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CDD. 20.e6.d13.707
Isabel GALVÃO*
.
Rev. paul. Educ. Fís.. São Paulo supl.4. p. 15-31, 2001
i
16 GALVÀO, I
anos, numa espécie de manifesto neodarwiniano. pode variar de acordo com as culturas são as regras
Valorizando a atualidade das intuições de Darwin e de expressão das emoções ou as condições de
as inúmeras frentes de pesquisa abertas por seu desencadeamento de uma ou outra emoção.
estudo pioneiro, Ekman apresenta, como uma das Essa idéia não é, contudo,
hipóteses para explicar o esquecimento em que consensual. Russell (1994) debate a questão,
caíra o livro de Darwin, a inconsistência chamando a atenção para a importância dos fatores
metodológica de sua pesquisa. lingüísticos implicados nos experimentos, fatores
A depuração metodológica de uma esses mergulhados nos diferentes modos de cada
situação experimental realizada por Darwin é um língua nomear estados emocionais. Para este autor,
dos pontos de partida para os pesquisadores da o elemento universal estaria no reconhecimento de
Escola de Paio Alto e de outros grupos de dimensões emocionais expressas facialmente, isto
neodarwinianos que concentram seus estudos na é, no reconhecimento da dimensão
expressão facial das emoções. As pesquisas que se prazer/desprazer ou do grau de ativação, isto é, da
inserem nesse enfoque desenvolvem-se segundo intensidade da emoção. Já as categorias
dois paradigmas experimentais principais: inserem emocionais, ou seja, os termos específicos
os sujeitos em situações potencialmente correspondentes, seriam próprios de cada cultura.
desencadeadoras de emoções previamente
definidas pelo pesquisador, como por exemplo um
No que se refere à gênese das
filme, e verificam suas expressões faciais - é o
competências emocionais, existem várias linhas de
estudo do modo como as emoções se exteriorizam
pesquisa. Os estudos com recém-nascidos se
em expressões faciais - confrontam os sujeitos com
utilizam de sofisticadas técnicas experimentais
expressões faciais específicas (em fotografias,
desenvolvidas nas três últimas décadas. Tomam
filmes ou desenhos) e pedem que identifiquem as
comportamentos observáveis durante os períodos
emoções que estão sendo expressas - é o estudo do
em que o bebê está em estado de alerta - orientação
reconhecimento das expressões emocionais. A
da cabeça, a direção do olhar, o batimento cardíaco
partir desses paradigmas, inúmeras variações
e o ritmo de sucção (cujas variações são
experimentais são possíveis.
monitoradas por chupetas com receptores) - como
Em geral, esses estudos se utilizam
indícios de suas capacidades e de suas preferências
de uma espécie de protocolo que estabelece a
(Baudonnière, 1985; Bloch, 1985; Stem, 1992). Ao
correspondência entre emoções específicas e suas
lado desses indícios, os experimentos recorrem
expressões faciais. O mais utilizado desses
também à habituação, isto é, tendência 4o bebê a reconhecimento das expressões faciais da emoção
desviar a atenção de um estímulo que se toma nos dois primeiros anos de vida, que apontam que
repetitivo e dirigi-la para um estímulo novo, o que somente após os quatro meses a criança seria capaz
permite inferir sua capacidade de discriminação de discriminar o conteúdo emocional das
dos estímulos. expressões, provavelmente com base em categorias
Para a investigação das capacidades bem amplas e gerais, ligadas à dimensão do prazer
de discriminação entre expressões emocionais, ou desprazer. A possibilidade de identificar o
recorre-se a situações como mostrar ao bebê a conteúdo emocional específico de uma expressão
imagem de um rosto com um sorriso (alegria) até facial separada do contexto em que se produziu
que ele perca interesse pelo mesmo e, quando isso (“congelada” numa foto ou num filme) desenvolve-
ocorre, essa imagem é trocada pela de um rosto se tardiamente. Esta constatação não surpreende se
manifestando outra emoção; se o bebê fixa a pensarmos que o reconhecimento
atenção na nova imagem tal fato é tomado como descontextualizado de expressões faciais já
indício de que a discriminou da primeira, eqüivale a uma conceituação das emoções,
diferenciando-as. requerendo, portanto, um forte apoio da linguagem.
Com base nesses dispositivos,
a
Tendo em vista a função
estudos mostram dados interessantes como, por eminentemente social das emoções, vemos com
exemplo, que os bebês manifestam interesse ressalvas os estudos que investigam as
particular pela voz humana e preferência por esta competências para reconhecimento das expressões
em relação a outros sons de mesma altura e mesma faciais das emoções destacando-as dos seus
intensidade (Friedlander, 1970)3 que manifestam contextos de ocorrência, sobretudo no caso das
preferência por figuras com simetria vertical, crianças. No caso das pesquisas com recém-
disposição semelhante à do rosto humano (Sherrod, nascidos, o cuidado a se tomar é que, embora os
1981) e que preferem o rosto humano a outras dispositivos experimentais possam informar sobre
composições visuais (Fantz, 1963). competências não passíveis de serem
Uma revisão de literatura dos diagnosticadas em situação natural, não informam
estudos com crianças sobre a gênese das sobre o modo como essas competências são
competências para reconhecimento de expressões utilizadas pelos sujeitos. Concordamos com Gross
emocionais, realizados entre 1920 e 1970, pode ser & Ballif (1991) quanto à necessidade de que sejam
encontrada em Charlesworth & Kreutzer (1973), realizados mais estudos de observação das
tarefa continuada por Gross & Ballif (1991). interações da vida real. Destacamos que o
Ambos fazem ressalvas a procedimentos cotidiano escolar constitui-se num meio
metodológicos que, para estudar as competências especialmente profícuo a esse tipo de observação.
para reconhecer o conteúdo emocional de Aproximam-se desta preocupação
expressões faciais se utilizam de expedientes tais estudos que, para melhor compreender o
como a apresentação de estímulos estáticos para as desenvolvimento das competências de expressão e
crianças (fotos ou desenhos) ou o procedimento reconhecimento das emoções, concentram suas
demasiadamente escolar das tarefas experimentais, pesquisas nas interações mãe-bebê, contexto
pois trazem o risco de que se avalie mais a “natural” em que se manifestam e se desenvolvem
capacidade de leitura de imagem do que a de essas competências.
reconhecimento das expressões emocionais. Um exemplo são as pesquisas que se
Como constatação consensual dos inserem no modelo intitulado “social referencing”
experimentos, os estudos apontam a idéia de que a (referenciação social) que consiste em pôr a
habilidade para identificar respostas emocionais criança, antes do final do primeiro ano, em situação
básicas tende a se acurar com a idade, mas varia de ambigüidade ou de suposto perigo enquanto a
conforme a expressão emocional a ser reconhecida. mãe, ou outro adulto familiar, realiza determinada
Experiência de Gosselin, Roberge & Lavallée expressão facial. No experimento conhecido como
(1996) ilustra esta idéia ao mostrar que as crianças da falésia visual (Sorce, Emde, Campos &
reconhecem expressões de alegria e de raiva antes Klinnert, 1985), um bebê é separado da mãe por
do que as de surpresa e nojo - as primeira já aos uma placa de vidro, sob a qual se forma um vão
cinco/seis anos, as últimas só a partir dos sete/oito com altura ambígua, de modo a dar a impressão
anos. para a criança de que ela está diante de um
Nelson (1987) realiza revisão dos precipício (uma falésia). Esse tipo de situação
estudos que investigam as competências de propicia a procura ativa de informações emocionais
intuitivamente adotados pelos adultos que querem ao reconhecimento das expressões emocionais
comunicar-se com o bebê pequeno. como primeiro indício de sociabilidade. A
Essa linguagem tenderia a ir exuberância expressiva do bebê e suas precoces
mudando conforme o desenvolvimento do bebê. capacidades de interação emocional são apontadas
Ele situa por volta dos nove meses o início do que como compensação à sua imperícia para agir
propõe chamar de sintonia de afetos. Cenas tais diretamente sobre o meio físico ou suprir, sem a
como a de uma mãe que acompanha, com a voz, os ajuda do outro, suas necessidades vitais.
gestos alegres que seu bebê faz com o brinquedo, Contudo, diferente de Darwin que
ou daquela que balança a cabeça no mesmo ritmo enfatizou as expressões faciais, Wallon voltou sua
em que o filho agita o chocalho, são utilizadas por atenção para os efeitos da expressividade sobre o
Stem para ilustrar essa sintonia de afetos em que corpo como um todo. Um segundo aspecto que
há uma correspondência transmodal entre os canais distingue as abordagens é o modo como
de expressão. Nos exemplos: voz da mãe /gesto do compreendiam a origem da expressividade:
bebê, movimento da cabeça da mãe/gesto das mãos preocupado com a evolução da espécie, Darwin
do bebê, em que o comportamento “devolvido” não reconhece autonomia da capacidade expressiva
pelo parceiro reflete -não o estado exterior do do ser humano, explicando-a sempre como vestígio
primeiro comportamento, mas o estado emocional de um gesto ou movimento dirigido para a ■
que ele exprime, expressões que podem distinguir- adaptação a situações concretas, ligadas ao mundo
se em seu modo ou forma, mas são em certa físico: “até onde posso perceber, não há subsídios
medida intercambiáveis enquanto manifestações de para acreditar que algum músculo tenha sido
um mesmo estado interno reconhecível (Stem, desenvolvido ou mesmo modificado
1992, p. 125). exclusivamente em benefício da expressão”
Todas essas noções referentes às (Darwin, 1872, p.330)
interações mãe-bebê sugerem que tais interações Para Wallon, ao contrário,
possuem uma regulação emocional. Para Sroufe características do funcionamento do tônus m
afetivos vividos pelo sujeito que experimenta mímica facial e na postura corporal expressam
determinada emoção: “uma modificação visceral variações dos estados internos, de outro, elas
sem reverberação afetiva não tem nada de uma podem também provocá-las. Trata-se de uma
emoção” (Wallon, 1941). Devido à relação complexa dinâmica de desencadeamento, em que
imediata entre as contrações tônicas e a seus vários componentes podem ser, ao mesmo
sensibilidade delas resultante, seriam as emoções o tempo conseqüência ou fator desencadeador.
fato psíquico mais primitivo. A percepção, pelo Mesmo se, conforme propõe Galifret
sujeito, das flutuações tensionais do seu organismo (1979), for necessária uma atualização das bases
constituiria a forma mais primitiva da consciência, fisiológicas que Wallon propõe para o tônus
sendo por meio de suas próprias atitudes que a muscular, a hipótese quanto à sua influência nos
criança começa a tomar consciência das realidades estados emocionais constitui interessante
externas. possibilidade para compreender algumas de suas
A partir da capacidade de modelar o características. Este é o caso da labilidade, isto é, a
próprio corpo, a emoção permite a organização de fragilidade da emoção, sujeita a mudar de natureza
um primeiro modo de consciência dos estados e direção no decorrrer de sua manifestação. O
mentais e de uma primeira percepção das exemplo mais comum é o do choro que vira risada
realidades externas. A pássagem desta percepção e vice-versa. Para Wallon (1934), a manifestação
corporal - que se dá sob a forma de atitudes mais primitiva da labilidade estaria nas cócegas
posturais - à capacidade de representação mental se que, até certo limiar podem produzir risadas e uma
fará mediante a intervenção da linguagem à qual a vivência de prazer e, ultrapassando esse limite,
criança pequena tem acesso muito antes de podem provocar choro e dor. A brusca mudança de
dominá-la, pelo simples fato de estar em conecção sentido do fluxo tônico ajudaria a explicar as
permanente com o ambiente. Sendo a vida bruscas inversões na tonalidade emocional.
emocional a condição primeira das relações Além de responsáveis por sua
interindividuais, podemos dizer que ela está labilidade, os componentes tônico-posturais das
também na origem da atividade representativa, emoções influenciariam também no fato comum de
logo, da vida intelectual. uma reação emocional ter suas manifestações
A atualidade da abordagem prolongadas independentemente de sua causa
walloniana deve-se, a nosso ver, sobretudo à primeira, nutrida pelos seus próprios efeitos. Na
atitude que adota para o estudo do tema, pela qual experiência adulta, esse fenômeno, a que Martinet
procura compreender a imbricação entre os fatores (1972) chamou narcisismo das emoções, pode ser
de origem orgânica e social, bem como as facilmente ilustrado, por exemplo, nas situações
contradições e complementariedades existentes em que começamos a rir por causa de algo
entre a afetividade/emoção e outros campos engraçado e não paramos mais, embalados em
funcionais que enfoca no desenvolvimento da nossa própria risada.
pessoa. Esta atitude, ao fugir de esquematizações Essa idéia de uma auto-alimentação
simplificadoras de um tema tão complexo, abre das emoções, embora passível de ser constatada na
uma matriz abrangente que permite integrar muito vivência de qualquer pessoa, contraria a difundida
dos estudos atuais sobre as emoções. concepção de senso comum que diz que a melhor
forma de se livrar de uma emoção é dar vazão a
Dinâmica e desenvolvim ento ela, “descarregar”. Dependendo da forma que se
escolher para dar plena vazão a uma manifestação
É grande a importância que Wallon emocional, o resultado pode ser, ao contrário, uma
atribui à função tônico-postural da musculatura, intensificação dos seus efeitos. Este fato é de
esta dimensão mais propriamente expressiva da observação corrente para professores que se
motricidade que, além de seu papel na afetividade, surpreendem quando seus alunos voltam do
teria importante papel no movimento propriamente recreio, onde pularam, correram, e gritaram à
dito (equilíbrio e estabilidade do corpo e gestos) e vontade, ainda mais agitados do que quando
na cognição, ao servir de apoio à percepção e à saíram, contrariando a expectativa de que
reflexão mental. A serviço da expressão das voltassem mais “tranqüilos”, dada a oportunidade
emoções, as variações tônico-posturais atuam de descarga.
também como produtoras de estados emocionais; Além de poder ter seus efeitos
entre movimento e emoção a relação é de prolongados independentemente de sua causa
reciprocidade. Assim, de um lado as alterações na primeira, uma emoção pode ser desencadeada por
parâmetros culturais próprios a cada contexto, e mental terá o poder de reduzir as manifestações da
traduzidas num jeito muito singular de expressar e emoção, por exemplo, quando o sujeito que a
vivenciar as emoções que cada um vai construindo vivência se põe a pensar sobre suas causas ou seus
ao longo de sua história pessoal. efeitos. “A emoção traz consigo a tendência para
Mesmo que predominante no início reduzir a eficácia do funcionamento cognitivo;
da vida, o potencial desencadeador dos neste sentido ela é regressiva. Mas a qualidade
componentes tônico-posturais mantém-se presente final do comportamento do qual ela está na origem
também em adultos, conforme ilustra experimento dependerá da capacidade cortical para retomar o
de Bloch (1992). Partindo da suposição de que controle da situação. Se ele for bem-sucedido,
existe, ao longo dos estados emocionais, uma soluções inteligentes serão mais facilmente
interdependência entre os movimentos encontradas, e neste caso a emoção, embora sem
respiratórios, a expressão corporal e facial e a dúvida não desapareça completamente, se
experiência subjetiva, o experimento procurou reduzirá” (Dantas, 1992, p.88). Somente quando
produzir, em adultos, estados emocionais não consegue transmutar-se em ação motora ou
específicos a partir da adoção de componentes mental, quando permanece emoção pura e intensa,
expressivos que compõem algumas emoções é que produziria efeitos desorganizadores. Assim,
específicas. embora constitua-se numa etapa necessária ao
Aos sujeitos experimentais, depois acesso à atividade simbólica, a emoção não se
que tivessem atingido um estado emocional neutro, confunde com ela, não podendo pois ser chamada
solicitava-se, por meio de instruções meramente de linguagem.
técnicas, que reproduzissem uma determinada
Todavia, desta dinâmica que está na milhares de corpos se desmanchassem numa massa
base da solidariedade e união, podem resultar única.
também ações de manipulação graças a “seus Na nossa cultura, a ação da torcida
efeitos instantâneos e totalitários que desorientam a em jogos de futebol fornece uma ilustração bem
reflexão” (Wallon, 1938, p. 146). Isto fica bem viva das diferentes direções para onde podem
patente nos atos públicos com finalidades político- apontar as emoções: união ou conflito entre òs
eleitorais, quando os políticos se servem com torcedores, estímulo ou obstáculo para o
maestria desse potencial unificador das emoções. desempenho dos jogadores.
Nos comícios, o político consegue, por meio do Esse estado de diluição do eu no
discurso, produzir reações emocionais que, ao grupo que atinge os adultos em circunstâncias
mesmo tempo que unem as pessoas em favor das gregárias de elevada intensidade emocional nos
idéias apresentadas, dissolvem nelas o remete à díade mãe-bebê, em que termos como
discernimento crítico, podendo levá-las a aderir a simbiose afetiva, sintonia de afeto e diálogo
idéias que, examinadas a frio não obteriam adesão. tônico8 são utilizados para descrever o estado de
Quantos de nós já não se flagraram arrependidos de fusão e indiferenciação em que se' encontram os
se ter empolgado com um discurso cujo conteúdo, envolvidos, bem como a natureza
examinado posteriormente sem o impacto da predominantemente afetiva da relação.
emoção partilhada no grupo, parecia muito
diferente? 1 Sociabilidade sincrética
Já a Retórica de Aristóteles
apresenta esta questão (Francisco, 1996). O Na psicogênese, enquanto as
filósofo define as emoções ( ”) como reações emoções e seus recursos expressivos figurarem
acompanhadas de dor ou prazer que provocam como meio privilegiado de interação social, o que
modificações nas pessoas, fazendo-as mudar o seu teremos é um estado de sociabilidade sincrética9,
juízo. Ao lado da prova pelo “ em que a em que o eu está misturado no outro e nas
adesão do ouvinte se apóia no caráter de quem fala circunstâncias concretas de sua existência. Wallon
ou na imagem que o ouvinte tem dele, a arte (1959) destaca o estado de dispersão em que se
retórica deveria então fazer uso da prova pelo encontra a personalidade; é frágil a consciência de
“pathos” Isto é, o orador deveria usar si e, paralelamente, a consciência do outro. O
deliberadamente emoções para provocar as estado inicial da consciência pode ser comparado a
disposições esperadas no ouvinte e assim obter sua uma nebulosa, uma massa difusa na qual se
adesão, independentemente da justeza do confundem o próprio sujeito e a realidade exterior.
argumento. Ao partilharem as mesmas emoções A criança não se vê como entidade permanente e
com o orador, os ouvintes seriam levados a coesa; instável, sua personalidade pode ver-se
dispensar aquele de apresentar dados lógicos sobre fragmentada, dispersa, ou fundida em elementos
os quais pudessem embasar, com objetividade, a das circunstâncias exteriores.
adesão, podendo então ser levados a falsas A observação espontânea feita por
opiniões. pessoas que convivém ou trabalham com crianças
Os movimentos fascistas foram nessa faixa etária é capaz de fornecer ilustrativos
muito hábeis em utilizar esses fenômenos, aliando- exemplos do pitoresco deste estágio das
os ao aspecto ritual das cerimônias tribais. Além do personalidades permutáveis (Wallon, 1934).
conteúdo do discurso interferir diretamente sobre o Nossos encontros com profissionais de educação
discernimento dos ouvintes, a organização ritual têm-se revelado particularmente fecundos para a
dos atos coletivos a que recorriam com insistência obtenção de exemplos que ilustram questões
certamente fortalecia a adesão dos ouvintes, ao teóricas do desenvolvimento infantil.
produzir “ pathos”“O triunfo da Vontade”, uma O primeiro exemplo, relatado por
montagem de filmes realizados pela cineasta oficial uma professora, é o de um menino de
de Hitler, mostra imagens das manifestações aproximadamente três anos que se recusa a ir para
públicas durante o auge do nazismo: multidões a escola no dia da festa junina. Em casa, já todo
perfiladas em marcha, fazendo sempre os mesmos paramentado de caipira, chora sem que a mãe
movimentos, no mesmo ritmo, repetindo palavras possa entender o motivo de tanta desolação, até
de ordem num mesmo tom; como se a fala de cada que o próprio menino revela: “como meus amigos
*
um se fundisse numa única voz, como se os vão saber que sou eu?”
estrutura bipolar estivesse subjacente. Esta de atitude postural, esta última uma espécie de
estrutura bipolar, dinâmica e dialética, está proto-imagem em que o modelo se imprime no
presente nas brincadeiras, muito comuns no próprio corpo do imitador. Na imitação imediata e
segundo ano de vida, chamadas de jogos de direta dos atos do parceiro, ao contrário da diferida,
alternância, em que há um rodízio entre os atos de não se fazem obrigatórios recursos de
um e outro parceiro - dar e receber, esconder e representação (simbólica ou postural) mas, ao
procurar - de forma que ambos possam viver os contrário do mimetismo, ocorre uma seleção dos
dois pólos da situação. atos ou expressões a serem reproduzidos, o que se
Na fala, o exercício dessa faz mediante intenção deliberada do sujeito e não
diferenciação entre os dois pólos de uma situação por simples efeito de contágio.
aparece nos diálogos que a criança estabelece No terceiro ano, a despeito dos
consigo mesma, como se fizesse os dois papéis ao sucessivos progressos no processo de diferenciação
mesmo tempo: abre a porta e diz “obrigado”, eu-outro, ainda mantém-se a base emocional da
como que agradecendo a si mesma; lança-se num comunicação, sendo a criança muito sensível aos
ato perigoso e previne o risco “tome cuidado” aspectos expressivos do comportamento alheio.
Podemos inserir nesta matriz bipolar Isso significa que um uníssono emocional e um
as relações de transitivismo, apresentado por estado de identificação é necessário para a
Wallon como mais uma forma assumida pela comunicação. Permanece a subordinação das
confusão do sujeito com seu ambiente. Ele o atitudes individuais à fórmula do grupo. Assim, o
descreve como uma simpatia às avessas, em que o ato de pegar um mesmo objeto simultaneamente ao
sujeito atribui a outro o que é exclusivamente seu, parceiro e fazer com ele a mesma coisa que este
tomando a si mesmo como objeto de compaixão. (isto é, imitá-lo) garantiria o acordo mínimo
Um exemplo possível é a corriqueira situação em necessário para o encadeamento de ações
que a criança repreende seu ursinho ou sua boneca recíprocas. Diferente de outros atos sociais típicos
por uma transgressão que ela mesma cometeu. Os desta fase, a imitação simultânea é uma duplicação
exemplos que Wallon dá do adulto são bem da atividade e não dos humores do parceiro (o que
esclarecedores: o doente que identifica no rosto de ocorre na sintonia de afetos descrita por Stem),
pessoas saudáveis os traços de sua própria doença; refletindo um progresso na diferenciação eu-outro.
aquele cujos cabelos encanecem e que se apraz em Ao mesmo tempo que permite a
descobrir, nos outros, fios de cabelo branco {op. identidade entre os parceiros, a imitação sincrônica
cit., p.264). permite uma diferenciação das individualidades, já
Um potente recurso de interação que ela realiza condições objetivas para que sejam
nesta fase de sociabilidade sincrética, mais sentidas por si mesmo, ao longo da repetição dos
especificamente durante o terceiro ano de vida, é a atos e gestos, as emoções expressas pelo outro.
imitação simultânea. Foi o que mostrou Nadei Assim, o exercício da imitação simultânea ao
(1986) por meio de uma situação experimental que mesmo tempo nutre uma necessidade atual e
se baseia no pressuposto da necessária relação favorece sua superação.
entre o grau de diferenciação pessoal atingido e os Com o fortalecimento da linguagem
recursos de interação predominantes. e dos processos simbólicos, os recursos expressivo-
Apesar do referencial walloniano emocionais deixam de ser predominantes e atinge-
adotado, a autora utiliza-se de um conceito mais se estados de progressiva diferenciação do eu. Tal
abrangente de imitação, recusando a definição que como ocorre com os primeiros, que sempre
reserva este nome à reprodução de um continuarão tendo um papel nas interações sociais,
comportamento na ausência do modelo, ou seja, à pois as emoções continuam a subsistir em estado
imitação diferida. Segundo ela, esta restrição deixa mais ou menos latente como o fundamento
a descoberto toda uma gama de comportamentos necessário das relações entre os indivíduos, a
que se localizam entre o mimetismo afetivo e a diferenciação entre o eu e o outro nunca será total,
imitação diferida. No primeiro, os efeitos do pois “o outro é um parceiro permanente do eu na
contágio mímico submergem completamente o vida psíquica.” (Wallon, 1959, p. 165)
sujeito, sem que esse tenha optado pela
manifestação da expressão alvo do contágio. Na
imitação diferida, a reprodução do modelo depende
da capacidade do sujeito apropriar-se dele, quer
sob a forma de imagem mental, quer sob a forma
Na prática pedagógica: elementos para uma seja a definição do que é um estado afetivo
reflexão saudável, o estado contrário (de definição
igualmente vaga) é facilmente, e comumente,
A idéia de que o ser humano se assimilável a distúrbios vividos na esfera familiar;
constrói na interação social, no confronto com o de novo aí escolhe-se um fator exterior como
outro, traz importantes conseqüências para a responsável e a escola fica sem ação. Ora, partindo
compreensão, na escola, dos sujeitos em formação da reflexão anterior, temos que a família não é a
e de seus processos. Sujeitos concretos e única responsável pela dimensão afetiva do aluno
contextual izados, os alunos têm na escola e na e, juntando a esta idéia a de que inteligência e
família, dentre outros ambientes concretos ou afetividade constróem-se reciprocamente, numa
simbólicos com os quais interagem, meios nos complexa relação de interdependência, podemos
quais se constituem. A consideração da vislumbrar várias perspectivas de atuação.
complexidade das relações que se estabelecem Um exemplo de ação inspirada nesta
entre o sujeito e os meios nos quais se insere relação de reciprocidade é o Projeto Letras e
impõe, no mínimo, que se tenha prudência nos Livros, realizado na Escola de Aplicação da
julgamentos tão peremptórios e automáticos que a Faculdade de Educação da USP (Dantas & Prado,
escola costuma fazer de seus alunos, o que se 1994; Isepi, 1999). Concebido por Heloysa Dantas
agrava, é claro, nos julgamentos negativos, quando junto à equipe de Orientação Educacional da
facilmente se elege determinantes únicos - por escola, destina-se a crianças das duas primeiras
exemplo, a qualidade degradada do ambiente séries do Ensino Fundamental com dificuldades de
familiar - como responsáveis por distúrbios de alfabetização. Apóia-se no pressuposto de que,
comportamento e de aprendizagem. Além do para algumas crianças, a aprendizagem depende da
estigma que explicações simplistas como estas elevação da temperatura afetiva (isto é,
provocam, elas são ineficazes, pois ao atribuir a um intensificação do vínculo) possível numa situação
fator único e externo a responsabilidade por de mais intimidade. Diferente de ações que
comportamentos que são vistos como decorrem de uma concepção linear da relação entre
problemáticos, eximem o meio escolar de qualquer inteligência e afetividade e que, nos casos de
participação na construção do dito problema. Essa dificuldade de aprendizado das crianças
ausência de participação, além de se constituir prescrevem encaminhamentos clínicos, o projeto
numa avaliação imprecisa, é ineficaz porque afasta aposta que uma atmosfera afetiva mais adequada
da escola também a possibilidade de lidar com o pode ser obtida na própria escola, com uma
problema, pois sua solução dependeria sempre da intervenção de natureza iminentemente escolar, e
ação do outro. não clínica.
Ver a escola como um meio de As atividades do Projeto consistem
interação no qual se constituem pessoas não em sessões de leitura individualizadas que ocorrem
significa, em absoluto, vê-la como entidade todo na biblioteca da própria escola. Vários são os
poderosa e isolada de um contexto mais amplo, recursos utilizados para criar uma atmosfera
mas assumir-se como co-participante e co- propícia à aprendizagem: em primeiro lugar,
responsável de um processo de formação. A garante-se o entendimento (possível num espaço de
reflexão sobre as possibilidades de interação entre intimidade) dos gostos e fantasias pessoais do
as pessoas e destas com a cultura e sobre seus aluno, em segundo, mantém-se permanente atenção
possíveis impactos na formação dos sujeitos é um aos traços expressivos de seu comportamento,
exercício a ser feito em permanência, do qual procurando descobrir, por exemplo, o que há por
podem resultar valiosas pistas para o ajuste das trás de uma inquietação postural: cansaço mental,
práticas educativas. cansaço físico, desinteresse.
Uma outra implicação interessante Por fim, para afugentar o medo tão
dos aspectos teóricos que apresentamos é a freqüente nas crianças ameaçadas (ou já vitimadas)
possibilidade de, ao vislumbrar a complexidade da pelo fracasso escolar, o professor procura escolher
relação que existe entre os vários campos que tarefas que garantam êxito na leitura - “nada ilustra
compõem a atividade psíquica, romper falsas com tanta nitidez a hipótese walloniana de
verdades normalmente aceitas no espaço escolar. antagonismo entre razão e emoção quanto o
Por exemplo, aquela que diz que o bom bloqueio cognitivo das crianças assustadas’’ {op.
desempenho intelectual depende de um estado cit., p. 109) supondo que o “destravamento” das
afetivo saudável. É claro que, por mais vaga que inteligências depende do “saneamento” da
obra de arte. A aproximação desta “alegria trágica” educador no cotidiano escolar, as quais tendem a
(da qual a angústia nunca está ausente), é fruto de gerar um clima de tensão e muito desgaste.
elaborada atividade intelectual e depende O rompimento desses circuitos
fortemente do entusiasmo cultural do professor, dependeria de um arrefecimento na atmosfera
numa dinâmica que pode ser aproximada à do emocional, obtido principalmente pelo
contágio; mas trata-se, neste caso, de emoção distanciamento da situação e pela reflexão analítica
mediada pelo conhecimento elaborado. sobre seus condicionantes. O distanciamento
Ao se apropriar de recursos necessário pode ser mais facilmente obtido se o
expressivos para obter maior envolvimento dos professor contar com algum instrumento mais
alunos, o professor pode ainda deparar-se com sistemático de reflexão, como o registro escrito das
situações inesperadas. Devido à complexa situações vividas - sob a forma, por exemplo, de
dinâmica de desencadeamento das emoções, um diário de bordo - ou com a interlocução de um
recursos que até certo momento se mostram bem outro profissional, que pode ajudá-lo a ver a
sucedidos para obter a adesão dos alunos podem, situação por ângulos que ele, por estar imerso nela,
de uma hora para outra, serem responsáveis pela não pode enxergar.
instalação de um clima de dispersão e turbulência. Ao analisar a situação, bem como
É o. que acontece quando, por exemplo, uma suas próprias reações emocionais, o educador tem
proposta feita em torp animado pelo professor, maiores chances de compreendê-la, desde que se
além do interesse que provoca nos alunos, gera veja implicado nela. Ao se permitir assumir suas
uma animação muito além daquela desejada pelo próprias emoções, por menos nobre que sejam,
ele. Os efeitos da emoção são imprevisíveis e como a raiva que sente de um aluno específico ou o
podem surpreender, além disso, características desespero em que se vê em determinadas situações,
como a labilidade, o narcisismo e o contágio têm o educador pode perceber melhor o modo como ele
seus efeitos potencializados em contextos vive as situações e como ele as influencia. Vendo
coletivos, como é o caso da situação típica de uma as situações com mais clareza, é menor o risco de
aula. Se, por um lado, a compreensão da dinâmica cair em circuitos perversos e maior as chances de
de desencadeamento das emoções pode ajudar a ter atitudes mais acertadas.
controlar seus efeitos sobre a dinâmica das Com esta atitude de reflexão e de
interações sociais, por outro, não há conhecimento implicação é possível inclusive ter maior
teórico capaz de eliminar as possíveis turbulências discernimento para avaliar até que ponto a
provocadas por elas, é preciso, pois, aprender a turbulência enfrentada é uma decorrência fortuita
conviver com esse risco inerente às interações. da dinâmica emocional, o resultado de processos
Contudo, desconfio que querer eliminar esse risco ligadas à constituição do sujeito (por exemplo,
é desejo recôndito de boa parte de nós, professores, crise de oposição) ou o indício de resistências dos
que sonha em ter diante de si um grupo ordenado, alunos às propostas escolares. O resultado dessa
nem muito agitado nem muito apático, com reações avaliação apontará, em cada caso, as melhores
previsíveis e controláveis. formas de atuação, das quais nunca deve ser
Uma das hipóteses para explicar excluída a necessidade de possíveis alterações nas
porque as dinâmicas de turbulência que, em geral práticas.
surpreendem o professor, nos são tão insuportáveis, A simples disposição para esta
pode ser o fato de, em geral, elas tragarem também reflexão e para eventuais ajustamentos nas ações
o adulto e o emergirem num estado de “cegueira escolares - que visam não só o bem-estar do aluno
emocional” O educador é freqüentemente mas também o do professor - representam, por si,
envolvido pelas intensas manifestações que partem fator fundamental para uma prática pedagógica de
das crianças. Dada a associação positiva entre qualidade. A compreensão quanto aos tipos mais
emoção e imperícia, a maior suscetibilidade do primitivos de interação e ao impacto da emoção e
educador ao contágio corresponderia justamente da expressividade na dinâmica de interações é um
aos momentos em que lhe faltam recursos, ou seja, ingrediente importante para a gestão dos conflitos e
em situações de dificuldade ou confusão, quando conseqüente obtenção de um bom clima de
ele não sabe como agir. Dantas (1993) chamou sociabilidade. É condição também para que não se
essas situações em que a elevação emocional construa uma equação de igualdade entre conflito e
provocada pela inépcia tende a gerar mais inépcia violência.
de circuitos perversos. Podemos associar esse A questão do clima escolar aparece
conceito a inúmeras situações vividas pelo formulada já por Kurt Lewin (1890-1947), que se
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