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23/04/2019 Jogos de azar e a Igreja - Jus.com.

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Jogos de azar e a Igreja


Jogos de azar e a Igreja

Vladimir Polizio Junior

Publicado em 07/2017. Elaborado em 06/2017.

Autorização da Justiça para que igrejas realizem grandes bingos e outros jogos de azar constitui
precedente perigoso, pois podem constituir forma de burlar a norma que proíbe jogos.

Oficialmente os jogos de azar não oficiais são proibidos no território nacional e constituem contravenção penal, pouco
importando o pretexto que se busque para realizá-los, beneficência ou filantropia: além das hipóteses taxativas da legislação
especial, como as que permitem mega sena e loteria esportiva, nenhum outro jogo de azar tem amparo legal. Disso resulta
que caça níqueis, bingos e jogo do bicho são ilegais e não deveriam existir. Mas no Brasil a vedação normativa é mero
detalhe, pois não impede a existência desses jogos, como o do bicho, que conta com apontadores espalhados em inúmeras
localidades e inclusive com vários sites que divulgam os resultados dos seus sorteios (como, por exemplo,
<http://www.ojogodobicho.com/deu_no_poste.htm>, <http://www.resultadosdobichotemporeal.com.br/> e
<http://resultadodojogodobicho.deunopostehoje.com/federal/>, dentre outros), muito embora para o Poder Judiciário,
como deliberou a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça em 15/12/2016, com relatoria do Min. Ribeiro Dantas no RHC
53370/RJ, a prisão preventiva se justifica “para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal, ante a

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gravidade concreta da conduta delituosa” de “grupo dedicado à exploração do jogo do bicho". Dito de outro modo, o jogo do
bicho constitui conduta de tamanha gravidade que autoriza a prisão antes da sentença de segunda instância, embora sua
prática seja disseminada e muitos dos que deveriam combatê-lo são coniventes.

Da mesma forma com os bingos. Muito embora em 22/11/2016 a 2ª Turma do STJ tenha aderido por unanimidade ao voto
do relator, Min. Herman Benjamin, para quem a exploração de bingo ilegal gera dano moral coletivo, pois “A necessidade de
correção das indigitadas lesões às relações de consumo transcende os interesses individuais dos frequentadores das casas de
jogos ilegais para dizer respeito ao interesse público na prevenção da reincidência da suposta conduta lesiva por parte dos
exploradores dos jogos de azar, de onde exsurge o direito da coletividade a danos morais coletivos, ante a exploração
comercial de uma atividade que, por ora, não encontra guarida na legislação”, também existe certa tolerância com sua
existência perene na sociedade, ainda que seja contravenção penal.

Um exemplo nesse sentido vem do Poder Judiciário do Espírito Santo, onde a juíza Walmea Carvalho, de Baixo Guandu,
autorizou por sentença em 11/05/2017, no processo nº 0000656-44.2017.8.08.0007, a realização de bingo de automóvel,
motocicleta e televisão como prêmios principais, por uma igreja local, para a instalação de ar condicionado, “reforma de
templo” e “projetos sociais”. Para a magistrada, embora o jogo de azar seja proibido e não encontre amparo legal, por ser
beneficente e não visar lucro, não haveria problema em realizá-lo: “A meu ver, o objetivo da legislação contravencional não
foi o de obstaculizar a realização de sorteios, prêmio, bingos e quejandos que tivessem por escopo fins altruísticos, animados
tão somente pelo espírito benfazejo, desprovidos de habitualidade e sem o intuito de lucro – como na hipótese vertente.”
Simples assim.

O precedente é perigoso. Com base no princípio constitucional da isonomia, qualquer denominação religiosa poderia se
basear na decisão capixaba e pleitear no Judiciário autorização para um bingo com sorteio de veículos, motocicletas e outros
bens. Como os dados oficiais apontam a existência de mais de 400 mil templos religiosos no Brasil, em tese, se cada um
realizasse um bingo diário, haveria mais de mil por dia. Considerando que templos religiosos não pagam impostos e não são
sujeitos a nenhuma fiscalização sobre seus recursos pelo Ministério Público e tampouco se submetem à lei da transparência,
talvez sejam as igrejas os maiores responsáveis pela não legalização dos jogos de azar no Brasil. Desse modo, não têm
concorrentes.

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23/04/2019 Jogos de azar e a Igreja - Jus.com.br | Jus Navigandi

Autor
Vladimir Vladimir Polizio Junior
Polizio Junior
Doutor em Direito e Mestre em Direito Processual Constitucional pela Universidad Nacional de Lomas
de Zamora (UNLZ), Argentina. Especialista em Direito Constitucional, em Direito Civil e Direito Processual Civil, e em
Direito Penal e Direito Processual Penal. Autor de inúmeros artigos em livros, revistas e publicações especializadas, e
das seguintes obras: Lei de Acesso à Informação- manual teórico e prático, 1ª ed, 2015; Novo Código Florestal, 2ª ed.,
2014; Meio Ambiente e os Tribunais, 1ª ed., 2014; Crimes Contra a Vida e os Tribunais, 1ª ed., 2014; Crimes Contra o
Patrimônio e os Tribunais, 1ª ed., 2014; Liberdade de Expressão e os Tribunais, 1ª ed., 2014. Ex-Defensor Público.
Professor, jornalista e advogado em São Paulo/SP.

Informações sobre o texto


Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

JUNIOR, Vladimir Polizio. Jogos de azar e a Igreja . Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5118, 6
jul. 2017. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/58374>. Acesso em: 23 abr. 2019.

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