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2019, Ratio Divina – A ordem de todas as coisas (Volume 1)


Gênero: Ensaios
Copyright © Carlos Ramalhete
Copyright © Editora ViV
Capa: Igor Barbosa sobre gravura “Santo Antão lendo”, de Albrecht
Dürer - Obra em domínio Público conforme o CC0 1.0 Universal

Editor: Igor Barbosa


Organização: Sérgio de Souza

R165r Ramalhete, Carlos, 1969 -


Ratio Divina / Carlos Ramalhete. – 1a. Ed. – Rio de Janeiro:
Editora ViV, 2019
230 p. ; 23 cm.

ISBN 978-65-80338-01-X

1. Ensaios Brasileiros.
I. Ramalhete, Carlos. II Título

CDD B869.4
CDU XXX

Todos os direitos reservados

Editora ViV
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Belford Roxo | RJ | CEP: 26.115-680

21 96980-0918 | contato@editoraviv.com.br
1ª Edição, Rio de Janeiro, 2019
A Editora ViV apresenta, neste arquivo, alguns
dos artigos que compõem o livro Ratio Divina –
A ordem de todas as coisas, do Professor
Carlos Ramalhete. O índice não foi modificado,
contendo
Esperamos que você tenha uma leitura
prazerosa e proveitosa.
Ratio Divina – A ordem de todas as coisas está
em pré-venda no site da Editora ViV, com frete
grátis para todo o Brasil, até o dia 01/05.
Aproveite!
"A RELIGIÃO NÃO
ERA O ÓPIO E SIM A
POESIA DA
HUMANIDADE".
(Harold Bloom sobre Flannery O'Connor)
Confirmador do Imutável
27/02/2013

Hoje a Sé de Roma fica vacante, com hora marcada.

O mais difícil, no mundo de hoje, é entender o que é a Sé de


Roma, o que é um Papa, para que ele serve, qual o seu papel.

O historiador francês Alain Besançon, três anos atrás,


escreveu no Osservatore Romano (o jornal oficioso do Vaticano)
que Bento XVI “encontra-se numa posição semelhante à de Paulo VI
após o Concílio Vaticano II, enfrentando o que aquele chamou de
‘autodestruição’ da Igreja. Desta vez, contudo, a autodestruição é de
toda a sociedade, da natureza e da razão”.

Uma sociedade em autodestruição não consegue entender


para que serve alguém cuja função é testemunhar o Eterno.

Ao Papa – um homem como qualquer um de nós – cabe a


difícil missão de dizer sempre o mesmo, de repetir, elucidar e
esclarecer a Revelação concluída com a morte do último dos
Apóstolos, no final do Século I. Em outras palavras, compete a ele
“confirmar os irmãos na Fé”, na frase do próprio Cristo. Confirmar,
não inventar, mudar ou seguir uma moda.

É um papel compreensível para muçulmanos, judeus,


hinduístas, taoístas ou confucianos. Não o é, contudo, para os
ativistas deste processo de autodestruição, que negam a própria
natureza e a própria razão. Pode-se ter ideia da dificuldade ao ver
as confusões de hoje entre gente e bicho, entre macho e fêmea,
entre adulto e criança, entre desejo e identidade. Quem acha que
querer é ser ou que ter é ser, na verdade, não sabe quem é.
Compete ao Papa confirmar que pão é pão e queijo é queijo.
Que o Caminho é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Que a natureza
humana não muda, mas cada um pode e deve se aperfeiçoar. O
Papa não proíbe nada sob pena de multa ou prisão; apenas
confirma, como um aviso vivo, que isto ou aquilo faz bem ou faz
mal. Sempre fez, sempre há de fazer.

1700 anos atrás reclamavam porque o Papa afirmava ser boa


a castidade. Continua afirmando.

1200 anos atrás reclamavam porque o Papa afirmava a


indissolubilidade do matrimônio. Continua afirmando.

800 anos atrás reclamavam porque o Papa afirmava que os


esposos devem ter relações sexuais e assim gerar filhos. Continua
afirmando.

500 anos atrás reclamavam porque o Papa afirmava que a


escravidão é má. Continua afirmando.

200 anos atrás reclamavam porque o Papa afirmava que a Fé


e a Razão se completam. Continua afirmando.

Dizer que o próximo Papa irá “rever posições da Igreja” é


não saber o que é um Papa. O que é a Igreja. O que é o Eterno. O
que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Só o que sabemos do próximo Papa é que confirmará o que


é eterno.
“O QUE É BELO HÁ
DE SER
ETERNAMENTE UMA
ALEGRIA”
(John Keats)
A beleza que se vê
Gazeta do Povo, 02/11/2011

Tenho um segredo: eu tiro fotos. É, sou daqueles sujeitos


estranhos, que sacam o celular do bolso pra tirar fotos nas horas
mais inoportunas e que aparecem nas ocasiões especiais com
aquele troço preto cheio de botões e protuberâncias.

Na verdade, essa mania de fotografia, que não é nova – eu já


tirava fotos no tempo em que isso envolvia filmes, quartos escuros,
produtos químicos com cheiro de vinagre e outras preparações que
chegam a parecer feitiçaria – é na verdade uma mania ainda mais
estranha: a mania de achar beleza.

O mundo é bonito. A gente é que se esquece de o quanto ele


é bonito, ocupados que estamos com as filas de banco, as contas a
pagar, o trabalho atrasado, isso ou aquilo. Mas ele realmente é
bonito. E a fotografia, para mim, é uma maneira de treinar o olho
para descobrir, ou redescobrir, a beleza que nos cerca. A cada
momento, olhando para um lado ou para o outro, o olho de quem,
como eu, é viciado em fotografia acha uma coisa bonita, uma luz
especial, um contraste interessante, uma textura fascinante.

É comum que as pessoas pensem em fotografia como “foto


de alguma coisa”: “isso é uma foto do portão lá de casa”, “é a
Maricotinha, sorrindo”. Mas para mim e para outros doidinhos do
mesmo tipo, fotografia é outra coisa: é uma maneira de eternizar
uma beleza presente, uma combinação feliz de luzes e sombras, de
cores e contrastes, que chamou a nossa atenção.

É bem verdade que eu estou advogando em causa própria ao


dizer isto, mas, na minha opinião, este é um treinamento mental
muito bom. Sem esta mania de procurar beleza, quanta beleza me
Ratio Divina – A ordem de todas as coisas
passaria despercebida? Quantos motivos para ser grato por estar
vivo, por estar andando por aquele lugar naquele momento – nem
que seja para ir pagar uma conta atrasada! – eu deixaria de ter se
não fosse essa bendita mania de prestar atenção no Belo, no Bem
expresso de forma ordenada?!

Hoje em dia, com os celulares que tiram fotos, acabaram-se


as desculpas que valiam nos velhos tempos, quando era necessário
carregar consigo quase um quilo de equipamento para tirar uma
foto. Dá para achar a beleza e registrá-la, eternizá-la, torná-la arte,
com aquele mesmo aparelhinho que nos serve para fofocar e para
ver as horas.

Algumas das minhas melhores fotos foram tiradas com o


celular. Todas elas são frutos desta estranha mania, tão saudável, de
procurar a beleza que está presente no mundo. Se interessar a
alguém, minhas fotos podem ser vistas em http://bit.ly/tvgu8E

E você, onde está a beleza que você vê?


MISCELÂNEA:
"TUDO ESTÁ
INTERLIGADO".
(“Laudato Si”, Papa Francisco)
Memento mori
19/12/2012

Amanhã seria o fim do mundo. A importância que se dá à


suposta predição maia é diretamente proporcional ao esforço que a
nossa sociedade faz para esconder o fim de cada um. Para todos
nós, a morte é o fim do mundo. Pode ser o fim de um mundo, para
quem crê; pode ser o fim de tudo, para o descrente; mas com
certeza é o fim da vida tal como a conhecemos.

Na nossa sociedade morre-se às escondidas, em um hospital.


Pela primeira vez na história da humanidade, é possível morrer de
velho sem jamais ter visto um cadáver. Um dia a pessoa estava ali,
no outro dia no hospital, no dia seguinte desapareceu. Esta negação
de que a vida tenha um fim é apenas outro aspecto do culto à saúde
que nos deu o antitabagismo, as dietas, as academias em que se
persegue a ilusão da eterna juventude. É outra face do desprezo aos
idosos e à sua experiência.

Assim a sociedade finge viver um eterno presente; algumas


décadas atrás, parecia ser da ordem natural das coisas que
houvesse o então chamado “mundo livre” e os países por trás da
cortina de ferro. Hoje o mesmo acontece com peculiaridades
absolutamente transitórias de nosso tempo, da última moda em
redes sociais à última tentativa de transformar alguma instituição
de direito natural em outra coisa: é o casamento que deixa de dizer
respeito à perpetuação da espécie e passa a ser acerca de sexo e
dinheiro, é o direito penal que deixa de se preocupar com a
segurança da população para garantir os direitos humanos dos
criminosos...
Tudo o que é sólido desmancha no ar, mas esta dissolução é
percebida como um retrato instantâneo da solidez. Tudo o que é
transitório é tratado como se fosse permanente, e tudo o que é
permanente é sujeito a reengenharias mil.

Daí a sensação social de insegurança, a percepção de que a


sociedade como um todo é uma ilusão. E da sociedade, passa-se à
vida no planeta. Não há tanta diferença entre o ambientalismo
radical e a suposta predição maia: ambos são reflexos de uma
percepção generalizada de haver algo profundamente instável,
profundamente desordenado, na maneira supostamente perene
como a nossa sociedade se relaciona com ela mesma e com o
mundo ao redor.

O fim que nos virá, contudo, não é o do mundo, mas o nosso.


A sociedade perdura, como uma cigarra que sai da casca antiga e
ganha mundo com um corpo novo. O homem, contudo, deixa o
mundo. E é disto que nos esquecemos. Memento mori, diziam os
antigos: lembra-te de que morrerás. Se não amanhã, um dia. Os
Maias – que já morreram – não têm mais nada a ver com isso.
LEITURA,
CONHECIMENTO E
INTELIGÊNCIA
Chesterton no século XXI
Medium, 16/03/2017

Em pleno Século XXI, um escritor do primeiro terço do


Século XX vem ganhando popularidade. Com todos os seus livros
gratuitamente disponíveis na internet, Gilbert Keith Chesterton e
seu apostolado do bom-senso vêm conquistando cada vez mais fãs.
São muitos os níveis de leitura de Chesterton, e agora ainda mais
que em seu tempo é possível perceber isto.

O primeiro, e mais evidente, é o de polemista, atacando e


acusando coisas que para os menos versados em História podem
hoje parecer perfeitamente irrelevantes. O segundo, que levou não
pouca gente a desprezá-lo ainda quando vivia e escrevia, é o de
poeta: o que ele escreve sempre é guiado pelo som das palavras,
com a aliteração fácil e a prosa leve e poética. Este é infelizmente
totalmente perdido em tradução. O terceiro, mais enriquecedor, é
fruto deste segundo: é o de frasista, com bordões de fácil
memorização que resumem perfeitamente situações muito
complexas (“provar que a grama é verde”, por exemplo; em inglês,
“grass is green”: uma aliteração). O quarto, finalmente, é o de
filósofo, filósofo do bom-senso. É deste que trataremos, e de sua
importância para os tempos atuais.

Subjacente a tudo o que Chesterton escreveu há uma visão


de mundo extremamente coerente e nem um pouco datada. Podem
parecer datadas algumas de suas polêmicas, mais por terem
mudado os rótulos que os fenômenos essenciais que apontavam; é
o caso, por exemplo, do que escreveu sobre as sufragetes em
“What’s Wrong with the World”, que hoje cabe como uma luva em
suas bisnetas feministas. A concepção do universo que estrutura e
forma todo o seu raciocínio, contudo, é sempre atual. Um amigo
antropólogo, ao lê-lo pela primeira vez, me disse que havia
demasiada “antropologia do Século XIX” nele; é um engano
compreensível, como o seria o de alguém que visse em Chesterton
apenas um inimigo do direito a voto das mulheres, hoje tão
evidente que a ninguém ocorreria negá-lo.

O que interessa está abaixo da ciência do seu tempo e das


polêmicas em que ele se enfiava com alegria e sofreguidão; o que
persiste em seus textos, em pleno Século XXI, é uma percepção
risonha do Universo Criado e do papel do homem nele que
consegue fazer jus à sempre difícil missão de considerar ao mesmo
tempo idéias tão díspares e aparentemente paradoxais quanto o
chamado do homem à santidade, à Eternidade, à Glória, e sua
concupiscência que o faz arrastar-se pelo chão em busca de coisas
indignas. O próprio Chesterton disse que quando o homem age
bem, põe-se acima dos anjos, e quando age mal põe-se abaixo dos
animais. Esta visão está presente o tempo todo em cada um de seus
escritos. É uma tensão recorrente, que resume, a meu ver, o ponto
central do que ele tinha a dizer. E como tinha coisas a dizer!
Dezenas de livros e centenas ou mesmo milhares de artigos, ditados
e nunca revisados pelo autor, numa fartura espantosa de produção.
Todos com as mesmas quatro camadas: a polêmica que salta aos
olhos de início, a poesia e a sonoridade musical das aliterações, as
frases e bordões de gênio que vêm da junção dessa poesia com seu
intelecto formidável e, finalmente, a estrutura intelectual de
percepção do mundo e do homem que pode ser apreciada aos
pedacinhos, em cada um de seus escritos, demorando para que se
consiga ter uma visão do todo.

Aristóteles e São Tomás de Aquino, ao contrário dos filósofos


modernos e mesmo dos platônicos, nos apontam a verdade das
coisas. Nas coisas está a sua própria verdade, e o que elas são é algo
delas. Parece evidente, mas quando uma sociedade se vê às voltas,
como as nossas, com ficções como as “transgenéricas”, que
magicamente fariam de um homem uma mulher ou de uma
mulher um homem, como se os sexos não fossem perfeitamente
distintos e complementares, é hora de se beliscar para vermos se
nosso braço é de verdade. Descartes diria que não poderia ter
certeza. Chesterton retrucaria, ligeiro, “então deixe-me beliscá-lo eu,
para ver se o senhor não adquire a certeza rapidamente”. Crucial
nos escritos chestertonianos é este senso de pão-pão queijo-queijo
com que ele explora as diferenças entre os sexos, o valor da arte, as
biografias dos santos, a doutrina católica, ou o que mais tenha
vindo a cair debaixo do seu poderoso microscópio mental.

Ele segue o homem caído em sua busca de asas com que


voltar ao Paraíso, e percebe com ternura o que há de angelical nele,
sem jamais deixar de perceber-lhe os calcanhares sujos e mesmo o
mau hálito de um estômago que passou tempo demais sem ver
comida. Seu olhar sobre todo o mundo, toda a Criação, é
igualmente carinhoso e implacável: ele lida com coisas que existem
de verdade, imbuído da mais plena e completa certeza de que essas
coisas existem e podem ser conhecidas, pelo menos em alguma
medida. Para nosso tempo dificilmente poderia haver apóstolo
melhor. Ele nos força a olhar as pessoas e vê-las ao mesmo tempo
em seu potencial para o bem e em seu potencial para o mal, e
mesmo as sociedades humanas – compostas que são de pessoas –
em todos os seus riquíssimos potenciais. Suas acusações ao
nazismo nascente, por exemplo, foram comprovadas prescientes e
verdadeiras pela triste História do Século XX. O mesmo pode ser
dito de suas acusações ao comunismo e ao capitalismo, que com o
nazifascismo completam o triunvirato de ideologias que arrasaram
o mundo no século passado.

Ele viveu em tempos ideológicos, quando parecia que as


ideologias seriam eternas e a Ciência – ó alta e vazia expressão! –
resolveria todos os problemas da humanidade. Tomou então em
mãos a Doutrina Social da Igreja e encetou o árduo e fadado ao
fracasso esforço de tentar fazer dela uma ideologia para facilitar
sua propagação. A DSI é a anti-ideologia por excelência, mas lá foi
nosso bom autor, na melhor das intenções, tentar cravar uma
estaca quadrada em um buraco redondo. E daí surgiu o
distributismo, em que surpreendentemente sobrou muitíssimo da
doutrina original. Até hoje, para muitos efeitos, o distributismo
pode ser considerado uma introdução de modo ideológico à DSI.

Vale notar que, enquanto o distributismo é ideológico, o


próprio Chesterton nunca foi ideológico a respeito dele. Sua criação
foi um esforço de pensamento único, perfeitamente compreensível
naquele tempo, num bravo afã de propagar o que ele, em sua afiada
compreensão do mundo, percebia como o reto caminho a tomar em
um mundo que parecia enlouquecido.

É muito difícil, em nossos tempos pós-modernos, imaginar o


que era então o ambiente intelectual, em que socialistas, capitalistas
e fascistas se digladiavam verbalmente, cada qual perfeita e
completamente convencido de ter em mãos o mapa da mina, as
instruções completas para fazer a vida na Terra um paraíso. E ao
mesmo tempo a ciência – ou melhor, a Ciência, com “c” maiúsculo
para adequar-se a seu senso de importância – parecia ser capaz de
tudo mudar, tudo fazer novo. A Ciência dizia que os negros eram
inferiores aos brancos e as mulheres inferiores aos homens. As
ideologias subordinavam à economia todos os aspectos da
existência humana.

E, no meio desse circo de horrores, no meio de tantas


loucuras sendo expostas como se fossem a verdade mais cristalina,
levantava-se o colosso que foi Chesterton. Apontando o que o bom-
senso aponta, acreditando piamente que se vemos um par de
braços e conseguimos nos beliscar com eles, é porque eles existem,
e escrevendo como boxearia mais tarde Cassius Clay: “voejando
como uma borboleta e mordendo como uma abelha”.

Hoje, em que se diz que as grandes narrativas ideológicas


perderam sua capacidade de gerar adeptos, mas loucuras ainda
mais delirantes não deixam de surgir dos laboratórios de
comportamento, a mensagem de Chesterton continua plenamente
válida e necessária. Quase cem anos depois, temos muito a
aprender se nos voltarmos para este grande homem do século
passado.

Leia Chesterton; vale a pena.


EDUCAÇÃO:
RAÍZES AMARGAS,
FRUTOS DOCES.
Não educar tem consequências
Revista Vila Nova, 1ª edição, dezembro de 2011

Está na moda tentar fugir das consequências: para quem


quer comer demais, inventou-se os produtos dietéticos; para quem
quer beber sem ficar bêbado, a cerveja sem álcool; para quem quer
tomar sol sem se queimar, os protetores solares. E por aí vai. Mas é
impossível fugir eternamente de toda consequência. O que se faz,
então, é fingir que elas não existem.

Por exemplo, a coisa mais comum hoje em dia é ver crianças


que simplesmente não são educadas. Não estou falando de crianças
mal-educadas, mas de crianças que os pais nem tentam educar.
Quando a criança chora fazem-lhe a vontade, ensinando-lhe que
para conseguir algo basta fazer escândalo. Os pais mentem para ela
o tempo todo, mostrando que mentir é algo normal. Há até mesmo
pais que ficam andando atrás das crianças, transformadas em
pequenos tiranos, fazendo-lhes as vontades!

Ora, as crianças não tentam fingir que consequências não


existem. Ao contrário: como elas estão aprendendo como o mundo
funciona, não há nada mais importante para uma criança que
entender de quais causas vêm quais consequências. Do choro, da
manha, da birra, elas aprendem assim que vêm prêmios. Da
mentira, elas aprendem que não vem nada. Da preguiça, elas
aprendem que vem o descanso. Da bagunça, a arrumação feita
pelos escravos, quer dizer, pelos pais.

Os pais, ocupados demais em fingir que negar uma


educação aos filhos não terá consequências, têm muito mais
trabalho que se quisessem educá-los. E isso enquanto são pequenos;
quando crescerem, depois de uma infância dedicada a aprender
Ratio Divina – A ordem de todas as coisas
que são pequenos reis a quem é proibido dizer “não”, o trabalho
será muito maior. Uma hora há de chegar em que os pais não
poderão dar ao tiraninho aquilo que ele deseja. Neste momento, ele
ficará indignado; afinal, ele aprendeu que querer e merecer são a
mesma coisa, no caso dele! É aí que ele vai roubar, mentir ou
arrancar o que querem de alguém à força.

E aos pais restará ir à delegacia soltar o filho que não


educaram. Desta consequência vai ser difícil fugir, mas, acreditem,
eles vão continuar tentando: “são as más companhias”, “meu filho é
tão carinhoso, não entendo como isso foi acontecer”, “a polícia
deveria correr atrás de criminosos de verdade”...

Poucas coisas são mais simples que educar uma criança.


Basta incentivar os bons hábitos e cortar pela raiz os maus. Na
prática, isso significa que os maus hábitos – a manha, a birra, a
preguiça, a falta de respeito com os mais velhos... – devem ser
sempre castigados imediatamente. O castigo pode muitas vezes ser
um simples olhar; se a criança sempre foi educada, ver que o que
ela fez desagrada aos pais em geral já basta. Do mesmo modo, os
bons hábitos devem ser incentivados. A criança deve considerar um
fato da vida que ela deva largar o que está fazendo imediatamente
para ir buscar o que o pai ou a mãe estão pedindo, deve achar
natural fazer a própria cama assim que se torna capaz disso, deve
saber que pessoas normais sempre pedem “por favor” e agradecem.

A única coisa que não pode nunca faltar é a coerência. A


criança, repito, está tentando entender como o mundo funciona. Ela
precisa, tem necessidade psicológica, de coerência e de repetição. O
que foi punido ontem deve ser punido hoje, o que é obrigatório hoje
deve continuar a ser obrigatório amanhã. Cada ato deve ter sempre
a mesma consequência.

Só assim se pode dar aos filhos o que é um direito deles: a


educação.
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