Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
e Relacionadas ao Trabalho”
Curso de Extensão de Perícia em Saúde
COSTSA/PRAD/Reitoria UNESP
Prof. René Mendes
Estrutura e Conteúdo
1. Adoecimento dos Trabalhadores: Evolução
dos Conceitos e Abordagens
2. Critérios de Classificação e Taxonomia
3. Requisitos e Competências de Quem Lida
com o Adoecimento dos Trabalhadores
4. Incapacidade Laboral: Algumas Semelhanças
e Diferenças dos Atos Médicos Básicos e dos
Erros (Medicina do Trabalho x Perícia)
5. Comentários Finais
1. Adoecimento dos Trabalhadores:
Evolução dos Conceitos e Abordagens
Contribuições de
Bernardino Ramazzini
(1633-1714), livro De
Morbis Artificum
Diatriba (“As Doenças
dos Trabalhadores”)
Evolução dos Conceitos:
“Qual sua Profissão?”
“Um médico que atende um doente deve informar-se
de muita coisa a seu respeito pelo próprio e por seus
acompanhantes (...). A estas interrogações devia
acrescentar-se outra: ‘e que arte exerce?’. Tal
pergunta considero oportuno e mesmo necessário
lembrar ao médico que trata um homem do povo,
que dela se vale chegar às causas ocasionais do mal,
a qual quase nunca é posta em prática, ainda que o
médico a conheça. Entretanto, se a houvesse
observado, poderia obter uma cura mais feliz.”
Evolução dos Conceitos: Conhecer os Locais e o
Processo de Trabalho
“Eu, quanto pude, fiz o que estava ao meu alcance, e
não me considerei diminuído visitando, de quando
em quando, sujas oficinas a fim de observar segredos
da arte mecânica. (...) Das oficinas dos artífices,
portanto, que são antes escolas de onde saí mais
instruído, tudo fiz para descobrir o que melhor
poderia satisfazer o paladar dos curiosos, mas,
sobretudo, o que é mais importante, saber aquilo que
se pode sugerir de prescrições médicas preventivas
ou curativas, contra as doenças dos operários.”
Conhecer os Locais e o Processo de
Trabalho: NR-7 & PCMSO
25 - 35 8,96 8,84
35 - 45 14,30 9,99
45 - 55 33,51 14,76
55 - 65 63,17 24,12
65 - 75 111,23 58,61
Média Anual do Número Mortos (por 1.000) por Doenças
Pulmonares em Mineiros e Não-mineiros (Cornwall, 1849-1853)
25 - 35 4,15 3,83
35 - 45 7,89 4,24
45 - 55 19,75 4,34
55 - 65 43,29 5,19
65 - 75 45,04 10,48
Das “Doenças dos Trabalhadores” às
“Doenças Profissionais” (1)
• Sob a óptica da “Medicina Social”, a Patologia
do Trabalho é observada como “doenças dos
trabalhadores”, detectável através de perfís de
morbidade e mortalidade de trabalhadores de
diferentes categorias profissionais) análise
“estrutural”, de “determinantes sociais”, de
intervenção social
Evolução dos Conceitos: Pasteur, Koch e a
Busca das “Causas”
Com a “era bacteriológica”
(Pasteur, 1822-1895;
Koch, 1843-1910),
ganha corpo a idéia de
que para cada doença
existe um agente
etiológico! A prevenção
ou erradicação seria,
em princípio, possível,
com a eliminação da
“causa”.
Das “Doenças dos Trabalhadores” às
“Doenças Profissionais” (2)
(continua)
Classificação de Ivar Oddone (1977)
“CAUSA” “EFEITO”
“Nexo Causal” (Schilling I e III)
“EFEITO” 1
“EFEITO” 2
“CAUSA”
“EFEITO” 3
“EFEITO” 4
O Que Mudou? (4)
• Também agrega a Lista B:” “DOENÇAS
RELACIONADAS COM O TRABALHO: Lista
Elaborada pelo Ministério da Saúde, a Partir
da Relação de Agentes Etiológicos ou
Fatores de Risco de Natureza Ocupacional,
Ampliada e Atualizada, e Disposta Segundo
a Taxonomia, Nomeclatura e Codificação da
CID-10”
• PARA CADA DOENÇA OS “AGENTES”
CORRESPONDENTES...
EXEMPLO DA “LISTA B”:
NEOPLASIA DA CAVIDADE NASAL E DOS SEIOS
PARANASAIS (C30-C31):
• Radiações ionizantes
• Níquel e seus compostos
• Poeiras de madeira e outras poeiras orgânicas
da indústria do mobiliário
• Poeiras da indústria do couro
• Poeiras orgânicas (na indústria têxtil e em
padarias)
• Trabalhadores da indústria do petróleo
O Que é Novo?
“CAUSA” 1
“CAUSA” 2 “EFEITO”
“CAUSA” 3
“CAUSA” 4
“Nexo Causal” (Consolidado do mundo
real...)
“CAUSA” 1 “EFEITO” 1
“CAUSA” 2 “EFEITO” 2
“CAUSA” 3 “EFEITO” 3
“CAUSA” 4 “EFEITO” 4
Ministério da Saúde:
Portaria no. 1.339, de 18/11/99, publicada no
DOU de 19/11/99 (Seção I, págs. 21 a 29),
institui a “Lista de Doenças Relacionadas ao
Trabalho”, que é a mesma proposta pela
Comissão, e já adotada pelo MPAS (Anexo II
do Decreto 3.048, de 6/5/99)
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port99/GM/GM-1339.html
• No seu conteúdo é semelhante à Lista da
Previdência Social (Decreto 3.048/99), mas
tem finalidades distintas:
• A Portaria estabelece que a Lista deve ser
“adotada como referência (...) no Sistema
Único de Saúde...”
• “...para uso clínico e epidemiolólgico.”
Estabelecimento de “Nexo Causal”
“Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e
as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental)
e os exames complementares, quando necessários, deve o médico
considerar:
A história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico
e/ou investigação de nexo causal;
O estudo do local de trabalho;
O estudo da organização do trabalho;
Os dados epidemiológicos;
A literatura atualizada;
A ocorrência de quadro clínico ou sub-clínico em trabalhador exposto
a condições agressivas;
A identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos,
estressantes, e outros;
O depoimento e a experiência dos trabalhadores;
Os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus
profissionais, sejam ou não da área de saúde.” (Artigo 2o da Resolução
CFM 1488/98).
Estabelecimento de “Nexo Causal” (na
Perícia do INSS) (1)
“Recomenda-se, ademais, incluir nos procedimentos e no
raciocínio médico-pericial, a resposta a dez questões
essenciais, a saber:
• Natureza da exposição: o “agente patogênico” é claramente
identificável pela história ocupacional e/ou pelas informações
colhidas no local de trabalho e/ou de fontes idôneas
familiarizadas com o ambiente ou local de trabalho do
Segurado?
• “Especificidade” da relação causal e “força” da associação
causal: o “agente patogênico” ou o “fator de risco” podem
estar pesando de forma importante entre os fatores causais
da doença?
• Tipo de relação causal com o trabalho: o trabalho é causa
necessária (Tipo I)? Fator de risco contributivo de doença de
etiologia multicausal (Tipo II)? Fator desencadeante ou
agravante de doença pré-existente (Tipo III)?
• No caso de doenças relacionadas com o trabalho, do tipo II,
foram as outras causas gerais, não ocupacionais,
devidamente analisadas e, no caso concreto, excluídas ou
colocadas em hierarquia inferior às causas de natureza
ocupacional?
• Grau ou intensidade da exposição: é ele compatível com a
produção da doença?
• Tempo de exposição: é ele suficiente para produzir a doença?
• Tempo de latência: é ele suficiente para que a doença se
desenvolva e apareça?
• Há o registro do “estado anterior” do trabalhador?
• O conhecimento do “estado anterior” favorece o
estabelecimento do nexo causal entre o “estado atual” e o
trabalho?
• Existem outras evidências epidemiológicas que reforçam a
hipótese de relação causal entre a doença e o trabalho
presente ou pregresso do segurado?
A resposta positiva à maioria destas questões irá conduzir o
raciocínio na direção do reconhecimento técnico da relação
causal entre a doença e o trabalho.”
Lista A Fatores de
Doenças
(1999) Risco
Lista B Fatores de
Doenças
(1999) Risco
LISTA C - NTEP
CNAE Doenças
(2009)
3. Requisitos e Competências de Quem
Lida com o Adoecimento dos
Trabalhadores
Competências Requeridas dos
Médicos do Trabalho (ANAMT)
“Para elaborar um programa de prevenção da doença relacionada
ao trabalho, para estabelecer nexo entre doença e trabalho e
para avaliar capacidade laborativa, o médico do trabalho deve
ter identificados os fatores de risco e as exigências físicas e
psíquicas no processo e ambiente de trabalho. Significa saber o
que o trabalhador faz, como faz e onde faz. Esse conhecimento
é obtido através das descrições das atividades quando
disponíveis, das informações da gerência, do PPRA, da avaliação
ergonômica quando disponível e, necessariamente, através do
estudo do trabalhador durante suas atividades e das
informações por ele fornecidas.”
Princípios Gerais: Como?
“O PCMSO deverá considerar as
questões incidentes...”
“...sobre o indivíduo...”
“...e a coletividade de trabalhadores...”
“...privilegiando o instrumental clínico-
epidemiológico na abordagem da
relação entre a saúde e o trabalho.”
(NR 7.2.2)
Princípios Gerais: Como?
“O PCMSO deverá ser planejado...”
“...e implementado...”
“...com base nos riscos à saúde dos
trabalhadores...”
“...especialmente os identificados nas
avaliações previstas nas demais NRs.”
(NR 7.2.4)
Pressupostos
1 - CONHECIMENTO DAS CONDIÇÕES DE
RISCO OU DOS “RISCOS”
Orientação segundo “riscos à saúde dos
trabalhadores, especialmente os
identificados nas avaliações previstas nas
demais NRs.” (NR 7.2.4)
Competências Requeridas dos
Médicos do Trabalho (ANAMT)
“...saber reconhecer a presença de fatores de risco para
a saúde presentes nas situações de trabalho e
operação de equipamentos, utilizando metodologias
simplificadas, como por exemplo, realizar inquéritos
preliminares, utilizar check lists básicos de Segurança
do Trabalho, elaborar árvore de causas de acidentes
do trabalho, e selecionar os meios e recursos
adequados para sua avaliação.”
Competências Requeridas dos
Médicos do Trabalho (ANAMT)
N = 567
Distribuição dos Empregados Segundo TEMPO DE SERVIÇO
N = 567
Pessoas com Exames Audiométricos Alterados, Segundo
TEMPO DE SERVIÇO (2000 a 2007)
N = 1231
DISTRIBUIÇÃO DOS “DESENCADEAMENTOS” DE PERDAS
AUDITIVAS, POR CARGO (2008)
N = 72
DISTRIBUIÇÃO DOS AFASTAMENTOS DE CURTO PRAZO
As 10 Principais Ocorrências (2000 a 2007)
N = 1154
AFASTAMENTOS DE LONGO PRAZO (> 15 dias)
(Empresa do Ramo do Zinco, 2000 a 2007)
N = 65
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ ENTRE EMPREGADOS DE
EMPRESA NO RAMO DO PETRÓLEO PERÍODO DE 2003 - 2006.
23,7%
30,8% 20,8%
11,2%
34,1%
24,4%
30,1%
17,2%
14,6%
3,3%
3,7%
Causas externas Acidentes do trabalho
DCV Neoplasia
AIDS Aparelho digestivo
Outros
4. Incapacidade Laboral: Algumas
Semelhanças e Diferenças dos Atos
Médicos Básicos e dos Erros
(Medicina do Trabalho x Perícia)
Algumas Semelhanças e Diferenças dos
Erros Mais Comuns (1)
• Médico do trabalho supostamente rigoroso na
admissão > cria “inaptidão” (falsa positiva) que
não tem base em evidências científicas, e que
leva à rejeição/exclusão injusta do candidato a
emprego, cargo ou função!
• Perito médico ou Médico Perito supostamente
rigoroso para conceder benefício por
incapacidade > desqualifica a “incapacidade”
(falso negativo) que – de fato - existe, o que leva
à injusta exclusão ao direito de benefício!
Algumas Semelhanças e Diferenças dos
Erros Mais Comuns (2)
• Médico do trabalho displicente e relaxado na
demissão > cria “aptidão” (falsa positiva) que, na
verdade, não existe, abrindo as portas para a
demissão e fechando as portas para a admissão
em outra empresa...
• Perito médico apressado em conceder a cessação
do benefício por incapacidade, em segurado que,
na verdade, não tem “capacidade laborativa”
para trabalhar (falso positivo)!
Algumas Semelhanças e Diferenças dos
Erros Mais Comuns (3)
• Médico do trabalho displicente na admissão >
cria “aptidão” (falsa negativa) que, na verdade,
não existe, abrindo as portas para a admissão
indevida, com risco para a saúde do trabalhador
e/ou para outros...
• Perito médico apressado em conceder benefício
por incapacidade, a segurado que, na verdade,
não tem “incapacidade laborativa”
total...privando-o da possibilidade de trabalhar...
Incapacidade Laboral: Principais Causas
dos Erros Cometidos na Medicina do
Trabalho e na Perícia Médica
Falta de Conhecimento do Local e Posto de
Trabalho
“Eu, quanto pude, fiz o que estava ao meu alcance, e
não me considerei diminuído visitando, de quando em
quando, sujas oficinas a fim de observar segredos da
arte mecânica. (...) Das oficinas dos artífices, portanto,
que são antes escolas de onde saí mais instruído, tudo
fiz para descobrir o que melhor poderia satisfazer o
paladar dos curiosos, mas, sobretudo, o que é mais
importante, saber aquilo que se pode sugerir de
prescrições médicas preventivas ou curativas, contra as
doenças dos operários.”
Contribuições de
Bernardino Ramazzini
(1633-1714), livro De
Morbis Artificum
Diatriba (“As Doenças
dos Trabalhadores”)
Condutas Movidas por Ideologia de
“Defesa” das Instituições
• Na Medicina do Trabalho: querer “proteger” o
empregador dos supostos riscos de admitir
pessoas que não são “super-homens” perfeitos
(ou “supermulheres”) ou “astronautas” ou
“atletas” (agravado em tempos de NTEP...)
• Na Perícia Médica: colocar-se na defesa da
Instituição, acima das obrigações de ver-se como
agente de execução de direitos sociais (e não
“concessões”, “benesses” ou “dádivas”...)
“Simulação” e “fraude” como primeira
hipótese!
Conceitos e Práticas Binários e
Reducionistas do “Tudo” ou “Nada”
• Na Medicina do Trabalho:
– “apto” x “inapto”, “normal” x “patológico”
– confusão entre afastamento da “função”, do
“cargo”, da “tarefa” e afastamento do “trabalho”
• Na Perícia Médica:
– “capaz” x “incapaz”
– A (atual) inexistência de “graus de capacidade
laborativa” ou “graus de incapacidade laborativa”
– A (atual) fragilidade dos programas de
Reabilitação Profissional
(In)capacidade Laboral: Perspectivas
Movidas pela Busca da Inclusão Social
Do Enfoque de “Aptidão” para o Enfoque
de “Adaptação” (1)
“A mudança do enfoque de “aptidão” a um enfoque de
“adaptação” supõe que os resultados da avaliação de saúde
podem também ser utilizados para informar ao trabalhador e
ao empregador sobre as medidas que deveriam ser adotadas
para superar o problema (...) e também para informar ao
empregador, à direção da empresa, a todos os representantes
dos trabalhadores e ao comitê de saúde e segurança, acerca
das medidas (coletivas, individuais ou dos dois tipos) que
deveriam ser tomadas para adaptar o meio ambiente de
trabalho ou a organização do trabalho às necessidades
fisiológicas e psicológicas dos trabalhadores.” (OIT, 1998)
Inter-relações entre “Aptidão”, “Ergonomia”,
“Reabilitação Profissional”
“Do ponto de vista da Saúde no Trabalho, não existe
uma aptidão geral para o emprego; a aptidão
somente pode ser definida em relação a um
emprego particular ou um determinado tipo de
tarefa; do mesmo modo, não existe uma “inaptidão”
absoluta para o emprego.”
“A aptidão para o emprego deveria considerar-se à luz
das inter-relações entre a aptidão, a ergonomia, e a
reabilitação física e profissional.”
(Princípios Diretivos e Éticos Relativos à Vigilância da Saúde dos
Trabalhadores, OIT, 1998)
Valorização e Promoção da “Capacidade de
Trabalho” (“Workability”)
“... o conceito de capacidade para o trabalho, enfatizando que
ela é uma condição resultante da combinação entre recursos
humanos em relação às demandas físicas, mentais e sociais
do trabalho, gerenciamento, cultura organizacional,
comunidade e ambiente de trabalho. O conceito é expresso
como “quão bem está, ou estará, um(a) trabalhador(a)
presentemente ou num futuro próximo, e quão capaz ele ou
ela pode executar seu trabalho em função das exigências, de
seu estado de saúde e capacidades físicas e mentais”
(Martinez, Latorre e Fischer, 2010)
Valorização e Uso do Conceito de
“Funcionalidade”: da CID à CIF!
“... na CIF a incapacidade e a funcionalidade são vistas
como resultados de interações entre estados de saúde
(doenças, distúrbios e lesões) e fatores contextuais. Entre os
fatores contextuais estão fatores ambientais externos (por
exemplo, atitudes sociais, características arquitetônicas,
estruturas legais e sociais, bem como clima, terreno, e assim
por diante); e fatores pessoais internos, que incluem gênero,
idade, estilo de vida, condição social, educação, profissão,
experiências passadas e presentes, padrão de comportamento
geral, caráter e outros fatores que influenciam a maneira
como a incapacidade é experimentada pelo indivíduo.”
5. Comentários Finais
rene.mendes@uol.com.br
renemendes@renemendes.com.br