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aprovação e implantação
Sonia Naha
ahass de C
Naha arv
Carv alho
arvalho
R e sumo Abstr
Abstracac
actt
Com o propósito de discutir a aprovação e a The article discusses the approval and
implantação do Estatuto da Cidade, o traba- implementation of Estatuto da Cidade (federal
lho foi organizado em dois tópicos. No pri- law number 10.257/2001) by organizing the
meiro, a análise, ao identificar o Estatuto da arguments in two parts. Considering the
Cidade como marco regulador das políticas Estatuto da Cidade as the regulatory guide for
urbanas no Brasil no período atual, salienta urban policies in Brazil, the first part identifies
três ordens de questões que delimitam as con- three institutional conditions that are essential
dições institucionais necessárias à sua to its implementation: the importance of the
implementação: centralidade do plano dire- city master plan as the main instrument for the
tor como instrumento de execução da políti- execution of the urban policy; legal
ca urbana; competência legal para a definição competence to define the property’s social
da função social da propriedade; e ênfase na use; and the importance of democratic urban
gestão democrática das cidades. No segundo administration. The second part explores the
tópico, a análise explora as possibilidades political possibilities for the implementation
políticas de implementação do Estatuto da of the Estatuto da Cidade, discussing the
Cidade, discutindo as hipóteses sobre a are- hypotheses about the public policy arena in
na de política pública na qual se desenvol- which the conflicts regarding urban land
vem os conflitos em torno do solo urbano e develop and the difficulties in moving to
as dificuldades de deslocamento para outra another arena. The experiences of elaboration
arena, a partir das experiências de elaboração of master plans in the cities of Santos and São
de planos diretores nos municípios de San- Paulo support this discussion.
tos e São Paulo. K ey-w
ey-woror ds:
ords: Estatuto da Cidade; city
Pala vr
vraas-cha
alavr -chavve: Estatuto da Cidade; plano master plan; institutional conditions; urban
diretor; condições institucionais; solo urbano; land; conflicts of interest; organization of
articulação de interesses; setor de produção urban building production; cities of Santos
imobiliária; municípios de Santos e São Paulo. and São Paulo.
uma vez que elas delimitam as condições integrado para os centros urbanos (Cintra,
institucionais para a implementação da po- 1983, pp. 124-125).
lítica, quais sejam: a centralidade do plano Sob a coordenação e financiamen-
diretor como instrumento de execução da to do Serfhau, planos diretores, então de-
política; a competência legal para a defini- nominados planos de desenvolvimento lo-
ção da função social da propriedade; e a cal integrado, foram elaborados para as ci-
ênfase na gestão democrática das cidades. dades brasileiras de médio e grande porte.
Essas questões delimitam o arcabouço Coerente com a concepção de um sistema
institucional consagrado no capítulo cons- articulado e integrado nacionalmente, nas
titucional da política urbana, posteriormen- esferas locais, a proposta de um sistema de
te regulamentado pelo Estatuto da Cidade. planejamento local integrado visava tornar
mais racionais os investimentos com vistas
ao desenvolvimento urbano.
Questões centrais
do Estatuto da Cidade Os problemas intra-urbanos, como bai-
xa densidade, crescimento desordenado,
especulação imobiliária, alto custo das
O plano diretor estruturas urbanas, foram apontados, e
como instrumento por excelência propôs-se a modernização das institui- 27
da execução da política ções locais. (Id., 1978, p. 205)
de desenvolvimento urbano
Não obstante os esforços à época
A experiência brasileira imediatamente an- realizados, a avaliação desse processo in-
terior de elaboração de planos diretores foi dica os baixos resultados apresentados,
marcada pela atuação do Serviço Federal de dado que não se alcançou a implantação
Habitação e Urbanismo (Serfhau) nos anos dos sistemas locais de planejamento, nem
de 1960 e 1970, organismo federal orien- mesmo a execução de intervenções suge-
tador da estruturação de políticas nacionais ridas pelos planos elaborados. Seus resul-
urbanas e de planejamento urbano con- tados, de fato, responderam muito mais a
soante às regras impostas pelo Estado do demandas localizadas na burocracia fede-
período autoritário, isto é, decididas em cír- ral, com pouca repercussão junto às forças
culos estreitos da burocracia pública e políticas locais. Isso reflete o distancia-
pouco atenta às demandas da sociedade. A mento entre os agentes de elaboração dos
essa agência, em particular, coube respon- planos – atribuído a empresas privadas de
der às necessidades de cursos de ação pla- consultoria – e os agentes executores, lo-
nejados compreensivamente dentro de uma calizados nas administrações municipais e
proposta de implantação em dois níveis: na ausência de demandas ou reivindica-
das redes de cidades e do planejamento ções de ações públicas dessa natureza.
partir de uma visão integrada do ambiente ticos propostos, como a função social da
construído e o direito à vida na cidade” propriedade, o solo criado, o imposto
(Franklin Dias Coelho, apud Salvatore, progressivo, a usucapião etc.
1996, p. 75). No centro dessa proposta
buscava-se, em suma, introduzir o concei- A centralidade adquirida pelo pla-
to de função social da propriedade por no diretor como principal instrumento de
meio do questionamento do direito de execução da política urbana foi, portanto,
propriedade privada. a alternativa política possível resultante do
As resistências a essa proposta arti- conflito entre posições divergentes duran-
cularam uma espécie de aliança formada te o processo constituinte. Isso significou,
pela burocracia estatal e parcela de con- de um lado, a submissão de aplicabilidade
gressistas em torno de uma outra proposta, de instrumentos jurídicos e urbanísticos ao
de caráter mais conservador, para a qual o aprovado no plano diretor e, de outro, o
direito à propriedade privada é inviolável. adiamento da solução do conflito relativo
É no contexto da disputa entre posições ao solo urbano para a fase de elaboração
divergentes que o plano diretor é introdu- dos planos diretores na esfera local. De
zido no texto constitucional, expressando qualquer forma, a decisão constitucional
a posição dos interesses que atuam na área instituiu o plano diretor como instrumento
de incorporação imobiliária ou ligados à por excelência da política urbana, e o Esta-
29
dinâmica da produção urbana e de grupos tuto da Cidade fixou o prazo de cinco anos
técnico-corporativos enraizados na admi- (até julho de 2006) para a elaboração e
nistração pública brasileira (Rolnik, 1994, aprovação dos planos diretores nos muni-
pp. 357-358). Portanto, como resultado cípios brasileiros que preencham as carac-
das articulações e de grupos de pressão terísticas definidas em lei.
organizados, o plano diretor torna-se cen-
tral à política urbana no texto constitucio- Competência legal na definição
nal de 1988 e “posterga” a definição dos da função social da propriedade
requisitos institucionais para o acesso so-
cial à terra urbana. Consoante à centralidade atribuída ao pla-
De acordo com Dias Coelho (apud no diretor, a Constituição de 1988 estabe-
Salvatore, 1996, p. 76), a proposta de inclu- leceu que a função social da propriedade
são do plano diretor é definida no âmbito do plano diretor. Uma
definição que reforça o plano diretor como
[...] não surgiu nem foi negociada com os instrumento central da política urbana.
movimentos populares. Ela surge como Na Constituição de 1934, quando
alternativa ao temor suscitado, nos seto- apareceu pela primeira vez, o dispositivo da
res mais conservadores, quanto ao uso su- função social da propriedade expressava a
mário dos instrumentos jurídico-urbanís- idéia vaga de que o direito de propriedade
sua função social quando atendida as exi- O objetivo dessa limitação à livre dispo-
gências fixadas no plano diretor, dispondo, nibilidade do imóvel urbano pelo pro-
para tanto, do mecanismo da progres- prietário se fundamenta na função social
sividade do IPTU no tempo aplicável em da propriedade e na atribuição do po-
imóveis urbanos não utilizados, subuti- der público municipal de condicionar o
lizados ou não edificados. exercício deste direito individual à polí-
Ao lado desse instrumento da polí- tica urbana. O direito de preempção
tica, outros institutos jurídicos e urbanísti- pode incidir em imóvel público ou pri-
cos foram facultados ao poder público mu- vado para atender esse princípio consti-
nicipal para a execução da política urbana tucional.
na esfera local, relacionando-se o direito Este instituto, no que se refere à política
de preempção, a outorga onerosa do direi- urbana, tem como finalidade constituir
to de construir acima do coeficiente de um sistema de informações públicas so-
aproveitamento adotado mediante contra- bre as alienações voluntárias que se pro-
partida, as operações urbanas consorciadas cessam no interior de um perímetro ur-
e a transferência do direito de construir. A bano estabelecido pelo município em
utilização desses mecanismos pressupõe lei razão do interesse público ou social,
municipal específica, fundamentada no pla- constituir um banco de áreas públicas e
no diretor aprovado para o município. Os controlar os preços dos terrenos, em es- 31
significados e finalidades desses instrumen- pecial em áreas urbanas cujo preço dos
tos a seguir descritos recuperam a sistema- imóveis dos terrenos sejam elevados de-
tização feita pelo Instituto Polis (2001), ex- vido à existência de especulação imobi-
celente guia de orientação aos municípios liária. (p. 137)
e cidadãos para a implementação do Esta-
tuto da Cidade. Transferência do direito de construir
Direito de preempção (artigos 25 a (artigo 35) visa viabilizar a preservação de
27) visa conferir ao poder público munici- imóveis ou áreas de importante valor histó-
pal preferência para adquirir imóvel urba- rico ou ambiental.
no objeto de alienação onerosa entre par-
ticulares. Este instrumento foi concebido de modo
a permitir que os proprietários de imó-
A preferência [para essa aquisição] é apli- veis a serem preservados fossem compen-
cável nas alienações de imóveis urbanos sados pelo fato de que em seus imóveis
que, em razão da política urbana esta- os coeficientes ou densidades estabele-
belecida nos municípios, sejam conside- cidos para o território urbano não po-
rados necessários para atender as funções dem ser atingidos sob pena de compro-
sociais da cidade, como a criação de es- meter o objetivo de preservação de imó-
paços públicos de lazer e áreas verdes. veis de interesse histórico, paisagístico ou
a área e acima desses valores, e até 2,5 ve- As alterações introduzidas no tex-
zes, seria aplicado o mecanismo da outor- to final aprovado integraram o subs-
ga onerosa do direito de construir com titutivo do Legislativo municipal, elabo-
contrapartida em dinheiro. Essa proposi- rado pelo vereador Nabil Bonduki, em
ção fundamentava-se na queda do preço um contexto de reações intensificadas
dos terrenos e, por conseqüência, na am- por pressão das entidades ligadas à pro-
pliação do acesso à terra urbana aos seg- dução imobiliária urbana à proposta do
mentos de população de menor poder Executivo municipal em alterar a regra vi-
aquisitivo. Os recursos advindos da ven- gente de regulação do uso e ocupação do
da do potencial construtivo seriam rever- solo urbano. A reação então havida mar-
tidos aos cofres públicos e retornados à cou os debates pela ênfase nos impactos
coletividade sob a forma de benfeitorias decorrentes sobre o mercado caso o me-
e equipamentos urbanos. canismo da outorga onerosa do direito de
O projeto aprovado pela Câmara construir fosse implementado tal como
municipal, em agosto de 2002, alterou os proposto. De forma a contextualizar a par-
índices propostos pelo Executivo, com a ticipação desse setor, seu nível de organi-
adoção de novos procedimentos, a sa- zação e capacidade de pressão, vale recu-
ber: escalonamento gradual de implanta- perar três episódios havidos, amplamente
ção do mecanismo da outorga onerosa divulgados (e apoiados) pela mídia im- 41
que considera 2003 como período de pressa paulistana.14
transição e 2004 como período de im- O primeiro episódio recupera a
plantação definitiva, com a adoção de posição explicitada por Raul Leite Luna,
índices de aproveitamento mais flexíveis presidente do capítulo brasileiro da Fede-
e variáveis segundo zonas urbanas da ci- ração Internacional das Profissões Imobiliá-
dade. Nas zonas mistas e de alta densida- rias (Fiabci) antes mesmo da entrada do pro-
de (Z-3, Z-4, Z-5, Z-10 e Z-12), com coefi- jeto de lei na Câmara. Com forte carga
ciente básico gratuito igual a três em ideológica, em matéria paga (anúncio pu-
2003 e a dois em 2004. Nas zonas blicitário) publicada no jornal O Estado de
residenciais de baixa densidade (Z-2), a S.Paulo (23/4/2002), Luna deu o teor da
taxa gratuita é igual a um, podendo che- crítica à proposta do Executivo paulistano
gar a dois, nos casos em que houver o em artigo que ressalta de forma emble-
compromisso em manter parte do terre- mática a posição do setor por ele represen-
no ajardinado e permeável. Nessas zonas, tado. Para ele, caso a Câmara viesse a apro-
o índice poderá chegar a 2,5 vezes a área var a proposta enviada pelo Executivo iría-
do terreno, mediante compra do direito mos “assistir ao maior ato de usurpação da
de construir. E nas zonas estritamente propriedade privada de que se tem notícia
residenciais (Z-1), foi mantido o índice de em toda a história do país”. E mais adiante
aproveitamento igual a um. acrescentou:
com a sociedade, pois foi “a primeira vez ficaram restritas à negociação com o setor
que um plano diretor foi elaborado e vota- da construção imobiliária e nos itens de seu
do de forma democrática” (Id., 14/8/2002). interesse. Em São Paulo, as negociações se
O processo de definição – e poste- deram na Câmara municipal, espaço polí-
rior aprovação – do plano diretor em São tico-institucional de representação da so-
Paulo pouco diferiu do ocorrido em San- ciedade paulistana no qual se procedeu à
tos. Nas duas cidades, a despeito da diver- revisão, com redefinição, da proposta ori-
sidade de proposições contidas nas respec- ginal de plano diretor apresentada pelo
tivas propostas elaboradas, a discussão cen- Executivo, também polarizada nos itens
tralizou-se em torno das regras tidas como explicitados pelos interesses da produção
básicas pelas forças sociais que de fato se imobiliária urbana.
mobilizaram para participar do processo de Em Santos e em São Paulo, portan-
discussões, quais sejam os instrumentos de to, não se escapou ao padrão geral obser-
regulação do solo urbano tão caros ao se- vado nas políticas públicas que buscam
tor da produção imobiliária urbana. Em San- definir instrumentos de regulação da pro-
tos, a articulação foi mais restrita, com a dução urbana a partir da interlocução com
liderança exercida pela Associação dos os grupos ligados ao setor da produção
Empresários da Construção Civil da Bai- imobiliária urbana, principalmente com
xada Santista. Em São Paulo, a articulação seus segmentos empresariais e, secundaria- 43
foi mais ampla e complexa, indicador de mente, com os segmentos profissionais que
um ambiente sócio-político que contém lhes dão suporte.
número maior e mais diversificado de ins- Não é de surpreender que o perfil
tituições organizadas do mercado imobi- social dos interlocutores da política nas
liário e a elas solidária. duas cidades esteve fortemente marcado
Em Santos e em São Paulo, os inte- por esses grupos, assim como o campo mais
resses do setor produtor imobiliário vale- geral que tradicionalmente delimita quais
ram-se igualmente dos canais institucionais são os problemas e de que modo são nor-
para participar na definição da política. O malmente definidos e tratados. Ou seja, é a
fórum que conquistou a atribuição efetiva forma mesma como as políticas existentes
de deliberar sobre o plano diretor em San- se desenvolvem que define alguns grupos
tos foi o Conselho Consultivo do Plano como vozes legítimas (no sentido da auto-
Diretor, espaço institucional com forte re- ridade reconhecida por outros centros de
presentação daquele setor. Malgrado os poder) em um campo particular de políti-
esforços de ampliação do fórum de dis- ca e, simultaneamente, tornam outras vo-
cussões, para a incorporação de outras for- zes menos críveis (Weir, 1992, p. 191). As
ças sociais, bem como os esforços ainda políticas já desenvolvidas, além disso, in-
que tímidos para alterar a composição do fluenciam o leque de soluções possíveis
Coplan, as definições do plano diretor e fornecem analogias das quais políticos
e policy-makers utilizam-se para julgar fu- Paulo, a lei aprovada manteve o mecanis-
turas opções. mo da outorga onerosa do direito de
Foi o que se verificou em Santos e construir, talvez mitigada, adequando-o
São Paulo. A despeito dos esforços em des- aos interesses do mercado produtor imo-
locar o objeto da política, dispensando-lhe biliário. Em Santos, a preservação do
tratamento redistributivo, os grupos sociais zoneamento funcional, em detrimento do
efetivamente mobilizados buscaram defen- zoneamento por adensamento, não ex-
der sua manutenção no âmbito da arena cluiu a instituição de zonas especiais, res-
regulatória. Em seu âmbito, os conflitos fo- tringindo a seus perímetros a definição de
ram acirrados durante a fase de definição instrumentos de regulação especiais, co-
dos regulamentos de uso e ocupação do mo foi o caso da lei das zonas especiais
solo urbano, pois é nesse momento que de desenvolvimento econômico (Zede),
eles ocorrem. instrumento de regulação pública que iso-
Como resultado, não se pode des- la porções do território municipal para
conhecer os avanços ocorridos e as pers- adensamento urbano diferenciado e adap-
pectivas de definição da função social da ta o instrumento da outorga onerosa do
propriedade urbana em outras bases, por direito de construir, restringindo-o a situa-
meio do estabelecimento de novas parce- ções urbanas específicas, além da própria
44 rias entre os setores público e privado no lei de instituição das zonas especiais de
processo de produção das cidades. Em São interesse social (Zeis).
Sonia N aha
ahass de C
Naha arv
Carv alho
arvalho
Socióloga. Doutora em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
sonianahas@seade.gov.br
Notas
(1) O artigo 4º é aquele que faculta ao poder público municipal exigir, mediante lei específica
para área incluída no plano diretor, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, a promoção do seu adequado aproveitamento.
(2) De acordo com Edésio Fernandes (1995), os esforços de mudança, identificados no início
da década de 1960, resultaram de um Legislativo mais ativo, em contexto de crescimen-
to da mobilização social que aprovou a lei federal nº 4.132, de 1962, permitindo a
(10) A análise de Santos baseia-se na pesquisa feita para a minha tese de doutorado (ver biblio-
grafia) e a de São Paulo valeu-se predominantemente da consulta de material de imprensa.
(11) As discussões sobre o plano diretor no governo Telma de Souza enfatizaram a instituição
do mecanismo do solo criado, ou índice padrão de aproveitamento, mas também incluía
a proposição do zoneamento por adensamento. Além disso, a estratégia adotada foi a de
implementar o plano diretor “por partes”, garantido em parte pelo fato de se dispor de um
plano diretor em vigor (aprovado em 1968), o que favoreceu a aprovação das leis de
criação da Área de Proteção Ambiental (APA) e das Zonas Especiais de Interesse Social
(ZEIS).
(12) Em São Paulo, a abrangência do plano diretor foi também mais ampla, contendo as dire-
trizes básicas ao ordenamento da cidade. Distintamente de Santos, contudo, a proposta
apresentada pelo Executivo e a lei aprovada não incluíram o zoneamento, objeto de ins-
trumento legal posterior. A título de registro, o projeto aprovado pela Câmara de vereado-
res incluiu alguns artigos contendo a mudança do zoneamento em áreas específicas, mo-
tivo de muitas reações. Esses artigos foram vetados pela prefeita ao sancionar a lei.
(13) Pelo material de imprensa consultado, houve também a manifestação de arquitetos urba-
nistas, como expressão de opinião mais individual do que representação de uma categoria
profissional. As críticas ou sugestões apresentadas tiveram pouco impacto na versão de
plano diretor aprovada pela Câmara.
(14) A fonte consultada limitou-se às matérias publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
(15) Essas entidades são: Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de
São Paulo (Aabic); Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce); Associação Co-
46 mercial de São Paulo (ACSP); Associação das Distribuidoras de Madeira do Estado de São
Paulo (Adimasp); Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB);
Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano do Estado de São
Paulo (AELO); Associação Brasileira de Lojistas de Shopping Centers (Alshop); Associação
Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco); Associação Paulista
de Empresários de Obras Públicas (Apeop/SP); Associação dos Registradores Imobiliários
de São Paulo (Arisp); Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea); Associa-
ção Paulista Viva; Câmara de Valores Imobiliários do Estado de São Paulo (CVI); Federação
do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio); Capítulo Nacional Brasileiro da Fede-
ração Internacional das Profissões Imobiliárias (Fiabci/Brasil); Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp); Instituto de Engenharia (IE); Instituto Brasileiro de Avaliações
e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape); Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP);
Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Sciesp); Sindicato das Empre-
sas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de
São Paulo (Secovi/SP); Sindicato dos Empregados em Empresas de Compra, Venda, Loca-
ção e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo, Guarulhos, Barueri,
Diadema e São Caetano do Sul, Estado de São Paulo (Seecovi); Sindicato do Comércio
Atacadista de Louças, Tintas e Ferragens de São Paulo (Sincaf); Sindicato do Comércio
Varejista de Materiais de Construção da Grande São Paulo (Sincomavi); Sindicato das
Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark); Sindicato
do Comércio Varejista de Vidro Plano, Cristais e Espelhos; Sindicato da Indústria da Cons-
trução de São Paulo (Sinduscon/SP); Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São
Paulo (Sinicesp); Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Civil do Estado
de São Paulo (Sintracon); e Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de
São Paulo (Sindimasp).
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Aprovado em maio/2006