro, não sei porque, mas aquele toque me deu
arrepios.
– Mas querido, as toalhas estão ali – disse ela, apontando para o mes-
mo quarto de onde eu acabara de sair.
– Ah sim, claro, onde será que estou com a cabeça? – tentei disfarçar
meu súbito incômodo; ao chegar na saleta detrás da cozinha, tamanho foi a
surpresa que tive, ali, no canto da parede, apenas o vazio jazia lá, não havia
garotinha triste, não havia quadro mórbido algum, apenas o vazio da parede fria.
Como eu havia dito que iria tomar banho, acabei fazendo isso, mas aquela sen-
sação esquisita ainda me rondava, como um peso invisível que sugavam cada
gota de minha existência. Enxuguei-me, mas o frio persistia em meu corpo, eu
estava me vestindo, quando ouvi uma batida na porta do quarto, era tia Simone.
– Querido? Está tudo bem? João me disse que você não estava se
sentindo bem, o que houve?.
– Nada não tia, é só cansaço mesmo, nada que um banho não resolves-
se – menti, eu não estava a fim de conversar com ninguém.
– Tem certeza? – titia parecia aflita, não era minha intenção chateá-la
– Você virá para o jantar? Temos pizza, seu tio trouxe agora a pouco, venha
comer com a gente, você sabe como esse povo é guloso – encorajou-me ela
– Sim tia, claro que vou – ela não tinha culpa desses sentimentos esqui-
sitos que eu estava sentindo, e convenhamos, uma pizza sempre é uma pizza.
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Sendas da Amazonia
– Ei menino! O que houve com você mais cedo? Deixou a gente as-
sustado viu? Seu doido. – João estava estirado no velho sofá, podia-se ver a
espuma que o preenchia saltando pelos buracos da lateral; Elton, que olhava
João atentamente, brincava com um pedacinho de espuma que havia se soltado
do braço do sofá.
– Oi primo, o que houve com você? Os outros disseram que você pas-
sou mal, foi isso?
– Ah, não foi nada não, eu só… – eu olhava para minhas mãos – só
estava cansado.
– Mas então, você não vai me dizer o que houve não? – Insistiu João.
***
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Sendas da Amazonia
de onde o choro vinha, nada. Ouvi aquela lamúria por pouco mais de 12 minutos,
até que finalmente o som cessou, o filme estava no seu clímax, mas eu já havia
perdido totalmente o foco do que estava acontecendo, desliguei a TV, e chamei
João para irmos deitar.
***
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Sendas da Amazonia
Já eram quase três da tarde, quando me vi cercado pela Dani e por Car-
la, as duas com olhos esbugalhados, com uma ênfase notória em Carla, cujos
olhos praticamente saltavam das órbitas.
– Era o que eu queria saber também, desde que você nos contou sobre
o pesadelo, fiquei incomodada com uma coisa, então resolvi tirar umas fotos do
quarto, sei lá porquê, simplesmente comecei a tirar as fotos, foi aí que vi isso.
– Pera, tia Rosa não está aí? – Dani a olhava espantada, ao passo que
Carla negava com a cabeça.
– Não a vejo desde ontem, digo, desde que fui dormir, e quando acordei,
ela não estava em casa.
– Não se preocupe – tentei confortá-la – Ela deve ter saído rápido, você
vai ver.
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Sendas da Amazonia
– Pois é Carla, fica tranquila, a única coisa estranha é essa foto, mas
relaxa, titia vai saber explicar o que é isso.
– Ah tá, viu só Carla? Talvez a sua mãe esteja com eles – Acrescentei.
– É Carla, não esquenta, mas olha, que tal a gente comer alguma bes-
teira? A gente pode ir na praia, eu tô livre agora, e sei que o primo vai topar ir
– Dani falava com Carla.
– Mas oshi! Quem sugeriu isso foi eu, porque ele leva todo o crédito? –
Dani fingia ciúmes.
– Não tem nada Dani, é só que vai ser... legal – Carla sorriu por fim.
Vinte minutos depois, estávamos com nossas bolsas prontas, Dani pa-
recia que estava de muda, Carla já tinha entupido minha cara de filtro solar, e
eu? Tentava tirar o filtro solar de cima do olho enquanto tentava equilibrar minha
bolsa mais as bóias de Carla.
– Pra quê você precisa de tanta bóia Carla? VOCÊ SABE NADAR! –
fingi raiva.
– Porquê assim é mais legal! – Carla mostrava a língua para mim, diver-
tindo-se – Sorte sua que eu não trouxe os baldinhos.
– Você fala isso por que está segurando essa penca de bóia aqui! –
olhei para trás – Quer dividir o peso?
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Sendas da Amazonia
– Nã, eu passo, já tenho o meu próprio peso – Dani exibia sua mochila,
que mais parecia uma mochila de escoteiro.
– Não sei pra quê você traz tanto treco, mal vai usar o filtro solar!
Passamos pelas ruas barrentas, o pó subia a cada passo que dávamos; o asfal-
to da rua principal se misturava com a areia das alamedas, ora ou outra víamos
outra rua asfaltada; vans e moto-táxis passavam por entre nós, e, em um dado
momento, quase parei uma van para irmos, mas quando vi o tanto de gente que
tinha dentro, desisti. Caminhamos mais um pouco, as construções eram as mais
variadas, desde construções antigas belíssimas a casebres de madeira caindo
aos pedaços, eu podia ver o efeito que as marés tinham em algumas casa que
sofriam com as enchentes; depois de mais uns cinco minutos, passamos pela
cabana de madeira, uma construção que sempre chamava minha atenção: era
uma casa altos e baixos, toda trabalhada em madeira, era óbvio que mais nin-
guém morava ali havia décadas, e eu tinha minha dúvidas sobre a edificação da
casa, era bem possível que ela desmoronasse se eu pusesse apenas uma pé
lá dentro, mas o meu fascínio pela construção ainda era forte, era ao mesmo
tempo rústicas e misteriosa, o tipo de casa que você encontraria em livros de
suspense, esse tipo de coisa sempre me fascinou. Quando me deparei, as duas
já estavam a uma boa pernada a minha frente, corri para alcançá-las.
– Vamos lá, piabinha, vamos mais pra beira – Dani falou – só me espere
um pouco, vou comprar um negócio ali, você dois me esperem aqui.
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Sendas da Amazonia
Passeamos pela praia, até encontrarmos um bom local – onde não es-
tivesse entupido de pessoas – para colocarmos nossas coisas. Depois de entu-
lharmos tudo em cima de uma toalha, cuja qual, Dani retirara dramaticamente de
dentro de sua mochila.
– Tcharam! – Exibiu-se ela – Não falei que tudo aqui era necessário?
– Mas é claro! Tenho que mostrar o quanto tudo o que eu faço é neces-
sário, oras!
– Tá bom Carla, bora fazer alguma coisa – sugeri, ao passo que ela
retirava algumas lágrimas do canto dos olhos.
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Sendas da Amazonia
– Há há há, engraçadinho, boa tentativa, mas você sabe que aqui não
tem concha! – Ela me olhava sério agora, e na verdade, não, eu não sabia que
lá não tinha concha, aliás, que diabos de praia não tem concha?
– Porque aqui é praia de água doce? – agora era Dani quem demos-
trava indignação – Tudo bem que você não vem aqui sempre, mas pô! Isso é o
básico né, a água daqui é doce.
– Oxi, não precisa me agredir não, eu só não lembrava, faz tempo que
não venho aqui.
– Verdade, por isso não podemos brigar com ele! – Carla demostrava
uma incomum mudança de humor – enfim! Vamos tomar banho – e com isso,
Carla saiu arrastando-me fervorosamente por todo trajeto até a margem.
– Não vou Nad… – Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela
já havia enfiado aquilo sobre mim, estava claro: eu havia perdido a batalha.
ser deus? Foi só um sonho afinal, mas lá estava, eu sabia que era ele. Devo ter
ficado parado por algum tempo, pois senti um leve puxão no braço que acabou
me tirando daquela súbita hipnose, Carla protestou algo, mas não ouvi muito
bem, eu ainda estava fascinado com o rosto do homem, e o mais engraçado,
junto com ele, tive a sensação de ter visto alguém mais, mas não tenho certeza,
eu havia me focado demais em sua face para perceber qualquer outra coisa.
Chegando em casa, fomos tomar banho, cada uma esperou a sua vez,
é claro, mas assim que saí, deparei-me novamente com aquele quadro, a crian-
ça me encarava novamente, aquilo me tirou ar, a figura me dava arrepios, saí
rápido dali. Após me vestir, fui para a sala, foi ai que ouvi o chamado de Carla:
VEM AQUI AGORA!
– Mamãe, ela ainda não apareceu – foi aí que entendi o motivo de sua
exaltação.
– Mas… ela não deixou nenhum bilhetinho, nem nada? Titia não sumiria
assim.
– Eu também espero – sussurrei – mas olha, não fica assim não, você
sabe que adoro quando você sorri.
– eu sei disso – disse ela com um olhar tristonho – eu sei como você se
importa comigo – ela encurtou a distância entre nós – eu também me importo
muito com você... – Não sei explicar como tudo aconteceu, em um minuto eu
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Sendas da Amazonia
– Pensei que você nunca fosse fazer isso – sussurrou ela para mim – eu
queria muito que fizesse, obrigada – ela deu aquele sorriso que me derretia o
coração, ah deus, como eu amava aquilo.
***
Dormi com Carla naquela noite, não, sua mente poluída, não assim,
passei a noite em sua casa, para que ela não ficasse sozinha. Comentei com tia
Simone sobre o desaparecimento de tia Rosa, o que a deixou em alerta, de fato,
aquilo não era do feitio de tia Rosa o que deixou todos preocupados. Durante a
noite, fiquei um pouco com Carla, conversamos banalidades acerca de várias
coisas, comentamos também sobre o passeio que fizemos a tarde, e por fim,
falamos sobre o nosso beijo. Carla corou ao falar disso, mas não demonstrou
arrependimento nenhum, pelo contrário, aparentemente, ela sentia o mesmo em
relação a mim fazia tempos; nos beijamos novamente, sem hesitações dessa
vez, ela parecia feliz, eu estava feliz, então nos permitimos esquecer as coisas
por um momento, é óbvio que eu a toquei, mas não passamos disso, não seria
certo, a situação toda não estava certa, mas me deixei, ao menos, ser conduzido
um pouco pela luxúria.
tranquilizador, que raios de som era aquele? Foi ficando cada vez mais alto,
mais forte, até se tornar em uma lamúria insuportável, não podia ser, eu já havia
escutado esse som antes, na casa de tia Simone, era aquele choro de novo. Ca-
minhei pela casa a procura do som, passei primeiro pela cozinha, em seguida,
fui conferir se estava tudo bem com Carla, ela dormia serenamente, então pros-
segui. Rumei em direção aos outros quartos, nada, foi ai que entrei na sala, e
tamanha foi a minha surpresa: lá, ao lado do sofá surrado, estava aquele quadro
novamente, aquele maldito quadro estava me perseguindo. Aproximei-me para
dar uma olhada melhor, eu não acreditei no que vi, o choro, meu deus, vinha
da criança, o quadro estava chorando! Olhei fixamente para a figura bizarra, as
lágrimas escorriam pela face da garota, que pude, finalmente, ver quem era. A
priore, pensei ser Carla, mas após uma análise mais detalhada, concluí que se
tratava de tia Rosa, Senhor, o que era aquilo? Ouvi um outro som, em seguida,
passos, conferi as horas no relógio atrás da parede da sala, passavam das duas
e quarenta da manhã, quem estaria acordado a uma hora dessas?
Tudo estava pouco nítido quando abri os olhos, minha visão ainda esta-
va confusa, que lugar era aquele afinal? Pelo cenário medonho, aquilo só podia
ser um sonho, TINHA que ser um sonho, o que havia acontecido afinal? Como
que eu tinha parado ali? Eu não me lembrava de nada, eu tentava lembrar, mas
nada me vinha a cabeça, meramente sinapses tão rápidas que eu mal tinha
tempo para processá-las.
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Sendas da Amazonia
Levantei e decidi descobrir de uma vez por todas que lugar era aquele;
primeiramente, se tratava de um ramal, quase que uma trilha, de tão estreito
que era, todo o caminho era fechado pela vegetação, eu podia sentir o cheiro
agridoce e poluído do mar, então segui direto pelo caminho. Após muito andar,
o lugar pareceu clarear um pouco, a frente, havia um galpão velho que parecia
abandonado, então resolvi entrar, era tudo um sonho afinal. Por dentro, ferra-
mentas que pareciam não serem utilizadas a milênios entulhavam as paredes,
ao longe, uma poça do que parecia ser um líquido pegajoso se misturava em
meio a terra batida, o cheiro era fétido, após me aproximar, concluí, com espan-
to, de que se tratava de sangue, sangue! Me afastei dali imediatamente pela
porta dos fundos, e quase dei um grito, lá, vasilhas e jarros das mais variadas
cores estavam espalhadas pelo chão, todas continham desde bebidas alcóo-
licas a animais mortos, aquilo era macumba pura, quando eu virei para tentar
voltar pelo caminho de onde vim, a porta estava fechada, que droga era aquela?
A visão do lugar me dava arrepios, e o pior, parecia que havia mais alguém ali.
No final da trilha, pude perceber sombras, e então um grito familiar, era tia Rosa!
Nesse instante perdi totalmente a razão, fui correndo em direção ao som, eu não
podia acreditar: uma dezena de pessoas, todas usando máscaras de animais
e vestidas de branco, circundavam minha tia, esta que estava jogada no chão,
quase desfalecendo, seu rosto era uma bagunça de horror e incredulidade, ela
não falava nada, seu corpo estava todo inchado e arranhado, e em seus pulsos,
umas espécie de pulseira espinhosa a feria profundamente, ela estava despida
e parecia não ter mais forças.
– Você não pode compreender agora, mais saiba disso: todos nasce-
mos para morrer – ele cuspia jatos de sangue enquanto proferia suas ultimas
palavras – sei o que está pensando, mas entenda isso, estamos meramente
cumprindo nossas funções, e agora é a sua vez, você deve se livrar dessa ge-
ração maldita.
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Sendas da Amazonia
– Que geração você está falando? O que eu tenho a ver com tudo isso?
– A princípio nada meu querido, mas você se misturou com elas – ele
apontava para o corpo de minha tia – as almas dessas crianças já foram perdi-
das a muito tempo, você as viu nos quadros.
– Como assim? Como você sabe dos quadros? Me diga agora o que
está acontecendo!
– Eu não vou cuidar de nada, eu não tenho nada a ver com vocês!
– Não, você está errado, tudo isso está errado, eu não fiz nada, eu...
– antes que eu pudesse terminar de dizer o que eu havia começado, o homem
caiu, morto, aos meus pés. Todas aquelas pessoas agora me encaravam, elas
não pareciam surpresas, pelo contrário, pareciam estar esperando por aquilo, foi
aí então que tudo se apagou novamente.
***
Acordei com uma baita dor de cabeça, onde eu estava? Abri os olhos
vagarosamente e examinei o local: branco, tudo branco, paredes brancas, teto
branco, roupas brancas. Supus que eu estava em uma espécie de hospital, mas
como eu havia parado ali ainda me era um mistério; tentei me lembrar dos even-
tos anteriores, fui a praia, tia Rosa sumiu, Carla estava triste e acabamos nos
beijando, eu dormi com ela e... e oque? O que havia acontecido depois? Eu não
conseguia me lembrar.
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Sendas da Amazonia
Brenda Angélica
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Sendas da Amazonia
Numa dessas noites, o compadre saiu para caçar, e para sua satisfação
encontrou um veado grande e gordo tomando água tranquilamente, na beira de
um igarapé, e como se fosse uma maravilhosa benção de Deus, o compadre
avistou uma guariba bem próxima do veado, ambos estavam distraídos.
Não é que o compadre estivesse achando aquela cena toda das mais
perfeitas, mas ele não podia correr o risco de perder aquelas caças tão fáceis.
Foi quando ele pensou:
Ele atingiu os quartos do bicho que deu um grito tão forte e assustador
que foi impossível não sentir medo. Embora o medo do compadre fosse grande,
ele ainda apertou o gatilho contra a guariba, que estranhamente não se afastou
do veado ao som do disparo. Depois do segundo disparo, os bichos abatidos
começaram a chorar como pessoas. A noite ficou mais escura e o compadre
falou que era como se todos os olhos da mata estivessem lhe olhando com
reprovação. Então ele correu dali o mais depressa possível. Já me vú!
-Égua! Eu atirei em dois bichos ontem a noite, nos mesmos locais dos
ferimentos deles. Que estranho! Sua esposa lhe encara assustada e diz:
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Sendas da Amazonia
A mulher responde:
- Complicado…
Ele diz:
-Pois é ...
Raimundo Patrik
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Sendas da Amazonia
Palmito da bacabeira
Neste igarapé, até a pouco tempo existia uma bacabeira, em seu tronco
tinha um oco que falavam ser a morada da criança, e como o menino era branco,
ficou conhecido como PALMITO DA BACABEIRA.
Todos os anos, prefeitos que aqui passaram tinham que aterrar o igarapé,
para não chegar perto das casas da vila da Cohab, na terceira rua, próximo da
praça do abacaxi, não passavam veículos motorizados devido a rua ser cortada
pelo igarapé.
Acontece que o palmito não era de muita conversa, todas as pessoas que
passavam por aquele local não poderiam falar nada contra ele, pois se fizessem
receberiam bofetões que chegavam a derrubá-las.
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Sendas da Amazonia
Certo dia, um homem que tinha chegado da pesca altas horas da noite,
estava fumando um cigarro despreocupado, quando foi convidado pelo palmito
para ajudá-lo a puxar uma canoa, o pescador de nada desconfiava, ficou bravo
com o garoto por estar de madrugada na rua, foi quando sentiu um tapa no rosto,
outro, mais outro.
Octávio Jorge
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Sendas da Amazonia
O diabo da Capanema
Diz a lenda que, certa feita, um carroceiro gritava com seus bois que
estavam puxando uma carga excessiva com várias toras de madeira. Seu filho
estava ajudando naquele momento, chicoteando brutalmente os dois animais
que estavam em um lamaçal. Os bois estavam espumando pela boca e agoni-
zando pela força que estavam fazendo, enquanto o homem gritava de ódio.
Certo dia, ele chegou do seu trabalho furioso, disse que tinha sido demi-
tido. Sua mulher tentou consolá-lo, mas o homem a empurrou contra a parede.
A sua fúria estava desenfreada naquele momento, o menino que era mais velho
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Sendas da Amazonia
percebeu que seu pai estava diferente então, correu para esconder sua irmã, ao
chegar no quarto o seu pai estava espancando sua mãe, toda vez que o meni-
no via aquela cena pedia aos santos e a Deus para salvar sua mãe e mudar o
coração de seu pai, mas naquele momento ele suplicou ao diabo ou a qualquer
coisa que o ajuda-se, já que seus santos não estavam lá para lhe dar apoio. Em
instantes a casa começou a tremer, os vizinhos sentiram o fenômeno e logo,
todos correrem para ser abrigar, as luzes da casa começaram a piscar numa
velocidade incrível quando de repente o diabo aparece atrás de seu pai, naquele
momento, sua mãe estava desacordada, seu pai, ao ver aquela coisa, caiu para
trás. O menino não conseguiu mover um músculo sequer. Na sua frente, o diabo
dava passos na direção de seu pai, a pele do diabo era vermelho escuro e tinha
um líquido grosso saindo de sua boca como se fosse sangue, o diabo ficou de
frente a seu pai, as luzes continuavam a piscar numa frequência ainda maior,
seu pai soltou um grito:
Os moradores dizem que quem vê a face do Diabo fica louco para toda
vida, mas, se é assim mesmo, eu pergunto:
Máximo Sussumu
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Sendas da Amazonia
O ritual
Nina era casada com um pastor da igreja Rei Sabáh, ele era conhecido
como pastor Anori. Todas as tardes saíam a caminhar para convidar pessoas
para frequentar à igreja, sempre encontravam várias crianças brincando na rua,
paravam, conversavam com os seus pais e os convenciam a participar do culto
à noite, como era de costume, a igreja lotava de crianças, jovens e adultos.
Durante as celebrações sempre haviam aqueles jovens que fugiam para trás
da igreja, seja para namorar ou para bisbilhotar a casa de Nina e Anori que as
vezes costumavam ser muito rígidos nessa questão.
- Não Lucas, tu sabes bem que eles não gostam de ninguém bisbilho-
tando a casa deles durante as celebrações!
- Claro que eu não tô com medo besta, só não quero perturbar ninguém!
- Mas não tem ninguém na casa deles agora, e eles ainda vão demorar
um pouco na celebração, tu sabes que eles só saem de lá quando todo mundo
vai embora.
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Sendas da Amazonia
- Eu tava escondido de baixo da pia, por que tu, seu zé ruela não me
avisou que eles já tavam vido!
- Foi mal, não deu tempo, eu tava muito nervoso e resolvi tomar o açaí
pra ver se eu me acalmava!
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Sendas da Amazonia
- Vamo embora antes que nossos pais venham atrás de nós com o cipó!
- Não Anori, tenho quase certeza que são dos meninos brincando na
mata!
- Ta certo! Vamos!
- O que vocês querem aqui suas pragas? - Disse Antônio com ignorân-
cia.
- Não quero saber de nada que tenha nessa comunidade! Vocês são
uma praga pra essa comunidade! Eu não quero saber de vocês dois aqui em
minha casa! Já pra fora os dois!
- Mas seu Antônio temos que fin... – Foi interrompida por seu Antônio
gritando.
- Já disse e não vou repetir, não quero vocês na minha casa desapare-
cem já daqui. –Gritava.
- Chega de conversa e vamos logo, mais tarde tenho que ir no rio com
minha mãe, ela disse que quer me preparar pra festividade, mas não entendi
direito o motivo de ir ao rio, alguma coisa sobre me purificar!
- Deve ser, meu pai falou a mesma coisa, mas só que a gente vai caçar
hoje à noite!
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Sendas da Amazonia
- Cadê?
- Ali ó!
- Acho melhor não, se ele vê a gente vai ficar brabo, dizem que ele mata e
come crianças por isso que mora longe da vila! – Exclamou Carlos.
- Deixa de ser medroso, isso e só conversa, tu acha que se fosse verdade ele
não taria preso? – Afirmou Lucas.
- Então tá bom, fica aí sozinho enquanto eu vou atrás dele. – Disse Lucas
caminhando em direção a seu Antônio.
Os garotos começaram a seguir seu Antônio, até que enfim os dois meninos
o avistaram entrando em uma cabana abandonada no meio da mata.
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Sendas da Amazonia
- Por que tu nunca me falou isso, doido? bora embora, vai que ele se trans-
forma e come a gente! – Berrou Carlos.
* * * * * * *
(Na Cabana)
- Claro que sim! Vocês têm que parar com isso! – Disse Antônio.
- Mas já está na hora de acabar com esse massacre, são apenas crianças!
- Só pra deixar bem claro, eu não vou mais participar dessa monstruosidade!
– Afirmou Antônio.
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Sendas da Amazonia
- Tu chama isso de paz? Vocês são um bando de monstros, vocês irão quei-
mar no fogo do inferno!
- Eu sempre vou lembrar do que eu fiz, esse vai ser meu castigo na terra e
no fogo do inferno.
- Tem certeza que não vai querer participar? Essa é a última chance de se
juntar a nós novamente!
- Nunca mais irei cometer essa atrocidade, eu irei recusar até o dia de minha
morte. – Diz Antônio.
- Mas...
* * * * * * *
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Sendas da Amazonia
- Bora embora, vai que eles vejam alguma coisa e mate a gente!
- Se tu não ficar quieto eles vão descobrir que a gente tá aqui, e vão acabar
pegando a gente! – Exclamou Lucas.
* * * * * * *
(Na cabana)
- Tem razão!
- Acho que tá na hora de sairmos daqui, não aguento mais ver sua cara! –
Afirma Antônio.
- Certo, mas um último aviso, se tu não for ajudar não atrapalhe, pense nisso!
– Disse com tom ameaçador.
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Sendas da Amazonia
* * * * * * *
- Tu não vai sair de casa até o dia da festividade, vai logo pro teu quarto! –
Gritava.
- Mas porqu...
- Sem mas, e vai logo pro teu quarto antes que eu te meta a surra moleque!
No quarto, Lucas pensava sobre o que havia ocorrido mais cedo, imaginava
se a reação dos pais de Carlos seria a mesma, ele sabia que havia algo de erra-
do, talvez seu pai soubesse o que estava acontecendo e só quisesse protegê-lo.
Antes de anoitecer, Lucas estava em sua rede quando de repente escutou uma
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Sendas da Amazonia
conversa vindo da cozinha, era seu pai e sua mãe discutindo algo.
- Ele é sim, ele é meu filho e seu também desde quando chegou nessa casa.
- O Lucas, será que ele escutou? Vai lá ver, eu não consigo olhar pra ele.
- O Lucas não ta no quarto dele, pra onde esse menino foi? Temos que en-
contrá-lo antes que anoiteça!
Lucas havia escutado toda a conversa de seus pais, não sabia o que fazer,
seu primeiro impulso era ir para a casa de Carlos, mas sabia que seria o primeiro
lugar que seus supostos pais iriam procurá-lo, resolveu então voltar para matar
e passar a noite na pequena cabana que haviam encontrado com seu amigo,
sabia que seus pais não iriam procurá-lo por lá, tudo o que ele mais queria no
momento era ficar sozinho.
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Sendas da Amazonia
* * * * * * *
- Mas não sabemos pra onde ele foi. – Falou a mãe de Lucas.
- Hoje mais cedo, ele falou de uma cabana que encontrou com Carlos no
meio da mata, acho que sei onde fica, tomara que ele esteja lá. – Disse o pai
de Lucas.
- Certo, já vou.
- Vai tudo na mais perfeita ordem, espero que vocês não faltem, caso contrá-
rio já sabem o que acontece! – Responde com tom ameaçador.
- Não, claro que não iremos faltar, iremos cumprir com o compromisso!
- Pode deixar!
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Sendas da Amazonia
- O que houve?
- Não, mas fiquei com medo dele descobrir que Lucas tentou fugir!
- Meus irmãos, esta cerimônia irá começar, agora chamo a todos a trazerem
suas oferendas ao altar. – Dizia Anori.
De repente se escuta uma música tocando com palavras que não pareciam
ser de um humano, mas sim do próprio demônio. Logo em seguida, foi acessa
uma fogueira no centro da igreja e foram lançadas comidas e bebidas e todo o
tipo de oferenda para que o espírito da grande mãe fosse invocado.
Nani se dirigiu ao altar com uma faca cerimonial, pegou um dos animais que
estava no altar, levantou-lhe em sinal de oferenda, cortou sua garganta e deixou
seu sangue escorrer na enorme chama que saia da fogueira, dizendo:
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Sendas da Amazonia
- Lomora mroter dregte hirdura turgre hirnder samareru dranter lys histre mro-
ter! – que quer dizer:
- Oh, grande mãe! aceite essas oferendas em sinal de nossa devoção, não
deixe que a fome e a miséria cheguem a nós, nos proteja e nos guie para sem-
pre, oh! Mãe.
- Hurgar guerte hunsd zarsd mroter. – Dizia Nani, que quer dizer “Não nós
deixe faltar nada, aceite o grande mãe”.
- Aceite nossas oferendas, que tenhamos paz, riquezas e não nos falte nada.
- Agora meus irmãos, para finalizar nossas oferendas, iremos separar a car-
ne em sinal de gratidão e preparar um delicioso banquete para nossa festividade
de hoje à noite, lembre-se de que se alguém resolver não cooperar com a loca-
lidade, sofrerá as consequências da grande mãe. – Dizia Anori.
Assim foi feito, cada pessoa presente na cerimônia levou para sua casa um
pouco de carne para preparar uma deliciosa refeição, para ser servida a todos
os visitantes durante a festividade da igreja Rei Sabáh. Quando estava prestes
a iniciar a festividade não paravam de chegar convidados. A festividade era fa-
mosa por ter a melhor comida de toda região, muitos se perguntavam o segredo
da deliciosa comida, mas todos recebiam a mesma resposta era um ingrediente
secreto, que nunca ninguém nunca iria saber.
Sua festividade era repetida a cada 14 anos com a “receita secreta”, no de-
correr desse tempo as pessoas que visitam e provam dessa comida ficam pre-
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Sendas da Amazonia
Welton Correia
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Sendas da Amazonia
Em uma quarta-feira, ela esperou os pais irem dormir para poder ir atrás
de sua aventura. Quando ela saiu de casa, se arrependeu de não ter pegado um
casaco, pois a noite estava muito fria. Ela andou até uma rua que ficava próxima
a estrada que levava até a cidade de Inhangapi. Separando as duas vias dessa
mesma rua, tinha canteiros cheios de pequenas flores vermelhas e seguiu até
chegar em frente à igreja e esperou para ver se alguma criatura apareceria.
Aquela rua nunca fora muito movimentada depois que era encerrada as ativida-
des da pequena escola, tinha alguns pequenos comércios e duas padarias que
ficavam uma de frente para outra.
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Sendas da Amazonia
ela se arrepiou. A enorme igreja que era cheia de janelas e bem iluminada du-
rante o dia e boa parte da noite, agora estava em uma escuridão total e sem o
mínimo sinal de movimento. Ela só conseguia pensar que não deveria ter feito
aquela loucura de sair durante a madrugada para mostrar que não era covarde,
caso não tivesse feito isso, ela poderia estar dormindo confortavelmente em sua
cama. Mas já que estava ali, iria até o fim pra desvendar esse mistério e, com
esse pensamento ela ficou esperando por mais de duas horas. O sol começava
a surgir quando ela viu uma coisa que a deixou perplexa: o pastor que pregava
que homens não deveriam se vestir de mulher, estava trajando um vestido e
usando maquiagem. Ele andava mesmo pelas ruas atrás de gatos, mas não
eram os animais que lhe interessavam.
A única reação que a menina teve foi sair correndo de volta para casa,
nem se preocupou se ia ser vista. Até dar a hora de ir para aula ela não conse-
guiu pensar em outra coisa, sua maior dúvida era como ia contar aquela história
absurda aos seus colegas de turma. Quando terminara de arrumar sua mochila
sua mãe entrou no quarto e disse que ela não iria para a escola naquele dia.
Laura ficou surpresa com a notícia, perguntou o motivo e sua mãe apenas res-
pondeu que aquela escola não era apropriada para crianças. Alguém teve a
mesma ideia de investigar a vida do pastor, mas diferente da menina, essa pes-
soa não pensou duas vezes antes de espalhar a verdade. (verificar a questão
do preconceito)
Maria Eduarda
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Sendas da Amazonia
Barões do Queijo
-Ari, meu amado, não desejas aprender a fazer queijos fabulosos na fazenda de
meu pai durante a noite, após todos já terem se recolhido para dormir? Posso
ensinar-lhe.
-Você faria isso por mim, Jacir? Arriscaria a rixa e o tratado de paz de nossas
famílias?
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Sendas da Amazonia
-Claro que sim, pois antes de tudo, somos amigos, e um amigo nunca abandona
o outro!
Uma lágrima caiu do olho esquerdo de Ari, abraçando-a forte e repetindo diver-
sas vezes e baixinho no pé do ouvido de sua amante:
Ari, estava ansioso, mal conseguiu jantar, pensando e idealizando como seus
pais iriam ficar orgulhosos de seus queijos e como todo esse pesadelo que vivia
seria apenas uma fase ruim de sua adolescência.
Durante 1 mês, todas as noites, logo após o xamã tocar o berrante, ele ia à
fazenda dos Paraguaçus e fazia queijos com sua amada até os primeiros raios
do sol surgirem.
Em uma das suas escapadas noturnas, a amante de seu tio Urabitã, o viu saindo
e o seguiu e viu ele entrando nos currais da família rival, não se surpreendeu ao
ver isso, pois todos sabiam do relacionamento das crianças, porém ela se sentiu
incomodada demais e foi ver mais de perto o que faziam.
Durante esses três meses afastados de tudo e de todos, sua tia Iara,
mulher de Urabitã, ou a “Cagueta”, como ele a chamava mentalmente, teve um
filho, o Abapouru. Quando o Abapouru completou seis meses, finalmente Ari
saiu de seu cárcere, e reconquistou sua família.
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Sendas da Amazonia
E então ele mostrou uma peça de queijo para seus pais, a especialidade
da família, o queijo com vitelo marajoara. Seus pais olharam surpresos e cada
um retirou uma fatia, se olharam e falaram juntos:
-Poxa meu filho! O que aconteceu? Por que deixastes seus queijos perderem a
qualidade?
-Pois bem meu pai, meus queijos continuam excelentes, nada perdeu de qua-
lidade, o que me aconteceu foi que a peça de vitelo que eu utilizava acabou e
estou utilizando outra, e nenhuma carne é idêntica a outra.
-Não comprei do mesmo vendedor, pois ele não vende mais carnes, porém uti-
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Sendas da Amazonia
-E se eu der um emprego para este açougueiro? Será que ele ainda te consegue
vitelos com qualidade?
-Sem problemas pai, mas creio que ele já foi embora da ilha.
A verdade era que a carne que ele utilizou nos queijos era de Abapouru,
cria da cagueta, foi a forma de vingança encontrada por ele. Porém, os negócios
iam de mal a pior após a troca da carne. Seus pais chegaram á adoecer por
conta da rápida perda do dinheiro dos Almada-Peri para os rivais, então o pai de
Ari lhe deu um ultimato:
- Acho bom você fazer queijos tão bom quanto aqueles, você tem três dias para
isso!
Ari ficou pensativo, afinal, ele não era um assassino, fez apenas uma
vez, ele ainda possuía sentimentos, sabia que uma criança inocente não tinha
nada haver com ele, porém se tratava de sua família e o lema que ela carregava.
Na noite daquele mesmo dia, ele foi a caça, porém qual criança doce,
jovem e inocente ele iria matar dessa vez? Ele pensou, e pensou e pensou,
andava pelas ruas de Soure ao léo, sem rumo. Até que lembrou que a criança
deveria ser gorda, para que seu estoque durasse bastante e para que as caças
não ficassem frequentes, mas quem? Todos eram criados a base do pirão com
peixe e trabalho em hortas, pomares ou manejo de búfalos, não haviam crianças
gordas ali.
O reinado dos queijos voltou, o maior da região. Araripe voltou aos seus
tempos de glória com sua família.
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Sendas da Amazonia
Em sem décimo oitavo aniversário, seu pai lhe deu todas as posses da
família, aliás estava velho, pretendia ir para Belém e deixar o filho mais promis-
sor tomar conta de tudo, mas não, sem antes fazer uma festa gigante na fazenda
da família, aonde era tudo a base do frito do Marajó, churrasco de búfalo com
queijo e muita aguardente, Araripe ficou muito bêbado, mais que todos ali pre-
sentes, talvez até mais que o velho papudinho, um morador da vila que passava
o dia e a noite bebendo, e cortou-se em um copo onde estava bebendo, fazendo
um corte no meio de sua mão esquerda. O que o levou para dentro da casa,
onde seus pais lhe socorreram.
-Filho, que orgulho, estou indo porém, deixando todo meu legado para você,
faça jus ao nome Almada-Peri.
-Vocês acham mesmo que eu uso vitelo? Sabem como é difícil e caro achar um
vitelo bom, isso é carne de crianças que são doces, puras e inocentes. Lembram
de Abapouru? Ele foi minha primeira safra, foi ele quem me deu lugar nesta
família, que o sol o tenha!
Ari não se recordou de nada da festa, nem da conversa que teve com os pais,
porém, após ele ficar sóbrio, seu pai lhe falou novamente da viagem. Ele hesi-
tou, porém, obedeceu ao pai. Os pais o levaram para Belém, e depois a Europa,
Portugal, onde a família tinha posses também. Mas, depois de pouco mais de
três meses, retornaram. Os pais ficaram em Belém, mas Ari ou, melhor, Pereira,
voltou para o Marajó com um novo nome, uma nova identidade, um rosto novo
e uma nova vida, aonde ele não comprometia o nome Almada-Peri, continuava
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Octávio Jorge
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Sendas da Amazonia
A hora do Desespero
Chegando lá:
A coisa que não conseguíamos identificar era preta e grande. Todos come-
çaram a entrar em desespero até que Aline disse:
- Mas e a Larissa? As pernas dela são pequenas e ela não vai consegue
correr, disse Erika.
Gente! Larissa sou eu! Nesse momento me senti inútil, parece que eu estava
atrapalhando a fuga, então eu disse:
Todos estavam discutindo bem baixinho, para decidimos o que fazer a meu
respeito, de repente escutamos um barulho.
Todos ficaram ainda mais amedrontados. Alguém bateu na porta, mas não
sabíamos quem era. Todos estavam desesperados, eu, estava quase chorando.
Levamos um “baita” susto, era a minha mãe Laura que estava batendo.
Ela disse:
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Sendas da Amazonia
- A coisa que estava dentro do mato não era a senhora? Falou Edilson
- Quem era aquela coisa? O que ela queria? Estas eram as perguntas que
surgiam na cabeça de todos que estavam lá.
Mas como já estava tarde da noite, deixamos para resolver na manhã se-
guinte.
Todos nós fomos dormir, mas a Giselle estava tão assustada que não con-
seguiu dormir, então ela ligou as luzes e viu que todos estavam acordados tam-
bém.
- Vou contar uma história baseada em fatos reais que ocorreu algum tempo.
Disse Paula.
- Minha mãe e meu pai estavam em casa à noite, e onde nós morávamos era
somente mata. Os vizinhos mais próximos ficavam a quilômetros de distância.
Certo dia, eles estavam indo para casa da vovó e do vovô. Minha mãe sentia que
algo estava os perseguindo, mas não se importou e continuou andando. Meu pai
estava vindo atrás com um terçado enorme. Num dado momento, minha mãe
parou e disse que precisava fazer xixi, mas o papai continuou andando, então de
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Sendas da Amazonia
repente, algo se mexeu no mato e ela já ficou assustada, passou algo muito rá-
pido perto dela, mas deus para ver que era grande e preto como um lobisomem.
Mamãe gritou muito alto e papai foi correndo rapidamente para ver o que estava
acontecendo, ele também se assustou com o que viu, então, pegou o terçado e
tentou corta-lo, mas o bicho acabou indo embora.
- Vamos dormir, disse Aline. Assim, aos poucos nos acalmamos e dormimos.
Mas que dia foi esse? Perguntou Erika. Todos respondemos: coisas que só
acontecem no interior de Tomé-Açu.
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A bela moça
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ficou muito triste, não sabia o nome da moça, nem aonde ela morava, só lembrava
do seu lindo rosto. Depois de muito pensar, resolveu voltar para a Europa, mas
antes desenhou o rosto da bela moça, que nunca mais iria esquecer.
No dia de sua morte, pediria para enterrar o retrato junto com seu
corpo. E assim aconteceu, Xavier morreu sozinho, sem ninguém, não tinha filhos
nem filhas, só o retrato de sua amada.
Lucas Mateus
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A loira do táxi
-Pois não…
-Eu queria dar uma volta pela cidade de Belém, pelos lugares mais
próximos e mais lindos.
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Sendas da Amazonia
-Estou aqui para ser pago por uma corrida feita pela cidade por
uma moça que diz morar aqui, eu a trouxe ontem a noite aqui e ela
me pediu para esperar lá fora enquanto buscava o dinheiro para
acertar a corrida, mas ela não voltou e eu fui embora. Olhando ao
redor percebeu uma foto enorme na parede da moça que atendera.
-Aquela moça que está na foto é minha filha e foi seu aniversário
ontem, ela gostava de dar uma volta por toda a cidade de carro
nesse dia –explicou o senhor.
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de cabelos brancos, olhos castanhos, bem idoso que se destaca vindo a frente,
era Raimundo, apregoando a resistência a esta obra, mas não com força, e
nem ficando triste ou pensando que está tudo perdido. O homem disse que a
oposição deveria ser realizada com a inteligência, a paciência e a esperança.
Quando pediram para se retirarem da terra, não saíram, se mantiveram
firmes, sem a necessidade de lutar ou ferir alguém. Então Marcos Santos,
representante da empresa de eletricidade, EnergInter, chegou até ao senhor
Pedro e perguntou-lhe qual o motivo de estarem fazendo esta manifestação,
esta resistência.
-Estamos fazendo isso, por que temos certeza que essa construção vai
destruir tudo aqui. Vocês não se importam com as pessoas? Disse o senhor
Pedro.
-As árvores, os animais, vão sofrer com isso, não terão mais peixes no
nosso rio, e as pessoas nem terão mais como viver, pois nem possuirão comida.
Finalizou o líder do Pimental.
Melquizedeque
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A moça do lenço
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Sendas da Amazonia
admirado pela moça que queria algo tão simples. Foi para sua casa e no dia
seguinte não apareceu na escola, a moça estranhou por não ter sido recebida
com o bom dia do rapaz, já que ele era a única pessoa que falava com ela. No
final da tarde caminhou até o igarapé e ao chegar teve uma bela surpresa, Luiz
havia colocado várias plantas ao redor do balanço que ela costumava ir e várias
alamandas na entrada.
Ela ficou admirada de tanta beleza e feliz ao vê-lo no final daquela estradinha de
flores. Ele disse em um tom de voz nervoso:
-Nem a luz que bate nessas flores é mais linda que você!
Ela respondeu.
-Como diz uma coisa dessas se nem sequer olhou meu rosto?
-A aparência física é um detalhe, me apaixonei pelo seu modo de enxergar a
vida, a ternura e a beleza de como trata a natureza é encantadora.
Ela ficou nervosa, mas dessa vez não fugiu para longe dele.
-Meu nome é Chiara. Disse a moça.
Ao notar que Chiara estava levantando o lenço lentamente do rosto,
Luiz fica sem reação. Logo ele começa a ver uma pele clara repleta de pintinhas.
Olhos castanhos escuro e cabelos ondulados e dourados. Encantado, o rapaz
a chamou de cachinhos dourados, Chiara falou que a partir daquele dia, aquele
lugar não seria mais só seu, mas sim, deles.
Maria Fernanda
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A mulher do Sapé
-Alice!
Alice logo ouve seu nome, mas não sabe quem está chamando. Revira
a cabeça para os cantos e vê João Bento. Então, acena para ele e os dois vão
ao encontro um do outro.
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Sendas da Amazonia
-Oi Alice! Tudo bem? Foram ótimas! Ei! Agora tamo no quinto ano, né? Podemos
agora ver se aquela casa é mesmo mal assombrada.
-Ai não, Pedro! Você mal falou comigo e já tá nisso? Essa história de bruxa é
mentira, cara.
Como Bento era curioso, não deixou isso como único argumento:
-Mais é claro que nós vamo lá! Se eu chamar o Pedro e a Roberta é claro que
eles vão comigo.
-Hahahaha, até parece. Pedro não gosta disso...e a Roberta talvez nem tenha
tempo. E por falar neles, cadê os dois? Não vi até agora.
Pedro respondeu:
-AI MEU DEUS! - nervosa, lembra-se de voltar a sala. Sai em direção a ela. A
porta fecha com um rangido baixo, até bater na fechadura. Quando bate, ela
volta para a sala.
-Foi mesmo – respondeu. Roberta não queria contar o ocorrido, pois ninguém
iria acreditar e ainda iriam dizer que é invenção.
A campa toca. Hora de voltar para sala. O resto da manhã ocorreu tran-
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Sendas da Amazonia
quilamente.
Meio dia. A sirene grita. Todos em fila para ir tomar banho. Quarenta e
cinco minutos depois, finalmente almoço. Sentaram e começaram a comer. Em
uma das colheradas, Bento fala:
-Vamos hoje lá? Temos que aproveitar que vai ter educação física.
-Tu não vai parar enquanto não for lá, né? - Alice argumenta.
-Bento, deixa quieto isso. Não quero invocar nenhuma entidade desconhecida.
Disse Pedro.
-Vamo gente! Todo mundo vai junto! Quero só ver o que tem lá.
-Eu vou com ele. Se formos todos juntos podemos bater muito nele quando en-
contrarmos uma casa vazia. – Roberta surpreendeu. Alice e Pedro a encararam.
-Eu quero! Alice e Pedro dizem em coro, surpreendendo até mesmo o próprio
Bento.
-Então vamo!
-Nada não.
-Mas você tá muito esquisito. Sei que tu é esquisito, mas não tanto assim.
-Hã...Bento?
-Que foi?
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Sendas da Amazonia
Pedro olhou com uma cara estranha, mas não ligou muito.
-Ok então.
-Não tinha outro lugar para entrar, não? Lá vai eu ter que lavar meu sapato de
novo.
-Shiu!
Todos seguiram abaixados até encontrar o muro que fazia fronteira com
a casa.
-Pera...você disse isso mesmo que eu ouvi? - Alice já estava irada. Além dela,
Pedro e Roberta também.
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Sendas da Amazonia
-Você tá louco?! Insistiu em tudo aquilo, planejou, convenceu, enganou pra mor-
rer aqui? Ai que raiva de você, Bento!
-Não tinha pensado nisso antes, não tinha pensado nisso antes… Alice fala em
um tom de deboche misturado com sarcasmo.
Bento ainda sobre a mata, olha para cima num sinal de fracasso, mas vê
uma brecha no muro, logo vai chegando mais perto, afastando o mato ali exis-
tente que cobria. Não era mais uma pequena brecha, e sim, um buraco maior.
-Acho que é por aqui que continuamos nossa missão, certo? Bento olha atento
para os outros que continuam abismados.
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Sendas da Amazonia
-Vamos logo.
Entram em fila pela porta que perecia ser dos fundos. A porta praticamente
comida por cupins, facilitou a entrada, rangendo quando aberta por Bento. En-
traram no que era uma cozinha, cheia de folhas secas e paredes com a tinta
descascando.
-Nenhum barulho. Roberta bem baixinho olhando pros seus amigos e eles con-
cordando com a cabeça.
Neste passo, estavam na divisa da cozinha com a sala. Foi quando ouviram
rangidos do teto. Todos se olham e respiram fundo. O rangido para.
-Vamo embora
-Não Bento! Não vai! É perigoso! Mas Bento não ouve pois apenas os lábios de
seus amigos se movem. Ele sobe a escada traiçoeira com determinação e um
pedaço de pau que pegou da sustentação no início dela. Alcança o segundo
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Sendas da Amazonia
-Tu é leso de subir aqui sozinho? Tu tem amor à vida, não é? -A preocupação
de Alice e Roberta é interrompida pelo rangido novamente. Todos em silêncio.
Ele para. Bento retoma os passos e continua pelo corredor. É seguido agora por
Alice, Pedro e Roberta. O corredor tem apenas 4 portas. O ruído parecia vir da
última porta da direita. Estavam todos posicionados em frente dela. Alice abre
lentamente.
-Oi crianças. Como vão vocês? -Havia uma mulher sentada em frente ao espe-
lho. Ela era branca, de cabelos muito escuros e olhos pretos. Vestia um vestido
preto rendado, que lhe caia bem e combinava com seu tom de pele e usava um
batom vermelho.
-Quem é você?
-Vocês não sabem? Sou a mãe de vocês agora. As crianças não são surpreen-
didas pelo fato de ter uma mulher sozinha em uma casa abandonada, mas sim,
pela afirmação feita pela bela mulher.
-Eu estava esperando por vocês, meus filhos. Me sinto tão sozinha aqui. Em um
tom leve e sutil
-Desculpe senhora, mas está nos confundindo. Bento diz a bela moça.
Neste momento, Alice olha em volta do quarto sujo, procurando entender o que
ela fazia ali. E é ali que descobre uma forca no teto disfarçada pelas teias de
aranha e uma cadeira no canto do quarto.
-Acreditem, vocês serão muito felizes aqui. Alice interrompe o diálogo dizendo:
-Aquilo no teto é uma forca? Todos viram a cabeça em direção ao teto esquerdo.
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Sendas da Amazonia
-Oh sim, é minha. Desde o tempo que usei isso nunca mais limpei.
Todos ficam paralisados. O ser com que eles conversavam não era vivo. O
vento bate com força no quarto, fazendo com que as folhas secas no chão se
movimentassem, revelando a mancha de sangue embaixo da corda assassina.
-CORRAM! -Roberta grita. A mulher se levanta exibindo seu vestido longo, indo
atrás deles. Eles descem pela escada rapidamente.
Consequentemente, abortou várias e várias vezes, sendo que seu maior sonho
era ser mãe. Sua pele era branca porque tinha dois anos que não saía daquela
maldita casa, pois era acorrentada. No dia em que seu marido saiu de casa, ele
deixou-a no quarto acorrentada, mas ela conseguiu se soltar e foi atrás dele. Ele
morreu afogado em uma banheira de motel. Enquanto ela foi encontrada duas
semanas depois de sua suposta morte, dependurada na forca.
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Isabelle Coimbra
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O espeáculo de horror
Rafael Alexandre
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Sendas da Amazonia
Guerreiras da Amazônia
Podia se ver apenas o seu vulto de tão veloz que era, feroz como um
tigre, forte como um touro, uma bela e brava guerreira chamada Talia. Morava
em uma aldeia localizada no meio da Amazônia, saia para caçar animais que
serviriam de alimento para o seu povo. A guerreira era chefe da tribo Guaraná,
era um pequeno povoado, mas com bravos guerreiros e principalmente guerrei-
ras que eram incentivadas a lutar por sua líder.
—Nós somos homens! Nossas tribos não têm mulheres suficientes para todos
os homens! Vamos atacar as belas guerreiras e serão todas nossas!
Talia não pensou duas vezes e foi correndo com sua grande velocidade
avisar sua tribo que ela seria atacada em breve. Chegando lá ela gritou:
—Nossa aldeia vai ser atacada! — Disse Talia. — Todos se juntem, peguem
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Sendas da Amazonia
suas lanças, seus arcos e flechas! Lutem bravamente por suas vidas!
—Força bravas guerreiras! Fomos criadas para batalha, não podemos fraquejar
agora!
Luís FG Mourão
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Sendas da Amazonia
- Seu Tonio, posso pegar uns pães e uns salgados pra eu levar pros meus pa-
rêntes lá no interior.
E ele respondeu:
- É claro!
- E que eu tô sem ver meus parênte a mais de 4 anos e quero ir daqui e levar
algo pra eles pra não ir de mão vazia. A viagem daqui pra lá não demora então
não vai estragar.
- Pode confiar em mim, quando eu voltar vou te pagar, daqui umas três semana.
José então foi visitar seus parentes e durante sua ida ao interior, enquanto ele
estava tomando banho de rio sua carteira caíu da ponte onde ela estava, direto
na água e a nota que seu Antônio lhe tinha concebido foi perdida junto com a
carteira e o dinheiro que ele havia guardado para voltar a cidade modelo, sendo
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Sendas da Amazonia
assim, ele teve que contar com bicos e empréstimos de seus familiares para vol-
tar o que demorou mais duas semanas na sua viagem. Enquanto isso, seu An-
tônio já estava perdendo a credibilidade nquele que acreditava ser o seu melhor
cliente, pois já se passara cinco semanas para ele voltar, derrepente ali estava o
“cliente fiel’ a sua frente, mas, com o olhar enfurecido seu Antônio disse:
José responde:
- Minha carteira caiu na água e perdi todo o meu dinheiro, só consegui dinheiro
pra voltar, tô sem um tustão no bolso.
-Se não tem dinheiro pra me pagar então dá o fora daqui e não volte mais, pois
caloteiro que nem você não presta, só dá prejuiso. Engana os outros dizendo ser
bom pagador e depois dá o golpe.
E assim José foi para sua casa triste, depois da humilhação que ele havia pas-
sado, pois se tornou sem querer, de um fiel pagador a um caloteiro.
Oslain Gabriel
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Mangueiras do Grão-Pará
— Percebi o jeito que você olha pro Céu, e sim, eu sei sobre o que as pessoas
falam de você…
— Talvez você poderia explicar seu modo de ver as coisas, há muitos que tor-
cem para retirarem essas coisas daqui.
Ela parou e olhou fixamente para ele, observou sua barba bem feita, seu
olhar que fixava em seu rosto e disse:
— Não posso explicar algo que ninguém não quer entender ou que não gosta-
riam de ouvir, nosso modo de pensar é subjetivo, então seria loucura, não pra
mim, mas pra você, pois além de mal educado é um bacaca.
— Mal educado?
— Eu esperava pelo menos um bom dia, não uma pergunta logo pela manhã.
Ela pensou em abandonar o rapaz e seguir seu trajeto, porém Nalanda sentiu
que deveria ficar, então diz:
— Amém?
— Se eu tivesse um nome como o seu todos iam concluir que sou louca, sendo
que a maioria acha isso.
Ele riu e levou aquilo como uma vingança pelo modo que ele a abortou
no dia anterior, ele ficou rindo discretamente e falou:
— Certamente, mas isso ainda não se aplica a mim, digamos que eu te acho
meio louca, não completamente, afinal todo mundo é um pouco louco.
Ela entrou no café e sentou-se no banco que ficava perto do balcão, ele foi atrás
e sentou ao seu lado.
— Então, anos atrás eu estava caminhando por aqui. Eu vou contar, mas se
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você rir eu dou um soco na sua cara – disse ela toda envergonhada,
— Okay – Falou ele encantado com seu modo de criar pequenos momentos de
humor até em situações sérias.
— Como eu disse, eu estava andando por aqui quando uma manga caiu, seria
algo normal, mas não foi, pois a manga caiu na minha cabeça, e logo após eu
desmaiei, meses depois eu acordei no hospital após uma cirurgia, com o aciden-
te, os médicos perceberam um tumor – um câncer – na minha cabeça, e então
eu consegui combater antes que ele me matasse, e foi graças a mangueira, en-
tão, devido a isso, eu as vejo como algo bom, e não algo ruim, elas me salvaram
e todos que me julgam não sabem disso.
Nalanda se sentiu mal após falar sobre seu passado, ela resolve se
despedir e seguir seu trajeto até a faculdade
Taki não disse muito após a fala de Nalanda, ele ficou realmente
impactado com o que ela disse, porém ele quis ajudá-la, ele contou a muitas
pessoas o que realmente tinha acontecido com a garota, e depois de dias, a
informação ia repassando a muitas pessoas, e logo pararam de chamá-la de
louca, contudo, eles nunca mais se viram, Taki foi enviado ao Haiti em missão
de paz, pois ele fazia parte da corporação do exército, Nalanda formou-se em
arquitetura, e conseguiu um bom emprego em Belém, e todos a conheciam, não
como louca, mas sim, como a garota que venceu um câncer por causa de uma
mangueira do Grão-Pará.
Mateus Santana
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Velocidade máxima
Sofia, sempre optou por viajar com James, pois os dois possuem a mes-
ma opção de destino. Quando estão em um restaurante por exemplo, já sabem o
que vão escolher. Ela exerce a função de secretária em uma fábrica de sapatos,
portanto, precisa pegar ônibus todos os dias. Certo dia, viu o marido sair sem
ao menos dizer para onde iria. Ligou para ele, porém o celular estava em casa,
ficou desesperada, isto é, pensou no que deveria estar fazendo tão cedo, pois
era sábado e, neste dia, os dois ficavam em casa dormindo um pouco mais tar-
de. Portanto, avisou a sogra acerca do que havia acontecido.
Certo dia, James precisou fazer uma viagem empresarial durante duas
semanas. Mas, estava triste, pois não poderia levar outra pessoa em sua com-
panhia. Alguns dias antes, decidiu percorrer uma trilha específica com a esposa.
Ele sentiu algo diferente quando estava com ela dentro do carro, pois diversas
vezes pensou em desistir do período que ficaria longe dela.
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Meses depois, Sofia descobre que está grávida. Todos ficaram muito
felizes com a notícia, porém a correria do engenheiro mecânico, gerou certo
conflito entre o casal. Certo dia, a empresa realiza outra viagem, portanto, o
profissional não poderia ficar de fora. James, de forma alguma, decepcionaria
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Véspera da viagem. Helena, telefona para o filho. Ela implorou para que
ele não fosse. No entanto, a decisão do mesmo, permaneceu como estava. No
dia seguinte, às 5 horas da manhã, James, tomou o seu banho, vestiu-se com
as roupas que havia comprado recentemente, preparou o café e, como sempre,
higienizou o carro. Ao entrar no quarto do casal, se deparou com o choro da
esposa. Neste momento, Sofia, o abraçou com todas as suas forças, o agrade-
cendo por tudo. Em seguida, as mãos do marido sobre a sua barriga, as deixa,
ainda mais emocionada. Logo após, pega as malas, a chave da Amarok, duas
fotos e entra no carro. Ela ficou na porta da casa, acenando para ele como se
nunca mais fosse vê-lo.
S. Jhon
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quem diga que a ilha da paçoca fica toda iluminada, com inúmeras velas, e na
proa pode-se ver Demóstenes com uma corda na mão, simbolizando a navega-
ção e em seus braços Sebastiana. Quando se avista a ilha desse jeito, dizem
que é Demóstenes tentando salvar sua amada.
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