Sie sind auf Seite 1von 86

INNITI DAY

CONFERENCE FOR TOMORROW

Debates sobre a
humanidade do futuro

1 | INNITI
INNITI | 3
O QUE FAZEMOS

Compreendemos o universo de nossos clientes para ajudar


pessoas e organizações a progredirem rumo ao seu máximo
potencial.

Executive Search
Top Management: líderes e conselheiros para hoje e para
o futuro.

Sucessão de CEO
Design e entrega da transição mais importante do seu
negócio.

Leadership Advisory
Assessment e desenvolvimento de líderes.

www.inniti.com.br

4 | INNITI
INNITI | 5
MANIFESTO

Existimos porque temos o ímpeto de gerar impacto na


sociedade. Os líderes com quem trabalhamos são agentes
para uma sociedade mais próspera. E as ferramentas que
usamos são os projetos de Executive Search, Sucessão de
CEO e Leadership Advisory.

Escolhemos fazer parte da INNITI porque valorizamos


as mesmas coisas.

Somos livres para sermos autênticos. Medimos nosso


sucesso pelo impacto causado para os clientes. Isso nos
permite fazer o certo, sempre.

Temos liberdade para nos engajamos em causas que


acreditamos. Temos prazer intrínseco em estudar e
somos incentivados a fazê-lo, mesmo que seja sobre temas
aparentemente desconectados do próximo quarter. Ou
do próximo ano.

Não sabemos não dar o nosso máximo. Nos desafiamos


intelectualmente o tempo todo.

6 | INNITI
Geramos reflexões, pois falamos o que pensamos e não o que as
pessoas querem ouvir. Fazemos o contraponto. Para clientes
da nova economia, levamos a experiência da tradicional. Para a
tradicional, o desconforto da nova.

O cliente tem sempre razão, mas só quando ele tem razão. Quando
não tem, é nosso papel mostrar que existem outros caminhos.

Levantamos um espelho bem grande para nossos clientes.


Autoconhecimento, já diziam os gregos, é o que leva a uma vida
plena.

Não somos uma consultoria de RH. Somos uma consultoria de


pessoas e de negócios.

Existimos porque temos o ímpeto de gerar impacto na sociedade.


Os líderes com quem trabalhamos são agentes para uma sociedade
mais próspera. E as ferramentas que usamos são os projetos de
Executive Search, Sucessão de CEO e Leadership Advisory.

Se este manifesto faz sentido para você, conecte-se com a INNITI.

INNITI | 7
O QUE FALAM DE NÓS

Somos diferentes no que faz a diferença.

“Vocês têm alma”

“Resolvem problemas complexos”

“Não parecem headhunters”

“São criativos e vão além”

8 | INNITI
INNITI | 9
O INNITI Day – Conference for Tomorrow conecta
líderes e ideias para, além de olharmos para o que
está por vir, nos tornarmos agentes criadores do
futuro que queremos.

www.innitiday.com

10 | INNITI
Sumário
12 De olho no futuro 56 A experiência é o norte
para a transformação
14 O futuro é o fim da ética? Sérgio Herz
Luiz Felipe Pondé
62 Novas tecnologias pedem
18 Num futuro não muito distante, nova gestão
você só morrerá se quiser INNITI com base na palestra de
José Luis Cordeiro Romeo Busarello

24 Quem tem medo de robôs? 66 Mudar o Brasil é nosso papel


Joseph Teperman Bartira Almeida

30 Inove ou morra 70 De sonho a objetivo


Guga Stocco Larah Dias

36 Sem futuro, bitcoin e surfe 74 O futuro do trabalho está


Courtnay Guimarães em alinhar habilidades e
propósitos
42 Lições da China para o Brasil Renato Dias
e para o mundo
Jeffrey Towson 78 Na era exponencial, a
liderança é analógica
50 Eleitos em 2018 precisam Joseph Teperman
promover mudanças
Diogo Costa

INNITI | 11
De olho no
futuro
12 | INNITI
Tecendo conexões para
o hoje e o amanhã

A humanidade enfrentará transformações em


velocidade exponencial nos próximos anos. Por conta
das novas tecnologias, dos avanços na área da saúde e
do trabalho, provavelmente vamos viver em um mundo
bem diferente do que conhecemos hoje.

Como será esse mundo? Quais questões éticas colocaremos


em pauta? Faz sentido falar em imortalidade? Que perfil
de líder será necessário para conduzir tantas mudanças?
Como será a educação e o mercado de trabalho? E como
ficam os negócios nessa história?

Essas são algumas das provocações que nos movem


a realizar encontros como o INNITI Day, reunindo
grandes pensadores do presente com líderes e executivos
interessados em pensar no futuro com um novo olhar.

Fazemos isso para colocar no palco as abas que estão


abertas na nossa cabeça, compartilhar conhecimento,
nos desafiar, aprender. O efeito colateral disso é fazer
novas conexões, tanto mentais quanto pessoais. Quem
vai a esses encontros se atualiza, aprende, reencontra
pessoas e faz novas conexões.

Este material é um resumo do que vem acontecendo


nesses encontros, em que falamos sobre seis eixos
temáticos que consideramos essenciais para compreender
o amanhã: ética e filosofia, liderança, tecnologia, mercado
nacional e internacional, economia, política e inovação.
Os artigos foram produzidos a partir dos conteúdos das
palestras dos nossos convidados e refletem parte da
experiência de estar no INNITI Day. Aproveite a leitura!

INNITI | 13
O futuro é o
fim da ética?
14 | INNITI
Como os valores da sociedade
e as relações humanas serão
transformados pela tecnologia

Por Luiz Felipe Pondé

O que eu vejo na sociedade do futuro? Como serão as


relações entre as pessoas? Haverá ética, esta palavra
que está na moda? Quando olho alguns anos à frente,
imagino homens apaixonados pela voz da Scarlett
Johansson, dentro de pequenos aparelhos, como no
filme Ela, porque não conseguem lidar com uma
mulher real. Imagino pessoas cada vez mais solitárias,
embora mais longevas – algo que, em uma escala ainda
pequena, já podemos observar pelo mundo. Não vejo
nenhum tipo de recurso ético que conseguirá barrar
o avanço da sociedade de mercado, onde quase tudo
tem um preço e até as relações podem ser vendidas.

Quando penso em futuro, como fui provocado a fazer


no primeiro INNITI Day, tomo como princípio que a
sociedade de mercado se manterá, que não haverá
nenhuma ruptura nela. Pelo contrário. Acredito em
um processo contínuo de evolução, não necessariamente
no sentido de ficar melhor, mas sim no sentido de
expansão e, consequentemente, na produção de
cenários com proporções diferentes das que conhecemos.

Sem essa premissa, não haveria as reflexões que


fizemos durante o INNITI Conference for Tomorrow,
pois, acontecendo uma catástrofe que acabe com o
capitalismo, voltaríamos para a Era do Neolítico. Então,
cuidado: a Pré-História nos espreita pela fresta da porta.
Acredito na morte da ética e na humanidade em delírio.
A ética, entendida como a preocupação com o coletivo,
está desaparecendo, e o egoísmo, uma grande revolução
moral moderna, tomará seu lugar. A preocupação com
o coletivo está perdendo para a obsessão individual,
para a própria sobrevivência, o que possibilitará uma
vida baseada, cada vez mais, nas escolhas pessoais.
Assim, acredito que a sociedade caminhe para algum
lugar onde os vínculos, apesar de todas as interações

INNITI | 15
possíveis com as mídias sociais, serão menos duradouros
e as pessoas serão mais exigentes para se relacionar.

Seguindo esse pensamento, o narcisismo crescerá nas


sociedades, será entendido como um contrato social, algo
que as pessoas reclamarão como direito: “Eu tenho o direito
de pensar só em mim. Eu tenho o direito de centrar a vida
nos meus desejos e não sou obrigado a estabelecer nenhum
vínculo que não passe pela minha liberdade de escolha”.

O avanço da sociedade, seguindo a lógica capitalista


de progresso que vivemos, e assim o avanço da
tecnologia, disponibilizarão mais chances de uma
vida centrada no querer individual e mais chances
para se fechar a vínculos que sejam cansativos para o
sujeito. Ou seja, aquelas pessoas morrendo de fome em
outro continente até podem amolecer seu coração,
mas aquela criança chata chorando enquanto
você tenta jantar, isso não dá para suportar.

Outro ponto que contribui para a humanidade em


delírio é um preconceito geracional com os “velhos”,
que eu tenho visto crescer entre os jovens. Dizem que
os velhos são folgados, desrespeitosos, que se acham o
máximo, que ocupam os espaços, que passam por cima
deles… E isso acontece, justamente, porque cada vez
mais as pessoas prolongam o viver e, por isso, estão mais
presentes nas ruas, praças etc. Isso incomoda esses jovens,
pois a insatisfação com certos grupos sociais cresce
conforme esses grupos circulam publicamente. Estamos
assistindo ao nascer do preconceito contra velhos.

16 | INNITI
A preocupação com o coletivo está perdendo para
a obsessão individual, o que possibilitará uma vida
baseada, cada vez mais, nas escolhas pessoais.

O que pode ajudar a prolongar o fenômeno da longevidade


é como, no futuro, trataremos a reprodução humana. E
se, daqui a 50 anos, separarmos completamente sexo
de reprodução e pessoas passarem a ser geradas por
seleção de embriões ou por meio da manipulação de
indústrias farmacêuticas, ao invés da relação de seus pais
no banco de trás do carro? Mais uma vez, a sociedade
de mercado agiria com força, pois a vida seria fruto de
vínculos materiais com valor mercadológico, dado que o
aperfeiçoamento humano viria de uma demanda desse
mesmo negócio. O aprimoramento biológico do homem,
então, não viria mais – como imaginou Aldous Huxley
em Admirável Mundo Novo –, de um Estado central que
organizaria de forma totalitária essa evolução – agora no
sentido de melhora. Esse avanço biológico viria, sim, de
uma força de mercado: as pessoas que irão escolher como
serão suas proles, podendo “montá-las”. As empresas
ofereceriam esse tipo de serviço, pois o mercado funciona
identificando necessidades e oferecendo soluções.

Por fim, combater a morte é uma necessidade. Combater


o sofrimento é uma necessidade. E o mercado do futuro
está aí para apresentar as soluções. Um exemplo concreto
disso, para não delirar muito, é que, conforme a sociedade
envelhece, aumenta o número de casas de repouso e
de vendas de pets enquanto maternidades quebram. O
movimento das casas de repouso e das maternidades é
pura demanda da população que envelhece, assim como
o caso dos pets. Afinal, animais são mais baratos, duram
menos tempo e amam incondicionalmente; os filhos,
não necessariamente.

INNITI | 17
Num futuro não
muito distante,
você só morrerá
se quiser
18 | INNITI
As pesquisas indicam que logo
seremos jovens e imortais
Por José Luis Cordeiro

Nas próximas décadas, a inteligência artificial alcançará


a inteligência humana. Isso significa que não haverá mais
nada que uma máquina não fará tão bem – ou, em muitos
casos, melhor – do que nós. Isto é, chegaremos à chamada
singularidade tecnológica. A partir desse momento, os seres
humanos conseguirão rejuvenescer e projetar a fisionomia
dos seus filhos. Todos os homens serão capazes de se
prevenir contra as doenças que possam ter por predisposição
genética. Em 2045, aproximadamente, também teremos
alcançado a imortalidade (biológica e cibernética). Por mais
improvável que possa parecer, os resultados das pesquisas
sobre longevidade e rejuvenescimento realizadas até hoje
apontam na direção destas hipóteses.

Alguns dos indicadores que sustentam essa tendência


estão no presente, como expliquei no primeiro INNITI
Day em São Paulo. Por exemplo: você sabia que as células
cancerígenas são imortais? Esta descoberta é de 1951,
quando uma mulher americana morreu de câncer. Até aí,
nada de novo. As células causadoras da doença, por sua
vez, continuaram vivas. Cientistas, então, descobriram que
as células cancerígenas, assim como as células-tronco e as
germinativas (responsáveis pela reposição e regeneração
celular e por originar os gametas, respectivamente), não
envelhecem e são biologicamente imortais. O mesmo ocorre
com alguns organismos, como hidras e medusas. Ou seja,
a imortalidade biológica existe já naturalmente, sem a
intervenção da ciência.

Os ratos, inclusive, passaram a servir de cobaia a


experimentos contra o envelhecimento humano na
última década. Alguns cientistas conseguiram aumentar
a expectativa de vida dos roedores de dois para cinco anos.
A Fundação Matusalém, criada pelo biogerontologista
inglês Aubrey De Grey, é a responsável por incentivar estas

INNITI | 19
pesquisas e distribuir prêmios aos que alcançam tais feitos.
Em breve, acredito que conseguiremos aplicar a mesma
técnica aos seres humanos.

Apesar de a medicina ter conhecimento sobre a


imortalidade dessas células desde o século passado,
ainda não foi descoberta a cura para muitas doenças.
Alguns projetos e empreendimentos visionários – fora
da área da medicina convencional – tendem a mudar a
situação. O Projeto Genoma Humano, criado em 1990 e
finalizado em 2003, é um deles. Um de seus resultados
foi o desenvolvimento de aparelhos tecnológicos capazes
de identificar o sequenciamento do genoma humano
e, assim, permitir que saibamos quais doenças somos
propensos a ter no futuro. Essas ferramentas também
possibilitam que seja feito um estudo dos nossos ancestrais
mais longínquos e do genótipo de seus descendentes.
O problema da aplicação dessa tecnologia era o seu alto
custo. Na época de seu lançamento, uma pessoa precisaria
desembolsar mais de US$ 1 bilhão e 13 anos de espera
para obter tais informações. Hoje, o sequenciamento
pode ser feito por US$ 800 e em apenas três dias. Com a
maior frequência de sua aplicação, a previsão é de que,
em 2025, aproximadamente US$ 10 e um minuto sejam
suficientes para a realização do teste. Com essas mudanças
exponenciais, o principal objetivo da medicina não será
mais a cura, mas a prevenção.

20 | INNITI
Casos como esse ilustram como medicina tradicional e
tecnologia estão inevitavelmente caminhando juntas. Um
exemplo é a Calico, empresa subsidiária do Google, que atua
na área de pesquisas para acabar com doenças, combater
o envelhecimento e a morte. Por meio do sequenciamento
dos genomas, a Microsoft também pretende encontrar as
mutações do câncer e descobrir a sua cura em dez anos.
Mark Zuckerberg, criador do Facebook, anunciou que ele
e sua esposa doarão toda a sua fortuna para acabar com
todas as enfermidades.

Estas empresas também estão trabalhando para aumentar


e melhorar o cérebro humano. Esquisito? Mas é isso mesmo.
Geralmente falamos que nossos cérebros são compostos por
três regiões: o sistema reptiliano, que controla os nossos
instintos; o sistema límbico, responsável pelo gerenciamento
das emoções; e o neocórtex, pela inteligência. Tudo indica
que, no futuro, companhias tecnológicas poderão criar uma
área externa para complementar nossos cérebros biológicos:
um novo exocórtex. Será um sistema artificial conectado
aos nossos cérebros que aumentará nossas capacidades
cognitivas naturais. No Google falam de ser essa a quarta
região cerebral. Assim como Elon Musk, CEO das empresas
americanas Tesla Motors e SpaceX, que recentemente
fundou a companhia Neuralink com o objetivo de conectar
nosso cérebro à internet. Ou seja, estaríamos o tempo
todo conectados pela nossa mente e receberíamos novas

INNITI | 21
Todos os homens serão capazes de se prevenir contra
doenças causadas por predisposição genética. Em 2045,
aproximadamente, teremos alcançado a imortalidade.

informações externas a cada segundo. A tendência é


que, nas próximas duas ou três décadas, a ciência e a
tecnologia consigam desvendar a complexidade dos
seres humanos. Assim serão desenvolvidos os primeiros
cérebros artificiais.

Da mesma forma que muitos não acreditam na


possibilidade da imortalidade, nem biológica nem
cibernética, a criopreservação também já foi questionada.
A técnica, que consiste em conservar tecidos biológicos
por meio do congelamento, começou há 50 anos e já
foi utilizada milhões de vezes para diferentes tipos de
células humanas. Foram criados grandes centros de
criopreservação humana, como o Alcor, no Arizona,
e o Cryonics Institute, no Michigan. Um amigo meu,
falecido no ano passado, foi o primeiro espanhol a
ser criopreservado na Península Ibérica. Embriões e
óvulos humanos também podem ser congelados e depois
utilizados por meio da fertilização in vitro. Esta é uma
ciência revolucionária e em constante mudança.

Em meio a tantas transformações, é natural que tenhamos


dificuldades para imaginar o que está por vir. Nossos
cérebros pensam linearmente, mas a tecnologia muda
exponencialmente. Eu estou convencido de que uma das
próximas revoluções tecnológicas será o rejuvenescimento

22 | INNITI
humano. Pela primeira vez, uma paciente está sendo
cobaia de um teste experimental para rejuvenescer.
Isto não é ficção nem magia. É fato. Está acontecendo.
Além desta, temos outras perspectivas positivas para
os próximos tempos. Em cinco anos, curaremos os
paraplégicos. Em 15 anos, não teremos mais a doença
de Parkinson. O Alzheimer talvez acabe em 20 anos.
E, em até 30 anos, o envelhecimento não existirá mais.

Apesar de todas as conquistas proporcionadas pela


tecnologia, ainda não conseguimos acabar com problemas
como a fome, a desigualdade social, as guerras e outras
tragédias. Pensar que o mundo está cada vez mais
tecnológico pode ser um pouco assustador. O que garante
que os governos não controlarão as populações ou
desenvolverão aparelhos destrutivos à humanidade?
De fato, não temos todas as respostas e nada pode ser
garantido. Mas eu escolho ser otimista. Ver o copo meio
cheio, e não meio vazio. A massificação da tecnologia
fará com que se crie abundância e que todos tenham
acesso ao conhecimento. Os produtos serão mais baratos
e acessíveis a toda a população mundial. Estamos
vivendo os melhores tempos da história humana. Este
é o melhor momento para estar vivo. Principalmente,
para viver para sempre. A “morte da morte” está cada vez
mais próxima.

INNITI | 23
Quem tem
medo de
robôs?
24 | INNITI
Como o avanço tecnológico está
revolucionando a economia, as
relações de trabalho e o papel das
lideranças ao redor do mundo

Por Joseph Teperman

Na Inglaterra, um robô-chef, capaz de executar mais


de 2 mil receitas, está prestes a ser lançado no mercado.
Nos estoques da Amazon nos EUA, robôs separam as
encomendas, o que explica a rapidez das entregas –
em mais de 5 mil cidades norte-americanas, é possível
receber produtos no mesmo dia da compra. Na Califórnia,
são realizados testes de entregas em curta distância
feitas também por robôs. Espera-se que, em breve, carros
autônomos estejam circulando pelas ruas. O que vai
acontecer com os cozinheiros, almoxarifes, motoboys
e muitos outros profissionais tão imprescindíveis no
passado e no presente?

Quando falamos sobre o futuro do trabalho, a tendência


é sentirmos medo. Medo de que as máquinas nos
substituam. E, de fato, elas já estão substituindo – e
continuarão a substituir – diversas profissões. Mas este
é um lado da história. O outro é que elas também vão
possibilitar o aumento e a criação de novas funções até
então inimagináveis. Foi sobre isso que falei durante
minha palestra no primeiro INNITI Day.

Na Inglaterra, por exemplo, houve drástica diminuição


de postos de trabalho em diferentes setores entre 1992 e
2014: reduções de 82% na indústria calçadista e 79% na
têxtil, de 52% em vagas para secretariado e de 50% no
setor agrícola. Por outro lado, durante o mesmo período,
houve crescimento de 909% no número de enfermeiros,
365% no de consultores e analistas de negócios e 156% no
de atores, produtores e apresentadores. Ao todo, foram
criados 6 milhões de postos de trabalho, mesmo com a
adoção da tecnologia.

Nos últimos anos, já vimos nascer algumas novas


profissões: gestores de mídias sociais, desenvolvedores

INNITI | 25
de aplicativos, youtubers, analistas de big data e
motoristas de Uber – nenhuma delas existia há dez
anos. E muitas outras ainda estão por vir: tutores de
curiosidade (temos mais tempo para aprender, mas
muitas vezes não sabemos escolher o que, pois há muita
informação disponível), especialistas em detox digital
(quem de nós não precisa?), gestores de morte digital
(estamos acumulando um patrimônio virtual enorme),
compositores de experiências (o Airbnb já oferece este
serviço) e personal health coaches (como gerenciar as
informações sobre nossa saúde e tomar decisões sobre
medicina preventiva?).

Não são apenas as profissões em si que estão mudando,


mas também os regimes de trabalho. Segundo um estudo
de Lawrence Katz, professor de Economia da Universidade
de Harvard, e Alan Krueger, professor de economia da
Universidade de Princeton, um terço da população dos
EUA faz trabalhos freelance, e 94% do aumento dos
postos de trabalho, entre 2005 e 2015, veio dos trabalhos
informais. Aqui no Brasil, o trabalho informal é visto com
olhos negativos, mas a economia mais desenvolvida do
mundo o trata como positivo. Acredito que precisamos
ressignificar esse conceito.

26 | INNITI
O fato de as mudanças estarem acontecendo rapidamente
nos leva a perguntar: onde estão os grandes líderes do
nosso tempo? A minha resposta é que estão na Amazon
(Jeff Bezos), na Apple (Tim Cook), no Google (Larry Page),
no Facebook (Mark Zuckerberg) e na Microsoft (Bill Gates)
– empresas nas quais depositamos boa parte de recursos
como tempo e dinheiro. Eles são as pessoas que estão
transformando o mundo e, não coincidentemente, são
os fundadores ou CEOs das cinco maiores companhias
em valor de mercado no mundo.

Mas como definir liderança? Segundo John Kotter,


professor emérito de Harvard e especialista no tema,
liderar não é fazer planejamento e orçamento – isso
é gerenciar. Liderar é definir a direção. Ambos são
importantes e alguns líderes têm de fazer os dois, mas
ele deixa claras as diferenças: definir a direção requer
alinhar as pessoas em relação a uma causa, motivá-las
e inspirá-las.

Qual é o maior nível que um líder pode alcançar? Para Jim


Collins, que estudou quase 1,5 mil empresas para entender
o que separava as boas das excelentes, é o nível máximo
de um total de cinco – o líder que, ao mesmo tempo,

INNITI | 27
tem a determinação para realizar o que precisa e uma
humildade muito acima da média. Ele descobriu que era
justamente a presença desse tipo de líder que diferenciava
o desempenho e a durabilidade dessas empresas, porque,
diferentemente da maioria dos líderes, os “nível 5” fazem
sucessores melhores que eles mesmos.

Esses líderes são capazes de treinar pessoas que os superem


porque têm o que o psicólogo Daniel Goleman definiu como
os pilares da inteligência emocional: autoconhecimento,
capacidade de autogestão, controle emocional, empatia
e habilidades sociais.

Goleman foi analisar como essa inteligência se aplicava


ao trabalho e percebeu que líderes com alto nível de
inteligência emocional têm resultados normalmente 50%
melhores do que os líderes que não têm uma inteligência
emocional bem desenvolvida.

Voltando, então, ao nosso medo das máquinas, pergunto:


os robôs serão mesmo capazes de fazer tudo? Na minha
visão, com certeza não.

Algumas atividades são completamente humanas. Não


vejo uma máquina tendo curiosidade e testando as
fronteiras do conhecimento como faz o astrofísico Neil
deGrasse Tyson, por exemplo. Do mesmo jeito, não consigo
imaginá-las substituindo humoristas. Vocês já pediram
para a Siri contar uma piada? É péssimo!

Do mesmo jeito, não vejo robôs atuando no campo da


imaginação e da arte. Pablo Picasso dizia: “Os computadores
são inúteis, eles só dão as respostas”.

Qual é, então, o papel da liderança nesse novo contexto?


É o de fazer perguntas, já que as máquinas só
têm as respostas.

28 | INNITI
INNITI | 29
Inove
ou morra

30 | INNITI
Um recado para aqueles que têm
medo de inovar
Por Guga Stocco

Você já parou para pensar sobre o motivo de entrarmos


no trabalho às 9 da manhã? Quem, afinal, falou que
somos obrigados a chegar nesse horário? Vou contar uma
história, assim como fiz durante o primeiro INNITI Day,
para explicar um pouco sobre inovação.

Imagine que na Idade Média havia um homem chamado


Mr. Smith, o melhor sapateiro da região. Se você quisesse
um sapato novo, teria de encomendá-lo. Ele iria medir seu
pé, falaria para você voltar dali a duas semanas e diria o
preço do seu novo calçado. No prazo estabelecido, você
voltaria à loja do Mr. Smith. A pergunta que eu faço é: em
qual hora Mr. Smith fez esse sapato? A resposta é simples:
o sapateiro não possuía um horário definido de trabalho.

Durante a Revolução Industrial, a demanda por sapatos


aumentou muito. Era preciso, então, fazer 1 milhão de
pares – tarefa impraticável para Mr. Smith. Diante da
limitação, foi necessário criar uma forma diferente de
confecção. A solução foi desenvolver a esteira de uma
linha de produção. Se Mr. Smith ocupasse a posição de um
trabalhador comum na esteira, o sapateiro com certeza
performaria bem menos em relação a seus colegas. O
motivo é que, se uma ideia ocorresse à mente criativa de
Mr. Smith, atrapalharia toda a linha de produção. Além
disso, com a divisão de tarefas entre os trabalhadores,
se uma única pessoa chegasse atrasada no trabalho,
atravancaria todo o processo de produção e o prejuízo
seria enorme. Por isso, todo mundo deveria chegar às 9
da manhã e sair às 5 da tarde.

Por que afinal, os pais deixam os filhos na escola às 7 da


manhã? Porque é o horário antes do início da linha de
produção. E, para fazer uma série de fábricas, é preciso
criar escolas para formar as pessoas que trabalharão

INNITI | 31
nelas no futuro. No entanto, se você formar uma pessoa
muito criativa, ela vai atrapalhar a esteira, assim como
o Mr. Smith. Por isso, precisamos de pessoas construídas
apenas para executar – e não para pensar.

Mais uma pergunta: quem disse que todos são obrigados


a trabalhar oito horas por dia? Durante a Revolução
Industrial, a carga de trabalho era de 17 horas por dia.
Após várias mortes provocadas pelas péssimas condições
oferecidas pelas fábricas, um acordo foi feito entre os
donos das linhas de produção e os funcionários: oito horas
foram designadas ao trabalho, oito horas à recreação e
oito horas ao sono. Não havia nada de científico por trás
da decisão.

Esse modelo de organização ficou no século passado.


Nesse tempo, todo o conhecimento adquirido na escola já
era perdido ao longo do tempo. A partir de certo momento,
as pessoas passaram a repor esse conhecimento por meio
de mestrados, doutorados e cursos. O trabalho se tornou
uma nova fonte de conhecimento.

No século em que estamos hoje, o cenário ficou um


pouco mais complexo. Tudo o que se aprende na escola

32 | INNITI
simplesmente não serve para nada. É preciso aprender
tudo de novo, mais do que foi aprendido no começo da
escola. E, se você não errar muito, mas muito mesmo,
você não vai adquirir o conhecimento que precisa para
se diferenciar.

Sim, eu disse errar. Se você não errar, não aprende. Na


fábrica da Revolução Industrial, se uma pessoa errasse,
atrapalharia toda a produção. Agora, seja bem-vindo a
um mundo orgânico, onde você deve errar o tempo todo
se quiser avançar. Quais são as empresas que estão em
sintonia com este “mundo orgânico”?

A Netflix, por exemplo, fatura R$ 2 bilhões, o equivalente


ao dobro do faturamento do SBT. Na América Latina, a
empresa de streaming de filmes e séries emprega apenas
15 funcionários, que têm autonomia suficiente para fazer
comentários nas redes sociais da empresa sobre política
brasileira. Quem não se lembra do tuíte de House of
Cards sobre os escândalos políticos nacionais? Afinal, se
a empresa tem um executivo de marketing muito bom,
por que precisa de alguém para supervisioná-lo? Isso
apenas faria com que a companhia perdesse agilidade.
E, se ela perder agilidade, perderá mercado.

INNITI | 33
Outro exemplo é a Amazon, que emprega 340 mil pessoas,
enquanto o Walmart emprega 2,3 milhões. No entanto,
a Amazon não trabalha só com varejo, mas também
com dados, webservices e vários outros serviços. E vale
o dobro do Walmart.

Por sua vez, o Uber tem apenas três anos no Brasil. São
Paulo é o maior mercado em corridas do mundo e o
terceiro maior em faturamento. Em São Francisco, o Uber
fatura três vezes mais do que toda a indústria de táxi.

Decidi contar tudo isso para trazer um aviso. Você não


quer tomar riscos? Você não quer mudar? Você quer
continuar engordando a empresa e perdendo agilidade?
O mundo está mudando, e está mudando rápido. Os
maiores modelos de negócio estão sendo criados um
atrás do outro. Quando as transformações começam a
correr, é preciso sempre dar um passo para trás e olhar
para a estratégia. Segundo Michael Porter, professor da

Bem-vindo a um mundo orgânico, onde você


deve errar o tempo todo se quiser avançar.

34 | INNITI
Harvard Business School nas áreas de Administração
e Economia, estratégia é fazer escolhas. Temos de fazer
escolhas e ser diferentes.

Mesmo o Uber precisa fazer sua transformação digital


em até três anos – ou então irá acabar. A Universidade
de Columbia fez uma análise e percebeu que 9 mil carros
autônomos substituem 150 mil táxis em Manhattan.
O Uber, que foi criado como uma empresa de design
de serviço para competir com o serviço de táxi, agora
precisa ser uma empresa de tecnologia para concorrer
com o Google. Não são as mesmas pessoas, não é o mesmo
processo e não é a mesma estratégia do início de sua
operação que fará a diferença daqui para frente.

É por isso que na sede do Facebook, atrás da placa da


empresa, ainda está a placa da Sun Microsystems. Mark
Zuckerberg a deixou lá de propósito para mostrar o que
acontece com aqueles que estão no topo e deixam de inovar.

INNITI | 35
Sem futuro,
bitcoin e surfe
36 | INNITI
Como surgiram as moedas
digitais e para onde elas levarão
a economia mundial

Por Courtnay Guimarães

Nós não vivemos em tempos materiais, mas, sim,


imateriais. E essa imaterialidade, como expliquei em
minha palestra no INNITI Day, está sendo trazida pela
tecnologia. 

O futuro do dinheiro, no entanto, é certo e garantido:


não viveremos sem ele. O dinheiro já foi centralizado,
passou a ser descentralizado e, agora, está passando a
ser distribuído. Isso significa que, depois de uma longa
história que se estendeu por mais de 5 mil anos, finalmente
alguém percebeu que o dinheiro precisa ser autônomo. 

Um grupo que se intitula cypherpunks – pessoas que


repudiam qualquer tipo de governo e acreditam no
Grande Irmão de George Orwell – decidiu criar tecnologias
para proteger a sua privacidade. Então, nos anos 80,
foram criadas várias ferramentas de criptografia para
nos proteger de um futuro vigiado. Em 1993, alguém
percebeu que isso poderia virar uma moeda – o bitcoin.
Cinco anos depois, decidiram aperfeiçoá-la. Em 2008,
finalmente, alguém escreveu um paper e começou a ser
criado um novo modelo de negócio em torno disso.

As três ideias que estão na base desse modelo são


muito simples: (1) garantir a unicidade do bitcoin (todo
ativo é único e, quando transferido, é substituído por
outro tão único quanto), (2) criar uma chave de acesso
incorruptível e (3) guardá-lo em um cofre e fazer vários
backups desse cofre.

O bitcoin é uma moeda que está hoje em 14 milhões


de cofres. Simples assim. A sua moeda, que é única – e
esse é o paradigma mais louco de todos –, está em 14
milhões de bancos. Se um quebrar, tem todos os outros
com a mesma cópia. Ou seja, é impossível perder os

INNITI | 37
seus bitcoins. A mesma mentalidade se aplica para
as outras moedas virtuais. 

Os cypherpunks começaram, então, a vender os bitcoins


como selinhos colecionáveis. Na China, onde é proibido
circular dinheiro que não seja controlado pelo governo,
criou-se um mercado paralelo: as pessoas começaram
a utilizar os selinhos como dinheiro de verdade para
transações online. O governo descobriu e proibiu a
circulação da moeda eletrônica, mas já era tarde: a
cultura estava criada e o teste de mercado fora feito.
Hoje, este selinho vale a bagatela de R$ 16 mil e é aceito
do Japão até uma lanchonete na Serra dos Tamoios,
no Brasil.   

Mas bitcoin não é a única moeda virtual. Foi inventada


a fungibilidade digital, que significa que cada moeda
virtual é única e eu posso trocá-la por outra sem
nenhuma diferença. Agora, há opções: o Z-Cash, por
exemplo, além de ser único, não é rastreável. O criador
desse conceito está desenvolvendo essa moeda para o
mercado de capitais, o que seria o equivalente ao bitcoin
para o mercado de varejo hoje. 

Em 2015, foi criado o conceito de blockchain, que


são tecnologias e arquiteturas que até hoje foram
implementadas apenas para o bitcoin, mas estão sendo

38 | INNITI
Depois de uma longa história que se estendeu
por mais de 5 mil anos, finalmente alguém
percebeu que o dinheiro precisa ser autônomo.

testadas em 700 frentes diferentes em modo beta. Cunhou-


-se, então, o termo smart contracts que, na prática, são uma
série de regras automatizadas que rodam na blockchain.
Essa revolução gerou um fenômeno de investimento
chamado initial coin offering – basicamente, uma maneira
de fazer desde crowdfunding até captação de dinheiro
ilegal –, que movimentou nada menos que US$ 2,8 bilhões
neste ano. 

Para onde vai tudo isso? Não sabemos ainda. É preciso


se distanciar muito da realidade para conseguir alguma
pista do que vai acontecer no futuro. O que a humanidade
inteira tem feito, nos últimos 30 anos, é construir uma
plataforma tecnológica gigante. Estamos ligando todos
os nossos pertences com todas as redes que possamos
imaginar. Estamos mudando a maneira como enxergamos
a realidade. Toda a alteração de comportamento de nossa
sociedade acontece por causa dessa plataforma.  

Essas soluções convergem com uma mudança de


paradigma que não é única – são, na verdade, várias
mudanças. Estávamos acostumados a ver uma tecnologia
aparecer de cada vez; de repente, começaram a surgir
várias ao mesmo tempo. Enquanto tudo isso está
acontecendo, diversos problemas humanos e reais
também acontecem: declínio de taxa de fertilidade,
envelhecimento da população... E, na base, temos dois

INNITI | 39
problemas absurdamente graves: o primeiro é que hoje
consumimos mais insumos do que o planeta é capaz de
produzir; o outro é o agravamento da desigualdade social.

Essa desigualdade é global: 1% da população detém 45%


dos recursos do planeta. Isso nós ainda não resolvemos.
Como vamos resolver? Teremos de sentar, juntar todos
esses cenários e tentar criar uma solução para esses
problemas que criamos. 

O primeiro passo não é mudar a sociedade, mas a


lógica cartesiana, que não sabe lidar com parâmetros
subjetivos. Somos a geração pau-pau, pedra-pedra. Mais
do que isso, somos uma geração voltada para o próprio
umbigo – não vemos mais a pessoa ao lado. E esse é o
verdadeiro desafio. Acredito que precisamos propiciar
que microempresas, pequenas startups, comecem a agir
e experimentar esse sistema. Afinal, ao mesmo tempo
que nunca tivemos tantos problemas, nunca tivemos
uma caixa de ferramentas tão poderosa. 

Não conseguiremos ver o nosso futuro sem dar as mãos,


sem sermos colaborativos. Assim como no surfe, para
pegar uma onda, preciso me jogar em algo que parece
assustador. Se não soubermos pensar juntos, não vamos
conseguir pegar essa onda maravilhosa.

40 | INNITI
INNITI | 41
Lições da China
para o Brasil e
para o mundo
42 | INNITI
O que o Brasil e outras
economias em desenvolvimento
podem aprender com a China?

Por Jeffrey Towson

Uma das questões que frequentemente são levantadas


pelos brasileiros com os quais interajo é “o que o Brasil
pode aprender com a China?”.

Recentemente, reforcei essa percepção quando passei


algumas semanas no país palestrando em cidades como
São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte, Vitória e
Porto Alegre. Além disso, conheci pessoas incríveis
no Instituto de Formação de Líderes (IFL). Joseph
Teperman, da INNITI, fez um excelente papel ao
coordenar essas visitas.

Em todos esses momentos, a pergunta era recorrente.


Para mim, a resposta está no gráfico.

CHINA

INDIA

INNITI | 43
O governo chinês frequentemente deixa
os inovadores violarem as regras.

A linha vermelha é a China e a linha azul é a Índia. A


diferença entre as duas é importante porque os dois
países eram bastante similares entre 1985 e 1990.
Ambos tinham enorme população (por volta de 1
bilhão), baixo PIB per capita (por volta de $ 1,5 mil) e
grande extensão de território.

Então, a pergunta sobre o que o Brasil e outros países


em desenvolvimento podem aprender com a China
é, na verdade, “como eles podem ser mais a linha
vermelha? E menos a linha azul?”. Minha resposta
para essa questão se dá basicamente em três pontos!

Ponto 1: riqueza composta consistentemente por


20-30 anos

A China começou a crescer mais rapidamente em


riqueza do que a Índia por volta dos anos 1990-2000. Se
você olhar para a curva vermelha, ela é basicamente
exponencial. Atualmente, a China está acelerando
enquanto a Índia se manteve relativamente linear em
seu crescimento. A China cresce hoje o equivalente ao
tamanho da Índia em média a cada dois ou três anos.

Minha explicação simplista para isso é riqueza composta.


É o que a linha vermelha representa para mim e o
que Warren Buffet respondeu quando foi perguntado
sobre a China. Ele disse (aproximadamente) que a China
tinha descoberto um “ingrediente secreto que permite
aumentar riqueza”.

Gosto de filmes de super-heróis. Assisti a todos eles e


cresci lendo histórias em quadrinhos. Mas conheço
apenas três superpoderes que você pode realmente
usar na vida real. Um deles é o conhecimento
aprofundado em matemática e software (você pode

44 | INNITI
descobrir quase tudo). O segundo é jiu-jítsu (você
pode vencer quase todo mundo). E o terceiro são juros
compostos. Se você crescer consistentemente ao longo
do tempo, então a base aumenta e a riqueza começa a
evoluir exponencialmente.

Meu exemplo favorito para isso é: se dobrar um pedaço


de papel pela metade, você duplica a sua largura. Se
fizer isso de novo, duplica novamente. Se fizer isso
47 vezes, irá cobrir a distância entre a Terra e a Lua.
Bem, isso tem acontecido na China pelos últimos 30
anos. Eles têm crescido consistentemente de 5-10% ao
ano, levando a algo exponencial. Você não precisa ter
um crescimento massivo, mas precisa ser consistente
por 20-30 anos. E a China fez isso. Os EUA também. E
Warren Buffet está fazendo (perceba, mais de 90% de
sua riqueza foi construída depois dos 50 anos de idade).
A maioria das economias em desenvolvimento,
entretanto, não está seguindo esta regra.

Ponto 2: deixe a ambição quebrar as regras

Conversei com empreendedores e líderes brasileiros


bastante sobre este ponto. Uma coisa que o Brasil e a
China têm em comum é o papel dominante do Estado
na economia e nos negócios. A China é conhecida como
a “terra das licenças”. Já o Brasil tem um governo que
corresponde a cerca de 45% do PIB. Então, por que um
país dominado pelo Estado mostrou tal dinamismo e
o outro não?

Existe uma série de razões para isso e ressalto que esta


não é a minha área de especialização. Mas a diferença
interessante é que o governo chinês frequentemente
deixa os inovadores violarem as regras. Alguns
exemplos:

INNITI | 45
O compartilhamento de bicicletas resultou em cerca de
12 milhões de bikes disponíveis em cidades chinesas.
Isso não era tecnicamente legal naquela época, mas as
empresas não pediram permissão para realizar esta
inovação. Minha impressão é que eles não querem
impedir o desenvolvimento desses negócios e, então,
permitiram que elas quebrassem as regras por algum
tempo. As primeiras regulamentações foram aplicadas
apenas um ano depois do surgimento do modelo de
negócio.

As empresas Didi e Uber protagonizaram


uma batalha épica no mercado chinês de ride-
-sharing em 2016. Ambas gastaram mais de
$ 2 bilhões em incentivos e subsídios e, por
isso, todos fizemos viagens mais baratas por
um tempo. Durante este período, o modelo de
negócio sequer era legal na China. Novamente,
o governo deixou acontecer a inovação e as
regulamentações vieram depois. Na verdade,
ride-sharing tecnicamente se tornou legal
por volta de julho de 2016 e, então, algumas
regulamentações rígidas foram definidas a
partir disso.

Ponto 3: transformação Digital é sua ferramenta


mais poderosa

Outra história que contei no Brasil foi sobre o


lançamento do Yue’Bao, o fundo de investimentos do
Alibaba. Em 2012, havia apenas quatro grandes bancos
na China, grandes gigantes estatais. Eles ofereciam
produtos básicos e serviços que eram apenas ok. Mas,
definitivamente, eles não eram conhecidos por sua
conveniência, sua facilidade de uso ou seus serviços
online incríveis.

46 | INNITI
INNITI | 47
48 | INNITI
Então, o Alibaba lançou o Yue’Bao, que permitiu aos
consumidores usarem seus PCs e smartphones para
começar a investir. Sem restrições e de uma maneira
excepcionalmente fácil de usar. Além disso, eles
ofereceram taxas de juros de maior rentabilidade para
seus usuários.

O resultado? Os consumidores chineses aderiram


massivamente e moveram mais de US$ 80 bilhões
em cerca de seis meses para o Yu’e Bao. Em 2017, os
ativos sob gestão do fundo haviam crescido para US$
165 bilhões, tornando-se o maior mercado monetário
do mundo.

O surgimento e a consolidação do Yu’e Bao é uma


história de novas ferramentas digitais sendo usadas
para dar aos consumidores o que eles realmente
querem, especialmente conveniência. É também uma
história sobre como as ferramentas digitais podem
romper e transformar indústrias estagnadas.

Assim, para um país como o Brasil, as ferramentas


digitais e a ruptura são as armas mais poderosas
dos capitalistas. Não tente reformar as indústrias
subdesenvolvidas ou politicamente esclerosadas,
apenas ofereça soluções disruptivas. Use novas
ferramentas digitais para contornar o sistema e ir
direto para os consumidores, com mais opções e maior
conveniência – e eles provavelmente virão correndo
em grande número.

INNITI | 49
Eleitos
em 2018
precisam
promover
mudanças
50 | INNITI
O futuro da democracia e as
ameaças ao estado de direito

Por Diogo Costa

Os desafios do próximo governo brasileiro, e dos que virão


a seguir, certamente passam pelo futuro da democracia.

Quando situamos o Brasil politicamente no mundo,


podemos perceber como nossa democracia está
fragilizada para a população.

Por cinco anos consecutivos os dados do Latinobarômetro


mostraram a diminuição da crença dos brasileiros em
relação à política. Em 2017, tivemos um recorde, com
apenas 43% da população acreditando que a democracia
é o melhor sistema de governo. Enquanto isso, segundo
pesquisa da FGV, apenas 6% confiam no Governo Federal.

Se a democracia e as nossas instituições sofrem da falta de


confiança, um risco maior está em se pensar que existem
alternativas antidemocráticas viáveis. Essas opções, mais
autocráticas e centralizadoras, têm encantado cada vez
mais aqueles que estão cansados de democracias que
não funcionam.

E esse fenômeno não se manifesta apenas no Brasil:


na Europa, os partidos mais liberais estão perdendo
posições para a vertente populista, representada por
partidos de esquerda e de direita que desafiam o Estado
de Direito como o conhecemos. De acordo com o instituto
de pesquisas sueco Timbro, os principais motivos para os
europeus estarem escolhendo esta orientação na hora de
votar são a descrença para com a elite, a impaciência com
o Estado de Direito e um forte sentimento de estagnação.

Esta última percepção não é só de cunho econômico, mas


também social. Quando olhamos para os Estados Unidos
nos últimos anos, vemos que, mesmo as populações que
não tiveram um declínio de renda, sentem que tiveram
um declínio de status social, com um maior descolamento

INNITI | 51
da elite. Neste país, isso acontece principalmente
com o homem branco, do interior e de classe baixa,
cujos hábitos de vida e de consumo permaneceram
os mesmos, porém se distanciaram dos novos hábitos
das elites das grandes cidades.

O principal ponto de distinção não é de renda, mas


educacional. Quem tem um diploma de ensino superior
faz parte da elite, enquanto quem não tem começa a
se distanciar cada vez mais dela. O resultado é uma
polarização de opiniões e de votos, tanto nos Estados
Unidos, quanto na Europa. E também no Brasil.

Não podemos negar que criamos certo apartheid


educacional em nosso país. Quando fazemos a
média das notas no ranking PISA, por exemplo, o
Brasil está na posição 63 – de 70 países. Entretanto,
se observarmos de forma separada escolas públicas
e privadas, veremos que as públicas estão na posição
66, atrás do Peru, enquanto as privadas estão em 35º
lugar, entre Islândia e Croácia.

O que se pode esperar quando parte da população


recebe uma educação peruana e outra, uma
educação croata, para competirem juntas no
mercado de trabalho? Obviamente estamos criando
uma polarização, uma barreira cultural e um
reforço para a desigualdade na nossa sociedade.
Precisamos reformar o ensino público com
inovações de gestão, como escolas comunitárias,
financiadas por dinheiro público, mas operadas
por organizações sociais e programas de bolsas
para que os alunos mais pobres possam estudar
em escolas particulares.

52 | INNITI
A exemplo da educação, o resto da rede de serviços
públicos também poderia ser mais efetivo se fosse mais
contratual, com menos monopólios e mais espaço para
o setor privado e o terceiro setor. Seja no transporte, na
saúde ou na segurança pública, a falta de concorrência e a
disparidade entre quem tem ou não acesso a alternativas
privadas abre-se num abismo entre a classe privilegiada
e a classe que se sente estagnada.

Em vez de soluções concretas, nas eleições de 2018,


vemos uma forte polarização retórica entre os
candidatos de destaque, Jair Bolsonaro e Fernando
Haddad, impedindo, inclusive, que as pessoas
considerem uma opção diferente.

É por esta razão que, para o próximo governo, defendo


que uma das prioridades seja a reforma política.
Existem soluções para nos inspirarmos, como o
sistema de voto preferencial da Austrália, no qual
os eleitores fazem um ranking de seus candidatos
em ordem de preferência. Esse sistema reduz a
polarização, ao mesmo tempo que os partidos, mesmo
liderando, evitam se opor de forma tão radical aos
seus concorrentes.

Além da polarização política, precisamos tentar


consertar a nossa estagnação econômica. Com nossa
produtividade estacionada pelos últimos 20 anos, o
Brasil se tornou simplesmente incapaz de realizar.
Sem discutir mérito, mas sim capacidade de construir,
nosso país já foi capaz de fazer a Ponte Rio-Niterói,
Itaipu, a cidade inteira de Brasília. E hoje não consegue
construir túneis ou manter museus, enquanto a China
entrega uma ferrovia de 4 mil quilômetros por ano.

INNITI | 53
Essa incapacidade leva a outro desafio para os próximos
governantes, a atratividade para investidores. Temos
hoje uma taxa de investimento por volta de 15%, mas
a demanda para retomar o crescimento econômico
é de 25%. Para isso, precisamos mostrar que somos
capazes de realizar, aumentar a segurança jurídica
e resolver um terceiro ponto, que talvez seja o mais
subestimado, a impaciência das pessoas com o Estado
de Direito. Esse fator, sem dúvida, vem de problemas a
serem resolvidos, como a Reforma da Previdência. Não
apenas porque precisamos retomar nosso crescimento,
mas porque precisamos preservar nossa República.

Somado a isso, o descolamento brasileiro é amplificado


pela linha não democrática de autocracias que estão
funcionando melhor que no passado. Anteriormente
as autocracias como União Soviética e Cuba eram
péssimas não só em direitos, mas também em bens
materiais. Agora a China, por exemplo, cresce
vertiginosamente e é referência em tecnologias
e inteligência artificial. Mas não só: também faz
pesquisas confiáveis e consegue dados honestos para
atuar nas demandas sociais de sua população.

Enquanto isso, como bem sabemos, nossa democracia


não consegue atender com o mínimo dignidade às
demandas dos brasileiros. Se queremos, portanto,
manter as instituições que nos trouxeram até aqui,
defender a democracia, o Estado de Direito e a
liberdade que temos, precisamos entregar algo às
pessoas. Como disse Carlos Lacerda, se no Brasil você
quer falar sobre liberdade, você tem que falar sobre
livro, comida e bens materiais – mostrar a liberdade
por aquilo que é concreto.

Qual é, então, o grande desafio para os próximos


governantes na proteção do futuro do Estado de
Direito?

O grande desafio de liderança dos governantes eleitos


será entender como tornar a nossa democracia
concreta, em vez de apenas conceitos abstratos nas
mentes das pessoas. Ou corremos o risco de virar
mera retórica e de cairmos na armadilha de um futuro
distópico autoritário.

54 | INNITI
INNITI | 55
A experiência é
o norte para a
transformação
56 | INNITI
Escolher inovar é apostar
no futuro

Por Sérgio Herz

Como mudamos um mercado extremamente tradicional


e, ao mesmo tempo, em crise?

É o que temos tentado responder nos últimos anos, ao


transformar uma indústria sob um constante desafio, em
um país em que 75% da população nunca comprou um
livro e no qual temos um deficit significativo de educação.
E nossos riscos não estão apenas no mercado editorial.

O varejo vive um momento de ebulição e tem desafios


importantes. O fluxo de visitantes em lojas cai mais de
dois dígitos por ano, há mais de cinco anos, número
que não deve se inverter. Em 2017, as vendas online
cresceram 17% e do varejo físico, apenas 5%. Todos
os anos, o e-commerce tem tomado mais uma fatia
importante do varejo tradicional.

Mesmo em economias que estão crescendo, como a dos


Estados Unidos, mais de 7 mil lojas foram fechadas no
último ano. Lembrando que em 2008, no meio da crise,
isso aconteceu apenas com 4 mil lojas. Fenômeno natural
em um cenário no qual os produtos estão no bolso das
pessoas e podem ser acessados 24 horas por dia, sete
dias por semana.

Isso tem um impacto gigantesco na forma como fazemos


compras, com mudanças importantes de hábitos. Dados
do Natal do último ano, por exemplo, mostram que as
pessoas estão começando a trocar as tradicionais compras
no shopping pela experiência online – sem precisar
dirigir, encontrar vaga em estacionamento, ficar em
filas para pagar.

Pensando em um futuro bastante próximo para o setor,


o que os estudos dizem é que, quando o varejo online
ultrapassar 10% das vendas de um segmento, a cadeia

INNITI | 57
de lojas físicas ficará comprometida nos próximos anos.
No caso dos livros, cerca de 53% das vendas do mercado
americano neste segmento já acontecem pela internet.
Ou seja, como defendem escolas como Wharton e
Harvard, esta é uma cadeia fortemente comprometida.

Será que estamos chegando ao apocalipse do varejo físico?


Talvez. Muito está mudando, mas não acredito que o
varejo vá sumir. Porque as pessoas não vão deixar de
sair de casa para procurar uma loja diferente e não vão
deixar de ir a um restaurante porque existe delivery.

O que tenho certeza de que está morto é o varejo entediante,


que chamamos de boring retail. Os consumidores estão
cada vez mais procurando o varejo sem atrito, fluido e de
experiência. E que nos exige inovação.

Na Livraria Cultura, portanto, quando lidamos com o


desafio da inovação, estamos inovando em uma empresa
que vive em um mercado em crise e extremamente
tradicional. Sem esquecer, é claro, que não deixamos
de ser uma empresa também tradicional, uma vez que
fomos fundados 1947.

Mas, de certa forma, temos também um DNA inovador.


Eva Herz, nossa fundadora, começou com o que hoje
chamamos de economia compartilhada, com um
sistema de aluguel de livros que permitia que as pessoas
lessem estas obras sem necessariamente possuí-las.
Depois, o negócio evoluiu para o mercado de venda
de livros – e para muito mais além disso.

58 | INNITI
Vender pela internet não é o mais importante. Começamos
a vender pela web em 1995. Para nós, então, já é velho o
que muita gente trata como inovação. Isso não é inovação.
No último ranking do varejo da SBVC, menos de 20% das
varejistas brasileiras estão online, mostrando um grande
espaço para crescimento, que precisa ser ocupado com
urgência, antes que estes negócios virem história.

O caminho real para inovação está em contaminar toda


a empresa com uma cultura de dados que o mercado
varejista ainda não adotou. Basta pensar que ainda hoje
não se sabe exatamente o público que entra nos shoppings
todos os dias e, com isso, as lojas não conseguem calcular
sua taxa de conversão baseada em visitantes do shopping
e visitantes de sua loja. Enquanto isso, na internet,
existe um universo de dados sobre comportamento do
consumidor para tomada de decisão.

Se você quer inovar hoje, precisa ter cultura de


dados, mesmo que precise criá-la do zero. No varejo,
particularmente, precisamos olhar para o próprio umbigo
e reconhecer que a grande maioria das empresas ainda
não deram esse passo. Aí sim vamos conseguir começar
a inovar.

Na Livraria Cultura, partimos da premissa de que as


pessoas estão usando seu tempo livre, cada vez mais
escasso e precioso, quando entram na loja. Se este é um
ativo tão importante para o cliente, precisamos entender
o que fazer para ele querer entrar em uma loja – e não
necessariamente para comprar.

INNITI | 59
Por isso, temos que lembrar que o mundo físico (e este
tipo de varejo) é baseado em experiência e em contato.
E, para mudar a experiência física, devemos entender o
consumidor primeiro. Isso sem poder contar com todas
as informações que temos para a venda na web, que é
pura matemática. Quando nosso cliente vai para o mundo
físico, ele quer uma experiência totalmente diferente.

Ouvimos muita gente dizer para diminuirmos o tamanho


das nossas lojas e maximizar o uso do metro quadrado.
Sinceramente, acho que isso tudo precisa ser jogado no
lixo. Porque as lojas que estão indo melhor no mundo de
hoje são aquelas que investem em experiência, que têm
bar, piscina ou aula de ioga.

Há algum tempo jamais se pensaria dessa forma. Mas


hoje felizmente pensamos e, para nos transformarmos em
um melhor varejo físico, adotamos na Livraria Cultura
três pilares fundamentais: ser uma loja cada vez mais
humana, conectada e inspiradora.

Uma loja humana não foge mais de falar com a sociedade.


Estamos nos conectando com esse valor ao contratar
pensando em diversidade (de raças e de gênero, mas
também pessoas em situação de rua, refugiados e ex-
presidiários, por exemplo). Para uma empresa, contratar
pessoas que tiveram passagem pela polícia é sim uma
inovação. E tem sido muito interessante passar por esse
processo, que mexe com valores do nosso entorno.

Temos lojas inspiradoras na arquitetura e na forma como


acolhem os consumidores. Não somos fast retail, somos
slow retail e queremos que as pessoas fiquem no nosso
mundo físico. É por isso que temos restaurante, espaço
infantil, galeria de arte, espaço maker: tudo para que as
pessoas queiram nos visitar. A matemática por trás de
tudo isso é um desafio, é claro. O senso comum é de que
vamos quebrar, mas a realidade é que estamos criando
lojas que não dependem apenas da venda de produtos
para sobreviver.

Por último, quando falamos em inovação, não podemos


esquecer do básico. O core business não pode falhar. Se
você faz o básico muito bem, fica mais fácil inovar. Essa
equação não tem erro.

É preciso, porém, estar disposto a passar vergonha e a


errar muito, o que na política interna das empresas não
costuma ser valorizado.

Não dá para fugir, faz parte da inovação. Vamos errar,


mas, se isso acontecer, corrigimos rápido.

60 | INNITI
INNITI | 61
Novas
tecnologias
pedem nova
gestão
62 | INNITI
Teremos profissionais para quando
o Brasil voltar a crescer?

Artigo escrito pela INNITI com base na


palestra de Romeo Busarello

Você consegue imaginar um dia de trabalho em que


60% dos problemas a serem solucionados são inéditos?
Provavelmente você não apenas consiga, como também
vivencie isso diariamente em sua função.

Hoje, os grandes nomes de Marketing e Gestão não


conseguem dar respostas para os desafios de um executivo,
como relata Romeo Busarello, diretor da Tecnisa. Philip
Kotler, Michael Potter e Peter Drucker, que podiam até
dar caminhos prontos alguns anos atrás, hoje são apenas
excelentes referências.

Para ilustrar, nos últimos 100 dias antes do INNITI Day,


Romeo conta ter realizado 40 reuniões de trabalho sobre
temas como geolocalização, big data, open source, mobile
experience, sustentabilidade, growth hacking, arduínos,
bitcoin, inteligência artificial, entre outros. São 40 assuntos
que não faziam parte do seu grid de competências como
profissional, mas, atualmente, não podem ser ignorados.

O que essas reuniões têm em comum? Nenhuma delas


vende algo que possa ser tocado. Todas vendem insights,
pontos de vista, tendências... E o mais curioso é que,
frequentemente, ao final da reunião, as pessoas que
estão do outro lado da mesa perguntam ao Romeo se ele
tem algum profissional para indicar. Esses negócios não
estão conseguindo crescer por falta de pessoas. Em um
mercado em crise, esses temas ainda não fazem parte do
dia a dia da maioria.

Diante disso, ele acredita que a tecnologia do século 21 não


seja o blockchain ou a inteligência artificial: é a tecnologia
de gestão. Principalmente no que diz respeito a inovar,
criar senso de propósito e, é claro, a se reinventar como
profissional para não ficar parado na velha economia.

INNITI | 63
No mercado em que Romeo atua, por ser tão tradicional,
seria fácil ficar parado no tempo, fazendo panfleto para o
corretor entregar na rua ou investindo em homem-seta.
Mas, há uns quatro anos, a carreira deste executivo passou
por uma verdadeira disrupção e, com isso, ele se tornou
um profissional de “matemarketing” – exatamente o que
o mercado pede hoje para alguém em seu papel.

Como profissional, ele diz não se recordar mais do que


fazia em 2010, tamanho é o ritmo das mudanças que vêm
acontecendo no seu dia a dia. O que vê, porém, é um grande
descasamento de competências no mundo executivo, com
profissionais que não abraçam essas mudanças para seguir
em frente e inovar.

Na Tecnisa, por exemplo, em 2013, foram feitas mais de


600 páginas de mídia impressa para vender imóvel. Agora,
faz mais de 20 meses que não há sequer um anúncio deste
tipo. A empresa continua vendendo imóvel, inclusive mais
do que naquela época, apenas usando dados.

A big idea do marketing não está mais na ideia


criativa genial, mas em fazer correlação de dados e dar
exponencialidade às suas vendas. É isso que a Tecnisa
tem feito, ao se tornar a primeira incorporadora a aceitar
bitcoin como pagamento de imóvel, ao cruzar dados de uso
do Spotify para engajar potenciais clientes ou em tantas
outras ações que exigiram precisão nas análises e muita
venda interna para outras áreas do próprio negócio.

No passado, quando encontrava um par, ele conta


que a conversa girava em torno de qual era a agência
de publicidade que estava atendendo a um ou outro.
Hoje, a pergunta que importa no marketing é “qual
é a martech que está plugada no seu negócio?”. As
34 empresas de tecnologia de marketing que são
fornecedoras da Tecnisa transformaram totalmente
o dia a dia da área de marketing e, é claro, o papel de
Romeo como gestor.

O mundo mudou, assim como as relações de trabalho,


por isso ele incentiva que seja incorporada a tecnologia
na gestão para inovar e fazer diferente. Isso inclui estar
disposto a ser flexível com a equipe na jornada de trabalho.
Porque hora útil é mais importante do que hora extra e
porque perder um profissional experiente em análise de
dados para Marketing e Vendas pode ser um tiro no pé.

64 | INNITI
O grande problema é que, quando o Brasil voltar a crescer,
o primeiro desafio será encontrar pessoas. Não temos
no mercado de trabalho gente analítica para assumir
os empregos que estão sendo criados e o nosso ensino
de matemática é um dos piores do mundo, justamente
enquanto o mundo está virando um mundo de dados.

E isso não diz respeito apenas a quem está começando a


trabalhar agora. Vários executivos estão organicamente
perdendo seus empregos porque não souberam se atualizar
e compreender essa agenda do século 21. Ao mesmo tempo,
todas as empresas parecem estar disputando entre si pelos
líderes de transformação digital.

Com a tecnologia, não há modelo de negócio ou carreira


que não esteja em risco. Por isso, nada melhor do que
recomendar a leitura do livro The End of Average, do
Todd Rose. Segundo ele, ou aprendemos que precisamos ser
únicos, exponenciais e acima da média, ou viramos história.

INNITI | 65
Mudar o Brasil
é nosso papel
66 | INNITI
O futuro está sentado na
sala de aula

Por Bartira Almeida

Imagine uma empresa cuja especialidade seja pegar


cristais e lapidá-los. De vez em quando, no meio deles,
aparecem alguns diamantes. Não sabendo o que fazer
com eles, a empresa os descarta.

Será que essa empresa existe? Infelizmente sim, e, muitas


vezes, o nome dela é escola.

Eventualmente, aparecem em sala de aula alguns


alunos mais talentosos que os demais. Se isso acontece
na Inglaterra e na França, eles têm acesso às melhores
escolas. Se isso acontece nos Estados Unidos, eles têm
acesso a um programa especial de educação. Não é por
acaso que esses países possuem uma extensa lista de
pesquisadores e de ganhadores do Prêmio Nobel.

No Brasil, se isso acontece em uma família de boa


situação financeira, esse estudante recebe o incentivo
e a educação adequada. Porém, se isso acontece em uma
família mais simples, na maioria das vezes, esse talento
é ignorado. Como diria o economista Claudio de Moura
Castro, são diamantes descartados.

E, caso esteja esperando que o presidente eleito em 2018


mude o Brasil e transforme nosso futuro e nossa educação,
sinto desapontá-lo, mas isso não deve acontecer. Aliás,
essa mudança está muito mais nas suas mãos do que
nas dele.

Entregar nosso melhor e fazer o que se pode para


mudar o país: esta é uma provocação que vejo o Joseph
Teperman fazer desde que o conheci e não poderia ser
diferente neste INNITI Day, em que fui convidada para
falar sobre o meu projeto de vida e sobre como mudei
minha carreira para transformar, da minha maneira, a
realidade brasileira.

INNITI | 67
Minha escolha foi atuar nesta necessidade essencial
que é a educação. Por isso, em 2014 fundei o Instituto
Ponte no Espírito Santo, com o propósito de encontrar
alunos talentosos nas escolas públicas e oferecer a eles
um ensino de excelente qualidade.

Na nossa instituição, a solidariedade caminha sempre


ao lado da meritocracia. Assumimos todas as despesas
para que o aluno possa estudar nas melhores escolas do
Espírito Santo. Em contrapartida, ele tem que mostrar
resiliência e dar o melhor de si.

Atualmente, temos 86 alunos que, em 2018, alcançaram 8,7


de nota média. Sendo que 91% dos alunos atingiram nota
acima da média dos alunos da turma na escola particular
para onde foram transferidos. Estes alunos, que fazem
parte de famílias com no máximo um salário mínimo
e meio per capita, também tiveram bons resultados em
competições acadêmicas – 60% deles ganharam destaque
em olimpíadas nos últimos quatro anos.

Nosso trabalho mostra a essas crianças e adolescentes,


assim que selecionados, as opções que existem no
mercado de trabalho. E engaja também as famílias, para
que todos possam ampliar seus horizontes e pensar mais
longe em relação ao futuro.

68 | INNITI
Assim espero não precisar mais ouvir depoimentos
como o do Vinícius, que me falou que “estudar não é
para pobre, pois gente pobre tem que trabalhar”. Este
jovem, da periferia de São Paulo, participou de um
projeto social e, ao terminar o Ensino Médio, teve a
ousadia de falar para a família que gostaria de ir para a
universidade. Aquela frase, tão pesada, foi o que ouviu
de todos ao seu redor. Hoje, tendo ultrapassado muitas
barreiras para se formar em Engenharia Elétrica na
Unicamp, ele ainda se sente culpado por não ajudar
no sustento da sua família.

Essa é a transformação que precisamos buscar. Porque


correr atrás de um sonho e de uma formação acadêmica
deve ser motivo de orgulho, não de culpa para o cidadão
brasileiro. Não vamos mudar a educação do Brasil
sozinhos. Mas vamos mudar a vida de cada aluno que
passar pelo Instituto Ponte, disso eu tenho certeza. E
por outras instituições às quais você decidir apoiar
ou se engajar.

O futuro está sentado na sala de aula e faz parte de


cada um que, de fato, quiser contribuir para um país
melhor.

INNITI | 69
De sonho
a objetivo
70 | INNITI
Minha dedicação transforma
a mim e aos que estão ao
meu redor

Por Larah Dias

Desde pequena tenho o sonho de me formar em


Medicina. E sempre soube que isso seria muito
desafiador. Minha família não tem uma boa condição
financeira e a escola na qual eu estudava não explorava
todo meu potencial, apesar de sempre tirar notas boas.

Hoje tenho 15 anos e felizmente percebi cedo que, se


quisesse mesmo alcançar o meu sonho, precisava fazer
mais do que estava fazendo. Isso aconteceu quando o
Instituto Ponte entrou na minha vida, após participar
da Olimpíada Brasileira de Matemática.

Conheci o propósito dessa instituição e participei do


processo seletivo, o que acabou se tornando um marco

INNITI | 71
em minha vida. Em 2017, comecei a estudar como
bolsista em uma das melhores escolas do Espírito
Santo, o que tem sido uma vivência grandiosa.

Há dois anos, não me atreveria a sonhar com o ensino


que estou recebendo. A experiência, porém, vai muito
além disso. O Instituto Ponte está me ajudando a
evoluir de outras formas, pois me sinto desafiada a
todo momento – e, assim, Medicina passou de sonho
a objetivo concreto.

Estudar na minha escola atual tem mudado


incrivelmente a forma como eu vejo o mundo, pois
acredito ser muito importante conviver com pessoas
de realidades diferentes, com outras experiências e
percepções sobre o que está ao nosso redor. Estou
aprendendo a ver o meu entorno por diversos ângulos
e sei que vou aplicar esse conhecimento em diversas
áreas no futuro.

É incrível ver que o Instituto Ponte tem transformado


não só a minha vida, mas também das pessoas com
as quais eu convivo. Tenho familiares e amigos que,
vendo meu relacionamento com a escola e como
me dedico, passaram a se dedicar também aos seus
objetivos.

Ver essa corrente tão positiva acontecendo - e


saber que eu faço parte dela - é algo que me deixa
infinitamente feliz. Por isso, não tenho dúvidas de
que, no futuro, irei contribuir para que o Instituto
possa dar a outros alunos as mesmas oportunidades
que tenho hoje.

72 | INNITI
INNITI | 73
O futuro do
trabalho está
em alinhar
habilidades e
propósitos
74 | INNITI
Como achei o sentido da vida
em uma situação desfavorável

Por Renato Dias

Falar sobre temas como futuro do trabalho e sentido


da vida exige muita responsabilidade. Por isso, escolhi
abordar esses assuntos falando sobre a minha própria
mudança de rumo profissional – e sobre como isso me
trouxe para o palco do INNITI Day.

Minha carreira começou no mercado financeiro,


onde trabalhei com relações institucionais durante
três anos. Depois desse período, saí do banco para
cuidar dos negócios da minha família, junto com
meu irmão. Até aqui, nada de incomum, já ouvimos
muitas histórias semelhantes.

Porém, neste caminho, uma situação bastante


desfavorável se tornou um marco na minha vida
pessoal e profissional. Minha família atua no
agronegócio e, por volta de 2009, meu pai não tinha
mais condições de liderar as operações devido a um
problema de saúde, me levando a empregar tudo o que
tinha aprendido na faculdade e no mercado financeiro
sobre cortes de custo, negociação com bancos e tudo
mais que possa estar envolvido na recuperação de
um negócio.

Não foi isso, entretanto, que mudou minha forma de


ver o mundo, mas sim uma invasão do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em uma
das nossas fazendas, em Minas Gerais.

INNITI | 75
Além de todo o transtorno vivido, passei a enxergar
sob outra perspectiva a condução desses casos
pelas autoridades – polícia, governo, instituições.
Em primeiro lugar, porque nós, as vítimas daquela
situação terrível, passamos a ser os investigados e
tivemos que provar que não havia nenhum motivo
para uma desapropriação. Como a fazenda tinha
excelente produtividade e nenhum problema
trabalhista ou ambiental, sobrevivemos a essa etapa.
Em segundo lugar, por conta da total inversão de
valores evidenciada durante todo o processo, inclusive
com a presença da equipe de um deputado federal
vindo especialmente de Brasília com o pretexto de
defender os direitos humanos dos invasores – e não
os dos invadidos.

Nesse momento, comecei a sentir que precisava fazer


algo para mudar essa realidade e para transformar o
que estava – e ainda está – acontecendo de errado no
nosso país. E, mais importante, precisava me conectar
a esse propósito e dar sentido para a minha vida.

Comecei a me envolver com iniciativas políticas e de


engajamento, como o Instituto de Formação de Líderes
(IFL), e isso alimentou ainda mais minha vontade de
fazer algo diferente para transformar o meu entorno.

Quando terminaram todos os problemas com o MST,


comecei a me perguntar também sobre qual seria
meu próximo passo profissional. Poderia abrir uma
empresa ou voltar para o mercado financeiro, mas
decidi fazer algo para tentar mudar o que vivi.

76 | INNITI
Foi quando percebi que minha habilidade era ser um
resolvedor de problemas. Felizmente, tive sorte de
encontrar uma forma de alinhar essa característica
a um propósito e trabalhar em prol da sociedade
quando conheci o Alexandre Ostrowiecki e o Renato
Feder, fundadores do Ranking dos Políticos, onde
sou diretor executivo atualmente. Após passar por
uma experiência como aquela, e tendo condições de
me dedicar a um projeto como este, eu não poderia
escolher outro caminho, até por uma questão de
responsabilidade.

Para quem não nos conhece, atuamos por meio de


uma página que acompanha senadores e deputados
federais e os coloca em um ranking, de acordo com
faltas, gastos, processos judiciais e posicionamento de
voto nas principais leis, entre outros fatores.

O Ranking dos Políticos é uma ONG que tem como


objetivo principal melhorar a qualidade do nosso
Congresso. Se pudermos contribuir para aumentar a
visibilidade e a compreensão dos brasileiros sobre as
práticas de governo, nos tornando mais vigilantes pela
nossa liberdade, o efeito multiplicador será enorme.

Olhando para as lições que carrego dessa experiência


e também para o futuro – como nos convida a pensar
o INNITI Day – posso dizer que encontrar sentido no
que fazemos, alinhando habilidades e propósito, nos
dá não só a oportunidade de gerar mais valor para o
mundo, mas de sermos protagonistas da transformação
e da construção do amanhã.

INNITI | 77
Na era
exponencial,
a liderança
tem que ser
analógica
78 | INNITI
É essencial entender os riscos, os
remédios e o sentido da liderança
no hoje e no amanhã

Por Joseph Teperman

É impossível falar sobre futuro sem falar sobre quem


vai nos liderar até ele.

Quanto mais estudo liderança, porém, mais percebo que


essa é uma ciência viva, sobre a qual nunca poderemos
deixar de repensar conceitos – e desfazer nosso senso
comum.

Lidar com a mudança, definir o rumo, alinhar, motivar


e inspirar em direção a um objetivo. É assim que John
Kotter define liderança. Ele a contrapõe com o que é
gerenciar: planejar, organizar, contratar, controlar e
resolver problemas. Segundo ele, é muito difícil cumprir
esses dois papéis ao mesmo tempo.

No livro Leadership on the Line, aprendemos que liderar


é compartilhar com o mundo o seu melhor. Isso é o que
fizeram os palestrantes do INNITI Day, ao subir no palco
e apresentar como atuam transformando seus mercados,
e é o que faz o eletricista Zé Carlos quando atende seus
clientes. É ele quem eu chamo sempre que preciso de
algum reparo no escritório e, por ter uma energia tão
incrível, fico feliz toda vez que preciso de um serviço dele.

Segundo Daniel Goleman, são seis os estilos de liderança:


afiliativa, autoritária coercitiva, autoritativa visionária,
coaching, democrática e marcadora de ritmo. Entre eles,
Goleman explica que o estilo de liderança autoritativo
visionário, de modo geral, é o melhor para as organizações.

À primeira vista, isso nos causa estranheza, pois


tendemos a relacionar a palavra autoritativa a outro
termo, o autoritarismo.

INNITI | 79
Autoridade é a autorização para usar ferramentas,
recursos e poder para atingir os resultados. Um líder
autoritário e um líder autoritativo, na verdade, utilizam
de forma distinta a sua autoridade. Enquanto o autoritário
utiliza-se do poder para impor respeito e obediência,
o autoritativo expressa sua autoridade de maneira
participativa e incentivando o diálogo, como pais que
conversam com seus filhos.

O que podemos deduzir de todas essas definições é que


liderar é um verbo, não um cargo. Assim, quando falamos
que há um gap de liderança, estamos dizendo que pessoas
que ocupam certos cargos de autoridade não estão se
comportando como líderes, não estão liderando.

O que se espera de um líder, então, vislumbrando o hoje


e o amanhã?

Ocupar a cadeira do líder gera a espinhosa expectativa


de que você terá as respostas para todos os problemas.
Isto não é verdade, pois são dois os tipos de desafios:

1 - O desafio técnico é aquele para o qual já existe uma


resposta, pois já aconteceu e foi resolvido no passado.

2 - O desafio adaptativo é um desafio novo, que exige


tentativa e erro para chegar à solução e ao engajamento
de todos, não apenas do chefe.

Por esse motivo, a liderança relevante para o futuro precisa


entender isso e explicar para seus liderados, deixando
claro, desde o início, que não terá todas as respostas. O
papel do líder é lidar com uma ideia intangível sobre o
futuro, fazer com que as pessoas passem por desafios
dolorosos e indesejados e conduzir os liderados por uma
jornada em que no início só se vê perda.

Quando estudei isso, não pude deixar de pensar na


Reforma da Previdência. Algo que precisa acontecer
no nosso país, mas envolve dar más notícias para a
população. E os políticos devem fazer isto: mostrar que
vamos passar por um ajuste doloroso, e com perdas, para
ter uma perspectiva de futuro melhor do que temos hoje.

Para os líderes, porém, é justamente quando começam


as perdas que os riscos se tornam maiores. Entre eles,

80 | INNITI
INNITI | 81
podem estar: ser ridicularizado, ter a reputação atacada,
virar o bode expiatório ou ter o estilo criticado. E tem
um risco ainda maior, que conheci lendo Leadership
on the Line. No livro, há o exemplo de um reverendo
que sempre advertia os seminaristas dizendo “não se
confunda com o Salvador, ou pode acabar como ele”.

Quando recorri ao dicionário para aprofundar o


que é liderança, encontrei que “liderar” é um termo
com origem na língua inglesa, “to lead”. Por sua vez,
esta palavra tem uma raiz antiga indo-europeia
que significa “to go forth and die”. “Ir em frente e
morrer” deu origem ao termo liderança devido aos
combatentes que assumiam a frente das batalhas
medievais, literalmente arriscando a vida por estar
nesse papel.

Não é por acaso que temos tantos líderes que sofreram


ataques ou foram assassinados em nossa história. Nos
Estados Unidos, quatro presidentes foram mortos durante
o mandato – o primeiro deles foi Abraham Lincoln e o
último, John F. Kennedy.

Outro líder assassinado durante o exercício de poder


foi Yitzhak Rabin, que assumiu outro risco importante:
confundir-se com seu papel. Por seu histórico militar,
quando se tornou chefe de Estado, Rabin ignorou as
medidas de segurança necessárias para seu cargo – como
colocar um colete à prova de balas, que teria evitado
sua morte.

Sobreviver a todos esses riscos, entretanto, não é


suficiente. Ainda assim, existe a chance de chegar ao
fim e, ao alcançar o que tanto queria (dinheiro, cargo,
sucesso), encontrar um grande vazio. Por isso, não poderia
deixar de recomendar alguns remédios para que isso
não aconteça.

O primeiro é autoconhecimento: terapia, coaching ou


o que fizer sentido para que consiga viver bem consigo

82 | INNITI
mesmo. O segundo é Memento Mori – lembrar-se de que
você é mortal, como ensinaram os antigos romanos, que
advertiam seus generais com esta frase após as batalhas
vitoriosas. O terceiro, por sua vez, é manter o senso de
humor. Não podemos nos levar tão a sério.

Por último, existe um grande remédio que é participar


da vida de diversas formas, entregando o seu melhor.
Como o Bill Gates, que descobriu cedo que não valia a
pena ter mais bilhões em sua conta bancária e criou a
Bill & Melinda Gates Foundation para fazer bem para o
mundo. Não tenho dúvidas de que ele se sente pleno e
realizado – muito mais do que se acumulasse mais bilhões.

O Warren Buffett fez essa descoberta um pouco mais


velho, mas ainda antes de precisar de lidar com algum
vazio. Buffett se juntou ao Bill Gates para fundar o The
Giving Pledge, que, no Brasil, tem um adepto que admiro
muito, Ellie Horn, fundador da Cyrela. Antes de essa
iniciativa existir, ele já tinha decidido que doaria 60% de
sua fortuna. Para ele, quem tem a capacidade de fazer o
bem e não o faz é um covarde.

Também tenho tentado contribuir para a empreitada


humana com o meu melhor. Sou membro do conselho do
IFL, da FAAP e da WNutritional, realizo eventos como o
INNITI Day, dou palestras e sou sócio-fundador da INNITI
– onde tudo isso se encontra, além de me incentivar a
estudar tanto sobre liderança.

Ao entregar o meu melhor e ver tantos líderes,


independentemente de cargo, fazerem o mesmo,
acredito, mais do que nunca, que o futuro da liderança
é analógico. A tecnologia é capaz de fazer muita coisa,
mas não é capaz de substituir um líder quando o assunto
é proximidade, inspiração e contato humano. Isso, sem
dúvidas, é entregar o melhor para a sociedade e tornar-
-se imprescindível para o amanhã.

INNITI | 83
84 | INNITI
“Estamos vivendo os melhores tempos
da história humana. Este é o melhor
momento para estar vivo.”
José Luis Cordeiro

INNITI | 85

Das könnte Ihnen auch gefallen