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UM JOGO DIFERENTE
GEORGE S. DAY
The Wharton School
PAUL J. H. SCHOEMAKER
The Wharton School
VENCEDORES E PERDEDORES
A Microsoft, que adotou uma postura agressiva para superar sua entrada
tardia na Internet, redirecionando uma grande parcela do seu orçamento
destinado à pesquisa e ao desenvolvimento (P & D) para projetos relaciona-
dos com a Internet e investindo pesado na produção de conteúdo digital.
A Monsanto, que passou por uma complexa reformulação livrando-se do seu
negócio cíclico de produtos químicos para se concentrar em suas operações
farmacêuticas, agrícolas e de ingredientes alimentícios, que exploram 20 anos
de vários bilhões de dólares de investimentos na biotecnologia agrícola. Será
uma estrada acidentada, com profundas preocupações em relação aos ali-
mentos geneticamente modificados, mas a perspectiva a longo prazo parece
muito promissora.
A Intel, que foi capaz de largar o setor de memória de semicondutores e com
sucesso dedicar-se aos microprocessadores, a despeito das crenças profunda-
mente enraizadas de que as memórias eram a coluna vertebral da empresa.5
A Charles Schwab, que é a primeira empresa de investimentos com des-
contos, e lançou com êxito uma página de investimentos na Internet, ape-
sar do alto custo inicial causado pelas baixas comissões em todas as ope-
rações on-line. A perda inicial logo foi recuperada pelos ganhos de produ-
tividade e pelas novas receitas, geradas por conceder aos clientes infor-
mações personalizadas em tempo real.
A General Electric, que encontra-se em meio a uma transformação profunda,
com Jack Welch pregando e empurrando na direção de uma mudança revo-
lucionária. Em cada departamento da GE se pediu a criação de uma iniciati-
va de DestruaMeuNegócio.com, sob o lema de que ou você muda o modelo
empresarial ou alguém o fará por você.
difícil lidar com uma tecnologia emergente que cria um novo jogo. O sucesso
nessa nova arena depende de um conjunto diferente de capacidades, ferramentas
e perspectivas. Essas novas estruturas, esses novos pontos de vista e abordagens
organizacionais constituem o foco deste livro.
UM JOGO DIFERENTE
Como as empresas podem avançar face a esse tipo de incerteza? Novas tec-
nologias freqüentemente produzem uma grande ruptura na trajetória estabeleci-
da dos avanços técnicos, alimentando-se de bases científicas novas ou diferentes
e, portanto, requerendo o árduo desenvolvimento de novas competências. Mas,
nas etapas mais iniciais do desenvolvimento, não fica evidente se vão atingir uma
vantagem relativa decisiva. Com efeito, um dos aspectos mais confusos das tecno-
logias emergentes é o fato de os padrões de uso e o comportamento dos consumi-
dores serem exploratórios e estarem em formação, ao passo que o conhecimento
do mercado é escasso, e a estrutura de concorrência, embrionária.
Como isso difere da incerteza presente em todos os setores, mesmo no mais
estável e previsível? A incerteza em um ambiente estável é administrável porque
existem em geral apenas uns poucos resultados discretos que definem o futuro, e
estratégias robustas podem ser criadas para uma adaptação a essas possibilida-
des. O caráter da incerteza criada por uma tecnologia emergente é profundamen-
te diferente. Os riscos não são apenas externos, mas também internos, relaciona-
dos às parcialidades e às limitações das estruturas de pensamento das pessoas. O
filósofo alemão Jurgen Habermas se refere a isso como um “risco epistêmico” (ou
seja, o risco de não se saber o que não se sabe).
Há tantas condições imprevisíveis e voláteis interagindo de maneiras não-
antecipadas nos estágios iniciais que não há uma forma sensata de prever o
futuro. Ainda assim, seria uma tolice os administradores desanimarem e dei-
xarem de analisar a situação. Seria um equívoco desistir de criar uma estraté-
gia coerente para agir através da incerteza. Devem ser feitas escolhas sobre as
iniciativas em apoio à tecnologia emergente, sobre as alianças para persegui-
las e os recursos humanos para desenvolvê-las. A análise e a estratégia subse-
qüente, no entanto, devem incluir um componente humilde de aprendizagem
e devem reconhecer inúmeros futuros. Mesmo nas tecnologias mais incertas e
embrionárias há uma miríade de fatores – como as trajetórias de desempenho –
que talvez sejam desconhecidos, mas podem ser estudados, se adotadas as
corretas estruturas mentais6.
O tempo da era da Internet, como a passagem dos anos para os cães, passa bem
mais rapidamente do que o tempo comum. Essa aceleração pode ser vista na com-
pressão crescente das curvas de adoção de tecnologias na Figura 1.1. Enquanto a
Internet se situa na ponta de liderança dessa intensificação na pressão do tempo,
forças similares trabalham com outras tecnologias, refletindo o ritmo geral do pro-
gresso tecnológico e o desejo de ganhar uma vantagem de primeiro entrante.
O ímpeto recente de atividade nas tecnologias de rede, na biotecnologia, nos
materiais avançados e na nanotecnologia, nomeando apenas algumas aplicações,
representa a culminação de anos de pesquisa em áreas díspares que alcançam
massa crítica. A primeira divisão bem-sucedida de um gene ocorreu em 1973 e a
Internet foi inicialmente concebida (como a ARPANET) nos anos 1960 (ver o Ca-
pítulo 5). Ademais, os avanços em um domínio estão se alimentando do progresso
em outros e os reforçando, como ocorre com os poderosos computadores existen-
tes hoje, que facilitam as técnicas da química combinatória e a manipulação dos
genes. A tendência geral na direção dos mercados livres, da globalização e da
22 GESTÃO DE TECNOLOGIAS EMERGENTES
80
TV a
70 cabo
Telefone
60
Rádio
50 FM
40
PC
30
Aparelhos Pagers
de CD
20 TV em Internet
TV em
cores
10 preto-e-branco Telefone
celular TV por
0 satélite
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Fonte: The Wall Street Journal, edição para as salas de aula, 1998
Regras diferentes
Esse jogo diferente – com sua alta incerteza e suas rápidas mudanças destruidoras
da competência – mina as antigas regras usadas na gestão das tecnologias estabe-
lecidas. A Internet e a biotecnologia desafiam constantemente a análise do valor
presente líquido (net present value – NPV) e outras abordagens tradicionais. Em
contrapartida, se os administradores abandonam suas antigas ferramentas e re-
gras, a atitude parece convidar ao caos. Se estamos avançando com projetos que
tenham um NPV negativo, baseados em que estamos tomando decisões? Se não
podemos saber quando e se uma dada tecnologia se desenvolverá a ponto de
poder ser comercializada, como é possível uma empresa construir um negócio em
torno desse sonho de uma idéia cuja concretização pode nunca chegar? Se coope-
ramos com os nossos concorrentes, como podemos competir?
Para os administradores nas empresas titulares, essa mudança geralmente se
parece com uma mudança da ordem para o caos. Na realidade, existe um conjun-
to diferente de regras e uma estrutura subjacente nesse jogo diferente das tecno-
logias emergentes, como é resumido na Tabela 1.2. Compreender essa nova abor-
dagem não reduzirá necessariamente os riscos e os desafios envolvidos, mas pode
fazer com que fique mais fácil administrá-los.
Os capítulos deste livro apresentam uma variedade de ferramentas e pers-
pectivas novas que auxiliam os administradores a atuar de acordo com essas no-
vas regras. Entre as mudanças no pensamento e na prática que os administradores
precisam fazer, incluem-se:
Ambiente / Setor Risco e incerteza administráveis (pou- Volátil e imprevisível (nenhuma base para
cos resultados discretos definem o fu- a previsão do futuro), alta complexidade e
turo) ambigüidade
(a) Textura Estável e previsível Turbulenta e incerta
(b) Feedback Linear e estruturado Causalmente ambíguo
(c) Atuantes (p. ex., fornece- Conhecidos Novos ou desconhecidos
dores, concorrentes, clien-
tes, canais, reguladores)
(d) Domínio do jogo Definido claramente Em formação / evoluindo
Contexto / clima
organizacional
(a) Mentalidade/rotinas Regras aceitas, zonas de conforto co- Sem regras, sem sabedoria convencional,
nhecidas em geral irrelevante ou enganosa
(b) Limites Limites rígidos e bem-definidos, com Permeáveis, com ênfase em ultrapassar li-
dependência nas capacidades existen- mites, no uso de padrões para superar a
tes ausência de capacidades e em uma de-
pendência de recursos externos
(c) Tomada de decisão Procedimentos e processos bem-es- Tomada de decisão acelerada que valori-
tabelecidos, evitando conflitos za o conflito construtivo e a intuição
Formulação de estratégia Enfoque no ganho de vantagem e ala- Enfoque na criação de um conjunto robusto
vancar recursos, tempo presente, fer- e adaptável de estratégias múltiplas; tem-
ramentas de estratégia “tradicionais”, po real, processo voltado para as questões;
pensamento convergente desenvolvimento de cenário; pensamento
divergente
Locação de recursos
(a) Critérios Fluxo de caixa descontado tradicional/ Valor de opções reais; heurísticos
prazo para retorno ou criação de valor
para o acionista
(b) Processo e responsabili- Procedimentos bem especificados (ris- Informais e iterativos (pequenos compro-
dade co explícito / negociações recompen- missos iniciais)
sadoras)
(c) Monitoramento Parâmetros claros Juízo amadurecido
Avaliação de mercado Pesquisa estruturada em um contexto Experimentação e abordagens de sondar
definido, com atributos conhecidos, para aprender; pesquisa de necessidade
concessões identificáveis e concorren- latente; análise dos usuários líderes; en-
tes conhecidos; enfoque na demanda foque na demanda secundária
primária
Processo de desenvolvi- Processo formal stage-gate* que visa Processo adaptado para o desenvolvimen-
mento à reprodução, às medidas definidas, to em estágio inicial por meio da experi-
às especificações fixas e à pressão de mentação, levando adiante múltiplas alter-
tempo para a comercialização nativas e um prazo de tempo elástico
Gerenciamento de pessoal Recrutamento, seleção, supervisão, Novo / ênfase na diversidade, quebra de
promoção e compensação tradicionais regras, novos sistemas de compensação,
e assim por diante
Apropriação dos ganhos Ganhos apropriados através de van- Ganhos apropriados por meio de mecanis-
tagens sustentáveis baseadas na du- mos como patentes, segredos, vantagem
rabilidade, na ambigüidade causal, nas de tempo e controle dos ativos comple-
barreiras à imitação e em ameaças mentares
acreditáveis
* N. de T. Desenvolvido por Robert G. Cooper, o stage-gate é um processo sistemático que divide o desenvolvimento de um
produto em uma série de etapas. Cada etapa incorpora um conjunto prescrito de melhores práticas da indústria executadas
paralelamente, e não em seqüência, assegurando que sejam desempenhadas de forma rápida e eficiente. Dividindo as etapas, os
momentos de decisão nos quais se decide a prosseguir, terminar, segurar ou reciclar o projeto.
26 GESTÃO DE TECNOLOGIAS EMERGENTES
JOGANDO O JOGO
Como os administradores jogam com sucesso esse jogo diferente? Uma das pre-
missas do programa da Wharton tem sido que, ao estudarmos os vencedores e os
perdedores nesse meio, podemos obter algumas interpretações quanto às melho-
res práticas. Considere as contribuições dos dois exemplos seguintes vindos da
tecnologia de informação e da biotecnologia.
UM JOGO DIFERENTE 27
Prestidigitação
Célula No 1 Célula No 2
Microsoft e PCs RCA e o videodisco
Postura agressiva 3M e notas Post-It Investidores na fusão fria
(compromisso e Sony e Walkman Citicorp e home banking
Postura de decisão
Célula No 3 Célula No 4
Enciclopédia Britânica e CD- Muitos serviços de eletricidade
Postura passiva ROMs e o uso da energia nuclear
(esperar para ver) RCA e rádio FM Monsanto e casas pré-fabrica-
US Steel Co. e Minimills das de plástico
DEC e PCs Outros bancos e home banking
Sony e o formato VHS
Kodak e produtos copiadores
* O fracasso pode ter ocorrido porque: (1) a tecnologia não funcionava ou não
pôde ser elevada a taxas de produção comercialmente viáveis, (2) uma tecnolo-
gia melhor a superou ou (3) estava à frente de seu tempo.
Um forte compromisso se faz necessário, mas você também tem de manter aber-
tas as suas opções. Por um lado, existem argumentos persuasivos de que os
investimentos em tecnologias emergentes devem ser vistos como se criassem
um portfólio de opções no qual o compromisso de recursos adicionais sujei-
ta-se ao alcance de marcos definidos e à resolução de incertezas cruciais.
Essas opções são investimentos que trazem ao investidor o direito, mas não a
obrigação, de fazer investimentos adicionais26. Os fundos adicionais são
proporcionados tão-somente se o projeto continua parecendo promissor. Se
as perspectivas não são mais promissoras ou o nível de incerteza fica alto, a
administração pode deixar a opção expirar, não fazendo investimentos adi-
cionais, ou retardá-la até as perspectivas serem mais atraentes. Em uma es-
trutura de opções, a administração e o compromisso financeiro são condi-
cionais e protegidos. Presumivelmente isso limita a exposição à perda à quan-
tidade de investimentos no passado, enquanto não restringe o bom poten-
cial.
Por outro lado, existem evidências convincentes de que os vencedores,
com o passar do tempo, são com freqüência os iniciadores do jogo, que se
comprometeram cedo e inequivocamente com um caminho de tecnologia.
Andy Grove27, da Intel, argumenta que toma toda a energia de uma organi-
zação perseguir um objetivo estratégico claro e simples – especialmente frente
a competidores agressivos e focados – e que a garantia (o hedging) da explo-
ração de várias direções alternativas é cara e dilui o compromisso. Por essas
razões, a Intel decidiu não trabalhar para aprimorar a TV e colocou toda a
sua energia no desenvolvimento do chip do computador pessoal, a fim de
que tivesse as capacidades visuais e interativas para oferecer um aparelho de
informação universal. Tomar posições flexíveis de opção parece ser pruden-
te, mas talvez subvalorize o poder do comprometimento. Esses casos pare-
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