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Infecção misteriosa causada


por fungo se espalha pelo
mundo
Avanço aponta para o problema de germes resistentes a
medicamentos; não há registro da infecção no Brasil

9.abr.2019 às 7h00
Atualizado: 9.abr.2019 às 19h39

Matt Richtel
Andrew Jacobs

Em maio do ano passado, um homem idoso foi admitido


NOVA YORK

no Hospital Mount Sinai no Brooklyn para uma cirurgia abdominal.


Um exame de sangue revelou que ele havia sido infectado por um
germe letal e misterioso, descoberto há pouco tempo. Os médicos
rapidamente ordenaram que ele fosse colocado em isolamento na
unidade de tratamento intensivo.

O germe, o (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/brasil-nao-tem-sistema-de-
vigilancia-de-fungos-e-corre-risco-diz-medico.shtml) fungo Candida auris, 
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/brasil-nao-tem-sistema-de-vigilancia-de-fungos-e-

corre-risco-diz-medico.shtml)descoberto recentemente, 
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/brasil-nao-tem-sistema-de-vigilancia-de-fungos-e-

corre-risco-diz-medico.shtml)ataca pessoas com o sistema imunológico


enfraquecido, e está se espalhando silenciosamente por todo o
planeta. Nos últimos cinco anos, atingiu uma unidade neonatal na
Venezuela, varreu um hospital na Espanha, forçou um prestigioso
centro médico britânico a suspender as operações de sua unidade
de terapia intensiva e fincou raízes na Índia, Paquistão e África do
Sul.

Recentemente, o Candida auris chegou a Nova York, Nova Jersey e


a Illinois, o que levou os Centros de Controle e Prevenção de
Doenças (CDC) dos Estados Unidos a inclui-lo em uma lista de
germes classificados como "ameaças urgentes".

Segundo o CDC, não há registros no Brasil, mas, como o país não


tem sistema de vigilância para fungos, o fungo pode entrar sem ser
detectado (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/brasil-nao-tem-sistema-de-
vigilancia-de-fungos-e-corre-risco-diz-medico.shtml), segundo o médico Arnaldo

Colombo, da Unifesp.

O paciente do Mount Sinai morreu depois de 90 dias no hospital,


mas o Candida auris não foi contido. Exames mostraram que o fungo
estava presente em todo o quarto do paciente, a ponto de o hospital
necessitar de equipamento especial de limpeza; também foi
necessário arrancar algumas das placas do teto e das lajotas do piso
para erradicá-lo.

"Tudo mostrava sinais de presença —as paredes, a cama, as portas,


cortinas, telefones, a pia, o quadro branco, os suportes de soro, a
bomba", disse Scott Lorin, o presidente do Mount Sinai. "O colchão,
as grades da cama, os buracos para encaixe, as persianas, o teto —
tudo que existia no quarto mostrava sinais de presença do germe".

O Candida auris é tenaz a esse ponto em parte porque resiste aos


principais medicamentos antifúngicos, o que faz dele um novo
exemplo de uma das ameaças mais intratáveis à saúde do planeta:
as infecções resistentes a medicamentos.

Os especialistas em saúde pública vêm alertando há décadas que o


uso exagerado de antibióticos (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/939633-
novos-antibioticos-sao-promessa-contra-superbacterias-resistentes.shtml)estava reduzindo a

efetividade dos remédios que estenderam expectativas de vida ao


curar infecções bacterianas que no passado eram causas de morte.

Mas, recentemente, também surgiu uma explosão de fungos


resistentes a medicação, o que acrescenta uma dimensão nova e
assustadora a um fenômeno que está solapando um dos pilares da
medicina moderna.

"É um problema enorme", disse Matthew Fisher, professor de


epidemiologia fúngica no Imperial College London e coautor de
uma revisão científica recente sobre os fungos resistentes a
medicamentos. "Confiamos em medicamentos antifúngicos para
tratar esses pacientes".

Em resumo, os fungos, como as bactérias, estão desenvolvendo


defesas para sobreviver aos medicamentos modernos.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1 Por que os EUA estão preocupados com infecções pelo fungo


Candida auris?
Porque geralmente se trata de infecção resistente a muitos remédios
antifúngicos usados para tratar infecções por Candida. Também porque
essa infecção é difícil de identificar por métodos laboratoriais comuns e
pode ser confundida com outras infecções

2 Que tipo de infecções o C. auris pode causar?


Infecções da corrente sanguínea, infecções originárias de machucados e
também de ouvido. O fungo já foi isolado de espécimes respiratórios e
urinários, mas não está claro se ele pode causar infecções de pulmão ou
bexiga

3 Como é identificada a infecção?


Como outras por Candida, a causada por C. auris é identificada em
culturas de sangue ou outros fluidos, mas ela pode ser confundida com
outros patógenos, especialmente o Candida hamulonii

4 Quem tem maior risco?


Dados ainda limitados apontam que os fatores de risco são os mesmos
para outras infecções por Candida: cirurgia recente, diabetes, uso de
antibióticos de amplo espectro e de antifúngicos. Pessoas que ficaram
internadas e receberam tubos ou cateteres têm maior risco também. As
infecções já foram vistas em pessoas de todas as idades

5 Quando ela foi identificada?


A primeira vez foi em 2009 no Japão, mas dados retrospectivos
apontam infecções em 1996 na Coreia do Sul

6 Onde a infecção já ocorreu?


Ela já foi reportada em mais de 20 países —segundo mapa atualizado
pelo CDC em fevereiro, o Brasil não está entre eles

7 Como ela se espalhou?


O CDC (Centro de controle de doenças dos EUA) realizou o
sequenciamento genético de espécimes do C.auris de países da Ásia,
África e América do Sul. A análise sugere que as infecções surgiram
independentemente em múltiplas regiões ao mesmo tempo

8 As infecções por C.auris têm tratamento?


A maioria é tratável por uma classe de antifúngicos chamada
echinocandins. No entanto, algumas delas se mostraram resistentes às
três principais classes de medicações antifúngicas. Nesses casos,
múltiplas classes em doses maiores são necessárias

9 A infecção por C.auris pode matar?


Sim, mas não se saber se ela causa mais mortes do que outras infecções
invasivas por Candida. Baseado em um número limitado de pacientes,
de 30% a 60% das pessoas com C.auris morreram. No entanto, muitas
delas tinham outras doenças sérias que aumentavam seu risco de
morte

10 Como ela se espalha?


Em ambientes de saúde, como hospitais, pode se espalhar por
equipamentos ou superfícies contaminadas ou de pessoa para pessoa

Mas apesar de os líderes mundiais de saúde virem apelando por uso


mais contido de medicamentos antibióticos no combate a fungos e
bactérias —inclusive à Assembleia Geral da ONU, em 2016, para que
ela ajudasse a administrar a crise emergente—, o uso exagerado
desses remédios por hospitais e clínicas e na agricultura continua.

Os germes resistentes costumam ser chamados de "superbugs"


[superpragas], mas isso é simplista porque eles não matam todo
mundo, tipicamente. Em lugar disso, são mais letais para pessoas
com sistemas imunológicos imaturos ou comprometidos, entre as
quais recém-nascidos e idosos, fumantes, diabéticos e pessoas com
distúrbios do sistema imunológico e que usam anabolizantes que
reduzam as defesas do corpo.

Os cientistas dizem que a menos que novos medicamentos, mais


efetivos, sejam desenvolvidos e que o uso desnecessário de
antibióticos seja restringido severamente, o risco se expandirá para
populações maiores. Um estudo bancado pelo governo britânico
projeta que, se não forem adotadas medidas que contenham a
ascensão da resistência a medicamentos, 10 milhões de pessoas
podem morrer como resultado dessas infecções
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/09/1920323-superbacterias-podem-se-tornar-a-

principal-causa-de-morte-no-mundo.shtml) em 2050, o que eclipsará as oito milhões


de mortes causadas por câncer previstas para aquele ano.

Nos Estados Unidos, dois milhões de pessoas contraem infecções


resistentes a tratamento a cada ano, e 23 mil delas morrem por isso,
de acordo uma estimativa oficial do CDC. O número se baseia em
dados de 2010; estimativas mais recentes, pela escola de medicina
da Universidade de Washington, estimam as mortes em 162 mil. No
mundo, a estimativa é de que 700 mil pessoas morram a cada ano
de infecções resistentes a tratamento.
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/01/brasil-lanca-plano-contra-superbacterias-e-

hospitais-racionalizam-antibioticos.shtml)

Os antibióticos e os antifúngicos são essenciais para combater


infecções em humanos, mas os antibióticos também são usados
amplamente para prevenir doenças em rebanhos, e antifúngicos são
usados para impedir que plantas apodreçam. Alguns cientistas
mencionam indicadores de que o uso exagerado de fungicidas em
safras agrícolas (https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1931115-fungo-asiatico-e-o-
está contribuindo para a ascensão de fungos
principal-inimigo-das-bananas.shtml)

resistentes a drogas e que infectam pessoas.


No entanto, o problema cada vez mais grave continua a não ser
compreendido pelo público —em parte porque as infecções
resistentes a remédios muitas vezes terminam envoltas em segredo.

Tanto no caso das bactérias quanto no dos fungos, os hospitais e os


governos relutam em divulgar surtos por medo de que os locais
passem a ser vistos como focos de infecção. Mesmo os CDC, nos
termos de seu acordo com os governos estaduais americanos, está
proibido de divulgar locais e nomes de hospitais envolvidos em
surtos. Governos estaduais decidem, em muitos casos, não publicar
informações sobre o assunto, limitando-se a admitir que houve
casos.

Enquanto isso, os germes se espalham com facilidade —carregados


nas mãos dos profissionais de saúde e equipamentos hospitalares;
transportados na carne para consumo e nos vegetais produzidos
com estrume nas fazendas; conduzido a outros países por viajantes
e em produtos de importação e exportação; e transferidos por
pacientes de casas de repouso para hospitais, e vice-versa.

O Candida auris, que infectou o paciente do Mount Sinai, está entre


as dezenas de bactérias e fungos que desenvolveram resistência a
tratamento.

Outras variantes proeminentes do gênero Candida —uma das causas


mais comuns de infecções na corrente sanguínea em hospitais
— não desenvolveram resistência significativa a medicamentos, mas
mais de 90% das infecções por Candida auris são resistentes a pelo
menos um medicamento, e 30% resistem a dois ou mais
medicamentos, segundo os CDC.

Lynn Sosa, diretora-assistente do departamento estadual de


epidemiologia do Connecticut, disse que agora vê o Candida auris
como "principal" ameaça, entre as infecções resistentes a
tratamento. "É quase indestrutível, e muito difícil de identificar", ela
afirmou.

Quase metade dos pacientes que contraem o Candida auris morrem


dentro de 90 dias. Mas os especialistas mundiais ainda não
identificaram de onde ele veio inicialmente, para começar.

"É a criatura da lagoa negra", disse Tom Chiller, médico que


comanda a divisão de fungos do CDC e que lidera uma investigação
para encontrar tratamentos que impeçam sua difusão. "Surgiu das
profundezas e agora está em toda parte".

No final de 2015, Johanna Rhodes, especialista em doenças


infecciosas no Imperial College London, recebeu um telefonema
apavorado do Royal Brompton Hospital, um centro médico em
Londres. O Candida auris tinha deitado raízes no hospital três
meses antes, e a instituição não estava conseguindo eliminá-lo.

"Não fazemos ideia de onde tenha vindo. Jamais ouvimos falar dele.
E está se espalhando como um incêndio na mata", Rhodes disse ter
ouvido dos colegas do Royal Brompton. Ela concordou em ajudar o
hospital a identificar o perfil genético do fungo e eliminá-lo de seus
quartos.

Sob seu comando, o pessoal do hospital começou a usar um


aparelho que espalhava um aerossol de peróxido de hidrogênio por
um quarto usado na internação de um paciente com Candida auris; a
teoria era que a aplicação em forma de vapor penetraria em cada
canto e desvão do aposento. O aparelho ficou ativo no quarto por
uma semana inteira. Em seguida, a equipe instalou no meio do
quarto uma "settle plate" [placa de fixação] contendo um gel, que
serviria como local para que quaisquer micróbios sobreviventes
voltassem a crescer, disse Rhodes.
O fungo estava se espalhando, mas as informações sobre ele não. O
hospital, um centro especializado em tratamentos cardíacos e
pulmonares que atrai pacientes ricos do Oriente Médio e de toda a
Europa, alertou o governo britânico e informou os pacientes
infectados, mas não fez comunicados públicos.
"Não havia necessidade de divulgar um press release durante o
surto", disse Oliver Wilkinson, porta-voz do hospital.

Esse pânico sussurrado se repete em hospitais de todo o mundo. As


instituições individuais e os governos municipais, estaduais e
nacionais relutam em divulgar surtos de infecções resistentes a
tratamento, argumentando que não faz sentido assustar os
pacientes —ou possíveis pacientes.

Silke Schelenz, especialista em doenças infecciosas no Royal


Brompton Hospital, testemunhou essa falta de urgência, por parte
do governo e do hospital, nos períodos iniciais do surto, e a
considera "muito, muito frustrante".

"Eles evidentemente não queriam prejudicar sua reputação", ela


disse. "O problema não teve impacto sobre os resultados de nossas
cirurgias".

Pelo final de 2016, um estudo científico reportou sobre um "surto


corrente de 50 casos de Candida auris" no Royal Brompton, e o
hospital tomou uma medida extraordinária: fechou por 11 dias sua
unidade de terapia intensiva, transferindo os pacientes da unidade
para outro piso, uma vez mais sem anúncio.

Dias mais tarde, o hospital enfim admitiu a um jornal que estava


enfrentando um problema. Uma reportagem no jornal Daily
Telegraph informava: "Unidade de terapia intensiva fechada depois
de surgimento de 'superbug' mortal no Reino Unido". (Pesquisas
posteriores constataram que houve um total de 72 casos no
hospital, ainda que alguns pacientes fossem apenas hospedeiros e
não tenham sido afetados pelo fungo).

Mas a questão continuava quase desconhecida internacionalmente


quando um surto ainda maior irrompeu em Valência, Espanha, no
Hospital Universitari i Politècnic de La Fe. Lá, sem que o público ou
os pacientes não atingidos fossem informados, 372 pessoas foram
colonizadas —o que significa que portavam o germe em seus corpos
mas não adoeceram por conta dele— e outras 85 desenvolveram
infecções na corrente sanguínea. Um estudo publicado na revista
acadêmica Mycoses reportou que 41% dos pacientes infectados
morreram em 30 dias.

Uma declaração do hospital informou que a causa da morte dos


pacientes não havia sido necessariamente o Candida auris. "É muito
difícil discernir se os pacientes morrem do patógeno ou com ele,
porque se trata de pacientes com muitos problemas subjacentes e
em condições gerais muito graves", o comunicado afirmava.

Como no caso do Royal Brompton, o hospital espanhol não fez


qualquer anúncio público sobre o assunto na época. Aliás, não o fez
até hoje.

Um dos autores do artigo publicado na revista Mycoses, médico do


hospital, afirmou em email que os dirigentes da instituição não
queriam que ele falasse com jornalistas porque "estão preocupados
com a imagem pública do hospital".

O sigilo enfurece os defensores dos direitos dos pacientes, que


dizem que as pessoas têm o direito de ser informadas caso haja um
surto, para que possam decidir se querem procurar determinado
hospital, especialmente se os seus problemas não são urgentes, por
exemplo cirurgias eletivas.
"Por que diabos estamos lendo sobre um surto quase 18 meses
depois —e não como notícia de primeira página no dia em que
aconteceu?", questiona Kevin Kavanagh, médico no Kentucky e
presidente do conselho da Health Watch USA, uma organização de
defesa dos direitos dos pacientes nos Estados Unidos. "Isso não
seria tolerado da parte de um restaurante que passe por um surto
de envenenamento alimentar".

As autoridades de saúde dizem que revelar surtos assusta os


pacientes quanto a uma situação sobre a qual nada podem fazer,
especialmente quando os riscos não são claros.

"A situação dos provedores de serviços de saúde já é difícil o


bastante por conta desses organismos", disse Anna Yaffee, médica
que trabalhou como investigadores de surtos infecciosos para o
CDC e lidou com casos de surtos de infecções resistentes a
tratamento no Kentucky nos quais os nomes dos hospitais afetados
não foram revelados publicamente. "É realmente impossível levar a
mensagem ao público".

As autoridades de Londres alertaram os CDC sobre o surto no Royal


Brompton enquanto ele estava em curso. E o CDC compreendeu que
era preciso transmitir a informação aos hospitais dos Estados
Unidos.

Em 24 de junho de 2016, o CDC divulgou um alerta nacional aos


hospitais e organizações médicas, e criou um endereço de email,
candidaauris@cdc.gov, para responder a dúvidas. Snigdha
Vallabhaneni, médica que é um dos integrante fundamentais da
equipe do CDC, antecipava receber algumas mensagens —"talvez
uma por mês".

Em vez disso, sua caixa de entrada explodiu.


 
Nos Estados Unidos, foram reportados 587 casos de pessoas que
contraíram o Candida auris —com concentração de 309 casos em
Nova York, 104 em Nova Jersey e 144 em Illinois, de acordo com o
CDC.
Os sintomas —febre, dores e fadiga— são aparentemente comuns,
mas quando uma pessoa é infectada, especialmente se ela já estiver
sofrendo problemas de saúde, sintomas assim comuns podem
resultar em morte.

O primeiro caso conhecido nos Estados Unidos envolveu uma


mulher que chegou a um hospital de Nova York em 6 de maio de
2013, em busca de tratamento para uma parada respiratória. Ela
tinha 61 anos e era dos Emirados Árabes Unidos; morreu uma
semana mais tarde, depois que exames revelaram que era portadora
do fungo. Na época, o hospital não atribuiu grande importância
caso, mas três anos mais tarde encaminhou os registros sobre ele ao
CDC, depois de receber o alerta da organização em junho de 2016.

A mulher provavelmente não foi a primeira paciente portadora de


Candida auris nos Estados Unidos. Ela portava um variante diferente
da variante sul-asiática mais comum no país, que matou uma
mulher americana que havia viajado à Índia em março de 2017 para
cirurgia eletiva no abdome, contraiu Candida auris e foi levada de
avião a um hospital em Connecticut, que as autoridades se recusam
a identificar. A paciente foi mais tarde transferida a um hospital do
Texas, onde morreu.

O germe se espalhou para instalações que combinam serviços


residenciais e médicos, Em Chicago, 50% dos moradores de algumas
casas de repouso revelaram contaminação por Candida auris em
exames médicos, reportou o CDC. O fungo pode crescer em tubos
de transferência intravenosa ou em máquinas de respiração
artificial.
Os trabalhadores que cuidam de pacientes infectados pelo Candida
auris se preocupam com os riscos de segurança. Matthew McCarthy,
que tratou de diversos pacientes de Candida auris no Weill Cornell
Medical Center, em Nova York, descreve ter sentido muito medo ao
tratar de um homem de 30 anos.

"Minha vontade era não ter de tocar o sujeito", ele disse. "Eu não
queria apanhar o fungo de que ele era portador e transmiti-lo a
outro paciente". McCarthy diz ter feito seu trabalho, e examinado
totalmente o paciente, mas acrescentou que "havia uma sensação
esmagadora de medo de apanhar o fungo acidentalmente, em uma
meia, gravata ou traje médico".
 
Enquanto os CDC trabalha para limitar a difusão do Candida auris
resistente a tratamentos, seus pesquisadores vêm tentando
responder a uma pergunta incômoda: de onde essa versão do fungo
surgiu? A primeira ocasião em que médicos encontraram o Candida
auris foi na orelha de uma mulher, no Japão em 2009 ("auris" é
orelha, em latim). Na época, o fungo parecia inócuo, um primo de
outras infecções fúngicas facilmente tratáveis, como a candidíase.

Passados três anos, o fungo surgiu em um resultado incomum de


exame no laboratório de Jacques Meis, microbiologista de
Nijmegen, Holanda, que estava analisando uma infecção de corrente
sanguínea encontrada em 18 pacientes de quatro hospitais na Índia.
Não demorou para que novos grupos de casos de Candida auris
começassem a surgir, a cada mês, em diferentes partes do planeta.

Os pesquisadores do CDC teorizaram que o Candida auris tivesse


surgido na Ásia e se espalhado pelo planeta. Mas quando a agência
comparou todo o genoma das amostras de Candida auris obtidas na
Índia, Paquistão, Venezuela, África do Sul e Japão, determinou que
origem não era um lugar só, e que não existia apenas uma variante
de Candida auris.

O sequenciamento do genoma demonstrou que havia quatro


versões distintas do fungo, com diferenças profundas a ponto de
sugerir que as variantes divergiram milhares de anos atrás e
emergiram ao mesmo tempo, como patógenos resistentes a
tratamento, de versões ambientais inofensivas, em quatro lugares
diferentes.

"De alguma forma, o fungo deu o salto, aparentemente de forma


simultânea; parece ter se espalhado; e é resistente a tratamentos",
disse Vallabhaneni.

Há diferentes teorias sobre o que aconteceu com o Candida auris.


Meis, o pesquisador holandês, disse acreditar que o fungo resistente
a medicamentos estava se desenvolvendo graças ao uso pesado de
fungicidas em safras agrícolas.

Meis ficou intrigado com os fungos resistentes a tratamento ao ser


informado sobre um paciente holandês de 63 anos que morreu em
2005 por conta de um fungo chamado Aspergillus. O fungo se provou
resistente ao itraconazol, um medicamento antifúngico
amplamente usado. O remédio é uma cópia virtual dos azóis,
substâncias usadas como pesticidas, e é empregado para tratar
safras em todo o mundo, e responsável por mais de um terço das
vendas mundiais de fungicidas.

Um artigo publicado em 2013 pela revista acadêmica Plos Pathogens


afirmava que não parece ser coincidência que o Aspergillus, que
resiste a tratamento, estivesse surgindo em ambientes nos quais o
uso de azóis é pesado. O fungo aparece em 12% das amostras de solo
holandesas, por exemplo, mas também em "canteiros de flores,
compostagem, folhas, sementes de plantas, amostras de solo de
plantações de chá, arrozais, terrenos de hospitais e amostras aéreas
de hospitais".

Meis visitou os CDC na metade do ano passado para compartilhar


informações de pesquisa e teorizar que o mesmo pode estar
acontecendo com o Candida auris, que também é encontrado no
solo: azóis criam um ambiente tão hostil que os fungos estão
evoluindo, e variantes resistentes a tratamentos sobrevivem.

Isso é semelhante a preocupações de que bactérias resistentes a


tratamento estejam crescendo por conta do uso excessivo de
antibióticos em rebanhos, para fins de saúde e promoção do
crescimento. Como os antibióticos no tratamento de rebanhos, os
azóis são usados amplamente em cultivos.

"Em tudo: batatas, feijões, trigo, qualquer coisa em que você possa
pensar, tomates e cebolas", disse Rhodes, a especialista em doenças
infecciosas que trabalhou para debelar o surto londrino. "Somos
nós que estamos causando isso, com o uso de antifungicidas nas
safras".

Chiller teoriza que o Candida auris pode ter se beneficiado do uso


pesado de fungicidas. A ideia dele é que o Candida auris na verdade
existe há milhares de anos, escondido em cantos isolados do
planeta —um germe não muito agressivo. Mas quando os azóis
começaram a destruir mais e mais dos fungos comuns, surgiu a
oportunidade de o Candida auris encontrar espaço, como germe
dotado da capacidade de resistir facilmente a fungicidas e agora
adaptável a um mundo no qual outros fungos, menos aptos a
resistir, estão sob ataque.

O mistério quanto ao surgimento do Candida auris continua, e


identificar sua origem parece, pelo menos no momento, menos
importante do que impedir que se espalhe.
 
Por enquanto, a incerteza sobre o Candida auris gerou um clima de
medo e, em certos casos, negação.
No segundo trimestre do ano passado, Jasmine Cutler, 27, foi visitar
o pai, que tem 72 anos, em um hospital de Nova York, onde ele
estava internado por conta de complicações depois de uma cirurgia
no mês anterior.

Quando ela chegou ao quarto, descobriu que ele estava sentado há


uma hora sobre as próprias fezes, em uma cadeira reclinável,
porque ninguém tinha atendido quando ele pediu ajuda para ir ao
banheiro. Cutler disse que ficou claro para ela que o pessoal do
hospital tinha medo de tocá-lo porque um exame havia mostrado
que ele era portador de Candida auris.

"Vi médicos e enfermeiras olhando para dentro de seu quarto pelo


vidro da porta", ela disse. "Meu pai não é um rato de laboratório.
Não podem tratá-lo como um espetáculo de circo".

O pai de Cutler teve alta, e o hospital o informou que ele não porta
mais o fungo. Mas não permitiu que seu nome fosse mencionado,
dizendo que temia ser associado à assustadora infecção.

ENDEREÇO DA PÁGINA

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